Passeio Literário Cândido Guerreiro: O Poeta de Alte
Passeio Literário Cândido Guerreiro: O Poeta de Alte
Passeio Literário Cândido Guerreiro: O Poeta de Alte
Pontos de paragem:
1. Fonte Grande
2. Fonte Pequena
3. Rua dos Pisadoiros
4. Casa de Cndido Guerreiro
5. Igreja de Nossa Senhora da Assuno
6. Polo Museolgico Cndido Guerreiro e Condes de Alte
7. Cemitrio
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do sculo XX, no obstante a ausncia dos seus textos nas escolas e nas livrarias do
nosso pas.
esta a nossa proposta, quer esteja no litoral ou no interior, quer tenha sido o mar, o
sol, a natureza ou a cultura a traz-lo ao Algarve, deixe-se guiar pela literatura e pela
vida de um homem que amou o Algarve e nele encontrou inspirao.
1. Fonte Grande
Do meu pequeno quarto de estudante
Olho os campos de Coimbra Todavia,
Num estranho claro de nostalgia,
Eu vejo outra paisagem mais distante
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devem-se beleza caracteristicamente algarvia das casas brancas, das suas
chamins, das ruas estreitas pavimentadas com a tpica calada portuguesa mas,
seguramente, tambm ao facto de, em 1938, Alte ter participado no concurso da
Aldeia mais Portuguesa, promovido pelo Estado Novo, tendo, no entanto, o ttulo
oficial sido entregue Aldeia de Monsanto.
na FONTE GRANDE, nas nascentes da ribeira de Alte, que comea este passeio,
pois ter sido ao som destas guas que Cndido escreveu os seus primeiros versos.
o prprio poeta quem nos revela este segredo num poema quando diz: E vejo a
fonte-grande, o stio lindo / Onde eu compus os meus primeiros versos. Ainda neste
poema, Cndido Guerreiro confessa que Alte e o Algarve esto sempre presentes no
seu pensamento e, consequentemente, na sua poesia, inclusive quando a distncia
geogrfica o afasta desta terra. Por isso, mesmo quando se encontra longe, a estudar
na Universidade de Coimbra, o amor pela sua aldeia e pelo Algarve acompanha-o.
Comecemos, ento, por conhecer um pouco da vida deste homem, cuja figura de
tal forma nica e carismtica que imediatamente desperta a curiosidade e a vontade
de saber mais sobre o poeta.
Apontamentos biogrficos
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Em 1880, quando o poeta frequentava ainda a instruo primria, a famlia
mudou-se para Estoi, pois o pai fora a nomeado Juiz de Paz. Tambm se diz que
as seculares rvores do Palcio de Estoi tero inspirado alguns dos seus primeiros
poemas. Cndido Guerreiro iniciou os estudos liceais em So Brs de Alportel e,
posteriormente, continuou-os em Faro. Em 1889, por sugesto dos pais, abandonou
o liceu e matriculou-se no Seminrio Diocesano de So Jos, na mesma cidade.
Em 1891, o pai de Cndido Guerreiro faleceu e o poeta regressou a Alte para ajudar
a me, a tia e a av, abandonando assim o Seminrio sem ter terminado os estudos.
Nesta fase da sua vida, a necessidade levou-o a comear a trabalhar. Dessa forma,
em 1892, mudou-se para Loul, por acreditar que a seria mais fcil encontrar
trabalho. De facto, assim foi e, enquanto viveu em Loul, Cndido Guerreiro recorreu
a diversos expedientes: escreveu para jornais alentejanos e algarvios, foi escrivo do
Juiz de Paz em Estoi, foi correspondente em casas comerciais louletanas, deu aulas
particulares de francs e, graciosamente, ensinou os mais pobres a ler.
Em 1899, o poeta foi para Beja dirigir a Casa Pia. Nessa altura, Maria Veleda lecionava
em Odivelas, Ferreira do Alentejo, onde nasceu o filho de ambos: Cndido Xavier
Guerreiro da Franca (perfilhado pelo poeta). No entanto, o poeta e Maria Veleda
nunca chegaram a casar, pois a professora estava convicta de que o seu amor no
era correspondido na mesma medida.
