Boletim Germinal
Boletim Germinal
Boletim Germinal
SUMRIO
Crtica da educao e do ensino no modo capitalista de produo: Crise, conteno e os desafios para a classe
trabalhadora - Editorial
Elza Peixoto
Crise e educao: o desafio dos trabalhadores
Paulino Jos Orso
O plano de desenvolvimento da educao (PDE). Uma poltica educacional do capital
Gilcilene de Oliveira Damasceno Baro
Conformao e conteno disfaradas em mais educao
Elza Margarida de Mendona Peixoto
Elza Peixoto
Germinal, em sua nona edio, dedica-se crtica da educao e do ensino, concentrado em duas polmicas da
atualidade: o Plano de Desenvolvimento da Educao (PDE) e a Educao Distncia (EAD) enquanto
www.uel.br/revistas/germinal/n9-112009.htm#7cultura 1/25
04/05/12 Boletim Germinal
tecnologia que se constituram como foras produtivas destrutivas, expropriadoras
Devemos, mais uma vez, repor a questo colocada no incio do texto, inserindo na mesma as outras interrogaes
que atravessaram as nossas reflexes. Que tipo de projeto de educao a distncia e de formao tcnico-
profissional comporta o currculo no atual modo do capital organizar a produo? Qual o nosso projeto
histrico de sociedade? Em que bases filosficas pautaremos o nosso trabalho pedaggico quando da elaborao
do currculo? Quais as formas de ao que buscaremos para materializ-lo?
No nosso entendimento, o uso da tecnologia da informao e comunicao de novo tipo, relacionada s reflexes
curriculares em um processo de educao a distncia, deve se inserir em um projeto amplo de formao humana,
onde o rompimento com a idia de modernizao conservadora na direo do desenvolvimento de um projeto
nacional, popular, seja o nosso objetivo imediato, teleologicamente direcionado para o projeto histrico socialista
como marco transitrio para o comunismo.
Referncias
FERNANDES, Florestan. Capitalismo dependente e classes sociais na Amrica Latina. Rio de Janeiro: Zahar,
1975.
_____. A revoluo burguesa no Brasil: um ensaio de interpretao sociolgica. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
FRIGOTTO, Gaudncio. Fundamentos cientficos e tcnicos da relao trabalho e educao no Brasil de hoje. In
LIMA, Jlio Csar Frana & NEVES, Lcia Maria Wanderley (ORGS). Fundamentos da educao escolar do
Brasil contemporneo. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2006. p. 241-288.
MSZROS, Istvn. A educao para alm do capital. So Paulo: Boitempo, 2005.
OLIVEIRA, Francisco de. Crtica razo dualista: o ornitorrinco. So Paulo: Boitempo, 2003.
ORSO, Paulino Jos. A educao na sociedade de classes: possibilidades e limites. In: ORSO, Paulino Jos.
GONALVES, Sebastio Rodrigues & MATTOS, Valci Maria (ORGS). Educao e lutas de classes. So
Paulo: Expresso Popular, 2008. p. 49-63.
SILVEIRA, Srgio Amadeu da. Excluso digital: a misria na era da informao. So Paulo, Editora Perseu
Abramo, 2001.
TONET. Ivo. Educao contra o capital. Macei, EDUFAL, 2007.
2 O comunismo no para ns um estado que deve ser estabelecido, um ideal para o qual a realidade ter que se dirigir.
Denominamos comunismo o movimento real que supera o estado de coisas atual. As condies desse movimento resultam de
pressupostos atualmente existentes. (MARX, apud TONET, 2007, p. 14) e se fundamenta na luta de classes.
