Memmorias para A Historia Do Exctinto Estado Do Maranhão PDF

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..

MEMORIAS
DO

MARANHAO
L
/MEMORIAS
PARA A RI TORIA
DO

EXTINC1'O ESTADO DO MARANHO


CUJO TERRITORIO CmIPREBENDE HOJE AS PROYINClAS DO

MARANHAO, PIAUHY, GRO-PAR E AMAZONAS

CDLLlGIDAS E ANNDTADAS

POR

TOMO SEGUNDO

.....

RIO DE JANEIRO
NO"A T'rOCR."PlnA DE J. PAULO HJLDEUItA.!\'D'l'

9ft Rua da Alfandega 93, sobrado. J


1874
MEMORIAS
PARA A m TRIA
DO

EXTINCTO ESTADO DO MARANHO


CUJO TERRITORIO CO~lPREHE:\DE HOJE AR PROYI:\ClA., DO

MARANHAO, PIAUHY, GRAO-PAR E AMAZONAS

CDLtlGIDAS E ANNDTADAS

POR

....

RIO DE JANEIRO
n;O"j'-. "l',,'POl:n...:,-rll.IA DE .Y. IJ'-"ULO JU t... DE Ule A i\" O "I'

3 Rua da. Al:C:.Lude:;a 93, ,",oh.." 'lo. \1


1874 .
.-.;,;,;;,..--_.~ --_.~----"""
AO LEITOR

1.

~m 1860 espontaneamente pnblieamos o primei,"


volume de ta J.1femo1'ia8, que touo contem a His-
to'ria da Companhia de Je8'Ll8 na extill,cta provncia
do Jjlamnho e PanJ. Para este empenho no fomos
por pessa alguma animado ,
o prefacio que juntamo quelle interessante traba-
lho, infelizmente incompleto, enunciamos com franqueza
o nosso propo, ito e a razes de no sa deliberao que
resumio-se no louvavel desejo de vermos bem conhecida e
apreciada a hi toria patria, que em si coutem muito e
curio os problemas, aiuda no resolvido.
Hoje, graa divina Pr?,?dencia, podemo continuar
no a obra, lanando pnbhCldade .malS um volume de sas
llIem07'ias j e, se outro' fossem o nossos reclU"OS finan-
ceiro , augmentariamo' o numero, poi o campo no he
to faro, como muitos poderia, talvez a,ntolhar-se.
o numero do e cripto que aqui colligimos poucos
so os ineditos, a mr parte j foi impre sa; mas so em
geral rarissimas as edies.
Eis porque tomamos este inglorio ma util trabalho:
pensamos haver feito bem, facilitando assim o estudo de -
ses dooumentos, pois contem al?;uns factos ouriosos, mesmo
interessantes, e a soluo de alguns do problemas histo-
ricos que j alludimo .
Dando ao leitor esta noticia nossa tarefa estaria satis-
feita, e n~m mesmo seria preciso dizer que procuramos
manter a fidelidade do texto, elucidando-o com varia-
das notas, e no nos esquecendo de escoimar de erro a
impresso. I to bem compl'f3hende o cultor da historia
patria.
Mas tudo no nos parece estar feito. Levando. a s pr-
II

los um manuscripto que jasia no p dos archivos, ou,


bem que ha pouco impresso, no havia tido a desejavel
publicidade, ficamos com a obrigao, por certo ind~cli
navel de defender o autor, por isso que alm da maior
vulgarisao, preconisamos, encarecemo ,ou antes assigna-
lamos ainda mais o merito do seu trabalho.
Dous de nossos litteratos que se occupo com a histo-
ria patria, examinaro esse trabalho em nossa edio, e
cada um seu modo descobriu-lhe senes, e, ao que parece,
fazendo avultar os defeitos mais pela qualidade da profis-
so do escritor do que por outra circum tancia. O padre
Jos de Moraes pertencia companhia de Jesus, dahi a
sua suspeio, 08 factos que narra, ainda os melhor com-
provados, perdem de merecimento sendo exhibido por
um sacerdote' de semelhante corporao, O, menos averi-
guados enunciados por outra penna, ainda no passando
pelo fogo vi '10 da discusso, talvez fos em bem acceitos
sem a preventiva macula que d'antemo os de. aira e
mara.
Os dous illustres litteratos que nos referimos, o: o
author dos Apontamentos pa1'a C~ hist01'ic~ dos Je.s1~ita8 no
B1'C~zil, ext1'C~hido8 das Oh1'onicaB ela 001nlJCtnhia de Jesus,
que a Rev8te~ elo }nst'it1~to Hist01'ico deste anuo tem dado
ao prelo (1); e bem assim o da Histo1'ia ela' Lutas com os
Hollaneleze.s no Bmzil elesele 1624 1654, impressa em Vien-
na el'Austra, em 1871. .
O primeiro, directamente occupanelo: e com a Historia elo
padre Jos de Moraes, no p6de no nosso exame deixar de
ter a precedencia, embora mais modemo o eu que o outro
trabalho, que alis s incidentemellte refere-se ao nosso
autor, conte 'tando-lhe a veracidade dos facto que exhibira,
O illustre autor elos ..ponta1nentos propoz-se a :f'azer um
resumo da Hist01'ia do padre Jos de Moraes, com quanto
j estivesse mui vulgarisada pela impTensa no Brazil, p01'-
que, diz e11e, adoece elos achaques ela.s Out1'a.S Oh?'onicas elc~
Oompanhia ele Jesus,
Antes disto assegura que, quem descobrira o manns ripto

(1) O autor destes Apontamentos 11e o Dr. Antonio Henriques Leal.


Vide a Revista elo Instituto Hisw7'ico e Geogmpkico ta. 34 e 36, sobre
tudo o ultimo de paga. 101 149.
He trabalho de merecimento, por quanto resume muitas obras que nem
todos poderio facilmente consultar.
ur
dessa Histm'ia em Evol'a, fl'a o eminel1te poeta Caxiense
o Dr. Antonio Gonalves Dias, fazendo-o imprimir por
conta da provncia do Maranho, o colleccionador destas
Memo1ias. J o Semana1'io Ma1'anhense n. 7 - de 13 de
Outubl'c de 1867, em artigo da esma lavra, se havia
sustentado pouco mais ou menos a mesma doutrina.
Ra nestas asseres desculpavel engano. Quem revelou
ao publico a existenoia do precioso manuscripto foi o illus-
trado autor do Catalogo dos manuscyriptos da biblJiotheca de
Evom, o oonselheiro Joaquim Heliodoro da Cunha Rivra,
interessante publicao, impressa em 1850, Deste catalogo
viero para o Brazil muitos exemplares, e possuimos um
desde 1 51. Agora a raso da copia do manuscl'ipto.
'I'ratando-lSe da viagem do eximio poeta EUl'opa em
1854, encarregado de uma importante commisso do mi-
nisterio do imperio, cOlu;iou-se-lhena mesma oocasio outra,
a de oolligir e fazer oopiar manu oriptos que interessassem
. historia de 110 so paiz. Regia ento a pasta do imperio
o il1ustrado e benemerito Visconde do Bom Retiro.
No momento em ql1e se redigio as instruoes porque
devia guiar-se o eximio poeta, alguem que trabalhava no
gabinete daqueUe ministro, e que se' interes ava pela ls-
toria do Maranho, lembrou a copi.a tanto do manusoripto
do padre Jo de Momes, como do de FI'. Yvo d'Evreux, e
I adi.o que fossem contemplada>; nc' 'as in.-truces.
.Attendeu-se ao pedido, e, o que a 'eguramos, eleve
con tal' do registro daquella repartio de 1853 011 1854 (1~,
o que ainda hoje seria faoil de verifioar, pois felizmentb
ainda vive o resI ectivo ministro.
O nosso poeta, por cuja gloria tanto e ha e\>forado o
autor elos Apontamentos, desempenhou perfeitamente a
commisso em Frana e em Portugal, e, neste negocio, he
o seu merito (2).
A obra do padre Jos de Moraes teve logo um editor
em 1859, na pessoa do autor da Cm'ographia histm'ca do
B1'a~il, que oontemplou-a no seu.terceiro-tomo. Ns viemos

(1) O DI'. Gonalves Dias partio para a Europa no vapor inglez Severn
em janeiro de 1854, o que consta do . viso do Millisterio do Impe)':'o
de.l0 desse mez, diri~ido ao :Ministro' Brnsileiro em Londres, o finaJo
conselheiro Sergio 'reJxeira de M:acdo.
(2) A commisso da copia dos Illanuscriptos cm Portugal coi, em
1856, confiada \ Joo Francisco Lisba. 6
TV

depois, no anno seguinte, e, como nos foi passiveI, procu-


ramos tornar a nossa edio bem accei a do publico, sobre
tudo o de nossa provincia, pelas notas que lhe additamos
para esclarecimento do texto. Mas se a assembla leg'isla-
tiva do Maranho, depois da obra impres a, entendu am-
mar nossa empresa comprando duzento exemplares sem
rebate (1), no ha fundamento para a segurar-se que a im-
presso foi por conta da Provincia: mai nos cu tau ella (2).
A obra de FI'. Yvo d'Evreux foi tambem felizmente im-
pressa, depois da vinda da copia do importaute manuscripto
para BOSSa paiz. Elia faz parte da Bibliotheca Ame'r1:cana, ni
tida impre 'so, do livreiro Parisiense A. Fran k, em 1864.
He uma preciosa colleco de obras medita e raras obre a
..ll1erica. O trabalho do douto capuchinho Francez traz um
erudito prefacio do sabia littemto Fernando Deni , to
amigo do nosso paiz. entimo grande pezar no vendo
progredir e avolumar- e empresa to bem encetada por
aquelle livreiro, que nos consta fra interrompida por de-
ficiencia de o0adjuvao.
Justificando, como parece que o fizemos, o pensamento
que nos determinou a emprehender a publicao destas
MeJlno'T'ias, e principalmente a obra com que a encetamos;
vejamo os defeitos que nella encontrou o illustre autor dos
AponialJneJI1tos, ou servindo-nos de sua expresso, quaes os
achaques que descobriu e curou.
Lendo com atteno o resumo feito pelo douto critico, o
que vmos? Duvidas sobre a veracidade de factos de or-
dem sobrenatural em que o resumista mostrou no prestar
o menor Cl'edito, como por exemplo: os que o padre Jo

(1) Pela Lei Provincial n. 609-de 21 de Setembro de 1861 cap. 3


Rrt. 21 16 determinon-se o pa~amento de um conto de rHis (1:000$000)
Uandido Mendes de .Almeioa para auxilio da publicao da obra do
padre J'os de 1v[oraes, ficando obrigado dar gratis provincia clusen-
tos exemplares. O que se satisfez previamente ri.o pagamento dessa
quantia.
Tambem pela Lei n. 339 - de 23 de Desembro de 1853 cap. 3 art. 26
foi o governo provincial autorisado a despender um conto e dusentos mil
reis (1:200$000) como indemnisao das despesas feitas com a impres-
s o de documentos relativos ao direito, que tinha a Provincia do Mara-
n&.9 sobre o territorio do Cm'olina; importancia que no foi reclamada.
O 110'SSO trabalho corre impresso desde 1852.
(2) Basta o simples exame do numero de folhas do volumei confron-
tado com a carestia de nossa imprensa.
de Morae narra confiado na tradio e noticia escriptas
que teve mo, e julgou sinceras. Para os que contesto
a existencia dessa ordem de factos, em que alis se estriba
a verdade chriat, o achaque deste historiador ser o de
todo os que aceito a solidez de sa doutrina e no somente
do escriptor J esuita.
Mas, attentando-se para a hypothese, o nosso hi torador
poder .er taxado de credulo por aceitar taes facto como
pos ivei , pelos intitulados - espirito forte, pelo positi-
vistas do seculo, nunca se contestaria a sua veracidade,
a melhor qualidade do que empunho a penna da bis- .
toria.
Todavia, em um do factos de ta especie invocados pelo-
critico ha uma injustia que merece reparo, Referimo-nos
li fe ta de N. ,da Victoria, pahoeira da Provincia que
e commemOTa 21 de Jovembro, anniver ario da batalha
de Guaxendubcl, ganha com to fragei recur o, e que
a populao colonial, desde os primeiJ.:o. tempos, arttribuia
favor directo da Vir~em. O padre Jos de Moraes nar
rando o facto conclue por e ta forma: , - 1'{1i1'0 o que
ouvi, sem me 07yrigatl, PO?' fiado?' da t,adio. II
Em que he pois condemnavel o hi toriador ? No tem o
facto, a im esboado, chegado at no soo dia pela tradi-
o, independente da obra do pache J o de I110raes?
Tratando do saque da cidade de . Luiz pelo Hollan-
deze , <iJ.epois da capitulao as ignada, assegura o hi to-
riador que, dos templos, o unioo respeitado foi o da Compa-
nhia de Je u ,
O illu tre critico parece duvidar deste facto, por quanto
resumindo a narrao, declara: ,,- Isto diz o a~ttoT, "
Entretanto ba ta confrontar a narrati:va de Berrdo no'
Annaes de n , 771 774 para nos a egurar-mos da ve-
racidade do historiador i tanto mais quanto e tando o
collegio dos J esuitas dentro das obras de defeza da forta-
le~a de S. Felippe, de de que Bento Maciel Parente repa-
rou-a(l), no era natural que o chefe Hollandezes, tendo-a
ua vista e bem segura, a mandassem saquear pelo ~ol
dados. Devia neste caso haver certo pejo de affrontar s
claras uma capitulao em que tinha intervindo o padre
Lopo do Cou to, no se podendo explicar por dema ias de
,

(1) Vide o to. 1. destas J,lenw'I'ias pago 142.


TI

soldados divagando pela povoao, como provavelmente


explicavo os outros actos, I que fechavo os olhos.
Tratando do excidio dos Hollandezes que guarnecio os
engenhos do ltapucur, refere o padre Jos de Moraes
que o sargento-mr Antonio Teixeira de Mello no quiz
que os do seu engenho fossem degollados, mas a pessa, .
quem confiou-os, passado algum ternpo, mandou fazeI-o por
seus escravos. Ha no resumo um ponto de admirao dubita-
tivo, naturalmente por no estar essa de accordo com a nar-
rao de Berrdo, mais phantastica que real (1), por quanto
apoia-se na recusa ou desobediencia dos soldados. Mas
confrontada a narrao do padre Jos de Moraes com o rela-
-torio de Maximiliano Schade, o commandante do forte do
Oalv(Jfl'io (2), a veracidade do historiador J esuita fica bem
}latente, e se explica natUTalmente.
.A alma da famosa conspirao de 30 de etembro de 1642
foi sem duvida o padre Lopo do Couto, auxiliado pelo seu
venerando compauheiro o padre Benedicto Amodei, si-
ciliano,
Lopo do Couto com os indios de que dispunha, sobretudo
os principaes Gregol'io Mitagaya (3), Sebastio Joacaba(4),
e Henrique de Albuquerque, nomes que a historia conser-
va, levou a effeito a revolta contra o perfido invasor.
Tudo concorre para fazer acreditar neste facto: as intima
relaes de amisade e parentesco de Lopo do Couto com
Antonio Moniz Barreiros; o me'recimento do incl.ividuo,
julgado capaz por Bento Maciel Parente de entrar 110 ac

(1) Berrdo-Annaes n, 816.


(2) Vide 'lifm pago 449.
(3) MOl-aes no cita este indigena das aldas de Pe111ambuco qual'.-
do tl-ata da guerra hollandesa, mas referindo-se aos trabalhos do collegio
de S. Luiz, Vide o to. 1 destas Mem01'ias a pago 137, e i7if1'a a pago 437
nota (3).
Andr de Barros chama-o Joacaba Mitugay, sem diviso; mas neste
ponto a noticia do padre Jos de Morae", porque se achava em condies
de conhecer melhor a verdade, Se deve preferir.
(4) Sebastio Joacaba. Conjectummos ser esse o nome do indio Se
bastio, de que trata BelTdo nos Annaes ns. 161 e 899, mas que Andr
de Barros confunde com o nome de Gregorio Mitagaya.
Este indio foi casado pelos capuchinhos Fmnceses, com uma india
filha do Principal J apyass, o mais notavel chefe indigena da ilha do
Maranho. Vide Claudio d'Abbeville -Mission alL Mamgnan cap. 17
pago 107 V., cap. 19 pago 118 V. e cap. 23 pag'. 143.
VII

crdo celebrado com os chefes Hollandezes; a influencia


,indisputavel que os religiosos da; <?ompanhia exercio :r;.0s
indigenas; os documentos honroslsslIllOS que o autor exhibe
do chefe que terminou a luta Antonio Teixeira de Mello (1),
e os favores com que, posteriormente, foi a ord'em que per-
tencia o religioso Jesuta, agraciada pelo governo da me-
tropole.
Nada he sufliciente para assegurar esta gloria aos filhos
e S. Ignacio, Berrdo, adversario dos Jesutas, fica silen-
cioso, confunde as epochas, emmaranha os factos para
no dizer a verdade inteira (2), Contenta-se com declinar os
nomes dos chefes que militarmente se pozero frente da
o'loriosa empreza. Berrdo, nem a seu favor tem a desculpa
do Conde da 'Ericeira, que no vivendo no Maranho, de
longe apreciava os factos, conforme a apparencia os apre-
sentava.
Como aprecia o douto critico o vulto respeitavel do
padre Lopo do Couto, o que havia, primeiro que outros,
C\llcetado no Brazil a obra da libertao do paiz do dominio
nollandez? Dizendo o seguinte: - " A. este padre att1'bue
Moraes o arbitrio e resoluo desta guerra em beneficio da
liberdade e restaurao do Maranho. "
Portanto, se houvesse solido nmdamento, o facto podia
ser contestado, seria mais um a;;haque de J esuita, embora
~ambem tivesse em eeu favor o. testemunho j impresso e
lllcontestado do padre Andr de Barros, na Vida do pail1-e
Antonio Viei1'a, publicada antes dos An71aes de Berrdo,
Em outro lugar do Reu resumo, o illustre critico julga
que a narrativa do padre Jos de Mames, quanto embos-
cada em que pereceu Sandalim (3), est em desaccordo com
sitio do Outeiro da 01'UZ, onde a tradio fixa o local desse
reoontro, -- "porque fica distante do rio (Ooty) e no

(1) Vide o to 1 destas Me1n01'ias a paga. 180, 181 e 182.


s documentos de Teixeira de Mello abonando e exaltando os servi-
98 do padre Lopo do Oouto, e .1e seu companheiro Benedicto Amodei
sao!eforados por outro do capIto-mr Pa~o Soares de Avellar, cujas
acoes Berrdo em seus Annaes tanto encarece.
LI!) O caracter de Berrdo como historiador he bem aquilatad por
J oao Francisco Lisboa no to. 2 do J01'nal de Timon, contendo os AiJon-
lamentos, noticias, e observa!(es pam s(J'l'v'i7'(J'In hist01-ia do Mm'anho
pags, 52, 200, e 409 nota (F), .
(3) Vide injm a nota (1) pag, 426.
VIII

podio os Holiandezes entregarem-se ao prazer do banho


quando lhes cahio de chofre a tropa de Moniz Barreiros"
Joo Francisco Lisboa nos seus .Apontame;ntos, noticia~ e
obse/J'vaes paII'a se'l'vi'rem histo'J'ia do Marmnho faz a
mesma objeco quanto narrativa de Berr.dJ) (1), e com
todo o fundamento; e o que elie diz, confrontado com a
exposio do padre Jos de Moraes, solve pelieitamente
esse d,esaccordo apparente que o illustre critico en
controu:
"O lugar deste pequeno combate, diz Lisboa, suppese
geralmente que foi na chapada do denominado Oute:itro da
Vruz, no lugar, onde efectivamente se conserva uma cruz,
erigida para per~etuar a memoria do successo; porm
Berrdo d o sitlO da emboscada e do combate alm do
Cotim.
"He certo entretanto que o rio Ooty que elie se refere
no parece ser o pequeno ?'bei?-O de agua doce que corta o
Caminho Grande pouco alm do Oute:i?'o da O?'~lZJ seno
o igarap salgado, que hoje chamamos .Ana?" .
" Assim apezaII- da tradio, da cruz que alli existe, e que
naturalmente ter sido reuovada muitas vezes, no ha com-
pleta ce'I-teza acerca do local em que e deu este pequeno
combate de guerrilha, cujas propores, de re to, se ho
est?"a/fl}~ame;nte exage'l'cldo. "
A ,narrativa de Berrdo denominando o rio em questo
simplesmente Coty autorisava a objeco de Lisba, mas
desde que o ,padre J o de Moraes o denomina CotY-'lni?'im,
portanto o ribeiro d'agua doce, naquelia epocha em que
a ilha se achava coberta de matta ,mai caudaloso, a obJec-
o do iliu. tre critico perde o seu valor, e a tradio se acha
harmonisada e pexfeitamente justificada; no podendo
mais fazer especie, a circumstancia do banho dos Hollan-
deze . Sem a narrativa do nosso historiador a duvida bem
suscitada por Lisba, ainda continuaria. .
Por outro lado a caTta do chefe Hollandez Pedro Bas de
31 de Janeiro de 1643, determinando a distancia desse
local (2), ainda mais refora o que com tanta exactido e~'
pe o nosso historiador; maxime tratando- e de um aconteCI-
mento que,p?'imajacieparecendo de fraca importancia, teve

(1) Vide Jomal de Timon do anno de 1853 pago 49.


(2) Vide in:frct pug. 4115.
IX

extraordinario alcance no re ultado final da luta. Todavia


ne para la timar qU'J em uma epocha de ere,t'30tuas e monu-
mento , ainda no houve. e A. embla Provincial cheia
de patriotismo que decretal>se fundos para eleva,to de
um monumento de mais duradolU"o material, que uma cruz
de madeira, a. ignalando aos vindouros e' sa to memo-
ra vel faanha, .
Os achaques de historiadore,' membros de ordens reli-
gio a o os me mo ,todo escrevem tendo em vista o
merecimento ou a gloria de sua corporao' un com mais
moderao, probidade e critica, outro com meno', De te
defeito' tambem partilho todos homen que 'e alisto
em qualquer parcialidade politica, litteraria ou religio a,
no so exclu ivo dos Je uita . Temos todo obrigao de
de criminal' joio do tI ilgo, e de fazer justia quem merece,
apreciando o facto e a -'e como elies o e no pelo
prisma da antipathia ou do preconceito. S~turn cwique.
eriamos illju to . e, notando a,' cen uras do douto criti-
co, guarda. emo em ilen io eno o elogio, se he pos-
si vel que um religioso de tal corporao pos a alcan a-los,
ao m ...lOS alguma demonstra,lo de bom conceito. .
A. ignalamo uma, talvez a unica, em pr da veracidade
do escritor, na ])ota (145), e refere- e palavra-lbacam,ga.
.A.hi e diz que escrevendo tal nome por e a forma e no
uppl'imindo o ii o padre Jo de Morae procedra bem-,
e ao que pa,rece com plau ibilidade de cel'tesa., PQr quanto
no . eu tempo devia haver meno corruptela nos nome
brasilicos. "
E accre. centa- e :
"E ha raso etJmologica naquelie: iby terra' acanga,
cabea, isto he-cabea da teJITa, como quem diz priucipio
della, e logo o rio que a banha, e por contraco e llpho-
ma supprime-se o y ficanrlo lbcux:unga. '
Parece-no que o douto cri.tico alem daquella ra o de-
via adc1itar outra em pr do historiador, e vem a er: o
largo conhecimento que o J e uitas tinho ela lingua t1py
. ou geral,ja porque ero obrigado~ a aprend-la (1) e pratica-

(1) Vide no to, I desta JJ.Iemmia$ pago 134, "E nenbum Jesuitll. da
America professa olemnemente sem primeiro se examinar nella (a
qzct1mnafica do pad1'e lfitiz F'igllei 'aJ, e ser appl'ovado com jw'a-
mento," 5
i
x
la, e ja. porque, na epocha em que a obra foi es rita
es a linguf\. era a vulga.r no Maranho. Fallava- e mais
a linguagem Tupy lIe a Portuguesa.
Ma' essa benevolencia do illustre censor logo desappa-
rece qualldo se trata do nome elo rio Itapuc~wt, orthogra-
phia que rejeita por entender ser maio exacto -Itapecwr.
As rases, que prevalecero no caso do lbac(Jfnga, cedero o
pa so nova orthographia quanto ao celebrado rio.
"De antes, diz o cel1sor na nota (148), e..crevio Itapy-
cW', seria plctu 'ivel, e no fo . e forado: ita, peora" pe,
caminho, ig, agua, clt1't (abreviatura de Cltl"ll.fcm) abunelall-
cia, muito. Oaminho de :rnwitct } edm 2)01" agoa. I to po lia
dar-se por contracu de pc ir/ em py, e na lngua tupy a
cousa pos uida no fosse poSpoSt'L ao po tluidor, lisenclu-se
yg pe. Portanto a etymoLog-ia Itcvpecwrt he a unica que
me prece admissivel, pur j"80 que ha lop;o na fz do Itape-
C1W tuna longa cachoeua e outra' uo . eu curs , c1abi abwl'/,c
dancia de pedras, muita pedra....
Estas ra es mio no parecem ;'ufticiente para alterar-se
o termo Itapicu/I'z" adoptado desde o prin 'ipio lia lonia.
u;:~is de dusento e cincoenta annos d' uso o rOli.'agntd:u.
Ning uem , seglUJt1.o no.'sa lembralla. o escrevia COIU ,vprillol)
- Itapycl.w. Era uma e"c1.umda innova:o.
A raso et. 'mologi 'a (lU .. e illvoca h mui e'p c'io>"l,
por quanto se io se tal com pretende o d011to critic o
padre Jos de Moraes no e -reveria Ita/p~ICIIJ', mas Itn-
peycul", ou Itapyecwn. l;omo quer que ..eja o iHll 'tre re 'u-
mista. e MOl:aes, que devia couhecer o tup~' melhor qne
ns, escreve ItCUJ.nt enio ItCUJ.Je, he porque a etymologi'L pe,
caminho, e yg, agua no tem para o ca o applicao alguma,
he na verdade forada.
Claudio d'Abbevill (1) e Yvo d'Evreux (2), cal u '1Iiu1lu'
Franceses, chamo ao Tio Tabo~tCou/J'01t, cuja pronullcia Ite
TalJuclw. Elies guiavo- e por Carlos ele' Vaux e David
~:[igan, interprete Francese ,e mlli habeis na prnJica ela tin-
gua Tllpy, Oampos Moreno llL J01"l'wila do lJfantnhdo (3) de-

(1) Histoi?'e de la rnission des Capucins dans fisle de Ma1"agnan.


Pal'is 1614. Em dilferente.. lug::l.l'es.
(2) Voyage dano le nurtl d7t B?'s il fait rll11'((.1/ t le.~ ann';e.~ 1(i I 3 p.t
1.6l4. Leipzig e Paris 186"* pago 34-.
(3) Vide ifm pags. 227.
Xl

nomina TWPUCU-1't; Simo E. tacio (1) e Bento Maciel Pa-


rente (~), Itapico?';" o Oonde da Ericeira, ItapoCU1't (3),. o
padre Domingos de A.raujo, TarpOCU'i'7~ (4);" FI'. Domingos
rre~eira, Itapucwi" (5); o padre Andr de Barros (6), Ber-
l'c1o e Pereira do Lago,' Itapicu,?', (7), Ao contrario Gayoso
no 'leu Gorn'Pendio histO?'ico-'jJoliti-<.'o dos lJ?'incipios da lavo~wa
do Marranho escreve - TaboucO'tIffO'tt l:} Itap~tc~tdt (8).
Gabriel Soares de ou. a, o bem conhecido autor da
Noticia. do B?'asil, que escreveo em 1594, referindo- e ao
rio do mesmo nome da Bahia no cal. 24 escreve Tarpomui",
e no cap. 25 Itapomm't. Tambem @screve Itap~wu1"1~, o padre
Simo de Va concellos (9).
NR. epoc.ha dR. congui ta Hollaude.'a, em 1642, Pedro
BaB, o chefe politico da colouiado ~i(aranllo,provavelmente
Belga. OlL Huguenote Francez, e. creve - Tapica?'O'tt, i to he,
Tapicaf/'!,; e chac~e, o commandante no forte do Galva.?-io,
e. reve l 'apicanmw. Talvez:1 ultima, yllaba no, Reja erro
de copia (10).

(1) Vide 'in/hl n sna Beloo-S'1l1l/.1lta7'ia das cousas do 1Jfamnho


14,
n }Ja n',
(2) Vide infu( o en 11ImnO'riol n Philippe UT pag, 39,
(3) Vide infj'CI pag, 431 nos excel'ptos da HislO1'ia de P01'/'u,qnl
res/,a1l1'odo
(4) OOlJsta rla Cll7'onicCt dCI O111,ZJanltip de Jesus da Misso do Jl'a-
mnlto, e cl'itll, em 1720, liv, 2 cap. 17.
E 'ta obm ainda e nchll, mallU criptll,.
(iii "\ ide a ob1'll, - Vida de Gomes pj'eij'fl cle .A ndmde to. 2 pag.19-1.
.Ii li se eliz .!Iapncll1o, mas julgamos erl'o de impren 11 o-o da vl-
lalou. final. '
(6) Viele a ua ob1'll iuti.tulutla- Vidf'l do A]Jo.~tol!ico padj'fl .i111t01t'io
Vieij'o da Companhia de Jes1!.~, a pao H Iiv. L n. li\4.
(7) Bel'l'do nos Annaes do 1JI(l1'anho em r1i/fcreute, lug-are j n~ im
como Pereira do L 0'0 nll, sna Estatstica hi.~t07'ico-,qeog7'apltiCCt da P?'(l-
'Vlcia do 111m'anluio - u. 8 pago 15 e em outros lug'llres. '
(8) Viele a mesma obra paga. 82, 83, 9 e 147.
(9) Na na obl'll,- Clwonica da Companhia de Jesu.s do As/ado do
Bmsilliv, 1 n. 47. referindo-se ao rio do mesmo nome na Bala.
(10) Viele if1'C1 I I?ugs. 445, 449 e 450. S'chade tamb m diz Tapiclt-
jino. G~spar ~arl~us (van BaB'/'le) escreve TabtJ1lC01I1'OU nos mappas de
~ua obra - Htst01'W j'B'/'mn ]JB'/' octenni'llnt in Bj'f(silid, etc., e no texto
1'apicll1"!, de conformidade com a pratica vulgar no Ma.ranho durante
II conquista hollnndesa 1641- 44. .
Bans 810ane, medico e botanico Irland .z, o fundador do Museu Bri-
Fr. Francisco dos Prazeres Maranho, capucho da pl'O-
vincia da Conceio, que pertencia o convento Francis
cano de S. Luiz, na sua Go71eco de etymologia. B'fasilicas,
escreve indifi'erentemente ItapiC'/Wl e Itap~tC'llr', e, divi-
dindo a palavra desta orte: - itct, e p~lC'llr, u:aduz JJ~tCcm'o
de pedm, Eis uma etymologia que no deixa de ati sfase I'
se p~tCur', quer diser puoor'o (1).
Temos mais ouU-a.
Martius no seu GWssMio das linguas dos Indi08 '1W Bmzr?
estabelece differente et mologia sobre a ba e de Itapicwr't,
e a. sim diz: - hy, agua, tapy, fundo, CU7', a cada passo, e
conclue: rio por toda a parte profundo (fl~tviu.s 'ltbiqne pro-
jundus).
Portanto cada escriptor apre enta sua etym logia, e
neHtas condies paTa que emendar o que tem em seu
favor a snnco cio tempo?
Mas a verdade le que o 'rio na epocha do' Francezes se
chamava Tctb'ltCUT, e os Portuguezes mudando o b em p,
fizero "'Tapucudt, lie na primeira expre, so que se deve
procurar a etymologia (2). 'Irab~t, e (YW/' pode- e tambem tra-
duzir : - r'io de muitas aldcts, de taba alda, e CU?'/ abun-
dancia.
No obstante se 'e quer conflludir o rio do Ma.l'a.uho,
com o da Bahia, pela semelhana do nome cl'eHdo pela pro-
nuncia portugueza, a etymologia do l'eligio,'o capuch Pra-
seres Maranho, he 13referivel a qualquel' outra. Devemos
notar que .0 rio ela Bahia na ,'lM fz pela de. ripo

tannico, no mappa de parte de nossa merica, que acompanha a sua


Viagem Jama'lca e outras Antalws, publicada em 1-;02, denomina o
nosso rio Tabouco/ll'O/l. esse mappa intere;; ante n. muitos respeitos
figura a pequena ilha - Guanima como a \'erdadei.ra GUl1nahani de o-
lombo, problema ainda hoje no solvido. Tambe\JI no mappa da viagem
ao Brasil e ao Rio da Prata feita por Pieter Carder em 15Sfi, I ublicada
em Hollandez em 106, o mesmo rio tem o nome ele Taboucou1'Ou.
(1) Martius no seu Dicciona1'o t'llPY tambem d no termo - PUCU?'
a significao de pucaro, mais entendemos que a palavra p )l'tu"'uesa foi
tupinisada, e que antes da conquista assim no era, "
Entretanto o DI'. Gonalves Dias no seu Dicciona1"io da lin,qua Tltpy
faz grande caso da proficiencia deste religioso capucho nesta materia,
por quanto tomou por base do seu trabalho o vocal)ulario qu'e o autor
da PO?'and1tba MCt1'anhense escreveu.
(2) Note-se que a palavra taba na construco de outrn' se alterava
em tapu, tape e tapi. .
XIU

de Gabriel Soares se assemelha um pouco ao do Maranho.


Neste sentido ItapUCU?- como escreve o padre Jos de
Moraes, he conforme verdadeira orthographia, e Itapi-
CU1' a cOlTuptla, sanccionLd~t pela populao por quasi
tTez eculo de u, o. Nunca ItapeC1.w,
Cesar Marques no eu Dicciona1-io h:ist01'ico-geognuphico
da Provincic6 do J1i[a1'anho na primeira edio escreveu -
ItcqJicyu1-, e na segunda - Itapecur, apoiando- e em mo-
tivos identico::; aos do illustre censor sem di cutil-os (1).
E j que tratamo de rios do Maranho, o douto critico
no seu Apontamento ainda equivocou-se em relao ao
rio Parnabyba, outr'ol'a chamado Rio grande dos TapuYa8,
das Garas e Panwasst. Involuntariamente disse que o Rio
Grande dos Tapuyas, era o Rio (}-rande doN01'te. Basta lr
o cap. VI de Gabriel Soares, para reconhe-cer-se o engano,
resultante da nimia connanca no autor do Sant~6a1'io Ma-
1"anno. '

II.

Passemos s accusaes de outro escriptor mais ou menos


articuladas na obra j citada - Histm-'ia da.':I l1tlas com os
Hollandezes no Bmml desde 1624 et 1654.
O censor do nosso historiador he uma das nossas pri-
meira il1ustrae' litterarias, e quem a historia da nossa
patria muitissimo deve, o commendador Francisco Adolpho
de Varnhagen, actualmente Ba1-o de P01'to Segw'o, titulo
bem merecido por quem tanto se ha esmerado por elevar
a historia do paiz que comeou com a de coberta 'd'aquel1e
porto.
J 'e v que temos em nossa frente um grande vulto
litterario, a quem, de ha muito, applaudimo ,e respeitamos
as valiosas procluc:es, e com quem ser-nos-ia bem penoso
contrariar as asseres, que reputamos fructos do mais seria
est.udo.
Mas a verdade tem direitos de elevada importancia, que
no 'Podem ser offendidos e nem preteridos maxime tra-
tando-se da historia patria. '

(1) Vide na mesma obra o respectivo artig'o..


Na obril que j no refeL'imo::;, o illu~tre titul<~r no
poucus .veze, po::;to que inyohmtariamente, se afasta da
justia, e tarubem da equidade com o no. o historiador, e
nem sempre 'OID proveito da exactido lti -torica.
Foi o cen 01' quem, em dua interessante menw1"ia8 lll-
pressas na Revi ta do Instituto Bistol'ico, a,'sim cmllO eID
dous artigos do CO?'1'eio J.l1e?'canl-il, TI , de Novembro ou De-
zembro ele 1867 e de 28 de Janeiro de 1868, colheu dados
ba 'tantes parft deIDonstrar que o celebrado iudigena CaJInCl,-
?-o, tinha por patria a provncia do Rio Grande do Norte,
e nito a do Cear, em Villa Viosa, e meno Pernambuco.
A hi toria do padre J o de :Mm-ae , e cripta na epocha. em
que ninguem di, putava a patria do famo o indgena PeN-
g?la1' ou Potyguar, veio confirmar ele mouo e pleudente as
conjel?tura do eminente escriptor, indicando com egu-
rana o dia em que foi baptizado, e a epoca do seu ca a-
mento chri to_
Eis o que dz o padre Jos de :Morae no cap, H do liv. 1,
referindo- 'e 'epultura dos osso' do famo o Apostolo do
Jag~la?"ibe (como ento e chil.m:wa o terrltorio conheei lo
actualmente por Cea,r), o padre Fraucisco Pil1tO, da com-
panhia de Je u , mais conhecido entre os indigena. ]I lo
nome de Amanay?'a, que quer dizer, senho?' da ch?t'Ca, pe-
los prodigio que neste sentido alli fez (1), es e grande nl i..-
sionario, martyTi ado pelo, indigena Taca?'#ls nas aba,
da serra da Ibia.pba. E ses o 'sos tinho viudo claquel1a
erra para uma das alda do Petiguare, na proximida le
da fortaleza Lu itana de . Thiago (2), no litoral, e tam1 m
visinha da povoao,que ficava margem da pequ na ribeira
flue e se indigena acl insta'Y' do seu paiz do Rio Grand do
J orte denomina,vo Gear (3) ; nome feliz, porquanto sten-

(1) Vide irifm nota. (1) a pg. 45G e nota (2) pags. 467 e 468.
nome de ArnanaYI1"Ct adquiria o padre Francisco Pinto no sert,ilo
do Rio Grande do :N arte, e o manteve no de J aguaribe ou CeRr por
actos identicos, Por en~no e cliz pago 4GB serto da Bahia, de-
vendo lr-se, sel'Io do .l'io G1"Ctnde do N01te.
(2) S. Thiago. Foi este o primeiro nome da fortaleza do Cear, levan-
tada por Pedro Ooelho de Sonza.
(3) Cear. Vide no fim do prefacio a nota sobre o palavra - Ceal',
e i?ifm a notas (1) a pago '159 e 476.
O rio Cew"l-mirim do Rio Grande do Norte, chamava-se a princi-
pio Baquipc, e pelos Portugnezes Rio pequeno, segnndo Gabriel 'oares
no cap. 9, da Noticia do B?'asil. No mappa de Pedro Coelho de Ollza
xv

deu-se todo o territorio' chamado outr'ora paiz ou regio


do Jaguaribe (1),
Convem notar que essa colonia de Petiguares naquelle
ponto de um pa.iz onde no havia chegado o domnio Peti-
guar proveio, ao que parece, da nefasta expedio de Pedro
Ooelho da Souza em 1(j04 e 1605, composta em grande
parte deste' indigenas, de qu_e muitos alli ficaro cusper os,
quando o mesmo Coelho os quiz reduzir escravido com
o outros incligenas Tapuyas, eapturados no territorio ao
norte daquel1a Fortaleza, e na Ibiapba. Estes indigenas e
outros da loca.lidade, quando por alli passou. o padre Fran-
cisco Pinto (1607) com o seu companheiro o padre Luz
Figueira, foro por elies aldeados em trez ponto : Soure
(Gancaia), Arronches (Pa'rCllngabc~),e Messejana (Pa~l!)?ina),
seguindo depois para a serra da Ibiapba, onde o prlllleiro
,sofl'reu heroicamenLe o martyrio (2),
Dadas estas explicae., vamos copiar o que dis e no
referido cap. 11 o padre Jos de MOl'aes: .
"Dominava entre todo' os mtoraes daquelie serto com
mais autoridade e poder que os outros, o celebre indigena
Principal GGlma1-o, cujo nome foi to attendido dos nOSl:lO
hi toriadore', pela. mso do grande 'occono que deu s
nos a arma na expulso dos Holiandeze le Pernambuco,
quem seu me. mo valor foi raio, que alem de aterrar

copiado por Diogo de Oampos Moreno na ua obra -Livro da mzo


d'Es/acto chama-se este rio Oomaput-m'n, mas em outro mappa
da mesma obra o rio Oomaput-mirim, he o immediato no Oim'-mi-
1'i1n, ruas outra he a orthogmphia - OCl1tapltti-l11i1n.
O rio que deu nome a provncia do Cear no mappa de Pedro
Ooelho de Souza chamava-se em 1603, Pimngy.
(I.) Pct'z ele Jagltaribe. O uo~e da provincia do Gear he moderno,
proveio da importancia adquirida pela fortaleza que fez esquecer o an-
tigo. Vide ifm a not>!. (6) ]Jag. 553, onde a p~\lavra Jaguaribe se acha
escripta por esta frma - Zagltcwibe,
(2) ~s aldeias Oaltcaia (vinho queimado) talvez aguardente, Pa'ltpina,
(de paI Pinto), e Pamngaba (belleza) constitui.ro os primeil'os nucleos
d~1 populao indigena pacificada do Oear, no principio do penultimo
seculo. Nutrimos duvidas quanto a significao de Pm' tngaba, por
qUllnto em_ 'I'upy a ,palavra po1'Ctnga, e no pcwangaba he que significa
bellesc,t. T;10 ser~ pamngaba corrupiio de PaJ!angcwa que significa
pad1-m!lO? ~~eferlD io-~e talvez a~ cOI~plLnheiro do padre Francisco Pin-
to, en~aq U1~Ut.O moo o padre Lruz Figueira, que acabou como sen COllJ-
panh~~ro, vlctlllla dos selvagens, posto que um na Ibiapaba e outro em
Marl1;]O.
nI.

qo causou pequenos estr~gos nas domina.ntes tropas da


Hollanda. "
Oontinuando, accrescenta:
"Este chefe, que pela maior soberania se fazia mais res-
peitado no Rio Grande, onde flinha umCb P01Julosa alda (1),
era por extremo affeioado ao veneravel padre Francisco
Pinto, do tempo que ene repartio pelos da. sua nao o
saudavel pasto da doutrina. evangelica com um modo muito
proprio do seu ama-vel genio, com o qual se fazia querido
de todos, e com especialidade do Principal Cama1'o, que
por eu grande amigo o tratava; e como ento ouvisse com
sentimento a morte do servo de Deu , e agora lhe dessem a.
alegre nova, de qJle em nma das ald~as ele JagUW"ybe se
achavo j trasladados os . eus veneravels ossos, con-
vidou os visillhos, e vassou ordem aos vassallo , que em dia
fixo se achassem todos juntos, para com uma apparatosa
romaria visitarem todos ao seu grande amigo, o Pai
Pinto (2)."
Escusamos copiar o mais que narra o autor pago 87 do
tomo primeiro destas 1}![ernoria~ sobre e. te irol ortante acon-
tecimeuto; o certo he que a alda dahi em diante se cha-
mou do Pai Pinto, ou como dizio os indigenas Pai Pta
por corrupo- Paupinaj actualmente Messe)ana, (3). Oon-
tinuando, diz ainda o padre Jos' de Moraes:
"J no faltava ao de-voto Principal algum outro acto em
(~ue podesse exprimir ao vivo a grande venerao que
tlllha ao seu grande amigo, pelo que agradecendo aos In-
dios de Jaguarybe (Cean) a diligencia e affecto com que
tinho trasladado aquelles osso (4), recommelldou-Ihes mui-
to o respeito com que os havio de tratar, e promet-
tendo-lhes a sua assistencia em repetidas visitas, se 1'e-
tirou corn os seus ao Rio Gmnde, satisfeito de os ter dei-
xado collocados com maior decencia, e com no pequenas
invejas de serem outros os senhores de um to precioso
thesouro.

(1) Essa alda chamava-se Ygap6, e foi depois a villa de E-vt1'lJ'l'n6z,


hoje extincta, .
(2) Pai Pinto. Vide inTra a nota (2) pag'. 467.
(3) Escl'evemos assim e no Mecejana, que he erro,
('1) Parece que a. final podero os Jesuitas transporta]os para a igreja
do collegio da Ba~ia, pelo que se deprehende da carta do padre Ma-
lioe] Gomes pags. 79 e 8D do to. ] destas Me?n01"ias,
XV11

II Esta que para o Oam(J/ro foi aco propria de sua


gratido e lealdade, foi para os Indios daquelIa povoao
hum continuo despertador da sua lembrana e venerao
ao seu defuncto padre, em cuja presena se celebravo
como se estivesse vivo e fosse seu verdadeiro parocho, os'
casamentos e se ratificavo os j celebrados, em quanto
no tivessem missionaria proprio."
Mostrando como o Oam(J/rdo por sua piedade ajudava
muito os Missionarias na propagao da f entre os selva-
gens, relata o grande acontecimento do seu baptismo:
II . to fervorosos desejos satisfez a divina clemencia

por meio de seus ministros, os zelosos padres Diogo Nu:


nes (1) e Gaspar de S. Peres (2), que apenas chegaro
de Pernambuco sua alda (no Oea?'-m?'im) dero prin-
cipio sua misso com um bom numero de innocentes
e adultos, j rapazes, que baptisaro; e como o Princi-
pal Oama?'o era a pessa mais abalisada naquelIes ser-
tes, pedia elIe e o approvaro os Missionarios, que o seu
baptismo se fisesse com aquelIa solemnidade que pedia o
seu caracter e era preciso para conciliar mais respeito,
assim ao Sacramento, como ao cargo que entre os mais o
di tinguia, etc. etc.
II Recolhidos os pam:e povoao, era j chegado o
dia do solemnissimo baptismo do Principal Oama?'o, que

(1) Diogo Nunes. Este padre foi, como grande lngua que era, quem
acompanhou Bahia os Petigual'es no tempo da admiuistrao do capi-
to-mr A1Yaro de Carvalho (1603) j e, posteriormente, seguio com o padre
Manoel Gomes ao Maranho, quando para l foi Alexandre de Moura.
(1615).
(2) Gaspm' de S. 1>8'I'es. Parece que o appelido era 8ampere, e
talvez no fosse portuguez este padre, Campos -Moreno por engano cha-
ma-o padre Ped1'o So P8'I'os. Vide infm pag. 162.
No Sanct"al'io Mm'ianno to, 9 liv. 2 tit. 42 pago 351 diz-se, que este
Jesuita se deve a traa ou conselho que tanto servio Manoel de Mas-
carenhas para faser as pazes com os Petiguares, que consistio em man-
dar pr em liberdade um pag cllamado Dha grande (P~tQ1n-assit).
Mas J aboato, que alis he um copista deste escriptor, assevera que
quem deu o conselho foi um religioso de sua ordem chamado Fr. Ber-
nardino das Neves, irmo de FI', ManoeI da Piedade, que, coro J eronymo
de .Albuquerque, foi ao Maranho em 1614,
. O padre Jos de Mornes pelo contrario assevra, e com melhor funda-
mento, que as pazes se devem aos padres Francisco Pinto, e Diogo Nu.
nes, sobretudo ao primeiro, . . .
Vid iI/1m pago 50 o nota (3) e o Lo, 1 destas M8'lnorias pago 84.
3
XVIII

foi a dominga da quinquagesima do anno do Senhor de


1612. "_
Portanto o dia do baptismo do Oama?'o em sua alda
do YgajJ foi em 22 de Fevereiro de 1612, se no ha
defeito no nosso c~tlculo. Se em lugar de q~tinquagesima,
dissesse o autor sexagesi1na, que nesse anno cahio 15 de
Fevereiro, dia da trasladao de ant ntonio, o nome
do baptismo do celebre indigena Petyguar, teria facil ex-
pli'ao,
Por conseguinte estes dados so po itivo , e po to que o
autor seja religioso da Oompanhia de Jesus, corporao mal
reputada nas obra, do eminente hi toriadol', parece-nos
que podem ser acceitos, porquanto no nos consta que a
questo da patria do celebrado indigena fosse po ta em
duvida 'no ultimo seculo, e menos no penultimo i e con e-
quentemente no havia um motivo ponderoso para um
J esuita, conhecedor das cousas 'do Bl'azil e dos ervio de
sua ordem, attribuir ao eus aquillo que no lhes com-
petia, podendo ser vigoro~amente contestado.
ccresce que ninguem contesta que ntonio Poty-
guass (1) fosse cathecumeno dos Jesuitas, nem mesmo o
escritores das ordens religio a' rivaes i logo, como pr em
suspeio o que escreve um hi toriador daquella companhia
por contestao directa ou silenciosa?
Se pois no ha uma raso para recusar a narrativa do
padre Jos de Moraes, to explicito quanto ao dia do bap-
tismo do Oamaro, e quanto aos nomes dos seus catbequi, -
tas, porque recusar-se-lhe o testemunho, tendo a ua
Historia sido folheada, e lida pelo illustre titular? Se ba-
via fundamento para duvidar- e de ua narrao, porque
envolvr em silencio o nome dos que o conte 'to? O silendo
neste caso no nos parece ju tificavel.
Oonfrontemos agora o que a respeito do Indio Petiguar
Oanna?'o diz o illu tre Baro na ua Histoi'ict das l~ttas com

(1) Antonio Potyguasst. Simo de Vasconcellos na sua Olwonica


chama. este indigena - Potyguasst, ma Fr. Manoel Oalado no Vale-
roso Lltcideno denomina-o Ptlty, no que foi seguido por Southey. Os
outros escritores trato-o simplesmente de Cam wo. Apenas Berrdo nos
Annaes n. 223 chama-o Grande Gamaro.
Sendo este indgena cathecumeno dos Jesnita pronullciamo-nos pelo
nOUl!) de Potyguasst, e daremos mais adiante as ra es de nossa convic-
ro em nota especial. Vide i?ifm nota (1) -pag. 176.
os HoUandezes no Bmsil desde 1624 1654, copia.remos as
proprias palavras:
" A verdadeira naturalidade e a epooha do nascimento
do here Oama1'o tem sido at nossos dia. objecto de
discus e e duvidas, Pelo que respeita pl'imeira, o facto
incontestavel de er da nao petigua1'j o de ter a sua pa-
rentla no Rio Grande, e de chamal'-se este originariamente
Rio do Puty (P'Ldigy) e val:ias outras considerayes, nos
obrig'aro a final a afastar-nos, tanto da opinio dos que o
fa em filho do Oea1' (opinio que haviamos chegado a
abraar (1), como do que u tentam haver elie nascido
Pm'nambu-ecuno' e omo hoje de parecer que, em pre ena
de uma critica luminosa, no pode ser C011 iderado seno
como filho do mesmo Rio Grande,
"Mai difficil nos parece aventurar uma opinio acerca
da verdadeira epocha do nascimento do here P'Lttigia.no,
ja que nenhum e criptor nos diz que idade proximamente
tinha elie quando falieceu.
" Reflectindo porem nos seu dou nomes Antonio e Fe-
li2Jpe, e rastejando as praticas daquelles tempos de 'er 0011-
ferido o nome do oberano reinante aos chefes selvagens
importante ,que e bapti aram, ou ao eu descendente
p1'Opendernos a acreditar que o no so Oama1'o seria bapti
ado em 1580, quando ainda lutavo em Portugal Eela
cora, o Prior do Orato D, Antonio e Felippe II, e o Bra-
sil esperava o resultado da luta, para saber quem devia
proclamar (2) : - ou ante qlle lhe dero o nome de Anto-
nio, quando pen avo que seria acclamado o Prior do Orato
e lhe accre centaro o de Felippe, para depois de a.lgum
modo remediar o engano,
" Oom isto queremos di er que o Oama1'o deveria ter
de idade quando falleceu, em 1648, se senta e oito annos,
e mais o que ja teria quando o baptisaro: - em todo o

(1) Vide Hist01'a ge7'al do Bmsil to. 1 pag. 362,,, Este Indio cele-
bre era filho do Oear, e fra aali trusido, como todos os bravos da suu
escolta, pelo capito Martim Soares, apenas teve noticia do perigo de
Pernambuco, t
Todas e tas asseres so inexactas.
(2) unca no Brasil houve tal hesitao, como bem o comprova o
proprio illustre censor na HisW1'i geral do Bmsil to, 1 paga, 279 e 280,
naa seguintes palavl'Il.s:'::"'" Era pois ao Brasil absolutamente alheia fi,
questo dynastica," ~ -~ ~
oaso tinha pelo menos sessenta e oito annos; e havia mais
de quarenta que, pela p?''fnei?-a vez, passra Bahia (1)
com outros de sua nao, no tempo do capito-mr A.lvaro
de Carvalho, para alli acudir em uma invaso de AymorB,
da qual encontraro desafogada aquella cidade, pela indus-
tria de Alvaro Rodrigues, da Caxoeira. Prosigamos porem
com a nossa narrao." Liv. 10 pags. 242 e 243.
Entretanto no liv. 8 pags. 213 e 214, exprimese o mesmo-
escritor nestes termos referindo-se ao assalto que fez o
4ere indigena no Rio Grande do Norte;
" Quanto ao Ccumardo devemos disar que eTIe cumpria
o seu mandato muito alem do que se podia esperar. Desde
que se apresentou como vencedor, grande numero de Indios
que etltavo com o inimigo, com essa fidelidade fiuctuante
commuin todo povo barbara, segundo ja reconhecia a
antiguitiltde, o abandonaram, e prestaram obediencia ao
mesmo CQ/lna1'do, que, com o seu auxilio, conseguia do-
minar todo o certo do Norte, chegando at o confins do
Cear (2), onde h(wia;'a estado trinta e tantos annos antes
(1612), acmnpanh{JJndo os padre Diogo Nunes e Gaspar de
Sampere, q~te ahi o havio baptisado e casado (3). "
Para completarmos as citaes necessarias para o e -
clarecimento da questo, ainda encontramos sobre este
personagem historico nO liv. 3 pago 82 o seguinte, refe-
rindo-se ao procedimento de Duarte Gomes da ilveira e
do padre Manoel de Moraes, religioso da companhia de
Jesns, na Parahyba do Norte';
I Foi por esta occa. io que o jesuita Manoel de Mo-

(1) O Camaro foi Bahia em 1640, pela primeira vez, e per terra,
e nunca em 1603. Nenhum chronista o assegura, e demais uenhum Peti-
guar voltou da Bahia ao Rio Grande, i~clusive o cacique mais notavel,
o Jlll'ubab (Z01'obab).
Vide infrCt pag. 511, assim como a Hist01"Ct geral do Bmsil to. 1
pag. 311 nota 2, em vista da calota de D. Diogo de Menezes, de 4 de
Novembro de 1608, escrita da Bahia. .
(2) Confins do Cem. Nunca o Camaro passou do estabelecimento
Portuguez, e das aldas visinhaa, em 1611 on 1612, e em 1614, como sI!
v do que relata o nosso historiador, e Diogo de Campos Moreno na
JO?'nada do MCt1'Ctnho impressa neste to. pug. 176 e nota (1).
Que confins do Cear so esses notados pelo autor?
(3) O nosso historiador, como ja vimos, diz positivamente-c contrario.
A que autoridade pois soccorreu-ae o iIlustre censor para contradictar,
posto que silenciosamente, ao padre Jos de Mornes?
XXI

raes, O amigo e cathequisador do Oarna?'o (1), ja sacer-


dote e confessor, se bandeou com os Hollandeses, e to
de vras que, indo para a Hollanda, se fez- calvinista'e
casou em Amsterdam. "
Confrontando-se as duas citaes v-se que a narrativa
do padre Jos de Moraes tem uma base to solida que
resiste a critica a mais rigorosa. O illustre Baro no
querendo cita-lo, sempre aproveitou de sua narrativa a
d~ta de 1612 e os nome dos padres Diogo Nunes e Gas-
par de Sampere, que em nenhum outro escritor se en
contro.
O illustre censor pretende que o celebre indigena Pe
tiguarr fosse baptisado e casado no Cear em 1580, e por
aquelles Padres (2), que provavelmente ainda nessa epo-
cha no terio chegado ao Bra iI!
Por outro lado a guerra mai pertinaz com o gentio
Petigua?', alliado dos Francezes, datava do reinado de D. Se
ba tio, e era este gentio que mtto incommodava os co-
lonos de Itamarac. A guerra contra este gentio amai
numeroso e valente do litoral do Brasil, tornou-se de abso-
luta nece idade; era foroso expeDi-lo de Itamarac, e
conqui tal' a Parahyba.
DepQis de mttas alternativas fez-se esta conquista em
1585, graas ao esforo do licenciado Martim Leito, ouvi-
dor g'eral do E tado do Bra iI, que se houve como habil
e intrepido general, e cujas faanhas bem descreve o padre

(1) CatheqtsadOl' do Camal'o. Que fundamento ha para tal asser-


ii:o? qual o autor coevo que o asseg-lU'a? enhum. Apenas Fernandes
Pinheiro na biographia que publicou deste indigena disse, na nota (2)
pago 203 da primeil'a parte do to. 32 da Revista do Instituto HistOl'ico
de 1869, que lhe pa"ecirl ter sido o jesuita Mauoel de Mornes o cate-
chista de Camaro, por ter sido elie quem levra o Camaro ao arraial
do Bom Jesus, segundo o testemunho de Duarte Coelho de Albuquerque
nas M1t/1Wl'icLS clim'ias. Mas, infelizmente, tanto o asserto como as rnses
so inteiramente inexactos. .
O mesmo escriptor na!' notas traduco da Historia do Bmsil por
Southey, to. 2 p8.g. 210 nota (1) diz, que o Camaro fra levado Per-
nambuco por Martim Soares Moreno 1
(2) No sabemos a epocha em que veio para o Brasil o padre Gaspar
de Sampere, e nem o padre Diogo Nunes, que falieceu nas Antilhas hes-
panholas em 1619. Mas se o seu superi.or o padre Manoel Gomes veio
para o Brasil em 1595, no he provavel que elies fossem mais antigos no
paiz, e tanto que ja em 1580 andassem pelo Cear I
Vide no to. 1 destas Mlt/nol'ias as pags. 104 e 105.
xxn
J eronymo Machado, no seu S~tmma'l"io das a1'madas que se
.fiSe1'o e gUe1'1'as que se deTo na CO'IUJ.~tista do 1'io Pamhyba,
escrito por mandado do padre Christovo de Gouva, visi-
tador da Companhia de J esu , na provincia do Bra il, e ha
pouco tempo impresso na Revista do InstiMtto Histm'ico
tom, 36, Da Relao anmta do padre Fexno Guerreiro
de 1602 e 1608, que reprodusimos nestas Merno1'ias a pago
502, tambem consto e sas proesas.
A conquista do territorio do Rio Grande do arte so-
mente se fez depois de assegurad~ a po io do da Pa-
rahyba, Quem desempenhou es a empreza foi o capito-
mr de Pernambuco - Manoel de Ma carenha ,que des-
baratando os Petiguares em di:/ferente combates fez com
elies pazes definitiva em 1599 ou 1602. Manoel de Ma -
carenbas encarregado dessa conqui ta em 1597, comeou-a
no annoseguinte (1), mas somente terminou-a em 1599 (2),
sendo ~ ~'liado pelo capito-mr da Parahyba Feliciano
Coelho de Carvalho.
Se a guerra com os Petiguares do Rio Grande do Norte
se fez naquelia epocha, como seria -passiveI o baptismo do

(1) Segundo Fr. Agostinho de S. ]\bria, no Semetl/m'io jl1m'ianno


to. 9 tit. 42 pago 351, a armada Portugue a que foi conquista do Rio
Grande do Norte chegou a Parahyba em 17 de Desembro de 1597.
Compunha-se de sei naus (navios da epoeha) e cinco carav las. O
primeiro porto onde ancorou depois de sabi.r da Parahyba foi no porto dos
Busios, na fz do Pirangy, onde se achavo sete navios franceses car-
regando pau brasll, e negociando com os Petiguares.
(2) :r este anno, depois de uma luta formidavel fisero-se as primeiras
paz"s com os Petiguares, talvez dirigidos por Jurubab (Zo1'obab), pro-
vavelmente auxiliado pelos Petiguares do Cear-mirim.
Para essas pazes interveio segundo o mesmo Fr. Agostinho de S. Ma-
ria no SanctuoG-?'io Ma?'ianno, um pag prisioneiro chamado ilha grande
(P.uct7n-ass) conselho do padre Gaspar de Sampere.
Mas parece que em 1602 houve revolta dos Petigual'es, que posero
em assedio a cidade do Natal, onde estava Feliciano Uoelho de CarvalllO,
capito-mr da Parahyba. Ohamando em soccorro Manoel de Masca-
renllas, fOlii:O os indigenas desbaratados, solicitando o chefe Piraiuwath
(Pi7'CIjua) a paz e o baptismo.
Deste facto quem d noticia he Antonio Knivet, navegante inglez,
que se achava na occasio em Pernambuco, para onde havia transportado
do Rio de Janeiro Salvador c'orra de S, que era capito-mr da ulti-
ma cidade.
Vide no fim deste prefacio a nota sobre este acontecimento de que os
nossos chronistas nenhuma noticia do, no obstante hav-lo relatado
Joo de Laet no Novus O?'bis liv.1.6 cap. 5.
XXIII

Oanna?'do em 1580, e no Cear?! Os primeiros jesuta que


faro ao Rio Grande do Norte cremos que faro os padre
Franci co Pinto (1), Diogo Nunes (2) e Gaspar de ampre,
este era um habil engenheiro, Foi elie quem traou a planta
e fez edificar a primeira fortaleza dos Reys Magos, na foz
daquelle rio chamado pelos indigenas Petigy e Putigy e
por corrupo Potengy,
Havia naquelle territorio dezeseis grandes e populosas
alc1as, dirigidas pr caaiques ou p?'inaipaes de nomeada,
As Chronicas aponto o nomes .dos mais celebres - Te-
}1tCUpapo, Pa1t-Secco (Ibimypi) o chefe da maior alda (3),
talvez a de Ollnha, Meta?'mUXt (4) Potyguasst, o antigo,
taJvez o pai do Camaro, que a sim tambem se chamava (5),
Gue?'opina (6), Am?'1tna, Mei?,~tguass (7), lbatat (8), Abai-

(1) A este padre e Diogo lmes attribuem Ferno Guerreiro e Jos


de Moraes a pazes com os Petiguares. S. Maria troca o nome do padre
Diogo N une3 por Lemos, no que sem exame segue J aboato.
(2) Neste ponto esto accordes Ferno Guel1'eiro e Jos de Moraes,
J esuitas, assim como S. Maria e J aboato, capuchos e pouco favoraveis
aos primeiros. Mas Jaboato sem fundamento algum attribue ao seu
confrade FI'. Bernardino das Neves, o conselho das pazes com os Peti-
guares, que . Maria aflirma ter partido do padre Gaspar de ampere.
(3) O indigena Pal~ Secco era o mais poderoso chefe Petiguar, antes
da couquista do Rio Grande do Norte. T esse tempo cremos que ja era
fallecido. O centro da sua influencia era ao sul do Rio Grande proximo
fronteil'a da Parahyba. O porto dos Busios, e outro ao sul, como a bahia
Formosa e a da Traio, erifo por onde elle e os seus negociavo com os
Franceses.
Em 1593 ou 94, seno ante~, esse indio entendeu-se com o nauta
Crancez RiJfault, para que a Frana tomasse sob sua proteco aquelle
territorio, que era pelo F'rancezes chamado Potyi. O destroo dos na-
vios de Riftault, que apenas conseguia arribar com um ao Maranho em
1595, impedia o estabelecimento fl'ancez naquella provincia, e facilitou a
couquista em 1599.
Olaudio' d'Abbeville dando noticia dessa expedio chama ao Pau
Secco, o poderoso cacique Petiguar., 01ti7'apiue. Talvez aos ouvidos Por-
tugueses ros. e o nome Ibiraypi.
(4) Meia1'ouba, corruptla de ltIetm'obi, pedra verde que 03 indigenas
'l\lpis introdusio no labia inferior, como ornato. Hoje chama-se bodo-
que, e aos incUgcnas que uso Botocudo .
(5) Vide supra nota (1) pago 18.
(6) Guempina, corruptla de G!~i?'apunga j a Araponga, passro
conhecido, tambem chamado Fe?'?'ei?o.
(7) Me?'ttgua 'sl, melhor, Mem'guass grande canna de assucar.
(8) Ibatot, i. e., pau de fogo, talvez refel'indo-se espingarda.
qwij, Piraju (1) que, se diz, fra o grande Cacique Peti
guar quem Manoel de Mascarenhas venceu, seno he o
Ce:tobalJ ou J1wubalJu (2), que fez as pazes com os portu-
guezes mediante os religiosos da Companhia de Jesus, e foi
depois alliado fiel (3).
Esta especie de Confederao podia pr em campo mais
d cincoenta mil arcos. Simo de Vasconcellos suppunha
que podia apresentar mais.
A grande reputao do Cama/to, o PotygUa8S junier,
he posterior epocha da conquista de Manoel de Masca-
renhas; por isso tudo quanto imagina o il1ustre Baro;
acerca da raso do nome de Antonio, com que foi baptisado
o PotygUa8S do Cear-mirim, no tem fundamento. e a
quinquagesima de 1612 camo em 15 de Fevereiro e no
em 22 do mesmo mez como suppomos, o nome do heroico-
Cacique podia apoiar-se na folhinha, porquanto nesse dia
festeja a Igreja a trasladao de S. Antonio, O segundo
nome de Philippe pode ter, e tem a explicao imaginada
no momento da guerra com os Hollandeses, e dos primeiros
premios que lhe foro conferidos (4).
Estamos porem persuadidos de que o nome do Cacique
ou Principal do Cear-mirim, era em 1612 simplesmente
Antonio Potygtta8S, e por abreviatura Poty,
A naturalidade por tanto desse celebre chefe indigena
no pode er o territorio actualmente Cearense, porque
o Petiguare habitavo o territorio comprehendiclo entre
os rios Parahyba e Apocly (5), e o que ficava alem at a

(1) Vide sttpra nota (2) pago 22, Antonio Knivet diz que esta pala-
vra significa - espinha de p(J':ce. .
(2) Cerobab ou 8Q?'obab, e tambem Zo,'obab, parece-nos ser a cor-
ruptela de Jurubab. Vide Duarte Coelho d'Albuquerque nas MenlQ?'ias
dia"ias pago 146.
(3) Parece que foi este indigena com quem primeiro fez pazes Manoel
de Mascarenhas em 1599, e depois em 1602. Mas como inspirava muita
desconfiana aos vencedores, por isso o levaro para a Bahia na expedi-
o de 1603, de onde nunca mais voltou,
(4) E esta opinio ja havia sido apresentada por Fernandes Pinheiro
na biographia do Camaro. Vide Revista do Inst'ituto to. 32 primeira
parte pago 201.
(5) Gabriel Soares he obscuro quando trata desta materia no cap, 7
da sua Noticia do Bmsil. Do que eIle diz se deduz que o domnio Peti-
guar no passava do rio .l1pody ou Yponi como chamava Marcgrav, na
f de Jacob Rabbi, e no o rio JaO'uarbe.
Ibiapaba era pelos Tapuyas, especialmente Ganas, Ju-
guaruanas e Teremembs, o que facilmente se pode vedficar
consultando as antigas chronicas.
Por tanto no pode ter solido fundamento o assegurar o
padre Ayres do Casal ser, Villa-Viosa, a patria do Camar
?do. E sa povoao, a antiga alda da Thyaya, he fundao
muito nova dos Missionarios Jesuitas do Maranhe, depois
de pazes celebradas com os indigenas Tabayares ou Taba-
jaras daquella erra-lbiapaba.
Ora o aldeamento da Thyaya foi fundado em 1697, e
tomou o nome de Villa Vio a com o predicamento da
villa, em 1759 (1).
Ra em verdade cou as singulares quanto naturalidade
deste celebre indigena. Pereira da Silva nos seus VCllrJes
i"lust'res do Bmst7" apresentar-o como natural da Parahyba
do Norte e nascido em 1598; e Fernandes Pinheiro se-
guindo Southey na sua biogl'aphia f-lo Ca?ii (2), e, com
Ayres do Casal, nascido nas visinhanas de Villa Viosa!
Southey somente por equivoco o fez Oar~i, pois refe-
riar-se a Britto Freire, que diz cousa mui differente. Essa
tribu, a OCllrij6, como se sabe, occupava o litoral do Paran
e de . Catharina at o Rio Grande do Sul (3).
Antonio Potyguass era Peflgu,a?'. Di-lo positivamente

Entretanto FI'. Agostinho de S. Maria (Manoel Gomes Frei7'e) no


duvidou a~segurar que o domnio Petiguar estendia-se at o Maranho!
Joo de Laet no Novus 07'bis, apoiado em Marcgrav, sustenta com
bous fundamentos que o dumnio Petiguar no passava do rio A.ss,
sendo o territorio septentrional occupado por naes Tapuyas, de que
era chefe mui notavel J anduy ou Joo Wy como s'expressavo os Hollan-
dezes, seus alliados.
O certo he que o paiz ou regiao de J aguaribe comeava na foz do Mos-
S01', onde estavo situadas as salinas ditas de Jagua1-ibe, local do des-
embarque do padre Francisco Pinto.
(1) Vide inf7'a nota (1) pago 556.
(2) Vide Rev. do Inst. to. 32 pago 201, nas seguintes palavras:-
" Pertencia corajosa tribu dos Curijs, etc. " .
Norberto na biographia da esposa de Camaro, D. Olara Philippa Ca-
maro, diz o seguinte:-" he todavia de crr que, com.o seu C01Ui01'te, des-
cendesse dos Carijs e nascesse em Villa Viosa, nas abas da serra da
Hybyappaba, onde 05 Jesuitas estabelecero umacolonia de Indios, que
asss COnC01'1'elt para a povoao da prcvincia do Cear, etc," Rev. do
rnst. to. 10 pago 387.
. (3) Viele infm pag. 541, no artigo Misso dos Gm'ij6s, e Gabriel Soa-
res na Noticia do B7'azil caps. 66,67, 68 e 69.
4,
Duarte de Albuquerque Coelho, Conde e senhor de Per-
nambuco, coevo, em suas 1J!Iemwrias dia'rias de la guerrq, del
B?-asa (1) em differentes lugare e tambem Fx. Manoel
Calado no ValeToso IAu::ideno, declarando quem era Antonio
Puty (2), Principal (cacique) de uma alda, capito-mr e
governador dos Petiguaras j e, ainda mais positivamente, a
uarta regia de 14 d.e Maio de 1633, pois chama-o Petigua?',
e capito-mr dos Petigua?-es (3),
Francisco de Brito Freire na Gue?'?-a 'Bmsilica trata o
Camaro de Tabaydra (4) j mas este historiador, emprega-
do na marinha, escrevendo no principio da guerra Holian-
desa, no deu este ponto toda a atteno, e seu engano
resultou de um facto peculiar, que elie no podia logo
descriminar j o que mais adiante notaremo ,
Os sustentadores da preteno Cearense appello ainda
para a circumstancia de haver naquelle territorio, na epocha

(1) Memorias dia1'ias etc. edio de Madrid de 1654 pago 129 v.


" Por los bueoos proc.edimientos coo que avia servido Antonio Felipe
Camaron, le hizo el Rey capitan mayor de todos los Indios; no solamen-
to de los de su nacion, qu.e era P'igtla1', mas de los otros residentes en
variaa aldllS. "
(2) Antonio Puty. Assim o chama FI'. Manuel Calado ou do Salva-
dor, e geralmente se tem seguido esta verso. Valeroso Lucideno pags.
12, 25, 164 e 165.
(3) Joo Pedro Ribeiro no seu :Indica Ch1'onolog'ico to. 2 pago 343
resume desta forma a carta regia de 14 de Maio de 1633:
" Por esta carta regia foi determinado que se desse aos Indios I\lgll-
1J1as ml\rcadol'ias de fazendas, roupas e quinquilharias, para estarem quie-
tos e trabalharem na guerra, fallendo-se outro-sim, merc do habito de
GPristo ao Indio Antonio Felippe Camaro, Principal da nao Pita-
gars, com a tena de 40$000 rs. e patente de capito-mr dos In-
dios. "
A cO,mmenda da mesma ordem dos Mojnhos do Soure foi conferida ao
Camaro por carta regia de 3 de Maro de 1641, j no reinado de D.
Joo IV. Mello-Biogmphias to. 2 pags, 186 e 187.
A Henrique Dias tambem se fez merc de um habito por car-
ta regia de 21 de Julho de 1638, Coll. Justino to. 5 pago 160 e 16l.
(4) Hist01'ia da gUC1'1'a B1'asilxl pago 1 '3 n. 35i nesta.s palavras:
" Deixando em meio ao Real (o a1'i'ayal do Bom Jesus), quasi de-
baixo de sua lIil'tilharia, alojavio 300 indios Taba.ija1es, em que eJ'1Jeri-
mentamos valor e fidelidade, virtudes novas entre gentios barbaros. An-
tonio Felippe CamariiO,1t?n eles/es que governava os mais, veiu a con-
seguir por mentos assigualados, etc, etc."
Accioli naa MC1n01'ias da Balzia to. I, pag. 96 (22) se.!!1le, sem criti-
tica, o que diz Bl'itto ;Freire. o
xxvn

da conqui ta do Maranho (1613), um indigena de nome-


Jacana (1), irmo de Antonio Potyguas . Esse facto tem
explicao natural para quem attentamente examina nossa
lu toria antiga.
Logo que os Portuguezes fi m:o pa e com o Petigua-
res servio-se delles como se havio servido dos Tabajaras
da Parahyba, isto he, para atacarem as outras tribus, com
o proposito de alargarem o dominio da colonia. .
Com e te empenho Pedro Coelho de Sousa, colono da
Parahyba, em 1603, offereceu-se ao governador Diogo Bote-
lho, que ento residia em Olinda para ir faser a conquista
do Maranho, paiz de que ento e fa io descripes ma-
ravilhosa que escaldavo a imaginaes daquelles avidos
aventureiros e colonos.
Em Maio de e anuo a expedio ou parte della sarno
de Pernambuco ob a direco de Diogo de Campo Mo-
reno - Sargento-mr do Estado, coml?osta de oitenta Por-
tugueses e qua i 00 indigenas que fOI recebendo na Para-
hyba e Rio Grande do orte.
.A. e a expedio acompanhou Martim Soare Moreno,
Robrinho de Diogo de Campos, ainda joven, e que depois
e tornou habilissimo na lingua tupy, e mui amigo do
Petiguares. Foi seu tio, que ficara no Rio Grande, quem o
confira Pedro Coelho de Sousa, nomeado c3Jpito-mr da
conquista do Maranho (2). De e indigena foi grande
numero 9ue embarcou em dou caraveles, com um habil
piloto co teil'o, da nao francesa, mais conhecido pelo nome
indigena de Otuimi?'i (3).
E ta expedio foi ter ao l)Onto do Cear ou ante ao
porto de Mucuripe, e no local onele est hoje a cidade da
Fortale a, na visinhana da fz da pequena ribeira, que
mn,i adiante e chamou Sia?- ou Gea?-,
aquelle local fundou Pedro Coelho de Sousa o seu for-
tim sob a invocao de S. Thiago, e estabeleceu a margem
esquerda ela ribeira a Sua povoao que chamou Nova-
Lisboa, e ten'a Nova~L1tsitania (4).

(l) Vit1<l illfm lt pag . 163 e 181 na Jomada do 1J1amnho.


(2) Vide '?ifm lt pago 163 na Jomada do Ma1'C/nho.
(3) Ot'ltni1i. Provavelmente pequeno Tuim. Especie de periquito.
(4) Vide illf1'n lJ:tg. 160 e to. 1 destlls lJ[ern01'ias, pag. 23 cnp. 3.
XXVIII

_ Mas,. em vez de seguir logo paTa o Maranho, julgou


mais acertado encaminhar a expedio a serra da Ibia-
pba, e accommetter os indigenas Tapuyas de que o paiz
abundava, afim de faser carregamentos de escravos para
Pernambuco, Parahyba e Bahia. Esgotados os recursos da
empresa pedio-os Pernambuco, sob a garantia dos indios
apresados. Por infortunio o encarregado de receb-los (1),
no s61evou os prisioneiros, mas exigio tambem os que ha-
vio auxiliado a captura, portanto, os Petiguares e Taba-
jaras, e muitos foro apprehendidos; trama que Martim
Soares, ainda muito joven, foi estranho e adverso.
O local onde se praticou esse attentado era a povoao
da Nova-Lisboa, o primitivo Cear, e produsio tal terror
que os indigenas alliados para escaparem da e cravido
fugiro e dispersaro-se; e muitos alli ficaro vivendo nas
brenhas temendo novos assaltos. O governo mandou depois,
he certo, restituir os prisioneiro alliados s suas aldas da
Parahyba e Rio Grande do Norte, para onde naturalmente
foro remettidos os escravisados. Mas os que ficaro no
Cear alli permanecero, at que o padre Francisco Pinto
e seu companheiro o padre Luiz Figueira foro depois, em
1607, aldea-los, levando em sua companhia algun de se'
infelises (2), de ambas as tribus apprehendidos na caicLm de
Pedro Coelho de Sousa e de Joo Seromenho, para com
sua presena e narrativa, persuadirem os disperso
depositar confiana nos padres da Companhia, e no
governo que os havia libertado do poder dos escra
visadores. .
Eis a causa da colonisao Petiguar no Cear, de que
ai povoao de S. Antonio de Pitaguary he uma recor-
dao, assim como o corrego do mesmo liome e o de Ge-
nipa1n affiuentes do Coc, e o do Poty. Como, na epocha,
o paiz um pouco se assemelhava com os districtos alaga-
dos do Cearr-mirim ou Baquipe, os colonos Petiguare
foro naturalmente impondo o nome de Cea?' pequena
ribeira, que, quando ahi foi Pedro Coelho de Sousa (1603),
tinha outra denominao, a de Pimngy, conforme o mappa

(1) Vide Varnhagen-Histo1'ia geral do B1'azil to. 1 pago 315.


(2) Campos Moreno na Jornada do Ma1'anho pago 161 elevlt o
numero a quarenta; mas o padre de Jos Mornes no to. 1 destas Me,/no-
rias li pogs. 28 e 29 no parece elevar a este numero.
XXIX

do Liv?'o da Raso d'Estado de Diogo de Campos Moreno,


que ao mesmo Coelho se reporta.
Quando Martim Soares Moreno, sobrinho de Diogo de
Campos, foi, em 1609, como capito estabelecer-se na-
quelle tenitorio, ja o Pimngy tinha o nome de Oea?'" e
no antigo ponto da Nova-Lisboa fundou a sua fortifica-
o, e o povoado, por se acharem perto desse porlo, pro-
ximo do Oceano, os seus amigos Petiguares, ja aldeiados
pelos Jesuitas, em Soure (OaUCOJia), em rronches (Pa-
mngaha) e em Messejana (Parwpina). Em rronches vivia
o cacique Am,anay (1), que os Portugueses trato pelo prin-
cipal AlgodO;" em Some ou Messejana o principal Jar-
ca'na, irmo de Camaro, de que trata Diogo de Campos
na sua JO?'ncuia do Ma?'anho.
He de presumir que, quando Martim Soares foi do
Rio Grande do Norte para o Cear, levasse comsigo
outros amigos seus da tribu Petiguar, e provavelmente
o Jaca'na acompanhou-o, servindo-o de guia ou auxiliar,
maxime no proposito de repellir do litoral os Europeus
de outro Estados que o frequentavo.
E nem o que disemos he nvero imil e fra de raso,
porquanto, quando Martim oaTes foi nomeado capito e
fundador da capitania do Cear, ou melhor do pCIIz de
Jagua?'ibe, servia interinamente de commandante da for-
talesa do Rio Grande do Norte, no posto de Tenente (2).
E tava, aind~L por este motivo, mui relacionado com a
tribu ou nao Petiguar, e obretudo com a gente de Ca-
maro, os Potys, no Cearr-mirim, da grande alda de Yga-
pa ou Ygap, depois villa de Extremz, hoje extncta.
Essas relae ero taes que Martim oare, por ser
ento muito moyo, era tratado deftlho pelo Jacana, irmo
do Camaro, cUJa alda era muito proxnla da fortalesa dos
Reys Magos, e, assim, ja he repre entada nos mappas de
Diogo de Campos no Liv?'o da Raso d'Estado, ainda hoje
inedito.
E Jag~wn'a?'y, o tio de Camaro, depois de baptisado
tomou para i o appellido de Soares (3), deixando o seu

(1) Amanay, ou melhor Amani. Gabriel Soares na Noticia do Bm-


zil chama ao algodo Manym, cap, 62 pago 178.
(2) Vide if?'a na Jomada do Mamnho pago 163.
(3) O nome de baptismo deste indigena era Simo. Tambem figurou
com distillco na guerra hollalldeza. Vide Mas emorias diaria. etc.
pago 254 V.
nome indigena, pelas boa relaes com Martim Soare
Entretanto he nos a conjectura que o Jacana da JO'f-
nada do Mamnho (1614), he o indigena conhecidQ na,
guerra Hollandesa por Joo de Almeida (1), nome do famoso
apostolo dos Carijs, o padre Joo de Almeida, da COln-
panhia de Jesus, de nao ing1ez, no seculo conhecido
por John Martin,
Quando a expedio de J eronymo de Albuquerque pas-
sou para o Maranho, em 1614, ja alii achou o Jacana,
irmo do Camaro, com os Petiguares e outros indigenas
vivendo nas aldas Cl'eadas pelo padre Franci co Pinto em
1607, Como j notamos, podia aquelle indio ter ido para esse
lugar com Martim Soares em 1609, e mesmo depoi , na epo-
cha em que o Camaro foi visitar os ossos do padre Francis-
co Pinto, em 1610 ou 1611. Havia por tanto muitos motivos
para robustecerem-se aB relaes entre essas alda do Cea-
r colonisadas por Petiguares, e as do Rio Grande do Norte,
maxime as dominadas pelos Camares (PofJys). 08 Cl'editos
do missionario martyrisado, o AlItanayClra, muito para i so
ooncorrio.
Os que no fasem a descriminao destes factos, distin-
guindo o paJ'Z de JaguQffibe, do Cear propriamente, nome
que ao depois estendeu-se todo o territorio da actual
provincia, esto expostos commetter graves erros em
nossa historia,
A narrao do padre Jos de Mm'aes est de accordo
com a JO'f'nada do Maranho de Diogo de Campos Moreno,
tio de Martim Soares Moreno, 'O seu t;~tor e guia. He
um coevo, e em certos casos uma testemunha de vista,
mui illustrada, e conhecedora da cousas elo Brasil, e das
que particularmente trata naquella obra. Tambem est
de harmonia com o reSlllUO das CaT6as O/nnuas do padre
Ferno Guerreiro (2), e com a Relao da Misso da se1'm
da lpba do padre Antonio Vieira (3); e ne ta condies,
como recusar-se-lhe a veracidade?
A preteno da naturalidade do Camaro qualquer
ponto do Cear he pois insustentavel, e se houvesse nisto

(1) Delle trata com elogio Duarte Ooelho de Albuquerque nas Me-
rnorias dia1'ias etc. pago 216. He designado como irmno do Oamarno.
(2) Vide intm pago 502 e seguintes.
(3) Vide intra pago 455 e seguintes.
XXXI

algum fundamento o padre Jos de MoraeR, religioso da


Companhia de Jesus, o diria; pois sendo Camaro, cathe-
cumeno da ordem, tanto importava que fo se de alda do
Rio Grande do Norte, como do Cear. Ora a alda da
Thyaya, hoje Villa Viosa, pertencia vice-provincia do
Maranbo, e se o Camaro alli houvesse nascido, aquelle
religioso, que achou-se nesse lugar em 1720, quando. a
direco do aldeamento passou para o collegio de Per-
nambuco, no deixaria de mencionar to importante cir-
cumstancia. Ayres do Casal ouvio contar esse facto por
alguem pouco lido em nossas historias, e, sem critica, foi
con ignando-o em ua Co'rog?-aphia Bmsilica (1).
A naturalidade desse celebrado indigena pelo lado de
Pernambuco, tambem no tem ba e solida. Os argumentos
invocados mais fortes, limito-se a dous, todos mui explica-
veis. A carta de Joo Fernandes Vieira (2) ao Camaro, em
ergipe, no local onde e acha hoje a cidade de Maruim, con-
forme nosso parecer em vista do mappa de Barlams; ou
S. Amaro (3), onde poeitivamente lhe diz que he de Per
nambuco (4), reforada com a de Hemique Dias (5), e a cli"
cum tancia bem notavel de haver Camaro logo acudido ao
reclamo de Mathias de Albuquerque no principio da guerra
(1630). Tudo pois bem indica que, na epocha, vivia em Per-
nambuco o illustre Petiguar, e bem proximo de Olinda;
no tendo vindo do Rio Grande do Norte nem com o
padre 1anoel de Morae (6), e nem com Martim oare.
Moreno, do Cear (7), quando e apresentaro com o em;
contingentes.
Tudo i to he exacto, e bem comprovou-o na suas-

(1) Vide a mesma obra to. 2 pag.207. Eis suas palavras:-" He a


patria de D. Antonio Filippe Oamaro."
(2) Segundo Felner o verdadeiro nome desse heroe erar-Francisco de
Ornellas Moniz .
. (3) A denOl;ninao de S. Amaro parece ser uma recordao do si.
tro por Camarao occupado junto ao arrayal do Bom J esns, no principio
da guerra hollanc1eza, e talvez assim intitulasse o bravo Peticruar o pon-
to que Barlreus deuominllr-Cu1'rat do Cam,(wo. o'
(4) Vide no Vale1'oso Lucidelio pags. 164 e 165.
(5) Idem pago 334.
(6) Vide Mem01'ias dim-ias etc. pago 1 edio de Madrid de 1654.
(7) Idem pago 50.
XXXII

Biogmphiafl dfl algul11J3 Poetas e homens i71~tst1'es de Pernatmbu-


00, o distincto commendador Antonio Joaquim de Mello'(l).
A primeira objeco faci! he refutar. A Parahyba, o
Rio Grandedo Norte, e o Cear ero conquistas de Per-
nambuco, e ento dependio immediatamente do seu ~o
verno, assim como Itamarac i e por tanto diBer-se nasczdo
em Pernambueo naquelia epocha, no importava hav-lo
sido dentro do territorio da doao de Duarte Ooelho,
isto he, de Iguara s at a margem esqueTda do Rio
S. Francisco. E esta objeco tanto menos robusta he quan-
to, he innegavel, Antonio Potyguass no era nem Cahet
e nem Tabayara, mas Petiguar, tribu que habitava longe
do territorio Pel'nambucano, como declaro autoridades
mui competentes.
O mappa do Lim'o da Raso d'Estado de Diogo de
Campos Moreno, o autor daJornacla do Maranho, localisa, e
at retrata, a aldade Camaro no ponto ou proximo da anti-
ga vilia de Extrem6z, hoje extincta,tendo por nome Yguf3?la
ou Ygap, margem ou proxima do lago de Guajiru (2). O
mappa do Rio Grande do Norte he organisado por um
homem competente, militar illustrado, que escreveu na
epocha em que vivia o Camaro, a quem pessoalmente co-
nhecia, por v-lo naquelia Provincia, e nO Cear.
Trata-se pois de um autOT covo e mui autorisado. O que
elie escreveu na obra j citada e na J01'nada do li/aranho
se conforma com os mappas de Barloous, o famoso panegy-
rista holiandez, e com a desccipo e nomenclatura das
alda do Rio Grande do Norte, Parahyba e Pernambuco
na' epocha da invaso holiandeza, feita pelo padTe ~anoel
de Moraes, que Southey transcreve em sua Hist01'ia do
Brazil, extrahido provavelmente da sua obra - Histo?'ia
da .i1.merica, manuscripta, de que, desd.e Joo de Laet, mui-
tos escriptores se tem aproveitado.

(1) Fallecido ha pouco.


(2) Parece que posteriormente guerra Hollandeza, tomou essa alda
o nome de Gttaju1", quando reorganisada pelos J esuitas que a doutri-
navo em vista da carta regia de 26 de Novembro de 1689, dirigida
ao Governador da Capitania de Pernambuco, sobre o l)rocedimento
singular do capit.1:o-mr do Rio Grande do Norte, em relao essa
alda. Mello - Biog1'aphias to. li, pago 262 e 263.
yres do Casal diz na sua Cm'ogmphia que a villa -de Extremz
he a antiga alda de Guaji1"C. Barlreus no' seu mappa chama esse
ponto - ItijtW.
'XXXIU

e pois Antonio Potyguass era de nao ou tribu Peti


guar, por que ra o estava elie. em Pernambuco, com gente
de sua dependencia, no momento da invaso Holiandeza, a
ponto de logo acudir sponte, ou a chamado de Mathia. de
Albuquerque?

III

Eis a difliculdade Pernambucana. Em verdade, diz e, n


tania Potygua podia er Petignar e haver na cido no ter
ritorio da capitania de Pernambuco, pela de cida que fa
zi o Mi ionario de indigena de differente provenien
cia para a alda que dll'igio na pmximidade do litoral
e de eu coliegio, afim de melhor instruilos e educalo .
O lauto autor da Biogmphias, infelizmente hoje falie
ido, creou mai outra objeco. a falt de identidade entre
o GamaTo do Rio Grande do arte e o de Pernambuco,
lJ.ue tanto se di tinguio na luta com os Holiandezes. Ma se
. Jesuita a egUl'o em ua obra, que o um e o mesmo
individuo e tinho ra o para ab-Io, a duvida torna- e
iDo ustentavel, e por demai pueril.
Em verdade, depoi da pa agem da expedio do Mara
nho que Antonio Potygua mio quiz ou no pde acom'
panhar do porto do Cear, pretextando mole tia ou o tenor
do mar, e a recordao elo que acontecra com o Peti
guares que foro por seduco levado Bahia, e nunca
mais volvero aos seus lare , algum facto extraordinario
oecorreu a respeito deste celebre indigena, entre os anuas
de 1614 a 1630, epocha da invaso hollandeza em Pernam-
buco, e ~e que no tem.os c~bal co?hecimento.
Na pnmeua data a histona patna occupa-se do Gama1'o
na conquista do Maranho, e na egunda trata tambem
delie e tando j em Pernambuco. o mui limitados o
documento hi toricos sobre a tribu do Rio Grande do
arte nes e intervalio, a iro como obre a de Pernam-
buco, maxime depoi da vandalica destruio do archivo
do collegio dos Jesnitas durante a per. eguio do mar
qllez de Pombal no ecul0 pa sado..
Ma, . e 'tal e] cida fi ic1 .nt.idacle do f}ersona~:em. facil h
.;
XXXIV

mediante conjecturas, determinar :~ c:msa lue levou o cele-


brado Petiguar Pernambuco, no se fazendo preci a a
viagem por mal' que tanto lhe repugnava.
A primeira conjectura que nos occorre he que, conheci-
do o grande pre timo do Camaro, fra elie convidado para
vil' com sua tribu, ou parte, estabelecer-se no territorio da
capitania de Pernambuco, afim de garantir os colono da
inva o do. indigena Tapuya do serto, facto que tantas
veze acontecia. tribu Petiguar ra afamada por muito
valente e a ndole do <. acique bem conhecida e experimen-
tada. Esta conjectura parece-no aceitaval, explicando bem
apre ena de Camaro em alda:-; ele Pernambuco.
Quando no fosse por e ta au a, outra podia tambem
levaro Camaro alda onele vivia' em Pe1'llambuco. Os
religiosos da Companhia de Je'u a le P~!to dos bons er-
vios que prestavo ero em diminnta qualltidad , o no
poc1io ter no Rio-Grande elo Norte, como belll con1'e, sa
Diogo de Caml os :Moreno (1), 'eno por int rvalio. u pe-
riodicamente :Missionarios no comeo ela colonis de' a pro-
vincia (2); e o' colonos, intere 'saelo no trafego do escra-
vo.', pouco >:e agl'adavo ela sua pre,ena.
Notando a intelligencia e b as di 'posie' do incligcna
Potyguass 1h propozento o vir estabelecer-se om 1HL
tribu em lillla das aldas de sua direco no territorio de Per-
nambuco, onCle lhe podento en 'inar' o que a hi toria in u -
peita a segura qnanto asso indio (3), ) I}ne eTia mui diffi-

(1) Vid~ il1fnt nota (2) a p:tg'. 520.


(2) Posteriormente guerra Holllludesa li"~I'i1o J\li-sionaJ'ios perma-
nentes lJa alda de Gagi1'I, ou Guaji1'L no sitio, ou proximo ao local
da antiga alda do Camaro. ~o mappl1 de BarlalUs diz-se Itijm't (Ex-
tremoz).
Vide sl/pm :l nota (2) pag, 32 a cal'la regia de 26 <.Ie oyembr de
1689 citada por }Iello-Biog1'Ctpltias to. 3 pago 262 e 263,
Antes <.Iesta guerra havia na fronteira c111 Parahyba, em 'unI1l1, a
o'rande alda do mesmo nome, missionadll pelo padre Manoel de Morne ,
(3) A inportancia que adquirio este indigena, na luta TIollandeso, fez
com que FI'. ]anoeJ Calado no Vale7'oso Lucideno declarasse que o trll-'
balho de educa-lo havia corrido no s6 peJa, 'ompanhia de Jesus, mas
por outras ordens!
Eis suas palanas:-" bem empregado foi o trabll1ho que os Padres da
Companhia, e out1'o~ reJio'ioso, <'lI' dino1'e\ll-l'~ o1'llem', fi, I'1'ilo llC'sf-r Tlltli "
pag". lG5 I' I (;li,
xxx,-

<:il 110 Riu 'rHll<h do ;\ortt: .ude ii COmlJaubia de Jesu,.:


no tinhn collC'~io.
E I re;-umimos que es e facto teve lugar de 1614 a lli20,
poi', 'egundo JtLboato, foi por es e tempo que a alda de
. figucl, sobre a ribeira de Mo ~uy, hoje Mussupe aban-
el aada I elo:; Franci 'OLlllOS pa ra ao orelillario da Diocese,
que p-la, sob n Ereco elos Jesutas, rujas Labilitae na
'atbegne,,;e elos indigena era por demais comprovada (1).
Ora, ue" 'a alda, en onde assi tia o Camnro ua pochu
la in a hollaneleza, e quem o prova he outhey em noh
ao rapo 15 cl . na Hi. tOl'ia do B1'Ct7.~1, referinelo-f\e a uma in-
formao elo pa 11'e Manoel cl Momes pro\'a,'elmentc ela
obra - His[01'ia da A.1I~elica qu no pde 'er im pr H
pelo,.; Elzevir::; na Efollaudn, cm p rtnguez., por incompleta.
ma. foi cm Inglaterra depoi,.: de traduzi la um iugl'z (2).
ffii,.: romo 'c eXI rim outh~':
, 'eglUldu clle (o pCl lre Manoel de llIo1'Ctes) lllVi,l, sei" al-
dut; na Parahyba (3) e igualm nte no Rio-Gr'mtl (4); mal'
tanto havio soifrid do, Hollandezes e da' ho te 1'apuya"
que no podiii:o dar mui de SOO guel'l'l'os, llem pu sava
mai ele tre mil toda u sua populao' emqllauto que Ita-

Os chronistas da ordens rivues dos Jesllitas vinO'o-se com o ilencio.


ou adulterando mais Oll menos o facto:;. Oh! inveja!
(1) "V"ide Duarte oelho de Albuquerque, ~Ie'l1tol'ias (lim'ias etc.
pago 169, tratando da defeco do padre 1\ll1ooel de 1\lorae ; assim como
pag. 235.
(2) Assim nos pronunciamo pelo que diz Joo tle Laet no Otu"
Ol'bi em dill'erente lugare, como mais adiante diremo em nota es-
pecial.
(3) l!Jriio ,eis u aldas dessa Uapitl1nia em 1629 : - Jal'agUal'l on
Eg~tal'al'{(Ca, Jcc7.;ni,qh, Yapoam, Ig(qJ'ltam ou Pontal, Tapoa ou UJ'e-
kaluva, liwcopa e I' inclctltna. Algun nomes esto alterado . A de Iga-
lJ!I(t11t, a cinco milhas ao norte do Oabedelo, tambem se chamava Poly-
gltaS l, e deste mesmo nome havia outm alda margem esquerda do
ll-uaj , limite do Rio-Grande do Norte como se pode yer no mappa dI\.
obra de Barlreus,
Parece que 11 sahida do amaro da sna aldn para Pernambuco uo
foi de llDl s jacto' mas estacionou naqnelles ponto an~es de che!!'!lr
Pernambuco, por circumstancias hoje dilficeis de aquilatar. o

(4) _'\.sdo Rio-Grande do Norte ero as seguintes::-Mopebi e Pam-


1t:assu,~ntreo Rio-Grande e Ounha, J:gapua do outro lado do Rio-Grande,
Olto milhas ao norte da fortalesn, precisamente, a do amaro; Pil'm'i, I\.
duas wilhas de Ounl1nlt; Vqjan ou Goacano a 7 milhas de OJlnbail
para o lado do Rio-Gl'nnde; e Itaipy, 7 milhas ao oeste do mesmo rio.
XXXVI

marac (1) e Pernambuco (2) nada tendo p:1decido dos Ta-


puyas, podio pr em campo mais de mil Indios, apezar de
no contar cada uma mais de trez alda , "
Entre as aldas de Pernambuco nota-se a de M088uigh, -ou
de S. Miguel, sete milhas de Olinda, onde o Camaro era
cacique das Petiguares e Estevo Tebu dos Tobajares, com
seiscentos habitantes, e cento e setenta bons mosqe-
teiros (3).
Eis por tanto decifrado todo o enigma, e por quem bem
o podia faser, um Jesuita, o padre Manuel de Mame '. O
Camaro estava em Pernambuco, na qualidade de cacique
(p1'incipal) com os seus Petiguares; e por isso qu::mdo ()
mesmo padre chega do Rio Grande do Norte, onde dirigiu
as aldas da fronteira da Parahyba, todo os P tiguare e
reunem. e elle contina como director at a sun. retira-
da (4). 'Eis tambem a raso porque Brito Freir , chamou
esse indigena TabaAjCb1'Cb, pois tanto e ses indigenas como
os Petiguares ja pacificados convivio na mesma alda,
posto que com chefe' difi'erentes, o que esse escritor no
pde distinguir, por no examinar attentamente a questo..
Esse local da alda de M08suigh (M~b88~pe), he hoje o
de um engenho, conhecido pelo nome simplesmente de
Alda. Somente na distancia de Olinda houve engano,
devendo talvez diser-se 17 milhas e no 7, se a alda no
mudou de local como tantas vezes acontecia. ]J. se ponto
vem muito bem assignalado nos mappas da edio em
folio da obra de Barloous, e demora na e trada de Pau
do Alho (Ybarema) para Goyalla.

(1) Em Itamarac havia as seguintes aldas j - S. :JoO de Cam'ese


hoje Ca?'ic; S. And7' de lteqJetB7'ica e Tabu~um7na.
(2) s de Pernambuco el'o: :Jloui,qh 011 S, Miguel, Cahet ou N.
S. de PojUCCt, e S. Miguel de Ig~tnCt.
(3) Vide Southey - Histo?'ia do Bmsil (traduco portuguesa) to. 2
pags, 287 e 288 e nota.
Na pago 210 do mesmo tomo Southey diz, que o Camaro era Cacique
Cct?'ij6, referindo-se Brito Freire: evidentemente houve equivoco,
Na nota pago 288 (quando accrescentava o seu primeiro volume) ao
contrario diz - que era cacique dos Petligu,a?'es, sem ter rectificado
aquelle descuido.
O douto annotador coutradiz a rectificao de Southey desta forma:
- I I Philippe Camaro (ou Pat-ig, como lhe chamavo os seus) era moa-

. ct?'Ct dos Cm'ij6s, e no dos Pitnguares. "


(4) Vide Me7n01'ias drictrias etc, pags, 31 e' 50 v,
XXXVII

A.ntonio Potygua au pelos seUti servios obteve, alem de


cartas de nobre a (1), a nomeao de capito-mr de todos
os indigena das capitanias de Pernambuco (2) i e bem o me-
receu, at porque Rua nao era a mai numerosa e valente
do .nosso territorio, e foi sua pacificao que nos deu ou
facilitou a posse de todo o norte do Imperio.
Por sua morte passou o commando dessa fora seu
primo D. Diogo Pinheiro Camaro (3), fallecido em 1677, o
qual foi ento substituido pelo filho de A.ntonio Potyguassl,
que tambem se chamava .Antonio, e fra educado custa da
Fa enda Real. Era eu nome D. Antonio Joo Camaro (4),
e, como eu pai, tinha intercalado o nome do mouarcha
reinante, ento D. Joo IV. entre o elo bapti mo e appel
lido.
Durou por algum tempo a n.dmini tra o do filho do
famoso Potygua su, ma' foi dellft apeado em 1682 por seu
reprehensivel e barbaro procedimento como. e v da carta
regia de 22 de novembro desse anuo (5), conferindo-se o me -
mo posto Antonio Pe. soa rco Verde, indio Tabayara, im-
mediato de D. Diogo Pinheiro Camaro e que havia tam-
bem prestado na guerra Hollandesa e na dos Palmares
relevantes ervios. Das duas nae Petiguar e Tabay-
1'0. (6) ahio os governadores e ofliciaes do corpos mili-
tares Indio.'.
Por morte le Arco Verde em 1692, que no tinha cartas
de nobre a, e apenas era cavalheiro de habito de Aviz,
passou a chefana do Indio D. eba tio Pinheiro
Camaro, filho de D. Diogo (7), em 1693. E te per ona.gem

(1) Vide SUp1'CL nota (3) a pago 26.


(2) Vide Mello - Biog?'aphias pago 19 .
(3) Vide iello - Biog?'al hias to. 2 pago 1 8 e eguintes. Era filho
de F'rancisco Pinh~iro amaro, outro irmo de Potyguass.
(4) Vide Mello -Biograpltias to. 2 pags. 167, 168 e 196.
(5) Vide Mello-Biog?'aphias to. 2 pags. 167, 168 e 195, onde se
l a carta regia de 12 de Novembro de 1682.
,(6) Er? as que .estav~ unidas na alda de Mossuigh. Mello nas suas
B~og?'apk"as pubhca mUltos documentos comprovando esta assero,
prmClpalmento a carta regia de 21 de julho de 1672. Vide Mello -Bio-
gmphias to. 2 pags. 192 v. 7.
(7) Vide Mello - Biograpln'as to. 2 pago 198.
XXXVJJT

posteriormente muito se distinguio lia gu lTn los Mas 'ates


tomando por elies partido (1).
No topico que acima copiamo acerca do padre Manoel
de Moraes, je uita, ha evidentemente engano na a' ero
do illustre e douto Baro quando as 'egum que foi o ca-
theqwisaclo7' de Camaro. Nenhum ch.roni-'ta nosso o diz, e
o padre Jos de Momes nomeando o' que faro, destroe
o valor do asserto.
Re erto que, em seu abono, conta de alguma sorte o i11u,'-
tre censor l:L palavra de outro mui di til1cto cultor de nossa
historia o conego Dr.l!-'ernandes Pinheiro, em nota biogra-
phia que trara do heroico Indio no to. 32 da Revista do
I'MtiMtto Histo'J'ico, na' eguinte palavra. : , - gnnd o
testemunho de Duarte Coelho de A.lbnqnerqu (lIfem. dia-
?'ias da g~lerm enke o Em il e a Ho71anda). foi Felipp
Camaro levado ao arraial do -Bom Jesus pel .ie uita pa-
dre Manoel de Mora s. que pa?'cc ter sielo o 'e11 cntlle-
chista. "
Mas, como se v, Fernandes Pinheiro apena faz mna
conjectura, pa?'ece, e mesmo es a conjectma infeliz-
mente repousa em um involnntario equivoco, porquan-
to Duarte Coelho no diz o que e lhe attribue naquel-
la nota (2). No primeiro recontro que o colono' om-
mandados por Mathias de Albuquerqne tivero com o
Roliandeses 16 de Fevereiro de 1630 no Rio Do 'e, ante'
da tomada de Olinda, j se achava alli o Camaro com du-
sentas indigena seu subordinado . O padre Manoel de Mo
raes chegou do Rio Grande do Norte nlgun clia~ lepoi.
daque11e de a tre (21 22 de Fevereiro), e foi l' unir-, c ~t
estancia de Santo Amaro, onde e 'tavo o,' Indio, do Cama
ro da mesma tribu ou nao (3).

(1) Vide Revistct do Instituto Histm'ico to. 16 pago 5 e seguintes,


Varuhagen Hist01'ia do Bmsil to. 2 pago 124.
(2) Vide MemO'I-ias dim'ia ete., edio de Madrid de 1654,
pago 18.
Eis as palavrns do p- ,)1':
,,16 de Feb7'el' ..JE~d 1630. Avia mais algunos 200 Indio ,com SIl
prineipal, que los goberrwa Antonio Felipe Camaronj y por sus lenguas
J uau Mendez Flores, y lilltonio Pereira. "
(3) Vide Memo7-ias dia7'ias etc., pago 27 oude se diz :
"Algunos Iudios mas, de los que y a assistian de las aldas de Per-
nambuco, llegaron por este tiempo CaD el padre Manoel de Morales, J e-
XXXlX

'obre e 'te religioso da Companhia de Jesu que apo -


tatou (I), algltma cousa se ha escripto entre ns e e~
Portugal com muita inexactido. E )la parte a que J
no referimo, o douto Baro alis to pesqui ador, no s
equivocou-se tratando de mais alguu' factos da vida deste
religioso, como aceitou de confiana em relao outros fa-
ctos, os as erto inexactos de vario escriptore..
s im na nota ao mesmo topico sob n. 13 pago 309
exprime-se nestes termo :
, Diz FI'. Raphael de Je us (no Oc(,St?"ioto. Luzitano) que
1Ifanoel de Moraes se unio depoi.' in 'lureio de 1645,
ap1'esentcllndo-se Fernande Vieira (2) . .Assim o 1'efem taro-
bem Southey acreditando na palaVl'a do l1w11{fe (3) que no
temo por ba tante autori ada, meno que por algum ou-
tro modo venha o facto a comprovar- e. '
Ora nem o monge benedictino Fr, Raphael ele Je li
no Oc(,St?'ioto liuzitano, e nem outhey na EistO'rict elo EnG-
sa, que ali apoiou- e tanto naquella obra, como na elo
Fr, Manoel Calaelo o Va7eroso Lucide?w (4), em tudo quanto

suita, que con elles assisti tambien a la estancia de la hermita de


San Amaro, etc, "
(1) Vide Me?IU)1'ias dim'ias, etc. pag, 168 v. e 169, onde o autor, refe-
rindo-se ao procedimento de Duarte Gomes da ilveira, diz o seguinte:
,I lo que no se puede dexar de dezir com gr sentimiento. e , que
tambielJ el padre Manoel de Momles,con un plJUelo eD lU1 palo, se rue u.
renclil' ai enemigo, tau olvidado de las oblignciones de au profossion que
este tan notable desalnmbl'l\miento junto el mayor, que rue casar-se des-
pues en lUsterdam, siendo sacerdote, y predicador Apostolico, y acetal'
la seta de Calvino, " Desembro 30 de 1634.
(2) Eis o que diz Fr. Raphael de Jesus no Gasll'ioto Lusitano liv. 7
u. lO pago 260 da edio de Paris:
r" Teve (F~I.nandesViei1'a) certa inf~rmao de que naquelle districto
(Tabocas) VIVIa o padre Manoel de Mones, apostata da f e do seu es-
tado, refinado heI' ge por obediencia e por observancia, seguindo, pre-
gando e defendendo os erros de Luthro e Calvino, , , . etc.
1 ilIan.dou blGSCW' pl'eso o apostataj chegou este seus ps banhado
em Jagnmasj protestou emenda, e com religio o pejo pedio ao governa-
dor fos e servido cliJ'igi-Io, para que o tribunal que pertencia o castiO'o
e houvesse com a costumada brandm'a e piedall;.'
(3) Vide Southey - Hisim'ia do Bmsil (tradu6o Castro) to. 2
paO', 87 e to, 142 e 143, .l .
(4) Este chl'oni ta no trata da priso do' {ladre Manoel de Moraes,
llU1.S,r10Sservios que pr stou na ha1nlha (las 'i'ah(lca ' Vrt!e?'OSO L1/fJiria
/10 h I'. l l:<lp. I pago 202 20:.
XL

escreveu sobre o padre Manoel de Moraes, e em relao ao


seu comparecimento no campo dos colonos rebellados, an-
tes e durante a batalha das Taboca (3 de Agosto de 1645),
di sero o que e lhes attribue no texto citado.
Esse infeliz religio o, na ciclo em . Paulo, deslumbrou-
se em frente do poder e civjij ao material dos Hollan-
deze ,no tendo talvez ido v z alguma Europa. Apo ta-
tando, foi para a Hollanda, com historiographo da Com-
panhia da India Occidentae.. (1). Ca ou em Amsterdam,
mas perdeu cedo a e po a. Parece que voltando para Per-
nambuco desgosto o e de enganado depois da revoluo
de 1640, occultava o remorso' em lUna ituao agri-
cola que cultivava nas visinhana do local, onde ferio-
e a batalha das Taboca .
A sua apo tasia, e apo ta ia de jesuita, facto extraor-
dinario, devia fazl-o bem conhecido e as. ignalado do
colonos Portuguezes que no havio abjurado a f, e ento
lutavo contra a Hollanda. Por essa causa, como traidor
religio e patria, pois havia praticado tudo i to durante
a primeira campanha contra os hereticos invasores, foi
denunciado ao chefe dos rebellado Joo Fernande Vieira
que mandou-o prender (2). Com todos aquelle, predicados,
era o padre Manoel de Moraes, depois da paz de 1641, um
ubdito Hollandez (3), que o governo Portllguez, ainda nas-
cente, no podia deixar de re, peitar dependendo, como de-
pendia, do auxilio da Hollanda na luta da sua independen-
cia. Entretanto esse padre, primeira vista, devia ser para
os rebellados um perigoso auxiliar dos dominadore .
Mas o apostata preso lanou-se aos ps de Fernandes
Vieira, e, como rliz 80uthey, reqonvertu- e,voltando ao gre-
mio da Igreja. E, o .que he mll notavel, podero amente au-
xiliou as bostes rebellada tomando parte' activa e mui dis-
tincta Desse celebre combate, que, pode-, e di er, decidio
dos destinos do Brasil; demonstrando os colonos portugue-
ses e eus de cendente o que se podia e peral' do eu valor
na luta travada contra a republica Batava.

(1) Vide Barbosa Machado - Bibliotheca Ll/.sitana to. 3 al't. -


Manoel ele Momes.
(2) Vide sU!J.)7a nota (1) pago 39.
(3) Pelo 'l'ratado de12 deJuuho cl 1(;41 coUyeUciODou-setl'egoascom
os Bollancle~1l8 por um clecemrio.
XLI

Eis como o facto se pa o u, e o que a seguro Fr. Ra-


phael de Jesus e Fr, Mancel Oalado, e reproduz Southey
com a possivel exactido,
Continuando diz ainda a nota:
" Sabemos que o jesuta paulista aberrra do catholicis-
mo, e se fra para a Hollanda, onde se prollUDoiou pela
restaurao de D. Joo IV, publicando em Leyden em
1641, offereoido ao embaixador Tristo de Mendona, a
favor della, um opusculo em hespanhol (1) que respondeu
D, Juan Oaramuel. Igualmente na Hollanda escreveu um
trabalho acerca da HistoTia do Btt'Mil (no sabemos se
natural ou civil) da qual faz meno J. de Laet na notas
di ertao de Grocio - ,De oTigine G&If,i71lln .11Wl'Xt-
na/rum" (2).
E accrescenta :
" Sabemo tambem que teve a candidez de apresentar-se
depois. em Portugal ape ar de haver ido j, no auto de
f celebrado em 6 de abril de 1642, relaxado em estatua,
porem falta averiguar melhor e, para e apre entar em
Portugal, foi primeiro ao Brasil.
"O resultado que obteve da ua apre eutao e arre-
pendimento foi er condemnado em, ca?'?l.e ju tia ecular,

(L) O obra do padre Manoel de Momes tinha este titulo: - P"OgIWS-


lieo y l'espu,esta a 1ma pl'egunta de Wt caballe1"o 11Hti ill!tStl'e sobl'e las
cosas de P01'tUgal,
A resposta de D. Juan Caramuel foi exarada em dous opusculos;-
Respue ta al manifesto ele pOltugalliv, 5 cap. 8, e Joannes illegitilll!IS
Rex demonst1'Ctt7tS, pag. 197.
(2) opinio, aqui manifestada, acerca do que Joo de Laet aprovei-
tou da obra do padre Mancel de Moraes he tambem a do aunotador da
Hi tm'ia elo B1'Ctsil por outhey (trll.duco astl"O) , e consta da nota
r
(1) g, 142 do to. 3 dessa Historia,
essa nota se diz que Laet smente aproveitou-se da Histo"ia da
Amel'ica daquelle padre nas notas Dissertao de Grocio - ele m'i
gine Gentium Ame1"icanal'um, e no no Nov!tS 01"bis, em razo da
data da publicao desta ultima obra de Laet (1633), quando ainda o padre
)(oraes no tinha levado para a lHollanda o manuscripto da sua His
IOl'ia, o que no acontecia com as notas dissertao.
~ias cumpre attender que o Novus 01"bis, alm das duas edies
HoUandezas de 1625 e 1629, foi tambem publicado em 1640 no idioma
fmncez, sendo nas duas datas 1633 e 1640 mais completo. Por outro lado,
a data do comeo da impresso da o~ra, pode. no ser a do fim da publi-
cao, sendo distribuida por cadernetas (liv1'aisons) proporo que
se imprime.
Ora, no Nov!tS 01'bis, os autores citados nos livros que trato do Brasil
ti
XLIl

como proJiteute e obstinado (1), no auto de 15 de Dezembro


de 1647,"
Como j vimos, a imple leitura do Gastlrioto Lusit,ano e
do Valeroso Lucideno, cujos autore foram, pode- e diser,
testemunhas presenciae~ do facto excluem a ida da apre-
sentao espontanea desse padre em Portugal, O autor dos
Va?-es0i71/ust?,es do B?-asil, que tambem compz um roma:nce
sob o titulo- Manoel de Momes, no s aStSegura que esse
religioso na cra em 1586, como que viera de Amsterdam
para Portugal em 1645 movido opa?' sa~tdacles da lJat?'ial
De onde o mu.i erudito escritor ~oube e tas noticias igno-
ramo , e nem elie o diz, por quanto nem Barbo a Macha-
do ne}. Bibl'iothecCL Lu8'itC1/nCL, e nem Pinto de ou a na
Bibliotlteca histo?'ica de PO?'t~l{Jal, que occupo-se da bio-
graprua e .trabalhos litterarios deste Je cita, Ue ignalo
a epocha do eu na 'cimento nem a da na vinda de Aro ter-
dam para Portugal, arras1Kldo pelas audades da patria, o
Bra iI.
Barbosa Machado trata na biographia do' dou auto'
de f de 1642 e 1647, affirmando que, com quanto arrepen-
dido, Rahin1 Morae lia ultimo auto com in,'ignil1 de fogo,
Ma Pinto ele ouza, na Bibl'iotheca h~~tO?'ica de PO?'t~tgal,
diz simplesmente que abjurra o Calvini mo em Portugal
em 1647, guardando silencio se fra ou no sujeito pena
de fgo, O comparecimento em auto u.e f com in ignia' de
fgo, nem empre importava o horrendo upplicio da com-
busto (2), He o que parece deduzir-se das palavra' de
Barbo'a M<1chado.
Innocencio no eu DiccioncLrio Biblio/I'C1/phico, interpre-
tando com rigor o flue di . e Barbo. n, Machado, a . eg'llrou
que Manoel de Moraes fm execut<tdo em carne, e ssa opi-
uio nbscreve o illu tre titular, afIirmanclo quo Manoel de
~Moraes, como profitente e oh tinado calvinista, fra rela-
xado ju ,ti a secular, no ob. tante a.pl'e. ental'- e em Por-
tugal, arrependido!
-- - -------
no se achito todos contemplado na lista do prefacio. JjJ muitas noticias
ali apresentada, Laet no podia conhecl-as antes de 1633.
Mais adiante mostrardmos alguns excerptos da edicii O franceza, indi-
cando factos que no podio ser colhidos de outro autor.
(1) Isto 1l:l0 est de accrdo com o que diz Ba.rbosa }Iachado na
Bibliotheca Lu,zitanCt,
(2) Vitle li. nota pl'ccedente, assim como o j.itnlo 12 ~() li\". :l do
Rep'illle11LO d;~ IU'lnisiiio ele 22 de Outubro de J.li40.
XLTTI

Pelo ('ontrario o uutor do, VQI)'es ilhtstr'es do Br'oS'/7


clssegura que Manoel de Moraes, abjurando o Calvinismo
e protestando sinceramente adoptar a religio catholi-
ea frn olto em 1647, depois de alr no auto de f
de ',: anno com a insignia, de fgo. O erudito es-
ritor accrp.scen\, que Manoel de Mome fallecra em
Li ba em 1651, sem ter podido regressar ao Brasil como
le 'ejira. otlcia importante, mas, infelizmente, est no ca o
da,' primeiras quanto data do na eimeuto e sua volta de
Am terdam Lisba. Falta <\, ba. e.
Ao mui douto autor do Diccionar'io Bibliogmphico
no, dirigimo~ olicitando e 'c1arecimentos sobre e, te facto.
P:wec u-nos ing'rtlar que um pri ioneiro e 'ubdito Hol-
lnndez como era Mano I de Moraes, por i so que Portugal
pelo Trai< do de 12 ele Junho de 1641 tinha reconhecido
IIK conqui 'ta, Hollandesa no Brasil realisacla at aquella
data, pode' e 'er ujeito ao tribunal da Inquisio de
Li boa; e, se foi, havia em ,cu favor a ra o de haver
,olicitado o julgamento para pUl'gar o eu delicto, aban-
donando, como abandonou, a cau a Hollandesa.
Ei o que o illl1 tre bibliognrpho no escrevo em data
de 4 de Janeiro de te anno (1 73):
, O ex-je uita Manoel de :Moraes no morreu no auto de
f, como eu escrevra reportando-me unicamente ao te-
temunho de Barbo"a Machado. Ja um patricio e 'eu colleg'a
o cou elheiro Pereira da ilva, elll lUn romanee que pu1Jli-
'ou ha anuo' com o titulo ilIanoe), ele Mor'aes. elesre~ tlR'U
equivocao, como v, abi melhor poder er. .
"O proce so do dito Padre (que ainela uo pude exa.mi-
nar o andamento) con 'erva- e e exi te ainda inteiro no
archivo nacional on Torre do Tombo. Delle 011 tn, egun-
do m'infol'lno, que Manoel le Morae no no foi exe-
utaelo, ma foi solto por ordem ela Inquisio em 10 de
Ma.ro de 164 , com permis o e licena para sahir do
Remo,
, He aquelle um erro que tenho de corrigir na continua-
o do s~(pple?nellto elo Diccionario Bibliographico: cujo
tomo X tenciono metter no prlo, logo que a. saude m'o
consinta, mas que ele certo niio ir alem da letra J. "
Em relao aos trabalbos litteral'io do padre Manoel de
Mora s, n parece que o illu, tre titular esteja bem ll-
formado. Este sacerdote no escreveu somente o opusculo
em pr elo direitos da lynastia de Bragll,nll, intitulndo:
xuv
- P7'ognOStiCO, y 7'espuesta a una pregunta de 'un Oaballe7'o
muy ~1lu9tre som'e las cosas de POTtugal (1), Tambem escre
veu, e imprimiu-se na Hollanda, um vocabulario da lingua
Tupy, que Laet chamou Dicciona1'iolum nominum et 'Ue7'-
bm'um linguce Bmsiliens'is 'maxime comm~tnis (2), Hoj e o que
mais nos interessava era a descoberta do manuscripto d.t
sua Histm"ig, da Ame rica, que talvez ainda exista em al-
gum arcmvo da Hollanda, em Leyde, Amsterdam ou na
Raya,

IV

Posta de lado a questo do celebrado Camaro, no pu-


demos deixar de rect'ficar outros pontos de censura do
illustre Baro,
Ra na narmtiva da sublevao do Maranho differente
assere' que merecem reparo, como por exemplo: as rela-
es dos sublevados com a gente de Pernambuco (3); a eX-
citao luta por parte do governo Portnguez(4), na epocha,
to abatido, e em guerra com a He panha, e muito esperando
do auxilio da Rollanda . o munero de engenhos de Antonio

(1) Vide supm nota (1) pago 41.


(2) Este pequeno DiccionGl'io auda annexo Histo1'ia natm'al do
Brn1>il por MIll'cgI'av, coordenada por Joo de Laet, e pnblicada em 1648.
(3) Bll8ta ler-se o que no to.l. destas 1Jfem07-ias pago 180, to expli-
citamente declara Antonio Teixeira de MeUo para reconhecer-se a
i,nexactido deste asserto.
Havia na epocha tantas impossibilidades, que difficilmente se poder .
acreditar em suggestes estranhas em uma colonia dominada no mar pelos
Hollandeses, e por terra, mui afi:1>tada das suai> visinnas j notando-se
que o exito que teve, p'''im'i, er inacreditave1. E foi o exemplo do
Maranho que animou a revolta de Pernambuco.
As citaes de Barlreus,postfactu1n, nlo podem aproveitar contra a
verdade dos acontecimentos.
(4) Vide Hist07-ia das lutas, etc.liv. 7 pags. 171-174.
Os que soccorrero do Par ao Maranho, o lisero por outros motivos,
amisade, relaes de familia, o odio ao estrangeiro, e no por ordem
do governo da metropole, pois, se assim aconte'.Jesse, no abandonariiio
to cedo oa revo.ltados. Remava. na epocha grande anarchia no Pltl'.
XLV

Moniz Barreiros (1), e o silencio a respeito daql1elles que fa-


ro a alma da sublevao, e sem cujo auxilio e dedicao
seria impo ivel leva-la bom termo. O espao no he sufE.-
ciente para elucidar este' pontos, em que nos parece ha
notaveis equivocas na na,rrativ~.
Mas sem duvida ha grave injustia no silencio do nome
do principal autor da sublevao, e sua alma, o pache Lopo
do Douto da Companhia de J e us, cujo ervios eminentes
o attestados com a nobre declarao de ntonio Teixeira
de Mello (2). Que Berrdo o fi es e, comprehende- 'e, era um
:'Ldversario daquella corporao (3), e transtorna a historia,
confunde a epocha e o fa tos (4), para no come sal' a. re-
leva,ncia dos actos que tanto renome dero em 1:aranho
aos filhos de S. Ignacio.
No e comprehende o mesmo intere se em um escritor
deste eculo, em facto occorrido. ha mai d dusento
anno, Su~vm cuique parece-no er a boa regra. Ma veja-
mos o defeitos do no o hi toriador.
Em verdade o padre J o. de Moraes, referindo- e ao
morticinio dos Hollandeses, nessas temiveis vesJ:lera itapi-
mwinas de 30 l1e Setembro de 1642, lana por certo um
as. erto demasiado al'ri cada, quando diz que nenlmm Hol-
7andez escapra com vida (5).
Mas havendo escapado mui poucos, como diz chade no
seu rela,torio (6), e sendo essa a lenda, de que o Conde da
Ericeira contemporaneo, foi o primeiro publicar (7), e de-

(1) Vide HislO1';,a elas httns. etc., liv. 7 pago 175.


Antonio Moniz Bal'l'ei.l'os possuio. somente um engenho. Em um dos
cinco proprietm'ios de taes estabelecimentos. Berrdo - Annaes n. 810
e seguintes, com quem se conforma o puru'e Jose de Moraes no to. l.0
destas J.lfenwla' pags. 166 e 234.
(2) Vide to. l.0 destas Mem01'ias, PlLg, 180.
(3) Vide Jornal ele Timon to. 2, pago 413.
(4) Vide Berrdo - Annaes ns. 4~1 e 413.
(5) Vide o to.l. de tas .ilIln1Wrias, pag, 157.
(6) Vide inf1'Cl, pago 45l.
(7) Vide i1if1'Cl, pago 425. Ericeira diz: , no ficou Hollandez que com
a \Tido. no pagasse os delictos commettidos. " .
E mais abaixo: .
" Degollaro todos os Hollandeses que guarnecio o forte (Calva-
j'io) . ._., perdoaro o..lguns Franceses. "
pois BelTdo (1), porque obrecarregar to somente o
historiador J esuita ?
As criticas circumstancias em que se acbavo os .'ubl
yados do Maranho os impellia essa crueldade; ero pou-
cos, e no podio di pr de fora para guardar prisioneiro.. ,
e por outro lado, deixando-os vivo " io augmentar as cohor-
tes inimigas. A lenda que chegra at ao meado elo ultimo
seculo, autoTisava de alguma sorte a affirmatiya.
Tratando do itio em que Antonio Moniz apertou a forti-
ficao de S. Luiz, o douto autor da Llttas dos Ho71andeses
parece querer desyendar um elTO na nalTativa do padre
J osP de Moraes, quando menciona as ca. a' de Antonio Vaz,
e n;to S. Antonio de Mo?'u de que trata a arta ele Pedro
Bas, o chefe politico holiandez do Maranho. Como neste
tomo reproelusimos por extenso esta carta (2), poder- e-ha
confrontar o que relata o nosso historiador com a exposio
de Pedro Eas, e nenhuma contradico existe.
O padre Jos ele Morae diz: - que necessitando o suble-
vados senhorear-se das oasas de Antonio Vaz, itas ento no
canto que hoje faz a rua que yai para . A.ntonio, encom-
mendou esse glorio O encargo ao capito Pedro da Co ta
Favelia, havia pouco chegado do Par, que o conseguio.
Na epocha em que escreYu o padre Jo de Morae', isto
he, em 1759, a rua chamada do Egypto ja se estendia alem
elas esquinas da do Ribeiro (3) fronteira calada que vai
para o cae da Sagrao (4), ponto em que, . egundo a plan-
tas de Barlceus e do carmelita . Therel:ia, se achayo os 111-
timos edificios daquella parte da cidade. Ora he claro qu
alli estayo a ca. a de A.ntonio Vaz: e 'o dou edifi-
cis mui proximos fortificao holiande a.
Se esses edificio no ero as casas de ntonio Vaz,
ento outro no podio ser eno os da quina da tra-
vessa de Joo do Valie fronteira a rua da Viola ; o que
principio no pareceu, mas, presentemente, examinando

(1) Berrdo - Annaes ns. 816 e 820.


Neste n. tratando do assalto do Oalvario, diz que escaparRo alguns dos
defensores em consequencia dos "effich 3 rogos de um virtuoso sacer-
rlntc. " Era o padre Lopo do Oouto ou Benedicto Amodei.
(2) Vide inf1'a pago 444, e notas 2 e 3.
(3) Tambem se chama-1zla das Ba1"1"ocas.
(4) A rua denominada do Trindade.
XLYTI

melhor a que to no pronunciamo,; pelo ponto da rua fron-


teira a do Ribeiro.
Podia tambem tomar-se a rua immediata na ca a
fronteira -igreja de N. . do Ro ario, ma e sa posio no
'e conforma com a plantas de Badam e de FI'. Jo de
S. Theresa e ficaria distante para o emprego da artilha-
ria; notando- 'e que ainda no seculo pas~ ado, talvez a Tua
com direco a . .ntonio no fosse ainda a actual, embora
ja existi se a igreja do Oarmo velho (1). hoje Ro al'o.
Quem l' a narrativa de Berrdo e a do paili'e JoS' de
Moraes comprehende que .ntonio Moniz Barreiro, entl'an-
do em S. Luiz occupra o ponto elevado do actual convento
do Oarmo. E te posto foi cingido com uma meia lua, para que
o sitiantes, diz Moraes, pode sem re istir a qualquer re-
pentino a alto: por tantc pre Sll. construiro um re
velim daquelia forma para defe 'a.
Entre e te acampamento e o forte Holiandez havia de in-
termedio o e pao occupado hoje pela quadra formada
pela ruas de azareth, largo e trave 'sa de Joo do Valie
e rna do Egypto, que ento cOlltinha alguns edificios. Pa-
rece que junto a obra, adiantada' de 'se revelim estava o
quartel do capito-mr Autonio }IOlliz Barreiros, ituado
provavelmente no espao occupado pelas ca 'a fronteira
ao largo elo Oarmo proxima da rua do Egypto.
_ Depoi da cheo-ada do ,oceorro do Par, \te que Moniv.
Barreiro' manda tomar po, se das ca. as ele Antonio Vaz (2),
proxima fortificao holianeleza pelo capito Pedro da
Oosta Fa alia, po~io que por orpre'a tomaro o Hol
lande'e . quuudo lhes veio o <LlL-rilio de Pernambuco "
pretendendo com Ome mo arrojo a ,altar o Oarmo for
repeliido com muita perda..
Pedro Ba limita- e a di ar que tomado o quartel ou
trincheira da gente do Par, por tanto a mesmas casa de
Antonio Vaz, de onde ofi'rio grande damno, mataro toda
a guarnio que e tava naquelia trincheira, refu 'iando- e
o que havio ante abandonado o po to ao qnartel d

(1) Carmo velho. "Vide Cesar Marques - Diccionm'io hist01'ico-geo-


!J'I'Clphico ela p?'ovincia elo lJ1ctI'Clnho, art. C01tVento ele N. S. elo Cm'mo,
pa~ 153. .
(2) Vide Flislo?'ia ela lula elos Hvilancleses, etc., liv. 7 pag, 177, hi
'0: dir. lue a geute que veio do PlIl' em SOCCOl'l'O d .Moniz occnpara o
r\llrtrlel do Oarmo. o qllO be inexacto. B lTdo - .Anllaes ns. 848 e 84~.
XLVIll

S. Antonio de Morus (1), sob o commando, ou onde se


achava o capito-mr.
Se se no trata de um edificio dedicado ao culto de um
Santo, como uppomos (2), talvez com aquellas palavras,
Pedro Bas quizesse referir-se ao proprio quartel do Antonio
Moniz Barreiros, que seria alguma ca'a nas immediaes do
Carmo,mas dentro das trincheiras, assaltadas aps a toma-
da das casas de Antonio Vaz, posto de onde tanto damno
se causava aos sitiados.
Mas Pedro Ba vivendo, havia muito tempo no Era iI,
devia saber fallar o portug;uez, ou pelo mellO entend-lo; e
sendo bem conhecido na 'colonia maranhen e o capito-mr
Antonio Moniz Barreiros pela gente da governana hollan-
desa, ja pelo cargos que tinha exercido, ja por ser um do
principaes proprietarios da colonia, pois era senhor de um
dos cinco engenhos existente naquella epocha, no com-

(1) Vide 'ini!m, nota 3, pago 444.


(2) J no, pa~. 444 deste volume uota 3, demos uma explicao
quanto a deoomlD:1o do ediiicio occupado por Moniz Barreiros, a que
additaremos algumus observa('es.
Com quanto l\ cidade de '. LIli7- om'esse differeoted tl'aOsl'orUlaes
depois da occulJuo llollandesa, e pouco se ache escrito acerca do an-
tigo plano, todavia do que disem alguns escritores, e pode deduai!' que
eutre o largo do Carmo e o fim da rua do ]]g~rto havia um hospicio ou
pequeno convento de S. Antonio, que desappareceu depoi de fundado o
novo no local onde ainda hoje se acha.
Berrdo, no .Annaes n. 771, diz-que os Hollandeses depois do sacri-
lee;io praticado com a imagem de N. S. do Destel'l'o em sua Ermida, logo
auiante pratical~lo outro com a de S. Antonio, o que indica que o con-
vento nao era no local de hoje. Oesar Marques 00 DicuJna?'io geo[J?et-
phico d.o Metmnho, art. Convento de N. S. do Oarmo, diz-que o bairro
que hoje se chama ?'lGa do Eg.ypto, compe-se de terrenos pertencentes
mesma Ordem, uns doados pela Camara, e outros comprados ao Oonvento
de S. Antonio.
Por outro lado, o padre Jos de Moraes no to. Ln destas Memo7'ias,
pago 142, diz - que querendo Bento Maciel Parente fortificar a cidade
pelo lado de terra, mandou lanar um muro ou trincheil'l1 que corria da
Praia pequena, detraz da cerca do collegio dos Jesllitas (~ ) at R Praia
grande, ficando de fra os dous conventos do Cm"lno e de S. Antonio, mas,
dentro, o mesmo collegio.
Esta declara3"o indica Ilue o convento ela S. Antonio como o do Oar-
mo ero mui visinbos da fortificao, poi. se ento fl'a remoto o pri-
meu'o, escusado seria elelle tratar.
Portanto o quartel de Antonio Moniz Barreiros ara no antigo convento
ele S. Antonio chama]o " . .A ntonio o JYlon7'o, ou elo Nto, visinllO elas
1.rinchoira elo Carmo.
XLIX

mettel'ia no momento nm erro to gros eiro, "e de feito no


houvesse na localidade um edificio proximo ao Oarmo,
onde se aloja se o chefe dos sublevado com tal denominao.
Por outro lado, conhecendo, ou devendo Pedro Ba co-
nhecer, e perfeitamente, a topographia da pequena cidade
que governava, havia dez meze., a designao do quartel
do Oapito-mor pelo nome de Santo Antonio de M01'US, indi-
ca que a habitao se no era uma capella, pelo menos
conteria algum nicho, de particular devoo.
Mas, como j. notamos, a narrao do illustre Baro he
oppo ta ao que dizem BelTdo e J os de Morae a iro co-
mo Pedro Ba , e at vai contra a ordem ch.ronologica dos
factos, e por isso aqui a copiamos (1) :
" Oom esta victoria (a emboscada O1!Jie SUCC1umb1t o escos-
sez SandilJin) (2), que mini trou ao ublevado armas e mu-
nies, animou- e Moniz a ir sitiar a cidade.
" Oom a pou a gente que lhes re tava, limitaro-se os
Hollandezes . guarnecer a parte alta da cidade, entrin-
cheirando-se nas immediaes do actual palacio do go-
verno (3), e deixando de fora varia casas e igrejas (4),
inclusivamente o convento do Oarmo, qne logo occupou
Moniz, ordenando que outro e post.'l.S em em um edi-
ficio no canto da rua que vai para . Antonio (5).
" Seguiro-se alguns tiroteios sem nenhuns resultados at
que no dia 3 de Janeiro chegaro do Par, em auxilio
dos Maranhense ,o capites Pe.dro da Oosta Favella, Ben-
to Rodrigue de Oliveira e Ayre de Souza Ohichorro,
em cincoenta e quatro cana , condusin lo 113 oldado,
600 indio (6), alguma artilharia (7) e poucas munies.

(1) Vide Historia da luta dos Hollandses etc., pago 176.


(2) Sandelin. Vide ifm, pago 426, nota (1). ,
(3) Comprehendia maior espao. Vide sup1'a, nota (2) pago 48.
(4) Vide nota precedente.
(5) Para esse edificio, as casas de Antonio Vaz, foro os auxiliares do
Par com Pedro da Costa Favella, que era lIatural de Pernambuco.
Vide o pa,p.re Jos de Moraes no to. 1.0 destaa 1l:[emo1'ias, pa&". 162,
de onde foro transcritllB aa palavraa: "no canto da rua que VaJ. para
S. Antonio. "
(6) Berrdo nos Annaes ns. 845 diz: 700 indios, de accordo com o
Conde da Ericeira (il1fm pago 427), e o padre Jos de Mornes no to. 1
destas Me1n01'ia , pas:. 163. . .
E neste ponto u versao portngnesa he preferive\ flollandeslL.
(7) Alf}IG11W m'tilltmia. Nenhum dos nossos chrouislas sustenta S8-
7
L

,Todo e alojaro no quartel do Carmo (1), pas ando ()


Moniz com os eus para o outro po to (2), com avanadas
onele hoje estIo a igreja do Rosario e o recolhimento da
AnnUllciao (3), "
Nestes pequeno periodo ha infeli mente muito eqm
voco., eDl duvida involuntario, e no se podem apoiar
no testemlmho de autor algum covo, e nem, po..terior,
portnguez ou hollauelez.
Pec.ho Ba , o chefe politico da colonia, desele o momento
da conquista em 24 de Jovembro de 16.41, tratauc10 da
emboscada do Ootymirim (4), ap' o abandono do aSR,dio
da fortaleza de ,Philippe, dominada e melh01'ada pelo:
Hollandeiles, diz na ua carta de 31 d Janeiro de1643
que a expedio que fra picar a retirada ao 'ublevarlos
tinha por chefe o capito Jacob Ever ,e uccumbil'a uo
me.'mo lugar que a anterior, cODllJlanelada por andalim
( SCll/ulelin).
O padre Jo de Morae , lmico lllstoriador que fixa bem
e::ie ponto da terrivel emboscada do Coty-miI"irn, cha-
ma . es e chefe Joo L1tGas, capito que tinha sido cIo
forte do Ce.r ao passo que o conde da Ericeira e Ber-
relo o trato simplesmente de gove:rnadm' do Cear, e
Gayoso de commatndnnte do Cear.

melhallte assero, apoiada somente na carta de Pedro Uas (i?ifm pag.


(43). Essa artilharia, que servio 00 ponto 'dus casas ele Antonio Vaz, foi
delos colonos mandada vir do forte do Calvario. Porque ne. te caso pre-
ferirse a verso H o\landesa ?
Vide Berredo nos Annrtes n. 46, e o padre Jos de ~lol'lles no to. 1
destas Memo?-ias pag, 162.
(1) lie natural que parte da fora ficasse 00 quartel do Carmo, indo a
outra para as casas de .Antonio Vaz.
(2) Inexacto, pelo que ja fica dito nas precedentes notas, pois o outro
posto ero as casas de Antonio Vaz, e niio era o local de que aqui se
trata, maxime tendo em 'vista as plantas de Barla.ms e de FI'. J osepb de
S. Theres3i,
(3) Vide a nota precedente. As avanadas ero mais proximas da for-
tale a,em po LO que ficava a cavn11eiro della.
(4) Viile Hi t. das tlttas dos Hutta:ndesl/. pag.] 78. A.bi diz inexacn-
mente o autol', o seguinte: - ,Era as cabeceil'as do Cotim, lugar onde
havio conseguido a primeira victoria. "
O combate nas duas HllIboscadas nunca leve [ucrUI' JI(f,~ cabecei?'u. do
rio Goty-miI'Ul. e l~elD do outro <Joty ou ui!. '"
LI

a vel'dad deve-,.;' lJl'I~fel'ir, em i rcum:'itaneiae como


e ta , a verso hollandeza e de autor covo e testemunha
ocular, de outro que escreveu sob informaes de al-
guero (1), um seculo depois. Mas quantas vezes um indi-
viduo he conhecido na ociedade por dou numes? Podia
o nome de Joo Luca er o appellido des 'e oflicia1, e
as im ser conhecido pela populao de S. Luiz. o he
invero imil, tanta veze as im acontece, e a contradico
que parecia ser to nsoluvel, de apparece.
.A. verdade inteir~t, neste ponto, no podemos hoje saber.
O erro do padre Jo de Morae pode no er seno appa-
rente. Pan, abono da veracidade do historiador, que no
podia ter intere se em ubstituir um nome por outro
temos ua plena ju tificao no que elie diz pago 168
do pT'im iro tomo de ta Me))WTias, onde tratando do bi~
cainho Pedro De,'saes, que nunca pre tou juramento de
fidelidade ao governo Hollande:3, apontl). Loureno de Ly-
ra cuja noticias manu. crita des a famosa luta, fra uma
da fonte em que elle, o padre Jo de Moraes, bebra os
factos que assignala.
Portanto o no so hi toriador, na qualificao do chefe
holiandez que commandou a egunda partida que succum
biu no Outei?'o da Oruz, junto ao rio ou riacho Ooty-mi-
rim, est de harmonia om o onde da Ericeira e com
Berr-do, e, e declina o nome de e chefe, he fundado em
memorias da epocha, quc entendeu que podia pre ta,y
credito.

E ja que temo t.ratado de verificao de facto historio


os con e1'l1ent S f pI' vincia lo Maranho, consinta o
douto en 'ar no intere se da mesma historia, que dipcuta-
mo dons pautas de que e occupa no livro 7 da sua Histo-
?'ia das lutas com os Hlfandeses, em que se contesta a Ber-
rdo a exactido de ua narrativa.

(1) Vide o to. 1 uestns 1J'Iffllt01'ias 11 pag, 168 no fim.


LU

Berrdo a,' egura nos Annaes n. 917 que o Hollandese


encravando toda a artilheria do forte . Philippe, partiro
em 28 de Fevereiro de 1644 para uma da Antilhas, a ilha
de S. Chri tovo.
O illu tre cen 01' a segura, que ao contrario, dirigiTo-se
para o Cear onde desembarcaro, e por terra seguiro
para o Rio Grande do Norte. Infelizmente no indica de
onde colhra este facto, mas suppomos ser a obra de Fr.
Domingos Texeira- Vida de Gomes F1ei'f'e de Andmde, a
fonte dessa noticia, na p. 2 liv. 2 pago 189 n. 41; onde, tra-
tando deste aco{ltecimento, diz: - " que s ao mar se divi-
t..'l.vo algumas velas que sahindo da barra se alargavo da
'errafeitas na volta do Sia'f. " Mas e te religioso Augu-
tiuiano he silente quanto viagem do Rio Grande do Jorte.
Por outro lado: como he que das altura da cidade de
S. Luiz se podia saber que um navio que sahe barra fra,
pretende navegar para o Cear? Pode somente assegura-lo
quem no conhece aquella cidade e seu porto. Accresce
que tanto era proposito dos Hollandeses do Maranho re-
fugiarem-se nas Antilhas, que Pedro Bas claramente o diz
em sua carta de 31 de Janeiro de 1643 (1).
Parece-nos que nesta rectificao ha um equivoco. Em
verdade Berrdo diz no n. 917 que com eifeito os Hollan-
deses, em navios mal apparelhados, eguiro para . Chris-
tovo, ma. tambem declara no n. 919 que os indigena que
os acompanhavo, e ero perto de 80, foro lanados nas
praias do Camucy.
Berrdo, no que exara, copia fielmente o Conde da El'-
ceira na Histo?'ia de P01tugal Re.stau1ado to. 2 pago 33,
que, sendo coevo, estava em condies de saber perfeita-
mente a verdade (2).
O caso, as 'im narrado, tem nosso ver todo o funda-
mento. .
Nos navios redondos que difficilmente podio, contra
vento e corrente, faser a viagem para o Sul, foro o Hol-
landeses para S, Christovo, e os indigenas seguiro para
sua terra em algum barco de facil mareao, demandan-
do-se o porto mais vi inho, por quanto no se poderia ir
mais longe por causa da extrema difficuldade da navega

(1) Vide i11fm prg. 447.


(2) Vide infm pago 432 e 433.
LUI

o (1).. Ora nesse barco, qualquer que fosse, podiito ir


alguns Hollandeses.
A. autoridade do Conde da Ericeira, que occupava em
Portugal uma grande posio o:fficial, em quem apoia-se
Berrdo, justifica este historiador, alis pouco sincero em
outros pontos.
Demais tudo se concilia, por quanto houve quem fosse
para o Cear e tambem quem seguisse para S. Christo-
vo, o que Fr. Domingos Teixeira no examinra com
cuidado. Continuemos.
Nos ns. 920-923 dos Annaes, diz Berrdo, que os indi-
genas do Cear escandalisado do procedimento dos Rol-
landeses no Maranho quem servio, surpre'hendero
e degolaro a guarnio Hollandesa do forte do Camucy,
procedendo do mesmo modo com a de outro que demorava a
10 leguas mais para o uI, em Je'I'icoacoa?-a, o chamado bu-
?'aco das Ta'fta?'~l{fasj e depois praticaro outro tanto com a
do Cear, mandando chamar Antonio Teixeira de Mello
para entreg;arem a fortalesa.
Este facto tambem he Danado pelo Conde da Ericeira
na Hist07'ia ele P07't~tgal Restaumdo (2), de quem Berrdo
copa.
O douto censor, em nota, contesta a veracidade do
facto, por quanto, em sua opinio, a entrega da fortalesa
do Cear aos Portugueses, SO?ne'lLte e fez depois de ren-
dida a praa do Recife.
A.inda ne te ponto, lIa notavel equivoco da parte do il-
lustre cen 01'; por quanto esse acontecimentos tanto se l'ea-
li 'aro que chronistas nos os como Hollandeses o reconhe-
cem. Assim o padre Antonio Vieira na sua Relao da Mis
so da se?"?'a de lb'iapaba, escrita muito antes da obra de
Bel'l'do e talvez da do Conde da Ericeira, reproduz o
mesmo facto, com alguma!:! differena que no altero o
ftIDdo. Conil'onte-se o cap. 2 de' sa Relao a pago 459
deste volume com o ns.920 e 922 dos Annaes de Berrdo,
e bem assim com a exposio do Conde da Ericeira
pags. 432 e 433 injm.
Precisamente) pelo que respeita a tomada da fortalesa
do Cear em 1644, Barloous he accorde com os nossos

(1) Sobre n difliculdade desta navegao vide i'l'lj'?'a a pago 465.


(2) Vide il1j'1'CI pago 433.
LIV

chronists, assim como Netscher na ua obra - Os Hol


landeses no B1'asil, a pago 132 e 133, expres andose
nestes termos:
" Os movimentos sediciosos, que tinho apparecido nas
capitanias de Pernambuco e do Maranho, foro seguido
da perda do Sia,r. .A. guarnio da fortalesa do Siar Cro o
seu commandante Gedeo Morritz foi degolada pelo ln
dios em Janeiro de 1644. "
Barloous he mais explicito (1), por quanto, depoi de
narrar o modo porque Jorge Garstman tomou a pequena
fortalesa do Cear (2), a margem esquerda do rio do me,-
mo nome, que Joo de Laet em seu mappa chama lfu-
potern (3), provavelmente Ypety ou Ypoty rio Poty; tam-
bem trata de sua alliana com o principal Algodo ( .ma-
ny), e do de a tre do commandante Gedeo Morritz, em
Janeiro de 1644, ante da entrega da fortalesa do Mara-
nho aos colonos Portugueses (28 de Fevereiro); pelo que
o mesmo Barloous no torna culpa desta revolta aos habi-
tantes do Maranho (4).
Gedeo Morritz era desde muito commandante da
fortalesa e districto do Cear. Havia, diz Barloous, de,'
coberto as salinas de Upanema (Mo sor6), a que o pn.-

(1) Eis as palavras de Barlreus pag, 290 da grande edio:


" Post hrec novis motibus concussam Sia1'am accepit Nassovius, ulJi
excita in bellum Brasilianorum agmina castrum Belgis infessum pel'
dolum occupavere et solo requavere, tI'ucidatis directore GedeolJe
Morritzio, prresidiariis omnibus, etIam his operariis, qui non longe nd
salinas Vpanemmre fluminis consederant."
(2) Este facto'deu-se 20 de Dezembra de 1637, Vide Me'lnol'ias
dia1'ias, etc. pago 258 e 2-8 v, e Barlreus pag, 66 dagl'llnde ecliii'o.
(3) Esta denominl1o ainda vem provar o facto d colonisn.o PeLi-
guar no paiz visinho Mucul'ipe, ponto importante para a commllnicaio
dos indigenas com os navios Europeus,
(4) Barlreus exprime-se n.ssim pa&'. 290 da citada edio :
" Nec tamen hujus Ilefarire seditioms auctores habelJantur Maranho-
henses, licet proximi et contermini, verum culpa nostratium in subditos
ferocire et duriori imperio imputabatur."
E continuando accrescenta estas reflexes:
,. Equidem nihil magis exaspel'>\t iratam plebem, quam ferendi impa.
tientia. Ipsis agrestibus feris similis est, quas si arctioribus vinculis
constringas, insauiunt, si laxioribus, quiescunt,"
Parece que por esta e outras reflexes os Hollandezes voltaro s
pazes com os indigenas do Cear, como diz o padre Antonio Vieira na
Relao da Misso ela se1'1'a daIbiapaba cap, 2 pag, 4-59 i'tlfm,
LV

dre Jos de Moraes chama sa1iJnaB de Jaguarwe, tratando


da viagem do padre Francisco Pinto (1).
Estas salinas faro postas cargo de Elberto Smienthi,
e deilas esperava-se, pela beila qualidade do producto,
grandes reditos (2) o que, para um povo pescador como O,
Hailandez, era um grande achado.
Erra. Janeiro de 1644 os Indios do Cear, no por escala-
da mas por surpresa, como tambem diz Berrdo (3), toma-
ro a fortale a, trucidaro Morritz, com a guarnio, bem
como os operaras que trabalhavo nas salinas de Upane-
ma (4). E a i to no se limitaro,
Chegando do Maranho um navio, provavelmente o que
fl'a lanar no Camucy os Indio que alli tinho servido os
Hoilandeses, e em que vinha o funccionario que ali servia
ele chefe politico, Ed~7" como chama Barlceu , os Indios re~
beilados recebero os novos chep;ados enganosamente, e
lhes dero a mesma sorte que Morritz e seu compa-'
nheil'os (5), E se chefe politico era a nosso ver, Pedro Bas,
que tanta crueldadas e sacrilegio praticou, e permittira
praticar no Maranho (6).

(1) Vide o to. 1 destas Mem01ia.~ pago 29.


(2) Vide Me1ll.()1ias diarias, etc. pago 25 V. Barlreus pag. 224 diz o
segUlnte ;
,,[fic inventre per Gedeollem Mourisium salinre npnd Vpanemmre
et posteu. Elberti 'mienthi CUl're commissre, magnorlllD redituum spem
fecre."
(3) Berrdo nos Annalls n. 922, assim como Ericeira - Histuria de
P01'lu{Jal Restaw'ado pags. 432 e 433 in:fra,
(4) Vide supra nota (1) pag, 54.
. (5) Southey na Hist01'ia do B1'CIsil to. 3 pag. 63 no interpreta bem
a Barlrens cujo testemunho im'oCR, pois exprime-se neste caso desta
forma;
" .... e um destacamento vindo com UlU official hollandez a inspecoio-
nar o estado da guarnio, cujo ex..termiuio ignorn.va, foi cercado 6
trucidado. "
Eis o que diz Badreus :
. "Eadem calamitas mansit LEdilem Mal'anltoense'ln, qui cum iu locum
Ist~m infelix appulisset, militum censUlU iuiturus, ignarns eornm, qure
aCClderant, in rebellium manus incidit similique cum suis fato periit. "
Houve engano da parte de Badreus. O Edil do Maranho vinha dali
em f~ga, e no para faser inspeco de foras militares, ma.'time sendo
funcclOnal'o civil ou poli tico. . .
(6) Vide mais adiante o que se diz aobre este personagem.
LVI

o mesmo ainda praticaro os indigenas com o capitoJ


guarnio e passageiros de mll navio holIandez, que ali
apartara para refrescr, escapando apenas trez marinheiros
por. e esconderem nos matos (1).
Barlreus d como causa desse desa tre a maneira barbara
porque procedio os HolIande 'es com os indgenas (2).
Esta mesma causa influio no Maranho, por isso que o cu
nhado de um dos chefes militares que ali serviro, Gui
lherme Negenton, entregou aos selvagens vinte e quatro
colonos, sem nota, que por elIes foro devorados, pelo
que, segundo o mesmo escritor, o proprio governo HolIan
dez flo punir (3).
A. no ser esta barbaria nunca os HolIandeses poderio
temer cousa alguma dos indigenas, por quanto no Cear
o Conde de Nassau no permittio que elIes fossem escra
Nisados (4);' e do mesmo modo procederam no Maranho
Lichthardt e Koin (5), ordens que, parece, bem cmnprio, ou
propagou a nova, o commandante Sccadeo (Schade) , que
tomara o forte do Oalva1'o (6), para affastar dos colonos Por
tugueses a affeio dessa gente.
Portanto, o que disseram Berrdo e Ericeira quanto
esta revolta, pde-se acreditar, bem que o facto do Ca

(1) Barlreus diz o seguinte pago 290:


"Etiam'liburnicarum nostrarum una cum in portu staret, ad refectionem,
lembo in terram exposuit naval'chum, centurionem et vice-eenturionem
et milites aliquot gregarios, qnos ni! tale opinantes, velata blanditiis ira,
obtruncarunt. Nautici nes, qui se silvis abdiderant, evasere, dejectam.
que arcem et rudera adspexere. "
(2) Vide sup"a nota (4) pag 54.
(3) Barlreus p~. 241 confessa o barbaro procedimento dos Hol.
landezes no Maranhao nestes termos:
" Oausre malorum in Prrefectum referebantur, qui viciorum cumulo
conspicuus, intemperantia in suas ferocia et inhumauitate, ill iram et
vindictam, quietos moverat.' llli e cognatis et secretis Guillielmus
N egentonius (Negenton) Luzitanos viginti quatuor (24), nulla pe1:fidia
notos, pudendo scelere ia terram exposuit, quos l'apujarum anthropo.
phagorum crudelita~ oh gentis odium extemplo discerpsit. Ob hrec captus
et in earcerem detrusus Nemesi servatus fuit."
(4) Vide Barlreus, na grande edio pag. 226.
(5) Foro estes os chefes das foras de terra e mar que partiro do'
Recife .em 30 de Outubro de 1641 na frota Hollandeza, para 11 con.
qnista do Maranho. Vide Badreus, obra citada, pago 223.
(6) Vide ifm, pago 449.
LYII

muey no tive e relao 'om o do Cear, e e te pI'eeedera


o do Camuey e de Jel'icoacoara: e talvez tivessem, mas
por motivo inver o do que attribuem o chroni ta Por-
tugue e actuando a me. ma cau a, erio o. indigena
do Cear que influi em obre o do Camuc)" e no est~s
obre aqueU " com temoI' da r pTe 'alia do Hollan-
de e., Pa emo. a outro a mnpto.
Berr'do no Annaes n. 929, tratando da po 'e do go-
verndor do Maranho Franci 'co Coelllo de CarvalllO,
que teve lugaI' 7 de Junho de 1646, diz que por e. e
tempo: - pa1'ece que .ia havia pas ado da pTe ente vida
o capito-m6r .Antonio Teixeira. '
Funda Berrdo a ua conje 'tma no acto da po e er ceIe
brado somente om a~ . tencia lo mini tr s ou empregado
da Camara, e em apre ena elaquell capito-m6r fJ.uem
Franci co Coelho de arvalbo veio reneler. eonje tlUa.
ba eada no in trumento authenti o de sa po se que Ben-
do natmalm nte con ultou, p-rece ter a pro ump o rIa
verdade comquanto a au enoia. podel'- e-ia tambem ex-
plicar pela mole tia ou outro motivo ju. ti:fi avel.
conjectm8 ele Berrelo he acompanhada da a:ffirmati-
va do padI' Jo ele Morae (1) e ile Gayo. o, que na ua obra
Lambem u tenta o ia to (2), i .. to he, que e e heroe pouco
obrevivera ao eu trmuph . A traelio foi empre e.811.
Entretanto o mesmo padre J o. el l\{orae mo trn m
outra atte ta~o d heroe datada. de 14 de Mar o ele 1647.
que no havia fallecid em 1646, amuo qu no haja no
algari mo 7 erro de copia, O principal neste ca o he que
Antonio Teu ira de Me110 elurou pou o tempo, ap ua
victoria (3).
He natural, que o pe ado trabalho da ultima guerra
com o el go to do iniquo pr ce '0 que lho moveu o elo-
uatario ele Tapuytapera (Alcanta1'a,) Antonio ele .A.lbu-
querque Coelho de Carvalho (4), primo-iTmo elo eu
uece 01', lhe abrevia' e o dia::; ele xi teneia,

(1) Vide to. 1.0 desta Mellw/'ia,;', pag. ] '19.


(2) ide Compen(lio lti torico-politico do p?'incipio ria lalJOll?'rt do
ltlm'anho n. 69 pan'o 87 e '. Gayo o cinge- e Ulais ao 9ue escreveu.
Berrdo no ns. 923 e 929.
(3) Vid o to. l.0 desi.as l1fmnol'ias, pag". 1 1 c ] 2..
(4) -Vide Berrdo - Annae' 11. 1150.
Mas,,. todos o' Ja.dus que m.ilitio em pr da conjectura
bem fundada de Berrdo e da affinnativa do padre J o,
de Moraes que contava em eu favor a tradio de "ua
ordem to querida do capito-mr, que naturalmente foi
spultado na re pectiva igreja, oppe o illu tTe cen,'or a
seguinte peremptoria excepo.
" Talvez como tenue indemni a'lo de tanta inju ti a,
rei, depois de ?'esta~t1'ado PeTnambuco, vendo ntolli Tei-
xeira de' Mello redu ido pobrer.a lhe fez merc (por
carta do Iode Dezembro de 1654) da capitania do Par."
Examinemo a excepo. o he natural que ap er-
vio' to brilhantes quea.crte de Li ba, por mais ingrata
que queiro fazl-a, reserva se a recompen a de homem
to benemerito para dez annos depoi . .A. politica antiga
no era to boal e nem pouco generosa. Premiava a seu
modo. O premio do heroe Maranhen e foi como o de Joo
Fernandes Vieira, Vidal, e outro . Tivero po tos elevados
fra do local onde exercio propria influencia.
sim veio para o Maranho Francisco Coelho de Car-
valllo, e Antonio Teif'-eira de "'lelIo pas aria a ervir no
Pcl.l-, onde a sua influencia no tinha a importancia do
Maranho (1). Na data da carta rgia ha uma vi ivel tran -
pORio de algarismo pois em luga.r d 1654, dever
ler-se 1645. Um exame mai detido nos archivos de Li -
be.o onde e colheu es a~data, mo tr ria a verdade do qn
acabamo~ de demou trar.
E note-se que ainda que Alltomo Teixeira de Mello
fosse nomeado Capito-mr do Par, dependia o eu exer-
cicio do termo da admiuistrao de eu predece.sor. De
ordinario o. admiui h'adores da Capitania' regio por
um triennio, e muitas vezes bavio dous e trez j nomeados
que e. peravo a na vez, como o douto cen 01' reconhece
em . ua Histo7'ia geml do Brasil (2). Era. bem deplora-

(1) Talvez a carta regil1 SUpl'll citada fosse Ia.vruda, e licnss' sem ex -
euciio, ou em razo do fallecimento 'do nomeauo, ou por outra circums;
tl1lcia, hoje ignorada.
(2) 'fl-tando de Jeronymo de Albuquerque Ma.r[l.nhiio, e dl1ta do
eu governo como capito-mr do Rio Grande do orte, diz o douto
censor o seguinte na Hislm'ia geral 1([0 B1'qsil to. 2 pago 453 110ta (2) :
"As datas das nomeaes dos seguintes (capites m1'e) uuda
tem qno vcr com as pos e. : as veso- ostavo dons e trez com a
nomeaes nu mo. c . bica 01\ (CI1nin'l. '
LIX

vel, que e des em llomea 'e' d mai um individuo m ex-


pectativa para o me mo cargo!
O facto do regi tro de uma carta regia n:o prova sua
expedio poi ante da pos e podia er ca sada. O gov~r'
nador que ubst.ituio Antonio Teixeira de MeUo, no-
meou capito-mr do Par Paulo 'oares de AveUar (1).
que entrou em exercicio em 2 de Julho de 1646. I O
comeo da anno eguinte (1647) pa ou o cargo a eba-
tio de Lucena Azevedo, que veio com patente regia (2),
e porta,nto com um triennio para administrar. O de.pacho
de t:ntonio Teixeira de Mello no podia aproveitur no
apo. 1650, quando j no existia.
Ha ainda uma n\7.o para no admittir-se a data de
1654 em que e firma o douto cen 01'. "e 'e anno (25
de Ago~to) foi de pachado governador e capi~o-gel\eral
elo Maranh:o Pan Andr Vidal de Jegreiro (3), que
entrou em exerccio em Maio de 1655. Passando ao Par
m \.go to 'eguinte, aUi d morou-se at 'Dezembro t ndo
nom ad cupito-mr daquella capitania Luiz Pimentn
de Morae , que logo tomou po e do cargo (4) .
e poi' houve .e tal nomeao do l de Dezembro de
l654, Jegreiro no faria n o da faculdade que lhe lia,via
dado o governo da metI' lpole, ponl0 margem 11m beroe
como foi T ixeira de Mello. Ha nesta data uma mani-
fe ta imp l. ibilidad qU'lnto fi ua exi 'tencia, (5).

(l) Vide Berrdo Annaes n. 932.


(2) Vide Berrdo Annaes n. 933.
(3) Em 1651 houve reclamao da call1l1rl1 do 'Par para n rlivi o
das duas Capitauias com adroilllstrae" independente ; e a, iro .e re-
'olven por carta reO'w. de 23 Fevereiro de 1652.
Passados dons nnnos a metropole resolveu de novo II. reuniiio dlls
Oapitanias em um s governo, e veio .Andr Vidal de Iegreiro en-
carregado de executar es ll. deliberaiio, munido de todo os podere~.
Vide Ben-do - Annaes n. 99 e Baeoa - C01npp.ndio da, e-/'as
do Pa7' pago 73 e 1 e Ensaio CQ7'o[j7'apliico sob7'e a p7'ov'incia do
PCt7' pago 133.
(4) Viue B rrdo - AnlLaes n. ] OOn, o to. 1 de~ta J1IB7IlO1'jns
pags. 265 e 479.
(5) Se .Antollio Teixeira de Mello fo~se vivo, lllem de 1647, he de
pr,esul~lr que Francisco Coelho de Carvalho, que no completou o se
t~'leonIo como oo.emador da capitania O tivesse deixado por seu ubs-
tttuto em 164 quando f'alJec u. a, im ('omo nomeou outros.
ViUt, B lTdo - AmIrlP. 11. 942 I' lO. 1 de. ln,;: 21[e1n07' i{(. pago 2R3J
LX

Ao (;Q1l'luir o livro etimo do ii u int r , anLe trabalho


sobre a luta. Hollandeza, donLo uensor, fixauno a data
da partida do Oonde de r a sa,u d porto da Parah,'ba
para a Holla,nda (22 de Maio le 1644), di~ que a noticia
da rendio do Maranho chegra aPemambuco em ve -
pera de 'se acontecim nto. "aturalmente o conde recebeu-a
por via dai' A..ntillla ,porquanto do Maranho, nenhuma
l fi::ri e nem logo pod ria ir pela difliCl.udade da navegao
para 'otavento, o que lle abido, e outbey b m o reco-
nhece (1). :Mas aecre 'centa ainda o douto cen 01' :
" O governo da colonia e cramada ficou em mo de
trez conselheiro em'etos : Henrigue HClllnel, antigo ne-
gociante de Am 'terdam A, vau BoUestm;(,e, outr'm'a ar-
pinteixo em Midleburgo e o mesmo Pedro . Ba antigo
ou'rives, que tantas extm'ses p1'aticcfra ?w Ma?"OIItho. Era
'em'etario J. van BaJbeeck." ;ro to, 2 da sua Historia
geml do Brasil, pag . 2 e 3 tambem j. havia dado e ta
informaes,ba eado, ao que parece, na Mem07'as h:istO?'icas
daJYrovincia de Penu;urnbt(,()(), to. 2 liv. P pago 134 de Jo. ~
Benardo Fernand s ama. .
E::;te facto pouco importaria para o intere e de te
livro, todo relativb hist ria da provncia, qu outr'ora
uou::;tituio O antigo Estado do Mam,nhOj ma' o nome le
Pedro Bas, ill lnido no triurnvirCLto que sub tituio o Oou-
ele de Na ,'au m Pernambuco obriga-no um pequeno
exame, por no parecer que o individuo em lue to, e
he o mesmo que e achava em Maranho, no podia
fazer parte de~sa commisso do upremo Oou olho ecreto
Hollandez (Hoogen Raad) no momento da partida do
Oonde de J a au, a meno que no tives 'e deixado o
M~~ranho muito antes de 2 de Fevereir do 1644, o
qu por ora ainda se no demonstrou.
O que l!'ernandes Gama a severa no livro 5 de ua.
Memoric~s HistO?'icas e 't de accrdo com o que diz J et -
cher, na sua obra - Le Hol~andais atb B?'sil pago 135,
na' egninte palavTa.
" Todavia o c1L nefa ,to para o Bra iI Hollandez tinha

(1) Southey no to. B da sua HislQ?'io. do Ijm.sil pago 61, traduc-



o portugueza, diz seguinte:
" E <l0mo baldado fl'a ten~al' alcanar o Re(;.ife, demabdaro 11 ilha
d S. Cbl'istov"o:'
LXI

hegado. Em 6 de Maio d 1644 anri 'io abdicou fi


dignidade de governe dor do Bra il eerlandez ,na Se la
la se e do consellio do governo em Mauritsstad
(Rer:i/e) , em pre en,a de todo' os alto funccionarios,
commaudante militare e o clm; el).e ent'regou eeus
podere uas mo do Gro-Con 'elho (Hoogen Raad), que
e compunha do con ellieiro Hamrd, van B11Ue.slrctte e
Bas.
Em nota accre centa.
" Nieuhqf! pago 57, e, segundo este, outhey, indico
em lugar do nome de Bas, o _de van de?' B1trg; he um
erro. Tomamos os nomes conforme as ua~ assignaturas
no l'chivos do Reino. I
Entretanto Fl'. Manoel Calado que, na epocha vivia
em Pernambuco, e tinha relae com o' governante ,
publi and ve7'bo ad verb~t1n o Edital de e triumvirato
datado de 1645, apre enta por esta forma as a igllatu-
ra (1): Joo Bol . tmte Hen1'que Hamril, Pet1'e Vaes Joo
de Valbeq'1le. Quando mesmo o v fos e tomado por b
no nome de V u:s e Vcdbeque, aiuda <1 s im Ba s no
. e1'ia Ea . I o Oa 'i-dolo Lusitano liv, 6 n. 33, Fr.. Ral)hael
ele Jo. u. e 'cro e.o nome::; peJa .eguiute forma: Joo
Bole8trate, Henrique Mano l, p. uro Bc'1ce<, Joo Balbe-
ques. '
Toda quest.o .poil:; iii-a- e Dl aber e I!ecl,'o Bas o
bhe:B politic, o director lo :NIal'allho. o Edt1 de . Luiz
omo chama Barl U', he o me IDO que figtU'ou ne a com-
mi o admini. tradol'a (2). '
No t mo no pai'Z meio. para v rmcur e ta que to, e
de idi-la com perfeito conhecimento de cau. a, somente po-
deriamo encontra-lo na Hollanda, em eu archivo. Ma
temos dados para duvidar da identidade do per onagem. O
do Maranho a ig-na- e P. J. Ea o do douto censor pelo
contrario hama- e Pedro . Ea . Pode er erro de copia ou
ele imprensa: ma , como prova-lo?
Nenhum chronist portuguez ou hollandez a egul'l1 que
o Pedr Bas uo l\branho volta e para Pernambuco no
interval10 de 31 de Jalleu'o de 1643 2 de Fevereiro de
1644, ob qua.lq.uer pretexto, Tudo faz acreditar con-
trario.

(1) "ide o Vale1'o,o Lucideno liv, 3, co,p, 3 pago ] 82,


LXII

Mas, se a sua volta fez-se em 28 de Fevereiro d 1644.


que caminho tomou para alcanar Pernambuco em tempo
de ser nomeado para to elevado po to? Se o Edil, a que
aliude Barloou he, como u~pomo, Pedro Ba , do Ma-
ranho, es e foi a sa sinado pelo illdigena' no C ar, con-
forme aquelle escritor.
Por outro lado: as viagens para sotavento ero naquelle
tempo mui cli:fficeis, maxime em navio redondo. No indo
pl'ocurar a equinocial, as viagens acompanhando o litoral
demandavo largo tempo,llo poucas veses excedio de qua-
tro mese , e mais. -
Em tae cil'cum tancia . no he de presumir que o
mesmo individuo vindo da ntilha para Pemambuco,
depois de to deploravel abandono do posto, pode se logo
fazer' parte da commis o admini trativ,a do upremo
Conselho do Recife, preterindo outros que ali devio e2.-l -
tir com antigo e duplice prestigio, .
Em todo o ca o, parece-no' mui duvido. a a identidade
dos dous individuas em questo.
Eis as observaes que no cumpria faser sohre o liv. 7
da Histm'ia das lutas dos Hollandeses, em muitos topicos, em
desharmonia com a obra do padre Jos d Morae., que de-
viamos defender no que no 'pareceu ju to e verirlico.
Esta obrigao, e o intere se da verdade historica, impo-
sero-no a ingrata tarefa de contraria\' a... opinie e af-
firmativa de um illu trac10 e critor que tanto e to rele-
vante ervios ha pre tado' hi toria patria, alem da..
qualidades distinctas que o orno como cavalheiro. Mas, m
tf~l situao, a amwa ive?'itas' deve ter a preferencia, at por
que conhecida ella, todo ganhamos.

Ad vertencia
Os leitores que no tiverem comprado o pl'meil'o vo-
lume desta Me;morias, e no quizerem formar colleco,
podem no ob tante utili 'm'- e do pre ente, ervindo n f'te
caso na encadernao do 1'0 to de sobresalente, que junta-
mos em a numera.
otas additiva
E

Rectillcae .

