Direito Humano e Comunicação - Trabalho de Conclusão de Curso
Direito Humano e Comunicação - Trabalho de Conclusão de Curso
Direito Humano e Comunicação - Trabalho de Conclusão de Curso
Porto Alegre
2017
WELLINGTON ARAÚJO SILVA
Porto Alegre
2017
WELLINGTON ARAÚJO SILVA
BANCA EXAMINADORA:
____________________________________________
Orientador: Prof. Augusto Jobim do Amaral
____________________________________________
____________________________________________
Porto Alegre
2017
AGRADECIMENTOS
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 8
2 A COMUNICAÇÃO HUMANA ........................................................................ 11
2.1 A COMUNICAÇÃO NO COTIDIANO DAS PESSOAS.................................... 13
2.2 O PROCESSO DA COMUNICAÇÃO.............................................................. 15
2.3 A COMUNICAÇÃO NO ESPAÇO E NO TEMPO, UMA NECESSIDADE
DE FIXAÇÃO .................................................................................................. 17
2.4 DO ADVENTO DA (IM)PRENSA GRÁFICA À COMUNICAÇÃO DE
MASSA ........................................................................................................... 20
3 UM MUNDO E MUITAS VOZES (UNESCO) E O DIREITO HUMANO À
COMUNICAÇÃO ............................................................................................ 26
4 A COMUNICAÇÃO E OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO NO BRASIL ........... 31
4.1 A IMPRENSA NO BRASIL.............................................................................. 35
4.2 A RADIODIFUSÃO NO BRASIL ..................................................................... 37
4.3 A CONCENTRAÇÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E
INFORMAÇÃO NO BRASIL ........................................................................... 42
4.3.1 Concentração Vertical .................................................................................. 44
4.3.2 Concentração Horizontal ............................................................................. 46
4.3.3 Concentração em Cruz ou Propriedade Cruzada....................................... 56
4.3.4 Comunicação em Família e o Coronelismo Eletrônico ............................. 57
4.3.5 Do respaldo “legal” à concentração dos meios de comunicação ........... 60
5 A TEORIA DA AGENDA E A OPINIÃO PÚBLICA ........................................ 62
5.1 O CENÁRIO DA COMUNICAÇÃO EM MASSA NO BRASIL SOB A
PERSPECTIVA DA TEORIA DA AGENDA .................................................... 66
6 DIREITO HUMANO À COMUNICAÇÃO ........................................................ 73
6.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE DIREITOS HUMANOS ...................................... 73
6.2 AS EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DIREITO À COMUNICAÇÃO NO
TEMPO ........................................................................................................... 80
6.3 O DIREITO À COMUNICAÇÃO NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 ..................... 91
7 CONCLUSÃO ................................................................................................. 99
REFERÊNCIAS ............................................................................................ 103
8
1 INTRODUÇÃO
2 A COMUNICAÇÃO HUMANA
1
"Comunicação". In: PRIBERAM. Dicionário da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013,
Disponível em: <https://www.priberam.pt/dlpo/comunica%C3%A7%C3%A3o>. Acesso em: 02
abr. 2017.
2
MARTINO, Luiz C. De qual Comunicação estamos falando? In: HOHLFELDT, Antonio;
MARTINO, Luiz C.; FRANÇA, Vera Veiga (org.). Teorias da Comunicação: conceitos, escolas e
tendências. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. p. 20.
3
Ibid., p. 12-13.
12
cuja finalidade não era simplesmente o ato de “comer”, mas sim a de se relacionar
com o outro, isto é, realizar a refeição “juntamente com o outro”, e, assim, sair de
uma condição de isolamento que era uma prática da vida eclesiástica 4 (MARTINO,
2002, p. 13).
Nessa definição da palavra comunicação há alguns sentidos importantes a
serem destacados:
4
Todas as aspas desse parágrafo foram mantidas de acordo com a obra do autor.
13
5
Em um primeiro momento adotar-se-á o conceito de cultura mais genérico, portanto, cultura é
tudo aquilo que ser humano produz. No decorrer do trabalho será abordado com mais afinco o
conceito de cultura e a sua relação com a comunicação e os meios de comunicação.
14
ação, suas crenças e valores, seus hábitos e tabus”. Essa “moldagem” cultural só é
possível pelo intercâmbio da comunicação (BORDENAVE, 1982, p. 17).
Quando um artesão demonstra ao seu filho como se faz uma escultura de
barro, que representa uma cultura local, e, após algumas tentativas, o garoto
começa a dominar a prática que lhe foi ensinada, vê-se o fenômeno da transmissão
de um conhecimento, isto é, vê-se uma transmissão daquilo que simboliza e possui
significado na cultura local.
Para que nessa interação possa ser compartilhada a experiência e o
conhecimento é preciso que os dois usem “palavras, gestos, objetos e movimentos
como meio para trocar suas percepções e intenções.” Para ambos o “barro da terra
se transforma em uma nova realidade. Ao mesmo tempo, o pai e o filho se
modificam: o velho torna-se, mais que pai, mestre; e o filho converte-se em artesão”
(BORDENAVE, 1982, p. 37).
Eis a ilustração do quão importante é a comunicação para o ser humano. É
por meio da comunicação, seja falada ou gesticulada, que se transmitem elementos
que compõem um complexo cultural. A comunicação é essencial para a transmissão
de informações, de mensagens, através das quais se compartilha aquilo que
representa os elementos de uma determinada cultura. Ela serve “para que as
pessoas se relacionem entre si, transformando-se mutuamente e a realidade que as
rodeia” (BORDENAVE, 1982, p. 36).
Em outras palavras Diniz assevera que:
ter sido “por gritos ou grunhidos, como fazem os animais, ou por gestos, ou ainda
por combinações de gritos, grunhidos e gestos” (BORDENAVE, 1982, p. 23).
