Políticas Agrícolas e Políticas Macroeconômicas
Políticas Agrícolas e Políticas Macroeconômicas
Políticas Agrícolas e Políticas Macroeconômicas
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Manual de Macroeconomia 2
econmica diferem consideravelmente quando se passa do
curto para o longo prazo.1 Ainda que seja impossvel separar os
nexos de causa e efeito entre objetivos e aes de curto e longo
prazos, comum considerar a estabilidade de preos e a
solvncia externa como tpicos objetivos de curto prazo da
poltica macroeconmica, ao passo que o crescimento
sustentvel, o pleno emprego e a eqidade como objetivos de
longo prazo que requerem uma poltica de desenvolvimento
ampla e um programa de reformas estruturais da economia e
da sociedade.
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curto prazo, preciso reconhecer que a soluo destes no
resolve, por si s, os desafios de longo prazo. O mais
recomendvel procurar respostas para os desequilbrios
imediatos que, tanto quanto possvel, sejam compatveis com os
objetivos de longo prazo evitando, assim, a postura bastante
freqente entre os economistas de separar os problemas ditos
macroeconmicos estabilidade de preos, solvncia externa,
balano fiscal etc. dos problemas de desenvolvimento.
A anlise macroeconmica enfrenta o desafio de propor
medidas que respondam, simultaneamente, aos objetivos de
curto e longo prazo. Isto significa compatibilizar a estabilidade
de preos e a restrio externa com uma taxa de crescimento
econmico sustentvel, pleno emprego e eqidade social.
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1.2 - As identidades macroeconmicas e os equilbrios
econmicos em uma economia aberta
A fim de melhor identificar os problemas
macroeconmicos e a relao entre os objetivos e os problemas
de curto e longo prazos, bastante til introduzir um conjunto
de identidade representando as situaes de equilbrio
macroeconmico. Pode-se dizer que um sistema est em
equilbrio quando no est em um processo dinmico endgeno, ou
seja, quando no internas que o faam mover-se..., quando no h mais
foras internas que ainda estejam ajustando-o a foras exgenas
(Otaviano, s/d, 1998, BIBLIOGRAFIA (VAL)). Essas
identidades esto integradas pelos principais agregados ou
variveis macroeconmicas, tais como consumo, investimento,
poupana, exportao, importao, tributos etc., e pelos preos
macroeconmicos. So quatro contas ou identidades:
1- Contas nacionais de produto e renda;
2- Balano de pagamentos;
3- Oramento do setor pblico;
4- Contas monetrias.
As identidades ou contas macroeconmicas representam,
de maneira simplificada e agregada, o sistema econmico em
sua totalidade, e permitem analisar algumas questes bsicas
da macroeconomia. Tambm permitem definir os grandes
equilbrios macroeconmicos, embora tais identidades pouco
ou nada esclaream sobre como atingir ou manter estes
equilbrios. Nas prximas sees estas contas sero detalhadas;
em seguida sero discutidos alguns temas centrais da anlise
macroeconmica (o problema da absoro e da poupana
interna e externa). Adiante, sero estudados os equilbrios
macroeconmicos.
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Quadro 4: Variveis Fluxo e Estoque
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Quadro 5: Mtodos de Clculo do PIB
Eq. 1: PIB C G I X M
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em entrada lquida de recursos. Somando as transferncias
unilaterais ao PNB, obtm-se a Renda Nacional Bruta (Y).
Manual de Macroeconomia 10
contbil, seu resultado deve fechar, o que significa que a soma
dos crditos e dbitos ser sempre nula.
O Balano de Pagamentos est organizado em duas
grandes contas: a conta corrente e a conta de capitais. A conta
corrente inclui o fluxo de exportaes e importaes de
mercadorias e servios no financeiros, tais como transportes,
seguros, turismo, servios de consultoria internacional,
bancrios etc.; alm disso, inclui tambm o movimento de
recursos associados ao pagamento de fatores de produo
(tambm dito servios de fatores), tais como a remessa de
lucros, o pagamento de royalties etc. e as chamadas
transferncias unilaterais de rendimentos. A conta de capitais
registra os movimentos de capitais de curto e longo prazo, de
risco e de emprstimo, entre o pas e o resto do mundo.
fcil compreender o Balano de Pagamentos e suas
contas. No lado do crdito esto todas as entradas de recursos
do exterior, e do lado do dbito so lanadas todas as sadas de
recursos para o exterior.
O Quadro 6 resume as principais equaes do Balano de
Pagamentos (BP) e a equao abaixo sintetiza o conjunto de
transaes realizadas entre o pas e o resto do mundo.
onde,
(X - M): Exportaes e Importaes de mercadorias e servios
no financeiros;
PLF: Pagamento lquido de fatores, que inclui o pagamento
(recebimento) de juros e royalties, remessa
(recebimento) de lucros e outros pagamentos
(recebimentos) associados ao uso de fatores produtivos
e rendas de capital;
TUN: Transferncias unilaterais de rendimentos para o setor
privado ou pblico, incluindo as remessas feitas por
emigrantes e imigrantes.
Ck: Conta de Capital, que inclui os fluxos de capital de
curto e longo prazo, as aplicaes financeiras, os
Manual de Macroeconomia 11
investimentos diretos e os emprstimos aos setores
pblico e privado. A letra d representa mudanas na
varivel stock.
RInt: Mudanas nas reservas internacionais que o pas
mantm no exterior.
Manual de Macroeconomia 12
Quadro 6: Balano de Pagamentos
CRDITOS DBITOS
1. Exportao de Mercadorias 2. Importao de Mercadorias
3. Exportao de servios nofatores 4. Importao de servios nofatores
Viagens Internacionais Viagens Internacionais
Transportes Internacionais Transportes Internacionais
Seguros Seguros
Diversos Diversos
Manual de Macroeconomia 13
natureza em balanos separados, tal como apresentado na
Figura 1, que reproduz a estrutura padro do Balano de
Pagamentos definida pelo Fundo Monetrio Internacional (FMI).
TRANSAES CORRENTES
Balana Comercial
Exportaes de Mercadorias (I)
Importaes de Mercadorias
(X - M) (II)
Balana de Servios
Viagens Internacionais
Transportes (fretes e outros) (III)
Seguros
Servios Diversos
Rendas de Capitais (juros, lucros e dividendos,
lucros reinvestidos)
RLE
Transferncias Unilaterais (remessas de dinheiro por emigrantes (IV)
e imigrantes, donativos, ajuda militar)
D3
Capitais de Curto Prazo
Setor Privado nobancrio (crditos de fornecedores,
emprstimos de curto prazo) (VI)
Setor Bancrio
-R
VARIAO DE RESERVAS OFICIAIS (crditos de curto prazo, operaes
com o FMI, ouro monetrio)
Manual de Macroeconomia 14
fontes de receitas correntes, como arrendamentos, aluguis,
prestao de servios etc. Alm disso, os governos podem
tambm obter receitas de operaes produtivas.
Manual de Macroeconomia 15
simplesmente, incentivar determinados setores produtivos, ou
certas atitudes sociais. O subsdio um imposto negativo
indireto.2
As transferncias so pagamentos unilaterais feitos pelo
governo, sem exigir qualquer contrapartida especfica por parte
dos beneficirios. Inclui a cobertura dos dficits dos institutos
de previdncia social (aposentadorias, penses, auxlio doena,
gravidez etc.), os gastos emergenciais com populaes
flageladas etc.
A diferena entre as receitas e as despesas correntes dos
governos constitui a poupana do governo, que positiva se
receita > despesa, ou negativa se o governo tem um dficit, isto
, se despesa > receita. O governo pode utilizar a poupana
positiva para realizar investimentos pblicos, que representam
adies ao capital fixo do sistema, para reduzir sua dvida de
longo prazo, ou simplesmente para ampliar os gastos correntes
no exerccio seguinte.
Manual de Macroeconomia 16
Quadro 7: Oramento do Setor Pblico
ENTRADAS SADAS
(Receitas) (Pagamentos)
1. Receitas 3. Gastos
1.1 Correntes 3.1 Correntes
1.1.1 Impostos 3.1.1 Salrios, Bens e Servios
diretos 3.1.2 Juros
indiretos 3.1.3 Subsdios e Transferncias
1.2 De Capital 3.2 De capital
onde:
C g = Consumo do Setor Pblico;
Manual de Macroeconomia 18
Eq. 7: NFSP dD dD ban cos dD exterma
$
Inflao
60
40
20
0
NFSP Dficit Dficit Primrio
Operacional
Manual de Macroeconomia 20
Atualmente, alm da moeda manual moeda metlica e
papel-moeda , um conjunto de ativos financeiros monetrios
e nomonetrios, portadores de diferentes graus de liquidez,
circulam pela economia, desempenhando alguns dos papis da
moeda. Estes ativos incluem os cheques emitidos contra contas
correntes, ordens de pagamento a vista, notas e certificados de
depsitos bancrios a prazo, ttulos de poupana etc., os quais
so classificados, para fins da contabilidade monetria, segundo
o grau de liquidez.
Os meios de pagamento (M1), de mais alta liquidez,
incluem as moedas metlicas, o papel-moeda e os depsitos a
vista operados por meio de cheque, ordem de pagamento ou
outro meio eletrnico. Embora o dinheiro como tal seja emitido
apenas pela autoridade monetria no caso brasileiro o Banco
Central do Brasil , os bancos comerciais tambm criam
moeda. Ao utilizar parte do dinheiro mantido sob sua custdia
em depsitos a vista e ou a prazo para realizar operaes de
crdito a terceiros, na prtica os bancos multiplicam a
quantidade de dinheiro disponvel na economia. O correntista
A que depositou $ 100 dispe em sua conta corrente deste valor,
ao passo que o correntista B que tomou um emprstimo de $ 50
tambm dispe em sua conta deste valor. O depsito inicial do
correntista A foi, portanto, multiplicado por meio do crdito.
A autoridade monetria tem como funo emitir e
controlar o dinheiro em circulao e estocado pela sociedade.
No difcil entender, mesmo intuitivamente, que essa uma
tarefa complexa e delicada, j que um excesso de dinheiro pode
provocar sua desvalorizao, e uma escassez pode dificultar o
funcionamento normal da economia. Mais adiante este tema
ser tratado com mais detalhe. Pelo momento interessa
apresentar o balano monetrio a fim de ilustrar a importncia
da moeda na conformao do contexto macroeconmico e as
relaes entre o lado monetrio e as contas de produto e renda,
balano de pagamentos e oramento do setor pblico.
J se mencionou que os ativos monetrios incluem um
conjunto de ativos que podem ser classificados pela sua
liquidez. A fim de facilitar a compreenso da conta monetria,
sero considerados apenas os depsitos a vista e a prazo.
Manual de Macroeconomia 21
A seguir, so apresentados os balanos das autoridades
monetrias, dos bancos comerciais e o balano monetrio
consolidado, tambm chamado agregado ou conta monetria
do pas.
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partir do qual os meios de pagamento e ativos monetrios se
expandem ou se contraem. A base monetria , portanto, a
soma da moeda em poder do pblico, dos bancos comerciais
(reservas bancrias) e do governo (caixa do Tesouro depositado
no Banco Central).
Base Monetria = Papel Moeda + Reservas Bancrias
Manual de Macroeconomia 23
Simplificando as contas, o resultado apresentado no Quadro
10 .4
7 - Outros Depsitos
onde:
4 A consolidao dos balanos uma operao complexa, pois deve eliminar dupla
contagem, cancelar passivos e ativos da mesma natureza e prazos (por exemplo,
obrigaes internacionais e reservas internacionais), eliminar transaes entre o
Banco Central e os Bancos Comerciais (por exemplo, os depsitos dos bancos
comerciais junto ao Banco Central, j que aparecem como ativo no balano dos
bancos comerciais e passivo no balano da Autoridade Monetria, podendo ser
cancelado).
Manual de Macroeconomia 24
RInt = Reservas internacionais lquidas
CrDg = Crdito interno ao governo
CrDp = Crdito interno ao setor privado
M= Oferta monetria ampla: papel moeda e depsitos a vista
e prazo
Wb = Capital e reservas do sistema bancrio
Apresentadas as quatro identidades macroeconmicas,
pode-se agora mostrar as relaes entre as vrias contas e
deduzir os dois equilbrios mais importantes para a dinmica
da economia, posto que condicionam o crescimento e a
estabilidade. Tratam-se do equilbrio externo e do setor pblico.
Estas identidades servem de base para a anlise dos
instrumentos da poltica macroeconmica, objeto da (XXX)lio
5.
PIB C G I ) X M
Y C G I X M TUN PLF
Manual de Macroeconomia 26
Denominando Absoro Domstica pela letra A, tm-se as
identidades bsicas da absoro domstica.
Eq. 9: PIB A X M
Manual de Macroeconomia 28
Eq. 11:
Y T C I p G I g T X M TUN PLF
onde,
(Y-T-C) representa a poupana privada S p
Manual de Macroeconomia 29
com poupana privada interna e/ou externa. Em ambos casos,
provvel que a economia como um todo tenha prejuzo, pois
sobraram menos recursos para os investimentos privados e
aumentar sua vulnerabilidade diante do resto do mundo.
Eq. 14:
Y PIB TUN PLF C I C S C I X M TUN PLF RInt cK
Manual de Macroeconomia 30
Se a renda inferior ao gasto domstico em produtos finais
[Y< (C+I)], o pas gasta mais divisas do que recebe e sua posio
internacional deteriora-se. O financiamento do dficit em
transaes correntes supe ou (a) uma reduo das reservas
internacionais, (b) uma reduo de outros ativos internacionais
e/ou (c) um maior endividamento externo.
Mais alm dos aspectos tcnicos, a Eq. 14 expressa de
forma clara a relao entre o equilbrio interno indicada de
maneira simplificada pela identidade do Produto e Renda
(Oferta agregada = Demanda agregada) e o equilbrio externo.
S g R g C g Gt
Considerando as receitas e os gastos correntes e
descontadas as transferncias, a equao acima pode ser
reescrita para
S g R g Gt C g T C g , desde que,
T Gg Sg .
Manual de Macroeconomia 31
Os gastos do governo (G) consistem do seu consumo C g e
investimento I g . A receita menos gasto ento igual a:
Eq. 15: C g
S g C g I g T G
C g
S g C g I g C p S p C p I p X M TUN PLF A int
Utilizando a equao C g
S g C g I g T G na
anterior, aps simples arrumao dos termos, tem-se:
Manual de Macroeconomia 32
(X - M) + TUN + PLF o balano em transaes correntes do pas
com o resto do mundo, que indica o ingresso e sada de
divisas da economia;
Aint a variao dos ativos internacionais lquidos do pas.
A Eq. 16 importante porque mostra a relao entre
oramento do governo (T -G), o funcionamento do setor privado
Sp I p e a conta corrente do pas [(X - M) + TUN + PLF].
Manual de Macroeconomia 33
sobre o nvel de absoro domstica, sobre as contas pblicas e
sobre os mecanismos de financiamento da economia.
Antes de analisar os instrumentos da poltica
macroeconmica conveniente apresentar, ainda que
brevemente, o significado dos preos macroeconmicos como
preos bsicos da economia. a tarefa das lies
(XXXCONFIRMAR) 2, 3 e 4. Estes macropreos incidem sobre
toda a economia por meio dos custos de produo, da formao
dos preos reais da economia e da alocao de recursos entre os
setores e dentro de cada setor, as opes tecnolgicas e a
distribuio de renda. So tambm responsveis, em grande
medida, pelos equilbrios macroeconmicos, seja no curto ou
longo prazo.
Na verdade, a poltica macroeconmica no se limita a
buscar e manter a sustentabilidade macro, mas contribui
decisivamente para definir a prpria trajetria da economia
segundo determinada estratgia de desenvolvimento
econmico. Por isso no se pode separar a macroeconomia e a
poltica macroeconmica das questes de desenvolvimento
econmico, como se um viesse antes do outro. Este talvez seja
um dos maiores erros de muitos macro-economistas
responsveis pela formulao das polticas econmicas: separar
a busca do equilbrio macro dos objetivos de desenvolvimento.
Por esta razo, no raramente boas polticas macroeconmicas
tm redundado em grandes fracassos.
Manual de Macroeconomia 34
LIO 2
2 A taxa de juros
2.1 - O juro como reflexo da escassez de capital
Em um sentido muito geral, mas nem por isso impreciso,
pode-se pensar no juro como o preo do dinheiro. Um agente
que deseje comprar dinheiro vai ao banco e acerta um
emprstimo com seu banqueiro, pagando uma certa taxa pelo
uso do dinheiro.
Em termos mais rigorosos, a teoria econmica hoje
dominante considera o juro como a remunerao do capital-
dinheiro que as famlias e empresas pem disposio da
sociedade para o uso de outros agentes econmicos. Essa
remunerao regulada pelo princpio da escassez do capital e,
em certo sentido, opera uma arbitragem entre o presente e o
futuro. Desse ponto de vista, a taxa de juros tem dois
determinantes: (a) a produtividade marginal do capital ; (b) a
valorao social do futuro em relao ao presente.
A taxa de juros funciona como um dos principais sinais
que orientam a alocao dos recursos, particularmente os
investimentos. Se a taxa de juros baixa, o custo do
investimento no presente ser baixo, incentivando e facilitando
os investimentos em geral e, em especial, os de longo prazo de
maturao. Isto significa que o valor presente do futuro maior,
ou seja, uma arbitragem em favor do bemestar futuro.5 O
problema que o nvel da taxa de juros afeta tambm a
poupana, e juros artificialmente baixos podem desestimular os
potenciais poupadores a poupar. Poderia ocorrer que os
investimentos, mesmo rentveis, no encontrem fontes de
financiamento.
Manual de Macroeconomia 35
Outra conseqncia de uma taxa de juros artificialmente
baixa pode ser a fuga de recursos para outros mercados que
oferecem rendimentos mais altos ou a dificuldade para atrair
poupana externa, particularmente em um contexto de
liberalizao e globalizao dos mercados financeiros como o
de hoje. Nas economias modernas e abertas, caracterizadas pela
integrao dos mercados financeiros internacionais, a taxa de
juros uma das variveis mais relevantes na determinao do
movimento dos capitais financeiros entre os pases.
Por outro lado, uma taxa de juros alta reflete a maior
escassez presente de capital, pode aumentar a poupana
presente, mas compromete o futuro. Alguns projetos de
investimento sero suficientemente rentveis para suportar um
custo de financiamento mais elevado dada a taxa de juros alta.
Ademais, ao desvalorizar o futuro, os investimentos tendero a
ser, sobretudo, de curto prazo. Assim, um dos desafios mais
importantes da poltica macroeconmica encontrar, em cada
momento, a taxa de juros que seja capaz de equilibrar estas
tenses entre o presente e o futuro e garantir o crescimento
sustentado da economia.
