Potenciometria Curva de Calibracao e Adição Padrao
Potenciometria Curva de Calibracao e Adição Padrao
Potenciometria Curva de Calibracao e Adição Padrao
QUÍMICA-RJ
ANÁLISE INSTRUMENTAL
POTENCIOMETRIA
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
2o TÓPICO: A MEDIÇÃO DE ∆E
BIBLIOGRAFIA
1
INTRODUÇÃO
2
1o TÓPICO
A EQUAÇÃO DE NERNST E A POTENCIOMETRIA
Para um bom contato elétrico, o fio de prata e o de cobre têm que estar bem polidos.
Ligando os eletrodos de Ag e Cu a um voltímetro, pode-se ler a diferença de potencial entre
os dois conjuntos solução/eletrodo. Se o eletrodo de cobre foi conectado ao polo positivo e o de
prata ao negativo, o potencial lido pode ser, por exemplo, -505 mV. De acordo com as
recomendações da IUPAC, deve-se descrever esquematicamente a pilha do seguinte modo:
Ago⏐Ag+ (0,100 mol/L) ⏐⏐ Cu+2 (?)⏐Cuo ⊕
Eo (Ag) = 799 mV Eo (Cu) = 337 mV
Ligar o eletrodo de cobre ao polo positivo indica que se espera a redução do Cu+2.
Entretanto, o potencial lido negativo indica que a reação é ao contrário, ou seja, o cobre se oxida e a
prata se reduz. Como o interesse não é no sentido da reação, e sim na concentração, o sistema
permanece o mesmo e pode-se calcular a concentração do cobre em 3,5 × 10-4 mol/L, utilizando a
equação de Nernst1:
59,15 [produtos]
∆E = ∆Eo - log
n [ reagentes]
1
A equação está em milivolts, e não em volts.
3
Recomenda-se como o melhor método de cálculo, nesse caso, resolver a equação de cada
eletrodo separadamente e utilizar o potencial calculado do eletrodo de concentração conhecida (ver
apêndice desse tópico).
O eletrodo que está em contato com a solução de concentração desconhecida que se quer
medir, é chamado de eletrodo indicador. O eletrodo que está em contato com a solução de
concentração conhecida é chamado de eletrodo de referência.
O eletrodo indicador usualmente é colocado no polo positivo do voltímetro. O eletrodo de
referência, que terá que ter sempre um potencial conhecido para que a equação tenha solução, é
usualmente colocado no polo negativo do voltímetro. Todas as medições potenciométricas podem
ser resumidas então na equação abaixo:
∆Elido = Eindicador - Ereferência
Nesse ponto, pode-se dizer que o problema da determinação da concentração está resolvido.
Certo? Errado. O sistema que utilizamos acima não se presta a realizar medidas potenciométricas,
pois existem diversos problemas que são originados pela precariedade do sistema e também pela
inadequação da equação de Nernst ao sistema utilizado. Vejamos alguns dos problemas (não todos):
• Quando o circuito elétrico é fechado, o potencial é gerado pela ocorrência de uma reação de
oxirredução. Isso implica que as concentrações do redutor e do oxidante estão mudando durante
a medida!
o
• Os potenciais padrão só são válidos em 25 C e 1 atm, o que nem sempre é o caso.
o
• O fator de Nernst (59,15/n) é teórico, só vale também para 25 C, e não é seguido por todos os
eletrodos.
• Os eletrodos utilizados (metálicos) sofrem interferência do oxigênio dissolvido na água, pois ele
4
O voltímetro ideal seria aquele que, ao medir o potencial, não deixasse passar corrente
alguma, de forma a não modificar as concentrações das espécies presentes na amostra.
Tendo consciência de todos esses problemas, pede-se ao estudante que resolva os exercícios
a seguir ainda utilizando a equação de Nernst. Nesses exercícios não se quer determinar a
espontaneidade da reação e sim a concentração dos reagentes naquele potencial, que pode ser
negativo. Nos tópicos seguintes são mostradas as alterações necessárias ao sistema teórico e prático
para que ele seja mais confiável.
EXERCÍCIOS
OS EXERCÍCIOS DEVEM SER RESOLVIDOS POR EQUAÇÕES SEPARADAS (VER APÊNDICE)
1)A partir do ∆Elido determine a concentração do analito nos casos a seguir:
a)Eletrodo indicador: fio de prata polido e
imerso na solução-problema. Eletrodo de
referência: fio de platina imerso em uma mistura
Fe+2/Fe+3 (0,0200 mol/L de Fe+2 e 0,0800 mol/L
de Fe+3)2. ∆Elido = -126 mV.
Analito: Ag+.
3)Dada a pilha Ago⏐Ag+⏐⏐Cl-⏐Cl2 (g) ⏐ Pto, o que aconteceria com a voltagem quando:
2
Este seria um bom eletrodo de referência?
5
a)aumentássemos a pressão de Cl2?
b) adicionássemos íons cloreto à semi-pilha Cl-,Cl2⏐ Pto,?
c) adicionássemos íons cloreto à semi-pilha Ago⏐Ag+?
d) adicionássemos íons Ag+ à semi-pilha Cl-⏐Cl2⏐ Pto,?
4) A pilha Pbo⏐Pb+2 (0,080 mol/L)⏐⏐KI (0,100 mol/L)⏐PbI2 (s), Pbo tem a voltagem de -180 mV a
25oC. Calcule o Kps do PbI2.
APÊNDICE
RESOLUÇÃO POR EQUAÇÕES SEPARADAS
A resolução por equações separadas facilita muito o cálculo e previne erros causados por
trocas de sinais. O primeiro exemplo dado é resolvido abaixo:
Ago⏐Ag+ (0,100 mol/L) ⏐⏐ Cu+2 (?)⏐Cuo ⊕ 1
log = 3,45
Eo = 799 mV ; Eo = 337 [Cu +2 ]
(Ag+→Agº) (Cu2+→Cuº)
1
∆EAg = E Ag
o
+1→ Ag − 59,15 log
[ Ag + ]
1
∆EAg = 799 − 59,15 log
0,100
6
2o TÓPICO
A MEDIÇÃO DE ∆E
Voltímetros comuns não se prestam para a medida potenciométrica porque requerem uma
corrente pequena, porém não desprezível, para moverem seus ponteiros. Essa energia só pode vir do
sistema sob medição, o que acarreta mudança nas concentrações e potenciais. Dessa forma, para
medições precisas de diferenças de potencial (e não voltagem), aonde não haja mudança de
concentração, o Voltímetro comum não é satisfatório.
