Cultura Da Imagem PDF
Cultura Da Imagem PDF
Cultura Da Imagem PDF
sociedade do espetáculo
Série:
Comunicação na
Contemporaneidade
Ana Luiza Coiro Moraes
Cláudio Novaes Pinto Coelho
Organizadores
Cultura da imagem e
sociedade do espetáculo
2016
São Paulo
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ISBN: 978-85-92691-10-3
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Impresso no Brasil
SUMÁRIO
Apresentação.................................................................7
Cláudio Novaes Pinto Coelho, Ana Luiza Coiro Moraes
Prefácio........................................................................11
Cultura das imagens na contemporaneidade
Rosana de Lima Soares
Sobre os autores.........................................................239
APRESENTAÇÃO
7
um direito humano universal ao espetáculo, cujo exercício
pode assumir a forma de resistência contra a poderosa in-
dústria cultural, bem como a forma de subversão da lógica
do aceleramento desregrado da vida contemporânea.
Um dos líderes do grupo de pesquisa Comunica-
ção, Cultura e Visualidades, Carlos Costa, em A cultura
do selfie e a desmaterialização da imagem, propõe uma
reflexão sobre o selfie, abordando essa “mania” no con-
texto da cultura do espetáculo e do fascínio exercido pelas
redes sociais. Analisa, então, a função da imagem como
registro e memória, a desmaterialização da fotografia na
era da reprodutibilidade eletrônica e da onipresença das
câmaras, chamando a atenção dos leitores para a ne-
cessidade de aprofundar os estudos visuais, segundo o
autor, ainda um grande ausente das grades disciplinares
dos cursos da área da Comunicação.
Imagem, identidade e espetáculo é o texto desenvol-
vido por Dulcilia Schroeder Buitoni, a partir de sua conferên-
cia de abertura do 3º Seminário Comunicação, Cultura e
Sociedade do Espetáculo. Nele, a autora pontua que as ima-
gens em circulação nas mídias contemporâneas têm forte
relação com a construção das identidades dos sujeitos. Lem-
brando que as relações de gênero também estão presentes
nas representações midiáticas, a autora alerta para o fato de
que ao fornecermos nossas informações e nossas imagens
gratuitamente ao aparato tecnológico informático, esses da-
dos são por ele apropriados e transformados em valor, o que
movimenta ainda mais as engrenagens do mercado.
O espetáculo de realidade como gênero do entre-
tenimento na TV, de Ana Luiza Coiro Moraes, propõe uma
classificação desse gênero situada na conjuntura da socie-
dade contemporânea, em que entretenimento, informação
e consumo se embaralham, para formar a chamada socie-
dade do espetáculo. Buscando nos Estudos Culturais o su-
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porte teórico-metodológico de seu texto, a autora também
é uma das líderes do grupo de pesquisa Comunicação,
Cultura e Visualidades.
O líder do grupo de pesquisa Comunicação e Socie-
dade do Espetáculo, Cláudio Novaes Pinto Coelho, a partir
do entendimento de Guy Debord acerca da dialética da cul-
tura, analisa comparativamente a proposta de construção
de situações, defendida pelos situacionistas, e a proposta de
inserção em circuitos ideológicos, defendida por Cildo Mei-
reles, artista plástico brasileiro. Assim, o texto Cultura, arte e
comunicação em Guy Debord e Cildo Meireles promove uma
reflexão sobre a possibilidade dessas propostas questiona-
rem a sociedade do espetáculo e a cultura da imagem.
Em Debord e a negação real da cultura, Gilberto da
Silva percorre as teses ou aforismos do capítulo VIII, “A negação
e o consumo na cultura”, do livro A Sociedade do Espetáculo,
momento da obra em que Guy Debord discute a arte e a cul-
tura. O texto analisa a concepção dialética de Debord e sua
proposta de intervenção direta na realidade como forma de
suprimir a cultura como realidade separada da vida cotidiana.
Comunicação, arte e cultura política nos movimen-
tos sociais: a teatralidade sem terra e a literatura zapatista,
de Alexander Maximilian Hilsenbeck Filho, constitui-se em
uma pesquisa sobre as potencialidades da literatura e do
teatro, tomados como forma de manifestação estética e co-
municação política desenvolvida por movimentos sociais.
Para tanto, aborda a utilização da literatura pelo mexicano
Exército Zapatista de Libertação Nacional e do teatro pelo
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra brasileiro.
Em Belas Artes, meu amor, cine espetáculo em São
Paulo, Ethel Shiraishi Pereira tematiza a reabertura do cinema,
em 2014, após articulações do Movimento pelo Cine Belas
Artes junto ao poder público, imprensa e formadores de opi-
nião. Para a autora, o reconhecimento do Belas Artes como
9
patrimônio cultural imaterial da cidade colabora para o posi-
cionamento de São Paulo como cidade criativa, tendo a cultu-
ra como eixo estratégico para fortalecer este posicionamento
e competir internacionalmente com outras cidades globais.
O jornalismo cultural e o espetáculo dos museus
no século XXI, de Guilherme Dogo, analisa, sob a ótica de
Sociedade do Espetáculo de Guy Debord, a cobertura do
periódico Folha de S.Paulo a dois eventos que ocorreram
no Museu da Imagem e do Som (MIS), na capital paulista.
Trata-se da exposição Castelo Rá Tim Bum, realizada no
segundo semestre de 2014, e da mostra David Bowie Is,
ocorrida no primeiro semestre de 2014.
Encerrando os textos do livro, As técnicas de repro-
dução e o espetáculo no jornalismo esportivo na internet,
de Marcelo Bechara S. N. Frange, ocupa-se do estudo da
produção do jornalismo esportivo na internet, fundamen-
tando-se teoricamente em Walter Benjamin, Guy Debord,
Theodor Adorno e Max Horkheimer. Em um primeiro mo-
mento, a pesquisa explora a relação entre as técnicas de
reprodução e as agências de notícias, como forma essen-
cial de abastecimento de conteúdo dos principais portais
eletrônicos. Em segundo lugar, o texto questiona a produ-
ção em série de informação como mais uma característica
da indústria e a possível desvalorização do papel do pro-
fissional de comunicação.
Cientes de que aqui brevemente apresentamos as
apropriações autorais que produziram a multiplicidade de te-
mas, nesta obra articulados a partir das imbricações entre Co-
municação, Cultura e Sociedade do Espetáculo, resta a nós,
organizadores do livro, desejar a todos uma excelente leitura!
