Unid 2 PDF

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 94

Interpretao e Produo de Textos

Unidade II
5 Estilos e gneros discursivos

O termo gnero empregado em mais de uma rea de estudo.

Por exemplo:

Na gramtica, significa a variao das palavras na lngua portuguesa para masculino, feminino,
neutro.

Na lingustica, significa diversidade de texto usado na sociedade (poema, bula, MSN, conversao
etc.).

Em histria, significa, entre outros, os estudos sobre a mulher na sociedade (desigualdade, luta
etc.).

J tratamos dos tipos de texto. Cada tipo pode estruturar vrios gneros textuais. Observe o
quadro.

Tipos Gneros

Narrao Romance, conto, crnica, epopeia etc.

Descrio Romance, conto, bula, conversao etc.

Opinativo Carta do leitor, crnica, editorial, conversao etc.

Expositivo Bula, enciclopdia, dicionrio etc.

Argumentativo Dissertao, tese, artigo cientfico etc.

Texto tipo e gnero. Comparo tipo e gnero com construo. Toda construo tem uma base:
cho, teto, paredes etc. Essa base pode sustentar casa, prdio, hospital, lanchonete, cinema etc.
Assim o texto: ele tem uma base, uma estrutura de sustentao, que o tipo, e tem variedade,
que o gnero.

Os gneros textuais podem ser orais ou escritos, podem ser formais ou informais e so to numerosos
que os estudiosos nem tentam cont-los. Veja o esquema feito por Marcuschi (2001) para aproximar
gneros orais de gneros escritos pelo grau de (in)formalidade.

105
Unidade II

Representao do contnuo dos gneros textuais na fala e na escrita


COMUNICAES PESSOAIS COMUNICAES PBLICAS TEXTOS INSTRUCIONAIS TEXTOS ACADMICOS

textos acadmicos
divulgao cientfica artigos cientficos
textos publicitrios textos profissionais leis E
notcias de jornal cartas comerciais editoriais de jornais documentos oficiais
cartas do leitor narrativas manuais escolares relatrios tcnicos S
formulrios telegramas
cartas pessoais
bilhetes entrevistas atas de reunies
resumos
instrues de uso
pareceres em C
processos
outdoors volantes de rua bulas R
inscries em paredes receitas em geral
avisos
I
convocaes
comunicados T
anncios classificados A
noticirio de rdio noticirio de tv exposies acadmicas
conferncias
inquritos discursos oficiais
F reportagens ao vivo explicaes tcnicas piada
entrevistas pessoais narrativas
A conversas pblicas entrevistas no rdio/na TV relatos
discursos festivos noticirio de tv ao vivo
L conversas telefnicas
debates
discusses no rdio e na TV noticirio de rdio ao vivo
A conversas espontneas
exposies informais

CONVERSAES CONSTELAO DE APRESENTAES E EXPOSIES


ENTREVISTAS REPORTAGENS ACADMICAS

Observe que nas comunicaes pessoais os gneros escritos como cartas pessoais, bilhetes, outdoor,
inscrio na parede, avisos esto na mesma coluna que os gneros orais: conversas pblicas, conversas
telefnicas, conversas espontneas. Essa aproximao mostra que so gneros usados em situaes
sociais mais informais.

Na outra extremidade do esquema, nos textos acadmicos, encontram-se os gneros: artigos


cientficos, leis, documentos oficiais, relatrios, pareceres em processo na mesma coluna dos gneros
orais: exposio acadmica, conferncia, discursos oficiais. A aproximao se deve ao fato de esses
gneros serem usados em situao social muito formal.

Deparamo-nos com diferentes gneros durante as mais diversas situaes comunicativas das quais
participamos socialmente: anncios, relatrios, notcias, palestras, piadas, receitas etc. Veja, por exemplo,
o que podemos fazer quando queremos:

Escolher um filme para assistir no cinema.

Podemos consultar a seo cultural de um dos jornais da cidade ou uma revista especializada, ler
num outdoor sobre o lanamento do filme que nos agrada ou, ainda, pedir a opinio de um amigo.

Saber como chegar a um local desconhecido por ns.

Podemos consultar um guia de ruas da cidade ou, ainda, perguntar a algum que conhea o trajeto.
Quem sabe at pedir que essa pessoa desenhe o caminho.
106
Interpretao e Produo de Textos

Convidar um amigo para nossa festa de aniversrio.


Podemos mandar um e-mail, um convite pelo correio, telefonar-lhe, enviar um torpedo pelo celular.
Entreter uma criana.

Aqui as possibilidades so vrias! Podemos ler histrias de fadas, lanar adivinhas, lembrar antigas
canes, recitar quadrinhas e parlendas, propor jogos diversos, assistir a um desenho etc.

Em todas as situaes descritas anteriormente, utilizamos textos em diferentes gneros, isto , para
situaes e/ou finalidades diversas; lanamos mo de um repertrio diverso de gneros textuais que
circulam socialmente e se adaptam s diferentes situaes de comunicao. Cada um desses gneros
exige, para sua compreenso ou produo, diferentes conhecimentos e capacidades.

De modo geral, todos os gneros textuais tm em comum, basicamente, trs caractersticas:


1. O assunto: o que pode ser dito por meio daquele gnero.
2. O estilo: as palavras, as expresses, as frases selecionadas e o modo de organiz-las.
3. O formato: a estrutura em que cada agrupamento textual apresentado.

Os gneros surgem, situam-se e integram-se funcionalmente nas culturas em que se desenvolvem.


O conjunto dos gneros potencialmente infinito e mutvel, materializado tanto na oralidade quanto
na escrita. Os gneros so vinculados vida cultural e social e contribuem para ordenar e estabilizar
as atividades comunicativas no dia a dia. Assim, so exemplos de gneros textuais: telefonema, carta,
romance, bilhete, reportagem, lista de compras, piadas, receita culinria, contos de fadas etc.

Para Bronckart (1999), a apropriao dos gneros um mecanismo fundamental de socializao, de


insero prtica nas atividades comunicativas humanas.

Aspectos tipolgicos e gneros


Domnios sociais de comunicao Capacidades de linguagem dominantes Exemplos de gneros orais e escritos
Cultura literria ficcional Narrativa fbula
Ao atravs da criao da intriga lenda
fico cientfica
romance policial
romance de aventura
adivinha
conto
Documentao e memorizao das Relato relato de experincia
aes humanas orais Representao pelo discurso de experincias relato de viagem
vividas, situadas no tempo testemunho
caso
notcia
crnica social, esportiva
biografia
currculo
Instrues e prescries orais Injuno instrues de montagem
receita
regulamento
regras de jogo
instrues de uso

107
Unidade II

Exemplo de aplicao

1) Os textos, sejam orais ou escritos, podem ser aproximados por causa do grau de (in)formalidade,
como em uma das alternativas abaixo:

a) bilhete (escrita) relato (fala)


b) artigo cientfico (escrita) discusso na TV (fala)
c) formulrio (escrita) conferncia (fala)
d) bula (escrita) noticirio (fala)
e) MSN (escrita) conversao telefnica (fala)

Comentrio

A alternativa correta a e): MSN e conversao telefnica se aproximam pelo grau de


informalidade. Nas outras alternativas, os textos no se aproximam porque um muito formal e
outro mais informal.

2) Quanto estrutura, identifique em qual das alternativas o texto segue o modelo injuntivo e o
gnero receita.

a) Para voc ganhar belssimo Ano-Novo


cor do arco-ris, ou da cor da sua paz,
Ano-Novo sem comparao com todo o tempo j vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para voc ganhar um ano
no apenas pintado de novo, remendado s carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo at no corao das coisas menos percebidas
(Carlos Drummond de Andrade, Receita de Ano-Novo)

b) Neste material, procuramos mostrar de que forma os novos conhecimentos lingusticos,


principalmente os includos no campo da lingustica textual, podem contribuir para o
aprimoramento de uma das mais importantes formas de operaes didticas no ensino da lngua
portuguesa, a compreenso e a interpretao de texto.
(NOGUEIRA, I. (UERJ); MARIA, M. (UFF), Lingustica textual. Disponvel em: <http://www.filologia.org.br/vicnlf/anais/caderno02-
02.html>. Acesso em: 10 mai. 2011.)

c) Ouviram do Ipiranga as margens plcidas


De um povo heroico o brado retumbante,
E o sol da liberdade, em raios flgidos,
Brilhou no cu da Ptria nesse instante.
(Letra: Joaquim Osrio Duque Estrada; Msica: Francisco Manuel da Silva, Hino Nacional)

108
Interpretao e Produo de Textos

d) Cozinhe o frango em gua com sal e 2 folhas de louro at ficar bem macio. Separe o frango,
desfie e guarde o caldo. Faa um refogado com alho, cebola e tomates picados e nele coloque o
frango desfiado, as ervilhas, o milho e as azeitonas picadas (guarde um pouco para a decorao),
adicionando um pouco do caldo de frango que foi guardado.
( LEAL, N. da S. Torta de po. Disponvel em: <http://tudogostoso.uol.com.br/receita/87410-torta-de-pao.html>.
Acesso em: 5 mai. 2011.)

e) Apesar de no ter mais os movimentos da perna, o ex-fuzileiro naval Jake Sully ainda sente
que pode ser um guerreiro. Sua intuio comea a se tornar realidade quando ele viaja
a anos-luz at a estao espacial montada no Planeta Pandora. L, os humanos tentam
explorar o minrio unobtanium, que pode salvar a Terra de um colapso de energia. Habitado
por grandes seres azuis, os Navi, o local tem uma atmosfera fatal para qualquer terrestre.
Por isso, oficiais criaram o programa Avatar, em que um corpo biolgico, hbrido de humano
e Navi, pode ser comandado a distncia.
(Disponvel em: <http://guiadasemana.diariosp.com.br/Goiania/Cinema/Filme/Avatar.aspx?id=2020>.
Acesso em: 5 mai. 2011.)

Comentrio

A alternativa correta a d). A estrutura de um texto segue uma estrutura global, que pode ser
narrativa, injuntiva, expositiva etc., e essa estrutura forma um gnero, como poema, novela, conversao
e outros. Nesta questo, pede-se para identificar um texto que seja, ao mesmo tempo, injuntivo e receita,
que o caso do texto da alternativa d.

5.1 Gneros textuais virtuais

Gneros virtuais o nome dado s novas modalidades de gneros textuais surgidas com o advento
da internet, dentro do hipertexto. Eles possibilitam, entre outras coisas, a comunicao entre duas ou
mais pessoas mediadas pelo computador. Conhecida como Comunicao Mediada por Computador
(CMC), essa forma de intercmbio caracteriza-se, basicamente, pela centralidade da escrita e pela
multiplicidade de semioses:8 imagens, sons, texto escrito (cf. MARCUSCHI, 2004).

Os principais gneros virtuais esto descritos a seguir:

E-mails bilhetes, mensagens ou cartas virtuais que, dependendo do receptor, podem ser formais
ou informais. A resposta pode ser quase instantnea, independentemente da distncia geogrfica
dos interlocutores.

Salas de bate-papo ou chats nos chats o dilogo simultneo entre duas ou mais
pessoas que, geralmente, criam um apelido (nick name). Centrado basicamente na escrita,
8
Uma definio de semiose seria que qualquer ao ou influncia para sentido comunicante pelo estabelecimento
de relaes entre signos que podem ser interpretados por qualquer audincia.
109
Unidade II

a linguagem nesse meio possui caracterstica mpar pela presena de abreviaes, escrita
fontica, homofonia, taquigrafia e sinais grficos que expressam emoes. Exemplifico no
quadro a seguir:

Homofonia Sinais grficos (emotions)


100graa Sem graa :) Feliz
100$$ Sem dinheiro :( Triste
V6 Vocs :-)) Muito feliz
100sual Sensual d;-) Usando bon
4ever Forever *-) Drogado
D+ Demais :-[#] Aparelho
4 you For you :-e Desapontado
+/- Mais ou menos x-) Tmido
=vc Igual a voc :-o Impressionado

*Abreviaes Escrita fontica


Blz Beleza Ksa Casa
Bjs Beijos Kbelo Cabelo
Fmz Firmeza Tc Teclar
Mlz Moleza Kbea Cabea
Fds Fim de semana Ksado Casado
Sdd Saudade Kreta Careta
Ctz Certeza d de

* Abreviaes em que prevalecem somente as consoantes, desfigurando a palavra.

Listas de discusso pessoas com os mesmos interesses formam grupos que interagem por meio
de e-mails. Cada grupo gerenciado por um moderador que aprova ou no a entrada de novos
membros, remove (deleta) outros que no esto seguindo as normas do grupo.

Weblogs (blogs) blog um dirio virtual pblico, onde as pessoas escrevem sobre si, expem
suas ideias, que pode ser atualizado com frequncia. Pode ser privado ou visitado e postado por
amigos ou por qualquer navegador da rede.

Webquest um modelo extremamente simples e rico para dimensionar usos educacionais da


web, com fundamento em aprendizagem cooperativa e processos investigativos na construo
do saber. Foi proposto por Bernie Dodge em 1995 e hoje j conta com mais de dez mil pginas na
web, com propostas de educadores de diversas partes do mundo (EUA, Canad, Islndia, Austrlia,
Portugal, Brasil, Holanda, entre outros). Para desenvolver uma webquest necessrio criar um site

110
Interpretao e Produo de Textos

que pode ser construdo com um editor de html, com um servio de blog ou at mesmo com um
editor de texto que possa ser salvo como pgina da web.

Uma webquest tem a seguinte estrutura:

introduo;
tarefa;
processo;
recursos;
avaliao;
concluso.

Os e-mails, os chats, os meios de comunicao instantnea, as listas de discusso e os weblogs (dirios)


so os mais utilizados. As aulas via chat e por e-mail no ensino a distncia esto se popularizando. A
comunicao se d pela linguagem escrita em todos esses gneros. Ela uma linguagem informal e
simultnea em sua produo, em sincronia com seu interlocutor pela necessidade da reao em tempo
real.

5.2 Suporte de gneros textuais

J ouviu falar em suporte? No significado do dia a dia, suporte algo que d sustentao, apoio,
base para alguma coisa. Vejo, na minha cozinha, um suporte para o micro-ondas; converso com minha
irm e tenho nela um suporte para enfrentar uma determinada situao. Fora esses usos cotidianos,
a palavra suporte, conforme a rea (economia, matemtica, herldica etc.), carrega significados bem
especficos.

Como no poderia deixar de ser, tambm na rea de estudo de texto a palavra suporte tem seu
significado especfico. Quando lemos ou escrevemos, recorremos a um suporte de gnero textual. Tente
identificar qual o suporte do texto na seguinte situao:

Oi, Paulo, sou a Ana Lcia. Me ligue o mais rpido possvel, por favor.

O texto pode ser um recado gravado e o suporte, no caso, pode ser uma secretria eletrnica ou voc
pode considerar que o texto seja uma mensagem enviada pelo celular e que este seja o suporte.

Da lista abaixo, qual voc assinalaria como sendo suporte de gnero textual?

Jornal
Revista
Gibi
Computador
111
Unidade II

Telefone
Caderno

Se voc assinalou todas as opes como suporte, est corretssimo.

Como bem define Marcuschi (2008, p. 174-175):

Suporte de um gnero textual uma superfcie fsica, em formato especfico,


que suporta, fixa e mostra um texto. Essa ideia comporta trs aspectos:

a) Suporte um lugar (fsico ou virtual).


b) Suporte tem formato especfico.
c) Suporte serve para fixar e mostrar o texto.

Ao ser definido como lugar fsico (ou virtual), o suporte deve ser real, ou seja, ter materialidade, que
se torna, no caso, incontornvel e imprescindvel. Sobre o formato especfico, o suporte pode ser uma
revista, um livro, um jornal, um outdoor e assim por diante. Quanto ao terceiro aspecto, a funo bsica
do suporte fixar o texto e torn-lo acessvel.

Considerar o suporte, quando lemos ou escrevemos, ter conscincia de que ele no


neutro e de que o gnero textual no fica indiferente ao suporte. Vejamos a situao dada: Oi,
Paulo, sou a Ana Lcia. Me ligue o mais rpido possvel, por favor. Se o texto estiver escrito em
papel e sobre uma mesa, o suporte a folha de papel e o gnero textual bilhete; se for passado
pela secretria eletrnica, o gnero recado; se o texto for remetido via correio, o gnero
telegrama. O contedo no muda, mas o gnero textual classificado conforme sua relao com
o suporte.

O suporte interfere tambm na posio fsica do leitor e do produtor do texto. O leitor l gneros
textuais e no o suporte material; o produtor escreve gneros e no suportes; na verdade, a pessoa
produz e l gneros textuais nos mais diversos suportes. Dependendo do suporte, a pessoa: senta-se, fica
em p, fica deitada; segura o suporte com uma mo, com ambas as mos, no segura; move os olhos,
move a boca, move a mo; inclina a cabea etc.

Exemplo de aplicao

1) Observe e anote a posio fsica dos leitores em relao aos seguintes suportes: a) livro; b) jornal;
c) celular.

Comentrio

O comportamento do leitor muda de acordo com o suporte. No caso do livro, por exemplo, a
pessoa pode ler sentada, segurando o suporte com uma mo ou com ambas, afastar ou aproximar
mais o livro do rosto. Diferente do livro, o jornal dificulta, por exemplo, a leitura da pessoa que
112
Interpretao e Produo de Textos

esteja deitada. O celular, com suas inovaes tecnolgicas, muda o comportamento das pessoas,
por exemplo: o usurio pode segurar o celular apenas com uma mo, guard-lo na bolsa ou no
bolso e ouvir o texto por meio de fone. Dizemos que so variveis as relaes entre o corpo da
pessoa e o suporte.

2) Quando o corpo suporte, o que lemos quando vemos:

a) o antebrao marcado com a frase Sexo, drogas e rock and roll?


b) o dedo polegar marcado de tinta azul ou preta?
c) o antebrao marcado em ferro no Brasil de 1836?

Comentrio

Ns podemos entender que: a) a pessoa tatuada viveu na dcada de ouro do rock ou que a admira;
b) a pessoa tirou suas impresses digitais, por exemplo; c) a pessoa era escrava.

3) Existe maior grau de formalidade (F) ou informalidade (I) ao escrever nos seguintes suportes:

( ) celular ( ) computador MSN ( ) caderno de curso

Comentrio

Um texto ser mais ou menos formal, dependendo das circunstncias: o assunto (trivial, como o
trabalho); a pessoa que receber o texto; o grau de proximidade entre quem escreve e quem l; e
tambm o suporte. Se considerarmos o nosso cotidiano, o celular e o computador (para MSN) so mais
informais do que o caderno de curso (pelo contedo).

Marcuschi (2008) distingue duas categorias de suporte textual. O autor identifica a categoria dos
suportes convencionais, tpicos, criados apenas para ser suporte. Um exemplo dessa categoria o suporte
livro. Outra categoria a de suporte incidental, que pode fixar texto, mas no destinado a esse fim. O
corpo um exemplo de suporte incidental.

5.2.1 Suporte convencional

So vrios os suportes desse tipo: livro, livro didtico, jornal, revista, revista cientfica, rdio,
televiso, telefone, quadro de aviso, outdoor, encarte, folder, luminosos, faixas. A seguir, destaco
seis:

Livro

Quantas vezes j declaramos Eu vou ler o livro, Eu j li aquele livro. O livro, no entanto,
no um gnero textual, mas um suporte, com formato especfico, pois apresenta capa, pginas,
113
Unidade II

encadernao etc. O livro comporta diversos gneros textuais, como romance, poema, tese de
doutorado etc.

Livro didtico (LD)

O livro didtico usado em contexto de ensino-aprendizagem. Ele um suporte que incorpora


vrios gneros textuais. Em um livro didtico de histria, por exemplo, podemos encontrar charge,
letra de msica, entre outros gneros textuais, alm da divulgao cientfica. Em LD de matemtica,
os gneros textuais encontrados so divulgao cientfica, tabela, grficos etc. Em LD de portugus, os
gneros so bem variados, abrangendo de textos ficcionais (poema, conto, HQ etc.) at no ficcionais,
como tabela, mapa, artigo de opinio. Enfim, os gneros textuais tpicos no LD so exerccios escolares,
redao, instrues, entre outros.

Jornal

O jornal suporte de muitos gneros textuais: cartas do leitor e editorial; notcia, reportagem,
entrevista; charge, horscopo, tirinha; sinopse, cruzadinha. Sua veiculao cotidiana e atinge milhares
de leitores no pas.

O jornal lembra, em certo sentido, o dicionrio ou a lista telefnica. Isso porque o leitor geralmente
busca as mesmas sees de interesse poltica, entretenimento etc. deixando de lado o restante, o que
significa no ler todos os textos do jornal.

Revista

A revista um suporte de gnero textual que aborda tema especfico. Se a revista , suponhamos, de
moda, os gneros seguiro essa temtica. Os gneros que circulam nesse tipo de revista so desde textos
que giram sobre o assunto, como notcia, reportagem, editorial, at os mais dispersos, como horscopo,
tirinha, sinopse de filme.

Revista cientfica

suporte de gneros bastante especficos e ligados a um domnio discursivo: cientfico, acadmico,


instrucional. Os gneros encontrados so: artigos, resenhas, resumos, comunicaes, debates, programao
de congresso, programas de curso e outros dessa natureza.

Rdio

A relevncia do suporte rdio no Brasil se deve a sua histria no pas. Nao de porte continental,
de lonjuras e distncias que nem sempre so alcanadas pelos meios de transmisso de mdias atuais e
onde muitos brasileiros no tm televiso em seus lares pelo fator custo, mas onde a quase totalidade
possui rdio. Os gneros que se manifestam so essencialmente orais: conversao, notcia, anncio
publicitrio, letra de msica etc.

114
Interpretao e Produo de Textos

5.2.2 Suporte incidental

WOs suportes denominados incidentais so meios casuais de fixao de um texto. Boa parte
dos textos em circulao pelos ambientes urbanos se acha nesses suportes, como para-choques,
embalagens, muros, roupas, corpos, paredes, paradas de nibus, estaes de metr, caladas,
fachadas, meios de transporte.

Para-choques

Os veculos carro de passeio, caminho, entre outros tornam-se suportes para gneros textuais,
como ditados populares e provrbios. Na verdade, no apenas o para-choque, mas tambm as
janelas.

Embalagens

A embalagem pode trazer gnero textual como: rtulo, receita (culinria), breve bula.

Muros

Os muros servem de suporte para gneros textuais como propaganda poltica, anncios, pichaes.
So textos pouco desenvolvidos, mas de grande eficcia comunicativa.