topo
A partir dos anos oitenta, como conseqncia do enfrentamento de uma profunda crise estrutural do capital que
se avoluma e eclode no inicio da dcada de 90, com a queda do leste europeu e o anuncio da "nova ordem
mundial", unipolar, deflagra-se em diversas reas o movimento de defesa da "realidade e sua articulao com a
prtica social global" como pressuposto e finalidade dos processos de educao e ensino exigindo a superao
da prtica pedaggica atravs de procedimentos tcnico-metodolgicos. Na rea da Educao Fsica, no Brasil,
se intensifica o processo de reviso dos fundamentos que at ento legitimavam a disciplina na escola e se
questiona o marco terico das suas referncias filosficas, cientficas, polticas e culturais. poca, precederam
s preocupaes desses professores os estudos de LE BOULCH (1978) e MANUEL SERGIO (1987), que
colocam elementos para a construo de uma nova cincia, a do movimento humano. Aparentando diferenas
nos seus discursos, ambos assentam suas teses em vertentes interpretativas fenomenolgicas. Para LE BOULCH,
sua abordagem do movimento humano emerge de um ponto de vista mais global que o destaca como uma das
dimenses da conduta. Nos seus termos: "(...) um pouco como a lingstica contempornea aborda o estudo da
linguagem" (1978). SERGIO advoga pela construo de uma cincia que denomina "Cincia da Motricidade
Humana" e enquadra nela a "Educao Motora" como seu ramo pedaggico, em substituio da Educao
Fsica. Seu olhar idealista do problema explicita-se no momento em que, recorrendo a BACHELARD, afirma
que a exatido no reside do lado dos objetos, mas dos processos epistemolgicos. Sem considerar o carter
ideolgico, poltico e econmico da cincia, ressalta que a Cincia da Motricidade Humana um problema de
cultura, negando, desse modo a cientificidade e historicidade do processo cognitivo.
O pensamento platnico do corpo como instrumento da alma no saiu da sala de aula e, renovado, caminha de
mos dadas com a quase totalidade das propostas pedaggicas, mesmo daquelas que se autodenominam
"progressistas" ou "crticas", embora expliquem a complexa atividade humana substituindo Homem por "corpo".
Talvez por isso no mais surpreenda o anncio de uma "pedagogia do corpo". Debruar-se na reflexo sobre a
nossa corporeidade necessrio porque a posio que o professor assume a esse respeito tem repercusses
imediatas em trs mbitos fundamentais da sua prtica pedaggica: o do trato com o conhecimento, o da
formao do pensamento terico-cientfico do aluno e o da avaliao do seu rendimento. Todavia, o reflexo
dessa prtica pedaggica pode resultar na ampliao do espao de contestao funo social da escola ou no
fortalecimento da reproduo dos interesses dominantes que determinam a forma e o contedo da escola
capitalista. Na farta literatura nacional sobre o tema "corpo", de uso corrente nos cursos de Educao Fsica, no
difcil encontrar conceitos em que o dualismo parece ser questionado. Veja-se o seguinte exemplo:
"O corpo da criana fica fora da escola e as crianas, l dentro, so educadas como se fossem um esprito ou
uma mente. (...) Corpo e mente so componentes que integram um nico organismo, ambos devem ter lugar na
escola, no um para aprender (mente) e outro para transportar (corpo), mas, ambos para se emancipar
(FREIRE, 1994, p 4). Tal fenmeno ocorre da mesma forma numa profuso de obras estrangeiras. Observe-se a
singular metfora que uma autora francesa utiliza para conceituar o homem como totalidade: "Nesse instante,
esteja voc onde estiver, h uma casa com o seu nome. Voc o nico proprietrio, mas faz tempo que perdeu
as chaves. (...) Essa casa, teto que abriga suas mais recnditas e reprimidas lembranas, o seu corpo. (...) As
paredes que tudo ouviram e nada esqueceram so os msculos. (...) Nosso corpo somos ns. nossa nica
realidade perceptvel. No se ope nossa inteligncia, sentimentos, alma. Ele os inclui e d-lhes abrigo. (...)
corpo e esprito, psquico e fsico, e at fora e fraqueza, representam no a dualidade do ser, mas sua unidade.
