Bernardete Angelina Gatti

A CONSTRUGAo DA PESQ,!:!ISA
EM EDUCAGAo NO BRASIL

Serie Pesquisa v. 1

~w
-
Brasilia-DF
2012
 Copyright 20 12 Liber Livro Edirora Ltda.

Eproibida a reprodu~iio total ou parcial desta publica~iio.

por quaisquer meios. sem autoriza~ao previa. por escrito. da ed itora.

Grafia atualizada segundo 0 Acordo Ortografico da Lingua Portuguesa SUMARIO

de 1999. que entrou em vigor no Brasil em 2009.

Conselho Editorial
Bernardete A. Gatti. Iria Brzezinski. Maria Celia de Abreu. Osmar Favero.
Pedro Demo. Rogerio de And/'tlde Cordova, Sojia Lerche Viei/'tl. Apresentac;:ao ................................................................ 7

Coordena~ao da serie
Bemardete Angelina Gatti Introduc;:ao .................................................................... 9
Revisao
jail' Santalla Mo/'tles
Capitulo 1. A produc;:ao da pesquisa
Capa
Patricia Me/asso Garcia em Educac;:ao no Brasil e suas implicac;:6es ........... 17

Oiagrama~ao
Samuel Tabosa de Castro Capitulo 2. ~est6es de metodo
Impressao e acabamento nas pesquisas em educac;:ao ..................................... .47
Grdjica e Editol'fl Viena Ltda.

Oados Internadonais de Cataloga~iio na Fonte (Crp) Capitulo 3. Pesquisa em educac;:ao:

Gatti. Bernardere Angelina.

urn tern a em debate em revista cientifica .............. 73
G263c A constru~ao da pesquisa em educa~ao no Brasil IBernardete
Angelina Gatti. - Brasilia: Liber Livro Editora. 2012.
96 p. Sobre a autora ............................................................ 95
ISBN 85-85946-31-8 (Plano Ed itora)
ISBN 978-85-98843-46-9 (Liber Livro Editora)

1. Pesquisa em educa~iio. 2. Metodos de pesquisa. I. Titulo.

II. Serie.

COU 301.175

Impresso no Brasil

Liber Livro Editora Ltda.

CLN Qd. 3 15. Bloco "B" Sala 15
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 APRESENTA~AO

Este texto abre uma cole<;ao e In1Cla uma

sequencia de trabalhos que tratarao de aspectos
diferenciados relativos ao desenvolvimento de
pesquisas na area educacional. Este primeiro volume
procura situar os contextos de desenvolvimento da
pesquisa educacional no Brasil e trata de algumas
questoes metodol6gicas que tem se apresentado
como desafios aos que pesquisam nesse campo.
Seguir-se-a um segundo volume dedicado a
inicia<;ao de estudantes ao processo de pesquisa,
abordando aspectos basicos para 0 desenvolvimento
de qualquer investiga<;ao sistematica em torno de
um problema em rela<;ao ao qual se busca maior
compreensao ou respostas. Outros textos seguir-
se-ao, de mversos autores, procurando trazer ao
lei tor questoes ligadas ao emprego de entrevistas,
questionarios, observa<;ao, estudos de caso, analise
de conteudo, etnometodologia, grupos focais, e
assim por mante, procurando oferecer uma visao
da gama de op<;oes em coleta de dados para a
pesquisa em Educa<;ao e dar uma contribui<;ao ao
desenvolvimento de procedimentos de pesquisa
em formas mais consistentes.
As diferentes formas de obten<;ao de dados
para uma investiga<;ao cientifica estao aliadas a
perspectivas metodol6gicas e te6ricas que lhes dao
sentido. Cuidados basicos nessa opten<;ao precisam
ser garantidos pelo pesquisador no sentido de

7
permitir discuss6es sobre a validade e 0 ambito de
pertinencia desses dados. Esta cole<;:ao pretende
contribuir nessa dire<;:ao.
INTRODU<;AO
Bernardete Angelina Gatti
Organizadora
1. Pesquisa

A palavra pesquisa pas sou a ser utilizada no

cotidiano das pessoas e nas escolas com sentidos
os mais diferentes.
Pesquisa e 0 ato pelo qual procuramos
obter conhecimento sobre alguma coisa. Com
essa defini<;:ao assim tao ampla, podemos dizer
que estamos sempre pesquisando em nossa vida
de todo dia, toda vez que buscamos alguma
informa<;:ao ou nos debru<;:amos na solu<;:ao de
algum problema, colhendo para isso os elementos
que consideramos importantes para esclarecer
nossas duvidas, aumentar nosso conhecimento,
ou fazer uma escolha. Assim, podemos falar em
pesquisar 0 sentido exato de uma palavra no
dicionario, ou em pesquisar a melhor maneira de
temperar uma comida ou em pesquisar os pre<;:os
de certo produto em varias lojas.
Contudo, num sentido mais estrito, visando
a cria<;:ao de urn corpo de conhecimentos sobre
certo assunto, 0 ato de pesquisar deve apresentar
caracteristicas especificas. Nao buscamos, com ele,
qualquer conhecimento, mas urn conhecimento
que ultrapasse nosso entendimento imediato na
explica<;:ao ou na compreensao da realidade que
observamos. Urn conheciment? que pode ate
mesmo contrariar esse entendimento primeiro e

8 9
negar as explica<;oes 6bvias a que chegamos com ras de que nos valemos, em ultima analise, em
nossas observa<;oes superficiais e nao sistematicas. qualquer campo de conhecimento, para solucionar
Um conhecimento que obtemos indo alt~m dos problemas. Para responder a algumas inc6gnitas,
fatos, desvendando processos, explicando consis- segundo alguns criterios. Portanto, 0 conheci-
tentemente fenomenos segundo algum referencial. mento obtido pela pesquisa e um conhecimento
Nesse caso, estamos fazendo pesquisa para vinculado a criterios de escolha e interpreta<;oes de "
construir 0 que entendemos por ciencia, ou seja: dados, qualquer que seja a natureza desses dado's.
tentando elaborar um conjunto estruturado de Esses criterios tem a ver com a teoria que
conhecimentos que nos permita compreender em estamos trabalhando ao pesquisar e/ou com a
profundidade aquilo que, aprimeira vista, 0 mundo maneira pela qual selecionamos os dados que
das coisas e dos homens nos revela nebulosamente observamos e as informa<;oes que trabalhamos
ou sob uma aparencia ca6tica. Vamos entio e/ou com a 16gica que empregamos em to do 0
percorrendo aqueles caminhos que nos parecem, desenvolvimento do trabalho. Esses criterios nao
segundo criterios, mais seguros para construir sao unicos nem universais e nao ha receita pronta
uma compreensao aproximada dos homens, da para eles. Cada pesquisador com seu problema
natureza, das rela<;oes humanas etc. tem que criar seu referencial de seguran<;a. Nao
A pesquisa, assim, reveste-ge de algumas ha um modelo de pesquisa cientifica, como nao
caracteristicas peculiares para que possamos ter ha "0" me to do cientifico para 0 desenvolvi-
certa seguran<;a quanto ao tipo de conhecimento mento da pesquisa. Essa e uma falsa ideia, pois
gerado. N ote-se que falamos de certa seguran<;a o conhecimento cientifico se fez e se faz atraves
e nao de seguran<;a absoluta. Isso porque, na de uma grande variedade de procedimentos, e a
produ<;ao de conhecimentos, sempre temos uma criatividade do pesquisador em inventar maneiras
margem de incerteza, mesmo que esta, em alguns de bem realizar os seus estudos tem de ser muito
cas os, seja de fato extremamente pequena. Para grande. A pesquisa nao e, de modo algum, na
o pesquisador nao existem dogmas, verdades pratica, uma reprodu<;ao fria das regras que vemos
reveladas e absolutas, vale dizer, nao ha conheci- em alguns manuais. 0 pr6prio comportamento
mento absoluto e definitivo. Os conhecimentos do pesquisador em seu trabalho e-lhe peculiar e
sao sempre relativamente sintetizados sob certas caracteristico.
condi<;oes ou circunstancias, dependendo das teo- E claro que, no mundo da pesquisa, pela
rias, dos metodos, das tematicas que 0 pesquisador pr6pria experiencia vivida pelos pesquisadores,
escolhe para trabalhar. Mas essas sinteses devem temos algumas pistas para nao incorrermos em
ter consistencia e plausibilidade. excessivos vieses ou cairmos nas armadilhas de
Quem pesquisa procura descrever, compre- nossos desejos, que poderao tornar nossos resul-
ender ou explicar alguma coisa. E uma das manei- tados e conclusoes in6cuos ou i~validos. Mas dai

10 11
a crer que ha urn so metodo para se fazer ciencia problemas em areas como a fisica, a biologia ou a
a distancia e grande demais. quimica, em que manipula<;oes do objeto de estudo
Na pesquisa, muito importantes sao os dados sao possiveis. Nao 0 sao para as questoes ligadas
com que trabalhamos. E dado pode ser desde urn a educa<;ao humana, porque certos controles nao
conjunto de medidas bern precisas que tomamos podem ser aplicados aos seres humanos vivos e
ate depoimentos, entrevistas, dialogos, discussoes, nem a situa<;oes sociais nas quais essa educa<;ao
observa<;oes etc., de que nos servimos para a se processa.
gera<;ao de algum conhecimento que acrescente Muito do que estamos falando tern a vel' com
alguma coisa a compreensao do problema que o que se pensa ser educa<;ao. Nao estou pre ten-
nos interessa. dendo abordar aqui as discussoes sobre isso, mas
Conhecimentos sao sempre relativamente apenas lembrar que, concretamente, quando 0
determinados sob certas condi<;oes ou circuns- vocabulo educafao e usado, 0 e em multiplos senti-
tan~ias, dependendo do momenta historico, dos dos, sentidos esses que sao as representa<;oes que
contextos, das teorias, dos metodos, e das tecnicas as pessoas se fazem daquilo que concretamente
que 0 pesquisador escolhe para trabalhar ou de vivenciam como sendo educa<;ao. Na pratica, a
que dispoe. verdade e que, de qualquer maneira, educa<;ao
Portanto, 0 conhecimeri-to obtido pela envolve desde problemas de desenvolvimento
pesquisa e urn conhecimento situado, vinculado bioneurologico implicados em nossas possibili-
a criterios de escolha e interpreta<;ao de dildos, dades de aprendizagem, de rela<;ao, e, portanto,
qualquer que seja a natureza desses dados. na base das questoes de ensino, ate questoes de
ordem social mais ampla, dado que a educa<;ao se
processa dentro de urn sistema de rela<;oes sociais
2. Pesquisa educacional e, neste, ela mesma se institucionaliza em sistemas
escolares. Esse campo envolve, pois, a intera<;ao
Em educa<;ao a pesquisa se reveste de algumas complexa de todos os fatores implicados na exis-
caracteristicas espedficas. Porque pesquisar em tencia humana, desde nosso corpo ate nossas ideo-
educa<;ao significa trabalhar com algo relativo logias. Num conjunto unico, porem, em constante
a seres humanos ou com eles mesmos, em seu processo simultaneo de consolida<;ao, contradi<;ao
proprio processo de vida. 0 conhecimento a ser e mudan<;a. Com tal ambito de preocupa<;ao, os
gerado aqui, raramente - e bern ortodoxamente, pesquisadores em educa<;ao fazem escolhas entre
poderiamos afirmar - , nunc a pode ser obtido urn dos multiplos caminhos que os aproximam
pOl' uma pesquisa estritamente experimental, da compreensao desse fen6meno, escolhendo
em que todos os fatores da situa<;ao podem ser tambem urn angulo de abordage:n'
controlados. Isso e possivel para uma parte dos

12 13
 A pesqUlsa educacional, tal como vern Uma variedade nao so do ponto de vista das vias de
sendo realizada, compreende, assim, uma vasta acesso que escolhemos para desvelar esse elemento
diversidade de questoes, de diferentes conota<;:oes, de nossa realidade de vida - a educa<;:ao - , mas
embora todas relacionadas complexamente ao tambem das maneiras possiveis de percorrer essas
desenvolvimento das pessoas e das sociedades. vias. Aqui me refiro aos metodos de investiga<;:ao.
Ela tern abrangido questoes em perspectivas Sem duvida, a educa<;:ao e urn fato - porque
filosoficas, sociologicas, psicologicas, politicas, se di. Sem duvida, e urn processo, porque esta
biologicas, administrativas etc. Se pensamos sempre se fazendo. Envolve pessoas num contexto.
apenas em urn de seus aspectos - 0 da educa<;:ao Ela mesmo sendo contextualizada - onde e como
escolar - , ela se refere ai a problemas de legisla<;:ao, se di. E a aproxima<;:ao a esse fato-processo que a
de curriculo, de metodos e tecnologia de en sino, pesquisa educacional tenta compreender.
de forma<;:ao de docentes, de rela<;:oes professor/
al~no etc. Diz respeito a especialidades como a
psicologia do escolar, a orienta<;:ao educacional,
a supervisao pedagogica, a administra<;:ao escolar.
Sem esgotar seus diferentes aspectos, ji
vemos que 0 campo da pesquisa em c;duca<;:ao tern
se apresentado de modo muito diversificado. Nao
so abrange uma gama diferenciada de problemas
como os abrange em niveis diferenciados. Entao,
como podemos falar em pesquisa educacional?
Podemos, desde que 0 ato de educar seja 0 ponto
de partida e 0 ponto de chegada da pesquisa.
Quando a educa<;:ao - qualquer que seja a maneira
de a concebermos - mostra-se como 0 centro de
referencia da pesquisa, e 0 foco do conhecimento,
e 0 elemento integrador e norteador das pistas que
percorremos nos enfoques em que nos situamos.
E percorremos para buscar maior compreensao
dos atos de educar e ser educado, suas fun<;:oes,
seu contexto, suas consequencias.
A multiplicidade de problemas que a pesquisa
educacional tern abarcado e evidente. Ela esti ai.
A variedade de abordagens possiveis tambem.

14 15
 Capitulo 1

A PRODUC;XO DA PESQUISA
EM EDUCAC;XO NO BRASIL '.
E SUAS IMPLICAC;OES

Trabalhos esparsos que sao reveladores de

certa preocupa<;ao cientifica com questoes da area
educacional sao encontrados no Brasil des de os
prim6rdios do seculo 20. Mas e com a cria<;ao, no
final dos anos de 1930, do Instituto Nacional de
Pesquisas Educacionais (Inep) que estudos mais
sistematicos em educa<;ao, no Pais, come<;am a se
desenvolver. Mais tarde, com 0 desdobramento
do Inep no Centro Brasileiro de Pesquisas
Educacionais (CBPE) enos Centros Regionais
do Rio Grande do Sul, Sao Paulo, Minas Gerais,
Bahia e Pernambuco, a constru<;ao do pensamento
educacional brasileiro, atraves da pesquisa
sistematica, encontrou um espa<;o espedfico
de produ<;ao e forma<;ao e de estimula<;ao.
A importancia desses Centros no desenvolvimento
de bases metodol6gicas, sobretudo quanto a
pesquisa com fundamento empirico, no Brasil,
pode ser dada pelo contraponto com as institui<;oes
de en sino superior e as universidades da epoca,
nas quais a produ<;ao de pesquisa em educa<;ao
ou era rarefeita ou inexistente. 0 Inep e seus
Centros constituiram-se foco,s produtores e
irradiadores de pesquisas e de forma<;ao em