Exemplo de aplicao

O Banco do Brasil, por exemplo, distribui para seus clientes um folheto sobre aplicao para a
famlia toda. Levando em conta a situao comunicativa e o contexto social, podemos considerar
que:

a) o folheto distribudo possui um leitor especfico, ou seja, no para qualquer pessoa que adentre
o banco.
b) o folheto serve para qualquer leitor que se interesse pela temtica.
c) o folheto um suporte distribudo, sem relao direta com a instituio que o produziu.
d) o folheto pblico, logo, todos os clientes e no clientes o recebem.
e) o folheto dissociado do leitor-cliente.

Comentrio

A alternativa correta a a). O banco criou e distribuiu folheto para, primeiro, anunciar um tipo
de servio, segundo, para um pblico especfico, considerado pelo banco o cliente potencial para tal
servio. Assim, o folheto no se destina a qualquer leitor-pblico, incluindo muitos clientes do banco
(uma vez que nem todos os clientes tm condio de adquirir tal servio).

115
Unidade II

6 Qualidades do texto

6.1 Fatores externos do texto

A coerncia de um texto construda pela interao de fatores, entre eles, o que est escrito no texto
ou seja, a lngua manifestada , e os conhecimentos do leitor.

Um texto pode ser muito bem escrito, com emprego de termos tcnicos, especficos,
instruindo sobre como fazer um cisalhamento. Se o leitor no da rea de encadernao, no
conseguir entender o texto. Ele no ter coerncia por causa da falta de conhecimento prvio
do leitor.

O contrrio tambm ocorre. O texto est bem escrito, sem contradies, com muitas informaes
teis, mas essas informaes j no tm a menor novidade para o leitor. Nesse caso, o texto no causar
interesse ao leitor, que, na verdade, considerar sua leitura perda de tempo.

Existem, ento, fatores fora do texto que interferem tanto na sua produo quanto na
leitura. Esses fatores so: intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e
intertextualidade9.

6.1.1 Intencionalidade

A intencionalidade um fator externo ao texto e se relaciona ao produtor do texto. O produtor


preocupa-se em construir um texto coerente, coeso e capaz de atender aos objetivos do leitor.

A meta do autor pode ser informar, impressionar, alarmar, convencer, persuadir, defender etc. ela
que orienta a produo do texto.

6.1.2 Aceitabilidade

A aceitabilidade diz respeito ao leitor, que, durante a leitura do texto, tenta recuperar a coerncia
textual, atribuindo-lhe sentido. O leitor recebe o texto como aceitvel, tendo-o como coerente e coeso,
passvel de interpretao.

Para produzir e interpretar um texto de modo satisfatrio, alm do princpio de cooperao entre
autor e leitor, deve haver trs competncias fundamentais:

1. Competncia lingustica: aquela em que autor e leitor precisam ter o domnio da lngua, base
da comunicao.

2. Competncia enciclopdica: o conhecimento de mundo.

8
Os fatores de textualidade, incluindo os internos (coeso e coerncia) da lngua, so analisados por Beaugrande e
Dressler e sintetizados por Costa Val (1999).
116
Interpretao e Produo de Textos

3. Competncia genrica: o autor deve adequar seu texto a certo gnero discursivo para que o leitor
seja capaz de, ao menos, distinguir diferentes gneros para melhor compreender e interpretar o texto
lido.

As competncias no se manifestam numa ordem sequencial e tampouco essa ordem prejudica a


interpretao do discurso.

O produtor deve, num primeiro momento, possuir condies de produzir qualquer tipo de texto
e, em seguida, prever um leitor com o qual ele pretenda compartilhar suas ideias via texto. Dentro
desse processo interativo entre autor e leitor, mediado pelo texto, no ocorre apenas uma relao de
casualidade, mas de cumplicidade, visto que a atividade de um s pode ser concluda com sucesso caso
o outro a complete tambm. Kleiman (1997, p. 65) esclarece a cumplicidade estabelecida entre autor e
leitor do seguinte modo:

Mediante a leitura, estabelece-se uma relao entre leitor e autor que tem
sido definida como de responsabilidade mtua, pois ambos tm a zelar
para que os pontos de contato sejam mantidos, apesar das divergncias
possveis em opinies e objetivos. Decorre disso que ir ao texto com ideias
preconcebidas, inalterveis, com crenas imutveis, dificulta a compreenso
quando estas no correspondem quelas que o autor apresenta, pois nesse
caso o leitor nem sequer consegue reconstruir o quadro referencial atravs
de pistas formais.

Com base no exposto por Kleiman (1997), podemos presumir que o autor e o leitor se tornam
responsveis no processo de leitura. Assim, o autor, ao elaborar um texto, deve faz-lo de modo
claro, deixando pistas para que o leitor o compreenda e reconstrua o caminho percorrido pelo
autor. O papel do leitor, nesse processo, confiar e perceber que as informaes contidas no
texto apresentam algo de relevante e que so enunciadas de modo claro e coerente. Se,
porventura, o leitor se depara com possveis entraves no processo de leitura, ele deve valer-se de
seu conhecimento lingustico, textual e de mundo. Tais conhecimentos so preponderantes para
que esse leitor compreenda um texto de modo eficiente. Sendo assim, ainda conforme Kleiman
(1997), a construo de sentido de um texto o resultado da interao dos diversos nveis de
conhecimentos de que dispe o leitor.

Na produo escrita, o leitor tem um papel fundamental, visto que o texto no algo independente,
ou seja, o texto passa a ter significao a partir do momento em que ele possibilita ao leitor uma leitura,
uma compreenso e uma interpretao.

6.1.3 Situacionalidade

A situacionalidade realiza-se na adequao situao comunicativa do produtor/texto/leitor,


inteirados no contexto. A produo e a leitura do texto ocorrem em determinadas situaes social,
cultural, ambiental etc.

117
Unidade II

Uso o exemplo de Marcuschi (2008, p. 129):

Tomemos o caso de algum que quer falar ao telefone: essa situao exigir
uma srie de aes mais ou menos consolidadas e que vo constituir o
gnero telefonema. Haver a chamada, as identificaes e os cumprimentos
mtuos, a abordagem de um tema, ou de vrios, e as despedidas.

Assim com qualquer texto que exige situaes definidas. Ou, em outras palavras, o texto conserva
em si traos da situao.

6.1.4 Informatividade

A informatividade diz respeito ao grau de informatividade do texto, tanto no aspecto formal quanto
no conceitual. O texto atende expectativa do leitor ou rompe com ela.

O fator de informatividade importante como norteador para o produtor do texto. O produtor,


antes de iniciar seu texto, precisa ter em mente o tipo de leitor que ele quer ou que tipo de leitor ser
destinado a ele. Vamos considerar as situaes (a) e (b):

(a) solicitada ao produtor uma palestra sobre questo de gnero para uma plateia constituda por
historiadores e antroplogos.

(b) solicitada ao produtor uma palestra sobre questo de gnero para alunos ingressantes no curso
de histria e cincias sociais.

Na situao (a), o produtor ter como leitores-ouvintes especialistas no assunto; pessoas que j
conhecem muito sobre questo de gnero e esperam, portanto, pelo menos, um contedo novo, atual.
Se o produtor no tomar cuidado com o texto que for apresentar, poder ser repetitivo; poder falar o
abc para quem j sabe o alfabeto.

Na situao (b), o produtor ter como leitores-ouvintes de sua palestra pessoas que no
conhecem o assunto ou que conhecem superficialmente. Nesse caso, o produtor precisa iniciar
seu texto explicando, por exemplo, que o termo questo de gnero na rea de histria, de
antropologia, significa o estudo do papel da mulher na sociedade. Tal informao seria redundante
se apresentada para o pblico da situao (a), no entanto, seria extremamente esclarecedor para o
pblico da situao (b).

Como bem diz Marcuschi (2008, p. 132), ningum produz textos para no dizer absolutamente
nada. Para o autor, essencial pensar que em um texto deve ser possvel distinguir:

o que o texto quer transmitir;


o que possvel extrair dele;
o que no pretendido.
118
Interpretao e Produo de Textos

6.1.5 Intertextualidade

A intertextualidade fenmeno ocorrido no texto quando este faz referncia a outro. A palavra
intertextualidade derivada de

inter (entre) + texto + dade

significando, ento, relao entre textos.

Vamos aos exemplos de relao entre textos:

Em linhas bem gerais, pode-se dizer que as cincias sociais englobam disciplinas que estudam as
sociedades humanas, sua cultura e evoluo. Coube ao filsofo grego Aristteles, que viveu no
sculo IV a.C., cunhar uma definio que, imperfeita para os tempos modernos, ainda mantm
uma fora singular: o homem um animal poltico, incapaz de viver sozinho. O problema
que a convivncia com os outros obriga a muitas indagaes. O que d origem aos conflitos, s
crises polticas, escassez? A que entram as cincias sociais, estudando os problemas sociais,
econmicos, polticos, espaciais e ambientais, para, ao diagnostic-los, resolv-los, se no de todo,
pelo menos ajudando a minor-los.10

No exemplo acima, temos um texto publicado no site da Unesp. Ele serve para informar sobre o curso
de cincias sociais e sobre o foco de interesse desse curso. O leitor provvel um vestibulando, que,
indeciso, precisa conhecer melhor o curso e procura informaes no site dessa e de outra instituio de
ensino. Nesse texto, ns encontramos referncia a outro texto. J identificou? O texto que est dentro
do texto produzido pela Unesp o homem um animal poltico, incapaz de viver sozinho, e a fonte
est bem explcita: Aristteles. Ento, nesse texto temos um caso de intertextualidade. Vamos ao outro
exemplo:

Atualmente, sabe-se que o sucesso de uma empresa depende, basicamente, de uma boa
administrao. Quando se fala em boa administrao, deve-se levar em considerao no s as
polticas de recursos humanos ou as estratgias de marketing, mas, principalmente, uma boa
administrao financeira. Segundo Santos (2001), o sucesso empresarial demanda cada vez mais
o uso de prticas financeiras apropriadas.11

No artigo cientfico acima, identificamos novamente uma ocorrncia de intertextualidade. O


produtor precisa mostrar que sua ideia tem base em conhecimentos j estabelecidos; ele no leigo em
seu campo de pesquisa. Por isso, encontramos referncias a vrios outros autores por meio de citaes
ou parfrases. Nesse texto, os autores se apropriaram de uma ideia de Santos e a reescreveram, fazendo
uma parfrase.

10
VUNESP. Cincias Sociais. Estudo enfoca problemas sociais, econmicos e polticos. Disponvel em: <http://www.
vunesp.com.br/guia2009/ciesoc.html>. Acesso em: 21 abr. 2011.
11
MACHADO, M. A. V. e SILVA, H. N. da. Anlise das polticas de administrao financeira de curto prazo: o caso da
Guida Confeces. Disponvel em: <http://www.congressousp.fipecafi.org/artigos22005/438.pdf>. Acesso em: 21 abr. 2011.
119
Unidade II

Intertextualidade , portanto, a presena de parte de um texto j existente dentro de um texto atual.


A intertextualidade pode ser implcita, e depender do leitor para ser percebida, ou explcita, como nos
exemplos citados, em que h fonte.

Os tipos de intertextualidade so:

Citao: ocorre quando, em um texto, aparece a reflexo ou o ponto de vista de um determinado


autor ou autoridade no assunto.

Parfrase: quando, no texto, ocorre a aluso (reescrita) a um outro texto, com o objetivo de reafirmar
a mensagem ou parte dela.

Pardia: ocorre ao contestar ou ridicularizar outro texto. A ironia uma figura de linguagem muito
utilizada para esse fim.

Epgrafe: um recurso utilizado para fazer referncia a algum.

Traduo: verso de uma lngua para outra; um procedimento que implica a intertextualidade.

Intertextualidade um recurso riqussimo com recorrncia em textos literrios, cientficos,


conversacionais, cotidianos, enfim, de todas as esferas do conhecimento que pode se valer tanto da
forma oral quanto da escrita da lngua. A intertextualidade recorrente tambm em textos no verbais,
como tirinhas, charges, HQ (histria em quadrinhos) e outros.

Exemplo de aplicao

1) O texto abaixo sustenta que, para a eficcia dos estudos cientficos, devemos desconfiar do que
familiar:

Sob a tica do senso comum, conhecimento tem a ver com a


familiaridade. O conhecido, diz a linguagem comum, o familiar. Se
voc est acostumado com alguma coisa, se voc lida ou se relaciona
habitualmente com ela, ento voc pode dizer que a conhece. O
desconhecido, por oposio, o estranho. O grau de conhecimento, nessa
perspectiva, funo do grau de familiaridade: quanto mais familiar,
mais conhecido. Da a frmula; eu sei = estou familiarizado com isso
como algo certo. Mas se o objeto revela alguma anormalidade, se ele
ganha um aspecto distinto ou se comporta de modo diferente daquele
a que estou habituado, perco a segurana que tinha e percebo que no
o conhecia to bem quanto imaginava. Urge dom-lo, reapaziguar a
imaginao. Ao reajustar minha expectativa e ao familiarizarme com
o novo aspecto ou com o novo comportamento, recupero a sensao
de conhec-lo.

120
Interpretao e Produo de Textos

Sob a tica da abordagem cientfica, contudo, a familiaridade no


s falha como critrio de conhecimento, como inimiga do esforo
de conhecer. A sensao subjetiva de conhecimento, associada
familiaridade, ilusria e inibidora da curiosidade interrogante de onde
brota o saber. O familiar no tem o dom de se tornar conhecido s
porque estamos habituados a ele. Aquilo a que estamos acostumados,
ao contrrio, revela-se, com frequncia, o mais difcil de se conhecer
verdadeiramente (GIANETTI, 1997).

Esse texto, por causa de seu contedo, pode ser relacionado a qual fator de textualidade?

a) Intencionalidade.
b) Aceitabilidade.
c) Informatividade.
d) Situacionalidade.
e) Intertextualidade.

Comentrio

A alternativa correta a c). O texto pode ser relacionado informatividade porque o conceito desse
fator de textualidade lida com o grau de informao do texto, do autor, do leitor. Se o leitor conhece
bem o assunto, no tirar nada novo do texto; se o leitor pensa que j conhece bem o assunto e l um
texto com contedo novo, aprender muito com ele. A informatividade, ento, pode ou no atender
expectativa do leitor.

2) Um grande desafio para voc, caro aluno: produza dois textos curtos, do tipo expositivo, sobre um
contedo especfico de sua rea:

a) Para mim e para leitores iguais a mim, ou seja, leigos em sua rea.

b) Para um professor de seu curso, que conhea bem o assunto.

Comentrio

Ao escrever o primeiro texto, voc deve colocar o fator informatividade em um grau muito
alto, pois com certeza precisa expor dados do assunto em detalhes. No entanto, talvez seja uma
produo mais fcil do que a do segundo texto. A segunda redao exigir mais de voc, porque
precisar se colocar no lugar do professor (do leitor especialista) e se perguntar: afinal, o que o
meu pblico no conhece? Que contribuio efetiva meu texto pode levar ao meu leitor? Alm
disso, a adequao da linguagem ser outra: se no primeiro voc deve usar poucos ou nenhum
termo tcnico, no segundo eles devem ser empregados sem receio de no serem entendidos.

121
Unidade II

3) As atividades seguintes baseiam-se no conceito de intertextualidade.

a) Em uma apresentao sobre gesto empresarial, o palestrante usou o dilogo a seguir para
reforar a ideia da necessidade de definirmos metas, projetos. O dilogo a seguir foi retirado de
qual texto?

Podia me dizer, por favor, qual o caminho pra sair daqui?


Isso depende muito do lugar para onde voc quer ir disse o gato.
No me importa muito para onde disse Alice.
Nesse caso, no importa por onde voc quer ir disse o gato.

Comentrio

Na apresentao sobre gesto empresarial, o palestrante usou trecho da obra Alice no pas das
maravilhas, de Lewis Carroll, para ilustrar sua tese.

b) Identificar a presena de outro(s) texto(s) em uma produo depende muito do conhecimento


do leitor, do seu repertrio de leitura. Diante desse fato, faremos papel de detetive no texto
seguinte, a fim de descobrir qual (ou quais) texto(s) foi(foram) inserido(s) nele. Descubra e
indique a fonte intertextual. Depois discuta a importncia de cada uma para a nova produo
(o texto a seguir).

MEDICINA

Estudo realizado com mais de 200 voluntrios avalia atividade cardiovascular e endcrina comparada
satisfao pessoal.

Britnicos ligam felicidade boa sade


Salvador Nogueira
Da reportagem local

J dizia o poeta Vincius de Moraes: melhor ser alegre que ser triste. E a comprovao mdica
dessa obviedade psicolgica acaba de vir de trs pesquisadores do University College, em Londres. Eles
demonstraram que a felicidade est diretamente ligada ao bom funcionamento do sistema endcrino
e cardiovascular.

Claro, o dilema de uma famosa marca de biscoitos a primeira coisa que chama a ateno nos
resultados dessa pesquisa. O sujeito est feliz porque est saudvel ou est saudvel porque est feliz?
Essa uma boa pergunta. To boa, na verdade, que os cientistas, com os dados atuais, no tm condio
de responder.

O que os pesquisadores liderados por Andrew Steptoe fizeram foi estabelecer uma correlao clara
entre a felicidade e certas medidas indicativas de boa sade, com base no acompanhamento de 226
122
Interpretao e Produo de Textos

londrinos 116 homens e 110 mulheres. Os voluntrios foram estudados no s em laboratrio, mas
tambm na vida cotidiana, trabalhando e de folga.

Ns usamos simples ndices de felicidade que as pessoas nos davam umas 20 a 30 vezes por dia, diz
Steptoe. Em cada nova avaliao, o participante tinha de dizer o que andara fazendo nos ltimos cinco
minutos e como ele classificava seu nvel de felicidade no perodo, numa escala de 1 a 5.

Desse modo, nossas medidas no dependiam apenas de como algum se sentia num nico ponto
do tempo, mas dos nveis mdios ao longo do dia. (NOGUEIRA, 2005)

Comentrio

Na matria sobre o estudo realizado com os mais de 200 voluntrios, o texto jornalstico j inicia
com uma referncia a outro texto: o primeiro verso da msica Samba da bno, de Vincius de Moraes.
No decorrer do texto, o leitor consegue relacionar essa intertextualidade ao prprio assunto da notcia,
que trata da felicidade. No segundo pargrafo, ao empregar a parfrase/pardia o sujeito est feliz
porque est saudvel ou est saudvel porque est feliz? o autor remete a um anncio publicitrio
de bolacha que ficou muito conhecido. Alm dessas ocorrncias intertextuais, h a fala do especialista,
conferindo credibilidade ao texto jornalstico.

c) Na histria em quadrinhos seguinte, um poema famoso da literatura brasileira tornou-se fonte


para o enredo. Identifique esse texto. Qual foi a atualizao ocorrida nesse poema?

Figura 2

123
Unidade II

Comentrio

O poema Cano do exlio, de Gonalves Dias, e foi criado em 1836. O poema atualizado na HQ
para mostrar que a natureza no a mesma depois de tanto desmatamento.

6.2 Fatores internos do texto

At aqui voc viu o que um texto, isto , quais so as caractersticas bsicas que nos permitem
considerar um texto como tal. Veremos agora alguns fatores importantes para a qualidade de um texto,
como coeso e coerncia; clareza e conciso e correo gramatical.

6.2.1 Coeso e coerncia

Para entendermos a noo de coeso/coerncia, primeiro devemos considerar a hierarquia de valores


que existe desde uma palavra at um texto. essa hierarquia que determina a coeso/coerncia, tendo
em vista ser o texto um todo de significado, ou seja, para considerarmos que um texto um texto,
temos que levar em considerao sua organizao sinttico-semntica em primeiro lugar.

Assim, a coeso equivale relao entre as palavras, entre as oraes, entre os perodos, enfim, entre
as partes que compem um texto. Quando chegamos ao todo, ao sentido global, temos a coerncia do
texto. Ento, um fator depende do outro, isto , a coerncia pressupe a coeso.

Exemplificando: o falante de lngua portuguesa no reconhece coeso nem coerncia em uma


sequncia como a seguinte:

Dia muito este especial vida minha em.

No entanto, esse mesmo falante reconheceria como coerente (e coesa) a sequncia:

Este dia muito especial em minha vida.

Houve organizao sinttico-semntica na segunda sequncia, o que no ocorreu na primeira.

Segundo Koch (1998):

o conceito de coeso textual diz respeito a todos os processos de


sequencializao que asseguram (ou tornam recupervel) uma ligao
lingustica significativa entre os elementos que ocorrem na superfcie
textual.

Essa coeso pode ser estabelecida por meio de mecanismos referenciais e/ou sequenciais, segundo
os estudos lingusticos. Para entendermos melhor, vejamos a proposta didtica dessas classificaes
feita por Fiorin e Savioli (1999).
124
Interpretao e Produo de Textos

6.2.1.1 Coeso por retomada ou por antecipao (coeso referencial)

a. Retomada ou antecipao por uma palavra gramatical

So classes gramaticais (artigos, pronomes, numerais, advrbios, verbos) que funcionam, no texto,
como elementos de retomada (anafricos) ou de antecipao (catafricos) de outros termos enunciados
no texto.

Exemplo:

Estamos (a) reunidos para examinar o caso. Eu, a diretoria e vocs entendemos que no se trata de
uma questo simples. Ela (b) deve ser analisada com muita cautela, por isso ns (c) nos encontramos
aqui.

No pequeno trecho, podemos observar as expresses destacadas e verificar que:

(a) Estamos o verbo que antecipa o sujeito eu, a diretoria e vocs. Na sequncia, um elemento
catafrico.
(b) Ela um pronome que retoma uma questo, portanto, um elemento anafrico.
(c) Ns pronome (elemento anafrico) que retoma o sujeito eu, a diretoria e vocs.

a isso que se denomina retomada ou antecipao por uma palavra gramatical. Podemos ento
encontrar em um texto vrios elementos que estabelecem essa retomada ou antecipao. So eles
que formam as ligaes no texto, ou seja, so esses termos que instituem o que se denomina coeso
referencial.

Algumas observaes

1. O termo substitudo e/ou retomado pode ser inferido pelo contexto.

Exemplo: Estamos aqui para examinar o caso.

Nessa frase, a palavra aqui, se no houver referncia anterior explcita a ela, leva inferncia de que
se trata do local em que ocorre a situao comunicativa (que no precisa ser um lugar concretamente
especificado).

2. No uso de artigo, o definido tem a funo de retomar um termo j enunciado, enquanto o


indefinido geralmente introduz um termo novo.

Exemplos:

(a) Encontrei a carta sobre a mesa (o emprego do artigo definido a faz pressupor que se trata de
uma carta j referida anteriormente).
125
Unidade II

(b) Uma carta foi deixada sobre a mesa (o emprego do artigo indefinido uma introduz o termo
carta, ou seja, o termo est sendo apresentado no texto).

3. Os verbos fazer e ser, enquanto anafricos, substituem, respectivamente, aes e estados.

Exemplos:

(a) Joo e Maria estudaram muito para a prova, o que voc no fez. (= estudar)

(b) Eduardo e o irmo ficaram muito emocionados com a homenagem, mas no foi (= ficarem
emocionados) como espervamos.

