Ante-Projecto de Tese de Doutoramento-Castigo Januario Chicava
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Ante-Projecto de Tese de Doutoramento-Castigo Januario Chicava
2016
Universidade Aberta
2016
2
ÍNDICE
Lista de Abreviatura, Siglas e Acrónimos ..................................................................................... 1
RESUMO ..................................................................................................................................... 2
ABSTRACT ................................................................................................................................... 3
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 4
1.1. Objectivos Do Trabalho .............................................................................................................................5
1.2. problematização (definição do problema) .........................................................................................6
1.3. Delimitação .....................................................................................................................................................8
1.4. Justificativa .....................................................................................................................................................8
1.5. Questões de Pesquisa ................................................................................................................................9
CAPÍTULO II: REVISÃO DA LITERATURA ...................................................................................... 10
2.1. Urbanismo ................................................................................................................................................... 10
2.2. Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável ....................................................................... 14
2.3. Raízes da Urbanização Moçambicana ............................................................................................... 20
CAPÍTULO III: METODOLOGIA .................................................................................................... 24
3.1. Teorias de Suporte para o Desenho da Investigação .................................................................. 24
3.2. Conceitos-chave ........................................................................................................................................ 26
3.3. Participantes do Estudo (Amostra) .................................................................................................... 26
3.3. Técnicas/Estratégias de Recolha de Dados ..................................................................................... 27
3.4. Técnicas de Análise de Dados .............................................................................................................. 29
3.5. Validação dos Resultados ...................................................................................................................... 30
CAPÍTULO IV: ESTRATÉGIA DE APRESENTAÇÃO DE DADOS ........................................................ 31
4.1. Cronograma do Projecto ........................................................................................................................ 31
2. Índice Provisório ............................................................................................................................................ 32
Bibliografia ................................................................................................................................ 34
3
LISTA DE ABREVIATURA, SIGLAS E ACRÓNIMOS
1
RESUMO
A intensificação do processo de urbanização nos municípios moçambicanos produz profundas
transformações no meio ambiente urbano que atingem, principalmente, os sectores político-
económico, sociocultural e espacial. Sendo assim, a busca pela sustentabilidade urbana tem-se
constituído num dos maiores desafios da actualidade. Tal busca está associada ao
desenvolvimento e às políticas urbanas, pois uma parcela significativa da população mora nas
cidades. Portanto, faz-se necessário planeá-las para que se tornem lugares seguros e agradáveis
de viver. Este trabalho tem como objectivo principal discutir o papel do planeamento urbano
para a sustentabilidade urbana e as consequências do crescimento desordenado das cidades e
o impacto que elas têm no meio ambiente. A metodologia utilizada para a concretização do
referido trabalho será a pesquisa qualitativa-exploratória. Como estratégias/técnicas de recolha
de dados será usado o estudo de caso, a observação participante e a observação individual,
entrevistas, pesquisa documental e análise de conteúdo. Serão realizadas leitura de livros,
artigos científicos, relatórios e documentos oficiais para dar suporte ao tema abordado. Diante
dos dados obtidos, serão tiradas as conclusões e feitas as respectivas recomendações acerca do
problema do objecto de estudo.
2
ABSTRACT
The intensification of the urbanization process in Mozambican municipalities produce profound
changes in the urban environment, which affect mainly the political and economic sectors,
socio-cultural and special. Therefore, the search for urban sustainability has constituted to be
one of the greatest challenges of our time. This searching is associated with the development
and urban policies because a significant portion of the population lives in cities. Therefore, it is
necessary to plan for them to become safe and pleasant places to live. This research work aims
to discuss the role of urban planning for urban sustainability and the consequences of
uncontrolled growth of cities and the impact they have on the environment. The methodology
used for the completion of this work will be the qualitative exploratory research. The
strategies/techniques of data collection that will be used are: the case study, participant
observation and individual observation, interviews, documentary research and content analysis.
The literature review will be included books, scientific articles, reports and official documents
to support the topic discussed. On the obtained data, they will be drawn conclusions and made
its recommendations on the subject of the study problem.
3
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO
De acordo com as Nações Unidas, Moçambique tem (em 2007) uma das mais elevadas
proporções de população urbana na África Oriental, cifrada em 36% (UNFAPA 2007) e que se
prevê que cresça para 60% até 2030 (UN 2006, apud Banco Mundial, 2009). De acordo com esta
projecção, poderá haver até 17 milhões de pessoas nas áreas urbanas de Moçambique em
2030. Para 2007 o crescimento médio anual da população foi de 2,5%, enquanto o crescimento
da população urbana foi de 3,0% ao ano e a população municipal cresceu 2,8% ao ano. As taxas
de crescimento, tanto urbana como municipal foram superiores às taxas nacional e rural (2,3%).