Por este enfoque, so trs as dimenses relevantes a
serem consideradas em relao taxa de juros:
1) Os efeitos que pode ter uma taxa de juros administrada
sobre o volume de crdito. Dada a escassez de capital, em
muitos casos os governos implementam polticas voltadas
para dirigir os recursos disponveis para atividades
consideradas prioritrias e reduzir o preo do dinheiro por
meio de racionamento do crdito e administrao da taxa de
juros. Cabe perguntar quais sero os efeitos de uma taxa de
juros administrada ou oficial sobre o funcionamento da
economia? Se o Governo fixa a taxa de juros abaixo da taxa
de juros de equilbrio (que teoricamente refletiria a escassez
relativa de capital), o crdito tende a tornar-se escasso
porque tanto aumenta a demanda de crdito como se reduz
a poupana. A escassez do crdito traduz-se em um
racionamento que inevitavelmente favorece alguns agentes
privilegiados: uma taxa de juros baixa provoca racionamento do
crdito e poupana reduzida e a razo da taxa de juros nos
mercados residuais ser mais alta do que seria sem os limites
Manual de Macroeconomia 36
impostos taxa de juros oficial (Timmer, Falcon &
Pearson, 1983: 237).6
2) O risco de desintermediao financeira. A fixao da taxa
de juros deve levar em conta o nvel da taxa de inflao a
fim de evitar o risco de desintermediao financeira. A
inflao reduz o poder de compra dos ativos monetrios, o
valor real dos crditos e o poder de compra dos pagamentos
de juros. Nesse sentido, para uma taxa de juros nominal (In)
fixa, a inflao (p*) favorece aos credores e afeta aos
tomadores de emprstimo sempre que In<p*.7 A inflao
pode provocar uma desintermediao financeira se a taxa de
juros no incluir um prmio para compensar o efeito e o
risco da inflao (e da desvalorizao cambial). Para se
proteger contra este efeito, os agentes com liquidez somente
colocaro seu capital disposio da sociedade se a taxa
nominal de juros assegurar-lhes, em termos reais, uma
remunerao positiva, ou seja, se a taxa de juros real for
positiva. Pode-se expressar a taxa de juros real como:
1 In
Eq. 17: 1
1 Ip
onde,
I n = juro nominal
I p = ndice de preos
6 Como ser visto mais adiante, uma conseqncia para o setor agrcola que os
pequenos agricultores pagaro mais pelo crdito j que o racionamento tira-os
do mercado oficial. Retomaremos estes temas mais adiante quando estudaremos
a poltica de crdito agricultura.
7 Uma taxa de juros real negativa significa que os poupadores perdem poder de compra ao
emprestar seu dinheiro a uma taxa oficial e que os credores so subsidiados em termos
reais (Timmer, Falcon & Pearson 1983: 238).
Manual de Macroeconomia 37
necessria e automaticamente, em formao de capital, j
que os custos financeiros resultantes da taxa de juros real
positiva podem inviabilizar a realizao de novos
investimentos.
3) A rapidez da formao de capital. Uma taxa de juros
subsidiada (negativa em termos reais) favorece os
investimentos e, portanto, o crescimento econmico. (VAL)
Isto aceito, dever-se-ia aceitar tambm que um aumento das
taxas de juros seria um obstculo ao processo de
desenvolvimento e que seria mais fcil promover um
crescimento rpido com taxas subsidiadas. Convm
distinguir os efeitos estticos dos efeitos dinmicos. A
considerao de ambos os efeitos leva concluso de que
taxas de juros artificialmente baixas no mantm fluxos de
investimentos capazes de assegurar crescimento sustentvel,
e ainda produzem distores alocativas importantes, como
favorecer investimentos em tecnologias intensivas em
capital (recurso escasso) em detrimento do trabalho (recurso
mais abundante). O Quadro 11 resume esses efeitos.
Para aumentar a taxa de crescimento necessrio
aumentar a taxa de investimento, a qual supe gerar a
poupana necessria para financiar os investimentos. A
pertinncia desse resultado repousa no postulado que a
poupana gera o investimento, o qual no pacificamente
aceito pelos economistas. Sob esta suposio, a taxa de juros
nominal acima da taxa de inflao, ou seja, taxa de juros real
positiva, um estmulo essencial para que os agentes decidam
poupar. Logo, taxas de juros artificialmente baixas
comprometeriam a poupana e, por conseguinte, o
investimento e o crescimento econmico.
Manual de Macroeconomia 38
Quadro 11: Efeitos estatsticos e dinmicos da poltica da
taxa de juros
Manual de Macroeconomia 39
crdito que os bancos outorgam s empresas assenta-se em
duas condies. Por um lado, a crena dos bancos no futuro
prometido pelas antecipaes das empresas e, por outro lado, a
capacidade de os bancos fazerem com que o resto da sociedade
comparta esta crena. A sociedade pode se reproduzir e crescer
desde que, em cada fase, as empresas possam obter meios para
investir e financiar suas antecipaes, tendo como restrio o
estado da tcnica disponvel. O crdito a instituio que
possibilita o investimento e a reproduo social.
A empresa deve, ento, investir, mas para isso deve fazer
que os bancos compartam sua antecipao do futuro. Por sua
vez, os bancos somente aceitaro as expectativas das empresas e
concordaro em financi-las se essas se comprometerem com o
pagamento de uma renda aos possuidores dos ativos
financeiros: a relao do fluxo de renda ao quantum da nova dvida
valora o estado da preferncia pela liquidez dos bancos (Parguez,
1987: 759). Esta relao a taxa de juros, que reflete, no o
valor de escassez do capital, mas a preferncia pela liquidez dos
bancos.
A preferncia pela liquidez dos bancos tem um valor, o
qual agregado aos custos de operao C o e ao lucro bancrio
Gb (de um nvel tal que permita a expanso do sistema
bancrio e faa rentvel a funo de financiamento), na
determinao da taxa de juros (i). Esta sobretaxa P1 reflete
tanto o risco associado ao crdito como o grau da preferncia
pela liquidez.
Eq. 18: i C o Gb Pl
Manual de Macroeconomia 40
A taxa de juros determina a taxa de lucro mnima
requerida e, por isso, o movimento da taxa de juros encontra-se
no corao do sistema econmico e de suas transformaes.
Mas, na medida em que a taxa de juros reflete uma maior
preferncia pela liquidez dos bancos e torna-se fortemente
positiva em termos reais, ela introduz uma penalidade sobre a
produo, o investimento, o emprego e as possibilidades
futuras de crescimento. As empresas temem a perda do
controle sobre seu capital, temem a insolvncia como
conseqncia das altas cargas financeiras, tendem a
desenvolver tambm uma preferncia pela liquidez que entra
em contradio com sua funo produtiva. As empresas
tornam-se prudentes e vem-se obrigadas a jogar contra as leis
do sistema.
Nesse sentido, a crise no resulta do endividamento, mas
do rechao social em apostar no futuro com mais
endividamento, o qual toma a forma de uma exacerbada
preferncia pela liquidez e taxas de juros reais positivas
elevadas. A taxa real positiva aqui uma deformao do
sistema, contrariamente ao que acontece no enfoque
neoclssico, aonde aparece como uma condio do
funcionamento normal do financiamento bancrio.
Manual de Macroeconomia 41
LIO 3
Manual de Macroeconomia 42
consistentes com as lies tericas, no h nenhuma
comprovao ou evidncia de que os resultados produzidos
pelo mercado de trabalho livre da interveno governamental
seriam superiores, seja em termos de bem-estar, seja em termos
de eficincia. Os efeitos macroeconmicos da regulao salarial
so complexos dado o fato de que o salrio tem uma dupla
natureza: custo de produo e fonte de demanda efetiva. Alm
disso, o nvel dos salrios intervm diretamente na distribuio
da riqueza social, sendo, portanto, foco de intensa luta
distributiva entre os agentes econmicos.
Manual de Macroeconomia 43
SALRIO DE EQUILBRIO SALRIO MNIMO
Salrios baixos Salrios altos
Manual de Macroeconomia 44
formas de aumentar a demanda efetiva e, assim, o nvel de
produo: estimulando o consumo ou promovendo o
investimento.
Nesse sentido, dada a taxa de poupana mais alta dos
empresrios em relao taxa de poupana dos assalariados,
claro que uma redistribuio das rendas dos capitalistas para os
assalariados aumentaria o consumo e diminuiria a poupana,
pelo menos de imediato. O problema saber se este aumento
de consumo no vai ser contrabalanado por uma queda do
investimento como conseqncia da provvel diminuio dos
lucros decorrente da elevao dos salrios. Dito de outra
maneira, como conseqncia de um aumento dos salrios, a
demanda efetiva (C+I) pode aumentar ou diminuir segundo o impacto
que um lucro menor tenha sobre o investimento
(Bhaduri & Marglin, s/d.: 378).
possvel identificar, a priori, duas configuraes para a
dinmica entre salrios e demanda efetiva: (i) um padro
integrado de acumulao, no qual o aumento dos salrios reais
absorvido como demanda agregada e enseja respostas
virtuosas das empresas em por meio da adoo de novas
tecnologias, elevao da produtividade do trabalho, criando
condies reais para novas elevaes dos salrios e do nvel
geral de bem-estar da populao; (ii) um padro desarticulado
de acumulao, no qual o papel da massa de salrios na
formao da demanda agregada no chega a compensar o papel
do salrio como custo para as empresas, sendo mais racional,
no curto e longo prazo, manter baixos salrios do que investir
em elevao da produtividade para elevar os lucros e
compensar aumentos de salrio real.
Pode-se demonstrar que o salrio real mais alto estimula
o nvel da atividade econmica mediante o aumento da
demanda efetiva; mas esse efeito positivo depende da estrutura
econmica do pas, em particular da possibilidade de expandir
a produo domstica e as importaes para atender ao
consumo de massas e sustentar a elevao do salrio real,
evitando assim que o efeito inicial seja esterilizado pela
inflao. A resposta dos investimentos variao do salrio real
e s mudanas na partio da renda nacional , portanto, crucial
Manual de Macroeconomia 45
para a determinao da dinmica econmica e da configurao
socioeconmica resultante.
A outra configurao manter baixos os salrios da
massa de trabalhadores, o que no se traduz, necessariamente,
em ausncia de crescimento. Se o baixo consumo das massas for
compensado por investimentos dirigidos para consumo de
elite, a economia pode crescer durante, ainda que abaixo do seu
potencial, devendo ainda se acentuar a concentrao de renda e
o carter excludente do modelo econmico (Bhaduri & Marglin,
s/d.: 379).
As relaes entre distribuio de renda e crescimento
econmico tm sido analisadas e verificadas pela maior parte
dos modelos macroeconmicos, os quais, com pequenas
nuanas, chegam seguinte concluso:
claro que uma grande proporo da demanda de produtos
industriais encontra sua origem em uma parte muito estreita da
populao. As manufaturas vendidas aos ricos, que so relativamente
pouco numerosos, utilizam somente uma parte da capacidade
instalada no setor de bens intermedirios e de capital. Somente uma
ampla demanda de bens de consumo massivo pode conduzir a uma
plena utilizao da capacidade instalada. Mas isto exige por sua vez, a
existncia de rendas para os pobres. Uma distribuio desigual da
renda, ao atuar sobre as funes de demanda, pode restringir as
perspectivas de um crescimento industrial sustentado.9
9 Deepak Nayvar, citado por Taylor, L., Distribuio, demanda efetiva e ajuste
macroeconmico, in Ocampo, J. A., Economia pos-keynesiana, pg. 444. Ver
tambm Hirschman, A., Devaluation and the trade balance: a note, em Review of
economics and statistics, 1949; Diaz-Alejandro, C., A note on the impact of
devaluation and distributive effect, em Journal of Political Economy 71, 1963 e
Cooper, R., An assessment of currency devaluation in developing countries, em
Ranis, C., Government and economic developing, New Haven, Yale University
Press, 1971.
Manual de Macroeconomia 46
LIO 4
X unidades de R$ = US$1,00
Manual de Macroeconomia 48
Alm disso, como tambm ser examinado mais adiante,
a prpria taxa de cmbio pode desempenhar papis diferentes
na economia como ncora monetria e como incentivo para
as exportaes , e o valor adequado em um caso no ser para
outro. Nem sempre possvel conciliar essas funes, muito
menos quando a Autoridade Monetria tem controle limitado
sobre o comportamento da varivel, como ocorre com a taxa de
cmbio a partir dos anos 80.
Na verdade, o mercado de moedas , hoje, um dos mais
complexos e instveis, com operaes em escala mundial
envolvendo bilhes de dlares diariamente, e sendo afetado por
um conjunto to amplo de variveis econmicas, financeiras,
polticas e estratgicas a ponto de ser, virtualmente, impossvel
determinar, com um mnimo de segurana, seu comportamento
futuro.
Para a anlise econmica, o conceito de taxa de cmbio
real muito mais importante do que a taxa de cmbio nominal.
H vrias maneiras de medi-la. O conceito mais comum
aquele que considera o efeito da evoluo dos preos
domsticos e dos preos internacionais sobre o poder de
compra real da moeda local. Suponha que, no incio do ano,
uma cesta de bens e servios custe R$ 5,00 no Brasil e US$ 8,00
nos Estados Unidos. A taxa nominal de cmbio En de R$ 1,00
por US$ 1,00. Ao longo do ano, enquanto a inflao no Brasil foi
de 100% e o preo da cesta subiu para R$ 10,00, nos Estados
Unidos os preos praticamente no se alteraram. Embora a taxa
nominal de cmbio no se tenha modificado durante o ano, em
termos reais houve uma significativa mudana: no mercado
internacional a cesta de bens e servios americana ficou mais
barata do que a do Brasil, pois enquanto a primeira continuou
sendo comercializada por US$ 8,00, esta ltima passou a custar
US$ 10,00. Paradoxalmente, embora a moeda brasileira tenha
perdido valor interno por causa da inflao, ela apreciou-se, em
termos reais, em relao ao dlar, e, tudo o mais constante, em
relao ao resto do mundo. A apreciao ou valorizao real
significa que, em termos reais, aumentou o poder de compra da
moeda nacional vis a vis s moedas estrangeiras.
Se e quando esta valorizao artificial, a taxa de cmbio
nominal dificilmente ser mantida. Os agentes, percebendo que
Manual de Macroeconomia 49
o preo das moedas estrangeiras est baixo em termos reais,
trataro de antecipar-se eventual correo do cmbio nominal
adquirindo dlares e aumentando suas compras no exterior. O
aumento da demanda por dlares provocar, eventualmente,
uma desvalorizao nominal da taxa de cmbio. Mais adiante,
voltar-se- a discutir o funcionamento do mercado cambial e
seus principais determinantes.
Este primeiro conceito de taxa de cmbio real leva em
conta o efeito da inflao domstica e internacional sobre o
preo, em moeda local, de uma unidade de moeda estrangeira.
Pode ser expressa da seguinte forma:
P*
Er En *
Pd
onde, Er = taxa de cmbio real
En = taxa nominal de cmbio
Pd = ndice de preos domsticos
Manual de Macroeconomia 50
O segundo conceito de taxa real de cmbio procura
justamente levar em conta, alm da inflao domstica e
internacional, os efeitos dos movimentos da taxa de cmbio
sobre a alocao dos recursos na economia. Algebricamente,
representada por uma relao entre os preos domsticos dos
bens e servios no comercializveis (no tradeables) e dos preos
dos bens e servios comercializveis (tradeables).
Pt
Er En
Pnt
Er = taxa de cmbio real
En = taxa de cmbio nominal
Pt = ndice de preos de bens e servios transacionveis
Pnt = ndice de preos dos bens e servios no transacionveis
Regimes Cambiais
Fixo Flutuante
Moeda
Estrangeira
Indexao
Ajustvel
Indexao
Mvel
Manual de Macroeconomia 51
efetivo para indicar "uma mdia entre essas taxas de cmbio, uma
mdia ponderada de acordo com o peso relativos dos pases nas
transaes comerciais externas da economia local. S desta maneira se
pode obter uma avaliao mais precisa de como a evoluo das taxas
nominais de cmbio e de preos locais e no exterior vai afetando a
competitividadepreo do pas em questo valor (Gonalves, Prado,
Canuto & Baumann, 1998: 14).(XXXBIBLIO)
Trata-se de um conceito muito til para a anlise
emprica, em particular do comrcio externo, posto que indica a
evoluo do cmbio em relao a uma cesta de moedas
relevantes para o pas. Este conceito de taxa de cmbio expressa
a relao de troca entre a moeda nacional e uma cesta de
moedas estrangeiras, cada qual ponderada pela participao do
pas correspondente no comrcio total do pas de referncia.
Pode ser escrita algebricamente da seguinte forma:
Eef EUS $ EL ... EL
onde,
EUS a taxa nominal em relao do dlar;
EL a taxa nominal em relao libra;
EL a taxa nominal em relao lira;
, ,..., so ponderaes da participao de cada pas no
comrcio total.
Tambm se pode tomar a taxa de cmbio efetiva para
indicar a taxa efetivamente vigente para os vrios setores da
economia. Ocorre que as relaes internacionais no so
apenas intermediadas pela converso da moeda local em
moeda estrangeira. Sobre algumas operaes recaem impostos,
taxas e contribuies diversas; outras recebem incentivos na
forma de transferncias do setor pblico (subsdio) e benefcios
fiscais. O resultado que a taxa de cmbio efetiva pode ser
diferente entre os setores e agentes da economia, como ilustra o
seguinte exemplo. Por exemplo: a taxa de cmbio nominal En
de R$ 1,00 para US$ 1,00; dois exportadores, um de produtos
agrcolas e outro de bens industrializados, pagam,
respectivamente, 30% e 10% de imposto de exportao. Logo,
de cada dlar exportado, o primeiro receber apenas
Manual de Macroeconomia 52
R$ 0,70 centavos, enquanto o segundo receber
R$ 0,90 centavos. Em termos efetivos, a taxa de cmbio para o
primeiro R$ 0,70 por US$ 1,00 e R$ 0,90 por US$ 1,00 para o
segundo.
Esse conceito de taxa de cmbio efetiva Eef ajusta a taxa
nominal de cmbio En aos impostos e subsdios vigentes, de
tal modo a indicar o custo efetivo da moeda estrangeira para os
diversos agentes econmicos domsticos. Leva em conta as
tarifas de importao que elevam o custo das divisas para os
importadores e os impostos de exportao que reduzem o valor
em moeda local de cada unidade de divisa gerada pelas
exportaes. Tambm leva em conta eventuais subsdios sobre
as importaes e/ou exportaes. geralmente calculado para
setores ou produtos.
Manual de Macroeconomia 53
Um enfoque muito utilizado para a estimativa da taxa de
cmbio de equilbrio o da Paridade do Poder de Compra
(PPC). Com base na lei do preo nico, segundo a qual qualquer
mercadoria transacionada em mercados plenamente integrados
tem um nico preo, a PPC define o poder de compra de uma
moeda em relao a outra de tal maneira a igualar os preos em
ambas moedas quando expressos em moeda comum.
