Resenha Livi Bacci - "500 ANOS DE DEMOGRAFIA BRASILEIRA: UMA RESENHA"

RESENHA 500 ANOS DE DEMOGRAFIA BRASILEIRA: UMA RESENHA
Aluno: Cauan Braga da Silva Cardoso

Em seu estudo 500 anni di demografia brasiliana: una rassegna (500 anos de demografia
brasileira: uma resenha), publicado na revista Populazione e Storia [1] e traduzido por Maria Silvia
Bassanezi, o professor italiano de demografia Massimo Livi Bacci trata de seu ponto de vista como
estrangeiro da histria da demografia do Brasil desde o seu descobrimento por Portugal, aps
parte de seu sabtico como pesquisador e docente no Centro de Desenvolvimento e Planejamento
Regional da UFMG e no Ncleo de Estudos de Populao da Unicamp. Sua anlise busca estudar as
mudanas na estrutura da populao brasileira ao longo do tempo, baseando-se em diversos
estudos que buscaram estimar a demografia brasileira (incluindo clssicos nacionais, como Casa
Grande & Senzala, de Gilberto Freyre) a despeito da escassez estatstica documentada.
As populaes autctones foram estimadas em 500 mil a 10 milhes de habitantes antes do

contato com a frota de Cabral, apesar da pouca confiabilidade em muitas dessas estimativas,
majoritariamente baseadas em notcias e avaliao de colonos, religiosos ou viajantes. A partir da
metade do sculo XVI, testemunhos dos primeiros povoadores da poca (especialmente jesutas)
corroboram a opinio de estudiosos contemporneos quanto queda vertiginosa das populaes
indgenas; na Contagem Geral de 1819, estimou-se cerca de 800 mil indgenas. Tal nvel de
depopulao deu-se, em parte, pela introduo de doenas como varola, sarampo, tuberculose e
uma variedade de gripes e, em outra parte, e esta determinante, pela contnua demanda de mo-
de-obra (escrava) pelos europeus para as atividades de produo e servios. A mensurao da
dimenso do extermnio, destruio, separao e deslocamento dessas populaes pelas aes dos
europeus , infelizmente, inestimvel e que, associados s patologias, prejudicaram a sobrevivncia
e reprimiram a potencialidade da recuperao das populaes indgenas.
A necessidade por mo-de-obra trouxe um enorme contingente de escravos provenientes

de pases do Continente Africano, especialmente Congo, Angola, Guin e Moambique, ao qual se
deu a maior parte do povoamento do Brasil at a metade do sculo XIX: o primeiro recenseamento
moderno, em 1872, estima em 58% dos quase 10 milhes de brasileiros na poca serem de origem
africana (pura ou mestia). At a abolio do trfico negreiro, em 1850, 3,6 milhes de escravos
africanos desembarcaram no Brasil - mais de um tero de todo o trfico transatlntico -
particularmente homens adultos (na proporo de quase 2 para cada mulher ou criana). Cerca de
um quinto desses escravos morriam durante a viagem. Dos sobreviventes, grande parte era
[1] LIVI-BACCI, M. 500 anos de demografia brasileira: uma resenha. Revista Brasileira de Estudos Populacionais, v. 19, n. 1, 2002.
Disponvel em: <http://www.abep.nepo.unicamp.br/docs/rev_inf/vol19_n1_2002/vol19_n1_2002_8pontodevista_141_159.pdf>.
Acesso em 14 mar 2016.
absorvida nas plantaes e, mais tarde, nas mineraes. A maior parte desembarcava em Salvador,
na Bahia, que hoje a cidade com o maior nmero de descendentes de africanos no pas [2]. No
sculo XIX, com o advento das economias de So Paulo e do Sul do pas, houve maior migrao no
s de homens livres, como tambm escravos para outras regies. Um recenseamento de 1819
estimou um quinto da populao escrava nos estados do Norte (Maranho, Cear e Par), 28% no
Nordeste (Bahia, Pernambuco e Alagoas) e 36% no Sudeste (Rio de Janeiro, Minas Gerais e So
Paulo). Os escravos possuam uma taxa de mortalidade elevadssima (a esperana de vida para os
homens era de 18,3 anos, contra 27 para o restante da populao brasileira), seja por causa das
patologias adquiridas ou pelo modo de vida, e seu aumento populacional se deu graas ao
crescente nmero trazido atravs do trfico. Havia uma tmida contribuio ao crescimento em
decorrncia da taxa de natalidade da populao escrava, associada ao baixo estmulo social (haja
vista ampla disponibilidade de escravos no mercado a preos baixos), baixa nupcialidade entre
escravos e ao desequilbrio entre os sexos, a favor dos homens; so caractersticas similares ao
escravagismo ocorrido no Caribe e opostas s observadas na Amrica do Norte.
Aponta-se grande destaque mestiagem como caracterstica de elevada importncia na

formao da populao brasileira, impulsionada pelos fatores demogrficos e de poder no Brasil
colonial. Tanto indgenas quanto africanos fundiram-se (o autor evita uma anlise sociolgica
mais profunda da questo dos estupros ocorridos nessas relaes de poder que resultaram na
miscigenao) com a populao branca - especialmente portuguesa, com algum aporte de outras
nacionalidades europeias. O povoamento portugus no Brasil se deu quase exclusivamente na faixa
litornea at o sculo XVII. No sculo XVI, houve um esforo sistemtico de colonizao pela Coroa
Portuguesa como preveno e resistncia s ameaas e tentativas de estabelecimento de franceses
no Brasil. At o final do sculo XVI, a populao branca no Brasil ultrapassava 30 mil indivduos,
com trs principais concentraes: Pernambuco, Bahia e So Vicente. A partir do sculo XVII,
comearam-se os esforos em povoar o norte do pas (Maranho e Par), em reao a incurses
estrangeiras, e, nos ltimos anos desse mesmo sculo, as imigraes aumentaram em
consequncia da descoberta do ouro em Minas Gerais, Gois e Mato Grosso. No sculo seguinte,
estima-se que at 500 mil pessoas imigraram no pas. Em 1798, um recenseamento d uma cifra de
1,010 milho de brancos - cerca de um tero da populao total do territrio na poca. Entretanto,
comparado a outros pases e regies do Continente Americano, como Canad, Estados Unidos e
Amrica hispnica, a imigrao portuguesa obteve consideravelmente menor sucesso migratrio.
[2] FUNDAO SEADE. Maior Populao Negra do Pas. Disponvel em: <http://produtos.seade.gov.br/produtos/idr/download/populacao.pdf>.
Acesso em 14 mar 2016.

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A necessidade por mo-de-obra trouxe um enorme contingente de escravos provenientes

Aponta-se grande destaque mestiagem como caracterstica de elevada importncia na

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