Giovanetti. Psicologia Existencial e Espiritualidade
Giovanetti. Psicologia Existencial e Espiritualidade
Giovanetti. Psicologia Existencial e Espiritualidade
A psicologia é uma ciência, nova e antiga ao mesmo tempo, que teve ao longo
de sua trajetória várias fontes de inspiração. Na antiguidade, a psicologia teve sua razão
de ser ligada à filosofia. Era praticamente um ramo da filosofia. Tanto é, que eram os
filósofos que tratavam das questões pertinentes à Psicologia. Aristóteles, por exemplo,
no seu tratado sobre a Alma, refletiu sobre a organização da vida humana, mostrando os
diversos níveis que compunham a complexidade da existência – a alma vegetativa, a
alma sensitiva e a alma intelectiva. Foi com o advento da ciência moderna que a
Psicologia se constituiu como ciência autônoma, reivindicando seu lugar entre as
ciências humanas e decretando sua separação da filosofia. Era a época da separação, o
surgimento da Psicologia do século XIX.
Assim, podemos dizer que a Psicologia, hoje, tem duas fonte muito distintas
de sustentação, isto é, de base epistemológica. De um lado, encontramos uma Psicologia
2
dita mais objetiva, que tem como modelo de inspiração a ciência moderna com todas as
implicações metodológicas. Os principais representantes desta corrente de pensamento
são o Behaviorismo e mais recentemente o Cognitivismo e a Neuropsicologia. Do outro
lado, existe uma Psicologia que tem sua inspiração na Filosofia e trata das questões
psicológicas, tendo como base uma corrente filosófica. Podemos destacar a Psicologia
Humanista com uma inspiração no movimento cultural americano denominado
individualismo, e a Psicologia Existencial que tem como fonte de sustentação a doutrina
filosófica denominada Existencialismo.
É bom lembrar que a Psicologia Existencial que conhecemos hoje no final do
século XX e início do século XXI, é diferente da Psicologia filosófica da antiguidade.
Esta tratava as questões a partir do modo de pensar filosófico, enquanto a Psicologia
Existencial lida com as questões psicológicas, “mas preocupa-se em conhecer estes
aspectos da vida do homem no nível mais profundo da realidade ontológica”.1
Dessa maneira, a perspectiva do profissional que tem a filosofia como fonte
direta de inspiração, é tratar as questões como experiência, vivência, vontade, angústia e
muitas outras, a partir de uma concepção de homem que sustenta essas questões
existenciais. É como diz May: é o profissional que faz um “esforço para compreender o
homem como experimentador, como aquele a quem acontecem as experiências”2.
Aquele que utiliza esse tipo de abordagem das questões psicológicas, está preocupado
em entender o que se passa no interior da subjetividade e não com a explicação do
funcionamento técnico dos processos psicológicos. Se pensarmos em termos de
psicoterapia, a psicologia existencial fornecerá uma compreensão da estrutura do ser
humano e não se limitará às explicações ou aos procedimentos técnicos da terapia.
Como diz May, “a ênfase existencialista em Psicologia não nega, entretanto, a
validade do condicionamento, a formulação de impulsos, o estudo de mecanismos
individualizados, e assim por diante. Ele somente sustenta que nós nunca podemos
explicar ou entender qualquer ser humano existente, em tais bases”.3
A principal fonte de inspiração da Psicologia Existencial é o existencialismo e
como é próprio dos “ismos”, essas teorizações tem como principal característica de ser
uma doutrina, e, aqui, no caso uma doutrina sobre o homem. Ao longo da história da
filosofia, muitos filósofos que tiveram no centro de suas preocupações explicitar uma
1
MAY, Rollo. O surgimento da psicologia existencial. In: May Rollo (org.) Psicologia Existencial. Porto
Alegre: Globo, 1976, p. 10.
2
MAY, Rollo, idem, p. 10.
3
MAY, Rollo, idem, p. 16.
3
teorização sobre o homem, podem fornecer uma base para o trabalho psicológico.
