Conan - o - Barbaro Partes Do Livro PDF
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Conan - o - Barbaro Partes Do Livro PDF
ISBN 978-85-63993-24-3
CDD 813
Contos inditos
Alm do Rio Negro............................................................................ 199
As negras noites de Zamboula .......................................................... 254
Os profetas do Crculo Negro........................................................... 285
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ento um garotinho pouco mais velho que eu, ser um dos nicos sobreviventes.
Marcou-me especialmente ver sua me, aquela deusa de olhos que pareciam vidro
polido, ter a cabea cortada pelo senhor das cobras.
As surpresas no acabaram. Logo o garotinho cresceu, e surgiu na tela aquele
gigante de pele morena e cabelos compridos, cujo ator tinha um nome impro-
nuncivel. Lembro-me claramente da sensao que tive. Meu pensamento foi
algo mais ou menos assim: No sabia que havia homens to grandes.... Sim,
verdade. No imaginava que gigantes como aquele caminhassem na Terra.
Daquele instante em diante, eu queria ser ele. Queria ser Conan. De quebra, tive
um vislumbre dos primeiros seios de que me lembro ter visto, do treinamento
srio e compenetrado do cimrio (aquela disciplina me marcou profundamente)
e da presena estonteante da guerreira loira Valria. De cara apaixonei-me por
ela (na verdade, acho que sou, de certo modo, at hoje apaixonado).
A veio a parte mais curiosa da histria. Antes da metade do filme, na exata
cena em que o brbaro mata uma cobra gigante a espadadas, a fita travou no
aparelho, literalmente enroscada no cabeote. Isso era algo relativamente comum
na poca. Portanto, saiba que, na prxima vez que seu PC travar, problemas com
tecnologia algo que sempre existiu.
Bem, minha me ficou uma fera, e s quinze dias depois, quando o video-
cassete voltou da assistncia tcnica, soubemos o motivo: uma bolinha de gude
dentro do aparelho impedira seu funcionamento. Lgico que eu tinha colocado
a bola l, apesar de no ter memria do incidente em si (Mas quem mais o faria?
Eu ainda era filho nico...).
Pois bem, o fato que esse contratempo interrompeu razoavelmente meu
contato com Conan durante dois anos, at que, em 1984, chegou s bancas um
gibi enorme, em preto e branco, cuja capa era vermelha e feroz. Tratava-se de A
espada selvagem de Conan #1, e atormentei meu pai at que ele me comprou uma
edio. Perdi as contas de quantas vezes reli aquela impressionante histria cha-
mada Os Espectros do Castelo Rubro, na qual o brbaro enfrenta um exrcito
de esqueletos; depois, passei a comprar regularmente a revista.
Poucos meses depois meu tio apareceu em casa, num sbado noite, com
um filme que sequer tinha chegado aos cinemas ainda. Tratava-se de Conan, o
destruidor, continuao do longa anterior. Eu j era quase um homenzinho, e me
sentia 100% preparado para encarar aquele desafio. Desta vez, apesar da falta
de seios nus, e um clima bastante diferente eu diria at que bem-humorado ,
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curti tremendamente aquela sesso (que felizmente foi at o fim). Quando o filme
acabou, passei a ter certeza de uma coisa ao ser assaltado pelo mesmo sentimento
de dois anos atrs: eu queria ser Conan!
Ele era o mais forte, mais duro, mais respeitado, mais habilidoso... Con-
quistava as mulheres mais lindas, comandava exrcitos e enfrentava monstros,
magos e demnios de igual para igual. Guardo com carinho as emoes juvenis
que foram despertadas naquela poca com o primeiro meio filme que assisti, e as
primeiras edies da Espada selvagem se voc nunca leu essa srie, recomendo
severamente que procure os 100 primeiros nmeros, que esto entre o que j foi
produzido de melhor na histria das HQs em todo o mundo.
Para fechar a histria, queria contar que foi s anos depois, quando Conan,
o brbaro foi exibido pela Rede Globo em Supercine, que tive a chance de assisti-
-lo inteiro e saber como terminava. Quando comprei um aparelho de DVD, este
foi o primeiro filme que adquiri e de l para c o assisti seguramente mais de
trinta vezes. Sim, sou um f nerd e aficionado que no tem a menor vergonha
de dizer isso. Apesar de hoje enxergar os defeitos do filme, continuo maravilhado
com a sensualidade e o corpo perfeito de Valria, a trilha sonora maravilhosa, e
querendo ser Conan.
