Impacto Dos Avanços Da Tecnologia Nas Transformações Arquitetônicas

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UNIVERSIDADE DE SO PAULO

Curso de Ps-Graduao - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

O I M P A C T OD O S
A V A N O S D A
TECNOLOGIANAS
TRANSFORMAES
ARQUITETNICAS
D O S E D I F C I O S
H O S P I T A L A R E S

Hermnia Silva Machry


Orientador: Prof. Dr. Geraldo Gomes Serra

So Paulo
2010
Hermnia Silva Machry

O I M P A C T O D O S A V A N O S D A
TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES
ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS
HOSPITALARES

Dissertao apresentada Comisso de Ps-


Graduao da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade de So Paulo, para a obteno do
ttulo de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

rea de Concentrao: Tecnologia da Arquitetura

Orientador: Prof. Dr. Geraldo Gomes Serra

So Paulo
2010
AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA
FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Nome do Autor: Hermnia Silva Machry

Instituio: Universidade de So Paulo

E-mail: [email protected]

FICHA CATALOGRFICA

Machry, Hermnia Silva


M151i O impacto dos avanos da tecnologia nas transformaes
arquitetnicas dos edifcios hospitalares / Hermnia Silva
Machry. --So Paulo, 2010.
375 p. : il.

Dissertao (Mestrado - rea de Concentrao: Tecnologia


da Arquitetura) FAUUSP.
Orientador: Geraldo Gomes Serra

1.Hospitais (Arquitetura) 2.Tecnologia I.Ttulo

CDU 725.51
FOLHA DE APROVAO

MACHRY, Hermnia Silva. O Impacto dos Avanos da Tecnologia nas


Transformaes Arquitetnicas dos Edifcios de Hospitalares. Dissertao
apresentada Comisso de Ps-Graduao da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de So Paulo, para a obteno do ttulo de Mestre em
Arquitetura e Urbanismo.

rea de Concentrao: Tecnologia da Arquitetura

Aprovado em __/__/____

Banca Examinadora

a) Prof. Dr. Geraldo Gomes Serra Orientador


Instituio: FAUUSP
Departamento: Tecnologia da Arquitetura _______________
Assinatura
b) Prof. Dr.
Instituio:
Departamento: _______________
Assinatura
c) Prof. Dr.
Instituio: FAUUSP
Departamento: _______________
Assinatura
d) Prof. Dr.
Instituio:
Departamento: _______________
Assinatura

So Paulo, ______ de _________________ de 2010.


Aos meus pais, Amaury e Mrcia.
AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Amaury e Mrcia, por acreditarem na minha capacidade e me


apoiarem ilimitadamente, de todas as formas possveis.

s minhas irms, Manuela e Joana, pelo apoio e aconselhamento.

Ao Prof. Dr. Geraldo Gomes Serra, pela impecvel orientao.

equipe do InCor, Rgia Rueda, Luiz Motta e, especialmente, ao colega e


amigo Henrique Jatene, pela generosidade e apoio incondicional sem o qual
esta pesquisa no teria sido realizada.

Aos mestres, colegas e amigos Lisete Assen de Oliveira, Gilcia Pesce do


Amaral e Silva, Luciana Costa, Alfonso Gill, Renata Malaquias, Carolina
Margarido, Paula Mastrocola, Marina Barros do Amaral, Marcos de Oliveira
Costa, Tiago Simes Borelli, Fbio Helfstein, Jos Borelli Neto, Hrcules
Merigo, Irineo Albiero Filho e Gisela Barcelos, que de formas variadas, diretas e
indiretas, ajudaram no desenvolvimento desta dissertao.

Ao consultor e amigo Lvis Dzelve, por auxiliar o trabalho de uma forma to


atenciosa e gentil.

Aos profissionais do Hospital Albert Einstein, arquitetas Paola, Cynthia e Renata


Lobel; engenheiro Reynaldo Gabarron; Ivana e Naige (Centro Histrico), pela
prestatividade ao fornecer diversos dados, conceder entrevistas e acompanhar
visitas tcnicas.

Aos arquitetos Domingos Fiorentini e Arthur Brito, pelas entrevistas concedidas e


pelos desenhos do Hospital Albert Einstein, essenciais ao desenvolvimento do
trabalho.

Aos profissionais do Hospital So Camilo, arquiteto Anbal Brtolo e engenheiro


Gleiner Ambrsio, pelas concesso de entrevistas e visita tcnica.

Ao arquiteto Siegbert Zanettini, pelos ensinamentos de suas obras e por


possibilitar as visitas tcnicas em dois hospitais de sua autoria (Hospital So
Camilo e Hospital e Maternidade So Luiz Anlia Franco).

Aos arquitetos Luiz Engler Vasconcellos, Fbio Savastano e Neuton Bacelar,


pela preciosa colaborao durante as visitas tcnicas aos hospitais da Rede
Sarah de Braslia e Salvador.

Ao arquiteto Lel, pelos ensinamentos de suas obras e pela entrevista


concedida.

Aos engenheiros Carlos Hernandez e Manuel Moreira e ao arquiteto Silvano


Wendel, pelas entrevistas que em muito enriqueceram a pesquisa.

Ao engenheiro Gilberto Baron, pela visita obra do Hospital Sabar.

CAPES, pelo apoio financeiro.


A arquitetura, entre todas as formas artsticas, a
que menos se presta a excluir a idia de
racionalidade, e a mais condicionada pela utilidade e
pela necessidade. (REN DESCARTES)
RESUMO

MACHRY, Hermnia Silva. O Impacto dos avanos da tecnologia nas transformaes


arquitetnicas dos edifcios de hospitalares. Dissertao de Mestrado. Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de So Paulo: 2010, 373 p.

Este trabalho disserta sobre o processo de adaptao arquitetnica dos edifcios


hospitalares frente s mudanas fsicas e funcionais trazidas pelas inovaes
tecnolgicas na rea mdica.

Principalmente aps a segunda metade do sculo XX, se acelerou o


desenvolvimento cientfico na medicina, com a descoberta de novas enfermidades,
novos tratamentos e, especialmente, novas formas e ferramentas de diagnstico. A
existncia e o aperfeioamento destas atividades tm se apoiado cada vez mais na
tecnologia, cujas inovaes foram sendo introduzidas nos edifcios na forma de
equipamentos, exigindo espaos e instalaes especiais. Os hospitais existentes,
tendo que se adaptar s especificidades tcnicas, foram submetidos a um ritmo
intenso de transformaes arquitetnicas, no intuito de evitar a sua obsolescncia.

Para investigar o impacto destas freqentes inovaes tecnolgicas sobre os


edifcios hospitalares, buscou-se analisar o desenvolvimento arquitetnico dos
mesmos, nas suas reas mais relacionadas ao uso de tecnologia. Os casos
estudados foram o Instituto do Corao (InCor), o Hospital Israelita Albert Einstein
(HIAE) e o Hospital de Doenas do Aparelho Locomotor Sarah Kubitschek de
Braslia (HDAL), cujos edifcios so representativos do cenrio ilustrado.

Reconhecendo nas instituies de sade o dinamismo tcnico-cientfico, a


complexidade espacial e os desafios quanto preservao da sua integridade
arquitetnica, esta pesquisa espera alertar os arquitetos sobre a inconstncia das
variveis que desenham as edificaes hospitalares, sobre a importncia de
depreend-las e sobre a necessidade de projetar edifcios flexveis para incorporar
estas variveis de modo menos impactante.

Palavras-chave: Edifcios hospitalares, inovaes tecnolgicas, transformaes


arquitetnicas, flexibilidade.
ABSTRACT

MACHRY, Hermnia Silva. The impact of technological advances in medical buildings


architectural changes. Dissertation for Masters degree. Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de So Paulo: 2010, 373 p.

This dissertation is about the architectural adaptation process that medical buildings
undergo in face of physical and functional changes brought by technological
innovations in medicine.

Especially after the second half of the 20th century, the scientific progress in
medicine accelerated with the discovery of new diseases, new treatments and new
forms and tools of diagnosis. The existence and improvement of these healthcare
activities have been supported more and more by technology and its machinery,
which were absorbed by medical buildings in the form of equipment, demanding
special space and infrastructure. Existing hospitals were forced to adapt to the
technical needs, and were submitted to an intense pace of architectural
transformation, fighting against their obsolescence.

In order to investigate the impact of these frequent technological innovations upon


medical buildings, their architectural development was analyzed in the areas most
affected by technology. The case studies were the Instituto do Corao (InCor), the
Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE) and the Hospital de Doenas do Aparelho
Locomotor Sarah Kubitschek (HDAL) of Braslia, whose buildings represent the
illustrated scenario.

Acknowledging in medical buildings the spatial complexity, the technical and


scientific dynamism and the challenges involving the preservation of their physical
integrity, this research expects to call attention to the lack of constancy of the
elements that design medical buildings, to the importance of knowing them and to
the necessity of planning flexible buildings that are able to absorb those elements
with less impact.

Key Words: Medical buildings, technological innovations, architectural


transformation, flexibility.
LISTA DE FIGURAS

CAPTULO 1

Figura 1.01: Complexo do Hospital das Clnicas com a localizao do InCor .......... 38
Figura 1.02: Bloco I do InCor em 1975 ..................................................................... 39
Figura 1.03: Conjunto de edifcios do InCor em 2000 ............................................... 39
Figura 1.04: Implantao atual do InCor ................................................................... 39
Figura 1.05: Corte longitudinal do complexo atual do InCor .................................... 41
Figura 1.06: Imagem atual do Complexo do HIAE .................................................... 42
Figura 1.07: Imagem do primeiro edifcio construdo ................................................ 43
Figura 1.08: Imagem atual do Bloco BC, primeira ampliao do HIAE e atual
entrada do Hospital ............................................................................... 44
Figura 1.09: Construo do Bloco A, em 1989 ......................................................... 44
Figura 1.10: Construo do Bloco A, em 1989, ao lado do Bloco BC ....................... 44
Figura 1.11: Vista do Complexo do Morumbi do HIAE, em 1990 .............................. 44
Figura 1.12: Edifcio 1 da nova fase de ampliao, denominado Pavilho Vicky e
Joseph Safra ou Bloco A1 ..................................................................... 45
Figura 1.13: Maquete fsica de toda a quarta fase de ampliao do HIAE ............... 46
Figura 1.14: Maquete fsica da futura ampliao do HIAE ........................................ 46
Figura 1.15: Implantao geral do Complexo do HIAE, incluindo os edifcios
previstos para o futuro .......................................................................... 47
Figura 1.16: Corte geral do Complexo do HIAE, incluindo os edifcios previstos
para o futuro .......................................................................................... 47
Figura 1.17: Esquema das obras de renovao do Bloco A do HIAE, em 1999 ....... 49
Figura 1.18: trio entre os Bloco A e B, que era antes uma rea externa ................ 49
Figura 1.19: Volume anexo de ligao entre os Blocos C e D .................................. 49
Figura 1.20: Estudo da Implantao do Hospital Sarah Braslia ............................... 51
Figura 1.21: Implantao do HDAL com o eixo principal de circulao do edifcio ... 53
Figura 1.22: Implantao do HDAL com os vetores de expanso do edifcio ........... 53
Figura 1.23: Esquema de circulaes do HDAL: Eixo transversal principal no
trreo, e indicao dos percursos para os outros pavimentos .............. 53
Figura 1.24: Esquema funcional do HDAL ................................................................ 53
Figura 1.25: Planta de Implantao do Hospital Sarah Braslia (em 2007) .............. 54
Figura 1.26: Corte do Hospital Sarah Braslia (em 2007) ......................................... 54
Figura 1.27: Imagem atual do conjunto de edifcios do HDAL .................................. 55

CAPTULO 2

Figura 2.01: Variveis de um Sistema de Ateno Mdico-Hospitalar ..................... 62


Figura 2.02: Esquema de ventilao natural e resfriamento aplicado ao Hospital
Sarah de Salvador ................................................................................ 71
Figura 2.03: Corte do Hospital da Rede Sarah Rio de Janeiro .............................. 71
Figura 2.04: Entrada do Bloco D do Hospital Israelita Albert Einstein (So Paulo):
projeto do arquiteto Siegbert Zanettini .................................................. 72
Figura 2.05: rea de estar na unidade de internao do Hospital e Maternidade
So Luiz Anlia Franco: projeto do arquiteto Siegbert Zanettini ........ 72
Figura 2.06: Fluxograma genrico para EAS ............................................................ 76
Figura 2.07: Fluxograma genrico para EAS ............................................................ 76
Figura 2.08: Diagrama Composto Modelo Terico ................................................ 77

CAPTULO 3

Figura 3.01: Fluxograma Metodologia ....................................................................... 85

CAPTULO 4

Figura 4.01: Segundo edifcio da Santa Casa de Misericrdia de So Paulo, na


poca da sua construo ...................................................................... 100
Figura 4.02: Projeto do IOT ....................................................................................... 103
Figura 4.03: Projeto do IPq ....................................................................................... 103
Figura 4.04: Maternidade Universitria USP 1944 Arq. Rino Levi ...................... 106
Figura 4.05: Hospital da Cruzada Pr-Infncia 1950 Arq. Rino Levi ................... 106
Figura 4.06: Maternidade Universitria USP: corte ................................................... 106
Figura 4.07: Maternidade Universitria USP: perspectiva com esquema funcional . 106
Figura 4.08: Hospital do Cncer (1947) .................................................................... 107
Figura 4.09: Hospital do Cncer (1947) Arq. Rino Levi e Roberto Cerqueira
Csar ..................................................................................................... 107
Figura 4.10: Hospital Gastroclnicas (Atual Hospital Dr. Edmundo Vasconcelos),
So Paulo .............................................................................................. 108
Figura 4.11: Hospital Sul Amrica (atual Hospital Geral da Lagoa), Rio de Janeiro . 108
Figura 4.12: Hospital Regional Dr. Homero de Miranda Gomes, So Jos 1980
Irineu Breitman ...................................................................................... 109
Figura 4.13: Hospital Infantil Joana de Gusmo, Florianpolis 1980 Irineu
Breitman ................................................................................................ 109
Figura 4.14: Hospital Regional Hans Dietter Schmith, Joinville 1984 Irineu
Breitman .. 109
Figura 4.15: Hospital de Taguatinga, Vista do Bloco de Internao ......................... 110
Figura 4.16: Hospital de Taguatinga Elemento Pr-fabricado na fachada da
Internao ............................................................................................. 110
Figura 4.17: Maca projetada por Lel , de modo a dar mobilidade ao paciente com
dificuldade de locomoo internado nos hospitais da Rede Sarah ...... 111

CAPTULO 5

Figura 5.01: Xenodochium Bizantino, Tessalonica, sc. VI (planta) ......................... 119


Figura 5.02: Bimaristan de Qalawun, Cairo, sc. XIII (planta) .................................. 119
Figura 5.03: Hospital Santo Esprito de Lubeck, 1286 (planta) ................................. 120
Figura 5.04: Ospedalle Maggiore, Milo, 1456: planta e perspectiva ....................... 123
Figura 5.05: Royal Naval Hospital, Inglaterra, 1756-1764: planta e perspectiva ...... 124
Figura 5.06: Hospital Lariboisiere, Paris, 1846-1854: planta e croqui ....................... 126
Figura 5.07: Enfermaria Nightingale, 1857 ................................................................ 131
Figura 5.08: Johns Hopkins Hospital, EUA, 1890: planta e perspectiva ................... 131
Figura 5.09: Otawa Civic Hospital: planta, corte e perspectiva ................................. 133
Figura 5.10: Hospital Memorial Frana-Estados Unidos, Saint-L, 1955: planta e
perspectiva ............................................................................................ 136

CAPTULO 6

Figura 6.01: Sistema pioneiro de Raios-X: pacientes ainda ficavam de p para


segurar as caixas .................................................................................. 160
Figura 6.02: Sala de Raios-x Hospital de Clnicas de Barcelona na sua primeira
etapa ..................................................................................................... 160
Figura 6.03: Digitalizador do setor de Radiologia do Hospital Sarah Braslia ........... 161
Figura 6.04: Equipamento de Radiografia Torcica .................................................. 162
Figura 6.05: Equipamento de Mamografia ................................................................ 162
Figura 6.06: Equipamento de Radiografia para vrias partes do corpo (modelo
antigo) ................................................................................................... 162
Figura 6.07: Equipamento de Radiografia para vrias partes do corpo (modelo
atual) ..................................................................................................... 162
Figura 6.08: Equipamento de Tomografia Computadorizada atual (modelo de
1990) ..................................................................................................... 163
Figura 6.09: Sala de Hemodinmica do InCor em 2008 ........................................... 164
Figura 6.10: Sala de Radiologia Intervencionista ...................................................... 165
Figura 6.11: Bomba de cobalto de radioterapia ........................................................ 166
Figura 6.12: Acelerador Linear Hospital Srio Libans .............................................. 166
Figura 6.13: Escaneador de Medicina Nuclear na dcada de 1970 ......................... 167
Figura 6.14: Cintilgrafo, produzido e instalado em meados da dcada de 1990,
no InCor ................................................................................................ 168
Figura 6.15: Cintilgrafo com giro 360, produzido e instalado no ano 2000, no
InCor ..................................................................................................... 168
Figura 6.16: Equipamento PET do InCor .................................................................. 169
Figura 6.17: Modelo de um PET/CT .......................................................................... 169
Figura 6.18: Cclotron ................................................................................................ 170
Figura 6.19: Equipamento de Ressonncia Magntica ............................................. 172
Figura 6.20: Exemplo de um equipamento de Ressonncia Magntica de Campo
Aberto .................................................................................................... 173
Figura 6.21: Exemplo de um equipamento de Ressonncia Magntica com mais
espao para a passagem do paciente .................................................. 173
Figura 6.22: Microscpio Eletrnico do Hospital Sarah Kubitschek de Braslia ........ 174
Figura 6.23: Refrigeradores ...................................................................................... 174
Figura 6.24: Centrfuga de mesa ............................................................................... 174
Figura 6.25: Capela de exausto de gases txicos .................................................. 175
Figura 6.26: Centrfuga de cho ................................................................................ 175
Figura 6.27: Estufas .................................................................................................. 175
Figura 6.28: Analisador Automtico .......................................................................... 175
Figura 6.29: Equipamentos da Sala Cirrgica da Santa Casa de Santos, na
dcada de 1940 .................................................................................... 176
Figura 6.30: Equipamentos de uma Sala Cirrgica hoje ........................................... 176
Figura 6.31: Sala cirrgica com equipamentos para Telecirurgia Hospital Srio
Libans .................................................................................................. 176
Figura 6.32: Rob Da Vinci ....................................................................................... 177
Figura 6.33: Rob Da Vinci em uma sala de cirurgia do Hospital Srio Libans ....... 177
Figura 6.34: Brigham and Womens Hospital: Advanced Multimodal Image-
Guided Operating Suite (AMIGO) ... 178
Figura 6.35: Caldeiras do InCor ................................................................................ 182
Figura 6.36: Geradores do Hospital e Maternidade So Luiz Unidade Anlia
Franco ................................................................................................... 183
Figura 6.37: Cilindro de O2 do Hospital e Maternidade So Luiz Unidade Anlia
Franco ................................................................................................... 184
Figura 6.38: Centrais de Gases Medicinais do Hospital e Maternidade So Luiz
Unidade Anlia Franco .......................................................................... 184
Figura 6.39: Tubulao de gua gelada do sistema de Ar Condicionado do
Hospital e Maternidade So Luiz Unidade Anlia Franco .................. 186
Figura 6.40: Chillers do sistema de Ar Condicionado do Hospital e Maternidade
So Luiz Unidade Anlia Franco ........................................................ 186
Figura 6.41: Torres de Refrigerao do InCor .......................................................... 186
Figura 6.42: Fan Coil para um ambiente comum do Hospital e Maternidade
Vitria (So Paulo) ................................................................................ 186
Figura 6.43: Bomba de Incndio do InCor ................................................................ 187
CAPTULO 7

Figura 7.01: Implantao da Santa Casa de Misericrdia-SP. Prdio original


(sc.XIX) ............................................................................................... 197
Figura 7.02: Santa Casa de Misericrdia-SP. Configurao em 1992 ...................... 197
Figura 7.03: Hospital Samaritano antes da ltima ampliao ................................... 198
Figura 7.04: Simulao do Hospital Samaritano com a ltima ampliao ................ 198
Figura 7.05: Hospital Santa Catarina em 2009 ......................................................... 200
Figura 7.06: Configurao a atual do conjunto de edifcios do HSL ......................... 203
Figura 7.07: Configurao a atual do conjunto de edifcios do HSL ......................... 203
Figura 7.08: Vista externa do HSL, destacando o contraste entre edifcios de
diferentes pocas .................................................................................. 204
Figura 7.09: Vista externas do HSL, destacando o contraste entre edifcios de
diferentes pocas .................................................................................. 204
Figura 7.10: Ampliao do Hospital So Camilo Pompia ........................................ 205
Figura 7.11: Esquema das fases de ampliao do Hospital So Camilo Pompia .. 205
Figura 7.12: Corredor externo do Hospital de Clnicas de Barcelona nos anos
1930, mostrando o p-direito alto que, posteriormente, foi dividido em
dois pavimentos .................................................................................... 206
Figura 7.13: Unidade provisria composta de contineres, localizada no vo entre
dos edifcios do Hospital de Clnicas de Barcelona .............................. 206

CAPTULO 8

Figura 8.01: Posto de enfermagem com equipamentos de monitoramento do


paciente nos primrdios da UTI ............................................................ 210
Figura 8.02: Paciente com Pulmo de Ao, equipamento utilizado na UTI at a
inveno do respirador mecnico, na dcada de 1950 ........................ 211
Figura 8.03: Paciente com Pulmo de Ao ............................................................. 211
Figura 8.04: Esquema ilustrativo das etapas do exame de Medicina Nuclear .......... 218
Figura 8.05: Laboratrio no incio da dcada de 1970 .............................................. 221
Figura 8.06: Laboratrio em 2009 (Hospital Sarah Kubitschek de Braslia) ............. 221
Figura 8.07: Laboratrio em 2009 (Hospital Sarah Kubitschek de Braslia) ............. 221
Figura 8.08: Laboratrio em 2009 (Hospital Sarah Kubitschek de Braslia) ............. 221
Figura 8.09: Exemplo de uma sala de Radioterapia (Bunker) ................................ 222
Figura 8.10: Projeto das salas cirrgicas do Programa AMIGO, implantado no
Figura 8.11: Brigham and Womens Hospital (Boston, EUA) .................................... 225
Projeto das salas cirrgicas do Programa AMIGO, implantado no
Figura 8.12: Brigham and Womens Hospital (Boston, EUA) .................. 225
Figura 8.13: Volumes cilndricos para a observao dos partos e cirurgias no
projeto da Maternidade Universitria da Faculdade de Medicina da
USP (no construdo) ............................................................................ 227
Figura 8.14: Sala de cirurgia Hospital de Clnicas de Barcelona nos anos 1920 ...... 227
Figura 8.15: Sala de cirurgia com observatrio superior ........................................... 227
Figura 8.16: Equipamento de simulao da cirurgia robtica, e Rob anexado
mesa cirrgica ....................................................................................... 227
Figura 8.17: Pavimento Tcnico do Hospital Municipal de Boston (EUA, 1969), de
H. Stubbins e Rex Allen ........................................................................ 230
Figura 8.18: Hospital Brigadeiro, So Paulo ............................................................. 232

CAPTULO 9

Figura 9.01: Planta do pavimento AB do InCor em 1973-1976 (construo) ............ 238


Figura 9.02: Planta do pavimento AB do InCor em 1984 .......................................... 238
Figura 9.03: Planta do pavimento AB do InCor em 1987 .......................................... 239
Figura 9.04: Planta do pavimento AB do InCor em 1993 .......................................... 239
Figura 9.05: Planta do pavimento AB do InCor em 2002 .......................................... 240
Figura 9.06: Planta do pavimento AB do InCor em 2009 (configurao atual) ......... 240
Figura 9.07: Planta da unidade de Radiologia do InCor em 1976 ............................ 242
Figura 9.08: Planta da unidade de Radiologia do InCor em 1987 ............................ 242
Figura 9.09: Planta da unidade de Radiologia do InCor em 2002 ............................ 243
Figura 9.10: Planta da unidade de Radiologia do InCor em 2009 ............................ 243
Figura 9.11: Projeto de reforma da unidade de Radiologia do InCor para 2010 ....... 244
Figura 9.12: Planta com a configurao original do Laboratrio de Anlises
Clnicas do InCor ................................................................................... 245
Figura 9.13: Planta do Laboratrio de Anlises Clnicas do InCor a partir de 1995 . 245
Figura 9.14: Centrfugas ocupando reas de circulao junto aos Laboratrios de
Pesquisa do InCor (10 pavimento) ...................................................... 246
Figura 9.15: Refrigeradores ocupando reas de circulao junto aos Laboratrios
de Pesquisa do InCor (10 pavimento) ................................................. 246
Figura 9.16: Planta da unidade de Ecocardiografia em 1976 ................................... 247
Figura 9.17: Planta da unidade de Ecocardiografia em 1984 ................................... 247
Figura 9.18: Planta da unidade de Ecocardiografia em 1987 ................................... 247
Figura 9.19: Planta da unidade de Ecocardiografia em 1993 ................................... 247
Figura 9.20: Planta da unidade de Ecocardiografia em 2009 ................................... 248
Figura 9.21: Planta da unidade de Mtodos Grficos em 1976 ................................ 249
Figura 9.22: Planta da unidade de Mtodos Grficos em 1984 ................................ 249
Figura 9.23: Planta da unidade de Mtodos Grficos em 1987 ................................ 250
Figura 9.24: Planta da unidade de Mtodos Grficos em 1993 ................................ 250
Figura 9.25: Planta da unidade de Mtodos Grficos em 2002 ................................ 250
Figura 9.26: Planta da unidade de Medicina Nuclear em 1984 ................................ 252
Figura 9.27: Planta da unidade de Medicina Nuclear em 2002 ................................ 252
Figura 9.28: Planta da unidade de Ressonncia Magntica em 1993 ...................... 254
Figura 9.29: Planta da unidade de Ressonncia Magntica em 2009 ...................... 254
Figura 9.30: Puxadinhos nas redes de instalaes prediais do InCor, incluindo os
dutos de ar condicionado, a tubulao de gua dos hidrantes, etc. ..... 256
Figura 9.31: Ajustes aparentes no Sistema de Ar Condicionado vistos na fachada
de fundos do InCor ................................................................................ 256
Figura 9.32: Central de Utilidades do Bloco II do InCor ............................................ 256
Figura 9.33: Sala de CPD ......................................................................................... 256
Figura 9.34: Mapa elaborado para orientar a circulao dos usurios
(principalmente dos pacientes externos) no pavimento AB. No
desenho ficam evidentes as linhas coloridas como ferramentas de
orientao ............................................................................................. 258
Figura 9.35: Corredor ocupado por rea de espera em frente as salas de
Radiologia, mostrando tambm as linhas coloridas no piso com a
funo de orientar os usurios do pavimento AB ................................. 259

CAPTULO 10

Figura 10.01: Corte Geral do Complexo do HIAE, incluindo os edifcios previstos


para o futuro ........................................................................................ 264
Figura 10.02: Planta do 4 pavimento do HIAE em 1998 ......................................... 265
Figura 10.03: Planta do 4 pavimento do HIAE em 2009 ......................................... 268
Figura 10.04: Planta da Unidade de Radiologia do HIAE em 1998 .......................... 270
Figura 10.05: Planta da Unidade de Radiologia do HIAE em 2009 .......................... 270
Figura 10.06: Antiga Cmara Escura, hoje utilizada para servios de apoio ............ 271
Figura 10.07: Cmara Clara ou Unidade Tcnica, onde feita a revelao (digital)
dos exames de Radiologia .................................................................. 271
Figura 10.08: Planta da Unidade de Hemodinmica do HIAE, em 1998 .................. 272
Figura 10.09: Planta da Unidade de Hemodinmica do HIAE em 2009 ................... 273
Figura 10.10: Planta do Laboratrio do HIAE em 1998 ............................................ 274
Figura 10.11: Planta do Laboratrio do HIAE em 2009 ............................................ 275
Figura 10.12: Planta da Unidade de Medicina Nuclear do HIAE em 1998 ............... 276
Figura 10.13: Planta da Unidade de Medicina Nuclear do HIAE em 2009 ............... 276
Figura 10.14: Planta da Unidade de Mtodos Grficos do HIAE em 1998 ............... 277
Figura 10.15: Planta da Unidade de Mtodos Grficos do HIAE em 2009 ............... 277
Figura 10.16: Planta da Unidade de Ecocardiografia do HIAE em 1998 .................. 278
Figura 10.17: Planta da Unidade de Ecocardiografia do HIAE em 2009 .................. 278
Figura 10.18: Planta das Unidades de Endoscopia e Ultrasonografia do HIAE em
1998 .................................................................................................... 279
Figura 10.19: Planta das Unidades de Endoscopia e Ultrasonografia do HIAE em
2009 .................................................................................................... 279
Figura 10.20: Planta do Subsolo 1 do HIAE em 1998 .............................................. 280
Figura 10.21: Planta do Subsolo 1 do HIAE em 2009 .............................................. 281
Figura 10.22: Planta da Unidade de Ressonncia Magntica (RM) do HIAE em
1998 .................................................................................................... 282
Figura 10.23: Planta da Unidade de Ressonncia Magntica do HIAE em 2009 ..... 282
Figura 10.24: Chegada de um equipamento de RM ao HIAE na segunda metade
da dcada de 1980, pela rea do Ptio de Servios .......................... 283
Figura 10.25: Sala do equipamento mais antigo de RM do HIAE, em 2009 ............. 283
Figura 10.26: Planta do Centro de Simulao Realstica (CSR) do HIAE em 2009 284
Figura 10.27: Planta das reas de Infra-estrutura Predial do HIAE em 1998 .......... 285
Figura 10.28: Planta da Unidade de Ressonncia Magntica do HIAE em 2009 ..... 286
Figura 10.29: Ptio de Servios em 2009 (Subsolo 1), mostrando as Torres de
Resfriamento na cobertura da Central Trmica, os Contineres e, ao
fundo, a Central de Geradores e outras duas Casas de Mquinas
encostadas no Bloco A ....................................................................... 287
Figura 10.30: Central de Gases ................................................................................ 287

CAPTULO 11

Figura 11.01: Planta do Subsolo 1 do HDAL, em 1980 (poca da construo do


edifcio) ............................................................................................... 294
Figura 11.02: Planta do Subsolo 1 do HDAL em 2007 ............................................. 295
Figura 11.03: Planta da unidade de Radiologia em 1980 ......................................... 296
Figura 11.04: Planta da unidade de Radiologia em 2007.......................................... 296
Figura 11.05: Corredor entre os vestirios de pacientes e as salas de Raio-x ......... 297
Figura 11.06: rea de Espera ................................................................................... 297
Figura 11.07: Sala de Raio-x .................................................................................... 297
Figura 11.08: Sala de Angiografia ............................................................................. 297
Figura 11.09: Digitalizadora (CR) na atual rea de revelao digital (antigas
Cmaras Clara e Escura) ................................................................... 298
Figura 11.10: rea de Comando comum entre as trs salas adjacentes de
Tomografia .......................................................................................... 298
Figura 11.11: Adensamento de equipamentos sobre as bancadas do Laboratrio .. 299
Figura 11.12: Adensamento de equipamentos sobre as bancadas do Laboratrio .. 299
Figura 11.13: Planta do Laboratrio de Anlises Clnicas em 1980 ......................... 300
Figura 11.14: Planta do Laboratrio de Anlises Clnicas em 2007 ......................... 300
Figura 11.15: Planta das unidades de Ressonncia Magntica e Medicina Nuclear
em 2007 .............................................................................................. 302
Figura 11.16: Planta do Centro Cirrgico em 1980 ................................................... 304
Figura 11.17: Planta do Centro Cirrgico em 2007 ................................................... 304
Figura 11.18: Desenho de Lel para demonstrar o fluxo das instalaes prediais
no pavimento do Subsolo 2 ................................................................ 306
Figura 11.19: Casa de Mquinas para os equipamentos de ar condicionado (Fan-
coils) do Centro Cirrgico ................................................................... 307
Figura 11.20: Instalaes eltricas embutidas nos elementos estruturais do HDAL 307
Figura 11.21: Instalaes eltricas embutidas nos elementos estruturais do HDAL 307
Figura 11.22: Instalaes eltricas embutidas nos elementos estruturais do HDAL 307
Figura 11.23: Dutos de Ar Condicionado embutidos na estrutura pr-fabricada da
laje do Centro Cirrgico ...................................................................... 308
Figura 11.24: Planta do Subsolo 2 do HDAL, em 1980 (poca da construo do
edifcio) ............................................................................................... 309
Figura 11.25: Planta do Subsolo 2 do HDAL em 2007 ............................................. 309
Figura 11.26: Galeria de Instalaes do Subsolo 2 do Sarah Centro ....................... 310
Figura 11.27: Condutores de gua gelada do sistema de Ar Condicionado ............. 310

CAPTULO 12

Figura 12.01: Configurao das reas de circulao Pavto AB InCor, em 1976 ... 318
Figura 12.02: Configurao das reas de circulao Pavto AB InCor, em 2009 ... 318
Figura 12.03: Configurao das reas de circulao 4 pavto HIAE, em 1998 ..... 319
Figura 12.04: Configurao das reas de circulao Subsolo 1 HIAE, em 1998 .. 319
Figura 12.05: Configurao das reas de circulao 4 pavto HIAE, em 2009 ..... 319
Figura 12.06: Configurao das reas de circulao Subsolo 1 HIAE, em 2009 .. 319
Figura 12.07: Configurao das reas de circulao Subsolo 1 HDAL, em 1980 . 320
Figura 12.08: Configurao das reas de circulao Subsolo 2 HDAL, em 1980 . 320
Figura 12.09: Configurao das reas de circulao Subsolo 1 HDAL, em 2007 . 320
Figura 12.10: Configurao das reas de circulao Subsolo 2 HDAL, em 2007 . 320

CAPTULO 14

Figura 14.01: Hospital Memorial Frana-Estados Unidos, Saint-L, 1955 ............... 357
Figura 14.02: Northwick Park Hospital (Implantao) ............................................... 361
Figura 14.03: Northwick Park Hospital . 362
Figura 14.04: Hospital St. Albans e seus Vetores de expanso ............................. 362
Figura 14.05: Greenwich Hospital Plantas com zoneamento funcional ................. 364
Figura 14.06: Greenwich Hospital Volumetria ......................................................... 364
Figura 14.07: Greenwich Hospital Elevao .......................................................... 364
Figura 14.08: Programa Harness .............................................................................. 367
Figura 14.09: Programa Nucleus .............................................................................. 368
Figura 14.10: Programa Nucleus (rua hospitalar organizando os mdulos
funcionais) ........................................................................................... 369
Figura 14.11: Programa Nucleus (rua hospitalar organizando os mdulos
funcionais) ........................................................................................... 369
Figura 14.12: Centro de Sade e Hospital Linha de Frente ................................... 371
Figura 14.13: Hospital Pr-fabricado Consrcio BDSL, Siemens, Servlease ........ 372
Figura 14.14: Hospital Regional, 1990 Mayerhofer e Toledo Arquitetura .............. 373
Figura 14.15: Maquete do Hospital Geral Padro HGU, reproduzido vrias vezes
na segunda fase do PMS .................................................................... 374
Figura 14.16: Hospital Geral Itaim Paulista ............................................................... 375
Figura 14.17: Hospital Geral Graja ......................................................................... 375
Figura 14.18: Hospital Geral Vila Alpina ................................................................... 375
Figura 14.19: Hospital Geral Pirajussara .................................................................. 375
Figura 14.20: Hospital Geral Carapicuba ................................................................. 375
Figura 14.21: Hospital Geral Itapevi .......................................................................... 375
Figura 14.22: Hospital Geral Diadema ...................................................................... 375
Figura 14.23: Hospital Geral Itaquaquecetuba .................................................... 375

LISTA DE QUADROS

Quadro 01: Os nmeros do crescimento do HIAE com o mais recente plano de


expanso ............................................................................................... 48
Quadro 02: Organizao Fsico-funcional adotada como base ............................... 78
LISTA DE ABREVIAES E SIGLAS

AB Ambulatrio
ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas
AIA American Institute of Architetcs (Instituto Americano de Arquitetos)
AMIGO Advanced Image-guided Operating Suit
ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria
APO Avaliao Ps Ocupao
CAP Caixa de Aposentadoria e Penses
CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior
CAT Computerized Axial Toography
CATV Circuito Aberto de TV
CDI Centro de Diagnstico por Imagem do Hospital Srio Libans
CEME Central de Medicamentos
CEPE Centro de Estudos e Pesquisas do Hospital Srio Libans
CFTV Circuito Fechado de TV
CME Central de Material Esterilizado
CNEN Comisso Nacional de Energia Nacional
COE Cdigo de Obras e Edificaes do Municpio de So Paulo
CPD Central de Processamento de Dados
CR Digitalizador de Raios-X
CSR Centro de Simulao Realstica do Hospital Israelita Albert Einstein
CTRS Centro de Tecnologia Rede Sarah
DML Depsito de Material de Limpeza
DOP Departamento de Edifcios e Obras Pblicas do Estado de So Paulo
EAS Estabelecimentos Assistenciais de Sade
ECG Eletrocardiograma e
ECGE Eletrocardiograma de Esforo
HC Hospital das Clnicas
HDAL Hospital de Doenas do Aparelho Locomotor Sarah Kubitschek
HIAE Hospital Israelita Albert Einstein
HG Hospitais Gerais
HGU Hospital Geral Padro
HSL Hospital Srio Libans
IAB Instituto de Arquitetos do Brasil
IAP Institutos de Aposentadoria e Penses
ICESP Instituto do Cncer de So Paulo
ICr Instituto da Criana
INAMPS Instituto Nacional de Assistncia Mdica da Previdncia Social
INCA - Instituto Nacional do Cncer
InCor Instituto do Corao
INPS Instituto Nacional de Previdncia Social
InRad Instituto de Radiologia
IPEN Instituto de Pesquisas Energticas e Nucleares
IPq Instituto de Psiquiatria
IOT Instituto de Ortopedia e Traumatologia
IT Instruo Tcnica do Corpo de Bombeiros
MIT Massachusetts Institute of Technology
MRI Magnetic Resonance Imaging
MS Ministrio da Sade
NASA National Aeronautics and Space Administration
NUTAU Ncleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo
OMS Organizao Mundial de Sade
PABX Private Automatic Branch Exchange
PACS Picture Archiving and Communication System (Sistema de Comunicao e
Arquivamento de Imagens)
PAMB Instituto dos Ambulatrios
PET Positron Emission Tomography
PMS Programa Metropolitano de Sade
PPA Plano de Pronta Ao
PRODESP Companhia de Processamento de Dados de Estado de So Paulo
RDC 50 Resoluo no 50 da ANVISA, regulamentadora dos projetos de EAS
RH Recursos Humanos
RI Radiologia Vascular Intervencionista
RM Ressonncia Magntica
RMGSP Regio Metropolitana da Grande So Paulo
S1 Subsolo 1 do Hospital Sarah Kubitschek de Braslia
S2 Subsolo 2 do Hospital Sarah Kubitschek de Braslia
SBIBAE Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein
SESP Servio Especial de Sade Pblica
SINPAS Sistema Nacional de Previdncia Social
SUS Sistema nico de Sade
TC Tomografia Computadorizada
TI Tecnologia da Informao
UBS Unidade Bsica de Sade
UTI Unidade de Tratamento Intensivo
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
USP Universidade de So Paulo
SUMRIO

1 INTRODUO 31

1.1 COLOCAO DO PROBLEMA ............................................................................. 31


1.2 OBJETIVOS ............................................................................................................ 35
1.2.1 Geral ......................................................................................................................... 35
1.2.2 Especficos ............................................................................................................... 35
1.3 PRESSUPOSTOS DA PESQUISA ......................................................................... 36
1.4 O OBJETO DA INVESTIGAO ............................................................................ 37
1.4.1 Os Objetos Concretos ............................................................................................... 37
1.4.1.1 Instituto do Corao ................................................................................................. 38
1.4.1.2 Hospital Israelita Albert Einstein ................................................................................ 42
1.4.1.3 Hospital Sarah Kubitschek Braslia ............................................................................ 50

2 O EDIFCIO HOSPITALAR: PLURALIDADE DIMENSIONAL E SISTMICA 59

2.1 ATRIBUTOS DO PROJETO ................................................................................... 63


2.1.1 Implantao e insero urbana ................................................................................. 64
2.1.2 Condicionantes sociais, polticas e econmicas ....................................................... 65
2.1.3 Fatores fsico-funcionais ......................................................................................... 66
2.1.4 Condicionantes ambientais ....................................................................................... 69
2.1.5 Normatizao ............................................................................................................ 73
2.1.6 Sustentabilidade ....................................................................................................... 73
2.2 AS PARTES DO SISTEMA HOSPITAL .............................................................. 74
2.2.1 Internao ................................................................................................................. 78
2.2.2 Diagnstico e Tratamento ......................................................................................... 79
2.2.3 Ensino e Pesquisa .................................................................................................... 80
2.2.4 Apoio Administrativo ................................................................................................ 80
2.2.5 Apoio Tcnico e Logstico ......................................................................................... 81

3 METODOLOGIA 85

3.1 LEVANTAMENTO DE DADOS SECUNDRIOS ................................................... 85


3.2 LEVANTAMENTO DE DADOS PRIMRIOS ......................................................... 87
3.2.1 Estudos de Caso ....................................................................................................... 88
3.3 ANLISE DOS DADOS .......................................................................................... 90

4 ANTECEDENTES HISTRICOS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES


BRASILEIROS 93

4.1 EVOLUO DA ASSISTNCIA MDICO-HOSPITALAR ................................... 93


4.1.1 No Brasil ................................................................................................................. 93
4.1.2 Em So Paulo ......................................................................................................... 98
4.2 MOVIMENTO MODERNO ..................................................................................... 104
4.3 INDUSTRIALIZAO E PADRONIZAO NA ARQUITETURA DOS
HOSPITAIS BRASILEIROS .................................................................................. 108

5 DINMICA DE TRANSFORMAES CIENTFICAS E TECNOLGICAS A


SERVIO DA MEDICINA 115

5.1 IDADE ANTIGA: AS ORIGENS DA MEDICINA NA GRCIA E NO ORIENTE ... 115


5.2 IDADE MDIA: O AVANO DA MEDICINA NO ORIENTE ................................. 118
5.3 RENASCIMENTO: O AVANO DA MEDICINA NO OCIDENTE ......................... 120
5.4 HTEL-DIEU: INCIO DO PLANEJAMENTO HOSPITALAR COMO
DISCIPLINA .......................................................................................................... 124
5.5 SCULO XIX O AVANO DA TECNOLOGIA A SERVIO DA MEDICINA ..... 128
5.6 SCULO XX - POPULARIZAO DO USO DE TECNOLOGIA NOS
HOSPITAIS E AUMENTO DA SUA COMPLEXIDADE FUNCIONAL .................. 132
5.7 PERODO PS-GUERRA: ACELERAO ......................................................... 135
5.7.1 Dcada de 50 .......................................................................................................... 138
5.7.2 Dcada de 60 .......................................................................................................... 138
5.7.3 Dcada de 70 .......................................................................................................... 139
5.7.4 Dcada de 80 .......................................................................................................... 141
5.7.5 Dcada de 90 .......................................................................................................... 141
5.7.6 Sculo XXI .............................................................................................................. 143

6 INOVAES TECNOLGICAS RECENTES 149

6.1 COMPARTILHAMENTO E PROCESSAMENTO DE DADOS E IMAGENS ........ 149


6.1.1 Informtica Mdica .................................................................................................. 149
6.1.2 Pronturio Eletrnico .............................................................................................. 150
6.1.3 Telemedicina .......................................................................................................... 151
6.1.4 Processamento de sinais biolgicos ....................................................................... 153
6.1.5 Processamento de imagens mdicas ...................................................................... 153
6.1.6 Cabeamento Estruturado ........................................................................................ 154
6.1.7 Redes sem fio ......................................................................................................... 155
6.1.8 Edifcios Inteligentes ............................................................................................... 157
6.2 EQUIPAMENTOS DE DIAGNSTICO E TRATAMENTO ................................... 158
6.2.1 Radiologia .............................................................................................................. 160
6.2.2 Radioterapia ........................................................................................................... 165
6.2.3 Medicina Nuclear .................................................................................................... 166
6.2.4 Ressonncia Magntica .......................................................................................... 171
6.2.5 Laboratrios ........................................................................................................... 173
6.2.6 Cirurgia .................................................................................................................. 175
6.3 EQUIPAMENTOS DE INFRAESTRUTURA PREDIAL E INSTALAES
ESPECIAIS ............................................................................................................
178
6.3.1 Sistema de abastecimento e distribuio de gua ....................................................
182
6.3.2 Sistema de captao e distribuio de energia ........................................................
182
6.3.3 Instalaoes fludo-mecnicas ...................................................................................
183
6.3.4 Sistema de ar condicionado ....................................................................................
184
6.3.5 Sistema de proteo contra incndio .....................................................................
186

7 HOSPITAL CONTEMPORNEO: CENRIO DE TRANSFORMAES 191

7.1 REFORMAS EM HOSPITAIS EXISTENTES ........................................................ 191


7.1.1 Questes demogrficas, epidemiolgicas e sociais ................................................ 193
7.1.2 Questes poltico-econmicas ................................................................................ 194
7.1.3 Questes legais ...................................................................................................... 196
7.1.4 Hospitais modificados ............................................................................................ 196
7.2 ARQUITETURA E TECNOLOGIA: ASSINCRONISMOS ..................................... 201

8 INTERAO ARQUITETNICA COM OS AVANOS TECNOLGICOS 209

8.1 INTERNAO ....................................................................................................... 209


8.2 DIAGNSTICO E TRATAMENTO ........................................................................ 211
8.2.1 Radiologia .............................................................................................................. 214
8.2.2 Medicina Nuclear .................................................................................................... 216
8.2.3 Ressonncia Magntica .......................................................................................... 218
8.2.4 Laboratrios ........................................................................................................... 220
8.2.5 Radioterapia ........................................................................................................... 221
8.2.6 Cirurgia .................................................................................................................. 222
8.3 ENSINO E PESQUISA .......................................................................................... 226
8.4 APOIO ADMINISTRATIVO ................................................................................... 228
8.5 APOIO TCNICO E LOGSTICO .......................................................................... 228

9 ESTUDOS DE CASO 1: INSTITUTO DO CORAO 237

9.1 PAVIMENTO AB: TRANSFORMAES ENTRE 1976 E 2009 ........................... 237


9.1.1 Radiologia .............................................................................................................. 241
9.1.2 Laboratrio ............................................................................................................. 244
9.1.3 Ultrasonografia e Ecocardiografia ........................................................................... 246
9.1.4 Mtodos Grficos .................................................................................................... 248
9.1.5 Medicina Nuclear .................................................................................................... 251
9.1.6 Ressonncia Magntica .......................................................................................... 253
9.2 REAS DE INFRA-ESTRUTURA PREDIAL ........................................................ 255
9.3 CONCLUSES ..................................................................................................... 257
9.3.1 Reformas nas unidades de Imagenologia ................................................................ 257
9.3.2 Articulao das centrais e redes de infraestrutura ................................................... 259

10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN 263

10.1 4 PAVIMENTO: TRANSFORMAES ENTRE 1998 E 2009 ............................ 264


10.1.1 Radiologia .............................................................................................................. 269
10.1.2 Hemodinmica ........................................................................................................ 272
10.1.3 Laboratrio ............................................................................................................. 274
10.1.4 Medicina Nuclear .................................................................................................... 275
10.1.5 Mtodos Grficos .................................................................................................... 276
10.1.6 Ecocardiografia, Ultrasonografia e Endoscopia ....................................................... 277
10.2 SUBSOLO 1: TRANSFORMAES ENTRE 1998 E 2009 ................................. 280
10.2.1 Ressonncia Magntica .......................................................................................... 281
10.2.2 Centro de Simulao Realstica ............................................................................... 284
10.2.3 Infraestrutura Predial .............................................................................................. 285
10.3 CONCLUSES ..................................................................................................... 287

11 ESTUDO DE CASO 3: HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK BRASLIA 293

11.1 SUBSOLO 1: TRANSFORMAES ENTRE 1980 E 2007 ................................. 293


11.1.1 Radiologia .............................................................................................................. 296
11.1.2 Laboratrio ............................................................................................................. 298
11.1.3 Ressonncia Magntica e Medicina Nuclear ............................................................ 301
11.1.4 Centro Cirrgico ..................................................................................................... 303
11.2 SUBSOLO 2: TRANSFORMAES ENTRE 1980 E 2007 ................................. 305
11.2.1 Apoio Tcnico e Logstico ....................................................................................... 308
11.3 CONCLUSES ..................................................................................................... 311

12 CONCLUSES 317

12.1 SOBRE OS CASOS ESTUDADOS ...................................................................... 318


12.1.1 Diferenas .............................................................................................................. 320
12.1.2 Semelhanas .......................................................................................................... 321
12.2 SOBRE OS RUMOS DA ASSISTNCIA MDICO-HOSPITALAR ...................... 322
12.3 SOBRE A IMPORTNCIA DA FLEXIBILIDADE NA ARQUITETURA DOS
HOSPITAIS ........................................................................................................... 324
12.3.1 Flexibilidade no zoneamento funcional ................................................................... 326
12.3.2 Ampliao do conceito de modulao ..................................................................... 328
12.3.3 Planejamento estratgico de espaos tcnicos ....................................................... 329
12.3.4 Plano Diretor ........................................................................................................... 330
12.4 SOBRE A PRESENA DO ARQUITETO NOS HOSPITAIS ................................ 332
12.5 SOBRE A NECESSIDADE DE FUTURAS PESQUISAS ..................................... 334

13 BIBLIOGRAFIA 339

13.1 ENDEREOS ELETRNICOS ............................................................................. 346

14 ANEXOS 357

14.1 ANEXO 1 ............................................................................................................... 357


14.1.1 Programa Hill Burton ........................................................................................... 357
14.2 ANEXO 2 ............................................................................................................... 359
14.2.1 Tentativas de estandardizao do planejamento arquitetnico de edifcios
hospitalares na Gr-Bretanha do ps-guerra ........................................................... 359
14.2.1.1 Northwick Park Hospital ......................................................................................... 361
14.2.1.2 Greenwich Hospital ................................................................................................ 363
14.2.1.3 Hospitais Best Buy ................................................................................................ 365
14.2.1.4 Programa Nucleus ................................................................................................. 367
14.3 ANEXO 3 ............................................................................................................... 370
14.3.1 Tentativas de estandardizao do planejamento arquitetnico de edifcios
hospitalares no Brasil ............................................................................................. 370
14.3.1.1 Centro de Sade e Hospital Linha de Frente .......................................................... 370
14.3.1.2 Hospital Pr-fabricado Consrcio BDSL, Siemens, Servlease ................................. 371
14.3.1.3 Hospital Regional .................................................................................................. 372
14.3.1.4 Hospital da Cooperativa da Unimed Araras ........................................................... 373
14.3.1.5 Hospital Mnimo Ministrio da Sade ....................................................................... 373
14.3.1.6 Hospital Geral Padro do PMS ............................................................................... 374
1
INTRODUO
1 INTRODUO

1 INTRODUO

A pesquisa cujos resultados so aqui apresentados investigou a dinmica das


transformaes do edifcio hospitalar imposta pelos avanos tcnicos e cientficos.

A proposta do trabalho apoia-se na avaliao do processo de adaptao


arquitetnica dos hospitais face s mudanas fsicas e funcionais trazidas pelos
avanos da tecnologia na rea da sade.

Os hospitais, ou Estabelecimentos Assistenciais de Sade (EAS), evoluram muito


desde a sua origem. Seus edifcios passaram de tipologias cruciformes a
pavilhonares e sofreram uma srie de mudanas at chegarem s tipologias em
monobloco e mistas, fazendo hoje parte de um cenrio urbano tambm muito
modificado. Historicamente, estas transformaes arquitetnicas dos hospitais
demonstram forte vnculo com os avanos da cincia e da tecnologia. Como no
se pode duvidar, as transformaes do espao hospitalar estiveram apoiadas nas
prprias transformaes da medicina, assim como nas transformaes do
conhecimento. (SILVA, 2001)

Assim como houve o aperfeioamento cientfico e tecnolgico da medicina, houve o


aprimoramento tcnico-construtivo na construo, ambos impulsionados pelo
movimento iluminista no sculo XVIII, e principalmente pelo aquecimento da
indstria tanto no sculo XIX como no sculo XX. Verificou-se uma grande
acelerao no desenvolvimento industrial com o final da Segunda Guerra, quando
se acelera tambm a produo cientfica. A construo civil, de uma maneira geral,
foi afetada de diversas maneiras por estes acontecimentos, e os hospitais, pela sua
utilizao altamente especializada na rea da medicina e da engenharia clnica,
destacam-se por estarem entre os edifcios mais modificados.

Principalmente aps a segunda metade do sculo XX, a complexidade funcional


aumentou significativamente nas instituies de sade, onde a demanda
populacional por atendimento e a necessidade de equipamentos mdicos e
sistemas de infraestrutura mais refinados cresceram progressivamente. Este
processo, por sua vez, produziu muitas reformas e expanses em edificaes
hospitalares existentes, as quais nem sempre estiveram preparadas para
adaptaes to constantes e complicadas tecnicamente.

Atualmente, um edifcio destinado sade, dependendo do seu grau de


complexidade, possui uma srie de unidades e departamentos que so

31
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

interdependentes entre si e (...) possuem funes especializadas, portanto


necessitam de instalaes diferenciadas. E para que as funes e o
atendimento do estabelecimento possuam qualidade e exeram suas
atividades da melhor maneira, ele deve estar atualizado, ou seja, deve
acompanhar os progressos tcnicos, mdicos e administrativos.
(MARINELLI, 2003:100)

Reconhecendo nas instituies de sade contemporneas a inerncia da


complexidade espacial e funcional, bem como a dificuldade em manter a sua
integridade arquitetnica frente s adaptaes s quais se submete, esta pesquisa
vem refletir sobre o contnuo processo de transformao destes edifcios e sobre a
incorporao das variveis tecnolgicas como determinantes incontestveis na
atividade projetual. Deseja-se, portanto, alertar os arquitetos quanto inconstncia
destas variveis que desenham as edificaes hospitalares, esperando assim
contribuir ao aperfeioamento de futuros projetos desta natureza.

1.1 COLOCAO DO PROBLEMA

Representados antigamente por edificaes afastadas dos aglomerados urbanos e


destinadas principalmente ao isolamento dos doentes, os hospitais percorreram,
desde a sua origem, um longo caminho de transformaes arquitetnicas. Suas
construes estiveram durante sculos baseadas em preceitos religiosos e teorias
sobre a propagao das doenas, que dominaram a concepo tcnica e formal
dos seus edifcios. A preocupao maior no era com a cura do corpo, mas sim
com a cura da alma e com a proteo dos sadios. Com o tempo o desenvolvimento
da cincia mdica distanciou-se da Igreja e o paradigma para o tratamento das
doenas mudou, sendo que os edifcios hospitalares obrigatoriamente adaptaram-
se aos novos conceitos de cura, num processo que dura at hoje. O movimento
Iluminista foi o motor destes eventos, e a partir de ento a construo civil, tambm
como cincia alimentada pelo uso de elementos como o ao e o elevador,
aprimorou-se.

Durante o sculo XX, com o surgimento de novas tcnicas de assistncia sade e


da crescente difuso dos meios de comunicao, foi iniciado um perodo de
acelerao na construo de hospitais. Estes foram ento se adequando a tais
circunstncias e logo necessitaram de maior flexibilidade espacial para agregar um
crescente nmero de atividades, criadas a partir da descoberta de novas doenas,
novos tratamentos e novas tcnicas de diagnstico. Tais novidades demandaram

32
1 INTRODUO

reas novas e especializadas e, por isto, as instituies de sade passaram a


receber ateno especial no campo da arquitetura.

As atividades desenvolvidas nestes edifcios possuem uma dinmica


prpria que est sempre se modificando, evoluindo e agregando
conhecimento. Os avanos tecnolgicos na rea da sade que so
absorvidos e agregados, sejam nas tcnicas teraputicas ou na prpria
construo e manuteno do edifcio, tm provocado mudanas na forma
de se pensar e projetar esses edifcios. (MARINELLI, 2003:101)

Nos ltimos 50 anos, o desenvolvimento da eletrnica e suas incontveis


aplicaes na medicina exigiram respostas imediatas e continuadas dos edifcios
hospitalares. Nestes tornaram-se imprescindveis redes de instalaes especiais,
aptas a dar suporte ao arsenal tecnolgico e teraputico constantemente absorvido
na assistncia sade.

VISCONTI (1999) afirma que ...

... os rpidos avanos das cincias mdicas, dos mtodos de tratamento e


ainda as alteraes na populao atendida, a ampliao da demanda de
leitos e tratamentos, as novas tendncias em educao, pesquisa,
administrao e gerenciamento hospitalar, fazem com que os edifcios
hospitalares sofram contnuas adaptaes e ampliaes.

KARMAN (1994:25) completa, dizendo que ...

... cada vez mais o hospital se revela permanente canteiro de obras e


instituio espera de concluso; cada vez mais rapidamente alteraes,
inovaes, avanos tecnolgicos, mudanas, reformas e obras novas se
sucedem; equipamentos e instalaes so levados a substituies mais
frequentes; vida til dos produtos e a luta contra a obsolescncia fsica e
funcional tornam-se mais presentes, gerando necessidade de resposta, de
planejamento, de ao e de investimento cada vez mais geis.

Os edifcios hospitalares, porm, tm certa inrcia face s modificaes


necessrias, dado constiturem grandes investimentos. Essa inrcia pode ser maior
ou menor, dependendo do partido arquitetnico adotado. De outro lado, a atividade
mdico-hospitalar tem se caracterizado nos ltimos decnios pela intensidade e
velocidade com que inovaes tecnolgicas so introduzidas na forma de
equipamentos exigindo espaos e instalaes especiais.

O problema com que se defrontam os arquitetos envolvidos em projetos


hospitalares diz respeito criao de condies que permitam receber essas

33
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

inovaes sem que as modificaes necessrias sua introduo comprometam


de modo irremedivel a concepo arquitetnica original, os espaos projetados e a
esttica do edifcio. Alm disso, necessrio minimizar o impacto dessas
modificaes na operao do hospital.

Segundo VISCONTI (1999), a renovao dos edifcios hospitalares est


amplamente reconhecida como um dos principais problemas que os arquitetos tm
de enfrentar mais cedo ou mais tarde, pois envolve variveis tcnicas interligadas
(rede de instalaes hidrulicas, eltricas e fludo-mecnicas) e pode alterar as
relaes estabelecidas entre as vrias reas da instituio. Como coloca KOTAKA
(1992:7), se a reforma ou ampliao realizada pensando somente em
determinado setor do hospital, pode prejudicar outros setores, interferindo no
funcionamento do conjunto. As reformas, portanto, devem ocorrer com o mnimo
de transtorno possvel para o funcionamento do hospital, exigindo flexibilidade tanto
na alterao do uso quanto na introduo de novas instalaes e equipamentos.

Principalmente a partir da dcada de 1960, acelerou-se o aperfeioamento tcnico


e cientfico na medicina, fato que despejou nos hospitais uma srie de
necessidades arquitetnicas. Segundo ROSENFIELD (1969), os seus edifcios
sofreram grande adensamento, dificultando a sua gesto. Custos de trabalho se
tornam proibitivos e padres de circulao evoluram para labirintos. Rosenfield
chamou estes casos de hospitais espaguete, os apontado como um dos maiores
desafios no planejamento hospitalar.

Com tantas interferncias, as intervenes nos espaos hospitalares se tornaram


cada vez mais numerosas e constantes, lentamente alterando a estrutura formal e
funcional dos edifcios. Neste processo, MIQUELIN (1992) comenta que passaram
a ser recorrentes afirmaes de que o hospital tornou-se a instituio mais dinmica
da sociedade contempornea.

Comenta-se tambm que as mais rpidas solues dadas aos ambientes


hospitalares para a sua modificao e/ou renovao ameaam a prpria
integridade e perenidade do espao arquitetnico tradicional1, e que ao invs de
preconizarem um espao determinante e organizado, podem incentivar a gradual
fragmentao das reas de circulao e das unidades funcionais (por exemplo:

1
GIACOMO, 1994:52.

34
1 INTRODUO

uma unidade funcional com salas espalhadas pelo prdio em locais distantes uns
dos outros). Este processo costuma levar, por sua vez, a alteraes nas relaes
funcionais da instituio, aumentando as distncias e a utilizao dos sinais visuais
de informaes.

Alm das variveis cientficas e tecnolgicas atuando sobre as modificaes nos


edifcios hospitalares, h ainda a incerteza e a descontinuidade da poltica de
investimentos dos Governos, que afeta os hospitais pblicos. Estes so, em grande
parte, levados realizao de pequenas reformas, ampliaes e mudanas de
layout, descaracterizando o seu plano diretor original, causando enormes prejuzos
ao seu fluxo operacional e prpria estrutura predial em si. (BARATA, 2003, apud
SILVA, s/d:1)

Diante das possveis implicaes das alteraes espaciais na prpria estrutura


funcional da edificao hospitalar, faz-se certa a necessidade de uma contribuio
da pesquisa cientfica para a anlise deste fenmeno. Conscientizao,
aprimoramento e mais pesquisas muito contribuiro para minimizar o empirismo e o
subjetivismo presentes em planejamento hospitalar. (KARMAN, 2003)

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Geral

O objetivo geral desta pesquisa investigar o impacto das frequentes inovaes


tecnolgicas na medicina sobre o edifcio hospitalar, buscando apresentar
concepes arquitetnicas que permitam a incorporao dessas inovaes de
modo menos impactante tanto para o edifcio como para a sua operao.

1.2.2 Especficos

A pesquisa foi lanada na tentativa de encontrar relaes concretas entre a


inovao tecnolgica nos hospitais e as suas transformaes arquitetnicas. Foi
estudada a evoluo da tecnologia e a maneira como ela tem atuado nos edifcios,
bem como os exemplos encontrados que exemplificam a sua influncia sobre a
arquitetura. Desta forma pretende-se verificar as alteraes espaciais que
acompanharam esta evoluo e identificar as reas dos hospitais que mais
sofreram mudanas durante o processo.

35
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Pretende-se ainda demonstrar os aspectos favorveis e desfavorveis de uma


configurao espacial intensamente modificada pela tecnologia, apontando
caminhos para projetos mais flexveis.

1.3 PRESSUPOSTOS DA PESQUISA

Estando prxima ao cenrio de reformas e expanses no qual est envolvido o


Instituto do Corao (InCor), a autora desta dissertao acompanhou um processo
de planejamento complexo e difcil de ser gerenciado. Foram percebidas vrias
interferncias no projeto que fogem ao controle do arquiteto, acerca do voltil
programa de necessidades, do extenso nmero de clientes e, sobretudo, do
elevado nvel de especificidades tcnicas envolvidas. Notou-se que as reformas
eram constantes e que ocorriam ao mesmo tempo em vrios locais do edifcio, no
havendo um momento em que o hospital no estivesse em obras.

Ciente desta situao, no demorou muito para que a ela fossem atribudos muitos
dos labirintos existentes neste hospital, principalmente no pavimento do
Ambulatrio, onde esto as atividades de diagnstico por imagem da instituio. L
ficou visualmente flagrante que o nmero de reformas foi extenso, e que muitos
puxadinhos foram construdos como medidas emergenciais. A pesquisa surgiu
quando se decidiu procurar a causa desta configurao arquitetnica contingente.

Agregando experincia no InCor, pesquisa bibliogrfica e s informaes


absorvidas pelos depoimentos de alguns profissionais da rea hospitalar, formou-se
a hiptese de que a necessidade principal por trs destas reformas seria de ordem
tecnolgica. Pressups-se, portanto, que a incorporao de equipamentos e
procedimentos de alta tecnologia seja a causa de muitas das reformas ocorridas
dentro de hospitais existentes, alterando e impactando a sua estrutura fsica e
funcional.

Como ser visto ao longo dessa dissertao, as unidades de diagnstico e


tratamento so reconhecidas entre as que mais incorporaram novidades em
tecnologias mdico-hospitalares, especialmente considerando o intenso e recente
processo de inovao dos equipamentos de medicina preventiva. Por isso,
pressupe-se tambm que nestas reas ocorra a maior parte das transformaes
arquitetnicas vinculadas incorporao de avanos tecnolgicos.

36
1 INTRODUO

1.4 O OBJETO DA INVESTIGAO

O objeto desta investigao formado pelas adequaes impostas aos edifcios


hospitalares pelas inovaes tecnolgicas na medicina. Como objetos concretos
foram utilizados trs hospitais: o Instituto do Corao (InCor) e o Hospital Israelita
Albert Einstein (HIAE), em So Paulo, e o Hospital de Doenas do Aparelho
Locomotor Sarah Kubitschek (HDAL) em Braslia o primeiro da Rede de Hospitais
de Reabilitao Sarah Kubitscheck.

1.4.1 Os Objetos Concretos

Para investigar a problemtica exposta neste trabalho, foram escolhidos alguns


casos representativos. Foram analisados trs hospitais brasileiros onde a inovao
tcnica tem sido especialmente responsvel pelas transformaes arquitetnicas. A
escolha destes edifcios foi motivada ora pelos seus elevados ndices de renovao
tecnolgica, como o caso dos dois exemplos paulistanos, ora pela conceituao
tecnolgica do prprio projeto, como o caso do hospital brasiliense.

O Hospital Sarah, com quase 30 anos de funcionamento, possui assistncia


considerada de ponta no tratamento do aparelho locomotor, enquanto o Instituto do
Corao e o Hospital Albert Einstein, com seus respectivos 33 e 40 anos de
histria, esto entre as melhores instituies de sade do pas. Todos os trs
edifcios, pelo seu pioneirismo na aplicao dos avanos da medicina brasileira,
vivenciaram o processo de atualizao tecnolgica, demonstrando o seu impacto
sobre as transformaes arquitetnicas atravs de muitas reformas e ampliaes.

No intuito de realizar uma investigao mais aproximada e factual do processo de


transformao arquitetnica vinculada s variveis tecnolgicas, optou-se por
analisar, em todos os trs estudos de caso, as transformaes das reas do edifcio
onde se concentra o maior nmero de atividades com intenso uso e renovao de
tecnologia (equipamentos e instalaes). Por este motivo as anlises se
concentraram nos pavimentos com o maior nmero de atividades de diagnstico e
tratamento, incluindo quando possvel a anlise das reas onde h concentrao de
infraestrutura predial.

37
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

1.4.1.1 Instituto do Corao

O Instituto do Corao um hospital pblico especializado no tratamento, ensino e


pesquisa de doenas cardacas. Fazendo parte do complexo do Hospital das
Clnicas de So Paulo (Figura 1.01), este hospital oferece assistncia
predominantemente vinculada ao SUS (75% do atendimento total de pacientes), e
est intimamente ligado Faculdade de Medicina da USP, mantendo dentro das
suas instalaes espao para o ensino e, principalmente, para a pesquisa. Est
entre os mais prestigiados hospitais do pas, h muito contribuindo com importantes
avanos cientficos.

Figura 1.01: Complexo do Hospital das Clnicas com a localizao do InCor


Fonte: Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo.

Com quase 33 anos de funcionamento, o InCor (Figuras 1.02 e 1.03) abriu suas
portas em 1977 com menos da metade de sua rea atual, chegando hoje a 75 mil
m que envolvem Bloco I (30 mil m) e Bloco II (45 mil m). Com um setor prprio
responsvel pela arquitetura do edifcio, est constantemente expandindo-se e
alterando-se, convivendo com as dificuldades de sofrer modificaes estando em
atividade 24 horas por dia, todos os dias da semana.

Segundo VISCONTI (2000), este hospital era chamado inicialmente de Instituto de


Doenas Cardiopulmonares, e seu projeto inicial possua 255 leitos, com um
terreno de 3.100 m. Considerado pequeno para este tipo de edificao, o terreno
foi totalmente ocupado e, para compensar este fato, o projeto colocou trs nveis de
praas secas no prdio (Trreo/Praa + 4 e 6 pavimentos). Hoje, aps uma srie
de reformas e significativas expanses, a instituio j ocupou a maioria destas
praas. Com aproximadamente 500 leitos, o InCor possui hoje um conjunto
edificado constitudo por dois blocos principais (Blocos I e II) e trs edificaes

38
1 INTRODUO

anexas, sendo que uma delas, o Anexo III, ainda no est concluda.

O InCor foi a oitava instituio a ser construda no complexo do Hospital das


Clnicas e o seu projeto foi, segundo Visconti, elaborado em 1967 por uma equipe
de tcnicos do extinto Departamento de Edifcios e Obras Pblicas do Estado de
So Paulo (DOP), composta pelos arquitetos Maria Giselda Cardoso Visconti, Maria
Mrcia Barbosa e Nelson Daruj, em 1967. A construo durou de 1969 at 1974, e
nesta ocasio o hospital contava apenas com o Bloco I (Figura 1.02).

Figura 1.02: Bloco I do InCor em 1975. Figura 1.03: Conjunto de edifcios do InCor em 2000.
Fonte: Departamento de Fonte: Departamento de Documentao Cientfica do InCor.
Documentao Cientfica InCor.

Figura 1.04: Implantao atual do InCor.


Fonte: Departamento de Arquitetura InCor.

Entre a concluso da obra do Bloco I e o seu efetivo funcionamento houve um


perodo em que apesar da existncia do prdio, de muitos equipamentos, de
profissionais e de vrios manuais, a organizao no funcionava porque nunca
havia sido projetado o seu fluxo financeiro (STEUER, 1997:47). Ou seja, o hospital
estava pronto em 1975, mas no possua dinheiro para funcionar, dinheiro este que
era proveniente do Estado. A partir deste problema surgiu a necessidade da criao
de uma fonte financeira alternativa que culminou na criao da Fundao Zerbini,

39
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

ainda hoje co-mantenedora da Instituio. Segundo Steuer, os registros em relao


ao incio das atividades do Bloco I so imprecisos, suspeitando-se que o
atendimento efetivo de pacientes tenha comeado em 1977.

De acordo com um artigo de 1974 do jornal Folha de So Paulo (apud STEUER,


1997) o Bloco I do InCor foi a obra mais cara em toda a histria do Departamento
de Obras Pblicas (DOP).

Ao prdio do Bloco I foi dada uma soluo vertical frente ao terreno disponvel e
grande declividade. Este fato induziu existncia dos trs nveis de acesso
presentes na edificao: Praa (atravs de grande rampa), Ambulatrio (pavimento
semi-enterrado) e entrada de servios (subsolo). Desde a sua abertura o Bloco I j
demonstrou necessidade de ampliao, o que deu incio ao desenvolvimento do
projeto do Bloco II.

Foi nos anos 1980 que se tornou necessrio expandir alm do lote original. Por esta
razo, o arquiteto Nelson Daruj, que coordenava a equipe de arquitetura do
Hospital, iniciou o projeto do que hoje o Bloco II. Este, que era para ser apenas
uma edificao complementar ao Bloco I, ganhou grande proporo ao assumir
uma rea superior do primeiro edifcio. Ocupou inteiramente o terreno disponvel,
que foi cedido pelo hospital vizinho Emlio Ribas.

A construo do Bloco II comeou em 1988 e 95% do prdio foi finalizado em 2000.


Nesta poca Daruj pde contar com uma equipe que est at hoje integrada
estrutura funcional do Hospital, contando com a colaborao do arquiteto Henrique
Jatene. Este, por sua vez, hoje o responsvel pelos projetos e obras do InCor.

As obras do Bloco II vieram ao encontro de uma proposta que preconizou a criao


de espaos para administrao e laboratrios de pesquisa, buscando a liberao de
espao no Bloco I para o atendimento de pacientes. A proposta inicial era de
apenas 90 leitos no Bloco II, sendo que hoje existem 112.

O Bloco I possui 11 pavimentos no total, sendo que destes, um subsolo, um


semienterrado e um a chamada Praa, que tem p-direito duplo e o acesso
principal ao hospital. Os outros andares vo do 1 ao 8 pavimentos e constituem a
poro mais alta da edificao, com reas menores e organizao espacial mais
simples.

O Bloco II, cujas fachadas moduladas so diferentes das do Bloco I, acompanha

40
1 INTRODUO

todos os nveis desta edificao, porm com mais pavimentos: 9 e 10 pavimentos


com laboratrios de pesquisa e quatro subsolos de estacionamento.

Figura 1.05: Corte longitudinal do complexo atual do InCor.


Fonte: Departamento de Documentao Cientfica do InCor.

Analisando suas mais significativas modificaes e expanses, podem ser


identificadas no desenvolvimento do InCor trs grandes fases: construo inicial do
Bloco I, construo do Bloco II (e seus trs edifcios anexos) e renovao e
expanso de vrias reas do Bloco I. Esta terceira fase trata de um perodo onde
foram realizadas grandes reformas como as dos 4, 5 e 6 pavimentos do Bloco I,
e onde ainda esto sendo elaborados muitos projetos. Para dar continuidade fase
de renovao do Hospital, est sendo planejada, por exemplo, a reforma e
ampliao do Pronto Socorro e do 1 pavimento do Bloco I. So muito comuns as
obras envolvendo a troca e a adio de equipamentos de diagnstico, como
veremos no Captulo 9.

41
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

1.4.1.2 Hospital Israelita Albert Einstein

O Hospital Israelita Albert Einstein um hospital geral e de carter filantrpico


privado. Comeou a ser construdo em 1958 e iniciou suas atividades no final da
dcada de 1960, sendo oficialmente inaugurado em 1971.

O conjunto de edifcios do HIAE foi construdo em quatro etapas at chegar ao que


hoje, prevendo ainda futuras ampliaes. A etapa inicial foi projetada nos anos
1950 e concluda na segunda metade dos anos 1960. A segunda foi inaugurada em
1982, a terceira em 1996 e a quarta em 2009, com a construo da sua primeira
parte. Alm do crescimento do edifcio original, as expanses do HIAE ainda
extrapolaram os limites territoriais, na medida em que foram criadas em 1999 duas
unidades satlites da instituio. Uma foi construda em Alphaville e outra no bairro
Jardim Paulista, com o intuito de realizar atendimento ambulatorial e de diagnstico.
Em 2002 foram construdos, tambm em So Paulo, o Centro de Transplantes e o
novo prdio da Faculdade e Escola de Enfermagem, localizados na Av. Brasil e na
Av. Francisco Morato, respectivamente. Nesta pesquisa, porm, ser estudado
somente o conjunto de edifcios principal do HIAE, situado no bairro Morumbi e
identificado como Complexo do Morumbi (Figura 1.06).

