Angustia PDF
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Angstia
Graciliano ramos
3. O AUTOR.................................................................................................. 12
4. A OBRA..................................................................................................... 14
5. Exerccios............................................................................................ 33
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Graciliano ramos
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Graciliano Ramos
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Graciliano Ramos
3. O AUTOR
Obras
Romance
1933 Caets
1934 So Bernardo
1936 Angstia
1938 Vidas secas
Conto
1947 Insnia
Memrias
1945 Infncia
1953 Memrias do crcere
1962 Linhas tortas
1962 Viventes das Alagoas
As duas ltimas obras foram publicadas postumamente.
Literatura infantil
1944 Histrias de Alexandre
1946 Histrias incompletas
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Graciliano Ramos
4. A OBRA
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Angstia
TEMA
A literatura de Graciliano Ramos est longe de ser obra de concesso ao
grande pblico. Talvez a nica exceo a isso seja o livro de contos Histrias de
Alexandre, curiosa experincia do autor no campo da literatura infanto-juvenil.
Quanto a esse mister, de fazer ou no concesses, Angstia, provavelmente,
inscreve-se como o mais complexo livro do autor, ao menos tecnicamente, mas ,
indiscutivelmente, o que ausculta mais detida e profundamente o pensamento, a
introverso humana. O texto de Angstia funciona como se fosse o dirio mental
do personagem narrador Lus da Silva, no qual ele vai registrando suas reflexes
dia a dia e, claro, vai se desnudando diante do leitor, gradativamente.
Atravs das observaes pessoais desse personagem, vamos assistindo
montagem do cosmo social que o rodeia e, a exemplo do narrador Bentinho
de D. Casmurro, essa viso a que o narrador tem como verdade, mas uma
verdade filtrada pelas suas limitaes naturais, pelos seus interesses circuns-
tanciais e, principalmente, pelas suas frustraes.
Apesar de o texto transmitir toda a angstia vivida pelo personagem Lus,
a leitura gera no leitor um paradoxo, j que dessa angstia sobrevm sensao
de opresso, de mal-estar, que incomoda, ao mesmo tempo em que estabelece
sensao envolvente, que prende o leitor a uma leitura sufocante, mas da qual
emana estranho prazer em acompanhar a reflexo amarga e pessimista de Lus
da Silva. Vamos inteirando-nos de seu relacionamento sempre tenso com todas as
pessoas do seu meio social, a ponto de irmos lendo e sofrendo, porque, durante
a leitura, descobrimo-nos esperando constantemente que acontea uma situao
ou consequncia desagradvel nesse relacionamento.
A maestria e a essncia da obra consistem exatamente nisso, ou seja, fazer
o leitor navegar pelo labirinto do pensamento de um personagem narrador,
que traz, desde recordaes tristes, passa por ideias mesquinhas, mas irrelevan-
tes e inconsequentes, at chegar ao assassinato perpetrado por esse narrador,
premeditadamente.
Assim que podemos ter alguns resumos temticos, como os que se se-
guem.
A tragdia de uma vida condicionada a um complexo de inferioridade
nem sempre justificado
O poder do poder econmico
A influncia da palavra escrita e seu poder de dominao
A fragilidade e a dependncia da mulher em relao ao homem
Os valores provincianos como forma de condicionamento dos mais
pobres
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Ainda no disse que moro na rua do Macena, perto da usina eltrica. Ocupado em
vrias coisas, frequentemente esqueo o essencial. Que, para mim, a casa onde moramos no
tem importncia grande demais. Tenho vivido em numerosos chiqueiros. Provavelmente
esses imveis influram no meu carter, mas sou incapaz de recordar-me das divises de
qualquer deles. No esperem a descrio destas paredes velhas que Dr. Gouveia me aluga,
sem remorso, por cento e vinte mil-ris mensais, fora a pena de gua.
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O meu horizonte ali era o quintal da casa direita: as roseiras, o monte de lixo,
o mamoeiro. Tudo feio, pobre, sujo. At as roseiras eram mesquinhas: algumas rosas
apenas, midas. Monturos prximos, guas estagnadas mandavam para c emanaes
desagradveis. Mas havia silncio, havia sombra. O vozeiro de Vitria era um murmrio
abafado. Talvez o mamoeiro, as roseiras, o monte de lixo me passassem despercebidos, e
se menciono, que, escrevendo estas notas, revejo-os daqui.
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Lembrei-me da fazenda de meu av. As cobras se arrastavam no ptio. Eu juntava
punhados de seixos midos que atirava nelas at mat-las (...) Certo dia uma cascavel se
tinha enrolado no pescoo do velho Trajano, que dormia num banco do copiar. Eu olhava
de longe aquele enfeite esquisito. A cascavel chocalhava, Trajano danava no cho de terra
batida e gritava: Tira, tira, tira.