4. Ambiguidade.

Quando um elemento anafrico se refere a dois antecedentes distintos, pode provocar


ambiguidade.

Exemplos:

(a) Pronome possessivo:

Minha amiga discutiu com a irm por causa de sua resposta (sua = da amiga ou da irm?).

(b) Pronome relativo:

Ela convidou o irmo do namorado, que chegou atrasado para a festa (que = o irmo ou o
namorado?).

b. Retomada por palavra lexical (substantivos, verbos, adjetivos)

Alm das palavras gramaticais, h outra forma de se retomar as palavras no texto. o mecanismo de
substituio por sinnimos, por hipernimos, por hipnimos ou por antonomsias.

No exemplo referente ao item Retomada ou antecipao por uma palavra gramatical, podemos
observar um desses mecanismos: em (...) de uma questo simples, o substantivo questo retoma o
caso por um processo de substituio por sinnimos.

A relao de hipnimo/hipernimo corresponde relao de contm/est contido. O primeiro


est contido no segundo e vice-versa. Por exemplo, cachorro hipnimo de mamfero e vice-versa.

Quanto antonomsia, o processo de substituio de um nome prprio por um comum ou de um


comum por um prprio. Geralmente utilizada para personalidades.

Exemplo: A rainha dos baixinhos estreia novo filme (em vez de Xuxa estreia novo filme).
126
Interpretao e Produo de Textos

Entre os mecanismos de coeso referencial tambm se encontra a elipse, quer dizer, o apagamento
de palavras (que podem ser recuperadas pelo contexto) em uma sequncia, para que no haja repetio
indevida.

Exemplo: O presidente da Repblica anunciou novas medidas. Baixou os juros, elevou o salrio
mnimo e, ainda, regulamentou a criao de novos empregos.

Veja que o smbolo representa o sujeito O presidente da Repblica, que foi omitido para evitar
repetio na sequncia. Trata-se de elipse do sujeito.

6.2.1.2 Coeso por encadeamento de segmentos textuais (coeso sequencial)

a. Coeso por conexo

Estabelecida por conectores (ou operadores discursivos) que fazem a relao entre segmentos do
texto. Esses conectores, alm de estabelecer relao lgico-semntica entre as partes do texto (de causa,
finalidade, concluso etc.), tm funo argumentativa, que, segundo Fiorin e Savioli (1999), podem ser
dos seguintes tipos:

1. Os que marcam uma gradao, numa srie de argumentos, orientada para uma determinada
concluso (at, mesmo, at mesmo, inclusive, ao menos, pelo menos, no mnimo, no mximo,
quando muito). Ex.: Ele tem todas as qualidades para vencer o concurso: alto, magro e at
inteligente.

2. Os que marcam uma relao de conjuno argumentativa (ligam argumentos em favor de uma
concluso, como: e, tambm, ainda, nem, no s... mas tambm, tanto... como, alm de, alm disso,
a par de). Ex.: O cliente no recebeu o produto solicitado e teve, ainda, que pagar em dinheiro.

3. Os que indicam uma relao de disjuno argumentativa (argumentos que levam a


concluses opostas, como: ou, ou ento, quer... quer, seja... seja, caso contrrio). Ex.: Todos
os convocados pelas autoridades competentes devem apresentar-se ou sero intimidados
a faz-lo.

4. Os que marcam uma relao de concluso (portanto, logo, por conseguinte, pois, quando
no introduz a orao). Ex.: Ele fora classificado como o melhor corredor. Recebera, pois, o
maior prmio (est implcito que quem fosse considerado o melhor corredor receberia o melhor
prmio).

5. Os que estabelecem uma comparao entre dois elementos, com vistas a uma concluso (a
favor ou contra). Ex.: No sei se o trabalho ficar bom, mas esse pedreiro to eficiente quanto
o outro.

6. Os que introduzem uma explicao ou justificativa (porque, j que, que, pois). Ex.: melhor no
mexer no material, j que no tem a inteno de compr-lo.
127
Unidade II

7. Os que marcam uma relao de contrajuno (mas, porm, contudo, todavia, no


entanto, entretanto, embora, ainda que, mesmo que, apesar de que). Ex.: O governo abriu
financiamento de casas para a classe mdia, porm, uma parte dessa populao j tem casa
prpria.

8. Os que introduzem argumento decisivo, como um acrscimo informao (alis, alm do mais,
alm de tudo, alm disso, ademais). Ex.: Ela tirou tudo do armrio, espalhou no quarto e no
terminou a arrumao. Alis, como de costume.

9. Os que indicam uma generalizao ou uma amplificao da informao anterior (de fato,
realmente, alis, tambm, verdade que). Ex.: No bastasse estar atrasado, tambm esqueceu o
ingresso no bolso da cala.

10. Os que especificam ou exemplificam o que foi dito (por exemplo, como etc.). Ex.: Todos
ficaram insatisfeitos com a deciso da me, como o filho mais velho que deixou de falar
com ela.

11. Os que marcam uma relao de retificao, ou seja, uma correo, um esclarecimento,
um desenvolvimento ou uma redefinio do contedo anterior (ou melhor, de fato, pelo
contrrio, ao contrrio, isto , quer dizer, ou seja, em outras palavras). Ex.: O candidato no
honrou seu compromisso, isto , no cumpriu o que prometera em campanha eleitoral.

12. Os que introduzem uma explicitao, uma confirmao ou uma ilustrao do que foi informado
(assim, desse modo, dessa maneira). Ex.: Encontramo-nos em perodo de crise econmica. Assim, o
comrcio de produtos eletrnicos est em baixa.

b. Coeso por justaposio

Esse tipo de coeso pode ser estabelecido com ou sem elementos de ligao. Quando h conectores,
estes podem ser:

1. Os que marcam sequncia temporal. Ex.: A mulher abandonara o lar. Um ano depois, estava
arrependida.

2. Os que marcam uma ordenao espacial. Ex.: direita fica o porto de entrada para o prdio.

3. Os que especificam a ordem dos assuntos no texto. Ex.: Em primeiro lugar, devo declarar que
aceito a proposta.

4. Os que introduzem um dado tema ou servem para mudar o assunto na conversao. Ex.:
Devemos nos unir para uma deciso acertada. Por falar nisso, estamos todos no mesmo
barco.

128
Interpretao e Produo de Textos

Algumas observaes:

1. Quando no h conectores, eles podem ser inferidos pelo contexto.

Ex.: No assistir conferncia. Est atrasada (subentende-se um conector que estabelea relao
de causa na segunda orao, como porque).

2. Quanto manuteno do tema no texto, trata-se da articulao tema (dado) e rema (novo) que
se d na perspectiva oracional ou contextual.

Ex.: Vamos descrever, ento, o interior da casa. A sala ampla e se divide em dois ambientes. Os
quartos so bem arejados. A cozinha comporta toda a famlia nos horrios de refeio.

Saiba mais

Se desejar aprofundar-se no tema, vale a pena ler A coeso textual, de


I. V. Koch, So Paulo: Contexto, 1998.

Exemplo de aplicao

1) Em uma manh ensolarada, Heitor encontrou uma linda cachorrinha, pequena e toda
branquinha, e deu a ela o nome de Blanche. (N. Rosa e A. Bonito)

Em relao ao termo ela encontrado no texto, um elemento coesivo:

a) sem referncia no texto, ou seja, o leitor busca fora do texto o referente.

b) classificado como sequencial, uma vez que se encontra na orao coordenada.

c) referencial de pronome adjetivo.

d) referencial anafrico, uma vez que seu referente vem antes dele.

e) referencial catafrico, porque seu referente cachorrinha vem antes dele no texto.

Comentrio

A alternativa correta a d). A coeso classifica-se como coeso referencial anafrica, porque o
elemento referente cachorrinha vem antes do pronome ela.

2) Magda, desta parte quem cuida o suporte tcnico. Por favor, envie uma mensagem para eles,
apresentando, com clareza, a sua dvida, que prontamente ser atendida. Nesse recado, o leitor deparase:
129
Unidade II

a) com um texto sem segmentos coesivos entre as oraes.


b) com um referencial coesivo anafrico (eles).
c) com a expresso suporte tcnico, a qual referente do pronome anafrico eles.
d) com um referente no explcito no texto do pronome eles.
e) com um referente explcito, que o termo Magda.

Comentrio

A alternativa correta a d). O elemento coesivo eles no possui um referente explcito no texto,
precisando, portanto, ser inferido pelo leitor. Na verdade, so os membros da equipe do suporte tcnico
o referente para eles.

3) A seguir, leia os dois enunciados:

Lcia ainda no sabe que carreira pretende seguir. Alis, o que est acontecendo com grande
nmero de jovens na fase pr-vestibular.

Muitos de nossos alunos esto desenvolvendo pesquisas no exterior. Por exemplo, Mariana est
na Frana e Marcelo, na Alemanha.

Temos, respectivamente, relao discursiva/argumentativa do tipo:

a) generalizao e exemplificao.
b) generalizao e contrajuno.
c) contrajuno e exemplificao.
d) conjuno e explicao.
e) comparao e exemplificao.

Comentrio

A alternativa correta a a). O primeiro enunciado tem relao do tipo generalizao com o conector
alis, e o segundo, do tipo exemplificao com o conector por exemplo.

4) Chamamos de encadeamento o inter-relacionamento de enunciados sucessivos, com ou sem


elementos explcitos de ligao. Portanto, podemos ter encadeamento por justaposio (sem a
presena do articulador/conector) e por conexo (quando o conector est presente no texto). Leia os
enunciados:

I - O barranco desmoronou. As chuvas desta noite foram muito violentas (conexo causal).
II - As flores esto congeladas porque geou (conexo causal).
III - Nosso candidato foi derrotado porque houve infidelidade partidria (conexo causal).
130
Interpretao e Produo de Textos

Assinale a alternativa correta:

a) Os enunciados I, II e III tm encadeamento por justaposio.

b) Os enunciados I, II e III tm encadeamento por conexo.

c) Apenas o enunciado I tem encadeamento por justaposio.

d) Os enunciados II e III no possuem conector explcito.

e) Nenhuma das alternativas anteriores est correta.

Comentrio

A alternativa correta a c). O enunciado I tem encadeamento por justaposio porque entre as
oraes no h um conector explcito de causa, como ocorre nos enunciados II e III. Nestes, o conector
de causa porque, que relaciona as oraes.

5) Assinale o item em que o pronome relativo que pode causar ambiguidade:

a) O homem que cumprimentei o diretor da universidade.

b) O aluno que estuda vence, cedo ou tarde.

c) A casa em que moro fica prxima ao centro.

d) No conheo o pai do menino que se acidentou.

e) Adriano, que comprou a decorao, far o bolo.

Comentrio

A alternativa correta a d). O uso do pronome relativo que utilizado nessa frase torna-se ambguo,
porque o leitor no sabe se o pronome est substituindo a palavra menino ou a palavra pai.

6) Veja como os textos se desenvolvem quanto coeso e assinale a alternativa que acertadamente
classifica o tipo de coeso predominante em cada texto respectivamente:

I. Se voc estudante de nvel superior graduao, sequencial ou ps-graduao , a Conta


Universitria Caixa o que voc precisava. Com ela, voc conquista a independncia financeira,
sem comprovao de renda e com diversas vantagens. (site da Caixa Econmica Federal)

II. So Paulo acrescenta continuamente requintes roleta-russa em que se transformou a vida


na cidade. Antes, o paulistano j sabia que, se escapasse de assalto, poderia cair em sequestro
131
Unidade II

(relmpago ou duradouro, que a roleta-russa sofisticada). Se no fosse sequestrado, teria o


carro roubado. Se ficasse com o carro, afundaria em algum dos alagamentos bblicos do cotidiano.
Se no naufragasse, ficaria preso em um congestionamento cinematogrfico. E, se nada disso
ocorresse, ainda haveria na agulha a bala de cair no buraco do metr e ter o cadver resgatado
apenas uma semana ou dez dias depois (ROSSI, 2007).

III. A fnix um pssaro das Arbias. No morre nunca. Ou melhor, morre muitas vezes, queimada
no fogo, e cada vez renasce das cinzas.

Assinale a alternativa correta:

a) I. coeso referencial por substituio; II. coeso recorrencial por parfrase; III. coeso recorrencial
por paralelismo.

b) I. coeso recorrencial por paralelismo; II. coeso referencial por substituio III. coeso recorrencial
por parfrase.

c) I. coeso recorrencial por paralelismo; II. coeso recorrencial por parfrase; III. coeso referencial
por substituio.

d) I. coeso referencial por substituio; II. coeso recorrencial por paralelismo; III. coeso recorrencial
por parfrase.

e) I. coeso recorrencial por parfrase; II. coeso recorrencial por paralelismo; III. coeso recorrencial
por paralelismo.

Comentrio

A alternativa correta a d). A coeso referencial por substituio empregada no texto I: o termo
ela recupera o termo anterior Conta Universitria Caixa. A coeso recorrencial por paralelismo marca
o texto II, em que as oraes condicionais comeam com se (antecedente) e so seguidas pela orao
principal (consequente). A coeso recorrencial por parfrase se materializa no texto III com a expresso
ou melhor.

6.2.1.3 Coerncia e progresso textual

Como j dissemos, a coerncia o todo de sentido em que resulta o texto. Para que ela se estabelea,
preciso observar a no contradio de sentidos entre partes do texto, o que se constri pelos mecanismos
de coeso j explicitados.

Alm disso, de acordo com Fiorin e Savioli (1999), h vrios nveis que devem ser levados em conta,
como o narrativo, o figurativo, o temporal, o argumentativo, o espacial e o de linguagem. Para todos
eles, dois tipos de coerncia so fundamentais: a coerncia intra e a extratextual. A primeira corresponde
132
Interpretao e Produo de Textos

organizao e ao encadeamento das partes do texto, ao passo que a segunda pode estar relacionada
tanto ao conhecimento de mundo como ao conhecimento lingustico do falante.

No entanto, h textos que aparentemente podem ser incoerentes. Para se verificar se o texto tem
sentido, preciso considerar vrios fatores que podem levar atribuio de significado ao texto. So
eles: o contexto, a situao comunicativa, o gnero, o(s) intertexto(s).

Esses fatores determinam as condies de produo e de recepo de um texto. preciso ter conhecimento
dessas condies para julgar coerente (ou no) um texto. Para exemplificar, um texto literrio, por ser
ficcional, admite o uso da linguagem figurada, ao passo que um texto cientfico no a admite. Portanto, se
houver o uso de uma metfora em um texto cientfico, por exemplo, este ser julgado incoerente.

Vejamos mais um texto de Millr Fernandes para melhor ilustrar o que foi dito at aqui.

O leo, o burro e o rato

Um leo, um burro e um rato voltavam, afinal, da caada que haviam empreendido juntos
(1) e colocaram numa clareira tudo que tinham caado: dois veados, algumas perdizes, trs
tatus, uma paca e muita caa menor. O leo sentou-se num tronco e, com voz tonitruante
que procurava inutilmente suavizar, berrou:

Bem, agora que terminamos um magnfico dia de trabalho, descansemos aqui,


camaradas, para a justa partilha do nosso esforo conjunto. Compadre burro, por favor, voc,
que o mais sbio de ns trs, com licena do compadre rato, voc, compadre burro, vai
fazer a partilha desta caa em trs partes absolutamente iguais. Vamos, compadre rato, at
o rio, beber um pouco de gua, deixando nosso grande amigo burro em paz para deliberar.

Os dois se afastaram, foram at o rio, beberam gua (2) e ficaram um tempo. Voltaram e
verificaram que o burro tinha feito um trabalho extremamente meticuloso, dividindo a caa em
trs partes absolutamente iguais. Assim que viu os dois voltando, o burro perguntou ao leo:

Pronto, compadre leo, a est: que acha da partilha?

O leo no disse uma palavra. Deu uma violenta patada na nuca do burro, prostrando-o
no cho, morto.

Sorrindo, o leo voltou-se para o rato e disse:

Compadre rato, lamento muito, mas tenho a impresso de que concorda em que no
podamos suportar a presena de tamanha inaptido e burrice. Desculpe eu ter perdido
a pacincia, mas no havia outra coisa a fazer. H muito que eu no suportava mais o
compadre burro. Me faa um favor agora divida voc o bolo da caa, incluindo, por
favor, o corpo do compadre burro. Vou at o rio, novamente, deixando-lhe calma para uma
deliberao sensata.
133
Unidade II

Mal o leo se afastou, o rato no teve a menor dvida. Dividiu o monte de caa em dois:
de um lado, toda a caa, inclusive o corpo do burro. Do outro apenas um ratinho cinza (3)
morto por acaso. O leo ainda no tinha chegado ao rio, quando o rato chamou:

Compadre leo, est pronta a partilha!

O leo, vendo a caa dividida de maneira to justa, no pde deixar de cumprimentar


o rato:

Maravilhoso, meu caro compadre, maravilhoso! Como voc chegou to depressa a


uma partilha to certa?

E o rato respondeu:

Muito simples. Estabeleci uma relao matemtica entre seu tamanho e o meu claro
que voc precisa comer muito mais. Tracei uma comparao entre a sua fora e a minha claro
que voc precisa de muito maior volume de alimentao do que eu. Comparei, ponderadamente,
sua posio na floresta com a minha e, evidentemente, a partilha s podia ser esta. Alm do
que, sou um intelectual, sou todo esprito!

Inacreditvel, inacreditvel! Que compreenso! Que argcia! exclamou o leo,


realmente admirado. Olha, juro que nunca tinha notado, em voc, essa cultura. Como
voc escondeu isso o tempo todo, e quem lhe ensinou tanta sabedoria?

Na verdade, leo, eu nunca soube nada. Se me perdoa um elogio fnebre, se no se


ofende, acabei de aprender tudo agora mesmo, com o burro morto.

Moral: s um burro tenta ficar com a parte do leo.

(1) A conjugao de esforos to heterogneos na destruio do meio ambiente coisa


muito comum.
(2) Enquanto estavam bebendo gua, o leo reparou que o rato estava sujando a gua
que ele bebia. Mas isso j outra fbula.
(3) Os ratos devem se contentar em se alimentar de ratos. Como diziam os latinos:
Similia similibus curantur.12

Ao analisarmos o texto, podemos verificar o seguinte:

No texto, a coerncia narrativa estabelecida, primeiro, pela sequncia de aes que se


encadeiam: o leo prope um desafio ao burro e ao rato, ambos aceitam, mas o burro no capta
a verdadeira inteno do leo e acaba morto; o rato, por sua vez, ao ver o burro morto, entende

12
FERNANDES, M. O leo, o burro e o rato. In: La insgnia. Madri, 13 jun. 2004. Disponvel em: <http://www.
lainsignia.org/2004/junio/cul_030.htm>. Acesso em: 2 mai. 2011.
134
Interpretao e Produo de Textos

a mensagem e, para preservar sua vida, faz a diviso do alimento considerada justa para o leo e,
assim, obtm sucesso.

Na sequncia temporal, a narrativa apresenta uma sucesso de fatos que estabelece a progresso
temtica do texto a respeito da explorao do homem pelo homem, ou da lei da sobrevivncia em uma
sociedade competitiva, tema(s) este(s) que (so) figurativizado(s) pelos animais partilhando o alimento,
em que se destaca a soberania do leo na cadeia alimentar.

A fim de se concretizar a verdade do texto, h tambm a coerncia espacial, visto que os animais se
encontram em uma floresta, ambiente que concretiza o cenrio em que se desenvolve a histria. Como
se trata de um texto ficcional, a coerncia estabelecida pela criao desse mundo possvel em que os
personagens se inserem.

Quanto linguagem, coerente ao tipo de texto, que permite o uso do coloquial, a fim de aproximar-se
do interlocutor. Por isso, o vocabulrio acessvel e h construes prximas oralidade, como Me faam
um favor, em que o pronome oblquo inicia a orao, uma forma que a norma padro rejeita em textos
escritos.

H um jogo de pressupostos e subentendidos, que caracterizam o texto como literrio, e consiste


em uma estratgia argumentativa para a defesa do ponto de vista implcito de que vence o mais
forte.

Dessa forma, podemos considerar esse texto coerente, pois observamos tanto a coerncia
interna como a coerncia externa dele. A primeira corresponde aos fatores ligados ao conhecimento
lingustico j apresentado anteriormente, ao passo que a segunda se relaciona s condies de
produo e/ou recepo do texto, tais como o gnero, a situao comunicativa e as relaes
intertextuais.

Observao

Sugerimos que, para amadurecer sua competncia leitora, escolha outro


texto narrativo, at mesmo uma nova fbula, e desenvolva sua anlise
contemplando os aspectos abordados at aqui.

Nesse sentido, podemos verificar que, por se tratar de uma crnica, um texto que trata de
tema do cotidiano, em uma linguagem coloquial, mas que constri opinio pelas estratgias
argumentativas. Alm disso, de modo subentendido, faz aluso a outros textos existentes, do tipo
fbula, que pressupem a existncia de uma moral, recurso que se denomina intertextualidade.
Podemos notar que por esse recurso h construo de uma ironia em relao moral, que
apresentada de uma maneira subvertida, isto , de modo a levar o leitor reflexo sobre a
estupidez humana em suas relaes sociais.

135
Unidade II

Exemplo de aplicao

1) A respeito do processo de elaborao que resultou no folheto apresentado a seguir, julgue os itens
que se seguem.

I - A combinao entre o tema, o estilo da ilustrao e a


escolha do traado das letras revela crianas ou pblico
de baixa escolaridade como o destinatrio pretendido
para esse texto.

II - Apesar das poucas marcas de coeso, esse texto


respeita as caractersticas do gnero textual que
representa e atinge o objetivo pretendido: convidar
para o festival.

III - Coerentemente com o texto visual, que representa


bonecos caractersticos da arte popular, a linguagem do
texto verbal reproduz a linguagem popular, no uso de
termos como entrada franca.

Figura 3

Est certo o que se afirma apenas na(s) alternativa(s):

a) I.
b) II.
c) I e II.
d) I e III.
e) II e III.

Comentrio

A alternativa correta a e).

136
Interpretao e Produo de Textos

2) Em uma das charges de Maitena, temos o seguinte dilogo entre duas mulheres:

Mas no seja ridcula! Como voc sabe que no vai voltar a v-lo nunca mais? O que ele te disse?
Vou virar padre? Vou para a China? Vou me casar?

No, muito pior Te ligo.

O leitor da charge consegue entender o texto porque:

a) A coerncia da charge est nas perguntas hipotticas feitas pela primeira mulher.
b) A coerncia acontece quando te ligo, dentro das relaes amorosas, interpretado como indcio
de desinteresse.
c) A coerncia depende exclusivamente da seleo lexical.
d) A coerncia construda com base no conhecimento partilhado de que fazer ligao telefnica
no est dentro das convenes de um relacionamento amoroso.
e) A coerncia ocorre devido ao fato de o leitor saber que nas conversas femininas no h de fato
coerncia. Assim, o leitor no estranha a resposta da segunda mulher da charge.