(BERTHERAT, 1986, p 5). Cabe perguntar-se: mesmo o velho dualismo que continua presente, ou h uma
espcie de mania de cortar as coisas em pedacinhos e, a seguir, esforar-se para uni-los? De incio afirma-se que
somos duas coisas: um continente o corpo e um contedo a inteligncia, os sentimentos e a alma , assim
como o faz a autora citada; depois, pretende-se que essas duas partes coladas sejam vistas como uma "unidade"!
Isso, sem esquecer que se coloca um continente inferior ao contedo!
O pensamento terico cientfico condio sine qua non para a compreenso terica e prtica das bases da
cincia contempornea, seus conceitos, princpios e leis fundamentais; para compreender o conhecimento como
fruto da prxis humana e a origem dos contedos das disciplinas escolares na atividade prtica do homem para
atender interesses especficos de classes sociais especficas. Mais ainda, para perceber que os fenmenos da
realidade so parte de um processo inerente ao desenvolvimento histrico geral e por isso a cientificidade e
historicidade do processo cognitivo. o pensamento terico cientfico o que explica que a base e o critrio para
separar as diferentes classes de objetos so os diferentes tipos de atividade encaminhados a satisfazer
necessidades sociais. Faz-se evidente que o objeto de estudo da Educao Fsica o fenmeno das prticas cuja
conexo geral ou primignia essncia do objeto e o nexo interno das suas propriedades determinante do seu
contedo e estrutura de totalidade dada pela materializao em forma de atividades sejam criativas ou
imitativas das relaes mltiplas de experincias ideolgicas, polticas, filosficas e outras, subordinadas leis
www.uel.br/revistas/germinal/n9-112009.htm#7cultura 17/25
04/05/12 Boletim Germinal
histrico-sociais. O geral dessas atividades que so valorizadas em si mesmas; seu produto no material
inseparvel do ato da produo e recebe do homem um valor de uso particular por atender aos seus sentidos
ldicos, estticos, artsticos, agonsticos, competitivos, e outros, relacionados sua realidade e s suas
motivaes. Elas se realizam com modelos socialmente elaborados que so portadores de significados ideais do
mundo objetal, das suas propriedades, nexos e relaes descobertos pela prtica social conjunta. A essa rea de
conhecimento que se constri a partir dessas atividades, no momento, a denominamos de "Cultura Corporal", no
obstante seja alvo de crticas por "sugerir a existncia de tipos de cultura". Pensamos no haver necessidade de
polemizar a tal respeito, apenas queremos destacar que, para toda interpretao, deve prevalecer a conceituao
materialista histrico-dialtica de cultura. Assim, a manuteno do nome secundria, embora seja sugestivo de
certo vnculo de familiaridade com o iderio que as pessoas tm da Educao Fsica e isso pode ser til para as
primeiras aproximaes a esta abordagem. Mais adiante poder ser discutida a convenincia de se adotar outra
denominao, da mesma forma em relao ao prprio nome: Educao Fsica. Assinalar disciplina Educao
Fsica o campo da Cultura Corporal como objeto de estudo no significa perder de vista os objetivos
relacionados com a formao corporal, fsica, dos alunos, seno, recoloc-los no mbito espao-temporal da
vida real de uma sociedade de classes. Se a escola atual assume o aperfeioamento da capacidade de rendimento
fsico, o desenvolvimento de capacidades motoras bsicas, hbitos higinicos e capacidades vitais e desportivas,
pela sua prpria funo seletiva no oculta objetivos de seleo eugnica dos alunos. escola, inserida num
projeto histrico superador, cabe a elaborao e socializao do conhecimento necessrio formao
omnilateral. Capacidade de rendimento fsico, desenvolvimento de capacidades motoras bsicas, hbitos
higinicos e capacidades vitais e desportivas so absolutamente dependentes das condies materiais de vida dos
indivduos e seu desenvolvimento, incremento e aperfeioamento so possveis, somente, a partir de um projeto
coletivo que se concretiza pela ao decisiva do Estado na promoo das condies materiais bsicas para toda
a populao.