Há duas alternativas: O potenciômetro clássico e o milivoltímetro eletrônico.
No potenciômetro clássico o princípio de
funcionamento é entendido pela análise do
esquema ao lado. A pilha de alimentação fornece
um potencial (não precisa ser conhecido) que,
atenuado pelo resistor R vai opor-se à pilha
desconhecida, para o galvanômetro indicar
corrente nula.
Pela medida do Resistor R e calibrando-se a escala do potenciômetro por meio de uma pilha
3
padrão , pode-se então determinar o potencial da pilha desconhecida. Desse modo, na hora da
medição não há passagem de corrente.
Todavia, o potenciômetro clássico, embora simples e preciso, sofre limitações:
1.Até localizar o ponto de equilíbrio, passará corrente suficiente para afetar a exatidão da medida e,
mesmo quando o galvanômetro marca zero, há alguma passagem de corrente.
2.Ele não se presta para medidas com os modernos eletrodos de membrana, pois esses tem
resistência de membrana muito alta. Como a resistência do próprio potenciômetro não é tão alta,
4
aparece o erro devido ao efeito da divisão de voltagem.
3.O potenciômetro clássico é de manuseio incômodo.
É por esse motivo que os modernos medidores, os milivoltímetros eletrônicos, têm
5
impedância de entrada sempre maior que 105 MΩ enquanto que os eletrodos têm resistência de
membrana de 40 a 1000 MΩ. Eles retiram uma minúscula corrente do sistema e amplificam-na
3
Usualmente a pilha padrão de Weston, cuja ddp é 1018 mV. Esse valor permanece fixo durante anos, se a pilha não for
ligada em curto. O gasto médio é de 0,1 mV/ano, dependendo dos cuidados e da freqüência do uso.
4
Quanto maior a corrente que passa dentro do medidor, menor a corrente que passa pelo ponto que queremos medir.
Isto faz com que a voltagem medida caia, pois uma parte dela é consumida dentro do próprio medidor. Para isto não
ocorrer, a resistência interna do medidor tem que ser 100 vezes maior que a do ponto que queremos medir, para que o
erro seja menor que 1%.
5
impedância é o análogo da resistência para corrente alternada.
7
medindo diretamente a voltagem da célula. A maneira usual de ligação atribui o terminal negativo
ao eletrodo de referência:
6
também alguns têm saída para a titulação de Karl Fischer que não é potenciométrica e sim amperométrica.
7
Este conceito será explicado mais tarde. Por ora, substitua-o por concentração.
8
EXERCÍCIOS
2) Um aparelho que lê com incerteza de 1mV foi usado para medir a concentração de cobre com um
eletrodo indicador confeccionado com uma lâmina do metal (Cuº). A leitura contra o eletrodo
normal de hidrogênio foi de 300 mV. Qual é a incerteza percentual na concentração de Cu+2? Que
conclusão se pode tirar sobre a capacidade de leitura do aparelho e a precisão na medida da
concentração do íon? E se fosse para um íon monovalente, daria no mesmo?
9
3o TÓPICO
ELETRODOS DE REFERÊNCIA: CALOMELANO E Ag/AgCl
8
revestida de platina coloidal, negra
10
ELETRODO DE CALOMELANO COM JUNÇÃO CERÂMICA (“FRIT”)
o
Esse eletrodo consiste numa pasta de Hg2Cl2 e Hg em contato com solução de KCl.
9 o
Partindo do valor do produto de solubilidade para o cloreto mercuroso e do E para a reação
é possível prever o potencial Ereferência para o calomelano no sistema:
Hg 2+2 + 2e- → 2Hgo , Eo = 790 mv
Mas, como há íons cloreto, é preciso levar em conta a disponibilidade de íons Hg 2+2 , que depende
do equilíbrio de solubilidade:
9
calomelano é o nome antigo desse sal.
11
∆E = 265 - 59,2 log 4 = 230 mV
Esse valor (230 mV) não corresponde ao efetivamente medido contra o eletrodo normal de
hidrogênio10, 244 mV. Isto acontece porque:
1. Há a irreparável contribuição do potencial de junção que aparece na ponte salina.
2. Há que se considerar os coeficientes de atividade, que em soluções muito concentradas
(como a de KCl no eletrodo de calomelano) se afastam muito da unidade.
O POTENCIAL DE JUNÇÃO
Como dito anteriormente, existe um potencial de junção num sistema potenciométrico. Mas
o que é o potencial de junção?
Sempre que duas soluções com concentrações iônicas diferentes são postas em contato, para
que elas não se misturem imediatamente, há que se ter ao menos uma membrana de separação, que
permita a migração dos íon, mas não a passagem do solvente. No caso dos eletrodos de referência, a
cerâmica porosa faz esse papel.
Infelizmente, os íons não tem a mesma mobilidade dentro de uma solução. O íon H+, por
exemplo, é muito mais rápido em meio aquoso do que qualquer outro íon. A diferença de
velocidade de difusão entre cátions e ânions através da membrana faz com que haja uma separação
de cargas, isto é, num dado momento haverá mais cargas positivas de um lado e mais cargas
negativas do outro.
A diferença de carga provoca o aparecimento de um potencial (Ej) que se soma ao potencial
desenvolvido pela própria pilha formada. Esse tipo de potencial também pode ser ocasionado pela
diferença de concentração da mesma espécie iônica de um lado e do outro da membrana, como
veremos adiante.