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Eu ia jogar pio, sozinho, ou empinar papagaio. Sempre brinquei s.
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Alguns dias depois, achava-me no banheiro, nu, fumando... Abro a torneira,
molho os ps.
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Nu, deitado de costas na cama de ferro, esfregava-me no colcho estreito e coava-me,
mordido pelas pulgas. No quarto, escuro para a conta da Nordeste no crescer, a luz que
havia era a do cigarro, que me fazia desviar os olhos de um lado para outro. No podia deixar
de olh-la. s vezes me entorpecia, e a luz ia diminuindo, cobria-se de cinza. De repente
despertava sobressaltado: parecia-me que, se o cigarro se apagasse, alguma desgraa me
sucederia. E entrava a fumar desesperadamente, e soprava a cinza. Impossvel dormir.
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Penso em indivduos e em objetos que no tm relao com os desenhos: processos,
oramentos, o diretor, o secretrio, polticos, sujeitos remediados que me desprezam porque
sou um pobre-diabo.
Tipos bestas. Ficam dias inteiros fuxicando nos cafs e preguiando, indecentes. Quando
avisto essa cambada, encolho-me, colo-me s paredes como um rato assustado. Como um rato, exa-
tamente. Fujo dos negociantes que soltam gargalhadas enormes, discutem poltica e putaria.
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Angstia
ENREDO
Lus da Silva funcionrio pblico, escreve para jornais locais, l muito
e ganha pouco, mas, a rigor, profissionalmente tambm produz pouco, j que
lhe comum a perda de razovel parte do seu tempo com reflexes sobre sua
vida e sobre a de outras pessoas, com idas e vindas pela casa ou pela cidade sem
objetivo concreto ou til.
razoavelmente culto, at considerado intelectual, tendo em vista a limi-
tao cultural do meio em que atua, mas extremamente frustrado e revoltado
com sua situao.
Vive numa moradia simples e suja em um bairro de classe mdia, convi-
vendo com uma vizinhana constituda de pessoas simples, que o tratam com
respeito e com alguma solenidade, por entenderem que ele lhes superior, con-
siderando-se seu trabalho e o fato de que um homem que l.
algum tempo, ela passa a ter muita importncia para ele no s por representar
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uma conquista rara no parco cenrio de sua trajetria amorosa, em razo da sua
timidez e do seu desajeito com mulheres, mas principalmente pela atrao f-
sica que ela exerce sobre o solitrio Lus; afinal, trata-se de uma mulher bonita,
aparentemente fcil e, provavelmente, sexualmente acessvel.
Afinal, para a minha histria, o quintal vale mais que a casa. Era ali, debaixo da
mangueira, que, de volta da repartio, me sentava todas as tardes, com um livro. Foi l que
vi Marina pela primeira vez, em janeiro do ano passado. E l nos tornamos amigos.
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Foi numa dessas suspenses que percebi um vulto mexendo-se no quintal da casa
vizinha. Como j disse existe apenas uma cerca separando os dois quintais.
O vulto que se mexia no era a senhora idosa: era uma sujeitinha vermelhaa, de
olhos azuis e cabelos to amarelos que pareciam oxigenados. Foi s o que vi, de supeto,
porque no sou indiscreto, era inconveniente olhar aquela desconhecida como um basba-
que. Demais no havia nada interessante nela.
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Marina tinha deixado de ver-me tarde, mas todas as noites a gente se reunia no
fundo do quintal. Ela passava pelo buraco da cerca, encostava-se ao tronco da mangueira,
e eram beijos, amolegaes que nos enervavam.
Vamos entrar, descansar um bocado, Marina. J que chegou aqui, d mais uns
passos.
Voc est maluco? Eu vou dar o fora. Qualquer dia a gente mete o rabo na rato-
eira. Os velhos descobrem tudo, estrilam, e um fuzu da desgraa.
Deixa disso, Marina, vamos l para dentro.
Good-bye.
Vem c, Marina.
Vai-te embora, Lobisomem.