Isto significa que, nos últimos dez anos, as populações, urbana e municipal, tiveram um
crescimento absoluto de 1,6 e 1,3 milhões de pessoas, respectivamente (Banco Mundial,
2009:12).
De acordo com Jordão Filho e Oliveira (2013), a ocupação desordenada do espaço urbano vem
crescendo constantemente, desencadeando um círculo vicioso, que envolve muitos factores
tais como o crescimento urbano desordenado, o acúmulo de resíduos urbanos, aumento da
densidade populacional, exclusão social e territorial, violência, fome, poluição, falta de
saneamento, além de problemas económicos, sociais e políticos.
Com o aumento constante da população na área urbana, faz-se necessário que sejam tomadas
medidas de prevenção em relação ao meio ambiente, pois, junto com o crescimento
populacional, ocorre também o aumento da poluição. Devido aos diversos problemas
ambientais verificados nas cidades, a sustentabilidade urbana tem sido um dos maiores
desafios da actualidade, sendo tal noção associada ao desenvolvimento de políticas urbanas. A
4
sustentabilidade urbana, portanto, surge como uma solução para o alcance da qualidade por
meio de mudanças de valores e atitudes (Jordão Filho e Oliveira, 2013).
5
Compreender se existe e de que forma é feita a articulação entre o planeamento urbano
e a sustentabilidade.
Beira, capital da província de Sofala, tem o estatuto de cidade desde 20 de Agosto de 1907 e,
do ponto de vista administrativo, é um município com um governo local eleito. Sendo a
segunda maior cidade de Moçambique, conta com uma população de cerca de 431.583
habitantes.
De acordo com Jordão Filho e Oliveira (2013), a ocupação desordenada do espaço urbano vem
crescendo constantemente, desencadeando um círculo vicioso, que envolve muitos factores
tais como o crescimento urbano desordenado, o acúmulo de resíduos urbanos, aumento da
densidade populacional, exclusão social e territorial, violência, fome, poluição, falta de
saneamento, além de problemas económicos, sociais e políticos.
Com o aumento constante da população na área urbana, faz-se necessário que sejam tomadas
medidas de prevenção em relação ao meio ambiente, pois, junto com o crescimento
populacional, ocorre também o aumento da poluição. Devido aos diversos problemas
6
ambientais verificados nas cidades, a sustentabilidade urbana tem sido um dos maiores
desafios da actualidade, sendo tal noção associada ao desenvolvimento de políticas urbanas. A
sustentabilidade urbana, portanto, surge como uma solução para o alcance da qualidade por
meio de mudanças de valores e atitudes (Jordão Filho e Oliveira, 2013).
A cidade cresce em dois sentidos: vertical e horizontal. Vêem-se um pouco por todo o lado
obras de construção de edifícios modernos, mantendo a linha arquitectónica de uma urbe
construída no século XIX. Por outro lado, enquanto despontam vivendas nas novas zonas
residenciais de uma elite emergente, alguns edifícios vão-se degradando e ganhando um
aspecto abandonado. Mas o grande problema reside nos bairros suburbanos 1.
1
http://www.verdade.co.mz/tema-de-fundo/35-themadefundo/38638-um-municipio-independente
7
1.3. DELIMITAÇÃO
Quanto a delimitação contextual trabalho enquadra-se no módulo de Espaço e Sustentabilidade
do meio urbano, nos países em vias de desenvolvimento como é o caso de Moçambique. O
trabalho compreende os períodos de 2000 a 2015. A escolha deve-se ao facto de neste período
ter havido aumento, por decreto, da área das cidades, alterando seus limites administrativos,
com o argumento de que a cidade necessita de novas áreas de expansão.
1.4. JUSTIFICATIVA
O Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental classifica as áreas urbanas tendo em
consideração a sustentabilidade de centros urbanos em termos de uso de solo urbano,
saneamento e ambiente, desenvolvimento de infraestruturas de transportes e comunicações, e
condições de alojamento. Esta classificação procura: (i) promover a sustentabilidade de áreas
urbanas; (ii) melhorar a gestão de terrenos urbanos entre as municipalidades e a administração
central; (iii) garantir um melhor planeamento para o desenvolvimento das cidades urbanas
(Banco Mundial, 2009).
Pelo que se observa nos diferentes bairros das cidades da Beira, são evidentes algumas
características comuns que podem sugerir uma certa tendência de caracterização urbana.