10
Referência 26, página 658
11
Referência 34.
12
12
O COEFICIENTE DE ATIVIDADE DE UM ÍON EM SOLUÇÃO
a = γ C
A atividade de um íon em solução é determinada pela natureza do meio em que ele se insere.
Numa solução concentrada (ou que tenha alta concentração salina total), a "atmosfera" que circunda
o íon é muito diferente de uma solução em que ele esteja em baixa concentração e não haja a
presença de íons de outras espécies. A presença de íons, próximos ao íon cuja concentração se quer
medir, faz com que seu comportamento, como carga elétrica, seja completamente diferente de
quando a concentração é baixa e não existem outros íons na solução. Nesse último caso, ele pode se
comportar como uma carga isolada.
O coeficiente de atividade de um íon depende da força iônica do meio, parâmetro
relacionado com a concentração de íons totais. Quanto maior a força iônica do meio, menor o
coeficiente de atividade do íon.
Usando o valor experimental do ECS (244 mV) na equação [I], vem13:
a 2,44
244 = 265 - 59,2 log aCl- ∴ aCl- = 2,44 , γCl- = = ≈ 0,6
C 4
A potenciometria mede atividade e não concentração. A equação de Nernst é calculada
pela atividade e não pela concentração do íon. Quanto mais concentrada a solução, mais afastada
a atividade da concentração. No eletrodo de calomelano o Hg2Cl2 (insolúvel) e o Hgº puro possuem
atividades unitárias. A atividade do Cl-, embora não seja unitária, permanece fixa devido à solução
estar saturada ou próxima da saturação. Desse modo, o potencial é constante para uma atividade
constante.
12
Referências 21 e 25.
13
Por todos esses argumentos, conclui-se que é muito difícil prever potenciais em função da
temperatura, e o que se faz é recorrer a valores tabelados e cuidar para que a temperatura não varie
durante as medições. Não só do ponto de vista do eletrodo de referência, mas também do eletrodo
indicador, variações de temperatura diminuem a qualidade da medida potenciométrica, motivo pelo
qual, em medições de grande precisão, torna-se imprescindível termostatizar o frasco que contém a
amostra a ser medida (referências 1, 14 e 16).
Um outro ataque a esse problema consiste em evitar o uso do eletrodo de calomelano
saturado escolhendo-se outro com concentração de KCl inferior. O calomelano não-saturado varia
muito pouco seu potencial com a temperatura. Todavia fica mais crítico, para menores atividades, o
problema original: modificação das atividades (concentrações) com as correntes que circulam,
ainda que pequenas. Parece que o eletrodo de calomelano 1 mol/L dá uma resposta satisfatória aos
problemas entre a temperatura e a corrente, embora alguns fabricantes recomendem 3 mol/L. Outro
inconveniente do eletrodo saturado é que ele cristaliza KCl com muita facilidade, o que pode
provocar obstrução da junção.
13
Neste caso pode-se desprezar Ej, já que o potássio e o cloreto têm velocidades de migração muito próximas.
14
O ELETRODO DE Ag/AgCl
10 -18
Kps = 10-18 = a Hg +2 × ( aCl- )2 ⇒ a Hg +2 = = 1,68 × 10-19 mol / L
2 2
5,95
Por outro lado a solubilidade do AgCl em solução concentrada de cloreto é bem mais alta
que a do Hg2Cl2 (aAg+ ≈ 10-10 mol/L). A diferença brutal na solubilidade dos dois sais evidencia as
principais limitações do eletrodo de Ag/AgCl frente ao calomelano.
Pela junção do eletrodo há quase sempre o escoamento do líquido interno que, no caso do
Ag/AgCl significa uma quantidade razoável de prata. Esse íon pode interferir no sistema em estudo.
Em análises bioquímicas, por exemplo, não se usa esse eletrodo, pois o íon Ag+ pode precipitar
proteínas. Por outro lado, o eletrodo seria envenenado com tampões comumente usados nesses
meios. Por exemplo, o tampão tris complexa fortemente Ag+. O usual em tais situações é recorrer
ao calomelano ou ao eletrodo de junção dupla14.
Mas o prata-cloreto de prata tem suas vantagens:
14
Ver apêndice.
15
Calomelano Ag/AgCl
Temperatura máxima 70º C 105 º C
Simplicidade de construção menos simples mais simples
Possibilidade de miniaturização difícil fácil
Entupimento da junção porosa difícil fácil
Custo mais caro mais barato
Venenos principais S= ; oxidantes e S=; Br-; I-; oxidantes e
redutores fortes; agentes redutores fortes; agentes que
que comple- xam o complexam o Ag+.
Hg 2+2 .
16
EXERCÍCIOS15
1) Uma célula foi montada sendo usado como eletrodo de referência o eletrodo de calomelano
saturado (ECS) e como indicador para íons Pb+2 foi usada uma barra de chumbo puro. Determine a
concentração de chumbo, considerando que a leitura do medidor foi - 385 mV.
2) Dada as duas montagens abaixo determine a concentração de cobre para cada uma delas:
+2
a) ECS | | Cu (?) | Cuº ∆E lido = - 160 mV
+2
b) Ag/AgCl sat. | | Cu (?) | Cuº ∆E lido = 15,0 mV
3) Um bolsista de An. Instrumental preparou uma solução de FeSO4 em água e deixou-a, após
fatoração, sem cuidados contra a oxidação pelo ar. Dias depois, o professor declarou que não
+2 +2
poderia mais considerar a mesma concentração de Fe para a solução, porque parte do Fe havia
se convertido para Fe+3 por oxidação.
O aluno bolsista, tendo necessidade da nova concentração de ferro II na solução com
pequeno rigor, mergulhou ali um fio de platina e um eletrodo de prata-cloreto de prata a 1,00 mol/L.
Conectou-os ao pHmetro de forma que o eletrodo de prata-cloreto de prata fosse o terminal
negativo e leu 540 mV no aparelho. Realizou algumas contas e determinou a nova concentração de
+2
Fe em solução.