A racionalidade por detrs da PPC simples: se uma
mesma cesta de bens custa 10 pesos na Argentina e o
equivalente a 5 pesos no Brasil, cria-se uma oportunidade para
a realizao de ganhos de arbitragem: argentinos aumentariam
suas compras no Brasil e reduziriam as aquisies no mercado
local. Como resultado, os preos cairiam na Argentina e
subiriam no Brasil at o ponto em que deixasse de ser vantajoso
comprar no Brasil. A taxa de cmbio de equilbrio En aquela
que iguala os preos internos aos preos externos.
Pd Ee P x
Pd = preo interno
Ee = taxa de cmbio de equilbrio
Px = preo no pas comprador
P EP x
= gap entre preo domstico e internacional
IPC E IPC x
E IPC IPC x
= desvalorizao
IPC* = inflao no exterior
Manual de Macroeconomia 54
A PPC est baseada em um conjunto de pressupostos,
alguns relativamente fortes:
1) Inexistncia de barreiras ao comrcio, como transportes e
seguros;
2) Inexistncia de barreiras artificiais, como tarifas e cotas;
3) Todos os produtos so tradeables;
4) A composio dos produtos e dos ndices de preos a
mesma nos dois pases.
Na prtica, os preos no sero iguais nos dois mercados
graas aos custos de transporte, aos custos de transao,
estrutura tributria diferenciada e a vrios outros fatores que
afetam os preos nos dois mercados de forma diferenciada e
que no podem ser anulados pela arbitragem. Ainda assim, os
agentes convergiriam para a PPC, que respeitaria a diferena
sistemtica entre os preos domsticos e externos:
Pd Ee P x onde = diferena sistemtica dos preos
A PPC pode ser til para indicar a eventual defasagem da
taxa de cmbio por causa da inflao diferenciada nos dois
pases. Dada uma taxa inicial de equilbrio, para manter a
Paridade do Poder de Compra a desvalorizao da moeda
nacional deve ser equivalente ao diferencial entre a taxa de
inflao interna e a taxa de inflao externa. Esta concluso
pode ser expressa da seguinte maneira:
E+1 = E. (1 + taxa de inflao interna)/(1+ taxa de inflao externa)
Manual de Macroeconomia 55
taxa de Cmbio. O eixo vertical indica a taxa real de cmbio, e o
horizontal a oferta e demanda de dlares. A cada nvel de taxa
real de cmbio corresponde uma oferta e demanda de divisas.
O ponto Ee reflete uma situao na qual no ocorre movimento de
capital em nenhuma direo (Dornbusch e Helmers, 1988, p. 12).
Er
D S
Ee
E*
Entrada de capital
S ou Perda de Reservas D
Manual de Macroeconomia 57
macroeconmico no suficientemente claro e estimulante para
empurrar as empresas na direo de um ajuste que as tornaria
competitivas e capazes de sobreviver. Esta sobrevalorizao
pode ser resultado explcito da poltica cambial, ou o resultado
do diferencial entre a inflao domstica e internacional.
A Figura 3 resume as relaes entre taxa de cmbio e o
balano de pagamentos.
ESTMULO AO
SADA DE
INGRESSO E
CAPITAIS MAIOR
DESENCORAJA-
QUE O INGRESSO
MENTO DA SADA
DE CAPITAIS
DE CAPITAIS
DESENCORAJA-
INGRESSO DE MENTO AO
CAPITAIS MAIOR INGRESSO E
QUE A SADA DE ESTMULO DA
CAPITAIS SADA DE
CAPITAIS
Manual de Macroeconomia 58
LIO 5
Manual de Macroeconomia 59
Ambas tm efeitos diretos sobre o nvel da demanda
agregada, e indiretos sobre a composio da demanda. Um
aumento dos impostos e/ou uma reduo do gasto
governamental podem, por exemplo, aumentar a poupana do
governo e assim reduzir o dficit oramentrio do governo e o
dficit em conta corrente do pas com o resto do mundo. A
restrio do crdito bancrio ao setor privado limita o consumo
e o investimento privado, e tambm afeta o resultado da conta
corrente.
As polticas monetria e fiscal tm efeitos diretos sobre o
nvel de atividade econmica. Polticas restritivas, utilizadas
para reduzir (por quaisquer razes) a demanda agregada,
geram, no curto prazo, desemprego e queda do bemestar
social. Tm, em geral, efeitos assimtricos sobre as atividades
econmicas e a populao, afetando mais intensamente os
setores econmicos mais dbeis, as pequenas e mdias
empresas descapitalizadas, os dependentes de crdito para
capital de giro, e os trabalhadores e os pobres que no dispem
de poupana ou de outro mecanismo amortecedor dos
impactos da crise. Podem tambm ser utilizadas para estimular
a expanso da economia e do nvel de emprego, e os limites
para sua eficcia so dados pela possibilidade de crescer sem
gerar presses inflacionrias significativas nem problemas de
balano de pagamentos.
Polticas cambial e comercial, alm de atuarem sobre o
nvel da demanda agregada, afetam especialmente sua
composio e os fluxos de divisas entre o pas e o resto do
mundo. A poltica comercial intervm no fluxo de comrcio
exterior modificando os a disponibilidade e os preos relativos
dos bens e servios transacionados no comrcio mundial. Para
tanto pode utilizar restries quantitativas e/ou tarifrias,
subsdios e isenes s exportaes e importaes. Por outro
lado, a poltica cambial tambm atua sobre os preos relativos
dos bens comercializveis e nocomercializveis, com efeitos
sobre o comrcio externo do pas e sobre a alocao dos
recursos e a composio da produo domstica.
Conjuntamente, tais polticas podem produzir um
deslocamento da demanda entre os tipos de bens no-
comercializveis e comercializveis, atuando, portanto, sobre e
Manual de Macroeconomia 60
nvel e composio das importaes e das exportaes. Estas
polticas afetam o padro de crescimento, a composio da
produo, do gasto e dos fluxos de divisas.
A poltica financeira incide sobre os fluxos de capital e
tem dois aspectos. Um pas pode tentar financiar o dficit em
conta corrente ao invs de fazer um ajuste imediato para
reduzir o desequilbrio externo. Neste caso, a poltica financeira
consiste no manejo dos mecanismos de financiamento desse
dficit: venda de ativos internacionais, reduo das reservas
internacionais ou endividamento. Um segundo aspecto diz
respeito necessidade de ajustar o sistema financeiro nacional,
em particular a taxa de juros, para atrair poupana externa e
evitar fugas de capital, assegurando aos investidores em moeda
nacional um rendimento equivalente ao rendimento no exterior.
Em resumo, os principais componentes da poltica
macroeconmica so: (a) a poltica monetria, (b) a poltica
fiscal, (c) a poltica comercial, (d) a poltica cambial, e (e) a
poltica financeira. Cada uma dessas polticas tem um papel na
conduo da economia e na correo dos desequilbrios
macroeconmicos.
Deve-se levar em conta que os efeitos de cada poltica
pode variar segundo as condies gerais da economia e o
tempo de maturao. Por exemplo, uma desvalorizao cambial
pode provocar uma recesso imediata seguida de um aumento
do nvel de produo. Mas a mesma desvalorizao pode
simplesmente desencadear um processo inflacionrio que
esteriliza a possibilidade de manifestao de seus efeitos
positivos. A necessidade de reduzir o risco inflacionrio
recomenda a elevao da taxa de juro no perodo ps-
desvalorizao. O efeito colateral dessa medida desestimular
os investimentos, particularmente o privado, fato que pode
limitar as perspectivas de crescimento futuro. A princpio, esses
efeitos no deveriam aparecem com as polticas de
deslocamento da demanda que, ao atuarem sobre os preos
relativos dos bens internacionais em relao aos bens
domsticos, reduzem as importaes, mas estimulam as
exportaes, compensando os efeitos recessivos. O problema
dessas polticas pode ser do tipo inflacionrio, caso as
mudanas nos preos dos bens ocasionem mudanas nos outros
Manual de Macroeconomia 61
preos macroeconmicos: salrios e juros. Da que o modelo
dominante de estabilizao insista na necessidade de uma
combinao de polticas de cmbio, deslocamento de demanda
e conteno da demanda para evitar o surto inflacionrio.
Os instrumentos de poltica econmica afetam, em
primeira instncia, o funcionamento econmico global, mas
podem ter conseqncias desejadas ou involuntrias
sobre o comportamento de cada um dos setores econmicos.
Essas polticas e instrumentos sero apresentados rapidamente,
deixando para mais adiante uma anlise mais detalhada dos
efeitos das polticas comercial e cambial.
Manual de Macroeconomia 63
econmico. A carga tributria recai de forma diferenciada sobre
os vrios setores econmicos e camadas sociais, sendo,
portanto, objeto de forte presso poltica e social. Isso remete ao
segundo dilema: quem paga a conta? Finalmente, a poltica
fiscal enfrenta o terceiro dilema: como e em que gastar? Ou seja,
quem sero os beneficirios dos gastos do governo?
No h dvida que todos os trs dilemas so de natureza
poltica e no de natureza tcnica. Embora seja matria muito
complexa, cujo manejo exige tcnicas refinadas, a questo fiscal
, antes de tudo, poltica. no nvel da poltica que se decide
quanto o governo pode gastar, quem deve pagar a conta e
quem sero os beneficirios.
A poltica fiscal gera um fluxo monetrio entre o governo
e a sociedade. Este fluxo deve ser analisado de um duplo ponto
de vista. De um lado, a imposio e, de outro, o gasto. Ou seja,
o problema colocado o de saber da onde vm prioritariamente
as rendas do Governo (de que setor?, de quais agentes?) e
aonde vo os gastos governamentais (para qual setor?, para
quais agentes?). preciso levar em conta que os efeitos desses
fluxos transcendem os aspectos quantitativos, j que tanto os
impostos como os gastos modificam os incentivos, as
expectativas e as condies objetivas enfrentadas pelos agentes
econmicos, e pela sociedade como um todo.
Finalmente, a formulao da poltica fiscal deve levar em
conta a magnitude do dficit pblico que a economia pode
suportar. A magnitude do oramento pblico (em relao ao
tamanho da economia) est determinada por dois fatores: a vontade e a
capacidade do governo para fixar um nvel de impostos economia e a
vontade de assumir e financiar os dficit oramentrios (Timmer,
Falcon & Pearson, 1983: 226). Neste sentido, a poltica fiscal
limitada pela poltica monetria (nvel do crdito nacional
disposio do governo), mas ao mesmo tempo tambm
condiciona a implementao da poltica monetria,
especialmente pelo lado do financiamento do dficit pblico.
Manual de Macroeconomia 64
entre os pases, a poltica cambial e comercial assume papel de
suma importncia no desenho das polticas econmicas.
De um ponto de vista geral, o principal objetivo dessas
polticas preservar uma posio sustentvel do balano de
pagamentos do pas. O exerccio dessas polticas tem efeitos
sobre toda a economia e, ao contrrio do que comumente se
pensa, tais efeitos no se limitam aos aspectos do comrcio
exterior. Como j foi indicado, a taxa de cmbio exerce forte
efeito na alocao de recursos entre os setores produtores de
bens transveis e no-transveis, afeta a competitividade da
produo domstica vis a vis a produo externa e tem
influncia direta sobre o nvel de vida da populao.
O manejo do balano de pagamentos no tarefa fcil,
pois em seus resultados interferem muitos fatores sobre que
esto fora do alcance da poltica de qualquer pas. So os
chamados fatores exgenos. Alm disso, o resultado do balano
pode decorrer de problemas de curto prazo, como uma queda
do volume exportado em virtude de uma seca ou calamidade
pblica, mas nem por isso pode ser negligenciado. Equacionar
problemas de curto prazo do balano de pagamentos sem
comprometer a trajetria de longo prazo da economia um dos
principais, e mais complexos, desafios da poltica econmica.
Em uma viso de longo prazo, o ideal seria construir a
posio sustentvel do balano de pagamentos intervindo sobre
a estrutura de preos relativos entre bens comercializveis e
bens no-comercializveis, de tal forma a estimular o
crescimento equilibrado da produo e da demanda domstica.
A poltica cambial e comercial, cujos principais instrumentos
so a taxa de cmbio (E) e o nvel de proteo (t), so as
ferramentas utilizadas para atuar nessa rea.
Manual de Macroeconomia 65
se houver um pretexto muito bom. Terceiro, para minimizar o efeito
sobre a inflao, um subsdio exportao pode ser prefervel
desvalorizao (Dornbusch & Helmers, 1988: 48).
O nvel de proteo implcito na poltica comercial define
a maior ou menor neutralidade de um regime comercial. Diz-se
que um regime comercial neutro se o conjunto da poltica
comercial oferece estmulos iguais para a produo de todo tipo
de bens comercializveis ou, dito de outra maneira, se os efeitos
da proteo so idnticos aos da ausncia de proteo. O
problema identificar o efeito diferenciado da poltica
comercial sobre os vrios setores da economia. A taxa nominal e
a taxa real de proteo permitem medir esse vis.
A taxa de proteo nominal Tn a diferena entre o
preo interno Pi e o preo mundial Pe tomada como um
percentual do preo mundial:
Pi Pe
Eq. 19: Tn
Pe
VAi VAe
Eq. 20: Te
VAe
Manual de Macroeconomia 66
econmicos regionais, como o Mercosul. Apesar da reduo do
seu campo de ao, as polticas comerciais so instrumentos
indispensveis para promover o desenvolvimento econmico,
seja para protegerem a atividade local de concorrncia desleal
seja para assegurar incentivos necessrios para a explorao do
potencial competitivo dos pases.
10 O leitor pode ver a anlise desses efeitos sob taxas de cmbio fixas e flutuantes,
assim como alguns estudos de caso em Dornbusch & Helmers, (1988: 1933).
Manual de Macroeconomia 69
passou a ser apoiada. A desvalorizao oferece a expectativa no
longo prazo de mais empregos e um crescimento mais rpido. O
problema, tanto para o governo como para os pobres, como
sobreviver (Timmer, Falcon & Pearson, 1983: 234).
Saldo
Comercial
Superv it Tempo
Df icit
Manual de Macroeconomia 73
internacionais e com taxas de cmbio flexveis, no basta que o
rendimento nominal dos ativos internos seja equivalente aos
dos ativos externos. necessrio, ademais, levar em conta o
risco de desvalorizao da moeda nacional e incluir um prmio
de risco associado ao prprio pas.
Nesse contexto, a taxa nominal de juros interna in
tende a pelo menos igualar a soma da taxa de juros externa i * ,
da desvalorizao antecipada (ou expectativa de
desvalorizao) d e de um prmio para cobrir o risco
associado ao pas (R).
Eq. 21: i n i * d R
Manual de Macroeconomia 75
As decises dos agentes econmicos em resposta aos
preos fixados pelo governo podem, portanto, gerar distores
alocativas e ineficincia no uso dos recursos, o que terminar
por anular os eventuais efeitos positivos decorrentes da
regulao artificial dos preos macros com a finalidade de
estimular as atividades econmicas e obter respostas no curto
prazo. A experincia de muitos pases demonstrou que o
resultado lquido de uma regulao macroeconmica artificial
a reduo do crescimento econmico secular, um nvel elevado
de desemprego estrutural, alocao ineficiente dos recursos
escassos e a adoo de tecnologias no sustentveis e
descoladas da utilizao eficiente dos recursos disponveis.
Segundo a viso liberal da economia, a poltica
macroeconmica no deveria ter outro objetivo que o de alinhar
os macropreos ao valor de escassez subjacente dos recursos.
Qualquer interveno para modificar os preos resultaria em
graves distores socioeconmicas.
A breve apresentao feita sobre a taxa de juros real
como deformao na economia capitalista, do salrio em sua
dupla natureza de custo de produo e poder de compra, e do
duplo papel da taxa de cmbio como ncora cambial e como
sinal chave na determinao da alocao dos recursos entre os
setores comercializveis e no-comercializveis, permite
matizar o enfoque neoclssico quanto aos provveis efeitos dos
macropreos sobre a economia. Particular ateno dada taxa
de cmbio e taxa de juros, cujos efeitos tanto sobre a alocao
de recursos e como sobre a dinmica da conjuntura muito
forte.
Ainda que a apresentao esteja limitada ao mbito
estritamente macroeconmico, tanto o enfoque neoclssico
como neo-estruturalista, situam suas proposies em uma
perspectiva mais ampla do que a dos modelos de
desenvolvimento desejveis e possveis. Deste ponto de vista, o
manejo dos preos macroeconmicos contribui para modelar
diferentemente as estruturas dos pases em desenvolvimento,
em particular no que se refere ao papel que corresponde ao
Estado no modelo de desenvolvimento.
pertinente, portanto, concluir esta breve exposio dos
preos macroeconmicos com uma reflexo global sobre os
Manual de Macroeconomia 76
modelos de desenvolvimento e sobre o papel do Estado
associado aos enfoques neoclssico e estruturalista.
Manual de Macroeconomia 77
1) Choque de competitividade e orientao para o exterior em
substituio ao ambiente das economias fechadas,
protegidas e voltadas, sobretudo para dentro. O conjunto de
instrumentos da poltica econmica deveria fomentar as
exportaes e a substituio eficiente das importaes.
Ambos objetivos somente podem ser alcanados por meio
da insero da economia nacional aos mercados
internacionais, pois apenas a competio pode de fato forar
os agentes a buscarem a mxima eficincia econmica e a
aproveitarem todo o potencial derivado das vantagens
competitivas do pas. As polticas cambial e comercial so
centrais para produzir a reorientao da economia para o
exterior: taxa de cmbio competitiva e de equilbrio, reduo
da proteo e uso de incentivos legtimos s exportaes em
substituio aos utilizados no passado que geravam a
chamada competitividade espria, na expresso do
economista cepalino (VAL) Fanzylber. Tudo isto significa
eliminar o vis em favor do mercado interno e focar na
competitividade internacional do sistema produtivo
nacional.
2) Aumentar e melhorar a alocao da poupana interna. A
implementao de uma poltica de juros reais positivos
considerada condio sine qua non para aumentar a
poupana privada, ao passo que a promoo de ampla e
profunda reforma fiscal e a eliminao do dficit
pblico igualmente essencial para melhorar a alocao
dos recursos. A reduo/eliminao do dficit pblico deve
assentar-se fundamentalmente na reduo do gasto,
especialmente o corte dos gastos correntes com a
manuteno da mquina pblica e a eliminao dos
subsdios generalizados, embora se admita, como
excepcional, um eventual incremento das receitas fiscais
desde que obtido pela ampliao da base impositiva e/ou
da venda de empresas pblicas, nunca por meio da elevao
dos impostos. Polticas monetria e financeira provm meios
adequados para disciplinar os gastos pblicos e para evitar
eventuais fugas de capital, ao passo que a
desregulamentao dos mercados financeiros ampliaria a
poupana e melhorariam a alocao do crdito. O suposto
ideolgico que perpassa toda essa argumentao de que
Manual de Macroeconomia 78
necessariamente o Estado gasta mal gastador, e que a
simples transferncia de recursos do Estado para o setor
privado produziria uma melhoria na alocao dos recursos.