Sócrates com a famosa frase “Conhece-te a ti mesmo” inaugurou a reflexão
antropológica. Porém, só no século XIX, com Kierkegaard, que a filosofia moderna
explicitou uma reflexão sobre a subjetividade do ser humano, dando uma maior ênfase
às questões vivenciais. Foi, somente, no século XX que começaram a se destacar os
filósofos existencialistas, dentre os quais os quatro mais importantes são Heidegger,
Jaspers, Sartre e Marcel.
O aspecto que dá destaque e marca a originalidade do pensamento
existencialista contemporâneo é a famosa afirmação de que a existência precede a
essência e não vice-versa como predominava na filosofia clássica. Isto quer dizer que,
na compreensão do ser, temos dois princípios, a essência e a existência. Com o conceito
de essência se quer falar sobre a natureza do ser, enquanto que o conceito de existência
designa o fato de ser. Assim, o homem é compreendido a partir da articulação desses
dois princípios. A essência explicitaria o aspecto do que é próprio do homem, qual sua
característica principal, aquilo que faz com que ele seja um homem, isto é, por exemplo,
a racionalidade, o possuir uma alma intelectiva, etc, e a existência a compreensão da
singularidade. O conceito de existência enfatiza o existente, o ser humano na sua
trajetória de vida. Cada enfoque filosófico procura destacar um aspecto do homem,
discorrendo sobre uma dimensão ou uma experiência única que o faz ser diferente dos
outros seres vivos.
Dessa forma, na época clássica se dava mais valor à essência, isto é,
procurava-se definir primeiro a especificidade do homem e depois compreender sua
particularidade. Com o pensamento de Kierkegaard começamos a constatar uma virada
na maneira de compreender o ser humano. Primeiro, vamos descrever a pessoa
existente, para depois captar sua essência. É nessa perspectiva, que se começou a dar
mais importância a temas como a angústia, o desespero etc., em detrimento da
compreensão do que significaria a racionalidade humana. O valor estava no vivencial e
não na definição categorial. Assim, descrever o que era a existência concreta passou a
ser a tarefa dessa abordagem filosófica designada com o nome de existencialista.
Como diz Huisman, o “essencialismo insistia sobre a prioridade do conceito,
sobre a anterioridade da natureza de um ser (antes de saber se Deus existe, trata-se de
definir sua essência, de saber o que é a sua “natureza”), enquanto que o existencialismo
vai impor a prioridade de existência sobre a essência: “fazer e, ao fazer, fazer-se e não
4
ser nada senão o que se faz”4. Essa nova luz de compreender o homem possibilitou
privilegiar o “vivido”, o singular, o concreto e fez aparecer temas como a liberdade, a
corporeidade, etc.
No seu conjunto, os filósofos existencialistas têm em comum a aposta na
primazia da existência sobre a essência, porém, cada um deles guarda uma
especificidade. Assim, Kierkegaard (1813-1855), considerado o pai do existencialismo,
tem como eixo de suas reflexões a de “valorizar a experiência da obscuridade da
condição humana”.5 Dentre os temas mais significativos destacamos a dificuldade de
viver a fé, o problema da angústia humana, a questão do desespero humano, o conceito
de ironia, etc. Sua posição é de afirmar a subjetividade humana contra o predomínio do
sistema, principalmente o sistema filosófico hegeliano, que predominava na sua época,
meados do século XIX. Kierkegaard, muito atormentado por uma angústia, explicitou as
contradições da existência, e, por isso mesmo, podemos dizer que ele é aquele que
melhor escreveu sobre os paradoxos da existência. Sua filosofia tem influenciado alguns
psicólogos, que encontram em suas reflexões inspiração para o trabalho clínico.
Heidegger (1889-1976), dentre os existencialistas, é o que mais tem
influenciado os psicólogos que buscam um fundamento para sua prática clínica. É,
talvez, o de mais difícil de compreensão, pois a grande questão de sua filosofia é o
questionamento do ser. Sua posição teórica é de que a filosofia ocidental, mergulhada
numa tradição metafísica, esqueceu-se do ser. Para Heidegger, o esquecimento do ser
deveu-se a que a filosofia só se preocupou com o ente. Essa questão aparece com força
no livro Ser e Tempo de 1927, obra que tem influenciado muito a psicologia clínica,
onde o ser é compreendido como a “raiz fundamental e a fonte de todas as coisas”, a
partir da dimensão da temporalidade.6 Essa contribuição de Heidegger para a clínica
psicológica vem de longa data, pois durante mais ou menos 10 anos (1959-1969)
Heidegger freqüentou a clínica de Medard Boss, onde se debateu questões pertinentes à
prática terapêutica. Esses encontros e seus respectivos registros foram conhecidos como
os Seminários de Zollikon.7
Jaspers (1883-1969) é outro filósofo existencialista que tem uma presença
significativa no meio clínico, mais precisamente na psiquiatria. Ele era médico e
4
HUISMAN, Denis. História do Existencialismo. Bauru: Edusc, 2001, p. 8.
