Irmandade

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Irmandade da Cruz

L. H. Carvalho

Irmandade da Cruz

São Paulo 2010


Copyright © 2010 by Editora Baraúna SE Ltda

Capa
Eric Adonis Suzigan

Projeto Gráfico
Aline Benitez

Revisão
Priscila Loiola

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
________________________________________________________________
C325i

Carvalho, L. H. (Luiz Henrique Rodrigues de)


Irmandade da Cruz / L. H. Carvalho. - São Paulo : Baraúna, 2010.

ISBN 978-85-7923-201-5

1. Ficção brasileira. I. Título.

10-3080. CDD: 869.93


CDU: 821.134.3(81)-3

01.07.10 16.07.10 020183


________________________________________________________________

Impresso no Brasil
Printed in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA


www.EditoraBarauna.com.br

Rua João Cachoeira, 632, cj.11


CEP 04535-002 Itaim Bibi São Paulo SP
Tel.: 11 3167.4261

www.editorabarauna.com.br
Sumário

Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Prólogo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Capítulo 1 - Carmina. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
Capítulo 2 - Bruxelas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
Capítulo 3 - O segredo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Capítulo 4 - Iniciação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
Capítulo 5 - Revelações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
Capítulo 6 - França . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
Capítulo 7 - Espanha. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 195
Capítulo 8 - O guardião. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 215
Capítulo 9 - A despedida. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 255
Capítulo 10 - Lições. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 273
Capítulo 11 - O Mosteiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 297
Capítulo 12 - Os Arquivos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 317
Capítulo 13 - Ghara Kelisa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 341
Capítulo 14 - Verdades. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 357
Epílogo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 381
Prefácio

A experiência pela qual passei, e que aqui deixo nar-


rada para a posteridade, transformaram minha vida e mi-
nha maneira de ver o mundo. Hoje, presenciamos uma
corrida sem igual para a espiritualidade, embora muitos
dos que a buscam estejam apenas sendo levados pelo ba-
lanço das ondas sem, no entanto, terem consciência do
que os motivam. Neste novo milênio a humanidade ou-
viu um grito dentro de si, como nunca ouvira antes. Esse
grito soa como um suspiro do espírito que está quase se
afogando no mar do materialismo e num último esforço
tenta desesperadamente se manter vivo.
Falar em milagres na época em que vivemos se tor-
nou quase que heresia. Os milagres e a fé são conceitos
antiquados, que estão se tornando peças de museus. Mes-
mo dentro da própria espiritualidade moderna eles não
existem. Hoje, a busca espiritual, embora crescente, des-
viou seu rumo. Pregam-se muito mais fórmulas e técnicas
e a ideia básica, que sempre foi a transformação interior
do homem, se perdeu.
Os verdadeiros alquimistas não existem mais. Os
homens e mulheres santos estão deixando nosso mundo.
Não conseguimos mais enxergar os milagres. Na mesma

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proporção em que vivenciamos o avanço da espirituali-
dade, notamos o desaparecimento da realidade de Deus.
Mesmo Deus, que deveria ser a meta final de nossa busca,
também perdeu seu lugar nesse emaranhado de fórmulas
mágicas. E, aqueles que O procuram com sinceridade de
alma não conseguem visualizar um caminho verdadeira-
mente isento de pré-conceitos. Deus deveria ser a subs-
tância primeira (sub-debaixo e stare-permanecer) por de-
trás de todo ensinamento espiritual. Mas nem sempre é
isso que presenciamos.
Por essa razão, quando me foi dado o privilégio de
compartilhar com o mundo minha experiência, tive re-
ceio de fazê-lo, pela forma como o mundo encara a espi-
ritualidade nos dias de hoje. Mas, agora, percebo que este
livro não é para todos. Sendo assim:

Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça”

