A Geografia Na Sala de Aulas
A Geografia Na Sala de Aulas
A Geografia Na Sala de Aulas
)
GEOGRAFIA NA SALA DE AULA
São Paulo, Contexto, 1999
escola como estím ulo à crítica e ao pensam ento mento dialético perm ite uma m udança na qualida
reflexivo das crianças e adolescentes. Desse modo, de de pensar. A dialética perm ite captar a diversi
os artigos são im portantes para auxiliar os profes dade da vida humana, atingindo o entendim ento
sores a repensar suas ações pedagógicas, ao opta do sujeito e potencializando-o com o tal. É a razão
rem pelo uso dessas linguagens com o recursos de ser do cidadão.
didáticos. Este é um texto que pode servir de apoio
teórico para a discussão não só dos professores de
. A Geografia e a construção da Cidadania, Geografia como para todos que recebem as pro
de Am élia Luisa Dam iani - Em bora todos os arti postas ou parâm etros curriculares em que a for
gos estejam im plícita ou explicitam ente abordan m ação do cidadão é sem pre priorizada.
do a im portância do estudo da Geografía na for
mação de cidadãos, é este texto que trata especifi
cam ente da noção de cidadania, mostrando que . Apresentando a Metrópole na Sala de Aula,
conhecer o espaço é conhecer a rede de relações a de Ana Fan i A le ssa n d ri C arlos. Em uma parte
que a pessoa está sujeita e da qual é sujeito. introdutória Ana fan i discute a m aneira pela qual a
Dam iani coloca enfaticam ente a relação do metrópole aparece aos olhos do observador. Mos
espaço com os problem as da propriedade privada tra a forma caótica do espaço da metrópole no sen
do solo, no século XX. Discute a im portancia da tido de suas construções e do m ovim ento dos veí
apropriação do espaço para a construção da cida culos, m ercadorias e das pessoas. A m etrópole eli
dania. Compreende que a cidadania envolve a ques minando antigas referências, destruindo a memó
tão da sociedade civil e as formas de apropriação ria social, fragm entando o espaço e interferindo
do mundo produzido por ela, para além das for no ritmo de vida das pessoas.
mas de representação política. Ana Fani afirm a que o mundo dos homens
Sua análise está ilum inada teoricam ente passa a ser o mundo das coisas, das m ercadorias,
por Henri Lefebvre, destacando um de seus livros: do lazer capitalizado. A cidade parece se distanciar
"A Produção do Espaço". Segundo ela, a Geografia do cidadão. Feita a obra, o cidadão não se reco
pressupõe um projeto do/sobre o homem, pois in nhece nela, nem é por ela reconhecido, porque é
clui não só um pensamento, mas um pensamento- uma produção com finalidades estranhas às suas
ação. necessidades.
Ao se falar sobre o ensino e a pesquisa a A autora analisa a m etrópole e seus con
autora afirm a que se deve ab rir cam inho para trastes mostrando que a paisagem da metrópole
representar livrem ente as aspirações da socieda contem pla mil formas; espelha diferenças colocan
de civil, não cum prí-las filtradas com o funções do as pessoas no nível do aparente e do imediato.
do Estado. Chama também a atenção do leitor para as dife
Ainda, a autora afirm a que as instituições renças de suas utilizações e a diversidade dos usos
educacionais não podem se assem elhar a insti do solo urbano e as diferenças dentro de cada uso
tuições totais que criam um mundo em separa e na disputa pelos usos, o aparecim ento de suas
do, ao contrário, devem se m isturar intrínseca contradições.
mente com a sociedade civil. Há necessidade de O espaço da m etrópole reflete as contradi
estabelecer novos vínculos entre as instituições ções do uso produtivo da cidade determ inado pe
e as pessoas, por m eio das quais elas dom inem las características do processo de reprodução do
suas condições de existência, o que sinaliza para capital. De um lado, o espaço da m etrópole se re
a autogestão. produz enquanto condição da produção (produção,
Dam iani resgata o valor da dialética, por distribuição, troca, consum o de m ercadorias). De
muitos esquecida, ao afirm ar que só um pensa outro, o espaço de reprodução da vida (o uso
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residencial, o lazer e a infraestrutura urbana - con de vida passam pela discussão da contradição en
sumo coletivo). tre capital e trabalho, fundada na propriedade pri
A autora relaciona o modo de utilização do vada dos m eios de produção e na desigualdade
solo urbano à existência da propriedade privada social e jurídica dos homens.