17
metodos e tecrucas de investigayao cientifica em estudos de Aparecida Joly Gouveia (1971, 1976),
educayao, inclusive as de natureza experimental. as pesquisas em educayao no Brasil tiveram
Pesquisadores desses Centros passaram a atuar inicialmente um enfoque predominantemente
tambem no en sino superior e professores de psicopedag6gico, em que a tematica abrangia
cursos superiores tambem vieram a atuar neles, estudos do desenvolvimento psicol6gico das
criando uma fecunda interface, especialmente com crianyas e adolescentes, processos de ensino e
algumas uruversidades, nas decadas de 1940 e 1950. instrumentos de medida de aprendizagem. Em
Com 0 desenvolvimento de pesquisas com base meados da decada de 1950, esse foco se desloca
em equipes fixas, com uma serie de publicay6es para as condiy6es culturais e as tendencias de
regulares e 0 oferecimento de cursos para a desenvolvimento da sociedade brasileira. Nesse
formayao de pesquisadores com a participayao de periodo, 0 Pais vinha saindo de urn ciclo ditatorial
do~entes de divers as nacionalidades, especialmente e tentava integrar processos democriticos nas
latino-americanos, esses Centros contribuiram priticas politicas. Vive-se um momenta de certa
para certa institucionalizayao da pesquisa, com a efervescencia social e cultural, inclusive com
formayao de fontes de dados e com a implantayao grande expansao da escolarizayao da populayao
de grupos voltados a pesquisa educacional nas primeiras series do nivel fundamental, em
em universidades. Mas foi somente com a funyao da grande ampliayao de oporturudades em
implementayao de programas sistematicos de p6s- escolas publicas, comparativamente ao periodo
graduayao, mestrados e doutorados, no final da anterior (Silva; Gatti, 1990). 0 objeto de atenyao
decada de 1960, e com base na intensificayao mais comum nas pesquisas educacionais passou
dos programas de formayao no exterior e na a ser, nesse momento, a relayao entre 0 sistema
reabsoryao desse pessoal, que se acelerou 0 escolar e certos aspectos da sociedade.
desenvolvimento dessa area de pesquisa no Pais, A partir de meados da decada de 1960,
transferindo seu foco de produyao e de formayao comeyaram a ganhar f6lego e destaque os
de quadros para as uruversidades. Paralelamente, estudos de natureza econ6mica, com trabalhos
os centros regionais de pesquisa do Inep sao sobre a educayao como investimento, demanda
fechados e comeyam investimentos dirigidos aos profissional, formayao de recursos humanos,
programas de p6s-graduayao nas instituiy6es de tecrucas programadas de ensllo etc. E 0 periodo em
. .
enSlnO supenor. que se instalou 0 governo militar, redirecionando
No contexto dessa trajet6ria, e tendo as perspectivas sociopoliticas do Pais. Passa-se
durante algumas decadas uma produyao bem a privilegiar os enfoques de planejamento, dos
pequena em grupos localizados, a pesquis a custos, da eficiencia e das tecrucas e tecnologias
em educayao no Brasil pas sou por visiveis no en sino e no ensino profissionalizante.
convergencias tematicas e metodol6gicas. Segundo A politica cientifica passa a s~r definida num

18 19
contexto de macroplanejamento, direcionando predominaram os enfoques tecnicistas, 0 apego
os esforc;os e financiamentos no conjunto da as taxonomias e a operacionalizac;ao de variaveis e
politic a desenvolvimentista, nao fugindo a pesquisa sua mensurac;ao. Com algumas criticas aos limites
educacional, em sua maiar parte, desse cenario e desse tipo de investigac;ao, com a propagac;ao do
desses interesses. emprego das metodologias da pesquisa-ac;ao e
Embora a tonica nas pesquisas seja essa das teorias do conflito, no final dos anos 1970 e ,
durante alguns anos, especialmente as financiadas comec;o dos anos 1980, ao lado de certo descredito
por orgaos publicos, as instituic;oes de en sino de que soluc;oes tecnicas resolveriam problemas de
superior, ou outras ligadas a produc;ao da base na educac;ao brasileira, 0 perm da pesquisa
pesquisa em educac;ao, mantem uma formac;ao educacional se enriquece com essas novas
diversificada de quadros. Com a necessaria perspectivas, abrindo espac;o para abordagens
expansao do ensino superior e 0 trabalho em criticas.
alguns cursos de mestrado e doutorado, que Todo esse processo da decada de 1970 e
comec;am a se consolidar, em meados da decada de inicio dos anos 1980 se faz num contexto politico
1970, deparamo-nos nao so com uma ampliac;ao e social em que, num primeiro momento, a sociedade
das tematicas de estudo, mas tambem com um e cerceada em sua liberdade de manifestac;ao, na
aprimoramento metodologico, especialmente em vigencia da censura, em que se impoe uma politica
algumas subareas. Levantamentos disponiveis economic a de acumulo de capital para uma elite,
nos mostram que os estudos comec;am a se e em que as tecnologias de diferentes naturezas
distribuir mais equitativamente entre diferentes passam a ser valorizadas como prioridade. Em um
problematicas: curriculos, caracterizac;oes de redes segundo momento, deparamo-nos com movimentos
e recursos educativos, avaliac;ao de programas, sociais diversos, que comec;am a emergir e vem
relac;oes entre educac;ao e profissionalizac;ao, num crescendo, criando espac;os mais abertos
caracteristicas de alunos, familias e ambiente de para manifestac;oes socioculturais e para a critica
que provem, nutric;ao e aprendizagem, validac;ao e social, inaugurando um periodo de transi<;ao, de
critic a de instrumentos de diagnostico e avaliac;ao, lutas sociais e politicas, que constroem a lenta
estrategias de en sino, entre outras. Nao so houve volta a democracia. A pesquisa educacional,
aumento de trabalhos em temas diversificados, em boa parte, vai estar integrada a essa critica
como tambem quanto aos modos de enfoca-los. social e, na dec ada de 1980, encontramos nas
Passou-se a utilizar tanto metodos quantitativos produc;oes institucionais, especialmente nas
mais sofisticados de analise, como tambem dissertac;oes de mestrado e teses de doutorado -
qualitativos, e, no final da decada, um referencial as quais passam a ser a grande fonte da produc;ao
teorico mais critico, cuja utilizac;ao se estende da pesquisa educacional - , a . hegemonia do
a muitos estudos. Mas, nesse periodo, ainda, tratamento das questoes educacionais com base

20 21
em teorias de inspirac;:ao marxista. Do ponto de Conferencias Brasileiras de Educac;:ao dos anos
vista metodologico, no entanto, e um periodo em 1980, como pelo desenvolvimento da Associac;:ao
que encontramos alguns problemas de base na Nacional de Pesquisa e Pos-Graduac;:ao em
construc;:ao das proprias pesquisas. Voltaremos a Educac;:ao (Anped) mediante suas reunioes anuais.
essa questio mais adiante. Essa associac;:ao teve, a partir do final da decada de
Sendo a expansao intensa do en sino superidr 1970, papel marc ante na integrac;:ao e intercambio
e da pos-graduac;:ao necessaria e inevitavel, a de pesquisadores e na disseminac;:ao da pesquisa
formac;:ao de quadros no exterior tambem e gran- educacional e de questoes a ela ligadas. Contando
demente expandida na segunda metade dos anos com mais de vinte Grupos de Trabalho, que se
oitenta 1980 e inicio dos anos 1990. 0 retorno concentram em temas especificos dos estudos de
desses quadros traz para as universidades, nesse questoes educacionais, a Anped sinaliza bem a
pc:riodo, contribuic;:oes que comec;:am a produzir expansao da pesquisa educacional nas instituic;:oes
grandes diversificac;:oes nos trabalhos, tanto de ensino superior ou em centros independentes,
em relac;:ao as tematicas como as formas de publicos ou privados. Essa expansao se traduz
abordagem. Ao lado disso, alguns pesquisadores em numeros expressivos. Em suas Reunioes
experientes alimentam a comunidade academic a Anuais, a Anped tem contado com a participac;:ao
com analises contundentes quanto a consistencia de, aproximadamente, dois mil especialistas,
e ao significado do que vem sendo produzido sob entre pesquisadores e alunos dos mestrados e
o rotulo de "pesquisa educacional". E tambem doutorados, com aumento sistematico de trabalhos
nesses anos que se consolidam grupos de pesquisa que sao submetidos a apreciac;:ao de suas comissoes
em algumas subareas, quer por necessidades cientificas.
institucionais a luz das avaliac;:oes de orgaos No entanto, com essa expansao, tambem
de fomento a pesquisa, quer pela maturac;:ao se evidenciaram problemas de fundo na propria
propria de grupos que, durante as duas decadas produc;:ao das pesquisas, os quais merecem alguma
anteriores, vinham desenvolvendo trabalhos considerac;:ao.
integrados. Descortinam-se, no final desse periodo,
grupos solidos de investigac;:ao, por exemplo, em
alfabetizac;:ao e linguagem, aprendizagem escolar, Teoria e metodo
formac;:ao de professores, en sino e curriculos,
educac;:ao infantil, fundamental e media, educac;:ao As novas perspectivas com que se trabalhou
de jovens e adultos, ensino superior, gestio escolar, na pesquisa educacional nas decadas de 1980 ate
avaliac;:ao educacional, historia da educac;:ao, meados dos anos 1990 assentaram-se em criticas
politicas educacionais, trabalho e educac;:ao. Esse relativas a questoes de teoria e metodo, que nao
movimento pode ser acompanhado tanto nas estao resolvidas, mas que deram n~vo impulso aos

22 23
trabalhos e alimentaram alguns grupos de ponta Dominancias, pesquisa e as:ao
na pesquisa. Assim, a qualidade da produ<;:ao vai se
revelar muito desigual quanto ao seu embasamento
Se a pesquisa em educa<;ao tendeu a se
ou elabora<;ao teorica e quanto a utiliza<;ao de
desenvolver com certas convergencias historicas,
certos procedimentos de coleta de dados e de
verifica-se tambem que ela refletiu, nas decadas
analise. assinaladas, modelos de investiga<;ao que vinhat\l
Estudos dao conta da dificuldade de se
sendo propostos nos Estados Unidos, 1nglaterra
construir na area categorias teoricas mais consis-
ou Fran<;a, tendo impacto aqui com certo retardo,
tentes, que nao sejam a aplica<;ao ingenua de
muitas vezes com uma apropria<;ao simplificada
categorias usadas em outras areas de estudo
quanto a seus fundamentos. Embora nem toda
e que abarquem a complexidade das quest~es
a produ<;ao assim se caracterize, boa parte dela
educacionais em seu instituido e contexto soc1al.
reflete 0 que poderiamos chamar de modismos
P;eocupam a compreensao das condi<;oes
periodicos, provavelmente, reflexo da pouca
determinantes dos fatos educacionais, como
institucionaliza<;ao e da pequena tradi<;ao que
tam bern os mecanismos internos as escolas.
tinhamos de produ<;ao cientifica nessa area de
Essa dificuldade fez com que a investiga<;ao
estudos. 1sso pode estar associado, tambem, a
em educa<;ao mostrasse adesoes a sociologismos ou
certas caracteristicas de desenvolvimento de
a economicismos de diferentes inspira<;oes, de urn
estruturas de poder na academia e, portanto, de
lado, ou a psicologismos ou psicopedagogismos,
lutas pOl' hegemonias, de aceita<;ao pOl' grupos e
de outro, especialmente as chamadas teorias
manuten<;ao de posi<;oes nas institui<;oes onde a
socioconstrutivistas. A consciencia do problema pesquisa educacional tern seu curso.
a enfrentar, ou seja, 0 do entendimento mais claro
Alem desses modismos, que evidentemente
da natureza do proprio fenomeno educacional,
se associam a determinadas condi<;oes historico-
ou pelo menos das concep<;oes de educa<;ao que
conjunturais, outra tend en cia que parece clara em
inspiram as priticas de pesquisa, nao foi suficiente
muitos dos trabalhos e a do imediatismo quanto
para 0 enfrentamento dessas questoes de base.
a escolha dos problemas de pesquisa. Parece
A capta<;ao da estrutura do fenomeno, bern como
dominar a preocupa<;ao quanto a aplicabilidade
de sua dinamica, nao enquanto ideias que delas
direta e imediata das conclusoes, que, em geral, se
fazemos, mas sua capta<;ao em sua concretude
completam nos trabalhos pOl' "recomenda<;oes".
historico-social, como parece ser a exigencia que
Embora essa tendencia tenha se atenuado nos
se coloca para a pesquisa educacional, traz desafios
Ultimos anos, ela e presen<;a constante. 0 sentido
teoricos e metodologicos que permanecem em
pragmatico e de urn imediatismo especifico
aberto. observavel nos estudos feitos na area educacional
se reflete na escolha e na forma de tratamento

24
25
dos problemas. Esses problemas oriundos de consistentes, de colocac;:ao de perguntas mais
priticas profissionais sao tratados, em geral, nos dens as, e encontrado na produc;:ao das pesquisas
limites de urn recorte academicista discutivel em na area educacional, e nao so em nosso Pais.
seus alcances. Alem disso, a relac;:ao pesquisa/ Neste ponto, a relatividade do impacto dos
ac;:ao / mudanc;:a parece ser encarada de maneira resultados de investigac;:6es, cujas dimens6es
urn tanto simplista. Embora reconhecendo a sao sempre dificeis de aquila tar, e urn aspecto
necessaria origem social dos temas e problemas na que deve ser lembrado. Acresc;:a-se ainda que
pesquisa em educac;:ao e a necessidade de trabalhos o levantamento de quest6es mais de fundo
que estejam vinculados mais especificamente e a capacidade de antecipar hoje problemas
a quest6es que no imediato sao carentes de que estao se descortinando, mas cuja eclosao
analise e proposic;:6es, certa cautela quanto a essa nao esta visivel, sao pontos fundamentais na
tendencia deveria ser tomada, porque esse tipo colocac;:ao de problemas para pesquisa. Isso so e
de abordagem, na maioria das vezes, na medida possivel na me did a em que haja certa constancia
em que facilita a prevalencia do aparente e do e continuidade no trabalho de pesquisadores
excessivamente limitado, acaba deixando de lado dedicados a temas preferenciais pOl' periodos
quest6es que sao as realmente fundamentais. As mais longos, caracterizando certa especificidade
perguntas mais de fundo e de espectro mais amplo em sua contribuic;:ao a urn conhecimento mais
deixam de ser trabalhadas. Esse imediatismo traz sistematizado. Essa condensac;:ao de grupos
tambem consigo urn grande empobrecimento em algumas especialidades ou temas e uma das
teorico. dificuldades que encontramos na area da produc;:ao
Isso nao quer dizer que nao devamos nos da pesquisa em educac;:ao.
voltar para os problemas concretos que emergem
no cotidiano da historia da educac;:ao vivida pOl'
nos - e ai que os problemas tomam corpo - , mas As institui~oes

a pesquisa nao pode estar a servic;:o de solucionar

pequenos impasses do cotidiano, porque ela, pOl' Ha que considerar que, de modo geral,
sua natureza e processo de construc;:ao, parece nas universidades onde a pesquisa veio a se
nao se pres tar a isso, uma vez que 0 tempo da desenvolver, nem sempre encontramos condic;:6es
investigac;:ao cientifica, em geral, nao se coaduna institucionais de apoio a pesquisa educacional e,
com as necessidades de decis6es mais ripidas. A nesse quadro, a pesquisa na area veio revestida
busca da pergunta adequada, da questao que nao de caracteristicas de iniciativa individual. Essas
tern resposta evidente, e que constitui 0 ponto condic;:6es atingiram os programas de pos-
de origem de uma investigac;:ao cientifica. Nem graduarao stricto sensu ' decorrendo
)" . dai ' em
sempre esse esforc;:o de busca de hipoteses mais parte, suas dificuldades em consolidar, ate

26 27
recentemente, de modo fecundo, grupos de Contrapontos importantes
pesquisa com produc;:ao continuada. Verificamos
que, em alguns poucos programas de mestrado e Os anos 1980 foram fecundos: palco de
doutorado, no final dos anos 1980, solidificaram- contrapontos importantes, decisivos mesmo
se tendencias de trabalho - poderiamos dizer, para 0 cenario atual da pesquisa em educac;:ao.
comec;:aram a formar tradic;:ao - , enfrentando, Dois artigos publicados no final desse periodo
todavia, condic;:oes institucionais internas ainda tipificam essas discussoes. Refletindo 0 embate
nao tao favoraveis. As universidades brasileiras, quanto aos encaminhamentos das questoes
com raras excec;:oes, nao nasceram conjugando teorico-metodologicas entre os pesquisadores em
pesquisa e ensino; voltaram-se so para 0 ensino, educac;:ao no periodo, Luna (Cadernos de Pesquisa,
para dar urn diploma profissionalizante, tanto as n. 66, 1988) trabalha a ideia de urn falso conflito
de natureza confessional, como as leigas privadas entre tendencias metodologicas e Franco (Cadernos
e algumas publicas. Elas nao foram estruturadas de Pesquisa, n. 66, 1988) contrapoe-se argumentando
para incorporar a produc;:ao de conhecimento que 0 conflito entre tendencias metodologicas
de modo sistematico, como parte de sua func;:ao, nao e falso. Luna afirma que a questao das
sequer para a discus sao do conhecimento. Elas diferenc;:as metodologicas tern sido formulada
se mostraram voltadas para a reproduc;:ao de urn em termos imprecisos e que mesmo 0 sentido da
conhecimento que elas nao produziram, com 0 palavra metodologia tern variado no tempo, ora
qual nao trabalharam investigativamente, mas que aproximando-se do ambito das tecnicas estatisticas,
o absorveram e 0 transferiram. ora da ftlosofia ou sociologia da ciencia.
o espirito das "horas-aula" das instituic;:oes No entanto, para esse autor, se 0 pesquisador
isoladas de en sino superior igualmente se mostra explicit a sua pergunta/problema com clareza,
nas universidades, especialmente nas recem- elabora os passos que 0 levam a obter a informac;:ao
criadas. Muito pouco espac;:o se abriu para a necessaria para responde-Ia(o) e indica 0 grau
pesquisa nessas instituic;:oes, a nao ser a partir de de confiabilidade na resposta obtida, e possivel
pouco tempo para ca, quando outras perspectivas avaliar seu produto dentro do referencial proprio
sociopoliticas colocaram novos referenciais dele. Supoe-se, com isso, que os conflitos
para a constituic;:ao de universidades. 0 grande metodologicos seriam falsos, pois so poderiam
desenvolvimento no final da dec ada de 1980 enos se estabelecer no ambito de crenc;:as de confrarias
anos 1990 de programas de mestrado e doutorado, restritas. Outros vieses sobre a questao adviriam
com estimulos espedficos a pesquisa e com da considerac;:ao das diferentes tecnicas como
avaliac;:oes periodicas, e a redefmic;:ao das exigencias explicitadoras de diferenc;:as metodologicas, bern
para as carreiras docentes universitarias, trazem como pela tentativa de "confro.ntar diferentes
mudanc;:as substantivas a esse quadro institucional. tendencias teorico-metodologicas como se a