5
HUISMAN, Denis, op. cit., p. 38.
6
HUISMAN, Denis, op. cit., p. 101.
7
HEIDEGGER, Martin. Seminários de Zollikon editados por Merdard Boss. Petrópolis, São Paulo:
Vozes, Educ, 2001.
5
encontrou na fenomenologia uma fonte de inspiração para lançar uma nova luz na
compreensão das doenças mentais. Sua Psicopatologia Geral de 1913 abriu uma grande
linha de pesquisa para se entender o que se passa com o doente. Sua abordagem
fenomenológica da psicopatologia proporcionou, por meio do método descritivo, uma
compreensão nova do sofrimento humano. A partir deste período, Jaspers se dedicou
mais à filosofia e o seu tema pungente para a Psicologia passou a ser os fenômenos
denominados “situação-limite”, embora a existência como escolha teve, também, uma
grande influência para a compreensão da estrutura humana.
Outros dois filósofos, que no cenário filosófico acabaram contribuindo para a
elaboração de uma concepção do homem mais ampla e inspiradora para uma prática
clínica, foram Sartre (1905-1980) e Marcel (1889-1973). O primeiro é considerado o
grande divulgador do existencialismo, principalmente por meio de suas obras literárias,
Huis clos (1944) e Les Mots (1964). Sua obra filosófica, que tem servido de base para a
Psicologia, é O Ser e o Nada (1943), onde sua visão do outro é significativa para
compreender a dinâmica do homem. O tema da liberdade tem também um destaque na
sua temática existencial. O segundo, é talvez dos quatro mais importantes filósofos
existencialistas o que menos influenciou a clínica psicológica, embora o tema do ser e
do ter seja fundamental na sua filosofia.
A Psicologia deve muito a outros filósofos existencialistas como Martin Buber
e Paul Ricoeur, que na sua primeira fase do desenvolvimento do seu pensamento
filosófico deu uma atenção especial a questão dz vontade, e, também, ao fenomenólogo
Merleau-Ponty. Porém, queremos, aqui, destacar apenas, por meio de um vôo bastante
superficial, a importância da inspiração filosófica para o trabalho do psicólogo no
mundo atual. A ênfase existencial tem se primado pela valorização da singularidade do
ser humano, destacando a liberdade e a decisão como os elementos essenciais da vida
humana, e que devem sustentar todo embasamento de um trabalho clínico.
8
BOFF, Leonardo, Espiritualidade. Um caminho de transformação. Rio de Janeiro: Sextante, 2001, p. 66.
9
BOFF, Leonardo, Op. cit., p. 66.
10
Tratamos de forma mais extensa da distinção entre espiritualidade e religiosidade em nosso escrito. “O
Sagrado na Psicoterapia”, in: Angerami-Camon (org.) Vanguarda em psicoterapia fenomenológico-
existencial. São Paulo. Thompson, 2004, especificamente as páginas 5-8.
11
BOFF, Leonardo, Crise. Oportunidade de crescimento. Campinas: Verus, 2002, p. 56.
7
Tentar descobrir o que está no mais profundo do ser humano por meio da
reflexão ou da meditação, é cultivar a espiritualidade, e para desenvolver esta atitude na
vida não necessito da crença em um ser superior, da religião ou da vivência da
religiosidade. Daí, que podemos ter uma “espiritualidade arreligiosa”. A espiritualidade
é independente do cultivo da religiosidade. Ela se manifesta na busca de valores
profundos que regem o ser humano. Auscultando a si mesmo, o homem percebe que do
seu profundo emergem “apelos de compaixão, de amorização e de identificação com os
outros...”.12 Desenvolver a espiritualidade é construir a sua vida na busca destes valores.