Figura 1.06: Imagem atual do Complexo do HIAE


Fonte: MELENDEZ, 2009

A evoluo arquitetnica do Complexo do Morumbi incluiu uma srie de reformas


internas e prdios anexos aos edifcios principais, utilizando o plano diretor como
ferramenta norteadora. As ampliaes se deram na medida em que foram sendo
adquiridos os lotes adjacentes, sendo que em vrios momentos foram incorporadas
as ruas existentes entre os terrenos. O primeiro edifcio foi construdo com base no
projeto do arquiteto Rino Levi, vencedor de um concurso fechado organizado pelo
Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) em 1958. Este edifcio foi concebido a partir

42
1 INTRODUO

de fortes conceitos modernistas, valorizando uma arquitetura funcionalista e de


volumetria racionalista.

Idealizado como uma unidade autnoma, o projeto original de Rino Levi2 seguiu a
tipologia base e torre, apostando em dois volumes articulados em T. O edifcio
construdo (atual Edifcio Manoel Tabacow Hidal ou Bloco D), porm, abandonou
esta volumetria, consolidando-se em um bloco nico (Figura 1.07). Neste, os sete
pavimentos mais altos eram ocupados por reas de internao, enquanto nos trs
primeiros pavimentos e dois subsolos havia reas de ambulatrio, laboratrios,
administrao, centro cirrgico, partos e servios de apoio.

A primeira necessidade de expanso


veio na dcada de 1970, logo aps a
inaugurao oficial do HIAE. Nesta
poca foi elaborado um plano diretor
para ordenar esta e as futuras etapas
de ampliao do hospital. O segundo
edifcio (Figura 1.08) foi chamado de
Centro Mdico de Diagnstico e
Tratamento (atual Bloco BC) e foi
inaugurado em 1982 para ampliar as
reas de exames de diagnstico e criar Figura 1.07: Imagem do primeiro edifcio
construdo do Complexo do Morumbi do HIAE.
reas para consultrios mdicos. Tirou Fonte: HIAE, 1966.

partido da declividade do terreno alinhando-se ao embasamento do prdio anterior,


e apesar da incompatibilidade entre ps-direitos originada pelas novas dimenses
dos forros (necessidade de mais espao para instalaes), o edifcio novo e o
antigo se conectaram por um volume de rampas, que permitiram a continuidade dos
fluxos e a integrao funcional entre as duas partes.

O volume deste segundo edifcio organizou-se em torno de um ptio central e foi


projetado pelos arquitetos Jarbas Karman, Domingos Fiorentini e Jorge Wilheim.
Seguiu um plano diretor que previa transform-lo na rea de entrada principal do
hospital, uma vez que fosse concluda a sua terceira etapa de ampliao, como de
fato ocorreu.

2
Rino Levi faleceu durante a construo do HIAE, em 1965.

43
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

A terceira etapa de ampliao do


hospital (Figuras 1.09 e 1.10) ocorreu
em seguida. Projetada a partir de 1993
pela equipe de Wilheim, Karman e
Fiorentini, o edifcio (Edifcio Jozef
Fehr ou Bloco A) foi concludo em
1996 com 17 pavimentos e um subsolo
Figura 1.08: Imagem atual do Bloco BC, primeira
assentado no ponto mais baixo do ampliao do HIAE e atual entrada do Hospital.
Fonte: Acervo da autora.

terreno, sendo ocupados por unidades de internao (sete ltimos pavimentos),


terapia intensiva (10 pavimento), hemoterapia (9 pavimento) e consultrios
mdicos (8 e parte do 4 pavimento). Garantiu-se nesta expanso a conexo e a
integrao funcional com as outras partes do hospital, atravs do alinhamento
horizontal entre elas e do eixo central de circulao. Este foi destinado circulao
exclusiva de funcionrios e pacientes internos.

Figura 1.10: Construo do Bloco A, em 1989, ao lado do


Bloco BC ( esquerda).
Fonte: Acervo do Centro Histrico da SBIBAE.

Figura 1.09: Construo do Bloco A,


em 1989.
Fonte: Acervo do Centro Histrico
da SBIBAE3. Figura 1.11: Vista do Complexo do Morumbi
do HIAE, em 1990.
Fonte: Acervo do Centro Histrico da SBIBAE.

3
SBIBAE: Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.

44
1 INTRODUO

Alm destas trs etapas de construo do HIAE, acaba de ser concluda a


construo de parte de sua quarta ampliao, com o primeiro de cinco novos
edifcios planejados para o complexo. O projeto da equipe do escritrio Kahn do
Brasil e pretende criar novas reas de apoio ao paciente externo e de apoio
logstico, liberando espao nas edificaes anteriores para novos usos. Segundo
Arthur Brito, arquiteto responsvel pelas obras, foi elaborado um novo plano diretor
para o futuro crescimento do hospital.

O Plano Diretor est horizontalizando o hospital, para atender demanda


de pacientes com perfis especficos, como cardiolgico, ortopdico,
neurolgico, oncolgico, cirrgico, transplantado, etc. e integrando as
equipes que atendem a este paciente. (...) Alm de reformas em quase toda
a rea construda, em um horizonte de oito a dez anos, o Plano Diretor
prescreveu mais cinco edifcios para reorganizar o campus. (BRITO,
2009)4

O primeiro edifcio desta quarta ampliao (Pavilho Vicky e Joseph Safra, ou


Centro de Medicina Ambulatorial ou Bloco A1 Figura 1.12) est pronto e prioriza
o atendimento do paciente externo, criando para ele um espao mais afastado do

corpo do hospital e de seus fluxos internos


(pacientes internados, funcionrios e transporte de
suprimentos). Para este edifcio esto previstas
reas de consultrios, centro cirrgico de baixa
complexidade, diagnstico e internao
ambulatorial. Os consultrios, por sua vez,
permitiro a liberao de rea no edifcio da primeira
etapa do HIAE, onde ser ampliado o nmero de
leitos de internao. Para estabelecer uma conexo
direta com o Bloco A, foram projetadas neste novo
edifcio passarelas, localizadas nos seus ltimos
seis pavimentos. Os seus pavimentos inferiores
dispensam esta ligao por estarem ocupadas pelas
Figura 1.12: Edifcio 1 da nova fase atividades de atendimento do paciente externo e
de ampliao (Bloco A1).
Fonte: MELENDEZ, 2009 pelas reas de estacionamento.

4
Trecho do Memorial Descritivo do Plano Diretor do HIAE.

45
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

O Pavilho Vicky e Joseph Safra o primeiro edifcio a ser implantado a


partir do atual plano diretor para ampliao e reforma das instalaes do
Einstein no bairro do Morumbi. (...) Essa proposta trabalha com um
horizonte entre oito e dez anos e prev a construo de cinco edificaes.
(...) Para aprimorar o atendimento das especialidades mdicas, adotou-se a
horizontalizao das atividades, conceito que, segundo o arquiteto (Arthur
Brito), integra as equipes, minimiza o nmero de funcionrios assistenciais
com os quais o paciente interage e reduz as chances de erro mdico.
(MELENDEZ, 2009)

Edifcio 1: Bloco A1
(Pavilho Vicky e Joseph Safra)

Figura 1.13: Maquete fsica de toda a quarta fase de ampliao do HIAE.


Fonte: Practica Maquetes.

Edifcio 2

Edifcio 3

Figura 1.14: Maquete fsica da futura ampliao do HIAE


Fonte: Practica Maquetes.

O novo Bloco A1, segundo o relato de Brito em entrevista a Melendez, ...

... destinado a pacientes que necessitam de tratamentos mais simples,


apartados daqueles que demandam procedimentos complexos. Ele
conectado ao prdio projetado por Karman, Fiorentini e Wilheim por uma
passarela de pavimento nico e por um edifcio-passarela de seis andares.
(...) A passarela reorganiza os padres de circulao do hospital e leva
visitas, acompanhantes e pacientes do ambulatrio a transitar junto

46
1 INTRODUO

fachada frontal do complexo. Isso melhora a orientao do visitante e


diminui sua ansiedade, comenta o autor. (MELENDEZ, 2009)

Figuras 1.15 e 1.16: Implantao e corte gerais do Complexo do HIAE,


incluindo os edifcios previstos para o futuro.
Fonte: Acervo Kahn do Brasil.

O segundo edifcio da quarta etapa (Edifcio 2) est projetado para ocupar o espao
existente entre os dois edifcios mais altos do Hospital (Blocos A e D), preenchendo
o atual Ptio de Servios com um volume de cinco pavimentos e um subsolo. O
Edifcio 2 se integrar aos edifcios existentes para configurar uma unidade de
assistncia de alta complexidade integrada, aproximando Unidade de Pronto

47
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Atendimento (Emergncia), Centro Cirrgico, Unidade de Terapia Intensiva e


Recursos Diagnsticos de Alta Tecnologia5. Com este agrupamento se adensaro
algumas das atividades com maior demanda de infraestrutura predial do HIAE.

O terceiro edifcio (Edifcio 3), em fase de construo, est ligado ao apoio logstico
da edificao, unificando e camuflando as reas de carga e descarga, acesso de
funcionrios e velrios. Formada por um conjunto de volumes baixos, est situada
na parte mais alta do terreno, logo a frente do Bloco D. Alm destes trs edifcios foi
planejado o Auditrio Moise Safra, que est sendo construdo no local da antiga
creche, e um volume de passarelas (Edifcio 5), que liga o Bloco A (existente) e o
novo Bloco A1 (Edifcio 1).

Quadro 01: Os nmeros do crescimento do HIAE com o mais recente plano de expanso

Hoje Expanso
rea 86 mil m 229 mil m
Leitos 489 720
Salas de cirurgia 28 40
Consultrios 100 250
Leitos de pronto atendimento 10 59
Vagas no estacionamento 1.250 4.000
Assentos no auditrio 200 500
Salas de aula 4 12

Fonte: Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.

Em cada etapa de ampliao do Complexo Hospitalar do HIAE estiveram presentes


tambm renovaes dos edifcios anteriores, que com o tempo tiveram que ser
adaptados s novas necessidades da Instituio. Em 1984 ocorreu uma
reformulao completa das instalaes da Maternidade (Bloco A), melhorando o
padro de hotelaria do hospital. No mesmo ano foi inaugurada uma nova ala, no 7
andar, com apartamentos equipados com ar condicionado, televiso e geladeira.

Segundo entrevista com o arquiteto Domingos Fiorentini, durante a dcada de 1990


foram realizadas no Bloco D obras de renovao nos quartos de internao, que
foram transformados em enfermarias de maternidade e consultrios mdicos
(Figura 1.17). Para isto, o espao dos quartos originais foi ampliado em 60 cm,
deslocando e reformulando as fachadas do edifcio. O embasamento deste prdio
mais antigo tambm foi expandido nesta poca, aumentando bastante as reas do
centro cirrgico no 5 pavimento, e do laboratrio no 4 (Figura 1.17). Em 1998 a

5
Idem.

48
1 INTRODUO

rea de entrada do edifcio foi requalificada com uma grande marquise em estrutura
metlica, cujo projeto do arquiteto Siegbert Zanettini.

Figura 1.17: Esquema das obras de renovao do Bloco A do HIAE, em 1999.


Fonte: Revista Construo So Paulo no 2671, abril de 1999:13.

Mais tarde, o vo entre o Bloco BC e o Bloco A foi fechado por uma cobertura,
transformando a rea em um grande trio. (Figura 1.18). Em meados dos anos
2000 foi construdo um volume de ligao entre os Blocos C e D (Figura 1.19),
separando mais o fluxo de pacientes internos e externos.

Figura 1.18: trio entre os Bloco A e B, que Figura 1.19: Volume anexo de ligao
era antes uma rea externa. entre os Blocos C e D.
Fonte: Revista Construo no 2486, 1995. Fonte: Acervo do Centro Histrico da SBIBAE.

49
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

1.4.1.3 Hospital Sarah Kubitschek Braslia

O Hospital de Doenas do Aparelho Locomotor Sarah Kubitschek de Braslia


(HDAL) a instituio que deu origem Rede Sarah de Hospitais de Reabilitao6,
hoje com nove unidades. Alm das de Braslia (o HDAL e o Centro Internacional de
Neurocincias e Reabilitao), existem as unidades de Salvador, So Lus, Belo
Horizonte, Fortaleza, Rio de Janeiro, Macap e Belm. Cada hospital da Rede
representa um espao para reproduo e aperfeioamento dos princpios, conceitos
e tcnicas consolidados ao longo do tempo pelo Sarah-Braslia.7

Os hospitais da Rede caracterizam-se por uma cuidadosa integrao de


sua concepo arquitetnica aos princpios de organizao do trabalho e
aos diferentes programas de reabilitao, definidos conforme os indicadores
epidemiolgicos da regio em que cada unidade est inserida. Dessa
integrao resultam, por exemplo, os amplos espaos dos hospitais
SARAH, com seus solrios e jardins, buscando sempre a humanizao do
ambiente hospitalar e as enfermarias coletivas, com o sistema de
assistncia progressiva com aproveitamento timo dos recursos
8
disponveis..

O HDAL (ou Sarah Centro) foi projetado pelo arquiteto Joo Filgueiras Lima (Lel) a
partir de 1976 em um terreno onde j havia o Centro de Reabilitao Sarah
Kubitschek. Este, projetado na dcada de 1960 por Glauco Campello, foi construdo
a partir da iniciativa da Fundao das Pioneiras Sociais, criada em 1960.9

De acordo com MINIOLI (2007:5), em 1968 o Dr. Aloysio Campos da Paz Junior
assumiu a presidncia desta Fundao e a direo do Centro de Reabilitao. Num
processo de organizao do trabalho mdico e racionalizao administrativa da
instituio, surgiu o desejo de transform-la em um hospital cirrgico com 66 leitos
e um centro de pesquisa com produo cientfica e formao de recursos humanos.
Com a necessidade flagrante de uma nova estrutura fsica para colocar este plano
em prtica, em 1975 foram iniciados por Campos da Paz, Lel e Eduardo Kertsz
(ento coordenador dos Programas de Sade do Ministrio do Planejamento),
esboos para o novo projeto.

6
Ver Captulo 4, item 4.3.
7
Rede Sarah de Hospitais de Reabilitao. Disponvel em: <www.sarah.br>
8
Idem.
9
MINIOLI, 2007:5.

50
1 INTRODUO

Os edifcios existentes estavam em boas condies (segundo Lel era um timo


projeto) e tiveram utilidade na nova proposta aps serem reformados. Assim, o
arquiteto concentrou o programa na rea livre do terreno, onde existia uma grande
rea de estacionamento.

O Hospital foi inaugurado em 1980 e no ano seguinte consolidou-se como Centro


Nacional de Formao de Recursos Humanos e produtor de equipamentos
hospitalares especializados. A Rede Sarah, com suas outras unidades, passou a
existir em 1987.

Segundo Lel (apud MINIOLI, 2007:5), a questo bsica na elaborao do


programa do Hospital do Aparelho Locomotor de Braslia era a criao de
ambientes adequados recuperao dos pacientes imobilizados em seus leitos
hospitalares.

MINIOLI (2007:5) completa, dizendo que neste projeto ...

... visava-se criar um ambiente hospitalar que estimulasse a reintegrao


do paciente sociedade, incluindo extensas reas verdes dentro do
complexo e reas para atividades sociais e culturais. Para atender a essas
premissas, que inclua a total mobilidade do paciente entre os trs estgios,
e tambm nas atividades cotidianas de recuperao, foi projetada uma
cama hospitalar leve e gil denominada cama-maca, assim como o
desenvolvimento de outros equipamentos.

Figuras 1.20: Estudo de implantao de Lel para o Hospital Sarah Braslia.


Fonte: MINIOLI, 2007:13.

51
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Segundo MINIOLI (2007:7), os princpios gerais definidos e seguidos por Lel no


projeto deste hospital foram:

A interligao com o prdio existente, unificando o conjunto hospitalar


(infraestrutura, arquivo mdico, setor de marcao de consultas, servios
tcnicos);

A criao de espaos verdes, como complementao teraputica;

A urbanizao da rea, com o remanejamento do prdio existente e uma


reformulao dos acessos;

A iluminao natural e o conforto trmico dos ambientes, com a adoo de


sistemas de iluminao e ventilao naturais simples e adequados ao clima de
Braslia, onde no se justifica o emprego generalizado de sistemas de ar
condicionado;

A flexibilidade e a expansibilidade da construo, com base na utilizao de


tcnicas e equipamentos que a tecnologia modifica a cada dia;

A flexibilidade das instalaes com o emprego de tubulaes visitveis, de fcil


acesso e, por conseguinte, com a utilizao flexvel dos espaos internos,
permitindo que cada setor do hospital se mantenha atualizado com relao s
inovaes que a tecnologia proporciona;

A rigorosa padronizao de elementos da construo (estrutura pr-fabricada,


vedaes, divisrias, equipamentos fixos e mveis, luminrias, etc.), com a
reduo de custos da obra e a facilitao das rotinas administrativas e da
manuteno do edifcio.

Para colocar em prtica as trs ltimas premissas, foram estabelecidos eixos muito
claros no edifcio, os quais guiariam a organizao das suas atividades, a
distribuio dos seus fluxos e o direcionamento das suas futuras expanses. O eixo
transversal dos edifcios existentes foi prolongado, tornando-se o principal eixo de
circulao nos nveis do trreo e dos subsolos (Figura 1.21). Todos os setores
ficaram localizados direita e esquerda desse eixo, de forma que pudessem ser
ampliados independentemente das outras reas (Figura 1.22) e respeitar a
modulao de 1,15 x 1,15 m. Da mesma forma, o bloco de internao foi disposto
paralelamente aos blocos existentes, podendo ser ampliado na direo norte-sul, e
tendo insolao na direo leste-oeste. (MINIOLI, 2007:14)

52
1 INTRODUO

Figuras 1.21 e 1.22: Implantao do HDAL com o eixo principal


de circulao e os vetores de expanso do edifcio.
Fonte: MINIOLI, 2007:12 e14.

Figura 1.23: Esquema de circulaes do HDAL: Eixo transversal principal no trreo, e indicao dos
percursos para os outros pavimentos.
Fonte: MINIOLI, 2007:14.

Figura 1.24: Esquema funcional do HDAL.


Fonte: MINIOLI, 2007:13.

53
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

A organizao funcional do edifcio (Figura 1.24) muito clara, com as reas de


internao na parte vertical e o Ambulatrio e Servios Gerais na parte horizontal.
Ou seja, ficaram na base as reas mais complexas, que demandam maior
concentrao de infraestrutura e mais espao para futuras reformas e ampliaes.

As alteraes destas reas, por sua vez, j ocorreram mesmo no desenvolvimento


do projeto, com aumento de rea e deslocamentos. Muitas das ampliaes
previstas no anteprojeto para serem realizadas aps a construo do Hospital,
foram praticamente realizadas j em fase de projeto executivo.

Figuras 1.25 e 1.26: Planta de implantao e corte do Hospital Sarah Braslia (em 2007).
Fonte: MINIOLI, 2007:12.

Aps a construo do HDAL, o trreo permaneceu do mesmo tamanho e o setor de


servios tcnicos do S1 continuou sendo ampliado na direo sul. Segundo
MINIOLI (2007:20), ...

54
1 INTRODUO

... foram acrescidos mais 22 mdulos, sendo necessrio continuar o


crescimento perpendicularmente, na direo oeste. (...) Em funo das
ampliaes do edifcio, as vias de acesso foram movidas cada vez mais
para o limite do lote. (...) Em funo do limite do terreno a ampliaes, Lel
projetou uma unidade de reabilitao em outro terreno, o Sarah Lago Norte,
que funciona como uma extenso do Sarah Centro.

Com o crescimento da demanda por estacionamento, a sua rea tambm foi


ampliada com dois nveis subterrneos de garagem.

Figura 1.27: Imagem atual do conjunto de edifcios do HDAL.


Fonte: MINIOLI, 2007:12.

No projeto do Hospital Sarah Braslia, bem como nas instituies que o seguiram,
os ambientes foram preparados para os pacientes das diversas especialidades
mdicas e teraputicas, com piscinas, ginsios para fisioterapia, unidades de
exames complementares ao diagnstico, blocos de servios operacionais, entre
vrios outros espaos. Contudo, segundo LIMA (1999:16), nesse projeto no foi
possvel explorar convenientemente as tcnicas de terapia ao ar livre, pois o prdio
foi implantado na rea urbana de Braslia, em lote relativamente pequeno.

Os conceitos de conforto ambiental, modulao, expansibilidade e flexibilidade


aplicados neste edifcio, por sua vez, se tornaram modelo para os posteriores
hospitais da rede Sarah, j tendo sido experimentados por Lel no Hospital
Taguatinga, alguns anos antes.

O conceito principal utilizado no projeto, em relao ao sistema construtivo,


a padronizao de seus elementos, simultaneamente possibilidade de
flexibilidade e extensibilidade da construo, que visa atender a
contigncias de funcionamento de uma unidade hospitalar. (MINIOLI,
2007:62)

55
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

56
2
O EDIFCIO HOSPITALAR: PLURALIDADE
DIMENSIONAL E SISTMICA
2 O EDIFCIO HOSPITALAR COMO PLURALIDADE DIMENSIONAL E SISTMICA

2 O EDIFCIO HOSPITALAR: PLURALIDADE DIMENSIONAL E SISTMICA

Pode-se afirmar que os edifcios que tm abrigado os hospitais, em que


pese as diferenas formais e/ou estruturais, podem ser considerados
funcionais ao longo dos sculos. Funcionais em sentido de estarem
sempre estreitamente relacionados s formas de uso; to estreitamente que
a cada modificao estrutural da sociedade (tecnolgica, scio-poltica,
entre outras) transformam-se inteira ou parcialmente. (...) Essa vinculao
imperiosa com os usos traduz-se tambm em nvel da soluo
arquitetnica. (SILVA, 1999:225-226)

Um dos programas arquitetnicos mais complexos e mais estudados da


contemporaneidade, os espaos para sade impem regras rgidas no manejo dos
ambientes, sem abrir mo da flexibilidade para assimilar os avanos do
conhecimento e da tecnologia hospitalar e sem deixar de proporcionar ambientes
mais humanos para os usurios. Essas caractersticas tornam o edifcio hospitalar
um dos maiores desafios para os arquitetos.

Os hospitais constituem edifcios complexos porque encerram muitos elementos ou


partes, que so atividades semelhantes ou distintas coexistindo numa mesma rea
de forma simbitica. Estas atividades, ocupando espaos especficos ou no, se
comunicam de forma mltipla e variada, e dependem umas das outras. Como
caractersticas intensificadoras desta complexidade, os hospitais funcionam 24
horas por dia, todos os dias da semana, e contam com uma enorme rede de
infraestrutura, que suporta o edifcio de modo a torn-lo muito semelhante a uma
indstria e at a uma pequena cidade. Segundo WEIDLE (1995, apud MARINELLI,
2003:100), a complexidade caracterstica dos estabelecimentos de sade devido
principalmente a dois fatores: primeiro, o nmero de funes que estes edifcios
realizam hoje, e segundo, a rapidez pela qual tendem a necessitar de adaptaes e
expanses.

MARINELLI (2003:98) comenta que a complexidade dos edifcios hospitalares


aumentou de forma impressionante, principalmente depois da II Guerra Mundial,
com o desenvolvimento de novas tcnicas e equipamentos da rea da sade. Esta
complexidade tem evidenciado a necessidade de maior ateno para a organizao
das relaes interdepartamentais.

Segundo TOLEDO (2006), uma das peculiaridades que distingue o hospital de


outras edificaes de complexidade programtica semelhante o fato de abrigar
funes extremamente diversificadas e, em certos casos, incompatveis entre si.

59
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

FERNANDES (2003:1) completa que algumas de suas unidades funcionais


encontram similaridades em outros edifcios, porm, no seu conjunto abriga
atividades prprias a essa tipologia que necessitam de instalaes prediais bem
como sistemas construtivos e materiais de acabamento especficos.

Do ponto de vista funcional, alm das atividades nitidamente teraputicas,


de apoio ao diagnstico e tratamento, o hospital desempenha outras
funes, entre as quais as de hotelaria, desenvolvidas ao receber, hospedar
e alimentar pacientes e acompanhantes, e as industriais, ao produzir,
processar e distribuir diversos insumos, tais como roupas, materiais
esterilizados, medicamentos e gases. (TOLEDO, 2002:71)

Com tantas variveis interagindo, estas edificaes so conceituadas ainda como


extremamente dinmicas e de difcil compreenso, principalmente sob o ponto de
vista do seu planejamento e gerenciamento. Muitos fatores so necessrios para
um melhor planejamento hospitalar e nenhum deles esttico1. Para facilitar,
ento, a compreenso deste equipamento coletivo to til e importante, muitos
profissionais tm procurado organizar a estrutura espacial e funcional do edifcio
hospitalar, definido dentro da sua totalidade algumas partes homogneas. Esta
tarefa, porm, no tem sido fcil.

Segundo CARR (2008), cada um dos setores de um hospital, incluindo os sistemas


mecnicos e eltricos altamente complicados que os abastecem, exige
conhecimento especfico. Nenhum profissional conhece completamente todas as
atividades e necessidades desenvolvidas no edifcio, razo pela qual consultores
especializados desempenham papel importante no seu planejamento e desenho.
As equipes envolvidas so multidisciplinares, e o arquiteto o coordenador geral.

As unidades funcionais possuem necessidades e prioridades que competem entre


si e se sobrepem, sendo a funo do arquiteto a de balancear o cenrio ideal de
cada rea com as relaes internas e a condio financeira da instituio. Alm de
coordenar a equipe tcnica, como em qualquer projeto, o arquiteto tambm advoga
pelos usurios da edificao, que neste caso so de diversos tipos: pacientes,
visitantes, enfermeiro(a)s, mdico(a)s, funcionrios de suporte tcnico,
fornecedores, voluntrios, etc. Segundo BROSS (2002, apud MENDES, 2006:37), o
seu papel vai alm do projeto arquitetnico, pois necessrio ter-se uma viso

1
ROSENFIELD, 1969:3

60
2 O EDIFCIO HOSPITALAR COMO PLURALIDADE DIMENSIONAL E SISTMICA

global da instituio e participar de todas as etapas, inclusive na tomada de


decises.

Alguns autores comparam hospitais a cidades, com sistemas e modos de


comunicao anlogos, possuindo at planos diretores como estratgias
semelhantes de desenvolvimento, projetando para o futuro. Segundo CHRISTIE,
CHEFURKA e NESDOLY, alguns hospitais so ...

... como pequenas cidades no sentido de que do suporte a um grande


nmero de pessoas numa vasta variedade de ambientes de trabalho. Eles
tambm acomodam um leque amplo de tipos de espao, como uma cidade,
incluindo: espao comercial (escritrios, consultrios mdicos, clnicas),
espaos industriais (gerenciamento de materiais, engenharia e oficinas de
manuteno, produo de alimentos), espaos residenciais (quartos de
pacientes e residentes, banheiros, reas de estar) e espaos de alta
tecnologia (Imagenologia, laboratrios clnicos e de pesquisa, salas
cirrgicas, etc.).2

TOLEDO (2006) refora este pensamento quando comenta que a setorizao dos
ambientes hospitalares se aproxima, de certa maneira, do zoneamento de usos de
uma cidade.3

Nos projetos de Estabelecimentos de Assistncia Sade (EAS), alm dos


condicionantes tecnolgicos, colocados ao centro desta pesquisa, intervm tambm
vrios outros fatores. Os fsico-funcionais, que envolvem caractersticas como
funcionalidade, contiguidade, flexibilidade e expansibilidade, so os mais
destacados. Alm destes, so importantes tambm as condicionantes urbansticas,
geogrficas, ambientais (incluindo os aspectos psicolgicos de conforto),
demogrficas (demanda de pacientes), epidemiolgicas (perfil dos pacientes e
doenas a serem tratadas ou prevenidas), econmicas, polticas (tipos de

2
Traduo livre do autor de: Major tertiary/quaternary care teaching hospitals are like small cities in that they
support large numbers of people in a wide variety of work environments. They also accommodate a broad range of
space-types, as does a city or town, including: commercial space (offices/medical offices/practices), industrial space
(materiel management, engineering and maintenance shops, food production), residential space (patient and
resident bed-rooms, bathrooms, living space) and high tech space (diagnostic imaging, clinical and research
laboratories, surgical suite, etc.). CHRISTIE, CHEFURKA e NESDOLY. Disponvel em <muhc-
healing.mcgill.ca/english/Speakers/chefurka_p.html>
3
TOLEDO destaca aqui que os primeiros regulamentos urbansticos propostos para as cidades inglesas do sculo
XIX tiveram sua origem em normas de higiene adotadas nos hospitais em funcionamento deste perodo, como
Benvolo (1963, p.xii) e Mumford (1961, p. 603-4) afirmaram.

61
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

procedimentos e gerenciamento), sociais, legais (leis, resolues e normas a serem


atendidas) e de sustentabilidade todas elas interferindo no edifcio de formas e
intensidades diferentes.

Existem muitos pontos de vista sobre os aspectos mais importantes no projeto de


hospitais, j que so muitas as variveis que nele interferem. O arquiteto Augusto
Guelli elaborou um organograma onde tenta resumir as variveis de um sistema de
ateno mdico-hospitalar (Figura 2.01), ilustrando superficialmente esta caixa-
preta4 que o projeto de um hospital, com todas as suas entradas e sadas, nos
seus mbitos fsico (onde?), operacional (como?), institucional (o qu?) e
econmico (quanto?).

Figura 2.01: Variveis de um Sistema de Ateno Mdico-Hospitalar


Fonte: GUELLI (2003)

Segundo Guelli, os principais requisitos no projeto de um hospital so contiguidade


(proximidade fsica dos setores com atividades de ateno afins), flexibilidade
(reformulaes internas nos setores, adequando-os s novas tcnicas e
tecnologias), expansibilidade (possibilidades de expanses de setores e de blocos)
e conformidade (com normas tcnicas e posturas pblicas), apontando ainda os

4
BUNGE, Mrio. 1974.

62
2 O EDIFCIO HOSPITALAR COMO PLURALIDADE DIMENSIONAL E SISTMICA

requisitos dos espaos como sendo os ergonmicos, psicolgicos, tecnolgicos e


econmicos. (GUELLI, 2003)

Para ALLEN e KARLYI (1976 e 1983, apud KOTAKA, 1992:6), por sua vez, entre
os fatores considerados essenciais esto a definio do papel a desempenhar, a
flexibilidade, a modulao, a facilidade de manuteno, a tecnologia apropriada, os
custos, a previso de futuras ampliaes e a localizao.

2.1 ATRIBUTOS DO PROJETO

Projetar um edifcio uma atividade que sempre segue os mesmos passos, onde
se analisa um terreno, suas diversas condicionantes urbansticas, geogrficas e um
programa de necessidades, onde esto implcitas variveis de ordem funcional,
tcnica, econmica, social, legal, poltica e ambiental (no sentido de preservao
ambiental). Em suma, a compreenso destes elementos e de suas interaes se
traduz num desenho arquitetnico e, mais tarde, em arquitetura, sendo o mtodo de
traduo varivel entre os arquitetos. O processo, todavia, universal e aplicvel
a todos os tipos de edifcios, destituindo a arquitetura de adjetivos. No caso dos
hospitais, o que muda , basicamente, o programa de necessidades, que
complexo (mais elementos e mais exigncias) e cobra do arquiteto e dos outros
profissionais envolvidos um pouco mais de ateno e conhecimento.

Segundo ZANETTINI (2003), a estruturao dos fundamentos tericos e prticos


para hospitais surgiu e evoluiu com a incorporao de importantes questes, como
a programao participativa, a questo ambiental (preservao da ambincia e da
identidade de cada lugar), a adequao cultura (atualizao evolutiva do
conhecimento de base cientfica das cincias humanas, biolgicas, ambientais e
exatas), a abordagem sistmica (variveis construtivas, estruturais, energticas e
de comunicao) e o aprofundamento (do conhecimento cientfico e sensvel).

Historicamente, podem ser observadas as interferncias de vrias condicionantes


no projeto do edifcio hospitalar. A crescente urbanizao dos hospitais obrigou os
mesmos a se adaptarem escala das cidades, mudando sua forma em funo dos
seus terrenos (menores) e impactando a sua vizinhana com novos tipos de
acessos e atividades criadas no seu entorno.

As condicionantes demogrficas, epidemiolgicas, econmicas, polticas e sociais,

63
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

diferentes em cada regio do mundo, determinaram premissas para a elaborao


do programa de necessidades de cada edificao, determinando a sua escala
(nmero de leitos), as atividades de assistncia oferecidas (hospital geral ou
especializado) e o seu carter scioeconmico (hospital pblico ou privado), com
especificidades fsico-funcionais adequadas a cada situao.

As funes do edifcio, que estiveram sujeitas s transformaes da cincia e da


tecnologia, desenharam as relaes internas dos edifcios, motivando a setorizao
das suas atividades e a hierarquia das suas reas de circulao, desvelando aos
poucos a necessidade de contiguidade, de flexibilidade e de expansibilidade entre
os setores.

Os aspectos de conforto ambiental sempre se refletiram nos projetos atravs das


condies trmicas, acsticas, de iluminao e ventilao naturais das edificaes
e, mais recentemente, de humanizao dos ambientes.

A determinncia dos aspectos legais nos projetos de hospitais mais recente,


destacando-se a partir da segunda metade do sculo XX e chamando mais ateno
nos ltimos 20 anos, quando as normas e resolues especficas para EAS foram
aprimoradas e multiplicadas.

Tambm nos ltimos anos (desde a dcada de 1990) consolidaram-se as


condicionantes relacionadas sustentabilidade, atentando para o impacto
ambiental dos hospitais, com os seus altos gastos energticos, o seu alto consumo
de gua e a sua alta produo de resduos e poluentes. A sustentabilidade tambm
trouxe tona a questo da durabilidade e longevidade dos edifcios (eficincia
arquitetnica), que ser largamente discutida ao longo desta dissertao, pois
envolve questes ligadas s renovaes arquitetnicas dos hospitais.

2.1.1 Implantao e insero urbana

Atualmente, pode-se dizer que a grande maioria dos hospitais pblicos e privados
encontra-se inserida em reas urbanizadas, onde ficam mais prximos dos seus
usurios e das redes de abastecimento. Sendo instituies associadas escala
coletiva, suas edificaes representam amarraes importantes no desenho e na
organizao das cidades, agregando uma arquitetura de grande porte e atividades

64
2 O EDIFCIO HOSPITALAR COMO PLURALIDADE DIMENSIONAL E SISTMICA

e fluxos de carter bastante especfico.

Por conta de sua escala e de sua complexidade, a insero de um hospital


na estrutura urbana provoca, de maneira geral, impactos fsico-funcionais
importantes, muitos dos quais extrapolam o entorno imediato da edificao,
atingindo grandes reas da cidade. (...) So os (EAS) que mais dependem
do fornecimento de gua e energia, j que falhas em tais servios,
especialmente em se tratando deste ltimo insumo, colocam em risco a
sade e a prpria vida dos pacientes (TOLEDO, 2006:53)

Atuando como parte fisicamente integrada cidade e ao cotidiano das pessoas


(equipamento coletivo e de acesso universal, segundo o atual sistema de sade
brasileiro), um hospital precisa levar em considerao, antes mesmo da escolha do
seu terreno de implantao, as relaes que pretende estabelecer com o seu
entorno, planejando o edifcio como a extenso das reas pblicas. Consideram-se,
alm das dimenses e topografia do terreno, as possibilidades de acesso que a
rea proporcionar, dando ateno especial s rotas de transporte coletivo. Seus
acessos so variados (principal, Ambulatrio, Emergncia e Suprimentos/Servios)
e especiais, como o de ambulncias e o de veculos de carga (ptios de servio
para descarga de suprimentos, equipamentos, etc.), e devem estar em sintonia com
as vias de circulao da cidade, podendo alter-las, porm de forma coerente e
vivel.

A participao popular no projeto tambm interfere como elemento de insero do


edifcio, onde a prpria comunidade expressa as suas necessidades, como ocorreu
no processo de planejamento do Hospital Municipal Ermelino Matarazzo, localizado
na zona leste da cidade de So Paulo. Segundo LIMEIRA (2006:82), o projeto
deve atender no s a aspectos funcionais e de produtividade organizacionais, mas
tambm s necessidades dos doentes, devendo ser discutido por estes, seus
acompanhantes e visitas e pelos profissionais, atravs de processos de
participao conjunta e multidisciplinar.

O estacionamento, nos hospitais e em vrias edificaes pblicas, outro item


importante a ser considerado, e que recentemente se tornou um problema pelo
aumento do nmero de veculos. um problema para a cidade, que recebe o
trfego gerado por estes edifcios, e para os edifcios, que precisam guard-los.

65
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

2.1.2 Condicionantes sociais, polticas e econmicas

O dimensionamento e a composio do programa de necessidades de um hospital


dependem muito dos fatores sociais, polticos e econmicos. Estes, por serem
modificveis, determinam tambm muitas transformaes neste mesmo edifcio,
determinando o seu tamanho, o tipo de atendimento oferecido e o modelo de
gerenciamento adotado.

No dimensionamento do projeto, o tipo de populao que ser atendida influencia


muito, sendo que a demanda por atendimento pode e provavelmente ir aumentar.
fato que a populao tem crescido cada vez mais e, portanto, a demanda por
atendimento tambm. O nmero de leitos e de salas de atendimento, bem como o
tamanho das reas de espera determinado pela variao desta demanda,
enquanto o perfil epidemiolgico da populao indica as enfermidades mais
incidentes, e, logo, quais os tipos de tratamento que a instituio deve oferecer.

As questes polticas e econmicas tambm interferem no projeto e, principalmente


nas reformas de um EAS, motivando os estilos de gerenciamento e as prioridades
dentro da instituio. Sob estes aspectos muitas diferenas surgem entre os
hospitais pblicos e privados, tanto antes como durante e depois do projeto e da
construo. Alm de ambos apresentarem diferentes hierarquias na tomada de
decises e na liberao dos investimentos para as obras, apropriam-se do espao
construdo de forma muito distinta.

2.1.3 Fatores fsico-funcionais

Segundo BOING (2003), os fatores fsico-funcionais no planejamento hospitalar


compreendem setorizao, flexibilidade, previso de futuras expanses e
circulao.

A diviso em setores foi a primeira preocupao a surgir enquanto um fator


de organizao interna do edifcio hospitalar, sendo que apesar de
apresentarem uma setorizao espacial primria, alguns hospitais orientais
da Idade Mdia j apresentavam a separao entre pacientes homens e
mulheres, e as funes logsticas de cozinha, dispensrio de medicamentos
entre outras. (BOING, 2003:90)

66
2 O EDIFCIO HOSPITALAR COMO PLURALIDADE DIMENSIONAL E SISTMICA

Na Europa Ocidental, por sua vez, a organizao funcional das instituies de


sade apareceu somente no sc. XIX.

Para a flexibilidade e o funcionamento adequado de um estabelecimento


destinado sade, a localizao de suas Unidades Funcionais, a ligao
entre elas, ou seja, o dimensionamento adequado e planejado das
circulaes (horizontais e verticais0, crucial para funcionamento e
integrao de novas tecnologias e para a longevidade do edifcio.
(MARINELLI, 2003:111)

Assim como a setorizao, a circulao tambm est diretamente relacionada ao


desempenho funcional do edifcio, sendo, por bastante tempo, concebida como
espao resultante da organizao dos seus demais elementos. Pode-se dizer que
hoje as reas de circulao deixaram de ser apenas um elemento de ligao entre
as partes do edifcio, se destacando como seu elemento estruturador e fundamental
para o funcionamento das suas atividades internas. Nos hospitais, onde a
multiplicidade funcional aumentou consideravelmente, a circulao ramificou-se,
tentando estabelecer conexes internas e externas mais variadas.

De acordo com BOING (2003:93), importante observar que a circulao est


intimamente relacionada setorizao, pois a organizao adequada dos espaos
e setores dentro de um edifcio hospitalar influenciar no desenvolvimento das
atividades, e determinar um melhor ou pior fluxo das circulaes.

A circulao dentro do ambiente destinado sade constitui um dos


pontos mais problemticos a ser resolvido pelo projeto de arquitetura. Ela
muito importante para o bom desempenho do estabelecimento destinado
sade, tendo em vista a necessidade de se interligar os diversos servios e
unidades e, ao mesmo tempo, possibilitar a independncia necessria.
(PINTO, 1996, apud MARINELLI, 2003:111)

Segundo CARR (2008), a configurao fsica de um hospital e os seus sistemas de


transporte e logstica so inexoravelmente interconectados, sendo eles compostos
por corredores, elevadores, escadas, tubos pneumticos, carros-armrio manuais e
automticos, monta-cargas, esteiras rolantes, etc. Com o aumento da complexidade
funcional no sculo XIX, vieram os primeiros estudos envolvendo a questo da
circulao, os quais discutiram, na poca, as grandes distncias percorridas nos
corredores dos hospitais pavilhonares. No sculo XX, estes estudos aprimoraram-
se e tambm se apoiaram nos conceitos de horizontalidade X verticalidade
(comparao entre distncias horizontais e verticais, bem como comparao entre

67
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

distncias percorridas em tipologias horizontais e tipologias verticais), de valncia


(de Jarbas Karman), de acessibilidade (recentemente normatizados na NBR 9050)
e de orientabilidade, visto que alguns hospitais tornaram-se verdadeiros labirintos.

Segundo KARMAN (2003), ...

... o projetista de hospital vale-se, em ltima anlise, de quatro


componentes: territrios, deslocamentos, objetos e interligaes. A
interligao importa em dimenso, distncia e intervalo. A distncia, por si,
pouco representa sem a vital complementao do deslocamento. O
deslocamento tanto pode ser de pessoas, de rodantes, como de outras
formas energticas, como fluxo de vapor, eletricidade, gua e outras. Fato
que implica na proviso de corredores, poo de elevador, escada, ruas,
dutos, condutores eltricos, antenas e outros. A este conjunto biunvoco,
esttico e dinmico, os autores chamam de valncia.

As covalncias, por sua vez, so as condicionantes e as qualificantes da valncia


(comprimento, largura, altura, acabamentos, velocidade, tempo, horrio, potncia,
presso, temperatura, etc.).

O planejamento racional leva, necessariamente, ao equacionamento de


valncias e covalncias. Do seu acertado enfoque resulta a otimizao do
inter-relacionamento dos elementos componentes do hospital e a
potencializao da sua funcionalidade e eficcia. A concepo hospitalar,
em bases racionais, condizentes com a Lgica de Planejamento, encontra,
no Conceito de Valncia e Covalncia , o necessrio respaldo e suporte
tcnico. (KARMAN, 2003)

CORBIOLLI (2003) completa, afirmando que ...

... os percursos que devem ser feitos por profissionais, pacientes, carrinhos
e equipamentos, bem como os trajetos de energia eltrica, gua e gases
medicinais, dependem da proviso de corredores, dutos, poos de
elevador, escadas, condutores eltricos ou tubulaes. O conjunto formado
por esses elementos dinmicos e estticos, que o arquiteto (Karman)
denomina valncia, est sujeito a diversas variveis como comprimento,
largura, horrio, velocidade, tempo, presso, potncia e temperatura, entre
outras. Essas variveis constituem as covalncias.

De acordo com CARR (2008), pacientes, visitantes e funcionrios necessitam saber


onde esto, qual o seu destino e como chegar a ele e retornar. O senso de
competncia do paciente encorajado ao facilitar que os espaos sejam
encontrados, identificados e utilizados sem precisar pedir ajuda. O autor afirma que,

68
2 O EDIFCIO HOSPITALAR COMO PLURALIDADE DIMENSIONAL E SISTMICA

no caso especfico dos pacientes externos, que visitam reas de diagnstico e


tratamento, as rotas tpicas devem ser simples e claramente definidas, sem
cruzamentos com as circulaes dos pacientes internos. Vrios autores concordam
com esta afirmao, que vem sendo preconizada como estratgia de planejamento
em vrios projetos de hospitais.

Os conceitos de flexibilidade e futuras expanses, mais recentes (segunda metade


do sculo XX), surgiram em conseqncia dos rpidos avanos da medicina e
tecnologia, como comentado anteriormente. Estes conceitos tornaram-se
estratgias para programar as adequaes dos edifcios frente s modificaes
arquitetnicas trazidas pelas demandas das instituies e por estes avanos
cientficos, que so imprevisveis e supervenientes ao projeto. Este pensamento foi
incorporado porque se aprendeu que a funo no permanente, e que as
instituies tornam-se obsoletas na medida em que no acompanham estas
mudanas no seu campo de atuao.

2.1.4 Condicionantes ambientais

Quanto aos aspectos de conforto ambiental aplicados a edifcios hospitalares,


BOING (2003) comenta que os mesmos constituem uma preocupao seja atravs
de solues que aproveitem as caractersticas ambientais locais, seja atravs da
utilizao de sistemas artificiais que promovam nveis ideais ou satisfatrios de
conforto ambiental. Os aspectos relacionados ao conforto trmico foram os
primeiros a surgir enquanto fatores de projeto, e os relacionados ao conforto
acstico so os mais recentes. Estes esto ligados ao aumento do rudo urbano,
que consequncia da crescente urbanizao das cidades, principalmente
causado pelo rudo do trfego de veculos automotores. Alm disso, as questes
sonoras esto relacionadas insero de novas tecnologias em equipamentos e
sistemas mecanizados, especialmente nas reas de diagnstico, tratamento e
servios de apoio (lavanderia, cozinha, etc). Nos ambientes hospitalares a
tendncia atual a de preservar a privacidade do paciente, evitando a propagao
de rudos de um ambiente para outro (corre-corre das circulaes, conversas dentro
dos apartamentos ou enfermarias, choro de crianas, gemidos de pacientes, etc.).

O conforto trmico, por sua vez, tem sido cada vez mais uma premissa de projeto
para os edifcios hospitalares, onde a ventilao natural recomendada inclusive
como elemento teraputico. Segundo o arquiteto Joo Filgueiras Lima, a

69
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

ventilao natural um aspecto fundamental a ser considerado no projeto de um


edifcio hospitalar e comprovadamente eficiente no combate a infeces
hospitalares, evitando ambientes hermticos. (MOURA, 2002, apud BOING,
2003:88)

No entanto, em determinadas reas do hospital, as estratgias ativas de


climatizao so inevitveis, como a utilizao do ar condicionado nas reas para
cirurgias, laboratrios e exames de diagnstico por imagem, que englobam
atividades e equipamentos que s funcionam sob nveis ideais e constantes de
umidade e temperatura. Nestes locais, o ar condicionado utilizado no somente
por aspectos de conforto ambiental, mas tambm tcnicos e teraputicos.

Como em qualquer outro edifcio, para proporcionar conforto ilumnico ou visual nos
ambientes hospitalares tambm se priorizam as estratgias passivas,
recomendando-se iluminao natural ao maior nmero possvel de seus
compartimentos. Neste caso, uma orientao favorvel e uma configurao
arquitetnica que oferea superfcies translcidas estrategicamente localizadas no
s tende a reduzir o consumo de energia, como tambm ameniza a sensao de
enclausuramento do usurio.

A indispensvel proximidade de alguns setores de atividades com a


conseqente reduo das reas de circulao explica, em parte, a grande
tendncia nos hospitais modernos de certos pavimentos do edifcio serem
transformados em massa compacta de cubculos com iluminao e conforto
trmico controlados artificialmente. (MINIOLI, 2007:7)

Os projetos do arquiteto Joo Filgueiras Lima so um exemplo vivo da aplicao de


estratgias de conforto ambiental. Implantados em locais de clima
predominantemente quente, o planejamento dos hospitais e centros de reabilitao
da Rede Sarah apoiou-se em tcnicas eficientes que garantem ventilao e
iluminao natural em quase todos os ambientes. As tcnicas foram aplicadas
primeiramente em Braslia atravs dos sheds em argamassa armada, e foram
aperfeioadas no projeto de Salvador, com as galerias de resfriamento do ar no
subsolo do edifcio (Figura 2.02). Nos projetos mais recentes (Sarah do Rio de
Janeiro e o de Macap), notou-se uma evoluo e adequao destas estratgias de
conforto ambiental. Na unidade de Macap destacaram-se as venezianas fixas nas
paredes perifricas, os ps-direitos altos, as grandes aberturas para ventilao
zenital e a cobertura em semicrculo com sistema de ventiladores para retirada de
calor.

70
2 O EDIFCIO HOSPITALAR COMO PLURALIDADE DIMENSIONAL E SISTMICA

No Rio de Janeiro foi montado um


sistema onde a cobertura dos
edifcios forma um grande colcho
de ar ventilado e um difusor da luz
solar (Figura 2.03).

Os aspectos relacionados ao
conforto acstico tambm so uma
premissa na hora de projetar
hospitais, assim como qualquer
Figura 2.02: Esquema de ventilao natural e outro edifcio. Com o adensamento
resfriamento aplicado ao Hospital Sarah de Salvador.
Fonte: LATORRACA, 1999. das cidades, a emisso de rudos
aumentou principalmente por
causa da intensificao do trfego
de veculos. Como todas as outras
condicionantes de projeto, o
referencial sonoro influencia a
arquitetura de vrias maneiras,
Figura 2. 03: Corte do Hospital da Rede podendo-se observar nos projetos
Sarah Rio de Janeiro
Fonte: LEAL, 2008:46. o empenho em bloquear a entrada

do som atravs de barreiras fsicas como vidros duplos nas aberturas (que acabam
atrapalhando a aplicao de estratgias de ventilao natural) e vegetao.
Internamente tambm h preocupao com a propagao indesejada do som,
como no caso dos diversos equipamentos da instituio.

Segundo LIMEIRA (2006:91), ...

... no caso dos EAS, eles prprios so produtores potenciais de rudos, a


depender do grau de sua complexidade de atendimento. Isso se deve ao
fato de que, alm do fluxo de pessoas exercendo vrias atividades, existem
equipamentos de transporte de cargas e de diagnstico que formam um
conjunto muito difcil de controlar.

Nas reas de diagnstico por imagem como Ressonncia Magntica (RM) e


Tomografia Computadorizada (TC), os equipamentos auxiliares so
necessariamente colocados num ambiente separado da sala do exame, devido aos
rudos que emitem e demanda por baixa temperatura.

71
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Para os hospitais, outro condicionante de projeto de ordem ambiental a


humanizao. Muito discutida atualmente, est relacionada ao atendimento das
necessidades psicolgicas de bem-estar dos usurios atravs da arquitetura.
Dentro do conceito de humanizao, muitas reformas tm se originado para
destituir do hospital o carter pejorativo de ambiente da doena, trazendo aos seus
ambientes referenciais residenciais e intimistas. Isto tem ocorrido atravs da criao
de ambientes com mais luz natural, onde foi ampliada a utilizao de cores e a
sofisticao dos materiais de revestimento e do desenho do mobilirio.

Se ambientes mais humanizados no podem curar nem mudar o fato de


muitos pacientes no sarem vivos, evitar a tpica arquitetura maquinal de
lgubres corredores iluminados por lmpadas fluorescentes pode melhorar
o estado de bem-estar de quem ocupa aquele espao. (HORTA, 2005)

Acompanhando o conceito de humanizao est o conceito de hotelaria, indicado


por muitos arquitetos como a melhor estratgia de aprimorar a qualidade
arquitetnica e gerencial nos ambientes ligados internao. Em So Paulo, muitos
hospitais se destacaram ao dar aos seus edifcios e servios o aspecto de um hotel,
como o caso do Hospital Albert Einstein (Figura 2.04), do Hospital do Corao e
do Hospital e Maternidade So Luiz, unidade Anlia Franco (Figura 2.05).

Figura 2.04: Entrada do Bloco D do Figura 2.05: rea de estar na unidade de internao do
Hospital Israelita Albert Einstein (So Hospital e Maternidade So Luiz Anlia Franco. Projeto do
Paulo). arquiteto Siegbert Zanettini.
Projeto de Siegbert Zanettini. Fonte: Acervo da autora.
Fonte: Zanettini Arquitetura
Planejamento Consultoria Ldta.

72
2 O EDIFCIO HOSPITALAR COMO PLURALIDADE DIMENSIONAL E SISTMICA

2.1.5 Normatizao

O sistema normativo brasileiro evoluiu muito desde a dcada de 1970, sendo que,
do ponto de vista da arquitetura, as normas que possuem o maior impacto nos
edifcios hospitalares so a Resoluo RDC no 50 da ANVISA (Agncia Nacional de
Vigilncia Sanitria), os Cdigos de Obras e Edificaes (regularizao dos
edifcios junto s prefeituras municipais) e as Instrues Tcnicas do Corpo de
Bombeiros (garantia de segurana contra incndio e regularizao dos edifcios
junto ao Corpo de Bombeiros).

No planejamento de um Estabelecimento de Assistncia Sade (EAS),


tanto o arquiteto quanto todos os outros profissionais de sade envolvidos
esto condicionados a vrias normas que determinam cada ambiente ou
unidade em particular e suas relaes em conjunto. (LIMEIRA, 2006:142)

As normas tcnicas, leis, cdigos e resolues vm influenciando profundamente o


trabalho dos arquitetos que se dedicam ao projeto de hospitais, inclusive em sua
forma de projetar. Seu papel, nas ltimas trs dcadas, tem sido de tal importncia,
que poderamos at mesmo afirmar que o nico ponto em comum na grande
maioria dos edifcios hospitalares em nosso pas talvez seja o fato de que todos,
obrigatoriamente, devem obedecer s normas estabelecidas pelo Ministrio da
Sade. (TOLEDO, 2002:55)

O nmero de normas no para de crescer, sendo que a desatualizao e a


descontinuidade fazem parte da rotina institucional dos EAS. Quando mudam os
parmetros legais, muda tambm o funcionamento do edifcio, e normalmente este
aprimoramento significa a criao de mais restries e uma adaptao fsica na
instituio. Estas normas, apesar de fazerem parte de um conjunto necessrio ao
controle da sade pblica, tm caractersticas independentes, complexas e
dspares. (LIMEIRA, 2006)

2.1.6 Sustentabilidade

Diante da iminente escassez dos recursos naturais e do fato de os EAS serem


edificaes que gastam nveis elevadssimos de gua e energia, alm de
produzirem muitos resduos, tem sido cobrado dos hospitais estratgias para
contribuir com a preservao do meio ambiente. BITENCOURT afirma que ...

73
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

... a ineficincia energtica e o desperdcio so imagens comumente


vinculadas ao ambiente hospitalar, seja por descontrole da gesto
administrativa e operacional, seja pelas caractersticas funcionais que
obrigatoriamente demandam sistemas de reserva disponveis a qualquer
momento, sobretudo nos locais onde se processa a assistncia mdico-
hospitalar.

Nos projetos, esta preocupao tornou-se mais presente no final do sculo XX,
resultando no aprimoramento das tcnicas de captao de energia solar,
reutilizao de gua e ventilao e iluminao naturais. Entre 1999 e 2001 o
Ministrio da Sade do Brasil promoveu uma intensa campanha educativa dirigida
aos servios de sade, especialmente hospitais, com o objetivo de estimular a
racionalizao e a reduo do uso de energia eltrica e gua. (BITENCOURT, s/d)

Os aspectos mencionados acima podem ser entendidos como novas exigncias


tcnicas aos edifcios, introduzidas pela conscincia da necessidade de conter o
desperdcio, e que fazem parte dos mencionados avanos tcnicos e cientficos que
impem transformaes aos hospitais.

A dinmica destas transformaes, por sua vez, pode tambm ser tratada como
uma questo de sustentabilidade. Ao se adaptar sem grandes obras ou
desperdcios s suas constantes transformaes, os hospitais tornam-se
construes mais durveis e, logo, sustentveis. Sendo assim, cabe aos projetistas
evitar que as frequentes demolies e obsolescncia dos edifcios os levem ao final
de sua vida til.

2.2 AS PARTES DO SISTEMA HOSPITAL

Embora um conceito que sempre esteve presente ao longo da histria dos


hospitais, a setorizao vem ganhando cada vez mais importncia devido
ao aumento da complexidade dos edifcios hospitalares, que atualmente
englobam uma infinidade de setores. (BOING, 2003)

Muitos autores definem de forma diferente a organizao funcional dos edifcios


hospitalares. O agrupamento de atividades geralmente est vinculado aos tipos de
servios oferecidos, s relaes que mantm com o usurio e ao tipo e direo do
fluxo de circulao que acompanham dentro da instituio.

Segundo KARMAN (1974, apud BOING, 2003), um hospital constitudo, ao


mesmo tempo, de partes estreitamente interligadas e dificilmente dissociveis e

74
2 O EDIFCIO HOSPITALAR COMO PLURALIDADE DIMENSIONAL E SISTMICA

de partes independentes e dificilmente agrupveis. A contiguidade das relaes


funcionais, por sua vez, planejada em funo da maior ou menor necessidade de
proximidade entre setores, o que afetar diretamente a sua eficincia e o seu
desempenho. (BOING, 2003)

SCHMIDT (2003) descreve que na maior parte dos edifcios hospitalares visitados
durante a sua pesquisa a distribuio fsica encontrada era dividida entre o Centro
de Diagnstico e Terapia (prximos aos acessos principais e voltados ao paciente
externo), a Internao (coroando o edifcio), o Setor Cirrgico (entre a rea de
Diagnstico e a rea de Internaes) e os Setores Tcnicos (nos pavimentos
subsolo ou em unidades separadas).

ZEIN (1983), em uma entrevista com Joo Carlos Bross, relata que o arquiteto
indica a existncia de trs grandes zonas funcionais nos hospitais, que so a zona
de Diagnstico e Tratamento, a zona de Internao e a zona das chamadas
Atividades-meio, ligadas ao conforto dos funcionrios, administrao e ao
armazenamento e manipulao de suprimentos em geral. Em sua teoria, o arquiteto
destaca as duas primeiras zonas como as Atividades-fim, que agregam a maior
diversidade de atividades com o paciente e o maior nmero de equipamentos
mdicos. As Atividades-meio, por outro lado, configuram um setor de produo que
pode ser caracterizado como industrial, envolvendo os sistemas de produo,
transporte e entrepostagem de suprimentos (alimentos, roupa, material estril,
material de almoxarifado, medicamentos e material de enfermaria).

Em uma de suas palestras, o arquiteto Augusto Guelli apresentou alguns esquemas


representativos das relaes funcionais existentes em um hospital, definindo outro
agrupamento de atividades (Figuras 2.06 e 2.07). Com o mesmo intuito, o extinto
grupo BDSL Arquitetura estabeleceu graficamente os sistemas organizacionais
empregados no seu projeto para o Hospital Municipal Campo Limpo.

No projeto para o Hospital de Campo Limpo foram descritas como reas quentes
aquelas onde esto as atividades que mais consomem energia e infraestrutura,
identificadas como as unidades de diagnstico e tratamento (exames, ambulatrio,
centro cirrgico e obsttrico, UTI). Estas exigiriam uma melhor dinmica no
processo de ateno e uma maior facilidade e rapidez na tomada de deciso sobre

75
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

o paciente, estando, portanto, abaixo do pavimento tcnico e acima das chamadas


energias (reas de infraestrutura predial).5

Figura 2.06: Fluxograma genrico para EAS. Figura 2.07: Fluxograma genrico para EAS.
Fonte: GUELLI (2003) Fonte: GUELLI (2003)

Apresentando um Programa de Necessidades fsico-funcional mais detalhado, a


Resoluo n 50 da ANVISA (RDC 50, de 2002), que estabelece regras bsicas
para o projeto dos EAS, a divide em oito (8) partes:

1. rea de Atendimento em Regime Ambulatorial e Hospital-Dia;


2. rea de Atendimento Imediato;
3. rea de Atendimento em Regime de Internao;
4. rea de Apoio ao Diagnstico e Terapia;
5. rea de Apoio Tcnico;
6. rea de Ensino e Pesquisa;
7. rea de Apoio Administrativo;
8. rea de Apoio Logstico.

Na RDC 50 a organizao, segundo o arquiteto Irineu Breitman6, est baseada em


bases administrativas, que normalmente no correspondem organizao fsica
dos EAS. O arquiteto, que passou muitos anos coordenando uma equipe
multidisciplinar atuante em projetos hospitalares (Hospitasa), coloca que na
estrutura fsica do hospital existem premissas que a RDC 50 no preconiza, pois
sua organizao baseia-se nas partes isoladas da instituio e no na sua
interao e conectividade. De acordo com Breitman, h uma diferena muito grande

5 o
Revista Projeto n 214, novembro de 1997, p. 89.
6
Informao obtida em uma palestra do arquiteto Irineu Breitman, em novembro de 2009, no Rio de Janeiro.

76
2 O EDIFCIO HOSPITALAR COMO PLURALIDADE DIMENSIONAL E SISTMICA

entre a organizao colocada pela RDC 50, que de carter burocrtico, e a real
organizao fsica de um hospital.

Numa interpretao da RDC 50, o arquiteto Ronald Lima de Ges apresenta um


Diagrama terico (Figura 2.08), onde insere todas as partes que podem existir na
organizao funcional de um edifcio hospitalar. Para a definio e descrio destas
partes, no presente trabalho a organizao funcional adotada baseia-se tambm na
RDC 50, porm agrupando os grupos 1 e 3 como reas de internao, e os grupos
5 e 8 como uma rea nica de Apoio Tcnico e Logstico (Quadro 02). O intuito
deste agrupamento de atividades o de estabelecer, no Capitulo 8 desta
dissertao, as relaes arquitetnicas de cada uma delas com as variveis
tecnolgicas e, desta forma, contextualizar o edifcio no tema da pesquisa aqui
desenvolvida.

Figura 2.08: Diagrama Composto Modelo Terico.


Fonte: GES, 2004:176.

77
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Quadro 02:
Organizao Fsico-funcional adotada como base.

Atendimento em Regime Ambulatorial e Hospital-Dia (pacientes externos);


Atendimento em Regime de Internao - 24 horas (pacientes internos);
Internao de pacientes adultos e infantis;
Internao
Internao de recm-nascidos at 28 dias (neonatologia);
Internao de pacientes em regime de terapia intensiva;
Internao de pacientes queimados em regime intensivo.
Patologia clnica;
Imagenologia;
Mtodos grficos;
Anatomia patolgica e citopatologia;
Atividades de medicina nuclear;
Procedimentos cirrgicos e endoscpicos.
Partos normais, cirrgicos e intercorrncias obsttricas;
Diagnstico e
Atividades de reabilitao em pacientes externos e internos;
Tratamento
Atividades hemoterpicas e hematolgicas;
Atividades de radioterapia;
Atividades de quimioterapia;
Atividades de dilise;
Atividades relacionadas ao leite humano;
Atividades de oxigenoterapia hiperbrica (OHB);
Atendimento Imediato Urgncia e Emergncia 24 horas (pacientes externos).
Treinamento em servio dos funcionrios;
Ensino e
Ensino tcnico, de graduao e de ps-graduao;
Pesquisa
Desenvolvimento de pesquisas na rea de sade.
Servios administrativos do estabelecimento;
Apoio
Servios de planejamento clnico, de enfermagem e tcnico;
Administrativo
Servios de documentao e informao em sade.
Assistncia alimentar a indivduos enfermos e sadios;
Assistncia farmacutica;
Esterilizao de material mdico, de enfermagem, laboratorial, cirrgico e roupas;
Lavagem das roupas usadas;
Armazenagem de materiais e equipamentos;
Revelao, impresso e guarda de chapas e filmes;
Apoio Tcnico
Manuteno do estabelecimento;
e Logstico
Guarda, conservao, velrio e retirada de cadveres;
Conforto e higiene aos usurios;
Limpeza e higiene do edifcio, instalaes e reas externas e materiais e instrumentais
e equipamentos assistenciais, bem como gerenciamento de resduos slidos;
Segurana e vigilncia do edifcio, instalaes e reas externas;
Infraestrutura predial.

2.2.1 Internao

Os setores de internao, que variam entre hospital-dia, internao geral, intensiva


e semi-intensiva, encontram-se espalhados pelo hospital e so compostos
basicamente por enfermarias de um ou mais leitos e postos de enfermagem. Sua
configurao espacial regida por reas comuns ora centralizadas (enfemarias
coletivas voltadas para um ou mais postos de enfermagem) e ora lineares
(corredores de acesso a enfermarias isoladas de um ou mais leitos), onde as reas
de apoio costumam ser diversificadas e em escala reduzida, na forma de pequenas
salas onde os suprimentos (medicamentos, roupas, equipamentos e alimentos) so
armazenados e manipulados.

78
2 O EDIFCIO HOSPITALAR COMO PLURALIDADE DIMENSIONAL E SISTMICA

Comparando-as ao restante do hospital, as reas de internao apresentam uma


configurao espacial relativamente simples, onde as modificaes tm sido, em
sua maioria, de carter dimensional (aumento do tamanho das enfermarias e
criao de quartos privativos), quantitativo (aumento do nmero de leitos, porm
seguindo a configurao espacial original) e decorativo (renovao de
revestimentos e mobilirio). As obras nestas reas costumam, porm, ser as mais
divulgadas e valorizadas entre as melhorias realizadas nas instituies de sade.

2.2.2 Diagnstico e Tratamento

As reas de Diagnstico e Tratamento possuem uma configurao espacial


complexa e dependente dos avanos tecnolgicos, como poder ser visto ao longo
deste trabalho. uma parte da instituio que se espalha pelo hospital na forma de
setores bastante diversificados, como exposto no Quadro 01. Os setores de
diagnstico compreendem o maior nmero de atividades (consultas e exames de
vrios tipos), que desde os ltimos anos passaram a se sobrepor s atividades de
tratamento (cirurgia, procedimentos no invasivos e atividades de reabilitao) e
tornaram os seus espaos ainda mais especializados.

Os exames, que at a dcada de 1960 eram apenas os de Raios-X convencional e


os de Ultrassonografia, se desenvolveram muito nas ltimas dcadas, criando
imagens cada vez mais ntidas do corpo humano (Tomografia Computadorizada,
Ressonncia Magntica, Exames de Medicina Nuclear, etc). Para tanto o arsenal
de equipamentos multiplicou-se e sofisticou-se, passando a modificar as dimenses
e o desenho das mquinas. Os espaos direcionados aos exames, portanto,
tiveram que ser expandidos e modificados para receber os equipamentos e atender
s suas exigncias tcnicas de rede, energia (redes de energia e conexes de rede
mais potentes) e temperatura (sistema de ar-condicionado cada vez mais eficiente),
alterando significativamente no s o tamanho das salas como tambm a sua
interao com o restante do edifcio.

Segundo SCHMIDT (2003), sem qualquer dvida este (setor de diagnstico e


terapia) foi o setor que teve o maior avano na rea hospitalar com um
desenvolvimento mais significativo no final do sculo XIX e incio do sculo XX,
sendo o principal responsvel pelo aumento de rea do hospital. WEIDLE (1995,
apud MARINELLI, 2003:100) concorda com este enunciado quando afirma que ...

79
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

... as reas que tm demonstrado maior tendncia a mudanas so as de


Diagnstico e Terapia, principalmente devido ao ritmo de evoluo
tecnolgica dos equipamentos que, ao se tornarem informatizados,
evoluram aceleradamente. E um equipamento que evolui pode significar
menos espao ou mais espao a ser requerido, o que acarreta a
necessidade de se adaptar.

LONGHI (2001) ainda completa, dizendo que a unidade de diagnstico e terapia


a mais suscetvel nos EAS, em geral, a transformaes pela ampliao do
atendimento existente e pela adoo de novas tecnologias.

Por serem, de acordo com vrios autores, as reas de Diagnstico e Tratamento as


que mais significativamente de modificam nos hospitais, a anlise das
transformaes arquitetnicas nestes setores ser aprofundada ao longo deste
trabalho, focando nestas reas a investigao realizada nos estudos de caso.

2.2.3 Ensino e Pesquisa

As reas de Ensino e Pesquisa encontram-se normalmente distribudas pelo


edifcio na forma de salas de aula, auditrios e laboratrios de pesquisa. Alm
disso, ocupam uma porcentagem de rea interna em praticamente todos os
ambientes de atendimento (salas de exames, salas cirrgicas, etc), haja vista a
necessidade de espao para as aulas prticas e para a pesquisa clnica (com
pacientes). Esta rea tambm influenciada pelos avanos tecnolgicos, na
medida em que utiliza cada vez mais a telemtica e os equipamentos de anlises
laboratoriais.

2.2.4 Apoio Administrativo

As reas de Apoio Administrativo, como coloca a arquiteta Sung Mei Ling7,


possuem uma configurao espacial caracterstica das consolidadas reas de
escritrios, com layout bastante flexvel e atividades pouco especficas, podendo
instalar-se em qualquer lugar do edifcio. Encontram-se ora centralizadas e ora
descentralizadas, na forma de salas de chefias e secretarias setoriais, que existem

7
Como coloca a arquiteta Sung Mei Ling, as reas administrativas funcionam como um edifcio de escritrios e
admitem mais flexibilidade. (CORBIOLI, 2003)

80
2 O EDIFCIO HOSPITALAR COMO PLURALIDADE DIMENSIONAL E SISTMICA

em todas as unidades funcionais, e salas (individualizadas ou abertas) de


tesouraria, secretaria, recursos humanos, entre outros, administrando assuntos
gerais do hospital (gerenciamento financeiro, agenda de procedimentos e
contratao ou demisso de funcionrios). Nas ltimas dcadas, as reas
administrativas foram largamente influenciadas pela informtica, diminuindo muito a
quantidade de papel manipulado.

2.2.5 Apoio Tcnico e Logstico

As reas de Apoio Tcnico e Logstico, por outro lado, ocupam reas muito
especficas, na medida em que constituem a base industrial dos hospitais. Estas
reas so compostas por setores de Lavanderia, Cozinha, Farmcia, e
Infraestrutura Predial, cuja funo basicamente fazer a instituio funcionar. Por
este motivo, o Apoio Tcnico e Logstico, apesar de representar os bastidores da
instituio, merece ateno especial no projeto.

O Planejamento de Instalaes e Equipamentos deve merecer o mesmo


zelo, por parte da Arquitetura Hospitalar, que o dedicado ao Projeto de
Circulaes ou ao ordenamento de territrios de atividades afins, por
exemplo. (KARMAN et al, 1995:27)

Segundo a arquiteta Sung Mei Ling (CORBIOLI, 2003), reas como cozinha,
central de esterilizao, lavanderia ou manuteno tm funcionamento semelhante
ao de fbricas. Junto lavanderia, a Central de Material Esterilizado (CME), por
exemplo, alimenta todas as atividades de Diagnstico e Tratamento, como
cirurgias, exames e atendimento de urgncia e emergncia, mantendo com as
mesmas um fluxo constante de roupas e utenslios (sujos e limpos). A cozinha e a
farmcia, por sua vez, manipulam e enviam alimentos e medicamentos tambm
para as reas de internao. Sobre a sua localizao no prdio, o arquiteto Augusto
Guelli aponta que a boa distribuio comea pela identificao dos agentes do
processo, sendo que o que no interage com o paciente, como os servios de
lavanderia, nutrio e farmcia, pode ficar fora do edifcio, desde que exista um
entreposto para assegurar o suprimento. (CORBIOLI, 2003)

As instalaes, que distribuem energia, gua, ar-condicionado e gases medicinais,


percorrem e conectam todas as partes de um EAS, distribuindo-se horizontal e
verticalmente. Os espaos horizontais podem ser de vrios tipos, predominando o
inter-piso (forro falso) e o andar Tcnico, que um pavimento de p-direito

81
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

relativamente baixo onde as instalaes podem ser visitadas e a manuteno pode


ser realizada sem qualquer interferncia no funcionamento das atividades dos
ambientes que atende. Os espaos verticais so o Poo Tcnico, Curete ou Shaft
(visitvel e alcanvel), as Paredes Prumada, os Armrios Prumada e os Painis
Prumada, alm das prumadas junto a pilares. (KARMAN et al, 1995:23)

Segundo LANDI (1980), enquanto que na maioria dos edifcios residenciais ou at


mesmo comerciais, as instalaes constituem uma pequena frao das dificuldades
do projeto, em num hospital elas podem se tornar to complicadas a ponto de
comprometerem o projeto. Alm de extensas, estas instalaes so complexas, na
medida em que se multiplicam pelo edifcio com diversas prumadas. Disso resulta
um problema de coordenao bastante complexo, para eliminar os pontos de
interferncia. (MCKEE e HEALY, 2002)

Junto s atividades de Apoio Tcnico e Logstico est a manuteno, equipe


tcnica responsvel pela preveno e pelo reparo de problemas com os
equipamentos e as instalaes da instituio. De acordo com HARILAUS (1998:18,
apud DIAS, 2003:10), a Manuteno definida como a combinao de aes
tcnicas e administrativas, incluindo a de superviso, destinadas a manter ou
recolocar um item em um estado no qual possa desempenhar uma funo
requerida (NBR 5462-1994).

A atividade de manuteno constitui um elemento significativo a ser considerado no


projeto de um EAS. literalmente vital a importncia da manuteno programada
na preservao da continuidade operacional das atividades, sendo que na
interrupo no programada no fornecimento de oxignio ou energia eltrica, por
exemplo, em casos de pacientes crticos, o preo pago em vidas e sequelas;
ocorrncias de todo inadmissveis. (KARMAN, 1994;25)

82
3
METODOLOGIA
3 METODOLOGIA

3 METODOLOGIA

A metodologia empregada nesta pesquisa foi dividida em etapas, as quais esto


apresentadas no fluxograma abaixo:

Figura 3.01: Fluxograma Metodologia.