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Aquilo viera pouco a pouco, sem a gente sentir. Naturalmente gastei meses cons-
truindo esta Marina que vive dentro de mim, que diferente da outra, mas se confunde
com ela. Antes de eu conhecer a mocinha dos cabelos de fogo, ela me aparecia dividida
numa grande quantidade de pedaos de mulher, e s vezes os pedaos no se combina-
vam bem, davam-me a impresso de que a vizinha estava desconjuntada. Agora mesmo
temo deixar aqui uma sucesso de peas e de qualidades: ndegas, coxas, olhos, braos,
inquietao, vivacidade, amor ao luxo, quentura, admirao a D. Mercedes. Foi difcil
reunir essas coisas e muitas outras, formar com elas a mquina que ia encontrar-me
noite, ao p da mangueira. Preguiosa, ingrata, leviana. Os defeitos, porm, s me pa-
receram censurveis no comeo das nossas relaes. Logo que se juntaram para formar
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com o resto uma criatura completa, achei-os naturais, e no poderia imaginar Marina
sem eles, como no a poderia imaginar sem corpo. Alm disso ela era meiga, muito limpa.
Asseio, cuidado excessivo com as mos. Passava uma hora no banheiro, e a roupa branca
que vestia cheirava. Nos nossos momentos de intimidade eu sentia s vezes uma tentao
maluca; baixava-me, agarrava-lhe a orla da camisa, beijava-a, mordia-a. Isto me dava
um prazer muito vivo.
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Marina apareceu, enroscando-se como uma cobra de cip e to bem vestida como
se fosse para uma festa. Ao pegar-me a mo, ficou agarrada, os dedos contrados, o brao
estirado, mostrando-se, na faixa de luz que entrava pela janela. Isto me dava a impresso
de que o meu brao havia crescido enormemente. Na extremidade dele um formigueiro em
rebulio tinha tomado subitamente a conformao de um corpo de mulher. As formigas
iam e vinham, entravam-me pelos dedos, pela palma e pelas costas da mo, corriam-me
por baixo da pele, e eram ferroadas medonhas, eu estava cheio de calombos envenenados.
No distinguia os movimentos desses bichinhos insignificantes que formavam o peito,
a cara, as coxas e as ndegas de Marina, mas sentia as picadas e tinha provavelmente
os olhos acesos e esbugalhados. Com uma sacudidela, desembaracei-me da garra que me
prendia e tornei-me um sujeito razovel (...)
Num dado momento de sua vida, Lus conhece Julio Tavares, advogado e
de famlia rica. Esse contato, j no incio, no agrada Lus, que de hbito arredio
a contatos sociais, e ele no entende por que no afasta Julio do seu convvio,
como j fizera com outras pessoas.
Foi por aquele tempo que Julio Tavares deu para aparecer aqui em casa. Lembram-
se dele. Os jornais andaram a elogi-lo, mas disseram mentira. Julio Tavares no tinha
nenhuma das qualidades que lhe atriburam. Era um sujeito gordo, vermelho, risonho,
patriota, falador e escrevedor. No relgio oficial, nos cafs e noutros lugares frequentados
cumprimentava-me de longe, fingindo superioridade:
Como vai, Silva?
noite chegava-me a casa, empurrava a porta e, quando eu menos esperava,
desembocava na sala de jantar, que, no sei se j disse, o meu gabinete de trabalho. E
l vinham intimidades que me aborreciam. Linguagem arrevesada, muitos adjetivos,
pensamento nenhum.
Conheci esse monstro numa festa de arte no Instituto Histrico. De quando
em quando um cidado se levantava e lia uma composio literria. Em seguida uma
senhora abancava ao piano e tocava. Depois outra declamava. A chegava de novo a
vez do homem, e assim por diante. Pelo meio da funo um sujeito gordo assaltou a
tribuna e gritou um discurso furioso e patritico. Citou os coqueiros, as praias, o cu
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terrveis aos oradores, aos poetas e s cantoras que vieram depois dele. sada deu-me
um encontro, segurou-me um brao e impediu que me despencasse pela escada abai-
xo. Desculpou-se por me haver empurrado, agradeci ter-me agarrado o brao e samos
juntos pela rua do Sol. Repetiu pouco mais ou menos o que tinha dito no discurso e
afirmou que adorava o Brasil.
Ah! Eu vi perfeitamente que o senhor patriota.
Perfeitamente, respondeu Julio Tavares. Uma vida cheia, uma vida nobre,
dedicada ao trabalho.
S a pontaps.
Muito bonito, seu doutor.
Ultimamente, embora repugnado, eu o tratava por voc.
Uma coisa jogar frases em cima do trabalho alheio, outra pegar no pesado.
Julio Tavares fechou a cara:
avistava Julio Tavares na prosa com ela, vermelho, soprando, derretendo-se, a roupa de
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Graciliano Ramos
brim com manchas de suor nos sovacos. Vendo-me, o canalha voltava as costas, porque
estava intrigado comigo. Abri-me com d. Adlia, comentei aquele escndalo:
A senhora aprova o comportamento de sua filha?
