Pré-Cinemas Uma Ponte, Do Inatual Ao Contemporâneo.
Pré-Cinemas Uma Ponte, Do Inatual Ao Contemporâneo.
Pré-Cinemas Uma Ponte, Do Inatual Ao Contemporâneo.
Resumo
Introdução
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Cíbrido: termo utilizado para denotar a relação de hibridismo entre realidade-espaço virtual
e realidade-espaço concreto.
informacionais, comunicacionais, por processos de tradução dos meios, a
carne tornou-se luz e a luz, carne; a carne tornou-se código e o código,
carne; carne no sentido simbólico da matéria realidade.
Kinema
Imagem 01– Imagem do livro Bellicorum instrumentorum liber cum figuris delineatis e ficticiis
literis conscriptus, de 1420 de Giovanni de Fontana. Fonte: PDF do livro disponível em
http://dfg-viewer.de/show/?set%5Bmets%5D=https%3A%2F%2Ffanyv88.com%3A443%2Fhttp%2Fdaten.digitale-
sammlungen.de%2F%7Edb%2Fmets%2Fbsb00013084_mets.xml
consultado em 15/05/2012 às 19h.
Essa referência das lanternas vivas não apenas contam uma parte da
história, como também são uma ponte orbital entre o passado e presente,
que no seu giro, faz com que antigas reflexões estéticas se tornem pontos de
diferença, pontos que podem ser traduzidos, trazendo um índice que
vislumbra-se sobre poéticas “inatuais”. O “inatual” é também uma ponte
obscura para um entre tempos, um pensar tempos “miscigenados” que se
traduzem e se potencializam em índices diacrônicos, diferenças sobre o que
normalmente acostumamos pressentir diante das coisas atuais, muitas vezes
já “massificadas” no imaginário dos clichês.
Não há frescor puro nos ares, mas coisa contaminada, que viaja de longas
datas como um sopro que se põe em sombra em relação a luz que nos
otimiza a visão do instante. O inatual é pôr-se em sombra de si e buscar a
sombra das coisas, já muito iluminadas por um agora imperador.
As lanternas vivas ainda sopram, mas suas luzes são ventos a maquinar nas
sombras de novas máquinas de ilusionar. Sua engenharia maquínica e
desenhos artesanais que desembocaram em uma diversidade estética e
“orgânica” dentre as lanterna produzidas por diferentes artesões interessa,
pois lança mão da tecnologia pela via da particularidade experimental
artesanal, que reflete na criação de objetos esteticamente singulares, com
aspectos intuitivos. Dessa concepção de inventividade que carrega uma
relação entre artesiana e ciência podemos aferir um caminho experimental da
produção de Kinemas.
Imagem 2: foto do trabalho Real Instável de Milton Marques. Fonte: Galeria Lemem
Imagem 3: foto do esboço e trabalho O Observador de Zaven Paré. Fonte: catálogo virtual
disponível no site http://www.cyberart.com.br/#/26 - consultado em 06/05/2012.
Emmanuel Grimaud e Paré, retomam o ready made por outro viés, não mais
pela apropriação do objeto, mas das técnicas, dos processos, de
conhecimentos científicos que deslocados de seu local ordinário, traídos, se
tornam extra-ordinários no sentido da deriva, de um tempo que não está
disposto a mitos fechados, mas ao aberto da estética.
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Tardigotchi faz parte da série de obras que constituem o projeto colaborativo SWAMP
(Studies of Work Atmosphere and Mass Production) dos artistas Douglas Easterly e Matt
Kenyon, no qual são desenvolvidas obras que tratam de temas críticos como os efeitos
globais de operações corporativas, as mídias de massa e os complexos militar-industriais,
apontando para meditações gerais sobre a área limítrofe entre vida e vida artificial. As
informações sobre SWAMP foram consultadas no site do projeto http://swamp.nu/projects em
02/05/2012 as 16h.
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“Steampunk é um subgênero da ficção científica, ou ficção especulativa, que ganhou fama
no final dos anos 1980 e início dos anos 1990. Trata-se de obras ambientadas no passado,
ou num universo semelhante a uma época anterior da história humana, no qual os
paradigmas tecnológicos modernos ocorreram mais cedo do que na História real, mas foram
obtidos por meio da ciência já disponível naquela época - como, por exemplo, computadores
de madeira e aviões movidos a vapor.” Informação retirado do hiperlink
http://pt.wikipedia.org/wiki/Steampunk consultado em 09/07/2012 as 22h.