....
Pa~ina III
linul1 4 - J o. o Semanario etc.: la- e : -.Ja no Selluliliuriu.
lin. 15 -1 54: la-se : -1853.
Pago IV
lin. 3, - Excidio : la-se : - morticinio.
PR;;. Vil
obre 11 respeitabilidade do caracter de Berrdo, como historiador.
alem rIo que fica dito na nota (2) desta pagina, consulte-se o to. 1 destas
-'IIemol'ias, de pa;". 294 1J.Sque 296.
Pago L"X
lin. 2. - ne para lastimar etc. : la-se : - he Pll'ra lastimar.
liu. 17. - Suwn cuique: la-se: - cuique suulIi.
Pago XIII
<rllbriel 'oar tia Noticia do Bmsil, cap. 67 chama tambem Itapo-
CW'l ao rio da provincia de . Oatharina, hoje conhecido pelo nome de
-ItUpIlClI.
Uouvem ainda notar sobre a etymologia da pa)avra- ltapicMr, que
a 1'llso da COlTUpbl1J, em ItapiGU1'h provinha da dilliculdade da. pl'Onlln-
Cill d I/. na IlJO'ua Tupy que muito se assemelhava a do 1~ Francez, e
por iso 08 Je llitas muitas veses o substituiro por y e i.
Pag. XIV
Etymologia da palavra - Ceal.
Ha duas verses sobre a etymologia desta palaYl'a. Outr'ora tauto o
nossos chronistas como os Hollandeses escrevio Sim'ti e Ciar . poste-
riormente tem prevalecido a nova orthographia- Cem/. Qual a raso?
Kinguem poderia dis-lo.
Ayre do 011$0.] na C01'og1"C!pltia Bmsi?'ica to. 2 pago 195 fundado em
LXIV

um dilul'In, assegura que Oia?', no idioma dos indigenas ignificava canto


dajandaya, que he uma caBta de papa!!llio pequeno e gra nador.
~lilliet de 'aint-dolphe no Diccionm'io geogl'aphico elo Brasil, art.
Cear, apoiando-se no precedente e criptor, e em Pisarro -llIemoria~
historicas do Rio ele Janei7'o to. pago 221 nota 1 sustenta que o nome
vem de certa especie de papagaio, que os indigenas appelUdavo - ciaJ',
com quanto outros (Pisarro) julguem que a origem do liome est na pa-
lavra indiana- Suia que quer diser caa, e ql1 os Portugueses achan-
do-a com abundancia no arredores da enseada de Ml1cl1ripe, serviro- e
deste nome, que por corruptla converteu-se em Cear. Pompeu no seu
pequeno Diccionm'io topogl'aphico e e tatistico da ]Jl'ovincia do Ceal'
no duvida adoptar eJilelhante etymologia.
Marcgrav, tratando da actual provincia do Oear diz Cia?' como os
.Portugueses, e Barlreus (van Bael'Ze) Sim', J" o mappa e te e~creve Cia-
J', a denomina<1:o do pequeno rio do territorio do Rio-Gl'Unde do orte,
ao passo que Marcgrav ou melhor Joo de Let o denominou - Syrag-1ni-
'urr. Foi de Laet quem organisou o trabalho de Mm'cO"rav, mas tirou
o nome de Symg-min01' da obl"J. de Jacob ou Joo Rabbi, aUemo ao
servio da Hollanda, qne era um notavel interprete, tanto da lingua
r.rupy, como da dos Tapuya .
As etymologias de Ayres do 'aBal e de Pisarro, que no se apoio
em chronista algum, so arbitrariaB, pois no existe semelhante papagaio
cujo canto e~:prima a palavra em questo; e caa, em '1upy, no be repre-
sentada pela palavra Sui, mas por o,
Ma!! conhecida a raBo do nome dado ao territorio outr'ora de Js-
gual'ibe, facU ser, seno descobri-la, conjectura-la com alguma ll,pparen-
cia de verdade. Sicw-1n'i?n, ou SY7"a{J-1nirim, egundo Rabbi, era a
corl'l1ptela de Ci?'i-apo-'l?ti?;im, i. e" pequeno caranguejo redondo, ou pe-
queno caranguejo do ala"n-ado, attenta a abundancia desse crustaceo no
locl1l ondo se deslisa esse pequeno escoadouro, chamado impropriam li Le
rio. De Gi?'l-apo se fez por contraciio Oi?'i-, e depois Oim'.
Poder-se-ia tam1Jem explicar o nome por oa?'a-1n-i?'im de rio ou cor-
rente curta j Cey-1nirim, rio do pequeno rebanho' Cua?'-Y-'l?t?'irn, rio
de ba"n-as, certa planta palustre; Ce'J'e'J'u e Ce"y-rn'irn rio de certas
avps da familia elo cuco, etc.
Outras combinaes se podem raseI' das palavras - Cay, Say, ou Sairn,
o macaco que chamamos sagu'i?n abundante nas matas do litoral; avi,
rato do mato, Slj, certo pa aro ver<1e, Co?'ay, ave llquatica, CW'ul,
certa 1almeira, toca'a" buraco, ete, etymologias mais supportaveis que
aB lerubradaB por yres do asal e por Pisarro.
Gabriel Soares tratando do !j, passaro verde com O bico revolto, no
cap. 87, diz que he do tamanho do papagaio, e vive na toca dilS arvores
de cujo fructo se mantem. MaB no o contemp1a como papagaio ou d
sua I'amilia, como faz nos caps. Oe 83, a re peito de outras variedades
deste celebre volatil. Marcgrav nem delle trata.
Pag. X~7

lin. 2. PaizoU?'egio do Jagu?'ibe. Sempre assim se entendeu o paiz


ao norte do pody, com quanto, sobre a e},:tenso do domlo Petig'uar ao
norte, hajo dnvidas, estendendo un ..at o rio J aguaribc, outros at o
... pody, e outro, a "'0 so ver f;om mm fundamenLo, ate o J'io ssil. O -
espao comprehendido entre esse rio e o Jaguaribe era dominio 'l'apuyu,
Ll'ibuB que obedeciiio l Janduy, na epQcha dos Holland ses.
LXV
Pagina XI
lin. 10. que esC'l'eveu em 1594. la-se: que escreveu em 1584.
Foi at esta data que Gabriel oares escreveu n sua obra, porquanto
nos cnps.ll e] 2 trntando da Parahyba do Norte, ainda no se referc
sua definitiva conquista por Martim Leito, que teve lugar em 15 5.
Elie fez entrega da sua obra em Madrid a D. hristovao de Moura no
10 de Maro de 1587.
Vide Revista do Instituto Ifist01'ico to. 21 pago 455 onde se acho va-
rios e importantes documentos sobre Gabriel Soares publicados por Varn-
hogen. Oonsulte-se mmbem Iunocencio no Diev. Bibt. to. 3 pag. 112.
N. B. Esta rectificao por engano no entrou no lugar proprio, por
isso aqui a contemplamos.
Pago XVI

l\OTA (1).
Convem distinguir a alda elo YrIClP ela epochn elo amaro, da. de
Guagi1', C/'eada pelos JesuiLas depois da guerm Hollandesa, que tall'ez
no fos e no mesmo local da antifTn. Hoje os descendentes desses indios
residem na nlda chamadn dos Veados, nas visinhanas elo 'ear-
mirim.
N01'A (2).
egur;do o que escrevemos na nota (2), pog. 467, e,a nossa conj c-
Lum de que a alda onde foriio sepultados os ossos do padre Francisco
Pinto era Messejana, em raso do nome de Pai-Pina; mas reflectindo
melhor, e ntten lendo cnrtlt do padre !lianoel Gomes, pago 7D do to.
1 destas lJIem01'iCls, Ine fixa a distancia dessa alda da antiga forLalesa
do Uear, mudamos de parecer, e entendemos que outra niio pode ser
seno a antiga alda da Pamngaba (AITonclJes).
Pag.XVIII

lin. 3 e 4. O nosso calculo quauto a data do baptismo de Camaro


necessitn de rectificau. A quinfJlIClgesima do anno ele 1612 cahio em
4 de Maro, por isso que a pClscltoa teve Ingar a 22 de Abril.
l\Ol'A (1).
Qual o uome inclig na do eeteb1'e Oamm'o ?
Imao de Vasconcelios he positivo quanelo o denomina Potljguass,
e outro tanto no se pode diser d Fr. Manoel Calado qua.ndo chuma-o
Pllty, o nnico chronista que aSdim o designa, e nome que lhe poelia dar
por contraco do primeiro, o que ll1uitas vezes acontecia.
A tradueo portu~esa mais e ajusta com o primeiro do que com o
segundo nome. A paJav1'l1- Poty era o nome generico de marisco,
especialmente o que no se reve tia de conchas. O cru taceo Cjue hoje
chamamos cal1ul1'o, era pelo' indigenas chamado GUG1iC1W. O que
en1;.1:o se chamava clma1'o era o Potyg'UClSS, e nesta parte Piso na
edio de 1654 e farcgrav na cle 1648 da Hist01'ia natzwCll do Bm-
sil so accrdes com Gabriel Soares nu, Noticia do Bmsil.
Piso e nfarcgl'll.V truSetu u estampa do Gual';Il1', o nosso ncLnul
camaro, e Piso descreve o Pot!JguClSS desta forma:.
LXVI

, Vulgo Camw'cwn dicitul', qui fusei est coloris, sex cl'uribl1s cum tri-
bus internodiis spinosis et Ilcl1leatis, un!!Uiculis in extremitatem desi-
nentibus. "
~Iarcgrn.v em lugar de diserfltSci coloris, diz nigricans, para dilferen-
o.-Io do Potiatinga, outra especie.
Gabriel Soares, uo cap. 145 t fine, descreve por esta forma o Poty-
gU1SpS:. - - - .- 'd d d .
" ottassu sao \lU5 camaroes que se crl:1o UM concavl a e~ as 1'1-
beira.s, e tem tamanho corpo como o" lagostins, e o p :scoo da mesma
maneira, tem a casca uidia. e ll.5 peruas curtll.5, 1)5 quae" crio comes em
certo tempo, e em outro, tem o casco gordo como lag05t't, que se tam-
bem tomao as mos, e so muito sabor050s, e estes, e os mais no so
nada carregados. , .
Potyguassit - quer diser animal de gl'llnde llIo de pontu j de po, mo,
t ou ty, ponta, e asst ou gltasst, grande, precisamente o crustaceo des-
cripto por Pi50 e Gabriel Boares. Vide infra pago 176 nota (l) e 1 1
nota (2).
Pago XIX
liDo 68. Pctiguar e rio PlUY ou Pif;(qy. O nome de Petyguct1' pare-
ce-nos o verdadeiro de5sa tribu que vivia uo Hio-Grande do orte, que
quer diser senhor do petlln ou l1cti, a herva q\le chamamosflt1no ou ta-
baco.
Pctiltm'a ou Pet(qum significa 'enhor do petun ou tltbuco, titulo
de nobresa, e .no Potigtt1'a, pescador de camares. O Rio-Grn.nde'em
chamado Petttngy ou Peltigy, e por corruptla- Potengy, nome que era
dado pela plantaii:o que elll sua-s margens faz io os iudigena-s da famo. a
herva. Ora essa tribu era que mais usaya e aprcciava o petltlt. Vide
Joo de Laet - Novus O"bis liv. 15 cap. 4, referindo- e viagcm de
Antonio Knivet, navegante ing'lez. .
Gabriel . oares tmtando destes indigena-s no cap. 13 da Noticia do
B,-asil diz o seguinte .-
" Este gentio he de m estatl1l'a, baos na cr, como todo o outro
gentio, n~o dcixo cahir nenhum; cabellos no corpo seuo os da cabea,
porque em elIes na-scendo os arranco logo, fallo a lingua dos TupinaJU-
b e Cayts, tem os mesmos costumes e gentilidades."
E mais adiante:
" So lP'andes laYJ'adores de seu nmntimentos, de que estilo scmpre
Illui providos, e so ca,adores bons e taes frecheiros qne no el'l'iio
I'rechadas que atirem. So grandes pe cadores de linha as 'im no muI'
como no rio" de agua doce. Canto, baililo, comem e bebem pela or-
dem dos Tupinamb8."
al;. "XII

NOTA (2).
Iin.1. I'1imeimspazes. As primeira pases feitas com os Petiguares
devem entender-se, as qUll se elfectuaro em 1599,com os indigenas dessa
tribu, que demornvio ao sul do rio P"lengy ou Peti,qy. As outl'3S, rea-
lisadas cm 1602, dependerio de lutatrll.\Tadacom osindigenas que vivino
ao norte do mesmo rio, de que foi principal intermediario o padre Fran-
cisco Pinto, e que alludem Jos de Momes 110 to. 1 destas 1JlemOJ'ias
pago 84 e 'l1l1lpOS Moreno 110 L-iv'/'o ela Raso ctE'/ndu a.rt. .Rio Gnot-
de do NOJo/e.
LXVll

:-IA ~rF.8~IA !\OTA.


Antonio Knivet, nauia inglez, navegou por muito tempo no. costa do
Braail entr 159] e 160a. H elle quem em sua viagem, que se acha na
coUeco de Joo Lodewyk Gottjed, publicada em Leyde por Vander
a, no anno de 1707, refere-se esse caciqud Petiguar Pirajua ou Pi-
1'ajiba, que denomina. em ua. linguagem Pi1"Ctilltcutlt, que cercara Feli-
cillno 'oelho na cidade do Tatal em 1602.
nos as chronicas somente menci no um indgena notavel deste
nome na Purahyba, era Tabayara. i\Ias o nome era vulgar entre os
indi"enas. Olaudio d'bbeville nR sua Bis/m'ia cap. 26 cita um caci-
que deste nome, e outro chamado Sm'oull o que faz lembrar o Soro-
bab do Rio Gl'llude do Norte.
Parece-nos t1"o cheio de verdade o que nRrra o nauta inglez, que em
re umo aqui .consig'namos.
Em 14 de "osto de 1001 alrador 'orra de S (o veaw) e sua
. enhora eguiriio para Pernambuco no navio de Knivet, que apOItou em
fins de 'etelllbl'o a margem do rio amaragibe ( Alagas) no engenho de
11m aUemo.
O engenho chamava-se - Buellos-Y"es, e ainda hoje eris-te. O aUe-
mo.era Ohl'istoviio Linz, tronco de uma. numerosa de celldencia, em toda
a. diocese de Pel'l1ambuco. Vide Varnhllgen - Ris/m'ia gemi do B1'a-
si! to. 2 pago ] 2. Foi Linz ou Lintz, que era engenheiro, quem le-
vantou !lo fortaleza do CabedeUo, segundo refere o padre Jeronymo Mil-
chado no Swmncwio das .Almadas cal. 19.
Nes e engenho foro exceUellt mente tratados, e dellloraro-se ate o
fim do auno. POI' essa epocha "eio vi itar alvador 'ol'\'a, ManoeI
ele Mil 'carenhn , capitio-mr de Pernambuco, e, depois de dous dias de
descauo voltou com os llOapedes de Linz e I nivei para Olinda.
Vinte dias depois Lla estada naqucUa cidade foi que ManoeI de Mas-
carenha teve noticia do cerco de Pelicillno oelho na cidade do Natal
pelos Petigl1ares (Putiu'm.,.e ), em grande numcro (40 mil), tendo por
chefe Pirniuwath, cujo nome diz ruivet, signilicasa, espinha do peixe.
Manoel dc Mascnrenhas com as fora que levou, destroou o indige-
nas, matando-lhe fiOOO, e fasendo 3000 prisioneiros.
Feita a paz com o cacique, deixou 1\13 carcnhas uma forte guarnio
na fortale"a e 40 peqa d ferro.

N. B. ....:... Neste facto narrado por Knivei vem um importante esclare-


cimento para a hi toria do Rio le Janeiro, nes~a vingem de SaI,ador
COI'l'a de , obre a qual nada disem no"sos chronistas.
lia incerte a sobre o tempo da administrao de alrador Oorra de
S (o velho ),que, segundo Moreri no Diccionm'io hiS/01'ico, excedeo de 30
nnDOS de 157 1617. Mas ha interYllilos, de que nio existem documen-
tos, e os que se tem encontrado so silenciosos. De ta viagem Ouma-
rngibe em 1601 ninguem d noticin. Vide Pizarro - Me11!01'ias ltisI01-i-
cas to. 2 paga. 114 e 115.
Pago XXIII
NOT,-\. (2) .
Este fl'Unciscano PI'. Bernardino das :Te\"es era il'miio de FI'. Ma-
noel da Piedade, que foi ao Maranhiio com Jerouymo de Albuquerque.
Ambos eriio filhos de Joiio Tavares Ulll dos primeiros conquistadores da
Pnrallyba.Yiele J abontiio,- 01'be Sp!rrI]Jhico to,'2, e i1if7'a png.247 notn(I).
LXVIII

:O<OTA (3)
Feliciano 'oelho de Uarvnlho na cmtll que dirigiu Philippe
II em 20 de Agosto de 1597 e que foi interceptada pelos Ingleses (lia-
clduyts o. 4 pag, 246), chama cste uautl1 I'raocez Rl!oles, e d uo-
ticia de seu desastre.
Pag. XXIV
liu.14. - Videslt]J1"a pag. LVX o que dissemos sobre a verdadeira data
do baptis~o deste cacique ou priocipal. - 4, de Maro de 1612.
NOTA (5).
Jacob Rabbi. Barlmus chamllro Joo Rabbi, alJemo do principado
de \Valueck. Ja dissemos em outro lugar O que pensamos desse limite
do uomiuio Petiguar, que suppomos no ultrapassava do rio Ass.
Pago L"'CVII.
lin. 2. Jacctma. Seria e te indgena o pai de D. Diogo Pinheiro Ca-
maro, Francisco Plllheiro, ou era outro irmo do Camaro? J" o a
conjectura he contraria, suppomos que Jacaua era Joo de Almeida.
Vide pag. XXX nota (1) pag. XXXVII nota (3) pag.181 nota (3).
Milliet de Raint-Adolphe uo Dico. Geog. do Bl'asil, art. Camm'o,
lIiz que o Jacatna tambem era couhe ido por Japal'anluba, mas nito
inc1icl1 a fonte de onele colheu esta noticia.
Pag'o X-"CXI.
lio. 19. Em Se1gipe. lie inexacto. O Uamaro demorou-se em Sergipe,
em quanto 11 conquistl1 HoUandesa no nlcauou Rio Real. Em 1645
estava ou devilt cstar em territorio dlL Bl1hil, em local que ig-ooramos.
Pag.X-"CXU.
lin.10. O rio IgarltSsll,com a:foz formuda pela ilhl1 de JtamI11'llcl, era o
lim1Lc da capitania lIe Dual' e 'oelho I crcil'll, que chamou sua dou-
o - Nova-Lu.sitania; mltS prevaleceu o nom de Pernambuco, cor-
ruptla de Pct?'anapuc ou PCl1'anapucu., furo ou lingua de mar.
Prevaleceu o nome de Pernambuco porqn o porto de Olinda tam-
bem se chamava- de Pernambuco, cnjo nome vinha ela rz ou lingua
ele mar que sahe uo Oceano, omo um escoadouro do rio 'apibaribe. Ue
o pequeuo e teiro chamaelo mosqueil'o, onde aucoro em Pernambuco
os navios de menos-caluuo, c que he formado pela murnlha de pedra do
Recife e o isthmo que lga essa cidade de Olinda.
:Pelo contrario em Itl1marac o nome do j'io de Pe1"1wmbuco perden-
se, porqne D. Joo lU por carta regia do 1" de Setembro ue 1534, que
pode-se lr no Aaas do I1n}Je1'io do Bn/sil pago 20, onde vem a cou-
cesso ele Pe ]1'0 Lopes ele Souza, mudou o nOIDe desse rio ou esteiro
que cerca ltamarac, em l'io de Santa Orltz.
.Aiudl1 neste ponto o e tudo do territorio uo Ro-Grande do Norte yeio
elar-nos o. explicao do termo- Pe1'nambuco que Gabriel Soares, pre-
tende que seja-maJ'ful'ado, quando outra he a ida,
O desaguadouro da laga Groahil'lls no Rio-Grande do Norte se
chamou - Pe1'nambllquinlio, e porque raso? Porque os iucligenas o
chamavo PaJ'anapuc ou Pal'at1puc, como se pode ver no mappa
desse territorio no. obra de Oampos MOI'eno -UiVl'O da l'aso d'Estado.
Parece que outr'ora na fz desse de, aguadouro havia uma aldca com
o mesmo nome, que depois se mudou mais para o Sul, onde presen-
temente se acha.
Hoje esse desaguauoUl'o chnma-se rio Uamoropim,
LXIX

Pago XI__ I.
NOTA (2).
Fundamo" o nosso jniso acerca do cOllhecimento qne tinha Joo
de Laet da obra do padre Manoel de Momes no Novus 07bi.,
tradnco francesa do mesmo de Laet, publicada em 1640, nos seguintes
trechos:
Liv. 15, cap. 1 : - li {ais.ie ne puis obmettre en ce liell le jugement
d'un nouveau authenr Portug1is, le commentaire du quel a est nouvelle-
meut imprim en Angleterre, en Anglais. "
Cap. 2: - Je rapporte ces choses SUl' la foi d'uu certain religieux
Portugais, que Ies a depuis peu escrites. "
9ap. 3 : ~ Voi~ ce qu'en dit cet autheur Portugais imprim en An-
glal!:!, et qu Oll estIme etre quelqu'un de la Societ. "
Cap. 12 : - Cuja inscripo diz: - Poissons de mer du Bresil selon
cet autheur Portugais et autres. "
Pa~.XLV.

Vide sU]Jm a rectificao pago LXlIT em relao pago IX lin.l"'.


Pag;o XLVIII.
NOTAS (1) E (2).
O Conde da Ericeil'a distingue na sua Hist07'ia ele P07tugat
7'estaumdo, o quartel do chefe dos ublevados das trincheiras do
CartlJO (inf7'(t pago 427), o que est de accOl'do com a carta de Pedro
Bas, de 31 de J alleiro de 1643 (infl'Cl pago 444) ,distinco que no fiseram
Herrdo nos Annaes n. 35,836, 48, 49 e 20, e nem o padre Jos de
Momes no to. 1 destas 1Jlem07'ias, lag . 161 e 162, 165 e 166. ,
Pago LIV.
lin. 22. - Salinas ele Upanem l. O nome de Upauema em outros lugares
do 13ral ii tambem se escreve Ypanmna. A difrtcil pronuncia do n em
'rupy cra. a causa dessas diff'erenas IUt escrita e m\, expresso.
Pag.U
NOTA (1).
Em verdade he posterior a viagem de Lniz de Mello da Silva, por
quanto demandou o Maranho depoi dos filhos de Joo de Barro~, em
1549 ou 50, pouco mais ou menos, quando os companheiros de OreLlana
voltavo da segunda expedio.
O primeiro explorador portuguez que foi ao Mm'anho, ou antes ao
Amasonas , assim .ia conhecido por aquelle nome, foi Diogo Leite em 19
de Fevereiro de 1531, mandado do rio de Pernambuco (Itct7na7'ac) por
Martim Monso em duas cal'avellas. Elle commandava uma de nOUle
P?'incesa. A outra chamava-es Rosa. Nos antigos mappas a bahia do
'J'ury-ass tinhu o nome de ab7'a de Dio,go Leite,
Por esse mesmo tempo (1531) o 'hespanhol Diogo de Ordaz tentou a
mesma empresa seIU fructo, ou antes com perda de um de sens nn.vios.
Vide sobre o primeiro facta o Dim'io de nat'e,gapo de Pero Lopes de
Sousa.
Pag;o 14
NOTA (2).
Parece que o nome dessa fortalesl1 se conservou na fasenda da Con-
ceio margem esquerda do rio Hl1pucurll, pertencente l'amilia-Go-
mes de Sousa.
LXX
P.-g. 20
NOTA (1).
0l'de/n Domiciana, lea-se: 01'dem Dom'inicana.
Pago 39
lin. 16;- Capuclt-inos. Engano do autor. Ero Capuchos, o que he mui
differente, Capuchinhos viero somente com os Franceses.
Pag.177
NOTA (4).
Parece que o nome indigEma correspondente - Pau Secco era Ib'i-
1'aYl1. Os Franceses disio 01tY1'ap'iue.
Pag. 1 3
lin. 24 - Anime. Referese gomma resina aromatica e medicinal deste
nome. Tambem abunda no Rio Grande do Norte.
Pago 190
lin. 37 e nOLa (1). Parece que os indigenas Tm'mnembs dominavo a
costa do Brasil, no desde 1\ f6z do Jaguaribe, mas da do Cl1mucy at a
ilha do Maranho.
Outros disem, mas sem fundamento, que o dominio dessa tribu tambem
chegava ao rio Gurupy.
Berrdo nos Annaes chama-os Ta1'a1nanbases, Vide ns. 1231 usque
1236.
Vital Maciel Parente os destruio completamente em 1679, sem respei-
tar sexo ou idade, porque no era entopermittido escravisa-Ios.
P"'I;. 191
lin. 22 - Francisco de PavQ1'es : la-se - Francisco de Tuva1es.
?ag. 196
lin. 42 - Bi1'a'TI'1)itangu, i. e" Ib'upita'l1ga, que os Portugueses tradu-
sio por B1'Clsil. Os filhos deste notuvel cacique, dados em rel'ens chama-
vo-se Ipecutinga (Cortapau brauco) e Guil'ayiapava (ave de cachoei-
ras), como se v pago 197 logo. no principio. Vide i?ifm pag'. 250.
Ivo d'Evreux diz Ybouy,'a-POltUan.
Pago 242
fu1. 41 e 42. Com at agCJm: la-se como que at ag01a.
Pago 24
lin. 19. Novo convento dos Ccqnwlws: dever lr-se - Capllcldnlws.
"OTA (2).
A fonte d'agua viva, que o autor refere-se, no pode. aJ' seno a do
actual convento de S. Antonio, por quanto os Uapuchiuhos Fl'l1uceses,
alem do Hospicio que possuio junto ao forte de S. Luiz que depois
foi colleaio dos Jesuitas, tinho tambem uma capella com invocalFlo
de S, Francisco por sobre essa fonte. Confronte-se com estu passagem
o que diz landio d'Abbevi\le-na His/. das Misso do Mamnlto
pags. 66v. e 67.
O primeiro hospicio provisorio desses religiosos foi margem direita
do Anil, defronte do forte S. Lniz, tambem com a invocano de S.
Francisco, segundo o mappa de Campos Moreno, no UV1'0 da Raso
d'Es/ado. O segundo, ao Indo esquerdo do mesmo rio, foi estabelicido
no local onde se acha o Recolhimento de N. S. d'As. umpo. Vide
o to. 1 destas Memol'ias pago 74.
LXXI

Pag. 251
lin. 10 - Alda dos Pedras- Verdes, vem a ser a alda de Itwby.
Pago 252
(2).
NOTA
Segundo o Qu,a /,'0 eiementa1' do Visconde de Santarem, to. 4
pag. 180 nota (1) da introduco, La Ravardiere fra preso em Lisba
25 de Junho de 1619; por tanto o tempo auterior passara alli como
prisioneiro tendo a cidade por homenagem.
EUe embarcou de Pernambuco para Lisboa ja no fim de 1616. Em
1624, aos 27 de :Tovembro, estando em Pariz, obtinha do governo
francez com Londriers, um privilegio para colonisar o paiz entre o Ama-
Bonas e a ilha da Trindade,
Pago 274
NOTA (2).
CIl1TuzeaQ- lllrse: Ca1"1"azedo.
Pago 423
KOTA (3) '0 mI.
Em lugar de pags. 438, la-se: 437.
Pago 424
NOTA. (3).
Alguns neg1'OS. Os Portugueses assim tlLmbem chamavo aos
indigenas por se pintarem com genipapo, que lhes dava essa cr.
Pago 436
(1).
NOTA
Vide o que dissemos fi respeito de Luiz de Mel10 da Silva a pag.LXIT.
Pago 444
NOTA (3).
lin. 5: mas dentro da meia lua, etc. lllrse: mas/01'a da meia lua, etc.
Pa;;. 450
lin. 34. Ooncebido a esperana que de por mo, etc., la-se: concebido a
esperana de que por mo, etc.
Pago 455
l\'Ol'A (3).
"Vide il//m nota (1) pago 459.
Pago 459
(1).
KO'l'..\.
O rio llIm'ajaitiba onde os HoUandeses projectavo fundar uma
fortale a de cinco pontas, nilo he como suppunhamos a pequena ribeira do
Gear, mas outro rio mais ao sul, talvez o proprio J aguaribe, em cuja fz
tambem os Portugueses tivero um forte chamado S. Loureno. Note-se
que Jaguaribe quer iliser rio de Ona<l, e entre este rio e o Apody havia
pelo litoral um lugar chamado habitao de onas, o equivalente de'
Marajaitiba.
"Varnhagen na Hist. geral do Bl'asil to. 1 pago 401 diz Ma1'ijaitiba,
no que parece houve equivoco, cousa muito natural em nossa historia
to pobre de subsidias.
P::t~... 464 e 46
NOTAS (t) B (4).
Vide I) qne dissemos sobre estes ndios pago LXX destas rectificaes'
LXXII

Pag.495
NOTA (2).
Por esta nota v-se que os Teremembs vivio ao norte do ear e
erilo visinhos do rio 'amucy, pelo litoral. Portanto a. regio que domi-
navo em entre esse rio e a ilha. do Maranho.
Pag.49
lin. 7 - D. J01ge. Era tOO indio filho de um dos principaes da Ibia-
pltba, o mais antigo. O padre ndr de BalTOS, na Viela elo paell'e
e
Antonio Vieim liv. 2 264, chamn.-o D. Jorge da Silva, e tambem Jorge
Gomes Tieuna. Pa.rece ser o ultimo o eu nome indigena.
Pago 507
lin. 16 e 17 - Eis que um padre nosso, etc. Parece que o autor dessa
faanha foi o padre Jeronymo Machaoo, autor d Smnmario elas Al'-
madas, etc., por isso que estando presente na conquista da Pnrahyba,
cala o nome desse heroe.
Vide o mesmo SummCl1'io na Revista do Institttlo to. 36 p. 1, pags.
36 e 37.
NOTA (1).
Os Francezes expulsos do Rio de Janeiro viero primeiro attacar o Re-
ciFe, e depois se estabelecero na Pa.L'Uhybn.
Pago 519
(1).
NOU
Vide sUi.Jm pago XXIII nota (3), assim como pago LXX, o que disse-
mos sobre 11 significao de Pau secco em Tl1py,
Pa.g-. 520
NOTA (2).
lin. 10 - posso sorril', etc., la-se: posso Se1'Vil', etc.
Pago. 5;22
NOTA (3).
Rodelas. Outros chamavo est~s indgenas Rodercts, julgando COI'rup-
tela o primeiro nome.
Pago 54
NOTAS (1) E (2).
-em todos os indgenas do litoral do Bra ilusavo de redes pal'l1 dormir.
Panlmier de Gonneville na sna Relao de 1503 e1504, publicada em
1869 nos Novos Annaes de Viage1!s, snstenta, e Gabriel Som'es na Noti
C'ia do Bl'asil cap. 68 d a entender que os Cm'ijOs dOl'miao em Clunas
de folhas (esteinls) , ou de pelIes, e no em rdes, O mesmo prnti-
cavo os Guayanases e Goytacases.
Destes. testemunhos devemos concluir que as rdes de que aqui se
trata, ou serio de pescal', ou para negocio com os colonos. E talvez
que os mesmos Cm'ijOs tivessem posteriormente adoptado os usos dos
indgena que se servio de rdes.

-----------
D.\.

COL A DO ll.\r..\~no

ESCRIPl'A PELO
CAPlT10 SDI10 E 'TA CIO D.\ 1L HIl\.\.

DIRiGID.'i .~OS PORR.ES DESTE REnO


DE

PORTUGAL
N. B. As nolas desta Retacio !:::o do Edcter.
tICENCAS.
li por mandado do mm r. Inqnl'idor Geral, esta RelufelO
do JJ1C1l'c/'nho, ompo la pelo capi lo imo ;'. lacio da l,;lJ-
"oira, o no tem cousa con lra no sa an ta F ou bons co.-
Lumes, pareceme que se lhe eleve rI dar a liccna que pede,
porqnc bre"ompnle, ,em alrecla [o de oncar clll1.'nlo, ,
que ou Iro: co 11ll1lo, diz a. grandeza de la ConqlJi~la,
'lue e aS'i lIe orno se dr"r r r, uma pc"goa q'laliticaua e
tc~lcml1nha de "Ua e xpcl'iencia, e la lerra Yir a EC'r !lH1i
habilada de Cllri lJos, c com ajuda do Co nella e ver o
nome lc.l sns Chri:lo mni "cnerado e dilatado; pelo que no
pode c~la brnre ]{e(ao deixar d iufluir un <1o,ojo mui
aro lado , e m'azc. de to louya"el ernpreza, no animas
do ollzaclos o illcansaycis Porlllguezc , que n'oulro t mro
empr h nc1 1':10 COlll !TI nos esperana cou.a mais difficul-
to, as, qn outra nnc. parecio lemerarias, e egundo
alg'llls praO'll n'o ou in,ejo::o da gloria POl'lugueza, barba-
ras e impo.~i"ei".
Em ~. Domingos de Li boa, a 8 do maro de 1624.

F1'. Thoma.= de S. Domingos, magister.

Pdo-se imprimir. Em Li:::boa, a 8 de maro de 1624..


O Bispo.
Pde- o imprimir esta Re!afcio. Li:::bca, a 8 do maro
de 1624.
Damio Vigas.
Que 8e po sa imprlmir esla Relafcio, e depoi de impre i1a
torno para e taxar, e em iSlo no correr. a 9 de maro de
1624..

Dinis de Mello. - T. Caldeira.


Taixo esta Relaeio em 30 ri em papel.
Dinij; de ~lello. - V. Caldeil'a.
Esta Relao concorda com o seu original.
H'. Tlzoma.C[ de S. Domi?lgos magi~tel'.
Q anuo [LU esla COI qUISt:l, no anno de 1ti18, 'e abararo
.,uilas pc~.oa~ elas Ilha.s a meu xpmplo. par cndo-Ihe que
pai eu sem obrl1:l.O, a que ir u.cal' rem dio (\pha\"l Li -
boa, e n e 5a ~o 7\lara ho, no .,cria :em al"llm fnnflamenlo.
Na [o do fIn' rui paI' cal ilo se cmharcariio perlo de Ire-
zcnlas pr.f:'oa-, algnn' com muil. flIlla donzellas, ue logo
l'ID cheaando, cazaro-.c lodac::, e li\"eri"lo "ida que c III ,;
.la\"a mui impo.;;sihililada, c c lhes dero sua~ 11'[(030- de
tcrr:1.
l;olw~ra de o. lrr <lgll' aqui lodo para le 1 mni1ha. do
qtle di~o np.:;la 111at1o; ma. rep rlo-m o Cf11 c!' TCyelll, e
<lOS que d ta "lero, qne aqui ando cllOfanc\o por lornar m.
E se inda hOlJWI' (llgnlt. qu SUSpil' m por Porturrll e pelas
('OU\'CS do EQ:"lJiO (ou porque o amor da. patria o pro\"oca,
1'11 porqne si! na aloria nos h~.\'cmo. de aquielar) quizera-Ihes
Jt:\"i'r rJ no\" onll'a lanl:)h leslemunha flue lhes f rITo l.
contar, o flll ri! yai, para ,or:.!Jenlar. Eu o d I rmillaya.
ImlJliLal' .Sli Rel'/f/no l'em ir c1ianle ri L lIos, abonando com
a3 01 r::l~ a prd~Hl lo (Pl nrl1a digo: m: quem me .lon:\.
(''0..:;(' !Jem fJUO Ilp,\,(' I11 f'[' InC11. prn'all . lio p 'rmillir Deo
(FIO ::J impida L:J 1lI1 L'm ao pohrl'~ r11'f:lt'1\cino .
. ()~ qlll, ('.,;1,) /(('[(llio c;. mai~ informa CS ql1l' lomar-em)
v'r ua<1ir, a lJno Y:lO vi"t'r ne~.';t Lel'J'il, pro Cln rccompcn,a
lia 1Jom <lnill1o.. 01l11]i.L III';), 01l'erco, que fInando n -lia
, irem r.... mlcnlc" e . illl) IH' '0. ~idad 'S, rogu nl;]. Deo" qu me
h}\ 1:1ll1!)'1l1 a ,er-Ihe:) c mp;juhiro, qu u, quauuo os \'ir
i.', direi com o Pela:

Vivito fel",cs, quiOU3 e,terorlun~ perneta .


.Iam SUll; nos alia ex "Iii' in fala vo .lUlur

Deo escolha a lodo, o melhor.


Em Ll.ll :1., ;J ' dc m()'n de 1Ggf,.

Siul/io Lst(/GO da ii oel'a..

Enl '.i-llll;l. LrlTn IO(j;3;~ ;l~ li(') 11\:".;- nt:cr:i:'llra"', p~lL' t;'(li'aldo
rfr/ I/rlh I. ,'.111 I. dI' liiiL
REUlo SUMMARU

(()! .'.\. S L> () )1 \ lU !\ 111 (J.

DEJI.\lH':.\C \0,

o Mll'o.nlliio he uma 'onqui -la muilo gr;)J)djo~J. rlih 1iHl".


cuja gOl'ernao Sua, ~J:lg skH.l tem tI 11IClrc~do tkc- J~ I) Cl't-
r. qu~ "t. t'mtrcz gr~to: e um ten,,'( . lIil. parle tIu '\lI} atr o
ultinl marco-do Dri), ii, qu . ~l ,'m L!u:- '1'OS dau<llHh do
. 'od.> (1) j em que lia dr costa p 1'10 de Cj113lr(Jreula.: Il'go;}s ;lle
o rio de \'k ulc Ya.l1 'l'nol1, olld' dizt'li1 estar Ulll i'adro
d m3I'm01" CQlO a. arma" ele l'orll1g~t d '~t:1 p~lrlc. a:; ue j

.C'Uella da, outr:t, 111,wclaclo ali i (ixar pe};), Ce~an.'il )bgro~lad


rIo Irnpel'i\dol' Carla V, corre dclhl a costa a Le:'le llllarla ,~
Sue_le. T mou este nol11e Je llJo/'aldu"io do capil que dL'~
coLrio cu na.."cimcllto no l' rll, (2:' e p<J.l'~l o l:iullelll nw.is de
quinltenta it'goas pejo ('1'1:-'0.
lt

I'RDIElnO. Bt. connlDnnFS.

TO dp.sc Ibrimcnlo dr:,ta cOJ1(pli~ta, lcm U1l. ~rarJ(Hade ('


Q. Senhores Uey In~~ados Illcllldo mui! c:.l.h dai, a::-;,iul I Gr
Lerra como pi I' mar.
1'01' lCl'l':l,' foi '11l .'eu dcsc l)wimcnlo liabLicl 'o:J,rl'~ COL I
(I) Ali/is 1 gl',ns e 6 minnt 5, Este ClT') muito 110S tClll lI-tado' li:! qac5/,io de
llrmtes ('0111 ,I IInlnil.
(2) lled;\I'('lio illl'IIITerln, fl1alldo l11uit" rala nas p 'ra e,plicar o n,'usau1I'nfo
(,] aulhor <j,uo ro.fcria-..... iii) rio \l1rall ftO, Q1. dt'!! ntH~IP :Jl-' 11<112. t "'~;Jl1 r;? "u.do
u.s 1 d(1 Cl1pil;,"111 que 11 tkst'tllq'j ,,, .. Pf't".
--

muita g\ ll1r, e ellr o alltlo J.S calJ' 'f.'il'a~ do rio ... Flj;:tnt.:i:~('o C
, SOJ'I'o, rerde, perto de tl'czenla~ I-.goa. pelo sel'lo eSCOl)-
1ra o Per, perto ela governao quo l cllamITo Chal'CC/s (t), 11a
qual jornada ,o perdero lnuilo~, e depoi di lo ~e rizero
:tlgnllla~ entradas pelo do llio de Janeiro, olllle tamlJem an-
dario anno' em conscgnil' narla..
At que o goYCm::u]ol' Llaqnelle E. lado D. Diogo de Jlenezo;',
sabendo o calJedal, qne pouco antes elo .:ocu L 1fI[) linha 111 L-
tido no-l L!e:cobrimclllo P 1'0 Coelho de SOllza, f' as guerras
cnl fJue :l.nLlou com o .Jlel U('([ondo n:l.S ,erras de COara",\ (2), C
fino enlro aqn 110 p;enlio ItlYia. noticias do ~laranh:o (I'nlen-
dendo que e.Lo' Llu.::cobl'idor' d Yio andar p 'I'lo dplle)
JI1andon erm~el'Yar a :lmklel S CJ1IC eBe d 'ixon r iLas com o
genLi(l Ll0 CC;ll':t, pelo capit:10 Martim '0\1l'e5 ~lo['('no, qu hil-
,'ia aml:ILlo 111 companhia dq dilo P 1'0 Co l!to uaquella'
gn rra,s: r para isto lhe deu llnl b:Jt'('o, i11'"TUlls cOlnp:\nllei-
1'05, ' nl qlli, l'C.~icliC) tl'OZ allllo" no :.: ar, c aclqnirio pilotos
noras Iloti ia.' do )lal'~\lIll().

][[

JOn)i.\D.\ DI QCE SE OLCI)CmO

o g()YCrI11l10l' G::t~l);U' ele 'OllZ:1 c:uc 'dcnC!( n::tC[llel!c goremo


malllluil 'por 1:\l't1 'uhu'c:i Qt'dell dc 'ua Jlag :tndc r a ,I 1'0-'
Jtymo de AllJnqucrqlJe com 'cm 110111 Il~ por mal' mn
rplatl'o b31'COS pro:;rgllir ':ila f'mprcza. O qual c1i::L:ol'rcnC!o

:t eosLa aranll' elo Cear foi aL Uuraco d:l.' Tartarugas (:3), e
alli rez 11m pTC:,itlio. c uma C rea, ~e LOl'IJOU a. pedir IlIai:i
g,'IILc, c ':i\j 'da il}:ll'a p:t ':ia r ao :'IJaril.1I ba, ell \"ia rul0 L'llll'elllillo
ad::colJl'il-o pelo capili"io :'11 arI i III 'o:lrc:, MOl'f'1l0 cm um barco,
f) qll:d I) 1','(',olllle' U, c [lor Yia!le Illdia:, iii'} frouxo r'cado a c::lo
Jleillo, qll\~ 0:,1:lr:10 alli Fr:tll 'rZL'S l'lll fjualllida(lp, ('O1l1 o lJual
;I\'i~f 1ll;llldoll Sua .\J;l~I,~Ladc urc1elll :til dilo (]oYCI'Il:tdol' (;e-
l':J1, qUi, l()l"Il:l5~C a f'llyi:.I1' a e:-.lc do:'collrilllclllo c c( nlpli~l;,t
110 dilo .Iel'u:I~I11(j rir .\II11lCluUI'qlll" ([ti' pOl'i,;:::o Illt' L!r\l mai"
gl'llt.' c iil\lIli( 's com ([lle 'III Lt'z II:L,-iu' e cillU IKU'W:S ycio
'j Inro,:H 111. ,"Pj;l. fi nn HI' 1:-:1'\ no h:-rJTC1(1 IfI:"Tor.1 ri t. 21 pago ,t~l;l, ii ~11:.'lOnJ\
c1'H'llilll !lIadil (I'J :--1'. F..'.-d. di..: \ ilJ'llil\gl'lI rolJl" Gabriel SOi.U'e:s de 'U~Zll,
.) Hojl' 1t:\I'\u\,
: i!(':1 l'l''''f'ildil d(' JI'I\Ir'!o\f:, .in \.
I BIn'l'i~I~:' :i'" _\1 ti.ll':h 1';"/\-. n: r.IIlC\T 1..... " ()(Jl' Oll!!(.' '~""I'r'lq r,i":i l-'tlr{l!.!Hl.
1-

al ~ onde d 'ixal'a o pen~idio, no qua.l :0 lia "ia. ji pl'onuo a


mo com 03 Franceze~ qllJ io em uma grande no a pO,O:1--
rem o Maranho, e desembarcando aqui om terrJ, com duzen-
tos hOD1ell~ bem armado para consumirem o no_~o qua-
l' nla que e tavo na erca: ll1e- sallio o capilo ~JanoeL de
'ouza d'Ea com dezoito homen ,e melido em um charco por
cnll' umas juncfueira , e carrios qne na praia fazia uma
ribeira, o deti" ro a todo, matando alguns, e os fizero.
LOl'llar a omlJarGar mal con l on Les.
IV
E:'iTR.\D.\ :'i0 )1.\R.\:IIlo, E n.\T.\LIJ.\ CQ)I os Fn.\:\".cEZE~.
Jel'anymo de \lbuquerqu, que <:e ajuntou aqui com o'
seu., o ordenada algumas cou.a::; nece ~aria . jornada, fez.
resenha de na (Tente e ~e achou com at quaLroccnlo 1'01'-
lu 'nozo duzcl1 Lo e Yinle lndio. amigos que Lroux.era COIll-
igo de l' 1'l13,llIbnC, Pa rahyha, Rio-Grande, o partindo
d'a qui foi tOI' a. Guaccndnha. (1) q.ue ho a tCl'ra firme, que fica ela
r)[LrLo de Lo::Lo da ilba de S. Luiz, onde e;:lavo 0'S Franceze::;,
o quae \' nela a no~~a mbarcae' o sab nua pelo ln-
dio., quo tra. io por espias, a pouca genLe 1'ol'tngn za que
lla"ia na jornaa: logo l'alli 't pou 'a' noit ' dero oeHe., e
lhe tomaro a mba.rcace com o mantimento que ha-
via, e d'a!li a oito dia nella mo'mas, na ua. uelermin:J.-
ro passar conlra os 1'0rll1gl1eze' de' da lba tnrra firme,
aonde ao U ombar ar, o nosso como gente desenganaltl.
que 0[0 tinha nonhu1l1 rem dia, nem mantim nlos, ti ro nos
Francczc, quiz D o' fa.Yorec L-os, que _ nela a e te tempo
mais ele II' Z nto llOmen \' ne r;Io, malar[o o prendero a
mlliLo do' Fl'anc zo .
E podera. Sl1 crer Jllllilo no conlraJ'io, so clles e nflo
ace: 'Ioraro lU pa "~ar da ii ha L'ITa em busca do' no~::;o'
com inl nlo de n30 deixar nen.hw11 par:\. lrazer nO\,(1_.
E a:sim :;1 l.1e'pro::o em Ille puz'rio to ponca genle de
uma part \: C l.1a outra a rcs [LIo, e ap rto do' l'orlugucze.,
vendo qu \ n'l11 pa.ra anele r lirar, TI m pa.ra esperar aUi ha-
,ia rcme Iia, forJ:o luelo 111 io:> que Deo tomou p:lra lhe dar
e~ta no o:pcrac1a victoria, O'nl qn fLcaro enlJOr elo cam-
po, o pozcr,'lo cm fugida. mai' el Ircz miL lndios fr 'heiro"
-8-
que estnxo em favor J03 Fr:1llc.ez ~, tlClJos UI} B11tal'elJ1 dos
lnJios mais de qoinl1ento" perto de cem Francezes. -
v
SOCCORROS li E:PLC::\.ciO.

Aqui teve o Capito-mr alguns ~o('.corro de mantimento


de Pernambuco e da llahia, c !TI o capito Fl'anci~co Caldeira
de Ca::;telJo-llranco, com cujo favor tratnro o, POl'tuguez s
Je p:l 'sal' a illla de S. Luiz, e como j;'l o Capito-mr linha f ito
p:lzes com os Francezes, no houye de ua parte r ~i tencia
porque e tavo em lrgoas por quatorze meze e emiar50
:seu embaixadores Hm:pallha e Frawa p~ 1'a. que o' Sere-
ni .imo' n y (omo irmo em arma) dcterminas:em e~ta
lide i e por se dilatar a re::>oJuc:o, foi Alexandre de Mour:l
t:om uma armada de P rnanJlJUco no an110 ele 1615, e no om
pouca dilli 'uldadc e perigo~ elo mal', entrou no ~lar:1nh.o,
peh barra de l'ery1, onde (por ainda e no aber m aqu~lIas
blrr:i.s) enclIlJaro nlgumas vez s, mas sem damno, com
sna chegada. se entregaro o 111:lis Francezes do Mara-
nl1:1o, que e tavo cm lrgoa , com pacLo de e ll1es lIar pas,ll-
gem c matalot3g m para Franc:a, em cuja enLreg:l no falta-
ro compele11 'ias, por parecer a Jel'onYl1lo de Albllqu rque,
e . ' U$. complulleiro , que :1 eUe se devia aquella bloria,
qu ~t ~inho trlb lbado ( I) ..

PRD1EIlU ;'oncas D.\S l'.IQUU.\.S DO ~L\R.\:'\Il.\O.

Est::t. Pro\in ia _cmpre f i muito reqne~lalb, e de.ejacla, e


j em tempo do'. ereuis;o;i o II is l-HeiD. .Janoel e el-fiei
n..lona lll, se ha"la metido muil c~lbeda.l porde 'cobrir po
voar o )!ar:who, e no em grandes moUro., l'orqu no
IraLado que Pel'o de ~lagajll[' (:l), 'cre\'eu da cou as do
llr:lvil, no anno de 1575, refere, que indo certa na\:1.o de~Lc
(1) o IJrl)l'Nlimcnlo drslenl de Alrxnndl'e de Moura ou tio GovrTno rla)[ trl)-
polo J O pr.,jn<lica a gloria (lc: JrrunYlllo rio .\lI,"qu rquoj que nem llO r spnn-
ff;\V 1 p 'la prisi10 4U(; oITrou 1" RavarLli 'r tio Custcllo lIe Belm, por c.ipn.o de
Il'O/. annus,
(2) !'Nll'Ofle Ma;:-nlhfics Candavo. ofT!.~~(rnJ\ 1)\ P"onXCll D[ S. 011'7 ii que \'ul-
:ll m,'ntf' /'!laJl Onlus H" \<11, I'ap. I t. ,
'
-9
gentio bu~ "ando nOY:lS tCl'm em que halJilar (que de . eu
natural so omo cic'ano;; amigo. dc anet1r pelo lJluud ) atra-
yes:iaro alguma jornada para o Poente, ondc enconlrando-
se com oulra nao na contraria, que lhes ~ahio pelas es-
palda , e sendo mais poderosa os obrigaro a meller-se
mnilo pelo erto, c dos trabalhos do camiuho e conlJicto da
guerra morrero muito.. , e os que cscaparo faro ler a nma
terr:l, onde ha"ia poyoac" llJui grande.' e de muiLo" risi-
nhos, enlre os quae erjo tanta' a:i riqu Z3.S, que ha-via ruas
muito compridas de ourive que s se occupavITo em lavrar
peca de ouro c pedrarias, com O' quao' ~e d li"cro alguu:i
tempo (1). . '
E "endo-Ihes levar ferramenlas, liJesperguDtaro, dequ n
ou porque meios as havio, e ell 'os inrQnna.l'o; como da.
parte do Oriente ao longo do mal' haIJil:.l"lO uns brancO' que
tinhao barba, fie que a- alcancav50: enlo lhe dcro o outros
o me_LTIO ~ignaes do' Castelhanos do Pedi, izendo-lhe~,
que tambem da ontra parte do l'oeute tiuMo DOtl ia haver
gente emelhanle, e lhe dero a trooo das fenamenta" crIas
r ld lia tuda chapeada de ouro, e ornada. com e. m raJdas,
pediudo-lhe que a.s I "a.SECIl1 ]'ara. mO~'lrar quellas gentes,
que linbITo as ferramenta, c que lhe~ di '_c:, 'cm, que ~e a
1roco daquellas pecas outras emclhantes lhes qujz ;::i'lcm
levar ferramelll'Ls, e ter communicao com elle ,qu o n-
ze. cm, que estav pre~ te para os rccebercm com muito
boa vOlltade, e que partidos d'alli forJo tcr ao lHo da Ama-
ZOlJa., e navegando por cJJe acima dous anno" chegaro
Provincia. de Iluito (terra. do l'el') ollde lorro foro conhecidos
por gmtc do llra ii, e contaro ua jornada, e ofl'erecel'o
a rodeUa que foro yendilL por gran,de prero.
E conforme ao llllC Auctor di 'corre de,:;ta. jornada (que eUe
le tifica como 'OUfa IIlUilo certa) eslas gent ' ri ai' dcvem
,cr o halJitadore do lago d0l1r3do, en:i cujo de~cobrimcnt
,'0. lIo 0011. UlIJid tliuitas geutcs, e c;1pitii s Ca teJltands,
e vem a 'ab ir no Sertio do nos o i\Jaran l1o, a ql~e o. do Per
chamtIo PCL!Jt'iti e Dow'ado.
\II
WI\",\J)A DEGO:'iALO P1Z.\I\1\.0 E FnAl'iClSCO ORELIL\:'iA .
. P'Qr e 'las e oulras infol'ln~cs, ,e moveu tambem Conalo
(1,'.11' o "olphr,~ (' phont~;tl(1o [lU:? tia rJ.-"01< IVO. rfll~ ttl:lla caloi{lI c~u
J10~ 'iCl'tJl'~ XVI l~ :\\'11. I
- 10

.Pizal'I'O (que foi o (file 'pois ~c quiz lcr:lllla.r 0111 o Pcr)


a Yir (alglllls arllus de~Le sne e:3 '0) CUI ele 'coul'jmenlo da
canella, que achon lw.\'cr muiLa em Lerra de Sumaco (1), (Ine
(conforme os ~jgnae:.:) ue a mesma que a da lndiLt, segundo
confere AnLonio Galvlo,' e Lambem Goncalo Piz:l.ITo, e os seus
'vj 'rJo acha.r Gentio (Ino [ralara ouro cn} (luanlielade,
E do muilo que delte !lourado, procedeu a ne'es:,ic1aC! de
fa.zer o bercra,tim em ql1e meLl,cu as bacragen , e poz por c'lbo
o ca pHo Franci~co de Ol'l'lhana, o Cflla.l le\'ado mai' do
1'e:3o do berg~llim que da' correnLes do rio (qlle tomou por
ue:culpa), se l.leisou lo\'al' de ua ambio, e dosemloc:lnc!o
pelo rio elo P~tr, reio Hc=,pa Ilha: onrJ c cI i ',~e I::liJ lo a.' ri-
queza:; desta Icrra, qQO o.lmp"l'<LUOr Carlos V o de:paG!Joll
]JOl' Ahllirante ciCLo rl 'cobriOloo'o, e lhe nnnclou Onl'jll:l.l'
para is~o uma boa arLlllcb, que nio foi de ll'eito por 'Jle
ll101'l'Dl' na_ CW1Mias (2),

nu
DESCOllRDTEYfO Dl~ LUZ DE 1lULO D.\ SILYA.

Llliz (10 ~,dlo eh Siha., filllo do alcaitlc-ll1r cI'Eha~, an(la.-


Y:l na (,0,:<'a do J3ra:,iL por a\' ntllreiro, a. clc~Gob1'jl' a\gllma
])()a Capi lall b. que pedir a el-Rei D. J0:10 III (3) e sendo rol' 'atlo
dos gf'l'~ e3 a r i r (lj 'CQnel' esta cos la do ~farau hio, lhe parcl:eu
a I 'ITa muiLO exceJlc:nLC, p lQ que aporLou na ilua da Mal'ga-
ril:l, one ::IcllOllalcru!ls rio bCI'ganlil1l de OrcUli.lna (II.), qu' lhe
di~;Sel\lO tanto da lCtT;)' eniro, Gomo te 'tuIIIUnh:1,s de Yi:'La,
que o ol.wigal'lo a i'ir, ~l gl'an-pr : "a, prdir . '\.la .\.lL 'Z<l,
arI ella Capilania, para a corlflubtar e poroa'r, e para i "'0, se
llJC al'inu lIlT\a :U'lI1ul!,J ele Iroz na\i03 o lua. cilravllas, com
quo roi Ler ao .:\laranltlo, em cnjos 1.nlixos ~, pll'd '11 a arma-
da. E ell' e alfrlln 5 fIllO escaparo em um;). cal'<\vella, E)ue fi-
cou l'l'a dc p rigo, lornarJo a. o~le lleino, e por ficar muilo
ga:;laclo clo..;la jornacla o dc:pacllOu cl-R i D. Joo BI, para a.
Jlldi:l, cI'outle \'i11(10 rico o com animo d' 1,01'11:11' a c~ta 0111-
preza, ~c pcnleu na uo S, F/'CLncisco, de que Jl:tO homo mais
nova3.
(I) JJe ('Ol'l'UP,iO rln pnll\Tn 7. '~, '(II'R. \',lllc proxiIllO ti Qllilo nas frn.ldns dc
UJI1 1'0k;iO, n;l BPjJlllilll'i1 do Eqllnl!ol'. '
I'!) IIIC'xll'l,). Fn" .1:Cll /11 Al1lilZOllilS 1111 'lla Sr~lIl1rl"l expocli,iQ,
(:'/ () H!lIhO):" (liZ II ..\lllll1l'l, IIIil8 1111111 CIIWlI:lll 1Illl1'I.Tl'ipill, '1'10 SllPPOI)I,1< 'cr
Ilr llll'iJo~a )lill'/I'lIll), diz II. ,I >:'t I III, II '111C' 1,(' l1l,ds C'XiI"lu.
t 11JC'~;JI(). Er,jo} (JS (')illlJaIl!H.-l' ,:-; di' OJ'cllli,lIi~ tI:l ~1.:!IlI\lI;:l j\J}pdi(':I\).
tI
IX

OS FILHOS DE J010 DE n.\r,no :'ia )1.\ 1\.\:'iI1.\O ,

T'or o la c oulra:)informae. (1), .ToJo d Barro., famoso


hi loriador, que tere grande:; noli 'ia de~la lerra, como
qnem 'creria el 'lia uma Dccac!:t inli lulada - Sa,nla Cru z; (2),
se moreu a petl ir a el-llci e:la Ca pitania armando com Fel'lllo
lrare.:- de .~l1drade, 1I1o'ourciro-mr de 'le Rcino e .~",TC'
da Cunha, mandou em conlp::lJIbia dous rilho: ~cu " 110 a'uno
el 1535, a qUll arl1lad:1. ra de no" ccnlos homen , em qlle
en lr,t \'10 CCO lo e treze de cas::l! lo, e l:e PJrdeu esla frola: e a
gelllequeef'apou, d pai' d"i'azer nlllall1llele . Luiz (anele
agora s chama. o Boqueil'o) mlla forlaleza el que ainda, a Iii
e' o algn n.; ye:,ligio" em qn ~ r pedra, 'brallca da.' ele .\.1-
(',Inlara (3), os olFuOlmio o tempo, on algumaclosordem COlll
I) Genlio, S m fi ar ouLro l'a:;Lo lIl~lis, que dc.::',col)l'ir-lllOS agOl',t
11 m (;clIlio na comarca, de alllrc o rio ~!on in e o Ilapi 'ur, i] ue
hr 1'111 llld dil1'cl'cllle do GClllio da [erra, purquc Yirem rm
"(j!Jr;ldo~, ('amem p5 de zal.Jl!1'I'O . Il~O IIS~O da farinha llll
1I1:t1ldioca, n. 111 rl arLo;:; frocha:,' ]lor dcrj,a erilo barha
CulllO os l'OI'LlIO"llLlC', c por i: o os cir 'ul1Iri -iuho:, os '11<1-
JII de lJ((I'uar!os, como o::, lk CJI1C alr::tz fkt lliLo, 'o~ do jI 'xLo
l'ilamnrJo ao' companheiro' ti F 'I'ld Carl z, c lem Ulna:
e:-:pad:b, 'omo adIa: c ulJm' z,l1~,lia' li \ :UT'nu'tu, com que ,'o
lellliclo "alentes, C' dizem [[U' 'o liese mlentc de branl:05,
'1 rIU 110. 'h:lll1:10 Pel's, paroL por memoria de a'lTliml'c-
elr,nota\" I, c1' que COIl:::1'\";10 al[llclJ' nome 11 COlllludo
(; Illio llo barbara, ou mai qu o oulro; e lJorlll no qui-
zC'rJo nun a paz llC'm Ll'al COIll o' Fran' 'ZC., dizeml , que
clle:; no cr.lo \' rtlarlcirlls Pel' "
E c[lrlndo .0111J 'ro que o' l'orlugll Z c"-laro no )fara-
nko tralado de \"ir \"el" r:1Z 'r pazc- 'om e les, o dizio
Cjll c. le erJo seu' Pe7'l5s d' l'jados ele que elle crilo cl scen-
li nl("; . pelo meno scro n:ho - las Incti:l.', II ~ ale'uns
lll" 111'0. Cjll' o: hou\"' 1'50 ante de e nnsl1nllnil'cm nc.la.
conqui, la :i.ssil1l como lamkll1 agora lcilamo" inllllilos filbo
c t1lhn. f!o~ Fl'ancczcs, lo lempo C]I1C aqui llL1bila.rJo.
(lj III "ll['lo, ,\ e'fl~\Ilie;io dr ,\F da Cunha 1'011I O" filhos ti Joilo tle narruS
rOI allll'I'i"I';" de LUIZ tl M('lilJ. '
rl'l
l
~ 1 II iZl1Ir II Ir (';;~i' l)!,rn perrl('lI- (',
:1' p{11I1ril:I.~ do l'illll I'ia (om POI'jn!.!H', 111' txilll:1s ti T j:--1Jtlil. nn (lil"C'l\liO tio ('0-
Ir1JI'(' 1'1"1'1111< I 1 lIa~ I"" 1>-, 1\'11", ' , , ,
E:;lc~'Francrzc_ lam!Jem \ jpro aquj poro:!I', llllhido: de
nu li ias de"la ll'T'I'~l e de lwnr 1l'l1a grlnd's riqllez;ls, porljue
hayia lllai,' d riule <\nno,' /111e l'inlJo a e:,la~ hal'ras de .1I:lS
pilha~en... e linlJio aqui llJlla ladro ir:! Ofldc L'spalnla\:1o e
llr aro 'Olll:1 ,,[mece u :! da lerra, fJ.uP tambem ('uUJO u breu
":~I'\'r,

C (lr1!O do alheio ,rmpr'l', < mo he mais larga, cnn) o qUt;


furtaro Ilesta co~la, tinh nesla ill)'l, gl'am\) WIIIIHCI' 'io e
corrQ ponden'ia com lTlai' li 'trinta a'lla" que Ilella havia
de t;cnlio 7'1IJ! i 1100 t1 I bl , r, a 11'(1('0 dt S'I!S rt'~(al ,hariu
drllcs Iluilo a!CfOlUo l',lab, 0,1 inlenla, ,aJsa.jlal'rilha, pilos
d linll e outras l11ad ira' de e 'lima, e uma tinIa I'cnnelltil.
mui Lo li ll~"l" a qu '. lJ::uTI;tU urucu, e I' 'fazendo na IlW 141 la! m
com o..: m:lIlLilll 'lIlo~ la terra' i.o :L1aslrud di. lO, a.l que
/lO lUl1U l~J fi IO uni Lar! Yohu' (2) Fra,llcez, ql.LC se ei'iara.
enlre c'[ "J I'ldio, , r ('1';1 rrl'andr tapijU1' (:3) pra tico na 6ualiu-
1

gO:t {. que o (J lllio poz 1l01l1- fll/jub!i, que (Jucrdiwrlmto de


{m'o), ,cio::l Fr:U}\, C Ci lU muil s gabos que dj>::"c da Irra
informaes que deLl de lia\' 'I' nella milla. d ouro e ue Pl'il-
ta de lati sos mell ,C I' rola>:, e oulra muila.s riqueza"
}I r uadio a um tida,lero Frunc.:ez, )101' nome Daniel d h Truxe,
Monsiul'dclaHal'ardil'aI4,f1uefo::< onqui lar'p \'oarc::lu.
J'rorincia o qual para i~ o r Z lirr3, CODl oulr dOu$ lbzalli (5), c
L

FcrJuj ti t : e ol1\ocando lodo' 0:- '('1.1::; amigoR e parente, rie-


r.oa ~Jaranho no anrll ue 1fJ1:! trazelldo (po lo ql1 ' lulh&,-
"anos, d is fraJes c;ljJu'ho. tI'S, Fl'31Ici:.: 'o (7/ <1l1e on,epv,
a 31hequizar o LClIlio; c desl;j, Comp,mlJia er~o os ql1illbcn-
tos IJ om ens que aI!i e-:sla ,,;:Lo, .

(1) Pror~\'(llmente o algodo illllur"Uo, inLligena.


(2) ,arlo Ue'. \'aux,
(3) T IrIJ.I n, ca<;adol'.
(.1) Daniel de la Tous be, Seigneur de la navardiere.
(5) nazilly.
(O) [,'cnwJ - Silo e encontra () Ifl nome nas obra da poca, liInfo FrancezRs,
eO/lJO Portugueza~. Provllvehnent rder -'se 'icolo lI'lIarJaJ', outro con 'oeio
de navHrdiere. .
(7) Eriio qnalro sob a eJirerilo do Pnclrc FI'. 11'0 u'E\'nEu~, SllP rio\' ela ~Iiss;jo,
La navardi' rc l\hel'c cla C llc,nia, PI'" fll'(\tr' (un(e Cnl\'illi&~,J II1vfoltrr'l ~F" .mas os
Sf'u., IV'jn, f'l\io C:afholih)s.
-
'".)

XJ

DJ;SG lHl/;\lDTO DO GI.O-PAI~,\, F.\)lO-U 1,10 DA ,D!AZOXS.

Alexandr de !\foura depoi de lanear os Fr~U1cczr:- para a


Frana. p"la hfllicia qll ntre II[ '. a 'hou lIa l;r:"io-P.. ri, fa-
mo.o rio da. Amazona', mandou des obril-o por l'l'anci co
Caldeira doCa. Lello-Branco, o qual iouo p ,lo ri acim:1 corno
,inle leO'oa~, fez uma. forta'eza no silio qne lI1clhOl' lhe pa-
receu alli e forlili u lere Irez"1110, homrns il ,.11il ]'(]CIll.
alaun anno, no quac .e fiz ro al u U1l1as elllrada - por
e.L rios e lerra de. cobriro mui tas cou:-:as li" q U o ti i lo 1

],'ranci <;0 Cald ira mandou :J.(}'ni copio as r 'laii ,", IH'al'L'-
cendo 11inilo, as manrilhas. d ,II' ri, na venla.llc 1Jc mlli
famo.o ha n 1] mais d c milha, oul!'(,' gl'anllezas c
exrcll n ia mui nota\' i , e h o maior rio crlIl 11' ('ln toda a
rerlondeza lla t rra, e lem cenlo ,inl I fToa. de h()r~l e mai.
demillgoa d'd ciLadesd o l'cr, a qual 'u::draf"~l;ltl'
pd mandar all!';r uma parla por . le rio. por onu l'OIll
grandc c ml110didad o bl' \'iuadc, ,-onh5 a:: riquezas dclll~
. ne.pnnha, , m o~ inc n" lIielll ,'di' a. tr:Jgiuar pOI' lerra
ao mal' 00 Sul, (' por el'c a Panam;1, c t1'aUi ulr' YCZ l .Yam-
bn de Dias, d'aJli, n:1 ,.1' la ii. fIe, panha, quo Lu .o ll':1-
b;ilhO:1 tlim ill L a ~ra.la.,
XII
OE CRIP.i. DO i\I.\R'\~n.i.o, l:.\S TER lU,: E RIOS.
O itio LIa Maranho hc uma hahia. que olha. pal'<l o ~ol'(e,
e L r;'l como qual' nla duasl ff ll'daponladoP r~-al"
pOnl:1 do Curn,'d !lIra em i encerra. perlo ilc vinil' illHl-, r-
iUI o , A de S, Lniz (ollde alTora c,'lo'o l'orllJfTlleZC8j Icm
yint e dlla, iegoa, 1'1 comprido (' pt UI' l:ll'lTo, o ,a11('. 110,::.1:1
b<lhia como lingoa, com a ponla. d A.1'3SS0:l"y ao ~ ftE': ao
longo I'IL La ha oulra ilha.s d. ineo, . eis. le e mais, . D1e-
no Jegoa , como "5.0 a da GoiaTas, d J\laamc, a de 'anl
Anna., a do la. Tnrhe (flUO ho I rninsul;1 d Ga, par de OGL.l.
quc foi Goyornador dallueJle L'Lado; que t ril cis lCIToa. :
uma que se deu a um Cil'l1rgio, (f'-c ler quatro legoa o
bulra chamada da Paca:-, de SI.II 'lia }la.gc'lad -me fez mt'i'-
(' " que "01';), de al dU:l, Iraoa.: I;. .
, ,

. !I,nnjr,dimri!l\lcn( ~ pOlh'nl c!l'scriminar f) J' 1', ~(''-l1<lnH< n. ilhn'c!J gr,111-


l1<' I'hl[l cio .II'll'i\l1h'10 ('Olll ~x~pp~,itJ ti'1 ti' :-;.l1lll .\l1l1'1 l)Ldl'''r~ l'I.,o,,\trnt I.
~ 1/~-

t'OI' Uell'ilZ c1e~las ilha llL':,Uljllo l\1~~la lJ;t!tia, l'IlCO TIU


caudaloso o Lrclo n;l" gayois, que so o )lollim, o Ilapi 0-
),lI, ro~o qual, tltima Ynle \rgoa ,lemo uma forlaleza com
quarent:l ,oldaclos e ;)Igun moradores, e Ull1;.L allia ou dua
l~wn a grnle d' Bculo ~Ial'icl.
O .i\lcarim, que Yl'm por 1'Ol'mo,i~~inll campina dell1aa-
]lz, oD(ie al\t1:o Illuilos bandos de ma.
O Pina.ru, (lU (lizelY1 nasc.e muiLo perlo do Pcr (1), c o Ma-
rac, que se clerim por muilo e nlUi e<;pao os lago ; em
lodos, e caua nm desl s rio, e pMe fundar um Heino 0pu-
lenlissinlo; porqllB Lem Loni simas agoa , muiLo 11 seados,
JUnHo excellcnlcs lerra , mui las madeiras, muilas fruclas,
muillscaca,.
A fra esles, ha oulros mui los rios menotes, e rib iras,
CJue 'Iamb m elesn rro o ne, la Lah ia, e na enll'ada do ~Jaracl,
ha llmas salina grandes, 1'<1 bric:ad::ts pela n:llurcza, aond em.
nns larros, que <;eco quando a agoa' ando lnxa, coalha
muilo sal, que ainua que no be 15:0 aho, ho bom, \ b::tslanle
p~lI'J, o uso COI1lIDUll1.

:XlII
E T1DO DAS COu.\ xo )IAr.AXII:\O.

na llOj no j)farn.nho, CJnalro forlaleza , e ao longo dellas


mai de lmzcnlos vi. inhos Porluf);llCzC,.
A cidade de S. Luiz, ii sombl';). d~' forlalezas . Felippe e
S. Franci co, llap:.lry, ii ombra ela forilleza S. Jo:eph, e
os que eslfio no llapi or, sombra ela fOl'lal za challlaa
Nossa Senhora ela. Conct-io (2).
Alm da ql1ac" ha clna,s e, tancias (le morn,florcs, UI1l:.l. no
silio, fIlIC cllamo dos Francezes, onde se dcixaro fl(".:lI' al-
~rllns, que l!E'pois ca ::lrJo rom mnllleres dn Jlhas, e o fer-
l'piro , c gl'nlc de presUmo ii conqui la, e os qne 111 11101'
sabem a IPIT;). E outra na altl'a. de .\l'il soagy, em companhia
do c:Jpilo l31'anco qu alli til.
Tamb m ha no\"c altla:; de Gentio circum"i inha , que
fortalecem, acompal1ho c senem ao PorLuguezes de pcs-
tallores, caadores e de oulros misteres, e todas tem uas
(ll Inexacto. O eu ('Ul'SO limita-se;) PJ'oYinci(l [lo )lnrnnlliio,
'"1) E,ln f,'rlaJpza II' tlilr~n'nt(' tia lIu I"I"JL\-CIlGI., '1"C lil'l'''ifi Sr' ('tlifinl1 n;\ fol';
til) rhJ II \J' l'llu',
- (0 -
tgl'r.~t::i nloil(l (el'lnO~;1S, e df',cjiLo I1lrtit ser rLl'slo:<, r. :rgo-<
J',L "fio l'r;LC: Caru 110 , pal'a os t"llhequiz:lr, ;d('ll1 de que j,
J C'slJo padres da COllljKlnlJia.
XlV

E rara esta lCIT ir' {'ln !!l'and rI' ~dn1l'nl , conYtlM qne:
fiua ~lafTe,ladr, d,5e e la 3lilr':! )(]mini 'li" dores ta~cldos
(' de 'abotlat a 'sim para que l\aja naConCJuisl::l com que pro-
lIIiar o 1J nemerilo" como para os lnclio' Lerem quem acuda
por cne e trale de o fazer chrislos, e o ampare o conser-
YO, os faa .lJTeigar na lerra e clllLiral-. , e 0_ tenha.. cl 051 1'05
{' promplo' para qualquC'l' occtlsi50, r. o taos aclmni lndo-
l'es, dm'ern r sidir n3, a.Jdea" gbrig.ar-s a u,lenlal' Jgreja
l~ Clej'igo om aJgum moderado seni , c[no para ""o r,-cebo
de cada G nLio, cada 111 Z, como s faz tU:t" llldia ; que he (1
principal meio de a poroao dcllasir em lITo grande aug-
111 olo, que por n~ais que dig;Io, quem ,;ti iolero" ado 110$
lndios trala de os eon enar ler contente, pol'qne ,cno
Y;lO pclalCJTa denlro, COulO lem ido pOl e la faJta muilas a]-
d:'as, quo haYii1 no Mamult:Io, mai de Lrinta, quando nellc
culraro o IJortLlguczes, e [oelas [ngiJ'~o de nosso tratos,
eJles sabem o porque, e .u digo, qne ho por n3:o terem dono
proprio (J), quo d oulra maneira no falia quem lhe fa.a ms
praticas contra os POJ'lngllBzes por u mpar para i e,tas ad-
mini tr~les (2), qne pertencem ao qne as a~mb[a om ti>; ar-
ma nas mo , noheemdamnocloGenlio er govenla.do por'
11m CapiLo llCJl1raUO que os ampare e adestre, que lambem os
povo elc Portugal sJo gOY rnados p0l' mirLt~ll'O' de Sua n1;}.- -
~r:'lalh\.

xv
CO}I110DID.\ DE' 00 }1,\i:.\:'iU.\O'.

. tom turlo vai o Maranho c~da (li'a fU) crr.~,6mrrrI0', e a


f.el'ra mo Irando ua fertilidade c fccllnclia: c 5.10 r iLas Dlni-
ras roarias de farinhas c oLlll'a' culturaL, c ha j muita:
fC IJ\ (':ll1b,1 ('!'lI II f,YTHlnd:1 Crllll qllll ,11',11) t)l'i fllrlin--= tl'i1filltos prln$: C,)lnnOS,
~ MllI. ilo au, 1('Htila~, de '111"111 'J "lItllll1' \Jill'l'l't' lI;j,) ~l'r illl'ti~"(l(ln, .
- tG ~

c.a~as de. lcl1w. muilas bms olarias. Irll1iLa~ t~aas. pescariiJ&.


mari8cos, fI'l11<J~, m l. horla', . ai e I 'nl1a, algwna' cl'ae:::
e onlrD muitas cousa<:. como a.diante diremos. com que Yi-
ycm conLentes em lTr;tndi sima'abundan ia, e ra,la dia orai
ennobre enelo a terra 0111 Igrejas e outro edil1 io. particu-
hre. a. Camar;t do )Iaranh tem perto de cem mil ris d
renda d fros cI:l "ua legoa de l rra que se lhe tomou ao
longo da cidaile, . falta ommor io de n rio , em que os
homen... yalho do que tiverem. e hajo a troco o qui> lhe'
fa.lIa, que como homer um nario na trl'ra. logo comear a
flore. ceI' e mo traI' a grandeza de Ul fertilidade.
XVI
ARr.}[A:\O D.\ COSTA DO ~I.\RUH.\O AO PAI.

Do ~laranhiio at o Par, corre a costa a Leslc, quarta a


Noro ~le, de maneira qu ele dous grilOS da parle cio 'ul em
qne e~li a ponl da harra (lo Maranho (h plrlc do Poenle.
cham:tda o CU,??'l,l, correndo crnto e vint 1 goas, CJue ha at'
o Sepal'al'c (l), que he a p nLa da barra do Pari, da parle de
Lesle, <:e ,"cm ti achar ju lam nte na linha ef[ninocial (2).
Toda rsta co la be bonissima, forrada de bcllissimas ilha~,
e estrema(h bahias muito abrilTadu , ornlL1as ele call1lalo o::;
rios c rili iras, e fr"squissimos :l,rl'Oredo ,cujo madeiro" 1'0-
urnl :10 CiO c ~~o inl1nilo..
E~la Provncia habitaro os Tupinamb1l.Y, em muila al-
rl;\'~. qn 03 llortnguezcs a.Lra\"e,~aYo, indo e "indo cio "a-
ranhITo ao I'ar~, at que no anno de l6l8 (ou escandalLado:-i
(I nO".a \"iFinhana ou movido" de sua fereza) ordenaro em
uma mc~ma noite, malar Lodo o bran O::., que entre elles
anda\"o ('~ralbado, P I' dilfcrente_ lugares, e o que estaro
em um pro, id ia no Cum, e de IreiLo o puzcro em ex cuo.
ponelo log ao Par um mui apertado c 1"0, do qual ,ahio o
capito Manoel oare::. el'Alm iela a pedir ,o corro ao Brasil,
e com <:U:1 boa dclig ncia lhe foi Jeronymo Fragozo de Albu
rrucrql1 capito-mr do Par, com soldado de Pernambuco.
e ainda achou os nosso cercados e com gr:mde fome; d poi'
de o. remedia!', seguia o GenLio perto d duzenk'1.s legoas
pela ribeiras do Par:t acima. aonde ali morr o. drpoi~ ele s~
,Ii lle hojr n pOlll1l T1GTOC.1.
!:!J Erro. 'lll'-' pri)\':l\'p}IIJflnl ~ deu
lIt,1I'~pilllln I.
- li

faZt'l'um nc~ta juru::uh lIluito ltullrauliS fcitos por locios, ~ ...


jlt'eialllll'nt \ pclus c:lpitJ:c' Cu 'toLHo Yalente c 1-'cclroTeixeir.,
c outros ql1P a.'sigIlabi'o muito sua ]Jci:~oa " qLU: a hrc\'i-
uade desla Uelaiio no .om'c recital' agora, fal-o-hemos de
l(JtI(J~ (\ln parI t: ular' n~ 1Ilsto/-in do Brasil, que entCDuo eUl
C~ Tcycr (I i'
XYII

E j!o['trl'1':l fui o cnpit;Io I.rnLo ~radd P:lr~nt lk'l1c (J Ma .. 1

)';llll,n, com oitellta hOI1l 11' c : 'i:'CClllo' rndio fl'rcheiro:::


da" altl"a' do J!:lriJllhilo, c fez n .'le lieIltio grand" csfrago",
c o' mai' tl~l1() dc~composlo de soas aldus, e fugiLi\os
pelos 111:1Lo cahir:io Das mo' ua. 'l'apll!Ja.s (outra na:Io ua
conlraria) que com eslaocca,:iomataJ'o, cOIJlero (2) e cap ti-
'\ <.l,'o quantos a uaro, c e Cllll'ndc, qu pa aJ'io de ql.li-
lJllenlas Illil alma os morlos c capli\'O',
\.Ignns que 'cap:ll'o se faro Y 1 r d s PorLuguezes ao
Par p dilldo paz, e J1Iiseri '01' lia, o paul'e \'igal'io )juno01
lljlgllcira de ~Iendona, os fez ajunl:tr lU uma alda no 'epa-
1'<11':'1 pl'om llcndo~llle' amparaI-o. alli, ~e clles fo. sem fieL:
'0111 parec 5 1'50, por, CI' m ponco.. , e c lal' m 1.1.. S~l escar-
menlu:lu::" '01110 islo ficou, e o.'l esta ProYinci:l po L::t m
]J:lZ qu' com pou o reCeio s ptl hoje poyo3.r cm qualquer
11::11'1(' ti 'lIa,
l'l'incip.tlm n!e hc cxccllenl , po:;lo a 1Jall1'\ deS, Jo:Io (3), e
melllOl' que c la, lt o Cait ~lfue na lingoa ua terra, quel' Ji-
Z r mala Boal) pol'Cjue na yc['dado o he de gl'alllk' fru laes,
li' ar\'oredo (4.).
E ne. te itio ~e tliz q11e lia mna. d praIa de importancia.
qne fundem quasi illl1 '(arlc cm praia; pelo l11e]1O' a sim fun-
dio nma p dra que eu d, Cj U) dis,'cl'Jo .er desl. ~ minas, e
tlgor:l era opporLulla uccasi:io cI mandar aqui poroar; por-
qu ainda anda o Gentio da tcrra ,lJalllatlo c quantlo en
pa.. ci para o l'ar, fasio fogo . ~l c~tl'aYella (:.>" que era. ignal
de querer Ln paz,
II) J\fio COI1. la qnc l'f'alis:t5 e rs(c pl'ujecto.
(2) 1\fio SI" cOIl!J1l'rhrlttl l'01l1O C:tl'S IWI'IJal'o. sOllllo dJl'i!o(iJos por Chl'ist,lM
pOllljnuH 'SOIlI (mI sua ltLItl'u[/olJ!lagia. O'pl'uccl1illWIIlo tlus chefe' foi lIlai' alJu-
IIl1l1al'l'lqllC o seu.
(ii) Iloje a IJnlrin "ti TlIl',I"-as,'l't.
III ClrTf: -/\ iJuhin (Ill HI'''gllll~;L ,
.

(r..) !"ttsI ihi fogo: 11;1 flIdt~ pill"a' ii II 1'0 11 iJ'P'1Il n~ (PIP itll) lias 1'\\I{lrll!a."', IJf'C{ilPllllS
(:IHJH.II"'il~(lI:.'~ ctt: '.WU H \lOt) l(lUc:litdtl~1 '1lI 11lllJ L'uli.l0 ~t: Ilil\"('g:\\ U,
-1'-

E"T.\DO 1)0 Gl',\O--P.\lI \.

o P;lr;l ail da ('.'li ~'1l1 lO fI'( nLl'ra, I r:plc lia l11ufn, t', '::r
l111lil:t gt'lllilifla.clc 11 r elll':, r p 'la" illla' liuC ~~o inlillila',
fle ql\(':; no on.Jo li, 1'; r a~i'im no jlO\OlO, S I1JI) . Olll-
J 1':\. da fortaleza, c por i:.o no ha ainda lanlasrnal'ia:'; lll:I'
a Inll0 upprir.i. a. "i<inl1::111C. Ir :\larafll:-f, c1'ondJ t'1lI grand,~
nhHIHlanria ll1 pL>(le l' li ria. a farinhOl:, e Oltlj':lS rOlla,', com
ql\i'~epoc1eml' :galal'tnuila, p(>fas'l~ de que It:rritimalll III.
FilO caplm", cI)JJrorm0 as L'i..; li' ...ua. .Iic gc. lada Iql\(' . Jo a'
qne n/1s r(J~gn.laillos tIO [(Ifler cle, cu. inimia 3-, qnando o~ II m
raptjyos 11:)1';1, S comerem), "0111 POl1 l '.O cabcd:ll $;(' 10Ll III
h:HCi' aqlli 1l111ila;; cl\ .~(:t~, com qu aju lar mUlLo o o.ugmcl110
cl 11:11'<l1l1lo ondr f:lO <11; llluilo enl,1) e 1)1' slilllO.
Da outra parle d 1'0.1'[., sc IlfLm:l o Cabo do _'Ol'll\ <ronc1,)
I'c.'iucl11 IJollamlczt' em. lias (;olollia..
E o <lnl1O jl:l,. ado i11<lntiou 3,Cflli um [('II('s o c:apiL:io Bl"nlr)
j\[atil'l, d~ dOl~: qllC !.'L lomou: (tI)' f]ua('g 5011I)1'\11OS c 1\1(\ !lI)
C'X 'll"ille :1 1[l1r1Ia lerra, o '110: S apl\)"ritilo Illuilo dl'lla, nll)
s C111 esca.lal'cm ali i os n::l rios f[lI c \ o inresLil,r aq Ilcll[ ma,-
r s, mas rn Lranllo por < fi nclle~ rio: a t III 'cllamo Cunl!J(I}J (2).
(ronde ~c diz Illte lirJo ouro da mITo do (ienlio. r oufra' COII-
.. ~ s, r qlln lt\l'11l nmilos r.craY03 e na\'s de Allguia, qne
tomar'lo indo pal'aIHdia,;;. .

:O:-iYL\JE:-iCI.\S \)OS~, \'10 l..! -,E y.\o DE .\:'\'>:01..\.\ 1:111.\ ,

.\0:' ([11;1.1', na\io.' dr .r 1':1 t1 grandi:,=sil\1:1 lIlil'd;l-


to i':l\'0:,
,1<'c~cali1v no _laranllfio, pdas mllila,' m~i - commo litlatlc
lJup alli II'IU, C}1H' f"lll HC'HII II 111(1,
anLr:l; 1>;11'1[',
.\ prjmeira, IIc fini1'rm d'alli [1ais mm'gat10. 1"111 lnclias, (J
llarrl'Clll ti eh pgar LL 0111 a. JlI~r;(fS, q uc aqn i l'cfl' .' C<ll'cm
mnito jl1f(~il'i.L~, .\ \'c1it1u\,cil', rr qUI' nilo I'm no: outros pr r;os
~I() !3I'a~il; P0l'lfll. para, :)C Ol'~'o Cn~(} n uilo ccelo, 'I ::m~
1tlstl" da:' lJeCtS iiele lm}gJ.
tli J'r.\$ '\ ii t1c~igllnl:~n (Ins (\!;(,I'i1I'11S Innln IHL\frir.i1, pqnlo l1l .ll1wri('r.
1;111\11 I 11I1il' \ ill;l f\ f,lilr~r'a d, r.1l1l1~1l'I';1.
t,,\ rlli ('S{itll(llr ll'illll"lIltl Ilnl.:HI\ 'XJ,.
I"JnrVII '.\ill\1I 1'111 ir;.};;, lHI' 1l1 '11tll .\Iil"d'! 1':lI'l'Il!l',
- I!) -

.\ 1('1\1 Lk'l'l II: l'i' :'('!' JIlUilO 'xcl'llenlc com o \'Cllln8 dl}
longo da co:la, fll\' ~'o to larg')s 113ra entrar, como para ,,:1-
Ilir il torla a hora, . cmp!" LC.lo;; Clll ppa Jlara o }IaralJli:Lo
r d'alli par:t 11Idia~, "fio em oilo, cl z dia" 'd'cnlro tem uo-
lIi.'~iJllOS porlo , com o ,'cnlu por cima da l0I'1\1, IJara e 'pal-
mar r Yi1.l'ar.
Mui:o i11 areI h pftl'a cali1fc:ar, c almecclTa da terra, om
q:[(' Ilrar CI11 11luil:l qllal1lid:ldc, que paI' ,cr (:t1111rgo~a, llrc-
,en'a do frllZlln , mais que o ureu e as:illl o u.. aro os Fran-
c 'V:, P llojf' U r"zrll1 os no~w: na \'iM qur aqui ro.
T;UllbcIlI f'OIllO Il ' lerra. no\'a n10 "ai Hl1 : mantimenlos
Hi1da, c ]101' lio lJarcr . :lca tI!'ll . (como 110' utrl S p rlos.,
11'1 ~ranL1i~:,ima alluntlant'ia d tudo; de 11loLlo qlle I'0df'lll
i1qni l'f':a7.p1', r fi 1 l'l1Wl'. uas armaiJe:" rom mlli~ r ~alo par:L
o.' J1rgl'03 do rI lte nus ou Iro:' pm'lu' acharo para sua;; pro-
pria ' pf':SIl;l~.
E para qu" :t l 'do:::. ~rja oolori:l a abunda leia elc la terra,
o illo:;il'ar~i liaS capitulas eguilll 3.
x.
'.\J."DiHh.\DI: 110 co.

A cxel'!ll'llria tl"la [rl'l':l, (,oll~i,'tr CII\ mui!,:::, COtl:::, ~ I1IJ[n-


rias . .\ Ill'illll'!!'it, no alnl ni ... imo Cl'o, c "L!nherl'imo ar, ue
aondc' .-('tllprr h, ypr,lo, r. . rn1()l'.l o campo, L.
(ril' gfl7.;),
tl'\'o:ulo \'(lrdl" ("'lITl'gado (1 iulillila di" (':idade Llc.f'rllda',
('lIjo nome,', sabores, c I'L'il;c:, Acedem Lt luua a dcclaraj
hUJ11:l.na.
St'mpl' O,' dia: so ifTl]fI ~ com :JS noi!r.s: de ,11r proc de
um SLlld~~iI1lO lf'mp ntnwl1lo, nem quelltc, nem frio.
O:::. r('tllns cur..:o tI orL!illltrjo LIO ~{l~c,l'IlIP, e rcm om o
Sol, rom clle TCSCl'lll, c se pe; d m:1llriril qu - o Il1pjo
dia lraz algllllla c,tll1la. (que n;io el1 ga. a, r 11Lluca 150 r;glJ-
r()~a como '1 UO 11 'so E.'lio" aqurlla oat"nl',l \'ir:1C:,to, f1\IO
pnlJo S pra mlis, o tempera, c lllitiga (le modo, que a Ca~lll;l
FC lio ~'('lIlc nem ha, frio scno d ooite; . por no "rI' l
(':11':1 cl'lllll in\' 1'110 li . te n s. o clima ~ podia cst:tr n !lO
IaranllJo IIj:l .::l.!ulJl'iti:lll'. er c\'idenIC'\ rjllrm con:::i<!l'I':lr
Cjuanl a ns, no: ~'o gral:" sa.riio::i o::. . un are:, r{ll<1ndo
J;'1. inlos j e lJ\I(, o; Illl[lmw: (\'alli Yimlo 10S llO.'SO: log
01 ITL'lll,
-:!O -

o inOnlo nnmero dr fonle. qne c 'laleIT:l p]'or1111 j .Jo (am


bem muita parle ue ~na fre,cura, ]lOl't{lll' 'amo o' 'ai aqui cliJ.-
mais 11 1'10 yisinha com 3. Im'!'a, tem cll::t os poro' mais aber-
tos, para bl'ot:ll' font.e., o a cada p:1 ,0 S) a('115 'OITCllelO mil
ribeiras ela mai clar:l, pura. agoa, que o humano arC1ilc
fiabe de ejar, e 110 sadi:" que onlo caP, \6 la a muilo. doe!1-
le:::, U lhe ,cne d" Jl1c:inha, porl]l1 no llleio t1a~ ~l'ze:" e
dos de temperamo!) lo:-:, c ou Ir~l.' doena:, Yimo m li ila \e
zes, sarar com igoa, e na' febres, faro pelu mr I arte
layando-,c com elia.
Amrmo-me como de YIst3, que nenlllllna' afoL', d('.lfJ~
no:>sas parle., podem compnlil' cm nada com; s rlr:::t;tlrrra:
de que faz grande eneareLmcnt.o o parir joscph da Co~la, na
sua. IlisLOI'in l1[1lt~)'l e mO)'[ll elas .l1ldiw; (J), e mo ~el':to ll'stc-
munhas, ,15 reliql1ias d;lS agullflas que aqui chegaro ela qnaes,
por grande excrllen 'iL, 'e lizcro pras 'l1les, scntlo mui los
lllais os pctilorius,

t'EItTILilHDE D1 TEHIU.

o (erl' no r1e~la. ProYilleia, !le gerallJ1pnte c1 t1l1l~1 !en-a


golfeir:J, muito crianosa, toda. heia de g!'antli'silll )' 3.rro-
reos, fjtlC lrslifj '50 sua fccundia; lambel1llJa not'a lTluilas
ya.rz as de terras gros~a. , o de mac:" pz, aonde no [m'a ar-
YMeelo, seno lJ 'rYaaes muito forles, m alglln' dos qutL ':-I
S:LO po. Ia.s C:U1nas de a ucal', que excedem a toua as 11lais do
<

RsLado do ]J)'{lsil, em groS'lll'a, c grallllcza; quo pela I1laiol'


~5() de dez, di zc palmos do cOlllprdo, e algumas do maL'.
E alem ~el' toda: esta tena muilo Yic,osa, ljudo muito a
~ua ferlilidade, os f[uot!diano' regadios com que o Co a re-
fre::ca - porque ordinari311wnlo d.!oY 'ada dia, ou cad;) dOll.,
sem se ye.:lir o Ct'O de lutto como c: IDas cm wangas (\'a~oa
como as chmas lh Prill1uyel'a, que nc'la parece olllillllil.
A terra 110 ch, pouco montuosa, e lio Imwda, que \lOl'
Y\.o se pde :Jnclal' dCfcal~o.
- 2l -

De::.1 c1im::t, C' lh'str trtTl'110 dl'll:tSO (1:1 Z(,na tan ('lia (lle
fJllt.: os altligCls llflo !lc'I'<LO l10li 'ia, c furo L1r. par ceI', qur.
sl'ria inIIOLJiln.vf:'I) d poi' qu' n. e~p 'riencia mo I.I'OU o (le:-:el1-
gano, !lollre :lllClol'C'..;, que imaginaro, qne aqui devia se!' o
l'al'aiZl de deleile:" ollde no '~o prinlciros pais fOl'o gera-
dos.
E o dito pac1re.To.rph ela Cr .Ia o contl'adiz com a Es C? "ljJ-
Im'a. Saq1'(/.dn Slllt'nlp: e no de mais JJ61ll !'cconllece., rrue IIC
J11PT'l'('{'t!nl' (':10 clinl<l daqurilc prl:'dicamenln, <:()mo se pMe
\rl' no r:lp. SI\' do ;::rlfllnt!o li\'l'O da lia llisJ.oJ'ia acil1\:.l!'c-
[(,I'ida. '

Diz o . a.rll'wlo Em17gelho, qne nlo .:{) am o po vive o ho-


mrlll, cm rn:lis e~pil'il.llal .enlido.
1)01"'111 no or muilO alll 'io de 1105. o intento; ~e morali-
~al'm 'csl -pa.~s(): enl nd 'n(10 pel0 pITo o lllantimento quOr-
lidi'mo, c pelo 11 rncm, o rrellcro lluman0; pois quc c1as
ql1: ll'o parles elo mundo, as tI' z, ~1o uz.o de t!'igo; lod[~
eSSa gl'ande Azia, yiyc pela ma.ior p<lrl' roam arroz ess:t AJri-
ca, com arl'o7., e om Jr;ilhos~ e oull';], scnl.ilhas, e e~sa Amc-
l'ica om mahi..r (I ),. rrllc h, milho zalmrr I (2;, e com mandioca,
{Juco llCm3venl.ul'ado ApO:lo10 S. '1'1I0111P, l1le~ il1tltUrioLl ( e-
gi!ndo Ira.clic'os) viyem to (;onteole;:;, (,,01110 ns com o no~~o
pilo d' Lrigo ; do qu:ll, diz Galel10) que he a peior con. a ue qU0
110: podemo f3rlul',
E j pde .srr, crue por i. so a n~.cs qne wmcm muita
p:io. s muito ]1'J>lancolisada:) e a Porlugueza., mais que
toc1:l, ; IlJo porqu lenh'l n1ai po, que;];s oulras; llIas pa-
recu, ([110 pela me~ma. r:l7.;rO~ que no. LIsta. mais caro, c no:
VPIn (I' carreLo faz mos mai.:5 e~ti01a. delle, f' omo COU3a que
nos f'lHa., a lemas por mais pr' ciosa, c pO!' Lso nos cml)J'('.ga.-
mos n1:l.i: em com I' j:lJ ,e, vertl.da,ll('il'~l1nenL.p" elLe 110 o que
110550 Senhor nos en 'inoLl a p 'dir, c-a. maleria cm qll Sn:L
Dh ill:t l\[a(r :Ia<l consagrou' Ll Sncl'atissim Corpo,!tc o de
(]ur ra z meno o E \'angelho, para com prehclltlcl' o su~l('1 to
do 1lOmell. . .

II) )1111., hc o nomo qllll OR intli;:rclliI eh AlIlC'ricn Clil\'flO no Illi1lJO, e nSSill!l'


II(' r,,"llrl'iclo rrn <I I11'11Ril.
\:J II,' II mi'iI'l .rl'd'~ll tia .\sia,
-:...1 -

Porm o egiilldo lll~ar dopoi:; do lrigo pcrlt'ncl a 17)(111-


diom, que h r,trinh,l c1u umas raizc5 Jlluil fcrleis, nluilo
.":tllias, e muilo sub:t::tnci,H';', rbs Cluac" se faz m muiLa' sur-
te: de farilllw, uma. Illuito fina r to !lI'. nea, J lais (ltll a d
trigo de Alpllllf'jo a que cllalll:l0 c((I'imei lo (lU bZl'1l1 }lo105,
que dlamfio boijtis, o biscoul ,qu' cllall1o caa \' C filhs, C
holill110los, C ~'obr\ Indo, lInl caldo, comodl'a'mid(lo'l ,llJaS
lI1ilito mc:l!or, Cluc ('1wm:io 'liln1to, e CllgollU\1ITO COlll cll<',
'umo cOln a gOUlJlla muilo liua de lrLg .
faz-:.:c ll1'li.' d .,(;t, l'izc.', a. farillll;l fre~'c:l qn lira a
sJ,ut!a:lcs (lo p:io mollC', c a fal'illha l'llillal'ia, que c!lal1\j(l de
[j/{')'}'(/ '2" que 5e;'\'0 de ma Lalol 1ge\1S c como C~l dl('fTa j~l \' IlIa,

I llJiFca\'aua do mar lhe chama o pO\'o (((/'ill/v! de ))(o, merc-


enfio ~L mauLimcnl onlro nom cl llluila c~lil1\a, I.OI'Qll(}
uella ~e r;lzcm lJolo.', po, ]lj.;eouLo, Cll~ 'smuilo L'_' ellenl-,
(' om ella ~e ~u~lcul,l I1l,Ls gl'l\l " qu COI1\ p:iCl d lrigo,
que \'i\'c!I1ll1ais anllo~, flue n~, c \'ai ~I Angola, em qllallli-
t!;Ic!Q ti . IlJYO.:i :llTcga1l:', \'em com rolln. Ili;tllllotarlo:-:, nd-
}"<1rl'5 ele alma.;; oulr~L \'cz ao lira. ii c a Judia.', c ,t e~,lc Heiuo,
c ludo pLln sllpporlar l10 1JOI\1 tI1anli!ll~l1lo.
Pi'la qn:l! C:lU~::t, tlliz Jfl'ndc" ele Ya~concd!o" do COI .'elho
(11 SUl. .lagc:l:ttle, c ~O\'el'l1adUi LI Angnl:i, l1a ,'lla J ir .11 -
l.'la)' lhe L1[1 o s {(undo lugar depoi, do Il'igo, C0l\10 qllem
Jwm 11, np.lr0U a: cxccllen ia.' de:la. ,<,milha, qne, a.\'anlaja
(lo trigo, em c,''ta.r .'mpre n:1. lerra Tc-cendn lodo () ;ln[)(),
r'111 flue o trigo e~l mingo:u1do no:,. !\dlCis, c cm e:I;1r . ~111
pr feila. ln lJo:t. 'srz:io, (iUC nilo e~.;t:L o po p:ls~::ulos ui lo dia, ,
l' rll1l'espril ) do: I\)f'luguez,ls, sc a..-anl:tja, Jll'inrip:lllllrnlC
.'ol,t'jal' n:1.qllella.s ~al'!cs (\'ondc Iles ,I ';llTt'glo pe1.ri rra..
(Jna.ndo na no S~l pall'ia nos f<Llla o lrigo ul'dil\;Lri;Llll III , c
(l comOlll05 lodo o anl o, p(\la miIo ele C'.'lrallgl'iros. ql1 com
(,Ue, c l':lZPlll podcl'Oso.-;, e jlor ellE' !W$ !e\'iio ludo (j!lanlo lra-
semos r1:t. lndia Lh China, (' n l1l i '.,0 lJa.~l:1. [1<11':1. lf'rlllOS pft
(' a:-:;-;illl lell1o.' o.' I'orlnguez(l:, menos ac~o d(' (l( slll'C'z:lr;t
mandioca, quc a.' oulras na~~, lo Illllncln, cOl\sidl'ml1clo,
qne IH' I'lla t,L! manlimcnlo, que Ilarellclo no ~ {Ll'unh:-o 11ll1ilo
milho Zall!IiTO, c muilo cxcc:l nlc arroz t'm (tllalllirlade, Ifio
:r faz li, ca:,o Ilenllllm eleltc" para. po, ~clldo boa ycnlad\

tn .\ '.l!IIn, r\~llllfl, i1 Cf'cnla YC'~('>lnl, n gOllllll:l (II) II i.~o.


oJ 1111':1' lIe \'III~'<I1'ln'1I1t' ("l'tiJP -ida p'H' I'\Hl\1l \ IlI; J'~ ,l'fIiO. -io 1('111 agl'urluyt"
.-11"11'. l. I ' IU'III li. ':11 gll.;llI~
- ~:3-

fTur , (' o (':1 lill'rJllJO' 1J1 :l.1JuJ1danGia, Il:iu fora tu uuro o


'dpli\"l'im dl' COJJll'J'J1l0' o 1'50 pela mo do e,'II'Jngeiru.

"):'i110.

Otlin, a rmpreza :: ri V rSlladir i muitas gentes 11l' t n111n-


do, qne 110 boa terra o ~1:ll'allhITo, :c lhes honH'1' de tlccon-
lp_tal' qu 1110 ha li Yinho; e :1.::im ~' ao' c1e~arai:onatlo:-:,
Oll: a:'ei l d zer, que 11les no fallar~ de carreIo, he que o que
Ll che~a, ' muito III 'lIror qu o mais c;:,limado do Heino,
jlorque I'cnna o clima, e o sob muito d por lo; e no :e
d ,'cn~'olcll1 os amigo' d'~ln fructa porque o J1al'auho, os
lll'inda com \ultO de pa.I ma. (l" que na t '['[':1 3.'-11:1, d todos os
gt'ncros, d qu .' faz "inllo por lorlo o InundO, a que na In-,
dia chamo llrmca e :$Lira, que 110 mui lo doce, e ah gr~ e
<Iqurnta, d 'II ,'fa.z arr()LlC, mel, ,LUC.1r \'ill:lgl',
lh "inho 11 mel (2), muilo xrell !llc eonsa p<lr o:; rcsfril-
dn" lpl ilal1 ~,asmalicos I) ubalicos.
lIa lantl)em uma fruela., quc 'IJ3 mo cajtis, qu' lana muito
, Ulll , e cm [)tO, lo, lle m:1.i~ doe que o das ma~, cleJ1oi~
<i CD 'iJo (p0I'({UC r t'\'c lanlo 'omo o das ma') fit:it palhl'lu
Illntto elaro e 11C'1l ,porm :1zetlo, qllanlo a. mim i:. Jllingn~l
de II l'!)olari g; que s 111' llll.'c:u'cm alguma ca:-ca, ou cou::a.
com que o eo:er 'que a Ilh?U p;lrcc '1' dt'r' ser alnarg07.a J o r
e 1Il 1110:lo o arr lJ::lr 11, COlll arrolJe o ,O:C[\'Jl d modo
que fiq ue doe" na formo:ml'a e cll'eilos, hc to bom como o
da: ura3.
E com tuJo ningnem pel' ,(\, <1: ~p rana.s ll> t l' l~l rinho tle
llI'as, por lU l1a lUTa, ~e dJ,o 11'1rl'ei1"1s, u\'as todo o :\I1no,
POJ'flll' lod o :IlInO lJc YerJo; e e:"sa li a. can&:l tIo se nu
\ illLlimar, pOl'qll como vo senlpr' dantlo, florescendo, c
('slando outra' >Jl) :\'l'raco, lia flouca~ parreiras, e:limo-nas
11ara 1:0\11('1' llio se p 'nmt1o a llue \log~a h:hcr vindima"
Mas eu cui<lo, qu ,e POZi.'I"lIl Illuila' parreil"l:' C'lll
qutllllidad) ;poi: no falt:1o l 'na:, e arroi' clCk a qu.c' as ar-
rimar: qu" pndpro vindimal cada mez, l' (llll' :.\s:::im pl'lo i:-
'l1l"O do alJ:lo, n 011101";[0 lJ1uito vjnllO.

111 Faz-sp { ralll1P!lic ria palnH'irn 13.1[11;'11', n nwis romlllllln, e rujll paJmil'l'
,.jln'l'lllllclll sllI'rol!I':llo iiI', <llllli.II'I'It, ii tlH)I'U~<1, O S{'lI rl'ltdn, I'l'o til) famallh (1&
Hlnn g'1'1lHlp Ial'tlujl nlllonU'n. lrontln qltnln I UUIPlI'lllil __ , 11(\ 1l11li ULlrf'I'indLl.
-lI .\g'lIHl'dl'Hll dI' l .. IIIlt.:1.
- i:!/~-

.\s lnai~ inustria' drsta. ll1at r :'e en ommClIdJo aos rle-


"\'010.tio licor, qu' e os que o so neste Heiuo, l ll~ssarem,
eu Illes asscgllro, que S no c1 ilo ii ' e~cnra, !lorflllC ;tl('m
do .1l1Jrec1itns, hJ. onlro. mujto vinhos, qn ' O" Indios f;tzcm
d milho zauurro, cd) onlr~ls I"rnrla , COI1l flue cllrs se ale-
gro, c faz m suas ordiual'iLls bOl'l';)clleiras.

xxv
G.\n:'\E.

rosto qne ai'" agora, no I\a no M(1!'all!l;[o muitas cri~i1cs


fle gac10, toJa.\"ia., essa. Yacas, que alli fOl'JO ter (:L. 1lI'im iras
por ordem (10 Go\'ernatlor Geral do llra.:il Gaspar de. Souza',
tem,mnllipli ado grandemente, e da 10 1110<:lra. de ya.lrnle
prolluco, porque as crias vo emp!' endo maiore' flue a~
m[e, .
E ]0 0'0 ao srgunc10 ~l.1mo emprenhii:o as femeas, r os novi-
lhos s10 ele robu 'la e, tatura: lambem as 'abra silo de grande
Inulliplico, fine onlinariam 'nle parem d L10us em dons,
e a. crias metlr:l0 muilo, e j;L ha :1lgul1 r,riadol'\ j)arljcl1l: rc
rIue tem 1J;],~lante copia, para se inpr a lerra (ainda rln cria
granel bene(l(;lo entrar agora nos principio_ mai' gado, para
em menos annoS'l'ernIOS ncslaConqlli~la.a abUllrlallcia, que
ha de criae por todo o J~sta.clo, omlc lambem Coro de
principio lemelas de carreto,'e a ti'na as ahraou de manei r",
fi ne qua~i no "Vai ia a. rame rI inbeiro, e uma vaca em p I11U ilo
formosa, yale hoje no Pt io-Grande (1), douti Dlil ris, d'ond em
sei' dias ~e I'ai ao ~laTanho. qn telll tanto fi 11101' apare-
lho que as outras parle, do 13ra, ii, por cau,;], ela:> formo,as
call1pina~, muita,. 11 r\'agen. e salgado, e cxcellenlOsl'ibeiras
li flue a trITa 110 enriqllcc:ch.
l\o chpgal'o li aiuda cax~dlos, nem ovelha : os por os
muliiplicaro l:1.nlo, fjne j lla muilos la\Taclore, , qu tem
,'cm 'abea~, c ~.o nmilo grande CL1' honis~ima c:1.rnr, qual
he toda a de 'le genero no Bra 'il, anele h llolorin, qlle se clit
ao' cloenle~, c para e, te gado tem a terra grande r1i:po i~o,
pelo::> muito. c conlilluo' fl'U laes, rruo nella h:1 lodo o allno,
c pril1l:ipalmentc, pol'qne nella se dia jlillfCl (~), cuIU que nas
II Rill Granrle dr) ~orip.
("!, .In;;:\, 1Il' II p!ill)( I 'lue elialll'-l() {'ln olllra$ parles tlv IlnliiJ r,,,,(l ii.: (:lI,im.
- 2::>-
Ilh:l' Terceiras o' C"~lO 1::liI11J 1l1, o melhor fl!lC na, 111 ~ma.
Ilha.' .
Por cima llis.() lia, inl1l1itlalle de por 'os lmlYO' as:im dos
:1
nos.o:;.ia 'lal j" do H ~pa.n lta 1 COll10 de outl'a. ca:la d ' coch iIlO~'
mai.~ f'efJlleno r cabeudo' (2), que [cm o umiJigo lias osla:", e
alld:lo cm granele' lllagol('~, I.'C ll1<llITo Tlluito J'acilllll'o!e, de
qu pC'l<lllH'J1' p:1,rle ~e susll'llta:1, ConfJlIi~la j c por uma raca
dr raho de ]);'10 amnl'ello (ou por outro sem lhallle rc.'gale)
di! () Genlio LIa ala (lo ~!olliln, UlJl desl s porco:;, o [l01' loda
a l\ \Ta Jlrmc ha gl':Lnd<, copia d(~llc.:'.
lI:1, ,"caelos J1 la tl'l'ra dlllllro C paI' af]urllas ilhas, lia mui-
ta. ~nl'llas, 1uo cada dia YC'n\ mortas iL cidade.
JJa mui las anta' y('rrla.tlcil':1.s, flue so como yucas prrrnena
com o 1'0 lo como ollas: lllas ,CIlI cornos, o beico debaixo
mui comprido, no .ah 1111 srllo de lloite.
JIa. muita pacas, que r ':,pondl'1J1 c {L' 110~Eas lebres; mas
so llluilo melhol''':', pOl'qUf' a 'ua carne he maL: 1I1':1.lIcl:l, :t1-
ya o gorda, o tem uns couro: como leilo, so muilo car-
nuC!as, fl goslo as a, ::adas, co idas, o cl lodo o Illodo:
lambem fog \m plrrt. a ('-0\';1, e se :LchiIo llma alagoa quando as
pet"cguCI11, se alro n 1'<1.
Ira coi ia.' qll silo como o: no::: o' coelhos, e m lhoro~ o
com a orellla til gato conlo a. ]1ac~t.
][a lal, de dircrso. g<'ncro, ll\W .o armados d(' onchas
como lamina de um clxallo u'al'ma~, lamanha amo Ulll
hom lTzo, o l:1mbem EC llCOyo, o Ilo go'losa ame.
lia jabnly. qne .o como k'lgados, ma~ grandes, c muito
orados por iml: a canl(' he muilo ~adia, 'o fjgaLlo gr:.1.IIUe
cm na quanlidad , 11e o lllais I'l galado COlller que a. nalureza
criou.
IIa :1)1rrc:1$ (3) c coelhos mai. J'1BfJ11enos qne o..: de POl'lnlTal,
f' Oulr:1-. dir r:,idados d caa mnilo eslima la~, quc a IJl'cri-
dade de. la Helac7o, no "ofTr dcsl,ro\"('l': ha~ta que com um
]ndio cacador, que haja n'uma. ca.a ti grande familia, t 111
nm aouglle c.onlinuo par:\. :i c para o Yi:inl1o, e n50 Iralo
agora Jllai~, cru(', do qno. c orno, porqne alm clr:;les, ha Oll-
11'0 muito:; animao:;, c bicho de qu .pero fazcr larga r -
bCio na 11 isluria do Bra 'ii, ma' no so i lJ Iimidem com o. re-
(II C\lTF.TlI'S. .
(~ Ptll"('OS Ql/l:l't\O\S, () rr.r.~n".
(:11 .\"lO"C\S, 11:10 l'onll('I'011105 a11irn,Ji algn'll 11'1, ') (,0111 p~lo nOl11p: 1i\!I"pz
$;P,lil pr)'l) de illl(1l'C\I1:-l11. 1011 lo-se \t'I!!t!:\.i CUI lu 'ilr dI" U'I:IlId.:o:. Ilc IJ I'nl~:llt PU Pf;-
RI.\', N;p:lr'ift de l'lll'Il111.
- ~11 -

sr. l' ;1;, j1()r([ur 11lC'3 afOrl11o lue C:'I II!i'P lJ: lt:lllidlo: 1l1ai3
jI"I;nllIJClItu:> 'llOeil'()~, til' que li '$(a kl'!':t 160 lil fk.ll' li\!'\,"
~1I1ue!le:>, IjLLe sua bua :0 'te li. guiaI'.

TIa muita. e mni exc 11 nlr. rra.lIilllla. ca:cir:ls lalll:lI'I1I:t


COIllO prl': CJu multiplic;i:o grandemenLe, lia pombas mal\-
sn" 1l1uilo ru 'JllO~:t q'iC alli ficaro dos F!'Jncczl':" que L' Ill-
IJem Linlt:Io muita cri:1~~rro dI' p('ru~, que llosta. ll'rI'a ~e daro
ml'llloJ' qll \ 1'11l lIClllllima ouLra, e p:1. o:; 110rqllC lta Jlluito
IJral'o:" militas gallilillola' , marreca" o Llro illlilli!o'
pa~aros elo ago:!, que tom 11111 lo l"C c1 'ixo malal', lanl!)cll1
se oJo jill(!:Lmcllto ];w;1.n(lo c:1.bao.' na: alagoas (aL fJll\~
al'I' :m a clles) e dPj)(Jis se l1IoL' um Inuio pela agoa com um
caba.Q lia c:lbr~a, e buracos no' 01110" cllc rr:lIlclo:t pllr'
lllall'lil1Cn!r, os I'ai llH'i'gul!tantlo pelas jlcl'l1as, (,!L'1Jaixo da
agoa Jlle' lOl'c,e o pe~coo,
11a II1.lnIJs, como as prrtlizr;; de cit,
O:;; llldios li1l1l:0 cotre si, g;lilillll::t: ele CI'I~u!t o, m:t. I'ali-
llll:b: lia muita cma' om J);tlJdo' pela, campina:', lla muila
l'()Ia~, lllUilo3 U1olun" como pel'lt', 'om o lli' gro:>,'o \,'1'-
mellw, jae{l: e araCOll1' como gallinha.., muito:; lo aI o~ e
mon~(',~, como {lO: lordo " e alm de. to,:; 1J:l, ontro: llluilo'
pas:":lro.3, un' yerrllclho3, ontro' anl:1l'ello " pap:1 aio', ill'i.-
1';1,', C l'j"ca , g:J.l\O~n.' e onlro' de "aria:, C rOl'mo:is 'ima3
jlCIJIi:tS, a!clos c garas, (' oulra,' mni reac' il\'CS ele l'allilL, de
que larJ:llll('JlI(' dir mo,; na Jlislol'~.

X\\'II

PC 'C.\Oos.

Enlre ["elo, os p'sc<lllos, 11c nola\'cl o peixe boi, porrlilC


('ln La~11h()s Fcm oso, 11cm c;;pinli:l, sr tiro de um ti ~L' s
P 'ixl' , cillto C s"is arl'Oba de carno, qllO mais parecc (lne n:10
ft peixe: c () pc'ixe !le uo
1'0:lio de um boi :-;CIl1 p"rnas, com ()
l'all( r'r\nndo I:omo l1lll'lI)( lija, de qu . e lir;1. lllnilo :17,riw. E
- ~7-

rsll tlizrm ser o Icixc llICII1(JI', rlljlls 0:;:0. 1.:1. Illtli:l 1', 11"111 o
::a.nglH' 110 c.orpo I'lrido: quando :':tCl tl.t fl:'llIt'(L dOllZelLi, '0-
sido L:om coun~s P:lIWC boa \ itt'lla, c como la I faz as. opns, ()
a. :'iuto, c 111 po, 110 c:t:l'lI(lnlL', c 1l11lito l11ai: pal':l 'slil11ar
l'algallo [l'lra. ll1ala[oli1 ITPIL, }orqllf' 10l11a lIUL:O ,ai, c h
llll.i!o gurdo .. saboroso ah" dos 'Ol1ro~ H' pode11l faz 'L'
mllila eou:as de grallclr jllTSlilllO.
Em l'glllldoJugarilc 'xrrilrnlrr usaojlm/l'((l) qura,sim
cb1ll50 itlllll' grande: kagado (Ia :,gl)<! doc'c' CtlIe ~c comrm
lambem !lo" peixe, . (,1l110 elll's mais carn()~O~ ((l11' 11111 por-
co, os lomlJo. a,~'\(los (' dc \ inltadalilos, so dr r<lIllagt'nl,
(' SI' faz (~ II', :'ar:lpall bl'll1 rOl1l0 torn'.ll1 ., c muita 111, nlei-
ga, que exccd ) ~l de r<lct:as: so gnntles, ha Illlllos [(lIlio-
'e fa 'illllclllr, c timo Cll} ra"a sem conl('l' mai.:: tJ' llDl mez,
c p 'Ias prai:ls.e ac!l:o sua. ninl1adas li oros, C outra yczrs
de lal'lill'L1<ras do Il1al' (quI' lanil)('111 !la llluilas, (}IIO [PIl1 CJUil-
Ir l'l'llt ;:: uros mai:' crI 'h uma n iua, pOl'fjll FITO muil
II- ng adio: lamu 'm as cO:icltas do, jU!'al'~l" .o de p1'O-
wil ().
lIa rlllJins (2), :olllo. , ramilI'Ollpin::, pi1':1 uiras, cl!crnrs,
mel'O., (pt' IOc\llS ~o p'ixe' ti' Ullla, n.tl: II'I'Z 'quatro al'l'O-
J il ..
lIa pc, cado.: (lr ll''z til. las, 1,it mlas, (h linha, e oulra: qno
ll'!ll () couro ramo cllalllaltlll' I' s(\ia, !la COl'rilHl' 'illl'o[l'a~,
11:<11'1'0 ,tlollr:ltl ., [l:ll'gl ., h nilos, cal;c., 'UTiI!:lS, Ilngl'es,
JnOl'C'jas, PIIX,UTOCO:-' j,ilmp,lnos, llXal!il:: sal'go", pcixpg pe-
dl'a., rrqueimes rltoll[l:J.g, pcixC'.' reis, lingo:1I1os l;cixe gallo,
aglllll;t:', 1'01 al!o, bnc\i, nglllas cirlls pol\n", (' onlra di-
\prjil:H1p til' pc~ra(los, (III c:'t uJLl ollh crtl1 ,,; e por i '50 ,
lio Ilumcio, e sobt' lodo:' 11'1 inlinitlatlo de falacas, 'tnugrll~
('111 tania copia qlll\ sa l;lo dr Iloilt' nas Call1)aS, de nlallPir:l
qlle IIH'S \( ill I"lluillllo e I;Lllpn lo o [1L'ixc ao 11111', pOI' .e lio
il't'1ll ao fuudo.

~L\ tascos.
Ea mui~os raranguf'jos de llircrs:l" sorl ~, c o. da Icrr3.
fl, Os ,ln III,i_, 11'-,(1 te '111 it gl'i1ull"Zit qUt' inClIk 1 n :mrlol".. '0 Pan\ ,llIl1l1'-,-.';C
~Il"''''l! \ \ .....
'-.! 1-:1111:1\ .. , ~ill '1:-; J1f'i\t'~ \'IJlglll'lIlf'Uft 1'lllIIH'('idIIS pnl' ~1'ltl'nl:\-:,
.:ia n~ mrlhOl'P:;: ostl';"]:; do !L)do P.. le PI cll':\S, ~rl'.'1l1d S C.'lITI1-
r ':,: ll\lzio~ de muilas sor:es, mexilhr:-, lJerl)ige~;, IOllgUpi-
]'c." ameijoas, pcrsens cm j)"dra., e tramlljos, ]le1'll<.L1I1-
llins, 'no Par muita quanlidade d:.ts contha::. de llladrc-pc-
rnl:t: em qll :' a 'ho perolas, c :tljorarc., OUl'il:O: e ontru
muitos lll"1ri. cos cm gl':lll(le copia.

LEcnrr.s E 1I0i1T.\UAS.

TIa mnil() (' bom :11'1'07., mnito milho Z lmrro e oulro h 1'.'1 11-'
c' , mnilos reijf';'; e r;t\"l:; dI' tii"!'I' ii,' ra.las, amendoins 1II11ilo
gm:lo:os pa.ra rf'g~Llo, llluila. balala ti t:urcs por dl,])tro c
por rura, amar lias, roxa.s, ala.ranjada~, lH'l1lcas (' \'('rll1el ha. ,
c lodaf; mclhores que as da Ilha. Ter eiras, c a jun~..'t delhs
se di\. com vanlagem.
1\1('lllor que as uatatas, :o a ma acll 'iras, lambem raizes
mab comprida. no mo{lo de m:.mdioc::J, qll asc:adas c co ida,:;
'ITo I1JllilO hoa' c sadias.
l1il meJI)es xc::lIelllcs, pepino::, mela.ncias e ahobal'a.s de
di\"ersas C:lSLLlS, c bugangos, a qno l~t 'hamiiogcr I\lll (1" na-
hos ralJ:i.', r,Qmcs, coentros, mlros, segure. lia, e ccb ola se
<110 talIl bem lIaque lia tel'ra.
O afamado anan::Jz tem :\qui 1'en lugar, porqn nas (' ('111
llma 11 ry.'l, como alio. sa lJabo'a, do lamanho d . ilIll pepi-
no, e do lavor de um pillho verel, lIegando a s r amarello
I'" rcml , e lle o r'i das rrudas.
Tudo isto se (Jh loelo o a.nno, de m:w ;ra qno se C:l(1;L mez
Io ponelo nH 10e:l'os cm c.ada luacolhel1l ])wl,)Ps, c ji' fiCl dilo
a rcc.undia c1a.s e:lnna de a,sucal', por isso nio traLo mais lIel-
la", ,eno (lizel' (ll1e ha ji. mnitas, c Ijll mlliLo ('. 'do h~1 O :Ml-
ranlla de malld:l1' atllli Jl1uilo naviu' d aSSl1elr.

ATtGUES E FTtCr.T.\S.

Toda. a sorte c1e arvore (le espinho, laranjeira., cidreiras,


limo iroR, zamlJoaR, toranjas c limas, sr e1;1o nesta terra es-
- 2!1-

Il'rlllad;lI11rnle, \' l~lnJll1'lll roll\('ir,l~) parl'l'il'~l: (' liglll'il'<l:-::,


11l<l.l'lI1l'ir'iros ~r c1~1ll cmll1o o Bl':.'il, (' j. PU clci\ci algtlll;j
lia::: 'idos 110 ~Jal',llllJ:I(), que d 'rl'l11 j;l dar Il'uclo: pOnjUe;l
terra cl'ia muito t1Clll'I'S:"li a . anol'c. ,
Till1lhplll Grar n:1 rido muitos cOflueiro dr rorm; flue
"i I'tlo d' I'C1'I1: mlmro, r a t '['1'(1 ICllI infinidade d pali11l'iras
muito grand .', o de todas a aslas ti que.' ll:"o do' pal-
mito., l[ne por l' galo, ou por uma lIe('l:'s~'idad Sel'H'm.
E leio nas hisLuri,lS tla: !mlias flue cm lClTa: drsla alllll'
ha liycira!", c ura~ Doze, e amorcira: de que la"lo 1J1uita
seda.
Haja ('urin. os que o procurem, e no srjamo, n: rara
111 n0s, pois Dco~ IH,.: llculu \loa tcrra que Laml ~1l1 na In-
llias n50 haria i:=ln rle Hc:,panha Inou, hoje !PIl1 f
IUt\0 o ({li lia ('n) n ).~panh<J, romo rl'fere o dilo patlr Jo eph
da C( :-la 110 \in'(l qnado tl.' sun. .lIi '/OIi L das lndia., C;I]!.
,'\_'1 e' X,'XlI, qne lerra que dC'l1 :\.junr:a C ltll'1l~ 's e
ludo o mai~ (lllC lica diLo cem ralltagel11 dos de , L:tIJl!Jl'lll
r!ar;l o d' mais, 111'0 jera,l"11l a,ll'l!1jlO com modo: . t'm
isto 11,1 infilliLos frnclos llalllraes da, 1('1'1'.1 como :rro os caj, :
n1' ng:1IJa,' CDIll .alJor d' sunas, nl'IS maiQrcs ' melhores,
gl itlha:::, ~lra.;I:'('t', ~j:1se., gnajal'ase::<, Ilaco\a: (J), l' bananas,
1:ll'l)ry::: r 'fJllinhu de palllla, c outro. de fazor az('i: cllmo
(j te tiuille' c umas frll 'lae; '111 caclll:', eoll10 ma::: l'tna~,
(1utra: l):jlIlO j)l'l"l, , (1ulra como Jrllcla~ nora:::, fJu chal1l;lu
Inlurub;'I:'; as anhds (2) do Pur;L que nasrL'm CII1 ulIlas ano1' 's
rom Ca.Slalllll/ro" (' assim cn 'nde , lllas e;o troz, c qualJ't)
la1l10 maior's} h a. frll 'la mai ex c!lclllt' fJue lia no l1lullllu
rio rco, porque':: muilo grande", Illu:lo g<rto::a', duro
duis ~ Lr('z anll(:::, ' ba inJ1uilas.
AllirlUar;to-m fjlle hay:a as ll1:lIlg:1. da India. e o' tluril'IC:'{
ri "ataca, Uo cri; porlJue a lol'l'u esli na m 'sma allui':l
quI' ~!ala a..
fallar nas madeiras e ll3. gl'andcz" c di rersjdatl~ !la ar-
Yor" Ile uni illfillil .
JJa'la. aber que a lena 11 Ll~da I ('!:l. mr parle ecl rLa dI)
150 <1.1 o: an retlas que s' \'ilo ~l.' I1U\ell., Io Y<J los, flue
nu appar t'e o Ct:'u cm llluila.s JC'gnas de lna que ha llla-
ril'irns ele ri 'Z e doze lIra~a,:; d' p um 1'1ll1oIl110,tlus!e:o; Il\lli-
lo.:, que gcmlmcnle <io tudos to direilos Gom "irio.-, c
(r 1'~""Yll (' b:lnon.1 i111p,,!I;;r, o 11l('~J1W 1'1'\11'1;1.
\'!~ ~l)11lC' iwligOlHl l~t frw:t III l~a"ftullheip) cio .\ntil~L'llil~.
- 30-

lJo :,(I'OS:"O;; \lO pt" como 11<1 l'OII';l, ,1]11(1' i lodu:, (\:ro 1'I'I:(,'O~j
1111:, gralllll':.-l, Ollll'lk' ('lll radIo:" oulros l'l'dtll1d o:' , flllll'OS
qu,ll'li',lIlo:" filiar:, agro:" outro.- d(lCl~': UI]'; 'Olll 'a:.-l';1 uurt1,
flulrtl3 molll':' COIl1<:ill'l,C:O:l (' pe\'dl'.s, IIns (111 so CIUCI'lIIl d
C:li11';l.: OI!Lru:; aiflorCil.t!I):', Ollll'll" a..':-:aC!c .",
ElIl !lu!' llldo ~' os [ mos!r,llldo a U1ag\li ficcncil. o mara,\,:-
III;,,, (ln Crl';1l1tll',
J~l1ll't' r."l, s annrr:::. ha 111,,11 ira:] yal'ias ('(JI'('S, 1 r:Jl1cas,
PI'r.!:l3, a,d'II1I:J.~('adas, \'rl'l1lpilln:; 1'0:\as, l'ozadas c amal'l'lIas:
1o(1:t:.; f'sla, 'Olll 'IJI'C~: o ill.'lr0 ti' lllllil;'l. llf'l'l'c'i 'iio, UlllaS
1l1l1i~o dlll';t.', oulra' 1l1ol!L'3: ollll'as flllC cllril'fio a alllu. u
fl'L:I;lo Il'm o 111 'sma :-:alJor picante, oulras qu' par(' 'l'11I
calamlJl1CI (I) '0111 sua odurifora ro.'ina, aqlli o pilO d 'roza. u:
('I'dl'l)~, O.i louros, a: I1lllJ'La,', os anjl'ijll.', c oulro' illlillilos
r1f' 1'1I111:H': <.11[,(1111' (1.10 tinias, onll'o: (1:10 lwl;-:'lnlO;,i c olc' '
c!I:'il'030.', r afmC('I'g; ", lacaulca. ;2), o lacarallha, o olllr:\o{
lllil tli\'('r,:;id~ldes dI' ('()Il~;lS 1'111 fJll' lio 11:1 (olllar pt' Illai'
Cpll' lou\'ar a. g!l)\,ia tlt' qlH'1l1 :1.,:; crillll liio lJellas c formut;).'-,
tuuo o al1uo \'t:rds, c '01111'0111<1: l.l fi'l1clo~,

11l\N';.\" ,

'frl1l-f'C' por con, a crrla qllo !la Illil:a~ de Olll'O Cpr;l(a, c


Oil[I'OS 1II1'1al':, n('~'l;l lt'IT:t, r llcdra dr mllilO prrl.'D, c ,t'ITas
de cri,"lal, o olltras tio ~aiilr' l' dL' sal ela lpITa: lal11lJrll1 lia
Illuil:b "alinas di) mal', Il::t lJalTl'il'as fi l':\cpllcllt km'o, do
(jlll' \':tlc 11111<1. tellla Illn 1'(':11, o l.l'cll'rims ti .ia' p 111'<111 'o,
wrdr l' nl'gl'n, eI fJl1r PU Iroll:\C a, amonl'a: aSila jlag("::a-
tI(" Ila. Hl ilo 1111'1 e c:Ta pOI' aJuclla,' ,ll'\'Ol'C, : 1l1nila. allll -
l'\'f.(;)., o ;)ilimo (;1), e 01('0, dwiru:,o" c se os sOllllo::l'1I10.' COl1l-
ptJr, ('\lidarfli (file' S0 {loJel'i;) fazer IJ('ijoilll do boniua:, que de
Sl'llIClhantr3 1" 'il\;L' elr\'C ,c!' fcito,
Tal11l,cl11 , \l,"i J('ilo (pt o alnlisc:lr quo ypm da Cllin1 dcre
,('I' COll1jHl:Lo dr algllma parle, 011 parle, elo ('('I'lo' lagal'lllS
gi'antl'~ (A), qlie 1m p()rc~1 :-i riM, Cllj,l' oreill:\s Illais parlC' ,
gi:tnlllo<l.s Illil'i'rtcl:t:, ll'1ll o mesmo C:lciro o mais yoho-
I\lrlllr, e dUl'a-lhe :cmpre,
--:---:-:----;-----:-;-:---:c-:---
1 r. 11,\ li ll"<:n, madeira mh);'ij','l' tia .\.~ia d,! gl'IIl:I'U alus, tio lfualil!atle iufo-
rif)I' no C \I. \ \1 II.\.
I.} Itl,;..; jlll ll,'iilfi(':1 odnrirPl'l.
.' ((psilltl il1'dllla1ie I IHe'lil'illlll tli.1 Illtlia.
( 'J 'itt'~1 i'L'.
',~(.J alWlIlfl:' ;I:- ra:~('I-o, Oll Il'lu 1ll1'111J:, cnllli':lf:IZl'l-O,
o: 1l1;1i: do: :lltil11'le' do rdillpo lli'; la l~l'I';], telll 1,ctiras
11:JZ:l],('s II) llO In.:rl1n: como ('111 Inrlia,,:,
Ha I 1I1ill) algnd<i(l, Il1l1ito 1;.t\):1(.'o I'XCl.'llP!lt~, (':11lna fLlula~
hra\;)', ::11 :lpal'l'illta, a Itena cll' 1(11(' 8C faz o anil PI11 11111icl",
pila llluito ri ':l, g-cngibi'" pimL'l\la cm gl'and,~ fll1anliuadp, pilO
dr ,a,~:';lfl'az,
lido ljp li }I)~,
10 iwrr me cnn, i:J fjlk lJa. C'lllrJI:l da m(',--
m~ qlle m CC'illn, algull: hl';1!1l'o:; qlle IlII'U~O lia lU'I':l,
diJ.t'lll fJlL l1:l era,'o como a de Ternal(), em granelr:::. 11la (a~,
I' o eliDIa llc aI ar 1I1:lUU para. LC en'r ledo ri 'III.', que cm!illl
Ill' Pt'r Orienlal (' c:t~ lia illr~rna alli!ra [JiI ' a::; ilhaL do Cra-
\ \) (' ~' p<1c clIidar da uOlllJaclc d lal terra. que a]'~l qllanto
J!lt' la!lcai't'I11, al; aprr:-o
Perll'-31 faz r azt:le da- p:llm:ts d!' GlItl\t\ fiLIe' :l, 11:l. em
qn:\lllidadC') 'a r1o~' I'dho;' t1 I "ixr lJni 11 lllllil) ~(lfrrjl'l'i, r 't
111,'11)' igl dus .lllrar"lS 1 xcellt' 11 tOC!:lS, l' pal':!:lt' c:lndt\': ila
Illllila c"ra (' muito olen de cnpalli\i1 qUi' alll1llia 1l1l'1I:(\J'lJlIU
(I dI' olira, ,hc lleiro~l, r tUO urna botija pOl' 11J1\~l ~at'a,

Eu I w rI""; Iro qu 1\ t:1 !li' a mefll r It'rra tio nllllldo 1 <l'on-


de O~ nalllrae:.; s: U lllllito rlll'!l'.~ c "irl'lIl Illllil:i :lIIIIW e
r()n~ta-llO::, (\11(', cl ql~C l~OITl'J'() ()~ i'orl\lg'llL':l':, () mdltol'
lwo Bra;;:l l) o }Jaf'l II 11 lU llc Bra~:i[IJ\('llioj' Jllai: pt rio do
P()I"Pf.{~ll, quc lado.; o~ outr;.; purlo: daquelil' E 'lado, C'lll
dplTol:l. I1luto fad ii llaH'gaci'io 'cll t.l' ~e ha ti', i . em \lule
dia~ Ol't!illill'i. m('l1! "
E por s('r I' til tC'Ta. la i, a fez .:.'\1_ }hgl?~ ta:lc glJ\ ruo c- L

p:lradD dll lka;:it.


E !I'1:1 ll1al1llatlo qo ~(' onll'a:em O prcwimrnlos d ':1, L

COIIl[lIi 'la ~l 1jl!;J! el\via o: a dig la !Ili'l\ tI', 11M pl'iml'iro (;0-
\ ma!!' r, Fl'al\ci~co {:ol'lllo li ' Canalha; fitl: Igo IJo 1jllali-
l!Lill\ cd" limtas I <11':0:'<, c () fez do ~Cll {.;ol\sl'lll0 7 e COIll cl~e
1'111 ia olliraL pes~o,.: d' muita impor[, Ilein COlll um gr: n'lc
s ccm"'o de. ldt\do:, arma r p;Jci<lUicn!Os.
(lrrmiil:l DC'08 fjlll' 11lrJo f<'j:t 1):11\ . rtl falllo SP1'\'J\(l C dO'
Sua ~lagl';,larl(', ' p:ll'<t ang-lIiclIl' di\ Citl'i"la 1fb!ll' II ',;;lc 'tn-
lia, o aproveitamento O' Y' ::aBos dc.l..: UcilllJ,

t ,\ r 5 D E 0<

(I, Clllll'l'I'~';il) rnil'lIIflSil f111(1 ~(\ rl'in nn ::;I0l1li1g11. il111\.lilln~ (' hp\:ga t1ut
ilIlIJlli\('S) il({lH' flull''1 'a .jf.' iltll'i1'u:a :; 'i.uldl'':'' ii tll'!l::-: ll~r:didll~W~.
Pwultyl)(J. dg Sul. - 'l'!JP. de C. II!. de ,1. ~ lluu dos
orlw:iI'O'n. 1.
F -h
DOCU~IEKTOS
CO.YCEll.YE. -rS

nE.YTO J1f.JCIEL l'ARESTE

no_ --".T.\.RIO
D.\

c.\Pln~:u DO C.\DO DO "OnTl~

c.~PlT10 ]On DO P.\R.\.


PETIO
DIRIGID.~ PELO CWIT10 llOn

BE!YTO l1IA CIEL P J1Wi\"TE


AO

nEI DE PORT 'GAL D. PUlLIPPE III,

Acom'.\;o;fl.\D.\ DE li)I ME)iORI.\L.

SE\On. - lkllito ~f:1ciel Paricnlc, C3pilan mayol' qne rue


en cl Maraiion (I), dizeqne hahienclo cl ~colJierl. y conquict;:ldo
ma:; d' cualrocienla: lL'gl1:l, dc lil'rra, con Il1llrha. prorincia.
de Inclio:::, cn que ay infillita.:; pobla ione~, I incnmlJe rumo
COntJ!i~I:uJnr e Procurador d :1qucl E tado, acordar a V. ~l.
la grande y prin 'ipal oIJligacion ron fU aqlleIlas tierras fnc-
ron dadas a lo' SeilOre Hcyes pa. sados, y para tralar cl la
r du 'ion y caL quizal' slas (Jenlilit::l,s naciunes a Due'tra
'anla H, (ligo' "ilol'.
Ou la misma razonr :r cnllsid'l'aciones con que r. M.
~c IlloYi a mand::tr. parar cl gol i '1'110 d I ~laraon, d~1 E--
lado d '1 Bra. ii por eslar lexo aquel golJierno, y el Yaje ser
cliJIi 'lll;()~a p r mal' y Liorra, y la gritndeza c1'e~L Eslado,
Y II impnrl:tncia: por c,ta. y olril . mas parliculare: ra.zo-
ll(I~, (1t'1J \. M. cr ~r.ryjdo mao lar criar 1.111 Obi:-]1o, y im]ji,u'
n 'Iigio.o. fIl' on lodo feryor lra.L~n d calcCjuiz;1r [:ln grall
I1Lll1t('ro de allll:1.., con cuya. pr enci:1. y auclorid:ld f con-
. r\' lo que esl col1fT'li:,lado y ue obiprLo, y .-e conqui Le
lo mLICitO quc a UI) [a lia por aquello ara.lltle rios.
Ylara. l.n~lenLodc('.1 OlJi.po,y lemas mini Iro Ech:-
.ia:ll:l', quI' fuerr!1 imlJia(\( .;.t eslt lIUCV<l )lonarchia, dlIJe
Y. nl. lllan ];1\' encomendar los ]luelJl :' conqnLlado' y lo:
drma. CfIlC . e fllcrcn conquisLal do a. si como c haze (o'n las
:IId ias de t~Li lIa, que es la :111 '(1 de la onq ui La;' polJla-
cion ella., e : mi 1'- c por la Uerra adclllro con Lan gra.llcle
allglltrn!o. con idcranclo que por prcCt'plo divino e.lall todas
la ct'LllUl'a. 1l1igadas a tlar a Dios)' H 'U' ministros ri dicz-
II o d ' los frueLas qll cogPl1 (le la lierra, conforme :lI quinlo
~lalldall1il'lIlo ue la ~(11113. nJaf!l'o Iglrsa, y como cn los lnc1ills
---------------------
(1) nClIlo ~rnl'ipl Pnrllllc ~('I'I'in romo Cilp;(,iG-n;r do j',ll'[! ,lt~ . tl lJ1 II bro
de l("~(j. ,"r-j:1 ... p Bl'! \'ct1u - .\ \', \I:: II. ;l('~' {' ;-'I"li.
- 3G-

no se puede bien tl\'criO'nar esLos uiczmos. po1'qlle no r spclan


e3lc lll'LnclamienLo, porque no sabrn conlar cl nun, 1'0 de
diez, orel naron lo predece ~orL' c1' \'. ~1. qli los Jnrlio
pagasscn c lo' dicz!l1oS por t'ncalJ pmienlo, 'omo en I Uci-
no ue P rlugal e pagLlllas Si sa .
En esle L~ln jusli(1cado aeu rdo licncn funel:llDcnlo la en-
comienua , que no solalllcnle 11 I lodio, mas lalllbi n C11
el dicho lleino de Porlugal, Y Cll lodas las Hepublicas p lili-
ca san eslalJlecidas para prcllliar lo "a.":allo I ue incn a
5U~ Reyec::, y Sonore n:.tlurale, y con la arma' conquUan
y rleflenll 'n us ESlado:,.
, En las Inchas d' Ca~liila pat;x cada ensar una ci rla pell-
ion ~ gUI1 la ferlililal d la lierra que llallila, y paI' este
l' ,pelo rar "., ser eon\'cnj('lllr, CJl1r encla uno do lo Inclio'
del~!arallon pagnen caJa ano lroz durado en moncda, o
n (ruelas (111 eogioren, o en ~cl'l"i ia pel'sonal, lo~ qual' ~e
r. parlan Cll lre, parl'5 iguales, 1111a para 01 OlJi~po y (;1('1'0 Y
l'l'e<1ieador " olra, para \. M., olra para el ComD1 ndauor
aqui n "e encommendare la adnlilJislracion de la Lal eil '0-
mi 'nela.
I es engano manil1c'lo dcr.:ir, ni rcn~ar, que c. I mOll0 cl
]10]11ar os illjllslo ni violento llo~ Jlldios, y ,i al'fllDo 1 di-
xcre, ser~L qnicu Cl n la, cauLella q\li~iel'e 'ldmilli Ir:u' y
nsurpa,l' c51a admilli lracion ,o lmi l' n .10 olros I , -
pelos inLerc."sado (1), porquc e.'los di ZlllUS :011 de"ido, por
)lI' crplo clhino, y lo li Den,los sanlos Ponlfices aplicado
a\'. ~1. para lo, ga. lo" tle~las Conqu i la , 'l,lS enc mi nd[~'
fon d vidas y ordenada para 1 que com la arma.' ayuuan
las conqui la., y j n n cn lo aDio' ya u R('yP:'.
pa.ra c:lo y con '('anil' lo (llle 'prel 'nde eou poca o, la,
clevc \". ~1. mandar adjudicaI' a ('.La Conqui la (lo~ uario. tl
huen I orte, pOl'qu una TCZ al1lwd( .' y aprc'.llltlos, ."c ]lorlran
sU.lelllar eoll lo' freie' de lo' IOJ'lta\iaj \.", y en esl s n:n io
hadc \'. ~1. uar pa:,aje franca a Ioda la." pel'o anas, 1Jcneme-
rilas que qui.'ierclI ir a1 Ma.raIlDIl, con pl'ori~.ion de Y. M.
para CJu I Uobcrnaclor lc' reparla li '1Ta " y eucOllli nda~, y
a Ludo' los que quisicrcn ,T a ."Cl'\ ir a e:'la Conqllisla, : la nllJl'n
,L lus lloli"'iofos llldl1tlalldol's dar]u ur c.1':u'io para ,I Yiaje,
('1]rOIlI1I](.'ll(]an(10 a lo' 1'1'('lad05 de la: l\cli:rint's, <'I cuidado
rle emlJiar lu' lale' ltcJigio:os, pucs ('11 cllo se ltazc l gran
'(1) AIII1~no ao "tis iOl1l1rio~ .Tp,~llila~, rlljn in(PITcqrflo no g()\'('J')Jo cIos In-
di...,: t 1l'lni:!, {l'1l1! sr C!ll I'islll a pt'atitH do Ol'a 'iI. .'
'1~
- ojJ-

sanicio a Dios y a Y. )1. pal'J, qnc .-la nncra 'i'ifla ynY1 en


angl.1 'Iilo, y .~l I cligio:o, llo\' 11 comsigo mutilo parieu-
tos y pcr,ona' I obro,' y iloul'adas pura vh ir y hallilar c:,las
I1ncn:; Lil'rrn." SpCl', 11110 COI1 :u fa\'Oi' de, los R 'lioio:, f' los
den 11 oll1iol1fla y liena' Cjlle mantlcn cuJlivar con que so
il' polJlando la. cna, y se dem'I\(lrl'~L, y darit vida y rcn.c-
d:o~ :1 mueha g '!llc JI lIrada y pol11'C, y se fllodarit en aqllel
nn \'0 mnno un nuc\'o [m])crio para. Y. M. demas e1 wnla,,-
clero de Cill'i:lo \"uesll'o . . oDOl'.
Y no ar inconvenil'nte. n se eneommrndnren lo Jndios
el1 c la ll'l11 a, pUl'S 1 eslan cn la lnuia de Ca, lilla, 0)'0
Con.ejo puede iurom ar a V. M. porqu telliendo lo lndio
duoo proprio ,o dcll'cl1l1ido3 y comer,'arlo', y curados tie
,ll enrcl'l11iLladcs, y xCl'Cilado cn la guerra, para que con
su~ arma ayudcn a liolJ' ncr la Uerra, y a. conqui 'lar olras,
y u lod o e, igue a.ugmco lo desta Conqui 'La, y ,enicio ele
Dios y de V. M.
Yo las cosas ~on mui 1gcnas ele los R ligio~o (I), a qnicn
sola.1l1 'Ilte luca. la. Dolrina Cllri~liaoa., y I Caleci:mo cl ' lo
lnrllos, y para. esta basta la. lCl'cia parle ele los llicZI1los, qn
de mil YO ino sou mil dt~cadosdc rCllla, fuera. la orrendas,
y pi; d aliar,)' assi lOOS mil'aran podos Jmlio, y no c~Hla
uno por u parLiC llar, que os la C::lll,a de ~e con umir.1a.'
1

ConqnUa, y que 110 ya '[ln aelclanle ni Clllrar por la. ti na


ndCnll'O a I oh lar, y c ar la tirania y tl'azas COIl que ~e pl'O-
11ran ca,nlivar eslo, IUlIio' illelnzic1o, en guerras, en las
qUllles S om '11 unos a. oiros (2), Y o pi rden mlleltas a1111:18 y
"I. ~1. !Ii SIl yassallos no gozan do su compafli<ly ,enieio,
~icll(lo a si fJll n lo/la Europa. ol'\'imo unos a lo' otros, y
ali (3) con la. c1o~l'jna. y I moI' ele nue~tras a l'llla ,e haran do-
J11csli os y politico" y olkialc ele todo ofleio, de qno eslo'
Reynos lendran gran J 's apl'orcchamiculo
(1) Esles con elho lillhiio r r fim dcS\'ial' da tlireriio dos r'1~llio os Padres
(Ii~ COIllPillllli,l cL -Tesus. O qll onlfro o nflo con Qguio, foz o }lurqll z dc P m_
Iial em li58 l'Olll o seu niroc!01'jo; u as mui amal'{ios SOl'lia o 'ucLos pam o Iu-
dios.
(2) ,('ja- e o ap, 17 da nH.IO UMillIRLI do capiliio imftO Estacio ela SiI,'eira
a fJi!g, ir desta tomo, n ti! (:I). Se Uenlo Mal'i('/ Parenle p1'occclia da fl'llla lJor
quo alli e ll1J'1'a, qn- confillnCil se POllii1 ler quanto ao uom tratamento dos Iu-
clio ? Ei. o alll'(\l'sarios dos Jesuilas llt\ oura Cl,l' }lis' .
(:1) fln parecc indicar que o pcliriollll'io cslara seno em JIacil'it1, 1'e idencia
(lo Soberano, cm Lisboa,
-:J8 -

PAfU (;\)~SEI\Y.U\ y .\1;G:lrr:~TAn L.\ GO~QUlST.\ Y T!EIIR.\S DEL MA-


J\A~O:'\, Y LO' 1:,\1)108 QUE L' ELL.\S CO:'\liUS'I'O' EL CAI'I'I'.\:\
llOlOl\ Uli::'iITO ~L\CI~:L PAI\lE:\'I'E, SO:S NECESSAIIIAS Y C:'iVE-
NIE:'\'I'ES L.\S C05.\5 SIGlJIE~nS:

'i deben reparlir 1:15 tir.rrafi de aquf\lIa Conquista por C;\-


pital1!a~, d:.mclolas a per 'ona cl caudal y ohJigacionl' , para.
'lua PJ! comp 'Iencja cada uno por 'u parlc procure poular,
forlilic:J.r y apro\'ecilar la liCITa, rcsrnando para la. H'al Co-
l' na la' Capilania' dei ~l3,raf1on y la clel rio de las AJnaoua.::,
qne SOll las mas imporlantes de aqucl E~tado: el Marailon
por estar ya polJlado, . cl rio ele las AlDaolla::; e:l:1r conqui,-
l<ldo: y seI' las ll;tOl'US barras de, aqllcl Estado: y por lo
mucho (lllO se pucdc e.~perar elo cad'-\. una dellas, 101' ras gran-
Iles na\,cp'a<.;oncs de lo' rios, parlicularmenle el de las Ama-
\iOna.s, YYCl'dallei'O nJaraflOl1, CJ ue ponelran la AOleri a, 1:01'
d qual sc puetle aul'ir pucrla a la' l'iq ueza dei Per, y a lo
denlas que en aqucl DUCI'O nmudo esl por elcsculJrir y cou-
l{ uis ln 1'.
Y lanluien en e~l:1,s plaa.s ay bncna commoc1idad d . madc-
n" y oll'as 'o~:1,S p;tra fabricar naYios, ~0l110 cn la Abana (lj.
i~1 guhiciTlO deI ~laraflOn elllp'l;ando en la Capilania deI
(;cal', y acabJ.tldo cn el rio d YicenLe l Jin:oll, lienc tI' cien-
1.a.~ y oclJcllla Il'guas de cost;,l por baxo de la Eqllinocl.l de:t1c
trc:t, grados a b parle e!~1 Sl1I', lIasl;), lrez ala. uel i'irLe, corre
la r,osla Oesle, quarta al : 'oroeste (~),
Y SiClltlo V. )1. serYiuo reparlir eslc Eslado en Capi!anias,
deyc empe,ar la dei Cear, en ellHo ue .Iaguaribi, qu e!i 'La
mas de Cil;1! legoas dei lUo-Granlle, ultima pol.JLacion dei Lo-
1.1 i1.'l'l10 dell!l'asi I y acal)ar en elltio cI e J\l olldollylllJJa .3), d' oue! e
11izicl'c cineoeula kg a", ror co~ta, 1,li a la parle dei Oc:le:
con qnc Yiene 3. qlleclal' el puerlo, y Caslillo deI Cear en cl
IJledio de la d;cha Capitania: la qual COllsla ue lierl'as de
(Ii Hn"x. :I CilJlil:l! ela ilh~ d~ Cuba,
(:) Es:n dedal'lluu feita por UIIl homem Io entendido, e t,io pratiro como
lit'nlo .\!"jl'i PanJlltc, prova eXUbl)l'illllcllIl'nfe que o riu (tI) Viccnte Pinun, hu u
que ho)l' cllillllanlu~ U,I'i1po!'k; tnnlo lIlalS qUilnto sallu-se quo 1l(J~ IIWPjJilS dI)
>.1"'111 .. X\'I e X'II, ii 1.lIiluul) tias lur!'i18, pO!' falfa cle b'.'ll" iIlSIl'UllIl)ulll:; cra :;r-
nUllcla mais pa;'i1 o :'=ul. U inljJrt'sso lI'uull' rupi, 1\108 e,'lrs lJUI'UII1t'lIlos, h' lIo
lO'lnc"pill do senilo X,II, c fui eoJlcrciollildo I,or ])icJ!.;u Barbusa ) l'llilllO, no
r lel!!'1) 1'(1)J1IJ10 inlllu!i1r1o: - ,OTlCI.\S 1I15iOlaC.I; r l.:.L!::... __ :':.t .~:;t:.:'_', q,l.!.~ [Jer-
t':l'" ii f1jbliul!l':ru :'llri'JI111! tia Cr! '.
r::} ('u~ JII:\;1i_,,:, ~'::. l~'.:~: .. ::::.:'j:tp II ri\; ~:~!J:'!\d~~1.
- ::!l -
campos, pa.ra gn.nado', eo!ones, t3hac05, pimicnta, y dar;i
a gltll assucal' : ay una sel'l'allias que lienCH lllat1l'ras de ua-
colial'l, y atras.
Siglle-selt CllpitanifLde Jnrucoaqll:ll':l (1), por alro nombre
A{f1lJf1'O ele T01'lllqQs, que deb emprar en dicho rio de i\lon-
dohyLulJa, con oU'as cint:oellta legu;},s por cosla, }" acabar rn
elU io I araoasll \2), tterra ele la miSllia fi aner:l fI li ela lle CRar,
Y flue clale cl llUUi'LO de la.' Torlugas, casi eu media de li
Capitania..
Desde Paraoa.. 1 puede empe.ar la Capilania del Maraiou
cnn sus Islas y ;1.cahar en la Imula deTapuyl;lpera (3), en que ay
de costa mas de. cincoclItn Il'guas, Y VaI' la boca. de! Hio Mca-
rill, y por el Fynar ::tITilla sc pucde didir I'sta Capitani(l,
cn h qual queda lal b d Todos los San/os (!~), eon la ciudad
d' 'an Luiz, n que halll'. qniniclllos IlOl11brc. rntre soldados.
y morador s, conlrel Monaslerios do Capnchillo" Cal'mell3S
y Jesntas.
Y en la tiel'ra. firme de1l.. cn 01 rio Hapicor, a,y dos inge-
nias de as. ucar, y se pueden hacer algl1nos olros.
La liorra d. bicn coton, taba o y ganados, tiene muchas, y
1m nas maucralS, Y fCl'lilidad de mant.enirnientos, de fIne ('1
C:tpi tan Si 11100 Esla io hizo rclacion, que am.la e~ lampaua (5 .
De la punla llapuytapI'a puede empc3.l' la Capitania dei
Cum, y acabar en ,[ rio Pindohytuba (fi), en que ay de Consta
qnar nla lcgoas, con do. {ln rto. hUllOS, llllO cn el Cl1m;l, y
oIro eu la. Isla. de San.,luan, y la ticrra firme: e:::la lierra os
!crlil, y tla.r;L lo qne d el MaraflOlI.
Desde Irio PindohytulJa se signe la Capllania. deI Cayt (7 ,
que rl1 la lenglla de la. tierra., qniere dezir mata 'l. t!l'dariera,
pucd corre L' hasta elrio Aco.t.YPf'r (8), ~n qne ay quarenla 1'-
gua' ele cosia, y tienc una polll:lcion de Por! nguezes que aora.
lizo el Gobcrnador Francis'o Coelho cle l.3.rralho, con se~ cnla
moradores que aUi lIer dei Par y MaraOon, la qual e.-l en
el rio Oalac:lpuhic (9) : el puerto es paco capaz, la ti erra e::-
lJUena, como la de Marafln.
{l) Jp.nlco-,COIR' ou Buraro elas Tartarugas.
'lIO rio l'u1'IIilhybil, lumbem OUlr'Ol'a L~111lllaelo Rio-Grande das Tapujas.
[:; l'ilPUj'lilp '1"11, hoje Akantill'il.
I A ilha u Mal'iluIHlO, (illllbem oulr'ora chamada, Ilha das Vacas, 113 Ferro,
etc. .
(:;i A Rp.J..Io S,:" ".1 II I I, rcimpressil neste ,'olum.:. .
(~; Sl.IppOOlOS S'r hoje o rio Tury-ass.
(, HOJo Ilrill<'ana.
l.',)~ SUPPolllos:<el' hoje o poquen') rio ou 1J11hill Coulipur, aO n')ftc de Drnglln:\
lIe I) 1"11) G~lrlll'j'.
- '10-

A:la Capilanilcl Cayl sc, iglP la Capitania deli :11'<"1 (1110


cmpec,ar~t n J dicho rio Acotypcrll, y pur la )l11nla dd S 'pa-
rnr carIar por Ja boca dei Par arriha, y por I prill1 r
brio ele t ]lia dela parlo elo L te- F;'t cOl'laudo k1.~la I
primeI' 5;"UO d '1 rio, y ProYilleia de lo, TocnlJline~ flll) (Ii~la
dei mar cienlo y IICOP) ta Jeguas, poco meno, : la fjual :1,-
pitania tione por costa ha:ta Ja pun[;), doi .( parar treinta 1 _.
guas, y Ya-sc 'nsanchando por I nib arriba., con quc \ iene a.
lluedar lan grand~; conlo las olras, como cn el Jiappa ,c \" r:'t.
ta li .rra elar alaUDOS assucaro" aUlHJUG DO es [;10 rcrlil d
m:mlenimielllos como la, que (ucdan, arri}), : li !lO mucllas
maderas, y :L11al'cjo para hazer naYio: _ _
En esla Capilauia queda la Ciudacl do r.elm, con la rnerca
Pre cpio: que el capil:Hl maior llcniLo klciel Pal'icnt llizo
labr::tr do Lnpias de ]liloo, con parlada el cal y e:lnlo, y Lr'z
])a1uartc con 5U cava, y ma. I'orlificaciones a lo moderno,
que todo "a e mnc/lo mil ducados, y cosl meno d, cualro-
'iontos a la Real hazicnda..
De la. pun la. ue! Scpa.rar (1), quo esl 011 la 1inea Equ i ooeial,
(10 la paPle de Le te elel Rio, corriendo ai i\oro si , Ila~l:l el
calJo de] ~urle, os la boca eleJ rio ele la .\..ma~ona., yerdad 1'0
Mara.l n,}" ay oitienta] gnas Lodas de ;llrOa tiulce, y denlro
de.~le Ar -!Iipi lago ay murllas j las po])l::t 1'1.:- ue 11111 hos (; \1-
1ile.; 1:1' qualc.sl la e puetlcn repartir n quatro. Capita-
n

11 ias..
La primer;" ser la. Tsla do los Juan s (2) s 1:-;]30 do los
Aruans, l\hpu:ls, 'Ioh nga.llj'llas cl Parij, licrra. para gam-
dos, :tl'roz, y alrrullOS <.,' ncare~, y labacn., . upue~lo que s
enfcl'mi,a por '[ar mui delJaxo li la Equinocial.
I.::t sf'gunela . e purd 1I<\cel' ele la :Ia qn e, l en're 1
hrno J al';\, y ri brao }Jacajil, qu Licn y iute J gna' cle an-
cho, y ql1arenla de J.lrgo, y 'omprehC'lld la. Pro\"incias de
los \mlnras, y genlo de l"guap , y l!il';lpz, ('on loela 'la 1~1,'
menucl::t c1 '1 Camnl:'t, quo lo s(.n ';('einas, liel'ra IJucna para
ganaclos, eolon, a~ lIrar, y Lieno ntucllas maelCl'a, , .- llenLiles.
Ia lercera. e pUNJe llncer cn la 1 la qn ao enlre ellmlo
P;lC;lj, :r el brno l'nrnallyb:l (3), qu lell(ll':'l yeillt le un. de
;lIJI'I\O, y quarenta y cinco de l;lJ'gO ('n qll eaen la. Pl'oyin ia
ele 10' l'acajar 5, Goanaps, Caragual.,)" .!Ul'UIIl.llla., liol'l'a
(1' llc I ponlil dil Ti.iociI ruja Illilllde hc l1lili: meridioonl.
/'1) ,\ illlu dI' ~[urnj, l[ue cntilu cru ,I si III clcnOlllilJuLln, srgllnclo ns tl'iuus
11iIhifm":o.
fJIII' l
, , 11\' liuje (, rio Xing.
-';f-

rl1r'rmip: Ll 1Jirn colon, 1;).oa o' y manlenilliicnLos, d-ar~L


alguo aSSll ar y ganados.
La (piaria ~c pu d IIcPl' cn la I.. la (file fJIlrL1eL "nlrr rI
hrill~o Parnail) ha )" el greI! callal dr bs _\maonas coo la.
1:!:I.. que parll'n 011 ella de la [lar I de Ic gra!l canal, y tle la
]1<11'11' dcl_'orlc, CJll ll'ndl' cl anGllo doze' I(,O'Llas) Y Cju:lrenla.
dc lal'O'o: COl1!j)]'pilel\(]p la 1'1' Yin ia d los .lacar("'. y 011'0::.
(;nlil' ,d quc r hi "n palJ'ada: liPITa f riil c Il l1l11l'i1a'
11 a.dcl'as, y uariL lJicn coLoucs, t<1lJaco", arroz y al"ul a~ "u-
ca 1'.
De i::10lra parir elelI ia cn e] C:l110 dL'! :\orL , corre la cosia
a Loc Lr ln 1<1 01 rio de 'icrllte Pincon, e11 allll1 a ele lrez
grado::; d 'la Jinea <11_'ll'lt': ltahl';} co~a eI ((Ilar I,La I('glla~ l~ol'
co. ta rnLr 1 OTan canal, y la delllarcac"on eutre PorLugal y
Ca, Lilla.
Aqui c pneIe llacer oLra Capilani:t '1).
Tierr:t de si 1'1':1. campos, y lag(ldizo:. hu na para gan:l-
do" d hien labaco, Y . I II, Y jlLlcdc-,c sLpnL!l'I']l I' LI j iI)
:lITila., ha.:la la. lloca doi rio d(' I:l.S 1m; conas, y Pl'uyillcia le
]0 Tapl1)"o~'=" ompl'ch ndil'lldo !alllhin ln. ProYillcias (1 ' <

I[s TucllY y nIarigllins, en qu ]labra. cerca li' ulIzielllas J -


gl a. por II io arriba.
DI'llla.S ti ,Las Capitania.; fC ]1urden c1elll:ll'car olra" enlre
I ]'io ti .la: .\ma'l11ta., y 1!11':1i1 Pa!'~l y pr rima] la flro-
,i n 'ia de lo:' T('calllinc., por ser II io mui Jlrn cga \)]c, y la
ticrras ferlil ':, qlln, cnliellllc rne daran Irigo YYillilo y
oLra" c :.:::ts d' Efpa la, como ~c f]:tn cn I 'uO\'o fie ino de
Gl'anad:l) qur alli 'Ye ino) Y c-l n la. misma alLma.: lalll-
bi"l1 por aqui ay mllcl\as miDa" COI1IO 11 cl 1 UCYO, Y qUiC[L
ma l'ic:1...
Eslas ,on la C:lpiL;lnias qnc Y. M. pn"tlc mal1l11r r p3rtir;
:r la cios f]ll ~,c di'o d bl"n qUI'dar r ~('nada:-. para. la COI'O-
n:1, pidL'll, qll S. l. Ia mande rabiar, rorlifi 'ar y li l1'ellller,
y para cs~o t puctl n buscar hll nos medias: pOl'qll' a. f:.i
como ~'e ,(ln polllalltlo, Y:ln lallluicn la Conqll-l3: I' nlandn,
y para. fJilL' e, la" se pLlcdan aproY ('!tal' l1wjor plH'ue '. ~J.
ll1:lndar l'cparLir los Ilue]'lo de lndios por cncomicl das) como
s lllcr l'n Jal' Indias.nn CJIIC ;0 Eclc:iaslico JlCYC la tcrcia
p;-trle, el Comm mIador olra I rcia parlp, y la olra \e1' 'ia par-
L ele lodas C:'(:1:' nCOlllicJlda' ,ea para ,'o "i.: 'con c~lccau-
-------

(I) Dr>'1.1 r.npilanin foi r1l'pnis nOllilfill'io mI' mo 111'1110 )Jilril'l Pill'r>n!l'.romo
c !lsta (in C,;rlil rir: Loi rlc' 11 (i(' JUJlho de 10:.17, rJllt:' nlllilJl!t:' ",li Iriln~l'1'iI'1il.
d:l.\ ~ pllCdt' ll poblal' hs di 'lla~ plop g, y sn;;Lenlar lo~ prrRi-
dio::. y fOl'ti!h:aciones nec(".'al'i3'" in ga lo de laltQal haz;cn-
da, o Ct n mui poco, y hllbl' C:1.lllla I, )' mano con qne )T 'Oll-
Cluistando, poblando y forlificando por aqnel gl'an Hio arriba,
h;t. La j'otosi, puc_ c ci -I'lo que sIC llio llace "I'a d I, Y
que por cl c pu ele lr<ler la plala d> Lierl'a. firJll' con bl'ere-
dad, y ean seguro, ahrHTanc10 lo.' ga, Los, Ll'abajos y peligl'o:-,
con que ny ~ \ trac p I' Arka por la mar deI Sl1I' a. l'analJ1,
Pnel'to-/lf'lo, C;trlag lia)' Uab;tna, por lallto esc lia de "el'-
ra!!'llt:=:, Tortuga , ~la1<lCl1mbc., y Ba.!Ialll:ls, y calJo rlc 'all
-\.IlL .11, d'ollde tanto se pc igl'a, a dema" de la IllllC!L;,<: I'i-
(!I l 'Z,lS que ay por aqul'l'lJ~glalluesllio.'. a.'"j dt'. (II i !:'I ,':1
de lll'ogas. qne Lodo. e p11 'ti Ira I' p I' eJh a. ;:-;, "-,, l.1
lllucln lJrercdacl. aCl'c:,cel:Laf) i 'lllo YSl>glll'!
Ypal'a dar prillcipio a e~lo, -cr bit'n ord::n,ulo, fiu :'. ;\,.
malllie ucical' dos narios dt' hasta I.I'e!:irlllos Lonele., que
andcn ell c'la. carr,ra. de! JlarafiolJ lIcspiL':a, y ;)S I~la.s
Tercl'l'aS, que lraigan ulauera..., lalxlco . 'Otan s, a.'.;uc.arc: y
las dern;c cosa.. qll ' los 1Iti('\"U. [.oIJiitdor 'g rum'en clllli";lIldo,
y Ileren genle Jlill'a ir pO])'<llltio, q'Je [lu 'de ir ue las J:la'
Tere ra., d'ollcle ay Illllcila, Y Y;l por c:-;::a cau:a , C lI1and6
Jlc"ar de a.li. pOI" .1or6"u LelllO de UdtlllCOr, a la~ quale se
d 'oen CUlIC'U r los ll1i~lllo::; privil,. giu . que enL01Jce' 'e die-
ron a o~ que fueron.
Es precbamcntc neccs_ario meL!'r lu\?go gente lia, la Lre-
cienlos ca,arc~, y fundar (Oll elio una ciudad cn la olra
parte d ,i rio de Ja' Amaonas (1 , en 'i brao dei Hio (;inipa-
po (2), par3. dar calor a la poblacion ya os Indios COt}(luislado~,
y e.'Lorval' que no lomen a tralar con Olandczes, IIi. lias
buclvan ali, como Jo han inlenlado despues de ecll:ldos: y
eon e'los pobladores yayan frayle de todas Ordcn s para do-
tl"illa;' ias q ue se fucrcn cucol1lmenclallllo: y con c Los cli.'be
S. M. mandar orn:tmenlos, y lo tlemas rcc;wclos para admi-
nisLrar los sacrifcios, y ollieios diyinos: y COil lo' nucros en-
commenderos puede Cl,ar algunas hnerfanas de la.s qne
tielle a Sll cargo cl Beal amparo: y tambien con a.qucl caudal
e podran Lraer ii. E: paih algun:J.s Illaclcra' par:lla f<llJl'i 'a
dc narios grandc", que por tiempo adelallLe 'e podl'an ar
fabricar, como en la. H~lb:lna.
(I) Estn nCl'CS irlndc ainda hnje se sentc, c ncm I'ortugnl c ncm o Drasil (cm
cUIClatl<l s':riallll'llt ' dcste ohjeclu.
(:) ll.,jc ') ri!) l'a:'~I, (:!II tl/jl\ !')Z ,1: acha <itu:\:I:\ - ~\!::\I::ri:ll,
1 .~
- 1.-

.\I}\ ie\'lc'S\' (ln r~ll} ltq.wr, tplt' aunq\ll' (;1 n(ll\'I11(' iI ~a:-i le~'\p
de '. M. los Judios que :-: m re:::t'alar!o$ de putlrl' tle ,.u~ ell -
lJ)jo-o qu:ttldo lu: lirll n pl'e~o. para cnmel'-lo., .011 wrda-
<1cramcnl(' rautim:: es \1(' 'r~',ari() p.'PYI'llir el granel' daflo, .'
cc<:andalo que ele,; t'igue ti II 'y,u'-Iu' fu I'a de U pLitri;I,
(J'on lo TIlinta l1la~ 1m h n porqu "n :-:al:endo doUa pefecI'n
totlo~, como lo, peze:, fu ra dei agoa: y por ala.,ial' a e, le, y
:lI oIro inconyenicJlto de de.poblal' la Conqlli>:la pOI' hl codi ia.
de II yar o:-;c!ayo$ a \'endcl' ai Brasil, y a la$ Jncli:ls.
Dcre S. M. por lanlo mandar qu' los Jndios quc a. sifuo-
ren re:'calado:-:, :lnnqu \ .ean cauliYo:-: no 1 ti d:m ~el' .acado:,
furra d la Conquisla, ni de~naLlll':lii:-:ados opUa., pe\1,\ de
{Illedar I ihre.: y el Mao Iro que lo~ tl'Uxer lenga oul'gac:on
d \ bolrer-Ios a su patna a su 'u~ta, con todos los daf.o~, y
alimentar I enlrelanLo.
cOPU DE 1..\ I\.E.\L CEnCL.\, Ql"E SE DESP.\CIlO' 1'.\1\..\ EL C.\PITA:'i
M.\ 10ft, llEXITO )L\r.Il.'L P.\llICiTE, 1'.\1\.\ C\)~(Jn~TAI\ E1. GI\.\~
HIO Dt: L.\ A)!.\(.:o:'i.\~, Y I-:CII.\l1 DE ALLI \ LOS E:\Emeos.

lo I-Rey(J), !lago .abera losquee~I;).c dlllarierf'n, (p,e


Benilo ~Iat:id F.lrienle, ~tlC lia Ia.aora (2) Lirrio tle Capitan
lIlayor de 1.:1 Ca pi tania d 1 Pal' ~ c me 0111 eci por LU ear:a IIp
20 de aLJril ti I afio flas~ado d 1(;25, a lIazer a su lo~ta el
de~cll1.Jrilllit'nlo ele licl'l';). adt'ntro, por d Ui Ama~ollil~, y ~us
hl'ao~, mandando-Ie)'o I aSfar crdllla para poder hazer gt'n-
ir para e~'e ellceto, ) embiane!o-l' lllUllic,ione , y h mas
g 'nl ~u . e plldicr juntar, a:d soldados, como poLJladorc
par3. polJlar; con lo qual'. se reparta la. adlllini~tracion de
lo G~ntil ~, a illlilacion <.l quando :'e [Jobl !\llcYa-f'<paf!:l (3),
qllcllautlo yo ouligado a te mandar premiar, confornie LU::;
scnici s merccicrcn, y rincliel en a esta Cal' 11:.1.
Vien(]o yo o::u ol1'recilllicnlo, y lenil'l1l.1o rc~pcto a 1:1. buena
ilJrormacion, que rue dada de las parlef, . lalento deI dic!lo
Dellito Maciel, hm por bico de lo acetar, y pOI' cst:l. me plaze
de le encargar el dit:ho de cuurimiclJto, y conquUa dei Hio
de la \ma~ona': para el qual eJret:to 'P0dri n Pernambuco,
y en las demas Capitanias de'l 13rasil, que 1' parcLicl'e, IC\':1n-
lar a U cO.la l:l. gcnte que le quisi 'r' eguil', hazicnclola. por
si, y por la. pel'~ollas qu para e110 eligiere, ill 'o lo inlpeclir .
l-
-fi FeliplJc 1\' ~il lIe p'illili:i', 'e III de l'orlu/-!AI. -- --. .-
(~ .\'1ui IJr.) an'lllloiltr. se refem ao Il,'rrc\() ti!' nOnH'ilC"lO do surressor de
Dento ~lal'il'J l'ill'vllI . [) C:l\lil<1U'IlIi' .Iilllll\'l tio ~ol!:a :!'E:1, q!:c IUIlll.l~: t,,!lla
do A'llVOI'l1f) llu l'::r 0::1 C l ~ :);:Iul;n) ;10 1~.1(i.
(lll O '!".:;:C ,.
-H-
('1 GOYCril<l!l i' :cn"r;J1l1l' nqllcl Est:lclo, ni ('1 Capilan m:JY r
d P rIHl.ll1!lll'" y Llpilallr tl. 1<1;; dcma, Capitania, de!:
antc Ic dnnn pa-ra el10 I lo d faYl1r, Y a~'ntl~l (11\ Je rr lui-
riere, y I1c('n aria I fncre: y ai Capilan d Pcrl1,u lhnf'o
l11alJdo qnr d,', ,II dirilo 13cnilo n!cll.:iel l'[lrient' cmbarca io-
nc: pOI' cuenla LI mi l1azicn(h para la Jlcya ele la gl'nle que
1 sigllicr, de I~I, fjual . Ulbar '[leioues s I odl'ayutlilr para
cl cliclJO de. 'lllJrill1i 1110.
I ai GOYCl'I1il] r dei Maralon, y aI Cnl ilan maior dd
Parei, 011'0, i l11alll10 le tlrn 1011 cl raror, yaywla qn' lu,.; re-
fjllil'icre para ,1 ('\1' cio dei t1idlO t1e:::eu!Jl'imi('l1tu, y \lU 1 ill1-
pitlan Jl' Cdn d ht ~cn que lIcrarc dei Bra, i I, y la de aq llulJa
Capilanias rll'! jJaraiion y Par, que Ic qnisi 'rcn ,1'f.Dlir, que-
dando an clla,.; la aene Ill'Ce, .aria para :u ~calll'itla(L
\al dicllo B'nito jj:H;icI encargo, qltl~ sco~ri('IHl0 de lo'
R('Iigio~o,' que::lY 11 :1f111elln. Cl.l1q ui::, la. elell'al'<'I, lo mas a
propo::,ilo, procnre lIear-lo' cOll:,igo, para. cOll:cl'\':.H.:ion (le
].J CenUII':, Y:lyudar a. lo qn ma, 'rnel'e neces, :1 ri : aL!ril'-,
tit'nclo, qne I I pl'incip<t1 inl '1110 de, le tle,::clIill'imiulllo,) el'-
,i 'io, es :I"el' d 'hmc:ll' aI' Jand zc. adondo pe :'llpicr
que esLan, y tralal'-lo. onlo a rcbc!t1 :::, Y (lue 110 crned' me-
moria ,ura. en aquella parles, ni Lle oll'a algUJJil na 'ioll tle
la de Europa
Y arllIl J1land ordenar . . 1 CaD,pjo de mi liaziencla, qur n
la Compaiia ue.' ntlres Diaz ele Franca, quc aOl'a Y:l por Ca-
pilan mayor de li rnamlJllco~ . e el1l11i' aI c1icho lknito Macie!
clocientos arcabuze", y cicn 1lI0~qnel :::, con polrom, lIluni-
cione" y c:~Cr(hL, a. e:~s reip lo, para (IlIe se le ellll'elTucn
}endo el a. 11:1. 'el' cl dicho de. cu bl'illlicn lo y conq uUa.
1 conforme aI "C'l'v:cio que en 110 hisiel'(', y a la ulilielad
que de] lo I'e 'uI are a esla Corona, I har la mure. cl que
fuere juslo,
Y es:a. Cel1ula t ngo por bien fjue yalga, pu ,to que ,u ell' -
elo aFl de dL1rar mas d '\ln alIO: y Cjll no sea papsado por Ia
ClJan illcl'ja, sin embargo le la Ol'denanp en contl'ari .

To Anlon ia Fi!Jll(,)'r1 lo lJ ize cn ti,hoa a Q ele <tgoslo de 1(j2G.


lo lflllJz Dia;; de Jlenezes lo llize :crihir. EL-lill\. El-DLI-
que de 1" illCL J]l'I'IHOSCl, Cunde de F i.ca li o (I).
(1) Pllhlirnnfio-sc todns ns Iris I'rlnlirns no Urino ri' Porlui:wl, na liJll'oa Por-
111~UCZil, 1]('in,tll"l' quI' ('~liI fos.'c f'tll lIo~pnJllinl, c r'cTilll n1 I L'lInH. colll ti
rcfcrcm!a til' ~JilJi&ll'o l1nql1clle 1110$1110 l'iliz, ClIlbul'U I'omlc Ilc FICLlllio,
~ o
- /0-

C.\nT.\ De LEI DI: 1!~ DE.J ;.;no DE tt37.


Fa:: Doao cilb Capilanilb do Cavo du LYol'le

(b Bento MacieZ Parente.