3) Reformas do Estado. Os objetivos centrais dessas reformas
eram, de um lado, reduzir o papel do Estado como produtor
de bens e servios e de outro sua interferncia e interveno
no funcionamento dos mercados. O Estado deveria limitar-
se s funes de polcia, segurana e estabilidade
institucional, prestao de servios sociais para os mais
desfavorecidos e a garantir um contexto macroeconmico
estvel e propcio para a atuao do setor privado. Tal
estabilidade pressupe consistncia e continuidade das
polticas macroeconmicas, necessrias para assegurar um
horizonte confivel para os investimentos de longo prazo.
Por sua vez, a criao de um ambiente propcio requer a
implementao de amplas reformas do Estado reduzindo
seu tamanho e poder de interveno , a aprovao
medidas de desregulamentao da economia e a adoo de
polticas econmicas consistentes com os arranjos
dominantes nos pases desenvolvidos. O novo Estado
deveria concentrar os investimentos pblicos em setores
com maiores externalidades positivas: capital humano e
infra-estrutura fsica.
Em resumo, a proposta de ajuste estrutural visa eliminar
os desequilbrios macroeconmicos internos e externos por
meio de reformas de carter estrutural e institucional, sendo
para tanto necessrio reduzir o nvel de absoro domstica
para patamares compatveis com o crescimento sustentvel do
produto e com um dficit sustentvel em conta corrente. Este
objetivo supe encontrar a combinao adequada e o manejo
equilibrado dos instrumentos de poltica monetria, fiscal e cambial
que, para um nvel dado de financiamento externo, consigam cumprir
com os objetivos de estabilizao, apiem as transformaes estruturais
e imponham menores custos em termos de crescimento no curto
prazo (Sunkel & Zuleta, 1990: 38).
Manual de Macroeconomia 79
5.4 - Modelo de desenvolvimento, preos macro-
econmicos e estruturas socioeconmicas
Tambm possvel desenvolver uma viso alternativa do
desenvolvimento, baseada tanto em uma avaliao crtica das
experincias concretas de polticas de substituio de
importaes adotadas por muitos pases da Amrica Latina
como no papel das polticas e preos macroeconmicos.
diferena da viso neoclssica que analisa a dinmica da
economia a partir dos preos, os estruturalistas enfatizam certas
caractersticas estruturais da economia, suas relaes com as
polticas econmicas e com seus resultados.
A viso neo-estruturalista latinoamericana, associada
aos trabalhos da CEPAL, reconhece que a poltica da
industrializao via substituio das importaes provocou
uma srie de distores alocativas e distributivas. Isto no
significa negar os aspectos e resultados positivos alcanados em
30 anos de crescimento acelerado, nem aceitar todas as
concluses da crtica e (VAL) muito menos as ainda as
propostas de polticas econmicas associadas crtica
neoclssica ao modelo de industrializao adotado pelos pases
latino-americanos, cuja nfase nos equilbrios tem como
contrapartida a negligncia em relao ao impulso especfico
formao de capital e a regulao do nvel de atividade (Sunkel &
Zuleta, 1990: 47).12
Embora a poltica econmica seguida no tenha sido em
todos os casos a mais adequada, os problemas enfrentados
pelos pases em vias de desenvolvimento tm origem histrica e
caractersticas estruturais indubitveis.
Deve-se destacar trs caractersticas estruturais:
a) Padro de insero externa que, dadas as tendncias do
comrcio e o sistema financeiro internacionais, conduz a
uma especializao empobrecedora;
Manual de Macroeconomia 80
b) Predomnio de um padro produtivo desarticulado,
vulnervel, heterogneo e concentrador do progresso
tcnico, incapaz de absorver produtivamente o aumento da
fora de trabalho; e
c) A persistncia de uma distribuio de renda concentrada e
excludente, que evidencia a incapacidade do sistema para
diminuir a pobreza (Sunkel & Zuleta, 1990: 42).
Dado este ponto de partida, a discusso sobre os
problemas do desenvolvimento e as eventuais inadequaes da
poltica econmica no pode ser limitada unicamente ao tema
das polticas macroeconmicas capazes de assegurar uma
alocao eficiente dos recursos. O problema no somente de
uso eficiente das possibilidades produtivas atuais, mas de
criao de condies capazes de gerar uma insero dinmica na
economia internacional e que respondam necessidade de elevar a
produo dos setores mais pobres (Sunkel & Zuleta, 1990: 42).
Ainda que fosse possvel assegurar o funcionamento do
mercado livre, sem intervenes do governo, e implementar
uma poltica econmica neutra em relao alocao dos
recursos, no se geraria, necessria e automaticamente, as
condies requeridas para a superao da pobreza e das
desigualdades que caracterizam os pases em desenvolvimento.
Ambas devem ser complementadas por aes do Estado, cujas
funes especificamente econmicas seriam as seguintes:
a) A promoo ou simulao de mercados ausentes;
b) Fortalecimento dos mercados incompletos;
c) A superao ou correo das distores estruturais (carter
assimtrico da insero externa, heterogeneidade da
estrutura produtiva, concentrao da propriedade,
segmentao do mercado de capital e de trabalho);
d) A eliminao ou compensao das falhas de mercado
associadas aos rendimentos de escala, s externalidades e ao
aprendizado (Sunkel & Zuleta, 1990: 42).
Do ponto de vista social, a ao do Estado deve levar em
conta trs aspectos relevantes:
Manual de Macroeconomia 81
e) Minimizar o impacto dos problemas de ordem externa sobre
os grupos mais pobres e vulnerveis para apoiar tanto a
elevao da produo e da produtividade como proteger a
renda e prover os servios sociais bsicos;
f) Diminuir os custos de realocao da mo-de-obra associados
s reformas estruturais e ao novo paradigma tecnolgico;
g) Facilitar a erradicao da pobreza e da concentrao
excessiva da renda e da riqueza, uma vez reiniciado o
crescimento. (Sunkel & Zuleta, 1990: 44).
No se deve exagerar as diferenas entre as vises
estratgicas neoclssica e neo-estrutural. No fundo, a principal
divergncia situa-se no maior ou menor peso especfico
atribudo s caractersticas estruturais na explicao dos
problemas concretos. De um lado, tem-se um modelo que
generaliza os condicionantes do crescimento e situa-os,
prioritariamente, no mbito das polticas macroeconmicas e
dos macropreos. Este modelo enfatiza os conceitos de escassez,
maximizao e clculo racional, cujo espao de manifestao
so os mercados onde cada agente tem a possibilidade de
otimizar seu comportamento.
De outro lado, uma viso que, sem deixar de reconhecer
a importncia da poltica macroeconmica e da gesto concreta
dos macropreos, encontra os determinantes centrais do
crescimento e do desenvolvimento (ou de sua insuficincia) nos
modelos de crescimento interno e de insero externa. Aqui os
agentes econmicos no dispem de uma liberdade total de
escolha, j que esto determinados por configuraes histricas
estruturais, por instituies historicamente constitudas (ver
(VAL) Lies 19 e 20, sobre Instituies) e por um grau elevado
de incerteza, o qual d sentido a fenmenos socioeconmicos, e
a comportamentos e resultados de polticas que no se
amoldam inteiramente aos propugnados pelo modelo
neoclssico.
Ademais, homogeneidade dos agentes econmicos e do
tecido social teorizada pelo modelo neoclssico, a concepo
neo-estrutural ope a viso de um todo social estruturado e
hierarquizado, profundamente diferenciado e no
necessariamente integrado, com particularidades que no
Manual de Macroeconomia 82
podem ser ignoradas pela formulao da poltica
macroeconmica.13
a partir desse posicionamento conceitual e estratgico
que sero discutidas, nas prximas lies, tanto as polticas
econmicas propriamente ditas como os nexos entre essas
polticas e o setor agropecurio.
Manual de Macroeconomia 83
LIO 6
Manual de Macroeconomia 84
familiares produo de alimentos e ou de subsistncia.
Embora esta dicotomia j no seja inteiramente vlida, as
unidades capitalistas e empresariais, mesmo quando operam
em um mesmo ramo por exemplo, produo para exportao
recebem e respondem de maneira especfica aos sinais e
polticas macroeconmicas. Da que o conjunto da poltica
macroeconmica e, em particular, os preos macroeconmicos,
afete diferentemente a cada tipo de produtor.15
Ao desconsiderar a especificidade e a heterogeneidade
da agricultura nos pases em vias de desenvolvimento, as
propostas de poltica econmica acabam por colocar em
segundo plano os interesses da agricultura familiar.16 O Quadro
12, abaixo, resume os principais efeitos das polticas de ajuste
sobre os dois tipos de agricultura.
Manual de Macroeconomia 85
Quadro 12: Efeitos diferenciados das polticas de ajuste
Efeitos Positivos
Efeitos Negativos
Manual de Macroeconomia 86
6.2 - Poltica Fiscal: tributao e gasto pblico
A restrio oramentria um determinante central das
polticas agrcolas. A definio de incentivos fiscais a um ou
outro setor uma deciso essencialmente poltica. Ao contrrio
do senso comum que considera que o poder de gastos do
Estado quase ilimitado, os incentivos fiscais tm um custo,
no podem ser generalizados e sua adoo implica,
necessariamente, em sacrificar outros setores e objetivos,
explcitos ou implcitos, da poltica de desenvolvimento.
A dimenso poltica das decises fundamentais da
poltica fiscal aspecto cuja importncia no deve ser
negligenciado. Como a alocao dos recursos pblicos responde
a processos e presses de carter poltico, as decises adotadas
podem entrar em contradio com as prioridades que
decorriam de um diagnstico tecnicamente bem elaborado e de
um manejo da poltica em funo dos objetivos de
desenvolvimento econmicosocial sustentvel. Esta inevitvel
interferncia poltica pode afetar os resultados das polticas e
comprometer seus objetivos. O Quadro 13 relaciona o custo
fiscal da utilizao de alguns instrumentos de poltica agrcola.
Manual de Macroeconomia 87
a) Poltica de preos e tarifas do setor pblico. Essas polticas
incidem sobre o custo de certos insumos utilizados pelo
setor agrcola. A reduo de subsdios da gua, por
exemplo, eleva os custos de produo, assim como os preos
da energia e do combustvel tambm tm impactos diretos
sobre a competitividade da produo agropecuria.
b) Poltica de gasto pblico. A questo no diz respeito apenas
ao nvel do gasto pblico, mas, sobretudo, sua
composio. Historicamente, essa poltica foi importante
para o desenvolvimento da agricultura, tendo sido
responsvel pela abertura de novas reas (fronteira
agrcola), pela construo de infra-estrutura, obras de
irrigao, barateamento de insumos, mquinas e outros
incentivos ao progresso tecnolgico. Em grande medida a
poltica de gastos pblicos at o final dos anos 80 assentou-
se no financiamento inflacionrio e em circunstncias
especiais que alargavam a margem de manobra para a
implementao de polticas fiscais expansionistas e execuo
oramentria com grande elasticidade. A reduo do gasto
decorrente das mudanas das condies de financiamento
das economias em desenvolvimento coloca o problema de
decidir onde cortar, quanto cortar, de quem cortar e a quem
beneficiar. Quando se considera agricultura, deve-se
analisar os efeitos da reorientao dos gastos pblicos sobre
cada subsetor e analisar que segmentos devem ser
favorecidos e ou penalizados.
c) Financiamento do dficit fiscal. Sabe-se que o dficit pblico
no neutro em relao aos setores e agentes econmicos.
Tanto os gastos que do origem ao dficit pblico como a
modalidade de financiamento do dficit pblico tm efeitos
diferenciados cuja relevncia que no pode ser desprezada.
O financiamento inflacionrio, por exemplo, tende a
provocar um atraso dos preos agrcolas em relao aos
demais preos. Alem disso, tambm reduz o nvel de renda
real da parte da populao assalariada, com efeitos sobre o
mercado domstico de alimentos. Por outro lado, pode
contribuir para acelerar o crescimento econmico, com
efeitos positivos sobre o mercado de trabalho e demanda de
alimentos. Quando o Estado financia seu dficit recorrendo
Manual de Macroeconomia 88
ao mercado financeiro, compete com o setor privado pelos
recursos disponveis. Uma conseqncia provvel a
elevao das taxas de juros, o que afeta os investimentos em
geral, at mesmo o setor agrcola.
d) Poltica de rendas do setor pblico. A poltica de rendas
sempre desempenhou papel relevante nos pases em
desenvolvimento que, como o Brasil, implementaram
polticas ativas de industrializao. Os principais
instrumentos utilizados foram: regulao dos salrios,
fixao de preos macroeconmicos, administrao de
vrios mercados relevantes, inclusive o de alimentos,
tributao e subsdios. O nvel de tributao sobre o setor,
quanto e de que maneira a estrutura tributria (tipo de
impostos, taxas mdias e marginais, concesses) afeta as
decises de consumo, poupana e investimento so fatores
relevantes para a determinao da dinmica da agricultura.
Em muitos pases a agricultura, sobretudo de exportao,
uma importante fonte de recursos fiscais para os governos. O
imposto sobre exportao tem um custo para o setor, na medida
em que significa uma redistribuio massiva da renda dos
produtores para os consumidores e o governo. O dilema entre impostos
exportao como contribuio s finanas pblicas razoveis e altos
preos ao produtor como contribuio a um produto agrcola maior,
reflete o dilema entre a estabilizao de curto prazo do FMI e a poltica
de ajuste estrutural de longo prazo do Banco Mundial (Streeten,
1987: 86).
A carga fiscal outro fator importante para o
desenvolvimento do setor. Uma carga fiscal excessivamente
elevada pode reduzir os estmulos produo e aos
investimentos, comprometendo, em conseqncia, a
sustentabilidade do crescimento do setor, como parece ter
ocorrido na Argentina no perodo 1930-1980. Uma tributao
baixa pode assegurar receitas mais elevadas ao Estado se for
capaz de estimular a expanso da produo, compensando
dessa forma o nvel mais baixo de imposto. O efeito final no
pode ser estimado sem levar em conta os comportamentos
precisos de cada tipo de produtor e os efeitos especficos de
cada tributo sobre as decises de produo, de investimento e
de consumo.
Manual de Macroeconomia 89
6.3 - Polticas Cambial e de Comrcio Exterior
Como foi visto, o setor externo define, em ltima anlise,
as possibilidades e limites para seu crescimento. Manter uma
posio sustentvel das contas externa , por conseguinte, um
dos principais objetivos da poltica macroeconmica. Os
desequilbrios do balano de pagamentos podem ter diferentes
causas: excessiva dependncia em relao s importaes,
diminuio da produo ou dos preos dos produtos de
exportao, aumento dos preos de certos insumos importados,
elevao da taxa de juros internacional, reduo dos fluxos de
capital para o pas. Esses desequilbrios podem tambm resultar
de problemas estruturais internos como, por exemplo, o
envelhecimento tecnolgico do setor exportador domstico ,
ou de polticas macroeconmicas inadequadas como pode
ser o caso de uma taxa de cmbio sobrevalorizada, que estimula
as importaes e reduz as exportaes , ou ainda de fatores
externos, tais como o choque de petrleo ou a sbita elevao
dos juros internacionais. Em quaisquer dos casos, os impactos
sobre a economia dependero das condies estruturais e de
sua sade macroeconmica. Por exemplo, a elevao da taxa de
juros internacional afetar mais severamente as economias com
dvidas externas elevadas do que aquelas com baixo nvel de
endividamento.
A poltica cambial e a comercial desempenham papis
centrais em qualquer estratgia de desenvolvimento. Alm dos
efeitos macros j comentados atrs, os instrumentos dessas
polticas so usados para por regular diretamente o comrcio
exterior e a substituio de importaes. Para muitos autores, a
taxa de cmbio a varivel que exerce maior influncia sobre o
desempenho da economia como um todo, particularmente da
agricultura. Esta convico levou os organismos internacionais
a enfatizar a eliminao de taxas de cmbio sobrevalorizadas
como medida necessria para reduzir os desequilbrios externos
e os obstculos ao crescimento da produo agropecuria. Nos
anos 90 a orientao mudou, e os mesmos organismos
passaram a sustentar a necessidade de manter taxas de cambio
real elevadas para ancorar o esforo de estabilizao das
moedas nacionais, corrodas pela hiperinflao do final da
dcada de oitenta.
Manual de Macroeconomia 90
No caso da agricultura, os problemas advindos da
sobrevalorizao podem, inclusive, ser cumulativos: se os
alimentos so subsidiados e as importaes aumentam, e se as
subvenes so financiadas por um dficit oramentrio, a inflao
acelera-se. Isto aumentar a demanda de importaes, as presses na
taxa de cmbio e sua sobrevalorizao manter-se-o fixas. A demanda
por alimentos importados incrementar-se- ainda mais e a oferta de
alimentos internos no ser estimulada. Se no existe acesso a
emprstimos, o dficit oramentrio ter que ser reduzido ou a taxa de
cmbio desvalorizada (Streeten, 1987: 89).
A taxa de cmbio e a poltica comercial modificam os
preos relativos dos diferentes tipos de bens e provocam uma
re-alocao de recursos entre os setores que produzem bens
importveis, bens exportveis e bens nocomercializveis.
Uma poltica comercial protecionista aumenta o preo relativo
dos importveis e dos no-comercializveis em relao aos
exportveis. Os produtores de exportaes pagam, de fato, um
imposto equivalente diminuio de seus preos relativos. Ao
contrrio, se a poltica comercial consiste em uma liberalizao
comercial, isso exerce certas presses sobre os importveis
produzidos internamente, mas tambm um acesso a preos
menores aos insumos importados.
A desvalorizao da moeda, por sua parte, introduz, pelo
menos de imediato, um estmulo produo de bens
comercializveis (exportveis e substitutos de importaes),
desde que seus preos no aumentem acima da taxa de
desvalorizao. Caso isto ocorra, o efeito positivo da
desvalorizao seria anulado pela inflao. Este um dos riscos
envolvidos em uma poltica de desvalorizao cambial. Reduzir
esse risco inflacionrio requer a aplicao de polticas
monetrias e cambiais restritivas, o que, muitas vezes, dificulta
a prpria re-estruturao do setor privado, a qual necessria
para o aproveitamento das oportunidades de mercado abertas
pela desvalorizao, assim como tem efeitos negativos sobre o
oramento do setor pblico por meio da elevao da taxa
domstica de juros.