3.1 LEVANTAMENTO DE DADOS SECUNDRIOS

No intuito de formar uma base terica referencial para a pesquisa aqui apresentada,
uma das etapas mais importantes do trabalho foi o levantamento de dados
secundrios. Este foi continuamente realizado desde antes do ingresso ao
programa de mestrado at as ltimas semanas de redao da dissertao,
abrangendo:

A coleta de informaes a partir de teses, dissertaes, livros e artigos


sobre o planejamento, a construo e o desenvolvimento histrico de
edifcios hospitalares, e sobre a evoluo da tecnologia a servio da
medicina;

85
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

A coleta de informaes a partir de consulta a especialistas no assunto em


questo (arquitetos, engenheiros e profissionais da rea mdica);

A realizao de trabalhos programados sobre os contedos de interesse da


reviso bibliogrfica.

A reviso bibliogrfica baseou-se na busca de informaes sobre a evoluo dos


edifcios de uso hospitalar e a evoluo da tecnologia a servio da sade. No incio
da pesquisa foram lidos textos mais gerais sobre os aspectos arquitetnicos dos
hospitais, procurando depreender a sua histria, as especificidades do seu
funcionamento e os conceitos estabelecidos para o seu planejamento.

A partir desta etapa foram selecionados textos com contedos mais especficos,
ligados ao fenmeno das reformas e expanses dos hospitais, bem como aos seus
aspectos tecnolgicos. Dentro deste escopo, foi inicialmente priorizada a busca de
informaes sobre os procedimentos e equipamentos ligados medicina
diagnstica.

Ao ampliar o conceito de tecnologia, outras reas foram estudadas, como as de


infraestrutura predial, de cirurgia e de anlise laboratorial. Os equipamentos
envolvidos nas atividades desenvolvidas nestas reas foram tambm estudados
extensivamente, na medida em que foi identificado o seu valor para a pesquisa.

Parte dos dados compilados na reviso bibliogrfica foram organizados na forma de


trabalhos programados, os quais forneceram concluses preliminares sobre o
estado da arte em projetos de hospitais.

As principais fontes bibliogrficas foram encontradas nas bibliotecas da Faculdade


de Arquitetura e Urbanismo e da Faculdade de Sade Pblica da Universidade de
So Paulo. Foram encontradas referncias importantes tambm da Escola de
Engenharia de So Carlos (USP), na Faculdade de Arquitetura da Universidade de
Braslia e na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Utilizando as ferramentas da internet, muitos artigos foram encontrados em pginas


virtuais, principalmente no que se refere s informaes e imagens dos
equipamentos e tecnologias estudados.

Houve dificuldade para a coleta de dados mais especficos sobre os equipamentos


mdicos e sobre os sistemas de instalaes prediais utilizados nos hospitais, na
medida em que so muito escassas e superficiais as informaes disponveis sobre

86
3 METODOLOGIA

o dimensionamento e funcionamento destes elementos. A quantidade de


informaes sobre o histrico destes equipamentos e sistemas ainda menor.

Para a coleta dos dados no encontrados em publicaes impressas ou virtuais,


foram realizadas algumas entrevistas a profissionais envolvidos no planejamento e
nas obras de hospitais. Foram consultados arquitetos e engenheiros que, alm de
terem conhecimento especfico sobre as vrias tecnologias mdicas, puderam
esclarecer muitas dvidas sobre o funcionamento dos sistemas de infraestrutura do
edifcio hospitalar.

A partir da reviso bibliogrfica e da consulta a especialistas, foi possvel instituir


algumas concluses preliminares sobre as transformaes arquitetnicas dos
hospitais vinculadas aos avanos tecnolgicos. Neste sentido foram encontrados
muitos dados secundrios relacionados evoluo histrica destes edifcios,
incluindo relatos de reformas e expanses em hospitais existentes no Brasil
Estados Unidos e Europa.

3.2 LEVANTAMENTO DE DADOS PRIMRIOS

Os dados primrios desta pesquisa foram coletados a partir de estudos de caso


aplicados em trs hospitais.

O estudo de caso uma categoria de pesquisa cujo objeto uma poro do


universo de estudo, analisada de maneira aprofundada, permitindo, atravs dos
resultados atingidos, formular hipteses para o encaminhamento de outras
pesquisas. (TRIVINS, 1987, apud BOING, 2003:110)

Foi considerada como prioridade a descrio da evoluo arquitetnica em reas


especficas das edificaes selecionadas, bem como a descrio dos seus
processos de incorporao de novas tecnologias.

A coleta de dados primrios sobre os estudos de caso apoiou-se nas seguintes


etapas de ao:

1. Escolha dos estudos de caso: determinao dos critrios para a escolha


dos hospitais de interesse, de acordo com os objetivos da pesquisa;

87
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

2. Primeira coleta de dados: realizao de visitas de reconhecimento nos


hospitais escolhidos; coleta de desenhos e textos relatando o
desenvolvimento histrico de cada instituio estudada.

3. Primeiras entrevistas: a partir de entrevistas equipe tcnica da instituio


(arquitetos, engenheiros, fsicos, tcnicos de manuteno, mdicos, etc.),
realizao do levantamento de informaes sobre as experincias dos
hospitais estudados com reformas e ampliaes ocasionadas pela
incorporao e/ou substituio de tecnologia;

4. Primeira anlise: a partir dos dados fornecidos pelos desenhos, textos e


entrevistas, realizao do reconhecimento da organizao funcional de cada
hospital estudado, detectando os pavimentos onde maior a concentrao
de tecnologias mdicas e de infraestrutura predial.

5. Segunda coleta de dados: coleta das plantas dos pavimentos a serem


analisados, atuais e antigas; reconstituio da configurao arquitetnica
das rea estudadas em momentos diferentes; registro fotogrfico das reas
de interesse.

6. Entrevistas especficas: aps analisar e comparar as plantas dos


pavimentos estudados em diferentes pocas, consultar novamente a equipe
tcnica para levantar informaes sobre os motivos que levaram a cada
reforma e obra de expanso constatada.

7. Segunda anlise: ajuste nos levantamentos de acordo com as informaes


fornecidas nas entrevistas; Verificao das informaes coletadas.

3.2.1 Estudos de Caso:

As caractersticas procuradas para selecionar os hospitais a serem estudados


estiveram relacionadas sua localizao, sua idade e frequncia pela qual a
instituio adquire e/ou renova o seu parque tecnolgico de apoio medicina. Os
edifcios deveriam estar situados na cidade de So Paulo, terem sido construdos
h aproximadamente 30 anos e possurem um elevado grau de renovao
tecnolgica.

88
3 METODOLOGIA

Encaixando-se neste perfil, foram escolhidos como estudos de caso o Instituto do


Corao (InCor), o Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE) e o Hospital Srio
Libans (HSL), trs dos hospitais mais bem conceituados atualmente no mbito
nacional, e cujo poder de competitividade , em grande parte, garantido pela
incorporao de tecnologias de vanguarda a servio da medicina.

A pesquisa no HSL foi inviabilizada pelas restries impostas pela instituio. No


foram disponibilizadas as plantas do edifcio, dificultando a preciso na anlise
grfica das suas transformaes arquitetnicas. Por este motivo, ao invs desta
instituio estar colocada na dissertao como um estudo de caso, ela aparecer
ao longo do trabalho atravs dos dados informados nas entrevistas realizadas com
alguns de seus funcionrios.

Por recomendao dos pares durante o exame de qualificao, foi realizada uma
visita ao Hospital Sarah de Braslia (HDAL) para o enriquecimento da pesquisa.
Devido quantidade de informaes e desenhos encontrados sobre o hospital,
decidiu-se transform-lo tambm num estudo de caso. Apesar da sua localizao
no ser em So Paulo, este hospital encaixou-se nos critrios estabelecidos aos
outros hospitais estudados.

O InCor teve a vantagem de j ter sido local de trabalho da autora, o que facilitou
muito a coleta de dados. Foi liberado o acesso aos desenhos mais antigos do
prdio, que estavam armazenados de forma aleatria no seu Departamento de
Arquitetura. A coleta de informaes sobre o edifcio tambm foi viabilizada sem
qualquer restrio, sendo que a nica dificuldade encontrada foi de fato a eventual
incerteza sobre o contexto de algumas das transformaes arquitetnicas
apontadas pelos desenhos.

No HIAE a coleta de dados j foi bem mais lenta e difcil. Aps a primeira visita de
reconhecimento ao edifcio, foi difcil entrar nele pela segunda vez, pois a equipe
tcnica no estava disponvel para acompanhar a visita. Causa disto foi a
concluso da construo de uma das ampliaes do Complexo do Morumbi, que
deixou muito ocupada a equipe de projetos e obras da instituio. Mais difcil ainda
foi a coleta de desenhos antigos, sendo que a planta mais antiga conseguida foi a
de 1998. Esta foi, por sua vez, disponibilizada pelo arquiteto Domingos Fiorentini,
autor de alguns dos projetos de ampliao do HIAE. Os outros desenhos foram
liberados apenas no final da pesquisa, e complementados por um material
fornecido pelo arquiteto Arthur Britto.

89
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

No HDAL, apesar da burocracia enfrentada para realizar a visita tcnica, os


desenhos e dados para a pesquisa foram facilmente coletados. Alm da riqueza de
informaes fornecidas pela entrevista ao arquiteto da instituio (Luiz Engler
Vasconcellos), muitos dados, desenhos e imagens foram encontrados numa
pesquisa previamente realizada no hospital pela arquiteta Alda Regina Bueno
Minioli. No seu trabalho foram encontradas as plantas do hospital de 1980 e de
2007, utilizadas como base para todas as anlises.

3.3 ANLISE DOS DADOS

Partindo das etapas de ao descritas no item 3.2, as anlises da pesquisa


apoiaram-se por fim na leitura funcional das plantas (zoneamento funcional) aliada
s informaes dos textos consultados e das entrevistas realizadas.

Primeiramente a anlise foi feita sobre cada pavimento como um todo, comparando
as suas plantas em diferentes momentos e detectando as mudanas mais
evidentes na sua configurao arquitetnica. O passo seguinte foi a anlise
individualizada de cada unidade funcional das reas estudadas. As plantas foram
ento ampliadas, observando de perto as intervenes mais localizadas.

Aps serem determinadas as reformas e expanses de cada estudo de caso, j


estabelecendo as suas possveis causas de ordem tecnolgica, o ltimo passo foi
comparar o quadro encontrado em cada hospital, procurando diferenas e
semelhanas.

Etapas da anlise:

1. Zoneamento funcional das unidades de diagnstico em cada momento


arquitetnico, diferenciando por cores as unidades funcionais;

2. Determinao das mudanas mais significativas que ocorreram;

3. Determinao das causas mais significativas destas mudanas;

4. Determinao das consequncias mais significativas destas mudanas.

90
4
ANTECEDENTES HISTRICOS DOS
EDIFCIOS HOSPITALARES BRASILEIROS
4 ANTECEDENTES HISTRICOS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES BRASILEIROS

4 ANTECEDENTES HISTRICOS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES


BRASILEIROS

4.1 EVOLUO DA ASSISTNCIA MDICO-HOSPITALAR

4.1.1 No Brasil

Para abordar historicamente as edificaes hospitalares brasileiras necessrio


entender um pouco a evoluo das aes de sade pblica no Brasil, que partiu do
Sanitarismo Campanhista (at incio do sc. XX), passou pela Assistncia Mdica
Previdenciria da classe operria (anos 1930 aos 1950) e pelo Regime Militar (1964
a 1974) at chegar ao Sistema nico de Sade (consolidado em 1988), cuja
ideologia resultou de uma Reforma Sanitria de aproximadamente 12 anos.

A histria das instituies de sade brasileiras comeou efetivamente com as


Santas Casas de Misericrdia, que foram as principais instituies de sade at o
incio do sculo XX, constituindo a rede hospitalar mais ampla que possumos1.
Segundo MARINELLI (2003:15) at este perodo o atendimento a sade era
totalmente desvinculado do poder pblico, cujo papel era apenas o de controlar as
endemias e epidemias e o de fiscalizar os alimentos, portos e fronteiras.

Segundo WATANABE (1974), durante o sculo XVI no se pode falar em medicina


cientfica no Brasil, em comparao aos estudos mdicos na Europa. (...) A
medicina praticada era (...) uma medicina rstica, desenvolvida a partir do
empirismo do dia-a-dia, sem qualquer base terica. Eram escassos os
profissionais de sade (a vida difcil nos trpicos no entusiasmou os mdicos
lusitanos a vir trabalhar na colnia), e para combater doenas como a sfilis, o
sarampo e a tuberculose, disseminadas pelos colonizadores e pelos escravos,
eram utilizadas prticas e terapias aprendidas com os indgenas e posteriormente
com os africanos, como o curandeirismo e a utilizao de remdios obtidos atravs
de plantas medicinais. (FERNANDES, 2003)

Os Jesutas foram os primeiros a acolher adoentados no Brasil, e as suas


enfermarias funcionaram durante praticamente todo o perodo colonial. Quando as
enfermarias jesuticas no estavam mais comportando a quantidade de pacientes,
os ento chamados homens-bons comearam a se associar em Irmandades de

1
WATANABE, 1972.

93
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Misericrdia, iniciando posteriormente as chamadas Santas Casas, que durante


quatro sculos, foram a fora motriz na construo de equipamentos de
assistncia a sade no Brasil.

As Santas Casas eram instituies de carter sociocaritativo, ajudando os pobres e


doentes tanto material quanto espiritualmente. A importncia das atividades de
assistncia social da Santa Casa era tamanha, que, por muito tempo, assumiu
responsabilidades que caberiam Coroa ou Cmara Municipal. (LIMEIRA,
2006:36)

A Santa Casa da poca da colonizao era construda de taipa, de um ou


dois andares com salas para enfermaria de homens e mulheres separados,
alguns quartos de dois leitos e pequenos cmodos para a rea
administrativa, recepo, dormitrio dos empregados, cozinha e botica, uma
capela ou igreja em anexo. No existia sala cirrgica e nem de curativo.
Estes hospitais possuam pouca higiene e eram sempre escassos de
instrumentos, medicamentos, roupas e alimentos. (MARINELLI, 2003:14)

A primeira Santa Casa a surgir foi a de Santos (povoado que originaria a Vila de
Santos, na Capitania de So Vicente), construda em 1543. Segundo SILVA (1999),
depois dela seguiram as Santas Casas de Salvador (1549), Ilhus (1553), Olinda
(1560), Rio de Janeiro (1582), Sergipe (1597), So Paulo (1603), Itamarac (1611),
Joo Pessoa (1618), Igarau (1629), So Lus (1657), Belm (1667), Vila Rica
(1739), So Joo Del Rey (1783), Diamantina (1790) e Campos (1791).

Sustentadas por recursos privados (doaes), em 1985 havia 455 Santas Casas
cadastradas no Brasil, em praticamente todos os estados, embora nem todas
possussem hospitais. Segundo WATANABE (1974), todas as Santas Casas foram
cpias parciais ou totais do hospital de todos os santos de Lisboa, sem nenhum
planejamento prvio. LIMEIRA (2006:36) completa dizendo que, aparentemente,
no havia critrios para a sua construo, pois podiam se instalar em casas
doadas e adaptadas para as obras sociocaritativas que, com o tempo, eram
ampliadas ou transferidas para prdios novos e construdos para tal fim.

Com a proclamao da independncia em 1822, alojou-se no Rio de Janeiro a


Inspetoria de Sade dos Portos (1928). Em 1829 foi criada a Imperial Academia de
Medicina, que foi logo seguida pela Junta de Sade Pblica como as primeiras
instituies destinadas a pensar a sade pblica no pas e a aplicar solues

94
4 ANTECEDENTES HISTRICOS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES BRASILEIROS

coletivas2.

Com as mudanas no cenrio poltico, outras instituies de sade passaram a


dividir espao junto s Santas Casas. Entre elas esto as Enfermarias de
Emergncia, criadas pelo governo por causa das epidemias de febre amarela,
varola e clera; os Hospitais Estrangeiros; os Hospitais de Isolamento; os
estabelecimentos destinados quarentena nos maiores portos do pas; os
Lazaretos, destinados aos leprosos; os Hospitais de Alienados, destinados ao
tratamento de doenas nervosas; e as Policlnicas, que se destinavam ao
tratamento ambulatorial e, inspirados na Policlnica Geral de Viena, originaram-se
no Rio de Janeiro e em So Paulo. (MARINELLI, 2003)

No sculo XVIII surgiram no Brasil os primeiros Hospitais Militares


financiados pela Coroa e destinados s tropas, (...) e no sculo XIX se
instalaram no pas os pequenos hospitais particulares chamados Casas de
Sade. (...) Seus proprietrios eram mdicos famosos na poca e por eles
eram administrados. As Casas de Sade eram poucas e estavam
localizadas nas cidades mais populosas. (MARINELLI, 2003:15)

Por volta de 1875, a Santa Casa de So Paulo comeou a planejar uma reforma
devido s ms condies do prdio (falta de higiene e materiais), constatadas pelo
mdico Antnio Caetano de Campos. Ele fez um relatrio que mudou um pouco o
pensamento e a condio das prticas em sade no Brasil da poca, dando incio a
uma forma moderna de pensar o hospital. A reforma exigida ocorreu e, aps
concurso pblico, foi escolhido o projeto do arquiteto Luiz Pucci para a construo
de um novo edifcio para o Hospital. Este, que sede da atual Santa Casa de So
Paulo, foi inaugurado em 1884, com tipologia pavilhonar. (SILVA, 1999)

De acordo com MARILELLI (2003:17), do final do sculo XIX at metade da


dcada de 1960, praticou-se, como modelo hegemnico de sade, o sanitarismo
campanhista, marcado pela interveno de sanitaristas como Oswaldo Cruz
(combate a febre amarela no Rio de Janeiro), Rodrigues Alves (saneamento do Rio
de Janeiro), Carlos Chagas, Emlio Ribas e Saturnino de Brito (saneamento da
cidade e do porto de Santos).

Por causa das aes destes sanitaristas, da dcada de 1920 em diante o Estado

2
BRENER, 2006, apud LIMEIRA, 2006.

95
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

comeou a intervir mais na sade pblica, inicialmente atravs do Ministrio da


Justia, com a reforma feita por Carlos Chagas (1923). Em 1930 a responsabilidade
passou para o Ministrio da Educao com a criao do Departamento Nacional de
Sade Pblica, e ...

... nesta mesma dcada surgiram inmeros sanatrios para tratamento de


tuberculose e hansenase, associando-se aos manicmios pblicos j
existentes. (...) Foi nesta poca que surgiu o Departamento Estadual de
Sade, precursor das Secretarias Estaduais de Sade, implantando-se de
forma progressiva a rede de postos e centros de sade estaduais voltados
para o controle de endemias e epidemias. (MARINELLI, 2003:17)

A industrializao brasileira nas dcadas de 1920 e 1930 motivou a Lei Eli


Chaves, que criou a primeira Caixa de Aposentadoria e Penses (CAP). No Estado
Novo de Getlio Vargas iniciou-se a implantao dos Institutos de Aposentadoria e
Penses (IAPs), estruturados por categorias profissionais3. Tambm por causa da
acelerao do processo de industrializao do pas na dcada de 1950 e do
crescente xodo rural que se seguiu, a demanda por assistncia mdica no pas
aumentou significativamente. Isto ocasionou a ampliao considervel da estrutura
hospitalar brasileira durante as dcadas de 1950 e 1960.

Neste perodo foi criado o Ministrio da Sade (1953), justificado pelo aumento das
aes de sade pblica necessrias. De acordo com VISCONTI (1999), ...

... a maioria dos hospitais pblicos brasileiros foram construdos neste


perodo. Concomitantemente, adotava-se cada vez mais o modelo de sade
americano, incorporando-se indiscriminadamente tecnologia, numa viso de
sade hospitalocntrica e, naturalmente, de alto custo, favorecendo o
fortalecimento da indstria de medicamentos e de equipamentos
hospitalares.

Com o Golpe Militar de 1964, o sistema de sade at ento controlado pelos


trabalhadores foi tomado pelo regime ditatorial, que unificou os IAPs no Instituto
Nacional de Previdncia Social (INPS), criado em 1967. Neste perodo da histria
da sade pblica brasileira, ao mesmo tempo em que se ampliava a cobertura
previdenciria quase totalidade da populao urbana e rural, ALMEIDA (1997)
afirma que desnudava-se o carter discriminatrio da poltica de sade, pois eram

3
MARINELLI, 2003:17.

96
4 ANTECEDENTES HISTRICOS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES BRASILEIROS

cada vez mais ntidas as desigualdades quanto ao acesso, qualidade e


quantidade de servios destinados s populaes urbanas e rurais e entre as
diferentes clientelas dentro de cada uma delas.4

Em 1977 surgiu o Sistema Nacional de Previdncia Social (SINPAS) que buscava


reorganizar, racionalizar e centralizar administrativamente a previdncia. Foram
criados o Dataprev (empresa de processamento de dados), o INAMPS (Instituto
Nacional de Assistncia Mdica da Previdncia Social) e a CEME (Central de
Medicamentos).

Em meados da dcada de 1980, chegou ao fim o Governo Militar, em crise por


vrios fatores, entre eles o aumento do desemprego acompanhado pelo aumento
de demanda ao sistema de sade. Assim, impulsionados por uma lenta e
progressiva abertura poltica, o atendimento de urgncia e emergncia foi estendido
aos no-previdencirios (Plano de Pronta Ao PPA), mudando novamente a
demanda de acesso rede hospitalar.

Neste momento surgiram ainda as modalidades supletivas de prestao de


servios, como o Convnio-empresa e a Medicina de Grupo. Estas modalidades,
por sua vez, tambm assumiram importante papel nos edifcios na medida em que
se multiplicaram e trouxeram aos hospitais um usurio diferenciado, ao qual foram
oferecidos servios diferenciados. Estes Planos de Sade, que vigoram at hoje,
incentivaram a expanso dos edifcios hospitalares e a diferenciao das suas
reas de acesso, haja vista a diferenciao dos perfis de seus usurios.

Foi a partir do final da Ditadura Militar que surgiram os alicerces poltico-ideolgicos


para o movimento de reforma do Sistema de Sade no Brasil, o qual sugeriu, logo
de incio, processos direcionados para uma grande expanso da rede ambulatorial
pblica. Em 1978 a sade foi conceituada pela OMS (Organizao Mundial de
Sade) como sendo direito humano fundamental, e no Brasil esta proposta
coincidiu com a necessidade de expandir a ateno sade, incluindo mais a
populao de baixa renda da periferia das cidades e nas zonas rurais (direito
universal e integralidade). (MARINELLI, 2003:)

Durante a dcada de 1980 foi dada continuidade ao movimento de descentralizao

4
ALMEIDA, ZIONI e CHIORO, 1997:24-25.

97
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

das aes de sade. Este culminou na regulamentao, atravs da constituio de


1988, de um Sistema nico de Sade (SUS): descentralizado, com comando nico
em cada esfera do governo, atendimento integral e participao da comunidade.5

O processo de implantao do SUS j dura 21 anos e seu modelo universalista de


assistncia, baseado na municipalizao, influencia diariamente o ambiente
construdo na sade. Assim como nos outros sistemas de sade implantados, o
SUS trouxe consigo um programa funcional diferenciado, priorizando nos hospitais
reas mais pblicas e que garantam acesso a todos. Todavia, a aplicao do
sistema foi falha, e acabou por fortalecer a procura pelo atendimento privado.

A modernizao do sistema de sade brasileiro impulsionou a criao de


novos hospitais pblicos e privados em vrias capitais e cidades de mdio
porte do pas. O desenvolvimento do conhecimento cientfico apontava a
necessidade de constituir centros de diagnstico e tratamento
especializados. Os avanos da tecnologia mdica promoviam significativas
alteraes na organizao espacial/funcional dos complexos hospitalares,
com a assimilao de novos itens programticos. (SEGAWA,1997, apud
FERNANDES, 2003:35)

MAUDONNET (1988, apud MENDES, 2006) ainda comenta que at metade do


sculo XX, salvo raras excees, hospitais foram construdos sem qualquer
planejamento, dificultando sua atualizao pela falta de condies favorveis,
atingindo a obsolescncia fsica e funcional em muitos casos.

4.1.2 Em So Paulo

O Estado e a Cidade de So Paulo sempre formaram uma parte muito importante


no cenrio social, poltico e econmico do territrio brasileiro. Tendo acompanhado
o desenvolvimento histrico da sade pblica descrito anteriormente, a cidade foi
palco das primeiras reformas sanitrias mencionadas.

Durante o perodo colonial a assistncia mdica populao paulista era


filantrpica, como no resto do pas, realizada por instituies beneficentes como as
Santas Casas de Misericrdia.

5
ALMEIDA, ZIONI e CHIORO, 1997:31.

98
4 ANTECEDENTES HISTRICOS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES BRASILEIROS

Em 1560 foi erguida a primeira enfermaria na So Paulo de Piratininga, junto ao


Ptio do Colgio. Em meados do sculo XVIII vieram os Hospitais Militares e uma
enfermaria militar foi instalada no Palcio do Governo no antigo Colgio dos
Jesutas (1765). Posteriormente, em 1792, durante o governo de Bernardo Jos
Maria de Lorena, foi construdo o Hospital da Capitania de So Paulo.
(FERNANDES, 2003)

No incio do sculo XIX, apesar da escassez de recursos para a provncia de So


Paulo, houve na sua regio a construo de vrios hospitais, entre eles o Hospital
Militar (1802), o Hospcio dos Lzaros (1803), o Hospcio da rua de So Joo
(1858). Esses edifcios eram bastante simples, utilizando tcnicas construtivas
geralmente primitivas. Segundo FERNANDES (2003), a partir de 1850 a economia
de So Paulo comeou a prosperar, na medida em que a provncia se tornou
entreposto comercial. Todavia, tornou-se tambm fonte de disseminao de
doenas infecto-contagiosas para outras regies do Brasil, razo pela qual foi
necessrio organizar o Servio Sanitrio Paulista.

Em 1884 foi ento criada a Inspetoria de Higiene da Provncia de So Paulo, sendo


elaborado o 1 Cdigo Sanitrio do Estado em 1894. O cdigo regulamentava,
entre outras coisas, a localizao dos hospitais e maternidades em relao s
cidades, vilas e povoados, indicando que deveria ser sempre afastada do centro.
Em 1896 o Estado de So Paulo se subdividiu em trs zonas, para permitir a
ampliao da atuao sanitria. Dois anos depois o Dr. Emlio Marcondes Ribas
assumiu a direo do Servio Sanitrio Estadual, onde se manteve por 17 anos e
conseguiu promover uma nova reestruturao do servio sanitrio em 1906,
redividindo o territrio do Estado em um nmero maior de distritos sanitrios.
(SILVA, 1999)

Com o crescimento e modernizao da cidade de So Paulo (desenvolvimento da


cultura cafeeira, chegada dos imigrantes, construo das vias frreas e criao das
primeiras indstrias), o poder pblico e a oligarquia local destinaram vultosos
recursos para a organizao da sade pblica e para a construo de edifcios de
sade. (SEGAWA,1988; BERTOLLI FILHO, 2002, apud FERNANDES, 2003).

Este perodo foi marcado pela construo de algumas instituies, tais como o
Instituto Bacteriolgico, Laboratrio de Anlises Qumicas e Bromatolgicas,
Laboratrio Qumico e Farmacutico (1891); o Instituto Vacinognico (1891); o
Desinfectrio Central de So Paulo, (1893); o Instituto Serunterpico (1901); o

99
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Hospital de Isolamento (1893); o Hospital da Fora Pblica (1893) e o Asilo do


Juquery (1895), projetados pelo arquiteto Francisco de Paula Ramos de
Azevedo; e o Instituto Pasteur (1903). (FERNANDES, 2003).

Nesta mesma poca ocorreu o concurso para o novo edifcio da Santa Casa de
Misericrdia de So Paulo (Figura 4.01), no qual foi escolhido o projeto do arquiteto
italiano Luigi Pucci, como comentado anteriormente. O Hospital foi construdo no
Arouche (atual bairro Santa Ceclia), em estilo neogtico, e inaugurado em 1884
com menos de 150 leitos. Foi, segundo TOLEDO (2002) fortemente influenciado
pelos conceitos adotados no Hospital francs Lariboisire (ver item 5.4).

Concebido com configurao pavilhonar em um nico pavimento, exceto


na fachada com dois, com galerias cobertas interligando os diferentes
corpos, tinha como programa arquitetnico enfermarias que comportavam
de 200 a 350 leitos; recepo de doentes; gabinete mdico, sala de
conferncias mdicas, sala de cirurgia e autpsia, dispensa e cozinha;
capela, necrotrio; salo para provedoria, arquivo; biblioteca; casa de
banho e lavanderia. (SILVA 1999; MONTEIRO 2001, apud FERNANDES,
2003:25)

A partir do final do sculo XIX


surgiram tambm os hospitais
direcionados ao atendimento
mdico das comunidades
imigrantes, como o Hospital
Samaritano (1894), para a
comunidade inglesa, e o
Hospital Alemo Oswaldo Cruz
(1897), para a comunidade
alem, austraca e sua. Este
Figura 4.01: Segundo edifcio da Santa Casa
de Misericrdia de So Paulo, na poca da sua construo. foi construdo prximo Av.
Fonte: Arquivo da Santa Casa de Misericrdia de So Paulo
(apud FERNANDES, 2003). Paulista, onde tambm se

instalou o Hospital Santa Catarina em 1906. Em 1904, com recursos do governo


italiano e dos imigrantes que comeavam a prosperar, a comunidade italiana
construiu o Hospital Umberto Primo.

Em 1911, Emlio Ribas reestruturou novamente os distritos sanitrios do Estado de


So Paulo, aumentando-os em nmero e reorganizando o seu quadro funcional. Os
servios, neste perodo e at a dcada de 1930, organizavam-se em funo dos

100
4 ANTECEDENTES HISTRICOS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES BRASILEIROS

perodos crticos e eram desativadas quando as epidemias eram atenuadas ou


eliminadas. (SILVA, 1999)

No final da dcada de 1920, com financiamento da Fundao americana


Rockefeller, inicia-se a construo da sede prpria da Faculdade. Do
projeto original, elaborado pelo Escritrio Tcnico Ramos de Azevedo, onde
se previa a implantao de cinco blocos, o nico prdio construdo foi o de
Medicina Legal, que mais tarde remodelado, passou a abrigar o Instituto
Mdico Legal. (...) Em 1925, com o propsito de obter elementos para
tornar a Faculdade de Medicina uma instituio modelar na rea da sade,
nomeada uma comisso composta pelos professores Ernesto de Souza
Campos, Luiz Manuel de Rezende Puech e Benedito de Freitas
Montenegro, que visitou diversos centros clnicos e faculdades de pases da
Europa e Estados Unidos. Em 1928, reiniciam-se as obras do edifcio que
hoje abriga a Faculdade de Medicina. Edificado pela empresa de Ramos de
Azevedo, o prdio foi inaugurado em 1931. (MAZZIERI, 2000, apud
FERNANDES, 2003:32)

Nos anos 1930 aumentou em So Paulo o operariado, ao passo que diminuiu a


aristocracia do caf. Em 1931 a Secretaria de Estado do Interior se transformou em
Secretaria da Educao e da Sade Pblica, refletindo o carter de centralizao
poltica. Com o Estado Novo houve nova reforma (1938) no Departamento de
Sade, restaurando-se as premissas de 1925. Nesse perodo foram criados
inmeros Centros de Sade no interior do Estado. (SILVA, 1999)

Devido ao grande ndice de mortalidade por tuberculose em So Paulo, foi criado


em 1938 o Sanatrio do Mandaqui (Hospital de Tratamento de Tuberculose). Foi o
primeiro hospital governamental, especializado em tuberculose, instalado no Estado
de So Paulo, dando incio a toda rede de hospitais de tuberculose do governo
estadual. (Conjunto Hospitalar do mandaqui 6)

Dentro da concepo da poca de que o melhor tratamento para o tuberculoso


envolvia clima agradvel e afastamento dos rudos dos centros urbanos, este
hospital foi construdo prximo a serra da Cantareira, afastado da parte de maior
concentrao populacional da cidade de so Paulo. J se investia no carter
hoteleiro do hospital e psicolgico do paciente7.

6
Disponvel em <www.hospitalmandaqui.com.br/hospital/historia.asp>
7
Revista Acrpole, novembro de 1942

101
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Na poca o movimento cirrgico era grande no Sanatrio do Mandaqui. Os


procedimentos maiores eram toracoplastias, cavernostomias, jacobeus,
plumbagens, alm de bipsias, frenicotripsias cervicais e drenagens
pleurais. As resseces pulmonares, como em outros centros (Rio de
Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre) na dcada de 40 e inicio dos anos 50
eram de alto risco, ainda se usando o chamado torniquete (ligadura em
massa, com elstico, do hilo pulmonar ou lombar) acarretando
complicaes graves (hemorragia, fstula, infeco). Somente a partir dos
anos 50, com um maior conhecimento da anatomia dos hilos pulmonares e
do apoio da medicao especifica, as resseces entraram na rotina
cirrgica.8

A luta contra a tuberculose, traduzida no esforo comum nacional para a construo


de sanatrios, s perdeu importncia no cenrio da sade nacional no inicio da
dcada de 1950. O motivo foi o advento da quimioterapia especfica, que modificou
o prognstico e a evoluo da doena, permitindo tambm a sua preveno9.

Ainda durante a primeira administrao do Governador Adhemar de Barros (1938-


1941), iniciou-se a construo do Hospital das Clnicas de So Paulo (HC), cujo
primeiro edifcio (atual Instituto Central) foi inaugurado em 1944. Segundo
VISCONTI (1999), a Escola de Enfermagem comeou dentro deste edifcio, e em
1947 construiu uma sede prpria (projetado por Peter Pfisterer), tornando-se
unidade autnoma da USP em 1961.

Aos poucos foi se formando o atual Complexo do HC, com a inaugurao do


Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT - Figura 4.02) em 1951, do Instituto de
Psiquiatria (IPq Figura 4.03) em 1952 (projetado por Hernani do Val Penteado),
do Centro de Medicina Nuclear em 1949 (pioneiro do gnero no mundo), do
Instituto de Medicina Tropical em 1959, do prdio da Residncia Mdica em 1968,
do Prdio da Administrao em 1972 (liberando espao no Instituto Central), do
Instituto do Corao (InCor) em 1975, da Companhia de Processamento de Dados
de Estado de SP (PRODESP) em 1978, do Instituto dos Ambulatrios (PAMB) em
1979 (projetado por Rodrigo Lefvre), do Instituto da Criana (ICr) em 1979
(projetado por Hoover Sampaio), do Instituto de Radiologia (InRad) em 1990

8
Idem.
9
www.sppt.org.br/wp/?p=186

102
4 ANTECEDENTES HISTRICOS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES BRASILEIROS

(projetado por Joaquim Guedes) e do Instituto do Cncer de So Paulo (ICESP) em


2008.

Figura 4.02: Projeto do IOT. Figura 4.03: Projeto do IPq.


Fonte: Revista Acrpole, 1942. Fonte: Revista Acrpole, 1942.

A partir da dcada de 1950, o crescimento de So Paulo passou a ser pautado pela


migrao de pessoas em busca de trabalho, e isto tornou insuficiente o atendimento
de sade vigente. Impulsionado tambm por reivindicaes da populao pela
melhoria e expanso no atendimento, o setor de sade pblica se organizou
novamente com a criao do Ministrio da Sade (1953). Durante o governo de
Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-1961), iniciou-se uma nova fase de
desenvolvimento do Brasil e, como consequncia, a modernizao e evoluo
tcnico-cientfica dos edifcios hospitalares10. Alm disso, tornou-se necessria a
construo de novos hospitais e centros de sade, para dar suporte nova classe
trabalhadora, numa So Paulo em crescente urbanizao.

Pea importante no planejamento de hospitais paulistas dos anos 1950 foi o mdico
Odair Pacheco Pedroso. Como consultor hospitalar, ele trabalhou direta ou
indiretamente, nos estudos preliminares, instalao, organizao ou direo do
projeto de 215 hospitais, tais como a Santa Casa de Misericrdia de Santos, o
Hospital Emilio Ribas e o Hospital do Servidor Pblico Estadual. Tambm
participou, em 1951, da elaborao da Codificao das Normas Sanitrias para
Obras e Servios, bem como da reviso do Cdigo de Obras Arthur Saboya, do
Municpio de So Paulo. Nos projetos que assessorou, Pedroso ajudou a traduzir a
modulao americana, de 3 e 10, para a modulao brasileira de 1,20x1,20m,
utilizada at hoje. Nos inmeros cursos e palestras que proferiu pelo Brasil,

10
FERNANDES, 2003:34.

103
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

defendeu a flexibilidade do edifcio hospitalar e a necessidade do seu planejamento


para o futuro, com a possibilidade de ampliao. (FERNANDES, 2003)

Segundo FERNANDES (2003), na dcada de 1970 foram construdos em So


Paulo a Maternidade Vila Nova Cachoeirinha, projetada pelo arquiteto Siegbert
Zanettini; e o Pronto Socorro Municipal Doutor Arthur Ribeiro de Saboya, projetado
pelos arquitetos Antonio Jorge Monteiro Filho e Luiz Antonio Velasco. Na poca
tambm foi criada a Regio Metropolitana da Grande So Paulo (RMGSP),
havendo a integrao e hierarquizao da sua rede hospitalar atravs do Plano
Municipal de Sade (PMS). Com ele houve a construo de diversas Unidades
Bsicas de Sade (UBS) e Hospitais Gerais (HG), durante as dcadas de 1980 e
1990.

4.2 MOVIMENTO MODERNO

Entre os anos 1940 e 1960, perodo do pice da produo moderna no Brasil, o


enfoque volumtrico elementarista foi amplamente adotado nos edifcios
11
hospitalares construdos no pas . Na dcada de 1950, que foi marcada pelo
segundo governo de Getlio Vargas e pela era JK, verifica-se uma ampliao
considervel da estrutura hospitalar brasileira12.

Este foi um perodo rico da produo arquitetnica no Brasil, e, como comentado


anteriormente, houve a construo de muitos hospitais pblicos. O planejamento
destes edifcios, por sua vez, adquiriu o carter racionalista e inmeros hospitais
foram projetados pelos mais significativos mestres da arquitetura da poca por todo
o pas. Obras como a Maternidade Universitria de So Paulo (1944) de Rino Levi,
o Hospital Sul Amrica (1952) de Oscar Niemeyer, o Hospital das Clnicas de Porto
Alegre (1955) de Jorge Machado Moreira, o Hospital Fmina de Porto Alegre (1955)
de Irineu Breitman e o Hospital Albert Einstein (1958) tambm de Rino Levi, so
alguns exemplares da significativa produo de hospitais realizada nesta poca.

11
PERALTA, 2002
12
ALMEIDA, ZIONI e CHIORO, 1997:22-24.

104
4 ANTECEDENTES HISTRICOS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES BRASILEIROS

Segundo o arquiteto Irineu Breitman13, os projetos mais proeminentes de hospitais


verticais no Brasil, que surgiram na dcada de 1940, apresentam configuraes
semelhantes. As tipologias eram em sua maioria mistas (base + torre), onde a
internao era locada na parte verticalizada, com o centro cirrgico no coroamento
da torre. Na base foram colocadas as atividades mais voltadas ao paciente
externo (administrao, ambulatrio, diagnstico, emergncia), junto s atividades
de apoio (cozinha, lavanderia, central de utilidades). O arquiteto destaca neste
perodo alguns projetos importantes que seguiram esta configurao, como o
Hospital das Clnicas de Porto Alegre (1942), de Jorge Moreira, e o Hospital para
pacientes tuberculosos para Porto Alegre (1948, nunca construdo), dos Irmos
Roberto, cuja tipologia era, porm, horizontal. Ainda nos anos 1940 pode ser
mencionada a construo do Hospital da Universidade do Brasil (1942), de Jorge
Moreira.

Na dcada de 1950 os projetos mais comentados foram o do Hospital do Cncer


em So Paulo (1954), de Rino Levi; do Hospital Infantil do Morumbi em So Paulo
(1954), de Oswaldo Bratke; do Hospital de Londrina (1956), de Vilanova Artigas; e
do Hospital de Base de Braslia (1957), de Oscar Niemeyer.

Rino Levi foi um arquiteto que se destacou neste contexto chegando a formas que
romperam com as tipologias hospitalares preexistentes (exemplos americanos dos
anos 1920 edifcios em X, em H ou em duplo H, etc). Em seus hospitais, Levi se
orientava a partir de trs diretrizes que moldavam o edifcio: o agrupamento de usos
afins, agrupados em volumes independentes e organizados segundo relaes
funcionais adequadas; o fluxograma de circulao, organizadores dos volumes e
definidos como circuitos especializados; e a flexibilidade das plantas, possibilitada
atravs de vedaes internas removveis, shafts de instalaes e modulao dos
elementos da construo.

A srie de hospitais de Rino Levi se inicia com a vitria no concurso para o projeto
da Maternidade da USP (premiado em 1951 na 1 Bienal de So Paulo, porm
nunca construdo), passando por vrios projetos importantes em So Paulo e
culminando, entre 1959 e 1960, com sua contratao pelo Governo da Venezuela
para a implantao no pas de uma rede de hospitais pblicos.

13
Depoimento do arquiteto Irineu Breitman em palestra no Rio de Janeiro, em novembro de 2009.

105
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Figura 4.04: Maternidade Universitria USP Figura 4.05: Hospital da Cruzada Pr-Infncia
1944 Arq. Rino Levi. 1950 Arq. Rino Levi.
Fonte: PERALTA, 2002. Fonte: MACHADO, 1992:220.

Segundo ANELLI e GUERRA (2001:185-186), o projeto desta Maternidade


apresentou algumas inovaes:

Um volume vertical abrigava as enfermarias, enquanto um volume


horizontal concentrava os centros cirrgicos e setor tcnico-cientfico. (...) A
lmina maior era composta por duas partes, sendo que a mais adensada e
de menor extenso abrigava as principais circulaes verticais e os servios
de apoio. (...) Para permitir o controle de infeces hospitalares foi criado
um complexo sistema de circulao estratificada, fundamentado pelas mais
atualizadas pesquisas sobre o assunto.

Figura 4.06: Maternidade Universitria USP: corte. Figura 4.07: Maternidade Universitria USP:
Fonte: ANELLI e GUERRA, 2001:156. perspectiva com esquema funcional.
Fonte: ANELLI e GUERRA, 2001:157.

O primeiro hospital de Rino Levi a ser construdo foi o Hospital do Cncer, em 1947
(Figuras 4.08 e 4.09). Segundo ainda Anelli e Guerra, uma de suas inovaes foi a
utilizao do sistema de viagem direta nos elevadores, simplificando a separao
dos fluxos sem eliminar a segregao dos pacientes pagantes dos no-pagantes,
que ocorria desde a recepo.

106
4 ANTECEDENTES HISTRICOS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES BRASILEIROS

Neste projeto, vrios recursos so utilizados para


permitir a flexibilidade: paredes leves de divisria,
forro liso sem nervuras aparentes e modulao
das aberturas. Cmaras de ar contnuas entre as
lajes do piso e do forro facilitam alteraes nas
redes de instalaes. (ANELLI e GUERRA,
2001:160)

Figura 4.09: Hospital do Cncer (1947)


Arq. Rino Levi e Roberto Cerqueira Csar.
Figura 4.08: Hospital do Cncer (1947). Fonte: Revista Construo So Paulo 1627, abril
Fonte: TOLEDO, 2002:33 1979:19

Outros arquitetos tambm se destacaram nesta poca, como Oscar Waldetaro e


Roberto Nadalutti. Os mesmos trabalharam no Servio Especial de Sade Pblica
(SESP) entre 1951 e 1952, e estagiaram em um curso de atualizao em
arquitetura hospitalar dado no Public Health Service, em Washington. Saindo do
SESP em 1953, fundaram a firma Oscar Waldetaro & Roberto Nadalutti Arquitetos,
que se tornaria um dos mais importantes escritrios especializados em arquitetura
hospitalar14. Entre os seus projetos podem ser citados o Hospital das Clnicas de
Ribeiro Preto, de 1956, e o Hospital da Universidade de Santa Maria, no Rio
Grande do Sul. (TOLEDO, 2002)

Em 1953 foi a vez de Oscar Niemeyer, com seu projeto para o Hospital
Gastroclnicas (atual Hospital Dr. Edmundo Vasconcelos) em So Paulo. Alguns
anos depois o arquiteto projetou, em parceria com Hlio Uchoa, o Hospital Sul-
Amrica (1959 atual Hospital Geral da Lagoa) no Rio de Janeiro. Em ambos os
edifcios a tipologia adotada foi tambm a mista, contando, na poca, com o mais
equipado centro cirrgico da Amrica do Sul. (CAVALCANTI, 2001:289) Tambm
em 1959 foi projetado o Hospital de Base de Braslia, de Niemeyer e Germano
Galler.

14
TOLEDO, 2002:53-54

107
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Figura 4.10 Hospital Gastroclnicas (Atual Hospital Dr. Figura 4.11: Hospital Sul Amrica (atual
Edmundo Vasconcelos), So Paulo. Hospital Geral da Lagoa), Rio de Janeiro.
Fonte: Revista Projeto, 176, 1994:57 Fonte: CAVALCANTI, 2001:288.

A inaugurao de Braslia na dcada de 1960 repercutiu muito na produo


arquitetnica brasileira, com a liderana de Vilanova Artigas em So Paulo e as
crescentes tcnicas de pr-fabricao. Em 1960 houve o concurso para o Hospital
Santa Mnica em Belo Horizonte (atual Hospital Belo Horizonte), de Oscar
Waldetaro e Roberto Nadalutti. O segundo lugar ficou com Jarbas Karman, que
props uma tipologia horizontal, a qual comeou nessa poca a ganhar mais
espao.

Entre o final da dcada de 1960 e a dcada de 1970, Breitman aponta como


importantes o Hospital Escola Jlio de Mesquita Filho (atual Frum Criminal da
cidade de So Paulo), de Fbio Penteado e Eduardo de Almeida; o Hospital de
Joo Filgueiras Lima para Taguatinga, de tipologia horizontal e pr-fabricao
pesada; e o Hospital Vila Nova Cachoeirinha, de Siegbert Zanettini. Pode ainda ser
adicionado a esta lista o Hospital Universitrio Clementino Fraga Filho (Hospital do
Fundo), construdo em 1978 por Jorge Machado Moreira, no Campus da UFRJ
(Universidade Federal do Rio de Janeiro).

4.3 INDUSTRIALIZAO E PADRONIZAO NA ARQUITETURA DOS


HOSPITAIS BRASILEIROS
Na dcada de 1980 comearam a aparecer no Brasil projetos fortemente
comprometidos com a padronizao de elementos construtivos, destacando-se os
hospitais de Irineu Breitman para Santa Catarina e, especialmente, os de Joo
Filgueiras Lima (Lel) para a Rede Sarah Kubitschek de Hospitais de Reabilitao.

Entre os projetos de Breitman esto o Hospital Regional Dr. Homero de Miranda


Gomes, em So Jos (1980), o Hospital Infantil Joana de Gusmo (1980), em
Florianpolis, e o Hospital Regional Hans Dietter Schmith (1984), em Joinville.

108
4 ANTECEDENTES HISTRICOS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES BRASILEIROS

Nestes edifcios a modulao aparente, e h a utilizao de sheds na cobertura


das reas mais horizontais, permitindo iluminao natural.

Figura 4.12: Hospital Regional Dr. Homero de Figura 4.13: Hospital Infantil Joana de Gusmo
Miranda Gomes Florianpolis 1980 Irineu Breitman.
So Jos 1980 Irineu Breitman Fonte: BOING, 2003.
Fonte: Hospital Regional de So Jos Dr.
Homero de Miranda Gomes.

Figura 4.14: Hospital Regional Hans Dietter Schmith


Joinville 1984 Irineu Breitman.
Fonte: Hospital Regional Hans Dieter Schmidt.

Nos projetos de Lel a industrializao e a padronizao desempenharam


importante papel, sendo pela primeira vez ensaiadas no seu projeto para o Hospital
de Taguatinga, em 1967 (Figuras 4.15 e 4.16). Segundo Lel, algumas das ideias
experimentadas em Taguatinga foram posteriormente aplicadas na Rede Sarah.

A execuo da estrutura utiliza a tcnica da pr moldagem. As instalaes


em geral so aparentes ou correm por canaletas e galerias visitveis. O
sistema adotado se ajusta filosofia da obra quanto a flexibilidade e
extensibilidade, mas tambm visa criar facilidades para os servios de
manuteno. (LIMA, 1973, apud MINIOLI, 2007:3)

109
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Figura 4.15: Hospital de Taguatinga Figura 4.16: Hospital de Taguatinga


Vista do Bloco de Internao. Elemento Pr-fabricado na fachada da Internao.
Fonte: MINIOLI, 2007:3. Fonte: MINIOLI, 2007:4.

Mais tarde, entre 1975 e 1980, Lel projetou para Braslia a primeira instituio da
Rede Sarah de Hospitais do Aparelho Locomotor, que por sua vez constitui um dos
objetos de estudo desta pesquisa. A construo do Hospital Sarah de Braslia foi
vanguarda na estandardizao da construo hospitalar no Brasil, marcando o
incio de uma das experincias mais ricas e inovadoras que o planejamento
hospitalar no pas j teve notcia.

A implantao desta rede de hospitais permitiu a criao de um sistema autnomo


de pr-fabricao para os seus edifcios e mobilirio, abraando de forma nica a
eficincia e a plstica da construo industrializada.

O interesse de Lel pela industrializao se deu j em 1957 na construo de


Braslia. Algum tempo depois, ...

... trabalhando junto ao antroplogo e educador Darcy Ribeiro na recm-


nascida Universidade de Braslia, Lel viaja pelo leste europeu para
investigar a tecnologia de racionalizao do uso do concreto armado,
utilizada por pases como Unio Sovitica, Tchecoslovquia e Polnia,
ento dominados pelo regime socialista. Ao contrrio dos Estados Unidos,
cuja temtica mais comum remetia ao uso do ao, o uso do concreto nestes
pases, em prol de uma poltica de construo em massa e recuperao da
Segunda Guerra, aproximava-os da nossa realidade, segundo Lel,
enquanto um pas que no dominava a construo metlica. (...) Depois do
concreto pr-moldado, foi a argamassa armada, ou ferro-cimento, um
importante objeto de pesquisa de Lel. (EKERMAN, 2005).

110
4 ANTECEDENTES HISTRICOS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES BRASILEIROS

Em meados da dcada de 1980, Lel e o mdico Aloysio Campos da Paz decidiram


criar em Salvador no s mais uma unidade da Rede Sarah, mas tambm um
ncleo capaz de produzir industrialmente todos os elementos componentes deste
modelo de edifcio hospitalar. Surge assim o Centro de Tecnologia da Rede Sarah
(CTRS), uma fantstica fbrica de prdios composta por diversos ncleos de
produo: metalurgia pesada (estruturas), argamassa armada, marcenaria
(utilizando apenas aglomerados e compensados), injeo de plstico e fibra de
vidro, dentre outros. At mesmo os equipamentos especiais de uso hospitalar,
como macas e camas15 (Figura 4.17), so produzidos no ncleo de metalurgia leve,
com desenho exclusivo de Lel, no intuito de integrar espao construdo,
equipamentos e usurios. (EKERMAN, 2005)

O Centro de Tecnologia da Rede


Sarah Kubitschek (CTRS) iniciou suas
atividades no canteiro de obras do
Hospital Sarah de Salvador em 1992.
Hoje, o responsvel pela construo
e manuteno dos dez hospitais da
rede. O CTRS mais do que uma
fbrica: m grande centro de
Figura 4.17: Maca projetada por Lel , de modo a dar produo e desenvolvimento de
mobilidade ao paciente com dificuldade de locomoo
tecnologia. (ANTUNES, 2008:58)
internado nos hospitais da Rede Sarah.
Fonte: ANTUNES, 2008

A partir da experincia do Hospital Sarah de Salvador (1991) surgiu tambm a


utilizao das galerias de manuteno das instalaes como dutos de distribuio
de ar fresco maioria dos ambientes do edifcio (com exceo do Centro Cirrgico),
funcionando como um verdadeiro ar-condicionado natural que combate o clima
soteropolitano (estvel e quente).

Do CTRS, em Salvador, as peas so mandadas para todo o Brasil, fazendo a


manuteno dos edifcios existentes e construindo novas unidades16. Segundo
Lel, em uma entrevista concedida autora deste trabalho, atualmente o CTRS
est funcionando bem abaixo de sua capacidade, atendendo apenas a manuteno

15
Recentemente a cama-maca foi modificada: agora, alm de mvel, ela possui um sistema que permite sua
mobilidade vertical, para maior comodidade do paciente. (ANTUNES, 2008:62)
16
EKERMAN, 2005

111
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

das unidades existentes da Rede Sarah. No h demanda porque no h


atualmente nenhuma unidade da Rede em construo, e foi vetada a fabricao de
elementos construtivos para edificaes fora da Rede, como era feito at alguns
anos atrs.

Apesar de extremamente eficiente (produo de obras rpidas, baratas e


de qualidade), o CTRS teve sua produo barrada para outras obras fora
da Rede Sarah, como explica Lel: O Tribunal de Contas diz que fazemos
competio com a iniciativa privada e nos proibiram de produzir qualquer
coisa para fora, temos que trabalhar exclusivamente para a rede Sarah.
Prevamos uma ampliao para essa fbrica, mas parou porque para fazer
s os hospitais da Rede Sarah no tem necessidade de aumentar. J
saram do CTRS oito prdios para o Tribunal de Contas de Salvador, e
pequenas prefeituras por meio de convnios, em cidades da regio Norte,
tudo antes da proibio. (ANTUNES, 2008:58-59)

Como exemplos de experincias na estandardizao de projetos de hospitais


brasileiros existem tambm alguns programas que foram desenvolvidos ao longo da
dcada de 1980 e incio da dcada de 1990: Centro de Sade e Hospital Linha de
Frente (1980), Hospital Pr-fabricado Consrcio BDSL, Siemens, Servlease
(1984), Hospital Regional (1990), o Hospital Geral Padro HGU, da segunda fase
do PMS (Plano Metropolitano de Sade da Grande So Paulo), o Hospital da
Cooperativa Mdica da Unimed (1997), de Joo Carlos Bross e Augusto Guelli e o
Hospital Mnimo do Ministrio da Sade (1997), de Siegbert Zanettini. (ver Anexo 3)

112
5
DINMICA DE TRANSFORMAES
CIENTFICAS E TECNOLGICAS A
SERVIO DA MEDICINA
5 DINMICA DE TRANSFORMAES CIENTFICAS E TECNOLGICAS SERVIO DA MEDICINA

5 DINMICA DE TRANSFORMAES CIENTFICAS E TECNOLGICAS A


SERVIO DA MEDICINA

A tecnologia pode ser definida como o conjunto dos conhecimentos cientficos, dos
processos e mtodos usados na criao e utilizao de bens e servios (HOUAISS,
2004). Para a evoluo da medicina ela elemento chave, e sem a qual no teria
sido possvel o atual refinamento e sucesso no tratamento de muitas doenas. A
cincia s evoluiu em toda a sua amplitude com a ajuda dos artifcios tecnolgicos,
que permitiram enxergar e analisar o interior do corpo humano, bem como os seus
variados componentes. Os Estabelecimentos Assistenciais de Sade, por sua vez,
acompanharam todo o processo de absoro desta tecnologia

No intuito de depreender o processo do aumento da diversidade tecnolgica a


servio da medicina e aprofundar a sua relao com o ambiente construdo, a
seguir ser apresentado um estudo sobre a evoluo das cincias mdicas ao
longo o tempo, colocando quando e como a tecnologia passou a ser utilizada como
a sua mais poderosa aliada no tratamento da sade. Concomitantemente ser
descrita a histria dos edifcios hospitalares, apontando as suas transformaes
fsicas e funcionais como o resultado direto ou indireto desta evoluo cientfica e
tecnolgica.

5.1 IDADE ANTIGA: AS ORIGENS DA MEDICINA NA GRCIA E NO ORIENTE

Inicialmente, o mdico s dispunha de seus sentidos para exame do


paciente. Com a viso, observava o enfermo, com o tato realizava a
palpao e a tomada do pulso; com a audio ouvia as suas queixas e
rudos anormais; com o olfato podia sentir odores caractersticos. O exame
clnico, ensinava Hipcrates, deve comear pelas coisas mais importantes
e mais facilmente reconhecveis. Verificar as semelhanas e as diferenas
com o estado de sade. Observar tudo que se pode ver, ouvir, tocar, sentir,
tudo que se pode reconhecer pelos nossos meios de conhecimento".
(REZENDE, 2002)

Durante a Idade Antiga predominava na medicina a Teoria Humoral (tambm


chamada de Teoria Humoral Hipocrtica ou Galnica, ou ainda Teoria dos Quatro
Humores), que constituiu a principal explicao racional da sade e da doena
entre o sculo IV a.C. e o sculo XVII.

115
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Segue as teorias dominantes na escola de Kos (ilha grega), segundo as


quais a vida seria mantida pelo equilbrio entre quatro humores: sangue,
fleuma, blis amarela e blis negra, procedentes, respectivamente, do
corao, sistema respiratrio, fgado e bao. (...) Segundo o predomnio
natural de um destes humores na constituio dos indivduos, teramos os
diferentes tipos fisiolgicos: o sanguneo, o fleumtico, o bilioso ou colrico
e o melanclico. As doenas se deveriam a um desequilbrio entre os
humores, cuja causa principal seria as alteraes devidas aos alimentos, os
quais, ao ser assimilados pelo organismo, dariam origem aos quatro
humores.1

A prtica mdica na Antiguidade baseava-se na coleta e no processamento de


informaes sobre as experincias com os pacientes (descrio de sintomas). Os
gregos Hipcrates (460-377 a.C.) e Claudius Galenus de Prgamo (131-201 d.C.)
foram os primeiros a documentarem o processo de cura dos doentes. Dava-se
muita importncia ao exame do pulso, e Galenus chegou a descrever 27 variedades
de pulso. Hipcrates foi o primeiro a usar a palavra diagnstico (dia = atravs de,
em meio de; gnosis = conhecimento), que significa discernimento pelo
conhecimento.

Em 280 a.C. Herophilus estudou o sistema nervoso e distinguiu os nervos


sensoriais dos nervos motores, enquanto 30 anos mais tarde Erasistratus de Chios
estudou as divises do crebro. Em 180 a.C. Galenus estudou a conexo entre a
paralisia e a ruptura da espinha dorsal, e em 220 a.C. o chins Zhang Zhongjing
publicou o mais antigo tratado mdico, chamado Shang Han Lun, focado em
diagnstico, tratamento e prognstico. Um sculo depois Pedanius Dioscorides
escreveu De Materia Medica, livro de farmacologia que foi utilizado por quase
1600 anos2.

Ainda muito incipientes, estas primeiras descobertas cientficas no tiveram impacto


em termos arquitetnicos, na medida em que sequer existiam edifcios com a
funo exclusiva de cura de doentes. Etimologicamente, a palavra hospital provm
do latim hospes que significa relativo a hspedes, hospitaleiro, sendo que a
atividade desenvolvida pelos primeiros hospitais era a de hospedagem.

1
WIKIPDIA. Disponvel em <pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_humoral>
2
WIKIPDIA. Disponvel em <en.wikipedia.org/wiki/Timeline_of_medicine_and_medical_technology>

116
5 DINMICA DE TRANSFORMAES CIENTFICAS E TECNOLGICAS SERVIO DA MEDICINA

Durante muito tempo estas instituies foram concebidas como abrigo para
peregrinos, viajantes, pobres e, eventualmente, enfermos. De acordo com TOLEDO
(2002:13), a principal funo do hospital era a de servir como estrutura de
separao e excluso, isolando os mais pobres e os enfermos da sociedade de
forma a minimizar eventuais riscos sociais e epidemiolgicos.

At o sculo XVIII estar prximo de Deus era mais importante que a medicina
propriamente dita, sendo desenvolvida nestas edificaes uma organizao
espacial estruturada de acordo com os padres religiosos da poca. Na Grcia e
Roma antigas apareceram os primeiros edifcios realmente destinados a atender
doentes em busca da cura, (templos chamados Asklepieia) aplicando, todavia,
mtodos de tratamento baseados em experincias espirituais (cura da alma e no
do corpo).

As mais antigas civilizaes de que temos conhecimento, como Babilnia, Egito,


Grcia, etc., tinham suas instituies hospitalares, que mais eram templos, os
mdicos mais sacerdotes, tudo devido ao teor mgico e superstio reinante na
poca. (WATANABE, 1974)

O Imprio Romano marca o perodo em que SILVA (1999) julga ser a real origem
do hospital ocidental. Foi com os romanos que apareceram dois importantes
modelos de arquitetura sanitria na forma das Termas e, principalmente, das
Valetudinrias. As termas tratavam os doentes atravs de banhos termais e a
valetudinria era uma espcie de hospital militar de campanha, dando assistncia
aos legionrios e escravos das grandes propriedades agrcolas.

Durante a Baixa Idade Mdia verifica-se um crescimento da populao, bem como


da importncia do comrcio e das cidades europias. Os hospitais, que ainda eram
sobretudo grandes hospedarias, tambm estavam se expandindo, sendo
compostos por trs tipos bsicos: os Hotel-Dieu (hospitais gerais), os Hospcios ou
Hospitalias (casas de hospedagem) e os Leprosrios (hospitais especializados). Os
Hotel-Dieu surgiram no centro das cidades no sculo XI e abrigavam pobres e
enfermos; os Hospcios recebiam os peregrinos e viajantes nas entradas das
cidades; e os leprosrios eram construdos longe das cidades e pintados de
vermelho para simbolizar a morte.

117
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

5.2 IDADE MDIA: O AVANO DA MEDICINA NO ORIENTE

Cientificamente, somente o Oriente produziu conhecimento mdico no perodo


medieval, com enciclopdias pioneiras na medicina (Isl, Prsia e Arbia). Elas
apresentaram estudos sobre pediatria (838-870), sobre a distino entre varola e
rubola (865-925) e sobre a cirurgia (1000), introduzindo, entre outras coisas, a
utilizao de vrios instrumentos cirrgicos (cordas, frceps, agulha cirrgica,
bisturi, cureta, etc.) 3.

Durante o sculo X tambm foram escritos os primeiros textos sobre oftalmologia


(1021 e 1403) e medicina experimental (1030), onde foram relatadas, por exemplo,
descobertas sobre doenas contagiosas, problemas dermatolgicos, doenas
sexualmente transmissveis e farmacologia. Foi inventada a traqueotomia e foi
iniciada a prtica de dissecamento de cadveres e da necropsia (1100-1161).
Aproximadamente cem anos depois (1242) foram apresentadas teorias sobre a
composio do corao e sobre a circulao pulmonar, bem como aferido que as
doenas infecciosas eram causadas por microorganismos4.

Com uma sociedade muito bem estruturada, o Imprio Bizantino desenvolveu a


tecnologia de abastecimento de gua para as cidades fortificadas, esforo de
organizao que se traduziu no mbito sanitrio pela construo de numerosos
edifcios assistenciais (BOING, 2003:34). Um destes edifcios foi o Xenodochium,
que j demonstrava preocupaes em separar pacientes por sexo. Na cultura
islmica, por sua vez, o modelo hospitalar chamou-se Bimaristan (bimar = pessoa
enferma, e stan = casa) e seu conceito de hospitalidade foi semelhante ao dos
cristos. Nestes hospitais a gua surgiu como um elemento de melhoria do conforto
trmico e da higiene, assim como os numerosos sanitrios, as funes logsticas de
cozinha, dispensrio de medicamentos base de ervas medicinais origem da
farmcia-, reas de enfermagem e necrotrio. (LE MANDAT, 1989, apud BOING,
2003)

3
Idem.
4
Idem.

118
5 DINMICA DE TRANSFORMAES CIENTFICAS E TECNOLGICAS SERVIO DA MEDICINA

Figura 5.01: Xenodochium Bizantino, Tessalonica, sc. VI (planta).


Fonte: LE MANDAT, 1989, apud MIQUELIN, 1992.

Figura 5.02: Bimaristan de Qalawun, Cairo, sc. XIII (planta).


Fonte: LE MANDAT, 1989, apud MIQUELIN, 1992.

No caso do Bimaristan vale apontar aes de vanguarda como a segregao dos


pacientes pelo seu estado de sade, bem como a conservao de reas para
acolher enfermos agitados ou alienados (doentes mentais). Os islmicos eram
tambm preocupados com a higiene e salubridade, estabelecendo estratgias para
distribuio de gua e ventilao. Pela clareza funcional demonstrada por estes
conceitos, foram nestes hospitais antecipadas idias que s seriam resgatadas
pelos ocidentais no Renascimento, a partir do sculo XV.

No Ocidente, por sua vez, o desenvolvimento cientfico na rea mdica s comeou


a ocorrer aps o lento processo de rompimento da simbiose mdico-religiosa.
Segundo SILVA (1999) o que encetou este movimento foi a proibio do exerccio
da medicina por parte da Igreja (a cirurgia era considerada um sacrilgio), que
impulsionou a medicina laica, e apenas no sc. XIII fez surgir em Florena uma
poderosa guilda que reunia sessenta profissionais da rea.

119
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Nesta poca a Idade Mdia do sculo VI ao IX quase no havia instituies


hospitalares no ocidente, fato que pode ser explicado pela fragilidade econmica e
social das aglomeraes urbanas e pelo processo de ruralizao da sociedade
europia. Nos feudos os locais para atendimento aos doentes restringiam-se s
enfermarias anexas s abadias crists. Nas cidades estes locais encontravam-se
espalhados e adaptados em casas modestas. Entre os sculos X e XII, este cenrio
aponta mudanas, dando incio ascenso do saber mdico e assistencial.

Ainda sob a influncia religiosa, a morfologia bsica do hospital medieval foi a nave
(Figura 5.03), cuja forma polivalente refletiu o avano das tecnologias estruturais.
Com vos cada vez maiores, houve melhora significativa na qualidade da
ventilao e iluminao. A separao dos doentes por patologias e sexo tambm foi
aplicada organizao funcional dos edifcios, cujos meios de abastecimento de
gua foram ento estudados e reconhecidos como importantes fatores na melhoria
das condies de higiene. (MIQUELIN, 1992)

Figura 5.03: Hospital Santo Esprito de Lubeck, 1286 (planta).


Fonte: MIQUELIN, 1992.

5.3 RENASCIMENTO: O AVANO DA MEDICINA NO OCIDENTE

O perodo do Renascimento iniciou-se com o crescimento da populao e da


importncia do comrcio nas cidades europias do final do sc. XV, passando a
haver uma presso para a expanso do nmero de hospitais e uma disperso do
interesse na laicizao dos hospitais cristos. Nesta poca a Europa j dispunha de
uma rede considervel de estabelecimentos hospitalares, sendo que Paris contava
com quarenta deles no incio do sc. XIV. Neste perodo foram criadas novas
universidades e iniciadas profundas transformaes sociais. A vida urbana, cada

120
5 DINMICA DE TRANSFORMAES CIENTFICAS E TECNOLGICAS SERVIO DA MEDICINA

vez mais intensa e dinmica, estimulou avanos cientficos como a criao da


imprensa (1462) e dos novos sistemas filosficos. Neste cenrio houve tambm o
abalo da Igreja Catlica e o retorno ao experimentalismo na prtica mdica a partir
da releitura dos clssicos gregos. (SILVA, 1999)

Nos sculos XV e XVI houve grandes avanos com o surgimento da epidemiologia,


da histologia, anatomia e fisiologia. Foi especulada e apresentada a teoria
sistematizada da infeco e do contgio (Teoria dos Miasmas), descoberto o
processo de circulao sangunea, desenvolvida a tcnica de cauterizao de
feridas e realizadas intervenes mais delicadas nas cirurgias. (SILVA, 1999)

Tambm no sculo XVII foi notabilizado o uso do microscpio, que tornou-se a


ferramenta bsica da pesquisa mdica. De acordo com SABBATINI (2000), o
microscpio , seguramente, o instrumento mais importante da histria da
medicina, tanto na pesquisa e ensino, quanto no diagnstico clinico, sem o qual
no seria possvel a bacteriologia, a histologia e a patologia.

Durante toda a Idade Mdia e at o sculo XVII, a medicina ficou presa aos
ensinamentos e doutrinas antigas. Estudiosos como Galeno e Descartes
contriburam muito para as novas descobertas desmistificando o pensamento
antigo, que ainda vigorava, e valorizando o pensamento cientfico5. Com isto, ...

... foi necessria a ampliao do poder da viso para que a natureza fosse
desvendada em seus menores elementos. Sendo o primeiro microscpio
inventado em 1590, por Johannes e Zacharias Jansen de Middelburg, na
Holanda. Em 1610, Galileu adaptou o telescpio para observar objetos
pequenos e, mais tarde, Leeuwenhoek foi pioneiro no uso da protozoologia
e bacteriologia. (...) Em 1676, ele descobriu os infusrios, organismos
ciliados microscpicos, iniciando a microbiologia. (MARINELLI, 2003:73)

Somente no sculo XVIII os mdicos comearam a estudar cadveres e usar


manuais tcnicos para diagnosticar pacientes. Nesta poca tambm j se
examinavam os excretas, especialmente a urina; o exame fsico tambm foi
aperfeioado com a percusso do trax, introduzida por Auenbrugger e divulgada
na Frana por Corvisart. (REZENDE, 2002)

5
MARINELLI, 2003:73.

121
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Durante o sculo XVIII surgiu a figura do mdico como a conhecemos hoje, cuja
prtica baseada em conhecimentos cientficos slidos6, sendo que em 1736 foi
realizada pelo francs Claudius Aymand a primeira apendicectomia bem sucedida.

Como se pode notar, a Renascena foi um perodo muito frtil no meio intelectual
da medicina. Entretanto, tais avanos demoraram a serem colocados em prtica, e
no significaram grandes mudanas no cotidiano da populao at o sc. XIX.
Continuavam as epidemias frequentes, as mesmas crenas, as prticas de sade
familiares, os doentes amontoados nos hospitais a espera da morte, etc.

Houve, todavia, srias mudanas nos conceitos originais dos edifcios hospitalares,
que paulatinamente se moldaram arquitetonicamente aos avanos cientficos e
tecnolgicos da poca. A partir deste perodo o advento das tcnicas de diagnstico
e tratamento de doenas (medicamentos e cirurgia) alavancou o crescimento e a
especializao das atividades nos hospitais, inserindo-os no contexto urbano,
expandindo a sua abrangncia e atraindo mais usurios.

Vrios autores citam o perodo do Iluminismo, no sculo XVIII, como sendo


a origem do Hospital Contemporneo, em se tratando de tipologia e
instituio. Nesse perodo ocorre, segundo Foucault (1979:101), a grande
mudana que revoluciona essa instituio: a juno entre as sries mdica
e hospitalar, fenmeno denominado de Medicalizao do Hospital. Isso
aconteceu quando o hospital passou a se destinar s finalidades mdicas,
passou a ter uma funo teraputica sobre os doentes, atravs do comando
funcional e administrativo da classe mdica. (DALMASSO, 2005)

Os edifcios hospitalares evoluram em tamanho, forma e funo:

Enquanto na Idade Mdia a nave e suas combinaes constituram as


bases formais dos edifcios hospitalares, no Renascimento, as construes
tornaram-se mais complexas utilizando duas formas bsicas: o elemento
cruciforme e o ptio interno ou claustro, rodeado por galerias e corredores.
O hospital-ptio, e suas variaes em cruz, T, L ou U, so assim
formas hospitalares caractersticas da Renascena. (VISCONTI, 1999)

O prottipo do hospital-ptio e suas variaes em cruz foi o hospital italiano


Ospedale Santa Maria Nuova (1288). Na aplicao da tipologia deste hospital

6
MARGOTTA, 1998, apud MARINELLI, 2003:73.

122
5 DINMICA DE TRANSFORMAES CIENTFICAS E TECNOLGICAS SERVIO DA MEDICINA

seguiu-se o Ospedale Maggiore de Milo (1456), projetado por Filarete e tida por
vrios autores como o mais importante hospital do Renascimento italiano.

No projeto deste hospital de Milo pode ser destacada a preocupao com os


aspectos de salubridade e saneamento do edifcio (acesso fcil aos locais de banho
e existncia de lavanderia, cabines sanitrias junto aos leitos e sistema sofisticado
de esgoto). Este foi o primeiro caso em que apareceu na literatura a configurao
de um sistema de instalaes que, embora primrio, envolvesse dispositivos e
tcnicas de engenharia avanadas para a poca. (BOING, 2003)

Figura 5.04: Ospedalle Maggiore, Milo, 1456. (a) planta; (b) perspectiva.
Fonte: SILVA, 1999.

Segundo SILVA (2001), apesar deste processo de evoluo dos hospitais, a prtica
mdica (clnica e cirurgia) at o sc. XVIII se desenrolava totalmente fora destas
instituies. Assim, vrios autores estabelecem que o hospital contemporneo
enquanto tipologia e enquanto instituio originou-se entre os sculos XVII e
XVIII, perodo em que a medicina foi paulatinamente se desvinculando da religio.
Os melhores hospitais que sobreviveram a este perodo esto localizados na
Frana.

Em 1746 houve a revolucionria inveno do motor a vapor pelo escocs James


Watts, dando origem Revoluo Industrial, o que tornou possvel a substituio do
trabalho mecnico dos msculos de homens e animais, do vento e das guas,
principais geradores de energia e movimento at ento. Revolucionou o setor de
transportes (ferrovias e embarcaes a vapor) e criou diversos setores industriais.
A Revoluo Industrial, por sua vez, transformou radicalmente a economia e a
sociedade, em pouco mais de um sculo. (SABBATINI, 1999)

Neste perodo foram lanadas novas bases tecnolgicas para o projeto de edifcios
de hospitais. O Royal Naval Hospital (Inglaterra, 1756-1764) foi o prottipo de uma

123
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

nova tipologia pavilhonar, cujos princpios baseados na indstria naval


influenciaram todo o desenho na sade pelos 250 anos seguintes, segundo
MIQUELIN (1992). O Royal Naval Hospital estabeleceu, pela primeira vez na
Europa Ocidental, um layout ordenado dos elementos da construo, com
separaes funcionais e um claro padro de circulao. (BOING, 2003)

Figura 5.05: Royal Naval Hospital, Inglaterra, 1756-1764. (a) planta; (b) perspectiva.
Fonte: ROSENFIELD, 1969.

