01-Tempo Formativo Juvenil - Eja
01-Tempo Formativo Juvenil - Eja
01-Tempo Formativo Juvenil - Eja
RESUMO
Este artigo propõe reflexões sobre a formação dos professores e as políticas de currículo da Educação
de Jovens e Adultos vigentes no Estado da Bahia a partir da utilização de oficinas formativas e
investigativas como dispositivo para apoiar a formação dos professores sobre o currículo da EJA.
Essa pesquisa utilizou da abordagem qualitativa por meio do estudo de caso com cunho participativo.
Utilizamos para levantamento de informações as oficinas formativas/investigativas (OFI) e a
entrevista semiestruturada. Uma pesquisa desse porte se fez relevante ao contribuir para reflexões
sobre a EJA, seu currículo e formação de professores. Isto posto, a formação continuada do professor
que atua na EJA é entendida como uma das possibilidades de ressignificar o currículo no espaço
escolar.
ABSTRACT
This article proposes reflections on teacher education and the curriculum policies of Youth and Adult
Education in force in the State of Bahia from the use of training and research workshops as a device to
support the training of teachers on the curriculum of the EJA. This research used the qualitative
approach through a participatory case study. We used for information gathering the training /
investigative workshops (OFI) and the semistructured interview. A research of this magnitude became
relevant when contributing to reflections about the EJA, its curriculum and teacher training. This fact,
the continuous formation of the teacher who works in the EJA is understood as one of the possibilities
to re-significate the curriculum in the school space.
INTRODUÇÃO
1
Este artigo traz um recorte de informações levantadas de investigação no Mestrado intitulada “Tecendo saberes
e fazeres no currículo da Educação de Jovens e Adultos: um estudo sobre representações sociais de profissionais
da educação de uma escola polo da cidade de Feira de Santana – Bahia”, do Programa de Pós-graduação em
Educação de Jovens e Adultos - MPJA, da Universidade do Estado da Bahia – UNEB/ Campus I.
2
Coordenadora Pedagógica da Rede Estadual de Ensino do Estado da Bahia; Gestora Escolar da Rede Municipal
de Feira de Santana-Bahia; Licenciada em Pedagogia, Especialista em Psicopedagogia; Especialista em
Educação e Pluralidade Cultural; Especialista em Educação Especial; Mestra em Educação de Jovens e Adultos
– MPEJA – UNEB. E-mail: <[email protected]>.
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seja para se conformar a um currículo engessado por ideias historicamente determinadas no
processo de escolarização. Nesse contexto, importantes transformações nas tecnologias de
comunicação, nos processos de produção e trabalho, modificam as relações entre os países e o
valor do conhecimento (DOS SANTOS COSTA, 2001; ALARCÃO, 2011).
Nesse panorama, Alarcão (2011) denuncia que a escola até então, não mais é
detentora do domínio do conhecimento, assim, novos princípios educativos são exigidos que
deem conta dessa multiplicidade de informações, formações tanto dos estudantes, quanto dos
professores que devem ser autônomos e competentes a responder a essa sociedade dinâmica e
diversa.
Certamente, o currículo nesse cenário não é neutro, nem pode ser compreendido
distante do contexto ao qual se desenvolve e das contribuições históricas e sociais que o
configura (SACRISTAN, 2000). E no caso da Educação de Jovens e Adultos, essas questões
se avolumam diante das tensões históricas, de ser essa, uma modalidade “à margem” das
políticas de formação de professores.
Os debates acerca da formação do professor não são recentes, mas povoam
estudos como o de Paiva (1987) que evidencia ser a formação de professores citada em
documentos oficiais ligados à instrução imperial no Brasil. Entretanto, em relação à EJA, esse
debate é recente e se intensifica nos estudos de mestrado do Programa de Mestrado em
Educação de Jovens e Adultos – MPEJA, com diversas pesquisas voltadas à formação de
professores da EJA (PAIVA, 2012; VENTURA, 2012; SOARES, 2007; OLIVEIRA, 2007),
assim como perpassam pelas discussões nos diversos Fóruns EJA e pelas Conferências
Internacionais de Educação de Jovens e Adultos – CONFINTEAS.