Entretanto, o que se sabe “é que os homens encontraram a forma de associar
um determinado som ou gesto a um determinado objeto ou ação.” Foi dessa
maneira que se chegou à compreensão de signo, “isto é, qualquer coisa que faz
referência a outra coisa ou ideia, e a significação, que consiste no uso social dos
signos”. Assim, sabe-se que a “atribuição de significados a determinados signos é
precisamente a base da comunicação em geral e da linguagem em particular”
(BORDENAVE, 1982, p. 24).
No próximo tópico explicaremos o processo da comunicação humana. Essa
explicação não pretende ser exaustiva, no entanto, é de imprescindível
enfrentamento, a fim de que possamos ter insumos que permitam a compreensão
desse fenômeno e de sua importância diante da comunicação intermediada pela
mídia, o que aprofundaremos adiante.
Em meados do século XIX foi a vez da invenção dos telégrafos. Esse foi o
primeiro grande avanço na área da eletricidade, pois através dele passou a ser
possível o envio de mensagens de um ponto a outro por meio de fios. Essa nova
invenção:
código de pontos e traços que podia ser lido à velocidade de 40 palavras por minuto
e se tornou de uso universal para transmissão telegráfica” (BRIGGS & BURKE,
2006, p. 139). William Fothergill Cooke e Clarles Wheatstone, da Grã-Bretanha, na
telegrafia foram os primeiros a lograr êxitos. A invenção do telégrafo foi associada
aos dois. Eles patentearam conjuntamente a invenção, em 1837 (BRIGGS &
BURKE, 2006, p. 139).
Posteriormente, a história se deparou com outra invenção significativa para a
comunicação: o telefone, instrumento utilizado para a comunicação pública e
privada. A sua invenção é atribuída a Alexander Graham Bell, ainda que esse
reconhecimento não seja unânime, em 1876 a apresentação feita por Bell na
Exposição Internacional da Filadélfia. A inserção dessa tecnologia tanto nos Estados
Unidos como na Europa também causou questionamentos sobre as suas
consequenciais sociais. Briggs & Burke dizem que:
Ressalvas são feitas ao dizer que há diferenças entre a visão dos que
defendem a “livre circulação” sem a pretensão de monopolizar a circulação da
informação, e a visão daqueles que buscam, ao amparo desse princípio, a
manutenção e a expansão da posição monopolista e o statu quo da comunicação
internacional (UNESCO, 1983, p. 234).
Dentre as contratações apresentadas pela comissão, que integram o relatório
em questão, está a ausência de democracia na comunicação (informação, mídia),
uma vez que, segundo o relatório, as relações e os fluxos comunicacionais são
verticalizados de países de primeiro mundo para de terceiro mundo (norte-sul).
Consta no relatório que:
comunicação baseada num intercâmbio e num diálogo livres não só é mais autêntica
e mais humana como também constitui uma salvaguarda melhor da harmonia social”
(UNESCO, 1983, p. 246).
Outra constatação refere-se à questão da concentração dos meios difusores
de informação, entendida como um ponto negativo, uma vez que, havendo a
concentração desses meios, há também a concentração do que deve ou não ser
veiculado.
A participação de empresas e de grupos econômicos, bem como de
governos, na imprensa e em empresas de comunicação leva à conclusão lógica de
que a definição das pautas de discussão e das notícias divulgadas são as que
interessam aos que detém o poder sobre os meios de comunicação, ainda, qualquer
informação que venha a prejudica-los acaba não sendo divulgada, ou, se é, nem
sempre reflete a verdade dos fatos.
O relatório também propõe algumas alternativas visando democratizar os
meios de comunicação, as quais são advindas de exemplos coletados pelo mundo.
Uma delas é a participação da população no controle daquilo que é divulgado pelos
meios, bem como na forma da divulgação. Outro exemplo é o financiamento de
produções de filmes locais, de grupos, curtas metragens, jornais culturais, de tudo
que contribui para expressão e reconhecimento das culturas locais e de grupos que,
não raro, não possuem espaço na ordem da comunicação dominante.
Esse documento estabeleceu, institucionalmente, as bases para a
compreensão e para o reconhecimento do direito do homem à comunicação, sendo
um direito que se incorpora a todas as liberdades do ser, visando o desenvolvimento
equilibrado do homem e de sua humanidade.
Nessa linha expressa Gomes que:
Com isso, o Brasil Colônia foi conhecendo, aos poucos, outras formas de
comunicação, como a por meio de livros. Dessa forma, “o livro fazia parte do
universo da comunicação do século XVIII em terras de além-mar, ainda que sua
propriedade, (...), fosse limitada a grupos precisos nessa sociedade” (2013, p. 28).
Em nota de rodapé, explica Marialva Barbosa:
6
O PADRE Landell de Moura e a invenção do rádio. GGN – Periódico online, 20 mar. 2014.
Disponível em: <http://jornalggn.com.br/noticia/o-padre-landell-de-moura-e-a-invencao-do-radio>.
Acesso em: 01 maio 2017.
35
Esses jornais impressos não eram como os atuais, que têm por detrás uma
grande empresa de comunicação, eles normalmente eram vinculados e
7
O SENTIDO de imprensa adotado nesse ponto será o de um “conjunto dos meios de difusão de
notícias, fatos, informações.” Aulete Digital. Disponível em:
<http://www.aulete.com.br/imprensa>. Acesso em: 01 maio 2017.