É por isso, que o Budismo tem como meta ajudar o homem a centrar-se sobre si mesmo,
por meio de suas técnicas de meditação, e descobrir e desenvolver ao longo da vida a
compaixão. O Budismo é um bom exemplo do cultivo da espiritualidade.
Dessa forma, a espiritualidade pertence a todo homem, embora ela não seja
cultivada por todo homem. Ela é própria do homem, mas nem todos fazem dela o
direcionador de suas vidas. Ao destacarmos a importância da espiritualidade, não
estamos desvalorizando a dimensão corporal e a dimensão psicológica do ser humano.
Pelo contrário, a espiritualidade só se constrói plenamente a partir de uma dimensão
psicológica sadia. Desse modo, a espiritualidade “é um modo de ser, uma atitude de
base a ser vivida em cada momento e em toda circunstância”.13
Na medida que aprofundo o encontro comigo mesmo, com o meu centro, vou
percebendo que a característica mais específica do ser humano é a abertura ao outro,
diferentemente da dimensão psicológica que é o centramento nas ressonâncias (sejam
emoções ou sentimentos). Só quem cultiva a dimensão do espírito, vivenciando a
espiritualidade, é capaz de descobrir que a vida não é um fechamento em si mesmo, mas
uma abertura para o outro. Assim, como diz Boff, “a pessoa que criou espaço para a
profundidade e para a espiritualidade mostra-se centrada, serena e pervadida de paz”.14
Se olharmos com atenção para tarefa própria da dimensão do espírito, vamos
descobrir que, se o psicológico no ser humano só se desenvolve se houver um
acolhimento afetivo por parte do outro, a dimensão espiritual se desenvolverá se eu,
com a ajuda do outro e da comunidade, descobrir um sentido para a vida e integrá-lo no
meu dia-a-dia. Desse modo, podemos dizer que a espiritualidade “é principalmente uma
12
BOFF, Leonardo, Op. cit., p. 57.
13
BOFF, Leonardo, Op. cit., p. 58.
14
BOFF, Leonardo. Op. cit., p. 58.
8
15
SAROGLOU, V. Spiritualité moderne. Un regard de psychologie de la religion. In: Revue Thélogique
de Louvain, v. 34, ano 2003, p. 473-504, aqui p. 482.
16
SAROGLOU, V., Op. cit., p. 484.
17
SAROGLOU, V., Op. cit., p. 483.
9
18
FRANKL, Viktor. Fundamentos antropológicos da Psicoterapia. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978,
p. 58.
19
FRANKL, Viktor. Op. cit., p. 59.
10
sustentação teórica. Isto não exclui um possível diálogo entre ambas, mas devemos ter
bem claro que seus pontos de partida são muito diferentes.20
O existencialismo destaca, que a capacidade de decidir é fundamental na
estruturação da vida humana. Decidir é uma ação humana que está ligada à vontade.
Assim, os existencialistas têm elaborado tratados sobre essa ação humana, que é feita
pelo espírito. Ricouer nos anos 50-60 escreveu um tratado filosófico intitulado Filosofia
da Vontade, onde mostra que o ato de decidir é um dos atos mais complexos e que exige
a participação essencial do espírito. No momento que a psicologia existencial acentua a
tomada de consciência do poder de decisão, ela está se opondo a uma psicologia que
joga suas fichas no domínio da pulsão e do desejo. Não estamos negando essas forças
do ser humano, mas dizendo que se apostarmos nossas fichas nelas, corremos o risco de
entender a vontade como uma conseqüência da racionalização, e pensamos que isso seja
uma ilusão. Pelo contrário, a decisão deve levar em consideração essas forças humanas
sem anulá-las ou negá-las.