Comentrio

A alternativa correta a b). A coerncia no se aplica isoladamente ao texto, ao leitor, ao autor.


A coerncia se estabelece na unio desses trs elementos. A coerncia da charge no depende
exclusivamente do que expresso linguisticamente no texto, mas tambm do conhecimento que ns
temos e que est fora do texto. No caso, ns leitores sabemos que quando uma pessoa promete ligar
para outra, isso pode ter mais de um sentido: a pessoa de fato liga; a pessoa faz promessa por fazer, e
ambas sabem que no haver ligao; a pessoa no liga. Na relao amorosa, prometer ligar significa
dispensar a pessoa.

6.2.1.4 Clareza e conciso

A clareza e a conciso compreendem duas qualidades primordiais de um texto bem elaborado. A


primeira diz respeito organizao coerente das ideias, de modo a no deixar dvidas sobre o que
foi proposto pelo texto, desde seu incio at sua concluso, enquanto a segunda est associada no
prolixidade do texto, ou seja, uma est ligada outra.

Do ponto de vista da produo, de acordo com a inteno, deve-se selecionar a estrutura que
sustentar o texto, levando-se em considerao caractersticas peculiares a cada uma dessas estruturas
(narrativa, descritiva ou dissertativo-argumentativa), as quais sero apresentadas mais frente. O
fundamental garantir que haja uma hierarquia de ideias e fatos na relao intratextual, a fim de se
organizar um todo coeso e coerente.

137
Unidade II

Nesse sentido, a organizao dos pargrafos no interior do texto de suma importncia e constitui
uma das dificuldades que deve ser vencida pelo produtor, pois quando no se tem domnio dessa
habilidade, h duas tendncias na construo dos pargrafos: ou o texto um bloco nico de informaes
ou confundem-se perodo e pargrafo.

Para melhor compreenso, passemos a verificar essas duas etapas: a da organizao discursivo-textual
e a da elaborao dos pargrafos.

Exemplo de aplicao

A expresso lingustica, se curta, mais eficiente para um texto conciso. Assinale a


alternativa em que os pares no esto adequados, considerando que as primeiras so as
expresses longas:

a) a fim de = para
b) no discordar = aceitar
c) com relao a = sobre
d) no sentido de = para
e) no impedir = permitir

Comentrio

A alternativa correta a b). Existem expresses longas que podem ser substitudas por outras,
mais curtas, facilitando a leitura. No caso da alternativa b) no discordar, ela poderia ser
substituda por concordar.

6.2.1.5 Da organizao dos pargrafos

Embora um pargrafo seja definido pela extenso que vai de uma margem em branco at um ponto
final, devemos salientar que o mais importante a garantia de uma unidade de sentido para cada
pargrafo de um texto, o que no pode delimitar uma forma-padro.

Primeiro, ao se elaborar um texto, preciso um planejamento, um roteiro que nortear a organizao


dele em pargrafos, de forma que haja um encadeamento lgico-semntico. Para tanto, faz-se necessrio
investigar o conhecimento prvio que se tem sobre o assunto, pois ser ele que permitir um plano de
organizao do texto.

Em seguida, deve-se fazer um esboo da estrutura do texto a ser produzido, partindo-se da


ideia central, isto , do tema escolhido. A partir dele, podem se relacionar tpicos que possam
ser desenvolvidos em ncleos temticos no interior do texto, de modo a se organizarem oraes,
perodos e pargrafos.
138
Interpretao e Produo de Textos

Para o planejamento dos pargrafos, h sugestes de autores variados. Uma delas, que consenso
entre muitos deles, foi sintetizada por Emediato (2004, p. 92) da seguinte forma:

Quando? Histrico sobre o assunto,


Tempo datas, origens, narrativa histrica.

Espao Onde? Locais, situaes no espao.

O que ? Definir, conceituar, explicar


Definio
o significado de um conceito.

Lista de caractersticas, funes,


Enumerao princpios, fatores, fases, etapas etc.

Estabelecer relaes de semelhana e


Comparao de diferena, contrastar.

Causas/efeitos Resultados, consequncias, fatores


causais.

Exemplificao Fatos concretos, provas factuais.

Deduo geral, sintetizando os


Concluso/ dados e informaes contidas nos
deduo pargrafos anteriores.

A seleo de uma dessas formas direcionar a construo do texto, orientando a sequncia dos
pargrafos de acordo com a nfase dada no incio. ela que estabelecer as relaes intratextuais e a
segmentao dos pargrafos.

importante salientar, ainda, que no h uma frmula mgica para a organizao dos pargrafos
em um texto. O importante estabelecer uma sequncia lgica que o torne claro. Para que se inicie bem
um texto (e, consequentemente, haja uma sequncia coerente), Faraco e Tezza (1992, p. 178) sugerem
as seguintes recomendaes:

1. Iniciar o texto familiarizando o leitor com o assunto que ser tratado, de modo que a introduo
do texto situe com clareza as coordenadas do texto (assunto, inteno, aspecto que se pretende
abordar).

2. Evitar o incio do texto com uma frase avulsa, a no ser que o tipo de texto o exija (como a
linguagem publicitria, por exemplo), pois esse procedimento denota m estruturao.

3. Utilizar perodos mais curtos, uma vez que os perodos longos tornam o texto prolixo e podem
desinteressar o leitor.

139
Unidade II

7 Complemento gramatical

Toda lngua possui uma estrutura, que a sua gramtica. Essa gramtica costuma ser apresentada em
livros chamados gramtica normativa ou tradicional. Os autores dessas obras organizam os contedos
em diferentes captulos, usualmente organizados em diversos nveis: fonologia/fontica, morfologia e
sintaxe (melhor denominada morfossintaxe), semntica e estilstica.

A fonologia parte da gramtica que estuda os sons da lngua quanto sua funo no sistema
de comunicao lingustica, quanto sua organizao e classificao. Tambm cuida de aspectos
relacionados diviso silbica, ortografia e acentuao de palavras, de acordo com o padro culto
da lngua. Estuda o aspecto fnico e tem como unidade bsica de estudo o fonema.

Observe a frase: Ana desprezou Ricardo.

Para a fonologia, o vocbulo Ana tem a primeira vogal /a/ como uma vogal nasal por ser tnica e
estar logo antes de uma consoante nasal /n/; no vocbulo Ricardo, pronuncia-se a vogal final como
/u/ e no como um /o/.

A morfologia o nvel de anlise lingustica que se ocupa do estudo das palavras, de sua formao, de
sua classificao e de suas flexes. Estuda palavras que pertencem a grupos bem diferentes: substantivo,
adjetivo, artigo, numeral, pronome, verbo, advrbio, preposio, conjuno e interjeio.

Observe a mesma frase: Ana desprezou Ricardo.

morfologia interessa a constituio interna das palavras. Observamos que a palavra desprezou
formada por mais de um elemento: a sequncia desprez- mais a sequncia -ou. Desprez- aparece em
outras formas, como desprezo (substantivo ou verbo), desprezvel (adjetivo), desprezador (adjetivo ou
substantivo) etc., e -ou ocorre em outras formas verbais, como amou, desmanchou etc.

A sintaxe o estudo das combinaes e relaes entre as palavras de um enunciado e entre as frases
de um texto. A morfossintaxe a parte central da gramtica pura: estudada em dois domnios: a
morfologia e a sintaxe.

Observe, ainda, a frase: Ana desprezou Ricardo.

A sintaxe associa as palavras para formar frases. Existe uma regra pela qual a terminao de
desprezou depende do elemento que se coloca antes do verbo, que no caso Ana. Notamos que o
elemento que governa a forma desprezou ocorre em primeiro lugar na frase, e que modificaes no
ltimo elemento (Ricardo) no afetam a forma do verbo.

A semntica definida, de maneira genrica, como o estudo do sentido das palavras e dos enunciados.
S atingimos o sentido dos enunciados lingusticos, em qualquer contexto, por meio de um exerccio
de interpretao, a partir do qual os possveis significados das palavras e de suas combinaes so
avaliados em situaes especficas, na busca daquele que melhor se ajusta ao contexto de enunciao.
140
Interpretao e Produo de Textos

Observe novamente a frase: Ana desprezou Ricardo.

A semntica leva em conta o significado transmitido na frase. O termo Ana provavelmente designa
uma mulher, e Ricardo um homem; que a pessoa desprezada Ricardo, e no Ana; que o fato de Ana
desprezar Ricardo aconteceu no passado, e assim por diante.

Figura 4 Anncio publicitrio da Gol

O enunciado Gol. Os argentinos merecem d uma impresso, no mnimo, estranha, dbia,


principalmente se considerarmos que, tradicionalmente, a rivalidade entre Brasil e Argentina no futebol
no admitiria a ideia de julgarmos a seleo rival merecedora de marcar um gol. Ao contrrio, ao ler a
frase, a probabilidade de interpret-la como os argentinos merecem levar gol maior. No entanto, essa
primeira impresso imediatamente desfeita ao situarmos a palavra gol no contexto apresentado,
atribuindo-lhe o sentido de empresa area.

Essa gramtica serve como norteador para a produo de textos escritos e orais mais formais, que
exigem a norma culta. No entanto, muitas vezes a explicao de uma regra no se encontra no livro de
gramtica, mas em outro contexto. Leia o texto de Pompeu de Toledo (1992) a seguir.

Voc, tu e o senhor

Confuso de tratamento faz parte dos usos e costumes nacionais.

No calor de Manaus, ao embalo tropical da cerimnia que, na semana passada, reuniu


os pases amaznicos para discutir a Rio 92, produziu-se um dilogo digno de nota. Um
reprter da Folha de S. Paulo aproximou-se do presidente Fernando Collor e perguntou:

Os jornais esto dizendo que voc vai tirar frias. verdade?

Respondeu o presidente, levantando os braos e num tom de voz elevado, segundo


descrio da Folha:
141
Unidade II

Voc estrebaria.

Voc estrebaria? Na verdade, Collor no disse isso. Voc estrebaria, segundo a


Estilstica da lngua portuguesa, do professor Rodrigues Lapa, a resposta irada que se
d ao voc em certas regies de Portugal onde esse tratamento considerado ofensivo.
O presidente foi direto a um palavro: Voc o... Como esta revista no novela das 8,
prefere-se o pudor das reticncias crueza da expresso original.

Em matria de ms maneiras, difcil dizer quem ganha, se o reprter ou o presidente.


Ambos se inserem no clima nacional de zorra de acordo com o qual telefonistas chamam os
interlocutores de meu bem, caixas de banco dirigem-se aos clientes como meu filho e o
palavro tem circulao to irrestrita que acabou consagrado na televiso.

No h justificativa nem para o reprter nem para o presidente. Diga-se apenas, sem
querer desculpar ningum, que a questo do tratamento, origem do quiproqu de Manaus,
to mal resolvida no Brasil que virou fonte de angstia. Como vou cham-lo, de voc ou
senhor? Essa uma dvida que pode se apresentar de forma to aflitiva quanto a do ser
ou no ser para o prncipe Hamlet. J que o senhor pode ficar excessivamente formal e
o voc abusivamente ntimo, uma das sadas habilitar-se na tcnica de levar toda uma
conversa sem usar nem um nem outro, driblando-os com circunlquios ou, quando no ter
mais, com grunhidos inaudveis.

Em outras lnguas o problema no se coloca. at covardia invocar o ingls, que faz


tbula rasa das distines de idade, hierarquia ou crculo excelso do panteo social em que a
pessoa esteja empoleirada em favor de um universal e equnime you. Pegue-se uma lngua
mais prxima do portugus, porque da mesma origem latina, como o francs. L existe o
vous, literalmente vs, mas equivalente ao senhor, e o tu, prximo ao voc. S que est
perfeitamente claro que as pessoas devem se tratar por vous. O tu s em caso de verdadeira
intimidade, dentro da famlia ou entre colegas.

A ningum, nem com a mente avariada pelo sol de Manaus, ocorrer chamar o presidente
seno por vous. Mas h um detalhe importante no francs: o presidente, reciprocamente,
tambm tratar o interlocutor por vous. vous na ida e na volta. No se fale nem de
jornalistas, tome-se o exemplo do motorista do presidente da Frana. Ele cumprimentar
o presidente dizendo: Comment allez-vous, monsieur le prsident?, o que equivale em
portugus a Como vai o senhor? O presidente responder: Bien, et vous, monsieur
Dupont? Bem, e o senhor?
Um aspecto perverso, na confuso de tratamento no Brasil, que, alm das questes de
idade e hierarquia, os pronomes so utilizados para acentuar diferenas de classe. O motorista,
aqui, tambm dir a seu patro: Como vai o senhor? Mas a resposta mais provvel ser:
Bem, e voc, Z? O motorista , por natureza, voc, assim como a empregada domstica,
o garom e o porteiro. Voc aponta de cima para baixo, no abismo social. O senhor de
baixo para cima, assim como o doutor, essa suprema forma de premiar os mritos de um
brasileiro dos bons, desses excelentssimos e reverendssimos.

142
Interpretao e Produo de Textos

So hbitos que deitam razes na sociedade de escravos e senhores que fomos. Quando era
criana, Brs Cubas, o personagem das Memrias pstumas, de Machado de Assis, gostava de
maltratar seu escravo Prudncio montando-lhe em cima e aplicando-lhe chicotadas, como a
um cavalo. Prudncio murmurava: Ai, nhonh!, uma maneira familiar de dizer senhor. Brs
Cubas respondia: Cala a boca, besta.

No h dvida de que o presidente tem que ser chamado de o senhor, mas muito mais gente
merece tambm um tratamento respeitoso. No questo de ser formal nem pernstico, acusaes
de que o brasileiro foge mais do que das de safado ou ladro. questo de suavizar, pelo menos
na linguagem, as diferenas entre as pessoas. Em nome do mesmo respeito, da prxima vez que for
chamado de voc, roga-se ao presidente que deixe de reagir com um palavro. Ele poderia dizer,
como os gentis portugueses: Voc estrebaria.

O artigo jornalstico alerta para a conscincia que devemos ter sobre o uso da lngua. Conhecer as
regras da gramtica no significa saber de fato em que situao um elemento da lngua pode ou deve
ser usado e com que finalidade. Ns precisamos ficar mais atentos ao efeito de sentido.

Quando escrevemos ou falamos, usamos a lngua portuguesa. Ns somos usurios de uma lngua.
A lngua no faz parte da natureza, como aquela rvore que voc pode visualizar a distncia ou a brisa
que sente agora no rosto e sobre as quais no temos controle. A lngua um fenmeno social, e, quando
recorremos a ela para falar ou escrever, ns assumimos uma responsabilidade.

O uso que fazemos da lngua constitui uma manifestao e interveno social e, desse modo, acarreta
a responsabilidade tica do usurio. A tica, por sua vez, envolve escolhas e escalas de valores que
moldam a representao de mundo de quem escreve ou fala. Ns ao usarmos a lngua expressamos
avaliaes, julgamentos, opinies, sentimentos; apresentamos fatos socialmente aceitos ou proibidos.

Ns assumimos uma posio valorativa com relao ao nosso papel na sociedade. Caso nossos
conhecimentos e crenas no estejam em conformidade com os valores das outras figuras identitrias,
que tambm fazem parte da prtica social, as relaes sociais sero afetadas, podendo causar uma
transformao social positiva ou negativa.

O uso da lngua, portanto, no significa apenas seguir as regras corretas da gramtica. Vejamos os
exemplos dados por Travaglia (2005). Um deles trata do uso da conjuno no perodo composto:

Eu no fiz os exerccios porque estava doente.

Eu no fiz os exerccios, mas estava doente.

Na 1 frase, apenas informei para o meu ouvinte o motivo pelo qual no fiz a tarefa. Na 2, devido
ao julgamento que o meu ouvinte faz de mim, usei a oposio argumentativa.

Outro exemplo: Na poca do ex-presidente Fernando Collor de Melo, os brasileiros, de forma geral, e
os jornalistas, em particular, empregavam substantivos, verbo, locuo prepositiva para fazer referncia
a ele.

143
Unidade II

Fernando Collor, presidente, ex-presidente.


O esportista de Braslia.
O cmplice de PC Farias, o traidor dos descamisados.
Voltou para Alagoas.

Cada identificao demonstra: nome, cargo e/ou considerao; aluso, contexto scio-histrico/
ironia, no cumpridor de promessa.

H necessidade, ento, de reflexo sobre o uso da lngua e das normas gramaticais.

Exemplos de aplicao

1) Faa uma lista de caractersticas (com uma palavra, expresses) para homem e mulher:

Homem Mulher

Comentrio

Peo-lhe agora que retorne ao exerccio e verifique os termos empregados: quais tm carga positiva
sobre a mulher e o homem? Quais tm carga negativa sobre o homem e a mulher? Quais termos
demonstram preconceito ou valorizao?

2) Leia o texto de Vange Leonel (2005), O falo e a fala, e faa uma reflexo sobre o uso da lngua.

O falo e a fala

Aps consultar o dicionrio Houaiss, notei um desequilbrio entre as locues listadas para os
verbetes homem e mulher.

Homem de poucas palavras fala pouco. Homem de pulso sabe se impor. Homem de sociedade
frequenta os ricos e o homem do povo, ou homem da rua, humilde. Homem da lei o juiz, o advogado.
Homem de bem honesto. Homem de letras intelectual. Homem de negcios faz transaes comerciais.
Homem de palavra cumpre suas promessas. Nenhuma das 13 locues tem conotao pejorativa.

J com as 32 locues admitidas para a palavra mulher, a coisa muda de figura. Mulher toa,
mulher da comdia, mulher da rtula, mulher da rua, mulher da vida, mulher da zona, mulher de

144
Interpretao e Produo de Textos

amor, mulher do mundo, mulher errada, mulher vadia, mulher de m nota, mulher perdida, mulher de
programa e mesmo mulher de negcios e mulher de sociedade so alguns dos 19 termos listados para
designar prostitutas.

Por outro lado, mulher de casa, mulher honesta, mulher de verdade, mulher sria e mulher do lar so
formas que indicam as que fazem trabalho domstico gratuito e que tambm so chamadas de esposas,
mes de famlia e donas de casa.

Se nossa lngua reflete nossos costumes, ns, mulheres, estamos mal na fita. A mensagem implcita
que mulher sria (de verdade) fica em casa, enquanto a que vai rua e habita o mundo puta. O sexismo
se perpetua na linguagem: mulher pblica meretriz e homem pblico o que ocupa cargos no Estado.
Curiosamente, quando a primeira ameaa dar com a lngua nos dentes, o ltimo morre de medo.

Comentrio

A reflexo serve como um momento de conscientizao sobre o uso da nossa lngua. Geralmente, as
pessoas tm uma ideia de que o ensino de portugus sobre regras de gramtica apenas. No entanto,
o ensino sobre o uso da lngua e nossa responsabilidade social sobre seu uso. Ao usar a lngua
podemos elogiar, ofender, demonstrar carinho, demonstrar preconceito, demonstrar as desigualdades
sociais do pas etc.

7.1 Dicas de regras gramaticais

Na escrita, sabemos da necessidade de se respeitar a norma culta, a no ser que o tipo de texto no
o exija. Por exemplo, um texto literrio, no qual se reproduz a fala das personagens, se estas estiverem
no papel de pessoas comuns e o contexto permitir uma fala descontrada, ento a norma padro no
precisa ser seguida risca, com a finalidade de imprimir realidade ao texto.

Todavia, em geral, precisamos cuidar da nossa linguagem e, principalmente, do uso da norma padro
em textos do dia a dia. Por isso, passemos a algumas dicas sobre dvidas que surgem ao ter-se que
utilizar esse portugus mais formal.

a. O uso do que

O que, bastante utilizado como um elemento de coeso, pode simplesmente introduzir uma
informao complementar, como pode retomar um termo anterior. Veja nos exemplos:

(a) Ela me disse que no far mais isso.


(b) O co, que fiel ao homem, jamais o trai.

No exemplo (a), o que introduz a segunda orao que no far mais isso, complementando
o verbo disse (Ela disse o qu?). Nesse caso, trata-se de uma conjuno integrante, pois esta
sua funo, integrar o sentido da orao anterior.
145
Unidade II

J no exemplo (b), o que se relaciona ao antecedente co, por isso um pronome relativo. Ele
poderia at ser substitudo por o qual. A informao principal encontra-se na orao O co jamais trai
o homem. A segunda orao foi intercalada na orao principal, acrescentando-lhe uma informao.

Quando se usa o pronome relativo, ele pode introduzir uma informao complementar, mas de
carter genrico, e, nesse caso, a orao iniciada pelo pronome apresenta-se destacada entre vrgulas
(ou travesses, ou parnteses). Esse tipo de pronome pode tambm restringir o termo a que se refere e,
nesse caso, a orao introduzida por ele no fica destacada pela pontuao. Vejamos os exemplos:

(c) O homem, que sensato, no comete esse tipo de erro.


(d) O homem que sensato no comete esse tipo de erro.

No exemplo (c), entende-se que todos os homens (a humanidade) so sensatos, ao passo que no
exemplo (d) entende-se que h um grupo de homens que so sensatos e outro dos que no o so. No
primeiro exemplo h uma generalizao, a informao apenas complementa a anterior; no segundo, o
termo est sendo restrito.

b. Uso de por que, porque, por qu e porqu

Por que

Pode ser utilizado em uma pergunta indireta (por que motivo) ou em substituio a pelo(a) qual.
Vejamos os exemplos:

(a) No entendo por que voc age assim.


(por que motivo)
(b) A rua por que passei, estava congestionada.
(pela qual)

Porque

Este geralmente usado em enunciados com ideia afirmativa.

conjuno causal ou explicativa, com valor aproximado de pois, uma vez que, para que.13

Veja os exemplos:

(a) Fiz isso porque queria irrit-lo.


(b) No fui ao cinema porque tenho que estudar para a prova. (pois)

13
VILARINHO, S. Por que / Por qu / Porque ou Porqu? Disponvel em: <http://www.brasilescola.com/gramatica/
por-que.htm>. Acesso em: 25 abr. 2011.
146
Interpretao e Produo de Textos

(c) No v fazer intrigas porque prejudicar voc mesmo. (uma vez que)14

Por qu

Quando vier antes de um ponto, seja final, interrogativo, exclamao, dever


vir acentuado e continuar com o significado de por qual motivo, por
qual razo.15

Exemplo:

Voc fez isso, por qu?

Porqu

um substantivo, sinnimo de motivo, razo, e deve ser acompanhado de artigo. Vejamos o


exemplo:

No entendo o porqu de tanta revolta.