36
8
André de Godoy Fernandes explica que a “primeira fase da imprensa brasileira, que se estendeu
de 1808 até a Proclamação da República em 1889, foi marcada por jornais pequenos, com
tipografia artesanal, estruturados em torno de um indivíduo (como, por exemplo: José da Silva
Lisboa, o Visconde de Cairu; Evaristo da Veiga; Antônio Borges da Fonseca; Ezequiel Correa
dos Santos; frei Joaquim do Amor Divino Caneca; Januário da Cunha Barbosa e Joaquim
Gonçalves Ledo; Libero Badaró), e, não raras vezes, de caráter panfletário e origens político-
partidárias” (2009, p. 45).
37
Nunca houve lei proibindo que uma mesma empresa ou família fosse
proprietária ou controlasse, na mesma localidade, jornais diários,
rádios, emissoras de televisão e empresas prestadoras de serviços
de televisão por assinatura (FERNANDES, 2009, p. 47-48).
9
Uma obra que sintetiza o assunto é a de WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação. Lisboa:
Presença, 2003.
40
Time – Life, sendo que, à época, ainda vigia a constituição de 1946, que proibia
estrangeiros de serem proprietários de empresas ligadas ao ramo da
comunicação.10
Além disso, essa associação entre a rede Globo e a empresa Time – Life
resultou num aporte financeiro desta, naquela, de cinco milhões de dólares, além
de mão de obra especializada. Esse valor era extremamente alto para época.
Guareschi faz uma ressalva para demonstrar o quanto isso representava, “é bom
lembrar que o montante de investimento do segundo maior canal de TV da época, a
Record, foi de apenas 300 mil dólares” (GUARESCHI, 2013, p. 42).
O funcionamento da TV Globo a partir de então foi considerado por muitos
como ilegal, montou-se, à época, uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito),
com base na denúncia feita pelo Senador João Calmon. O parecer emitido foi no
sentido de que a associação com a empresa norte-americana infringia a
Constituição de 1946, em seu art. 160. Mesmo sendo reconhecida a ilegalidade, o
Brasil vivia o período do Regime Militar, e o presidente Castello Branco convalidou
essa associação entre a Globo e a empresa americana, considerando que aquela
editorialmente apoiou o Golpe Militar (o que foi posteriormente reconhecido como
erro pela própria empresa)11, talvez, isso explique a convalidação.
Entretanto, em 1968 a Globo foi obrigada a desfazer o acordo com a Time –
Life. Mas, como ressalva Guareschi, “nessa altura, contudo, ela já havia adquirido
tecnologia e capital suficientes para impor-se no cenário televisivo brasileiro, além
do pioneirismo em Departamento de Pesquisa, Marketing e de Formação” (2013, p.
42).
Além da TV Globo, outras emissoras surgiram com a mesma característica de
concentração em poder de famílias. Em 1967 iniciaram-se as operações da TV
Bandeirantes de São Paulo, da família Saad. Em 1980, tendo em vista a falência da
10
ART. 160 CF/46: Art 160 - É vedada a propriedade de empresas jornalísticas, sejam políticas ou
simplesmente noticiosas, assim como a de radiodifusão, a sociedades anônimas por ações ao
portador e a estrangeiros. Nem esses, nem pessoas Jurídicas, excetuados os Partidos Políticos
nacionais, poderão ser acionistas de sociedades anônimas proprietárias dessas empresas. A
s
brasileiros (art. 129, nº I e II) caberá, exclusivamente, a responsabilidade principal delas e a sua
orientação intelectual e administrativa. BRASIL. Constituição dos Estados Unidos do Brasil
de 18 de setembro de 1946. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao46.htm>. Acesso em: 07 maio
2017.
11
APOIO Editorial ao Golpe de 64 foi um Erro. O Globo, 31 ago. 2013. Disponível em:
<https://oglobo.globo.com/brasil/apoio-editorial-ao-golpe-de-64-foi-um-erro-9771604>. Acesso
em: 07 maio 2017.
42
Outro ponto importante a ser destacado, diz respeito ao “consumo” dos meios
de comunicação pelos brasileiros, Eula Dantas Teveira Cabral traz os seguintes
dados sobre o uso dos meios de comunicação no Brasil:
Como pode ser observado com base nos dados apresentados por Cabral
(2015), a Televisão é o meio dominante no Brasil, e também o meio mais
“consumido” pelos brasileiros. Em um cenário como o do Brasil, onde o poder de
difusão está sob o controle de uns poucos grupos familiares, como será
demonstrado detalhadamente adiante, é pertinente inferir que as vozes que ecoam
não são múltiplas, que o sistema de comunicação brasileiro não está em
consonância com um sistema democrático, muito menos com os princípios
norteadores de um Estado Democrático, como pretende ser o Brasil.
Realizadas essas considerações, passamos a expor o atual cenário das
concessões e da exploração dos meios de comunicação e informação no Brasil e
seu atual estágio de concentração.
45
Outra forma seria (b) “por meio da celebração de contratos de longo prazo
(por exemplo, quando uma emissora de televisão adquire o direito de transmitir os
jogos de diversas temporadas de um campeonato de futebol),” e por fim cita uma
terceira forma que se dá “(c) por intermédio da integração das atividades na mesma
estrutura organizacional (por exemplo, quando uma emissora de televisão produz
internamente a novela que transmitirá aos telespectadores)” (FERNANDES, 2009, p.
60).
No Brasil, como demonstra Capparelli e Lima (2004), todas essas fases,
muitas vezes, são reunidas e/ou apropriadas por um único grupo concessionário (a
46
GLOBO, por exemplo), dessa forma, a apropriação das diferentes fases de produção
e distribuição prejudica o trabalho de produtores independentes. Isso ocorre por uma
consequência lógica, se as concessionárias dos meios de comunicação detêm todas
as fases de produção, e se elas também são as difusoras e emissoras, assim, não
precisam mais do que sua própria cadeia para manter-se, dominando assim todo o
mercado, ou pelo menos grande parte dele.
Fernandes (2009) alerta que no Brasil não há dispositivo de lei que proíba
essa integração.
