O Drama Da Criança Bem Dotada

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INSTITUTO BRASILEIRO DE MEDICINA E REABILITAO

O drama da criana bem dotada e o caso clnico de G.

Daniella Pfaltzgraff Scofano RA 2013100577

Rio de Janeiro - RJ
O Texto se inicia explicando que a nica arma duradoura na luta contra doenas mentais a
descoberta e a aceitao da histria, nica e especfica, da nossa infncia. O autor questiona se
possvel nos libertarmos totalmente das iluses. Ele afirma que toda e qualquer vida cheia de iluses,
quem sabe porque algumas verdades nos paream insuportveis. Apesar disso, a verdade nos
fundamental, que o preo por sua perda adoecer gravemente. Sendo assim, procuramos descobrir,
por meio de um longo e contnuo processo, nossa verdade pessoal para que possamos sair da esfera
da iluso e no cair em adoecimento.

Gislaine tem 13 anos e teve uma infncia muito difcil, sem uma referncia paterna e
materna saudvel, viveu em um ambiente hostil e escasso de afeto desde pequena, rodeada de
referncias que encontram solues atravs da violncia. Raramente Gislaine tinha suas necessidades
infantis vistas pelos pais, muitas vezes ela estava ali presente para cumprir um papel de satisfao,
onde seus pais encontravam em seu falso self a confirmao que buscavam, um substituto para sua
prpria estrutura inexistente. Gislaine desde cedo no pode confiar em seus prprios sentimentos,
no pode experimenta-los, ela viveu em um ambiente em que era submetida a vontade absoluta de
seus pais. Como ela iria criar seu prprio self?

A autora segue o texto constatando que no podemos mudar o nosso passado nem nos
desfazer dos males que foram imputados na nossa infncia. Entretanto, podemos nos mudar e
reconquistar nossa integridade perdida nesse perodo difcil, e esse o objetivo do nosso trabalho na
anlise. A medida em que observamos com mais profundidade o nosso passado e o trazemos para
mais perto de nossa conscincia, chegamos cada vez mais perto de reconquistar nossa integridade
perdida. De fato, no agradvel recordar situaes que nos remetem a angustias e traumas
passados, um caminho desconfortvel, porm o nico meio que nos oferece a possibilidade de
deixar a invisvel e cruel priso da infncia, nos transformando de vtimas inconscientes do passado
em pessoas responsveis, que esto cientes de sua histria e so capazes de conviver com ela.

A maioria das pessoas no procuram saber sobre sua trajetria a fundo, e dessa forma, so
continuamente determinadas por essa histria, e acabam vivendo situaes no resolvidas,
principalmente reprimidas na infncia. No sabem o que temem e evitam perigos que um dia foram
reais, mas que hoje no existem mais. Gislaine tem vrios traumas vividos em sua infncia, dentre eles
tentativas de homicdio por parte do pai, agresses fsicas e psicolgicas em casa e na escola e, ela
raramente os traz para anlise, geralmente ela diz que esqueceu o que aconteceu, como mecanismo
de defesa e os elabora como sintomas.

A pobre criana rica


O autor diz que possvel avaliar a extenso da solido e do abandono aos quais fomos
expostos quando crianas. Ele est se referindo a muitas pessoas que buscam a terapia e que tem uma
imagem de uma infncia feliz e protegida. Pacientes que tinham muitas possibilidades ou talentos,
desenvolvidos posteriormente, e que eram elogiados por seus dons e feitos. O que o oposto vivido
por Gislaine, que sempre foi invisvel aos olhos da maioria de seus familiares e no teve suas demandas
infantis escutadas.
Na opinio da maioria, essas pessoas prodgio, orgulho de seus pais, deveriam ser
autoconfiantes, fortes e estveis. Porm o que ocorre exatamente o contrrio. Apesar de serem
indivduos admirados, bem-sucedidos, se sarem excepcionalmente bem em tudo o que
fazem/empreendem, nada disso suficiente. O sentimento de vazio, a depresso, a falta de sentido
de sua existncia, estar sempre presente na vida desse sujeito quando no estiverem mais no topo,
quando a droga da grandiosidade no mais existir ou quando sentirem que falharam em algum ideal
colocado por si mesmos. Com isso, passam a ser acometidos por eventuais medos ou por profundos
sentimento de culpa ou vergonha.
Essas pessoas relatam pais compreensivos, ou pelo menos um deles, ou se lhe faltou
compreenso dos outros, foi porque no conseguiram se expressar direito. Sendo assim, trazem para
o consultrio do analista suas primeiras lembranas sem qualquer sentimento de compaixo pela
criana que um dia foram, o que fica evidente quanto sua maior capacidade de introspeco e empatia
com outras pessoas. O relacionamento com o mundo dos sentimentos de sua infncia caracterizado
pela falta de respeito, necessidade de controle, manipulao e presso por resultados. Em geral, h
uma ignorncia das prprias e reais necessidades da infncia. A represso do drama original foi to
bem-sucedida que a iluso da boa infncia foi salva.