Um dos aspectos importantes da pesquisa deve-se ao facto de nunca ter havido um estudo
semelhante no país. A pesquisa trás a visão de vários pesquisadores, que vão tratar de alguns
instrumentos de planeamento e sustentabilidade urbana para resolver tanto os problemas
vivenciados dentro das cidades quanto os problemas causados por cidades, reconhecendo que
as próprias cidades têm potencial para encontrar soluções e também constituirá um estudo
indispensável para quem trabalha com políticas públicas de planeamento urbano, base para
8
assegurar o que determina o Estatuto da Cidade, que é o direito subjectivo de todo cidadão a
uma cidade sustentável.
9
CAPÍTULO II: REVISÃO DA LITERATURA
2.1. URBANISMO
Segundo Portes (2013), o urbanismo actual das cidades é considerado disperso e gera
problemas ambientais, face ao espalhamento da malha urbana sobre a paisagem natural,
eliminado florestas, se apropriando dos recursos naturais, aumentando a demanda por
consumo e energia, produzindo resíduos em excesso como resultados do modelo de consumo.
Professor Bernardo Secchi (2005), por exemplo, ainda que numa postura relativista, evidencia
no seu conceito de Urbanismo, a existência ou a busca de transformações físicas:
Portanto, por Urbanismo entendo não tanto um conjunto de obras, de projectos, de teorias ou normas
associadas a um tema, a uma linguagem e a uma organização discursiva; muito menos o entendo como
um determinado sector do ensino, mas ao contrário como um testemunho de um vasto conjunto de
práticas, quais sejam as da contínua e consciente modificação do estado do território e da cidade.
10
Urbanismo não apenas desenha a cidade que se quer, mas também determina como essa deve
ser obtida e usada, ou seja, acreditando na utopia de poder formatar a sociedade que aí habita.
2.1.1. Urbanização
Para Maniçoba (2006:75), “a definição mais comummente ligada ao termo urbanização refere-
se a esta como sendo o crescimento de números de cidades e o aumento da população
urbana”. Souza (1996:5 apud Maniçoba, 2006:75) confirma esta afirmação “segundo a qual a
urbanização, considerada em seu sentido quantitativo, é o aumento do percentual da
população vivendo em espaços urbanos, bem como o crescimento destes”.
Becker (1991:52 apud Maniçoba, 2006:76) “refere-se à urbanização como estratégia do Estado
para a ocupação de um dado território. Segundo esta autora, a relevância da urbanização como
instrumento de ocupação está ligada a três papeis fundamentais exercidos pelos núcleos
urbanos: a atracção dos fluxos migratórios, a organização do mercado de trabalho e controlo
social, o que atribui a urbanização um novo significado”.
Castells (1983:39 apud Maniçoba, 2006:76), em sua análise sobre o fenómeno urbano, destaca
que, das inúmeras definições dadas pelos sociólogos para o termo urbanização, é possível
distinguir dois sentidos distintos: 1) concentração espacial de uma população, a partir de certos
limites de dimensão e de densidade; 2) difusão do sistema de valores, atitudes e
comportamentos denominados cultura urbana.
Segundo Sposito (s/d), entender a cidade de hoje, apreender quais processos dão conformação
à complexidade de sua organização e explicam a extensão da urbanização neste século, exige
2 http://conceito.de/urbanizacao
11
uma volta às suas origens e a tentativa de reconstruir, ainda que de forma sintética, a sua
trajectória.
A urbanização está associada ao processo de industrialização que trouxe população das áreas
rurais para o centro das cidades. Esse processo traduz-se espacialmente por uma concentração
da população e das actividades nos centros das cidades. No sentido social e demográfico,
significa a transferência de populações destas para as primeiras, e deslocamento de
contingentes do pequeno ou médio para o grande urbano, com a incorporação rápida de
modos de vida nas urbes por áreas dispersas (Costa, 2010).
12
indefinidamente. A urbanização, no entanto, tem limites. Nos países em que a população urbana
ultrapassa 95% do total, podemos, dizer, que esses países já os atingiram.
(Silva e Macêdo , 2009:3)
De acordo com Garcia (2012 apud Jordão Filho e Oliveira, 2013:58), “as consequências da
urbanização que podem ser citadas são a moradia, o desemprego, o transporte, a violência e a
poluição do ar”.
13
relação a suas características físicas quanto sociais, culturais e económicas” (Duarte, 2007:24
apud Jordão Filho e Oliveira, 2013:55).
14
consumo, antes visto como ilimitado, criticando a ideia de crescimento constante sem
preocupação com o futuro.