Apesar da Lei de diretrizes e Bases da Educação – LDBN nº 9394/96 reconhecer a
necessidade de “formação de profissionais de educação de modo a atender aos objetivos dos
diferentes níveis e modalidades de ensino e as características de cada fase de desenvolvimento
do educando” (BRASIL, 1996), a formação de professores para atuar na EJA continua à
margem das políticas de formação de professor, distanciada dos cursos de licenciatura que
formam os professores que atuam na EJA. Ventura (2012) deixa claro a necessidade de os
cursos de formação inicial de professores integrarem a EJA em seus currículos de forma mais
consistente.
Diante desse cenário este artigo tem por objetivo refletir sobre os desafios na
formação dos professores que atuam na EJA, apresentando duas propostas curriculares
2
ofertadas para a EJA no Estado da Bahia, apresentando a experiência de pesquisa oficinas
formativas investigativas como dispositivo para apoiar a formação continuada sobre o
currículo da EJA.
Esse estudo, utilizou-se da abordagem qualitativa pelo método de pesquisa o
Estudo de Caso com cunho participativo. Utilizamos para levantamento de informações as
oficinas formativas/investigativas (OFI) e entrevistas semiestruturadas que envolveram
professores e coordenadores pedagógicos atuantes na EJA em uma escola polo em Feira de
Santana – BA.
3
Ventura (2012, p. 74) contribui nessa discussão, evidenciando “que há uma clara
relação entre a ausência da discussão sobre a especificidade da Educação de Jovens e Adultos
na formação inicial e o despreparo dos professores em lidar com esse público na educação
básica”. Esses fatores impactam, certamente o ensino na EJA com improvisação, ou
reprodução do currículo do ensino seriado do diurno no noturno.
Mudanças no contexto docente na EJA requer investimentos em políticas de
formação de professores, seja em formações acadêmicas, governamentais ou formação
continuada nos espaços escolares. Importante nesse processo é considerar os professores
como atores de currículo (MACEDO, 2013) e sujeitos importantes a contribuir com os
programas de formação (TARDIF, 2002).
Lidar com currículos recentes e tão diversos dos currículos praticados pela escola
até então, levanta debates sobre a necessidade de formação continuada dos professores que
possibilite garantir nas escolas espaços dialógicos de estudos, reflexões e planejamento do
trabalho pedagógico. Os dois programas curriculares da EJA implantados na Rede Estadual da
Bahia trazem princípios voltados ao reconhecimento do estudante enquanto ser político e
crítico atendidos por uma pedagogia humanista.
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prática pedagógica deve se pautar nas especificidades desse tempo de vida, suas
singularidades, necessidades e expectação, assim os professores devem preferivelmente “optar
político-pedagogicamente pela Educação Popular; Teorias Psicogenéticas; Teoria Progressista
/Freireana (à luz da visão do ser humano integral e inacabado)” (BAHIA/SEC, 2013, p. 7).
Como Eixos Temáticos, a proposta Tempo Juvenil organiza estudos em torno de:
“[...] a identidade, o trabalho, a cultura, a religião, arte, a diversidade, a cidadania, as diversas
redes de mobilização social e a Pedagogia da Libertação, entre outras questões que sejam
pertinentes à realidade dos sujeitos adolescentes”. Prevê ainda a “articulação da educação
formal com as diversas iniciativas de práticas educativas artísticas e culturais não-formais,
tendo por objetivo a ampliação e fortalecimento das possibilidades formativas para os sujeitos
adolescentes” (BAHIA/SEC, 2013, p. 7).
O princípio teórico metodológico dessa proposta defende o protagonismo dos
sujeitos envolvidos, seja professores ou estudantes, valorizando seus conhecimentos de vida
no “Currículo que contemple a diversidade: sexual, de gênero, raça/etnia, cultural, valores e
vivências específicas – construção coletiva” (BAHIA/SEC, 2013, p. 8). Assim, como sugestão
de organização curricular evidencia o seguinte Modelo Curricular:
5
Fonte: Bahia (2013, p. 13).