12
BRASIL. Presidência da República. Secretaria de Comunicação Social. Assessoria de Pesquisa
de Opinião Pública. Pesquisa Brasileira de Mídia –2016. Relatório Final, Brasília, DF, 29 ago.
2016. A pesquisa mencionada encontra-se disponível para download em:
<http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-e-qualitativas-de-
contratos-atuais/pesquisa-brasileira-de-midia-pbm-2016.pdf/view>. Acesso em: 13 maio 2017.
48
Dois em cada três entrevistados afirmam ouvir rádio, sendo que por
volta da metade destes o faz todos os dias. A principal forma de
acesso é por aparelhos de rádio tradicionais, especialmente através
da Frequência Modulada. Ouve-se rádio mais entre segunda e sexta-
feira, sendo que a média de tempo do acesso diário é próxima de
três horas. Devido à alta capilaridade desse meio, nenhuma
emissora tem mais do que 2% considerando a soma das citações
(SECOM, 2016, p. 33).
13
O estudo leva em conta o período compreendido das 7 horas da manhã até às 24 da noite,
assim o período compreendido como matutino vai das 7h as 12h; o vespertino vai das 12h as
18h; e o noturno vai das 18h as 24h. (ANCINE, 2015, p. 33). Disponível em:
<http://oca.ancine.gov.br/sites/default/files/televisao/pdf/Estudo_TVAberta_2015.pdf>. Acesso
em: 13 maio 2017.
51
2017, pelo Jornal Online Estadão, cujo título é Planalto apela à verba de
publicidade para aprovar a reforma da Previdência,14 em resumo, se trata de
uma estratégia do atual governo, visando obter apoio dos principais meios de
comunicação, para que eles divulguem de forma positiva a investida do governo
para mudar o vigente sistema da Previdência Social do país, em troca o governo
oferece preferência na participação da “Publicidade Federal”, ou seja, no orçamento
destinado à publicidade.
Marinoni (2015) agrega dizendo que:
14
ROSA, Vera; MONTEIRO, Tânia. Planalto apela à verba de publicidade para aprovar reforma da
previdência. Estadão, 10 abr. 2017. Reportagem completa disponível em:
<http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,planalto-apela-a-verba-de-publicidade-para-
aprovar-reforma-da-previdencia,70001734212>. Acesso em: 13 maio 2017.
52
E continua:
O boletim apresenta que a Globo (em 2005), entre emissoras próprias (20) e
afiliadas (94), detinha poder sobre 114 emissoras, o SBT, entre próprias (11) e
afiliadas (47), detinha o poder sobre 58, a Record ao todo tinha o poder sobre 37
emissoras e a Bandeirantes sobre um total de 34 emissoras (Ibid., p. 1).
Outro importante fenômeno a ser questionado, é o da participação da Igreja
Evangélica na concentração horizontal dos meios de comunicação social no Brasil.
Segundo Fernandes (2009), “somente a Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo
55
15
O §5º do art. 220 da CF/88 proíbe expressamente o monopólio e oligopólio, seja direto e ou
indiretamente (como em rede), dos meio de comunicação social.
56
exemplo, em seus estudos sobre o papel da TV Globo nas eleições de 1989, ele
constatou que essa emissora assumiu contornos partidários, privilegiando o
candidato Fernando Collor de Mello, o qual acabou sendo eleito.
cenário de crise, pelo qual passavam algumas empresas do ramo, veio a calhar
(Ibid., p. 27-28).
Por sua vez, o Coronelismo Eletrônico, é um termo usado para designar a
tentativa de parlamentares de exercerem, através dos principais meios de
comunicação do país, o controle político sobre os cidadãos, potenciais eleitores, e,
também, influenciar nas decisões políticas destes (GUARESCHI; BIZ, 2005;
FERNANDES, 2009; CAPPARELLI; LIMA, 2004).
Dizer que parlamentares não podem ser donos de meios de comunicação,
bem como ter participação em empresas desse ramo poderia ser um
questionamento de proposições filosóficas, científicas ou sociais sobre as causas e
consequências das atuações de parlamentares nesses meios, como donos.
Entretanto, tais questionamentos encontram-se embasados em texto legal, vale
dizer, na Constituição Federal de 1988. Dessa forma, encontra-se previsto no art. 54
da CF/88 que deputados e senadores, a partir do momento em que tomam posse,
não podem "firmar ou manter contrato" ou "aceitar ou exercer cargo, função ou
emprego remunerado" em empresa concessionária de serviço público.16
Acontece que rádios e televisões são exatamente isso: recebem a concessão
de uso de uma faixa do espectro eletromagnético por onde transmitem sua
programação. Espectro esse que é público, finito e, por isso, regulado pelo Estado.
O artigo seguinte, art. 55 da CF/8817, estabelece como consequência aos
parlamentares que descumprirem o art. 54, a perda do mandato.
Ocorre que, mesmo com uma norma proibitória e outra cominatória de perda
de mandato, previstas constitucionalmente, há parlamentares donos e sócios de
empresas de radiodifusão no país. Isso foi constatado em estudo conduzido por
Venício A. de Lima, divulgado no final de 2005, que pelo menos um terço dos 81
16
BRASIL, Constituição Federal de 1988. Art. 54. Os Deputados e Senadores não poderão:
I - desde a expedição do diploma:
a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública,
sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo quando o
contrato obedecer a cláusulas uniformes. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 14
maio 2017.
17
BRASIL, Constituição Federal de 1988. Art. 55. Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou
Senador:
I - que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo anterior; Ibid. Acesso em 14 maio
2017.