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PREFÁCIO
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em modos de produção e consumo – aspecto predominan-
te quando observamos as mídias – e, em segundo lugar,
como possibilidade de uma crítica social em termos políti-
cos e estéticos, contribuindo para o questionamento de mo-
dos de vida hegemônicos. Dividida em três partes, a obra
está organizada nos seguintes eixos: o papel das imagens
na contemporaneidade; a relação entre arte e política; e a
cobertura midiática, especialmente jornalística, voltada à
cultura, tomando como ponto de inflexão a noção de espe-
táculo em Debord.
Desse modo, as temáticas tratadas nos interpe-
lam por meio de diferentes filiações teóricas e obje-
tos empíricos, levando-nos a reflexões que articulam
a questão da imagem e do imaginário (e também da
imaginação), os modos de endereçamento do outro e
as formas de construção de sua representação nos mais
diversos meios. Os conceitos de identidade e identifi-
cação em sua relação com as noções de visibilidade
e reconhecimento ensejam, assim, caminhos nos quais
problematizar criticamente a construção e a desconstru-
ção de políticas de representação e de regimes de visi-
bilidade implicados em nossa sociedade. Por se colocar
em perspectiva crítica, tal movimento se faz no entre-
meio entre a estética e a política, desafiando discursos
cristalizados e apontando suas aberturas.
Se definirmos a crítica como capacidade de julgar,
contestar, apreciar, discernir, explicar e interpretar diferen-
tes objetos e situações, podemos nos voltar para a crítica
de mídia em suas diversas vertentes por meio da sistemati-
zação de possíveis métodos de apreciação das produções
midiáticas. Nesse sentido, o caráter relacional da crítica de
mídia aponta para sua dimensão comunicativa, em que
produtores e receptores acionam repertórios comuns me-
diados por tais produções:
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Dessa forma, podemos dizer que, na contemporaneida-
de, não se trata mais de uma única cultura socialmente
compartilhada, mas de várias culturas buscando, por
meio de seus discursos, a validação de suas supostas ver-
dades. A própria questão da segmentação (do mercado,
das publicações, dos produtos culturais) pode ser relacio-
nada à percepção da não-homogeneidade da cultura e
da sociedade (Paganotti; Soares, 2015, p. 43).
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mento de sua suposta neutralidade e universalidade como
especialista, a ausência de sujeitos comuns na interrogação
e valoração de produtos culturais (Figueiredo, 2016, p. 9).
Nas sociedades contemporâneas, podemos afirmar que “a
crítica profissional se ressente da relativização dos critérios
de competência que põem em xeque a noção de autoria
e, consequentemente a noção de obra” (Figueiredo, 2016,
p. 12), misturando os papeis do criador e do público, ou
do produtor e do receptor e, desse modo, indagando: “Se,
na elaboração da obra, nenhuma decisão é final, numa
retomada contínua que não alcança uma conclusão, qual
o ponto de partida para o trabalho crítico?” (Figueiredo,
2016, p. 14). Ou seja: se a obra está sempre em constru-
ção e a experiência do autor e do público torna-se parte da
obra, como então realizar a crítica?
No filme brasileiro Nise, o coração da loucura
(Roberto Berliner, 2016), que nos apresenta obras pro-
duzidas pelos internos de um hospital psiquiátrico no Rio
de Janeiro (a partir das décadas de 1940-50), temos um
bom ponto de partida para pensar a crítica de mídia (in-
clusive aquela feita a respeito do próprio filme enquanto
produção cultural). A produção dos pacientes alcançou
estatuto de arte apenas após seu encontro com a crítica
(na figura de Mario Pedrosa) e com o público por ela ins-
truído. É Pedrosa quem afirma para a psiquiatra Nise da
Silveira – pioneira nos estudos junguianos no Brasil e que
transformou os tratamentos psiquiátricos e psicoterápicos
de sujeitos antes confinados e sem qualquer alternativa
de cura ou reinserção social –, em momento crucial da
narrativa, que “não é a ciência que vai garantir o seu tra-
balho, é a arte, a opinião pública”. A frase aponta para
algumas das dimensões pressupostas em relação às ima-
gens em seus aspectos mentais, estéticos, éticos, sociais e
políticos, abrindo a possibilidade de debatermos também
14
as próprias figurações propostas pela cinebiografia desta
emblemática personagem da história brasileira:
As obras produzidas no ateliê pelos internos ganharam
uma visibilidade fora dos muros da instituição psiquiátri-
ca, possibilitando que a muitas delas fosse atribuído, por
parte da crítica especializada, sobretudo Mário Pedrosa,
o estatuto de “obras de arte”, o que, conjuntamente,
contribuiu para o “surgimento” de novos artistas (Toledo,
2016, online).
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sadas a partir de critérios da arte, o que nos levaria a bus-
car valores e parâmetros específicos para análises críticas
das produções midiáticas. Em um tríplice movimento – de
legitimação da obra, formação do público e ampliação
do campo artístico – podemos vislumbrar uma primeira
abordagem para realizar a crítica das imagens midiáticas.
A crítica pode, portanto, ser concebida como um modo de
olhar os objetos a partir de diferentes teorias, mirando-os
de perto e deles se afastando para problematizá-los, em
uma dobra crítica cujo efeito se produz na própria dobra-
dura. Ao interpelar o estatuto das imagens na contem-
poraneidade, retomamos um debate clássico em diversos
campos do conhecimento, entre eles a filosofia, a arte, a
antropologia e a comunicação.
Já em 1994, o pensador francês Gilbert Durand
antecipara tal desafio em seu livro O imaginário. Por meio
de uma filosofia da imagem, o autor nos apresenta o que
denomina um “paradoxo do imaginário” no ocidente: um
iconoclasmo endêmico, apontando para a suspeição em
relação às imagens, e um efeito perverso de seu enalteci-
mento, levando à explosão das imagens nas sociedades
contemporâneas. Entre a percepção da “imagem como
heresia” e a “verdade como método”, temos a erosão do
papel do imaginário à medida que se firmava a filosofia
racionalista de inspiração aristotélica e, posteriormente,
cartesiana. Na contramão desse desenvolvimento, vemos
a explosão contemporânea do imaginário (a construção de
uma “civilização da imagem”), percebida por meio da pro-
dução e do consumo obsessivo de imagens, em que as mí-
dias operam como grandes difusoras: “É preciso frisar este
paradoxo de uma civilização, a nossa, que, por um lado,
propiciou ao mundo as técnicas, em constante desenvolvi-
mento, de reprodução da comunicação das imagens e, por
outro, do lado da filosofia fundamental, demonstrou uma
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desconfiança iconoclasta (que destrói as imagens ou, pelo
menos, suspeita delas) endêmica” (Durand, 2001, p. 7).