28 29
verdade de cada uma pudesse ser atestada pela Como ha enfoques conflitantes, ha posturas
fragilidade de outra". metodol6gicas tambem conflitantes.
A base de suas analises e dada pela sua Parte desses confrontos tern a ver com a
concepyao de que a "realidade empirica e complexa chamada pesquis~ qualitativa, cujo usa se expandiu
mas objetiva. Nao traz nela mesma ambiguidades". pela busca de metodos alternativos aos modelos
Ja 0 individuo e subjetivo, nao sendo capaz de experimentais e aos estudos empiricistas, cujo poder
separar 0 objeto de sua representayao. Dai 0 papel explicativo sobre os fenomenos educacionais vinha
da teoria, que e por onde existe a possibilidade de sendo posto em quesdo, como foram postos em
se integrarem os recortes que 0 homem faz dos quesdo os conceitos de objetividade e neutralidade
fenomenos. embutidos nesses modelos. As alternativas
Ao discutir as ideias de Luna, Franco adota apresentadas pelas analises chamadas qualitativas
o ponto de vista de que nao ha como separar comp6em urn universo heterogeneo de metodos e
aquele que conhece do objeto a ser conhecido, tecnicas, que vaG desde a analise de conteudo, com
ou seja, da parte da perspectiva de que 0 homem toda sua diversidade de propostas, passando pelos
nao e urn ser meramente especulativo que estudos de caso, pesquisa participante, estudos
precis a controlar sua subjetividade e "sair de si etnograficos, antropol6gicos etc.
mesmo" para gerar conhecimento cientifico. o confronto salutar, explicitado em todos estes
o pensamento humano man tern uma relayao trabalhos, foi 0 caldo de cultura no qual se avanyou
dialetica na construyao das teorias, vinculada a nos anos 1990, nas produy6es e preocupay6es com
pratica social de seus construtores e dos que as a pesquisa em Educayao. Conflitos entre posturas
epistemol6gicas, diferenciais de metodos e formas
utilizam. Nao cabe, pois, dicotomizar sujeito e
espedficas de utilizayao de tecnicas, avanyos na
objeto, nem teoria e pratica. Considera essa autora
explicitayao do objeto e problemas de natureza
que a formalizayao dos requisitos que Luna coloca
institucional fazem parte do vivido nas lides dos
como basicos em qualquer pesquisa, qualquer que
que trabalham com a investigayao cientifica.
seja a metodologia, nao e suficiente para expressar
tendencias metodol6gicas nem para explicitar a
abordagem te6rica, e muito menos para expor 0 Os procedimentos na investiga~ao
fio condutor que da significado aos procedimentos
que ela adota, quaisquer que sejam, e mesmo a Alguns problemas ligados ao uso de certos
investigayao como urn todo. 13, nesse nivel que metodos sao comuns no Brasil como na produyao
os conflitos se instalam, ou seja, no processo em de outros paises, na area educacional, inclusive
que homens concretos, historicizados, pesquisam nos considerados como matrizes dessa produyao.
uma realidade concreta, dinamica. Enfoque do Quesdo que nao se acha suficientemente
real, metodologia e teoria sao interdeterminantes. discutida e trabalhada pelos pe; quisadores e a

30 31
tendencia a nao discussao em profundidade das strictu sensu e sua analise esta atrelado as propriedades
implica<;:oes do uso de certas tecnicas, e mesmo do conjunto numerico, associado as variaveis em
da propriedade e adequa<;:ao desse uso e de sua estudo, portanto, a def1ni<;:ao destas e a garantia de
apropria<;:ao de forma consistente. que elas gozam de certas caracteristicas. Isso impoe
Observamos que, de pesquisas extremamente um tipo de logic a ao tratamento do problema em
instrumentalizadas e de medidas aparentemente exame e ao uso de delineamentos espedficos para
bem definidas, com 0 uso de modelos estatisticos a coleta e a analise dos dados, que nem sempre os .
mais ou menos sofisticados, nos saltamos para pesquisadores dominaram, nem dominam, para a
o lado oposto, onde passamos a fazer a critic a utiliza<;:ao adequada e enriquecedora.
acirrada a inoperancia desse modelo. Mas devemos Criticas de diferentes naturezas foram feitas
reconhecer que se caiu no absoluto de uma critica entre nos a esses modelos quantificadores, sem
que.nem sempre explicitou seus prindpios e que uma analise mais profunda das suas implica<;:oes,
ficou num discurso, na maioria das vezes, vago, e as analises com dados quantitativos foram
porque pouco fundamentado em conhecimentos praticamente banidas de nossos estudos. Nos
consistentes sobre 0 outro modelo, no caso 0 ultimos anos, vemos proliferar em nosso meio,
quantitativo, e tambem porque nao ousar dizer bem como em muitos outros paises, pesquisas em
sobre as alternativas apresentadas como solu<;:ao, educa<;:ao que se revestem de caracteristicas bem
tipo panaceia, para a pesquisa em educa<;:ao. diferenciadas do ponto de vista dos procedimentos,
Aqui se enquadra a questao das op<;:oes pelo em face as desenvolvidas com predominancia em
uso de modelos quantitativos de coleta e analise de decadas anteriores. Uma dessas caracteristicas e 0
dados ou pelos chamados modelos qualitativos, ou uso de tecnicas nao quantitativas de obten<;:ao de
seja, aquelas metodologias que nao se apoiam em dados, tipo observa<;:ao cursiva ou participante,
medidas operacionais cuja intensidade e traduzida analise de conteudo, analise documental, historias
em nfuneros. E preciso considerar que os conceitos de vida, depoimentos etc. Essas abordagens se
de quanti dade e qualidade nao sao totalmente colocam como alternativas novas para 0 trato de
dissociados, na medida em que, de um lado, a Problemas e processos escolares" mas sobretudo,
quantidade e uma interpreta<;:ao, uma tradu<;:ao, trouxeram uma salutar revisao dos parametros
um significado que e atribuido a grandeza com mais comumente utilizados para deflnir 0 que e
que um fenomeno se manifesta (portanto, e uma fazer ciencia. Seus fundamentos sao outros e se
qualifica<;:ao dessa grandeza) e, de outro, ela precis a manifestam pelo questionamento da neutralidade
ser interpretada qualitativamente, pois, sem rela<;:ao do pesquisador e dos instrumentos de pesquisa,
a algum referencial, nao tem significa<;:ao em si. do conceito de causalidade deterministica, da
De qualquer forma, 0 conjunto de pro cedi- objetividade baseada na ideia da imutabilidade dos
mentos de pesquisa que envolve a quantifica<;:ao fenomenos em si, da repeti<;:ao estatica. Trazem

32 33
tambem um grau alto de exigencia para 0 trato por exemplo, de continuidade, intervalaridade,
com a realidade e a reconstrw;:ao, justamente proporcionalidade, forma da distribui<;ao dos
por postularem 0 envolvimento historicizado do valores, entre outros. Constata-se, ainda, a ausencia
pesquisador, assim como em outros modelos, de consciencia dos lirnites impostos pelos dados,
por exemplo, nos experimentais ou quase- pelo modo de coleta, as possiveis interpreta<;oes.
experimentais, se coloca a necessidade de um E, ainda, interpreta<;oes empobrecidas pelo nao
dominio de tecnicas de constru<;ao de instrumentos dominio dos fundamentos do metodo de analise
sofisticadas e compreensao das anilises estatisticas empregado. Encontram-se tambem observa<;oes
complexas em seus fundamentos. Os estudos de casuisticas, sem parametros teoricos; descri<;oes do
natureza dita "qualitativa" nao podem significar obvio; elabora<;ao pobre de observa<;6es de campo
uma banaliza<;ao. conduzidas com precariedade; anilises de contelldo
. A pergunta que nos colocamos, ao exarni- realizadas sem metodologia dara; incapacidade de
narmos atentamente essas vertentes de pesquisa, reconstru<;ao do dado e de percep<;ao critica de
a partir do que esta produzido na pesquisa vieses situacionais; des conhecimento no trato
educacional no Brasil, e se ha um dominio da historia e de estorias; precariedade na documen-
consistente de metodos e tecnicas de investiga<;ao, ta<;ao e na analise documental. Os problemas nao
qualquer que seja a abordagem em que 0 sao poucos, tanto de um lado como de outro, 0 que
pesquisador se situa. No exame dos trabalhos, nos leva a pensar na preciria forma<;ao que tivemos
constatamos algumas fragilidades sob essa otica e temos, para usa e critica tanto dos metodos ditos
que merecem ser apontadas. quantitativos como dos qualitativos. Nessa dire<;ao,
E fundamental 0 conhecimento dos meandros Warde (Cadernos de Pesquisa, n. 73, 1990) comenta,
ftlosoficos, teoricos, tecnicos e metodologicos da em estudo detalhado sobre disserta<;oes e teses na
abordagem escolhida. Sob esse ponto tambem ha area da educa<;ao, que "muitas indicam 0 manejo
alguns problemas nos trabalhos de pesquisa na amadorlstico dos complexos procedimentos
area educacional, tanto nos que usaram quanti- nelas implicados com a deriva<;ao de resultados
fica<;ao quanto nos que usaram metodologias cientificos e sociais pouco relevantes".
alternativas. Nas abordagens quantitativas, verifi- Precisa-se considerar 0 alto grau de maturidade
camos hipoteses mal colocadas; variaveis pouco e refinamento subjetivo exigido pelas chamadas
operacionalizadas ou operacionalizadas de modo metodologias qualitativas (Andre; Ludke, 1986),
inadequado; quase nenhuma preocupa<;ao com a e podemos conduit que elas nao estejam sendo
validade e a fidedignidade dos instrumentos de adequada e oportunamente manipuladas, nao so,
medida; variaveis tomadas como independentes como em geral se quer fazer crer, pelas condi<;oes
sem 0 serem; modelos estatisticos aplicados a adversas em que se realizam as pesquisas, mas
medidas que nao suportam suas exigencias basicas, porque a forma<;ao que esta sendo dada nao e

34 35
adequada nem suficiente. Acrescenta Warde (1990) pesquisas realizadas nas institul<;:oes de ensino
que ha de se destacar que "da utiliza<;:ao crescente superior contribuiram para 0 desenvolvimento das
das novas metodologias exploratorias/ qualitativas reformas e inova<;:oes realizadas ou em realiza<;:ao
decorre a composi<;:ao de amostras intencionais ou no sistema educacional, nos niveis fundamental
arbitrarias, muito reduzidas e predominantemente e medio (1986; 1994). Na medida em que
constituidas de alguns sujeitos; no caso das entrevistamos tanto 0 pessoal das Universidades
descritivas-narrativas, a "amostra" e 0 proprio como 0 pessoal das Secretarias de Educa<;:ao, em
autor que expoe sua "experiencia" ou "vivencia". diversos pontos do Pais, e em diferentes niveis
Mesmo utilizadas nas disserta<;:oes/teses que da administra<;:ao, nos foi possivel fazer uma-
abordam diferentes assuntos (educa<;:ao popular, reflexao sobre essa rela<;:ao a partir das falas dos
educa<;:ao e movimentos sociais e outros), as novas entrevistados. Os fatores aos quais se atribui, no
metodologias preponderam entre os estudos geral, a insuficiente participa<;:ao das institui<;:oes de
relativos aos processos e praticas intraescolares, en sino superior nos projetos de desenvolvimento
com particular enfase nos pedagogicos. Nesses ou de inova<;:oes do sistema educacional, bern como
estudos, sao produzidos, em regra, propostas a pouca utiliza<;:ao das pesquisas educacionais,
de a<;:ao (administrativas e/ou pedagogicas) para sao: desvincula<;:ao das universidades brasileiras
institui<;:oes ou redes de ensino". Qual a real dos niveis basicos de ensino; distanciamento das
validade disso? universidades em rela<;:ao aos problemas praticos;
E preciso reconhecer que nao temos nos visao idealizada e teorica da universidade sobre
omitido no enfrentamento desses problemas, mas o ensino; falta de maior procura por parte dos
que nem tudo 0 que se faz sob 0 rotulo de pesquisa orgaos governamentais em rela<;:ao auniversidade;
educacional pode ser realmente considerado carater te6rico das pesquisas; inexistencia quase
como fundado em principios da investiga<;:ao total de trabalhos conjuntos; falta de comunica<;:ao
cientifica, traduzindo com suficiente clareza suas dos resultados das pesquisas; as dificuldades dos
condi<;:oes de generalidade e, simultaneamente, administradores de en sino em fazer a passagem
de especializa<;:ao, de capacidade de teoriza<;:ao, de da teoria a pratica; rigidez do sistema educacional
critica e de gera<;:ao de uma problematica propria, na absor<;:ao de propostas inovadoras; pouca
transcendendo pelo metodo nao so 0 senso importincia atribuida a pesquisa em alguns
comum como as racionaliza<;:oes primarias. segmentos governamentais.
Os pesquisadores entrevistados levantam
Pesquisa em educa~ao e seu impacto social problemas para esta colabora<;:ao, como: falta de
habito dos administradores escolares de recorrer a
Realizamos dois trabalhos cujos objetivos pesquisas para 0 desenvolvimento qe seus projetos;
eram os mesmos: analisar como e em que magnitude falta de mecanismos eficientes de integra<;:ao entre

36 37
os orgaos produtores e os orgaos potencialmente dessas investiga<;:oes se produzem, e bem diferente
consumidores de pesquisa educacional; projetos dos tempos do exercicio "em tempo real" da
de pesquisa excessivamente individualizados, docencia e da gestao educacional. Os estudos,
com descontinuidade na produ<;:ao; problemas de as pesquisas tem um tempo de matura<;:ao, e 0
comunica<;:ao e difusao. professor nao pode suspender sua a<;:ao, nem
Todas essas considera<;:oes sao extremamente os gestores de sistemas, em seus diferentes
relevantes e merecem reflexao por parte dos niveis de responsabilidade. Respostas imediatas
pesquisadores. Porem, e preciso lembrar que, e continuadas sao exigidas destes e nao dos
na visao do pessoal que trabalha nas redes pesquisadores. Enquanto a pesquisa questiona e
de ensino, bem como nas coloca<;:oes feitas tenta compreender cada vez melhor as questoes
pelos pesquisadores de universidades tambem educacionais, os administradores, tecnicos e
entrevistados, observa-se uma perspectiva linear, professores estao atuando a partir dos conceitos
revelando uma concep<;:ao muito idealista quanto e informa<;:oes que lhe foram disponibi}izados em
arela<;:ao pesquisa x politicas x a<;:oes educacionais. outro espa<;:o temporal.
Isso nao condiz com as perspectivas de produ<;:ao o que se produz como conhecimento nas
historica de rela<;:oes, seja quanto a objetos da reflexoes e pesquisas na academia socializa-se nao
cultura, seja quanto a movimentos politico-sociais. de imediato, mas em uma temporalidade historica,
Ha inegavelmente uma porosidade entre 0 que e essa historia construida nas rela<;:oes sociais
se produz nas instancias academicas e 0 que se concretas seleciona aspectos dessa produ<;:ao
passa nas gestoes e a<;:oes nos sistemas de ensino, no seu processo peculiar de dissemina<;:ao e
mas os caminhos que medeiam essa inter-rela<;:ao apropria<;:ao. Exemplo disso foi 0 impacto dos
nao sao simples, nem imediatos. Fazem parte estudos sobre 0 fracas so escolar e a qualidade
desse processo de porosidade todos os e ruidos e do ensino em politicas nos anos 1990, a partir de
nuances relativos aos processos de comunica<;:ao pesquisas e discussoes do final dos anos 1970 e
humana, de dissemina<;:ao dos conhecimentos, de 1980. E evidente que 0 enfoque que atualmente se
decodifica<;:ao de informa<;:ao e sua interpreta<;:ao, da nas politicas publicas e nas discussoes de jornais
num dado contexto de for<;:as sociais em conflito. e revistas, ou seminarios de setores do trabalho em
E eles sao muitos. A leitura do produzido, como educa<;:ao, assenta-se em uma constru<;:ao lenta de
dizemos no jargao academico, e polissemica e feita conhecimento que se acumula em muitos anos.
no ambito do processo de aliena<;:ao historico- Mesmo quando se atualizam dados de demografia
social a que todos estamos sujeitos. educacional, as perspectivas de analise fundam-se
Agregado a isso ha 0 fator tempo. 0 tempo em outros dados e algumas reflexoes consolidadas
dos caminhos da investiga<;:ao cientifica e da em um tempo anterior. Para os conhecedores
dissemina<;:ao de sinteses, que atraves e a partir da questao, que utilizamos com~ exemplo, esses