Hieronymus

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Adrien1 era estrangeiro e estava aqui escrevendo uma
matéria para a empresa jornalística na qual trabalha. Como
estávamos hospedados no mesmo hotel, acabamos por fa-
zer amizade e em seu horário livre nos acompanhava, a
mim e alguns amigos, para os locais turísticos da cidade.
Nossas conversas acabavam se direcionando para assuntos
de espiritualidade. Como isso sempre me fascinou, ficáva-
mos, às vezes, até altas horas da noite discutindo.
Adrien mostrou-se ser um homem muito inteligente
e no pouco tempo em que estivemos juntos aprendi mui-
to. Antes de partir, ele me deu um manuscrito e pediu que
o lesse, mas que não comentasse com ninguém seu conteú-
do, o que, evidentemente, concordei de pronto. Trocamos
telefones e seguimos nossas rotinas normais de vida.
Durante minha volta, comecei a ler o que havia me
dado e, confesso, fiquei tão impressionado com o que
estava escrito que não parei até terminar. Minha primeira
reação foi telefonar para ele, primeiro para agradecer pela
confiança, depois, porque o entusiasmo era tanto que
queria mais detalhes. Conversamos por um longo tempo
e, no final, pediu para que eu editasse o conteúdo do tex-
to que ele, por razões óbvias, não podia fazê-lo. Porém,
era para que aguardasse um contato seu, autorizando-me
a divulgação. O tempo passou e essa autorização só che-
gou seis anos depois.

O Autor.

1 Nome fictício

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Prólogo

Acordei me sentindo atordoado. Minha cabeça doía.


Levei a mão e ainda sangrava no local da pancada. Eu es-
tava em uma cela escura e fria. Não havia janelas, a parede
era de pedra e o piso feito de um material que lembra-
va tijolo. No chão, um colchão de palha ou algo assim.
Levantei-me e fui em direção às grades. Comecei a gritar,
para que alguém pudesse ouvir e viesse me dizer o que esta-
va acontecendo. De repente, ouvi uma voz vinda de dentro
da cela. Só então percebi que não estava sozinho. Ali ao
meu lado, encostado à parede, um homem todo sujo, com
as roupas rasgadas, longa barba, estatura mediana, porém
muito magro e debilitado. Ele começou a falar comigo:
— Não faça barulho — disse —, os guardas daqui
são extremamente violentos.
— Quem é você? — perguntei.
— Meu nome é Rahman. Você não é iraniano, por
que foi preso?
— Não sei o motivo. Em um instante estava dentro
de uma igreja, e agora estou aqui. Aliás, onde estamos?
— Gostaria de responder a sua pergunta, mas eu
também não sei. Quando fui detido, levaram-me para
a prisão de Kahrizak, depois me trouxeram para este lo-

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cal. Os guardas me trancafiaram no baú de um caminhão
até chegarmos aqui. Quando pararam o veículo, fizeram
com que eu saísse com um capuz escuro e só o retiraram
quando me jogaram nessa cela.
— Mas o que você fez?
— Eu sou um Yarán, pertenço à seita dos bahá’ís.
— Perdoe-me, mas nunca ouvi falar de vocês — res-
pondi.
— Nós, bahá’ís, sempre fomos perseguidos, desde
que nossa religião surgiu em 1844, mas depois da revo-
lução islâmica de 1979 essa perseguição foi intensificada.
Eu não sei quanto tempo faz que estou aqui. Eles não nos
permitem ver a luz do dia, e, como as celas não possuem
janelas, perdemos completamente a noção do tempo.
Que dia é hoje?
Respondi à pergunta e nesse momento sua face mu-
dou completamente, e ele disse em tom desesperado:
— Dez meses, faz 10 meses que estou preso aqui!
De repente, dois guardas apareceram em frete às gra-
des. Eles berravam, mas eu não entendia uma só palavra
do que queriam dizer. Um deles abriu a cela, enquanto
o outro apontava uma arma em nossa direção. Quando
entraram, gritaram com Rahman.
— Querem que fiquemos de frente para a parede
— disse ele.
Obedeci, sem relutar. Um dos guardas trouxe minhas
mãos para trás e algemou-as. Depois me escoltaram para
fora da cela. Escutei Rahman me desejando boa sorte.
Caminhamos por um corredor onde podiam se
notar fios pendurados com luzes fracas iluminando sua