Como contraponto a essa visão, Durand destaca
que as culturas não ocidentais não estabelecem uma divi-
são entre o caráter intuitivo das imagens e o caráter persu-
asivo da escrita, tomando esses dois sistemas de modo não
dicotômico e igualmente persuasivo. Na oscilação entre
imaginário e realidade, portanto, inscreve-se o poder das
imagens na contemporaneidade, que servem como estatu-
to de autenticidade e veracidade para demonstrar e com-
provar os fatos, mesmo hoje, em tempos de mídias digitais,
dispositivos móveis e pontos de vista múltiplos. Ainda que
o imaginário tenha sido excluído do campo do saber, ele
sempre retorna para reafirmar, segundo Durand, a impos-
sibilidade de um pensamento sem imagem.
Tal concepção encontra eco em obras voltadas para
pensar o estatuto das imagens como dotadas de uma lin-
guagem própria, sob vários vieses: sua sintaxe, sua gra-
mática, sua narrativa ou sua autonomia enquanto discur-
so. É nesse ponto que as obras Como pensam as imagens
(2012) e Pensar a imagem (2015) oferecem importantes
contribuições. A partir de polos aparentemente inversos, os
dois livros têm em comum uma proposição que nos parece
essencial: o convite – ou uma provocação – para que olhe-
mos as imagens nelas enxergando potencialidades antes
insuspeitas, para que pensemos sobre e com as imagens.
Afinal, o que querem e o que podem as incansáveis ima-
gens contemporâneas?
O artigo de Etienne Samain, organizador do primeiro
livro, intitula-se “As imagens não são bolas de sinuca” e traz
uma definição abrangente de imagem e imaginário, refor-
çando que as imagens pensam e fazem pensar. Desse modo,
elas devem ser analisadas por meio de outras imagens e não
de conceitos a elas externos, numa espécie de jogo de “ima-
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gens cruzadas” (a exemplo do exercício de preencher palavras
cruzadas), levando à sua compreensão e, mais do que isso,
ao entendimento do mundo por meio delas:
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Quero crer, então, que essa tarefa de desvendamento
que arrasta minha imaginação até os reinos mágicos da
significância é realizada pelo inconsciente ótico. Vem daí
a minha convicção de que qualquer foto pensa e sonha.
Vem daí, também, o fascínio da descoberta e a alegria
que esta acarreta cada vez que constato como meu re-
pertório se amplia a partir do instante em que acha uma
resposta para os enigmas de uma foto ou para as in-
cógnitas por mim equacionadas para me adentrar nela
(Peñuela Cañizal, 2012, p. 127).
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espetáculo, se tais imagens operam apenas como reforço
de discursos estabilizados (ou circulantes) ou se, por ou-
tro lado, permitem o surgimento de discursos de ruptura
(ou de resistência), deslocando e rearticulando os discursos
estabelecidos (cf. Charaudeau, 2006) e, desse modo, in-
terferindo nas políticas de representação e nos regimes de
visibilidade (cf. Rancière, 2005). De maneira mais abran-
gente, por meio de tais definições podemos problematizar
as imagens midiáticas, complexificando sua percepção
dicotômica enquanto imagens ficcionais ou imagens refe-
renciais, e indagar sobre os modos de construção dessas
imagens midiáticas.
As contribuições de Rancière (2005) sobre a “parti-
lha do sensível” iluminam o debate, definindo os regimes
de visibilidade como aqueles que determinam o que se
dá a ver/sentir e o que pode ser visto/sentido, recortando
tempos, espaços e sujeitos em torno de um “comum par-
tilhado” e, ao mesmo tempo, demarcando os modos de
distribuição excludente de partes desse tecido social. Entre
compartilhamento e segregação circulam as imagens, o
que nos obriga a interpelá-las, segundo o autor, sob dois
aspectos indissociáveis: a estética e a política. O feixe de
temáticas advindas dessa proposição é vasto, incluindo as
definições de comum, comunidade, celebrização, espe-
tacularização, entre outras. Além disso, a perspectiva de
Rancière, mais voltada, aparentemente, para o campo ar-
tístico, estabelece conexões com as produções midiáticas
ao possibilitar que as tomemos como espaços de reorde-
nação do sensível, notadamente em termos de suas for-
mas expressivas, mas também de suas reconfigurações,
levando a novas partilhas. No equilíbrio entre hegemo-
nias e contra-hegemonias – ambas partilhando um mes-
mo recorte do visível, ainda que com visibilidades/invisi-
bilidades distintas – vemos surgir, em relação às imagens
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midiáticas, tanto os questionamentos trazidos por Debord,
como aqueles tratados por Durand.
A partir da perspectiva foucaultiana, sabemos que
as formações discursivas constituem-se por um conjunto
coerente de discursos circulantes e são transformadas nos
embates entre saber e poder. Ao terem rearticuladas suas
conjugações, tais formações se transformam; desse modo,
um contra-discurso não é uma escolha deliberada por ou-
tro discurso, que a ele se oponha, mas um contraponto aos
discursos dominantes (cf. Foucault, 1996). Nessa corrente,
as mídias, como outros discursos – incluindo as imagens
– não manipulam comportamentos ou impõem tendên-
cias, mas disseminam, reforçam, adaptam e potencializam
aquilo antes disperso socialmente. Mais do que a criação
de padrões, trata-se de sua ordenação. Dessa maneira, ca-
be-nos perguntar, ao pensarmos o lugar das imagens na
contemporaneidade: quais seriam, afinal, as possibilidades
de mudança e inovação – os espaços de transformação
– em um panorama de hibridização e crescente mercan-
tilização da cultura? Onde estariam as passagens – fissu-
ras – que, sabemos, são sempre internas aos discursos?
Ou teremos, atualmente, apenas uma repetição estéril por
meio da replicação incessante de imagens, sem que esta
repetição implique na articulação de diferenças?
Um artista multimídia nos auxilia nesse empreendi-
mento, instaurando brechas nos modos de pensarmos as
imagens. Escritor, pintor, cineasta, diretor de teatro e cria-
dor visual, Peter Greenaway transita entre diversos campos
da cultura. Ao introduzir em seus filmes, já nos anos 1980,
inúmeros elementos inovadores – sobreposições de telas,
letras e imagens, fusões, personagens ambíguos, diálogos
interrompidos, desenhos e colagens –, Greenaway ousou
romper axiomas e estabelecer um diálogo com recursos
técnicos, tecnológicos, visuais e especiais antes destinados
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ao chamado “cinema industrial”. Numa primeira aproxi-
mação, os filmes de Greenaway parecem nos interrogar
sobre os limites do cinema em relação ao erudito e ao po-
pular, e aos próprios cânones de seu fazer; entretanto, sua
proposta mostra-se bem mais radical – as próprias mar-
gens demarcadas são rompidas, num hibridismo que mes-
cla gêneros e formatos sem que possamos reconhecê-los
em estado puro ou decompô-los em suas formas originá-
rias: “Conceituados como mitologias, reposições arquetí-
picas, restituições seletivas, estruturas narrativas, matrizes
culturais, expressões de ideologia e poder, formas culturais,
entre outras conceituações, os gêneros encontram-se pre-
sentes em toda e qualquer forma literária, e também nas
produções sonoras e audiovisuais” (Borelli, 2002, p. 253).