Refaça os cálculos do bolsista, determinando o percentual de ferro II que se converteu em
ferro III.
5) Observe a seguinte pilha, cujo E lido foi de +58 mV, e considere que o volume de todas as
soluções é de 50,00 mL e a temperatura da medida é de 25ºC:
+2 -3
Hg°/Hg2Cl2, Cl- (1,00 mol/L) // Cu (1,00 x 10 mol/L)/Cu°
15
Faça as mesmas simplificações de antes: γ = 1 ; T = 298 K, etc.
17
-2
b) Adiciona-se 20,00 mL de um solução padrão de cobre II a 5,00 x 10 mol/L no compartimento
do eletrodo de cobre.
c) Troca-se a solução de cloreto contida no compartimento interno do eletrodo de calomelano por
uma solução de cloreto a 0,100 mol/L.
obs: se não for possível calcular, prediga se o novo valor aumentaria, diminuiria ou permaneceria
constante, justificando.
18
APÊNDICE
DIFERENTES VERSÕES DOS ELETRODOS DE REFERÊNCIA
A primeira versão apresentada difere das duas abaixo no tipo de junção: a 1a versão é a
junção mais comum, em cerâmica porosa ou "frit" de vidro (vidro sinterizado), a 2ª é uma junção de
vidro esmerilhado chamada "sleeve" (que deixa escoar a solução interna) e a 3ª é uma dupla junção,
sendo normalmente a interna de "frit "de vidro ou cerâmica e a externa "sleeve".
JUNÇÃO SLEEVE JUNÇÃO SLEEVE JUNÇÃO DUPLA
A sleeve tem menor resistência elétrica que a junção comum, por permitir o escoamento da
solução. A junção dupla, com uma segunda câmara com outro eletrólito, permite mergulhar o
eletrodo onde o KCl poderia apresentar problemas.
A tabela a seguir, tirada do catálogo de um fabricante, resume as principais características,
além de apresentar outros materiais usados para junção. O princípio é que em soluções de baixa
condutividade (diluídas ou em meio não-aquoso) é preciso uma junção de menor resistência elétrica
(com menor Ej), o que, todavia, acarreta maior escoamento do líquido interno.
19
TIPO DE JUNÇÃO Resistência a 25°C Fluxo de perda APLICAÇÕES
em solução de KCl de solução de
sat. (em kΩ) KCl no eletrodo
Junção de cerâmica 0,2 a 0,5 2,5 a 5 µL/h Trabalhos gerais em soluções aquosas com
simples (∅ = 0,5 mm) condutividade elétrica maior que 10 µS/cm. Não
adequada para uso contínuo em soluções fortemente
alcalinas.
Junção dupla ou tripla de 0,2 a 0,5 10 a 20 µL/h Como acima, mas para eletrodos de uso industrial.
cerâmica (∅ = 0,5
mm)
Junção de amianto (∅ ≈ 5 a 10 30 a 70 µL/h Uma junção robusta para trabalhos gerais. Quanto
0,7 mm) mais alto o fluxo de perda de solução interna, menor
a possibilidade de danos ao eletrodo. Adequada para
uso contínuo em soluções fortemente alcalinas.
Junção de amianto (∅ ≈ 4a8 40 a 100 µL/h Como acima, mas para eletrodos de uso industrial.
1 mm)
Junção de vidro 0,2 a 0,5 1,5 a 4 mL/h Titulações potenciométricas em solventes não-
sinterizado (∅ = 4,5 mm) aquosos.
Junção ground-joint 0,5 a 1,0 0,5 a 2 mL/h de Para soluções fracamente ionizadas, com uma
acordo com o condutividade elétrica < 10 µS/cm. Também
ajuste adequada para uso em soluções muito concentradas
ou turvas (fácil de limpar).
Soluções adequadas para a dupla junção, e que não são problemáticas do ponto de vista de
Ej, são os nitratos e sulfatos de sódio e de amônio. Se não houver disponibilidade do eletrodo de
dupla junção, pode-se usar uma ponte salina preparada com um gel de AGAR a 1-2 % em solução
de NaNO3 a 1 mol/L (ou outra concentração apropriada).
As tabelas registram também os potenciais para o eletrodo de prata-cloreto de prata. Os
problemas de atividade, temperatura e Ej também são válidos para esse tipo de eletrodo.
20
4o TÓPICO
ELETRODOS INDICADORES
16
Referências 15 e 21.
17
Compare com o exercício 2 do primeiro tópico. Veja também o apêndice deste tópico.
21
O potencial lido deverá seguir a expressão:
∆E = Eref. interno - Eref.externo + Ej
Pois a membrana está no meio do caminho, faz parte do circuito elétrico e o seu potencial se
somará ao dos eletrodos. Substituindo a expressão anterior para Ej:
59,15 59,15
∆E = Eref. interno - Eref.externo + log a 1 − log a 2
n n
O único termo dessa equação que pode variar é a1, pois pode-se trocar a solução externa.
Reagrupando-se então a equação:
59,15 59,15
∆E = log a 1 − log a 2 + Eref. interno - Eref.externo
n n
O somatório de três constantes é outra constante e a expressão pode ser simplificada para:
59,15
∆E = log a 1 + K , equação para cátions
n
Essa é a equação do eletrodo seletivo, que depende do logaritmo da atividade do íon a se
medir, desde que a membrana responda a esse íon. A constante K, como se verá adiante, pode ser
determinada empiricamente. Para cátions, a equação terá a forma acima. Para ânions, que são a
1
forma reduzida na reação redox, em vez de log a1, tem-se log e a equação toma a forma:
a1
59,15
∆E = − log a 1 + K , equação para ânions
n
O termo 59,15/n é dito o fator de resposta do eletrodo e é expresso em mV. Como se verá
no próximo tópico, quanto maior o fator de resposta de um eletrodo, maior a sensibilidade que ele
possui, pois o potencial varia mais fortemente com mudança da atividade.