D. Adlia torceu as mos, engoliu em seco e respondeu numa atrapalhao:
a mocidade.
Perdi os estribos:
Que mocidade! sem-vergonheza. No lhe invejo a sorte, d. Adlia. Sua filha
acaba mal.
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Mais algumas pernadas, e os dois estavam defronte do caf. Julio Tavares passava
como um pavo. E o pessoal se calava, arregalava os olhos para Marina, que no ligava
importncia a ningum, ia fofa, com o vestido colado s ndegas, as unhas vermelhas,
os beios vermelhos, as sobrancelhas arrancadas a pina. Entravam no cinema, Julio
Tavares comprava um jornal. Na sala de espera toda a gente se voltava, com uma per-
gunta nos olhos. Julio Tavares sentava-se, fingia ler os telegramas, vaidoso. Quem
? Informaes em voz baixa, muita inveja. Sim senhor. Que bicho de sorte! Marina
fazia gua na boca dos homens.
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Angstia
As visitas de Julio Tavares foram escasseando e a alegria ruidosa de Marina
pouco a pouco desapareceu. Havia grande silncio na casa vizinha. Seu Ramalho estava
contente.
Parece que a tonta criou juzo.
Acha? perguntei incrdulo.
c uma ideia. Essa gente moa desembesta e faz tolice. o sangue. Mas um
dia acerta a pisada.
D. Adlia andava com a cara comprida e o nariz vermelho, assoando-se e soltando
longos suspiros. Uma tarde encontrei Marina engulhando junto ao mamoeiro. Eram
arrancos que a sacudiam toda, a faziam torcer-se agarrada ao tronco, o rosto contrado,
muito descorado. No me viu e entrou em casa cuspindo.
Que ter ela? disse comigo sem atinar com o motivo dos engulhos, da palidez e
das cusparadas.
An! Estava feia. Bem. Estava feia demais, amarela, torcendo-se, enxugando na
manga a cara molhada de suor, tentando vomitar, cuspindo toa na roupa.
timo!
Onde andavam os vestidos caros, as tintas, os tremeliques e os modos insolentes
que escandalizavam d. Roslia? Estava ali com os msculos da cara repuxados, fechando
os olhos, agitando a cabea como uma lagartixa.
Que diabo tem ela?
Desgovernada, cuspindo-se.
timo! Est muito bem assim. Que se lixe.
Julio Tavares parou e acendeu um cigarro. Por que parou naquele momento? Eu
queria que ele se afastasse de mim. Pelo menos que seguisse o seu caminho sem ofender-me.
Mas assim... Faltavam-me os cigarros, e aquela parada repentina, a luz do fsforo, a brasa
esmorecendo e avivando-se na escurido, endoidecia-me. Fiz um esforo desesperado para
readquirir sentimentos humanos:
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Contra as mos frias e molhadas de suor, meti-as nos bolsos para aquec-las. Para
aquec-las ou levado pelo hbito. A aspereza da corda aumentou-me a frieza das mos e fez-me
parar na estrada, mas a necessidade de fumar deu-me raiva e atirou-me para a frente. Entrei
a caminhar depressa, receando que Julio Tavares escapasse. Novamente os passos leves
no cho coberto de folhas secas. Distinguia-se agora muito bem a sombra escura na garoa
peganhenta. A garoa me entrava no bolso e gelava os dedos, que esfregavam a corda.
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Retirei a corda do bolso e em alguns saltos, silenciosos como os das onas de Jos
Baa, estava ao p de Julio Tavares. Tudo isto absurdo, incrvel, mas realizou-se
naturalmente. A corda enlaou o pescoo do homem, e as minhas mos apertadas afas-
taram-se. Houve uma luta rpida, um gorgolejo, braos a debater-se. Exatamente o que
eu havia imaginado. O corpo de Julio Tavares ora tombava para a frente e ameaava
arrastar-me, ora se inclinava para trs e queria cair em cima de mim. A obsesso ia
desaparecer. Tive um deslumbramento. O homenzinho da repartio e do jornal no era
eu. Esta convico afastou qualquer receio de perigo. Uma alegria enorme encheu-me.
Pessoas que aparecessem ali seriam figurinhas insignificantes, todos os moradores da
cidade eram figurinhas insignificantes. Tinham-me enganado. Em trinta e cinco anos
haviam-me convencido de que s me podia mexer pela vontade dos outros. Os mergulhos
que meu pai me dava no poo da Pedra, a palmatria de mestre Antnio Justino, os berros
do sargento, a grosseria do chefe da reviso, a impertinncia macia do diretor, tudo virou
fumaa. Julio Tavares estrebuchava. Tanta empfia, tanta lorota, tanto adjetivo besta
em discurso e estava ali, amunhecando, vencido pelo prprio peso, esmorecendo, escor-
regando para o cho coberto de folhas secas, amortalhado na neblina. Ao ser alcanado
pela corda, tivera um arranco de bicho brabo. Aquietava-se, inclinava-se para a frente,
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Angstia
Com os diabos!