5.4 HTEL-DIEU: INCIO DO PLANEJAMENTO HOSPITALAR COMO


DISCIPLINA

Intensificando o desenvolvimento cientfico no planejamento hospitalar, no final do


sc. XVIII intensas reflexes foram despertadas a respeito do tema atravs da
necessidade de reconstruo do Htel-Dieu de Paris, cujo prdio havia sido vtima
de um incndio de grandes propores em 1772. Houve ento a necessidade
flagrante de reconstruo deste hospital, que acolhia permanentemente centenas
de pacientes e no poderia deixar a cidade sem os seus servios.

Como nesta poca as taxas de mortalidade eram muito altas (inclusive no Htel-
Dieu), a salubridade dos hospitais foi severamente questionada, criticando aspectos
como a superlotao, a ventilao das salas e a higiene dos procedimentos
cirrgicos. Este movimento caracterizou um momento histrico de aproximao
entre a tcnica profissional e a arquitetura dos hospitais.

No final do sc. XVIII, os hospitais e asilos urbanos de propores


gigantescas, com nveis desumanos de mortalidade, insalubridade e
promiscuidade, so pesquisados por Tugot, Necker e Tenon. Os resultados
destes estudos formaro boa parte do arcabouo conceitual do
planejamento hospitalar durante o sc. XIX. (MIQUELIN, 1992:40)

124
5 DINMICA DE TRANSFORMAES CIENTFICAS E TECNOLGICAS SERVIO DA MEDICINA

O cirurgio francs Jacques-Ren Tenon, que desempenhou papel importante


nestes acontecimentos, realizou uma srie de relatrios analisando alguns hospitais
franceses. Ele e uma equipe designada pela Academia Real de Cincias (Lavoisier,
Laplace, Beilly, Coulon, Lassone, Daubeton e dArcel) estabeleceram, atravs dos
desenhos do arquiteto Bernard Poyet, um modelo de hospital onde se observou
uma forte estruturao dos servios e dos compartimentos a partir dos eixos de
circulao. Triunfava a partir da a organizao pavilhonar horizontal.

A conscincia de que o hospital pode e deve ser um instrumento destinado a curar


aparece claramente em torno de 1780 e assinalada por uma nova prtica: a visita
e a observao sistemtica e comparada dos hospitais. (FOUCAULT,1979, apud
BOING, 2003:26)

Em 1788 Tenon publicou seus cinco relatrios em uma obra intitulada Mmories sur
ls hspitaux de Paris (Memrias sobre os hospitais de Paris), que reunia os
trabalhos desenvolvidos na pesquisa de hospitais da poca. No quinto relatrio o
mdico apresentou a organizao hospitalar que substituiria o Hotel-Dieu, a qual
consistia na execuo de quatro novos hospitais. As recomendaes de Tenon
foram, entre muitas outras:

1. Nmero de leitos nunca superior a 1.200 unidades;


2. Reduo do nmero de leitos por enfermaria;
3. Maior isolamento entre as enfermarias;
4. Condenao de salas contnuas;
5. Disposio das salas de modo a permitir a circulao do ar com aberturas
de todos os lados;
6. Colocao dos pavilhes em ordem paralela e orientados favoravelmente;
7. Exposio de fachadas, uma ao Norte e outra ao Sul;
8. Construo de um s pavilho destinado aos enfermos ou dois pavilhes
em caso de escassez de terrenos;
9. Permisso para trs andares, sendo os mais elevados, preferencialmente,
para os empregados, e o trreo e o intermedirio para os enfermos;
10. Tratamento e implantao de jardins entre os pavilhes.

Por Tenon tambm foi estudada a volumetria das edificaes para estabelecer a
relao entre as dimenses de cada pavilho de enfermos e o nmero de leitos das
enfermarias, tentando assim assegurar o volume mnimo ideal de ar renovado e
fixar em trs o nmero ideal de pavimentos. Em suas normas para a organizao

125
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

interna do hospital, Tenon props meios de impedir os contgios atravs da


interdio ao uso de leitos coletivos; da separao dos doentes por categoria de
doena e por sexo (antes todos ficavam internados no mesmo espao); de um
ncleo de servios para cada pavilho, sendo todos ligados a uma unidade central;
e de um servio de registros para cada pavilho. Foram condenados os edifcios
hospitalares com partido em bloco (inspirados nos templos romanos) ou em cruz,
cujas plantas dificultavam, ou mesmo impediam a separao dos fluxos de
materiais contaminados (...), considerados como fatores de contgio e propagao
das infeces. (TOLEDO, 2002)

As diretrizes formuladas por Tenon contriburam para a adoo de um


novo partido arquitetnico: o partido pavilhonar, cujas caractersticas
espaciais propiciavam um maior isolamento das enfermarias e a separao
dos diferentes fluxos hospitalares. (...) Ao longo do sculo XIX o partido
pavilhonar tornou-se hegemnico na Europa, constituindo sem sombra de
dvida a mais importante resposta arquitetnica aos saberes e
procedimentos mdicos de uma poca marcada pelas descobertas de
Pasteur e Kock e pelos estudos de Lister sobre a utilizao do cido
carblico na assepsia dos campos cirrgicos. (TOLEDO, s/d)

A ecloso da Revoluo Francesa atrapalhou a execuo dos planos de Tenon,


haja vista terem sido aplicados apenas na construo em Paris do Hospital
Lariboisire, em 1854 (Figura 5.06). Ele era composto por um conjunto de blocos de
trs pavimentos, ligados por um grande corredor (galeria) e dispostos na forma de
pente em volta de um jardim retangular.

Figura 5.06: Hospital Lariboisiere, Paris, 1846-1854. (a) planta; (b) croqui.
Fonte: LE MANDAT, 1989, apud MIQUELIN, 1992.

126
5 DINMICA DE TRANSFORMAES CIENTFICAS E TECNOLGICAS SERVIO DA MEDICINA

A valorizao da ventilao e iluminao naturais dominou o planejamento dos


edifcios deste perodo. Entretanto, segundo MIQUELIN (1992), foi uma estratgia
apoiada em conceitos equivocados. Estes se baseavam na teoria dos miasmas,
que se originou em meados do sc. XVIII e atribua a propagao de doenas a
gases ou miasmas gerados por matria orgnica em decomposio. Por causa
desta teoria, os planejadores desta poca deram grande ateno aos sistemas de
ventilao, grande distncia entre os edifcios e localizao dos sanitrios.

Neste mesmo perodo, os saberes e procedimentos mdicos passaram por


uma grande transformao decorrente de uma maior compreenso das
doenas e de suas formas de transmisso, do surgimento de novos
medicamentos e do desenvolvimento da engenharia clnica, que colocou a
servio dos mdicos uma infinidade de novos equipamentos que, por sua
vez, revolucionaram os diagnsticos e tratamentos, tornando-os muito mais
eficientes. (...) Paralelamente desenvolveram-se novas tcnicas de
assepsia, que extrapolaram o campo cirrgico para abranger todo o edifcio
hospitalar, atravs de uma atitude pr-ativa no que se refere limpeza da
edificao, esterilizao de materiais e equipamentos e prpria higiene
dos profissionais de sade e dos pacientes. (...) Este conjunto de medidas
resultou num controle muito maior do ambiente hospitalar e,
conseqentemente, na conteno das infeces hospitalares via
procedimentos e no mais atravs das barreiras fsicas, como era comum
tanto nos hospitais pavilhonares como nos primeiros hospitais em
monobloco. (TOLEDO, s/d)

A Teoria dos Miasmas foi definitivamente derrubada e, em 1865, iniciou-se a defesa


por procedimentos asspticos baseada nos trabalhos de Louis Pasteur Teoria dos
Germes. Segundo VISCONTI (1999:18), novas tcnicas e procedimentos passam
a ser estudados para combater as infeces cruzadas a partir da descoberta do
papel das bactrias na contaminao dos doentes. Elas podem ser transmitidas
no s pelo ar, mas tambm pelas mos, roupas da equipe mdica ou paramdica
e pelos equipamentos, no sendo, portanto, somente as distncias que impediriam
a propagao das molstias. (SCLIAR, 1998, apud BOING, 2003)

Pasteur tambm possibilitou a vinda dos hospitais para as cidades, na medida em


que graas s suas descobertas os riscos de contaminao foram reduzidos tanto
no interior quanto no exterior do edifcio.

127
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

5.5 SCULO XIX O AVANO DA TECNOLOGIA A SERVIO DA MEDICINA

No sculo XIX os equipamentos mdicos comearam a ser utilizados na assistncia


sade, sendo que os dois primeiros foram o de Hutchinson, para medir a
capacidade vital dos pulmes7, e o manmetro de Herisson, para medir a presso
sangunea. Nesta poca a semitica foi enriquecida pela descrio de sintomas e
sinais caractersticos de muitas doenas, bem como pela idealizao de manobras
e tcnicas especiais de exame.

A instrumentalizao do mdico teve incio com a inveno do estetoscpio por


Rene Laennec em 1816, seguida pelo emprego do termmetro, embora o mesmo
fosse conhecido desde o sculo XVII8. Alm destes, outros acessrios foram
adicionados maleta do mdico, como o oftalmoscpio, abaixador de lngua,
otoscpio, rinoscpio, martelo de reflexo, etc.

Em 1864 foram publicados os trabalhos de Rudolf Virchow, que substituiu pela


Patologia Celular a teoria da Patologia Humoral, at ento norteadora do
pensamento mdico. Na mesma poca, como a taxa de mortalidade ainda era
muito elevada (80% a 90%), precisaram ser superados os problemas de infeco
hospitalar. Em 1865 o cirurgio ingls Joseph Lister lanou as bases da assepsia
estabelecendo a desinfeco dos instrumentos e das mos dos mdicos antes das
cirurgias, bem como a vaporizao das salas.

Segundo SILVA (2000), aos poucos os preceitos de anestesia foram vulgarizados,


conduzindo a uma importante modificao do espao hospitalar. A anestesia fez
diminuir o sofrimento do paciente, facilitando a realizao das cirurgias. Criou-se no
hospital o bloco cirrgico e seus servios anexos, entre eles as reas de
preparao e recuperao de pacientes (UTIs). As mortes diminuram e o nmero
de leitos aumentou.

O aperfeioamento do microscpio, por sua vez, deu nascimento microbiologia,


possibilitando o desenvolvimento das anlises laboratoriais. Esta tecnologia revelou
a estrutura celular dos seres vivos, ajudou a identificar as alteraes patolgicas

7
Bright Hub. Disponvel em <www.brighthub.com/health/technology/articles/7302.aspx>
8
REZENDE, 2002.

128
5 DINMICA DE TRANSFORMAES CIENTFICAS E TECNOLGICAS SERVIO DA MEDICINA

dos tecidos produzidas pelas doenas e ampliou a eficincia dos medicamentos.


(SABBATINI, 2000)

A contribuio do laboratrio ao diagnstico clnico foi imensa, desde a hematologia


at a bioqumica, imunologia e provas funcionais. Estas e outras ferramentas da
tecnologia mdica propriamente dita, desenvolveram-se mais no decorrer do sculo
XX, junto ao diagnstico por imagens, endoscopia e mtodos grficos9. Dentro dos
hospitais, novos espaos foram sendo criados para receber estas novas atividades,
embora lentamente.

Em 1895 o fsico alemo Wilhelm Conrad Rntgen descobriu o uso mdico dos
Raios-X, cujo aparelho revolucionou a medicina ao permitir que os mdicos
obtivessem imagens do corpo dos pacientes sem precisar abri-los. De acordo com
REZENDE (2002), podemos apontar a inveno da radiologia como o marco inicial
da era tecnolgica na sade. Por dcadas foi a tecnologia mais avanada para
prevenir e detectar doenas, permitindo posteriormente o surgimento da
radioterapia.

A descoberta dos Raios-X causou um grande impacto, tanto nos meios


cientficos como entre os leigos. Sentia-se que algo de extraordinrio fora
descoberto e previa-se uma nova fase para a medicina, o que efetivamente
ocorreu. Aos Raios-X seguiram-se outros mtodos de obteno de
imagens, como a cintilografia, ultra-sonografia, tomografia
computadorizada, ressonncia magntica, e mais recentemente, tomografia
com emisso de psitrons e gamagrafia. (REZENDE, 2002)

Na segunda metade do sculo XIX muitos avanos foram alcanados na


engenharia mecnica, com o advento da eletricidade e das telecomunicaes
(telefone, telgrafo, rdio). A indstria alimentou-se destas novas descobertas,
desenvolvendo, entre outros, os transportes (automvel, navegao a vapor), os
materiais para construo civil (ao e concreto armado) e os equipamentos
mecnicos em geral (primeiras autoclaves). Estes avanos, junto s novas
possibilidades de comunicao, foram importantes para os hospitais.

Entre as inovaes tecnolgicas que surgiram nessa poca, destaca-se a


contribuio do engenheiro Casimir Tollet (1892), ao criar uma nova
soluo para a renovao do ar nas enfermarias, por meio da construo

9
REZENDE, 2002.

129
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

de paredes com seo em arco, numa reinterpretao racionalista da


arquitetura gtica, como escreveria Mignot (1983:229). A contribuio de
Tollet para a arquitetura hospitalar no se limitaria a esta proposta, nem aos
inmeros hospitais que construiu na Frana, Itlia e Espanha, j que foi
tambm o autor de um dos mais importantes tratados sobre a arquitetura
hospitalar de seu tempo, intitulado Les difices hospitaliers depuis leur
origine jusqua nos jours. O livro de Casimir Tollet (1892), assim como
Hospitals and asylums of the world, de autoria de Henry C. Burdette (1891),
fazia uma ampla reviso da arquitetura hospitalar, levantando as
caractersticas fsicas das unidades hospitalares, estudando de forma
sistemtica o espaamento das camas, as condies de insolao e
ventilao das alas, as instalaes de calefao, a circulao do ar, custos
por paciente e coeficientes de mortalidade, e comparando os resultados
obtidos com parmetros internacionais. (TOLEDO, 2002:19-20)

Durante o sc. XIX o hospital tornou-se importante para o aprendizado e o mito de


que era um sinnimo de morte e pobreza comeou a desaparecer. Aps 1850 o
hospital passou a se tornar, por excelncia, lugar de tratamento dos doentes e de
restabelecimento da sade. Os fatores que levaram ao desaparecimento do mito
foram de ordem tecnolgica, destacando-se o desenvolvimento da anestesia, o
surgimento de prticas de assepsia e o desenvolvimento da profisso laica de
enfermeira, que englobam as aes de Florence Nightingale.

A enfermeira inglesa Florence Nightingale desempenhou papel muito importante na


consolidao da tipologia pavilhonar em hospitais. Organizadora da profisso de
enfermeira, ela fundou em 1860 uma escola de enfermagem junto ao hospital
londrino St. Thomas, e tambm publicou diversas obras. Em Notes on Hospital
(1859) ela selecionou os elementos mnimos para o bom funcionamento de um
edifcio hospitalar, sendo pioneira na percepo de que a sade dos pacientes no
dependia s de cuidados mdicos, mas tambm da organizao e da configurao
espacial do edifcio.

Nightingale estabeleceu as bases e dimenses do que ficou posteriormente


conhecido como Enfermaria Nightingale, sugerindo que os defeitos dos hospitais
existentes residiam principalmente na falta de modelos adequados de iluminao e
ventilao naturais, reas mnimas por leito e na prpria superlotao.

130
5 DINMICA DE TRANSFORMAES CIENTFICAS E TECNOLGICAS SERVIO DA MEDICINA

Figura 5.07: Enfermaria Nightingale, 1857.


Fonte: MIQUELIN, 1992

A tipologia pavilhonar baseada na enfermaria Nightingale estabeleceu o


zoneamento funcional, dividindo a instituio em internao, cirurgia e diagnsticos,
administrao, servios de apoio e consultrios para atendimento ambulatorial e de
casualidades. Um modelo clebre deste modelo est no hospital americano Johns
Hopkins, inaugurado em Baltimore em 1890.

Figura 5.08: Johns Hopkins Hospital, EUA, 1890. (a) planta; (b) perspectiva.
Fonte: JAMES, 1986, apud BOING,2003.

No sculo XIX houve tambm a especializao dos hospitais para cuidar um nico
tipo de doena. Tomando Londres como exemplo, temos o hospital de olhos, de
1805; o hospital Torcico, de 1814; o hospital de ouvidos, de 1816; o hospital do
Cncer, de 1835; o hospital ortopdico, de 1838, e assim muitos outros.
(PEVSNER, 1980:186)

No final do sculo XIX e incio do sculo XX houve o aperfeioamento da cirurgia


com o uso de anestsicos e a melhoria na formao mdica para cirurgies. Assim
o centro cirrgico ganhou mais importncia e passou a ter presena obrigatria nos
hospitais, ocasionando tambm a diminuio das mortes e uma maior necessidade
de leitos de internao.

131
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Do final do sculo XIX at meados do sculo XX, o progresso das cincias


mdicas foi o maior de toda a histria da humanidade. A fantstica evoluo
da tcnica mdica acarreta fatalmente uma transformao radical no
conceito de hospital (VISCONTI, 1999:17)

5.6 SCULO XX POPULARIZAO DO USO DE TECNOLOGIA NOS


HOSPITAIS E AUMENTO DA SUA COMPLEXIDADE FUNCIONAL

Com a chegada do sculo XX, a medicina no parou de fazer descobertas e de


criar novos procedimentos, aperfeioando tambm os existentes. Logo, os edifcios
cresceram por agregarem mais funes, bem como por incorporarem novas
tcnicas construtivas e de infraestrutura, como os equipamentos de transporte
vertical e de condicionamento do ar10. As formas arquitetnicas tambm mudaram a
partir deste cenrio.

No incio do sculo XX, enquanto o partido pavilhonar consolidava-se na


Europa, surgia, na Amrica do Norte uma nova proposta arquitetnica para
o projeto de hospitais: o monobloco vertical, partido viabilizado pelas novas
tecnologias de construo que ento surgiam, como o concreto armado, os
elevadores e os sistemas de condicionamento e exausto de ar. (...) O novo
partido permitia no s implantar os hospitais em terrenos menores do que
os necessrios aos hospitais pavilhonares, assim como reduzia
drasticamente a extenso das longas circulaes horizontais que os
caracterizavam. (TOLEDO, s/d)

Os edifcios passaram a ser mais altos, sendo que a inveno do elevador


possibilitou a multiplicao dos pavimentos. Nos hospitais, o advento do
aquecimento central ou disperso, da refrigerao, do condicionamento do ar e dos
sinais luminosos contribuiu para a composio de grandes massas edificadas, com
economia de multiplicao de servios e de transporte horizontal (carrinhos para o
transporte de suprimentos). (CAMPOS, 1952)

O modelo tpico deste tipo de edifcio era dividido em seis partes bsicas
configuradas pelo subsolo, trreo, primeiro andar, andares intermedirios, ltimo

10
Em 1902 foi construdo em Buffalo, Estados Unidos, o primeiro edifcio especialmente projetado para receber
um sistema de ar condicionado, que foi o Larkin Administration Building, do arquiteto Frank Lloyd Wright.
(associatedhvacr.com/ACHistory.aspx)

132
5 DINMICA DE TRANSFORMAES CIENTFICAS E TECNOLGICAS SERVIO DA MEDICINA

andar e sto. No subsolo agrupavam-se os servios de apoio, no trreo os


consultrios mdicos e as reas de diagnstico (radiologia), no primeiro andar o
laboratrio e os servios administrativos, nos andares intermedirios as reas de
internao, no ltimo andar o Bloco Operatrio e no sto a moradia para
residentes mdicos e de enfermagem.

Como prottipo deste modelo tipolgico e organizacional est o Otawa Civic


Hospital (Figura 5.09), construdo no Canad na dcada de 1920. Com o mesmo
modelo outros hospitais foram simultaneamente construdos nos Estados Unidos e,
posteriormente, na Frana (Cit Hospitalire, de Lille em 1932, e Hospital Beaujon,
de Clichy em 1935) e na Sua.

Figura 5.09: Otawa Civic Hospital. (a) planta; (b) corte; (c) perspectiva.
Fonte: MIQUELIN, 1992.

O sistema de condicionamento de ar, cujo desenvolvimento no tinha mais


do que 20 anos, ficava no sto, sobre o bloco operatrio. Os elevadores,
lentos, caros e insuficientes, eram sempre o melhor local para o cruzamento
de fluxos incompatveis. Logo se percebeu que os servios com forte
tendncia de crescimento, como radiologia e laboratrio, no tinham espao
para ampliao. As anatomias mistas foram a resposta na dcada de 1950.
(MIQUELIN, 1997:104)

Segundo MARINELLI (2003:88), na dcada de 1920 teve incio o processamento de


Sinais Biolgicos, o que possibilitou o surgimento dos primeiros Eletrocardigrafos,
e em seguida, na dcada de 1930, do Eletroencelgrafo ambos revolucionaram a
cardiologia e a neurologia. No mesmo perodo, incentivando a verticalizao dos
hospitais brasileiros, chegou ao pas a fabricao do cimento e de barras de ao,
matria prima para a execuo de estruturas de concreto armado. Destaca-se a
construo do Edifcio Martinelli, em So Paulo, entre 1925 e 1929. (FERNANDES,
2003:24)

133
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Para a universalizao do atendimento hospitalar e a extino do atendimento


domiciliar, a origem da mudana foi a popularizao de novas tecnologias de apoio
ao diagnstico e o grande desenvolvimento da indstria farmacutica, sobretudo
entre 1930 e 1950. Com a disseminao da aplicao das tcnicas de Raios-X e o
aumento da eficincia e da acessibilidade aos medicamentos, foi incentivado o
acesso ao hospital.

A mudana do perfil de usurios implicou na introduo gradativa de leitos


privativos de internao, sendo que na dcada de 1920 aparecem na Europa as
primeiras subdivises nas enfermarias Nightingale. No hospital dinamarqus
Rigshospitalet Copenhagen, por exemplo, as enfermarias foram compartimentadas
com divisrias pela primeira vez. (MIQUELIN, 1992)

Nos anos 1920 os Estados Unidos foi o pas que mais fez avanos na rea mdica,
incluindo a descoberta da insulina (1921) e das primeiras vacinas para a difteria
(1923), a coqueluche (1926), a tuberculose (1927) e o ttano (1927). L foi tambm
criado o primeiro respirador artificial (1927).

Aps a Primeira Grande Guerra Mundial os Estados Unidos tornaram-se a


maior potncia econmica do mundo. Em 1920 a indstria norte-americana
era responsvel por quase 50% de toda a produo industrial mundial. (...)
Enquanto isso os pases europeus lutavam com dificuldade para reconstruir
a Europa no ps-guerra. (COTRIN, 1999, apud BOING,2003)

Em 1928 foi descoberta a penicilina pelo ingls Alexander Fleming, possibilitando


assim a inveno dos antibiticos. Esta foi, segundo SABBATINI (2000) a
descoberta que transformou mais profundamente a nossa histria, ao livrar-nos da
maioria das infeces bacterianas que provocavam grande mortalidade no
passado, como a tuberculose, a pneumonia, a meningite, a sfilis, a crupe, a
gangrena, e outras.

Alimentando novamente as tecnologias relacionadas comunicao, na dcada de


1940, um dos primeiros computadores digitais foi utilizado na Alemanha no Hospital
Heidelberg, para o registro de tumores11. Segundo SABBATINI (1999), isto
permitiu, mais tarde, invenes derivadas como a internet, a multimdia, as
telecomunicaes digitais, os CDs, os aparelhos inteligentes, os bancos de dados,

11
MARINELLI, 2003:76.

134
5 DINMICA DE TRANSFORMAES CIENTFICAS E TECNOLGICAS SERVIO DA MEDICINA

etc., todos aplicados atualmente nos procedimentos mdicos e revolucionando os


edifcios hospitalares, como veremos nos prximos captulos desta dissertao.

Com expanso do conhecimento exigido para o diagnstico e o tratamento dos


pacientes, nesta poca intensificou-se a especializao mdica, que se refletiu no
aumento da complexidade dos equipamentos. Aumentou tambm o nmero de
dados necessrios para diagnosticar e tratar os pacientes, inflando a quantidade e
a importncia dos dados nos documentos armazenados nas reas de
arquivo/registro mdico. As reas administrativas cresceram dentro das instituies
hospitalares.

5.7 PERODO PS-GUERRA: ACELERAO

Segundo SCHMIDT (2003), as discusses at esse momento eram mais sobre a


localizao dos setores do que sobre o dimensionamento ou modulaes
estruturais, o que comprometia a flexibilidade dos projetos. Com a passagem das
duas guerras, o cenrio mudou com a ascenso dos conceitos de construo
racional em srie. Foram feitas pesquisas, especialmente na Europa, para
aperfeioar o sistema hospitalar da poca, haja vista os seus altos custos de
manuteno e readaptao.

A tipologia que surgiu dessa realidade foi a Torre e Base, que misturava as
vantagens da tipologia pavilhonar, com amplos setores no subsolo e trreo,
somados torre destinada a internaes e centro cirrgico. Com essa tipologia
nasceu tambm a necessidade mxima da modulao e do uso de tecnologias
passveis de modificaes que gerassem poucos transtornos. (SCHMIDT, 2003)

A tipologia mista, cujo prottipo foi o Hospital Memorial Frana-Estados Unidos


(Saint L, Frana), foi a mais reproduzida na arquitetura dos hospitais brasileiros da
poca, na medida em que se tornou dominante no trao modernista de arquitetos
como Rino Levi e Roberto Cerqueira Cesar, Oscar Niemeyer e Helio Ucha, Ari
Garcia Rosa, Jorge Moreira e Aldary Toledo, Oscar Waldetaro e Roberto Nadalutti.
(TOLEDO, 2002)

135
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Figura 5.10: Hospital Memorial Frana-Estados Unidos, Saint-L, 1955. (a) planta; (b) perspectiva.
Fonte: MIQUELIN, 1992.

Frente s perdas das duas guerras, os avanos dos meios de cura s doenas e o
movimento de reconstruo das cidades devastadas, a indstria se empenhou
muito no desenvolvimento de tecnologias para a construo em srie e a
estandardizao em geral. Impulsionado por esta era da mquina e pela ascenso
dos conceitos modernistas, o hospital procurou se tornar uma mquina de cura
atravs de uma sistematizao e especializao funcional cada vez maior.

O novo hospital, originado nos EUA nas dcadas que se seguiram ao fim
da Segunda Guerra Mundial, cresce em tamanho e complexidade e deve
abrigar convenientemente a tecnologia que surgia, apresentando um
programa compartimentado em reas para: diagnstico, tratamento,
cirurgia, administrao, refeio e apoios. At 1980, nos anos do Estilo
Internacional, prevaleceu o lema menos mais entre os arquitetos. O
hospital transformou-se em um local para aplicao dos princpios
modernistas, num esforo em expressar os ditos da era da medicina
tecnolgica. (...) A expressividade do Estilo Internacional era aclamada por
administradores como a expresso arquitetnica perfeita na idade da
medicina de alta tecnologia. Agora era possvel reduzir o hospital sua
essncia estrutural e permitir que se tornasse um recipiente de mquinas
para curar. (VERDERBER e FINE, 2000, apud DALMASSO, 2005)

A grande reconstruo mundial que marcou o perodo aps a Segunda Guerra


instigou uma acelerada busca pelo aperfeioamento cientfico e tecnolgico.
Surgiram os antibiticos e as doenas infecciosas perderam espao para as
doenas degenerativas, ao passo que caiu por terra a necessidade de isolamento e
distanciamento entre os pacientes. A radioterapia evoluiu muito devido ao aumento

136
5 DINMICA DE TRANSFORMAES CIENTFICAS E TECNOLGICAS SERVIO DA MEDICINA

de potncia dos aparelhos graas eletrnica e o incio da utilizao de istopos12.


Entrementes, os sistemas de condicionamento mecnico de ar sofisticaram-se
rapidamente, bem como os mtodos industriais de transporte e manuseio de
suprimentos nas instituies de sade.

Neste perodo, com o intenso refinamento tcnico dos procedimentos realizados na


assistncia aos pacientes, progressivamente exigiu-se mais dos vrios ramos da
tecnologia. O controle das condies do ar, por exemplo, se tornou cada vez mais
importante para as cirurgias, equipamentos, computadores, tratamento de
patologias relacionadas ao metabolismo e sistema imunolgico. A medicina, a partir
deste momento, cobrou respostas da indstria com maior proximidade e frequncia,
no intuito de melhorar o tratamento e, especialmente, o diagnstico das doenas.

Foram adicionas medicina novas mquinas como as de Tomografia


Computadorizada, Medicina Nuclear e Ressonncia Magntica. Estas
possibilitaram a criao de novos setores de assistncia dentro dos hospitais,
atraindo cada vez mais os pacientes externos. Com equipamentos caros que no
podiam ser facilmente transportados, pessoas de todas as classes sociais
passaram a frequentar mais certas reas dos hospitais, o que representou
mudanas muito importantes nos seus edifcios.

Segundo entrevista com o engenheiro Manuel Moreira, o primeiro passo para a


criao destes novos equipamentos foi a inveno do Transistor em 1948, elemento
que substituiu nas mquinas a utilizao de vlvulas e iniciou a microeletrnica.

A inveno do transistor considerada a mais importante do sculo XX. Esse


minsculo dispositivo revolucionou a eletrnica e as comunicaes. (SIQUEIRA,
2008)

A partir da os equipamentos mdicos ficaram mais rpidos e possibilitaram atender


mais pacientes num espao menor de tempo. Segundo Moreira, se antes o exame
conseguia atender 15 pacientes por dia, com o tempo ele passou a atender 120,
aumentando o nmero de procedimentos de acordo com a eficincia do
equipamento.

12
MARINELLI, 2003:7.

137
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

5.7.1 Dcada de 50

Segundo MIQUELIN (1992) foi na dcada de 1950 que as cincias mdicas se


desenvolveram com maior acelerao, ressaltando os avanos na cardiologia, no
diagnstico por imagem, na cirurgia em geral, nas anlises laboratoriais e nos
servios de processamento e distribuio de materiais. Merecem destaque nesta
poca o surgimento do Microscpio Eletrnico, dos estudos sobre Medicina Nuclear
e dos princpios do sonar (equipamento detector de ondas sonoras), desenvolvidos
durante a Segunda Guerra e aplicados ao diagnstico por imagem atravs da
Ultrasonografia.

Durante as dcadas de 1950 e 1960 o movimento moderno influenciou muito a


consolidao de uma arquitetura funcionalista nos edifcios hospitalares, aplicando
veementemente os conceitos de racionalizao e padronizao (ver Anexo 1). Foi
nesta poca que surgiram tambm os primeiros documentos norteadores de
projetos desta natureza. Uma das primeiras recomendaes para hospitais foi
lanada na Frana em 1954, com um documento com regras lgicas para a
articulao das unidades hospitalares (MIQUELIN, 1992). No Brasil a primeira
norma veio em 1956 para guiar reas mais especficas das instituies13, e em
1964 e 1965 seguiram-se as mais gerais relacionadas a todo o edifcio14.

5.7.2 Dcada de 60

Os anos 1960 e 1970 viram crescentes avanos em tecnologia, no s na


rea clnica com transplantes, micro-cirurgias e antibiticos sintticos, mas
tambm na rea de assistncia com sistemas de comunicao, sistemas
automatizados de movimento de materiais, infraestrutura sistematizada e
estrutura de construo como as usadas no McMaster University Medical
Centre. (CHRISTIE, CHEFURKA, NESDOLY15)

Nos anos 1960 houve o incio da informtica em sade (que consiste na utilizao
da tecnologia e dos recursos em informtica na rea da sade individual e coletiva)

13
1956: Lavanderia no hospital; 1960: Cozinha no Hospital. (KOTAKA, 1992:4)
14
1964: Hospitais especializados e suas caractersticas e Plantas, projeto e construo de hospitais e
estabelecimentos para hospitais; 1965: Projetos de normas disciplinadoras das construes hospitalares.
(KOTAKA, 1992:4)
15
Disponvel em <muhc-healing.mcgill.ca/english/Speakers/chefurka_p.html>

138
5 DINMICA DE TRANSFORMAES CIENTFICAS E TECNOLGICAS SERVIO DA MEDICINA

com a implantao de computadores de grande porte, destinados administrao


de grandes hospitais e processamento estatstico de dados. Logo vieram os
computadores de mdio e pequeno porte, que abriram caminho para a utilizao da
informtica na rea clnica e tcnico - cientifica. (MARINELLI, 2003)

Nesta dcada intensificaram-se os estudos relacionados ao planejamento


hospitalar. A estandardizao, a modulao e a pr-fabricao nas instituies de
sade ganharam destaque com pesquisas britnicas (Servio Nacional de Sade
da Gr-Bretanha) e norte-americanas (US Veterans Administration), as quais
desenvolveram mdulos bsicos para estrutura, servios e espaos nos hospitais.
O foco estava na melhoria de desempenho e adaptabilidade dos seus edifcios,
bem como na diminuio do seu tempo de planejamento e dos seus custos
operacionais. (ver Anexo 2)

No mesmo perodo foi dada ateno especial aos sistemas de instalaes (gua,
gases medicinais, energia, telefonia, etc.) nos edifcios hospitalares. Surgiu nos
Estados Unidos o pavimento tcnico como ferramenta estratgica de compactao
das instalaes prediais. Eles passaram a formar, junto aos dutos verticais (Shafts),
um sistema independente na infraestrutura do edifcio, constituindo uma evoluo
do forro falso para esconder as instalaes e, sobretudo, facilitar a manuteno
com p-direito adequado para o acesso dos profissionais.

5.7.3 Dcada de 70

As tcnicas de imagem digital foram implantadas como uso clnico pela primeira
vez, nos anos 1970, possibilitando o surgimento da Tomografia Computadorizada
(TC ou CAT Computerized Axial Toography 1975). Em seguida foi desenvolvido
o exame de Ressonncia Magntica (RM ou MRI Magnetic Resonance Imaging),
que foi introduzido nos hospitais para diagnstico em 1983.

Neste perodo foi criado tambm o equipamento PET (Positron Emission


Tomography), na rea de Medicina Nuclear. Ocorreram, segundo MARINELLI
(2003), avanos a na cirurgia e na microscopia, que culminaram na endoscopia.
Esta possibilitou a realizao de cirurgias mais precisas e menos invasivas,
permitindo menos sofrimento ao paciente e uma recuperao muito mais rpida.

Segundo SABBATINI (2003), a introduo da internet no meio hospitalar aconteceu


tambm nesta poca, quando a principal aplicao era o email. Foi quando, no

139
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Brasil, a informtica aplicada medicina comeou a ser pensada em alguns


hospitais, principalmente no Hospital da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no
Instituto do Corao e no Hospital das Clnicas de So Paulo e Ribeiro Preto. A
informtica mdica teve uma grande arrancada em 1983, com a criao de novos
grupos dedicados a esta rea de conhecimento, pesquisa e ensino. (MARINELLI,
2003)

Nesta poca tambm surge nos Estados Unidos a Engenharia Clnica, uma nova
especialidade tcnica da rea mdica que tinha como objetivo a segurana eltrica
dos equipamentos, evoluindo para o conceito atual. Tal necessidade adveio de
inmeros acidentes, nesse campo, com pacientes e profissionais da sade.
(CORNIALI e LEITE, 2003:104)

Na arquitetura foram desenvolvidos estudos sobre as medidas de modulao nos


hospitais e sobre a longevidade dos equipamentos e instalaes mdico-
hospitalares. Foi estabelecida a modulao estrutural de 7,20 x 7,20m (mltiplo de
30cm) e foi constatado que, por durarem bem menos que a edificao, os
equipamentos e instalaes necessitam de ateno especial sua manuteno. O
edifcio, antes esttico, comea a consolidar o carter dinmico.

Na determinncia das necessidades da tecnologia sobre o desenho dos espaos,


novas preocupaes vieram tona nos hospitais durante este perodo. Entre elas
destacaram-se as necessidades de expansibilidade, de flexibilidade, de
racionalidade (qualidade, custo e velocidade) e de humanizao16. Segundo
VISCONTI (1999) nesta poca que se intensifica a preocupao em retardar o
processo de envelhecimento dos hospitais, que j apresentam dificuldades em
adaptarem-se s inconstantes variveis cientficas e tecnolgicas.

Nota-se que a partir da dcada de 1970 fica mais evidente a transformao


arquitetnica nos hospitais, que partiram de uma estrutura pequena ao redor de
poucos servios para se transformarem na complexa multiplicao das reas
especializadas. Foi apontado ento o novo modelo de hospital produzido pela
valorizao do atendimento ao paciente externo, um fenmeno crescente e

16
Algumas destas necessidades, porm, j haviam sido apontadas pelos estudos da Gr-Bretanha nos anos 1960.
(ver Anexo 2)

140
5 DINMICA DE TRANSFORMAES CIENTFICAS E TECNOLGICAS SERVIO DA MEDICINA

decisivo que acaba com a bipolaridade exclusiva entre a internao e as reas


assistenciais. (CASARES, 1994, apud SCHMIDT, 2003:31)

5.7.4 Dcada de 80

A tecnologia da Ressonncia Magntica, inicialmente investigada nos anos 1950 e


intensamente pesquisada no incio da dcada de 1970, somente foi aplicada nos
anos 1980, quando os primeiros prottipos do equipamento foram testados em
pacientes clnicos. As mquinas foram liberadas para comercializao nos Estados
Unidos em 1984 e o seu uso se espalhou pelo mundo rapidamente desde ento.

O aperto econmico por que passaram os hospitais no final da dcada de 1980 e


durante a dcada de 1990, obrigou-os a modernizarem seus processos
administrativos e produtivos. Alm disso, a necessidade de reduo de custos, nos
hospitais fez emergirem estratgias como a priorizao de pacientes crticos nas
internaes, a reduo de tempo de internao de pacientes e a promoo de
servios para pacientes externos.

Nos anos 1980 e 1990 pesquisas assinalaram o aumento das reas por leito, na
medida em que aumentou a demanda de pacientes e foram incorporados novos
servios nas instituies (servios de diagnstico por imagem, por exemplo). Alm
disso, aumentou a necessidade de privacidade do paciente, agora com maior poder
aquisitivo. Para isso foram construdas mais enfermarias (sutes) individuais, as
quais ganharam mais espao e se tornaram mais sofisticadas.

Foram introduzidos os conceitos de hotelaria nas reas de internao dos hospitais,


intensificando a discusso sobre a humanizao dos edifcios e sobre a psicologia
ambiental nos espaos hospitalares.

5.7.5 Dcada de 90

O atendimento sade e as transformaes dos edifcios hospitalares, na dcada


de 1990, foram marcados pelas influncias de ordem poltica e econmica, no
Brasil e nos Estados Unidos. Houve crise, e esta pode ser atribuda tambm ao
crescimento da dimenso fsica e funcional das instituies de sade.

141
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Segundo BURKHART (1995), houve a diminuio do atendimento de pacientes


internos, enquanto os servios para pacientes externos e unidades de ateno
especial como maternidade e centro de cncer cresceram. Como sintoma,
NESMITH (1995) colocou o crescimento do nmero de centros de atendimento ao
paciente externo fora do hospital (Unidades Ambulatoriais).

Clnicas particulares e Centros de Diagnstico multiplicaram-se, muitas vezes


permanecendo ainda prximos dos hospitais por uma questo de logstica.
Cresceram no Brasil as empresas de Planos de Sade (ver Captulo 4) e com isso
mudou o perfil de muitos usurios e servios nos EAS. Como consequncia, os
edifcios tambm se modificaram.

Surgiram nos hospitais brasileiros reas administrativas voltadas ao atendimento


dos pacientes conveniados aos Planos de Sade, segregando muitas vezes o
atendimento dos mesmos em relao aos pacientes vinculados ao SUS (Sistema
nico de Sade). Alm disso, aumentou o nmero de hospitais voltados ao
atendimento privado.

Segundo PEARSON (1995), nos Estados Unidos os anos 1990 foram marcados
pela crise em muitos hospitais, onde se falava em fechar algumas instituies,
diminuir os investimentos em assistncia mdica e negar atendimento aos
imigrantes ilegais no pas. Em Nova Iorque recomendou-se a venda ou locao de
onze hospitais pblicos, e em Los Angeles o oramento para o sistema de hospitais
e clnicas pblicas foi cortado pela metade.

Na poca o arquiteto Erich Burkhart comentou que os hospitais estavam muito


caros para serem construdos e levavam muito tempo para serem planejados,
sendo ainda muito inflexveis. O arquiteto tambm dizia que a indstria para a qual
estamos desenhando est mudando mais rapidamente do que os prprios
projetos17. A discusso, apresentada na forma de um artigo da revista Architectural
Record, foi pautada pela comparao destes hospitais a dinossauros, pois
estavam se tornando muito grandes e muito caros para adaptarem-se ao cenrio de
rpidas mudanas da sade.

17
PEARSON (1995)

142
5 DINMICA DE TRANSFORMAES CIENTFICAS E TECNOLGICAS SERVIO DA MEDICINA

5.7.6 Sculo XXI

Os anos 2000 foram marcados pelo surgimento e desenvolvimento da terapia


gnica, que consiste em evitar ou tratar doenas atravs da interferncia direta no
cdigo gentico (DNA) contido nas clulas. Chamada de medicina molecular,
constitui uma metodologia extremamente nova, e ainda polmica, por no ter
apresentado resultados consistentes at agora, apesar dos enormes investimentos
feitos em pesquisa e em desenvolvimento. Mas ningum duvida que ela seja o
futuro da medicina, a vitria definitiva contra muitas doenas. (SABBATINI, 2000)

A medicina gentica, a mdio e longo prazo, causar mudanas na


preveno de doenas e, conseqentemente, no espao para tratar essas
doenas. Uma das mudanas consiste na elevao da idade geral da
populao, devido preveno antecipada de doenas. O projeto
GENOMA, com o mapeamento dos genes humanos revolucionar os
mtodos e as formas de tratamento das doenas atuais, bem como sua
forma de preveno. (SCHMIDT, 2003:246)

Segundo o engenheiro Carlos Hernandez, os sistemas de compartilhamento e


transmisso de imagens (PAX, TI) foram introduzidos nos hospitais por volta de
2003 e 2004. Apesar das inseguranas legais e da resistncia cultural dos prprios
mdicos, no ano seguinte surgiram nos Estados Unidos os primeiros hospitais
inteiramente digitais (paperless hospitals), com o Orlando Regional Healthcare, o
Indiana Heart Hospital, o Baptist Center South e o Oklahoma Heart Hospital,
destacando-se ainda o Hospital espanhol Torrevieja Salud.

Em 2006, pela primeira vez (no Brasil) um rob realizou sozinho uma cirurgia de
corao distncia. Isto ocorreu no Centro Cirrgico do Hospital Srio-Libans, em
So Paulo, 20 anos aps a primeira cirurgia com interveno robtica no mundo,
que ocorreu na Frana em 1988. (OLIVEIRA, 2008)

Mais recentemente (2009), outro destaque na rea tecnolgica que apoia a


medicina foi o desenvolvimento de um sistema de cirurgia guiada simultaneamente
por equipamentos de diagnstico por imagem, ainda em experimentao no
Brigham and Womens Hospital, instituio norte-americana vinculada ao MIT
(Massachusetts Institute of Technology). Chama-se Advanced Image-guided
Operating Suit (AMIGO) e se tornou um programa pioneiro no mundo em terapia
guiada, em tempo real, com o auxlio dos equipamentos de Ressonncia Magntica
e de PET.

143
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Segundo CHRISTIE, CHEFURKA e NESDOLY18 hoje existe uma extensa lista de


tendncias tecnolgicas na rea mdica, a qual inclui:

Continuados avanos clnicos tendendo miniaturizao e mobilidade;


Descentralizao de servios e equipe tcnica (assistncia multidisciplinar);
Avanos dos sistemas de comunicao e informao para registro do
quadro de sade do paciente (Telemedicina);
Crescimento dos procedimentos minimamente invasivos, reduzindo as
pernoites nos hospitais;
Expanso das clnicas de pacientes externos;
Crescente reconhecimento da contribuio da famlia no processo de cura;
Aceitao gradual dos benefcios dos modos de terapia no tradicionais
(massagens, acupuntura);
Aumento do acesso informao pelo prprio paciente, que se torna cada
vez mais exigente;
Aumento da pesquisa clnica integrada ao ambiente de assistncia.

Frente a tantos avanos e variveis a serem consideradas no planejamento dos


espaos para os equipamentos mdicos, o que tem impressionado a rapidez das
transformaes geradas e tambm a mudana do paradigma, como coloca Sidnei
Dias, em seu texto A Cultura da Mudana e a Mudana de Cultura.

Quando um engenheiro projetava uma mquina em 1940, ...

... a sua grande preocupao era com a robustez do equipamento, pois,


tinha, segundo os conceitos de tecnologia da poca, que construir uma
mquina que durasse a vida toda. Esse conceito de vida eterna vinha da
viso que a mudana tecnolgica era muito lenta, portanto, a mquina iria
demorar muito tempo para ficar obsoleta. (DIAS, 2003:8)

J em 1990, o mesmo engenheiro est agora velhinho, porm muito atualizado e


ainda projetando mquinas, adaptado ao desenho digital.

Sua viso de tecnologia est totalmente modificada, pois saiu dos sistemas
totalmente mecnicos para usufruir da eletro-pneumtica,eletrnica e suas
variaes, portanto est projetando mquinas com alto contedo
tecnolgico e com uma viso de que esse equipamento ter uma vida til

18
Disponvel em <muhc-healing.mcgill.ca/english/Speakers/chefurka_p.html>

144
5 DINMICA DE TRANSFORMAES CIENTFICAS E TECNOLGICAS SERVIO DA MEDICINA

tecnologicamente atualizada de aproximadamente seis anos. (DIAS,


2003:9)

Dez anos depois, entrando no sculo XXI, ...

... os avanos da micro-eletrnica e da informtica tornaram os


equipamentos cada vez mais complexos e inteligentes, porm tendo uma
vida til tecnologicamente atualizada muito curta. A obsolescncia dos
equipamentos um dos fatores de grande preocupao das organizaes
que querem se manter competitivas, pois todos os dias temos grandes
novidades no que diz respeito a tecnologia. Estamos iniciando um perodo
onde o conceito de descartvel est tendo uma grande nfase em funo
dessas transformaes. (DIAS, 2003:9)

Compreendendo a evoluo da cincia e das tecnologias a servio da medicina


relacionada evoluo arquitetnica dos hospitais possvel determinar que a
relao entre a tecnologia e a arquitetura sempre foi muito prxima. A prioridade
dos edifcios hospitalares garantir a sade dos seus usurios e, para isso,
necessrio que os mesmos acompanhem o desenvolvimento da medicina e das
tecnologias nas quais se apiam os tratamentos.

Haja vista o grau de determinncia da forma dos edifcios pelos avanos da


medicina, pde ser verificado a cristalizao do hospital contemporneo como um
conjunto articulado de agrupamentos ou zonas de atividades. Nesta nova fase, vem
dominando a prtica de uma construo menos preocupada com fatores tipolgicos
ou de insero urbana, distanciando-se do racionalismo esttico pela dificuldade
em manterem-se volumes puros nos edifcios (muitas expanses e edificaes
anexas).

Ao que parece, a discusso atual se concentra na busca de flexibilidade nos


projetos de novas instituies de sade, pois a complexidade de sua organizao
funcional aumentou muito. Neste sentido, pode-se observar a existncia de um
movimento destinado a reverter este quadro.

145
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

146
6
INOVAES TECNOLGICAS
RECENTES
6 INOVAES TECNOLGICAS RECENTES

6 INOVAES TECNOLGICAS RECENTES

6.1 COMPARTILHAMENTO E PROCESSAMENTO DE DADOS E IMAGENS

6.1.1 Informtica Mdica

O advento da informtica transformou os padres de transmisso de informaes


na cultura humana. Durante sculos, os registros de todas as espcies foram
realizados em papel ou pergaminhos. Com o surgimento do registro em meio
magntico, com toda sua sofisticao e durabilidade, novos conceitos e
possibilidades se apresentaram e os registros ganharam uma face multifuncional.1

Desde a formalizao da disciplina em 1974, a informtica mdica est em


crescente desenvolvimento e cada vez mais ela de extrema importncia
para a rea da sade. (MARINELLI, 2003:76)

Segundo MARINELLI (2003:90), a digitalizao de imagens teve seu incio no final


da primeira grande guerra. O grande avano aconteceu por volta de 1964 na NASA
(National Aeronautics and Space Administration), quando o processamento de
imagem foi utilizado em grande escala para processar as imagens da lua enviadas
pela sonda Ranger-7. Hoje o grande desenvolvimento desta rea se deve ao
desenvolvimento de componentes eletrnicos menores, mais baratos e potentes,
democratizando o acesso a esses equipamentos e exames.

No Brasil a informtica aplicada medicina entrou com certo atraso em relao aos
EUA e Europa, tendo incio nos primeiros anos da dcada de 1970,
simultaneamente em alguns centros universitrios, principalmente no Hospital da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no Instituto do Corao e nos
demais Hospitais do Complexo HC de So Paulo e Ribeiro Preto. Segundo
MARINELLI (2003:117), o Hospital Albert Einstein implantou seu pronturio na rede
interna (pronturio eletrnico) em 1998, e o Instituto do Corao o fez em 2000. O
Hospital Srio Libans foi um dos pioneiros na conexo entre hospitais atravs do
sistema de videoconferncia, onde foi implantado um projeto piloto nas enfermarias,
possibilitando a conversa entre o paciente e o mdico. L houve tambm a primeira
Telecirurgia brasileira.

1
Clicsaude. Disponvel em: <www.clicsaude.com.br/pub/materiaview.asp?cod_materia=229, 2006>

149
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

De acordo com a Sociedade Brasileira de Informtica em Sade, a sade uma


das reas da qual h maior necessidade de informao para tomada de decises.
Como campo cientfico, a Informtica Mdica lida com recursos, dispositivos e
mtodos para otimizar o armazenamento, recuperao e gerenciamento de
informaes biomdicas, atuando como Sistemas de Informao em Sade,
Pronturio Eletrnico do Paciente, Telemedicina, Sistemas de Apoio Deciso,
Processamento de Sinais Biolgicos, Processamento de Imagens Mdicas, Internet
em Sade e Padronizao da Informao em Sade. (MARINELLI, 2003)

Segundo PEARSON (1997:166), embora ocupem espaos pequenos, as novas


tecnologias computacionais podem ter um grande impacto nas instituies de
sade, significando a descentralizao funcional e at a descentralizao
institucional dos prprios hospitais. Em ltima anlise, o arquivamento eletrnico e
o compartilhamento de informaes e registros podem permitir que mais funes
ocorram fora do hospital2. A filosofia a de que no se devem transportar tomos
quando se podem transportar bytes.

6.1.2 Pronturio Eletrnico

O Pronturio Eletrnico j se encontra muito disseminado entre os hospitais, apesar


das barreiras culturais e legais envolvidas. Disponibiliza informaes atravs de um
meio hipermdia, com as vantagens de melhorar o acesso aos dados (uso mais
veloz e dinmico), aumentar a legibilidade das informaes, eliminar dados
redundantes e pedidos de exames repetidos, organizar os dados de forma
sistemtica e melhor estruturada, permitir a visualizao de vrios dados ao mesmo
tempo (planilhas, exames), permitir a verificao automtica dos dados, permitir o
apoio automtico deciso, permitir a busca coletiva, permitir as anlises
estatsticas e permitir a pesquisa. (MARINELLI, 2003:83)

Ao invs de consultar vrias folhas de papel com anotaes e resultados de


exames, o processo acelerado quando o mdico possui em um notepad sem fio
todas as informaes do paciente digitalizadas. Segundo MARINELLI (2003:127),
em um laboratrio de anlises clnicas, por exemplo, um analisador bioqumico de

2
Traduo livre da autora para: Ultimately, the electronic storage and sharing of information and records might
allow more functions to happen outside the hospital. (PEARSON, 1997:166)

150
6 INOVAES TECNOLGICAS RECENTES

sangue, que realiza um grande nmero de anlises, j tem um computador


embutido que pode ser ligado rede do hospital, de forma que no h mais
necessidade de digitao dos resultados, entrando o exame diretamente no
pronturio eletrnico do paciente.

6.1.3 Telemedicina

A Telemedicina, de acordo com MARINELLI (2003:83-84), um termo que se


refere ao exerccio da ateno sade utilizando comunicaes interativas de
udio, imagem e dados. (...) Quase todas as especialidades mdicas podem utilizar
a Telemedicina. Mas as que utilizam imagens como meio de diagnstico (radiologia,
ultra-som, etc.) so as mais beneficiadas.

O surgimento da Telemedicina atribudo s primeiras exploraes espaciais feitas


pelos Estados Unidos e Unio Sovitica da dcada de 1960, quando os sinais vitais
(vdeo, com e parmetros fisiolgicos com a finalidade mdica) dos astronautas
puderam ser enviados do espao. Atravs do xito deste monitoramento ficou
comprovado que a Telemedicina poderia ser utilizada no campo da assistncia a
sade encurtando distncias. (MARINELLI 2003:83)

J na dcada de 1970 muitos pases, como Inglaterra, Canad, Sucia, Japo, etc.,
se interessaram por esta ferramenta, embora a maioria dos seus projetos tenha, na
poca, fracassado pela baixa velocidade da telecomunicao digital na poca. Na
dcada de 1990, todavia, a Telemedicina ressurgiu, por causa dos avanos
tecnolgicos, do maior conhecimento da tecnologia por parte dos profissionais da
sade e do preo mais acessvel das telecomunicaes. (MARINELLI, 2003)

Segundo SABBATINI (1998), a Telemedicina uma forma de se prestar assistncia


mdica quando o paciente est fisicamente distante do mdico. Ela envolve a
transmisso de imagens estticas, vdeos, informaes sobre o paciente, sinais de
eletrocardiografia, etc., atravs dos meios de telecomunicaes, como cabos, fibra
tica, satlite, rdio digital e internet.

A incorporao da tecnologia telemtica vem diminuir a necessidade de


deslocamentos no apenas fora do Estabelecimento de Sade, mas
tambm dentro dele, agilizando o atendimento aos pacientes, com isso
possibilitando que mais pessoas sejam atendidas, diminuindo o nmero de
funcionrios que antes eram necessrios para o transporte de informaes
(resultado de exames laboratoriais, exame de Raios-X, pronturio, etc.) e

151
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

diminuindo por conseqncia o numero de pessoas circulando pelos


corredores da instituio, diminuindo o risco de infeco hospitalar.
(MARINELLI, 2003:113)

De acordo com MARINELLI (2003:84), a Telemedicina pode ser classificada em:

Telediagnstico, onde h o envio de dados de sinais3 e imagens mdicas,


dados laboratoriais, etc.;

Telemonitoramento4, onde h o registro de dados vitais de um paciente e o


envio contnuo destes dados a um local remoto de anlise, interpretao e
alerta (possibilidade do doente ficar em casa);

Teledidtica, onde h o ensino mdico distncia;

Teleconsulta, onde h o envio de imagens mdicas a qualquer distncia


para a troca de ideias entre profissionais;

Telecirurgia, onde h demonstraes por teleconferncia de cirurgias,


realizao de procedimentos cirrgicos minimamente invasivos atravs de
dispositivos pequenos a serem teleguiados pelo cirurgio no corpo do
paciente, onde h o manuseio de instrumentos cirrgicos tradicionais por
robs ou onde h a robotizao de instrumentos cirrgicos, operados por
cirurgies distantes fisicamente do local onde ocorre o procedimento;

Telesocorro, onde o paciente possui controle porttil em terminais


domsticos, a serem acionados pedindo socorro imediato;

Teleterapia, onde h realizao de procedimento em casa com


equipamentos mdicos ligados a centrais, que enviam, verificam e
monitoram os dados do paciente;

Teleambulncia, onde ambulncias so equipadas com sistemas de


telemedicina (agilidade no atendimento).

3
Entre os sinais biolgicos implementados com sucesso em telediagnstico esto: eletrocardiograma,
eletroencefalograma, presso e fluxo sanguneo, eletromiografia, eletrooculograma, potenciais evocados cerebrais,
eletrogastrograma, temperatura corprea, ritmo cardaco e freqncia cardaca. (MARINELLI, 2003:118)
4
O cardiobipe o principal sistema de telemonitoramento. Este sistema consiste em um aparelho porttil de ECG
que o paciente encosta no peito, pressiona um boto por alguns segundos e em seguida transmite para a central,
encostando o aparelho no bocal do telefone. (MARINELLI, 2003:118)

152
6 INOVAES TECNOLGICAS RECENTES

6.1.4 Processamento de sinais biolgicos

O Processamento de sinais biolgicos comeou na dcada de 1920, com a


descoberta do trodo, uma vlvula amplificadora de voltagens, que possibilitou o
surgimento dos primeiros eletrocardigrafos, e em seguida, na dcada de 1930, o
eletroencelgrafo. (...) Com a inveno dos computadores eletrnicos, a partir da
dcada de 1940, surgiu a possibilidade de registrar e processar sinais biolgicos de
forma digital. (MARINELLI, 2003:88)

bvio que o futuro do processamento de sinais mdicos digital. E


tambm podemos prever que a informatizao dos consultrios e hospitais
far, cada vez mais, a utilizao de equipamentos que sero capazes de
fornecer diretamente o sinal em forma digital para armazenamento nos
sistemas de informao sobre o paciente, sem necessidade de registros em
papel, e facilitando grandemente o acesso e a anlise dessas informaes.
(SABBATINI, 1995, apud MARINELLI, 2003:89)

6.1.5 Processamento de imagens mdicas

O Processamento de imagens mdicas por meio de uma rede de computadores


surgiu inicialmente com o Sistema de Informao Radiolgica, que demonstrou que
possvel a utilizao de sistemas computadorizados para facilitar o gerenciamento
de filmes no setor de radiologia. At pouco tempo (e ainda hoje) as imagens eram
registradas em filmes e o seu armazenamento requer espaos muito grandes no
departamento de radiologia, o que minimizado com o processamento e
compartilhamento digital de imagens. (MARINELLI, 2003:92)

H vrios fatores que contriburam para a multiplicao de exames que


produzem imagens, como, por exemplo, o desenvolvimento dos princpios
da captao de imagens e a evoluo e barateamento dos computadores.
Hoje em dia a tendncia a gerao de imagens digitais at nos exames
tradicionais de Raios-X. (MARINELLI, 2003:90)

Segundo ALMEIDA (2002, apud MARINELLI, 2003:92), a aquisio digital de todas


as imagens dentro do hospital possibilita a reduo de espao fsico para
arquivamento de exames realizados, custo material, reduo do trabalho de
manuseio dos filmes, rpida recuperao de imagens via pedido base de dados e
alta velocidade de transmisso de imagens atravs da rede.

153
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

A transmisso de dados e imagens digitais nas organizaes hospitalares inclui,


entre outros, Sistemas PABX, Central de Agendamento (Call Center), Sistema
Unificado de Mensagens, Sistema de Chamada de Emergncia, Circuito Fechado e
Aberto de TV (CFTV e CATV), Controle de Acesso, Sistema de Deteco de
Incndio, Rede de informtica LAN, WAN e WLAN, Rede para Imagens (PACS
Picture Archiving and Communication System), Sistema para Telemedicina, Rede
de Cabeamento Estruturado (fibras pticas), Sistema de Tecnologia da Informao
(TI) na rea da Sade e Infraestrutura de Network. (COUTINHO, 2003)

Com o advento das novas tecnologias da informao veio tambm preocupao


com a organizao dos diversos sistemas de informtica e de gerenciamento do
edifcio, bem como com a configurao das redes internas e externas de
comunicao, a integrao de novos servios de valor agregado, a flexibilidade
para a adaptao da rede para a mudana de uso do espao, e a conexo aos
servios de comunicao5.

As salas de TI6 (Tecnologias de Informao), hoje comuns nos hospitais, so


geralmente os locais onde esta organizao feita, como pde ser verificado em
visita ao Hospital e Maternidade So Luiz - Anlia Franco, em So Paulo.

Nos edifcios hospitalares, a Telemedicina tambm criou outros espaos


especficos que anteriormente no eram necessrios. Para oferecer servios como
o Telemonitoramento, o Telesocorro e a Teleterapia, tornou-se necessria a criao
de salas, dentro ou fora de suas instalaes, com telefones e computadores onde
profissionais possam atender pacientes a distncia.

6.1.6 Cabeamento estruturado

Dando suporte s tecnologias telemticas e aos novos sistemas de


compartilhamento e processamento de dados e imagens est o cabeamento
estruturado e as redes sem fio, que esto se disseminando cada vez mais.

5
MARINELLI, 2003:148-149
6
No projeto destas salas devem ser levadas em considerao fontes de interferncia eletromagntica, vibrao,
altura do p-direito e ele deve ser provido de sistema de ar-condicionado. (MARINELLI, 2003:157)

154
6 INOVAES TECNOLGICAS RECENTES

O sistema de cabeamento estruturado um sistema para uso integrado em


comunicao de voz, dados, imagem, preparado para atender ao mais
variados layouts de instalao, por um longo perodo de tempo, sem exigir
modificaes fsicas da infraestrutura. Um s cabeamento atende diferentes
tipos de redes de sinal. (MARINELLI, 2003:138)

O cabeamento estruturado surgiu no incio da dcada de 1990, e no Brasil, essa


tcnica comeou a ser utilizada por volta de 1993.7 Segundo MARINELLI
(2003:139), foi um grande avano para os sistemas de comunicao, aprimorando
e sofisticando bastante os projetos de edifcios em geral.

Os equipamentos deste sistema (central telefnica, servidor de rede, HUB,


central de alarme, supervisor geral, etc.) podem ser instalados em uma
sala, e as interligaes com sistemas externos podem ficar nos shafts,
dependendo do edifcio. O cabeamento vertical, que pode ser por
barramento, interliga a sala de equipamentos com os painis distribuidores
locais, localizados em diversos pontos da edificao. (MARINELLI,
2003:139)

6.1.7 Redes sem fio

As redes sem fio (Wireless), por sua vez, constituem um sistema de comunicao
de dados flexvel implementado como uma extenso, ou como uma alternativa s
redes de cabeamento estruturado. Este sistema de rede utiliza a tecnologia de
radiofrequncia ou infravermelho e transmite os dados atravs do ar, diminuindo a
necessidade de cabos. (...) O usurio acessa a rede sem a preocupao com o
lugar para se conectar. (MARINELLI, 2003:145)

Porm, as redes locais sem fio ainda no possuem tecnologia para substituir as
redes locais com fio, pois implicam em investimentos altos e possuem uma
velocidade de transmisso considerada baixa em comparao ao sistema cabeado.
(MARINELLI, 2003)

7
Ministrio da Educao. Disponvel em:
<paraiso.etfto.gov.br/docente/admin/upload/docs_upload/material_dbe64d7c19.pdf>

155
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

H ainda a promessa de redes de eletricidade sem fio (Witricity), que ainda esto
em fase experimental8. Apesar dos recentes avanos, so muitos os obstculos
para transmitir-se energia entre elementos mais distantes.

Com o advento destas tecnologias que possibilitam a circulao virtual de dados e


imagens, muitos hospitais aderiram ao conceito paperless (sem papel). O
Oklahoma Heart Hospital (Ok Heart) foi um dos primeiros hospitais no mundo a ser
totalmente apoiado no meio digital.

O Indiana Heart Hospital (EUA) e o hospital espanhol Torrevieja Salud, em


Valncia, foram desde o incio planejados para serem inteiramente digitais,
suprimindo o uso do papel. No Indiana Heart Hospital, pesquisas internas mostram
uma reduo de 85% nos erros mdicos, de 65% nos atrasos e de 45% no custo de
atualizao de arquivos, se comparado a hospitais baseados na utilizao de
papis. Mdicos tambm reduziram em um tero o tempo gasto atualizando dados.
(VERSHBOW, 2005)

Sobre esta experincia em Indiana, todavia, o arquiteto Arthur Brito comenta que na
prtica no foi de todo satisfatria, pois houve a resistncia de mdicos e da prpria
legislao ferramenta digital.

Alm dos hospitais sem papel h ainda os hospitais sem fios, que so ainda uma
utopia por causa da falta de eficincia e confiabilidade da tecnologia wireless em
procedimentos mdicos. Com exceo da Internet em Sade9, a maioria das aes
diretamente relacionadas ao tratamento do paciente ainda exigem um nvel de
eficincia muito alto, melhor oferecido pelos meios fsicos de transmisso de dados
e imagens (fios e cabos).

Em termos de tecnologias wireless em hospitais, existem os dispositivos sem fio


utilizados pelos mdicos para checar resultados de exames, visualizar imagens de

8
Cientistas americanos conseguiram transmitir com sucesso eletricidade entre dois aparelhos sem o uso de
cabos ou fios. No experimento, realizado por pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e
relatado na revista cientfica Science, foi acesa uma lmpada de 60W localizada a dois metros de distncia da
fonte de energia. (FILDES, 2007)
9
A internet em sade utilizada para a disseminao do conhecimento mdico e das informaes sobre as
prprias instituies de sade (servios oferecidos), incluindo a realizao de procedimentos administrativos a ela
vinculados (marcao de exames e consultas, registro on-line de pacientes a serem internados, transaes
financeiras, etc.).

156
6 INOVAES TECNOLGICAS RECENTES

Raios-X, atualizar pronturios, organizar prescries e enviar e receber e-mails10.


No caso do Baptist Medical Center South (EUA), totalmente eletrnico, KING (2005)
relata que as enfermeiras utilizam, ao lado dos leitos, dispositivos sem fio sobre
rodas para registrar o progresso do paciente e checar as instrues dos mdicos.
(...) O que est notavelmente ausente em todo o lugar papel11.

6.1.8 Edifcios Inteligentes

Alm dos sistemas relacionados transmisso e troca de informaes, existem


tambm os responsveis pela segurana e automao predial, caracterizando
assim os Edifcios Inteligentes. Eles so definidos por ASPERTI (2003), como
aqueles que incorporam dispositivos de controle automtico aos sistemas tcnicos
e administrativos. Incluem o monitoramento de todo o edifcio pelo sistema de rdio
e TV, o controle dos acessos, os alarmes contra roubo, o controle de abertura e
fechamento de portas a distncia, o controle de rondas e itinerrios, o sistema de
deteco de incndio, (alarmes, iluminao de emergncia e hidrantes), o
insuflamento de ar nas escadas de emergncia, e a automatizao dos transportes
verticais e do abastecimento de gua, gases e energia.

A automao dos servios de sade abrange todas as reas do


estabelecimento. Controla e racionaliza processos desde a entrada de
pacientes, consultas e internaes, pronto-atendimento, centro cirrgico,
ambulatrio, internao e enfermagem e apia e automatiza atividades
administrativas como faturamento, compras, estoques, dispensao,
distribuio, etc. (MARINELLI, 2003:155)

MARINELLI (2003:149-150) d o exemplo do sistema de abastecimento de gua,


onde ...

... possvel monitorar o nvel dos reservatrios, quais bombas esto


funcionando, se alguma est com defeito, o consumo de gua dirio e o
controle da qualidade da gua consumida, que um dos fatores de controle
de infeco hospitalar.

10
Traduo livre da autora para: physicians at the brand-new hospital make their rounds toting wireless devices to
check lab results, view X-rays, update charts, order prescriptions and send and receive e-mail. (KING, 2005)
11
Traduo livre da autora para: At bedsides, nurses use wireless devices on wheels, or WOWs, to record
progress notes and check doctors' orders. () What's conspicuously absent everywhere is paper. (KING, 2005)

157
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

No monitoramento dos sistemas de transporte vertical, ...

... a automatizao do sistema de elevadores possibilita o controle de


abertura e fechamento de portas, subida e descida, determinando a
prioridade de atendimento a chamadas e a seqncia em que as chamadas
sero atendidas. (MARINELLI, 2003:150)

Nos hospitais, a infraestrutura dos espaos direcionados a atender as necessidades


de telecomunicaes no necessariamente deve ser implantada desde o incio do
projeto, mas deve ser prevista a possibilidade de sua implantao no futuro.
(MARINELLI, 2003)

Previses arquitetnicas talvez seja um dos mais importantes temas no


conceito dos edifcios inteligentes, dada a flexibilidade que deve atingir o
edifcio para dar respostas aos avanos contnuos quanto s
comunicaes, informtica, automao etc, assegurando longa vida s
instalaes fixas. (CASTRO NETO, 1994, apud MARINELLI e CAMARGO,
2004:35)

6.2 EQUIPAMENTOS DE DIAGNSTICO E TRATAMENTO

As novas tecnologias a servio da medicina tm trazido aos hospitais uma mirade


de equipamentos, especialmente nas reas de Diagnstico e Tratamento. Nas
ltimas dcadas aumentou a variedade de equipamentos com a capacidade de
fotografar e filmar o interior do corpo humano, trazendo aos hospitais mais
pacientes externos. Junto ao aumento da demanda e da diversidade de doenas,
cresceram tambm as expectativas quanto aos equipamentos, e isto motivou a
realizao de pesquisas extensivas pela indstria deste setor.

Fomentadas pelo surgimento da microeletrnica, muitas empresas aceleraram o


processo de aperfeioamento dos seus equipamentos, procurando atender s mais
variadas necessidades dos profissionais da rea mdica. As premissas eram maior
conforto fsico, sonoro e funcional. Ou seja, seriam mais competitivos equipamentos
menores, menos robustos, mais facilmente manuseveis, menos pesados, com
menor nmero de equipamentos de apoio, menos ruidosos, com funes mais
compactadas, etc. As mudanas eventualmente ocorreram, na medida em que
muitos equipamentos diminuram de tamanho, perderam peso, se tornaram mais
silenciosos e agregaram mais funes numa s mquina.

158
6 INOVAES TECNOLGICAS RECENTES

Com as constantes novidades no meio tecnolgico que serve o diagnstico e o


tratamento das doenas, principalmente nas atividades diretamente relacionadas
aos pacientes, os equipamentos mdicos se tornaram cada vez mais eficientes e
passaram a ser intensamente produzidos e comercializados. Este processo acabou
motivando e, de certa forma, pressionando as instituies de sade a adquirir novas
e melhoradas tecnologias o tempo todo.

O primeiro importante equipamento usado para o diagnstico mdico foi o de


Raios-x. Ele foi criado em 1895 e por dcadas foi a tecnologia mais avanada para
prevenir e detectar doenas. A partir principalmente da segunda metade do sculo
XX, o uso extensivo das mquinas de Raios-x somou-se ao advento da tecnologia
digital, que permitiu o surgimento das novas modalidades em Imagenologia e
ocasionou uma exploso das tcnicas de diagnstico por imagem. Aps a Segunda
Guerra Mundial, Radiologia seguiram a Medicina Nuclear, a Ultrasonografia e a
Ecocardiografia, sendo que a prpria Radiologia evoluiu e originou a Tomografia
Computadorizada. A Ressonncia Magntica veio em seguida.

Nas cirurgias houve avanos impressionantes com a robotizao dos


procedimentos e o auxlio das tecnologias de diagnstico junto cirurgia. Neste
sentido foi criada a Laparoscopia12 e, mais recentemente, a convergncia das
tcnicas de Ressonncia Magntica e Medicina Nuclear junto cirurgia, que est
em fase de experimentao.

Para terapia, a sensibilidade deve ser uma caracterstica fundamental.


Imagens da mais alta qualidade so requisitos para obter preciso na
localizao, segmentao e definio das trajetrias dos instrumentos.
Todas as modalidades de imagem disponveis, especialmente as de Raios-
X, foram exploradas neste sentido. Mais recentemente a Tomografia
Computadorizada, o Ultrasom, e a Ressonncia Magntica foram
introduzidos nas salas de cirurgia para imagem-orientao intracirrgica.
(ROUGHAN, 2009)

Unindo novamente as atividades de diagnstico e tratamento, existem hoje os


casos onde o exame e a terapia so simultneos atravs de procedimentos
minimamente invasivos, como na Hemodinmica e na Radiologia Vascular. A

12
Cirurgia auxiliada por um instrumento de fibra ptica que, inserido no corpo do paciente, permite a sua
visualizao em tempo real.

159
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Patologia Clnica, por sua vez, tambm se aperfeioou com a preciso dos seus
novos equipamentos, mecanizando as anlises clnicas em laboratrio.

Analisando a estrutura tcnica e funcional de alguns equipamentos empregados no


diagnstico e tratamento das doenas, a seguir ser apresentada a sua evoluo
tecnolgica. O intuito o de permitir maior compreenso destes equipamentos para
depois reconhec-los como variveis concretas nas transformaes arquitetnicas
dos edifcios hospitalares.

6.2.1 Radiologia

Nos primeiros 50 anos da Radiologia, o exame bsico envolvia a criao de uma


imagem focando Raios-X atravs do corpo humano e diretamente sobre um
cartucho de filme. O tempo de durao do exame mudou muito ao longo dos anos,
sendo que h 100 anos uma radiografia de crnio levava aproximadamente 11
minutos e hoje imagens so criadas em milissegundos. Alm disso, a dose de
Raios-X normalmente utilizada atualmente 98% menor do que aquela de
antigamente. Tcnicas modernas adquiriram mais resoluo e detalhe de contraste
e a maior qualidade de imagem permite o diagnstico de patologias menores que
no poderiam ser detectadas com a tecnologia antiga.

A primeira evoluo do exame tradicional de


Raios-X foi a Fluoroscopia ou Radioscopia,
que surgiu com o uso de telas fluorescentes
e vidros especiais para que o mdico
pudesse enxergar as imagens em tempo
real. Em seguida veio a revolucionria
Figura 6.01: Sistema pioneiro de Raios-X: aplicao do meio de contraste
pacientes ainda ficavam de p para segurar
as caixas. farmacutico durante o exame, cujo objetivo
Fonte: Imaginis.
foi ajudar a visualizao dos rgos e vasos
sanguneos com mais nitidez na imagem.

Em 1955, o Intensificador de Imagem foi


criado e permitiu a tiragem e visualizao
do filme de Raios-X usando uma cmera de
televiso e um monitor. Nos anos 1960 o
Figura 6.02: Sala de Raios-x Hospital de
Clnicas de Barcelona na sua primeira etapa. sistema fluorescente, que se tornou
Fonte: CORBELLA, 2006:40.

160
6 INOVAES TECNOLGICAS RECENTES

complexo por causa da presena de um espelho ptico, foi largamente substitudo


pelo Intensificador de Imagem combinado ao monitor de televiso. O
Intensificador de Imagem abriu caminho para uma nova sub-especialidade
conhecida como Angiografia ou Hemodinmica, a qual permitiu a visualizao do
sistema circulatrio (vasos sanguneos e corao).