Todos os eletrodos seletivos partem desse princípio, com algumas variações. A “membrana”
pode ser um cristal, um sólido amorfo, um sólido cristalino agregado, uma membrana líquida
insolúvel em água e imobilizada num suporte, ou ainda membranas contendo enzimas imobilizadas
e que terão a seletividade da própria enzima. A seletividade dos eletrodos se baseia no equilíbrio
iônico dos íons da solução com os íons que constituem a membrana (referências 20 e 21).
22
O ELETRODO DE FLUORETO
18
Referência 33.
23
O ELETRODO DE VIDRO COMBINADO
Os eletrodos desse tipo são, na realidade, dois eletrodos num só corpo de vidro. Têm uso tão
amplo e são tão imprescindíveis, que serão descritos com detalhe19.
A membrana seletiva é o bulbo que fica na extremidade inferior do eletrodo, pois algumas
espécies de vidro estabelecem forte interação com o íon H3O+ (por simplicidade, falaremos
doravante em H+). O eletrodo combinado pode ser entendido de acordo com o esquema abaixo:
Dessa forma, com o vidro apropriado, se forma uma membrana que interage com os íons H+
e OH-. Um esquema simplificado da membrana é mostrado a seguir:
19
Referência 29.
24
Solução Gel Hidratado Camada Seca Gel Hidratado Solução
Externa Interna
Sítios de Sítios ocupados Todos os sítios Sítios ocupados Sítios de
superfície por uma mistura de ocupados por Na+ por um mistura de superfície
ocupados H+ e Na+ H+ e Na+ ocupados
por H+ por H+
aH+ = a1 ← 10-4 mm→ ← 0,1 mm→ ← 10-4 mm→ aH+ = a2
A expressão do potencial lido com esse eletrodo é análoga à descrita para o íon fluoreto
(embora o S tenha sinal contrário, pois é um cátion) e dependerá da atividade de H+ na solução
externa ao bulbo de vidro:
∆E = K + S pH
Nesse caso não há migração de íons, mas a diferença de carga em H+ de cada lado da
membrana é suficiente para provocar um potencial. Esse potencial tem uma alta impedância e
necessita de bons milivoltímetros para a sua leitura.
Esse eletrodo raramente é encontrado na forma separada. Existem eletrodos com dupla
junção (com uma outra parede de vidro), onde pode ser colocado um eletrólito que não afete o
meio, se for o caso:
25
EXERCÍCIOS
1) 10 mL de água do mar foram diluídos a 100,00 mL e o potencial foi medido usando um eletrodo
indicador de Ca contra um ECS. A leitura foi de 32 mV. Uma solução padrão de Ca contendo 2,0 ×
10-3 mol/L de Ca+2 forneceu uma leitura de 12 mV. Determine a atividade de cálcio na água do mar.
Considere o fator de resposta nernstiano, isto é - 29,59 mV/pCa.
2)Como se poderia determinar o fator de resposta de um eletrodo se supuséssemos que sua resposta
não fosse nernstiana?
3)Correlacione a coluna da esquerda com a direita, marcando com um × quando não houver
correlação, tanto no parênteses, como sobre o(s) número(s) não utilizado(s).
1-Serve para isolar o corpo do eletrodo da solução externa.
2-Parte do eletrodo que gera o potencial por meio de reações de oxirredução.
3-Por ele se adiciona a solução interna do eletrodo.
4-Permite o contato da solução interna do eletrodo com a solução a se medir.
5-Conduz o sinal elétrico gerado pelo eletrodo até o medidor.
6-Mantém constante o potencial do eletrodo.
O eletrodo acima é um indicador ou de referência? Ele poderia ser
usado como indicador? De que modo?
4)O sódio pode ser um interferente no eletrodo de vidro. Pesquise a respeito e descreva como isso
acontece e como se pode diminuir esse efeito.
6)Todas as afirmativas abaixo são falsas. Reescreva-as de modo a que se tornem corretas em
potenciometria:
26
• Para determinar o pH de uma solução com um eletrodo de vidro nunca há a necessidade de
e registrador.
• Pode-se determinar qualitativamente a presença de um cátion em solução em potenciometria,
+
contém íons cloreto. A dupla junção deve conter íons Ag de forma a evitar os problemas de
precipitação que poderiam ocorrer.
• A equação de Nernst estabelece uma relação linear entre a diferença de potencial de uma pilha e
27
APÊNDICE
A PILHA DE CONCENTRAÇÃO
O exercício 2 do primeiro tópico é resolvido aqui, para tornar mais clara a equação do
eletrodo seletivo:
1 ⎛ 1⎞
∆Ea - ∆Ep = −29,58 log − ⎜⎜ −29,58 log ⎟⎟
aa ⎝ ap ⎠
28
5o TÓPICO
A CURVA DE CALIBRAÇÃO EM POTENCIOMETRIA
A MEDIDA DE pH
240
1,00 310
160
3,50 198
E (mV)
80
5,00 107
0
1,00 3,00 5,00 7,00 9,00 11,00 7,10 -8,0
-80
9,20 -126
-160
pH
20
Faça o cálculo.
29
Substituindo o valor de ∆E na equação, pode-se achar facilmente21 o pH. Pode-se ver que as
constantes da equação foram obtidas empiricamente, isto é, a partir de dados experimentais. Isto
significa que, enquanto o sistema estiver nas mesmas condições, essa equação é válida.
A maioria dos milivoltímetros (também chamados de potenciômetros) pode ser calibrado
com dois tampões e fornecer a leitura diretamente em pH. A técnica descrita acima, por utilizar
vários pontos, é a que oferece maior precisão.
Uma restrição, já conhecida, é que os padrões (tampões) e a amostra têm que estar na
mesma temperatura nas medições. O pH é definido como o logaritmo da atividade do íon H+ e o
sistema não precisa de maiores ajustes. Como é usado o mesmo eletrodo, o potencial padrão
(seja qual for) e o potencial de junção (seja qual for) permanecem constantes durante a
medição, o potencial do eletrodo de referência também é constante, e esses valores estão
englobados na constante K, de valor 387 mV. O fator de resposta, (-53,8), é menor que o
nernstiano (-59,15), mas, se é constante durante as medidas (o alinhamento dos pontos sugere isso),
pode ser usado assim mesmo.