38 39
problemas comec;:aram a ser contundentemente um periodo his to rico no qual eles formaram ideias,
revelados e abordados, com a conotac;:ao espedfica ideais e valores. Essas aprendizagens, feitas pelas
dada a ele hoje publicamente, justamente em mediac;:oes de cad a um, serao transformadas, pois
pesquisas de porte realizadas e publicadas no final terao ressonancia nos lugares em que suas ac;:oes
dos anos 1970 e comec;:o dos anos 1980. Depois profissionais irao se desenvolver. As ideias que
desses trabalhos, 0 que se fez foi desenvolver se formulam pelas pesquisas, estudos, reflexoes,
a mesma trilha e mostrar que 0 problema so ensaios, e que passam para as gerac;:oes em formac;:ao
aumentava de magnitude. Entre Ii e ca, alguns num dado tempo, bem como no continuo de seu
reflexos existiram em iniciativas politicas, algumas exerdcio profissional, sao levadas de alguma forma
mais locais, em instituic;:oes espedficas, outras mais para dentro desse exerdcio, e suas marcas se fazem
amplas, em Estados ou munidpios, como, por sentir numa temporalidade diferente daquela em
exerhplo, a implantac;:ao do ciclo basico no Estado que se formou uma base de conhecimentos e
de Sao Paulo, ai, tambem, as "escolas-padrao"; as de formas de pensar determinadas. Por sua vez,
diferentes iniciativas de diversos governos para esses professores nao deixam de receber 'novas
a renovac;:ao dos processos de alfabetizac;:ao e 0 informac;:oes, que se confrontam ou se integram as
desenvolvimento da leitura e da escrita; os ciclos que eles ji tem. Entao 0 processo tem aspectos de
de ensino nos munidpios de Sao Paulo e Belo sucessividade e de simultaneidade, num contexto
Horizonte; as "classes de acelerac;:ao", em muitos institucional que e historico, historico pessoal e
Estados, entre outras. social. Alguns permanecem na escola ensinando,
Esse impacto assume as caracteristicas do outros vaG desempenhar outras func;:oes, tecnicas
possivel historicamente determinado, portanto, ou administrativas, ou normativas, mas portando
nao assume uma feic;:ao do idealizado nas reflexoes consigo a base, mesmo que transformada, com
enos desejos dos pesquisadores, mas a feic;:ao do a qual adentraram na seara da educac;:ao. Ai se
factivel, no confronto dos interesses e poderes que manifestara em suas ac;:oes aquilo que construiram
atuam no social numa dada conjuntura. como conhecimento, a partir de seu proprio
A porosidade entre pesquisa e suas aplicac;:oes processo educativo e de sua pratica social e
possiveis nas politicas educacionais tambem profissional.
e determinada pela formac;:ao dos quadros
componentes dos sistemas de ensino. Esses
quadros receberam sua formac;:ao bisica em um Hi urn papel social para a consistencia
determinado tempo e lugar, tendo acesso e lendo metodol6gica?
uma deter min ada bibliografia, ou sendo por
esta orientados mediante as exposic;:oes de seus Os resultados de pesquisa, na sua disseminac;:ao
professores. Ensinou-se a eles alguma coisa em pelo social, parecem tambem te; alguma relac;:ao

40 41
com os metodos de trabalho dos pesquisadores as politicas educacionais, entendidas estas tanto
em sua possibilidade de gerar alguma credibilidade como expressas nos aspectos de sua gestio mais
dentro e, depois, fora dos ambientes academicos. ampla, como tambem naquilo que se concretiza
Algo ligado a plausibilidade dos resultados e de nos cotidianos das escolas.
sua generalizac;ao ou transformac;ao em ac;oes e
priticas. Claro que essa disseminac;ao e seletiva,
desigual e dependente dos jogos de forc;as sociais Referencias bibliograficas
em determinado momento. Esse aspecto mereceria
maiores estudos. ANDRE, Marli E . D. A. de. Texto, contexto e
E como se houvesse uma sensibilidade significados: algumas sugestoes na analise de
social ao que e mais rigoroso, ou confiavel, ao dados qualitativos. Cadernos de P,esquisa, Sao Paulo,
men9s frigil metodologicamente, nao facilmente n . 45, 1983.
demolivel pelos furos nas coletas de dados ou
analises, nao facilmente contra-argumentavel. CAMPOS, Maria M. M. Pesquisa participante:
Ha tambem nesse processo de impacto social possibilidades para 0 estudo da escola. Cadernos
os consequentes da aplicac;ao dos resultados da de Pesquisa, Sao Paulo, n. 49, 1984.
investigac;ao cientifica nos sistemas escolares
- efetivos, nao efetivos - , que servem para a DEMO, Pedro. Qualidade e representatividade
avaliac;ao de sua consistencia. de pesquisa em educac;ao. Cadernos de Pesquisa, Sao
Historicamente, alem das associac;oes com Paulo, n. 55, 1985.
determinados tipos de poder e conjuntura, para ser
tomado como conhecimento relevante e penetrar FRANCO, Maria Laura P. B. Porque 0 conflito
no social, 0 conhecimento advindo das pesquisas entre tendencias metodol6gicas nao e falso.
parece necessitar tambem carregar em si um tipo Cadernos de Pesquisa, Sao Paulo, n. 66, 1988.
de abrangencia, nivel de consistencia e foco de
impacto, aderencia ao real, tocando em pontos GATTI, Bernardete A. P6s-graduac;ao e pesquisa
criticos concretos. Ha pesquisas "politicamente em educac;ao no Brasil, 1978-1981. Cadernos de
interessantes" ante certos grupos, mas que Pesquisa, Sao Paulo, n. 44, 1983.
mostram fDlego curto ante 0 experimentado
socialmente. Suas inconsistencias metodol6gicas ___ . Participac;ao do pessoal da educac;ao
dao-Ihes fDlego curto. Ha muitos exemplos superior nas reformas ou inovac;oes do sistema
historicos disso em pesquisas de diferentes areas. educacional. Cadernos de Pesquisa, Sao Paulo,
Como se ve, muitos sao os fatores presentes n . 59, 1986.
nessa tensao e na porosidade entre as pesquisas e

42 43
_ _ _ . Pesquisa em educa<;:ao: tendencias e LUNA, Sergio. 0 falso conflito entre tendencias
potencialidades da pesquisa educacional no metodol6gicas. Cadernos de Pesquisa, Sao Paulo:
Brasil. Anais: III Seminario Regional da Sociedade FCC; Cortez, n. 66, 1988.
Brasileira de Educa<;:ao Comparada - Regiao
Sudeste. Sao Paulo: USP, 1987. MELLO, Guiomar N A pesquisa educacional no
Brasil. Cadernos de Pesquisa, Sao Paulo, n. 46, 1983.
_ _ _ . Pesquisa em educa<;:ao: um tema em
debate. Cadernos de Pesquisa, Sao Paulo: Cortez, SILVA, Tereza. R. N; GATTI, Bernardete A.
n. 80, 1992. Alfabetiza<;:ao e educa<;:ao basica no Brasil. Cadernos
de Pesquisa, Sao Paulo: FCC; Cortez, n. 75, 1990.
_ _ _. Pesquisa educacional: em busca de uma
pro~lematica pr6pria. Impulso - Revista da Unimep, WARDE, Miriam J. 0 papel da pesquisa na
Piracicaba-SP: Ed. da Unimep, 1993. p6s-gradua<;:ao em educa<;:ao. Cadernos de Pesquisa,
Sao Paulo: FCC; Cortez, n. 73, 1990.
_ _ _. Pesquisa educacional, a<;:6es e politicas
educacionais. Textos FCC, numero especial, Sao
Paulo: Funda<;:ao Carlos Chagas, 1994.

_ __. 0 problema da metodologia da pesquisa

nas ciencias humanas. In: Rodrigues, M. L.; Neves,
N P. (Org.). Cultz'vando a pesquisa. Sao Paulo: Ed.
Unesp, 1998.

_ _ _ . Algumas considera<;:6es sobre pro cedi-

mentos metodol6gicos nas pesquisas educacionais.
ECCOS - Revista Cientifica, S. Paulo, n. 1, 1999.

GOUVEIA, Aparecida J. A pesquisa educacional

no Brasil. Cadernos de Pesquisa, Sao Paulo, n. 1, 1971.

_ _ _ . A pesquisa sobre educa<;:ao no Brasil:

de 1970 para ca. Cadernos de Pesquisa, Sao Paulo,
n.19,1976.

44 45
 Capitulo 2

QUESTOES DE METODa NAS

PESQUISAS EM EDUCAC;XO

Metodo nao e algo abstrato. Metodo e ato

vivo, concreto, que se revela nas nossas a<;oes, na
nossa organiza<;ao do trabalho investigativo, na
maneira como olhamos as coisas do mundo.
Em geral, ha certa confusao nas questoes de
metodo dado que a forma<;ao em pesquisa nas areas
das ciencias sociais e humanas nas universidades
brasileiras foi pouco incentivada, porque nao
tinhamos, na maioria de nossas institui<;oes de
ensino superior, tradi<;ao de pesquisa. Isso e
mais acentuado em algumas areas do que em
outras. Podemos mesmo dizer que, nas areas das
Ciencias Humanas e Sociais, ate recentemente,
nao tinhamos massa critic a de investigadores de
largo espectro, diferentemente do que ocorria nas
areas das Ciencias Exatas e Biol6gicas, que tem
outra tradi<;ao.
Na area da Educa<;ao, a tradi<;ao de pesquisa
restringiu-se a poucas iniciativas, ate alem de
meados do seculo 20, e sua expansao como area de
investiga<;ao e mais recente. E preciso reconhecer
que na area educacional dispunha-se de pessoas
com ampla e profunda forma<;ao cultural, mas que
nao tinham interesse, nem forma<;ao espedfica na
area da investiga<;ao empirica. Sua ~tua<;ao passava

47
mais por questoes de natureza ftlosofica, de teoria mais solidos quanto as questoes de pesquisa, aos
sociologica, de reflexoes mais gerais. Dominava 0 metodos de trabalho e a abrangencia e possivel
beletrismo ou 0 bacharelismo de base dlscursiva. validade de suas condusoes. Por exemplo, teorias
E preciso apontar tambem que as politicas de como a abordagem piagetiana ou a psicanalise, na
financiamento da pesquisa, por longo tempo, psicologia, ou 0 weberianismo e 0 marxianismo,
nao privilegiaram as areas sociais e humanas e, na sociologia, quando trabalhadas com pertinencia,
em particular, a educac,:ao. A tradlc,:ao de pesquisa ofere cern u~ balizamento forte, dentro de seus
nessa area veio se formando aos poucos, com parametros, para investigac,:oes e para a revisao de
apoio financeiro precario, e enfrenta dlficuldades perspectivas e de teoria.
para se fir mar porque dlspomos de urn conjunto Porem isso nao ocorre de modo geral
ainda reduzido de pessoas que mergulharam a nas diferentes subareas em que se des dobra 0
fundo na construc,:ao do conhecimento a partir de campo da investigac,:ao em educac,:ao, em que
investigac,:oes consistentes e solidas, desenvolvidas os estudos mostram uma teorizac,:ao ainda
com continuidade tematica e teorica. Temos precaria e onde ha, nas apropriac,:oes teorico-
problemas no dominio de teorias. Enfrentamos metodologicas de outras areas, grandes dlstorc,:oes
problemas de base nas abordagens metodologicas. e ambiguidades. Muitas vezes, pela falta de
Esses problemas variam de subarea para subarea, consistencia, trabalha-se sobretudo no ambito de
e de grupo para grupo, ressalvando que alguns ideologias ideossincratizadas e monolitizadas, e
grupos apresentam uma situac,:ao quase de a construc,:ao teorica propria mostra-se bastante
excelencia. fragil, contraditoria e/ou incipiente. E comum
Quando falamos de metodo, estamos falando verificar-se 0 transporte de teorias e abordagens
da forma de construir 0 conhecimento. Nesse de tradic,:oes mais consistentes para areas em
ambito, setores em que a pesquisa e a teoria que isso nao ocorreu ainda, sem haver uma
levaram a constituic,:ao de referenciais espedficos, analise critica quanto a seu nivel de abrangencia
mais daros e mais fortes, estes suportaram 0 e adequac,:ao relativas a perspectivas, problemas
levantamento e a sustentac,:ao de novas ideias, e campo de trabalho e, muitas vezes mesmo,
questoes, hipoteses de trabalho e os meios de sem 0 dominio academico adequado das teorias
investiga-las. transplantadas. Ha, nesse sentido, uma apropriac,:ao
Onde teorias mais consistentes foram superficial, empobrecedora e, no mais das vezes,
elaboradas a partir da observac,:ao sistematica e equivocada. Podemos dlzer que se faz urn usa
da critica pertinente - e confrontadas dentro dos acritico de teorias criticas. Teorias tern sentido
limites de suas defmic,:oes, pela natureza do proprio no ambito historico de sua construc,:ao, que se
referencial que lhes da suporte e dos esforc,:os para da no contexto de uma tradic,:ao de trabalho.
sua construc,:ao - , encontramos posicionamentos Descontextualizadas e transplantadas sem raizes,

48 49
as teorias se descaracterizam ou viram dogmas. os circulos academicos. Devemos lembrar que
Perdem, portanto, sua condi<;:ao de verdade esse modelo tern qualidades interessantes e nao
aproximada e relativa, de sintese provisoria, a ser despreziveis para a produ<;:ao de certo tipo de
revista, discutida e superada mediante a pesquisa conhecimento, nos limites de suas proposi<;:oes, e
consistente e critica, dentro de uma apropriada para determinados tipos de questoes.
tradi<;:ao investigativa. o grande momenta de expansao das areas
humanas de estudos como "ciencias", nessa.
concep<;:ao positivada, e nao mais como areas
Ciencia una, me to do uno? especulativas, foi no come<;:o do seculo 20,
sobretudo depois de 1930, que e quando mais
o modelo das ciencias exatas e biologicas, que fortemente se da a apropria<;:ao de certos modelos
foram erigidas como sendo ''A Ciencia" no seculo das ciencias fisicas e naturais pelas ciencias
19 e inicio do seculo 20, come<;:ou nas primeiras humanas e sociais. A area educacional se incorpora
decadas desse seculo a ser apropriado pelas a esse movimento.
ciencias humano-sociais, estas em sua procura por E quando se bus cam leis gerais de causa e
urn espa<;:o no ambito da cientificidade. efeito, ou rela<;:oes funcionais deterministicas.
E interessante lembrar que nesse periodo, Essa apropria<;:ao traz varios problemas para as
por exemplo, com a teoria da relatividade, a fisica ciencias humano-sociais. Nao que a quantifica<;:ao
ja vinha fazendo uma mudan<;:a de perspectivas e a metodologia experimental nao sejam, em
em seus modelos interpretativos, e, como ela, caso algum, apliciveis as areas de estudos socio-
varias outras areas tambem mudavam suas formas humanas, ou sejam urn mal em si ou dispensaveis.
metodologicas e teorias sob 0 impacto das rupturas Ao contrario. Sem as experimenta<;:oes, nas ciencias
nas estruturas dos conhecimentos, em busca da em geral, nao se sabe1'ia muita coisa. Sem modelos
supera<;:ao de impasses revelados pelas proprias matematicos e quantifica<;:ao ha fenomenos que
inves tiga<;:oes. sao absolutamente inescrutaveis. Na educa<;:ao elas
Naquele momenta historico, come<;:a-se podem ter 0 seu papel em pesquisas especificas (as
nas ciencias humanas, na aspira<;:ao por urn demograficas, por exemplo), mas e 0 ideario dentro
conhecimento dito objetivo-cientifico, a imitar do qual essa apropria<;:ao se fez, a perspectiva
aquilo que nas ciencias experimentais veio sendo dogmatica com que se passou a construir instru-
consagrado atraves de varios seculos como sendo mentos de medida e a acreditar nas medidas de
"0 Metodo" cientifico. Ou seja, a imitar 0 modelo forma absolutizada, a acreditar na neutralidade
representacional entao ideologicamente valorizado das interven<;:oes de pesquisa e dos dados. Mudou
e socialmente veiculado de ciencia, modelo esse a propria maneira como se passou a medir e
que, de certa forma, ainda permeia fortemente a descrever fenomenos, como' se as medidas