(o motivo)

c. Uso da vrgula

O anncio a seguir mostra muito bem a importncia da vrgula na comunicao escrita. Veja
transcrio a seguir.

Figura 5 Campanha da Associao Brasileira de Imprensa

14
VILARINHO, S. Por que / Por qu / Porque ou Porqu? Disponvel em: <http://www.brasilescola.com/gramatica/
por-que.htm>. Acesso em: 25 abr. 2011.
15
Idem.
147
Unidade II

A vrgula

A vrgula pode ser uma pausa. Ou no.


No, espere.
No espere.

A vrgula pode criar heris.


Isso s, ele resolve.
Isso, s ele resolve.

Ela pode forar o que voc no quer.


Aceito, obrigado.
Aceito obrigado.

Pode acusar a pessoa errada.


Esse, juiz, corrupto.
Esse juiz corrupto.

A vrgula pode mudar uma opinio.


No quero ler.
No, quero ler.

Uma vrgula muda tudo.

A vrgula16, segundo pensamento bastante comum entre as pessoas, um sinal de pontuao


utilizado para marcar, na escrita, uma pausa (da fala) menor entre vrias informaes existentes
em um texto. Entretanto, para empreg-la com propriedade devem ser seguidas diversas regras.
Vejamos:

1. No se separa o sujeito do predicado, independentemente da extenso do sujeito. Vejamos os


exemplos.

(a) O pai auxilia o filho em suas dificuldades.

(b) O pai dedicado auxilia o filho em suas dificuldades.

(c) O pai dedicado e atencioso auxilia o filho em suas dificuldades.

16
Segundo definio de Luft, a vrgula um sinal de pontuao que indica falta ou quebra de ligao sinttica
(regente + regido, determinado + determinante) no interior das frases. (...) A nossa pontuao a pontuao em lngua
portuguesa obedece a critrios sintticos, e no prosdicos. Sempre importante lembrar isso a todos aqueles que
escrevem, para que se previnam contra bisonhas vrgulas de ouvido. (...) Mais acertado ensinar que nem a toda pausa
corresponde uma vrgula, nem a toda vrgula corresponde uma pausa... LUFT, C. P. A vrgula consideraes sobre o seu
ensino e o seu emprego. So Paulo: tica, 1998.
148
Interpretao e Produo de Textos

Nos exemplos, temos os seguintes sujeitos: em (a) o pai; em (b) o pai dedicado; em (c) o pai dedicado
e atencioso. Em todos os casos, no h vrgula.

2. A informao principal pode ser separada da informao complementar pela vrgula. Exemplo:

Sem notar a minha presena, ela entrou na sala minha procura.


(informao complementar) (informao principal)
A menos que tenha outra sugesto, voc pode seguir esse roteiro.
(informao complementar) (informao principal)

3. Termos acessrios, como o vocativo e o aposto, devem ser separados por vrgula:

(a) Crianas, no gritem!


(vocativo)

(b) Lus Incio Lula da Silva, presidente do Brasil, fez um pronunciamento na TV.
(aposto)

4. As expresses explicativas devem ser separadas por vrgulas.


Ele disse tudo, ou seja, a verdade.

5. Usa-se vrgula para isolar sim ou no que indicam respostas.


Sim, eu aceito o convite. No, eu prefiro ficar.

6. A vrgula pode indicar elipse (omisso de um termo).


Um disse a verdade, o outro, a mentira.
(disse)

7. Quando o adjunto adverbial antecipado, usa-se vrgula para destac-lo.


Na semana passada, todos foram exposio.

8. Em datas, a vrgula separa a expresso locativa.


So Paulo, 1 de janeiro de 2010.

9. Algumas conjunes, como as conclusivas e as adversativas, so separadas por vrgulas, conforme


os exemplos:

(a) Procurei minhas chaves na sala toda, porm no as encontrei.


(b) O aluno constatou, pois, sua aprovao no vestibular.
(c) No estudou o suficiente; portanto, no foi aprovado.
149
Unidade II

10. A vrgula separa oraes intercaladas.

A verdade, eu sei, impossvel ficar escondida por muito tempo.

11. Usa-se vrgula para separar oraes reduzidas (ou nas formas nominais: gerndio, particpio ou
infinitivo), como nos exemplos:

(a) Chegando ao local, avise-me.

(b) Concluda a tarefa, recebeu os honorrios.

(c) Ao sair, bateu a porta do carro.

12. A vrgula usada para separar oraes subordinadas adverbiais.

(a) Quando chegou ao prdio, comunicou-me.


(orao sub. adv. temporal)

(b) Embora quisesse muito, no foi inaugurao da loja.


(orao sub. adv. concessiva)

Exemplo de aplicao

Leia o anncio sobre roupa infantil e responda as questes.

Se eu pudesse escolher, eu s usava Lulica Baby.


Fui no shopping com a Dindinha. Ela me levou em tudo que loja.
Todo mundo falava: que gracinha... que bonitinha...
S que no tinha nada gostoso, tudo me apertava, me enforcava...
Se eu pudesse escolher, s usava Lulica Baby.
Lulica Baby, a roupinha que o seu beb vai gostar de vestir.
Para crianas de 0 a 4 anos.

1) Assinale a alternativa que responda corretamente funo da gramtica normativa:

a) Estabelecer regras como forma de padronizar a utilizao da lngua materna.


b) Embasar a lngua falada de acordo com o estabelecido pela norma padro.
c) Apresentar diversas formas e variedades regionais segundo as necessidades do falante.
d) Oficializar a ortografia nacional.
e) Analisar a lngua como nos apresentada atualmente.

150
Interpretao e Produo de Textos

Comentrio

A alternativa correta a a).

2) O anncio oportuno para ilustrar dois modelos de anlise da lngua.

a) Analise o anncio sob a perspectiva da gramtica normativa, verificando, no mnimo, duas


ocorrncias/regras gramaticais.
b) Analise o anncio sob outra perspectiva. Que abordagem voc faz do texto, que no seja
gramatical?

Comentrio
a) A resposta fica a critrio do aluno.

b) A resposta tambm fica a critrio do aluno, entretanto, s para exemplificar, podemos dizer
que ele pode abordar o texto segundo sua estrutura. O texto seria injuntivo, porm, em vez de usar
os verbos no imperativo (compre roupa da marca Lulica), o publicitrio recorre a argumentos e
coloca um beb como enunciador, que se torna voz de autoridade.

7.2 Reforma ortogrfica

O novo Acordo Ortogrfico da Lngua Portuguesa, assinado pelos pases lusfonos, tem por finalidade
unificar o sistema ortogrfico dos pases de lngua portuguesa. At meados da dcada de 1970, tentativas
de acordo restringiam-se ao Brasil e a Portugal, j que as naes africanas de lngua portuguesa, Angola,
Moambique, Guin-Bissau e So Tom e Prncipe, eram colnias portuguesas, e o Timor-Leste (cuja
independncia poltica ocorreu mais recentemente e cujo povo tem como segunda lngua oficial o
ttum, que, alis, mais falado) vivia sob o domnio da Indonsia.

Com a independncia poltica das ex-colnias africanas e do Timor-Leste, oito pases passaram
a ter o portugus como lngua oficial. Juntos, somam uma populao de mais de 230 milhes de
pessoas, espalhadas por quatro continentes. Esses pases formam a Comunidade de Pases de Lngua
Portuguesa (CPLP).

O texto do acordo prev a elaborao de um vocabulrio ortogrfico comum da lngua portuguesa


to completo quanto desejvel e to normalizador quanto possvel.

Os brasileiros tm at 31 de dezembro de 2012 para se adequar s novas regras perodo em que


esto sendo aceitas a grafia anterior e a nova. A partir de 1 de janeiro de 2013, a grafia correta da lngua
portuguesa ser, exclusivamente, a prevista no novo acordo.

Fazem parte das modificaes no sistema ortogrfico:

151
Unidade II

Letras k, w e y

As letras k, w e y passam a fazer parte de nosso alfabeto. Seu emprego, como era antes, fica restrito
a alguns casos especficos:

a) Grafia de nomes prprios estrangeiros e seus derivados:

Darwin, darwiniano, Kant, kantismo, Byron, byroniano, Kuwait, kuwaitiano etc.

b) Siglas, smbolos e mesmo palavras adotadas como unidades de medida de mbito internacional:

K (smbolo de potssio); W (smbolo de Oeste na rosa dos ventos); km (smbolo de quilmetro);


watt (unidade de medida de energia mecnica ou eltrica); K.O. (abreviatura de knockout, nocaute em
portugus); www (sigla de world wide web, a rede mundial de computadores).

c) Palavras estrangeiras de uso internacional:

Show, sexy, hacker, megabyte, download.

Trema

Pelo acordo, o trema fica abolido.

Como era Como fica


agentar aguentar
sagi sagui
freqente frequente
tranqilo tranquilo

O acordo aboliu o sinal grfico trema (), mas a pronncia das palavras que recebiam esse sinal nos
encontros gue, gui, que, qui continua a mesma. Assim, o u das palavras da lista acima deve continuar
sendo pronunciado como antes: aguentar, sagui, frequente, tranquilo. O acordo ortogrfico modifica a
grafia, mas no a pronncia das palavras.

Acentuao grfica

O hiato oo no mais recebe acento circunflexo.

Como era Como fica


enjo enjoo
vo voo
abeno abenoo
mago magoo

152
Interpretao e Produo de Textos

Verbos crer, dar, ler, ver (e derivados)

No mais se emprega o acento circunflexo na terceira pessoa do plural do presente do indicativo dos
verbos crer, dar, ler, ver (e seus derivados).

Como era Como fica


crem creem
dem deem
lem leem
vem veem
descrem descreem
relem releem

Acentuao dos ditongos de pronncia aberta u, i, i

Nas palavras paroxtonas, tais ditongos no mais recebem acento agudo (ver relao abaixo),
entretanto, ele se mantm quando em slaba final (chapu, lenis) e nos monosslabos tnicos (cu,
di).

Como era Como fica


assemblia assembleia
idia ideia
herico heroico
jibia jiboia

Acentuao das letras i e u nos hiatos

No se acentuam as letras i e u tnicas que formam hiato com a vogal anterior, quando precedidas
de ditongo.

Como era Como fica


baica baiuca
boina boiuna
feira feiura

Acento diferencial

O acento diferencial no ser mais usado nos seguintes casos:

pra (forma verbal) e para (a preposio).

pla (do verbo pelar) e pela (a unio da preposio com o artigo).

plo (o substantivo) e polo (a unio antiga e popular de por e lo).


153
Unidade II

plo (do verbo pelar) e plo (o substantivo).

pra (o substantivo) e pra (o substantivo arcaico que significa pedra), em


oposio a pera (a preposio arcaica que significa para).17

Mantm-se o acento diferencial em:

a) Pde (terceira pessoa do singular do pretrito perfeito do indicativo do verbo poder) para distinguir
de pode (terceira pessoa do singular do presente do indicativo do mesmo verbo).

b) Pr (forma verbal) para distingui-la de por (preposio).

O acento diferencial facultativo em:

frma (substantivo significando molde, recipiente) para distinguir de forma (substantivo


significando formato, feitio, ou verbo, por exemplo: Esta escola forma bons profissionais).
dmos (primeira pessoa do plural do presente do subjuntivo) para distinguir de demos (primeira
pessoa do plural do pretrito perfeito do indicativo).
e nas formas da primeira pessoa do plural do pretrito perfeito do indicativo dos verbos da primeira
conjugao. Por exemplo: ammos, cantmos, estudmos, para se diferenciar da primeira pessoa
do plural do presente do indicativo: amamos, cantamos, estudamos.

Emprego do hfen

O hfen (-) continua a ser usado nas palavras compostas, na ligao dos pronomes oblquos enclticos
(colocados depois) e mesoclticos (colocados no meio) ao verbo e na ligao dos sufixos de origem
tupi:

couve-flor, segunda-feira, entreg-lo, entreg-lo-amos, sabi-guau

No entanto, as palavras em que se perdeu a noo de composio devero ser escritas sem o hfen.

Como era Como fica


manda-chuva mandachuva
pra-quedas paraquedas

Alm disso, o acordo estabelece que se emprega hfen:

1. Nos nomes de lugares iniciados por gr e gro, por verbo e naqueles cujos elementos estejam
ligados por artigo:

17
Manual da nova ortografia. Nova Escola, So Paulo, ed. especial, ago. 2008. Disponvel em: <http://www.atica.
com.br/novaortografia/manual_nova_ortografia.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2011.
154
Interpretao e Produo de Textos

Gr-Bretanha, Gro-Par, Baa de Todos-os-Santos, Passa-Quatro, Trs-os-Montes

Os demais nomes de lugar, com exceo de Guin-Bissau, devem ser escritos sem hfen: Costa Rica,
Nova Zelndia, Porto Alegre etc.

2. Nos compostos iniciados pelos prefixos ante-, anti-, auto-, circum-, contra-, entre-, extra-, hiper,
infra-, intra-, pan-, semi-, sobre, sub-, super-, supra-, ultra- etc.:

a) Quando o segundo elemento comea por h:

anti-higinico, circum-hospitalar, pan-helenismo, pr-histria, semi-hospitalar

b) Quando o prefixo termina com a mesma vogal com que comea o segundo elemento:

anti-ibrico, auto-observao, contra-almirante

c) Com os prefixos circum- e pan-, quando o segundo elemento comea por vogal, m e n (alm do h
referido anteriormente):

circum-escolar, circum-navegao, pan-africano

d) Com os prefixos hiper-, inter-, super-, quando o segundo elemento comea por r:

hiper-requintado, inter-racial, super-realista

e) Com os prefixos tnicos acentuados graficamente ps-, pr-, pr-, quando o segundo elemento
tem vida parte:

ps-operatrio, pr-escolar, pr-britnico

No se usa hfen:

1. Quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento comea por r ou s, inclusive dobram-se
essas consoantes:

antirreumtico, antissatlite, contrarregra, cosseno

2. Quando o prefixo termina com letra diferente daquela com que se inicia a outra palavra:

antiareo, autoestrada, coeducao, intermunicipal, supersnico, superinteressante, semicrculo18

18
Adaptado de TUFANO, D. Guia prtico da nova ortografia. Disponvel em: <http://michaelis.uol.com.br/
novaortografia.php>. Acesso em: 25 abr. 2011.
155
Unidade II

Como era Como fica


anti-religioso antirreligioso
anti-semita antissemita
contra-senha contrassenha
extra-regular extrarregular
extra-escolar extraescolar
auto-aprendizagem autoaprendizagem
auto-atendimento autoatendimento

Uso de letras iniciais minsculas e maisculas

1. Escrevem-se com inicial minscula:

a) Nomes de dias, meses e estaes do ano:

segunda-feira, sbado, domingo; janeiro, fevereiro, maro; primavera, vero

b) Designaes de pessoas desconhecidas ou que no se quer nomear:

fulano, beltrano, sicrano

c) Nomes dos pontos cardeais (mas no nas abreviaturas):

norte, sul, leste, oeste

2. Escrevem-se com inicial maiscula:

a) Nomes prprios reais ou fictcios:

Humberto, Luciana, Marcos, Rapunzel, Bahia, Niteri, Atlntida, D. Quixote

b) Nomes de festas e festividades:

Natal, Pscoa, Carnaval

c) Nomes de instituies:

Senado Federal, Supremo Tribunal Federal

3. indiferente o uso de inicial maiscula ou minscula:

a) Em caracterizadores de logradouros pblicos, templos ou edifcios:

Rua Direita (ou rua Direita), Avenida Brasil (ou avenida Brasil), Catedral de Braslia ou (catedral de
Braslia), Edifcio Itlia ou (edifcio Itlia)
156
Interpretao e Produo de Textos

b) Em formas de tratamento, expresses de reverncia, designao de nomes sagrados:

Senhor Doutor Pedro da Silva (ou senhor doutor Pedro da Silva), Dona Lcia (ou dona Lcia), Santa
Genoveva (ou santa Genoveva)

c) Em nomes que indicam disciplinas ou ramos do saber:

Matemtica (ou matemtica), Astronomia (ou astronomia)

Separao silbica

O acordo mantm o princpio j utilizado de que a separao silbica deve ser feita, de modo geral,
com base na soletrao e no com base nos elementos que compem a palavra, segundo sua origem.
Em decorrncia disso, nada se altera quanto diviso silbica das palavras.

Para voc se divertir e aprender ao mesmo tempo, leia o texto a seguir, de Elida Kronig, sobre reforma
ortogrfica:

Como ser daqui pra frente?

Estive vendo as novas regras da ortografia. Na verdade, j tinha esbarrado com elas trilhares de
vezes, mas apenas hoje que as danadas receberam uma educada ateno de minha parte.

Devo confessar que no foi uma ao espontnea. Que eu me lembre, desde o ano retrasado uma
amiga me enche o saco para escrever a respeito. Escrevo com a esperana de que diminua o volume
de e-mails e torpedos que ela me envia. Em suma, que as novas regras ortogrficas a mantenham
sossegada por um bom tempo.

Cai o trema! Alis, no cai... D uma tombadinha.

Linguia e pinguim ficam feios sem ele, mas quantas pessoas conhecemos que utilizavam o trema a
que eles tinham direito?

Essa espcie de enfeiao j vinha sendo adotada por 98% da populao brasileira. Resumindo,
continua tudo como est.

Alfabeto com 26 letras? O K e o W so moleza para qualquer internauta, que convive diariamente com
Kb e Web-qualquercoisa. A terceira nova letra de nosso alfabeto tornou-se comum com os animes japoneses,
que tm a maioria de seus personagens e termos comeando com y. Essa regra tiraremos de letra.

O hfen outro que tomba mas no cai.

Aquele tracinho no meio das vogais, provocando um divrcio entre elas, vai embora. As vogais agora
convivem harmoniosamente na mesma palavra.

157
Unidade II

Auto-escola cansou da briga e passou a ser autoescola, auto-ajuda adotou autoajuda.

Agora, pasmem! O que era impossvel tornou-se realidade. Contra-indicao, semi-rido e infra-
estrutura viraram amantes, mais inseparveis que nunca. S assinam contraindicao, semirido e
infraestrutura.

Quem ser o estraga-prazer a querer afast-los?

Epa! E estraga-prazer, como fica? Deixa eu fazer umas pesquisas bsicas pela internet. Huuummm...
Achei!

Essas duas palavrinhas vivem ocupadssimas, cada uma com suas prprias obrigaes. Explicam que
a sociedade entre elas no passa de uma simples parceria. Nem quiseram se prolongar no assunto. Para
deixar isso bem claro, vo manter o trao.

Na contramo, chega um paraquedista trazendo um para-lama, um para-choque e um para-brisa


todos com tracinho.

Com alguns pontaps coloquei todos no porta-malas pra vender no ferro-velho. O paraquedista com
cara de po de mel ficou nervoso. S acalmou quando o banhei com gua-de-colnia numa banheira
de hidromassagem.

Ento os nomes compostos no usam mais hfen? No bem assim. Os passarinhos continuam com seus
nomes: bem-te-vi, beija-flor. As flores tambm permanecem como esto: bem-me-quer, amor-perfeito.
Por se achar a tal, a couve-flor recusou-se a retirar o tracinho e a delicada erva-doce nem est sabendo do
que acontece no mundo da Lngua Portuguesa e vai continuar adotando o tracinho.

As cores apelaram com um papo estranho sobre estarem sofrendo discriminaes sexuais e conseguiram
na Justia o direito de gozarem com o tracinho. Ficou tudo rosa-choque, vermelho-acobreado, lils-mdio...
Porm, fique atento: cor de vinho, cor de burro quando foge.

As donas de casa quando souberam da vitria da comunidade GLS, criaram redes de novenas
funcionando por 24h, para que a feira no se unisse sem cerimnia aos dias da semana. Foram atendidas
pelo prprio arcanjo Gabriel que fez uma apario numa das reunies, dando ordens ao estilo Tropa de
Elite:

Deixe o trao!

Deu certo. As irms segunda-feira, tera-feira e as demais, para no carem em pecado mantiveram
o hfen.

Os mdicos e militares fizeram um lobby, gastaram uma nota preta pra manter o tracinho. Alegaram
que sairia mais caro mudar os receiturios e refazer as fardas: mdico-cirurgio, tenente-coronel,
capito-do-mar.
158
Interpretao e Produo de Textos

Uma pequena pausa para a cultura, ocasionada pelo trauma de ler muitas prolas do Enem e
Vestibular. S por precauo...

Almirante Barroso no tem tracinho. Assim era chamado Francisco Manuel Barroso da Silva. Sim, o
cara era militar da Marinha Imperial. Foi ele quem conduziu a Armada Brasileira vitria na Batalha do
Riachuelo, durante a Guerra da Trplice Aliana.

No centro do Rio de Janeiro h uma avenida com seu nome (Av. Almirante Barroso). Na praia do
Flamengo, h um monumento, obra do escultor Correia Lima, em cuja base se encontram os seus restos
mortais. Fim da pausa!

Acho que algumas regras pra este tracinho, at que simptico, foram criadas por algum
carioca apaixonado. Ser que Thiago Velloso e Andr Delacerda tiveram alguma participao no
acordo?

O R no incio das palavras vira RR na boca do carioca. No pronunciamos R (como em papiro, aresta
e arara), pronunciamos RR (como em ferro, arraso e arremate). Falamos rroldana e no roldana, rrodopio
e no rodopio, rrebola e no rebola.

Pois bem, numa das tombadas do hfen, o R dobra e deixa algumas palavras com jeito carioca de ser:
autorretrato, antirreligioso, suprarrenal. Ser fcil lembrar desta regra. Se a palavra antes do tracinho
(nem vou falar em prefixo) terminar com vogal e a palavra seguinte comear com R, s lembrar dos
simpticos e adorveis cariocas.

Mais uma coisinha: a regra tambm vale para o S. Fico at sem graa de comentar isso, pois todos
sabemos que o S um invejoso que gosta de imitar o R em tudo. Ante-sala vira antessala, extra-seco
vira extrasseco e por a vai...

Quem segurou mesmo o hfen, sem deix-lo cair, foram os prefixos terminados em R, que acompanham
outra palavra iniciada com R, como em inter-regional e hiper-realista. Estes tracinhos continuaro a
infernizar os cariocas.

O pr-natal esteve to feliz, rindo o tempo todo com o ps-parto de uma camela pr-histrica, que
ningum teve coragem de tocar no tracinho deles.

J o pr-, um chato por natureza, foi completamente ignorado. S assim manteve o tracinho:
pr-labore, pr-desmatamento.

A vogal e o h no chegaram a nenhum acordo, mesmo com anos de terapia. Permanecem de cara
virada um pro outro: anti-higinico, anti-heri, anti-horrio. Estou comeando a achar que as vogais
so semi-hostis com as consoantes...