Altas taxas de proteo indstria domstica canalizam
recursos das atividades de exportao, entre elas a agricultura,
para as atividades protegidas. Por isso alguns autores
Manual de Macroeconomia 91
recomendam a liberalizao do comrcio e a reduo da
proteo efetiva produo domstica como medidas
necessrias para aumentar a eficcia da economia como um
todo, melhorar a alocao de recursos, estimular as exportaes
e reduzir a tenso decorrente do desequilbrio externo. Na
prtica essa recomendao ignora os custos do ajuste e,
principalmente, o tempo necessrio para a re-estruturao do
aparelho produtivo. Tambm no leva em conta, de forma
adequada, que os efeitos imediatos da liberalizao podem
comprometer, e at mesmo inviabilizar, a resposta virtuosa dos
agentes econmicos s mudanas institucionais, e anulando
dessa forma a viabilidade da estratgia de ajuste. Essa poltica
supe que a taxa de cmbio seja compatvel com a liberalizao,
ou seja, que a desvalorizao eleve a competitividade das
exportaes e encarea as importaes. Uma desvalorizao real
pode compensar os efeitos das redues tarifrias, contribuindo
para que as empresas reajam ao novo quadro, aproveitem as
oportunidades criadas tanto no mercado externo como no
domstico (substituio de importaes) e invistam para
adquirir competitividade efetiva e enfrentar a concorrncia
internacional.
No entanto, o problema que a competitividade
resultado de inmeros fatores, e a maioria deles no afetada
pela desvalorizao. Ao contrrio, algumas deficincias ou
desvantagem sistmica podem inclusive se agravar como
conseqncia da desvalorizao. Um exemplo clssico o
diferencial de taxas de juros entre o mercado domstico e
externo. Para reduzir as presses inflacionrias, implementa-se
polticas monetria e fiscal restritivas no perodo ps-
desvalorizao, dificultando os investimentos necessrios para
ajustar a economia ao novo contexto.
Liberalizao comercial combinada com taxa de cmbio
sobrevalorizada produz efeitos contrrios ao recomendado:
aumenta a competitividade das importaes devido reduo
tarifria e reduz a competitividade das exportaes, cujas
margens de lucro so espremidas na medida em que a variao
cambial atrasa-se em relao inflao domstica descontada a
inflao internacional.
Manual de Macroeconomia 92
O impacto da desvalorizao ou da liberalizao sobre o
setor agrcola depender, em conseqncia, da composio do
seu produto e da participao de cada categoria de bens no
produto total. Um setor agrcola fortemente exportador ou que
produz alimentos de qualidade equivalente dos importados
poderia ser favorecido pela desvalorizao. Isto supe, sem
dvida, que os efeitos positivos sobre os preos no sejam
contrabalanados por um encarecimento mais que proporcional
dos insumos importados. Sob estas condies, a desvalorizao
poderia ser uma poltica adequada, ainda que insuficiente, por
si s, para estimular e assegurar o desenvolvimento da
agricultura.
No entanto, deve-se lembrar que as polticas macro so
instrumentos de amplo espectro, e que no seria recomendvel
indicar uma desvalorizao como poltica de estmulo s
exportaes de um setor especfico. Este remdio, quase sempre
amargo, s deve ser receitado quando a perda de
competitividade for generalizada em toda a economia; caso
contrrio, deve-se corrigir as deficincias e problemas
localizados por meio de instrumentos de poltica setorial.
Uma poltica de proteo indstria mediante restries
s importaes de mquinas e equipamentos pode afetar o
subsetor agrcola intensivo em capital, que de fato paga o custo
da proteo na medida em que utiliza insumos e mquinas
nacionais mais caras e/ou de menor qualidade do que seus
concorrentes que tm acesso mais livre ao mercado
internacional.
A agricultura familiar, que produz bens importveis com
um nvel de produtividade menor em relao produtividade
mdia internacional, ser negativamente afetada pela
liberalizao e pela elevao de importaes que competem
com seus produtos. A liberalizao, nesse caso, estabelece um
vis contra a agricultura familiar.
Em geral, os efeitos da desvalorizao sobre a agricultura
familiar so menos bvios ou diretos, j que tradicionalmente
esse segmento nem est to integrado ao mercado externo nem
utiliza insumos importados de forma intensiva. Se a
desvalorizao for acompanhada de polticas monetria e fiscal
Manual de Macroeconomia 93
restritivas, pode-se observar vrios efeitos indiretos. Primeiro, a
reduo na demanda agregada afeta mais particularmente a
agricultura familiar, que produz mais para o mercado interno.
Segundo, a restrio fiscal reduz o montante de subsdios e
transferncias ao campo, podendo atingir fortemente os
segmentos mais debilitados da agricultura.18 Terceiro, a
contrao da atividade econmica reduz o emprego e os
salrios, que so uma fonte complementar de rendas para
muitos agricultores familiares. O resultado, em termos de bem-
estar social, pode ser menos emprego e menor renda no
campo.19
O efeito combinado da desvalorizao e da liberalizao
sobre a agricultura como um todo ambguo e depende das
condies concretas e especficas peculiares a cada caso. Se, por
um lado, a exportao e a produo substitutiva de importaes
so estimuladas pela desvalorizao, a liberalizao pode
anular o efeito favorvel sobre os importveis. Alm disso, tal
efeito tende a concentra-se, majoritariamente, na agricultura
comercial, enquanto o desfavorvel tende a afetar mais a
agricultura familiar. O mesmo efeito contraditrio pode ser
observado em relao aos insumos importados, os quais ficam
mais caros devido desvalorizao, mas se barateiam dada
reduo das barreiras tarifrias.
Dados esses efeitos ambguos da desvalorizao e da
liberalizao, possvel concluir, seguindo Streeten, que
sobrevalorizar a importncia de um nico elemento como a taxa de
cmbio em um sistema complexo de variveis interdependentes, pode
ser pior que sobrevalorizar a prpria taxa de cmbio (Streeten, 1987:
91).
De acordo com este autor, o crescimento do setor
exportador depende mais decisivamente de outros fatores do
Manual de Macroeconomia 94
que da taxa de cmbio propriamente dita. Para que a
desvalorizao tenha efeitos claramente positivos, necessrio
um pacote de polticas que incida sobre as condies reais ou
produtivas do setor: estradas e transporte, instituies
mercantis e financeiras, sistemas de extenso rural, pesquisa
agronmica e tecnologia. Mas, acrescenta Streeten, se alguma
destas condies no est presente, a desvalorizao pode no fazer
nenhum bem e, se esto presentes, a desvalorizao pode no ser
necessria, ou s-lo em pequena proporo somente (Streeten, 1987:
91).
Manual de Macroeconomia 95
relativos dos bens comercializveis e no comercializveis em
favor dos primeiros, liberalizar e desregulamentar os mercados
agropecurios so medidas indispensveis tanto para melhorar
a eficincia da agricultura como um todo como para remover as
travas que impediram o dinamismo do setor externo no
passado. Em relao agricultura, o resultado esperado seria
um aumento real dos preos agropecurios, o que compensaria
os eventuais efeitos negativos decorrentes dos corte no gasto
pblico e da reduo/supresso dos subsdios.
O problema que, muitas vezes, tais polticas no
consideram os problemas estruturais que podem inclusive
anular os eventuais efeitos positivos da liberalizao; tampouco
consideram os impactos sobre a distribuio de renda e o nvel
de pobreza.
Para avaliar os efeitos globais da poltica de preos sobre
a distribuio da renda convm distinguir quatro tipos de
produtores ou grupos mais desfavorecidos:
a) Produtores de subsistncia, que, embora estejam isolados do
mercado, vendem apenas uma parte varivel e residual de
sua produo no mercado.
b) Produtores deficitrios e assalariados temporrios, cuja
renda e bem-estar dependem do nvel de emprego, dos
salrios rurais e do nvel de preos dos alimentos.
c) Produtores familiares capitalizados e/ou em processo de
capitalizao, cuja renda depende da produtividade e da
relao entre os preos dos alimentos que vendem e dos
alimentos que compram.
d) Populao pobre no meio urbano, cuja renda depende
tambm das oportunidades de emprego, dos salrios e dos
preos dos alimentos.
O que se requer para avaliar o impacto distributivo uma
anlise cuidadosa de cada grupo vulnervel e de como afetado por
uma alta no preo dos alimentos (Streeten, 1987: 62). A poltica de
preos de alimentos pode mudar a composio entre estes
grupos, j que seu impacto sobre cada um deles diferente,
assim como so diversificadas as respostas de cada grupo no
curto, mdio e longo prazo. Os produtores de subsistncia ou
Manual de Macroeconomia 96
deficitrios podem, diante de um aumento dos preos,
incrementar a produo mercantil s custas da produo para
autoconsumo. A venda de um maior volume de excedente
traduz-se em elevao da renda monetria, mas no
necessariamente em elevao do nvel de bemestar da famlia.
Isto depender do balano entre o autoconsumo renunciado e
os bens adquiridos com a renda adicional; depender tambm
de como afetada a segurana alimentar da famlia.
Um efeito negativo claro existe quanto aos diaristas e os
familiares deficitrios que tm que completar suas necessidades
alimentares no mercado. O efeito negativo de curto prazo pode
ser compensado, pelo menos parcialmente e no mdio prazo, se
o aumento de preos estimular a produo e, por conseguinte, o
aumento do emprego rural. Se isto acontecer, os salrios podem
aumentar tambm.
O efeito sobre os produtores familiares capitalizados
depender das diferenas nos aumentos dos preos entre os
bens que vendem e os bens que compram.
A renda real dos pobres urbanos diminui imediatamente.
Um eventual efeito positivo de longo prazo pode ocorrer se o
aumento de preos agropecurios dinamizar o setor, criar
empregos, reduzir a migrao campocidade e melhorar as
condies do mercado de trabalho no setor urbano informal.
Pode-se esperar que um aumento de preos, ao melhorar
os incentivos produo de alimentos, incentive os
investimentos, a inovao e a adoo de mudanas tcnicas, o
que pode traduzir-se, no longo prazo, em um melhoramento da
situao de todos os estratos devido ao deslocamento da
fronteira de possibilidades tecnolgicas. Sem dvida, depende
muito do sistema inicial de distribuio da terra e do acesso aos
insumos agrcolas, da inovao e da informao, assim como do apoio
das instituies infra-estrutura (Streeten, 1987: 64). O problema
aqui ser o da relao que se estabelea entre os efeitos
Manual de Macroeconomia 97
negativos de curto prazo e os resultados positivos esperados no
longo prazo.20
Em resumo, a elevao dos preos dos produtos
agropecurios pode estimular o crescimento setorial e aumentar
a renda dos produtores, mas somente daqueles que participam
do mercado como vendedores. Uma parcela dos agricultores
familiares, que se inserem no mercado como compradores, ser
afetada negativamente. A reduo da renda real dos
consumidores tambm poder afetar a demanda por alimentos,
pelo menos no curto prazo. De fato, altamente provvel que
os efeitos favorveis do aumento dos preos alimentares
concentrem-se nos produtores maiores que comercializam a
parte mais importante do produto total.
A elevao dos preos de alimentos tem efeitos
distributivos, e provoca a reduo da renda real dos
compradores lquidos de alimentos. A distribuio da perda
ter carter regressivo, e os grupos mais pobres tendero a
perder mais que os grupos de rendas mdias ou altas, porque a
parte que corresponde aos alimentos nos gastos totais de
consumo dos pobres maior (FAO, 1987: 110). Portanto, o
desafio incentivar a produo a preos que sejam ao mesmo
tempo rentveis para os produtores e acessveis para a grande
maioria dos consumidores, que so pobres.
20 Um aumento no preo dos alimentos aumenta a renda real dos produtores e diminui, no
curto prazo, a renda real dos consumidores, uma vez que no curto prazo a oferta no
aumenta. No mdio e longo prazo, o impacto negativo sobre os consumidores pobres pode
ser compensado pelas mudanas na tecnologia e um conseqente aumento da oferta de
alimentos, do emprego, dentro e fora das unidades de produo (...) e talvez uma reduo
na migrao campocidade, o que pode significar salrios urbanos e nveis de renda mais
altos.Streeten (1987: 65).
Manual de Macroeconomia 98
LIO 7
Manual de Macroeconomia 99
aumentando as muitas dificuldades para que o setor pudesse
desempenhar suas funes tradicionais.21 As importaes de
alimentos cresceram significativamente nos pases em
desenvolvimento, que se transformaram em grandes
importadores de produtos agropecurios; o xodo rural atingiu
propores incompatveis com a capacidade de absoro de
mo-de-obra pelos centros urbanos, contribuindo
decisivamente para o caos urbano.
Vrios fatores atuaram para penalizar a agricultura.
Primeiro, as estratgias de desenvolvimento orientadas para a
industrializao e apoiadas em barreiras protecionistas
elevadas significaram uma taxao agricultura que tomou a
forma de transferncias intersetoriais de recursos em favor da
indstria. Neste contexto, a produo de bens agrcolas foi
penalizada por duas razes: (a) pela maior rentabilidade dos
produtos industriais protegidos e (b) pela maior rentabilidade
dos bens que no entram no comrcio internacional. Ambos os
fenmenos favoreceram a alocao dos recursos nos setores
protegidos em detrimento da agricultura.
Em segundo lugar, a poltica cambial tendeu a
sobrevalorizar a moeda, reforando a discriminao contra a
agricultura, seja por reduzir os preos das importaes, seja por
reduzir a rentabilidade das exportaes.
Alm desses elementos mais estratgicos do modelo de
desenvolvimento de economia fechada, adotado por pases
como o Brasil, as polticas de ajuste e estabilizao praticadas a
partir dos anos 80 tambm tiveram efeitos negativos sobre a
agricultura, especialmente por conta da reduo da absoro
domstica e do gasto pblico. Em uma conjuntura de crise,
cortaram-se os subsdios ao crdito e compra dos insumos
E stad o
Po lti ca de P reo s
Int erc mbio de Ben s e Ser vio s
Rend a do Gast o do
Go vern o Go vern o
Poltica Monetria
INSTRUMENTOS Poltica Fiscal
MACROECONMICOS Poltica Cambial
Poltica Comercial
Comercializao
INSTRUMENTOS
Comrcio Exterior
SETORIAIS REAIS Gasto Pblico e Investimentos
25 Uma representao contbil das rendas agrcolas e dos efeitos das polticas
macro e setoriais sobre essas rendas apresentada no (VAL) Anexo 6.
Eq. 22: LL Ti r mK
27 Cabe assinalar que o conceito de proteo nominal deve ser tomado com certas
precaues por vrias razes: (a) os coeficientes variam fortemente e o
numerador mais ou menos estvel enquanto o denominador instvel; (b) os
preos internos podem ser diferentes de acordo com a fase que se considere ao
9.1.3 - Concluso
A utilizao dos instrumentos apresentados nesta lio
provoca considervel transferncia de renda dos consumidores
e dos contribuintes aos produtores e aos proprietrios de terra,
podendo tambm afetar a situao de agricultores (de forma
negativa) e consumidores (em geral de forma positiva) de
outros pases.
O aumento da produo e do excedente domstico
provocado pela poltica agrcola dos pases desenvolvidos
reduz as compras externas feitas por esses pases e afeta o
mercado mundial. Afinal, os preos agropecurios tendem a
cair no mercado internacional de forma artificial sob presso
das exportaes subsidiadas, provocando graves prejuzos para
os pases em desenvolvimento e dependentes das exportaes
agropecurias.
As distores alocativas para os pases em
desenvolvimento resultantes da poltica agrcola dos pases
desenvolvidos so graves. No curto prazo, induz os produtores
de pases exportadores de produtos agropecurios a intensificar
o uso de tcnicas poupadoras de mo-de-obra, com importantes
reflexos distributivos e sobre a pobreza rural e urbana, e a
sobrexplorar a base de recursos naturais, o que afeta o meio
ambiente e a auto-sustentabilidade da produo. No longo
prazo, por causa da importncia estratgica do setor
agropecurio para a gerao de renda e emprego, as restries
ao seu crescimento provocam distores sociais e econmicas e
dificultam a reduo e a superao da pobreza e da
desigualdade no meio rural. Recursos de pases pobres, que
poderiam ser aplicados eficientemente na produo
agropecuria, so desviados para outras alternativas, menos
eficientes e sustentveis, gerando portanto menos renda e
riqueza. o caso das atividades associadas ao subemprego
urbano, praticadas por migrantes expulsos do campo devido
tanto s distores estruturais como aos efeitos negativos da
poltica macroeconmica nacional e das polticas agrcolas dos
pases desenvolvidos.
Manual de Macroeconomia 129
As polticas agrcolas dos pases desenvolvidos fazem
com que, em grande medida, a competitividade dos pases em
desenvolvimento dependa menos de sua prpria eficcia do que das
decises polticas adotadas pelos pases industriais e que esta
competitividade possa ser comprometida a qualquer momento por um
aumento dos subsdios exportao dos pases industriais (Banco
Mundial, 1986: 141).
Ainda que a poltica agrcola dos pases desenvolvidos
tenha distanciado sua agricultura do que se pode considerar
condies de funcionamento ideais em termos da livre
concorrncia,31 pode-se considerar que teve xito em pelo
menos dois aspectos: provocou uma importante expanso da
produo agrcola e desencadeou um forte processo de
modernizao das atividades.
Atualmente, o dilema nos pases desenvolvidos no
mais o de assegurar preos altos aos produtores e baixos aos
consumidores, mas como restringir os excedentes de produo
e manter, ao mesmo tempo, as rendas agrcolas em um nvel
suficientemente alto para no provocar o descontentamento dos
produtores que, apesar de minoritrios, constituem-se em
fora poltica no desprezvel e, principalmente, para evitar os
efeitos negativos de uma eventual crise agrria sobre as
economias local e regional.
35 Esse tema ser estudado mais detalhadamente nas (VAL) Lies 14, 15 e 16.
9.2.3 - Concluso
As estratgias de crescimento nos pases em vias de
desenvolvimento favoreceram o objetivo da industrializao em
detrimento do crescimento do setor agrcola, penalizando tanto
o ramo das exportaes agrcolas como o da produo de
alimentos para o mercado domstico. Tentou-se compensar tal
vis com subsdios aos fertilizantes e ao crdito e por meio de
investimentos pblicos em infra-estrutura e irrigao. Essas
medidas favoreceram, sobretudo aos grandes agricultores e
reforaram a heterogeneidade produtiva e social no setor. Os
controles de preos institudos para conter o processo
inflacionrio reduziram a rentabilidade e, em conseqncia, os
incentivos para investir em muitos setores da agricultura, os
quais cresceram abaixo do seu potencial mantiveram-se
atrasados tecnologicamente.
A equao das intervenes nos pases em
desenvolvimento caracterizou-se, salvo exceo, por penalizar
os agricultores e subsidiar os consumidores e a indstria.