50 51
fossem exatas e as relac,:oes lineares de causa e a essa forma de investigac,:ao cientifica. Aquele
efeito fossem diretamente detectaveis e pudessem tipo de busca de objetividade correspondeu a um
tudo explicar dos fenomenos humanos, sociais momenta social em que a crenc,:a na ciencia e seu
ou educacionais, sem maiores indagac,:oes sobre metodo - reificados e endurecidos num modelo
a natureza das medidas e a propriedade ou a real unico - se impunha como ideia hegemonic a tanto
validade dos conceitos que as fundamentam. Tudo no ambiente universitario como aos leigos.
isso corresponde a uma construc,:ao hist6rica, Tudo nesse modelo e invalido? E 6bvio que
que se mostrou possivel e talvez ate necessaria nao. Onde se localizam os problemas? Podem estar
em certo contexto da civilizac,:ao ocidental. Foi nos fundamentos dos instrumentos, nas formas e
o caminho pelo qual se construiu 0 estatuto de perspectivas associadas a seu uso e manipulac,:ao.
ciencia para essas areas que pretendiam basear Podem nao se situar nos instrumentos em si, mas
seu conhecimento em pesquisa empiric a e nao em se admitir que esses instrumentos sao neutros
mais em proposic,:oes idealizadas. Historicamente e objetivos e, assim, interpreta-Ios; em se to mar as
essa concepc,:ao de ciencia e metodo se impos conclusoes como verdades que sao absolutizadas
na produc,:ao social da Ciencia. Psicometria e e generalizadas sem questionamentos sobre seus
sociometria expandem-se. Na psicologia, por limites. Esta em nao se considerar erros e vieses.
exemplo, e 0 momenta aureo dos testes de Os problemas situam-se na maneira como se
inteligencia, das escalas de atitudes; na sociologia, utilizam tecnicas que se traduzem como metodo.
das escalas sociometricas, de distancia social; na Esta, pois, nas crenc,:as, no julgamento de que
educac,:ao, os testes de prontidao para alfabetizac,:ao se esta medindo os fenomenos e respondendo
etc. Foi um movimento para tirar essas areas da a questoes de modo definitivo e absoluto, sem
egide da ftlosofia ou da especulac,:ao puramente mesmo considerar que qualquer medida e uma
beletrista ou subjetivista. construc,:ao arbitrada. Ela nao e0 fenomeno.
Essa "objetivac,:ao" se faz, pois, sem os ques- Essa tradic,:ao objetivante, embora relativizada
tionamentos da relatividade dos fenomenos, da e mudada pelas criticas internas e externas, esta
contaminac,:ao valorativa do pesquisador na coleta presente em nosso cotidiano de pesquisas e tem
e no tratamento dos dados, dos vieses intrinsecos ai seu papel. Essa presenc,:a se coloca muitas
dos instrumentos de medida e de sua validade vezes de uma forma crivada por um bom senso
real, da pr6pria discussao sobre as possibilidades critico, mas, outras vezes, nao. Evidencia-se
concretas de controle das condic,:oes de levanta- entre grupos de pesquisa grande desigualdade de
mento dos dados, e sem questionamentos quanto consistencia na apropriac,:ao e no desenvolvimento
as reais possibilidades de experimentos envolven- de metodos e tecnicas de analise nessa tradic,:ao.
do questoes sociais e humano-subjetivas - todas No meio educacional podemos detectar, pelo
as questoes que irao balizar mais tarde as criticas acompanhamento hist6rico de 'produc,:oes de

52 53
grupos de pesquisa, que a maioria deles na verdade nao se estivesse lidando, sempre e sempre, com
sequer apreendeu com consistencia a logica e questoes de qualidade, de qualificac;ao. Nessa
os procedimentos dessa vertente. Houve uma mudanc;a nao parece ter havido urn processo
apropriac;ao nao so acritica do modelo, como de transformac;ao, mas, sim, urn movimento de
tambem esta foi feita sem aprofundamento e sem adesao, novamente acritica, sem que as novas
o dominio necessario, pelo menos a seu born uso perspectivas tenham sido realmente dominadas,
dentro de seus limites. Observa-se mesmo falta apropriadas com integrac;ao compreensiva e'
de dominio de prindpios e conceitos elementares abrangente de seus prindpios basicos, estes muito
entre os usuarios e tambem entre seus criticos. Ou complexos pela natureza mesma das metodologias
seja, 0 que se constata e urn uso sem base real. Isso nao quantitativas e dos elementos novos com que
e observavel em erros primarios detectaveis em se esta trabalhando. Nessa direc;ao nao espanta
analises quantitativas e instrumentos de medida, ao pesquisador experimentado 0 encontro com
que estao descritos em teses, artigos, relatorios etc. urn grande numero de trabalhos meramente
Acrescentamos aos problemas, nas apropriac;oes descritivos, verdadeiras estorias para uma boa
metodologicas nessa tradic;ao, os problemas de uso mesa de bar. Mas preocupa a ligeireza com que se
inadequado de metodos analiticos, com emprego caracteriza essa tradic;ao investigativa em certos
de tecnicas nao sustenta.veis para certo tipo de drculos. Ainda nao se conseguiu urn dominio
dados. consistente de teorias e metodologias, inclusive
nas autointituladas tentativas de desmistificac;ao
dos metodos que objetivam 0 sujeito, os fatos, nos
As posis:oes critic as e seus problemas questionamentos de que 0 objeto nao e observavel
diretamente, que 0 instrumento esta contaminado
N essas condic;oes de dominio superficial, por uma serie de vieses etc. Assim, aderindo-se
partiu-se, em nosso meio, sobretudo a partir as novas modalidades aceitas, nao parece haver
dos anos de 1970 e 1980, para a critica a esse consciencia clara de que as perguntas abertas, os
modelo de investigac;ao cientifica, critica que nem depoimentos, as historias de vida, as anotac;oes
sempre foi fruto da reflexao de urn conhecedor livres de campo, tanto quanto as escalas, os
profundo e experiente das lid as na investigac;ao instrumentos fechados e os testes, tambem estao
cientifica (mesmo porque essa profundidade era sujeitos a distorc;oes e imprecisoes oriundas dos
rarefeita entre nos, mais em algumas subareas do valores e das atitudes do pesquisador, porque ha urn
que noutras) . E, assim, partiu-se tambem para a sujeito falante que pergunta, que usa de termin ad as
adesao pouco fundamentada aos procedimentos palavras, que inter vern e que tern urn referencial
genericamente denominados de qualitativos, como pessoal, valores, escolhas, e que nessa condic;ao
se em qualquer condic;ao de investigac;ao cientifica dialoga com seus interlocutores na pesquisa.

54 55
Quem discute e analisa essas possibilidades de considerados mais ajustados as necessidades da
miscigena<;ao, de "parti pris", nomeando-as, ou compreensao um pouco mais rigorosa do real, ou
vislumbrando-as nos dados, em suas anilises, seja, compreensao que vai urn pouco alem do senso
fazendo um verdadeiro processo hermeneutico comum, nao quer dizer apenas utilizar outros tipos
com 0 processo e a trajetoria da pesquisa na de instrumentos, mas sim transformar atitudes e
vertente chamada de estudos qualitativos? perspectivas cognoscentes, sem abandonar 0 eixo
o que, do que digo ser fruto da pesquisa, e fala da consistencia explicativa. 1sso tem a ver com os
minha? 0 que e como estou falando no lugar dos metodos de trabalho empregados.
meus sujeitos? 0 que meus interlocutores, na De qualquer maneira, a critica a neutralidade
investiga<;ao, de Jato falam? Nada disso se analisa, do pesquisador, dos instrumentos, do empiricismo
contentando-se com a aflrma<;ao de que nada e absolutizante, da mistiflca<;ao da ideia de um tipo
neutro, 0 que pode nos levar a admitir que tudo na de objetiva<;ao que diflcilmente se sustenta, foi
pesquisa e opiniao do proprio pesquisador e nao surnamente importante para urn reposicionamento
fruto de uma depura<;ao seria, a luz de uma dada geral em virias tradi<;oes de trabalho na pesquisa
perspectiva, de uma teoriza<;ao, ou dos confrontos nas ireas educacionais. Esse e um processo que
de valores pesquisador-pesquisado. Diz-se que 0 vimos vivendo no Brasil hi, aproximadamente,
pesquisado diz, mas muitas vezes "diz" como quer 30 anos, mas carecemos ainda de massa critica
o pesquisador. Assume-se a nao neutralidade, mas mais dens a de bons pesquisadores. 0 campo
nao se aprendeu a trabalhar com a nao neutralidade e ainda rarefeito de pesquisadores experientes,
na dire<;ao de consensos sustentiveis teorica e especialmente em alguns setores. 1mitar este ou
metodologicamente. Por isso, torna-se evidente aquele modelo nao e suflciente. Corre-se 0 risco
nos trabalhos a mesmice e a evidencia, desde a de se fazer caricaturas. Hi que se debru<;ar sobre
coloca<;ao do problema, do ponto de chegada. as questoes de base, hi que se manter a capacidade
Saimos de uma forma de coleta de dados para de questionamento viva e atuante, hi que se ter
outra e nao percebemos que os problemas de fundo solidez teorica e duvida metodica, hi que se temer
sao os mesmos e que qualitativo, em pesquisa, nao dogmas e verdades faceis e antecipadas.
e dispensa de rigor e consistencia, nem sin6nimo
de literatura ou poesia. A constata<;ao desses
problemas nesse tipo de trabalhos mostra mais Instrumento s e m eto dos
uma vez que as questoes de metodo e de teo ria nao
foram de fato ainda suflcientemente aprofundadas. As questoes de metodo estao imbricadas com
Nao 0 foram, suflcientemente, entre nos, tanto na as questoes dos conteudos das proprias ciencias,
tradi<;ao logico-empirista, como 0 foram ainda nas das caracteristicas de seu campo d~ preocupa<;ao
tradi<;oes criticas. Enveredar por novos caminhos e das formas valorativas e atitudinais com que

56 57
se abordam essas preocupa<;6es. Embora nao procedimentos de levantamento empirico de coleta
se possa descuidar das boas caracteristicas dos de dados e nem do que significa uma abordagem
instrumentos de coleta de dados a serem empre- epistemica espedfica no olhar os fenomenos, os
gados (questionarios, fechados ou abertos; escalas; fatos a serem compreendidos. Esses aspectos nao
entrevistas, desta ou daquela natureza; jogos, simu- se excluem mutuamente e sao determinantes no
la<;6es, memorias etc.), estes sao como 0 martelo modo de transitar pelo levantamento de dados e
para 0 marceneiro ou a pa para urn pedreiro, que pelo que e encontrado. Tudo se liga a urn modo '
podem utiliza-los de diferentes maneiras para de estar na pesquisa, 0 que tern a ver com dadas
propositos e efeitos diferentes, em fun<;ao de formas de concretizar intersubjetividades. Se se
seus designios e na dependencia, e claro, de suas integrou uma perspectiva historico-dialetica (ou
habilidades para utiliza-los. Urn born martelo, uma qualquer outra), ja se tern urn ''partipris'', urn modo
boa pa sao absolutamente necessarios para urn particular de ver os fenomenos e interpreta-los.
trabalho de qualidade, mas, tambem, se necessita Isso faz com que se olhe a realidade de determi-
de urn artesao habilidoso e experiente em seu usa nada maneira e, portanto, isso leva ao usa de urn
para a obten<;ao de resultados qualitativamente determinado instrumento tambem de determinada
bons. Apenas uma boa pa nas maos de quem nao maneira. Claro que, para 0 pesquisador, a constante
desenvolveu condi<;6es e nao tern uma perspectiva vigilancia quanto as suas formas de ver e interpre-
para seu usa nao garante urn born resultado. Ai tar' fenomenos e absolutamente indispensavel. Se
esta a questlio do metodo, que nao e apenas uma se criticou que os metodos estatisticos deixavam de
questao de rotina de passos e etapas, de receita, lado 0 singular, 0 diferente, 0 que nao se encaixava
mas de vivencia de urn problema, com pertinencia no modelo, coerentemente tem-se que exercitar a
e consistencia em termos de perspectivas e metas. mesma critica com rela<;ao a qualquer perspectiva
teorico-metodologica: 0 que estou deixando de
Teoriza~oes e metodos lado como irrelevante? 0 que estou deixando de
considerar? 0 que minha forma de analisar nao
Na ptatica da pesquisa entre nos, muitas abrange? Mas 0 que se observa em muitos traba-
coisas confusas sao encontradas. E comum os lhos e a utiliza<;ao mecanica, ritualistica ou formal,
trabalhos reivindicarem estatuto de cientifico, de meios de investiga<;ao no mesmo esquema das
com discrepancias gritantes entre teoria e meto- ciencias experimentais em seus primordios, com
do. Aponta-se esta ou aquela referencia teorica pretensas interpreta<;6es, a luz de uma abordagem
de fundo e descrevem-se procedimentos de pes- teorica que nao se coaduna com os procedimentos
quisa numa estrutura que nada tern a ver com a adotados e realizados.
referencia declaradamente adotada. Isso porque Os metodos nascem do em~ate das ideias,
nao se desenvolveu 0 dominio nem de meios e perspectivas, teorias, com a ptatica. Eles nao sao

58 59
somente um conjunto de passos que ditam um cria porque integra subjetiva e ctlt1camente 0
caminho. Sao tambem um con junto de cren<;as, que uma tradi<;ao em certa area de investiga<;ao
valores e atitudes. Ha que se considerar 0 aspecto produziu historicamente. Como forma de clarear
interiorizado do me to do, seu lado intersubjetivo isso, lembramos 0 dito que passa de boca em
e, ate em parte, personalizado pelas media<;oes do boca, segundo 0 qual, na cozinha, seguir com
investigador. Ou seja, os metodos, para alem da perfei<;ao uma receita nao garante um bom bolo.
logica, sao vivencias do proprio pesquisador com 0 No trabalho humano, na produ<;ao humana, ha
que e pesquisado. Nao sao externos, independentes essa caracteristica do "algo mais", que e pessoal e
de quem lhes da existencia no ato de pratica-los. que depende do envolvimento pessoal, daquilo que
No exercicio da pesquisa, certas orienta<;oes e se poe de si mesmo no trabalho (sinteses pessoais),
regras existem e sao uteis e necessarias como refe- das formas de media<;ao e representa<;oes que cada
rentes de valida<;ao e plausibilidade das analises. um faz a partir de suas rela<;oes socioambientais.
Mas se nao forem apropriadas e integradas pelo Assim, em cada tradi<;ao de analise, seja a
pesquisador em suas formas de pensar e agir, num logico-empirista ou a materialista-historica, ou
certo conjunto logico-vivencial, num estado de a fenomenologica, ou outra ainda, para alem
espirito que leva a um tipo de olhar, de perspec- da forma de abordagem, ha um conjunto de
tiva ante os eventos, essas orienta<;oes e regras cren<;as, valores, atitudes, habilidades em rela<;ao
se tornam estereis, porque mecanicas: levam tao ao 'modo de perceber e tratar os fenomenos e 0
somente a repeti<;ao, a imita<;ao e nao a apreensao proprio conhecimento. Esse conjunto impregna os
criativa e consistente do entrela<;amento de fatos e ambientes em que essas tradi<;oes se desenvolvem,
dados em seus significados; tambem nao levaria a e 0 pesquisador se constroi nessas ambiencias,
discussao e a conscientiza<;ao de seus limites. Isso nas rela<;oes e trocas, assimilando, integrando
so e possivel pela apropria<;ao transformadora, per- esses tra<;os caracteristicos e essas formas de ver
sonalizada, das regras, das formas de trabalho e das os problemas e temas de conhecimento, pela sua
orienta<;oes ja formalizadas. Ou seja, os metodos imersao nesse meio, em que uma tradi<;ao cultural
de trabalho precisam ser vivenciados, em toda sua veio amadurecendo suas abordagens do real. Sem
extensao, pela experiencia continuada, pelas trocas, essa imersao, sem a existencia de um corpo de
pelos trope<;os, pelas critic as, pela sua integra<;ao tradi<;ao em pesquisa, 0 que se tem sao imita<;oes
mediada pelo proprio modo de ser do pesquisador de regras sem vida, sem consistencia, sem folego
como pessoa. Sem isso, tem-se a rotina, 0 bom e, sobretudo, sem critica. Esta e caracteristica
seguidor de receitas que produz trabalhos cuja fundamental na investiga<;ao cientifica: a manu-
conclusao ja se conhece antes de termina-Io. ten<;ao da lucidez quanto as limita<;oes dos
Sem as condi<;oes referidas acima, falta conhecimentos trazidos a luz, quais8uer que sejam
aquele toque que traz a marca de quem cria, e aos procedimentos metodologicos utilizados.