da terra. Mostra com o os bairros centrais são de Ho decorrer de todo o texto a autora pre
teriorados, mudando suas funções e provocando tende revelar o que se esconde por trás do "caos"
também a m udança das populações dos bairros que os olhos detectam , mas não explicam.
ricos para loteam entos luxuosos e fechados, cada
vez m ais distantes das áreas centrais. Os pobres Trajetória e Com prom issos da Geografia
tam bém buscam áreas m ais distantes, mas por Brasileira de Manuel Correia de Andrade. Este au
motivos totalm ente diferentes. As indústrias tam tor, que já contribuiu para a form ação de várias
bém se deslocam . Por isso, a idéia de periferia, gerações de professores pesquisadores da Geogra
segundo Fani, precisa ser repensada. fia, em seu artigo analisa de forma sucinta as con
Discute a m etrópole como o locus dinâm i tribuições de geógrafos e não geógrafos para o
co de atividades exercidas por pessoas, de acordo ensino da Geografia.
com suas necessidades sociais, mostrando que o O autor faz uma periodização do ensino da
uso se dará com conflitos, porque os interesses do Geografia, desde a chegada dos europeus, no sé
capital e da sociedade como um todo são contra culo XVI até nossos dias, dividindo essa história em
ditórios: uns tem por objetivo a reprodução do ca três períodos distintos, os quais acom panham as
pital, enquanto, a sociedade alm eja condições m e transform ações políticas e econôm icas do País: o
lhores de reprodução da vida. C olonial, apresentando os cronistas europeus que
Sinaliza que as áreas da cidade destina estiveram no Brasil nos séculos XVI, XVII e XVIII e
das à m oradia revelam nitidam ente no espaço que realizaram descrições da terra e da gente bra
construído as m aiores desigualdades de classes sileira; o Im perial e da Prim eira República ofere
sociais. cendo referências básicas para aqueles que dese
Diz Fani, a paisagem é uma forma histórica jarem estudar as contribuições que políticos e es
específica, que se explica por m eio da sociedade critores deram para o conhecim ento do nosso País
que a produz, e é, portanto, trabalho objetivado, e para os embates, sobretudo do século XIX e iní
fruto do processo de produção realizado ao longo cio do XX; e o Moderno, iniciado na década de 1930,
de g e ra çõ e s. D isco rd a de que a cid ad e é o com ênfase na Revolução, que apesar de frustrada
construído. Para a autora a cidade é antes de mais em grande parte de seus objetivos políticos perm i
nada trabalho humano, m aterializado em casas, tiu que São Paulo e Rio de Ja n e iro avançassem do
prédios, praças, viadutos. ponto de vista cultural com a criação das universi
O que vem os quando observam os a paisa dades e da Associação dos Geógrafos Brasileiros,
gem é a "grande obra do hom em " a sua vida en dando destaque aos m estres franceses, os form a
quanto ser que produz e que habita. dores dos prim eiros geógrafos brasileiros.
Mo texto também existe a preocupação com Mostra a relação intrínseca existente entre
a resistência às desigualdades e desequilíbrios re o movimento político e econôm ico da sociedade
velada nas reivindicações por água, luz, moradia, brasileira, sua relação com os Estados Unidos e os
asfalto, saneam ento básico. Tais m anifestações so reflexos na cultura e na produção da Geografia e
ciais vão também produzindo o espaço. Os m ovi no em bate teórico entre correntes do pensam ento
mentos sociais nascem da consciência acerca das geográfico que despontaram depois da 2a Guerra
condições de vida das diversas classes, surgindo Mundial até os nossos dias.