D. Fl'lipp ,p r graa cl Dco::, Bpi de P rll1gal c (105 .\.[-
garre: el'aqucin el'alhl mar, cm Africa '(,11101' de (;uiu eela
C m"l i.'la, :'i~negaio, COillmercio ela Elltiollia, .\l'aiJia., l'cLia.
India.
J'<l<.:o , <lher aos cru esla min ba Carla de Doa( o Yirem C] ue
1(,IH10 l'oosidcl'aIo ao, ,enicos que o Conde ue lh:lo (1),
,('mIo 'o"cl'l1aclor de le Urino, 11Ie rC'J1l'e . enlnu cm uma COlI-
sulla no anno ele lGJt, qne llaYia fcilo l!enlo Ma 'iel Parenle,
Iidalg cl' minha ca~a, e aos mi\is flue al o anno ue 1G3!~
fez el11 Pernambuco, ujOi\ papei' apre'elllllll JJ:l, C()rlc ue
M<l(lritl: houn' por hem por carias minha. cl 18 de muio de
'lG3/~ e J3 ele ago, lo d' tU3(j, ue lh J'uzer I1lcl" ele al ir uIl1a
1('1'1':1, no lUa de Am: zona" alm do furo de [ieblg.) com dou'
milri::.l1c morudia c1l' que ,'c lhe p:l~SOl1 pOrlari:lua cr:e de
Madrid; ludo com obrigaco d ir : e1'\ ir a l'el'nanllJll o [nz
anllOs. pOI' ([l13n[0 ~ ria alli tI p1'o"eilo pela Illllila pralica
fjl((' linha d;ll\ll'lJa gnerra; e que a, llhora ]lrinCe7<l :Jlarga-
rida '2" minha muito amada e pr ~a.da sL'nllora prima, rc-
]lll'Llcu ao Conselho da Fazcl1rla com onl 'm que e lhe 110-
nlt'(l,':r a dila Capilania, nJo sentlo \lPllll11ll13. tIas fJUt I 1)(10
(':rolhitlo ])~Ira minha, : o1'\1 a, nem t1:1, l:Tl'a, que eslo dada::;
a lrl'l': im, E portjl[(\ II Con. 'lho da. Faz ntla, IOI1l:1t1a. :I:; iu-
j'ol'llla:rs nrcl',-,al':;l~, 'L'lltlo omiti o pruclll'aclordl'lla, . e
lhe nOI11 ou ao dito IJrnlo jlaci 1, aCapil:lnia tIo Cao do .1'01'-
ir', que 1'111 1 ('Ia cosia do mar Irinla ai" fjli a1'l'1lla legua.' ele
di-ll'iclO, fjn tl' anio du dilo Callo ale o rio ic \'iccnl Pill-
<':1)11, onde entra a. l'l'p:lI'li<:;LU das JllLlias elo Ul'ino til' Ca~ L'l'a,
t' ]leia lerra. tlrn!r I Hio tia: \.maz nas arriha da. parle cJ ca.-
Ilai qllo \ai sallil' ao Lllal' oiL \UL:L JlL'ra cenl !L'lruas, ale o do
do, TlIjltlyoss ':~),
11, D, IlIO,go til' 1::1, 1m. (1'1(' roi I III' Ilua~ 1'1'Z!'S r.on'rnill!nl' dI' I'Ul'lll"lll, C por
UIlIIllO \i<'I'-ltl'i d"lide'2 (1l'julho dI' W::ln;;1 ti" deZe)llhl'lI til' IraI.
11 .\ Pl'inl'('zn )'nl'gndrlil ii qt1f' ~l' "c'ft'I'(' psta j pj: (,t'H, l lJUtlU('ZI de :"Iranfun,
li 11 I' f!O\ "1'11011 I'Ol'lllL.1;HI llr'~dl' o fim tlol ilI1110 ri ' I,,: I Hil' il 1l'I'f'iUI,"i.n di' 1Ii411.
: nl"~H~t1il(lotll'u ori<'lIfal tio lilg'O :Ul tllJi, 110 lado C's"lJ('l'do do .\HWl.onilS
l Hl l1l'() al'illlH c1n r01.l1n Tnp:U:" fllldt, f'\istiil ii i1lti "ti dlls Tu'nn.. r's. que' (rau...
plilllladil pill'iI llS lIWl'g<'II,' <liI<1111'11<' Ing'n, ii" l1o.i1' .\ICIIHIUl'l', Y",i:l-:;l' lll'l'i'('<lo-.\s-
~-i\r.. 11. :ltilj, :4ilnl-I.'O\ 11'111\ hr 1,,,\\1\;:0.\r: I. ':111, 1St"iCi. O I" 'ul \.!'-'...:.~a all!u lIUfCt"C
SI'" t.! !fUI' IHl 1I1i1l'pa (II' "lliJl~ ~l' l'/l(UlliI TUI \I'IH :'1.
- '.1;-

E hn nmhuma lh:, qno lenho dado;l lel"cil'o, hei por


Il:lO
]ICIlI do llle fazei' merc da dila Capitania do Cabo do Norte,
lia man 'ira referida, c ([II se III' passe Carla dclla, como ul-
I

timamellle se ]):1 "011 a Alral'O de Souza doutra C:lpilania,


d qne fiz U1Cl"'t: UO l\lesl11. Eslado f 1), e rom a me ma: j urL-
di 'o; e pagou de meia annala dosla C'ipitania ineoenla
mil sele cenlo~ n,"jnle ris ao Ih som'eiro della, .loJa {Jaes dn
MaIo, , que hn o mo'mo q.le u'Jla pagara na Chancellaria
filiO lhe for:io carregado~; em llcceila ColiJas cenlo c dez do
l' o 3" ue SOU recelJimenlo.
l'rdiIHlo-1IJe o dilO UeDlo Maei I Parente que rislo ter Q
.Fl scolhid conformo as mi.nha' ord'n ilo das Capilania8,
que lio de ,er calJcca daquelle Klat.lo do :raraullo, p'ra
CUIHO se ria da cerlido do 'Cttetario Fl'a\lcj~co de LUeel1;!,
ql~eaprescnt:lYa, pela qual consta h:m?r cu por bem, de re-
~u\Ycr por Carla. minha de 13 de abril do allllO de I Gila, que
ncas~'cll1 I'e~enadas para minha Cora a. dilas Caj)ilan:as do
Maranhn e Var. di marcando-se a do MaranlJ:io .( 1ll .lIas
ilhas desde o rio Parao.. s (2), al a ponla (le Tapuylal1' ra ,
em que 'e entende lIa le C'la incoenta legnas.
E qu' se dc.ric1a c3la Capilania das mi, por a hora do rio
Mearye por o l'inar)' arriba (:3), e a Capila.1Iia do l':tr;l ~e 0-
mrc,f' no rio }Iarac:tn, cortando pela rOnl'! d~lIc, pela UI ca cio
l'ar;'l arriba j qne pelo primeiro IJrao lIa III '~mo rio, da
parle de Le.:-olC, Y;l corlando at o primriro ~allo do rio pl'O-
Yincia do~ Tr.c:wlincs, que. e diz di la do mal' ln~o e 'ill-
cornla Il'gllas, e lcm por co~la al" ii pOllla do Sei arar lrinla
/l'glla.", (' induc nella a rid3.lI d llelhlcll1, e peLa dila dcda.-
1':1('.;10 lIomeon AI"al'o ele SOliZ3., qne Ilc c.-colhi:l para ua
Capilania :t8 terra qu jazem desd o TII1')' aI" o rio C;lyll',
rorn o.' mesmos rios <lu denlro d 'lias c:,;LLrcrelll enlrando
jllnlamenl ne'la nomeano.
E o'(olha. os dilo, rios Tury CaylP, cruc fic:n';Io aml) s
(]'cnlro da clt'rnarcao por olllli' l1;t de c1emar.rar a dila Ca-
pilania, que podero ser C[uarcnlaecin 'o al c.incocnla 1('('1 a
!.lo di::;lrido por cosia, e c:lI1fOrlllC a tI la. dl'('.lara.IO s' lhe
passou ao dilo AI\'aro d "Ol1Z3. Carla de DO;1(:iio ria. dila. C;l-
J)ilan:a, se Lhe l1landa.s~c P:1S:'Il' a ~11e dilo BClIlO Mu:'iel Hla
(I) Bacna chama i "'.lc UOl1ntario (;aspar lIe Souza, lJerre'lo uos seus .b-
N\I.~ JIl5cplt di' >1.)1\(1 II ;';"111.1"
1')\ n rj"I'.,rnllh,I!ta. '"ni! . ii" '\I'l'.11l!t:ir /'o:n li P/;ltl!ll",
1 ti ~ riq~ "e:ll'nl.~ l'ilWl'p.. '
/,-
- II -

lrla de l~l);.\I:TIO da dila Capilanja U Ca/;o rlo Xu/'It, ue que


CI\ lambem lhe tenho l'eilo mel'ce.
E risto por mim ~en requerimenlo r a frma da Parlaria
n~lalada, porque lhe fiz e~l(j merc no dilo llento Mariel, com
;l mesma qllalidad , jl1l'i~dico obricr;l:io, com que foi COII-
wdiua a oulr3 Capitania ao dilo Aharo de tom~tl, e as mais
(10 E~lado do nra~il, c con~illerando ru quanto .enio de
Dc-os e me.u, (' bem comnnlln de meu l11-illos e ClJhorio8, do .
naturaes 'ubditos d('II e:::, c ser a minha CO:sia e terra do,
Jli'a-il, ~hranllo o Par 111 a i . poroada do qll at tlgora foi,
assim par;] c nella lIar r tle c 'Jebrar () culto diriJlo e :::e exal-
t;tr a nOSEa anta F~ CalhqJica tomo trazer pro.\ocar a rlla
() n(lturaes da lIila terra inliei' c idolarras l"'OIl10 pelo muito
proreilo que:3o .eguiri a Illcu' Heillo' eSellllOrios.
E ao: naturae' e ubdilO" dolle elll E a tlila terra poroal'
fi :qJl'oH'ilar, ILOUY(' [lO\' bem de malldar rrpartir OI'U -nar a '
Capilallia: de cer'ta . em cerla ll'guas para uella prorer;JS
primeir:u~ (llle bem me par -c 's:;e, pelo qua.l hawndo rc~peilll
ao: ~cl'\'i<:o, qne me fez c cii]lCro me f()~a o dilo llcnlo ]\Jat:iel
ParenLe, por folgaI' de 1h - fazer JI1cn:e em ~nIUa<:o lIe1Je:;,
l1~alJdo d' III 'U poder Ueal e ;)bsolllto, (',('rIa scieoc'i:l, hei por
helll c mn praz de lhe f1:lzer me!"\ COlHO em em~ito, f::ll:O pOl'
fi lL Carla irr 'rogare! ti <u:o ('ulr' \'irw~, yalcuonra eleslc
dia par; lodo S IlIpre ue jul'O herdade par,l dia c tl)UIJ ~cus
lilllOS lIelo. (' hCl'lleiros, e Suct:C:3~ores, que apoz elle ri r ln
a '~ill1 de renrlentr" como Irall:;YCl'sa s colalero., .q~uudo
<lO diallLc ir~l declarado d:1S terras qll jazr1l1 no Cabo do
Ao/'[(~ com IS rios que dcntro nellas cSlircrclll, flue tcm
pt'la. co~t:l d( ma!', trinta 3le qU;)T"Ola legnas d ' di~lri 'to que
~c conlo do dilo Cabo al o rio fi YLcn1.1' l'inoo, aoude <'11-
Ira a rrparlio ela [ndia_ do lleiJlo lll' CaslcJl;~, c pela terra
dr!:. 'o llio d:l- \mazona" arriba tla p:lrll' do 'anal flu(' \ai
~'ahil' a ma I' oi lrn la I ara ceU1 jrgun . at (I Rio do' Tn pu )'u-
::, com d cb1'ao qll~ 11a.~ parLes r ferida. 1Jo1' onele ara-
harem :JS trinta e tinco ::Jl quarenl:1 lef\lla., de fO:la. de l'ua
Capi!ani:J. se poro lllarco' de vedra, r c:::lcs m1n:os correro
"ia l"rl;l pelo sf.'r~'o denlro,
E bCln as~ill1 mais :erit do dUo Denlo j!acil'j Parenlccsc':'
!'u~cc:sOJ'('S as ilhas que II U\l'l' at d ''l l(guas ao mal' l~b
fronleira e d:'lllarr3.(5 da' di!a' lriu!:] c cilleoa! quarenta
Irgua d' co::.t:.!. de Slla Cal'il:lui:l, a:; qU:l('::: :' C/ll 'nder50 llltr
(lir,I~I<: i; I'(-t~:l, (' "'uir:' 'f('l 1('l '~"I't:iO e, 'l'n'" t:n!'l ,lqi-nlrlJ
-'!~-

)l 1a ma11l'ir:i r 'fi'i'itla al" rio Tall"YO's, c t1';lhi ponl'an[e


1~1I11o quanto pad 'I' l1l cntrar ' ftlr dc lllilJila CI nqui:,la, d<t
qual lel'ra, ililrl' c rios ]lL:la soll'cdilas dCIl1i1rcac-es lhe Jaco
<lo: no e I1ll'!'(' de juro'" herdade para lodo sempre como
elilO iI~. E qucro c 111e praz qli o dilO B nlo 1:H:iel lodo'
:eu hCl'(leiros e succe."on's, Cjue a' dilas lerra. T1Crt!i1r m,
c nella" , n ederem,.e po. 'o eh, Illar, c 'ccllamemCapiles
Ccncrac5, e goycrnadol'o6 tleJh.:,
. OL1lro-~j;n, f:1(;o ]oac: o mcrc<' tT juro c lIertladc para
loLlo son pre para ello "seu de::-c 'nd,'TItcs, e SlIl.:('I',;sort's, no
macio nbrcdilo de juri:.-:dicITo cirel e crimc da dila Capita-
nia, da qual ell dilO U'1110 ~laciel Parente e cus henJ 'iro
e SUCCC6S01'eS, llzQro na forma e mancir;, SCRuiu!e a s'llJer:
Poder, por, eu OUl'idor c'tal' a Jci~tlo dos juizes
c oHicia 's, e alimpJ.r o apurar a~ panta", p:I, ~ar carlas ele
cunllrmaC:;lo ao. dilas jlliz s c oficiae., os flLla 's 'e c111ma~
ro pelo dito Capilo go\'ernador,
h cll' proyer o Ou\'jdol', que poder conll(:,C'cr de acc"ije
no\'a:, dez J('gl1as ao redo]', u'unu ' C'sli\:er c de app"Uac- c
aggr::tyos conhecer cm loda a dila Capitania c gunmana r
(' o::. lilO. j iizes daro :lppellac.o para o dito .cu Ull\'i(]or na'
('ou.as qnp malldo l11ilJlta~ Uni 1l:1 S, c do que o (lito 'cu
Ou\'idor julgai' :L:im, por aero llO\<\, C0tl10 por a.pr lIa~50 e
;Iggra \'0, ,eildo cm ca n~as ci\,pi~, uro 11,'1\ er <lJ111clI1o nem
aggra\'o al qll:lnl tio cm lJlil r:'.
E cl'alli para cinta dar apprllao 1:lrt que quizrr ap-
pc1ltu'r c n s c:l 'os crime" ltei paI' 1J '111 cptr o dilo Capiliio e
go\' 'rn~ulor c "en Um itlol' leullo jurisdirc:ITu 'a1c:acla ele
morte n:llnral, inchlSi\c cm e,'craros ' gt'lllios.
E a"ill1I11CSU10 CIll L'l S CII1'::.\JU 110m 'ns lin'cs em lodos
os casos, a:sinl p:lTa os ~,IJ~o]\'('[', c mo para 'ondemna1' ::Clll
h<w'l' appclJao nem aggraYU; e 1) rlll, no' qua 1'0 caw'
s 'guinll" <'I ~alJcl':
l1!'rczia l(llando o hPl' lico lhe rtJl' rnlrrguc J1('lo '1 sia -
1\1.: ; lrail:o (J :,odoIllia c J1locda rabl., lCI'Jo a1c:alh (1m loda
a Jlc~s(la c1e fjualquc!' qllalitlilde Jue s('ja, para: ('olHlcmll<lr s
('ui pado ' ~L mrl , e daI' SLl:lS selllcllps ~L ex-C'LL;i:o S'111 ap-
p:'II;I([o ll"ll1 ag'Trll\'o.
E p01"1ll no., dilos quatro ca. Os para ab::oli"el'!la 111or[r,
jlo,-tl) lia;' OUI!'il ]lena Jhc Cjlll'il':l. dar n1('no: dil. mortc, claro
(I'Pllt.'!I\'~ir\ (' 8ggT;:l\' li r. :IppeJlarilo ]101' parte d:l j!l~lir::1., C u;LS
- 4.!) -

pes OlS de maior qualidlde, tero alada de dez annos de de-


gredo eat cem cruzados de pena sem appellao nem aggravo.
E outrosim me praz que o (lito seu Ouvidor possa conhecer
das appellaes e aggravos que a eUe bom erem de ir em qual-
quer villa ou lugar da dita Capitania em "que estiver, po to
que seja muito apartado des e lugar onde a im estiver, com-
tanto que seja na propria Capitania, e o dito Capito e Go\"er-
nador poder pr meirinho diante o dito seu Ouvidor: e
Escriye e oulro quaesquer Officiaes necessarios e acostu-
mados nestes Reinos, a im na correio da Ouvidoria, como
em toda a villa e lugares da dita Capitania e Goyernana.
E sero o dito Capi.lo e Governador e seus successores
obrigados, quando a dita terra fr povoada em tanto cresci-
mento que eja nece sario outro Ouvidor, de o pr onde por
mim ou por meus succes ores fI' ordenado.
E outrosim me praz que o dilo Capito e Governador e
lodo seus successores pos.o por si fazer Villas, e quaesquer
Povoae' que na dila terra. se fizerem e a elies lhes parecer
que o devem er, as quaes chamar-se-ho "iIla, e tero
termo e j uri dico, liberdade e in ignias de" iIla, segundo o
fro e co'tume do meus Reinos.
E i to, porm, e entender que podero fazer todas as
Villas que quizerem d::ts Povoaes que estiverem ao longo
da co~ta da dita terra e dos rios que se navegarem, porque
por d ntro da terra firme pelo sertITo as no podero fazer
menos e pao de sei leguas de uma a outra, para que po o
ficar ao meno tre leguas de terra de termo a cada uma das
dilas Villas.
E ao tempo que a im fizerem a dilas Yilb.s, ou cada uma
della , lhe Iimitar e a ~ignar logo termo para ellas, e
depoi no podero da terra que a im tiyerem dado por
termo fazer outra Villa sem minha licena.
E outro im me praz que o dito Capilo e Goyernador, e
todos seu' successor s que e ta Capitania Yierem pos,o
noYamente crear e prover por sua Carla os Tabellies do
publico e judicial que lhe parecerem neces ados nas VilJas e
Povoae' da ditas t.erra ,as~im agora como pelo tempo
diante, e lhe daro suas cartas assignadas por elles, e sel-
Jadas com seu se11os, e lhe tomar juramento, que ervir
seus omcios bem e verdadeiramente, e os ditos Tabellie
senil' pelas dilas sua Cartas sem mais tomarem outras
de minha Ch:l11cel1a.ria.
- 30-

E quando os ditos omcios vagarem por mort ou re-


nunciao, ou por erros, s assim be, os podero por is o
mesmo dar, e lhe daro os Regimeutos por onde ho de
Bnir conforme ao de.minha Cl1an ellaria.
E hei por bem que o ditos Tabellie se po.so chamar
e chamem pelo dito Capito e Goyeruador, e Ille pag,l'
suas pen es, segundo a frma do Fol'Ctl do E lado do Bra-
sil (1), da quae pen e lhe fao a. im mesmo doao e
merc de jmo e 11 rdade para todo o empre.
Hem: outro.im lhe Iao doao e merc, de juro herdade
para todo o semprc, da alc:lidal'1 -mres de toda. as dila
\ illas e Povoaes da dila terra, com toda a rendas e direi-
tos, fros e tributos que a elle pertencem, egunLlo he de-
clarado no dilo Foral do EsLado do Brasil a quaes o dilo
Capito e Governador e eus uc cssore havero, e ai l'enda-
r para si no modo e maneira no dilo Foral canUdo, e
segundo a frma delle e a pessoa que as dilas alcaidarias-
mres frem enLregues da mo do dilo CapiL<10 e GO'lcrna-
dor, e elles lhes tomar a menagem della ,segundo a frma
das minhas Ord enaees.
Item: ou lrosim ne praz por fazer TIl rc ao dito Den lo
:Maciel e a todos o seu succes 01' s, que a esla Capilania
vierem, de juro e herdade para sempl' ,qu eH tenho e
hajo todas as mocnuas d'agua, marinhas de sal, e qua quer
ouLros engenhos de qualquer qnalidade que sejo que na
dita CapiLania e Goyernan,a se podrem fazer.
E hei por bem que pe oa alguma no po a fazcr a dila
moendas, marinhas, n m ngenhos seno o dilo Capilo e lio-
-remador, ou aquelJe a qu elI para i .0 dCrli 'eua, deque
lhe pagar aqa Ue fro ou LribuLo que com Uc conccrlar.
OuLrosim lJ1C fao doao e merc, elo jllro e 11 rdacle para
sempre, de ele eseis leguas de terra de longo da co la ela lULa
Capitania, que enLrar. por dentro do Bl'lo tanlo qllanlo
puderem entrar e from de minha c nquista, a (111a[ terra
ser sua, line e isonta, s m d lla pagar llireilo, fl'o nem
tributo algum, s6mente o tlizimo . Ordem do de Irado d
nos o Senhor Jesus Chrislo.
(I) Ignoramos qual seja o -Foral- rio E. tarlo elo Brasil a ([ltr' se rC'fer() esta
Carla oe LPi, sal1' se ~ LI'ata dns outra I'ilrtn' de lIon'iio do' prilJleiro Donn-
lario , ou 'lO Regimento lIo ]JrilJlC'iJ'o GOI'{'rnallor do Brasil TIIOlll de 'ouza,
que ainda se acha inerlilo.
No art. l da Cana cle doaiio de Fran isco l'areira Coutinho, de 26 ele Ago~to
ri 15:J.1, as n, penses enio tlnllUahllenle dC' r, O rs. "('.iiI-se n n'ln"tll rln III,tituto
lIi,ro,';'o, t. 18 P[lg, 161, e F. A.lIe YllmhagNI Iln nisto ri", tio lh'llSil l. 1 cf'ilO::i a 6.
- 51-

E d 11tl'O de vinte annos elo dia que o dito Capito e Go-


yernadol' lomar po se da dita Lena poder e colher e lomar
as cU la' desesei legua ele terra em qualquer parte que mais
quizer, no a tomando, porm, junCas seno repartidas em
quatl'D ou cinco partes, e no sendo de uma a oulra menos
de dua leguas, a quaes terras o dito Capito e GO"lernador
e seus succe~ ore podero arrendar e aforar em fatiota (1),
ou em pe::; oa~, ou como quizer m e bem lhes conYier, e pelos
f6ros e tributos que quizerem, e a dila terras no sendo
aforada, e a r ndas delJas quando o frem, vir sempre
a quem uccedel' dila Capitania e GO"lernana pelo moelo
ne ta. doao contedo; e das novidades que Deos nas dilas
terras dr, no er o dito Capito e Governador, nem as
pe soas que de sua mo a tiverem ou trouxerem obrigados a
me pagar rro ou direito algum, smente o dizimo deDeo
Ordem, que geralmente e ha de pagar em toda as outras
terra da dila Capitania, como abaixo vai declarado.
E o dito Capito e Governador, nem os que aps elJe
'iel'em, no podero tomar tel'ra alguma de esmaria na dila
Capitania para si, nem para sua mulher, nem para filho e
herdeiro d lia; antes daro, e podero dar e repartir toda
a dila lerra de 'e maria a quae quer pes oas, de qualquer
qualidade e condio que ejo e bem lhe parecer, liwe-
menle, em fro nem direito algum, sm nte o dizimo de
Deo ,que ero obl'igados a pagar Ordem de tudo o que
na dita terras hom erem, segundo he declarado no dito
FO/'CLl, pela mesma maneira a podero dar e repartir por
seu filho fra do morgado, e a im por sens parente ; e,
porm, aos ditos eus filhos e parente no podero dar mais
terra da que derem ou tiverem dado a qualquer outra pes oa
e lranha, e toda a dila terra que a 'im dr de sesmaria a
uns e aos outro ser confol'me a Ordenao da Se marias
e com a obrigao d lla ; a quae terras o dito Capito e
Governldor nem sen successores no podero em tempo
algum tomar para . i nem para sua mulher, nem filho, her-
deiro como dito h , e p-las em outrem para depois virem a
elte por modo al cr um que ja; mente as podero baver
por titulo de compra verdadeira elas pe oa que 111'a qui e-
rem vender pas a.elo oiLo annos elcpoi ela dila terra erem
aproyeiLadas, e cm outra mancl'a no.

II) Em ('IlI.'OSilll, on 'IIIl"'YUlIsis.


- 5:2 -

Outrosim lhe fao' doao e merc, de juro e ii rdade para


sempre, de meia dizima do pescado da dita Capitania, que lle
de vinte peixes, em que tenho ordenado que e pague alm
da dizima inteira que pertence Ordem, segundo no dito
Foml he declarado, a qual meia dizima se entender do pes-
cado que se matar em toda a dita Capitania fra das dese eis
leguas do dito Capito e Goyernador, porquanto as ditas
deseseis leguas he terra SUJ., livre e j enta, segundo atraz
he declarado.
Outrosjm lhe fao doao, de juro e herdade para empre,
da redizima de todas as rendas e direitos que dila Ordem e
mim de direito na dita Capitania pertencerem: a saber:
Que de todo o rendimento que dita Ordem e mim cou-
ber, assim do dizimas, como de quaesquer outras renda
ou direitos de qualquer qualidade que sejo, baja o dito
Capito e seus succes ore uma dizima, que he de dez
partes uma.
Outrosim me praz, por re peito do cuidado que o dito
Capito e Goyernador e seus successores ho de ter ele guai'~
dar e consenar o pao':'-Brasil, que na dita t 'rra houver de
lhe fazer doao e merc, ele juro e herdade para sempre, da
"intena parte do que liquidamente render para mim, forro
de todos os cuslos, o dito po-Bra. ii que da dila Capitania
se trouxer a e tes Reino., e a conta do tal rendim uro .e
far na ca a da ~lina desta cidade d~ Li 'bo:l, onde o dito
po-Brasil ha de vir e da dila ca.a; tanto que o dito p 0-
llrasil fr vendido e arrcadado o dinheiro delle, lhe ser
logo pago e entregne o dinheiro de contado pelo Provedor e
Officiaes delta aqullo que por boa conta na dita vintena
montar.
E isto, porquanto todo o po-Brasil que na dila Capitania.
houvet' ha de ser s mpre meu e de meus <:uc 'es ore, em o
dilo Capito e GOyernadOl', nem outra alguma pes oa poder
tratar nelle nem vend-lo para. fra; mente poder o dito
t.;apito, e assim os moradores da dila Capitania, aproveiLar-
se do dito po-Bra iI na t na do que lhe fr neces ario, se-
gundo !le declarado no Fora,l do Estado do Bra il; e tratando
llelle ou vendendo para fra, illcorrer nas penas contcdas
no dHo Foml.
E outrosim me praz por fazer merc ao dilo Bento Maciol
e seus successores, de juro e berdade para sempre, que dos
escravos que elles resgatarem e houverem na dita C3.pilana
po'so mandar a e tes Reino~ trinta e 1I0ve peas cada anno
para fazer dellas o que bem lhe '"icr (I), os quaes e cravos
viri ao porto desta cidade de Lisboa e no a outro algum
porto, e mandar com enes certido dos Officiaes da dita Ca-
pitania de como so seu, pela qual certido lhe scro des-
pachados os ditos escravo , forros (2) sem d >nes pagar
direitos algun nem 5 j e alm destas trinta e nove pea
%

que as.im cada anno poder mandar forro, hei por bem que
pos a trazer por marinheiros e grumete cm eu navio
todos o escravos que qui erem e lhe rrem necessarios.
Outrosim me praz de fazer m rc ao di to Bento Jaciel e
seu ucce sore , e a im aos 'yizinhos e moradores da dita
Capitania, que nella no po so em tempo algum !Javer di-
reitos de sizas nem impo ies saboarias, tributos de aI,
nem oulros algun direitos, nem tributos de qualquer quali-
dade que eja, sal\'o aquelle que por bem desta doao e do
Foral ao pre ente so ordenado que haja.
Esta Capitania e Governana, e reod:ls e bens dena hei por
bem, e me praz que se herdem e succedo, de juro e her-
dade para todo o sempre, pelo dito Capito e Governador,
seu descendentes, filbos e lhas I gilimos, com tal declara-
o qu , emquanto houver filho legitimo varo no me.mo
gro, no succeoor filha, po toque seja de maior idade que
o filho j e, no havendo filho macho, ou havendo-o, e no
endo m to proximo gro ao ultimo possuidor, como a
Cemea, que ento ucceda a remea. .
E emqnanto houver de cendentes legitimos machos ou re-
mcas que no ucceda na dita Capitania bastardo algum j e
no havendo d scendente macho nem remea legitimos,
ento ucceder o ba tardo machos e remeas, no sendo,
pOl'm, de damnado oito j e ucceder pela me ma ordem
dos legitimof\, primeiro o ma.chos e depois as femea , em
igual gr.o, com tal condio que se o po suidor da tal
CapiUlnia a qui er antes deixar a um eu parente lran -
versaI que ao descendentes ba tardo, quando no tiver le-
gitimo , o po.sa fazer j e no haycndo de~cendentes machos,
nem remeas legitimo , nem ba tardos de maneira que o
dilo be, em tal ca o succeder aos descendentes (os ascen-
dentes) machos e femeas, primeiro o machos, e, em falta

(I) EI'o os indgenas que se expatriaviiO, e que naluralmente io para Portu-


gal eryir amigos, parentes ou proleelure.~ (lo Uonatmio.
(2)1'0,.,.os, livres de direitos.
- 5',-
delles, as femea:s; e, no havendo descendentes nem ascen-
dentes, ucceder os tran ver aes pelo modo obredilo,
sempre primeiro o macho que fl'em em igual gro, e de-
pois a femea'; e, no ca o do' ba tardos, o po uiJor poder,
se quiser, tloixar a dita Capitania a um tran v r ai legitimo
e tira-la aos ba tardos, po toque sajo de cendenles em
mniLo mai propinquo gro.
E i to hei a sim por bem, em emb:lrgo da L i lenlal,
que diz que no sueceder f mea , nem ba larJo , nem
transversaes, nem ascendente, porque, seUl embargo de
tudo, me praz que ne ta Capilania snccdo remea e bas-
tardo, no sendo de coito damnado e tran yersae , e a -
cendentes do modo que j he declarado. .
Outrosim quero e me praz que em tempo algum e no
possa a dila Capitania e Governana, e todas as cousas que
por esla doa.o dou ao Jilo .Bento Maciel Parent partir,
nem descambal', pedaar, nem em oulro moela alllCar,
nem em ca~amenlo a filho ou filha, nem a oulra pe soa dar,
nem para tirar pai ou illllO, ou outra alguma pes oa do
captiveiro, nem para outl'a cou a, ainda que eja mai 110ue-
1'0 a, porque minha teno e vonlade be que a dila Capilania
e Governana, e cousas ao dilo Capito e Governador ne 'la
doao dada andem empre junta, e e no parlo nem
alienem em tempo algum; e aquelle que a partir e alienar,
ou esperlaar, ou dr el)l ca amento, on para oulra cou a.
por onde haja de !':er parlilla, ainda que seja mai podero a
por es e me mo etreito, prca a dila Ca.pitania e Goyel'llana,
e passe directamente aquelle a que houvera de ir pela 0-
bredita ordem de succeder, se o tal que isto a sim no cum-
pria fosse morto.
Outrosim me praz que, por ca o algum de qualquer
qualidade que seja, o dito Capito e Governador commeUa,
porque, segundo o direito e lei de tes Reinos, mel' o per-
der a dita Capitania e Governana, j urisdic<:o, e rendas
e bens della a no perca seu uccessor, salvo e fr por
tredo (1) a Cora destes Reino.
E em todo os outros casos que commetter crime punido
qllal to o ceime obrigar, e porm o eu succes 01' no p r-
eler a dila Capitania, Governana, j mi d~co, rendas e
bens delia como dilo he.
(1) Traidor.
Oulrosim me praz e hei por bem, que o dilo Bento MacieI
Parente e todo o eu' ncce~ ore que e la Capitania e
Goyernana ,i r, u,em iuteiran enle de toda a juri dicCo,
po ler e alada ne la doao CQDleda, a im e da maoeira
que ncJJa h declarado, e pela confiana que d J]e lenho, que
guan]ar'5 nis o ludo o que clllnprir ao enio de Deos e
meu, e bem do pO\'o e o direito las partes.
Onlro im hei por bem e me praz que nas terras da
dila Capitania no enlrem, nem posso utrar em tem}Jo
algum Carl' g dor, nem altada, nem oulra algUJ)~as jus-
tia para n lia abusarem de juri di o alguma por ne-
nhuma via nem modo que seja, nem meno eja o dito
CalJ1tIO e Goyernador u pen o da dila Capitania e Goyer-
nana, e jUl'i o.ico della j e porm quando o. dilo Capilo
callir em alglill1 erro ati. fr,er ou,a por cru merea e deva
er ca Ligado, eu ou o meu succe ores o llJandaremos "ir
a n para [' ouvido de u~ ju lia, e lbe ser dada toda
aql1clla pena o ca ligo qu de direito por tal caso merecer.
Onlro im qn ['O e mando qne lodos o herdeiro e uc-
cc ,oe s lIa dilo 13eolo Th1a.iel clue e ta Capitania berdarem
c nella 5U c II rem por [ualqu I' 'via qlle eja Ee clllmem
facicl Par nle e lrago a armas dos 1\Ia iei Parenles j e e
algun dene islo a: im no cumprirem, bei por bem qu ,
1)01' e" me mo el' ito, per o a dila Capitania ,ucc s,o
dolla, e lJ:1, s logo dil'ectam nle quem di r i10 deTia de ir,
e est lal qu Llo a -im no cumprir fo ,e morto.
lLem: esla m rc' lhe [a('o como 1\ey e nl.or de te Rei-
nos, c a sim como Gowrnaclor p rpeLuo _ clmini tTador fIue
,ou ela. Oro.em e Caya.Ilaria do ~le- traclo de "Kos~o Senhor
Jc II Cllrlsto: e 101' enla pr nenl Carta dou poder e autori-
(]ad ao dito B nto Thlaci I, que elle por si e por quem 111e
aprouver po a lomlr e lome a I asse real, corporal, e aulnal
da. Irra da dila Capilania e lioycrnana, e das ren la c
ben della e de toclas a mai ousas conlecla, nesLacloao.
E use de ludo inleiram ,nle como se nclla contm, a
qualo.oaJo h 'i por bem, fI'] \'0 e manlIo que e nill-
pra e guarl1e em ludo por ludo com todas as clausu-
la., cond ie, c o.ec la.ra s n Ua contcda e declaradas,
~ m mingoa n 111 tle,fall cimento algum. E para tudo o que
elilo he derogo a tei Mental, cquae,Cfuer aula, Leis, e Or-
denaes, glo~as e costumes q11e m contrario disto haja ou
p S,:l haxer, por r[nalquer Yia ou modo (]He ,rja, poslorfl.le
- 5G -

OJ,LQ taos que fosse necessal'io erem aqui expres as e de-


claradas de verbo ad vel'bum, sem embargo da Ordenao
do Liv. 2 til. 4-4-, que di pe que quando estas Leis e direi-
tos se derogarem se faa expressa meno dellas e da sub-
stancia deBas. E por esta promello ao dilo Bento Maciel e a
todos os seus successores que nunca em tempo algum v
nem con<:.inla ir contra esla minha doao em parte, nem
em todo; e rogo e encommendo a todos os meus successo-
re que lh'a cumpro e mandem cumprir.
. Pejo que mando ao meu Governador das conquislas do
lIJaral1ho e Gro-Par., Pro"edor de minha l'azenda nellas,
e aos meus Desembargadores, Corregedores, Ouvidores,
Juizes, justias officiaes, e pessoas de meus Reinos e senho-
rios; aos Juizes, 'ereac1ores e Dili iaes da Camara, pessoas
da Governana e povo das terras, Povoaes e lugares que
nS dilas lrinta e quatro leguas de terra houver que dm a
posse dellas ao dito Bento Maciel Parente ou a seu certo Pro-
curador, e lh'a deixem lograr e possuir e o hajo por Capi-
1[0 General e Governador das dilas trinta at quarenla leguas
de terras, e lhe cumpro, guardem e fao mui inteiramente
cumprir e guardar esta minh::t Carta como nella se contO m,
que se registrar. nos livros das Conlas da dila conqui ta
do Maranho e Gro-Par, sendo o primeiro assentado nos
livros das Mercs que fao a meus "as alIos, a qual Carla,
por firmeza de tudo, mandei dar ao dilo Bento Maciel Pa-
rente, por mim assignada e sellada com o sello de chumbo
pendente, e vai escript::t em quatro meias folhas e rubricada
ao p de cada lauda pelo Conde de l\Jiranda, do meu COIl e-
lho de Estado, Presidente de minha Fazenda e Governador
da Casa do Porto.
Dada nesta cidade de Lisboa, aos 1!~ dias do mez de Ju-
nho.-Ba1'lholomcu de Ara'ujo a fez, anno de 1637.
E esta se pa sou por duas vias; cumprida uma e outra,
no haver. effeito. - Atronso de Ba1Tos Caminha a fez es-
crever (1).
(1) Esta Carta Rgia se acha em portuguez antigo eslampada na obra do
Dr, Joaquim Caetano da Silva I,'Oyapock cl CAma:ollc lo 2 png. 485.
Foi extrahida por certido do Archivo da Torre do Tombo. achanllo-se regis-
trada no Liv. 31 do reinado de Philippe m, de 1631 16'11, ela ChanceJlaria-m6r,
onde se lanavo os paelre , doaes c mercs reaes.
NUE VO DESCUnIUMIENTO

DEL GRAN RIO DE LAS AMAZONAS


FOR EL

PADRE ClIRISTOYAL DE ACUNA


Religioso de la Corupaftia ue .Tcsu Y Calificador de ln Suprcma
Gencral Inqui 'icioll.
AL QUAL FUE, Y SE JIIZ0 pon OnDEN DE 5U M.AGESTAD,
EL ANO DE :1639.
POR LA. PROVINCIA DE QUITO EN LOS REH\O DEL PERU',

,\L E:tCBLE'TISSruO

SENon CONm; D QUE DE OLIVARES

Con licena. En Madrid, cn la imprcnla do] R )'110

A-'o DE 1641

6
- 5!)-

.\L E:CELE:'\Tl mo

SE-OR CONDE DUQUE DE OLIVARES.

A ql1ien, enOl', debemos acudir con este nuevo mundo


descubierto; ino aI que en sus houmbros, por aliviar los
de su dueflO, sustentara gusLoso, si pudiera todo lo res-
tante deI? Que otro Atlante no se rendiera a tamaia carga;
sino el que con esfuero mas que varonil, ha echado el pe-
cho, a mayore' y desmedidos pesos? Quien por celoso que
se o Lente de los acrescentamienLos de su Rey; no se retirara,
rezelando nuevas dificullaues; si no el que quanto mayores,
mas las apetece, para que mas luzga su amor mas su fideli-
dade? Y quien, para dezirlo de una vez, sino el Ex.cellen-
tis imo Seiior Conde Duque, podr patronicar tan grandio a
empressa, de que depende la conversion de infinitas almas,
el acrescenLamiento de la Real Corona, y la defensa y guarda
de lodos los tesoros deI Per?
En manos pues de V. Excelencia ofrezco esLe nuevo des-
cubrimienLo deI gran rio de la Amazonas, a que por orden
de Su Mage tad fui, con cuydado averigu, y con toda pon-
Lualidad recopil en breves hajas, siendo digno de volume-
nes entero ; para que aadida esta precio a piedra a la
Carona de nuestro Gran Rey Filipa IV, que Dios nos guarde,
por Lau sublime Artifice; mejor assienle, mas luzga, y para
iempre permanezca.
llien puede V. Ex. aceptar el ofrecimienLo, seguro de que es
en todo grande, y mab de lo que sin duda parece, que a no ser
assi, ni yo le ofreciera, ni m reciera ace,Rlacion de tales ma-
nos. Porque si el dilatado Imperio de Etbiopia se ala con
glorioso reuombre, por ocupar u juridicion espacio de no-
vecienlas leguas; i la gran China, por encerrar en dos mil
de circuyLo, quince diferenLes Reynos, espanta aI mundo su
grandeza; y si la longilud que deI Per se publica, se re-
duze a Lerminos de mil y quinienLas leguas, que se miden
(lesde el nuevo Heyno de Granada, hasLa los ultimas fmes
deI de Cbile; con qnanta mas razou aclrpl'il' sobl'e todo lo
- 60-

descubierto, titulo de grande, el rio de las Amazonas, pues


en espac~o de casi quatro mil leguas de contorno, encierra
mas de ciento y cincuenta Naciones de lenguas diferentes,
suficiente cada una deIlas a hazer por si sola un dilatado
Reyno, y todos juntos nn nuevo ) poderoso Imperio, que,
fayorecido y amparado, a Ia sombra de V. Excelencia podr
parecer grande en los ojos de Su Magestad, a CUJOS pies y a
los de V. Ex. oIresco, para e ta conquista mi persona, y Ias
de otros mnchos de mi Religion, ~J de nos oiros se quisiere
servir V. Excelencia, cuya vida prospere el Cielo, Cn los au-
mentos que su persona, cela y fidelidad merecen.

De V. Excelencia criado,
CrrnlsToVAL DE Ac NA.
- 61 -

AL LECTR

Nacieron, curio O lector, tan hermanadas, en las cosas


grande, la noyedad, y el de crediLo que no parecen sino ge-
meIos de un parLo, y que por el lllesmo caso que en lo
nuem, repara con cuydado, 1:1 admiracion, peligra el credito
en e1 ass nLo de los mas acordados. Y aunque es verdad, que
la eficacia de la. curiosidad naLural, no inclina a saber nove-
dades, la incertidl1mbl'e de su ponLualielad priva aI entendi-
miento deI mayor deleite, de que in eluda gozara, si persua-
dido de lo cierto, depusiera toda perplexidade en lo dudoso.
Deseando pue sacar a vi la d todos, el nlJevo descubri-
miento d 1gl'an I'io de la Amlzonas (a que pOI' orden de Su
Magestad fui, como despues vera) y temiendome, de que
annque por lo num'o seria apetecido; con todo no dexaria de
padecer rezelos, en lo punLual qui e assegurar I e ]0 uno y ]0
oLro: lo primero, con prometerte un nuevo mundo, Naciones
l1ueras, lteynos nuevo , oCl1paciones nueva ; moelo de vireI'
nuevo, e para dezirlo en una palabra, un rio de agua dulce,
navegado por mas de mil y trecientas leguas, todo desde su
nacimiento ha ta su fin, 11eno de novcdades. Lo segundo,
con ponerLe delanLe de los ojos las obligaciones de mi per-
sona, ele religio o de la Compania de Je us, de Sacerdote, de
Lerrado de Su Magestad, y oLl'a , que ni a ti te importa e1 sa-
berIas, ni a mi el dezirla : y si con todo esLo te pel'suadiere
a que la aficion de lo que con algl1u cuydaclo trabaj, me
adulanla; oye a lo que de a ruera, con leslimonio jurado,
acrediLan e~la relaciono
Vale.
- G2-

CERTIFICAClON
DEL CAl'ITAN-!lIAYOIl DESTE DESCUllRUUENTO PEDRO TEXEYRA.

Pedro Texe) ra, Capilan-Mayor aI presente en esta Capi-


lania deI Gran Par, y Cavo que Cuy de la gente de guerra,
que fue en 131 descubrimiento deI rio de las Amazonas, de ida
y bueHa, hasta la ciudad de San Francisco deI Quilo en los
Reynos deI Per.
Certifico, y afirmo con juramento, por los Santo
Evangelhos, que es verdad que por orden de Su Ma-
gestad, y por particular provision, despacbada por la Heal
Audiencia de Quito, vino em mi compafiia desde la dicba
ciudad, basta la deI Par, 131 Reverendo Padre Chdstoval de
Acufia, Religioso de la Compafiia de Je us, con su compafiero
01 Reverendo Padre Andrs de Artieda, en 131 qual viaje,
cumplieron entrambos assi en lo tocante aI servicio de Su
Magestad, a que eran inviados como buenos y fieles vassallos
suyos, notando, y adverLiendo todo lo necessario, para dar
entera, y cumplida noticia deI dicho descubrimiento a que se
deve dar entero credito, mejor que a otro ninguno der de los
que fueron en la dicha jornada.
Y en lo tocante a las obligaciones de su abito, y servicio
de Dias, acudieron siempre, como lo acostumbran lo de su
Religion j predicando, confessando, y dotrinando a todos los
deI exercito, componiendoles en sus dudas, amislandole en
sus rencillas, animandoles eri sus trabajos, y pacifi 'andoles
en sus dissenciones como verdaderos Padres de lodos j pas-
sando las mismas incomodidades y trabajos que qualquiera
de los soldados particulares, assi en la comidl, como en
todo lo demas.
Y no solo hizieron los dichos Padres esta jornada a su
costa, sin que Su Magestad les dies e algun socorre para
eUa, sino que antes todo lo que e110s traian, assi de sustenlo,
como de medicinas, era COll1un de lodos los neces ilados, a
quienes acudieron siempre con mui grande caridad y amor.
Ypor ser verdad todo lo aqui contenido di esta certilic:ion,
firmada ue mi mano, y seBada con 131 se110 de mis armas.
En esta ciudad deI Par, a 3 de Maro de 1G40.
El Capilan-Mayor,
PEDRO TEXEYRA.
- G3-

CERTIFICACION
DEL REVERENDO PADRE COillnllSSARIO DE LAS MERCEDES.

Fray Pedro de la Rua) Religioso de uestra Senora de las


Mercedes, Commissario General de mi Ordeu enlos E 'tados
de l\farafion y Para.
Certifico a todos los que la presente viereu como los
Reverendos Padres ChristovaI de Acuiia, y Andre de
Artieda su compafiero, Religiosos de l:r Compafiia de
Jesus, vinieron desde la Provincia de Quito, en compaiiia de
la armada portugueza, que de bueHa deI descubrimiento deI
fio de las Amazonas, bax por el hasta la ciudad deI Pal~a,
costa deI Drasil y Govierno deI Maraon j acudiendo en todo
el tiempo que duro el viage como verdaderos hijos de su
Religion, confessando, predicando y consolando a todos los
deI exercito, y acudiendoles en sus enfermedades y necessi-
dades como verdaderos Padres de todos: cumpliendo junta-
mente con lo que por parte de la Real Audiencia de Quito,
cn nombre de Su ~fagestad, se Ics avia encomendado, eu lo
tocante a hazer a'teriguacion de las cosas mas principales deI
dicho rio de las Amazona , que hizo eI dicho Reverendo
Padre Christoval de Acufia con el cuydado que se ver. por
su relacion, a que juzgo se deve dar enteI'O credito, por ser
persona desinteressada y que solo movido deI ervicio de
Dia , y deI Rey emprebendio jornada tan trabajosa.
De todo lo qual puedo dar fee, como testigo de vi la que
por todo eI camino venimos juntos. Y por verdad di esta,
firmada de mi nombre, y senada con eI se110 de mi Religion.
En e ta ciudad deI Par, a 19 de Maro de 1640.
Comissario,
FRAY PEDRO DE SA~TA MARTA Y DE LA RUA.
- G'~ -

CLAUSULA DE LA PROVISION R..EAL

QUE D10 L\ AUDIHiCL\ DE QUITO E~ \'iOMlllill DE SU ~I,\GESTAD l'ARA E TE


DESCUBRlllIE TO.

En conformidad de lo qual fue por los dichos mi Presi-


dente, e Oydores, acordado, que devia mandar esta mi Carla
y Provision Real, para vos y cada uno de vos en la dicha
razon: e yo lo he tenido por bien, y os mando que siendo
con elIa requeridos por los dichos Padres Christoval de
Acuna" y Andres de Arlieda, Religiosos de la dicha Religion
de la Compania de Jesus, o por qualquiera dellos, veais los
autos suso incertos, y en su cumplimiento les dareis, y hareis
se Ies de todo el avio breve, y buen passaje que lmvieren
menester para el mejor cumplimiento de su mis ion, viaje,
buenos efectos que deI espero han de resultar, sin que en
elIo Ies sea puesto estorbo, ni impedimento alguno, por nin-
gUlla causa ni razon que sea, pues de lo contrario me tendr
por" deservido.
Y mego y encargo a vos eI dicho Padre ChrisLovaI
de AcuDa, que en cumplimiento de lo proveido por los
dichos mi Presidente y Oydores, y en conformidad deI
nombramiento en primeI' lugar en vos fecho por mestro
Prelado y de lo que por su peticion tiene ofrecido; aviendo-
os sido entregada esta mi carta, por parte deI dicho mi }fis-
caI~ veais lo en elIa contenido, y lo guardeis, cumplais y
executeis; y en su cumplimiento partais desta mi Corte COI
-el dicho vuestro companero para la dicha Provincia deI Par,
en compania deI Capilan-mayor Pedro de Texeyra, y dema::;
gente de milicia que con elle v teniendo, como aveis de te-
ner particular cuydado de descrivir con I:1 mayor clal'id3.d
que vos fuere possible, la di tancia de leguas, Provincia ,
poblaciones de Jndios, rios y parajes particulares; que ay
desde la primera embarcacion hasta la dicha ciudad y puerto
deI Par: informandoos con la mayor certeza que pudie-
reis d..ello, para dar bastante noticia, como testigo de vista
en mi Real Consejo de las Indias, de todo; y que se tenga la
necessaria de las dichas Provincias: como os mando lo
- G5-

bagais, pare ienl10 personalmenLe con e ta mi carla, de parte


de la di 'ha mi Audiencia de Quilo, ante lo mi Presidente e
Oydores d 1 dicho mi Real Consejo; y siendo necessario
informar tlello a mi Real persona lo hareis; enviando rela-
cion de todo ai acu rdo de la dicha mi Audiencia de Quilo.
Y por mestra falta el dicho Padre Andres de Artieda, con
el cuydado y pon tualidad que de vuestras personas y ceIo con -
que los de mestra Religion aco tumbran servirme confio: y
como en negocio tan importante aI servicio de Dios ue tro
Senor, y nue'tro; bien, y com ersion de tantas almas, como
e liene noticia ay en las dichas Provncias nuevamente des-
cubierLas. Que de lo assi hacer y cumplir me tendre de vos,
y ele la clicha vue tm Religion por bien servido.
Dada en Quilo, a 2!~ dei me ele Enero de 1639. -El Li-
cenciado D. Alonso Pm'ez ele Salaza1'. - Doctor Anto?1io Ro-
drrig'l.wz de San Isicl1'o y illmwique.-El Licenciado D. .tilonso
de Mesa y Ayala.-El Li enciado D. Juan de TTaldes y Llano.
- RI Licenciado D. Geronimo Ol'l'iz ZapcLla. - Secretario
D. htan C01'ncjo.

7
RELACION

NUIrIERO I.

Noticias de este gmn Rio.

Casi con las primaras vistas de aquella parte de la Ame-


rica, que oy tiene nombre de Peru,. nacieron en nuestra Es-
pana, aunque por confusas noticias, encendido desseos de
el descubrimiento de el gran rio de las Amazonas, llamando
por errar comun, entre los poco vistos en la geographia, rio
de eI l\1arafion. No solo por las muchas riquezas, de que
fue siempre sospechoso; ni por la multitud de gente que
mantenian sus orillas; ni por la fertilidad de las tierras y
tempIes apacibles de su habitacion; sino principalmente,
por entender con no pequenos fundamentos, que el era la
unica canal, y como calle mayor, que cordendo por elrifion
de el Peru, se sustentava de todas las vertientes, que aI mar
de el Norte, tributan sus encumbradas cordilleras.

NUlIIERO II.

Descubl'B F1'ancisco de Orellooa este lUo.


Estes desseos solicitaron el coraon de Francisco de Orel-
lana, a que aI afio 1540, en cierta embarcacion, y con algu-
nos compafieros, se fiasse de las corrientes de este gran rio
(que desde entonces tomo tambien el nombre de OrelIana)
y passando a Espafia, por la relacion que de sus grandezas
dia: la Cesarea J\'Iagestad de el Emperador Carlos V, le
mando dar tres navios con gente y todo lo necessario, para
que le bolviesse a poblar en su Real nombre: a que salio el
aiio de 1549, si bien, con tan adversa forluna, que murien-
- 68-

doseIe la mitad de los Soldados en las Canarias, y Islas de


Cabo Verde, con los demas que cada dia se le Ivan dimi-
nuyendo, nego a la boca de este grau rio, tan falto de gente,
que le fue fuera dexar dos navios que hasta aquel punto
avia conservado, y no se sintiendo oon fueras para mas, en
dos lanchas de buen porte, que fabrico con toda su gente,
prosiguio sus intentos, entrando el rio arriba, que a pocas
leguas recouocio no avian de ten~I.: buen fin; y assi redu-
ciendose todos a una sola embar,cacion, se retiraron por la
costa de Caracas, basta dar en la Ma.rgarita, adonde acalJa-
ron todos y cou enos las esperanas, de que Su Mageslad
entrasse en possession, de lo que tanto se desseava, y en si
prometia.
NlJMETIO m.

Entm pot' este rrio el tirano Lope ele Ag'Uf,1'1'e.


Dolvleron-se a avivar estas esperanas viente afias des-
pues, que fue el de 1560, con la enbrada que por ardeu deI
Vice-Rey deI Per biz'o a este gran rio el General Pedro de
Orsua, arrojando-se con buen Exerci to a sus aguas, para ser
testigo de vista de las grandezas, qU solo por noticias e
publicavan deI: pel'o con tan mal sucesso que rue muerto a
traycion por el tirano Lope de Aguirre, el qual levantando-se
no solo por General, sino tambien por Rey, y prosiglliendo
el viage comenado, no permiti Dias que acertasse a la prin-
cipal boca, por donde este gran rio desagua en el Oceano
(que desdecia de la fidelidad de Espanoles, descubrir un ti-
rano. cosa de tanta importancia a nuestro l1ey y Seflor) si no
que deixando-se llevar de braos de el, vino a desembocar
por la costa en frente de la lsla de la Trinidad, en tierra
firme de las Indias de Castilla. Donde por orden de Su Ma- .
gestaclle quitaron la vida, y le sembraI'Oulas casas ele sal,
que oy dia se muestran en aquellas partes.
NUMERO IV.

I ntentCl.fYl, o61'os este descub1'im,iento.


Estos misJ;Ilos desseos de el descubrimiento de este rio,
obligaron eI Sargento-Maxor Vicente ele los Reyes Villalobos,
- Gn-
Governador y Capitan-GeneraJ de los Quixos, juridicion de
la Provincia de Quito, para que e ofreciesse con buenos
partido , a principiar-Ie por aquellas partes: en CU) a confor-
midad despach la catolica per ona de nuestro grau Rey Fi-
lipa IV, que oy vive y viva felizes alias, eu el de yeinte y
uno, una cedula a la Ueal Audiencia y Chancilleria de San
Franci co de el QuilO, para que se capitulas en las condicio-
nes que para el dicho de cubrimiento fue sen convenientes,
que por acabar eu este interin el ilicho Governador su ofi-
cio, no tm ieron efeto.
Como ni tam poco le tu 'ieron los ardientes desseos de
Alon o de Miranda, a quien el U(~edio en el cargo, por
alajar-se-Ios la llIuerte. Que tambien alaj los luzido
cmpleos en que el General Jo eph de "' illa-mayor l\1al-
danado, Governador mucho anles que los do , de el
me mo Goyicrno de lo Qu:o, ga t lo mejor de S11 vida,
con ardiente zelo de sugelar a Dias y aI Rey la multituu
de aciones, que confu as noticias publicavan de te rio:
ponicndo n execucion por muclla partes, con no pequeno"
logro su tIe ~co .
]'i MERO V.

Intenla Benilo J1lcLcicl este clesclLbl'ilniento.

Solicilaron estas mi mos des eo ,no ola los animo de


lo Ca l llano , por la part s de el l' l', sino que esten-
di 'ndo- e a las co tas dei TIra il, habil...'1.cion de 1'ortugue es,
quisieron con cl zelo que iempre tienen aumentar su Ca-
rona, comen ando desde la boca deste rio, buscar-le su ori-
gcn y desentranar-le de sus grandezas, a que se ofreci
lienito l\Jaciel ParienLe, Capitan-l\fayor que entonces ayia
ido de el Par, y aI presente Governador deI l\Jaraion.
En cuya conformidad e despach el aio de 1626 una Real
Ccdula (J) para que llevas e hasta el fin sus intentos, los
quales ce saron por querer Su l\lagestad servir~e de su
persona en la guerra de Pernambuco.

O) Vrja-se esta Cedula a pa[. l' deste tomo.


- 70 -

NU1\IERO VI.

iJIandct-se-le a Fmncisco Coello que haga esta entl'ada.


. o parece que se quietava el coraon de nuestro gran
Rey hasta, er execulada cosa que lanto se desea,'a, y ella
de si prometia.
Y aunque se desbaratavan todos los caminos y trazas
que a e te fin ordenava la humana prudencia: no por
eso dexava de insistir en el intento principal, a cuya
causa despach por los afias de 1633 o 1634 una su
Real Cedula a Francisco CoeHo de Carvallo, que a la
'sazon estava por Governador de el Maraion y Par, con ex-
presso mandato de que luego se hiziesse el dicho descubri-
miento, y que no aviendo a quien imbiar, fuesse el en per-
sana a ljoner-lo en execucion: tanto como esta desseava
Su Magestad que se efetuasse, cosa, qu.e por todas partes se
intentava, y por ninguna llegava a devida execucion; pera
tan poco la tuvo en esta ocasion, por no se juzgar el Gover-
nador con fueras suficientes para poder dividir-las en tiem-
pos que el Olandes infestava caua dia sus costas. Y apenas
tenia gente para poder-le resistir la entrada. Pera no ay que
c pantar de que humanas traas, se desbaratassen quando
las divinas tenian ya dispuesto el modo casi milagro o con
que se avia de hazer e te grandioso descubrimiento, que fue
como aqui dir.
NU~lERO VII.

NCLvegan este ?'io dus Religiosos legos de S. Fmncisco.


Est la ciudad de S. Francisco de el Quito, que es una de
las mas famosas ue toda la America, edificada sobre montes,
en la ma alta cordiUera, que corre por todo aquel nuevo
Orbe, aun no meuio grado a la vanda deI SUl', de la linea
equinocial, cabea de una Provincia, la mas ferlil, la mas
abundante, mas regalada y de mejores temples que otra
ninguna deI Per, y que. cu mulLitud de naturales, policia,
buena ensefiana y christiandad dellos, a todos se aventaja.
De esta ciudad, pues, por los afias de 1635, 1636, Y princi-
pio deI 1637 saliel'on ciertos lleligiosos de S. Francisco,
- 71-

por orden de sus superiores, em compania deI Capitan Juan


de Palacios Y oIros soldados, para proseguir estos eo lo
temporal, y aquellos en lo espiritual, con el descubrimignto
deste rio, que ya mas avia de trinta afios, principiaron los
Padres de la Compania de Jesus, por los Co{anes, donde los
naturales mataron cruelmente aI Padre Rafael Ferrer, en
plgO de la dotTina que les ensenaya.
Llegando, pues, los dichos Religiosos de S. Francisco a fa
Provincia de los Encabellados, numerosa mucho en gente, pel'o
bien estrecha para el encendido zelo con que eslos sien-os de
Dios como siempre acostnmbran, la pretendian reduzir aI
gremio de la Iglesia: assislieron entre los naturales algunos
meses; y yiendo el tiempo que perdian y que la mies aun no la
teniaDio sazonada, se bolvieron unos a su comento de Quito,
que dando los oiros en compaflia de los pocos soldados que
alli quisieron assislir alIado de su Capitan, que a pocos dias
vieron por sus ojos, muerto a manos de aquellos a quienes
ivan a hazer tanto bien: con que les fue fuera de ampa-
rar la lierra, y endereando su viage a Quito todos los de-
ma dos Ueligiosos legos llamados Fray Domingo de Brieva,
J

y Fray Andres de Toledo, con seis Soldados en una embar-


acion pequea, e dexaron IIm'ar de la corrienle rio abajo,
no eon otro intenlo, a lo que se puede imaginar que Uevados
de 1 divino impul 0, quen tan nacos instrumenlos lenia
libl'ado 1primeI' le cubl'imi nlo de I rio.

NUMERO Ym.

Llegan los elos Religiosos al MamflO'/1-.

Fayoreci Dias los intentos de estas dos Ueligiosos, y des-


pue de mu 110s di:ls de navcgacion, en que experimentaron
pien u provid ncia, llcgaron a la ciudad de el Par, pobla-
ion de Porlugueze , que est iluada quarenta legua., de
donde esle rio d senboca n 01 Oceano, juridicion de el Go-
vierno de el Marafion: aYi ndo passallo sin le ion alguna por
inmen a Proyincias de Barbaros, y muchas d ellas Caribes,
que comen carne humana, recibiendo de eUos el neces,ario
manlenimienlo, para lleyar aI fin lo comenado.
Passaron luego a la ciudad deS. Ll1iz de elMarafion, donde
el Goyernador assistia, que enlonces era Jacome Raymundo
-12-
de Koroi'a, electo a rol ver, mas por Providencia Divina, que
por la YOZ de el pueblo, pues ninguno otro rompiera con tantas
dificuldades, ni si opusiera a tan contrarias parecere qne
no tuviera el zelo, y obligaciones que a elle corrian de ervir
desinteresadamente eu este descubrlmiento a su Dios, y a
su Rey.
A este pues c1leron los elos Religiosos noticia ele su
viage, que fuecomo ele personas, quevenian cada diahuyenelo
ele las manos de la muerte, y lo que mas pudieron aclarar,
fue dezir que venian ele el Per, que avian visto muchos
Judios, y que se atreverian a bolver por donde a, ian baxado,
aviendo quien quisicsse seguir esta derrota.
NUUERO IX.

Es nombmdo parra la ConfJ'Uistc~ Pewl'o Texeym.


Confuso que dava en este estado nnestro dcscubrimiento,
y mal podia Su Magestad tomar resolucion de lo que come-
nia a su Real servicio, si el Governador, como ya dixe, no .
Lomara a pechos el aclarar estes sombras, y contra el pare-
cer de todos, imbiar gente por el rio arriba hasta la ciudad
de Quito, que con mas attencion, y menos rezelos, notassen
todo lo que hallassen en el, digno de advertencia.
Para esta empressa nombr por cabea, y caudillo de todos
a Pedro Texeyra, CapiLan por. Su Magestad de los descubri-
mientos, persona a quien el Cielo ::;in duda tenia escogida para
esta ocasion, pues sola su pruclencia y sus obligaciones pudie-
ran acabar lo que el trabaj y hizo en servicio de su Rey en
esta jornada, no solo con gastos y perdidas de hazienda,
sino tambien con mucho dispendio de su salud ; si bien nada
de estos es cosa nueva, en quien por tanto annos que ha que
sirve a Su Magastad, nunca ha grangeado otros interesses
que dar honrada cuenta de todo lo que se le ha encargado,
que ha sielo mucho, y en ocasiones de no ~oca importancia.
NUMERO X.

Comiena su viage PedlrD Texeym.


Sali pues este buen Caudillo de los confines deI Par,
a los vcinte y ocho de Otubre de mil y seisciento y Ircinla
- 73 -

y siete anos, con quarenta y jete canoas de buen porte


(embarcaciones de que adelante se clir) y en eUas setenta
Soldado' Portugueses, mil e ducientos lndios de boga y
guerra, que con 1:1s mugeres, y muchachos de servi cio,
pas ari:1n todas de dos mil per onas.
Dur el viage cerca de un afio, assi por la fuera de las
corrientes, como tambien por el tiempo, que en hazer man-
tenimientos, para tan numeroso exercito, era fuera se gas-
tas e, y principalmente por caminar sin guias ciertas, que
les pudiessen enderear sin rodeos, ni dHaciones, por los
rumbos mas breves, por lo quales devieran seguir su ca-
mino. Por ser e te tan cumplido, y por las incomodidades
que en el e pa savan, comenaron los lndios amigos a mos-
trar poco gu to de proseguirle, y de hecbo, algunos se bol-
Yieron a sus tierras.
Rezeloso el Capitan-MayoT de que no bizie sen los demas
lo me mo, y le dexa sen iml ossibilitado de proseguir su
yiage; us de industria, y a que rigor, ni fuera ba tava a
consenar los que estavan titubeando: y aunque se hallava
a la milad deI camino, fingi estar muy propinquo aI ter-
mino, aprestando acho canoas bien guarnecidas de bogas,
y Soldado.:, la mand ir delante, como por apo enLadoras
de lo re tante deI Exercito, y a la verdad, no eran sino des-
cubridoras deI mejor clmino, en que mil vezes dudosos de
lo cierto, all1cinavan.
NUMERO XI.

AclelCllntase el C01'onel Benito Rod;riguez.


Nombr Pedro Texeyra por Cabo de ta quadrilla aI Coro-
nel Benito llodriguez de li"era, hijo deI Era il, y persona
que como criada toda su vida entre los naturales, les tiene
calado los pensamiento ,y con pequenas muestras adivi-
nalo que tienen en el coraon, con que es conocido, temido,
y respetado de todo lo lndios de aquellas Conquista, y
cn el presente descubrimienLo, import no poco su persona,
para llevarle ai fin con la felicidad que se hizo.
Lleg pues el Coronel con su esquadra, de pues de venci-
das mucl1as dilTLclllLa les, aI Puerlo de Payamino, dia de San
Jnan a los yeinte y qnatro de Junio de mil y sei"cientos y
treinta y acho, que es la I rirnerl habilacion de Castellanos,
8
- 7!~ -

que por aquel1as partes, sugeta l la Provincia (le lo Quxo ,


juridiciondeQuito, se avezinda a la orilla de e tegran Rio.
Si bien por el de apo (de que despues se har mencion)
hmiera tenieIo toda la Armada, mejores PUeI'to ,ma bas-
timientos, y menos perdidas, no ~olo de Jndios, ino lam-
bien de haziendas.
NUi\\ERO XII.

Dexa el Capitl1ll'l. el Exercito en los Encabellados.


Siempre iya siguiendo el CapiLan-Mayor los rastros, y aYi-
sos que su Coronel le dexaya en las dormidas, con que alen-
ktdos de nuevo, eada dia pen ayan, seria el siguienle, el
postrero de la jornada.
Sustentados con estas esperanas, llegaron a un Rio, que
sale de la Proyincia de los Encabellados (de que ya diximos
arriba) poblado todo de naturales i de paz, en liempos pas-
sados, pera ya rebeldes por la muerle de el Capitan Pala-
cios. l:'arecl este sitio apacible, para dexar am situada
toda la fuer.a de el exercito, y nombrando por CapiLan y
Cabo de todos a Pedl'o de Acosta Favela, que con la Com-
pania que llebaya a su cargo, hiziesse a11i pie fijo hasta tener
nueyo orden i qued tambien con la suya el Capitan Pedro
llayon; personas ambas, que bien moslraron en esta oca-
sion, el valor con que tantos anos avia exercitatIo la mil-
cia, y la fidelidad con que obedecian los ordenes de sus
mayores, pues a pie quedo esperaron onze meses, sin jamas
intentar olra cosa, con ccr la tierra enferma, lo manleni-
mienlos ningunos, sino los que se buscavan tIebaxo de las
armas, y essas tan carlos que apenas parece podian ser su-
ficientes a sustenlar la vida.
Pera bien alisfecho estava el Capitan-Mayor de los que
dexaya en semejanles riesgos, que sola la mnerle les podria
aparlar tIe el cumplimiento de sus ordenes.
NUMERO XIJl.

Llega el C(upitan-.i~lay01' a Quito.


Con esta confiana, y pocos compafieros, proscgui Pedro
Texeyra en segumiento de su Coronel, que va llall cslaya
dias avia en el ciudad ue Quito. .
- 75-

Donde fu ron bien recebidos y agasajados, a si de lo


Secular, como de lo Eclesiastico, mo Lrando todos el gozo
que tenjan de ver en sus tiempos, y por vassallos de Su
~[agestad, no solo descubierto, sino tambien navegado,
de de su fin ha ta us primeros principias, el afamado Rio
de las AllJazonas.
No tmjerou la menor parle en estos regocijos, todas las
Religiones de aquella ciudad que son muchas, y muy auto-
rizadas, ofr ciendose cada una de por si, COIl obreros fieies,
que de de lu go entrassen trabajando en la grande, e in-
culta yifla d inmen os barbaro , de que por los num'os
descubridores se les daya noticia.

NUMERO XIV.

Resolucion del Vir"ey del Pen..

Recebido en aquella Real Audiencia de Quito la noticia,


que ba lava para hazer pleno concepto de lo rnucho que a
ambas Magestades Divina, y humana, imporlaa el acudir
luego aI buen de~pacbo de n godo tan gra,e: no e atre-
vieron los Senores Pr~sidente, y Oydores de elIa a re olver
nada, Sill primero dar aviso de todo aI "' irrey deI Per,
que a la sazon era el Conde de Chinchon.
El qual despues de con uHado el caso con la gente mas
practica de la ciudad de Lima, Corte de aquel nuevo
mundo; resolvi por carta suya para el Pre idente de Quilo
(que lo era el Licenciado D. Alon o Perez de Salazar) su
fecha a los diez de Noviembre de mil y seiscientos y treinta
y ocho, que el Capitan-Mayor Pedro Texeyra con toda su
genle, se bolviesse luego, por el mesmo camino que avia
venido, a la ciudad del Par, dandoles todo lo necessario
para el viage, por la falta que tan buenos Capitanes y Sol-
dados, sin duda barian en aquellas frol1teras, que tan in-
festadas son de ordinario de el en~migo Olands. Man-
dando juntamente, que si f'ue se possible, se despusiessen
las cosas de suerte, que fuessen en su compaiia dos per-
sonas lales, a quienes se pudiesse dar fee por la Coron de
CasLilla, de todo lo descubierLo, y de lo demas que a la
bueHa de yiage se fuesse dcscubriendo.
-76 -

NUMERO XV.

El Gene/'Ctl D. ]'uan ele Acuna, se of1'eca a lCb jOl'naclCb.

En confu ion puso a todos la execucion deste ullimo 01'-


den deI Vil'rey, por los muchos inconvenientes, que mi-
rado a prima faz, representava: Si hien no faltaron
seculares zelo~os deI sel'vicio de 5u Magestacl, que atro-
pellandolo todo, deseava ser cada qual uno de los que so
nombrassen para tamaiia empressa.
Pera 01 que en tI'O Lodos se mo r mas ferroroso do
nueva oca iones, en que proseguir e11 enicio de u Rey,
lo que 1'a por mas de treinta aflos el havia becho, y sus
antepassados por toda la vida: Fue D. Juan Yazque de
Acufia Cavallero deI Abito de Calatl'ava, Teniente de Ca-
pitan-General deI' irrey deI Per, y Corl'egidor actual, por
Su Magestad, de Espanoles, y naturales, en la mesma ciu-
dad de Quilo, y su Comarca j el qual ofrecia, no ola su
persona, pel'o juntamente, su hazienda para a su costa, le-
vantar gente, pagar Soldados, comprar mantenimieulos,
disponer pertre hos, y hazer todos lo gastos necessal'ios
pal'a tau cumplido yiage, solo con el interes que siempro
tuvo, de que su Rey y Sefior, fuesse mejor servido.
No surti efeto su bueo desseo, por no le dar licencia
quien podia, que atendiendo. a la falta que podria hazer,
dexando el oficio que exercia actualmente se le neg. Si
bieu no quiso ~ios que tan honrados desseos, quedas cn
deI todo frustrados, disponiendo las cosas de suerte, que
ya que el no iva, fUGIsse en su lugar el Padre Christoval
de Acuia, Religio o de la Compaiia de Jesus, su hermano;
teniendo a gran dicba, poder por esLe medio, ofrecer aI
servicio de Su Ma.ge lad, cosa que tanto estimava, y le
tocata Lan de cerca: lo qual sllcedio desta manera.
N MI!;RO XVI.

Nombm la Real -.tiudiencia cu Padre Clwistoval de ACU'la


para eSlCb jornada.
Yiendo el Licenciado Suar z ele Poago, Fi cal de la Real
Chancilleria ele Quito, ya de par Lida la Portuguesa Armada,
- 77-

y considerando como fiel Ministro de Su Mage 'lad, los mu-


cllos uUle , y ningunos inconveniente, que se podian seguir
de que dos Religiosos de la Compaia de Jesu , la acompa-
nassen, notando con cuydado todo lo digno de advertencia
en e te gran rio, con cuya nolicia pas as en a E paa, para
dar cierLa relacion de todo en el Real Con ejo de las Indias,
y iendo nece ~lrio, aI Rey nue tI'O Senor en su Real persona.
Como lo pen el Fiscal, as i lo propu'o en el Real
acuerdo,. pareciendo a lodos bien la propue~ta, se le dia
noticia dello aI Provincial de la Compaiiia de Jesus, que a la
azon era el Padre Franci co de Fnent s, el qual estimando
la honra qu se hazia a u Religion, en fiar de ella co a de
l:1Uta importancia, y cudicio ode que por e ta via se le abri e se
puerLa,-a que sus bijo entras en a llevar la nneva luz deI
Santo Evangelio, a tanto numero de almas, que en e le grau
Rio, yazen en la ombra de la muerle; nombr en primeI'
lugar, para esta empresa, ai PaMe Christoval de Acuia,
Religio o profe o, y actual Rectal' d 1Colegio de la Compa-
iia de la ciudad de Cuenca, jmidicion de Quito: Y en e-
gundo lugar, y por su compaero aI Padre \nclre ele Ar-
tieda, L clor de Teologia n el diclto Colegio de la Jllesma
ciudad de Qnilo.
AcepLado por lo Selores de aquella Real Audiencia cl
nornbramienlo ele los dicho do ReUgiosos de la Compafiia
de Jesu j se les man l dar una !leal ProY iOI1 (cuya clau-
sula pn imo ai prin ipio) en que se les manda, que siendo
con eHa r querillo , luego aI punto partan de la ciudad ele
San Fr:ll1 i co dei Ql to, en compaii ia dei Capitan-Mayor
P dro T xeyra, y llegando a la. deI Par, pa sen a Espaa, a
dar cueuLa, de todo lo que con cuydado huvieren no~ do on
el di 'lll' o deI viage aI !ley nuestro Sefior en u 11eal
persona.
NUMERO XVU.

Salen lps Pctdres de Qttito.

Obedecierol1 lucgo los dichos Pallres a lo que se les man-


dava, y a los diez y ci de Fcbrcro de mil y ei ciento y
treinla Y fincve, dieron principio a lan luengo viarre, que
dul' por c~pacio de cliez mese , h:lst~t cntr:ll' en la ciudad deI
- 78-

Paril, donde tomal'on puel'lo a los doze de Diziembl'c dei


mesmo afio.
Despues de aver bailado con sus planlas los encuIDbrados
cerras, que con el licor de sus vena , alimentan, y dan el
primer sustento a este gran Rio; y caminado sobre sus
ondas hasta donde dilatado en ochenta y quatro legu3.s de
boca, paga caudalo o tributo aI mar Occeano; despues de
avercon muy particular cuydado notado, todo lo que en cl
ay digno de advertencia ; despues de aver marcado sus altu-
ras, senalado por sus nombres los Rios que lc tl'ibutan,
reconocido las naciones que se sustentan en sus orillas;
visto su fertilidad, gozado sus mantenimientos, experi-
mentados sus tempies, comunicado sus natur3.les; y final-
mentedespues de no aver dexado cosa de las en el conteni-
das, de que no puedan ser tesLigos oculares.
Como a tales pues como a personas que tantas obligacione
DOS corrcn de ser pontuales en lo que se nos ha encomen-
dado; pido yo a los que esta Relacion leyeren, me den el
credito que es justo, pues yo foy el uno deHos, y en nombre,
y por parecer de entrambos tom la pluma para escrivirla.
Digo esta, por las que podra "er saquen otros a luz, quiza no
tan ajustadas a la verdad, como con'ienia.
Esta lo ser, y tanto, que por ningun caso pondre en ella,
cosa de que no pueda con la cara descubierta, aLesLiguar con
mas de cinquenla Espanoles, Castellanos, y Portugueses,
que hizieron el mesmo viage; afirmando lo cierto por cierlo,
y lo dudoso por tal, para que en cosa tan gravc, y de tanIa
importancia, nadie se arroje a creer mas de lo que en e la
Relacion se afirma.
NmlERO XVIII.

Bt Rio de las Amazonas es el mayo1' del Orbe.

Es el famoso Rio de las Amazonas, que corre y vafia las


mas ricas, fertiles, y pobladas tierras de todo el Imperio dei
Per; el que de oy en adelante, podemos, sin usar de h1-
perboles, calificar, por el mayor, y mas celebre dei Orbe.
Porque si el Ganges riega toda toda la India, y por cau-
daloso escurece el mar quando desagua en el, haziendole
que pierda el nombre, y se Hame Sinu GangeLico, por otro
nombre GoHo de Bengala. Si el Eufrates, por lUa afamado
- 79-

de 11 Siria, y parte de 1:1 Persia, e la delicias de aqucllos


Herno, .
Si eI 'ilo riega 10 mejor deI Africa, seculldandola coo
. ns corrientes: el Rio de las Amazonas, ricga mas e ten-
(lidos Reynos, fecunda ma.s "egas, sustenta mas hombres,
) aumenta con SLlS agua a mas caudalosos Occeanos, solo
le falta para ,enc rIos en felicidad, tener su origen cn el Pa-
raiso, como de aquellos lo afirman grave Autore. DeI
Gange dizen las hi toria , que desaguan en cl treinla cau-
daloso rios, y que en sus playas se "en arenas de oro:
inumerables rios desaguan en el de las Amazonas, arenas de
oro tiene, y tierras riega, que atesoran en si infiniLas ri-
quezas.
E1 Eufrates se llama a .i, como not San Ambro ia, a
lcetifica?ldo, porque con su corrientes alegra los campos, de
uerl , que lo que riega e te afio, as eguran abnndante co-
ccha para el ,iguienle.
DeI Rio de la Amazonas se puede afirmar, que sns orillas
<;00 en la fertilidad Paraisos, y si e1 arle ayuda a la fecun-
didac1 deI uelo, ser todo e1 unos apacib1es jardines.
La felicidad de la lierra, que riega el . ilo, celebr LUC~\DO
cn e tos versos:
Terra sui contentu bonis, nOTI indiga mereis.
Aul JoYis; iu solo, tanta esl Illlucia Nilo.

No nece sitan la rwvincias vezinas aI Rio de las Amazo-


nas de los estranos bienes ; el Rio es abundante de pesca, los
montes de caa, los aires de aves, los arbores de frutas, los
campos de mieses, la lierra de mina., y los naturales que le
habilan de grandes avilidade , y agudos ingenio , para todo
lo que les importa, como iremos viendo en el discurso desla
historia.
NUMERO XIX.

JYacim-ilmto del Rio de las Amazonas.

Dando pues principio a eDa por el nacimienlo, y origen


de le gran Rio de la Amazona , hasta aora oculLo iempre,
queriendo cada tierra hazerse madre de tal hijo, arribnyendo
a sus entranas los primeros su 'tentos que 1e dan ser, llom-
brando1e eon nombre de Rio l\Iaranon: error t:1I1 a~cnlado
0-

en aquellas partes, que la ciudad dela Reyes (1), emparlo de


todas las de la America, se gloria de que las CordiUera de
Guanuco de los Ca"alleros, a di tancia de etenta leguas de
su sitio, dan cuna, y corLan los primeros paflale.3 de una
laguna, que alli est, a este afamado Rio.
Y a la verdad, no "a muy fuera de camino, pue" ya que
no sea esLe su origen deI Rio de las Amazonas; oslo por lo
menos de uno de los mas famosos, que el cOllYierLe en su
propria sustancia, y alimentado de sus aguas, corre mas
brioso, su carrera.
Quiere tambien e1 nuevo Reyno de Granada, aumentar su
credito, prohijando a las "ertientes de 'Moca, el primeI' na-
cimiento de te Rio, que en su origen llaman los naturales,
el gran Caquet (2) ; si bien con ningun fundamento, pues en
lllas de seLecientas leguas, no se, en las cara c tos dos Rios,
y quando se encuentran, como reconociendo a su mayor,
[orciendo 1 Caquet su curso "iene a pagar vassallage aI
de las Amazonas.
Por oLras muchas parLes, quiere el Per, a]arse con el
principio, y nacimienLo eleste gran Rio, celebrandole, y fes-
tejandole, como a Rey de los demas. Pera de oy en ade-
lanLe, no lo permiLir la ciudad de San l<rancisco de el
Quilo, pues a acho leguas de su assiento, tiene encerrado
este te oro, a las faldas de la Cordmera, que divide la juri-
dicion deI Go"Vierno de los Quixos, aI pie de dos cerras,
llamado el uno, Guaman, y el OtTO Pulcan, JistanLes entre
'si aun no dos leguas; de los quales d este por madre aI
recien-nacido, una grande laguna; y aquel otr:l, aunque no
de tanto box, si bien de mucho fondo, que agujeranclo un
cerro, que invidioso deI te, oro, que de si ofrecia, con la
Juer,a de un tefl'omoto se le ecb6 encima 7 pr tencliendo
ahogar en sus princillios, tan grandes esperana" como de
aquel pequeno lago, se prometian aI mundo.
Destas do lagunas, que caen veinte minutos debaxo de la
linca Equinocial a ]a vanda de] Sur, {iene su prin ipio el
gran Rio de las Amazonas.

(1) Linw, copital Lio Per.


(2) ne o rio Yilpurft 00 J:ljJur.
- "81

~ ')IERO xx.
Stt curso, lCbtittuZ, '!J longitud.
Raze u cU\' o este Rio, de Oe le, a Le te, como dize el
naycaanle, e to es de Poniente a Oriente, vezino iempre a
la Equinocial a la yanda cle el SUI', por dos gl'ados, Ire,
qnatro, cinco, y dos tercio en la mayor altura.
Tiene de largo de de una imieuto, hasta que de agua en
aI mar mil y Ir cientas y cinquenta y seis leguas ca Lell:ll1ls,
bicn medida j y egun OreUana, mil y ochocientas.
Camina i mpre culebreando en .bueHas muy dilaladas: y
como eiior ab oluLo de todos los OLTOS Rio que ell el en-
Jl'an, liene l'epartidos Pous braos, que san como freIes ex.e-
cutore .uyo , por media de los quale sale aI encuenLro,
y cobrando dclLos el debido lributo de sus aguas, los buehe
a 11 incorporar eu la Canal principal.
Y e cosa digna de nolar, que qual e el guc"ped que
recibe, lale ~on lo apos ntadore , qU) le despacha; do
.nerte, queon oruinario bl':to, recibe lo ma comunes
Rio ; acr cenlando outro mayore , para los de ma quenta:
y a algnnos que san tale., que ca i se 1e pueden paneI'
homl)ro con hombl'o, el me'mo n per ona con toda u cor-
ricol ,1 sale a Orl' ceI' e1 ho pedag .
De lalitud y anchura, e mu vario, porque por unas par-
les, .e e. playa una 1 gua, por olra do, por olras tI' s, y
)lar otra' nhl 110 ma ; guardando lanta e:;trechura en tantas
legua , para con ma licencia, dilaLado en ochcnla y quatro
t.le !Joc::!, paneI' e bal'ba a bal'ba con el mar Occeano.

NUi\IERO xx.I.
Esl'l'eclllLl1'a, y (onda deZ Rio.

EI mayor e lrecho donde e te Rio recoge su agua, es


de poco mas que de un quarto de legua, en altura de dos
grados y dos tercio . Lugar in eluda QllC previno la divina
Pt'Ovidencia, e lrecbanelo este di lalado mar dulce, para que
en su ango'tura, se pudies e fabricar una fortaleza, que
impiu:l el pas~o a qualquiera Armada enemiga, por liucbas
fuel'as que Ira.ya;], si acaso enlrarn por la principal boca ele
9
- 82-

este gl'an Rio: qne nlra.ndo por I Hio Negro, en el me mo


se <I.Yr de poner la def n a.
E t esta ango~lura lrecienlas y setenta leguas de la
nana, de donde cn ocho di::ts con emlmrcaciones ligera., a
vela y remo, se pucde dar a\'so mucho lnte que el cne-
migo les d6 vi ta.
- La profllndidad de esle Rio es gramle, y en parles 1al, qu
no se l1alla fondo: desde la boca hasta. el Rio Negro, que
es espacio de casi ei eientas leguas, nunca le faltan treinta.
o crllarenta brazas de allura en la. Canal princi'Pal: de ai
arrib::t Y nri:mdo mas, y::t con vcinl ya con doze, y ya
con ocho brazas muy a sus principios, fondos suficiente
para qu::tle quiera embarcacion s, que aunque la corriente
impjda,no fallan de ordinario, todo. los di:L tro"', quatro
1101'3. de hriza fuertes, y a vez s por Iodo <:1 c1ia con que
ycncerla.

"'DIEnO XXTl.

Islas, 1J Slt {cl'til.illarl, 1J {tulo.'!.

Todo esle Rio e l~l poh1::tdo de T 1:1.s, unas gra.ndes, pe-


queiJas olras, lantas en nUlllero que no ~e 'Pueden contar,
porque se encucnlran a cada. na.so, 'a~ ordjnaria. .on de
quatro, o cinco legu:ts, olras ay de diez, y de y inle: y la
que habitan los Tupiuambs (de ql1icnes babl:,"emos des-
pues) tiene ma de i n Icguas ele cir nnferencia: ay lam-
bicn otra mucbas mu)" peqll illS que los cirren a lo, n:l.-
tUl'ales de hazcr cn eUas SllS semcnleras, lcnicndo en las
mayores sn habit:l.cion.
E tas 15111.s de menor parle, y a vezes las m:l.)"ore., o
mucha parte dellas, Y3.na todos los allos e1 lUa, fcrti Iizan-
doias ele sucrte con sus }a,1111S, que no pueelell j1mas alrgal'
titulo de e teriles, aunq'lQ por mucho~ aiios continuados,
eles pj r1a el ordinario frulo, que es el maiz, y la ?Juca, o
mandioca, eomnn su lento de lodos, y de que tienen mucha
abumbncia: y :1Unr]lle aL parecer, estava expuesta a grande
diminucion, y percliu::t, con tan poclero:::as arenidas; la na-
luraleza, ma.c1l'o COlIJun de todos, dia a c tos Barbaras,
medio faeil 113.1'a ~11 eon:::.en':1'ion.
Cogen la YUC:l., que san unas ra,yzcs, de que se haze el
- 83-

cazabe (1), pau onlinario n t.oda aqueJJa costa.s delllrasil,


y cabanuo en la t.iel'ra unas cuera ,o ftlos llOndo ,la sepul-
lau eu eUos, dexandolo muy bien lapado touo el tiempo
que dnran las crccienles, las qUilles passadas, las sacan, y
benefician para su su t nto, in que por esso pierdan un
punto d'J su valor. Y i la naturaleza ense a la hormiga
a guardar como en leoeres elt las enlraas de la tierra el
grano, que 11a de ser alim nto su yo todo cl aiio; que
ll1ucho die se traa aI Judio por ma bar1 aro que sea p:lra
prevenir u dano, y guardar u n 'lenlo: pue es cierlo, '
que la Dirin:l Providencia mas cuida de los hombres, qu~
de los animalcs brutos.
NUlIlERO XXIlI.

Genc/'os ele bebidas que '/.tsan.

E te es, como ya clixe, el colitliano pan, que siempre


acompaa las tlemas ,"iandas. Y no'. ola sin'e de comida,
sino junlamente de bebida: a que son en general muy
inclinado lodos los nalnrale : para lo qual bazeu nnas
grande torla tlelgadas, que cozida en homo, se arizco-
cllan de suerte, que dW'an por l11ucllos meses; estas guar-
dan en lo mas alto de sn ca a para lenerla libres de la
humeclades de la tierra, y quando la quieren aprorechar,
echantlolus e11 agua las deshazen; y cozidas al fuego, les
dan eL punto ue han menester; repa <ln e le caldo, y frio,
e el ol'dinario ,"ino de que e11o' usn, que a vezes es tan
fnerte, que como i fuer:l vino de hubas, les embriaga, y
haze perJer el juizio.
Con este viuo celebran sus fie tas, lloran sus muerlos,
recibeu su' gue pcd s, hazen su semeuteras, y las cogen.
Y finalmente, no 3.y oca iou en que se junteu, que no ea
este el azogue, que los recoge, y 1:1 liga que los detiene.
Hazcn tambien, aunque no es tau ordinarjo, otros ge-
neros de vino , que como lan inclinados a la embriaguez,
son como los taures, que nunca le falLa de que ecbar
mano ; ellos la echan de qualesqlliera. frutas silveslres, de
que abundan los arboles, que de hecba eu agua, la (lan

(1) o Dcij, ou II farinbn ela mandioca.


con . 11 Zllmo Lal :3abo1', y fuerca, f1l1e mnchas Yeze excede
a la cerbeza, bebida Lan usada en todas las Naciones E tran-
geras.
Guardan esta 'vino , UDOS en linaja" muy granues de
barro, como la de lllle Ira RI afia: oLros en pipa pe-
queias, que labran de una pieca, de ~ocabado. tronco, y
otros en vasija grandes que lexeu de YCl'vas, dandole pOl'
dentro, y fuera lal betul1, que no se les pi 'rLle gola deI
licor que en ellas recogeo.

NUMERO XXIV.

F?'~htas que ticncn.


Las "jandas coo que acompalan e te pan, y vino, on
muchas, no solo de fruta, como Plantanos (1), Pifla (2),
Guyabas, Ayios (3), Castanas mni sabro 'U (!~), que lIamall
en el Per almendras de la Siel'ra, y a la verdad ma pa-
recen esta, que no aquello: si bien la. llaman assi por
nacer en unos cocos, que se assemejan aI lJerizo ue la
Ca tafla.. .
Tiencu Palmas de c1i\'er os gcneros, que produzen, una
sazonados cocos, y otl'as a])1;0 os dati! s (5), que aunquo
siheslres, san de muy huen gusLo: y otras mucha llife-
r.eDcias de frulas, propias todas de lierra cali nt s.
Tienen tambjen rayzes ele' mucllo sustenLo, como san
balatas, ruca 1113.11,':.1., qne lbman lo' 1'0rLngue es Maca-
chera, Car , criadillas de tierra, )' olra", que :t.ada , o
cozida., no wlu eUIl Lau gusL~ a , siuo suslanciale .

NU~IEIlO xxv.
Pescados deste Rio, y deZ Pegcuey.

Con Lodo, dela que mas se alimenlan, y 10 que como


dizcn, les haze 1 plato, es el il1menso pescado, que con

1} llnonnas.
?) 1'i Il.!ws ou atlas.
\.~J Ablo..
(l) Ca. lanhas, denominadas elo MaranhflO ou elo Pani, e lambem as amen
doas tia Sapucoin.
(G) Tuwaras ou fruelos ele ralmeil'a '.
- Si)-

illcreihle abunuancia, cada. dia. cogen a manos lIenas de


esLe lUo.
Pero entre todos el que como Roy e eorea, y est
poblalio eu tacto el Rio de::de ~us primeros principias, hasta
qu desagua n el mar j e el Pegebuey j pescado que en
el gl1 to, 010 le queda el nombre de tal, pues no ar per-
sana, que qURndo le come no tenga por sazonada carne:
e lan grande como nn bezerro de ano y media, y el1 la
cabea, a tener hastas, yorcja ", no se deferencial'a dei j
li ne por lolio el cuerpo algunos pelo, no muy largo, a
modo de cerda blanda, y ll1l1eve 'e en 01 agua coo dos
l1rao~ cano., que cn forma de pala, lo sirven de remo<:,
li Lax.o de los quales muestra la !lembra sus pechos, con
que manliene con leche lo hijos ql1e pare.
DeI cuero, que e muy grue .0, bazen adarga los guerre-
1'0., tan Inerl ,que bicn curado no le p3. sa una vala de
arcabuz. u.lcnla.se e le pe cada solo ue yena que paze,
como i ruera buey v rdadel'o, de donde cobra su carne tan
lJu n gu lo, y es de lanLa su laneia, que coo pequena canLi-
dad qLleda una p rf'ona ma' !'-ati feeIJa, y con ma fueras,
qll i comera doblado de cam era.
Deb:txo deL agua deliene poco el r fuelo, y as i donde
quiera que anda, qca a menudo el ozieo para cobrar nnevo
ali nto, de donde le viene u talaI de Lruieion, pue el
mismo 'e va mo lrando a ~u enemigo j veenle los Jndios,
) iguiendol, en canoa peCJu nas, le agl1ardan a que
qll ri ndo re. pirar, .aque la cabea, y cla\'andole con sus
al'llonc., que hazen de con 1Ia , le quilan la yida: dividenle
CIl po las metliana , que a aelas sobre parrlllas de palo,
clurao sin eOITUpeiol1 mas ele nu mes.
No ltazen dei eezina (1) para lodo el ano (que on de
IDl1cho precio) POl: no tener sal en abundancia, que la. que
usan para lemplar sus comidas, e muy poca, y hecha de
cenjzas de ci rlo genem de palmas, que mas es salilre,
que sal.
N ~lERO X.XYI.

TOItugas del Rio, '!J como lct8 gua,l'dan.


Ma ya que no les es dado conservar por mucbo liempo

(I) Carno socca Oll tio S I.


- 8G-

estas cozinas, no les faILa industria para tener carne fresca


todo el imierno, quo aunque no es lan gl1~ losa como :lfluella
es mas sana, y no de menos prorecho.
Razen para esta nnos COITales grandes, cercados de paIos,
cabados por dentro, de suerle que como I3gunas de poo
fondo, consenen siempre en si el agua Jlo,'ediza. flecho
esta, aI Liempo que las Lorlugas salen a de oyar a la playa<:;,
cIlos tambien dexan sus cac::a , y emboscandose en lo pueslo.
conocidos, que eU3.s, mas frequentan, esperan a que salicndo
a Lierra, comience cada una, a occupar e en componer 1:L
cueva donde pretende dexar los huevos (1); alen cn esla sazon
los Jndios, gafJalas la p3.rle de la playa, por llonde km de
tener su retirada aI agua, y dando de improviso sobre 01las,
en breve tiempo se ven sefiores de mu ll:l. canLidad, eon
no mas trabajo que iria' bohiendole de abaxo, arriba, con
que sin poderse menear, las tieneu todo 01 Liempo que
quieren, hasta que enfarladas todas por unos agujero , que
las hazen en el ca~co, en varias cordeIe , y echadas aI
agua, bagando ellos en sus canoas, las lJeyan a rcmolco,
sin ningun lra.bajo, hasta meterIas cn los cOl'rales que tienen
dispuesLo., donde sueHas todas, las dan por pri ion aquelJa
eslrecha. carcel, y susLenlandolas con ramas, y hajas ele 3.1'-
boles, las Lienen vims todo el tiempo fJlle las h3.n mene ler.
San estas torlug3.s tan grandes y mayores que rodela de
buen tamaio: es sn carne como de lJac3. lierna; lenen bs
11embtas dentro deI boche quando Ias maLan, de ordiuario,
mas de ducienlos huevos cada una,' algo mayore', y casi
tan buenos como los de gaLlina, aunque ma duro de di-
gesliou. E lan a. sus liempos lan gorua,', que de dos solas
se saca una botija de manleca, que lemplada con sal, es
tan lmena, )' mas gnslo~a, y dura nmcho mas que la cocicla
de baea ; sine para fl'eir pescado, y para qualesqlliBra
generos de guisados en que por aci puede aprovecl1ar la
mejor y mas delicada manleca de toelas.
Cogen estas lorlugas en lanla abundancia, que no ay
corral destas que no tenga de cien lorlngas arriba; con
que jamas saben estas "Barbaros que cosa seian bambres,
pues una sola, ba. ta a satisfazer una familia, por mucha
gente que tenga.

(1) o texto ora usa da expresso y",bos, ora tle y",.or,


- 87-

:'i ')IEnO xx.y]!.

Modo de pescas que 'l/san.

Coo mas facilidad gozan los moradores desle rio de lodos


los rrcnel'OS de pc cactos que cn si encierra; pues nunca
rezelanelo que 1 s ha de fallar para el siguienle dia, se
pl'cvicnen n el anlecedenle, sino que con lo que oy cogon,
ustentado di. poneo para comer manann. otra co ecba.
EI modo d pe. cal' :s di"er~o conforme a la variedad
dcl tiempo, y las crecientes, 6 menguanles de la agua ; v
a si quando esta bax.an tanto, que ya los lago se secan,
.in permitirle comunicacion con el Rio, u an de un genero
de 10l'bi co, que co aquellas co ta lIaman Timb, dei
gl'osor de un lJrao, poco ma , o menos, y tan fuerte, que
Illachacado do:, o tres palas desta, bn.tiendo con eltos
el agua, que e lanUa su t nta n aquellos lagos el pescado,
apenas lIcga e te, a gu lar de su vig.or, quando sobre aguado
tod se cI xa coa r con las mano'.
Pera el on]jnario modo 011 que en todos tiempo~, yoca-
sione , son du 'nos de quantos pe~cados sustenta e te abas-
tecido nio, os 'on la' fiechas que con una mano di paran de
una I ai la que en ella ti non, y clavadas el) el pege le haze
oLicio d boya, para conocor, atlonde despues de herida e
retira la pre<:a, a qu con pre teza e arrojau, y a siendola
la" cogeu eu la canoas: . o te modo,de pe ca no se e tre-
lia a UIlO, o a 011'0 gencl'O particular de pescado, sino tan en
general, ~e .li 'nde a todo , que ni los llnOS por grandes,
fli los oiro paI' pequenos, san privilegiados, mas antes,
lodos pa .an )lar un ra era .
.eon ser eslo pc cada de tau diver os generos (como ya
dlxc) san de.mu)' bueno guslO , y muchos dellos de parti-
cularis imas propriedade ; como 10 e la de un pege, que
los lntlios le lIaman Pcwaqn, que e aI modo de una muy
gl'~nde anguilla., o por mejor dczir, como uo pequeno con-
gno, 01 qual ti ne tal propierJad, .que mi entras e t vivo,
quantos le tocan tiemblan luego lodo el cuerpo, mientras el
Conlacto dura, como c;i tuvieran un recio frio de cruarlanas,
ces. ando todo ai mismo in~lante que d I e a.partan.
- 88-

NU?\l1mO XXYI1l.

Gcteb del' m,onte, y aves ele q'l.l,e se sustentem.

Pudie1'a ser que enfastiados e,to na\.Ul'ales, siempre con


solo pe~cado, aunque tau bu no, apelecieran, iquiel'a, de
quando en quando, alguna carne; y a,si 1'S previno la
lllturaleza sus antojos, poblandoles la 'fi na firme, con
muchos rrenero de caa; como on: Dantas (1), que 011
dellamaflO de una mula de um aliO, y muy parecidas a elta
en el colar, y dbposiclon; y e1 gu lo de la carne, no se
deferencia deI de la baca, aunque loca algo en dul e.
Ay taml)ien Pueecos monLaraze , no javalies, sino 011'0
gene1'o lInIY dh'erso, que liene el ombligo en el lama, de
que e lan poblada caj lodas la lndias; e muy lmen;].
carne, y may ~ana, como lamllien lo es la d oLra especie
ueslos mismo animales, que se halJan en muchas parles,
muy semejantes a los ca 1'os noslros.
Ay \ enados, Pacas, Cotias, Yguana (2), Yagoli (3), Y olros
'animales, proprlos de las lndias, de buenas cam , y de lan
lmen guslo, que poco e eclt::m meno la mas regalada' de
Europa. Ay perdizes eu los campo', y crlan eu Sl1' ca '3
algunas gallina' de la' nues~T::ts, cuya femiHa ba-x deI II "li,
y de unos a ol1'os e ha illo estendiendo por lOl10 el Ho:
el qual en muchos lagos que haze, les sustenla inGuhlad de
palos,.j' otras aves deL agua, para callay quando que ena
quieren aprovecbar denas.
Y lo que mas admira, e el poco tral)ajo qne cue Lan
todas e las cosas: como se puede colegir de 10 qne cada dia
e-xperimentavamos en nnesll'o Real, de donde, Llespu 's de
lLegar a la dormia, y despues de ocupados los Jndio ami-
gos, que nos a 'ompaavan, en bazer varracas sullcienles
para lodo el alojamienlo, en que se con umia mucho
liempo; se 1'ep::trtian uno por tierra, con I)Cl'rOS, en bu Cit
de caa; y olros por agua, con solos sus arco" y flochas, y
en pocas horas viamos ,renir estas, cargac10s de 1)escado1

(ll
(,2
Anta: om oulros paizes lambem se chama T.pi,. "
lIe o lagarto das margens dos rios, que ho Yulgm"1llenle conhecido por
Camclao.
(3) Jll{'oty, ou kgarJo na.s matta.s, dilTcrontc do , l'
JIl?'a,'''' aang"para, e '1'ar t.all'lgO""
que vil' III nos lllgo e TIOS.
- 89-
yaquelIos con caa suficiente, para que todos quedassemos
sati 'fechos.
Lo qual no era 11n dia, o oLro siDO todos quantos dur
el viage, que foe tan cumplido, como ya dixe.
Maravil1a digna de admiracion, y que solo se puede atri-
buir, a la Paternal Providencia de aquel Sefior, que con solos
cinco pane, y pocos pezes su,tent cinco mil hombres,
quedandole el brao sano, y las manos lIenas, para mayores
liberalidades.
NUMERO XXIX.

Clima, y temple del Rio.

El lima deste Rio, y todas las Provindas a el CirC\IDVe-


zinas, es templado; de suerte que ni ay calor que enfade, ni
fl'jo que fatigue, ni variedad que sea molesta; porque aun-
que e reconoce algun genero de invierno, no estanto, cau-
sado de ln. variedad de los' PlaneLas, y curso deI Sol; que
siempre nace, y se pane a una misma hora; como de las
inundaciones de las aguas, que con sus humedades, impi-
den por algunos meses las ement ras, y fl'Utos de la tierra,
por lo quales nos regimos de ordinario en aquel1a partes
elel !'el', de tan diferentes temples, para conocer, y dis-
Linguir '1 veral10 deI invierno j de u rLe que todo el Liempo
qlle la tierra nos produze frutos, lIalllamos verano j y por
el contrario invierno, aI en que por alguna causa se impi-
uen SlIS co echa.s.
Estas san dos aI afio en este Rio, no solo en los maizes,
uno de sus principales sustentos, sino tambien en otras
semillas propias de la lierra.
Verdad es que las mas cercanas a las Cordilleras de
Quilo, gozan de mas calor que lo restante deI Rio, por las
muchas brisas que de orc1inario refre ca.ndo lo mas propin-
quo a las costas de la mar: si bien este calor, quando
mayor, es tanto como lo ordinario de Guayaquil, Panam, o
CarLagena, templandose en gran parte con los continuas
aglJazeros de ca i cada dia: haziendoles a todas estas tiel'ras
gran venlaja en conservar por m11chb tiempo, sus mante~
nimientos incorruptos, como lo experimentamos en las Hos-
tias, con que cada dia c1eziamos Missa, que dGspues de cinco
meses y media que salieron rle QuilO, estayan tan f"escas
10
- 90-

como "i fueran de poeos dia heclJa., y por aeabar~e a c_lo


liempo, no experimentamo lodo lo que n adcJante puLlie-
ran durar, cosa que espanta a los que tenemos conidos
diferentes templc de la lndia~, y sabemos por expc1'iencia
la IacHidad, eon que en tier1'a ca.lida e corrompen, aun
cosas de mas sustancia.
TO san los Soles de. te Rio, con ayezinclar'c tania a la Equi-
nocial, noziYos; ni e eon cen Ecreno qne hagan dano (1),
de que puedo ser bnen Lcstigo, poes rara vez s en todo el
tiempo que por el narcgu, d x de pa sal' las nochcs de
eIaro en claro, a Sll inclemenca, iu que ja mas me cau a se
un do!or dc cabe~a, que en otras parles; solo llll pequ fio
rayo de la Luna, lo suele cau~ar muy desmedido : bien
es yerdad que en sus pl'imera entrads, ca lodos lo que
yeniamos dc tierra fl'ias, tU\'mo qualro calenlura , que
con otras lant3.s Eangrias nos dexa1'on libres.
Ni tampoeo ay en esLe Rio ayres cOl'ruplo , que con re-
pentinas caliclade' dexan li ados a aqucllos a qui n smas
hieren; como a costa d su salnd, y a y zc de la villa, los
sientcn muclios, casi cn lodo 10 ue~culJier[.o deI Per. Y a
no tenel' la plaga ele mO,ql.lilOS, dc que abunda cn mo hos
p:lrages, sc puelicra llamar a boca Ucna un c1ilallll0 Parai o.

!\.\fEno xxx.

DisposiC"ion de ZcL t'ie?'7'Ci., '!J dJl'ogas mcd'i:;;inc~les.

Desta apacihilidad de Lcmp~c ,nace in duda ]a fre cura


de toda sus orillas, que cOl'onadas ele vario, y hcrmo os
arboles, parece que apol'fh estan dc continuo dibujando
nucros paises, en quc la naLuraleza c esmere, y cl arte
aprenda. .
Y 3.unque cn lo comun c ticrra lJaxa; tiene lambicn,
.alto bien proporcionado. ; c::tmpifia. de embaraadas de
al'boleda., y cubi rlas de flores; "ales quc sicmprc GOn"Cl:-
van la humeelad; y cn ] mas retirado, cerro lalcs, que
puecleu con r::tzon p::tssar con nombre de COl'c1ill raso
En estas inculto bo ql1es, ti ncn los nalul'alcs lil fada
para sus dolcncjas, la. mejor botica de simples, que ay en lo

(I) o mesmo acoutece nas l'l'oyiw'ias proximo1S ao All1a'lOllas.


-!)l -

dcscullierto: porque aqui se co a la mas gruesa caiiafi laIa


que en parle alguna: Il arapal'filla mas perfecLa,; la
goma , y ]'e~inas saIuu~l])le ,mas en abundancia; la, mie}
de ayejas i!yesLres, ma a cada passo; y lanto, que apenas
se lJega a par:tje, donde no la ara j gaslandola, no solo en
medizina , para que es mllY saludable; ino tambien us-
lenlando con eUa, por ser de lindo gll to, y aprovechando
la cera, que aunque es n gra, os buena, y arde tambien
como qualfJuiera olra.
Aqui eI azeyLe de Andirova" que e un arbol, que no tiene
precio para <:urar h riela, Aqui aI de Copaiba, que tambien
lo es; noi!!Uala el lU jor DaI amo,
Aqui se hallan mil genero de ycrbas, y arboles ele par-
liculari imos efeclo ; y a' aun por ele cubrir olras muchas,
que pudi ra alir .cgunelo Dio coride , y tercero Plinio, Y
lodo llwieran bien que hazer en a\crignar sus propriedade.

riU)) ERO xx XI.


Alaclems, Y cbdeJ'ezo lJCbJ'Cl navios.
Lo arboles cn te 11.io, 011 sin numero, tan altos, que se
suben a la nube , tan gruesos que pane e paulo; cedro
medi on mis mano', de lreinla palmo de circuito; san
todos por la mlyor parte de tan buenas maderas, que no
se pueden de. ear mejores; porque son cedros, ceibos,
palo hi [TO, palo colorado, y olro muchos, reconocidos ya
en aqueUas parI. s y experimentados por lo mejores dei
mundo, para fal)l'icar ernbarcacione : las quales en e te
nio, mejor, ) c n meno co lo, qne en parle ningun"a, e
podran acabadas, y perfcctas echar aI agua; sin que se ne-
ces ite de nue tra Europa, sjno solo hierro para la cl:);vaon.
Porque aqui, como digo, estan las macLeras a pedir do
boca j aqui la xarcia l.an fnerte como la ele cailmo, le
cierla.s COl'teza de aTboles, de que se ]Jazen amarras, que
solas eUa susLenlan la naos en tormentas de. hecha ; aqui
la pez, y brea 1an perfecLa como la Aral'iga; aqui el azeite,
assi de arbole , como de pe~cados, para darIa punto, y
tem pIar su dureza. .
Aqui se aca estopa excelente, que lJaman embi?'a, que
para calafeLear las naos, y juntamente para cuerda de arca-
huz, no se conoce ot1'a mejor,
- 92 -

Aquiel algodon para el yelambre, e' Ia semilla que mejor


produzen los campo ; y aqui finalmen le, e t. la mullitud
rle genle, que despues cUremos, con que no falta nada para
fabricar quanlos galeones, se quisieren paneI' en astillero.

NLMERO XXXII.

Quatro gene1'os ele cosas provechosas 'l'ue ay en este llio.


Ay en esle gran Rio de las Amazonas, quatro generos,
que cullivados, seran sin duda suficienles, I ara enriquezcr,
no a uno, slno a muchos llcynos: de los qua/es e el pri-
mero, madoras; q11e fuera!lo avel' mncha de lanla. cUl'io-
sidad, . y estima como el mejor evano; ay lanlas de las
comunes para embarcaciones, que juntamente e podran
sacar para otras parles, cguro iempre de que por mucbas
que e saquon, jamas e podran agolar.
El segundo genero, os el deI cacao, de que eslan sus oril-
las tan )Jenas, que algunas vezes las maderas que para el
alojamielllo de todo el exercilo, se cortavan ; apenas el'an
otras (Iue las cle los a.rboles quo proLluzen esle lan eslimado
fruto on la \le,a E paia, y en tlonde~ quiera que saban
que cosa es chocolale; el qual beneficiado, e de lanlo pro-
vecho; que a cad::t pie de arbol, corre ponde de renta
todos los aDas, borras de Lodos gaslo:, acho reales do
plaLa: y veese bien con quan' poco trabajo, so cu1tivarian
c tos arboles, en este Rio, pues sin ningun beneficio de el
arte, sola la natura]cza los llena de abundantes frutos.
El terceI' genero, es el Tabaco, de que se baIla gran can-
tidad, y rnuy crecido entre todos los moradores de sus
Riberas; y si e cultiva se con eL cuydado que pide esla
semilla, eria de )08 mejores deI mun,do; porque a juizio
dela que lo entiel1uen; la tierea, y temples, es todo lo que
se puede dossear, para grandiosas cosechas.
Las mayores, que a mi ver, se debieran entabial' en este
fio son las de 01 Azuoar, que es el quarto genero, que como
mas noble, mas provechoso, ma seguro, y de mayores
aCl'eeenLamientos para la Carona Real: y mas en tiempos
que tanlo ba caido eI trato del Brasil, se debiera Lomar mas
a pecho!':, y procurar Iuego lo principias enlablar muchos
ingenios, que cn breye tieOlpo reslaurasson las perlldas de
agl.lella costa.
- 93-

Para lo qual, no ruera mene ter, ni mucho tiempo, ni


DJucl.lo trabajo, ni lo que oy mas se rezela mucha costa:
pue la tierra para cana dulce, e la mas famosa que ay en
lodo el llra ii, como 10 podemos ate tigllar los que ayemos
corrido aquellas partes; porque es toda. ella un mazap
continu3.do, que e por lo que lo labradores destas planlas
Ee des, elan; y con las inundaciones deI Rio, que nnnca
tluran sino pocos dias, que dan lan fertilizadas, que antes
se puede lemer el dema<;iado vicio. .
1 no ser. nnevo en aquella lierra llevar caJa dulce, pues
por lodo c le dilatado rio, desde u primero principio<;,
iempre la foyrnos encontrando: (lue parece daya desde
enLonces, mueslras de lo DIU ho que despues multiplicar,
quando e quicran hazer ingenio para labrarla.
E Lo ,erian de OlUY poco co lo, por tenel', como dix.e
las madera a la mano, y el agua fi abundancia, y '010 se
nece ilarian cobres, que con mucha fa ilidad conLribuyera
nueslra Espana, coclicio a de el buen retorno que por ellos
ai"ja de recehir.
t\ 'JfERO XXXIll.

De otl'OS generos de estima que cLfjui se hallan.


o 010 sLo genero' podian prometerse en este nuevo
mundo descllbierto, con que ell1'iquecer a todo el Orbe,
ino tamlJien olro mucho, que aunque de menor quantia,
no dexari.an de ayndar con su cornadillo, aI aumenLo de la
Carona Real, como ,on el algodon que se coge en abun-
dancia: 131 W'llC, que es con lo que tiene perfecto colo-
rado, que los EsLrangero~ estiman grandemente; la Cana-
fisLola, la zaraparriUa, los azeites que compiten con los
mejores bal amo en el efeLo de curar heridas; la ~ gomas
y resinas olorosa, la pila de que se saca elmas e Limado
hilo, de que ay grande abl1ndancia, y OtTO mucho que
cada dia ha de ir sacando a luz la. neces idad, y la codicia,
NUl,IERO XXXIV.

Rique~as deste Rio.


No traLo de las mucha Ii1inas de oro, y plata, de que
se tiene noticia en lo c1escubierlo, y que se descubriran
- 91~-

forosamenle en adelante: que si mi juio no me engana,


h<ln de ser mas, y mas ricas que toda las de cl l'er,
aunque enLTen eD elIa la de el afamado Cerro de I'oto i.
Y no digo esta aI ayre, y sin fundamento, llevado solo,
con o pensar. alauno de la aficioD que muestro a engran-
decer este Rio, sruo estriYando eD la razon, y en la expe-
riencia: esla la lengo de el oro que en alguoo Indio de
este Rio encontramos, y de la noLicias- que dieron de sns
minas: aquella me obliga a formar este argumento.
m llio de las Amazonas, recibe en .i las vertienlc,
toda de las tierras ma rica ele la America; pues paI' la
,-am1a de el Sur, desaguan en el cauualosos Rio, que de-
cienden de cerca ele IJotoj, uno ,0Lro de Guanuco, Cor-
dilleraque se ayezinela a la cindad de Lima: deI Cuzco
otro , y otros de Cuenca, y Cibaros, qne es la tierra mas
rica de oro, que ay en lo de cubierto.
De snerte, que por esta parte quautos Rios, quantos ma-
nanliales, quantos arroyos, quantas fuenticillas vierlen on
el Occeano en egpacio de seiscientas leguas, que ay de~de
Pato i a Quito: todos rinden va salhge, y pagan paria a
este Rio, como tambien lo hazen todo los que baxan doI
nueyo Reyno de Granada, no inferior en oro a todos lo
demas. Si este Rio pues, es la calle mayor, y el principal
camino por donde se sube a las mayores riquezas deI l'er :
bien puedo afirmar, que es ~e principal dneno de todas.
Fuera de que, si el Lago Dorado tiene el oro, que la
opioion le arribuye: Si las Amazonas habitan, como ales-
tiguan muchos, entre las mayores riquezas de eI Orbe: 'i
los Tocantines en piedras de prccio, y abundancia de oro,
son tau afamaos de el Frnce : Si lo Omaguas con sus
avc!'es alborotaron aI Per, y de pach lnego Ull Virrey con
grueso exercito a Pedro de Orsua en 1m ca deli os: En este
gran Rio, est todo encerrado: aqui el Lago Dorado, aqui
las Amazonas, aqui los Tocantines: y aqui los ricos Oma-
guas, como adelanle e dir. Y aqui finalmente est depo-
sitado el immenso Te oro, que la l\iagestad de Dias, tiene
guardado para enriquezer coo ela la de nuestro gran Rey,
y sefior l'hilipo Quarto.
- 95-

NmlEnO xxxv.

Son fj'tw.tto mil leg'ttas de cil'c'tlo lo descttuie1{o.

liene de circuito este dilalado Imperio, segnn buena Cos-


mographia, aI pie de quatro millegua : y no pienso que me
alargo mucho, porque si '010 de)ongitd, medidas cou cur-
dado tiene mil y trecienta y cinquenta y eis, y conforme a
01'e11ana, que fue el primero que le na;vE'g mil y ocho-
cielJlas; y por cada Hio que en el entra de una y olra
yand1, s gun buena informaciones de los naturalo., que
pueblan sus bocas n mas de dozienlas leguas por cada
vanda, y por mucbas partes, ni auo on mas de quatrocientas,
nunca e alo a poblacion de E pafloles, imcontrando iem-
pre naciones diferentes; foera e que lo concedamos l.1e an-
chura, por lo menos quatrocienta lcgnas en 10 'mas estre-
no, quo con la mil y trecientas y cinquenta y sois: o
~egllll Or lIana mil y ocllocientas do Iongitud, lo daran de
cil' uilo, gun buena \..ritmetica, muy pocas monos de las
quall'O mil, quo ya dixe.

NUMERO XXXVI.

~11dtilucl ele gente, '!J de di(mJ'/1,les l\"ctciones.

Todo (' te m10YO mundo, llamemo Ie as i, e t. habitado


de Barbaros n di linlas Provncias, y Nacione, : de las que
pnedo dar l' e, nombr3.lluolas con U Dombres, y seialan-
doIas con sos si[ios, una de "j la, y 'oLras por informacio-
ncs de los Indios que en ellas ayian estado; pa san de
cienlo y cinqueot3., todas de lengua diferentes, tan dilata-
das, y pobladas de ll1oradore , como las que "imos por
todo esLe camino, de que despues diremos.
Esl.an I.an continuadas (} ta Nacioncs, que de los ultimos
pueblos ele las unas, en machas dollas, se oren labrar los
])alos en las otras. Sin que vc.zindad tanIa les obligue ,::\.
hazer pazes, consenando perpeluamen te con tinuas guerras,
eu que cada dia se malan, y cautiv:m inumerable almas.
Desague ordinario de tanIa mull.ilud, sin el qual, 1'3. no
cllpieran en Ioda aquella licrra.
- 96-

Pero, aunque entre i, se muestran belicosos y de brios:


ningunos Iienen para cou e1 Espanol, como se not cn todo
el Yiage, en que jama barbaro, se atrc\'i a usar contra lo
nuestros de otra defen a, de la que de ordinario cslan los
cobardes preyenidos, que es la Julida que tienen muy a la
mano, por navegar en unas mbarcacione.s tan ligeras, que
en abordando a tierra las cargan en lo hombros, y arrojan-
do c eon ellas a 11n lago, de los muchos que eI !lio tiene,
dexan burlado a qua1quier enemigo, que con su embarca-
cion, no pued;1 hazer otro tanto.

1'\ }IERO XXXVII.

Armas ele que 'l,~san los IncHas.

8us armas son, en unos azagaras medianas, y dardos


labrados de maderas fuerte" bicn aguzadas, y todas las
puntas, que tiradas con de treza, pac san con facilielad aI
enemigo.
En otros, son estolicas, arma en que los guerreros deI
Inca, gran Rey deI Per, eran muy dieslro~; son c la'
estolieas unos palas tableado , ele una vara dc largo, y trcs
dedos de ancho, en cuyo rcmate, a la parte de arriba,
fijan un eliente ele gues o, en que haze presa Wla flecha de
nuc"e palmos, eOIl la punla tambien ele gue o, o de palo
muy fuerte, que labrada en forma de harpon, queda como
garrocba, pendienLe d aquel a quien hiere; esla cogen cn la
mano del'echa, en que tienen Ja e lolica por la parle in-
ferior, y fljandob cn el diente uperior, la elisparan con tan
gran fuera, y acierto, que a cinquenta passos, no yer-
ran tiro:
Con estas armas pelean; con estas fiecl1an la caa; y con
estas son selores de qualquier pescado, por mas que se les
quiera ocultar entre las ondas; y lo que mas admira, . on
estas clavan las tortugas, quando huyendo de ser reconoci-
elas, solo de quando en quando, y por un muy brm'e espaeio
illuesl.ran la cabea enzima de las agl1as, atravessandolas el
cneHo, que es solo en lo (rUe por estar libre de las conchas
se puede hazer el Liro.
an tambien para su defensa de rodelas, que bazen de
canas brabas, hendilhs por medio, y lexidas apretadamentc
- !:li -

una' t:U1J utras, que (luuque san mas Jige[':l~, IJU 'COlJ lal: fil 1'-
te' 'om la' olra II ue la di)"e, de cu l'O e l'eaeLu'y.
Alguna de la llacione" li an de ar '0, y lleclta, arma que
entre loda la dem::ls es selllpl'e l' spetada, por la [nerva, y
prc' le.za 'on qn 'llieJ'e. Altuntlan d YCl'bas \"enpuosas, de que
I

ltazcn ell :llgunn.s naeione , Ulla pOllOl1a lan eficaz, qUI


pnherloli:lc1(l con lia la 11' '!la en Jlegand :J S:lC::lr ~~l1grp,
quitan junlameul la ,,:ida.

StI COllllnc}'cio es ]JO)' et agua eu Clllorrs.

Tudo' los que lo. qu \'iren a la orilla" tlcsln grau Rio,


I :lau pobl<tdo' pn arande poblaciollc: Y Lllmo \' l'neciallOS
il ."exi ano' todo :u tralo es por agua, PU mIJ<u'cuciol1l" pe-
qneas, qne. e liam, n calloa" esla de urdiuario son de l' -
dl'O' tle que la l)mviclen 'ia (1 Dia:.; I s pro\" )'0 :lllundnll le-
111 IIle sill qne I': uc I Irabajo tl cOl'la1'lo<;:, lli saf'al'lo~
dl'llDulIll', illyiando, '10. on la' as nida' 'l Hio, que para
suplir e'ta lH'f'crs:itlad, los alTanca de la, m~ls dUallle Cor-
dill 'l'a del l'cl'll, y SC 10' lJ ue a las pu rlas ue BU" O:l',
donde cada WlO ("l'og 10 que ma <. cucnlo 1 llal"l'e.
Y c:; e admirar, ycr CJU enlr tanta il.llnidad dI'
Intlio', Cjue cada uno n c sila, por lo nH'IlO.' IJara ,U f:llni-
lia, de uno, o dos palas, ele CJue li:Lbl'e una, o ti g ('ii 11 oa:.: ,
com C Ilceho la li ~neTI; a ninguno 1 eLll'sla. 1I1::tS lralwjo,
l/ue 'alicndo a la al'illa c1ladc un Cjuantia Yl ll<.a:r. <lll lo, ~.
a!narrarlc a lo mi mo uml rales tle u pUl'l'las, t1ondl' qut'-
ua pre,o, ba~ta qu ayienclo ya haxaclo la. ap:llas, . apli-
rando cada uno n indu Iria, ytl'abajo lahra la (nlYllT Lrifll1, c

d' (fue tiene nee', idad.


KDlEUO XXX.I:

Las hCl'J'a1J1 ientas que LI (ln.

La h rt'amienlas de que usan para ]abl'al' , no solo ,.1lS


canoas, sino sns ca a , y lo demas C[lle 11an ml'TI stel', son
ha bas, azuelas, no fragua.da por buenos Oli 'ialns en la
herrerias de Yiz aya, ino forjadas e11 la' fragua de SUA
cnl n~i 11ienlos, leniend')' por JU'1CSll"l cnm cn olras
11
- Hl:i-

tsl:l ('lu:i1il ;) ro1"l;II' d!.'1 cas'o ma:::


"ll.. a:<:, :1 la lIco.. .:idad,
rll rll'di ' la. Inrlllga, q1l(' (,~ Ja pente dt'l pedlO; 1I1a plan-
dia dI' 1111 valllln dI' laq{lJ, ~- <111-(0 menus fle aneho, qtH'
(U!":1da aI llllmp . .y ,',H:;llIola fll filu ('II UlIa. pi dra, la
fijan ['.11 t-lll Ita.lil, .y CUI1 Jla como ('(ln llll'1. bllcna haclla,
, l1!)(jl1C llO LUII 1anla prp.. leza curl,u} lo (III SI' I '~ :1nloja,
D sir mi.mo llll'lal liazcn la.s aZllcla,;, sini 'ndnlrs di
ah) para rila., una ff1.1ijada ele i'cg 11'1 y, <tn la nat11-
ralz;L fOl'ln eon "u ])lf(JI!a., apropo iI lJ.u'a 01 (Ir 1;10, Con
c, tas JH'rJ';tUliclIl<l~, la\TC:ln tan pcrrcclamcntc, no alo n,'
anoa, , . illO lanhif'n ,11" mesa:, tabl<l , a si nlos, y ull'a
r,osa ,COOH) si 111\''I':lI1 los mejores il1 lrumento lIa nUf'sll':l
f..pana,
En a!guna. Iwcinl)rs, :,on e las 1lach:t uo piodl'a J
l:1brad:l, a [loder r]r !wao ,la atlelgazan d SlI rlc,
UJIl meno.. l' zelo, de quellrar. e, 'mas ell brey ,
rOIl 1:1, olra, do Inl'tlga, c01'lal1 ql11l1quier arbol, por
grueso fj ne sea, Sns c~('o[ lo~, gubia y in fc., par;)
01)1'[1. dpliL'ada~, quc las hazen con ITl'aJ) primor; .on
dirJ)lr~, ~' r'nlmilll:-;, cip animales, qu
enc<l\'ado en StI.'
p:1los, nf} hazf'n Jl1CIIO: hicn .u oficio, que lo de fino azel'O,
Ca:i lofttl:, Lmcn 'llS Pr Yincias al~oc1on, uno' ma ,011'0.
menos; prl'(l lIolodus le aprorecball para ye til'. e rI'l,
ma. alll Cl' los 111a, ;llldan de nudo , a i 110111b1'e , COnlO
11 lA'rrf':, ~ill qu la v \'guenca. natural lo. obligue, :l. 110
ql! I'PI' r~Il('('rr. (lHf' p.lan rn pi slado de la ino 'rn"i3.
:';OJEllO Xl.

!Jr 'l'iln~ !/ Dioses fi7/(' ({rlOJ'((Jl.

Ln,. rijos dto 10d,1 f'.t.a. t; 'lllilidad ' srm casi cn gcnel"(J1
nnor- n1(' mo. : adol'al1 Idulus, quo fallrican con l1S mano I

:llrihn, rnJo ;1 1Il1O. (1 poder ohro la, aguas, y assi lps


r ar cn por dirisa 1111 prscarlo en la ma.no; a olros escog Jl
pr)]' duehos de las srnV'l'1loras; Y :l. otros, por ':.dedores
l'n SUo b'liaJlas,
Dizen que estosDio.es baxa1'on dr] cielo, para acomp;1-
narlos, y hazerlo bi n : no li an ] . a.lguna. ceremonja para
adorarIo , mas anLes les Liel1en olvidado cn un rincon
hasta cl Liempo ql1f\ los han men s1cr; y as i quando han
de, iI' rl la gUQrra, Ile\'n en 1:1. proa rlc Jas r.anqa.s, rI
Tdo]f) ('-n fJllirll I il'llrll fllle las la:;'c~rerancas rlc l yto-
- gn -
ri;l; y quu,lJ(lo sal 11 a hazcl' sU' p "Sljuerias, echalllllano dr
aqueI aqui n ti TI "n entregado el domnio de Ia' aD'ua ;
pera ni en uno, ni en olro' fian tanto, que no reconoz-
can, pu de lYOJ' otro mayor.
Colijo isto de lo qne nos Sll e<li con uno de luS Dar-
bat'o~, j bi 11 e t 110 lo mue lrava :er cn la :Jgudcza de
"ll di ClWOj 01 qual ayiendo o)'do algunas rosa, ti I P der de
nue lro Dias, y visto por u ajo ljlll' ulJiendo eI rio
~rl'iba llU slro exerc,iLo, Y 2a" 'anel por 111 dia ele lania'
nacione lan belico a, boIvia ~ill 1'0 'ibir elano ele 1l11-
guna; lo qual juzga\'a, era fucl'a, ) Jlodol' deI Dio', llue
le regia, negb con grandc' an"ias a pedir ai Capitan Mayor,
.r l no, otl'OS, LUC cn paD'o deI 110 pedaje, y llucn ag:r:ajo,
que nos hazia, no queria 01.1':1 m l'Ccd, sino que I dexa.:-
.' "mu aIli un Dio de los Ilue'tros, llue (;U1110 l;lll jJo-
deroso II lod , I" guarda" e a I, y a .:us Ylssallos en
paz, y eon f.'alud, . juntamente 1 s pudie,"e acudir cun
l'i nece ado mail! nimi lItO lc qu ne'ElSSllaull.
No falL' quien le quisia e con. alar. coo de: (r "ll su
pueblt enarbolado el slandal'l t1 la CI:UZj co,a qu' aGO,-
umbl'an haz r los Porllloucs s ('lllre ('"to Genlile, lO COll
lan buen z lo omo la a.c ioo muestl'a de suvu; 'irviendole'
,'cl sacr anta Palo de la Cruz, leva.ntaelo en allo de titulo
.I' capa, para colorar 811S mayol'e injl1 licias, 'amo ~Oll
las continua' e,claviludes d los pobrceilo..: Indios, qu>
COI1l m\n o ol'd 1'0:, lo I "ados 'L ,us ca a para vender-
Ias n r bano uno', Y 'Cl'\,irse con l'i~or II los 011' s,
Levanlan pn s como digo eslo Portllgncsc,' la SarHa
Cmz y n pago deI lu n roccbimienlo elelo nalul'ales qUl'
'n llS pu blos lo hazen, la I1jan cn lo ma lcvantado ele!
lugar, diziendole, qu' la han conscnar, iempre inlacta :
uC,ccdc,por algwl a 'ante imiento, o ,qu la Cruz coo el
tiempo se cayb, y deshizo: o quu maliciosam nle, ellu'
pOI' er G nl11e', y no reconoc l' c lima ('11 elta la darri-,
baron: con qu Iuego le dan los Portuguc 'e, la. cnlencia,
y lo condenan a toelo, los do aqu 'I pu blo por e clavas
pcqptuos, no 010 por n vida, ino para, todos ,us des-
e- nclieo te .
1'01' e ta cau a 110 cons nli )'0 que se l'yallla,Se la ~<lnta
Cruz, )' jun,tamenl para no dar aI barbaro que nos pedia
Ul1 Dia', ocasion de ido1aI1'al', alri,lm)'endo :1 ([11 '.I madero
01 poder, y :o id:1u deI que li I no,' l' "Llimi, i J iCJl
le con 01" c II ;1~,egL11'<l1('; IJIII~ nllc~lrn llin~, II' hlri;l
- 10 -
.lemprl' GOmpanla, que l' pidi' se lo quo a\iu llIellc--llI',
y fia~~e eleI, flue algLln dia le tl'acria a 'u v rdadero co-
nocimcnlo.
Di II P rsnaclido Lava c te Inelio de que no el'an ,\1:'
Diose~, 1M nw:;; poderoso" ele la Lierra, pues queriil. li--
Iiremenlc le (le:a~~cn alI' mayol' a (lnien obedecer.

'/1 flletislJ heL;;iCL Dias.

DeI Jl1i~lHO pal'Pc 'i' fju cl pas ado, aunque d mayor


malicia, .e 111U "I.r olro barbara: el qual no l' conociendo
poder, ni Dcidad en SLlS ldolo , cl mismo se l)azi,l Dio,
de toda aqllella lcrra.
De este I.mimos algunas legua anle ele Jlegar ;l :u
habilacioll noticia: y <le~pachandole nu va, de que e la Irai-
mos dei yerdaelero Dio , y mas podero. o que no eI, le rogamo
nos esp rasse a pi' quedo. llizol0 .ssi, y apenas llegaron
nueslra. emhartl i nes a lomar puerLo en Sl1S Ribeiras,
quando coelicioso (le ,1 bel' elel Duevo Dias j saM en per-
50na a pergunlal' por cl. Pera aunque se le declal'
quien era, como no Ie pudo ver on us ojQs, qu do e-
eo Sll c guer<J, hazi ndose hijo elel Sol, adonde con eL
espiritu, afirmav;), ir Lodas .la' noches, para mejor dis-
paneI' el dia sicruieoLe deL universal gobiel'l1o que le
incumbia.
Tal era la maliGia, .y sobel'Yia desLe barbaro:
:\Iejor di curso y enlendimiento mostro otro que per-
guntado, porque causa slando sus 'ompanerog retiradas
ln eI monte, rezelosos ele la vezindad de lo E"panol_,
I 010 cou algunos sus parienLe, alia tau sin Lemor il
mlterse ln sus man s. I\csponclio, que considerava, qo"
!Jenle que avia ,ubido una vez por medio de Lautos enemi-
g03, y bolvia a baxar siu lesion alguna, no era pos iblc
menos, -ino qu orno sanares de todo este gran Rio,
lornass n una, y mucbas vezes a. navegarle y poblarle: y qu
aviendo de ser esta assi, no queria andar siempre sobre~al
lado a sombra cio tendo, sino alir deste luego a reco-
noceI' de grado por amigos, a los que los demas avrian de
recebir por fuer~a. .
Digc.urso bueno, y que permilir la l\'Tagp~18cl ele Di IS,
J(' "ramo,' ,dgllll dia pue~lo cn execurion.
- .j() I

:\L\iJmo XLII

De los Hechi::;el'os que ay.

1)ro:igl1i 'ndo COI e1 hilo nu ,lra hi tOl'ja, y boh'icndo


a los ritos de:ta. 'rlciones. Es para no!:!.r la granel s-
lima 011 (Pi luda. tiencn a SllS J:Iecllizrros; no tanto por
amor que los llllH'slrcn, como PUI' el r'zelo con que
sicmpre Yiyen de lo cllll S qu le. pu df'n llazel'.
Ticnrll para que uscn de u. upeLlicionc, y hablrn
Oil 1 d mania, qu, les r, muy orelinario; una ca a (IUE:
.010 i1'Ye d.esl , danei COI <.:ierLo g nero de yen racion,
como, i [u I'(J fi H liquia cl Sanlos, \'iln I reeogi nela lodos
los gllC~O~ I lo' Hc hize1'o: cril 1l111el'Cll, lo qualc li n n
colITado. n rI aFC, n la.' mC.l1la~ amaca en que llos
dormian en yida. Eslo, .on us i\Iaestl'o., .u~ Predicadore.,
li" Con~ejeros, y u guio . a e to aruden fi u dudo.
para q le se las cl ela1' n .y de to: nece '''ilan el) sus maY0l'es
0nemi tades, para que I den)' CITa yenenosas on que
lomar yel)O'ana de :ms enemigo.. En el enl ITar TIS cl ifnn-
lo on y::trios 011' si; por qu unos]o licn 11 deo l1'O de uus
mesma casa., lenien lo iempl' n Ioda ]a uca.iOllP. pr 5-
,ente la memoria de]a mUt:lrte; ([li . i c fi esle fin lo hizi-
"en, las Lendrian, in duda mas aju Laclas.
Otros 11 hagueras grandes, n solo qneman los ada-
yel'e, sino juntam nle on 110. quanLo I'0:.eyel'on n
,ida. Y as i lo unos, c mo lo oIro:, c h bl'an Sll excC(ui:ls
por mil 'hu: dias eDil :onl il1l1oS 11anLO.. , inlerJ'ulllpido. con
grandes ])ol'ra hel'a,.
:'iU;\1E110 XLIII

on esto' lndios (le npncillles nrLlnrales.

Es a una mano Locla e La (~ nLilidacl, de buena di posicion,


bien ag sl,ados, y de colar no Lan to Lado como lo elel Bra-
sil, licn n buenos enl ndimi nto., y ra.ra abilidade pal'll.
qualquiera I~OSa. ele mlno. Son Illao o" } de apacible,
naturale , como se experimcntaYa, ao lo que una y 1. no.
.alian aI en uenLro, que eon gro,fi confian:a onversavan,
':omian, y \)('hi<l11 Pontee lOf; nu '.tl'o., . in j<ll1UIS I'rzelarsr.
dr nnfln.
D~1yalJl1()::; :3U:S (asa,' 111(UG YiYir, I'C 'ugiel1l1usG '11os ludo:
juntos '11 una. o do . de l<ts may I' S del 'pueblo.' r e..Oll re-
~ebir infulos agrayJOs Lie nue-Lro' IudlOS amIgos, 51n que
fue:;,e possible 1 evilarlo-, nunca correspondi::tn COIl 111< la:
obra'
Todo lo qual junlu 'OH la poca ali iOIl y mlil::;LI a (lUP
uan della, de Lodu lu lucanl, al 'ullo d SLlS lJioses: pro-
melen gralldes esperanas d qlle si ~ Ie diu,'se Ilolicia
deI ycrc\adero Criador ue Cielo: y lierra, COI1 pl1ca difi-
culLad a\}raprian 'u san la Lev,
:'iUllmO XLI"

1'?'ala-se CI/. cS)lcci((t de /((S cnSLls (te/. lfio, y d' sus I'ulnn[a ..

lla.bla.nclo lw!t;\:;;la aqui ClI getll'ral d(' ludu lu LUt:eUII ' a


este gr3u Rio de la A.mazonas.
Razoll scr y a ir c\esrcn<li 'li lo ell parliculal'<J Llcdaral'
us cntradas, a nOlllhrLr sos pll r\.o', ar rignar l~s ugu,'
de que e alimenla, fle,enLranar ,u liorl'a, eludar ,11S
alLul'as, nolar las [)I'oprieLia 1', cle us l\atioll 'Si y lillal-
mente no dexar cosa, digna de sal 'rs', qIlC ',omu lcstigo
de vi La, y peJ'::;una illlbi;\d~\ de sn ".'lage lacl, a solo a bazer
inclui icion. ele lodo; podr rluiz:\ m jor qe olros ullr ('ou
ba tanLes fundalll nto: razoll ele. lo qne tome a mi rargo.
'No trato a (ui el la rriJl('ipal cnLl"lda de,l Hio por el
mar Oe ano en la cosla, dei gran 1'31';1,; qllC' essa, ha
ya mllcho ti '111[ os, (lU' tom cOllocida, y qll~ cap de-
baxo de la. !inca. Equinocial en 10' ullimo fin' deI
Brasil; es cursada, y abi(1a, de lodos lus ctu quier u na-
vegar aq ueJl~ls parLes.
i tau poco llago mon iOll ue proJlosiLo, Li la por donlle
I Lir::m Lope dr, A~L1irr salio CII frenLe d' la. la Trilluad
por er es 'a Lr,ln '\'crgal, y qLlC dcrerhameut 1I0.e enlra
101' ella a. " lo Rio illo qll' lcnic'n a ol1'o V r madre
principal, d lcwtc ell lance, e virn a dar en l)l'a~os, que
de el deriban sn oriO' n. .
. Solo es mi' inlenlO a ar '11 limpio, seflaJar cumo cor '1
dedo, loda. la::. pnerl.as por dando delas partes d I Peru,
.Jlled~n las muradores de aquella' Conqui' \.a', len r eu-
trad< cierla a e le gral1 !lil: aI qual ramo ya dix por la
una, y oLr3 vanela ele su ribeJ'(Js, lo '0ll111IC.ln a 011'0 Il1LltolLu
numero clt~ olros mny '(ludaI so.', por ClIpS IIITenlp,' .
- lO:.: -

l'l\:l llLliC'1l !:I.' ~iglliL'l'(' llU' \f'nga a dar r', ('Sll jJl"illLiI l:
'ro orno de cie\'lo, \](j. e ~abc d ' que Cillclade~, o l'roYn ia'
ra!at1 "u~ pl'illlcro jJrincipio: nu:::c lJllcdc lan poco (ralar
I.a fija ueo .ns f'nlradas.
P 1'0 potlrl'J'o hazer d ;:J1gun:l ocl1o, L'II que ningull Ycr-
sado 1'11 aqllrlla. liC'ITa~, jJoL1l' dificulta\': Ires de eslas raen
flzia la \anda rl llHIL'\'() !tl'YIIO di' (~ranada, qllc c.l rn e le
Hio I la parll dc1 \1)1'11'; a jn 11e\ :lI\' \ 'remo olra;; qnall'O;
unl1 dr lIa\ ) tiro 1;1 m :'111. lillP:l Eql1illrll'i:lI.

:-;D1CIU1 XLV

lJ,' ln" ('/llrll III' '/11(' (/,1/ fiO/' ri 111/1'1'0 1II'V/lO.

La prim 'n '1lll'ada qur po\' la parle LIli l:ac al ) 11 YO I

Bcyno ti' t;\,an;'lua, p~t tiesl'1t1lirrta pi.ll'a I' [e inl11enso


pinlago (1L' :LgllCls c111LLc., L" PUI' \;\ lJruyjncia de l\Iica,
que 1'rl'll'l1cl'r ai (;oYl~rnat.lo\' dr POI nyan; iauiendu la.
rOlTit'llles tiel gr:m niu Caqu(~l<, qu' S f'1 dneiJo, y seor
d' IlJilas las \'L'\'licnks, qnr. dr pa\'le ele Santa F~ de Bogol'l,
Ti,nal, ~. ,I CrlgU:ll1, " , Ir ali 'gan; mn~' aramado cnlr los
lIalul'<dp:" pUI' la~ gl'andes Pl'Orillcins rir Genlilcs que us-
Irlllau . llS o\'illas.
E.II' Bi lil'1\p 11I1lchos lJr,1I:08 pI r dil( Inda, nacion s, y bol-
yiendnll'. a illcOqlOl';)1' rn pi principal, haze ?Tan mullitud
dr' r Iii:', hal,il(Ji1~ Ioda" dI inflnilo:; Bal'hl1l'llc. Corre siem-
prr por I rumh) dei de las Amaznn3s, acon.paandolo,
alln [ue a ln lal'(I l, y {'citando 01\ el d quando n quando
t1l rTllno!' 11m 'OS, fluepllllipl'a bil'l1 ,('I' cada llUO, L1crpo de
fjualrl.1cl'a oiro 'lndalo o l\in; 11:1 la quI' l' oeriendo toda
:lI. furrt;a, 11 altura ~ qllalro gl'l1r10., pccho por lierra
. It, I'in<ir.
Por 11110 de (' 'los bl'ao~ ljue ma Se aYl~zinda a la Pro-
"inril1 de 10~ \gua:;, d CauL:a hat:'\; e por c10nde e ha de
salir ri gozar l las gl':lI1dcza d nue 11'0 gl'all Rio de las
-\mnona : p rq.uc al que se dexarc lkar de los que mas
.e inrlinan a la yanda del Norte; cuccd Tle 11:1,10 que los anos
passado a1 Capilan Fe1'l1an Perez d Qucsada;que aviendo
entrado por .1.0 lUa eon I.recientos bombrc5, r dc~andosc
lIevll' a la. parle de S~lnll, F, dio en la Provncia. dei
Algoclolla.l, y , n ir L~1.1l l' 'fOl\adQ dI' grnte, lp, fue fucl'ca
rcliran;l' '0[1 mas prjc~:<l (k la. flue ;1\ ia l1e\"1do cn Ja.
entl'ac\a..
- 104-

La s 'gunda jluerla, fJllO por la parto dei Norte podemos


:ealar a este l\io, os por h 'illdacl de l'a 'Lo, jllricticioll ta.!Il-
biell deI GoYiemo de :Popayan, ue donde atrave::;ando la COI'-
tlillera con alO'LulO in 'oH'nipnll'f' de mal can.tino, ue a pie,
tJllC de a ca\"<1110, os impus<:;ilJle llegalltlo aI PlIlul1layu, YI!a-
yegandoJo Rio a,lmxo, se yendrall a, s<1Jir ai ele las .im<lWlll:;
CII alLlU'a de dos gr.lelu::; y mediu, a la' tredellla: y (r iula
legua deI :Pll rLo de Nap. 1'111' e 'te me' 'lllu caminu, :':1-
li 'udo, como li:;.' ue Jp, ciuuad de Pastu, y ]la~sada la Cor-
dillel'a; acel'l:al\do~e a los 'lIcull1biu.', (!lI' estan 110 lUlI)
lcjo' dei llio, lIanwelu Agu<Lrito, por uLro lllllnJ.)I'C Riu deI
01'0, 'e pu 'lll' salir por l'I a r:,tc prillcipal, casi doba:>'/J
de la lillea, ti ri P:'illCipiu dI' la lJi'{ \illcia de lus Ell-
cab llados, que es a las IIO\'ClIla Il'rruas ckl diclllJ pllerlo
ue Na,po.
r esta os la 1l'!'CC'ra Clllraua que Jl)r la parle dp] Xor-
te o pl~ede intentar.
X JIElIO XLVI

Oll'as e/llrue/tls.

La puerta C]ll \ para gran Riu c 't LlrlJaxu li - ln ~:qlli


nocial cae ('11 el Go\"im 110 de lo (luixu " Illas een:ac!,L a
Quito, eu la Ciudau ' los corall ~; de dunde por el rir;
de la Coca, se C()lfC deste IIlCgO la caual prillCijlal deI
nue Lro de las :\ mazol1a, ~i l)icll por la' llluchas coni-
entes que t1'no, hasU1 la CIlt:ofllr(lr::;e con el de Kapo, 110
os tan huena la na\"l'gacion, cOULO .'er~L por las doma par-
Les que pal'tici)J~ln la \"al!da dei SUl".
De las quales, la pl'iill'r<l dI' 10d.L, aUI qn '110 la 111l'jor
es por ]a ciu(hd de _\ "ila ('11 el me. mo (; ,ict'llo de
Quixos, de donde a Iroz jOl'll'ldas por tierra se den ' a dar
en el ri.) I)aYlJYlino, 1'01' doncLl' la Al'!Jlada rOl'tngllesa
sali a lomar I)urlo an la juridil'illJl dr' OlliLo. '
Desemboca r.II:' rio E'1I11'l" L'1 til' Napo,)' I COC'I, eTl aqnel p~l
rujo que llalJ1an las II1I las di' los Hio , a las \"t'inIC Y ('UI 011'-
guas deI Puel'Lo ti -] 1\'apo, ,!p,jor j1ucl'la alJrimos a c ta ne.:
ma armada, para labuella cip ,U Yiaje, qu' no la que aja su-
bida, con mucho Ll'alJtjo, y perdidas, ia de ubierto, que
<,

es por la ciudacl de Archidona, eo la GO\ e1'Jlac.ioll Lambian


de los Quixos, y juridicion de Quito, ele dando a solu UTI dia
de camino, a pi, pO)' ser illYicl'I1o, flue en lienpo de reJ'ano.
- 10:3-
a c.trallo ,- , puuiera CJ.uLlar, uilllUS CII el pUt:rlu de i'a]1 , ftio
caudalo'u, Y 'II quiell 10- v'ziuo' de Lodo alue! goYiornu,
Lienen librado u l 01'0, sacaudo lotlos lu' ano' de -us ul'il-
la~ el 01'0 que n ce siLan para us ga los.
E' muy aba lecid.o de pc~cldn, y su::> rilJera' de C~lt:;l: U
bucna tiel'ras, que agrade<.itlas a poco LrJ.lJajo de lus lal)l';.I.-
dare', rinden colmados fruLos.
Y e te I principal camilJU PUl' uuud e CUll mas WlllUdi-
dado , y menos lrabajos, podr~tlI baxlr ai Hiu e la::> .-\.lllazo-
a todos los que por la' Provincia de Quilo, le qui icren na-
vegal'. Porque aUllque pur all se tlize tiue cerca dei {'ueblo
de Amoalo, que e 'l dicz y ochu laguas de la ci utlacl de Qui Lo,
camino de Rio .Bamba, :1) eull'ada a tlll Riu que sale a esle
pl'illcipal- sinu la impitle algull saltu que haganla' currieu-
les; es IlLUY aprupo:5ito c la bax.ada por vcn' a salir :11 uicl10
Hio, set nta y 'i'lo lagua- lllas auax.o dei Puerlo d> Na[)o:
l:OlI llue se altul'rara lodo eI camino d 10' IJuixos,

.'i i~lJ::llU XLVII,

Glrali cllt('acla8 a elite llia.

Por la parl ' de la Pl'Orill 'ia tle .Uans, llu' cae debax.o de
la mesma juridieion y GoY mu; d cup' sicrJ'tls baxa el Rio
Curaray; 'iguiendo u l'autlal, se puede tambien ~alir ai de.
las Amazona, Oll allul'a d dos grados, cienlo " cinquenta
Icrrna de apo: c1islan ia que esl~l bi II [loblatla ele diferente:
rt<tciunacs.
Yesl3. 'Ia 'elliu1:l eltlrada tle 'sl Hiu.
La oelava y ullima, e jJor 8::1l1Iiago L1c' las .\1011lanas, )'
Provin 'ia ele los Maynas; tierras que nhan uno de los ma~
caudalosus rios, qu > all1e la' Amazonas IribuLall, en ena';
COIl 1l0mb1't~ cl' ~Iara'\on; 'eu su boca, ) Illuellas legu3~
:Illtes, de TUl11buragua.
E.. ,I rio Lal, qu ma' LI II'cei '1I1a' leguas, de uunde ell
quaLru grado' ue agua. cn el Pl'l('ipal SI' rCzdll SLl llJ.rega-
l:ion, a i por ~'U pl'ofunwdacl, rUll10 pur ,U5 prec.ipiLaLla;;
cOITieule ; ma eon la grand nuliL:ias d ' lo' 1I1uchu En r-
J aros qLle su 'tonla ; mayore' uificulLacles allanan los "10S05
d la honra ele Dios, y deI bien el las alma , en busca de la::;
llnales enLr:ll'OJI n el a los principias deI ano d m y si' ian-
lOS)' lr'inla y o 110 elos Heligio,~o:, ele mi l\.eligioll 111 r lo.'
l~
- lOG-
)faynas; (le (luit'nL's lur . IIlUdlllc' ',u'la n que no acaban de
de Clicar" I' cU gl'llndcza, y las illulllerable' Prorin 'ia de
que cada di,) iran leniundo ma 'ore nOlicias. Iunlas e le
Hiu COl1 pj principal de lasj.. mazuna ala duci nla y lreinta
lcgua" tll'l Jlu 'rlo dc Napo.

); ,.\IEHO XL" 11 I.

aio (te lYu}Jo.


Ti 'n , li ol'igen '- te, lanlas rezc~ por mi nombrado !lio tI
~ailt), a \a~ I'alda' dc Ull 1',tralllO qu lIaman d Anlezana,
que cal' diez y cho lcgua ele la ciudau el Quito; y aunque
l<tn yczin a la linea cs de l1lara\'illar, que acci el, como
olroc mnchu', Cju 11 varias Cordill I'as, Ol'onan aqu '!la'
pulJlaeioncs, siefllilr' 'ubiertos ue nie\'e, 'in'cn ti l mplal'
ui calor on que f01',o. aIU 'llle, SCaUIU alirrna ':ln Agu lin, la
loniela zona a\'i~L de llaz ']' aCJlLClla ti l'I'ac: inalJitablcs, qu ,-
dando con este rerrigcl'io, de las mas apaciblc,} y l mpladas
de 1.0110 lo Ilcscubi 'I'lo.
Corre e te Rio de Napo ucsde u nacimicnlO clltr ' !'Tandc'
pena~cos,con queno esna.\'Cgable ha. ta que en 01 pucrto donde
lo' \'ezino de Al'ehiclona licnen la ranchel'ia' de'u lndios,
ma humano,,)' meno~ bulli 'io o, cOl1.ient sobre us hombro
orelinarias 'anoa., cun qu se trLlcrina; y aUI1CJue ele de e te
sitio, ]la!' qualro, o 'inca lp(\'uasno olyidasus humos, IlUmild
luego ha la in orporal'-sc '011 el !tio elela Coca, que e a espa-
cio dI' reiute y cinco legu<1s con mucIlo fondo, y granel scre-
uidad, ofl' ce bucn pa iage a mayores embarcaciones.
Y est la jUllla (lo los Hio cloneI Frunci co de Orella-
lia COI I lo 'uyos, J'abric cl barco com que nal'eg 1ar este
llia d' la Amazona',

~li~lEr.O XLiX.

A [l Ilwlaron ai Capila}1 Palacio.

fjual'ellta y i le 1 gua' UI' la jUl1tas a la yanua d el Snl'


, l.Anle, l'0blacioll que fu d I Capilan .1uan de Palaciof',
llluerto a manos de los nalurales, 'omo ya diximos.
Yala di 'Z 'ochocleslesiliodcBcmlJocaalavandad'J Norll'
'I Hio Aguari o .lJi n 'ollocido, a~si por sn lcm]!I' 111ClIM
- 107-
~~nu, (' lIlO por!'ll 1'0 ([11(' dl'l .1' ..11'n, di' qlll IIJ !1l 1'1 l:lInIJil'll
I1l1mhrl' de I\io drl Oro.
\" CII sn boca tlo la. 1lI1a y la oLr;l Y;lIlda, d;1 prillripio la
graIl ProYincia de lo: EIIcabell;l(lo" que cnlTiOllUO PUI' la
d 1 NorLr r I' mas tlu ri nlo yo 11 nla IegUilS, .r 'Yf)z:l\lllo
~i mpr de la ngua lJu el gt'an Hio d la' Amazonas (''\-
playa por caudalo o' lago'; uesde n pl'imcras 1101 il';;)5
inilllYo anlienL s deseos de ~llg lada cn Loda la jllridi-
ion de Ollito; por la mllLilnti grandn tIo (;enLil ::. ele 11"('
cglit r blada: y de hecho en rarias ocasioncs, ,c cn-
mCI1l;:u a r n l' rOI' ohl'a; si birn L 1I11i111a rn fi Ili' pj
Capilan Juan rl l'aln('jl)s lo inlell1~\'<l, lo ;,nlii) [:lll 111:lI, rom J
ya rimo.
:'iUIEHO L

,j(f1~i, qlle ,l /.1/ .tl'lIlI/{{lb POI'/1Ullli'.'I/, P/,/)/ i'll'i,/ di' {o.'


En r:rt br!Ir,,!ns.

En rsla Proyincia:1 la bocn tI<'1 Hio dr' IIIS El1l'alJellados,


(1'11'.cne yeinl!' l('gn;1. llla:-; ah;lXo ti 1'1 dr' AgII:ll'i!'fl, dOlldl'
('ila lien SLl pl'in ipin, fjncdal'on apie qn 'do pnr (':-;paC'iu dl\
onze mI'. qual' '!lIa Soldados Li la PI I'lllglll'S:l .\rmad:l COJl
ma dr II' i 'nlos Indio' amicr.. di' lus 'l11C' 1I0Ytnan en ,U
ompaiia.
Y aUllqlll' a 11)5 principios 11:Jllaron l1u lia acogicla en los
na Lllt'al s ue la Lierra, y por h1 pag<1 I'('ci l1ian deltos Ir.:
mail I nimicnlos ner . :trio,' no duro por mllcl10 liempo lall-
la onftanca n pec!lo, ri) que ann loelaYia hcrvia la. sana cnn
qne urian d rramarlo la sanrru deI C:lpil:lll Espaol; ~. ramo
('sli por su p~trl , lambien pedia y ncranca conll':1. sus acrl'es-
.0.1'0. ; I' Z 10so cl que e Il' <Iria de c;Uigal' ~11 all'eYi-
mlcnLo, . n pequena II a ion, albol'olaron,)' mal anel Ire:::.
rIr nue 1ros lndio" pu ieron cn arma pal'a derender :-11'
personas, y Urnas,
No sc dcsruyclalon lo }1orLuo-uesc" qne omo mal .nrri-
rios y peol' aco.lumbraclos a ,cmcjallles libcrla.d s de
flldios, ([Lli::;icron lncgo poner pOI' obra. cl C'L Li 0-0 de csla.
Toman las arma, y con sus onlinarios brios, dan an cllos du
lal,uerl ,que eon pocas mucr\ ,cogir\'on Yiras ma, UIl
sesenlas p ['sonas; la qnale lU\'i eOIl pro as I1n, la. qlle
mllol'La. UlllS, y llUyd<ls olras,.no ([urll nillgulla.
])Ilo.lo neLe e Larlo el Porll1(rn 's .qU:HlrOIl, ,\' ql!' ~'i
- IOt; -

plPl'ia COllll'l', \11 :ni:l for~o~clmel1lc 11 llu .. car LI I:l. mallo~


dt, ri cncmign' () si no prl'(,(,cl'. f)ptcl'min::tl'ullIJaz r ('()J'I'(,f'i:u:
la. til'l'r::tad I1lro,~' por rnera, O ri grado r dimir su \'CX:l-:-
(.on. Entraral1 na:, y otros Cjl1 dayau en el R aI, y ::ts I
rsto. tomo aquellos, no de:ayan de el mal stados deI enc-
migo, qu \ \'icndo la u)'aacudi:l a hazCl todo el dano que Ir
era pos-ible' como lo hizo en muchas de las embarc::t iones,
rlc,;l1'o and unas )' haziendo p daos las mas llacas. .
Y no fu eslc rI mayol' dano que de el se recibib, Sll10
rI (jlle SlIS emboscadas rausa,vao contra nuestro IMlioss
degollanelo lo que pudif\ron aver a las manos; si bir.n
j);)9'ar l\l con tres elohlaclas yidrts de lo. suyos la qnr qUl-
la1'011 a los nu stros.
r.asl igo pequeno para lo' ritiorosos que suelen ex utar
los Portugllese. eTI semejantes asos. Llamaron a e. tos
Tnelios con nomhre de Enr.abellados, los pl'imcros E. pa-
noles que los rlescubrieron, por los largos abello qll(,
acsi hombres, como mugrrr. u. an, que a alauroa. les pas an
de las rodilla..
Sus armas son dardos, su habi! cion. casas pagino hecha.
ron cliriosidC1Cl,)' sn. manlenimicnlos los or(lin::trio d loelo J

ri nio. Traen r.unlinl1as guelT3s c.on las naciones c1l'cum zi-


nas. que son los t-ieno , Becabas, Tamas, Chufia., J Rumo.
,,01'1'[,11 cn frente ele c la 1'royineia de los Encabellaelo.
por Ja nnela de I Sur, la dias AYixira.s, Yurusunes, Za-
paras, y Yquilos, qne encerrar! s colre las agua el esl
Rio, y ei de Curar3Y fenecrn. Donde lambion entrambos
se comierlen cn uno, que rs a la.s quarenla Ieg'l13 el lo
[nrabe]]a(los pn rasi elos grauos de aILura.

ruo Tllmbu7'agua.

o henta Ieguas de Curara)' a la. misma "anela, d seU1-


boca el fama o Rio Tumburagua., qne ~'a dixa arriba, ba-
uya por los i\Ta.ynas con llombl'e ele l\Jaranon; huze e re -
peitar d 1 el la Amazonas ele lal suerLe, que con Len-r esle
lodo su caud;)l junto. elctiene aJgunas leguas anLes su ordi-
nario curso, dando lugar a que aCfuel explayado por mas
de nna lef{na de boca, I entre a besar la manu, pagandolc
\10 solo 'el ordinario tribulo que de Loclos obra, sino 011'0
muy ;:J.bunelaT,lte el muchos gen ros (le p sca.dos que h:lsla
la boca. (lrsl c ]lio, no sr ronorrn cn rI dr. la. Amazon:1s.
- 10,1-

.'iDIT:no LI

, senla legllas m:t~ ab< xo d Tumbmao'ua omiena la


Inejor. y ma. dilata<l:t l'l'orin 'ia le qmnlas cm louo esle
gran Rio rnconll'amos, qll C'. la (le lo. AgiLa, lIamado.
ronmnntr Om:JCTaL, improprio nombrr. qn le$ po~ieron,
f{nil:tnclol s ri nali\'ll ; )' ajustado a 11 habilarion, f1U r. a
la pari de:t fuera, qne P, Lo qu i ro dezir AgaL'
Tirnr r.la Proril\cia dr longilnrl mas d ducienlas I -
g{l:JS, ronlimlamlos sns pnhlaeionr., lan amclludo, Cflw
:lpena. SP pi rele llna do yi:la, quando y:t e de cubrr
otra. Su ancllllr:t es ai pare 01' ]Joca, pues no pa sa de l:\.
que liene el Hin, rn ruyas r las que on llluehas, .r algunas
mny gr:Jnclcs, lienen .11 habilac.ion; pera eon icl ranelo, oue
IDeia., o ('.lan poblal1as, o culli\'::lila' por lo meno para 01
slIslen I o IIrslo. llaI1ll'a!Cs, e podril hazor conceplo de los
mucilos lnrlios CJu en lan cUl1lplida, rli.lancia so alimentan.
E~ r la grnlo la demas razon, y m .ior gohierno que ar en
loelo rI Hill: ganallr,i:t qn le: grallgearon lodos lo. qu. dellos
r, 11l"icron llr paz no lJa mu 'hos anos 'n 01 (Jo"j rno de los
QlIlXO, . de dunllr l bligarlo. elel mallralamienlo que. eles
hazia,. ( elrxaron Y<'nir el Bio il\):1:\O, hasla rnconlrar con la
fnerp dr I . elo. U l':1cion; y inlroclucienrJo pn eUos algo de
I que a"ian aprrndidn d lo~ E.paol-s, lespusicron cn al-
gllna policia.
Aocl:1n lodos on r1 (' ncia Y<' lidos, as i hombres, como
mU l1 eres, las qualrL drl mucho :llgoclon qu uILi"an lexen
no sol la rapa que 11an m no ler, sino olra mucha qu
lo irre de I ralo para la. Naci ne yczinas, qne con razon
codician el lrabajo de tan sntil s I rxedoras: hazen panos
mu)' "i to. os, no solo loxidos dE' diY rsos colores, sino pinta-
elos con estes mismos lan sulilmenle, rjne apella se distin-
gue lo uno rle lo 011'0.
San lan sugel.os y ob dient s a, u principales Caziqu s,
que no han mene ter mas oe una pIabra para "er luego exf'-
eul.ado lo que ordena.n. _
Son lodo de cabea chata, que le causa ealdad en -los
varones; si bien las mugeres mejor lo encubren con el mu-
cho cabei lo; y est en eUos 1.an entablado el uso de lener
lasr,:lbcCas apla~ta,r1as, que deql qne nrtcen la c.riatl1ras,
se l:Js ITlrirll rn prrnsD, fogiendolrs P()l' la frente con una,
- 110-

LabIa peqnena, .r por la parlo dei ccl 'bl'O '1l1I ull'a lall gr:~II
rI ,clu sil'riendo de cui'ta, i' eib' lall ) 'i c!lel'po deI 1'01'1011
na. io '-el f[ml pue lo li espalda, ollro psla, y apreLado
1

fuerLcmenle con la oLr~, queda con el celebro y la fI' nLe


Lan lIano com la palma de la mano; y ,amo e, Las a-
preluras lia elan lugar a lue la abe.a '['ozca mas que
por los latias, \"iene a tlospl'oporcionar<: : tleman ra, que
mas parece mitra ele Obi p mal formada, que cabea de
persolla.
Tienon por La una, y oulra. Y:li1lh li 1Hio 'onlinua: gll 1'-
ra con la rroYincia o:lrana, que por la elel 1Ii' enLre
oLros, san los Curina" lan Lo, en Hum 1'0, qlle no ,01
se eleHenelen por la parLe clel Rio, ele la infiniLa mnllidud de
lo Agas, sino que junlamenLe :u::;L nLan la armas conLra
las dema nacione., que por la parle de Li rra le dan conli-
nua baLel'ia.
l)or la yanda deI NOl'Le, Lienen . Los ..\O'as por onlrarios
a los Tecnna . que egun buenDs infol'luaeion ", no san
menos, ni ele meno" bl'.ios que los Cnrill:ls, pu S laml iell
SIl lenLan guerra a lo, conLrario que Liencn por la lierl'a
adenlro.
i'i '~IEna UI

Uso de los eselcbvo$ fj!be CCbulivebn.


De los e clayos qu e.los .\.O'lW cauLiyan em suo hal.al1Ds,
se inen para .lodo lo (Iue han ffirnrsL r, colranr101 s Lanlo
amor, que comen con '!los en un p1alo, y traLar1 s ue que
los yeodan s a;) que lo sienlen mucllo como por xpe-
riencia lo" yimos CD m~clas 'c'tsion : 11e Tayamo a un
pueblo deslos India , J' cebianllos, no solo de paz, ino con
d~na , y mucsLl'a c1 grctnde l'egocijo; ofr cian pLanLo
lenian pal'a nue Iro su lenlo, eon gl'an lib 'raliclall. Compl'a-
,anseIe pilnos texidos, y labrac1os, que on yo!unl:lCl dayall;
tratava eles de venta de las c.anoa , que san us cahallos
ligera en que andan, aI punIa salian a can ierLo. P 1'0 ('[\
nombrandoles esclayas, y apreLandoles a que Ir)" veudiessen,
hoe Op1.bS, h'ie labor esl, aqui era rI descompadraI' aqui cl
entri Leccrse, aqui las traza cle encnhl'irlo , y aqui el pro-
curarse a(ar tIe Ilue lras mano,: mueslras cierlas de que
mas lo, sliman a 0105 cllos, y mas ienlen el ycnclrrlos
que (lcsllnerse de 10(\01 d m:1S quI' (ln. scrn.
- lU-

r -udor los lndio

i\:C~IEI\O LIli

S il io lho em q lle se Jlod/'(( cogel' li' i!Jo.


A la ci n 1 gua poea ma, o m nos, c1 la pl'im:era
pobla -joll ,ti Lo::;.\ gL1'l (quc aen LI' , arado de la Equi-
no ial) . yj ne a cr Il ell'in 11 de la clilala llrovincia lIe-
gamo a UI1 pu blo, dond e.Luyimo' LI" dia., con Lan buell
frio, CJu lo' naeidos y criado en la ma frias de E pana,
lIUYimos meneslel' anadir ropa a la l'c1inaria.
C::msomc admiracion, l11uc\an,a Ln rcp nlina ]0 temple.,
Y ]1l'cgunlrulllo a los natural :,:i aquol111 'ra. co a. exLraorcli-
lla.ria n l1qllclla. polJla ion, m - as 'cgUl'elron que no, porquo
lodo, lo ano o pa -io ti Ir tuna" JUc a i cuenlan lIo,
y os I mi. m que d'zir lres mese , C~l)l'iD1cnlaYan loelo
Jos aioo:, a lullos frio" quo conforme lo quc -1\0 afirma-
mil, 011 lo. ti .lunio, Juli ,y Aaf),IO.
11 'i

Pel'O \'0 auu 110 bi~ll sali 'I'edw de 'U dit:llU, Llui 'e CUIl
lllas [ulldameuto hazcr inquisicion <le la cau 'a de Urio
tan penetrante; y baIle qu~ ~o era Wla grau 'ie~'J'a" o lHlraInO,
que a la vanda dei SUl' la tICl'l'LL adentro \st~ SI lua la por
la lual pas~an todos aquello Irc me o',los YI~lltos, y hoLa-
dos con Ia fuerca de la llieve <le que la culJlcrla, causan
tales 'feto' en la licrl'a CirCLlil\'czin~l.
Y sicn<lo e to a i, no ay uuda. sino qne ell C3le siLio
,e darilUu)" bncll trigo, y loda la dema' s Imi~la " " frulas
que produze la comar 'a de Quito, quc aunque sItuada deba-
xo ele la liuoa, semejautes 'l)'i' 's, passados por 11o\'ados cer-
ras, la !labi!ilan ~L lales mara,yiLlas.
,,')IEI\O UI'.

llio PllILW/[~!JO, '!J nacioltes IjLLe en d, eII Yt;la 1I!J.


\

Diez y seis leguas desta lJobla 'iulle a la Yiluda ue!


Norte desemboca el gran Rio l'utulUayo,biell cono(jidu cn
oL Govi 'mo de Popayan, por scr Lan caud~lloso, que anLes de
de 'aauar en el de las .~milZ lia', cntrall Cll 1 treinla
caudalosos rio; llamanle lo natural ' en esle par~l.ie,
Deciend de la Conlill ras ue Pa 'lu azia 1 nu I'U
Reyno dc Granada.; tiene mucho oro, Y clTun no, aJirma-
ron est. muy poblaclo ele G'n Iile , a wya cau '<1. 'e rcl i-
1'arOll con ~llguna percliua lu' E.pai1oles qU) por 1 ba-
~aron pacos anos lia. Los nombre (lc las 11royill ias que l
lla])i Lan, san Yurunas, Guaraic , )'a 'ariguar:.l " l)~ll'ialla.;,
Ziyus, Atua.is, Cuna , y lo que lUas a II prin 'ipios duna,
otm "anda, como enorc desle Rio, I' pucblan, san lo'
Omaga , a quicnc los Agas da I 'la llaman Ollwga8!Jcl
que quire c1ezir Omaga YCl'uadcros,
A las cinquenta. lcguas ue (' 'la boca., a la parle CUII-
Iraria, encontramo la d' ULl hermo 'o, y, caudaloso !tiu,
que t1'a)'enc1o su origen ele ~Lzia. el CUZCO, fcncze 'n cl
de las Amazonas ell altura eL Lrc' grados Y lllediu, Lla-
moule los naturales Yeta, y [iene entre ollo mucho nOlll-
bre, as 'i por sus riqueza como por la mullilud de naciones
que suslenta, como son lo Tipl1uas, (Juanaru', Ozuana ,
Mamas, Naunas, Conomomas, Marianas. y lo ultimas que
mas se ayczindan a los ]~spai'ioles ljue pueblall cl l'cru,
san los Oruagilas, que dizen que 'UII gen le l'iql1is ima de
oro, que tl'llen CIl grandes 1 Lan '!las, pCl1llicnlcs etc la~ 0-
- 113-
Ol'cja y nal'zes; y . j no me ngana mi discurso seguu lo
que lei en la historia deI tirano Lopes de Aguirre; esta
era la Provincia de los Omaguas, en cU'O descubrimiento
iva Pedro de 01' ua inviarlo deI Virre; deI Peru por las
mucha noti ias que de li averes a"ia publicado la fama.
Vel'o el no encontrar on ella, nacio ele que tomando su
I.'ntrada pOI' un bl'a o ue rio que sale algunas legll:ls ma~
alJaxo, quantia <lesemboc6 en 01 ele las Amazonas, ya que
damo c ta: nciones lan arriba, que le fue impossible el
"o1\"er a elIa rezelo,o dei impetu de las corrientc , y
pl'inl~ipalmente por el p o gu to con que ya us oIdado,
litu\'eava.n. Es e Le rio de YeLa(i), mui abundante d
pesca y caa, y qne segua las infol'mciones ele sus mo-
radore', se plledo na"errar por el con fa ilidaele, por ,er
de :;u/liri nlc fondo, y la c rl'iente' morleradas.

XDlETIO LV.

(r'ill ele c P,'oll:Hcia (te lo' AUI/C/s, Y I'io del Cn=co.

,'iylti nun I cur~o de nuestro riu principal, dimo a las


calol'e I guas en la ullima poblacil)n desta. dilatada pro-
\fineia dc los guas (2), que fene e con un lugar mu)'
populo.'o, e rl mu -h05 soldados; enfio amo primera
fucra qu" por e t parte re. Lte eL impetu de us con-
trario . De los qualc en e, pa ia ue cinqoenl.n y quatro
Icgua" ninaullo pueblan la ribera deI Rio, de suerte
IJue dei c de yista a sus ran harias, ma alao retirado
a dentro' en la tierra-firm , paI' peqneiios brallelos, salen
a 1m cal' dei Jo que nec ssitan. Estas san cn la banda
!lei norte los CUl'is y GuaFaba , y en la deI ur, Cachi-
guars y Tucuriys. Pera aunque como igo, no podimos
rlar vi 'la a estas nacione,;, diruo la a la boca deI rio, que
con razon le poel mos lIamar deI Cuzco, pncs segun un
regimiento desta navegacion, que vi de, Francisco de Ol'el-
lana, est. norte sur con la misma cidade de Cmco.
Entra en el de la Amazonas en cinco grados de altura.,
Y ft las veinte y quatro leguas deI uLtimo pueblo de los Agnas:

II) Acfunlmento chamaso <'~tc rin-Iliural,y ou Jutahy. .


2),\ nilDo lIo~ A[{as u Omagas Na pcles Porluguozcs rr,l1bcJ'l(l ! o.
rlllnr,l'J(lS.
13
Ham,()n~e los l1a1.ul'ales Yura(l), e~::i JHl1)" puLI,J,ll <le Honte.
flue poria randa de la mano derecha, entran:o por 'I ar-
riba, no es otro sino la que yo dixe habitava las riberas rll~
'Yetau, que tenuiendoso hasta sos orillas, queria como
aislada outre entl'(lmbos rio~. Y esle es por donde I'eciro
de Orsua 19ax ele1 Peru, si mi f31\1:asia no me f'ngana,

.\l'}lEnO 1.r1.

V"einle e 0'110 Joaua:' lHa -ab::lxl) dei Rio i"llI'a, a la


mOSllla vanela rlel ,ur,
ell tieJ'l'a' de mui a.llas ba,lTant;<Js
r\;'l principio ta lIluy poblaela nacil)n de IOR CUl'LlzirarL (21)
que siglJionclo ..;empre llna riber;l curro-por l'spac,i r1cochen-
ta leguas, lan cootinu:uliJ::i 11 pohlaciollcs, qne apen:l.'
~ pa saran quatro hOl'as, sin eneonLral' outras dr nu \'(l, .r
;i vezes por e.:pal~ia de meclio dia 6nterlJ no cs ';lr;UHIJ~
de m.iral' sus 1':.I.llcheria. jloslas, la.. mas hal1ar:tmo. :ill
genle que con nUC()$ falsas de que ,'oniamos de:otruyellllu,
mata ndo, y cautivando; ca-i todo' o ta van retirados a lo~
montes, ruera ele que ellos SOU cio sUIO de natnralos ma:
esquivos que outro' Ilingunos tleRlo rio, Ri bien 110 l11ue;'-
l,ran menos guYierno y policia, l' - gun se och de Y r. ::lSl'i
por los muchos malllenilfiientos de que e '\a,\',\11 pl'(wenido. :
00mo tambiell por las alajas de sus casa.s, que pa,ra el bone-
licio de las cosas locanle ala, vida, el'illl de las lUejol'c~
de todo ui rio, Tjenell Oll las barrallcas donde morall IllU}
buen ba.ITo para todo o geIlero de basijas, e a.pro\'c 'handose
dei, fabrican grandes olleri3.s, 011 que labran tinajas, olla.',
110l'no en que GllUZCn SU' h:l.l'illas, Cuczelas, jarros, Ji-
bl'illos, )' hasta s,tl'tenc:'i lJien fUl'nla.das; ienienc10 lodo es-
1,1) pro"enido para I.r(ll;), mmun de las demas naciollc:,
que ohliga.f1as de la J\eccs5id<lrJ, 'qn' cle esla.. aCllcras J)a~
s:tn en SllS "iorras, ViOJICIl a h,)'zl'l' gl'and '. I'argazones de
ellos, reeibicndo por parra las_ co. as de que 0110.. neLes. i-
tan. A la prirnera alrlea rle est;) nadon viuiendo rio abajo,
Ilamaroll los Portugllzes;1 );) subid(l, la Ateto(~ dcf. 0)'0 (:l),

lIi Arlualmcnlo rh;lIua-~e eslc rio -Un"ua QU luru" ,


I:!J \maZflllfJ 1l~) fif'U l);cri,w""io chan ;I--;'~ C,o'lJc.i<tui.
!;ll Em fl'('tltl' ;t n t'onul rlo rin .raptlni. dCll(llnin.,rln ';mlIunJ',i.
- 115-

\lU)' ver' lJallauu eu ella y l'e~I'<llal.1o ut:gulI , quI:.' eu P!;:lJ1-


chas pequena.. tl'aall los Intlio' pndielltes de las narizb
y oreja'; que el1 Quito ~e pi'UV y hall ser de "einte y
LUI quiJa.:e" mocho de ello.
Como los naLllrales vieron ht codicia de lo soldados y
que tau a pechos se tunlal a d huzer djligen 'ia para qu"e
les tra'yes~ell mas de aqu lla' p1anchillas, luego las re-
('ogieron todas, ~jn que mas pare/ie '.. e nrlglllla; lo ql'131
llbst:rl'at'oll tambi 11 a la 'bueHa. Desuerte, que aunque
vimos TIllIchus Illdio , solo UIlO Lrajo do orejera:; fie oro,
biefi pequenas, que,ro lu rcscat...

Jfillus de 0)'0.