O mundo perdido dos sentimentos


A adaptao precoce do beb leva represso das necessidades da criana por amor, ateno,
empatia, compreenso, participao. O mesmo se aplica para as reaes emocionais perante a falhas
consideradas graves, fazendo com que determinados sentimentos (como por exemplo: raiva, cime,
inveja, abandono, medo) no sejam permitidos na infncia e nem na idade adulta.
Essas pessoas desenvolvem toda uma tcnica para manter os sentimentos longe de si, pois
uma criana s os pode vivenciar em companhia de uma pessoa que as entende e as aceita com esses
sentimentos. Quando esta pessoa no est presente, quando a criana tem que arriscar perder o amor
da me ou de sua substituta, ela no consegue vivenciar sozinha as reaes emocionais mais naturais,
tendo que as reprimir. Elas ficam arquivadas como informaes em seu corpo, como sintomas.
Nessa sesso, o texto nos d um exemplo que se encaixa perfeitamente no caso de Gislaine, o
sentimento de abandono. A autora se refere ao sentimento original da criana pequena, que no tem
possibilidades de distrao para superar o vazio causado pelo abandono, cujos recados, verbais e no
verbais, no so entendidos pelos pais. Esse exemplo descreve boa parte das angustias vividas por
Gislaine em sua infncia na Bahia com os pais, quanto no Rio de Janeiro morando com a tia. Na Bahia,
os pais dela a negligenciavam, era desprovida de afeto por parte dos pais, e mal era tratada como
criana dentro de casa.
A autora explica que o motivo do abandono por parte dos pais no significa que eles so
pessoas necessariamente ruins, porm, eles mesmos estavam muito carentes de uma resposta
especfica e indispensvel da criana, no fundo, eram crianas em busca de uma pessoa que estivesse
disposio. Uma criana est disposio, ela pode ser usada pelos pais para ganhar respeito, para
confiar a eles sentimentos, para se sentirem fortes ao seu lado, enfim, para que o pai ou a me possa
se sentir o centro das atenes.
Muitos mecanismos de defesa integram o bloqueio dos sentimentos precoces do abandono.
Ao lado da negao, encontramos quase sempre a luta incessante, incansvel, que, com a ajuda de
smbolos (drogas, grupos, cultos, perverses), tenta atingir uma satisfao das necessidades
reprimidas. As intelectualizaes tambm esto presentes como forma de defesa. Negar a existncia
dos fatos passados negar as evidncias empricas. Todos esses mecanismos de defesa so seguidos
pela represso da situao original e dos sentimentos que a acompanham. Lembrando que logo no
incio do tratamento de Gislaine, uma de suas principais queixas era que ela se esquecia demais das
coisas.
A acomodao s necessidades dos pais, em geral, leva ao desenvolvimento do falso self. O
indivduo desenvolve uma postura na qual apenas mostra o que esperado dela, fundindo-se a essa
imagem. O verdadeiro self no consegue se desenvolver e se diferenciar porque no pode ser vivido.
Essas pessoas reclamam de sentimento de desenraizamento, de falta de sentido, sentimento de vazio
e compreensvel, pois esse vazio real. Houve um empobrecimento, uma morte parcial de
possibilidades, nesse momento, a integridade da criana foi abalada. Com um falso self, as dificuldades
de vivenciar e desenvolver os prprios sentimentos, levam a criana desenvolver uma permanncia do
vnculo, que no permite a individualizao. Os prprios pais encontram no falso self do filho a
confirmao que buscavam, um substituto para sua prpria estrutura inexistente.

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