para o indivíduo como direito de participação nas O texto term ina com a seguinte frase: "C i
decisões. As reivindicações por m elhores condições ência é também política e o cientista deve saber
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porque é utilizada, como é utilizada e em favor dos Após criticar veem entem ente os pensado
interesses de quem ela é utilizada*'. res de esquerda que não mudaram o discurso, mes
mo depois de todo o m ovim ento ocorrido na soci
edade, acredita que a escola é im portante para o
"Instrum entos de Dom inação e/ou de L i estágio atual do capitalism o, inclusive o Brasil pre
bertação" de Jo s é William Vesentini, professor que cisa elevar a escolaridade da população em geral e
há aproxim adam ente duas décadas vem contribu não só da elite. As pessoas precisam aprender a
indo para a form ação de professores e de alunos pensar por conta própria, enfrentando novos de
do I o e 2o graus, hoje, ensino fundamental e m é safios, criando novas respostas em vez de repetir
dio. O título do texto sinaliza o principal eixo de velhas fórmulas.
sua discussão sobre o ensino da Geografia. No tra Segundo o autor, é no sistem a escolar que
tamento do tem a mostra a concepção que tem de vão ocorrer as lutas e os entrechoques de projetos
educação - todos os meios de aprendizagem ; fa essenciais para os destinos da humanidade. Assim
mília, mídia, lições dos mais experientes que, como como os ecológicos, fem inistas, culturais, de con
a escola, podem ser sim ultaneam ente instrum en sum idores; os conflitos e as mudanças educacio
tos de libertação e de dominação. nais constituem uma das m ais im portantes frentes
Com essa perspectiva, Vesentini mostra que de am pliação da dem ocracia e da justiça social em
a educação escolar surgiu por iniciativa do Estado nossos dias. A força de trabalho do século 21 deve
instrum entalizado pela burguesia que se tornava ser sobretudo qualificada, deverá haver uma disci
hegem ônica (século XVIII e XIX). Afirma que a edu plina que perm ita ao educando com preender o
cação escolar instrui novas gerações, adaptando- mundo em que vive, da escala local à escala plane
as ou assim ilando-as às instituições, hábitos e va tária. Será que a Geografia poderá dar conta dessa
lores da sociedade, mostrando que é uma necessi tarefa? Questiona Vesentini.
dade do mundo capitalista que as pessoas saibam
ler e escrever. A escola contribui em m aior ou m e
nor escala para desenvolver a cidadania, por meio Ensino da G eografia: um retardo desne
do estím ulo ao raciocínio, à criatividade e ao pen cessário, de Ja im e O liva. O autor afirm a que a Ge
sam ento crítico dos estudantes. ografia vem convivendo com impulsos renovado
Diz o autor que em bora a escola tenha sur res, há pelo m enos vinte anos, no entanto, esses
gido por iniciativa do Estado, a sua am pliação para fluxos atingem muito precariam ente o ensino mé
as cam adas populares foi em grande parte con dio.
quistado a partir das pressões da sociedade. O Inicialm ente, para essa análise utiliza os
ensino é funcional para o capitalismo moderno, mas elem entos - chaves do processo de renovação da
contraditoriam ente, também é um agente de mu Geografia para a com preensão do processo de re
danças sociais e uma conquista democrática. Pode- novação que é complexo, desigual e de ritm o mui
se dizer o m esm o da indústria cultural, ela foi cria to lento.
da pela reprodução capitalista e é parte inerente Um prim eiro elemento-chave destacado re
da mesma, mas ao mesmo tempo, é uma possibi fere-se às m otivações dessa renovação. São trans
lidade de se alargarem as fronteiras do possível, form ações do nosso tem po que exigem renovação.
de se pensar o novo, de subverter a ordem das No contexto histórico atual, a cada instante muitas
coisas. coisas desiguais são acrescentadas e só são com
O autor afirm a que não é possível estabe preensíveis em um contexto espacial.