Deve-se reforar, ainda, que a agricultura dos pases em
desenvolvimento sofre, no apenas devido ao vis antiagrcola
da poltica macro e ao fracasso das polticas setoriais
compensatrias, mas tambm por conta dos efeitos negativos
das polticas agrcolas dos pases desenvolvidos, que reduzem
os preos no mercado internacional, como j se assinalou. Os
preos baixos, associados ao acesso limitado aos mercados,
muitas vezes anulam os esforos de muitos pases em
desenvolvimento para reduzir a restrio externa atravs da
Manual de Macroeconomia 141
gerao de divisas, que permitiriam cumprir os compromissos
internacionais sem sacrificar tanto o consumo interno,
particularmente o de alimentos.
Qsi Pi
Eq. 23: si
Qsi Pi
Quantidade Ofertada
Qdi Pi
Eq. 24: di
Qdi Pi
Quantidade Demandada
Preo
P0
P2
Escassez
Quantidade
OBJETIVOS
RESTRIES
Eq. 25:
Pt e Pspot m
O critrio apresentado submete os preos internos s
flutuaes de curto prazo dos preos internacionais, que podem
ser bastante extremas: "pode aparecer alternativamente um imposto
ou uma subveno aos consumidores e aos produtores, simplesmente
pela extrema flutuao dos preos internacionais. Existem ento fortes
argumentos para que a poltica de preos no siga de perto tais
flutuaes de preos" (Timmer, 1987: 68).
Alm disso, nem sempre os preos internacionais
refletem adequadamente os custos de oportunidade
internacionais, j que so artificialmente baixos devido
proteo de que gozam as atividades agrcolas dos pases
desenvolvidos e aos subsdios exportao. Quer dizer, os
preos so mais baixos do que seriam em um mercado
competitivo.
Por ltimo, a volatilidade das taxas de cmbio torna
incerto o nvel correto dos preos internacionais, pois as taxas
de cmbio no refletem os reais movimentos do comrcio e as
vantagens comparativas, mas sim os movimentos, s vezes
especulativos, do capital financeiro internacional.
Em resumo, abstraindo-se das distores decorrentes dos
subsdios praticados pelos pases desenvolvidos, o critrio de
fixao dos preos domsticos de acordo com os preos
38 "Um dilema secundrio o que existe entre o papel do setor agrcola como produtor de
alimentos, o que exige sua modernizao, e o seu papel como provedor de outros recursos
para o resto da economia, o que exige sua explorao (Streeten, 1987: 01).
Produtos
Pases
Eq. 27: M c Pc Pp
O quociente Pp Pc mede a parte do preo final ao
consumidor que recebida pelos produtores. A margem
de comercializao, em termos percentuais, igual a
1 Pp Pc . So vrios os determinantes das margens de
comercializao: distncias, disponibilidade dos meios de
transporte, eficincia em cada uma das atividades de
comercializao, em particular os custos de transporte e
armazenamento. M c pode diminuir como conseqncia de
um aumento da eficincia de comercializao que diminua
os custos de transporte, armazenamento e/ou
processamento. Essa reduo pode ampliar a margem de
manobra diante do dilema dos preos agrcolas medida
que se pode mais facilmente manter os preos altos aos
produtores, sem que os preos aos consumidores aumentem
Consumidor
Intermedirio Consumidor
P
R
O Atacadista
D
U Intermedirio Varejista Consumidor
T
O Indstria
R
Atacadista
Consumidor
Cooperativas Varejista
Interno
Indstria
Consumidor
Intermedirio Exportador
Externo
Instituto
Regulador de Varejista
Abastecimento Consumidores
Intermedirio Internos e
Externos
Associaes de Agroindstria
Varejistas e Exportadores
Polticas Macroeconmicas,
Setoriais, Instituies e
Legislao
Tecnologia Hbitos e
Polticas de Comercializao
Disponvel Preferncias
Pu
Margem de Comercializao
Preo
Preo Rural
T0 T4
Tempo entre uma colheita e a seguinte
S S =aumento
Custo de armazenamento estacional do preo
pago pelos consumidores igual aos custos de
P1 armazenamento.
Custo de
Renda bruta dos produtores armazenamento total
T s =1/2 HS
0 Parte da Colheita H
Custo de armaz e- Ph
namento pago pelos
consumidores
Custo de armaz enamento pago por
subveno governamental (G s)
Pe
Pf
PI
0 HI
Colheita
Estabilizao parcial
Estabilizao total
Sem estabilizao
44 Esses contratos podem ser trocados entre si, quer dizer, pode-se vender ou
comprar contratos nos mercados futuros. O principal mercado futuro o
mercado de Chicago, mas existem tambm mercados importantes em Kansas,
Londres e em Paris.
20 de novembro
Nova compra do contrato - $5,09
Venda da produo - $4,84
D S
P1
C
Pm R
B
P0
S D
0 Qm Q1
Df
Pf Sf
A B
D C
P*
Df
0 F0 F1
Grfico 12:
Fonte: Tolley & Thomas & Ming Wong, (1982, p. 142)
B
S
A
P0
C
D
0 Q0
Preo
M
.36,48
a
B
35
33,98
E A
28,5 .
F C
D'
S
D
0 Quantidade
Qe
Efeitos Negativos
1) O efeito da poltica setorial (efeito direto) foi um imposto
aos exportveis de -11%, em mdia, e um subsdio aos
importveis de 20%, em mdia.45
2) O efeito da poltica macroeconmica (efeito indireto)
significou um imposto agricultura de -27%, em mdia, e
superou o efeito direto, independentemente deste ltimo ser
positivo ou negativo.
3) Em conseqncia, houve uma queda nos lucros vinculados
exportao de produtos agrcolas.46
Efeitos Positivos
1) As polticas setoriais, tanto para os importveis como para
os exportveis, estabilizaram os preos internos ao produtor.
A anlise dos autores mostra que, de fato, as flutuaes dos
preos internos ao produtor... foram menores que as flutuaes dos
preos de fronteira reais. Em mdia, as polticas diretas de preo
reduziram a viabilidade dos preos em 27% para as exportaes e
uns 31% para as importaes (Krueger & Schiff & Valds,
1988, p. 265).
Venda de Estoques
Preo Mximo conter a alta dos
para
precos
Preo de Mercado
Tempo
0
D
Oferta
Volume de
Compras
Pe Preo de Mercado
Quantidade
Qe 0
Preo
Preo Indicativo
Preo de Acesso
Preo de Interveno
Quantidade
0
51 Todo agricultor, se desejar, pode decidir no dedicar suas terras produo de cereais,
em troca do qual recebe uma prima por hectare que corresponde ao que ganharia se
produzisse cereais. Chama-se a este nvel de 160 milhes de toneladas de Quantidade
Mxima Garantida QMG (Franois, 1990, p. 34).
Preo-piso (arroz)
Custo de Moagem
Meses
61 Como assinalou von Pischke & Hefferman & Adams (1981), nos pases em que
no existe uma poltica deliberada para assegurar o capital de giro para os
pequenos produtores, observam-se mltiplos problemas, como a incapacidade
de gerar uma margem suficiente entre as rendas e os gastos e um dbil
desenvolvimento agrcola.
62 Esse aspecto ser tratado com mais detalhes no XXXApndice C. Uma questo
relevante dos crditos de longo prazo na agricultura a do perfil de
desenvolvimento tecnolgico que indiretamente se induz e se financia (Delgado, 1992,
p. 35), na medida em que o crdito direto capitalizao complementa-se com
crditos indiretos pesquisa ou aos sistemas de assistncia tcnica.
A inovao e o progresso
agrcola so impossveis
sem crdito.
A oferta autnoma de
crdito estimula o
Como os agricultores so
desenvolvimento agrcola
pobres, o crdito deve
e rural e contribui para
ser barato.
aumentar a produtividade
do grupo objetivo. Na medida em que os
bancos comerciais no
financiam a agricultura e
que os emprstimos
informais so caros, cabe
ao governo promover o
desenvolvimento rural e o
bem-estar do grupo.
67 A criao das IECR foi, em grande parte, proposta para eliminar os credores
informais cuja atuao era vista como um obstculo s mudanas progressivas na
vida econmica rural (Bell, 1990, p. 298). Ver-se- mais adiante que a persistncia
desses tem bases institucionais slidas, que tornam difcil, ou no
necessariamente justificado, seu desaparecimento.
Expanso do
Sistema de
Crdito
74 Von Pischke & Heffernan & Adams (1981) indicam alguns casos em que o
complicado do procedimento demora mais de um ano entre o momento da
demanda de crdito e a finalizao do mesmo.
85 Foi observado, por exemplo, que, no caso dos pequenos muturios que tm
acesso ao crdito das instituies formais, a taxa de juros representa
ocasionalmente no mais do que 20% dos custos da transao total.
86 Pelo menos 25% dos crditos no so pagos e dos 75% restantes, uma parte
significativa somente paga graas aos refinanciamentos (Adams & Vogel, 1986,
p. 483).
PRMIO CASTIGO
Custos de transao de
Possibilidade de receber
PAGAR pagar, negociar e receber o
um maior crdito no futuro.
novo emprstimo.
O montante do crdito no No receber emprstimos e
NO PAGAR pago converte-se em uma riscos de perder os
doao. colaterais.
Crdito
Emprstimos
Acumulao da
Dvida Vencidos e no
pagos
Renegociao/
Refinanciamento
91 Deveria ser evidente que, em razo da liquidez do dinheiro, o crdito barato no ajudar
a compensar a ineficincia no uso dos recursos causada pelas polticas adversas
agricultura. Se o crdito barato deve compensar a ineficincia, esse resultar no uso
adicional de recursos no processo de produo que desestimulado pela distoro de
preos da poltica adversa. Na medida em que os crditos provem uma liquidez
adicional, o muturio pode decidir o uso dessa liquidez adicional em qualquer atividade
econmica disponvel no mercado. A teoria econmica e o sentido comum fazem pensar
que o muturio usar a liquidez adicional na compra de bens e servios que provem o
mais elevado rendimento marginal ou a utilidade mais elevada (Adams & Graham,
1984, p. 323-4).
N
este captulo apresenta-se um instrumento til para
analisar os efeitos da poltica econmica sobre a
agricultura, denominado Matriz de Anlise de
Polticas, ou simplesmente MAP. Mediante a discusso de seus
aspectos prticos, na Lio 17 explicita-se sua utilidade para os
responsveis da formulao das polticas econmicas. Na Lio
18 so discutidos alguns problemas metodolgicos que podem
surgir no curso de sua aplicao; tambm so apresentadas as
principais recomendaes para bem interpretar os resultados.
Insumos Recurso
Renda Lucro
Comerciveis Interno
Preos Privados A B C D
Preos Sociais E F G H
Transferncias I J K L
PREOS PREOS
UNIDADES/HA PRIVADOS SOCIAIS
(MK/KG) (mk/kg)
101 Sobre o clculo desses e outros coeficientes similares, o leitor pode consultar o
XXXAnexo 3.
GERAIS
ESPECFICOS
Produo Estatal
Nvel
Produo Impostos e Subsdios Lucros e Inverso na produo Pesquisa e Assistncia tcnica
do Estado Custo
Custo de Produo
Recursos Naturais Impostos e Subvenes Pesquisa, inverso auxiliar etc. Taxa
Taxa de Expanso
A
formulao da poltica
agrcola determinada tanto pela
poltica econmica geral, como
pelas caractersticas especficas do setor agrcola. Dessa forma,
os nexos entre as polticas macroeconmicas e a agricultura e as
especificidades do setor agrcola so os determinantes gerais da
poltica agrcola.
O objetivo desta terceira parte , por conseguinte, o
estudo do contexto da formulao da poltica agrcola. Esse
contexto examinado a partir de um duplo ponto de vista. Em
primeiro lugar, a partir das novas teorizaes sobre a gnesis e
o funcionamento das instituies econmicas. Embora no
sejam estudas as instituies da agricultura propriamente ditas,
busca-se indicar as relaes entre as instituies em geral, o
desempenho econmico e as polticas agrcolas.
Em segundo lugar, como os papis respectivos do
mercado e do Estado no funcionamento da economia tambm
mudaram ao longo do tempo, considerou-se conveniente
apresentar as principais vises tanto sobre o papel do Estado
como sobre o funcionamento do mercado, assim como os
critrios que deveriam orientar a atuao do setor pblico no
processo de desenvolvimento agrcola no contexto atual.
O
objetivo deste captulo apresentar sinteticamente a
Nova Economia Institucional NEI, assim como sua
importncia para a compreenso da economia e das
polticas agrcolas. Apresenta-se, primeiro, uma verso do
modelo terico que serve para fundamentar a teoria
institucionalista do intercmbio econmico, comparando o
modelo da NEI ao neoclssico convencional. O modelo
apresentado no contexto da discusso sobre o papel do
mercado e das polticas pblicas, assinalando-se que o mercado
e as instituies no so mecanismos excludentes para melhorar
a eficincia e o bemestar. Em seguida apresenta-se a teoria das
instituies no seu sentido amplo, definindo-se os conceitos
empregados e utilizando-se alguns exemplos pertinentes para a
economia agrcola.
Estruturas de governana e
organizacionais nas organizaes Teoria da organizao industrial
econmicas
Trabalho
Condies Estrutura
Econmicas Institucional
Empresas Salrio Famlias
Dinheiro
20.1 - Instituies
Ainda que no exista uma definio de instituies aceita
de forma unnime pelos autores da NEI, uma das mais
conhecidas a de D. North, que define as instituies como:
b
Nova fronteira de possibilidades
com mudana tcnica
Produo de A
Benefcios individuais e
coletivos de Y
Melhoria no sentido de
E Pareto
Ponto no timo de
Pareto
Utilidade e bem-estar
coletivo de Y
4 A
3
B
2
C
1
Utilidade e bem-estar
coletivo de X
1 2 3 4 5 6 7
20.2.2 - Contrato
O contrato uma instituio relevante, pois tambm
promove ou bloqueia a cooperao no intercmbio. Trata-se de
uma instituio substantiva por meio da qual se especifica que
tipo de direito de propriedade pode ser transferido e os termos
da transferncia. O contrato deve refletir os lucros e os custos
da cooperao mtua entre os indivduos, o que nem sempre
possvel ou fcil de se conseguir. Existem possibilidades
distintas de se estabelecer o contrato e de se compartir os custos
e benefcios. indubitvel que, em algum momento, ser
necessrio decidir por um nico acordo contratual dentre todos
os possveis (Phelps, 1986, p. 136).
No grfico abaixo, apresenta-se o leque de resultados
possveis atribuveis negociao de um contrato.
Curva de possibilidades do
contrato
Benefcios dos indivduos Y
e
r
b c Curva do contrato timo
a
r*
Sem contrato
f
Benefcios dos indivduos X
20.3.1 - Comportamento
O comportamento dos indivduos no est determinado
exclusivamente pelo mercado, mas tambm pelas instituies,
normas e leis. O comportamento humano, no sentido amplo,
compreende dois momentos essenciais. No primeiro momento,
a motivao inicial ex ante um resultado das respostas a priori
dos indivduos s estruturas de incentivos dadas e s
oportunidades existentes. Nesse caso, os indivduos seguem
normas de conduta baseadas nas rotinas apreendidas. Em um
segundo caso, os indivduos empreendem aes ou estratgias
Manual de Macroeconomia 366
ex post motivao inicial, quando corrigem ou ajustam seu
comportamento e escolhas prvias. So atos deliberados ou
expressos que os indivduos empreendem como um resultado
de sua aprendizagem no intercmbio. O curso que as aes
podem seguir depende das alteraes dos preos relativos e da
dotao de recursos, que tambm tm um papel importante no
modo como os indivduos decifram e entendem o contexto
institucional e a informao disponvel.
No segundo momento, os indivduos estabelecem seus
planos e estratgias para alcanar os resultados econmicos
planejados. Os planos baseiam-se nas expectativas que os
indivduos querem ver confirmadas pela realidade. Os modelos
neoclssicos simplificados pelos manuais de introduo
economia no consideram o passar do tempo, assumem que as
informaes so perfeitas e no tm custo para os agentes, cujo
comportamento perfeitamente transparente e previsvel (as
funes de preferncia, as escolhas e condutas dos indivduos
no se modificam). Esses modelos supem, tambm, que exista
o equilbrio entre agentes e mercados e entre mercado e
instituies. Trata-se de uma suposio muito restritiva, pois os
preos, as quantidades e/ou as instituies mudam, gerando
situaes de desequilbrio que obrigam os indivduos a
modificarem seus planos e a revisarem e ajustarem suas
expectativas s novas circunstncias econmicas e institucionais
que surgem dessas alteraes.
A suposio de que o comportamento dos indivduos
pode mudar como resultado das alteraes nos preos, nas
quantidades e nas instituies integra os conceitos da NEI. Para
essa escola, os indivduos aprendem com suas escolhas
passadas e seu entendimento das instituies e no futuro
utilizaro seu aprendizado a fim de no cometer erros de
clculo.
O comportamento dos indivduos pode depender dos
seguintes fatores: (a) da informao disponvel, (b) da
capacidade de obter e processar a informao para tomar
decises, (c) da influncia das instituies, e (d) da capacidade
de aprendizagem de novas estratgias otimizadoras de
benefcios.
20.3.2 - Organizaes
A NEI enfatiza os aspectos organizacionais do
intercmbio como parte das teorias modernas das organizaes.
As organizaes so estruturas econmicas, administrativas,
polticas e sociais nas quais os agentes constituem suas arenas
para realizarem seus intercmbios. So desenhadas para
conseguirem a maximizao dos benefcios e utilidades. Os
indivduos tm um incentivo para criar organizaes
justamente porque atribuem a elas uma maior capacidade
diante das restries institucionais, tecnolgicas e
oramentrias que obstruem ou limitam seus esforos
maximizadores.
De outra perspectiva, as organizaes surgem porque
necessrio dividir os custos associados gesto do intercmbio
e obteno de economias de escala organizacional. As
organizaes permitem coordenar as habilidades e os recursos
de que dispem os indivduos para desenvolverem estratgias
cooperativas no intercmbio.
Os indivduos tm incentivos para constituir
organizaes de natureza distinta porque seu objetivo
maximizar as vantagens que podem obter da cooperao no
intercmbio multilateral, ou seja, entre diferentes agentes e
mercados. Alm do mais, existem estmulos institucionais
visando esse propsito. As instituies existentes tm um papel
relevante na constituio das organizaes porque restringem
seus alcances, suas modalidades, sua operao concreta e seus
mbitos de ao. Quando os indivduos participam na
construo de organizaes porque procuram, em ltima
anlise, aproveitar as oportunidades e benefcios que definem
as regras institucionais formais e informais.