Ao contrrio das demais, as vogais gmeas decidiram complicar e andar na contramo da simplificao.
Daqui pra frente passaro a adotar hfen: arqui-inimigas, anti-inflacionria, micro-ondas, anti-ibrico,
159
Unidade II

anti-inflamatrio, micro-organismo. Quando no forem gmeas, podero sentar-se mesma mesa:


extraescolar, autoaprendizado, antiareo...

Uma inovao interessante:

Podem esquecer o mixto, ele foi sumariamente despedido. Puseram o misto no lugar dele.

Fiquei bolada com essa exceo: o prefixo co no usa mais hfen. Seguiu os exemplos de cooperao
e coordenado, que sempre estiveram juntas. No estou me lembrando no momento, de nenhuma palavra
que use co com tracinho. Ser que sempre escrevi errado?

Quem diria que o cru suplantaria a ideia!? Teremos que nos acostumar com as ideias heroicas sem
o acento agudo. Rasparam tambm o acento da pobre coitada da jiboia.

O acento do cru continua porque tem o U logo depois. Pelo menos a assembleia perdeu alguma coisa...

Vejo ao longe aproximar-se um bem-vindo amigo. Ele no um bem-nascido, mas foi bem-criado
e tem bom humor. No vejo a hora de dar-lhe um abrao sem-cerimnia, mesmo que os passantes me
considerem uma sem-vergonha.19

8 escrita e produo CRIATIVA E acadmica

8.1 As escritas

A escrita apenas um entre inmeros outros sistemas de linguagem visual, como os desenhos, a
mmica, sinais martimos e terrestres, gestos, e considerada a primeira revoluo tcnico-lingustica.20

Existem:
a escrita pictogrfica, que consiste em gravuras e pinturas rupestres
datadas desde o perodo paleoltico.
a escrita mnemnica, que consiste na combinao de fios de l de
cores diversas e colares de conchas justapostas (at seis, sete mil
conchas), conjunto que uma representao simblica de ideias e seu
encadeamento.
a escrita fontica, que consiste na possvel substituio do som,
utilizando um alfabeto que tem em vista sua estrutura fonolgica,
isto , binria vogal/consoante.
19
KRONIG, E. Como ser daqui pra frente? 18 fev. 2009. Disponvel em: <http://comoseradaquiprafrente.blogspot.
com/>. Acesso em: 21 abr. 2011.
20
A segunda revoluo a proliferao de gramticas e dicionrios nos sculos XV e XVI. Por causa das
colonizaes, os europeus se preocuparam em formalizar suas lnguas para os colonizados e passaram a escrever
gramticas e dicionrios.
160
Interpretao e Produo de Textos

a escrita ideogrfica, que consiste em sinais diferentes para representar


objetos e ideias.

Cada escrita independente da outra. Nada indica que a escrita ideogrfica tenha sido inventada
pelos chineses, que no mais se satisfaziam com a escrita pictogrfica, e menos ainda que a escrita
fontica tenha nascido de uma conscincia da insuficincia dos sistemas ideogrficos. No h,
entre os sistemas de escrita, sucesso no tempo. A prova que, at hoje, sistemas pictogrficos e
ideogrficos se mantm. importante, por conseguinte, abandonar de uma vez para sempre a ideia
de uma evoluo da escrita: h evoluo dentro de cada sistema, mas no de um sistema para outro
(MARTINS, 2002).

A escrita, ento, no depende de um processo que se poderia julgar natural, de evoluo ou de


mutao: ela nasce de uma revoluo, de uma des-ordem, da subverso das normas tradicionais da
comunicao social.

Exemplo de aplicao

A revista Galileu, de janeiro de 2006, tira dvidas do leitor sobre os hierglifos modernos. Analise
os smbolos apresentados pela revista:

Etiqueta de roupa

Figura 6

161
Unidade II

a) Indique a funo dos smbolos.

b) Relacione os smbolos com os hierglifos.

c) Discuta a existncia dos smbolos quanto necessidade atual de economia e eficcia da


comunicao.

Comentrio

a) Os smbolos das etiquetas de roupa servem para informar ao dono da roupa como lidar com
ela: se deve passar a ferro ou no; se deve lavar com sabo em p ou lavar a seco; se pode usar
alvejante ou no, entre outras informaes. Para ajud-lo, caro aluno, reproduzo os significados
desses smbolos novos.

Figura 7

b) A relao que pode ser feita entre os smbolos da etiqueta de roupa e os hierglifos que ambas
as escritas usam gravuras para informar.

c) As informaes sobre as roupas ampliaram-se porque a tecnologia aumentou tambm. Temos,


agora, mais produtos, mquinas e mtodos de limpeza; temos mais tipos de tecido. O sistema
parecido com hierglifo o nico modo que d conta de passar muitas informaes em um
suporte to pequeno quanto a etiqueta.
162
Interpretao e Produo de Textos

8.2 As escritas no tempo

No decorrer dos sculos, a humanidade, para poder gravar a escrita, lanou mo de diversos materiais,
desde folhas at placas de chumbo. Entre esses materiais temos:

Papiro Dividia-se com uma agulha a haste do papiro, cuja largura era a de um brao, em folhas
delgadas. A folha do interior do tronco era considerada a melhor e assim sucessivamente na ordem das
camadas superpostas.

Moldavam-se as diferentes espcies sobre uma mesa umedecida com gua, que exercia o papel
de cola. Primeiro, colavam-se as folhas em todo o comprimento do papiro, aparando-as apenas
em cada extremidade, em seguida eram colocadas transversalmente outras camadas em forma de
trama. Prensava-se o conjunto, obtendo uma folha que era secada ao sol. As folhas eram reunidas
colocando-se em primeiro lugar as melhores e assim sucessivamente.

O texto era escrito em colunas sobre cada folha, e cada uma destas era colada, pela extremidade,
seguinte, de forma que se obtinham fitas de papiro com at 18 metros de comprimento. Enroladas em
torno de um bastonete (umbilicus), constituam um rolo.

Pergaminho Tomava-se, ordinariamente, a pele de carneiro, mas utilizavam-se apenas as pelculas


menos rudes, situadas entre a epiderme e a carne. Escolhida a pele, ela era deixada bem limpa, afinada
com uma navalha, tirava-se a gordura e era polida para eliminar pelos, manchas e rugosidades. Como
o papiro, o pergaminho era escrito de um lado s, at que se descobriu que as duas faces poderiam ser
utilizadas.

O rolo de papiro e o de pergaminho mantiveram-se at o sculo 300 d.C., quando apareceu o cdex
j com o aproveitamento das duas faces do pergaminho , grupo de folhas de pergaminho manuscritas,
unidas em uma espcie de livro, por cordes e/ou costura e encadernao de placas de madeira com
pedras preciosas. Apenas nos sculos XIV e XV a encadernao passou a ser de couro.

Papel Aproximadamente 105 a.C., o papel foi inventado na China. S a partir de 1450 d.C. ele
passou a ser produzido no Ocidente.

A matria-prima para produzir papel era, no incio, originada de trapos de seda, de linho e de
algodo. O processo de produo compreendia moinho acionado por fora hidrulica. A roda punha em
movimento alguns pesados piles que fragmentavam as matrias-primas e as reduziam a um mingau
claro a pasta de papel , que era derrubado numa cuba. Nessa cuba era mergulhada uma frma de
lato, que recolhia certa quantidade de pasta.

Depois de seca, essa pasta era transformada em folha de papel. Eliminava-se o excesso de gua e
acrescentava-se um pouco de cola para que o papel ficasse firme para receber a escrita.

Em 1798, um francs inventou a primeira mquina de fazer papel, com pouca relao
com as mquinas modernas. A fabricao moderna usa a madeira como fonte e abrange
163
Unidade II

trs aspectos: a celulose, cuja fonte mais rica o pinheiro; a transformao da celulose
em pasta de papel, com produto qumico ou por mquina; e a transformao da pasta de
papel no papel propriamente dito, quando a pasta mergulhada em gua e recebe cola para
impermeabilizao.

Exemplo de aplicao

1) Compare o papiro ou o pergaminho com determinadas cartas de fs para seus dolos.

Comentrio

Voc, provavelmente, j viu cartas imensas escritas por fs para seus dolos. Eles colam a ponta de
uma folha na outra e a tira dessas folhas de papel enrolada em formato de pergaminho.

2) Um desafio interessante: apresente uma pesquisa, cujo resultado esteja no formato de um


pergaminho. Pode-se pesquisar, por exemplo, a histria da caneta (caneta de junco, caneta de pena de
ganso, caneta com bico de ao, caneta esferogrfica).

Comentrio

Mesmo que voc no tenha elaborado um material que lembre o formato de um pergaminho para
apresentar sua pesquisa, ter sido interessante saber mais sobre a histria da caneta, se voc escolheu
o tema que sugerimos, ou sobre outro assunto qualquer de sua escolha.

Independentemente do material (papiro, pergaminho, papel) em que a escrita gravada, o


texto escrito mo recebe a designao de manuscrito. Assim, so considerados manuscritos
todas as inscries feitas de prprio punho pelo autor, seja em papel, pedra, marfim, bronze,
mrmore ou outro material.

A era dos manuscritos , sem dvida, a Idade Mdia. Entre os sculos V e XV, que vai dos primeiros
conventos at a inveno da imprensa por Gutenberg, os monges copiavam textos. Ocorria tambm o
fato de um mesmo texto ser copiado por vrios monges.

Ao terminar a cpia, o monge acrescentava algumas linhas a isso se d o nome de subscrio,


colofo, nota final , em que fazia referncia obra e fornecia indicaes sobre a autoria, a transcrio,
a impresso, o lugar e a data de feitura e, s vezes, at fazia um comentrio. Um copista do sculo XII
escreveu em seu colofo:

Se no sabem o que o ato de escrever, podem pensar que no uma


coisa especialmente difcil... Deixem-me dizer que uma tarefa rdua:
estraga sua viso, entorta sua coluna, espreme seu estmago e suas
costelas, belisca sua lombar e faz seu corpo todo doer... (MARTINS,
2002, p. 83).
164
Interpretao e Produo de Textos

Para esse copista, o ato de escrever envolvia tanta atividade fsica quanto a de outros trabalhos pesados,
e essa atividade no podia ser prontamente recompensada pelo seu contedo espiritual e imaterial.
Alm disso, o instrumento que usava, a caneta de pena de ganso, tambm precisava de manuteno
regular remodelar sua ponta com uma faca e a tinta tinha de ser carregada constantemente. Esse
instrumento de escrita, to simples, pode ter aumentado ainda mais a percepo do copista quanto
inegvel materialidade da escrita.

Saiba mais

Assista ao filme O nome da rosa, baseado na obra de Umberto Eco,


escritor italiano contemporneo, que criou uma histria ocorrida no incio
do sculo XIII em um mosteiro. Observe no filme os monges copistas,
a biblioteca e o acesso ou no aos livros no mosteiro nesse perodo da
histria.

O nome da rosa. Dir. Jean-Jacques Annaud, 131 minutos, 1986.

No Brasil Colnia tambm existiram monges copistas. No sculo XVI, os livros eram escassos; os
jesutas copiavam obras mo para os alunos estudarem e solicitavam pedidos de remessas. Os livros
mais procurados eram os religiosos: manuais de confisso, catecismo, sobre a vida de santos, entre
outros, e os clssicos literrios com trechos (inconvenientemente) expurgados.

Havia tambm circulao de livros pouco ortodoxos. Por exemplo, em 1574, em Ilhus, o italiano
Rafael Olivi tinha uma livraria de 27 volumes que fugiam dos padres. Entre eles, livros de sorte e obras
proibidas como Diana, de Jorge Montemor, e Metamorfoses, de Ovdio.

No sculo XVII, o panorama no se alterou muito, continuando em alta as obras religiosas. Entre
1578 e 1700, existiam cerca de 55 ttulos, em sua maior parte obras devocionais, sendo a Bblia, acredite,
praticamente ignorada, uma vez que havia sido proibida pela Igreja em 1564 com o propsito de manter
o acesso s palavras sagradas restrito ao clrigo para evitar interpretaes heterodoxas.

Alm da Bblia, relatos sobre a populao e as riquezas do territrio brasileiro eram igualmente
proibidos por serem considerados sigilosos informaes estratgicas para o exerccio da funo do
governo portugus. Com relao aos livros proibidos, eram mantidos em estantes fechadas com chave
e com rede de arame para no serem vistos nem lidos por pessoas no autorizadas pela Coroa. O
desembargador Tom Joaquim Gonzaga, no Rio de Janeiro, gabou-se em pblico de possuir um livro
proibido e foi denunciado Inquisio em 1778.

De forma geral, as bibliotecas particulares eram espao de obedincia censura estabelecida entre
o Santo Ofcio, o Desembargo do Pao e o Ordinrio Eclesistico, respectivamente, as autoridades
inquisitorial, real e episcopal, mas tambm de contestao, pois desde o sculo XVI era possvel adquirir
obra proibida. Na Colnia, livros e jornais eram facilmente contrabandeados.
165
Unidade II

Exemplo de aplicao

1) A proposta consiste na leitura do texto a seguir, de Dias Gomes (2005), verificando:

a) A censura de livro no Brasil Colnia.

b) A relao entre leitura/alfabetizao e a mulher.

O santo inqurito

Visitador (lendo) Por merc de Deus e por delegao do Inquisidor-mor em estes reinos e
senhorios de Portugal, eu, Visitador do Santo Ofcio, a todos fao saber que, num prazo de quinze
dias, devem os culpados de heresia ou que souberem que outrem o est, vir declarar a verdade. Os
que assim procederem, ficaro isentos das penas de morte, crcere perptuo, desterro e confisco.
E para que as sobreditas cousas venham notcia de todos e delas no possam alegar ignorncia,
mando passar a presente carta para ser lida e publicada neste lugar e em todas as igrejas desta
cidade e uma lgua em roda. Dada na cidade da Paraba, aos dezoito do ms de julho, do ano do
nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1750.

()
Notrio (Entra com a pilha de livros. Como se encontrasse uma bomba.) Livros!
Branca Meus livros! So meus! Que vai fazer com eles?
Visitador Sabe ler?
Branca Sei.
Visitador Por qu?
Branca Para poder ler.
Visitador Mau.
Branca No so livros de religio, so romances, poesias
Notrio Amadis de Gaula! (Passa o livro ao Visitador)
Visitador Amadis!
Branca Estrias de cavalaria. Me emocionam muito.
Notrio As metamorfoses. (Passa o livro ao Visitador)
Visitador Ovdio. Mitologia. Paganismo.
Notrio Eufrsina. (Repete o jogo)
Visitador Tambm!
Notrio- E uma Bblia em portugus!
Visitador Em portugus!?
Branca Foi meu noivo quem me trouxe de Lisboa. Vejam que tem uma dedicatria dele para mim.
Visitador Estou vendo
Branca Fiquei muito contente porque, como no sei ler latim, pude ler a Bblia toda e j o fiz vrias
vezes.

166
Interpretao e Produo de Textos

Visitador (Entrega os livros ao Notrio.) Todos esses livros so reprovados pela Igreja; vamos lev-los.
Branca Tambm a Bblia?!
Notrio Em linguagem verncula!
Branca Mas a Bblia!
Visitador Em linguagem verncula.

Comentrio

a) Pelo fragmento da obra literria, percebemos que na poca da histria havia censura no
Brasil em relao a livros. No era qualquer obra que podia ser lida. No caso da Bblia, por exemplo,
apenas o clero podia ter acesso a ela e l-la. A personagem acaba sendo presa por possuir e ler
obras como a Bblia e livros da Antiguidade, era antes da Crist, considerados, pela censura,
pagos.

b) interessante a obra de Dias Gomes. Ela nos mostra que nem todos no Brasil colnia eram
alfabetizados, nem todos tinham acesso a livros e nenhuma mulher tinha acesso a eles.

2) Enigma: o que estes livros tm em comum?

Bblia.
Metamorfoses, de Ovdio.
Os versos satnicos, de Salman Rushdie.
Harry Potter, de J. K. Rowling.

Para encerrar o tema escrita e suas repercusses no tempo, vamos agora tratar do tipo mais recente:
o hipertexto.

Hipertexto uma escrita sem comeo, meio e fim previamente estabelecidos. Caracteriza-se pela
no linearidade e pela interatividade, que possibilitam ao leitor comear a ler de qualquer ponto.

A passagem de um n (link) a outro ocorre de forma no linear, devido ao conjunto de ns (elementos)


de informao disponvel, que se constitui em pargrafos, pginas, imagens, palavras, e ligao entre
esses ns, por meio de notas, referncias, indicadores e botes.

O hipertexto tem, enfim, princpios de:

Metamorfose: o hipertexto est constantemente em construo, extenso, recomposio, sendo


redesenhado.
Heterogeneidade: o hipertexto tem conexes, sons, imagens, palavras.
Multiplicidade: qualquer n ou conexo pode se revelar por ser composto por rede.
167
Unidade II

Com as incontveis informaes sobre tudo quanto tema e fonte, o leitor precisa definir bem o
objetivo de sua leitura, pois ser ele que o conduzir e o levar a selecionar e avaliar o hipertexto. O
recorte temtico, a seleo de informao e sua sequncia fazem o texto resultado da interao do
leitor com a nova escrita.

Na escrita hipertextual, e-mails e chats so o espao de proliferao hieroglfica ps-moderna,


conforme o estudioso Henriques. No so mais suficientes as abreviaes de palavras ( para no, p/
em lugar de para, tb para tambm etc.), nem a supresso dos acentos e sinais de pontuao. As pessoas
que escrevem no meio virtual inovam os smbolos grficos da comunicao e os transformam em novos
hierglifos, como:

#:-) smbolo usado para dizer que est feliz e com os cabelos em p.
;-) smbolo usado para dizer que algo no deve ser levado a srio.
<:^) smbolo usado para significar palhao. O < o chapu e o ^ o nariz do palhao.

8.3 Produo criativa

A nossa leitura e produo de textos no se restringem a textos informativos, tcnicos, cientficos, cuja
funo primordial informar e/ou defender uma tese. Ns lemos textos de outras naturezas; gostamos
de msica e memorizamos as letras mais significativas para ns; assistimos a filmes, novelas, sries e
acompanhamos histrias divertidas, dramticas, de ao, de suspense etc., a fim de atender necessidade
atvica que possumos; lemos contos, poemas (e os mais talentosos criam poemas), histrias em quadrinhos;
inventamos piadas; somos influenciados por anncios publicitrios benfeitos e criativos.

Enfim, o nosso mundo se enriquece com tanta variedade de textos! Apesar de diversos, esses textos
tm algo em comum: a esttica. A esttica envolve o abandono do conceito para dar lugar fora
imaginativa e sensibilidade (HERMAN, 2005, p. 35).

Observao

A palavra esttica de origem grega aisthesis, aistheton e significa


sensao, sensibilidade, percepo ou conhecimento pelos sentidos. A
partir do sculo XVIII, esttica passa a ser uma disciplina filosfica, ao lado
da lgica, da metafsica e da tica.

A esttica da sensibilidade representa a expresso do tempo contemporneo e vem substituir a


repetio e a padronizao. Estimula a criatividade, o esprito inventivo, a curiosidade pelo inusitado21
e a afetividade, para facilitar a constituio da identidade, para a pessoa ser capaz de suportar a
inquietao, conviver com o incerto, o diferente e o imprevisvel.

Nesse sentido, a criatividade, o esprito inventivo e a curiosidade so elementos essenciais, tanto para a leitura e
21

a produo de textos estticos (literrios, piadas etc.) quanto para a de textos cientficos.
168
Interpretao e Produo de Textos

A esttica da sensibilidade facilita o reconhecimento e a valorao da diversidade cultural gneros,


etnias, regies, grupos sociais. Nesse sentido, ela no se dissocia das dimenses ticas e polticas, uma
vez que deseja promover a crtica vulgarizao da pessoa, s formas estereotipadas e reducionistas de
expressar a realidade, s manifestaes que banalizam e brutalizam as relaes pessoais.

Abordar a esttica relacion-la com a conscincia transpessoal: intuio, sensibilidade, criatividade


e potencialidades, a fonte mesma da realidade da pessoa. O crescimento criativo, at o momento,
raramente foi reconhecido como objetivo de educao, aprendizado. Cinco operaes mentais j foram
classificadas em nvel de importncia pela nossa sociedade, resultando:

Operao mental Funes %


Reconhecer, perceber, ser cnscio de, travar
Cognitivo 70,7%
conhecimento, familiarizar-se etc.
Seguir normas comportamentais, atitude correta, soluo
Convergente 18,7%
correta etc.
Lembrar-se, adquirir conhecimento distinto, aprender
Memria 5,3%
completamente.
Desenvolver pensamento crtico, avaliar, selecionar,
Avaliativo 3,6%
comparar, julgar, decidir etc.
Desenvolver pensamento independente, construtivo,
Divergente 1,7%
criativo, liberal etc.

Esse resultado discutido, hoje, porque os valores esto mudando. Se antes, no mercado de trabalho,
o candidato ideal era aquele com o pensamento convergente mais desenvolvido, as empresas esperam,
agora, uma pessoa que seja flexvel e consiga resolver problemas. Em outras palavras, a pessoa que
tenha, tambm, o pensamento divergente desenvolvido.

na operao mental divergente que se encontra a criatividade. Esta, para Kneller (1973), abrange
capacidades como a de resolver problemas, consiste grandemente em rearranjar o que se sabe, a
fim de achar o que no se sabe, para pensar criativamente, passando a olhar de maneira nova o que
normalmente se considera assentado.

O paradoxo da criatividade que, para pensar com originalidade, preciso se familiarizar com as
ideias j existentes. O pensamento criativo considerado como um processo de perceber lacunas ou
elementos faltantes perturbadores nas ideias alheias.

Segundo Kneller, uma pessoa criativa possui algumas das seguintes caractersticas:

1. Inteligncia: a pessoa tem capacidade mental de raciocinar, planejar, resolver problemas, aprender,
abstrair, compreender ideias.

2. Conscincia: no sentido de estar informada e cnscia. A pessoa criativa mais sensvel do que
o comum ao seu meio e observa coisas que outros deixam escapar, como cores, texturas, reaes
pessoais, pormenores de noticirio e assim por diante.
169
Unidade II

3. Fluncia: a pessoa produz mais ideias do que uma pessoa comum sobre determinado assunto.

4. Flexibilidade: a pessoa criativa flexvel, tentando variadas abordagens.

5. Originalidade: um trao que abrange capacidades como a de produzir ideias raras, resolver
problemas, usar coisas ou situaes de modo no costumeiro.

6. Elaborao: a pessoa criativa no apenas tem ideias, mas as segue.

7. Ceticismo: a pessoa criativa tende a ser mais ctica em face das ideias aceitas e menos perspicaz
diante das novas. Sua credulidade em relao a novas ideias a predispe aos riscos intelectuais da
descoberta.

8. Persistncia: a criatividade exige persistncia, uma vez que tem de ser sustentada por longos
perodos de tempo e de enfrentamento de obstculos.