lecer uma fronteira nítida entre o papel da escola Um segundo elemento-chave diz respeito
como reprodutora do sistem a e como agente de à nova localização do espaço geográfico no qua
mudanças sociais. dro social. O espaço geográfico é um com ponente
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da sociedade, essa afirm ação é apoiada em Henri tirar a complexidade e substituir a linguagem cien
Lefebvre que em sua obra mostra o espaço como a tífica, que associada aos seus conteúdos nos ofere
instância privilegiada da reprodução das relações ce um tipo de leitura do mundo que é esclarecedora
de produção da sociedade moderna. e, por isso, constitui um patrim ônio para construir
Um terceiro elemento-chave decorrente dos mos o nosso destino"
anteriores é o entendim ento do espaço geográfico Em relação ao potencial educativo da G eo
como elem ento que com põe o quadro social e que, grafia renovada questiona o autor: "levando-se em
portanto, tem valor explicativo dessa realidade, conta a velocidade e complexidade das m udanças
havendo necessidade de se restabelecer o diálogo que se impõem ao espaço geográfico e a todo o
rompido da Geografia com as outras disciplinas planeta nesse fim de século, como controlar os co
sociais. Desse modo, o espaço geográfico deverá nhecim entos da Geografia?"
ser entendido no interior da complexidade social e Sem um mínimo de teoria, como, do ponto
ter nova expressão. O universo lingüístico herdado de vista geográfico, com preender a globalização, o
da Geografia terá que ser reform ado num proces desaparecim ento e o surgim ento de novos países,
so fecundado pelo universo lingüístico de renova a queda do socialism o real, os conflitos étnico-cul-
ção da ciência geográfica. turais, a formação de blocos regionais. Ter a edu
Oliva faz uma crítica severa ao ensino aca cação como referência, como um valor, é não vul
dêmico da Geografia realizado na Universidade, ao garizar a cultura e os conhecim entos; não se do
afirmar que a produção geográfica na academ ia é brar ao consumismo e às modas. Pensar a educa
muito heterogênea sendo que, porém, apenas al ção como um valor significa pensá-la em um novo
guns estabelecim entos dedicam-se à produção de mundo.
conhecimento novo e estão em contato com a re
novação da Geografia. Mas a m aioria dos profes
sores são formados por estabelecim entos que não A Geografia e suas Linguagens: o caso
produzem conhecim entos novos, na grande m aio da Cartografia, de Fernanda Fadovesi Fonseca e
ria na rede particular. Hão há praticam ente meios Ja im e Tadeu Oliva. Os geógrafos fazem uma aná
de com unicação entre as redes form adoras de pro lise crítica à autonomia da linguagem cartográfica
fessores. no ensino da ciência geográfica. Segundo eles a
Continua Oliva, enquanto os grupos reno cartografia perdeu seu norte. Os autores afirmam
vadores parecem encerrados em sua torre de mar que a cartografia tem potencial para se estruturar
fim, pouco dispostos a criar canais com unicativos como uma linguagem privilegiada da Geografia, no
com o universo do ensino médio, de outro lado, o entanto, ao contrário, vem se constituindo como
ensino público estatal (ensino m édio) enfraqueci técnica representativa, derivada autom aticam ente
do e sem perspectivas tem os seus professores ma das tecnologias modernas por vezes também de
terialmente im possibilitados de ir a busca de aper im perativos pedagógicos, numa trajetória de de
feiçoamento, de renovação de modo constante. O senvolvim ento autônomo, alheia às discussões in
sistema privado cada vez m ais escravizado à lógica ternas e de renovação da Geografia.
do mercado, enfeita as m etodologias pedagógicas A Geografia tem a seu dispor como meio
com signos da modernidade, tais como a informática de trabalho um referencial complexo de fontes e
e subordina a fruição do conhecim ento a outros um dispositivo crescente de exposição de seus no
objetivos. vos saberes. A cartografia e as narrativas verbais
Oliva questiona a Geografia solicitada nos conviveram com atritos e m uitas vezes com a su
exames vestibulares e o livro didático que mantêm prem acia da cartografia. Estabeleceu-se verdadei
um "form ato jornalístico" e antiacadém ico. ra incom unicabilidade entre aqueles que desen
Diz o professor, "Pedagogizar não significa volveram habilidades no m anuseio de novos apa-
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ratos, com o os diversos tipos de sensoriam ento gico estaria sendo acom panhado por uma evolu
rem oto e os velhos, com o a cartografia e seus ção correspondente nos conteúdos espaciais tra
correlatos, que ignoram a renovação teórica da tados pela Geografia?