Portanto, o existencialismo moderno tirou do esquecimento esse velho
conceito que, já na Idade Média, Agostinho tinha apresentado algumas considerações
sobre sua importância para a vida humana. A decisão, ápice da atividade da vontade,
introduz um elemento que não é determinado pela situação exterior. “Ela contém um
elemento de salto, de se colocar face a uma chance, um movimento de si em uma
direção da qual não se pode jamais prever exatamente o resultado final antes do salto”.21
A importância desse momento decisivo no salto é o que a filosofia existencial designou
como “Kairos”, palavra grega que significa ocasião ou tempo favorável. Ellenberger
diz, que normalmente existe um tempo favorável para se tomar uma decisão. Esse
momento não pode nem ser antes, precipitação da decisão, nem pode ser muito tarde,
pois comprometeria o ato de decidir. “O Kairos é o momento eletivo para uma decisão
existencial”.22
O cultivo da decisão existencial e do Kairós pode contribuir para fortalecer o
desenvolvimento da espiritualidade, pois são dois elementos extremamente
significativos para a busca do sentido, pois entendemos que o sentido não nos é dado,
mas é construído por nós. Frankl afirma que o que o homem procura “não é a felicidade
20
Tratamos dessa distinção entre as fontes filosóficas e o movimento cultural americano no nosso artigo.
“Impacto das idéias humanistas, fenomenológicas e existenciais na psicoterapia”. Anais do III Encontro
Mineiro de Psicologia Humanista, Belo Horizonte, 1994, p. 41-53.
21
MAY, Rollo,. Le devir d’être. Psychothérapie existentielle, Paris: EPI, 1972, 2a. ed., p. 57.
22
ELLENBERGER, H. Existencialisme et psychiatrie. In: Médecines de l’âme. Paris: Fayard, 1995, p.
391-416, aqui p. 408.
11
em si, mas uma razão para ser feliz”.23 Assim, as pessoas estão capacitadas a
construírem um sentido para vida, e isto se faz pela vivência da espiritualidade, que é o
cultivo da dimensão espiritual do ser humano.
A terceira contribuição vem do fato de que a Psicologia Existencial tem se
dedicado a buscar cada vez mais uma compreensão mais profunda das “experiências
existenciais”. Muitas vezes, as reflexões dos filósofos têm despertado no psicólogo um
interesse muito grande para desvendar na clínica os temas suscitados. A questão da
angústia pode ser um bom exemplo, pois as reflexões levantadas pelos filósofos,
especialmente Kierkegaard e Heidegger, mostrando que a angústia que é uma das
experiências básicas do ser humano, chamou a atenção dos psicólogos clínicos para
olharem com cuidado para essa experiência. Assim, os psicólogos existenciais passam a
ver a angústia como uma experiência básica da vida, e principalmente o psicólogo
clínico dedica uma atenção maior as suas manifestações clínicas.
Essas experiências subjetivas, que podem ser consideradas como aquelas que o
homem toma consciência da própria existência, ajudam o homem a entender melhor sua
vida e o sentido da vida. A compreensão de que o homem é um ser-para-morte, isto é, a
percepção da finitude da vida, joga uma luz mais intensa sobre a estrutura da vida
humana, dita de maneira filosófica, sobre a estrutura do Dasein. Junto a essa
experiência, poderíamos enumerar a questão da experiência amorosa e para a psicologia
religiosa as experiências de pico ou de cume, estudadas por Maslow. A compreensão da
dinâmica das experiências intensas sobre o existir, possibilitou uma ampliação sobre
uma melhor elucidação do sentido da vida, tema central na vivência da espiritualidade.
Queremos concluir, deixando bem claro que o desenvolvimento da
espiritualidade é de suma importância para a estruturação do ser humano. A vivência da
espiritualidade pode muitas vezes sofrer uma forte transformação na medida em que o
homem se abre a algo maior do que ele, a um ser supremo, e cultiva a dimensão da
religiosidade, que altera. Essa questão da interligação entre a vivência da espiritualidade
e da religiosidade exige um outro estudo. Aqui, porém, só refletimos sobre a
contribuição da psicologia existencial na vivência da espiritualidade.
BIBLIOGRAFIA
23
FRANKL, Viktor, Op. cit., p. 11.
12
MAY, Rollo. O surgimento da psicologia existencial. In: May Rollo (org.) Psicologia
Existencial. Porto Alegre: Globo, 1976.
MAY, Rollo,. Le devir d’être. Psychothérapie existentielle, Paris: EPI, 1972, 2a. ed..