60 61
 Numa abordagem logico-empirista, 0 metodo Problematizas;oes e formas de agir: limitas;oes
tern de ser consistente com a epistemologia do conhecimento
que sustenta essa perspectiva. E a teoriza<,;:ao
tambem. 0 mesmo ocorre com as abordagens Saber enunciar problemas exige experiencia
fenomenologicas, as materialistas-historicas etc. e matura<,;:ao diante de uma tematica. E problema
Se se toma como referencia esta Ultima abordagem, uma questao que nao tern uma resposta plausivel
deve-se considerar que ela demanda por determi- imediata ou evidente. E uma daquelas questoes
nados valores e caracteristicas. A ida ao empirico que necessitam de esfor<,;:os especificos, metodicos,
nessa abordagem deve se dar em consonancia com para se tentar obter respostas. Parte-se, pois, para a
as estruturas epistemicas que the dao sentido. pesquisa de problemas adequadamente formulados
Nem sempre se trabalha com uma teoria bern e dentro de certa perspectiva de analise.
estruturada, mas se trabalha a partir de urn modo A partir do trabalho metodico que se
de encarar determinado fenomeno, ou contra uma desenvolve na abordagem do problema, vai-se
determinada posi<,;:ao teorica, mas sempre estamos aproximando de respostas e/ou de compreensoes
partindo de alguma ideia preliminar que, de certa cientificamente viaveis, por meio dos procedimentos
forma, poe a investiga<,;:ao a caminho. Criam-se adotados, que devem ser coerentes com a natureza
na ambiencia de uma tradi<,;:ao de pesquisa certos da abordagem pretendida - fenomenologica,
modos de olhar os eventos que interessam aos materialista historico-dialetica, empirico-analitica,
estudos em determinada area. Estar consciente e estruturalista etc. Ouso dizer que para 0 espirito
atento a modos especificos de se situar na pesquisa cientifico importa, antes e sempre, a consistencia
e condi<,;:ao de dominio dos metodos. Ao contrario, do metodo investigativo desenvolvido, a coerencia
sem se compreender como valores e habilidades que se estabelece entre teoria e fato, a logica que
cognoscitivas desenvolvidas ao longo das rela<,;:oes se consegue defender e sustentar, os corolarios
academicas atuam no estudo do que se chama e as consequencias das analises, tanto de uma
realidade, nao se pode ter clareza e dominio meto- P erspectiva cientifica como etica , e, tam bern ,
dologico. Sem reflexao e autorreflexao sobre 0 ato o espirito critico sobre 0 proprio metodo. Do
de conhecer, as formas de ver e colocar problemas, cui dado com esses aspectos nascem a critica
a maneira de tentar aborda-Ios, sem critica e auto- cientifica e social e a consciencia das limita<,;:oes das
critic a nao ha pesquisa. Porque pesquisar e avan<,;:ar interpreta<,;:oes e conclusoes aventadas. Qualquer
fronteiras, e transformar conhecimentos e nao que seja a perspectiva epistemologica (e para 0
fabricar analises segundo determinados formatos. homem as possibilidades sao tantas!), nao ha como
Balizas, sim; consistencia, sim; plausibilidade, sim; saber qual a mais ou a menos verdadeira, a nao
aprisionamento do real em dogmas, nao. ser por uma escolha baseada em algumas cren<,;:as.
Verdade, numa perspectiva con'temporanea de

62 63
ciencia, e algo que se coloca como inatingivel. perspectiva. Interessante e observar como em
A verdade e uma abstra<;ao. Socialmente falando, muitos estudos em que o(a) autor(a) declara que
verdades podem ser consensos historicamente vai trabalhar numa perspectiva fenomenologica
construidos e, assim, mutaveis. ou materialista-historica, aparece um capitulo
Em ciencia 0 que se busca sao aproxima<;oes descrevendo objeto, campo e metoda, segundo
da realidade em que vivemos; aproxima<;oes que a mais tradicional perspectiva das abordagens
sejam consistentes e consequentes, pelo menos logico-empiristas. Vale dizer que as confusoes nao '
por certo tempo. Porem, como conhecimentos param por at.
aproximativos, nao sao dogmas. Sao conhecimentos Ao se trabalhar com variadas tecnicas de
orientadores por um tempo, sempre revisaveis ou coleta, ha que se ter em conta 0 "modus operandi"
superaveis. Nas areas humano-sociais com mais do pesquisador. Como usa de fato um questionario
razao, visto 0 carater transformador do homem ou faz uma entrevista. Sua perspectiva epistemica
em sua propria historia pessoal e comunal. Pode- real, nao a declarada, embebe seus modos de se
se falar em abordagens mais coerentes e plausiveis relacionar com os elementos componentes da
para um determinado momenta e contexto pesquisa. Ao pesquisador cabe ter senso critico
historico. Todas nos trazem uma maneira de se e clarear para si mesmo seu modo de pensar e
construir, a partir da possivel aproxima<;ao do pesquisar. Com isso, ele pode garantir certo grau de
real, um modelo compreensivo / explicativo. Para liberdade em rela<;ao aos modelos dogmatizantes,
uma mesma tematica ou fen6meno, pode-se ter alem de fundamentar com mais consistencia
varios modelos explicativos. A prevalencia de seu trabalho e, ao faze-lo, clarear a questao, 0
determinados modelos explicativos na historia problema que 0 inquieta. Assim, pode deixar
depende, em parte, de sua participa<;ao em agir sua imagina<;ao e sua intui<;ao e gerar
situa<;oes de hegemonia, mas tambem, e a historia condi<;oes especiais para 0 levantamento de seus
nos mostra isto, de sua consistencia explicativa e dados, bem como gerar instrumentos e formas
de suas implica<;oes para a sobrevivencia humana. criativas para isso.
A coloca<;ao dos problemas de investiga<;ao Os pesquisadores se utilizam muito da
e reveladora da perspectiva de abordagem do intui<;ao e da imagina<;ao. Nao e apenas a logica
pesquisador e determinante para seu metodo. Na a grande arma dos pesquisadores. No ato de
abordagem do tema e no enunciado dos problemas, pesquisar, a logic a se associa fortemente com a
revela-se um modo particular de en tender e de intui<;ao e a imagina<;ao. Nao falo aqui de uma
enfocar determinadas questoes. A abordagem e imagina<;ao sonhadora, mas de uma imagina<;ao
o metodo se revelam nas formas de pensar e de impregnada pelo domfnio de sua area de estudos.
fazer no transcorrer da propria pesquisa e nao por o pesquisador so pode ser imaginativo se tiver um
declara<;oes abstratas de adesao a esta ou aquela bom estofo teorico, uma arnpla cultura bibliogrifica

64 65
na area em que trabalha, alem de experiencia pelo Notemos que a reflexao sobre 0 social,
contato com os problemas relativos a tematica. amplamente compreendido, ou 0 politico, faz-se
Os pesquisadores que lidam em areas que tern na sociologia, na economia politica, na ftlosofia,
espectro profissional, por exemplo, precis am ter dentro das diferentes tradi<;:oes de reflexao e
vivencia dessa profissionalidade, ter experiencia pesquisa que nesses campos se construiram. Ai
concreta de situa<;:oes profissionais, caso contrario tambem se fazem as investiga<;:oes de base para
nao construirao uma praxis para alimentar seus validac;:ao de suas hipoteses, teorias, abordagens '
problemas investigativos. E como ser urn professor ou seus metodos. As areas mais diretamente
de natac;:ao que so olhou a piscina e os outros envolvidas com a ac;:ao social buscam, nessas
nadando, mas nela nunca entrou e nunca nadou. ciencias de base, 0 conhecimento conceitual, as
possiveis formas de compreensao dos eventos
com os qUalS se ocupam.
o esp"ecifico do campo de pesquisa A educa<;:ao utiliza-se dos conhecimentos
na educas;ao produzidos nessas areas basicas, como a psicologia,
a sociologia, as ciencias politicas, a antropologia,
o tipo de conhecimento para areas aplicadas mas 0 que a identifica, diferenciando-a, e que ela e
precis a ser mais bern discutido e compreendido. area de a<;:ao-interven<;:ao direta, como 0 e 0 servi<;:o
Em educa<;:ao, por exemplo, conhecer os processos social, ou a medicina, ou as engenharias. Estas
cognitivos das crianc;:as e fundamental, como duas ultimas, por exemplo, nao se confundem
tambem 0 e 0 conhecimento das questoes sociais, com a biologia, a citologia, a fisica, a matematica,
mas esses conhecimentos nao sao suficientes para como a educa<;:ao nao pode confundir-se com a
resolver questoes ligadas ao trabalho cotidiano com psicologia ou a sociologia. Educa<;:ao, engenharia,
crianc;:as em uma sala de aula. A ciencia da educa<;:ao medicina, servi<;:o social sao areas do agir; elas
tern demandas diferentes da ciencia cognitiva, ou dizem respeito as intervenc;:oes instrucionais/
da sociologia, embora destas necessite para tratar profissionais do homem no mundo. E e esse
seus problemas. Porem nao podem se confundir. intervir, nas especificidades que elas assumem, que
Educac;:ao e area de conhecimento e area as define e caracteriza. 0 tipo de conhecimento
pro fissional, urn setor aplicado, interdisciplinar, e 0 que nelas e para elas se produz diferencia-se, pois,
conhecimento que produz, ou deveria produzir, diz daqueles nos quais elas buscam eventualmente
respeito a questoes de interven<;:ao intencional no suporte para a constru<;:ao de suas formas de ac;:ao.
ambito da socializac;:ao, diz respeito a metodologias Essas formas geram conhecimento de natureza
de a<;:ao didatico-pedagogica junto a setores bern diversa daqueles que foram tornados como
populacionais, com objetivos de compreensao referentes para a fixa<;:ao de urn ponto de partida
desse agir e de seu potencial de transformac;:ao. de suas interven<;:oes, ou que fo ram tornados

66 67
como base para a compreensao de situac:;oes. exercitada. Entao, ha muitos detalhes a cuidar. Por
A compreensao desse agir intenciona~ dessas formas exemplo, se se escolhe fazer entrevistas, a primeira
de intervenc:;ao no real, que e de carater social, quesdo e: tenho experiencia para realiza-las? Claro
que e uma ac:;ao social, requer urn outro tipo de que urn cac:;ador para usar determinada arma
conhecimento, aquele conhecimento que diz deve conhece-Ia, e 0 pescador deve conhecer as
respeito arelac:;ao I incorporac:;ao de teorias coml em caracteristicas das varas de pescar ou das redes,
praticas intencionais, com finalidades socialmente e ambos devem saber usa-las com certa pericia.
definidas. A reflexao, 0 estudo, a investigac:;ao sobre E preciso definir como e onde se vaG lanc:;ar as
seus modos de intervir sao 0 que constitui sua is cas, as redes, as armadilhas para se capturar
area privilegiada de construc:;ao de conhecimento. aquilo em que se esta interessado. Que perguntas
Ai encontramos suas especificidades. Nem por fazer, como faze-las, que palavras usar, como
isso s~us estudos perdem 0 carater cientifico; ao tratar 0 silencio, como manter 0 dialogo em clima
contrario, e nesse recorte que sua contribuic:;ao e aberto. Cada palavra de uma entrevista tern de
insubstituivel. Mas, para alc:;ar-se em area respeitada ser ponderada. Uma entrevista rica e aquela em
na construc:;ao de conhecimentos, necessario se faz que 0 pesquisador consegue urn dialogo real
que a educa;ao, como area disciplinar, "mostre a sua com 0 entrevistado, em que nao predominam as
cara": qual sua contribuic:;ao caracteristica, aquela respostas-chavoes, que nada acrescentam.
que e diferente da dos sociologos, dos demografos, . 0 desenvolvimento de habilidades para a
dos psicologos etc. pesquisa so se faz no proprio trabalho de pesquisa.
Esse trabalho e a fonte de criac:;ao e 0 guia de
cada etapa e ac:;ao. Nao ha metodo estruturado
Condi~oes das a~oes investigativas teoricamente que aprioristicamente resolva
os problemas e as questoes que emergem no
A pesquisa e urn cerco em torno de urn desenvolvimento concreto da pesquisa. Sabemos
problema. E necessario escolher instrumentos que ha uma parte nao relatada nos artigos de
para acessar a quesdo, vislumbrar e escolher pesquisa, por exemplo, decisoes tomadas em
trilhas a seguir e modos de se comportar nessas campo no ato mesmo do investigar, correc:;oes de
trilhas, criar alternativas de ac:;ao para eventuais rumos e tecnicas etc. 0 metodo nao e urn roteiro
surpresas, criar armadilhas para capturar respostas fixo, e uma referencia. Ele de fato e construido
significativas. Para tudo isso, tem-se que ter certo na pratica, no exerdcio do "fazer a pesquisa".
dominio da area e de areas transversas. Tudo isso se o metodo, nesse sentido, est:! sempre em
agiliza nao so pela cognic:;ao, mas pela imaginac:;ao construc:;ao. Nao se pode deixar que prescric:;oes
investigativa e pela intuic:;ao. Poderiamos falar em metodologicas aprisionem 0 pesguisador como
uma imaginac:;ao cognitiva. Esta nao e gratuita, e uma courac:;a. 0 metodo oferece a orientac:;ao

68 69
 de base necessaria a garantia de consistencia e ou seja, a copia do que esta nos livros e que,
validade, mas ele nao pode virar uma "camisa portanto, e acessivel a qualquer urn - quantas e
de for<;a". Por isso precis a ser apropriado pelo quantas vezes nao vemos Freud copiado, Marx
pesquisador que, pelas suas media<;:oes, cda copiado, Piaget copiado ... - , ou se faz uma revisao
alternativas, novas saidas, novas solu<;:oes para 0 bibliografica sem "reconstru<;:ao", sem nenhuma
emergir dos dados e sua compreensao. 0 metodo perspectiva pessoal interpretativo-critica sobre 0
e vivo. Dai porque 0 pesquisador deve ter urn tema. E mediante leituras, confronto de autores,
conhecimento teorico solido e ter experiencia no duvidas sobre afirma<;:oes ou modelos e conclusoes
trato das questoes de sua area de investiga<;:ao (urn de pesquisa, questoes dos limites impostos por
conhecimento de dentro, de imersao). conceitos, no contraponto com 0 proprio contato
E importante, assim, nao so 0 registro das - vivencia - do pesquisador com a area e, no
regularidades, do visando, mas tambem 0 registro caso de areas mais aplicadas, ligadas a profissoes,
dos eventos imprevistos, das surpresas, do no contraponto mesmo da experiencia cotidiana
inesperado, dos impasses e dos encaminhamentos do trabalho no qual se gera urn conhecimento
e solu<;:oes adotados em campo, urn registro dos especifico e insubstituivel, que se cdam as
equivocos eventualmente cometidos, das decisoes condi<;:oes que permitem 0 desenvolvimento de
que redundaram em problema, dos pre-conceitos uma perspectiva critica dos autores, ao mesmo
do pesquisador. Tambem sao uteis anota<;:oes tempo que consistente com os problemas da
das impressoes sobre a influencia pessoal do area ou subarea. A partir dessa base, e que 0
pesquisador nas entrevistas ou depoimentos, pesquisador tern condi<;:oes de desencadear anwses
julgamentos que fez no processo de coleta, e inferencias, caso contrario ficara no obvio ou no
aborrecimentos etc. Tudo is so ajuda a autocritica senso superficial.
do proprio pesquisador, dos seus modos de agir, Pesquisa so se aprende fazendo. As caracteris-
bern como permite definir os limites de validade ticas do ato de pesquisar se constroem socialmente,
das informa<;:oes e conclusoes. Abre-se com num verdadeiro processo de socializa<;:ao, ate de
isso uma entrada para a compreensao da "nao forma<;:ao artesanal. Essa constru<;:ao demanda
neutralidade", seus coloridos, suas constitui<;:oes interlocu<;:ao dos menos experientes com os mais
e possiveis vieses. experientes. E esse e urn dos nos da quesdo em
Outra quesdo no desenvolvimento das algumas areas em que a tradi<;:ao da investiga<;:ao
pesquisas e 0 tratamento que se da afundamenta<;:ao cientifica vern sendo pobre, e essa pobreza se
e ainterpreta<;:ao teorica. De modo geral, observa- reproduz pela rarefa<;:ao de interlocutores maduros
se certa pobreza na forma pela qual os autores no trato dire to e continuado com a pesquisa. Vale
tratam as informa<;:oes bibliograficas disponiveis. pensar porque nas areas exatas ou biologicas
Ou se faz urn relato do que ja se tern como acervo, nao encontramos a disciplina "metodologia de