De l para c me tornei colecionador de HQs, comecei a trabalhar na rea, e
hoje escrevo sobre cinema e quadrinhos. Li milhares de gibis e assisti a milhares
de filmes, e cada vez menos encontro aquela sensao de empolgao que senti
quando tive meus primeiros contatos com Conan. Porm, devo dizer que ela
retornou com fora total quando estava trabalhando na traduo deste livro.
Veja, eu no sou nenhum novato em relao obra original de Howard.
Tenho todas as outras publicaes nacionais que trouxeram seus textos para o
Brasil, portanto, j estava familiarizado com sua prosa terrivelmente bem escrita.
Tambm li a quadrinizao de A hora do drago produzida por Roy Thomas, Gil
Kane e John Buscema, publicada primeiramente pela Editora Abril em verso
retalhada, e depois a integral pela Mythos, por isso j conhecia a histria. Mas
nada poderia ter me preparado para o que encontrei no texto original.
No foram poucas as ocasies em que, j na avanada madrugada, com os
olhos lacrimejando de cansao, simplesmente no conseguia parar de traduzir,
tamanha minha empolgao e curiosidade pelo que estava por acontecer.
H momentos que so puro ardor, como a revoluo que o cimrio promove
a bordo do Venturer. Quando ele grita para os corsrios negros seu nome, e eles
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Espero que voc se apaixone por estes textos, que so a gnese de um dos
maiores personagens literrios de todos os tempos, hoje no mesmo patamar que
gigantes como Drcula, Sherlock Holmes e Tarzan. E que no futuro possamos
ver finalmente publicadas as histrias de outros heris fantsticos de Howard,
como Kull, Salomo Kane e Bran Mak Morn. Por hora, prepare-se para ler um
primor da literatura. E que Crom o carregue se voc no arregalar seus olhos
de espanto.
Alexandre Callari
Abril de 2011
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Na terceira parte, aps outro flashback obrigatrio, Conan comea sua em-
preitada para recuperar o trono, encontrando-se com a bruxa Zelata e resgatando
sua aliada, a condessa Albiona, da Torre de Ferro, em Tarantia, capital da Aqui-
lnia. Contudo, sentimos que precisvamos de um pouco de feitiaria na terceira
edio, e a obra original de REH era carente de feitios. Ento, quando Conan
e Albiona se abrigam em um templo vendhyano (indiano), fizemos que uma es-
ttua vendhyana de quatro braos ganhasse vida e lutasse contra o cimrio para
que ele provasse seu valor. Fora isso, segui Howard de perto por todo o caminho.
Na quarta edio, Tom Sutton precisou abandonar a arte-final, e tivemos um
problema. Ele foi habilmente substitudo por Frank Springer, mas seu trabalho
no era to completo quanto o de Tom. Contudo, esse foi o menor dos males,
porque, quela altura, ficara decidido que as diversas revistas giant-size estreladas
por Conan, Homem-Aranha, Drcula, o Quarteto Fantstico, entre outras, no
estavam dando certo, isto , no estavam vendendo o bastante para justificar as
vendas que poderiam estar tirando dos ttulos mensais regulares. Ento, todas
foram descontinuadas aps Giant-Size Conan #5, que foi uma edio inteiramente
com reimpresses.
Felizmente, neste ponto, A espada selvagem de Conan era uma preocupao
constante. Tratava-se de uma revista P&B de um dlar (a giant-size era colorida),
que percorria aqui e ali a vida tumultuada de Conan, conforme convinha mi-
nha fantasia. Junto com exploraes originais, eu adaptava vrias histrias mais
longas de REH em A espada selvagem, contos que se passavam em um estgio
muito tardio da vida do cimrio para se enquadrar em Conan, o brbaro, quando
ele estava na casa dos vinte anos.
Ento, decidi levar o resto da adaptao para A espada selvagem. Porm,
por motivos que no me recordo, Gil Kane estava sem tempo para continuar a
adaptao, que mal tinha passado da metade.