A partir dos anos 1970 a grande maioria dos equipamentos convencionais de


Raios-X foi adaptado tecnologia digital. Esta trouxe muitos benefcios, e
eventualmente permitiu a substituio dos os sistemas de fitas-cassete e filmes por
detectores digitais.

Na Radiologia Digital, o filme convencional foi substitudo por uma pelcula especial,
sensvel aos Raios-X, que lido por um equipamento moderno de computao e
proporciona uma imagem de alta resoluo. O equipamento utilizado o
Digitalizador, tambm chamado de CR (Figura 6.03).

Entre as suas principais vantagens esto a obteno


de imagens de melhor qualidade; a utilizao de
uma dosagem menor de Raios-X; a possibilidade de
melhora e manipulao das imagens atravs dos
computadores; a possibilidade de envio das imagens
digitais via rede para outras estaes de trabalho e
monitores de computador; e a possibilidade de
arquivamento das imagens digitais em cd-rom ou
drives de gravao digital, economizando muito o
espao de armazenagem e a mo-de-obra
Figura 6.03: Digitalizador do setor
de Radiologia do Hospital Sarah necessria para a biblioteca tradicional de filmes de
Braslia
Fonte: Acervo da autora Raios-X. Algumas modalidades como a Mamografia

(Radiografia da mama) tambm ficaram melhores, pois exigem resoluo


extremamente alta para um bom diagnstico, o que s foi possvel com os
detectores digitais.

Outro aspecto importante em relao ao exame de Raios-X a especialidade


funcional dos diversos tipos de equipamentos, o que faz os mesmos variarem muito
fisicamente.

161
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Algumas mquinas foram criadas especialmente


para fazer o diagnstico de determinadas partes
do corpo, como aquelas utilizadas na
Mamografia (mama) e na Radiografia Torcica
(trax). Quanto mais especfico o exame
menor costuma ser o equipamento, assim como
maior ele quando possibilita o exame de vrias
Figura 6.04: Equipamento de partes do corpo.
Radiografia Torcica.
Fonte: Siemens.

Figura 6.07: Equipamento de


Figura 6.05: Equipamento de Figura 6.06: Equipamento de Radiografia para vrias partes do
Mamografia. Radiografia para vrias partes do corpo (modelo atual).
Fonte: Diagnstico Mdico corpo (modelo antigo). Fonte: Philips.
por Imagenes Dr. Rojas. Fonte: Acervo da autora.

H ainda os equipamentos de Raios-X portteis, que facilitaram enormemente a


prtica do exame em pacientes internados ou de emergncia. Pela dificuldade de
locomoo, estes pacientes teriam muita dificuldade de ir at o setor de radiologia
do hospital, sendo, com o advento deste equipamento, examinado onde estiver.

Com a tecnologia digital, foi criado em 1972 por Godfrey Hounsfield o equipamento
de Tomografia Computadorizada (TC). O TC um aparelho de Raios-X munido de
uma ampola que emite esses Raios enquanto gira 360o em torno do paciente. O
computador processa as informaes e reconstri artificialmente uma imagem
tridimensional dos rgos.

Uma imagem de Raios-X convencional tem uma variao de 30 escalas de cinza,


ao passo que as da TC chegam a 200 escalas. essa variao que permite
identificar a densidade dos tecidos ou rgos examinados.

162
6 INOVAES TECNOLGICAS RECENTES

A criao do Tomgrafo foi muito importante e modificou o enfoque diagnstico de


muitas doenas. No comeo eram feitos exames apenas no crnio; hoje, o corpo
inteiro pode ser examinado. Os Tomgrafos iniciais no primavam pela questo da
imagem, mas os equipamentos atuais permitem novos diagnsticos com uma
qualidade superior e com maior rapidez.

A mquina original de Hounsfield levava horas para conseguir uma nica fatia de
dados de imagem e mais de 24 horas para reconstruir estes dados numa nica
imagem. Os sistemas atuais dos Tomgrafos podem conseguir uma imagem em
menos de um segundo e reconstruir a imagem instantaneamente.

Tambm dentro da radiologia podemos


destacar o exame de Hemodinmica,
mencionado anteriormente. Constitui
um conjunto de procedimentos mdicos
invasivos para diagnstico e tratamento
de cardiopatias13. Tambm chamada de
Cardiologia Intervencionista, utiliza como
ferramenta o Angigrafo (Figura 6.08),
Figura 6.08: Equipamento de Tomografia
que aplica um procedimento chamado Computadorizada atual (modelo de 1990).
Cateterismo. Este constitui uma prtica Fonte: Acervo da autora.

que introduz finos cateteres na dinmica circulatria,possibilitando assim o


diagnstico por introduo de contraste radiolgico. Possibilita tambm tratar
isquemias coronrias pela desobstruo mecnica do vaso (angioplastia) bem
como a introduo de aparatos (Stent14) que impeam a re-estenose (retorno da
leso tratada)15.

Com as informaes trazidas pela tcnica do cateterismo cardaco, surgiu e


desenvolveu-se a cirurgia cardaca de pontes de safena em meados de 1960.
Outras tcnicas para realizao de cinecoronariografia (cateterismo cardaco) foram
anos mais tarde desenvolvidas.

13
WIKIPDIA. Disponvel em: <pt.wikipedia.org/wiki/Cardiologia_intervencionista>
14
Prtese metlica, cilndrica, em forma de uma malha. Disponvel em :
<pt.wikipedia.org/wiki/Cardiologia_intervencionista>
15
Idem.

163
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Segundo VINCIUS16, o equipamento de Hemodinmica uma ferramenta de


imagem diagnstica tridimensional de alta preciso e agilidade, com a qual os
mdicos podem quantificar e visualizar leses no corao. Usa tecnologia
semelhante de um aparelho de tomografia computadorizada no que diz respeito
maneira de formatar e enviar imagens digitais que possibilitam a leitura e a
comunicao entre servios. Hoje a imagem captada a partir de um detector
plano digital, substituindo o antigo intensificador de imagem.

Como tecnologia de imagem


aplicada ao diagnstico e terapia
ao mesmo tempo, existe tambm a
Radiologia Vascular Intervencionista
(RI), um procedimento
minimamente invasivo para o
tratamento e deteco de
problemas cardacos, neurolgicos
Figura 6.09: Sala de Hemodinmica do InCor (2008).
Fonte: Acervo da autora. e perifricos.

Surgida na Europa, na dcada de 1970, no incio a Radiologia


Intervencionista servia apenas para detectar possveis problemas que eram
posteriormente tratados por meio de cirurgias. J na dcada de 1990, com
a evoluo tecnolgica e o avano e a preciso dos exames de imagem
com alta definio, ficou comprovada a eficincia da tcnica tambm no
tratamento de doenas cardiovasculares, do sistema nervoso e vascular.
Em outras palavras, a cirurgia, muitas vezes de altssimo risco, em
determinados casos passava a ser substituda por esse procedimento
minimamente invasivo e muito mais seguro. 17

O procedimento da RI envolve mtodos percutneos guiados por imagens


radiolgicas. Um tubo muito fino inserido na virilha do paciente atravs de um
corte mnimo. O tubo chega at o crebro, corao ou outro rgo para detectar e,
quando possvel, eliminar possveis trombos, cogulos ou ms-formaes.

16
WIKIPDIA. Disponvel em: <wikicomputacao.blogspot.com/2007/11/entao_06.html>
17
Revista Corpore. Disponvel em <revistacorpore.com.br/index.php/Radiologia-Intervencionista/017-Radiologia-
Intervencionista-Cirurgias-precisas-e-menos-invasivas.html>

164
6 INOVAES TECNOLGICAS RECENTES

Por ser menos agressiva ao paciente, a


radiologia intervencionista vem sendo
amplamente utilizada pela cardiologia, pela
rea vascular e pela neurologia. Oferece
uma srie de benefcios aos pacientes,
com procedimentos mais rpidos, mais
precisos e com menor risco de infeco,
Figura 6.10: Sala de Radiologia
Intervencionista. alm do tempo de internao reduzido.18
Fonte: Yokoyama.

6.2.2 Radioterapia

A Radioterapia uma especialidade dentro da medicina que se utiliza das


radiaes e da sensibilidade dos tumores a ela para o seu tratamento. Evoluram
da tecnologia de Raios-X, sendo os seus equipamentos a Bomba de Cobalto e o
Acelerador Linear. Estes utilizam radiao eletromagntica (Raios-X ou Raios
Gama) e por eltrons (Aceleradores lineares de alta energia).

Os primeiros equipamentos de radioterapia surgiram no final dos anos 1940. Com a


inveno da Tomografia Computadorizada em 1971, a tridimensionalidade se
tornou possvel na emisso de radiao. Isso permitiu que os profissionais
pudessem determinar com maior preciso a distribuio da dose de radiao,
usando as imagens axiais da tomografia para mapear a anatomia do paciente.19

Com o surgimento de novas tecnologias de imagem, a Radioterapia foi de


Tridimensional Conformada para de Intensidade Modulada, avano que ocasionou
melhores resultados nos tratamentos e diminuiu os seus efeitos colaterais.

No Brasil as primeiras unidades de Radioterapia foram instaladas em 1954, no


Hospital So Sebastio e, a seguir, no Instituto Nacional do Cncer (INCA), ambos
no Rio de Janeiro.

A Bomba de Cobalto um equipamento que contm uma fonte de cobalto num


recipiente, onde um dispositivo abre uma pequena janela e deixa o feixe de

18
Idem.
19
Idem.

165
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

radiao sair de forma controlada. Isto permite que o tumor seja tratado
preservando os tecidos normais sua volta. Como a emisso de radiao
constante, o tempo de tratamento e todos os outros parmetros fsicos envolvidos
so cuidadosamente controlados e verificados atravs de um programa de controle
de qualidade permanente. 20

O acelerador linear, por sua vez, um equipamento de radioterapia que funciona


de maneira muito semelhante a um aparelho de Raios-X, onde a radiao somente
produzida quando o aparelho ligado a uma fonte de energia eltrica. O
mecanismo de formao da radiao um pouco mais complicado, mas no final o
seu efeito o mesmo: um feixe de radiao controlado incide sobre o alvo a ser
tratado.21

Figura 6.11: Figura 6.12;


Bomba de cobalto de radioterapia. Acelerador Linear Hospital Srio Libans.
Fonte: Mastologia. Fonte: Sociedade Beneficente de Senhoras, 2008:96.

6.2.3 Medicina Nuclear

A Medicina Nuclear uma rea da Imagenologia que usa pequenas quantidades de


substncias radioativas para examinar as funes e a estrutura dos rgos do
corpo humano. Os estudos de Medicina Nuclear tiveram incio nos anos 1950, e 20
anos depois surgiram os seus primeiros equipamentos22. Desde ento o maior
benefcio desta tecnologia a capacidade de identificar funes metablicas, sendo
muito aplicada na Oncologia.

20
CENTRO DE TERAPIA ONCOLGICA. Disponvel em <www.ctopetropolis.com.br/radioterapia.htm>
21
Idem.
22
INSTITUTO DE MEDICINA NUCLEAR. Disponvel em <www.ipen.br>

166
6 INOVAES TECNOLGICAS RECENTES

Para obter avaliaes diagnsticas de condies anatmicas e/ou fisiolgicas, os


Istopos Radioativos (Radioistopos) so administrados oralmente, por inalao,
intravenosamente ou, em casos especiais, por injeo direta.

Embora o nvel de radioatividade a que o paciente exposto no represente riscos


significativos, a manipulao do material radioativo deve obedecer os requisitos de
proteo radiolgica para proteo do operador, do paciente, do pblico em geral e
do meio ambiente, e procedimentos de boas prticas de fabricao para garantir a
qualidade radiofarmacutica23.

As avaliaes diagnsticas realizadas


pelos equipamentos de Medicina Nuclear
envolvem vrios procedimentos. Fazem
parte do processo consultas mdicas e
exame prvios do paciente, manipulao
das substncias radioativas utilizadas no
exame, preparo do paciente (insero da
substncia radioativa no paciente),
isolamento fsico dos pacientes
injetados por estas substncias e

Figura 6.13: Escaneador de Medicina Nuclear interpretao das imagens. Alm dos
na dcada de 1970.
Fonte: ROSENFIELD, 1971:290
procedimentos de diagnostico, outros

servios realizados nesta rea incluem Radiobioassay (anlise do tipo,


concentrao e localizao do material radioativo no corpo humano), anlise de
espcie e teste de esforo cardaco, utilizado para ativar as funes do corao e
analis-las no exame.

Os equipamentos utilizados na Medicina Nuclear so variados, sendo o Cintilgrafo,


que tambm chamado de Gama-Cmara, um dos mais antigos. Nesta mquina a
estrutura fsica encontrada composta por um plano horizontal e um volume lateral
mvel, o qual apoia um outro volume superior atravs de um brao. No plano
horizontal (mesa ou maca) fica o paciente e ao lado corre por um trilho o volume
lateral conectado ao superior, que se movimenta linearmente sobre o corpo do
paciente e tira as fotografias dos pontos de interesse.

23
Idem.

167
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Ao longo do tempo a prpria necessidade de que mais partes e ngulos (laterais e


inferiores) do corpo fossem analisados encetou mudanas nestes equipamentos. A
grande inovao neste sentido foi em relao ao movimento do equipamento, onde
um volume passou a girar 360 sobre o paciente e tirar imagens de vrios ngulos

do seu corpo. Com os novos e mais


eficientes equipamentos tambm veio a
diminuio do peso e da robustez das
mquinas, que s no diminuram mais
pela dimenso da maca do paciente,
que constante.

Assim como no caso dos equipamentos


de radiologia, na medicina nuclear
Figura 6.14: Cintilgrafo, produzido e instalado
em meados da dcada de 1990, no InCor. existem mquinas especficas para o
Fonte: Acervo da autora.
diagnstico de algumas partes do corpo
como, por exemplo, o corao. Nestas
o equipamento costuma ser um pouco
menor, enquanto maior uma mquina
que realiza exames de mais partes do
corpo.

Os equipamentos de apoio
(computadores) tambm diminuram
Figura 6.15: Cintilgrafo com giro 360, produzido com o passar dos anos, estando
e instalado no ano 2000, no InCor.
Fonte: Acervo da autora. ligados evoluo da informtica.

Um dos equipamentos mais recentes da Medicina Nuclear o chamado PET


(Positron Emission Thomography) que pode ser definido com um Tomgrafo que
utiliza Raios Gama.

A histria desses exames comeou na dcada de 1960 e seu funcionamento


envolve a aquisio e a reconstruo de dados atravs de cortes seccionais. Ainda
nos anos 1980, o desempenho das imagens PET de corpo inteiro foi melhorado e,
no incio dos anos 1990, sua aplicao como modalidade diagnstica passou a ser
reconhecida. O equipamento muito usado para a visualizao do corao e dos
Tumores Cerebrais, que antes eram visualizadas pelo Tomgrafo.

168
6 INOVAES TECNOLGICAS RECENTES

Um grande desafio enfrentado pelo PET a


falta de uma informao anatmica precisa,
uma vez que um exame eminentemente
funcional. Esta ausncia do detalhe
anatmico pode ser substituda por uma
informao morfolgica complementar,
normalmente obtida pelo TC ou pela
Ressonncia Magntica. No entanto, esta
soluo traz dados imprecisos.

A soluo para este desafio foi ento o


desenvolvimento de um novo equipamento
Figura 6.16: Equipamento PET do InCor.
Fonte: Acervo da autora. que pode ser considerado como a "pedra

fundamental" do o PET/CT. Este teve o seu primeiro prottipo desenvolvido por


uma empresa de tecnologia em conjunto com a Universidade de Pittsburgh, em
1998. J em 1999 uma imagem obtida neste equipamento foi reconhecida como um
sucesso.24

O PET/CT , a grosso modo, um


equipamento PET acoplado a um
Tomgrafo, cuja inovao foi ser um
equipamento que produz Raios Gama e
Raios-X ao mesmo tempo. Por este
motivo se diferencia de um equipamento
convencional PET, tendo necessidades
bem especficas quanto movimentao
Figura 6.17: Modelo de um PET/CT.
Fonte: Stanford School of Medicine.

da mquina (sobre trilhos) e quanto acomodao dos pacientes sobre ela.


Exige tambm proteo especial para radiao e um sistema de fornecimento de
energia e de refrigerao mais potente.

O equipamento PET/CT ainda maior que o de PET pela presena do Tomgrafo.


O tempo de exame, por sua vez, ainda demorado (uma a duas horas25). Porm,

24
SIEMENS. Disponvel em <www.siemens.com.br/templates/coluna1.aspx?channel=5239>
25
U.S. Department of Veterans Affairs (www.va.gov/facmgt/standard/dguide/nucmed/nucmed01.pdf)

169
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

como vimos acontecer na Radiologia, a tendncia que ele diminua de tamanho e


seja mais rpido com o aperfeioamento de sua tecnologia.

Para a produo do material radioativo utilizado nos exames PET existe o Cclotron,
um equipamento utilizado para produzir os radioistopos. So usados para
sintetizar os radiofrmacos (produtos biolgicos ou drogas que contm elementos
radioativos), produzidos a partir de reaes nucleares26. Por este motivo, o
Cclotron um equipamento especial, caro e de uso bastante controlado, sendo
que so raros os estabelecimentos que tm interesse em possu-lo.

Se para manipular qualquer material radioativo o EAS deve obter licena da


Comisso Nacional de Energia Nacional (CNEN)27, atendendo a todos os requisitos
regulamentares e dispondo de infraestrutura adequada e pessoal treinado28, as
restries para a instalao de um Cclotron so bem maiores. Alm disso, uma
instituio normalmente no tem, isoladamente, demanda para manter o
equipamento, sendo ele capaz de fornecer material radioativo para muitas salas de
PET ao mesmo tempo. Por isso, este tipo de equipamento geralmente locado em
um estabelecimento centralizado em cada regio, de onde o material radioativo
fornecido a vrias instituies.

Pela curta longevidade dos


radioistopos (cerca de 110
minutos para o tecncio),
todavia, o seu transporte uma
verdadeira corrida contra o
relgio, pois assim que o
Radioistopo obtido, restam
poucos minutos para sintetizar o
radiofrmaco e injet-lo no
Figura 6.18: Cclotron. paciente, de modo que o PET e
Fonte: SABBATINI, 1997.

26
Instituto de Medicina Nuclear. Disponvel em <www.ipen.br>
27
A CNEN licencia e fiscaliza instalaes nucleares e radioativas, como reatores, fbricas do ciclo do combustvel
e instalaes que utilizam radioistopos, na medicina, indstria e atividades de pesquisa. As licenas para a
aprovao do local, construo, operao e desativao seguem procedimentos baseados em normas tcnicas e
padres internacionais. (Comisso Nacional de Energia Nuclear, disponvel em <www.cnen.gov.br>)
28
Instituto de Medicina Nuclear. Disponvel em <www.ipen.br>

170
6 INOVAES TECNOLGICAS RECENTES

o Cclotron no devem estar muito distantes um do outro29.

Na cidade de So Paulo, que um grande centro na rea da sade, h apenas dois


Cclotrons disponveis atualmente, instalados no IPEN (Instituto de Pesquisas
Energticas e Nucleares), e no Instituto de Radiologia do Hospital das Clnicas.

6.2.4 Ressonncia Magntica

As pesquisas sobre as tcnicas de Ressonncia Magntica (RM) se intensificaram


no incio da dcada de 1970. Os seus equipamentos foram liberados para
comercializao nos Estados Unidos em 1984 e o seu uso se espalhou pelo mundo
rapidamente desde ento.

Empregando um forte campo magntico, a RM permite a visualizao das partes do


corpo do paciente pela aplicao de pulsos de frequncia de rdio sobre elas. Os
pulsos permitem medir o vetor de deflexo de certos ncleos atmicos existentes
nos rgos e estes vetores levam formao das imagens. O aparelho de
Ressonncia percorre cada ponto do corpo do paciente, construindo um mapa em
2-D ou 3-D dos tipos de tecido. Ento, ele junta todas essas informaes para criar
imagens em 2-D ou modelos em 3-D. A imagem criada pelo computador durante
este exame eletronicamente melhorada, gravada em vdeo, armazenada em fita-
cassete ou cd-rom e reproduzida em uma imagem laser, a qual pode ser revelada
em papel ou filme. A RM mais bem aproveitada para fornecer imagens de tecidos
moles.

Com a presena do campo magntico, muitos cuidados so necessrios em


relao ao equipamento de Ressonncia Magntica. Ele funciona como um
verdadeiro im que atrai tudo o que tem metal e altera o funcionamento de
equipamentos prximos. Por este motivo contra-indicado para pacientes com
marca-passo e com clipes ferromagnticos de aneurisma cerebral.

O design bsico da maioria dos equipamentos de RM pode ser descrito como um


cubo gigante. O cubo de um aparelho comum deve ter 2 m de altura por 2 m de
largura por 3 m de comprimento, embora os modelos mais novos estejam

29
SABBATINI, 1997. Disponvel em <www.cerebromente.org.br/n01/pet/petcyclo_port.htm>

171
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

diminuindo. H um tubo horizontal que atravessa o Magneto (m) da parte dianteira


at a traseira. Esse tubo uma espcie de vo da mquina. O paciente, deitado de
costas, desliza para dentro do vo por meio de uma mesa especial (maca).

Os fatores que mais influenciaram a busca por melhorias nos equipamentos de


Ressonncia Magntica foram as influncias causadas pelo campo magntico, o
tamanho do equipamento, o conforto do paciente ao ser envolvido pela mquina e
as condies de existncia das mquinas de apoio ao exame.

Em relao ao campo magntico o avano foi significativo, haja vista que j existe
um equipamento de Ressonncia autoescudado capaz de conter a expanso do
campo para fora do Magneto.

O tamanho dos equipamentos tambm diminuiu ao


longo dos anos e, segundo arquitetos do Hospital das
Clnicas de So Paulo30, hoje j possvel acomodar
duas mquinas numa rea onde antigamente cabia
apenas uma.

No que se refere ao conforto dos pacientes, os


equipamentos deste exame foram recentemente
Figura 6.19: Exemplo de um adaptados para aqueles com claustrofobia e at
equipamento de Ressonncia
Magntica. mesmo excesso de peso. Um exemplo disto est no
Fonte: Philips.
novo edifcio

do Hospital Albert Einstein (Bloco A1), onde as salas de RM foram locadas na


periferia do prdio, possuindo janelas especiais. Nestas foi instalado um vidro com
a propriedade de proteo eletromagntica, atenuando nos pacientes a sensao
de confinamento durante o exame.

A criao de um aparelho de RM de Campo Aberto e com mais espao para a


passagem do paciente melhoraram o conforto do usurio neste sentido. O tempo de
durao do exame, outro fator importante, muito longo e tende a potencializar a
sensao de desconforto.

30
Arquiteto Henrique Jatene (InCor) e Arquiteto Michel Jospin (InRad).

172
6 INOVAES TECNOLGICAS RECENTES

Figura 6.20: Exemplo de um equipamento de Figura 6.21: Exemplo de um equipamento de


Ressonncia Magntica de Campo Aberto. Ressonncia Magntica com mais espao para a
Fonte: Philips. passagem do paciente.
Fonte: Philips.

Num caso semelhante ao que ocorre com o Tomgrafo, as mquinas de apoio ao


equipamento de Ressonncia fazem muito rudo e possuem necessidades
especiais de temperatura, exigindo estarem em ambientes isolados.

Segundo o arquiteto Henrique Jatene, hoje j existem equipamentos de apoio mais


silenciosos e adaptados temperatura ambiente, o que torna cada vez mais
possvel a coexistncia destas mquinas com o Magneto num mesmo espao.
Outra evoluo importante relacionada o peso do equipamento, que diminuiu
junto com o seu tamanho. Este fato facilitou muito o transporte da mquina, que
antigamente era mais complicado e exigia mais espao para circular dentro do
edifcio.

O exame de Ressonncia Magntica uma atividade ainda centralizada, pois sua


tecnologia bastante cara e seus espaos muito especializados.

6.2.5 Laboratrios

Como comentado no Captulo 5, o impulso s anlises laboratoriais veio do


aperfeioamento do microscpio e do nascimento da microbiologia, no final do
sculo XIX. A partir da, as atividades desenvolvidas nos Laboratrios contriburam
muito ao diagnstico clnico, atravs da hematologia, bioqumica, imunologia e
provas funcionais.

Com o microscpio ptico e a ampliao do poder da viso, a natureza passou a


ser desvendada em seus menores elementos, e novas substncias foram
descobertas tanto para analisar as doenas quanto para a criao de novos
medicamentos. Isto fez crescer significativamente o trabalho nos laboratrios,

173
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

aumentando o nmero de utenslios e, posteriormente, de equipamentos. Estes


surgiram somente a partir da segunda metade do sculo XX, quando a
microeletrnica foi inventada.

Nesta poca surgiu o microscpio eletrnico, e a ele seguiram vrios pequenos


equipamentos, de tipos e tamanhos diversificados e com necessidades mais
especficas. Os tubos de ensaio, bqueres e buretas foram cada vez mais dividindo
espao com refrigeradores, centrfugas, capelas de exausto de gases txicos,
estufas de esterilizao e analisadores automticos de bioqumica (contador
eletrnico de clulas, analisador automtico de ons, analisador de gases
sanguneos, etc.), onde a anlise clnica passou a ser inteiramente mecanizada.

Um analisador bioqumico de sangue, que


realiza um grande nmero de anlises, j tem
um computador embutido que pode ser ligado
rede do hospital, de forma que no h mais
necessidade de digitao dos resultados,
entrando o exame diretamente no pronturio
eletrnico do paciente. (MARINELLI,
2003:127)

Figura 6.22: Microscpio Eletrnico do Hospital


Sarah Kubitschek de Braslia.
Fonte: Acervo da autora.

Figura 6.23: Refrigeradores. Figura 6.24: Centrfuga de mesa.


Fonte: Ministrio da Agricultura, Pecuria e Fonte: Prefeitura de Parambu, 2008.
Abastecimento.

174
6 INOVAES TECNOLGICAS RECENTES

Figura 6.25: Capela de exausto de gases txicos.


Figura 6.26: Centrfuga de cho.
Fonte: Ministrio da Agricultura, Pecuria e
Fonte: Uniscience.
Abastecimento.

Figura 6.28: Analisador Automtico.


Fonte: Prefeitura de Videira.
Figura 6.27: Estufas.
Fonte: OLX.

Devido s necessidades mais especficas em relao umidade, temperatura e


presso do ar, estes novos equipamentos tambm ampliaram o uso e a sofisticao
de equipamentos de ar condicionado dentro dos edifcios hospitalares. Este fato
tambm justificado pelo aumento do calor nas salas, emitidos pela grande
quantidade de mquinas funcionando.

6.2.6 Cirurgia

Cirurgia a parte do processo teraputico em que o cirurgio realiza uma


interveno manual ou instrumental no corpo do paciente31. Nesta atividade o
maior aperfeioamento dos equipamentos tambm acompanhou o desenvolvimento

31
WIKIPDIA. Disponvel em <pt.wikipedia.org/wiki/Cirurgia>

175
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

da microeletrnica, ou seja, ocorreu a partir da segunda metade do sculo XX.


Antes disso os instrumentos resumiam-se mesa cirrgica, ao suporte de
iluminao e a algumas mesas metlicas para apoiar os instrumentos.

Com o tempo, a mesa cirrgica


foi automatizada, adquirindo um
design mais simples, enquanto
o suporte de iluminao
sofisticou-se, multiplicando o
nmero de luminrias,
agregando mais funes e
movimentos e transformando-se
Figura 6.29: Equipamentos da Sala Cirrgica da Santa numa Estativa de teto. Outros
Casa de Santos, na dcada de 1940.
Fonte: Revista Acrpole, novembro 1945:177 suportes substituram as mesas

de apoio metlicas, apoiando no s os instrumentos da cirurgias como tambm


monitores e outros equipamentos ligados ao monitoramento do paciente,
Imagenologia e Telemedicina.

Figura 6.30: Equipamentos de uma Sala Figura 6.31: Sala cirrgica com equipamentos para
Cirrgica hoje. Telecirurgia Hospital Srio Libans.
Fonte: PCE. Fonte: Sociedade Beneficente de Senhoras, 2008.

Recentemente foi adicionado sala cirrgica o rob (Figura 6.32). A cirurgia


robotizada menos invasiva e por isso permite uma recuperao ao paciente, j
que os cortes feitos pelo equipamento so menores que um centmetro. O rob
tambm diminui o nmero de profissionais envolvidos no procedimento, sendo esta
uma tendncia para o futuro segundo OLIVEIRA (2008). Alm do equipamento,

176
6 INOVAES TECNOLGICAS RECENTES

foram incorporadas tambm novas necessidades eltricas e de rede s salas


(cmeras e rede de cabeamento estruturado)32.

Figura 6.33: Rob Da Vinci em uma sala de


Figura 6.32: Rob Da Vinci. cirurgia do Hospital Srio Libans.
Fonte: Terra, 2008. Fonte: O Globo, 2008.

Robs mecnicos de alta preciso, aliados aos recursos da video-


endoscopia e realidade virtual, esto comeando a auxiliar cirurgies de
todo o mundo a realizar proezas como cirurgias de revascularizao do
miocrdio, de reparo de vlvulas cardacas e neurocirurgias estereotxicas.
Mais espantoso ainda, em alguns projetos j divulgados o cirurgio estava a
milhares de quilmetros do paciente, acionando os manipuladores da
cirurgia endoscpica e visualizando o campo operatrio atravs de um
computador ligado a um sistema de telecomunicao por satlite.
(SABBATINI, 1999)

Com a aproximao entre as atividades de cirurgia e de diagnstico, surgiram ainda


as salas Hbridas, onde equipamentos de diagnstico e de cirurgia interagem no
mesmo procedimento. Na experimentao americana com cirurgias apoiadas
simultaneamente por tecnologias de PET-CT e Ressonncia Magntica, ficou claro
o aumento da quantidade de equipamentos (e de espao, como ser comentado no
Captulo 8) na sala cirrgica.

O Brigham and Womens Hospital (Boston, Estados Unidos) est desenvolvendo o


Advanced Multimodal Image-Guided Operating Suite AMIGO (Conjunto de
Cirurgia Guiada por Imagem Multimodal Avanada).

32
MARINELLI e CAMARGO, 2004.

177
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

O objetivo deste projeto desenvolver a nova gerao de conjuntos


intervencionistas intracirrgicos equipados com o estado-da-arte da
integrao entre a tecnologia de orientao por imagem e instrumentao
relacionadas RM (trs teslas), PET-CT, Raios-X, Ultrasom e Imagenologia
ptica, integradas a vrios dispositivos de terapia com um sistema de
navegao que oferece o registro preciso da anatomia do paciente.
(ROUGHAN, 2009) 33

Figura 6.34: Brigham and Womens Hospital: Advanced Multimodal


Image-Guided Operating Suite (AMIGO).
Fonte: ROUGHAN, 2009.

O objetivo geral, por sua vez, o de integrar toda a informao acessvel num nico
ambiente, o qual deve estar operacionalmente apto a realizar a terapia. Outra
caracterstica deste projeto a multidisciplinaridade, envolvendo mais tipos de
profissionais num mesmo procedimento.

6.3 EQUIPAMENTOS DE INFRAESTRUTURA PREDIAL E INSTALAES


ESPECIAIS

Para dar suporte tcnico s atividades que ocorrem dentro de qualquer edifcio
existe um verdadeiro arsenal de equipamentos e instalaes, constituindo a sua
infraestrutura e garantindo que ele tenha suprimentos como energia, gua e ar
tratados. Nos hospitais, pela sua variedade e especificidade funcional, esta

33
Traduo livre da autora para: The goal of this project is to develop the next generation of interventional/intra-
operative suite equipped with state-of-the-art integrated image-guidance technology and instrumentation comprising
high field MRI (3 Tesla), PET-CT, X-ray fluoroscopy, ultrasound and optical imaging, integrated with various therapy
devices and with a navigational system that provides accurate registration of the patients anatomy. (ROUGHAN,
2009)

178
6 INOVAES TECNOLGICAS RECENTES

infraestrutura pode ser classificada como industrial, envolvendo um maquinrio


bastante diversificado, complexo e volumoso. BROSS (2006) acrescenta dizendo
que h uma grande diferena dos edifcios convencionais para os hospitalares,
onde so chamadas de instalaes prediais e instalaes especiais aquelas
diferenciadas pela utilizao de determinados equipamentos.

Inmeros so os aparelhos e equipamentos disseminados pelo hospital,


cada qual com exigncias, peculiaridades, cuidados e requisitos os mais
variados, envolvendo: peso, volume, altura, vibrao, interferncia,
blindagem, proteo, isolao, iluminao, voltagem, estabilizao de
corrente eltrica, sistema de no-break, short-break, nvel equipotencial,
aterramento, corrente de fuga, campo magntico induzido; exploso e
inflamao de gases, gua tratada, destilada, quente; vapor, condensado;
assepsia; esterilizao, umidade, temperatura e muitos outros. (KARMAN,
1994:85)

A infraestrutura predial hospitalar evoluiu na medida em que se desenvolveram as


atividades e tecnologias internas da instituio. sofisticao dos equipamentos e
procedimentos mdicos acompanharam necessidades novas de energia,
temperatura e umidade, atendidas por instalaes eltricas mais potentes e
equipamentos de ar condicionado mais eficientes, respectivamente. Alm disso,
surgiram novas demandas e formas de comunicao, as quais originaram as
instalaes eletrnicas e multiplicaram a quantidade e a variedade de cabos de
rede.

O aumento do rigor na segurana de uso dos hospitais tambm motivou a


ampliao da sua infraestrutura. A gerao de energia passou a apoiar-se nas
redundncias, cercando-se de equipamentos para garantir o fornecimento contnuo
de energia aos equipamentos de suporte vida do paciente (equipamentos
cirrgicos, ar condicionado de salas cirrgicas, respiradores artificiais, etc).

Para aumentar a segurana contra a infeco hospitalar nas cirurgias, os


equipamentos de ar-condicionado tiveram que melhorar o seu desempenho e
alcanar a mxima assepsia do ar nos centros cirrgicos. Por causa do aumento na
severidade das normas de segurana seus ambientes. Os edifcios tiveram que
aumentar seus reservatrios de gua por causa dos sistemas de chuveiros
automticos, instalando tambm sistemas novos de deteco e alarme contra fogo.

So exemplos significativos de imputabilidade as conseqncias


decorrentes de falta ou falha no suprimento de oxignio, de eletricidade ou
de vcuo; deficiente esterilizao de autoclave por reteno de ar;

179
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

eletrocusso ou choque por falha de aterramento ou de nvel equipotencial


ou de transformador separador de corrente; introduo de nitrognio em
rede de oxignio para teste de vazamento, levando a graves distrbios
(pacientes descerebrados); vazamento de radiaes de Raios-X istopos
por blindagem deficiente; agravamento das condies de casos crticos por
parada de elevador, entre outros. (KARMAN, s/d34)

A organizao das instalaes outro item a ser lembrado na questo da


segurana, havendo hoje vrias normas para regularizar e padronizar os
procedimentos e a manuteno nos diversos sistemas de infraestrutura dos
edifcios. A diviso dos circuitos, por exemplo, discutida pelos engenheiros como
forma de diferenciar mais claramente o fornecimento de energia das reas mais e
menos vitais da instituio. Esta estratgia impediria que o fornecimento de uma
rea importante fosse cortado por engano numa situao de emergncia (incndio,
por exemplo).

Os equipamentos de diagnstico e tratamento, por sua vez, so agentes das mais


diversas adaptaes no sistema de instalaes do edifcio. Segundo LAMHA NETO
(2008), estas mquinas tm, hoje, muita tecnologia agregada, sendo que na hora
em que voc instala uma Ressonncia Magntica, um Tomgrafo, se no houver
energia ou ar condicionado com a qualidade adequada, voc vai ter dificuldades
com o equipamento. Se tudo isso no for previsto, ocorrero interrupes de
exames, que custaro bem mais caro do que o tempo economizado no
planejamento.

Numa entrevista concedida pelo engenheiro Carlos Hernandez, atuante em projetos


de hospitais desde 1986, ele comentou que antigamente a parte mais complicada
em termos de instalaes hospitalares eram as reas de cozinhas e lavanderias.
Hoje so claramente as reas de Imagenologia, que foram crescendo enquanto as
tecnologias nas lavanderias e cozinhas foram sendo compactadas e simplificadas
em termos de instalaes. Hernandez conta que os laboratrios tiveram um
adensamento grande de instalaes, com os vrios novos equipamentos.

Sobre a demanda de energia nos EAS, Hernandez afirma que houve um aumento
significativo nos ltimos 20 anos. At o final da dcada de 1990 num hospital eram
necessrios em mdia dois transformadores de energia de 500 kVA, enquanto hoje

34
Disponvel em <www.karman.com.br/jkfala/pensandoB.php>

180
6 INOVAES TECNOLGICAS RECENTES

so necessrios em mdia dois transformadores de 700 kVA, sendo que os de


1000 kVA tem que ser importados. No h energia suficiente, diz Hernandez.

Em sua experincia com reformas em hospitais, o engenheiro relata que as


Cabines Primrias35 existentes mostram-se muitas vezes insuficientes s novas
necessidades, alterando arquitetonicamente o edifcio. As categorias dos sistemas
de compartilhamento e transmisso de imagens tambm apresentam
incompatibilidades de caso a caso.

Em nenhum outro local os problemas de expanso revelam mais surpresas


do que nos ambientes para equipamentos e utilidades. Uma esterilizadora
que estava razoavelmente adequada ontem, de repente revelada como
inaceitvel para uso no edifcio novo; semelhantemente, canos, fios,
equipamentos de instalaes, ventiladores, bombas, boilers, elevadores, e
at todo o sistema de aquecimento pode sofrer uma repentina e dolorosa
desvalorizao quando requerimentos para a futura capacidade so
calculados. Tais descobertas so normais e no srias se houve
manuteno apropriada e se so descobertos e includos antes do
oramento do projeto ser fixado, embora muito freqentemente eles
passem despercebidos ou no totalmente explorados at que o esquema
da expanso esteja formado e o oramento estabelecido. Descobertas de
inadequao ento caem como uma bomba na equipe de planejamento, e
se o oramento no foi ajustado antes, alguns outros melhoramentos
necessrios e neste ponto bem quistos tm que ser deferidos. (WHEELER,
1964:274)

Segundo LANDI (1980), existem mais de quarenta sistemas individuais que podem
ser requeridos para a infraestrutura predial de um hospital, entre eles: sistema de
gua fria, gua quente, esgoto, guas pluviais, proteo contra incndio, gs
combustvel, ar comprimido, vapor, vcuo, oxignio, dixido de carbono, nitrognio,
xido de nitrognio, gua destilada, tratamento de gua, tratamento de esgoto, lixo,
material radioativo, cidos, transporte pneumtico, leo combustvel, gases
queimados de caldeira, ventilao de ambientes, ar condicionado, iluminao,
eletricidade, para-raios, telefone, deteco e alarme contra incndio,
processamento de dados, aterramento, elevadores, etc. A seguir sero comentados
alguns destes sistemas, descrevendo o arcabouo tecnolgico que representam
aos edifcios hospitalares.

35
Local onde entra a energia da rede pblica.

181
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

6.3.1 Sistema de abastecimento e distribuio de gua

O sistema de abastecimento e distribuio de gua envolve os reservatrios, as


bombas de recalque e a rede de tubulao, que se espalha por todo o edifcio. No
caso da gua quente existem ainda os sistemas de aquecimento, que podem
apoiar-se na captao da energia solar, nos Aquecedores de Acumulao, nos
Aquecedores de Passagem e nas Caldeiras (Figura 6.35), mquinas que no s
aquecem a gua como tambm alimentam as Autoclaves de Esterilizao, o
cozimento por vapor e a calefao (para os locais com inverno mais rigoroso).

As instalaes hidro-sanitrias, incluindo as tubulaes de esgoto, apresentam a


necessidade de fcil manuteno, por causa da complexidade das conexes
(muitas redes se comunicando) e para evitar a temida infeco hospitalar.

O arquiteto Domingos Fiorentini, em


entrevista concedida autora,
aconselha que as instalaes de gua e
esgoto nunca sejam enterradas em um
hospital, como ocorre no seu projeto
para o Hospital Albert Einstein, onde h
um poro tcnico de instalaes.

Figura 6.35: Caldeiras do InCor.


Fonte: Acervo da autora.

6.3.2 Sistema de captao e distribuio de energia

Os sistemas de captao e distribuio de energia so responsveis por receber a


energia da rede pblica, transform-la e distribu-la pela edificao, garantindo, no
caso dos hospitais, que ela nunca falte s atividades que mantm a vida dos
pacientes. Haja vista a grande quantidade de energia consumida em uma
instituio de sade, este sistema tende a chamar ateno pela sua escala e
complexidade.

O recebimento de energia realizado na Cabine Primria, onde normalmente ficam


os transformadores de energia, que tem a aparncia de grandes armrios
metlicos. Deles saem os circuitos que sero distribudos pelo edifcio.

182
6 INOVAES TECNOLGICAS RECENTES

Para manter as atividades de suporte


vida funcionando em caso de falta de
energia, existem os Geradores (Figura
7.34), que por sua vez so alimentados
por tanques de leo combustvel e ainda
auxiliados pelos aparelhos No-break e
pelo sistema DSI (Dispositivo Supervisor
de Isolao). Muito ruidosos, os

Figura 6.36: Geradores do Hospital e geradores so, por norma, locados em


Maternidade So Luiz Unidade Anlia Franco.
espaos com proteo acstica.
Fonte: Acervo da autora.

No sistema de gerao de energia de um hospital est presente o conceito de


redundncia, que aumentou a sofisticao dos equipamentos envolvidos e a
segurana dos pacientes. Em primeiro lugar existe a fonte de energia normal, da
rede pblica, depois vem o gerador, acionado apenas em caso de queda da energia
pblica, e depois vem o No-break, que gera a energia durante o intervalo de
segundos ou minutos entre a queda de energia e o acionamento Gerador.

Segundo o engenheiro Gleiner Ambrsio, do Hospital So Camilo Pompia, as


centrfugas do sistema de ar condicionado (Chillers), por exemplo, so alimentados
em parte pela rede eltrica e em parte por gs, estabelecendo um sistema mais
seguro.

6.3.3 Instalaoes fludo-mecnicas

O sistema de fludo-mecnicas nos hospitais bem especfico, pois alm dos gases
comuns (GLP e/ou gs natural) existem os sistemas de gases medicinais, ar
comprimido e vcuo.

As tubulaes destas substncias so distintas por cores padronizadas, onde o


tubo de O2 pintado de vede, o de Ar Comprimido de amarelo, o de N2O de azul
escuro e o de Vcuo de cinza claro. O seu fornecimento varia entre grandes
tanques cilndricos (Figura 6.37) localizados fora do edifcio, no caso do O2, e
centrais de pequenos cilindros, chamadas de Centrais de Manifold (Figura 6.38).

183
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Figura 6.37: Cilindro de O2 do Figura 6.38: Centrais de Gases Medicinais do Hospital e


Hospital e Maternidade So Luiz Maternidade So Luiz Unidade Anlia Franco.
Unidade Anlia Franco. Fonte: Acervo da autora.
Fonte: Acervo da autora.

6.3.4 Sistema de ar condicionado

O sistema de ar condicionado, preferencialmente central, uma instalao muito


importante nos hospitais. Comporta equipamentos essenciais a vrias atividades,
existindo muitas vezes como pr-requisito para o seu funcionamento. Por permitir o
controle de umidade, presso e temperatura, o ar condicionado a condio de
existncia para os equipamentos de Imagenologia e procedimentos de terapia.

A presso de ar diferenciada (negativa ou positiva) e o aumento da


qualidade de ar atravs da utilizao de filtros em salas cirrgicas e reas
de internao especiais (como em enfermarias de doenas
infectocontagiosas e de pacientes imuno-deprimidos) so fundamentais.
(MARINELLI e CAMARGO, 2004:34)

Segundo FRANA36, a capacidade de retirar calor de um sistema foi descoberta


em meados do sculo XIX, quando foi encetada a produo industrial de gelo. A
partir dessa poca teve incio a atividade comercial de conservao de alimentos

36
Disponvel em <www.fem.unicamp.br>

184
6 INOVAES TECNOLGICAS RECENTES

em grande escala37. Em hospitais o ar condicionado apareceu somente no incio


do sculo XX, sendo que os seus equipamentos evoluram bastante desde ento.

Em instituies como as hospitalares, onde h uma grande quantidade de


ambientes a terem a qualidade do seu ar controlada, o sistema de ar condicionado
envolve uma srie de equipamentos complexos e volumosos. Estes compem,
juntos, um sofisticado ciclo (Ciclo de Refrigerao ou Ciclo Termodinmico de
Fluidos Refrigerantes) onde dois circuitos fechados e independentes so
responsveis pelo resfriamento da gua e pela sua distribuio pelo edifcio.

H o circuito entre as Torre de Resfriamento (Figura 6.41) e as Centrfugas (Chillers


Figura 6.40), bem como o circuito entre as Centrfugas e os Fan-Coils (Figura
7.40), equipamentos menores distribudos pelo edifcio de acordo com a
necessidade. As vias de comunicao entre a Torre e o Chiller e entre o Chiller e os
Fan-coils se d por uma tubulao de gua gelada bastante robusta (Figura 6.39).
No Fan-Coil, por sua vez, h um conjunto de serpentinas onde circula a gua
resfriada e um ventilador responsvel pela movimentao do ar a ser tratado38.
Determinando o grau de pureza do ar existem ainda os filtros de ar, geralmente
localizados nos dutos de passagem entre o Fan-coil e os ambientes de destino.

Nos ambientes cirrgicos os Fan-coils geralmente so maiores e sempre mais


sofisticados (Figura 6.42). Nestes casos chega a existir um equipamento para cada
sala cirrgica, com uma filtragem do ar prxima a 100%.

37
Os gases refrigerantes usados neste incio da histria da refrigerao eram a amnia, o dixido de enxofre e o
cloreto de metil. (...) Os compressores frigorficos de ento, dada a limitao tecnolgica da poca, eram tidos
como mquinas perigosas, sujeitas a exploso. (...) Somente em 1932 o cientista Thomas Midgely Jr inventou o
Refrigerante 12, mais conhecido como Freon 12. (...) Enfim, um gs ideal, maravilhoso. Isto , at descobrirem
que o Freon destri o oznio da atmosfera, to importante para barrar o excesso de radiao solar ultra-violeta na
superfcie da Terra. (FRANA, s/d)
38
Cabano Engenharia. Disponvel em <www.cabano.com.br/centrais_de_%C3%A1gua_gelada.htm>

185
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Figura 6.39: Tubulao de gua gelada do Figura 6.40: Chillers do sistema de Ar Condicionado
sistema de Ar Condicionado do Hospital e do Hospital e Maternidade So Luiz Unidade Anlia
Maternidade So Luiz Unidade Anlia Franco.
Franco. Fonte: Acervo da autora.
Fonte: Acervo da autora.

Figura 6.41: Torres de Refrigerao do InCor.


Fonte: Acervo da autora Figura 6.42: Fan Coil para um
ambiente comum do Hospital e
Maternidade Vitria (So Paulo).
Fonte: Acervo da autora.

6.3.5 Sistema de proteo contra incndio

O sistema de proteo contra incndio, por sua vez, est vinculado s instalaes
hidrulicas e eltricas do prdio. Como em qualquer outro tipo de edificao,
adiciona aos reservatrios uma quantidade significativa de gua, dependendo da
demanda, e possui um equipamento para bombear a gua aos hidrantes (Bomba
de Incndio Figura 6.43). Sua tubulao vermelha serve separadamente a rede
de chuveiros automticos (Sprinklers) e a rede de Hidrantes e/ou Mangotinhos,
exigindo tambm um sistema rigoroso de manuteno para garantir o
funcionamento adequado em caso de emergncia.

186
6 INOVAES TECNOLGICAS RECENTES

A parte eltrica inclui o acionamento do


sistema de deteco de incndio,
devidamente conectado s centrais
repetidoras, de alarme (luminoso e
sonoro) e de iluminao de emergncia.
Para garantir a segurana de seus
usurios existe ainda a
compartimentao vertical e horizontal

Figura 6.43: Bomba de Incndio do InCor.


do edifcio, que impede a transmisso de
Fonte: Acervo da autora.

fumaa em caso de incndio. Este procedimento inclui a compartimentao dos


dutos de ar condicionado atravs da colocao neles de Controladores de Vazo
(Dumpers) em locais estratgicos.

Todos os sistemas e maquinrio apresentados at aqui, com sua variedade e


especificidade, ilustram a complexa infraestrutura de um edifcio do porte hospitalar.
Para manter todos os equipamentos mencionados, computa-se ainda uma equipe
grande e multidisciplinar de profissionais dedicados sua manuteno, cumprindo
normas e medindo o desempenho das mquinas regularmente.

Tecnologias avanadas, concorrentes a aparelhos e equipamentos,


demandam correspondentes tecnologias no tocante a instalaes e
infraestrutura; e, ainda, preparo e reabilitao de tcnicos, operadores e
utilizadores; gerando a necessidade de especializao em manuteno e o
concurso de Engenharia Clnica e Bioengenharia. (KARMAN, 1994:85)

187
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

188
7
HOSPITAL CONTEMPORNEO:
CENRIO DE TRANSFORMAES
7 HOSPITAL CONTEMPORNEO: CENRIO DE TRANSFORMAES

7 HOSPITAL CONTEMPORNEO: CENRIO DE TRANSFORMAES

O Hospital moderno uma das mais complexas, dinmicas e


especializadas instituies da atualidade. Dia a dia, novas aplicaes,
pesquisas e descobertas o vm transformando. Gradativamente, o que
ainda resta de emprico e tradicional est dando lugar ao cientfico e
racional. Para cada pea, equipamento, dimenso, localizao ou
intercomunicao, h uma base slida, uma razo de ser, tcnica, funcional
ou administrativa. (KARMAN, 1954, apud TOLEDO, 2002: 43)

Como visto no Captulo 4, as atividades ligadas sade so caracterizadas pelo


dinamismo e pela contnua atualizao. Na medida em que o conhecimento
avana, h a descoberta de novas doenas, de novos tratamentos, a absoro de
novas tecnologias para subsidiar estes tratamentos, a mudana dos procedimentos
e estruturas administrativas, etc. A arquitetura, por sua vez, no passa ao largo
destes acontecimentos, pois nota-se que a organizao operacional e fsica dos
hospitais est em constante reviso para acompanhar, direta ou indiretamente, o
cenrio de transformaes na rea mdica.

Analisando as diversas tendncias que so propostas na rea hospitalar,


como a informatizao das diversas atividades, as mudanas no sistema de
gerenciamento de materiais e de informao, a centralizao ou
descentralizao de algumas atividades como de alimentao e lavanderia,
a cirurgia ambulatorial e o acrscimo de novas tecnologias como a
ressonncia magntica, estas podero modificar os aspectos fsicos dos
hospitais. (KOTAKA, 1992:7-8)

Colocando muito bem o cenrio de transformaes que a arquitetura acomoda,


principalmente nos dias de hoje, ROGERS (2001) comenta que a vida moderna
est mudando mais rpido do que os edifcios que a abriga. (...) As estticas de
resposta, mudana e modulao substituem a ordem fixa da arquitetura". De fato
h um assincronismo entre o tempo de transformao de um edifcio em
comparao com o tempo de transformao da cincia mdica e da tecnologia.

7.1 REFORMAS EM HOSPITAIS EXISTENTES

Segundo NESMITH (1995:8-9), ...

... diversos fatores tecnologia, cdigos, polticas, etc. influenciaram no


modo em que os equipamentos de sade so planejados. (...) O dramtico
crescimento no nmero de unidades ambulatoriais e instituies de

191
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

atendimento ao paciente externo uma das mais significativas tendncias


no campo da assistncia sade. (...) Embora os hospitais estejam sob
intensa presso para conter gastos, estas mesmas instituies tambm so
cobradas a melhorar continuamente a qualidade do atendimento para
permanecerem competitivas.

Os hospitais existentes so um retrato vivo do processo de transformaes


arquitetnicas. Seus edifcios apresentam histricos cheios de reformas e
expanses, evidenciando o carter dinmico destas edificaes. Segundo o
arquiteto Irineu Breitman, atualmente o maior volume de obras na rea hospitalar
est ocorrendo em instituies existentes, o que mostra como os arquitetos
precisam aprender lidar com as dificuldades envolvidas na renovao dos seus
edifcios.

Fundamental para o planejamento de expanses esto as pesquisas em


edifcios existentes. (...) Igualmente importantes so as investigaes das
plantas mecnicas, o encanamento, aquecimento, ventilao, ar
condicionado e sistemas de refrigerao, os sistemas eltricos, iluminao,
fora, elevadores, todos os sistemas de comunicao, e fora de
emergncia. (WHEELER, 1964:264-265)

Segundo avaliao do arquiteto Siegbert Zanettini (apud HORTA, 2005) sobre


projetos em hospitais antigos, "quando o especialista chamado, sinal de que o
hospital j chegou a um ponto de saturao em que os puxadinhos se esgotaram e
se instalou um dficit operacional, baixo faturamento ou mau atendimento". O
arquiteto ainda acrescenta que ...

... o desenvolvimento sadio de um hospital assemelha-se ao do corpo


humano. Possui uma gentica - isto , um plano diretor - que determina
um crescimento orgnico e ordenado, sem interrupo de atividades vitais.
Se tiver nascido ou se desenvolvido mal setorizado, uma reformulao que
seria parcial pode levar necessidade de uma profunda reordenao
setorial. (HORTA, 2005)

Durante a primeira metade do sculo XX ROSENFIELD (1969:33) aponta que


houve muito o planejamento oportunstico em que algumas poucas circunstncias
imediatas ditavam o plano e no uma viso de mais longo prazo. Segundo ele os
hospitais assim planejados se caracterizaram pela desordem.

Baseando-se nas mudanas exponenciais dos servios clnicos,


tendncias operacionais e novas tecnologias, no surpreendente que
muitas instituies, aclamadas como o estado-da-arte 20 ou at 10 anos

192
7 HOSPITAL CONTEMPORNEO: CENRIO DE TRANSFORMAES

atrs, estejam se tornando funcionalmente obsoletas muito antes da sua


longevidade fsica se esgotar. (CHRISTIE, CHEFURKA, NESDOLY1)

Solues arquitetnicas estticas comprometem a habilidade de responder s


mudanas, com plantas muito estreitas, ps direitos limitados para a permanncia
de instalaes eltricas e de ar condicionado, e terrenos que no permitem a
expanso e a renovao espacial. (CHRISTIE, CHEFURKA, NESDOLY2)

Intervenes geradas por fechamento e abertura de vos, instalao de divisrias e


insero de paredes criam compartimentos muitas vezes sem ventilao e
iluminao apropriadas. Junto s solicitaes de projeto setorizadas (sem
preocupao com o todo das unidades), ao fechamento de acessos e ao uso
inapropriado de diversas reas, surgem inmeros problemas de fluxo e distribuio
de espaos arquitetnicos.

Muitos so os fatores que ocasionam a configurao catica e obsolescncia de


alguns hospitais. Como j pde ser constatado no Captulo 4, as variveis
cientficas e tecnolgicas na medicina so culpadas por grande parte das suas
adequaes. Dividem responsabilidade, por sua vez, com as questes
demogrficas, epidemiolgicas, econmicas, polticas e legais.

7.1.1 Questes demogrficas, epidemiolgicas e sociais

Segundo TAYLOR (1968:167), o mutante papel dos servios prestados aos


pacientes externos criou muitos problemas para os setores funcionais a eles
relacionados nos hospitais gerais. No passado eles no foram desenhados ou
localizados corretamente dentro dos estabelecimentos para atender os vrios
servios que agora tentam oferecer3. Mudou tambm o perfil deste paciente
externo, bem como aumentou o seu nmero. Consequentemente alterou-se a
sofisticao (climatizao, acessibilidade, decorao, etc) e o dimensionamento dos
ambientes. As tecnologias utilizadas nas reas voltadas ao paciente externo foram

1
Disponvel em <muhc-healing.mcgill.ca/english/Speakers/chefurka_p.html>
2
Idem.
3
Traduo livre da autora para: In the past, they have not been designed or located properly within the facility to
take care of the many services they now try to provide. (TAYLOR, 1968:167)

193
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

palco de transformaes muito significativas, motivo pelo qual sero aprofundadas


no Captulo 7.

Os pacientes internos, por sua vez, tambm alteraram muito as enfermarias por
causa da exigncia cada vez maior de espao, sofisticao e privacidade. O
conceito de hotelaria transformou muito as reas de internao, originando obras
para aumentar o tamanho e a quantidade de quartos privativos.

O arquiteto Lel, em entrevista concedida autora (novembro de 2009), comenta


que, em virtude de um excessivo desejo de privacidade, mudou muito a concepo
de socializao nos hospitais. Com a proliferao das instituies de sade
privadas e o marketing em torno da privacidade do paciente, perdeu-se de vista a
importncia do convvio social entre os que esto internados, limitando assim a
troca de experincias e os benefcios teraputicos deste contato humano. Em seus
hospitais Lel projetou enfermarias comuns partindo deste princpio, que hoje j
possuem quartos separados por causa desta transformao social.

7.1.2 Questes poltico-econmicas

Sobre questes de ordem poltica, CAETANO (apud LIMEIRA, 2006:83) alerta que
um erro projetar um Departamento segundo a idiossincrasia de um dado mdico
(como to frequentemente acontece), sendo que o hospital continuar de p depois
de ele ter desaparecido. clara nos hospitais a disputa de poder entre os
profissionais, o que s vezes dificulta nestas instituies um planejamento mais
global e integrado.

Num hospital pblico, por exemplo, a verba estatal, ou seja, de uma fonte indireta,
um proprietrio distante. Por isto acredita-se que ele apresenta uma situao
organizacional descentralizada, onde no h um pensamento coletivo para a
aplicao dos recursos. Isto significa que os usurios do hospital com o poder de
deciso gerenciam sob interesses individualizados, cada um angariando recursos
para a melhoria do seu setor, separadamente. Esta segregao poltica causa
segregao tambm no espao, com intervenes arquitetnicas pontuais e, s
vezes, planejadas sem a viso global do edifcio. Como visto em alguns hospitais
pblicos visitados e mencionados por alguns arquitetos entrevistados para esta
pesquisa, ocorrem casos onde o diretor de um setor especfico, tendo conseguido
recursos para a aquisio de um determinado equipamento e a realizao de uma

194
7 HOSPITAL CONTEMPORNEO: CENRIO DE TRANSFORMAES

determinada reforma, solicita espaos que poderiam ser compartilhados com outros
setores, minimizando a obra, mas exigindo concesses. H, porm, dificuldade
para convencer cada rea a ceder, estando o poder poltico com estes diretores,
enquanto que um hospital privado geralmente gerido pelos prprios donos da
instituio, centralizando mais a tomada de deciso. Isto tende a facilitar, em alguns
casos, a otimizao da utilizao dos espaos, estabelecendo as mesmas
prioridades a todos os setores e aumentando o controle sobre qualquer reforma.
Por este motivo, mais comum em hospitais privados o uso de planos diretores
como ferramenta de controle das obras de expanso e renovao do edifcio.

H ainda o caso especial da Rede Sarah, que um hospital pblico com uma
estrutura poltica bastante particular4, onde a figura do arquiteto detm grande parte
do poder de deciso sobre as modificaes do edifcio. H l um histrico forte de
participao da arquitetura na raiz do planejamento da rede de hospitais, com uma
rgida padronizao dos seus elementos construtivos e mobilirio, mantida mesmo
aps anos de funcionamento.

A questo financeira tambm pesa na medida em que so estabelecidas as


prioridades de ao. Em muitos casos obras so inviabilizadas pela falta de
recursos, que em outros momentos justifica equivocadamente a ausncia de
planejamento do puxadinho. comum a desculpa de que no h verba para
contratao de um arquiteto, tampouco h tempo para o desenvolvimento de um
projeto, frente necessidade iminente de uma reforma em uma rea de atividade
muito rentvel para a instituio. Desta situao resultam muitas reformas paliativas
e mal executadas, que em pouco tempo precisam ser refeitas, j no atendendo
bem s necessidades a que se props.

Segundo CROSBIE (2004), ...

... geralmente existem trs nveis de intervenes em termos de custo de


reformas: interveno cosmtica em ambientes existentes (como pintura e
piso novos); aprimoramento de ambientes existentes (como instalaes,
iluminao, forro e piso novos); e a renovao onde paredes so
deslocadas (todos as camadas so afetadas).

4
A Rede Sarah gerida pela Associao das Pioneiras Sociais (APS), tem como objetivo retornar o imposto pago
por qualquer cidado, prestando-lhe assistncia mdica qualificada e gratuita, formando e qualificando profissionais
de sade, desenvolvendo pesquisa cientfica e gerando tecnologia. O carter autnomo da gesto desse servio
pblico de sade faz da Associao a primeira Instituio pblica no-estatal brasileira. (www.sarah.br)

195
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

7.1.3 Questes Legais

Nos ltimos anos a grande quantidade de Normas e Resolues criadas para


nortear os novos projetos de hospitais criou uma srie de exigncias tambm aos
edifcios existentes. Isto ocorre quando as instituies de sade so obrigadas a
regularizarem-se quanto s normas de acessibilidade, segurana contra incndio e
vigilncia sanitria. O Hospital das Clnicas de So Paulo, por exemplo, est
submetendo seus edifcios a uma regularizao junto Prefeitura e ao Corpo de
Bombeiros, ajustando-se, portanto, s regras impostas pelo Cdigo de Obras e
Edificaes do Municpio de So Paulo (COE) e pelas Instrues Tcnicas do
Corpo de Bombeiros (ITs). Estes ajustes tm motivado uma srie de intervenes
fsicas nos hospitais do Complexo HC, umas simples e outras de maior impacto,
que ainda esto em fase de projeto.

7.1.4 Hospitais modificados

Pode-se dizer que a grande maioria dos hospitais com mais de dez anos de
funcionamento tiveram que passar por reformas, e o fazem durante quase todo o
tempo, nos diferentes nveis de intervenes. A renovao e expanso de edifcios
hospitalares existentes um fenmeno que pode ser clareado com alguns
exemplos, que sero apresentados a seguir.

Segundo MCKEE e HEALY (2002:9), na Europa ocidental, alguns hospitais ainda


ocupam edifcios que outrora foram monastrios medievais, mas mesmo hospitais
relativamente novos falharam em acompanhar a mudana dos padres das
doenas e tratamentos5.

A Santa Casa de Santos, que foi o primeiro edifcio hospitalar do Brasil a ser
construdo (1543), passou por uma importante reforma e ampliao iniciada em
1929. As obras se arrastaram por vrios anos e tornaram-se contnuas no hospital,
segundo o depoimento do Dr. Hugo Santos Silva6.

5
Traduo livre da autora para: In Western Europe, some hospitals still occupy buildings that were once medieval
monasteries, but even relatively new hospitals have failed to keep pace with changing patterns of disease and
treatment. (MCKEE e HEALY, 2002:9)
6
Revista Acrpole, setembro de 1943:130.

196
7 HOSPITAL CONTEMPORNEO: CENRIO DE TRANSFORMAES

A experincia da Santa Casa de So Paulo (Figuras 7.01 e 7.02), por sua vez, foi
repleta de reformas e expanses, como apresenta MIQUELIN (1992). Segundo ele,
o processo no planejado de crescimento e reformas conduziu este Hospital-
escola a um conjunto desorganizado de edifcios, interligados atravs de tneis e
passagens subterrneas com aproximadamente 1 km de extenso. O papel de
ensino desta Santa Casa pode ter contribudo para a multiplicao de edifcios
departamentais estanques, duplicando servios, recursos humanos e materiais. O
padro de crescimento e transformaes da Santa Casa um exemplo interessante
do que pode ocorrer num processo natural e, portanto, desordenado, de
desenvolvimento da anatomia do edifcio hospitalar. (FERNANDES, 2003:25)

Figura 7.01: Implantao da Santa Casa de Figura 7.02: Santa Casa de


Misericrdia-SP. Prdio original (sc.XIX). Misericrdia-SP. Configurao em 1992.
Fonte: MIQUELIN, 1992 Fonte: MIQUELIN, 1992

Segundo WATANABE (1974), possvel notar que ...

... todas as Santas Casas fundadas at os princpios do sculo XX foram


simplesmente instaladas na medida do necessrio sem prever as
necessidades futuras e nem mesmo sequer estudar uma boa localizao
para as mesmas. Estas Santas Casas sofriam e sofrem periodicamente
contnuas reformas e reconstrues e, sempre que o prdio permita,
ampliam suas instalaes anexando simplesmente casas ao hospital,
tornando-se assim cada vez mais complexo e dificultoso para uma boa
funcionalidade.

No Hospital Samaritano, fundado em 1984, o modesto edifcio de dois pavimentos


evoluiu para um prdio de 10 pavimentos (Figura 7.03), iniciando em 2007 uma

197
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

nova ampliao (Figura 7.04). Originalmente o hospital tinha uma sala da


administrao, uma enfermaria geral de 16 leitos para homens, duas enfermarias
pequenas, alguns quartos para pensionistas e dependncias necessrias a seu
funcionamento. Faltaram recursos para construir, nesta etapa inicial, outras reas
importantes, como uma enfermaria para mulheres e uma sala para cirurgias. A
gua, de poo, era obtida por meio de um moinho de vento, enquanto o gs para
iluminao e para as caldeiras seria fornecido gratuitamente pela So Paulo Gs
Company. (SAMARITANO, 2001, apud FERNANDES, 2003.)

O mais recente edifcio do Hospital Samaritano, chamado de Novo Complexo


Hospitalar Sustentvel e de autoria do escritrio de arquitetura Botti Rubin,
possuir 15 andares e 32 mil m de rea, e est em fase de obras no mesmo
terreno ocupado atualmente pelo hospital7.

Figura 7.03: Hospital Samaritano antes da Figura 7.04: Simulao do Hospital Samaritano
ltima ampliao. com a ltima ampliao.
Fonte: Hospital Samaritano. Fonte: Revista Finestra no 50, agosto de 2007

O Hospital Gastroclnicas (atual Hospital Dr. Edmundo Vasconcellos) tambm


passou por importantes reformas. Em 1988, com projeto do arquiteto Lauro
Miquelin, o hospital reformou o seu Centro Cirrgico e criou novas reas de Pronto
Atendimento, UTI, Radiologia e Imagem. Alm disso criou um novo edifcio para
Centro Mdico e de Diagnstico8. Mais recentemente, em 1999, no mesmo edifcio

7
Revista Finestra. Disponvel em <www.arcoweb.com.br/arquitetura/botti-rubin-arquitetos-hospital-samaritano-17-
09-2007.html>
8
MARINELLI, 2003:14.

198
7 HOSPITAL CONTEMPORNEO: CENRIO DE TRANSFORMAES

foi realizado um refrofit9 pelo arquiteto Siegbert Zanettini, onde as intervenes


foram desde a infraestrutura aos acabamentos.

As instalaes eltricas, hidrulicas e de gases foram refeitas. As obras


foram realizadas em uma prumada de shaft de cada vez, sendo todo o
acesso obra feito por um monta-carga externo ao edifcio. Esse sistema
de trabalho possibilitou a continuidade das atividades do hospital durante as
intervenes nos ambientes internos, onde foi adotado um design mais
contemporneo.10

O Hospital Oswaldo Cruz, que iniciou suas atividades em 1923, num edifcio de dois
pavimentos e um subsolo, somando um total de 30 leitos, hoje possui uma estrutura
fsica muito maior. Em 1928 foi construda a sua primeira ampliao, com um
pavimento a mais no prdio existente, o aproveitamento do sto, a instalao de
um elevador e a construo do segundo prdio. Em 1966 foi construdo um edifcio
anexo de trs pavimentos com internao e rea administrativa, e na dcada de
1970 foram construdos o Centro de Diagnstico e Check-up, uma Clnica de
Reabilitao e a Farmcia. Para acompanhar o ritmo acelerado do desenvolvimento
tecnolgico, em 1980 foram construdos um novo Centro Cirrgico e uma nova UTI.
Na dcada de 1990 foi construdo o Centro de Diagnstico formado por dois
pavimentos subterrneos abaixo do jardim interno. E no final dos anos 1990
iniciou-se a construo de um edifcio de 14 pavimentos. (MARINELLI, 2003:68)

No exemplo do IPq, projetado pelos arquitetos do NUTAU (Ncleo de Pesquisa em


Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo Geraldo Gomes Serra, Marcelo Romro e
Maria Giselda Visconti) em parceria com o escritrio Borelli & Merigo (Jos Borelli
Neto e Hrcules Merigo), o ambiente agressivo idealizado se tornou obsoleto em
poucos anos, quando os tratamentos psiquitricos se tornaram mais humanos.
(HORTA, 2005)

Inaugurado nos anos 50, quando surgiram os primeiros neurolpticos, o


prdio j nasceu defasado. Praticamente sem ambulatrio e com espao
organizado para internaes prolongadas, de carter prisional e sem real
perspectiva de devolver o paciente sociedade, o IPq assistiu inverso

9
Retrofit uma palavra inglesa que significa readequao ou reajustamento. Em outras palavras, quer dizer
adaptar algo do passado s mudanas promovidas por uma nova era. (MARINELLI, 2003:158)
10
ZANETTINI ARQUITETURA PLANEJAMENTO CONSULTORIA LTDA. Disponvel em:
<www.zanettini.com.br/hosp_edmundovasconscelos.html>

199
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

do tratamento psiquitrico: os medicamentos diminuram as internaes


para em mdia trs semanas, ao mesmo tempo em que tornaram
necessrias consultas ambulatoriais peridicas ao longo da vida do
paciente. (...) O aprofundamento do conhecimento da rea psiquitrica
tambm criou novas exigncias, pois passou a classificar os pacientes em
vrias categorias. (...) A mudana de paradigma e a prpria redescoberta
do programa para o hospital, sem instituio de referncia nacional em
psiquiatria, tornaram necessria uma grande reforma no edifcio. Entre as
intervenes estiveram a reduo do nmero de leitos, criao de mais
espao para a rea ambulatorial, maior compartimentao dos ambientes
(setores com diferentes grupos de pacientes) e implantao de estrutura
para cirurgias. Do edifcio existente, praticamente s sobrou a estrutura de
concreto, comenta o arquiteto Geraldo Serra. (HORTA, 2005)

O Hospital do Corao, projetado pelo arquiteto Carlos Eduardo Pompeu e


construdo em 1976 numa rea bastante urbanizada da cidade de So Paulo, foi
praticamente triplicado de tamanho nos ltimos anos com a adio de dois novos
blocos. Primeiro foi o centro de diagnstico, inaugurado no incio dos anos 1990.
Em 1997 foi inaugurada a segunda etapa de expanso, que incluiu o setor de
internao, responsvel pela requalificao conceitual e tecnolgica do hospital11.

Muitos outros hospitais podem exemplificar a convivncia entre o antigo e o novo,


demonstrando a evoluo do edifcio. No Hospital Santa Catarina (Figura 7.05), em
So Paulo ficaram claras as expanses do edifcio, com linguagem arquitetnica

bem diferente entre o prdio


original e as expanses. No
Hospital Infantil do Morumbi
(atual Hospital Infantil Darcy
Vargas), segundo FERNANDES
(2003), o edifcio veio se
descaracterizando ao longo do
tempo com a construo de
Figura 7.05: Hospital Santa Catarina em 2009. anexos e puxadinhos.
Fonte: Acervo da autora.

H tambm exemplos internacionais que podem ser destacados quando se trata de


hospitais em vertiginosa transformao e da obsolescncia de suas edificaes.

11 o
Revista Projeto n 214, novembro de 1997.

200
7 HOSPITAL CONTEMPORNEO: CENRIO DE TRANSFORMAES

Segundo PEARSON (1997), no final dos anos 1990 alguns escritrios de


arquitetura norte-americanos, como Stein-Cox e Perkins & Will, relataram estarem
construindo muitos hospitais substitutos, onde, ao invs de adaptar hospitais
antigos, construram-se edifcios novos. Comumente mais barato do que tentar
mudar edifcios velhos. Se o clssico errado, melhor comear do zero, diz
Donald Blair (Perkins & Will).

Dois dos hospitais substitutos projetados foram o Veterans Memorial Medical


Center (Meriden, Connecticut, Estados Unidos) e o Greenwich Hospital (Greenwich,
Connecticut, Estados Unidos), o qual foi diagnosticado como incapaz de acomodar
novas tecnologias e estratgias operacionais. (PEARSON, 1997)

O mesmo ocorreu com o Baptist Memorial Medical Center, na cidade de North Little
Rock, Arkansas (Estados Unidos). Neste caso o novo hospital, projetado por um
escritrio de Dallas (HKS), reduziu pela metade o nmero de leitos do anterior,
compactando as reas de exames para reduzir a necessidade de mover os
pacientes entre diferentes departamentos. No projeto os quartos de internao so
flexveis o suficiente para deixar que mais procedimentos de diagnstico e
tratamento ocorram junto ao leito. (PEARSON, 1997)

Segundo COX e GROVES (1981), a demonstrao clssica de que os edifcios


hospitalares inevitavelmente requerem alteraes e ampliaes durante sua vida
til pode ser vista tambm na Gr-Bretanha, atravs do Northwick Park Hospital
(Figura 6.06). O Hospital Geral Distrital e Centro de Pesquisa Clnica projetado nos
anos 1960, provavelmente a mais descomprometida e teoricamente pura prova
desta filosofia, e permanece um exemplo seminal que de uma forma ou de outra
teve provavelmente a mais profunda influncia no planejamento hospitalar
estratgico desde ento. (Ver Anexo 2)

7.2 ARQUITETURA E TECNOLOGIA: ASSINCRONISMOS

A qualidade da tecnologia disponvel em um hospital tem cada vez mais


determinado o nvel de qualidade do seu atendimento. Portanto, para
permanecerem rentveis e competitivas, muitas instituies de sade existentes
viram-se obrigadas a atualizar com frequncia os equipamentos mdicos utilizados,
atualizando tambm os seus espaos. Como mostrado at aqui, a tecnologia muda

201
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

mais rpido que os edifcios, e essa assincronia traduzida na forma de constantes


reformas e expanses.