!\l\ se pudo a I:.r subida l~e b anll.aLla :l 'criguar COlJ


fuudalllC1Jtu cosa alguJI;l de quaIJtas ~e encolJtraron 'Il
c"le rio, porque jama' tmiel' n lenguas, to1\ quiene hazei'
la inqui icion; )' si de algo les parec.i a los POl'tugue ('s,
4ue podian dar razon, 'J'an de lo que por senas aYian en-
Lendido; la. qnales eran tan incerta., que cada uno las
aplica I'a 3. lo que' leuia en su )JensamienLo. Todo lo qual
cess a la bueHa, qucriendo nu tro Seior favorecer a
c La, jomacla, COlI preveniria de ol'dilllro de buenos l0n-
~uas, paI' uledio de los 4uales, se al'erigu Lodo lo que
s contiene en e t~\. rdacion. La que a. mi me di 'I'on de
las minas de cluude se sacava esle oro, e' la que aqui dlr('.
En frenle de e~La alde::t algo mas arriba a l "a.u-
da d 'elllortc, enLra UIl rio l1amado Yurupazi(t), subjen-
do por el qual, y aln ves~ ndo eu cierlo parage por Lier-
ra tre, tlia de camino IUI:'-!;) Ilegal' a oLro que 5e lIama
YUpL1l'., por e1 se enlra. l'U el Yquiari(2) que es ('1 rio' dei
Oro, donde de el pi6 de UDa 'iel'l'a. que alli est, le
liat:an los naturales ell grallde calltid'lU; y Le oro, Lodo
cs en puuLa' e granas de buen tamai1o, de lo quale "
forman a fuera de batidu, las planchas que y:t diximo:;
cuelgan de ltls arejas, y nal'iz(~s.
Los llaLuralcs qne conlra tan cun los que sacan e~ r('

(-I) Tall'Oz o rio r.u.p'ri, amu~nf~ do ril) ':-Il'gr(l,


(Q) 'OIllC inrligcna (11) rio 1\l'gl'O,
- IlII -

01'0, ,e Ilam::w }[flilnglL (l), ~. lus mi. mos que kdlilall


pl rio y se oecupall en saccal'lo, Yumagual'is, Cjllf'
quiel'B dezi)' s<I.cadores de melaI; porque YU.rJlCb, es
cl meLal, y GWtl'i", los que lo sa aIl, y lIaman todo
genero d~ melalas con este TI mbl'e general de ynnw;
y a i para qualquiera berra.mienta de la nucsLras I

como eran hachas, maclletes, y cuclJillos, usavan deste


mismo vocabulo ywnct. Dificullosa parece la entrad1l
a estas minas por los inconvenientes que muestra. en mudaI'
rios y abrjr caminos por tierra; y assi 110 me sali fice hasta
df'. enbrir otra mui mas facjl, y ele que ~delanLe c1iro~10S.

NU1\IERO LVl11.

Usan 01'pjas, Y 'lta/i.3'es (/,[/uje1'Clttrt,q.

Estan esLos barbaras desnudos todos, a. si 11Ombre.,


como mugeres, in que les sirva su riqueza ele mas qUI]
de un pequeno atavjo,' con que adornan arejas y nal'ize:,
que casi todos tieneu agujeradas; y en las areja lo ;1,-
fectao tanlo, que a muchos le cabe todo el puno por el
agujero que eo la parte de abaxo, donde 'luelen]1 oder
los zarcillos; tienen, trayendolc de orclinario ocupado,
coo uo mazo de ajustadas ojas que eo el por gala acos-
tumbrao,
PaI' la, vanda de 110 freot de todas estas poblacione:'
alLas, es tierra Uena, a uoa mano, y tan cerrada, a,.si dr.
oll'os rios, como de los bra.os que el CaqueL (2) tiende por
SllS orillas, que aislada en grandes lagos corre [for mucha.
legnas, hasta que todos encorporado eD el ltio Negro se
junta con (lI principal. EsLan pobl<l.da esl.as isIas de machas
naciones. I ero la que mas se esLiende por for mas popnlosa,
os la r1 e lo, Znanas.
GMF.RO LlX.

Enl1"culcb (6 tas nviwts dal 01'0.


Cal.or~e leguas desta aldea que llamamos deI Or'o a

(I) Corrupr.o do nome dos Indios-.lftll";a., que lJabitlll'HO as margens do ria


Neg-ro.
(2) !'Iomr rlue IlS Imlio~ (Ia Amori"i\ Huspanhola der,iO ;H) rio ;npul'ii 011
fllllpllra,
- Jli-

la r:l\Ida dC'llllll'\C, le la IJuc<1 J 'I riu \llpllr:l( II, }llC '~


po!' d ml':,e oL\'a eo e1 Jl 01' ' Y esla c~ la mas cierl a
y derec.lla ntralla para CaD br reda'l Ilegal' a dar \ i La
a la tierra que Lau libe!'al oErec u Lesoro., Es la altura
ele la loca de.le rio de (los graelo , y m dio; como tambien
ele la una poblacion, que quaJro leaua ma abaxo, Gil la
"anda fi 1 Bur, ' .iluada obre una grande banal}f.a,
aI d em borar de un caudaloso, . hro rio que lo naLma-
le' lIaman Tapi (2) ; Y Liene eo us ri"era' mu(;lia mllltitud
de l; nli1e' que llaman Paguaoa" Bon Loda la' Lierras,
que omo dixe, 101' e~pacio de o henLa 1eguas ocupa e,ta
na 'ion de lo. Cll!'uzirari ; D1uy alta, d linda eampi-
na , y yerhas para ganados; arboledas no muy cerrada,
abundanle::- lagos, y que pl'ometen mu has y Jmena GO-
m(lrlidadrs il los que la p blaren.
1'\ 'MEIIO LX.

La.[JO dO/,(l,do.

V inl.r y s is legnas deI rio Til1 i de aGua en el de las


Amazona el Calu (3); que fonmndo n la J oca un grande
lago Ll agua verde, trae el u oriaen de muc.ha legua,
la lierra a denLro a la vanela el1 UI', lan pobladas sus
ol'illa~ de barbara, como Lodos lo d 'ma . Si bien le haze
I'enlaja n mullitud de nacione:: eli\'el'sa , oLro rio, que
coo nombre ele Aracranaluba (4.), ei leguls mas abaxo,
,ai a.la parle deI norte, por el QULl .lambien e omunic~l
cl YupUl'a, d crue arriba traLamo. Llaman e e la na-
r,iODCS: Yagllanais, Ml1cul1es, ~Japiarl , Aguayna , Hui-
rona " Mariras, Yamoras, Ter<ll' , Signiyas, GuanapuriB,
llira, Mopitirns, Yguaranis Aturiari, Maeagua, M::l. i-
pias, Gua 'acaris, Andura , Cilguaras Mal'::lymumas y Gua-
nibi "
Entre est:ls nacione , qu todas son de diferente lenguas,
'egun la, noLi ias, que por la parle dei nuevo Reyno de Gra-
nada a,y, e t el de 'eado Lrl,go dOl'ado que tan inquieto Liene
los animos ele toda la gente de~ Per. No lo afirmo de cierLo,

(I) Hoj ,Iapur~.


(2) Actuall11enle l '111 o nomo de TrfTl!.
(:l) Consorvn aindll o nome.
. (~! Bc 11111 c1()~ IJI'II"OS do gl'anrlr rl('lIa rlll ,lnpuNi, "onlH'rirlo pr'lo nonH' ri ..
rUPCIj;'.
- Ii!:!-

pel'O algull Jia quier<1 ,UiLl': li ue ~all-':3.m' IS de~t:t pl~I'[Jle:\iJ:uj .


.>orque 00 I t aya con ,( nonll1l' ' de un rio que sale a la valida
dei none, diez y ei ieguas de A.r~lgaoatuba, y s> llama comu
cl, o deve dvertir que cntrambo a c10-: :on uno m's no, que
por dus distinto brao:> de un lIombrp clesagua en eJ de la"
Amazonas. Y a la vei~lle y Jns legua' cL!"te brac;o ultimo,
da fin 1:1 populosa y dca nacion de los Cnruzil'arif' I pobla-
dores de uno de los mejorc migajones d' tiorl'a, que CIl
tod) este gran rio encontramo,

P"OlJirt~'ia de YtJl'illl~11l : I .

Dos leguas n11s abax:o, CUll1\CIH,'.:! la mas nomlmub, r


belicosa nacion de todo 01 Hio de la: Amazonos, Y coo
quienes el1 BUS ]lJ'ill1cra:; entrada', atcmol'i:I,rl,\'3.11 a to-
ela l::t. armada POl'tugue.'a" que e-' la ue YOl'iman. E 'ti a
la b:lOda uel SLlr, ocupando, 110 sulo la til'l'afil'ltle de . L1S
Ol'iltas, sino ta,mbien mu 'ha parte de :n' I~h': y :Wl1QlllJ
de longitude se e 'C ha 'o pocas ma, de sO.ellla lcouas,
como se apro\'eclta de LJs i 'Ias, e tierralil'l1le'ta tan :0-
brada de gente, que eH parte nillguna vimos jUllto' ma.s
barbaro ([ue en ella. San olill\m~lILc mas J ien arre~tad 5,
y de mejore:,; talles que los otl'O:; auda!1 de'nullo conw
ello ; y e cha de ver que (ian Je su "alol', pue' COIl
gl'an segllridad erllravan y salian enl.r(~ I ' !lU 'sLru:,' vi-
niendo cada tlia al Real, ma: !lc dl1ci lIta 'anoa: 'argada~
de ninas y mujere'; con fruta', pc r:arlos, hal'ill:L' y oLras
'o as, que eOIl abala.rio ,aguj,l y enchii1o~ se le' rr.~cilta
van. E't. 1:1 primera pobladon de'ta pro\'incia, ,ituada
sobre la boca de UIl rio cristalino, que llluestra. er mu}'
caudalos , por la granrle fuer<l COIl qne impele las agua,
dei principal (2), E.tari sin duda corno todos lu' dema:,
sustentanclo en sus ribera~ otra inumer,lblcs nacione:" de
que no supimls los nombrcs, por caminar de p~l so por
8U boca.

(I) Desto nomn t1zoriio os Porlll~IICWS Sori...o C fieI' i~ So/im').. , '.'0111 fllll' 11"
r"'nh~ollo o rio Al1loz-nI1U< ent/'(' Mani.Os ~ Tabalin>(u.
(:', TAII''''l F:gou,
-~ 110-

:-;DfEIW LXII.

TiI1 pu.eblo (le' meLi; de IIIUI, lc.qlLa. de /.argo,

reinle .' dos Icguas cle la primera poblacin de IOl'i-


man. !.iene su siLio 1;1 mayol' qu' cn todo el rio encontra-
IflO,. nCllpand .. u' a a ma;;; duna legua de largo, .r
no vi\' '11 c:1.0a casa una "ola. familia, como de ordinarill
:'llcedc en nue Ira Espaa, sino que las meno" que dc-
baxo ri. cada lCtiho ~e ustentan ,on quatro, o cinco, y
Inuchas "ez'- lllas: de rlond ~e podr;t colegir la. mulLi-
Ind d' ,010 este puelJlo(I); 1:'1 qual paciLico en $U, ca.LlS
1l11,S aguarcli') :-in faltar pel'i'olla della~; danclonos tocio los
IlIantenimiclltos qu 111I"il11o,;; men '5I.er, de que ya el ex-
fll'ci!. Ilf'tiest'ilava, Aqui C.llIViil10S cinco dias, y en ellos
se hizior n lJara. maLalolaje, pas~,a la de fIuinienta fanegas
d harina de man(lioca, on qlle hmo que comer para
torlo lo re~tanLe dei camino. lUc prosiguimos, topando
IllU," a ln 'l1llt!o poblaciones desta mesma n.teion, Pera don-
eI' a si, le junLa la mrtyol' fllel'a delta, os treinta legul,
ma abaxo en una grande Ua. cerpda de un brao que arro
.ia clrio priocipal, en bu"c:t de 01.1'0 que le "iene . pagar ll'i-
buL : .Y junl.amente por las ribera de I.e nuevo guespe.d.
donde 'on tanLo" e:;tus n<ltllrale~, l/ue eon razoo, aunqufI
110 ea ma~ que por su llIultitud .. on temidos, y 1'13 peta-
do~ ti lodo::' lo: rlClna.
~nllmo I,XIII.

Ri,o (le los Gi.gantei;.


l)il~Z !egllas <.tdel:lIILe dei jLio referido. cl fin la Pro-
vncia (le \' uriman; y pa..: aoas o tras do" desemboca a la
\'anda. dei. U!', UIl famoso rio, que los Tndios llaman Cu-
(~higuarit '2). Es navegarei, aUIlC(uc en parLes con algllnas
pierlras: tiene llIucho pe cada O'ran suma de Lorl.ugas, abun-
I

rl:lncia ri) ma.iz y mandioca; y todo lo neee 'sario para faci-


litar u enll'ac\a. R:t.~t poblado c te rio de varias f1aciones,
qn \ eomcnanrlo por Sll hoea, y pro:ignendo por el ar-
riha, :lln las Siglli nl,c... .

(lJ I'ro"i\\'clnCllIC a Illll"on"Jo hoje IIOllominarln r.oaJ'Y,


''2) rn''''nl~1ll1'llt~ nst~ rio '111' I'Oi11wr'iri(\ 111'1n Ilc-r,,;'., 1;, nSCI'I'i1 o nome til'
r 1I.1'/II(1rt1 LI srg'llnrftl IllV'jl, il m.,i~ I rrir){'ntnl (lo rio l'llTS.
- J'20 -

Lu::; CuclJiguara::;, 'Iue IUlIlall 01 11lL'::iIIlU 1I11I11Lr'~ deI riu;


CUllla -ari-', Gua luiaris, Cuyariyayana ,Cul'lleuru " I)ual:m 'j~,
Mulnani ; y por l1n y remate, elo lodo~ estan Jos Curi-
guers, que. egun las inrormacion s, de los que los a"ian
vislo, y que ~e orrecian a llevamos ii ~u ljerra, san Giganle~
de diez y . eis palmQs de altura, may yalienlc ; a.ndun de,,-
nudos, lraen grande paLenas de oro en las areja:, y narizes,
y para ilegal' a sus pueblos san nccessarios <lo' lI10ses COIl-
linuos de camino de de la boca uel Cuchignar.
Por el de las Amazonas abaxo, ala "anda uel .ur, cOlTeu
los Caripuns y Znri II ai':. , genLe la mas eurio,a que ayen
lodo el, en labrar dn mal10S, sin ma' herrami nta , que
la que :\ITiba dix ; hazcn banco fUljado en forma ue
~lllimaJe~, con Laolo J}l'ill1or, y tall :l1oInodac1o. para lener
'I ca rpo con de canso, que ni Ja eumodie1;lll, ui cl lIlg'C'nio,
lo plldiel'a fingir mejores.
Labran l:' Lolica.. , que <:on 'u~ arma:, 11e palas nlU - vi:-
lo os tan c[rlicaclam 'nte, que con razon las codiciall I(I~
clemas nacione.. Y lu que ma (JS, ':Jean de um 1.0. o leilu
un idolillo tan aI IlLll 1lral, que lnvi ran bien que aprender
dellos, llluchos de nueslros esc!!llore. 'Y no solo les son
todas e.las obra de cnll'elenimenlo, y omodiclacl pf'Opria"
sino La.mbiell tle nmcho pro\'ccho, bailando a l[ueque 11ell~l~
enlre los elemas loelo lo que han rn ne ter.
::'\U111~1{Q LXIY.

lho Hnsw'w', '!J sns Iwcio)ws.


Tl'eillLa y du leguas de donde ti 'aaua e 'te riu Lu 'iJi-
guar lo haze lambien, a la vanua deI norte olro, eOIl
nombre entre los n::orales, de BaslH'LH'(') CjU llividido la
tierr a den lro en grande laaos, la liene loela partida en
l1luchas islac, las quales loda pucblan inrtniLas naciones.
San ti erra ,allas, y que nun a se anegan, por majol'c.
inundacione que aya: muy ferLiles de maolenimienlos
assi ele maizes, mandioca y frula corno tambien de cazaf>,
y pe cad os, COIl que los naturales viven harlos, J se mul-
liplican cada dia ma ,

(I) E te rio lenl hoje o nOlJle (lo TJIll'urun.


O autor ngnnoll-Re dizendo qUI) rUe cleSCI.Il!JOl'il (leil1la cio r'iO [\c1OI'O, qUfindo
he o conlrMin, ])oi. l111r 11 ~1'\1 rl1'8ilgn(1(lnr hr o rip r-)lill1lnnn _11',1\1(11(" 'II H' ,i1he
cio lOgo SnI'lIC,;,
- 12i

JJamans en gencl'al todas las na~ione::; que habilan este


ilatado sitio, Cal abn)'aua; y eu particular las Proyincia
'n que estan dividido, ou la igui ntes: Caraguana,
Pocoanas, Urayaris, Masucaruanas, Quererus, Cotacariana ,
loacaranas, Ororupiana, Quinarupiana, Tuinamainas,
Al'agllanayna ,Mariguyauas, Yaribarus, Yarucaguacu., Cu-
maururua"anas, y Curuanari .
'zan e tes Jndio de arco y fiechtl: ay entre algunos de110.
herramienta de yerro; como 011 l1a.chas, machete" podo-
ne y cuchiUo : y preguntando con cuydado por los ]en-
gua, de donde le' vienen; re ponden, que las compran
de lo natural e que por aqllella parte e~tan ma cerea-
no ai mar, a lo quale ,e la dan unos hombres bra.n-
cos como no otros, que usan nuestra me mas armas, e -
padas r a.r a.buz , que en la co ta de] mar I ienen li
habitacion; y que 010 e di tinguen de no otro en el ca-
bcllo que a una. mano le Li nen todos amarello; ena
ba lante para poder colIITir eon claridad, san los Olan-
dezes, que zia la boea dei rio Dulce (1), o el de FeUp (2),
ha dia Lien n tomada po ess10n.
Y el ano le treillla y ocuo, di ron eOIl fuera de gente
el1 la Gu 'aoa, jurldi 'iou d I nuevo Reyno de Granada,
y no 010 se apoderaron della, sino que fu t('Ln de im-
provi. o, que no podiendo lo' nuestros sa ar e1 Sanlis imo
Sacramento, qued cautiYo eu poder de sus enemigo~.
que como sabian quan limada e's e ta, I r nela ntrc los
eatholicos,. peravan grand r~scaLe por ella: el que 'e
les aparejava quando alimos ele aquellas partes, eran
bucna compalias de soldados, que com a.nimo cilristiano.
i\'an a dar la vidas por rescatar a cU enol': cun ell 'o faHlr,
e logral'ian in duda tan bueno de os.

Rio rvegl'o.
Aun no trelnta leguas cabale mas abajo de Basurur en
la misma vanda dei norte, en al~ura de quatro grados,
sale ai encuentro de las Amazonas el ma '01', mas ber-
ma o rio, que en mas de mil y trecientas lcguas le rinde

(I) Ile hoje o rio 1.'8,' ql1iho, na Gl1.\'unn TII:;:lezlI, -


(2) ITc o rio SUl'illall'l, ou ele llel'l1il'{' lias t;u~'anas llollallllcza e ll.lgl za.
l'~
- i2~-

ta sallag, i bi o como lan podel'oso en su enlrada que ,


rle legua y media de ancho, parece que c:.e corre de reco no-
ceI' olro mayor; y aunque e1 ue las Amazonas con todo
su 'audal le echa los braos, no se le queri ndo ugelal'
homlJro r,on hombl'o, sin respeto alguno, enoreado ele la
milad ele lorlo elllio le acompana por mas de doze leguas,
dislinguiendose claramenle las unas agua de las olras, hasla
que no sufl ienrlo el d la Am3.zona lanla maroria~, reyol-
viendole eo sus lurlJias !Londas, le haze entrar por camino, e
recJnocer por dueno aI que el queira avas.allar.
I.\amal'on los Porluglle~es, J con mucba razon a esle
gl'an rio al l\egl'o, porque eo Sl1 boca, y mu has le-
guas mas leUro, el mucho rondo que tiene, y la larielad
e1el agua. que de immen o~ lago en el yierle, le hazen pa-
recer lan negras su ondas, como c:. i deproposito eslu-
vierao lei1idas, si bien ruera ele 8U natural san rislalinas.
Hazc 8U cU!' o de oe.::te a le te en sus principio., aunquc
las buellas son tanla, que a dislancia mn)' corlas, muda
rumbos diff rentes, el que lrae por I11U has leguas antes
ele entrar en el de las Amazonas e. de ponienle a oricnt .
IJamanle los nalurales que le habitan C~briguac'Ur'l.l.
Si bien los Tupinambs de quien s clesplles dil'mos, I
pusieron por nombre Unma, que en li lengoa quiere d zi)'
agua negra: como tambieo llamaron aI prin ipal de las
Amazonas en esle parage, P(bl'a,nclg~ta:st" que significa rio
grande: a clistincion de otro menor pero IU11)' caudaloso,
flue Ilaman paJ,(lndmil'i, eslo es rio pequeno, ql1 desa-
gua a la vanda dei sm, una legua anles ele el rio Negro,
que afirman eslar 111U)' poblarlo de diferentes nacioncs; la
ultima de la qua\e:> e l ye lida y lls:m sombl'eros; senal
ierta d que se <lvezindan a los Espaioles ele el 'Pel'~l.
Los que lo estn a las agua dei rio Negro, son grande'
provincias; es a saber los Canizua.rs, Aguayras, Yacun-
caraes, Cabuayapitis, .fanacurus, Yanmas, Guanama", Ca-
rapanari , Guarianacaguas, Azerabari , CUl'upatabas; y los
que primero puebJan un brao que e le rio anoja (-1), por
donele seglln informaciones se viene a salir aI rio Grande (2),
en Cll} a b ca en el mar delnorle, estn los O];.mclesc; 011
los Guaranaquazanas.
-san todas erotas naciones de arco '), flecha; muchas c1ellas
li} 0, C1lciqniar~,
(2) Rlo-Granele, elClI'<'r!I cr o Orino ,~.
- 'li3,-

nltel'bolau;1,s con ponoi'ia. San todas la, Jesle rio tielTa.s


altas, de linuo migajoll y que cultivadas, promeLel) qlla-
le 'quier fruto~, aun ue lo nuestra Europa eu alguna' jJ:li'l ~;
I ienel1 mucha y boenas campina cubierlas de azonado~
pastos para poder eo ell;,t pa tal' inurnerable" calJea par'a
ganado . Produze grande arboles de buenas madcra de
todo genero de embarcaciooes y cdeficio , que no 010 con
!la, sino Lambien con muy bu na piedra de que este
sitio abunda e pueden edificar. Estn U orillas poL13das
de too. (Tenero de caza: verdad e' que el pe,cad eH este
rio no tanto como en 1 de la' Amazona, a causa de
er u aguau lan clara , si bien en lagos qne 1;1 Lierra
a dentro Inze, siempre se 'oje a. manos lIena:.
Tieoe en u boca, bueno sitias para rortalezas, Y Uluch(j,
pi dra para fabricadas, '011 que se podr defender la enLrrtda.
ai enell1j~o, que quisiera salir por el al principal. Aunque 'o
jllzlJO que no en e te paraje sino mocba 'Iegua H1as a denLro,
en el brao que de embo'a ai rio Grande, que ya o.i.:e,
desagua en el Oceano; es donde mas ~eguramente ~e de-
vi l'a. paneI' toda deren a, con que quedava, deI todo cerrado
el pa o ai enemigo para lodo e te nuevo mundo, que iu
duda colicio'o ha de intentar eo algun ticmpo. .
No me a.trevo a afirmar, i el rio Granel cn guien de-
.. mb ca este bra_o del egro; e ai Dulce, o '1 de F'-
lipo, aunqu mucho me inclino a. e te segllI do, segun
bucna d marca iones; pue e 'te e~ el primeI' rio de 'on-
sieracion, que pasad'~s, alguna leguas, entra 8n el
mar d ,puez dei Cabo deI Nane: lo que puedo detnrmina-
ualJ1enle a gurar, e, que en l1ingulla manera, es el
Ol'inoco( 1), 'uya principal bo a cae cn frente de la i la de
la Trinidad, ma de' cien leO'ua. mas abaxo de donde de-
'agua t rio ue Fc1ipe, por el fjnal alio a la. mal' dei
1I0rLe Lope de Aguirre, y pues e110 nayeg6, poder tambien
olro clualqlliera ntral' por donde tUla vez ~ abria 'amino.
r\UJIERO T;XVI.

Intentan los POl'tLLglLeses entral'se pai' I'l 'I'io Negro.


Sitllalla e lava la Armada Portuguesa. de lmeHa de yj:1ge,
en la boca deI rio Negro, a los doz de Octubl' ete sei"-
(I) EJl~aDO do auto!', como po teriormenlc prol'ou-se.
- ,[21-

{' n(os y lreinla y nll~ve, quando ronsi l r:ml1osc los .:ofa~I


dos, ya como a. la I uertas de sus ca as; y lJolviendoliJ.
ajas no sobre los acre~enlamientos que traian, que essa:
eran ninguno ; sino sobre la perdida que en e pacio d
mas de dos anos, que aYian andado en e te descubrniento,
avian tenido; que no eraD pocas. Y enlerados por olra
parte, que lo servicios l1echo a su lagestad en estas con-
qoistas~ ninguna salisfacion de tener en tierras, donde lo~
que m:.s sangre han derramado en semejantes ocasione,
estn oy aniquilados, mmiendo de hambre, por no pod ~.
parecer delante de quien los pudi era premiar.
Determinaron alraer a 511 voluntad la de el Capitcln-Ma,yor
persuadiendole, que Ja que su pobleza lus obligava a buscar
algun remedia COD que poder pas r, y las noticia de
los muchos esclavos, que en lo interior deste rio Negro
posseian los naturales, orreeia la oca iOD en la mano;
no permiti esse dexarla pa sal' sin aprovecbarse della, dando
orden, de que la gente siguies!!e esta derrota, pues eOIl
los muchos esclavos que deste fio se sacasse, quando no
Jlevassen otra cO'a, serian bien recebidos de los deI Par,
y sin e11os, sin eluda ~erian tenido por hombres para poco,
pues passando por tantas y tan diferentes naciones, yavien-
do encontrado tantos esclayos, se alian con la mano
vacias; y mas aviendo hombres en e ta Conqui tas,que a
las puel'tas de sus casas saben, hazer esclavos de que se
sinan.
l\Iuestl'as daya el Capitan-Mayor, de quererles dai"
gusto; quiz porque enos eran muchos, y l solo; y
assi c1i permisso de que se pusiessen velas en la em-
baecaciones, porque el "iento en popa favol'able para la
entrada las pediL A1boroados estavan todos con e la de-
terminaciOl1, y Melie se prometia menos que rnucho nu-
mero de esc1:1vO , y persona hmo que no so contenlaya
eI solo ino Hega,ran a trecien tos los que le toca. en de
de su parLe. Cuydado, y no pequeno me pudiera dar e~ta
resolucioD, a no conocer el noble animo de nue~tro Cau-
dillo, que desinteresado ele semejantes empleos, ~stava
yo muy confiado ele que se siguiria en prjmer lugar lo que
fnesse de mayor sercio de ambas Majestades. Con esta
coniana d pues de vel' dicho l\lissa, recojiendome a parte
on mi companero, desseoso de pOl' todas vias impedir in-
tentos tan desc:,minaclo', bizimos el papel siguiftole.
~1J~lERO LX VII.

li eqnel' inento hecho Ctt Exercito.

Lo' Padres Cl1ristoval ele Acua, ) Aodre de Artieda, re-


ligio o~ de la Compania de Je u ,persona a quienes el Rey
nuesll'o enol' pOI' una Real Pro i iOI1, despachada por su
Real Alldi Q ia de 1:1 ciudad de San FraDci co deI Quito,
en 1 ,Reyno deI Per' a vein te y quatro dias d 1 mes de
Enero de:te pr' eote an de mil y eisciento y treinta y nue-
Ye; manda, y cocarrra, que aviendo "eDido eo compa ia d
CStl armada POl'tugueza por todo e te grao Rio le la'
Amazona, nuevameote de cubierto; tomemo nCri.lcia su-
ficient , y la ma clal'a que s 1'1 ueda, de la nacioo que
en el habitn.n, rio~ que ele juntan, y lo d;m1s neces'ano,
parn. qn IJO el Real Consejo de las India.s, se haga pleno
concepto de ta empreza ; y que aviend lo lIeclIo as i, coo la
mayor breverlad pos ible pa 5a semo a Espana, a dar cueot:\.
:t SU .lag stad de todo, sin que per ona alguDa nos puedil
impedir la execucion de todo lo r r rido Como mas l,vga-
rnent eOIl tar por la Llicha. Real Provi ion, que en r.le tl'O
poder viene, y siendo nece ario estam s prestos l.~l'a mo -
traria a toLlo , como lo havemo heclIo a alguDa de la prin-
cipales abea de te exercito.
AI pre ente aviendo ntenrlido por dicbo de muchos, y
por la vela que e di ponen para la navegacioIl; que el
Capita!1 ~layol' Pedro Te: Fa, y lo de ma Capitanes y
ofieiale' mayore desta dicha armada, en cuya compai'iia
venimo por mandado de Su M:1gestad intentau dilatar mas
el viaje, entrando~e por el rio egl'o, en cuya boca ai
pre ente no hal1am05; eon de ino de re, catar pieza
esclava deI, pa.ra llevarlas por tales a sus hazieoda d 1
Par, Maranon; como ac 'tumbran hazer en toda las
entradas que de de el Llicho Par hazeu a lo natul'a-
le' que habitau eIl sus confine. Y p l'CJue en este e
ba de g, tal' foro amente mucho tiempo, a c1icho de per-
pel'sona experimentadas o emejantes entradas; y ha de
aver otro, muchos inconveniente3.
Por acudir a la obligacion qne nos corre, y para descargo
nuestl'O ante la Real per ona de su .Mage tad, en llombl'e
suyo, hablanclo coo el acatamieDto devido; requerimo ai
Capitan Mayor Pedro Tex.eiraj ai Coronel Benito Hodl'iguez
-l:W-

de Oli"eira, aI Sargento-mayor l<'elipe de :'II ato. , a lo. Capi-


ta,nes l'ec1ro de Acosta, y Pedro J1a}01l y a los ema ofi 'iales
vivos, que ai pre,ente e hallau governando e"Lc xel'ciLo ell
]a boca desLe dicho rio ~~egl'o,
Que por quanLo ya su :\lage'Lad Licne noli 'ia por u Heal
Audiencia de la ciudad de QuiLO, y por su Virr y deI reru,
deI de paeho de nue tras pCI' onas para lo finos de suso di-
elJos, y de la brevedad con que se esperava aviamo de Ilegal'
'I. su H.eal presencia; pues segun el dicho CapiLan Mayor l)edro
eira, y otI'O muchos de n compania, a~ egmal'oll a los
'eil '(l da la dicha Real Audien ,ia cle Quilo; Ioe aYiam s
~c e i en el Pari d Ilh'o de dos me e3 y media; y de :'U] ui
'1 seis \1. 'se cumpira'f\ oco ll1eses que alimos de la dicha
.iudad de QuiLo j Ya1JD Jallan s,i cienla Jegllas, desde le
puesLo aI deI Par; de cU)'a dilacion, ljuedel resullar muchos,
I gra"e. incomeni uI s; como on: 01 dilaLar su MageLad
[a fortifi a 'ion desLe do, que LanLos aiio' ha ele oa e de~
::,ubra, esperando la lJre,'edau conque llosoLros aviamos
rle llegar con las iorormaciones d I; Y en el inLel'in alo-
u.... e el enemigo de sus prill 'ipale enLradas; co~a tle que
1'e51. . :tr~ ~ra.n perjuizio a su !leal Corona,
Y jUI, enLe tau buenos y eSrOrLlUO CapiLane ,como aqui
vali, haran sin duda con tantas dilaciones grallde falLa a la
forLaleza. deI Par, a. donde si el ellel11igo llegas e, eSLando
e110s ausenLes, geria muy cierLa su I n]id<l. Dema de, Lo los
lodios desLe rio Negro, donde se' preLef!de nlral" on a juizo
de Lodos, gente IHI.t)' belicosa, y de arco)' flecha heryada eon
que nos podran hazcr mucho daDo, y mas viendo ]a paca
fuera de los Indios a.migo , que nos lwl1 quedado; mu-
chos de los quales estan enfermo, y oLros 011 l1lucha-
chos, in experiencia. de guerra, y Lodos a una mano
CaD nlllgun gl1SLo de hazel' la dicha enLrada; de qu puede
resulLar la total peruicion desle exercilo: ruera de que
yendo con poco gusLo podra ser qne , . DOS huyan, co-
mo lD han hecho los mas ue los que salieron deI })aNI., Y
mas viendose ya a lus pUeJ'las de sus casas.
Aqui anadimo', que los e clavas que se prelend~n acar,
ay mucha dificulLacl si se 1uede hazer COD buena cODsciencia
(excepLo los que fue eo nece arios para lengua) por-
que e ta liert'a es Dum'a, y annque aya ceduJas de u
MagesLad (como se dize) para sacar esclavos, sLo es Oll
la juridicion circul1Vozioa elel rar, y Maranon y on
- 127-

I:1s demas cal idades q ne se requieren: y estas lIe le rio


no se sabe a que juridicion perlenescan. Y dado caso
que ninguniL de las elicllas razone harrn, fuera, qut>
se con iguiesse 1 11n que de la diclla jornada se dessea,
que es sacar gra,n rantielacl de lavas; e tos mismos,
por las poca~ fu ra que pal'a guardado, y defender-
nos delJo, tenemo :11 pre:::ente, podr ser que sean la
talaI runa y destrucion de todo.. Por todo lo qual,
y por 1 dema que ofrecer':;e pudiere eo de ery] ia ele las
dos ~Iage. tade , Divioa, y humana, y perj uizio de la sal-
vacion de 1anta iOlUleosidad de almas, como ay en e Le
rio.
De nneyo uo, y outra YeZ volvemo a requ rir aI
di 'ho Capitallo Mayar lledro Texeira, coronel, .argent
mayor, capilanes y oficiales vi\" s que al pre en1e go-
viprnan \'sle exercito, que no dando lugar a dilaciones,
que no sean d I s rYicio de Dios, y de .u i\lagcstad, 00 Locla
Lrevedad c:e procure, qlle prosigamos nue tI'O vage dei
ll<lr, para de alli pa sal' i~ E pana., a cumplir con el fin
y obligaciones le nue. tl'a legacia, y e pueda acudir,
eon br y clad, leoienc!olo assi u ~lJge 1ad por bien a
la .alvacion d' lanla almas como se han de.cubierto
o e le nuevo muodo, flue miserables yacen en la sombra
ue la muerte. Y si lo dicbo no fuere suficiente, para
obligaJ' a que Lodos juntos prosigamos nue 11'0 viaje con la
dieha, breyedad; rcqnerimos de Duevo con la Real Pro-
ri ion quo para 110 Lraemos ai dicho Capilan Mayor Pe-
dl'O T xcira, y ao lo. d mas ollicialos deI exercito, que
para cllo Lmier n mano; quedandonos el avio nece a-
rio y todo bueo pa saje para re guardo de nuestras per-
onas; se nos permiLa prosegwr in deteneion nu sIl'O
"iage, que aunque sea eon riesgo de enemigos, lo p08pO-
nemo. Lodo por cumprir con lo que su Mageslad nos manda
eo su Real Provi ioo.
Ylo conLl'ario haziendo, proLe Lamas, de todos los danos,
y inconveniente que de la dilacion qne huviere n la dieha
jornada .e sguieren y de dar ti nta dello ai Real Con ejo
de las Indias, y a su Real per::;ona ele] ney nuestro Senor,
como se nos manda lo bagamo . Y ultimamente para re -
guaedo de nuestras personas, . mue tras de que de seamo
cumpliL' ef ctivamenLe ,on lo que somo mandaclos; pedimo.
'(] I ordene aI Rs TilallO nombrlclu esle exercito, no s cl
- 128-
testimonio de todo lo qne en este nuestl'o requerimiellLo' e
contiene, y de lo que a el nos fuere respondido, tc.
N MERO LXIlI.

Pros'ig'ue el viaje, y del 1'io de ll~ l1IlbI},I:J/'C/

Hecho este papel, y comunicado con el Capi tan Mayor;


alegrandose el mucho, de tener ya quien se pusi 'e de
$U parte, y reconociendo la fuel'a de las razones; malld
aI in tante recojer las yelas, ces ar con las prevenciones,
y di-poner para que el siguiente dia, bolviendo a desem-
bocar por la boca deI rio Negro, pro iguiessemos todos
por el ,ele las Am:l.zonas abaxo nueslro viaje. Hizimoslo
as .i, y a las q'uarenta y quatro leguas, climas on 01 grall
rio de la Madera, llamado ~ssl de los Portugu es, por
la mucha, y grl1ea que traia quando le pa ~arn. p 1'0
x
8U nombre proprlo entre los naturale que le habitan,
es Caycwi.
Declende de la vanda. deI sur, y segun lo que ave-
riguamos, se forma de dos caudalosos rios, qu algu-
nas legua adentro e le juntan; por lo quale, egull
buenas demarcaciones, .y segun las sena de los 'rapinam:..
bs, que por el banron, es por donde mas en breve que
por parte alguna, se 11a de descubrir salida a los ma' cer-
canos rios de la comarca de Pots. De la nacione d te
rio, que san muchas, las primeras se nombran Zurinas,
y Cayanas, y luego se van siguiendo los Urnriaus, Ana-
maris, Guatinumas, Curanaris, Erepunacas y Abacatis. Y
desde la boca de te rio, corriendo por el de las Ama-
zonas abaxo le pueblan los ZapUCiI)'aS, 'rnblltinga, que
on muy curiosos en labrar cosas de madera: lras e tos se
siguen los Guaranaguacas, Maraguas, Qumaus, Burais, Pu-
nouys, Oreguatus, Aperas, y OtTOS cuyos nombres no pud
eon certeza averiguar.
NUMERO LXIX.

IslcL gnltnde de los T'upinamlJds (i).


V iote y acho leguas de la boca deste rio, c!l.minando

(I) ,lcllwlmCllle llcllomina.c-'l'upi""",barullas.


- 129 -

jempre por la mesma yanda deI UI', esLa una hermo a i~la,
que tiene se 'enta de largo, y consjguientemente mas de
cienLo de il'cuyto, poblada toda de lo valienLes Tupinam-
b~, gente que de la' conqui ta~ deI Brazi[, en Lierra de Pel'-
nambuco, alieron derroLado muchos anos ba., buyendo dei
rigor con que los Portugue e [e ivall sugetando. Salieron tan
gran numer'O dello., que despoblando a un mesmo Liempo,
ochenLa y quaLro aldeas donde estavan uiLuado , no quedo de
lodo ello:, l1i una criatura que no troxe eo en su compaiiia.
Cogieron sieropre a mano izquierda la ralda de la Cor-
dillera, que viniendo desde el c~Lrecho de i\laga[anes, cinell
toda la America; y dcscabeando quanto rios tribuLan della
eo el Occeano: llegaron a[gunos a entrar- e coo Espnaoles dei
Peru, que habiLlvao en las cabeas dei rio de la iHadera. E -
tuierou coo ellos algun Licmpo, y porque uo E- panal a.ot a
uno, p r avcr[e muerto una baca; aproyechantlo-se de la oca-
ioo elel rio, ~e arrojaron Lodos por su corrientes, yiniendo
a dar n la i la que aI presenLe babitaD.
lla.bIan esLes Indios b lengua general deI Brasil, que tam-
bieo corre ca i entre Lodo lo de [as-conquistas dei i'I1aranon,
y dei I'ar. Di7.en Lambien que como alieron tantos. que no
pudielldo por aqu 1I0s de ierto~ u LenLar e todos junLos, e
fueron diyidiedo en tan dilatado camino, que por lo menos
seri\. de mas de novecientas 1 guas, quedando unos a poblar
una ticl'I'as, y otros otra j de qUlenes sin duda e taran
bicn lIenas toda' aquellas Cordill raso Son gente de grande
brio en la guerra, y bien lo mO,traron los que lIe(]aron a
e tos paraj ;" donde aI pre ente babitan j pue siendo ello ,
sill comparacion, mucho meno que lo naturales de te rio,
ele Lal suertc lo :1ssolaron, y sugetal'on a todos aquelas eOIl
quienes tuvieron guerra j que consumiendo nae.iooes inte-
ras j a otea obli(]aron a dexar ele miedo su natural, y irse
peregrinos a tierras estranas.
Usan estas Indios de arco, y flecba. que cou destreza dis-
paran. San de coraooes nobles y abidalgados j i bieo, como
ya casi todos los que aI presente ay, san bj.ios, y niel.os de
los primero poblaclores, ya se van acomodando a las baxe-
zas y manas de los de la tierra eon cUj'a sangre estan mes-
clados. l'Ilostraron nos todos grande agasajo, dando muestras
de que en breve se avin de reduzir a ,ivir entre los Jndios
amigos deI Par; cosa que ser sin duda de mucbo util para
eonquistar todas las demas naciones deste rio, si se huviere
i5
-- 130 -

de poblar; pues a sol I nombre de Tupil~:l.ml/l!' no tJ,I"


ninguna d 'lIas qu no ~e rinda.

:'i '~lERO l.XX.

Noticia.s f"[?/.i rliel'on los 'j'npinwlns.

'DesLos Inu.ios Tllpinamhs, com de gcnte de IlIas raZOll


1'. que no neces, it.an d interprete, por on' r, como ya dix
entre llo' la leogucl O'cn ral, quemu hos de los m ,'mo Po!'-
tngue e. hablan con emillcn ia, por er nacido y criado en
aquellas cosia', Tmilllos algllllas notitia~, que aqui dir
que como de gente que tiene orrido y suget lodo lo ir-
eLlnvezino a Sll juridicion, se pucden Lner por ri ria..
Dizcn que cercano a su habita 'ion, a, la "anda deI SUl'
en tic!'ra Jirme, vi\'en entre otra, elo. naciones; Ja una
cle enano' tan d.licos (.omo criaturas mny tierna.', que t'
se llaman (;I.~ay(~;;;is, la oLra es de una gente que todos
ellos tien ~n los pies al rev" , de suel't.e que quicn no co-
l1ociendo los quisie~sc guir sus hu lia', caminaria. iem-
pre aI contrario que ello : llamanse J[ntaYL~s, y. 011 les
tributarias a e tos Tupinambs elc llaclJa de piedra para
el de monte ele 103 arboles, quando quierell cnltivar la tierra
que las luz n muy cnrio a ; y.cIe ontinuo.e ocupall en la-
brarIa .
A la vanda de euflente, que p-s la. ti aI 1\01'1 ; dizen
que estan continuadas siete Provincias bien poblac1as, pero
(lue por er gente para. po~o, y que ~olo se susLenLan con
frutas y animalillos silvestre , si 11 j amas sustcn tal' O'uenas
entre si, ni con otros, no hazen denos aso. Tambien
afirman, que coo otra nacion que onfina con f'~la tuvie-
1'on pazes mucho tiernpo, aviendo com rcio enlre cllos de
lo que ada uno eD su Provincia abundava; y lo princi-
pal de que los Tupinamb se proveian era de sal, que los
amigos le traan pai' su rescates, que afirmavan venirle
ue olras ti erra vezina de las suyas: c.osa cru si se de -
cubriesse ~eria de grande utilicIac1 para la onquisla, y po-
blaciones dest Rio. Y quando aqui no se halle, . e han
de descubrir en grande abundancia en un rio de los que
baxan de zia el Pel (I; cIe donde el ano de trein!.;), y
siete, estando yo enla ciudacl de Lima, . alieron elos l1om-
bees, que de lance en ance, aportaron por aquf'llas parte',
a cierto paraje, donde baxando por uuo de los rio, que
elt este principal desaguanj dieron con un grall cerro todo
de aI, de que lo moradores tenian el estanco, u ten-
tando e ri o', y abundante, con las paga que por ella
recibian, de los que de ma lejo la venian a contratar.
Yno s uueyo eo el Per, eu todas sn Cordilleras tener
cerras de 'aI de pjedra excelente pue e, ta es la que eH
todo el se ga La, sacandola de li natural on bane Las
azerada , en pedao tau grande~, que tienen a cinco y
s is arrobas aela uno.
Ocupa e ta. Proyincia d los Tunjnamb~l e enta y eis
leguas de larao que f n c eu una buena pobla ion que
e t itllada en Lre grallos de altura, como Lambien 10
ta' a, h primera de lo . Indios AguiL, clr. que ya bizi-
mos aniba mencioll.

l' :II ERa I,XX1.

Dan nolictt ele la. nwzonas.

Con elo dkho I.ambi n de Lo Tupinamb~, conflrmamos


las larga noLi ias que por Lodo e te Rio traiamo de la~
afamadas Amazona, d> quiene el tomb el nombre, de de
u primer prin 'ipio " n le cono iendo por ol.l'o ninguno,
'ino por este, todo los Co mOlTrafios, crue deI ha ta oy
ban trata lo. \' fu ra 'osa de admiracion, que sin muy
gl'av s fuudamento , hnviera u urpado el nombre ele rio
de las Amazona pudiendole qualquiera dar en rostro, de
ru por el s queria hazer famo o, on no mas razon que
de ye til' e de lo ageno. o me lo per uado yo de su noble-
za; Iii c creible, que Leniendo eele gran rio tauta gran-
deza d que echar mano, 010 que li esse gloriar e deI Utulo
que no le compelia. Baxeza orilinaria, ele quiell no vaJiendo
por sus brao alcanar la. homa que dessea, la procura m u-
digar deI vezino.
Lo fundamento crue ay para assegurar la Provncia de la
Amazona n e te rio, ou tantos, y Lao fl1ertes que seria fal-
lar a la fee humana e1 no darle credito. Yno trato de las
gl'aves ioformacione , que por orden de la Real Audien ia
de QuilO, se bizieron coo los naturales que le habitaron
mllchos anos, ele t.odo lo que en su riveras conLenia . eo que
- 1:J~ -
una ele la~ principale~ cosas que se aS5eguravau; era ,I
e ta.r poblado de una Provincia de tnugere' guerrera , que
sustenLandose sola sin varone , con quienes, no mas de a
ciertos tiempos tenian cohabitacioil, vivian en sus pueblos.
cultivando sus tierr.Ls y akanaudo con el LrabJjo de su
J

manos, todo lo neces'ario para su utento.


Tampoco bago mcnciou de la que por el nuevo Heyno
de Granada, en la ciudad de Pasto, se hizieron con al-
gunos Iudios, y en particular COil una India, que dixo aver
elia misma 'estado en sus tierras donde esta, mujeres
tau pobladas; conviniendo en todo con Lo que ya se sabia
por los primeros dichos. Solo hecho man de lo que a
cou mi. oidos, y con cuydado averigue desde qu pu-
:mos los pies en e te rio. En que no ay g neralmenle
cosa mas comun, y que nadie la ignora, quc dczir, ha-
bitan eo el estas mujere , dando senas tan particulare ,
que convillicndo todo en una mesmas; no c~ creible e
pudie se una mentira aver entablado cn tanLas lenguas, y
ln tantas naciones; con tantas colores de verdad. Pero
donde mas luz tuvimos dei si Lio donde viven estas muje-
res, de sus costumbres, de los Indios que las c munican,
de los caminos por donde se enLra a ~us tienas, y de
los naturales que lo pueblan (que es la que aqui dar)
fue en la ultima aldea donde d fin la Provncia d 105
T11 pinambs.
riU:\IERO L_'XIL

Rio rle las AmazOlws.


TrrioLa y seis leguas desta Aldea, cordendo rio abaxot
est a la van da del none el de la, Amazonas, que COrI
nombre de rio 'Cunuris ('1), es conacido entre aquellas na-
turales. Toma este rio el nombre de los primeros Indios
que sustenta en su boca; a quienes se siguen los Apanto,t
que hablan la lengua general de todo el Brasil. Tras estas
estan sitiados los Taguaus, los nlLimos, que san los
que comnnjcan, y comercian con las mismas Amazonas,
on los Guacars.
Tieoell esLas mujeres varaniles su assiento entre grandes
fi) o nome aclual desle rio he-_Vhalnlmd ou Jalnullda.
l1IullL S, Y elllil1enles c nos, de lus quale el que mas se
t1cscuella entre los otro , y que como ma ubervio e.
combalido dIas vientos con ma rigor, a cuya 'causa toda
la vida se muestra escalvado y limpio de yerba, se llama
Yacamidba.
San mujere de gran valor, y que siempr se ban con-
en ado jn ordinario comercio de varones; y aUIl quando
e tos por oncie1'to que con ellas tienen, vienen cada ano
a sus lierras, los reciben con las arma eD las manos, que
san ar o y flecha . qu juegao por algun e pacio de
tiemp , ha ta que ati fechas de que vienen de .pa,z lo
conocido , y dexandola arma acuden todas la canoas,
o embarcaciones de los gu pede, y cojiendo cada una la
amaca que lJallan ma~ a mano, que san las cama en que
e110 duermen, la 11 "an a, u casa, y colgando en parle donde
el dueno la onozca, le recibe por hue ped aquello pocos
dia.: despue de los qual ellos se buel ven a. su tie1'ra,
continuando todos lo anos este viaje por et mismo tiempo.
La hija, hembra ,qu deste ayuntamienlo nacen la con-
ervan y cl'ian ntrc j me ma , que .on la quc han de lleyaf'
adelante cl valor, y costumb1' s de u nacion, pero lo bijo
varone no ay tanta certeza de lo qu con 110 bazen.
'n Indio, que siendo pequeno avia ido con u padre a esta
entrada, afirm que lo hijos "arones lo entregavan a sus
padr quando I igujente ano boi ian a sus ti rras. Pera
lo demas, y es lo quc parece mas cierto por ser dicho
mas comun, dizen que eo reconocienclolos por tales les
quitan la vida. EI l.iernpo de ubrir la verdad ; y i e tas
'on las Amazonas afamadas de lo hi toriadores, le,oro
encicrran eu u comarca para enriquecer a todo el mundo.
E t la boca de te rio, quc pueblan las Amazona, en do~
grados y medio de altura.

,U1lrmO LXXl1I.

Estrechul'a de todo el1'io.

Pa sada la boca de I.e rio de la Amazonas, y corriendo


veinte y quaLro leguas dei principal, de agua la me ma
vanda deI norte, olro mccliano, cru se llama Urixamina (1),

(I) Hoje este rio tcm o nome de- Trombela.,


- J:34. -
qne ale a <'Lquel paraje, donde como ya dixe arriba, (\
estl'echa este gean rio 'll espacio de po ma de un qual'lo
de legua. Donde ofrece apacibl itio, para plantar de
una, y otea vanda das f rtalezas (1), que no solo impidan el
passo aI enemigo, que por la 1arte llel mar 113 inteotaren: sillo
que tambieo sirvieodo de Aduana, e registre en eJla louo
lo que por este rio de las Amazonas, si se poblare, ser
fuera que baxe deI Per. De:de este paraje que e~t, amo
arriba dixe, mas de trecieotas y e eola leguas .de Ja mar,
se comieoan a sentir us marea , reconocienclo e Lodo
Jos dia creciente ,y menguantes, aunque n lan a la. laras,
orno de alguna leguas ma adelante.
K -)IERO L:Xl\'.

Hio, y nacion (lll ']'[~P((jo:,;os.

QLiaren ta leguas desta estrecll11l'a (le el1lb ca por la ,and a


deI ur, el grande, y vistoso rio de los Tap;tjo,o' (2), loman-
do el oombre de la nacion, y Provincia que sustenta
en sns orillas, que emuy pol)lada de Baebaros, en bn -
nas tierras, y de abundantes mantenimiento . San e le 'fa-
pajo os, gente de brios, y que le. temen muclns de la.
naciones circonvesinas, porque usan de Lal ponofa eH sus
flecbas, que con solo ]Jegar a acar ',ngre, (Iuitan sin re-
media la vida. Y a e ta causa los mesmo POl'tugue es le
relezaron la comunicacion p r mu '!lo tiempo, de eanelo
por bien traerles a u amistad, a que nunca ~alieroll deItado,
porque les obligavan con ella a deur u natural, y veoir e
a poblar entre lo. ya pacicos, cosa que sienten mucho estas
naciones. Si bieo en us tierra recibian COIl bu II aga ajo
a los nuestro ; como lo experimentamo aloxado junto a
un pueblo suyo, de mas de quillientas familias; de donde
eu todo el dia no ces arOIl de. venir a rescalar gallinas, pa-
las, amacas, pescado, llarinas, frutas, y otras cosas; con
tanta se~urjclad, que mujeres, y ninas no se apartavan de
nosotro ; ofreciendo, que si lo dexas en en su tiel'ras, vi-
nies en muy en hora. bueoa a poblarlas los Portugueses,
que los recibirian, y servirian de paz toda la vida.

(I) Do lado do norle fundou-se a fortaleza de-Pa"",is, hoje Ol.idos.


(2) E te rio conserva o nome de rupaje;'.
-.J:l,j-

l'\OlEllO LXXV.

O]Jl'esion IjI,te hi::ie)'on tos P01'tllf}'LbeSeS.

I O lJa~tal'Oll los humildes ofrecimientos de estas Tap~ja


sa , para p r anas lan interessadas como san las de estas
canquUa , y que solo enpr nden uificultades cun la ca-
llicia. <le los escl:1Vos que e peran rescatar; para que fuessen
admitido., o por lo menos puest en toda razon y con-
renienci:l. Si no que sospecbando tenia esta nacion muchos
n su servi io trataron con toda fuer.a, a titulo de re-
beldes, irl s a ofrecer cruda guerra. Esta se esta\a dis-
laniendo quando lIegamos de nue tra jornada aI fuerte
deI D tierro (1), uonde se juntava la gente para tau inllll-
mana I'a.ccioll.
Y aUI1f[u por los mejores m dias que pude, la pro-
CL1r, ya que no impedir, a lo menos su pender ba Lan
qlle huviesse Iluevo ordell de ~u Mage tad: y el Sargento
~Jayor deI Evtado, CaLo, y Caudmo de todos que era Be-
nito l\)az(el, hijo deI Govel'l1ador, me di u palabra ele que
no prosiguiria con su intento, hasta tener avit:o de su pa-
dre. Apena boI i la abe a, quando con la mas gente
que pudo, en una lancha con piezas de artilleria, y en
otras embal'caciones menores, dando sobre elias de im-
proviso, les ofreci cruda gnerra, sino querian buena
paz.
Esta aclmitieron luego elIos con bllena valunta.d, como siem-
pre la aYian ofrecido, rendidos a todo lo que qui ies e diE'-
panei' de sus personas. ~iandales entregar todas las flechas.
herbadas de pon.ana que teniao, que era, de lo que mas e
podiao rezelar,a gue los miserables obedecierou luego aI pun-
to: y viendolas ya desarmado cogen gran cantidad de Barba-
ras, y encierranlos todos como cameros en uu corral fuerte
'011 suficiente guarda; suelLan los Iudios amigo que lie-
vavan, que para haze[' mal ca.da uno es un eliablo desa-
tado, que el1 breve llempo saquearon todo el pueblo, sin
tl xar c.osa en el que no as. olassen:.aprovechanelo e, como
me conto qllien lo avia visto, de las bijas, y mugeres ele
!Q afligidos pmsos, a "ista ele sus mesmos ajas: y ha-

(I) ForlaleSi' kiL1l3rlo1 jUlIlo ii rl,z rio ,'io o1CUl'iI]l)", lli' milrg-rrn direita. Depois
lllullnll-~c pUl'n o.lugal' do l'il1'l1.
- 1:3 -

zelH.lo co~as, <1ue me assegur .ta p l'::;ona, que 6 biell


antigu;], en aquellas conquista,. que por 110 \'erla., no
solo dexaria de comprar e clavas, pera que ;\,un daria
debalde los que passeia.
No paro aqui la crueldad de lo. Portugueses, qu
como iva embuelLa en codicia de e clavas, )JO que dava
"atisfecha hasta ver~e senora dellos. Amenazan los Indios
encorralados, y temerosos, atemorizanle Ll' nlleyO COII
nuevos rigore , para que ofrezcan e cla,os, egurau-
doles que con e to no solo queclaran ]jbres, sino amigo:
suyos, y cargados de heI'l'amien tas, y lieno de algodou
que les darian por ellos. Que aYian de haz r los mi-
serables? Preso ellos, quitadas la' armas, saqueadas TIS
ca.as, oprimida . us mlljeres, y hijos, siuo rendir e a
todo lo que ele e11o' qui.e em haver '! Ofrecen mil e'-
clavas, emian por ello, que ou el alboroto ele la tierra
. e avian pue to en cobro, y no pudieudo juntar ma de
pocos mas de ducientos, entregan10 : y con palabra de
que cumplil'an los r stante , dexan libres, a )05 que por
verse as i, ofrecieJ'an 'us miemos hijo. por esclavos, como
muchas vezes ha acontecido.
D spa 1Ian todo. esto ai 711aranon, y l'ar, qll )"0 Yi con
mi. ajo, y saboreado de la pre a, di pon n luego olra
mayor en otra nacion mas a dentro dei rio de las Ama-
zona ; donde seran in duda mayores las crueldades,
porque van menos persona . de Hlor, ]U plledau ir LI.
la mano aI que leva el eargo de todos. Con que que-
dar el rio lan alborotado, que quando su 1\'lagovtad
quiera que se pacique, aura de lener muy grandes di-
1i ulta(les; iendo assi que como ) o ]e dex quando a-
li dei, muy poca cosa e pudiCJ'a hazer. Estas san las
conqui ta deL Par<i., este e1 trato de que e 8U tentan,
y e ta la justissima 'au.a porqtle todos andan arras-
trados, sin tener un pau que comer. Y sino ruera por
los servicios que han becho a entrambas Magestades Di-
vina, y humana en resistir valerosamente aI enemigo
Olandes, que varias vezes han vencido en aquella tierra;
ya nuestro Sonar la tuviera assolada.
Bolviendo pues a la de los Tapajosos, y aI famoso rio
que bana sus riboras; digo que es de tan buen fondo,
-que pai' cl arriba mllchas leguas, subia en liempos atras
Ima n6.o Inale a de OTan portr; qne prete.ndiendo hazel'
- Hi -
assiento n e ta Proyincia, y entablar co e '11a de tala o
con lo naLurale, le ofrecieron buenos partidos; pel'o
eHos dando de impro\iso en los Ingleses, no acepLarou
oLro, que maLar los que pudim'on areI' a las maneis, y
aprovechando- e de us armas, que o)' eu dia tien n;
le, hizieron dexal' la I.ierra ma apl'es a de lo que a,ian
yenido; escusando la gente que qued en la l1o, con
hazerse luego a la vela, oLro encuentro emejante, en
que deI todo qu dassen con umidos.

C\ -~IERO . LXX.\!.

Clwu]Jntl~ba.

Apo a ma de quarenta leguas de la boca deI Rio de


lo Tapaj o, est I de CurupaLuba ('l), que desaguando en
el principal ele la Amazonas, a la ,anda deI norte d a la
primera poblacion, o Aldea, que de paz tienen lo, Por-
tugueses a devociou de su Corona. No muestra esLe Hio
r muy caudalo o d agua, pel'o si de te oro " i lo
naLurale d 1 no nos nO'aan lo quales afirman, que
subiendo por e Le Rio, que ello lJaman con nombre Yri-
quil'iqui, camino de seis dias, se haBa gran canticlad de
oro, que cogen en las orillas de un riacho pequ no, que
baa las falda de un mediano cel'ro, lJamado Yagua-
ra unI.
Dizen tambien que erca de e te est oLro sitio, curo
nombl'e e ficuru; donde ban acado muchas Yeze~ oL1'O
metal, mas duro que el oro, ele colo I' blanco, q:ae siu duda
es pIa La, d.e que labraron antiguamenLe hachas, y cuchiUos,
pero que viendo no ser de provecho, y que luego se mella-
van, no hizieron mas a o del. Ay eu este mismo di Lrito
dos jerras; que la una, segun las senas que dan los Jndio"
e de azufre; y de la otra, que se llama Paraguaxo, a se-
guran que quando la d el Sol, y l.ambien en las noche
clal'as resplandece de uerte, que toda ella paI ce e,fi -
ralda de rica pedreria' y de quando en quando revienLa
con grandes estruendo : mue tl'a cierta de que el1 i en-
cierea piedra de mucho valor.

(l) Hoje bc conhecido por-Ctuupal"ba.


16
- 138-
:"U:IlERO LXXYI.

Rio Gin'i:papc (1).

No promete menos lesoros, segun nolicias comuues, el


rio de Ginipape, que corriendo por la misn a "anda dei
norle desemboca en el de las Amazona, a las sesenla
legl1a mas abaxo de la Aldea de CUl'l1patuba (2) ele quieu
dizen los Indios tanLo, deI mucho oro que el1 sus orilla
e puede recoger que i e110 e as i, solo esLe rio l.lexal'.
alrs con u averes, ios ruayores de Lodo el Per.
Las tierras que este rio riega, son de la Capitania ele
BeniLo .\Jaziell'arienle, Goveroa.dor deI Maranon; que fuera
de ser ellas ola, illas que Loela E'pana jun la y av 'r
en elJas mu 'ha noLi 'ias d minas 011 en ~ 1101' 1<l mayor
parle elei mejor migajoll, r para renelir marore' frulos,
y provcchos que quanta ay en este ilUllleu o rio ele la'
Amazouas. Estan lodas a la vanda clel norte; cou tienen
en si grandes Provincias de Barbaras; y lo que 'S mas de
estima; encierl'an elebaxo de su jul'idicion, las afamadas, .
dilaLada' LieITas <leI Tucuj (:.I) j Lau su pira<lo, r Lanla Ye-
ze poblado, aunque con u elaiJo, deI euemirro Olandes.
que reconociendo en .ellas la' marores comodidades deI
mundo, para enriquecer sus moradores jamas las )JUede ol-
vidar. Son no solo aproposito para grandes coscchas ele
Lavacos, y capaces de las mejor s de lo descubiel'Lo para
muchos ingenios de aucar, y agradeci<las on w' mau-
lenimienlo , a qualquier pequeno cullivo, que n ellas ara
sino tambien de excelente campinas, que con abundan-
les paslos su LenLaran in!lnilos ganados.
En esla Capilania, seis legua de donde desagua Gini-
pape; el rio arriba de las Amazonas, est un Iuerte de
.Portugueses, que llaman deI DesLierro (4), con treiuta olda-
<los, y algunas piezas de arLilleriaj que para lo que LOca
a defender el rio, no sirYe de nada, utorisando 010
la dicha Capitania, r teniendo en a)gun lemor los Judias
que de ella se "an reduziendo.

(1) Hoje denomiDa-se-Uatarapy.


(2) De actualmente ii villa de Monte-Alegre.
(3) Parece qne as~im sehamava o territorio comprehendido entre o rio Var"'
rapye o no Anauelrapuru.
(4.) Era tambem conlecida por fortalesa do Par\! (depois da sua mudana pam
esle pooto), junlo ii alda do Illesmo nome, que hoje lem o nome de Almeirim.
- 1:19-.

Est' fuel'te quil B nito j\J3.ziel ' n u\'3..o de Goye\,-


nad relei Curupil(l), qu cae Il'einla y sei~ leguas ma~
alJaxo, dond por mu hos anos (' lnvo siluado ell mu."
huen sitio, y d nde la." naos enemiga yenian a recnnoeer
de ordinal'io.
NUMEno Lxxvm.
Rio Parnnaiba '2/.
Diez legua ma. abaxo deI rio Gmipape, sale a la vanrla
dei Sl1l', nno muy visto o, y caudaloso, que con dos legua .
de bgea, entra l'indiendo paria ai principal, llaman le los
natul'ale Pn.I'unaibcL; e tan en sus riberas alguoa~ pobla-
cinne. ti lndio antigo., que leniendo a ien to en ..u ~
Q

primeras nll'ad<ls,obedecen lo. orden de lo Portuglle-


~e. qu> los O'ovi ma,o. Y eo lo ma. interior ien otro",
muchos: de Cfuiene , r de 1 d ma que esle rio contiene,
ann no ay IllJei nles lIotieia
~nlEno LXXIX.~

nesdc dos legua.; ma' alyl,xo del Ginipap o.nienca J


rlividil'se on granel s brao I rio do la Amazonac:, que
rau an b mu!lilud de i las qu 11a ta de emboear en I
Oceeano en el e onocen; pohladas lodas de diferente..., na-
inne, y lengua : si I ien las ma entienden la general
de aquella co ta. Son e.tas i la tantas, y las nacione.
que la ilabiLao tan diversa, que .010 para elias era me-
n stel' llna nueva historia.
Con lodo nombrar aqui algnnas de la. mas conoei-
das, como son las de lo T;tpnyas, Anax.-ia.es, Mayana.es,
Enrrn.ilJas (II.), Bca , 1\':.1oe., y la de los \:alientes P:J.cax.,
Cjlle eo las 'Ribcras deI rio, de quien tomaron nombre,

'
(I .\clualmento cllllma-se- GuoU/J.
\2 H o nome anti"'O do rio Xing, a que o paure Si\muel Fritz em sua carta
II.enOmInil AOrl!,.u., gunuo assegurei )11'. de la Coudamine, ua ua viagem pelo
1'10 t1 s Amazona .
Kiug,;, diz mesmo oIe la CondlJmine, lIe () 110111(' inrlio de ullla alda onde se
nrlla uma MissilO, ii al"'ul11i1s leguas sl<uil1(lo o rio, o qu no lIe confirmado Pll!'
Jl ncl1a, Acrioli, e oulro aullloJ'es,
(3) Ail101a eOl1s rvu o 110ml1 dr Pacaj.
(;) (H Porlugul'7.es cliziito-Nhru9olba"
- 140-

que sale ochen ta. leguas deI Paranaba, a la me. ma. vanda,
tienen su habitacion, y en tanto numero, as i ue aldeas,
como de moradores, segun aurman los Portugueses que
all e tuviel'oo, como qualquiera otra de las mas pobla-
das de nllestro rio..
NUMERO LXXX.

Poutc~cion deZ Conmtttci (1).


A. l.J.uarenta leguas deI Pacax e t iLuada la Ald a
deI Conmut, que en aqueHas conquistas, [ue en tiempo pa-
sado de grande fama, assi por sus muchos moradore,
como por er alli donde de ordinal'io e aprestarao la
armadas, quaodo haviao de hazer u orreria. Pera ya
no le ha quedado, ni gente, por aversele mudado a otras
tlerras; ni mantenimientos, por no aver quien 1 cultive;
ni atra cosa mas que eI sitio anLiguo con pau os na.tura-
les; siempre bueno, y que con su apacibilidad, y linda vista
est brindando bermosura, y comodidades a los que le
qui ieren poblar.
:,/U)lERO LX.XX.I.

Rio de los TO,wntines (2).


A las espaldas deI Conmut desemboca el rio de los
Tocantines, que aunque eo aquellas partes tiene oombre
de rico, y aI parecer con algunos ellcarecimiento ; nin-
guno ha conocido su caudal, sino 010 e1 lrrancez, que
quando poblava sus co tas, cargava nao" de <:ola la Lierra
que de sus orilias sacaba; para Len fi iandola en la suya,
enriquecerIa. Sin atreverse jamas a mostrar tales te 01'0 a
los Barbams que en el habitan, rezeloso de que haziendo
de ellos la estima que era razon; sin eluda 10 defende-
rian con los arma. , para no e dexar de pos ceI' de Lanl1S
riquezas.
A las cabeadas de e te rio aporLaron ciertos oldado P ['-
tugueses, que desde Pernambuco, con un sa erdote l

(I) o~ porluguezes (H io!l principio - Ca",ul, e depois -CU.""l", nome eOIl


que hUJe se conltece ii clllllde desle UOllle.
(!) !lu U 1'10 Tut!lutius.
- H.-I-

u compaiiia, atravesaron todas las faldas de la Cordillera,


embu ca de nueva conqui ta , y queriendo por eI abaxo
navegar ba~ta darle fin, ellos le tuvieron desa trado a ma-
no de los Tocantioe , en cuyo poder se baIl no ha mu-
chos ano el caliz, con ([ue el buen sacerdote Ies dezia missa
en su peregrinacione~.

NU~IERO LX xx lT

El PeLI'.

Treinta legua deI Conmut, tiene su as ieoto la for-


taleza d I gran Par, poblada, y governada por Portuguese .
Ay eo ella CapiLan .1a)'or, que e obre todo lo de aqueIla
Capitania, y a qui nes estan ugetos otro tre Capitaoes
de infanLeria, ([Ue de ordinario as i ten con su compa-
nias, para la deren a de aquelIa placa. Si bieo as i e -
tos, como aqu 1, 'n Lodo obedecen aI Governador deI i\1a-
railOO: que Lieoe u as iento mas tl 'iento y treiota Ieauas
la co ta aniba zia eI Bra iI: de ([ue naceo grave io-
onyeniente eo eI Go"ierno deI Paril., que i e'te rio se
puebla, er fuera, quede por dueno deI, como quien
ti ne en u mano l:.L llave de todo.
l auo lue es verdad, que eI itio donde apresente e t
no c , a juizio de mucho , el mejor que e podia escoger,
a"iendo de ir e te tIe cubriluienLo adelante, eril. faeiI mu-
darIa a la i la deI Sol, 'aLor'e Ieguas mas a la mar; pue to
en qui o todo tienen lo ajo; por lo mu '11os camadas
que ofr ce para la vida humana; a i de capacidad, y boo-
dad cu la tierra para el u tenLo de la poblaciol1: co-
mo Lambien por la comodidad de lo navio que a elIa
aporLareo;. que en una en efiada, segura de todo contrasLe,
pneden e tal' Lodo eI Liempo que quisierel1; y quando se
hu"iereo de hazer a la vela, con la primera plena mar
quedan de embocado de todos los bax.o" ,que hazen di-
ficultoso estas puarto ; que no e pequena comodidad.
E e ta Isla. de mas de diez Ieguas tle cil'cuyLo, de bue-
na guas, mucIJo pc cada de la mar, y deI rio, grau
multidud de cangrejo, su tento orclinal'io de los Indies,
y genLe pobre; y aI pr senLe es de la pl'incir ale a dontle
van deI Pal' ele ol"dinlrio, a cazar la carne que haa me-
BesLer para su sustenlo.
- ,142 -

:\"C~lERO LXXXlJl,

E,-/a en el tn~LI' el I'ia de bs ..1m,fl::onJlS,

YeinLe : se leguas dr. la. i51a deI Sol, debaxo de la


linea Equinocial, e playado eo ocl1enta y quatro d.e boca,
tenieodo por la vanda. deI Sur, aI Zaparar (1), y por la con-
traria ai Cabo deI ."orte; de agua cn el Oeceano el ma-
,'01' pielago de aguas dulce , que ay en lo de cubierto;
el mas caudoloso rio de tod el Orbe: el Pheoix de I ,
)'ios; el erdadero M:lrai10n, tan su pirado, y nunca acer-
tado de los deI Per' el Orellana an Liguo; y para de-
zi 1 de una vez, el gran rio de la Amazorw.s.
Despoes de aver bal1:ldo eon ,U5 aguas mil y treciell-
tas y cinquenta y seiu Jeguas de longitod; despnes de
su~tentar en us ri vera infinita nacione de Barbara ;
de pues de fertilisar inmeosa Lierras y despue de ::1,\'el'
pas~.ado por el rinon de tod el Pel', ,Y como canal prin-
cipJ.l, l'ecogido en si lo mejor, Y lTLas rico de toJas sus
\'crUentes.
E te e en uma el nuero descubrimicllLo de e,le gran
rio, que encerrando en i grandioso tesoros cmadie es-
cluye; mas antes, a todo genero de genLe combi la liberai
:t que se aproveche de eHos. AI pobre ofl'ece 'U L nto ;
aI trabajador, "aLisfacioll de su trabajo; aI mercador, em-
pIe s, al soldado oca iones de valor; alrico mayore acre-
centamienLo ; aI nolJle honra; ai podero o e tado . y
ai me mo Rel' un nnero Imperio. Pera quienes mas in-
teressado se han de mo:,Mar eu e La conqui La, san 1 s
zelosos de la honra rle Dio~, y bien de 1::1 alma, pue' lan\:1.
multidu l deUa , e t ya clamando, por fieles ~Iini lros elel
Santo Evaogelio, para que con la claridad deI se les avien~
ten las ombras ele la InuerLe, en que Ila Lan to tiem po que
miserables yazen. Y nadie se e cu e desta empresa, pue
para todos ay campo de, cubierto, y por muclJos Lraba-
jadores que se cOllluzgan la mie::. eril mayor; y siempre
nece iLtl' esta nu.eva viria, de nuevo., y fervoroso o1)re-
ro para que la cultiveo; ha ta ~ujeLarla toda debaxo ele
la lIayes ele la Iglesia H.omana
A que sin duda nuesLro grande, y Calolico B.ey Felipe
IV, que Dio nos guarde mucho" y felize aDas, acudir.
de su p:trLe, con la. liIJeraliclad que acoslumbl'a, en lo
- 143-

temporal, para el sustento de Ministros tales. Y la San-


tidad de nuestro muy Santo Padre Urbano Octavo de glo-
riosa memoria, como padre, y cabe,a que o)' es de la
19le ia; e monstra cn lo e piritual no menos liberal, y
benigno. Teniendo a grande dicha que en sus tiempos
se abre anchurosa puerta, para reduzir aI rebai10 de la
jlrle-ia de una yez, ma nacione junta, y ma populosas,
de quantas en toda la America, de de sus nrimeros .Drin-
dpios, se de.cubrieron.

LAUS uEO "lRGI 11QUE )IAT1\T.


E 1:0RIAL

PH c~E:'I'A Ill)

Ei\ EL REAL CO~SEJO fiE L.\S l~nr'\.' SOllHE EL J})CHO llESCrBRDIIEwn

I1ESl'l"I'S IiJ::L HE'ELlOX UE

PORT"cCT. r ..

Cl1ri tovaL deL A. 'Ulla, religio O de La Compailia de Je us,


que Yino por orden de vuestra :\'lage tad, aI descubl'imiento
deI gran Rio de las Amazonas: cuydadoso siempre de los
mayores aumentos de su Real Carona, y rezeloso de que
acontecimicntos menos favora.bles, visto a lluestras puer-
las, ahoauen, y impidan el luzimieuto de us afecluoso
servicios.
Dize, que aunque es verdad, que la principal puerta
de aquel nnevo mundo descubierto, para mas en breye
comenar a gozar de los provechosos, y ricos frutos,
que liberal ofrece; es la boca principal deI, por la parte
que desagua en eL Occeano de las costas de el Brasl,
sujata a Porluguese , y por essa menos sazonada, para que
de pre ente se procure esta entrada. Pera que no por essa
deve vuestra Magestad desi til', ui dilatar la possession de
e. le aran Rio pue cou ma fac.ilidad, y muchos menos
17
- 146-

ga'los lo podr hazer por la PL'ovillcia de Quilo, ne los


Heynos dei Per, por la. mesmas entradas por donde el,
y sus companeros baxaron. De que resultaran sin duda
grandes ervicios de Dias nuestro Senor, y de vuestra
Mage. Lad, y se evitaran no menores inconvenientes, que
de no executaria en breve se experimentaran, y quiz sin
remedia. Lo qual se podr efectuar ~iD gastos considera-
ble' de la Real hazlenda con solo embiar 01'(1en a la
Chancilleria de Quito, para que capitule las entradas que
mas convenga, por los rios que en n juric1icion de aguan
en este principal, con alguna de las muchas personas,
que a su costa se o[recen a hazer e las onquislas, solo
por los i.lteres~es que de ella e sacan amo san, las en-
comieridas de los 1ndios, repartir tierras, proveer oficias,
y tros semejantes.
Cometiendo juntamente lo espiritual de lIas, ln lo to-
canle a la conversion, y ensenana ele los nalurales, a
los Religiosos de la Compania de Jesus, cuyo in_liluto
es este, y a que con no pequeno titulo, n esle particu-
lar descubrimiento, pueden mostrar algun elerecho: pues
sus hijos, no solo han aclarado, a cosla de su trabajos,
y de sueIos, y aun de muchos dncados, las sombras de
un nne\'o, y dilatado Imperio, qne banado de este gran-
dioso rio, ofrece crecidos aumentos a la Real Corona de vues-
tra l\Jagestadj sino que por posses ion de mas de quarenta
anos, adquirida con la sangre deI dichoso Padre Rapbael
Ferrer, derramada por los natural-as, in quienes en los pl'inci-
pios deste rio predicava, se les deve. Continuando el no per-
der este derecho los Padres de la Compania, qu por
Santiago de las Montanas, ha anos que cu1Livan con n
doctrina a los principales raudales desta nuera conqui ta
que para conLinuar se necessita en aquella Provincia de
Quilo, nueras obreras de Europa, que le ayuden en tan
copiosa mies. A que sin duda acuelir vue tra l\1agestad
can la piedad que siempre, y la liberalidad que pide la
necessidad estrema de tanta inmensidad ele nacione' di-
ferentes, de que resultaran los provechos siguientes.
Lo primero, y que siempre lo es en el christiani Si1110
pecho de vuestra MagesLad, darase sin mas dilacione ;
principio a la com er ion de un lluevo munelo ele infieles,
que miserables yacen eu la sombra de la muerte; obra
tan elel ervicio de Dias, que no se pnede ofrecer nO':!
- I'~i -
que ma lo agraue; y tal que por lia e Llal'J por o1Jli-
gado a e tablecer con perpetuidad u Corona dg vuestr;)
~Iagestad, y de nueyo dilataria mayores Imperio .
Lo segundo, ahorraranse los mucbos ga tos, que con ()
for S , eran inescusables, i esta conquista e huviera
de hazer om ;'e intenta"a, por la boca dei Rio; en con-
duzir soldarias, prevenir embar 'aciones, juntar prelrecho ,
r di paneI' tau lo nece.sario para forlllar nUel'a pobla-
cione, que in uuda a"ian ele ser muchos. Lo qual todo
se escu'a con mandar qL1C se comiene e ta conqui ta por
la entrada' de QuilO; pues hJ particu]are a quienes e
cometiere, haran cou gu lo todo el ga to, y solo neces-
c::itaran para lo e piritual deli a, ue obreros, y l\lini Iras
apto dei Evangelio, que rue.tra ]\Iage tad embie de Es-
pana, por la e trema necessiclad que de etlos ay en aqucl-
las parle.
Lo tel'cel'o, comenar ue tra ~lagestad a po. 'eer .
goza\' de lo que todo lo senores Reyes sus predeces ores,
de de el eno\' Emperador Carlos Quinto ql1e Dia aya,
digno "i abuelo de vue tra :\fage tad, d earon, y con no
pGC s ga tos, y deligencia procuraran sugetar a u Real
Carona. Para lo qual el ano de mil y quilliento , y qua-
renta fiueve el me mo Senor Emperador Carlos Quinlo,man-
db lar a Franci co ele Orellana tres navios COD uficienl
gente, 'perlrecho, para que en u Real nombre to-
m1. e])o e ion de e le gran rio de la Amazona (que
nne"e anos ante el mesmo avia navegado) por los mu-
cho utile que de executaria a i se e perayan; si biell
la tormentas, Y fiuerte de casi todos los ,oldaelos, le~
obligaron, a que rerluzido a una breve embarcacion, ar-
ribas.en a la Margarita; donde con Sll mal uce_ o, ce -
sal'on las e perana que de mu hos buenos se prometia
E pal1a si les hnvicra corrido mejor fortuna.
Y "ue tra Mage tad de de lo primeros principio de u
Reynaclo que ea por mu ho , y feliei imos ano , ocup
u desvelo en ]a consecucion de esta mi mo cometiendo
la execucion de e Le de cubrimiento a Tarias per onas ;
como con ta de SllS Re::t1es Cedulas,. despachadas en esla
conformiclacl, por los anos veinte y un, y '"einte y seis,
y treinla y quatro.
La de ele yeinLe y uno, despachada a la Real Audiencia
Y Chancillel'ia de Quilo, para que e capilnlassen las con-
- -148-

cJicione que para ai tlicbo de_cubrimienlo fues en OU-


"enienles, con el Sargento l\Jayor Yicente de Reyes Vil-
lalobos, Governador, y Capan General, en aquella azon,
tJe lo (Jnixos, jurisllicion de Quilo, que por JJegarJe u-
cesso r en el tiovierno, 110 tubo efecto.
La de "einte y eis despachada en fayor ele Benito Ma-
ziel Parienle, Portugues ele na ion, para que por las Pro-
vincia elel l\1aranon, y gran Par, que caen a la boca de
sl.e rio, comenasse sn descubrimiento; que lampoco se
puso por obra, por averle mandado acudir a la guerra de
Pernambu o,
La ele lreinl.a y quatro, despachada a Fran i 'co Coello
de C rayallo Portllglles GoyeI'l1ador que entone s ra. deI
Ylaranon, y Paril, con espre o onlen de que cnn loda
brevedad por persona de confian a, y i necessario fu sse.
el me:mo die se principio, por aquella parles, <l lo que
tanto _e elesseava; que nunca surtio efecto. 1" aI pre-
sente, CJurriendolo a si vuestra Mage tad, lendra feliz
ejecucion, y en adelant se veran cada dia mayores lo-
gros de lo que tan ard ientes desseos prometian.
Lf) 'llwl'lo, cerrarase con eslo la puerLa, a que ninguno
(le los dei Per, inl ntc arrojarse con lo te 01'05 de por
las corrientes de le rio por e cusar los derechos que por
Cartagena, se pagan a vneRlra Mage tad, y Iluir de los
riesgo de Cos::Jrios, ql1P ca. i siempre son ordin:lrios por
aquellas partes que e cierto 10 han ele preleneler, oca-
ionados de la [acilidad on que lo podran cjecular; a
([ne en ninglln modo se atreyeril. nalie <l: eguraelos lo puer-
tos principales ele sus enl.rada, como d he~ho lo queda-
ran, con las perf,onas que por ellos (~omenarcn la con-
qui~la.
Lo quinto, jmpedil'se-ha el I.rato, y comunica ion que
tanto dessean enl.ablar los Portllgneses, que a -i I.en en
la. boca ele este rio, conJos (,e su nacion e1el Pel' ('I), Q1lC
en eslo tiemp s seria bien perjuelirial. Y en ningllna ma-
nera e atreveran a intentarIa, si sllpiessen desele lllego,
se pre\'enia con tiempo Sll malcia, lomamlo las entrada.
deI. Y de qlle intenlen esta cOffillnicacion Jos Portllgne
ele aqnella coo ta (leI i\Taranon, y Par, consl.ame con tod:l

(J) No lempo (lo dominio llespanhoJ n. Pl1rlll~U zos el11 grande nnlTIPTO sn
Ilstabelecer~o no per, onelo SP lornaro relcbros [101' lla ff'liridaelo na des-
coberta ele minas.
- 1411 -

claridad, y con o Le'Ligo de que lo ai tralar mncha ve-


zes entre ello , lo podr afirmar como co a in duda.
Lo sexto, reduziendo vue tra lage Lad a II obedjencia
las principal e nacione de te rio, Y. en e~pecial la que
habilan en ,us I. las, y orillas, que san mn)" belicosas,
y que con valor ayudaran ai que una vez reconocieren
por dueno: en que aura poca, o ningnna re i lenGia por
]a mucha. guerras, que de conlinuo lienen, unas con olras,
y sugeLa una, lo esLaran con facilidad la dema j po-
dr por e1 mesmo rio abaxo, mejor annque por la mar,
e har de la b ca dei a quale quiera oLro , que COil sinie -
lt'J Lilulo la pC' ean, ya segurar por este camirro lo mu-
cho , riqllis imo frutos, y que de 1 e e peran, que solo
se dilalar el gozaria lo que se dil::tlare el pos eerle.
I dado ca o que Coon bre"eclad, orno esperamo, e ponga
freno, v ca tiaue el mal mirado all'erimien\.o rle los Por-
lugne. . y quede de embaraada la boca desle rio, para
que por lia se prosiga la conquista. Comenacla esLa Ta,
por las entrtl~las de Quilo, s har mas [acil, Y ne(',e~ j-
Laril de meno ga~to para conc1nirse con f licidad.
Lo septimo se dere adYl~rLir coo muy particular cu)'-
dado. que ya los Indios en todo el Pr, y ca,i en loelo lo
rJ cubi 1'1.0, y en e, pecial en donde quieira que ay mi-
n;l8, o oll'as grangeria de importancia, que dep nelell de
su trajo per anal, tan tan acabados, eomo lo podremos
afirmar lo que ayemos corrido aql1 lias parles, y cada
dia "an en tanla rliminucion, que en breyes an s, por
faltar el10 avran de ce ar, o por 10 meno' disminuirse en
gran p:u'te; los muehop. interesse que a. su xistencia e -
tan annexos dalo sin eluda grande, y que vuep,lra ~Ia
ge tad con sfuer.o devi ra prevenir con liempo, y reme-
diar por Lodos los medias po sibles, que no ay, ni se
pueden imaginar otros, que lomar muy a pechos la con-
quista y c.onversion de l nnero mundo, donde san tan-
tos los nalurales que le habilan, qu podran poblar cip
nuero todo lo de. poblaclo del Peru: que si e sngetan aI
yugo del Santo Evanaelio, Y Coon general paz, essaran
las continua guerras con que ada dia se con umen unos
a 011'0, se aumenlaran d uerle; que rompiendo por cor-
tas los limites que ai prc'enLe les encieITan, ser for 050
e1 elilalarse por mas e paciosos Reynos. I qnando CaD
ellos solos sr hpnRficiaran las muchas mllap.. y clema.
- ltiO -

interesses que en su nacione ofrece la fertilidad de la


tierraj se debiera, qual otro nuevo Pel' aceptal' luego su
conqui ta, y con mas la 1'a ilidad que aqui se ofrece.
Lo oct(~VO, si sucediesse que los Portugueses que estan
en la boca de te rio (que todo se puede pre umil' de su
poca christiandad, y menos Jealdad) qui iessen, ayudados
de algunas naciones belicosas qlje tienen sugetas, penetrar
por l arriba hasta llegar a lo poblado dei Per, o nuevo Rey-
de {~ranada: aunque es verdad, que por algulla parte
no hallaran resistenciaj por otras muclla la hUYiera mu .
poca, por salir a pueblos muy faltos de gente, y enfin
pi aran aquellas tierras \"aS alias desleales de ,uestra 1\1a-
gestad, que en Reynos tan distantes, pudiera solo este
nombre de desleales, cau ar gravLsimos danos. Pues
que si unido con el Olandes, como lo e tan muchos dei
Brajl intentassen semejante atreYimiento? ya e v el
uydado que pudi era dar.
T que el Olandes dessee mu hos anos ha, y aunque
procura con ,eras senorearse deste gran rio es cosa
tan cierta, que no dud afirmaria, y publicaria .luan I.aeth;
autol OJandes, en ellibro que intitul. Ut?"i,usqu,e Americce,
que sac a luz el ano de tl'einla y tres, dnde 1 libra ,17,
cap. 13. in fine dize e tas palabra : Ye?'urntamen, tam hi
(scilicet Angli et Hiberni) quam nostl'i ( cili et 13elgi) a
PortL~g(tlis e Pa?' venientibus, in01Jinato oppl'essi et fu-
gati, non leve damnum fu,el'unt pel'pesi; (ul qnorl ?'essa1'-
ciendwn, et (~cceptas iny'w'ias vindicandas rnay'01'i conatu,
et v7:ribus inslitulnm ?'epetere el urge1'e satagnnt :
Y en el mismo liv. eap. 2 dize: Post annmn a'LI,tem
1615 POl'tIJ,gali ad Pal'cp, 1'ipam qui sine dubio huy'us magni
flL~minis ?'amus est, c(epenmt incolel'c, ut ante (li:mus, et
animum acl ccetel'C~ fort adjiciente, nisi ab A.nglis et Belgis
nost?'is impedianttb?'.
De donde e colige bien claro, que el dilatar el Olan-
des la conqui la de, te gran rio de las Amaz00a , de que
en entrambos lugares babla el autor; s a mas no poder,
y no porque le falLen desseos, y estima de lo mucho que
en executarlo, 11a de inter ssar.
Prevenga pues yuestra Jage 'Lad, tan graves danos, que
este su fiel vassallo le propooe, no permita. i d lugar
a que algun dia 1Io1'emos penlidas, y en lo que aI pre-
sente se nos ofrecen crecida ganancia.
FiuallllellLe, si anuando el LiellllJU, 'ugeLu, ,r allanado
ya el pas o de'tc gl'an rio,)"a datada la entradas que a el ay
por Lodo el Perj la qui ie se reduzir a esta Yiagen quanLo
de aqul'll::ts parte cnriqlleze a Espaaj me gloriara )'0 de
ayer hec,ho a vuestra MagesLad uno de los mayore , y mas
provcchoso enidos, que de vassallo se pudieran esperar
con que no ~olo se ahorravan gran uma de ducadosj en
inmen o gastos, que eran inescusables; mientras durare
el Lragin de Panam, y Cartagena que por esLe rio por
ser PI)l' agua, y ayudar sus cOl'rien! s, serian muy mo-
derado .
Sillo que L:lmbien (que es lo dem1s coflsidel'acion) a -
egurava vue tra Jlage'Lad de una vez su flota, y sin
rezelos ue Casario , ponia ell salvo todo sus Le oras, por
lo menos hasta Ilegal' aI Para.; de donde en veinte y qua-
ll'O dias, por mal' ancho, con galeones, hecho en el
mi li10 rio, a Lodos Liempos se ponian en Espana, sin que
enemigo alguno les pueda guardar a la salidaj por ser la
co La dei Pal' tal, que ni dos dias pueden los na ios fue-
ra deI rio re isLir a la corrientes de la mar. Coo que ces-
aran de una vez lo continuos cuydados que cada dia
nos cau a tao peligroso y dilatado viage como e el de
Cartagena.
Todo, Senor, e remedial' con lo que tengo propue to
n e~te Jlemorial: a que solo anado, que la mayor parte deI
buen suce so en e la maLeria, scr la brevedatl en la
execucion. Y i) o para algo fuel'e de provecho jempr
c. Lar a los pie de "ue tra Mag stad.
JORNADA
ou

MARANHA
1'0/1

-
DIOGO DE CAMPOS MORENO
AnOENTO-;IIn DO [.TADO DO

BRAZIL
A JOl'luLda do ~fQ!l'anho feita por Jeronymo de Albuquer-
que em 1614, e que a Academia Real das Sciencias manda
publicar, como fazendo parte dos Documentos para a His-
toria do Dominios Ultramarinos Portuguezes: foi tirada
de hum Manuscrito, qne pela sua letra e frma parecia
no s datar da mesma epoca dos acontecimentos que
refere, mas at ser o proprio autographo do Auctor, que
quiz occultar o seu nome.
Bernardo Pereira de Berredo, Auctor bem conhecido
pelos seus Annaes Histo?'icos do Estado do Dfamnho, teve
j hum bem cabal conhecimento deste mesmo Manuscrito;
poi alm de o citar em o catalogo dos Livro e Relaes
manuscritas, que vem no principio da sua Obra, se erve
muito delte em o seu segundo livro, quando trata das
primeira tentativas' dos Portuguezes, para recobrar aquelle
Paiz; e sobre tudo em o terceiro e quarto, em que tran -
creve quazi pela mesmas palavras a maior parte deUe :
o mesmo Berredo confessa esse plagiato em as seguintes
xpresses tirada do 217.
PO?'q'ue tive a felicidade de que a univel'sal vivante
bibliotheca das nossas idades D. F?'Glncisco Xavier de Dfe-
nezes, 3 Conde da Ericeira, me c01nmunicasse gene?'osa-
mente h'l.Lm Manuscrito, sem nome de Aucto?', pO?'?n do
'mesmo tempo desta expedio, que confe?'ido com as minhas
'Temorias, acho qu,e he exactissimo Dia?'io dos successos
clella; me pa?'eceo fazello pblico insaciavel ambio dos
estudiosos pl'ocurando com tudo na ?'estrico formal das
suas noticias inclina?' a benevolencia dos mais severos
inspectol'es dos preceitos da HislO?'ia, 11a ?'ig01'osa c?'itic((,
rla ?'e{le es mode'l'nas.
.Tulgamo bastante e la pas agem a acreditar este Opu -
rulo; visto. er eH o mais antigo, ou paril melhor dizer
o unLC,O monumento, donde Ilo tirad tudo o que acLual-
mente e sabe are ,eito d::lllucll:l .rornada d .1 ronymo
de AllJuqne rqu .
Em quanto a .\uctor, ql e a e creveo: nio lemo,
duvida cm affirmar, que foi Diogo de Campos Moreno (01),
Capito e Sargento Mr do Estado do Brazil, o qual acom-
panhou Jeronymo de Albuquerque naquella Conquista,
no s em o seu posto de Sargento Mr do Estado, ma
Gomo seu Adjunto e Collateral ; expresses, de que se serve
o Governador Gaspar de Souza em a patente, que lhe pa ou
cm Olil1ua aos 30 de Julho de t61lL
Os motivos, que nos moy m a esta persuaso, [o bem
faceis de verificar pela leitura da mesma Obra, Mostra-
se pelo contexto deBa, que o seu Auctor presenciou os
factos, que refere to miudamente, e que linha huma
instruco sufficiente da Sciencia aval e Ar 'hitectura Mi-
litar; alm dis<::o conta por duas vezes, e com muita
miudeza factos, em que elle se achou s dentre o Portu-
guezes, ou com hum unico companheiro; , endo () primeiro
fi. entrevista que teye com Jb'. de la RavOII'diel'e, e que
vem a pago 78, e 79; e o egunclo a ontL'a entr vi La
com o mesmo Governador, que vem a pago 99, e egnin-
tes: em ambas as quaes relata com lanLa miudeza a,
palavras que disse, elhe responclro, e at s r'i os e ge -
tos dos Francezes na sua presena, que hUllla tesLe-
munha ocular era capaz cl fazer aquella nillTao Lo
circumsta nciada.
Outro motivo que n!), induz a e ta crena, 110 qUI'
a historia he escrita com lal <1.1' te , que toda a gloria
flaquelle succe so se atlribuc no a Jeronymo de Albu-
querque, mas sim ao mesmo Diouo de Campo' Moreoo;
sem que por isso o Auctor diga huma uni a palavra cm
seu elogio, orno era de esperar; pelo contrario eJle e
conLentou de fazer fallar o factos, ,em pa . ar pelo d -
douro de se gabar a si mesmo.
Rm quanlo s razes, qn fizcro com Cjue ])iogo de

tI) lIc lu1l1cm l'cconhcrido ('omo 1\ulhor (la ohrn nenominlltla-Rn,o d'Estndo
('onlcl1(!o um ml1pa rio flrilziJ.
Campos no a igna e o seu nome, ficaro 'onlwcielas,
quando depois de lid:1 a sua Obra, ,e Ylr a liberdade
com que he escrita, c a expres e com que se explica
a rc peito de algun individuas, principalmente do Capi-
Io ~Ir la Expedi o J eronymo ele Albuquerque; do
qual a apezar de tudo elle sempre se ficou dand por
amigo como diz expressamente a pago 48,
Finalmente deve- e notar, que e te Diogo de Cam-
po foi quem trouxe a Li boa o Aju te de uspenso
de aI'mas, entre os dou Commandantes Fral ez e Por-
tuguez; e que com a ua sahida do 'Iaranho para Por-
tugal e d fim queLla historia, que acompanha seu
Anctor at o apre entar diante do Arcebispo Vice-Rei de
Portuaal em 5 de Maro de 1615, epoca em que pouco
mais ou menos este Opusculo teri':\. ido e crito; no sendo
as im para admirar, que () Conde da Eri eira vie e a
ficar de po e delle.
O Manuscrito foi communicado Academia pelo seu
Corre ponden te J oaq uim .10 da Co ta e S, pe soa to
conhecida pelo seus muitos trabalhos philologicos. Asua
:u'I'ebatada morte privou ::t Academia, de que elle acaba~se
hnma erudita prefao a e te Livro: o qual elle
propunha dedicar ao Principe Regente Nosso Senhor, magna-
nimu e augu to protector de todas a empresas Acadcmicas.
JORNADA DO MARANHO
PO({ ORDE~( UE . ~IAt;E TADE FEITA O A 'NO DE Wl4.

Depois qu os Portugueze intentaro a conqui ta do


~Iaranho, gundo o refere Joo de Banas em sua
Decacla (01), e nella e penlro muitos homen , e muitos
navios, sempre esta empreza ficou eupanto a, para os
C[U quizero olhar para elIa, e to desacreditada pela
me ma razu diante de seu dono, que pau a veze e
achou om-euiente o falIar ni o: ma Deos que lIa
coisas em bem nosso tem dilIerente c:uidado, ordenou,
que o anno de W03 hum Pel'o Coelh de Souza, hom m
l1abr ,moratlor na Prayva (2) do Estado do Brazil, no tempo
que govern u Diogo Botelho, quiz se intentar por terra
o que j em outl'a occasio pai' mal' tinha sabido desk1,
conqui ta: da qual e dizio tanta grand zas que pareeia
rabulo o o .itio, as terras, as gentes, e tudo o mais que
craUi e promettia.
o faltavo homen , que acompanhando e ta teno
'e offerecro a Jornada ii sua cu ta, no pedindo mai ,
que licena, a qual em fim se lhes deu o dito anno, e
110 mez de Maio. Por ordem do dito Governador, foi fazer
esta expedio Diogo de Campos Moreno, Capito e Sar-
aento Mr daquelJe Estado, por obrigao elo cargo; e
porque juntamente foi visitar aqueJlas fortalezas; de modo
que partia o dito Pera Coelho com oitenta homens bran-
cos, e quasi oito centos rndios de guerra, e com outros
homens prticos na lingoa da terra, e levou Provi es
de Capito Mr ela dita Conqui ta, em virtude das quae
fez Capites de Infantaria, e levou doi caravele, e hum
al'ancl,e Piloto da costa Francez hamado Ot'l.tim1'i, sem
oqual no fizera nada.

(I) O,cada 1 iiI'. fi cap. III/Ii" .


(2) rray a, i. C., I arnhybil.
- 'lUO -

;. a' dcmais Goisas do provimcntu, nu roi largo caIU)


convinha, porque as foras er[Lo puucas, c as i 111 marchou
at o Jaguaribe, donde no ~iar ajuntou ,l 'i todos Clquelles
lndios moradores: cum o quae por ne ssida le da co-
mida, e por pa ar avante foi at a grande erra de
Buapava (1), e teve grandes recontro 'um os Taunjare de
)le1 Redondo, , deu-lhe Deos grandes vi tarias, tac'
nucccssos, que realmente se fra sua t no o ~laral1hu
:inente, muito as eguro, qu che'Tra a "er suas terra.
Porm o homem obrigado de cartas ele seus mandadore ,
e do mo provimento, e SOCCOITO, que Ih dero, pois
nunca foi tal que pa sas e d promessa, 'e tornou a
.1aguaribe com desenho de fazer alJi nova po,'oao, e
Colonia. Para a qual trouxe desde a Prayva (-l) ua mulher,
e filhos, e deu nome i lena a Nova Lusilania, e ao lugar
a Novc~ Lisboa (3).
Mas como todas esta' obra erito em ordem, nem bra o
ue Rey, e o Governad r tratava de que Ih~ manda e parle
do lndios, como por carIas, e onl ns sua hoje parece,
discorrendo que como de captivos era gente devida .
pri1llicias de seu governo, entendendo di to o homens, que
a Jornada se havia feito smente para captivnr, e vender
Indio , dero-se to boa manha que em breves dias ven-
dro at aquelles, que fielmente os havio ajudado '
acompanhado na guerra.
Neste tempo succedeu, que' os HolJandezes accommetLro
a Babia de Todos os Santos, endo seu General Panlo
Wancarden, a qual se defendeu desta armada bonrada-
mente, no tendo fortificao, nem artilharia equivalente
a semelbantes foras, e assim para avisar a Sua l\1agestade
deste caso, como da necessidade, que aquelle povo tinha
de fortificao, e Paranambuco de hum forte na sua barra,
e de artilbaria de alcance, e de munies ele guerra,
armas, e assim para que avisasse ao dito Senhor das
cousas ela conquista da Costa de Leste oeste, e das muitas
razes, que bavia para se acudir qt1ella costa, da qual

I(3)2)I) Vide
Duapaua, i, e., Ybiapaba
nota 2 pg.
150.
Suppe-se ser o lugar anue est
hoje eclificauu a ciclaL1e do Arne"ly,
outr'or denomindo-Cr... das Almas, para onde os Indi0s Potyguftms trans-
parlaro os ossos do celebre Missionilrio Jesuitil, Padre' Franc1 co Pinto, por
clles denominado-AmaJlayra, senhor da rhUl'a,
- HH-

sabidamente se servio, e apoderavo os Inu11Igos: fOI


mandado o dito Diogo de Campos Hespanha a tratar
esLas cousas. O que fez par Lindo no fim do anno de 60~"
ano de.605, e.606, alcanou ordem para as fortificaes
do dito Estado, e ouLras c'ousas de importancia; porm
nunca pde 'alcanar, que lhe deferissem s propostas do
Maranho: porque houve alguma opinio, que aJ01'nada (1)
era mais conveniente aos particulares. que desordenada-
mente se havio havido nella, que no ao commum do
servio de Deos, e de Sua Magestade, e que o Governador
mais tratava della por se esLar em Pal'anambuco, que
pal'a soccorrer a,.Pero Coelho, nem mandar L1'al.ar do que
convinha.
E estes juizos, que podi;o ser temerarios, todavia s
fomentavo com nova, qne cada: dia se escrevi5:o destas
desordens; que chegro a estado a Pera Coelho de Sou-
za, que desamparado do seus, e quasi mai vendido,
do que o faro os que elle vendeu, se veio deixando
tudo miseramente a p com sua mnlber, e fi lhos peque-
nos, parte do quaes perecro de fome fazendo to lasti-
moso e te seu pa sagem como o de Manoe1 de SOllza na
terra dos Cafres (2). E assim se acabou a boa teno desl.a
empraza bem comeada em nome de Sua Magestade, e sem.
custa algum~ de sua Real Fazenda, ainda que todos os
particulares ficro perdilos~ e foi necessario, que o dito
Senbor mandasse acodir desordem dos capl.ivos, tiran-
d()-os a. quem os tinha, e tornando-os a.mandar restituir
suas terras vestidos, e contentes.
Acahado este succe so pareceu ao Collegio dos Pa-
dres da:, Companhia de Jesus, que e ta empre.za era sua
daBes, e de sua opinio, e d{)cLrina, como em fim pessoas
dedicadas a descer, e amparar os 1ndios. Pelo que ha-
vendo-se bem aconselhado na materia pediro licena
para dois Padres, e quarenta 1ndios irem at a, grande
sel'ra da Buapava (3), e della ao Maranho, ou ao menos s
partes a eUe mais visinha,s. Porque entendio, que os
mesmos Indios havio de abalar-se para os receber, e
levallos a tomar posse de Lodos aquelles mU,l)dos: porm

(I) lomoda, i. c" cxpcdiii , fncfio, elc.


)2) Refere-se a Munoel cie Sousa cle Sepull'efln cle q\lo traIa Cames 110 episo-
,,10 (Ie Acla 01115101'.
(3) Vide oota (I) pago 160.
i9
- 162-

Beos foi servirlo de outra, COUSl" e succe.cleu, que havendo


os Reverendos Padres chega.'1o. j a Buapava deixando.
de novo quietos, e mui amigos os do Siar.
Passando avante fro no caminho. salteados dos Ta-
puias da serra, salvajes, que a todos fazem o me mo,
andando como feras sempre no campo, fo~ morto o P.
Pinto {1) nesta envolta, homem de grande bondade e exemp~o
na vida" que alli perdeu po~ Deos, e est hoje o eu
corpo venerado no Siar dos mesmo Indios, que dizem, que.
depois que o tem com,sigo, que sempre lhes chove agoa
do eeo, e lhes vai bem. O out~o P. Figueira (1) escapou
por entre o mato com algun dos Indios, que o eucami-
nhro, e quando se via no Siar no fez pouco, nem
a.W .estivera muto seguro; mas neste tempo vindo outl'a
vez o dito Sargento Mr do Estado visitar a fortaleza do
Rio Grande, ~ achando noticia do aperto, em que o
dilo Padre estava, e vendo que o r. Pedro So Peros queria
ir ao buscar, deu a sua embarcavo, e.Soldados, que f-
ro ao trazeI' dalli cem legoas, donde estava enfermo,
e consumido, e ta.l (im h.ouve esta segunda empreza do,
Maranho (2).
J neste tempo governava o E tado do Brazil Dom.
Diogo de Menezes, cujo zelo, e christandade parecia as-
segmar as maiores emprezas deli e, tendo entre outras
muitas cousas de substancia alcanado, praticado, e qua i
assentado a frma mais fatil, mais breve, e menos ws-
tosa de aquella conquista desdenhada, e qua i de todos
j aborrecida, e dando com sua co tumada pmdencia, e
verdade conta da importancia da co ta de le te oe te, e
de seu portos a~o Maranho, e mostrando, que no s-
estava em perigo de Cossarios se valerem deHa, mas deoutros
1yrannos, que possuindo-a podio in~entar grande cousas
contra o Pel', e todo novo mUJ:ldo da America, ao melhor
do qual ficavo de barlaventi), juntando a isto a Relao
ue certos Francezes, que em hum pataxo se tomaro na
hoca da Bahia; os quaes descobriro muito do que sabio:
finalmente deferindo Sua Magesl:ade aos avisos do dilo
r.overnaclor, lhe mandou, que com. part.icular cuidado, e..

(1) Vide sohre o fim desJe Missionario o tomo 1 destas Memorias. pago 4.0 O 4! ..
(2) Vide SObfC esta em]1reZa o fomo I desta M"llorias ' pog. 4~.
- 1'63-
diligenct e tornasse a informar da cou as rlaquel1a con-
quista, e do modo melhor em que podio fazer-se.
Em virtude de ta carla de Sua Magestade, logo o Go-
vernador o anno de 611 mandou ao Sargento Mr Diogo
de Campo ao Rio Grande, para que como parte mai
proxima ao Jaguaribe de novo se informasse do que
convinha ao comprimento da ordem do dito Senhor.
Tinha odito Diogo de Campos hum parente seu, o qual
de mui pequeno havia mandado com Pero Coelho de
Souza, para que servindo naquella .entrada aprende se
a lingoa do Indios, e seus costumes, dando-se com
elie, e fazendo-se seu mui familiar, e parente', ou com-
pad1'e como elies dizem. Succedeu jsto tanto medida
do desejo, .que havendo- e Pel'o Coelho de Souza retirado
em descredito dos Indios, e os Padres da Companhia
com pouca dita, o moo chamado Martim Soares ,Mo-
reno sustentou o credito, e amizade destas gentes do
Jaguaribe.
Pela qual opinJo o dito Governador D. Diogo de Me-
nezes o fez Tenente da fortaleza do Rio Grande, donde o
achou servindo Loureno Peixoto Sirne ("), qnando foi ser
Capito de aquella Capitania, fazendo que em seu tempo
[) dito Martim oares fo e como foi trez vezes ao
Jaguarib , cada vez confirmando mais a paz, e amizade
com Jacauna, Principal (2) de aquellas gente, o qual lhe
chamava filho: de que succedeu, que chegando o dito
Sargento Maior ao Rio Grande, fez huma mui conve-
niente, e nova relao da cou as de aquella conqui ta,
de modo assim guizada narrao de seus fundamento,
que foi assignada por todos os Cap i tes de aquellas Capi-
tanias do Norte at do de Paranambuco, assegurando ser
convenienlissimo fazer-se a conquista, e irem-se as egu-
rando, e povoando primeiro alguns portos de a'luelia costa
com pequenos presidias.
Com estes pareceres se resolveu o dito Governador,
no s de avizar a Sua Magestade, como fez compl'imen-
to da ordem que tinha: mas de dar como deu principio

(l) Este Governador roi nomeado om 21 ele Agoslo lo lOO (Varnhagen-


HIIl<JYla do Dra:it t. 2 pago J5:J). .
(2) Principal, i. e.. ~lorubixaba ou Chefo. Por aqui se v que JaCauna era
POlygura, o nao Ttlbojiiru.
- 161 -
obra o dilo allno; e assim de palillOll ao dito Martim
Soares fazendo-o Capito de 8iar, e dando-lhe ss dois
soldados, a fim que os Indios o no tivessem por
hospede pezado, e vissem como no hia a lhes fazer guerra;
mas antes a se fiar nas suas amizades, e foras: e que assim
tratasse de fazer fortaleza, e Igreja para se baptizarem, e
doctrinarem os ditos Indios. Para o que lhe deu Capello,
ornamentos, e hum sino, e outras cousas frecessarias com
que se partiu, e chegou a salvamento ao Siar. Donde fun-
dou Igreja a Nossa Senhora do Amparo, e fez hum forte
capaz de duzentos homens soldados, e moradores, e
neHe com amizade, e f de Jacana. O qual fez vir
a alojar-se meia legoa do forte com a ua Alda.
Suoceclendo para confirmao deste bom principio, que
tomu o dito Martim Soares hum navio Hollandez com
ajuda dos Indios, indo elIe n entre elles, e tingido
de gimpapo ('1), que faz a came como negro de Guin;
matando em terra, e no dito navio 42 homens fican-
do senhores da nau, e do que tinha em si de manti-
mentos, armas, e artilheria, e munies, e com este
successo augmentando-se o credito da dita Povoao,
fizero fugir do porto de Mucuripe outra nau, matando-
lhe alguns homens do batel, o que foi causa -de
que a H>, ou 16 lagoas daCJU. fosse dar costa:
onde dizem, que se perdeu lm da gente, muito
marfim, e ouro da costa da Mina, que com doena
no havia quem mareasse as velas: tndo isto acon-
leceu j no cabo do governo do dito D. Diogo, e
estando elle na Bahia de Todos os Santos, confiando que
de Paranambuco se teria cuidado do que no a Colo-
nia importasse
Mas succedeu, que se descuidro tanto do dito Mar-
tim Soares, que quasi se viu desaoreditado, e perdido
'com os Indios, que soberbos das prezas alcanadas, e
no vendo, que se fazia conta de aquelies brancos, e
no faltando hum mo Christo, que de secreto avisava
aos barbaras, que os matassem, que sem ordem se havio
itlo alli para os cap Livarem. Estivero mui em risco de

(1) G!mpapo, I. c" gcnipapo, fruelo quc produz uma tinla prcla dc que USlI\'M
os IndlO~. ,
- 16tl ._~

perder as vidas, e o bom principio, que com justa cfuieLao


se havia dado: e succedra damno, se o dito Martim
Soares j mui pratico na lingoa, e modos de proceder
dos Indios no se valra de sua industria, at que lhe
chegou soccorro.
Ne te tempo sendo Sua Magestade j informado das
cousas do Maranho, e da importancia dellas, e do modo
em que o Governador D. Diogo de tenezes lhe tinha dado
,principio, e havendo creado novo Governador do dito Estado
.a Gaspar de Souza, Fidalgo de tantas partes, e to grande
soldado, que para eUe parece que guardava o Ceo este
'encantamento, e que deUe e podio esperar todos os bons
successos: mandou, que conformando-se com o que mais
conveniente lhe pareces e para a dila concfU ta, assistisse
sua pes oa em Paranambuco, e tratasse de eleger pe~oas
em cargo, quaes para a tal JomadCb bem lhe parecesse.
Porque de tal sorte lha encarregava, que para a fazer
lhe dava todo o poder necessario em assistencia de dinheiro,
como em efIeito lhe deu, e 'parou todas as prevenes, e
cartas necessarias, como se ver adiante, e assim tanto,
que o dilo Gaspar de Sousa entregou a Paranambuco, no
s tratou ele soccorrer como fez a Martim Soares em hum
momento; mas para a conquista elegeu logo Capito, no-
meando no dito cargo a Jeronymo d'Albuquerque por ser
experinlentado nas cousas do serto e dos Indios, como
por ser grande Truxamante (i), ou lingoa entre elles, e com
nome de seu bemfeilor, e parente ser mui acceito, e conhe-
cido em toda aquella costa.
Nas quaes qualidades parece que consistiu o maior pezo
da expedio, que sem Indios era impossivel fazer-se, antes
o nmero delles quanto maior fosse, mais parece, que asse-
gmava a Jomada, e as im se tinha o dito Governador
persuadido nesta considerao, que com s este homem
abalar-se, se abalaria todo o Gentio de todas as partes, sem
despeza da fazenda de Sua Magestade, sem algum trabalho.
Com tudo no quiz o Albuquerque partir-se sem muitos
homens brancos, e tanto resgate, quanto pde tirar da fa-
zenda de Sua Magestade, dizendo que alm da sua fama e

(I) X'u.amaut. i. e.. interprete: do Frunce'L Iruchcmcut. Tumbem se diz


ll'ugimo. '
- 1(j(:j -

uas davidas (1) e llavio ue abalar todos os Indios de .laglla-


ribe (2), de Buapava (3), e os Tapuias do Parameri (lJ.), chama-
dos Tel'emembes: e em eIIeito vindo a contentar-se com oque
lhe dero, que no foi pouco, se partiu, e chegou ao Siar o
anno de 613, donde levou comsigo ao Capito Martim Soares j

que com facilidade se lhe oIIereceu para reconhecer tudo


o que faltava da costa at o Maranho, e que entraria
no mesmo rio, e com toda a brevidade possivel tornaria a
dar aviso se podesse, que entre tanto seria bem povoar- e
o Camur (5), que era um rio naquellas partes de milito nome,
e muito proximo grande Serra de Buapava, e dos
Teremembs, com os quaes era mui necessario as ental'
pazes.
Partido Martim Soares, o dilO Jeronymo d'Albuquerqlle
se foi ao Camur, e no achando cmmodo para povoar
por ser toda a terra misera, secca, e sem agoa para beber,
se tornou atraz cousa de oito legoas bahia das Tartarugas
chamada Pe1'~bquaqrLta?' (6), e alli assentou huma povoao;
na qual fundou hum Altar a nossa Senhora elo Rosario, e
tratou com os Indios da Buapava, que o seu principal,
chamado o Diabo Gl'ande (7) Oviesse vr, e ouvir sua falia;
mas o Inclio dando suas escusas, mandou hum filho seu,
oIIerecendo ao diante, quando elIe tornasse, fazer o que
lhe mandassem em nome de Sua Magestade, de quem
era amigo, e dos brancos: com isto se acabro os tratos,
e obras ele aquelle anno, e da despeza nelle feita, que
realmente, como dizia o mesmo Governador, j parece que
pedia maior satisfao de obras; mas faltando Martim Soa-
res, de que no havia mais novas, que as que havia mandado
do Par, dizendo, que tratra amizades com os Teremem-
bs, e que passava ao Maranho: e vendo que o Diabo
Grande havia refusado vir a seu chamado, e que os manti-
mentos faltavo, e a gente padecia falta de todas as cousas,
determinou de deixar nas Tartarugas 40 soldados com
hum seu sobrinhQ, e partir-se por terra ao Siar com o
resto da gente, mandando os barcos, que costeando a costa

(II Davida., i. e.,


(2 Potyguras.
dadivas.
(3 TabaJras.
(4) flaramari, Paramirim, he hoje o Parasinho.
(5) Cam"ri, ho hoje o Camucy, rio do COlll"1\.
(6) Paruq"aquara, hoje challlilIDos-lericoacoara. Outros dizelll-ltlrarcoara.
(7) Jarupary-am.
- ,167-

00010 melhor podessem, se tornarem a Paranambuco, para


donue elle t.ambem logo caminhava, no lhe parecendo ne-
cessario para nenhuma cousa destas ordem do Governador;
e assim foi e te o fim da primeira Jm'nada de Jeronymo de
Alhuquerque o anno de 6'12 (4-), chegando a Paranambuco
a alvamento.
Neste mandou Sua Magestade ao Sargento-Mr daquelle
EsLas.o Diogo de Campos, que logo <:e embarca e em Lisboa,
donde com licena do dito Senhor havia ido a levar sua ca a
e que se fos e a servir na J Q1'1wda do Mamnlto; porque
quando de l viesse lhe mandaria fazer as mercs e honras,
que por aquelJe, e os demai seus servios merecesse. A i to
replicou por trez vezes com in'iltancia o clito Sargento-Mr,
e cu anuo- e de tornar ao Brazil, donde estava j despedido
com licena do dito Senhor: ma e tando ne tas duvidas,
succedeu, 'que chegou aviso Crte como os HoIlandezes
armavo para o Brazil. Pelo que o Secretario Ferno de
Matlos em Junho de 613, da parle de Sua Magestade,
mandou ao dito Diogo de Campos, que logo e partis,e a
Lisboa, donde acharia huma armada at. &,00 homens, a qual
se fiaya, s da diligencia, e partes ue sua pessoa, com a qual,
e com Mini tros de guerra, e artilharia <:e havia de partir
a soccorrer o Governador Ga par de Sousa. Chegou a U"hoa
o dito Sargento-Mr em ete dias, donde achou trinta sol-
dados assentados no armazem.
Comtudo sustentou esta opinio como pde, avisando ao
Governador: do qual teve resposta, que a gente que se fazia
era mui necessaria; porque quando para a Jornada do mar
para o effeito no servi se, eria para a Jomada do Jlfam-
nho, donde ninguem se deliberaria ir por ua vontade.
Com esta carta se tornou a aquentar a leva da gente. rorm
chegou logo outro aviso do mesmo Governador, que a gente
no convinha, porqlle se no achava em tempo aquelle Es-
tado para os pagar, e que s tomaria artilharia, e armas,
de que havia grande falta para o novo forte do Recife, e
para os moradores. Com esta carta o Sargento-Mr do Es-
tado tratou de se partir com as nos da India, e assim alcan-
ando duas colebrinas para o Forte da Lagem do RecHe de
Paranambuco, e algumas armas e munies, e cousas para

(~) '(ide BeJ'r.edo-A""aP! do ~fa"anlliio liv. 2 de n. 194. i\ 198.


-16 -
a i01'nacla o 1llal'anho, se partio em huma urca .em! 8 de
Abril do 161. com at cincoenta soldados, para guarda de
tudo sem levar outra cousa; porque conforme aos avisos do
Governador, se entendia no haver mister nada.
A 26 de Maio do dito anno chegou o Sargento Mr
do Estado ao Recife, donde no tocante Jornada do jJrara-
nho, achou hum caravelo da costa apercebido de 300
alqueires de farinha smente para levar soccorro aos da
Tartarugas, que havia trez mezes, que comio hervas do
campo, padecendo notavel necessidade de todas as cousas:
e achou que os ditos soldados bavio sido accommeLLidos
de Tapuias barbaras daquellas comarcas, que em numero
de at 300 viero huma madrugada a dar na cerca, donde
os Portllgueses se defendro honradamente, tratando-os
de sorte, que os fizero affastar, e depois os obrigro a ser
amigos.
Com este soccoro estava o caravelo, c falta de gente
nao partia. Porque ainda que Jeronymo de Albuquerque
que estava nomeado, e se passeava na Villa, estavo to
frias as suas prevenes, que foi necessario mandar o Go-
vernador bum substituto com o soccorro, at que a armada
fosse, e assim foi Manoel de Sousa de Ea, natural das
Ilbas naquella Provincia, e Provedor dos defuntos, e au-
sentes em Paranambuco. Finalmente para o caravelo
partir se tomro quatorze soldados, dos que trouxe o
Sargento Mr, e dezeseis Castelhanos arribados alli da
Filipinas.
Com este apresto aog 28 de Maio partio o dito soccorro,
levando por culpa dos Officiaes menores to pouca polvora,
que no chegou a dois anateis. Chegaro a "alvamento s
Tartarugas a tempo, que logo a 1.2 de Junho cbegou quelle
porto huma no de 400 toneladas com 300 Francezes, de
que se dir adiante, os quaes hio de soccorro ao :Mara-
nho. Mas parecendo-lbes convenien te desfazer aquelle
presidio, lanaro em terra at 100 homens, com os
quaes os Portuguezes vindo as mos fra ela sua cerca
os escozero de feio, que com hum morto, e sete feridos,
os Francezes se retirro sua no, e se faro 'se-
guindo sua viagem, ficando dos do Forte morto hum, e
feridos quatro.
A causa desta gente se embarcar sem fazerem mais
- ItiH-

fora. aos da cerca; foi pUl'q ue uo lrazi0 mais orelem,


que para egillr sua viagem. Com luuo qllizero pro-
var a mo para chegar honrados; mas como viro mais
resislencia, do que lhe ha.vio elito, logo desistiro seguindo
seu caminho.
De tudo isto leve o Goyel'llador geral ayj o, e de que
em Siar. tambem a me ma no lanra gente em terra,
a qual levava Frades, e hou ve carLas sua delles em laLim,
a que se no deo ct'ediLo. Isto se soube por avisos dos
Presidias, o quaes ainda que distante 200 legoas, j se
a1'enLuravo os oldados paI' t erra a levaI' cartas a Para-
nambuco em menos de hum mez. E assim e te ultimo
aviso, de que se trata, lcni.ro Jorge Corra, e Jorge
da Gama, soldado do Siar, que chegro a Paranambuco
em 15 de Junbo, e ~faooel ele Sou a d'Ea, cbegou com ()
SOccorro s Tartarnga, a \) do dito mez, egundo depois se
soube.
OGovernador Glspar d Sousa, com o empenbo desta gen-
Le, a qual com os de 'iar;], chegava . 90 soldados de paga, pa-
recia-lhe no dilatar o resto, por no fazer vans as despezas
de cada dia, e os soccorro , que andavo, e devio ele andar
na carreil'a: pelo que desejava a sabida de Jeronymo de
Albuquerque; e d'outra parLe como as cousas do Maranbo,
e da sua Costa andavo tio escuras, no havia pessoa
alguma, que daquellas partes dsse a conveniente noticia,
~endo-se ~Iartim Soares, por perdido por faltar recado seu,
ja quasi passando hum anno, deLerminou com tudo de no
estar parado, antes lhe pareceu como prudenle, que aquel-
la Costa, ou por terra, ou por mar se acabasse de reco-
nhecer at ornai proximo ao Maranho, que se podesse,
fazeodo- e no Par (-1), ou no Ototoy (2) huma grande povoa-
o, a qual fosse abrigo da Jomada, e de todas as outras;
assentando-se em parLe, que houvesse terras. para cultivar,
ppr vr se poderia forrar- e custa, e trabalhos dos man-
tImentos, que com tanta difficuldade se acbavo, quando
convinba.
. 1:'elas quaes razes, e por huma natural confiana, que
tmha em dar bom fim empreza, mandou a Jeronymo de

(I) Par<, j, e., na fz do Parnahybo. tambem chamad Par-gllass. ou sim-o


plesmente P.yl.
(2) OtoCO!!. Hoje chamllmos Tllloya.
20
- -170-

Albuquerque, logo se parti se a abalar os Indios, para que


'onforme a quantidade delle~ se aprestasse o neces ario:
mandou juntamente, que ao dito se lhe passa sem novas
Provises, e Regimento e ao Sargento mr do Estado do
Brazil, Diogo de Campos, nomeou por Collega, e colIateral
.do dito Jeronymo de Albuquerque igual voto nas cousas,
para que nem se escusasse da ida donde Sua Mage tade
o .mandava por e tal' nomeado o outro, nem j que Cos e,
houve se differenas na re olues das orden" qne como
bavio de ser por voto, sempre a publicao della de
necessidade havia e er em nome do Capito da COII-
quista, que a ninguem se ficava subordinado mais, que
ao Governador, e ao Sargento Mr do Estado por eu cargo:
to pouco de outra pes,oa naquellas partes, que do Governa-
dor Geral podia tomar a ordem.
Assim foi mui conveniente a traa para Sua Magestade ficaI'
melhor servido, como depois se mostrou nos elJeitos.
Tendo isto assentado, mandou que se embarca sem
2.200 alqueires de farinha da terra em cinco barcos, ou
t:araveles da costa com ferramentas, e coisas necessaria ,
parecendo-lhe, que para o que se havia de fazer, que
bastava este apresto; porque cada dia esperava ir provendo
t:omo necessario fosse, de modo que Jeronymo de Albu-
querque partia para as fron teiras dos Indios da Prayva
a 22 de Junho: e Diogo de Campos comeou de entender
com a embarcaes, e assento dos soldados, ad\'ertindo
do que mais conveniente lhe parecia para o tempo, e ne-
cessidades da Jornctda, a qual com menos de sei mil al-
qneires de farinha no era justo intentar-se pela falta de
Pilotos, que havia para levar soccorros, do quaes no se
podia ter confiana, at que dos mesmo navios tornas-
sem alguns a barlavento, coi a que at aquelle tempo e
tinha por infibita. .
Fundava-se, que a junta havia de ser de mais de mil
almas, entre os qllaes o mesmo Governador fazia conta
de :.100 homens de mar, e guerra, e de 500 frecheiros
Indios, fra suas ml1lberes, e creaturas, e os do Par,
e Bua'pava, que o de Albuquerqlle assegurava, que
e abalario com eUe para a .Tornada. E ludo isto roa"
podia em cinco caraveles fazer-se, e- com a dila farinha,
que no chegava a 3.000 alqueires, sem ontro provimento
de comida, vinho, e azeite, nem rame, nem mesinhas,
- til.-
nem Fysico, nem Barbeiro, llem coisa alguma das que
Sua Magestade manda se dem a huma no, que parte do
porto. quanto mai a huma Conquista to perigosa nestas
coisas. Ainda que o dito Sargento Mr se mostrava 801-
licito, no era mui agradavel ao pouco que se podia a
respeito do dinheiro, que faltava, e da gente.. que no
havia, e dos avisos do Albuquerque to varias, qU se no
podia sobre elies fundar mais que dvida.
O Governador com sua prudencia a tudo satisfazia, man-
dando Mini tros por toda as partes, ajuntar farinha, pe-
dindo dinheiro empre tado para a leva da gente: toman-
do mais embarcaes, mas de tal modo, que nem custosas,
nem defendidas fossem de seu. donos, e estas taes como
ro navio mancos, pequenos. e velhos no authol'izavo.
nem assegnravo a J01'1~ada, antes no meio destas pre-
venes todos entendio de fra, que a Jornada se dei-
xasse. O Governador tudo isto fazia com o olho em J eronymo
de AlbuqUl-'rque, que humas vezes avizava, que havia de
marchar por terra, e logo tornava, que no podia ser,
seno por mar, e isto assim como com elle o praticavo
os Indios, qu hUlls querio, e outros no querio
embarcar-se.
Os Padres da Companhia dizio, que por tena era im-
possivel fazer-se coi a boa por a' larga distancia ate oSiara,
e caminho sem gota de agoa, nem folha verde em muitas
partes, de modo que quando mais as coisas se mostravo
libias, e que como digo nem o mesmo Govemador parecia
fiar-se nellas, ento largando a casa de Paranambuco se veio
ao Recife, desejando de huma ou de outra sorte lanar fra
o que junto tinha, promettendo ser mui continuo, e prom-
plo cada mez em mandar os soccorros necessarios.
Alexandre de Moura, e qua i todos os homens praticos
daquelle Governo tinl1o comtudo o negocio por dmidoso.
e no se contentavo dos fundamentos. nem da noticia.
nem do cabedal daquella coisa; a qual estando assim che-
gou aviso de Portugal do Capito Martim oares i\Joreno
ser vivo, e estar em seus trabalhos arribado por lndias,e
que .havia visto o Maranho, e suas terras, e a grandeza. e
bondade dellas. e que achava. que tinha muitos Frallce-
~es, e fortalezas, e infinitos Jndios . sua devoo; pelo que.
Julgava serem ne.cessarias para aquella Conquista gran-
des foras, e exce~sivos gastos. e que p3~'a mais assim se
- 172-

informar do que passava naquella parte mandava o Piloto


Sebastio Martins, e alguns s0ldados dos que com elle se
achro, dos quaes se poderia tomar mais larga informao,
at que Sua l\lagestade manda e o que fosse servido.
Esta gente, e aviso chegou a 24 de Julho a tempo, que
o Almoxarife da Jomada linha j recolhido assim todo o
pagamento dos presidios de Siar, e Tartarugas, em fato,
e alguma polvora, e munies de guerra, e sempre se reco-
lhia, e embarcava a mais farinha, que se podia sem se tra-
tar de outro algum mantimento
Tambem estes dias persua,o do dito Governador se
acabaro de resolver os Reverendos P. Capuchos de darem
para a Jornada os dous, que tinho 'fferecido, os quaes
fro nomeados, e tocou a orte ao P. FI'. Cosme de S. Da-
mio, que havia sido Guardio Lla Prayva ('I); e assim ao P.
FI'. Manoel ela Piedade, natural daquella Provincia do Brazil,
homem nobre, Tbeologo, e grande lingoa dos Indios. Aestes
Reverendos Padres se no (leu coisa al;-lma da fazenda de
Sua 1\'Iagestade, antes eltes de esmolas se aviaro de calices,
ornamentos, e tudo o mais ao culto divino necessario, e da
comida, com que fizero infinitas caridades a todos os da
.T m'nada, a que pozero nome a milagrosa. Quiz O Co
mostrar, que na maior pobreza dava u mr provimento, e
na menor notir;ia o maior conhecimento. E assim que tam-
bem havia de dar como deu 'no tempo da mr fraqueza o
maior esforo. Isto s peli virtude destes dois Sacerdotes,
sua vida, seu exemplo, e seu bom zelo.
Tambem neste tempo se offerecl'o alguns particulares
para a dita Jomada, como foi o Engenheiro'do Estado Fran-
cisco de Frias, que com grande louvor tinha acabado a
fortaleza da Lajem do Recife, e assim o Capito Gregorio
Fragoso de Albuquerque, que acceiton sua custa servir
huma companhia, e foi exemplo aos demais Capites; que
tambem se contentaro com a paga ordinaria de soldados,
at Sua lHagestade mandar ordenar se lhes dsse soldo, con-
forme a causa, e elles o merecessem, e assim se formaro
quatro companhias de 60 soldados cada huma, afora os par-
ticulares Aventureiros, que em huma esquadra parte acom-
panhavo ao Capito Mr, quando convinl1a.
Com as novas de Martim Soares, e com a vinda de Sebas-
(1) vide nota ('2) pog. 159.
lio larlins se acabou de deliberar o Govel'llador a fazer mais
alguma de peza, e mandar ganhar a barra primeira do Ma-
ranho chamada Pel'ej (1); porque o dito Piloto se obrigava.
a metter nella os navios em parte segura com agoa, e terras
boas para cultivar. Suppo to que o homem huma s vez
havia entrado naquelle porto, endo j passado hum anno;
mas a ua egurana, e o de ejo do Go,elnador que tinha
de lanar fra e ta armadilha, Iazio ganhado o Perej, e
a todos mui contentes se e vis em nelle: e assim mandou
fazer assento, de que se fortificassem nesta barra, e d sem
logo aviso a Sua Mage tade, e a elle Governador do que con-
vinha a seu Real servio.
J as ordens chegavo a este termo, e a cadeia, e os fortes
estavo cheios de preso para embarcar, e o volunlarios
abicados s embarcaes pedio que comer; mas a comida,
e coi amai neces aria, no e achavo: pelo que o Sar-
gento-Mr do E tado no ces ava de fazer lembranas, adver-
tindo, que ~1anoel Ma carenhas Homem, e Feliciano Coelho de
Carvalho, quando fro a conquistar, c povoar o Rio Gra.nde
sessenta legoas de Pernambuco, que o Governador D. Fran-
cisco de Sou a, antes de tratar na expedio, fizera o pt'Ovi-
menta da Jornada com 12 mil cl'Uzados em dinheiro da no
da India, que foi ter Bahia de Todos o Santos, e deu todos
os direitos dos escravoS de Angola, e pz hum cruzado de
tributo sobre cada caixa de assucar, que se carregava na-
quelle porto, e mandou, que se toma se todo o dinheiro que
estava recolhido dos defuntos, e absentes, afora os sobejos
dos dizimos, e afra o que gastro muitos particulares por
servir a Sua Magestad e, em que houve homem, qu e s de sua
fazenda gastou dez mil cruzados naquella Jm'nada: e que
alm di to Alexandre de Moura estava naquelle tempo no
Recife assistindo a mandar ao dito Rio Grande todos os na-
vios de provimento, vinhos, azeites, comidas, assim como
chegavo do Reino; e que Sua Magestade tambem mandou
em duas grandes urcas, pela grande diligencia, e zelo do
Conde Meirinho ~'1l', que gov.ernava a Fazenda do dito Se-
nhor em Portugal, nove peas de alcanee de bronze, e mui-
tas de ferro coado, com tantas munies, armas, e comida,
que hoje parece coisa incrvel.
Tambem veio ordem ao dito ManoeI Ma care,nhas para no-

'I~ Ptrrj.. j, e" Prri ou T'irici.


- iiI, -

mear, e dar cargos, e ordenados, quaes lhe bem pareces.e.


como em e[[elto deu. E com tudo isto dizem, que a Jornada
esteve to arriscada a se alargar da mo, que tivero feito
~ssento disso, se Feliciano Coelho de Carvalho no chegra
com o soccorro da gente da Prayva; sendo que os Indios
ero em mui differente numero, que os do l\Iaranho; e os
Francezes, que com elles andavo, no chegavo a 60 ho-
mens sem cheiro de nobreza, nem ordem de Ue)': o que
tudo he to differente na Jornada, que se trata, que s de
Paranambuco a Perej ha 300 legoas, sem remedia, nem de
tornarem to cedo os navios, que l forem; e que he coisa
mui assegurada serem as foras dos Francezes mui grandes;
pois s huma no, de que ha\'ia noticia, alm do que avisa-
va Martim Soares, era de 1~00 toneladas, e levava 300 ho-
mens, muitos Frades, e povoadores, o que tudo assegurava
haver daquella banda alguma grande Colonia, contra a qual
achava serem necessarias mui difTerentes foras das que ao
presente sua Senhoria tinha, nem ajuntar podia sem outros
particulares favores, e ordem de Sua NIagestade, de quem era
necessar.io aguardar-se aviso; pois o que estava apparelbado
s servia para engrossar as Colonias da Costa, e lanar as ba-
lisas mais avante, o que a boamente faria se podesse, sem
aventurar o todo da Jornada, a qual se esta vez e desacre-
ditava, ou perdia, que para sempre O' encantamento do Ma-
ranho ficava mais cerrado, e mais espantoso aos olhos de
todos pelas perdas j apontadas.
Bem ,via o Governador, que isto era fallar aproposito,
ainda que no mostrava agradar-se de difficuldades, e ma.is
quando as achava geralmente naquelles, que aconselhar o
podio ~a materia; e para mais ajuda, chegou estando nes-
,tas dUVIdas huma carta de Sua Magestade, em que man-
dava, que sobre toda outra coisa se lhe carregasse o po
brazil s despezas do dinheiro dos dizimos, e que no
houvesse nada, qlle isto estorvasse, sob pena de se haver
pela fazenda, e bens de quem causasse o contrario.
Aqui acabou o Governador de se desgostar da Jornada,
e sem dvida a deixra, seno estivera tanto cabedal
mettidoJ Comtudo tomando novo parecer, mandou fazer
outro assento, que visto ter feito despeza de mais de 16 mil
c~uzados, e estar quasi prestes tudo o que a terra po-
dia a boamente dar de si, e Jeronymo de Albuquerque
ser j parado ao aio Grande com 300 Indios frechei-
- 17;> -

l'u:> conforme avisava em 2~ de Julho dito, com mui"'-


ta gente branca com todos os quaes fazia, e tinha feito
despeza de dinheiro, armas, e mantimentos, e que parte
dos Indios j marcbavo por terra, sem embargo do que
dizio os Padres 8a Companhia, mandou, que logo se par-
tissem dous caraveles da Costa dos cinco, que estavo
destinados com 1200 alqueires de farinba, os quaes com
a gente, que levar podessem, se fosse logo ao Rio Gran-
de para assistir a Jeronymo de Albuquerque; o qual en-
tendia, que sem dvida marcharia por ten'a neste modo
de empenhar as coisas.
Fundava. o Governador hum grande atalho ao que se
lbe presentaya de diffic111dades, esperando que Deos o
desempenhas. e, pai a Jornada era tanto de seu servi-
o, e comtudo no parava de aviar ao Sargento Mr,
que empre apertava por farinha para seis mezes pelo
menos, pois dos soccorros no havia que ter confiana,
como fica dito, nem nas partes donde chegassem, se lla-
"ia de presumir, que havio 'de achar mais favor, que o
que com igo levassem; e o que o rigor da guerra lhes
permitti se.
Emfim o Governador havendo cbegado do Rio de
Janeiro navil s com farinha, e outros com peixe; mandou
tomar at seis mil alqueires de farinha com a que es-
tava embarcada, e 100 arrobas de peixe, e vinte canas-
tras de sardinhas, e 20 ql1intaes de polvora: tres peas
de artilheria de ferro coado, duas de 13 quintaes, hu-
ma de '.3, com 200 balas de ferro coado, arcabuzes, e
mosquetes, chumbo, e murro; e tudo o que mais pode
do armazem, com que Jogo mandou ao Sargento Mr do
Estado, que se partisse pondo no negimento da Jornada
buma postilla, que a J o1'nada fosse ao Par (1), ou Ototoy (2),
ou ao Perej (3), donde melhor podessem sem aventurar na-
da, antes que chegando aOPerej, se fortificassem, e
avisassem Sua Magestacle ao l\eino, e a elle G"Overnador,
por todas as vias; levando sempre a mira a fazerem a
Conquista do Maranho sem se perder ponto, nem oc-

(1) Par, i. e., o rio Parnahyba. Provavelmente o porto hoje chamado da


Amnrr~cao, ou qualquer outro na grande f6z deste rio, actualmente chamada
-Barra das Canaria$.
(2) OIO'oy, i. e., Tutoyn.
(9) Pmj. i. c., Peri, ou Piri.
17(j -

casio, quando se offel'ec s-e por 8er este o ultimo tim


de tanta despeza.
Com isto, e com outro aviso do de Albuquerque, que
Linha 320 frecheiros com suas familias; alm dos que por
terra marchavo com oCamaro (1),Indio seu Principal delles,
e homem de que fazio muita conta. Comtudo, que con-
vinha serem as embarcaes muitas, e mui capazes para em-
barcar-se estes, que com elle estavo c.om suas familias,
e assim virem mnitos mantimentos, e ferramenta, que
era a sua orao, sem tratar de outra coi a.
O Governador vendo esta ultima petio, mandou e
tomasse mais uma caravela, e bum patacho Francez, tambem
navios mancos, e no mui c.crpazes; donde se pozero doi
falconetes de bronze, que estavo em dois dos caraveles da
farinba. Com isto feito em 2,1 de Agosto estando todos em-
barcados, mandou o Governador descer a armada para
baixo; a saber, dois navios redondos, uma caravela, e cinco
caraveles com at 100 homens de mar, e guerra, que com
os que esperavo nos presidias fazio numero de at 300
Portuguezes; e esta foi a armada milagrosa, com que sahio
o Sargento lVIr do Estado, Diogo de Campos Moreno Con-
quista Llo Maranho aos 23 de Agosto Lle 'J61ft-, sabbado s 7
horas da manh, a se ajuntar no Rio Grande com Jeronymo
de Albuquerque seu collega, Capitu da dita Conquista.
Este dia veio a armada a surgir no porto dos Francezes,
defronte do rio Aviyaj (2), na Capitania de Itamaraca.
Deste porto em 24 do dito partia a armada com bom vento
terral, e correndo a Costa veio a surgir . bahia da Trei-
o(3) no cabo da Capitania da Prayva (4), e na derrota en-
contraro este dia o caravelo, que vinha das Tartarugas
de levar a Manoel de Souza, e o ja dito soccorro, o qual
comp parece tinba na viagem posto desde 8 de JUho
at 24 de Agosto, em que e mostrfl a difieuldade com
que daquellas partes se torna para balravento.
Em 2~ do dito com bom tempo terral partio a armada
na volta do Porto dos Buzios, e na derrota se tomou o

(I) Camaro. TraducO do nome de PO/y. Por aqui se v que este Indio, que
depois foi to celebrado na luta com os Hollandezes era Polyguara, e do Rio Grande
do Norle.
(21. Aujyaj.. Re o rio ou rz l/ue hoje se chama Abi. ou Abiahy.
(31 Bahia da Traio, ou Accjutjbi"d.
(4) Se era este ponto, o limite da Capitania da Parahyba, a preleno mar
gem direita do rio Guoj, no tcm fundamento.
- O-

sol elO seis gros, e se despedia o cal'avelo do Alm-


xari[e para que [os e, como foi, a dar a-viso no Rio Grande
da vioda da armada; a qual este dja por chegar ainda
com sol ao Porto dos Buzios, passou a surgir na Ponta
_egl'Cl., que dista 82 leguas ao Sul da fortaleza (1).
Ao outro dia, que faro 26 de Agosto, veio por terra
o Capito Mr Jeronymo de Albuquerque a vr-se com o
Sargento Mr do Estado, e assentaro, que na mar da
tal'de a caravela, e todos os carayele [os em a entrar
no Rio Grande para alli se estibarem os navios, e se em-
barcarem todos; o que se paz em execuo, indo nelles
o dito Sargent,)-}lr para aprestar toas (2), e bateis, e ao
outro dia metter na mesma mar os navio redondos, como
em effeito entraro a 27 do dito na mar da tarde com
vento Sueste rijo, que naquell barra hc mui }:onteiro,
mas os navios entraro bem.
Logo aos 28 de Ago to fizero resenha da gente dos
Indios para vr os que faltavo ao numero de 500 fre-
cheiros, quantidade, que o de Albuquerque as~egurava
levar do Rio Grande, para que com os de Siar, e Bua-
pava, c m quem tinha grandes Hana , pode se meLLer
na JOl'lwda at mil rndios de guerra; e assim e tomou
mostra, e pat'ecro os Principaes que se seguem:
Da Aldeia de lbatalan, Marco lariguy com . 2-2
Da dila Aldeia, o Arco Velt!e (3) com . 9
De Para as, Alexandre com. . . . . . 10
De Tambep o filho do Beij D. Francisco com 35
D:l Pindaun, Jor~e com. . . . . . . 18
De Joacoc o Pao ::,ecco {l.) com . . 22
Da mesma Alueia o MandiocaplI com 16
De Jacarcun, Andr com. . 9
De Pirary, l\IlICl1 rapir com . 12
De Marilangll, MinslI com . . 7
De Guarama ia, o Beyj com. . 16
De TambSllram, o Tambr (5) com 24
Do Rio Orande o PalM deu 20
Do Parallas dero . 14
Sommo . . 23ll
De modo, que como parece estes 12 Principaes no
(II Aqui lia manisfesto engano de computao. Em vez de 82 leguas. de.ver
Ier-se oito Je,guas.
(2) ToaI. reboques, sirgas, eto.
(3). Traducllo do nome lndio-Uir<\uby.
(~l Traduciio do nome Tndio-Ubirallfling.
( Traducll.o elo nome lndio - Uapy.
21
- 17~-

tramero mai;; tIue 224 frecheirus, c lnaiE de 300 lJOl:3'


de mulheres e meninos. O Camal'o que havia marchado
1'01' terra leyava pouco maL de 30 frecheiros, como se
rer. adiante.
Tomada e la mostra se armou a genle branca, que ale
esle lugar se lbe no havio dado armas; e e repartiro O~
soldados pelas quatro c mpanhias na frma, que o tinha o
(~overnadol' ordenado: a aber, huma a Anlonio de Albu-
querque, filho do Capito M!' ; outra a 6regorj() Frago'o dp
Albuquerque, ~eu obrinho; oulra a }lanoel de ouza de
Ea, que estava nas Tartarugas j outra a Martim Calado de
Betancor, que do Reino vinha com o argento-l\Ir a se achar
nesta Jornada; fizero-se a i mesmo Alferes, Sargentos; e
listas das companhias, Ilomeando de no,"o embarcae , e
eslancias j e dando polvora, e munies a lodos, para a par-
tida ao tempo de se embarcarem.
Pareceu totalmente a Jeronymo de Albuquerque cou~a
impossivel poder ir por mar, tanto pelo numero dos navios
lhe parecer incapaz do que alli tinha, como por 'e temer
que se na viagem encontrasse qualquer cossario, ou "ela
inimiga, que no podia deixar de perder, preso com to des-
guarnecidas, e capt,ivas embarcae ; e vendo que o quei-
xar- e no dava remedia, determinou-se de caminhar por
terra com os seus Indio , e com os demais, que lhe pare-
cesse, e assim comeou de se aprestar, e nomeou o sol-
dados, que por terra havio de ir com elle : e a sim fez falJa
aos Jndios para que se apresta~sem, porque no cabio nos
navios.
Chegou e ta nova ordem ao Sargenlo ~lr do E lado, que
mostrava no saber cou a alguma, e di"se ao Capito l)',
que lhe parecia muito bem o accordo ; mas que para se dar
5atisfao ao Governador Geral c.onvinha que primeiro ~e
embarcasse a gente, e constasse publicamente a todos, que
no cabia, e que feito disto a sento se tomaria o accordo,
'lue desenhado tinha, pois d'outro modo no clayo boa
razo de si; pelo risco que corrio em se separar huns de
outros; pois a armada ficava sem gente, e a lerra era in-
capaz de lhes dar agua, nem comida em to largos dias
como havo de pas~ar al se ajuntarem no Sar, donde se
sobreviesse qualquer pequeno accidente, ficavo sem poder
nar aos presidi os nenhum pequeno soccorro, quanto mais
fazer a Conquista, donde os mandavo: com estas razes (
- li!! -

oulra- o dito Sargento ;\lr, e o me mo Jel'oo)'ll1O' de Albu-


querque tomaro a gente branca, e Indio , e de .orte o.
accommodaro, que ao outro dia s a pessoa, e gente dp
Capit.o Mr e tava em terra; mas vendo roto seu desenho
se embarcaro tambem, e se fizero vela, quarta feira :3
de Setembro , 1 L horas do dia.
Porm a Capitania que seguia o caravelo do ~Iachado
melleu tanto de l pOI' sugigar o recife, que deu em secco
na cora de ara, que e t defronte da fortaleza, e assim
aquelle dia tornaro todos a surgir em seus postos. A'
quinta feira ao amanhecer houve Junta sobre a sahida com
lodo" os ~Iestres, e Pilotos da armada; porque a mar era.
mui matinal de agoa viva, e lua nova, o vento muito, a
barra l'Oim, ue orte que ao outro dia lhes parecia mais con-
veniente a sahida' porque o terral, e a mar "vinho em
maior conjunco, e que para se forrar a demora daquelle
dois dias, podio .em tomar terra, chegar ao Siar em doi
diase dua noites, ou bahia do 19uapecasy (1).
Com este a sento se dero as ordens necessarias, e ~i
exta feil'a 5 de Setembro de 1.614 s 6 110ras da manh com
vento fresco, partio a armada pela barra fra do Rio Grande,
e faro seguindo trez horas ao ordeste para dobrar o
baixos de S. Roque levando a terra ugigada a quatro legoas,
eassim naquelle ompaz(2) governro outra hora pelo Norte,"
e logo guinando ao 'omoroe te, e pelo oroe te seguindo a
derrota de viados da terra a legoa dita, no viro baixos,
nem pedra::;,nem escarcos de mar,nem coisa,de que guardar
e devessem: antes com esta navegao tirou esta Jornada
o medo, que o caraveles da Costa publicavo daquelles
baixos, fazendo que nas Cartas se dsse de resguardo 25
legoas fazendo a serventia daquella Costa por hum canal,
que fica a huma legoa de terra, pelo qual precisament.e
qUBrjo que houvesse de ser o caminho cedo, como dito he,
ode fra bom para quaesquer navios.
Tambem aquella noite foi o caminho tla armada ao No-
roeste; mas a Capitania havendo-se feito mais ao mar do
nece sario, amanb.eceu com alguns navios a dez legoas de
terra, e achou-se menos da con erva o pataxo francez. em
que vinha o Capito Fragoso com a sua companhia, e o ca-

(l) 19l1"plOasy. He ~ enseada lie 19uare perlo rl~ ponta de Mucuripe.


(~J C.",pa" i. P., r;ompaS80.
-- 180 ~

ravelo, em que Martim Calado vinha com parte da lia;


e o caravelo em que vinha o Baracho, e assim sem elles-
com vento rijo faro correndo a Costa para entrarem no
porto da Ubamnd (-I); mas tanto que se chegro bem Costa,
houvero visla dos ditos navios no sem algum rumor de
arma at se assegurarem huns dos outros, por ser aquella
costa mui continuada de cassarias (2) .
. Desta separao dos navios teve a culpa o Piloto Mr,
que sem advertir aos demais, quiz dar re,guardo a res-
tingua de Guamar (a), Iue est trinta legoas do Rio Grande,
donde se acabo os pareei de S. noque, a qual bota a{)
mar duas legoas.
Este dia por esperar huns por outros, no houve tem-
po para se tomar a Ubaran (4), e assim passando avante com
boa vigia fro at o amanhecer pelo Noroe!';te, at que no
quarto da ante-alva, indo todos com o prumo na mo,
muito Yento, e grande escuro, se achro em trez braas;
pelo que foi neces ario guinar duas horas ao Norte, at
que se acharo em sete braas fazeJ1do con ta ser este o
parcel de Jaguaribe, que bota ao mar duas legoa e meia,
que tanto poeho vir naquelle tempo desviados da terra;
mas entrando logo no caminho de Noroeste, fro a entrar
na grande bahia do Iguap (5), vespera do nascimento de
Nossa Senhora bUlD Domingo s dez horas do dia, o re to do
qual se gastou em amarrar-se, e desembarcar o Capito
Mr, que vinha mui mal 'tratado do mar, e os Jndios, e
suas mulheres, que como gente descostumada destes tran-
ses navaes vinho lastimosos, e assim caminhro para as
Aldeias elo Siar, que dalli di to dez legoas, Iicando com
a rmada o Sargento Mr com todos os soldados, com os
quaes tratou de se partir a outra bahia mais a,ante cba-
mada Mocurip (6) , e alli esperar seu companheiro, que por
terra queria vir com os Indios; e assim fazendo-se a Ar-
mada vela aos 8 do dito, veio a surgir a trez legoas da po-
voao do Siar ; donde est a casa, e forte de Nossa Senbo-

(Jl Ubaran. Hoje se chama JibaTalla ou ReriTO Ihand.


(2 r.onrinuada d. Couariu. Parece que o aulhor quizera dizer -eonlamiMd. d,
Corlariol.
(3) Cuomari na Provincia do Rio Grande do Norle.
Hoje dizem Aguamori aportuguezanuo-se o expresso indgena ou Tupv.
(4) Vide nota (I) supra.
(5) Tguopi. Actualmente chamo Iguape.
(6) lloeurip. Actualm"nte cl7.pm ~lnr.!TTp('.
- 181-

ra do Amparo, c cm chegando se despedia hum carayelo


com farinha para ir a .Jeruguaguara (I), o qual levou a cargo
Paulo da Rocha, soldado ele boa experiencia, e chegado a
salvamento, deu aviso da A.tmada naquellas partes.
Neste presidio de Nossa Senhora elo Amparo estava com dez
e .ei s Idado. Portuguese o Capito danoel de Brito Freire,
que com muitos trabalho, e pouco proveito havia quatorze
meze , que aguan.laya naquelle lugar, tendo a cargo o suces-
o da Conquista, para a qual o Governador lhe havia dado en
tl'elenimellto conforme ua qualidade, e partes; e assim
tanto que a Arma.da chegou, ~e embarcou deixando o Sargen-
lo com pre idio, e mudando daquelles soldados os que qui-
zero embarcar-o e, lican'lo em seu lugar outro ; porque o
numero nunca he bem, que seja, nem pode ser menos, que
de 20 homens ele gnerra para em companhia dos Indios po-
derem a si til' guarda da terra, e daquellas barras.
Provu- esta genL de esLidos, armas, e ffiu!lies,
visi taro- e a Aldas li radio para confirmao da boa
amilade, e ueri.o-e {tO PI'incipaes ferramentas, e casacas
da que tio Portugal para e t elTeito mandou Sua Magestade,
lamoem fez diligenci;t, e se houvero de tas gentes al-
gun mantimento' da lerra, que dero a troco de resgates
para ajlllla de se llslentar a tle 'peza da farinha da Armada,
enisto se ga. lar~l.o at 6 do dito Setembro, no qual dia che-
gou oCamar com u, frente, que como fica dito, havia
vindo por teel'a desde o llio Grande (2); e tal chegou do ca-
minho, que mandou pedir licenp para se ficar naquellas
Aldas eom sen irmo .Jacaun (3), o qual Lambem fazia fora
para. que lho deix.a sem, ou ao menos lhe dessem tempo
para engordar, como quem diz, para ~e refazer, e tanto por-
fiaro, que pel s contentar, ficaro alli as mulheres, e alguns
dos seus Imlios.
Com e te achaque, que no quizero parar avante, com
.que onumero dos que na Arl1;tda vinho, antes foi diminu-
mdo-::;e, qu, ere. cendo aqui no Siae, nem destas Aldas o
d'Albuquerque pde tiear com todas suas falia., e dadivas,
mais que at 20 frecheiros com hum filho do Jacaun, moo
de i8 annos, ficando por estes mais de 4.0 dos da Armada j

(II Vide nota (6) ti pa". Hi6.


,(2)tQue melhor prova de que o celebre Camaro (r.,y) era do Rio Grande do
or e?
(a) Jae,,,,"<I. Ontros rli7.em Jacmlna.
- 182-

nem to'pouco Ja;';:\,Ulla dera nenlllun dos seu~, se no quo


Jeronymo d'Albuquel'que deixando alli alguma c.riada 10-
dias sua, deixou 1111111 menino seu de dois annos juntamente
com que ficaro a~segurados e contente.
Daqni se pde ver o cabedal, que he bem fazer-se das pa-
lavras do Illdio do Brzil, e quanto importa e'tarem obri-
gados continuamente mais do temol', e fora dos brancos,
que de palavras de lingoas, as quaes no gllardo e no no
que nos est bem (1).10; aqui como pscala <.Ie lanlo Co sarios
importa terem freio, por que lhes do ambar, algodo, po
Cutiar, e outro. , e pimenta da terra, e fumo, e comida, e
agoa, com que refazendo-.e caminho Indias, !lU donde
querem.
~ Pela dilao, que home eH todas estas coi a., e por que
os Indios no acabavo de embarcar-se, e os soldado com
achaque de o Capito-MI' e. lar em terra, andavo nella li-
cenciosos, e as agoas daquelle it.io cau arem maieilas, e o
fundo da bahia ter petlra, que, roia as amarras, e as quebrava:
parecel1, que recolhida a gente branca, a Armada se fosse ao
Paramiri (2), donde dizio, qu havia melhor 'ommodo para
se poder esperar a vinda elos Illdios, que at aquelle lugar
querio caminhar por terra com o Capito Mr: feito e te
assento partiu o Sargento Mr do Estado quarta feira n de
Setembro, e foi urgir om toda a Armada duas horas da
tarde no Paramiri, havendo caminhado com p uca. vela at
esta bahia, que est em 3 gl'o 2/3, e tem para se po, oar
muitas mais commodidades, qlle todo os o ltros lugares
at ali vistos.
Este dia se pz a gente em terra com seu~ corpo. de u'uar-
da, em fronte de armas, donde se comearo de adestrar
os soldados entrando todos os <.lias nas Companhias, para
verem o modo de proceder no servio ordinario, e com os
inimigos quando os houvessem, e foi de grande elIeito o
tempo que se tardou em vir por terra J!3ronymo d'AIbu-
querque.
Porque muita de. ta gente em Paranambuco se havia em-
barcado por fora, e outros d sarmados, e mui bisonbos, e
no Rio Grande no se lhes havio nade as armas em terra, B

(1) Que no. tll bem. Pllrece que houve erro de copia; e quo o aulhor redigira
a frase da seguinte frma: - que II'B' m bom.
(2) l'ara",;r1/. He hnj (l Il1gar chamarIa - l'aras,,,"o, tra 11Izinlto- c a 1l11 1(l'
Vl'1I mi""j.
- I :\-

IIU lUar no havia lugar nem para irem deitados, aqui se or-
denou o que convinha, e e aguardou com turto mui a ponto
a yinda do Capito rI', que begou ao 24 de Setembro j e
logo aos 25 o 'argento }]!' do Klado foi pelo rio Cur (1)
acima em hum balei armado, mais de cinco legoas por reco-
nheceI' aquellas lerra ,e agoas, na quaes no achou coisa de
con ider<.Lo, ao longo do rio, ma achou infinita caa, e
pescaria, de que ludo aquillo abunda maravilho amente, e
a im nesle lugar menle se pode dizer, que aquella gente
010 teve fome.
Em 28 do dilo (,;0111 a vinda dos Indios, se tornou a tomar
mostra para aber o que o iar havia rendido de ajudas, e
parecero em lodo 220 frecbeiros com a genle tlo Camaro
e Jacan (2) ,de arte, que do embarcado, no Hio Grande
ficaro mai de 50: o que vio, e senlio esta coi as
enlregue a paciellcia, no fazio mai qu encommendar o
oegocio i De ~, e boas oraes do Capucho, O quaes
e les dias di eriio ~Ii sas solemnes, que faro as primeiras
que ne la pal'ag III se dis, ero, em que comnlungou muita
gole.
A.qui ue la parledo Paramiri (3) e acharo no mato perto
do mar a' arvore, de que .e di tilla, e nasce o incenso cha-
m~d JalrHbi, c e achou neHa., e no cho muito de muito
bom cheiro, e Lambem e acllou muilo anime, e outra go-
ma aromLica de divel' a arvores, e muita almecega, e
huo bu 'ia no mar como botija, com muito que omer den-
tro, de modo, que como dito lIe, o Paramiri pelo seu porto,
terra, e boas agoas para beber, he o melhor de boda aquel-
la co ta.
. Em 29, dia de S. Miguel e tando lodos embal'cados, par-
tIO a Armada na volta da Tartaruga . s duas horas depois
do meio dia, com vento Le, nordeste, que tal entrou a virao
aqllelle dia, havendo em toda aquella noite ventado o ter-
ral, e qua i todas as parada de aquella minguante de Lua.
No qual tempo melhor, que na crescente, e mo.tra aquelle
mar navegavel para balrav nto ao longo da Co ta.
Todo o resto do dia caminhou a Armada ao Noroeste
quarta de Loeste cOl'rendo francamente a Costa, sem haver

(I) Cur,). He o rio que desemboca na enseada do P4r4.illho.


(2) Vlrle nota (:1) P?g. 181.
(3) Virle nota ('2) A pilg. 18~.
uella visto coisa de que guardar se devesseul: llJlll.lt~IU de
noite se fez o mesmo Gamiuho com pouca vela at o ama-
nhecer, que se achro a seis leguas da Cosla com tenal
rijo do Sudoeste, com o qual peja. bolina se viel'o chegando
Costa, que j. corria mais a toeste, e sendo reconhecida
se mostrou ser a terra do Acurac ('I), e seus pareeis, que a
uma legua ao mar no davo mai , que dua braas e meia
de agoa, e pela banda do Loeste j se descobria a ponta, ou
morro de Juruguaguar. (2), para a qnal chegano-se com o
prumo na mo, e vendo mui claro o fundo, dero em qua-
tro, e em cinco braas bem pegados ponta, que j corria
a Loessudoeste com grandes penedias ao longo do mar, e ro-
chedos todos de marmore ja peado finssimo de muitas
cl'es.
Entrados, e surtos no porto se ga tau o dia em de em-
barcar a gente, e em se alojar dentro na cerca, e os Jndios
de fra em seus tigipazes, ou cabanas ao longo da agoa:
com os navios ficro alguns soldados para sua guarda, por
ser este porto tambem mui demandado dos Co.sairos. sem
embargo que com a virao ftca tudo to desabrigado, e
trabalho tanto as embarcaes, que no ha amarras, que
durem, nem quem possa sal1ir a terra, at que o venlo
acalma de noite, e nas madrugadas at s oito hora do
dia, que com aSaI torna a virao.
E isto dizem ser alli de ordinal'io at os mezes de Janeiro,
Fevereiro e Mare,o, que os \'entos cllrso por cima da terra,
e tem aquella parag'3m mais bonana.
Sendo tal com dito 11e esta en cada 'aas Tartal'ugas e -
parcelada, perigosa, e de pouco abrigo pdr ceu bem que a
Armada, e toda a gente della, e do presidio ,e paras e ao
porto do Camuri (3) Oito leguas mais adiante para alli se tomar
assento nas coisas da viagem, e 110 soccorro dos Indios Ta-
bajares da Buapava, com quem o Capito Mr a segUl'ava
ter feito grandes amizades, e por que tambem os Indios Te-
remembs do Par, ou Ototoy ficavo mais perto, com os
quaes j Martim Soares havia tido fallas, e parecia nisto
para o que se offerecesse deixar a seguradas todas aqueIlas
gentes', e aqueHa Costa toda amiga para bem de se caminhar
por terra, quando importasse.
(1) ,,(euraeu. Roje oiz-se Acarac.
(2) Vide nota li) pago 166. ,
(~) Can.uri. Re o que chamo hoje CaOlufV 01:1 Cu",u,i....
- ~85-

Finalmente para em tudo ahir c0Il.! o prumo na mQ con-


forme ao Regimento do Governador, e as foras daquella
Armada, e a sim para este effeito trataro de mandar reco-
nhecer de novo o Camury por terra para s,e passarem eUe :
ma~ como as secca de aquelle anno fro mu,i gr~ndes,
achou-se, que no havia agoa para beber, nem fulha verde
com que e cubrirem, e que a barra era mui perigosa, e q\le
na entrada tinha h\lmas ruinas de pedra, ti cal, como que
em algum tempo houve se sido povoada de gente de Euro-
pa; a quae coisa denotavo no ser aquelIe posto de co-
bia. Se bem he verdade, que alli entravo algumas embar-
caes pequenas a resgatar opo Cutiar (1), de que os Jndio
davo noticia haver alli muito.
Com estas novas foi foroso aguardarem em Jeruguagua-
r (2) tomando mostra a toda agente Portugueza, e acabando
de repartir aCJUelIes oldados, e as suas companhias at o nu-
mero de 60 a cada huma, comq o mandava o Governador;
pagando- e a todos o seu tempo atrazado em fazendas pelos
preo do contracto, que fro taes, e em taes coisa, que
apena houve com que os pobres se vestirem. I

Entretanto mandou o Capito Mr a erra de Buapava


dois Indio para avi arem ao Diabo G1'ande (3) da sua chegada,
com o Portuguezes, para que desce e a velIos, e a dar o
Dccorro, que tinha pl'omettido para a Jomadado j)[aranho:
desta embaixada se riro o do presidio, que de raiz conhe-
cio a natureza do Jndio Diabo, e contaro, que havendo-o
convidado em dia pa ados a huma guerra contTa certo
certos Tapuia seu inimigo, gueforo dois soldados daquelIe
forte, a darIhe ajuda: com a qual teve victoria, e comeu, e
trouxe sua serra quantidade de c.aptivo ; e como se vio
em casa, por pagar a boa cbmpaubia, quiz tambem comer os
oldados, e sem duvida D fizera, se sua mull1,l1l' chamada
ltabt/', os no avisara, dizendo-lhes, que se fossem; porque
seu marido tl'atava de o matar fingindo certo aggravo de
hum delles ; mas que elia no. queria, que tal pa sasse. De
modo que com esta paga se retiraro ao presidio a salva-
mento, em que no fizero pouco.