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No ano seguinte, Cndido Guerreiro regressou a Faro, onde trabalhou como fiscal de
impostos; porm, por sugesto de Joo Lcio (1880-1918) outro poeta algarvio
concluiu o liceu e, em 1902, j com 30 anos, matriculou-se como trabalhador-
-estudante na Universidade de Coimbra, onde se formou em Direito.
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Depois do casamento, o casal regressou ao Algarve. Diz-se que na sua chegada a
Alte a populao recebeu o poeta em ambiente de festa, com a presena da banda
filarmnica, em homenagem ao primeiro doutor da aldeia.
Nesta fase, Cndido Guerreiro foi viver para Loul, onde, em 1910, foi nomeado
notrio da Comarca e iniciou o seu percurso poltico. Em 1912-1913, 1918 e 1919-
1922 foi presidente da Comisso Executiva, da Comisso Administrativa e da Cmara
Municipal de Loul. Republicano convicto, no seu primeiro mandato incluiu na
toponmia da cidade inmeras referncias Repblica em diversas ruas e praas.
Durante os seus trs mandatos, levou a cabo projetos estruturais fundamentais para
o progresso da localidade, como a construo da Avenida Jos da Costa Mealha, a
avenida central da cidade de Loul, e a instalao de luz eltrica.
Nesta cidade, que poca era vila, nasceram os seus dois filhos: Othman Guerreiro
da Franca e Agar Guerreiro da Franca.
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DE BORDO
Este local em que nos encontramos, a Fonte Grande, bem como a etapa seguinte do
nosso passeio, a FONTE PEQUENA, assumiram-se, durante o Estado Novo, e de modo
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particular, a partir da dcada de 1950, como cenrio de convvio na aldeia que, ainda
hoje, se mantm.
A Fonte Grande constitui tambm local de chegada dos caminhantes que percorrem
o setor 7 da Via Algarviana que se inicia em Salir e termina em Alte (16,2km). A Via
Algarviana um percurso pedestre com cerca de 300 km, pelo corao da serra
algarvia que liga o Rio Guadiana (na vila de Alcoutim) ao Oceano Atlntico (no Cabo
de So Vicente).
2. Fonte Pequena
Cndido Guerreiro soube entender e refletir, na sua poesia, a serra, o barrocal e o
litoral algarvios, com as especificidades e contrastes que conferem a esta regio uma
identidade to distinta. O soneto escolhido para marcar esta etapa do passeio a
expresso mxima deste facto:
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O elemento central da FONTE PEQUENA o memorial de homenagem a Cndido
Guerreiro. Neste jardim, so os diversos painis de azulejos com os seus poemas
que do as boas vindas e acolhem os visitantes, durante todo o ano, e de modo
particular, nas longas tardes de vero.
neste local, propcio reflexo e ao silncio, que o convidamos a ler alguns dos
poemas de Cndido Guerreiro. Entendemos tambm ser este o lugar para apresentar
o Algarve, sobretudo se esta a primeira vez que pisa esta terra, pois conhecer
a poesia de Cndido Guerreiro , em ltima instncia, tocar e compreender a
identidade algarvia. Conscientes, porm, de que esta descrio tem de ser breve,
passamos a apresentar apenas alguns dados sobre a regio. O Algarve divide-se
em trs sub-regies naturais: Serra (Alto Algarve), onde nos encontramos, Barrocal
(Algarve Calcrio), onde se concentra a capacidade agrcola da regio e Litoral (Baixo
Algarve), no qual se situam os principais centros urbanos.
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casa do poeta. Porm, antes mesmo de entrar nessa rua, chamamos a sua ateno
para a Capela de So Lus (sculo XV), que se encontra do lado esquerdo. J a meio
da Rua Cndido Guerreiro sugerimos que faa um desvio direita, e entre na Rua
dos Pisadoiros, ao fundo da qual pode apreciar o mural, tambm do lado direito,
alusivo ao papel da mulher no trabalho do esparto.