59
senadores e mais de 10% dos 513 deputados federais controlam canais de rádio ou
televisão (LIMA, 2005 apud DEAK; MERLI, 2007).18
Outros dados são trazidos por Capparelli e Lima (2004) a respeito das
concessões para políticos: até 2001, uma entre quatro concessões comerciais de
emissoras de televisão eram feitas para políticos. “Isto significa que pelo menos 60
das 250 concessões de TV comercial em operação no país pertencem a políticos
profissionais” (CAPPARELLI; LIMA, 2004, p. 31).
Em um levantamento que buscou identificar quais políticos detinham
concessões, bem como a que grupo ou rede de radiodifusão eles eram afiliados,
constatou o seguinte:
As duas emissoras acimas são as que constam com mais afiliados políticos,
entretanto a Bandeirantes e a Record também possuem afiliações dessa natureza.
Sendo 9 afiliadas controladas por políticos afiliada a Bandeirante, e com a Record
são 5 afiliadas controladas por políticos (Ibid., p. 32).
Em 2015 diversos grupos da sociedade civil que buscam a democratização da
comunicação social no Brasil, apresentaram junto ao Procurador Geral da República
uma lista com 40 nomes de parlamentares em atuação, que tinham participação ou
eram proprietários de meios de comunicação social. Em princípio, não houve mais
desdobramentos além do pedido protocolado de investigação e a solicitação de
providências, a fim de coibir essa prática ilegal (CARTA CAPITAL, 2015).19
18
MERLI, André Deak; MERLI, Daniel. Donos de TVs e rádios, parlamentares desrespeitam a
constituição. Rollingstone, 7 abr. 2007. Disponível em:
<http://rollingstone.uol.com.br/edicao/7/donos-de-tvs-e-radios-parlamentares-desrespeitam-a-
constituicao#imagem0>. Acesso em: 14 maio 2017.
19
BARBOSA, Bia. Novo alvo do MPF: os políticos donos da mídia. Carta Capital, 24 nov. 2015.
Disponível em: <https://www.cartacapital.com.br/blogs/intervozes/novo-alvo-do-mpf-os-politicos-
donos-da-midia-
3650.html?utm_content=bufferac122&utm_medium=social&utm_source=twitter.com&utm_campa
ign=buffer>. Acesso em: 14 maio 2017.
60
20
O lobby, na política, é, por definição, toda e qualquer prática exercida por pessoas ou empresas
para influenciar os espaços decisórios do poder público, atuando tanto no Executivo quanto no
Legislativo, sendo mais frequente nesse último setor mencionado. O conjunto de pessoas e
instituições que procura influenciar as decisões públicas é chamado de grupo de pressão.
Disponível em: <http://brasilescola.uol.com.br/politica/lobby.htm>. Acesso em: 15 maio 2017.
21
Art. 33. Os serviços de telecomunicações, não executados diretamente pela União, poderão ser
explorados por concessão, autorização ou permissão, observadas as disposições desta Lei.
(Redação dada pela Lei nº 13.424, de 2017)
§ 3º Os prazos de concessão e autorização serão de 10 (dez) anos para o serviço de
radiodifusão sonora e de 15 (quinze) anos para o de televisão, podendo ser renovados por
períodos sucessivos e iguais se os concessionários houverem cumprido tôdas as obrigações
legais e contratuais, mantido a mesma idoneidade técnica, financeira e moral, e atendido o
interêsse público (art. 29, X). (Partes mantidas pelo Congresso Nacional)
o
§ 3 Os prazos de concessão, permissão e autorização serão de dez anos para o serviço de
radiodifusão sonora e de quinze anos para o de televisão, podendo ser renovados por períodos
sucessivos e iguais. (Redação dada pela Lei nº 13.424, de 2017)
61
Explica McCombs:
22
FELLET, João. Brasil é cobrado na OEA por violência contra índios. BBC Brasil, 20 out. 2015.
Disponível em:
<http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/10/151020_brasil_violencia_indios_jf_cc>.
Acesso em: 17 maio 2017.
23
BRASIL. Câmara dos Deputados. Frente Divulga Pesquisa de Opinião sobre Questões
Indígenas. 22 nov. 2011. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/DIREITOS-HUMANOS/205642-FRENTE-
DIVULGA-PESQUISA-DE-OPINIAO-SOBRE-QUESTOES-INDIGENAS.html>. Acesso em: 16
maio 2017.
68
veículos noticiosos são nossas janelas ao vasto mundo.” Quer-se dizer que, tendo
em vista a impossibilidade de se ter um contato direto com os mais variados temas,
os meios de comunicação realizam o papel de mediadores, além de estabelecerem
o que é mais importante a ser discutido pela sociedade, por meio do fenômeno do
agendamento.
Aplicando-se ao contexto brasileiro, tem-se o seguinte: muitos cidadãos do
Brasil não possuem contato direto com informações a respeito da Previdência
Social, isto é, sobre quanto foi a arrecadação, quanto foi a distribuição, de quanto
foram os gastos com a manutenção do órgão etc.. Ainda que essas informações
encontrem-se disponíveis na rede mundial de computadores, a leitura desses dados
é extremamente complexa, o que torna bem difícil a compreensão por parte de um
cidadão leigo ao tema, restando, assim, aos meios de comunicação o papel de
intermediador das informações verídicas quanto a atual situação da Previdência
Social no País.
Agora, é preciso fazer a seguinte pergunta: se a forma como o assunto sobre
a reforma da previdência é exposto pelos meios de comunicação de massa (rádio e
televisão) levar somente em conta os argumentos daqueles que são a favor, como
seria a resposta do público, vale dizer, como seria a opinião pública, a favor ou
contra a reforma? Se os meios de comunicação expuserem somente que há “rombo
no orçamento da previdência”, e que o país entrará em crise se a reforma não
acontecer, como seria a reposta da opinião pública, considerando a forma como está
sendo pautado o tema?