A organizao da rea de conhecimento, "Cultura Corporal", no tarefa de uma pessoa; isto, que poder se ia
chamar de enquadramentos tericos, so contribuies terico-metodolgicas bsicas que exigem
desenvolvimento coletivo posterior. Quanto estruturao da Disciplina devem ser considerados pressupostos
lgicos, psicolgicos e didticos, tambm, com base na dialtica materialista como lgica e teoria do
conhecimento e, principalmente, tomando a prtica objetiva, produtiva: o trabalho, como ponto de partida. Dito
de outra forma "o processo objetivo da atividade humana, movimento da civilizao humana e da sociedade
como autntico sujeito do pensamento KOPNIN (1978). A amplitude e carter do materialismo histrico-
dialtico fundamentado pelo princpio determinante da prtica do homem como atividade livre, universal, criativa
e auto-criativa por meio da qual ele faz, produz e transforma seu mundo, humano e histrico, e a si mesmo. "Toda
vida social essencialmente prtica" diz MARX, (1987), a prtica que coloca em evidncia as formas universais
do ser, as propriedades e relaes universais das coisas e as materializa nos meios de trabalho criados e nas
formas de atividade. Entretanto, a atividade no uma reao nem um conjunto de reaes, um sistema com
estrutura, transies, converses internas e desenvolvimento, motivo pelo qual no deve ser abstrada das
relaes sociais da vida da sociedade com suas peculiaridades e particularidades, ela includa no sistema de
relaes da sociedade, pois, no existe em absoluto fora dessas relaes. A atividade objetiva, diz LEONTIEV
(1979), gera, alm do carter objetivo das imagens, a objetividade das necessidades, das emoes e dos
sentimentos, demonstrando que os fins no se inventam nem se colocam voluntariamente pelo sujeito seno que
esto dados nas circunstncias objetivas. Todavia, a extrao e conscientizao dos fins, no um processo
momentneo que acontece automaticamente, um processo relativamente longo de aprovao dos fins pela ao.
Do vasto universo dessas peculiares atividades da produo no material, consideradas teis em si mesmas
examinamos algumas, tais como jogo, ginstica, dana, mmica, malabarismo, equilibrismo, trapezismo, atletismo e
outras do gnero, para procurar seu enquadramento terico e os direcionamentos prticos para sua incluso na
Disciplina escolar Educao Fsica. Jogo, ginstica, dana, malabarismo, mmica, equilibrismo, trapezismo,
atletismo so conceitos historicamente formados na sociedade, por isso existem objetivamente nas formas de
atividade do homem e nos resultados delas, quer dizer, como objetos racionalmente criados. Mas, o significativo
acervo dessas atividades no indica que o homem nasceu saltando, arremessando ou jogando. Essas atividades
foram construdas em certas pocas histricas como respostas a determinadas necessidades humanas, mas,
entend-las como atividade no material no significa desencarn-las do processo produtivo que as originou na
relao contraditria das classes sociais. Sua complexa natureza, sua subjetividade e as contradies entre os
significados de natureza social e os sentidos de natureza pessoal que as envolvem, impede defini-las e explic-las
como "aes motoras". Alm do mais, a inadequao dessa forma de abordagem objetiva esconder as relaes
entre a produo de conhecimento, o processo produtivo e as finalidades do seu uso no mbito escolar. Quando
o homem esquia em vertiginoso ziguezague numa ngreme ladeira, cinde as guas com geis braadas ou em
poderosas lanchas, voa graciosamente em asa delta ou livre e ousadamente em trapzios altssimos, coloca uma
bola num ngulo imprevisvel da quadra de tnis, permanece no ar desafiando a gravidade numa arriscada pirueta
ginstica ou finta sagazmente seu rival com a bola inexplicavelmente colada no seu p, est materializando em
movimentos um contedo cujo modelo interior s se determina e define no prprio curso da sua realizao. O
modelo inicial do qual parte essa atividade prtica objetiva impregna-se da subjetividade de sentidos ldicos,
estticos, artsticos, agonsticos, competitivos, ou outros, que se relaciona com a realidade da prpria vida do
sujeito que age e com as suas motivaes particulares. Desse modo ele usufrui da sua produo na prpria
objetivao ou materializao da experincia prtica, sendo intrnseca ao valor particular que ele lhe atribui a
unidade indissolvel entre o interior e o exterior, entre o subjetivo e objetivo.