De modo aparentemente não narrativo, a contem-
porânea obra de Greenaway – não apenas no cinema, na
pintura ou na fotografia, mas também por meio de ópe-
ras, musicais, exposições, instalações, projetos arquitetô-
nicos – evoca outras visadas para mirarmos as imagens e
o imaginário, conceitos fundamentais em nossas reflexões.
Em artigo publicado na década de 1990, o psicanalista
Contardo Calligaris afirmara ser o cinema um “catálogo
da imaginação ocidental”, uma espécie de “repertório das
tendências e dos modos da imaginação contemporânea”
ou, ainda, “uma antologia breve e enérgica das histórias
graças às quais viver se torna possível (ou deliciosamen-
te impossível, que é a mesma coisa)” (Calligaris, 1998,
s.p.). Ao materializar em formas narrativas as maneiras
pelas quais gostamos de nos imaginar, o cinema nos tor-
na personagens de uma obra de ficção – nossas próprias
narrativas – imaginadas a partir da literatura, do cinema,
da televisão e, mais recentemente, da internet. Viver seria,
assim, “inventar” um personagem possível para si mesmo,
imaginar narrativas de si que, longe de serem falsas ou
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mentirosas, constituem nosso modo de ser, estar e agir no
mundo, articulando imaginários. Por meio dessas ficções
construímos nossas realidades, tornando-nos personagens
de histórias que inventamos para dotar a vida cotidiana de
sentido, não de modo deliberado, mas por meio de peque-
nas escolhas imaginárias.
Para Calligaris, “a narrativa é nossa maneira de ser,
somos o que conseguimos imaginar” e, mais do que isso,
nossas formas de pertencimento social são sobretudo nar-
rativas, contrapondo-se à fragmentação ofertada pelo con-
sumo. Por meio de mitos coletivos, amalgamados no ima-
ginário, comunidades “existem e subsistem à condição de
se imaginar” e, nesse sentido, “somos romancistas de nos-
sas vidas” (Calligaris, 1998, s.p.). As imagens que povoam
nossa precária realidade atestam, assim, a vida no imagi-
nário, construída a partir de inúmeros retalhos, instituídos
por discursos fundantes e também por discursos correntes,
apontando para o lugar sempre fugidio das interações so-
ciais e das mediações simbólicas nelas engendradas.
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24
Notas compreensivas sobre o
direito ao espetáculo
Dimas A. Künsch
Mateus Yuri Passos
25
Dimas A. Künsch e Mateus Yuri Passos
26
Notas compreensivas sobre o direito ao espetáculo
diz o que lhe ocorre, termina onde ele mesmo acha que
acabou e não onde nada mais resta a dizer”. Por isso
mesmo, conclui o autor, o ensaio “se insere entre os des-
propósitos” (Adorno, 1986, p. 168). Amigo da “fantasia
subjetiva que se condena em nome da disciplina objetiva”
(Adorno, 1986, p. 169) e crítico, a seu modo, do falso pu-
rismo científico e da falsa profundidade, o ensaio, se bem
entendido, liberta-se da ideia tradicional de verdade para
proclamar a heresia como sua “mais intrínseca lei formal”
(Adorno, 1986, p. 187).
Navegando pelos mares da liberdade de espírito de
que fala Adorno, e seguindo como ele uma tradição de ex-
pressão do pensamento cujas origens modernas remontam
a Michel de Montaigne (2010) no século XVI, o filósofo e
pensador da Comunicação tcheco-brasileiro Vilém Flusser
(1998) deixa claro que elege, em sua extensa obra, aquilo
a que chama de “o estilo vivo do ensaio”, convencido de
que o “estilo acadêmico”, que ele não condena mas rejei-
ta para si mesmo, “reúne honestidade intelectual com de-
sonestidade existencial”. Belo, de uma beleza proveniente
do rigor que persegue, o texto acadêmico ortodoxo viveria
de verdade num mundo de faz-de-conta. Esconder-se-ia
atrás de um “bombástico (embora aparentemente modes-
to) ‘nós’” ou de um “‘se’ que não compromete”.
O texto acadêmico – ou academicista, talvez fosse
melhor dizer – nos chama para a discussão porque está
interessado em explicar o assunto de que trata. O ensaio,
por sua vez, ancora-se de preferência na ideia de conversa
e de diálogo, ainda segundo Flusser e por isso – agora em
nossa visão – entende-se melhor com a proposta a que
temos nomeado epistemologia compreensiva.
Uma epistemologia compreensiva, tal como o en-
saio quando este se realiza em suas virtualidades – porque
há bons e maus ensaios, como adverte Adorno –, integra,
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Dimas A. Künsch e Mateus Yuri Passos
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Notas compreensivas sobre o direito ao espetáculo
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Dimas A. Künsch e Mateus Yuri Passos
Homo ludens
O espetáculo e seus vizinhos próximos – o jogo, a
brincadeira e a festa – nos lançam nessa área imensa dos
sonhos, fantasias e devaneios, do lado nem um pouco ló-
gico da vida, para além do imanente. Porque só de razão,
raciocínio, argumento, método, como também só de traba-
lho e preocupação, objetivamente, ninguém suporta viver:
porque a vida fica besta.
Estamos, como se nota, nos referindo a esse lado
nada muito sério da vida, essas estratégias cotidianas e
esses caminhos pelos quais se alcança o universo imenso
do inconsciente humano, onde vivemos como pessoas, mas
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Notas compreensivas sobre o direito ao espetáculo
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Dimas A. Künsch e Mateus Yuri Passos
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Notas compreensivas sobre o direito ao espetáculo
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Dimas A. Künsch e Mateus Yuri Passos
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Notas compreensivas sobre o direito ao espetáculo
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Dimas A. Künsch e Mateus Yuri Passos
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Notas compreensivas sobre o direito ao espetáculo
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O alvorecer do espetáculo
Ao falar de nostalgia, não podemos esquecer a pri-
meira forma espetacular da era moderna, cuja trajetória
é pontuada por tensionamentos que problematizam uma
tendência à espetacularização em contraponto a um po-
tencial de “arte elevada”. Hoje, quando se fala em música
erudita, agrupamos uma diversidade de gêneros e obras
tão díspares, de caráter e finalidade tão distintos, que aca-
bamos por ocultar esses pontos de polêmica interna – e nos
esquecemos especialmente do quanto alguns desses gêne-
ros se popularizaram, tornando-se equivalentes ao cinema
ou televisão de seu tempo.