Geografia. Os geógrafos envolvidos nas discussões A autonom ia da Cartografia em relação à
teóricas perm anecem alheios às novas possibilida Geografia, ora se enredando no interior das técni
des de uso das diversas fontes hoje existentes. cas m odernas, ora surgindo apenas como com ple
Os autores discutem a seguinte questão: As mento do texto, em pobrece seu papel como lin
novas tecnologias de escrutínio das paisagens e do guagem produtora de conhecim entos.
espaço "invadiram " a Geografia? Chegam, após vá Os autores afirm am que a Geografia reno
rias discussões, que pelo menos em nosso País não vada deixou de lado a noção de espaço absoluto e
há indícios de que as novas tecnologias tenham adotou a concepção de espaço relativo. Cada ele
dado uma nova qualidade ao ensino da Geografia. mento do espaço tem um valor relacionado a ou
Ho texto, os autores discutem o desequilíbrio tros espaços. Assim, as coisas não estão no espa
existente entre o avanço tecnológico e as metodologias ço, mas são elas m esm as espaço. Portanto, uma
de processam ento digital, que viabilizariam ao in cidade não está no espaço, ela é espaço. Os seres
térprete o exercício e a aplicação consciente de seus hum anos organizados em sociedade organizam
métodos de pesquisa e de análise. também o espaço geográfico, que é um quadro de
Ha realidade existe um mundo novo entre vida no qual se desenvolvem as relações sociais.
o observador-geógrafo e o que é reconhecível na Considerando o espaço geográfico como
imagem. Para que a imagem seja aproveitada de espaço relativo, os autores destacam a importân
acordo com suas potencialidades há, portanto, que cia de Jacq u es Bertin que considera a representa
se desenvolver metodologias de processamento di ção gráfica como transcrição de signos, deduzindo
gital, que não afastem desse recurso o intérprete daí que ela é parte da sem iología, o que pode re
não-especialista em sensoriam ento remoto. presentar os objetos geográficos em relação e com
Entender as tecnologias e m etodologias flexibilidade para analisar outras distâncias geográ
com o m eios subordinados a fins e valores estabe ficas surgidas no convívio sócio-espacial. Dessa re
lecidos no interior das disciplinas é recuperar o con flexão surgiu uma cartografia m ais analítica do que
trole humano sobre as tecnologias. Hão se pode descritiva.
perm itir que o sensoriam ento remoto orbital vire Os autores destacam a linguagem gráfica
um fim em si mesmo, m as ao contrário, que a de Bertin com o veículo privilegiado para a criação
tecnologia e a m etodologia estejam subordinadas e exposição dos conhecim entos geográficos.
às necessidades e à bagagem científica e profissi
onal do intérprete enquanto ser social.
Em relação ao ensino da cartografia na es A Cartografia no Ensino Fundam ental e
cola de ensino fundamental e médio, os autores Médio, de Maria Elena Ram os Sim ielli. A geógrafa
consideram que a percepção espacial e a lingua demonstra a sua preocupação com a passagem da
gem gráfica e cartográfica são trabalhadas desde o Cartografia, enquanto disciplina acadêm ica, para
prim eiro grau, e que esses são aspectos fundamen o ensino e aprendizagem da Geografia no ensino
tais na evolução das estruturas cognitivas e no cres fundamental e médio.