Na criao das organizaes coexistem os objetivos
egostas e altrustas dos indivduos. Os primeiros procuram
maximizar os lucros ou o poder poltico. Os segundos, o
D A
P*
Curva de Demanda
Preo
Custos de
Transao E
C F
B
Custos de
Produo
Q Q* Q**
Quantidade
20.4 - Informao
A informao, no sentido amplo, uma varivel que
desempenha um papel crucial no intercmbio. As escolhas
econmicas dependem, em boa parte, da informao disponvel
no que se refere ao marco legal, s regulamentaes, aos
contratos, s caractersticas dos mercados, s tecnologias
disponveis, etc. Quando a informao restrita, fragmentada
ou encontra-se distribuda desigualmente, pode frear a fluidez
do intercmbio porque aumenta a incerteza e a probabilidade
de erros de clculo nas decises dos agentes econmicos. O
estabelecimento de instituies que propiciem a gerao e
difuso de informao relevante para as decises um
elemento que pode reduzir a incerteza, favorecer a ampliao
do intercmbio e melhorar o desempenho econmico.
A informao no um bem livre de custos ou com
acesso gratuito. Para muitos indivduos ou grupos, difcil
financiar a aquisio e o processamento da informao. Por essa
razo, os indivduos demandam instituies que permitam a
gerao e a difuso a um custo baixo da informao pertinente
para as decises de investir, poupar, consumir ou inovar
tecnologicamente.
Os exemplos seguintes ilustram claramente as relaes
entre a informao e as instituies:
1) Informao sobre a transferncia dos direitos de
propriedade, decisiva para o comportamento e as decises
dos agentes. necessrio contar com um bom registro
pblico da propriedade, mecanismos eficientes de
certificao da propriedade da terra e de bens imveis em
Clareza, transparncia e
simplificao
administrativa
Regime de direito
Fortalecimento de
Justia e Procurao de justia funes tutelares
eqidade Tribunais agrrios Eqidade entre
produtores
Modernizao judicial
Limitao do poder
discricionrio da
autoridade
Certeza e confiana
Preos
Proviso de Bens e Servios Correo de falhas do
Pblicos mercado
Subvenes e Transferncias Aproveitamento de
Fomento
Informao economias externas
produo Promoo da
Pesquisa
competitividade e
Capacidade e Capital produtividade
humano
Infra-estrutura
O
s captulos precedentes desenvolveram diversos
temas fundamentais para compreender as polticas
agrcolas. Em cada uma dessas anlises, vimos a
importncia da articulao entre a interveno do Estado e o
funcionamento do mercado. Os resultados polarizadores da
recente experincia de retirada do Estado de diversos espaos,
antes pblicos, geraram uma preocupao evidente e
estimularam a elaborao de propostas alternativas de
articulao entre o mercado e o Estado. O presente captulo tem
como objetivo sugerir algumas reflexes sobre esse tema.
Inicialmente, sero examinadas as principais teorias
utilizadas para analisar o papel do mercado e do setor pblico,
assim como suas limitaes mais importantes (Lio 21). Em
seguida apresentar-se- um conjunto de critrios para a
redefinio dos papis do Estado e do mercado no processo de
desenvolvimento agrcola. Os principais pontos relevantes do
debate sobre a reforma do Estado tambm receberam destaque.
Essa anlise incluiu a discusso de alguns temas especficos,
entre os quais a privatizao, a desregulao e a modernizao
das atividades desenvolvidas pelos organismos estatais de
promoo agrcola (Lio 22).
21.2.1.2 - Externalidades
A viso neoclssica sustenta que os preos de mercado
refletem com transparncia as atividades dos produtores e
Manual de Macroeconomia 397
usurios. A experincia revela que essa suposio no
corresponde realidade, j que a conduta dos agentes gera
freqentemente a existncia de externalidades. As
externalidades aparecem sempre que as decises de um agente
individual seja produtor ou usurio afetam,
involuntariamente, a situao dos demais, e que esse efeito no
se reflete nos preos de mercado. Isso faz significa que os
eventuais benefcios ou prejuzos de alguns se materializem
externamente ou fora do mercado em vantagens ou
desvantagens para outros, independente de suas decises e ou
vontades. Dessa maneira, as utilidades e os custos marginais
dos agentes privados tendem a diferir daqueles da sociedade
como um todo, comprometendo a obteno do timo de
Pareto (Smith & Thompson, 1991).
Na presena de custos externos, a produo de mercado
tender a exceder os nveis de eficincia e o inverso acontece
nos casos dos benefcios externos. As externalidades podem ser
especialmente importantes em pases em desenvolvimento, e,
junto com os problemas de informao, comprometem a
difuso de tecnologia e a eficincia produtiva em geral. Nem
sempre vivel contornar ou superar as disfunes provocadas
pelas externalidades por meio do mercado, sendo necessrio
que o Estado assuma os custos das externalidades e preencha os
vazios provocados pela ausncia ou debilidade do mercado de
capitais e de informaes imperfeitas (Ayala, 1992).
108 Do conflito distributivo surgiu a noo de ciclo poltico elaborada por Kalecki
(Kalecki, 1973). Assim mesmo, o problema est vinculado tese da
compreenso dos lucros desenvolvida por Glyn & Stucliffe, 1972. Tambm se
pode ver Bhaduri, 1990.
22.3.1 - Privatizao
Em termos gerais, pode-se afirmar que a privatizao de
ativos pblicos constitui um mecanismo preferencial nas
estratgias de reforma estatal. Pode apoiar-se em diferentes
tipos de aes, adotadas conjunta ou separadamente. So
exemplos: a venda de ativos de entidades ou empresas que o
Estado o nico proprietrio ou o scio majoritrio; a extino
ou dissoluo de organismos, ou mesmo a liquidao de
empresas; e a transferncia de algumas organizaes ao setor
privado sem a intermediao de operaes de compravenda.
Quando essas operaes ocorrem, os compradores podem ser
empresrios nacionais, estrangeiros, trabalhadores da empresa
alienada, ou uma combinao dos trs grupos (Ayala, 1992)
Nos ltimos anos, a privatizao enquanto mecanismo
de reforma do Estado integrou os programas de ajuste
estrutural e os acordos feitos pelos pases em desenvolvimento
com os organismos internacionais. Sustentou-se que a
privatizao persegue objetivos tanto econmicos como
polticos. Entre os primeiros, incluem-se os que se referem
diminuio do gasto pblico, obteno de recursos pela venda
de ativos e o alcance de uma maior eficincia por intermdio do
fomento da concorrncia e da reduo da burocracia e do
clientelismo. Os objetivos de natureza poltica referem-se
renovao do aparato pblico e de suas instituies, de modo a
ampliar, por meio da descentralizao e democratizao do
processo econmico, a participao da sociedade na tomada de
decises, assim como concentrao das funes do setor
pblico em torno dos objetivos de justia social.
A presena de empresas do Estado justifica-se pela
necessidade de produzir bens e servios pblicos considerados
estratgicos, assim como pela existncia de importantes falhas,
como mercados inexistentes ou incompletos, externalidades,
Manual de Macroeconomia 416
informao imperfeita e assimtrica e poderes monoplicos ou
oligoplicos. No obstante, o grande consenso que havia, no
marco de modelos intervencionistas, em torno das empresas
pblicas como fatores de impulso ao desenvolvimento tendeu,
progressivamente, a declinar. Atualmente, prevalece a opinio
de que esse mecanismo de interveno estatal deve reduzir-se a
um mnimo necessrio, dados os seus custos fiscais elevados e
os problemas inerentes excessiva burocratizao e baixa
eficincia.
O debate sobre a privatizao foi freqentemente
impregnado por uma grande carga ideolgica. Foram
atribudas tanto virtudes como defeitos, seja ao setor pblico
seja ao privado, confundindo, muitas vezes, a propriedade com
a natureza da gesto. Com isso, perdeu-se de vista que, mais do
que o tamanho do Estado, o que importa a eficincia do
processo econmico concebido como um todo.
certo que os modelos tradicionais de interveno
levaram o Estado a estabelecer empresas em reas irrelevantes.
Tambm certo que a realidade atual revela a necessidade de
prestar ateno a novos problemas que antes foram ignorados.
A evidncia ensina que os benefcios das operaes de
privatizao tm sido exagerados e seus riscos e problemas
desconsiderados.
Entre tais riscos, importante mencionar, em primeiro
lugar, a inconvenincia de vender ou alienar ativos pblicos
para solucionar desequilbrios financeiros de curto prazo,
sobretudo quando se trata de empresas pblicas que
demonstraram ser rentveis. O Estado tem, nesses casos,
importantes perdas patrimoniais sem necessariamente resolver
o desequilbrio de fluxo das finanas pblicas. Em alguns casos
o dficit fiscal agregado at agravado pela perda de
instituies geradoras de lucro. Associado a esse risco est o de
vender empresas estatais abaixo do seu valor real, fato que
exacerbaria os efeitos anteriormente referidos.
Em segundo lugar, a retirada do setor pblico de reas
estratgicas de alta potencialidade, como as que esto
associadas ao progresso tecnolgico da economia como um
todo, tambm pode gerar conseqncias negativas.
Manual de Macroeconomia 417
Em terceiro lugar, perdeu-se de vista, em certas ocasies,
que a venda de um monoplio pblico ao setor privado
significa a transferncia desse monoplio para um novo dono,
sem que tenham sido criadas as condies de concorrncia que
justificavam a cesso da atividade ao setor privado.
Adicionalmente, quando se configura uma operao desse tipo,
o Estado se v obrigado a instalar sistemas de controle dos
monoplios privados, que elevaram o custo social em relao a
situao preexistente.
22.3.2 - Desregulamentao
A desregulamentao um mecanismo instrumental de
reforma do Estado que pode ser utilizado no marco de vrias
estratgias de desenvolvimento. Sua aplicao ao longo dos
anos noventa motivou um debate em que se reproduziram as
posturas ideolgicas que freqentemente impregnam a
controvrsia sobre a privatizao. Assim, por um lado,
sustentou-se que toda regulao estatal prejudica o
funcionamento normal dos mercados e, por outro, que essa
regulao imprescindvel para impedir ou atenuar os efeitos
negativos decorrentes de uma atividade privada sem controles
sociais.
Naturalmente, tambm nesse caso, preciso
salvaguardar a reflexo de contedos ideolgicos do gnero. De
fato, imprescindvel partir de uma definio dos conceitos em
jogo.
A regulao constitui um conjunto de disposies e aes
que o Estado pe em prtica para limitar e supervisionar a
atividade privada, tomando como referncia fundamental o
interesse pblico (Ayala, 1992 e Crozier, 1989). Os instrumentos
da regulao pblica podem ser do tipo direto ou indireto. Os
primeiros so os que incluem desde a presena de instituies
pblicas, que assumem a responsabilidade de desenvolver
determinadas atividades; at mesmo a estrutura normativa, que
estabelece condies para a conduta do setor privado. Os do
tipo indireto relacionam-se, basicamente, aos estmulos ou
desestmulos de natureza econmica, como as subvenes, os
tributos e as transferncias.
O
esforo dirigido a analisar e recomendar medidas e
estratgias de desenvolvimento rural e agropecurio
em um pas requer um marco conceitual dentro do
qual seja possvel examinar os diferentes aspectos do setor e
analisar e avaliar as diversas polticas vigentes e os possveis
efeitos das novas polticas. Esse marco conceitual deve
compreender pelos menos dois componentes: um diagnstico
do setor agropecurio e pautas para desenhar uma estratgia de
desenvolvimento setorial. Esses temas so tratados nas
prximas lies.
23.1.5.2 - Limitaes
Convm ter em conta as limitaes para a elaborao e
aplicao de uma poltica, ainda que, normalmente, os
governos no procedam dessa maneira. Essas limitaes podem
ser fsicas, tecnolgicas, institucionais, financeiras ou polticas e
todas so crticas para a elaborao de uma poltica
determinada. Alguns exemplos ilustrativos de tais limitaes:
a disponibilidade hdrica de uma determinada regio,
por exemplo, no superar os nveis determinados
pelas condies geogrficas dessa regio, constituindo
24.1.4 - Infra-estrutura
Procura-se avaliar nessa seo a disponibilidade e o
estado da infra-estrutura relevante para o desenvolvimento do
setor agrcola, como rodovias, sistemas de irrigao,
eletrificao e comunicao etc, pois o desempenho da
agricultura claramente afetado por essa infra-estrutura e suas
condies. importante avaliar as relaes entre infra-estrutura
e prestao de servios de apoio agricultura, j que a
eficincia desses tambm pode ser afetada pela qualidade da
infra-estrutura.
24.1.9 - Nutrio
Apesar da maior disponibilidade de alimentos e dos
melhoramentos observados nas condies sanitrias e nos
servios sociais da maioria dos pases em desenvolvimento, em
muitos a fome e a desnutrio continuam sendo problemas
muito graves. As conseqncias da desnutrio no bem-estar
dos seres humanos e no desenvolvimento socioeconmico so
variadas e de grande alcance. Nos bebs e nas crianas
pequenas, a desnutrio e o crescimento retardado esto
associados reduo da atividade fsica, baixa resistncia a
infeces, ao comprometimento do desenvolvimento intelectual
e da capacidade cognoscitiva e ao aumento das enfermidades e
Manual de Macroeconomia 448
da mortalidade. Nos adultos, a desnutrio pode provocar
sade precria e reduzir a produtividade e a renda, reforando
a desigualdade social existente e limitando o desenvolvimento
nacional.
Os fatores que afetam diretamente a nutrio e a sade
so a disponibilidade e o acesso aos alimentos, as condies
sanitrias e o atendimento mdico, mas a raiz fundamental da
desnutrio a pobreza. A desnutrio aguda e crnica e, mais
freqentemente, as deficincias nos micro nutrientes, afetam,
sobretudo as pessoas pobres e desamparadas que no tm
acesso a alimentos adequados, que vivem em ambientes
insalubres, sem gua potvel e com servios bsicos deficientes,
e que carecem de acesso a uma educao e informao
adequada (FAO e OMS, 1992).
O provimento de servios sanitrios eficazes contribui
para melhorar o bem-estar nutricional da populao e para
retardar a espiral desnutrio-infeco. As vacinaes
preventivas detm as enfermidades, os servios curativos
encurtam os perodos de enfermidade, e a terapia oral contra a
desidratao reduz a gravidade e as conseqncias das
enfermidades diarricas. A melhoria da infra-estrutura sanitria
e dos servios de sade contribui para melhorar o status
nutricional da populao, especialmente por meio de
programas especiais como o do aleitamento materno, o
desmame em condies adequadas e os cuidados com a
alimentao das crianas enfermas no prprio domiclio.
Atualmente, reconhece-se que a falta de cuidados sanitrios
primrios contribui para a desnutrio, sobretudo no caso das
crianas pequenas.
A discusso anterior indica o tipo de informao e
anlise que deve ser feita ao tratar o tema da nutrio. As
pesquisas nutricionais, as estatsticas sobre as enfermidades e as
diversas pesquisas sobre a disponibilidade de servios de sade
so algumas das muitas fontes possveis de informao a que se
pode recorrer. O XXX(confirmar se est certo) Quadro 48 lista
os problemas relacionados com a nutrio que podem ser
pertinentes analisar no contexto de um estudo setorial.
demanda do consumidor
produo nacional (cultivos, pecuria,
pesqueira)
armazenamento
preservao e elaborao
comrcio internacional
ajuda alimentar
comercializao
utilizao no alimentcia dos produtos
pesquisa agrcola
produo prpria
preservao e armazenamento
Obs.: O peso desses fatores compra de alimentos
varia segundo a situao disponibilidade e preos dos alimentos
socioeconmica dos emprego e rendas
grupos/lares, sua gastos no alimentcios e poupanas
localizao e a estao do conscincia e preferncias do consumidor
ano
controle dos recursos
assistncia pblica e privada (segurana
social)
111 XXXO Anexo de Pearce et al. (1994) identifica pelo menos 24.
112 Law of the Sea, London Dumping Convention, Basel Convention, Vienna Convention
on the Protection of the Ozone Layer (e o seu Protocolo de Montreal), programas
regionais sobre os mares e acordos regionais sobre poluio do ar. Ver Grubb et
al. (1993)
114
Os autores mais representativos da primeira corrente so Hayami,Y. and
Ruttan,V.W.(1971 e 1985); quanto segunda cabe mencionar Carvaills (198.),
....Lacroix et Mollard (1995), entre outros XXXNO CONSTA BIBLIO
115 Na realidade, Liebig XXXfoi antes aquele que unificou num conjunto coerente as
idias e descobertas de outros, que se encontravam dispersas. Liebig reconhecia
isto e aplicava sem modstia a ele prprio o que Macaulay havia dito a propsito de
Francis Bacon: "He was not the maker of that road; he was not the discoverer of that road; he
was not the person who first surveyed and mapped that road. But he was the person who first
called the public attention to an inexhaustible mine of wealth, which had been utterly
neglected, and which was accessible by that road alone. By doing so he caused that road,
which had previously been trodden only by peasants and higgless, to be frequented by a
higher order of travellers (Liebig, 1856, p. 326).
116 Eram freqentes os problemas de qualidade provocados por fraudes perpetradas por
fabricantes, mas tambm decorrentes da insuficincia de conhecimentos.
117 Eles criticavam Liebig no somente pelo fato de que a anlise das cinzas no
revelava o nitrognio, mas tambm pelo fato de que ele no considerava a ao de
mltiplos fatores no solo, os quais tornavam impossvel a preciso pretendida do
clculo dos elementos minerais necessrios. Ver Lawes, 1847; Lawes e Gilbert, 1851.
118
Daubeny (1841) comenta as notcias que chegavam sobre a enorme fertilidade das
terras na Amrica e a capacidade destas em suportar a monocultura durante longos
perodos, para advertir que, apesar disto, esta fertilidade no era inesgotvel, sendo
perigoso abandonar a prtica de rotao de culturas.
119 XXXEste ttulo de livro que se encontra em fase de edio e no qual todas as
questes levantadas neste texto so tratadas com maior detalhe e profundidade. Ver
Romeiro, 1998. (biblio?)
120 Gabel (1979, p.94) tem razo quando afirma que o trabalho realizado pela diversidade
ou complexidade do ecossistema substitudo pelo combustvel fssil no moderno sistema
alimentar.
121 De acordo com Pimentel (1981), a baixa do teor de matria orgnica no solo pode at
dobrar a quantidade de energia necessria para arar em profundidade.
122 Levou tambm a uma intensificao no uso por parte dos agricultores. Lappe e
Collins (1979) estimam que h trinta anos atrs os agricultores americanos
empregavam 26.000 toneladas de pesticidas e sofriam uma perda de 7% em mdia
antes da colheita. No final da dcada de 70, o consumo de pesticidas havia se
multiplicado por 12 e as perdas quase dobradas. Baseado em estudos realizados por
pesquisadores da Universidade de Cornell em 1978/79, Krummel e Hough (1980)
afirmam que o fim repentino do uso de pesticidas provocaria um aumento de apenas
9% nas perdas por pragas, tal o nvel de ineficcia dos tratamentos qumicos.