Bem, nada a preocupar, ainda que eu tivesse adorado completar a adapta-
o com Gil. Como disse antes, o artista semirregular de A espada selvagem era
John Buscema, cujo trabalho tinha me ajudado a transformar Conan, o brbaro
de um ttulo que vendia bem, feito por um artista menor, Barry Smith (hoje
Windsor-Smith), para uma das maiores revistas da Marvel. John adorava dese-
nhar Conan mais do que qualquer outra coisa com a qual tenha trabalhado nas
HQs, conforme dizia a todo mundo, e no se importou em dar continuidade
histria que Gil tinha comeado.
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Oh adormecido, desperte!
relos ouviu a pesada porta ser forada, como se alguma fora poderosa a empur-
rasse. Ele deu meia-volta, j segurando sua espada, mas o homem com o manto
de pele sibilou um aviso urgente: Fique! No quebre a corrente! Pela sua vida,
no v at a porta!
O homem de cabelos amarelos encolheu os ombros, retornou, e ficou esttico
com o olhar fixo. No sarcfago de jade agora havia um corpo vivo: um homem
alto e vigoroso, nu, com a pele branca, cabelos escuros e barba. Ele permaneceu
imvel, seus olhos bem abertos, vazios e ignorantes, como os de um beb recm-
-nascido. Em seu peito, a grande joia ofuscante ardia.
O homem coberto de peles suspirou, como se colocasse para fora uma tenso
extrema.
Ishtar! ele arfou. Xaltotun! E ele vive! Valerius! Tarascus! Amalric!
Olhem! Esto vendo? Vocs duvidaram de mim, mas eu no falhei! Nesta noite
nos aproximamos dos portes escancarados do inferno, e as foras da escurido
caminharo ao nosso lado os trs o seguiram at a porta , mas ns trouxemos
o grande mago de volta vida.
E condenamos nossas almas ao eterno purgatrio resmungou Tarascus,
o homem mais baixo.
Valerius, o homem de cabelos amarelos, sorriu e emendou com tom severo:
E que purgatrio pode ser pior que a vida que temos? Estamos todos
amaldioados juntos desde o nascimento. Alm disso, quem no venderia sua
miservel alma por um trono?
No h sinal de inteligncia na fisionomia dele, Orastes disse o homem
alto.
Ele ficou morto por muito tempo respondeu Orastes. Acabou de ser
despertado. Sua mente est vazia depois de hibernar tanto tempo... Alis, ele
estava morto, no dormindo. Ns trouxemos seu esprito de volta do vazio, dos
golfos da noite e do esquecimento. Eu falarei com ele.
Orastes inclinou-se sobre o p do sarcfago e, mirando dentro dos olhos
escuros e penetrantes, disse solenemente:
Desperte, Xaltotun! os lbios do homem se moveram mecanicamente.
Xaltotun! ele repetiu num sussurro satnico.
Voc Xaltotun! exclamou Orastes, como um hipnotizador, dirigindo
suas sugestes. Voc Xaltotun de Python, em Acheron.
Uma chama turva cintilou em seus olhos.
confiar. Mesmo com meus feitios, somente eles poderiam ter roubado o Corao
do local onde repousava, guardado pelos demnios das trevas desde a queda de
Acheron, trs mil anos atrs.
Xaltotun ergueu sua cabea leonina e olhou fixamente para o espao, como
se procurasse os sculos perdidos.
Trs mil anos! ele resmungou. Set! Diga-me o que mudou no mundo.
Os brbaros que derrubaram Acheron estabeleceram novos reinos rela-
tou Orastes. Onde outrora havia o imprio, agora erguem-se os reinos chamados
Aquilnia, Nemdia e Argos, fundados por tribos separatistas. Os antigos reinos
de Ophir, Corinthia e Koth ocidental, que haviam sido subjulgados por Acheron,
novamente ganharam sua independncia com a queda do imprio.
E quanto ao povo de Acheron continuou Orastes , quando fui para a
Stygia, Python estava em runas, e todas as belas cidades com torres prpuras de
Acheron foram manchadas de sangue e pisoteadas pelas sandlias dos brbaros.
Nas colinas, alguns pequenos grupos ainda descendem de Acheron disse
ele. Quanto ao resto, foi engolido pela mar brutal de meus ancestrais brba-
ros, varrendo tudo do mapa. Eles haviam sofrido demais por causa do reino de
Acheron.
