Portugues 639 2F

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 8

Exame Final Nacional de Portugus

Prova 639 | 2. Fase | Ensino Secundrio | 2017


12. Ano de Escolaridade
Decreto-Lei n. 139/2012, de 5 de julho

Durao da Prova: 120 minutos. | Tolerncia: 30 minutos. 8 Pginas

VERSO 1

Indique de forma legvel a verso da prova.

Utilize apenas caneta ou esferogrfica de tinta azul ou preta.

No permitida a consulta de dicionrio.

No permitido o uso de corretor. Risque aquilo que pretende que no seja classificado.

Para cada resposta, identifique o grupo e o item.

Apresente as suas respostas de forma legvel.

Ao responder, diferencie corretamente as maisculas das minsculas.

Apresente apenas uma resposta para cada item.

As cotaes dos itens encontram-se no final do enunciado da prova.

Nas respostas aos itens de escolha mltipla, selecione a opo correta. Escreva, na folha de respostas, o
grupo, o nmero do item e a letra que identifica a opo escolhida.

Nos termos da lei em vigor, as provas de avaliao externa so obras protegidas pelo Cdigo do Direito de Autor e dos
Direitos Conexos. A sua divulgao no suprime os direitos previstos na lei. Assim, proibida a utilizao destas provas,
alm do determinado na lei ou do permitido pelo IAVE, I.P., sendo expressamente vedada a sua explorao comercial.

Prova 639.V1/2. F. Pgina 1/ 8


GRUPO I

Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

A
 eia o texto seguinte, constitudo pelas estncias 96 a 99 do Canto VIII de Os Lusadas, bem como a
L
contextualizao apresentada. Se necessrio, consulte as notas.

Contextualizao
Aps a chegada a Calecute, os portugueses so recebidos pelo Catual; entretanto, Baco aparece em
sonhos a um sacerdote, convencendo-o de que o objetivo dos portugueses era subjugar os indianos.
O Catual prende Vasco da Gama e s o liberta a troco de mercadorias trazidas das naus. Finalmente,
Vasco da Gama regressa a bordo, onde estar se deixa, vagaroso.

Est. 96 Nas naus estar se deixa, vagaroso,


At ver o que o tempo lhe descobre;
Que no se fia j do cobioso
Regedor, corrompido e pouco nobre.
5 Veja agora o juzo curioso
Quanto no rico, assi como no pobre,
Pode o vil interesse e sede imiga
Do dinheiro, que a tudo nos obriga.

Est. 97 A Polidoro mata o Rei Trecio,


10 S por ficar senhor do gro tesouro;
Entra, pelo fortssimo edifcio,
Com a filha de Acriso a chuva douro;
Pode tanto em Tarpeia avaro vcio
Que, a troco do metal luzente e louro,
15 Entrega aos inimigos a alta torre,
Do qual qusi afogada em pago morre.

Est. 98 Este rende munidas fortalezas;


Faz trdoros e falsos os amigos;
Este a mais nobres faz fazer vilezas,
20 E entrega Capites aos inimigos;
Este corrompe virginais purezas,
Sem temer de honra ou fama alguns perigos;
Este deprava s vezes as cincias,
Os juzos cegando e as conscincias.

Est. 99 25 Este interpreta mais que sutilmente


Os textos; este faz e desfaz leis;
Este causa os perjrios entre a gente
E mil vezes tiranos torna os Reis.
At os que s a Deus omnipotente
30 Se dedicam, mil vezes ouvireis
Que corrompe este encantador, e ilude;
Mas no sem cor, contudo, de virtude!

Lus de Cames, Os Lusadas, edio de A. J. da Costa Pimpo, 5. ed., Lisboa, MNE/IC, 2003, p. 221

Prova 639.V1/2. F. Pgina 2/ 8


notaS
Acriso (verso 12) Rei de Argos que, para impedir o cumprimento da profecia de que seria morto por um neto, prendeu
a filha numa torre. Jpiter, porm, sob a forma de chuva de ouro, introduziu-se na torre e tornou-a me de Perseu, que
veio a assassinar Acriso.
A Polidoro mata o Rei Trecio (verso 9) Quando a cidade de Troia estava prestes a cair em poder dos Gregos, o
soberano mandou o filho, Polidoro, com uma considervel riqueza em ouro, ao Rei Trecio, para que o protegesse;
todavia, este apoderou-se do metal e matou o jovem.
cor (verso 32) aparncia exterior.
munidas (verso 17) bem fortificadas.
perjrios (verso 27) mentiras; juramentos falsos.
Regedor (verso 4) Catual.
Tarpeia (verso 13) jovem romana que, na esperana de obter anis de ouro dos Sabinos, que sitiavam Roma, lhes
abriu as portas da cidade. Os inimigos, porm, no a pouparam.
trdoros (verso 18) traidores.

1. Relacione o contedo da estncia 97 com a opinio formulada na estncia anterior.

2. Releia os versos 17 a 28.

Explicite trs dos valores postos em causa pelo poder do metal luzente e louro (verso 14). Apresente,
para cada um desses valores, uma transcrio pertinente.