MARX (1986) nos diz que o homem representa, ele prprio, frente natureza, o papel de uma fora natural. Ele
pe em movimento, pelas suas pernas, braos, cabea e mos as foras de que seu corpo dotado para se
apropriar das matrias e dar lhes uma forma til sua vida. V-se, ento, que essas atividades no objetivam a
"expresso corporal" de idias ou sentimentos. Elas so a materializao de experincias ideolgicas, religiosas,
polticas, filosficas ou outras, subordinadas s leis histrico-sociais que originaram formas de ao socialmente
elaboradas e, por isso, so portadoras de significados ideais do mundo objetal, das suas propriedades, nexos e
relaes descobertos pela prtica social conjunta. Mas, como o homem chegou ao sentido/fora do seu ser, da
sua disposio corporal fora, velocidade, resistncia para vencer um rival ou valorizar sua prpria forma
esteticamente? interessante buscar pistas para a elaborao de respostas, por exemplo, no imprio romano,
sem deixar de lado, nas anlises, a referncia da sua estrutura fundiria. O cio nessas sociedades opressoras era
apenas para as castas privilegiadas que desprezavam o trabalho manual, por isso elas participavam dos jogos
www.uel.br/revistas/germinal/n9-112009.htm#7cultura 18/25
04/05/12 Boletim Germinal
apenas para as castas privilegiadas que desprezavam o trabalho manual, por isso elas participavam dos jogos
como ocupao nobre enquanto descansavam da guerra. A forma atltica dessas atividades envolvia significados
agonsticos e competitivos que se relacionavam com a realidade da atividade guerreira que aquelas castas
realizavam. Observa-se, tambm, que as mulheres no praticavam atividades agonstas nem presenciavam os
jogos. Aos trabalhadores restou-lhes a atividade ldica via imitao competitiva de atividades laborais e, ou
blicas, conhecidas pela tradio. O surgimento da atividade reflexiva do homem lhe permitiu modificar as
imagens ideais, o projeto das coisas, sem modificar a coisa mesma, desse modo pode transformar em jogos essas
atividades laborais, essencialmente criadas como objetos de necessidade e de ao. As atividades para atender
s necessidades ldicas e agonstas eram inseparveis dos objetivos de dominao, pois, no circo e nos jogos de
atividades atlticas e agonstas - nos quais se encontram as razes dos nossos jogos olmpicos - afirmava-se a
dominao ideolgica. O objetivo, pela via do entretenimento/diverso, era o de adormecer as conscincias e
inculcar valores implcitos nos interesses da classe hegemnica.