E larguei o corpo, que foi bater numa cerca, por baixo de uns galhos de rvore que
aumentavam a escurido.
Com os diabos!
Sentei-me ao p da cerca, enxuguei o suor que me corria pela testa. Cansado. A mo
direita doa-me horrivelmente, mas continuei a apertar com ela a corda que a circulava.
A mo esquerda estava livre. Levei-a ao bolso procura de cigarros.
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dormia nos bancos dos jardins, outro vagabundo que dormia debaixo das rvores; tudo
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PERSONAGENS
Lus da Silva Personagem narrador, protagonista, vai colocando-nos a
par do universo da obra atravs de seu pensamento contnuo, medida que se
desnuda espiritual, mental e moralmente. Assim, vamos conhecendo, principal-
mente, seu dio por tudo aquilo que, provavelmente, ele gostaria de possuir ou
viver, mas, diante da impossibilidade de alcanar certos objetivos ou realizar
alguns de seus sonhos, sente-se socialmente inferiorizado pelas suas limitaes
econmicas e pela dificuldade em lidar com o prazer e com a sexualidade, sendo,
inclusive, desajeitado com as mulheres. Sente-se humilhado, age com timidez,
tende solido, convivendo apenas com algumas poucas pessoas. Isolado, torna-
se amargo, pessimista, mesquinho, s vezes cnico e sempre profundamente
frustrado. Tem baixa autoestima, achando-se inferior sob o ponto de vista cul-
tural, apesar de ser dono de razovel erudio. Odeia os ricos, vendo-os como
exploradores e parasitas, e despreza os que classifica de pseudointelectuais. Esse
comportamento acaba por colocar em segundo plano qualidades positivas da
sua personalidade, como experincia de vida, cautela, sentimento de piedade,
de respeito e compreenso, relativamente a algumas pessoas.
A maior parte da narrao acontece num perodo em que Lus funcion-
rio pblico e redator de jornal. Antes disso, fora instrutor de primeiras letras
(professor alfabetizador), trabalhando como itinerante, de fazenda em fazenda.
Bastante lido e culto.
Trabalho num jornal. noite dou um salto por l, escrevo umas linhas. Os chefes
polticos do interior brigam demais. Procuram-me, explicam os acontecimentos locais,
e fao diatribes medonhas que, assinadas por eles, vo para a matria paga. Ganho pela
redao e ganho uns tantos por cento pela publicao.
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Angstia
O carro passa pelos fundos do tesouro. ali que trabalho. Ocupao estpida e
quinhentos mil-ris de ordenado.
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(...) positivamente que ela me observava. Encabulei. Sou tmido: quando me vejo
diante de senhoras, emburro, digo besteiras. Trinta e cinco anos, funcionrio pblico,
homem de ocupaes marcadas pelo regulamento. O Estado no me paga para eu olhar as
pernas das garotas. E aquilo era uma garota. Alm de tudo sei que sou feio. Perfeitamente,
tenho espelho em casa. Os olhos baos, a boca muito grande, o nariz grosso.
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Caminho como um cego, no poderia dizer por que me desvio para aqui e para ali.
Frequentemente no me desvio e so choques que me deixam atordoado: o pau do andaime
derruba-me o chapu, faz-me um calombo na testa; a calada foge-me dos ps como se se
tivesse encolhido de chofre; o automvel para bruscamente a alguns centmetros de mim,
com um barulho de ferragem, um raspar violento de borracha na pedra e um berro do
chofer. Entro na realidade cheio de vergonha, prometo corrigir-me. Perdo! Perdo!
digo s pessoas que me abalroam porque no me afastei do caminho.
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Graciliano Ramos
O outro sujeito intil que nos apareceu era muito diferente. Gordo, bem vestido, per-
fumado e falador, to falador que ficvamos enjoados com as lorotas dele. No podamos ser
amigos. Em primeiro lugar o homem era bacharel, o que nos distanciava. Pimentel, forte na
palavra escrita, anulava-se diante de Julio Tavares. Moiss, apesar de falar cinco lnguas, emu-
decia. Eu, que viajei muito e sei que h doutores quartaus, metia tambm a viola no saco.
Alm disso Julio Tavares tinha educao diferente da nossa. Vestia casaca, fre-
quentava os bailes da Associao Comercial e era amvel em demasia.