De acordo com CASTRO NETO (1994, apud MARINELLI, 2003), na recuperao


de edifcios por causa da incorporao de equipamentos de elevada tecnologia, a
principal problemtica est centrada na necessidade de espaos que no foram
previstos, e na procura de solues que atendam as exigncias normativas, sem
destruir a esttica do edifcio. Segundo Lel, em entrevista a ANTUNES (2008:69),
arquitetura no tcnica, pois tcnica apenas um instrumento para realizar a
arquitetura. Mas h momentos em que voc est to submisso ou pressionado pela
tcnica, que voc tem de dar essas respostas.

Segundo entrevista ao engenheiro Manoel Moreira, o Brasil tem um histrico de


puxadinhos (dinmica anrquica) em estabelecimentos assistenciais de sade.
Segundo ele, entre as mudanas tecnolgicas que alteraram estes edifcios
destacam-se o work-flow; o tamanho das salas e o peso dos equipamentos. O
work-flow est relacionado ao aumento da quantidade de procedimentos de
diagnstico por imagem e de pessoas atendidas por vez, haja vista a diminuio do
tempo gasto na realizao de cada exame. Enquanto isso, o peso dos
equipamentos diminuiu (10 toneladas para 1,5 toneladas, aproximadamente), sendo
hoje transportados em mdulos e, s vezes, cabendo at em elevadores.

A informatizao de hospitais, instituindo a chamada Telemedicina, tambm


impactou muito os seus edifcios, criando uma rede de conexes virtuais
revolucionria. De acordo com o DATASUS12, em 2006 apenas 33% dos quase
sete mil hospitais do Brasil possuem algum nvel de informatizao e dentre esses,
apenas 5% possuem um nvel de informatizao que pode ser considerado
satisfatrio. (Clicsaude, 200613)

Muitos so os exemplos de hospitais que se transformaram fisicamente por causa


de inovaes tecnolgicas, principalmente nos ltimos 50 anos. No Brasil e no
exterior, novos meios de comunicao, tecnologias cirrgicas e equipamentos de
diagnstico renderam muitas preocupaes ao projeto arquitetnico, como ser
visto nos exemplos a seguir.

12
Banco de dados do Sistema nico de Sade
13
Disponvel em <www.clicsaude.com.br/pub/materiaview.asp?cod_materia=229>

202
7 HOSPITAL CONTEMPORNEO: CENRIO DE TRANSFORMAES

No Hospital Srio Libans (HSL), que foi pioneiro no Brasil na aplicao da


Telemedicina e na robotizao mdica, o histrico de reformas e expanses est
intimamente vinculado ao seu aperfeioamento cientfico e tecnolgico.

Aps o primeiro edifcio do HSL (Bloco A), muitos outros foram construdos, sendo
que a primeira expanso resultou, em 1971, no edifcio localizado atrs do Casaro
Branco (Bloco B), onde foi implantada a primeira Unidade de Tratamento Intensivo
(UTI) do Brasil14.

Com uma equipe mdica em crescimento, a estrutura do HSL foi aos poucos se
modernizando por causa das novidades trazidas pelos seus profissionais, muitas
vezes envolvidos com a universidade. Em 1972 foi ento inaugurado um novo
prdio, conhecido hoje como Bloco B. Com dez pavimentos, foi ocupado pelas
reas de Radiologia (trreo), Radioterapia Geral e Supervoltagem, Unidades de
Terapia Intensiva e Semi-intensiva, entre outras. Com o incentivo s atividades de
ensino na nova estrutura do hospital, foi criado em 1978 o Centro de Estudos e
Pesquisas (CEPE).

Figuras 7.06 e 7.07: Configurao a atual do conjunto de edifcios do HSL.


Fonte: Folder informativo do Hospital Srio Libans (junho de 2009).

Em 1992 houve outra ampliao com a construo do Bloco C, e em 2002 reformou


o Bloco A para receber o Centro de Oncologia. As obras mais recentes foram a
renovao da rea de diagnstico por imagem, projetada pela equipe do escritrio

14
Sociedade Brasileira da Histria da Medicina. Disponvel em:
<www.sbhm.org.br/index.asp?p=instituicoes_view&codigo=13 >

203
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

L+M (arquiteto Lauro Miquelin e arquiteta Sung Mei Ling) em 2007, e a construo
do Bloco D, em andamento.

Figuras 7.08 e 7.09: Vistas externas do HSL, destacando


o contraste entre edifcios de diferentes pocas.
Fonte: Acervo da autora.

Segundo entrevista ao engenheiro do HSL Vincius Ferreira, nos ltimos trs anos
houve duas ou trs trocas de equipamentos de tomografia no hospital, ilustrando o
dinamismo das suas renovaes tecnolgicas na rea de diagnstico. Em visita ao
hospital em 2008, o novo Centro de Diagnstico por Imagem (CDI) estava ainda em
obras, as quais claramente representavam um obstculo para o cotidiano da
instituio. Sempre um problema a ser minimizado, o canteiro de obras dentro do
hospital normalmente gera desvios de circulao e adaptaes provisrias, como
de fato ocorreu no HSL.

O Hospital So Camilo Pompia (Figuras 7.10 e 7.11), por sua vez, est
construindo uma ampliao, que gerou nos edifcios existentes uma srie de
renovaes para acompanhar a sofisticao tecnolgica dos novos blocos. Em
2002, o arquiteto Siegbert Zanettini elaborou um novo plano diretor junto com toda
equipe do hospital. Nesse plano, o prdio existente seria integrado a dois novos
blocos para formar um conjunto nico, com quase 40 mil m. Esses blocos foram
identificados, andar por andar, com o existente. (HORTA, 2005)

No prdio novo houve uma grande evoluo na automao e segurana do


complexo. H cerca de 10 anos, houve uma acelerao na expanso do conjunto,
sendo adquirido o terreno ao lado e iniciado a elaborao de um plano para
expanso. Zanettini props melhorias tecnolgicas com as expanses,
organizando-a em trs fases. Na Fase 1, que consiste na construo do Bloco 2, foi

204
7 HOSPITAL CONTEMPORNEO: CENRIO DE TRANSFORMAES

planejado o novo corao do complexo, concentrando as novas centrais tcnicas


e de infraestrutura, compatveis com a nova dimenso do complexo. Na Fase 2,
que est em execuo, foi estabelecida a reforma do Bloco 1 (edifcio original),
renovando e organizando as reas tcnicas (Shafts novos sendo abertos no edifico
existente). Na Fase 3 o Bloco 2 ser expandido e um novo prdio ser construdo
ao seu lado (Bloco 3).

Figura 7.10: Ampliao do Hospital So Figura 7.11: Esquema das fases de ampliao do
Camilo Pompia. Hospital So Camilo Pompia.
Fonte: Acervo do arquiteto Siegbert Fonte: HORTA, 2005.
Zanettini.

Segundo depoimento do arquiteto Anbal Brtolo, esta e outras reformas exigem


uma permanente readequao fsica e funcional nos edifcios mais antigos do
hospital. Como no se pode dar ao luxo de paralisar determinados servios por
causa das obras, tornaram-se comuns os deslocamentos de atividades enquanto
suas reas originais so reformadas. Numa espcie de reao em cadeia, os locais
para onde estas atividades so temporariamente transferidas tambm demandam
modificaes arquitetnicas, simples ou complexas.

Segundo Brtolo, no caso dos exames de Imagenologia esta manobra torna-se


mais delicada, na medida em que o provisrio tende-se a tornar permanente. Um
equipamento de Ressonncia existente, por exemplo, foi deslocado para outro
pavimento para permitir que a sua rea fosse reformada, no intuito de receber um
equipamento novo. Por tratar-se de um exame cujo espao bastante especfico, o
equipamento existente exigiu reajustes arquitetnicos significativos para ser
instalado nesta rea distante, de onde nunca mais retornou ao local original. Como

205
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

se pode notar, a adio de uma sala de exame modificou permanentemente a


estrutura funcional do edifcio.

Sobre este processo de interferncias no edifcio hospitalar durante a realizao de


reformas, merece meno tambm o caso do Hospital Clnico y Provincial de
Barcelona (Espanha), onde foi criada uma estrutura provisria na forma de
contineres (Figura 7.13). Estes, segundo depoimento do Dr. Antnio Coca
autora, abrigam as atividades das reas sendo reformadas, podendo ser facilmente
desmontados quando as obras ficam prontas.

A expanso fsica deste hospital espanhol foi constante, extrapolando inclusive os


limites do seu terreno original. Num terreno prximo foi construdo um prdio para
consultas mdicas, e em 2008 foi iniciada a construo de mais um edifcio
direcionado ao paciente externo, num terreno a poucos metros do original. Neste
hospital ainda possvel observar a expanso de rea no interior dos prdios, onde
o p-direito alto permitiu que cada pavimento se dividisse em dois, duplicando o
nmero de andares.

Figura 7.12: Corredor externo do Hospital de Clnicas de Figura 7.13: Unidade provisria
Barcelona nos anos 1930, mostrando o p-direito alto que, composta de contineres, localizada
posteriormente, foi dividido em dois pavimentos. no vo entre dos edifcios do Hospital
Fonte: CORBELLA, 2006:23. de Clnicas de Barcelona.
Fonte: CORBELLA, 2006:226.

206
8
INTERAO ARQUITETNICA COM OS
AVANOS TECNOLGICOS
8 INTERAO ARQUITETNICA COM OS AVANOS TECNOLGICOS

8 INTERAO ARQUITETNICA COM OS AVANOS TECNOLGICOS

Ao longo da sua existncia, cada setor do hospital teve que alterar-se de formas
diferentes em virtude da varivel tecnolgica, ora ampliando-se para dar espao a
equipamentos e procedimentos totalmente novos, ora rearticulando os seus
ambientes pela simples substituio de um aparelho obsoleto.

Nesta parte da dissertao, ento, o intuito foi descrever com maior profundidade
como ocorre este processo de transformao do edifcio hospitalar frente os
avanos da tecnologia, procurando relacionar cada unidade funcional s suas
prprias reformas e expanses.

8.1 INTERNAO

Em termos tecnolgicos, as adequaes que o setor de Internao foi submetido ao


longo de sua histria esto mais relacionadas aos seus processos administrativos,
afetados pelos avanos nas telecomunicaes e pela insero da tecnologia digital.
Houve tambm o aprimoramento das camas dos pacientes e dos meios de
transporte de suprimentos.

As camas ficaram mais largas ao longo das ltimas dcadas, pois passaram a
agregar cada vez mais funes. A autonomia dos pacientes em relao
movimentao do leito (ngulos de reclinao) evoluiu muito atravs de artifcios
mecnicos e eletrnicos acoplados nas laterais da cama. Os seus assessrios
tambm se modificaram para atender melhor o paciente, tornando-se em muitos
casos mais ergonmico quando deslocado.

A cama, em si, com toda a sua nova parafernlia, passou a se movimentar mais
pela instituio, com o intuito de minimizar as transferncias do paciente para
outros equipamentos de transporte. Assim, todo o hospital viu-se obrigado a
aumentar os vos de suas portas, que hoje chegam a ultrapassar 1,20m de largura.

Com as facilidades de comunicao com a equipe de enfermagem, que atravs dos


avanos tecnolgicos monitoram o paciente por voz e/ou imagem, os quartos de
internao tambm puderam ter mais privacidade, sem a necessidade de contato
visual direto com os postos de enfermagem.

Com o desenvolvimento da informtica e da digitalizao, muitos processos nesta


rea tornaram-se digitais, minimizando o tempo gasto e os espaos para

209
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

armazenamento de documentos. Diminuiu-se tambm a manipulao de


pronturios, os quais recentemente tornaram-se eletrnicos.

Computadores de mo (notebooks) e equipamentos de diagnstico


portteis, por exemplo, esto tornando possvel que mdicos e enfermeiras
tragam mais assistncia ao leito do paciente, reduzindo a necessidade de
transport-los pelo hospital. Ao invs de levar o paciente sala de exame, o
exame vem ao paciente. Redes de dados eletrnicos tambm esto
reduzindo a necessidade de grandes sistemas de arquivamento nos postos
de enfermagem. Para acomodar este novo equipamento, os quartos dos
pacientes tero que se tornar maiores. Mas este aumento dever ser
paralelo diminuio de outras reas do hospital, como menos e menores
salas de exame e postos de enfermagem. (PEARSON, 1997)

Segundo PEARSON (1999), as colunas de instalaes (gases, eletricidade, etc.)


junto aos leitos favoreceram o layout dos ambientes, a exemplo do que foi
implantado no Doernbecher Childrens Hospital (Portland, Oregon, EUA). L foi
constatado que estas colunas liberam espao em volta do leito do paciente para
que as enfermeiras tenham mais mobilidade e haja mais espao para acomodao
dos acompanhantes, tratando-se de pacientes peditricos.

Nas Unidades de Tratamento Intensivo as mudanas foram significativas, na


medida em que os equipamentos diminuram em dimenso, embora tenham
aumentado em quantidade. H aproximadamente 30 anos os computadores dos
postos de enfermagem eram bem maiores (Figura 8.01), como alguns dos
equipamentos de apoio vida do paciente. At o surgimento do respirador
mecnico que conhecemos hoje (anos 1950), por exemplo, era utilizado o Pulmo
de Ao (Figura 8.02), inventado em 1927 para manter a respirao do paciente.

Figura 8.01: Posto de enfermagem com equipamentos


de monitoramento do paciente nos primrdios da UTI.
Fonte: TAVARES, 1974, apud DALMASSO, 2005

210
8 INTERAO ARQUITETNICA COM OS AVANOS TECNOLGICOS

Figuras 8.02 e 8.03: Paciente com Pulmo de Ao, equipamento utilizado


na UTI at a inveno do respirador mecnico, na dcada de 1950.
Fonte: Medicina Intensiva.

8.2 DIAGNSTICO E TRATAMENTO

To impressionante como os equipamentos em si est a rapidez com que eles tm


sido criados e alterados pela indstria a servio da medicina. A arquitetura tem
enfrentado desafios para acompanhar esta velocidade, dado o carter de
permanncia da construo (malha estrutural, paredes, redes de instalaes, eixos
de circulao vertical e horizontal, etc.) quando comparada volatilidade dos
avanos cientficos e tecnolgicos (descobrimento de novas doenas, novos
medicamentos e criao de novos equipamentos de diagnstico e tratamento) e
dos procedimentos de assistncia a eles associados.

Nas atividades de tratamento, hoje muitas vezes sobrepostas s de diagnstico, o


cenrio parecido, porm percebe-se que a configurao espacial um pouco
mais permanente no que se refere s rotas de circulao. Em alguns dos hospitais
visitados durante a pesquisa, os relatos so de constantes aquisies e/ou
substituies de equipamentos, reformando continuamente os edifcios para
acompanhar a atualizao tecnolgica.

A Unidade de Diagnstico e Tratamento um dos setores que se tem mais


desenvolvido no hospital moderno. As geraes de equipamentos se
sucedem, apresentando novas facilidades e exigncias, que devem ser
prontamente atendidas por quem lhes planeja os espaos. (...) A arquitetura
desses servios deve atender as estritas condies de espao, localizao,
materiais e instalaes, que necessitam ser conhecidas por quem os utiliza
e os projeta. (CYSNEIROS, in: CARVALHO, 2002:54)

Ao passo que mquinas inovadoras so criadas elas rapidamente se tornam


essenciais para os tratamentos de sade, exigindo espaos diferenciados para se
acomodarem. Alguns equipamentos diminuram de tamanho, exigindo salas um

211
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

pouco menores. Por outro lado, as melhorias tcnicas muitas vezes significaram a
criao de novos ambientes, seja para abrigar novas mquinas ou novas atividades
que apareceram junto ao exame (Sala Tcnica, Sala de Preparo, Sala de
Recuperao, etc).

Segundo entrevista cedida pelo engenheiro Vincius Ferreira, muito raro o caso
onde a troca de um equipamento no signifique uma alterao do espao. Em sua
opinio, estas alteraes no esto to ligadas carga eltrica ou ao tamanho das
mquinas, mas sim sua funcionalidade, rapidez e sua movimentao. A
incorporao de novas funes e o aumento da agilidade do exame geralmente
modificam o fluxo de pacientes e ocasionam alteraes externas sala de exame,
como nas reas de Espera, Preparo e Recuperao. A movimentao do
equipamento, que se posiciona em relao parte do corpo a ser examinada,
modifica o espao mnimo necessrio sua volta.

Nas reformas dos edifcios hospitalares desencadeadas pela complexidade dos


equipamentos de diagnstico e tratamento, existem barreiras relacionadas no s
aos aspectos tcnicos. O cronograma apertado e as questes polticas e
financeiras, que so problemticas para a maioria dos hospitais pblicos, tambm
interferem. Equipamentos de diagnstico so muito caros e, portanto, para os
gestores dos hospitais o projeto do espao secundrio quando se trata da
aquisio da mquina.

Segundo o arquiteto Henrique Jatene, nas reformas do InCor ocorreram situaes


onde o equipamento foi comprado antes de ter-se a verba para a obra de reforma
para receb-lo. Neste sentido, um caso alarmante ocorreu no Hospital Samaritano,
onde se descobriu que o edifcio necessitava de reforo estrutural para receber um
equipamento que j havia sido comprado e estava a caminho do hospital. Mesmo
se foram levados anos para a execuo de um projeto, o hospital usualmente
deseja ao imediata. O proprietrio vido para que a construo se inicie e
impaciente com o tempo que leva o projeto. (WHELLER,1971)1

1
Traduo livre da autora para: Even if it has taken years to bring the project to a head, the hospital usually wants
immediate action. The owner is eager to begin construction and impatient with time taken for planning. (WHEELER,
1971)

212
8 INTERAO ARQUITETNICA COM OS AVANOS TECNOLGICOS

Motivadora de adaptaes tambm a blindagem agregada existncia de alguns


aparelhos. Segundo KARMAN (1994:75), vrios so os que necessitam de um tipo
de revestimento protetor contra campo magntico ou radiao, como nas salas de
Ressonncia Magntica, de Radiologia, de Radioterapia e Medicina Nuclear.

As protees so de vrias naturezas (...): a Radiologia, por exemplo,


recorre blindagem propiciada por vidro plumbfero, mantas de chumbo ou
argamassa baritada (...); a Ressonncia Magntica blindagem, com
barras de ferro doce, correspondente ao nmero de Teslas; a Medicina
Nuclear a divisrias de concreto (braquiterapia) e a mantas e blocos de
chumbo, a poo ou cofre de chumbo. (KARMAN, 1994:73-74)

A proteo normalmente para o ambiente externo, onde as pessoas e as


mquinas diversas no devem receber radiao ou interferncia magntica2. Estes
requisitos, por sua vez, interferem na localizao das mquinas.

Sobre as reformas e expanses associadas a equipamentos de diagnstico em


edifcios hospitalares, TERRY e MCLAREN (1973) afirmaram que elas se
apresentam sob duas formas: de longo e de curto prazo. Na poca (1973) eles
estavam falando apenas sobre as reas de radiologia, mas suas colocaes podem
ser facilmente aplicadas realidade atual, onde maior a variedade de exames de
diagnstico e, logo, de procedimentos envolvidos.

As expanses de longo prazo acontecem quando h a expanso pela ocupao de


reas adjacentes. Segundo os autores, o planejamento deste tipo de expanso
pode ser complicado por paredes autoportantes, sadas de emergncia, escadas,
elevadores e malha estrutural (pilares). Sobre as expanses de curto prazo, TERRY
e MCLAREN explicam que no perodo entre a implantao original e as expanses
de longo prazo, muitas vezes existem momentos em que so exigidas adaptaes
mais imediatas.

No passado muitos departamentos sofreram com a perda de eficincia


largamente devido ao uso de projetos estereotipados e falhos, que ao
reformar os espaos somente de acordo com condicionantes atuais, os

2
A exposio prolongada radiao ionizante pode provocar anemia, leucemia, cncer de pele, c6ancer sseo,
entre outros. (www.clicsaude.com.br/pub/materiaview.asp?cod_materia=229, 2005)

213
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

torna inevitavelmente inadequados no longo prazo3. (TERRY e MCLAREN,


1973:11)

Ao falarem sobre Unidades de Radiologia, os autores a comparam com um


aeroporto, sob o aspecto de que a sua forma de trabalho est mudando
constantemente, de modo que eles parecem muito grandes ou muito pequenos.
Parece razovel, portanto, escolher uma determinada data sobre a qual o
departamento seria exatamente adequado ao tipo de trabalho. Antes desta data o
espao possivelmente superaria necessidades. Aps esta data o departamento
deveria ser expandido, descartado ou reconstrudo, ou tornar-se progressivamente
menos adequado.

De acordo com SCHMIDT (2003), setores de diagnstico so os principais


responsveis pela expanso de rea dos hospitais contemporneos. Alm do
impacto interno ao edifcio, essa expanso recentemente originou fora dos hospitais
a multiplicao das unidades autnomas especializadas em diagnstico.

As transformaes que ocorrem no edifcio hospitalar tm impulsionado


cada vez mais a desvinculao do centro de diagnstico dos hospitais,
embora dele, eles prescindam. Acompanhando a tendncia de
especializaes, formam-se cada vez mais centros de diagnstico e
mdicos que oferecem uma grande variedade de servios em diferentes
ramos da medicina. (THOMAZONI, 2009:6)

8.2.1 Radiologia

Os espaos reservados aos exames de radiologia se modificaram ao longo dos


anos. Certamente isto ocorreu por causa de mudanas nas necessidades fsicas e
funcionais dos equipamentos envolvidos.

Para o bom funcionamento do exame de Raios-X sempre foram necessrios


ambientes bsicos como sala de espera, vestirio, sanitrio, sala de exame, rea
de comando (dentro ou ao lado da sala do exame), cmaras clara e escura

3
Traduo livre da autora para: In the past so many departments have suffered from loss of efficiency due largely
to the use of stereotyped plans and failure to give due consideration to the fact that whatever space is reckoned to
be sufficient to deal with todays problems, it is inevitably inadequate in the long term. (TERRY e MCLAREN,
1971:11)

214
8 INTERAO ARQUITETNICA COM OS AVANOS TECNOLGICOS

(revelao dos filmes de Raios-X), salas de interpretao dos laudos, salas para o
arquivamento dos laudos e salas de chefias administrativas. Os ambientes que
mais se modificaram foram a sala do exame e a rea de revelao do filme.

Segundo TERRY e MCLAREN (1973) a sala de exame de raios-x convencional


deveria ter, em meados da dcada de 1970, entre 32 e 37m. Hoje a sala pode ter
at 25m (equipamentos maiores) e 15m (equipamentos menores) segundo alguns
casos analisados para esta pesquisa. A esta mudana no espao se atribui a
mudana de tamanho do equipamento envolvido, que se mostrou varivel por
razes relacionadas s suas diferentes funes, sua forma (robustez) e ao seu
peso.

Pode-se dizer que com o passar do tempo foram surgindo equipamentos


especializados em examinar determinadas partes do corpo (Mamografia,
Radiografia Torcica), e isto provocou o surgimento de diversos equipamentos de
Raios-X menores.

As salas de alguns exames, por sua vez, passaram a exigir menos espao,
enquanto outros tipos de equipamento continuaram grandes por realizarem na
mesma mquina o exame de diversas partes do corpo. Nestes casos, porm, pode-
se notar que as mquinas ficaram mais articuladas e mais leves, embora o espao
necessrio para a realizao do exame pouco mudou em funo da presena do
plano horizontal para o paciente, cujas medidas continuaram as mesmas. Alm
disso, diferentes reas passaram a ser definidas pela inovao nos movimentos de
cada equipamento.

Segundo o arquiteto Nelson Daruj, em entrevista autora, as salas de Raios-X


costumavam ser maiores dentro dos hospitais tambm por causa da disponibilidade
de espao existente, na medida em que antigamente haviam mais espaos
disponveis nos setores de diagnstico. Pode-se dizer tambm que o aumento de
demanda pelos exames de Raios-X criou a necessidade de mais equipamentos,
causando assim a subdiviso das salas existentes em busca de mais espao nos
setores de radiologia. O aumento do nmero de equipamentos tambm pode ser
relacionado sua especializao, pois para possibilitar o exame de vrias partes do
corpo foi necessria a existncia de vrias salas com equipamentos diferentes (sala
de Mamografia, sala de Raios-X de Trax, etc.).

As reas de revelao do exame e armazenagem dos filmes foram praticamente


suprimidas com o advento da tecnologia digital, causando importantes mudanas

215
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

nas reas de processamento de dados e imagens. Apesar do aumento de espao


com as reas dedicadas aos novos computadores, os mesmos acompanharam a
evoluo da informtica e ficaram cada vez menores, havendo a liberao de muito
espao devido ao armazenamento digital de todas as informaes. Com isso os
ambientes de interpretao de laudos tambm diminuram e mudaram o seu prprio
conceito de funcionamento, haja vista que a rede de comunicao entre os
computadores tornou substituvel a presena dos mdicos para discusso e
interpretao dos resultados dos exames.

Nos hospitais visitados, porm, constatou-se que h nos exames a tendncia de


multidisciplinaridade, o que tem lotado estas reas de interpretao com
profissionais de vrias especialidades mdicas, bem como diversos tcnicos. Nas
reas de comando ocorre o mesmo, principalmente nos exames de Tomografia
Computadorizada e Hemodinmica.

Outro importante motivo para as mudanas na configurao espacial dos setores


de exames de diagnstico foi o tempo de durao do exame, que antes era bem
mais longo do que hoje. Com menos tempo de exame, foi possvel atender mais
pessoas por dia, o que criou a necessidade de mais espao para as salas de
espera e processamento de dados.

Na Tomografia Computadorizada a evoluo do equipamento e a sua


funcionalidade sempre foram um pouco mais especficas. Neste caso mudanas
drsticas em relao sala convencional de exame Raios-X, pois alm do
equipamento ter maior dimenso, sua rea de controle passou a envolver uma rea
bem maior para suportar alguns computadores e uma bancada de trabalho.

Na prpria sala do exame passaram a existir equipamentos de apoio ao tomgrafo,


todos um pouco ruidosos e com necessidades especiais de temperatura. Por isto
estes equipamentos foram muitas vezes compartimentados em salas separadas, o
que tornou o espao para este exame maior e ainda mais especfico sob o aspecto
tcnico (instalaes eltricas, de ar-condicionado e eventualmente proteo
acstica).

8.2.2 Medicina Nuclear

O processo de exame realizado na Medicina Nuclear muito especial devido ao


envolvimento de substncias radioativas. O movimento do paciente e do funcionrio

216
8 INTERAO ARQUITETNICA COM OS AVANOS TECNOLGICOS

no antes, durante e depois do exame muito controlado, e isto se reflete na


distribuio espacial do setor. O desenho das unidades de Medicina Nuclear est
guiado principalmente pela separao de reas radioativas e no-radioativas,
sendo que quanto mais efetiva for esta separao, menor a necessidade de
artifcios de proteo contra radiao.

No processo do exame o paciente chega, recebido, registrado e direcionado para


a rea de espera de pacientes externos ou de pacientes internos, que devem estar
em locais distintos. Antes do exame o paciente deve receber as substncias
radioativas em uma rea especfica (sala ou cabine com uma cadeira e um
pequeno armrio ou estante), sendo depois direcionados sala do exame. No caso
de alguns exames h ainda o teste de esforo ou teste farmacolgico antes, que
realizado em esteiras ergomtricas ou em outra sala, respectivamente. Na
sequncia, o paciente que ingeriu a substncia radioativa deve acessar outra sala
de espera, com sanitrios exclusivos, dedicada apenas aos pacientes
contaminados, enquanto aguarda o exame propriamente dito.

As substncias radioativas, por sua vez, devem ser preparadas antes de ingeridas
pelo paciente, sendo armazenadas e manipuladas com segurana em uma sala
separada e de acesso controlado (Radiofarmcia ou Sala Quente). O recebimento
das substncias realizado manualmente ou por carros de transporte, requerendo
ateno especial. Deve ser evitada a passagem destas substncias por reas de
acesso ou permanncia de pacientes.

Durante o exame as imagens fornecidas pelo equipamento so vistas e melhoradas


em aparelhos dentro das prprias salas ou na rea anexa de comando. O mdico
e/ou o tcnico recebe as imagens para interpretao e os arquivos de imagem so
armazenados eletronicamente e disponibilizados para retirada e consulta.

Hospitais-escola podem precisar de mais suporte tcnico para acomodar pequenos


grupos de alunos que participam da consulta, interpretao e manipulao das
imagens.

217
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Figura 8.04: Esquema ilustrativo das etapas do exame de Medicina Nuclear.


Fonte: InCor.

Os equipamentos de PET/CT, ao contrrio dos de Cintilografia ou Gama-Cmaras,


exigem instalaes especiais. Por utilizar uma mquina diferenciada, precisa de
mais espao linear interno (2 a 3 metros mais longa que uma sala de Cintilografia)
para permitir a movimentao da mquina. A quantidade de dados gerada neste
tipo de exame tambm muito maior, exigindo salas maiores para serem
distribudas e arquivadas. Por serem mquinas mais pesadas e complexas,
tambm necessitam de reforo estrutural e espao para equipamentos de suporte
adicionais.

Enquanto uma estrutura direcionada ao PET convencional necessita de 2 ou 3


salas, o PET/CT exige 4 ou 5 salas, alm dos sanitrios diferenciados
(contaminados e no-contaminados). Para a incorporao destas e de outras
especificidades, so comumente impactantes as reformas para a instalao das
salas de PET e PET/CT nos hospitais pr-existentes.

8.2.3 Ressonncia Magntica

O processo do exame de Ressonncia Magntica comea com a preparao do


paciente, que muitas vezes precisa ingerir substncias de contraste (lquido que
melhora a definio dos rgos e vasos sanguneos nas imagens) e solicitado a
remover acessrios ou artigos de roupa que possam ser atrados pelo magneto. J
na sala do exame, o paciente posicionado pelo tcnico na mesa do equipamento,

218
8 INTERAO ARQUITETNICA COM OS AVANOS TECNOLGICOS

sendo colocada uma superfcie especial envolvendo a regio de interesse do


exame.

Durante o exame so realizadas de duas a seis sequncias diferentes, durando


cerca de quinze minutos cada uma. O tcnico que executa o exame permanece
fora da sala o tempo todo, se comunicando por som da sala de Comando.

Aps o exame, o tcnico pede ao paciente que se vista novamente e aguarde


enquanto as imagens so revisadas para que possa ser liberado (s vezes so
necessrias mais imagens).

Para possibilitar a realizao de todas as etapas acima descritas, as reas de RM


necessitaram sempre de espaos bsicos como Recepo, salas de Espera, sala
de Recuperao, Vestirios; Sanitrios, sala do exame, sala de Comando, Sala
Tcnica, sala de Interpretao de Laudos e salas de Chefias Administrativas. As
transformaes que ocorreram em relao a estes espaos estiveram certamente
ligadas ao espao das salas de exame e de seus componentes, considerando
tambm o aumento do nmero de salas causado pelo aumento de demanda pelo
exame. Este se tornou cada vez mais rpido e o seu equipamento, como vimos
anteriormente, diminuiu.

Em alguns hospitais brasileiros, por exemplo, foram observados casos onde reas
antes destinadas a apenas um equipamento de RM, foram facilmente ocupadas por
dois deles, provando a diminuio das dimenses da mquina.

As modificaes das condies de existncia dos aparelhos de apoio ao exame


tambm esto em processo de adaptao, j sendo incorporadas s salas dos
magnetos. Com isso espera-se que sejam pouco a pouco eliminadas, ou pelo
menos reduzidas as Salas Tcnicas, cujos equipamentos tambm tendem a
diminuir e liberar mais espao dentro dos setores de Ressonncia Magntica.

Nos espaos utilizados pelo exame existem algumas especificidades tcnicas a


serem consideradas. A presena do campo magntico cria vrias restries
localizao da sala de Ressonncia dentro da edificao. Eficientes tecnologias de
proteo (revestimento de chumbo ou barita nas paredes externas) existem contra
a entrada de frequncias de rdio e contra a expanso do campo magntico..

Se por um lado o campo magntico de RF (Radiofrequncia) influencia o


ambiente externo (pessoas com implante magntico ou marca-passo), por
outro lado afetado por mudanas no campo magntico provocado por

219
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

massas magnticas em movimento (veculos), as quais podem provocar


graves distores em imagens MR. (KARMAN, 1994:75)

O tamanho e o peso do equipamento so determinantes na configurao espacial


das salas e nos aspectos estruturais do edifcio, pois muitos no esto preparados
para suportar o peso das mquinas. O uso do refrigerador e as necessidades
especiais de ventilao tambm influenciam o layout destes espaos. Instituies
de ensino (hospitais-escola) exigem reas maiores de apoio, incluindo espaos
para pequenos grupos de observao nas reas de interpretao e manipulao de
imagens.

8.2.4 Laboratrios

Em um exame laboratorial a participao do paciente bem definida


espacialmente. Existem as reas de recepo e espera, de coleta e de entrega de
resultados, que hoje em grande parte realizada pela internet. A rea de coleta,
por sua vez, varia no nmero de boxes e sanitrios, configurando ambientes
pequenos e auxiliados por um mobilirio simples. A transformao destas reas
no sofreu grandes alteraes, modificando-se mais no sentido de expanso por
causa do aumento da demanda de pacientes. Na rea de domnio dos bioqumicos,
porm, foram significativos os avanos cientficos e tecnolgicos, trazendo a
especializao dos seus espaos.

No Laboratrio de Anlises Clnicas propriamente dito, o aumento significativo do


nmero de equipamentos e instalaes gerou o adensamento das bancadas de
trabalho, que tambm aumentaram em extenso e profundidade (comparao entre
a Figura 8.05 e as Figuras 8.06, 8.07 e 8.09). Na medida em que foi ampliada a
variedade de elementos a serem analisados, o processo de trabalho foi
reorganizado (hematologia, parasitologia, urinlise, bacteriologia, etc.), bem como
os seus espaos. Equipamentos de apoio como estufas, refrigeradores e cmaras
frigorficas criaram nestas reas salas novas e individualizadas.

Na maioria dos hospitais visitados durante esta pesquisa foi observado que os
laboratrios so reas que demandam muitas reformas, embora estas sejam de
pequena escala. Isto se explica pelo fato de que cada equipamento que adquirido
ou deslocado exige uma srie de ajustes nas instalaes eltricas, hidrulicas e
fludo-mecnicas. As bancadas tambm so frequentemente modificadas, ora

220
8 INTERAO ARQUITETNICA COM OS AVANOS TECNOLGICOS

interrompidas para dar lugar a um equipamento um pouco maior a ser apoiado no


piso, ora expandidas para englobar mais rea de trabalho.

Figura 8.05: Laboratrio no incio da dcada de 1970.


Fonte: ROSENFIELD, 1971.

Figuras 8.06, 8.07 e 8.09: Laboratrio em 2009 (Hospital Sarah Kubitschek de Braslia).
Fonte: Acervo da autora.

8.2.5 Radioterapia

No caso da Radioterapia a especificidade tcnica e arquitetnica sempre foi a


proteo radiolgica necessria ao equipamento. O nvel de proteo necessria
to alto que as salas do exame possuem paredes de concreto que chegam a
ultrapassar dois metros de espessura (Bunker- Figura 8.10). A espessura
necessria de chumbo, embora menor, ainda seria grossa e, logo, de custo muito
elevado.

Por causa dos Bunkers, a localizao do setor de Radioterapia dentro de uma


instituio deve ser muito bem planejada, pois o seu deslocamento muito
dispendioso e raramente viabilizado.

No caso do Alta Bates Cancer Center (Califrnia, Estados Unidos), por exemplo,
houve dificuldade na hora de adaptar um edifcio existente, onde o p-direito de
2,4m era insuficiente para a instalao do novo equipamento de radioterapia. Um

221
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

novo edifcio teve que ser construdo para atender os quase 5m de p direito
exigidos. (PEARSON, 1997)

Figura 8.10: Exemplo de uma sala de Radioterapia (Bunker).


Fonte: Acervo Carlos Hernandez

8.2.6 Cirurgia

A configurao arquitetnica bsica de um Centro Cirrgico pouco se modificou ao


longo dos anos, na medida em que sempre foi caracterizada por uma rea limpa
onde existem salas de cirurgias de tamanhos variados e onde o acesso do mdico
realizado por vestirios de barreira e o do paciente por uma rea de transferncia
de macas. O interior da sala de cirurgia, por sua vez, foi a rea mais afetada pela
variao tecnolgica.

Como comentado anteriormente, a cirurgia como disciplina s ganhou fora a partir


do sculo XIX, devido ao aprimoramento das tcnicas de assepsia. Desde ento o
aparato tecnolgico desta atividade em muito aumentou, trazendo para dentro das
salas uma srie de equipamentos e profissionais. Segundo CARVALHO, BATISTA
e VIEIRA (2004:37), o Centro Cirrgico requer um especial cuidado e pesquisa na
sua programao e concepo arquitetnica, buscando-se sempre minimizar custos
e maximizar sua assepsia.

Segundo TOLEDO (s/d), houve nos hospitais uma queda de barreiras fsicas com
as descobertas cientficas e tecnolgicas do final do sculo XIX.

Na medida em que se aperfeioavam os procedimentos de assepsia e que


a medicina passava a compreender melhor as formas de propagao da
infeco hospitalar, inmeras destas barreiras (antecmaras, vestirios
barreira, circulaes exclusivas, pr-ps, capelas de fluxo laminar, ar com

222
8 INTERAO ARQUITETNICA COM OS AVANOS TECNOLGICOS

presso positiva ou negativa) deixaram de ser utilizadas, ou por no


apresentarem resultados satisfatrios ou para diminuir o custo da
construo e operao das unidades.

Segundo a prpria Resoluo RDC no 50 da ANVISA (2002), "a melhor preveno


de infeco hospitalar tratar os elementos contaminados na fonte; o transporte de
material contaminado, se acondicionado dentro da tcnica adequada, pode ser
realizado atravs de quaisquer ambientes e cruzar com material esterilizado ou
paciente, sem risco algum. Isto dispensou tecnicamente o isolamento entre as
circulaes exclusivas para elementos sujos e limpos nas reas cirrgicas. Mesmo
nos ambientes destinados realizao de procedimentos cirrgicos, as circulaes
duplas em nada contribuem para melhorar sua tcnica assptica, podendo
prejudic-la pela introduo de mais um acesso, e da multiplicao de reas a
serem higienizadas". (RDC 50, 2002:99)

Mais recentemente foram incorporados ao setor cirrgico vrios procedimentos


ligados ao diagnstico, alm da robotizao do trabalho do prprio cirurgio. Isto
demandou reformas nas salas cirrgicas, como no caso do Hospital Srio Libans,
primeira instituio brasileira a incluir o rob (Da Vinci) na cirurgia.

Neste caso foram reformadas duas salas cirrgicas, planejadas em


aproximadamente cinco semanas e executadas em 33 dias. Segundo o engenheiro
Vincius Ferreira4, responsvel pela obra, foi exigido mais espao dentro das salas
devido presena do rob, sua movimentao em torno do paciente (cada tipo de
cirurgia determina uma localizao diferente do equipamento) e movimentao da
equipe em torno do equipamento. Alm disso, Ferreira comentou sobre as
recomendaes provenientes da empresa fabricante do rob, onde foram
estabelecidas distncias mnimas entre o equipamento e as paredes do ambiente.

Com a aplicao de tcnicas menos invasivas, a robotizao da cirurgia tambm


reduziu o tempo de recuperao do paciente, reduzindo a sua permanncia no
hospital e aumentando a rotatividade de ocupao dos leitos de UTI e internao.

No Brigham and Womens Hospital, por sua vez, a unio da prtica cirrgica com o
auxlio diagnstico foi mais longe com a construo de um prottipo com trs salas
contguas (Figuras 8.11 e 8.12) para a interao simultnea entre a cirurgia e as

4
Em entrevista autora (fevereiro de 2009)

223
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

atividades de diagnstico (RM e PET/CT Programa AMIGO de cirurgia guiada


por imagem). Neste caso, a mesa onde est o paciente transportada de um
equipamento a outro atravs de trilhos no cho, encaixando-se no anel do PET/CT.
O equipamento de RM, por sua vez, preso ao teto e pode ser transportado at a
mesa cirrgica.

A sala de cirurgia equipada com o estado-da-arte em mesa cirrgica,


eletronicamente controlada e cercada por modalidades de imagem e
dispositivos de terapia, incluindo um sistema de navegao integrado ao
teto, uma unidade de fluoroscopia, um ultrasom 3D, e um sistema de
imagem prximo ao infravermelho. (...) Montado no teto, o equipamento de
RM pode ser movido para fora da sala e at a sala de cirurgia. Com esta
inovao, o paciente no precisa ser transferido para a mesa da RM. Estes
recursos permitem flexibilidade no fluxo de trabalho para adaptar os
5
procedimentos s necessidades do mdico e do paciente . (National
Center for Image Guided Therapy)

ROUGHAN (2009) comenta que no processo de desenho destes ambientes


existem camadas de complexidade que iro requerer uma mirade de constituintes
incluindo clnicos, tecnlogos, equipe de enfermagem, pessoal biomdico, gesto
de materiais, equipe de planejamento, arquitetos/planejadores mdicos,
engenheiros, e fornecedores/planejadores de equipamentos. Ningum
individualmente conhecedor de todos os parmetros necessrios; o processo
exige colaborao entre todos eles6.

5
Traduo livre da autora para: The operating/angiography room (OAR), is outfitted with a state-of-the-art,
electronically controlled patient table surrounded by imaging modalities and therapy devices, including a ceiling-
integrated navigation system, a fluoroscopy unit, 3D ultrasound, and a near-infrared imaging system. The patient
table top can be changed to optimize the procedure for surgery or angiography. () The ceiling mounted MRI
scanner can be moved out of the MR room and into the operating/angiography room. With this innovation, the
patient does not need to be transferred into the operating/angiography table for MR imaging. These features enable
flexibility in workflow to tailor procedures to the needs of the doctor and patient. (National Center for Image Guided
Therapy - www.ncigt.org/pages/AMIGO)
6
Traduo livre da autora para: The design process for technology intensive image-guided surgery rooms has
layers of complexity that will require a myriad of constituents including clinicians, technologists, nursing staff,
biomedical personnel, material management, facility planning staff, architects/medical planners, engineers, and
equipment planners/vendors. No one individual is cognizant of all of the required parameters; the process requires
collaboration among all of them. (ROUGHAN, 2009)

224
8 INTERAO ARQUITETNICA COM OS AVANOS TECNOLGICOS

Figuras 8.11 e 8.12: Projeto das salas cirrgicas do Programa AMIGO, implantado no
Brigham and Womens Hospital (Boston, EUA).
Fonte: National Center for Image Guided Therapy.

Claramente o aumento da variedade de funes na sala de cirurgia tambm


aumentou o nmero de profissionais envolvidos em um mesmo procedimento,
aumentando tambm a necessidade de espao.

O que era outrora domnio nico do cirurgio foi invadido por vrios clnicos
diferentes, entre os quais cardiologistas intervencionistas, radiologistas, e
gastroenterologistas. Cdigos esto atualmente sendo reescritos e a
distino entre salas de cirurgia e salas de procedimentos intervencionistas
est mais turva. A questo inevitvel se uma caixa pode ser criada onde
um tamanho sirva para tudo. 7(ROUGHAN, 2009)

Como em qualquer outra rea com a necessidade de equipamentos de grande


porte, nas reas de cirurgia consideram-se tambm as estratgias de transporte
dos equipamentos at seus locais de destino dentro do edifcio. Por este setor estas

7
Traduo livre da autora para: What was once the sole domain of the surgeon has been invaded by several
different clinicians, among them interventional cardiologists, radiologists, and gastroenterologists. Codes are
currently being rewritten and the distinction between ORs and interventional procedure rooms is further blurred. The
Inevitable question is whether a box can be created where one size fits all (ROUGHAN, 2009)

225
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

muitas vezes localizado nos andares acima do trreo, so comuns dificuldades


neste processo, envolvendo freqentemente o uso de guindastes (Figura 8.13) e a
demolio de paredes.

No IPq, por exemplo, o projeto arquitetnico encarregou-se de solucionar isso com


a previso de uma parede retirvel (chapas de fibrocimento pintadas do lado
externo e placas de gesso acartonado por dentro, com um vo de 10 cm entre os
dois tipos de placa) na rea do Centro Cirrgico, necessria para viabilizar futuras
trocas de equipamentos pesados, como aparelhos de ressonncia magntica. (...)
Pela dificuldade de transporte destes equipamentos pelos elevadores e escadas, a
alternativa foi prever a sua entrada no edifcio pela fachada, atravs de um
guindaste. (HORTA, 2005)

8.3 ENSINO E PESQUISA

Fazem parte das reas de ensino e pesquisa as salas de aula, os auditrios, as


bibliotecas, os laboratrios de pesquisa e o espao eventualmente ocupado pelos
alunos dentro das salas de diagnstico e terapia dos hospitais. Com a tecnologia
digital, porm, todo esse espao de troca de informaes e experincias est em
processo de transformao, na medida em que dados e imagens passaram a
integrar o mundo virtual.

Foi possibilitado o ensino distncia em tempo real, e por isso os Anfiteatros cada
vez mais tm se preparado tecnologicamente para receber sistemas de
videoconferncia e possuir salas onde os profissionais de sade possam acessar a
internet e buscar novos conhecimentos e se atualizarem. (MARINELLI, 2003:131)

Nas reas cirrgicas, por exemplo, a Telecirurgia e a Videoconferncia


(transmisso on-line de procedimentos invasivos) so tecnologias que influenciaram
a configurao espacial.

At a segunda metade do sculo XX, como pode ser observado nas imagens
abaixo, nas salas de cirurgia dos hospitais escola eram projetados espaos
especiais para que os alunos pudessem assistir aos procedimentos. Com as
ferramentas atuais isso no mais necessrio, permitindo ainda que um maior
nmero de alunos assista cada cirurgia, em um ambiente mais apropriado
atividade didtica.

226
8 INTERAO ARQUITETNICA COM OS AVANOS TECNOLGICOS

No projeto de Rino Levi para a Maternidade


Universitria da Faculdade de Medicina da
USP (no construdo), por exemplo, foi
projetado um observatrio acima da sala
cirrgica (Figura 8.13).

Figura 8.13: Volumes cilndricos para a observao dos


partos e cirurgias no projeto da Maternidade Universitria
da Faculdade de Medicina da USP (no construdo).
Fonte: ANELLI e GUERRA, 2001:185.

Figura 8.14: Sala de cirurgia Hospital de Figura 8.15: Sala de cirurgia com observatrio
Clnicas de Barcelona nos anos 1920. superior.
Fonte: CORBELLA, 2006:72. Fonte: Post-Gazzete.

Segundo MARINELLI (2003:132), a realidade virtual permite que o aluno treine


operar sobre uma imagem virtual antes de ir para a sala cirrgica. Com a cirurgia
robtica, ambientes especiais foram adicionados nas instituies, tambm
fisicamente desvinculados da sala de cirurgia.

Neste caso o treinamento


realizado atravs de um
equipamento especial de simulao
(Figura 8.16). No Brasil o Hospital
Srio Libans tambm foi pioneiro na
implantao de um Centro de
Treinamento e Desenvolvimento de

Figura 8.16: direita o equipamento de simulao da Cirurgia Robtica, onde existe um


cirurgia robtica, e ao centro o rob anexado mesa
cirrgica.
rob utilizado exclusivamente com a
Fonte: Engenharia de Automao IFF Campos & ISA finalidade de ensino.
Campos.

227
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Nos laboratrios de pesquisa, por sua vez, a influncia da tecnologia no espao


envolve os aspectos comentados no item 8.2.4, referentes a qualquer laboratrio. O
nmero de salas tem se multiplicado na medida em que se desenvolve o campo
cientfico da bioqumica, virologia, medicina molecular, etc. A descoberta de um
novo vrus, por exemplo, introduz necessidades de isolamento fsico e de
procedimentos especiais, o que se traduz em novos ambientes com caractersticas
especiais de ar (isolamento tambm pela diferena de presso do ar externo e
interno s salas) e novos equipamentos para apoiar a anlise e a manipulao
segura dos microorganismos.

8.4 APOIO ADMINISTRATIVO

O setor de Apoio Administrativo de um hospital, como de qualquer outra instituio,


funciona como um escritrio, onde no h muitas restries fsicas de
funcionamento. O que ocorreu nestas reas foi a diminuio das reas de
armazenamento de papel, pois com a tecnologia digital quase todos os seus
processos tornaram-se virtuais.

Tm sido englobados equipamentos dispersos por todo o edifcio, como terminais


de computadores, fotocopiadoras e faxes ligados rede.

A automao dos servios administrativos no estabelecimento de sade


abrange todas as reas. Controla e racionaliza processos desde a entrada
de pacientes, consultas e internaes, pronto-atendimento, centro cirrgico,
ambulatrio, internao e enfermagem, apoiando atividades como
faturamento, compras, estoques, dispensao de materiais e
medicamentos, distribuio e custos. (MARINELLI e CAMARGO, 2004:35)

8.5 APOIO TCNICO E LOGSTICO

Fisicamente, os sistemas de infraestrutura hospitalar representam espaos tcnicos


especficos e contnuos, distribudos pela edificao. Por Espaos Tcnicos
entendem-se os espaos especialmente planejados para acolher, abrigar e
distribuir as mais diferentes modalidades de instalaes e equipamentos de apoio,
que compem a infraestrutura da Instituio. (KARMAN et al, 1995:23)

228
8 INTERAO ARQUITETNICA COM OS AVANOS TECNOLGICOS

Os Espaos Tcnicos Especficos so aqueles pontuais e destinados a propiciar


manuteno operacional a equipamentos especficos, como os de esterilizao, de
refrigerao, de ar condicionado (torres de resfriamento, Chillers e Fan-coils), de
compresso do ar, de vcuo, de No-break, de energia (casa de fora e cabine
primria), de gua (barrilete, estao elevatria, bombas de recalque), de
tecnologia da informao, de correio pneumtico, de telefonia, etc.

Para a passagem da grande quantidade de eletrodutos, tubos de gua, cabos de


rede (tecnologias da informao), dutos de gases e ar, existem os Espaos
Tcnicos contnuos. Estes podem ser horizontais ou verticais, formando uma rede
de distribuio integrada e ordenada dos sistemas de abastecimento e suprimento.

A presena dos Espaos Tcnicos como parte importante do edifcio hospitalar


intensificou-se a partir da segunda metade do sculo XX, quando foram
estabelecidas estratgias mais racionais para o agrupamento dos equipamentos e
das instalaes. Passou-se a valorizar mais a facilidade de manuteno, disciplina
cada vez mais especializada e rigorosa dentro das instituies hospitalares.

Segundo DIAS (2003:13), o prprio conceito de Manuteno tambm est


modernizando-se para poder acompanhar essas transformaes (tecnolgicas).
Como disse Karman em entrevista a MAWAKDIYE (1997), "manter um hospital no
apenas trocar as calhas defeituosas", pois "os equipamentos tm de ser
consertados imediatamente, a acessibilidade tem de ser total e h de haver
continuidade operacional permanente".

Os Espaos Contnuos Horizontais so formados pelos pavimentos tcnicos e pelos


espaos entre a laje e o piso e entre a laje e o forro. Tambm denominados
Espaos Intersticiais, os pavimentos tcnicos (Figuras 8.17 e 8.18) so andares
com p-direito de aproximadamente 2,40m (mais baixo que o restante dos andares)
onde so colocados estrategicamente diversos equipamentos e instalaes. Nestas
reas, concebidas para terem um bom isolamento acstico, facilitada a
manuteno individualizada a cada pea ou componente, bem como a introduo
de alteraes, derivaes, extenses, acrscimos e supresses, sem perturbar o
funcionamento de outras atividades da instituio.

229
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Figura 8.17: Pavimento Tcnico do Hospital Municipal de Boston (EUA, 1969),


de H. Stubbins e Rex Allen.
Fonte: STUBBINS e ALLEN, 1970:55.

A presena dos pavimentos tcnicos confere grande flexibilidade para a aquisio e


substituio de equipamentos, principalmente se for construdo adjacente s reas
mais tecnologicamente carregadas do edifcio hospitalar, que so as unidades de
diagnstico e tratamento. No Centro Cirrgico, por exemplo, a presena do
pavimento tcnico muito favorvel, concentrando o grande nmero de
equipamentos e instalaes complementares demandados pela atividade cirrgica,
bem como suprimindo a necessidade de manuteno dentro do setor.

Os Espaos Tcnicos Contnuos entre a laje e o forro e entre a laje e o piso


tambm existem para dar flexibilidade s instalaes, na medida em que
concentram vrios tipos de tubulaes e so vedados por placas removveis para
permitir a manuteno dos mesmos. Os Espaos Tcnicos Verticais, por sua vez,
so tambm visitveis, concentrando nos chamados Shafts a mesma tubulao na
forma de prumadas.

Apesar de toda a descrio apresentada sobre os espaos tcnicos, importante


ter-se em mente que nem sempre existiu esta quantidade e variedade de
tecnologias para dar suporte ao edifcio e s atividades nele desenvolvidas, o que
fez com que edifcios mais antigos tivessem que se adaptar arquitetonicamente a
esta nova realidade.

As instalaes so as que mais sofrem o impacto das alteraes,


modernizaes, progressos e expanses a que os hospitais esto
continuamente sujeitos; por isso, absolutamente essencial dotar o hospital
de meios e recursos para poder zelar eficazmente pela eficincia de sua
infraestrutura. (KARMAN et al, 1995)

230
8 INTERAO ARQUITETNICA COM OS AVANOS TECNOLGICOS

Ao aumento da rea til e do parque tecnolgico das instituies hospitalares


acompanhou o aumento da carga eltrica dos edifcios, da necessidade de
climatizao dos seus ambientes e da quantidade de espaos tcnicos. O aumento
do rigor no desempenho tcnico dos equipamentos e a necessidade de flexibilidade
nas redes de instalaes reforaram o carter essencial destes espaos tcnicos.

Segundo LAMHA NETO (2008), em termos de modificaes arquitetnicas por


causa de instalaes h reas mais estveis, como as de internao. (...) O
dinamismo muito maior nos Centros Cirrgicos e de Diagnstico e a os cuidados
devem ser maiores para permitir que as paredes e os suprimentos sejam facilmente
mutveis. preciso prever espaos tcnicos adequados para, por exemplo,
substituir um aparelho de ar-condicionado sem interferir nas dependncias e
servios do hospital.

Com as visitas a alguns hospitais durante esta pesquisa, foi possvel constatar que
o sistema de ar condicionado um dos que mais impactaram arquitetonicamente os
edifcios, pela dimenso e complexidade dos equipamentos envolvidos. Os Chillers
e as Torres de Resfriamento constituem equipamentos grandes e com necessidade
de ventilao, o que induz que a sua localizao seja geralmente na cobertura dos
edifcios. A tubulao envolvida nesta fase de congelamento da gua tambm
bastante volumosa, ocupando espaos significativos nos bastidores do edifcio.

Os Fan-coils, por sua vez, espalham-se pela instituio de acordo com a


necessidade, variando entre pequenas salas a grandes reas, no caso dos
equipamentos que atendem as salas com maior necessidade de pureza do ar,
como as cirrgicas. Os dutos de ar condicionado que chegam aos ambientes
tambm so relativamente volumosos, e determinam mais espao nos forros falsos.

Segundo o engenheiro Carlos Hernandez, para a instalao dos dutos de ar-


condicionado, os grandes viles so os ps-direitos, muitas vezes insuficientes.
comum tambm a falta de espao para as salas dos Fan-coils, que devem estar
prximas s reas a serem climatizadas.

Em hospitais que passaram por reformas, possvel notar com clareza a


dificuldade em adaptar os espaos tcnicos expanso das instalaes do edifcio.
Este o caso do Hospital Brigadeiro (So Paulo Figura 8.18), onde na fachada de
fundos visvel a falta de um espao adequado para as prumadas de alguns dutos.

231
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

No Complexo do Hospital So Camilo


Pompia, por sua vez, um edifcio da
dcada de 1960 (Bloco I) est sendo
reformado radicalmente para poder abrigar
uma nova estrutura tcnica, includa na
instituio por causa de uma grande obra
de expanso. Em visita ao prdio, pde-se
constatar que no foram previstos espaos
tcnicos, nem horizontal e nem vertical,
para a expanso da sua infraestrutura,
havendo uma srie de arranjos empricos
(puxadinhos) para cada ajuste ocorrido
Figura 8.18: Hospital Brigadeiro, So Paulo.
Fonte: Acervo da autora at hoje. Na nova reforma, espaos para

Shafts novos esto sendo abertos do trreo ao ltimo pavimento, instalando uma
nova espinha dorsal eletroeletrnica (sistema de barramento Bus-way). O sistema
de transporte vertical, obsoleto, tambm est sofrendo alteraes.

Segundo Gleiner Ambrsio, engenheiro de manuteno do Hospital So Camilo


Pompia, a renovao da infraestrutura est causando outras modificaes
arquitetnicas no Bloco I, onde o atual equipamento de ar condicionado dever ser
substitudo e ocupar um apartamento da rea de internao, dada a sua
dimenso. Alm disso, o p-direito dos pavimentos no suficiente para manter no
forro falso a quantidade de instalaes necessrias.

No caso do novo Hospital Sabar, em So Paulo, que est adaptando um edifcio


de escritrios para o uso hospitalar, outros desafios foram encontrados para
adaptar a tecnologia necessria. O edifcio para onde ser transferido o hospital,
no possua a rea, os ps-direitos, a quantidade de elevadores e a base estrutural
necessrias para a instalao de um hospital. Para adequar o edifcio foram
destrudas lajes, reforados pilares e vigas, adicionados elevadores e escadas
rolantes, etc.

Segundo o engenheiro responsvel pela obra, Gilberto Baron, uma das grandes
razes para o reforo estrutural nas lajes foi a abertura dos Shafts no edifcio, pois
a laje existente nervurada. A escada existente foi demolida para o aumento do
hall dos elevadores, sendo que os nveis tambm se modificaram em alguns
pavimentos. A laje com maior reforo estrutural a laje do 4 pavimento, onde

232
8 INTERAO ARQUITETNICA COM OS AVANOS TECNOLGICOS

esto previstas as reas de diagnstico e, logo, uma grande carga em


equipamentos.

No novo edifcio do Hospital Sabar, o p-direito existente era insuficiente para as


instalaes hidro-sanitrias e fludo-mecnicas (pouco espao para forro),
especialmente no Centro Cirrgico. Para melhorar esta situao, teve-se que
destruir as lajes de dois andares do prdio, aumentando o p-direito do andar do
meio (centro cirrgico), com a reconstruo das lajes novas com 30cm de
deslocamento cada uma. Os andares acima e abaixo ficaram com ps-direitos
menores, porm as atividades ali locadas (Pavimento Tcnico, acima, e Pronto
Socorro, abaixo) poderiam existir com um p-direto mais baixo.

Outro projeto de adaptao arquitetnica que destacou a sua influncia na


readequao dos espaos tcnicos foi o do IPq, onde foram construdos no exterior
da fachada Shafts novos. Segundo HORTA (2005) o espao interno destes Shafts
foi superdimensionado para incluir futuras ampliaes, sem reduzir o espao interno
do edifcio. Parte do forro teve que ser aumentado, medida que reduziu o p-direito
dos pavimentos.

233
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

234
9
ESTUDO DE CASO 1:
INSTITUTO DO CORAO
9 ESTUDO DE CASO 1: INSTITUTO DO CORAO

9 ESTUDO DE CASO 1: INSTITUTO DO CORAO

No Instituto do Corao as reas analisadas concentram-se no pavimento do


Ambulatrio (AB), onde vem se adensando uma grande quantidade de
equipamentos e de infraestrutura para viabilizar as atividades de diagnstico. Como
indicado no Captulo 1, o InCor apresenta um histrico repleto de grandes
transformaes arquitetnicas, e muitas delas ocorreram neste andar.

Segundo VISCONTI (2000:75), em sua Avaliao Ps Ocupao (APO) do InCor:

O pavimento semi-enterrado, onde esto localizados o ambulatrio e os


servios de diagnstico, foi o pavimento que sofreu no s as maiores
alteraes., como tambm significativa ampliao de rea. (...) A parte
posterior do pavimento foi remodelada para receber os mais modernos
mtodos de diagnstico e tratamento, ampliando sua rea sobre o ptio de
servios.

Inicialmente composta apenas pelas unidades de radiologia, as atividades de apoio


ao diagnstico do InCor em muito se expandiram e se modificaram, apresentando
hoje uma configurao arquitetnica bastante alterada. Houve muitas reformas
envolvendo a expanso de departamentos inteiros, substituindo tecnologias,
estreitando reas de circulao pela ampliao de salas, subdividindo ambientes
para dar lugar a outros, etc. Estas situaes podero ser melhor compreendidas a
seguir, onde foram analisadas e comparadas algumas das fases arquitetnicas do
Hospital (perodos de 1973-1976, 1984, 1987, 1993, 2002 e 2009).

9.1 PAVIMENTO AB: TRANSFORMAES ENTRE 1976 E 2009

Ao reconstituir-se a evoluo arquitetnica do pavimento AB foram encontrados


muitos indcios sobre as suas reformas e ampliaes. Entre 1973 e 1976, poca da
inaugurao do InCor (Figura 9.01), existia apenas o Bloco I, sendo que no AB o
nmero de setores era bem menor do que o atual. As unidades funcionais
existentes eram as de Radiologia, Ecocardiografia, Laboratrio de Anlises
Clnicas, Mtodos Grficos e Endoscopia, alm de uma rea administrativa com
Arquivo Mdico e de um conjunto de consultrios. Os exames de Radiologia, de
Endoscopia, de Ecocardiografia e de Mtodos Grficos (Eletrocardiograma e
Eletrocardiograma de Esforo ECG e ECGE) eram os nicos com expressiva

237
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

tecnologia no auxlio ao diagnstico da poca, ocupando uma grande porcentagem


do pavimento.

A rea de Endoscopia foi rapidamente removida e substituda pelas reas de


Pneumologia e Odontologia, como pode ser percebido na planta de 1984 (Figura
9.02). No mesmo ano a unidade de Eco e parte da unidade de Mtodos Grficos foi
deslocada, cedendo lugar nova unidade de Medicina Nuclear. Os exames de Eco
ocuparam algumas das salas de Raios-X, que se uniram s demais e expandiram o
ncleo maior de exames radiolgicos. Enquanto isso, as salas de Mtodos Grficos
ocuparam uma rea administrativa e um corredor, bloqueando um dos acessos ao
eixo de circulao vertical do edifcio. Outra rea de circulao foi ocupada com o
aumento da unidade de Registro Geral de Pacientes, logo na entrada do AB.

Figura 9.01: Planta do pavimento AB do InCor em 1973-1976


(construo).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.

Figura 9.02: Planta do pavimento AB do InCor em 1984.


Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.

238
9 ESTUDO DE CASO 1: INSTITUTO DO CORAO

Em 1987 a planta (Figura 9.03) evidencia mais uma modificao na rea,


ocasionada pelo aumento do Arquivo Mdico e pela diminuio da rea de espera
geral. O Arquivo passou a ter uma rea separada do Registro de Pacientes,
enquanto o nmero de consultrios aumentou numa regio adjacente rea menor
de Mtodos Grficos.

Figura 9.03: Planta do pavimento AB do InCor em 1987.


Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.

Figura 9.04: Planta do pavimento AB do InCor em 1993.


Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.

Em 1993 a obra foi mais impactante com a construo de um edifcio anexo para a
nova unidade de Ressonncia Magntica. Aproveitando a rea adicionada ao

239
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

pavimento, o setor de Ecocardiografia e Ultrasonografia l instalou um conjunto de


salas. Com a concluso da parte do AB pertencente ao Bloco II, em 1995, este
pavimento sofreu uma expanso maior ainda, como demonstrado na planta de
2002. Ali se pode notar o deslocamento e ampliao da rea do Laboratrio, cujo
espao anterior acomodou a expanso da Medicina Nuclear (rea de PET).

Figura 9.05: Planta do pavimento AB do InCor em 2002.


Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.

Figura 9.06: Planta do pavimento AB do InCor em 2009 (configurao atual).


Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.

240
9 ESTUDO DE CASO 1: INSTITUTO DO CORAO

Multiplicou-se na regio do Bloco II o nmero de consultrios, agora especializados


nos diferentes ramos da cardiologia. Estes dividiram ainda espao com alguns
escritrios de pesquisa, alinhados a uma das fachadas. Entre hoje e 2002 as
reformas foram relativamente menores, havendo apenas mudanas internas em
setores como os de Radiologia e de Ressonncia Magntica.

3.1.1 Radiologia

A unidade de Radiologia foi introduzida no InCor desde o incio do projeto do


edifcio, no final da dcada de 1960. Na poca as tecnologias de Raios-X eram as
mais importantes na medicina diagnstica, dominando a ateno dos mdicos e
arquitetos.

O primeiro setor de radiologia foi distribudo de forma segregada nos desenhos


iniciais do edifcio. De acordo com o arquiteto Nelson Daruj, isto provavelmente
ocorreu devido s necessidades de alguns dos usurios da rea, que
possivelmente gostariam de dispor de equipamentos para realizar determinada
atividade de pesquisa clnica, mantendo-o longe das instalaes comuns para
pacientes externos. Daruj afirmou que estas situaes foram muito comuns na
histria do planejamento do InCor, constantemente interferindo no processo de
planejamento.

Para ilustrar o desenvolvimento arquitetnico da unidade de Radiologia do InCor


(Figuras 9.07, 9.08, 9.09 e 9.10), alguns desenhos foram organizados e agrupados
em ordem cronolgica. Eles representam todas as mudanas significativas que a
rea sofreu desde a sua construo em 1975. As imagens esto baseadas em
plantas encontradas no Departamento de Arquitetura do InCor e generosamente
cedidas para esta pesquisa.

Na rea de Radiologia os primeiros indcios de transformaes arquitetnicas


ocorreram em 1987, quando a recepo original e uma das reas de espera foram
removidas para dar espao a uma nova sala de Radiologia Vascular
Intervencionista (RI). Esta, cujo equipamento empregava a tecnologia digital, fez
surgir a primeira Sala Tcnica da unidade.

241
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Figura 9.07: Planta da unidade de Radiologia do InCor em 1976 (pavimento AB).


Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.

Figura 9.08: Planta da unidade de Radiologia do


InCor em 1987 (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.

Recentemente, em 2007, o equipamento de RI foi substitudo por um de tecnologia


mais avanada, originando a modificao da sala. Na reforma a sala do exame do
exame aumentou e incorporou outras reas de apoio como uma rea para mdicos
(interpretao de laudos), um expurgo e uma rea de preparo de pacientes. A de
recuperao j era desde 1993 compartilhada com a unidade de Ressonncia
Magntica.

Estas mudanas podem ser observadas na planta de 2009 (Figura 9.10), onde se
percebe que a sala de preparo ocupa parte de um corredor que deveria servir de
acesso ao Arquivo Mdico. A rea foi ocupada por no haver outra disponvel no
andar, muito menos dentro da unidade de Radiologia.

242
9 ESTUDO DE CASO 1: INSTITUTO DO CORAO

Figura 9.10: Planta da unidade de Radiologia do


Figura 9.09: Planta da unidade de Radiologia do InCor em 2009 (pavimento AB).
InCor em 2002 (pavimento AB). Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.

Em 1996 foi colocada em operao a Tomografia Computadorizada (TC). Para


obter-se um espao adequado para o novo exame, as reas de espera foram
transferidas e compartilhadas com o recentemente criado setor de Ressonncia
Magntica. Um equipamento existente de Raios-X, previamente localizado na rea
do novo tomgrafo, tambm foi transferido para uma das antigas reas de espera,
ocupando uma rea menor. Os vestirios de preparo, que antes eram alinhados e
configuravam uma espcie de antecmara para a sala do exame, passaram a
existir isoladamente dentro das mesmas.

Nos ltimos dois anos o InCor incorporou mais dois equipamentos de TC,
reformando para isso duas salas de Raios-X. Com o desenvolvimento da tecnologia
digital no processo de revelao do exame, parte das antigas Cmaras Clara e
Escura foram ocupadas. A expanso foi necessria porque os equipamentos
exigiram mais espao interno da sala, bem como reas para Comando e Sala
Tcnica. A configurao espacial resultante pode ser observada na planta de 2009
(Figura 9.10).

As reas de preparo do paciente continuaram fragmentadas, na forma de pequenos


banheiros dentro de cada sala. As reas administrativas tambm foram aos poucos
diminuindo, provavelmente pela informatizao dos processos internos, enquanto

243
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

as reas de espera s aumentaram, estendendo-se sobre os corredores


adjacentes.

Em 2008 iniciou-se o planejamento de outras reformas na unidade de Radiologia do


InCor, motivadas pela futura substituio de dois equipamentos de Raios-X
convencional. Junto remoo do Arquivo Mdico, as reforma est prevista para
2010, possibilitando a expanso da unidade de Radiologia como um todo.
Influenciada tambm pela necessidade de cumprimento das normas de segurana
contra incndio, a liberao da rea do Arquivo Mdico permitir a criao de uma

rea de espera nica para todos


os exames de Imagenologia,
cuja administrao tambm
pretende ser centralizada na
mesma regio. De acordo com o
projeto (Figura 9.11), as reas
de revelao tambm sero
substitudas, na medida em que
todos os seus procedimentos j
foram digitalizados. Outra
medida ser a liberao da rea
de preparo da rea de RI, no
intuito de garantir ali uma rota
Figura 9.11: Projeto de reforma da unidade de Radiologia de fuga em caso de
do InCor para 2010 (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor. emergncia.

3.1.2 Laboratrio

A rea ocupada originalmente pelo Laboratrio de Anlises Clnicas do InCor era


bem menor do que a atual. Encontrava-se no Bloco I e possua uma rea de
Laboratrio propriamente dito bem pouco especializada (Figura 9.12). Em 1995,
com a inaugurao dos pavimentos mais baixos do Bloco II, esta unidade foi
ampliada (Figura 9.13).

244
9 ESTUDO DE CASO 1: INSTITUTO DO CORAO

Figura 9.12: Planta com a configurao original


do Laboratrio de Anlises Clnicas
do InCor (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.

Dobrou o nmero de boxes de coleta, enquanto a rea de manipulao do


laboratrio subdividiu-se com as novas modalidades da Patologia Clnica. Cresceu
tambm a rea administrativa, enquanto a rea de processamento de dados
permaneceu do mesmo tamanho, adaptando-se era digital.

Figura 9.13: Planta do Laboratrio de Anlises Clnicas do InCor a partir de 1995 (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.

Embora situados em outra rea da instituio (9 e 10 pavimentos do Bloco II), vale


comentar aqui sobre os Laboratrios de Pesquisa do InCor. Com atividades

245
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

intensas de pesquisa na rea cardiolgica, uma rea que foi criada h


aproximadamente dez anos, possuindo uma quantidade enorme de equipamentos.
L as reformas tambm so constantes, sendo que todas as vedaes so feitas de
materiais leves para facilitar as reformas.

Esta rea apresenta atualmente uma ocupao sobrecarregada, que resulta na


ocupao indiscriminada de corredores para o depsito de equipamentos como
centrfugas e refrigeradores (Figuras 9.14 e 9.15). Tambm devido necessidade
de atender s exigncias das normas de segurana contra incndio, estes
corredores devero ser em breve desocupados para garantir rotas de fuga livre de
obstculos.

Figura 9.14: Centrfugas ocupando reas de Figura 9.15: Refrigeradores ocupando reas de
circulao junto aos Laboratrios de Pesquisa do circulao junto aos Laboratrios de Pesquisa do
InCor (10 pavimento). InCor (10 pavimento).
Fonte: Acervo da autora Fonte: Acervo da autora.

3.1.3 Ultrasonografia e Ecocardiografia

Por possuir uma organizao fsica mais adaptvel, no InCor as reas de


Ultrasonografia e Ecocardiografia mudaram muito para facilitar a expanso de
reas adjacentes. O resultado mais interessante da evoluo deste departamento
o de que o nmero de salas de exame aumentou bastante, o que nos revela que
eles foram largamente disseminados durante os ltimos 20 anos. Uma das
possveis razes para estas mudanas tambm a substituio dos exames de
Fonocardiograma (Fono), que foram suprimidas do Hospital na metade da dcada
de 1980. As salas de Fono eram encontradas no Departamento de Mtodos
Grficos e sua tecnologia se sobreps a de Ecocardiografia.

246
9 ESTUDO DE CASO 1: INSTITUTO DO CORAO

No incio o ncleo da unidade de Eco era


pequeno, instalado na rea atual da
Medicina Nuclear (Figura 9.16). Com a
chegada desta, foi dali transferida para a
rea onde so hoje realizados os exames
de ECG (Figuras 9.17 e 9.18).
Figura 9.16: Planta da unidade de
Ecocardiografia em 1976 (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.



Figura 9.17: Planta da unidade de Figura 9.18: Planta da unidade de Ecocardiografia
Ecocardiografia em 1984 (pavimento AB). em 1987 (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor. Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.




Figura 9.19: Planta da unidade de Ecocardiografia em 1993 (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.

247
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Figura 9.20: Planta da unidade de


Ecocardiografia em 2009 (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.

Em 1993 houve a ltima modificao significativa na rea (Figura 9.19), momento


em que a elas foram adicionados os exames de Ultrasonografia. Mais uma vez
influenciada por setores vizinhos, a reforma ocorreu devido instalao do primeiro
equipamento de Ressonncia Magntica no edifcio, o que criou uma grande rea
de expanso para o pavimento. Esta ampliao horizontal ocupou o pouco que
sobrava de espao nos fundos do lote.

Devido inteno de segregao entre pacientes pblicos e privados, em 2002


foram criadas no 1 pavimento do Bloco II atividades de Ambulatrio e Diagnstico
para pacientes particulares e conveniados. Nesta rea foram implantadas algumas
salas adicionais de Ecocardiografia.

3.1.4 Mtodos Grficos

A unidade de Mtodos Grficos tem uma organizao simples em termos espaciais


e funcionais. Ao longo dos anos, a sua rea no InCor diminuiu para dar lugar a
outras atividades. Tambm afetado pela expanso de reas adjacentes, comeou
ocupando o que mais tarde se tornou parte da unidade de Medicina Nuclear e parte
da de Ressonncia Magntica.