Ainda, no sentido de cooperar com a reflexão proposta, cabe mencionar um
recente fato a respeito da reforma da previdência, e a forma como ela vem sendo
agendada pelos meios de comunicação do país. Este fato diz respeito a uma Ação
Civil Pública proposta pelo Sindicato Dos Trabalhadores Federais Da Saúde,
Trabalho e Previdência do Rio Grande do Sul e outras entidades, em face do
Presidente da República Michel Temer, em virtude da campanha publicitária
favorável à reforma da previdência, custeada pelo poder público, que está sendo
amplamente divulgada nos mais diversos meios de comunicação de massa.26
26
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Civil Pública nº 5012400-56.2017.404.7100/RS.
Disponível em:
<https://eproc.jfrs.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=acessar_documento_publico&doc=7114
89575265497591134355936758&evento=711489575265497591134355967341&key=650487cb0
d140c816a9f428b0cdf1b88cf2cdf7e81a5cc274626dc749acf059b>. Acesso em: 16 maio 2017.
70
Este foi o pedido formulado pela entidade citada acima em face do Governo,
isso porque, entende ela que “as mensagens veiculadas na indigitada campanha
não atendem ao caráter educativo, informativo e de orientação social previsto na
Constituição Federal.” E ainda:
E:
27
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Civil Pública nº 5012400-56.2017.404.7100/RS.
Disponível em:
<https://eproc.jfrs.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=acessar_documento_publico&doc=7114
89575265497591134355936758&evento=711489575265497591134355967341&key=650487cb0
d140c816a9f428b0cdf1b88cf2cdf7e81a5cc274626dc749acf059b>. Acesso em: 16 maio 2017.
28
Ibid.
29
Ibid.
71
Continua:
E ainda diz, “há a intenção do Partido que detém o poder no Executivo federal
de reformar o sistema previdenciário e que, para angariar apoio às medidas
propostas, desenvolve campanha publicitária financiada por recursos públicos”.30
O pedido cautelar da ação foi concedido e, por um período de tempo, foi
suspensa toda e qualquer divulgação da publicidade nos meios de comunicação do
país. O governo recorreu da decisão, mas a decisão cautelar foi mantida também
em segunda instância31. Entretanto, em um novo recurso ao Supremo Tribunal
Federal houve a decisão de suspender a medida cautelar, permitindo a divulgação
da publicidade32.
É pertinente, antes de passar-se às considerações, destacar um trecho da
decisão do Desembargador da segunda instância que manteve a decisão liminar de
suspender a publicidade, e excerto diz assim:
30
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Civil Pública nº 5012400-56.2017.404.7100/RS.
Disponível em:
<https://eproc.jfrs.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=acessar_documento_publico&doc=7114
89575265497591134355936758&evento=711489575265497591134355967341&key=650487cb0
d140c816a9f428b0cdf1b88cf2cdf7e81a5cc274626dc749acf059b>. Acesso em: 16 maio 2017.
31
Idem. Tribunal Regional Federal. Pedido de Suspensão de Liminar nº 5010299-
06.2017.404.0000. Disponível em:
<http://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?orgao=1&documento=8895829&termo
sPesquisados=suspensao|de|propaganda|reforma|da|previdencia|uso|recursos|publicos>.
Acesso em: 17 maio 2017.
32
Idem. Tribunal Regional Federal. Pedido de Suspensão de Liminar nº SL 1.101.
Disponível em: <https://d2f17dr7ourrh3.cloudfront.net/wp-content/uploads/2017/04/SL.1101-
DECIS%C3%83O-PRESIDENTE-STF.pdf>. Acesso em: 17 maio 2017.
72
Por sua vez, os direitos políticos dizem respeito à participação na vida política
do Estado, como por exemplo, o direito ao voto, o direito de se candidatar a um
cargo público, dentre outros. Em suma, são exigências que buscam democratizar o
Estado.
O contexto político, histórico e social no qual nasceram essas principais
declarações (independência americana e revolução francesa) que oficializaram
direitos universais e inerentes à condição humana, é sintetizado por Ingo Wolfgang
Sarlet (2012) quando o autor trata dos direitos fundamentais de primeira dimensão,
diz ele que esses direitos surgem:
O que vimos até aqui se refere à primeira fase dos direitos humanos; alguns
autores tratam esses direitos como de primeira dimensão ou primeira geração, assim
como as demais fases são tratadas como segunda, terceira e quarta
dimensão/geração. No presente trabalho adotaremos a nomenclatura usada por
Sarlet, que utiliza a palavra dimensão para apresentar os diferentes enfoques dos
direitos humanos, isso porque, conforme ressalta o autor "o uso da expressão
'gerações' pode ensejar a falsa impressão da substituição gradativa de uma geração
por outra". O que destoaria da proposta desta etapa do presente trabalho, de
mostrar a "localização" do Direito Humano à Comunicação nesse processo contínuo
e acumulativo do surgimento dos direitos humanos.
Em ordem cronológica na história dos direitos humanos, a próxima fase é o
reconhecimento dos direitos humanos de segunda dimensão. O seu contexto de
emersão se deu em meio à crise social decorrente dos impactos causados pela
industrialização, momento em que problemas sociais e econômicos de várias
espécies agravaram o contexto social. O reconhecimento formal dos princípios que
surgiram com a primeira declaração de direitos do homem, isto é, os princípios da
liberdade e igualdade, não garantiu seu efetivo exercício culminando, ainda no
percurso do século XX, no surgimento de movimentos sociais reivindicatórios, além
da busca pelo reconhecimento de direitos progressivos, imputando-se ao Estado a
obrigação ativa de promover a justiça social (BONAVIDES, 2004; SARLET, 2012;
SARMENTO, 2012).