124 Rogers & Shoemaker (1971) dividiram os produtores agrcolas em cinco categorias,
segundo o momento em que eles adotam determinada tecnologia: innovators, early
adopters, early majority, late majority e laggards. Os produtores pertencentes a cada
categoria diferem dos demais de acordo com caractersticas pessoais e da
propriedade.
126 Para uma reviso sobre polticas para o desenvolvimento agrcola sustentvel ver
Young & Burton (1992).
28.2.1 - Subsdios
Em reas consideradas importantes sob o ponto de vista da
preservao, seja devido a grande beleza natural ou presena de
espcies animais e vegetais, a assistncia financeira, na forma de
pagamentos diretos, com objetivo de encorajar prticas
sustentveis de agricultura pode ser necessria. Entretanto, o uso
de pagamentos diretos pela conservao como instrumento de
Manual de Macroeconomia 518
poltica ambiental deve ser realizado com cautela, pois o resultado
final pode ser inverso ao esperado. Os candidatos aos recursos
financeiros podem ser estimulados a criar ameaas ao meio
ambiente com objetivo de serem eleitos para receber os benefcios.
A reduo de subsdios aos insumos (por exemplo,
fertilizantes e pesticidas) pode resultar em melhor alocao dos
recursos, reduo dos riscos ambientais e sade humana, e
desestmulo ao desperdcio. Por exemplo, um aumento nas taxas
cobradas pelo uso da gua pode resultar na adoo de mtodos
poupadores deste recurso no longo prazo (exemplo, irrigao por
gotejamento). Entretanto, se a remoo dos subsdios afetar
produtores que se encontram prximos ao nvel de subsistncia,
provavelmente uma piora nas condies de sobrevivncia pode
estabelecer mais presso, no menos, sobre o meio ambiente. Para
tais situaes, a assistncia direta, na forma de renda
complementar, distribuio gratuita de alimentos etc. poderia ser
utilizada como forma de compensar a perda do subsdio.
28.2.2 - Regulao
A regulao pode ser usada para proibir o uso de insumos
prejudiciais ao meio ambiente (exemplo DDT), proibir prticas
agrcolas (queimadas, restries ao desmatamento, explorao
madeireira, proteo de matas ciliares etc.). Essa forma de
interveno tem a vantagem de poder ser estabelecida para
resolver problemas ecolgicos especficos e atingir determinado
pblico-meta; por exemplo, um conjunto de produtores localizados
em reas ecologicamente frgeis ou de grande diversidade
biolgica. Para tanto, recomendvel o mapeamento prvio destas
reas, bem como definir claramente as metas de proteo. A
legislao deve ser respeitada e, para isso, deve existir um eficiente
sistema de monitoramento e fiscalizao.
As principais desvantagens da regulao so:
29.1.2 - Cerrados
Apesar da predominncia de solos quimicamente pobres, a
topografia plana e ondulada da regio, associada com outras
excelentes caractersticas fsicas e disponibilidade de gua, torna
grande parte dos seus 204 milhes de hectares parecidos com as
terras arveis dos EUA, e altamente favorvel agricultura. Em
reas onde foram estabelecidos projetos agrcolas, inadequado uso
de tecnologias (mecanizao, irrigao, insumos qumicos) e
manejo do solo tem causado compactao de solo, eroso,
salinizao e perda de fertilidade. Cerca de 80% das pastagens
plantadas nos Cerrados apresentam algum tipo de degradao
ambiental, com sinais de desertificao em vrias reas. Outro
problema srio a elevao nas dosagens de agrotxicos devido ao
aumento da resistncia das pragas e doenas. A expanso
descontrolada da agricultura na regio deve necessariamente ser
contida e o uso da terra submetido a um planejamento que
considere a delimitao de zonas agroecolgicas.
128 Almeida (1989) apresenta uma classificao para o amplo conjunto de orientaes
tcnicas e filosficas apresentadas por muitas organizaes governamentais e no
governamentais atuantes no Brasil.
129 Para uma discusso ver Zancul (1998), Alves (1995) e Pinho & Neves (2000).
130 Dizemos simplista porque baseado numa perspectiva esttica. Em primeiro lugar,
no h porque ignorar a capacidade de ajuste da produo agrcola nos pases
desenvolvidos, seja pela introduo de inovaes redutoras de custos, seja pela
segmentao dos mercados pela via da qualidade e da diversificao de produtos (o
que, alis, j uma tendncia observvel em vrias regies europias). Em segundo
lugar, amplia-se, com a nova regulamentao, a participao de novos competidores
no comrcio internacional, que pretendem no apenas ocupar possveis espaos
abertos pela liberalizao, mas tambm tomar mercados de pases tradicionalmente
importantes no comrcio internacional, dentre esses os latino-americanos.
131 No caso brasileiro, as reformas na poltica agrcola comearam no incio da dcada
de 80, primeiro com drstica reduo dos subsdios diretos produo, depois com o
desmantelamento dos mecanismos de apoio comercializao e de garantia de
preos. Como aponta XXXLopes (1996, p. 205) no bojo das reformas na rea de comrcio
exterior, foram extintos (...) o Instituto do Acar e do lcool, o Instituto Brasileiro do Caf e
a agncia governamental de fomento do trigo nacional (CITRIN). Entre 1988 e 1991 os
gastos pblicos com a agricultura caram de 4,22% do PIB para 1,74%. Os gastos
oramentrios no setor passaram de US$ 12,3 bilhes em 1986 para US$ 3,2 bilhes
em 1991 (XXXBarros, 1993, citado por Lopes, 1996). A Poltica Geral de Preos
Mnimos foi desativada como mecanismo de sustentao da renda, tendo as compras
governamentais de produtos agrcolas cado de US$ 3,1 bilhes em 1986 para US$ 13
milhes em 1991. Recentemente, devido fragilidade da poltica de abastecimento, o
governo voltou a exercer um certo nvel de controle sobre formao de estoques e a
sustentao de preos.
132 XXXMay (1995) sustenta que a proteo das agriculturas dos pases desenvolvidos
imps custos ambientais aos pases em desenvolvimento, e que as polticas agrcolas
em geral levaram os produtores, inclusive os de subsistncia, superexplorao da
133 Trigo (1995) chama a ateno para a tendncia de valorizao do quality and timely
delivery.
137 Um estudo da FAO para a Amrica Latina (FAO, 1994) aponta como uma das
condies da poltica tecnolgica para a agricultura a necessidade de reduzir a
homogeneidade dos pacotes tecnolgicos, quer dizer, criar inovaes que respondam
de forma imaginativa s distintas condies e s mltiplas possibilidades de
incorporao dos produtores ao mercado.
Tcnicas
Dominante Biologia molecular e informacional.
Ainda com base em produtos qumicos, mas:
adaptao fina s necessidades de cada parcela
Fertilizao tcnicas biolgicas (uso de bactrias e fungos)
busca de plantas fixadoras de N2 por transferncia de
genes.
Controle biolgico e integrado;
Controle de pragas e
Criao de variedades resistentes;
doenas Novos mtodos de diagnstico.
Controle de geadas Biolgica (bactrias anticristais de gelo)
Ajuste fino dos aportes s necessidades;
Nutrio animal Uso de probiticos;
(complementao) Criao de vegetais com menor carncia de aminocidos;
Adjuvantes de crescimento (somatotropina e beta-agonistas).
Controle do perodo frtil e ovulao;
Reproduo animal Transferncia e sexagem de embries;
Clonagem.
Vacinas sintticas e recombinantes;
Profilaxia e diagnstico Animais resistentes a doenas;
Kits de diagnstico na propriedade.
Estabilizado graas a: mecanismos de regulao; uso crescente
Consumo de energia
de mecanismos biolgicos ao invs de qumicos.
Fonte: Bonny & Dauc (1989) e Bonny (1995), modificado por simplificao e por alterao dos
conceitos de classificao das inovaes. XXX(NO ENTENDI ESSA COLOCAO
SOBRE A MODIFICAO FEITA EM RELAO AO ORIGINAL!!!)
138 Entendemos por principais agentes geradores de tecnologia para a agricultura pelo
menos trs das seis categorias normalmente descritas (ver Possas et al., 1996): i)
fontes privadas de base industrial, cujo principal negcio a produo e a venda de
insumos e mquinas para os mercados agrcolas compreendem indstrias de
pesticidas, fertilizantes, produtos veterinrios, mquinas, implementos e
equipamentos agrcolas, e sementes; ii) instituies pblicas de pesquisa
universidades, institutos e centros de pesquisa, e empresas pblicas; iii) fontes
privadas relacionadas agroindstria processadora.
139 Apenas para exemplificar: nos quatro pases do Mercosul ainda h ganhos
substantivos de produtividade a se alcanar na maioria das culturas.
143 Exemplos desses conjuntos de autores so, para o primeiro grupo, Hayami & Ruttan
(1985); para o segundo, Bush (1981); e para o ltimo tipo, Pieiro & Trigo (1985).
145 A ttulo de comparao, no INRA da Frana esses gastos subiram de US$ 270.000 em
1988 para US$ 350.000 em 1993 (INRA, 1994).
146 o que Callon (1994, p. 403) chama de inutilidade intrnseca dos statements .
149 O efeito dos preos agrcolas sobre a taxa de inflao e bem-estar continua sendo
uma varivel relevante para o crescimento econmico. No entanto, a tradio
cepalina e estruturalista, ainda muito presente nas dcadas de 60 e 70, atribua
inelasticidade da oferta agrcola um dos principais obstculos ao crescimento
econmico.
1 - PRODUO
Assegurar a continuidade
2 - COMERCIALIZAO
3 - TRANSFORMAES ESTRUTURA IS
150 Ver sobre este ponto, FAO (1995). Macroeconomia y polticas agrcolas: una gua
metodolgica. Roma, Materiales de Capacitacin para la Planificacin Agrcola n.
39, em particular o captulo 4.
Custeio de Giro
Custeio VBC - Custeio
- Comercializao
EGF/COV
Comercializao Garantia de Preo
(AGF)
AGF
Liquidao - Direta Garantia Bancria
- Indireta
152 Para uma anlise detalhada da PGPM ver Goldin e Resende (1993); FAO (1992 e
1994), XXXDelgado (1978, 1995) citar; Carvalho (1994); Fagundes (1988) e Mollo
(1983).
153 De fato, o PLE foi inicialmente introduzido em 1988 como preo de interveno.
154 Esta seo est baseada fortemente em Buainain e Resende (1995); Gasques e Villa
Verde (1995); Delgado (1995); Gonalves (1995) e Buainain (1997). XXXcitar
J EST PRONTO, MAS FOI FEITO ALGUM ESTUDO COM ESSE ENFOQUE NO
CRDITO RURAL, OU PELO MENOS COM O OBJETIVO DE ANALISAR AS
VARIVEIS COM ESSA PREOCUPAO? ACHO QUE NO. ENTO, NO
CABE ESSA NOTA DE RODAP!!)
4/
F IN AM E AG RC O LA
. Regio I TJLP + 5% anual
. Regio II TJLP + 6% anual
Peq uen o 27,9 18,1 84,2 82,4 13,3 15,8 2,5 1,8
Md io 19,8 21,3 84,6 79,7 12,5 16,8 2,9 3,5
Gr an d e 34,7 41,2 79,8 77,1 13,9 17,0 6,3 5,9
C o o per at iv a 17,6 19,4 56,8 54,2 1,2 2,0 42,0 43,8
Po l t ic N ova
A n t ig Po l t ic
a
a a
VB C
C PR
C u s t ei C r d it o
o Ru r a l
eg f / C O
A GF
V
Cont r at
C o mer c ia l iz a de
o Op
o
o
A GF
A s s o c ia e
L iq u id a Pr o g r a ma d
(AsGF -C PR-
o as
OP O
157 Para uma avaliao mais detalhada ver Gonalves e Fonseca (1995): Crdito Rural e
o Investimento na Produo Agropecuria: anlise do Programa Nacional de
Desenvolvimento Rural (PNDR), mimeo. XXXCITAR NA BIBLIO
160 Sem entrar em detalhes, pode-se apontar algumas vantagens da sua convivncia: o
desenvolvimento mais eqitativo da prpria comunidade e a disponibilidade de
mo-de-obra mais qualificada e de servios especializados.
161 interessante notar que nas entrevistas realizadas com autoridades do Governo
Federal envolvidas nos programas mencionados, foi essa a imagem que ficou: a
poltica agrcola trata dos produtores comerciais, o PRONAF dos agricultores
familiares e o Programa de Reforma Agrria dos sem terra. Tal separao, que
poderia se justificar em termos operacionais ou em funo dos pblicos-metas,
parece refletir uma concepo de que as aes de cada programa no tinham nada
que ver com as dos demais.
164 O Programa Cdula da Terra, que consiste em arrecadao de terra pela via de
mercado, resultado da negociao do Governo Federal com o Banco Mundial.
165 Ver FAO, 1992 e XXXWeeks (1995), CITAR para a experincia de vrios pases da
Amrica Latina e Caribe.
166 A rea de atuao das cooperativas de crdito aprovada pelo Bacen e deve ser
limitada as suas possibilidades de reunio, controle, operaes e prestao de
servios.
171 Fica evidente que se, por um lado, a reforma bancria significou inmeras restries
para o cooperativismo de crdito, por outro, favoreceu os grandes bancos,
concentrando e centralizando em demasia a intermediao financeira no Brasil.
Atualmente, o que se observa um elevado grau de monopolizao do acesso aos
recursos financeiros e, tambm, um controle limitado por parte dos municpios dos
recursos levantados e depositados nos bancos (Dowbor, 1994).
172 Loureiro (1981: 136) destacou que, ...ao atender as reivindicaes do chamado movimento
cooperativista brasileiro para sua reformulao jurdica, a lei [5.764]... eliminou os obstculos
que impediam as cooperativas de funcionarem como qualquer outra empresa capitalista.
Com a mesma abordagem, Brigo (1999: 05), ao citar Pinho & Pinho (1980),
comentou que a lei 5.764 atendeu as aspiraes de setores do cooperativismo agropecurio,
principalmente em relao aos aspectos comerciais, pois seus preceitos estavam em
consonncia com o processo de modernizao empresarial da agricultura em curso no pas.
173 Em 1983, um ano crtico para a economia brasileira, o volume de recursos liberado
para o crdito rural foi cerca de 39% inferior ao concedido em 1979, ano em que o
crdito rural atingiu o pico do perodo de 1969 a 1999. Na safra seguinte, o volume
de recursos negociado nas diversas modalidades do crdito rural atingiu sua maior
reduo, correspondendo a pouco mais da tera parte do total de recursos de 1979.
174 Deste ponto em diante as cooperativas de crdito rural sero denominadas por
credis.
175 Os bancos responsveis pela gesto dos recursos oficiais destinados ao setor
agropecurio brasileiro demonstram ter pouco preparo e quase nenhum interesse na
execuo de contratos de crdito rural de pequeno porte. As restries de ordem
institucional que da resultam so um limite considervel para o atendimento dos
agricultores familiares. So muitos os trmites burocrticos e as garantias exigidas e
elevados os custos de operao nos financiamentos, restringindo a oferta de linhas
de crdito condizentes com a realidade da agricultura familiar. As condutas
operacionais das instituies financeiras, relacionadas aos programas de crdito
rural oficial, do mesmo modo devem ser mencionadas. Apesar da excessiva
burocratizao e regulamentao determinadas pelo governo federal, essas condutas
so, na maioria das vezes, ...formuladas pelos agentes financeiros de acordo com seus
prprios interesses comerciais, o que acaba direcionando a aplicao dos recursos pblicos
para determinados setores e para determinadas atividades (Brigo, 1997: 05). Em funo
disso, os bancos acabam por liberar ...os recursos do crdito rural somente para os
agricultores que optarem pelo plantio de determinadas culturas e pelo emprego de
procedimentos tcnicos (idem: 05).
176 O papel das ONGs foi fundamental no estmulo participao contnua dos
agricultores e das suas entidades na discusso e na constituio das credis
alternativas. As ONGs funcionaram como uma fora propulsora dos agricultores
familiares na busca de um projeto alternativo para garantir sua permanncia e
manuteno no espao rural. Entretanto, se o incentivo e o apoio das ONGs
alavancou o processo de constituio das credis alternativas, foram as necessidades
efetivas dos agricultores o elemento decisivo no sucesso das iniciativas, pois tais
necessidades fizeram com que os agricultores levassem o projeto frente. As
mudanas na forma de atuao das atividades de representao tambm ajudam a
explicar a mobilizao em torno das credis alternativas. Se antes essas entidades
atuavam, basicamente, na esfera poltico-reivindicativa, mais recentemente tm
180 O mercado de futuros - futures market, em ingls - tem sido muitas vezes tambm
denominado por mercado futuro. No entanto, o termo futures no tem o papel
de adjetivo, sendo a traduo correta mercado de futuros. Do mesmo modo, o
termo options market corretamente traduzido para mercado de opes.
181 Notar que necessrio estar atento s diferentes unidades de pesos e medidas
quando se opera em mercados internacionais.
182 Uma vez que est relacionada volatilidade do mercado, a margem de garantia
pode ser revista se um mercado tornar-se mais voltil. Para a obteno dos
valores correntes das margens de garantias, o leitor pode consultar a homepage
da BM&F (www.bmf.com.br), que mantm essas informaes sempre
atualizadas.
Corretagem
(Taxa Operacional Bsica) 33,00 99,00
(0,3% do valor do contrato)
Compra de 3 contratos de caf
(100 sacas/contrato)
Taxa de registro
por US$ 110,00/saca 0,08 0,25
(R$ 0,15/contrato) (US$=1,8 R$)
Emolumentos
2,09 6,26
(6,32% da corretagem)
Emolumentos
2,28 6,83
(6,32% da corretagem)
183 No caso dos indicadores utilizados pela BM&F, a instituio responsvel pela
coleta de dados a ESALQ, que tem, com os anos, construdo competncia e
reputao na rea de coleta de preos agropecurios.
Outubro Maio
h =0
h*
h=1
Risco
ST Qs QsS hF
33.8.2 - Cross-Hedging
A anlise de risco de base e de hedging timo revela que
uma caracterstica fundamental para a efetividade da proteo
ao risco de preos a correlao entre os preos do mercado
spot e do mercado de futuros. Se for este o ponto-chave, no
necessrio fazer hedging com contratos sobre os mesmos
produtos transacionados no mercado spot. Basta que exista
correlao entre os preos do mercado fsico e algum contrato
qualquer operado no mercado de futuros. Como exemplo, se
for identificada uma correlao entre os preos do frango vivo e
os do contrato futuro de milho, negociado na BM&F, possvel a
uma avcola fazer hedging de compra, utilizando o mercado de
futuros. Essa estratgia denominada cross-hedging, referindo-
0 Pmf
Pexerccio
0 Pmf
Pexerccio
Vender Call
Comprar Call
Exerce Put exerce Put
exerce Call Exerce Call
Resultante
0 Pmf
Pexerccio
Vender Put
0 Pmf
Pexerccio
Resultante
Vender Call
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