A ópera é o último grande experimento do Renas-
cimento italiano, desenvolvido ao longo de décadas pela
Camerata Fiorentina, grupo de artistas e filósofos que se
reunia em torno do conde Giovanni Bardi nas três últimas
décadas do século XVI (Abbate & Parker, 2012). Fazendo
jus ao espírito de retomada de valores do mundo clássico,
a ópera surge também como instrumento nostálgico, uma
nova encarnação da tragédia grega – a primeira obra des-
se gênero foi Dafne, de 1598, com música de Jacopo Peri
e texto de Ottavio Rinuccini.
Nas primeiras décadas do século seguinte, na me-
dida em que o classicismo renascentista dá lugar ao bar-
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Crítica ao espetáculo
É num sentido muito positivo que vemos a crítica que
se continua a fazer hoje ao espetáculo, tentando-se resgatar,
nesse exercício da razão crítica, o sentido mais original,
grego, da palavra crítica, que é de separar, apurar, purificar.
O sentido mais nobre dessa tarefa pode ser visto como
o de cobrar, exigir, recuperar toda a força vital do espetáculo
como direito humano. É o de apontar, com vigor, o dedo para
a ideologia, a dominação, o poder que se vale do espetáculo
para sedimentar as enormes assimetrias sociais.
É a força de não permitir que a vida se espetacularize.
Que a Comunicação se espetacularize. Que o Jornalismo se
espetacularize. Mas que, concomitantemente, o espetáculo se
faça presente; que não nos levantemos contra ele com tochas
e forcados, mas saibamos reconhecer e apreciar seu lugar em
nosso mundo – principalmente ao ter em mente como esse
lugar se constrói e reconstrói com o passar do tempo.
Referências
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BAITELLO JUNIOR, Norval. A era da iconofagia: reflexões sobre
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A cultura do selfie e a
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Memória e identidade
O filme Blade Runner, de Ridley Scott (1982), não
por coincidência é recorrentemente citado por pensado-
res da fotografia. Em dois dos textos reunidos por Etienne
Samain num livro hoje clássico, O fotográfico, de 1998,
dois pesquisadores, Armando Martins de Barros (“Edu-
cando o Olhar: notas sobre o tratamento das imagens
como fundamento na formação do pedagogo”) e Olga
Rodrigues de Moraes von Simson (“Imagem e Memória”),
abordam o uso da fotografia, pelos replicantes do filme,
como criador de memória e de identidade. Ter foto de
família é um recurso de remeter o observador ao passa-
do, que, por sua vez, retorna ao presente, atualizando-o.
Escreve Martins de Barros:
Em Blade Runner, os replicantes, desejando-se libertos,
roubam fotografias de álbuns de família no intuito de,
ao transferirem para si uma memória privada, presentes
nas imagens, adquirirem uma identidade histórica. As
fotografias, assim, lhes servem de passaporte para um
passado que os autoriza ao humano presente (Barros,
1998, p. 122).
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Dulcilia Schroeder Buitoni
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Tempo roubado
A cultura contemporânea rouba muito do nosso
tempo. A cultura contemporânea se apropria de todos os
nossos minutos, sem que percebamos o quanto estamos
imersos no universo das imagens e o quanto as imagens
nos solicitam. Antes, as imagens solicitavam nosso olhar.
Hoje a solicitação também é no sentido de que nos torne-
mos produtores incansáveis de imagens. A mobilidade das
câmeras fotográficas embutidas nos celulares, e a possibi-
lidade de transmissão e compartilhamento proporcionada
pelos smartphones aumentou exponencialmente a quanti-
dade de imagens circulantes. Nós costumamos pensar que
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Dulcilia Schroeder Buitoni
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Imagem, identidade e espetáculo
Referências
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do de Cultura Económica, 2013.
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O espetáculo de realidade como
gênero do entretenimento na TV
Ana Luiza Coiro Moraes
Introdução
O entretenimento é da ordem do dionisíaco, aciona
subjetividades e instrumentaliza a criação que, carregada
de fantasia, sensibilidade e idealismo, tem a emoção como
palavra-chave. Para Gabler (1999), o entretenimento se
consolida como uma força poderosa da contemporaneida-
de, multiplicando a sua ambiência e manifestando-se em
searas onde, até pouco tempo atrás, ninguém imaginava
que fossem fontes de divertimento.
Neste sentido, a televisão promove um “reencan-
tamento massmediatico”, em resposta à modernidade de-
sencantada pelo triunfo da razão. A televisão é um “lugar
de visibilidade de mitos compartilhados [...] dos mitos que
nos dão medo ou que nos tiram o medo, dos mitos que
nos unem, dos mitos que nos protegem, dos mitos que nos
salvam, dos mitos que dão sentido à pobre vida da maioria
de nós...” (Martín-Barbero, 1995, p. 78)
Assim, pensar sobre a TV “de realidade” e sobre o
gênero que nela se desenvolve, o espetáculo de realidade,
solicita a interlocução do conceito de entretenimento com
essas fontes, que contemporaneamente se manifestam na
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Ana Luiza Coiro Moraes
Espetáculo e realidade
Não se pode falar da qualidade da sociedade que
abriga o gênero espetáculo de realidade, sem mencionar
Guy Debord e o conceito cunhado por ele no livro A so-
ciedade do espetáculo, de 1967, que deve ser lido, alertou
seu autor na introdução à terceira edição francesa, “tendo
em mente que ele foi escrito com o intuito deliberado de
perturbar a sociedade espetacular” (Debord, 1992, p. 8).
Já no primeiro aforismo, Debord (1997, p. 13) es-
clarece o que está qualificando como espetacular: aquelas
sociedades nas quais “reinam as modernas condições de
produção”. Nelas, “tudo que era vivido diretamente tor-
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1 Disponível em <http://noticias.r7.com/cidade-alerta/videos/ho-
mem-e-preso-por-atirar-em-mulher-por-causa-de-copo-de-cerve-
ja-06122016>. Acesso em 6 dez.2016.
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Considerações finais
Sob a égide de um novo gênero — o espetáculo
de realidade — e de seus subgêneros e formatos, o espe-
táculo, que se registra através da lógica da sedução, da
visibilidade máxima, do voyeurismo e do consumo, passa a
ocupar espaços que anteriormente eram reservados à pri-
vacidade, afirmando-se como mediação entre as esferas
pública e privada.