Toda vez que se quiser medir a atividade de íons, e não sua concentração, a técnica descrita
acima é suficiente, desde que se tenha os padrões adequados. O problema é: e quando o objetivo for
medir concentração e não atividade?
A MEDIDA DA CONCENTRAÇÃO
21
Suponha uma amostra que tivesse leitura de 150 mV e resolva pelos dois métodos.
30
quantidades iguais nos padrões e na amostra, que também são avolumados ao mesmo volume
final. Desse modo, a variação da força iônica devida ao íon de interesse é desprezível em
relação à força iônica total. Podemos considerar então a força iônica e o coeficiente de atividade
como constantes durante todas as medições e a equação toma a forma:
∆E = K’ + S p’X
Essa nova equação pode também ser obtida empiricamente (experimentalmente) para a
determinação do íon de interesse, desde que todos os padrões e a amostra tenham sido preparados
nas mesmas condições. No caso do eletrodo de fluoreto, utilizando um eletrodo de referência de
calomelano e as soluções-padrão convenientemente niveladas, podemos obter o gráfico:
C (mol/L) p’F ∆E
1,00 × 10-2 2,00 132,1
240,0
1,00 × 10-3 3,00 190,5
E(mV)
120,0
2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
p'F
22
Faça o cálculo.
23
Suponha uma amostra que tivesse leitura de 150 mV e resolva pelos dois métodos.
31
Para íons monovalentes, o valor do fator de resposta do eletrodo deverá estar sempre
próximo de 59,15 mV/pX (em módulo), caso contrário o eletrodo poderá estar com problemas. Para
íons divalentes o valor de S deverá estar sempre próximo de 29,6 mV/pX (em módulo), caso
contrário o eletrodo também estará com problemas. Para íons trivalentes, não existem eletrodos
comerciais.
O termo S não depende do eletrodo de referência, do coeficiente de atividade, do potencial
de junção ou do potencial padrão, dados que são englobados pela constante K’. Ele está ligado
unicamente ao eletrodo indicador. É um parâmetro que indica a sensibilidade do eletrodo. O
decréscimo do seu valor ao longo do tempo indica que o eletrodo precisa ser recuperado. Íons
trivalentes não tem eletrodos comerciais pois tem a sensibilidade muito baixa (⎪S⎪ teria valor
abaixo de 20 mV/pX).
O termo S indica a sensibilidade do eletrodo, pois S é o coeficiente angular da reta e indica o
quanto varia a voltagem ao variar pX. Quanto maior o valor de ⎪S⎪, maior será a variação de ∆E
para pequenas variações de concentração e mais facilmente se distinguem duas concentrações
próximas, pois o milivoltímetro tem resolução finita. O gráfico abaixo ilustra a diferença:
Curvas de Calibração
Íons Mono-, Di- e Trivalentes
350
300
Íon
Monovalente
250
E (mV)
Íon Divalente
200
Íon Trivalente
150
100
1 2 3 4 5
pX
32
EXERCÍCIOS
2)Na determinação de fluoreto em creme dental foram preparados oito NaF (mg/L) ∆E (mV)
padrões de fluoreto de sódio, que foram avolumados a 100,00 mL com 5,00 230
5,50 227
uma solução de TISAB, para igualar a força iônica. A amostra A foi
6,00 225
preparada pesando-se 3,078 g do creme dental e avolumando a 100,00
6,50 223
mL com TISAB. A amostra B foi preparada pesando-se 2,719 g de um 7,00 221
creme dental de outra marca e também avolumada a 100,00 mL com 7,50 220
TISAB. 8,00 219
10,0 213
Usando um eletrodo seletivo de fluoreto e um eletrodo de
amostra A 222
calomelano saturado, foram realizadas as leituras de potencial para os
amostra B 225
padrões e as amostras, cujos resultados se encontram na tabela ao lado.
Faça o gráfico de curva ∆E × pF e obtenha a equação do eletrodo. Calcule as concentrações
de flúor nas amostras em ppm ponderal pelo gráfico e pela equação24.
3)Uma análise potenciométrica foi feita empregando-se um eletrodo de prata metálica bem polido.
O eletrodo de referência foi um fio de platina imerso numa solução de Fe+2(0,100
mol/L)/Fe+3(0,0100 mol/L). Todos os cinco padrões de Ag+ para construir a curva de calibração do
eletrodo indicador foram preparados com nivelador de força iônica.
A amostra foram 150 mg de uma liga de prata que foram dissolvidos em HNO3 e diluídos a
25,00 mL. Uma alíquota de 5,00 mL foi transferida para uma b.v. de 25,00 mL e completou-se o
volume com o nivelador de força iônica. A leitura dessa última solução foi de -72,0 mV. O esquema
de análise e o gráfico obtido podem ser vistos a seguir:
24
Os dados deste exercício foram obtidos pelos alunos André Luis e Ana Cláudia em outubro de 1991.
33
Curva de Calibração do Eletrodo de Prata
30,0
0,0
1,00 1,50 2,00 2,50 3,00
E (mV)
-30,0
-60,0
-90,0
pAg
34
5)Ao lado vemos um esquema de uma medição
potenciométrica.
1- Poderíamos dispensar um dos eletrodos de referência?
2- O potencial é gerado na membrana seletiva pela diferença de
atividade da espécie iônica nas soluções externa e interna?
3- A const. K da eq. do eletrodo pode ser determinada pela
curva de calibração, utilizando soluções-padrão do analito?