Um sorriso terrvel, com dentes mostra, contornou os lbios do pythoniano.
Sim! Muitos brbaros, homens e mulheres, morreram berrando no altar
sob esta mo. Eu vi suas cabeas serem empilhadas para formarem uma pirmi-
de na grande Praa de Python, quando os reis voltaram do oeste trazendo seus
esplios de guerra e escravos capturados.
Sim. Mas quando o dia do acerto de contas chegou, a espada no descansou
at que Acheron deixasse de existir. E Python das torres prpuras tornou-se uma
reminiscncia de dias esquecidos. Os reinos jovens se levantaram sobre as runas
imperiais e se engrandeceram. Agora o trouxemos de volta para nos ajudar a
dominar esses reinos, os quais, embora menos pujantes que o antigo Acheron,
so ricos e poderosos, dignos de se governar. Veja! Orastes desenrolou diante
do estranho um mapa desenhado cuidadosamente em um pergaminho.
Xaltotun examinou o papel, movimentando a cabea, perplexo.
Os prprios contornos da terra mudaram. como algo familiar visto em
um sonho que distorce as memrias.
Todavia, aqui est Belverus, a capital da Nemdia, onde estamos agora
retrucou Orastes, traando linhas com o dedo esticado. Aqui esto as fronteiras
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a expresso em seu rosto indicava que ele entendia o propsito da pea. Orastes
meneou a cabea, manifestando o orgulho que qualquer bom arteso demonstra
ao ver seus feitos serem reconhecidos por um mestre na arte.
Tentarei mostr-lo a voc disse. Sentado diante do espelho, ele fitou
hipnoticamente suas profundezas, onde uma sombra turva comeou a se formar.
Era algo misterioso, mas as testemunhas daquela situao sabiam que se
tratava do reflexo da imagem do pensamento de Orastes, estampado no espelho
como as ideias de um mgico se corporificam em um cristal mstico. A mancha
nebulosa flutuou antes de se dissipar e mostrar com surpreendente clareza um
homem alto, com ombros poderosos, peito imponente e pescoo grosso. Ele es-
tava vestido de seda e veludo, com os lees reais de Aquilnia trabalhados em
ouro sobre seu colete, e a coroa do reino resplandecia sobre sua juba negra, mas
a grande espada, embainhada na cintura, era o que parecia mais natural naquela
figura em comparao com os ornamentos rgios. Sob a testa larga, os olhos da
cor do anil, num tom azul-vulcnico, ardiam como se tivessem um fogo interior.
A face coberta de cicatrizes, quase sinistra, era a de um combatente brutal e peri-
goso, cujas ricas vestes de veludo no conseguiam ocultar os membros altamente
musculosos.
Esse homem no hiboriano! exclamou Xaltotun.
No. Ele um cimrio, descendente de uma das tribos selvagens que vivem
nas colinas do norte.
Eu lutei contra seus ancestrais murmurou Xaltotun. Nem mesmo os
reis de Acheron puderam conquist-los.
Eles continuam sendo um terror para as naes do sul reclamou Oras-
tes. Ele um verdadeiro filho daquela raa selvagem, e tornou-se invencvel
at agora.
Xaltotun, sem responder, ficou sentado, encarando a pea de fogo que brilha-
va em sua mo. L fora, o co uivou mais uma vez, um gemido longo e pungente.
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de uma malha prateada escura, um capacete com visor e plumas negras na sua
crista. Por cima, a tnica de seda com o leo real, trabalhado em ouro na altura
do peito, e o cinturo com fivela dourada, que guardava uma larga espada, com
uma joia incrustada na bainha de pano dourada. Trombetas soavam do lado de
fora e, por todo o riacho, erguia-se um profundo rugido, conforme esquadro
aps esquadro assumia sua posio.
Paramentado e armado, Vallanus caiu de joelhos e curvou suas plumas diante
da figura deitada no estrado.
Senhor, meu rei. Que Mitra garanta que eu no desonre a armadura que
uso hoje!
Traga-me a cabea de Tarascus, e eu farei de voc um baro! em sua hora
de angstia, o verniz de civilizao de Conan caiu. Com olhos de fogo, ele apertou
os dentes com fria e sede de sangue, to brbaro quanto qualquer homem de
sua tribo nas colinas da Cimria.
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