Entretanto, na execuo da atividade plausvel ao homem mudar o carter das relaes entre os objetivos e os
motivos que a determinaram, atravs da atribuio de um valor que lhe confere um sentido pessoal que pode, ou
no, coincidir com os significados sociais historicamente a ela outorgados. Isso permite afirmar que essas
atividades manifestam a realidade humana, pois, espremem a relao objetiva do homem com os objetos sociais
que na relao social adquirem o sentido humano, porm, a relao social dada pela diviso social do trabalho e
de dominao do homem pelo homem alienao as degrada ao carter de simples atos humanos. O que
caracteriza atualmente a atividade humana em relao ao trabalho continua sendo o seu carter alienador, sendo
necessrio que o processo de escolarizao continue firmando a dualidade corpo mente. A alienao resultante
da diviso social do trabalho humano vem sendo assegurada no somente na pratica escolar, mas, nas
abordagens tericas. A superao da alienao humana passa necessariamente pela pratica concreta do homem
em relao ao trabalho e se desenvolve, segundo Meszros (2002, p. 59), enquanto conscincia histrica quando
do enfrentamento de trs problemas prticos, a saber: 1) a determinao da ao histrica, o agir humano; 2) a
percepo da mudana no como lapso de tempo mas como um movimento de carter cumulativo e, 3) a
oposio consciente entre particularidade e universalidade, como sntese, de modo a explicar historicamente
eventos relevantes e seu significado amplo que transcende o imediato. Portanto, a construo de alternativa para
o trabalho pedaggico e de produo do conhecimento deve apontar para a elaborao da teoria como
categorias da prtica e a partir da considerao da prtica e sua descrio emprica, de um referencial que
explique esta prtica na perspectiva da compreenso da sua totalidade e radicalidade e da elaborao de
proposies coletivas, solidrias, alternativas, superadoras. Este o enfrentamento para o prximo perodo, se
quisermos agir na linha da superao dos elementos que constitui a contradio de fundo e que mantm a maioria
excluda do acesso aos bens culturais, entre os quais a educao fsica e o esporte. A questo de fundo no a
incluso, mas sim, a resistncia, a ocupao, a produo e a preservao a partir da determinao responsvel e
voluntria de produtores associados que tm como elemento regulador, nos planejamentos de baixo para cima do
sistema de produo e troca, no as leis do mercado, mas, fundamentalmente as necessidades vitais do SER
HUMANO. A isto Meszros em sua obra "Para alm do capital" denomina de principais princpios da alternativa
socialista.
Bibliografia
ASSMANN , H. Paradigmas educacionais e Corporeidade. Piracicaba, UNIMEP, 1994.
BRUHNS. H. Conversando sobre o Corpo.Campinas, Papirus, 1995.
BORDIEU, P. Programa para uma Sociologia do Esporte. In: Coisas Ditas. SP. Brasiliense. 1990:207-220.
BERTHERAT, Thrse e BERSTEIN, C. O corpo tem suas razes 10.ed. SP: M. Fontes, 1986.
CAGIGAL, Jos Maria. Cultura intelectual e cultura fsica. Buenos Aires: Ed. Kapelusz, 1979.
CHEPTULIN, A. A dialtica Materialista: Categorias e leis da dialtica. SP. Alfa-Omega, 1982.
DAVDOV, V.V. Tipos de generalizacin en la enseanza. Cuba: Pueblo y Educacin, 1982.
DAOLIO, Jocimar. Da Cultura do Corpo. So Paulo, Papirus, 1995.
DANTAS. E. O corpo e o Movimento.So Paulo, Rio de Janeiro, Shape, 1994.
ENGELS, Friedrich. O papel do trabalho na transformao do macaco em homem. 4.ed. RJ: Global Editora,
1990.
______. A dialtica da natureza. 3. ed. RJ: Paz e Terra, 1979.
ESCOBAR, Micheli Ortega. (Coord.) Contribuio ao debate do currculo em educao fsica: uma proposta
para a escola pblica. Recife: Secretaria de Educao e Cultura do Estado de Pernambuco, 1989.
ESCOBAR, M. e TAFFAREL, C. Z. O trato com o conhecimento cientfico e a organizao do processo de
trabalho pedaggico no ensino de Educao Fsica. In: CONGRESSO SOBRE A UFPE, 1, Anais. V. Recife:
Reproart, 1992.
_________________________________. Metodologia do Ensino da Educao Fsica. In: Reunio Anual da
Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Educao, 15. Resumos Boletim ANPed, No 1, Set/92.
FREIRE, J.B. De corpo e alma. So Paulo, Summus, 1991.