É correto afirmar:
a) Somente a opção 1 d) As opções 1 e 2
b) As opções 1 e 3 e) Somente a opção 3
c) Somente a opção 2 f) As opções 2 e 3
-160
pH
35
7)Para a análise de Ag em uma liga, utilizou-se um sistema [Ag+] (mol/L) ∆E (mV)
composto de um eletrodo de calomelano saturado (ECS), um 1,00 x 10-4 149
eletrodo seletivo para íons prata, soluções-padrão com a força 1,00 x 10-3 208
-3
iônica devidamente nivelada e a solução-amostra previamente 5,00 x 10 249
tratada. 1,00 x 10-2 267
Determinou-se o ∆E para os diversos padrões de Ag+ e os 5,00 x 10-2 308
resultados obtidos foram os da tabela ao lado: amostra 231
A amostra foi 150 mg de uma liga de prata dissolvida em HNO3 1:3, adicionada do ajustador
de força iônica e avolumada a 250,00 mL.
a) Determine a equação do sistema, indicando o valor de K e de S.
c) Determine o teor de prata na liga.
8)Montou-se uma tabela medindo-se a diferença de potencial obtida com um eletrodo seletivo de
cloreto e um eletrodo de referência adequado. Os padrões foram preparados com atenção na força
iônica. Uma amostra de cloreto em água também foi medida. O tratamento utilizado na amostra foi
coletar 50,00 mL que foram devidamente avolumados a 250,00 mL com regulador de força iônica.
Os resultados são mostrados abaixo:
pCl ∆E (mV)
0,300 -126
1,301 -72,0
2,302 -12,0
3,301 43,0
4,300 80,0
5,300 160
amostra -30,0
Calcule a concentração de cloreto na amostra original.
36
6o TÓPICO
A TÉCNICA DA ADIÇÃO PADRÃO
∆E1 = K - S log γ Co + Ej
37
⎪⎧ ⎡ ⎛ C o Vo + C p Vp ⎞ ⎤ ⎪⎫
∆E1 - ∆E2 = - S log γ (Co) − ⎨− S log ⎢ γ ⎜ ⎟ ⎥⎬ ,
⎪⎩ ⎣ ⎝ Vo ⎠ ⎦ ⎪⎭
⎛ C o Vo + C p Vp ⎞
∆E1 - ∆E2 = - S log Co - S log γ + S log γ + S log ⎜ ⎟
⎝ Vo ⎠
∆E1 − ∆E 2 ⎛ C o Vo + C p Vp ⎞
= log ⎜ ⎟
S ⎝ C o Vo ⎠
∆E1 − ∆E 2 ⎛ C p Vp ⎞
= log ⎜ 1+ ⎟
S ⎝ C o Vo ⎠
Extraindo logaritmos:
∆E1− ∆E 2
Cp
10 S
=1+ Vp
CoVo
Se Vp não é suficientemente pequeno (Vp > 5 % de Vo), é preciso usar a expressão completa:
∆E1− ∆E 2
Vo Cp
10 S +
( )
= Vp
Vo + Vp C o Vo + Vp
Para maior precisão, faz-se uma série de adições padrão, medindo sempre o ∆E
correspondente. Os dados são lançados numa curva na qual a variável independente é Vp (abcissa) e
∆E1− ∆E 2
a variável dependente será Z (que é 10 S , a ordenada). Como exemplo, é mostrada essa
análise de fluoreto em pasta de dente:
Massa de Amostra (g) = 0,4130
Volume de Diluição (mL) = 250,00 Adição-Padrão
Alíq. de Adição (Vo) (mL) = 100,00 Amostra de Creme Dental
Conc.do Padrão (ppm) = 114,6
6,00
Fator de resposta (mV/pF) = 55,93
5,00
Vp(mL) ∆E(mL) (∆E1 - ∆E2)/S
4,00
0,00 243,8 0 1,00
1,00 225,2 0,3326 2,15 Z 3,00
2,00 214,9 0,5167 3,29
2,00
3,00 207,8 0,6437 4,40
4,00 202,0 0,7474 5,59 1,00
0,00
coeficiente angular = 1,143 0,00 1,00 2,00 3,00 4,00
Co = Cp/(coeficiente angular × Vo): 1,003
Vp(mL)
Massa de Fluoreto na amostra (mg) = 250,66
Conc. de Fluoreto na pasta de dente (ppm): 607
38
A reta deve cruzar o eixo y em Z = 1, como pode ser visto pela equação, quando Vp = 0. Na
Cp
reta obtida determina-se o coeficiente angular, que é o termo . Sendo Cp e Vo conhecidos,
C o Vo
calcula-se Co. Observe-se que tal reta sempre terá declividade positiva, seja para cátion, seja para
ânion, pois para um cátion, à medida que Vp cresce, a diferença de ∆E1 - ∆E2 torna-se negativa,
EXERCÍCIOS
1) De uma amostra de vinho se retirou 10,00 mL e se diluiu a 100,00mL com solução amoniacal.
Mediu-se o potencial com um eletrodo de vidro para sódio tendo-se obtido -52,4 mV. Em seguida
39
10,00mL de um padrão contendo 95 ppm de Na+ foi adicionado. Após estabilizado leu-se -21,6 mV
no voltímetro eletrônico.
a) Calcule o teor de Na no vinho. Considere fator de resposta teórico.
b) A aproximação Vp<< Vo pode ser considerada?
2) Uma amostra de solo, contendo fluoreto e pesando 3,60 g, foi tratada com HClO4 e o HF foi
destilado da mistura sendo recolhido em um regulador de força iônica e diluído a 50,00 mL. A
medida com eletrodo seletivo de fluoreto forneceu +95 mV. Adicionou-se em seguida 5,00mL de
um padrão contendo fluoreto a 1,00 x 10-3 mol/L e o potencial tornou-se + 68mV. Calcule o teor de
fluoreto no solo em ppm ponderal, assuma o fator de resposta teórico.
3)Uma amostra de 2,05g de um sal foi diluída a 50,00 mL. A [I-] ( mol/L) Leitura (mV)
medição com um eletrodo seletivo de iodeto forneceu +62,5mV. 2,5 x 10-5 +95,5
500 µlitros de solução de KI a 2,5 x 10-4 mol/L foram adicionados 2,5 x 10-4 +39,0
2,5 x 10-3 -17,0
e obteve-se nova leitura de +60,0mV. A resposta do eletrodo foi
-2
2,5 x 10 -73,3
medida com padrões com nivelador de força iônica (ao lado):
Calcule a porcentagem de KI na amostra.