Para Henri Acselrad, as seguintes questões discursivas têm sido associadas à noção de
sustentabilidade:
da eficiência, antagónica ao desperdício da base material do desenvolvimento, com
reflexos da racionalidade económica sobre o “espaço não-mercantil planetário”;
da escala, determinante de limites quantitativos para o crescimento económico e suas
respectivas pressões sobre os recursos ambientais;
da equidade, articuladora analítica entre princípios de justiça e ecologia;
da auto-suficiência, desvinculadora de economias nacionais e sociedades tradicionais
dos fluxos de mercado mundial, como estratégia apropriada para a capacidade de auto-
regulação comunitária das condições de reprodução da base material do
desenvolvimento;
da ética, evidenciadora das interacções da base material do desenvolvimento com as
condições de continuidade da vida do planeta.
(Acselrad, 2001).
A sustentabilidade não é um objectivo a ser alcançado, não é uma situação estanque, mas sim
um processo, um caminho a ser seguido. Advém daí que a expressão mais correcta a ser
utilizada é um projecto “mais” sustentável. Todo o trabalho nesta área é feito a partir de
intenções que são renovadas contínua e progressivamente.
15
com os princípios da Agenda 21, resultante da Conferência da ONU sobre Desenvolvimento e
Meio Ambiente (Acselrad, 1999:81).
A sustentabilidade urbana “possui sua ênfase nas esferas social e de comunidade, já que os
principais problemas urbanos têm sua origem nas relações humanas. Por outro lado, a
expansão urbana nega os limites naturais impostos aos recursos finitos do planeta, colocando
em conflito o sistema económico vigente que promulga o desenvolvimento ilimitado do capital”
(Portes, 2013:23).
A sustentabilidade urbana é definida por Henri Acselrad como a capacidade das políticas
urbanas se adaptarem à oferta de serviços, à qualidade e à quantidade das demandas sociais,
buscando o equilíbrio entre as demandas de serviços urbanos e investimentos em estrutura
(Acselrad, 2001). No entanto, também é imprescindível para a sustentabilidade urbana o uso
racional dos recursos naturais, a boa forma do ambiente urbano baseado na interacção com o
clima e os recursos naturais, além das respostas às necessidades urbanas com o mínimo de
transferência de dejectos e rejeitos para outros ecossistemas actuais e futuros.
Neste sentido, também é fundamental para a sustentabilidade urbana o uso racional dos
recursos naturais, a boa forma do ambiente urbano baseada na interacção com o clima e os
recursos naturais, a partir de respostas às necessidades urbanas com o mínimo de transferência
de dejectos e rejeitos para outros ecossistemas actuais e futuros. Assim, o equilíbrio entre
inputs e outputs no sistema urbano, pode ser subsidiado pelo uso racional de energia, a partir
do aproveitamento dos recursos naturais de climatização, base conceitual da bioclimatologia
arquitectónica e urbana (Barbirato, Barbosa e Torres, s/d).
Porém, é preciso entender, como destaca Canepa (2007 apud Barbirato, Barbosa e Torres, s/d),
que “o desenvolvimento sustentável caracteriza-se não como um estado fixo de harmonia, mas
sim como um processo de mudanças, no qual se compatibiliza a exploração de recursos, o
16
gerenciamento de investimento tecnológico e as mudanças institucionais com o presente e o
futuro.”
Acserald (2001), apresentou três matrizes discursivas que enfatiza as diferentes representações
de cidade, resultando em propostas de acções para a questão ambiental urbana. Essas matrizes
são:
1-) Representação técnico-material da cidade
1.1. Modelo da racionalidade eco-energética: uma cidade em que para uma mesma oferta de
serviços, reduz o consumo de combustível fóssil e recursos naturais, explorando os recursos
locais e renováveis.
1.2. Modelo de metabolismo urbano: - fluxos e stocks de matéria e energia, circulação, troca e
transformação dos recursos em trânsito.
Essas três matrizes estão interligadas, pois, para se obter a racionalidade eco-energética é
preciso buscar uma maior eficiência no uso dos recursos naturais, equidade no acesso aos
serviços urbanos, incentivando o uso de meios de transporte menos poluentes, aproximando-
17
se do modelo da pureza. Para se obter uma cidade sustentável é necessário considerar essas
três matrizes agindo em conjunto (Sampaio, 2009).
Roger-Machart, apud Sampaio (2009) afirma que uma cidade sustentável é a que preenche as
necessidades de seus actuais cidadãos, sem esgotar os recursos das futuras gerações de todo o
mundo por meio da gerência cuidadosa da demanda por recursos, maximização da
circularidade do uso dos recursos e maximização da eficiência do uso dos recursos.