7
Quadro 2 – Modelo Curricular da EJA com Temas Geradores
8
Educação do Campo e Educação Especial; a garantia da continuidade dos estudos pela
necessidade de integração das redes estaduais e municipais de forma a garantir os estudos em
EJA em todos os níveis de escolaridades referentes a essa modalidade.
Apesar dessa proposta atender em princípios teóricos metodológicos a
diversidade de sujeitos da EJA, os resultados dessa pesquisa observaram a manutenção de
práticas pedagógicas pautadas em um modelo de ensino desenvolvido no diurno no ensino
seriado do Ensino Fundamental e Ensino Médio aparte das especificidades trazidas pelos
jovens e adultos à escola, respondida em parte pela quase ausência de formação específica em
EJA no grupo docente.
3
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Disponível em: <http://www.priberam.pt/DLPO/oficina>. Acesso
em: 07 dez. 2015.
4
Oficina em Espanhol significa Taller.
9
investigativo nos estudos de Andrade y Muñoz (2004), Dos Santos Costa (2009), Spink,
Menegon e Medrado (2014) entre outros. Spink, Menegon e Medrado (2014) compreendem
oficinas como
Espaços com potencial crítico de negociação de sentidos, permitindo a
visibilidade de argumentos, posições, mas também deslocamentos,
construção e contrastes de versões e, portanto, ocasiões privilegiadas para
análise sobre produção de jogos de verdade e processos de subjetivação”
(SPINK, MENEGON; MEDRADO, 2014, p 33).
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OFICINA NECESSIDADES OBJETIVOS NECESSIDADES OBJETIVOS
FORMATIVAS FORMATIVOS INVESTIGATIVAS INVESTIGATIVOS
Oficina 3 Planejamento Compreender o processo Levantar as Analisar as
Como trabalhar com de planejamento coletivo representações sociais representações
a disciplina Artes e na EJA. dos professores sobre o sociais dos
Atividades Laborais planejamento na EJA. professores sobre o
Discutir a ementa da ato de planejar na
disciplina Artes e EJA.
Atividades Laborais.
Fonte: Elaboração própria da autora (2015).
5
Nome fictício para preservar o anonimato da escola.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALARCÃO, Isabel. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. 8ª ed. São Paulo:
Cortez, 2011.
ANDRADE y MUÑOZ. El taller crítico: uma propuesta de trabajo interactivo. Bogotá -
Colômbia, Tabula Rasa. No.2: 251-262, enero-diciembre de 2004 ISSN 1794-2489.
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Educação de Jovens e Adultos. Secretaria da Educação, 2013. Disponível in:
<escolas.prod.educacao.ba.gov.br/system/.../proposta-pedagogica-do-tempo-juvenil.pd..>.
Acesso em: 19 nov. 2015.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967.
GADOTTI, Moacir. Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre, Ed. Artes Médicas,
2005.
OLIVEIRA, Inês Barbosa de. Reflexões acerca da organização curricular e das práticas
pedagógicas na EJA. Educar, Curitiba: Editora UFPR, n. 29, p. 83-100, 2007.
PAIVA, Jane. Formação Docente para a Educação de Jovens e Adultos: o Papel das Redes
no Aprendizado ao Longo da Vida. In: Revista da FAEEBA: educação e contemporaneidade,
Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação I – v. 21, n.37, jan/jun, 2012.
PAIVA, Vanilda Pereira. Educação popular e educação de adulto. São Paulo: Edições
Loyola, 1987.
SPINK, Mary Jane; MENEGON, Vera Mincoff; MEDRADO, Benedito. Oficinas como
estratégia de pesquisa: articulações teóricas metodológicas e aplicações ético – políticas.
Revista Psicologia & Sociedade, 26(1), p 32 – 43, 2014. In: <http://www.scielo.br/pdf/
psoc/v26n1/05.pdf>. Acesso em 26/12/2015.
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