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extensão. Entramos por uma porta onde havia uma es-
crivaninha antiga. A sala estava vazia. Eles, então, me fi-
zeram sentar na cadeira com força. Tentei levantar meu
rosto para olhar mais detalhadamente o lugar, porém,
um dos soldados pegou-me pelos cabelos e abaixou mi-
nha cabeça, enquanto gritava em meu ouvido. Nesse
momento, alguém entrou no recinto e disse algo e os
guardas se afastaram.
— Desculpe meus subordinados, eles não estão
acostumados a terem muita delicadeza.
O homem, mesmo tendo sotaque, falava bem meu
idioma.
— Posso perguntar o porquê estou aqui?
— Na verdade, eu ia justamente lhe fazer essa
pergunta!O que faz em nosso amado país?
— Nada, sou apenas um turista — respondi.
— Sim... É isso que diz seu passaporte. Mas papel
aceita qualquer coisa. Sabe, vou lhe contar um segredo.
Hoje, eu não amanheci muito espirituoso, estou cansado
e o sol lá fora está escaldante, então vou ser direto. Você
coopera e eu prometo que sua estada aqui será, digamos...
Mais suportável.
— Mas estou dizendo a verdade! Vim ao seu país
como turista para conhecer Ghara e outros locais sagra-
dos, apenas isso.
Naquele instante, o homem a minha frente mudou
sua fisionomia. Ele fez um aceno com sua cabeça e os
guardas me levantaram.
— Você vai querer continuar com esse joguinho? — dis-
se ele. — Pois bem, vamos ver o quanto você é resistente.

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Então, um deles socou meu estômago. A dor foi in-
tensa. Tentei arquear meu corpo, mas eles me seguraram
e não permitiram que eu fizesse.
— Sabemos que é um espião, estamos monitoran-
do você e seu amigo desde que chegaram ao aeroporto
de Tabriz. Infelizmente, ainda não o localizamos, mas
não irá demorar para que isso ocorra. Temos patrulhas
espalhadas pela região. Cedo ou tarde o encontraremos.
Pensou acaso que éramos ignorantes? Que poderia en-
trar em nosso país sem que nós soubéssemos suas ver-
dadeiras intenções? Esse é o grande problema de vocês,
acharem que somos pastores ingênuos e que todos os
nossos equipamentos são sucatas do ocidente. Não que-
ro continuar com isso, temos muitos meios de obtermos
uma confissão. Tenho certeza, antes que imagina, que
nos contará a verdade.
Respirei fundo nesse momento e mesmo estando
sentindo uma dor intensa, juntei minhas forças e gritei:
— Eu exijo um advogado ou alguém de minha em-
baixada!
Nessa hora, ele se aproximou e socou-me no estô-
mago novamente, e em meu rosto. Quase desfaleci, mas
consegui manter-me o mais lúcido possível. Nada mais
foi dito, os guardas apenas me arrastaram de volta a cela.
Assim que cheguei, eles retiraram as algemas e me joga-
ram no chão. Rahman veio ao meu lado e com um peda-
ço de pano todo sujo, tentou limpar um pouco do sangue
que escorria pela minha boca, enquanto dizia:
— Não sei o que você fez, mas te aconselho a contar
a eles. O diretor deste lugar é um homem extremamente

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violento e ninguém é capaz de saber o que ele fará para
obter uma confissão.
Minha boca doía e sangrava ao mesmo tempo. Rah-
man percebeu que eu não estava em condições de falar,
então continuou a estancar o sangue, mas permaneceu
em silêncio. Tentei descansar um pouco e, naquele mo-
mento, várias coisas passaram em minha cabeça e come-
cei a recordar como tudo isso começou.

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