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Conversa vai, conversa vem, fiquei sabendo por alto a vida, o nome e as intenes do
homem. Famlia rica. Tavares & Cia., negociantes de secos e molhados, donos de prdios,
membros influentes da Associao Comercial, eram uns ratos. Quando eu passava pela Rua
do Comrcio, via-os por detrs do balco, dois sujeitos papudos, carrancudos, vestidos de
linho pardo e absolutamente iguais. Esse Julio, literato e bacharel, filho de um deles, tinha
os dentes midos, afiados, e devia ser um rato, como o pai. Reacionrio e catlico.
Por disciplina, entende? Considero a religio um sustentculo da ordem, uma
necessidade social.
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Em toda a parte era assim. Derramava-se no bonde e se algum lhe tocava as pernas,
desenroscava-se com lentido e lanava ao importuno um olhar duro.
Eu encolhia-me, reduzia-me e, em caso de necessidade, sentava-me com uma das n-
degas. As viagens se tornavam horrivelmente incmodas, mas havia-me habituado a elas, e
ainda que o carro estivesse deserto, no poderia espalhar-me como Julio Tavares: receava que
me viessem empurrar e tomar, sem pedir licena, algumas polegadas da tbua estreita.
O vulto que se mexia no era a senhora idosa: era uma sujeitinha vermelhaa, de
olhos azuis e cabelos to amarelos que pareciam oxigenados. Foi s o que vi, de supeto,
porque no sou indiscreto, era (inconveniente olhar aquela desconhecida como um bas-
baque. Demais no havia nada interessante nela.
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Quando se cansa, agarra o jornal e l com ateno os nomes dos navios que chegam
e dos que saem. Nunca embarcou, sempre viveu em Macei, mas tem o esprito cheio de
barcos. D-me frequentemente notcias deste gnero:
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Graciliano Ramos
O Pedro II chega amanh. O Aratimb vem com atraso. Ter havido desastre?
No sei como se pode capacitar de que a comunicao me interessa. H trs anos,
quando a conheci, a mania dela me espantava. Agora estou habituado. Leio o jornal e
deixo-o em cima da mesa, dobrado na pgina em que se publica o movimento do porto.
Vitria toma a folha e vai para a cozinha ler ao papagaio a lista dos viajantes.
No princpio do ms, quando se aproxima o recebimento do ordenado, excita-se
e no larga o Dirio Oficial
Faltam dois dias, falta um dia, hoje.
E faz clculos que no acabam, clculos inteis, porque no gasta nada: usa os
meus sapatos velhos e traz um xale preto amarelento que deve ter dez anos.
Recolhe a mensalidade e mete-se no fundo do quintal, pe-se a esgaravatar a terra
como se plantasse qualquer coisa. Esquece os navios e as lies ao papagaio.
Volta a tratar das ocupaes domsticas, mas de quando em quando l vai rondar
a mangueira e acocorar-se junto ao canteiro das alfaces. D um salto cozinha, fala com
o louro, tempera a boia. Minutos depois est novamente remexendo a terra.
Observo esses manejos. Sentindo-se observada, levanta-se, deita gua no caco das
galinhas, vai ao banheiro, sai com uma braada de roupa, que estende no arame esticado
entre a cerca e um dos ramos da mangueira. Entra em casa, abre o jornal e anuncia:
O delegado fiscal viajou ontem.
Nota, pela minha cara, que o delegado fiscal no me interessa e d uma notcia
importante:
O arcebispo chegou do Rio.
ESPAO
A ao se passa em Macei, capital de Alagoas, estado natal de Graciliano
Ramos. Pela narrativa no se percebe a cidade como um todo, porque o narrador
no se preocupa em registr-la de forma precisa, mas aparecem, fragmentada-
mente, ruas, cafs, prostbulo, igrejas e bairros. O sentimento que a personagem
tem em relao cidade de falta de identificao com ela e at de desagrado.
TEMPO
O tempo cronolgico o dos anos trinta, sculo XX, logo aps o incio do
primeiro governo de Getlio Vargas, mas prevalece o tempo psicolgico, a ao
interior atravs do fluxo das ideias e dos pensamentos de Lus da Silva. A ao se
desenvolve nas frinchas do labirinto composto pelo incessante ir e vir do pensar
do personagem narrador.
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Graciliano Ramos
FOCO NARRATIVO
A narrao feita em primeira pessoa pelo protagonista Lus da Silva,
portanto no narrao onisciente, o que implica limitaes naturais quanto s
informaes que o narrador tem sobre fatos a que ele no assistiu. No entanto,
h algumas aes que, apesar de no terem sido presenciadas pelo personagem,
so imaginadas por ele e devem, ento, ser aceitas, pelo leitor, como reais.