cim ento intelectual das crianças e dos jovens ado Segundo a autora, é a partir do saber uni
lescentes e diversas contribuições têm sido dadas versitário que um saber ensinado deve ser elabo
no sentido de aprim orar o conhecim ento nas áre rado, reconstruído, reorganizado. Mais do que uma
as que lidam com a representação espacial, base transposição didática, trata-se de uma verdadeira
ados sobretudo em Piaget e Vygotsky. Mas, per reconstrução do saber geográfico. Essa reconstru
guntam os autores, esse enriquecim ento pedagó ção precisa ser feita em vários níveis: dos progra-
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tor faz uma reflexão tentando m ostrar a riqueza da Segundo a autora, a televisão colabora para
dupla face da representação na im agem cinem ato que a m arca do cotidiano do homem m oderno seja
gráfica em que magia e realidade m isturam o es a repetição, a tendência à homogeneização, ao pre
petáculo com a vida. visível, contribuindo para a form ação e m anuten
O autor, utilizando Xavier (1988: 368), afir ção de com portam entos. Mo entanto, os fatos fi
ma que toda leitura de im agem é produção de um cam desprovidos de qualquer significado, reduzin
ponto de vista: a do sujeito observador. Portanto, é do-se a im agens pouco questionadas.
possível concluir que é o observador quem define O achatam ento da paisagem urbana pro
o cam po de questões da im agem fílmica, confor duzido pelas transmissões, dificulta o entendimento
me o seu estatuto teórico-prático de interpretação. da cidade e o processo de apropriação da cidade.
A realidade é construida por m eio das leituras do A cidade deixa de ser entendida como produção e
sujeito observador. passa a ser vista apenas como consumo.
Mo texto são m encionados vários filmes no Diz a autora, as novas relações capitalis
sentido de examinar os estereotipos, códigos, con tas, em que o consumo de m ercadorias, em larga
venções, mitos e ideologias, citando também au escala é essencial para a reprodução das relações
tores que analisam teoricam ente a linguagem do de produção, a TV tem função prim ordial na disso
cinem a. lução de um antigo modo de vida. Ao mesmo tem
Para finalizar, Fonseca diz que buscou res po que ela mina um antigo modo de vida contribui
saltar a im portância do trabalho com a imagem com a constituição de um novo. O consum ir não se
cinem atográfica, nas condições sócio-culturais resume à compra de m ercadorias anunciadas. Con
contem porâneas em que o assalto voraz das re somem-se também idéias, valores, estilos de vida
presentações, principalm ente da m ídia, tem a pre e a própria cidade. A imagem é vista, a informação
tensão de dom inar e regularizar o nosso modo de é dada, mas seu significado poucas vezes é com
viver. Colocar em causa a "sociedade do espetá preendido, porque a consciência espacial está pou
culo" nos parece uma tarefa inadiável para aque co desenvolvida nas pessoas.
les que têm o desejo de um m undo melhor. Analisa os telejornais, quando as imagens
da cidade aparecem como sendo reais e verídicas.
Esse clim a de veracidade vai m arcar as muitas no
C idade, C otid iano e TV, de G lória da tícias e tendem a ser colocadas com o se já fizes
Anunciação Alves. A autora discute um dos instru sem parte do cotidiano da vida da m aior parte das
m entos da mídia de m aior im pacto na formação pessoas da metrópole.
de opinião do conjunto da população, pois a TV, Por esse caminho, Glória Alves vai analisan
como todos sabem, está nos lares dos ricos e dos do vários aspectos e problem as mostrados pela TV,
pobres, nos mais longínquos lugares da Amazô tais como a violência urbana que faz parte de vári
nia, do Centro-Oeste, do Mordeste, desde que a os program as mas não é discutida nas suas raízes;
luz elétrica esteja presente. a valorização da propriedade privada, apresentan
A autora coloca como eixo central da dis do im agens de invasão de terrenos da área m etro
cussão a CIDADE, mostrando que diferentem ente politana de São Paulo, mas sem questionar a au
do passado quando, vivia-se ela com o corpo intei sência de um política de habitação. Desse modo, a
ro, sentia-se a cidade diretam ente através de to televisão mostra à população que os problem as
dos os sentidos. Hoje, ao invés de se ver o fenô am bientais são causados pela população pobre,
meno em si, as pessoas o enxergam pela câm era como se estes fossem responsáveis por sua pró
da TV, ou seja, mostram aquilo que desejam que o pria situação. Os problem as são passados com o se
conjunto da sociedade deve saber. As imagens pro fossem problem as particulares sem relação de
duzidas apresentam-se como o olhar do mundo. interdependência.
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