3. Interprete o sentido dos versos 29 a 32, enquanto crtica dirigida ao clero.

B
Leia o texto.

J que assim o experimentais com tanto dano vosso, importa que daqui por diante sejais
mais Repblicos e zelosos do bem comum, e que este prevalea contra o apetite particular de
cada um, para que no suceda que, assim como hoje vemos a muitos de vs to diminudos,
vos venhais a consumir de todo. No vos bastam tantos inimigos de fora e tantos perseguidores
5 to astutos e pertinazes, quantos so os pescadores, que nem de dia nem de noite deixam de
vos pr em cerco e fazer guerra por tantos modos? No vedes que contra vs se emalham e
entralham as redes; contra vs se tecem as nassas, contra vs se torcem as linhas, contra vs
se dobram e farpam os anzis, contra vs as fisgas e os arpes? No vedes que contra vs at
as canas so lanas e as cortias armas ofensivas? No vos basta, pois, que tenhais tantos
10 e to armados inimigos de fora, seno que tambm vs de vossas portas adentro o haveis
de ser mais cruis, perseguindo-vos com uma guerra mais que civil e comendo-vos uns aos
outros? Cesse, cesse j, irmos peixes, e tenha fim algum dia esta to perniciosa discrdia;
e pois vos chamei e sois irmos, lembrai-vos das obrigaes deste nome. No estveis vs
muito quietos, muito pacficos e muito amigos todos, grandes e pequenos, quando vos pregava
15 S. Antnio? Pois continuai assim, e sereis felizes.

Padre Antnio Vieira, Sermo de Santo Antnio (aos peixes) e Sermo da Sexagsima, edio de Margarida Vieira Mendes,
Lisboa, Seara Nova, 1978, pp. 91-92
notaS

entralham (linha 7) prendem em malha de rede; enredam.


nassas (linha 7) sacos de rede em que se recolhe o peixe.
Repblicos (linha 2) dedicados causa pblica.

4. Explique o conselho do orador expresso no primeiro perodo do texto (linhas 1 a 4) e relacione-o com o
sentido das interrogaes retricas presentes nas linhas 4 a 12.

5. Justifique a evocao da lenda de Santo Antnio, no contexto em que ocorre (linhas 13 a 15).

Prova 639.V1/2. F. Pgina 3/ 8


GRUPO II

Leia o texto.

Venho a Malaca, que agora se chama Melaka, pela Histria do meu pas. No sculo XV, o
sultanato controlava o comrcio do Oriente, o imperador chins oferecia a filha em casamento
ao sulto. Vinte mil navios lanavam ncora no porto, 84 idiomas regateavam preos no
cais. Quem for senhor de Malaca tem a mo na garganta de Veneza, escrevia Tom Pires,
5 contemporneo de Afonso de Albuquerque, aludindo importncia de Malaca no controlo da
rota das especiarias.
Portugal conquistou a cidade em 1511, perdeu-a em 1641 para a Holanda. No tenho
iluses sobre os vestgios da presena portuguesa: j passou demasiado tempo. O que os
Holandeses e os Ingleses no destruram, deixmos ns que se dilusse nos sculos de
10 ausncia e de desleixo. Antecipo Melaka como um cruzamento da humanidade, uma poo
nica, uma receita irrepetvel. Mas no assim. Encontro uma annima e descoordenada
cidade oriental, que podia ser qualquer outra cidade do Sudeste Asitico, um quarteiro
perifrico de Sydney, de So Francisco. Um rio lamacento e abandonado atravessa o centro,
fachadas sujas e desmazeladas derretem-se sobre as margens. Do lado de c, os Chineses;
15 e do outro lado, os Indianos. Os Malaios esto mais alm. No h confuses. Cada um trata
de si, todos se atarefam em conquistar uma vida melhor: um novo eletrodomstico, um fim de
semana em Singapura, a universidade dos filhos, a peregrinao a Meca.
Sob a aparente indolncia tropical, as tenses tnicas vo cozendo em fogo lento. De
tantos em tantos anos, explodem. Nada inconsequente em Malaca: a lngua, a f, a cor da
20 pele, a forma de vestir ou a aptido profissional atribuem um lugar preciso no tabuleiro social.
As pessoas carregam a afiliao tnica no apenas como uma identidade, tambm como um
vnculo.
Ponho-me procura das relquias da passagem portuguesa. Encontro a porta decrpita
de um forte demolido, o esqueleto de uma igreja, uma esttua mutilada de So Francisco
25 Xavier. Faz tudo parte do roteiro turstico de Malaca, juntamente com o passeio de riquex,
a visita ao shopping, a quinta dos crocodilos. A rplica da caravela portuguesa que serve
de museu da cidade no , afinal, uma homenagem ao extraordinrio feito de armas dos
navegadores lusitanos o de conquistar, com duas dezenas de navios e 1500 homens, um
poderoso sultanato de 100 000 habitantes. Depois de sete meses de navegao desde Lisboa.
30 O museu serve para glorificar as bases religiosas da nao. Dentro, tudo conduz concluso
de que os sucessivos invasores europeus no teriam conquistado Melaka hoje [].
Continuo a procurar Portugal em Malaca na igreja. O catolicismo, a artria vital da
mentalidade do meu povo, um legado da presena portuguesa no antigo emprio dos sete
mares. Entro, a hora da missa. A igreja imita o gtico francs, o padre chins, os fiis
35 so asiticos, a missa decorre em ingls, as canes transmitem um concentrado de alegria,
ritmo e nonchalance que seria impensvel em Portugal. No um legado evidente. Mas uma
coisinha pequena comea a agitar-se na alma: o sentimento de identificao com a realidade
que me rodeia. Um momento familiar. Uma saudade.