A exacerbação dessa lógica, nos inúmeros e varia-
dos programas “de realidade” que o entretenimento na te-
levisão promove, solicita cada vez mais a participação do
sujeito comum: sem a sua adesão não há consumo, não há
o espetáculo que se pretende vida.
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O espetáculo de realidade como gênero do entretenimento na TV
Referências
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Guy Debord e Cildo Meireles1
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Cláudio Novaes Pinto Coelho
A dialética da cultura
No livro Sociedade do espetáculo, Debord afirma
que “a cultura tornada integralmente mercadoria deve
também se tornar a mercadoria vedete da sociedade es-
petacular” (Debord, 1997, p. 126). A crítica da sociedade
do espetáculo e a crítica da mercadoria-vedete caminham
juntas, para Debord, e dependem do reconhecimento da
dimensão contraditória da cultura. Trata-se de uma con-
tradição que tem como origem a divisão entre o trabalho
intelectual e o trabalho manual, e a dialética todo/parte
por ela estabelecida. Essa contradição se desenvolve histo-
ricamente, acompanhando o processo de desenvolvimento
das sociedades de classes:
A cultura é a esfera geral do conhecimento e das repre-
sentações do vivido, na sociedade histórica dividida em
classes; o que equivale a dizer que ela é o poder de ge-
neralização que existe à parte, como divisão do trabalho
intelectual e trabalho intelectual da divisão. A cultura se
desligou da unidade típica da sociedade do mito, “quan-
do o poder de unificação desaparece da vida do homem
e os opostos perdem sua relação e sua interação vivas,
ganhando autonomia...” (Différence des systémes de Fi-
chte e de Schelling). Ao ganhar independência, a cultura
começa um movimento imperialista de enriquecimento,
que é ao mesmo tempo o declínio de sua independência.
A história, que cria a autonomia relativa da cultura e as
ilusões ideológicas a respeito dessa autonomia, também
se expressa como história da cultura. E toda história de
vitórias da cultura pode ser compreendida como a histó-
ria da revelação de sua insuficiência, como uma marcha
para sua auto-supressão. A cultura é o lugar da busca
da unidade perdida. Nessa busca da unidade, a cultura
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Cultura, arte e comunicação em Guy Debord e Cildo Meireles
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JAPPE, Anselm. Crédito à morte: a decomposição do capitalis-
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Cláudio Novaes Pinto Coelho
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Debord e a negação real da cultura
Gilberto da Silva
Introdução
Guy Louis Marie Vicent Ernest Debord nasceu em
28 de dezembro de 1931 e morreu em 30 de novembro de
1994, alguns anos após descobrir que sofria de polineurite
alcoólica. Membro e fundador da Internacional Situacionis-
ta, Debord não foi somente um pensador, mas também um
estrategista. De todas as suas obras, a de maior destaque
foi o livro Sociedade do espetáculo, publicado em 1967,
em que realiza uma crítica ao capitalismo tardio funda-
mentada nos conceitos marxistas de alienação, fetichismo
da mercadoria, reificação, experiência social e estética da
linguagem. Destacamos, para nossos estudos, o Capítulo
VIII intitulado “A negação e o Consumo na Cultura”, em
que, em 31 teses ou aforismos, Debord discute sobre a arte
e a cultura, tendo como pano de fundo sua visão da arte
moderna como uma totalidade.
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O estruturalismo
Tão em moda no período da sociedade do espe-
táculo, Debord empreende uma crítica ao estruturalismo,
pois vê, nessa corrente, a principal ideologia da apologia
ao espetáculo.
Para Debord, “a estrutura é filha do poder presente.
O estruturalismo é o pensamento garantido pelo Estado,
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Debord e a negação real da cultura
Segue Debord,
[...] pelo próprio estilo, a exposição da teoria dialética é
um escândalo e uma abominação segundo as regras da
linguagem dominante e para o gosto que elas educaram:
no emprego positivo dos conceitos existentes, essa exposi-
ção inclui também a compreensão de sua fluidez reencon-
trada, de sua destruição necessária (1997, p. 132).
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Debord e a negação real da cultura
A negação da cultura
Segundo Debord, para a teoria crítica que luta con-
tra a sociedade do espetáculo, só resta uma saída: “a ne-
gação real da cultura é a única a conservar-lhes o sentido.
Ela já não pode ser cultural. Assim, ela é aquilo que per-
manece de algum modo ao nível da cultura, embora numa
acepção totalmente diferente” (1997, p. 135). Negar a cul-
tura deve ser, portanto, uma negação e uma afirmação,
uma crítica e uma realização. Negar-se para justamente
alcançar um nível superior.
Debord afirma (1997, p. 135), “É essa crítica teóri-
ca unificada, e apenas ela, que vai ao encontro da prática
social unificada”; a cultura é entendida tanto como conhe-
cimento quanto como a criação em torno da qual se articu-
la toda a estrutura social.
A cultura é uma parte da totalidade social cuja especi-
ficidade seria representar simbolicamente essa totalida-
de, chamando a atenção para a necessidade de uma
retomada da existência de uma totalidade social não
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Gilberto da Silva
Conclusão
Mesmo não concordando plenamente com a classi-
ficação de Debord como um romântico, para finalizar essas
reflexões, partimos de Löwy (2002, p. 82), que afirma: “É
preciso reconhecer o seguinte: ao contrário de tantos outros
de sua geração, ele jamais aceitou, sob qualquer forma que
fosse, reconciliar-se com a ordem de coisas existentes”. Por-
tanto, não se trata aqui de entendermos a visão debordiana
como uma mera crítica da sociedade capitalista em nome de
valores do passado, mas sim de uma crítica negativa e prá-
tica da destruição da linguagem em e pela arte moderna.
Debord deseja a destruição da sociedade burguesa e a
fundação de uma outra civilização com base na sociedade sem
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Debord e a negação real da cultura
Referências
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do-e-o-presente-da-teoria-de-debord>. Acesso em: 30 out. 2015.