Em 1984 a Medicina Nuclear conquistou aproximadamente um tero da rea de


Mtodos Grficos (Figura 9.22), removendo do Hospital os ambientes utilizados
pelo Vetocardiograma, Fonocardiograma e testes com esteiras ergomtricas, que

248
9 ESTUDO DE CASO 1: INSTITUTO DO CORAO

foram parcialmente transferidas para outra parte do mesmo andar. Esta nova rea
incluiu a administrao de um procedimento chamado Holter, e obstruiu um dos
acessos principais ao eixo de circulao vertical da instituio.

Alguns anos depois, em 1993, outra frao do Departamento de Mtodos Grficos


foi suprimida para abrir espao ao ento novo Departamento de Ressonncia
Magntica. Para compensar a deficincia, em 2002 algumas salas de
Eletrocardiograma foram criadas na rea de atendimento privado e conveniado do
1 pavimento do Bloco II.

Os exames que compem a unidade de Mtodos Grficos desde o princpio foram


muito utilizados na rea cardiolgica, e isso no deixou de ser verdade. O nmero
de salas aumentou na medida em que aumentou a variedade de procedimentos
envolvidos (Vetocardiograma, ECG, ECGE, Holter, Marcapasso).

Figura 9.21: Planta da unidade de Mtodos Grficos em 1976 (pavimento AB).


Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.

Figura 9.22: Planta da unidade de Mtodos Grficos em 1984 (pavimento AB).


Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.

249
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Figura 9.23: Planta da unidade de Mtodos Grficos em 1987 (pavimento AB).


Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.

Figura 9.24: Planta da unidade de


Mtodos Grficos em 1993 (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.

Figura 9.25: Planta da unidade de Mtodos Grficos em 2002 (pavimento AB).


Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.

250
9 ESTUDO DE CASO 1: INSTITUTO DO CORAO

Durante as visitas ao Hospital percebeu-se que na


regio ocupada pelo Marcapasso houve um
adensamento excessivo, onde a largura dos
corredores est bem abaixo do ideal. Nesta regio
teve-se a impresso de que foram muitos os
puxadinhos, sendo que aps o ltimo
levantamento, em meados de 2009, j houve novas
alteraes na rea. Segundo o arquiteto Henrique
Jatene, foi adicionada na rea uma nova sala de
atendimento, que ocupou a sua rea administrativa.
Esta foi transferida para o 1 pavimento do Bloco II.

Na rea do Marcapasso, onde foi encontrada uma sala ligada ao


Telemonitoramento, uma das expanses tambm resultou no avano sobre uma
rea de circulao geral do pavimento, estreitando-a.

3.1.5 Medicina Nuclear

A unidade de Medicina Nuclear do InCor iniciou suas atividades h


aproximadamente 25 anos. O primeiro equipamento de Gama Cmara do Hospital
ainda existe e, apesar de funcionar bem, ser em breve substitudo por uma
tecnologia mais eficiente. De 1984 ao final da dcada de 1990 a rea sobreviveu
sem grandes reformas. Com a aquisio de um novo equipamento (PET), porm, a
necessidade de novos espaos se tornou inevitvel.

Comparando as plantas de 1984 e 2002 percebe-se que mesmo sem alterar-se a


dinmica do exame, em 1984 (Figura 9.26) no existia uma rea de espera
separada para os pacientes injetados por substncias radioativas, aparecendo s
no desenho de 2002 (Figura 9.27). Segundo alguns funcionrios da rea, a sala de
espera separada s foi implantada na rea por causa do surgimento de exigncias
normativas indicando a sua obrigatoriedade. Foi relatado que antes da existncia
da norma, a demanda era baixa e por isso as condies dos ambientes de espera
no representavam uma preocupao para os tcnicos.

251
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Figura 9.26: Planta da unidade de Medicina


Nuclear em 1984 (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.

No incio dos anos 2000, a construo do Bloco II possibilitou a transferncia e


expanso da rea do Laboratrio para o novo edifcio, liberando espao para a
implantao da rea dos equipamentos PET. Junto dele foram adicionadas novas
salas para Gama Cmaras, agora mais sofisticadas e com funes variadas.Como
pode ser observado na planta de 2002, uma grande rea foi reformada para
receber o PET e suas tecnologias relacionadas, anteriormente ocupada pelo
Laboratrio.

Figura 9.27: Planta da unidade de Medicina Nuclear em 2002 (pavimento AB).


Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.

A rea de Medicina Nuclear do InCor est atualmente em reforma para substituir


alguns de seus equipamentos mais antigos e, por sua vez, obsoletos frente s
novas tecnologias disponveis.

252
9 ESTUDO DE CASO 1: INSTITUTO DO CORAO

3.1.6 Ressonncia Magntica

O processo de planejamento da unidade de Ressonncia Magntica do InCor


dependeu de muitas especificaes tcnicas, novas para a poca. Por causa disto,
o projeto das salas dos equipamentos veio da empresa que forneceu o
equipamento. Isso hoje uma prtica comum, na medida em que a instalao dos
equipamentos to especfica que as suas prprias fbricas possuem uma equipe
de projeto, garantindo que sejam seguidos os pr-requisitos fsicos das mquinas.

Avaliando a posio da rea de RM na configurao espacial do andar, fatos


interessantes podem ser destacados. Um deles uma importante expanso
horizontal de rea, a qual no estava prevista no projeto original pela falta de
terreno disponvel atrs do edifcio. O terreno, no entanto, foi conquistado pela
instituio anos depois.

O processo de planejamento deste novo departamento foi rpido, incluindo a


elaborao dos projetos complementares. Como se se tratava de uma construo
totalmente nova e independente fisicamente, a sua concepo trouxe a previso de
uma futura expanso vertical, haja vista o histrico de renovaes arquitetnicas
demonstrado at ento pelo Hospital.

Aps a instalao dos dois equipamentos de RM, um deles foi trocado em 2008,
permitindo a diminuio tanto da sala do exame quanto da sua Sala Tcnica.
Apesar de adaptar-se um espao menor horizontalmente, o novo equipamento
exigiu um p-direito maior, gerando dificuldades para a execuo da reforma.

Com o espao ganho na sala de RM foi aberto um corredor nos seus fundos,
conectando quatro novas salas de mdicos. Foi possvel tambm o aumento da
sala de Interpretao de Laudos.

Em visita a esta rea, constatou-se que apesar das novas salas adicionadas para
os mdicos, h hoje a superlotao das mesmas. Abrigando atividades
relacionadas interpretao e discusso de laudos, absorve tambm algumas
atividades de pesquisa, por estar localizada em um hospital-escola.

A aglomerao de profissionais e estaes de trabalho nestas salas, bem como nas


salas de comando dos exames de diagnstico e tratamento, deve-se provavelmente
ao aumento da multidisciplinaridade que estas atividades tm exigido. Cada vez
mais os exames agregam funes extras, adicionando tambm profissionais de
diferentes campos cientficos.

253
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Figura 9.28: Planta da unidade de Ressonncia Magntica em 1993 (pavimento AB).


Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.

Figura 9.29: Planta da unidade de Ressonncia Magntica em 2009 (pavimento AB).


Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.

254
9 ESTUDO DE CASO 1: INSTITUTO DO CORAO

Atualmente uma expanso vertical est em processo de planejamento, no intuito de


abrigar a ampliao do Pronto Socorro, que est localizado no pavimento superior.

9.2 REAS DE INFRAESTRUTURA PREDIAL

No edifcio do InCor no h pavimento tcnico, sendo que as reas de


infraestrutura predial encontram-se em diferentes partes do conjunto de edifcios do
Hospital. Quando havia apenas o Bloco I, as casas de mquinas mais importantes
estavam no Trreo (cabine primria, geradores e tanques de leo), no Subsolo -1
da Edcula (tubulao de gua gelada e centrfugas) e na Cobertura (reservatrios
de gua e barrilete).

No eixo vertical do Bloco I concentravam-se as casas de mquinas do Sistema de


Ar Condicionado em cada pavimento, para a localizao dos Fan-Coils. Na mesma
regio havia as principais prumadas de Shafts, que eram ainda auxiliados por
Shafts menores junto aos pilares. Horizontalmente os dutos de ar, condutores
eltricos e tubulaes de gua, gases e esgoto passavam pelo piso elevado e pelo
teto rebaixado (forro).

De um modo geral, os Sistemas de Infraestrutura do InCor, apesar de


suficientemente dimensionados e locados para a poca da sua construo, no
apresentaram uma distribuio suficientemente articulada e organizada para
facilitar as futuras expanses do edifcio. Prova disso so os puxadinhos de fios e
dutos encontrados pelo edifcio (Figura 9.30).

Os condutores de ar do Sistema de Ar Condicionado, por exemplo, aparecem em


diversas reas internas e externas dos prdios, demonstrando os ajustes feitos
para ampliar a sua atuao (Figura 9.31). Como as casas de mquinas junto ao
eixo vertical do Bloco I no deram conta da crescente demanda por climatizao,
notou-se a proliferao destes ambientes pelo interior de cada andar do Bloco I,
incluindo o 3. Neste pavimento localiza-se o Centro Cirrgico e a Hemodinmica,
com demandas especiais sobre a qualidade do ar.

255
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Figura 9.30: Puxadinhos nas redes de Figura 9.31: Ajustes aparentes no Sistema de Ar
instalaes prediais do InCor, incluindo Condicionado vistos na fachada de fundos do InCor.
os dutos de ar condicionado, a Fonte: Acervo da autora.
tubulao de gua dos hidrantes, etc.
Fonte: Acervo da autora.

Com a construo do Bloco II o sistema de infraestrutura foi naturalmente ampliado,


proporcionando aos edifcios mais antigos alguns reajustes e melhorias. As centrais
de infraestrutura do Bloco II ficaram concentradas no Anexo 1, chamado de Central
de Utilidades (Figura 9.32). Neste prdio encontram-se desde o incio dos anos
2000 o novo reservatrio de gua, o barrilete com as bombas de recalque, as
caldeiras e as torres de resfriamento, sendo que continua na Edcula do Bloco I a
tubulao de gua gelada.

Figura 9.32: Central de Utilidades do Bloco II do InCor. Figura 9.33: Sala de CPD.
Fonte: Acervo da autora. Fonte: Acervo da autora.

Alm de uma ampliao desordenada das instalaes em geral, no InCor no h


desenhos as-built atualizados, nem da arquitetura nem das redes de infraestrutura.
Isto, por sua vez, representa muitas dificuldades durante as reformas no Hospital.

256
9 ESTUDO DE CASO 1: INSTITUTO DO CORAO

Nestas, os obstculos tcnicos existentes acima do forro ou abaixo do piso elevado


so encontrados durante a execuo da obra, sem a chance de prev-los e
organizar o projeto em relao as suas rotas horizontais e verticais.

Sobre a infraestrutura dos sistemas de processamento de dados e imagens da


instituio, cuja implantao certamente foi posterior construo do Hospital, foi
encontrada no 2 pavimento uma sala de CPD (Central de Processamento de
Dados Figura 9.33). Localizada junto s salas administrativas do setor de
informtica, a rea aparenta ter sido locada em uma sala que sobrou da rea,
apresentando condies de uso precrias.

9.3 CONCLUSES

A pesquisa no Instituto do Corao evidenciou que a renovao tecnolgica nas


suas atividades pode ser um dos principais motivadores de transformaes
arquitetnicas em edifcios hospitalares.

No pavimento AB, por exemplo, a incorporao de tecnologias mais avanadas,


principalmente na forma de equipamentos de diagnstico e tratamento, demonstrou
ser quase sempre causadora de algum tipo de ajuste no edifcio, por menor que ele
seja. As razes de ordem tcnica e intransponveis, por sua vez, geraram muitas
vezes outras intervenes, readequando na mesma obra reas adjacentes que
precisavam ser reformadas por razes menos urgentes. Foi o que ocorreu, por
exemplo, com a Sala de Ressonncia Magntica, cuja readequao originou a
ampliao do nmero de salas de mdicos.

Direta ou indiretamente, obras como as descritas no InCor tendem a interferir muito


na estruturao arquitetnica estabelecida pelas reas de circulao. Isto pode
ocorrer especialmente em casos como o deste hospital, onde o edifcio no possui
uma estratgia definida de ampliao.

3.1.7 Reformas nas unidades de Imagenologia

No cenrio resultante da evoluo arquitetnica do pavimento AB pode-se


identificar uma configurao espacial contingente e marcada pela fragmentao.
Pela falta de reas disponveis para ampliao ali ocorreram expanses territoriais
pela subdiviso interna de ambientes, onde unidades funcionais cresceram sobre

257
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

elas mesmas. Como consequncia do adensamento, ficaram claros os desvios nas


relaes funcionais, principalmente devido descaracterizao da estrutura original
de circulao.

Os circuitos dos corredores se ramificaram, originando becos e uma malha


identificvel como labirntica. Para facilitar a orientao dos usurios frente
mesma, o sistema apoiou-se nas comuns linhas de comunicao visual no piso
(Figuras 9.34 e 9.35).

Figura 9.34:
Mapa elaborado para orientar a
circulao dos usurios
(principalmente dos pacientes
externos) no pavimento AB. No
desenho ficam evidentes as linhas
coloridas como ferramentas de
orientao.
Fonte: InCor.

A criao e ampliao das reas de Holter, Marcapasso, Medicina Nuclear e


Arquivo Mdico, por exemplo, contriburam para a obstruo de muitos espaos de
passagem importantes.

Estas reas foram adicionadas ao Hospital e expandiram-se internamente atravs


da subdiviso. Aparentemente no houve critrio para esta expanso, na medida
em que houve interferncias negativas em reas adjacentes. Internamente ficaram
claros os puxadinhos na rea do Marcapasso, que possui hoje circulaes
internas muito estreitas.

Uma situao semelhante foi observada na recente reforma da rea de Radiologia


Vascular Intervencionista, onde a ocupao do corredor com uma sala de preparo
no considerou ou ignorou as relaes ali existentes. Embora seja uma via no
utilizada, a sua ocupao no levou em conta a possibilidade futura de resgate da
mesma, haja vista a iminncia de haver uma significativa liberao de espao na do
Arquivo Mdico.

Em 1993, a rea ampliada para receber a unidade de Ressonncia Magntica


parecer ter sido criada tambm para desafogar um pouco do adensamento que
ocorria no andar, onde outras reas passaram a compartilhar com a RM reas de
apoio como Sala de Recuperao e Espera. Estas, por sua vez, perderam

258
9 ESTUDO DE CASO 1: INSTITUTO DO CORAO

prioridade entre as obras de expanso, fragmentando-se e diminuindo. A


necessidade deste uso, no entanto, s aumentou, o que ocasionou a ocupao,
mais uma vez, das reas de circulao (Figura 9. 35).

Segundo o arquiteto Henrique Jatene,


foram comuns na rea do AB situaes
onde o projeto da reforma de uma sala
de exame apenas se iniciou quando o
equipamento j estava em processo de
compra, o que deixava perodos de 60 a
90 dias para entregar a obra finalizada.
Isto impediu muitas vezes qualquer
tentativa de contextualizar a reforma na
totalidade do edifcio e das suas
relaes funcionais, dados os
Figura 9.35: Corredor ocupado por rea de
espera em frente as salas de Radiologia, problemas tcnicos a serem resolvidos.
mostrando tambm as linhas coloridas no piso
com a funo de orientar os usurios do
pavimento AB.
Fonte: Acervo da autora.

Suspeita-se que este sistema de relao com a prtica do planejamento dentro da


instituio, muito ligado s questes polticas e financeiras, tenha contribudo para
ao cenrio de puxadinhos descrito acima.

Diante da pesquisa apresentada neste captulo pode-se concluir ainda que, nos
edifcios hospitalares, os espaos de armazenagem de arquivos mdicos esto
lentamente desaparecendo e abrindo espaos valiosos para outras atividades. No
InCor foi possvel acompanhar este processo, sendo que a digitalizao dos
processos na Radiologia, por exemplo, est permitindo a ampliao de outras reas
como as de espera (projeto para 2010).

3.1.8 Articulao das centrais e redes de infraestrutura

Entre os fatores causadores de dificuldades durante as obras de reforma do


pavimento AB, destacou-se o pouco controle que existe sobre as reas de
infraestrutura (teto rebaixado e piso elevado), bem como a falta de manuteno das
mesmas. Segundo Jatene, so comuns os sustos no meio de uma obra, quando
so constadas incompatibilidades com os sistemas eltricos existentes.

259
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Estes problemas podem ser remetidos at a fase de projeto da edificao, onde os


espaos no foram locados no edifcio de forma suficientemente articulada com o
restante dos seus sistemas (sistema de circulao, por exemplo). Como descrito no
item 9.2, as centrais de equipamentos de infraestrutura no Bloco I tambm no
foram planejadas para adaptarem-se s vrias ampliaes sofridas. Acompanhando
o que ocorreu com as reas de circulao horizontal de pessoas, os espaos
destinados circulao horizontal dos condutores de abastecimento do prdio
tambm se ramificaram em vrios pontos, destituindo o critrio de organizao
original. Assim, foi perdido o controle sobre a localizao e possvel interferncia
destes condutores.

260
10
ESTUDO DE CASO 2:
HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN

10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN

Analisando a evoluo arquitetnica do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE)


percebeu-se que muitas das suas expanses foram motivadas pelos avanos
tecnolgicos e cientficos. O hospital possui um histrico de pioneirismo em alta
tecnologia, adquirindo novos equipamentos mdicos com muita frequncia e, logo,
inflando sua infraestrutura predial progressivamente.

O hospital como um todo sofreu significativas reformas e expanses, como


comentado no Captulo 1. Os prdios mais antigos tiveram que se adaptar
digitalizao dos procedimentos, climatizao dos ambientes e especificaes de
segurana contra incndio, entre outros.

Entre as readequaes de ordem tecnolgica, destacam-se a reforma da UTI em


1985 (Bloco D), a implantao do setor de informtica no mesmo ano, e a
regulamentao de todo o complexo junto ao Corpo de Bombeiros em 2002,
quando foram adaptadas todas as reas de instalaes do edifcio (aplicao de
massa moldvel e chapas rgidas para selar todos os canais e dutos). De acordo
com Rodrigues, engenheiro de obras, o departamento promoveu uma reforma
profunda em todo o hospital e agregando recursos tecnolgicos sofisticados.
(Revista Infra, agosto de 2000:20)

No HIAE o 4 pavimento e o Subsolo 1 foram eleitos para serem estudados com


maior profundidade durante esta pesquisa, sendo l encontrado o maior nmero de
atividades de diagnstico, tratamento e infraestrutura coexistindo numa mesma
rea. Como j comentado, estes setores agregam um arsenal tecnolgico
relativamente volumoso, tornando-se importantes para o tema aqui abordado. O
perodo de anlise das transformaes arquitetnicas do hospital entre 1998 e
2009, na medida em que os desenhos disponibilizados para a pesquisa
representam os edifcios nestas duas datas.

O 4 pavimento, onde se suspeita terem surgido j nos anos 1970 os primeiros


ambientes de radiologia e laboratrio (Bloco D), contm hoje a maioria dos exames
de Imagenologia da instituio, que agora esto se expandindo para o nvel
Subsolo 3 do recm inaugurado Bloco A1. Isto est ocorrendo tambm com os
exames de Ressonncia Magntica, cuja localizao sempre foi no Subsolo 1.
Neste, por sua vez, tambm existe hoje o Centro de Simulao Realstica (CSR),
que agrega tecnologias mdicas para o treinamento de profissionais da rea.

263
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Figura 10.01: Corte Geral do Complexo do HIAE,


incluindo os edifcios previstos para o futuro.
Fonte: Acervo Kahn do Brasil.

No Bloco D, primeiro prdio do HIAE, as reas de diagnstico foram pouco


valorizadas, havendo apenas algumas salas para exames de Raios-X e um
pequeno laboratrio, contiguamente aos consultrios mdicos do antigo
ambulatrio. No incio da dcada de 1970, por incentivo do ento gestor Jozef
Fehr, alguns profissionais da instituio buscaram no exterior as vanguardas em
tecnologias para diagnstico, iniciando o processo de compra dos dois primeiros
equipamentos de Ressonncia Magntica da Amrica Latina. Estes, que foram
grandes motivadores da primeira ampliao do hospital, foram implantados no
subsolo do novo edifcio (Bloco BC) em 1982.

Nesta ampliao as demais reas de diagnstico ficaram no 4 pavimento, de onde


se expandiram horizontalmente para o Bloco A em 1996. Com a rea adicionada,
muitos novos equipamentos foram adquiridos e as instalaes do edifcio tiveram
que sofrer adaptaes. A anlise aqui apresentada inicia-se nesta segunda etapa
de ampliao do Complexo do HIAE, onde o 4 pavimento j ocupa os Blocos A,
BC e D.

10.1 4 PAVIMENTO: TRANSFORMAES ENTRE 1998 E 2009

Em 1998 o 4 pavimento era constitudo de ambientes para diversos exames,


incluindo os de Radiologia, Hemodinmica, Ultrasonografia, Endoscopia,
Colonoscopia, Pneumologia, Ecocardiografia, Dermatologia, Laboratrio de
Anlises Clnicas, Medicina Nuclear e Mtodos Grficos. No andar havia ainda as
reas da Central de Agendamento, do Banco de Tecidos e do Hemocentro.

264
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN

Muitas dessas atividades migraram para o 4 andar em 1996, porm no foram


encontradas fontes que pudessem afirmar com certeza em que outra regio do
hospital elas estiveram previamente localizadas. Supe-se que a rea de
Radiologia nunca mudou de lugar, estando sempre no Bloco D. O mesmo
possivelmente ocorreu com o Laboratrio, sendo que ambas as reas nasceram
junto com o hospital e desde ento em muito se expandiram. O Banco de Tecidos,
por sua vez, surgiu em 1996 junto ao Bloco A. O Hemocentro foi transferido do
nono pavimento do Bloco D, aumentando sua rea.

Pode-se supor tambm que a Medicina Nuclear tenha ali se instalado por volta de
1982, ano de inaugurao do Bloco BC que coincide com a poca em que este tipo
de exame chegou aos EAS brasileiros. provvel ainda que as reas de Mtodos
Grficos e Pneumologia tenham migrado do Bloco D para o Bloco A, como ocorreu
com as de Ultrasonografia, Endoscopia e Colonoscopia.

Figura 10.02: Planta do 4 pavimento do HIAE em 1998.


Fonte: Fiorentini Arquitetura de Hospitais.

Dentro do Centro de Diagnstico j funcionavam, desde 1981, os servios


de endoscopia, ultrassonografia e ecocardiografia, alm do banco de
sangue. Em 1981, o HIAE foi o primeiro Hospital do pas a adquirir uma

265
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

mquina de Afrese (que permite a separao de elementos figurativos do


sangue).1

Em 1998 (Figura 10.02) j funcionava no hospital uma grande variedade de


equipamentos especiais para o diagnstico mdico. Naturalmente, os mesmos
estavam agrupados de acordo com a sua finalidade, facilitando as relaes
funcionais. No Bloco A estavam agrupadas as reas de Endoscopia, que
compartilhava com algumas outras unidades uma sala de Recuperao para
Pacientes. No mesmo bloco estavam os conjuntos de salas de Ultrasonografia, de
Mtodos Grficos e o Hemocentro, que inclua atividades de hemoterapia. Havia
ainda uma sala direcionada Pneumologia, que por razes de gerenciamento ficou
prxima s salas de Mtodos Grficos.

No Bloco B havia as unidades de Hemodinmica e Medicina Nuclear, instaladas em


lados opostos do mesmo corredor. Ocupavam todo o espao disponvel no Bloco,
sendo que suas ampliaes tiveram que se dar em locais mais distantes. No caso
da Hemodinmica isto ocorreu antes de 1998, na medida em que algumas salas de
apoio ao exame foram locadas no Bloco C.

No conseguindo espaos adjacentes no Bloco A, disponveis para ocupao, o


Bloco C tambm abrigou um fragmento da unidade de Mtodos Grficos. O mesmo
ocorreu com a rea de Colonoscopia (Bloco C), que embora intimamente
relacionada ao exame de Endoscopia (Bloco A), foi instalada numa rea distante do
mesmo. O Bloco C de 1998 ainda possua reas de Apoio Geral e Apoio Tcnico
(equipe de Engenharia Clnica), bem como reas de Laboratrio, Dermatologia e
Ecocardiografia, cujas atividades so muito semelhantes s de Ultrasonografia,
localizadas no Bloco A. Os exames de radiologia, por sua vez, formavam uma rea
unificada no Bloco D, assim como os de Laboratrio.

Em termos de tecnologia, podemos dizer que nos Blocos B e D estavam


concentrados os equipamentos mais complexos, detentores das maiores
necessidades de infraestrutura. No por acaso que se encontravam localizadas
nestes blocos as Casas de Mquinas do pavimento. No Bloco D, em especial,
foram muitas as dificuldades encontradas para ampliar o arsenal de equipamentos

1
Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Centro Histrico. Gesto Jozef Fehr: Primeiro Perodo 1979-
1989.

266
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN

de radiologia, sendo esta a regio mais antiga do Complexo do HIAE e, logo, a


mais defasada em termos de instalaes.

O Bloco C apresentava a maior diversidade de atividades, demonstrando ser


essencialmente uma rea verstil para onde se expandiram atividades de outros
Blocos. Suspeita-se que a rea de Eco, por exemplo, tenha sido adicionada aps a
instalao da rea de Ultrasom. Por compartilharem a mesma tecnologia, se
tivessem surgido juntas as mesmas teriam sido locadas em reas adjacentes, de
acordo com a lgica. No Bloco A encontravam-se os equipamentos menos
complexos, cujos ambientes estiveram mais influenciados pelo aumento de
demanda do que pelo avano tecnolgico.

Na planta de 2009 do 4 pavimento (Figura 10.03) puderam ser verificados outros


indcios de deslocamentos e ampliaes das unidades funcionais, agora
evidenciados graficamente. Na planta observou-se a expanso do Laboratrio de
Anlises Clnicas, que ocupou parte da antiga Central de Agendamento. Esta, pela
ausncia de vinculao fsica com outras atividades do edifcio, foi deslocada para
fora do hospital, dando espao para o processamento dos laudos da rea de
Radiologia. A Central de Agendamento foi temporariamente transferida para a Av.
Paulista, voltando ao edifcio em 2009 como parte do 2 andar. Isto foi possvel por
causa da construo do Bloco A1, que desocupou a mesma rea transferindo a
unidade Day Clinic para o prdio novo.

Na planta de 2009 tambm se constata a expanso da rea de Medicina Nuclear,


por causa da criao da rea de PET. Esta ficou no Bloco C, onde a rea de
exames dermatolgicos foi transferida para o 12 andar do Bloco D e deu lugar ao
nascimento da Unidade de Neurofisiologia Clnica, que trata dos distrbios do sono.
A nova unidade tambm ocupou as salas de Mtodos Grficos, que foram
deslocadas em alguns metros e ainda absorveram uma sala de Pneumologia,
adicionada quela j existente no Bloco A.

No lado oposto do corredor surgiu mais uma sala de Eco e uma sala de Tilt Test,
que formaram uma rea comum e ocuparam a unidade de Engenharia Clnica. Esta
passou a ocupar uma rea da Radiologia no Bloco D, possibilitada pela
transferncia de um dos tomgrafos para a Unidade Avanada Einstein Alphaville.

267
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Figura 10.03: Planta do 4 pavimento do HIAE em 2009.


Fonte: Departamento de Projetos e Obras HIAE.

Como se pode notar, foi intenso o vai-e-vem de alguns setores dentro do 4


pavimento do HIAE, principalmente daqueles menos dependentes de infraestrutura.

Em meados nos anos 2000 foi adicionado um anexo de ligao entre os Blocos C e
D. Assim, algumas casas de mquinas, antes mais espalhadas pelos Blocos B e D,
desapareceram e deram lugar a salas maiores localizadas neste novo volume.
Embora esta informao no tenha sido confirmada, suspeita-se que estes
ambientes maiores tenham sido construdos para centralizar as instalaes de ar
condicionado do pavimento (Fan-coils).

No Bloco A as alteraes foram bem poucas, pelo menos at o final de 2009. O


Hemocentro praticamente no mudou, sofrendo apenas pequenas reformas
internas (expanso do Laboratrio sobre a rea de Afrese Teraputica). A rea de

268
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN

Ultrasonografia diminuiu um pouco e deu lugar ao acesso ao novo Bloco A1 e a


outra sala de Tilt Test. Este foi um tipo de exame que, peculiarmente, ocupou
ambientes distantes entre si no andar (Bloco A e Bloco C), instalando-se em
espaos de restaram.

No incio de 2010 este bloco passou a modificar-se mais, pois as reas de


Ultrasonografia e Endoscopia comearam a ser transferidas para o Subsolo 3 do
Bloco A1, onde est o novo Centro de Diagnstico. O novo destino para estas
reas, porm, ainda est incerto.

No intuito de compreender melhor o processo de transformao arquitetnica de


cada unidade, a seguir sero apresentados os desenhos da evoluo fsica e
tcnica das reas de Radiologia, Hemodinmica, Laboratrio, Medicina Nuclear,
Mtodos Grficos, Ecocardiografia, Endoscopia e Ultrasonografia, que constituem
as mais modificadas pela tecnologia.

10.1.1 Radiologia

A unidade de Radiologia se expandiu desde 1998 (Figura 10.04), sendo notveis


algumas mudanas internas nesta rea. As reas para anlise de laudos foram
centralizadas, ocupando parte da antiga Central de Agendamento. Isto possibilitou
a ampliao da rea de espera para pacientes ambulantes e a insero de duas
reas a mais de Espera de Acamados (pacientes internos). O deslocamento dos
quartos de plantonistas para uma rea adjacente ao Laboratrio tambm favoreceu
esta configurao.

A supresso das reas de Interpretao de Laudos existentes entre as salas de


Tomografia possibilitou a reorganizao dos ambientes adjacentes, criando salas
de Comando menores. Entre estas ficou ainda uma sala de processamento de
dados e imagens e duas salas administrativas, alm de uma das salas de espera
de acamados citadas acima. A poucos metros dali houve outra reforma com a
remoo de um dos tomgrafos e sua sala de Comando. Sobrou espao, o qual foi
logo ocupado pela sala de Engenharia Clnica e por uma copa para os funcionrios.
A Sala Tcnica existente diminuiu, pois passou a servir apenas um equipamento de
Tomografia, ao invs de dois.

269
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Figura 10.04: Planta da Unidade de Radiologia do Figura 10.05: Planta da Unidade de Radiologia do
HIAE em 1998 (4 pavto). HIAE em 2009 (4 pavto).
Fonte: Fiorentini Arquitetura de Hospitais. Fonte: Departamento de Projetos e Obras HIAE.

270
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN

Na outra extremidade do Bloco D, duas


salas de Raios-X prximas sala de
Mamografia foram reformadas,
provavelmente por causa da troca dos
seus equipamentos. Com a reforma
organizou-se entre elas uma rea de
apoio comum com vestirios para
pacientes (preparo) e uma sala de
Comando. Logo ao lado foi desativada

a Cmara Escura (Figura 10.06), devido digitalizao do processo de revelao.


A Cmera Clara transformou-se em Unidade Tcnica, na medida em que mudaram
os tipos de equipamentos utilizados (Figura 10.07).

Figura 10.06: Antiga Cmara Escura, hoje Figura 10.07: Cmara Clara ou Unidade Tcnica,
utilizada para servios de apoio. onde feita a revelao (digital) dos exames de
Fonte: Acervo da autora Radiologia.
Fonte: Acervo da autora.

Motivados pela troca dos equipamentos de alguns exames e pelo deslocamento


das reas de laudos, estes e outros ajustes arquitetnicos refletiram-se tambm na
configurao das reas de preparo dos pacientes. Nestas diminuram as salas
comuns, aumentando o nmero de pequenos vestirios individuais.

Como parte do novo anexo de ligao entre os Blocos C e D, duas Casas de


Mquinas foram transferidas a uma Casa de Mquinas externa ao Bloco D, dando
espao a uma sala de Ultrasonografia (apoio aos exames da mama) e reforma da
rea de preparo para uma das salas de Tomografia. Mais prximo da regio do
Laboratrio, outra Casa de Mquinas de Ar Condicionado foi deslocada,
aumentando de tamanho.

271
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Vale lembrar que transferir uma Casa de Mquinas uma tarefa complexa, pois lida
com um sistema interligado horizontalmente e verticalmente a vrios locais do
edifcio. As reformas nestas reas demandam ajustes no forro falso e, logo,
interferncias em outros ambientes. Mudanas nas instalaes de ar-condicionado,
por exemplo, implica desativar temporariamente a climatizao em alguns
ambientes, o que pode, no caso de exames de diagnstico, significar o fechamento
da sala por determinado perodo de tempo. Isto gera por conseguinte prejuzo
instituio.

10.1.2 Hemodinmica

Entre 1998 e 2009 (Figuras 10.08 e 10.09, respectivamente) a Hemodinmica


permaneceu do mesmo tamanho. Mudaram, todavia, as atividades desempenhadas
no seu apndice no Bloco C, onde salas de apoio administrativo e processamento
de dados e imagens foram substitudas por uma rea de Recuperao Anestsica.

Figura 10.08: Planta da Unidade de Hemodinmica do HIAE


em 1998 (4 pavto)
Fonte: Fiorentini Arquitetura de Hospitais.

272
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN

Na parte do Bloco B percebeu-se que,


com a sada de um dos Angigrafos, a
unidade se reorganizou para receber
as reas de apoio vindas do Bloco C.
Alm da sala de exame de
Hemodinmica, foram suprimidas as
reas de Espera e de processamento
de dados e imagens (Cmaras Clara e
Escura). Com os novos meios digitais

viabilizados pela renovao dos equipamentos utilizados na rea, surgiram as


Salas Tcnicas e aumentaram as salas de Comando. As salas de Preparo do
Paciente, por sua vez, tambm ficaram maiores de acordo com a planta de 2009.

Figura 10.09: Planta da Unidade de Hemodinmica do HIAE


em 2009 (4 pavto).
Fonte: Departamento de Projetos e Obras HIAE.

273
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

10.1.3 Laboratrio

No perodo analisado o Laboratrio de Anlises Clnicas do HIAE j havia sofrido a


sua maior expanso, ocorrida alguns anos antes. Entre 1998 e 2009 (Figuras 10.10
e 10.11, respectivamente) a maior mudana na rea foi a sua expanso parcial
para a antiga Central de Agendamento. L se instalou uma rea administrativa,
permitindo a criao de mais uma Sala de Coleta. Outra regio adicionada foi a
das Casas de Mquinas de Ar Condicionado, que se transformaram em Cmara
Frigorfica. Na rea de trabalho do Laboratrio propriamente dito a nica mudana
constatada foi a diminuio do Almoxarifado, por causa de uma sala nova de
Virologia. Antes esta sala era menor e ocupada pela Manuteno, que deixou de
existir.

Figura 10.10:
Planta do Laboratrio do HIAE em 1998 (4 pavto).
Fonte: Fiorentini Arquitetura de Hospitais.

Uma peculiaridade no Laboratrio em termos de tecnologia a presena de uma


esteira entre as salas de Coleta e a rea de Fracionamento. Ela fica instalada num
vazio entre a parede de alguns boxes de coleta e a parede da Central de Liberao,
tendo sido instalada na ocasio da primeira expanso desta unidade.

274
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN

Figura 10.11:
Planta do Laboratrio do HIAE em 2009 (4
pavto).
Fonte: Departamento de Projetos e Obras
HIAE.

10.1.4 Medicina Nuclear

A unidade de Medicina Nuclear praticamente manteve a sua configurao


arquitetnica interna entre 1998 e 2009, salvo a incorporao de uma rea nova no
Bloco C. No Bloco B as poucas mudanas ocorreram nas extremidades da unidade,
com o surgimento de mais uma Gama-Cmara e de duas salas administrativas. A

nova sala de exame ocupou um sanitrio,


uma sala administrativa e uma sala de
Caf. Dois sanitrios pblicos deram lugar
a salas administrativas. Na rea nova,
ocupada pelo PET no Bloco C (Figura
10.13), alm da sala de exame foram
adicionadas uma sala de Comando, uma
Sala Tcnica, uma rea de preparo e uma
Radiofarmcia (ou Laboratrio Quente).

275
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Figura 10.12: Planta da Medicina Figura 10.13: Planta da Unidade de Medicina Nuclear
Nuclear do HIAE em 1998 (4 pavto). do HIAE em 2009 (4 pavto).
Fonte: Fiorentini Arquitetura de Fonte: Departamento de Projetos e Obras HIAE.
Hospitais.

10.1.5 Mtodos Grficos

A unidade de Mtodos Grficos j estava fragmentada em 1998 (Figura 10.14),


como comentado anteriormente. Ocupava uma rea do Bloco A (exames de
Eletrocardiograma e Eletrocardiograma de Esforo) e outra no Bloco C
(Eletromiografia e Dova).

Na planta de 2009 (Figura 10.15) constataram-se mudanas internas na parte do


Bloco A, onde aumentou a rea reservada ao processamento de dados, instaladas
no lugar das duas salas de ECGE e Holter. Estas foram transferidas para outro
pavimento do HIAE. No Bloco C as salas foram deslocadas, ocupando a rea
anteriormente ocupada por salas de Colonoscopia, tambm transferidas para outro
andar da instituio.

276
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN

Figura 10.14: Planta da Unidade de Mtodos Grficos do HIAE em 1998 (4 pavto).


Fonte: Fiorentini Arquitetura de Hospitais.

Figura 10.15: Planta da Unidade de Mtodos Grficos do HIAE em 2009 (4 pavto).


Fonte: Departamento de Projetos e Obras HIAE.

10.1.6 Ecocardiografia, Ultrasonografia e Endoscopia

Na Ecocardiografia, as mudanas ocorreram com o deslocamento de uma das


salas do exame e com uma reorganizao interna onde as duas salas de Eco que
ficaram abriram mo de uma ante sala para ter acesso independente. A ante sala,
por sua vez, aumentou e se transformou em rea administrativa, tambm como
acesso direto ao corredor.

277
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Assim como nos exames de Eco, o


Ultrasom e a Endoscopia so
atividades simples sob o ponto de vista
tecnolgico, onde os equipamentos
mdicos contam com uma
infraestrutura mais genrica. Isto
possibilitou a padronizao das salas,
que desde 1998 pouco se modificaram
no caso estudado. A nica alterao

ocorreu com a supresso de duas salas de Ultrasonografia. Uma delas deu lugar a
uma sala de Tilt Test, enquanto a outra deu lugar para o novo acesso ao Bloco A1
(Figura 10.19).

Figura 10.16: Planta da Unidade de Figura 10.17: Planta da Unidade de Ecocardiografia


Ecocardiografia do HIAE do HIAE em 2009 (4 pavto).
em 1998 (4 pavto). Fonte: Departamento de Projetos e Obras HIAE.
Fonte: Fiorentini Arquitetura de
Hospitais.

No incio de 2010 mudanas mais drsticas esto ocorrendo, na medida em que


metade da rea de Ultrasom e toda a rea de Endoscopia foram transferidas para o
Subsolo 3 do Bloco A1. A futura finalidade da rea desocupada incerta.

O Tilt Test foi encontrado tanto na unidade de Ultrasom como na unidade de Eco.
Isto se justifica por este ser um exame de localizao flexvel, com necessidades de
infraestrutura pouco especficas. Est vinculado ao diagnstico de cardiologia,

278
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN

podendo ficar prximo tanto de reas de Mtodos Grficos como de reas de


Ecocardiografia, direcionadas anlise das funes cardacas. No caso do HIAE,
porm, uma das salas est junto s salas de Ultrasom, por ser este o espao
disponvel na poca em que se tornou necessria uma sala extra de Tilt Test.

Figura 10.19: Planta das Unidades de Endoscopia e


Figura 10.18: Planta das Unidades de Ultrasonografia
Endoscopia e Ultrasonografia do HIAE do HIAE em 2009 (4 pavto).
em 1998 (4 pavto). Fonte: Departamento de Projetos e Obras HIAE.
Fonte: Fiorentini Arquitetura de
Hospitais.

279
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

10.2 SUBSOLO 1: TRANSFORMAES ENTRE 1998 E 2009

O pavimento Subsolo 1 surgiu no HIAE em 1982, com a construo do Bloco BC.


Nesta poca originou-se no hospital a unidade de Ressonncia Magntica (RM), e
em seguida tambm se acomodaram ali as atividades de apoio aos funcionrios
(Vestirios, Medicina do Trabalho e Conforto) e de infraestrutura predial (Cabine
Primria, Geradores, Central de Gases, Casas de Mquinas de Ar Condicionado).
O Ptio de Servios facilitava o acesso a estas reas (entrada de funcionrios e de
Carga e Descarga em geral). Com a construo do Bloco A em 1996, o pavimento
de expandiu, agregando uma rea de estacionamento e de Oficinas de Manuteno
(Figura 10.20).

Figura 10.20: Planta do Subsolo 1 do HIAE em 1998.


Fonte: Fiorentini Arquitetura de Hospitais.

Na planta de 2009 (Figura 10.21) observa-se o adensamento do andar, onde foram


substitudas as oficinas de Manuteno pelo setor de Recursos Humanos, bem
como implantada na rea do estacionamento duas unidades direcionadas ao
Ensino (Salas de Aula e Centro de Simulao Realstica). Na projeo do Bloco BC
a unidade de RM se expandiu, enquanto algumas salas de infraestrutura deram
espao para reas de conforto de funcionrios (Lanchonete, atividades recreativas,
etc.). As Casas de Mquinas, por sua vez, foram para o Ptio de Servios, onde
passaram a ocupar uma rea cada vez maior.

280
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN

Figura 10.21: Planta do Subsolo 1 do HIAE em 2009.


Fonte: Departamento de Projetos e Obras HIAE.

A seguir sero detalhadas as transformaes arquitetnicas ocorridas nas reas de


Ressonncia Magntica, de Ensino e de Infraestrutura, que agregam a maior carga
tecnolgica do Subsolo 1.

10.2.1 Ressonncia Magntica

A localizao da Ressonncia Magntica no Subsolo 1 foi desde o princpio


determinada pela facilidade do acesso em nvel (Ptio de Servios) dos seus
equipamentos, inicialmente maiores, mais pesados e com mais restries em
relao s interferncias emitidas e sofridas pelo seu campo magntico. Em 1985
foram importados os primeiros equipamentos de RM (Figura 10.24), sendo que o
terceiro veio em 1989. Em 1998, como se pode notar na planta abaixo (Figura

281
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

10.22), havia trs salas de exame, apoiadas por trs respectivas Salas Tcnicas e
salas de Comando.

Figura 10.22: Planta da Unidade de Ressonncia Magntica (RM) do HIAE em 1998 (Subsolo 1)
Fonte: Fiorentini Arquitetura de Hospitais.

Figura 10.23: Planta da Unidade de Ressonncia Magntica do HIAE em 2009 (Subsolo 1)


Fonte: Departamento de Projetos e Obras HIAE.

282
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN

Figura 10.24: Chegada de um equipamento de


RM ao HIAE na segunda metade da dcada de
1980, pela rea do Ptio de Servios.
Fonte: SBIBAE.

Em 2009 (Figura 10.23) muitas mudanas foram constatadas. Uma sala de RM foi
adicionada, sendo que dois equipamentos existentes foram trocados e geraram
reformas. O equipamento mais antigo da unidade (Figura 10.25) est localizado no
canto superior direito da planta, possuindo uma proteo radiolgica mais
sofisticada por tratar-se de um campo magntico mais abrangente. A sua Sala
Tcnica diminuiu, enquanto as dos equipamentos posteriores aumentaram. A
mesma sala receber um novo equipamento em 2010, segundo o engenheiro
Reinaldo Gabarron.

Numa sala de RM, localizada no


canto superior esquerdo da planta,
o equipamento foi substitudo,
possibilitando a diminuio da sua
sala. Porm, por serem ali
desenvolvidos procedimentos de
diagnstico para a pesquisa
neurolgica, tornou-se necessria
uma sala a mais para o Projetor,
equipamento que interage com o
Figura 10.25: Sala do equipamento mais antigo de RM
do HIAE, em 2009. exame e deve ficar separado do
Fonte: Acervo da autora.

magneto por razes de proteo mecnica. Com esta reforma foram ainda
ajustadas as reas adjacentes, sendo que a sala de Comando anterior, que servia

283
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

tambm como circulao, ficou isolada entre dois corredores, tambm recebendo
ao seu lado uma nova rea de Espera para acamados.

A reorganizao das reas de circulao nesta regio redefiniu os limites da rea


de Espera de pacientes ambulantes, que aumentou um pouco, e a localizao das
reas de preparo, agora mais adensadas e individualizadas na forma de pequenos
vestirios. A rea de Recuperao Anestsica, por sua, vez, foi centralizada numa
sala anteriormente ocupada pelos equipamentos de ar condicionado, cujo acesso
se d por um corredor perifrico da unidade de RM.

Outra reforma ocorreu na rea da antiga biblioteca e de uma das salas de


recuperao, que foram ocupadas por uma quarta sala de RM, construda por volta
de 2003. A mesma ocasionou a expanso da Sala Tcnica mais prxima, que
passou a ser compartilhada por dois equipamentos.

10.2.2 Centro de Simulao Realstica

O Centro de Simulao Realstica (CSR Figura 10.26) foi uma unidade adicionada
no HIAE aps 1998, ocupando parte do antigo estacionamento. Ali a tecnologia
tambm desempenha papel importante, na medida em que seus ambientes incluem
salas de cirurgia simuladas em robs. A presena destas reas gerou o aumento da
infraestrutura no andar, no intuito de atender a presena de mais equipamentos.

Figura 10.26: Planta do Centro de Simulao Realstica


(CSR) do HIAE em 2009 (Subsolo 1)
Fonte: Departamento de Projetos e Obras HIAE.

284
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN

10.2.3 Infraestrutura Predial

As Casas de Mquinas no Subsolo 1 sempre foram relativamente grandes e


numerosas, sendo este um dos bastidores do hospital. No incio (Figura 10.27)
ocupavam apenas ambientes internos ao edifcio, em grande parte concentrados
numa nica regio (Aquecedor, Bomba de Vcuo, Ar Condicionado, Cabine
Primria, Transformadores e Geradores). De acordo com a planta de 2009 (Figura
10.28), uma das duas salas de Ar Condicionado mais dispersas foi ocupada pela
sala de Recuperao Anestsica da Ressonncia Magntica, que reservou ainda
um pequeno espao para os No-Breaks dos equipamentos de RM. Outras salas
foram ocupadas por reas de conforto de funcionrios, sendo realocadas no Ptio
de Servios.

Figura 10.27: Planta das reas de


Infraestrutura Predial do HIAE em 1998
(Subsolo 1)
Fonte: Fiorentini Arquitetura de
Hospitais.

No Ptio (Figura 10.29) instalaram-se grandes casas de mquinas como a Central


Trmica, com as Torres de Resfriamento na sua cobertura; a Central de Gases
(Figura 10.30), suspensa sobre um talude; e a Central de Geradores, que ampliou o
nmero de geradores para suportar o edifcio todo ao invs de apenas os seus
equipamentos de suporte vida, como era na situao anterior.

285
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Figura 10.28: Planta da Unidade de Ressonncia Magntica do HIAE em 2009 (Subsolo 1).
Fonte: Departamento de Projetos e Obras HIAE.

286
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN

Outra adio ao Ptio de Servios foram os contineres das equipes tcnicas de


infraestrutura e manuteno. O grande arsenal tecnolgico presente no hospital
necessita da presena permanente de profissionais das empresas fornecedoras
dos equipamentos, bem como daquelas contratadas para realizarem a manuteno
de sistemas como os de ar condicionado. O edifcio no possui espao para que
estas equipes tcnicas possam instalar seus escritrios e armazenar ferramentas, e
por isso a alternativa encontrada foi o aluguel dos contineres para desempenhar
esta funo.

Figura 10.29: Ptio de Servios em 2009 (Subsolo 1), Figura 10.30: Central de Gases.
mostrando as Torres de Resfriamento na cobertura da Central Fonte: Acervo da autora.
Trmica, os Contineres e, ao fundo, a Central de Geradores e
outras duas Casas de Mquinas encostadas no Bloco A.
Fonte: Acervo da autora.

10.3 CONCLUSES

Ao analisar as transformaes arquitetnicas do Hospital Israelita Albert Einstein


em algumas de suas reas mais carregadas tecnologicamente, foi possvel detectar
uma grande quantidade de reformas e ampliaes. Estas, por sua vez, estiveram
em sua maioria vinculadas principalmente incorporao e renovao de
equipamentos, sejam eles de apoio ao diagnstico e tratamento ou de infraestrutura
predial.

Nas reas do 4 pavimento as expanses ocorreram internamente s unidades,


praticamente sem alterar as reas comuns de circulao do andar. Houve a
subdiviso de ambientes e, eventualmente, a sobreposio de atividades em
espaos comuns. Neste processo reas foram liberadas com a digitao de alguns
procedimentos.

287
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Percebeu-se que as reas cujas instalaes so menos especficas, como salas de


Mtodos Grficos (ECE, ECGE, etc.), Ecocardiografia e Ultrasonografia, os
deslocamentos entre os blocos foram mais freqentes. Isto pode ser justificado pela
facilidade de adaptao dos ambientes aos seus equipamentos e procedimentos.

No caso dos exames mais complexos, como os de Radiologia, Hemodinmica e


Medicina Nuclear, as mudanas de localizao foram menos vezes encontradas.
Nestes casos ficou claro que os seus equipamentos, quando incorporados ou
substitudos, motivaram as transformaes arquitetnicas mais significativas. Isto
foi o que ocorreu, por exemplo, com a remoo de um Tomgrafo, a instalao do
equipamento de PET e a troca de um dos Angigrafos.

No Subsolo 1 o mesmo ocorreu na unidade de Ressonncia Magntica, onde as


transformaes arquitetnicas foram todavia mais impactantes. Nos espaos
destinados s Salas Tcnicas da RM as reas adicionadas foram bem maiores do
que no 4 pavimento. Concomitantemente, a estrutura interna de circulao da
unidade de RM apresentou maiores alteraes entre 1998 e 2009, uma vez que era
mais ramificada desde o incio da ocupao da rea. Isto, por sua vez, ocorreu
certamente por causa da diferena na configurao espacial entre o 4 pavimento e
o Subsolo 1, onde aquele apresenta uma malha de corredores mais racional do que
este, onde pouca largura dos prdios e a diferenciao volumtrica entre os Blocos
A, B, C e D tambm limitaram os desvios das vias originais de circulao horizontal.

De um modo geral pode-se aferir tambm que o Subsolo 1, se comparado ao 4


pavimento, apresentou mais mudanas em sua configurao arquitetnica original.
Principalmente por causa da adio das reas administrativas (RH) e de ensino
(Salas de Aula e CSR), houve entre 1998 e 2009 uma diferenciao evidente em
sua malha de corredores principais.

Em relao evoluo arquitetnica das reas de Infraestrutura Predial, outras


concluses foram alcanadas. Dividindo funes apenas com as Casas de
Mquinas existentes na cobertura dos Blocos A e D, as Casas de Mquinas
presentes no Subsolo 1 concentram as bases de abastecimento do HIAE,
aumentando o controle das suas redes horizontais e verticais de instalaes.
Notou-se que a modulao das prumadas foi semelhante entre os quatro blocos do
hospital, indicando o planejamento de uma rede relativamente articulada e
organizada. Indcio desta organizao a coincidncia entre os Shafts e os
corredores gerais de circulao dos andares, de onde parte a distribuio de tubos

288
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN

e condutores pelo forro. Este fato facilitou tambm a manuteno destes espaos
tcnicos verticais, na medida em que no h necessidade de entrar nas unidades
para a realizao de reparos.

289
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

290
11
ESTUDO DE CASO 3:
HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK BRASLIA
11 ESTUDO DE CASO 3: HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK DE BRASLIA

11 ESTUDO DE CASO 3: HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK BRASLIA

Como comentado no Captulo 1, o Hospital Sarah de Braslia, tambm chamado de


HDAL, foi projetado a partir de premissas como flexibilidade e expansibilidade, as
quais foram aplicadas na sua modulao estrutural, na sua composio funcional e
na distribuio dos seus diversos fluxos (pessoas, suprimentos e condutores de
infraestrutura). A configurao arquitetnica do hospital originou-se a partir da
sobreposio destes diferentes sistemas de organizao. Por este motivo, h uma
compatibilidade entre todas as espinhas dorsais do edifcio, onde os vetores de
expanso tambm seguem juntos.

No HDAL foram analisadas as transformaes arquitetnicas que ocorreram entre a


sua construo (1980) e o ano de 2007, cujos desenhos foram encontrados no
levantamento da arquiteta Alda Regina Bueno Minioli, e posteriormente ajustados
atravs do zoneamento funcional.

Para enfatizar a varivel tecnolgica como fator de impacto nas reformas e


expanses ocorridas, os pavimentos estudados foram o Subsolo 1 e o Subsolo 2
(S1 e S2), onde esto agrupadas as atividades que concentram o maior nmero de
equipamentos e instalaes prediais. No S1 esto todos os setores de Diagnstico
e Tratamento, incluindo as reas de Imagenologia, Laboratrio e Centro Cirrgico; e
no S2 esto todos os ambientes de Apoio Tcnico e Logstico, que por sua vez do
suporte estratgico s atividades do S1.

11.1 SUBSOLO 1: TRANSFORMAES ENTRE 1980 E 2007

Este foi o pavimento mais modificado do HDAL at hoje. Entre as reas que
estiveram ou esto presentes neste andar esto os setores de Diagnstico por
Imagem (Radiologia, Ressonncia Magntica e Medicina Nuclear), o Centro
Cirrgico, a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), o Laboratrio de Movimentos, os
Laboratrios de Anlises Clnicas e o Banco de Sangue, concluindo as unidades
funcionais com mais tecnologias agregadas. Ainda no S1 podemos indicar a
presena dos Vestirios de funcionrios, do Arquivo Mdico, da Anatomia
Patolgica, do Centro de Criatividade e das reas de Ensino e Pesquisa (Biblioteca
e Auditrios).

293
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Segundo MINIOLI (2007:42), ...

... o Subsolo 1 apresenta o maior nmero de usos em um mesmo


pavimento. Isso se deve facilidade de ligao com o pavimento trreo, em
algumas reas de atendimento a pacientes externos, ao mesmo tempo em
que permite a existncia de galerias para instalaes no pavimento inferior.
(...) Os setores so dispostos na direo norte-sul, ortogonalmente ao eixo
transversal e tendo acesso direto a ele, tornando assim possvel que os
setores sejam ampliados de forma independente no sentido longitudinal.

Como muitos dos setores projetados para o S1 so altamente especializados,


qualquer alterao do procedimento mdico ou dos equipamentos usados implica
em adaptaes no espao fsico, comenta Minioli. De fato estas alteraes
ocorreram, como pode ser verificado ao comparar as plantas do pavimento em
1980 e em 2007 (Figuras 11.01 e 11.02, respectivamente).

Figura 11.01: Planta do Subsolo 1 do HDAL, em 1980 (poca da construo do edifcio)


Fonte: MINIOLI, 2007.

294
11 ESTUDO DE CASO 3: HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK DE BRASLIA

No perodo analisado o S1 cresceu na direo sul, ao


contrrio dos demais. Contriburam para esta expanso
a construo das reas de Ressonncia Magntica e
Medicina Nuclear, a ampliao das unidades de
Radiologia e Laboratrio e o deslocamento do Banco
de Sangue, que fechou transversalmente o vo
ajardinado adjacente ao Laboratrio e ganhou acesso
independente. Internamente o Centro Cirrgico
aumentou o nmero e o tamanho de suas salas,
avanando sobre a rea do Arquivo Mdico. Este, por
sua vez, passou a ocupar uma rea maior (dois
pavimentos de 700m) no Prdio Administrativo da
instituio.

Figura 11.02: Planta do Subsolo 1 do HDAL em 2007.


Fonte: MINIOLI, 2007.

A seguir sero analisadas separadamente as reas que mais se modificaram


arquitetonicamente neste andar.

295
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

3.1.1 Radiologia

A unidade de Radiologia (Figuras 11.03 e 11.04) expandiu-se em aproximadamente


um tero do seu tamanho original durante o perodo analisado. At
aproximadamente 1998 existiam no HDAL dois Tomgrafos comuns. Em 2001 foi
adquirido um terceiro e em 2003 um dos equipamentos mais antigos foi substitudo.
Nesse entra e sai de maquinas, uma sala de Tomografia foi deslocada, juntando-
se a outras duas salas do mesmo exame.

Foram criadas tambm mais reas de preparo (Vestirios) e de processamento de


dados e imagens (Interpretao de Laudos), alm das compulsrias reas de
Comando e de Infraestrutura. Neste aspecto, a coincidncia fsica com as galerias
existentes no pavimento inferior favoreceu o suprimento de energia e ar
condicionado s novas salas, na medida em que foram mantidos os espaos de
subida dos dutos de ar condicionado, espalhados pelo corredor principal da
unidade. Estes espaos, previstos desde o projeto original, foram importantes para
dar flexibilidade ao projeto.

Figura 11.03: Planta da unidade de Radiologia (Subsolo 1) em 1980.


Fonte: MINIOLI, 2007.

Figura 11.04: Planta da unidade de Radiologia (Subsolo 1) em 2007.


Fonte: MINIOLI, 2007.

296
11 ESTUDO DE CASO 3: HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK DE BRASLIA

A rea onde estava o Tomgrafo


foi reformada e possibilitou o
aumento da sala de Angiografia
(Hemodinmica Figura 11.08),
que ganhou uma sala exclusiva
de Comando na rea onde antes
havia um pequeno corredor. Ao
lado foi introduzida ainda uma
sala de Ultrasonografia.

Com a digitalizao dos processos de revelao dos exames, foram desativadas as


Cmaras Escuras, cuja rea se uniu das Cmaras Claras adjacentes e passou a
ser utiliza pelos equipamentos de revelao (Digitalizadores ou CRs). As salas de
Raios-X prximas dali aumentaram, assim como a rea de Espera (Figura 9.06).

Figura 11.05: Corredor entre os vestirios de Figura 11.06: rea de Espera.


pacientes e as salas de Raio-x. Fonte: Acervo da autora.
Fonte: Acervo da autora.

Figura 11.07: Sala de Raio-x. Figura 11.08: Sala de Angiografia.


Fonte: Acervo da autora. Fonte: Acervo da autora.

297
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Figura 11.09: Digitalizadora (CR) na atual rea Figura 11.10: rea de Comando comum entre as
de revelao digital trs salas adjacentes de Tomografia.
(antigas Cmaras Clara e Escura). Fonte: Acervo da autora.
Fonte: Acervo da autora.

De acordo com MINIOLI (2007:40), j na etapa do projeto executivo a rea do


Raio-X foi ampliada linearmente pela justaposio das salas e pela extenso dos
corredores, onde os acrscimos puderam ser realizados sem prejudicar a
configurao existente. A isto favoreceram a modulao estrutural e a adoo de
uma altura padro para as lajes, gerando um p-direito uniforme e contnuo.

Nesta direo longitudinal, os vos entre pilares so constantes (seis


mdulos) como no restante do edifcio, onde tambm usado esse
esquema estrutural. Os vos transversais, no entanto, so ajustados em
funo da largura das salas e dos corredores, que variam a cada ala,
posicionando os pilares alinhados s paredes, evitando pilares no meio das
salas. As paredes em alguns trechos so duplas, faceando os dois lados
dos pilares, criando um nicho por onde passam verticalmente instalaes
de ar-condicionado. (MINIOLI, 2007:64)

Na direo transversal, porm, a flexibilidade ficou mais restrita, por causa das
diferentes dimenses dos vos entre pilares, que dificultaram um layout diverso do
daquele definido inicialmente.

3.1.2 Laboratrio

As transformaes arquitetnicas na rea do Laboratrio foram numerosas e


contnuas, haja vista a quantidade de equipamentos que foram adicionados dentro
da mesma rea (Figuras 11.11 e 11.12). O arquiteto Luiz Engler Vasconcellos,
responsvel pelas obras do Hospital Sarah Braslia, identifica as obras no
Laboratrio como uma dor de cabea, por causa da infinidade de problemas com

298
11 ESTUDO DE CASO 3: HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK DE BRASLIA

instalaes (tomadas, pontos hidrulicos, etc.) e mudana de layout, principalmente


quando relacionado ao aumento e reduo de bancadas de trabalho.

Na medida em que se incorporaram nestas atividades o uso de refrigeradores, por


exemplo, criou-se a necessidade de um espao para eles, sendo que logo se
criaram sala s para acomod-los, diz o arquiteto. Outro problema o
armazenamento de blocos (material biolgico), que s aumenta.

Figuras 11.11 e 11.12: Adensamento de equipamentos sobre as bancadas do Laboratrio.


Fonte: Acervo da autora.

Entre as plantas de 1980 e 2007 (Figuras 11.13 e 11.14, respectivamente) pode-se


constatar uma grande expanso da unidade do Laboratrio, que avanou sobre a
antiga Biblioteca do Centro de Estudos. Isto ocorreu durante a dcada de 1990,
quando esta foi transferida para uma rea maior no prdio da Associao das
Pioneiras Sociais.

O acrscimo de espao do
Laboratrio foi motivado,
segundo Vasconcellos, pelo
avano cientfico, na medida em
que foi descoberta a Patologia
Molecular e uma grande rea
precisou ser dedicada ela.
Segundo Marcelo Buzzi, que
trabalha na rea, a Patologia
Molecular tende a crescer e
substituir a Patologia Clnica.

299
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Figura 11.13: Planta do Laboratrio de Anlises Clnicas (Subsolo 1)


em 1980 (poca da construo do edifcio).
Fonte: MINIOLI, 2007.

Figura 11.14: Planta do Laboratrio de Anlises Clnicas (Subsolo 1) em 2007.


Fonte: MINIOLI, 2007.

No perodo estudado tambm foram adquiridos pela instituio trs microscpios


eletrnicos, cuja presena trouxe alguns ajustes arquitetnicos. O primeiro
microscpio veio em 2000, o segundo provavelmente em 2001 e o terceiro em
2003. Foram instalados em uma sala da rea de Patologia Molecular, avanando
sobre uma pequena rea do Centro de Criatividade. Este, por sua vez, j estava
bem menor devido expanso do Laboratrio como um todo.

300
11 ESTUDO DE CASO 3: HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK DE BRASLIA

Em termos de instalaes de ar condicionado, outros ajustes precisaram ser feitos.


A Patologia Clnica, que antes no precisava de climatizao, passou a precisar, na
medida em que a grande quantidade de equipamentos trouxe tambm a emisso
de calor. Outros equipamentos mais sofisticados como os microscpios eletrnicos
exigiram desde o princpio climatizao, criando um apndice ao sistema de ar
condicionado na forma de um aparelho Split (Fancolete).

3.1.3 Ressonncia Magntica e Medicina Nuclear

Constituindo uma significativa adio de rea ao pavimento S1, a criao das


unidades de Ressonncia Magntica e Medicina Nuclear (Figura 11.15) ocorreu
junto ampliao das galerias de instalaes no pavimento inferior (S2). O
crescimento manteve-se linear, aumentando o nmero de ambientes e entendendo
em L o corredor existente, na direo oeste. Chegando ao limite possvel no lote,
esta ampliao j estava prevista no projeto inicial do arquiteto Joo Filgueiras
Lima.

Os equipamentos de RM foram trocados vrias vezes aps a construo da rea,


gerando novas reformas toda vez que isso ocorreu. Em 1994 a mquina nova, que
pesava aproximadamente 32 toneladas exigiu reforo estrutural no prdio para que
pudesse ser instalada. Em 2009, quando foi substitudo outro equipamento, o
mesmo aconteceu, sendo que nesta obra mais recente o p-direito teve que ser
aumentado (atravs do rebaixamento do piso) e a sala pde ser reduzida, assim
como a sua Sala Tcnica.

Segundo Vasconcellos, o tipo de proteo radiolgica exigida por este aparelho de


RM era diferente, indicando a necessidade de dois tipos de blindagem. Obras foram
realizadas para instalar a proteo magntica e de radiofrequncia, que impedem
interferncias tanto de dentro para fora quanto de fora para dentro do ambiente.
Apesar das dificuldades de execuo desta reforma, a mudana do tipo de material
empregado para a blindagem apresentou alguns pontos positivos. A usual placa
monoltica foi substituda por uma composio de vrias placas mais finas de
chumbo. Mais leves e facilmente manuseadas, as placas apresentam no seu
conjunto maior eficincia, diz o arquiteto.

Nestas transformaes arquitetnicas foi importante a presena de uma grande


Casa de Mquinas ao fundo das salas de exames, a qual estabelece comunicao

301
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

direta com as Galerias de Instalaes inferiores. Localizada em um dos limites do


edifcio, ali que se d o acesso dos equipamentos de RM (atravs de um poo de
comunicao como o pavimento trreo), abrigando tambm as mquinas de ar
condicionado.

Figura 11.15: Planta das unidades de Ressonncia Magntica e


Medicina Nuclear (Subsolo 1) em 2007.
Fonte: MINIOLI, 2007.

Sobre o sistema de ar condicionado, outra peculiaridade foi comentada por


Vasconcellos, que constatou a necessidade de diferentes temperaturas dentro da
unidade. A temperatura ideal para os equipamentos tem sido cada vez mais baixa,

302
11 ESTUDO DE CASO 3: HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK DE BRASLIA

distanciando-se da temperatura de
conforto dos usurios, em especial
os funcionrios, cuja permanncia
nas reas mais prolongada.
Assim, mais uma alterao se
tornou necessria, na medida em
que o sistema de climatizao deve
ser subdividido para criar ambientes
de temperaturas diferentes (um
Fan-coil para cada temperatura).

Nos equipamentos de RM, a presena de macas retrteis tambm teve impacto


arquitetnico. Para facilitar e acelerar o acesso de pacientes com dificuldades
locomotoras ao equipamento, o hospital comprou um modelo onde a maca se
desencaixa do Magneto e vai at a rea de preparao do paciente. Isto, porm,
criou a necessidade de um espao de armazenamento e higienizao das macas
extras.

A rea de Medicina Nuclear, por sua vez, no permaneceu muito tempo no hospital.
Com muitas especificidades em relao ao espao fsico e aos procedimentos
envolvidos, a sala de Cintilografia recentemente deu lugar a uma sala de Simulao
do exame de RM, especialmente construda para diminuir a fobia do paciente
durante o exame propriamente dito. Nesta sala existe um equipamento falso, que
simula a sensao de claustrofobia. As salas de Vdeo MR e Vdeo CT, criadas
tambm para preparar psicologicamente o paciente com vdeos explicativos sobre
os exames de Ressonncia Magntica e Tomografia, no foram muito utilizadas, e
so hoje ocupadas por salas de Ultrasonografia.

3.1.4 Centro Cirrgico

A localizao do Centro Cirrgico (Figuras 11.16 e 11.17), segundo Lel (apud


MINIOLI, 2007), deve-se deciso de coloc-lo prximo (logo acima) das Galerias
de Instalaes, pois esta rea necessita de grande quantidade e diversidade de
sistemas de instalaes. Foi priorizada, j no projeto, a facilidade de manuteno.

As transformaes desta rea ocorreram em 2002, desencadeadas pelo acrscimo


de uma sala cirrgica com Tomgrafo Deslizante. Para a incorporao da

303
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

tecnologia de diagnstico na cirurgia, houve uma grande reforma, onde alm de


avanar sobre a rea do Arquivo Mdico foi necessria a renovao das
instalaes eltricas e fludo-mecnicas existentes. Segundo o arquiteto Luiz Engler
Vasconcellos, esta foi uma obra muito longa e complicada, pois naturalmente no
poderia haver qualquer interferncia sobre as cirurgias durante a reforma.

O problema maior foi reformar o sistema de ar condicionado, cujos Fan-coils e


dutos eram antigos e obsoletos. Foi difcil porque os outros equipamentos de ar
condicionado e instalaes precisavam continuar funcionando, conta o arquiteto. O
piso foi trocado e assim foi constatado que as instalaes de gs tambm
precisavam de reparos.

Figura 11.16: Planta do Centro Cirrgico (Subsolo 1) em 1980


(poca da construo do edifcio)
Fonte: MINIOLI, 2007.

Figura 11.17: Planta do Centro Cirrgico (Subsolo 1) em 2007.


Fonte: MINIOLI, 2007.

Em termos de instalaes eltricas, a norma especfica da ABNT para Proteo


Eltrica de Centros Cirrgicos tambm influenciou a obra. Para garantir o

304
11 ESTUDO DE CASO 3: HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK DE BRASLIA

funcionamento dos equipamentos em caso de queda de energia, teve que ser


instalados em cada sala cirrgica o DSI (Dispositivo Supervisor). Este um
dispositivo que garante que no caso de a eletricidade sair pelo fio terra, ao invs de
haver o desligamento automtico de energia, apenas h o acionamento de um
alarme, mantendo tudo funcionando durante o procedimento cirrgico.

Na planta de 2007 possvel perceber que em uma rea onde existiam duas salas
cirrgicas, passou a existir somente uma. Esta a sala na qual se introduziu o
Tomgrafo deslizante, o qual trouxe ainda espaos maiores para preparo e para
equipamentos (Sala Tcnica). Uma regio perifrica de instalaes foi criada,
servindo a esta e a outras duas salas de alta tecnologia, tambm maiores que as
comuns. O elevador monta-cargas ali existente, anteriormente utilizado para
transportar arquivos em papel entre o Arquivo Mdico e o Ambulatrio, acabou
sendo til para transportar os equipamentos vindos da Casa de Mquinas inferior.

Segundo Vasconcellos, a reforma foi realizada, a priori, porque o espao interno


das salas existentes do Centro Cirrgico, que era de 6,40 por 6,40m, tornou-se
insuficiente. Com a introduo do exame de diagnstico junto s cirurgias, houve
necessidade de reas maiores. No incio (1980) havia oito salas de cirurgia
comuns, e com a reforma a rea passou a ter trs salas de alta tecnologia e seis
salas comuns, totalizando 1.400m.

11.2 SUBSOLO 2: TRANSFORMAES ENTRE 1980 E 2007

No Subsolo 2 concentram-se as atividades de Apoio Tcnico e Logstico, incuindo


as reas responsveis pela Infraestrutura Predial e pelos Servios de
Processamento e Armazenamento de Suprimentos do hospital. Constituem os
bastidores da instituio. De acordo com MINIOLI (2007:42), neste pavimento so
desempenhadas funes de apoio fundamentais ao funcionamento do HDAL:

Algumas reas estratgicas foram dispostas para leste, prximas via


secundria, onde h um acesso do exterior direto para um ptio de
servios, a partir do qual se pode ingressar nesses ambientes, facilitando os
servios de abastecimento. (...) No S2, alm destas reas de servios,
encontram-se as galerias de instalaes prediais aparentes. A sua
presena um exemplo de flexibilidade, pois permite que as tubulaes
possam ser acessadas, movidas e atualizadas, acompanhando alteraes
de layout e/ou de funo nos ambientes. MINIOLI (2007:42)

305
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Figura 11.18: Desenho de Lel para demonstrar o fluxo das


instalaes prediais no pavimento do Subsolo 2.
Fonte: MINIOLI, 2007.

H uma galeria abaixo das salas de exames de Raios-X, e outra sob da


rea dos laboratrios, na projeo do corredor. Um corredor transversal
principal tambm est presente neste pavimento, e cria um acesso direto da
parte dos servios para os blocos existentes, que passa abaixo da via de
acesso interna do trreo. Lel ressalta no Anteprojeto a importncia dessa
integrao, necessria ao adequado funcionamento desses blocos.
(MINIOLI, 2007:44)

Como comentado anteriormente, neste andar existe uma Casa de Mquinas de


700m exclusiva para os equipamentos de Ar Condicionado do Centro Cirrgico,
que se localiza no pavimento superior, na mesma projeo. Neste espao ficam os
Fan-coils (Figura 11.19), sendo que, devido ao nvel elevado de filtragem
necessrio, h um equipamento exclusivo para cada sala cirrgica.

306
11 ESTUDO DE CASO 3: HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK DE BRASLIA

As Galerias de Instalaes Lineares,


que se transformaram em
Pavimentos Tcnicos em outras
sedes da Rede Sarah1, alimentam
todos os setores do hospital, atravs
de Canaletas e Shafts embutidos nos
elementos estruturais do edifcio

Figura 11.19: Casa de Mquinas para os


(Figuras 11.20, 11.21, 11.22 e
equipamentos de ar condicionado (Fan-coils) do 11.23).
Centro Cirrgico.
Fonte: Acervo da autora.

Figuras 11.20, 11.21 e 11.22:


Instalaes eltricas embutidas nos
elementos estruturais do HDAL.
Fonte: MINIOLI, 2007.

1
No Rio as galerias so substitudas pelo piso tcnico, para dar mais flexibilidade ainda ao projeto. As galerias de
instalaes foram usadas tambm como vias de ventilao natural (Sarah de Salvador).

307
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Figura 11.23: Dutos de ar condicionado embutidos


na estrutura pr-fabricada da laje do Centro Cirrgico.
Fonte: MINIOLI, 2007:63.

3.1.5 Apoio Tcnico e Logstico

Como pode ser visto na comparao entre as plantas de 1980 e 2007 do S2


(Figuras 11.24 e 11.25, respectivamente), as Galerias de Instalaes foram
estendidas, em funo das ampliaes realizadas no S1. Enquanto isso os
ambientes de Apoio Logstico (Centrais de Higienizao, de Armazenamento e de
Processamento de Roupas, Alimentos) pouco se modificaram, destacando-se
apenas o aumento da Farmcia e do Almoxarifado Geral2.

A Farmcia expandiu-se porque o hospital passou a tratar de Cncer sseo,


originando o aumento significativo de medicamentos armazenados e manipulados.
A Central de Material Esterilizado (CME), por sua vez, sofreu uma reforma mais
significativa com o deslocamento de uma de suas Autoclaves, que so os
equipamentos de esterilizao. Para alguns materiais no suscetveis ao calor,
como o plstico, a esterilizao era realizada em um equipamento especial, porm
auxiliado por substncias txicas. Era necessrio, o seu isolamento em relao s

2
A maior mudana no ambiente foi a instalao de arquivos deslizantes.

308
11 ESTUDO DE CASO 3: HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK DE BRASLIA

reas de trabalho. Houve a substituio desta Autoclave por outra mais avanada,
onde as substncias utilizadas no eram txicas. O resultado foi uma obra para
incorporar o equipamento s reas de trabalho comuns.