(I) Pato CUliar, madeira coutendo manchas, que lhe do certa belleza, e a
lQrnll.o importante para a marcineria.
(2) Jeruguaguar, he a mesma enseada ou ballia do buraco das Tartarugas, qu
hoje chamamos-Jiri,o,ora.
(3) Juruparvgua.. ou ou,!.
- 186-
Em 3 de Outubro foi Lua nova exta feira, muito ven-
tosa do ,ento Loeste na crescena do 01, como fica dito
de noite houve terral do Su udoest ,que dura'va at 7,
e oito do dia: ao quinto da Lua se mostrou o tempo nu-
bloso, e o vento foi mais sobre a terra com alguns chu-
veiros, e o mar andou mais brando nesta quehrana das
agoas.
S.abbado dia do beato PadreS. Fl'ancisco 4, de Outuhro, houv
Missa solemne de canto de orgilo, e 1'rautas naquelle deser-
tos de J eruguaguar com summa devoo, e grande alegria,
em que commungou mui ta gente: este mesmo dia ~ardc
chegaro dois Indios da Buapav com embaix.ada do D'iabo
G1'an~de (1), o qual por elles se desculpava dizendo 131' impo -
ivel de presente vir ouvir a fana do d'Albuquerque, nem
dar-lhe gente para a Jm'nada por falta da aude, que todos
os seus, e ene tinho tal, que bavio queimado as casas, e
Alda , e vivio no campo at se passar a contagio de aquelle
mal que os affiigia.
Isto dizio os Iudio , os quaes tambem tl'azio huma carta
de hum de dois soldados, que o Capito Manoel de Sousa
mandra dita erra: para que avisa sem da vinda da Ar-
mada, e elles pedio nena barbeiro, e mesinba para se
curarem, que tambem o maIos tinha apalpad.o.
Com e ta nova verdadeira, ou fingida, que 1'os e, ficou
desenganado o Capito Mr, e bem enganado os que se vio
mettidos entre taes ajudas, e palavras de egros para darem
flm a huma J omacla to arriscada, e de tanta 'importancia.
Dei.xemos o que tinha custado de dinheiro, e resgates e te
pensamento, e tratemo como ao Domingo dia de nossa
Senhora elo Rosario se celebeou sua festa com Missa solemne,
e pregao, que foi a primeira que fez, que se pregou nesta
Costa, e a prime,ira que fez dos seus estudos o P. FI'. Manoel
da Piedade, filho de aquella Provincia: na tarde deste (lia
houve alardo geral, esquadl'o, e escaramua por honra da
Festa daquella Senhora nossa. No qual se acl1al'o 220 sol-
dados e.ffectivos das companblas, e da gente do mr 60, de
que se fez outro, de sorte, que com os enfermos chegou o
numerl do Portuguezes a 300, e com os Indios no pas-
saro de 200 Frecheiros, de modo que todas as foras com
os desenganos do Siar, e da Buapav se rematro nisto,
(1) Vide nota (1) pago 166.
- 187-
e as de todo o campo em DOO homen de mal' e guerra.
A e tas Festa a sistiro os Embaixadore da Buapav, por
amor dos quae foi necessario juntarem- e a conselho,
as im para re ponder ao Diabo, como para fazerem viagem..
obre o qual houve grande altercaes e debates, a sim
pelo desengano , e faltas de tudo, como pela pouca con-
fiana, que e podia ter Das ajudas do 1aranho, pai estas
to de casa, to obrigadas aos favores Portuguezes to mal
acudio a eu fiador. n
Todo vio e te damno, e outros que se derivavo delle
quanto mai se chegavo ao Maranho, sem deixarem atraz
coLa alguma que asseguradamente fos e amiga; ma como
doutra parte o ficarem aUi, no era honroso, e pa ar ao
Camul'Y era impo sivel; chamaro esta junta o Mestre, e
"Piloto' da Armada para que disse em o que abio da en-
lI'ada do Par, Otl do Ototo)', donde tratava o Reg.imento,
que e melhora em para e irem assim chegando ao Mara-
nho, ou Perej sem risco notavel da Jornada" A isto re -
pouder'i:o todo , que no abio naquella Costa porto algum,
mai que o Perej, donde o Poto Sebastio Martin, que
alli e tava pr enle, a egurava, que metteria toda a Armada:
mandando- e de tudo fazer um assento, lJara que con tas e
a todo tempo, que mai por neces idade, que por razo de
guerra e parLio ao Perej, donde no tinho 1'e onhecido
o que convinha ao total empenho: e i to feito trataro de
e partir mandando que erra de Buapav e avLa em
o 'oldado ,qu tanto que a aude lhe d e lugar e 10s-
ao pre idi tl \ Sia1', para que no prime' barco, que
vie 'e de (jCCOI'l'O podCssem juntar-se com o campo, de-
pedir o Jndio .
Ga tau-se o dia de segunda, e tera feira, em accommodar
o' repro do falconetes, e das peas de ferro, que vinho
/10 poro do Pataxo abatida ' por que as mbarcaes no
ero capaze de as soffrer, fizero agoa, e lenha: e a im
aquinta feira, sendo a Lua mai crescida e a agoas morta,
que em tal conjuno empre naquella parte o vento h
mais bonana, dando- e ignal rle r colh r ga tando- e o
tempo de exta feira, e Sabbado em embar ar e repartir a
gente com infinito LrabaUlo, porqu om os de Jeruguairuar
ere cia a impo sibilidade, e faltavo lugares nos navios:
mas roi coi n, maravilhosa, que, em e dar de queixa hum(l
, palavra, tocl s ~e eml al'cal'.o, donel era impo .ivel irem
- ,188 -

deitados, nem havia mais, que comer farinha, e agoa ; porm


era tal o desejo de todo ahirem daquelles degredo, e
de vrem, se (mais avante podio melhorar sua sorte, que
todo o outro trabalho lhes parecia gloria. .
Domingo -12 de Outubro s seis horas da manh sendo
tudo a pon1to dero fogo aos quarteis de.1 eruguaguar, e a
Armada se fez a vela com terral de Sueste, e assim fro
correndo a ribeira com boa ordem, at que com a crescenCja
do dia entrando a virao do Leste com ful'ia, e grande
mares foi nece sario navegar com balselhos (i), correndo em
popa. com muito trabalho, e grande perigo; indo sempre
a gente dos caraveles por debaixo do mar: sobre a tarde
abonauou o vento algum tanto, e as im com a Lua da noite,
e ba vigia se foi fazendo o caminho pelo perigosos pareei
do Par, e Ototoy, e ao amanhecer se achou a Armada toda
junta, coisa que parecia impossivel pur ser to differente
generos de embarcae to carregadas, e to captiva : em
fim aclarou o dia, chegou a Armada bem terra, a qual
no foi conhecida de nenhum Piloto; Sebastio Martin
affirmava estar trez legoas de Perej. -
Pelo que chegando-se terra mai do que convinha, se
o vento no fra todo bonana quella horas, cu tira caro
o desengano, em que daLli a pouco confe sou, que entrava;
POI: que o Perej aiuda lhe demorava ao Le te mais de -16
legoa .
Pelo que fazendo fora de vela para de dia se alcanar
a barra, com tudo no foi possivel, e a sim chegou a Armada
com huma hora de noite a querer embocar, e a tempo que
a mar descia para baixo, sem haver donde de noite podes em
aventuraI' a surgir navios to carregados, e entre tantos
pareeis, e alfaques ainda no conhecidos, doude at
nuvens o mar andava j de modo que mettido o negocio
nestas duvidas, fundados no luar, e na agoa morta, e vento
em popa, com o qual contra tavo a mar, que de cia,
Iro com milagroso, ou barbaro atrevimento entrando para
dentro com faroes, e fuzilando hun aos outros; e mai que
tudo foi notavel, que houve navios, que mo tocando, e
dando grandes pancadas nos banco ao entrar da barra.
e por no atemorisarem o que vinho de traz, calavo,

(I) Balsoll,o$, i. c., com pouro punno por causa do gl'unl1e venlo, ou para lIU-
vogar pout:o.
- '189 -
a paravo sem se ouvir huma pala ra de rumor, que tur-
bas e a viagem e assim com o prumo na mo faro todo
.urgir a salvamento s dez hora da noite dentro do rio
Parej, trez legoas pOI' eHe acima da banda de Le te,
donde em hum pensamento saltando em terra o Capito-
Mr, e o argento Mr do E tado com a mr parte da gente
fazendo fronte de armas, ate que se reconhecesse, e as-
segw'a e o ampo; succedeu, que em quanto se reconhecia
e o Capito Francisco ele Fria , e os demais buscavo sitio
para a fortificao conveniente, que o Alfere Pestana da
bandeira de Martim Calado e quecido da ordem, que se
havia dado a todos e no sahirem a terra a bandeiras,
eno j de dia, elIe com a sua co tas em que e tava
figurado o glorio o Patro de He panna, foi o primeiro que
aUou em terra, o que vendo os soldado tendo-o por bom
proanostico, acclamro Viva SCtnt-fago, e este nome e deu
a e te primeiro quartel, de que se tomou pos e ao outro
dia com acto olemne em nome d'EI-Rey de Hespanha no so
Senhor Emperador de aqueHe ovo Mundo, e se plantou
huma grandi sima Cruz de forte madeira, por padro, e
po e tomada desta I rimeira barra do Perej.
Ao 13 do dito havendo- e bu cado itio para a fortifica-
<;o, para em tudo se dar cumprimento ao que ominha,
toda a aaoa para beber e achavo di tantes do itio
conveniente . verdade seja, que abrindo poos na areia
tiravo agoa doce que podia servir em nece idade' mas
os Soldados escarmentados das cacimba, ou poos de Je-
ruguaguar, de ejavo boa agoa, pois s is o, e farinha
tinho, e sobre i to j tratavo mal do Perej, e fazio cor-
['ilho ,e e descompunbo em ab encia dos uperioreu, de
que o argento-M'r do Estaclo mandou tirar devaa para
e ca tigar algun dos callsadores.
O Capito-Mr em lugar de acudir a i to lanou- e de
r ['a, ee quecido do pouco que havia medrado om o In-
dio do Siar, e da Buapav, em lbe yalerem dadiva , nem
lingoa e per uadia, que em chegando outTa barra
Llentro do Maranho defconte da Ilha dos Topinambds (i), que
em duvida em fallando com hum deHes, todos e havio

(I) Os indigepas chamavo a actual ilha cio Maranho-Ul,aOn.ass, e os Fl'an


~ezes ~Tarallho,
e alguns Oosrnogl'uphos-Tlha do Ferro, pela e~1remu ahunduJwia
d te mineral, que nella xist e do boa qualidade.
- 190-
de vir sua obediencia; e de sorte lhes gabavo o eus
esta opinio em favor dos Soldados que j a ene me mo
lhe aborrecia o fortificar-se no Perej, de que tudo esta a
su penso sem se fazer mai , que perder tempo, e dizia,
que pois em toda a Co ta, em at alli no havio appare-
cido Francezes, nem coisa que d e inal de auerra, que
realmente o no devia de ha\'er no Maranbo, e e os ba-
via, que de\io ser mui pouco, e em defen a, pois no
havio guardado aquella barra; pelo que determinava ie-
Jogo ao Maranho, ainda que fo se com os caravele -
mente; porque este era o fim da Jornada, e de seu desejo.
A isto e ppunha o Saraento- 'lr do Estado, dizenuo
mui ao contl'ario, que em nenhum modo convinba larga-
rem o po to do Pel'ej paI' ser barra de barlavento la
outra, e j com bom principio ganhada conforme a ordem
do Governador, que aUi convinba seguir- e em tudo; pai'
no demai havia tempo, quando fo se a sim o que dizia
Capito-Mr; porque tambem podia a no gl'ancle estar no
outro porto, pai sabidamente era passado a ell , e que
no estaria sem antros navios com artilhel'ia, e gent de
mal' e guerra, quiae differente da do POl'tugueze na pra-
tica naval; o que endo assim, que mais era doidice, que
e foro irem-se J metter sem primeiro e tal' tudo mui
bem reconhecido no Maranho; pelo que era de pa-
recer, que se fortificassem logo e jllntamente que man-
da sem reconhecer a Ilha e sitias a cUa visinho', e qlle
da11i avisassem ao Go emador de como estavo no Perej
a salvamento, para que soubes e com tempo donde havia
de mandar o 80 'corro ; e que tambem era mportanti -
simo avisarem a Sua Mage tade, de pedind_o para buma, e
outra coi a aque11es navios, que bavia tantos t.lias que e -
tavo carregados, que j. as bombas os no poclio li telJ-
tal' sobre as agoas: e que olhasse que se os Francezes e-
tavo assim fortes, como a fama oava em Paranambuco,
avisava Martim Soares, que j a sua fora no podia e-
tOl'val' a fortificao do Perej, nem a amizade dos l'e?'e-
membs (1), Inclios a11i ,risinhos to inimigo dos da Ilha.
Antes elle Capito-~l' havendo- e aUi fortificado lhe lJ-
cava facil o podellos persuadir, e juntaI' as pequenas foI' a

(I) Este inctigonii5 o~cllpv a CI ta tle do a rfn; tln .1aguill'ibc ill <I iltH! tll1
llaranhil .
- 19,1

tlaquelle campo para a iro e fazer igual, ou uperior


eus inimigos. assegurar as .espaldas para qualquer suc-
cesso; porque os da Ilha Topincvmbs, ou acompanhado,
on s , que estivessem sempre bavio de temer esta liaoa;
pelo que em modo algum havia nunca de ser ele parecer
de largarem o Perej sem er mui bem primeiro Ludo o de
mai reconhecido, as im como he costume de oldado
praticos, e gentc de guerra como todos os que alli esta-
ro pre umio ar: e que alba se, que aquillo no era Jo1'-
Irada de erto, eno de ua iagesLad, e que j ago,ra
tinho obrigao de lha su tentarem, pai esLava tomada
po se em seu Real Nome: pelo que era necessario cami-
nharem mui a tenLo.
Com i to se socegaro algum tanto o curio o dc cami-
nhaI' e e mandou um batel esquipado com dois PHotos,
eiR marinheiro e ei olrlado particulare a reconhecer
o Maranho, e ua barra, e a Ilha grande; e i Lo pela parte
mai occuHa, que fo e po ivel, vendo se podio tomar
liuO'oa. Foi por eabo desta obra Melchior Rangel, natural
do Rio de Janeiro mancebo ele boas parles, grande lin-
O'oa do Indio~; com elle faro o Alfere E LIo de Campo,
c l'edro Teixeira, I'mn isco de Paval'c., e Manoel da ilva:
o PiloLo foro ebasLio MarLins, e Joo lachado os
quae parLiro a 1 t:> de OuLubro, _ 7 horas da manh.
RnLr Lanto o Capito-Mr, e o SargenLo-Mr do E tado
por mar, por terra no p(),ravo d buscar agoas, e re-
conhecer Hos, e accommodar fel'ramentas para o que s
oIT re e e Lendo de ontinuo toela a gente ao p da armas
e das bandeira, e o navio abicado terra muiLo, como
defensa de Ludo convinha; mas em se dar principio
ro~'tificao, de que o SargenLo-iVlr do E Lado andava de-
e.lo 'o, e olici to; mas no tinha poder para forar o eu
ompanheiro, antes agual'dava, que o tempo de engana e
a todos do que lhes convinha, como depois succedeu.
Ero j pa sado quatro dias, que do baLeI no havio
110va ; pelo que j se duvidava do bom uccesso, e Lo
adiantr. foi e. t.a imaginao que aqueHa noite endo j
mui Larde e foi o CapiLo Mr a buscar o Sargento Mr do
gSLado ao seu rancho, e lhe disse: Amigo traLemos de no
fortificar logo, e em sendo de dia, faa-se disto a~ ento ;
porque Lenho mo conceito do nosso batel, e quando venha,
nenhum mal faz estarmos preparados, e olhai que ainda
- -192-

que todo o mundo seja contra ns, que em nenhUlll modo


deixemos de no fortificar.)l. O Sargento Mr lhe louvou a
resoluo, e de novo lhe repetio as cau"as que tinha paraj
tudo e 'ar feito, e assim logo queJlas horas chamando a
Franci co de Fria , se fro em um batel boca da barra a
ver outro posto, e uma agoa a elle vi inha de UIua legoa ; e
assentaro, que o mais perto da barra, e da agoa se co-
measse a fortificao em amanhecendo, e que antes se dis-
es e uma Missa ao E pirito San Lo. Andando nisto viro fu-
zilar ao longe Jta. en trada da bahia, e tocando- e lerta,
mandaro dois bateis a reconhecer, os quaes avisro er
o batel que vinha fazendo festa.
Com e_ta nova cresceu na gente tal rumor, que sem a-
berem o que os outros dirio, comearo os soldado em
corrilhos com palavras atrevidas a dizer, que no querio
aquelle sitio, seno o que mai perto homes e dos inimi-
gos, aos quaes ao pelouro havio de tomar a comida, e a.
agoa se faltasse. Emfim como a prime'a e no ca Ligou,
esta com a chegada, e festa do batel com boas nova,
pa sou por alto, e os reconhecedore dis ero que no ba-
vio visto no, nem Francezes, nem coisa em todo o Mara-
nbo que damno podesse fazer, e que havio acbado de-
fronte da ilha hum sitio bom, e eminente com bum rio de
agoa doce pelo p, e lerra belli simas para toda a sorte de
mantimento, e todo to bem assombrado, e o caminbo at
l to escuso, e facil por en'tre as ilhas, que tinho pOI'
grande erro deixarem semelbante parte.
Com este aviso no somente o Capito Mr e fez com o
demais, mas sem se lembrar do que estava assentado, man-
dou subitamente, que se embarc\ssem todos, e que quem
quizes e ficar ali que ficas e.
Com isto parro as cousas do Perej, dis e-se Mi sa
embarcou-se a gente, e ao outro dia, que foro ~2 se fez a
Armada vela com buma pressa to fatal, que realmente
ninguem da terra naquillo parece que concorria: porque
cada qual dos adjuntos do Capito Mr, antes da imaginao
j lhes gabavo os efIeitos: e assim ao tempo ele darem ;'1
vela, disse o de Albuquerque ao Sargento Mr do E tado:
Apostemos hunias meias de sda, que antes de Sabbado
tenho Indios elo Maranho em minha companhia. Sou con-
tente de as perder, disse o do Estado, a troco de que todos
tenhamos es e gosto ; porm s,e a gl}l1pfLr lerqbf9 gu~
fi'as ha de dar V;m. )
Com isto partiro, e faro surgir aqu,eIla noite a huma
ilha, pa sando por entre outras infinitas, que por serem
tanta , e o dia ser das onze mil Vi?'gens (i), a todo aquelle
posto se paz este nome.
Ao outro dia eguinte o~ Pilotos, que nos d.ois caravel,es
mais ligeiros caminhavo diante, faro navegando emqua)l-
lo durava a mar por huma grande bahia toda cercada de
ilhas com barras ao mar grande, a que os Francezes chama-
vo GI'andal/~a (2), na qual em descabeando a mar, logo
minguando o mar i9 palmos de agoa se acharQ os navios
grandes em secco, de modo que calados, e vestidos os ho-
mens e sahiro a passear na areia, que quasi ticou enxuta,
e andaro de hun em outro navios que parecia encanta-
mento endo de quilha, e no tendo eSCQras, estarem ili-
reitos em cahirem banda, dando fim a taes desordens, a.
quaes para quem as entendia em lhes poder dar remedia,
errto tossigo (3), que con umia a ida e o gosto.
Tornou a mar, nadaro os navios; a noite entrou escura,
lanto que com infinito trabalho,e perigo entraro pelo canal
de Mamun, dando de novo em ecco no lamaro o navio do
argento-mr do Estado; ma como abia a mar, logo che-
gou donde estavo os caraveles, que em esperar ha"Yio
eguido seu caminho por gozar da agoa doce daqueIla IlhGt,
,donde alojados em terra estavo como em Toledo sem cuidar,
que no mundo podia haver inimigos.
Deu-se a isto subito remedia fazendo, que se embarcassem
todos para )lavegarem, ma o navio de Gregorio FragosQ deu
em secco de feio, e a taes horas, que houve votos de o
deL'<.arem assim como estava com munie , artilharia, e co-
mida, o que succedra, e no fra a grande diliaencia do.
Mini tros da Fazenda, com o Sargento-mr, tiranc1o-lhe parte
da carga, e com fora de tas o fizero sahir aonde os demais
estavo, sem haver em todo aquelle caminho ,de di, pem de
noite huma hOl'). de repouso.
Ao outm dia sexta feira fazendo-se a Armaaa vela pelas
angu turas, ou in terrompeduras de aquellas Ilhas to estreitas
(1) Estas ilhas lambem se chamo do I"ri. Geralmente so comprebendidas
no archipelago de S, AnIla. lI'al11lJen so chamada, le-A'loj.!U~O,
(2) GTand.npa. Talvez GT.nd'onse, i. e., gl'lIn.p pnSp,II(la.
(3) 1'0"'90. Talvez to'Xi'o.'
23
- 194. -
e de mato to alto, e cerrado, que cada huma prnmetlia hum
esquadro de perigos. Indo pois ne ta parte, comearo o
navios a dar de novo em secco ; ma porem movendo- e paI'
cima do lamaro, pelo qual resvalando com toda a fora
de vla , podemos diser, que mais de eiscenLos passo na-
vegaro por terra, at que dero em mais fundo, e fro se-
guindo os caravele , que se adiantro to desordenada-
mente, quanto a neces idade os obrigava; porque a gente
era tanta, e to apinhada, que no havia agoa, que os usL o-
La se contra a excessiva quentura do Sol, nem omantimento
era mais que huma pouca de farinha de guerra secca, de
modo que todos desejavo chegar aquelle'lugar, em que ti-
nho ua esperana.
O Capito-Mr doutra parte com achaque de ver lI' son-
dando diante, metteu-se em hum batel com poucos compa-
nheiros, e foi-se a Ilha de Sa;nt'rllna, chamda dcts GLtaya-
vds (1), donde se fazia a praa 11' armas para entrarem no
Maranho.
Desta ida succedeu, que como os caraveles perdero de
vista o batel da sonda, tOq1ando por diversos canaes, cada
hum foi por seu caminho, e os na-vias grandes como lhes fal-
taro os caraveles dando em secco a cada passo, tambem e
apartro sem haver Piloto, que tomasse o remediar isto; at
que j mui noite, em huma jangada chegou o Machado, e
foi por hum canal muito mais estreito, que 05 at ali pas a-
dos encaminhando os navios, que pde: e assim em toda
aquella noite, e no outro dia chegaro Ilha dita de Santa
Anna, cootra as correntes elos mares atoando-se pela ar ore
na terra, at que finalmente e viero ajuntar na boca da
ba.rra, ela qual Domingo ao amanhecer, que fro 26 ele Ou-
tubro .se fizero vela por enLre aquelles parceis, e banco
perigosissimos para batei , quanto mais para navios to car-
regados, e assim ao expedir da barra Llero taes pancadas os
navios grandes, que se teye a J01'nadapor concluida; porm
Deos, que milagrosamente guiava o negocio, foi servido, qu
sem elamno algum 10 horas do dia se achassem todo no
GttaxiJndubd(2). salvamento, que assim se chama o po to que

(I) o aulhor confunde a ilha ue S. Anna com a das Goyclba" que Simiio Es-
11l'io do Silveira distingue na sua Relao Smnmario, ii pago 13 deste tom.o.
(2) a.,"""mdubcl, hoje clizemos Guaa;ellduba. .
He o lug~.r de Villa .velha, o primeiro estabelecimento 'ol'Luf\'uez na provincln
do ~'farnnhilll, na bahln, hOJB denommada de S. Jos.
- 195-
occuparo dentl'O ne ta grande barra do Maranho: as em-
barcae ero oito, como e t dito, e tanto que ahiro ao
mar, posta em ala com todas sua bandeiras tendida iizero
tal apparato, que ubHamente em toda a Ilha grande, a qual
a dua legoas e meia estava defronte, se fizero fumaa por
loda a co la dando avi o, que durou e pao grande, pelo que
o Sargenlo-mr do Estado di e ao Capito Mr: Cuido,
Senhor, que ganhei as meia, e que no smente no tera
Y. m. Indio de paz ma que ter Francezes de guerra; por
crue aquelle fogo no so feitos acaso nem por barbaras
pelo que er bem, que em dilao no fortifiquemo, e le-
arreauemo os navio que este porto no he para se con er-
varem muito nelie.
Era aquelLe itio vaza d lama com alguma pedra, e a
parte ar ia, e todo esparcelado ao mar mais de meia legoa,
que de mar vazia ficava sem gota de agoa, e to de abri-
gad , que entrando a Yira o no hayia remedia de e chegar
ao~ navio , nem de desembarcar nada delles. Alm di to he
e te I orto desviado da barra mais de quatro legoas, de arte
crue com arande facilidade lhe podem tirar o favor, e erven-
tia da Co ta quae quer navio de modo que lirando ter agoa
para beber e boa terras, e madeiras ao redor de si, tudo o
clemai que se bu ca em razo de guerra lhe falta masj
chegado alli, e de cubertos, no havia outro remedia.
Ga. tou,..se o dia em reconhecer o itio, em amarrar o~
navios, e pr a gente em terra com fronte de armas; ada
qual ao p da ua, que a sim convinha.
Lacro obre a eleio do itio, e forma ela fortificao teve
Jeronymo (1' _ lbuqnerque algun debates com o Enge-
nheiro I~rancisco de Fria, querendo que e fizesse entre o
malo huma ca a, como faz m os Indjo~ no erto, que 11e
huma cerca de mato cortado com a rama para fra com
folha, e ludo como quem cerca o gado, dizendo, que ba -
lava aquillo, que c nestas partes no se usavo ontra
fortalezas: alm di lo, que determina\a de e pa ar dalli
ao jJ[Lbny, rio quatro legoas avante daquelle posto, junto
clonde desemboca o TaptlCl/.?'U chamado l11aranho(1) , le que
ludo alli toma o nome; porque lhe cljzio o. Jndios, que l

(l) Luiz de MelJo ela Silva foi o que dClI causa ti e la llenominal(o. no teudo
Ionse~lliuoir ao Amazonus. llliO ob 'lanle as informucs recebidas dos com
panhelros de OrelJanu, nu ilha Murgarila.
- 19'6 -
havia melhores terras, e agoas para engenhos; porm nesta"
praticas chegou ,o Sargento-Mr do Estado, e tomand com-
sigo ao Capito-Mr, se foi a lhe mostrar o itio, que atli
melhor havia para se fazer a povoao com as qualidades
terra necessarias, j que as do mar lhe faltavo, e dis e,
quo fra do sentido estava, quem em tal tempo falIava de
e metter a dentro dos perigos, que ainda no abio, pois
naquelIe lugar se houvesse inimigos, como cuidava, que
havia, nem alll havio de ser senhores de tomar hum
caranguejo; pelo que deixasse ao Frias fazer seu officio, e
qUe todos ajudassem sua traa, que assim co~vjnba.
Finalmente depois gue bem viro, e reconhecero tudo,
dando parte ao Frias do que estava assentado, logo traou
destramente hum sexagono perfeito, capaz de alojar em i
todi;t aquelIa gente, e se defender com mui pouca, accm-
rnodando-se com o terreno, e a sim aos 28 do dito e di se
Missa; e nelIa os Padres Capuchos lanro sorte ao nome
da fortaleza, e sahio o Nascimento de Nossa Senhora, e assim
s ohamou o forte Scuntarllfaria, o qual este dia se oomeou
com todos os soldados, cada companhia seu lano, e na
descarga dos navios andava a gente do mar, e de ervio,
quando viro vir correndo ribeira huma cana grande
com muitos Jndios, a; qual chegada terra foro recebido
de J eronymo d' Albuquerque, e de todos com alegria .
porm alIes mostrando mui pouoa, estavo com tanta tur-
bao, que ao P1'vnciJpallhe tremio quantos ossos tinha
descompostamente, e no de frio.
Dero-lhes dadivas, vestidos, e coisas de resgate; ma
com o receio de er e ta ~inda movida de outra causa mais
que de sna vontade: nas pergunta tambem variavo, hom e
delles que dissero, que na Ilha havia muitos Franceze .
outros dissero que j ero ido " e que no havia ninguem:
pelo que elIes havio vind\) a saber, que gente era esta,
que havia chegado para serem seus convpadres: em fim o
Capito-Mr levado de suas imaginae , e credito, que se
per uadia ter com todos os Judios do Brazil, em lugar de
reter a este, at saber pontualmente a verdade, os largou
pedindo-lhes, que o vies em ver a miude, e que dissessem
a seu parentes de sua vinda; e mandou, que com elIes
fossem dos nossos cinco, para fazerem uas fallas ao da ilha;
e em lugar deste ,fez que lh,e ficassem dois da cara, filhos
de um Principal da' Ilha, chamado HiJrampitangu., moas
- 1197 -
de hoa feio: o mais velho se chamava Ipecutmg, o outro
6uin'aytapav, do nossos que faro, o Principal e chamava
nructllrapvrd, Indio velho, e de importanciaJi).
e ta obra do Indios no se qluz melter ninguem; por-
que o Capito-Mr no toma e achaque a dizer, que lhe
e torvavo as pazes, que elle tanto assegurava, em fal-
lando com um Inclio do Maranho.
Partida a cana logo e assentro a trez peas de arti-
lheria em huma esplanada, que para i o fizero com eu
ce We em quanto o baluarte, e cortinas da obra se for-
mavo de gros as vigas, a ventados obre grade, e cruzado'
de per alto com fortes travessas, e logo at o meio altura
de hum.
E tando feita buma trincheira com eu entulho de oito
palmos de largo por dentro todo a roda; e cada ballJ.arte
duas guarita no alto da ceI' a para as sentinellas, de modo
que com i 2 soldado e vigiava, e escortinava tudo, porm
o trabalha ota grande, e o terreno mui duro, e ecco. A
coIllida mento agoa, e farinha, porque do mar, nem da
terra inda no podio valer- e, e assim cada dia do olda-
do de 'Jeruguaguar. morrio, e dos demais adoecio em
nenhum humano remedia, ou consolao alguma.
Andando pai todo occupados na obra dita ao 30 de
Outubro ao amanhecer, dero o Indios da Ilha em huma
Iudia , e moos, qlle desviados do Quartel andavo mari -
cando, e com terrivel brutalidade de pedaro quatro
moa, e mataro hum Indio, que aca o acumo ao grito,
e captivro alguma outras India , e meninos, o quae'
recolhio na cana, em que havio vindo.
Tocou- e arma, e acudia a gente com tal presteza, que
no mente lhe tiraro o que tomado tinho ma pel
valaI' de lmm Principal de nao Tabajar, hamaclo o ~[(Ln
diocap,a (2j, o qual entindo, qLle lhe levavo sua mulher,
e hum filho captivos, correu com tal ligeireza, que foi for-
o o arremetter a todo o contrario, elo quaes ma-
tando dois, pz os dem.ais em tal de ordem, que quando
chegaro o que vinho com elle a jm Portuguezes, como
Jndios, j tinha rendido a cana, c preso o Capito delI a,
e Sua mulher, e filho livres, a qual abraanclo- e com o ma-

(1) ba altla Pi~ary. Vir;Je I?ag. 177.


(2) Da ald'a .r.cocC>. "Vide llag. Ii?
- 198-
rido llaquella furia, lhe pedio, que no matasse, nem con-
sentisse matarem aquelle Prin ipal, que a defendera a ella,
e a seu filho da furia dos outl'O., o que o marido fez: e
depois na prizo, que em ferro dero ao da cana, esta
mulher tinha cuidado de lhe mandar de comer todos o
clias : tanto pode hum beneficio feito em sugeilo nobre, por
barbara que seja I
Este successo foi causa de que os praticas no 5erL[0 do
Brazil comero de murmurar da confiana, que se havia
Jeito da primeira cana, e dizi[o que em dvida <J ]lha
esLava chei:1 de Francezes, os fIuaes havio mandaclo reco-
nhecer os navios, e gente com a primeira cana, e sabendo
que ero Portugueze , mandr:o logo conrorme ao costume,
c ritos de sua.. guerras a segunda cana que viesse a que-
hrar cabeas para se romper todo o ignal de paz entre
huns, e outros 1udios, assegurando-se mais por esLe meio
de seus -alliados ; e que logo traz este effeito se seguiro
os de mais da guerra, sem a qual, e em se lhes dar lluma
gra.nde roLa, no cudasse ningum, que havia 1e haver
pazes.
Isto dizia huma, e muitas vezes o Capito Simo Nuu
Corra que fazia o oflicio de Ajudante de Sargento-Mr de
aquella Conquista, homem de experiencia em aquellas
guerras do Brazil, e nas de Buapav, cpmpanheirb de
.Pedro Coelho de Sousa; mas com todas estas coisas, pra-
ticas, e discursos em publico, e secreto, o Capito-Mr
sempre e perava pela paz, que lhe havio de trazer o
ln.dios, que havia mandaclo Ilha, e quasi desgostava de
ver' fazer as obras da fortificao, em que o Sargento-Mr
do Estado trazia m,ettido lOdo o cabedal; mas. tudo ao de
Albuquerque parecia desnecessario em con'lparao do que
esti ava a palavl'a-dos 1ndios, em que no con entia, que
e posessem duvidas: e assim de continuo estava olhando
com grande bondade, se vinho canas de paz.
Porm oIudio pre o, que j via ser-lhe necessario agradar
a seus amos revelando segredos, nojei que nillguem com 1'01'-
a o cons~rangesse; por que o Capito-Mr estava de per-
meio, que era seu Pai,e seu paren~e d todos,como eUe dizia,
amum disse, que na Ilha. havia muitO:' Franreze~, e muitos
10rtes, e muita arLilheria de ferro, e de bronze, e muitos
navios, em particular !luma no muito grande, a qual sabia
de (jr~o, que esULva para vil' contra aquelles IlCwios, e qUg
partiria, em duvida em Ilando lugar o tempo; e que rliglo
dava por sigual, que duas embarcaes pequena apparc-
cerio ao outro (lia ao longo da Ilha, e que tinho os dito'
Franceze tOffi,'ldo todos os prin<;ipae porto', e ocenpado
com gente de guerra, e que todas as can6as elo Inuios de
aqueHas Comarcas esta'Vo debaixo de ua potencia, de
feio que nenhuma e bolia sem particular ordem do eu
;\Iajor; e que o Indio que havio ido de paz com a pri-
meira cana, que toelos estavo em [e1'ros, e que havio
ido apertados com cordei para dizerem o que/se pas ava
entre o POltugueze.
Ouvidas estas nova , logo trataro de mandar aviso a
Paranambuco por duas via ; comeando de arr cear, que
ante~ de muito nem por mar, nem por terra eria pos ivel
fazer- e : e assim se aprestro Ba tio Martins (1) om o n
caravelo, e o Macbado om o eu por erem os mais
ligeiro , e melhor vel jados: em hum e embarcou o AJ-
moxarife Francisco Mendes Roma, e am outro o Capito
Martim Calado mui enfermo para darem conta a Sua Senhoria
de tudo o que pa ava, e olicitarem, c trazerem o ome-
niente occorro.
Andando nesta preveno appar ceu ao longo da Dila
huma lan ha grande, e aps elia outra, e logo dabi a pouco
tempo ele pararo em terra em duas partes artflheria vi la
do fort SanlClr-jJ[w'ia, elo qual tambem re pondero larganelo
as bandeiras na novas estancias; e l sobre a tarde r:om a
mar veio huma das lancha a reconhecer o Ouarl ,e
os navios, d'entre os quae lhe sahio o caravelo do Martins
com 20 soldados, o Francez s <:e recolbero depres a.
Soube-se depois, que viuba dentro com Ui soldado Mon ieur
du Prat, grande oIdado, e pe ~oa de ubstaucia da Camara
lo Cbristiaoi simo Uey de Frana.
E te ucce.so foi a 2 de Novembro, de modo que era
pas ado o l1'lez de Outubro, e no e desenganaya o dE'
lbuquel'que e perando sempre Indios de paz da Ilha, e
de lhe no I'ir m lodos, clava por escusa terem-Ibe o.
Francez s tomado os porto , e a cana : com tudo com
os principio. , que havia visto dero-se p 'e sa ao despacho
dos caravele , e partir;-o em i} do dilo No\' mbro, indo- c-
lhes fazer guarda at boca da barra com o outro b m
(I) Sehn.lfio Martins, o piloto elo qne acima .0 [mIou.
- 200-

al'llladQs~ que tornaro ao ouLeo dia depois, qu~ bem guia-


cI os os lanro pela barra fra.
este me mo tempo a no grande j. se vinha chegando
com tas, por ser contravento, e aos bonIos, e estava nas
coras de ,'aSanh'Lbg (01), quando o caraveles lhe passaro
por balravento coisa de duas leguas, e assim no pde nin-
guem fazer-lhes damno e a no querendo porfiar a chegar
barra grande do Maranho para e pr na Ilha de Santa-
Anna, quebrou duas amarras, e perdEm duas ancoras com
a furia do temporal, que Deos mandou aquelles dias; c
assim quinta feira se tornaro arribados ao fQrte S. Luiz.
E este foi hum dos maiores bens, que Leve a Jomada dado
por De.os, a quem se elevem as graas destas cQi as; no
se sabia nenhum no Quartel dos Portuguezes, j.pte aguar-
dando cada dia a dita no se fazio presLe ,e e traba1hava
de noite, e de (lia: coisa que se no pde crer de gente
to cansada, e to mal provida, e que conLinuamente an-
davo com as arma nas mo, e aLrave sando maLo e
rondando os postos das praias, guardand.o postqs, fazendo
emboscada , batendo varedas, reconhecendo pist,l.s, vigiando
lanchas, e trabalhando na obras, e na descarga do navios,
de sorLe que no havia sahir u.e hum trabalho, sem se deixar
de entrar em outro: de todos a guarda do mar, e do navios
dava mais cuidado, porque por momentos as lanchas, ca-
nas, e patachos apparecio em diversas parles, e como
lenhuma era segura aos novos hospedes de toda e arre-
ceavo, e convinha guardarem-se, de modo que descalo,
despidos. rotos do mato, transidos, pllido, , mas mui
~lmosos andavo todos os soldados, c olliciaes com huma
conformidade grande.
_este tempo, que foi a 7 do dito, 'os Francezes para ver
se poderio tomar nova lingua, pozero huma bandeira
pr,anca em huma cora de ara, que e t.' defronLe em meio
canal do ForLe Santa Maria. a qual em sendo vista do Capi-
to-mr, mandou logo, que sahlsse um caravelo cqm 20
soldados, e lingua dos lndio , dizendo que <:em duvida os
da Ilha a nado, ou como havio podido, se hpio' vindo
C[uelle lugar para e pa sarem a est'outra banda; por tanLo
que levassem Imma jangJ.da para os met.Lerem no caravelo.
Foi em effeito a embarcao, e em chegan,do cora, foi a
(I) Talvez Araag!l.
~- 201 -

jangada at' lingua d'agua, e o. Indio pouco a pouco se


viero hegando falla . hma. de mi tura com elles vinho
Francezes com roupes largo , dos quae vendo que os da
jangada no sahio a terra, desenvolvendo as armas, que
trazio cobertas, comearo de dar huma carga, qual se
de cobriro ele detraz da ara outros mosqueteiros, que
em duvida tomro a. jangada., e o caravelo com hum
barco, e com os mosquete os no de ,ira.
Tornado o caravelo ao quartel, ainda Jeronymo de Al-
buquerque no podi reI', que e ta cousas havio de levar
outro caminho que o da paz que esperava dos Indios; e
ne ta conformidade ao 1.0 do dito havendo as sentinellas
da emboscada do i\'luny descoberto huma cana,se lhe armou
de feio, que s dou, que se lanaro ao mar e capro
nadando como golfinhos mai de duas legua . o demais
fazendo, que vinho de paz, quando e viro atalado , e a
cana Y io ao quartel, donde o Capito-mr sahio a recebe-
lo ao caminho mas o Saraento-mr do E tado a quem
mai doio estas cou as, dis e : Senhor, no sejo estes
como o outro, mandem-se pr a recado e saibamo o que
e pa a, que tanta gente, nem to beIl? concertada no vem
seno a tomar lingua por parte dos Francezes. A isto lhe
re pondeo o Capito-mr publicamente: Senhor, isto no
he guerra de Frande {i). Vm. me deixe com os In(lio~ por
me fazer merc,que eu sei como me hei ele haver com elle
que ei que me vem buscar de paz ; e assim falIando com
eUe parte lhes deu ve ticlos: espelllos, e r ,gale, e de -
pedio a cana deixando-os ir livremente; mas Deos que via
e ta innocencia, ordenou que de ua vO,ntade se deixa e
ficar hum 1ndio que tinha sua mi e parente em Paranam-
buco, o qual tanto que a cana se partia, di se ao Padre
Frei Manoel: Vde como estais que esta noite vos ho
de vir a dar nos navios o Francezes; que para i o man-
dro esta cana a reconhecer como esta, o, e tanto que
os tomarem, ou queimal'em, logo vos ho de vir pr cerco
por mar, e por terra, porque tudo est prestes.
Ouvido ]sto o Sargento mr do R taelo, por <:er j boca da
noite, tomou comsigo huma esquadra de soldados, e se foi
marchando a se metter nos navios, mandando aviso a u
companheiro do que fazia, o qual acudio logo praia, e
(I) Frandes, i. e., Flandes, na Belgica.
24
- 202-
disse ao do Estad, que nos navios no havia para que melter
soldados, nem ir l ninguem ; porque no havio vindo alli
a defender navios podres, seno a terra, de que estavo de
posse. Houve sobre isto vozes de parte a parte, por que o
Sargento mr gritava.
Os nossos navios so hoje os que nos authorizo, assim
semnada como esto, e se o inimigo os toma, ou os queima
que credito nos fica com os Inmos, nem com os Franceze ,
que ando apalpando nossas foras, e que descarga daremos,
Senhor, de os perder sem sangue? Eu a darei por escrito a
Vm. cada vez que m'a pedir, disse o Capito mr; e no
consentindo, que a gente fosse, se retiraro ao forte, man-
dando avisar a gente dos navios, que estivessem com boa
vigia, e que vindo a mar se atoassem terra todo o pos-
sivel.
O Sargento-Mr do Estado com Francisco de Fria, e
alguns outrQs particulares se pozero com artilheria a
ponto, e em vigia aguardando aos inimigos, o quaes no
quarto da ante alva com a mar, que crescia, e com o c-
curo da noite se viero chegando sem serem sentidos da
gente do mar; mas os da artilheria, que os divi savo dando
fogo a huma pea tocaro arma, e do mar tocando a
trombetas, e dando uma carga investiro os Franceze a
seu salvo com os navios, a gente dos quaes, como ero
os marinheiros, lanando-se ao mar lhes deixaro a pre a
nas mos: a artilheria do forte no cessava eJe jogar dando
em huns, e em outros navios; porm no que se fize se
com ella effejto de substancia.
O rumor era gra.nde, as arcabuzadas muHas, at que o
Francezes desenganados da pouca fora dos navio , e guia-
dos por Monsieur de Pisiau, e Ionsieur de Prat, e o Ca-
valleiro de Raselll, da Ordem de S. Joo, tomaro a ca-
ravela, que estava mais ao mar, e o patacho Francez, e
hum barco; os outros trez navios, ou porqne j. tocavo
em secco, ou por mais obrigados da artilheria, escapa-
ro desta envolta1 que foi to mal guiada, com fica dito,
na madrugada da quarta-feira, 11 do dito Novembro.
No se pde contar a soberba, com que o inimigo dalli
em diante corria o mar livremente de huma a outra parte
dos Quarteis Portuguezes, e como tinha occupado todo o
canal com velas, dando tanta inquietao, e to novos
trabalhos aos do forte de Santa Maria, que nem comer,
- 203-
nm trabalhar deixavo a gente, antes armando as trez
embarcaes, que tomaro, com elias vinho a se metter
debaixo da artilheria, tiraOll0 a mosquetadas aos que an-
davo na praia; e os Portuguezes, vendo o successo da
levada do navios, e reconhecendo o perigo, em que es-
tavo em remedia de occorro por mar, nem por terra, e
o poder das embarcaes, artilheria, e gente do inimigo,
e o inuumeravel numero de Aldeia de IncHos, que tinho
al o Par, e a muita cana armadas de 60 e 70 palmos
de omprido, e outras munie de guerra, e bastimen-
lo de que e tavo provido, j alguns se tomaro em Pe-
rej, e comearo de vr cumpridas a profecias do Sar-
gen lo-J'lr do E tado.
O rndio amigos, vendo, que os Francezes havio to-
mado o uavio as im a mos lavadas andavo to encolhi-
dos e e pantado , que j lanavo novas, e fazio contas,
e n parecio ao trabalho como dantes, nem o Capito-
i\1r ou ava a lhes mandar nada; e foi tanto que chegan-
elo- e a elle o argento-Mr do Estado seu companheiro,
empre eu amigo, disse: er bom, que por terra
aventuremo alguns Indios com qualro soldados at a Hua-
pav para que dalli ao Siar, e a Paranambuco levem
nova ao Governador de como estamo , e que o soccorro,
que houver de vir, seja como convm a e te novo de en-
gano, porque tenho medo que se o no fazemo , que
venho alguns barcos da Costa, as im omo ns viemo ,
e que sirvo de refresco ao que guardo a barra que at
agora ml como oldado, vejo que no perdero ponto,
nem o perdero at nos on~umirem, ou n a elies' e isto
convm, qae seja com toda a brevidade, e egredo.
OCapito-Mr respondeu que lhe parecia mui bem; ma
que e Lava de confiado do rndio, aos quae abrindo o
caminho para que hllm e fos e, que sem duvida se
havio de ir todo ; pelo que em nenhum modo havia,
que faliar no tal aviso. Poi, enhor, replicou o Sargen-
lo-Mr, e a vo S;t confiana com os maiores amigo e t
nesse e tado, tratemos que no ~erej, que to cedo lar-
gamos, haja huma guarda para que avi e aos nossos barcos
quando vi rem; pois sem duvida no hiIo de VII'. a outra
parte 3eniIo alli, porque no sabem outra; e se alli houver
20 oldado em hum reduclo, podem fazer a paz com os
l'e'l'emembs, que n no fizemos; e pOl' elia poderemos
- 204-
ter sujeitos aos nos os lndio , e o da Ilha eus llliffilgO
em tremores ; e se nos vier soccorro de gente, pMe met-
ter-se no reducto com os outros, e descarregarem aUi o
mantimento, e tornarem a de pedir as embarcaes, e a
n darem-nos aviso por terra, ou com hum soldado de
noite em huma jangada: e Di to, Senhor, cuidai, porque
por ora no temos melhor remeclio, nem que mais nos a-
'egure, alvo o ele Deos, porque se perdermo o soccorro,
a sim como o navio~, pouco vaI o que fica, pois com a
morLe no damos bl)(t anta do que nos mandaro.
Em fim fioaro em que se mandaria reconhecer o rio mai'
vizinho no Jc~gLuYl'ap'im (i), ou Ilha das GtulIyavds, para vr
e por dentro havia algum canal, que e communica se com
os outros do Perej.
Em quanto a cabeas andavo dando por e te c n e-
lho, os demais tambem cUscu'rsavo, e qua i q;le re olvio:
e as im se chegou hum certo ao argento Mr do EsLado,
e clis e: Senhor, isto est de modo, que no Lemos outro
remedia mais que o do mato, e para que no venha tempo,
que nem des e valer nos possamos, ha neste quartel quem
Lrata de elar fogo polvora; e ei, que se deixa ue o fazer,
he porque est toda junta, e temem- e que falte para a
viagem; porque ne te aohaque enterrada a artilheria fundo
o poder abir daqui; so mais de 70 homens o conjurado~;
mas por vos no darem mais. desgo Lo do que tende , dis. i-
mulo, at ver a re oluo, que e toma no remedia desta"
coisa.
COllfe~'a o cUto argento Mr, que nunca m sua vida
Leve tal aperto de sentimenLo, poi gritar obre o ho-
mem, que lhe faUava em segredo, no podia; matallo de
qualquer modo, era a ruina de tudo; a re peilo dos con-
federados, descobrilld peior, pois no ha,'ia a quem, pois
a materia no era para todos; e assim resoh'endo-se om
o 1'0 to mais alegre, que pde, respondeu, Ouando esLa
polvora e houver de voar, ba de ser meLtendo-a debaixo
dos ps elos inimigos, e no's nossos depois, se as mos nos
Jaltarem. V. m. agradea aos amigo o seu bom zelo, que
eu no quero aber quem so, e os assegure, que ante de
muito Lempo tero em que empregar- e, sem avenLurar

(l) Jaauarapim. No so salJO hoje fi ue ponlo cru lo, ou so ho oulru liolloJUi


uuito ela ilha lias Goybas.
206 -
laula como he a honra; e e acaso i so se me avisa para,
que ponha na polvora mai cuidado eu vos asseguro, que
quem avoar, que ba ele avoar ante della, e amanh uendo
Deos servido, maudaremo a 1'e onhecer algum bom ca-
minho para a communica u de nos o occorro, com que
tudo parara no que uesejamo:s.
Acabado e te colloquio, logo aquella tarde se melteu a
palrara enLre todo o mantimento e e lhe dobraro a
IJuarcla eru dizer o porque, mai que por a egurar a fa-
rinha e coi a do armazem, que no e Lava: acabado i to
juntamente se nomeou Melchior Rang I com 60 arquebu-
zairo , e 30 frecheiros Indio para ir a reconbecer a Ilha da
GtUlIycLvas,ou Jagw'/'rapim(1) para o effeito ditado canal, que
de 'ejavo ; e porque os inimigo contil1uavo tanto aquella
Pilrte, llle davo a entender terem em terra alguma gente,
ou alta, ou forlicada,
Deu-se ao mancebo huma mui boa guia, e ao outro dia,
que faro 1.7 de Novembro partia levando ordem de 1'e-
'onh ceI' todos aquelle' rio' a vr se se communicavo
jJor denLro com o que havia trazido Armada, e que se
acha em gente na. Ilha elas (J1byavas, que a iuve ti em
no quarto d'alva encami adas (2), e (lue do succcsso bom
ao longo da pauta Dze ~em hum fogo, e e houvessem
mister o corro, que lize em muito, 'heganc1o- e para o
rio mai vi inho ao forte Santa Maria, donele logo acudirio
todo.
Dada e ta urdem, e ele pedidos todo, foi ai a maravi-
lho a, que em todo aqueU dia, c em toda a noite grande
parte do outro no acerta e esta gente, levando guia, o
'aminbo de quatro legoa , pela praia j outra v.eze
andada' e1elle ; e foi que se entrro no primeiro brao do
rio proximo ao Quartel, e querendo atrave ar por clie ao
outro Ya ou a mar, e o lodo era tal, que qnanto e de -
Yiaro da praia, se impo ibilitaro a sahir d 11e: em fim
'em pod r m ir a]ianl. ao LI ZOltO e1ias rIo dito para to-
marem ao lojam nto to descomposto, e cheio ele traba-
lho, amo e todo o al1110 llouvero andado na va a.
Di to tomou notavel de peito o Sar a ento-l\1or do E tado, e

(I) Vido nota Jlrccoclcnlo. . ' ,


('.l) /tllcama.c!os, elo clI",mi",,"sc. i. e., vostlr Ulllacanll a 'ouro,a, arma. para tll'-
liuguiJ'-a' rio' il1jmigo~ 'nas surprosas lIoclUl'lIllS que llllllglfloulo 'OI'UZlO,
ehUllllldus por iSSo-cncamisados.
- 206-
assim logo naquelle ponto mandou concertar dois batei ,
nomeando dez Soldado para cada hum, e quatro. farinhei-
ros todos com seus mosquete, e fouce de 1'0 ar, macha-
dos, ps, e enxada , e avi ou ao Capito Fria , Engenhei-
ro, que na mar da madrugada se ha io ele ir a vr os
canaes, e cada hum em eu batel, e que em ca o, que ne-
ces ario fosse haviJo de abrir a terra de hun a outros para
fazer o caminho por dentro, que de enllado LinMo, pois
era coisa possivel pela dispo io do terreno.
Estando tudo prestes, e ene para e embarcarem
naquella reponta da mar do lia 19, andando no quarto
d alva vigiando se andavo no mar a lancha, viro que
tudo estava coalhado de embarcaces de vela, e remos,
que vinho com grande silencio chegand-sa praia de '-
viados do forte um tiro l1e fal o por detraz dos mangue :
deu-se avi o, e com o novo dia omearo de e mostrar
tantas bandeiras, e tanto numero de gente, que a uma
o-rande Cidade podra dar cuidado, o mais que comero
de altar em terra com tan tas trombetas, caixas, buzina ,
e rumor, que no houve mai que fazer, que acudir os elo
forte Santa Maria, cada qual ua e taneia' e o Capito
Mr Jeron mo de Albuqu rque com at oit nta oldado
por ver como desembarcavo ; se foi na volta do inimigo;
mas dizem, que al~uns dos que levava com igo, veneLo tan-
ta gente o persuadiro, que em mais tardar e r tira e;
j quando elle vinha, o argento-l\1r do E tado por ver
como se alojava o inimigo, se Joi com doze arcabuzeiros,
adonde j~L a vanguarda elo inimigo tomava po to, que di-
zem, que a gtava o Sr. du Prat, e entreta,nto de embar-
~ava de batalha l\fonsieur ele Pi iau (1), Lugar-Ten nte Ge-
neral de aquella empresa, o qual vendo tiro adiante seu Com-
panheiro, parecendo-lhe que elJe s havia de levar a honra
daquella jornada, dizem que com dema iada louania se
lanou agua, e a ,eu exemplo muitos dos seu, que foi
causa de haver frasco , e bandoleiras molhado ,e o lndio
das canas vendo saltar na agoa os F~ancezes em hum mo-
mento cubrir:o tudo; e elles vinho cobertos de pavezes, e
rodelas tintos de mil cores, e empennados de seu modo,
que parecia e tal' alli todo o inferno.
Neste tempo com alguns arcabuzeiros, que se chegaro
(I) MI'. de Pisiau. Mais atliunte lse Pisiaus.
- 207-
mais, comeon o Sargento-Mr de travar a escaramua a vel'
como e punho, e havendo cahido dous Franceze ,e hum
oldado do Portugueze, parou a obra, e o Sargento-31r
e veio ao forte, a ver o que determinava seu collega, o qual
achou com hum oculo de longa vi ta olhando por huma bom-
bardeira o que os inimigos Iazio ; ao qual di se:
Senhor, no ha j que ver por oculos, que nem os tra-
balhos ho de diminuir, nemhi10 de fazer os inimigos me-
no .
Pois que havemos de fazer, Senhor Capito? re pon-
deu o de Albuquerque.
Valer-no de Deo e de nossos punhos, di e o Sargen-
to-)lr que j aqui no ha OutTO remedia. O inimigo e
fortifica e via que nos retiramo, e entende que queremo
aguardar o siLio, e a im trata de e alojar primeiro, e d -
embal'car ua coisas, se agora em (lao formos com
toda e a crente por dua parte, sem duvida o. Lle bara-
taremo , e nos dar Deu boj bum dia muito formo. o ;
pelo que Vm. om a metade desta gente branca, e InlUos
vem e deter, v pela montanha e eu com o demai irei
pela praia; e tanto que Vm. chegar ao inimigos faa sig-
nal tocando arma o tambor ,que at alli ho de ir com
muito ilencio, e inve Lindo eu por esta banda farei o mes-
mo, Deu no ha de ajudar a todo.
Jo re-plicbu palavra o Capito .lr, ante movendo- e
logo, mandou dar em p ao Soldado hum bocado de bis-
couto, e huma vez de vinho; e com i to ahiro todos mar-
chando para fra da cerca em tocar aixa, e sem ban-
deira .
Est diante elo forte de Santa Maria hum oiteiro eminente
adistancia de hum ll1'O defalco, immediato ao mar pela parte
do arte, o qnal tem hum rio de agoa doce pelo p, que pela
banda do Sul participa de agoa que bebem O" Portugueze .
Ne te sitio desembarcou o inimigo de preamar, como e t.
llito, lanando em terra ao p do monte de 50 canoa maL de
dous mil Indio frecheiro. da Ilha, e de TapiLer (1), e com
cUes 200 Soldado Francezes em duas tropa, como e t dito
nos quaes entravo muitos fidalgos de casas conhecidas de
Frana, e dos mais bravos soldados 'Iella, com peitos, e 1'0-

(1) Tapitor. QUITO eliz m Tal",ytalJ!Ya. aclualrn nle ii rielaelc ele Alcanlnra.
- 208-
dellas d'ao, morries, e 'ollallas ('1); e mnilos, e bons lU s-
queles, algwl d noya inveno que sendo curlos, jiravo
500 pa os aos Indio , alm de suas coslumadas rodelas, c
espadas, arco , e frechas : trazio cada qual eu feixe de
vara aladas a modo de faxina, com que os que yinh0 de-
linaclos a este effeito em hum momenlo, como ero tanlos,
fizero huma cerca no alto do monte, a qual e guarneceu
demo queleiros ordem de MI'. de laFo Benart, com mai
400 Indios Topinambs, com o lingoa Tmcou, ao ql1aes deu
ordem Mr. de Pi iau, que ainda que senli em to ar arma,
e revolver-se ludo, que n lal'ga em o posto, antes mai
cada vez o forlifica sem, cerrando- e neUe.
Logo mais abaixo desla cora, ou cerca fizero oulra aju-
dando-se do itio e do mato a qual como barbacan da
outra lhe dava re~guardo, por ser levantada dua braa,
do telTeno da praia. E la bal'bacan com soldados Franceze:,
. Indio e deu a cargo de i'fr. de Canonvilha, ,oldado
velho, e de muilo nome, assegnrando o monle nesla forma:
Alulharo lodo o eSI ao de lerra,que havia entre a mar,e
o monte com ele lrincheiras de pedra em o 0(2) alla ,e
gmssas, que fazio roslo ao Jort Sanla Maria, e esta se re-
tiraro os Francezes, quando a escaramua do Sargenlo-mr
porque eslavo guamecidas da ua melhor genle, al donde
balia o mar com suas senlinellas . e as canoa toda e lavo
abicadas ao p da montanha', e coberlas das dila trinchei-
ras, e todos os mais Indios occupavo tudo o qne o mar
vasava, guamecendo a ilharga da trincheiras; em lodo
os navios daquelle campo serio mil e quinhenlos frecueiro ,
que lodos fazendo os seus mOlins, e mamo' e vinho chc-
gando para a praia {lo forle SQ/l~ta Ma1'ia, que era a parle
smente, donde temer se podio.
O Capilo-Geral, Monsieur de la Ravardiere e lava no mar
com outro 200 soldados Francezes, ordem do Cavalheiro
de Ra eli da Ordem de S. Joo, e do Capilo iathicu
f'Ialharte, que com outro 100 freclteiro de Comal (3), LH1Vi~o
de sahir com a arlilheria em se as eg.urando o itio,
J havia marchado oCapilo-Mr por lmma vereda ecrela

(1) Collada, i. '., garganta larga entre outeiro (), !TIIS. ~Ja a coitada. de que
aqui se trata el'~o guarnie cle ao para defender a garganta dos guerreiro.
(2) Pedra em '0110, ou em .o..a, i. e., solta, em cal, lIem outro liame.
(3) Comat,.i. e., Cu",,, o nome do tenilorio onue se aclw a villn cle Guirnaruc'.
-209 -

fia montanha com 75 oldados Portuguezes, gente escolhida,


quc levavo em suas companhias o Capito Manoel de Sou.a
d'Ea., e Francisco de Fria, ao quaes tocou ir por esta parte.
Levava mai 80 frechil'osPorLuguezes, genLe velha, e des-
tra nas occasies, e guerras do Brazl, e o argento-Mr do
Estado j e tava pegado aos inimigos com s Antonio d'Albu-
qucrque, filho do Capito-Mr, moo de 20 annos, que aquelIe
clia quiz seu Pai, que fosse com a sua companbia pela praia
com o argenLo-Mr, a quem o encommendou: com esta
companl1ia, e com o resto do Indio, em que entrava o
l!eandiocapa com o Tabajdras, e foi mel borando ode
Campo coberLo com um pouco de mato por no mosLrar
a genLe ao inimigo' ma o oldados, que vio o que tinho
dianLe, movio- mui tibiamente querendo ante e Lar-se
ao o airo do forte Samta-J[an'ia: e Di to e houvero de
modo no obedecendo ao argento, que o do Estado,
virando- e a elIe com uma pistola na mo disse:
No me per uado, que to valentes homens duvidem de
,encer ac{Uelles inimigo, e mais quando hontem no l'erej
vo amotina Les por chegar a este ponto, no qual se agora
houver aloum inrame, ou covarde, o que no cuido, e como
lal Lorcer o 1'0 to uide, que me Lem aqui para seu verdugo:
fazei, cnhore, e irmo, o que me 'irdes fazer, ad, er-
lindo que a mihha vida, e a vossa e ta. na morte de aquell s
que logo ho de fugir, se hum pouco lhes temo a barba
te a ua primeira furia.
Dizendo isto virou- e ao CapiLo Madeira, valente oldado,
c Capito do lndjos todo , e di s -lhe:
NleLtei-vos, ellhor, com toda e a gente detraz da-
quellas em] arcae nossas, que j esLo em secco, e
n5:o rremeLLai e no depois que me virdes, que ''ou
invc Lindo, e ento cerrai om o Indio da praia, que
guardo a ilharga das trincheiras, e fazei como costumasLes
s mpre. )
E dando esta ordem, di. e ao Alfere Diogo da Co ta .
oldado velho e de honra, natural das Ilhas: m,
.c va voando ao forLe, e diga ao Capito Gregorio Fragozo,
que com toda a sua companhia venha logo marchando
pau o a, pouco em bandeira, e sem tocar caixa, e se ponha
na retaguarda dos nos o Indios, e tanto que nos vir arre-
meLter, entre pela praia. de so COITO com a sua arcabuzaria,
para que os nos o Indio o inLo nas B palda , e o inimigo
25
-2W-
sfl ~~cpmp,lVj1l;la p,ela ilhtlirga. Ol1denado assim O que c.OTI-
viQ4a aguarda,ndo osinal dos d", montanha, saltou em lerra
de huma cana hum Trombeta com as Armas Reae de
Fq.pa b~lIl concertado, e tocando, e chamando, se veio
~t lIue hum tambor dOI) Porluguezes com ord!3m do Sar-
gento-Mr do Estado o foi recollier, e vindo sua pre ena
lhe d,eu huma Carta em Francez do - eu General, ao qual
ew quanto se via, lhe mandou o Sargento-Mr tapar os
oJhos ao Trombeta, e pr boa guarda, e lendo a Carta para
si smente :vio, q:ue dizia assim:
Ao Senhor J eronymo de Albuquerque.
f4 Senhor' de Albuquerque, o vosso atre"Vimen to he il1-
comparavel vindo accommetler em minha pessoa ao maior
~onarcha da Christandade, com seu povo, e Reino, do
quql eu tomei posse por Sua Magestade, com meus com-
panheiros a perto de trez annos, tendo Commisse , e
Letras patentes do meu Rey para. este efi'eiLo, e tendo
tambem para este effeito vinte Calluchinhos gUp,rnecidos
de Ilmj boas Misse do Par.
(~Por tanto eu te peo,' Albuquerque, donde e L a
justia da tua causa; e se Deos te quer ajudar, vindo em
algum dire~to a tmbar nossos limites, e a tl'ansLornar
por hum tempo os bOQS effeitos, que aqui se fazem cm \
todas as coisas; eu no deixo de rogar Deos, que te no
mande o castigo, que tu mereces turbando-te em tal orle
o espirito, que lu no acceites a graa, que como
Chrislo, e como Nobre eu te quero fazer por dua
razes p,rincipaes; a primeiI'a por teu coraje de haveI'
ousado vir dentro aos limites Francezes accommettendo
hum numero de bravos Fidalgos, onde eu sou o menor, e
inc(lpaz da honra, que tenho de os mandar: a outra
ra~Q mais forte be a preveno, que fao perda do
sangue Chrislo, que no posso eslorvar, se no guardares
as condies seguintes, a sim como o desejo todos os
meus; porque tenho hum nu,mero infinito de salvagen , que
no de.sejo mais, que de te abocanhar a ti, e s tna gentes,
e de executar em ti, e nos teus todas as sortes de carni-
cerias, gozando dellas, e de outras mortes: e com tudo
eu por desviar estas inevitaveis maloras (i), porque as no
(1) Traduco de malhe.r.,
- ~H-

desejo; alba, se te queres rende:t por meu ptisfone'(f de


gllerra. oom todos os teus Fidalgos, e soldadaS', e slhagns,
porque fazendo-o, te prometto sobre. minba honra; e, a
elles todos de vos fazer todas as cortezias em "ossas pessoas,
que podareis desejar de bum erdadeiro Christo, e Fidalgo
Francgz; e no quer'endo tu acce.itar este favor, dando-m-
a pena de pr os ps em terra, e de te plantar a bateria
das minhas peas, no ten que. eSJilerar de. mitO. nada mai'S,
que o que as teis da nossa arte promettem: assim que pois
no s i.gnorante, e tens as qualidades, que eu hei visto em
teus passaportes, no confies Do' socco1'ro, antes assegura:
a vida tua, e do teus, que e t boje posta no vento, e mais
quando tu vs o estado em que estou para lhes Fomper a
cabe.:'t, antes que vejo o teu forte, e antes crue venbo a
mim,~em que fazer com hutna Mo de ~OOI toneladas, que
tenho na entrada da barra com hum. seu pa1Jaeho, as im
que eu te concel0 tefmo de quatPO' botas papa rece'b'er a
lei de teu bemfeitor, e servidor, se fize}'es para teu bem o
que te digo acima.

(( Se desejas de me l1l:bndar hum de teus Ca.vaUcil1os,


pde vir seguramente; porque te (101J. mi.nha f; e palavra
de t'o tornar a mandar, em fa11ando GOro. ene;-- e porqiue
no ignores tlll, e os teus o estado em que estou, ~ 0S vas
achais. Abi vos mando parte. das cartas., qU,B elles escre-
"io pelos navios tomados por meus c6Hllpanb,eiros. N{])
campo Francez dian Le elo f te S. .imio dos ]? Qrtuguez~B"
no ~1aralJ,lilo a. H) de Novembr,o d'e 1,614. ))
Hlvia passad a palavra ao Capito-M011 da ,inda do
Trombeta; o qmal para mais m@ era vind<D, que para re-
conhecer, e empacbar os Portu:gue~es em quafi~o os Fpau-
cezes se fortiflca'lo, e espantar com aquell'3Js pal<lJvras a'0S
que sabio pouco: emfim Q dito CapiLo-l\f,r fez alto' S'0-
nido j ao p do monte da 0u~ra banda; d teste', e pa'ra
saber a Novidade, mandou hum Alferes a: informar-se;
mas S1irgento~Mr d0 ES~lJd'o, lI resrposta que' deu fli
metter a Carta no ueo do chapo, e O' A'.Ur-~s flor. rrolhe
J\~arr(j)el Va2l d'e @lhellCl\ c1Jisse: (~ Diga, ao (C<liPito-Mf@r, que
a f.arta vem em Fpancez, B que sua ]Jlt6I'e a nl(i)\ ba
de p0.der ler; m.as> que lbe a iso, se Elo l!fne~ ser a<lJpvo
dos Franeezes, CfI16 a:ll remellta logo, com'(\) est assenttdb;
- 2i2-
porque aqui estamo prestes para fazer o mesm : e que
pedem, que nos rendamos a Sua Merc dentro de quatro
horas, se no que seremos posto ao cutelo. Foi o Alfe-
res voando com este recado, o qual tanto que o Capito-
Mr o ouvio, arremetteu como mui esforado CavalIeiro,
e ao signal o Sargento-Mr dando por nome: Virgem de
Guadauttpe, e gritando SQII~t-Iago cerrOll com as trincheira
da praia, e apz elIe arremetteu o Madeira com os Inclio
amigos, que no chegavo a cem homen : o occorro com
o Capito Gregorio Fragoso entrou a sim como lhe e Lava
ordenado, dando a carga pela banda do mar.
J neste tempo a gente estava abarbada com a primei-
ra trincheira, donde os mortos, que cahio de huma, c do
outra parte tazio duvidoso espectaculo: mas. a virlude
do offrimento nos Portuguezes foi grande, poi sem tor-
cerem o 1'0 to, empre levado do exemplo, e vozes d ar-
gento-Mr, apertaro tanto, que ganharo a primeira trin-
cheira, e isto a tempo, que os Jndios do inimigo, que ero
em multido grande, como nenes se no perdia hum Liro,
e a gente Portugueza os bia entrando, viraro as coslas a
tempo, que o Capito-Mr j chegava praia, e. o Sargen-
to-Mr gritava: Victo?'ia, que fogem.
Com tudo os Francezes pelejando galhardamente, ainda
que tom pouca fortuna, enlretinho o impeto ele hnma, e de
outra parte, at que de todo -yendo desamparada a ua ilhar-
ga do seus selvagens, e occupada dos Portuguezes, que
derramados destramente lbe fazio o ofllcio, e que os seu
Jndios occupavo olugar da retirada; tomando a carga co-
mearo juntos 'de tropel de caminhar, para se valer do na-
vios,porm foro dar com o Capito-Mr, que como dilo he,
vinha sallindo do mato, e arremettend o quasi s. Porq ue
o seus, ou porque ene e adianta o, ou prqu elie
marchassem menos, chegaro descompostos, mas mui Ya-
lero os, e honrados, e como laes, ainda que o Capito-
Mr esteve em perigo, logo foi soccorrido de huns, e de
outros, e nesta envolta foi morto Monsieur de Pisiau, Lugar
Tenente-General, Fidalgo Catholico, e de lanta parle,
que sempre ser chorado dos seus.
Era primo com irmo da Princeza de Cond () qual
vendo cahido seu companheiro NIonsieur Duprat, tudo
em rota com mais pressa, do que a barafunda clava lugar,
se retirou, e escapou a nado com a espada no boca. Todos
- 2i3-
o demai Fidalgos Franceze elegr an te morrer pele-
jando junto do eu General a im quanto mai em Fran ez
o argento !Ur do E. tado lhe gritava, que :e rendes em,
tanto mai defeodio. Pelo que em meno de huma hora,
que durou a for a da batalha, ficou todo o campo coalhado
tle morto Francezes, e Iudios.
JVlonsieur de la Ravardire, yendo do mal' o que se pas-
ava, mandou na furia do conllicto aos navio mais ligeiro,
que se apre entassem fortaleza para divertir o damno, que
d'outro modo remediar no podio' ma o Capito Ma-
nDei de Brito Freire, que com o Aliere Diogo da Costa com
qua i trinta oldado Marinh iro e doentes fizero to
bem eu oflicio om a artilheria, que de vro de j e te
perigo, dando a entender c1iffer nte fora, da que havia, de
modo que no mar e na terra, e no monte, e na prai a tudo
ero bombardada , cutilada, e arcabu ada , com tau to
fervor, qual no Estado do Brazil j mai foi vi to, nem que
tanto se aventurasse como e te dia: no qual pCLra mai
e panto a tragedia dos Franceze , mandou o Sargento Mor
tio E Lado dar fogo a toda a canoa, que estavo varada
em terra, que ero quarenta e sei com todo o eu maame,
remo., em que havia algumas de etenta e 'io o palmo. de
comprido, qu yoaavo vinte io o remo por banda, o que
: Jez pOl' tirar o pensamento ao fugidos d e alyarem
neIla e por quebrar o animo ao alJiado do Francezes
que ni to perdel''lo eu regalo remedia, e mo tnl' ao
do mar sua Armada feita cinzas e aos da terra, que todavia
e fortificavo na montanha, que po tinho, que peral'
so 'corro pois as canoas ardio.
O Capito-Mr Jeronymo de Albuquerque tanto que via
o bom ucce so da rota, em que como st dito pe-
leijou como qnem era, foi- ao Forte a de can ',ar lu
trabalho pas ado, deixando que a eu alvedrio 'ada qual
tle 'poja se, e aquea~se tudo o que acha e de mail Li-
lneuto, e munie , e arma de que e taya o ampo
coberto j ma o argento iII r do E tado, que trazia utI'O
1cn amento, tinha empre junta, e firme huma tropeL d
'e enta Soldados, e todo: o Officiae omigo, ~em con-
sentir que e de. via sem hum ponto at yer o inimig d
todo roto, e a montanha de occupada; e assim catla momento
pyovia com esquadras de l'efre co, para que em parar lhes
tiVessem a escaramua em tezo aos apit"es }<'rancezes: a
- 214-
saber, a i\Ionsieur de la Fos Benart, qne como est dito
guardava o monte, e ali e defendia valero ament , e a
l\fonsieur de Canonvilla ('1), que se havia ajuntado com elle,
tanto que vio a rola: e era de temer, que se o negocio se
esfriava, que se podia mudar a forluna, e mais se o do mar
entendio, que a ua gente estava fortificada.
Pelo que o Sargento MoI' do Estado buscando seu compa-
nheiro o CaplLo Mr, lhe foi dito, como e tava na cerGa em
sua casa, e assim e foi a o buscar deixando com a gente o
Capito Frias, e chegando aonde e lava Jeronymo Albuquer-
que 1I1e disse: Meu Senhor, no lemo feo nada, e logo
nos no tornamo a ajuntar, e vamo desfazer a erca da
montanha, donde os inimigo que fuairo e to r colhidos,
e bem sabei ,Senhor, que e falta qual :ruer de nos d campo,
que ametacle do oldados ho de desappap c 1'. ))
O Capito M.r ,com muita vontade tornou a tomar a sua
armas, elvando seu Jilho com igo se tornro praia, donde
repartidos sem que houvesse lndio , que levar de aj lida,
porque todos andavo fncamlados em quebrar abe as, e
despir o mortos, foi o Capito Mr por huma banda, e
o Sargento Mr ficou na da pra)a, e pelo maL cerrado
chegando- e bem cerca, houve huma conlenda mui de-
igual; porque o Portllgueze:- a coronha ra ades l1berloc;
querlo s mos de faz r tndo, e se mettio nas bo as do
mosquete inimigos, tanto que com o fogo lbes qu imavo
o falo, e o derrnbavo, orno fiz ro a hum sohrinho do
Sargento Mr do E~tado chama Jo Luiz ele Guevra, que de
duas arcabuzadas cahio em terra morto pegado no pos a
cerca, e Antonio Grisante moo Dobre, qLle porfia se al're-
meou ela banda de dentro, tambem Licou morto d mil
ferida. : logo fel'ir'1o a Antonio de Alblilquerque tilho do
Capito Mr, e ao seu AJrere Christovo Vaz, e outros sol-
dados, e oesta pre a e bateria mai atI' vida, do ({Ue dizer-se
pMe, dero huma mosquetad a ao TuI' ou (2), Lingoa bf1' do
lnilio , que estavo na cerca, o ql1aes tanto que o viro
ferido, e alguns delle mortos, no havendo quem os exlJor-
tasse a e tal' fIrme, e havendo a polvora faltado j ao
Francezes, e 10Dsieur ue la Fo Benarl tendo huma arca-
buzada cm 11 um brao, comel1o os Indios, ao eu modo,
(I) C~~onvilla. Clllonville.
(lJ. E~~e interprete dos Frllnl;ezo~, tinha por I;olllpanheiro oul.ro por 1I0me
- Mlnguau.
- "215 -

de bater as palmas, e dando atravez com o canto contrario


da cerC:1, se lanro fugindo pela montanha abaixo, levando
traz si as arvores, como se fra algum caudal de rio, porque
ero mais de 600 homens.
Os Francezes havendo feito seu dever, como mui bons
soldados se misturaro comas indios de Tatuasu ('1), que era
o P1'incipal daquella tropa, e com o Caranguejo Branco (2) ou-
tro P'rincipal da Ilha, e assim se salvaro pela espessura do
mato. O Sargento-mr tanto que via arrebentar aquella
gente, paz o joelho no cho, e disse aos companheiros,
( Demo graas a Deos, que nos ha dado inteira victoria.
Elogo recolhendo-se a gente, no quiz consentir, que mais
se de mandas em pelo hosque, antes mandando tocai' a re-
colher se velO marchando para o Forte Santa 1I'Ia?'ict, j qua i
noite, havenuo- e recolhido todos os mortos Portuguezes, e
feridos .
. O Capito-mr j tinha feito outro tanto, sentido porm
das ferid:J.s elo filho. Sepultro-se aqnella noite, e ao outro
dia os mortos, que em todos faro onze, e tratou-se de acu-
dir aos feridos, que ero muitos, e no Quartel, a Deos lou-
vores I no havia Cimrgio, nem mezinha alguma, que hum
pobre moo, que ainda que soube se atar lmma ferida, no
tinha cou a, que lbe pr mais, que azeite commum, ou de co-
paiva (3),e pannos d'agoa com empsalmo (li) ,que para to ter-
riveis ferida, como alguns tinbo, era cou a la timosa: e por
que 110 bem saherem- e Ias nomes dos que honradamente
servindo a Deos, e Sua Magestade, morrro nesta hatalha,
e fro feridos: os mortos so O' seguint s :
Luiz de Guevra, natural de Tangere, filho ele Gonalo ele
Guevra, Cavalleiro tia Ordem de" Christn.
Antonio Gri ante, homem nobre, natural de Braga.
Franci co ele Be sa, Castelhano.
Joo ela Mata, natural do Bl'azil.
Pedro Alvares, de Viana.
Amaro do Couto, natural de Lishoa.
Bartholomeu Ramires, natural das Ilhas.
Manuel de Loureiro, natural ele Abrantes.
(I) Melhor-Tat.l-am.
{2} Tl'aduco da paluvl'a-Uatillga da Iiugua 7'upy ou geral.
(3) Copa"yba ou Copa"uba.
('1) Em]UaLlllO, i. e., c"saLmo: oraiio super ticiosn para curar, composln
tle pala-
Y1'US tiradas cios Salmos, Prova \'elm nte o ensalmo seria aqui outra cousa.
- 2i6-
Matheus Gonalve , natural de Mondego.
Domingo' Corra, natural da Ilha Graciosa. Me. tre dr hum
caravelo da Jomada.
O Feridos na batalha:
O Capito ntonio de Albuquerque.
O eu Alferes Chri tovo Vaz.
O Alferes E tevo de Campo, sobrinho do Sargenlo-mbl'
do E tado.
Pedro Ba. tardo.
Domingo 1artin.
'Enceoso Feroandes (1).
Joo de Oliveira.
O .. argento Rodovalho, que se a inalou muito.
Franci co Pes.
.roo de Mendiola, Castelhano,
Manoel Lopes.
Gonalo de ouza.
Bartholom u Carrasco.
Franci co de Veja co Castelhano.
Braz Mendes.
Jorge da Costa.
Roque ele Mesquita.
.Melchior Rangel.
Do inunigo se contaro mOl'tos no campo ento e quinze
Franceze , entre os quaes oS'Fidalgos, e pl'incipa s de n me
so os seguintes:
~ron .Ile Pi iaus (2) do DeHinado, Ten nLe-Gen ral elesla
Empreza.
Mons. de Longueville, de Paris ..
Mons. de Chavanne, primo-irm,Q de r Tons. de la Havar-
diere, natural de Xavanha.
M ns. de S. Gil, ele ormandia.
Mons. de Hautnone a, Normando.
~fons. de Rochefarte, Normando.
~'Ions. de la JIey, armando.
Mons. de la Benuvi ra, ormanclo.
i\Tons. de S,. Vicente, _ormando.
Mons. de Batall, ormanrlo.
Mons. de la Praeria (3), ormando.
(11 '1'ovavellllenlo Innocencio lIcrnal1l1l'R.
(2) Vid 1I01a li pago _06.
(3) Praeria. Pl'ovayelm Dte Prairi
- 2'li-

)lons. d l\Iagnihi, Borgonbo.


Mon. de Fo s'. Picardo.
Mons. anet, A trologo de la l"ranqua.
!\Ion . de la Roche,Limo ine Conte,
Moo. de ablon, primo de Mons. de la Roche Depui ,
Normando.
O argento la Verdura.
O argento Bixot, da Companhia de i\[on . Du Prat.
Mon . de auven i, Bolonhez.
~[ons. d' Ambreville, Borgonho,
-'[on . de la Ruelle, Secretario do CondesLave1.
Mon , de la Crux, de Paris de Fran.".
Mons. Margot.
~10:) . de Ba erua, de Paris.
Mon . Chateau, de Pari .
Mons. de Bachiler, tle Paris.
Seu Irmo Ie Balchiler, tle l)aris.
icenLe Grande, Me Lre de Navio .
Mon . Bridu, natural de Dieppa, famORO.
IIum Lingua elos Indios ehamauo o Mingnito,
.\tOIl . GaLignat, de Paris.
L\100 ] e-- Marais, de Ruo.
A. fra e tas pe soa parLiculal'c, que aqui morrero,
diz m, quc com o aJIogados, e perdido 'h 'gal'[O a 150
ma os que e conL~I'o no campo, como dito l1e, fro 115,
a fra o prezo , quc faro no\' .
Aquella noiLe depois da batalha no onsentil'o, qne da
ForLaleza ,abi em So1Llado fra, ta.nto por uar ao inimi-
!10 ponte de l)I'aLa, como porque na verdade a gente e tava
Lal, e havia tanto em que enttnd r com ferido e mortos.
n
,

~ 'om vivo morto de fome, e juntamente tendo a armada


a vi ta, na qual o prezo clizio, que havia mai de 200
oIdado" e que Lava grande occorro de Indio para vir ao
outro dia; o quaes vinllo da Lerl'a firme de ComaL.
Tambcm os {nclios da Ilha, que OlllO est di lo, fugiro
ao primeiros encontro e a sim o da montanha, era de
., er, quc no devio de e tal' mui longe, e que vendo a.
canoa do amigo, que e pocl rio animar, e refazer com
ella , e mais tinho em ua companhia algunsFran'eze.,
o:; quae avisandu a Mon icur lie la Ravarliitll'e podel'io 1'a-
zel', que outra vez e Lentasse a f rLuna, c mai' llnando
os dito' Fl'ancczes tinho as ua~ foras elo mal' inteiras,e
26
- _18-

o Portugueze' nem hum batel para 'eu ervi o, que tud


estava varal10 tiradas as taboas, e l'ombas; porque das
embarcae que Lavio ficado, se no valesse ninguem ai'
que o tempo mostrasse melhor o rosto.
Todavia aquella noite houve grande vigia, e guarda do-
bles, a causa de que em toda ella sempre se sentio rumor
de gente, as im nos matos visinho , como na baixamar da
praia, na qual se fuzilava s vezes por ignal dos que pedio
favor aos navios.
Nesta noite se veio a rendeI' Fortaleza hum Indio, Prin-
cipal dos da Ilha, que declarou o grande medo, que havia
em todos os fugidos, e escapados da batalha, e a grande
tristeza r que havia pelos morto, e perda de aemas, e ca
noas.
ludo isto mais e certificou em endo de dia' porque em to-
da Armada no havia bandeira alguma e aevoracla a Capitania
linha abatida,e desarvorada a sua Real, e a do ma tro gran-
de ; nem se tocouteombeta, nem caixa na alvorada, nem e
disparou al'ma de fogo, tudo pela morte do Tenente General
de Pisiau, e pelos demais parente, e amigo do Senhor cl
la Ravardiere, o qual aquelJe dia, nem o Outl'O fallou a nin-
guem, encerrado em seu camaeote, omo homem pouco co -
I umado a ser vencido,
Estas oisas ainda que se vio, e entendio no FOI'te anta
Maria, no ero to solemnisadas extel'iormente, porque to-
davia se vio com o porto tomado como dantes, e sabio de
raiz, quaes el'o as foras do inimigo, e c[l1am podera os em
gente, navios, e artilhal'ia, e o pouco poder, que de presente
havia para acabar de consumir tudo isto.
Smente entre os lndios havia ao seu modo bailo , e co
tos toda a noite, e a mulheres apregoando pelo Quartel
andavo cantando das proezas ue seu maridos, publicando
os nomes dos homens de guerra, que havio tomado nos
contrario, quebrando-lhe as cabea3, cel'monia notavel, e
de muita graa pelo fervor, com que a mull1eres Indias ele
aquellas pal'te. do a execuo este ri to.
Estando pois huns, e outros desta orte; apparecl'o
pelas "ete horas ela manh do dia 20 de ovembro 16 ca-
noa gl'antles,qlle hl1ma tras outra em lal'go gyro,vinho che-
ganlo-se il terra,e Armada, as qnaes trazio de SOCCOlTO da
lena l:il'me de Comat 600, para 700 Indios Tnpinambs, c I,j-
- 219-
nho ii assentar o quartel da.banda do do Mum(-l), para que
os PorLuguezes perdessem a esperana de remedio de ne-
nhuma parte.
Tanto que apparecro a canoas logo o Sargento-Mr du
Estado lanou fra cem arcabuzeiros com o Capito i'l1anoel
de Souza d'Ea: os quaes marchaudo vista da Armada
pela baixamar fro a pr-se adonde a canoa apolltavo,
e o Indios amigos ao longo do mato fro sempre reconhe-
cendo o bosque, at ao me mo posto, donde aguardavo o
ql1e fazio as canoas; as quaes tomando terra da outra ban-
da do rio; fro advertidos dos Indios, que l andavo
(buscando emque salvar-se), e assim tanto que tivero no-
Licia do estrago passado, e viro que j os PorLuguezes
ela ouLl'a parte elo rio esperavo pela baixamal' pal'a e ve-
rem com eltes, no lhes parecendo bem provar-se com gente
que an te deltes chegar j os buscava, embal'cando depressa
o escapados, que boamente levar podero, se tomaro na
volLa de suas terras sem faltarem Armada, nem ao Prin-
cipal da lllla, que nelIa estava com o General Ravarc 're
'hamado o 8razit, nem lhes darem a obediencia, ainda que
ela Capitania lhe tiraro huma pea, e o foi chamar huma
lancha.
Com este succe so e recolhero o Portuguezes, vindo d)
caminho s cercas do inimigo, queimando-as, e desbaratan-
do-as de todo, e de manchando as trincheiras da praia man-
dando juntamente dar scpull(lt'a a todo os mortos, France-
zes, e Tupinambs, em que todo o e cravos, e gente elo
servio ga taro todo o dia; e assim acabaro de saquear-
e os Quarteis, em que houve muita fal'.inha, e legumes, e
IlllLa redes de dormir, e grande cpia de armas, arcabuze
~nosquetes, pistolas, peitos, rodelas, morrie , e ceJadas(2),
lOfinitos arcos, e fl'echas, pavezes, rodelas dos Indios, algu-
ma polvora em cabaos, murro, pelouro. Tambem este
dia e tomou huma India moa, a qual havia vinelo. guerra
com seu marido, o qual ao tempo de fugir a deixou, esquf-
endo-se elos amores; mas elIa teve tanta astucia, que di se
a.os que a acharo que era Tapuia,escra"a de hum Principal
ela ilha, para que as im a captivassem, e a no matassem;
'omo succeueu, que sendo levada por escrava de huns Ta-

(I) /lio Mm", 110 nillLJl'alm~LJle O rio ,v,,"y OU JUullim.


(~) Ccladas, i, O., ['l'llIudul'uS feJ'l'lls ela cabeu.
- ....0 -

bajares, que a tomaro, pa sada a fmia, ui e quem era e


foi restiLuida a seu marido dahi a pouco dia .
Passada estas cousas, a 21 do dito mandou o inimigo
hum Indio dos que l tinha da primeira canoa, quando
faro de paz Ilha, e lhe deu huma Carla em Francez
cerrada pam que dsse aos eus Portuguezes: a qual tra-
duzida dizia assim:
Senhor d'Albuquerque, eu le mando esLa para saber a
verdade ria guerra que fazes, e quere fazer aos meu i
porque aL aqui no quiz praticar-Le nada de aquillo, que
Loca nos a arte.
])orque Lu quebras Lodas as Leis prcicadas, em Loelas
;l gnerra assim ChrisL , como Turquesquas, ou seja m
'I'ueldade, ou eja na liberdade da seguridades que o
humens Lomo hun com os ouLros para seus parlamenLo .
c Ln reLendo os Trombetas, que te mando pe oa liVl'es,
pelo meio ele todo os inimigos fazes, que em Li vejamo,
e praLiquemos Leis novas em nossos amei os.
Pelo qne tu fillTIl;a Ler jmais para com pessoas de me-
recimento, nem fars mais, que abocanhar a carne CbrisLj
mas a Ju Lia Divina te ca Ligar como tu mereces, e me
dar graa, que tu, e o Leus provei a corLezia Fl'anceza,
cahindo nas minha mo, a qual e11 Le promeLLo em vin-
gana de tuas ruele]::tdes, lue eu poderei executar sobre ti
e obre o teu~, que c Lenho no ForLe de S. Luiz endo
Jaze salvagens, a que fao melhor Lratamento, que pos O.
Por tanLo no Le ensob{~l'beas havendo espantado hun'
puuws (le. alvaaens, os quaes Le deixro nas mo alguns
oitenta homens dos meu Fl'ancezes, governado p lo meu
TenenLe mancebo, e bravo Capito, e experimenLado na
guerra, e jamais o houve, que foi morLo na primeira occa-
'io em que aqui e achou.
Tambem havia outro bravo, e experimenLado na guerra
chamado nfons. du, Pmt, o qual me veio achar depois da
Llefensa, que fez Jazer aos Francezes, e Salvagens, de que
no tiras em em moela algum do mundo em quanto durava
o parlamento, e esta foi a cau a, que tu a to bom preo o
toma te com toda a Lei de Guerra, violando Ludo o que
nella. se praLica.
OSenhor du l'ra!; virou o rosto lal'ma, e "endo a de-
'ordem se pz a resistir, e venuo o a.trevimenLo dos teus, e
'L1a audacia acompanhou o. ~ellS pelejando aL que le vio
- 221. -

-enhor do campo, e depoi e alvou, e est '001 aude,


donde me as i tir bravamente a tomar razo de teu cruei
ell'eito..
Tu ten amente a honra de ficar com a praa, a qual
eu e pel'o haver bem edo porque ainda me ficou a az
gente de bem para executar meu desenho, sem ter nece -
idade daqueJle, que mandei ao Par, os quae espero
cada dia, e outro muitos de Frana; e assim esperarei tam-
bem tua re posta, obre o que acima te digo, a qual me
pMe mandar "obre minha f, e palaVl'a, que eu nunca
jmai quebrei, nem o farei.
Porque tenho vinLe e cinco almos de Governador de
genle., pel que e le mo lrare Chri to, faze boa guerra
aou meu., e manda-me o meu Trombeta, e no quere
que Lua vi la te fac.a enforcar em f)~. horas lodo o teu
a im llortugueze , como Sal vagen~.
E te leu mortal inimigo. Rava7'cliero.
Diante do Forte S. Simo aos 21 l1e ovembro 16HI.
Lida e declarada esla Carta pelo CapiLo, e SargenLo Mr
do E tado, par ceu, que respondesse a ella, moslrando
ao Franceze' a pouca razo, e pratica de guerra, que
linbo e a im lhe se e creveu a eguinte em nome do
Capito Mr, e por eBe a iooada:
'eobol' Ravardire.- RI-Re Catbolico de Hespanha
no' o 'enhor me mandou a e te Rio ~1aranbo com o Capito,
e c argento ;)lr de todo le li: tado do BrazjJ Diooo de
Campo meu ColLega, e muitos homeo Nobres, Fidalgos, c
Cil\'alleiro~ ele diversas geraes de Portugal, de que real-
mente eu tenho muita honra, tanto me fio de sua com-
I annia, que tenho doi filho comigo nesta empreza, na
qual nunca me persuadi, que tinha parte o Chrdianissimo
Rey de Fraoa, nem o Franceze obre, que e me
nomeo.
Poi he de crer que sendo o meu Rey Imperador de le
novo mundo ha mai de ento e (loze anno , que no dar
parle delle a outro Principe, e se lha der, que lha no
lomar a tirar: pelo que sobre o titulo de no. a vinda no
!la que di putar, que se o ney o lJ[o ele averiguar, mal faz
quem faz a guerra, e e as <ll'llla ,escusada so palavra.
Por averigLlal' dvida, e aber quem eslava ne. a
111m, mandei o dias ra ado. os meu lndios com paz
- 222

mesma Ilha, e tomaro-mo os Fl'ancezes, della v.iel'o


outros a buscar-me com engano, di simulei, e mandei-os
livres: depois di to viero os Francezes de Itapal'Y a
esta cora de ara, que me jaz defronte, e pozero ban-
deira branca de paz, a que logo acudi com hum barco,
em que hia bum filho meu, e bum Capito da Caza
Rangel para vr sua falla: viero com armas cuberla
os Francezes, e tanto que entenc\ro poder danar aos
meus, lbes tirro cruelmente muitos golpes de arcabuz,
e mosquete.
Eis-aqui, Senhor Ravardiel'e, quem por trez vezes
rompeu, e violou a lei das gentes, e do primor da guerra,
e que se fez incapaz de fidelsdade: passadas esta coisas
viero os Fraocezes a tomar dois pobres cascos de navios
clesal'mados a meus pobres marinheiros, os ql1aas estaV-o
boa f no mar d'El-Rey nosso Senhor sem fazerem
mal a pessoa, e foi a ioterpreza a homas, e termos pouco
valentes, em fim ficmos lastimado de tanta ousadia, e
m vizinhana.
])assado isto, Senhor Ravardiere, viero o Fral1-
cezes em nmero grande com todas as foras elo Estado
dos Indios destas Comarcas enganados para nos comerem,
e tirarem a vida fome, e sede, e ao cutelo, e andan-
do-nos apercebendo para nossa c1efeza, mandro hUlll
Trombeta no sei de quem, o qual queria que dentro
em quatro horas nos rendessemos ; e em quanto [aliava
com meLl companheiro Diogo de Campos, e a gente Fran-
ceza desembarcava, e os Salvagens se chegavo, os Fran-
cezes astuciosamente se fortificavo: sendo assim, que
que cada crime destes he intoleraveI.
Pelo que, seguindo-se o effeiLo pela nos a parte, co-
meando, a Deos graas, o Trombeta ficou sdlvo, e i1
vosso servio, e vos dou palavra de o mandar ql1alido
fr tempo por minha cortezia, e vossa boa teno; no
pelo merecimento da causa, que j vai decla.l'ado para.
diante dos que da nossa arte mais entenderem.
Do sangue, que se d~rramou de Francezes, e Por-
tl1guezes, Deos he testemunha; que no tenho eu a
culpa, a quem a tiver elIe dar a pena.
POI' tanto se os meus, que l esL~o, enfol'0anles,
mal farei ,1 vossos, que Cil lenllO, que so nove com
- 223-
o Tromb ta, e hum 1'0 o Tambor, ma it SIY/', comine vou.
plail'd.
Todos o mortos Francezes fiz enterraI' como pude,
no como merecem, se delles algum he necessario, ou
o ossos pclem livremente vir por elle, sem nenhum
interesse: a muitos salvei a vida, mas o Salvagens,
que vem comigo, confesso, que so mais cmeis, que
os vossos, no para comerem carne humana, e as im
11e [abula que faltou perna, nem beao a nenhum Fran-
cez e isto obre mi.nha honra, antes a hum Soldado
meu valero o de casaca gri ante, que mOt'reu peleijanclo
dentro j na cerca, o vo os Tapuia, ou Salvagen
lhe cortro hum brao, e em elle foi. terra' nem
me maravilhei di o; pOt'que ou velho, e ha muito
anno , que ando ne ta coi a, e pOl' derradeiro ei, que
.er o que Deo quizer.
Daua no Fot'te Santa faria no Rio Maranho, a "A
de Novembro 1GU.. -Je;'onymo cL'AUntquerque.
Andava fMa aa, por tanto no mandei a resposLa
maL cedo: a carta dos meus vi, [allo verdade; ma
pde aJguem enganar- e com ellas, torno-a a mandar,
pal'a que e vejo mai d'e pao,
g La Carta e mandou pr em hum pau na praia com
huma bandeira branca, porCJue o Indio, que trouxe a outra
no quiz tornar com a. re po ta; ma. lIes em perder
ponto, ao oulro dia mandro a que se egue, e ha-se de
advertir, qu as Cartas de que fallo all'az, fro as qu
o Soldados Portl1gl1ezes e crevio ao Reino no navios.
que os Franceze tomro, em que cada hum conf,)rme
l'eu talento contava da .Jornada, e significava as neces-
idades do e tado presente; Das quaes, e na to mada do
navios o inimigo havia feito juizo cerlo da fot'a Portu-
guezas, e para qne oubes em, que no ignorava nada do
que convinba, mandava a cartas ol'iginaes; ma os Ca-
pite Portuguezes no dando deUas a entender nada a
pe oa alquma, por no la timar, e e~candalizar aos 9l~e
com simpli idade a bavi:o escrito. a lornro ao 1111-
micro, dizendo que fallavo el'dade, mas que pollia alguem
enganar- e com ellas: e tornando cal'la do Ravardire
dizia deste modo.
( Senhor d'Albnquerque.-Tenho vi to pela lua a boa
- 224. -
guerra, que tens feito aos meus Franceze", que eu go-
verno, e assim estou mui alegre, e cr de mim hum
natural, que jmais ficar vo ele cortezia, e que assim
tudo Lo pagarei em dobro, quando Deos me der a occa io.
Peo-te, que me mandes o nome dos meus, a quem
tu salvaste a vida, e no creias, que se te dar por
isso hum s enojo, e assim me avisa, quando me ds
tua palavra, e tua f para que eu mande hum Fidalgo
dos meus a ,r o corpo do meu lugar Tenente General,
homem de Caza illustre, e se tu mo quere mandar bu cal'
por alguem, eu te dou minha f, e minl1a haura, que pMe
vir, e tornar seguramente; e assim se algum dos tens
Padres quizer vir, eu lhe farei, que veja o nossos, e
responderei de viva voz a todos os pontos da tua Carla
fL pessoa, que mandres, ou a quem l fr obre tua pa-
lavra, na qual me fio t.anto, como tu te pde fiar da
minha, pois que ta dou como Chl'isto verdadeiro, e sel'-
vidor fiel do meu B.ey, e teu amigo.
Manda-me dizer, se me d a palavra para ir l o
Capito Malharte, que tu j viste em Parallambuco; o
assim te rogo, que me faas escrever em Francez, ou em
Hespanl101 pelos teus, que tu tens, que abem de tudo.
Dada em 22 de Noyembro 16'14.-BavcIIl'clire.
A esta Carta cortez, cheia de rogos e di puzero com
parecer de todos a ILJe mandar o Trombeta livremente,
para que mais se de engana se elo animo, e <.Ia for as dos
POl'tugueze', e com o dito Trombeta foi a Carla seguinte:
Mi SenOl' de la Ravardiel'e, ms obligua a los Cabal-
leras Portuguflzes uu termino cortes que la fuer a de las
armas, y assi do)' mi palabra, que de auestra querella en
fnera, que a todo lo que fuel'o de gu to, y seTvicio de
Monsieur oe la Ravardiere de lo hacer mui a punto.
Luego que recebi esle segundo mensaje imbi do
Capitanes con dos Frallcezes, y cl Trompeta a buscar el
cuel'po de Morl ieur de Pisiaus: )' mal aya la fortuna, y
de conflana, que de mi se luva, que ui eUos no pelearen
tan valerosamente, y daI' se qllisiel'an a mi persona, que
se lo rogava liniendo e1 impelu de los mias sobre mi.
aemas, lodos oj fueran bi vos, a lomenos si el mi mo
dia de la batalha y o tuviem avi o como e acosl.llln-
bl'\. enla' occasioo'es, paea el1lel'l'ae los muerlo, pu-
- 225-
diera estar hecho lo que la amistad y lealdad de los
tales hombres se deve, y por vida de mis hijos, que yo
los sepultara mui de otra manera.
Pero como cosa sin noticia los hize enterrar como
a los mios, a quien todo el bosque es mui honrada, y
dichosa sepultura, e assy en lo de los muertos tengo
hecho la devida diligencia.
(( El Trompeta dir como quedamos, yo dir que mejor
le trataramo:5, se estuvieramos en nuestra patria: pero
como somos hombres, que un punho de harina, y un peda-
o de culebra, quando la ai nos sustenta, quien a esto n se
Recomoda, siempre rehusar nuestra. companhia.
Con los dems prisioneros hago cierta diligencia con-
veniente, a quien ha de dar cuenta a su Rey, hecha que sea,
se tratar de dar gusto a todos.
(( Entretanto si pareciere conveniente puede venir a Oer-
ra nn personaje Francez, de los de mas principales para
que vaya un Cabaltero Portuguez de los mias a tratar de los
ms puntos en vox viva, como se me prometle, advertien-
elo, que est la fee de Monsieur de la Ravardiere, y de Hiero-
nymo d'Albuquerque de permedio, e que no avr quien
haga macula en elta.
( Fecha en el fuerte S. Maria en el rio Maranhon a 22 de
Noviembre '16H.-Hie1'onymo d'Alb'L~q'Ue1'que.
Los hombres de los Franceses, a quiep salv la vida por
Dias, que a todos la salva, son:
No de la Motle.
Antonio Lanclure.
Mario Bartier.
Chretien Marixal.
Jean Pagier.
Pierre Laleman.
Abraham (le funditor.)
Dn tambor garon.
Aesta Carta, que com pressa foi sem assinar, mandou o
FI't.nCeZ o Trombeta logo com a que se segue:
Meu Senhor d' Albuquerque. - A clemencia de aquelle
grande Capito d'Albuquerque, Vice-Rey da Magestade p.
Manoel nas Indias Orientaes apparece em vs na cortezla,
que fazeis aos Soldados Francezes meus, e a sepultura, que
haveis dado aos meus mortos, entre os quaes tenho hum
27
- 226-
gue amei em vida como a iI'mo, porque era bravo, e de
boa caza : eu louvo a Deos com tudo esperando, que se
tornarmos s mos, tomar minha justa causa, e minhas coi-
sas nas suas.
Para responder vossa Carta, como vier assinada, a
mandarei communicar ao resto dos meus Capites, e lida se
vos dar a resposta, fiando-me inteiramente na vossa f, e
palavra, tanto que vier o vosso sinal posto assi, como vs
vedes na minha: eu vo-la mando, e no digo por hora outra
r.oisa, seno que honrarei a caza, e o nome dos d'Albu-
querques.
Feita ante o forte Santa Maria a 23 de Novembro i6H
no Maranho.-Ravwl'di7'e.
Mandou-se-Ihe logo a carta assinada, e por estar indispos-
to o Capito Mr, respondeu o Sargento Mr do Estado l:om
duas regras, que continho esperar-se o assento, que to-
mavo os Senhores Francezes.
Com a qual resposta se levantaro todos os navios de de-
fronte do forte, e se fro entrada da barra de ,Jaguarapim
ou das Guajavs ('1), adonde estivero dOIS dias e meio, tra-
tando do que lhes convinha.
Entretanto o Sargento Mr do Estado 'tirou sua informa-
o authentica dos prisioneiros, sendo perguntado cada hum
paI' si, e achou que de presente os inimigos tinho onze na-
vios de alto bordo, em que entrava a nao Regenta de 400 to-
neladas, e quatro fortes na Ilha com muita boa artilheria de
bronze, e (erro coado, e que tinho mnitas munies de
guerra, e comida, e que dos Indios da outra Costa espera-
vo soccorro com copia de canoas, que sem duvida virio
com os Francezes, que l andavo da banda do Par, e de
Cayete (2), e que se devio de achar inda com 300 homens
de mar, e guerra:
Dissero tambem outras coisas acerca da viagem at
o Maranhito; e dos Capucho, que chegavo 20 Fra-
des, os quaes comeavo na Ilha hum Convento, e Semi-
nario de importancia: de modo que com esta noticia, e
com a miseri::t presente de fome, e falta de tudo, a que a
victoria em lIlodo algum per si s no dava remedia, e com
(I) Ba"ra d. lagllarapim 011 deu Gllajous.
Hoje difficilmenle se poder designar este lugar pela mudana dos nomes.
e falta de oulras lradices.
Vltle '"pra nola (I) ao XlI pago 13,e o mesmo .
(2) Cayele, boje Bragaua, no Par. '
- 2t7-
a dvida que tinho -de os barcos de aviso haverem passadu
a Paranambuco, em que de presente, depois do favor Divino,
estava o bom successo, sem haver remedia de se mandar
outro, nem por mar, nem por terra, nem Sua Magestade,
a quem tanto convinha dar-se conta, como o tinha mandado
oGovernador: todos estavo esperando se Deos lhes admi-
nistrava algum bom meio, como j milagl'osamente se havia
comeado a mostrar, e bem sabio todos, que se houvera
embarcaes depois do succe so, com que os Portuguezes
podero communicar-se com os Indios da ilha a despeito
das guardas, e diligencias Franceza , que sempre dos Indio
se presumia alguma novidade em favor dos Portuguezes ;
mas estava tudo to cerrado com 8. ronda das lancha , e a -
istencia dos navios, e persuaso dos Lirngoas, e finalmente
com a fora dos presidios, que no era passiveI nenhum ho-
nesto meio, que do mar dependesse; e bem sabio, que o
espanto dos 1ndios era tal, que os que fugiro pela banda
do Tapucur rio, com a desordem, e medo se affogro
mais de duzentos ao passar do rio a uma Ilha, entre os qua-
esse affogou Caracantim de Cayet (i), Principal dos longos
cabellos, que havia vindo se offerecer ene, e a sua nao,
assim chamados a vir contra os Portuguezes: e como a
coisa foi to aodada, os seus no viero, e elle ficou affo-
gado: e outros houve, que no parro menos que pelo rio
Meari dentl'O mais de 200 legoas, tendo os Francezes, e a
Ilha, e tudo por perdido, e com elIes faro trez Francezes,
porque j sua sombra se havio escapado da batalha; mas
tudo isto com o mar cerrado, tanto que nem se podia tomar
hum caranguejo, nem humajangada podia tomar hum peixe,
era confuso, e misel'ia grande.
Pelo que faltava o gosto, que de razo se devia a tama-
nha victoria.
Passados dois dias e meio, tornro os navios a smgir de-
fronte de Santa Maria, e mandro a terra o Trombeta com
a Carta, que se segue:
Senhor d'Albnquerque.-Tenho considerado os pontos
principaes da vossa Carta, e conforme aos discursos, que
vs tendes feito ao meu Trombela, parece que tudo no at-
tende mais, que paz.
Por esta banda de c, como os nossos Reys tem pela

(I) Vide nota (-2) l\ pago 226.


- U8-

parte della com muito estreita liana, e como me falIro


em Suas Magestades, logo me resolvi com meus Capites,
que no he passiveI terdes soccorro por mar.
Todavia vos quero uvir sobre o que me quereis pro-
pr cerca do de cima, e isto tanto de palavra, como por
escrito por aqueUas pessoas, que me mandardes, sejo quem
forem, eu vos dou minha f, e minha honra em penhor, que
podem vir seguramente, e tornar quando quizerem; e se
fr servido o Senhor Diogo de Campos de vir, eu serei COIl-
tentissimo, porque falIa Francez, e ns bavemos feito a
guerra hum contra outro servindo nossos Reys, quando elle
andava com o Pl'incipe de Parma, segundo me dissero.
}~u lhe beijo as mo com vossa licena, e o mesmo
fao a vs ambos.
Vosso servidor.-Ravan'dib'e.
Peo-vos que sempre me escrevais em Francez, ou bem
Hespanhol, porque no podemos s vezes achar de pressa o
sentido de vossas cartas.
Feita diante do forte Santa Maria, a 25 de Novembl'o
de HH4. )}
A esta Carta se respoudeu a que se segue, para dar con-
cluso aos Parlamentos:
Monsieur de la Ravardire.- Yo oy conlento de o
embiar aI Capitan Dieguo de Campos mi Companero, y olro
Capitan de Infantaria para tratar los puntos a que por bora
no respondo confiando, que se los har la cortesia, en tales
casos acostumbrada; mas para que guardemos el estilo de
la guerra, supuesto que de nuestra f, y palabra mucho me
Cio, conviene, que vengan a tierra de vuestra parte un Ca-
baIlero de S. Juan, que teneis, y el Capitan MalIarte, que
deve conocerme, ) con estas se tratar lo que conviene.
EI Capitan de Campos, y yo os besamos las manos mu-
chas vezes: quanto la siguridad de mi parte siempre la
dare, y doi con los terminas devidos.
Dada en 'eI fuerte Santa Maria, en 25 de Noviembre
de 1614.-Hie'l'onymo d'Albuq'ue1'q'ue.
Logo que tivero esta Carta ao outro dia, que faro 26 do
dilo, mandro terra ao Cavalleiro de Rasilly da Ordem de
S. Joo, e ao Capito Matthus Malharte, mui acompanhados
at a lingoa d'agoa, donde em terra foro recebidos com a
devida ceremonia e cortezia, sem entrarem no Forte, antes
- 229-
fazendo-se huma tenda perto do mar, no campo, faro alli
ervidos e festejados como o tempo deu lugar.
. OCapito e Sargento Mr do Estado, Diogo de Campos,
tanto que os deixou em poder do Capito Mr, tomando
licena se foi bordo da Capitania, levando comsigo ao Capi-
to Gregorio Fragozo d' Albuquerque; foi em chegando mui
bem recebido de Monsieur de la Ravardire e Monsieur du
Prat, e de muitos Fidalgos, que com eBes estavo com mos-
tras de grande gosto, sem se tratar de cousa alguma do pas-
sado, mais que das damas, e saros de Frana, quando foi
tempo se apartro o Sr. de la Ravardire com o Sr. du
Prat a tratar do porque se bavio juntado, e antes de se
cliscursar muito avante, disse o Sr. de la Ravardire:
Que estava mui sentido dos seus, em sua absellcia, p-
rem a bandeira branca de paz na cora, para fallarem, e
depoi fazerem mo trato, que juraria por vida de Sua
Mage tade, que se vivos foro, que os houvera de enforcar;
mas que bem castigados cstavo, pois ero morto na bata-
lha s mo dos Portuguezes, de sorte que nenhuma culpa
era, bem que e lhe imputas e a elie, da tal desordem.
Ruma sempre traz outra, re pondeu o de Campo , e as im
no ha to pouco, que maravilhar da tomada do Trombeta,
nem do assalto subiLo; porque bem alto, e claro era o dia.
Passemos vante, di se o Sr. du Prat, e tratemos do
que convm.
Estamos todos to desejoso de vos servir por vos o
valor, que j agora fazemos tudo o que honra e vida de
todos fr mais conveniente: e parecendo-nos, que como
gente apertada e que carece do mar, podeis de ejar a paz.
Vde a frma, e o como vos parecer pedi-la, que Mon-
ieur de la Ravardiere est de animo de vos fazer todo o
favor.
O do Estado fez a todo hum comedimento grande e
disse:
Em verdade, Senhor du Prat, que a minha vinda c, no
foi, nem he mais que por vos ver, e conhecer a todos pela
~ffeico antiga, que tenho a esta Na.o, e assim no que toca
a. paz, nem guerra no posso dizer palavra, que se a Mon-
Jeur de la Ravardire, e vs, meu Senhores, tendes enten-
dido, qlile e t. bem falIar nella: assim como fizestes a guerra.
em nos amoeslardes, assim pedi a paz, sem nos meLter em
- 230-
ma.is, que em ver se est bem aceitarmos as condies, que
propozer-des, advertindo que somos gente, que no pode-
mos nadar tanto mar como ha d'aqui a Hespanba.
Pelo que, ainda que boje tendes a barra, ns temos a
terra, que pizamos, a qual sempre ser de nossos corpos at
que Sua Magestade d'El-Rey de Hespanha nosso Senhor, cujo
tudo he, outra cousa ordene; e alm disto na guerra melhor
s vezes, que na paz se acho os remedias.
A isto se rio muito o Sr. de la Ravardire, e abraou o
Sargento Mr, dizendo:
Vamos a comer, Companheiro.
E com isto se chegrao . meza, donde no faltou de
comer, e musica naval bem concertada, mostrando na auto-
ridade e no trato bum vestgio honrallo, em que se enxer-
gava despeza mais que ordinaria.
Nisto se praticou hum pouco, e de como Sua Magestade
El-Rey Catholico de Hespanha nosso Senhor pagava bem, e
grandiosamen te aos que o servio, maravilhando-se, que at
o Tambor dos Portuguezes tivesse de praa dez cruzados
cada mez.
Em discursos familiares, e de gosto foi passando parte do
dia, at que ao tempo do despedir-se, tornou o Senhor du
Prat a dizer:
Ora ss sobre ngssos negocias como ficamos?
( Como mandar o Sr. de la Ravardire, respondeu o Sar-
gento-Ml', e assim pMe, sendo servido mandar hum Papel
manh com o Capito l\'Jalharte, para que os nossos Capites
saibo o que passa, e vejo o que lhes parece, que todos
faamos.
Com isto despedindo-se com mil modos de corterias, e
signaes de amor, .10 desamarrar do batel toda a Armada dis-
parou a artilharia, com grande ruido de trombeta&, e vozes
a seu modo.
Neste mesmo tempo embarcados em terra os Capites com
semelhante estrondo, que fez o forte, se faro cada qual aos
seus, e Jerooymo d'AJbuquerque ajuntando os Capites, com
a vinda do Sargento-~1r, se propz a todos o que havia pas-
sado, para que estivessem advertidos para ao outro dia
verem os Capitulas ou Artigos que os Francezes pedio, e se
antes de se as entarem;_ou firmarem pazes; se tinhl) elIe
- 2M-
autoridade para as fazer como gente Real, ou se como Piratas
banidos de Frana?
Ero qui homens, com quem Deus, e as gentes tinho
roto todo o genero de tregoas, que com os taes mandava Sua
~lagestade, que se no uzasse clemencia, e que assim era
bem, que todos com muito tento se houvessem nesta
materia.
A.cabado o dia ao outro, que foro 27, veio terra o Capito
Mattheus Malharte, e trouxe escripto os Capitulos, que se
seguem em Francez da mo, e letra de Monsieur de la Ravar-
dire, e disse:
Que sendo conformes ao que convinha a todos, que o
Sr. de la Ravardiel'e os viria firmar, e senar a terra, e ver,
e servir a todos, como bom e leal amigo; e que entretanto
os ditos Capitulos ou Artigos se traduzissem na Lngua Cas-
telhana, para que em huma, e outra _ao se entendessem
de todos claramente e dizio assim:
Artigos acordados entre los Senores Daniel de la Tou-
sehe, SenOl' de la Raval'dire, Lugar-Tiniente General en el
Brazil por el Christianissimo Rey de Francia, y de Navarra,
Agente de Misire Nicolas de Hadei, Senor de Sansi, deI Con-
sejo de Stado deI dicho Senor Rey, y deI Com:ejo Privado,
Baron de Mole, y Grosbu , y por Misire Francisco de Ra-
silli, Senor de las Haumellas, e deI dicho Lugar de Rasilli,
entre ambos Lugal'-Tinientes GeneraIes por EI-Rey Chris-
tianissimo en las tierras deI Brazil con cincoenta leguas de
Costa, con todos los meredianos en Illas inclusos, y Hiero-
nymo d'Albnqnerque, Capitan Maior por la Magestad Catho-
liea dei Rey D. Philippe d'Espana de la Jornada deI Mara-
nhon, y ansi deI Capitan, y Sargento ?tlaior de todo el Stado
deI Brazil, Dieguo de Campos Moreno, Collega, y Collateral
deI dicho Capitan Maior por la Magestad deI dicho Senor en
esta Tierra.
Item. Primeramente la paz se acol'db entre enos dichos
Senores dende eI dia de oy hasta el fin de Deziembre de mil
y seiscientos y quinze, durante el qual tiempo cessarn entre
ellos todos los actos fie inimistades, que fueron, y han du-
rado dende 26 de Otubre hasta el dia de oy pOl' falta de
saber las intenciones los unos de los otros, y de n se enten-
deI', donde se siguib gran perdida de la sangre Christiana de
ambas partes, y grande desgusto entre los dichos Senores.
- 232 -.:
lten/,. Se acuerda entre los dichos Senores, que embia-
ran a Sus Magestades Christianissima, y Catholica ds
hidalguos, cada uno para saber sus voluntades tocante
quien deve de quedar en estas tierras deI Maranon: a saber
dos Cavalleros, uno Francez, otro Portuguez, iran Fran-
cia, y otros dos Cavalleros de la misma suerte iran
Hespana.
Item. DuranLe el tiempo, que los dicbos Cavalleros tar-
daran en bolver de Europa, y traer de Sus l\'Iagestades este
lugar el acuerdo, y orden de lo que se deve seguir, se
advierte, que ningum Francez, ni Portuguez no passar la
Jsla deI l\'Iaranon, ni Salvajes de los Jndios, ni la tiena
firme de Leste, ni de una parte otras sin Passaportes de
los Senores nombrados arriba.
Item. Los Senores d' Albuquel'que, y de Campos pro-
metten aI Senor de la Ravardiere de no tratar alguna cosa
con los Salvajes de la lsla, ni de Tapitaper (i), ni Comat (2),
laqual no sa tratada por las Lenguas deI Senor de la Ravar-
diere, ni los consentiran poner los pies en tierra menos de
diez leguas de sus fortalezas, ni de sus puertos, in la per-
mission deI dicho Senor.
Item. Que tanLo que las nuevas venieren de Sus Mage -
tades para aquellos, que deven quedarse en la ti erra, la
nadon destinada se partir se aprestal' dentro de tre
mezes para dexar aI oLro la tierra, y los Salvajes, que quei-
ran quedarse dentro de la' tiena, y haziendose todo con
buena orden, amistad, y intelligencia, seguiendo la inten-
cion de las allianas de Sus Magestades, las quales los suso
dichos se remetten enteramente por todo aquello, que per-
tenece esta Colonia deI Maranon.
Item. Se acuerda, que los prisioneros tomados tanto ue
una parte, como de otra queden libres, assi los Christianos,
como Salvajes, los quales se bolveran sin ninguna ranon;
y si algunos dellos por algun Liempo queiran quedarse eo la
parte, que se. hallan, les ser permittido con licencia dellos
suso dichos.
Item. ToJos los actos de inimisLades passadas hasta el
d~a de oy quedaran olvidados, y exLinctos, sin que los unos.
lli los otros puedan seI' buscados por ninguna via, que sea

(1) Tapitaperci) hoje Aleantara.'


(2) Comat. hOJe Guimarl1e&.
- 233-
quedando cada uno denos libre en cl estado en qne
sono
Item. De aqui en delante los dichos Senores, y sus gen-
tes bivil'an eu paz, y buena amistad, y concorcUa los unos
con los otros, dandose poder por sus personas, y de sus
criados solamente para poder ir, y venir los fuertes de
la Isla, y tierra firme todas las veces, y quando bien les
pal'eciere.
Item. Ninguno accidente en controversia ele lo que
arriba esL assentado por estes Senores, ser capaz de hazer
romper este dicho TraLado de paz, a causa de las grandes
lianas, que oy tenemos, entre ntIestros Reyes, y por el per-
juyzio, que pnede venir sus Magestades alterandose tales
amistades, y concordia; y si succiadere algun easo entre los
Cbl'istiano , y Salvajes de una, y otra parte; la otra Nacion
offendida har su quexa su General para se llle dar remedia,
el qual promeLLe tobre su f, y honra de le dar satisfacion
como el caso ped ire.
Item. En consideracion de lo que queda dicho, y por
testimonio de la buena inLelligencia, que dende esta hora
avemos como Christianos, y Caballeros de honra, el Senor de
la Ravardil'e promeLLe debaixo de su f de dexar la mar
libl'e los Senores d'Albuquerque, y de Campos, y llevar ns
navios para la Isla tantos aquellos, que estan delante el
fnerLe Santa Maria, como aqneHos, que esLan en la entl'ada
desta baya, fin que lo' dichos Senores d'Albuquerque, y de
Campos puedan hazer venir Lodas suertes de vituallas pal'a
eUos, y sus gentes tantas, quantas les pareciere con toda
seguridad, y se succediere, que les veuga soccorro de gente
de guerra, o que nos veuga a nos oLros durando el Liempo de
lInestra paz; los dichos Senores nombrados se obligan sobre
sus hauras, y f, de que cada uno tendr su gente en paz assi
como esta acordado, sin alLeracion alguna durante el dicho
I.iempo de la paz, y para esta se obligan de hazer guardar eo
lodo, y por todo, y delante todo el mundo; y quanto otras
cosas de menos substancia los dichos Senores no las especi-
Gcao, pOl'que se confian en sus palabras verbales, eo hs
quales no falLaran ya mils, como gente de honra, y para
segl1l'idad de todo lo 'al'riba declarado, mandaron hazer esta,
que todos tres los suso dichos Senores de la Ravardire, y
d'Albuquerque, y de Campos finnaron, y sellaron con el SeIlo
de sus armas.
28
- 234-
Recha en la Armada de los POl'tuguezes, cn el Rio Ma-
ranon, en 27 de Noviembre de '1614. - Ravcvrd1ere, Him'o-
?Vymo d'Albuquerque 1aranon (i), o Capito Dieguo de Cam-
pos Mm'eno.
Mostrro-se os CapiLulos referidos ante de se firmar ao
Capites Portuguezes, e fez-se hum Auto, em que todos
assigoro em como era bem, e servio de Sua Magestade,
visto no poderem continuar a guerra pOl' mar, falLando o
meios necessarios Conquista por agua, em que to supe-
riores ero os inimigos, e quanto importava terem o mal'
livre para avisar a Sua Magestade sem dilatar tempo, na
perda do qual estava a de todos' e assim ficarem Capa7.B
ds .soccorros do Brazil entrarem seguros, \lo quaes tinho
to fraco conceito, que nunca passario de er barco da
Costa com s alguma farinha; e que e ses conforme as pro-
messas do Governador de os mandar cada mez, qu j tal'-
davo havia cinco mezes, e que realmente as paze , que com
tanta instancia dissimulada, o inimigo pretendia, devia el'
para despedir ti. no grande a qual devia de lhes fazer
grande de peza, e que se para isto ero, que i to mesma
parecia ser o que mais occasio presente convinha' por-
quanto a no havia de levar a maior, e melhor parte de ua
fora, e que nas que ficavo, j no se podia presumir
(lana; e que assim tambem as mortes de tanta gente prin-
cipal em huma s occasio de guerra, se em Frana e on-
be se, que de fora havia de esfriar os animo aos que qui-
zessem vir buscar a vida, e que Sua Mag tade poderia
mandar com mai. commodo o que fosse servido; pois o
tempo se limitava pondo-se tudo em suas Reaes mos; e qne
assim sem duvida por estas, e nutras muitas, e mui urgentes
necessidades era bem, q~le as tregoas se acorda em, e a sim
se formou hum escripto, para em virlude dene ao outro dia
vir terra o Sr. ele la Ravardire pard mostrar o Poderes e
IJatentes, que dizia ter do seu Rey de Frana; e assim tam-
bem as Mis es dos Padres Capuchos, que tinbo ele Sna
Santidade, ou do eu Geral, as quaes offerecio mostrar
aos Padres Port~lguezes, e para os obrigar, que trtmbem e
lhe mostrario, as Ordens de Sua Magestade Catholica de
Hespanba nosso Senhor.

(1) Parece que jli nesta oerasiiio Jeronimo de Albuquerque e app lIiMn'lt-
i1faranli.o.
- 235-
Com iSlo 'e tornou o Capito Matlheo MallJarte . bordo, B
lia madrugada d'aquella note houve fogos de alegria, e
cargas ele mosqueteria, que durro ml1iLo em que pareceu,
que se solemnizava a pas ada victoria.
Aos 2~ do dito, egundo estava acordado, veio terra o
'r. de la Ravardiere, e o Sr. elu P rat, e o Sr. de Pelresi bem
ve Lidos todos, e acompanhados, em sua companhia trazio
ao Padre Commissario FI'ei Archangelo de Pembr com dou
Religio os da sua Ordem dos Capuchos to venerados, e de
tae mo tras, que realmente parecio Santos, e como tae.
faro recebidos dos Religiosos Portuguezes, entre os quaes
.obre a heno houve ceremonias, e entre os Capite corte-
zias, em que for[o at chegar a Infanlaria, que bem concer-
tada, e armada eslava desde muilu fra tio forle em duas
alas, que heO'avo at o lugar do alojamento, que eslava
feito aos Srs. Francezes de palmas e ramo, e assenlos do
campo; a' bandeira por e no abalerem, eslavo pelos
baluartes arvorada. : e entrando o Sr. de la Ravardire da
parla do forle para dentro, se lhe fizero com muita lealdaue
as honras militares, que laes cargos se costumo al enlrar
no lugar, que lbe estava prevenido, em que sempre e11e, e
os demais tratro com admirao do muito que havia tra-
balhado a gente na fortificao; e havendo descanado, e
comido com mais musica, que manjares, porque os no
havia, tratro de a signar os Acrdos, e assim se moslr-
!'lIa as Patentes, e se clero os traslados a1.!thenLcos lmns aos
oulros para mais ftrmeza do que boa f fazio ; pois sBlIllrB
a vonlade, e honra dos Reys, e seu melhor entendimento
li ava reservado, e elles toelos sujeitos ordem, que se lhes
dsse. -
AProvj [o, que se leu primeiro era do Christianissimo Rey
de Frana, do theol' eguinte:
Luiz, pela graf1. de Deus, ReS de Frana e de Navarra, :1
toclo aqu lles, que as presentes letras virem, sande.
]i'azemos saber, que pelo aviso, que nos deu o no o
Christiani simo, e bem amado Primo o Sr. Dampui'lle, Almi-
rante de Frana, e ele Bretanha, das mui las Costas epart~s
siluada. alm da linha equinoccial, q.l'l.e ai nela no so habI-
tadas ele Cbrislos alguns, nem de povos civilisados ou dou-
trinados, B lue toda'via so bem temperaclas e.de muita fer-
li liua.L1e, as quaes se poder povoar em pouco tempo, e
- 236-
trazer os lJaturaes dellas a recebeI' o Chl'istianismo e bon
costumes, usando com elles toda a brandura ordinaria em
nosso tratamento, a sim como usamos com nossos sujeitos, e
assim havendo tambem ouvido a advertencia sobre isto a n
feita por nosso carissimo, e bem amado Daniel de la Tousche
Sr. de la Ravardire, o qual tendo por prtica expressa, e
navegao alcanado o conhecimento das ditas carreira
navegadas por e11e, e juntamente pela digna relao a ns
feita por nosso dito Primo de seus merecimentos e coraje,
virtude, sufficiencia, experiencia, inteireza e predominao
em o efIeito das armas do mar, e boa diligencia alm da
provas singulares j por elle feitas de sua fidelidade e devo-
o; e alm disto vista a Commisso do nosso dito Primo
segundo o poder que tem no dito cargo, e depois de ter sa-
bido nossa inteno, e vontade sobre este caso, e que o tinha
feito seu Vice-Almirante nas Costas e Terras, que podesse
habitar:
Confirmando ns a dita Nomeaco havemos de nos o
abundante, e -pleno poder, fora e athoridade Real dado
ao dito Sr. de la Ravardire todo o poder, e permis o
de podeI' armar, e provr tal numero de navios ele tal gran-
deza, e em taes de nossos portos, e tantas vezes quantas bem
lhe parecer debaixo da licena particular do nOS50 dilo
rrimo, e os poder frnecer de todas as sortes de pe soa de
guerra, de mar e de mecanjca, e outras cousas neces al'a
ao dito descobrimento, e estabelecimento de Colonias, como
tambem de artilharia, polvora, armas e munies de co-
mida, proviso e cousas necessarias fazendo seu caminho
alm da dita Linha em taes pa.rtes, quaes acbar a seu com-
modo, e que julgar expedientes para o accrescimento da
Christandade, e bem do nosso servio:
E assim far naquellas, que no so ainda descoberta
huma diligente reconbecena de todas as suas avenidas ou
barras, epraticar todos os lugares, e entradas donde houver
alguns habitantes, bu cando por todos os modos de brandura
e bomtratamento de os reduzir, e chegar ao conhecimento de
Deus debaixo da nossa autoridade, e no querendo, lhes po-
der fazer toda instancia por todas as vias de armas, e de hos-
pedage, para tudo reger e governar, conforme as Ordenanas
de nossos Reinos: ou outros menos difIerentes, que servir
posso parai:> commoclo das pessoas e das cousas, e lugares, e
essas podel'.o fazer e publicar em nosso Nome: e de nosso dilo
- 237-
Primo, e guardar, observar e su tentar ditigentemente, e
assim punir, e castigar os contravenientes, ou lhes fazer
perdo, como melhor lhe parecer bom enecessario,e para. 1'e-
'ompencar aque11e , que 11le ha, el'o dado ajuda, ou que e
hayerilo ajuntado com elle para effeito desta empreza, ac-
eres 'entando-Ibes a vontade de per everar, e dar exemplo
ao outros de o seguir, e de segundarem.
{( Pelo que damos, ehavemos desde a presente <.lado ao dito
'I'. de la Ravardire todo o poder para lhes dar, e repartir
toda as Co la , que poder conquistar cineoenta legua de
buma e de outra parte, de eu primeiro forte e morada, c
lanto avante nas lHas terra quanto poder reduzir debaixo
de no a obediencia, em que far as reparties, don e bem-
feitoria" que poder gozar, e gozaro cllev, e sen descen-
dente para sempre em todos os direitos e propriedade , a
'aber ao Fidalgos, e gente de merecimento as dar em
'enhoria, e Feudo, e em todo o titulas, e dignidade a con-
dio, e cargo conveniente nossa honra, e servio con-
forme suas obrigaes, para a defensa das ditas terras
debaixo de no sa authoridade j e ao trabalhadore em tal
obriga.o annaes, que elle os avi ar j como tornando assim
da dita viagens por elle sero partidos todos os ganhos, e
pl'oveito por aquelles, que o havero, assi tindo a cada hum
egundo sen dever, qualidade, e merecimentos e nas aven-
a j ditas se reservl'o :
P,'neil'amente nos os direitos, e o do no so dito Primo,
e os outros devidos, e costumados j e reconhecendo alm
disto que no effeito uso di to poder occorrer diver as
ocea ie de pa sal' Cartas, Convenes, Artigos, Acrdo ,
Titulas, e Provi e , ns havemos validas, e confirmada
validamos, e confirmamos todas as que sero feitas, e pas-
adas debaixo do gnal e e110 do dito Sr. de la Ravarclire,
e dos de agora con ideranclo, e provendo os dh er o , e no
e perados acontecimentos, que podem acontecer em mar, e
em terra na expedio do tal de anbo, ns lhe damos todo
o poder de se ajuntar, ou melter com outl'OS, eja por Com-
panhia, commisso, ou por tenencia com igual poder, que
aquelle por ns a elle outorgado, ou da parte delte, que
querer~ igualmente dar, ordenar, e dispr em todas a cousa
suso ditas, e suas cirwmstancias, e dependencias, tudo
aqL1illo fazendo, que ns fadamo, ou fazer poderiamo e
- 23

pre ente em pes oa ns estive emo, e como no so lugat,-


Tenente-General em absencia LIe no o dito Primo em toda'
as ditas Costa d.a di tancia de 50 leguas de huma, e outra
parte do seu primeiro as ento, tanto avante na terra
quanto habitar posso, como o havemos nesta hora feito,
ordenado, e estabelecido, fazemos, ordenamos, c e tabele-
cemos por esta presente, seja, que o ca o requeira manda-
mento mais e pecial, e particula!', ratificando e approvaodo
desde a pre ente tudo o que pelo no o Lugar-Tenente u 'o
dito ou seus ditos Lugar-Tenentes, ou acompanltados era
feito, tratado, e negociado para esta boa, e santa execuo.
com obrigao de bem, e devidamente ob ervar por elle, e
fazer observar pelos seus no so Edictos e Ordenanas; e e
alguns lbe quizerem pr impedimentos atrave ando-se no
elfeito desta p!'esente, ns retemos, e reservamo, e bave-
mos retido, e re ervado toda esta jurisdic:O, e o conheci-
mento della para o nosso Conselho de Estado privativamente;
e a todos os outros nossos Juize , e om iae fazemo toda a
interclico, e defensa, como da mesma maneira a todos o'
nosso sujeHos desta hora em diante; mandamos, que em a
vi ta, e sabedoria, e vontade do dito Senha!', e do eu no
posso fazer alguma viagem, trafego, ou commercio, nego-
ciao na quantidade de terra , que por elle sero escolhida.
E' povoadas sob pena de confi cao dos navios, e mercado-
rias dos que contravierem d~pois da publicao de nos a dita
defensa feita:
E assim damos, e mandamos a todos o no os Lugar-
Tenentes, Mestres, Guarda no' Portos, e obra, e a toua'
outras nossa Justia, e OlIiciaes, e sujeitos, a quem per-
tencer, que ao dito Sr. de la Ravardire (do qual temos
tomado o Juramento para isto devido, e costumado) fao.
offro, e deixem na dila qualidade de nosso dito Lugar
Tenente-General em absencia do no so dito Primo o SI'.
Dampuilla, deixando-o gozar, e llzar plenariamente, e apl'a-
zivelmente do pleno, e inteiro effeito de tas dita pre entes,
dando-lhe nisto todo o favor, e ajuda; cessando, e fazeudo
ce ar todos o I'lll11ores, e impedimentos ao contrario; por-
que tal 1..Le nosso gO'sto ; e porque das l)reSenles poder. lel'
necessidade em nmitos, e divel'so lugares, qneremos, que
ao vidirnus desta, feita pai' hum de nossos amado OIfitiiae,
Conselheiros e SecI'etarios, ou por Notaria Publico, lhe seja
dada toda a f 0111 ao presen te O!'iginaJ.
- 239-
Dada cm Pariz, ao primeiro dia de Outubro, anno de
graa de 161.0, e de nosso Reino o primeiro, assim firmado.
lJuz.
E sobre a outra parte, pelo Rey, a Rainha Regente, sua
Mi, presente de Lomenia; e senada em cra amarella do
elto grande, dobrada a ponta.
Traduzido do Francez, e assignado Ravwrdiel'e, e o Secre-
tario Beauvallon.
Esta Proviso do Christianissimo Rey de Frana, e outra
do r. Dampuilla Charles de Momeransi, do mesmo theoT',
com todas a fora , que em seu cargo pa ~ar a podia a hum
seu T n nte-General, que por escu ar leitma aqui se no
pl'esenta j deu, e presentou o Sr. de la Ravardiere ao Capi-
te Portugueze, e o Rev. Padre Capucho Fl'ei Ar hangelo
rle Pcmbt o , Commissario na dita Provincia do Brazil, apl'e-
entou a na Patente ao Padre Portuguczes Frei Co me de
. Damio, e Frei lanoel da Piedade, cerca da Commi ~o,
que tinha do Revm. Padre Geral da dila Ordem, Frei Hono-
I'alo Pari ino, na qual com todo eu Poderes fazia Com-
mi . ario da Provincia do RI'azi! ao dHo Frei Al'c.hangelo: a
qual Patente foi tra ladada de Latim bem, e fielmente pelos
dilas Padre. Portugueze ,o quaes no p do Tl'aslado dizem
a im:
O' abaixo assignado certificamos, e damos f pelo
cal'actel' de no a Ol'den, que o acima escripto he o tra -
lado ad litlel'am de huma Patente e cripta em pergaminho
com ello ao p, a qual pelo Rev. Padre Frei Archangelo de
Pembroc no foi apr entada.
Maranho, em 28 de Dezembi'o de 1614..
.Juntamente presentro o dito Padres outra em Fran-
cez, que traduzida bem, e fielmente pelo Sargento-"M6r elo
E tado, dizia asjm :
Llliz, por graa de Deus Rey de Frana, e de Navarra, a
tacio nos os Lugar Tenente -Generaes, Governadores de
nossa "Pl'Ovincia e Cidade, The omeiros Geraes de Frana,
Mestre de nossos Portos, OJIiciaes de no sos 1 ralOS, e Foros,
Bailios, Ouvidores, Justias, Ju.izes, ou seus Lugar-Tenentes,
Capites e Governadores, e Conductores de no sa gente de
guerra, Pl'esidentes de Camaras, e Conselheiro, Guardas
rle Porto, Pout ,Pra.ia Passagen c districtoR, e outros
- 240 -
nossos Officiaes de ,.Tu lia, sujeitos ii nossa .Turisdico, a
quem pertena, e a quem estas presentes sero mostradas,
saude.
Mandamos de presente Nova F7'ana doze Padres Ca-
puchos, para nella instituirem a Santa Religio Christ Ca-
tbolica e Apostolica Romana:
E assim queremos, e mandamos, que os ditos Capuchi-
nhos levem hum bal de livros, dous bani de calice I

Casulas e Paramentos, e cousas de moveis ela Igreja; e assim


mais outro bal de livros, e cousas de refresco para na
embarcao; e mais huma grande caixa de estamenhas, e de
leno (t) para se vestirem os Religiosos; e mais huma caixa
de papel, e de candeias de cra, e de bugias para o servio da
Missa; mais outra caL,\.a de con as de refresco, e outras
necessarias; trez caixas de arcabuzes e mosquete ; e huma
pipa de banduleiras, digo huma caLxCL, e a sim buma caixa d
e pelbos, e huma caixa para o Capito que os leva a cargo,
dentro da qual vo seus vestidos; e outra caixa para o seu
Tenente do mesmo modo; mais outra caixa para o seu
Alferes, na qnal vo seus ,estidos: quatro ou cinco caixa
para os Soldados, em que vai o seu fato: tres caixas para
Indios, e oito almudes de vinagre: e assim vos mando, que
os deixeis livre, e francamente passai' cada hum em vos a
jurisdices sem lhes dardes oppres o, nem impedimento,
antes lbes dareis toda ajuda, e favor, e assistencia, que ne-
cessaria lhes rr, que tal he nossa vontade: e requeremo
a todos os Reys, Principes, Republicas, Potentado por
donde passarem os ditos doze Padres Capuchinho, ou em
terras, e parte de nossa obediencia, que todos lhes fao
favor; e lhes dm ajuda, e lhe dm todo o tratamento, que
ns fariamos a seus sujeitos, se para isto rossemos reque-
ridos.
Dada em Pariz, em o i o de Fevereiro, o anno de
graa 16i4, e de nosso Heino o al1110 "" a signada Lt/Iiz, por
Rl-Rey, a !lainba !legeute, ua J\'Ii, presente B7'U!Jcl!I'le,
Secretario.
Vistas esta Provises, com a mesma lhaneza o. dOllS
Capites Portuguezes mo 'trro tambem as que de Sllil
Mageslade Catholica Linho, e do sen Goveenador, em sen
Real orne, e antes .Teronymo de Albuqnerque quiz que

(I) Lellfo, i. r,. tocln n {pia Oe linho ou nlgod,in.


-2M -

vi sem do dito Senhor l Carta seguinte, para que se desen-


gana em do cabedal, e das veras, com que se tomava, e
havia de tomar aqueUa empreza, de que smenLe eUes re-
presentavo a vanguarda:
Gaspar de Souza, Governador do Estado do Brazil,
amigo.
Eu El-Rey vos envio muito saudar.
Vi o que me enviastes representar em vossos aponta-
mento obre a despeza, e cousas necessarias para o bom
proseguimento da Conquista do 1aranho, que vo tenho
encarregada:
Hei por bem, que faais a despeza da diLa Conquista do
dinhbiro mais propinquo, que hou-ver nesse Estado, que
pertena minha Fazenda, comeando pelo que obejar da
renda do Dizimos deUe, depois de pagar as orclinarias, e
ordenado, fazendo hum Feitor, e Escrivo para esta ma-
tel'ia, para que em livro separado se faa de tudo Receita e
Despeza.
(c E que sendo forado para esta occasio valerde -vos de
algum djnhe'o, o po.sais ha.,.er por empre timo de pessoa
particulare , que o queiro fazer por me servir, ou do das
imposies, que os moradores pozero sobre si par.a o feito
de suas fortificaes, e Igrejas, procurando primeiro have-lo
do particulare, e da imposio, consignando-lhes a hun ,
e outros os pagamentos em cousa certa, e preci a, em que
possa haver duvida em o haverem, o que particularmente
fical' vos a conta, e vos hei nisso por encarregada a cons-
ciencia; e terei advel'tencia, que os empresLimos, que e
fizerem ho de ser voluntario , e sem haver nelles constran-
gimento algum.
(c E quanto ao que apontamos, que por esta .Tornada ser
de tanta importancia, e eu ,o-la mandar encarregar a pes oa
de confiana, como deve ser, e da mesma maneira ornai
(~apites, Ministros e Officiaes adjunctos lhes devia mandar
limitar Ordenado para haverem de vencer necessariamente
no os havendo taes, que elIes s por me servir o fizessem,
hei por bem de vos commeLter tudo isto com declarao, que
:los Capites, e mais Officiaes de Milicia no darei. mais, que
o que eu tiver ordenado para os mais desse E tado, e que
o mesmo faais nos Officiaes, em que nelle houverem exem-
plos, e que logo em fazendo a tal nomeao, e declarao
de ordenados, me deis de tudo conta.
29
- 242-

E assim houve pOi' bem de mandar passar Proviso na


frma, que lembrastes, a qual com esta se vos enviar; por-
que mando signifiqueis, que me haverei por bem servido de
todos os que forem na dita Jornada para lhes fazer as Mercs
e Honras, que conforme a seus servios e qualidades mere-
cerem.
. E ao Sargento-Mr Diogo de Campos Moreno tenho man-
dado ordenar, que se embarque para ir servir seu cargo na
mesma Jornada com os Ol'denados, que tinha, e que acabada
ella lhe mandarei fazer as Mercs, que merecer por esse, c
os mais servios, que me tiver feito.
Escripta em Lisboa, a 8 de Novembro 1612.-Rey.
O Conde Almirante P1'esidente.
Para Gaspar de Souza, Governador do Estarlo do
Brazil.
Por EI-Rey.
A Gaspar de Souza, do seu Conselho, sen Genl,i]-
Homem da boca, Govemador e Capito Geral do Estado do
Brazil. Segwnd,a, via.
Depois desta Carta se lhe mostrou a Patente do dito Capi-
to Jeronymo de Albuquerque, do theor seguinte:
(( Gaspar de Souza, do Conselho de Sua Mage tade sen
Gentil-Homem da boca, Governador e Capito Geral do E -
tado do Brazil, etc.
(( Fao saber aos que esta virem, que o dito Senhor me
manda por sua Instruco, e Carta de 9 de Outubro de 612,
que est registnda nos livro da Fazenda desta Capitania de
Paranambuco pelas cousas de seu ervio, que nella repre-
senta, trate com muita diligencia em chegando a este dito
Estado, da Conquista, e terras do Rio Maranho, para o
que me commette poder eleger a pessoa, que a mim parea,
a qual na dita Conquista faa o Officio de Capito della, e a
tenha a seu cargo; e considerando a disposio das cousas, e
como no convinha deixar perder o tempo sem trabalho,
logo da dita Conquista na conformidade, que me Sua Mages-
tade manda.
(( Passei Proviso em 29 de Maio do anno passado de 613,
a Jeronymo d'Albuquerque, Fidalgo da Caza .do dito Senhor,
para ser Capito da dita Conquista, e Descobrimento, com
at agora desde o dito tempo foi continuando, e levando
- 243-
gente ao Rio Camus (i), e Jaguarib (2), fazendo pazes com o
Gentio da erra de Buapav (3), e tudo mais, que da minha
parte lhe foi encarregado para melhor disposio, e effeito
da Jornada : e porque hora vai o dito Jeronymo d'Albuquer-
que com a gente, e prevenes possiveis conforme ao tempo
e estado presente das cousas, para com o favor Divino pro-
seguir a dita Conquista com todo o calor em frma, que se
'on iga at se pr sobre o dito Rio Maranho, segundo leva
por meu Regimento: me pareceu lhe devia mandar pas-
ai' nova Proviso, como em effeito mandei passar a
presente; pela qual em nome de Sua l\Iagestade, e em
virtude do Poder, que para isso me concede, como acima se
declara bei por bem e eu ervio, que o dito .Teronymo
d'Albuquerque pela confiana, que delIe tenho, e ser expe-
rimentado nas guerras de te Estado, e a atisfao, que tem
de sua pessoa os Indios delle, que he de grande importancia
para o bom eIfeito, que se pretende, sirva de Capito da
Conqui ta, e de seu descobrimento das ditas terra, e Rio do
Maranho, uzando de todos os Poderes, que ao dito cargo so
concedidos, e a sim dos que se declaro no dito Regimento,
qu lhe mandei dar, no excedendo cousa alguma delles:
E mando a toda a pessoas de qualquer qualidade
econdi o, cargo e preeminencia, que sejo, Officiaes, Sol-
dados, e tini tros assim da Guerra, como da Fazenda da dita
onqusta, que durante elIa conheo, e hajo o dito Jero-
nymo d'Albuquerque por en Capito na maneira sobredita,
e lhe obedeo e guardem suas ordens, e mandados com a
ob ervancia devida, por assim cumprir ao servio de Sua
Magestade; com o qual Cargo haver o dito Capito de eu
Ordenado em cada hum anno 200~, a metade em dinheiro,
a metade em fazendas pagas no Almoxarifado da dita Con-
quista, os quaes comear a vencer do p1'meiro de Maio
proximo passado; e me far outro si o dito Jeronymo d'AI-
hucfUerque, preito, e menagem em orne de Sua Magestade,
egundo o uzo deste Reino de "Portngal pela Capitania, e
Descobrimento da dita Conquista, e terra della; de que
hora o encarrego, de que se far a sento nas costas desta, a
qual se registrar nos Livro da Fazenda de ta Capitania, e
da dita Conquista.
lj llio Cam'I$', j, c., o rio Camucy ou Carnueim.
!2 Jaouarib, i. e., o rio Jaguaribc.
a Sm'ado BuapBod, i. o., serra ela lbiapaba.
Dada nesta Villa de Olinda, Capitania de Pernambuco,
em 17 de Junho. Francisco Fragozo, meu Secretario, a rez
em 1614 annos.-O Governador, Gaspar de Souza.
AProviso do Capito, e Sargento Mr do Estado dizia
desta sorte;
Eu EI-Rey, Fao saber aos que este Alvar virem, que
por eu ter mandado tratar da Conquista das Terras, e Rio
do Maranho no Estado do Brazil, e confiar de Diogo de
Campos, Sargento- ir delle, que hora serve, e est
neste Reino, aonde veio por minha licena, que me servir
na dita Conquista como se deve esperar da muila experiencia,
que tem daquellas partes, e pelas de sua pessoa, hei por
bem, e me praz, que torpe a ellas a me servir na dita Con-
quista do Maranho, no dito cargo de Sargento-Mr, e que
nella smente uze, e execute todas as Prerogativas, e Pre-
eminencias do dito Cargo, e emquanto durar a dita Con-
quista, e depois de acabada, emquanto eu no mandar o
contrario, tenha e haja de ordenado com o dilo Cargo 300~
em cada hum anno, entrando nessa quantia o que at agora
tinha com o mesmo Cargo, e os comear a _vencer no dia
que partir desta cidade de Lisboa em cliante, o que justificar
no Brazil pelos Officiaes, e Pessoas do navio em que fr elle,
e sero pagos no mesmo Estado elo Brazil, por virtude deste
smente, sem para isso ser necessario outra Proviso minha,
ou Carta, e nas porque at agora se lhe pagava o Ordenado,
que lhe estava taxado, e em seus Registros se poro Verbas,
de como por ellas no ha de haver pagamento algum, de que
se far declarao nas costas deste.
Notifico-o assim, etc. Manoel do Rego a fez em Lisboa
a 19 de Dezembro de 1615.-0 Secretario Antonio Villes de
Simas a fez escrever.-Rey.
(C Gaspar de Souza, do Conselho ele Sua Magestade, seu
Gentil-Homem da boca, Governador e Capito Geral deste
Estado do Brazil, que por especial ordem, e mandado elo dito
Senhor mando fazer a Jornada, e Conquista do 1\'1 ara-
ho, etc.
Fao saber, que Sua Magestade manda hora a Diogo ele
Campos Moreno, Sargento-Mr do dilo Estado para que na
dita Conquista faa, e execute o dilo officio com todas as
Pree~ine~lcias delle: e pela confiana que tenho da pessoa
do dito DIOgo de Campo.s Moreno, e sua sufficiencia, e partes;
e assim por alguns respeitos, que a isso me movem, enLen-
- 2M;

dendo ficar ua Mage tade melhor ervido, hei por bem que
exercitando elle o dito Oillcio de Sargento-Mr na frma
obredita, v juntamente por Adjunto, e Collateral de Jero-
nymo d'Albuquerque, Capito, que he da dita Conquista.
com igual voto na cou as com declarao, que as Ordens, e
lle olues e publicaro em nome do dito Jeronymo d'AI-
buquerque, como Capito que he da dita Conqui ta: e es-
taudo encontrado nos pareceres, e poro o negocio em
Coo elho, eguilldo- e o mai voto, e e tao]o iguaes, se
eguir a parte, onde o dito Jeronymo d'Albuquerque
acostar.
Notifico -o as im ao dito Capito, Oillciaes, e Soldados da
dita Conquista, e lhes mando, que guardem e ta minha Pro-
vi o, 'omo se nella contm, e ao dito Diogo de Campo dei
juramento, que bem verdadeiramente ervir o dilo Cargo,
fazendo, e acon elhando em re peitos tudo o que entender
ser mai servio de Sua Magestade, e bem da dita Con-
qui ta,
Dada em Olinda, soh meu ignal, e se110 de minhas
armas, em 30 de Julho. Francisco Fragozo, meu Secretario,
a fez de 16'14,.-0 Govemador, Gaspa1' de Olbza.
Fica registrada no Livro do Registros desta Conqui La
a fi . Mi, por mim Luiz n10niz, Escrivo da Fazenda de ua
Mage tade da dita Conqui ta.-Luiz iJIoniz.
Da vi ta destes Papeis entendeu o Sr. de la Ravardire as
veras, com que Sua '[age lade tomava as cousas do Mara-'
nho; e como o dilo Senhor premiava as Pe soas, que nella
o ervio, e como eslava fundado o linheiro da de peza em
parle, que no podia faltar; e faUando muito nesta cousa
e foi para a ua embarcae, sendo de todo o pre idio
acompanhado al os bateis, que ao de pedir foro festejado
com Salvas Militares.
, Ao outro dia, que foro 29, com toda L sua Armada se fez
a vela, salvando prime'o a Capitania, e logo todos os demais
navios ao forte anta Maria, do qual tamhem lhes fizero a
devida 1'e posta: e assim se desoccupou o mar, e a terra, e os
Francezes se recolhro na llha, e nos seu fortes' e os P01'-
tuguezes entendro em fazer a ua Igreja, e azas do aloja-
mento, e os Indio fra do Forte, tomando sitio conveniente,
se alargro fazendo sua Aldas, e roando para manti-
meDto, e comero huns, e outros a sahir buscar lle comer;
e finalmente a gentes at ento opprimida louvro a Deos
- 246-
de :Mizericonlia com Procisso solemne, lodos com as arma
na mo, que bem podesse a devoo militai' parecerem toda
a parte I
O altar da nova Igreja de Nossa Senhora d'Ajuda se guar-
neceu de hum frontal, e cazula, que mandou ao Padres
Portuguezes o Padre Fl'. Archangelo, certificando ser lavrado
o dito ornamento pelas mos da Dl.1queza de Guisa.
Era todo broslado (i), e lavrado de seda de cres sobre
branco, fazendo cruzes de Jerusalm, contrapostas todas de
fruc tas, e rosas, e ramos.
Obra bem v-istosa, e curiosa, e mais de estimar por vir
donde vinha.
Juntamente mandou o dito Padre com o ornamento trez
Retabolos pequenos de excellente illuminao, guarnecido'
de setim carmezim, tudo broslado de carchado de ouro
fino (2), portas e pavimento.
D'alli a dous dias mandou o Sr. de la Ravardire ao Capi-
to Mattheu MaIharte, com o seu Cirurgio, e mezinha para
curar os feridos, que se perdio falta de remedio; e assim
mais mandou avisar aos Capites Portuguezes, que era tempo
de se embarcar a Pessoa, que havia de ir a Frana, porque
se partia a no Regente; e assim o que se havio de ir a
Portugal, que se fizes em preste: Lambem mandou adv rlir
que todos os Indio da llha andavo <.le ejosos de fugir ii
terra firme, porque havia passado a palavra entre elles, que
os concertos dos brancos ero para os captivarem a todos, e
partirem entre si para o venderem, como havia feito Pedro
Coelho na Serra de Buapav, quando teve a guerra com o
Jl1el Redondo, e fez a paz com os Francezes. que alli se ach-
ro ; e que para aquietar esta novella, pedia ao Sargenlo-
Mr do Estado, que passasse outra banda, e levasse ao
Padre FI'. ManoeI comsigo para fanar aos Indio , e para que
vissem, que os Acrdos ero firme , e por outro respeitos
de maior considerao feitos.
Neste tempo com toda a diligencia estavo acabando de
apresentar hum Caravelo os 'Portuguezes, para mandar a
Pernambuco com trez Avisas ao Governador Gaspar de ouza,
para que com as novas da victoria recuperasse a falta de
gosto, que havia de ter de no saber da gente, e da Jornada,
(J) Bros!ado, i. e., bOl'dudo.
(II) nesca"chada d. atiro {I.no, Provavelmonte cnlreJUeja~lo, Oll(rlluado cle ouro
fino. lIe expressflo 'lue nflO enconlramos nos Diccioltario. de nossalingua.
- 24.' -
e para que mandasse com melhor aviso, e animo o conve-
niente soccorro.
Elegeo-se para esta ida o Capito 1\lanoel de Souza d'Ea,
para que como testemunha de vista dsse conta do que
passava.
Tambem o Capito Francisco de Frias havendo acabado
com a obrigao do forte, que desenhado, e em defensa
deixava, se embarcou para dar conta ao Governador destes,
e de outros particulares, que todos realmente se poilio fiar
de ua pessoa: emfim sendo prestes tudo o que convinha
partida desta embarcao, o Sargento-Mr do Estado, e o
Padre FI'. 1anoel Tavares (1) e partiro para a ilha, e o Aju-
dante Simo unes Corra, e entrro nella a 3 de Dezembro,
pela banda do forte de !tampari (2), que est Leste-Oeste com
oforte anta Mal'ia: nesta parte estava o LingoCtrrnl' dos
Indio , Francez, por nome Ifibc~con, pelo qual faro agaza-
lhados os hospede aquella noite, que com parte do dia e
ga tau em fazer o Padre FI'. Manoel da Piedade (3) faUar aos
[ndios em seus ajustamento, e assim faro at o forte
S. Luiz, que so nove leguas deste Posto, sempre por Aldas
de Inclios to povoadas (3), que a cada passo havia milhares
delles daquelIa Costa Tupinamb ; e em cada Alda as i tia
hum Francez obre com quatro, e ei Soldados, como por
alva-guarda dos lndia , ou seu Encommendarios; e e te
Linho obrigao de se ajuntarem, havendo rebate, com
todos os Principaes, e Frecheiro da ua Alda ; e elIes com
suas armas no forte . Luiz ou donde se lhes assinalava a
praa d'arma .
Passadas e tas Aldas, navegaro por hum brao d'agoa sal-
gada (o) em huma chalupa () at chegarem ao dito Forte de
S. Luiz, donde faro recebidos dos Srs. Francezes com toda
a demonstrao de alegria, e bOI1l'a, que foi pos ivel fazer-se;
e tando toda a gente, at fra da ponte levadia do dito
Forte, com as armas na mo at porta da caza do Sr. de la
(I) Fr. Manoel Tavar.., i. e., Fr. Manoel da Piedade.
Deve ser t>rro de cpia ou t 'pographico por isso que na expedilio de Perl~am
bueo smcHle vlero dous sacerdote FranCl cano, Fr. Co me de . Damlllo, e
Fr. Manoel da Piedade.
(21 It~mparl, i. e. Ilapary.
(3 Vide supra nota (I).
(4 .4ldas de Indios lao I,ovoadas.
Isto durou pouco tempo, apz o domnio dos Colonos Porluguezes.
(5) lIum brao d'"gua salgada. Provavelmente o rio .4llil, ou Colg. O COlim como vnl-
garmente se diz.
(8) Chalupa, i. e., bote, ou casco como vulgarmente se chama os pequenos ba-
teis que servem nos rios.
- 248-
Ravarclil'e, donde c.om appal'ato esLava adereado o aposento
do Sargento-Mr do ]~stado, ao qual por mostrar o Sr. de la.
Ravardire, que no ficava alraz nos modos de cortezia,
mandou, que em Nome de Sua Magestade d'EI-Rey Catholico
de Hespanha, cuja Pessoa em aquelle acto o dito Diogo de
Campos representava, e como a tal se recebia, e homava
naqueUe Forte, que nelle dsse a Ordem, e o orne, pOl'que
seno havia de dar outro.
Sobl'e isto houve muitas escu asju tas, e cortezes ; pOl'm
dellas passando a porfias, foi foro o obedecer o Sargento-
Mr, por ser cousa mandada em Nome do seu Rey, e SenhOl',
e dedicada em sua absencia a seu Real Culto: e assim deu
]JOl' Nome D. Felippe.
Com isto se fOl'o ao aposento do Sr. de la Ravardil'e,
donde no 'faltro globos, livros, e planisferios, quadrantes,
e muitas armas, com que pal'ecia estaI' naquelle deserto
gente de valor, e de sciencia ('1).
Ao outro dia se foi o dito Capito Sargento- lr a ver o
novo Convento dos Capuchos, e nelle ao Rev. Padre Archan-
gelo, e seus Companheiros; o qual depois de dizer Missa, lhe
mostrou o sitio do seu Mosteiro, refectorio, e cenas, e huma
fonte d'a,goa viva (2), que tinho descoberto, a qual ante de
sua vinda no tinha aquelle ctio; e assim mais lhe mo trl'o
o SeminariO dos Moo Francezes, e Indios da terra, donde e
aprendio as lingoas buns dos outros, para o qual dissel'o,
que o Cardeal de la JO)Teuse tinha offerecido huma grande
cpia de dinheiro, e a Rainha Regente huma grande ajuda:
assim mais lhe mostrro ao diLo Sargento-Mr gl'ande cpia
de ornamentos, calices, e cousa de Igreja, das quaes o
egurou o diLo Padre Archangelo, que linha mais de 20:000
cruzados alli, e em Pariz em cofres, que estavo para vir,
quando se ordenasse a volta destas cousas.
Tratou o dito Padre lal'gamente da gl'ande diligencia, que
ene, e os mais Raligiosos fizero pal'a que os Francezes no
fossem a fazer guel'ra aos PorLuguezes outra parte, e que
elle em pessoa estivera em Itampari trez dias para estorvar
a Jornada; mas que no podendo mais, se tornra para o
eu Convento to descon olado, que logo dissera aos seus
Religiosos:

(I) Quanta clifrerena dos COnquistadores Portuguezes I


(2) Jll/ma {DilI' d'agl/a uiua,
Ameia hoje existe na erea cIo Convenlo de Santo Antonio.
- 249-
c( A no a gente vil' ao que entendo com a cabea rota,
pois commettem a quem os no busca, e no tomo o meu
conselho.
Pelo que depoi do successo ficou to desconsolado com a
morte de tanto Nobl'es, em partIcular a de Monsieur de
Pisiaus, Catholico, e de grande Caza, e grandes esperanas,
que realmente no via j a hora, em que deixar tal terra,
clonde todo viero enganados a eslar debaixo da mo de
humHereje, que ainda que era bom Companheiro,e gm ernava
com quietao, que todavia era mal soante, e como tal estava
ordenado, que Ravardire se fosse a Frana, e em sen lugar
ficasse o dito defunto de Pisiaus, porm que j Deos mos-
trava haver-se servido de outra cousa.
"'Pelo que, e pela cousas, que tinha vjsto, se partiria em
fa.lta com o Sr. du Prat a dar conta RainhaRegente (1), qu
particularmente lhe tinha mandado, que o l'izes e, e dado
]wendas da devoo, que tinha quelle habito, e de como de
outrem no faria o crdito daquellas materias: e assim
determinava levar todos os seus Frarle , dos cfuaes deixaria
amente dou pam remedio daquelles Catbolicos, que alli
ficavo, e de mais de 20.000 alma Tndios, que havio feito
Chri tos j porm que seria com tal conllio, que vindo
ordem para se o Franceze retirarem, que os Padre Por-
tuguezes tomassem a cargo o favorece-los, tendo-os conven-
tUlIlmente comsigo at lhos mandarem Frana, porque a
i to no ser, que os no deixaria j porque no tocan te a ou tro&
proveitos, mais que o das almas, elle no havia visto entl'e
o. seus cou a de sub tancia, mai que andal'em todo. emba-
raados em trabalhos, e esperana ,a quae mal se 10gr[L-
l'io havendo de haver guerra.
Nisto entrou o Senhor de la Ravardire, com o qual,
mudando-se a pratica, se foro para oForte, donde acabada
a comida viero muitos Principaes da Ilha Tupinambs, ve -
tidos de roupa' Francezas azues de panno' fino coalhado de
fiammas de veludo, folha mortabl'o lada de troaes de seda,
enos vazios Cmzes do mesmo veludo, como a de monteza,
e entre elles vinho dois Iudios ve. tido Franceza de cal-
es, e casacas curtas de veludo carmesim, guarnec.idas de
passamanes de ouro fiuo, e gibes de tela de ouro fino leo-

(I) Era el1l'10 Maria de Medieis, viuvu de Renrique IV.


30
- 2;;0-
nado, e suas espadas douradas, edargs (1) com talabartes de
veludo carmezim lavrados de ouro, sapato, meia de eda,
e ligas com ouro, e tudo o demais nesta conformidade, at
chapeos de castr com muitas plumas brancas, e bandas de
Paris de resplandr de prata lavradas, e Cruzes de ouro fino
ao pescoo como homens do habito de S. Luiz.
. Trasio comsigo suas mulheres moa, Franceza.
brancas ve. tidas de Damas com tae cota, vestido, e
ade'~os, que tudo era seda, guarnies, e ouro, em que
se manifestava a teno, com que estas despezas dita ero
feitas: e a sim depoi de fazerem eu comedimentos:
disse o Senhor de la Ravardire ao Sargento mr.
cc Estes dois Indios, e outro que falleceu Tuplnambs so
desta Ilha, os quaes Monsieur de Rasilli, meu companheiro,
levou aFrana, e os apresentou a Suas Magestades da Rainha
Regente, d'El-Rei Luiz (2), meu Senhor, os quae lhe flze-
ro tantas mercs, e honras, que vos no saberei dizer o
numero dellas: smente digo, que custaro mais ele dez mil
cruzados, os favores, vestido, Baptismo, casamentos, at o
razerem Cavalheiros, dando-lhes habitos da nova Ordem de
S. Luiz, que agora instituo este Rey; o demais Indios da
roupas azue , so Principaes desta Ilha, a saber, o Bmzil, e
o Xapias' (3), homens, que para Indios acho de grande en-
tendimento; e assim elies como os demais vos vem ver como
a homens, que no feitos lhe haveis parecido erpente., c
a.sim ainda hoje e no asseguro, e temem de vs.
c( Esse temor he mui de atraz,respondeo o do Estado; por-
que tem j tantas vezes fugido de nossasarmas,que hoje no
pOdem buscar mai desengano, que naBuapav hontem (4),
e na Prava(5) ,e no Rio Grande(6),donde os levava a suaigno-
rancia, e a malcia dos que os acaudilbavo, dos quae todos
tem seu castigo como o Mingo (7), que havendo quatroze
vezes escapado das mo dos l>ortugueze , veio a morrer na
batalha de Guaxindub; porem agora omos, e seremos seus
amigos, se forem bons, e fizerem o que devem, porque
tempo de captivar, e vender Indios 11e j passado, e Sua Ma-

(I) Dargas, i. e., adaga.


(2) Era Luiz XIll.
Berredo chama :rapy-asSl.
i
a)
1,) Buapaoo, i. e., Ibjap~ba.
5 l'ra!!"", I. e.. Piu'nhyba 00 'ol'le.
(~ 1110 /h"ud" i, e" Rio Grauelo do NOJ'I e.
(, DaVId /tll11gan, I"rnllC z rle Dieppo.
- ...51-
ge taJe d'El-Rey Catholico no o enhor, cm tempo, e a in-
laucia do Governador Geral D. Diogo de Menezes, pa 'ou
Inuna Lei o auno de 610, que nenhum Inetia do Brazil fo se
(japtivo, ante mandou, que o u urpado fo sem posto em
sua liberdade, e levados a suas terra despeza de ua
HeaL .Fazenda ; e i to se fez por amor da de ordem, que uc-
(;edeu com estes, de que tratamos na Buapav.
Acabada e la pratica, que os Lingoas declaravo ao ln-
dio , ,e fro ver o ilio da ilha, e o porto, artilharia, e na-
vio , e Alda dos Pedms-Ye1'des, Indio, a sim chamado'
que l1avio feito vir de varia parte povoar ao longo do dito
forte . Lulz, para ajuda de ~u ten tarem o, oldado do pre-
idio, e assi tirem a defe a, CfUando importa e.
Ao outro dia levou o enhor de la Ravardire ao argent
.IIM, c eu Companheiro a vl' a lIo Regente, que e tava
n porto le GtbCWapcwy ('1) vi ta do forte S. Luiz, e debaixo
de outro forte m que havia quatro pea gros a ele ferro
coado.
a o estava ordenado grande recebimento, e demon -
lrae navae de artilharia, e bande;a ricas ue eda, que
certificou o :Francez haverem custado mais de quinhento
cruzado a fra o E tandarte Real, que dera a Rainha 1\e-
gente, que de pinturas, e ouro tinha muito u to.
Dei oi que e Livero na o e fro a vr a terra, e 'ou-
nhecenas da entrada da grande barra de Arasaj (2), e viro
aleITa deTapitaper,e de Comat; da outra, banda de Loeste,
e a~sim a Ilha, que jasem sobre o Port-o de S. Luiz, forte,
em itio, e povoada de mato, mas sem agua.
Toda estas coisas,' com permisso do Senhor de la Ravar-
tlire, o argento Mr notava, e desenhava em eu livro de
memoria.
Pelo que la Ravardire disse;
Vejo-vo to 'urioso, que me parece para VU~ livrar de
trabalho, que VO hei de dar o de enbo, qoe fiz de tudo i to
at o Par, em que me aventurei, e trabalhei muito, e e
no fra a vinda uo vo o sobrinho Martim Soares, que me
inquietou, e fez acudir a este Forte, cuidando serdes jtodo
vindo, cert.o tivera feito grande descobertas; mas espero
(I) G'II11'"pary. Provavelmente era !l enseada de S. Francisco, onele e lava o an-
ligO forte elesle lIome, em ("!'ente cIo Baluarte, oulr'ora Forle ele S. Luiz.
(2) .4ra."j':, i. e., Ara a''~'.
- 252-
que Monsieur de la Blanjartier, que deixei em meu lugar,
me trar grandes novas, e mostras de coisas estranha , ue
que nOf>sa vinda de Hespanha vos mostrarei tudo: com este
:Fidalgo ficaro quarenta soldados Francezes para melhor e-
guirem nossos bons intento.
O Sargent-l\Ir lhe deu as graas do desenho, que lhe
promettia,e assim tratando de diversas coisas, se tornaro ao
forte S. Luiz, donde assentaro, que o dito Sargento Mr se
fosse aQ outro dia com o Reverendo PadreFr. Manoel, e que
viesse logo o Capito, que havia de ir a Frana, e para a
viagem de Portugal; assentaro que os Soldados Franceze
ual;o por resgate a carav(~la, que havio tomado na guelTa
passada a03 Portugllezes, como fica contado; visto que para
a viagem era o melhor navio, que os l~rancezes tinho, e os
Portuguezes nem peor, nem melhor no possuio coisa, em
que aventurar-se podessem.
E asjm se deu pela caravela,algum resgate de coisa
do Armazem (1); e o demais, que se pagaria em Portugal
ao Capito Malharte, que em nome de todos estava elegido
para ir com o Sargento-Mr.
E prometteu oSenhor de la Ravardire (2) de mandar con-
certar e apparelhar a caravela de novo, e dar dua pea de
artilharia, e o man timento necessario, eassim todaa gente do
mar Portuguezes, que tinho em sua companhia tomados em
varias navios,e por varias cassarias, que ali os havio trazido,
e os bavio deixado captivo , com este assento, e com muito
feijes, e milho, e favas para plantarem, e comerem os do
Forte de Santa Maria, se partia o Sargento-Mr do Estado, e
em chegando ao Forte se aviou o Capito Gregorio l~ragoso
ele Albuquerque, e se veio ao Forte S. Luiz, donue partiu na
No Regente em companhia de Monsieur du Prat 13 de
Dezembro de 46'14., levando alem dos Avisos,e Ordens de pa-
lavra, a Carta para o Senhor Embaixador de Hespanha em
Frana, que se segue, e assim mais o Regimento, que se ver
adiante.
(I) CoislJ$ do Ar",a:ern.
o Arma:.". on Alma:."" como pretende Moraes, era a caza, ou lugar onde e
recolhiiio as arma, e munies de guefl'a, metralhas, e todo o fornecimento
para a guerra, da terra ou naval.
Enteude-se lambem por provises de boca, e guerl'll.
(2) O homem que assim procedia to cavalheil'amente, foi depois remcltido li
Lisba, e ali jiizeu prezo muitos annos no Castello de Belm.
Ville slipra nota (I) pago 8, () [vos d'Evreux-I'oyaye da... lc llord (lu IJrsil pay. Xx)
IlOlu (I).
- 253-
Cal'ta ao EmbcL7,xado}' de Hesp&nha em !/1'&na
u Magestad l'EI-Re Catholico nue tro Sflor enten-
dieJ:ldo ser eosa mui conveniente su servi cio me embio el
ano pas ado de 6i3 por orden deI Governadol' General destas
Provincia Ga par de ouza a que lhe de cubries e, poblasse,
y conqui, ta e esta Co t.a deI Brazil que llamanos de Le te
Oe le, leniendose por cierto, que en elia se fortiUca, ao para
damnal' aI Per alguno Cos arios de las acione deI
Norte.
Partiendo )'0 pues con pequena assistencia de la cosa
nece saria , solo bize, )' repare alguno presidio~ en la dicba
Costa, hazi ndo pax con aquello Selvaje.
Este ano de G1lJ. rwiendo eme dad6 alguna m a i-
ten ia, y tlando em' por CollegLla aI Capitao, y Sargento
~Iaior ele totlo este Estauo Dieguo de Campo. '01 dado viejo
(Le Flandre ,que u Mage tac1 para e ta Conqui ta embio
dende Espana, venimos no alojar en eI Rio Maraflon, que
divide el Per deI Brazil, por la parte deI Norte, y porque
tuviemo Dueva, que avia Francezes, nos fOl'lifiquamos, y
tratamo de occupal' por u Mageslad Catholica en u tierJ'a
lo que no parecia u ervicio COllv niente.
Pel'o fuimo de ubilo cercado de grandes nau, pata-
cho , y lanchas Franceze , con tanto apamto de guerra, que
qua i pel'dimos la e~pemna de poder er soccorridos, y m
que sciendo de subito accommetlido nlleslros navios man-
cos, ql1 sin gente, ni artillaria estavan \fazios para bolvel'se
/lOS tomaron tres, de que quedamos lastimado, m impos-
ibilitado de ningun soccorro."
Pera los enores Franc ze jun Laudo la fl1era tleL
E tado de 10 Indio de una IsIa, que tieoeu ocupada en
este rio ou quatro, o cinco fortalezas, venierou em 19 de
- oviembre passado con ma de 2,200 Iudios Flechero em 50
canoas, que on como bergantines, y con mas de 400 Solda-
do , y Cavalleros de Francia en siete embarcaciones de alto
~ordo con artillaria de bronye y de hierro collado para ba-
limos nueslro fl1erle; en que, como digno, e lavamos eo
lierr.a de Su Mage Lade, y con u ardeu, y bandera menos
de 200 Soldados rortl1guezes, y mu hos menos de 200 Indios
de guerra l1uestros amigos.
Pero como era fnera acudir lo que tanto convenia,
guarnecienc10 el Fllerle, como e pudo, 'alimo em caml aa, Y
- 254. -
los, dirhos la batalla, en que Dias se ervio mit'a!' por nlle~tra
justicia, de que le damos infinitas graljia ,quedando enore
deI campo, y deI itio, y de todas las embarcaciones de remo
que fueron quarenta y eis, que dimos fuego.
Murio Monsieur de Pisiaus, y otros muchos NobJes, y
Soldados en numero de mas de 115, de los nuestro tambien
murieron alguno , pera como della buena guerra uceede la
buena pax, venienfl0 lo Franceze con orden de Mon . de
la Ravardiere a pedir sus muertos para darle sepultura, lo
que y por nos oLros e tava becho ; tras e te trato se con e-
guio, que supimos, que Su Mage tad Christip,nl imad'EI-Rey
de Francia sin dar parte aV. S., yMonsieur deMomoransi (I)
Almirante des e Reino, avian embiado bazer esta COll-
quista, b Colonia dizen, que persuasion de Mons. ele Ra illi
vezino de Louc1un, y Chinun, y dei Siior de Sansi Nicol' de
Marley deI Consejo d'Estado desse Reino, de quien '1 dich(1
Ravardiere se nombra fato!', b companero y como de am-
bas partes tuvimos precisa necessidad de que lo trato
fl1eseu adelante: parecia que se diesse aviso Sus Mage 'ta-
des, aviendo basta su Real repuesta, su pen ion de arma,
que durar hasta el mez de Dciembre de 615, ordepando
que un CavaUero Portuguez, y un Frallcez vaya , Francia,
otro tal l!.spaiia, ya si fue elegido para esse Reyno, y pal'a
el servicio de V. S. mi sobrino el Capitan Gregorio ~ ragozo
de Albuquerque, y para Espana mi compalero el Capitan, y
~argenLo Maior Dieguo de Campo , que con li Mage, tad
abr~L en Espana tratar lo que conveniere.
Supplieo i1 V. S., que en esse lugar oiga mi sobl'ioo,
pues san matedas tan inportantes al servicio de Su Mag stad
y de . S., y de todo tan desamparadas; y en lo que "e
offereciere, V. . se sirva mandarIa encaminar para que todo.
acertemos, porque es hombre destas parte , y tiene )Joca
pratica des as; mal el, y todos nos otro tenemo mucha
confiana, que V. S. nos bar la merced que merecemo,
para que coo respuesta breve seamos favorecido.
Los Francezes lIevalllos papeles, y acuerelos de una via,
el Capitan de Campos neva la otra ti, POl'tugal y Espana,
donde V. S. ser mas largamente advertido, que esta ola-
mente sirve de aviso.

(I) Em o Duque ue i\IulllIlJUl'enc~'.


- 255-

Dias guarde a V. ., deI rio l\Iaranon, en el 1'uerte anta


~Iaria de los Portuguezes a 13 de Diciembre HH4.- Hiero-
nymo cl'AI.buque?'q'ue.
ORegimento que juntamente se deu ao dito Gregorio Fra-
gozo foi o eguinte:
Cansas que por sel'vio ele .sLLa nfagestaele ha ele aelvert1' o
Capito Gl'eg.)?'io Fmgozo el'AlbuqLberqlbe, em o Reino de
Fmna, ao I'. EmbaixadO?' de Hespanha.
"pyimeiramente continuar a caza do dito r. "Embaixa-
dor, empre servindo, e acompanhando aS. . at com effeilo
ser re pondido, e far toda as cl.iligencias, que pelo dilo
enhor lhe forem mandada 'obre o negocio de ta Con-
quista.
Advertira a . ., que o ~'laranbo e ua terras, e
a. irn a de Tapilaper, Cornat, e -Par, e toda a demai c1<-'
tque tas Co tas o parte lia Norte do Per, e do ltrazil :
a quaes Provincia hoje 11-0 o de~ertas, ma desoccllpadas
llePortuguezes, ou CasteJhanos pai' infortunio notavei , e
perda ue navio, e gente, como a Chronica e to heas;
porque ne te Maranho e to o fundamento dos primeiro
lJortugu ze , que aqui povorao, a aber:
Os filhos de Joo de Barro, e o' M lIas, e outro: a que
pelos tl'al alhos de Portugal, se no p le da.r vO corro, e que
no so despovoada ; pai o Brazil tem mais de 30,000 Per-
luguezes, e tantas Cidades, e Yil!a , como ~e abe, e o Per,
o que he notol'io, endo o Imperio do Novo Mundo de Sua
~lage tade; de modo, que e por no ter moradores huma
lena, e ha de tomar a eu dono il ve no Algarve, Algi-
.il'a junto a Gibl'allal' e to em moradore no corao de
llespanha, e aqui ne ta parte, que he do Per, se frma
'huma nova Frana, ou est j formada com vin te Capuchos,
de que he Commissario o ])adl'e Fr. Archaogelo de Pembroc
da dita Ordem, do qual S. . pde saber muita cousas; e
que e tavo 800 Francezes mettidos nesta Colonia com mu-
lheres, e custo incrivel, e com pouco proveit at agora,
egundo dizem, que o Sr. de la Ravardire tem dado terra,
e ladios a ]ridalgos, e Soldados seus; os quaes vivem fazendo
fazendas, e as possuem como suas na terra d'EI-Rey de Hes-
panha, cansas, que denoLo mais fundamento, do que se
pde dizer neste negocio.
-2M-
Que temos entendido, que se no faro as Iianas do
llespanha, e Frana, estivero j nesta Colonia mais de dois
mil homens Francezes.
( Que na cidade de Paris em carros triumphaes faro le-
vados os Indios Tupinambs, e o padrinhos o Senhor de
Guiza, e Sua Mage tade d'El-Rey de Frana 1l1es deu D1ll1be-
res Francezas, e muitos vestidos, e dadivas, com que os tor-
nou a mandar ao Maranbo por seus vas aUo , sendo d'El-
Uey nosso ::;enhor, ealm destes, e outros muitos liados, que
tem, trazem LiJngoc~s I'ranceze em todas estas Provincias,
com que nos tem feito, e fazem muito damno.
Que o Cardeal de la Joyeuse linha offerecido pal'a e {a
Calnia a despeza de hum Seminario, como o dir o P. 1
changelo, e as im a Rainha Christiani sima Regente hum:!
gl'ande ajuda, que tudo com capa de Religio Chri t, vem a
sei' em damno do ~ervio de Deo , e de ta Provincias: na
quaes dizem, que tem descoberto minas de Lapislazul' (1).
e nova pescaria de perola , e tem achado pedraria de \lalor,
sobre que ha preitos entre elles, e que cada dia de novas
madeiros, e tinta do Indio, trato de tirar a sub tancia,
com que levaI' avante e tes pl'incipios' acolhendo aqui da
mesma nlaneira ao. Co sario~, que de roubai' a terra do
Brazil, e da l\Iina(2) vem aqui de garl'ado. a bu cal' manLimen~
to, e remedia a suas viagen.s.
Que resgato por machados, e fouces, e outras coisas dl'
pouca substancia muitos escl'avos dos mesmos Indio , que
huns a outros se comem, e se caplivo, e com elles e vo
engrossando em modo de [azel' fazenda : e que trato de
mandaI' ao mal' de Angola a tomar o~ navios, que vem com
escravos ao Bl'azil, e s Indias, para melter nesta Colonia, e
fazel'em em de peza mais, que a agencia dos Cossal'ios,
hum riquissimo Reino, e que achmo aqui eus captivo ,
com fel'ros nos ps, muitos Portuguezes nossos de trez anno.
d escravos, que como taes lhes roavo, e plantavo, e 381'-
vio no campo.
Os quaes para sempre estavo condemnado a e la vida,
cousa, que nem em Barbaria e usa.

(I) Lapisl:uli, he huma especie de Japis (plumbagem min~ral) ou peura azul,


com lJtas, ou pontas de ouro cintillantes.
(2) E da Mina.
Refere-se ao fOl'te de S, Jorg' da 1I1ina na Costn ue Guin, qlle depois toma
I'O os fTollanlleze ,
- ~57-

E ~sto, porque no dessem noticia do que havio visto


nesta Colonia, na qual tem metticlo tanto cabedal, que segu-
ramente entendemo, e sabemos, que pedem faval' a Ingla-
terra offerecendo-llle o feudo, e menajem, e em caso que de
Frana lhes falte assistencia, por quanto o Senhor de la Ra-.
vanlire, alm de ser rlaReligio(1),he cunhado do Conde de
Mongomeri, (rUe tem em Inglaterra mil parentes, e cunha-
dos, homens de substancia, poderosos, e ricos.
Tambem por sua natural inclina o de conquistar, e po-
voar coisas estranha~, e novo.. . descobrimentos, he de arre-
cear, que no viver quieto, se a fora o no obriga, ou be-
neficios.
Pelo que parecendo a Sua Senhoria, que os pobres
Franceze Catholico, e mecanicos, que aqui esto casados
com suas mulheres, e filhos, que ele Frana trouxero, e
alglln solteiros, e dos Nobres accommodados na ten'a, que
fiquem os que quizerem pos undo o que tem, como vas al-
Ias de El-Rey Catholico nos o Senhor, e aos que no tive-
rem tena , que po so dar-se-lhes, sem embargo ela probi-
bio Jeita, que trata dos Estrangeiro, e tes taes sempre
el'o de grandissimo efIei to, porque como to pnllicos em
todas as coi as de aquelJa Conquista, e nas execue' dos de-
enbos de seu maiores, e juntamente liados, e vindos com
o Iudio , de que niLo temos ainda hoje noticia alguma, fLca-
I'o entre ns ouLr'os rasendo hum effeito maravilho o e o,
[udias que dependem de uas linguagens, e promessas, no
Lero alterao alguma; e por este meio mais bre\ e,
emais quietamente, e com menos despezas seremos senho-
res do que Sua i'\'fagestade tanto importa, e lanaremos os
HoUaudezes do Cabo do Norte nesta Costa (2), donde se for-
Lifico na boca do Rio das Amazonas, sem que ele Hespanha
seja nece sario buscarem-se, e mandarem-se homens a
grande custo, ignorantes do que estes sabem, e nisto no ha
cluyida ser mui com eniente tomar-se bum bom a sento.
Ha~se de notar, e entender alm de tas cousa com
grande diligencia, e todo o segredo, o que trato, e machino
os Srs. de Sansi e de Rasilli (3), e e junto gente, e e torn.o
a mandar a sua no Regente, quehe de 400 tonelada.. . , e
leva 300 a 400 bomen , e he sua, e dedicada a e ta Colonia :
(I) R.'i9io. Assim e1'iio conhecidos os Prole tanlo .
(2) ISIO prova a precoclencia dos fIollauclezo. no torrilorio do Cabo cio Norle.
(:l) Ilasilli. YI'CS rl'Evrcnx c crel'o Rasi/ly.
3l
- 258-
pOl'qne se assim fl" convm qualquel' cousa por pequena
que seja, que se souber disto, avisar a Hespanha para pre-
venit' Sua Magestade, o que convm, e que nos no tomem
desapercebidos, donde com Altares, e Mosteiros de Capu-
chos, e Clerigos, Curas d'almas se vai continuanelo com a
obrigao do Santo Evangelho prgando-se em todo este
barbarismo.
Isto que aqui e ad, erte ao r. Embaixador, he o
mesmo que em Hespanha se ha de tratar pelo Capito, e
Sargento-Ml' deste Estado, com Sua Magestade, que 1)eo
muitos annos guarde, e sempre engrandea: a 13 ele De-
zembro 1.614,.
Neste mesmo dia foi com o dito Gregorio Fragozo para a
Ilha, l\1athias de Albuquerque, filho segundo do Capito
.Jeronymo ele Albuquerque, para as i til' com 03 Francezes,
emquanto no FOI'Le Santa Maria elos Portuguezes assi Lia
Mons. de Lastre ('l), Cirurgio Maior dos Francezes, que Cl1l'ava
os feridos Portuguezes, nos quaes fez noLaveis curas em
algum interesse.
Porque ainda que quizessem no tinbo com que pagar
taes beneficios, mais que acudirem todos a Deos, a quem e
devem as graas.
Pois (cledit salL~tem, ex inimicis nostl'is, et de nW1YU om-
'/~inm, qui oclerunt nos) .
A 16 do dito Dezemb~o partia a no Regente pal'a Frana
com Mons. du 'Prat, e o 'Padl'e Archangelo com dezesete Re-
ligiosos da sua Ordem, ficando na Colonia dou smente, e
hum Clerigo de Missa.
Tambem . e embal'cou Mon . de Canon-Ville, e Outl'O. at
numero de cem pessoas, em que entrou Gl'egorio Fl'agozo,
que ia com Mons. du Prat, como est dito.
Ao largar a vela, a no Regente salvou ao Forte S. Luiz,
do qual fazenuo-se a devida resposta, arl'ebentou huma pea
grande de ferro coaelo lngleza, e matou cinco homens nobres,
e o Condestabre, e estwpeou dous; toda esta gente era da
obrigao do Sr. de la Ravardire, o qual most1'OU sentir
tanto esta desgraa, como a passada da rota, que lhe dero.
Pal'tida a no Regente, logo se pz com diligencia mo no
'oncerto da caravla, e em se prevenir algum mantimento de

(I) Vide sobre este Cirurgio a obm cle Yves cI'Evreux ii pU". an2 e notas flr
~Ir. Fel'llinal'cI Denis, alpm ao Ternou: ComPUnS-A1'clli"es <1.. "%!Juges pllblies.
-= 259 -
farinha, e agoa para o Sargento-Mr, a quem seu compa-
nheiro Jeronymo d' ALbuquerque dava huma notavel pressa,
a que se partisse; ou por se vr sem quem 1l1e podesse ir
mo, ou porque esperasse desta ida mais remedio, que de
toda. a dos outros, de que tinha pouco conceito.
Finalmente sendo j todas as cousas reduzidas ao estado
melhor, que o tempo dava lugar, e feitos todos os Assentos,
ePapeisnecessarios em...como Jeronymo d'Albuquerqueficava
quieto de posse de sna Fortaleza acabada sobre o Mal'anho,
com Religiosos, Igreja, cazas de vivenda, roas, plantas, dons
barcos, e dou bateis, que hum dos barcos se havia com-
prado aos Franceze por haver na Fortaleza mais servio, e
assim eedes para pescar, e mais de quarenta jangadas feita
para a pescarias, e mantimentos dos Indios ; veio o Capito
MaiLlarte (1), ao qual se dero pela caravla OO cruzados, a
saber em cousas ele resgate 130~, e em hum Escrlpto a pagar
em Li boa o resto, com o mai , que custou o mantimento
para a viagem, de que se fez Assento ser tudo por conta da
fazenda de Sua Magestade; pois a caravla no se tomava
para mais, que para seu servio, e assim feitas e ta cousas,
se despedio o Sargento-Mr do ]~stado dos SoLdados, e seu
companlleiro, e com a beno dos l\.evs. Padres Capuchos,
partio do Forte Santa Maria tera-feira, depois da derra-
deira Oitava do Natal, e se veio por mar reconhecendo os
baixos, e barras at o Forte . Luiz, pela bana geande de
Arasaj (2).
Depois de embarcado o Sargento-l'I'lr na caravla se deteve
dou dias a respeito das vazilhas para agoa, que se no
achava ordem de as accommodar; e porque nesta parte
havia mais commoclo ue mantimentos, que 110 'Forte do
POrLuguezes.
Neste tempo houve ordem de se trataeem alguma cou a
do servio de Sua Magestade com alguns daquelles Paeti-
culares; os quaes dero ao dito Sargento-Mr as mosLraE de
todas as cousas, que achado tinho naquellas partes, e o
SI'. de la Ravardire lhe deu hum teaslado da Relao, que
mandava a Frana de seus sucGessos com os Jndios, a qual
traduzida diz desta sorte:
(I) J!faillarte. Yves (j'Evreux na sua l'iagclII chama jlfail/ar, pago 13h
(~) .4..rasajti.
Ac[ualmco[c Ch.llUu-sc>lragy. .
- 260-
SUM~IARIO DO QUE FIZ NESTAS TERRAS no BIUZIL.
Primeiramente tenho assegurado aos povos dos Geu-
tios, tanto da Ilha, como da terra firme, ajuntando-os, e
unindo huns com o outros debaixo da obediellcia do meu
Rey ; e torvando-os, que no fujo de medo dos Portugue-
zes, e rec] uzindo-os tal obediencia dos Francezes, qual cle-
sejar se pode.
c( Porque alm de que j no comem mais carne lmmana

em todas estas Comarcas ate duzentas legoas de aqui, donue


fenece adas Tupinambs,e nenhum Principal destes nITo em-
prehendero guerra contra outros seus contrarias, chamado
TClljJtbias, em primeiro lhes pedirem licena, para o que
lhe mando seu Agentes, ou vem etles mesmo a pedir-mo
a dita licena, e de proximo oito dias antes, que chegassem
os llortuguezes, aqui viero trez Pl'inC'ipcbCs do Par, e de Ca-
jeU (1) a me pedirem licena para irem fazer guerra a huma
Nao a quatro centas legoas de ac[ui, chamada Cama1'ap (...)
sobre hum rio chamado PacaJ'ct1'i(3).
Logo que a o Regente foi partida, que foi em oito de
Dezembro de 16 '12, no mez seguinte mandei ao i\I eari, rio
aqui visinbo, quarenta Francezes buscar aos 7'aba:iclJI'es,
ao de lndios inimigos, que estavo duzentas legua ele
aqt sem haver deJIes alguma noticia.
esta primeira viagem deixaro os meus dois Inelios
nossos escravos da dita Nao; os qnaes, ficando no mato
com mantimento para os irem buscar, porm feita diligen-
cia, se tornaro sem achar nada; e isto tenho advertido em
outra ilfemo1'ubS minhas, que esta Nao havia ido muito
maltratada dos outros nossos Tupinambs.
c(l~ finalmente depois de sete, ou oito mezes, havendo feilo
muita mais diligencia com quatro viagens, que ali fi-
zero os Francezes, dero com esta gente, e di sero
logo que havia duas Castas delles desta mesma Nao Tabclr
im'es, que Yivio em guerra, e camio hlill a outros crue]-
mente; e como se ajuntaro a mim, vivem hoje nesta Ilba

(I) Cajel, i. e" Cayl, actualmente-Bragalla.