Como as aes se desenvolvem dependentes do fluxo do raciocnio do
narrador, no se trata de narrao linear, cronolgica. A narrao avana ou recua
no tempo, em relao ao presente, sendo natural a quantidade de flashbacks de
que se compe o texto, tanto assim que o primeiro captulo, cronologicamente,
corresponde a um tempo posterior ao assassinato de Julio por Lus, quando
este est se recuperando dessa terrvel ao.
A CRTICA
Tambm a solido de Lus da Silva, em Angstia, cola-se vida de um pequeno
funcionrio, de veleidades literrias, mas condenado a esgueirar-se na mornido poenta
das pensezinhas de provncia e a repetir at nusea os contatos com um meio onde
o que no recalque safadeza. Tudo nesse romance sufocante lembra o adjetivo de-
gradado que se ape ao universo do heri problemtico. A existncia de Lus da Silva
arrasta-se na recusa e na anlise impotente da misria moral do seu mundo e, no tendo
outra sada, resolve-se pelo crime e pela autodestruio. O livro avana com a rapidez
do objeto que cai: sempre mais velozmente e mais pesadamente rumo morte e ao nada.
Estamos no limite entre o romance de tenso crtica e o romance intimista. De um lado, a
brutalidade da linguagem que degrada os objetos do cotidiano, avilta o rosto contemplado
e cria uma atmosfera de mau humor e de pesadelo; de outro, a autoanlise, a parada
que significa o esforo de compreender e de dizer a prpria conscincia. E tudo parece
preparar o longo monlogo final que abraa um sem-nmero de imagens de um mundo
hostil e as aquece com a febre que a recusa absoluta produziu na alma do narrador.
Romance existencialista avant la lettre, Angstia foi a experincia mais moderna, e
at certo ponto marginal, de Graciliano. Mas a sua descendncia na prosa brasileira
est viva at hoje.
Alfredo Bosi in Histria concisa da literatura brasileira.
5. Exerccios
1. (Fuvest-SP)
e) Lus da Silva
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Graciliano Ramos
2.
O ltimo perodo do texto fornece com perfeio um trao da personalidade do
narrador de Angstia, encontrado na alternativa:
a) Intensa rebeldia contra seus prprios familiares.
b) Autocrtica levando baixa autoestima.
c) Despreocupao com a opinio alheia a seu prprio respeito.
d) Humor negro sobre o comportamento humano.
e) Discordncia sistemtica da opinio de terceiros.
3.
Aponte a alternativa em que se encontra uma caracterstica modernista presente
no livro Angstia, de Graciliano Ramos.
a) Atitude crtica em relao a certos valores sociais, como o provincianismo e
a falta de cultura.
b) nfase a aspectos regionais e a tradies populares.
c) Clara averso a comportamentos ditados pelo modismo estrangeiro.
d) Violaes gramaticais sistemticas, como forma de desprezo pela lnguapadro.
e) Opo pela narrativa linear, cronolgica, evitando flashbacks.
4. (Unicamp-SP)
Leia o seguinte trecho extrado do romance Angstia.
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Angstia
5. (UFPR)
A respeito de Angstia, de Graciliano Ramos, correto afirmar:
01) Este um volume do famoso ciclo da cana-de-acar, em que se narra a vinda
de um rapaz do engenho falido do av, onde fora criado, para a cidade.
02) O crime de Lus da Silva nos apresentado como passional, mas possvel
dizer que ele tambm representa uma desforra social.
04) Trata-se de um romance regionalista tpico, j que sua ao, passada no ser-
to alagoano, gira em torno de um crime poltico muito comum no Nordeste
brasileiro.
08) Lus da Silva, oriundo de uma famlia de proprietrios rurais, sente-se isolado
na cidade, no se enquadrando bem em nenhum crculo social.
16) O narrador onisciente em 3 pessoa permite a explorao psicolgica de
um crime tanto por parte do assassino, Lus da Silva, quanto da vtima,
Julio Tavares.
32) Em vrias ocasies, a forma escolhida por Lus da Silva para cometer o as-
sassinato o enforcamento antecipada. Exemplo disso a semelhana que
ele v entre um cano exposto na cozinha de sua casa e uma corda.
64) A personagem principal, Lus da Silva, deseja uma revoluo socialista,
pois essa revoluo pode transform-lo em algum mais importante que
Julio Tavares.
6.
De forma sucinta, destaque as principais diferenas sociais e de personalidade
entre Lus da Silva e Julio Tavares.