Esse conceito se refere apenas à questão dos recursos naturais, propondo técnicas de reúso,
reciclagem, redução, aumentando a eficiência dos recursos naturais para não privar às gerações
futuras o acesso ao mesmo. A dificuldade que se tem é como tratar a sustentabilidade no meio
urbano, uma vez que a existência de grandes cidades, grandes aglomerações urbanas e seu
constante crescimento vão contra a proposição de uma cidade ambientalmente sustentável.
Observamos concentrações de actividades de negócios nas áreas centrais, recebendo
investimentos imobiliários e de infra-estrutura enquanto as periferias se tornam cada vez sem
recursos.
De acordo com Acselrad (2004 apud Sampaio, 2009) é possível encontrar na literatura dois
tipos de tratamento para questão da sustentabilidade urbana: “um tratamento normativo,
empenhado em delinear o perfil da “cidade sustentável” a partir de princípios do que se
entende por um urbanismo ambientalizado; e um tratamento analítico, que parte da
problematização das condições sociopolíticas em que emerge o discurso sobre sustentabilidade
aplicado às cidades.
18
Ambos tratam da busca de um ambiente mais sustentável para ser aplicado nas cidades,
partindo de argumentos diferentes para enunciar essa justificativa. Uma parte da questão
ambiental e outro da questão social e política. Porém, é com a união desses dois argumentos
que se pode alcançar a sustentabilidade urbana.
Segundo Sattherthwaite (2004 apud Sampaio, 2009) afirma que a sustentabilidade urbana deve
atingir a sociedade ou as condições de vida. São actividades específicas dentro de áreas urbanas
que devem ser sustentáveis como no caso de mercados habitacionais sustentáveis e
desenvolvimento territorial sustentável ou transporte sustentável, agricultura sustentável,
modos de vida sustentáveis.
Pode-se definir que as cidades com desenvolvimento sustentável representam um local mais
igualitário a todos, com preocupação com o meio ambiente e a população que nela vive.
São diversas propostas apresentadas por diferentes autores de múltiplas áreas, pois a
sustentabilidade urbana é um conceito interdisciplinar e de difícil caracterização. Para atingir a
aplicabilidade no meio urbano, depende de acções políticas, sociais e ambientais.
Ainda segundo estes autores, a sustentabilidade urbana como um tema que envolve um
conjunto de aspectos que são dinâmicos e que afecta de forma diversificada e em dimensões
diferentes cada população, além das cidades constituírem formações humanas que carregam
19
uma história, especificidades, potencialidades e diversas características locais que fazem parte
da sua morfologia e identidade, a sustentabilidade deve ser tratada como uma temática que
gera contradições, que é carregado de valores, emoção, percepção, sensibilidade, ética e que,
seu entendimento está relacionado ao processo de evolução de cada sociedade, assim,
apresentando suas peculiaridades em cada território urbano específico, o que requer um olhar
atento a toda problemática urbana que se estabeleceu ao longo da história (Martins e Cândido,
2013:3).
No início do século XX começam surgir cidades nitidamente marcadas pela presença colonial
portuguesa: construídas para os europeus, as novas cidades são portos de escoamento de
produtos de exportação, são lugares de estabelecimento da administração colonial, o que as
diferenciam das cidades europeias resultantes da Revolução Industrial (Baia, 2009). Pois, para o
caso de Moçambique pode referir-se que:
Relativamente tarde, só depois da separação administrativa de Moçambique da Índia Portuguesa em
1752, foi introduzido o municipalismo português em sete povoações em 1762/64 (Inhambane, Sofala,
Sena, Tete, Quelimane, Moçambique e Ibo). Em 1818, a capital na Ilha de Moçambique foi elevada a
categoria de “cidade”. Tinha nessa altura cerca de 5000 habitantes. A maioria – era africana – mas as
elites eram imigrantes da europa e da Índia incluindo alguns dos seus descendentes locais.
(Serra, 200:23 apud Baia, 2009:11)
20
Moçambique foram caracterizadas pela coexistência de duas áreas: uma que albergava
população de origem europeia e asiática, com um traçado geométrico que indicava
preocupações com o planeamento urbano e; outra, não planeada e com infraestruturas
precárias, onde viviam africanos como mão-de-obra necessária para os trabalhos de construção
civil, para os carregamentos no porto, para os trabalhos domésticos.
Depois da independência em 1975, Portugal deixou de influenciar, pelo menos de uma forma
directa, as políticas de desenvolvimento territorial do país. A adopção do modelo de
desenvolvimento socialista introduziu novas singularidades nas relações sociedade-espaço.