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Gilberto da Silva
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Comunicação, arte e cultura política
nos movimentos sociais: a teatralidade
sem terra e a literatura zapatista1
Alexander Maximilian Hilsenbeck Filho
Anacrônica apresentação
Numa época reprodutora do presente contínuo,
em que se vende a ideia de que não há saídas possíveis
nem pontos de fuga existentes, e na qual a Indústria Cul-
tural e a Sociedade do Espetáculo parecem ter atingido
patamares cada vez mais gerais e totalitários na vida so-
cial, em que a mídia televisiva ainda detém forte hege-
monia nos lares e mentes das pessoas, e os conglomera-
dos midiáticos aumentam seus oligopólios comunicativos,
convenhamos que falar de indígenas e de camponeses,
que empunham a literatura e o teatro como elementos de
crítica e perspectivas de vivenciar formas distintas de rela-
ções sociais, muitas vezes como contraditórias às formas
dominantes, não deixa de soar um tanto anacrônico, utó-
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Alexander Maximilian Hilsenbeck Filho
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Comunicação, arte e cultura política nos movimentos sociais
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Comunicação, arte e cultura política nos movimentos sociais
Referências
ADORNO,T. W.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclareci-
mento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985.
BENJAMIN, W. Textos escolhidos. São Paulo: Abril Cultural,
1983.
BERNARDO, J. Economia dos conflitos sociais. São Paulo: Ex-
pressão Popular, 2009.
BRANCALEONE, C.; NORIEGA, A. C. (Orgs.). Sociabilidades
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espetáculo em São Paulo
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1 São Paulo, a cidade brasileira onde tudo acontece, pode ser considerada
um importante laboratório de grandes ideias. A criatividade é irradiada
por todos os cantos da cidade e em megaeventos como a Virada Cultural
e São Paulo Fashion Week. Uma pesquisa recente, realizada pela
Prefeitura de São Paulo, aponta que a economia criativa (conjunto de
setores como design, moda, cultura, tecnologia, artes etc.) movimenta
cerca de 40 bilhões de reais por ano – 10% do PIB do município.
O grande número de atrativos culturais espalhados pela cidade, áreas revi-
talizadas e reinventadas, e suas conexões fazem de São Paulo uma Cidade
Criativa. Cidade em que a busca por soluções cotidianas para melhoria da
qualidade de vida de seus moradores e consequentemente, da prazerosa
estada de seus visitantes, é constante. Cidade que estimula os encontros so-
ciais em eventos de rua, praças e parques. Cidade da efervescência cultural,
que preserva sua história e valoriza a identidade de seu povo.
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Considerações finais
O filme do fechamento e da reabertura do Cine
Belas Artes foi contado pela mídia ao longo de mais de
três anos de duração. A história ainda não terminou.
A mídia, que parece adormecida para o caso, apenas
aguarda o retorno do espetáculo para nos apresentar a
sequência dos fatos.
A cobertura da mídia, desde o início, mostrou-se
do lado do Movimento pelo Cine Belas Artes (MBA). Das
41 matérias publicadas, somente três foram ouvir a ver-
são do proprietário do imóvel Flávio Maluf. Sete matérias
utilizam o próprio MBA como fonte para as reportagens
e outras 13 (sendo 11 do Estadão) contam com depoi-
mento de André Sturm.
O case demonstrou a capacidade do Movimento
pelo Cine Belas Artes de mobilizar a mídia para sua causa.
Demonstrou, também, que o apoio da mídia foi fundamen-
tal para sensibilização, mobilização e engajamento de po-
líticos, urbanistas, artistas e de cidadãos comuns, em torno
da proposta do MBA. A articulação das diversas ações rea-
lizadas foi muito bem planejada e alinhada com o conceito
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Ethel Shiraishi Pereira
Referências
ARANTES, Otília et al. A cidade do pensamento único: des-
manchando consensos. Petrópolis: Vozes, 2000.
BRASIL. Constituição (1988). Texto constitucional promulgado
em 5 de outubro de 1988, com as alterações adotadas pelas
Emendas Constitucionais nos 1/1992 a 68/2011, pelo Decreto
Legislativo nº 186/2008 e pelas Emendas Constitucionais de Re-
visão nos 1 a 6/1994. 35. ed. Brasília: Câmara dos Deputados,
Edições Câmara, 2012.
CANCLINI, Néstor Garcia. Imaginários culturais da cidade: co-
nhecimento/espetáculo/desconhecimento. In: COELHO, Teixeira
(org). A cultura pela cidade. São Paulo: Iluminuras, Itaú Cul-
tural, 2008.
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dos museus no século XXI
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Considerações finais
Não podemos negar que os museus se transforma-
ram drasticamente de cem anos para cá. Talvez tenham
acompanhado as mudanças tecnológicas, que, em trinta
anos, mudaram completamente todas as instâncias da vida
humana, desde relacionamentos interpessoais até a ma-
neira pela qual trabalhamos. O museu não seria diferente.
E nem os meios de comunicação.
Se os jornais, há poucas décadas, eram a única fon-
te de informação da população, hoje não se pode mais
afirmar isso. O mesmo vale para os museus, que há dé-
cadas eram espaços da elite e dos intelectuais da época,
hoje parece-me que o público é mais democrático. Até que
ponto isso é positivo socialmente?
Muitos, como Pierre Levy, afirmam que a democra-
tização da cultura, muito devido à internet, é o ápice da
humanidade, mas deve-se também refletir as consequên-
cias dessa nova era cultural e também a forma pela qual
ela está sendo tratada.
O jornalismo, parece-me, tem uma relação har-
mônica com os grandes eventos que se tornaram as ex-
posições em São Paulo e no mundo, de modo geral. Os
jornais aproveitam-se do número de visitantes para ven-
der seus exemplares e ainda divulgam — entre tantas
notas — os eventos culturais que lhe são interessantes.
Entretanto, de certa forma, ainda há resquícios de jorna-
lismo crítico, como nas matérias sobre o Castelo Rá-Tim-
-Bum, em que a Folha de S.Paulo comenta sobre o espa-
ço do MIS, sobre algumas instalações expostas e sobre o
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Referências
BENJAMIIN, Walter. A obra de arte na época de sua reprodutibi-
lidade técnica. Porto Alegre: Editora Zouk, 2012.
COELHO, Marcelo. Crítica cultural teoria e prática. São Pau-
lo: PubliFolha, 2006.
DEBORD, Guy. A sociedade do espetá-
culo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
FABBRINI, Ricardo Nascimento. A fruição nos novos museus. Es-
peciaria: cadernos de Ciências Humanas, vol. 11, n. 19,
jun. 2008.
FIORI, Otília Beatriz. A “virada cultural” do sistema das artes.
Margem Esquerda, São Paulo, v. 6, p. 62-75, 2005.
INSTITUTO BRASILEIRO DE MUSEUS. Prospecções do campo
museal brasileiro no início do século XXI. Brasília: Ibraim,
2014.