Figura 11.24: Planta do Subsolo 2 do HDAL, em 1980 (poca da construo do edifcio)


Fonte: MINIOLI, 2007.

Figura 11.25: Planta do Subsolo 2 do HDAL em 2007.


Fonte: MINIOLI, 2007.

309
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Durante os anos de funcionamento do


hospital, houve um adensamento de dutos nas
Galerias de Instalaes (Figura 11.26), na
medida em que aumentou muito a carga
eltrica e o nmero de ambientes a serem
climatizados no prdio. Por isso, nas mesmas
foram adicionados Transformadores, Quadros
Eltricos e Dutos de gua Gelada (Figura
11.27) do sistema de Ar Condicionado.

Figura 11.26: Galeria de Instalaes do Subsolo 2 Figura 11.27: Condutores de gua gelada do
do Sarah Centro. sistema de Ar Condicionado.
Fonte: Acervo da autora. Fonte: Acervo da autora.

A presena da Central de Processamento de Dados (CPD), tambm chamada de


Sala de Servidores, merece ateno especial neste andar, na medida em que esta
rea pode ser considerada como o crebro da instituio. Qualquer interferncia
nos seus equipamentos tem implicaes srias, pois atualmente todas as
atividades do hospital dependem dos seus computadores (servidores).

Segundo Vasconcellos, so complexas as reformas que envolvem a rea de CPD,


por menores que elas sejam. O arquiteto conta que na ocasio do deslocamento de
uma divisria interna da rea, um cabo foi cortado acidentalmente, algo que
desativou um equipamento do Ambulatrio (pavimento Trreo) por um perodo
relativamente longo. Em 2009 a mesma rea foi reformada novamente, redefinida
pela expanso da rea de Higienizao de Equipamentos.

310
11 ESTUDO DE CASO 3: HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK DE BRASLIA

11.3 CONCLUSES

Ao longo de sua vida til o Hospital Sarah de Braslia conseguiu, apesar de


algumas reformas e expanso do edifcio, manter a sua estrutura original de fluxos
e de zonas funcionais. Apesar de enfrentar obras muitas vezes complexas e longas,
os seus eixos principais de circulao no foram alterados e mantiveram a
hierarquia entre os fluxos e relaes operacionais. Isto foi percebido tambm em
outras reas da instituio, como Internao e Ambulatrio no pavimento Trreo.

Concorda-se com MINIOLI (2007), que diz que o esquema estrutural do prdio e o
respeito a padronizao concebida durante estas reformas fez com que o conjunto
permanecesse harmonioso. Acredita-se que fatores de ordem poltica e
tecnolgica foram os que mais influenciaram para a preservao da organizao
espacial do hospital, desde a fase de projeto nos anos 1970.

Como j comentado, entre as premissas de projeto de Joo Filgueiras Lima


estiveram a flexibilidade e a expansibilidade do edifcio, antevendo as suas
ampliaes e reformas. Estas premissas, por sua vez, foram claramente
concretizadas no edifcio, atestando que no existiram, como em muitos casos,
apenas no discurso do arquiteto.

O projeto estrutural original exemplo dessa premissa. (...) Ento o partido deveria
permitir sua repetio, com o objetivo de simplificar e dar unidade construo,
sem perder a sua caracterstica ao longo do tempo, pelas mudanas nas funes
dos ambientes. (MINIOLI, 2007:62)

Entre as estratgias de projeto para que o edifcio se tornasse de fato adaptvel,


considera-se mais determinante a modulao e a localizao estratgica das reas
de infraestrutura.

Segundo o arquiteto Lel, para que os ambientes sejam realmente


flexveis, alm da estrutura, as instalaes tambm devem s-lo. Em seus
projetos as instalaes so acessveis, embora no possam ser vistas.
Suas obras tm uma linguagem industrial, embora no aparente como tal.
O conceito adotado demonstra a preocupao com a praticidade, a
funcionalidade, a facilidade e o custo de manuteno. A distribuio dos
servios deve ser rpida e objetiva, sem que as modificaes sejam
notadas aps sua execuo. (MINIOLI, 2007)

Nos locais onde a necessidade de infraestrutura mais concentrada e


especializada, foi importante a presena de espaos tcnicos estrategicamente

311
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

distribudos. No Centro Cirrgico, prumadas de ar condicionado esto por toda a


parte, facilitando os frequentes ajustes e acrscimos ao conjunto de dutos. O
mesmo ocorre nas reas de Imagenologia.

No setor de Ressonncia Magntica, por sua vez, todas as salas de exame fazem
limite com uma grande Casa de Mquinas, a qual possui acesso independente ao
exterior do edifcio. Nesta regio, como ficou evidente durante uma visita rea,
reformas so realizadas de forma mais organizada e isolada, na medida em que a
obra fica totalmente voltada para as reas tcnicas. Estas, por sua vez, possuem
ligao direta com as galerias do S2, atravs de um plano inclinado. Com isso fica
flexvel o ajuste nas instalaes que vo servir a rea reformada.

Durante as transformaes arquitetnicas do S1 e do S2, provou-se verdadeira a


teoria dos vetores de expanso lineares exposta no projeto. A multiplicao e
subdiviso dos ambientes, principalmente na rea de Imagenologia, raramente
ocupou espaos de circulao. Estes se ramificaram pouco, preservando a
linearidade e, logo, a racionalidade no desenho das vias de comunicao entre os
diferentes setores.

Outro resultado favorvel foi a permanncia da estrutura entre as reas do antes,


do durante e do depois dos exames, no caso da unidade de Radiologia. A regio
de preparo do paciente (vestirios) permaneceu praticamente intacta, apenas
prolongando-se em L na ocasio da sua ampliao. A sua relao com a rea de
espera, que se ampliou no mesmo sentido, foi totalmente mantida.

Na Radiologia manteve-se tambm o corredor intermedirio entre os conjuntos de


salas de preparo e de salas de exames. Ali continuou priorizado o fluxo dos
pacientes, ao passo que no corredor existente aos fundos das salas de Raios-X
continuaram concentradas as atividades e a circulao da equipe tcnica.

Aps as anlises foi possvel concluir que outro fator importante para as ampliaes
do edifcio foi a modulao padronizada da sua estrutura, nico elemento esttico
do edifcio. O seu desenho tambm favoreceu a distribuio das instalaes
prediais por diversos caminhos embutidos.

Concorda-se com MINIOLI (2007:62) quando ela comenta que pela complexidade
de usos de um hospital, ficaria ainda mais dificultada sua funcionalidade e
manuteno, se o sistema construtivo fosse resolvido de maneira distinta para cada
setor. A modulao estrutural, como tambm apontado por Minioli, foi uma

312
11 ESTUDO DE CASO 3: HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK DE BRASLIA

ferramenta utilizada por Lel inclusive para direcionar a expanso na direo


desejada, diminuindo a flexibilidade nos outros sentidos atravs de vos menores
entre os pilares.

Alm da presena de uma malha estrutural mais facilmente contornvel e de


espaos de infraestrutura estrategicamente localizados, a atuao do arquiteto na
Rede Sarah tambm tida como causa para a preservao da sua integridade
arquitetnica original.

Nos hospitais da Rede Sarah, como em poucos, a figura do arquiteto respeitada


na tomada das decises. Lel e a equipe interna de arquitetos e engenheiros tm
poder ao vetar ou induzir determinadas modificaes do edifcio.

313
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

314
12
CONLCUSES
12 CONCLUSES

12 CONCLUSES

Como se sups ao iniciar-se esta pesquisa, a incorporao de inovaes


tecnolgicas uma das principais causas que levam realizao de reformas nos
hospitais existentes, alterando e impactando de formas variadas a sua estrutura
fsica e funcional.

Por meio dos relatos de vrios autores e dos casos acompanhados de perto sobre
a adaptao arquitetnica dos edifcios hospitalares aos condicionantes
tecnolgicos nas reas de diagnstico, tratamento e infra-estrutura, conclui-se que
se trata de um processo complexo e instransponvel. Lidar com ele, por sua vez,
uma tarefa difcil que deve ser facilitada atravs da produo de uma arquitetura
mais flexvel, na medida em que a nica certeza a de que haver transformao.
Edifcios grandes e complexos como os hospitais nunca estaro finalizados, sendo
construes dinmicas como a prpria medicina e tecnologia.

Foram encontradas situaes caticas em hospitais brasileiros, onde o resultado


final destas readequaes espaciais foi uma colagem de elementos. Como coloca
SCHMIDT (2003), um hospital deve ser, no final, arquitetura e no somente
construo. Arquitetura no sentido de unir simultaneamente funcionalidade e
qualidade formal e esttica.

A construo ou a renovao de um hospital no apenas funo,


tecnologia e conceito. tambm esttica. isso que faz o paciente
perceb-lo no como um portal da morte, mas como um ambiente de cura.
So as ruas e praas do Rikshospitalet, o jardim e o hall de entrada com
teto solar do IPq, as paisagens locais exploradas no So Camilo.
Perguntado sobre o que seria um bom hospital, Zanettini afirma: eu iria
mais longe. Eu diria o que uma boa arquitetura. E ela aquela que
consegue aliar com equilbrio a base cientfica ao mundo sensvel, da
intuio, da criatividade. (HORTA, 2005)

Neste sentido, atravs desta pesquisa puderam ser elencadas e recomendadas


algumas ferramentas de planejamento para melhorar o potencial de atualizao
destes edifcios, sem que fique comprometida a sua a sua organizao funcional e
a sua qualidade formal.

317
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

12.1 SOBRE OS CASOS ESTUDADOS

Ao compararem-se as situaes encontradas nos trs estudos de caso desta


pesquisa, pode-se chegar concluso geral de que h uma diferena gradual no
impacto que as transformaes arquitetnicas vinculadas s variveis tecnolgicas
tiveram sobre os trs edifcios.

Numa hierarquia, coloca-se a experincia do Instituto do Corao como a mais


crtica. As inmeras reformas e expanses do pavimento AB resultaram numa
configurao espacial bastante diferente da original. Neste caso, a rede de
corredores (Figuras 12.01 e 12.02) e o zoneamento funcional resultante deixaram
uma impresso de confuso e fragmentao.

Figura 12.01: Configurao das reas


de circulao do Pavimento AB do
InCor , em 1976.

Figura 12.02: Configurao das reas de circulao do


Pavimento AB do InCor , em 2009.

A fragmentao das unidades funcionais pode ser desfavorvel no sentido de


prolongar as distncias percorridas e duplicar algumas atividades ou reas de
apoio. Para o paciente, quando h salas de exames em locais diferentes, ele fica
obrigado a circular mais pela instituio, dependendo da localizao das reas de
preparo. Isto contribui para a perda da sensao de organizao da instituio,
enegrecendo o seu grau de confiabilidade.

A experincia do Hospital Albert Einstein foi considerada intermediria. Apesar das


numerosas alteraes internas em cada unidade funcional, bem como dos
deslocamentos de algumas delas entre os blocos A, B, C e D, a configurao

318
12 CONCLUSES

arquitetnica resultante no apresentou grandes diferenas na rede original de


circulao horizontal (Figuras 12.03, 12.04, 12.05 e 12.06). Esta se manteve linear,
praticamente sem ramificaes. O zoneamento funcional, por sua vez, apresentou
algumas fragmentaes, principalmente entre as unidades que se expandiram para
Blocos diferentes.

Figura 12.03: Configurao das reas de Figura 12.04: Configurao das reas de
circulao do 4 pavimento circulao do Subsolo 1
do HIAE, em 1998. do HIAE, em 1998.

Figura 12.05: Configurao das reas de Figura 12.06: Configurao das reas de
circulao do 4 pavimento circulao do Subsolo 1
do HIAE, em 2009. do HIAE, em 2009.

O Hospital Sarah de Braslia aparece aqui como a experincia mais bem conduzida.
O seu zoneamento funcional e a sua malha de circulao horizontal (Figuras 12.07,
12.08, 12.09 e 12.10) apresentaram poucas alteraes significativas desde o incio
da vida til do edifcio.

319
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Figura 12.07: Configurao das reas de circulao do


Subsolo 1 do Hospital Sarah de Braslia, em 1980.
Figura 12.08: Configurao das reas de
circulao do Subsolo 2
do Hospital Sarah de Braslia, em 1980.

Figura 12.09: Configurao das reas de circulao do Figura 12.10: Configurao das reas de
Subsolo 1 circulao do Subsolo 2
do Hospital Sarah de Braslia, em 2007. do Hospital Sarah de Braslia, em 2007.

12.1.1 Diferenas

As diferenas entre as modificaes arquitetnicas ocorridas nestas trs reas


analisadas podem ser justificadas por outros fatores alm dos relacionados ao tipo
de planejamento e tecnologia. O carter de gesto de cada um diferente,
passando pelas esferas polticas pblica e privada.

O InCor um hospital que, alm de pblico, tambm vinculado universidade.


Isso difere a forma como a deciso tomada em relao s reformas e expanses,
na medida em que h frequentemente a sobreposio de interesses entre os
gestores, os mdicos e os professores titulares, que detm grande parte do poder
poltico. A fragmentao espacial muitas vezes origina-se da disputa de poder entre
as reas, que se sentem donas da instituio.

320
12 CONCLUSES

No caso do HIAE, que uma instituio privada, o poder de deciso est mais
centralizado, porm nas mos de um conjunto muito grande de pessoas. Mesmo
assim, tratando-se de cofres privados, a impresso a de que, neste caso, os
investimentos so mais bem distribudos entre as diferentes reas, no se
distanciando tanto da viso global do conjunto fsico do hospital.

No HDAL, assim como em todas as unidades da Rede Sarah, o modelo de gesto


ainda mais favorvel centralizao do poder de deciso, evitando desvios do
plano arquitetnico geral da edificao. Nestes hospitais, uma caracterstica muito
peculiar e que faz toda a diferena no rumo tomado pelas transformaes
arquitetnicas o respeito figura do arquiteto como detentor do poder de deciso
sobre as mesmas.

12.1.2 Semelhanas

Foram encontradas entre os hospitais estudados algumas caractersticas comuns


que possivelmente foram a causa de semelhanas no comportamento do edifcio
frente as inevitveis transformaes arquitetnicas.

Tanto no HIAE quanto no HDAL foram encontradas estratgias de projeto


relacionadas localizao das prumadas de instalaes. Em ambos os casos os
Shafts ficaram todos localizados nos principais corredores das reas de
diagnstico, determinando em parte a sua preservao. Especialmente no caso do
Sarah de Braslia, foi percebida como favorvel a coincidncia entre os espaos de
circulao de instalaes e pessoas, sendo que isto limitou as alteraes
(ramificaes) dos mesmos. No InCor, onde esta coincidncia fsica no foi
indicada pelo projeto original, foi maior a fragmentao das vias de circulao
horizontal.

Na configurao interna das reas de Imagenologia em todos os trs hospitais


analisados, observou-se a superlotao das reas de Interpretao de Laudos e de
Comando, apesar da liberao de espao devido digitalizao dos processos
envolvidos (equipamentos menores e processos feitos distncia). Supe-se que a
causa da grande quantidade de profissionais seja o aumento da
multidisciplinaridade em relao aos exames de diagnstico, onde cada vez mais
est havendo nos equipamentos a superposio de funes. Aliada
superespecializao da medicina, a visualizao de mais partes do corpo cria a

321
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

necessidade de mais mdicos especialistas trocando informaes na interpretao


do mesmo exame.

Outra semelhana que merece ser mencionada entre todos os trs edifcios a
flutuao da localizao de exames de Ultrasonografia, bem como a presena
destes nas reas de Radiologia e Hemodinmica.

12.2 SOBRE OS RUMOS DA ASSISTNCIA MDICO-HOSPITALAR

Segundo vrios autores, h uma tendncia de crescimento das reas de


diagnstico, especialmente quando a servio de pacientes externos. Muitas j so
as unidades autnomas com esta funo, passando a dividir espao com os
hospitais. A estes caberia priorizar o foco no atendimento ao paciente interno,
deixando para as unidades externas a maior fatia do atendimento aos pacientes
externos.

Isto o que est ocorrendo, por exemplo, no Hospital Albert Einstein, que est
aplicando este pensamento com unidades satlites da prpria instituio
especializadas no atendimento ambulatorial e de diagnstico (Imagenologia e
Laboratrio).

Os procedimentos de tratamento dos pacientes internos, auxiliados pelas


tecnologias de diagnstico, esto cada vez menos agressivos, tornando mais curto
o tempo da recuperao e da estadia do paciente no hospital. Deste modo os leitos
de tratamento intensivo tendem a aumentar, enquanto diminuem as reas de
internao comum. Segundo BROSS (2006), isso ...

... levar grandes hospitais a uma reciclagem, porque vo produzir mais


com menor nmero de leitos. A tecnologia mdica e a da informao esto
caminhando entrosadas, o que permitir a tomada de decises mais rpida
e com mais competncia. Em vez de se coletar uma srie de exames em
laudos escritos, esse trabalho j feito virtualmente.

As UTIs agregaro um arsenal tecnolgico cada vez maior, na medida em que se


concentrar nela a recuperao dos casos mais agudos.

As unidades destinadas a diagnstico e tratamento devero se localizar


prximo ao usurio. Os hospitais (unidades para pacientes internados)
tero menor nmero de leitos, uma vez que atendero apenas situaes

322
12 CONCLUSES

agudas, com uma concentrao cada vez maior de complexos recursos


tecnolgicos. (BROSS, 1997, apud Revista Projeto, 1997:56)

Segundo FERNANDES (2003:129), no futuro os hospitais ...

... tero reas menores, em conseqncia da diminuio das internaes e


do perodo de permanncia de pacientes, promovendo a otimizao desses
edifcios. Com a implementao de procedimentos que propiciam o
aumento de procedimentos e cirurgias em ambulatrios externos, parte dos
pacientes ser atendida em regime de hospital-dia, com tratamentos
intensivos em um perodo de 24 a 48 horas; e parcela expressiva de
profissionais, que desenvolvem hoje suas atividades dentro dos hospitais,
transferir suas atividades para fora nos ambulatrios de especialidades.

Neste sentido, existem ainda previses sobre o tamanho e o transporte de


equipamentos de diagnstico como o de tomografia, que devem no futuro se tornar
portteis como ocorreu como os aparelhos de Raios-X convencional. As reas de
tratamento intensivo so, assim, eleitas como uma das mais suscetveis a agregar
tecnologia no futuro, como comenta OLIVEIRA (2007):

Em um futuro no muito distante, as unidades de cuidados especiais,


chamadas hoje de UTIs, tero um arsenal tecnolgico ao seu dispor capaz
de melhorar muito os processos internos e principalmente a qualidade de
vida do paciente. Poderemos ter imagens do corpo do paciente em tempo
real sem precisar lev-lo a tomografia, pois teremos Tomgrafo beira
leito, acessvel para muitas unidades.

Ainda sobre as tecnologias aplicadas ao atendimento mdico, Oliveira indica que


diminuir cada vez mais a quantidade de fios na comunicao entre as mquinas e
os pacientes, pois a informao clnica destes existir na forma de cartes e/ou
chips.

Com o aumento do nmero de empresas especializadas no apoio s atividades


hospitalares, est aumentando tambm o nmero de servios removidos dos
edifcios, cujas atividades so desempenhadas por terceiros. Um exemplo disso
ocorre nas reas de lavanderia e nutrio, onde as roupas limpas e os alimentos j
chegam prontos ao hospital. Consequentemente h a sua compactao tanto fsica
quanto administrativa, demonstrada no Hospital e Maternidade So Luiz, unidade
Anlia Franco. Dentro de instituies como esta existem ainda unidades funcionais
gerenciadas por outras empresas, como laboratrio, setores de diagnstico por
imagem, engenharia de manuteno, engenharia clnica e restaurantes.

323
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Todas estas tendncias relacionadas ao futuro do atendimento mdico certamente


daro continuidade ao dinamismo j detectado nos edifcios hospitalares, sendo
que no projeto elas devero ser consideradas como possveis condicionantes.
Apesar de se tratarem de previses, ou seja, especulaes sobre a realidade, os
arquitetos devem estar atentos a elas, projetando um edifcio que possa incorporar
estas possibilidades. Ou seja, imprescindvel a flexibilidade. Nas decises de
projeto devem ser consideradas as situaes que s enxergamos em futuro
distante, de modo que a edificao tenha vida mais longa. (Joo Carlos Bross,
apud CORBIOLI, 2000)

12.3 SOBRE A IMPORTNCIA DA FLEXIBILIDADE NA ARQUITETURA DOS


HOSPITAIS

Segundo CHRISTIE, CHEFURKA e NESDOLY1, ser flexvel significa ser adaptvel


ou varivel, no rgido e suscetvel a condies mutveis2.

Flexibilidade na arquitetura, segundo LONGHI (2001), entendida como ....

... a capacidade dos espaos em se adaptarem a novas necessidades


funcionais, e est relacionada a modulao estrutural utilizada (vos
estruturais), a padronizao dos espaos construdos (espaos construdos
que podem atender funes semelhantes) e a contigidade entre espaos
no construdos e construdos (possibilidade de ampliao).

A evoluo arquitetnica dos edifcios hospitalares, estudada durante a pesquisa,


demonstra que flagrante a necessidade de que os mesmos sejam extremamente
flexveis. O ambiente construdo deve estar apto a acompanhar o dinamismo da
cincia e da tecnologia a servio da medicina. Como comenta ROGERS (2001),
projetar tendo em vista a flexibilidade de uso dos edifcios inevitavelmente desloca
a arquitetura das formas fixas e perfeitas.

O desafio a todos envolvidos com o planejamento e gerenciamento de


estabelecimentos assistenciais de sade antecipar, ao mais elevado grau,
onde as mudanas so mais provveis de ocorrerem, e considerar
flexibilidade por todos os estgios das fases de planejamento, desenho,

1
http://muhc-healing.mcgill.ca/english/Speakers/chefurka_p.html
2
Traduo livre da autora para: Flexibility means: adaptable or variable, not rigid, responsive to changing
conditions." (CHRISTIE, CHEFURKA, NESDOLY)

324
12 CONCLUSES

construo e ps-ocupao para garantir que os objetivos finais de


satisfao do cliente, resultados clnicos desejados, eficiente ambiente de
trabalho, e uso efetivo de capital, sejam todos alcanados.3

De acordo com esta pesquisa conclui-se que o processo de adaptao


arquitetnica dos hospitais pode ter consequncias muito depreciativas aos seus
edifcios, atravs de uma configurao espacial labirntica e desorganizada. Assim,
cr-se que est no projeto uma das chaves para evitar tais efeitos, direcionando de
forma racional as expanses, a subdiviso interna dos ambientes e a articulao
organizada da distribuio funcional.

Basicamente, o que torna complexa e difcil a adequao dos edifcios a inovaes


tecnolgicas uma estrutura confusa e cheia de pilares internos, a ausncia de
espao nos Shafts de instalaes, o espao insuficiente sobre o forro e a
distribuio de energia eltrica e das comunicaes em tubulaes fechadas (e no
em bandejas acessveis), a distribuio de gua e de esgoto em dutos embutidos
na alvenaria, a existncia mesma de paredes de alvenaria e a ausncia de
modulao mltipla no forro, nas esquadrias e nos pisos. Uma arquitetura flexvel
o oposto de tudo isso.

Para prever, direcionar e controlar melhor as transformaes arquitetnicas nestes


edifcios, de modo que elas estejam em comunho com as premissas de projeto,
algumas estratgias podem ser indicadas. Entre elas est a flexibilidade no
zoneamento funcional, locando estrategicamente os setores e os diferentes tipos de
ambientes; a ampliao do conceito de modulao, onde vrios elementos do
edifcio devem ser padronizados; o planejamento estratgico de infraestrutura,
localizando de forma racional os espaos tcnicos; e a aplicao do Plano Diretor,
para impor s transformaes algumas regras.

3
Traduo livre da autora para: The challenge to all involved in planning, construction and management of
healthcare facilities, is to anticipate, to the greatest degree, where changes are most likely to occur and to consider
"flexibility" throughout all stages of the planning, design, construction and post-occupancy phases to ensure that the
ultimate goals of client satisfaction, desirable clinical outcomes, efficient work environment, and effective use of
limited capital dollars, are all achieved. (CHRISTIE, CHEFURKA, NESDOLY)

325
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

12.3.1 Flexibilidade no zoneamento funcional

Para dar flexibilidade a projetos complexos como os de hospitais, uma das


alternativas ter critrio na distribuio funcional do edifcio. Como comenta BOING
(2003:92), a flexibilidade deve ser possvel tanto entre os compartimentos de um
determinado setor quanto entre diferentes setores de um hospital.

H reas mais e menos flexveis, caracterizadas respectivamente pelas que


utilizam tecnologias e infraestrutura menos ou mais sofisticadas. As reas cujos
equipamentos e instalaes so mais complexas, por exemplo, possuem maior
inrcia aos deslocamentos e reformas, enquanto as mais simples podem se
acomodar em diversos outros locais, na medida em que suas necessidades de
infraestrutura e espao so bem menores. So os chamados espaos duros (hard
spaces) e espaos moles (soft spaces), de acordo com as teorias de CHRISTIE,
CHEFURKA e NESDOLY:

O conceito de localizao individual de departamentos adjacentes aos


espaos moles, que podem absorver a expanso dos espaos duros,
essencial para a acomodao das contnuas necessidades do
departamento. O planejamento das mudanas pequenas e contnuas to
importante como o projeto das grandes expanses do edifcio.4

Reconhecendo estas diferenas possvel compreender que nas reas ou


unidades funcionais mais especficas, como reas de Ressonncia Magntica,
Radioterapia (Bunkers) e Tomografia, a localizao dentro da instituio muito
mais fixa, enquanto so frequentes as expanses e reformas. Devem, portanto,
serem locadas nas suas adjacncias reas menos especficas, como as
administrativas, que podem ser mais facilmente remanejadas ou deslocadas para
dar espao s acomodaes arquitetnicas das reas mais complexas.

Em reas ou departamentos, onde o crescimento futuro previsto, uma


das solues a proximidade com reas de complexidade funcional de
graus diversificados permitindo que as reas mais complexas cresam para
as reas menos complexas, que so muito mais fceis de serem
remanejadas sem grandes perdas ou perturbaes. Uma outra

4
Traduo livre da autora para: The concept of locating individual departments adjacent to soft spaces, that can
absorb the expansion of hard spaces, is essential to accommodating the ongoing needs of the department.
Planning for small and continuous change is as important as the major building expansion project. (CHRISTIE,
CHEFURKA, NESDOLY)

326
12 CONCLUSES

possibilidade de crescimento de reas mais complexas dentro do


estabelecimento destinado a sade a utilizao de jardins e ptios
internos como reserva de espao para expanso, mas h perda de
iluminao e ventilao naturais, ainda mais quando estes espaos so
ocupados sem planejamento. (MARINELLI, 2003: 98)

Isto pode ocorrer tanto dentro de uma mesma unidade funcional quanto entre
unidades diferentes. Dentro de uma rea de Ressonncia Magntica, por exemplo,
que possui salas mais simples como as administrativas e de mdicos (interpretao
de laudos), estas devem estar locadas na periferia das salas de exames e salas
tcnicas, que agregam maior complexidade e costumam alterar sua posio ou
forma em caso de reforma. Como comum a necessidade de expanso de setores
como o de RM como um todo, tambm importante manter nas suas adjacncias
reas mais flexveis tambm. Apesar das congruncias em termos de infra-
estrutura, seria desfavorvel colocar lado a lado reas como as de RM e de
Tomografia, na medida em que ambas tendem a transformar-se de forma
impactante.

As preocupaes com a possibilidade de expanso se justificam pela


necessidade de previso de crescimento de determinados setores do
hospital, de maneira que estes no fiquem limitados por outros setores ou
que tenham que crescer em detrimento de outros. (BOING, 2003:92)

Neste sentido, deve-se tomar cuidado ao agrupar as reas nos edifcios


hospitalares. reas comuns para o preparo dos pacientes, por exemplo, tem se
tornado comuns e so favorveis funcionalidade. Porm, mais delicado o
agrupamento das salas de exames, devido sua rigidez tcnica.

O compartilhamento de reas de apoio, todavia, recomendado, na medida em


que podem ser ambientes neutros ocupados de acordo com a necessidade. Nas
reas de cirurgia e internao, por exemplo, isto pode ser muito til, na medida em
que salas ou quartos podem servir a especialidades diferentes ao mesmo tempo
(cirurgia e obstetrcia, pediatria e adulto).

Ainda sobre a organizao funcional como fator importante de flexibilidade, pode-se


comentar que, por ter-se chegado concluso de que as reas de diagnstico e
tratamento (principalmente Imagenologia) so as que mais tm se expandido nas
instituies de sade, e que deve ser preconizada a sua localizao nas reas mais
trreas e horizontais dos edifcios, onde h maior potencial para expanso.

327
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

A opo por edifcios de tendncia horizontal, ou com o bloco de


diagnstico e tratamento horizontal, muitas vezes est relacionada maior
possibilidade de expanso de determinados setores do edifcio.
importante salientar que a possibilidade de expanso est sempre
vinculada s dimenses do terreno. (BOING, 2003)

Uma soluo horizontal oferece as maiores oportunidades para a criao das


adjacncias departamentais desejadas, apesar de representar desafios quanto
limitao do acesso luz natural (plantas muito grandes) e depender muito do
terreno disponvel, que est cada vez menor.

12.3.2 Ampliao do conceito de modulao

A modulao uma estratgia consagrada para facilitar as alteraes


arquitetnicas nos edifcios. Atravs da padronizao adequada dos elementos
construtivos, de vedao e acabamento, pode-se facilitar muito as reformas e
ampliaes dos edifcios. Nos hospitais isso no diferente.

Recursos como paredes leves, divisrias, estrutura com modulao, que


facilitam o arranjo interno, tm sido utilizados nos projetos atuais para
proporcionar maior flexibilidade ao edifcio e seus ambientes. (BOING,
2003)

Nos EAS h, todavia, a necessidade de ampliao deste conceito de modulao e


padronizao, que deve ser aplicado tambm tipificao de alguns de seus
ambientes. Segundo LONGHI (2001), a padronizao dos espaos com pouca
especialidade (por exemplo, consultrios e salas de atendimento), habilita-os a
funes variadas, facilitando as necessidades de ampliao.

De acordo com CARR (2008), j que as necessidades mdicas e os modos de


tratamento continuaro mudando, os hospitais devem seguir conceitos modulares.
Devem utilizar tamanhos genricos para seus ambientes o mximo possvel, ao
invs de tamanhos/dimenses especficas, bem como utilizar sistemas eltricos e
mecnicos modulares e facilmente acessveis e modificveis.

Dentre todos os elementos da construo de um hospital, a sua estrutura o mais


esttico, merecendo ateno especial da hora do projeto. Deve-se minimizar as
interferncias de pilares e vigas, aumentando o potencial de modificao interna do
edifcio. Deste modo torna-se flexvel a organizao tanto dos ambientes quanto

328
12 CONCLUSES

das instalaes prediais. Neste sentido, MARINELLI (2003:103) recomenda que a


modulao estrutural esteja defasada da modulao arquitetnica (paredes no
esto sobre as vigas), facilitando a passagem de dutos verticais embutidos nas
paredes (de um pavimento para o outro no haver vigas obstruindo o caminho).

Em decorrncia da Arquitetura-Manuteno Preditiva a modulao


estrutural passa a ser obrigatoriamente projetada, defasada da modulao
arquitetnica, de tal forma a permitir a passagem de dutos e prumadas
verticais, que vierem a se fazer necessrias pela Manuteno Operacional,
para a instalao presente e futura de dutos (gua, esgoto, ventilao,
eletricidade e outros). (KARMAN et al, 1995: 17-18)

tambm indicado o uso de materiais industrializados prefervel ao uso de


materiais produzidos no canteiro de obras5, pois as tecnologias limpas diminuem
a produo de rudo e sujeira durante as reformas, tornando-as mais rpidas e
menos prejudiciais ao funcionamento das atividades de assistncia mdica.

Um exemplo de modulao e padronizao generalizadas foi encontrado nos


hospitais da Rede Sarah do arquiteto Joo Filgueiras Lima (Lel). J prevendo que
um hospital tende a transformar-se e expandir-se, Lel projetou edifcios onde a
modulao estrutural teve a funo simultnea de dar flexibilidade e controlar as
futuras ampliaes e reformas dos mesmos. A padronizao de todos os elementos
construtivos, vedaes e mobilirio, permitiu reformas mais rpidas e controladas,
onde a presena dos mdulos foi sempre respeitada. Com isso foi minimizado o
nmero de puxadinhos, pois as modificaes arquitetnicas tinham que encaixar-
se nas dimenses previamente estabelecidas pelas diferentes instncias da
modulao: estrutura, piso, forro, paredes, espaos tcnicos, etc.

12.3.3 Planejamento estratgico de espaos tcnicos

Esta pesquisa tambm permitiu chegar concluso de que os espaos tcnicos de


infraestrutura so importantes norteadores nas reformas e expanses dos edifcios
hospitalares. A sua estruturao e articulao com os ambientes que alimenta
podem ser peas chave para a maior ou menor flexibilidade arquitetnica.

5
SCHMIDT,2003:162.

329
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Pela necessidade de manuteno, o planejamento estratgico tanto dos espaos


tcnicos quanto dos seus locais de visitao deve ser realizado junto ao
zoneamento funcional da instituio. Nos casos estudados do Hospital Albert
Einstein e do Hospital Sarah de Braslia, por exemplo, notou-se eficiente a
sobreposio entre os caminhos das instalaes (pelo forro e pelos Shafts) e as
reas de circulao horizontal. Ao mesmo tempo em que foi proporcionada
flexibilidade s instalaes, garantiu-se que a configurao das vias de
comunicao dos edifcios fosse mantida, preservando tambm parte da
organizao formal do conjunto arquitetnico. Estes elementos de engenharia so
o sistema circulatrio de um edifcio. (CHRISTIE, CHEFURKA, NESDOLY6)

Outra estratgia muito disseminada em relao aos espaos tcnicos a presena


dos pavimentos tcnicos em locais estratgicos. Estes proporcionam muita
flexibilidade aos edifcios, devendo estar posicionados em reas onde haja maior
necessidade de infraestrutura.

Uma experincia positiva neste sentido foi encontrada no Hospital noruegus


Rikshospitalet (The National Hospital), onde o arquiteto Tony Monk projetou um
andar tcnico para cada dois andares, recurso que deu rapidez s mudanas de
equipamento nas salas. Onde o andar tcnico for desnecessrio, o espao
aproveitado para abrigar escritrios e laboratrios. (HORTA, 2005)

12.3.4 Plano Diretor

O Plano Diretor, segundo o arquiteto Arthur Brito, um documento vivo


(constantemente revisitado e adaptado) que alinha o Planejamento Estratgico da
Instituio com sua estrutura fsica, alinha investimentos, estabelece indicativos
para acompanhamento do crescimento da instituio e disciplina o processo de
tomada de decises.

Se realmente revisado e adaptado com frequncia, o Plano Diretor pode ser uma
ferramenta muito til para o desenvolvimento das transformaes arquitetnicas.
Como numa cidade, so necessrias regras para o crescimento de um hospital,
afim de que no se crie o caos entre as relaes funcionais e formais do edifcio.

6
Disponvelem<http://muhc-healing.mcgill.ca/english/Speakers/chefurka_p.html>

330
12 CONCLUSES

De acordo com MENDES (2006), o plano diretor deve ser lgico e dinmico,
alinhado s necessidades da instituio e com ferramentas de deciso e de
atualizao que possibilitem a sua manuteno, j que se no for flexvel,
abandonado e no sobrevive s intempries.

O Plano Diretor Hospitalar (PDH) tem como objetivo traar as diretrizes de


expanso do EAS, tanto no que se refere aos aspectos fsicos, como em
relao aos aspectos programticos e de infraestrutura. Sua elaborao
deve ser exigida no caso de unidades j existentes e tambm no projeto de
novos EAS. Tem como produto final um conjunto de diretrizes de
desenvolvimento envolvendo o programa hospitalar, as edificaes, a infra-
estrutura, os equipamentos e a programao dos investimentos. (...) Assim,
pode-se considerar que a elaborao do PDH fundamental para permitir
que unidades hospitalares de elevada complexidade e alto custo de
implantao possam ser construdas, equipadas e postas em
funcionamento em etapas, o que, muitas vezes, a nica forma de
viabilizar sua implantao. (TOLEDO, 2002:82)

No Brasil a utilizao de planos diretores surgiu entre as dcadas de 1970 e 1980.


Na Japo, no Canad e na Sua, experincias positivas com a sua utilizao
ocorreram no Chiba Cancer Centre, no McMaster Health Centre e no Insel
University Hospital, respectivamente. Nestes exemplos o Plano Diretor foi
conduzido efetivamente por mais de 30 anos, segundo NAGASAWA (2007).

Considerando as drsticas mudanas nos servios de assistncia sade,


no desenvolvimento das tecnologias mdicas, nos avanos da construo e
da engenharia e especialmente na tecnologia da informao, 30 anos de
eficcia sustentvel consideravelmente excepcional. (NAGASAWA,
2007)7

De acordo com NAGASAWA (2007), o sucesso de um Plano Diretor depende da


compreenso das idias arquitetnicas por parte do cliente e da vontade das
autoridades do hospital em honrar a viso original do arquiteto. Ainda, planos

7
Traduo livre da autora para: Considering drastic changes in healthcare service delivery systems, medical
technology developments, advances in construction and engineering technology and especially in information
technology, 30 years of sustainable effectiveness is quite remarkable. (NAGASAWA, 2007)

331
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

diretores precisam ter pessoas chave ou times de pessoas que esto presentes e
dando suporte durante todo o processo8.

12.4 SOBRE A PRESENA DO ARQUITETO NO HOSPITAL

Como no comentrio de NAGASAWA (2007) colocado acima, a presena do


arquiteto durante o processo de desenvolvimento arquitetnico do hospital aps a
construo muito importante. Ao prever as transformaes do edifcio, conclui-se
que ele deve conduzi-las para que as estratgias de projeto sejam mais bem
executadas e no sejam esquecidas no meio do caminho.

Durante esta pesquisa, o melhor exemplo disso foi encontrado nas unidades da
Rede Sarah, nas quais o arquiteto Lel est sempre presente, antes como arquiteto
interno da instituio Sarah e hoje como consultor de outros arquitetos da Rede.

A arquitetura um processo, desde o momento em que se discute o


programa. E depois esse processo, para mim, no termina nunca. Continua
depois que o edifcio ocupado. (...) O mais importante que eu acho que
temos que fazer investigar os nossos erros. Investigar para corrigir. Se
voc no tiver um feedback, se no tiver a arquitetura como um processo,
parece que voc esqueceu uma coisa que foi feita l e que no tem mais
nada com isso, explica Lel, quando entrevistado por ANTUNES (2008:68).

KOTAKA (1992) ainda salienta que, uma vez concluda a construo e em


funcionamento, o hospital deve dispor de equipe bsica que participe
continuamente de todo o processo de seu planejamento e desenvolvimento. Tal
equipe poder ser prpria ou no da instituio, desde que assessore a direo a
ser tomada quanto aos aspectos fsicos do hospital.

A equipe de trabalho que atua nas transformaes arquitetnicas de um hospital


deve ser multidisciplinar, haja vista a quantidade de disciplinas do conhecimento

8
Traduo livre da autora para: Its (master plan) success depends on the clients understanding of architectural
ideas and the willingness of successive hospital authorities to honour the architects original vision. Thus, master
plans need to have key individuals or teams of people that are present and supportive throughout the entire
process. (NAGASAWA, 2007)

332
12 CONCLUSES

envolvidas no seu planejamento (arquitetura, engenharia mecnica, engenharia de


manuteno, engenharia clnica, medicina, enfermagem, etc.). O arquiteto, por sua
vez, o coordenador desta equipe na elaborao dos projetos e no
acompanhamento das obras, na medida em que o nico com formao capaz de
visualizar a interao entre todas as reas envolvidas.

O arquiteto sempre um generalista que tem de entender situaes diferentes. (...)


O trabalho em equipe, quando se tm diferentes tcnicas em curso, fundamental.
O arquiteto, daqui para diante, assim como os mdicos, como todos, no vai poder
trabalhar (solitrio), explica Lel, quando entrevistado por ANTUNES (2008).

Neste sentido, GOMEZ (2002) comenta que preciso formar profissionais que
entendam o momento histrico que estamos vivendo, pois uma nova arquitetura se
faz urgente nos hospitais. notvel que a tendncia seja diminuir o ritmo de
construes fsicas hospitalares e aumentar a manuteno nas existentes. E para
que isso ocorra, preciso entender o cenrio que se apresenta, diz Gomez,
completando que quem estiver preparado para essa nova realidade, saber se
manter atuando em projetos desta natureza.

necessrio que o arquiteto busque o conhecimento generalista no foco


hospital, ou seja, deve-se construir um conhecimento diversificado e amplo
sobre o tema. Alm disso, importante que o profissional abra mo de seus
preconceitos e tenha percepo sensorial para que as informaes
cheguem at ele, de maneira que possa tambm compreender o
comportamento no ambiente de trabalho, de clientes e demais agentes
envolvidos. (MENDES, 2006)

Os arquitetos devem inteirar-se mais, mesmo que superficialmente, sobre as


variveis tcnicas que envolvem as edificaes, especialmente nos seus
bastidores. Assim ser mais fcil e favorvel a comunicao entre a arquitetura e
a sua fora motriz.

Outra questo mencionada como importante no acompanhamento das obras em


um hospital a necessidade de atualizao dos desenhos do edifcio, incluindo o
as-built das suas instalaes. A falta de informaes verdadeiras atrasa e dificulta
as obras de adaptao arquitetnica, como explica LAMHA NETO (2008):

Ns j enfrentamos problemas graves numa obra, simplesmente porque a


empresa que executou a estrutura no se ateve ao projeto: uma laje foi
executada sem a previso para o embutimento das instalaes. Esse tipo
de erro no pode acontecer. fundamental que haja planejamento da obra.

333
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

O construtor deve ter a conscincia de que todos os documentos do projeto


precisam ser examinados. O projeto precisa ser compreendido como um
todo, os arquivos da obra precisam estar em ordem. (LAMHA NETO, 2008)

12.5 SOBRE A NECESSIDADE DE FUTURAS PESQUISAS

A pesquisa aqui realizada deixa tambm uma srie de outras questes a serem
investigadas futuramente.

As transformaes arquitetnicas, em maior ou menor quantidade e complexidade,


ocorrem em todos os tipos de edifcios, e devem receber mais ateno dos
arquitetos.

No se pode prever o futuro, mas pode-se tirar concluses a partir da compreenso


do caminho percorrido na formao de certos cenrios. Este caminho deve ser mais
extensivamente estudado e analisado em edifcios existentes, atravs da Avaliao
Ps Ocupao (APO) e de outros tipos de apreciao como as aqui apresentadas,
que tm ainda muito a contribuir como ferramenta de projeto.

Como pde ser visto nesta dissertao, intenso o processo de avano da cincia
e da tecnologia, que interfere muito em grande parte das atividades presentes na
sociedade contempornea. Assim, estes avanos devem ser cada vez mais
reconhecidos e compreendidos como condicionantes de projeto, pois interferem
muito no ambiente construdo. Nesta direo, os novos meios de comunicao
virtual so objetos a serem observados nos diversos campos que se aplicam,
prevendo seus desdobramentos na arquitetura.

No caso dos hospitais e dos Estabelecimentos de Assistncia Sade em geral, a


complexidade e a necessidade de flexibilidade levam ao estudo de outras variveis
alm da tecnolgica. Devem ser investigadas com maior profundidade, por
exemplo, as interferncias dos avanos na legislao, a qual tambm se
aperfeioou muito nos ltimos 25 anos e tem sido limitadora da atuao dos
arquitetos. Alm disso, importante aprofundar o conhecimento sobre outros
processos e especificidades funcionais que possam interferir no desenvolvimento
arquitetnico dos hospitais existentes, bem como servir de base para projetos de
novas edificaes.

334
12 CONCLUSES

Por tudo que foi exposto nesta pesquisa, cr-se ainda na necessidade de valorizar
mais o papel do arquiteto junto aos edifcios hospitalares, disseminando a
importncia da sua atuao como detentor de poder de deciso em relao s
transformaes arquitetnicas dos edifcios em geral.

335
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

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354
14
ANEXOS
14 ANEXOS

14 ANEXOS

14.1 ANEXO 1

14.1.1 Programa Hill Burton

Os Estados Unidos lanaram em 1946 o programa Hill-Burton, cujo objetivo era


financiar e incentivar a construo de hospitais em reas carentes. Para isto, uma
diviso de planejamento do servio de Sade Pblica do pas iniciou um processo
de cadastramento da rede se sade americana, o qual culminou no
desenvolvimento de uma srie de prottipos de hospitais para 25, 50, 100 e 200
leitos. Foi o incio de um perodo fortemente voltado estandardizao na
construo, influenciado pelo proeminente movimento moderno.

Como prova da expanso internacional do programa Hill-Burton, em 1950 foram


aplicadas as recomendaes do Servio de Sade Pblica dos Estados Unidos no
projeto do Hospital Memorial Frana-Estados Unidos, localizado em Saint L
(Frana).

Figura 14.01: Hospital Memorial Frana-Estados Unidos, Saint-L, 1955. (a) planta; (b) perspectiva.
Fonte: MIQUELIN, 1992.

Com a premissa filosfica de diminuir os tempos de hospitalizao dos pacientes


atravs de uma maior eficcia da sua equipe mdica e dos seus meios de
diagnstico e tratamento, este projeto inaugurou a linhagem funcionalista dos
hospitais. Tornou-se referncia ao marcar o surgimento de uma nova tipologia, que
chamada de mista ao combinar o monobloco vertical apoiado sobre um bloco
horizontal. Na torre est o Bloco Cirrgico (ltimo andar) e oito pavimentos de

357
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

internao, e no bloco horizontal esto os servios de apoio logstico e de


diagnstico2.

No Brasil, muitos dos hospitais construdos entre as dcadas de 1940 e 1960,


seguiram esta tipologia. Ela se tornou dominante no trao modernista de arquitetos
como Rino Levi e Roberto Cerqueira Cesar, Oscar Niemeyer e Helio Ucha, Ari
Garcia Rosa, Jorge Moreira e Aldary Toledo, Oscar Waldetaro e Roberto Nadalutti.
(TOLEDO, 2002)

2
MIQUELIN,1992

358
14 ANEXOS

14.2 ANEXO 2

14.2.1 Tentativas de estandardizao do planejamento arquitetnico de


edifcios hospitalares na Gr-Bretanha do ps-guerra

Segundo MIQUELIN (1992) na Gr-Bretanha do ps Segunda Guerra a aplicao


do Welfare State (modelo ideal no qual o Estado assume a responsabilidade
sobre o bem-estar dos seus cidados) como ideologia de recuperao estimulou a
criao em 1948 do Servio Nacional de Sade da Gr-Bretanha. Este, que herdou
vrios hospitais construdos durante as guerras (mais de 500.000 leitos de 2.800
instituies), optou por cadastrar todos os hospitais existentes e a partir disto
implantar Hospitais Gerais Distritais (District General Hospitals) com recursos e
concentrao de especialidades para atendimento de raios populacionais
relativamente definidos.

At 1955 o volume escasso de recursos para reconstruo da Gr-Bretanha era


canalizado para as reas de ensino e habitao. Somente a partir deste ano que
estes recursos comearam a fluir com mais facilidade para a construo de
hospitais de grande porte. Neste mesmo ano foi criado um time multidisciplinar de
profissionais da rea da sade (mdicos, enfermeiras, tcnicos dos departamentos
logsticos e gerenciais, engenheiros e arquitetos) no intuito de empreender uma
vasta pesquisa sobre os processos e as condies de trabalho nos hospitais, e as
implicaes sobre o design dos edifcios. Esta pesquisa, que incluiu a observao
de hospitais na Europa e Estados Unidos, obteve como resultado a elaborao do
Nuffield Provincial Hospitals Trust (Relatrio Nuffield).

As concluses do Relatrio Nuffield foram desde recomendaes especficas sobre


cada departamento hospitalar at aferies relacionadas morfologia dos seus
edifcios, apontando, por exemplo, limitaes nos blocos verticais com elevadores
centrais utilizados nos Estados Unidos e na Sucia, sendo que as unidades
hospitalares com esta tipologia tinham pouco ou nenhum espao para expanso e
mudanas, alm de forte dependncia de iluminao e ventilao artificiais. O
Relatrio priorizou em suas recomendaes a capacidade de expanso do edifcio
da sade, enfatizando o uso do Plano Diretor (Master Plan) como ferramenta para
prever as fases da construo e os vetores de futuro crescimento dos hospitais.
Estes eram colocados no relatrio como um conjunto de zonas que deveriam
organizar-se horizontalmente (apenas um pavimento) e aproveitar ao mximo a
ventilao e a iluminao naturais, utilizando a tipologia mista no caso de terrenos

359
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

mais reduzidos (bloco horizontal com internao e bloco vertical com servios
mdicos e apoio logstico). O Relatrio Nuffield representou, segundo MIQUELIN
(1992), um dos momentos mais importantes do processo de reviso crtica das
morfologias verticais que vinham sendo construdas na Amrica do Norte desde
1920 (existem dois exemplos que cristalizam os conceitos desta fase: Otawa Civic
Hospital, Canad, e Good Samaritan Hospital, EUA).

Em 1961 o Ministrio de Sade Britnico (transformado em 1968 no DHSS


Department of Health & Social Security) publicou um conjunto de trs building
notes (notas sobre edifcios) preparatrio para um programa de construo de dez
anos no pas. Junto com estas notes o Ministrio construiu tambm um conjunto de
normas e orientaes relacionadas segurana predial, ventilao mecnica,
custos, estudos de trfegos interdepartamentais e polticas de gerenciamento de
materiais. As duas primeiras building notes eram relacionadas ao contedo
programtico (avaliao do cenrio existente e identificao das necessidades) e a
estimativas de custos para cada unidade funcional dos edifcios, sendo a terceira
note relacionada s interrelaes entre estas unidades e ao planejamento do
crescimento futuro do Hospital. As unidades funcionais bsicas definidas foram
internao, bloco operatrio + servios de diagnstico / tratamento e servios de
apoio, indicando que as reas de ambulatrio e servios de diagnstico seriam as
mais suscetveis a expanso, teoria vlida ainda hoje.

A partir da publicao das building notes em 1962 cada regio da Gr-Bretanha foi
convocada a preparar um programa de renovao, reforma e construo de novos
hospitais, programa este que foi incorporado no que ficou conhecido como Hospital
Plan for England and Wales (Plano Hospitalar para a Inglaterra e Pas de Gales) e
um plano similar para a Esccia. O plano, inicialmente muito ambicioso
(investimentos da ordem de 750 milhes de libras esterlinas de 1962 a 1975), foi
revisado e antecipou a necessidade de maior rigidez no controle de custos,
mantendo, entretanto, a sua rota inicial de estabelecer uma rede de Hospitais
Gerais Distritais.

Durante o perodo que vai da criao do Sistema Nacional de Sade da Gr-


Bretanha at o incio dos anos 1980, h quatro projetos no pas que, segundo
MIQUELIN (1992), certamente tiveram grande repercusso e influncia sobre os
conceitos contemporneos de desenho arquitetnico na rea da sade: Northwick
Park Hospital (1960), Greenwich Hospital (1966), Best Buy Hospitals (1967) e

360
14 ANEXOS

Nucleus Hospital Programme (1974), sendo que os dois ltimos so na realidade


programas que produziram vrios projetos estandardizados de hospitais.

14.2.1.1 Northwick Park Hospital

O Northwick Park Hospital aborda a temtica de crescimento e mudana dos


hospitais, sendo um verdadeiro marco da arquitetura da sade segundo MIQUELIN
(1992). Foi projetado para Londres no incio da dcada de 1960 pelos arquitetos
Llewelyn Davies e John Weeks, que participaram das pesquisas do Relatrio
Nuffield durante os anos 50.

Figura 14.02: Northwick Park Hospital (Implantao).


Fonte: MIQUELIN, 1992:67.

Neste projeto a fundamentao conceitual veio com os resultados do Relatrio e


com a analogia do planejamento hospitalar ao planejamento urbano, na medida em
que os autores organizaram as partes do edifcio a partir de uma rua hospitalar,
onde fez-se aluso ao sistema virio como o componente menos mutvel do
desenho urbano e tambm os edifcios. Como objetos de referncia arquitetnica
ao desenvolvimento do projeto tambm foram utilizados um Hospital Militar pr-
fabricado de 1855 (projetado pelo Engenheiro I. K. Brunel) e o Hospital St. Albans
de 1940, cujo conceito tambm se baseia numa rua hospitalar orientando o layout
geral da edificao. St. Albans foi tambm um exemplo muito interessante na
tentativa de planejar as expanses futuras da instituio (Vetores de expanso),

361
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

estando entre as caractersticas bsicas do projeto a forte diviso funcional, que


aparente na configurao formal da instituio.

O Northwick Park Hospital tambm formado por um conjunto de volumes distintos


edifcios departamentais que se espalham pelo terreno e so conectados
atravs da rua de circulao, a qual por sua vez se divide em trs nveis funcionais:
pacientes, funcionrios e visitantes circulam no nvel superior, suprimentos e
materiais no nvel intermedirio e instalaes no nvel inferior.

Figura 14.03: Northwick Park Hospital.


Fonte: www.btinternet.com/~c.tomlinson/nph.jpg

Outra caracterstica importante deste hospital a de que ele foi projetado para
permitir a expanso individualizada de cada um dos seus edifcios departamentais,
repetindo o conceito de Vetores de expanso utilizado no Hospital St. Albans.

A racionalizao da construo esteve


sempre presente como princpio no
planejamento arquitetnico dos hospitais
desta poca, e por isso este hospital,
bem como a maioria dos seus
contemporneos, admitiu como fator
determinante de seu projeto a modulao
e a pr-fabricao de seus elementos
construtivos. O Northwick Park Hospital

Figura 14.04: Hospital St. Albans e seus adotou um sistema construtivo misto
Vetores de expanso.
(concreto armado fundido no local e
Fonte: MIQUELIN, 1992:67.

elementos estruturais pr-moldados) baseado numa malha modular de 6.88m, com


vedaes planejadas em mdulos de 0.86m.

362
14 ANEXOS

Segundo MIQUELIN (1992), as vantagens do projeto deste hospital foram:

A flexibilidade possibilitada pelo sistema de ruas hospitalares ao distribuir os


edifcios departamentais e assim permitir serem neles realizadas reformas,
ampliaes e at demolies sem atrapalhar o funcionamento de outras
reas;
A rapidez do projeto, na medida que a independncia dos edifcios permitiu
o desenvolvimento dos projetos por diferentes equipes simultaneamente.

As suas desvantagens foram:

As distncias muito longas entre as partes do hospital3;


A exigncia de um terreno muito extenso.

14.2.1.2 Greenwich Hospital

O Greenwich Hospital foi o primeiro grande projeto do Ministrio da Sade britnico


em um terreno de rea restrita em uma zona densamente urbanizada.
Desenvolvido para Londres na segunda metade da dcada de 1960, o Greenwich
foi um Hospital Distrital e a sua construo foi inserida em um contexto de
vertiginosa acelerao do uso de servios de diagnstico e tratamento (tecnologias
cada vez mais dependentes das instalaes hidrulica, ar condicionado, gases,
etc), bem como de necessidade impretervel de flexibilidade nos edifcios da sade,
ao passo que se tornavam cada vez mais frequentes as transformaes do seu
perfil e da prpria cincia mdica.

O projeto para o Greenwich Hospital foi de autoria dos arquitetos Howard Goodman
e W. Tatoon Brown, sendo adotado o partido de um edifcio vertical compacto com
quatro pavimentos (incluindo subsolo) cujo percentual maior era dependente de
iluminao e ventilao artificiais. O projeto foi tambm uma experincia realizada
pelo Ministrio da Sade visando avaliar o efeito deste layout na eficincia da
edificao, haja vista terem sido foram previstos para a mesma custos mais baixos.

3
Os autores defenderam-se desta crtica ao dizerem que as distncias so longas somente entre
departamentos com pouca relao entre si, sendo que as relaes existentes no exigem rapidez na
comunicao. (MIQUELIN, 1992 pg. 69)

363
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

Um dos aspectos mais caractersticos de Greenwich a utilizao de pavimentos


tcnicos e a descentralizao de alguns servios dentro do prdio (refeitrios, por
exemplo) para diminuir as distncias verticais e priorizar as horizontais. Pela sua
configurao compacta, porm, este projeto no permitiu nenhum grau de
estandardizao, o que passou a ser o principal objetivo da DHSS (rgo sucessor
do Ministrio da Sade Britnico) desde ento.

LEGENDA:

a- Arquivos
b- Vestirios
c- Ateliers
d- Almoxarifado
e- Caldeiras
f- Creche
g- Estacionamento
h- Ar Condicionado
1. Consultas
2. Pr-Parto
3 e 4. Atendimento dia
5. Radiologia
6. Geriatria
8. Psiquiatria
9. Reeducao
10. Urgncias
11. Dispensrio
12. Cozinha
13. Ginecologia
14. Cirurgia
15. Ortopedia
16. Partos
17. Bloco Operatrio
Figura 14.05: Greenwich Hospital Plantas com 18. Reanimao
zoneamento funcional. 19. Administrao
Fonte: MIQUELIN, 1992:70. 20. Clnica
21. Pediatria
22. Isolamento
23. Ensino
24. Laboratrio de Patologia

Figura 14.07: Greenwich Hospital Elevao.


Figura 14.06: Greenwich Hospital Fonte: MIQUELIN, 1992:69.
Volumetria.
Fonte: MIQUELIN, 1992:70.

364
14 ANEXOS

O Greenwich Hospital fechou suas portas em 2001 e foi demolido em 2006 devido a
razes desconhecidas pela autora deste trabalho.4

A partir desta ideologia o DHSS desenvolveu o programa Best Buy (melhor


compra), que enfatizava edifcios baixos e compactos e foi reforado pela
necessidade de economia deflagrada atravs da crise do petrleo em 1974.

14.2.1.3 Hospitais Best Buy

O Programa Best Buy foi concebido em 1967 a partir de dois hospitais prottipos
um na cidade de Bury St. Edmunds e outro na cidade de Frimley (Frimley Park
Hospital) que foram orados pela metade dos custos normais da poca. Dentro
de um cenrio econmico recessivo, este programa explorou a economia de tempo,
dinheiro e espao atravs de uma possvel reduo do nmero de leitos e
integrao com as unidades ambulatoriais j existentes na comunidade. O projeto
baseou-se em edifcios compactos e baixos (dois pavimentos) mantendo
sobrepujantes as comunicaes horizontais. Como em Greenwich, a rea de
internao foi colocada na parte mais perifrica do pavimento superior do prdio,
havendo um anel de circulao principal separando esta regio de zonas internas
densamente servidas por instalaes (Bloco Operatrio e Obsttrico, UTIs e reas
centralizadas de tratamento) e com pequenos ptios para iluminao e ventilao
naturais. Neste programa tambm surgiram os servios de apoio externos
(atendimento ambulatorial, lavanderia, esterilizao, farmcia, reas de
processamento e armazenamento de materiais e cozinha alimentos pr-
processados5), cuja utilizao se tornou recorrente em vrios hospitais nas dcadas
seguintes.

Segundo MIQUELIN (1992), as principais desvantagens dos dois projetos citados


acima foram a reduo excessiva das reas dos compartimentos (muitas vezes
contrariando as recomendaes da DHSS), o custo elevado de manuteno e a
falta de flexibilidade das edificaes, sendo que todas as unidades que tm maior
presso para expanso esto enclausuradas no interior das mesmas. A economia

4
www.derelictlondon.com/id747.htm
5
Em Bury St. Edmunds os alimentos pr-processados nunca chegaram a ser utilizados, tornando a
cozinha inadequada. (MIQUELIN, 1992: 72)

365
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

na construo dos dois hospitais foi de 35% em relao a casos no


estandardizados, e foi constatado pelo DHSS que em Bury St. Edmunds o
desempenho foi melhor inicialmente, principalmente devido existncia de uma
infraestrutura razovel de servios comunitrios e falta de hospitais na regio,
enquanto em Frimley a populao crescia rapidamente e demandava cada vez
mais espao.

East Anglia foi a nica regio a tirar vantagens do investimento inicial e voltou a
utilizar o Projeto Best Buy no final dos anos 1970, sendo que verses modificadas
dos projetos originais foram construdas em Kings Lynn, Grat Yarmouth e
Huntingdon.

Como alternativa ao Programa Best Buy experimentado em East Anglia, a regio de


Oxford procurava sua prpria forma de estandardizao, tomando uma direo
bastante divergente. O mtodo l desenvolvido foi um sistema construtivo composto
por uma srie de partes do edifcio que se articulam entre si e com elementos
estruturais e de instalaes a partir de uma grelha modular padro. No incio da
dcada de 1980 o sistema foi computadorizado e, apesar de com isto possibilitar a
produo rpida de desenhos preliminares e layouts para discusso (acelerao do
processo de tomada de decises), possua uma escala de produo muito pequena
para justificar a construo pr-fabricada. Por isso nenhuma outra regio da Gr-
Bretanha seguiu o exemplo de Oxford. No incio da dcada de 1970 o DHSS
retomou o conceito das ruas hospitalares, inserindo-o agora num contexto de
planejamento estandardizado.

Neste perodo, frente s tentativas fragmentadas de padronizao do planejamento


hospitalar na Gr-Bretanha, o DHSS decidiu assumir a coordenao destas aes,
padronizando dimenses e o arcabouo de polticas operacionais para todas as
regies da Inglaterra e Pas de Gales. O programa foi denominado Harness e,
devido a crise do petrleo em 1974, foi abortado aps ser aplicado em alguns
hospitais (Unidade Geritrica no Southlands Hospital e Hospitais Gerais Distritais
em Stafford e Dudley), exercendo todavia forte influncia no planejamento do
Programa Nucleus, que incorporou seus conceitos e utilizado at hoje na Gr-
Bretanha.

Sob este controle as investigaes passaram a tratar conjuntamente os


departamentos de um hospital completo, compondo-o a partir de uma rede de

366
14 ANEXOS

comunicaes e servios, podendo, segundo MIQUELIN (1992), comparar o


sistema a um Lego.

Cada departamento, por sua vez, foi estandardizado em vrios tamanhos de forma
a permitir a escolha do modelo e contedo mais adequados para o local. Sendo

informatizado, este sistema oferece


um pacote completo de dados
sobre cada departamento, os quais
abrangem polticas operacionais,
listagens de compartimentos,
planilhas detalhadas de cada
compartimento, etc.

Figura 14.08: Programa Harness.


Fonte: MIQUELIN, 1992:74.

14.2.1.4 Programa Nucleus

O Programa Nucleus , segundo MIQUELIN (1992), uma das experincias mais


abrangentes de estandardizao projetual na rea da sade desde os anos 1940.
Desde o incio do programa em 1974 j foram completados mais de 20 hospitais, 50
obras esto em andamento e h mais de 40 projetos em andamento6.

Sendo uma sntese de todo o processo de estandardizao que vinha sendo


pesquisado desde o final da Segunda Guerra pelo Ministrio de Sade Britnico, o
Nucleus um programa que trouxe facilidade construtiva, garantia de aprovao
em todos os nveis burocrticos britnicos e otimizao do processo projetual, na
medida em que possibilitou gastar mais tempo nas solues formais e de
detalhamento das edificaes hospitalares atravs da reduo do tempo dedicado
discusso de layout e ao projeto executivo.

A crise do petrleo em 1974 intensificou ainda mais a busca por custos menores na
construo, o que findou abruptamente a expectativa de espaos mais generosos
na construo de novos hospitais ou nas suas ampliaes e recuperaes. Neste

6
Esta informao consta em um texto de 1992, devendo estar alterada. MIQUELIN (1992), pg. 75.

367
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

contexto Nucleus foi concebido como um programa que oferece um planejamento a


partir de um catlogo de departamentos estandardizados no tocante ao layout,
contedo e polticas operacionais. Cada opo de departamento pode ser utilizada
tanto para a ampliao de edifcios existentes como para a construo de novas
instituies, funcionando como um quebra-cabea onde as peas (mdulos
funcionais) se encaixam e deixam sempre uma extremidade pronta para receber
mais uma pea.

LEGENDA:

a. Ambulatrio
b. Laboratrio
c. Pronturio
d. Emergncia
e. Ortopedia
f. Administrao
g. Aulas
h. Radioogia
i. Hospital-dia
j. Terapia Intensiva
k. Tratamento
l. Centro Cirrgico (4
salas)
m. Internao (28
leitos)

Figura 14.09: Programa Nucleus.


Fonte: MIQUELIN, 1992:74.

Ao avaliar o Programa Nucleus 15 anos aps a sua implantao, o MARU (Medical


Architecture Research Unit, da Politcnica do Norte de Londres) identificou oito
problemas principais nos hospitais, entre eles a falta de espao para depsito, a
falta de flexibilidade s polticas operacionais e s necessidades locais de cada
hospital, o subdimensionamento das reas usadas por funcionrios e a abordagem
segmentada do planejamento.

368
14 ANEXOS

Figura 14.10: Programa Nucleus (rua hospitalar


Figura 14.11: Programa Nucleus (rua
organizando os mdulos funcionais).
hospitalar organizando os mdulos
Fonte: MIQUELIN, 1992:75.
funcionais).
Fonte: MIQUELIN, 1992:75.

Na anlise de cada bloco funcional os aspectos negativos encontrados superaram


os positivos e, por isso, foram realizadas algumas modificaes no sistema. Assim,
em um Nucleus reciclado e quase 20% maior, a rua hospitalar foi alargada, os
blocos adicionais (entre a rua e os departamentos) aumentaram a rea dos blocos
cruciformes e vrios outros departamentos (no includos no programa original)
foram padronizados.

Estas modificaes do Programa, aliadas s suas qualidades originais, tm


realimentado e consolidado ao longo dos anos, atribuindo a ele muita credibilidade
na Gr-Bretanha e em vrios outros pases.

Como no Programa Best Buy, a primeira fase de construo de um Hospital


Nucleus conta com a colaborao de servios j existentes na comunidade. Do
programa Harness, Nucleus herdou o bloco cruciforme padro de 1.008m por
pavimento mximo de trs pavimentos e a rua hospitalar como elemento
estruturador dos mesmos.

369
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

14.3 ANEXO 3

14.3.1 Tentativas de estandardizao do planejamento arquitetnico de


edifcios hospitalares no Brasil

No Brasil, diferentemente dos pases europeus, no houve grandes destruies por


causa das guerras e, portanto, a avidez pela construo em grande escala foi
motivada pelo dficit scioeconmico e pela disseminao dos princpios do
Movimento Moderno, que foram absorvidos intensamente como caractersticas
sobrepujantes nos projetos desde os anos 1940.

Alm dos projetos da Rede Sarah, existiram no Brasil outras experincias na


tentativa de estandardizao de projetos de hospitais, como aquelas desenvolvidas
ao longo da dcada de 1980 e do incio da dcada de 1990. Foram programas
elaborados por arquitetos muito presentes na pesquisa sobre edifcios hospitalares,
como Jarbas Karman, Joo Carlos Bross, Siegbert Zanettini e, mais recentemente,
Lauro C. Miquelin. Esto colocados a seguir alguns exemplos desta padronizao
do desenho de hospitais no Brasil.

14.3.1.1 Centro de Sade e Hospital Linha de Frente

O Centro de Sade e Hospital Linha de Frente foi uma proposta apresentada pelo
arquiteto Jarbas Karman em 1980 Revista Projeto, para a criao do prottipo de
uma instituio de sade. Esta partiria da prestao de atendimento ambulatorial e
cresceria at tornar-se um hospital geral de 100 leitos. O Plano Diretor que
direcionou o projeto definiu um modelo de expanso composto de mdulos de
aproximadamente 200m cada, chegando a 4.000m (20 mdulos) na etapa final.
(MIQUELIN, 1992)

370
14 ANEXOS

Mdulo Posto de Sade Mdulo 10 leitos

Mdulo 20 leitos Mdulo 30 leitos

Mdulo 60 leitos Mdulo 100 leitos

Figura 14.12: Centro de Sade e Hospital Linha de Frente


100 leitos, 4.000m, 1980, Brasil. Arquiteto Jarbas Karman
Fonte: MIQUELIN, 1992, pg. 93.

14.3.1.2 Hospital Pr-fabricado Consrcio BDSL, Siemens, Servlease

O Hospital Pr-fabricado Consrcio BDSL, Siemens, Servlease , segundo


MIQUELIN (1992), foi mais um exemplo na busca pela estandardizao dos
componentes construtivos e dos layouts departamentais. O hospital era composto
de construes trreas, com trs larguras diferentes e articuladas atravs de um
sistema de ruas internas. Estas, assim como na experincia britnica,
apresentavam-se setorizadas de acordo com determinado tipo de fluxo.
Internamente as vedaes utilizadas so divisrias padronizadas em 1,20m de
largura por 2,50m de altura e 4 cm de espessura.

371
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

A Internao
H Unidade de Terapia Intensiva
B Ambulatrio
I Servios de apoio logstico
C Emergncia
J Internao, Maternidade, Berrio
D Administrao
K Internao Pediatria
E Radiologia, Laboratrio e Apoio
L Internao de clnica mdica
F Queimados
M Internao de clnica cirrgica
G Bloco Operatrio

Figura 14.13: Hospital Pr-fabricado Consrcio BDSL, Siemens, Servlease


120 leitos, 7.200m, 1984, Brasil.
Arquitetos Joo Carlos Bross, Altino Mario dos Santos,
Ricardo Jlio Leitner e Arnaldo Villares de Oliveira
Fonte: MIQUELIN, 1992:95

14.3.1.3 Hospital Regional

O Hospital Regional, por sua vez, um projeto padronizado para construo de


Hospitais Regionais, podendo, segundo os seus autores (arquitetos Mayerhofer e
Toledo), ser implantado em terrenos entre 17.750m e 20.560m. O projeto
composto pela articulao de uma lmina ou bloco horizontal, contendo servios
mdicos e de apoio logstico, com uma torre de internao de cinco pavimentos,
sendo que um andar mecnico faz a transio entre a torre e o bloco horizontal.

372
14 ANEXOS

1 Emergncia
2 Radiologia, Imagem e Laboratrio
3 Ambulatrio
4 Recepo, Administrao,
Vestirios
5 Materiais, Sub-estao, Oficinas
6 Cozinha, Refeitrio, Lavanderia
7 Docas, Ar Condicionado, Necrotrio
8 Bloco Operatrio e Unidade de
Terapia Intensiva

Figura 14.14: Hospital Regional, 1990 Mayerhofer e Toledo Arquitetura


Planta e Corte.
Fonte: MIQUELIN, 1992:98.

14.3.1.4 Hospital da Cooperativa da Unimed - Araras

No Hospital da Cooperativa Mdica da Unimed, em Araras, interior de So Paulo,


os arquitetos Joo Carlos Bross e Augusto Guelli (Bross Consultoria e Arquitetura)
adotaram a soluo horizontal para a implantao de blocos articulados, com
estrutura e modulao (7,20 x 7,20m) convencionais. A rea de internao fica
sobre pilotis e cria um estacionamento coberto, que um espao que garante
futuras ampliaes.

O projeto permite ampliao futura em todos os setores de apoio logstico


(lavanderia, nutrio e diettica, esterilizao) localizados no trreo. (...) A
previso de ampliao fez com que as instalaes eltricas, hidrulicas e
de ar condicionado (as centrais de geradores, caldeira e central de gases
medicinais) fossem dimensionadas para atender capacidade final.
(Revista Projeto, novembro 1997:54)

14.3.1.5 Hospital Mnimo Ministrio da Sade

Outra tentativa de padronizao no projeto de hospitais foi atravs de um programa


mnimo definido pelo Ministrio da Sade, a partir do qual o escritrio do arquiteto
Siegbert Zanettini elaborou o projeto de um hospital compacto, barato e de fcil (e

373
O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

rpida) reproduo. Com capacidade para 50 leitos e destinado ao atendimento da


populao carente, este hospital foi concebido para ser modular e de componentes
metlicos (estrutura, cobertura e vedaes externas), adaptando um sistema norte-
americano s condies climticas tropicais. O projeto apresenta eficiente
aproveitamento energtico, reduo dos gastos com manuteno e flexibilidade,
permitindo futuras ampliaes e a incorporao de novos equipamentos e layouts.
(Revista Projeto 214, novembro 1997:78)

14.3.1.6 Hospital Geral Padro do PMS

O exemplo do Hospital Geral Padro chamado HGU, mencionado anteriormente


(ver item 3.2.1.2), tambm pode ser acrescentado na lista dos projetos
padronizados no Brasil. A tipologia HGU foi desenvolvida durante a segunda fase
do Programa Metropolitano de Sade (PMS), sendo reimplantada por dez vezes na
RMGSP. Esta srie teve incio em 1987 com a construo de dois hospitais e,
posteriormente, em 1989, continuou com as obras de outros oito HGU: Itaim
Paulista, Graja e Vila Alpina na cidade de So Paulo, e Pirajussara, Carapicuba,
Itapevi, Diadema e Itaquaquecetuba, em municpios da Regio Metropolitana.
(FERNANDES, 2003:92)

Figura 14.15: Maquete do Hospital Geral Padro HGU,


reproduzido vrias vezes na segunda fase do PMS.
Fonte: PMS, 1987, apud FERNANDES, 2003.

374
14 ANEXOS

Figura 14.16: Hospital Geral Itaim Paulista. Figura 14.17: Hospital Geral Graja.
Fonte: FERNANDES, 2003. Fonte: FERNANDES, 2003.

Figura 14.19: Hospital Geral Pirajussara.


Figura 14.18: Hospital Geral Vila Alpina.
Fonte: FERNANDES, 2003.
Fonte: FERNANDES, 2003.

Figura 14.20: Hospital Geral Carapicuba. Figura 14.21: Hospital Geral Itapevi.
Fonte: FERNANDES, 2003. Fonte: FERNANDES, 2003.

Figura 14.22: Hospital Geral Diadema. Figura 14.23: Hospital Geral Itaquaquecetuba.
Fonte: FERNANDES, 2003. Fonte: FERNANDES, 2003.

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O IMPACTO DOS AVANOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAES ARQUITETNICAS DOS EDIFCIOS HOSPITALARES

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