Deste modo, “o desenvolvimento urbano em Moçambique começou a ser determinado pela
primazia do político e a sua independência em relação à economia” (Baia, 2009:13).
Segundo Araújo:
Em Moçambique, as décadas de 70, 80 e 90 foram caracterizadas pela ocorrência de factores conjunturais
adversos (guerra colonial, guerra civil calamidades naturais) que alteraram o desenvolvimento normal da
distribuição da população a partir dos centros urbanos. Este fenómeno *…+ inverteu o sentido da
expansão urbana, com todas as consequências sociais, económicas e ambientais daí decorrentes. Isto
sucedeu porque os factores conjunturais referidos tornaram o meio rural extremamente repulsivo e os
espaços urbanos e urbanizados adquiriram valores atractivos.
(Araújo, 2003:168 apud Baia, 2009:15)
Ainda segundo Araújo (2003:169 apud Baia, 2009:15), outro factor que em África, em particular
em Moçambique, tem tido implicações directas no processo urbano é aquele que diferentes
autores designam por reclassificação urbana. Esta consiste no aumento, por decreto, da área
21
das cidades, alterando seus limites administrativos, com o argumento de que a cidade necessita
de novas áreas de expansão.
Sob a direcção do Instituto Nacional de Planeamento Físico (INPF) previu-se a existência de três tipos de
planos: os planos de intervenções prioritárias, o plano de estrutura e os planos parciais de urbanização.
Foram elaborados guias de orientação para o uso dos terrenos urbanos bem como normas destinadas aos
técnicos e profissionais designados de “guião metodológico para os técnicos médios de planeamento
físico” cuja ênfase foi dado aos planos parciais de urbanização e as normas de uso de solo e
infraestruturas. Estes dois planos diferentes no tempo, no contexto e na escala.
(Battino, 2002 apud Sicola, 2014:4).
22
A nível municipal há a considerar:
Os Planos de Estrutura Urbana (PE) - que estabelece a organização espacial da totalidade do território do
município ou povoação, os parâmetros e as normas para a sua utilização, tendo em conta a ocupação
actual, as infra-estruturas e os equipamentos sociais existentes e a implantar e a sua integração na
estrutura espacial regional;
Os Planos Gerais de Urbanização (PGU) e Planos Parciais de Urbanização (PPU) - que determinam a
estrutura e qualifica o solo urbano, tendo em consideração o equilíbrio entre os diversos usos e funções
urbanas, definem as redes de transporte, comunicações, energia e saneamento, os equipamentos sociais,
com especial atenção às zonas de ocupação espontânea como base sócio espacial para a elaboração do
plano;
Os Planos de Pormenor (PP), definem com pormenor a tipologia de ocupação de qualquer área específica
do centro urbano, estabelecendo a concepção do espaço urbano dispondo sobre usos do solo e condições
gerais de edificações, o traçado das vias de circulação, as características das redes de infra-estruturas e
serviços, quer para novas áreas ou para áreas existentes caracterizando as fachadas dos edifícios e
arranjos dos espaços livres…”(Decreto nº 23/2008 de 1 de Julho).
(Sicola, 2014:8).
23
CAPÍTULO III: METODOLOGIA
Para o presente trabalho, a teoria do desenho da investigação será a Grounded Theory pois, de
acordo com (Strauss & Corbin, 1994, p. 273 apud por Amaro, 2006), esta diz respeito a uma
metodologia de base qualitativa, tendo em vista o desenvolvimento de teoria baseada em
dados sistematicamente recolhidos e analisados. A teoria resultante pode também ser
designada grounded theory no sentido que é uma teoria assente em dados empíricos.
Segundo Amaro (2006:3), “seguindo o método, a teorização vai surgindo à medida que se
examinam os dados empíricos recolhidos, sendo a recolha de dados e a construção da teoria a
partir deles, duas partes do mesmo processo”.
24
Nesta linha de raciocínio surge Merrian (1988) que salienta o facto de ao reduzir-se as pessoas
a meros dados estatísticos, existirem determinadas características do comportamento que são
ignoradas.
Neste quadro de investigação qualitativa, optou-se por um tipo de investigação estudo de caso.
O estudo de caso é uma metodologia de investigação particularmente apropriada quando se
procura compreender, explorar ou descrever acontecimentos e contextos complexos, nos quais
estão envolvidos factos.
Para Yin (2004:13) “um estudo de caso é uma pesquisa empírica que investiga um fenómeno
contemporâneo no seu contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o
fenómeno e o contexto não são claramente evidentes”.
Stake (1994) refere que o estudo de caso é enfatizado por muitos investigadores porque chama
a atenção para o facto de se aprender através de um caso específico.