4) Uma amostra de 6,0396g de extrato de tomate foi diluída a 250,00 mL. Dessa solução se retirou
uma porção de 50,00mL e juntou-se mais 50,00 mL de solução de NaNO3 1 mol/L. Mediu-se a
diferença de potencial desenvolvida entre um eletrodo seletivo de cloreto e um calomelano de dupla
junção mergulhados na solução. Por 10 vezes se adicionou 500 microlitros de uma solução de NaCl
a 0,500 mol/L, e também foi feita a leitura de potencial entre cada adição. Os dados obtidos estão na
tabela abaixo:
Vp (mL) 0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
∆Elido (mV) 130 119 111 106 101 97,0 94,0 91,0 88,0 86,0 84,0
Calcule o teor percentual de cloreto na amostra considerando que a resposta do eletrodo
tenha sido determinada previamente como 53,78 mV/pCl.
40
5) Partindo de uma solução estoque contendo 0,36 g/L de NaCl, um analista preparou uma solução
transferindo 5,00 mL da solução estoque para um b.v. de 250,00 mL e completando o volume. Em
seguida transferiu 15,00 mL dessa última solução para um becher, montou um sistema de
determinação potenciométrica com um eletrodo seletivo de cloreto como indicador e um eletrodo de
calomelano saturado com junção dupla. O ∆E lido nessas condições foi de 93,2 mV.
Considerando as mesmas condições potenciométricas, qual seria o ∆E lido se fosse adicionado
100 µL da solução estoque na alíquota contida no becher? Demonstre os cálculos.
7)Refaça a análise de fluoreto em creme dental encontrada no texto tópico. Pequenas variações na
estimativa do resultado são normais, pois existirá um grau de incerteza na leitura do gráfico.
41
7o TÓPICO
TITULAÇÃO POTENCIOMÉTRICA
fator de resposta do eletrodo, ou seja, a sensibilidade do eletrodo é mais do que satisfatória para
medir essa variação, que é o que se deseja nesse caso.
• Como se quer a variação de potencial, e não sua medida absoluta, o potencial de junção e o
milivoltímetro.
As fontes de erro são a padronização das soluções, a medida de volume do titulante e o grau
de variação do potencial no ponto de equivalência (que é dependente da constante de equilíbrio da
reação de titulação). A determinação visual da virada do indicador, a maior fonte de erro na
titulação clássica, não existe nesse caso.
As técnicas de titulação potenciométrica são largamente aplicadas e podem se basear em
vários tipos de reação: neutralização ácido-base, precipitação, oxirredução e complexação25. Como
nos métodos clássicos, essas reações têm que ser relativamente rápidas e completas. Do mesmo
modo, as soluções em análise têm que ter concentrações relativamente altas, embora o método
potenciométrico possa dosar teores um pouco menores do que o método clássico.
25
Referências 17 e 18.
42
O problema crítico na titulação, como sempre, Titulação Potenciométrica
é a identificação do ponto em que as espécies que
reagem estão em quantidades equivalentes. Na
titulação potenciométrica, esse ponto deve coincidir
E(mV)
com o ponto de inflexão da sigmóide que se origina
de E (mV) × V (mL), onde E (mV) é o potencial lido
e V (mL) é o volume de titulante adicionado.
V(mL) de Titulante
Para construir o gráfico da derivada primeira, temos que obter uma nova série de
pontos a partir dos valores de E e V, que virão da operação ∆E/∆V, isto é, a ordenada de um
ponto menos a ordenada do ponto anterior, dividida pela abcissa do mesmo ponto menos a abcissa
do ponto anterior. Isto traduz o quanto a função E (V) variou entre cada ponto. Obtém-se assim uma
nova ordenada que deve ser plotada contra a mesma abcissa. Isto dá origem a uma nova série de
dados.
Como exemplo, vê-se abaixo o gráfico de uma titulação de uma solução de Fe+2 feita com
uma solução-padrão de dicromato de potássio26.
26
Neste caso, como o próprio meio já fornece um potencial que muda com a concentração, pois temos uma reação de
oxirredução, o eletrodo indicador é somente um fio de platina que, por ser um metal nobre, não é atacado.
43
V(mL) E(mv) ∆E/∆V
0,00 205,0 - Dados Experimentais da Titulação do Fe(II)
3,00 279,5 24,8 pelo Dicromato
6,00 302,3 7,6 800,0 1000,0
9,00 317,9 5,2
12,00 331,5 4,5
15,00 346,5 5,0 700,0
800,0
18,00 361,3 4,9
21,00 382,0 6,9
600,0
22,00 392,8 10,8
600,0
23,00 408,0 15,2
∆E/∆V
E(mV)
24,00 433,8 25,8 500,0
24,12 448,0 118,3
24,30 461,3 73,9 400,0
24,40 476,0 147,0 400,0
24,44 512,3 907,5
24,52 589,4 963,8 200,0
24,60 604,0 182,5 300,0
24,72 612,5 70,8
25,06 632,5 58,8
200,0 0,0
25,54 650,0 36,5
0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00
26,00 663,0 28,3
27,00 677,0 14,0 V(mL) E(mV)
28,00 688,0 11,0
30,00 703,3 7,6
44
Curva de Titulação Curva de Titulação
Potenciométrica Potenciométrica
E(mV)
pX
V(mL) V(mL)
A inversão da curva ocorrerá na titulação de cátions, onde fator de resposta tem sinal
negativo e o potencial diminui conforme aumenta pX.
45
EXERCÍCIOS
4)Olhando a tabela de dados do exercício 2, podemos afirmar que só seriam necessários os dados
que estão entre 24,00 mL e 25,00 mL para resolver todo o problema. Justifique.
46
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