Imagem 5: frame da videoarte de apresentação do Tardigotchi. Na cena, o Tardigotchi está
montado no aparelho alimentador, que injeta água-musgo no micro sistema do tardígrado
biológico. Fonte: http://www.tardigotchi.com - consultado em 12/06/2012 as 19h.
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(...)Trata-se de uma caixa óptica de madeira, folha de ferro, cobre ou cartão, de forma
cúbica, esférica ou cilíndrica, que projeta sobre uma tela branca(...), numa sala escurecida,
imagens pintadas sobre uma placa de vidro. Diabruras, cenas grotescas, eróticas,
escatológicas, históricas, científicas, políticas, satíricas: todos os assuntos foram abordados.
A imagem é “fixa” ou “animada”, pois a placa comporta sistema mecânico que permite dar
movimento ao assunto representado.(MANNONI: 2003: p.56)
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O físico italiano do século XVI Giovane Della Porta foi uns dos responsáveis pela
popularização das câmeras escuras. A sua obra literária, Magiae Naturalis, que descreve o
funcionamento das câmeras escuras, se tornou popular no século XVII.
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Disponível em PDF no site - http://www.bibliotheque-numerique-cinema.fr/notice/?i=33087
janela. Ele se aproximava, olhava-se no espelho e via
aparecer sobre seus ombros uma cabeça de animal. Oito
cabeças bestiais podiam-lhe aparecer sucessivamente. Para
isso, Kircher construíra uma grande roda octogonal, e em cada
um dos lados pintara oito imagens diferentes, representando
cabeças de animais sobre um pescoço humano. A roda ficava
escondida dentro de uma caixa, aberta apenas na parte
superior. Uma manivela lateral fazia girar o polígono de oito
faces. Cada uma das imagens era refletida pelo espelho, que
recebia luz da janela da sala. A inclinação do espelho podia
ser controlada por uma corda.(...) (MANNONI, 2003, p.48-
p.49)
"
Contemporâneo de René Descartes, Kircher foi considerado por este e outros
importantes pensadores-cientistas da época como um charlatão erudito, que
produzia experimentos fantasiosos, nada o suficientemente sério para ser
levado em conta. Talvez o artista tecnológico de hoje, a exemplo de Kircher,
deva ser ao seu modo “charlatão”, dando um novo uso para as tecnologias
vigentes, desvirtuando-as de suas funções objetivas, ruindo com seus
propósitos positivistas, procurando nelas, senão possibilidades fantasiosas, a
suspenção de sua finalidade “séria”, projetando densidades contraditórias,
frustações líricas, disfunções poéticas, toda e qualquer possibilidade de ser
que a ciência positiva costuma fustigar, que tenha oito cabeças e viva toda a
sua complexidade técnica para a sinestesia de um espanto.
Nesse meio campo entre o jesuíta Kircher e o filósofo racionalista Descartes,
existe um ponto onde a arte contemporânea costuma habitar: a Gaia Ciência.
Peter Sloterdijk em seu livro Crítica da razão cínica expõem a Gaia Ciência
como uma inteligência flutuante, móvel, satírica, que advém da presença de
espírito e saber que não se pretende como modelo ou sistema fechado, mas
como uma inspiração de orientação autárquica do pensamento. Assim, boa
parte do que orienta o saber da Gaia Ciência está na própria experiência
vital, na relação que dispomos com a vida circundante.
Nesse sentido, a técnica é vista como potência vital, não comensura fria, mas
meio quente, poderoso para tradução de imaginários, pensamentos, ruídos
de linguagem: uma grua vitalizante de desejos, conceitos e poderes. Ocorre
que há uma tônica que vislumbra uma positividade séria para ciência que tem
seu logos em uma moral científica ou em uma lógica capital de investimento
sobre o pensamento objetivo. Nas artes, a tônica volta-se para a
intempestividade estética, onde a técnica também ri. A insolência do artista
tecnológico está no uso aberto das tecnologias “no sentido inverso de sua
positividade técnica. E a primeira técnica traída é a linguagem, aquela vazia,
repetida, cheia de palavras engessadas que repetem e se repetem
indefinitivamente (....)” (MEDEIROS, 2011, p.192).