A expressão material do surgimento de novos direitos universais na história
(direitos de segunda dimensão, subdivididos em direitos sociais, econômicos e
culturais) está sob o pálio das constituições Francesa de 1848, da Mexicana de
1917, a Declaração Russa dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado de 1918,
além do Tratado de Versailles de 1919 e a constituição Alemã de 1919, esta última
conhecida como a constituição de Weimar. Todos esses documentos albergaram
direitos que visam garantir ao ser humano o mínimo existencial. Dentre tais direitos
estão: a assistência social, saúde, educação, trabalho, entre outros. A obrigação de
garantir esses direitos cabe ao Estado. A partir daqui, o Estado passa a assumir
mais um papel na sociedade, o de promotor do Bem-Estar Social (COMPARATO,
2004; SARLET, 2012; SARMENTO, 2012).
76
Já Ingo W. Sarlet (2012) diz que não se trata mais de "liberdade do e perante
o Estado, e sim de liberdade por intermédio do Estado." (2012, p. 33).
A próxima fase dos direitos universais, ou seja, a terceira dimensão dos
direitos humanos surgiu como forma de evitar um "apocalipse" na terra. Isso porque,
o que resultou da Segunda Guerra Mundial, o que fez Hitler e seu exército nazista,
bem como o lançamento da bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki, em 6 e 9 de
agosto de 1945, que aniquilou em instantes milhares de vidas (ponto máximo da
barbárie humana), anunciaram que "o homem acabara de adquirir o poder de
destruir toda a vida na face da Terra" (COMPARATO, 2004, p. 210). Foi nesse
contexto de beligerância internacional e de catástrofes naturais que se intensificou
no plano internacional a discussão de acerca do reconhecimento de novos direitos e
garantias universais aos seres humanos. Nesse ínterim, a "sobrevivência da
humanidade exigia a colaboração de todos os povos na reorganização das relações
internacionais com base no respeito incondicional à dignidade da pessoa humana"
(Ibid., p. 210).
Considerando que a Segunda Guerra Mundial foi deflagrada e sustentada em
projetos de subjugação de povos considerados "inferiores", como a perseguição dos
nazistas aos judeus, buscou-se pactuar, então, no plano internacional (como forma
de vincular todas as nações), direitos referentes à garantia da paz, à liberdade dos
povos e de suas culturas, com pressupostos de proteção de grupos vulneráveis.
George Sarmento (2012) quando discorrer acerca da terceira dimensão dos direitos
humanos firma que ela "abrange o direito ao desenvolvimento, o direito à paz, o
direito de propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade, o direito de
comunicação (...)" bem como "o direito à defesa de ameaça de purificação racial e
genocídio, o direito à proteção contra as manifestações de discriminação racial, o
77
Na esteira dos ensinamentos de Sarlet (2012), bem como da análise feita por
Gomes (2007) sobre o excerto da Declaração Norte-Americana, é possível concluir
35
É necessário fazer a ressalva de que os primeiros documentos que serão analisados que datam
do século XVIII, possuem um caráter normativo interno, isto é, seus efeitos estão circunscritos ao
país que o proclamou. Em que pese aqui se fazer a referência a esses documentos como
documentos internacionais, não se quer aqui dizer que possuem caráter ou força normativa a
todos os países do globo. Entretanto, é reconhecido ser essas declarações as primeiras
manifestações positivadas de direitos universais e inerentes ao ser humano.
36
É preciso ressaltar que o artigo primeiro supramencionado só veio a adquirir tal redação após as
“dez primeiras emendas à constituição norte-americana”, Fábio Konder Comparato (2013)
questiona porque essas emendas, que instituíram os direitos fundamentais do cidadão, não
foram incluídas no texto original desde o início. Mais detalhes acerca das conclusões a que
chegou o autor podem ser consultados na obra a afirmação histórica dos direitos humanos
(2013, p. 95-100).
81
1948, a qual, no que se refere à temática da comunicação, trouxe em seu art. XIX o
seguinte ideal:
E completa dizendo que a “comunicação não foi entendida como fim e sim
como meio, apenas um elo de ligação entre dois pontos extremos, e não um
processo de interação, dialógico.” E, de maneira assaz, finaliza dizendo que:
Gomes (2007) afirma que os direitos que se extraem dos artigos acima
mencionados do Pacto de Direitos Civis e Políticos reproduzem a concepção liberal
de comunicação:
a imprensa era lida por uma elite letrada, e que fazia mais efeito falar
em praça pública para as grandes massas, tinha certa coerência
histórica (Ibid., p. 59).
38
“A UNESCO é uma agência especializada das Nações Unidas para a educação, a ciência e a
cultura. Portanto, a Organização se preocupa em somar esforços com o governo brasileiro e com
a sociedade civil em torno de objetivos comuns para o desenvolvimento do país, alinhados aos
objetivos estabelecidos pelos Estados-membros da UNESCO e das Nações Unidas.” Outras
informações disponíveis em: <http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/strategy-in-
brazil/>. Acesso em: 30 maio 2017.
É preciso esclarecer que as resoluções que serão expostas, assim como a síntese de suas
principais proposições que contribuem para sustentar a necessidade do reconhecimento da
comunicação como um direito humano, terão como referência a dissertação de mestrado de
Raimunda Aline Lucena Gomes (2007) cujo o título é A COMUNICAÇÃO COMO UM DIREITO
HUMANO: Um conceito em construção, em que a autora realiza uma análise minuciosa de todas
as resoluções sobre o tema entre a década 1940 à o ano de 2000. Mas no presente trabalho
será exposto, resumidamente, as principais conclusões que a autora chegou entre os períodos
de 1980 até o ano de 2005, e na oportunidade será lançado algum comentário que for entendido
como necessário.
87
39
Essa afirmação do tema da comunicação como um direito humano não ter habitado os discursos
da UNESCO, é feita com base no levantamento feito por Gomes (2007).