70 71
pesquisa". Nas areas mals solidificadas, as questoes
de metodo estao intimamente relacionadas com 0
proprio dominio dos conhecimentos e destes elas
nao se separam. Nas ciencias humanas, uma outra Capitulo 3
tradi<;ao, e verdade, fragmentou-se: a questao do
metodo em disciplina; dai, talvez a rigidez do apego PESQUISA EM EDUCA<';AO:
aos manuais e as regras de modo pouco critico. UM TEMA EM DEBATE
Em nossa tradi<;ao de ensino na area educacional, EM REVISTA CIENTiFICA
tenta-se ensinar 0 metodo "de fora" e nao 0 "de
dentro". Por exemplo, a analise da constru<;ao de
uma obra por deter min ado autor e uma boa via Tomamos como referencia para esta analise
para se compreender 0 metodo. Como criou seu a revista Cadernos de Pesquisa) da Funda<;ao
problema, que criticas fez e como, de que forma Carlos Chagas, que desde 1971 se dedica, sem
propos novas hipoteses, em que contexto, por interrup<;oes, a publica<;ao de pesquisas em
que, quais seus interlocutores, de que maneira foi educa<;ao e a publica<;ao de discussoes sobre as
aos fatos, como os levantou e os trabalhou, que questoes ligadas a esse tipo de pesquisa. Os autores
dificuldades enfrentou, como contornou problemas sao representativos das nossas universidades e de
de percurso no plano de seu trabalho - tudo isso institui<;oes estrangeiras, constituindo-se acervo
poe realidade a urn metodo e com isso ele adquire importante de referencia sobre os desdobramentos
significado, urn significado dinamico, e as tecnicas historicos da area no que se refere as investiga<;oes
empregadas podem ser discutidas nao so quanto a cientificas.
caracteristicas de adequa<;ao, consistencia e forma Analises e discussoes sobre questoes ligadas
de realiza<;ao, como dentro de uma perspectiva diretamente a pesquisa educacional tern sido
teorica e epistemica. Mas esse procedimento e constantes nesses anos de publica<;ao dos Cadernos
pouquissimo praticado. Essa forma de trabalhar de Pesquisa. Boa parte dos trabalhos publicados
a constru<;ao da pesquisa demanda tam bern uma (39%) discute questoes de teoria e de metodo
cultura transdisciplinar, ou seja, uma especializa<;ao e, de 1984 para ca, alguns artigos tratam 0 que
ampliada por conhecimentos de diferentes origens. poderiamos chamar de crise quanto a qualidade da
Enfim, cabe destacar que 0 que propicia pesquisa produzida e seu impacto. Nessa trajetoria
vitalidade metodologica e a cultura especializada, dos artigos de diferentes autores, poderiamos
porem ampliada em diferentes dire<;oes, e a sobre- destacar alguns momentos em que as analises
vivencia do espirito critico, que afasta os dogmas publicadas nos Cadernos de Pesquisa serviram
e acompanha 0 desenrolar dos processos sociais. de verdadeiras balizas para a cQmpreensao da
problematica da pesquisa educacional no Pais.

72 73
 o numero 1 dos Cadernos de Pesquisa (jul. tanto para a forma<;ao de pesquisadores quanto
1971) traz 0 antol6gico artigo de Aparecida Joly por virem a ser polos disseminadores de "recursos
Gouveia, que faz nao s6 uma recupera<;ao hist6rica da moderna tecnologia educacional".
da pesquisa educacional no Brasil, como um Doze anos depois, em seu artigo, Gatti
mapeamento das tematicas e das metodologias, (Cadernos de Pesquisa, n. 44, 1983) mostra que,
discutindo as condi<;6es institucionais em apesar do esfor<;o de implanta<;ao dos mestrados
que a pesquisa se realizava, a forma<;ao dos e doutorados em Educa<;ao nas universidades,
pesquisadores, e 0 relacionamento pesquisa x a constitui<;ao de equipes de pesquisa com uma
politicas educacionais x processo educacional. Esse dura<;ao maior de vida era ainda uma meta nao
trabalho viti a ser complementado em 1976, em atingida. A autora aponta a excessiva dispersao e
artigo da mesma autora, com dados de 1970 em varia<;ao, no tempo, das orienta<;6es tematicas de
diante ..Essa discus sao ampla sobre a produ<;ao de pesquisa, com um numero reduzido de equipes
pesquisa, suas condi<;6es de realiza<;ao, problemas e que tinham certa tradi<;ao na analise de temas
perspectivas, e retomada no numero 44, em artigo especificos. E mostra que, aepoca, prevaleciam as
de Gatti (1983), que amplia a discussao ao abranger pesquisas individuais, portanto, de escopo limitado,
a contribui<;ao dos programas de p6s-gradua<;ao o que prejudicava "a acumula<;ao de experiencia e
stricto sensu, quer para a forma<;ao de pesquisadores, a continuidade, necessarias a uma matura<;ao no
quer para a produ<;ao de pesquisas. trato com os problemas educacionais brasileiros".
Interessante e no tar que Gouveia ja apontava Acrescenta a isso 0 isolamento relativo da area de
a descontinuidade dos programas de pesquisa, Educa<;ao no contexto da pesquisa em Ciencias
sujeitos que estavam as oscila<;6es de governo, Humanas e Sociais e a falta de tradi<;ao de trabalhos
sugerindo que, para que se pudesse ter "certo inter ou transdisciplinares.
padrao na formula<;ao e execu<;ao das pesquisas, Essa linha de analise esta presente tambem
bem como a continuidade necessaria a utiliza<;ao no artigo de Sofia Vieira (Cadernos de Pesquisa) n. 55,
pratica de seus resultados, seriam necessarios 1985), que aborda algumas especificidades do
centros de estudos que tivessem certa autonomia desenvolvimento da pesquisa no Nordeste brasi-
e que fossem menos atingidos pelas oscila<;6es do leiro, destacando 0 isolamento dos investigadores
arbitrio governamental", parecendo-lhe que uma em rela<;ao ao aces so a informa<;ao. Esse isola-
das possiveis alternativas seriam universidades nas mento e descrito como uma situa<;ao em que
quais se poderiam aglutinar pesquisadores de varios "0 pesquisador em Educa<;ao e um solitario entre
ramos das ciencias humanas, com program as de seus pares e entre pesquisadores de outras areas",
pesquisa com a participa<;ao de professores e alunos concluindo com um desafio: como passar da
de p6s-gradua<;ao. Segundo a autora, esses nucleos pesquisa solitiria a pesquisa solidaria.
poderiam desempenhar uma fun<;ao importante

74 75
 Esses artigos colocaram a questao da pes- artigo. Rosemberg (Cadernos de Pesquisa, n. 40,
quisa educacional numa perspectiva hist6rico- 1982) aborda 0 primeiro tema retomando ideias
institucional, sem deixar de tocar nos problemas expostas em seu artigo publicado no Cadernos
de teoria e metodo. Estas questoes - teoria e de Pesquisa, n. 34, chamando a atenc;:ao para a
metodo - estao abordadas em seus aspectos mais vinculac;:ao entre conhecimento e poder, em que
caracteristicos em outros artigos, entre os quais "a busca do poder tem reproduzido, ao nivel
um marco e 0 conjunto de trabalhos discutidos do conhecimento academico e da pesquisa,
em seminario realizado na Fundac;:ao Carlos formas de dominac;:ao-subordinac;:ao" , as quais
Chagas, sob os auspicios do Conselho Nacional sao efetivadas pelas hierarquias funcionais, pelas
de Desenvolvimento Cientifico e Tecnol6gico "barreiras ritualisticas de linguagens, de postura,
(CNPg), sobre Alternativas Metodol6gicas para a de relacionamento, ficando 0 acesso e a posse
Pesquisa Educacional: Conhecimento e Realidade, do conhecimento circunscritos a uns poucos
e publicados no numero 40 dos eadernos de Pesquisa iniciados". Propoe, entao, um questionamento da
(1982). Nota-se, na sequencia de publicac;:ao da distancia entre pesquisador e objeto de pesquisa
revista, que, de meados de 1976 ate esse numero, e uma nova postura na relac;:ao entre pesquisador
hi um hiato na publicac;:ao de artigos que tratam de e publico, considerando a "divulgac;:ao como de
pesquisa educacional como tema especifico, com importancia equivalente a realizac;:ao das pesquisas,
excec;:ao de um trabalho de Rosemberg (Cadernos na medida em que pode se constituir em via de
de Pesquisa, n. 34, 1980), que aborda a questao da acesso a transformac;:oes sociais".
democratizac;:ao do conhecimento. Mello (Cadernos de Pesquisa, n. 40, 1982) dis cute
Esse hiato parece encontrar sua explicac;:ao por o segundo tema, tratando do significado da ac;:ao
ser um periodo em que 0 impacto e a maturac;:ao de de pesquisar e seus diferentes modelos para a
novas teorias e abordagens metodol6gicas estavam compreensao do objeto de estudo no agregado de
trazendo uma efervescencia as discussoes sobre os suas condic;:oes contextuais: analisa 0 que chama de
modos de construc;:ao dos objetos de pesquisa na um modelo objetivista, aquele que "coisifica" os
area educacional e seus modelos interpretativos, fatos humanos tendo por base que estes "sao dados
com mudanc;:as nos processos investigativos e nas existentes em si mesmos, independentemente da
tematicas, sob a influencia das teorias do conflito consciencia de sua existencia, tanto por parte de
e os desafios das propostas da pesquisa-ac;:ao. quem os investiga, como por parte dos agentes
Os tres temas sobre os quais se assentaram tomados como objeto de investigac;:ao". Numa
as discussoes no referido seminario no inicio da postura oposta, coloca 0 modelo subjetivista, em
decada de 1980 refletem esse momento: pesquisa/ que 0 conhecimento e tido como pura atividade
responsabilidade social, pesquisa/intervenc;:ao e de consciencia do sujeito, no qual nao existe
pesquisa/ teoria. Cada tema esta tratado em um uma preocupac;:ao explicita com 0 garantir a

76 77
objetividade do conhecimento, este tido como hoje como sempre, e 0 de privilegiar um autor, um
produzido de urn ponto de vista determmado pelos metodo, sem capacidade de uma critica mills ampla
valores e experiencias subjetivos. Segundo Mello, a luz, precisamente, da contribuic,:ao de outros
um e outro modelo redundam na fragmentac,:ao do autores e de outras metodologias".
conhecimento: 0 primeiro porque acaba colocando As preocupac,:oes metodologicas trazidas
a realidade como impossivel de ser captada dentro a tona nesses artigos sao concretizadas, no que
do rigor analitico-descritivo necessario, portanto, se refere a pesquisa na escola, no trabalho de
se atendo a uma dimensao especifica do real; e 0 Tonucci, com comentirio de Joel Martins, ambos
segundo, por tomar a realidade como inteiramente publicados no Cadernos de Pesquisa, n. 41, 1982.
dependente da consciencia que a pensa. 0 autor Tonucci problematiza nao so 0 uso do metodo
acaba propondo urna sintese, uma nova alternativa experimental na pesquisa psicopedagogica, 0
de mo<;lelo, em que todo conhecimento seria qual nao se aplicaria ao exame de uma realidade
tambem comprometido com um ponto de vista tao complexa e dinamica quanto a escola, como
determinado, nao pela subjetividade do sujeito a alternativa mais empregada em relac,:ao a
investigador, mas pela propria totalidade na qual esses metodos, que e 0 que ele chama de livro
ele, investigador, ocupa uma posic,:ao social e pedagogico-academico, "que, partindo nao mais
politica propria. A objetividade se redefine como de dados pobres, mas de longinquos fundamentos
adequac,:ao do conhecimento a uma ac,:ao pratica ftlbsoficos, segundo uma tradic,:ao idealista, trazem
sobre 0 mundo social. E Mello exempli fica, a partir consequencias para dentro da escola". As duas
de um trabalho de pesquisa que enfoca a instancia linhas de trabalho se propoem a oferecer dados
escolar, aspectos relevantes de metodo e teoria para modificar a escola, mas seus impactos
dentro dessa perspectiva. positivos dificilmente podem ser examinados.
o terceiro tema foi desenvolvido por Propoe 0 autor, enta~, passar de uma pesquisa
Rezende (Cadernos de Pesquisa, n. 40, 1982), que sobre a escola a uma pesquisa na escola, que deve
destaca a grande diversidade de metodos para fundamentar-se em uma hipotese politico-social
o conhecimento da realidade, apontando para de renovac,:ao e tratar a complexidade do grupo-
as principais antinomias metodologicas que escola, sendo desenvolvida em contato dire to
historicamente se foram estabelecendo no trato com os agentes e respeitando suas caracteristicas,
com a realidade: sujeito-objeto, individuo-socie- exigencias e dificuldades. 0 professor sera
dade, infraestrutura e superestrutura, sincrorua- um colaborador imprescindivel, guiado pela
diacronia, dialetica-teleologia, teoria-praxis, perspectiva de globalidade para a obtenc,:ao e
homem-mundo(s), critica-autocritica. 0 autor analise dos dados.
analisa essas antinomias e termina por afirmar o comentario de Martins ~o texto amplia
que 0 "grande risco a que 0 pesquisador se expoe, a perspectiva critica de Tonucci, enfatizando

78 79
 a necessidade de supera<;:ao do pensamento em sua concretude, donde a impordncia do
metodologico vigente, de uma perspectiva me to do.
fenomenologica, em cujo ponto de partida ele Essa discussao e levada adiante por Oyara
diz que, para se en tender a educa<;:ao, e preciso Esteves (Cadernos de Pesquisa, n. 50, 1984) e por
participar dela, vive-la em seus varios aspectos. E Franco (Cadernos de Pesquisa, n. 51, 1984). Esteves
preciso superar a segmenta<;:ao, 0 empirismo e as debate a crise com que se depara a pesquisa
metricas abstratas que desfiguram os fenomenos. A educacional, quer na sele<;:ao de problemas para
reflexao como presen<;:a e a<;:ao de uma consciencia estudo, quer pela inadequa<;:ao metodologica, quer
deve ser constitutiva do metodo. pela fragmenta<;:ao dos resultados, justamente
A problematic a, tal como discutida nesses pela falta de uma perspectiva mais apropriada
artigos, e uma boa amostra das perplexidades do fenomeno educativo. Propoe, entiio, que e
que perpassavam as discussoes sobre me to do e preciso reorientar a pesquisa no caminho de
teoria nesse periodo, e as analises do autor ate uma "praxiologia educacional", que significa,
hoje se mantem atuais. Mello (Cadernos de Pesquisa, nos termos da autora, "uma ciencia da Educa<;:ao
n. 46, 1983) amplia essa discussao, dizendo que onde teoria e pr:itica estao interligadas, uma reflete
o que faltava ainda a pesquisa em Educa<;:ao a outra no processo educacional". Maria Laura
"sao categorias teoricas que deem conta da Franco retoma a analise dos modelos objetivistas
complexidade concreta do nosso fenomeno e ou subjetivistas, das abordagens macro x micro, da
que nos permitam to mar como um unico bloco rela<;:ao pesquisador/pesquisado e da socializa<;:ao
de problemas tanto as condi<;:oes sociais que da produ<;:ao cientifica na area, insistindo que
determinam 0 acesso, a perman en cia, e a exclusao nao se po de perder de vista "a dimensao politica
nas institui<;:oes educacionais, como os mecanismos da pesquisa e 0 carater historico de nossa
internos pelos quais aces so, permanencia e responsabilidade social".
exclusao se concretizam". Essa dificuldade que ele Ja 0 problema da interdisciplinaridade,
aponta faz com que a investiga<;:ao em Educa<;:ao levantado nos artigos da decada de 1970 e inicio da
se reduza, "ou ao atacado com 0 sociologismo e 0 de 1980, vita a ser discutido em maior profundidade
economicismo, ou ao varejo, com 0 psicologismo, por Frigotto (Cadernos de Pesquisa, n. 55, 1985).
o tecnicismo e 0 psicopedagogismo". Propoe, para Em seu artigo sobre a questiio metodologica
superar essas redu<;:oes, um entendimento mais do "trabalho interdisciplinar, apresenta algumas
claro e real da natureza da propria educa<;:ao, das reflexoes a partir de uma experiencia de pesquisa
concep<;:oes de educa<;:ao que inspiram as pr:iticas com uma equipe interdisciplinar". Mostra que a
de pesquisa, 0 que, em resumo, significa captar a problematica fundamental e a do especialismo nas
estrutura do fenomeno bem como sua dinamica, Ciencias Sociais e Humanas, qu~ se revela pelo
nao como ideias que delas fazemos, mas captadas esfacelamento e pela compartimentaliza<;:ao dessas