_________. Educao de corpo inteiro. So Paulo, Scipione.1994.
GHIRALDELLI JR, P. Notas para uma teoria dos contedos da Educao Fsica. RJ. In: Reunio SBPC, 43,
Rio de Janeiro: SBPC, 1991.
_________________. Educao Fsica Progressista: A Pedagogia crtico-social dos contedos e a Educao
Fsica brasileira. SP. Loyola, 1988.
HARROW, Anita J. Taxionomia do domnio psicomotor. Buenos Aires. Ateneo, 1978.
KOPNIN, P.V. A dialtica como lgica e teoria do conhecimento. RJ: Civilizao Brasileira, 1978.
KOSIK, K. Dialtica do concreto. 2.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
LAPIERRE, A & AUCOUTURIER. Educacin vivenciada. Barcelona: Cientfico-Mdica, v. 1-3, 1977.
LE BOULCH, Jean. Hacia una ciencia del movimiento humano. Buenos Aires: Paidos, 1971.
______. A educao pelo movimento. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1983.
LEONTIEV, A. LURIA, A. R. VYGOTSKY, L. S. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. SP:
Icone/USP, 1988.
LEONTIEV, Alexei N. Actividad, Conciencia, Personalidad. Habana: Ed. Pueblo y Educacin, 1981.
MANOEL SERGIO. Filosofia das Atividades Corporais. Portugal, Compendium, S/D.
________________. Para uma epistemologia da motricidade humana. Lisboa: Compendium, 1987.
MEDINA, J. P. O A Educao Fsica cuida do Corpo...e mente. Campinas, Papirus, 1983.
MEDINA, J.P. O Brasileiro e seu corpo. Campinas, Papirus, 1990.
www.uel.br/revistas/germinal/n9-112009.htm#7cultura 19/25
04/05/12 Boletim Germinal
MEDINA, J.P. O Brasileiro e seu corpo. Campinas, Papirus, 1990.
MARX, Karl & ENGELS, Friederich. A ideologia Alem. So Paulo: Hucitec, 1987.
__________. Crtica ao programa de Gotha. Coimbra: Centelha, 1975.
__________. O Capital. So Paulo: Abril, v. 1, 1983.
MESZROS, I. Para alm do capital: Rumo a uma teoria da transio. SP. Boitempo e UNICAMP, 2002.
SIQUEIRA, Juliano. Fundamentos para uma Poltica Cultural. Princpios, n 25, p. 61-65, maio-jul/1992.
SIQUEIRA, Suely. Corpos Algemados: O Ldico e a libertao do corpo. Cuiab, Instituto de Educao, 1999.
SOARES, C. L. Imagens da educao no Corpo. Campinas, SP. Autores Associados, 1998.
____________ Corpo e Histria. Campinas, Autores Associados, 2001.
TAYLOR, Frederick W. Princpios da administrao cientfica. 4.ed. SP: Atlas, 1960.
VAYER, Pierre. El nio frente al mundo. Barcelona: Cientfico-Mdica, 1977.
______. El dilogo corporal. Barcelona: Cientfico Mdica, 1977.
VYGOSTKY, L. S. Pensamento e linguagem. So Paulo: Martins Fontes, 1987
______. A formao social da mente. So Paulo: M. Fontes, 1988.
topo
Friedrich Engels
V-se o que a burguesia e o Estado fizeram pela educao e a instruo da classe trabalhadora. Por sorte, as
condies em que vive esta classe asseguram-lhe uma formao prtica, que no s substitui toda a incoerncia
escolar, mas ainda neutraliza o efeito pernicioso das ideias religiosas confusas de que est revestido o ensino e
isto mesmo que coloca os operrios frente do movimento de toda a Inglaterra. A misria no ensina apenas o
homem a orar, mas ainda muito mais: a pensar e a agir. Mas o trabalhador ingls, que apenas sabe ler e escrever
mal, sabe todavia de maneira muito clara qual o seu prprio interesse e o de todo o pas sabe tambm qual
o interesse especfico da burguesia, e o que pode esperar dela. Mesmo se no sabe escrever, sabe falar e falar
em pblico. Se no sabe contar, sabe contudo o bastante para fazer, com as noes de economia poltica, os
clculos necessrios para descobrir e refutar os burgueses que pretendem abolir a lei sobre os cereais a fim de
fazerem baixar o seu salrio. Se, para grande desespero dos padres zelosos, as questes celestes continuam a ser
para ele perfeitamente obscuras, est mais esclarecido sobre as questes terrestres, polticas e sociais. Teremos
ainda ocasio de voltar a falar disto. Abordemos agora o retrato moral dos trabalhadores.