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Sistema mecânico de troca rápida das placas de vidro pintadas com as imagens, que
possibilita um efeito simples de animação da imagem projetada
O belga Etienne Gaspard Robertson, foi o mais célebre “cientista-artista” da
fantasmagoria de sua época. Ele não só aprimorou o sistema de projeção,
como também os sistemas acústicos de seus espetáculos. Utilizava um
instrumentista que executava uma harmônica10, de um ventrículo capaz de
fazer sua voz ecoar pelo espaço de maneira intrigante, e até de tubos que
canalizavam e espalhavam em diferentes pontos a voz e sons emitidos por
um assistente escondido na arquitetura instalativa do ambiente de projeção.
Sobre os espetáculos de Robertson:
(...) num laboratório científico, no qual se acha, a todo
instante, algo para atrair os olhos e a imaginação, o cidadão
Robertson faz suas experiências de galvanismo, após o que o
Ventrículo executa as mais agradáveis cenas(...) As
tempestades, a harmônica, o sino fúnebre que clama pelas
sombras dos túmulos, tudo isso inspira um silêncio religioso:
os fantasmas aparecem a distância, agitam-se e avançam até
próximo aos olhos, desaparecendo com rapidez do relâmpago.
Robespierre sai de seu túmulo. Sombras queridas vêm
suavizar o quadro: Voltarei, Lavoisier, J.-J. Rousseau
aparecem alternadamente, e Diógenes, de lanterna na mão,
procura um homem, e para o encontrar atravessa, por assim
dizer, as fileiras, e provoca nas senhoras um terror que a todos
diverte.11 (SPECTACLES, apud MANNONI, 2003, p.173)
10
(…) instrumento constituído de uns trinta copos de vidros, dispostos horizontalmente sobre
um eixo rotativo, acionado por um pedal. A pressão dos dedos sobre o vidro produzia um
som estranho(…) (MANNONI, 2003, pag.164)
11
Le courrier des Spectacles, nº 1.086, Paris, 23 de fevereiro de 1800, p.4 apud MANNONI,
2003, p.173.
Oliver Grau em seu texto Lembrem a Fantasmagoria! Política da Ilusão do
século XVIII e sua vida após a morte multimídia coloca a Fantasmagoria
como o ápice da arte imersiva produzida no final do século XVIII e início do
XIX, que difundiu o imaginário metafísico para uma sociedade que vivia o
fervor do iluminismo científico pré-industrial. Os espetáculos de Robertson
eram um ponto de ambivalência, no qual pela ciência era restituída a
superstição e revitalizado os mistérios do além, dentro de um contexto
embriagado pelo mito da razão iluminista. Assim, as lanternas mágicas das
fantasmagorias eram uma espécie de mídia imersiva, onde convergiam-se
“filosofias” antagônicas.
Imagem 11: imagem de espetáculo com lanterna nebulosa, ilustrada no livro Magie: oder die
Zauberkrafte de Natur, de Johann Samuel Halle, 1784. Fonte: Livro digital disponível em
http://books.google.de/books?id=GWEAAAAAMAAJ&printsec=frontcover&dq=intitle:magie&a
s_brr=1#v=onepage&q&f=false. Consultado em 13/07/2012 às 20h.
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Informação consultada, em 18/06/2012 as 20h, no site
http://www.fundacaobienal.art.br/7bienalmercosul/es/rosangela-renno da Bienal do Mercosul
do qual a obra fez parte.
Outras obras, como The Influence Machine de Tony Oursler – vídeos
projeções sobre fumaça em espaço público – e A Body of Water, de Paul
Sermo e Andrea Zapp – instalação telemática no qual imagens são
projetadas sobre uma “tela” formada por uma borrifos d’água, gerando uma
visão espectral das imagens – também são citadas por Grau como pontes de
ligação com as fantasmagorias e projeções espectrais do século XVIII e XIX.
Conclusão
Bibliografia