Gonalo Cadilhe, Planisfrio Pessoal, Lisboa, Clube do Autor, 2016, pp. 232-233

notaS

nonchalance (linha 36) expresso em francs que significa despreocupao, desprendimento.


riquex (linha 25) veculo de duas rodas para uma ou duas pessoas, puxado por uma pessoa a p ou de bicicleta,
frequente em cidades do Oriente.

Prova 639.V1/2. F. Pgina 4/ 8


1. Atravs da afirmao de Tom Pires, citada no texto (linha 4), pretende-se

(A)destacar a supremacia comercial de Veneza.

(B)provar a relevncia econmica de Malaca.

(C)realar a diversidade lingustica em Malaca.

(D)confirmar a violncia exercida sobre Veneza.

2. No segundo pargrafo, o autor

(A)evidencia a aliana entre universos culturais distintos.

(B)reala a singularidade oriental da cidade de Malaca.

(C)sublinha o contraste entre o real e o expectvel.

(D)valoriza o convvio harmonioso entre os habitantes.

3. As referncias a Sydney e a So Francisco (linha 13) tm como objetivo pr em destaque

(A)o cosmopolitismo de Malaca.

(B)a descaracterizao do espao.

(C)a composio tnica diversificada.

(D)o estado de degradao da cidade.

4. Atendendo ao contedo do segundo e do terceiro pargrafos, depreende-se que a ocupao espacial


distinta dos diferentes grupos populacionais

(A)desencadeia o conhecimento intercultural.

(B)anula a possibilidade de discrdia entre estes.

(C)assegura uma interao pacfica entre todos.

(D)sugere divises potenciadoras de conflitos.

5. De acordo com os trs ltimos pargrafos do texto, o mais significativo legado portugus encontrado pelo
autor foi

(A)a rplica de uma caravela.

(B)a igreja em estado de runa.

(C)a esttua de So Francisco Xavier.

(D)a vivncia do catolicismo.

Prova 639.V1/2. F. Pgina 5/ 8


6. Nas expresses vo cozendo em fogo lento (linha 18) e tabuleiro social (linha 20), o autor utiliza

(A)a metfora, em ambos os casos.

(B)o eufemismo, em ambos os casos.

(C)o eufemismo e a metfora, respetivamente.

(D)a metfora e o eufemismo, respetivamente.

7. Os complexos verbais vo cozendo (linha 18) e Continuo a procurar (linha 32) tm um valor aspetual

(A)durativo.

(B)genrico.

(C)habitual.

(D)pontual.

8. Identifique o valor da orao iniciada por que na linha 1.

9. Classifique a orao sublinhada na frase Quem for senhor de Malaca tem a mo na garganta de Veneza
(linha 4).

10. Indique a funo sinttica desempenhada pela orao para glorificar as bases religiosas da nao
(linha 30).

Prova 639.V1/2. F. Pgina 6/ 8


GRUPO III

Se, para uns, a conquista de uma vida melhor o principal objetivo, para outros, a luta pelo bem comum
sobrepe-se aos interesses individuais.

Ser que estas duas perspetivas se podem conciliar na sociedade atual?

Num texto bem estruturado, com um mnimo de duzentas e um mximo de trezentas palavras, defenda um
ponto de vista pessoal sobre a questo apresentada.

Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mnimo, a dois argumentos e ilustre cada um deles com,
pelo menos, um exemplo significativo.

Observaes:

 ara efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequncia delimitada por espaos em branco, mesmo
1. P
quando esta integre elementos ligados por hfen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer nmero conta como uma nica palavra,
independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2017/).

2. R
 elativamente ao desvio dos limites de extenso indicados entre duzentas e trezentas palavras , h que atender
ao seguinte:
um desvio dos limites de extenso indicados implica uma desvalorizao parcial (at 5 pontos) do texto produzido;
um texto com extenso inferior a oitenta palavras classificado com zero pontos.

FIM

Prova 639.V1/2. F. Pgina 7/ 8


COTAES

Item
Grupo
Cotao (em pontos)
1. a 5.
I
5 20 pontos 100
1. a 10.
II
10 5 pontos 50

III Item nico


50
TOTAL 200

Prova 639.V1/2. F. Pgina 8/ 8

Você também pode gostar