Salta aos olhos que a instruo moral que, em todas as escolas inglesas, amalgamada instruo religiosa, no
poderia ser mais eficaz do que esta ltima. Os princpios elementares que, para o ser humano, regulam as relaes
do homem com o homem caem j na mais terrvel das confuses, nem que seja apenas porque as relaes sociais
implicam a guerra de todos contra todos. Ora, elas devem necessariamente permanecer totalmente obscuras e
estranhas ao operrio inculto, quando lhe so expostas sob a forma de dogmas inextricavelmente misturados com
a religio, e sob a forma incompreensvel de um imperativo arbitrrio, despido de fundamento.
Segundo declaraes de todas as autoridades, em particular da Comisso sobre o Emprego das Crianas, as
escolas no contribuem quase em nada para a moralidade da classe trabalhadora. A burguesia inglesa to
impiedosa, to estpida e to limitada no seu egosmo, que nem sequer se d ao trabalho de inculcar nos
operrios a moral actual, que todavia a burguesia confeccionou no seu prprio interesse e para sua prpria
defesa! Mesmo esta preocupao parece por si s dar demasiado trabalho a esta burguesia cada vez mais
relaxada e fraca; mesmo isso lhe parece suprfluo. Evidentemente, chegar um momento em que lamentar
demasiado tarde a sua negligncia. Mas no tem o direito de se queixar se os trabalhadores ignorarem esta
moral e a no tiverem em conta.
assim que os operrios so postos parte e desprezados pela classe no poder no plano moral, como o so nos
planos fsico e intelectual. O nico interesse que ainda se tem por eles manifesta-se pela lei, que lhes deita a mo
assim que se aproximam demasiado da burguesia; tal como para com os animais despidos de razo, s se utiliza
com eles um nico meio de educao: o chicote, a fora brutal que no convence, mas que s intimida. No
pois de admirar que os operrios, que so tratados como bestas, se tornem verdadeiras bestas, ou que tenham
apenas, para salvaguardar a sua conscincia de homens e o sentimento de que so seres humanos, o dio mais
feroz, uma raiva interior permanente contra a burguesia no poder. De facto, s so homens quando sentem clera
contra a classe dominante: tornam-se bestiais, assim que se resignam pacientemente ao seu jogo, procurando
apenas tornar agradvel a sua vida sem tentar quebrar o seu jugo.
Os burgueses ingleses so excelentes homens de negcios, e vem mais longe do que os professores alemes. S
contrariados encaram partilhar o poder com a classe operria. Na poca do cartismo, aprenderam do que era
capaz esta criana robusta e maliciosa que o povo. Desde ento, fora-lhe imposta a maior parte da Carta
Popular, tornando-se a lei do pas. Agora, mais do que nunca, era preciso segurar o povo por meios morais. Ora,
o primeiro e o principal meio de aco sobre as massas e continua a ser a religio. isto que explica que os
padres estejam em maioria no seio das autoridades escolares, que a burguesia se imponha cada vez mais
despesas para encorajar todas as espcies de demagogia devota, desde o ritualismo at ao exrcito de salvao.
1 ENGELS, Friedrich. Os resultados. Extrado por Roger Dangeville de A situao da classe trabalhadora na Inglaterra.
www.uel.br/revistas/germinal/n9-112009.htm#7cultura 20/25