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O jornalismo cultural e o espetáculo dos museus no século XXI
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As técnicas de reprodução e
o espetáculo no jornalismo
esportivo na internet
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Reprodução de notícias
A reprodução de produtos está longe de ser algo
inovador ou fora do comum no mundo capitalista. Isso
acontece também com serviços. As empresas procuram
estar próximas à concorrência com produtos ou serviços
similares para não perderem em participação de mercado.
Essa lógica cabe perfeitamente ao mundo da comunicação.
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Agências de notícias
As agências de notícias têm um papel fundamen-
tal na produção do jornalismo esportivo na internet. Elas
são responsáveis por produzir diversos conteúdos e dis-
ponibilizá-los para seus clientes. São notícias, imagens,
fotografias do dia, acervos entre outros serviços. A Ga-
zeta Press, uma das maiores do estado de São Paulo e
voltada para o esporte, além dos produtos já citados,
oferece charges, infográficos, tabelas de campeonatos,
curiosidades, comentários em tempo real e até entrevis-
tas e reportagens especiais.
Uma das empresas pioneiras no ramo da comu-
nicação no Brasil, a Agência Estado tem em seu leque de
serviços informações e dados não apenas nos esportes,
mas em quase todas as áreas sociais, com foco especial
no setor econômico. Oferecem acervo de fotos, notícias,
inclusive um tipo de software com transmissão em tempo
real das novidades e matérias do mercado financeiro.
No próprio website, a empresa afirma ter mais de 12
mil usuários em base no AE Broadcast, nome do sof-
tware desenvolvido. Como mais um diferencial, também
oferece a criação de eventos para a discussão de temas
relevantes para a sociedade.
Em um período de desconfianças sobre o futuro
do jornalismo e como torná-lo rentável, o professor Celso
Unzelte aponta as agências de notícias como um dos
últimos redutos de negócios para o meio de comunicação
que ainda são lucrativos. Unzelte diz que
As agências de notícias são, inclusive, o último reduto de
negócios, como por exemplo o Estadão. Eu acho que é
mais fácil acabar a versão impressa do jornal O Estado
de S.Paulo do que a agência de notícias. Agência de no-
tícias ainda é um escoadouro de negócios, seja para os
impressos ou não. Elas também vendem notícias para os
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Assessorias de imprensa
Atualmente, as assessorias de imprensa se tornaram
uma parte essencial para o funcionamento do jornalismo
esportivo. Essas empresas representam clubes ou atletas no
meio de comunicação. De modo resumido, para um repór-
ter conseguir uma entrevista com tal jogador ou dirigente é
preciso, obrigatoriamente, contatar o assessor. Mas, neste
artigo, abordaremos somente um dos papéis do profissio-
nal e a relação com a reprodução de notícias.
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5 LUCI, Sergio. Sérgio Luci: depoimento [25 jun. 2015]. São Paulo,
2015. Entrevista concedida ao autor.
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Indústria cultural
Não é novidade nenhuma que a notícia já virou uma
mercadoria. Há muito tempo ela sofre essa transformação
e, com o advento da internet, reforçou ainda mais essa
ideia. Conforme observado ao longo do artigo, os sites
parecem competir para saber quem está mais completo,
mesmo com pautas extremamente similares. Para tanto, as
agências e assessorias são vitais para todo o funcionamen-
to dos jornais. Tudo em prol da audiência.
O jornalismo se tornou um produto da indústria
cultural e há alguns anos tem a sua qualidade questionada.
Para entendermos melhor a lógica em que pode ser
encaixada, fazemos o uso de Theodor Adorno e Max
Horkheimer, que afirmam que:
O cinema e o rádio não precisam mais se apresentar
como arte. A verdade de que não passam de um negócio,
eles a utilizam como uma ideologia destinada a legitimar
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Considerações
A produção do jornalismo esportivo na internet con-
centra-se predominantemente na cobertura do futebol. No
ano de 2014, a modalidade correspondeu a 91% do con-
teúdo elaborado pelo ESPN.com.br6. Muito provavelmente,
esse percentual é bastante próximo ao dos concorrentes,
pois o futebol é o que atrai mais visualizações.
Pierre Bourdieu estabelece que o campo jornalístico
está dominado pela lógica comercial. Para exemplificar seu
pensamento, o francês utiliza a audiência da televisão e como
ela exercia sua influência no segmento. Bourdieu afirma:
O campo jornalístico age, enquanto campo, sobre os ou-
tros campos. Em outras palavras, um campo, ele próprio
cada vez mais dominado pela lógica comercial, impõe
cada vez mais suas limitações aos outros universos. Atra-
vés da pressão do índice de audiência, o peso da eco-
nomia se exerce sobre a televisão, e, através do peso da
televisão sobre o jornalismo, ele se exerce sobre os ou-
tros jornais (…) E, da mesma maneira, através do peso
do conjunto do campo jornalístico, ele pesa sobre todos
os campos de produção cultural (Bourdieu, 1997, p. 81).
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Referências
ADORNO,T. W.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclareci-
mento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985.
BENJAMIN, W. A obra de arte na época das suas técnicas de re-
produção. In: ______. Textos Escolhidos. São Paulo: Abril Cul-
tural, 1975, vol. XLVIII.
BOURDIEU, P. Sobre a televisão. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.
COELHO, C. N. P. Teoria Crítica e Sociedade do Espetáculo.
Jundiaí (SP): In House, 2014.
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Lisboa: Mobilis in
Mobile, 1971.
DEBORD, Guy. Comentários sobre a sociedade do espetáculo.
In: A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto,
1997.
JAMESON, F. Pós-Modernismo. São Paulo: Ática, 1996.
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Sobre os autores
Alexander Maximilian Hilsenbeck Filho – Dou-
tor em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campi-
nas (Unicamp), é professor de Ciência Política na Faculdade
Cásper Líbero e pesquisador do Consejo Latino-Americano
de Ciencias Sociales (Argentina); do Centro Interdisciplinar
de Pesquisa (CIP) e do grupo de pesquisa Comunicação, Po-
lítica e Sociedade do Espetáculo, ambos vinculados à Facul-
dade Cásper Líbero. Contato: [email protected].
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do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu da Faculda-
de Cásper Líbero e líder do grupo de pesquisa Comunica-
ção e Sociedade do Espetáculo, por ele fundado em 2005
e vinculado à mesma instituição. Contato: ccoelho@cas-
perlibero.edu.br.
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Gilberto da Silva – Mestre em Comunicação pela
Faculdade Cásper Líbero e pesquisador do grupo de pes-
quisa Comunicação e Sociedade do Espetáculo. Sociólo-
go e jornalista pela Faculdade Alcântara Machado (FIAM),
atua como Analista de Ordenamento Territorial da Prefeitu-
ra de São Paulo. Contato: [email protected].
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