Y!lle YVIJS tl'EV1'cux-l'oyagc liag. 130, 418 e 424,
(2) Camarap'. Ignora-se Que lribll de Indios eril.
Vide Yve d',Ev1'llllX-Voyafl0[Jug. 2'1 e 40U, qua os denomina Camar",p'm,
(a) Pac",jary, Provavelmenle o Pacaj. ou Paclly,
VJlle Yves d'El'I'eux-l'oyayc pag, 21 e 401.
- 261-
em paz, e todos juntos com os Tupinambs naturae, que
anLes de hUI1 , e ontros ero inimigos.
Depoi Lendo aviso, que havia outra Nao dos l'abaJa-
I'e me. mos em hum rio, que a sua barra he daqui cem le-
goa , mandei ao meu Lugar-Tenente General fonsiem de
Pisiau (1) com 35 Francezes, os qunes achro a dita Nao
mais de duzenLas legoas pelo rio acima, a qual se chama
J"nalpl, (2); e deixando alguns Francezes para os trazerem,
vieriio aL as terras ele Comat (3), e ero desta parte em en-
trando as huvas, porque j os P,'incipaes estio comigo,
edesta mesma tenho aviso de outra Nao Tapuia, chama-
do 19((,l'clln U'VCLl1V, que estavo !las terra (lefronte ele PCt-
cUl'ipanam (4), os ql1aes no desejo mais, que chegar-se
uos oulro pela noticia, que tem de alguns escravos no sos
de sua Nao, o qllae 'lhe mandamos livres para que en-
lendessem) que queriamos paz com todos o Naturaes; e
obre este aviso mandei com outros escravos alguns France-
zes com hum Lingua por nome o jJfingo (5), o qual os fez vir
at s terras lIe PacLIII"ipClIH,CLln, e esto hoje de paz, e mis-
tura com os Tllpinambs, e fazem roas de mantimentos,
em toda a paz, e amisade com aqueUes, com o quaes pouco
ante llavia tal guerra, que se camio huns aos outro,.
Depois di to feito mandei MOIl iem du Prat a hum rio
chamado Gitajabitg (6) a 200 legoa de aqui com 30 France-
ze', e alguns e cravo dcllUma Nao de'fapuias, que fica
'obre e te rio.
A qnal gente havendo navegado com imaginao certa
rle o achar, ou perto, ou longe, tanta diligencia fizero at
que os nosso' Lingoas o descobriro, e lhes dero a enten-
der como o quereriamos por amigos perto ele ns outros;
e a 'im os obrigro a trabalhar em fazer cana para e
Vil'eID, e nas que tinho se embarcaro logo tl'ez, ou qnatro

(I) Pisia"s. Yvos (}'J,neux chama 1'.,'a"" e Pisia"",


(2) VIIMp!. Y,'es d'Evwux chama-Ollarpy, que era um rio e paiz ha '120legoas
Ui! IllJa do MUl'Uullilo. pa~. H,G e 1,21".
Nuo pMe ser outro PUIZ euilo o allo Gurup'y.
(3) Comal, i. e., CII",rL ou C"man, .
Ue llOje a Comarca cle Glliluan s. . . ._
Vicie em y,'es (\'Evreux, pug. 21 e 401, 130 e !,\8, e 306 e J.l,G, a slgl1lfic.aae deste
119me; qllC uns qll 1'0111 CjllO seju 1"901' da apan"ar pai"a, e oulros 1'ai$ ,Ias ta"ras
leJtosus.
(tlpacuripalla",. A 'luallllcnlc-UawriJlaltall..
(ti Vitle '''1'''0 110la (1) pago 2O, e Yros d'EvtollX- Vayaye pag. uO c 'H'1. lIlus OSlo
anlhor o chama Daui<! ,IhYOII,
(fi) GllUjabllfl. !:loje chama-se Graja"l; o 1]"ajailti.
- 262-
Aldeias, e se viero a esta Ilha, e depoi delles os demais
com o dito Senhor clu Prato
O qual os trouxe aqui, com que me achei hem em-
baraado pelos accommoclar, e ustentar junto, que nunca
quizero dividir-se pelas Aldeias dos outros, de modo de
que os no come ~em, como tinho ele co tume.
Entonces me resolvi de largar huma Aldeia, que tinha
de minha gente a huma legoa daqui, e os mandei apo entat'
neBa, fazendo sahir o meu (1); e lhe dei toda a roa de
mandioca para seu ustento, e elle me promettro fzer-
me outras, e ainda que j por e te anuo Ilo tanIa, er ao
outro com o favor de Deos, e a terra nos fica como e -
pero.
De mais di to tenho mandado vinte e cinco ]?I'anceze
com hum de meus escravos, P'I'incipal de sua ao, a
bu cal' huma de Tapuias 2O legoas dentro do Rio Par,
que so em tanta quantidade, que me otrerecem cem ca-
nas grande, como os Principaes me tem promettido, aos
quaes eu falIei em Parijop (2), sobre a terra dos PacClJjazes,
quando fui s Almazona : aguardo por esta gente no mez
ue Maio, se no tiverem algum estorvo, esperando recado
meu. Pois ho de sabe!', que esto jaqui os Portu-
guezes.
Os quaes se tardarem mais hum ou doi annos,
j tinha dado ordem, para que se ajuntassem aqc com-
fiOSCO mais de dez outras ae, que entl'c eltas lla
huma sobre hum rio da nossa bahia, que 11e maior
Nao, que toda a dos l''Llpinannbds.
o digo o nmero das viagen, e caminhos, que
tenho feito, e mandado fazer em esta' terras, e rios
pelos meus, nem digo da minha viagem, que quiz fazer
s Almazouas; porque ficol1 imperfeito pela vinda a esta
terra de Martim Soares Moreno (3), Portuguez, que veio a

(I) Parece que ero estes lndios chamados da Per/,'as Verdes, de quejt se tralOu
ii pllg. 251. 'l'illho vindo elo Inclo do ~learill1, C'lJamaro-o o Fr1l1lcczes POliras
Verdes, porque (razio pedras des a cr no lahios, e 11 . exlrahio de urna monlil-
nha MIO llIui longe da sua AllIa; segundo refere Yve cl'Evreux na sua Viagem ii
]Jag, 39. Assegura o me mo escriplor que havia esmeraldas mui filla ne sas mon-
lauhas, que suppomos ser as de onde nascem os rios l\[earim e Grajab. .
(2) l'arijap. Refere-se Alcla do Porej, ou l'arij, uma legoa abaixo de Camula.
na mesma margem lo Tocantins, no local hoje denomllluclo A;euedo (Baena"",:
Ellsaio Corographico sobre o Par,i, pag, 2U iII {",c}. Yves d'Evreux cl em 'ua Viagem a
pago 21 e 10\ o lIome de l'orisop ao rio TocaJltills,
(3) obre a viagem ou explorao ele lIlartim Soares Moreno, cOllsulte se a
Viage.. de Yl'es Ll'Evreux Cilp. 10 pago 33.
- 263-
descobrir estas terras, e babias do Maranho no mez de,
Ago to de 6'13 de parle de Jeronymo d'Albuquerque, que em
ella e l pre ente, como parece em nossos ?'tigos de paz.
De mai dislo tenbo mandado fazer quatro Fortes obre
as principae partes, e pOl'tos desta Ilha, donde em todos
tenho artilheria, principalmente em e le de S. Luiz, donde
tenho muita quanlidade: no ponho aqui minbas penas,
e ll'abalhos, e perdas, que tenho corrido indo, e vindo
300 legoas de la Co la dentro em hurna cana, alraves-
ando as barras, e babias, e dobrando as ponla de loda
ellas no lempo ua briga (1), nem falia em trez rueis, e
compl'idas enfermiua les, que me causro estes traba-
lhos; poi'que quem quizer con.. iderar tudo i to, ejulgar
com igualUade, rogar a Deos, que o gralifique, e nos
.Irlenle em paz dentl'o no nos o Mundo arclico.
Filo no Forle de S. Luiz no Maranho, a 29 de De-
Dezembro de 'l6'l4.-La BavaTdiel'e.
Alm uestas Informaes, e 'Papeis, via o dito Sargenlo
~Ir a" lerras da .LI ha, e roa de algodo, de que os
Fl'anceze lil'o algum proveilo, e o labaco, ou herva sanla,
do qual fazem quanlidade com lo boa lempera (2), que vaI
huma livra em FI'ana hum escudo de ouro.
Tambem via a canafislola do I'io Meari (3), da quallevo
a Fran a (IUanlidade em con erva, e secca.
Tambem vio a perolas, que Mons. de Pi iaus lrouxe
do rio Zoual'p (4), que o maiores, que gro, e da
feio de cabacinha alguma, em que via huma mui
gros a.
Tambem trouxe Mons. de Pisiaus de ta ua .Tornada
enxofl'e min'eral, o qual asseguro qne e no acha, seno
(I) No tempo dll$ hri!JIl$,
~'"r ce que h CITO de copia ou typograpltico, e que O author referia- c s
brisas.
('2) Tabaco, com to /)OU I.''''per
AIO(la hoje assim he; ma O cullil'o pouco, e niio o fazem b m conhecido
nn EXilO 'Jes,
(3) l':" ~Rlola do ,'io Meo .....
A CUIl'fi'IOI. he uma especie (\e cana de cr prela cheia rle polpa, e me
IIJClllal. .
'"O he hoje artigo de exporlaflo, e nem de cullil'o.
(';) ZOllarpi. ,
Parece ser a me ma denominaiio do rio CI/rl/py, que acima era cllamada-
I'u.rpi,
Qual ra a veJ'(ladeil'a denominoi1o deste rio, ignommos; mas julgamos que
CI1II'~ todos se deve preferir o de Yves d'F.vl'eux-Ol/"rpy, que parerr ler, ido
ascrlpla com mais cuidaclo, p approximol',se dr C'U'I/PY,
PRIMEIRA EXPLORAO
DOS

RIOS MADEIRA E GUAPOR


FEITA POR

JO GONALVES DA FONSECA

EM i74.9

POR ORDEM DO GOVEH O


AVEG-A.O FEITA DA CIDADE DO GRJc M-PAR

a,l a boca do R ia da Jll aei'/'a pela escolta que por este Rio 5tlbiu s
Afinas do AJalo-Crosso (i),pol' ordem mui 1'ecommendada de Sua
iIJ agestade Fidel'issi1lta no anno de 1749, escripta pOI' Jos Gonalves
da FOllseca no mesmo anno.

abiro a cana' de Sua 'Magestade em U. de Julho do


porto da cidade do Gro-Par com o designio de fazer viagem
pelo fio elas Amazonas, e deste entrar no Madeil'a seu con-
Huente pela margem do Sul, e buscar por elle o ArrayaE\s do
.'lato-Grosso, na Jrma das ordens d'EI-Rey osso SenllOl'.
avegou-se o dia referido tomando o caminho do rio cha-
mado j}fojt, que desemboca duas hora de viagem do Par.
Com o favor da enchente da mar e entrou e discorl'eu
pelo Moj no rumo de Susueste, e parte ao Sudoeste; e pl'in-
cipiando a vazante se fez pau a a esperar a mar seguinte;
hegando a qual se navegou o mesmo rio no rumo de Oe 11-
doe te at boca do Igarap-me1'im, aonde cheg~mos s 2
\1ora da tarde do dia H>'
Este Igarap-merim he huma como valla de agoa, que corta
a penin ula de terra que ha entre este rio Moj e o dos 1'0-
antis: a entrada desta valia he to e treita., que apena d
passagem a cana grande, e assim contina por espao de
meia legoa, at que vai alargando em formosas en eadas, em
que ha ba tantes moradores com roas de farinha, cana-
viaes, e algum caco, e vai sahir bahia chamada jJ'Ict1'apatti,
que he a boca do rio Tocantins.
En trando no dito 19arap-merim e navegou a Oe noroe le
e neste mesmo rumo e de. embocou na mencionada babia.
Para fazer viagem da cidade esta babia ha outro caminbo
a. (lue chamo por fra, que be navegal' enlre a grande Ilha
ue JO(Jfnnes (2),que lhe fica ao Poente,e a costa da peninsulaj
mencionada; pOl'm e le aminho, uppo to seja mais breve,
he bastantemente perigoso em razo dos bancos de ara e
pedras que tem, e sem abrigo pal'a as trovoaclas, que ordi-

(I) Minas do Mato-Grosso. Assiul se chamou principio o terrilorio de' 11 Pro-


viu ia; bem como lambelU se elwmavu o de Goyaz, ,l{iIlBS dos Goya,cs.
(-) Ue a ilha L1e ~[ar.jd.
- 270-
nadamenle 'e levanto de tarde, que fazem a dita costa mui
desabrida e de difficil navegao, a qual s por necessidade
emprehendem os moradore : porm os Indios dame ma costa
que babito em duas aldas cbamadas huma jJ-[twtigwra ({),
e outra SwmGlJma (2), a navego em canoinhas a toda a hora,
porque ainda que as alague o mar, nelle mesmo desagoo a
cana, e continuo viagem j e se isto no podem fazer, sem-
pre a nado salvo as vidas.
Chegados bahia de Marapat, se devia atravessar terra
opposta em ordem a ir buscar as Ilhas que ha entre a de
Joannes e a terra firme da parte de Leste j porm como era
preciso tirar Indios da alda do Pa?'ej(3) , aggregada illa do
Camut, e foi costeando a bahia parte esquerda ubinuo
Tocantins acima,navegando-se por ene a Susucloeste e ao, 01,
que he o seu verdadeiro rumo; e 8 horas de caminho
yela se entrou em canae que fazem muitas Ilhas, por entre
as ql1aes se navegou seis horas, e se foi atravessando para a
villa do Ccwmbt, gastando trez horas de transporte ela mar-
gem de Leste de Oeste.
Acha-se esta Villa situada em 2 gr. e 40 mino de eleva-
:o austral na margem dos Tocantins, parte occidental, em
itio pouco elevado, aonde faz hl1ma planice capaz de se
construir nena muito melhor povoao da que exi te, que
se contm em huma pequena rua de cazas humilde, e 0-
mente duas com cobertura de telha; tem Igreja Matriz mui
pobre de eclificios e ornatos, e hum hospicio de Mercenario
no menos destituido de Igreja e clflUstro , porm tem muHo
melhor asseio para o Culto Divino.
Vivem os moradores em suas l'oa , em (rUe laVl'o mau-
dioca , caco e tabacos, e fazem muito azeite, que co tumo
extralr de buma castanha que se 'olhe pela Ilhas, e tem
uzo para o candiero : chama-se a e te azeHe-Andi?'oba-,
e em todo o Estado se fabrica: os al'es dos Tocantin, so
alutHeros, os horizontes mui alegre as agoa elo )'io mui
crystall:nas e saborosas, porm trazem em si to subtil por-
o ou (IUalidade petrificante, que aos habituado a eJla oe-
casiona o terrvel achaque de pedra.
Re o mesmo rio abundante de peixe, e as sua margens e
Ilhas de toda a sorte de caa, e goso aquelles habitantes
(llue hoje a viJlu do Condoo
(2 He bOJe u villu cle J3ju.
(3) Paroj.
Ob Franceze :chamlll'iio Parljop, C Parisofl' Viosuprl1ll0la (~) ii IJag. 62.
271 -

uesta fertilidade que a natureza e pontaneamente lhe offe-


rece, e poderio adiantai' a sua uLilidade dos {ructos, e
cultivassem as terras com cuidado, pois so todas de huma
e outra margem de admiravel disposio para todo o genero
de lavouras.
Nasce este rio dos Tocantins na chapada grande que
corre do Brazil de Leste para Oe te; e nas suas cabeceiras
e descobriro a Mina de Goiaz, Maranho, S. Felix, a-
tividade, Crixs, e outras, que todas tem vertentes ao
mesmo TocanHn .
Da dita Villa do Camut se foi buscar a alda do P()f}'ej (1),
que em distancia de quasi huma legoa e t situada no
mesmo continente parte do Norte.
Embarcado o Indios de ta alda, que o os de melhor
pI'estimo para o ervio de remar canas, se navegou
por entl'e Ilhas no rumo do arte a buscar o Igarap cha-
mado do Limoeiro, que he outra poro de agoa em eme-
Jhante di tribuio do Igarap-merim acima mencionado,
por onde passo as cana evitando a viagem da co ta, que
he da mesma sorte perigo a que a de lWortigura.
Entra- e nest Igarap ao rumo de oroe te, e no mesmo
lem a sabida defronte ela Ilha elo frfaTaj (2).
Entre esta e a terra firme donde desemboca o dito Iga-
rap ha huma immen idade de Ilba que correm a dilferen-
tes rumos, e ha canaes e bahias entre humas e outras, por
onde atrave o a canas a buscaL' eu caminho ou para a
Il,ha de JoaTlines navegando ao arte, ou a bu.car a aldea de
A1'atic (3) a O ste; e este fizero as canoas da e colta com 12
hora de cantinho vela e remo at huma Ilha, em que est
ituada a dita alda.
Desta e bu cou, faz 'ndo viagem ao arte, a grande Ilha
rle Joannes pela ponta de Le te, aonele finaliza a mesma Ilha
para a parte das Amazonas; e fazenelo-se oh ervao na
dila ponta se achou estar em 2 gr. e 12 minuto ao Sul.
De la ponta correndo ao rumo de Oesle, e Oes ueloe'te s
buscou a aldea ele .11'iiYU1' (4.), que e t s.ituada parle d
poen I e, e se chegou a ella em 10 horas de caminho vela.
Desta alda fazendo caminho ao Sudoeste e Susudoe te em
(Illloje se denominll-.4:cue/o. Vide nota precedente.
(2 O author parece dosta ror 111 1\ di"linguir a ilha de Maraj da de .Toa>lllu,quando
I10jO so identicas.
(3) A,a!ic.. Bo hoje a vHla de O.ir....
(4) Arie'II',. fTo hoje a I'llIa de .11./gao.
-272 -
trez horas se chegou a de Arw)al'd (i), situada ao Nascente
sobre a terra do Camut em ponta de terra firme.
Todas estas aldas so missionadas por Padres da Compa-
nhia de Jesus, e neHas se aldero antigamente os Indios
chamados lngahibas catequizados nos matos pelo celeber-
rimo Padre Antonio Vieira da mesma Companhia, e ainda se
conserva alguma descendencia da dita nao.
A navegao, que aqui se fez de humas aldas para
outras, toda foi por entre Ilhas, e para se formar conceito do
gl'ande pelago fim que se formo, he preciso saber-se que o
grande rio das Amazonas, chegando com as suas agoas a
topar com a Ilha de Joannes, se divide em dous braos, bum
que 11e o maior se encaminha ao Cabo do N01'le a desagoal'
no Oceano por entre a dita Ilha grande e a terra firme do
mesmo Cabo; o outro, que he o menor, buscando a parte do
Sul se junta com as agoas do caudaloso rio Xing, e rio Pa-
caJ'clz, e assim congregadas todas estas agoas formo a
immensidade de canaes, bahia , e enseadas que ha entre a
referidas Ilhas j e correndo entre as Peninsulas de terril
firme da parte do Nascente e costa de Joannes da part.e do
Poente, vo desagoar no Oceano entre a mesma Ilha e a terra
do Par, levando tambem as agoas do TocanLins,Moj,Acar,
e outros j mencionados.
O numero de Ilhas que ha em todo este espao, se ao
menos a tera parte deHas fosse capaz de hablLao, fazia
hum Archipelago mais celebre do que qualquer dos quatro
to famosos que ha no mundo, porem quasi todas com a
inundao das agoas fico alagadas no Inverno, e em todo
o tempo inhabiLaveis: com tudo ha neHas abundancia de
caas e montes, mas todo o sen arvoredo he sylvestre, e
todo elle inuLi1.
lIe recreativa. porm a navegao dos seus canaes e
bahias, por ser quasi por hum bosque continuado naquelle
labyrintho de agoas, excepto em occasio de trovoadas, que
levanta grandes mares, e tem grande risco as embarcaes
no bancos de a1'eia, e algumas restingas de pedl'as que lia
pelos referidos canaes.
Nas ditas aldas, qUI.. . vulgarmente se chama dos Bcas (2),

(I) ,irucar. He hoje u vlla de Port.l.


(2) Bca.,. Era uma trbu Indigena.
As nldas l10 lJr,qS ero os lrez ultimns jll menrionnl1ns, !\I'incipnllllPnle Ar"-
ti. (Oeirns).
- 273-
.e dcr;lo o~ Indio nece arim: om pontualidade pararemal'
as canoas e logo e fez caminho ao Taju]Jur7 pelo rumo do
_aroeste.
E te TaiUptbl' he composto de huma quantidade de Ilha
disposta com tal direco, que de agoaudo por entl'e elIas
o brao menor do Amazonas mixto com as agoas do rio
Xing, formo variJs rios, que todos vo desembocar nas
bahia' e enseadas referidas, que navego buscando as aldas
dos BC(bS, como acima e deixa expressado.
Chegou- e boca prjncipal do Taj upuru, e por elIa e
encontrou no rumo de ornol'de te, e se navegou por elle
dons (lia vela e remo ao rumo do Norte a maior parte du
caminho; e ultimamente tomando a Oe ,udoe te, e ,ahiu
lia parte que olha para o Poente, fl'Onteira a huma Ilha
que correm qua i de orte a Sul, entre a quae e a. ilha,
de Tajupur haver pouco mais de huma legoa de di, tao 'ia.
Aqui se ajunto a agoa do .Y'ing que correm da parle cio
Sul, e o brao menor do Amazonas que as vai buscai' da
pal'te tio orte, e junta se repartem por ntre as Ilhas que
formo o referido TajnpUl', em cuja boca feita a obs rva-
o, e achou e tal' 55 mino ao uI.
1'l'ez caminuo~ ~e podem fazei' de te itio: correnclo ao
ol'te ~e vai a MCbCapd e Cabo (lo i'ol'te, dobl'a este t;ahll
pal'a ((enCb, colonia de Vranceze : outro fazenclo- e na voUa
de Oe te e pMe entrar no Ama:t.onas por onde he mai cau-
tlalo o e de ba tante perigo: o terceiro caminho he seguir il
parte do uI buscandQ a fortaleza do GLt1'upcl: e e ta he a
clel'l'ota que ordinariamente fazem as cana CJu ,obem ao
sel'to.
eguio a escolta este caminho Gosteando a terra f'me da.
pal'le e querda ao rumos elo Sul, Sudoe te e Oessmloe LI',
nos quaes COl'1'e a me ma costa; e eom ,12 horas de amin!lo
avela e remo se chegou fortaleza de 'aJllo Anlonio do
ffttl'upd situada na terl'a nrllle da l'efel'id3. co ta em hulU gl'.
c 1.6 mino de latiLude au traI.
I~ ta Fortaleza 11e a de r gistl'o da ana, tanto li idl
'omo volta do Serto. .
Ne ta fortaleza !la hum Capito-MoI' 01IJIl1andanl.e,pl'ovido
por Sua Mage Lade em concurso, governa o ~eu presidio.
que se compe ele huma Companhia. de tle:t.Oito \1omen ,e m
Capito e mais Officiaes . llbaHernos.
33
- 274.-
Desde o Par at esta fortaleza e gastro onze dias de
viagem, e se navegaria por estimativa noventa e huma
legoas.
Em distancia de hum tiro de canbo para a parte do Sul da
clita fortaleza est situada buma Alda de Indios (1 ;applicado
para o servio da gnarnio missionada pelos Religio os Ca-
puchos da Provincia da Piedade.
Havia neHa bastante numero de Indios, porm os nc-
cessivos contagios de bexigas e sarampo a deixir~o mui de -
Lituida de babitantes de hum e ontro sexo e idade.
Desde que da boca do Tajupur se principia a navegar
para o Gurup, fico parte direita a Ilhas referida que
correm do Norte a Sul, seguindo em parte os me mos rios, a
que discorre a terra firme da esquerda, formando entre e la
e as mesmas Ilhas hum formoso rio de mai de legoa de
largo a agoa que vem do rio Xing, e a que por entre as IlhaR
introduz o Amazonas.
Esto estas Ilhas situadas entre humas e outras agoa"
occupando mais dI; duas logoas ele largura, e de comprimenln
tudo o qne se vai navegando at a boca do Xing, como e
ir vendo nesta narrao.
So inhabitaveis as l'eferidas Ilhas, que vulgarmente ,e
chamo, do Gtt1'upd, pOl'que todas esto sujeitas s inunda-
es do inverno, e sem embargo de to geande invaso tem
muita abundancia de caa y1 vestre, que consiste em Pacas,
Cotias, Veados, Javalis, etc.
Ha tambem neltas huma gl'ande fertilidade de caco in-
culto, que o mOL'adores no daquelLes districto mas o
lio Par vo aproveitar no tempo da colheita; e se no hou-
vesse grande desordem em de fructar a arvore antes de
azonado aquelle fructo, podel'ia bastar a colheita deste
genero s da mencionadas Ilha em anuos de safra (costu-
mo ser os em _que ha grande cheia) para fazel' carga a
mutos navios.
Sahindo do Gump se foi navegando no rumo de Oe su-
doeste entre a costa e as Ilhas, e em dez horas de caminho se
chegou Alcla de tiNlJp~i (2), que jaz na mesma terra firme.
He a a sua pusitul'a em hum plano no cimo da ribanceira,
no muito elevada.

(J) Ue IL povoao de Mariocay.


(2) RII(Jna diz Arapijd, cujo nome mnrlou -se para Carfll,cao.
- 27r:;-
E L n ionada por Capucho di PietIade e consistil' o
eu povo em 300 almas de bum e outro sexo.
eguio- e logo outra alda, a que se chegou com mais de
duas horas de caminho no me mo rumo, fumlada no mesmo
continente da referida, e se chama CGlVicbnd (1), tambem da
admini trao do. mesmos Padre , e constar o seu povo
de 200 pe soas de hum e outro, exo.
Desta alda se continuou viagem no mesmo rumo de Oes-
udoe te entre a terra firme da pat'Le esquerda e as Ilhas
que contnuo direita; e ja por e La altura tem mais ex-
tan o de agoa, que formo varias enseadas em largura de
qua i duas legoa em partes das Ilhas terra firme, na qual
ce acha hum itio de ete ou oito moradores chamado o BOCL-
vi,sta, to aprazvel e de to deliciosos horizonte, que de-
empenha ba tantemente a denominao do lugar.
Com cinco hora de caminho se chegou aldea chamada
lle R[[bttlfl' (2), situada na mesma margem das acima referi-
lia em huma planicie ao nivel das agoas ja na emboca-
dura do "Xjng.
O ~li sionario he Capucho da Piedade, e con tar a sua
povoao de [1,00 almas de hum e outro exo.
Re e ta embocadura tIe huma mui formo a e agradavel
exten o em 2 gr. e 7 mino de elevao do 1'010 au traI.
Entre o rio caudalosos, que o collateraes ao Amazo-
na', tem eu lugar e te rio XiJnYlJ pela abundancia de agoa
que lhe tributa, endo o maior argumento da sua grandeza
ii largura e profundidade com que acaba, e rapidez com
que discorre.
A sua dil'eco mosLra ser do Sul pal'a oNorte, e o as
'uas origens ainda incognitas ao nosso completo conheci-
mento; pOI' qnanto sendo eUe a pouco dias de viagem na
na ubida mui povoado de formillaveis cachoeira, emba-
raa a navegao ao moradore do Par, que apena'8 do'
eLlu sertes tem pl'aticado ha tante Gentio, que e aclia
uelle aldeado com Missionario .T esuitas ; e de fruto annu-
almente da ua margens grande poro de cravo (3), que
et've ao commercio: a positura porm da sua barra, e rumo
COIU que discorre, d assumpto a se entender que como

l
(I Banu tliz CallMau", cujo nome Illudou- o para l'illarill1lo do Monle.
(~ Buna diz MaIIlTlI, hoje viII, elo 1'OflO d. M>.
,,(3 Craoo. E !tI droga (lssullleJhu-sc ti conclla, mo tcm o porfume elo tl'l\ \'0 elus
,uo)u\Jus.
- 276-
entr a..: fonte do rio Tocantin e Tapajs, que lhe o pa-
rallelos, nascem os rio chamados Bacars e da Morte, que
ambos unidos formo hum tronco, que promette grande ap-
parato de agoa na ua barra; e entre os dous mencionado
paraUelo no 11a outra maior que a do Xing ser provavel
que o Bacaris e )Iortes tenho a uas origens da meSIUtl
sorte, que o Tocantin e Tapajs o tem ao Norte da cordi-
lheira geral, que tudo o vertentes ao Amazona .
A agoa ele te rio Xing mostro na uperficie cr preta:
feridas com o remo represento finssimos cr) stae , que e
quebro.
A sua eliafaneiclade he tal, que nas margen em huma
JJraa de funelo se percebe o que est nelle.
. Pelo deduzido nesta narrao at este lugar bem se mo -
tra no ~e l1ayer navegado legitimamente o Amazona em
razo do grande numero ele Ilhas, que separo as suas agoa.
da' do Xing, em cujos termos para deste se passar ao Ama-
zonas e fez a viagem seguinte.
Da dita aldea do jJJiLbt'/,61'/, sahito as canas fazendo cami-
nho ao Snl, e logo no ele Oeste se foi atrave sando a huscar a
margem occielental, aoode vem sahir hum Tio chamado
Alreky(1), que he brao do Amazona ,o qual introduzido peja
terra firme por duas entradas vai receber logo na bOta do
Xing o fudo das suas agoas.
avegon-se o Akeky nos' rumos de Oe te, Oesnoroe te, e
oro~ste, e quatro llOra de caminho desagoa Heste brao
t;lm ri,o chamado J a;),(Hblc, que corre emparelhado com o
/ing6, porm de muito menor grandeza: des.ce por entre
serranias de de a sua origem, e contina com alguma ca-
choeira.. at se dilatar por campinas, que finalizo quando
de agoa.
. He fertilssimo de peixe, e nas suas margens aon le tem
cachoeiras ha sufficiente poro de cravo.
Passada a boca deste rio se continuou viagem nos rUlllO.
referidos, e pernoitando-se j vencida a maior parte de te
caminho, se experimentou na pausa a primeira avanada de
innumera.vel praga de mosquitos, que como chuva miuda
cahia sobre o navegantes, que sem embargo de os no mo-
lestar tanto como aos Egypcios em tempo de Fara obsti-
nado, dava comtu,do bastante exer icio paciencia, de sorte
(3) .4koky. Outros o crevel1J llaglliqllY.
- .77 -
que lIu podendo O' I'emeiro offl' r parados aquella impor-
luu(\, bateria se re ol\'el'o a continuaI' viagem, pai !le em
perigo, e s ete hora ela manll seguinte com vinte e huma
hura de caminho ao todo Ghegmo -no l'l1mo do Norte a lIuma
das eJltrada , que faz o Amazona~ no todo do eu e paoso
enborio.
Defronte de ta boca parte elo 'orte e a lJo e avistao
i1umas eITa em di po i de Cordilheira, em qlle na falda
de llllma dellas e t iluada a fortaleza chamada do Pa1''{I),
tia qual toda aquella errania e co ta toma o nome at o
pel'del' na de ilfaccvp, caminl1ando j para o Caho uo Norte,
cujo cOlJlinente bu o a dita erras no rumo tle Oe: u-
doe~te, no mai at olhar ao Norte.
E'la' el'ra, que pela margem occidenLal do Amazonas
~e a\'i to de J'ormidavel grandeza, fazem lambem 'ua ex-
ten o para o celJtro com algun inLervallos de valle mais
n L'I'ei' do que a CITa j porque ne La !la ba talJL' pro-
t1uco de sal a e caco, e naquella . nem agoa lIa 110 vel'o,
para l'efl'igerio do moradores do Par, que vo a colheita
daquelle generoso
COITe huma o-rande mUl'mnrao de que lle ta erl'as lia
ou/'o porm no e tem feito exam l'eglllar que o er-
lique.
De La erra nascem o I'io que de agoo na Co, ta ele
~la(jLp,que o ,I ary, Tuer (2), Uramuc,Cutipur, Arauary,
eouLros do Cabo do Norte para dentro; como tambem do o
na cimento ao que de agoo do me mo Cabo para fra, que
so' i 'enle Pio on,Japoco(3) ,e outro de meno conta a Le te
e Oe Le do Ca.bo de Orange na costa de Ca 'ena.
abjouo om etreito ela boca do Akeky ao Amazona (qll
no 'enl injuria da ua grandeza se lhe chama 1'io) , se co -
teou pa.rte oriental, que l1e a esqnel'ela seguindo o rumo de
Oessudoesl.e, e, levanelo empr na vj ta as erras da parte
appo La, se chegou com oito horas de caminho a hum sitio, a
que o oaturaes chamo 11Iaual'y-ctjn'I"Grpm, que be hum
canal que faz o rio entre a terra firme e huma Ilha que corre
ao Sul; e d navegao por denlroao me mo rumo. ,
(I) Palli.
,\cluall1loll!u ohama o a povoa<io ou antigu aJdn tio Pal', .4lmcirill' outr'ora
COIU o pl'odioilClo do illa.
(2) lIo o rio Tocr.
cal lio o rio Oyapocl;.
- 278-
Deste canal lana o Amazonas pela terra dentro aquella
poro:d'agoa, que junta com a referida do Akel< " frma o
rio deste nome, que d entrada para o Amazonas peja boca
do Xing.
Desde a sahida, que e fez ao Amazonas at bo a do
Mauary, se ga tro quatorze bora de caminho, em que
vla e remo, se andaria por estimativa dez legoas dando des-
conto correnteza.
Deste sitio Mauary para se continuar viagem 11e preci o
aproveitar a madrngada, que ele ordinario costuma er de
erenidade mui imporLante nesta passagem em razo de t'i/(i'tt-
caes ('1) baixios que tem,aonde com cfualquer mediana poro
de vento e levanto grandes mare ; ainda crue este pre-
judico mais aos que navego para baixo por lhes ser o vento
ponteiro.
Nestes termos para se evitar algum mo acontecimento e
navegou logo depois tia meia noite correndo a co ta ao
mesmo rumo de Oessudoeste a remo aL amanhecer, e de-
pois tL vela: com oito horas de caminho se buscou a ponta
de buma Tlba, que corre com o me mo rumo, e e prolonga
ao Noroe te, para o qual se foi navegando co teanuo a me rua
Llha em ordem a a.travessar o Amazonas outra parte, o que
se executou com quatro hora de demora.
l'ortro as ca,noas ua outra parte do Amazona', e <1epoi
e enLrou pelo rio ele U1'ltb;-qltGlI'(t a buscar a alda deste
Ilome (2),onde com Lrez horas de caminho se foi tomar poeto.
Este rio he hum brao que o Amazonas lana pela tena
dentro ao Noroeste, at que em di tancia de sei hora de
'aminho se derrama em varios Lagos em huma (lilataua pla-
uicie, que ha nas faldas de humas serra, as qllaes sao da
mesma cordillleira do PCM't" que desviando-se ela margem
caminho em partes paea o cen Lro.
Os referidos Lagos em Lempo de cheia e red uzem a hum
s Lo extenso e profundo, que tem capaliidade para em-
uarcae majores que canoas; neUe ha infinidade ele .ialia-
rs e cobras de desmedida granueza, a que chamo Sucuru-
.i s, Giboias e Boia-ass.
Tem muita abundancia de peixe,e de toda a variedade, que
produz o Amazonas.

(I) 7',ljucacs de Tujucu, lameirO tremcdal de mau~uo.


(2) Dana diz que hojc ossa alej a se chamu-Oulelru.
279 -

A referida Alda est ituada em 2 gr. e 20 mino d


latitude austral J1a planicie que ba obre huma montanha
que d mui clilficulto a subida por espao de meia hora. '
A meia ladeil'a desta elevao cone de hum penhasco
huma fonte d'agoa excellente, ml diafana, saborosa, e om
acircumstancia ou qualidade de mui diuretica.
Da men 'ionada planicie se a'visto varias sen'as para a
parte do Norte e Leste; e ao mesmo tempo para a do Su I
varios bosque, lago e planicie , que ao todo fazem huma
vista de paiz alegre e recreativo.
He mi sionada esta Alda pelos Padre de anto Antonio
da Provincia ela E tremadura: tem uufliciente numero de
habitadore Indios; porm achava-se a povoa.o mui desti-
luida de caza lU razo de a haver onsumido hum incen-
dia, que na sua construco de madeira e palha qualquer
I'ai ca ba ta para em breve e pao e reduzir a cinza, huma
Ifrande habitao de ta qualidade.
Desde que se sah io da boca do Mauary n!. e ta Alua,s ga -
lario quinze horas de aminho y la e remo e andaria
jJOr stimaliva dez legoa .
Da alda de U,'ublr-lJuw'a se bu cou o Amazonas retro-
cependo pela me ma parte, por onde se havia entrado, c
ahindo mi do rio se foi costeando a margem occidental,
que he a direita do rumo de Oessudoeste . e com quatol'ze
hora de caminho e chegou alda chamada Gw'vpaliuba. ('I),
para a qual se entra por hum bra.o melhante ao ante e-
Llent em tudo, e 6 difIere na grandeza do lagos, POl' serem
o de Gurupatnba mnito maiore que o de rub-qura;
e houver de se dar credito ao que dizem Indios, ha ne te.
Lago cobra de to desmedida. gL'andeza em compl'imento e
gl'O ma, que depois da bala no e sabe que no Oceano
hajo outL'OS animaes to avultados, como as taes cobl'as.
li ha-se a refeL'ida Alda situada sobre montanha em
huma planicie cercil,cla pela. partes do _orte e Oe te ele arvo-
redo, e as que olho pal'a o Sul e Leste so ummamente
apl'aveis, porque como domina toda as campioa.8 por onde
rle afoga o Amazonas a formar os lago mencionado", e
offerece vista hum delicioso apparato de recl'eao, que
consi te em quantidade de lagos guarnecido ele vioso arvo-
(I) Gurupaluba."
ne hoje a Villa de MOllte Aieg,'e,
- 280-
redo, rematando-se o horisonte pela parte de Leste em seITas
mui elenda em di tan ia que fazem agradavel per pectiva,
e pela do Sul em huma poro do Amazonas que vai Ci\'Cll-
lando ao longe toda a dilatada campina. que pareee ingida
eom artificio daquella crystallina gnarnio, que a natureza
sem estudo lanc,ou para realce ~"istoso de todo aqueHe ale-
grissimo paiz.
He esta Alda povoada de nae de Indios de prestimo, e
capazes para toda a orte de tL'abalho ; e ainda a mesma,
Inclias so dotadas de cmioso engenho; porque de pin tLU'a
fazem varios lavores em alguns trastes para o li o da gente:
especialmente cnias, em que com rezina de arVOle (1'10
!luma e pecie de chal'o que re i~te a todo o liquoe, que e
lhes lance fervendo, e pa('a melhoe intelligellcia do que
he esta manufactura, he preci o dizeI', que cuicbs lIe um gc-
nero de f'mcto' parecido melallcia globo a, po[" lU a quali-
dade he semelbante cabea, ainda que a ca a he mai'
dura, e o miolo mais denso; he produco de a['vores cha-
madas ctbiei?'a,,~ (1), que n:o so g('andes, nem fazem copa;
so mui emelhante s romeira no ramificado do t('onco
e fiaura da folha.
Colhem-se as cUbas de diveesas grande7.as, e fenuiJa, clia-
met('almente e tlle al'ranea o miolo at fi 'aI' a pal'te con-
cava to liza, como a conv~x.a, deix.an 10-ll1e de corpo a.
a gl'O sura li pouco mai ou meno de IlUma l~ tLaca.
Depois de bem secco e te ca cos e orno vom pintu-
ras varias por !luma e outra parte, e e cobrem com li um
genero de vemiz formado de goma, que destillo a arvore:
do paiz, com que fico lustl'O as, a pintura Qsa, ele, ol'te
que se usa dellas para o ministerio ordinarios do~ [nclios
e moradores (2).
Com vinte e quateo hOl'as de demora ne ta Alda, qne !le
mis~ionada por Padl'e da Pjedade, depois de se rcc hel'em
!lella Indjos e mantimento, sahiro as canas ele noite a llll~
cnl' o Amazonas pal'a na madmgada =,eguinle dar principio

(I) Cuieir". EU1 oulra' PrOl'incias e chama e'la ai'l"ore Cujub.il'a,. ail
Sl'uclo Cujllba.
(2) llaaJla referindo- e ii Camu!,; diz o eguinl :
AS Jllll1hereti pinl1io mui 110m cuia.<e !aquari$, e fazem IHlcias e g01ni ue "rgilla
branca pinladas lle um modo LUo peculiar, fJllC n1io cleixa cle "gorarlar ; vista; c'
da mesma argila lambem fOl'luiiOJilbllt.,s, Pnmba', Tarwrugn' c Tal', IlIlln
ll1i1l1 'aelo no me mo goslo ria lJarHlS.
- 281 -
navegao da costa chamada das C'u.iei1'as( t), que he bas-
tantemente perigosa, por ser sem abrigo para as trovoadas,
e qualquer vento encosta as canas terra, e failmente se
alago e perdem.
Pelas li horas da manh se entrou a costear correndo a
1'l1lnO de Sudoeste e Sul, e com oito horas de caminh.o a
,'emo se descapou por tempo de huma hora; depois do que"
continnanclo .a navegar nos mesmos rumos o e<:pao de sete
horas portaro as canas na boca de hum Igarap ou valla,
nnico abrigo que ha em toda aquella ilistancia, e se chama o
Jgcwap dcts Cueiras(2), havendo-se caminhado neste dia
doze leguas.
o dia seguinte ao amanhecer se partia deste sitio, e ca-
minhando ao Sudoeste se chegou com seis horas de caminho
vela e remo s llbas que atravesso o rio, e do lllga.l'
pa ando de humas s outras a transportar 'outra parte
em I el'igo, com designio ele entrar na boca do rio dos Ta,-
PCtj , qnal se chegou pelas cinco horas ela tarde, e port-
I'o as canas jnnto ela Fortaleza, que ahi ha: com onze horas
de caminho se andario nove legoas ao todo computando
quatro de travessia.
Da fortaleza do Gurup at a do l'apajs (3) em oiLo dias
de viagem se faria por estimativa setenta e cinco legoas de
'aminho.
Re o 1"io chamado dos Tapajs bastantemente caudaloso,
e ter de embocadura huma legoa (le largo: a c1il'eco
desde a sua origem he do Sul para o Norte, e assenLo
seI' parallelo com o Xing.
Tem a cinco dias de 'viagem da sna foz cachoeiras em
grande numero, e mui di1:Iicei's de vadear para cima.
Por esta altura dizem ser bastantemente nocivo saude
o seu clima, ou as nas agoas, pois ainda no est bem
averiguado, se a causa das muitas doenas, que ordinaria-
mente costumo contrahir os que alli vo colbeita dos
generos, procede da infeco dos ares ou das correntes.
Nas suas cabeceiras se" sabe haver huns dilatados cam-
(I) Esta costa chama. Baeua, de Cua ..y, onde e lfto as lJarreiras do mesmo
nOI~,e. A lodias que halJito ncsl.Cs Jugarcs, diz llana, .80 dotadas ele I11UI
curiOso engenho como a da Villa (Mo,,'e Aleg ..e) para fabricaI' c pilHar loua,
cUlas, e tacuarys (canudos p:1'a ( u m M ) . . . . _
(2) Igal'ap das Cuiei,"as.AsSIJ11 se chamava 01"10 cu,.ud em cUJa foz lermlOllO a~
ban',iras de Cuary. ~
(3) Tapajs. Re hoj e a cidade de San/are.".
34
- ~82-

po , a que chamo dosPamciz(Js ('l),nome que lhes deu huma


nao de Gentio assim chamada, que hoje e acha ex.lncta ;
pela haver debellado e destruido com estranha inhumani-
dade a gente do Cuyab, que com repetidas tropas fazio
entradas por aquellas dilatadas planicies a ex.plorar oiro.
F"tas campinas se dilato da falda da Cordilbeira Geral,
que corre de Leste para Oe te pela alLUI'a de 14, 15 e 1'6 gro
de latitude austral para o orte, e da mesma Serrania nascem
os rios Jttina e J (Jzu,(Jna (2) meridianos em na cimento com
o Apor (3) e JahuI'r, (4), cujas fonte broto ao Sul da cordi-
lheira ;e parte mais oriental tem origem os rios do Arinos,
Sumidouro e Preto, que unidos formo hum tronco que junlo
ao que e compe do Juina e Jezuena faz bum todo, que
'onstitue o Tapajs, sendo certo que a fonte do Arinos eJ~
to proxima do rio Cuyab, que s medeia trez legoas de
chapada de hum a outro na cimento.
Na entrada da boca do Tapajs parte esquerda ::obre
huma ribanceira de pedra est flllldaela huma t'Ol'laleza
de regulada Cn~truco de figura quadrangular: tem
guarnio de soldados governados por bum Capito e
hum Tenente: e te presidio em cousa nenhuma pMe er
util passagem do Amazonas, porque entre este e a for-
taleza ha varias Ilhas, por entre as quaes podem nav.e-
gar as canas sem perigo elas agoas, e occulLa '~gilan
cia (no caso de a baver) da mencionada guarnio; a
qual s pode ser conveniente para conter em re peito
os Padre missionarios das Aldas que ha no Tapaj , que
so cinco domestica administradas por Padres da Compa-
nhia de .Tesus.
As agoas deste rio ainda so mais diafanas que as do
Xing, de sorte que lan adas em bum copo de cry tal
tudo pal'ece a mesma cou a, e em fundo de qua i dua,
braas se registo as aras e pedras miudas, que ha na
margem. .
Em huma e outra deste rio ha abundancia de Cl'avo.
A sua extl'aco he perigosa em razo de muito Genl,io
bravo, que infesta o seu districto.

(I) Pafaci:Cl. Os campo ds Paricys jasem na gl'aude chapada dos monles Que
formo o divofti"m oquofum do rios Amazol1as e dI! Prn11!.
21 18'''8ua. Boje diz-se JUfU8UO.
3 Apo,/!. lfoje elUiD1a-se Guapofl!.
14l 10/llmi, Hoje e creve-se Jall"'.
- 2 3-
Est a embocadura, do Tapajs em allul'a de 3 gros e
~ minutos ao Sul lia equinocial.
Do Tapajs abindo em 9 de etembro 110 rumo ue
Nome te e atraves ou por entre IIbas para o Amazona ,
e, cheaando a este, se foi navegando a costa a parte esquerda
nos rumo. de Oeste e Oe udoeste, e com quatorze hora de
camiuho, em que e andario oiLo legoas, anoiteceu na ponta
de buma I1ba, aonde se esperou a madrugada para na-
vegar.
Na margem occidental lo Amazonas oppo ta oriental,
que e ia navegando nestes ultimo rumo, ba bum lago
mui emelhante ao j mencionado de Gurupatuba e
Ul'l1b-quara chamado do SU1''L~b1Jt, (1).
Por dua bocas de agoa no Amazonas, ou e te por um
bl'aco vai receber a agoa que descem da erras quella
planicie e por outro a recolbe, para om e te e outro e-
Jllelhante tributo se augmentar formida elmente aquelle
grande rio.
I o referido lago ha bastantes Ilha, muita abundancia de
peixe, e na na margem oriental e t fundada huma lda
hamada da me ma orte que o lago (2), e he admini trada
por Padre Capucho da Provincia da Piedade.
O Inclio desta Alda vivem com ba tante fertilidade no
6 pela que lhe resulta do lago, mas pela que ha na cam-
pina em criao de gado vaccum, de que ha pouco anno
.e utilizo.
Chegou a hora de navegar vela muito de madrugada,
e foi a escolta costeando i esquerda . vela a beneficio de
hnma trovoada de vento secco, qn6 durou por e pao de
clna hora' com demasiada furia, donde resulLou levantar
o Amazonas enLume cida ondas de mais formidavel COll~
(liO que a do Oceano, porque estas correm direita com
a primeira bOl'l'a ca, e aqueUas encapello- e contra a cor-
renteza cau ando entre i hum Lal combate, que 11e de fatal
conseqnencia s canas que descem, porem s que sobem
co tuma ser favoravel, se tem a preveno de desviar-se da,
lerra buscando o largo pois ii,o ordinariamente ppa
semelhante furaces, e mui freqnente da parte de Leste; e
a J'azo de fugir da ribanceira he por livrar a canoa de -
(1) S"rllbi. Actualmente lIe a villa cle A/smqlll',
(2) Vi lo nota pro ciente. .
- 284-
pedida de topar nos grandes e amontoados madeiros, que e
acbo encostados e detidos nas enseadas, aonde os represa
a correnteza que os traz dos rios Madeira e caiale, do qual
de emboco mui a miudo cedros de incrivel grandeza.
Com a mencionada trovoada se navegou a Oesnoroeste, e
depois a Noroe te, e com dez horas de caminho, em que e
andario sete legoas, se fez e pera j noite na mesma co la
vista da fortaleza dos Pat({lJiz ('1), para no dia seguinte atra-
vessar para ella.
Desde que o Amazonas se faz navegavel a canoa po-
'antes, que he desde Jaen de Bracamoros at ao Cabo do
arte, tem unicamente dous passos estreitos.
O primeiro he quando depois de receber, o rio chamado
de S. Tiago passando pela cidade de Borja atravessa hum
serro de penhascosa construco, que lhe d transito na
largUl'a somente de vinte e cinco varas Castelhanas por
espao de trez legoas, as quaes por virtude da fmio a
rapidez das agoas se navego em hum quarto de hora
com bastante horror e perigo.
A este estreito chamo os Hespanhoes Pongo, que no
idioma dos Indios Mainas habitantes daquelle districto quer
dizer-Porta; e este he o pa~so de maior perigo que ba
em toda a navegao deste grande rio.
Ooutro estreito be no lugar de que agora se trata, em que
est fundada a Fortaleza dos PCl/Ul,J;iz, aonde o Amazona
depois de constitudo em pasmosa grandeza pela confiuencia
de muitos e grandes rios, que lhe so collateraes por huma
e outra margem, chegando a encontrar-se com as erra do.
Pauxiz he tal a disposio daquelle terreno, que a distancia
em que se havia de espraiar converteu em profundidade,
de sorte que esta em trezentas e mais braas de sonda no
se acha por espao de qUclsi huma legoa de~corl'enteza, que
nesta passagem he bastantemente forte, e de huma a outra
margem occupar mil braas de distancia, que a respeito
da largura anteceuente, e posterior na sua longitude mai
parece Bosphoro, porque se communico dous marbs, do
que lugar em que se estreita hum rio.
Chegou a hora de atravessar a Fortaleza sendo ja dia cla-
ro, e avanando a navegao da costa oriental aquella dis-
tancia que bastava para se abater na que se havia des-
(I) Pau,,;,. lIe hoje" fOl'lalCZll e cidac[e ele Obidos.
- 285 -

t:abir com a cort'enteza, se principiou a atravessar com


toda a fora do remo no rumo do ordeste, e em hum quarto
de hora e tomou porto na mrgem occidental, aonde he o
desembarque para a mesma Fortaleza.
AGba- e esta ituacla no alto ele huma no muito elevada
montanha em 2 gros e 4.0 minutos ao Sul do Eqnador: a sua
cou tru o be de taipa le pilo om alguma irregularidade,
accrc cendo a e ta alguma runa nos angulo , e' na cortina
ela parte do rio, que necessita de hum grande reparo.
R ta Fortaleza he certo que domina aquella passagem,
ma por causa da elevao de sitio no pMe ter a sua ar-
lilharia mai u o para impedir navegao prohibida, do que
aq1.1elle que se pMe considerar cio castello de Almada,
e tlelle e quizesse confiar a defesa do Tejo a embarcae
do lote das que poJem navegar o Amazonas; aonde s pla-
laforma, que cruza e huma com outra ao nivel da agoa na-
lluelle e treito, poderia er have capaz de o fechar no o
a todo o arrojo nacional que pretendesse transgredir as leis,
mas ainda a qualquer projecto estrangeiro que intentas e
alguma invaso.
Con ta a guarnio 1esta J~ortaleza ele hum Capito, hum
Tenente, argento, e huma e quadra de oldados que rara
vezes tem completa : he destacamento do pre idio do
Par.
Corre a montanha em que e t fundada a mencionatla
Fortaleza mal'geando o Amazona at ii foz do rio das TI'01n-
belcLs, (le que' adiante se far meno, por espao de trez
legoas, e a distancia de pouco mais de tiro de mo quete da
FOt'Laleza. No coutinente tlesta me ma elevao e 't fun-
dada bllma Aldea de Indio (1) de pouco numero de gente
admini tradil por Padres Capuchos da Provincia da Pie-
dade, que Lambem doutrinavo hum de cimento de [ndio',
que e acbava aggegado fortaleza para <::ervio delta,
que ha pouco temI o lesertro para o erLo da Trom-
beta, depois de haverem executado varias enormidade e
delictos, por que devio ser punidos.
Sendo preciso i escolta demorar-se nesta Fortaleza dou
dias em esperaI' bum soccot'ro de mantimento, que se havia
mandado buscar aldea de Sw'ubiu, logo que chegou se
largou aqllelle porlo no dia '15 de Setembro pelas cinr.D
(I) lie tl mesma cidac!e de Obios,
- ~86-

hora da tarde, e costeando parte direita no rumo de


Oes udoeste chegamos com ete horas de caminho, em que
se andario trez legoas, boca do rio das T1'ornbetas, em
qne se fez pansa.
Tem este rio a sua entrada ao Nordeste, e sedo pro avel
er este rumo o da sua direco: no he caudalo o, ma mui
abundante de cachoeiras: habita a sua margen quanti-
dade de naes barbaras, com a quaes ha pouca COITI-
lllunicao em razo ela di1Iiculdade da subida do rio,
em cujo serto !la excellen tes madeiras finas, e pecialmente a
que chamo bompeninnn ('I), que depois ue lavrada em obl'a
poliuil quai se equivoca com tartaruga em quanto con erva
o lu tro, e se lhe no confundem as ondas com que reala
muito a sua qualidade.
A Hi do mesmo mz muito de madrugada e continnou
viagem co teando a Oessudoe te e neloestes, e om i2 hOl'a
ele caminho, em que e andario 6 lagoas, se portou em
huma praia no meio do Amazonas, e he a primeira que !la
subida deste fio se oJIerece aos que o navego para cill1i\
em occasio de vasante, e logo e vo seguindo outra que
no ultimo ponto de vasante so de prodigio a grandeza
Nestas praia ou coras de areia e faz a fertilis_ima
collleita das Tarta"ugc~s, quando e las deixanuo a ua ha-
bitao ela agoas sahem. a estas praias a desovar em
to immensa quantidade, que chego a cobrir muita pal'te
elaquellas arenosas estancias, na quaes se estabelecem fei-
torias no so dos moradores do Par, ma ele todos o
habitaotes o Amazonas a fazet' duas convenien ias, a pri-
meira he a colheita da Tartarugas para u tento, e a
egunela he a elos ovos della que nt rl'o na areia, de
cuja incrivel imOlensielade extl'lllem por benelicio da artu
huma manteiga, de que todo aquelle vasto paiz usa pal'~
tempero uas vianelas, ela mesma sorte que na luropa se
pratica com a manteiga de vacca, ou azeite.
Este genero de colheita hc todos o anno no OlCZ de
Ontubro a maior fora; e no haver to grande extraco
no Amazonas e seu GOllaterae., se faz crvel que o infioit?
numero desta qnalidacle d animaes no 80 faria mais fert"
aquelle dilatado Continente, mas em partes seria a navega-

(I) DOl'l1ponimu., Hoje chamo bfaru.}le, imo"


- 287-
o lliffi ii pelo ernLarao, que lhe re uUaria da mais e -
lranba abundancia que e poderia imaginar.
Neste dia 17 se navegou a mesma margem occidental no
rumo do Oessudoeste pouco mais de buma bora, e logo
e atrave . ou a bu cal" a margem oriental costealldo huma
llbas, que e dilato pelo meio do rio no rumo da ua di-
reco, e co teando pela esquerda o que restava do dia
no rumo mencionado e no de Sudoe te, com 8 bora (le
caminho' e vencerio cinco legoa em razo de no ler
havido vento, e ser muita a correnteza.
Por e ia altura margem occidental de agoa no Amazo-
na o Laao chamado de Jctmwndds ('l) mui semelhante aos
de que ja e fez meno de Gurupatuba, 'rubquara, c .
a boca de te lago ha hum formida\'el swnidow'o ue
nuxo e refluxo de agoa, que he nece afio grande cautela
para do Amazona pa sal' Aldea que ba na margem c10
me mo laao chamada tambem de Jeonnlulds (2), mi ionada
pOl' Padres Capucbo da Piedade.
Este lago se communica com a boca do rio das Trom-
bela por bum brao, que admitLe navegao, a qual e
no Crequenta pelo receio que ba de cahir no dito umidon-
1'0, que o naturaes hamo caldei?'o (3), e o Sertanejos
de lina Jwpiclz.
o (lia seguinte se pro eguio viagem co teando a pari e
esquerda no rumos de Sudoeste, nl, e outra vez Sudoe te,
al que se chegou ao rumo proprio de Oessudoeste, e com
dez hora de caminho e andal'io ete legoa~ por haver favo-
recido o vento, e j de noite portou a e colLa na falda de
huma erra (l~), que naquella parte margeia o Amazonas com
maior elevao que a do Paux.is, e por grande espao de
longitude no mo tl'a declive algum, endo por toda a
O'rande alttu'a talbadas vel'tcalmente qua 'i mui povoada
de arbustos nas quebradas, e hervagens e pes as, porm
no alto coroadas de Crondoso arvOl'edo de mata virgem.
o dia 19 correndo a mesma. co ta com bom vento no
l'llmos ele Oe sudoeste, Oe te, e Oesnordeste avistando pon-

(I) Ja!llUl.dd. CorrulJiio do nomo NhamuJldri, que toma o lago o o rio i Iimi lo
lia Provineia do Amazonas.
2j Jamundd Be hoje a Villa de Faro.
a Caldeiriio. Baona chama rilheiro, rodomoinho da~ua.
1 I, Ue II sorrll dos Parinli"', IlllUbem limito da Provllleill do Amazonas .. FOi
na garganla deste Jago que lllulheres Indias alta 'aruo a fiolilha de FrUllCisco
Orellnna, de onde veIo a tomar o rio o nome de Ama,."a
- 288-
tas de serras que fazio ribanceira ao rio por aquella parle,
chegou a escolta com sete horas e meia de caminho, em
que se venceria delle cinco legoas boca chamada dos Aba-
CCWYbS (1), aonde prtou a escolta.
Esta boca dos Abacaxis he mais propriamente embocadu-
ra menor do rio da Madeira (2), pois he bl'ao que este lana
(J. reoeber a contribuio de varias rios, riachos, e grande
numero de lagos para hir entregar ao Amazonas, em que
desagoa com 400 braas de boca; pela qual no fe? ca-
minho a escolta, em razo de que a alda chamada dos
Abacaxis (3) que havia neste brao se mudou para o tronco
principal do Madeira, qual era preciso ir, e pal'a e le
effeito de necessidade.se havia de continuar a navegao do
Amazonas a buscar a embocadura maior do mesmo Ma-
deira.
Nestes teml0S no dia 20, fazendo viagem costeanuo
esquerda no nuno de Oe sudoeste e Oesnorde te at /f
horas da tarde, foi preciso neste tempo atravessar margem
occidental para evitar a navegao de mui dilatadas ensea-
das que se seguio pela oriental.
Por entre Ilhas se fez a passagem de huma para outra
parte, e a no ter aquelles favoraveis canaes qne faz o rio
por entre as mesmas \luas, com grande difficuldade se fa-
do semelhantes transportes, pela grande largura em que
por aquelle lugar se dilata o' rio.
Com huma hora de travessia no rumo do Norte se chegou iL
primeira Ilha, e passando o canal para a segunda ne11a se
fez pausa por ser j de noite: e neste dia com 13 lJoras de
caminho se vencel'o sete legoas.
Na madrugada do dia 21 se continuou viagem de Ilba em
Ilha at s nove hOl'as da manh, em que se principiou a
costeai' a parte occidental nos rumos de Nornoroesle, Oes-
sudoeste, e ultimamente Sul; e com dez horas de caminho,
em que se andario 6 legoas porlou a escoHa em huma
enseada, que se formava na boca de hum riacho, que

(I/ Abaca",'s. Esla Alda tel'e cinco assenlos, al que parou dcJlnitivamenlo
no ugar Itacoat.ra. (pedras pintadas) no Amazonas, e 11<:' hoje a villa de Se rl'"'
Quando passou esta expedio eslava no quarlo assento, na margem direi.ln
do Macieira, 12 leguas abaixo' do FlUO de Urari (Ilaena-Ellsa'o Corograp!lI'O
pago /oJ.7).
i'.este lugar onde aportou a e},-pedio se acha funllalla a villa Uel/n do rm
peratrir:.
(2) Cbama-se a esle brao o l~uro de Urar'.
(3) Vide supra nota (1).
- 289-
.e ia a Amazonas por entre duas pontas de pecl'cts,
em que havia buma mui de ordenada correnteza.
A 22, continuando a navegao no mesmo rumo do
Sul, passou logo a Sudoeste e Susudoeste at .chegar entre
Ilhas, aonde se fez pauza com doze horas de caminho,
em que venoerio sete'legoa.s.
No dia 23 foi preciso esperar huma cana que e
havia atrazado, e por se no perder tempo sem utilidade
"e mandou fazer pe caria no muito e grande lagc,
que havio nas mesmas Uhas, de que resultou copiosa
abundancia de peixe, com que. e abasteceu toda a escolta,
a qual mente ne te dia depoi de incorporada a men-
ei nada cana fez viagem 4 hora nos rumo de Oe te e
O noroe te, em que e andaria legoa e meia.
!\. 24 se fez viagem costeando esquerda de de a ma-
urugada at meio dia; logo depoi delle se principiou a
atrave ar por entre Ilha a busear na mal'gem oriental
:t ~)oca principal ~o fio Madeim (1), e navegando at de
nOIte nos rumos do Sul e Sudoe::;te portou a escolta em
huma grande Ilha fronteira entrada lo dito rio em
mai ue huma legoa de di tancia j e ne te dia com II,.
hora de caminbo se andario oito legoas
25 de madrugada se dobrou a ponta da I1ba para o
.'ul, e logo ao romper do dia e avi tou a entrada do rio da
:lil/dei/'a, para o qual e navegou a remo no rumo ele u-
doe te, e neste mesmo e fez a entrada, e continuou a nave-
gao.
,
!l'avegcbo (lo ?'io da Jlfadeira pl'incipiai/.rt em 25 rie
Setemb?'o de 1749.
Antes de e entrar pelo rio da Jlfadei/'a e fez 11.110
pela madrugada do dia 25 de Setembro em huma praia
mui dilatada, que procede Lle huma Jlha, da. muitas
qne ha no rio da Amazona, fronteiras ii. boea (10 dito
}ladeira.
Com a luz da manM e deixou perceber todo o hori onte,
que e terminava pela parte de Oeste e Leste com as immen-
sa. agoas do Amazona, e pela do Sudoeste com a do ~Ja
clei1'a na barra que faz no mesmo Amazonas, que ter de

(1\ Madaira.. o nome indig na rtcste rio !te Coyaru. Foi o Cllpiliio Fl'uori ro
<lo ilollo Palllrln, qll m em 1~_3 lhe dilo n nnlTIP!lr .11"dtira.
35
- 29a-
boca 800 braa, de agoando entl'c duas pontas de lena
baixa, em qne 11a, :lrvoredo orclinario 'em Jifferena do
das Amazonas.
Entrou-se a atravessar da referida praia a buscar o ilfa-
deim pelas sete horas da manh, e com buma hora de
caminho no rumo de Sudoeste a remo se entrou na ua
barra, sem nella se perceber correnleza maior que a do
Amazonas at aquelle lugar.
Antes de se cbegar a primeira volta que faz o rio, foi
preciso esperar a hora do meio dia para se fazer observao,
a qual com effeito se executou, e por eBa con tou eslal'
aquella enlrada em 4 14' de latitude auslral.
0

Nesta primeira volta do rio se notou no baver lcna


fLrme nem da parte oriental, que h a e querda, nem da
occidental capaz de habitao, porque toda se alaga COLO o
rio cheio; e a que eslava descoberla em razo de e enlral'
quasi no fim da vasante, mostrava sel' enlodada, a que no
Paiz chamo de alagadio: e a mesma qualidade de Lena
he a do Amazonas pela parte de Leste e Oesle, aonde o Ma-
deira desemboca.
Feita a observao se continuou viagem no rumo de Su-
doe le, e logo voltando a egunda ponta e navegou a u [l-
doe te, que logo ahi moslrou ser o verdadeiro rumo.
Antes ele pas al' a primeira ponta parte direita e l
hum Lago que encbe com' as agoas grandes, diminue com
a vasante; neHe 11a peixe com abundancia de que se apl'o-
veito os Via,jantes.
Voltando a segunda que se eguia, se acha . parle occi-
(lental huma praia, em que e vai formando huma Ilha; e
nesta [Jraia ha muita abuodancia de Tartarugas no tempo
da sua produco, que he na vasanle do rio na lua no\a
ne Outubro.
Chegando terceira ponta se notou ser de ped1'as, tIe que
se frma ahi a ribanceira no muito alta da parte elil'eila j
mas no e alaga com a encheute do rio: no principio da
enseada, que comea nesta ponta na mesma qualidade da
l'ibanceira, est hum lugar que foi alda de Gentio (f),e uelle
permanecem vestigios de habitao em arvores de fmcto,
que alli se conservo : no eu interior ha cacoaes, e aqui he

(I) A/dIa de Gentio. Parece que esl Ingllr denominado Pa'Ua (1e Pedras ainda
hoje nilo ha hahilado. "
- 29i -
que d principio grande quantidade delJe que ha neste do.
Neste stio fazem assento alguns moradores, que vo
fazer salgas de peixe.
Continuando viagem vela (ainda oeste dia e no seguinte
se alcanou vento geral) nos rumos referidos chegmos s
7 horas da noite a portar entre hllma ilha e a terra da parte
r1ireita.,aonde chamo PCbrand,-mi?'n (quer dizer no idioma
da terra 'J'io pequeno, Do que o baja alli pela terra dentro,
mas por cbamarem 'assim os Indios quella poro d'agoa,
que medeia entre a terra e a Ilha).
esta e pera se fez experierrcia de pe caria, e em breve
lempo mostrou a ua fertilidade o rio em peixe de linha, que
!la tau para aquella occasio.
I~m sete horas de caminho, que e andou este dia, se
vencerio quatro legoas,
o dia 26, 6 hOl'as da manh, se prin(;ipiou a l1ivegar
ii remo no rumo de udoeste at Susueste, ~ a pouco mais de
Inum hora' de caminho se atravessou a parte e querda a
pa ar por Imm canal, que ha entre a terra firme e a outra
Ilha, que atravessa o rio quasi de huma a outra parte.
a ela parte direita fronteira a esta mesma Ilha est hum
lago chamado do PaCir'B S. I aio (i) : nelle ba immensa qUj,n-
tidade de Tartarugas,e outros peixes de alga em abundancia.
Con tinuanc10 a viagem da, parte direita e foi costeando
Iiuma dilatada enseada.: na qual ha outro la.go, ma de menor
granlleza e utilidade que o antecedLnte, e delle vo orrendo
hnma barreiras no muito alta, que em parte tem pedra
at olugar em que se 'lcha a Alda chamada dos Abacaxis (2),
aonde se chegou s W hora ela manh; e em quatro de
'aminllO se andario duas legoas, que com as quatro do dia
antecedente faro seis legoas; e be a distancia que ba da
boca do rio at e ta primeira Alcla.
Acha-se situada sobre a ribanceira da en, eada referida,
t'ronLeir'a a huma Ilba que Gorl'e ao comprimento do rio; a
qual he alagadia da mesma sorte que as antecedentes.
Esta alda se achava estabelecida no brao do rio Madeira,
(I) Foi o Padre Joo de S. Paio,Jesuita (nota do'author). "
(~I Este foi o penultimo ponto em que se eSlabeleceriio os IudlOs Aba-
cox" e onde seguiro para o lugar das Per"ras pintadas (ltacoatt<lra), na mar-
gem esquerda do Amazonas, hOJe viII a de Serpa.. , ,
AII1~zol1as, no seu Dicc., assegura que o estabeleCImento namargem direita do
'ladeira.. leve lugtil' 'III 1i16 qnando se reunil'iio ao Abacaxis o Indgena
IOJl"as! sublllellidos pelo Capito-mr Joo lIa narros Gnerra naquelle anDO.
ileuil G/IUl1111 ti eSses IDtIiOS-Ttlra..s.
- 292-
que saiJe s Amazonas com nome dos Abacami,s ou 1wp'marn-
heilS, e daqui se mudou para a parte mencionada, em razo
de que o sitio antigo era rodeado de varios lagos, t10nde
resultava muita doena e mortandade nos Aldeanos, os
quaes no sitio em que de presente se acho, ainda no esto
ele todo remediados de semelhante calamidade j porque o
presente sitio est fundado em huma pequena poro de
terra, que medeia entre o rio e hum lago, que no tempo
da secca lhes occasiona doena; por cuja razo habito
poucos na Alda, e a maior parte se acha espalhada pelas
I'ocas que fabricro nas terras firmes daquella vizinbana.
.Pelas mortandades que tem experimentado no s pel~l
malignidade do clima, mas pelos dous contagios de bexiga.
e sarampo, que IDigiro o Estado desde o anno de 17q3 at
o presente de q.9, se acha com menos da tera parte do
habitadores, os quaes s de Indios de guerra e servio pas-
svo ele mil (1) em tempo que os administrava oPadre Joo
de S. Paio da Companhia,_ antes das epidemias mencionadas.
Tem sujliciente Jel'tilidade, pescarias de Tartarugas, e de
uutros varios peixes; porm de farinha havia tanta penuria,
que aos Revs. II'Iissionarios era preciso mandar ir da cidade,
a le que necessitavo para o seu sustento, e Lambem de
alguns Indio' que no tem lavouras.
Foi precislssimo fazer demora nesta Alda dous dias para
della se receberem quinze 'Indios destinados a conduzir as
~anas grandes para baixo, depois de se embarcar a comi-
tiva nas pequenas, que antes das cachoeiras e havio de
[abricar; o que com effeito se executou na frma que adiante
se dir. .
Entregnes os referiLos Indios no dia 28, s ii horas du
tlia, se continuou viagem s quatro -da tal'de, no rulpo de
Sudoeste costeando parte esquerda, e depois ao voltar da
ponta da enseada em qe estiL a Alda referida se seguiu a
ue Susudoeste e Oessudoeste; e ultimamente ao Sul buscar
a boca Abacaxis (2) donde o Madeira entra por a:quella parte
l

a buscar o Amazonas. .
Pelas 8 horas da noite portro as canoas com seis hOl'a~
de caminho, em que se andaria duas legoas, na entrada ela
(!) Passavlio d. mil.
'Este "esultado quasi sempre se observou na Amarica. O cOlllaelo elos Euro
pos era fala! aos Indegenas. .
(I) il bOGa .4bacazis _ -
Ue uma das entrau" do furo l'ari, que cerca a ilha (te TUfJimlmbarall~S-
- 293-
parte do Norte a que chamo boca dos TupI'Jambas (-1); por-
quanto o !'io da :\1adeira rrma o brao dos Abacaxi intro-
duzindo-o por dua paltc , deixando buma lIba em meio, e
'orlano a terra al sahir ao Amazonas.
Oesagoa no referido bra o, alm de 23 lago de huma e
uulra pal'le, bum rio chamado Canomci(2), que corre ela tena
firme ba lantemnle cauGalo o, e aeHe babito val'ias nae'
de (;entio, que no he do mais femz j ma no admitte
pl'lic.a de civilidade, sem embargo de alguma.cUligencia
qne se l~m feito amigavelmenle a este fim.
'e le termo e mo tra com evidencia aue o rio da Ma-
deira 'nlra no Amazonas por dua. boca: fazendo barra
prillcipal a mi do rio, e inferior do Abacaxis, que receb,
a agoas llo Canom, deixando aquella Ilha grande poro
de t 1'1':1, que e custa pelo Amazonas, pelo me mo Ma-
deira, e p lo Abacaxi ; de sorte que no temIa prtica e
experi ncill vario Aulore de carlas Geografica., iluo e 'la
gl'ande Ilha em meio elo mazona fronteira; boea do
.'ladeira dando-lhe o nome de T'Upvnambc (3): e o que ulti-
Illamenl a ele I'even, como na verdade he, foi Monjem
Lacondamine na carta, em qne ele creveu o rio da Amazo-
na e 11 conlluenle, impre a em Am.lerdam no allnu
rle l7ft.u qne explicou no D'icbr'io, que com a me ma carla
imprimlo quando navegou o Amazonas de 'de a Provilleia d'
Quilo ao Par i e em embargo le que e le Mathematico no
entra e no .~fadeha, n m ex.amina,.e praticamente a frma
da ua coml'nunicao com o Amazonas pelos Abacaxi, e
valeu de nolicia~ verlladeira , que lhe dero pe soa de ex-
perieucia a i lentes no 'Par, que ba.vio navegado por buma
e ontra parte o mesmo iJi!cLdei?'Cb.
E a nao fazer e la indagao cabiria no erro COl1l-
IllLlll1 'lo mais Gengraphos nesla pa.rte, assim comu
por meno' exa o no descreveu o me mo Conuamine
LIa I'el' rida carta em termo proprio. a grande IIba
de ./ownnes na boca do Amazonas, nem a immen idade
ele Hha do Tajupur, per uaclindo-se talvez que no
mediava mais agoa entre a terra finne ol'iental e a dita,
,
(I) Boca de TlIplflambs.
Vlue a nota precedente. . '
(2) CUlIom, hoje Canllm. Em fronlo a emhocadura do 1'10 deste nome eXI te
/lre enlell1elll.e o Jl voado da l'arochia Lie CII"."mo.. ,. . o.
ra) Chama-se hOJe 1'lIp'Mmbaranas, a "'altde ilh.a formada pelo .\I!ltlZOna ,e
brao do 1alll'ira (o (lIro Ururi), que dusaguu 111al aba ISO de sua foz.
Ilha do que aquella, que fazia o canal POl' onde eUe transitou,
quando passou ao Par e depois a co ta do Cabo do Norte.
No dia 29, 3 horas da manh, se principiou iagem a
buscar itio accommodado para se dizel' Mi.ssa, e ao ama-
nhecer portro a canoa em outl'a Ilha menor que a ante-
cedente, fl'onteira outra boca do Tnpillwmbs (1), emque
havia boa praia para se armar o altar portatil, e e appellidou
aquella Ilha com o nome de S. I\'Jiguel, por el' dia de te glo-
rioso Archanjo. o em que alli se celebroll ilf'issCb (2).
Haver huma legoa de di tancia da boca da parte do
Norte, donde e ahiu de madrugada at a da parte do ui,
aonde amanheceu; tanto a ilha de S. iJ!liguel (3), como a al1-
tecedente, e a terra firme que faz a boca dos Tupinambs
he tudo alagadio em tempo de cheia.
Depois de celebrado o santo sacrificio da A-J.issa c conti-
nuou viagem vela e remo no rumo de udoe te ' lepoi,
Oessudoeste; co teando parte e querda terra alagad,a
ue huma e outra margem, e peja oriental trez lago~, e porto II
'om , eis boras de caminho em que e andario cinco legoa, .
Pelo meio do rio, na jornada de te dia, e notl',o traz
Ilhas em pouca distancia bumas das outras, que alago 110
tempo da cheia; e ltuma cor)'enleza gmnde da me 'ma parte
e~querda 00 remate de buma en e;tda em que havia pedra
arrimadas a ribanceira.
Portr:o as canoas na 1nrgem elo rio I U o acima da
referida correnteza, pa ,ada a ponta ela en eada.
A 30 se principiou viagem s (j horas da manh' nu rUlUO
de Sudoeste, e logo a Oessudoeste e u udoe te, e outm vez
a Sudoeste, em cuja volta no meio de huma en eada acha.mo'
situada a AJda chamada do l'?'ocano (4,) ,fron teira a buma Ilha

(I) Vide a nota precedente.


(2) O Capelliio de la expedio cm FI'. J0110 ele anthiago, nOJj"'io o Capuc,ho
da.Provineia ela Coneiflo. _ ',
Sel;l'unclo Ba na~ que l.\halllil, 'el1l I'iIZaO, sogu Ilda a esta exploruo, cio '!l"
uanao oomo primeira ii viagem que fez em 1123 Frnnl.\isco de Mello Palhela por
or(lem do Capito-Genoral Joo ela ~Iaia (Ia Gama, que ubio o rio, e foi pelo
Mamor acima al a alda ela Exaltoiio. Compunha- e o la do Chefe, que era
.\ 'IrOllomo geographo, do Cal ell'lo, (los Mi siomlrio deMatlo-Grosso ,Jos Leme
tio Prado, Paulo Leme e Fl'iIOCi co Xavier. e ele :rofio Leme irmflo dos pri-
meiros, do Cimrgio Fr/lncisco Rodrigues (ln costa, elo Tristo tia CUllha GU;O,
de uma esc~lta l.\ommandada por um argenlo-mr (Major) de que era AJU-
dante e Alrnoxarife Anicelo Franci co ele 'fl\vora.
, (3) 5, Miguel.
Este nome ainda e CDU erva.
('o) 1'rocal1O.
I-Ie pre euterueulc a viJla de Borba. Vido '111 l3acna-Jillsuio COl'ograp/ulo O IlI't.
rclilLivO e 'la villu pago 1,05.
- 29iS -
que se pl'olonga ao omprlmenlo do I'io: qualro hOl'as de
caminho ' ga~lou a remo, em que se andaria dnas legoas .
e vem a di lar esla Alda pou o mai ou menos da dos Aba-
CCWi'ls nove legoas.
Desde qU'e se entrou no rio da Madeira al a ponla da
parle do orte da en eada, em que eSl a referida Alda,
con erva o rio a largura de 350 a 400 braas j porm che-
gando perto da dila enseada, depoi de se pa sarem dua
Unas que e lo parle dil'eita, vai e~treitando por espao de
meia legoa de margem, em que haver distancia de pau o
mais de cem braas ao voltar a ponla em que principia a
referida enseada, em cujo lugar pa sada a ponta, em que ha
huma praia qu~ qua i atravessa o rio, 'e acho ba:stanes
]Jeclms obl'e qu e levanta a ribaoceira da parle oriental
a mar l1 em que e egue at dita Alda he ele bal'reil'a em
pal'te no muito alta, que uo alaga em tempo de cheia.
E ta ald':l, bamada do TI'ocanw, he a que com a invoca o
de Santo Antonio e fundon entre o rio Jcumw''Y e a primeira
'achoeil'a do Madeira, e se compnnha de gente que se pl'a-
ticon na cca~io que no anno de '!722 andou com huma
Llopa d explol'ao paI' todo o ftfacleir(~ Fl'anci co de "Mello
Palheta (1).
l~oi ~1i ional'io deste estabelecimento o Rev. Padre Joo
de . Paio da Companhia de Je u , e pas adas alguns annos
vendo que o sitio no era accommodado pal'a a vaude do
ln lias, e que e te ero vexado pelas naes harbaras vizi-
nhas, tomou o expediente de a mudaI' para o itio do 1'1'0-
cemo, em que de pre ente existe.
lie:t na fundao em huma planicie que ba obre huma.
bal'l'eira lia referida en eada da parte oriental do ladeira.
O al'es so aprazivei , e mai alutifero que os do Aba-
caxi , e a construco ela Alda pai' melhor forma que a
an leceden te.
He missionada pelos Rllgiosos da Companhia, cujo Padre
se n.o achava na occasio na A.lda, por te1' "ubido ao rio
Neg1'o na diligencia de praLicar gente do mato para a mesma
Alda: e no 80 por esta razo, mas por se evitar alguma
de 'ordem dos Inelios, faro portal' as canas na praia de

(1) A explorao de Palheta 0[10 era l'egular, como a presente, poi lhe fal-
lavo os conhecimentos que linilll Jo Gonalve ela Fon eca, o direclor
~esl~.
Yi,le supra nota (3) a Plt, 293.
- 296-
hama Ilha que corre rio acima da parte direita, e se termina
ainda ~L vista da Alda em mais de meia.legoa de distancia, e
em cana ligeira e ia tratar do que era conveniente para
o ervico da escolta.
Amenos de hum dia de viagem desta Alcla pelo rio acima
ha varias habitaes de Gentio, o qual j tem tido o atrevi-
mento de investir a dita povoao, e par'a cautela de seme-
Illantes insultos vive o Missionario em huma caza entrin-
cheirada de e tacada, para della se defender melhor d
alguma nva o soccorrido de dou eculares, que lhe a i-
tem, e estavo administrando a A.lda na au eucia do Pac1l'p,
no tempo que alli cllegro a canas, e e houvero com to
pouca pontualidade em executar as insinnaes do me mo
.VIissionario para darem soccorro de Indios escolta., que
bum delles e e condeu no mato com a maior parte do.
lndios, e algun que tLahi e tirro para \'olLarem 'OIU a~
~ana grandes foi por entrepreza.
Da ..mesma sorte se no pde alli fazer fomecimento de
viveres, porque supposto bouvesse bastante criao, no
Ilavia quem a vendesse: o que succedeu tambem om a
farinha, que era occorro mais essencial.
A2 de Outubro, pelas j horas da inan Il, deixando na alda
hama cana ligeil'a com hum amcial e don oIdado na diLi-
gencia de fazerem alguma compra de farinha, partiro~.
canas com vento fresco nb rumo de Nornoroeste, e clepoi
de passar:.. huma ponta da pa.rte direita em que bavia huma
grande praia, e navegou ao Su udoe te ; e om trez hora
de caminho, ellL que se andario trez legoa , portro na
pl'aia de hUl11a Ilha situada parte direita, onde espermo.
pela dita canoinha o resto do dia referido, e o seguinte que
foro trez.
Quando e navegou ao SucIoe te buscando a parte direila
do Madeira se passou junto boca de hum rio que de aga
em huma pequena enseada chamado GoctoLc ('l) : no hp cau-
daloso, as terras donde desembo a so alagadias, e como se
lio enLrou neILe, no se pde examinar a direco c1' u~
corrente, e costeando a mesma parte occic1eu tal na ell: t:Jada
que se seguia, se achou huma Ilha com praia mui c1illlllclcl
at chegar ponta de outra enseada, 00 meio da qu I 11m

(i) Goaold. Roje se chama Uall/ris, lago que se I)ommunicn rllm os I'io~ a
(Irim r Amazonn. por hl'no ,QUI) e pOllcllI denolllinar rios,
-- 297 -

outra Ilha semelbante antecedente portro as canas na


praia della, amo fica dito.
Defronte desta Ilha se via a boca de hum lago que ha da
parte oriental mui abundante de peixe: e este he o pri-
meil'O alojamento de Gentio bravo, e sem embargo de que no
foi vi to, se deu aqui principio a toda a cautela necessaria
para rebater qualquer acontecimento dos barbaros.
Aagoa do rio Madeira de lle a sua entrada at este sitio he
ela,I'a, e de bom gosto, porm j desta altura principiou a
achar-se turva na partes, em que as ribanceiras so de terra
enlodada, e aonde de agoavo lagos, e donde havia bar-
reira ou pedras 'e achava menos defeituosa; e at este itio
ainda alcanavo os vento geraes, mas j diminuto ; de
ol'te que s com trovoada he que havia nelles actividade
para ajudarem o remos contra a correnteza.
No dia 4. de Outubl'o tendo chegado de madrugada a
canoinha que ficou na alda, em negociar cousa de COI1-
iderao, e celebrou Missa na referida praia, pOI' ser u
dia dedicado a S. FmncisGo ele As i , em cujo obsequio se
apeUidou no Ilha do nome de" te anto (f) e partindo et
hora no l'umo de Susudoe te se deixou mo clireila
huma grande praia de ara, e com o rumo do Sul se nav -
0'01l a buscar duas Ilhas que e tavo parte e querda, em
c~ja margem ha bastante Cacoae ; porm a terra da
nbanceira, que tem por detl'az hum graude lago, o
olta , e continuamente esto cabindo com arvore mui
grandes, que abi se produzem; este passo (de que ha mui-
tos por buma e outra margem deste rio) he o de maio1'
]J1JI'igo e o mais {o1'midavel que se pode imaginar e final-
mente no tem at s cachoeiras outro rio de maior con-
sequeocia esta navegao.
As Ilhas referidas que esto buma junto da outra,
hamo ue Campanctuba pelo idioma do lndios, e no
Portuguez significa te1'I'a de muito mosqtto; com o mes-
mo nome e apellida lago, de que j e fez meno.
Passando as referidas Ilhas no rumo de uc1oeste, que
assim correm ambas costeando a parte esquerda no meio
rle huma enseada ha huma ponta de pedra, em que de
rio cbeio faz lmma grande correnteza, e neste lugar pela
l~ horas da tarde foro vistos alguns Gentio, a sentado

(2) Ue hoje pouco conhecida por esse 110m .


,)6
- 298-
nas pedras, que avistando huma ana ligeil'a, '111 que io
por exploralores hum soldado e dous ndios . e meLtel'o
para o mato a ob ervar, e feito signal para se prevenirem
as mais canas, logo quI:' estas foro cbegando de appal'e-
cero os Gentios das vigias, e e I'ecolhero ao intel'iol'.
Vencida a correnteza das pedms, sem se dar mostra. de
que se fazia caso do encontro, se pa saro a ana!l
outra parte do rio a bu cal' hum canal que ha entre a
terra e a Ilha do Jaca1', porquanto o caminho da parte
'oriental tem grande correnteza, e de ]'io cheio faz nl) meio
do canal bum sorvedoUl'o (no Paiz se chama caldeiro), que
d grande trabalho para se e capar delle, e costeando a
enseada da parte occidental, cuja ribanceira he de tena
. olLa, buscmos a praia da Ilha, e nella se parlou noite
com as cautelas necessadas. .
No canal da parte oriental desagoa hum lago chamado
tambem do Jaca1' (1); neste dia em cinco bora e lTIeia
de caminho se andaria trez legoas.
A f) continuando viagem se costeou parte direita 110
rumo do Sul e Susudoeste, e com trez horas de cami-
nho a remo se encontrou a Ilha nomeada de Jos Joo (2,
'tomou e te nome de hum morador do Par assim cha-
luado que muito annos fazia neHa feitoria de 'aco,
de que'a mesma Ill1a he abundante) e logo junto desta
"Ilha e seguia outra mai pequena, ma com huma grande
praia que e prolongava :10 comprimento do rio, o qual
:e foi conUnualldo a navegar no rumo do Sul e Sudoeste:
e logo ao lado occiclental pouco acima da referida praia,
em wja margem havia junto terra hum areal, e vio
l1um posto que mostrava ar frequeatado de Gentio;
porm no se avi tau nenhum.
Passada buma ponta de pedras parte esquerda, em que
o rio he mais e treito, ,est hum lago a que os lndio
uo o nome de !dCLtarnclld (3): nelle no ha mais que Tar-
tarugas, de que o Uentios e aproveito.
Atravessou-se o rio parte direita, e j qua i noite
portmos na mal'gem junto ribanceira, por no haver
praia n-em Ilha, onde se podesse pernoitar com ma,is
segurana.
(I) Jaear Hoje chama-se SaJllleaya-oroeo,
(2) Ainda hoje conserva o nome.
Pi ~'alllm((. lIoje chama-sr Jfaltlry.
- 299-
Ne te dia em uiLlI hora de ca.miullU, a maior pal'le;),
vla, se andaria quatro legoa, 110 decurso das quaes se
no olfereceu mais cou a alguma que notar, por quanto
as terra o alagadias, o arvoredo todo sylvestre pela
ll1argen, em dar indicio de que nelle houve se pre-
timo,
No dia G e principiou viagem no rumo de Oeste, Su-
lIoeste e '- u udoeste costeando a margem direita, e com
dez l1l'aS de caminho a remo e a vla e andaria ei.
lagoa" em no decm o dena haver couza de que e po-
de e fazer memoria.
i\. 7 se continuou viagem navegando ao Sul cos-
teando a parte direita, e com duas hora de caminho a
I'em avi tou parte esquerda o rio chamado Ari-
poa'l1d (1 I, e atrave ando a examinar a sua desembocadura
e achou teria de largma oitenta braa, mo trando a na
dil'ecco er qua i de Le te para Oeste.
i\. agoa de te rio el'a clara e de melhor go to que a do l\la-
lleira, no qual desagoa defronte de burna Ilhota de figura
qua i ovada, que corre de Norte a ~ul no mesmo Mad ira em
illui pequena di tancia da margem em que faz barra o refe-
rido l'ipoan, no qual habito alguma nae d Gentio,
razo porque . e no tem navecrado para ,aber ao certo a
na origem, c a qualidade da terras por que di corre.
U ixaudo a bo a do A1'i,poclInd proseguio viagem no rumo
de ucloesl costeando querda, em cuja margem junto
a) mato e achou huma ca ca de po de trez braa de com-
prido, e m ia de largo, atracada as extremidade com cip~
cm rl'lua que fazio poupa e pra de embarcao, deixando
no meio homa concavidade ele pouco mais ele don palmos.
I~ desta qualidade so as de que uza o Gentio de todo o rio;
oe ta que se achou tinbo ido algun. quelle itio e que
e Lario no mato na lliligen ia de alguma caza por qnanto
emelllante embarcae nunca o Gentio as tem no eu
portos, sem as guardarem debaixo da agoa e de mergulho
a vo desatar, e fazem aboiaI' para se servirem detias.
Esta que e topou sustentava dentro quatro pe~soas com
aptido para poderem remar e na, egar, mas em occasio de
lranquillidade, porqne a baver quae quer onda por peque-
nas que ejo alago a embarcao, de cujas cazualidades e
(I) ,1I'i])Ollllou A,il'unll. Ainda hoje on er"a o nome. ainda Cju' outros
e'cre"em Ariul'aM.
- ~oo-

sabem livrar admiravelmente os Gentios pondo-se a nado,


esgotando-lhe huns a agoa, e os outros guardando as tlex ,
que be ordinariamente o cabedal de mais importancia que
os acompanha.
Continuou-<:e viagem no rumo de Oeste a buscar a Ilha
chamada dos 1'ti1'aS( 1), que se avista da hoca do Aripoan j
referido, e chegando a ella se acbou ser de terra firme, e
neUa habilava huma nao ele gentio chamada dos l1?'l'as.
donde toma o nome a me ma ilha, a qual frma. o Madeira
quasi com igual dislancia de agoa por huma e outra parle,
que ser de duzentas braas no mais largo j corre esla Ilha
wm as enseadas do rio por espao de duas legoas, que lanto
ler de comprimento, a largura no se pde ajuizar ao cerlo
o que ter.
Navegou-se entre a dita Ilha e margem da parte esquerua
110 rumo de Sudoesle cosleando huma enseada, que se ler-
minou com huma ponta de pedras, em que havia huma
grande correnteza, e antes de chegar referida ponta
desagoava hum pequeno lago, e depois de passada a cor-
renteza desembocava oulro, tambem de igual entidade.
Ein pouca distancia deste sitio na mesma margem porlo
d$ canas em huma llheta de pedras, que havia em pouoa dis-
lancia ele terra, mas no apparece em tempo de rio chei 0'
por ser a sua elevao a metade menos da que tem a riban -
cejra da terra, que lambem alaga com a cheia.
Nesse dia em oito horas ele caminho se andaria pouco mai~
tle lrez legoas em razo de no haver vento,
Da Hhel a de pedras se principiou viagem 8 110 rumo
de Susueste costeando a parte esquerda, e antes de 'Ilegal'
ponta da enseada desaga hum lago de pouca considerao:
e seguindo o rumo do Sul depois de passar huma praia de
:ll'a, que ha na referida ponta, se encontrou com a maior
G01'1'enteza que at aquella parte se havia topado; por quanto
havendo huma lUla (2) no meio do rio com huma grande
praia, que se avizinha da ponla mencionada, fazia a agoa
grande fora pelo pouco fundo que havia por todas as partes,

(I) Ar...."s. .
A. ilha laincla conserva o nome, assim como aincla se acha selvagem a Inbu
tios ArTos.
(2) ~a JDar~elU tia plIl'le direita, defronte. tia ponla d~sla ~Ula, l:ls~auclo hUIlJ
AntoniO Correu, Illoradordo Par, em sua feltoI'lu ue caCllO o IDvesllrao nella de
noite os Muras, e o illa.tTo a Oexas, e 11 oinco Inclios clomesljcoS. (nota do author)
- 30!-
e foi preci o arrimar as canas Ilha, e puxa-Ias cOI'da at
horas de jantar em que se de canou.
Continuando logo viagem no rumo de Susudoeste com o
me mo impul o da corda junto praia da Ilha, uccedeu
aparLar- e da cana grandes huma ligeira de exploradore',
e pa ando parte esquerda da margem sahiro de repente
ii. ribanceira CDU a de dez ou doze gentios jthlll'aS, e largro
obre a canoinba IlUma de carga de Jloxas, da qoaes no
perjgou pe oa alguma, e tenc1o- e da cl.lloinba o acrdo de
uzar da ua e pingarc1a , ve retirrio logo o aggre ore,
e no (oro mais vi to em todo o I'e 1.0 da tarde, que foi
preciso gastar na conduco da canas corda em quanto
'e CD. teava a referida Ilha, na qllal se pernoitou aquella noite
l:OIll grande vigilancia e cautela.
Ne te dia em oiLo 1l01'aE. de caminho e venceria trez legoa .
em razo do embarao da orreuleza, a qual fi ou vencida
al o lugar mencionado em que e pel'Ooiton.
No tlia 9 endo j dia claro e deu prillcipio viagem bu -
rando a margem e~querc1a continente em que appareceu o
Geutio, co teando no filmo de u udoe te abeirando hUID<l
pI'aia, que bavia daquella parte se acllou na ara tia mesma
hwncL (leJiCL G}'cLvacla, que ili ero o l)ratico era ignal que
o ftentio fazia de desalio, e entendendo-o e que o barbaro
110' e 'lal'io esperando na ponta da eH eada, onde havia cor-
renteza, 'e aminhou por ella com o cuidado neces ario.
No !lome novidade ue ta passagem, pOl'm indo a
dobrar outra ponta que e eguia descobriro a dua
canoiuhas da vanguarda c'inco canolas (1) de Gentio, na-
vegando para baixo mui j unto da ribanceira, e sem mos-
Irar receio se empenha vo llO ellcontro; porm apenaw
a\'i trflo a primein cana grande com incrivel ligeireza
altaro em terra e umiro a ca cas de po em que na-
vegavo, de orte que nem ra to e achoulle nada.
Do meio da en eada, passada a referida ponta se atra-
\Te sou parte direita em que bavia ribanceira mais alta,
e ha no seu ioterior ba tante Cacoae, e e foi co-
teando 110 rumo tle Su udoeste, e Oesudoeste, e ultima-
mente a Sudoeste, at chegar Ilha chamada ~falCLU1'(2)

(I) 1!:1'f10 eslas caua lia qualillutlc da que acil1liJ se dei nollCia (/lota do
aUlhor).
(2) ftfata",<,
Tanto a i Iba COlllO o rio ainda hoje consel'vo o nome.
- 302-
deh'onte da qual portaro a canoa em buma ponta ue
terra baixa, aonde no havia I'eceio de ataque, sem
embargo de que empre se pa ou a noite 'om a cau-
telas co tumadas.
Quasi defronte de ta [lha desagoa pela parte e'querda
IlUm riacho, de que a [lha tOffiL o nome, de rte
que huma e outra cousa se chama iJ'IalcL'I.ml.
o houve occa io de se lhe examinar a bal'l'a pur
e chegar de noite i ua vizinhana; ma' tlizem o
Praticos ser de menor grandeza que o rio ripoau{l Cl) jit
mencionado no dia 7, e qlle neste ~[atcLw' habito varia~
nae ele Gentio.
enseaela em qu desagoa, que he at' a pOllLa
donde ahio a canoinha, lIe uperior a enchente do
rio, e mo trava ser de boa qualidade para lavrar, por-
que o al'voredo alm de el' alto e frondo, o era limpo
da espes ura ordinaria, fIne ha na parte que alaga
o rio.
a viagem ele te dia em ete horas e meia de c:Ll1li-
nbo se andaria trez legoas.
A 10 de madrugada atl'ave' sando a. J ar'te direita 'e
navegou no rumo do Sul, l;l logo no Sudoe te CDIl! ba-
tante correllteza e depoi ele trez horas le camillbo
e avistou da part e querda huma barreira vermelha,
a que no idioma geral elo Jlldio se chama Gnarapi-
Tanga, e dilatanuo- e por hum quarto de Jegoa 'om eu
arvoredo de m:.tlavirgem de el1lboca no fim de ta ribanceira
ULU riacho cllamado ~{alcltpy, no mui audalo o, que tem
uel'ronte ela boca hnma Illla com ua praia em 11llll1a e
outra ponta, que correm ao I~s:;ueloeste. I. a. sal1a e ta Ilhn
e encoll tra na margem tlirei ta CliITW'Clt vel'melhrt seme-
lltaute la parte esquerda ma de menor extenso no
comprimento.
Continuou-se viagem at ' eis hora da tarde, e POI'-
tro a cana em huma ponta da ribanceira da parle
esquerda, e em nove noras ele caminho se andarja trez
legoas e meia, a maiOl' parte no rumo de Sudoeste.
No dia onze ao romper da manh e continuou vigem
no rumo 10 Sul e Susueste costeando a parte e, qllerda

(I) o 'oulral'io c olJs rl'il. hoje lias ral'la cio rio.


- 303-
na qual logo ~e
encontrou com uma 1'ibamcai1'a de ped/Nls,
II fronle da qual e prolongava huma Ilhe ta ao ompri-
mento do lia, por entre a qual e a margem dl'ela e
fez viagem, para alvar a correnteza que havia nas pedras
da parte e,querda: nest:t se seguia a dita ribanceira huma
dilatada en eada ele terra baixa, no meio da qual desagoa
hum grande lago chamado Manico1' (1), e a ultima ponta
da dita en eada rematava com uma feitoria da-- aco.
Defronte de ta principiava huma grande praia ou cora
de areia, que levantando-se pelo meio do J,:io ao sen
comprimento o divide em dous canae : no da parte di-
I'ela de,agoo dou Lagos pequeno, e toda a sua riban-
ceira he de terra calda., que depois de co teada ao
largo e cl1err on , ete hora da noite defronte da bo a
(10 l'io Unic01' (2 , que de agoa na margem e querda qua i
fronteiro ponta c1 huma Ilha, em cuja praia portaro
ao cana .
E. te rio nicor he medianament caudalo. o, e ua
direco he para ue te, e . e acha habHado de Gentio
bl'avo .
. este dia om dez h01 a ele caminho e andaria cinco
legoa' por s ajudar tla vla toda a tard com huma
Lrovoa.da ppa. Rumo principal ueloe te.
A ,12 c pro egllio viagem costeando a part e querda,
canal que fazia o rio entre a ribanceira e a Ilha men-
(;ionada, cuja praia da parte do u] ~e dilata por espao
rio mais de huma legoa nos rumo de Sul at Sueste por
Ioda a en,eada, no fim da qual a buscar o rumo de Su-
doe te ao principiar outra en eada se encontraro trez
llha , e por entl'e o.. eu canaes, em que havia menor
correnteza, e fez caminho at ti quatro hora, ficaro
pela ppa, e seguindo no rumo do ~ul a (indar a en eada,
portaro as ana, em uma praia, que da ponta da. en-
~cada da parte esql1erua e dilatava at meio do rio
Ne te dia em nove horas tIe caminho e andaria quatro
legoas: eu rumo principal Sudoe Le.
Dia L3. Neste dia e andou mais qne huma enseada
toda de de o rumo elo Sul para Leste at chfwar ao Nortr:
toda a en eada era de tel'l'ive correntezas.

(1\ ,lr4Ilico~. Aind hoje conserl'a o nome.


(. rT"iroTti. Actualmente chama- r Mo"icor.
- 304. -

A' part direita aminhando j o mmo d Leste princi-


piou huma ribanceira de te1'1'Cb vermelha, em quo ha."ia
huma ponta de pedras, onde corria a agoa com granele
ruria.
Dilata-se a ribanceira por espao de tl'ez quartos de legoa
ao comprimento do rio: achou-se er sua mata de ca-
tanbal e ca o. Remata em hum lago chamado pelos Inclio
Capand ('1).
He este pedao de contingente o mais capaz de fun-
dao de Alda que at aqui se havia encontrado; porque
alm da terra el' capaz de lavoura, he o rio nesta en ada
abundante de peixe e muita caa volatil e quadrupede. A
ribanceira da parte e querda qua i toda he de terra cabida.
e estava a madeira amontoada pela mal'gem em umma
quantidade.
Portaro as cana 6 hora da tarde em huma praia,
que sabe da ultima ponta da en eada da parte direita at
quasi ao meio do rio.
No dia H se principiou viagem as 6 horas da manh, 0-
teando a parte direita por hum canal entre a l'ibanceira p
huma Ilba nos rumos de Sue te, Sul, udoeste at chegai' a
Oe te: e a meia legoa de en eada e via a boca d hum
:gwrap (2), que cortando ao entro de agoa no lago, de que
se fez meno no dia ante 'edente, chamado Capand; e con-
tinuando no rumo de Oeste pelas quatro hora, da tarde
ajudou buma trovoada o remo, e portaro ilS G horas a'
eanas em huma Ilha nova: e em dez horas de caminho se
andaria quatro legoas.
Seguia-se a esta Ilhota em que ,e portou, outra de
bastante extenso, e por entre a boca qu.e huma e oulr:l
faz, se avista a ribanceira da parte e querda, em cujo lugar
teve arraial o Capito Joo de Barros da Guerra(3), quando
no anno de 17'19 foi mandado por Cabo de uma tropa a
destruir o, Gentios chamados l'orazes, os quaes habiLav~il
e tes distl'ictos, e ero de tanta ousadia que navegando 1'/0
abaixo sahio ao Amazonas, e roubavo a. cana que do
Par ahio ao cacao dos Solimes, e matavo a gente. A
guerra que lhe fez o dito Capito os deixou extinctos (II.).
(I) Capan., Hoje dizem Cupall.
(2j [galap. Pequeno corrego ou riacho,
(~ O-flor",.Este lu ar tcm nos muppus o nOl1le ue Cuirl'a, por erro.
(I, Esta, semprc foi cle ol'dillarill a sOI'tl' ria' Il'lbus IJUC flisputal'i11l com
ralenlia a conquista EUl'opa.
()ja HS. Pelas 6 horas da manh se pi'-oseguio viagem no
rumo de Oeste por hum'canal entre a terra da parte direita
e huma Ilha, que se prolongava ao comprimento do rio, e
quasi na ponta della desagoa pela margem esquar~a bum
rio chamado l'/'CLXid, que mostrava na sua direco vir do
I'umo de Leste.
Continuando a derrota do mesmo canal a quatl'o horas
de caminho se encontrou com terra mais elevada e verme"-
lha, pa sada a qual e vio desagoar hum laga chamado
Jllacoapy, em que ha huma cobra de extraordinal'ia gran-
deza, a que os Indias pelo seu idioma geral chamo-Boyd
nss-que quer dizer no nosso vulgar cobm gmnde(/l). Can-
lo os mesmos Indios deste genem de animaes couzas que
parecem incrveis, razo porque se remitte esta noticia i
curiosidade.
Passada a boca do refel'ido lago em distancia de trez
horas de caminho da mesma parte direita ficando j a re-
ferida Ilha pela ppa, e,observoJ.l sahil' huma fumaa da
margem junto agoa, e chegando ao lugal' donde havic1.
igual de fogo da cana da vanguarda, ainda foro vi tos
huns poucos de Gen~ios que o fazio, os quaes apena se
deixaro ver, 10gQ se escondero embuscando-se pela e -
pessUl'a do arvoredo.
Continuou-se a derruta, sem fazer caso da novidade,
dahi :t lluma hora de caminho portaro as canas na ponta
ne IlUma dilatada praia, que offereci huma Ilha encostada
ii margem esqtJerda, Nesse dia em oi\.o horas do caminho sr
andaria trez legoas.
Dia '16. Fazendo viagem pelo canal que havia entl'e a
len'a da parte direita e a Ilha mencionada, e continuou
ainda o rumo de 'Oeste por espao de duas horas de cami-
nho, em que finalisava ~ ponta de lnlma el'lseada, e'm meio
da qual (ja depois de passada a 1Iha) sahia huma ponta dI'
pedl'as, aonde o rio cheio costuma haver mui grande cor-
!'enteza.
A.o entrar na enseada que se seguia, andou a ~gnlha para
Oessudoeste, e pa sado pouco espao chegou ao Tumo geral
SndOeste, e nesse se pl'oseguio caminho cosleando direita
cuja ribanceira he de te?"rcli a,lta e v'Yl'melha, que ter meia

(I) lIe a serpente denominada SlIcllri'I, SIICl<J'lIfil S'icury, l'lnmes rlilTerpl1lC', e


que signilco o mesmo animal.
37
- 306.-
legoa de distancia no seu comprimento abeirando o rio,
porem no centro se dilata esta terra firme, na qual fez eu
alojamento o Capito Francisco de Melto Palheta, quando
no anno de -1723 foi despachado pelo Governo do Par a
explorar este rio da Madeira: e neste lugar (-I) se fabricaro
as canas ligeiras, em que se proseguio derrota, que foi at
chegar a SGtnta Cn~z de los Cajubabas, ou por outro nome
a Exaltao, Alda situada na margem direita do rio jJ{a-
mm', pelo qual eI!trmos deixando o ladeira a esquerda,
em que desagoa a Maruor. .
Passada a referida terra firme, em cujo lagar e fez pausa
a jantar, se proseguio caminho abeirando a ribanceira que
se seguia de tefl'a solta, que continuamente estava cahindo
e com ella algumas arvores: e com o susto que cau ava este
perigo, que se no podia evitar em razo de sei' a outra
margem sem fundo capaz de se navegar, se sahio deste tra-
balho s 6 horas da tarde, em que o rio nos offereceu huma
Ilha com sua praia, em que portr[o as canas sem o via-
jantes terem mais cuidado que o ordinario de fazerem sen-
Linella ao Gentio.
Neste dia por causa de ser ja ?naior a co?'renteza do rio
_e andaria trez legoas em nove boras de caminho.
No dia 17 se principiou viagem de madrugada costeando
a margem direita no rumQ de Sul por entre uma Ilha, que
cone na direco do rio, e depois de pas ada em breve e-
pao, dahi a meia hora de caminho se principiou a pas ar
outra Ilha j no rumo de Sudoeste, que chegada a margem
esquerda se dilata com as mesmas enseadas do rio por es-
pao de cinco horas de caminho.
No canal menor que faz o rio entre esta Ilha e a terra da
pal'te eriental, desagea um rio chamado U?,t~pwlVy(2), cuja di-
Teco no foi pos,sivel averiguar, porque o canal cheio d
baixios e correnteza no permittia pa sagem a cana grande.
este rio habita Gentio Al1..vra, e das queimadas que elle
fazio neste districto se manifestava de noite o claro do,
fogos, como se observou na deste dia e na do seguinte. Pas-
sada a referida ilha, se segue outra a huma hora de caminho
de muito maior extenso tambem encostada a parte es-

(I) He este o lugar denomnado B.tlas.


(2) lT"puny. Chama-s fllrnhrm U'r"p""".
- 307-
querda,wja exteuso 11e conforme enseadas que faz o rio,
sendo o seu rumo principal a Sudoeste. Na ponta qlla i
desta ilha (1) portaro as ca.nas com dez horas de caminllO,
em que e andaria no referido 'rumo 4- legoas, por ser j por
esta altura mui frequente a correnteza, e q'ttasi vnsttpe)'avet
a canas grandes. .
Dia 1 . Neste dia se principiou viagem costeando a refe-
rida ilha pelo brao maior do rio entre eUa e a margm
direita, e no se venceu mais ne te dia de caminl10 do que
dua en eadas, em que se andaria trez legoas por causa da
grande correnteza. O rumo principal foi Sudoe te. _Em
l10ma praia que sahia da ilha em que eHa finalisou, por~
Laro a cana, e na mesma praia se conservaro no dia 19.
Corno j por e te districto ero grandes as correnteza', e
mui frequente o baixos, que tudo difficultava a navegao
de cana grandes, se gaston todo o dia 19 em explorar a
mata da mesma ilba, e da terra da parte oriental na dili-
gencia de se achar madeiros capazes de fabricar embarca-
es ligeiras para nella se pro eguir viagem, tanto para e
vencerem os obstaculo referidos, como para o \.ran ito da
cachoeiras, para cujo tl'atalho opa' so e ia avizinhando a
derrota.
o e acharo na dita ilha tronco com capacidade da
obra que e projectava, e smente na margem oriental de
Lerra firme se acharo o precisos para o intento, porm
com o de conto de ser preci o formar o I'raial para a factura
da anas \lO mesmo contin-ente. em que de necessidade
11 avia maior ri co dos ataques do Gentio, do que poderia
succeder na ilha, aonde no co tumo invadir os viajantes,
por no terem retiro facil, depois de commettida a hostili-
dade; o que no lhes ~uccede em terra .firme, aonde mai a
'eu salvo accommettem favorecido do terreno e do 'bo -
ques em que se embl'enho, o que depois e verificou por
experieocia.
No houve outTO arbitrio se no fazer alojamento na terra
da margem oriental do rio, cuja planice por ento estava
de alagada, e para eiTeito de se entrar operao das novau
caoas pas aro a grandes no dia vinte ao amanhecer ao
itio que na parte referida se achoLl mai pl'Oprio para for-
mar alojamento, para o qual se reservou parte suffieiente
(I) E la Ilha he a denomiuada cios JUras.
- 308-
dos Indio , e a outra e destinou ao crte do tronco que
cro preci os, para delles se fabrical'em as nova embarca-
es, e com felicidade se acharo os taes madeiro na vi 'i-
nhana do alojamento, e de mais desta commodidade se
encontrou tambem a abundancia conveniente de viveres para
o sustento, assim de caa como de peixe; e s de hum lago
que se descobrio perto do arraial, houve buma tal fertili-
dade de tartarugas, que alm de ministrarem a maiDr parle
do sustento a toda a escolta, ainda delle se tiraro na des-
pedida do si~io a que bastaro para fornecimento de muito
dias de viagem.
Construindo uo dia referido e 21 o Arraial (1) cingido de
huma trincheira de estacaria, e fachina para reparo suffi-
iente de qualquer invaso dos Barbaros, se guarnecia de
noite aquella circumferencia com sentinellas, que ero trez,
para fazerem signal de qualquer movimento que se offere-
cesse, observando-se tambem o estylo ~litar de rondarem
os Olficiaes da escol,ta as ditas sentinellas para evitar algum
descuido.
Doze dias se passaro de alojamento sem nelles haver
'ignal de Gentio, at que na madrugada de trez de Novem-
bro, estando de fra da trincheira buma poro de Jndio
abrindo o ca co da cana fogo (servio que aql1ella
hora he proveitoso, em razo de no haver vento, que lJe
mui prejudicial obra) de repente se sentiro as alto, de
Gentio Mura, que favorecido do escuro e espessura do mato
uesparar:o quantidade de flexas sobre os ditos Indio , que
se achavo com suas armas, e escolta:dos pelo Sargento-Mr
Commandallte, e Ajud.ante da tropa(2).
Nesta avanada no houve offensa na nossa parte, antes
hum dos no~sos Indios teve o accordo de poder empregar
huma flexa em hum do inimigos, que' avistou em parte que
a luz do fogo lhe fez pel'ceber.
Tocou-se rebate, e pvsto todo Arraial em armas (ficando
gual'da conveniente s canas que estavo no pOL'tO). ucce-
deu que ao sahir hum Indio do seu alojamento acudindo ao
rebate, e apanhou.huma flexa por entre o osso da furcula e
o pescoo da parte esquerda, que logo o deixou sem vida,
Botou-se hum cordo d gente por fra a trincheira da

(\) Este arraial foi denonlinade de N. S. da CU>lC"o.


(~) Vide supra nota (2) li pago 294. .
- 30\}'-

parte accornmettida, e outro pelo mato com designio de e


apanbarem ao romper do dia em cerco, onde fosse castigado
o seu atrevimento: no teve effeito o projecto, porque o.
J!fufl'as carregando o seu ferido que dava grandes brados, se
acharo ja longe daquelle sitio quando aclaroll o dia.
No. houve lugar na occasio do ataque de ter e:ffeito o
u o das e piugardas, porque se no podia "er onde fazer
pontaria: cabio as tlexas, porm no se distinguia o vulto
que a impellia: cessou ainda assim a l1exaria, depois que
para aquella parte donde sahio, se disparou huma descarga
de quatro armas.
Para e continuar o "el'vio da fabrica das canas Ioi pre-
eLo dobrar as sentineUas na trincheira: e quando era ne-
llessario ir ao mato bu cal' cip, folhas, estopa, e outros
materiae, elOpre os Indios io escoltados, e s em huma
occasHio apparecero os jjJItI!/'as em hum corte ue po, porm
'orno faro vistos, e attendero disposio de armas, usa-
I'o da sua covardia retirando-se sem obrarem aco
alguma. .
Smente ele noite rodeavo ao largo do Arraial, e no se
I'e olver> mais chegar perlo da trincheira, sem embargo
que das parLas para dentl'O 11e que se abriro as mais cana
ii. fogo.
Como aos Inelios trabalhadore era ja mui custoso de dia
layrarem matleira e de uoite fazer sentinella,pareceu conve-
niente, depoL de e tarem cinco cascos de canas abertos,
que ero os precisos, mudar o Arraial para a parte mais
accommodada, em que os desvelos nocturnos fo sem de
menos trabalho; e tomada essa resoluo, se abandonou
aquelle lugar no dia ,19 de Novembro, no qual comql1atl'o
horas de caminho rio acima e elegeu huma Ilha, pequena
llom Ul praia, onde no dia 20 se armaro smente os esta-
leiros em que e acabassem as cinco canas, o que se effec-
Luou sem a meno\' perturbao de Gentio at o d'ia primeir'O
Uj:l Dezembro, em que carregando-se as novas embarcaes,
se expediro no dia seguinte de manh as canas grandes
pa~'a baixo preparadas de mantimento~, armas, e lenha para
e\T]tl' o portar em terra a cort::-I-a, com ordem os soldados
que as governavo de portarem na alda dos Abaca,xis, e
~sperarem a volta ela escolta. '
Esta no dia 3 de Dezembro pelas oito paras ~a m,Lnh
- MO-

prlDClpLOu sua derrota rio acima no rumo de Oeste, e logo


a Sudoeste rumo geral.
Costeou-se a parte esquerda, que quasi toda a ribancra
be de terra cahida, e a parte direita desagoa bum lago mui
abundante de peixe, o qual ou seja guisado com templ'os
ou as ado, no tem sabor de cousa alguma: razo porque u
lndios no idioma de sua Iingua geral lhe chamo Jenvpal'Y-
pird( 1), que no Portuguez quer dizer: lago que tern peixe elo
Diabo.
No se sabe attribuir ao certo de que procede aquella ill-
ipidez to extraordinaria. Sendo ja noite portaro a ca-
nas em buma ilha chamada de Swnto Antonio: e em oito
boras de caminho se andaria trel'i legoas nos rumo j
referidos.
Em 4 de Dezembro e proseguio viagem costeando . e -
querda uma grande enseada de terra alagada, sendo a outra
terra da margem direita ue bC(;1'7'eims vermelhas. No Hm da
dita enseada desagoa bum lago chamauo Pird-Jaccllr, de-
fronte ele cuja boca principia bllma ilba encostada parte
direita, que se dilatava at a meia enseada que se eguia.
Defl'Onte ela ponta desta enseada JJavia huma 7'estinga ele
pedms, em que havia grandissima correnteza, pas ada a
qual sendo j de noite portaro as canas na ribanceira da
parte esquerda com treze horas de caminho, em que se an-
dal'a 4 legoas nos rumos do Sul a que se principiou, e logo a
maior parte do caminbo a Sudoeste, e se portou no de Oe te.
A 5 se continuou viagem costeauelo esquerda no rumo
de Sudoeste e Sul terra alagadia; defronte desagoavo dou:
lagos de ter7'a qne no cblagava.
Passada a en eacla se seguio trez ilhas lanada a rumo
de Sueste, ao qual se navegou pelo que razia o rio, e pa -
sando a enseada se costeou direita, e entrou j de noite
por hum canal entre a terra e lluma illJa (2), e se portou na
ribanceira 8 horas da noite, e em 15 de caminlJo se all-
daro cinco legoas.
No dia 6, que succedeu ser muito tempestuoso de chuva
e vento, se continuou a navegar o canal referido no rumo
de Sudoeste e Sul seguindo-se mais duas Ilhas antecedente,
(I) Oulros eserel'em-.rUr1l]larY-]lir.
Perlo desle LuSO esleve u uldu de S. Joiio Baplista do Crato, que por 5Ua
insalubridade eXllUguio-sc em 1~2s (Awuzonus-Dicc. al'l. CraIO.)
(2) lie a i1ba LIas ]7I"has.
- 311-
e sahindo a en, eada costeando direita foi visto hum GcnLio
na ribanceira encarando o arco para disparar flexa sobre a.
gente de hama canaj porm andando mais destra a espin-
gal'da de hum soldado em ser di parada pr elle,no se sabe
ao certo se foi ou no chumbado, porm he sem duvida que
no foi mais visto.
egaio- e logo na mesma ribanceira huma ?'estinga de
pecl'ras, em que com algum trabalho foi preciso jrgar a
canas corda, e acabada esta operao por er quasi noite
portaro as canas em buma praia da Ilha que bavia no
meio do rio.
e te dja em 6 hora de caminho e andaria no dito 1'11-
mos 2 legoas.
Dia 7. Prosegllio-se viagem costeando esquerda no rumo
de \I adoe"te e Sul, e da margem direita deuagoa defronte
da ponta da en eada hum lago, e logo mai adiante hum ri-
beim de pouca entidade, e a e te e eguia outro de pouca
entidade tambem, e antes de chegar a humas bai"reiJ'as
Vtmnellws desagoavo dou Lagos tambem insignificante.
Pa ada. as referida barreiras fazia barra hum riacho cha-
mado ~[amny, que teria de boca (ao parecer) 50 braa, e
;ua cljreco mo trava er a Oeste.
Continuando a derrota da parte esquerda no rumo de
Le ue te, e a hou a terra da ribanceira mai alia, e
vi ta da agua varias igias ( maneira de fll1aritas) coberta
de palha, em que o Gentio co tl1ma regi traI' o que passa
pelo rio, e quaDdo de cobrem as sua praia, para elles sa-
hirem a peSCal'j no fim desta margem mais alta desagoa hum
lago chamado das Pi?'anhas.
Deste lugar j sobre a tarde se avistaro bumas Ilhas, por
entl'e a quaes e dividia o rio em varias canaes com buma
tal disposio, que a verdura do arvoredo representada na
Il'anquillidade das agoas offerecia aos olho o ma's agrada-
vel objecto, que at e~te passo e havia logrado. J de noite
pOl'laro as canas na praia de huma das Ilha com doze
horas de caminho, em que se andaria cinco legoa .
No (lia 8 de Dezembro, por er dedicado ao sagrado my -
teria da Conceio puri sima da Virgem Senhora, a cuja
soberana proteco haviamos dedicado o Arraial da fabrica
das canas(l),de commum accordo se desLinoua manh deste
(I) Vide supro nola (I) ii pago 308.
- 3-12-
dia a ouvir Missa s6mente, e com effeito executado estl3 pro-
jecto se fez viagem s6 de tarde DO rumo de 'Sueste e Sul, e
(,Om seis horas de caminho se andariao duas legoas.
A9 principiando viagem pelas 3 horas da manh se pas-
sou parte esquerda do rio, e foi proseguinda caminho no
rumo de Sul, e passada a primeira enseada se continuoll a
Sueste na segunda, cuja ribanceil'a era alta de terra ve1'me-
lha, e a meio barranco sahia h\lma fonte de agoa crystallina
e de bom gosto, que se despenhava at o rio: no fim de ta
terra desembocava hum lago, e defronte principiava huma
Ilha, entl'e a qual e a terra mediava canal estreito, e pa -
sando ao mais largo que era da parte direita se navegou no
rumo de Sueste, e logo ao Sul: onde portaro as cana .ia
noite na praia de buma Ilha que ha,ia no meio do I'io, Ne le
dia em -12 hOl'as de caminho e andario 4. legoa no refe-
rirlos rumos,
No dia 'lO sabindo da dita Ilha no rumo do Sul, logo se
passou ao ~udoeste, e com tl'ez horas de caminho, em que
se andaria huma legoa, . e chegou neste rumo boca do rib
chamado Gi-pal'Cli/'l,C6 pelo idioma geral dos Jndios, que em
Portuguez quel' dizer jJachado do mar.
Este Dome lhe posel'o os Indios por achal'em neste rio
huns mariscos semelhantes s Ostras, cujas conchas lhe
servio para cortar pos miudos (1).
Por ser este rio o maioi' que at este lugar se havia en-
contrado desagoar no Madeira, foi preciso fazer nelte algum
exame para se individuar, quanto fos e po ivel, a ua ui
recco, grandeza, e altura do polo em que desagoa.
Entl'~ga este rio as suas aguas ao Madeira por eutre huma
ribanceira alta: diviCle-se em dous brao por lhe dar esl:!
figura huma llha de pouca largura, porm de dilatado com-
primento, que correndo com o rumo do mesmo Gi-pal'ctlu,
dizem ser necesssario dous dias de viaO'em para a vencer.
O canal da parte de,Leste tem a largura na boca entre a
terra e a ponta da Ilha 257 val'as Portuguezas, e o da parle
de Oeste tem 177, que todas fazem IJ.34 , boca total do mes-
mo rio, o qual navegando- e paI' espao de duas hora mos-
trou ser o seu rumo Sueste, e a Leste he a sua entrada.

(I) Parece que o aulllor refere-se aos lndios da sua comitiva. que eriio cm
pade do Para, os qunes conheci.io as oslras, e pOIJii\o l"llf'I' npplirniio rlll
nome que deriO ii c le rio.
- 313-
Observou-se a altUl'a, e se achou estar a sua desemboca-
dura em 9 geos de latitude austral. Sobre a origem deste
"io se far algum discurso quando se tratar do rio J amary
que se segue.
l)elas 3 horas da tarde do mesmo dia se deixou a boca do
Gi-pal'and, e continuando derrota no rumo de Sudoeste cos-
teando a ribanceira esquerda de bGJI'1'ei1'as vermelhas as mais
altas que at este passo se havio encontrado, e sendo pre-
ciso atrave~sar o rio para buscar i praia de huma Illia en-
costaea parte occidental, se avistaro no meio do rio no
referido romo humas Serms, que representavo estar em
ba tante distancia daquelle lugar, e se averiguou serem
aqnellas, donde principiavo as Cachoeiras que de necessi-
dade, haviamos de encontrar.
PorLou-se com effeito na dita praia j de noite, e com 'I.
horas de caminho no dito rumo se andariio dua legoa .
A '11 do mesmo mez de Dezembro sahindo da referida
praia de madrugada no rumo de Sudoe te, se navegou
dil'eita, e ii. 3 horas de caminho se acllou a ribanceira que "e
costeava ser de pedrcb talhada, e logo no fim de della des-
embocava hum riacho pequeno, que foi habitao dos Gen-
tios TOl'azes, que passaro a vizinhaI' com os tlw'us, onde se
lhes deu a guel'l'a, de que j se fez meno ('I),
Defl'onte da rihanceira de pedra na margem oriental de-
sagoava hum lago de pouoa considerao.
Fazendo-se no resto do dia caminho a Oessudoeste e Oest ~
portaro as canas na ribanceira occidentaL com ,12 horas de
viagem, em que se a,ndado 4 leguas, pOl' se haverem en-
contrado neste dia {01'midaveis C01'1'entezc~s.
Dia 12. Principiou-se a navegaI' a Oeste a parte <.li rei ta,
e a huma hora de caminho se chegou a huma ribanceira de
pedl'a em que havia gl'ande con'enteza, e foi preciso retirar
e buscar a margem esquerda, que se llavegou com menos
trabalho, e seguindo ao rLlmo do Sul se achou desagoal' por
aqnella parte hum riacho de pouca entidade, e fronteira a
boca huma grande praia, que j se hia povoando de arvo-
I'edo, que em breves annos a constituir Ilha: pai' entl'e
ella e j a terra ela parte direita se pl'oseguio derl'().ta no
mesmo rumo do Sul, e antes de saiJir do canal se observou
desagoar hum riacho, no qual esteve situada a alda de
(I) Parece ser hoje o Tiacho-lar.ro'.
3R
3111 -

emto Antonio ('l),e hoj f< hamrl. al<lt\a <lr Trorano, r11~ rJne
j se fez meno.
Este riacho chama-~e Ap01viuo, e pOI' elie dizem hal'cr
boas terras para lavouras: no he camlalo 0, e a sua direco
!le para Oeste.
Logo se eguio a pa sagem de 4. illltas com uas praia (2),
por entre as quaes se dividia o rio em varios bra" os, e pelo
maior que era a partp. direita ahiro as 'anas ,'l enseada,
e rando a ponta della j noite pOrk1.r:o a cana com
onze horas de caminho, em que e andaria IJ. 1 goa. no.
di tos rumos de Oeste e Sul. '
No dia 13 ao rumo de Oe te e prinCII)IOU viagem por
entre a terra ela parte direita e huma Dha hamacla do Tll-
i'l.ma1' (3),fronteira a ella era a ribanceira da parle quertla
ele barreira vermelha, e no um dellrl. desagorl o lflgo <:l1a-
maelo tambem Tl.LWnar: passada a Ilha rleste liame, e-
gnio logo outl'a, que principia a fOl'mar em !luma I raia no
meio cio rio, por onde na, egando ao ul se a\'i tOIl ;t boca
do rio Jamary(4,),paraa qual se al.rave sauna rumol1eSllsn-
doe te, e pelas dez horas da manh e portou nella com
r,inco hora de caminho, em que e anelarF'o 3 I goas em
eorren teza.
Este rio .Tnma1'y he de maior nome no Par, elo que Ollll'O
qualquer elos qne desagoo no Madeira, e a razo ho por
qne este rio tem grande abuodancia d cacilO s:lve Irc,
.que o moradores do 1:'ar vem colher no tempo de .tal'
sasooado, jnntan 10- e para e te effeito quatro e cil co ca-
nas para encorporada re istirem a. invll e dos JhLI'ClS: e
quando no pcl hav l' e La 50 iodade, tal1a aquella colheita
se perde, exposta ao uso elos barbaras e desperd 'io dos
an i maes.
(i;ntra-se ne. te rio no rnmo ele Sue te, e depois a te.le
atr. chegar ao Nane, encami.nha-se outra '\ ez ao Su sl.e, ql10
ser provavel ter este por legitimo rumo.
Esta conjectma se fez em duas horas le aminho, em que
se (ai por elle acima logo tIue porLaro as canas.
(I) Foi o segundo Iuga.1', em ([ue esleve altlealln n populao il1dig 11~ rle
Borba.
2l f'o as ilhas Puucas. Oull'o' disem Puncam.
a Tueunar . Ainda cons l'\'lL o nOClle. Outl'OS chamo Puinarl!,
fI,iNa foz de te rio funou-se m l1!li tom de'"'r8daclos cle pOl'lngal e mo
mrlores do Rio Negro a alcta ou fI' guezia cle S. IOiio Bapli ln rlo CrAto
(Amazona -mee. ar!. Cmlo).
Virle ,'''pra nota (I) i1 pa". 310.
- 3J5 -

No tem L:tJl'rellleza de '00 iderai!u; <l:i sua agoa: .. Ju


cr sLalliua e grala a,o paladar, e peGialmeute Lio que
rwclavo habituado a agua turva do l\'Jalleira, que na: du
Gi-paraniL c agora ne. ta elo Jamary acllaro huma trem 'i-
loria re rea 'o.
Oe'arroa o '/w/1,eJ,/,Y no l\Iadeil'a om 2!J.0 vara Portuaueza~
L1e largura na ua barra, que acha em 9 griLOS e 20 mi-
nulo de levao au traI seauodo COIl tou pela ob erva u
do quadrante feita ne t dia em hori onl uem proporcio-
nadu.
r e ta oc ajo e di correu a revpeilo elas ol'igens de Le
rio e do Gi-paran, ervinelo de fundamento as noticias qu .
Ila\'o dou moradore' do lato Gro o que fazio viagem
na colla, llizendo, que pelo ramo qne leva o Madeira ao
Poente, pI' Ilmio er hum dos dous rio mencionados,
hum que om o nome de rio das Gemcla (i) tinll\ as sua ca-
heceira a Norte das do rio Cedera, que. fazia barra nu
.1fJol' (2) ,com a di [crena que o GanrUas de ne e' idade havia
de 'orlar de Lesle para Oeste e bu cal' o Madeira, a LesLe
da Scntl.nia g ral, e a Oe te da me ma cordilheira; quasi
de 'orle a Sul Gaminua\a o Galera a entrar no Apor: e o
no haver no te controver ia, lJe por e ler navegado Lodo e
Il CanclGas omenl a ua cabeceil'a.
e la lluvida e appellou para a experiencia e-xaminandu
lOlh a margem ol'jeulal com atleno at e lopal' outra
Iial'[',l ele rio, CJue igualas e om a los uous anlecedentes
IJaI"l d'LI' mai opposiLores s origen elo GwndcLs; alis con-
linuar no Gir-pamn e Jama?'y a conlingeocia referida.
A eu l mpo 'e tratar de la materia com mai individua-
ro e clareza.
Ilia H. COllli1l110U- c viagem no mesmo dia 'allindo da
bO'a du Jamary, e no rumo d Sudoesle [el:1 ullma hora c11
I.:mle se costeou il e IIuorda, e s q, lJOl'as tla ta rue indo a
I'LllllO de SulobrevierTI:Q huma tI'O oaelas grande, que
?brigaro a tomar porlo na praia de huma Ilba (3) encostada
;lmal'gem e querela, e aIli e pernoitou.
Anclario a cana pau o mais ele hllma legoa. A razo
qn hOLlve para a demora de qua i hum dia no Jamary, foi

(Il Aiudl COIIS 'l'I'a o 110 111 e .


(;l Ajlar. Ilojo diz-so CU"/'O/',
(.1 cr;'l H dOUUIUiU<1clil-.1lundibo, OU .\fu"'"hy .'
- 316-
porque alm das averiguaes que nelle se fizero, ('eque-
rero os Indios a limpeza da sua roupa, por no haver to
Gedo espel'anas de e achar agoa limpa.
o dia' oHi ao romper da manh sahindo da llha mencio-
nada no rum() de Sudoeste se pl'oseguio derrota costeando
. esquerda, e pas<:ada huma pequena enseada se entrou a
navegar outra no rumo de Sul e Sueste por entre huma
Ilha (1) e a terra, cuja ribanceira era de pedra, que finalisava
em huma restinga, em que havia g1'amde C01'renteza, e para
desvio della foi preciso passar direita; e no rumo Uf. Su-
doeste, ficando as pedras j pela ppa, se passou outra vez
esquerda a horas de meio dia; e no meio de huma pequena
enseada de terra solida desagoava hum regato, no qual logo
'entrada. esteye fundada a alda j referida do Tl'ocano(2), a
primeira vez que se desceu a sua gente do mat.o contigua a
segunda cachoeira (3), de que depois se far meno.
Neste lugar se acharo ainda bastantes limes, laranja
bicaes (l~), e outras fructas, que se produzem naguel1e lugar
desde o tempo que alli houve a dita habitao.
Daqui se buscou no rumo de Sudoeste huma Ilha gran-
de (5), passada a qual portaro as canas j noite na praia
da sua ultima ponta.
Neste dia com oito horas de caminho e anciario 3
legoas.
Dia 16. No rumo de Oe te se principiou viagem costeando
esquerda, defronte da praia desagoava da parte direila
hum rib-eL'o de pouca nota, e logo na mesma enseada hum
lago.
Proseguio-se caminho no rumo de Sudoeste em buma dila-
tada enseada,e passando direita, para livrar de gmndiss'i?na
G01'1'e1}teza, se caminhou a rumo de Oe te, e nelle se parlou
em huma praia que havia no meio dorio(6), na qual havia
immensidade de criao de Tartal'Ugas, de que se fez bas-
tante pl'ovimento: e foi a ultima fartura que offel'eceu o
~ladeira desta especie de peixe, pois a no ha dahi para
diante, em que priocipiO as Cachoeiras.

(I) He a ilha (Ias G-uaribas.

~
2! Vide ."pra nota (I) par;;. 314.
3 Parece que se devera dizer primeira cachoeira.
~ Laranja. bica.., i. e., laralljas ugridoces.
(5 Purece que se lrula da ilhu e praia L10 1'am(lIL((" 'I
(6 Vicie Dota precedente.
- 317 -

'e:te dia em o huras de caminho se aodario duas legoas


e meia nos rumo' referidos, endo o principal Sudoeste.
o dia 17 se principiou viagem no rumo de Sudoeste a
direita huma en eada, no fim da qual ao voIlar para outra
se alihou l\uma corl'enteza. to 'violenta (resulta de buma
re tinga de pedras que ali i havia), que por nenhum modo
se pde vencer: atravessou- e a parte esquerda. e vencendo-
se alguns baixos de cora de areia se navegou hum pequeno
i' pao a Oeste, e logo a Sudoeste e Sul huma mui dilatada
eo eada, no fim da qual entrando em outra a Sudoe te e
avi tou ne 'te rumo a prime'iI'a Cachoeira (oJ), e no mesmo se
Ghegou a portar junto della pelas cinco horas da tarde:
em 8 horas de caminho se andario 3Iegoa".
A ribanceira da p,nseada que ia topar na dHa Cachoeira,
he de terra alta que principia em buma PO'l1,ta de pedms da
parte esquerda.
Tem bom arvoredo, e mostl'llva. tuda poro de terra ser
0apaz de l1abitao e lavoura.
(I) Vldo supra nula (3) (l vago alU.
IJ~VE 'onelA DA' ERH.A IAS DE Q E 'PHOEDEJI AS
CACHOEIRAS DO RIQ DA MADEIRA.

Como Ila ele seI' mui preciso neste DicbI"io o fallar l' petidas
ezes na Cordilbeira d nde 1'6 ulto as Cachoeil'ClS tlo no '50
rio, pareceu conveniente antes de ntl'ar a c1 S l' veJ-as oU'e-
re ceI' neste lugar hnmaidada ex.tenso aqu lla~ SGI'I'wias,
assim pelo que constou ocularmenle no pl'ogre .0 da via-
gem nas parles, em que ou peb ua vi inban a pelo rio,
ou pela sua grande elevao mais ao entro se deixav
avistar como taml em pela inclaga;Io que se (ez do' rumu:
que traz desd a sua origem, se G unt10 noticiaro p s as
lielecUgnas,que viajaro grande parle do dilatado teneno lJue
ellas o cu po,
Ainda que en'l'e o Expo itol'es sagrados e ofTel'e:a a
fi uesto, se ex isLil'o j ou no no Mundo a Serra mon-
les, que por lodas as ql1atl'O partes cing m 'l 'ua graude
ruachina, ante do Diluvio universal; com Ludo, ou 1'0 'e
obra da creao (que ser o mais provavel), ou ele arogo d~
natureza, quando se vio opprimido o Globo com aquelh
inundao geral das aguas, empre estes giganles da terra,
que muitos chegam a compeLil' Gom tl" nU\'en , s1 objectos
digno de se at1mirar nellas a grandeza le Deus, Arti . Su-
premo das maravilllas crcadas; e a. im Lodo. 'abem pela~
hi torias antiga e moerna , sacras e profanas, o quanto o
i\!undo est povoado deste prodgios da nalur za.
E passando dos termos e:pre . i vos aos figurados, em
todas as carta Geographica, ou sejo uoiversae ou parti-
ulare , (azem os seus Autore uniformes demonstnes da
serras e montes mais celebres, que em diversas positura8
e LlilaLo pelo antigo e !lOVO Mundo.
Nesta certeza :e traLar aqui 'uruenLe das que fa.zem COll-
gruencia ao intelll.u acima e-xpressado.
- 319 -

o: JJi toria lore de melhor a eitll.6 e o G ograpllos


mai pontua de,cl'evendo delin ando a elebr ordi-
Iheil'a los Aneles, lhe ouferem a largaL ima extenso que
Ila de de o E treito ~Jagalhanico ,t a 1 ova He panlla, di -
cOITendo por toda a costa de Cbili, Peru e I tbmo de Pa-
nam, cuja va ta direco comprel1ende mais de mil leg as
c1 lerreno; certifieanc10 ser a ua elevao em parle to
exc ssiva, que dizem no a podem ,uperal' com o voo a
mais ligeiras ave, '
A. e ta muralha Levanl.aa pela natur'za como para de-
fend r a lerra das inva es do grande mar uo Sul, e qu dos
imped rnido r til' da ua agilTantada e tatura e de en-
Iranllo os lhe ourus de omo e prata, que faz a: opnlen ia~,
lIa. lndia cidenlae:, qu enriquece a l\l nar 11ia Ca 'te-
lhana, Ci lTe ponde outra Cordilheira no mell avullalla
na granrleza, nom meno a.bulluanle precio o melae. e
pedra ljnissjma., brilhanl adorno com que s esmalta a
cal Coroa da ~lage 'hde uglUa Porlllguoza, qne fazeno
frenle ao mar do orLe co'teando todo o Bl'azil (lesde a Ca-
piLania ele Cear,caminlland a Sul faz o Cabo de aula fa-
ria, Pr montario lue termina a ponta Sl'ptentrional, por onde
l1c'embo a. o lTraude ]lia [leb Pmtu !lO mal' do Paraguay.
E'la direco traz a errania, quando lU altura de 23
ITro da latitude auslrallogo o uI da villa de Santo, lana
oull'a c nlilll ira. de de o lllgar chamado el'l'Cb elo Jfw', que
prn Irando o, rto em val'i . rumo' e ra.mUlca por louo
continenle da :\Jinas Geraes e Goyazes.
N:l vi inhana ela cidade de S. 'Paulo priocil ia e'ta Ser-
rania a f rtilisar a lerra com opiosa, agoa" dando (entre
ontro muitos) nHscimento do Rio GI'Ctnete nomeado na car-
Ias e traogeil'a~ PUl'and, o qnal caminhiwdo a Oe l,e junta
com o Paraguay, n:o sem alguma competoncia no di putar
a IH'ima ia de mare geral daquellas ilmen :18 aguas: om
ludo elle perde o nome no Paraguay em altura ele.... gros
de ele, ao an traI.
r a me ma errania tem suas orig n o (amoso Rio ele ,
Fl'eme 'SGO, que recolhendo em si as rrgnas de outl' mui-
los rios, que tem ~uas fonles na IU.esma ordilh ira, di- orre
com bum meio circulo ao orte, e e ente ga ao Oceano
Ikaziliense entre o Cabo ele Santo Ago tinho, e a cidade da
Rahia em altura de .. ,'
I~inalmenle d pois qLle uesta Cordilhel'a nasce no distl'j lo
- 320-

de Goyazes o celebre -rio Tacantitns, que se engrossa com


grande numero de riachos vertentes da mesma Serrania, se
encaminha esta ao rumo de Oeste, e como se fosse huma
baliza terminante dos dominios que pago fluido tributo ao
Oceano, reparte em distancia de mais de duzentas legoas
as agoas em caudalosos rios, huns que busco no mmo do
Norte terminar seu curso no celebre e grande rio das Ama-
zonas, e outro para o Sul a fazer o R-io da Prata ou Para-
g'l.~ay como se dar noticia individual em lugar mais op-
portuno,
No referido rumo de Oeste, fazendo varias meio circu-
las de montanha , e lanando muitos -braos para o Sul
(no consta que tambem para o arte) se vai dilatando a
serrania at finalisal'em os Campos Parcizes(l) , que deixa dll
paIte do Norte parallelos s fontes dos rios Madeira e ;ra-
huru, como adiante se far mais distincta meno; e bll-
cando a margem do mesmo Madeira, deixando o rumo de
Oeste, acompanha este rio no de Oesnoroeste por e pao de
mais de cento e oitenta legoas; e voltando com o mesmo rio
para o Nordeste por espao de sessenta legoas forma as
Cachoeiras, que adiante de descrevem, at que na altura
de 9 gros de latitude austral, em que deixa as primeil'a :
busca o rumo de Oeste, em cuja dil'eco se perde devi la;
e ser provavel se ir unir com as serras do Peru, que fa-
zem a mencionada cordilheira dos Andes.
A immensidade de Naes genlilicas, que habit. a fra-
gosidade da parte superior e inferior destas Serranias com
mais inclinao sociedade das fras que allo:> homenc:,
pede um Tratado particular', que faria grande volume para
se noticiar ao Mundo a muita parte que ainda ha daquelle
infeliz Pagani mo, do qual ne~le Diario se far memoria
breve, onde fr conveniente, como tambem da abundanCia
de riquezas, de que nesla Senania tem havido descobri-
mentos, os quaes ainda se e pera continuem nas parle.,
em que a me ma Cordilheira he mais oc idental no di.-
tricto de que tratamos,
Com o nome de COI dilhe'(' (tas G,waes ou CJwpnda
grande se appellida e ta Serrania pelos mOI'adores do Cl1ya-
b e Mato Grosso, e de huma II Ol1tl'a denominao. e uS:lr
no progresso deste Diario_
- - - - - - - - - - - - ----------
I() Vide ."pra nota (I) 11 IJag. 282.
DE CREVE f.- E AS CACHOEIRAS DO RIO DA MADElRA
PRIi CrPIADA A PASSAR
O DIA 18 DE DEZEMBRO DE i749.

Prhlleh'a Caaelaoej ra.

Chegando no dia 17 de Dezembro pela 4 hora da tarde


ii. vi inhana da cachoeira chamada pelos Indio 1'oaya,
pelo Portuguezes de . .JDo (1), e mandaro o~ lndio mai
experimentado em huma cana a examinai' qual do ca-
ne que [azia o rio por entre mOl'm de pedl'a" eria mai
capaz ele e podei' passar com menos perigo: e pela infor-
mao que dero, se averiguou seI' conveniente puxar a
cana pela maraem e quel'da, e no pela direita, pOl'qu
pelo meio era impl'aticavel; e da mesma ol'te pel3. pal'te
llireila e fazia igualmente pedgoso, em razo de ter j o
rio principiado a enchei', e de canegar por aqnella margem
maior pezo de correnteza do que pela e quel'da: concordado
e te pareceI' se empl'ehendeu no dia eO'llint a pa aaem,
que foi com tl'abalho, ma feliz ucces o.
De de que e entrou a navegar o rio da Madeim a e te
lugar da pl'meira Cachoeil'a, e achou serem amba a
margens alagadias, que no mezes de cheia se inundo
lodo o anno em distancia de huma e dua legoa, para
o centl'O de cada parte con[orme a quantidade de agoa que
chove nos invernos, que 11llJl so mai opio o do qu ou-
tl'O , donde re uUa a immen idade de lago:;, que na va ante
do rio fico pai' ambas a margens, de orte que ando l'ara
a parte em que a ten'a e 10\ anta mai' do ordinario (que
nunca cllega a mo lI'ar huma I eroa de riban eira alta) flm-
pl'e e acho c la pequenas dis tan .ia ercada d lago', lU
~rma que mai par em ilha do que t. ITa flrlUe' por' m
mdo-se avi iollando pl'imeil'a achoeil'a ja a riban' ira
, ,411(011,'0,
39
- 32:l -

alta corresponde com o centro, e no d lugar a inunda-


es, e nesta parte pdncipio as serras da C01'dilhevteb gemI
a quem navega rio acima; e finalizo aos que rodo para
baixo. E estas mesma Serras so as que se havio avistado.
Estas Serras se dilato por huma e outra margem a va-
rias rumos, e por entre eBas faz caminho o rio Madeira;
e como sejo compostas de morraria de pedra, assim mesmo
offerecem as suas extremidades a correnteza do rio, de ma-
neira que na primeira Cachoeira se observou fazer a Lerra
huma pequena enseada da parte oriental composta de mor-
ros de pedra, os quaes atrave ando o rio formo nelle
duas Ilhas, huma dellas maior e com arvoredo alto em di -
tancia de 200 braas da terra firme ela banda esquerda, e
outra menor e quasi escalvada, que se oppe ao meio ela
correnteza do rio.
Da parte occidental principia huma dilatada en eada, e
na p0J:!.ta opposta oriental ha semelhante pedraria da
mesma qualidade e positura que a j referida.
Por entre as duas llhas e as duas pontas de terl'a firme
rompe a correnteza elo rio ofi'erecendo vista hum especta-
culo igualmente formidavel e alegre; porque attendenclo
valentia, com que a agoa para atropelar os impedimento
que se lhe oppem em parte, se precipita dos penedo , e a-
hindo por entre outros j despedaados, vai formando em
diversos gyros vados phenomenos em rodomoiohos e ferve-
douros, at socegar em remansos mui quietos nas enseadas,
em cuja tranquillidade se est debuxando o arvoredo sempre
vioso da margen.
Tudo junto d assumpto contemplao para o recreio;
porm offerece aos Viajant~s hornveis objectos para o
temor.
Nestes teI'mo trez so os Canaes que e acho nesta ca-
choeira: pelo do meio ainda ninguem pas ou, nem pd
sem acabar infallivelmeote na emprezaj pelo da parte di-
reita (i) em tempo de secca vai qualquer cana sem perigo:
porm em tomando o rio as primeiras enchentes, no resta
mais que o canal da parte esquerda, que em tempo secco
no tem agoa, e ainda na fora de toda a cheia he por onde
melhor se pde navegar.
(I) Parte direita.
Cll.mpre notar que a parle assim denominada he II esqllerda seguindo a correnle
dOl'Jo.
- 323-
No tempo presente, como era principio das pl'imeira
agoas, j. neste canal havia a que bastava para se puxarem
as canoas; o que se executou no dia 18 depois de celebrar-
se Missa em obsequio da Senhora do O' cuja festividade ce-
lebrava a Igreja.
Dous puxadouros se offerecio pela parte referida, ambos
pOl'entre pedras, porm com a differena que pelo primeiro
podio ir as canas carregadas levadas sirga com grande
uidado; o que se venceu com 4, horas de trabalho; e che-
gando ahum remanso junto ao outro puxadoura se descar-
regaro as embarcaes, e conduzidas as cargas por cima
de pGclral'ia em distancia de 200 braas se deixaro em parte
conveniente, aonde j sem perigo havio de embarcar.
Feito e te servio se entrou na diligencia de transpor-
Lar as canas pelo ultimo resto do canal, que era a que-
bl'ada de hum morro, por onde sabia agoa em altura de
dous palmos com pouca correnteza, e teria de di tancia 30
braas; para o que foi preciso fazer estivas de madeira para
salvar as canas de alguma ruina, que lhe podia succedel'
nas pontas das pedras, que ainda no estavo cobertas.
Com esta preveno se puxaro as canas com bom suc-
ce so, e ficaro por toda a tarde transportadas a lugar
seguro j livre dos perigos deste primeiro impedimento, e
cada huma com a carga que lhe pertencia para no dia se-
guinte fazerem viagem.
AH} j dia claro se principiou viagem pelo reman o, que
havia entre o resto da Ilha e a terra firme da .parte es-
querda do rumo de Oesnoroeste, e em menos de meia hora
costeando a Oeste se avistou a Cachoeira pela pa,rte de cima
em que mostrava o primeiro principias da agoa qU,e
cahia entre duas Ilhas, e o canal da parte direita, que na
vel'dade fazia muito mais funesta represeutao do que a
j referida.
Costeando a mesma margem esquerda se acharo a huma
hora de caminho indo no rumo de Oesudoeste encostados
ti terra dous morros de pedra, hum dos quaes formava
huma ilha, e delJa se prolongavo pedras at meio rio,
onde fazia ba,slanle cor1'enleza, que se venceu a remo;
e a no estarem ja as pedras no meio bem cobertas
de agoa haveria aqui novo trabalho como de cachoeira.
Desta parte se atravessou direita, costeando a qual se
topou ainda vista do morro antecedente outro mui seme-
324 -

lbante, menos em formal' ilha, porm maior correnteza,


que se no pde vadear seno a corda e com algum
perigo: neste lugar havia na terra firme muitas arvo-
res de caco fructifero e j quasi sasonado, e muito cas-
tanhal (1),e outras arvores ele fructas do mato,que os Indio
comem.
. Vencido este passo, se principiou a ouvir o estrondo das
agoas da celebre cachoeira chamada Gamon(2) , e costeando
a mesma parte direita nos rumos de Sudoeste e Sul, le-
va ndo j por guia o ruido das referidas agoas se avistou
na volta do Susueste aquelle promontorio de agoa, que
se despenhava por toda a largura do rio, e no mesmo
rumo chegamos a elJa pelas 4, horas da tarde: e em seL
horas de caminho se andario 3 legoas desele a primeira ca-
choeira at esta segunda.
Sell;nnllR (;ftellOeh'a.

Da parte oriental e occielental forma o rio duas en eadas


correspondendo huma a outra, de sorte que parece se recha
o rio em hum circulo igualando as pontas de cima fron-
teiras huma a outra no rumo de Noroeste e Sueste.
Ambas estas pontas se formo cada huma ele hum morro
de pedra solida, e se communico ambas; fazendo como
buma muralha desmant~lada, por c.ujas ruinas precipitan-
do-se a agoa do rio com furiosa violencia resulta hum es-
pantoso csl1'o,/,/,do (3), que a haver nas suas margens povoa-
es seria provavel padecerem seus habitantes surdez,
que dizem succede aos que vivem junto das catadupas do
Nilo.
Neste impedimento que acha o rio, e rompe com to fu-
(I) Castanhal.
O l'orluguezes dero Onome tle Castanha li amondoa quo se encontra no ou
rio da frueta cluJ.l1lacla pelos Indios - rllcary.
Este ourio hosomolhanlo ao da Sapucaia, po la que menoro mono' angulo o;
e contm de ordinario tle 20 0130 amendoas ou castanhas.
EIll~larallho heeonbecitla pelo nome de Castanha da l'ar, e em l'ortugal por
Caslallha do Marallho.
!le mui oleosa e tem agradavel sabor.
(2) Chamava-se esta CachOeira-Gamon, e depois 50110 do ThoOIOllio, tio nome do
1.0 Juiz de Fl'a do Malto GI'05 o Theolonio da Silva Gusmo, que, diz l'izarrO,
fUlldra ali um povoado, em brel'e abamlonado; creando-~e posteTiormente ou-
Lro sob a denominao d~ S. Lui: do 50110 do Tiloutonio. .
Parece que laes povoados pouco duraro, ou no passllro de projectos, VI to
como delles smente dii noticia este nulhoJ' (PizarJ'o - Momorias to. 9 pug. 12~
nota 43).
(3) Depois da ll(' Paulo AO'onso he esta a mais importante Cachoeira ou call
dupa do llrazil.
- 325-
I'ioso e lrepito, no ha caminho algum para os homens
vencerem e te pas o por canaes ou remansos; porque este
no os ha junto pedra, e aquelles se no percebem por
que entre a quebrada dos rochedo tudo o fervedouro
de agoa, que apena e chegou a elle qualquer tronco por
ol'pulenl.o que seja, em hum instante o sane, e com bre-
vidade o expelle e logo torna a umir, at que dahi a
tempo o lana em rodomoinhos de agoa, em que anda de-
tido em gyro por muito dias at haver maior enchente,
qoe lbe faa caminho para subir daquella repre alia. De
huma e outra ponta poder ba,er de longitude e de lati-
tude de agoa precipitada duzenla e cincoenla braa.
A aILura da queda em parte mostrava nesta occajb
em que j crescia o rio, er no mais aILo at 1.6 braa, fa-
zendo de longe a e LmaLiva.
Como a furiosa cOlTenteza, que de pede da quedas ql1e
do a agoas pelos rochedo., enco ta a parte direita do rio
porque topa com huma Ilha e praia que no meio da en-
eada se lhe oppe, e d pa sagem ao maior peso de agoa
elltre a terra da mesma parte direita e a Ilha tomaro a
caOa o caminho d margem esquerda, e portaro em
buma en eada pequena, donde como era inutil a diligencia
de explorar canaes, se de carregaro de tudo e depoi de
transportados o mantimento e Ira les por terra rodeando
o morro por e pao de 600 braa' e puxa ro pelo mesmo
I

caminho a cana por terra obi'e estiva de madeiros, em


cujo trabalho se ga tau dous dia~; e porque alguma ca-
noa. se desconjuntaro no puxadoura, em que havia huma
elevao de terra donde foi preci O maior impul o para
a mover, e ga tau outro dia para a refazer do damno,
dando o mato i inho e topa cm hum po chamado Jace-
pOCayCb (1), e se lhe tira entre a casca e tronco e s com o
pequeno benellcio de desfiai' aqnella como membrana e en-

(I) Seni 11llrVOre que llii o Tucary ou Caslanha do Parl'? Pizarro l1a nota np!"a ci-
lada diz, que ela ca cu rle 'In arvore e exlruhe eslopn para ralaJeto lia c!lnua~, o
lambem o confil"ma Banu no /Susaio CorogroviLico, pllg. 3Q, que ali 11ao diZ IJ
Homo indgena do Caslauh.iro.
Enlrc!a.l1lo, ii pag ~G <lo me mo Eusaio, clrama II Ilrvore' ete que l~atu o lc.\lo
IlJ.lsapocaia, expressundo-se nestc lermos:
Arvore do I"io Mndcira entre cujll ceme en cu e lhe exlrah uma como
Illembrnnn, aluai lIesflalh e enxuta he uma e lopa, boa pllra calafelar. Ser v
IllmlJem partI fazer lixa a l'r ele anil.
~~ sell1ellll~na do nomo tle tuan'ore e com o lia e S~pufJOJa, 1;0111 as. outra' pro~
Illlellalles, laz-nos c.rcrquo he olla o Casla"''''ro do Para. Vide .s"pra II lIota (I) ii
pago 32'1.
- 326-
xugar o desfiado fica capaz do ministerio a que se applica,
e de outro po chamado Cuma( 1) e tirou osueco que ervio
para brear, he ainda melhor material que o mesmo breu
para estancar as costuras, que se calafetaro com a referida
estopa,
A terra contigua ao morro da parte direita que lana a
penedia de que se frma a Cachoeira, 11e de elevao de
serra, e assim vai correndo para o centro, e a extremidlda
della acaba na ponta do oroeste em qne fecha a Ca-
choeira.
Na ribanceira da enseada da parte direita ante~ e depoi
de passada a Cachoeira ha Iluma qucLtidcLcle de te/'ra de to
extravagante qualidade (2),que della unicamente se ustento
os animaes quadrupedes e volateis que habito pOl' aquel-
les bosques, de sorte que as Anta, Javalis, Veados, e ou-
tros animaes deste genero, e os Papagaio., Arras, lutuo,
e outros desta especie, que se apanho para sustento do'
viajantes, no se lhe acha nos buxos e papos outra couza
que manifeste a sua nutrio mais do que a referida terra,
e nella se acho Gomendo muita vezes os animaes, e j he
conhecida esta qualidade de te 1'1' a pelas cova que deixo
os que della se mantem.
O gosto desta qualidade de caa he mais insipido tlo que
ordinariamente tem,a que se sustenta de plantas e fructa do
mato.
O peixe desde que se entrou nas Cachoeiras he de muito
melhor sabor do que aquelle, que se pesc.ava antes de che-
ga r a este clistricto.
Smente a agoa he ainda mais barrenta pelas Cachoeira
do que antes de chegar a ellas; e para se beber em e -
crupulo de que os intestinos se reformem de barro, he
preciso nas vasilhas em que se toma agoa lanar-lhe huma
poro de pedra bume, a qual tem a virtnde de fazer pre-
cipitar todo o lodo por subtilissimo que seja, e deixa a agoa
clara, a qual assim bebida he de muito bom go to; porm
sempre lhe fica a qualidade de pouco diuretica.
Acba-se esta Cachoeira na altura de 9 gros e 1.0 minuto
ao Sul da equinocial(3), e no se tomou a altura nap1'inneil'a
(I) Cuma. :r;iio sabemo e he e la a me ma arvore que d o bren em outra
parle do Amazonas. Vide llana-Ens. Cor. pago 42. .
(2) lleesle Ounico aulhol' tiO nosso conh l:lInenlo que d noticia de Wo sin-
gular alimentao, que bemluerecia um l\clu'l\clO exame.
(3) Pizarro na no la supra cilada diz que esl em 80 52!
- 327-
Cachoeira por no haver horisonte capaz para se fazer ob-
senaes com o quadrante.
A23 se principiou viagem costeando a parte esquerda no
rumo de Sudoeste, e nelle com pouco mais de huma hora
de caminho se achou haver huma Cachoeira j quasi co-
bertas as pedras de que se compe; razo porque foi facil o
vadeal-a, e se acbaro canaes parte direita e esquerda,
por onde com pouco trabalho se puxaro as canas corda.
Da margem esquerda do rio sahe neste lugar huma ponta
de pedra, que se dilata formando varios morros at atra-
vessar o rio parte direil~, que tem trez ilbas formadas
da me ma pedra, que tem bastante arvoredo sylve tre, e
por entre e ta ilba' e a terra firme se navegou na frma
referida por espao de meia hora no rumo do Sul e Su ueste:
e indo j remo costeando a enseada se tomou ao Sul e
u udoe tej e no fim da enseada se acba huma illla cercada
de pedra em partes de figura quasi redonda no meio do rio,
e offerece pas agem por entre ella e a terra firme de buma
e outra parte sem correnteza nem trabalho.
Pa ada a ilha e continuou viagem virando a ponta da
enseada ao rumo de Oe sudoe te, e costeando a Oeste se
achou ser a ribanceira, que principiava na referida ponta,
huma pa?'ede de pedra talhacla pmmo de bastante altu-
ra, e logo buma correnteza grande procedida de humas
pedl'as, que da me ma margem ahio at o meio do rio,
e se passou sirgando corda com pouco trabalho.
Seguindo o me mo rumo de Oeste, e passando a Sudoeste
costeando a mesma parte direita se topou com huma Ca-
choeil'a emelhante a antecedente compo ta de varias ilh-
tas l'Odeadas de pedras, que e dilatavo de huma a outra
parte do rio quasi oroeste e Suestej e como a agoa cobria
j. grande parte das pedras, nos deu pa.sagem entre a terra
firme da parte direita de huma ilhta sirgando com pouco
trabalho, e o mesmo succedeu s ontras canas da conserva
que tomaro a parte esquerda; com que se veio no conhe-
cimento de que tanto a pre ente Cachoeira e a antecedente,
t~m pa sagem com facilidade por buma e outra parte do
1'10 entre a sua ribanceira e os pendos. .
Daqui se foi costeando no me mo rumo at huma en-
seada pequena, em que j noite portaro a canas da
mesma parte direita, e em 9 horas de caminho se andario
trez legoa .
- 328-
Tereel.-",Caeltoeira.

No dia 24 se principiou viagem no rumo de Oessudoe te


atravessando a parte esquerda para livrar de hum a cor-
renteza que havia passado a ponta da pequena enseada, em
que se pernoitou, procedida de humas pedras, que em pe-
quena distancia de terra !1Pparecio fMa da agoa; porm
. costeando ao rumo Sudoeste huma mediana volta, ~e topou
no meio della com pouco mais de hora e meia de caminho
com huma ponta de pedras, que se esteuclia at quasi meio
rio, em que havia grande corroenteza, a qual e passou
sirga; e costeando no mesmo rumo por espao de hora e
meia chegamos a cachoeira chamada pelo idioma elos ln-
dias.. .... e presentemente respei tando a celebridade cio
Christo Senhor nosso se appelliclou cachoeira do N(~lat (1).
Em trez horas de caminho se andaria buma legoa.
Consta esta cachoeira de dnas illlas de pedra com arvo-
redo espesso, que ambas atravesso o rio no rumo ele No-
roeste e Sueste; das ribanceiras oriental e occidental cor-
respondentes a estas illlas sabe quantidade de pedraria, que
occupa hum c outro canal entre as ilhas e a tetTa firme:
razo porque se orrerece gl'aode difficnldade da pa sagem
ele qualquer delles em rio que no esteja cheio.
O espaco que medeia eotl'e huma e OLlll'a Tlua tam-
bem he povoado de penedia, por onde se precipita o
rio com a maiol' fOl'a de sua correnteza; e por e ta
causa he intratavel a subida ou descida por semelhante
parte.
Nestes termos tendo vista hum obj ecLo, que pai' todos
os lados parecia fOl'midavel, noticial'o os Pl'aticos que
parte esquerda he que costumava haver passagem mais fa-
voravel, e 'nesta considerao se expediro os guias a exa-
minar o canal, que com efreiLo se achou em termos de se
passarem as canas em meia carga, por no estarem ainda
de todo bem cobertas as pedras paI' onde se offerecia
caminho.
Descarregadas as canas na forma refel'ida se executou
o transporte dellas, e por todo aquelle dia ficaro da outra
parte da cachoeira, cada buma com a carga que lhe to-
cava; com o que se veneeu huma grande correnteza, que

(1) Hoje se chama-Morri/lhos.


- 3,29. -

I'e. ta a na en eada: e concluda portaeo as canas na ri-


banceira da parte esquerda; e logo que amanheceu se bus-
cou lugar accommodado para celebraI' Mis a, e no se offe-
receu outro mais apto e a proposito, do que huma pe-
quena praia que havia na ilha. da parte do Noroeste, j
alva a cachoeira, e para aqueUe lugar se atravessou o rio
no dia 2t:i pela manh at o sito mencionado, em que se
ouviro as trez lssas permittidas na celebridade do sa-
grado ascimento de Nosso Senhor JES S. CHHIS'fO.
este dia 25 pela trez hora da tarde se continuou via-
gem atl'aYes ando parte e querda, e costeando a rumo de
Oe"le Oes udoesle, e udoeste, foi preciso com trez hora
de caminho atravessar parte direita a porlar em huma
pequena praia; o que e executou j de noite: e e andaria
nas dita teez horas legoa e meia.
A26 depoi de e ouvie i\'lis a se principiou 'Viagem tt
ete hora no rumo de Susueloeste atrave ando parte es-
querda, e costeando ao Sul entre huma grande ilha e a
ten'a, se navegou outra vez ao Sudoeste at cl16gar a buma
ponta de pedra em que principia a huma dilatada en eaela,na
qual e encontraro trez Ilha que cOl'l'io 'tO comprimento
do rio('l), por entre a. quaes havia grande cO/Tente a, a qual
e embravecia em partes onde nas pontas da me ma Ilhas
topavo pedra j e sem embargo de te embarao. e portOl!
ja noite e!ll huma praia no meio do Rio contigua ultima
da ditas tl'ez Ilha, e em dez hora de camillho ~e avana.-
ria deUe 4 legoas. .
o dia 27 se continuou viagem atraves anelo parte di-
reita do Rio; e no rumo ele Oeste se foi costeando por e~pa.o
de hllma hora, e depois se navegou a Oesnoro6lst , e logo
outra vez a Oe te, e de te rumo e foi pa san lo m breve
e pao ao do udoeste e Susu 10e te: e nesta volla e avis-
laro huma Serras a.ltas, que mo travo correI' de Le te a
Oeste, na ponta de buma das quac e achava a ca hoeira
pal'a onde se dirigia a derrota, na qual e pas aro duas
llbas, huma da parte direita do Rio que se prolonaa.v<l ao
meio delle, e outra parte e querda junto terra e corria
com a volla da en eadaj e continuando esta]lO mesmo 1'1lmO
de Sudoste se avistou a quarta cachoeira, e portaro as

(I) ChnmilO- e eBtns ilhas ne Jacipa..


- 330-
canas parte esquerda j noite em huma pequena praia
junto ribanceira; e em dez horas de caminho se andario
neste dia ~, legoas.
Quarta Caelloeh'a

Chegou o dia 28, e depois de se celebrar Missa se costeou


a parte direita huma pequena enseada ao Sudoeste, e a
ponta em que tel'minava se compunha de pedl'as, que avan-
avoat o meio do rio, por entre as quaes se navegou com
bastante trabalho contra huma gl'ande correnteza que
havia neste lugal'; e logo que se voltou a ponta portaro a
canas junto cachoeira chamada pelo idioma dos Inclio
Gt~a?'-ass"que quel' dizeI' GL~a?'C, grande (Guar hehum pas-
saro do tamanho de huma gaivota(1),e todas as pena de.e
veste so de cr escarlate mui vjvo),e alli Re esperou o exame
dos canaes para saber-se pOI' qual eramais convenien te passar,
Compunha-se esta Cachoeira (2)de hum labyrintho de Ilhas
cercadas de manaria de pedl'as, que atravesso o rio de
huma a outra parte TIO rumo ue oroeste e Sueste, em dis-
tancia de quasi meia legoa, que tanta largura faz o rio na-
queIle lugar, porque f6rma duas enseadas ou babia de am-
bas as partes correspondentes na concavidade.
Quatro Ilhas tem a sua positul'a ao comprimento do rio,
que fazio frent> a immensidade de outl'as mais pequenas
que mediavo uo. vos, eguinelo o mesmo rumo em di -
tancia de qua i trez qUlll'tO ela legoa em latitude todas de
rocha viva, em cujas superioridades produzem arvoredo e1'-
rado e summamente acrreste.
Todas ramifico de si tanta copia de penedos, que no
tem o rio desafogo algum, mai do que por entre immensi-
dade de pedras fa.zer varias precipicio , e deste resultarem
rodomoinhos de agoa que costwno ser sumidouros ele tudo
o que nelles se mete, ou seja cana, po, ou outro qualquer
corpo capaz de padecer a desgraa de ser levado ao fundo
com incrivel violencia.
E m tempo que o rio est de meia enchente, e at esta
ser completa, que estejo muitas pedras, ou todas cobertas
no canal entre a terra do Sudoeste e da Ilha immediata, ha
(I) o auUlOr parece que noinlerprelou bem o nome indigena desta Cachoejr~,
confundlOc!o o paSsaro que VIVO na costa com o ciio silvestre ou lobo amerJ-
ano, q1.!e em razo do pello avermelhuclo 'tom o mosmo nome de CIla,'d.
(2) HOJe se chama Caldeiriio do ["{.... IO.
- 331-
por este lugar sufficiente passagem; porm na occasio pre-
ente em que a agua principiava a crescer, tudo por esta
parte ero precipicios de agoa e orvedouros.
Pelo canaes do meio no havia que tratal' por er mais
formidavel a sahida das agoas com a violencia de toda a cor-
renteza: razo porque se buscou o recurso ele se explorar o
canal da parte do Noroeste, e nelle costeando a Ilha conti-
gua ,e acbou passagem, mas a mais trabalhosa que at este
Jugar se havia experimentado.
Trez so os canaes que por entre as quatro Ilbas fazem
pas agem no rio com a violencia mencionada; porm como
em di tancia de 50 braas pouco maj ou menos e lhe
oppe buma Ilha de pedras que atrave .a o rio no mesmo
l'llmo de Noroe te e udoe te, nella quebro a agoa a sua
flu'ia com que rompem por entre os penclos elos canaes
referido, e pela parte inferior da me ma Ilha faz agoa hum
'ocegado remanso, pelo qual atrave,saro as caoa parte
do Noroe te; e costeando a Ilha que 'OlTe ao comprimento
do rio, se acharo neJla dua pontas de morro ele pedras,
por entre as quaes se puxaro as cana , em cujo servio se
ga tou a tarde do dia 28, e alli se esperou o seguinte para
continuar a pa sagem de maior perigo.
No dia 29 se navegou pelos reman o que mediavo entre
a correnteza ela terra firme e da Ilba, e e intentou a pa -
sagem de huma ponta ele pedras, que havia em outra Ilha
rronteirrt mencionada, por onde se podio puxar as canas
em meia cargf\, de te se p.assava a hum remanso mui dila-
tado, que mediava entre este lugar e outras Ilhas ela -parte
de cima, e por elle se podia passar sem perigo . outra
margem do rio a vencer oultimo salto que nella se offerecia,
porm ao varar a primeira cana em meia carga havendo
lle 'onlem nos Indios em puxar pelas corela sem que os
manda sem, pois ainda no estava de viada de huma pedra
em que fazia o maior cacho de agoa, e fizero voltar com
impul ointempestivo de pra em cima da peLlI'a, e logo in-
clinando o todo para a parte da corren teza se encheu
de agoa, de sorte que no houvero foras para a sus-
tentar. .
Largaro-se as cordas, e em hum instante Jevou a corren-
teza a cana at hum remanso que fazia detraz de outra
llha, onde com toda a diligencia se achou aboiada, rebocoll-
se pal'a terra, descarregou-se, e desagou-se, sem nella ha-
- 332-
ver mai perda, que molhar-se o trem que neDa havia em-
barcado, e a razo de er este successo meno funesto do
que podia acontecer !la perda de tudo foi ser a cana (como
tambem ero as mai ) fabricada de po que no vai ao fundo
em emelbaotes acaso .
Por occa 'io desta desordem foi preciso demorar o dia ao
e 31 para se enxugar roupas, e beneficiar os manUmentos
que e havio molhado, e no dia 1 de Janeiro do novo
anno' de 17f>O, se mudou de derrota p.assando outra vez
Ilha, que no dia 29 e havia costeado, e de carregando de
tudo a canas passaro corda duas pontas de pedra; em
ujo trabalho se gastou at' s q. horas da tarde, tempo em
qne pelo remanso que havia entre o gro. o do Cachoeira e
as ultimas TllJas de pedra e atrave.. ou a parle oriental do
rio, e ficaro portadas as cana junto do ultimo impedi-
mento de ta cachoeira, que era hum canal entre morraria
de pedra que sahia da terra firme, e outro semelhante pro-
montorio, que se communicava de huma das Ilhas em que
se finalisava o labyrintho das que compunho esta traba-
lhosa cachoeira.
Chegando o dia 2 se descarregaro de todo as canoas, e
com bom succe so se puxaro por cima das pedras mal co-
bet'la do canal, onde foi preci o fazer estivas de madeiras
grossas para evitar o damno que podia. resultar da pedra',
e para suavisar huma pequena elevao que elIa fazio em
distancia de cinco braa.
Transportadas as canas, e j carregadas ele outra I arle
da Cachoeira se entl'OU a navegar pelas duas horas da tarde
do mesmo dia costeando a terra da mesma parte oriental.
Desde a primeira passagem at esta ultima haver meia
legoa ele longitude, e bum tero de latitude.