PAISAGEM RSTICA
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As palavras do poeta captam assim o quotidiano dos habitantes e o trabalho na
terra. No obstante a no referncia especfica ao esparto, era nesta RUA DOS
PISADOIROS que, como podemos ler nas palavras de Hlder Raimundo, ecoou
durante muito tempo, o som das moas de pisar o esparto []. Demolhado nas
levadas da ribeira e enxuto nas suas margens, o esparto era depois pisado horas a
fio, nas ruas e largos da aldeia e sobretudo na Rua dos Pisadoiros []. noite [] as
mulheres torciam-no entre as suas mos calosas, numa delicada e fina baracinha. O
resultado do seu labor seria depois comerciado pelos donos do esparto, em Benafim
e Loul, como objetos funcionais do nosso quotidiano: ceires, cabos, sacos de rede,
alcofas, tapetes.
Sobre a vida na aldeia, sabe-se que, at meados do sculo XX, os habitantes de Alte
eram na sua maioria agricultores e artfices (ferreiros, sapateiros, barbeiros, alfaiates,
entre outros). A forte presena do trabalho agrcola espelhada tambm nos versos
de Cndido Guerreiro, nos quais h referncias aos olivais e aos amendoeirais.
Porm, aqui gostaramos de destacar o esparto, no porque seja retratado nos versos
do poeta de Alte, mas porque foi uma planta de grande importncia econmica para
os habitantes da aldeia, j que a partir dos caules desta planta abundante no Algarve
se fabricavam cordas, tapetes e diversos outros objetos, que eram vendidos para
outras regies do pas, para Espanha e para os pases do Norte da Europa.
Vamos sair da Rua dos Pisadoiros virando esquerda, na Travessa dos Pisadoiros,
frente ao mural alusivo ao esparto, e descendo novamente em direo Rua
Cndido Guerreiro, na qual se encontra a casa onde viveu o poeta.
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4. Casa de Cndido Guerreiro
Neste ponto de paragem do passeio, pode apreciar a fachada exterior da CASA onde
nasceu Cndido Guerreiro e imaginar o modo como o poeta, na sua infncia, vivia na
aldeia que o viu crescer.
3 - XII - 1871
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Pontos de paragem:
1. Fonte Grande
2. Fonte Pequena
3. Rua dos Pisadoiros
4. Casa de Cndido Guerreiro
5. Igreja de Nossa Senhora da Assuno
6. Polo Museolgico Cndido Guerreiro e Condes de Alte
7. Cemitrio
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5. Igreja de Nossa Senhora da Assuno
(segunda a sexta 10h-13h, 14h-17h; missa domingo s 12h; encerrado ao sbado)
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A entrada na igreja faz-se pela porta lateral, do lado direito. possvel fazer uma
visita orientada.
Na origem da igreja ter estado uma capela particular dedicada a Nossa Senhora da
Assuno, construda no sculo XIII, por ordem de Dona Bona, rica senhora feudal do
Algarve, como agradecimento pelo regresso do seu esposo o 2. Senhor de Alte
das Cruzadas.
Os altares laterais so de estilo barroco, num deles o das almas, esquerda da pia
batismal podemos apreciar uma imagem singular do Menino Jesus acompanhado
pela Virgem Maria e pela av, Santa Ana.
Foi aqui, porta da igreja, que ocorreu um episdio invulgar: Joo de Deus
(o jornalista de Alte, diretor do jornal O Aldeo, e no Joo de Deus, o poeta e
pedagogo nascido em Messines) tentou esfaquear Cndido Guerreiro. Ao que
pudemos apurar, o jornalista escreveu um artigo no qual criticava a atuao de
Cndido Guerreiro a propsito da construo da estrada para Alte. Um dia, em Loul,
encontraram-se e Cndido Guerreiro ter-lhe- perguntado por que motivo Joo
de Deus lhe havia sido to pouco elogioso. Joo de Deus ter-lhe- virado as costas
e no lhe respondeu. Ento, abusando da sua posio de presidente da Cmara, o
poeta das Fontes de Alte mandou prender Joo de Deus (que ficou preso durante
um dia). Mais tarde, quando Cndido Guerreiro foi a Alte, ver as obras da sacristia
da igreja, Joo de Deus t-lo- apanhado desprevenido sada da igreja e deu-lhe
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uma facada. Apesar destas peripcias, Cndido Guerreiro escapou ileso, mas Joo de
Deus teve de fugir para o Brasil.