A finalidade do estudo de caso é sempre holística ou seja, visa preservar e compreender o caso
no seu todo. Para isso, o investigador estuda o “caso” no seu contexto real, em profundidade,
tirando todo o partido possível de fontes múltiplas de dados, sendo comum que num mesmo
estudo se combinem entre si as diversas técnicas de recolha (Yin, 2004).
O estudo de caso tem sempre um forte poder descritivo porque o investigador dá a conhecer a
situação tal como ela surge e tão completa quanto possível.
Assim, é de todo pertinente utilizar uma metodologia de estudo de caso, na medida em que se
pretende analisar o caso concreto da Cidade da Beira.
Já quanto aos objectivos, foi caracterizada como exploratória. A pesquisa exploratória visa
proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito ou a construir
25
hipóteses. Permitiu o aprimoramento de ideias e maiores informações sobre a motivação e o
desempenho nas organizações.
A pesquisa foi também descritiva, que objectiva conhecer e interpretar a realidade sem nela
interferir para modificá-la. Teve como objectivo fundamental a descrição das características da
população e do fenómeno em estudo.
3.2. CONCEITOS-CHAVE
Urbanização
Planeamento Urbano
Postura Urbana
Sustentabilidade Urbana
Crescimento Desordenado
A cidade da Beira, capita da província de Sofala, é o segundo maior centro urbano do país
depois de Maputo. Com uma superfície geográfica de 633 km² (Resolução n°3/81, de 2 de
Setembro) e de acordo com o último senso feito pelo Instituto Nacional de Estatística (INE)
actualmente tem uma população estimada em 436.240 (INE, 2008), tem como limites
geográficos o distrito de Dondo a Norte, o Oceano Indico ao Sul e Este e o rio Púnguè a Oeste
(Chaimite, 2010).
26
A cidade possui 26 bairros, nomeadamente: Macuti, Palmeiras, Ponta-Gêa, Chaimite, Pioneiros,
Esturo, Matacuane, Macurungo, Munhava-Central, Mananga, Vaz, Maraza, Chota, Alto da
Manga, Nhaconjo, Chingussura, Vila Massane, Inhamízua, Matadoro, Mungassa, Ndunda,
Manga Mascarenha, Muave, Nhangau, Nhangoma e Chonja (MAE, 2002 apud Chaimite, 2010).
Será aplicado a uma amostra de cerca para cerca de 3 bairros, onde serão aplicadas as
entrevistas e efectuadas as observações. Para além das populações residentes nestes bairros,
as entrevistas também serão aplicadas às autoridades municipais e locais.
Para o trabalho será usada a Observação Participante por, de acordo com Gil (2007:113),
consistir “na participação real do conhecimento na vida da comunidade, do grupo ou de uma
situação determinada. *…+ Daí ela ser uma técnica pela qual se chega ao conhecimento da vida
de um grupo a partir do interior dele mesmo”.
Em geral, segundo Marconi e Lakatos (2010:194), são apontadas duas formas de observação
participante:
Natural. O observador pertence à mesma comunidade ou grupo que investiga.
Artificial. O observador integra-se ao grupo com a finalidade de obter informações (ou
de realizar uma pesquisa).
27
3.3.2. Observação Individual
Como o próprio nome indica, é técnica de observação realizada por um pesquisador. Nesse
caso, a personalidade dele se projecta sobre o observado, fazendo algumas inferências ou
distorções, pela limitada possibilidade de controlos. Por outro lado, pode intensificar a
objectividade de suas informações, indicando, ao anotar os dados, quais são os eventos reais e
quais são as interpretações. É uma tarefa difícil, mas não impossível. Em alguns aspectos, a
observação só pode ser feita individualmente (Marconi e Lakatos, 2010:194).
3.3.3. Entrevista
Entrevista, que definida por Moresi (2003), é uma técnica que visa obter informações de um
entrevistado, sobre determinado assunto ou problema. Ela pode ser padronizada ou
estruturada. A Entrevista possibilita a obtenção de dados referente aos mais diversos aspectos
em torno do tema.
Best (1972: 120 apud Marconi e Lakatos, 2010:196) afirma que “alguns autores consideram a
entrevista como o instrumento por excelência da investigação social. Quando realizado por um
investigador experiente, "é muitas vezes superior a outros sistemas de obtenção de dados".
28
3.3.5. Pesquisa Bibliográfica
Todo trabalho científico deve iniciar com uma pesquisa bibliográfica como forma de procurar
conhecer o que está estudado sobre o tema e relacioná-lo com os objectivos do mesmo.