9. Humor: capacidade de reagir espontaneamente discordncia de sentido ou implicao.

10. Inconformismo: a pessoa criativa aberta experincia, tem ideias originais e afinada com as
ideias dos outros, a fim de no perder contato com o pensamento da sociedade.

11. Autoconfiana: a pessoa tem confiana no valor de seu trabalho e dotada de inabalvel f,
no naquilo que fez, mas no que pode, com tempo e sorte, realizar.

Ainda segundo Kneller (1973), cinco fases so reconhecidas no processo criador: primeira apreenso,
preparao, incubao, iluminao e verificao. Os processos so complexos e entremeados uns nos
outros, de forma que no possvel separ-los em uma simples sequncia. O processo criativo se passa
durante um perodo de tempo, o que justifica as fases.

Primeira apreenso Em geral, o momento da criao ocorre somente depois de demorada


preparao consciente. Antes, porm, nasce o germe da criao. O criador tem de ter o seu primeiro
insight, que a apreenso de uma ideia a ser realizada ou de um problema a ser resolvido.

Preparao Essa fase constitui rigorosa investigao das potencialidades da ideia original. O
criador l, anota, discute, indaga, coleciona, explora. Prope possveis solues e pondera suas foras
e fraquezas. Nesse sentido, para pensar com criatividade, o criador precisa familiarizar-se com ideias
alheias. Assim, o criador tanto pode sentir-se impedido devido aos xitos e malogros alheios quanto
ansiar por exceder o outro.

A apreenso original d direo e propsito explorao do criador, ainda que aquela viso original
possa transformar-se completamente durante o processo exploratrio. O processo de preparao deve
ser apenas um meio para atingir como fim o lanamento da obra de criao prpria e, tambm,
deve seguir ou acompanhar a efetiva preparao no meio criador, requerendo, por exemplo, a tcnica. O
criador deve dominar os meios de exprimir sua ideia criadora, submetendo-se disciplina de sua arte.
170
Interpretao e Produo de Textos

Incubao Depois de o consciente realizar sua tarefa, o inconsciente entra em ao e, sem limites,
desimpedido pelo intelecto literal, faz as inesperadas conexes que constituem a essncia da criao.

O perodo de incubao pode ser longo ou curto, mas deve existir. Esse perodo pode ser arriscado e
desanimador, a ponto de o criador perder de vista completamente o seu alvo.

Iluminao O momento da iluminao leva o processo de criao a um clmax. De repente o


criador percebe a soluo de seu problema. Alm de imprevisvel, a inspirao tambm aparentemente
autocertificvel, pois a pessoa criadora se acha convencida da correo de sua intuio antes de verific-la
logicamente. Ainda mais, a inspirao uma das mais intensas alegrias que o homem conhece. Ao firmar
a viso que durante tanto tempo lhe fugiu, o criador consumido pela exaltao. De fato, a inspirao
de tal modo sbita e todo-poderosa, que o criador pode at acreditar que ele detm um poder maior do
que ele tem mesmo.

A inspirao, na verdade, fruto de uma intensa concentrao exigida pelo pensamento criador.

Verificao A ltima fase consiste na verificao ou reviso do processo criador. O intelecto e o


julgamento tm de terminar a obra que a imaginao iniciou. O criador precisa distinguir o que vlido
do que no , pois a iluminao notoriamente falvel.

Aps se identificar emocionalmente com sua obra no momento da iluminao, o criador agora recua
e imagina as reaes daqueles com quem intenta comunicar-se. Antes de terminar sua obra, poder ele
solicitar crtica.

Tentativas de verificao podem levar a novas intuies, mesmo de natureza inteiramente diversa. A ltima
verso de um poema, por exemplo, talvez contenha apenas uma ou duas frases da inspirao original, pois no
curso da reviso o poeta encontrou intuies outras e at ultrapassou sua primeira concepo.

Em suma, o ciclo criador parece contar com cinco fases que, apesar de logicamente separadas, s
raramente se mostram muito distintas na experincia. Primeiro h um impulso para criar.22 Segue-se a
este um perodo, frequentemente demorado, em que o criador recolhe o material e investiga diferentes
mtodos de trabalh-lo. Vem a seguir um tempo de incubao, no qual a obra criadora procede
inconscientemente. Ento surge o momento da iluminao, e o inconsciente anuncia, de sbito, os
resultados de sua luta. H, por fim, um processo de reviso, em que os dados (do problema) da inspirao
so conscientemente elaborados, alterados e corrigidos.

A criatividade inerente a todos os seres humanos e pode ser desenvolvida com a prtica. Vejamos,
por exemplo, o caso da redao que, supostamente, foi feita por uma aluna da Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE) e circula pela internet. A redao criativa porque a aluna conhece muito bem o
assunto tratado, que a gramtica da lngua portuguesa.

22
Neste ponto, reforo que a criao pode ser um poema, uma pintura, uma letra de msica, textos artsticos,
porm, toda produo exige o processo criador: TCC (Trabalho de Concluso de Curso), tese de doutorado, a construo de
um prdio em local inusitado e qualquer outro que envolva pesquisa, ideia nova.
171
Unidade II

O caso do substantivo e do artigo

Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo
masculino, com um aspecto plural, com alguns anos bem vividos pelas preposies da vida. E o artigo
era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal.
Era ingnua, silbica, um pouco tona at; ao contrrio dele: um sujeito oculto, com todos os vcios de
linguagem, fantico por leituras e filmes ortogrficos. O artigo feminino deixou as reticncias de lado e
permitiu esse pequeno ndice. De repente, o elevador para, s com os dois l dentro: timo, pensou o
substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinnimos.

Pouco tempo depois, j estavam bem entre parnteses, quando o elevador recomea a se movimentar.
S que em vez de descer, sobe e para justamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexo
verbal e entrou com ela em seu aposto. Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silncio, ouvindo
uma fontica clssica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com
gelo para ela.

Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele comeou outra vez a se insinuar. Ela foi
deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo. Todos
os vocbulos diziam que iriam terminar num transitivo direto.

Comearam a se aproximar, ela tremendo de vocabulrio, e ele sentindo seu ditongo crescente.
Se abraaram numa pontuao to minscula, que nem um perodo simples passaria entre os
dois.

Estavam nessa nclise quando ela confessou que ainda era vrgula. Ele no perdeu o ritmo e sugeriu
uma ou outra soletrada em seu apstrofo. claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava
totalmente oxtona s vontades dele, e foram para o comum de dois gneros. Ela totalmente voz passiva,
ele voz ativa.

Entre beijos, carcias, parnimos e substantivos, ele foi avanando cada vez mais. Ficaram uns minutos
nessa prclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia tomando conta.

Estavam na posio de primeira e segunda pessoas do singular: ela era um perfeito agente da passiva,
ele todo paroxtono, sentindo o pronome do seu grande travesso forando aquele hfen ainda singular.
Nisso, a porta abriu repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifcio! Ele tinha percebido tudo, e entrou
dando conjunes e adjetivos nos dois, que se encolheram gramaticalmente, cheios de preposies,
locues e exclamativas. Mas ao ver aquele corpo jovem numa acentuao tnica, ou melhor, subtnica,
o verbo auxiliar diminuiu seus advrbios e declarou o seu particpio na histria. Os dois se olharam e
viram que isso era melhor do que uma metfora por todo o edifcio. O verbo auxiliar se entusiasmou e
mostrou o seu adjunto adnominal.

Que loucura, minha gente! Aquilo no era nem comparativo: era um superlativo absoluto. Foi se
aproximando dos dois, com aquela coisa maiscula, com aquele predicativo do sujeito apontado para
seus objetos. Foi chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo,
172
Interpretao e Produo de Textos

propondo claramente uma mesclise-a-trois. S que as condies eram estas: enquanto abusava de
um ditongo nasal, penetraria o gerndio do substantivo e culminaria com um complemento verbal no
artigo feminino.

O substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo indefinido depois dessa, pensando em
seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na histria: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo,
jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel lngua portuguesa, com o artigo feminino
colocado em conjuno coordenativa conclusiva.23

Lembra-se, caro aluno, da letra da msica Tropicana, de Alceu Valena e Vicente Barreto? outro
texto que podemos considerar criativo. Transcrevo a letra:

Da manga rosa quero gosto e o sumo


Melo maduro, sapoti jo
Jabuticaba teu olhar noturno
Beijo travoso de umbu caj
Pele macia carne de caju
Saliva doce, doce mel de uruu
Linda morena, fruta de vez temporana
Caldo de cana caiana
Vem me desfrutar
Linda morena
Fruta de vez temporana
Caldo de cana caiana
Vou te desfrutar
Morena Tropicana
Eu quero teu sabor
Ai, ai, ioi, ioi...24

Os autores fazem a descrio de uma mulher. Eles poderiam seguir o padro e escrever que a mulher
morena, tem cabelos negros; que ela beija bem (ou gostoso), tem pele macia. No entanto, eles fugiram
dessa descrio repetida e sem novidade e criaram um texto criativo ao descrever a mulher por meio do
sentido do paladar. Mesmo quando falam da pele macia, ela associada, de forma no usual, carne
de caju.

Exemplo de aplicao

Para voc sentir o gostinho de produzir de forma criativa, faa as atividades seguintes na ordem em
que elas se apresentam.

23
JBWIKI. O caso do substantivo e do artigo. Disponvel em: <http://www.brasilwiki.com.br/noticia.php?id_
noticia=126>. Acesso em: 25 abr. 2011.
24
VALENA, A. e BARRETO, V. Tropicana (Morena tropicana). Disponvel em: <http://letras.terra.com.br/alceu-
valenca/98324/>. Acesso em: 2 mai. 2011.
173
Unidade II

1) Exerccio de desbloqueio da criatividade: para cada um dos pares dados, elabore uma lista (o mais
longa possvel) de tudo o que existe em comum entre eles:

a) um relgio e um avio
b) um livro e uma casa
c) um cachorro e uma lmpada
d) uma pasta de dentes e um lpis
e) uma carta e o Hino Nacional
f) um pas e um escritrio

Comentrio

No existe resposta padro para as atividades anteriores sobre criatividade.

Essa atividade tem a funo de desbloquear sua criatividade e uma demonstrao de que voc tem
pensamentos flexveis ao relacionar seres to dspares. Voc pode ter elencado, por exemplo:

a) relgio e avio: so mecnicos, em sua composio so usados materiais duros, lidam com o
tempo, so teis etc.
b) livro e casa: contam uma histria, podem ser abertos, tm donos, so criaes do homem etc.
c) cachorro e lmpada: ajudam a achar o caminho, guiam etc.
d) pasta de dentes e lpis: tm fim, tm formato parecido (retangular), tm contedo, tm
cheiro etc.
e) carta e Hino Nacional: so textos, so organizados, tm um destinatrio, tm informao etc.
f) pas e escritrio: tm organizao, tm hierarquia, tm jogo de poder, tm deveres e direitos etc.

2) Pergunta-resposta: a resposta deve ser completa, contendo a prpria pergunta.

De que cor a festa? R.: A cor da festa ...


De que cor a felicidade?
Como cheira a lembrana?
Como cheira a cor verde?
Como soa um amendoim aberto ao com-lo?
Qual o sabor do vermelho?
Qual a temperatura do marrom?
Qual a sensao ttil do prazer?
Qual o sabor do mrmore?
Qual o barulho de uma estrela cadente?
174
Interpretao e Produo de Textos

Comentrio

A resposta da segunda atividade muito mais imprevisvel. Ser que ao completar a primeira frase,
por exemplo, assim: a cor da festa amarela e preta, ns dois estaramos tendo a mesma ideia? A
possibilidade de voc completar a frase com as mesmas palavras amarela e preta existe, mas ser que
voc escreveu isso?

J perguntas do tipo Como cheira a cor verde? e Qual o sabor do vermelho? podem exigir
mais ou menos da pessoa, porque ela pode responder com ideias comuns como, respectivamente,
ma, natureza e morango, ou pode ser mais criativo e inventar respostas verdadeiramente
surpreendentes.

3) Produo: a partir das respostas da questo anterior, formar um poema de 14 versos, podendo
acrescentar palavras.

Comentrio

Se voc seguiu os passos para responder atividade 2, construiu um poema com 14 versos. Poema
com esse nmero de versos chamado de soneto. Fez? Parabns, Cames! Como foi o processo? Tirou
palavras e/ou acrescentou? Mudou a ordem das respostas? O poema seguiu um tema (sobre a festa
ou a noite anterior etc.)? Talvez haja no seu texto sinestesia, aquela figura de linguagem em que se
d o cruzamento de sensaes; associao de palavras ou expresses em que acontece a combinao
de sensaes diferentes numa s impresso. Em suma, sinestesia a transferncia de uma sensao
sugerida por um sentido para outro sentido. Veja estes dois exemplos: marrom quente (cor = viso;
quente = tato); dirigiu-lhe uma palavra branca e fria como agradecimento.

J ressaltei que a criatividade no um fenmeno prprio do texto literrio. Ela exigida em qualquer
produo nossa que requer um mnimo de originalidade. A seguir h duas colunas: na 1 se encontram
possveis formas de iniciar um texto narrativo, e na 2, possveis formas de iniciar um texto cientfico.
Qual incio voc considera criativo em cada coluna?

1 coluna 2 coluna
Um dia, eu estava janela... Hoje em dia, fundamental tratar de...
Num dia, quando eu cheguei ao Tratar de informtica, nos dias atuais, ...
apartamento... Atualmente, a informtica...
Era um dia em que cheguei... Falar em informtica ...
Ontem, quando eu cheguei...

O incio da 1 coluna, diferenciado do grupo, Ontem, quando eu cheguei.... Os outros so


marcados por expresses temporais parecidas: um dia, num dia, era um dia, que tm algumas
implicaes.
175
Unidade II

Uma delas que o produtor tem como modelo nico de incio de narrativa o conto de fada, cujo
incio tradicional Era uma vez.... O produtor demonstra que no tem conhecimento de outras formas
de comear o texto; que, muito provavelmente, no tem experincia em leituras de fico (alm do
conto de fada ouvido ou lido na infncia) nem experincia em criar textos de histrias.

Esse incio tradicional do conto de fada no marca de fato um tempo determinado. O leitor nunca
sabe quando e onde exatamente a histria acontece. Alguns estudiosos consideram, at, que uma
marca atemporal. Quando um produtor inicia seu texto com um dia, num dia ou com outra expresso
semelhante, primeiro, ele no assume o tempo da narrativa, segundo, passa a impresso de que no
acredita naquela histria; que ela s seria possvel em situao bem distante no tempo. Ou seja, o
produtor no passa credibilidade ao seu leitor.

Para encerrar as implicaes, podemos dizer que comear o texto com as expresses um dia, num
dia, era um dia no exemplifica esprito criativo.

No caso da 2 coluna, temos o mesmo resultado de falta de criatividade ao serem iniciados os textos
com o clich hoje em dia, nos dias atuais, atualmente.

8.4 Produo acadmica

No ambiente acadmico, espera-se eficcia nas produes dos professores e alunos. preciso
considerar, para isso, diversos aspectos em relao ao fato de se produzir um texto escrito.

Primeiro, escrever um processo em que se estabelecem relaes entre o autor e o leitor, de forma
a acontecer a colaborao entre eles produtor e leitor em que cada um participa em razo de um
objetivo.

Outro aspecto o planejamento. O texto escrito precisa ter coerncia e correo gramatical. Alm
disso, o produtor seleciona e organiza os conhecimentos e faz adequao da linguagem ao gnero e tipo
de texto e situao comunicativa.

A funo comunicativa da linguagem pressupe um produtor, um leitor, uma inteno e um contexto.


Considerando esse aspecto, bem como a constante produo de textos informativos na universidade,
fao um breve tratado sobre resumo e artigo cientfico.

8.4.1 Resumo

O gnero resumo muito produzido no ambiente acadmico e feito com base nas leituras de textos
informativos: livros cientficos, divulgao cientfica, revistas especializadas, dossis, enciclopdias,
documentrios, vdeos e outras fontes de informao.

O primeiro passo para produzir um resumo conhecer e saber utilizar as fontes de informao. Saber
delimitar o tipo de informao procurada, distinguindo o que tema geral no texto lido e o que so
temas parciais. preciso tambm saber localizar as fontes: biblioteca, hemeroteca, arquivo.
176
Interpretao e Produo de Textos

Com a fonte disposio, o segundo passo selecionar a informao e fazer anotaes. Aplicar,
ento, a leitura seletiva para a obteno da informao; comparar e/ou completar a informao
sobre um mesmo tema; e fazer nota com referncia bibliogrfica do texto lido. A importncia
desse segundo passo consiste na habilidade do leitor para consulta e buscar informao diante
de um objetivo concreto.

A competncia na consulta de fontes requer:

delimitar a informao buscada;


conhecer como cada tipo de texto se organiza;
ter habilidade na leitura seletiva;
ter habilidade na leitura para relacionar o texto verbal com outros elementos (esquemas, figuras,
grficos etc.);
realizar anotaes.

O terceiro passo a elaborao do texto com os materiais colhidos. A redao de cada


pargrafo pode corresponder a cada um dos temas (subtemas) abordados. Se houver grfico,
figuras etc., necessria uma explicao correspondente. O texto produzido deve conter as
informaes obtidas de maneira hierrquica, com prioridade para o contedo bsico e, se for o
caso, com exemplos.

Depois do texto pronto, a reviso se torna essencial para a verificao do contedo (dados verdadeiros),
da adequao da lngua (nvel formal, com termos especializados), da clareza e conciso.

A inteno de se fazer um resumo a divulgao de uma informao existente que pouco conhecida
pelos leitores.

8.4.2 Artigo cientfico

O artigo cientfico veicula a opinio sobre determinado tema, geralmente relacionado a um universo
de conhecimento a ser apresentado. A poltica e a sociologia representam universos bastante explorados
pelos artigos de jornais.

O artigo cientfico tem carter opinativo e a linguagem adequada ao perfil do pblico-alvo. A


organizao desse tipo de artigo :

apresentao de um ttulo.
nome e titulao do produto.
breve resumo do artigo: tema, objetivo, teoria seguida, corpus, resultado da pesquisa.

177
Unidade II

corpo do texto: apresentao da teoria, do objeto de pesquisa, da tese defendida e os recursos


argumentativos.
concluso: geralmente o autor apresenta soluo para o problema de pesquisa.

Esse gnero trata de temas variados, uma vez que as reas do conhecimento humano so muitas.

Exemplo de aplicao

1) A palavra artigo polissmica, ou seja, possui vrios sentidos. Em qual das alternativas a seguir, a
palavra artigo(s) tem sentido de texto argumentativo?

a) ARTIGO 19 Brasil goza de uma posio privilegiada na sociedade civil brasileira, pois funciona
como uma organizao local.

b) Art. 5 Todos so iguais perante a lei.

c) Os artigos podem fazer combinaes e contraes com as preposies.

d) O artigo deve apresentar, adequadamente, os objetivos, a metodologia utilizada e os resultados


encontrados.

e) O artigo que ele procura est exposto na vitrine.

Comentrio

A alternativa correta a d).

2) Com base nos dados dos grficos a seguir, faa um resumo interpretando-os.
Total de internautas, em milhes (2004)

200 185

150

100
100
78

50
22,3
1 2 3 10
0
Estados China Japo Brasil
Unidos
Grfico 1

178
Interpretao e Produo de Textos

Internautas a cada 10 habitantes (2003)

10
9
8
7 6,7
6 5,7
6
5
4
3
2
1 0,8
1 2 3 76
0
Islndia Coreia Sucia Brasil
do Sul

Grfico 2

Comentrio

O resumo consiste na leitura dos dados dos grficos sobre internet. O leitor precisa se ater s
informaes do grfico 1 sobre a posio dos pases quanto quantidade de internautas, com destaque
ao resultado do Brasil. Sobre o grfico 2, precisa se ater s informaes sobre quantidade de internautas
em relao ao nmero de populao, dando destaque ao Brasil.

8.5 Dicas para produo de texto informativo

Em textos informativos, o ttulo tem algumas caractersticas essenciais:

precisa ativar o conhecimento do leitor sobre o assunto;

precisa dizer do que se trata o texto.

O ttulo, como j traz indicaes sobre o texto que o segue, desperta, ou no, o interesse do leitor,
abrevia o tempo deste quanto deciso de ler ou no o texto. Exemplos de ttulos:

Como funcionam os pulmes


Congresso aprova novo salrio-mnimo

Para textos informativos, frases muito longas e complicadas causam dificuldade no leitor. Quando
este chega ao final do pargrafo, custar a se lembrar do que leu, poder ficar desanimado a continuar
lendo ao voltar na leitura para conseguir entender o texto. Assim, frases curtas, perodos curtos e
emprego de palavras conhecidas tornam a leitura mais fcil e rpida. Segundo a dica de Assumpo e
Bocchini (2002), o que ajuda a leitura rpida quando o texto contm:
179
Unidade II

perodos curtos (em vez de longos);


muitos verbos e pontos finais (no lugar de muito uso das palavras de ou que);
ordem direta (lembre-se: sujeito + verbo + complemento);
pouca ou nenhuma intercalao (por exemplo, complemento, sujeito, verbo ou orao dentro de
outra orao);
enumerao anunciada.
palavras curtas;
palavras conhecidas.

Para exemplificar a diferena entre o emprego de palavras simples e o de expresses complicadas,


citamos algumas:

Palavras simples Expresses complicadas

lombada obstculo transversal


seca desconforto hdrico
falta de gua indisponibilidade temporria dos
servios de saneamento

Em textos informativos, o emprego das palavras exige conciso e clareza. Uma das decises do autor
do texto pode ser substituir palavras que esto na moda por palavras comuns, que no carecem de
exatido. Por exemplo, substituir articular, transparncia e contabilizar por, respectivamente, organizar
(ou preparar, fazer), honestidade e calcular (ou somar).

Outro caso de emprego inadequado de palavras a redundncia. Fuja dela, caro aluno! As expresses
redundantes podem e devem ser evitadas.

Redundncia Uso de expresso sem redundncia


Encarar de frente Encarar
Eixo central Eixo
Eixo bsico Eixo
Sociedade como um todo Sociedade
H mil anos atrs Mil anos atrs/ H mil anos
Nmero exato Nmero

Para encerrar o aspecto lexical, advertimos que em texto informativo prefervel evitar
expresso estrangeira (uso do ingls, por exemplo) e utilizar termo existente no nosso idioma.
Deve-se empregar um termo em outra lngua apenas quando no houver um correspondente em
portugus.

180
Interpretao e Produo de Textos

A estratgia para a eficcia do texto informativo , portanto, respeitar a memria do nosso leitor,
usar palavras simples e mais utilizadas, escrever de forma clara, sem rodeios e tornar o texto mais
dinmico. Ao escrever procuramos, ento:

colocar a informao mais importante logo no incio da frase;

usar ordem direta;

preferir frases afirmativas;

empregar termos claros e concisos.