88
resolução cujo excerto será reproduzido adiante foi a primeira a se deter ao que
seriam os pilares da Nova Ordem Mundial da Informação e da Comunicação –
NOMIC.40 (GOMES, 2007).
4 CULTURA E COMUNICAÇÃO
[...]
4/19 Comissão Internacional de Estudo dos Problemas da
Comunicação
A Conferência Geral,
[...]
VI
14. Considera:
a) que essa Nova Ordem Mundial da Informação e da
Comunicação poderia basear-se, entre outras coisas em:
i) na eliminação dos desequilíbrios e desigualdades que caracterizam
a situação atual;
ii) na eliminação dos efeitos negativos de certos monopólios,
públicos ou privados, e das concentrações excessivas;
iii) na eliminação das barreiras externas e internas que se opõem a
uma livre circulação e a uma difusão mais ampla e melhor equilibrada
da informação e das idéias;
iv) na pluralidade das fontes e canais da informação;
v) na liberdade de imprensa e da informação;
vi) na liberdade dos jornalistas e de todos os profissionais dos meios
de comunicação, liberdade que não se pode desvincular da
responsabilidade;
vii) na capacidade dos Países em desenvolvimento de lograrem
melhorar sua própria situação, sobretudo equipando-se, formando
seu pessoal qualificado, melhorando suas infra-estruturas e fazendo
com que seus meios de informação e de comunicação sejam aptos a
responder a suas necessidades e aspirações;
viii) na vontade sincera dos Países desenvolvidos em uni-los a
lograr esses objetivos;
ix) no respeito da identidade cultural e no direito de cada nação
de informar a opinião pública mundial de seus interesses,
aspirações e valores sociais e culturais;
x) no respeito do direito de todos os povos a participar dos
intercâmbios internacionais de informação sobre a base da
igualdade, da justiça e do interesse mútuo;
xi) no respeito do direito do público, dos grupos étnicos e
sociais, e dos indivíduos a ter acesso as fontes de informação e
a participar ativamente no processo da comunicação;
b) que esta nova ordem mundial da informação e da comunicação
deveria basear-se nos princípios fundamentais do direito
internacional, tal como figuram na Carta das Nações Unidas;
c) que a diversidade na solução dos problemas da informação e da
comunicação é necessária já que as condições sociais, políticas,
culturais e econômicas diferem de um País a outro e, no centro de
um mesmo País, de um grupo a outro; (UNESCO, 1980, p. 74-75
apud GOMES, 2007, p. 103, tradução da autora).
40
Para mais detalhes ver o ponto 3 do primeiro capítulo do presente trabalho.
89
41
Gomes (2007) comenta sobre essa variação de uma resolução a outra do termo “direito à
comunicação” para “direito de comunicar” ser decorrente de uma imprecisão terminológica
naquela época, e conclui que o melhor (para a autora) seria adotar o direito à comunicação.
91
42
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 30
maio 2017.
93
CAPÍTULO V
DA COMUNICAÇÃO SOCIAL
Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a
informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão
qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.
§ 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço
à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de
comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e
XIV.
§ 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política,
ideológica e artística.
(...)
§ 5º Os meios de comunicação social não podem, direta ou
indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio.
§ 6º A publicação de veículo impresso de comunicação independe de
licença de autoridade.
43
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 30
maio 2017.
96
espaço em diversas entidades defensoras dos direitos humanos. Tanto que em 2005
o tema central do I Encontro Nacional de Direitos Humanos foi o Direito à
Comunicação. Além disso, periodicamente são promovidos Encontros Nacionais
pelo Direito à Comunicação, o mais recente ocorreu entre os dias 26 e 28 de maio
de 2017.
Ao término do I Encontro Nacional de Direitos Humanos foi construído um
documento final, A Carta de Brasília, na qual sob o "grito" de que direitos humanos
devem ser prioridades firmou-se o seguinte:
44
PROJETO DA LEI DA MÍDIA DEMOCRÁTICA. Disponível em:
<http://www.paraexpressaraliberdade.org.br/projeto-de-lei/>. Acesso em: 29 maio 2017.
45
MARTINS, Helena. Comunicação: reconhecimento como direito humano fundamental é recente.
EBC Agência Brasil, 01 out. 2014. Disponível em:
<http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-10/comunicacao-reconhecimento-como-
direito-humano-fundamental-recente>. Acesso em: 28 maio 2017.
46
CONFECOM. Caderno da 1ª Conferência Nacional de Comunicação. 2010. Mais detalhes
sobre as propostas, bem como o conteúdo integral do material produzido pela conferência, estão
disponíveis em: <http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/pfdc/informacao-e-
comunicacao/eventos/comunicacao/copy_of_1a-conferencia-nacional-de-comunicacao-
confecom>.Acesso em: 30 maio 2017.
98
7 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
APOIO Editorial ao Golpe de 64 foi um Erro. O Globo, 31 ago. 2013. Disponível em:
<https://oglobo.globo.com/brasil/apoio-editorial-ao-golpe-de-64-foi-um-erro-
9771604>. Acesso em: 07 maio 2017.
BARBOSA, Bia. Novo alvo do MPF: os políticos donos da mídia. Carta Capital, 24
nov. 2015. Disponível em: <https://www.cartacapital.com.br/blogs/intervozes/novo-
alvo-do-mpf-os-politicos-donos-da-midia-
3650.html?utm_content=bufferac122&utm_medium=social&utm_source=twitter.com
&utm_campaign=buffer>. Acesso em: 14 maio 2017.
FELLET, João. Brasil é cobrado na OEA por violência contra índios. BBC Brasil, 20
out. 2015. Disponível em:
<http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/10/151020_brasil_violencia_indios_jf
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