Diz-se que o jornalista, em 12 de novembro de 1913, ter escrito uma carta ao poeta
de Alte, enquanto responsvel da administrao do Concelho, pedindo-lhe perdo.
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(excerto da Balada)
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- Estrela a derramar do trono infinito
As ptalas de luz num rido areal.
Me do nosso povo! Me de Portugal!
E o nimbo que vos doira, anglica princesa,
a condensao das bnos da pobreza
E os risos da orfandade, em derredor de vs
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O teu sorriso, como o beijo terno,
Que o sol envia a cada sepultura,
Desce minhalma funda noite escura
E nela muda em Primavera o Inverno!
Sugerimos agora que sada do polo vire direita e entrando no Largo Jos
da Graa note o edifcio que outrora foi a penso na qual Cndido Guerreiro
se hospedou aquando das visitas a Alte, aps a morte dos seus familiares mais
prximos.
Para continuar este Passeio, deve retomar o caminho em direo Igreja de Nossa
Senhora da Assuno. Antes porm de a chegar, vire no cruzamento esquerda no
sentido do Largo Jos Cavaco Vieira. Vai passar pelo mercadinho da aldeia de Alte,
onde pode comprar ou simplesmente apreciar os produtos frescos locais. Adiante,
do seu lado esquerdo, encontra a esttua de uma das figuras que marcou a histria
de Alte: Jos Cavaco Vieira, presidente da Junta de Alte entre 1936 e 1975, Juiz de
Paz, tal como o pai de Cndido Guerreiro, fundador do Grupo de Amigos de Alte,
da Casa do Povo, da Academia de Msica e presidente do Grupo Folclrico de Alte,
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durante meio sculo.
Continue a caminhar e, num espao curto de tempo, chega a uma rotunda, a partir
da qual consegue vislumbrar o cemitrio da aldeia.
7. Cemitrio
(8h-17h, aberto todos os dias)
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difcil encontrarmos palavras que exprimam a serenidade que se sente frente
sepultura de Cndido Guerreiro: um espao de silncio no qual se percebe o amor,
que se sabe eterno, entre o poeta e a sua aldeia. Neste silncio constatamos ainda
que na sua sepultura no constam nem a data de nascimento, nem a data da sua
morte. Sentimos que esta ausncia no ser um acaso, significando que o poeta est
para sempre presente em Alte, conforme nos sugere a leitura do seguinte poema:
MINHA TERRA
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Viagem
ao Dr. Cndido Guerreiro
Vai!
Segue o teu rumo sem parar
Que te importa o mundo?
Bastam-te o Cu
E o mar
Vai!
Porque depois de tanto caminhar
Ainda podes cingir o Infinito
Na expanso do seu grito.
Vai!
Despe o teu manto de majestade
E de poder
S pobre como as cigarras
E alegre como as papoilas.
Vai!
Sem chorar nem sofrer
Vai!
Que te importa a cadncia dos instantes
E o tempo que passou
Vai!
Pelos caminhos que seguias dantes
E que a vida apagou.
Vai!
Segura em tuas mos
Os teus cantos dispersos.
Vai!
E chama ao Sol, ao mar e terra teus irmos
Pois so da mesma carne dos teus versos.
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Descansas: sobre o mundo transitrio,
Tudo crescendo-se, entropicamente
Se acumulando no repositrio
Da natureza, e indefinidamente
(Emiliano da Costa)
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Informaes teis:
Durao mdia do passeio: duas horas.
Distncia: 1,5km.
Grau de dificuldade: fcil.
Experincias tursticas
Loul Criativo (para mais informaes visite www.loulecriativo.pt)
Eventos
Festa das Chourias em Honra de S. Lus (fevereiro); Carnaval Tradicional de Alte;
Semana Cultural de Alte (25 de abril a 1 de maio); Festa em Honra de N. Sr. das
Dores (setembro); Halloween (31 outubro); Roteiro de Prespios de Alte (dezembro/
janeiro).
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