Exemplo de aplicao

1) O texto bem formado melhor entendido pelo leitor, que no precisa recorrer adivinhao.
Segundo essa afirmao, em qual enunciado o leitor encontrar dificuldade?

a) No devemos adiar a soluo dos problemas.


b) O recurso contra a deciso judicial foi aceito e o ru, absolvido.
c) Os pronomes demonstrativos e os advrbios de tempo e lugar so importantes para a unidade de
um texto.
d) O daguerretipo esmaeceu e findou subtrado de seu brilho argnteo.
e) Esse falso poeta cego.

Comentrio

A alternativa em que o leitor encontrar dificuldade a d). Palavras em desuso, ou de rea especfica,
ou com radicais gregos e latinos causam dificuldade na leitura. Veja como ficaria a frase da alternativa
d) se fosse escrita com termos atuais: A antiga imagem fotogrfica sobre pelcula de metal desbotou e
foi perdendo seu brilho prateado.

2) Em batatinha, quando nasce, espalha a rama pelo cho, h a intercalao (quando nasce) entre
o sujeito e o predicado. Por ser curta, ela no atrapalha a leitura. Assinale a frase em que a intercalao
no aceitvel.

a) A Globo mesmo sendo usuria dos satlites da Embratel para a transmisso dos programas de
sua rede nacional para televiso pode disputar a compra de aes dessa empresa.

b) Na empresa britnica St. Lukes, os funcionrios 127 atualmente trabalham num espao
coletivo e a cada ano recebem um nmero fixo de aes.

c) Mergulho livre quer dizer ir bem fundo de 5 a 30 metros e segurar a respirao por muito
tempo.
181
Unidade II

d) A Receita Federal, por meio da Instruo Normativa 40, aperfeioou sensivelmente o processo de
intercmbio cultural do Brasil com o exterior.
e) Coisas aparentemente complicadas, como medidas para entender a vastido do espao csmico,
viram brincadeira de criana na mo de Martin Rees.

Comentrio

A alternativa em que a frase intercalada inaceitvel a a). A melhor maneira de resolver


a intercalao muito longa juntar os termos separados e construir outra frase com a
intercalao. Por exemplo: A Globo pode disputar a compra de aes da Embratel, mesmo
sendo grande usuria dos satlites dessa empresa para transmisso dos programas de sua rede
nacional de televiso.

3) Identifique a frase que no tenha redundncia:

a) Com um sorriso nos lbios, o presidente congratulou-se com a assinatura do pacto de relaes
bilaterais entre Brasil e Portugal.
b) O gerente vai ser o elo de ligao entre os vendedores e o diretor-geral.
c) Em cooperao conjunta, funcionrios e diretores tentaro levantar a empresa.
d) Para a empresa crescer, h necessidade de fazer planos.
e) H cinco anos atrs, a empresa foi fundada por Roberto Gomes.

Comentrio

A alternativa em que no h redundncia a d). H redundncia em sorriso nos lbios, relaes


bilaterais, elo de ligao, cooperao conjunta, h cinco anos atrs.

Resumo
Escrever um processo complexo que exige do produtor determinados
conhecimentos e habilidades.

Gnero textual: o produtor precisa conhecer os diversos


gneros textuais, porque cada um atende a uma necessidade social
comunicativa.

Assim:

E-mail: gnero textual advindo da nova tecnologia e que tem


uma serventia comunicativa tanto no dia a dia, entre pessoas
182
Interpretao e Produo de Textos

prximas, amigas, para tratar de um assunto corriqueiro, quanto


serve para temas de trabalho, cuja relao entre os internautas
de distanciamento afetivo.

Artigo cientfico: gnero textual especfico e limitado. Serve para


divulgar um resultado recente na rea da cincia, pesquisa, e o
pblico o especialista no assunto.

Suporte o material em que o gnero veiculado: livro, jornal,


computador, celular etc.

O produtor do texto recorre a fatores da lngua e a aspectos fora da


lngua:

Fatores da lngua: coeso e coerncia; gramtica: regras.

Fatores fora da lngua: intencionalidade (objetivo para escrever),


intertextualidade (outros textos so referidos para afirmar ou divergir
da opinio do produtor) etc.

No mundo acadmico, dois gneros so muito utilizados, tanto para


serem lidos quanto para serem produzidos:

a) Resumo: os professores solicitam muitos resumos de textos lidos no


curso.

b) Artigo cientfico: os alunos de graduao e de ps leem bastante


artigo e no final de curso geralmente podem produzir um. O artigo
cientfico publicado aumenta o currculo do produtor.

Exerccios

Questo 1. (ENEM 2009) Observe o texto abaixo:

Concordo plenamente com o artigo Revolucione a sala de aula. preciso que valorizemos o
ser humano, seja ele estudante, seja professor. Acredito na importncia de aprender a respeitar
nossos limites e super-los, quando possvel, o que ser mais fcil se pudermos desenvolver a
capacidade de relacionamento em sala de aula. Como arquiteta, concordo com a postura de
valorizao do indivduo, em qualquer situao: se procurarmos uma relao de respeito e
colaborao, seguramente estaremos criando a base slida de uma vida melhor.
Tania Bertoluci de Souza,Porto Alegre, RS.
Disponvel em: <http://www.kanitz.com.br/veja/cartas.htm>.Acesso em: 2 mai. 2009 (com adaptaes).

183
Unidade II

Em uma sociedade letrada como a nossa, so construdos textos diversos para dar conta das
necessidades cotidianas de comunicao. Assim, para utilizar-se de algum gnero textual, preciso que
conheamos os seus elementos.A carta de leitor um gnero textual que:

A) apresenta sua estrutura por pargrafos, organizado pela tipologia da ordem da injuno (comando)
e estilo de linguagem comalto grau de formalidade.
B)se inscreve em uma categoria cujo objetivo o de descrever os assuntos e temas que circularam
nos jornais e revistas do pas semanalmente.
C)se organiza por uma estrutura de elementos bastante flexvel em que o locutor encaminha a
ampliao dos temas tratados para o veculo de comunicao.
D)se constitui por um estilo caracterizado pelo uso da variedade no padro da lngua e tema
construdo por fatos polticos.
E)se organiza em torno de um tema, de um estilo e em forma de paragrafao, representando, em conjunto,
as ideias e opinies de locutores que interagem diretamente com o veculo de comunicao.

Resposta correta: alternativa E.

Anlise das alternativas

A) Alternativa incorreta.
Justificativa: o estilo de linguagem do gnero carta do leitor no apresentado com alto grau de
formalidade.

B) Alternativa incorreta.
Justificativa: no objetivo do gnero carta do leitor descrever assuntos e temas da semana, mas
apresentar o posicionamento do leitor acerca de algo que lhe tenha suscitado o interesse.

C) Alternativa incorreta.
Justificativa: no objetivo do gnero carta do leitor a ampliao dos temas tratados no veculo
miditico.

D) Alternativa incorreta.
Justificativa: o gnero carta do leitor no se caracteriza pelo uso da variedade no padro da
lngua e o tema varia de acordo com a postura temtica do veculo de comunicao.

E) Alternativa correta.

Justificativa: o gnero carta do leitor se organiza em torno de um tema, um estilo e uma forma de
paragrafao. A autora da carta intercala alguns verbos em primeira pessoa do singular com outros em

184
Interpretao e Produo de Textos

terceira. A primeira pessoa usada para expressar a sua prpria opinio, enquanto a terceira serve para
ampliar a discusso no apenas para o que ela pensa, mas tambm incluir a voz de outras pessoas que,
como ela, so leitoras da revista.

Questo 2. (ENEM 2009 Com adaptaes)

Aumento do efeito estufa ameaa plantas, diz estudo.

O aumento de dixido de carbono na atmosfera, resultante do uso de combustveis fsseis e


das queimadas, pode ter consequncias calamitosas para o clima mundial, mas tambm pode afetar
diretamente o crescimento das plantas. Cientistas da Universidade de Basel, na Sua, mostraram que,
embora o dixido de carbono seja essencial para o crescimento dos vegetais, quantidades excessivas
desse gs prejudicam a sade das plantas e tm efeitosincalculveis na agricultura de vrios pases.
O Estado de So Paulo, 20 set. 1992, p.32.

O texto acima possui elementos coesivos que promovem sua manuteno temtica. A partir dessa
perspectiva, conclui-se que:

A) a palavra mas, nalinha 2, contradiz a afirmao inicial do texto: linhas 1 e 2.


B) a palavra embora, na linha 4, introduz uma explicao que no encontra complemento no
restante do texto.
C)as expresses: consequncias calamitosas, na linha 2, e efeitos incalculveis, na linha 5,
reforam a ideia que perpassa o texto sobre o perigo do efeito estufa.
D)o uso da palavra cientistas, na linha 3, desnecessrio para dar credibilidade ao texto, uma vez
que se fala em estudo no ttulo do texto.
E)a palavra gs, na linha 5, refere-se acombustveis fsseis e queimadas, nas linhas 1 e 2,
reforando a ideia de catstrofe.

Resoluo desta questo na Plataforma.

185
Figuras e ilustraes

Figura 1

DAHMER, A. O moderno jornalismo brasileiro. Largura: 591 pixels. Altura: 188 pixels. Tamanho: 36,92KB
(37.811 bytes). Formato: GIF. Disponvel em: <http://www.malvados.com.br/index1275.html>. Acesso
em: 2 mai. 2011.

Figura 2

TIRA CANO DO EXLIO ENEM. Largura: 226 pixels. Altura: 223 pixels. Tamanho: 14,34KB (14.683
bytes). Formato: Imagem JPEG. Disponvel em: <http://t2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSCTKkh4v
ROC7UObGw2GwemLJCTexxkbstLruYJFvDQN2CObr8BgQ&t=1>. Acesso em: 9 mai. 2011.

Figura 4

ANNCIO PUBLICITRIO DA GOL. Veja, So Paulo, n. 1.895, 9 mar. 2005.

Figura 5

VRGULA. Veja, So Paulo, n. 2.055, p. 99, 9 abr. 2008.

Figura 6

HIERGLIFOS MODERNOS. Revista Galileu, So Paulo, n. 174, jan. 2006.

Figura 7

PECAS_CLIP_IMAGE002. Largura: 456 pixels. Altura: 696 pixels. Tamanho: 44,09KB (45.150 bytes).
Formato: Imagem GIF. Disponvel em: <http://sozinhocomigo.wordpress.com/2009/11/04/significados-
dos-simbolos-na-etiqueta-das-roupas/>. Acesso em: 14 mai. 2011.

REFERNCIAS
Textuais

ANDRADE, E. P. de O.; MACHADO, G. dos S. S.; SILVA, S. R. da. Retextualizao de uma histria em
quadrinhos por alunos de meios letrados. Linguagem & Ensino. V. 9, n.2, jul./dez. 2006.

ASSUMPO, M. H. O.; BOCCHINI, M. O. Para escrever bem. So Paulo: Manole, 2002.

BANDEIRA, M. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1958. Vol. I, p. 196.

BASTOS, N. B. (org.). Lngua portuguesa: teoria e mtodo. So Paulo: IP-PUC-SP/EDUC, 2000.

186
BECHARA, E. Moderna gramtica portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 1999.

BERNRDEZ, E. Introduccin a la lingustica textual. Madri: Espasa Calpe, 1982.

BRONCKART, J. P. Atividade de linguagem, textos e discursos. So Paulo: EDUC, 1999.

CALLOU, D. (org.). A linguagem falada culta na cidade do Rio de Janeiro: materiais para seu estudo.
Elocues formais. Rio de Janeiro: FUJB, 1991, p. 104-105.

CARVALHO, J. C. de. Por que Lulu Bergantim no atravessou o Rubicon. 3. ed. Rio de Janeiro: Jos
Olympio, 1974.

CAVALCANTI, G. Bye-bye, bonecas e carrinhos. Folha de S. Paulo, Folhinha, So Paulo, 7 nov. 1998.

CHIAPPINI, L.; BRANDO, H. N. (coord.). Gneros do discurso na escola. So Paulo: Cortez, 2000.

COSTA VAL, M. Redao e textualidade. 2. ed. So Paulo: Martins Fontes, 1999.

DOTA, F. P.; ALVES, D. M. Educao especial no Brasil: uma anlise histrica. Revista Cientfica
Eletrnica de Psicologia. Ano 5, n 8, maio, 2007.

EMEDIATO, W. A frmula do texto: redao, argumentao e leitura. So Paulo: Gerao Editorial,


2004.

FARACO, C. A.; TEZZA, C. Prtica de textos para estudantes universitrios. Petrpolis: Vozes, 1992.

FERREIRA, A. B. de H. Novo dicionrio da lngua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975.

FERNANDES, M. Trinta anos de mim mesmo. So Paulo: Crculo do Livro, 1976.

FERRO, L. C. O que psitron. Globo Cincia, 22 out. 2009.

FIORIN, J. L. Gneros e tipos textuais. In: MARI, H.; WALTY, I.; VERSIANI, Z. Ensaios sobre leitura.
Belo Horizonte: PUC Minas, 2005.

________________; SAVIOLI, F. P. Lies de texto: leitura e redao. 4. ed. So Paulo: tica, 1999.

FREIRE, P. A importncia do ato de ler. So Paulo: Cortez, 2006.

GIANETTI, E. Autoengano. So Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 72.

GOMES, D. O santo inqurito. 22. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

HERMANN, N. tica e esttica: a relao quase esquecida. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2005.
187
HIERGLIFOS MODERNOS. Revista Galileu, So Paulo, n. 174, jan. 2006.

JABOR, A. Eu no gostava do papa Joo Paulo II. O Estado de So Paulo, So Paulo, 5 abr. 2005.

KATO, M. No mundo da escrita: uma perspectiva psicolingustica. So Paulo: tica, 1987.

KLEIMAN, . Oficina de leitura: teoria e prtica. Campinas: Pontes, 1993.

________________. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. 10. ed. So Paulo: Pontes, 1997.

KNELLER, G. Arte e cincia da criatividade. So Paulo: Ibrasa, 1973.

KOCH, I. G. V. A coeso textual. 10. ed. So Paulo: Contexto, 1998.

________________. A inter-ao pela linguagem. So Paulo: Contexto, 1992.

________________; TRAVAGLIA, L. C. A coerncia textual. So Paulo: Contexto, 1990.

LIMA, J. de. Poesia completa. (Org.) Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997, p. 211.

LISPECTOR, C. Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

MARTINS, W. A palavra escrita: histria do livro, da imprensa e da biblioteca. 3. ed. So Paulo: tica,
2002.

MARI, H.; MENDES, P.H.A. Processos de leitura: fator textual. In: MARI, H.; WALTY, I.; VERSIANI, Z.
Ensaios sobre leitura. Belo Horizonte: PUCMINAS, 2005.

MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita: atividades de retextualizao. So Paulo: Cortez, 2001.

_________________. Produo textual, anlise de gnero e compreenso. So Paulo: Parbola, 2008.

MARQUESI, S. C. A organizao do texto descritivo. Rio de Janeiro: Vozes, 1996.

MATOS, G. de. Obra potica. Ed. James Amado. Rio de Janeiro: Record, 1990. Vol. II, p. 1.191.

MELO NETO, J. C. de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994, p. 343.

MENDES, M. Poesia completa e prosa. (Org.) Luciana Stegagno Picchio. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
1994, p. 460.

O RECUO DO DESERTO. Veja, So Paulo, n. 1.193, p. 56-57, 31 jul. 1991.

PASTORINO, C. T. Minutos de sabedoria. 37. ed. Petrpolis: Vozes, 1997.


188
QUINTANA, M. Poesias. 2. ed. Porto Alegre: Editora Globo, 1972.

RAMOS, Ricardo. Circuito fechado. Rio de Janeiro: Record, 1978.

SMITH, F.Leitura significativa. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 1999.

SOUZA, R. J. de (org.). Ler e compreender: estratgias de leitura. So Paulo: Mercado de Letras, 2010.

SULMAN, M. As calcinhas cor-de-rosa do capito. Porto Alegre: Globo, 1973.

TOLEDO, R. P. de. Voc, tu e o senhor: confuso de tratamento faz parte dos usos e costumes
nacionais. Veja. So Paulo, n. 1.222, p. 90, 19 fev. 1992.

TRAVAGLIA, L. C. Gramtica e interao. 2. ed. So Paulo: Cortez, 2005.

VERSSIMO, L. F. A, galera. Correio Braziliense, Braslia, 13 mai. 1998.

___________. Penas. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 6 jan. 1996.

Exerccios

Unidade I

Questo 1

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANSIO TEIXEIRA (INEP). Exame


Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) 2008: Letras. Questo 17. Disponvel em: <http://
download.inep.gov.br/download/Enade2008_RNP/LETRAS.pdf>. Acesso em: 19 mai. 2011.

Questo 2

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANSIO TEIXEIRA (INEP). Exame


Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) 2008: Pedagogia. Questo 28. Disponvel em:
<http://download.inep.gov.br/download/Enade2008_RNP/PEDAGOGIA.pdf>. Acesso em: 19 mai. 2011.

Unidade II

Questo 1

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANSIO TEIXEIRA (INEP).


Exame Nacional do Ensino Mdio (ENEM) 2009. Disponvel em: <http://download.inep.gov.
br/educacao_basica/enem/downloads/2009/Enem2009_linguagens_codigos.pdf>. Acesso em:
19 mai. 2011.

189
Questo 2

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANSIO TEIXEIRA (INEP). Exame


Nacional do Ensino Mdio (ENEM) 2009. Disponvel em: <http://download.inep.gov.br/educacao_
basica/enem/downloads/2009/Enem2009_linguagens_codigos.pdf>. Acesso em: 19 mai. 2011.

Sites

BENCKE, D. B.; GABRIEL, R. Metacognio, transferncia lingustica e compreenso leitora: uma


perspectiva terico-emprica. Revista Signo do Departamento de Letras e do Programa de Ps-Graduao
em Letras. Universidade de Santa Cruz do Sul, v. 34, n. 57, jul.-dez., 2009. Disponvel em: <http://online.
unisc.br/seer/index.php/signo/article/viewFile/1202/924>. Acesso em: 22 abr. 2011.

BORK, D. Cappuccino. Disponvel em: <http://www.band.com.br/diadia/receita.asp?id=15099>.


Acesso em: 21 abr. 2011.

BRECHT, B. Se os tubares fossem homens. Disponvel em: <http://rizomas.net/educacao/por-que-


educar/103-se-os-tubaroes-fossem-homens-bertold-brecht.html>. Acesso em: 4 mai. 2011.

CAETANO, R. Museu da Lngua Portuguesa. So Paulo: 2010. Disponvel em: <http://www.


cidadedesaopaulo.com/sp/o-que-visitar/pontos-turisticos/207-museu-da-lingua-portuguesa>. Acesso
em: 22 abr. 2011.

CANAL EXECUTIVO. Estudo mostra impacto dos livros de autoajuda. Disponvel em: <http://www2.uol.
com.br/canalexecutivo/notas07/300320078.htm>. Acesso em: 2 mai. 2011.

FERNANDES, M. O leo, o burro e o rato. In: La insgnia. Madri, 13 jun. 2004. Disponvel em: <http://
www.lainsignia.org/2004/junio/cul_030.htm>. Acesso em: 2 mai. 2011.

HENRIQUES, C. C. A volta dos hierglifos. Revista Philologus, ano 8, n 23. Disponvel em: <http://
www.filologia.org.br/revista/23.html>. Acesso em: 25 abr. 2011.

JBWIKI. O caso do substantivo e do artigo. Disponvel em: <http://www.brasilwiki.com.br/noticia.


php?id_noticia=126>. Acesso em: 25 abr. 2011.

KRONIG, E. Como ser daqui pra frente? 18 fev. 2009. Disponvel em: <http://comoseradaquiprafrente.
blogspot.com/>. Acesso em: 21 abr. 2011.

LEITE, M. Cresce a fraude em cincia e no Brasil? Folha.com., 18 ago. 2010. Disponvel em: <http://
www1.folha.uol.com.br/colunas/marceloleite/784224-cresce-a-fraude-em-ciencia---e-no-brasil.
shtml>. Acesso em: 22 abr. 2011.

LEONEL, V. O falo e a fala. Revista da Folha, So Paulo, 4 set. 2005. GLS. Disponvel em: <http://
www1.folha.uol.com.br/revista/rf0409200510.htm>. Acesso em: 5 mai. 2011.
190
MACHADO, M. A. V. e SILVA, H. N. da. Anlise das polticas de administrao financeira de curto prazo:
o caso da Guida Confeces. Disponvel em: <http://www.congressousp.fipecafi.org/artigos22005/438.
pdf>. Acesso em: 21 abr. 2011.

NOGUEIRA, S. Britnicos ligam felicidade boa sade. Folha.com, So Paulo, 19 abr. 2005. Cincia.
Disponvel em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe1904200501.htm>. Acesso em: 5 mai. 2011.

ROSSI, C. Roleta-russa, agora no ar. Folha.com, So Paulo, 20 mar. 2007. Opinio. Disponvel em:
<http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2003200703.htm>. Acesso em: 5 mai. 2011.

SANTOS, S. A. Geometria plana e desenho geomtrico. Atividade 5 propriedades dos tringulos


issceles. Disponvel em: <http://www.ime.unicamp.br/~sandra/MA520/handouts/lab5.pdf>.
Acesso em: 21 abr. 2011.

SCALZO, M. L. V.; SODR, U. Ensino fundamental: geometria: polgonos e tringulos. Disponvel


em: <http://pessoal.sercomtel.com.br/matematica/fundam/geometria/geo-poli.htm>. Acesso em:
21 abr. 2011.

TIRABOSCHI, J. e GUSAN, M. Faxina mental. Galileu, So Paulo, n. 170, set. 2005. Disponvel em: <http://
revistagalileu.globo.com/Galileu/0,6993,ECT1023715-1706,00.html>. Acesso em: 22 abr. 2011.

TUFANO, D. Guia prtico da nova ortografia. Disponvel em: <http://michaelis.uol.com.br/


novaortografia.php>. Acesso em: 25 abr. 2011.

VALENA, A. e BARRETO, V. Tropicana (Morena tropicana). Disponvel em: <http://letras.terra.com.


br/alceu-valenca/98324/>. Acesso em: 2 mai. 2011.
VILARINHO, S. Por que / Por qu / Porque ou Porqu? Disponvel em: <http://www.brasilescola.com/
gramatica/por-que.htm>. Acesso em: 25 abr. 2011.

VUNESP. Cincias Sociais. Estudo enfoca problemas sociais, econmicos e polticos. Disponvel em:
<http://www.vunesp.com.br/guia2009/ciesoc.html>. Acesso em: 21 abr. 2011.

191
192
193
194
195
196
Informaes:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000

Você também pode gostar