7. (UDF)
Aponte o item que melhor conceitua a obra Angstia, de Graciliano Ramos.
a) Essa obra complementa Memrias do Crcere, do mesmo autor, relativamente
s suas memrias, mas sem o seu envolvimento poltico.
b) Narrativa ficcional de forte tendncia psicolgica, seguindo o fluxo do pen-
samento do narrador em 1 pessoa.
c) A exemplo das narrativas de Jorge Amado e rico Verssimo, em Angstia,
Graciliano Ramos privilegia a ao, de forma a registrar o universo das tra-
dies nordestinas.
d) Em Angstia, o autor movimenta as personagens em aes que lhe permitem
registrar as relaes exteriores entre pessoas de diferentes crenas e origens,
como num painel ou palco teatral.
e) Os contos reunidos no volume Angstia, de interao psicolgica, assemelham-se
aos de Insnia, do mesmo autor, e a algumas coletneas de Clarice Lispector.
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Graciliano Ramos
8.
Quatro das frases abaixo so de Lus da Silva, protagonista do livro Angstia, de
Graciliano Ramos, e, ainda que fragmentadamente, ajudam a compor sua reali-
dade psicolgica e social. A quinta frase foi dita pelo antagonista Julio Tavares
e mostra uma faceta de sua personalidade. Marque-a.
a) noite fecho as portas, sento-me mesa da sala de jantar, a munheca emperrada, o
pensamento vadio, longe do artigo que me pediram para o jornal.
b) Agarrava a papelada com entusiasmo de fogo de palha. Tempo perdido.
c) Afinal, para a minha histria, o quintal vale mais do que a casa. Era ali, debaixo da
mangueira, que, de volta da repartio, me sentava todas as tardes, com um livro.
d) Por disciplina, entende? Considero a religio um sustentculo da ordem, uma neces-
sidade social.
e) A corda enlaou o pescoo do homem, e as minhas mos apertadas afastaram-se.
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Angstia
GABARITO
1. E sair do lugar, sem evoluir na escala social,
A dificuldade de insero social, de conv- atormentado pelas suas reflexes repetidas
vio, e a autocrtica severa so traos identi- sobre seus dios, ressentimentos e culpas.
ficadores do protagonista de Angstia, Lus c) O pensamento de Lus gira em torno pra-
da Silva. ticamente das mesmas coisas, e uma delas
2. B verdadeiramente uma obsesso, como se
Esse um dos caracteres mais marcantes na fosse uma ideia-parafuso: o assassinato
personalidade do protagonista Lus da Silva, de Julio Tavares. Essa ideia vai e volta
de Angstia. constantemente, at que ele a realiza, o que
lhe d a sensao de algum poder, de no
3. A
ser, afinal, to insignificante; quem sabe
B: a narrativa no tem preocupao regio-
assim tenha sado do lugar, do buraco em
nalista; C: no h nenhuma aluso a isso
que fora colocado para ficar girando em
no texto; D: algumas falhas gramaticais so
torno de si mesmo.
decorrentes do falar de personagens; E: a
5. 2 + 8 + 32 = 40
narrao segue o fluxo do pensamento ou
da conscincia do personagem narrador. 6. Lus pobre, sente-se fracassado e humilha-
do diante da sociedade; desenvolve rancor e
4.
pessimismo em relao a todos que, social-
a) Antes do momento narrado no trecho, Lus
mente, esto em melhor condio que ele,
fora neto de proprietrio rural decadente
alm de criticar quase tudo na sociedade.
e filho de pequeno comerciante. rfo, foi
Ao contrrio dele, Julio tem dinheiro e
socorrido por conhecidos, tambm pobres.
egosta, no tendo nenhuma preocupao
Posteriormente, chegou a ser pedinte, ser-
social em relao aos outros, pois, para ele,
viu ao Exrcito, foi mestre-escola, trabalhou
conta apenas o seu prprio interesse.
como revisor, alm de fazer poesias para ven-
7. B
der para estudantes, acabando por chegar a
funcionrio pblico e redator de jornal. Essas Angstia romance introspectivo, narrado
duas ltimas atividades compunham a sua pelo personagem protagonista Lus da Silva.
situao social no momento registrado pelo 8. D
texto e lhe davam alguma estabilidade. A atitude rebelde e anrquica de Lus da Sil-
b) O primeiro significado tem o sentido de va coloca-o antagonicamente s instituies
mera pea de um mecanismo maior, ou sociais, ao contrrio de Julio Tavares, que,
seja, insignificncia. O segundo uso remete bem-sucedido economicamente, sente-se em
estagnao social em que vivia o narra- paz com essas instituies.
dor: girava volta do seu prprio eixo sem
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Graciliano Ramos
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