Nu mesmo dia pela trez hora da tarde e continuun Gom


elfeo viagem co teando esquerda no rumo de Oeste, e
logo a udoe te se avistaro parte direita do rio buma
Serras, que lhe fazio margem, e corrio para Oeste, ero
de bastante aI tura, e povoada de aspel'o arvoredo mui ser-
rado; e chegando a huma enseada j no rumo de SIlSU-
doeste se en ontrou buma mui furiosa correnteza occasio-
!lada de huma restinga de pedras, que com grande tl'abalho
- 333-

se pa' ou sil'gamlu as canoas, e tomando o rumo do Sul se


avistou a 'acboeiea chamada(l) ..... e se chegou a. ella com 4-
hora de viagem.
lie e ta a Cacl10eira mais te'l'l'ivel que at aqui se havia
encontrado; por quanto continuando as Serras antecedentes
margem direita deixo neste lugar to grande e desorde-
uada. poro de penedo por toda a largura do rio, que no
lIo outra passagem s agoa ,mai do qlle ellas podem fazer
atrai elJaudo aqueIla de composta machina por mais de 800
braa de omprimento em canal algum por onde se po-
des e pas ar calla, ;'linda que [os e a custa de todo o tra-
balho em cujos termos no bome oulro arbtrio, se no o
de carregar a canas, e varal-as por terra pela margem
e. querda at salvar loda a referida dislancia deimpedimento.
Dous dias se ga~taro f:ln estivar o caminho de troncos
para 'obre elles rollrem a ana', e como a terra era com
bastanle elevao, e ~emeada de pendos em distancia de
bum tero de legoa, e consumiro outros dous dias em
transportar as cana. e suas cargas, em cujos termos no
dia 7 he que hOllve lugar de proseguir viagem, .levando
dia ue immenso traballlO esla Cachoeira importuna.
Com rfeito IJO dia 7 s 6 hora da manh se principiou
viagem no rumo do :sul co teando esquerda, e logo se to-
pou cum huma 'I'estingcL ele peclm (reliquia ainda da ca-
hoeira antecedente.) lJa lautemente cuslosa de passar,
porm vencida que fui e osteou a Oeste buma dilatada en-
'eada, que parle direita conlinuava a me ma Serrania,
mas de menos altura que a antecedente, e seguia o mesmo
l'lllno el e Oe te.
t.:abaela a dila enseada se entrou a costear outra \la ru-
mu elo Sul, no principio da qual da mesma parte esquerda
Jlttvia na l'ibanceil'a a celebre terra (2) , que costumo comer as
aves: Jogo ue pas on a Sudoe 'te, e no rumo de Suesle com
!O horas de caminho portaro a' canas ja de noite, e se an-
dal'io 3 legoas.
Sext" CaeJtoeh'a.
,
No dia 8 pela Ghoras da manh se principiou viagel no
rumo ele Susueste, e logo Sueste, e Sudoeste por duas
(Il Ue 'aclloeira c1enominada elo Que/y, que ele pois ~(J chamou \10 Giru,
(~ Vide ."p"U nota (2) pag, a~G
- 33ft. -

enseadas, no fim das quaes se encontrou huma gran-


de Ilha, que ui"idia o rio em dou canaeSj o da parte
direita se via embaraadissimo com morro ue pelJra,
por onde despedia a agoa om tal violencia, que encon-
trando-se com a que sahia elo canal da parte oriental
resulta"a huma rapida e fUl'iosa correnteza, que da ponta
ela Ilba se dilatava rio abaixo em bastante distancia.
Costeando parte esquerda se entrou com bastante tra-
balho o que por ella e seguia no rumo de Su udoe te; e com
10 horas de camillho se andario duas legoas e portaro
as canas na llha referida, j de noite.
Desta Ilha e da terra fil'me de buma e outra margem
sabem as pedra, que fazem a cachoeira chamada AmpcL-
co ('J), razo porque no dia seguinte que se conto n, se
continuou pelo mesmo canal no l'l1IUO de Su udoente e Su-
doeste costeando a Ilha at chegar ultima ponta, onde be
o grosso da ca.choeira, em cujo lugar se repartem as agua
para os dous canaes reFeridos, e ao sabir do que se navegava
se passou a cachoeira remo, vencelldo somente il corren-
tezas, que re ulLavo das pedl'a j cobertas de agoa, por
cuja razo se facilitou aquelle pa so, sem mais tl'abalho qU8
o referido de remo.
Desde a ponta da Ilua da parte occidental orria ao
longo do rio a mais alta Serrania, que at aquelle lugar.8
havia notado. .
Seguio estas Serras a mesma cUreco que a anteceden-
tes de Leste para Oeste, e com ellas pela ribanceira da
parte direita e foi costeando esquerda no mesmo dia 9 DO
rumo de Oeste, Oe norceste, e Noroeste, e com 'lO horas de
caminbo se andario duas legoas e meia.
A 'lO se principiou "i agem costeando e querela no rumo
de Oessudoeste, continuando a Serras da parte direita a
direcco acima meneion ada.
Por huma quebrada que ellas fazio, cOI'ria hum rilJeil'o
da boca do qual se acbavo seis canoinhas de casca de po
posta.s' em resguardo, indicio certo de que no interior daquel1e
lugar havia Gentio, que nas trez canoinhas navegavo o rio
quando lbes era necessario.
No mesmo lugar se lbe deixaro, e continuando ,'iagem j

uOlJ1e cle hum passara de pouca o~lill1aao (Nota do all'''or).


(2) .4rapawl,
Hoje esta Cachoeira se uhama dos n [I"m.os.
- 33~-

ao Sudoeste com !~ horas de caminho, em que e andada


legoa. e meia, e e condero as serras pal'a o centro no eu
rumo de Oe te.
PI'oseguio-se viagem i:t Oeste deixando no meio do rio,
depois de passadas as serras, huma grande quantidade de
pedras aiOlla mal cobertas, que occa ionayam grande cor-
renteza, e vencida esta se deu principio a passar as pri-
meira correntezas, que resullo da cachoeira que e achava
proxima.
Setill"" CacJloeh'a.

o foi possivel naquelle dia ou Larde delIe avanar mais


do que levar a canas sirga por dnas ponta. de pedra.
com grande trabalho, e e porton em huma pequena eD ea-
da om elez hora ele jornada, em que ~e andario duas le-
goas e meia.
o lugar em que ' olfel'eceu [\, pl'imeira ponLa de ~1e(ha
acima mencionada na mal'gem esquerda sahe hum canal
gl'ancle entre a Len'a, firme e buma lIha que se prolonga ao
comprimento do rio, a qual tem pOl' fUnLlamenLo rocha viva,
que lanando para bum e outro canal quanLiela.de de pedras
de mon tl'UD a grandeza (leixa o da pane occidental intl'a-
layel a navegao, porqne a agoa nelle no tem outro de a-
fogo mais do que precipcios em Lo conl'u a posiLura, que
nem a vista podia fazer exame laql1elle inlrinljado passo,
Ocanal da parle e::;qllerda, que seguimos o PO\ oou de
01 Le om penedo, que de~pedida delle a agoa com grande
ruria se ia encontrar com a que cOl'l'ia junLo ribanceira
lambem de pedras com re tinga, que do encontro destas
dua furiosas correntezas resultava huma serie continuada
de sumidouro, que cada instante hun em caixe~, e outros
umio ao. fundo as aguas, e tudo o mai que podessem
altrabil'.
Por espao de hum tero ele legoa ,e dilatava este espan-
toso c.aminbo,e passado elle se offerecem logo trez Ilhe Las de
rochedo,onde batem as agoas precipitadas do grosso da ca-
choeira chamada Pu?'ic(1) , e por enLre as Ilbetas correm to
furiosas, que accrescendo-lbes o encontro de hurnas com as
outras, occasiono terriveis correntezas e feryeclouros, como
os antecedentes, que j vista elo precipicios da cachoeira
(I) Paric. Hoje se chama Paredilo.
- 336-
e estrondo que dellas resulta, fazem mais formidavel
aquelle fluido espectaculo.
Donde se remata a enseada que principia na primeira
ponta de pedra acima mencionada, se levanta hum promon.
torio de agigantados penedos, que dilatando-se at meio rio
do lugar por algumas quebt'adas que a agoa faa precipi-
tado caminho por ellas.
Na mesma direco destes penedos se segue huma llha
de pedras lanadas ao comprimento do rio, entre a qual e
os penedos em distancia de 300 braas l1a o maior canal, in-
tratavel j naquella occasio, em que as agoas Linho cre -
cido at qua i meio barranco.
Entt'e :t Ilha e a terra firme da pal'te uos penedos havia
outra sahida s agoa , porm de iguae precipicio a.o ca.nal
da parte esquerda: e havel' ele distancia aqui de ltll1113 r
outra margem novecenta (900)bl'aas compoucaclifferena,e
o seu rumo he de Leste a Oe' te, sendo a sua lati tur.\ ort
Sul, e neste cOl'rio as Ilhas .i. mencionadas.
A ii se continuou viagem levan lo as cana il'gajllnto
ribanceira, que p l' ser de pedra leu hum tl'aball1o in "ivel
este passo, no qual se coo umit'o 6 llOl'aS at chegaI' .i unto
ao penedo da parte esquerda, pela qllal se co teou, o SI'
andaria meia lego a de caminho.
Recolhida a canas a. hum com l'ozinllo que sahia por
detraz dos penedos,;;e transportou a arga della para a
outra parte da cachoeira por caminho que se fez por terra,
que teria 400 braas de distancia; e este foi o servio que
se pde fazer no resto do dia referiell).
A 12 se estivou de made.ir(\, huma quebrada que havia nos
penedos, mais proxima terra ela me::;ma parte oriental, por
onde corria alguma agoa, que pOL' pouco no trazia violen-
cia de coosicleL'ao. que deLI lugal' a se pllXaL'em a canas
que pOL' toda a mnll ficaro ela parte de cima dacachoeira,
comasss trabalho, grande e muila vigilancia para eviLar
algum perigo.
Pelas liua hora' ela tarde do mesm dia se c.onl.inuou
viagem no rumo ele Noroe'te co teanelo e querda, e e
avistou . direita lluma Serra que seguia o !'Umo elas ante-
cedentes, ainda vista da cachoeira.
Passou-se ao rum de Oeste, e depois ele buma granrle
correnteza que resultava de huma perlras que havio no
- 337 -

meio do rio, portaro a anas com 3 hOl'as d caminho,


em que e anelaria legua e meia.
OUn.VI Caelloeh".

1 o lia i3 se proseguio derrota costeando esquerda no


rumo de Oeste, e com pouco mais de 11, horas de caminho
indo j no rumo de Suloeste e encuot1'OU com a cachoeira
chamada J1Ic~i((1'Y (I), que onsiste em huma grande poro
de pedras que atrave no O rio oe llUma e outra margem no
rumo de Le te Oeste; e por que as agoas havio j cobel'to
a pedra fiai chegadas parte e querela por elLa se le a-
ro a cana arda para poderem vencer a COl'!'enleza
grande que havia por espao de trezentas braas (300)pouco
mais ou ffivno , que tanto ter esta Cachoeira ao compri-
mentodo rio, do qual er aUi a ua largura de mais ele mil
braa ('!Ou ).
Pa,sada esta Cachoeira sem mai trabalho que o refel'ido
e costeou hum pouco ao Sul, e 100'0 ao Slldoeste, no run
da en ed-aque levou e te rumo, lla"ia no meio do rio huma
gl'ande pedra em forl11a de Ilha, do que proe,edia correnteza
furiosa ele huma e outra mal'gem ; e como a menol' era
pela parte direita, a esta pas aro as caoa e navegando
n
,

ao Sul se chegou boca do rio chamado Jibol1f, (2), onde


portaro as cana com O horas de caminho em que anlla-
rio 4 legua .
O rio chamado A.bon de agoa na margem occidental do
Uadeira com pouca yiolencia em de embo aelura de 300
braas.
avegou-se em huma canota ligeira meio dia para se
indagar a sua direco, e se achou ser de Oeste para Lest.e:
no se penetrou mai' adiante por se encontl'ar com hmna
cac~oeira, que tomava o rio de huma a oLlll'a parI e com
bastante altul'a rle rochedo, por onde a ago de cle~
peuhava.
He ba tautemente ferll de peixe, e a. LIas mal'gen ]c
caC;1.
uas agoa so clara e de bom sabor. ribanceil'a
he alta ele huma e OLltl';1 pat'te, e em poucas alaga com ii
cheia.
(Il Jlfaria,y. Hoje se chama-Ped""l<i'(I.
(2 .~bonri ou Ablllllf pomo hoje ~p rhnl)1n.
!~1
- 338-
Ha noticia de que neste rio ha.bita hUli1a nao de Gentio
chamado Fe1'?'ei1's, gente pacifica, e capaz de boa prtica
para se aldear em Misses.
Foi preciso demorar aqui o dia 14. em que se fez o
exame cio rio, e o dia US em que se acabaro de refazer
as canas de alguns concertos de que necessitavo.
A i6 se pl'incipiou viagem costeando direita no rumo
de Leste e Les!5ueste, e passada a enseada que se andllu
nestes dons rumos, e continuou no de Sueste outl'a volta,
que acabou a Leste, e logo tornou a Sueste, e nltimamente
a :::ludoeste; sem haver nest8 dia COllZa memoravel, se
portou com 10 horas de caminho, em que se andario 4
legnas.
No dia ,17 se continuou denota no rumo de Susudoe te e
logo ao Sul, no qual se anelaria meia hora, e indo a Sueste
c Leste passou a agulha a Sul, e neste l'umo s 9 hora.s
da man h se encontrou a cachoeira chamada Tamanclltd (1),
l'lona Cacbochu.

Com o rumo de Sul cone huma eo eada da parte oriental


principiando em hU111a ponta de pedra , fic~ndo-Ihe opposta
outra enseada medeando huma Ilha de figura qna I trian-
gular, e de sufficienle grandeza.
Dous canaes resullo da posiOo desta 1111a, o mais largo
da parte direita, por onde despede o rio a maior quan-
tidade das suas agoas, que entro atl'opelando immensidade
le penedos que se lhe fferecem na emboGadura do mesmo
canal, por cuja razo se fazia impenetravel aquelle tran-
sito.
Omais estreito se achou ser o canal da parte esquerda, que
supposto tivesse bastante correnteza, dava com tuclo lugar
(le poder-se vencer remo, o que po to em execuo se
transportaro as cana's com duas horas de caminho parte
de cima da cachoeira, sem mais trabalho que romper
remo duas correntezas, que na embocadura do canal pro-
cedio de pedras ainda mal cobertas de agoa, as qnaes
atrave savo aquella passagem a fazeI' unio com as do
ouLro canal no rumo ele quasi LesteOeste, para o qual for-
mava varias Ilhas ele pedra.s cOI'oadas ele arvorec}o syl-
vestL'e, que fazio vista huma representao agradavel.
(1) 7'an nc/n. Roj!) se chama da -Al'eiras.
- 339-
Deehua ()aehoe1ra.

Pa sada na frma referida a cachoeira T(bmamdud. e


shindo della ao rumo do Sul, se foi co teando a parte
esquerda no de Susueste e Sueste, e neste com duas horas
de caminho se encontrou acachoeira chamada ~iamol'iny('l),
a qual se compe unicamente de pedras, que atravesso
o rio de huma outra parte no rumo de Noroeste e
Sue te' e como a Tandeza dellas no era da mai avultada, se
achavo qua:i todas coberta, despedindo alguma COITen-
leza , que e ven erITo a corda, e a remo margem esquer-
da, e depoL de ficar pela ppa, em pouco mais de huma
hora e continuou viagem no rumo de Su ue te c ultima-
mente a.o uI, e portaro a cana na margem direila com
dez hora' de caminho, em que e andal'io 5 legua~.
DeciDIU lU'iJueh'tto Cuelloeh'".

No dia '18 egnjnclo o rumo do uI com duas oras de


liaminho se entrou com as primeit'a pedras da mai tra-
balho a, enfadonha, e perigo a ca hoeira, que at alli e
havia eo ontrado.
Por mai ele leJoa e meia de aminho e dilata e ta ca-
ehoeira chamada ~[amo1'in!J(2), Ilhas de pedra coberta de
arvoredo agreste, e penedos escalvados atravesso o rio
de hutl1a outra margem, por entre os quaes obstaculos
rompe a agoa fazendo variodade de phenomenos, porque
em parte de pen\1ando-se vai fazendo por entre outras pe-
dras mais pequenos fel'vedomo continuallo, que rebento
furiosos, e com rapidez aLLrahem tudo o que se lhe avi-
'inha j e por outra rompendo com brava correnteza de
ondas an ebentadas como de Oceano tempestuo o, tudo o
que se lhe oppe atropelo, e sem remedia soobro.
Este terrivel espectaculo se contina rio acima por es-
pao de huma legoa ante de chegar ao gro so da Ca-
choeira, que consi te em vario precipicio de agoa que
atrave~so rio, e no do pa agem por nenhum modo:
uem toda a indu. tria do mundo lho saber introduzir, se
(I) ,\lamol'iny. Hoje e challlR-llibcil'Jo.
(2) Mamoriny,
..l'arece que aqui enganou-se o Rutllor, visto como a pl'eCecle!l~e C!lchoeira
)<1 telllllste nome. Bacna lliz que e ta oulr'ora e chamava-V"."",,,,,.
O nome actual (lesta Cachoeira ho Hi....icordia,
- 340-
no por terra varando por ella as canas ate as lauar da
outra parte do' deupenhadeiros, que de outra orte seria
acabar infallivelmente a empreza.
Isto supposto e enco taro as canas margem esquerda
e no rumo elo Sul se pau aro as primeiras correntezau
de 3 pontas de pedras, que sabio da terra a buscar a
(Iue atra vessavo o rio, e para ,encer esta pl'meira pa -
sageID foi necessario ir com muito vagar fazendo presa
nos remos, com que se foi ajudando a sirga at cbeaal'
a bum pequeno salto, que havia entre a terra e huma
ilha de pedras, passado a qual com grande trabalho se
seguio logo outro, que com igual fadiga se deixou vencer,
e sendo j (j bOl'a da tarde portaro as cana com G
horas' de caminho, em qne se andaria hum quarto de
legua.
A 19 se continuou viagem costeando a mesma marge 111
e querda no rumo do Sul e Sudoeste por en tre a riban-
ceira do rio, e Ilhas de pedra, e restingas que sabio da
terra firme, da mesma sorte que as do dia antecedente, e
com trabalho de sirga por' entre pedras e arbustos agrestes
e navegou todo o dia at se avistar o monstruo o de pe-
nheiro de agoa que havia no mais alto da Cachoeira, que
no era rocha talbada, mas hum declive com mai de 500
braas de distancia; e com 7 hora de aminho se andaria
huma legua.
Dia 20. Pl'incipiou- e viagem costeando no rumo de Su-
'udoe te huma enseada, na qual io bater as agoa que
:altio atropeladas dos despenhas da cachoeira, que retro-
cedendo para a mesma parle donde cordo furiosas, levan-
to por toda a enseada ondas encapelladas que represento
llUm golfo embravecido; e assim com grande perigo se
navegou a mesma enseada ate se refugiarem a canas em
hum riacho, que do ceutro desagoa, onde a cachoeira faz a
ultima queda.
Duas horas levou a pa sagem da enseada, que teria hum
quarto de legua de di tancia ate chegar ao riacho em qllC
se portou pelas 9 hora da manh.
O resto do mesmo dia 20 se gastou em estivar de ma-
deiros o camiuho da terra para por elle se vararem a
canas, o que se executou no dia 20 e 21, que neste ficaro
j transportadas as canas da outra parte da Cachoeira com
as c,c1rgas que a cada huma pertencio.
:rer e le val'al1oUL:o ()OO braa de di tancia, no qual ha
elevl;u pai' hum e oulra parle, que o faz mais trabalhoso.
Con'e a cachoeira ' alrave sal' o rio a rumo de Nordeste
e ~udoe le.
No dia 22 sahindo de Jfamol'iny no rumo do Sul se cos-
leon ~L e"querda, e p,-wando em breve lempo ao Sudoe te
ne.le 'e encontrou com hum de forme morro do pedra e -
t:alv;l(la que.e avanava al qua i a lel'a parte da largura
do rio.
Encanava e~la agoa por enlre IHlma Ilha frontelra ao 1'0-
'hedo, 'omo lambem por enlr'. esle e a lerra firme da
parl es Iuerda, e pelo meio.
J)o enconlro de loda e~la correnteza re.ultava huma
to tfrande, alliml0 da ponla. do pelledo dilalando- e 1al"-
~ura do rio, que no era po. ivel poder-se romper remo,
no pela violencia impeluo.;a das agoas e ondas reben-
tada " que alli se fOl'mavo, mas tambem porque por toda
aquelIa espanlosa rapidez s.e levanlavo fervedouro de
agoa', que a fazio sul ir (ao parece!') mais de 6 palmo, o
logo se 1'0 olvio em 'umidouros os mai formidaveis, de que
at aqui e fez meno.
Nesle lermo no houve oulro arbitrio mais do que in-
troduzir a' Gna pelo pequeno 'anal mui embaraado l1e
pedra' e arbll lo agresle, que mediava enlre o penedo e a
l'iu:lIlCeil'<l orienlal que ~e navegava; e com grande tl'abalho
de irga e con eauio o projelo. que levou !t. hora de im-
porluna pas agem.
Conlinuou-'e viagem no illeSlllO rumo de Su udoe le, e
porlaro as calla. ~l vista lia duodecima ca lJoeira, e se an-
dal'io ne:le Llia 3 legua~.

Compe- e e la Cachoeil'a( 1)de varias JllOlTO de pedra em


frma de Ilhla com arvoredo .yI\1e.l1'e, e oulro e calvados
em qua i semelhante p0tilura e qualidade ao ,que lJa na
cachoeira anlecedenle, anle~ de chegar aos maiores salto'
della,
Tambem all'ave o o riu de huma e outra parle com a

(I) ChilIJ10U'S' ii '8tH c.aehoci\'(\ clll prilH'ipio 'I'''pioca, C [lO 'leri Ol'lllcntc-.l/,,
dt.:~ra .
- 34~-

eircumstancia, que pela direita no offerecem pas agem em


rio j crescido, porque a elIa e inclina o maior peso de
agoa, com o qual rompendo por entre huns penedos, e en-
capelIando-se por Cima de outros frma estranhas corren-
tezas il1supel'aveis a fora e industria.
Pela margem e querda se mo tra mais toleravel entre a'
pedras talbada mal coberta de agoa e a Lei ra firme,
que tambem tem a ua ribanceira de mal compo ta penedia.
No ultimo remate de tanto rochedo bronco ha dua' Ilha
.lanadas de huma a outra pal te do rio no rumo quasi de
Leste Oeste, por entre as quaes frma o rio trez canaes.
sendo o mais impetuoso, mais terrivel o da parte occiclental
l:omo acima se declara.
A formatura destas Ilbas no eu fundamento he tuclo pe-
nedos, sobre os quaes hayenclo alguma tal 011 qual planice.
dero lugar a que a terra e introduzi 'e com a inundau
do rio para nellas produzir al'voredo frondoso de alegre re-
presentao aos olhos.
No dia 23 se fez viagem no !'Uma do Sllsudoeste costean-
do esquerda, e com meia hora de caminhu se encontrl'o
:lS primeiras pe 1ras da cachoeira acima mencionada l:ba-
mada Uainwm,(1), ecom o trbalhoda cOl'dapondo as cana
com meia l:arga, se venceo aqueHe primeiro impedimento,
e tambem o segundo que logo e eguio, e ultimamente o
terceiro que j un tos fizero ltmn dia de impertinen te trabalho,
em que se andaria hum quarto de legua, e he o que esta
Cachoeira ter ao cOl11]l'imento do rio, ou pouco mai
por que elIe finalizava na realidade na duas Illla acima
relatadas.
Dia 24. Pas~ada a ilha no rumo . .'usudoe te com <.lua'
horas de caminho se avistou a boca do rio Beny(2), para a
qual se atraves ou, e se porton nelle da parte de
dentl'o para se averiguar o que fosse passiveI ela sua di-
reco.
Feita naquelle lugar a ob ervao da altma e acholl
desembocar o rio BerllY no Madeira em ,12 graos de elevaco
al.1 traI.
A sua entrada be no rumo de Su udoeste, e navegando
i) Uai."",,,,. Depois se hamOU-Madeua.
iVide
'urece que aqni lambem honve engano ela parle
s"p"a nola (2) pago 339.
do:autllor.
\~) De',y. Ue o '1l1e tiO l'ClJttLd Ilojo o l"erc1aciru jllarlui,a.
- 343 -

pelo me mo rio cinco horas se achou ser aquelle rumo o mais


frequente, do qual parece tTar a na origem.
He bastantemente caudaloso, e qnasi de igual corren-
teza ao Madeil'a, em que faz a sua entrada pela mar-
gem occic1eotal com 800 hraas le embocadura (ao pa-
receI' ).
As uas agua so barrentas por causa da muita ter-
ra que nas enchente cahe da ua ribanceiras, que
o mui ~emelhantes em altura e a1" QI'edo s do Ma-
deira.
Com e te podera o Beny dispnt:ll' a maternidade das agoas,
e o Madeira no mostra e que contina no seu rumo
com as sua ilhas e cachoeiras na mesma direco que
leva, at aql1elle lugar, e juntamente seI' o Madeil'a de
maiul' largura, e trazer mai agoa naquella parte em que
\'~cebe o Beny, que om ejleilo ali perde o nome e ser do
1'10.
Por e te rio Beny no ha elocumeuLo ou tradio, por on-
de COII te que fo e naverraelo por PorLugueze , nem Caste-
lhano, pOl' que e Le em cujas telTas na ce o Beny ignoravo
ato anno ele 17-13 o yel'dadeiro de.tinn ele_te rio, pois sup-
punho que ia ele'embocal' no Amazona. em concurso ele
,nuLra agoa : e o POl'tllgueze que ulJiro no anno de
1723 at Santa Cl'LbZ de los CajLbbabas(I), e ouL1'OS que ante-
cedenternen Le havio ido a n go iar Gen tio, no entl'ro
por e te rio, a diligencia alguma; em cujos lermo era ra-
zo que aqui se relate alguma noticia, ainda que seja abs-
Il'ativa elas origens 11e'te rio, segunJo con ta de um Mappa
IInpl'es o no referido anno de 1713, supposLo que a gradua-
o delle no devia ser amai ex.acta' por que alm de se
no confol'mar com as Cartas gel'aes Geographica, padece
hnmagrande equivocao nos geios ]e l:.iLllde a respeito ela
que se fez nesta occasio; por que o AucLor do dito Mappa
desCI'ovendo nelle o rio Beny, o uppe ainda tal na altuI'a
de Ho gro' de elevao au'Ll'al; ao me mo Lempo que pela
obserl'acao no dito dia de 24 de Janeiro de 171'>0 se ach3.
que na : tra ele 12 graos se perde no Madeira, como acima
0

fica expressado,
Das erra do Peru pal'alello cidade ele Paz em altura de

(I) fie a alda da Enwl'lOdn.


Vide '''P''. p.1g. SOfo
12 gros ao Sul se mostl'a tel' nasdmento o rio Beny, que
discOl'rendo por entre a me ma Serrania sejunta com o Clw-
quiabo, que vem da dita cidade que fica ao nascimento do
Benya parte do Occidente; juntos o dous l'io se frma j
o Beny mai caudaloso por entre a mesmas en'a. at a
altura de Ui gr:10il donde correndo pOI' tena plana vem de -
emboc,ar no Madeira na parte acima mencIOnada.
Em toda a margem deste rio de lluma e outra parle no
mostra baver aL aquelle me mo anno de 17) 3 mais povoao
do que buma alda chamada os Reys habiLada le Ir 7. mil
pessoas de um e outro exo e idade.
1\'.Tais ao centro parte oriental do Reys havia outra da
invocao de S. PC~~I.lo, povoada de duas mil e etecenla,
})ess6as.
As naes de gentio que lJabito no di tricto do Bell)'
se nomeio Romanos, Chwncmo', Ch'iJ'il'ibClS, e l'ol'onwnas,
Pela parte do l?oente descem lias serranias alguma Hi-
])eiras, que' vem a incorporal'-se com o B ny, onde esle
ja discone por planicie, que so 1Ipio(b)u~, e AnbCmtc~laj c
Ila nos seus distl'ictos eotl'e as montanha trez povoae ,
que so iJ.polobmnbcL, S Joo, Pelechuco]e de a a\lUl'3
de 15 graos de latitude e 30 minutos at ao 014 e !~O',
Recebe tambem as agoas da l'ibeira chamada EI~in, que
traz a sua origem da visinhanas da ci lade ele Cu co,
situada em 13 gros e 20 minutos de latitude, e em 301 de
longi tude.
Feita a observao, e navegando em canoa ligeira cinco
hQras rio acima o dito Beny, delte ahimos no dia 25 pela
bUlHa hom ela tarde seguindo dermta co teanuo a mal'-
gem direita no nlmo de Su neste e ui, e ne te rumo se
achou estar a
Deehull, tel'eeh's Cn('hoei I'n .

He conhecida esta cachoeira com a denominao de 'l'e-


ft~cc~(1):
consiste Q.seu composLo em quantidade de pedra.
no muito grandes, que atrave so o rio (Ie humit pm
a outra md.rgem no rumo ele Nordeste e ueloe I.e, e omo se
achavaja quasi arra ada ele agoa, eleu facil p~, !'agem I'il'ga
pela margem direita qne se navega.va.,

(l) Tf!juC4. Hoje se'chama rlas-L<ty'.<,


- 3M') -

Em cujos termos com horas de caminllo nos rumos


mencionados portaro as canas junto cachoeira chamada
dos Javalis (1); e se andaria legua meia desde a bocca do
Benyat este lugar.
Declina flUlu'ta. f)aclloeil'a.

Dia 26. este dia se no fez mal do que passar a ca-


choeira mencionada at o meio dia, a qual consiste em se
oppl'em ao rio duas ilhas rodeadas de grandes lagedos de
pedra, buma en eada margem, e outra esquerda no
me mo rumo da antecedente, Nordeste e Sudoeste.
Estas duas Ilhas se communico com varios penedos, e
lano outros rio abaixo em distancia mais de SOO braas,
de orte que querendo o rio fazer caminho por entre estes
impedimentos frma trez canae " hum entre a ribanceira
da parte direita e a Ilha, estreito e de medonha conenteza,
outro no meio, em que a agoa em varios precipicios faz im-
praticavel o seu transito, e outro entre a Ilha da parte e -
querda e a tena mais favoravel ao intento da passagem,
por que somente oIIerecia duas correntezas junto terra,
pelas quaes descarregadas as canas se pod.io levar sirga.
Assim se executou no dia referido at as duas boras da
tarde, e pelas trez se continuou viagem no rumo de Sudo-
este, e neHe com meia legua de caminho se encontrou a
llecima quinta cachoeira, j unto da qual portaro as cana ,
pal'a no dia seguinte se emprehender a sua passagem.
DeciJua. flllinta, CR,cltoeil's.

Bastantemente intrincada se achou sel' esta cachoeira cba-


mada dos Papagn'ios(2) , porque a formou a natureza lanada
de huma a outra parte do rio no rumo de Oesnoroeste e Les-
sueste, composta de Ilhas rodeadas de rochedos e pedras
!Uonstruosas, que pas o de .huma_s out~as Ilhas com mui
lI:regulares posies; por CUja razao o no se acb~va pre-
clsado a romper e tes embaraos por modo quaslestra-
nho propriedade de sua corrente, pois em partes se
atravessava a varias rumos com opposio de humas com

(Illaoali Hoje se chama-Po G-rallde.


(2 Papagaios. Hoje se chama-Baual1eira.
42
- 3~6-

outras aguas at sahh'em por entre os ultimas penedos


com ruidosa furia e espumosa braveza.
Apenas offel'eceu hum canal encostado margem di-
reita entre a ribanceira formada de alta penedia e huma
Ilha encostada mesma parte, por entre a qual corria
menos furiosa a agua, por no ser ainda muita a que
propendia para esta parte, razo porque estavo as pe-
dras mal coberlas, que foi preciso estiva-las de mad ei-
ros para sobre elies se puxarem as canas descanegadas.
No dia 27 se executou a empresa sobredita com gran-
(lissimo trabalho, que consumio o dia inteiro daquelle
penoso servio, e com effeito no mesmo dia ficaro as
eanas transportadas parte de cima da cachoeira, que
ter hum quarto de legua de distancia ao comprimento
do rio.
No dia 28 se proseguio viagem costeando parte direita
no rumo de Sueste, e nelle com pouco mais de huma hora
de caminho se achou a ca hoeira chamada das Co?'(las, que
atravessa o rio de lmma outra ribanceira no rumo de No-
l'oeste e Sudoeste j e por ter j quasf todas as pedras no
fundo S\3 passou a remo, vencendo somente duas COl'rentezas
entre a margem occidental e huma ilha das que formo as
mesmas cachoeiras.
Deehlut sex'C:a Caehoeirn.

De duas Ilhas formadas de rochedos se compe esta ca-


choeira chamada lias C01'dcts (1), ambas adornadas de vistoso
arvoredo, no mui alto, mas vioso e recreativo, e no rumo
referido atravesso o rio: huma dellas se acha mui che-
gada a margem esquerda, que em rio a meia enchente nem
ainda assim lbe conceda canal:
A outra situada a parte direita permitle passagem a todo
o tempo, menos o da uH:ma secca, que 11e nos mezes de Sep-
tembro e Outubl'o, que smente o rio acha canal, e os via-
jantes caminho pelo meio entl'e huma e outra Ilha, onde faz
hum declive de pedras com boa direco, em que por es-
pao de 60 braas se despenha a agua com tolel'avel vio-
lencia.

(I) COTdos. Hoje se chamn-C1Ioj.T.m.


- 3~7-

Esta cachoeira se passou na frma acima mencionada, e


continuando viagem no mesmo rumo de Sueste se achou de-
aguar pEla margem direita hum ribeiro de agua clara cha-
mado T'iahoam; ter 100 braas de embocadura, e vai cahir
o seu pequeno cabedal de torrente q\lasi sobre a cachoeira
pas ada, razo porque se achou nella a agua mais limpa,
elogo que se encontrou o ribeirao, E:e decidio a cau a daquel-
la novidad e.
Fronteiro ao lugar em que desagua aquelle riacho, ha na
margem oriental huma elevao de terra, que frma huma
pequena Serra. povoada de arvoredo mui alto e expesso, e
no chega a ter meia legua de extenso ao lougo do rio: para
o centro no houve occasio de fazer exame da ua di-
reco.
Pa ado o riacho Tiahoam, se ia continuando viagem j
no rumo de Lessueste, quando ao virar de huma ponta de
pedras, em que havia grande correllteza na me ma margem
direita, quebrou a p, que servia de governo a huma cana
e foi preciso portar para fazeI' outra, razo 1Jor que se no
andou ne te dia mai do que duas horas em que se venceria
de caminho pouco mais de meia legua.
Dia 29. Neste e principiou viagem co teando direita no
rumo de Lessueste, e logo ao do Sul em quepa ada llUma
enseada, se continuou a ue~Le, e ne Le rumo se achou a t;a-
t;hoeira chamadaPa1l,ella(1), que he huma da maiorl\s e mai
embaraosa que tem o rio.
Dem IUR sel.tilllR Clu!hoeirR

De hum intrincadolabyrintllO de ilha' fundada todas obre


lagdo e rocha monstruo as e frma e a eachoeira em
Lo desordenada po io por e pao qua i de huma legua ao
comprimento do I'io, que este para acltar sahida a to e -
LI'anhos embaraos se derrama em buma confuso ue ca-
nae por entre as Ilhas e penedo ; de orte que em meia le-
glla de largura que haver de huma a outra margem, e em
Lodo o e pao do comprimento no acha a agua ouLra cO~lsa
se no precipicios por todas as paI'Le , pelos quae com rUldo
e furia se encontro as correntezas humas com as outras ir-
ritadas Llos penedos que passo, e de outros que vo atrope-
lando.
(I) Pancl/a. Hoje se chama Guojal'dmil'lIl.
- 338-
Muitos canaes, vindo por elles a agua em fervedouros e
rapido impeto, topo em Ilhas on rochedos, que e lhes op-
pem diante, que obrigo as aguas a fazer caminho aos
lados, e vo quebrando a furia nas ribanceiras de huma e
outra parte.
Da dura resistencia que acha aquelle soberbo elemento
nos penedos da margem, retrocede a agua sobre si mesma,
E\ frma tempestuosas ondas de mares encapeIlados mui dif-
ficeis de vadear.
Finalmente pam se expr com miudeza todos os subter-
terfugios, que aqui busca a agua para passar esta cachoeira,
confesso que sobre no achar termos proprios e expressivos,
com que bem signifique to embaraadissimo passo, seria
fastidiosa huma grande digresso, com que elIe se poderia
descrever i e por esta causa me remetto estampa, que po-
der ser delineada em termos que por ella se possa formar
iela das figuras que aqui se diffi.culto expre sal'.
A' vista de hum to formidavel impedimento, que a todos
os lados ameaava funestas consequencias na empresa de se
vencer, sem varar por terra as canas, foi fortuna achar
hum canal entre o barranco da parte direita e as Ilbas da
cacboeira, por onde salvando bum no muito grande es-
pao de ondas, que resultavo do combate ele huma cor-
renteza com a penedia da terra firme, podio chegar as
canas at hum lugar accomodado, em que sobre pedras
ainda mal cobertas de agua podio ter passagem: e com ef-
feiLo investindo com aquelle canal se foro vencendo a remo
as suas correntezas successivas at chegar ao lugar men-
cionado, em que havia hum como fluxo e refluxo de
agua, que levantava ondas furiosas por todo o canal em
distancia, ao rAmprimento d'elle, de mais de tiro de mos-
quete.
Com muito cuidado e fora de remo se atravessou aquelle
perigoso districto, e j de noite portaro as canas junto aos
grandes penedos, por cuj as aberturas no dia seguinte se havia
de fazer caminllO.
Chegou o dia 30, em que com incrivel diligencia se esti-
varo as pedras, descarregaro as canas, e se puxaro estas
parte ima ela cachoeira at horas de meio dia, e logo
qne se tornou a recolher llellas o trem, que a cada huma
tocava, se proseguio viagem pelas trez horas da tarde 110
rumo de Susudoeste, e nelle se achou a cachoeira (jhamacla
- 349-
QLLCLly ('I) com huma hora de caminho, em que se andaria de
distancia meia legua.
DecilluI oita"s CaelloehOll.

-Oe melhor semblante do que na antecedente se offereceu


a presen te cachoeira, que consiste em huma Ilha de suffl-
ciente grandeza (2) lanada ao rumo de Lesnordeste e essu-
do te de. la, que tem por fundamento immensa penedia,
e distribue a todos os Jados quantidade de lages e penedo ,
porm dispo tos pela natureza em rrma, que repartido o rio
em dous canae , a que a Ilha a precisa, vai a agua sem de-
clive pela maior parte dos canaes miudos, que procedem das
pedras espalhadas por huma e outra parte com pouca oppo-
jo de bumas com outras.
Nestes termos naquelJa mesma tarde do dia mencionado
e foi passando a parte direita tomando o seu anal a remo
sem maL embarao que alguma correntezas sem perigo,
que e l'oro passando com felicidade at huma enseada, em
que as agllas se acbavo em tranquilidade bem em meio da
cacboeira, oude portaro as canas; e se andaria buma legua
no rumo mencionado.
o dia 31 se continuou a passar o que restava da cachoeira
Qua.ty, que s na embocadura do canal entre a ponta da
IJba e a terra houve algum trabalho; por que roi preciso
usar de sirga por entre pedra e arbustos agrestes por es-
pao de dous tiros ]e mo qute.
Da enseada e navegou ao Sueste, e ao sahir do canal foi a
Leste.
Ter esta cachoeira huma legua ao comprimento do rio, e
na largma meia.
Desembaraadas as canas daquelle transito at s nove
horas do dia se atraves ou parte esquerda do rio, que se
foi costeando a Su ueste e neste mesmo rumo portaro a
canas na margem direita com 6 horas de caminho, em que se
andario 3 leguas.
Neste lugar se teve a primeira vista das serra. chamadas
C01'Clilheims das yel'aes, ou ChCIIJxLda g1'ande parte ,es-
querda do rio, e corri1io de Nordeste e Sudoeste rumo
,<1) Quaty. 'J\.inda ouserva o nome. Tanto esla como a seguinlc Cucho()il'a nilo
SilO COlllemplac1a como WC por Ou Iras escl'iptores.
(~) Braun diz que tom tllna legun uo extensilo.
- 3O-
geral do rio, e daqui principio esta Serras a atrave-
sal' o rio, ou este a romper as suas extremidade e
quebradas, em que se formo as Cachoeiras de que
se tem tratado, e agora se far o mesmo da ultima que
resta ;J. quem sobe, a primeira que e offerece a quem
desce.
Dia primeiro de Fevereiro. este dia saltindo da enseada,
em que se havia pernoitado no rumo de Su ueste, se avi tau
logo a cachoeira chamada Tapica({) que neste lugar lIe a
ultima que se offereoe.
DeebllR nOIlR .!lu~l.oejra

Na enseada da. parte odental esta ituada bnma ilha de fi-


gura quasi oval fundada sobre pedras.
Na margem occidental faz o rio outra enseada mui dila-
tada, e no seio della se frma outra 1Iha(2) de igual qualidade
antecedente, porm de muito maior grandeza, pOl' que
occupa todo a vo da enseada referida, cuja parte eOI1-
cava corresponde a Ilha com a convexa qua i em perfeita pro-
poro.
Destas Ilbas se espalho infinitas pedra miuda, e
outras avultadas, que buma atravesso o rio, e outra'
se dilato ao comprimento delle por espao de hum quar-
to de legoa.
Trez so os canaes, por onde o rio faz a sua pa sagem
por entre as Ilhas referidas e a terra firme de huma e outra
parte, despedindo furiosa correnteza, e in uperavel pela.
margem oriental e pelo meio, pois por ambos e tes canae
nem ainda em rio cheio (como j estava) se acabo ue cobrir
as pedras, que se oppem a estas duas correntezas.
Nestes termos examinado o brao occideutal se achou pra-
ticavel, pois somente havia para vencer huma toleravel cor-
renteza, que se passou corda; e costeando direita entre
a Ilha grande e a terra firme no rumo de Oeste, e sem
mais embarao se finalisou o mesmo c.irculo da en 'eada no
de Leste, e sem mais embarao que algumas correnteza.s
que se passaro a remo, portaro as canas.ia da oul.ra
(1) Tapica. Aqui houve natul'almente engano ])01' haver t1i~cordancia com
outros cscriplores.
Vicie supra Hola (I) ii pago 341.
(2) Estas tluas ilhas so challltlclas das Capivtira
- 3fH-
pal'te da ca hoeira na margem direita com 6 horas de ca-
minho, em que se andario duas legoas.
Esta cachoeira Tapica atravessa o rio no rumo de Les-
nordeste e Oessudoeste, e be a ultima que se offerece antes
de .e incorporarem as aguas do rio Mamor com as do Ma-
deil'a, cuja viagem se foi proseguindo no
Dia 2 de Fevereiro.
este se continuou viagem costeando direita no rumo
de Lessueste, deixando pela mesma margem os primeiros
Pantanaes que ha neste rio, e consiste em exceder a mi
do rio, e alagar a terra por espao mais de duas legnas ao
centro, que forma como lago ao comprimento do rio em
distancia de muitas leguas mediando entr.e o pantanal buma
breve poro de ribanceira, em que 11a arvoredo alto; e a ter-
ra que ~e egue ao centro que alaga, be como campina, que
omente tem alguns reducto ou Ilhas de arvoredo distantes
huma das outras, que fazem mui vistosas aquellas dila-
tada campina.
Aestes Pantanaes se recolhe o peixe na occasio que as
aguas fazem aquella inundao, e desampal'a de sorte a
me do rio, que ne te por acaso ou maravilha se deix.a
pe cal' algum, e o me mo uccede caa volatil e quadru-
pede, que se ara ta para a terra firme, e ra o por que j
de te lugar para cima se principiou a sentil' e terilidade de
vivere ; que de ordinario pe esta penuria em grande cons-
ternao os viajante .
No rumo referido pela margem oriental apparecia a Cor-
dilheira geral, eguindo ao largo o me mo rio a Lessueste,
rumo que aqui principiou a dar nova direco ao rio pela
fl'equencia com que a agulha ja buscava a Leste e Sueste,
no quae com seis horas de caminho se andario quatro le-
guas e meia, portando as cana j noite na margem orien-
tal; havendo partido pelo meio dia do lugar em que por-
taro no dia antecedente, occupa.ndo-se a manhdo presente
em ouvit, ~lissa e de~canar do importuno trabalho das
CCLchoeims, cujo transito se ha, ia conseguido com a felici-
cdade referida, no sem admirao elos experientes; pois
em tantos e to trabalhosos passos no perigou nem se mo-
lestou pessa alguma da Comitiva, que passava de cem pes-
sas entre brancos e Indios, havendo muitas occasies, em
que todos tt'abalhavo sem excepo de pessa.
No dia trez do mesmo mez se principiou viagem coste-
- 352-
ando esquerda no !'Umo de Sudoe te, e passada outra
volta no de Oessudoe te e atravessou direita, e por esta
se costeou no de udoe te, e Sueste, e ultimamente a Sul;
e com '12 horas de caminho se andario oito leguas.
No decurso deste dia no houve qne notar cousa aI guma
mais do que no ter o rio correnteza de consequencia, e e
attribuio ao impedimento que io achar as aguas nas Ca-
choeira, e por esta causa se detinlto a aguas como repre-
sadas e em fora em toda a navegao que se fez das ca 110-
eiras acima.
o lugar em que portro as cana no dia trez, que foi
na margem oriental do I'io, por haver naqnelle sitio o que
era preci o pal'a se guarnecerem as cana elo d3.mno que
havio recebido da passagem das Cachoeira:: e pa sou o
dia 4. no lugal' I'eferido, onde se concertal'o a cou a dam-
nificadas ela embarcae, para com mais commodidade
se proseguir viagem.
A , pelas quatro hol'l.s da madrugada, se prll1ClpiDll
viagem costeando a esquerda no rumo de Sueste e Sul,
e ao romper do dia se passou parte direita, e se 0-
teou a Sudoeste, Sul, Susueste, e ueste; e ne te ru-
mo se topou com huma ilha, que corria com a volta do
rio, e por entl'e ella e a margem direita e na,egou;
e nesta volta se corrl'o .todo os rumos desde o Sul at
chegaI' e Leste, e depois e navegou a Sudoe te at o
lugar em que se portou que foi na margem oriental com
onze hOl'as de caminho, em que se andario oito legua .
At este lugal' no houve correnteza.
No dia 6 ao amanhecer se proseguio viagenm 00 ,'u-
mo do Sul e Sueste costeando esquerda huma grande
enseada, e depois a Sueste, 'e ultimamente ao ,uI; e
com onze hora ele caminho se andario sete legua~. este
dia j houve alguma correnteza, que se venceu em grande
tl'abalho.
Dia 7. Principiou-se viagem de mad!'Ugada coste-
ando direita no rumo de Sudoeste, e logo ao Sul e
Sueste, e indo j no Lessueste se passou entre hUlUa
dilatada ilha alagadia e a terra firme oriental, por cujo
canal sahindo a Leste no fim da illla obre a parte e-
quel'da se navegou a Nordeste, Norte, e. outra vez a
Nordeste voltando at Leste, em cujo I'umo portro as
=- 3~3; =
canas,.fronteiro ponta. de outra 'Ilha pequena com d.e~
horas de caminho, em que se andario sete leguas.
No dia 8 depois.de missa partiro as canas s oito horas
da manh costeando direita no rumo de Sueste e Sul por
espao de buma bora, e atravessando esquerda se cos-
teou a Leste, a Sueste, e Sul; e neste rumo sendo j 4, boras
da tarde se principiou a achar as aguas do rio menos bar-
rentas, circumstancias que se foi observando no resto da
mesma tarde, at que sendo j noite se conheceu com luz
ser a agua de todo claTa pela margem esquerda, onde pa-
rando a navegao se observou daquelle lugar haver no rio
trez.embocaduras, duas parte do Sul, e buma de Le~te,
cuja circumstancia junta com a diversidade da agua que ,e
achava, se assentou por certo ser huma das duas bo~as a.o
Sul a do rio Mamor.
Amanheceu o dia 9, e com a luz dene o desengano do
que a noite antecedente no deixava bem perceber,
Com effeito ao rumo de Sudoeste desembocava o rio Ma-
m01' em huma barra de mais de 500 braas, e para ella na-
vegavo as canas atravessando aquelle quasi golpbo de
agua formado por este rio, e pelo Apo?' (i) na unio que fa-
zem bumas e outras aguas sendo clarissimas as do ApO?',e as
do Mamor com a mesma turvao que tem as do Beni a
qual contina pelo dilatado espao de que se fez meno no
DMio em 2 de Outubro do anno antecedente.
Do concurso que ha neste lugar de humas e outras aguas
se derramo estas pela margem oriental, e formo ,'arios
lagos, cuja embocadura parte de teste!le a que se havia
notado na noite antecedente.
Das serras do Pe?'' que fazem a cordilheira geral dos
Andes, nasce o rio Mamor em altura de 18 gros e meio de
latitude austral, e sendo a sua dtreco quisi do Sul para o
Norte se encontra com o (}u,apax, que tem suas origens das
~esma serras mencionadas, e. passa por Chuquisaca on
Cidade de la Plat(L, e por Santa C?'UZ de la Sie?Ta la n'l.LeVa,
ate que na altura de 16 gros faz no rumo do Norte a sua
unio com o Mamor, e ambos encorporados recebendo va-
ri.as torrentes que das partes occidental e ~riental o busco,'
discorre pela Provincia chamada de los MOJos (2) terra plana,
pouco fertil e to esteril de riquezas, que consta no haver
(ll(2 Apor, Hoje Guapor.
M.o;o He il prOYlDcia do llIoxos',
43
- 3M-
nas suas dilatadas campinas genero algum de metal: com-
tina pela mesma planicie, e passando as terras dos lndios
chamados Cay'ubabas mistura suas aguas com as do Apor
na altura de 12 gros e ~o minutos de latitude austral.
No anno de 1723 governando o Estado do Par Joo da
Gama da Maia, teve este noticia por alguns homens, que
hio a contratar gentio ao rio da Madeira, que acima das
suas caGhoeiras havio habitaes de gente Europa, sem
constar ao certo se de Portuguezes ou Hespanhoesj mandou
explorar o dito rio por huma tropa, de que foi cabo Francisco
de Mello Palheta, o qual depois de passar as cachoeiras in-
do navegando encontrou perto da boca do rio Mamor cana
de Jndios Castelhanos governada por hum mixtio, que
[ui ou o referido Palheta at a alda da Exaltao de Santa
C'f'V,Z dos Cajubabas, e tendo nella pratica com os Missiona-
rias que a regio, voltou ao Par com as noticias do que
achou, sem fazer mais memorias dos rios, no s do Beni,
que desagua entre as cachoeiras de que j se fez meno,
mas nem ainda do Apol',queto manifestamente seI he mos-
trou, e era preciso atteGder na entrada ou sahida do refe-
rido Mamor.
Correndo os tempos e povoado o Matto-Grosso pelos mo-
radores do Cuiab nos annos de 1736 e 1737, succedeu
sahirem daquelles novos arraiaes no anno de 1742.... ho-
mens na diligencia de commerciarem com os Padres Cas-
telhanos vizinhos, em ordem a refazer a dita povoao de
algum gado e cavallos, pa~a cujo effeito navegando o Apor
abaixo, chegaro a entrar pelo Mamor, e com..... de via-
gem pararo na mesma alda de Santa Cruz de los Caju-
babas, onde faro bem recebidos, porm sem resultado do
projecto intentado.
D.estes companheiros se apartaro trez, que rodando rio
abalXo, e salvando as cachOeIras chegaro ao Par, onde
sendo apprehendidos faro dous remettidos prezas a Sua
Magestade por transgressores da Lei de.... , e se assentou
praa de soldado ao terceiro companheiro cbamado Joaquim
Ferreira Chaves, o qual podendo-se escapar do servio de-
sertou pelo Maranho a buscar B-oyazes, e destas minas
passou ao Cuyab, e ultimamente ao Matto-Grosso, onde
por .este seu mo~ador se teve a primeira noticia, de que
podIa pelo MadeIra haver commercio com o Par.
Neste meio tempo tornaro alguns moradores a fazer
- 35-
viagem do Matto-Grosso alda da Exa.ltato, sem con-
seguir cousa alguma de negociao, ate que no anno de
i747 achando-se aquelles arraiaes em grande penuria de
sal passou hum cirurgio chamado Francisco Rodrigues da
Costa a commerciar algum deste genero, e com effeito o con-
seguio a troco de fazenda secca, e tambem negociou cra
epanno de algodo, que tudo lhe fez ba conveniencia, com
interesse da qual estabeleceu huma quasi sociedade com o
Missionario da alda referida, dando este hum rol dos ge-
neros de que necessitavo para se commutarem pelos
acima mencionados, nomeando para a troca ao Missionario
de Santa Rosa estabeleCida novamente na margem oriental
do Apor.
Com effeito no anno seguinte de i748 fazendo o mesmo
Francisco Rodrigues compra no MaLto-Grosso dos generos
sorteados, de que levou a lembrana por escripto, e fazendo
viagem at a dita alda de Santa Rosa, achou removida a
sociedade de sorte, que no smente no se fez a troca dos
generos, mas nem ainda o Missionaria quiz fazer acceitao
de hum mimo, com que o dito Francisco Rodrigues preten-
deu politicamente lisongea-Io: dando a razo de dissolver-
se o estipulado, que havio recebido apertadiss;mas ordens
do seu Superior residente em Santa Cmz de la Sierm para
no terem os Missionarias daquella Provincia commercio
algum com Portuguezes do MaLto Grosso.
Voltou para aquelles arraiaes o referido Cirurgio com os
mesmos trastes mercantis, que havia levado a Santa Rosa, e
na occasio de chegar a escolta do Par ao arraial de
S. Francisco Xavier aUi estavo a vender em loja pblic",.
Estas foro at o presente as navegaes Portuguezas ao
rio Mamor tanto do Par, como do Matto Grosso, o que
supposto, resta dar noticia das Aldas que ha no referido
Mamor, e do mais que houver memoravel que lhe per-
tena.
Navegando-se o rio Mamare correnteza acima se achou
em meio dia de viagem, que se fez em cana ligeir'a da es-
colta, ser a sua entrada ao Sudoeste, e limpo de cachoeira,
e no tem ilhas.
Pelo que consta de informaes, que dero os Portuguezes
do Matto Grosso que o navegaro at aExalta.o, e pelo que
s acha esci'ipto em idioma Hespanhol impresso, sabe:se ~er
esta alda a primeira que se offerece na sua navegaao OIto
- 356-
dias de viagem rio acima: est fundada ha mais de 50 annos
na margem occidental do rio em terra plana, lanada em fi-
gura quasi quadrada: a construco das su;J.s cazas he barro
com a cobertura de colmo, a Igreja a tem de telha, e hesuffi-
cientemente ornada: tem Padres Missionarios, e Coadjutor
da Religio de Santo Ignacio.
.Os Indias habitantes consta serem de nao chamada Ca-
jubabas, e ter de hum e outro sexo e idade quasi trez mil
pessas, e destas capazes de uso de armas 460.
Occupo-se estes Jndios em fazer roas de milho para o
seu sustento, e pastorear algum gado vaccum.
Os seus haveres consistem na extraco de cra, que as
abelhas fabeico naturalmente pelos troncos das arvores:
lavro algodo de que se vestem, e delle tambem se utilizo
para o commercio, como tambem de algum assucar, de que
tem engenho, indo a Santa Cruz de la Sier'm commutar
estas espedes pelos generos que so precisos ao seu uso, e
Viatico para o Missionaria.
Desta alda poucos dias de viagem desagua na mesma
margem occidental o riacho chamado Apor, o qual na parte
em que se divide em varias braos, est fundada a alda de
Santo Ignacio composta de quasi trez mil alm'as de hum e
outro sexo e idade, e entra neste numero mil trezentos e
vinte oito cathecumenos: dos j baptizados podem usar das
armas f:70.
Passada a boca. deste rio se acha em pouca distancia
della parte oriental a alda de S. Pedro, que consta de
mais de duas mil, em que entro 926 cathecumenos, e dos
neophitos 640 capazes de tomar armas.
Continuando o rio acima desagua na margem occidentalo
riacho chamado Tiamachu, e logo acima da sua embocadura
-parte esquerda est situada a aldea de S. Xavier com
perto de quatro mil almas, e destes Indias 560 capazes de
guerra.
Acima da embocadura se acha na margem oriental fun-
dada a alda da Swntissima Tr'indade, cujos povoadores
se chamo Mojos, e tem 1700 almas de hum e outro sexo e
idade baptizados, 1.106 catecumenos, e dos neophytos 750
capazes do uso de seus arcos. .
Onde o rio Mamor se junta com (j) Guapaix parte ori-
ental est situada a alda chamada Loreto tambem de Mojos
- 37-

com 2900 almas, em que entro 923 catecumenos, e dos


baptizados 660 capazes de armas.
Seguindo Guapaix acima j perto da cidade de Santa
C1'UZ de la Sim'a desagua . parte direita hum riacho cha-
mado Palometa, no qual est. fundada a aldea de S. Josquasi
na fralda da serrania dos Andes j tem 2105 almas de hum
e outro sexo e idade, e destes 700 capazes do uso de suas
flexas.
Correndo pelo centro parte occidental dos Mojos est
fundada outra aldea de S. Jos com 3,177 almas, em que
entro 1717 catecumenos, e dos baptizados tem 500 capazes
de armas.
Pelo mesmo centro parte occidental da Exaltao est
situada a nao dos Mobimas, que em i 709 apostatando a
F martyrizaro o Venera vel Padre Balthazar de Espinosa,
que os havia. instmido na vida Christ.
Desta nao se fundaro depois duas aldeas quasi nas
cabeceira8 do riacho Maniqui, que desagua no Mamor
pouco abaixo da Exaltao. S. Luiz e S. BO?ia se nomeo
estas duas povoaes; a primeira consta de 1.630 almas,
das quaes quinhentas pessoas so capazes de armas, e a
segunda he de 1. ,300 Indios, dos quaes 400 podem usar
de arco e flexa, armas, de que uso todos os Iudios acima
mencionados.
Todas as aldeas aqui apontadas so missionadas pelos
Religiosos de Santo Ignacio, de cuja Sagrada sociedade era
a~umno o Veneravel Padre Espinosa martyrisado pelos Mo-
btmas
O Superiol' destes Missionarios assiste na cidade Santa
Cruz de l'a Sierra, e pela direco deste Superior se governa
toda esta Provincia, que se chama dos Mojos, por serem
estes os primeiros que largando a Idolatria admitliro a
promulgao Evangelica debaixo da proteco dos Monarchas
de CasteIla.
Amaior parte do terreno, por onde discorre o rio Ma-
mOI', e esto fundadas as aldeas referidas, he to plano,
que em tempo de aguas rebojo os rios de sorte, que ala-
gadas as campinas se fazem navegaveis, recebendo grande
damno as se~enteiras j tambem impedem a multiplicao do
gado, e at as mesmas povoaes padecem sustos grands,
no s pelo p~rigo que lpod~ re~ultar-lhes das itinuuda,...
- 358-
es, mas pela que fico aquelles povos condemnados, quan-
do so mui desordenadas as cheias.
O clima desta regio he summamente intemperado, que
alem de occasionar doenas terriveis contribue mui pouco
para a fertilidade dos fructos e viveres, razo por que se
padece de tudo bastante penuria em alguns dos povos aqui
relatados.
Naveao do rio Apor at ehear;ar RII Itllllas do
Itlao Grosso.

Antes de proseguir a narrao deste Dicwio desde que se


principiou a navegar o rio a que os moradores do Malta
Grosso chamo Apor, e os Hespanhes lthenes, se fazia
preciso dar neste lugar huma vel'dadeira noticia do con-
curso das aguas deste rio com as do Mamor, em termos
que se podesse formar conceito a qual destes dous pertence
a maternidade das aguas que formo o rio Madeira, porm
como por falta de instrumento se no fez das larguras destes
rios hum exame regular, no se pMe affirmar com infallibi-
lidade por qual delles est este fundamento.
Re sem duvida que ao atravessar hum e outro rio nas
suas embocaduras, no se atreve a decidir a visla com in-
disputavel certeza a qual delles pertence maioria nesta
parte por que nelIa parecem iguaes, sem embargo de que
applicando toda atteno neste exame julgaro todos os de
melhor voto por experientes que o AP01' mostrava maior
largura, e recorrendo-se a sonda em huma e outra barra se
achou ter a do AP01' seis braas e meia de fundo, e do
Mamor sete.
Nesta maioria porm se deve attender a ter o AP01' na-
quella parte em que se fez a experiencia hum brao de ara,
que atravessa a embocadura quasi de huma a outra marge~,
e admittida esta differena no se pMe dar vantgaem consl-
deravel nesta parte ao Mamor.
Na parte de Leste opposta barra do Mamo1' faz o Apo1'
huma enseada, em que mostra ser elIe o recipiente, pois da
parte occidental corre a terra fazendo a figura convexa por
onde desemboca o lIfamor, mediando entre o ajuntamento
destas aguas huma co.mo peninsula de terra, que divide hum
e outro rio, que por espao de trez horas de viagem correm
parallelos no rumo de Susudoeste, no qual prosegue o Ma-
- '359-
mar, como j fica mencionado, e o Apa1' aC'abadas as ditas
duas horas de caminho busca o rumo de Lessueste, para onde
he a sua direco at onde nasce, como se mostrar na con-
tinuao deste.Dia1io.
As ribanceiras de huma e outra margem do !rfamor ero
no espao, em que se navegou o tempo de meio dia, seme-
lhantes em qualidade de terra e produco de arvoredo s
mesmas, que at a sua boca se havio observado desde que
se entrou pela barra que faz no Amazonas j no tem porm
ilhas, nem consta que tenha cachoeiras at as serras, onde
tem o seu nascimento.
As margens do Apor, desde que se faz no rumo de Les-
sueste, totalmente lie diverso na qualidade das ribanceiras
e arvoredos, porm contina com as suas ilhas da mesma
sorte que sempre se encontrro desde o principio da nave-
gao.
As suas aguas j fica dHo que so claras, e s resta con-
cluir que so semelhantes no gosto e or s que se acharo
na entrada do rio, at que se principiaro a conhecer turvas,
cuja impuridade se attendeu proceder dos dous rios Beni e
.UClIm01, como j se deixa relatado.
Segundo todas estas circumstancias succintamente aqui
referidas se no bastarem para se considerar o po1' tronco
principal do Madeira, tem este a seu favor o consenso geral
do He panhes, que o navegaro at a Ilha Camp,'ida (desta
em seu lugar se dar noticia) que o julgaro ser madre,
depois de navegarem quasi todo o '1amor, que sem duvida
achro ser menos caudaloso.
Depois de quatro dias de demora na barra do Apor se
continuou Viagem a 14 pelo mesmo rio no referido rumo de
Susudoeste por espao de trez horas, e passando ao Sul,
Sneste, Leste, e com m:l.is freql1encia Lessueste, em 12 horas
de caminho se andario dez legl1as, sem por todo este es-
pao mostrar declinao na largura que trazia antes de
receber as aguas do Mamor, e no houve mais que notar
do que a diversidade do rumo, que se ia experimentando,
ao qual corria tambem a Cordilheira quando se avistava.
A 15 se proseguio viagem no rumo de Sueste e Leste, e
com duas horas de caminho se achou clesagoar pela mar-
gem esquerda hum lago de sl1fficiente grandeza, e conti-
nuando no mesmo rumo passou a agulha com huma volta
do rio ao Norte, e com outra tornou a Leste,em que se achou
...,.. 360 -

da mesma. margem esquerda outro lago pelo qnal em tempo


de cheia introduz o rio tanta copia de agua, que faz hum di-
latado pantanal, que em canotas se costuma navegar para
se fazer montaria na caa, que se afa:sta para a terra firme
do centro: do referido rumo se foi ao Sul em outra volta, e
neHa portro as canas na margem occidental que se no
achava alagada; e em '9 horas de caminho se andario 7
leguas.
No dia 16 se continuou viagem no rumo de Sueste cos-
teando esquerda, e passando ao de Leste se encontrou
huma Ilha lanada ao comprimento do rio, que se acabou
de passar j no rumo, de Lessueste, no qual se encontrou
logo outra Ilha de menor comprimento que a antecedente
navegando-a pelo canal da parte esquerda a pouco espao
no mesmo rumo se achou fazer o rio huma entrada pela
terra dentro da mesma margem esquerda, derramando-se
em hum mui dilatado pantanal, cuja boca pouco differe da
largura do rio, que j por est.e lugar se conhecia ir estrei-
tando, e smente nas partes em que fazia Ilhas dilatva-se
em largas enseadas.
Com sete horas de caminho portro as canas, e se an-
daria neste 'dia seis leguas por se haver encontrado pouca
correnteza.
A 17 pelas 4. horas da madl'Ugada se deu pl'incipio . via-
gem no rumo de Leste, e 10go se passou a Sueste amanhe-
cendo-se no de Susueste, no qual e no do Sul se andaria
duas horas, e no virar neste rumo a ponta de huma ensea-
da se avistou em meio delIa huma cana junto terra da
parte direita, e logo da margem esquerda sahio outra. que
foi atravessando o rio para onde estava a que se avistou pri-
meiro, para cujo lugar iamos fazendo derrota, e chegando
perto achamos a cana que. atravessou, e a que estava surta
mbas postas de largo, esperando a novidade que aos Jn-
dios delIa se offerecia em verem embarcaes diversas das
suas, tanto em figura,como no modo de f.1avegar.
Sem fazer caso da espera nos fomos chegando sem altel'~r
nem diminuir o impu) o ordinario da nossa frma de camI-
nhar: e tanto que a distancia deu lugar a se ouvirem vozes,
bradro os Indios da espera dizendo estas poucas palavras
Castelhanas - Amigos, amigos, Ch?'islJianos peZa graa de '
Dias - acompanhado este protesto com aces affil'ma-
- 361 -
tivas, tirando bum da cabea huma monteira (-1), e levando
muitas vezes a mo aos peito em signal de affeclo e
sinceridade.
Reconhecido serem estes Indios domestico, como tam-
bem hum monto delles que estavo na ribanceira de-
fronte das dua cana, e davo as mesmas vozes que os
primeiros, faro as nos as embarcae passando por entre
elles sem se lhes dar outro conhecimento mais do que
resflonderem os no sos Indios com as mesmas palavras
/lmigos, amigos etc., e como se lhes no admiltio prtica
alguma, ficro ao parecer occupados de admil'ao, se-
guindo-nos unicamente com a vista, e immoveis na operao
de seus remo .
As canas em que navego o semelhantes s de que
uso os nosso Paulista!', e e chamo ubds, que vem a ser
hum madeiro de 50, 60, e mais palmos de comprido, e de
sete at dez de largura, sem mais beneficio que cavado o
amago machado, e ao mesmo talho a ppa e pra com
bca de trez at cinco palmos em cuja pl'aa remJo os
lndios em p em tanto numero, quanto d lugar o compri-
mento da cana, a qual se governa por duas pessas, qe
na. ppa della cada buma com o eu remo suppre o mi-
ni lerio do leme.
O trajo destes Indios 11e vestirem humas como tunicas de
algodo bem tecidas, e em mangas nem abertura por
nenhum dos lados, que cobrem a de!'nudez at meia perna,
o cabello comprido entranado, ou atado no lugar da nuca,
e todos elles com 1'0 arios de contas, e medalhas pendentes
ao pescoo: somente bum Indio que entre os da cana
mostrava di tinco, e era o que com mai eilicacia se in-
culcava amigo com palavras e aces, trazia vestida hUllla
camisa, para a qual no concorreu tl'abalho de fio, nem
fabl'ica de tear, porque era de buma membrana, que se cria
entre a casca e o tronco de algumas arvores, e sobre ella
huma jaqueta azul de cousa de l talhada ao u~o Castelbano,
o cabelLo coibido em trana, e cobria a cabea com buma
monteira de rebuo (2) tambem de cr azul, que tirou com
prompLido quando deu os primeiros annuncios da sua cor-
tezania e Christandade.
(I) Noutci,.., i. c. earapun de monlo.
(2) Monteire. rie rebuo, i. o., carapu 'a quo LoOl aLa qu se alo dilllllc 00 meio r olu, e
o encobrem.
4Q
- :"62-
Findou-se aquella enseada no rumo de ueste, e logo ~e
seguia outra no de leste, donde se avistaro humas Ilhas,
que dissero os Praticos estarem hum quarto de legua em
distancia da alda de Santa Rosa, e como era preciso passar
vista da dita alda para se observarem as ordens de no
ser pl'esentda a escol ta pelo Missionario se tomou o expe-
diente de se recolher toda em buma rIas ditas Ilhas, e na
vegal' de noite por defronte da alda com o silencio neces-
sario, por evitar algum encontro de perguntas e respostas:
e nestes termos serio dez horas da manh quando tomro
porto todas as canas em huma ilha encostadas margem
direita, entre a qual e a terra firme mediava hum canal
de pouco mais de duzentas braas ao parecer, em qne se
fez a espera conveniente.
Serio trez horas da tarce quando de entre os matos da
ribanceira defronte donde as canas estavo portadas, sa-
hiro duas ubs pequena, governadas cada buma clel1as
por dous Indios, que apenas avist.ro as nossas ca.noas, se
encaminhl'o a ellas, e chegando j a pouca distancia en-
toro a mesma arenga dos antecedentes accrescentando
Santa Roza, Santa Rozc~, e sem embargo de que se lhes
deu a entender se retirassem e fossem seu caminl.1o, no es-
tivero pela insinuao, antes com grande alvoroo se
aproximro as canas, e entre ri~onhos semblant.es ebe-
gro com effeito a ellas,. repetindo os colloquios de ami-
sade, que antes proferio; e. como davo a entender por
palavras Castelhanas que ellas io da sua roa para a
alda de Santa Rosa, se deliberou o Cabo da escolta a pre-
meditar o meio para os deter, em ordem a no irem depr
do encontro para delle resultar a potencia no Missionario
ao exame de que canas serio.
Nestes termos se entrou em pratica com elles, e pela
mesma fraRe Castelhana junta com bom agasalho se tratou
da compra de hum pouco de milho que levavo, e de al-
gumas frutas que elles facilmente por anzoes e facas Fla-
mengas vendro de hoa vontade. Perguntou-se-lhes se
ero longe as suas roas, e se podio ir hnscar mais millllJ
e frnclas, porquanto aquelJe que acabavo de vender era
pouco para tanta gent~, e mostrando-se-lhes algumas agu-
lhas e velorio para lhes desafiar o desejQ, conferiro entl'B
si o caso; e perguntando se estario alli esperando at a
madrugada sguinte, e ouvindo dizer que sim, com toda
- 363-
pres a vollando para onde tinbo sabido, se embrenhro
no mnto, e ficou por ento venCldo :lqoelle embarao.
Neste meio tempo fez o Capello da t'sl'oll.a hnm rpqueri-
mento ao Commandante della, em qlle JlJe jlvdia licena
para ir qoella primeira aldea a confe:,~af'-se ,;Illll u Mis-
sillnario della, por ir indispostl) para dizer mis~a sem
aqnelle sacramento de que necessi I ava. Fo-Ihe re pond ido
que segundo as ordens qne era obrigado :. "b~prvar lhe no
podia conferir semplhante licell<l, que be,lI pl'e~t'nciava
sua Patemidade as cautelas e sooterfugius ue que actual-
mente e tava usando para occultar ao Padre Ca,telbano a
nossa navegao, e no era razo que tudo isto ficasse des-
baratado, e em desprezo .s ordens de Sua Magestade outor-
gando-lhe a licena que sua Paternidade pedia.
uendo esta rc~po ta concludente a qualquer animo sin-
cero e racional, no esleve por ella o dito Padre, que he
FI'. Joo de . Tiago, Religioso Capucho da Provncia da
Conceio da Beira, por que instou com o Commandante
com desu ada petulancia, concluindo que no caso de baver
ordem de Sua ~1:agestade, que Ibe diria se no devia en-
lendel' com elle, por que no linba obrigao eUe dito
Padre de as guardar, e que se lhe no queria dar a li-
cena que pedia, no diria mais missa: ao que ultima-
mente respondeu o Cabo dizendu-Ihe que tivesse enten-
dido que mais faci! lhe seria morrer do que conceder-lhe
tal licena: do que mal satisfeito o dito Padre se retiron
i sua cana, mostrando no ter conformidade alguma com
a negao da licena que pedia.
Cheg:oll a noite, e se passou ordem a todas as canas
que seguissem os seus Cabos a da -vanguarda, em que ia
o CommanLlantc; c com especialidade foro advertidos os
dous Indio,s que governavo a cana do Capello, que por
nenhum acontecnenlo se apartassem da conserva das mais
canas, ainda que o Pdre quizesse outra cousa, pena de
serem asperamente castigados.
Segnio-se viagem coo teando a parte direita no rumo de
le sueste, logo se avi taro as serras na margem orien-
tai, na falda das quaes est fundada a dita alda de Sunta
Rosa na ell eada ao referido rumo, na qual se passou
toda a enseada c a cacboeira que ha no rio, precedida
de varias restingas de pedras que sabem das serras men-
cionadas, e alravesso o rio de huma e outra margem
- 364 :......-

pelo terreno, em que esl estabelecida a llita alda, tendo


o rio alli a largura de tiro de canho. No se achou da
cachoeira outro vestigio mais do que alguma correnteza
maior que a ordinaria, que facilmente se venceu a remo,
por estarem j de todo cobertas as pedras com a encbente
do no; e assim com duas boras de caminho depois de pa -
sada a rererida aldea e cachoeira portro as canas s
nove horas da noite na margem de outra enseada parte
direita: e em oito horas de caminho em lodo o dia se
andario sete leguas.
Dobrro-se as sentinellas aquella noite para evitar al-
guma fugida de Indios, porm no podro eviLar a desero
do dito Padre, que na mesma noite favorecido do escuro
della se introduzia em huma das duas canoinhas de pescar:
e quando estas de madrugada sabiro (como costumo)
montaria catequizou o Padre os Inclio para o irem botar na
alda, e voltarem logo: o que lhe foi faci! de con eguir, por
serem os Indios de genio summamente flexivel, e eenenhuma
repllgnancia a persuadirem-se a qualquer desordem; e lhes
basta o vil interesse de huma pouca de agoa ardente para
de todo ficarem sujeitos ao que quizerem fazer delles.
A's 5 horas do dia 18 se principiou viagem sem haver a
minima ntida do soccorro relatado, at que clareando o
dia dero conLa os lndios que governavo a cana do Ca-
pello, que este no ia n, cana, nem sabio delle cousa
alguma, nem de hum Indio pescador do mesmo Padre que
tambem faltava. Presumindo-se logo o que acima fica men-
cionado, depois de se averiguar pejas sentinellas que s a
canoinbas de pescar havio sahido aquella madrugada, cau-
sando huma grandssima perturbao to impensada desor-
dem: porm como este ReJjgio o no havia levado outra
cousa mais que o seu Breviario, pois era o que se aclla:va
falto na cana, se tomou o accordo de e peral' aquelle dIa,
mas em parte distante,por no se expr a escolta a novas d~
seres de algum soldado dos Inrlios: em cujos termos conti-
nuando viagem a lessue~te e leste se achou neste rumo de-
saguar pela parte occidenLal do rio outro, que ao parecer
ter !~OO braas de embocadUl' chamado Uonoma$( 1), nome
que lhe provm de huma nao de Indios, que alli se acba-
vo alJeados em duas povoaes, buma chamada de S. filar/'-
tinho, e outra Sanla Maria lt1agdalena, mi&~ionadas pelos

(I) 1/onom.8. o "crdlldciro Dome be 110n.ma,.


- 365-
Religiosos de Santo Ignacio da me~ma sujeio que as ante-
cedentes ao Superior de Santa Cruz de la Sierra.
Nesta "iagem da bca do Itonomas rio acima, esteve
Frand:-co Leme, e seu companheiros, quando fizero a pri-
meira navega.o pelo Apol' abaixo, e do quej ne te Dia1,io
"e fez meno. dizem haver em hum ribeiro que desagoa
no ll.onomas, outra misso com a invocao de S. Ped1'o,
da qual nem das duas referidas foi possivel averiguar o llU-
mero dos Jndios que tem, porm os seus haveres e com-
mereio he emelhante ao das aldeas dos ~fojos (1.) e seus visi-
nhos.
E te rio Ilonomcis tem a ua entrada ao susudoeste, e as
lias agoas so cLaras e mui semelban tes no abor s do Apor.
Continuou-se viagem deixando j pela ppa huma grande
correnteza procedida de pedras que ba na margem esquerda
fronteira bca do 1tonomas, e de huma ilba que corre ao
comprimento do rio, na ponta da qual desemboca o mesmo
Ilo?lOmaS ; e no rumo de leste havendo navegado duas ho-
ra e achou desagoar no Apor pela mesma margem occi-
dental outro riacho de guasi igual desembocadura ao an-
tecedente chamado do Bau1'es, nome de huma nao de
Jndios que nella habita, e se acho aldeados em misses
como o ltonomas. Mostrava ser a sua direco ao rumo de
sudoeste, e so as suas agoas mui semelhantes s do Ma-
mar c Beni, porm como so em menos quantidade, no se
faz sensivel 00 Apare a sua turvao.
Dizem hav61' oeste rio quatro aldas a saber: NOSSLL
Senhom dtL Conceio, S. b1a1,tinho, Trindade, e S. Gab1'el,
todas administradas pelos referidos Religiosos. A sua com-
municao com a cidade de Santa Cruz de la Sierra, a cujo
uperior e to sujeitos, be na.egaodo rio abaixo a buscar o
Apor e por este descendo vo entrar no Mamor; pelo qual
subindo com mais de dous meze de navegao s do Mamor
chego referida cidade: e o mesmo succede s misse do
lLUnOml\8 para o seu provimento annual, cujos havere para
conseguirem o que lhes he preciso, cOllsistem nos mesmO$
genero de algodo, cera e aSSllcar, c.Je que uso para suas
commntaes as misses dos nfojos; porquanto o conti-
nente, por onde fazem passagem estes dous riachos a buscar
o Apor, he de situao plana e alagadin, sem prdl1co
de metaes da mesma sorte que he o terreno, de que j se
(1) Mojos. Ns dizemos Moxos.
- 366-
fez meno, quando nesle Dia?'io se tratou dos Mojos; cndo
o tem;Jeramento do clima em toda esta' regi:1,o to irregular,
que uo se conhecendu em tudu o anilO r1istinc50 de tem-
po~, pois o calor he de hum perpetu esLio, de repente se
levanta bum venlo sul frigidi. simo, cuja mntao pe 'em
desordem ClS hUrilo!' ~, que lIcca~iona no~ hnbilante, muitas
e mni perigos'L rlopnas; e dt'sta inlelllpel'ana qllf' Ile quasi
. continua, resulta incarncilarem-se al.(lltllla caml'ina~ de pro-
duzir [ruetos da Enrnpa, e apenas ha hI1ma mediocre co-
lbeita de alguns legullles e arruz, cumo lambem de cana-
viaes de assucar.
FunrJro- e estas misses dos Bau?'es DOS ultimas anno
do seculo passado, no primeiros do presente, sendo Apos-
tolo deste gentilismo o Veneravel Padre Cn)riano Baraso, de
nao Navarro, esclareciLlo filho de Santo [gacio; que de-
pois de 27 annos de immenso trabalb.o na converso de muitas
naes barbaras, e haver fundado a alda da Sanlissima
TrinclcLCle foi martyrizado pelos referidos Ba'UI-as no anno de
1702 aos 61 annos de sua idade.
Passado aquelle districto em que desagoa o Ba'LL?'e , se pro-
seguia viagem no mesmo rumo rle leste, e portro s cana
s onze horas do dia na margem oriental, em que ji havia
mais de cinco legoas de distancia da alda de Santa Roza:
e neste dia em ;> horas de caminho se andal'io [~ legoas.
Neste lugar se determinou o Commandante a esperar a
resulta do que succedia a respeito do Capello, e sendo j
cinco horas da tarde chegou a canoinha. de pescar da escolta;
e perguntado o soldado que andava com os poderes obre
o caso da ausencia do Padre, no deu noticia alguma.; e
endo inquirido a respeito da outra canoinba em que anda-
vo dons Iudios e hum branco Paulista montariaudo para a
comitiva dos dons ministros Jos Leme do Prado e Frao-
cisco Xavier que a escolta conduzia, respondeu que sahindo
esta canoinha ao me. mo tempo de madrugada, e seguiodo
rio acima at a primeira illla della voltra para baixo bus-
cando a outra pai te do rio, e que a II~O tornrl a vr, nem
sabia se nella ja lf\ai~ alguma pes~a. que as coo tumadas,
letmos em qu se a~.cntllu por certo que na canoinba dos
Mi. sionarios havia o Padre execlltado a ruga concorrendo
mais a circumstancia ele haver no genia do dilo PaulisLa toda
disposio para se deixar persuadir das imprudentes sng-
gestes do referido Padre.
- 3()'1 -

Bl'evemente e conheceu este discul'sO verificado, por que


a sete hora da noite chegou o dito Paulista na sua canoinha
to confiado e satisfeito de si, como se tivesse executado
buma proza de eterna fama, porque sendo perguntado
pelo succedido re pondel1 com todo desembarao que eUe
recebra de noi te n:1. canoi nha o Padre, e quando salo com
a outra de madrugada, o levra alcla, e voltando logo com
o dito Padre olhando da ponta da eo earla e vendo as canas
no mesmo lugar presumira o Padre que j era persentida a
sua falta, e voltal'a com elte para a altla, e de l mandava
bu cal' o~ eus trastes, como consta\"a de huma carta, que o
me mo Padre escrevia ao Cabo que lhe apresentou.
Foi logo e. te Paulista 11uc se clJama J030 Leme, rnettido
em hum grilho em recompensa da grande aco que lhe
pareceu havia obl'arlo : e lido o e~cripto do Religioso cons-
tava que o dito Leme bavia referido, dizendo mais que
elle queria n:1qnellelugar tomar !lama cura para se remir
de algnns achaques que o "exavio, cd 'pllis ele melhorado
seguiria viagem at Ilha grande, 011 Malta Grosso em ca-
na daquella misso, cuja desaeel'tada resoluo pertul'bou
de todo o ocego e quieta5.o, com que at aqueHe lugal' e
havia naregado lanlos mezes.
Ruma grande perplexidade se offerecia nare oluo que se
havia de tomar para sabir deste embarao, sem prejuzo do
Real servi.o, porque para ir buscr o Religioso fora era
pl'eci o manife tal' o poder, que talvez no estaria ainda pu-
blico ao M.i ionario Castelhano; para seguir viagem sem Ca-
pello podio resultar muito m conl'equencias, por que
seria factivel morrerem sem confl~so no que faltava para
navegai' alguns dos lndios, qiJe j pt:incipiavo a adoecer; o
que succederia tambem aos brancos~ pois niio!lavia seguri-
dade da sande com que de prllsente se achavo: e demais
e o Padre Capello ainda no Livesse depo to nada do qu
continha aquella escolta, poderia depois de ilTitado de llJe
no mandar os seus lt'astes (que a maiores exce os o poderia
al'1'ebatar a terribilidade ue genio, ou pai' continuada com-
municao e familiaridade com o C:.l.i'tel!lano) relatar tudo o
que pl'esellcial'a, de tomar alturas e observar rumos;. e por
e te modo ficar de todo inteil'ado aquelle mesmo Missionaria,
de quem tanto era preciso desviar toelo o conhecimento das
operaes da escolta, por sei' a mas recommendacla cir-
cumstallcia que havia nas ordens com que fra expedida.
- 368-
Nestes termos era preciso usaI' de algum arbitrio para
poder sahir deste aperto sem perturbao, que produzi se
effeitos desagradaveis Magestade de EI-Rey nosso Senhor;
em cuja considerao conferindo o Commandante esta ma-
teria com Jos Gonalves da Fonseca, que levava na escolta
a incumbencia das indagaes que con~to deste Dim'io. foi
de parecer-que por nellhum caso convinha deixar o Capel-
Io pelas razes acima ponderadas, porm que o ir busca-lo
com fora manifesta corria igual inconveniente: e o meio
indifferente que occoria era, que como na escolta io os
dous Missionarios Jos Leme do Prado e seu irmo Paulo
Leme, que na vinda do Matto-Grosso bavio estado naquella
mesma alda e fallarlo com o Missionario della, poderio estes
ir, com o pretexto que se lbes insinuasse, alda, e lruando
achassem occasio opportuna, fizessem toda a diligencia de
reduzil' o Capello a voltar: e para que estes dou homens
no excedessem cousa alguma da commisso que se lhes dava,
o::> fosse acompanhar pc sas de confidencia em trajo disfar-
ado para sen.o afastar delles emquanto estivessem fallando
com o Padre Castelhano, em ordem a que no trvessem lu-
gar de trata.r materia, que no era conveniente commu-
nicar.
Conveio o Cabo nestr, parecer dizendo o poria cm ex cu-
o no caso de ser o mesmo Jos Gonsalves o que acompa-
nhasse os Lemes, e se encarregasse ruais da incumbencia d
persuadir o Padre a voltar. o houve duvida da parte do
convidado em aceitaI' a empreza, com tanto que elle se ha-
via de preparar de cana, gente, e armas a seu arbitrio por
ser preveno conveniente para; tudo o que podes e succecler,
no que concordando o Cabo se destinou o dia seguinte para
esta funco.
Ao amanhecer do dia 19 de Fevereiro mandou Jos Gon-
alves descal'regar a sua cana, e entregou ao Cabo os pa-
peis que levava pertencentes incumbencia da viagem
escolheu 4.. soldados e '1 Sargento, meLLeu em lugar do
Indios remeieos a dous mislios seus escravos, e bum prelo,
e com outros trez pretos escravos dos Lemes se espiou
a cana levando s de Indios doze pilotos, e dous proei-
ros de confiana, e com as armas proporcionadas ao numero
oe branco e escravos se embarcou com Jos Leme e Paulo
Leme, c principiou a rodar o rio abaixo s 8 lJoras da
manb:I. .
- 360-
1'elo caminho 1I0uva lnstan te tempo ele se instruirem
os Lemes na pratica que hav'io de ter com o Missio-
naria, advertindo que na presena deli e havio de tratar ao
dito Jo" Gonsalvcs pOl' se criado, para concordar o trata-
mento com o trajo desprezivel em que ja ia, sem que o ad-
mitlissem a assento na conversaco: e ao tempo que de lon-
ge se avistou a alda, se recolhl'o os soldados debaixo
das tolda com ordem de no apparecerem se no em caso
de serem cuamados.
A's onze horas ela mesma manh POl'tou ua alda a cana,
e desembarcando os trez sujeitos destinados, se paz a cana
de lal'go para no haver ll'tic:l com os Indios Castelhanos,
que logo cOl'rl'o a ribanceira a notar os hospedes; bus-
COll-se o Mi. ionario, e ja se achaya bm refeitorio com o
Fl'anci 'cano, e como :'1. casa el;)' tenea e a porta aberta, pa-
tente a casa a qnem pas'ava, logi} que o Jesuita via os Le-
mes, os clla010u dentro, e deu lugar a fazerem-llJe seu com-
pl'imel1to, que aceitou com beoevolencla, dizendo-lhe sahis-
sem pau fra a e. peral' hum pouco, que depois de jantar
fallaria mais de espao.
Mandou-lhe o Missionario pr !l1r,sa, e de hum pouco de
gigote (1) e alguns lacticinios se com paz o jantar que vein, do
qual dispensl'o os Lemes bum prato ao seu novo criado,
que afastado da me. a po to de p estaya consti'uiiHlo a vian-
da, a tempo qne chegava a buscar o uospedes o Missiona-
ria, que ja havia jantado. Novamenle se cumpl'imentl'o os
conhecidos, e logo o Jesuita entl'OU a formar queixas com
o fundamento de uo terem ponado quando pas, tLro, nem
a.o menos consentirem que bum Religioso Sacerdote tivesse
a consolao de fazer aquelles actos de piedade, que tinira
de obrigaljo pelo efltado que profl~ssava. e qne nesta parte
bavio usado huma grande t 'I'anoia com aquelle Religioso,
a quem pelo seu caractel' se devia todo acatamento.
A esta correcc.5.o respondeu Jos Leme que, quanto a no
terem portndo na alda, occorrio duas rases, que os pel'-
suadio a no terem por ento o gosto de OD, equiar a S. R.:
apnmeira era pelo receio tIue Linbo de lhlils fugirem alguns
escravos, como ha.via experimentado quando lizera viagem
pam baixo, de que S. R. estaria bem lembrado, pois fugin-
do-lue no seu P0l'to hum Carij, lhe no fora possivel o recu-
(l) Gigou" i. .) carne cm bOtados al'lIgada, ou como vulgnl'Jllcntc se diz carne guisada.
15
- 370-
peral-o: a segunda era achar-se com receio de porlar, por
quanto quando daquella alda partira sem o seu Carij
encontrra perto do rio Mamo1' o R. P. Visitador, que fazia
viagem para cima, o qual pretendeu impedil-o, e o queria
fazer voltar para traz, dizendo que aos Portugllezes no era
licito navegarem aquelle rio j e tanto assim que chegou o
Padre a querer usar de alguma violencia attacando-lbe a ca-
na para no proseguir avante: o que supposto por entender
que o mesmo Visitador deixaria alguma ordem pera na alda
se praticar semelhante impedimento, lbe dera motivo, e aos
mais companheiros para passarem de largo, que quanto ao
Religioso lhe negavo a ida alda pelas mesmas rases,
accrescentando outras de que elle vinha em huma canoa de
hum homem mui impertinente morador do Par que ia a
seu negocio ao Mato-Grosso, o qual pelo que tinha ollvido
das couzas mencionadas, no queria por nenhum modo por-
tal' na alda, e que elle dito Jos Leme vendo o que passava,
e lastimando-se daquelle Religioso concedera a sua canoinha
ao Padre para nella vir fazer a sua reconciliao, e o Padre
(que ja estava presente) podia asseverar se aquella era ou
no a verdade.
Ato disse o Franciscano, que percebeu muit() bem a idea,
por cuja raso responrleu crente que nada do que dizia oLe-
me deixava de ser verdade, e a sua queixa no era contra
elIe, mas sim do dono da cana, em que fazia viagem, pois
com mUito mo termo se excu ara de portar na alda, sendo
para hum fim tanto do servio de Deos. Ao que respondeu o
Leme, que a sua vinda alli no era com outro intento, se
no para offerecer a S. P. passagem na sua cana no caso
que quizesse continuar viagem. Aqui houvero escusas do
:Franciscano, e outras palavras de pouca importancia entre
hum e otUro.
Houve ento lugar de dizer o Missionaria ao Leme, que
quanto ao que elte entendia de ordem pal'a alli se impedir
a passagem aos Senbores Portuguezes, tal no havia, so-
mente a que tinha do seu Superior com pena de excommu-
nbo, era de no poder elle nem outro qualquer Missiona-
rio das aldas confinantes ao Mato Grosso ter trato algnm
de negocio com os seus moradores, que respeitasse a co~
pras e vendas, porm que por modo de esmola aos passagei-
ros que neceasitassem de mantimento, no havia prohibio
;dglllna que impedisse esta caridadel-- e assim que se elle
- 37-1 -

Jos Leme necessitava de alguma couza, que com toda a


vontade observaria. Ao que agradecida a offerta accres-
centou, que se S. R. 111e concedesse a faculdade de comprar
aos aldees alguma criao, o estimaria muito. No houve
duvida nesta parte, e se recolheu o Mi sionario ao seu
repouso.
Livre o campo para se poder entrar em batalha com o
Padre Capello, se retirou este com o referido Jos Gonsal-
ves a lugar accommodado para a disputa de voltar ou no
para a escolta, e depois de huma pequena resistencia que
houve s primeiras rogativas e instancias, conveio em seguir
viagem com condio de que se no haVIa de castigar o Indio
seu pescador que o acompanhara: dada palavra de que
se no vexaria o Indio, na certeza de que no era elle
o que merecia o castigo, foi inquirido o tal Padre do
que havia passado com o Missionario a respeito da escolta:
as everou que elle nessa materia no faliara palavra, pois
o pretexto que dera delle fazer aquella viagem, fra o
de ir pedir humas esmolas para o eu ho picio, visto haver
commodidade de passar com aquelles mercadores s Minas,
facilmente se acreditou nesta parte, por quanto o l\lissio-
nario no deu signal algum de ter noticia da realidade
do caso.
Nestes termos somente restava fazer huma exacta indaga-
o do que constava a alda, para o que visto l1aver licenc.a
do Missionat'o se subornro os animos do Cacique (i) e Al-
caide com dalivas de pouquissima importancia, como an-
zoes, agulhas, velorio etc. os quaes facilitro a entrada por
todas as casas que foi conveniente registrar, e cathequizaro
os mais (l vender algumas aves e farinha de milho.
Depois que no anno de 1742 fizero aquelles moradores do
Mato-Grosso ja mencionados a primeira viagem pelo rio Apo-
?' abaixo, e foro s aldas de Santa illa1'ia illagdalena de
Itonomas, e da Exaltao do AIamo?', fundou o Padre Atha-
nasio Theodo io de naco Italiano a alda de Santa Rosa na
margem oriental do Ajw7' em no muita distancia donde
margem occidental de~agoa o sangl'adoul'O chamado de S.
Miguel; porm no agradando aquelle sitio em raso das
muitas formigas que devoravo as plantas recemnascidas, a

(I) Cacique. FIe o nome que se d. ao Indio, de quem 05 da sua nao se consi<1ero
.assallos,
- :J'! -

mul10u o me"mo "Padre rio abaixo para o lugar cm que hoje


existe, que be sobre o barranco do rio da mesma margem
Oi'ieJllal, quasi na falua ua Cordilheira geral, que naquella
parte se avizinha ao rio, e faz a cachoeil'a de que ja 'se deu
noticia neste DCL?'io, que em t mpo de scca 11e bastante-
mente embaraada, e no rio a meio barranco be mui peri-
gosa, em raso de serem os canaes impedidos de penedo,
que sendo furiosa a corrente no tem de vias.
A planicie, em que ei'li fundada esla alda que se acha
a 13 gr. e.. mino de elevao au trai, foi desa ~ombrada
de aryoredo fora de brao, e levaro o roado ele de o
barranco do rio por e. pao de hum quarto de legoa ao
centro at a raiz das montanbas, que correm pela espalda:
seguindo o rumo do rio, a frente em que esto ediflcad;1.s a
Igreja, ca,:\ do l\!isi'ionario, e as dos lndios ter 600 braa
correndo o romo (!e Ic~~ueste com o rio. Das extremi-
dades, em que a alcla princIpia e acaba, ao compl'im 1110
COfre arvoredo e~pe~so desde a margem do rio al a . serras,
formando quasi hum meio circulo, que faz um adente mui
agradaveJ, quarldu ele cima do lJarra[jco se registra Coam os
alIJas aquella campin<l, arvoredos, e montes.
A Igreja be ele huma , nave s m proporljo de a1Lur.l
com a largura, a construco l1e de madeira e barro, a
de ornato e tava ummamente da LiLuida: a unica alfaia
de preo era uma lampada de prata de no muitos la-
.ores e de tosco feitio, que fazia assi teneia com luz ao
Sacrameuto, que se "guarda"a na capeJla mr, e unica
em saGraria em obra alguma exterior, que indicasse
estar aW aquelle adoravel deposito. Dizem ter preciosas
casulas com que celebra o Missionaria nas festas prin-
cipaes do antlo. "
'a mesma altura da Igreja corre a sacristia, e dahl
no mesmo ponto a casa (lo _li"sionario, que e compe de
trez cubiculos, que cada lmm con~ta de casa de as is-
tencia, e outra menol' para repouso. Segue-se hum ca a-
rITo, que sruente lem telhado e e teia' que o sni'tento,
em que sl:lva urna officina ]0 carpintaria, e nalla ha-
vWo ma leiras ml,ito 11em lavradas, e j feilas alguma
follla~ para portas, e jallellas; tambem bavia na me.ma
casa I1l1m tear em que se estava tecendo fio de algodo,
cujo panno no era inferior no fino e tapado ao melllOl'
(lu linho ele nnimarr,s. Rr1io artifiees ele huma e ont.rlt
fa!Jl'ca Iaulo:> ua me:::m'l a1<.Ja. A c le ca arrio se seguia
na mesma ordem de altura e con~Lruco mais duas ca 'as,
que huma era l'e!eitorio, e a outra di~rensa, de.de a qual
at a [gl'l'ja tudo o referido cobria um telhado reparado
com hum genero de colmo, que imita o junco da Europa,
e suppria a falta de telha.
A alda he de figura longa com duas ruas de casas
lanada em linba, e esto edificadas parte opposta da
Iareja, mediando entre esta e aquellas hum terreiro plano
suffidentemente espao o. 1 pobreza dos Jndios bastante-
mente e manifesta na humilde consLruco de casas, que
t ln poucas de barro e colmo, e a maior parte so deste
ultimo material se compe tecido em termos, que delle
e fomlo as pare<.le e os telhados. Corre. ponde a esta
pobreza exterior a penuria interna, por que sem distinc-
~o le Indios principaes ou ordinario todo o seu pre-
cillo se reduz a !luma mi eravel rede em que dormem,
c !luma oJTicina de varias pane lias de barro em que guiso
o seu milho por muita formas, e toelas Lo insipidas
ao goslo como elesagradavei~ vista: as mulberes ~o 1\:;
que onLinuamenLe se occu[Jo neste mioisterio, e outras
em dar os seus algodes para <.lelles fabricarem a tunjca,
de que se cobrem laoto os homens como as mulbere~, com
a differena que estas u o daquelle ve tuario como roupas
de preguia, em mangas, que as c(lbre at os ps, e os
homeo como opa de Irmandade, sem abertura diante; que
os ve te aI' meia pema.
o estes! nuios muito bem apessoados, ao parecer va-
lentes: as armas so as communs, arco e flecha, e se
notou no terem nas ca as outro genero . algum ele in. tl'U-
mouto oiIensivo ou defensivo. A primeira nao que se
'atheqnizou para e ta alua, se cbama Aricoroili, depois se
lhe aggl'egou oulr, awbas habitadoras daqllella yzinban-
a, e agora unidas na alda far o n. de tiOO pes~oas
de hum e ontro exo e iuade, e entre estes 150 capazes
ue n. ar de armas. O lis ionario que oS doutrina e ad-
mini tr:l, he o mesmo que os aldeou, e o que de pre-
sente alli e achava, cujo l10me e na.o j fica referido.
Vivem lorlos e tes Inios pouco .atdeiLos da admillis-
lI'a o dos Hespanbes, pClrqUe o Caciqne, que entre todos
he o que estava melhor inclnstriaJo no idioma Hespanbol,
se fjueixav:l. ela nimia miseria Coom que ero soccorridos
- 374-"::'

de instrumentos para suas lavouras, e de anzoes para as


suas pescarias, de sorte que alm de no terem nem huma
faca para o uso commum, ero precisados muitas vezes a
usar de seus machados de pedra para roar mato da
mesma sorte que o fazio antes de se acharem civilisa-
dos. Os seus haveres consistem no algodo, alguma cera
do mato, e o gado, que se apascenta no pequeno circuito
de campina, que medeia entre a alda e as serras.
Perguntando a este Cacique para que fim ero as ma-
deiras lavradas e o panno que se estava tecendo junto
casa do Mlssionario, respondeu que o Padre intentava
mudar a alda para o centro junto serra, e que aquellas
madeiras ero para a nova Igreja e casas do Padre, e o
panno era do que costumava tecer todos os annos para
elIes irem Santa C?,,/,(,z buscar o que era preciso para
a Igreja, e Missionario, e algumas cousas para os
Indios.
A configurao da perspectiva que faz esta alda se
offerece no seguinte debuxo, em que se descreve (i).
Acabadas as boras de estar em silencio o Padre Missio-
nario Athanasio Theodoro, que findou s trez da tarde, se
preparou o Capello para o embarque, em cujo trem alm
do Breviario, que somente levra para. a alda, j conduzia
mais hum sufficiente aHorge, que nella achra a beneficio
da piedade Italiana daquelle Missionario, que no deixou o
Franciscano em demasiado agradecimento.
Com affabilidade e cortezia despedio os Mineiros recom-
mendando-Ihes a particular atleno que se devia aquelle
Religioso, e com as mais palavras geraes de despedidas se
recolheu da ribanceira at onde acompanhou os hospedes;
os quaes mandando cbegar a cana se embarcro, e segui-
ro viagem s quatro boras da tarde, e se incorporaro com
a escolta s onze horas da noe, entrando o Religioso para a
sua cana qnasi com o mesmo silencio, com que delIa se
havia sahido.
No dia 20 de madrngada se continuou viagem ao rumo de
sueste, que durou pOl' dua.; horas, avistando-se a Cordilheira
geral parte esqoercla, e passando ao rumo de sussueste se
foro perdendo de vista as serras; e havelldo caminbado
neste rumo pouco mais de huma hora tornou a sueste, e

(I) E,te desenho no se reproduzia.


- 375-
logo a leste, e passando a nordeste alargou o rio em duas
grandes enseadas, cujas agoas circumdavo huma Ilha de fi-
gura quasi triangular. e na ribanceira que logo se seguio da
parte esquerda, se derramava o rio em bum lago, e seguindo
a este hum grande pantanal indo j o rio outra vez a leste,
eneste rumo se avistou parte direita a primeira campina,
que se costeou por espao de duas horas, e nella portaro as
canas com dez bora de caminbo, em que se andario sete
legoas, em raso de algumas correntezas que se encontrro
por ser j a cheia do rio mui crescida, da lfual lambem re-
sultava a penuria de peixe cada vez maior, de sorte que j
por esta altura se Linha por cousa e cusada usar de linha, e
apenas havia alguma esperana na espmgarda para o sus-
tento.
E~ta campina se dilatava ao centro quanto a vi ta podia
alcanar, e dizio os Praticas que por militas legoas se dila-
tava do mesmo modo que alli se manire. tava, e se persua-
dio que nella e nag mais que se segnio, viuha a acabar
toda a terra baixa que ha das serra do Per para o nascen te,
por cujo continente passo os rios de que ne te Dia1'io se
tem feito meno.
Por estas campinas costuma o rio derramar-se no ultimo
ponto de sua maior enchente todos os annos formando lagos
e pantanos mui dilatados, que prohibem a montaria dos
veados que costumo ter em abumlancia, sem embargo de
que muitas vezes em ubds pequenas se navego as mesmas
campinas, e nos reductos de tp.rra que escapo da inundao
dizem ha bastante providencia de caa ministrando tambem
os lagos aquelle peixe, que desamparando a mi do rio
busca com a enchente aqnella nova habitao, em que de-
pois de vasar o rio e por ullimo seccarem os lago , servem
os que nelles se esquecem de pasto das aves. que em ban-
dos acodem em tempo competente a estas fertilidades.
Dia 21. A's trez horas da manh se principiou viagem no
rumo de leste, e logo se passou ao sul e sudoeste continu-
ando campina da parte occidental, e da oriental buns lagos
que se dilatro at misturarem suas agoas com as de buns
pantanos que faz o rio penetrando pela tel'l'a dentro por va-
ri.as bcas. Em canas pequenas se entra pelos lagos, e sa-
hllldo aos panLanaes se atalho grandes voltas do rio, e se

faz caminho mais breve, que no he passiveI em canas de
quarenta palmos para cima, em razo de ser preciso de-
- J7G-
cepar a espessura do arvoredo, que tecido uuns com outros
embarao os canaes, por onde a agoa do rio se introduz
para o centro.
Por esta altma se no augmentava para o sul e pao
consideravel, por e inclinar tanto a navegao a le te, qUB
em muitas volLas passava a norte e nordeste, c desfazendo
.estes mesmos rumos passava outra vez a norte e sue'te pro-
seguindo a lcssueste, em qlle mai se alterava por ser este
o da direco. Neste rumos aqui expressados se pa sro
os lagos referidos e paotanaes, e logo lia fim do estiro no
muito comprido entrava o rio pela mesma margem e"
querda a formar outros panL:Jnaes, que e iiio communical'
Cm os antecedente : seguio-se lacto duas ilhetas de fi
guras longa lanarias ao comprimento do rio, o qual fol'-
mava por entre elIa e as marges trez canaes, em que
havia alguma. cQt'I'cnleza. Pa aua a [lhas e a eo'eada.
em que estavo, ,e navegou a leste, e j da pal'te direita
se no mani[estavJ.o campinas, s sim uma larga emboca-
dura de agua de igual largura mi do rio qne na\'e~ado
um qllarlo de hl)ra por equivocao e achou dividir-se
aquella grande por::to de agoa em trez braos, dons que
margeavo o rio, e outro que se dilatava ao entro: co-
nhecido o erl'O pela falta de correnteza, voltriIo as ca-
nas, e sa-hindo fMa se seguia esquerda nos rumos cos-
Lumados e acima dito,': logo mais acima da referida
embocadura se oft'ereceu outra tambem parte dil'eHa, que
se deiXOU, e se seguia viagem esquerda, e navegando no
rumo de leste se encontrou com a canoa ela vanguarda (que
era a do Cabo lIa. cSGolta) com uma 1hbc grande do lole
de sessenta palmos com um toldo na popa guarnecido de
comas por curtir com seu postigo, que fazia uma ~
gnra como de liteira de alquile ('1). Nella pas ava um Hell'
gioso ele Santo Ignacio da alda de S. 11liguel para a de
Sanlct Ro~a.
Suspeoddo os Indios Ca telhanos os remo' para pro
loogarem a u~ com no sa cana. As saudaes de alta
vozes que fizcro os Indios uns com os outros, Amigos,
J111gOS, etc., sahio do retl'te o Jesuta, e vendo aquella
noviuade cumprimentou o Sargento-mI', a que este cor-
respondeu, e logo o Padre lh-e perguntou que viagem CI'\.
(I) J.iICira';e .Iqllilo, i. ., lilcira dc alugucI.
,- 377 -

a sua? respondeu que ia por aquelle rio acima. Que i 50


era "Verdade, tornou o Padre' porm se fazia sua merc
viagem ao Matlo-G1'oSSO? Satisfiz esta pergunta com outra
nas seguintes palavl'as :-E est muito longe essa terra? Sa-
ti fez o Padre com re ponder que dalli Ilha Comprida
serio oito dias, e desta ao Malta-Grosso ouvil'a dizer que
ero vinte. Agradecendo o Sargento-mr a noticia, e met-
tendo logo o negocio a palavras de despedida, mandou
remar a sua cana, os da ub fizero o mesmo, e ao
pa sal' esta pelas mais canas, que j vinbo chegando,
mandou o Padre di parar trez tiros de e pingal'da em ob-
sequio, que foi re pondido com geral silencio.
Continuon-se viagem a 1e te, en lo toda a en eada da
parte dil'eita pantanal, e pa 5ando aos rumos de norte 'e
nordeste e achou correr buma Ilba com as volta do mesmo
rio enco tada a parte e querda delle de eUlatado compri-
mento, e limitada largura toda alagadia; e logo pas ando
a sudoeste se acbon parte esquel'da bum lago, e depois ca-
minbo de leste hum estil'o mui comprido, que da mal'gem
direita quasi todo era de campina, e passada duas Ilhetas
portaro af; canas com dez horas de caminho, em que se
andario 8 legoas.
A 22 se deu principio viagem no rumo de nordeste e
logo a le sueste, e neste se avistro as primeil'as campinas
parte esquerda, a quae se achavo j pela margem em
grande poro inundada. Rematavo-se estas campinas em
arvoredo espesso segnindo a Calela da cordilheira geral que
corria com o rumo do l'io, e com a "Vista das mesmas
campinas e sel'l'as se continuou "Viagem no mesmo rumo
de lessueste, e na mesma campina pal'te esquel'da por-
taro S canas com 13 horas de caminho, em que se an-
dal'io dez legoas.
No principio le tas campinas foi a primeira fundao da
alda de Santa Roza, e por cansa da immensidade de for-
miga' e mudou para o rio abaixo, como j neste Dia1'io
se fez menco.
Dia 23 ..Principiou-se 'iagem a nordeste, e logo a leste
e sueste, em cnjo rumo finahsou a campina em hum mui
gl'ande parItanal, onde se congregavo as agoas, que descio
das sel'ras com as da campina, e sallio ao rio por huma
desembocadura de igual largura ao rio, e logo mais adiante
passada uma peIllena Ilha ala)'gou o rio em huma dilatada
46
- 378-
enseada, na qual em razo de huma Ilha, que segue o rumo
de toda a volta. do rio, formava esta dous canaes, qualquer
delles de bastante largura. Na da parte oriental desagua o
pantanal antecedente por outra bca ainda de maior lar-
gura do que a j mencionada; e ao da parte do poente des-
aguava hum sangradouro de larga desemhocadura e de
bastante quantidade de agoa. Finalizou a grande enseada ao
sul, e serio nove horas da manh se avistou huma ub
pequena com Indios domesticos, pescadores da alda de
S. Miguel, com os quaes se no teve pratica alguma, e s
ao passar por elles se lbe ouviram as suas saudaes cos-
tumadas, accrescentando S. Miguel, S. Mig'L~el, etc.
Pouco se andou no rumo do sul, porque logo se navegou
a sueste e leste. e s 4, horas ela tarde se achou ser a riban-
ceira da parte esquerda de barranco alto, onde se acharo
alguns vestigios de haver naquelle lugar roas de Indios; e
com effeito, sahindo hum dos nossos Indios a terra viu de cima
da ribanceira hum dilatado terreno plantado de milho, e pas-
. sada meia hora de navegao daquella ribanceira alta, corria
esta para o serto donde sahia hum sangradouro quasi de
igual grandeza mi do rio, e logo mais adiante desagoava
outro semelbante que ambos inculcavo vir de grandissimo
ajuntamento de agoas, que havia naquella margem.
Continuando aviagem no mesmo rumo de leste e lessueste,
passado o ultimo sangradouro, a huma hora de viagem se
achou desagoar outro pela margem direita de muito maior
grandeza que os antecedentes, e se assentou ser aquella des-
embocadura a do rio chamado S. ft'lig'1.wl, que na verdade
he sangradouro do Apor, pois da agoa do mesmo rio sem
concurso de outra tem sua entrada meio dia de viagem da-
quella bca, indo pela mi do rio, e por dentro se gastou
mais de hum dia fazendo huma mui' grande Ilha tanto '13m
comprimento como em largura a terra, que medeia ent~e os
dous grandes canaes, que aqui frma o rio, sendo o prinCIpal,
o que se foi navegando parte esquerda. A's sete horas da
noite portro as canas com onze horas de caminho, em
que se andario 9 leguas.
Achava-se a alda de S. Miguel mui vizinha ao sitio em
que portaro as canas, e como os aldees concorrio das
roas para no dia seguinte ouvirem missa por ser o de 2j d.o
mez dedicado ao Apostolo S. Mathias, passaro algumas ubas
de Jndios, que attehdendo novidade se chegaro a querer
- 379-
conversao; e para se evitar passro as canas outra
margem do rio fronteira alda, e no houve por ento
mais visitas a receber.
No dia 24, mui de madrugada se celebrou missa para im,.
mediatamente se seguir viagem, a qual foi preciso suspender,
por quanto o Ajudante da escolta Aniceto Francisco de
Tavora, que levava a seu cargo os mantimentos com que se
assi tia aos soldados e Jndios, representou ao Sargento-mr
Commandante que o armazem no se acbava com farinha
para supprir oito dias de viagem, ainda dando-se huma s
rao por dia, como j se dava; que o rio no ministrava
peixe, em razo da cheia que o havia levado para o centro
do mato, e este no contribuia com genero algum de caa,
porque alguma que podia haver, se retirava para a terra
firme: em cuja extrema necessidade requeria em nome
dos soldados e Indios, que antes de passarem adiante da-
quella povoao se tomasse algum expediente de soccorro
para supprir ao menos com duas raes por dia, visto no
haver outro genero de sustento para os remeiros; pois da
SLla conservao dependia o complemento da viagem; e
quanto mais j indo alguns do Jndios doentes, estes no po-
derio melhorar nem restabelecer-se sem alguma gallinha,
para com o u tento della se ajudarem os remedias, que sem
essa circumstancia no smente ero inuteis, mas alguns
passav[o a ser prejudlciaes.
Os Mineiros, que tambem fazio viagem remados por seus
escravos e alguns Jndios, tambem expozero a necessidade
em que se achavo, e era constante o irem sustentando a
sua comitiva unicamente com palmito do mato, que nem
sempre achavo, por cuja razo necessitavo de algum
SOccorro para supprir a mez e meio de viagem, que ainda
restava, alis que se vio precisados a virar as canas em
tena, e fazer arraial at acharem providencia ou de algum
gentio ou dos mesmos matos, para o que necessitavo de
tempo para se poderem remir com algum destes meios.
Como estes requerimentos se justificavo com a evidencia,
e se fazia impossivel, que os Indios aturassem o trabalho do
remo com huma s rao de farinha por dia, e alguma j
com principio de corrupo, houve bastante embarao para
se tomar algum expediente, que sem prejuizo do servio
remediasse a neces idade presente, e tambem a futura no
muito tempo de viagem que ainda faltava, e consumindo-se
- 380-
algum tempo nesse embarao, sendo j sete horas da ma
nh sem se determinar cousa alguma, houve lugar de atra-
vessarem humas ubs de Indios, que sahlro do porto da
aldea, que se achava vista, e que abordro a cana do
Commandante protestando boa plZ e amizade, perguntando
se passavo ao Afalto-G1'osso; ao que se lbes no respondia
com coherencia, e smente se inquiria delLes se havia algu-
ma farinha de milbo e gallinhas para vender por anzes,
agulhas, velaria, etc;. Aceitro a proposta com aboroo,
e se tizero na volta de ir bUSCClr os mantimentos mencio-
nados.
Neste meio tempo concorrro mais canas da mesma
alda, e em huma dellas hum Inclio dome tico do Mi iona-
rio e ba tantemente praticc no idioma Hespclllhol, que logo
couheceu aos l\1ineil'Os (1) Jos Leme e seu irmo da occasio
que elies portro na mesma alda na' vinda do MaLto Gross-o
ao Par; soube-se pelo tal Indio, que os aldees sem facul-
dade do Padre no venderio cou a de considerao: em
consequncia do que e da necessidade em que se aclJavo
todos, se deliberou o Commandante mandar Jos Leme e
seu irmo alda a negociar mantimentos para todos, e
por quanto elle Commandaute no podia desamparar a ca-
nas da escolta convidou Jos Gonsalve da Fonseca fize' e
segunda jornada disfarado, ordenando aos dito Lemes se-
guissem a ua direco, 'e que com pessoa alguma pratica-
sem sem todos trez estarem presentes.
Disposto este expediente se mettro em l1uma canoinha
de pescar, acompanhados smente de trez escravos de con-
fidencia, e partiro para a alda em quanto as canas se 1'0-
tiravo a maior distancia della, em ordem de evitar o con-
curso dos aldees, que j era dema iado, mas sem ntilidade
alguma, pois nenhum trazia cousa que satisfizesse a penaria
em que a escolta se achava.
Varou a canoinha no porto da alda, que he de alagadio,
e ha nelle huma correnteza to desordenada, qne a cada
passo alagrnra as ubs dos aldees, se acaso no havia par-
ticular vigilancia no tomar ten'a. Deste alagadio, que teria
trinta braas ao centro, se havia elevado a terra por espao
de quatrocentas, pouco mais ou menos at chegar a planicie
(J) lIfinei1'os. Assim outr'ol'a se ehamavo todos os habitantes das
Pl:ovineias de lVIiu!\s Gemes, Goyaz e Mutto Grosso, onde se explOJ'avo
1l11l1as de ouro.
- 381-
em que est fundada alda, chegando a qual houve noticia
de que o Missionaria andava visitando os enfermos, e neste
exel'cicio foi encontrado em huma das ruas da mesma alda.
He e 'te Missionaria Religioso de Santo Ignacio chamado
Gaspar do Prado (1), natural de Allemanha, de idade ao pa-
receI' de oitenta annos: o a pecto penitente, porm mui
agradavel e festivo. Com mostras de sincera affabihdade e
alegria se cumprimentou com os dous Mineiros, certifican-
do-os de que estimava muito o seu regresso depois de to
larga ausencia de suas casas, que ene lbes queria fallar mais
de vagar, porm que no poderia ser sem completar a visita
dos eus doentes; offel'ecero-se os Lemes a esperar, e man-
dando ordem por hum Jndio de quatl'O que o acompanbavo,
que e abrisse a Igreja para irem orar, e depois os levassem
para junto do seu cubiculo, onde costumava receber os hos-
pede, e assim de pedidos proseguio o Padre no seu misel'i-
cordio o acto, que todos os dias exercitava depoi da missa.
Na margem occidental do rio Apor 11a hum sancrradouro,
de que acima e Cez meno, onde estava fundada a alda
de S. ~figuel com os Iudios da nao chamada ~lor, e ainda
exislia no mesmo lugar naquelle tempo em que os morado-
re do Matto Gro so fizero a primeira viagem pelo Apol',
porm no anno de i i 4.4, (dizem) que por se navel' experimen-
tado algumas doena mais que as ordinarias, e determinou
oPadre Ga par a fazer mudana daquelle lugar para a nova
fundao na margem oriental fronteira me ma Ilba no
brao principal do rio, em que de presente est aldeada a
referida nao, e outras mais que elaquellas visinbanas da
mesma parte oriental se tem catequizado, e vivem naquella
alda, que ao todo faro o numero de quatro mil habitantes
de hnm e OutTO sexo e idade.
Est edificada a alda em figura quadrilonga com a ruas
lanadas linha em to boa orelem, que sendo o assento
mui plano formo em meio da fundao hum terreiro qua-
drado de espaosa grandeza, fazendo hlUlla das quatro faces
ofrontespicio da Igreja e aposentos de residencia que se
lhes seguem, e as outras as casas dos lndias todas por igual-
dade na altura, sendo a constmco de madeira e barro com
c~bel'tura de colmo. No meio da quadra se levanta hum
pilar formado de um tronco de mais de cincoenta palmos de
(1) Gaspar do P,ado. Provavelmente era Gaspar de PraLz.
- 382-
alto, e no remate huma Cruz (que tudo) ainda que de al'chi
tectura humilde faz huma per pectiva agradave!.
. AIgreja, supposto seja proporcionada na grandeza mui
tido do povo, que he preciso assistir ao Sacrificio, comtudo
era construida por ordem to irregular, que fazia duas naves
a beneficio de dezoito e teios de madeira levantados a prumo,
que sustentavo a viga mestra do ultimo ponto de elevao
do tecto.
Divide a Capella-mr do corpo da Igreja hum arco sem
proporo de que resulta ser dema iadamente sombrio o vo
da mesma capella, sobre ser toda a Igreja mui falta de luz;
consiste a capella mr em huma tribuna, em cuja boca pende
hum quadro com a imagem de S. Miguel de pintura mui
grosseira e amortecida, alm da humilde fantasia com que
estava obrada. No havia retbolo, e o altar se via destitudo
daquelle asseio e decencia preci a para nelle se fazer a sa-
grada ablao do Santo Sacrificio.
Em dous altares collateraes, que ha nos vos que faz o
arco parte la Epistola e Evangelllo, havia igual de alinho
DOS paramentos, e crescendo mais estar da parte do Evan-
gelllo collocada huma imagem de Christo crucificado de
avultada estatura, porm de feitio to tosco, que parecell
indecencia grave estar exposta adorao dos fiei .
Outra no pequena inclecencia se advertia na capella-mr,
que era supprit a flta de lampada e de oleo hum vaso
tosco de barro posto a hum canto, em que ardia material
indigno de hnma casa particular, quanto mais daql1elle
lugar, em qLle no sagrado tabernaculo assi tia a magestade
de Cllristo Sacramentado: finalmente o todo desta Igreja,
ainda sem examinar as partes, era de apparato to triste,
que se fazia precisa huma vehemente considerao de que
era casa dedicada a Deos para no entibiar a reverencia, e
no esfriar a elevao.
Seguio-se Igreja as casas de residencia do Missionario
divididas em varias cubculos em andar terreo, que O';CU-
pavo bastante poro de terreno; descia do alto da fron-
taria huma cobertura sustentada por esteios, que amparava
hum vo de treze palmos de largo guarnecido ele grada-
menta tosco por entre os esteios, e nesta como varanda he
que o Padre recebia os hospedes. Conclui a-se a face d0 quadro
j referido com a casa de engenho ele fazer assucar edificada
de muito boas madeiras, e todas as mais ofticinas ero con-
- 383-
gruentes ao mirusterio daquella fabrica. No moia naqueIle
tempo, mas dizem ser operarias della os mesmos Indios.
As casas destes ero muito mais bem fabricadas que as
da alda de SCl!l~ta Roza, porque alm de serem maiores,
todas ero de madeira e barro. A com;istencia do interior
era de igual pobreza s da dita alda. Smente no que
havia excesso era na multido dos individuas; por que
cada casa era especie de senzala, em que vivio trez e
quatro familias de cada nao sem haver mixto de bumas
com outras.
. o ba idioma ge1'CLl pal'a estes Indio, como succede
com os do Brasil: cada nao usa do mesmo que teve nos
seus matos, e tem os Missionarios o incansavel trabalho de

aprender seu idioma de qualquer nao que se catequiza,
para conforme a elle os instruir na vida Cbrisl e politica,
aque so admittic1os.
Pelo decUl"o do tempo alguns Indios tem a cadencia de
comprehenderem a lingua Hespanhola, porm so mui raros
os que concordo os sub tantivos com os adjectivos; mas
os que no podem com toda a expres o explicar-se, tem o
supplemento das acM, com que de todo se deixo en-
tender: e este 11e o termo mais ordinario com que nas
brenhas em falta de interpretes e costumo catequizar.
Ocommel'cio desta alc1a he dos mesmos generos de que
ja nas antecedentes se fez meno.
Communica-se esta ald3 com a de S. Simo (tambem
fnndao nova, de que em seu lugar se far memoria) em
trez horas de jornada por terra primeira fazenda de gado,
edia e meio povoao medeio entre buma e outra dila-
tadas campinas, em que se apascenta bastante gado vaecum
ecavallar, e alm desta fertilidade tem a da cultura das
roas, que lhe produz milho e arroz com abundancia;
tambem he grande a de aves domesticas, que crio em to
crescido numero, que de todas tem na mesma alda grande
quantidade; de sorte que por varios modos he povo mais
farto e de melbor estabelecimento que o de SCl!I~la Roza.
Agente desta alda be pela maior parte bem disposta de
estatura: tem naes que alm do bom talhe com que as
fabricou a natureza, as distinguio tambem na cr dos mais
Tapuias, por que a tem de sorte, que mais propende para
b~anca do que para baa, declinando a preta, que be a 01'-
dlnaria em todos os sertes. O trajo be o mesmo que j se
- 384-
descreveu ueste Dia rio , e somente por ser dia de ir a
Igreja se notou nas mull1eres o seu genero de enfeites, que
consiste em cingir a t'ipoia (que este l1e o nome que do s
tunicas j mencionadas) pela cintura, de sorte que apanhada
parte da roupa lhes deixa 11uma pequena poro de perDa
livre, em que se vejo enleados varios fios de velorio branco,
da mesma sorte que os aperto nos buxos do braos; e este
fustico alinl10 11e o que se reduz todo o seu adorno.
As armas de que usu so arco e fiexa, e haver nesta
alda oitocentos Indios dos baptizados capazes de a
exercitar.
Como este povo 11e composto da referida nao Mar, que
habitava nas terras que e dilato da margem occidenlal
para oeste, e depois da nova fundao se havio aggl'egado
outras naes das que vivem na margem oriental at a
cl1apada da Cordilheira geral, costumo muitas famlia
lembrar-se da liberdade dos seus matos, para os quaes e
volto abandonando a vida civil, em que deixo os pa-
rentes, e se embrenho por aquellas vizinhana, para
onde a fim de se reunirem fazem os Padres algumas expe-
dies de gente veterana, que ,'o buscar os desertores, e
naquella occasio se andava em semelhante diligencia com
a circumstancia de ser recommendada a dous homens pardo
Portuguezes, que do Malto Grosso se viero refugiaI' naquella
alda, onde foro admittidos pl'oteco dos Padres a be-
neficio deste ministerio em que se occupo.
Acabou o Missionario a sua dial'ia visita dos enfel'm6~, e
restituido casa novamente se cumprimentou com os dons
hospedes pedindo lhE} noticiassem os pl'ogressos da ua
viagem, e para seI' mais solemne a resposta que esperava
maNdou a um Indio que tocasse a hal'pa para recreao
daquelles senbores. Principiou o Tapuio com o toque de
hum rojo, que sem admlltir pausa nem variar de pea,
passou o recreio a ser matraca, pois satisfazendo o. Lemes
pergunta sem se falIar em escolta, e passando a materias
indifierentes, que levro tempo, e j em p os hospede
para se despedil'em, ainda o Tapuio com desatinado impul o
conservava o fnror da harmonia primeira, que bastante
mente pel'turbava a conversao.
Na despedida se pedio ao Padre faculdade para se nego-
ciar com os 10dios da alda algum mantimento, de que
havia grande necessidade pa.ra se completar a viagem j a
- 385-
cuja supplica se no offereceu a menor duvida: e logo o
Padre mandou chamar o Cacique e o aLcaide, e lhes mandou
avisa sem os aldees, para que quelles dous Senhores po-
dessem vender todo o mantimento de que necessitassem: e
pa OLl mais adiante a sua benevolencia, porque tambem deu
ordem que se esquartejasse huma rez, de que fez offerta aos
viajantes, que agradecidos aLteno se despediro para o
porto ela alda a esperar a negociao de mantimentos que
se pretendia,
Em bre, e tempo concorrro os aldees em grande numero
a fazer venda de aves, farinhas de milho, e frutas; e como
entre aqueltes povos no circula moeda, se usa de commu-
taco: consistia e ta em trocar eluas agulhas por gallinha, e
da me ma sorte dOL1S fios ele velorio branco, e propOl"o
desta inaudita r,ommodidade tudo o mais.
Mandou- e e coLta huma barcada em quanto se nego-
ciava outra, e as im em poucas horas se fez hum forneci-
mento, qne prudentemente poderia cl1egar at 11l1a Grande,
em (fue havia moradore::. do Matto Grosso, de cujas roas se
e perava fazer provimento de milho em gro, por quanto a
fal'inha dos aldees no era bem torrada, e no podia durar
em corrupo todo o resto da viagem, e para alli se comprar
o milbo em ma aroca el'a preciso que os lndios o condLl-
zis em das suas roas, cujo transporte necessitava de demora,
aqual por nenhum ca o convinha.
Concluida finalmente a dependencia de compra ou com-
muta0 pelas 4. horas da tarde, foro os dous Mineiros
de pedil'-se do Missionario; e lhe agradecl'O a faculdade
que concedera aos seus Indios, de que resulton o occorro que
havio adquil'ido, e entrando em palavras geraes de ultimos
comprimentos, sem que o Padre reparas e nem attendesse ao
silencio que guardava opobre (i) que acompanhava os Lemes,
se retirro e egul'o para onde e acha,a a escolta, onde se
encorporro com elta j de noite em lmma I1ba distante da
alda pouco mais de meia legoa ao rumo de leste.
No dia 21:> muito de madmgada se principiou viagem no
rumo de leste, no qual e no de sueste com pouca demora de
duas ,ezes ao sul se ,navegou todo o dia. Logo que se s1hio
da Ilha mencionada se andou hum quasi estiro, em que se

(1) o pob?'e, i. " Jos Gonalves ela Fonseca, autor desta narrao.
4.7
ga taro duas horas, e logo se seguio huma volta, em que
no principio dena -parte direita de agoa hum sangradouro
basta:ntemente caudaloso, e iogo se seguio a este huma
campina, que foi acompanhando o rio pela mesma margem,
'e -passada huma pequena Ilha se achou tambem campina
parte direita, da qual c1esagoa hum angradouro procedido
de pantanal, que alli hayia: e esta campina he a que se
'mette em meio da alda de S. Miguel e da de S. Simo, que
ainda ficava rio acima. Na mesma campina, que e dilata ao
centro at a Cordilheira, se apa centa o gado, de que e soc-
correm aquellas duas aleas, sendo mudado para este di -
lricto do muito que havia na primeira fundao de S. jJligueZ,
onde se conserva ainda em muita quantidade amou-
tao.
Com as referidas campinas vista de huma e outl'a
'parte do rio se continuou viagem no mesmo dia, e de-
pois ele passar a de embocadura de hum mui grande pan-
1anaI, que ha parte esquerda, se seguio buma lUlela
parte direita, fronteira qual est a bca do sangradouro
vulgarmente chamado rio de S. Miguel, de que no dia 23
se fez meno; por e ta Mca se no pode navegar
na occasio de secca em cana que no eja mui pequena,
p0rque tem cora de areia, que embarao e totalmente
'impedem a navegao a canas maiores. Fronteiro
esta Ilha da parte esquerda de~agoa hum lago mui
ilatado, que se forma em campina, e d lugar navegao
de qualquer cana. A' parte direita havio roas dos aldee
de S. Miguel. Seguio-se logo um estiro bastantemente
dilatado, e no fim quasi da volta que se lhe seguia por-
tro as canas com 13 horas de caminho, em que' se anda-
rio dez leguas.
A 26 se principiou viagem no rumo de nordeste a con
cluir a volta do rio, em que se havia portado a noite
antecedente, e depoi nos rumos de leste e sueste, que
foro os mais frequentes, se continuou a derrota por e-
pao de trez horas, povoadas as margens do rio de ar
vordo, e depeis se descobriro as campinas de huma e
outra parte, as quaes so continuadas desde as que j e
mencionaro nos dias antecedentes; e a razo de se no
.avista-I~em sempre he pelo impedimento das a.rvores, que na
n,a,rnaipr par~e da ribanceira.
Quatro Mcas de lagos se avistaro parte -esqt1erda,
-:::: 387 ::-
cujas agoas se communico com as do rio, e os mesmos
lago buns com os outros em termos, que parece huma
bahia capaz de navegao qualquer cana, e tanto
por buma como por outra margem se derrama o rio de
orle, que j se no achava com facilidade pequena
poro de terra capaz de dar lugar a guisar-se o comer,
llem de se poder a noite dorm.ir, e se via a gente precisada
ao gl'andi simo incommodo de usar da mesma cana para
hum e outro mini terio. .
J por e te lugar se experimentavo doenas nos lumos
com grande vigor, porque mudana ds agoa,s accresceu
a dos ares e mantimento, que tudo junto fez uma tal des-
ordem na debil coo tiluio do lndios, que quasi todos
ao me mo tempo se achro accommetLido de huma
queixa (1), que obre er asquerosa e os reduzir em m1,1i
breve tempo ultima prostrao de foras, he para aquella
mi eravel gente mal contagioso .
.A este primeiro rebate e acudio com os remedi os pro-
porcionados ao achaque, no modo que foi pos ivel, segundo
a providencia dos mantimento da botica e os que minis-
traro os matos, que era de melhor eIIeito, com os quae
e com e lhe reparar a debilidade com algum mantimento
de mai ub taneia e io re tabeleceoelo aquelles, que por
mai robu tos no lhe fazia tanta impre so o mal, que ne ta
primeira avanada tirou a vida a dou, que pela summa fra-
queza lhe no podero resi til'.
Neste mesmo dia endo j de noite portro as canas
margem esquerda, onde ele agoava um pantanal por desem-
bocadura de igual largura e correnteza mi do r.io: e neste
dia com onze hora de caminho se andario nove legoa .
No dia 27 se deu prin ipio ii viagem muito de madru-
gada eguiudo ii parte esquerda; e depois de haver
navegado bora e meia de caminho, e seudo dia j claro se
conheceu ir errado o rumo, e no era aquelLe o rio, por
que a agoa e a correnteza ia ameno , e se dividia em varIaS
braos pela campina. Desandou-se o que e havia cami-
nhado, e se pro eguio parte direita no rumo do sul, e
depois a leste e sue te, que faro. os principae .
Em hum dos braos, em que terminava o rio que se
navegou por equivocao, est situada a alela ele S. Simo,
(1) Queixa, i. ., doena, achaqne.
- 388-
que por tena dista da ele S. Miguel elia e meio de viagem,
e um em cana rio baixo. A sua fundao foi no anno
de 1746 pelo Padre Felippe, de nao Hespanhol, para o
que catequiwu os Indios chamados Causinos, e depois
alguns casaes de Cagece?'s, e MO?'ls, que todos so ha
bitantes desde a margem oriental do Apor at s serras
geraes.
Presentemente he Missionaria desta alda o Padre Ray-
mundo Layns, natural de Navarra, ehaver nella trezentos
Indios de servio. Desta alda ao sitio chamado C01'um-
bidra, de cujo descobrimento adiante se far meno, Ila
vinte dias de viagem por terra abeirando o Apor e atra-
vessando as habitaes dos gentios chamados Ja.guQll'ots,
lIfequens, Gtwta?'s, e os j nomeados Cagece'I'Bs, e Jlf01'~S,
e na converso de alguns destes andava de presente tra-
balhando o mesmo Missionaria Raymnndo Layns pe soal-
mente.
Nos ramos referidos se proseguio viagem avistando cam-
pina parte direita, por onde desagoavo bcas de granele-
lagos, e depois de se passar Imma pequena Ilha fazia o rio
trez braos, hum que se encaminha a le te, e era o ca-
minho, outro a sul, que se no sabia averigllar se era resulta
de algum grande lago, ou canal do mesmo rio, que desem-
bocava naCLuelle lucrar, e o terceiro ele menor poro
de agoa que se inclinava ao sul, porm navegando-se ii
parte esquerda a hum quarto de hora de caminho se acllou
que o rio pela mesma margem direita se introduzia
por dous canaes ao centro, e se assentou que nelle rece-
bendo as agoas da campina lhe dava sahida pelas duas bca'
antecedentes, fazendo IlUma grande Ilha em meio da com-
municao destas agoas.
Com pouco mais de meia legoa de distancia do lugar
mencionado ee achou parte esquerda o melhor sitio para
povoao que at quelle lugar se havia encontrado de
pois do de Santa lloza, lJorque era uma campina de boa
disposio para fazendas de gado; e della se passou a
huma terra firme alta de arvoredo mui frondoso, no s
boa para retiro elos gados em occasies de grandes cheias,
mas tambem para nella se fazerem as lavouras necessa-
rias para sustento dos habitantes; accrescendo esta boa
disposio de terreno huma particular alegria dos are., qne
fazia todo aquelle districto mui aprazivel.
- 389-
Fronteiro a esta campina, donde j e encobria com os
matos, portro a canas com eis horas de caminho, em
que se andano CJuatro legoas.
A28 e ultimo ele Fevereiro e proseguio viagem no rumo
de le sue te por entre hnma Ilha pequena e a terra firme da
parte direita, que era ribanceil'a alta, e com bom terreno
para povoao e lavoura, e aqui estreitou o rio mai elo 01'-
dinario, e logo nos rumo de leste e ue te alaraou em hum
pequeno e tirITo, em que havia !lua ele baslante compri-
mento chegada margem esquerda, continuando pela direi-
la a mesma terra alta, que finalizou em mais de meia legoa
ele di tancia.
SelTuio-se logo huma Ilha parte direita, e acahada se
achou outra esquerda, onde elesagoa,'a hum ~angradouro,
que dahi a hum quarto de legoa ce lhe achou a embocadura,
e rnai acima parte direita hum grande lago qne desagoava
no rumo de sudoeste, e contilluando a direita no de le te
mll voltas que no pas avo do sul, se de cobriro campinas
ii parte direita, defronte ela quaes em [mma I1ha chegada
margem e querda portaro as canas com eis hora de ca-
minho, em que e andario quatro leaoa .
Fazio- e e ta marcha mai diminuta em razo de e
acllarem o Indio com a oppre o da doena mui attenua-
do , e como a maior parte delle convale cio com o trabalho
do I'emo, ao mesmo passo que calJio antro enfermos,
em preciso moderar o trabalho para no encalhar (le todo
a navegao, que ~o ii fora de bra os se havia de con-
cluil'.
~o prin ipio de i\far.o s prosegllio viagem no rumo de
le te, les ue t , e sul, e logo e seguia huma ,olta para
le te, que passou huma 4" ao nort , e n ta qualidade de
voltas buma sobre outras, em que mui pou a e augmen-
l~va q caminho do rumo, qu era lessu st , fazia o rio a sua
dIreco. .
No fim de quatro volta, que se navegro com os referi-
do rumo., principiou caminho de sue te blilll mui dilatado
e tiro, e indo a concluil so a hou o sitio hamado da
Ped?'as, por vir finalizar naquellelugar buma ponlade erra,
qne do centro oriental busca o rio, no qual forma dLl:l n-
eada , cujas pontas se rema to em penedos grandes, em
que 1avia hum de traz faces que se le,'antava ele huma como
base, e sobre ella formava figura quasi p ramidal; que, sendo
- 39~-

ebra talhada pela me ma natureza, parecia fabrica artificial


pela symetria do eu composto, que se fazia objecto mai
agradavel pela folhagem larga produzida no seu remate,
que ramificando-se pela sua circumferencia a todos os lados
pendia.
Pa sadas estas pedras se seguia por aquella parte toda a
margem de terra alta, que fazia hum declivio at encontrar-
e com o rio, o qual continuando o estiro que se andou em
m(}ia hora, recebia pela marcr(}m esquerda huma avultada
poro de agoa de sangradoUl'o, -cuja embocadura distava do
lugar das PedrCLS duas horas de viagem.
Na margem occielental qua 'i fronteira onde d sagoa o dito
sangradoUl'o, portaro as cana m hum lugar, em que fa-
ze.m fronteira os morador s de Matta &I'assa, quando sah('m
a fazer ua pe caria~; e com oito hora el caminho e anda-
rio sete legoas.
A dous.se no fez viagem de manh em razo de s r pre-
ciso dar algum descanso ao ]ndios, m quanto no ilio
mencionado -se fazia algum provim nto de caa. por ser
aquelle lagar de terra firme continuada para o centro, que,
quanto a pe caria, j se havia de todo perdido a e per:lOa a
este occorro, por e achar o rio completamente cheio, e ler
levado de todo o peixe para o pantanaes e lago..
Nestes termos se fez viagem pela dua horas da tarde
com mui pequena re ulta da montaria que se fez, e cami-
nhando a leste, sueste, e lessue te se passou ne~te rumo a
embocadura do sangradouro que no llia antecedente se ha-
via notado margem esquerda. Seguia-se logo a ribanceira
da parte occidental de terra alta e ele boa dispo io para la-
voura , e finalizou onde o rio se dividia em dous caminho
de igual largura e aJmodancia de agoa: hum (lelle eguia
ao sudoeste, de cuja bca se avi tavo campinas e huma~
serras ao longe, e no se navegou por ser a correnteza mUi
diminuta qne havia no rio qne se dirigia a leste: com e le
rumo se fez caminho pane esquerda, em cuja embo(j~
dura tem no meio huma Ilha pequena, qual se seglll o
huma volta, que se terminou com buma Ilha, em que port-
ro as canas j de noite; e em cinco horas de caminho se
andario 4 legoas.
No dia 3 se principiou viagem cinco bora ela manh
por huma volta do rio que rematou nQ uI, e deste passou
a lessueste e leste sem haver pelas margens cousa digna de
-- 391 -
memoria, mais do que encontrar-se quatro Ilhas pequenas"
ena ultima portro as canas com oiLo horas' de caminho,
em que se andario 6 legoas e meia.
A l~ se continuou a navegaO no rumo de le te, e logo
voltou o rio sobre a parte oriental at chegar ao norte, e
sem demora desandou para leste, e I as ou a sueste, onde
alargando o rio desagoava pela margem e querda hum gr-an~
de lago e pantanal, donde principiava huma Ilba, e se eguio
outra de bastante comprimento, que caminhava com a vaI
tas do !'io contigua maraem ocoidental, e sem ba, er mais
couza alguma memoravel que notar, portro as caoas com
seis hora de viagem, em que e andario cinco legoas.
Em 5 e principiou derrota no rumo de sue te e leste,
em que se vencro duas voltas de rio, e smente se notou
desagoar pela margem occiclental hum lago, e se eguia
huma Ilha, e a e ta hum pequeno estiro, no fim do qual
de embocava hum anaradouro, cujas agoas ~e io com-
mnnicar com as do lago antecedente; formava logo o rio
huma ,olta obre o na cente, que chegou a norte, e buscou
em meio circulo o rumo do sul.
Corria margem e quel'Cla huma mui dilatada campina,
que terminava ao centro com a Cordilheira geral, que e
a,i tau ne te lugar, correndo como a anteceflentes o rumo
do rio' no qual junto terra das campinas bayio duas
Ilha, eguidas huma a outra, que o acompanbavo em duas
'alta, que cahindo para o na cente chegavo ao norte, e
terminavo no uI, porm a direco do rio empre a les-
ue te; com as me~ma circum tancias e na, egou outra
valia; e portro a canas com 7 horas de cmninho, em
que se andario cinco legoa e meia.
No dia 6 e deu principio no rumo do norte a Imma volta
que terminou ao sul; havia margem e querda campina que
ia a finalizar nas Serra geraes, que se 3vistavo do rio.
Continuando a campina e seguia a sue te e leste hum mui
dilatado estiro, que teL'minou onde ao parecer mostrava o
rio dous C3naes de ignallargura e quantidade de agoa: o da
parte oecielental e formava ela muita que concorria de pan-
tanaes e lagos a fazer aquella desembocadura: o da parte
oriental era o caminho e mi do rio, cuja margem Bra de
terra le\antada em varios outeiros de arvoredo frondoso sobre
barreiras ,ermelbas, que fazio o lugar alegre e recreativo.
Ao p-erder de vista aquelles primeiros monticulos se topou
- 392-
outro estiro pequeno, e margem occidental havia a embo-
cadura do sangradouro, que recebendo as agoas que do
centro eoncorrjo, formava o arande canal mencionado, e
depois de meia hora de caminho, passada a embocadura,
porLou a escolta mal'gem esquerda com nove bOI'a de
viagem, em que se andro 7 legoas.
A 7 do mez e proseguio derrota no rumo do uI por
buma volta que chegou a nordeste, e finalizou no uI.
A' margem oriental desta volta havia huma belli~sima cam-
pin::!, que rematava no centro a pouco mais de meia legoa
de di taneia com terra firme de arvoredo alto, pela espalda
do qual e mo trava a COlrlillleira geral correndo o rumo
costumado. Esta campina pde admittir creao de gado, e
as terra contiguas ao centro mo travo ser de boa clj po-
sio para lavoura .
Continuou- e viagem com ouLras volta de rio semelhante.
s antecedentes, o depois de concluidas trez se avi tau a
Illw gmndc, on]e portou a e.colta pelas cinco hora da
tarde; e em 6 de caminlJo se anrlario cinco legoas.
Cnama-se a esta Jtha gl'ande, ou llha comprida, por er a
mais dilatada em comprimento da muita que tem e te rio,
quasi toda ella alaga na maior clleia, e somente onde prin-
cipia, e he o lugar em que a e colta tomou porto, ha bum
reducto de pequena extenso de terra aroenta, que panca e
isenta da innundao, onde esto nove ca a fabricada de
colmo, onde vivem doze mor<ldores, eis bl'anco em que
enLro trez de Portugal, e seis me.tios, ~endo hum eleLles
por nome Joo ele Souza, homem pardo, o que se achava
na alda de S. Miguel com outro companheiro ela me ma Cl',
como j e noticiou neste Dia'rio, reunindo gente disper a da
mesma povoao.
Estes habitantes da ILba so de erLore lIa Mato-Gros o,
que opprimielos de dividas buns e outros por complices em
alguns delicto , buscro aqueLle ermo para neLle pratica-
rem vida estragada, como de gente aborl'ecida da ocieel?de
humana. O seu exercicio be entrarem pelos sertes vizinho
at onde lhes 1'a teja signal ele baver gentio, e e1epois c!e
indagarem a fora e situao de qualquer aldl ou e peraa
alguma maloca q1).e sahe ao campo na uiligencia de colher
sustento, sahindo-Ihe de repente, e atemol'izanelo-os com
tiros os fazem prisionelros ; ou se a aldea ou arraial de qual-
quer ~entio he de pequeno numero, a horas de silencio lhe
- 393-
do a salto, e depois de algum estrago de mortes amarro
os que no pudero fllgir, e se retiro com presa to iniqua-
mente adquirida, que reservando o melhor della para o seu
li o, vendem o que lhes resta para povoado por meio de
pa sadores que moro nos Panta.naes (lugar de que adiante
se far meno) para deste detestavel nellocio lhes resultar
o que necessito para vestuario, e de paIvara e chumbo para
repetio de novos insultos.
Este foi o modo de se estabelecer esta gente perdida na-
quella vilissima habitao, onde catechizando com o familiar
trato e sociedade de costumes barbaras aquelles miseraveis
gentio que reservro, os affeioro tanto ao uso de vida
de tes salteadore , que hoje lhes servem de interpretes para
amigavelmente fazerem avultada presas a menos custo, de
orte que ainda parece termo mais infame praticar em o
o gentio a boa paz e amizade, e debaixo destas condies de
honra e Cl1ristandac1e exercito a vileza de lhe darem a
mesma sahida, que pratico com os amarrados por fora;
cuja insolencia ainda uso com aquellas naes, para as
quae no tem interprete: pelo que acossados os gentios da-
quella vizinhana da parte occidental da ilha se faro
muitos refugiar na alda de S. Nicolo ituada nas cabecei-
ra do rio Baure , que di ta trez dias de jornada por terra
da dila ilha caminhando, a oeste.
As naes, que habito o continente da parte orien-
tai do rio, e em que os moradores ela ill1a tem feito odes
troo mencionado, so em primeiro lugar os iJ1eqtMnS,
~ente guerreira, com a qual andava actualmente em pra-
tica o Missionaria ela alda de S. Simo, como j fica notado
no dia ..... (i) para os reduzir ao gremio da Igreja. Os Aba-
bds, Paivctjaes e Urupuns, gente pacifica, que habita nas
p~a~icie , como os Mequens. Tmvesses e Pataquins, naes
di tlOctas, mas confinantes e de boa disposio para erem
praticadas, povoo as cl1apadas das serras geraes da parte
que olbo ao poente.
Todas estas naes vivem por aquelles incultos bosques
e asperas serranias sem genero algum de civilidade: atro-
pelo a lei natural com barbaras costumes, com excepo
smente de no comerem carne humana: no tem idolos,nem
attribuem divindade a cousa alguma visivel ou invisivel, razo
(1) Vide supra I pago 383.
48
- 394-
por que vive toda e~ta multido de pagos na lamentave]
desgraa do Atheismo, de cuja tenebro a cegueira os podera
remir a piedade de Minbtros Evangelicos catecLtizando-os e
instruindo-os para o conhecimento da verdadeira luz, por se-
rem quasi todas estas nae de facil per ua o; o qne se
verifica com os gentios dmees e Gtlaiorotcs qua i vizinbos
dos Pataquis, que com a pratica de mui pouca instancia tem
admittido o trato com os Portugueze com mais facilidade do
que com os Padres Hespanbe , que entro a catechizal-o
sem os brindar com c1adivas de algumas ferramentas, de que
elIes fazem mui especial apreo, cUJos generos e outros
ainda de mui pouca entidade costumo ser os attractivos mais
fortes para o concil iar a nova ociedade.
Ne ta ilha em que aportou a escolta, foi preciso fazer a
demora de eis dia para neHes se refazer do milho em
gro que fosse po sivel, e basta se para chegar at as pri-
meiras fazendas dos Pantanae : pOI'm como os mor'ldore
da ilha smente havio feito humas limitadi imas planta,
daquelle mantimento para sua sustentao, foi mui plJUCO
o soccorro que aCfui se conseguio, para adquirir o qual foi
preciso consumir tantos diav, que obre a pouca utilidade
resultro de~ta demora mui terrivei con equencia~' por-
que logo na primeira noite quasi arrebatadamente mOl'l'eu
hum sargento da escolta, lravendo precedido dous dia de
huma pequena febre.' No segundo dia indo algulls escrayos
dos officiaes da escolta (por no estarem capaze os Indios
delIa) terra firme da parte occidental fazer lmma mon-
taria, acharo todo o terreno to esteril de caa, que embre-
nhando-se mais ao centro hum mi Lia de Jos GonalY
da Fonseca na diligencia de algum effeito, achou a ultima
desgraa nas garras de huma ona, que devorou o mise-
ravel escravo.
No quinto dia se a sociaro quinze Indios ja convales-
cidos da passada tormenta, e fugir~o de noite em huma uba
dos moradores, lanando-se pela cOl'renteza do rio, e logra-
ro o bom successo de chegarem as uas aldas do rio
Xiog missionadas pelos Religiosos da Companhia. Por estas
e outras calamidades de menor importancia succedidas no
porto daquella infausta babitao se aChou bastantemente
consternada a escolta, fazendo-se mais sensivel .0 no er
possivel refazer-se ele abastecimento para pl'oseguir derrota
- 395-
sem denendencia do rio e mattos, que j de todo ero este
rilis imos.
N,10 era possivel receber-se boa hospitalidade naquelle
lug'll" em que a maldade de seus habitantes constituindo-os
ro:\ rias referidas atrocidade , paTece que a mesma' malig-
nid de estava dilfundida pelo ambito daquelles contornos,
de orte que ainda os pobres viajante. indifferentes nas suas
inj II 'tas pagavo com os infortunio succedidos a descul-
pavel pena de commul1icarem (obrigados da necessidade)
hun homens, contra os quaes fulminando censuras o
Parocho do Matto Grosso os bavia deixado intrataveis de
commercio humano.
Neste infeliz estado porm de publicos excommungados
o admittem os padres Hespanhoes aos Sacramentos, quando
algun des-te foragidos bu ca o Missionario~ vizinhos para
a confisso e communho annual, que lhe conferem debaixo
ue algum protesto, que talvez lhes permilta a Tl1eologia
moral, que no l1c da minha pl'ofi so, nem pertence a
este lugar ventilae. Mas sem embargo de todo o bom
agazalho que recebem dos dito Padres, succedeu no
anno de i749 que o Padre Raymundo Laines, de nao
Naval'ro, na.vegando da alda de S. Simo j mencionada at
aquella ilh:l, e pretendendo neHa levantar Cruz e altar por-
laLil p ra celebrar missa, os taes moradores no quorio
consentir, entendendo que semelhante acto (ainda que pio e
\iatholico) effectuudo naquelle lugar por pessoa estrangeira
e tolerado POI mar'adore Portugueze~, prejudicaria ao di-
reito do dominios a real Cora Porl.ugueza, e s fora
rle persuases de hum Joo de Souza de Azevedo, que de
pa sagem ahi se achava, a lmittiro a refenda celebridade,
e acabada a funco ainda na presena cio Paure desman-
c!lro a Cruz, requerendo-lhe n toma se mai aquelle
lugar (1).
E o certo he que a no habitarem alli aquelles poncos 110-
meusde vida, ainda que absoluta, terio os Hespanbes adi.an-
tarlo povoaes rio acima; ClljO pensamento se comprova
com se ouvir clizer aos diLos Padres que aquelle ho-
mens lhes ero summamente prejucliciaes, e que de Santa
CI'UZ de la Siel'l'3 lhes viria castigo, que dalli os desaloja se.
R esta bravata Castelhana depoem Jos Leme do Prado, o
'(1) Exemplo de patl:iotismo, digno de louvor.
- 396-
cirurglao Francisco Rodrigues da Costa e Tristo da Cunha
Gago, que tendo pratica com os ditos Padres 111'a ouviro
proferir.
Desta Ilha Grande para cima 11e to embaraado o rio
pelos repetidos canaes, em que se dilata por huma
outra margem, to caudalosos e de iguaes correnteza e
mi do rio, que se no atrevio os Mineiros (1) que a es-
colta conduzia, a guial-a por aquelle labyrintho de aguas
sem errarem muitas vezes o principal caminho; e para
evitar esta desordem, que seria de mui [ataes consequen-
cias na perda de tempo que se havia de consumir nas
inuteis navegaes, sendo a penuria dos mantimentos tal,
que nem ainda podio snpprir ao tempo ordinario de e
caminhar sem confuso: tomou o Sargento-mr o expe-
diente de contratar hum dos moradores da ilba cbamado
Jos Martins, natural da villa de bido (2) para guia da via-
gem at ao porto elo Sam?' pelo estipenclio de 23 oilavas
de ouro sustentando-se elle sua custa, em cuja nego-
ciao conveio com a clausula de se lhe dar palavra de
no ser obrigado a passar do porto do Sarar aos arrayaes (3),
e nesta f se embarcou na canoa do mesmo Sargento-mr,
que guiou as mais de conserva.
Pelo canal da parte occidental, que se dirigia ao ueste,
se principiou viagem no dia 13 de Maro pelas nove bora
da manh, e continuando o rio no rumo de lessue te em
voltas bumas s0bre 'outras, que cbegavo de norte a ui
com algum pequeno e til'o a sueste, se navegou at as
sete horas da uoite, e com 8 de caminbo se anelario 7
leguas sem haver cousa memoravel que notar, mais do que
hum pantanal na ribanceira da terra firme to dilatado, que
occupava trez voHas de rio, o qual no canal que se navegava
teria trezentas braas de largura, 'sendo o da parte opposta
de menos de duzentas, e com muitos bancos de areia e
impedimentos de troncos cahidos que muito difficultavo a
sua navegao.
No dia 14 e deu principio viagem de madrugada no
rumo do norte, e logo buscou a le te, em que se concluo
a Ilha Grande com q. horas de caminho, em que se vence-
(1) Minei?-os. Vide supra a nota (1) pago 380.
(2) Villa de Obidos. Refere-se de Portugal. Vide supra a nota (l(
p alr 28t
(i:l) Al-,ayaes. Refere-se povoao de Mato Grosso, c oulras de sua
circumvizinhana.
- 397 -

rio trez leguas que juntas s do dia antecedente fazem


dez as que ter de comprido. Daquella parte, em que o
rio se dividia nos dous braos que formavo a ilha, se avis-
tou o terreno da parte oriental por onde se encaminhava
o canal menor do rio, e se observou ser aquelle districto
de muito boa dispo io para ser habitado com povoao e
fazendas em razo de ser a terl'a isenta das inundaes
do l'io: continuou-se a viagem no rumo de leste e
sueste; e em 6 horas de caminho se andal'io 4. leguase meia.
A 15 se proseguio a navegao nos rumos de leste e
sueste com voltas mui dilatadas, que busco a pal'te oriental
huma mui dilatada campina, vista da qual depois de
passar duas ilhetas, em que o rio fazia larga enseada, se
notaro as Serras geraes na distancia de 4. legllas pouco
mais ou menos, em cuja falda se ia tenninal' a referida
campina, que continuava com a margem ol'iental do rio
com alguma interrupo de arvoredo em partes da ribauceira,
pOl'm o dilatado centro se mo trava limpo de mato em toda
a planicie, que a vista podia alcanar.
No mesmo rumo de leste j perto da noite se achou
dividir-se o rio em duas pal'tes, llUma que buscava o sul
com buma ilha em meio do canal, e outra a leste que de-
clarou o gllia ser e te o camnho ; e o que se dilatava
ao sul era a boca de huma mui gl'an je ba11ia, pela qual em
canoetas se podio evitar trez voltas de rio.
Na margem opposta esta babia aportro a canoas com
9 horas de caminho, em que se andario 8 leguas.
Em 16 ao romper do dia se continuou a viagem no rumo
de leste, e voltando o rio esquerda hegou a norte e I

logo principiando hum dilatado estiro no sul e sueste se


alcanou s 9 horas da manh, depois de passar duas ilhetas
contiguas huma outra, o si.tio chamado da Casa Redonda.
FIe este lugar na ribanceira occidental terra alta livre de
inundaces communs e extraordinarias. Doze aldeias de
gentio' e achro estabelecidas neste districto no anno
de 04.3, quando os mOl'adores do Mato-Grosso explorro
a primeira vez o Apol' (1). A principal destas habitaes
era hllma fundada em figma rotunda, e no meio edificada

I
huma casa a modo de amphiteatro, e por ella appellidro
aquelle sitio o da Casa Redonda.
(I) Vide supra a nota (3) pago 282. ,
{
- 398 -

E sem embargo que o laes gentio no fizero damno,


nem o recebro daquelles primeiros viajantes, com tudo
receiosos de alguma ho tHidade, se embrenhro para o
centro buscando o refugio de humas erras vizinhas (das
quaes adiante se far meno), onde novament e ituro
com tanta diligencia e brevidade, que j na egllnda
viagem que fizero os ditos moradores, no achro
mais que humas confu as ruinas cobertas de espe ura
para se desenganarem que no fora illuso cl fanLazia,
o que bavio notado naqueUe lugar na sua primeira
derrota.
Neste sitio faz o Apor huma espaosa o Lentaco da'
suas aguas angmentada, com o tributo das que lhe paga
o rio Cavaltei7'o, que tel' duzentas braa de embocadura
na margem oriental fronteira ao sitio da casa redonda.
A sua direco be de ueste para noroe te, se dilata a
varios rumos pela campina que medei" entre a errania c
a margem do Apor at noste perder o abedal e o
nome: este lh'o deu o gentio Guaraacl, e aquelle lb'o
communica a Cordilheira geral, ::t quem deve a origen.
na sua maior elevao que olha para o poente. Por e te
rio saniro Antonio ele Almeida e Tristo da Cunha Gago,
primeiros descobridores ela terras do gentio chamado
C01'umbya7'a, onde S3 achou ouro, de cuja explorao
pelo sangradouro do nome deste gentio em seu lugar
adiante se tratar' com a exaco po ivel, egundo a~
indagaes que sobre esta materia se fizero, para ave-
riguao da verdade, objecto principal de toda e:ta
narraco.
DeiXando direita o sitio da Casa Redonda e e quel'lJa
o rio Cavalleiro, se continuou viagem nos rumos do s~1
e sueste, em que finalisou o estiro, ao qual se segUlo
logo outro de menor comprimento ao rumo de leste, e
no fim delle de aguava huma grande poro de agua,
sangradonro da campina ela parte occidental, que se a"i.-
tava; e logo mai adiante parte esquerda outl'a embo
cadura igual na largura mi do rio resulta de hum
grande lago, cuja aguas cil'cnlavo llUma ilha de figura
longa, que se uo soube averigtlar se era alagadia, e
seguindo-se mais duas voltas de rio aportro as canoa
com onze horas de caminho, em qne se anclario sele
leguas.
- 399-
A t 7 se proseguio derl'Ota no rumo do norte, em que
finalsou huma volta obre a qual gyrou logo outra at
chegar ao sul, e daqui se caminhou a le te, onde- prin-
cipiando hum estiro desaguava pela margem direita hum
espaoso canal igual na larrrura mi do rio, que era
angradouro de huma mui djlatada bahia, que permittia
navegao a toda sorte de ub. muitas leguas ao centro;
e e~ta o as embocadura , com que em baver Pratico
de boa experiencia se engano os viajante de rio acima,
de sorte que quando atteodem ao erro be com muitas
horas de navegao perdida, que tanta be a extenso das
agllas por aquellas planicies, quando a cheia chega a ex-
ceder o barranco do rio.
Com campiua descoberta pela margem direita e andou
outro pequeno e tir'o, que terminou em huma volta sobre
a esquerda, que chegou ao norte, e gyl'OU para a direita at
o sul; e logo no rumo ele le te se achou o rio dividido
em dou cannes em razo de buma ilha que e oppe
na correnteza, que faro necessarias trez horas de nave-
gclo continuada para se deixar pela ppa correndo a
mesma Ilha com :JS yolla do rio chegada empre terra
firmo da parte e"tluercla: seguiro-se logo dua yoltas do
rio, em haver que notar nas suas margens, e na direita
aportro as canas com dez horas de caminho, em que e
andario 8 leguas.
No dia 18 e continuou viagem sem um-idade de rumo
nem cou a que notar em huma e outra margem, at chegar
a hum mui comprido esliro no rumo de sue te e uI,
em meio do qual a parte direita aportro as canoas
com onze horas de caminho, em que e avanario 8
legua .
Em 19 se princi piou derrota nos rumos de sueste e leste
at finalisar o estiro e duas ilhas, seguida uma outra,
a primeira encostada margem e querda, e a egunda
direita, por cnja ribanceira de terra baixa desagua o )'io
chamado Pa.?'agcb, que dizem ter snas origens na provincia
d?s Chiql.bitas (1), Juclios domesticas mis ionado pelos Reli-
gIOsos de Santo Ignacio, He panhoes, de que em seu lugar
e far individual meno. i\Iostrava- e o rio Paraga em
huma barra ao pareoel' de trezentas braas de largura, tem
(1) Chiqttitas. Os Hespanh6es ChUU1o Chiquitos.
- 400-
a sua direco ao sul por terra plana, e no houve mais
noticia alguma digna de memoria pertencente a este rio.
Ruma ilheta se oppe sua de embocadura, passada a
qual, fazendo j o A.por os seus gyros costumados, se
achou na parte mais conca,a do primeiro desaguar hum
lago de bastante grandeza parte direita, e pela me ma
no fim da volta hum sangradouro di, idido em dou canaes
de maior largur.a que a mi do rio; onde continuando
nos rumos ordinarios, sem haver mais cousa de memoria
que descobrir-se parte oriental a campina geral, apar-
taro as canoas com 11 horas de caminho, em que se ao-
dario 8 leguas.
No era possivel j por esta altura fazer-se grande fora
de remo, em razo de que os Jndios destinados a este tra-
balho ainda padecio alguns a queixa antecedente(.f), a qual
se lhes complicou com outra que obl'eveio, e aeral a todo I

que foi de sezes simple , dobres e ql1artan , to difficul-


tosas de expeltir na qualillade daquelJa gente, que supposto
em alguns aproveitassem smente os remedios emetico , e a
outros fosse preci o applicar-se a quin::!, a nenhum se com-
municava a saude com permanencia; por lue com pouco
tempo de socego recahio muito a miudo. e1Jeito mai da
desordem daquelle genero le enfermo, qlle no guardo
ab tinencia do que lhes he nocivo, do que da malignidade da
queixa, que facilm ote obedecia r petio do referidos
medicamentos ainda nos, recahidos.
A maior conSternao que re ultava deste novo ataque de
doenas era da penuria dos vivere, e a mui:. lamentavel a
do po, que regulando o que havia pelo tempo da viagem
que ainda restava, foi foroso dar a mela rao aos mesmo
sem embargo de que a beneficio desta economia era geral a
debilidade a que e reduzio todos. Do mato, se por acaso
succedia cabir na montaria alguma anta ou ave a que cba-
mo rnut'Wln. era preciso haver gnlOde cautela na distribui-
o destas viandas agrestes em ordem a desviar deltas os
doentes e convalescidos, por serem infalliveis com qualquer
pequena poro as recahidas.
Sobre esta oppresso de doenas a~resceu no dia '18
huma desgraa casual, que pudera ser bastantemente fu-
nesta, em um Iudio Sargento-mr da alda do Pa?'ij elo
(1) Queixa antecedente. Vide supra a noto. (1) po.g. 387.
- 49i-
Camctd (~), por ser o de m,aior prestimo e v:;\lor dos que a(lorn~
panbavo a escolta, o qual segnindo 00 mato hum animalejo
(pouco maior do que um coelho) a que cbamo paca, es.ta se
lhe encovou em parte,' onde foi preciso II).etter o brao para
colhr a presa, que conseguio a custo de lhe trincar o dedo
maior da mo dir ita uma venenosissima cobra chamada su-
rucuC' (2), cuja e pecie faz gr'ande sociedade com as pacas, de
sorte que da muita unio destes dous animaes resultou a
rabula que ba entre os Tapuias, de que as paoas prooedem
daquellas cobras. Em todCls os viventes he mo~tal semelhante.
qualidarle de ferida, e em tal lnoio se fa~ia mui sensi-
vel pela fidelidade e animo com que servia'. Sarjada logo
a parte olfendida, e cauterizada coro fogo para no ter
lugar o veneno de e communicar massa sanguinea, Qo
ba tou to prompta providencia, nem a de alguns anti-
dotos que se lhe appIicro, para deix,ar depoi de passa-
das trez hora de ser acommeltido o paciente de umas taes
ancias, que privando-o da fana e das foras, entrou em
agonia~ de acabar a vida,
A. to terrivel symptoma em falta de triaga de Veneza se
acudia com o bico elo Acauhan (3) e ~bnicornio de Inhuma (4)
(1) Parij do Oam.etd. Vide upra a nota (3) a pago 270.
(2) Sun"cuc. erpente cujo maior crescimen to no excl\de de 14 p~s,
e proporcionada grossura. Encontra-se nos lugares frescos e sombrios.
A pelle, segundo Ayres do Gasal, h~ alcatifada aom symetria. a pauda
armada com dous fenes, e a mordedura apenaS Curavel
Baena no seu Ensaio OO"ographico confirma o texto quanto as rela-
es das paoas oom estes reptis, e a fabula da prqoedenoia daqllelles
roedores; assegurando ser cobra to peonhenta que ainda depois de
morta o seu dente he mortifero.
( ) Bico do Acauhan. Baena no Ensaio 007'og,'aphico esoreve Acauan,
e confirma o que diz o textQ expressando-se nestes teI'lnos: - o oorpo
tem entre o branoo signaes pretos e oastanhos, e o peito e o bioo so
alvos: he adversario das oobvas, e tido 00010 agoureiro. O bioo oonver-
tido em p serve de triaga.
(4) Unico7'?tio de Inhurna. Ayres do Gasal, na OOl'og7"a]}l~ja BrCl~i
lica, diz que a rnhuma he d0 tamanho de, um oapo, have'n'ao tambem
do de pombas. He esonra pelas costas, oinzenta pel barl'iga com azas
de e,v.traordinario cumprimento, ohegano a dez PllllIlOS de lI.bertura,
tendo em cada uma dous ferres de desi~ual granlesa, e \l,m obifre o~seQ
(o unicornio) de meio palmo de onmprido, e grossura do Mnudo de uma
g~Qssa penna de per, agudo, UlP BOUCO ouno na exhemidade, .oom
VIrtude magnetioa, e ainda. contralTenno.
Quando quer beber, mette-o primeiro 11'agua. e os ol,ltros pasSaros,
que ando aps dene, oomo os quadrupedes atraz da abada (, hinooe
ronte), s ento bebem.
Sua oarne he esponjosa, 'como bofes de qualquer outrQ vivente, e lliio
se come.
49
- 402-
reduzindo-as a p, que em potagem de agua se lhe fez beber
com grande trabalho, porm immediatamente que lhe pas-
sou a circulao este cordial, despertou logo do lethargo, e
socegou das agonias, sendo sensivel ao Indio o de occupar-
lhe o peito da oppresso maligna que lhe suffocava o e. pi-
ritos, e precipitar-se na parte inferior da primeira regio
intestinal, donde lhe no re ullou novo accidente, por e
lhe repetir por mais vezes o milagroso defensivo, que lbe
rebateu o primeiro assalto do veneno: e curando- e com
toda a cautela a ferida em pouco mais de dez dias, se re ta-
beleceu de todo, para o que concorreu muito a capacidade
deste Indio, que e resignou na obediencia de uma austeri -
sima dieta, em que se conteve nos primeiros cinco dias de
cura.
Pareceu conveniente dar aqui noticia de te successo para
credito do maravilhoso antidoto, que a Providencia conferia
por natureza quellas duas aves, de que ha bastantes (prin-
cipalmente lnh'L~ma.s) pelos lagos de ta presente navegao,
com a circumstancia de que a virtude que e contm na
partes que nesta occasio produzi'ro to singular eIIeito,
comprebende a todo o composto de tes dous animae em tal
frma, que qualquer osso ou carne mYl'rbada delle tem
igual efficacia para destrU!' a malignidade do corpo
inficionado com veneno, ou eja procedido de picadul'a de
cobra, como no casO relatado, ou dissimulada propinao,
como tem muitas vezes acontecido:
No dia 20 se continuou viagem no rumo do sul e
sueste seguindo o rio um gyro at chegar ao norte, e
logo voltando sobre a direita topou no sueste, deixando
pal'te oriental huma mui dilatada campina rematada na
Serrania ge1'31, que nesta parte era de mui alta elevao.
Com os mesmos rumos antecedentes se navegou tl'ez dila-
tados gyros, que findro em bum pequeno estil'o, e este
em buma 'mui espaosa bhia, em que o I'io se dividia por
trez canaes obrigado de duas ilhas, que se oppnnho ua
correnteza, passadas as qnaes se foi navegando em lmma
volta, na qual ao terminar a sueste e avistava parte di-
reita campina cortada de hum sangradouro bastantemente
caudaloso; e logo se seguia hum estiro a leste, no meIO do
qual portro as cana com 8 \101'3S c,le caminllo, em que
~e venceri~o seis leguas.
- 403-
este lugar foi preciso dar descanso gente no dia 2{;
e sem embaego que a sua debilidade commovia a pausa
mai dilatada, no foi po sivel concordar este beneficio com
a ne essidade que havia de vencer caminho, em razo dos
mantimento que cada dia diminuio, em cujo consternado
y tema to prejudicial se fazia qualquer demora, como o
no fazerem termo as muitas doenas, poe que alguos
que &e achavo livres destas, no e podeeio i entar dos
110rrore da fome, e poe coo<:equencia todos acabario vic-
timas da nltima mi eria. em paiz destituido de todo o soc-
cOI'ro humano: em cujos termos.
A22 e proseguio derrota, sem nmidade de rumo, por
que oa direco de les ueste fazia o rio os g)ros costu-
mado de norte a uI, e sem !laver cou<:a memoravel que
notat'.em buma e outra margem, portt'o as canas com
ete horas de camin!lo, em que se andario quatro leguas.
A 23 se caminbro duas volta do rio no rumo cos-
tumado ,e e entrou em hum mui dilatado estiro a
leste, que findou onde desaguava hum lago margem di-
reita, e em baver cousa alguma memoravel portro as
caoas com dez hora de. caminho, em que se andario
oito leauas.
A 24 eguindo derrota a]e te e a ue te alguns gyros.
!le achou parte direita huma ribanceira alta de terra ver-
melha povoada de mata virgem de anoredo alto e bem
copado, e pas ado este di tricto indo j a fina]i ar huma
yolta no rumo lo sul desaguava pela margem esquerda hum
sanaradouro ba tantemente caudaloso, e logo e seguia
huma ilha contigua quella ribanceira, que voltou com o
mesmo rio a leste. Ne te ' rumo se avi tou buma espaosa
de embocadura de bal1ia procedida de dilatada inundao
de telTa baLxa da margem esquerda: e pa ~ado e te districto
c dous gyros mais de rio, sem ousa digna de memoria,
portro a cana com onze horas de navegao, em qu
ce andario oito leguas e meia.
No dia 25 e caminhou sem novidade de rumo; e con-
tinuando o rio nos gyros costumados no houve que notar
mais do que huma continuao de maraem de llUma e outra
parto alagada de aaua, som haver ornai minimo reducto
de terra de coberta para nella tomar porto, sendo foroso
ii equipaaem accommodar-se no abee iado districto das ca-
Das, amOontoarlos o sos com os doentes, que sobre toda
404 -
as caiamf1ades que ~e support~ro, 'esta no era a de me-
not t~~bo 1'>ara os animos combatidos de tanta oppres-
sao j'ulta, como ere). a navegao de hum rio, a que a estao
havia constituido mar sem peixe, que se dilatava (com pasmo
pa mesma natl!lreza) por entI:e immenso arvoredo sem fructo,
de sorte que conjurados os trez elementos procreativos para
a 'esterilidade daquella regio, nem pelo ar voava seno
Jl.luito por acaso alguma aram gritando com rou(ja grl'Snada,
t-alvez como queixan'do-se de no acJlar algum limitadissimo
-pasto para entre'ter a fome. Apertava esta a alguns doentes
que convalescio, porm como o armazem dos abastecimentos
ia mui enfl'aquecido, s se appellava para a caa de algum
macaco ou papagaio (1) para raras vezes remir aquella mil
vezes lastimosa necessidade.
Em 26 se caminhou nos rumos j mencionados sem haver
cousa digna de memoria mais, do que com 8 hora de
ca II!iI!ho, encontrar-se parte direita huma campina, em
que se 'portou: e se vencerio neste dia cinco legua de
cil mi nUID.
A- 27 se principiou a navegar com algum e foro no
rl'lmos de leste e sueste para se conseguir o chegar ao cele-
bre sitio Corwmbijam, e com effeito s 9 horas da manh
houve o accidental contentamen'to de se avistar hum morro
onde faz ~ermo a Serl'al'lia que parte de oeste tem seu
principi0-IJarrallelo's chapadas do Matto Grosso, e acom-
panha o Apor at este lugar em que bu ca o poeate, para
bnde desae hUi caminha at trez dias ele jornada, onde de
todo expira a sua ele'i'ada corpulencia.
Chegadas as canas ao lugar1 em qne o Apor banha
oom a suas agnas as raizes do alto monte em que faz an-
g~lo a dil'eco daquella Serrania, ~e avi tou na parte
opposta o sangradouro, de que no dia 16 se fez meno
nestE TJiario, quando se tratou do rio Cavalleiro; e por que
este lugar se fez memoravel pela entrada que deu ao des-
cobrimento de ouro que houve naquelle centro :lt as ca-
-beoeras do Cavalleiro, ser preciso relatar aqui buma ill-
(I) A vianda destos dous anmaos e de huma ave, a que chamo Cujubi,
suppro por desertos semelhantes a falta de gallinhas para os doenle .
(Nota elo author.)
MapLius no seu Glossal'a diz que essa ave tambem se chama Ou(ju1?li
l r~ubty. Me a Reneltope cU1J'l.anencs~s.
- 405-
dividual noticia deste successo, que no d'eixa tIa ser fie
importante oonsequencia. .
No anno de i 74i achando-se j em grande diminuio de
jornaes as minas do Matto Grosso, pois havia declinado
daqella riqussima abundancia dos primeiros annos em
que tivero principio, se' congregro varios mradores
das mesmas mina , Sertanistas experientes, que propGndo
entre i novas exp1oral?es pelo vastissimo serto daquelles
distl'ictos empl'el1endro conquistar os barbaras seus ha-
bitantes, de que lhes resultasse a conveniencia de algum des
cobrimento de ouro, em que estes aventureiros melhoras-
sem de fOTtuna, que j acllavo atlenuada na decadencia do
Malto Grosso.
Tomadas as medidas pl'Oporcionadas execu~,o desta.
ida, juntos em hum corpo de 50 Ilomens, no qual se n-
cluio 15 brancos Portuguezes e Paulistas, constituindo seu
director ou cabo a Antonio de Almeida e Moraes, por con-
correrem nelte largas experiencias de semelbantes conquis-
tas, encaminhro a sua premeditada aco no refl'ido
anno pelo rio Apor abaixo; e estes faro os primeiros que
se animro a l'omper o segredo, em que jazia a sua nave
gao para aquelJes moradores.
Depois de passarem a Sel'l'ania mencionada, dei.xando as
canas em lugar accommodado se embrenhro pelo sert.o
que corre a oeste to impraticavel ele penetrar pelo emba-
rao de medonhos pantanaes, que sem effeito do grande
trabalho que tivero em vadeal-o com agua at os peitos,
sabil'o com grande difficulclade a buscar as suas canas,
nas quaes atrave sando o rio parte de leste entrro pelo
angradouro acima mencionado no rumo ele sueste, e a
poucas jornada acilro a opposio elo gentio cbamado Gua-
1'aiutcl de espirita to guerreiro, que com desprezo da invaso
em que se vio surprehendido por aquelles Sertani tas, che-
gro a atacar-lhes a sua mesma b~gagem: em cuja" aco
empenhada todas as foras dos colligaelos desbaratro
aquella nao aprisionando como despojo de guerra aos
barharos que escapro .do conflicto.
. Victoriosos com este successo penetrro mais o inte-
nor elo campo sem Impedimento, onde em "arios ribeiros
ou corgo que de aguavo para a parte do Tio Cavalleiro
achro poagens de ouro, cuja pinta lhes diffir.ultava se-
guir a immensa multido ele barbaros, que em .designio de
- 4.06 -
disputar-lhes o passo puzero em preciso os aventureiros de
lhes ceder o campo, emquanto se flzero na volta do Malto
Grosso a dar conta do succerlido ao Guarda-mr que ento
era daquellas minas Salvador de Espinha Silva.
Recebidfls as amostras ele ouro e divulgada a noticia do
novo descobrimento por aquelle Arraiaes, j no anno de 17 !~3
se aggregro ao partido da nova explorao algun: mora-
dores, e tambem o me mo Guarda-mr, que pessoalmente
se deliberou a ir repartir a datas, e!IUndo a formalidade
do seu Recrimento : e buscando todos com alvoroco o men-
cionado ribeiro ou sangradouro do Corumbijcll'cL o pene
trro at ao cargo relatado. Entre elles edificro eu
arraial, onde por espao de trez mezes ele trabalho de ,c
cavar no appareceu mai do que poagens de ouro e-
meUlantes s pr.imeil'as amostras, em cuja diligencia se em
pregou Tristo ela Cunha Gago como mineiro, e outro de
experiencia, que depoi de examin::lrem bem o terreno, e
no achando mai do que a pinta referida (que no fazia
conta) assentro que a terra alli subcavada no era a em
que se creava 'aquelle melai, mas uniformemente entend-
ro ser ouro corrido com a agua da clmva de de a COI'-
dilheira geral, que lbe ficava ao na cente, onde ter a "ua
origem. E como para seguir aquella pinta at onde pre-
sumio, era preciso c1ebellar ou meLter de paz as nae de
gentio bravo que mediavo at a Serra, para o que e no
achavo com os meios proporcionados por erem divel'~a,
as nae mui numerosas e guerreiras, tomon o Guarda-mI'
o expediente de se recolheI' a povoado acompanbado de
outros particulares fJUe o seguiro.
No ~e retirr porm, Antonio de Almeida nem
Tristo da Cunba, primeiro descobridore, que cmp nbados
em continu::lr a diligencias plantro mantimentos e a na
imitao outra varias pe 'SOflS, que em mai ele 8 meze
de ihelaga o daquelles districto, sem nunca poderem
cbegar onde presumio a origem do ouro, no tivero (iutl'a
resulta do eu tralJalho mai do que a perda do tempo, ea
de muitos escravos mortos e fugido.
Com esta ultima prova ou desem:aoo e deliberro todo"
a abandonar o Corumbiara, huns e recolhro ao ~Ialto
Gro o, e outros om os dou descobridores buscando o
campo ao norte, atravessando as cabe eira do rio Caval-
le1ro, acbando sempre boas formaes de ouro, j perto
- 407-
da. serranias que cobrem a aldeias de S. Simo e S..1igueI,
depois de debellarem a nao dos Amis, que derrotro
inteiramente, e oppuzero a eu progl'e'sos os barbaros
chamado Guazails, que em grande numero habito as
planicies que remato na serra . de cuja multido obri-
gado o aventureiro a retroceder pelo me mo caminho
tlue ha~io levado, abiro pelo referido Cavalleiro em
nova ub, que fizero,' e neltas se recolhro ao Matto-
Grosso s com a utilidade de alguma presas do gentio
A.mi6 .
At ao presente se no fez mais entrada alguma por
aquella parte do Corumbiara, por er precisa tropa de grande
fora para conqui tal' a multido de gentios que habito
aquelle erto.
A nae mai conhecida e de fora mai formidavel
o o iiIembcvrs e Gebiuicls eus confinante ; no S10 fe-
roze , o gentio l1e docil, e de boa disposio para serem
praticado. Seguem- e o Guazails, que supposto sejo
mai atrevidos, omtudo acha-se nelle capacidade para
erem catechis:ldo . Ababds e U?'[lpunls, tragadores de carne
humana, o de alguma rebeldia para negociao de paz.
Gttalal's, illaUl's, TaqtbaJl'aS, e Causinos o de facil genio
para e reduzirem; deLles e tem recolhido muito
aldeia le . jliguel e S. Simo. Desta ultima ao sitio
do COl'umbiara dizem haver dez ou onze dia clejornada
por terra.
~ que fica escl'ipto de tes descobl'imento foi ouvido re-
fem ao. dou descobridore Antonio de Almeida e Tri to
da Cunha e tambem Rodrigo Franci co, homem de toda
a. verdade, que foi com eus e cra, o subcavador at a ul-
tima desero.
Continuou a e colta a sua viagem no rumos de leste e
~le te vista da Serrania da parte direita to pl'oxima ao
no, que dan lugar a examinar com a vi ta o di forme vulto
da na elevao: o eu composto l1e pela maior quantidade
de rochedo e calvado: e por alguma partes fendidas se
de penhava agua mui cry tallina de de o alto daquellas
emmencias, que produzindo alal1ma verdura a beneficio da
continuada 11umidade razia objecto mui recreativo o da-
quelle dial hanos corpo precipiLados. Ia falda de huma
destas montanhas tomro porto a can6a, que em onze
hora de navegao vencerio 6 leguas.
- 498-
Era j neste tempo o mantimento da escolta mni raro,
de sorte que ainda nsando da mais e treita economia no
era possivel ch~gar com elle s primeiras fazendas dos
Pantanaes, e como a estes em cana ligeira se podia ir ne
gociar algum soccorro com 6 dias de demora na ida e volta,
se tomou o expediente de despachar aquella mesma noite
hum Commissario a tratar desta dependencia com ordem
de voltar com brevidade pos~ivel a encontrar a escolta,
que sempre se destinava a ir vencendo caminho, ainda que
com alguma lentido por causa dos convalescentes estarem
summamente fracos.
No dia 28 se proseauio derrota sem novidade de rnmos
em quasi continuado estiro avistando a serras da parte
do poente, das quaes se notou buma entre as mais de
menor altura, que tem em cima como remate dos seu
penedos !Juma pedra levantada com uma tal unio e bem
dispo ta symetria, que fazem perspectiva como de torre pe-
quenas, imitao das que os artifices obro para campa-
narios: e deste milagre da natureza resultou appellidarem
os primeiros viajantes deste rio a toda a serrania- as serras
das Torres. Pas ado este lugar faz o rio huma pequena
volta; e nella portaro as canas com 9 horas de caminho
em que andario iS leguas.
A 29, dia da Resurreio gloriosa de Chri to Senbor
nosso, depois de celebrado o incruento sacrificio da Mi. a,
se contiouQu viagem no rumo de leste em continuado estiro
pelas mesmas erras pela parte direita at s 8 horas do dia,
em que se perd'ro de vi ta por correrem mai ao centro,
e logo o rio fez a sua direco ao rumo costumaLlo de les-
sueste em gyros, como os j muitas vezes mencionados de
norte at sul, achando-se a terra de huma e outra margem
inundada da cheia, sem descobrir na ribanceira a mais
minima poro delia capaz de se portar, por mais que se
buscou at s 8 horas da noite, em que foi pl'eciso des-
cansar com o notavel incommodo de no haver outro alo-
jamento mais que o das proprias canas, que em .. 2 horas
de viage)ll vencerio 7 legua s .
Em 30 se cammhou pe los gyros do rio costumados sem
novidade de rumo nem de margem por hum dilatado e-
pao de cinco horas de caminho, at que parte esquel'~a
se aCUQu desaguar bum grande lago a que logo se seg~1O
outra embocadura de agua da mesma qualidada, que dlS-
- 409-
,ero os Pratioos ser do mesmo Jago antecedente. A' parte
rtireita e de cobrio huma embocadura de pantanal, a que
se seguio huma campina parte direita, e logo esquerda
hum sangradouro, por fra do qual se navegou, e e achou
direita continuar a campina de terra mai alta e isenta
da inundaes, no fim da qual na margem opposta se
achou a embocadura do angradouro mencionado, defronte
do qual e fez pausa om onze horas de caminho, em que
e vencerio 5 legua .
A 31 e -continuou derrota nos rumo de leste e sueste
com as me mas voltas de' rio, em que mediavo alguns pe-
quenos estire de pantanal de huma e outra margem, que
finalizou cm dou grande 1aO'os, cuja boca desaO'uavo
parallela a huma e outra parte. Pas ado este lugar se avis-
taro parte direita as erra da Torre em no muita
di taneia ao centro; e sem havei' mai cousa alguma digna
de memoria portou a escolta com dez horas de caminllo,
em que se andario 4 leguas e meia.
Em o primeiro do mez de bril se proseguio viagem sem
alterao dos rnmos antecedente com as volta co tumada"
e em buma que chegou ao norte e terminou a sul, ce achou
parte e querda campina, que findava ao centro com a
Cordilheira geral que e avistou, seguindo o rumo co tu-
mado. Ante de concluir-se o O'yro mencionado de aguava
pela margem e querda huma grande por o de agua das
muita que e conO'regavo pela campina, e bu cavo aquelle
luaar, omo anO'radouro daquella inundao oriO'inada das
chma , qU em vario regato de cem das montanha a e -
palllar- e naquellas dilatada planicie. eguiro-se a e te
Juaar dou e tires, o primeil'o a ui, o egnndo a sue le
e a e~tc os g} ros costumado : sem haver ma: cousa
alguma que notar se fez pau a neste dia defronte de
huma ribanceira de terra alta, que havia margem
dit'eita; com doze hora de caminho se aodario 7
legua .
r o dia 2 navegando sem mudana dos rumos ordinari~s
se encontrou com bum dilatado estiro a le'te, onde di-
vidido o rio em dons canaes faz huma ilba longa avi tan-
do-se pal'te direita as senas das Torre" das quaes nasce
hum rio chamado Rio Ve1'Cle, cuja direco he do poente
para o nascente. No he caudaloso, e tem bastantes ca-
choeiras, desagua pela margem direita no canal que frma
50
- 4'10-
o Apor entre a erl'as e a ilha referida. No houve mais
noticia alguma que e faa memora-'iel de te Rio Verde.
A pouca distancia deste nalisou a ilha com o e tiro, e
tornou aos gyros costumados; e havenelo vencido ei e achou
parte direita buma embocadura igual na largura mi
do rio, e logo mais adiante outra qua i semelhante, e amba
e communico pelo centro com mui dilatado pantanal.
Navegou-se adiante bum pequeno e liro, no fim do qual
parte esquerda havia huma entrada re uUa dos panla-
nae antecedentes, e se eguia terra alta na ribanceira, que
j foi cultivada por pescadores d"c> Matto-Gro o. De te lucraI'
se avi tro a erras da Torres, e se continuou elerrola
sem mais novidade, portando a e~colta com dez bora de
caminho, em que se vencerio 6 leguas.
A 3 se proseguiro no rumos co tumados dous pequeno.
estire , e se seguiro cinco gyro de ribanceira inundada
por lmma e outra margem, e om tantas bocainac, qlle
com grande djfficllldade se atinava com a mi do rio,
accrescendo mais haver neste mui continuados ampinae.
de arroz e outra bervas, que tecidas huma com ontJ'a na
snperficie da agua deixo mui e treito pas o navegao.
O arroz (1), de que aqui se faz men o, e de que ha
immensielade no n::l mi do rio, mas pelo eu lacro
e pantanaes, he produ o e pontanea da natureza, que dtl-
poi ele azonado. costuma er alimeuto e juntamente de
perdicio ele vario animae, ,Yolalei, por no hay r DlO-
rador que aproveite a sua colheita, para a qnal no 11a
neces idade de mais trabalho, do que andar em canoinba.
por entre os capinaes (2) que com qualquer movimenlo
largo as espigas os seus ca ulos,de sorte que em breve tempo
se disfruta este geoero le seara continuada om tal f'l'e-
quencia, que raro era o espa ,o ele caminho, em que no
houve se esta providencia totalmente inutil nece idade
ela escolta em razo de pa sal' em esta o impropria de
se aprov itar.
PI'oseguio- e caminho por varias voltas e esLire, ha
vendo por buma e outra margem muitas embocadllr~
das immen as aguas elo ultimo ponto da cheIa, qne redUZIa
(I} o a?'1'Oz. TIe o nnti o que alli se encontrou assim como em MarR'

nhfio; lOas texto he deftciente por no dizor cousa alguma quanlo aO
tl\manho e cr dI) gro, que no Maranho he vermelho, e lio desgostoso.
(2) Cap'jnaes, de capim, corrupo de caa-pe-i, herva l'asteira seme
lltanle li gl'ilJ'Gf\. Mas parece que o antor queria dizer campinaes.
- 411-

as terras baixas a oceanos pacificas e dilatados. Em mar-


gem desta qualidade de mar, por que se no descubria
terra, e fez pau a com 1.2 boras de olminho, em que se
veucerio sete leguas.
Em 4 elo mez se proseguio viagem por um e tiro a leste,
que finalisou em uma volta obre a direita, que terminou
a susudoeste; e logo seguio os rnmos ordinarios~ sem a
iUlluda(jo permittir paI' huma e outra margem que no
fo se agua, no 1l-e de cuidando esta em buscar o rio paI'
bocainas enorme e to continua, que punbo em con-
tingencia o princi paI camin110 ; e por este e outros lugares
semelhantes que fico apontados, se acabou de de enganar
a e coUa que devia ao beneficio do experiente guia o no
acabar dispersa por aquelle labyrintho de agua ; do qual
em concur o de algum milagre da Alti6sima Pro idencia
jamai poderia sabir sem perdas da ultima consequencia.
uppo ta a falta de mantimentos experimenLada naquelle
esterili imos paizes, unicamente abundantes de agua e
anoredo sylve tre. Neste dia em 8 hOl'a de caminllO se
andario quatro legnas.
No dia 5 se caminhou com bastante lentido sem novi-
dade de rumo at a 11 llOras do dia, que se fez pausa
por se achaI' lerra firme, oude pal'Le direita foi preciso
mandar fazer crte de palmeiras bravas para os que no s-
tavo doente poderem do amago uperior destas arvore (I)
lirar o sustento pam aquelle dia, e fazer provimento para
o outro, porquanto no chegava a huma quarta de milbo
o que se acllava em aro, sem outl'O genero de "Vianela
para alimento de alguns doentes mai ne'e itado ; e
e te foi o dia em que a escolta chegou ultima cons-
ternao da maior penuria, sem haver antro recurso mais
cio que para o palmito refel'ido (2), emqllanto n50 oll"gava
a cana de soccorro que e esperava. Ne te dia, em cinco
hora ele navegao, se no v ncerio mais do qne duas
leguas.
_o dia 6, em que a Igreja celebra os Prazeres ela
'iraem Senhora Nos a, se principiou viagem ainda de
madrugada, quando ao romper do dia se encontrou com
acanoinl1a que havia ido negocial' o socorro, ele cuja vista
resultou bUlia geral alogl'ia e com e1Ieito elo que trazia
I

(l) A-mago supel"io?" estas a?"vo?"es. Referese ao palmito.