80 81
 ciencias, de modo que a interdisciplinaridade bern que todos esses problemas perpassam nosso
coloca de imediato a questao da postura teorica dos quotidiano de pesquisadores e que nao sao tran-
investigadores. Se essa questao nao e abordada e se quilos os embates intelectuais que se travaram, e
nao sao superadas as perspectivas idiossincraticas, se travam, para avan<;ar sobre alguns impasses.
cai-se numa visao simplista de interdisciplinaridade, Refletindo bern essa diversidade de enca-
resvalando-se para urn ecletismo infrutifero, porque minhamentos sobre as questoes metodologicas
nao permite reais avan<;os, nem metodologicos entre os pesquisadores em Educa<;ao, na dec ada de
nem interpretativos. Os pontos cruciais na vivencia 1980, sao publicados dois artigos nos Cadernos de
da interdisciplinaridade sao, pois, de natureza Pesquisa, n. 66 (1988). Urn de Luna, versando sobre
teorica e epistemologica: hi de haver urn nivel o falso conilito entre tendencias metodologicas, e
de unidade na diversidade. Esse mvel de unidade outro de Franco, argumentando por que 0 conflito
reside n~ perspectiva com que se constroi 0 objeto entre tendencias metodologicas nao e falso. Ja
investigado. discutimos essas contribui<;oes no topico anterior,
Ainda no quadro de preocupa<;oes que vern por isso nao vamos retoma-las aqui.
se delineando na linha de discussao das questoes Duas tematicas de carater geral relativas as
de metodo e teoria, 0 artigo de Evaldo Vieira pesquisas em Educa<;ao se destacam ainda no
(1988), seis anos depois das reflexoes de Mello contexto dos artigos publicados nos Cadernos
(1982), retoma a discus sao sobre a especificidade de-Pesquisa: a das questoes relativas a chamada
do objeto de pesquisa em Educa<;ao, que, segundo pesquisa qualitativa e a das analises criticas sobre
o autor, se encontra "no processo de ensino, as produ<;oes, sob a otica de uma "crise", estas
institucionalizado ou nao, peculiar a cada grupo despontando com maior for<;a a partir de meados
social". Lembra que esse objeto se poe como da decada de 1980, momento em que a pos-
processo no campo cultural, exigindo tratamento gradua<;ao stricto sensu se encontra em expansao
analitico singular, uma vez que sua explica<;ao nao na area e a pesquisa se mostra relativamente
pode ser colocada no simples fazer, nem em urn institucionalizada em alguns centros.
culturalismo abstracionista. A tematica espedfica da chamada pesquisa
E uma constante, pois, a discus sao relativa as qualitativa e tratada diretamente, pela primeira
questoes de teoria, metodo e objeto na pesquisa vez nos Cadernos de PesquisaJ por Andre (1983),
em Educa<;ao, quer sob 0 angulo do produto das seguindo-se, em 1984, a publica<;ao de todo urn
pesquisas, quer sob 0 angulo de seus fundamentos. simposio sobre 0 estudo da escola a partir dessa
As analises sobre os fundamentos, adentrando os modalidade de analise. Os artigos dos numeros 40
anos 1980, acham-se apoiadas pelas perspectivas e 41 (1982), comentados, ja anunciavam a busca de
do materialismo dialetico, em alguns cas os, ou metodos alternativos aos modelos experimentais
das teorias criticas em geral, em outros. Sabemos e aos estudos empiricistas, cujo p~der explicativo

82 83
sobre os fenomenos educacionais vinha sendo Quanto as analises criticas sob a otica de
posto em questao, como se punham em questao uma "crise", 0 artigo de Esteves (1984), citado
os conceitos de objetividade e neutralidade, anterior mente, abre a questao, alias, a partir do
embutidos nesses modelos. titulo: "Pesquisa educacional em crise: ontem,
As alternativas apresentadas pelas analises hoje - que caminho tomar?". Franco (Cadernos de
chamadas qualitativas come<,;:aram a ser experimen- Pesquisa, n. 51,1984), em artigo tambem ja citado, e
tadas. Essas alternativas comp6em urn universo Demo (Cadernos de Pesquisa, n . 55, 1985) continuam
heterogeneo de metodos e tecnicas, que vaG des de nessa linha de problematiza<,;:ao sobre qualidade e
a analise de conteudo, com toda sua diversidade representatividade da pesquisa em Educa<,;:ao.
de propostas, passando pelos estudos de caso, pela Demo traz a discussao sobre os limites da
pesquisa participante, ate os estudos etnograficos, quantifica<,;:ao para aquilatar qualidade, partindo
antropologicos etc. A variedade de possibilidades do pressuposto de que qualidade e uma dimensao
associa-se tambem uma grande diversidade na historico-cultural e que raramente 0 "mais rele-
forma de apropria<,;:ao e emprego desses metodos vante" coincide com 0 "mais mensuravel". Por
e, como dissemos anterior mente, apropria<,;:ao outro lado, quando se fala em qualidade cientifica,
muitas vezes aligeirada. Seu uso tambem traz a em geral, "restringimo-nos ao campo aludido
tona urn conjunto de discuss6es sobre a validade dos estereotipos, a gosto do grupo social de
das coletas de dados e das analises empreendidas pesquisadores que, com ele, produz muito mais
e sobre as quest6es de objetividade - claro que em uma forma de autodefesa do que conhecimento
parametros bern diversos daqueles que sustentam compromissado com mudan<,;:as sociais". Levanta,
os estudos experimentais ou quase-experimentais. a partir da discussao sobre 0 que e uma "boa
o amplo espectro dessa discussao se reflete nos educa<,;:ao" (que, para ele, e arte), que a questao
artigos do Cadernos de Pesquisa, n. 49 (1984), de da qualidade - em uma concep<,;:ao historica -
Thiollent, Andre, Gons:alves, Campos, Gouveia, mostra que nao sabemos tratar de modo adequado
e no de Ludke, no Cadernos de Pesquisa, n. 64 (1988). a questao da educas:ao. A pesquisa educacional
Dentro dessa tematica esta 0 artigo de Alves "passa ao largo da vida social, por mais que
(Cadernos de Pesquisa, n . 77, 1991), que, como 0 tenha dotes academicos em profusao. Nao e tao
de Andre (Cadernos de Pesquisa, n. 45, 1983), inocente quanto interessada nos controles sociais
procurava caracterizar a pesquisa qualitativa vigentes. Por isto, em parte inutil, na maior parte
como metodo. Alves mostra os pontos de aproxi- competentemente reprodutiva".
ma<,;:ao e afastamento entre as diversas abordagens Em face das coloca<,;:6es altamente critic as de
existentes na pesquisa qualitativa, trazendo Pedro Demo, Warde nao deixa a dever em artigo
contribui<,;:6es a questao da elabora<,;:ao do projeto publicado no Cadernos de Pesquisfl, n. 73, ja em
e seus cuidados. 1990. A autora discute, sob outro angulo, 0 papel

84 85
da pesquisa especificamente na pos-gradua<;ao Estar-se-ia, como se expressa Cunha (Cadernos
em Educa<;ao, pontuando tambem urn cenario de de Pesquisa, n. 77, 1991), no limiar de urn "ponto
crise. Faz uma revisao da literatura sobre a questao, de inflexao"? Ou se estava gerando a indefini<;ao
levantando nela pontos criticos sobre os quais e 0 descompromisso metodologico-teorico tao
polemiza. Pondera que se atribui apos-gradua<;ao confortavel ao status quo, num processo de laissez-
stricto sensu a fun<;ao de ser 0 foco produtor de jafre? Notemos que Cunha (1991) se de clara
pesquisa, mas que sua estrutura e de foco produtor mais otimista que Warde, ponderando que foi
de disserta<;oes ou teses, e que ha indica<;oes de de disserta<;oes e teses dos programas de pos-
que boa parte das pesquisas dos docentes nao se gradua<;ao que saiu a quase totalidade dos livros
mostra como eixo referencial para os discentes, que constituiam a bibliografia de Educa<;ao, que
ou seja, como elementos "desencadeadores e vinha incorporando dezenas de novos titulos
provoc~dores das disserta<;oes e teses". Por sua a cada ano. E delas tam bern que se originavam
vez, essa setoriza<;ao da pesquisa na pos-gradua<;ao grande parte dos artigos publicados por revistas de
tern se mostrado problematica e Warde "coloca em born mvel da area. Mas Cunha e contundente ao
duvida as condi<;oes de a universidade, com sua afirmar que "nem tudo sao flores" e que, "apesar
atual estrutura, chamar a si toda a responsabilidade do tamanho da pos-gradua<;ao e do prestigio que
da pesquisa e de circunscreve-Ia apos-gradua<;ao" . conseguiu alcan<;ar, muitas pesquisas chamadas por
A questao agrava-se, ainda, quando se verifica esse nome nos programas nao podem reivindicar
que, na verdade, os programas de pos-gradua<;ao cidadania academica". 0 autor busca as raizes
em Educa<;ao nao definiram com maior clareza dos problemas dessa produ<;ao academica na
com qual setor estao comprometidos, 0 que maneira como historicamente os programas de
traz indefmi<;oes serias quanto a sua finalidade, mestrado foram implantados, cujas condi<;oes
portanto, quanto a seu modelo. Ao analisar iniciais parecem nao ter sido superadas ainda no
a produ<;ao discente dos programas, a autora principio dos anos 1990, imperando a logic a de
constata que "tendencialmente, as disserta<;oes improvisa<;ao de professores e de alunos". Sugere
nao sao produtos de pesquisas" e, alem disso, como alternativas, de urn lado, a transforma<;ao
pelo trabalho de analise que vern fazendo, ela de alguns cursos de mestrado em especializa<;ao
verifica urn estreitamento dos recortes temati- ou aperfei<;oamento de professores, com 0 que
cos e lassidao nos metodos. Longe se esta poderiam melhor cumprir seus objetivos mediante
do encontro da especificidade da Educa<;ao a sele<;ao de temas espedficos para abordar.
como objeto de conhecimento, perto se esti da De outro, a especializa<;ao dos programas de
dissolu<;ao de marcos teoricos, do abandono do pos-gradua<;ao stricto sensu, mediante a escolha de
metodo e sem descobrir, ainda, como funciona a uma tematica, uma linha de trabalh}} por programa,
interdisciplinaridade. agrupando profissionais competentes na questao,

86 87
"contrariando toda a tendencia de improvisac;ao cientifica mais ampla. Mostra como e importante
de curriculos e de professores". a construc;ao de modelos explicativos como etapa
Poucos artigos na revista discutiram a questiio fundamental para a construc;ao da teoria e para
durante a decada de 1990. Essa decada se mostra sua aplicac;ao em outros contextos. Andre aborda
como um periodo de consolidac;ao de grupos de questoes sobre a natureza dos conhecimentos
pesquisa em variadas partes do Pais, e como uma produzidos a luz de mudanc;as em referenciais,
busca de identidade no que se refere a pesquisa contextos e metodologias adotadas, discutindo'
em Educac;ao. Em julho de 2001, 0 numero o rigor necessarlO a essa produc;ao. Discute
113 do Cadernos de Pesquisa tem como tema em as condic;oes reais de produc;ao da pesquisa
destaque a pesquisa educacional em algumas de em Educac;ao e os desafios que colocam aos
suas especificidades. A preocupac;ao dos artigos, pesquisadores. Gatti (2001) faz um balanc;o das
nesse inicio de dec ada, volta-se para 0 significado, formas e condic;oes de produc;ao da pesquisa em
o sentido, dos processos de pesquisa educacional educac;ao, no tempo, associando-as a conjunturas
utilizados, a relevancia e a aplicabilidade de seus historico-sociais e questionando 0 papel da
resultantes, a identidade das pesquisas qualitativas, consistencia metodologica no impacto que essas
o rigor e a qualidade do produzido. 0 artigo pesquisas possam causar em politicas e ac;oes
de Brito e Leonardos sugere que ainda e cedo educacionais. Todos os artigos mostram discussoes
para a proposic;ao de um novo paradigma para dens as das questoes levantadas, procurando trazer
ocampo das ciencias sociais e humanas, porque uma contribuic;ao aconsolidac;ao dos processos de
a emergencia historica desse paradigma viti nao investigac;ao cientifica na area e sinalizam, assim,
por imposic;ao ou escolha, mas por maturac;ao uma nova postura no conjunto das produc;oes que,
historico-sociocultural. Os autores sinalizam que no tempo, vieram refletindo sobre a pesquisa em
as tentativas, nos ultimos anos, de pro damar Educac;ao e seus problemas.
um novo paradigma mostram, na verdade, um o confronto salutar explicitado em todos
embate pelo poder no meio cientifico, calando esses artigos nessas tres decadas foi 0 caldo de
muito cedo os ricos debates sobre pressupostos cultura no qual se tem avanc;ado nas preocupac;oes
e prindpios de investigac;ao em um campo em com a pesquisa em Educac;ao. Conflitos entre pos-
pleno desenvolvimento. Propoem um quadro turas epistemologicas, diferenciais de metodos e
descritivo, tentando contribuir com a discus sao utilizac;ao de tecnicas, avanc;os na explicitac;ao do
sobre a "qualidade" nas abordagens qualitativas. obj eto, problemas de natureza institucional fazem
Alves procura mostrar a importancia da teorizac;ao parte do vivido nas lides dos que trabalham com a
sobre os resultados de pesquisa, para favorecer investigac;ao cientifica. E preciso reconhecer que
uma contribuic;ao ampliada e melhor disseminac;ao nao temos nos omitido no enfrentamento desses
dos trabalhos e sua avaliac;ao pela comunidade problemas, mas que nem tudo 0 que se faz sob a

88 89
egide da pesquisa educacional po de ser realmente BRITO, Angela X. de; LEONARD OS, Ana C. A
considerado como fundado nos prindpios da identidade das pesquisas qualitativas: constru<;:ao
investiga<;:ao cientifica, traduzindo com suficiente de um quadro analitico. Cadernos de Pesquisa,
clareza suas condi<;:oes de generalidade e, simul- Sao Paulo, n. 113, p. 7-38, jul. 2001.
taneamente, de especializa<;:ao, de capacidade de
CAMPOS, Maria M. M. Pesquisa participante:
teoriza<;:ao, de critic a e de gera<;:ao de uma proble-
possibilidades para 0 estudo da escola. Cadernos
matica pr6pria, transcendendo pelo metodo nao
de Pesquisa, Sao Paulo, n. 49, p. 63-66, maio 1984.
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 SOBRE A AUTORA

Bernardete A. Gatti e pesquisadora colaboradora

da Fundayao Carlos Chagas, tendo nessa
fundayao exercido as funy6es de coordenadora
do Departamento de Pesquisas Educacionais
e superintendente de Educayao e Pesquisa.
E docente aposentada da Universidade de Sao
Paulo (USP) e foi docente do Programa de P6s-
Graduayao em Educayao - Psicologia da Educayao
da Pontificia Universidade Cat6lica de Sao Paulo
(PUC-SP).

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