29
A análise dos dados objectiva dar uma visão mais simples e detalhada dos dados colhidos. E
para o presente trabalho os dados colhidos, serão analisados com o auxílio da técnica descritiva
e com ajuda do pacote informático Microsoft Excel.
A avaliação dos dados colhidos nas duas entrevistas será pertinente como forma de ganir a
existência de informações suficientes para a resolução do problema em estudo. Não existirão
limitações em descrições, e a insuficiência de dados abrirá espaço para uma outra entrevista.
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CAPÍTULO IV: ESTRATÉGIA DE APRESENTAÇÃO DE DADOS
2016 2017
Actividades Jan Fev Marc Abril Mai Jun Jul Agos Set Out Nov Dez Jan Fev Mar
Definição de Projecto de Investigação
Pesquisa de bibliográfica
Desenho do estudo (definição da metodologia)
Redacção de Projecto de Pesquisa
Entrega de projecto parcial
Elaboração do projecto final
Elaboração de guião de entrevistas
Entrevistas
Observação do ambiente em estudo
Recolha de Dados
Analise dos resultados das entrevistas realizadas
Análise dos dados
Redacção da tese
Revisão da tese
Entrega da tese parcial
Entrega da tese final
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2. ÍNDICE PROVISÓRIO
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO
1.1. Objectivos
1.1.1. Geral
1.1.2. Específicos
1.2. Problematização do objecto de estudo
1.3. Justificativa
1.4. Perguntas de Pesquisa
1.5. Delimitação da pesquisa
CAPÍTULO II: REVISÃO DA LITERATURA
PARTE I:
2.1. Urbanismo e Planeamento Urbano
2.1.1. Início do Planeamento Urbano
2.1.2. Movimento Moderno
2.1.3. Pós-Modernismo e a Carta de Atenas
2.2. Teoria Geral de Sistema de Planeamento Urbano
2.3. Urbanização
2.4. Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável
2.4.1. Sustentabilidade Urbana
2.4.2. Urbanização Sustentável
2.4.3. Cidade Sustentável
PARTE II: A URBANIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE
2.5. A Génese da Urbanização em Moçambique
2.5.1. Características das Cidades de Moçambique
2.5.2. O Processo de Urbanização da Cidade da Beira
2.6. Os Sistemas de Planeamento em Moçambique
2.7. Instrumentos de Gestão e Planeamento Urbano e Regional em Moçambique
2.7.1. Lei dos Municípios (1994)
2.7.2. A Lei de Terras (1997)
2.7.3. O Regulamento do Solo Urbano (2006)
2.7.4. A Lei do Ordenamento do Território (2007)
CAPÍTULO IV: METODOLOGIA DE PESQUISA
3.1. Tipo de pesquisa
3.2. Universo populacional
3.3. Amostra
3.4. Técnicas e instrumentos de colecta de dados
3.5. Instrumentos de análise de dados
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CAPÍTULO IV: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
4.1. Apresentação dos Resultados
4.2. Análise e Discussão dos Resultados
CAPÍTULO V: CONCLUSÃO
5.1. Considerações Finais
5.2. Recomendações
5.3. Bibliografia
Apêndices
Anexos
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BIBLIOGRAFIA
Acselrad, H. (2001). Novas premissas da sustentabilidade democrática. Revista Brasileira de
Estudos Urbanos e Regionais, 1.
Araújo, M. M. (2005). Cidade de Nampula: a rainha do norte de Moçambique. Finisterra, XL, 79,
2005.
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Costa e Silva, M. T. G. C. da (2012). Os Desafios da Urbanização das Cidades. Rio de Janeiro:
UFRJ.
Cervo, A. L. & Bervian, P. A. (2007). Metodologia científica. (6 ed). São Paulo: Pearson Prentice
Hall.
35
Portes, K. O. (2013). Reformas Urbanas Contemporâneas: Um Estudo da Teoria Urbana
Sustentável e Sua Aplicabilidade nas Cidades Brasileiras. Texto inédito. Monografia de
Licenciatura. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Rio de Janeiro, Brasil.
Silva, R. C. N. da & Macêdo, C. S. (2009). A Urbanização Mundial. Rio Grande do Norte: UNIDIS
Yin, R. K. (2004). Case Study Research Design and Methods, Third Edition. Sage Publications,
2003. Vol. 5.
http://conceito.de/urbanizacao
http://www.verdade.co.mz/tema-de-fundo/35-themadefundo/42055-o-centro-dos-problemas
http://www.verdade.co.mz/tema-de-fundo/35-themadefundo/38638-um-municipio-
independente
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