(2) Palmito ?"efel"io. Vide nota supra.
- 4-12-
que constava de milho, arroz, feijes, e algumas fruela ,
se fez logo distnbuio para se remir a nece idade pa -
sada, fazendo-se a pau a de huma hora para os debilitado
tomarem algum alimento; e logo continuando derrota sem
novidade de rumo, sendo a maior parte das margens terra
pantanosa, se aportou j de noite com 10 Ilora de caminho,
em que se andario oito legua .
A 7 se conLinuou a marcl1a j com mais vigoroso im-
pulso, sem haver mudana de rumos nem de gyro:> do
rio; no qual se achou desaguar pela margem direita hum
riacho chamado Capirwl'i (1), cuja entrada se achou ser a
oe te, e logo faz caminho ao sudoe te, ter quarenta braa
de boca, mas logo discorre com mai laraueza. O eu
nascimento be nas erras da Torre, a suas aguas o
crystallinas, he frequentado de pescadores do MaLto-Gro o,
que informo baver neHe alguma cachoeiras, ma no
do outra alguma noticia que o possa fazer mais memo-
ravel. Passada a boca deste riacho se pro eguio derrota
seguindo os gyros do rio, que ero ma,is a miudo e de
mui diminuta exten o aos- antecedente. porm sempre
com a m sma direco e rumos; continuavo o arrozae
pelas margens, e tudo parte esquerda era pantanal, e
ter o rio por esta partes trezentas braa de largo ond~
o he mais; com '12 bOl'as de caminho se vencerio ne te dia
nove leguas.
Em 8 se pl'ncipion de madrugada a derrota com de ignio
de cbegar ainda de manl.l s primeiras fazenda hamadas
dos PI.L1Ilcmaes,. e com elIeito 8 horas do dia e achou
huma embocadura de pantanal parte esquerda, entrando
no qual est hum porto chamado do Bello, donde se pMe
fazer transporte em teJ;npo de secca chapada do 1\]atlo
Grosso, porm naquelle el'a impraticavel, em razo das
aguas terem immdado toda a campina. Passado e te lugar
se seguir0 trez voltas de rio e logo hum estlro, em que
parte direita em terra alta esto a primeiras fazenda:
pas GU vista da primeira, em que habita hum homem
pardo, e na seguinte em hum quarto de legua de di taneia
est (J casal de hum Joaquim ~ erreil'a Chave, que fer.
companhia aos primeiros que navegaro at o Par, onde
(1) Capl't;ll-i. Parece erro ou e!!gano do texto e que o nome ha Cal!i-
va?'Y, rio de Gapivaras, nome de nmitIJs ):OiS e ril,Jeir~~ elo nosso p,uz.
E !le esse o nome que se l nos m.appas da"proviucia: de Matto Grosso.
413' -
a entando-se-Ihe praa de soldado de ertou para o Matto-
Gros o fazendo viagem pelos Goiazes, donde passou a
Ctbiabd, e desta villa sua habitao.
Jeste sitio, do qual se expedia o soccorro mencionado
e:colta, foi preciso portarem a canas neste dia com
4 hera de caminho, em que se andario trez leguas.
Aqui se de cansou o resto deste dia, e tambem todo o
eguinte. A terra em qlle e aoho situadas. estas fazendas
he alta, i enla de inundao aiuda em cheias extraordi-
nadas, 11e plana, e produz muito boas mata_, que conti-
nuo at as erra das Torres, que lhe fico ao poente.
A mesmas fazendas produzem o' legume do paiz com
fertiLidacle, milho com ahunda] cia, e lambem arroz de
muito boa qualidade, que na grandeza do gro e sabor
no tem inferioridade ao de Veneza (-I); porm o que se
colbe pelo pa nt3na(8, prodnziclo pela natureza sem cul-
tura, no tem bondade que o faa appeteoido (2), e s por
necessidade se p' de admittir o seu uso.
Toda esta llabitaos que ha pelos PanLanae so fa-
I'orecidas de clima mais temperado o que a chapada (il) em
que 11a as irre'Tularidades, de que em seu lugar se far
meno; e o' moradore elas taes fazendas so menos
pepseguido de doena, e pas o a vida com mais ferti-
lidade do que os da CLJ.apada, que de tes Pantanaes be mllitas
veze ~occorrida.
No lia 10 pela lmma hora do dia se proseguio a der-
rota ao' rumo de leste, sue te, e alguma vezes ao sul,
gyro pequenos 11m] sobre antros. Seguiro-se mrli dua
Fazenda situadas no me mo continente da primeiras,
porm a margem oppo ta toda era pantanosa, ele que pro-
cedio algumas bocainas, que se communicavo com o rio,
pelo qual di correndo se entrou j perto da noite por
bum brao de pantanal a buscar l)Uma fazenda, em que
mOl'a Tristo da Cunha Gago, da qual tambem ba cami-
nho prlra o Matto-Grosso, porm os praticos delle info1'-
(1) Arro.:; ... ele T-'ene.::a. He o da Lonlbardia, a' im chamado pela
expnrtao que se fazia por aquelle porto. Entio no .e conhecia o arroz
de l\!Iadaga car, cuja'semente levaro os Inglezes para aR Oarolinas na
Ameriea do Norte, adquirindo por isso o nome de a?To%da Carolina.
(2\ Que o raa appetecido. Vide nota (1) pag.410.
(~) Chapada. ,o as plancies uos terrenos elevados, a que os France-
zes chamo plateal~. Na provincia do Maranho a chapada ho a
meqma plancie nas condies supra, mas o torro.he argiloso, duro o um
pOllCO esteril. -
- 414-
marao e tal' todo inundado de sorte, que nem o mora-
dores do mesmo sitio poclio sahir ao campo a montariar (I).
o me mo lugar pernoitou a e coita, c]L1e cm 5 hora' de
caminho venceria trez legua .
Todas e'tas fazen a aqui mencionada' tem por ope-
rarias aIguu Tapuia do que por aqnelle' sertes c
amarro, ou pratico na frma que se declarou neste Dia/'io,
e mente o sitio de Joaquim Fen-eira Cilave era cultivado
por e cravos de Guin.
A J i e determinou ~egL1il' viagem e entr::n' no rio SG/t'Q/',
e bu cal' nelle o porto hamaLlo da PeseH1'itt, por er o
geral de embarqne e ue. embarque para o ~Iatto-Gro 0,
e as im ahiildo do pantanal, que era mui dil,ataLlo e de
prJfundidatle maneira de lag que nunca ecca, e con-
tinuou a viagem pelo Apor no rumos costumado com a
mesma direco ed les ue te notando-se sempre ele hnma
e outra margem varias emboc duras de agua, que pu-
nho em duvida, qual delta a parte esquerda era a tlo
rio Sarar; e como a ua desembocadura hc por mar-
gem alagadia, pa silro as 'anas parte oppo la na
mi do rio, onde em maJ'gem ba::.tantemente elevada e
fez pausa.
Pelas duas horas da tarde se entrou no S'H'ar no mmo
de Iessueste, e logo p:l ou a le 'te, e a sim continuon al
s 5 110ras da tarde, em lue .:e fez pan a. .\. boca do
Sal'al' ter cluzenta' braa de -mbocadura, e para dentro
alaga mai~, espocialm ,nte oDde tem ilha, de Inc todo
eUe he povoa o. A 'llC\:'\ ruargen' so quasi toda' rle
terras pantana a : na eoellentes ere.;ee pelJs margen na
superfieie da agua hnma flnalitbdc tle herva, 1 qile ehamo
Auapy (2), de folhas la: o' 'e grossa', IJue l'amifieo, e formu
(1) Montal'im", i. e., montear, caar.
Vem de montaria lugar coutado para caai'.
No Par. e Amazonas chama-se montm-ia a pequeuo: botes, que alli ser
vem para pescar e caar, e s allxiliares dos ).(ranues barcos. .'
(C)) .lJ.uapy. No texto l-se auapi. Hc a mesma herva que uu prOI'lI1ela
do Maranho cllamo lIlunw tl abunda n90 COITHU'Ca le Viana, tan!
nos lagos e pantanaes como no rio Pindar, impellindo a navegao. .
No Par, segllnc10 B'lena no Ensaio Oorograhico, cbama-se 1I!Ul'Ui'C-
mil"i, e assim a c1escreve :- planta, que nasce nos lagos, nas terra enso,
padas, e na ourla dos rios.
Ella vaga por alguns rios em grande luantic1ade c mo II <M'atiot:
pelo Nilo. Mas essa planLa que os Enropous cltamo 7'.1il {'olha' naO
tem semelhana com a de que trata o texto, cuja folba, alem de larga e
grossa, '!le <l.rl'euomlac1a e lustrosa,
- 4-10 -

bum tecido dos "eus talos de to forte ligadura, que em


parte atra essando o rio por grandfJ distancias he preci o
di -iparem-se aquclle impedimentos fora de faces e
machado para e poder abrir aminho para canas de
maior lote da' de pescar. Procede cnar tanto corpo este
genero de embarao de no ser frequentado aquelle rio
de outro pa ageiro e no pe cadores, que naYego em
nece idade de de baralar aquella extravagante t'a de to
rija urdidura, que cu ta to grande trabalho a romper, ao
que accre cem muito madeiro", (fne cahem da margem e
atraves o o no, os quae he preci o atorar (1) para conti-
nuar caminbo.
Vencendo e tes embarao se navegou nos dias i2 e 13
at que no cl ia oH 3 horas da tarde ele canou a e colta
no porto da Pescal'ia om nove moze completo de yi:J-
gcm do Par, donde e !lay;a principiado a derrota a H
de Julho do anno antecedente.
No me mo dia fez o Sargento-mr da e coIta aviso por
carta ao Juiz onlioario do fatto-Grosso, Antonio da 8il-
yeira Fagundes Borges, para que por er"i o de Sua Ma-
rre,lac1e manda ,e dar apv enladoria no A?'?'aial da A!al?'iz (2)
aos ofliciae da me ma e~colta, q11e naquelle pano e pe-
rava Lambem alguns cava lias de selta e cal'ga com a bre-
vidade po sivel para tr:.lOsporLe dos mesmos officiaes.
Com toda a pontnalidade cbeo-l'o no dia 10 o cavallo
neces ario , e a 16 f: 8 horas da manh "e principiou
a jornada vadeando hum maLo, e logo hum dilaLado panta-
nal de campina alagada com alguns tojocaes (3), no fim dos
quaes e pelava o dito Juiz acompanhado elo Viaario da
~Iatriz e ouLra pe soa de di ti nco ao ho pede, q11e
oumpl iroentl'o com toda a urbanidade, e o acompanhro
dua leglla que restaro de caminho plano at a falda
do morro, que ter meia legua de elevao; e chegando
ao (h'mial de S. Fmncisco Xavie?' (4) buscro todo a lareja
Matriz de que l1e tutelar o me,IDO Santo, onde rendida
a Deo a devida graa pelo beneficio de livrar aqllella
(1) AtOl'aJ', i. e, carla r, dividir, fazer em tros.
('2) .illTaial ela loIatr-is. Era ento o de S. Francisco Xavier, como mais
abaixo ~e ver.
(.) TOjocae', i. e., t~tjucae$, de tujuco lameiro, atoleiro, lremedal de
mangue. a provincia do Maranhiio diz-so tijuco e tijucacs, que mais
e eonforml0 com o illioma tupy.
(.1) A?'miat de S, Francisco Xaviel'. Vide nota (2) desta pagina.
- 416-
escolta le tanta immen idade de perigo, e recolhro
os Olliciae cada hum ao quartel que lhe tava des
tinado.

APONTAMENTOS SEM DATA (-J).


Comea a provincia do B['azil, hoje descobeIta da banda
do norte na Cetpitania do Petrd, que he o mayor rio que
hoje e sabe no mundo: foi o ultimo de abrimento delte
pelo piloto Antonio Vicente Cochado (2), e subia at qua-
trocentas legua. Na boca do rio da parte do uI temo
huma fOl'taleza de pouca defen~a (3).
Segunda. Capitania do ~faranho, em qlle e perdeo
tanta genLA, os filhos de Joo ele Barro e Luiz ele ~lelto
no anno de 539.- A' margem: Dons ou trez Eng nl10
d'as ucar principiado.
Terceira 11e a do 8erM'd: ruim porto e com baixos. c[ui
se acbaro mina de prJta.
Estas trez Capitanias esto eparadas do governo do Br3zil
e dado o governo delta a FrJnci co Coelho de Carvalho,
com cabea no Maranho.
Quarta. Segue a Capitanict do Rio Gmnele, em que l1a
fortaleza.
Quinta. Logo.u Capitemiade Pa1nyva (4.), mnytoimportanre
polia porto e cidade Felipea: tem j;'\ muyto Engenho,
pao-brazil, tinias, tabaco, alaodo , muyto linho e anil.
Sexta. Segue a Capitania ele llumal'acd: muyto Enge-
nhos, muytos moradores. - A' m[t1'gem : Tem Donatario.
Setima. PernambLtCo: minas de amatistas e de cristacs
no rio de S. Fran isco, e na cabeceyras delle salitre:
tem canaUstola, sal' a-pal'rllha(),e almessega, tintasemnito
1inho de duas casta .
(1) Estes Apontamentos se acho nas notas addicionaes obra-
Annaes de D. Joo 11 r, por FI'. Lniz de ouza, publicados por Ale
xandre Herculano. Lisboa, 18H. de paO' . 452 e 453. .
Por inleressareo ao Maranho e ao Hrazil os reproduzimos aqlu.
(2) Cochado. Bel'rdo nos I.l.n'l".aes Historicos do Estado do iVm'anhfio
liv.6 n. 500 trata de um piloto c1Jamado Antonio Vic nle Uachado, que
parece er o mesmo que m.mciolla o texto, havendo engano no nome de
Cochado. qne antes escriplor al&um se refere.
(3) Refere-se de San1a Maria ele Bel.em.
(4) Pm-ayva. Nome com que no penultimo seculo era a Para/lyba
conhecida.
5) Sarsa-pw-,'ilha. Vide inCra outra nota semelhante respeito.
- H7-

Oitava. Serllgipe d'elBey, sem porto: he terra pera gados.


Nesta oito Capitanias ae de ordinario muyto ambar.
Nona. Entra a cidade ela Bahia de todos os Santos: o porto
he mal seauro ; pode-se remediar com hum molhe (1). Tem
presidio de novecentos soldados.
Decima. Segue a Capitania dos Ilheos, boas terras, porto
pera navios peqLLenos. A' m:trgem: Tem Donatario.
Undecima. A Capitania ele Porto S:Jgw'o : colhe-se aqui
do zimbo de Angola (2) ; no tem porto: -A' ma1'gem : Tem
Donatario, Duque de Aveyro.
Duodecima. A Capitania do EspiTito Santo: tem minas
de esmel'alclas. A' ma1'gem: Donatario Francisco d' Agniar
Coutinho.
Decima terceira. Capitania d~ Bio de Janeilro : he del-
Rey.
Decima quarta, Ultima ele S. Vicente: tem trez villas,
e ouro ele lavagens, e fazem-se neltas mutos navios.
A' ma"gem: Donatario foi primeyro Martim Alfonso de
Souza.
Fazem de gasto a El-Rey estas catorze Capitania, neste
anno de 1628, 9:4878'l64.. E ha nelta duzentos e trinta
e cinco Engenhos de aucar, antes mais que menos,-
I. Liv. 2.

Pal'ece por hllma petio de hum :Miguel Estevam, es-


trangeiro, que se olferecia a pe Cal' trinta a corenta quin-
taes de coraL em cada hum al1l1O da costa do Algarve. III,
Liv. 1.
Treslado de buma cprta da Camara do Perto sobre a
confirmao de seus privilegias, de que o principal he, e
no aponto outro, eno no viverem fidalgos, nem faze-
rem cazas na cidade nem residirem nelta mais que hum
dia. Este privilegio cbamo patrimonio, e pera elte aLlego
antiguidades e servios grandes. III, Liv. 2;
(1) Agora he que se tratou de doLar aqueUe porto com uma 1ca.
.(2) Zimbo de Angola. Segundo Mornes no Dice., o .zimbo he o ~a
fiSCO que serve de moda em Angola e Gongo. He de cr parda, e ddIe-
rente do cori ou caul'i. Os negros o chamiio gimbo e gimborlgo, e dizse
que tambem se pesca na Bahia de todos os Santos.
51
-- U8-

No mesmo tempo ('1) se continuava o descobrimento da


costa contraria: costa da terra Ame1'ica, ou Novo Mundo,
que o' primeyro de cobridor PedralvaresCabral chamou Santa
Cr'uz, e o vulgo B1'asit, pona estima que faz de hum gen~ro
de inadeyra deste nome de que tem abundancia.
fIe a terra por toda a parte fresqu issima de arvoredos,
abundante de mantimentos, talhada de muytos rios de aguas
excellontes, e alguns delles to gra odes que so navega
veis poUa terra dentro muyto numero de leguas.
As serras crio esmeraldas, amatistas, cristaes e ouro:
o mato he rico de muytas fruytas e ervas medicinaes,
como so canafi tola, sara parrilha (2), tabaco e almessega.
O mar, sobre grande abundancia de bons pescados,
lana por todas as prayas muyto ambar. E sendo com
isto o clima todo de ares benignos e salutiferos, dava pera
o diante esperanas de mayores interesses.
Desejava el Rey D. Manoel a troco delles doutrinar os
naturaes, levando-lhes a noticia do Santo Evangell1o: mas
corsarios estrangeiros, principalmente Francezes, nos davo
grande estorvo, acudindo muytos a aproveitar-se do suor
alheio. Era necessario andar com armas nas mos contra
etles por no tomarem f na terra.

(1) Annaes de D. Jl1o III, pago 29. O author tratava da epochll em


que D. Joo ln subira ao throno. em 1522.
(2) Sa?'apa1"?WU!, he o que hoje por COlTllpo cbamamos salsa
pa""ilha; sip medh:inaL mui conhecido. Os iucligenas chamavo Peca
cuen e Juapecanga.
OCCUPAOO HOLLANDEZA NO MARANHO.

LUTA EEXPULSO DOS INVASORES.


EXCERPTOS DA OBRA
,
HISTORIA DE PORT GAL REST RADO
POR

D. LUlZ DE ME lEZE , CONDE DA ERICEIRA

o Conde de Nassau (1), tanto que teve aviso dos bons suc-
ce sos conseguidos em Angola, e S. Tbom, despedio outra
armada qu con Lava de 18 navio (2) s ordens de Joo Cor-
neIes (3), que levava neUa dou mil infantes, a interprender
a cidade ele S. Luiz, da ilha do Maranho.
Cbegou e La armada vi ta da cidade a 24 de O1'embro
(164'l). A ilha do Maranbo llca na co ta do Brazil; corre
para o C ar de oe te a lo Le, e para o Par a oesnor0este
em dous grilos e meyo da banda do sul: tem 12 leguas
de comprido, e cinco de largo, e em alguma partes eis;
fica em huma grande babia que alli faz a terra firme, de
que di ta duas legu3s da parte do le Le, e do oeste trez, e
por buma e outra entro naYios: pela parte do uI a divide
da terra firme hum rio(4), que ter de largura hum tiro de
arcabuz.
O Francezes a descobriro (5) e senl1orero at o anno de
'16t4., que Jel'onimo de Albuquerque os lanou della, go-
yernando o Brazil Ga par de Souza: a ilha no dava mais
que tabaco e mandioca; na terra firme havia engenhos de
a sucar, boje e tem d coberto outras drogas quasi to
precio as como a da India.
Governava a ilha Bento Maciel ])arente; reconheceu a
armada, e vendo que era ele HoUanda a mandou salvar,
por Ler re 8bido ordem d'El-Rey para no tratar como ini-
(1) Conde de Nassat~. O texto diz N{(~au: refere-se ao Conde Joo
lauricio, Governanor gerul do Brazil Hollandez. He o verdadeiro fun-
dador da cidade do Recife.
(2) etscher na. sua obra - Os Hollandezes no Bl:azil-diz que os
Ila\'ios ero quatorze.
(3) Joo Cm'neles. Refere-se ao almirante Lichthaldt. O seu nome,
segundo Jetscber, era Jan COl'?telis;;oon Lichthaldt.
(4.) lie 0 rio Mosquito. Melhor fOra denominul-o estreito.
(5) He equivoco, seno erro do author. A ilha de ha muito Cra les-
coberta pelos Portugnezes.
- 4,22 -

fulgOS mais que Turcos e Castelhanos. Continuou a armada


a derrota sem responder salva, nem amainar.
Vendo o Governador esta re oluo mandou dar-lhe carga
com toda a artilharia, esta respondro os Hollandezes, e
querendo livrar-se- do perigo das balas dero fundo a dis-
tancia, que os livra,a delIe; lanro logo mil bomens em
o sitio de Nossa Senhora do Desterro: os moradores com o
ocio esquecidos do exercicio militar despovoro a cidade e
o Governador se achou na fortaleza com etenta soldados,
trinta e cinco delIe meninos de muito pouca idade, a que
haHa sentado praa para suppril' a falta de outros tantos
soldados velbos, que tinha mandado para huma Capitania
sua, desacerto que llle tirou a honra, e lhe custou a vida,
costumado effeito da ambio que com estes desenganos acha
sempre sacrificios.
Marcl1ro os Hollandezes para a fortaleza, e vendo Bento
Maciel a sua deliberao mandou dizer a Joo CorneIes (1),
que aquella Uua era d'EI-Rey de Portugal, com quem os
Estados de HolLanda havio celebrado pazes, e que neste
sentido ignorava a causa que o trazia a lue fazer guerra.
Respondeu Joo Corneles,que elIe no determinava oITender
os Portuguezes, que vinha com ordem do Conde de Nas au,
Governador das armas em Parnambuco, para occupar aquella
Ilha; que quize se elLe que se avista sem, para conferirem
o que fosse mais util a EI-Rey, e aos E tados.
Obrigado do receio aceitou Bento Maciel este partido:
sabio da fortaleza, fallou com Joo CorneIe e a sentro
I

que Bento Maciel ficas e governando a fortaleza, e que aos


Hollandezes se desse huma parte da cidade, para se aquar-
telarem, e mantimento por seu dinbeiro at que chegasse
ordem de El-Rey e dos E tado , com a qual se tomasse a
ultima resoluo.
O modo da jornada dos HolIandczes bem deixava conbe-
ceI' o caviloso animo de~ta proposta: porm Bento Maciel,
que governava melhor os seus cabedaes que a fortaleza,
aconselhdo do medo, buscou pretexto para entregar a for-
taleza, e a Ilua.
Entrro os Hollandezes na cidade, e no querendo alargar
mais o prazo dissimulao a saquero. Mostrou Joo
(1) Joo COl'neles _ Era este o almirante da esquadra Hollandeza, mas
o general enca1'l'egado elo commando das foras de terra, que tinho de
occupar o territorio, era o coronel JJo van Koin.
-423 -
CorneIes que f6ra desordem dos soldados, para facilitar a
entrada da fortaleza: a im o conseguia como o dispoz,
mandou occupar os postos delia pelos Hollandezes tomar
po e do armazen , abater as bandeira de Portugal, e ar-
vorar as de Rollanda, depois disto executado repetiro os
soldado o saque da cidade, no concedendo mais privi-
legio ao agrado, que ao profano.
Segui 0- e a e ta extoro mandarem recado aos Portu-
guezes de Itapocur (1), povoa 'o pequena de terra firme,
doze leauas da Ilha anele estavo o Engenhos, que lhes
manda em tanta caixa de as. ucar que ba tas em a livraI-os
do perigo que o ameaala; por se livrarem deste damno
contribuiro com eis mil caixa :Joo CorneIes no querendo
perdoar a dilicrencia alguma fez jurar a "todos os moradores
obedicn ia ao Estados, e embarcou cento e cincoenta sol-
Jado Portugueze em huma urcamal apparelhada e deixou-os
livr s para eguirem a derrota que quizessem, suppondo que
lhe dil\'u a ,epultuea na liberflade.
Puzero elles a pra na ilha da Madeira, porm a muita
agua que fazia o navio os obrigou a arribarem ilna de
S. Cbristovo na costa das India de Ca tel/a, povoada de
Fl'anceze elnglezes (2). Achro muito boa hospedagem, e em
varias embarcaes pas ro brevemente a Lisboa. Joo
CorneIes voHou com a armada Parnambuco, onde trium-
phou da victoria de huma traio.
Deixou na fortaleza 60 Hollandezes, e q. navios no porto;
ba tante egurana para a pouca opposio que temio.
Bento Macie! levro elles preso a Parnambuco ; morreu
em buma fortaleza (3), que o Hollandezes tinbo no Rio
Grande, pagando ju tamente a sua ambi~o e pouco valor,
defeitos que e te anno foro causa das muita desgraas que
padecemo nas conquistas, e conhecido elIeito do lethargo
com que os Ca~teLllanos por todos os caminhos adormen-
tavo os animo valoro o~ dos Portugueze , negando-Ines o
exercicio da guerra e dando-lhe merc.adore por Capites,
que fundavo a maior opinio nos mais certos interesses.
(ll2 Pdmeiro
Provavelmente a actual villa do Rosario.
estabelecimento dessas duas naes nas Antilhas.
13) lofo?Tett em ~tml' fo?taleza. Segnndo o auLhor do Valeroso Luci
deno, Bnto Macial foi conduzido li fortaleza do Rio-Grande do Norte, e
d'abi mandado por terra li Pernambuco, fallecendo em viagem no trajecto
do Rio-Grande para Goyana. lie portanto ignorado o lugar em que tEl~-
minou seus dias. Vide infra nota (2) pago 43 . .
- 424-
E se este di curso he presumpo de Portuguez e no
conhecimento do valor que Deo quiz influir nos e pirito
bellico os desta generosa nao, brevemente o veremo
nas victorias coo eguidas nos mesmos lucrare das de 'graa
sem mais soccorros que esgrimirem o Capite a espadas
sem ari meticas (i), deliber'ando-se a fazer livros de caixa do
Annaes da Fama.
(Poltugal Restatwado tom. 1 pag- 335.)

Ne te tempo ('1642)' con eguiro os moradore do Mara-


nho, sem mai occorro que o estimulo do aggravo quere-
cebero dos Hollandeze', glorio a ~atisfao d tanLa olIen-a .
Depoi de occupado o faranho aual'll cro o Hollan-
dezes a cidade, e repartiro 300 soldados pelos Engenho da
terra firme.
Huns. e outros com a soberba ele inj ustos vencedore e
licenciro de sorte, que no perdoando ao sagrado, nem ao
profano, em todos os lugares 'i io lastimosamente os Por-
tuguezes as Igrejas, o as honras oITendidas. Ero mayores
os excesso elos que habitavo nos Engenho , e a sim faro
os primeiros que padecro o ca Ligo.
Desenganados os Portugueze de que lhes no valia, nem
aparentarem- 'e com os Hollandoze ca aodo-o com 'ua
filhas; nem qileixarcm- e ao Governador, como repetidas
vezes fizero, appellro para o valor de seus braos, no
quaes por antiga disposio da natureza acnl'o sempre o
mais efficaz remedio.
Elegero por sup riol' acertadamente Antonio Moniz Bar-
reto (2), que havia exercitado oposto de Capito-mr da cidade
com grande opinio de olda lo pratico, e valeroso: aceitou
elle a occupao, atteodcndo assim ao bem publico, como ii
ofIensa particular, por h:lVer recebido muito mo trato de 20
Hollandezes, que alojava em num engenho que atles lhe ha-
yio deixado.
Re oluto em intentar to dilJicil empreza, ajuntou iO
Portugu zosealgun negro (3), e buma noute entrou em todos
(1) A1"smeticas, i. e., adthmetica : sem estudos militares.
(2) Barl'eto, Engano, o nome era Barrei,'os.
(3) Algul/'l,s negl'os, Nessa epocha niio havia em M.ar'anho escravos dr
Glln ; p rtan to aq ui deve-se entencl r negl'os pO!' ind igenas, pois ou!r
l'a os Portl1gu zes chamaviio indistinct90mente negros aos homens d cor,
- 425-
o Engenhos que lhe ficavo mais perto e no ficou Hol-
landez que com a vida no pagasse os delictos commet-
tidos.
Pas ou o empenho a mais difficil e mais generosa vin-
aana, e antes de amanbecel' chegro a hum forte chamado
do Calva7'irJ (1) que o Hollandezes guarnecio com 70 solda-
do , e 8 pea de artilhada. Con ervro o ilencio at que
conseguiro matar huma enlinella que com repetidas vozes
acordou ao Hollandeze, mas acudiro a tempo que o forte
e tava entrado pelo mesmo lugar em que a sentinella perdeu
a vida. Intentro elles em vo a resistencia, porque a razo
eo valor dos nossos soldado lhes facilitava hum triumpho em
cada golpe. Degolro todos o Hollandezes que guarnecio
o forte (2) e sabendo distinguir a razo do aggravo entre os
ma)'ores impetos da colera, perdoaro alguns Fran
eze (3).
Ganhando o forte, passou Antonio Moniz sem dilao
~ Ilha, por no haver na terra firme outra opposio, inten-
tando conseguir a victoria no descuido dos Hollandezes,
porm no logrou este acertado di curso,porque hum negro (4)
que fugio da terra firme de tudo o que ne11a havia aconte-
cido d u aviso na cidade.
Prcvenio- e o Governador, e pa ro- e os mai dos Por-
tuaueze , a que chegou e ta noticia, a se incorporarem com
30 que Antonio Moniz havia mandado adiante. Huns e outros
degolaro 50 soldados Hollandezes que sabiro da cidade a
de cobrir a campanha.
Odia seguinte chegou Antonio Moniz a se incorporar com
o Portugueze da nba, e marchando para a cidade se en-
(1) Calvario. Garo o na sua obra sobre a agricultura do Maranho
chama-o de Vera- Cru;;,. Niio e deve conftmdir este com Ol\tTO forle, que
bana, vinte leguas acima da f6z, denominado de Nossa Senho?'a da
Conceio, e de que se trata neste tom. pago 14 caps. 12 e 13.
(2) E ta verso est em desacordo com o que diz Berrdo nos seus
ibmaes Histo? icos n. 8'20, as im como com a do Padre .Tos de Moraes,
no 10 lama destas Memorias pago 157, aiuda que este autor, bem com"
prehendido, se harmoni'a com o texto.
t3) Pel'Clo?'o alguns li"ancezes. Parece que o authCJr cita factos
q!le se passro em epochas dilferentes. Berr o diz que os que escap-
mo do morticinio devero a vida um piedoso sacerdote, provavelmente
o Padre Lopo do auto, ou sen companheiro o Padre Benedicto Amoctei.
(-1) Hum neglo. O P. Jos de Morae chama mestio, o que parece
mais exacto pela deficiencia, na epocha, de escravos da Guine. E assim
o entendo o Carmelita Fr. Jo de Santa Thereza, quando na sna obra
-Istol'ie delle gueJ'l'e deI ?'egno del B/'asile, Ch\llll\ ~\ esse ftlgitivo-
~OUI"O (tl4t 1I10?'o).
52
controu com hum Capito E cocez cbamado Sanelalim ('I),
que iuba por cabo de 120 Hollandeze a reconhecer o seu
intento. Tanto que buns e outros se avi Lro, re oluta-
mente e ime tiro, porm no valeneloao E ocez (2) o valor
com que pelejou foi derrotado, no escapanelo mais que
cinco Hollandeze .
Logl'oU Antonio ?lIoniz ne te uccesso, no s con eguilo
em perder mais que dous soldados, mas ganhou neHe arma
para 03 que conduzia, de que tinha grande falta.
Animado do favor da fortuna e re oLyeu a itiar a idade
com pouca gente, falto de poh ora e in trumento . Chegou
a elta, ganhou logo aLcruns po to e fortiliGou- e nelles, lue-
rendo ter os Hollandezes opprimido qnando no pude se
conquistaI-os: fizero eLLes alguma orticlas, e de toda c
recolhro com grande perda.
Continuou o sitio, e como os maYOl:e' snccesso delle c
conseguil'o com a re talll'ao da cidad no anno ele '16H,
daremos em seu lugar e ta noticia, por no subirmo da
ordem da historia.
(J'O?'ttbgal Restau?'ado 10m. I', pago 4.11).

o fim do anno de 164.2 d ixamos os Portuguezes do ~Ia


ranho sitiando a cidade de S, Luiz, onde 'e recolhro o
Hollaudezes brigado do mo succe sos que h3. io pal1 -
cirlo na campanha, Governaya o nossos oIdado Antonio
Ioniz Barreto, e tendo com grande instancia pedido so corro
(1) Sandalim. Dissemos em notEI pago 160 do I' voL de las Memo
das que o verdadeiro nome <1 sse omcial era SOl1dclin, por qnanto
esse nome no era estranho na Hollanda, vi-lo como, ainda ha poucos
anno , publicou MI'. A, Sandelin, conselheiro d'Estado do mesmo pniz, a
seglnte obra: - Reperto?'io gel'al de Economia Politica antiga e mo
denta: lIaya, Noordendorp 1846 e 1&18. 6 vo1. gr. in 8'. . .
Varnhagen no seu importante trabalho-Os Ilollandezcs no B?'(t:ll,(\I~
que no encontranrl0 sp,melhante denominao no" documentos ITollan-
-deze', o nome lhe parecia mais Turco (lembrando Sc.ladim) que Escoccz.
Todnviao nome ou antes o appellidodo heroe Musulmano no em pro
priamente Salaclim, mas alah-Eddyn
. Accresce que os Fl'ancezes conto II adjectivo Sandali?1, i. O., que tcn~n
forma de san<1alo. E entre os Inglezes existe uma especie de merglllhao
denominado Sandel'ling, que vive 110 litoral de CornwalL
Qualquer clestes vocabulos podi!! servir de appellido ao omeial que
commandava os Hollandezes. Devemos en lretan LO observar que o Oar
meliLa Fl'. Jos de Santa Thereza, ll1alcomprehencleudo o nome na obra
que reproduzimos, chama esso omcial Sala'clino.
(2) Escoce.., ;Berrdo no declam nacionalidade alguma.
- li27 -
ao ptesilio do Par, lue cherrou a 2 de Janeiro. Constava
de 1'13 Portuguezes e 700 Indios, governados huns e outros
pelos Capites Pedro Maciel e Joo Velho do Valle (1).
Adoeceu neste tempo Anlonio Moniz Barrelo e foi eleito
em seu lugar Antonio Teixeira de Mel1o, e no approvando
todos e ta eleio, se originou da discordia dilatarem o as-
alto da cidade, reduzida por falta de guarnio ao ultimo
aperto.
Foi a dilao to util aos Hollandezes, que, quando cle-
terminavo render-se, llles chegou de Pernambuco hum
navio, duas barcas e cinco lanchas em que vinho 3VO sol-
dados da sua nao, e outros tantos Indios, governados por
Andre on (2), o mesmo cabo que havia tomado Angola.
No quiz ene que lhe prejudica se a dilao de tentar a
fortuna, sahio logo da praa com 600 Hollandezes e 800
lnclio , investio primeiro com as casas em que e tavo alo-
jado VO Porluguezes e achando-os descuidados os obrigou
alargarem o posto (3) : porm defendro-no o espao que
ba tau para tomarem a armas os do quartel e e trincheiras,
a que se retirro, deixando traz mortos e levando quatro
ferido '
Os Hollancle7.es, entradas as 3sas, av:mro com igual
resoluo s trincheiras que estavo para a parte do Carmo,
mas chando valorosa 1'e istencia em 40 Portuguezes e pouco
mai Indios que a c1efendio, depois de durar o conflicto
hora e meya se retirro, custando-loes a ortida '14,0
oldados,
Pas ada e ta occasio, vendo o Portuguezes ca aelos a
cicIade soccorrida, morlo Antonio Moniz Barrelo da doena
LJue lbe sobreveyo, e grande falta de munies, se retiraro
com suas mulheres e .o.1Il0S para o Serto, e ficou de sorte
diminuida a gente, queAntonio Teixeira julgou que era pre-
ciso retirar-se e o executon a 25 ele Janeiro.
I

Os Hollandezes, animados com este successo, deilro


rl'a la praa 30 soldados e IVO Iadio com ordem que
[o sem saquear o engenho de At'agaci (4). Antonio Teixeira,
(1) Ero irmo. e sobrinhos .de Benlo Maciet Parente: ambos pelos
seu feitos gosavo do m nom~ada. .
(2) .I1nd?eS01? Berrec!o chama Andrezom. Mas o nome verdadeiro be
Hene?son. segundo Netscher. posto Cjue outl'OS denominem H,tndel'son.
(3) Era este o alojamento do' auxiliares do Par, 111 as, quanto ao 1'0- "
~nLtado do a salto, outra cousa dizem os documentos Hollandezes.
(-I) A.l'agaci.. He erro: o nome semlJre f i A?'aay,
- 428-
prevenindo este mesmo intento, se emboscou no sitio (1) em
que o anno antecedente foi desbaratado Sandalim.
Chegro a elle sem cautela os Hollandezes de que era
cabo o Governador do Cear (2), e endo inve tidos dos no sos
soldados, morrro todos o HoHandezes e a ma) ar parte
dos Indios. Antonio Teixeira mais alentado com este suc-
cesso se aquartelou em o posto de 'larapi (3), sei leguas da
cidade, onde a sistio mez e meyo sem accidente de impor-
tancia.
OGovernador da cidade no podendo vinaar- e com a
armas dos soldados, desaffogou a paixo DOS rendidos que
havio ficado neHa: deitou fora cruelmente as mulhere ,
roubadas e despidas, e mandou entregar 2 oldado ao
Tapuyas do Cear, que brevemente o fizero victima da
sua brutalidade (4). Outros O mandou vender aos Ingleze
s ilhas das Barbadas; mas o Governador informado desta
maldade, ordenou que os Portuguezes sahissem em telTu,
a titulo de os c.omprar, e reprehendendo asperamente aos
Hollandezes pz em sua liberdade os Portugueze .
(1) No lugar chamado Outeil'o da C?'uz, como attesta a tradio,
jllDtO ao carrego Cotymi?-im, que bem assignala o padre Jo de Mo-
raes no tom. 1 desl"ls illemo?'as pago 159, e combina com o que diz
Berrdo nos Mi 823 e 831 dos A.nnaes.
(2) Gover'nado?- do Cea?. No relataria de Pech'o Ba , que mais adiante
publicamoR, o nome desle omcial he Jacob EveJ's. O padre Jos de Mo
rnes chamao Joo Lucas, engano mui natural quem escreve um se
culo depois do acontecimento, apoiando- e na tradio popular e nos
e criptas de um coevo, Loureno de Lyra. Mas o que diz o padre Jos de
Moraes, est de harmonia em parte com o que expe o texto, e com Bel"
rMo nos Annaes n. 857.
(3) Marapi. Berrdo chama Moruap1J no n. - dos Annaes, e o padre
J os de Moraes 1I1oruapu, pago 16 do tom. I destas 1ll emo?'ias; mas
Diogo de Campos no mappa da ilba do Maranho, que junta sua obra
-Raso d'Estado, denomina MO?'tiupi, um local qne as ignala, e no he
outro seno o monte que fic<'\ entre as nascentes dos rios Bacanga e Ti
bery, principalmente esto que desem boca em frente barra do ItapucUl';
o que parece eRtar de harmonia com o que diz Berrdo, no SI 858.
Se o nome desse local est perdido como diz Timon nos seus Apon-
tamentos, noticias e observaes paj'a sei'virem Histo?"ia do li/ara,
nho lv. 3., no ficou sem algum assignalamento a posi o, podendo
talvez ser a do An"ayal como suspeita, e faz acreditar em \'ista da distan-
cia da cidade, seis leguas. Parece que os sublevados depois que voltaro
dos acampamentos de Tapuytapra (Alcanta?'a) e da Estiva, fronteiro
ao tel'1'iLorio da ilha, no occuparo de novo l\Jloruapy. O nome de Ar-
j'ayal fez esquecer o primitivo. Gayoso na sua obra chama JlIomap1l
mas he evidentemente erro de imprensa, porquanto o seu trabaUlo he
resumo do de Berrdo.
(4) Parece que o Governador da cidade era I edro Bas, ou o Major
Ernst van Breemeu, parente do desbuml1no Negenton, autor desta atroei'
cidade, que confirma Netscher a pago 129 da sua obra.
- 429-
Antonio Teixeira, do itio em que eslava alojado, mandou
fazer dua entradas. buma e outra se con eguio com bom
ucce so perdendo a vidas 30 Hollandezes. Porm Antonio
Teixeira vendo-se com gran le falta de muni lie , mndou
de quartel e pas ou terra firme e alojou-se em Itapitapera (1),
e no se dando nelle por seguro, resolveu com o parecer
dos mais, retirar-se para a cidade de Belem cio Par, 150
Jeguas da Ilha.
Querendo pr por obra esta determinao cltegro do
Par algumas munies com as quaes mudou Antonio Tei-
xeira de intento, e deliberou continuar a guerra sem embargo
de ~e retirarem em ua ordem para o Par os Capite.
Pedro l\Iaciel e Joo elho, levando com io-o parte da gente
que havio trazido de soccorro (2).
No Par os no cruizero ju tamente receber, condemnando
li Slla maldade de que se originaro grande dissense
que depois e compuzero.
Antonio Teixeira ficando 6 com 60 Portuguezes e 200
Inclios se resolvero todos, por el'em naturaes da terra, a
vender caras a ,ida aos Hollandezes, determinando per-
deI-a naquella difficil conqlli ta.
Com e ta resoluo dividio Antonio Teix.eira e ta gente
em duas companhia, de que fez capite Manoel de Car-
I'alho (3), e Joo Va co oldado ele conbecido valor.
Ordenou lanoel de Carvalho que pa a se Ilha com 40
Portugu 'zes, e '100 Indios a fazer farinha ele mandioca para
e ustentareni. Te e o Govel'l1ador ela cidade esta noticia,
mandou sahir elella 60 Hollanelezes e 100 Inclios. Foro
estes buscar Manoel ele Carvalho, o qual os recebeu com
tanta re oluo, qu - em pouco e pa o os desbaratou, e vol-
tanelo elles as co tas, os seguio at perto da cidade, aonde
no chegaro vivo mais que '10 Francezes que o Governador
mandcu enforcar (4), dizendo que em outra occasies havio
feito o me mo, por no quererem pelejar contra os Por-
tuguczes.
Fez mai alegl'C e te nccesso lograr-se sem morrer 01-
lI) Itapilapela. lIe hoje a cidade de Alcantara. Berrdo e o padre
JOse de Mornes diz61l1 Tapu!J-tapl'a,
l' ) Levro a ml' parle.
(3) Jlfanoel ele Carvalho Em','eiras. Era irmo de Antonio Moniz
Barreiros.
(4) Vide supra nota (3) pago 425.
- 430 -

dado algum, podendo fner grande falta em to pouco uu-


mero qualquer que perdes e a viela.
Pouco elias elepoi de la occasio, mandou A.ntonio Tei-
xeira ao AJfere 31aooel Dornella com 30 Portllguezc e
50 Jndios buscar mantimentos Ilhl, e j ne te tempo
havia chegaelo o alojamento ao fio ('1) que a divide da terra
firme. Em passando o rio soube o AlfQre que os 1l0Uan-
dezes havio levantado hum reelllcto em hum itio, por onele
for _osamente bavia ele passar, e que o guarnecio 4J} olcIa-
lI0 . Pl'eyenido com e ta noticia, marchou com diligencia
por lugares occultos, e antes que amanhece se cheaou ao re-
dueto sem er sentido: entrou-o com facilidade, e degolou o
Hollandezes que achou dentro.
Retirou-'e, e animaro-se todo lIe corte com e la foL'-
Luna ,que abendo 1- POL'tugueze que e tavo 25 llollan-
clezBs em Imma casa de hum Engenho, se re olTet'fio a ga-
nhar-lhe lmma porta que tinha, e de[endenclo trez que
no sahisse algum dos que Q'tavo denLro, e ajuntando o que
ficava quantidade de lenha, rodeou com eJla a casa, e pondo-
]l1e o fogo ardeo com todos o lIo llandeze LJ ne esLlv[1
nelta.
Nesta frma :de guerra ontinuaro al 1:i ue Junho, dia
em que ouviro di~parar muita peca, de artilheria na barra.
Antonio Teix~ira manelou logo o Alferes Joo da Paz com 8
Portuguezes e 50 Imlio embarcado, em dua la ncha - li
averiguar a cau a de ta novidade: lUdo navegando eu on-
traro huma lancha com 27 Hollandeze , e dU:1s pec:a pe-
quenas de artilharia, ilJvesLo-o o Alfere , entrou-a e ron-
eleo-3. Mas este Lom succes o foi causa do grandi:s imo
damno, porque o Alferes clivel'tirIo com o alvol'OCo da vic-
toria no continuou a jornada, alue r61'a mandado, sentia
motivo ele se perder Pedro de A1IJuquercrlle (2) que era o que
bavia ordenado cfue ce di para s a al'Li l!leria; porque ha-
vendo partido deste Reino por ordem dei B.e) a governar o
Maranho levando em hum navio em qLle deo vla a 2n
de Abril, In[antaria, munies mantimentos e fazendas che-
ganclo b rra Lia cidade ele . Llli~, e u'io tendo noticia elo'
Llccesso claquellc E 'tado, nem PiloLo, [ue 1I1e ensinas c
(l) fio o rio 1lf osquito.
(2) J se havia clisLingLdo na guerra de Pernn.mbuco conLl'a os Holluu'
clezes, defenclendo beroicamenLo o (orle do Rio Formoso om 163: .
- 131-

os portos, mandou di parar a artilheria pal'a que ao rumor


dena acudis.e alguma pe ,a que o informa e.
endo que no on egl1ia eIreito algum desta diligencia,
pz a pra no Par e naquella barra e perdeo o navio,
alvan(lo- e no balel Pedro de Albuqnerque com 4.0. Por-
tuguezcs. Chegou breyemenle a nova de ta desgraa a An-
tonio Teixeira, porm n50 lbe fez perder o alenlo, anles
anslamlo oilo navio IIollandezes o sitio em que e lava alo-
jado, e no e alreyendo a im-estil-o, delel'minaro enganai-o
mandando-o persuadir que se recolbesse idade, oude
rrovemaria o Portugnezes em opprcsso alguma Ilem de-
pendencia.
Respondeu II esla embaixada que brevemente e pera a
alojar- e na cidade, lanando della bo pede to indigno
de amizade e de 'redilo, e que a vicloria pa ada ero
fiadore da sperana futuras. Exasperados o Hollandeze
da resoluo de ta re posta, dero ordem que e no con-
cedesse q1wrlel a Portnguez algnm, a mesma deu contra
clle Antonio Teixeira exceptuando os Franceze (1) que a j -
li em daqueJla parle; que enio de o fazer mai u-
peiWos com os JIollandezes.
Antonio Teixeira no manelou pa ar Ilha alguns do
eus oldado at' o mcz de Outubro, nem succedeo,:! empreza
de imporlancia. Obrigado ne le tempo da falta de manti-
mento. , hayendo- e-lhe unido algun Portuaueze e Indio'
do Serlo, pas ou om toda a genle Ilba, mandando diante
ao Sargento-mI' Ago linllO Correa om a Companhia de
Jo:io Vasco, o qual, uepois de colhidas a farinhas, eguido
de Antonio Teixeira, inve lio o Forte do CalvClria junto do
rio ILapucur, e achou-o sem guarnico pelo hayerem 1ar-
gallo o JIollanclezes.
Deste lugar mandou hum valoroso Indio, chamatlo 8e-
lla.lio (2) com outros 3G Porlugueze , e deo-Ihe ordem que
puzes e fogo a alguns cana iaes junto da cidade.
A im o e. eculou, as. altando do caminho lmma 1an ha
que estava varada em terra, em que havia 27 Hollaudezes,
de que n50 e capou algum com yida.
O Hollal1dezes da cidade reconbecenclo o damnos que
rec bio na campanlla, cerraro a1 porlas, e ere cendo-lhe:
(1\ Fance.:;es. Vide supra noto. (4) li paD"o '1':9.
(2 Bel'l'c1o, nos Annaes n. 899, tl1mbem menciona este Indio, ma sem
outros e clul'ecimentos, parecendo SOl' esteo mesmo de que truta o n 161,
e C. de Abbeville nos caps. )l e 20 de sua obra.
- '~32-

por instantes o aperto, e o receio, se acharo reduzidos a


ultima desesperao; porque se acaso algum sahia da cid::Jde
logo era morto dos Portuguezes, e Indios, que nunca sabiro
dos matos visinbos ella. Estando nesta aftlico, entrou
no porto obrigado de huma tormenta hum navio no so,
que 'fazia viagem para a llahia: entraro nelle os Hollan-
dezes sem achar resistencia, e embarcando-se em dons
mais de que se no havio servido por estarem mal appa-
relhados elero vela para a ilha ele S. Cbristovo, que ha-
bitavo naquella costa aonele chegaro com grande trabalho
por falta de mantimentos, sendo s 300 os que se embar-
caro, e mais de HSOO os que em varias occa ie lhes matou
a nossa gente.
Com grande contentamento l'ecebeo Antonio Teixeira esta
noticia, marcbou logo para a cidade (1.), que achou de todo
desmantelada e 14 peas de artilheria encravadas: porm os
Hollandezes naquellas ruinas deixro o triumpho ele Anto-
nio T~ixeira e dos mais, que com tanto valor e ofIl'imento
sustentro trez annos aquella guerra, sem mais SOCCOI'l'O
que a gente do Par, que tomou a retirar- e, e custando-
lhe muito sangue at o mantimento de que se alimentavo,
viero a conseguir lanarem fra os Hollandezes ele huma
das Conquistas de mayor utilidade que Portugal hoje
cultiva.
Quando os .Hollaudezes dero principio a esla guerra le-
vro para o Maranho muitos Indios das parles elonde na-
quellas costas tinho fortalezas: entr estes foro o de
Cear e Camozins (2).
Retiraro-, e do Maranho, e foro lanados no Cama-
zins, que dista 70 legoas, os Indios que escapro da guerra
sem lhes darem os Hollandezes alguma satisfao.
Escandalisados do mo trato C(lm que os despediro, se
ajuntaro com outros ela mesma nao, e avanro contra bum
redllcto que os Hollandezes guarnecio naquelle sitio, eco
lhendo-os sem preveno os degolro a todos. O mesmo
fIzel'o em outro reducto 1.0 legoas a diante (3), e animados
(1) FI'. Domingos Teixeira, Augustiniano, na sua obl'l1- Vicia ele Go-
mes F?"ei?'e de Andl-C\de, que governou o Maranho de 168- a 1687. liv. 2
da segunda pm:l.e, nana com mais individuao este acontecimento.
(2) Oamozirls, Camozim ou Camocim, rio da provncia do Cear em
cujas margens est fundada a cidade da Granja.
(3) Talvez em J er-icodcora.
- 433-
destes successos se resolvero a inveRtir a fortaleza de Cear
que distava 100 leguas deste sitio.
Tomada esta determinao, marcbro com grande si-
lencio, e cbegando fortaleza sem serem sentidos se embos-
cro em hum mato visinho, aguardando a que se abrisse
a porta.
Os Hollandezes pela segurana passada no temendo o
damno presente, tanto que amanheceu, aberta a porta, sabiro
da fortaleza quazi todos a negociar, como costumavo as
utilidades da campanha. No aguardaro mais tempo os
Iodios, avanaro com grande valor, ganbro a porta, e a
fortaleza, degolro alguns Hollandezes que acharo dentro
della, e o que e tavo fra se rendero: e avi aro logo au
Maranho Antonio Teixeira que mandasse occupar aquellas
fortifica es que havio ganhado, o que elle logo ex cutou
mandando pre idil-a ('1).
De pa hou com as novas d todos e tes succe so' ao
Capito Joo Va~co para este Reino, aonde clteO'ou a salva-
mento, e El-Rey informado do que melhor procedero nesta
guerra lhe ~ati~rez largamente o seu merecimento (2),
igualando aos Indio com o Portugueze~, atteno que os
deixou mai animado para conseguir novas empreza .
Estes foro os succe SOi< da America, em que houvesse
no outros lugares aco digna de memoria.
(Portugal Restaurado tom. 2, pago ..3 )

(1) Pompo, no seu EnsaioEstatistico daP"ovincia do Cem' tom. 2


pag.262, diz que em lUl Antonio Teixeira de Mello exercra o cargo de
Oapitoml' do Cear, o que e tli em desaccordo COrL a historia do Ma
ranho, pois no consta que este here d'ali sahisse depois da rest!lU-
rao, que com tanta felicidade t.erminou.
(2) Menos quanto ao propro Antonio Teixeira de MeUo, nunca galar-
doado por to assignalados servios que pre$totl.
53
EXCERPTOS DA OBRA

VIDA DO APOSTOLlCO PADRE ANTO 10 VIEIRA


DA. CO!l{PANHIA DE JESUS

PELO PADRE ANDR DE BARROS


DA ~rESMA CaMPA 'mA

NOTICU. OPPORTU TA, E AINDA NO ESCRIPTA EM NOSSAS HISTORIAS,

170. Abet'ta a pOt'ta deste Novo-Mundo pelo valaI' Portu


guez, correro outras n3es de Eut'opa a fixar p, ou le,
vantar casa em eampo alMo. Ft'ancezes, e Hollandeze foro,
os que em tempos divet'sos nos qui ero di putar a pos e, do
que a Divina Providencia nos fizera enbot'e. E como oes-
trondo das armas, com que se alcano as victoria , vai ap
pellidando pelas gentes o braos que as alcanro, levando
toda a voz da fama fonte, onde se toma a aaua, esquecida
total, e ingratamente a mma, be bem, que aiba o Mundo,
que no s no espiritual (como veremo), seno tambem DO
temporal, devem as terras do fat'anbo Religio da Compa-
nllia de Jesu a felicidade que logro. Daremo com uccinta
penna as noticias, que ou no tivero, ou qllizet'o calar
nossos Escriptot'es.
1.71.Noanno de '16U>, governando oBt'azilGasparde Souza,
que ento residia em Pernambuco, foi mandado o Capito-
mr Alexandt'e de Monra a daI' fim guerra, que no anDO
antecedente tinha pt'inci piado Jeronymo de Albllquerque
contra os Francezes do Maranho, que em trez nos, com que
andavo buscando presas, derrotados de huma tormenta, fize-
ro'assellto naqueLle porto. Senl1oreavo elles a Ilha, e no
continente tinho por si todo o Gentio, a mayor parte dos
quaes ero Topinambs, inimigo dos Portugueze', e que de
Pemambuco ('1) se tinho retirado por fora de nossas armas.
(1) Vide o Padre Claudio de AbbeviUe na sua obra cap. 24 pago 149,
,onde se tra~ desta expatriao.
- Jl3 -
Hio na armada os padres Manoel Gomez e Diogo Nunes,
~a Companhia de Jesus (i), e com elles muitoslndios (2) filhos
todos de sua doutrina nas aldas, que em Pernambuco culti-
vavo. Chegou a armada a avistar o Maranho: e como jul-
gau seria senhor do terreno, quem tivesse por si os naturaes,
os primeiro bomen que por ordem do Capito-mr pizro
a terra, faro o dito Padres com os eu lndio ; e comJortu-
na de Cezar, o mesmo foi ter falla com o Gentio, que reduzil-o
todo ugeio e amizade dos Portuguezes. De amparada
deste arrimo a ousadia Franceza, no mesmo dia cedeu nossa
fortuna, entregando eu pezar a terra, de que nosso des-
cuido, mais que o seu \alor o fizera po suidores injus-
tos.
Esta fo a principal fora, como em sua certido confessa
oCapito-mr da armada, Alexandre de Moura (3), e estes os
principaes instmmento da no sa victoria.
i 72. No podemo' calar aqui, como foi sempre invejada
de todas as Naes a gloria de nos os descobrimentos, che-
gando a embaciar-no em Europa o iIJustre nome, que o
nosso valor tiuha merecido ue ta parte da America, de que
fallamos. Publicro pois os Francezes hum livro das Jl1'isses
dos padres Capucllo , escripto pelo padre Claudio de Abbeville
(~), querendo mostrar ao !VIundo serem elles, quem como
primeiro conqui ladare , dero o nome ele S. Luiz capital
daquelle E Lado. J di semos, que Luiz ele 'Iello da Syh a
(com quem fMa tambem Fernando Alvare de Andrada, dou

(1) Berrdo, nos Artna~s n. 413, substitue estes Jesutas por outros que
viero depois, Lopo do outo e Benedicto Amod i. para logo mais esqne-
cer'stl destes nos acontecimentos da lutA.Hoilandeza em qlle tanto ti!(urn-
To. Sabendose hoje do caracter desleal deste escriptor.essa troca de no-
J)les,e o sin~lllur ilencio em pontos to imporlantes, no se podem repu~ar
casune , e aevidos ao descuido. Viole Timon tom. 2 nota F no appendlce
pa IY 409.
(~) Os Jesuita tinho umrt alda principal que chamavio de doutril~a,
]Jara onde era conduzida aju\'entude indigena, e in trnida. Ero os lU-
dl~enas, ahi preparados, l)restimosos A.llxilial'e de catheqnese.
13) Vide no tom. 1 dest,\s .II emol'ias a pago 70 e 71. Ue um documento
muito honroso aos Jesuitas.
(4) A obra impol Lanta (lue escrevo este apuchiub.o intitula- e-His-
tOl1'e ele la J[iss'ion des Peres'Capucins en l'isle de. MaIagnan. et lerl"es
CI?'CO'/1voisi'/les, etc.
O que este Capuchinho diz, no fim do cap. ,13 de sua obra resp~ito do
nome de S. Luiz imposto ao e "tabelecimento Francez no Maranhao, he
confirmado por Diogo de Campos na sua-Jon~ada do 111 a7anho. a
Pago 247 destas .lIlImodas, por Berrdo e o Padre Jose de MOlaes.
- 436-
fidalgos Portugueze ) fizera aquelle descobrimento (1), e
dra o nome cidade de S. Luiz, na Ilha do Maranho (2).
Dos Tratados porm com os Iudio., que imprimia o mesmo
padre Claudio (fosse involuntaria incol1ereocia, ou fosse res-
tituio da verdade), se collige, que o Portugueze, a quem
os Indios cllamavo Perz (3), faro os que os descobriro e
dominro.
1 n. Ultimamente mandou pelos annos de 1701 o Senl10r
Rey D. Pedro II, ao Conde da Ericeira D. Francisco Xavier
de :iUenezes, que fizesse o Manifesto do nosso direito quella
conquista: elle o executou com siogular erudio e felici-
dade; porque achou no precioso lhe ouro da sua copio a
livraria as cesses origioaes dos Tratado da Fmna Equi-
nocial ou Caena (4), feitos pelo Cardeal Richelieu no tempo
Del-Rey Francisco I (t:), sendo Embaixador em Pari Del-Rey
D. Joo III de Portugal {6) D. Francisco de xoronha, Coode
de Linhares.
Daquelles Tratados resultou o Tratado Provisional, que
naquella Crte se fez. Alm disto no Tratado de Utrecbt do
anno de 17'13 fez desistenca a Frana dos taes pr tendidos
direitos: negocio importante, a que contribuiro com grande
zelo ela verdade e da patria, o Conde de Tarouca D. Luiz da
Cunba, Embaixadore e Plenipotenciarios naquelle Con-
gresso, e o Conde da Ribeira D. Luiz Manoel da Camara, que
o era na Cr.te de Paris; todos trez 'Ministro de grande up-
posio, e intelligeocia. Devemos e ta notic.ia ao Conde que
quiz com o muito que tinia visto, elevar o' no o olhos,
aonde no podo cbegar.
174. Contra os Hollandezes foi igual a gloria, e os instru-
mentos os mesmos. No anoo de 1M2, quando j Portugal
respirava em liberdade, tinha ainda occupada a cidade de
S. Luiz aquella Nao, com cujo trato vivio pouco catboli-
(1) Descobrimento. Com qURnto pago 11 nota (I) sllstentassemos
doutrinas contrarias prioridade de Luiz de Mello na de coberta do Ma
ranlJo. e-tamo hoje persuadidos do contrario, no obstante o qne diz
JaboRto na sua obra-Orbe Se"aphico.
(2) Vide supra nota (5), a pag,437, e o Padre Jos de Mo me no tom.1
destas JIl emo?-jas. a pago 52.
(3) Pel-z. Vide supra pago 11.
(4) F?'ana Equinocial ou Caena. O I rimeLro estabelecimento :Francez
Dessa ilha data de 1626, no reinado de LlIiz XIII.
(5) Equivoco. Que importa a differena de um scculo. Bic1Jelieu servio
C0m Luiz XIIl, muito depoi~ de Francisco 1.
(6) Olll,ro eqnivoco. O Principe qLte reinava em Portugal era D. PLi
lippe II, mas III da Hespanha.
- 437-
cameote o moradores. Crescia com isto a dilJiculdade de
vir aquella praa a obediencia Del-Rey ; e lavrando como
contagio o mdo, j no Par havia parecere para aceitarem
lambem a sujeio de Hollanda. Estimulavo e te golpes o
animo ao valor (que pMe nos Portuguezes dissimlar- e,
nunca extinguir-se); e o paelreLopo do Couto (i), ela Compa-
nhia de Jesus, ugeito de alto corao e em quem ardia com
o zeln da F o genero o ele nobre, determinou alentar O' es-
pirito supprimiclos, efazer dar huma volta roda ela fortuna.
175. Era de mUlta authoridade para com o Portuguezes,
e Indio , e communicando pe soas de mayor confiana os
pen amento , com que lidava de acodirem o t-yrannico jugo
do UolJandeze , declarou-lhe a traa e indu tria, que para
Lso tinba. Faltava pes oa a quem competL,e cr Capito
de ta empreza; porque o Governador do Estado, qoe ento
era Bento Maciel Parente, fra manda 10 preso para Pernam-
buco pelos me mos llollandeze , quando usurpro aquella
conquista (-z). No ga,tou porm muito tempo em buscar outro,
qu !TI tinha tudo em si me mo. Seu sobrinho Antonio Moniz
l3arreiros, que tinba 'ido Capito-mr do Maranho, e em
cujo peito vivia a fitleUdade, e o valor, foi a quem per uadio
o animo o tio que toma e oa conta coroar o pa sados
merecimento om fq o to illustre.
176. Aceitou o e for.ado ntonio Moniz, em quem os e -
pirito de leal l'ortuguez ,ivio occulto ~im, ma no que-
brado j e como no podia sem temeridade intentar- e a
empreza m o occorro dos Jndios, cuja aldas e tavo
obedien ia dos inimigo, falloLl com cautelQ o egredo ao
principal dos Indio Joacaba Jlitagay, Henrique de Alb'Ur
gU6?'qtte,e outro experimentados, evalentes (3):exhortou-os
a que qn izes em tomar a armas, e sacodir to tyranno
jugo; porque elle lhes prometta fazer com o Serenssimo
Rey D. Joo IV, eu leatimo Re) e Senhor, lhes manda e
(1) Lopo do ou-to. o que assegura o texto e t de harmonia com o que
~uslent~ o padre Jos de {oraes no tom. lo destas J1[emol'ias.
12) ~rgundo FI'. Domingos Teixeira na Vida de Gomes F"re de An,
dl'ade tom. 20 Jiv. 20 n. 9 , Benlu Maciel Parente acabou a sua vida nas
mos dos Tapuyas (o talvez por elles devorado) no caminho do Cear
pa1'll I)l1de ,eguira, alim de. l'r con en1 ado preso na re pectiva fortaleza.
K t'l vcrsiio p~rece-no mais fundamenlada que a de Ericeira, e de Frei
Manorl l'alado no T't!le}'oso Lucideno pelas difficuldades da navegao
elo j\'I~r::tn1Jo para o sul. Vide supra notlt ,31 pago 423.
13) Nem Ericeira, Il lU Berrdo, e nem o Padre Jos deMQl'aes nomeo
estes MOI'obixabas; osqnccilllt::nto que o texto repara.
- 438-
tantos padres da Companhia de Je us, que pudessem assistir
com elle nas sua alda, en inar e doutrinar seus filhos.
Tanto amor abem aquelle Inclio lbe tem o Padres, que
esta s promessa bastava para os render.
i77. razes do r.apito e eguiro as do zelo a e ani-
moso padre Lopo do Couto; e aceitada pelo Indios a pro-
posta, comeou-se a guerra,e foi correndo j com pro pera,
j com adversos succe o querendo talvez Deo com a de-
moras da ultima victoria, ou castigar ainda peceado , ou
provar, ou refinar nossa con tancia.
He certo que no liouve no Maranho, quem no confes-
sas e, que a re taurao daquelle E tado e devia a dou ge-
nerosos Filhos de Santo Ignacio, industria do padre Lopo
do Couto, e s oraes e penitencia do pa<1re Benedicto Amo
dey (I), conhecido e venerado por santo. E teVaro Divino
abrandou e dobrou o Co, antevia com prophetico e pirito o
fim do uccesso, e oos casos mais desesperado da guerra,
prometteo ela parte do Deos das victorias, assim aos Indio ,
como aos Portuguezes, a felicitlade e trinmfo com que viero
a ser vencidos os Hereges, e thlmular obre na bandei-
ras as de Portugal.
Do padre Lopo do Couto diremo" por ultimo prerro do
seu zelo, que ao ver, que em certo dia se pudra tomar a Ci-
dade aos inimigos, e lJor menos advertencia de . eu obrinho
se no tomou, contrahio de puro entimento, huma doena
cuja violencia com grande magoa de todos, lhe tirou a vida.
178. Este faro o in trumento glorio os, que Deo
tomou para se restituir Cora aquelle Estado: e e isto ca
lro os Historiadores (2), deixou-o em memoria n'umn ceI'
tido jUl'ada o Capito-mr Antonio Teixeira de JTe1l9 (3), que
por morte do yalero"o Antonio Ioniz Barreiros tomou o go-
verno da armas; podendo o lmlo daquelle com o pe o da
guerra, na cendonos de te a dita da vi toda.
(1) Beneicto 1Jmodey. o companheiro de Lopo do Couto esquecido
por Ericeira e Berrdo.
(:a) Silencio desleal, inspirado pela inveja e rivalidade. _
(3) Vide no tom. 10 destas Memorias a pag.1 f) e 18~ a integra cip lao
honrosos documentos, que oxpril1liuclo a verdade, vencero por fim a
inju8tia com que so calados servios de ta(lta l'e]evancia.
DOCUMEl TOS EXTRAHIDOS
DA

COLLECO HOLLANDEZA
~IAN SCRIPTA DO I 'STITUTO mSTORICO

OERTIDO P.lSSADA PELO PROVEDOR-MR D.\ FAZE~DA, NO IoIARANRO,lG1UCIO


DO REGO BARRETO, DE 6 DE "'GOSTO DR 1642.

Certifico eu Ignacio do Rego Barreto, Provedor-Mr que


fui da Fazenda do Serenissimo B.ey de Portugal Dom Joo,
o Quarto, na cidade e conquista do }faranho, que a armada
Hollalldeza que o foi tomar al1io do Recife de Pernambuco
em 28 ou 29 de Outubro de '1641, a qual aportou, e ancorou
no porto de Perihcl, distante vinte legua da dita cidade; e en-
wlll.rando alH um navio Hollandez cal'regado de vinhos,
que com despacllO e licena do officiaes da alfandega de
Sua Mage. tade sal1io da ilha da MacIeira, onde j se havia so-
lemnisado e publicado a tregoa feita entre o dito Senhor Rey
de Portugal e os muitos e poderosos Senhore::. Eslados-
Unidos dos Paizes-Baixos, o mandou tomar o General e o
remeUeu ao Recife, e mandando do mesmo porto em um barco
alguma gente barra do mesmo Maranho tomar falia e
saber se estava o Governador e morudores delle pelo dito
Senhor Serenis imo Rey de Portugal, encontrou um homem
POl'tuguez na ilha de Fra (1), que guardava gado e o levou ao
dito General e Coronel (2).
Esendo por elles examinado lhes dis e que j os moradores
daquesta praa estavo havia mais de seis mezes pelo dito Se
nhor Rey, e que l1avio o acclamado por tal em di crepancia
alguma. E tambem lhes di' e que nella se bavio pregoado
publicamente pazes com o Ctristianissimo Rey ele Frana e
ditos SenlloresE tados, com todas as solemnidades costumadas
em semelhante actos.
E perguntalldo-Ihe mais o dito Coronel que declarasse
quem govel'n:lVa a dita praa re pondeo o dito 110mem que
(1) Tlha de F?'a, isto he, a de CU?'lIp.
(~) Gene/'al e Coronel.Referese ao almiranta Joo COl'Deliszoon Licht.
bal'dt e ao Coronel Joo van Kon.
- 440 -
Bento Maciel Parente, e que esperava cada dia por novo Go-
vernador, e ouvindo isto o dito Coronel disse que elle eI'a o
Governador que lhe ia succeder e tomar po e da praa, na
qual j em principio de l.'ovembro o dito Governador Bento
Maciel Parente por cartas de avi o que teve de ~ua lage tade
tinha mandado pregoar a dita pazes publicamente, a im
na cidade como em eu districto com toda a devida alem-
nidade, declarando- e que chegando ali algun navios dos
E tados de Hollanda ou de EL-Rey de Fran.a e lhe de e
boa entrada e o nece .ario com todo o favor que houve e
lugar, porquanto tinha feito pazes com os dito Senhore
Estados e Christianis imo Rey de Frana.
E tendo o mesmo Governador avi o em 24 de Jovembro
que apparecio muitos navio mandou na noite eguinte ao
capito de Infantaria Francisco Coelho de Carvalho em hum
barco a reconhecl-os. Voltou no dia eguinte pela manb
dizenrlo que ero Hollanclezes : e no me mo dia as ,1 { h0r3s
entraro os ditos navios, que ero 18 entre grande pe-
quenos, pela barra dentro, e mandando-lhes o Govemadol'
atirar duas pea em pelouro para conhecer seu intento,
no respondero com signal algum; o que vi to pelo dilo
Governador I he mandou atirar algumas pea com pelouro,
a que respondro com toda a sua art.ilharia, combatendo
a fortaleza e cidade.
E no mesmo instante me mandou o dito Governador com
o Padre Lapo do Couto, da Companhia de Jesu , que fo ea
bordo da Capitania faltar com o General e Coronel, e lhe
manifestassemos as pazes que tinhamos feita com o Senhore
Estado e com elle , e como alli estavo apregoada por
avisos e orden de Sua 1age tade : e chegando a bordo da
Capitania no aGhei nella o Coronel, e indo a terra onde
estava ahi desembarcando a gente, fazendo-os abedore ele
tudo e declarando muito men.damente aoscircum tante , re -
pondeo que queria ver a Carta e Ordem que o Governador
tinha das pazes: e com esta re posta lhe fui dai' conta.
E elle, confiado na amizade que bavia, sabio fI'a da forta-
leza faUar com o General e Coronel, mostrando-lhe as
ordens que tinba ele Sua Magestade. E assentaro de commum
consentimento o seguinte. Concedem a saber: Que o dito
. Governador e Coronel Joo de Koim ficario naql1ella pl'aa
.cada qual delles governando a sua gente, e que as armas e
plais petrechos de guerra se meterio nos armazens e que
- !di -

cada um tel'ia sua chave, e vivirio ambos como amigos e


o GovernarIor mandada aviso Sua Mage~tade e o Coronel
ao, Senhores Estados, dando-lbes conta de tudo, e o que
lhe ordenassem se faria, que em tanto os moradores da
terra estario com grande paz e quietao heneficiando carIa
qual sua fazenda. E de tudo fizero hum assf\nto, que ambos
assignaro eogeneral (i) Jol) C01'llelles (CaNo leve), e Pedro
Bass, seu, pol-it-iro e directo?' (2)_
No me mo dia o governadul' lhes entregou a fortaleza,
armas e munies, e, tamlndo posse de tudo, arvoraro suas
bandeira, apossando-se do gover-no e fortaleza e do mais que
havia na cidade. .
E no dia seguinte fizero o Genel'al e Coronel entre i
outro escripto de contrato a seu mario accrescentando e
diminuindo o que cfuizero, e obrigaro o Governador que
as!'ignas!'e, e o primeiro contl'Clto o rasaaro djzendo que u
est.ava bem.
E o obrigaro mais que mandasse recarl0 aos o1liciaes e
oldada:> da guerra que 3,j,tio na fortaleza do Tapicur,
pal'a que se entregassem e llles viessem dar olJediencia; e
desta maneira se lhes entregou e ficaro senhores delta.
Depob foro por seus mandado chamados o' Srs. de Enge-
nho e lavradores, para que viessem ante elles e lhe pediro
que pelo saque que podio dar em suas fazendas e casas lhes
dessem seis mil arrbas de assucar que recebro. E depois
de e~tarem de po se de tudo,. mandaro botar bandos que
todos os moradores, soldados e gente de fra, e ajuntassem
na praa; sendo juntos, obrigaro os ditos moradores que
jurassem ao muito poderoso Pl'incipe de Orange, e os Se-
nhores Estados-Geraes da Hollanc1a,e Senhores da Companhia
prornettendo-lhes vassallagem, obediencia, lealdade, o que
fizel'o obrigados de sua fora e rigor.
Tomaro os officiae.> de gnerra, soldados, bomens do mar
e forasteiros. por lista e sendo juntos os embarcaro mi-
seravelmente em hum navio para a 1lI1a da !\'ladeira, o qual
no mesmo dia em que salli~ tomon a entrar para dentl'O po ['
(l) o Gene,"al. isto he, o almirar.te. o Pn 'Vedo r traduzio-lhe o nome de
Licht-hal"dt, corao Jeve. .
(2) SdU politico e direct01". Pedro Bas, provavelmente era Belga ou
Frane'lz, hll~ueuole, em I'Rzo do nome e dR linguBgem de que usava
nos seu.; offieios. Oecupnva na colollia conquislada o cargo de Di-,"eclm'
politico. parece que com illlerf~rencia na parte cb'il da administrao.
Berrdo nos Annaes n. 780, trata-o por Pedro ;(Jor n'<lnQmasia PQ!it~~9'
~~
- 442-

e ir a pique com agoa ; e, concertando- e mal, o tornaro a


mandar para a illla ditil com mui poucomantimento e agoa.E
obrigado de muitas necessidades e agoa que fazia foro para:l
ilha de S. Christovo qua imortos e afogado \ aonde e to ain-
da muitos pa sando miseravelmente por no trem pa agem.
E pedindo oGovemador para mandar avi o Sua iUageslade
conforme ao concerto quc Imio feito, lbo ncgaro e zom-
baro rlelle, por e. sa causa no foi S. M. Rey logo sabedor de
tudo. Da artilharia fi petrecho de guerra quc acharo, en-
viaro para o Recife o que lhes pareceo melhor' c todo
os navios e barco da terra tomaro' e a' fazenda que
acharo nos armazens e logia da cidade; e a prata da
Igrejas, qlle tudo importa milita contia,
~ Com muita vexao de minha pes oa me obrigaro que
logo entregas"e os livros e toda a fazcnda que tive e de Sua
Magestac1e dentro de dou dia; que nelles me embar-
casse com o mai prisioneiro ; e porque o tcmpo era brere,
e o rigor muito, pedi mede" emalgun dias mai p3ra fazer a
entrega que me pedio porque a no podia fazer ento breye.
Consentiro ni to prendendo-me, e que na me ma confor-
midade fize e em casa de seu SarO'e:1Io-. Tr da armas, onde
estive at me embal'car como prisioneiro para e te E tado
da Hollanda em mna nao que veio calTegada ele a u ares.
E por me ser mandado pa sal' a lwe ente certidITo pelo
Sr. Doutor Francisco d'Aodralla Leito, elo con ellw de
Sua Mageslde, seu dezcmbargador do Pao. c Embaixador
Extraol'dioario ne ta crte ao" Senhorcs E lado -Unido e
Ordens Geraes do Pailc -Baixo a pa ei na forma sobre-
dita, por mim as ignada e sellada com o ello das minhas
armas. E juro aos Santos Evangclhos havcl' [Jae::, ado tudo na
verdade o que nella e contm. Haya do Conde, 2 de Agosto
de HH2 anDas. Ig'l'wcio o ll.'go Bm'?'l'to. }.
s abaixo as ignados afirmamo e juramos ao S:mtos
Evangelho, que tudo o contedo na certiclQ acima pa sada
he na verdade; e o sabemos assim por er notorio, e e-
tarmos no Maranho quando a armada Hollandeza a {'ai
tomar. Ame::terdam, 6 ele Ago. to de 1642. - 111'ignel ele
llJaris, prlscoal COl'lho, Antonio da Fonseca, .roo Lobato,
Manol'l Gomes ela Costa, Fmncisco Coelho ele Ca?'valho (1).
(Rl'ul Archivo DR Haya, Lokel-Kas, TVestlndien, Mao 113, Divis, 13
Appllnrl. do n. 2.~97).
(].) E~te documento jfoi impresso na obra de yarnhagen supl'acilad a.
- U,3-

COPIA DE mIA OARTA DE P. J. BAS, DlREOTOR DO l\hRANHio, AO


CONl'lE MAURICIO DE .\SSAU, E A ALTO CO~SELHO SECRETO DO
BRA IL, DAT.\DA DE S. LUlZ DO i\L\l\A 'H.~O, E~I 31 DE JANEIRO
DE 1643 (1).
SI'. Conde e Srs. Alto Conselbeiros secreto.
Pela galiota Tnynsluype7" e o se retario Negenten (2), que
daqui ptNio a 13 de Dezembro, amplamente informei a
V. Ex. e ao Alto Conselho Secreto a tri te ituao em que
aqui no achavam03. Desde ento nada mais occorreu de
vantajo o para o intere. es da Companhia, e o estado da
con a no fez mai que peiorar de dia p ra dia, de maneira
que nada podemo receber do que no he nece, ario e indis-
pen avel. Cada dia no trazem mOI'to e muito feridos, para
os ql1ae falto os nece sario meLlicamento .
18 de Dezembro. o o inimigos no tem dito em alta
I't)Z de cima de sua tnncheiras que no ero uMito do
Rey de Portugal, mas solclados do Rey de Ca tetla.
23 dito. Algum;'] canas vindas do GI'ando Pa?' faro ter
ao inimiao, I 'vando-Ihe a noticia de que o occorro que e -
pel'ava des a praa estava pl'om pto para ,er enviado.
E~le reforo com elIeilo chegou-lhe no dia 3 de Janeiro(3).
eon Ltio em tH can'" alguma pen de artilherifl, o ne-
ce sario para nm trem dess:1 arma e muni-es de guerra.
Grle Janeiro. No (lia do' Trez Rey , de m nb mui cedo, o
inimiCl'o lanou contra ns bala de artilharia, e vigol'osa-
m nte no <l "allou com fogo d mo quetaria. Arvoraro uma
gl'ancle bandeira Portugn .za que IlJes chegl'a do Par; e d
lOQCl'e no' grit~r'o: so ('s es os 'I'ecad JS (recade ) que o Rey
(le PO?'t-uglll vos ma.nela (4.).
Pelo qne e v no fOI'o os (lcios ele viol nci'l praticarlos
pOI' algun elos nos os qne arl'3 lro o Portngueze";:t trahir

(1) lllo'Jil:1. Tmr!nJQ'I1-1n do Fran e'.


I ) NJ!I Jtltdn. Ntll"iler esr'reve X '9 mton. Trnt1nrlo do cnmmnn'hn'(),
q~l' ~o'ernlVil o MIlJ';\l:h lO, o q'll1l alm do procedi Ilenlo de T"grado
linha caracter c1esllumano o cruel. aC"1'P~centn:
li Iflle "pflrilltiu de tod,t n [orru:t a~ poplllae" P'rtugnrza', e 11m do
ons ",roximo' p'll'entes, ch'lmadn "[I,Tdgdnton, manJou prpndet', ignonl-se
o pretex.Lo, 24 Porlu.tuezos, inuncente" o f lo depo"lar elll uma ilha
deSl,rta, onde [orno surprellelldidos por uma tribu de T,\puia antrolJo,
ph1g-0S, que mat<lrlio todos para sou hediondo alimento.
Net8chel' he llollandel. e insu J;leito.
(3) Berrdo no n. 8-i5 dos A.nnaes diz 2 de Janeiro.
II) R.ecado.~. i. .,lem1:>ranras, demon [raes de amizade, etc.
- 444-

o juramento que nos havio prestado, mas uma ordem ex-


pressa do Rey de Portuga I.
i3 dito. Chegou-no hoje a barca Ma1'anhan, que se acha
em muito mo estado, e que julgo o nos os marinheiro
que no vale mai de /1.00 florins.
t6 dito. O navio Blaeuwen Haen aqui chegou acompanhado
de seis barcas, e o tenente coronel Hinder on ( ) imme-
diatamente desembarcou com o homens que viero em sua
companhia,
Depoi da chegada deste reforo, o Con elho tendo reco
nhecido que tudo e achava em boa ordem em terra e no
mar, re olveo que se attaca e as obra de defe a do inimigo.
Este attaque realizou- e no dia 16 deste mez, com o auxilio
de 400 brancos e 150 Brazileiro (iridigenas).
Em pouco tempo apoderaro-se do quartel ou da trincheira
do Pai (2), onde matro todos o que ati e achavo. Ore .
tante das foras inimigas tinha anteriormente abandonado o
posto refugiando-se no quartel de S. Antonio de Morus (3),
sob o commalldo do Capito Mr (Capitaine Moor),
Os nossos ahi os aLtacro; mas, chegando aos entrin-
cheiramentos do inimigo, fOI'o derrotados, e, a conru o
introduzindo-se nas fileira , retiraro-~e com a perda de
(1) H.nde)son. Netscher escreve ]nddlson.
(2) Q taltel do Pal'd. Foi o qne 10mriio os auxiliares no Par, e se
acha' a ~ob o com mando do Capilo Pedro da Costa Favella. Era a caa
de Antonio Vaz. mai "i~inha elas fortifica"s do lDill1igll na qURdrn for
Ol.. d" p~los ruas de NazRretlJ, Egypto, Illrgo e tl'llves.~a de Jno do Valle;
o qUI tudo esta. de ar;cordo com o que dizem Berrdo ns. 835 e f:l38, e o
padre Jo. dI: Moraes no tom. lo deslas Memorias pago 162. ESSR Ira-
ve~sa he R rUi) quevai para Santo Ant"lli'l, a que se refere, o me~mo ~Io
l'aes de cnn fOI nJidade com a planta dR cidade de S. Luiz, Daquella poca
que vem DR5 obras de Barlens e de FI' Josepb de Santa Thereza.
:3) .santo Antnio de MOIus. O le':to do mannscripto em Fml1cez
di? Samt Anthonie de !\1orus. E le puntu, que era o llUfutel do CllpitBO'
mr Alllonio Nloll iz Barrell'o~, nada tem que ver com a caslI du ,j"tOlllO
Vaz, p0.;LO mni, avao'.:lldo, pl"nvRvulmente o edific fi mais proxilllo das
fortifica es Ho:lanrlllzlls dil plallta de Bar/ens, nl>lS dentro dR meia ll1a
dl1 detl'za dos ~Ilb!e\'>ldu~, P"rirn Ras CI nu ci .. mu,t.l b,'m II cidl),le que
gov, r.I>.va. p portanto sua iuf..}) mado merece f, uJU\i",e cm aos em
qu. h de i"t-rpssat.lo.
O ,JifiClCl assinl ch.. mll(10 podia derivRr o sen nome rle uma capelhl ou
l1icllO, tRIHo mni~ 4nllulo a d, vr iu desse S,)llto. ainda "xbtrJ 1111 ridade
dI: S. LIIIZ Sallto AIIIO,li", o J1iou,'o. porque fom MRIJoml:tRIlO. tamh. m
chAm,ldu do Nut,., U' Sicilin oll,l.. vivpo. leuI um al[,tr na Ign'ja rios FI'iln'
ci,canos, da tll\,ol;ai'lo de Sa'"lto Antllni J, dI:! Padun e de I.i~bOf\, Mas
S,lDtu AlltOllio, o AJOU'"O, comot'h"'mavll o, Portnguezes era preto 011 mos-
tio. Varnbagen enganou-se nas notas que escreveu sobre e.te assumplo.
- 44lS -

alguns morto e 60 a 70 feridos; ma coo ervamo o quartel


ou entrincheiramento do Par.
2fS dito, A' noite, mandamo um sargento com '12 solda-
dos e 10 Brazileil'os para atacar um ponto das trincheira do
inimigo; mas ahi chegando. acbro que esse ponto estava
abandonado. Immediatamente nos pediro reforos, que lhe
mandamo. e se apossro logo dessa trincheira que incon-
tinente arra. ro.
O inimigo acampou em distancia de meia legua ('1), em
posio mui vantajosa, do antro lado de um de liladeiro que
ha to apertado, que no e pde pa ar eno um a um.
o dia 26 qlandamos para aquelle ponto 150 Brazileiro
de~cobrir o inimigo. ob a direco do Capito Jacob Ever .
Cbegando ao desfiladeiro, e te o:lIicial reconheceu que e tava
occupado por todo o lados pelo inimiao.
ElIe perdeu a virIa ne. e reconhecimento, a im como
grande numero ele BraziLeiros, e no so feridos ficro em
poder do inimigos,
Reconhecemos que a inteno do inimigo el'a occlfpar e ta
posio com 200 300 bomen , afim ele no cortar toda a
communicao com o interior do paiz, mas no temos foras
ulIiciente para de alojal-o de a posio que lhes he to
vantajosa.
E perando poeler faz-lo n no fortificaremos tanto quanto
no rI' po sivel no Tapicarou (Lta/1ucur'). e he da ma ior con-
venicncia que tenhamos no~ a dispo I:o uma consideravel
fora militar com tud o que fr preciso para conservar e ta
conqui ta.
E. tamo resolvido a arra ar o convento dos frade da
Congregao (.TeSlt'ilas) , ma con. ervaremos a igreja para
fazer uma bateria que dominar e proteger a nos.a for-
taleza. Con truiremo em toclo o seu contorno uma muralha
com quatro ba ties, abrindo um fa o cercado de estacadas.
De. ta rl'ma e taremo:. em conc1ie. de fazer boa resis-
teneia, o que at a~ora no tinhamo poclirlo cano egllir.
Se esta praa, como acreflito e lenho ohservarlo, ficar
como ainda boje se acha, no rencleriJ. Companhia por
anno com que podesse cubrir os gasto que ua manuteno
obriga. . .
'1) J1I'iia leyua. Preciarncnte110 ponto do Q,.tYI1,ilim, e Outeiro da
CTUZ. o que est de harlllouia com o que diz a tradi~o popular. lie o
que chamamos hoje Cotim do Ba7'bosa.
- 446-
Como e te paiz, dividido e entrecorlado por muitos rio',
e acha occupado por um banrIo de assa. ~ino e Jadre. que
o temor de Deos no contm, DITO ob eryando nem jura-
mento nem prome. <I, he indi:pen avel conservar aqui uma
guarnio forte pelo menos de '14.00 homens, ou 'em isto
estaremo empre expostos a ser attacado de improvi o,
como ja tem acontecido.
As obra que aqui e tem con truido, quando e jlllgava
poder contar com um tempo de paz, o in llfficiellte em
tempo de guel'ra, lte portanto ela maior nece sida]e que e
coo.truo fortill ae 'uja de.1) za excedero 20,{I00
arroba de a'. UC:ll', que se pMe rabo iear annualmeote, quan-
do o tempo l1e bom.
A madeil'a e outro pl'orluctos elo lo no cbeg~o para
cobrir e:> e' rli'p oelios, a menos que e no de cubro aqui
mina' de OUl'O ou de prata.
At o pre ente no ha indicio de (la exi tencia ou de
qualqner outra riqueza do lo que pos a olferecer Com-
panhia granrles vantagen .
Nunca acreditamo que e no' envia~se to limitarlo re-
fOI'o e to pouca gen e, com u'na to r tlllZida quantidade
de polvora e sem ulli iente. aprovisionamento de tmlo o
que l1e indispensavel para pr e, ta Cal itania em e ta[10 ue
defe a. He mister su'tent;]1' aqlli const ntemente 11m bom
fogo ele atirarlores, e no "a provi -o de polvora e t qua i
e gotada POI' e te coutinuo e-tarl li gn81'l'U e de attaqlles.
A cada momento nos chego muitos fe -ido, e lemo nos a
disposio mui pouco medicamentos.
O inimigo, qu e t reforado, rlev .er l'epellirlo e ex.-
pu1 o de suas .olidas obras de fortilica 'o, e !le 1a maior
convenien~ia que no apo orno' elo forte do llIonte Calvario
no Tapicaron.
Para i-to nITo temos a no S;J di posio seno um punharlo
de snldallos, d fine ternos a mlior nec6"sidade pll'3 OCCIl!)')r
e defenrler a nr.ssa fortaleza; e, egllfldo o dizer de 11m [J1'i-
sioneiro BI'asileiro, o inimigo c pera ainda um grande re-
foro qne lhe deve chegar do Par.
Que V Ex. e os r. Alto C:unS21heiroc seeroto dianem-se
de tomar em consi erao "e, em um tal e tado de Cllll a., no
11e pos ivel obrar cum vantagem e honra para ns, de modo
satislzer a Companhia, e a lhe provar rfuanto t.omamos
(l peito os . eu inlereSse=,
- 447-

Em todo o cano fal'emo' totlo O e foro para oos defender


contra o inimigo e con en-ar a pos e desta pr3a, para pro-
cedermos C,lm bonra e segllOdo o nos o juramento, a sim
como de,e fazl-o todo o bom ollicial, confiando em Deos e
ll:l ju lia de no~sa cauca.
No entr tanto cupplicamo!' ",. Ex. e aos Senhore Alto
Con elheiros Secretos e sirvo enviar-no o mais cedo
po Ivel um bom numero ele tropa, dez mil libras de pol-
vara, dous morteiro' com mecbas e J)ala em quantidade, e
tndo o mai que mr neces al'io:
Esperavamos que os navios que acabo de chegar nos troll-
xescem ancoras, fateixas com eus apparelhos, corda" al-
catro, pz, e topa e ludo o que ne iudjnpensavel para o
ervio da equipagen., tanto mai' quanto tinbamos prece-
dentemente e muito em detalhe informado V. Ex. e aos Sv-
nl1ore' Con~elheiros Secretos que estavamos completamente
desprevenidus destes objectos.
~Ia em lugar de recebermo o que ecperavamo', as equi-
pagen dos n::rvio re entemente begados, ec to tambem
de pre enida desce objecto de primeira nece cidade' e
no pedem a nc me mo::> o que e peravamo que elles no
home cm tl'azido, dizendo qe tinho partitlo cio Recife em
estarem apl'ovisionad s, por se lhe' naver acsegurado que aqui
e tavamo' abundan em ,ote provido" ma elte;) faro eng3-
nados em ua ecperana .
Eu no po so comprehender o que deu can a a eme-
lhant equivoco. O que eu escrevi acerca da falta completa
emque nos achavamo de todo ectes objecto, ter-'e-hia po. to
em duvida? E comtudo o que relatei era a pura verdade, e
otempo provar 'm demacia a exactido do que in~ rmci.
O navio' que aflui c acllo d "io er mandado 801'-
barbs, mas no podemo approrar emelbante resoluo, por
quanLo es~e. va o sero o nocso refugio, se acontecer que
o inimigo no derrote, do que Deos no pre.;)erve, aben-
oando nossa armas e no~sos e [orco~.
Todavia, se por falla de palrara ou de qU3lquer outra
muni de guerra, nos virmo for adas navegar para
as lndias Occitlentaes, iriamo com confiana para taes paize
e, segundo o que no parece, poderiamo aiilda alli pre tal'
Com lllllia bOll s'ryio , e devemo crr o que no dIzem o
quP. j por alli tm e tado. o ca em que d' cou a chega-
(I

em uma tal situao, l1e com eniente que tenhamo aqui


- 448 -

cinco ou seis navios em bom estado. Entretanto no deixa


remos de cumprir o nosso dever em terra eno mar, em vista
do juramento CIue prestamos Companhia.
Pelo qne res'peita a ex.~ces e violencias que os no sos
praticro contra os Portuguezcs e Brazileiro , nunca chegnu
ao nosso conhecimento que se tive.sem pa.sado cou.as qne
dessem omenor motivo de recriminaiio contl'a aComi'anhia;
e qllanto algnn actos reprehen h'eis que nos communi-
cro. fez-se prompta e boa ju ti::! (1)
Disto podem dar testemunho o habitante~, e todos os em
pregados de ju. tia, de modo que, e cl1elado de todo o bom
direito, podemos as~egurar que o bem .e fez e o mal foi rre
venido, sendo os habitante do paiz mantido e protegidos
nos seus rlireitos, tudo to regnlarment.e como e poderia
fazer na Hollanda, em uma cidade bem admini trada.
1"1as se alguma inju.tia ou clelicto e praticou, eu igno-
rando, 11m severo proce o seria loao ordenado pOI' ns, fa-
zendose ju Lia conforme ao Direito e equidade; o que
em todo o caso eu teria o cuidarlo ele informar a V. Exs.,
assim comJ aos Senhore Alto Conselheiro ecreto .
Remettemos com e. te omeio 13 e. Cl'avos, seaunelo a lisla
feita pelo inimigo. Fico ainda aqui sei que faro acom-
mettidos de febre epiclemica. Vinte de te me mos escraVGS
j fallecriio da me ma molestia.
Vai tambem inclu a a relao de diversos objecto. de que
temos nece sidade, as im como urna arta do inimigo, e a
re po ta que demos.
Uma car'ta qne mandamos ao omeiae do Par. ma re-
lao dos medicamentos de que temo nece sidade, e bem
a,sim de objectos de trem de artilharia e de campanha que
nos falto.
Remetto pela mesma OCCiI io o piloto Roenes (2), o qual
nunca aqui pz p em terra, vi to que toda a equipagem do
navio, o Loando, o con iderava suspeito, primeirilmelJte por
que em pleno dia havia varado a barra do Maranho, conclu-
zindo sobre bancos de areia e recifes o navio qne llavia sido
salvo de um grande perigo, no por elle, mas DilI' outro
(1 I Por e. ta np.gati va to docid ida pm factos hoje compro\'Rdo~ por
test. mnnho Ho\l:llldez, par ce-lia, que o Rutnr clesle documento lIe o
~!lrellte do perven,:o Negenton, a que se refertl Net,;cllr na nota (~; supra
Apag.445.
(') Roen.es. Pela forma porque est escripto este nome, no original, pa-
1aca tambem N08nes.
- 4,4.9 -

piloto; e depois porque na viagem e qui emittia proposi-


es que davo ltJgar gente da equipagem duvidar da
sua fidelidade
ElIe disse muitas vezes que, antes da sua chegada aqui,
muito bem sabia que o Maeanho seria atacado ou cahiria
em poder do inimigo, e que outro tanto mais tarde succe-
deria ao Brazil. E ainda dis e outras palavras suspeitas.
Emfim, etc,
Assignado-P. J. Bas.
S. Luiz do Maranho (lla1'inhan) 3'1. de Janeiro de 164-3.
Entregue na legao Imperial na Haya em 31 Dezembro de 1 -3. -
Joaqt'im Caetano ela Sl-z;a.)

Datado de 4 de Novemhl'o de 164-*. Lido na A semblea dos Estados


Gel'aes.no lo de Dezentbro do mesmo anno.

RELATORJO DE MAXIMILIA 'O SCElADE, DE UTRECElT, QUE PARTIRA


E)I 1637 PARA O BR.\ZJL A QU.\LIDADE DE ASPlI\ANTE DE MARI-
NH.\ E~IPREGADO l-O SERVIO DA-CO~IPANElIA DAS INDI.\S OCCI-
DENTAES-, E PRO:MOVIDO SUCCESSIYA~fENTE AOS POSTOS DE 2.E i o
1'ENENTE, CAPITO, 'rENDO RESIDIDO NO MARANH.W E O TAP!-
CURINO lITAPUCURU'), li AGORA ESCAPO DA PUI .~O DOS POTl'I'UGUE-
. ZES, E VINDO DAS lNDIAS O CIDENTAES (1).

Senhores ! - Para me conformar com o pedido que me


manirestastes, depois de terdes ouvido a relao verbal que
tive a honea de fazer boje de manh na Assembla dos XIX,
e11 abaixo assignaclo Maximiliano 8chacle declaro que no
Bl'azil, elI). servio da Companhia das Tndias Occidentaes, na
qllalidade de capito de nrna companhia de Mosqueteiro, fui
mandado em Setembro de 16B por SllaEx.e o Alto Cunselho
Secreto reunir-me esquadra commandada pelo almirante
Lictbardt e o coronel Heim ([(oin) , para fazer parte da ex-
pedio do Maranho; que tomei parte na conquista dessa
Capitania, e que dous ou trez dias depois dessa conquista,
fmute de uma fora composLa de uma parte da minha
companhia e de metade da companhia de lVIosqueteiros,sob as
(1) Inedito. Nas cond ies do precedente docnmento,
55
- lj.oO -

ordem, do Major Ern 'L van Breemen (1), [ne depoi comman,
dou 110 Mar::tnbiio,ell fui mandarIa para o Tapicaruno (2) onde
havio ~eis Engenh " ::1 de Pl'opl'ieebde do Portl1g11ezes, e alli
estive de guarnio durante sei meze em um forte, con
truido de pedra e barro, chamado ATonte Calvaria.
Em consequencia de uma ordem do eon.elheiro Politico
Ba e do Major Erne t van Breeme;" a mr parte dos meu
homen , as im como mnilo.. olda los vindo de S. f.uiz
(Saint Lhu-ys) , faro mandado em de tacamento no En
genho , por causa dilia-~e, da falta de vivere Em cada
Engenbo havia 20 homen , mas somente dez homens em um
Engenho d'acrua, e isto sob a prome ~a de que a~ de peza
serio pagas pela Companhia, e que por con eguinLe era in
dispen a'e1 fazer um 3 ento exacto.
Ne e Lempo, qua~i trez meze , de ele odia em qne o no .o
homen Linilo sido apresentaClo ne e Engenhos, cltegl'a
nm barco do Brazl ao Jaranbo, com carta annunciando
que nma conveniio havia sido celebrada entre Sua l\Iagestarle
o Rey de Portng::tl, D. Joo IV, e Sua::- Alta Polenci'l~ o Se
nbMes E 'LaClo~-Gerae, e que, em on. cqnen ia de ta con
veno, e ta!Jelecell-se nm treglla, entre uma e outra pal'te.
li: ta tregua havia tambem sido lnnlln iada toq'le de
caixa na cirhde de S. Lui7. do Maranhfio, e pnblit:3d \ em
toelos os luglI'e~. Eu Qz ignalmente annnnciar e publicaI'
a mesma tregua no meu di triclo, por m ia ela artil.lt r'a e
salvas de mosqllet::lria.
O Tratado de Paz qne . egnio se eJa tregna, e que foi ~a
me, ma sorte pnblicado, foi dn no ,a pane religio,nmenle
oh. erv,ldo, sem que a menol' infra o. a men"r ho,tiliriade
. e IInj'l exercido contra o Portnguez~. Milito pelo con
traria, se um official ou um soldaria ousnva na menor cOllsa
oITender um habitante do p"'iz, irnmerIial;:}mente pas.3vn por
um conselho de guerra, e pnnido imme,liatamonle couforme
a na Iaroza rio dei icto.
Mas os Portllgueze.; dero logo a proya, CI que tinhio
cooeebirlo n esperan,;1 qne de por m'io do sell Rey se L'1rn'll'i io
promptamente enhores do paiz, ainf'a qne, conforme o q'le
se 3bia desrle a pnblicailo (\:1 paz, n:)i1a e havia lentauu a
semelhante respeIto da parte de Portugal.
(1) E,'nst van B)'eemen, Seria e,le o pnrente de NegentlJu?
(2) Tapical'wno, i. ., Itapncnr.
- 4:'>1 -

Vendo Cfue o. no. o .0In:1'10 anr!avo rtisper o~ pelo paiz


e d;}i'tacadn em pe.qlleno nllrnel'O nos Engenhos, e que pela
m,' [1arte el'o acnrnrneLti los na mole. lia do [1aiz, ou en-
Ibqllccirl) pela fo-n , mi e ia, e priv'le de tod la es-
reeip., formaro os Portugueze.. uma eunj urao em Outubro
de 162 nm o'lndio .
:l ocr: si'o em qne o meu r Tenente (I) (Lienlenal1t~ e
achara . no interior do fOI'te, Cfne o meu 2 tenente (en-
0

Seif.{le) hwia ido de. tacada em um Enaenho, e qne en mesmo


rr~co e rloente e:t va abolet;lClo em Ulm a.a situada a meio
alcanc de fnzil do forte, onde n10 encontl'ava commodirlarle
algnm'l, o Portugueze .e apl'e8entriio no forte nm:l ffi3nh
de improvi o, e ~urpl'enilero e nutro as entinella , to-
mando ele a~ alto a praa.
Tambem se aporlerariio dos Engenho:, e nelle cruel-
mente matl'o nos'os officiaes e soldaria. que alli se acha-
Yo r1e~t:lcatlo , a excepo de in oenta quem clro
quartel (2).
En fui de, te numel'O, bem ramo o meu ,1 Tenente, 0

dOll sargento, um 011 dou cabos e o re tante ol-


dados.
~Ias dOll dias depoi , ainda des, e numel'O malro com
o m:liol' ~angne-f"io do mundo, um ~al'gento e parte cios
olrlauos; mais lfmlc, por prazer e por sen divertimento,
I1Ill Oll clou, soldado., c ,eis meze~ (h~pois, o ontro .31'-
gento, rle morlo que de. te' 00 11Omeo., tanto oillciaes como
olrlados ficro mui poucos com "ida.
O mCll 10 Ten nte c eu fomo~, cada UIll parle, con~er
yatlog pri.illnciros no dilo fMle, c tratado do modo o mai'
cruel. FizerITo-no Sij pp0l'lal':l ('orne c a mi 'eria, e at mesmo
a.sentaro matar-nos com veneno.
E'ta' tcntatiya qnc pcrfidamente llzero em minl1a pes Da
pOz-me cm granrle perigo de vil! , o Irne todo o muDtl0
llilfJuellc paiz, grantles e pel[ueno~, posi ti ramente soubero,
'!elll como o' lluC (} aclnvJo 00 \'ar-Gramle (3), e que,
ii cl1egad.l do refor o IlHe os nosso' recebero de Pernam-

(l) Tladuzimos as~iDl m vez de i1nmediato, por qUl1nto o autor da


ortieial d" marinha militai', procura manter egsas <lislir.c~es dos
Clll'lJ,
postos que exercio o OU(IOS empregados.
(2) Vide SU[ ra nota (3) li pago 425.
t3) Pal'd-G'j-ande, i. ' l Gro-Par
- 1152 -

buco, tinho abandonado o exercito no TapicUl'ino (1), hayio


mandado aos Portuguezes, qua i oito semanas depois da
sua revolta, um soccorro ele soldados PortuO'nezes e JndlOs,
assim como ffillnie de guerra ob a elireco de certo
Pedro ~'Iacl1iel (2), e c[Ue a sim fortificauo ,e es Portugueze'
tinho conduzido comsigo, quasi a 64 milbas do rio de Ma-
l'icou (ilfctTac,), o meu 1 Tenente e mai IIi a H:S oldado
0

e marinheiro, entre o quae se achavo os que tinho ido


feitos pri. ioneiros havia algum tempo.
Chegando alli elles se diricriro atrav0z os bo que na
inteno de alcanarem o Par-Grande (3). Dalli immediala-
mente depois o dito soldados e marinheiros, ob o COID-
mando de um transfuga chamado Cornelis Jansen (q.), de-
poi o meu 1 Tenente e em eguida eu, fomo conduzido
0

para o rio de Tburi (T'Lwy-ass).


Nesse lugar fizero o Portuguezes perecer littel'almente
de fome 5 a 6 de ses oIdados prisioneiros, tendo, dizio
elIes, bastantes escravo para o seu 'ervio.
O meu 10 Tenente arrastado pela fome e a miseria, fugia
e veio para onde eu estava, esperando que alli fosse melhor
1ratado, mas apenas tinha chegado na minha cabana, mano
dou o commandante carrega-lo de ferro. \lIi tivemos de
supportar juntos a miseria e a fome,
Decorridas qua i 14 semanas, um hiate viodo da Bahia e
carregado de munies de guerra, chegou ao Par Grande.
Os Portuglwzescomprehendendo que eU s poderio ento re-
eonquistar o Maranho, dirigiro-se om todas a fora
para este lado. Eu e o men 1 tenente fomo onduzido pm
Tapitap ra (5), onele ficro todo os Portugneze que no fa-
zio parte da expedio.
o poderei dizer o que aconteceu ao outro pr! lOoei-
ros que foro transportados para outros 'ugare ; mas eu o
(1) Tapicul'ino. Parece que se trata aqui de um lugar, onde' Pedro
Maciel PaI enle e Joo Velho do Valle abandonaro os restrmratlores do
domioio Portnguez no l\'Iarallbo, talvez o [t,gar onde tem f\~sento fl. villll
do Rosario, no endo o mesmo que Tapicarnno, i. :'" o rio hoje cha-
mado Itapucunt, com quan o com a me ma signific'Io d o rio se lu
1'apicw'ino na lO cripo ou titulo deste dO'Ull.ento a pago 4.19.
(2) P~dl'O J1Tachiet. Refere- e Pedro l\1aciel Pai ente.
(3) Era esse o antigo caminho :\" Maranh.o para o PlIl'. alcla de
Mm'ac, hoje a cidade de Viana, era o ponto de pa.rliua.
(4) Contelis ./ansen. E te Holl ndez, que ndoptou a causa Lusitana,
be o progenitor de nnmero a descendencia no Maranho.
(5) Tal)ilap~'a., i, ., AlcaoLara. Voltaro os restauradore do Tury
p.\ra Alcuntal'u em consequencia da>: munios 11116 recetel o do Par,
- 453 -

o meu 1 Tenente, bem como um sargento, um oldado e um


marinbeiro, que havia pouco tinl1o ido prUonero , fomo
L1'uma cana conduzidos pam o Par Grande.
Cheaamo alli no 1 de Setembro de 1643, estando todo
o momento receiando, durante a viaaem, da peryersirlade
dos rortugueze~, e que no nos abandoDtuem em alguma
ilha ele erta (1).
(o Par Grande fi amo retidos como pri ioneiro~, com
outro soldado e marinheiro~, que mai' tarde foro para
alli conduzido prisioneiros, e que, a mr parte, faro mal-
tratado e de tudo privados.
Acbamo. no Par Grande um navio Zelandez o S. Pie-
ler, cujo capito, TLtomaz Regiers, tinba alcanado dos Por-
tugueze a permi o de entrar no porto, ob a condio
de que a11i desembarcaria a sua carga, e que ,,"oltando leya-
ria com igo carla para o Rey (le VOl'lugal, visto que, ele
ha muito, no tnha havido o casio de m:wllar noticias ou
avi o a Portugal.
Tambem se convencionou que se lhe faria obter do Rey
a permisso de fazer o aromeI' io nestas paragcns, e fJUc

lia vo I La podcria en to vender seu 'a rregamento.
Ma no momento em que elle ia elar ,ela para voltar
para a Europa, cbegou alli um no\'o Go 'orn'l 101' chamado
Pedro Cle IbUffuerque, que fez apprehender, COI fLear e
vendcr publicameote o dito navio por 700 mil rei.:, retendo
pri 'ioneiro o capito e a na equipaaem, quem se foz
lIpporlar o tratamento o mais detestavel, con~ervantlo-o- em
uma terl'iyel privao de toda' a. cousa at a epoclla (h
minha partida, ii excepo comtudo do piloto que comigo
fugia, cm um navio ran ez que yeio ao porto elo Par
Gr:Jnde.
Foi li bordo deste navio que ambos che~amo' s ilha. Ca-
nal'ias, e dalli pam em outro navio.
No Par Grande achei eerlandeze, Inglezes e pes oa' de
outl'a differente naes qlo. alli e con.enaYo capLi,a~,
eql1e, ilu"ia muito annos, tinho uiclo aprisionadas no paiz da
Amazonas, eo tl'C oulros, um Jacob Heyn , de Flessinga, que
alli e tava, l!avia 15 almas, e outros Neerlancleze prisionei-
1'0.; t['abuLhan lo todo para seu sustento e manuteno, om

P (1) Tomia a ]1Clla ue talio. sabendo do que praticara Negenton com 21


oriuguozes, Oll inslll gentes. Vido suprll nota ("') a pags. 443.
- 454-
o risco de ticarem de tuuo privado e morrerem de
fome.
Tambem vi no Par Granue, e ou me.mo lhe fallei, alguns
<lo onze marinheiro do uavio, o Btneuu en JIaell, CJue,
tendo ido com a ua cita lu pa em demanda de refre co., fa-
ro attacado pelos POl'tllgnezo e ilppl'ehen'li(los.
Vi\em como p 'UoDeiro no Par Grande e .50 muito
maltratados: llLVJ prova de que o que disse acima bea ver-
darle.
enllores, permitta Deos, que em sua misericordia der-
rame sobre mim ua' beoos por todo' o males que
padeci.
Eu assigoo e te relatorio em te temullho da verdade do
factos CJue elle cOlltm, e ('.tau pl'omplo. si fr prciso, a
~ertincar a veracidarle .ob juramellto. Digne-se Deos cn-
cerler vo.. a re:weilavel AsscmLJla felicidade e pro'pari-
dade, alm da ati fao de ludos o no projecto.
Teubo a LlODra lIe ser, eL~.

(assignado) JI1a..cimiliano Schade.

AmsterQam, 4 de Novembro de '164.4.

(Em bl1ixo e::t escl'ipto) colla :'io feita com o original: c ta cpia se
acholl c"OfOI'III P CO.II o I'elatol'io depo iLi\do a [ui uu;; Rl'chivos do esla
belecimento da liOllllJauhia.

Entrpgue na Lega RO Impelial na H~lya em 31 de Dt'zembl'o de lt53


-J oaquim Caetano de! Sltva.
RELA O DA MISSO
DA

SERRA DE IJ3IAPABA
PELO

PADRE ANTONIO VIEIRA


DA

COMPANHIA DE rES S,

I.
Primeiros Mi~sionarios da Companhia de Jesus que do Brazil passaro
101' terra ao Maranho; ellS trabalhos. Morre ua empreza o veDe-
\';l,eI padre Franci co Pinto, e outro (I l.

Pelos annos de 160t>, 8elldo j pacificada as guerras, que


em Pernambuco foro mui porfiada;; da parte do naturae.
pela violencia~ ele cel'Lo C''1)iLo rortngnB~ (2), se tornro a
pr em armas todos o lndios ava .allados, qne havia de de
o Rio Grande at o Ceal', onde ainda no tinhamo a forta-
leza (3), qne hoje defende aqnelle itio. E como em tnrlo o
Bl'azil linha mo trac10 a expel'ien 'ia o particular' talento
e graa qne Deo. c1en aos religiosos da C Impanhia de Jesus
p~l'n com pr' o~ animas rlesta gente,:'I petio do Gover-
lIar10r elo Estarlo qne enLo era Diop-o BolelllO. foi nome'lno
para e ta emflreza o p:lllre FI'anci:co Pinto, varo ele grandes
ill Pllhlir,nmos l'stl,! tn1.balho porqll' e,t,i dentro do pl'ngramma tl'a,ado
no pn f:l('io elo J1riml'iru tnlllO uef'Ias M.JT1Ior,a'. VIf'IO 1'01110 tnda a sr'rra
dn !/1iapab(l, e grMlde p>1rle do OeRr'\" e'li\'e .."o ann 'xadof' ali Maranho
at 1i"4. POUC') m,ti Oll IlIenll". lein'lnd,) 1 . Joiio V: conf"\'III' diz o
p'ld'e J.. f'( de 1\J"nlCf' no lo 10m .1",,'&: M~mOlifl.< J1f1~. ]5 ainda ne
P"IIlIJG no En '(lio p.<tali<(ico Ull m'1SoIlll pl'ovil1cia, t "".2 0 pllg ?1l2,
d~\iara qllp.a epnmiio do M'II'>Illho rt:Jllli~OIl-f'P. eln ]6.''\, o rple p'lrece
MO ter rlllldnnlento. 1'111 vi. la de IlIllita Cal tas Rpgia., do fi 111 do penlll-
ti"", ~clllo, cl1j Iral1f'lIllllJl., f'e p"'de ler 110 r'atalogo tios Ma'l'ltt 'CI-''lJtos
(la B blioth~rn publica EblJ1'li17se. dt:J ]b.'i'\' de pog. (3 e II rliflllle.
(~) Puro 011 P,'dro C"f'lIlo de SOIlZ>l. Val'1dlllgen na Histona do Bl'a-
.il l"m.lo pllg 31i) raz l'ecal1ir toda fi r.lllpa ,lesse att"ll1>lll.l em Jlliio t:o_
rOll1l'lIho, Clne,r r Pl'f>yic:o de l) de. etl'lnbro de ] (lOG.f"i pre:;u, resal a ,do
a Ir.! II n1l'tl'tllriR d... Pt:r.. (';..ell1<1 de RllU'l.fl.
nJ P;~tR r rln\r7.n r,,j IIIRJldl1ua crnstnlir em ]Om pPlro Go' e"nRrlor do
MIrnlll1:i.).D. P.dlo de M -110. Of' Hollallde,e' PI'( j tl'tl'fto edlllc LI' CllItnl
nu ponto ela alllira 1111 fuz do rio ClJanl, de '}II)('O punta' ( 'rho?umbOI'l:hl.
1llRS n o puoler:io 1'1\'ai-a fi cffdtll. Daqui ~,. '" qlle est'l Relao fui 'es-
crlpln rleV,.is de ]r;o'l. \'i le J'1.hnntiill, 11ll Orbe eraphico, tom. ]0 dig, li
e.!. 13, qll' SllPlJll que essa constl nco foi em lG85.
- 4. 6 -
virtudec, e mui e 'cJ'citado e eloqnente na lingua da terra,
e por sen companheiro o padre Luiz Figueira.
Era o padre FrancLco Pinto mui acceito ao, Indi05 pela
suavidade do seu trato, e pelo modo e indu teia com que
os abia contentar; e obretudo o fazia famoso entre elle
um novo milagre, com que poncos dia antes indu o Padre
a uma j isso, acompanhado de muitos, e morrendo todo
scle em uns desertos, sendo as maiores calmas do e tio
com uma breve oraio que o Padre fez ao Ceo, pondo- e
de joelhos, no mesmo ponto choven com tanta abundancia,
que alagados o lugares mais baixo daquellas campina ,
que ero mnito lilatada, llouve em toda el1as por muitos
dia de caminl10 agua para todos (I). C m e Las assistencbs
t:Io m nife.Jas do Co f ro l'ecebido o Pallres, como em-
baixadores de Deo ,e no do Governador do Brazil, e em
lta-ver entre todo aquelles Incl.u, po lo que aggrayado
nas Yidas, nas honras, e nas libel;dade , qnem puze:sse du-
vida a tudo o rue o Padre lhes praticuu, puzero lacro em
suas mos as arma e nas d'El-Rey e de eu Goveroadore a
obediencia, a que dalli por diante nunca faltaro.
Concluda to felizmente e la primeira part da :ua Mi,:o
tl'azio os Padre por 01' 1em, que intenta 'em o serto
do Maranho(2), qne naquelle tempo estava accupado pelo~
:Francezes, apalpal do a dispo io dos 1 dia s U' confede-
rados, e \'endo ,e o: podio inclinar pureza da f catho-
lica, que entre FI'an eze estava mui yiciada de llere'ias,
e obediencia e Ya :all,lgem dos Rey de Portugal a quem
pertencio llquellas Conquista. A sim o ftzero logo o'
Padres, sendo elles os primeiros prgadore d3 f, e ainda
os primeiros Portuguezes que, do Brazil, pas ar terra'
do l\Iaranhlo.
E m:lrchan o p r terra com grande tralJalh se diffiwl-
dade , por irem abrindo o me~mo aminho que se havia
de aod31', chegaro emum s serras de lbiapba, onele yi-
vio, como ncastellada , tl'ez grandes povoaes de lndios

(1) Deste facto resultou chamarcm-lhe os Indios .1mallayara, que quer


dizer, senhQj' da ChtLva. Mas esLe ~IlCCeS"O, segundo o padre Jos de
lVloraes, teve lugar no serto da allia.
(2) A partida dos Padres Pinto e Fii(ueira, de Pernambuco, teve lugar
em 20 de Janeiro de 1607. Vide Vftl'l1hagcn IIi l. do Bl'a~il, tom. lo
l1ag. 315.
- M.i7-

1'obaJ'a?'ds (1) debaix.o do princi paI Taguaibun'Ut~(2), que quer


dizer denwnio g?'ande, e verdadeiramente se experimentou
depois sempre nesta Mi so, que residia ou presidia naquel1e
.itio, no s algum demonio, se no gremde dernonio, pela
gl'ande fora, grande astucia, gr-ancle contumacia com que
sempre trabalhou, e ainda boje trabalha, por impedir os
fructos e progresso della. Levantaro o Padres igreja na
maior povoao da serra (3), sem contradico dos naturaes,
antes com grandes demonstrae de contentamento, e em-
qnanto insistio quotidianamente na in trnco dos adultos, e
dec[ara'io dos mysterios da nossa santa f com grande fervor
dos mestres, e dos ouvintes, conbecendo uns e outros de
quanta importancia seria para a conservao e augmento
desta nova 'onqui ta de Cllristo ter pacificadas e quietas as
naes barbaras de Tapuyas que cercavo e infestavo os
arredores da erra, trataro os Padres no mesmo tempo de
fazer a si com dadiva' todas estas na es fras, e fizero
pazes entre elles e o l'obao'cwds, endo os mesmo Padre
os medianeiros, e ficando como por fiadore ele amba :J
partes.
Ma debaixo deste nome de paz, tl'aando-o assim o de-
mania sem mai~ occasio, que a fereza natural destes brutos
entraro um dia de repente pela aldoa e pela igreja os cba-
mado Toca?'ij'l.s (4.): e estando o padre Francisco Pinto ao
p elo altar para dizer mis a, sem lhe poderem valer os
poucos Iudios chri I.os, que o assistio com frecbas e parta-
zan:.Js, que usavo de pao mui agudos e pezados, lbe dero
tl'ez feridas mortaes pelos peitos, e pela cabea, e no mesmo
altar, onde e Lava para offerecer a Deos o sacrificio do
COI'pO e sangue de seu Filho, offereceu e consagrou o de
en proprio corpo e sangue, comeando aquella aco sa-
cerdotal e consummando-a o sacrificio (ti).
lJ) Tobajai'eis. Outros dizem Tabajal'as, mas preferimos segllir a ortho-
graphia do autor,mui competente, do padre Jos ele Moraes e de Jaboalo
nQ Orbe 8m-aphi,co tom. 1 elig. 2 est. 13. Vl1rnhageu na !listo cIo lh'aziL
lOUl. ] pago 3D nota S, segue o contrario. Melhor Tobaym's.
(2) Taguaibumtt- O nome deste morubixaba em outras historias he
.T1tJ'WpUJy-guass, qlle tem a mesma significa :o. Vide supra. pago 166
e . d'AJ)beville cap. 12 pags. 81 v. e 85 v.
(3) Ohamavase ATa?'e?ida, secrulluo . el'Abbeville cap. 12 pago O.
(4) O padre Jos de Moraes diz :CacaJ"ijs.
(5) Esta catastrophe he narrada por Claudio de Abbeville no cap. 12,
segundo a tradio :los Indios da IbiapApa,e do& :I:r"nceze. qne com eIles
Ilnhlnvo. Vide supra pago 10
56 -
- 458 -

Com a morte ou martyrio do padre. Francisco Pinto, cuja


sepultura Deos fez gloriosa om o testemunho de muitos mi-
lagres, que e deixiio para mai larga historia, o padre Luiz
Figueira,ficando 6 e sem lingua(1),porque ainda ano linha
e<:.tudado, se retirou por ordem do uperiore para o Brazil,
to sentido porm de no ter acompanhado na morte, como
na vida, ao Padre a quem fra dado por companheiro, e
com tanta inveja daquella glorio a orte, que logo fez volo de
voltar, quando 11le fos e po 'ivel, a levar por diante a me ma
empreza, e buscar nella o mesmo genero de morte, que
Deo ento lhe negra, ao que elle dizia por indigno.
Ma ambos estes desejo cumprio Deos depoi e. te grande
zelador de seu servio; por que no anno de '1623, ~eDdo
j de maiol' idade o padre Llliz Fiaueira , e tendo ccupado
com muita satisfao os maiores lugare da provincia, veio
outra vez misso do Maranbo, onde trabalhou por e pao
de quatorze annos com granele proveito da alma do
Portuguezes, e dos Indios; e levando-o o mesmo zelo a
Portugal a buscaI' um grande soccorro de ompanlleiro',
que o.ajudassem a traballlal ne ta graDde eara, partindo
.de Lisboa, e cbegando barra do Gro-Par no anno de
J64.3, com onze, de quinze religio"os, que tl'azia om igo,
foi callil' nas mo dos Tapuya A?'oans da bca do rio da
Amazonas, onde eUe e os mais foro primeiro morto com
grande crueldade, e depois a ados e comidos daqueU bar-
baros.

II.
jogo os 'fobajars a m.nte do seu pa tor. Entro os llollanclezes em
Pernambuco; reduzem a seu partido os Indios, que com e ta commu-
nicao se corrompem mais nos seus costumes.ua barbaridade.

Este foi o gLorioso e apo tolico fim que tivero os dous


primeil'os Missionarios do Maranho, e da serra de lbiapba,
e os que puzero as primeiras plantas nesta no a vinha.
Dos fructos que nella deixro os Padres, parte em fl~I',
parte em agrao, no se logrou mais que o nome de C\1ns-
t50s, com que alguns ficro, e outl'O depois recebel'o,
continuando em tudo o mais como gentios.
(1) Sem lingua, isto he, sem interprete C011hecedor da lingua' TllPY'
- 409-
Tivero porem lm;nbrana de vingar a morte de eu
pastor, lia qual se mostraro to cavaUeiro , -que fazendo
guerra em toda a parte aos To f.arijs , apena deixaro
desta nao que~ lhe conservasse o nome e a memori.
Assim VIVero os Toba,y"a1'ds da serra, gentios sobre cathe-
cumenos, at o anno de i630, em que os Hollandezes occu-
paro Pernambuco, e pouco depois se fizero senhores ela
fortaleza do Cear(l),e reduziro asi todos osIndios daquella
vizinhana.
O trato que os da serra tivero com o Hollandezes no
roi empl'e o me mo; porque at o anno de ,1642 foro
eu confederado; e a este titulo os acompanharo na
guerra do Maranho, pelejando nella contra o Portugueze ,
e contra os Tobaja?'s, que l havia de sua propria nao;
ma voltro desta guerra to pouco sati feito do valor e
fortuna do Hollandezes, que e resolvero a vingar 'nelle
a vida, dos que naquella empreza tinho perdido, e o fize-
I'o com tanto succes o e resoluo, que na fortaleza que
tinho feito no Camuci (2) porengano, e na do Cear a escala
vi ta (3) pas aro todos frecha e espada.
Pde comtudo tanto a indu tria e manna do' Hollandeze ,
que com adis imulao e liberalidade tornro depoi a
reconCiliar o animo dQsta gente, e no a fizero amiga,
ma a rendero e sujeitaro de maneira, que qua i ~e deix-
ro pre idiar delle em sua aldeas, no havendo nenhuma
em que no tive em como d entinella, algun Hol-
landezes ('f.).
Com a communicao e exemplo e doutrina destes here-
ges, no se pMe r.rer a mi erja a que chegro o pobre
Tobajarcs, porque dantes, ainda que no havia nelles a Yer-
(1) A primeira conqtlista dos Hollandezes no Cear foi feita egundo FI'.
Joseph deSautaThereza, em 1637,201' Haus.Hede presumir que fosse este

nome de segundo conquistador. Parece que rio Cea1' era ento de-
nominado Mal'a,jitiba. Vide Vamhagen. llist. do B"a::il tom. 1 pago 415.
(2) No Camuci. A' margem deste rio, eno em Jeriocacora, tinho os
IloUandeze;; um forte ou reducto, expellidos o Portllgueze . O rio Ca-
muci leve outr'ora os nomes de "io ela Cru;; e de S. Francisco.
(3) Por occasio da capitulao do Recife, em 16M,foi tomar conta da [01'-
tal.ezado Cear o capito Alvaro de Azevedo Barreto, onde governava o
pnmeiro conquistador ~iol1andez o major Joris (Jorge) Gal tman que
Pornpeo chama Juary Gusmo. Tomoll posse da fortaleza em 20 de Maio
de 16 I, e Garstmau seguio para a Martinica, onde falleceu, pouco depois-
Vide Varnhagen ua sua obra.-I:fistOl'ia das Lutas com os I-loUande.
:ires no Brasil desde 1621 a 161, pags. 128 e 263, referindo-se a Relao
Dia"ia de Antonio Barbosa Bacellar, publicad'a. em Lisboa em 16M.
(1) ssim praticavo no Maranho.
- !~60 -

dadeira f, tinbo comtudu o conhecimento e estima della,


a qual agora no s l)erdero, ma em seu lugar faro be-
bendo com a here ia um grande de"pl'eZO e aborrecimento
da verdades e rito catholico, e louvando e abracanclo em
tudo a largueza da viua do Hollandeze, to emelhanie ii
ua, que nem o hel'ege se distinguia do gentio, nem o aeotio
do herege.
O male que ahindo de ta ua B.ochella fizerio em
todo e te t mpo o Tobaja?'cs da erra, no se podem dizer,
nem aber torlo~, que elle o. -epL1I kly;lo dentro em
i mesmos.
He totla esta 'o ta clleia de muito baixo, que com II
,euto e corrente' das aguas se mudo frequentemente: e
foro muitos o navio de di[ rente nae que aqui fi
zero naufragio, o quaes ero de pojo' la ubica, da
crueldade, e da gula do Tob[~ia1'd, porque tudo o que e -
capava do mar, vinha cabir em uas mos, roubando aos mi-
~eraveis naufragantes a fazenda, tirania-lhe a vidas, c
comendo-lhes os corpo .
E depois que a experiencia eu inou ao mareante 3
se livrarem dos perigos da co ta, inv ntou Delta a ,ora i-
dade e cubia de ta gente outro genem de baixo, mai
cegos, em. que muitos fazio o mesmo naufragio.
Io os mai ladino::i deltes aos navi que pa sa u de
largo, promettio grande tbe::iouro de ambar pelo rc.
gate das mercadoria que levavo, e quando abio com eltas
em terra os compradores, uccedia-1I1e o que nestes ul-
timosannosaconteceu a uma noda Companhia da Bolsa (1),
de que era capito Franci co da Cunha, o qual debaixo
destas promessa ue ambar mandou a terra trinta soldado.
e sahindo ia praia ao rlo do mar outro trinta rodio for-
o o para o tirarem co tas, a sim atado com igo o
mettero pelo mato dentro, e o mataro e co inharo com
granel e festa, e os comero a todos, no vendo o que licaro
nft no, mai que o fumo dos ompanheiro~, ~L1e no chei-
rava ilO ambar, porque e peraYo.
Esb era a ,ida barbara do l'Oblbjcwds de Jbiapba, e la

(1). Cmn2Janhia ria Bolsa. Hofere-se primoira Companhia de com-


11lArcLO do Dm,dlr.l'cac1a em lG-L9. GIHtnH\\'a-~() OllI r'ora, -80Is(l- rlllnl
quer c ll1j1:l1l1Iin tl.. commerciu.
- 461-

as fra que e creavo e e e condio naqllellas serras: (;IS


qllaes foro ainda mais fras, depoi que ,e viero a ajuntar
'om ella outras e tranlla e de mai refinado veneno, que
faro o fugitivo' de Pernamhu o (J).
III.
Daronos qlle recebe Pernambuco, e sua dilatada wmpall11u tla coufede-
l'ao dos rudios com os Hollandezes. Estrago e piritual dos Jndios da
serra de Ibiaptibacolllll companllia dos que para l se retiraro.

Entreo'ou Deo Pernambuco ao Hollandezes por aljueIle,


peccado , (Ine pa o os reinos de um'} na e a outra,
que so a' injll Lia . E como grande parte das injustia,
do Brazil cahiro desde eLI principio obl'e os Indi.cJ na-
Lurae da terra, ordenou a Ju Uoa Diyina, (lue do me mo'
ladio jnnto om o' I-Iollandeze , e forma, e o aoute da-
quella to florente repubti a. Hebellaro- e muito do,
lndios, e Chri to, e vas alio (po to que outro obraro
fineza de ftdelidade), e unindo sua armas com as do inimigo
yencedor, no se pde crer o e trago q'le fizero nos Por-
LUlTlleze , em 311asmullleres e filbo , exercitando em todo o
exo e idade, de bllmanidade fei' ima.::, endo o Iudio,
como inimio-o domestico, os guia que franquearo a cam-
panha ao' Hollandez e o executore da Tueldade que
elle' politica e heI' ticamente lhe ommettio, de clllpando
com a barbaridade do' Braziliano o que ,erdadeiramente
no , ero coo entimentos, e no mandado e re'olue.::
'na, para a im quebrantarem a hoora e con~tan ia do'
[ortugue7.e que de outra ,orte mm a pudero reuder.
Vinte aono teve Deo~ obrl:: a co ta do Pernambucano'
e te rigol'O o aoute, porque no I rimeiro~ quatro alluo da
guerra e tivero Lodos os Indio~ pelo Portnglleze, at que
no anoo de 1654 e deu por ati feita. a Divina Ju Li.a
com a milagrosa re Litui o de todas aquella forti jma
prna' obedien ia do felici imo rei D. Joo IV.
(1) EsLa serra orl1. o refugio de Lodos os que Illgio; perseguio elo'
olonos: o no s de Pernambllco como elas proviudas mais meridionaes .
. d'AbbevilJe no CAp. 12 assegura que tanto estes indigenas, como os
do Maranho desccndio, ele ontros que, out"ora, vivio em terras situa
elas. ob o tropico do Capricornio, isto he, Cabu-Frio, Rio de Janeiro.
ah o aqui notar (lue no governo de Antonio de 5a1ema, no Rio de Ja-
nClro, em 15'3\), 'hrisLovo de Burros fez to grando destroo nos Ta
mo,vos e Tllpinambs, que foro 01)rigados a expatriarse abandonando
tle todo ,) paiz, on le uuLr'()ra LanLo dominadio.
- 162-
Entraro o Indio' rebeldes na" capitulae da entrega.
com perdo geral de todas a culpa pa~s3da . mas eBe
como ignorante de quo agrada he a f publica, temendo que
os Portugueze , como to e candali ados,applicario a arma
victorio as vinaana, que to merecida lil1l1o. e obrigados
de certo rumor falso de que o branco io levando tudo
espada, lanaro- e cga e arrebatadamente ao, bo que,
om suas mulheres e filhos, onde muito perecero mo
dos Tapuya , e o. demai e encaminharo serra de
Ibiapba, como refugio conhecido, e valbacoito egmo dos
malfeitores.
Com a chegada de te novos hospede ficou Ibiapba ver-
dadeiramente a Genebra de todos os certe elo Brazil, por
que muitos do Indios Pernambucano faro na cido e
creados entre os Hollandeze, em outro exemplo nem co-
nhecimento ela vel'dadeil'a religio. O outro militavo
debaixo desnas bandeira com adi ciplina de eus regimento.
que pela maior parte so formado ela gente mais perdida
e corru[Jta de todas as nae, da Europa.
No Recife de Pernambuco, que era fi crte e emporio de
toda aquella nova Hollanela, havia Jlldeos de Amstel'dam,
Prote tantes de Inglaterra, Calvinista de Fran a, Lutherano
ele Allemanlla e Suecia, e todas a outra eita do orlo;
e de taBabelde erros pal'ticulnres ~o compunha nm athei m.o
geral e eleclar::tdo, em que no se conilecia outro Deo mal
Iue o iotere se, nem outra le mai que o appetite ; e o que
tinha aprendido ne'ta e cola elo inferno, be o que o fugitivo
de Pernambuco trouxeriio e viero cn inar '\ erra, onde por
muitos elelle aberem ier, e trazerem com jao algun li\Tro:
foro recebidos e venerados dos Tobaju1's, orno 11omeo
lell'ados e . abio e crio delles, como de OI'aculo, quanto
lhes quel'io metter em cabea.
Desta maneira elentro em pon os dias foro un e outro
semell1antes na crena o no co Lume ; e no tempo em que
Jbiapba deixava le er r publica de Baccbo (que era ponca
horas, por serem a borracl1 ira continuas de noite e ele dia),
eram verdadeiramente aqueDas aldas uma composio in-
fernal ou mistura abominavel de todas as eita e de todos
os vicias, formada de rebelles, tra idores, laclreu, homicidas,
adultero, .Tuelos, hereges, genLios, atl:lOus, e tudo isto de-
baixo do nome de Cl1risto~, e das obriga es de Catllo-
licos.
- ~63

IV.
Ohega segunda vez o padre Antonio Vieira ao Maranho, e o gove' ad,{)r
Andr Vidal de Negreiro!? intenLa uma fortaleza na boca do rio Oamuci,
emprezfl qlle dependia da vontade dos habitadores ria serra. Escreve-lhes
o padre Antonio Vieira. Succ 'sso dtl resposta da sumaca,que com mate-
rifleS e soldados partio a leyantar a fortaleza.

E te era o 'mi eravel estado da christandade da erra,


quando no armo de '1655 cbegou egunda vez ao Maranho o
padre Antonio' i ira com ordens de Sua Mage tade para
que a doutrina e crovemo espiritnal le todos o~ Jndios es-
'tives e conta do Religiosos da Companbia ; e posto que o
e lado referidodaquelles Christos de que j ento haa
noti ia por fama, promelLia mais ob Linao, que remedia;
con iuerando porm o Padres, que a sua primeira.obrigao
era acudir reforma o dos Indio j baptisado , e que e tes
da erra Linuo ido os primogenitos desta Mi o, e de quo
pernicioso exemplo eria para o lue se houve em de con-
I'erter , e para os que j convertido a vida escandalosa em
que e tavo, e muito mai a immunidade deUa.
Era ponto e te, que dava grande cuidado a toda a Ii so
e que muito e encommendava a Deo , e perando todo que
begario ao co as vozes do aogue do seu bel o padre
Francisco Pinto, e que aman adas aquellas fra , que j
e tavo marcadas com o caracter do baptismo, tornario
outra vez ao rebanho ie que ero ovelbas,
Ajudou muito e ta esperana um novo intento do gover-
nador Andr Vidal de Negreiros, o qual chegou no mesmo
anno no Maranho, resoluto a levantar uma fortaleza na bca
do rio Camuci, que ue defronte da erra, para egurana
do commer io dopoviolete ('1), que ecorta na fralda della'
e do re gate do ambar, que a tempo abe em grande quan-
tidade naquella~ praias.
Esta he a uavidac1e da Providencia Divina, tanta veze
xperlmentada nas fisse de amba a Indias, onde empre
entrou e e dilatou a f levada sobre a aza do intere ~e.
Communicados o pen amento elo Governador, e Superior
das !IIi se (2), julgaro ambos que primeiro 'e escreve e
(1) Pao violete. He o que os ludigenas chamavo-pau cotiar. Vide
supra pago 182. .
(2) Supe7"ior' das' AJ'isses. Era o mesmo Padre Antouio Vieil'a, autor
desta obra.
- 40/j, -

aos Indio da erro), ele quem no s dependia o ommercio,


mas ainda a fabrica e sustento da fortaleza,
Mas diffi.cu1tava, ou impossibilitava ele todo aembaixada a
difficuldade do caminho de mais de em leguas, atalhado (le
muitos e grandes rios, e infestado ue diver a nae de
Tapuya ,fero e indomitos, que a ninguem perdoo; e COI)-
firmado tudo com a experiencia da mesma viagem, inten-
tada outra vez com grande poder de gente, de arma', e no
conseguida.
Comtudo, hOllVe um Indjo ela mesma nao Tob(~ja?'d,
cbamado F?'ancisco Mwrl3'reiba, o qual confiado em Deo ,
como elle disse. se atreveu, e o[ereceu a levar as carta. O
tbeor della foi offerecer o Go, ernaelor em nome de El-Re;
a todos os Inelios que se achavo na serra, perdo e e que-
cimento geral ele todos os delictos I assados, e dar-lhe a
nova ele serem begaclos:lOMaranho on Padle claCompanhia,
seus primeil'O paes e mestres, para sua defensa e doutrina.
E o mesmo e creveu o padre Superior da Mi ses, dando
a i e a toclo os Padres por fladore de tudo o rue o Go-
n

vernador promettia, e referindo-se umas e outra carias elo


men ageiro, que era homem Hei, e de entendimento, e ia
bem instruido e a[ecto ao que havia de dIzer, pal'lio Fran-
cisco com as cartas em Maio de 1M : e como fo sem pa -
sados nove meze em noya c1elle, dese perado de todo e te
primeil'o intento no Fevereiro do anoo . eguinte, que so as
mone em que de alguma maneira e navega para barla-
vento, despacllOu o Governador umil sumaca om um capito
e quarenta soldauos e o materiaes e in trumento necessa-
fios a fabrica da fortaleza do Camuci, e na me ma sumaca
ia embarcado p padre Tbom Ribeiro, com um companlleil'o
para saltarem em terra no mesmo sitio, e praticarm ao'
Indios, e darem principio aquella Mi so. .
Animou tambem muito a resoluo do Governador e in-
tentos dos Padres a paz que por meio delle~ -viero 1m cal' ao
lVIaranbo os l'e?'emembs (1), que so aquelles gentio que fre;
quentemente se nomeio no roteiro desta co ta com o Dome
de Ala?'ves, cuja relao ns agora deixamos pai' ir segnimlo
a sumac3, e no embara,al' o fio desta histol'a.
(1) 1'ere??~ernbs, Esles indgenas de raa diffel'ente da dos Tupis,
occ11pavo, diz-se,o litoral do norte, desde a foz cloJagual'ibe ou Mossol'
at o GUI'UPY, com excepo da Ibiapba e da ilha do Maranho, ele qlle
se a,?ossal'o os Tupinmnbs. Vide inrra Dota (..l,):i pag.468.
465 -

v.
Navegao desde o Maranho ao Cear difficultosissima. Arriba a 9umaca.
Parte o padreAntnio Vieira, e intenta a despeito dos mares irBabia
a buscar Missionarios. Demoras que tem, e como encontra os Indio
com a resposta de sua carta, e volto todos para o Maranho.

Uma d2.s mais diillcultosa e trabalhosas navegaes de


todo o mar Oceano he a que se faz do Maranho at o Cear
por costa, no s pelos muitos e cgos baixios, de que toda
e t cortada, ma muito mais pela pertinacia dos ventos,
e perpetua orrenteza das aguas. Vem esta correnteza feita
desde o Cabo da Boa-E perana com todo o pezo das aguas
do Oceano na trave a, onde elle he mai largo, que he entre
as dua co tas de Africa e America, e comeando a desca-
beal' de ele o Cabo de Santo Ago tinha at o Cabo do Norte
he notavel a fora que em todo aquelle cotovello de co ta faz
o impeto da corrente, levando ap si, no s tanta parte da
me ma terra que tem comido, mas ainda aos proprios cos
e os vento, qne em companhia da aguas e como arreba-
tados dellas, COrl'em perpetuamente de lste a oeste.
Com e ta contrariedade continua das aguas e dos ventos,
que ordinariamente o brb.:as de feita, fica toda a co,ta
ne te Estado quasi nnavegavel para barJa ento, de sorte
que do Par para o Maranho ele nenhum moelo e pde
navegar por fra, e do Maranho para o Cear com grandis-
sima difficulelade, e s em certos mezes do anno, que so os
de maior inverno.
Navega-se nestes mezes pela madrugada, com a bafagem
dos terrenbos (1 l, os quaes como so incertos e duro poucas
horas, todo o resto do dia e da noite. s vezes ~emanas e
mezes inteiros e est espe.'ando obre ferro na costa de-
cuberta, e sem abrigo, endo e te um trabalho e enfadamento
maior do que toda a paciencia dos homens; e o peor de tudo
he, que depois desta to canada porfia,acontece muitas vezes
tomarem a embarcaes arribadas ao Maranho, como tam-
bem arribou nesta occasio a sumaca em que ia o Padre e
os soldados para o Camuci, tendo gastado cincoenta dias em
montar sat o rio das Preguias(~l, que he viagem que desfi~
zero em doze horas.
II) TelTenhos. ., ventos de terra ou terraes.
j.
2) Rio das P,egtttas. Ignoramos a denominao indigena Te"ememb
ou Tupica, deste rio, pois a'Portugueza he provavelmente traduco.Tal-
vez que outr'ora o chamassem-Aiygh, cOJJ1Q outrQ riQ de Pern\.\mbucq.
~ .
:::-- 466 -

Depois mostrou a experiencia que fra providencia parti-


cular de Deo' no chegarem o soldado a pt' p em terra,
Dem se intentar a fabrica da fortaleza: porque, segundo a
dispo io em que ento estavo os InrIio da -erl'a, he sem
duvida, qne ou havio de impedir a fortaleza por armas, ou
se bavio de retirar para to longe della, onc1B nunca mais
fossem vi tos.
Parti o nesta me ma mono em uma embarcao latin~ o
Padre ~Ianoel une. para o Cear, e o Padre Antonio Vieira
para a Bahia, ia um a cultivar os Indios daquelle districto,
outro para trazer ujeito que pocle"em acudir ao demai ;
e posto que vencro mai legua da co ta pela melhoria das
vlas. e per everaro mai tempo na me ma porfia, teimando
contra o mar, at e verem qUlsi comido deli e, emfim,
desenganados houvero tambem de arribar; ma na hora
em que e acabava de tomar este accordo para ,e levarem a.
ancoras, ei que vem uma embarcao pequena a vla, e cor
rendo a costa, e gente vestida de cOres, marchando pela praia.
Ao principio cuidal'o que el'o estrangeiros e capado 1e
algum naufragio, mas chegando mais perto, reconhecero que
era o Indio Francisco(1), que acompanhado de outro da serra
vinho tl'azer a re ro ta da cartas, com que havia qua i um
anno tinha partido do Maranho.
Recebidos com a festa e aI \'oroo que merecia tal encontro,
e to pouco esperado, e dando j por bem empreaado o tra-
balho da dilao, deu Francisco por cau a da sua tardana
o haveI' encontrado pelo caminho gl'ande variedade de llaye
ele Tapuyas, que o detinho e trazio com igo muito dia.
E perguntado corno escapl'a delles com vida, sendo gente
que a ninguem pel'da ; respondeu que Ihein pirra Deos,
quando e via nas mos dos primeiros, oITel'ecer-lhe volunta-
riamente tudo o que levava comsigo, e ,obre i e perando
que como no tives~em que ron bar, no o quererio matar
inutilmente, e que a im o fazio ; antes ao despedir-se lhe
davo empre algumas cousas da na, em agradecimento das
que tioho recebido; e que pro eguindo na me, ma fl'ma
dando a uns o que recebia do outro, se livrra das mos
de todos.
"'Ero dez IncHos os da erra que acompanhavo a Franci co,
dos
-, .
quaes o que vinha por maivral, apresentou aos Padres
11) .fIe <) lndio de que se trata pag. 464.
- 467-
~s cartas que trazia dl3 todos os, Erincip'a~, mettidas, cOplo
CD tumo, em uns cab:los tapados com cer,a, par'l que nos
rios que passo a nado se no molha ~em.
Admi['aro-~e o!' Padr'es de ver as cartas escriptas em papel
de V(:,oeza, e feclJadas com lacre d~ Iorlia,: mas at destas
miudezas estavo aqnelles rndios providos tanto pela terra
dentro pela communicao dos Hollaodezes, de qllem tam-
bem tinho recebido as roupas de gr e ele da (i), de que
algun vinho v~ tidos. .
Desta maoeil'a 'abem os puliticos de.Hol1ancla comprar as
vontade e sujeio desta gente, pas~al-o da nossa obe-
diencia a sua, o que nos poeleramos impedir pelos mesmos
fios, com muito menos cu to, mas sempre as nossas razes
de E tado foro vencidas da no 'sa cubia, e por no darmos
pouco por vontade, vimos a perder tudo pOI' [ora.
A letra e estylo das cartas era dos Iodios Pernambucanos,
antigos di cipulos dos Padre" e. a substancia dellas eca
arem-saos paraben, da nos avinda, e significarem o grande
alvoroo e de ejo com que ficavo esperando para viveram
como Cl1rstos, no se esquecendo ele lembrar aos Padres
como elles tinl1o ido o primejj'os ilIbo eu', e quo viva
esta'lo ainda em eus coraes a memoria e saudade de seu
santo pai, o PaIi-Pincc (2),que a sim cl1amal'o ao PadreFran-
cisco Pinto.

VI.
Partem Misso da sena de Ibiapba o Padre Antonio Ribeiro, e o Padre
P"ldro de Pedl'oza. Difficuldades, perigos, e trabalhos que pa so estes
apo~tolicos Missionario . Favores do Oo clue experimento autes de
cllegar a Ibiapba,

Cbegada ao Maranho e ta resposta to conforme ao que se


'de~ejava, se re olvelllogo que a viagem se fize e por terra,
e fllro nomeados pal'a esta Misso o Padre Antonio Ribeiro,
pratico e eloqueote na lngua da terra, e o Padre Pedro de
Pedro7.a, que pouco antes tinha chegado de Portugal.
(1) Rottpas de g?' e seda, i. e" ve tidos de l de cr vermelha, e de
seda. Chanlava-sfl g?-i1, o insecto ou ochonilba de uma ei?pecitl de car-
valho, outr'ra mil i lIRada nR Lintm aria.
(2i Pai Pina. Por eSS;l causn chamou-se alda elo Pai-Pim., a de iV~e
ceJana, onde Livero sepullura os ossos do mesmo Padre Francisco Pinto
transportados da serra de Ibiapb.a em 1611, Pompo no D/cc, Cepo
91'(lphico do reard, e no Ensaio E CaUstico da mesma Provincia en~a..
4G8 -

t o rio das Preguias(i) levaro osPadresuma boaescolLa


de soldados Portugueze , com que passaro vinte e cinco le
goas de perpetuas areae ,chamados vulgarmente os Lanes,
por ser este passo mui infei'tado dos Tapuyas. De pedida a
escolta, se descabrio logo qnanto o inimigo da salvao das
almas tratava de estonar e ta viagem, como e experimentou
mais no discurso della.
Como em todo e. te caminho no ba poyoap, nem esta-
lagem, be um dos grandes trabalhos e difficulcIades delle
haver de levar o mantimento s costas, que vem a seI' a farinha
que chamo de guerra (2), que he o bi couto destas terra, o
qual ao uso dellas se leva em uns como sacos de vimes tecido I

ou embastidos de folhas (3).


Succedeu pois, que os que levavo estes aco s costas,
assim por se alliviarem do pezo, como por gel' gente, que
come em nenbuma regra, em treze dia que tinha durado a
viagem, os tinbo desentranhado de maneira, que quando os
Padres faro a dar balano farinha, no acharo mais que o
vulto da folhagem,e que toda a tropa que con tava de ses enta
bcas, estava totalmente sem mantimento. Todo volavo
que voltassem outra vez para o l\1aranl.1o, poi no tinbo de
que se sustentar, e lhes restavo por andar a trez partes do
caminbo, e essas do maior trabalho e detena.
Mas os Padres resolvero, que o que se havia de padecer
tornando atraz, se padece se proseguindo adiante, e animando
aos Indios, se fez assim, e se ~ustentaro todos smente de
carangueijos. com algum peixe que 1hes dero os Te?'emembes( \.)
em dous dos seus magotes que encontraro.
nou-se quando assevera que essa alda tinha o nome de Pawpi'l'la (COl-
rupo de Pai-Pina) por causa de Indios l'aupi'r!as, ali aldeia1os.
quando taes Indios el'o Potiguares.
O mesmo Padre Francisr.o Pinlo, como j notamos, era pelos indigenns
do Cear chamado Amanayra. que quer dizer. senhol' da chuva, por
causa de um importante acontecimento qne a tal respeito houve no
serto da Bah ia, em uma grande secca, e vem narrado pelo Padre Jos
de Moraes no tom. 1 destas J1lem01'as a pags 79 e sr.
(1) Rio das P1'eguias. Vide supra nota (2) pago 4G5.
{2} Fa1'inha de gUe1'l"a. Era a farinha de mandioca bem torrada
para durar.
(3) Sacos de vimes. Chamo no Marallh panei1'os, e farinha
assim acondicionada denomino de panei1'O.
(J) Te1emembs. Indigenas habeis nadadores, e que habita' o sobre-
tudo o litoral do Maranho desde a foz elo Parnahyba at o Gurupy.
Outros acredilo que tambem alcallavo o territorio do Cear at o Cn-
m~lcy, e ainda at a ponla de Mucuripe e a foz lo Jaguaribe e Mo~ o\'.
Ylde supra ['tlg. 166, e nota a pago 190, assim cmo pago -164.
- 469-
Governava um de te magote Tatugua (1), um dos quaes
tinha ido ao laranho(2), e que era o interprete do~ demais,
ao qual como logo ento se colheu de ua palavra ,nunca lbe
pareceubem,que assuas praias fossem francas aosPortugueze ,
e devassada de pa sageiros . e como e ta era a primeira via-
gem, tratou de cortar neIla o fio e os intento a todas as de
mais, dando de noite um bom a salto ao nosso.
A e te fim convidou uma boa parte dos Indio a certa pe -
caria, que se havia de fazer de noite em um po to distante,
e aos oJdado~ Portuguezes que ero oito, tambem os pro-
curou retirar, tomando para is o uma traa, qne bem se rio
er in pirada pelo demonio; e foi prometter-Ihes que lbes
mandaria algumas le sua mull1el'es, para o ter Joncre dos
Padres, e divertido, tendo ao mesmo tempo escondido no
mato o m:.liOl' corpo da ua gente para rebentar com eUa nas
horas do maior de cuido.
De tudo i to estavo os P'~dres bem innocente , fazendo
exame da consciencia, como he costume, para se recolberem
a de canar, quando no mesmo exame lbes veiollln e cmpulo
sem duvida in pil'ado pelo Anjo da Guarda, comeando a du-
vidaI' da f do Te?'ernernbe (3), e inferindo do me~mo bom aga-
zalbo que lbes fizera, a traio que debaixo delle tinba ou
podia ter armado.
Com e ta su peita sem outro indico nem ayel'iguao,
ordenaro que e fize~ e logo a marcba que e tava disposta
para e fazer de madrugada, abalando com todo o ilencio,
e marcbando toda a noite, e de te modo amanhec.eru livres
e vivo o qne tinbo decretada a morte para aquella noite.
As im o descubrio depois ao Padre uma velba da mesma
nao, a qnal tinba ido ao Maranho na occac:io das paze
onde fra mui bem tratada dos nos o , e acrora em acrrade-
cimento veio escondidamente, a trazer-lhe aqnelle avi o, que
ainda foi bom para a cautela, posto que e no acabaro aqui
o perigo.

Tal era a sua pericia em nata-:> que excedio aos Goitacazes, e ero
por isso nppellidaclos-Peixes l'acionaes.
(1) Tatug'LLa Pare,'e qlle he o mesmo de qne se tTaLa pago 215
destas Jlem01'ias, comqlll1uto este figure (lomo Pl'incipal ou M01"ubi-
xba de U1l1a das aldl1 da ilha.
(2) Vide. npra nota (1) pago 464.
(;)) O mOl'ubixabu Tatuguass.
'J.70
Vil.
Rios caudalosos que se Dtravesso n~sta jornada. Risco da ca.na em que
ia c. Padre Antonio Ribeiro. Livro- e milllgro~amenle bego esle
Mis ionarios desejada selTa ne Ibiapba. .

m do perigos e tralJalho granne que tem e.te caminho


he a pas agem de quatorze ri" mui caudalo o (1), que O:ltra-
ve so e se pas o t"do por meio da foz, onde confundem e
encontl'o ua aguas com a. do mar' e porque no Ila neste
rios embarcao para a pas agem, h fora trazei-a do nIara-
nho com immenso trabalbo, purque e 'i em le'ianuo mo
por entre o rolo e are aca ds onda, sempre por costa bra-
viu ima, alagando-se a cada pa o, e atirando o marcam ella,
e com os que a levo, com ri co no do Indiou e da ca-
na, eno da me ma viagem, que della totalmente depende.
Muitas vezes he tambem nece .ario arra -tal-a por grande
espao de tel'l'a e monte [Jara lanar de um mar a outro, e
talvez obrigo esta liilicu Idades a tomar a mesma cana cm
peso s costas com toda a oente, e levai-a a .im por muita
leguas : de moelo que para haver embar :lo para pa ar o
rio, se ba de levar pelo mar, pela te 1'1 'a , e pelo ar, e bem
se v quanta seria a rnolestia e amico do Padre ne ta sua
'viagem em persuadir e animar a um trabalho to forte, a 110-
men que qua'i vinho em comer e mal podio an;a tal' o
corpos.
Na pa agem do rio Parmirim, que l1e o mai' foro o de
todos, foi talo impeto da corrente, que arrebatando a cana
a levou rodando mai de trez le om1 pelo mar alto dentro,
(lando j todo por perelido ao Padre ntonio Ribeiro, que
neUa ia, e ete Indio. Chamaro todo- ne te aperto pela
Virgem [O a Senhora da Conceio, invocando eu nome a
grandes brados, como ucceele na ultima de e perao do
remedio bumanos; e pOL' milagr'e ela Senhora, depois de
cinco hora de lutar com a ondas, o me 'mo mal' o trouxe
terra, no !lavendo j quem tives'e animo nem brao para
poder su tentar os remos, nem o governo.
(1) Neste numero esto 'nlemplauos os braos que formo o bello
lelta do rio Parnallyba, oUll"orR chamado Pal-ayttass, lHo Yl'ande dos
Tapttyas e Jlio elas Gm'as em rllzo ela abllnullnl'ia destes pn~saros.
Por Carta Regia de 1 de Dezembro de 1677 o GuYerliAdvl' ele Maranho
Ignacio Ouelho da Uva leve ordem para fazel' cOlltinUlll' o de cobrl-
lnento do dilatado Rio PcP'aguass, o qual j Ilavia iJo descoberto peja
costa., distante df!. cidade de S. Luiz GO Jeguas, entre a capitania do Ceari
I) do Mal'anho, e em cujos sert-. ha muitas e diversas naes de gentiOS.
- q.71

Succedeu ne te perigo um-a circumstancia de traDalho


nunca vi to nem imaginado, ia o rio em parte profunda~
mente entrando por entl'e morros de ara mui alias, dos
quaes com o perpetuo redomoinho rIos ventos era to 's-
pesso o chuveiro da ara qlle cahia sobre a cana, que
trabalhando a maior parte dos que nelta io em a lanar
fra com as mo , com os remos, com os chapos, e com
tudo o que podia el' de pre timo, no bastavo a alijar e
de carregar o pe o della , que par momento os ia alagando
e leyando a pique; mas de tudo o livrou a pro'teco da-
quella dlyina Senhora, a qllem tudo obedece.
A outra mole tia e incommorlic1ades que padecem nest-a
viagem bomens creados no retiro da na cella, so mu ito
para agradecer e louvar a Deo , porque o caminho, que be
de mai de cento e Lri nLa legua p 10 rodeio da en 'eadas, o
faz'1m o ParIre todo a p, e sem nenbum abrigo para o 01
que na aras be o m i ardente; porque em todas elIa no
ha uma s arvore, e at a lenba a d, no a terra, seno o
mar, em a\gun po ecco, que deito a ondas praia.
A cama era aonde o tom ya a noite, sobre a mesma ara
e lambem debaixo delIa ; porque marcllayo no tempo da
maiore ventanias, as quaes levanto nrna nuvem ou chuva
de ara to continua, que m poucas hora de de cuido
e acha um homem cuberto on enterrdo, at o me mo
vento (cou:a que pal'ece incrivel) be um do maiore traba-
lho e impedimento desta navegao por terra, porque
he nece saria tanta fora para romper por eUe, como se fra
um homem aelando, e no andando.
EmfLm, orno e ta era a primeira viagem que e fazia ou
abria elepois de tanto annos por esta praia., a falta de ex-
periencia, como sLlcceHe em todas as ou a nova, fazia
rnaiores o trabalhos e os perigo.
Ma vencidos todo com o favor ele Dco., que ua fraqueza
liraya fora, ao 4 de Julh de 1656, em que se contaro
trinta e cinco ele viagem, chegaro o Paure ua de ejada
el'ra de Ibiapba sem alento, nem cr, nem emelbana de
viro, que taes o tinba parado o caminbo e a fDme.
Quo accommodado porm fo e este lurra r , onde chegavo
para de canar e convalescer de todos e te trabalbos, e
ver pela breve relao que agora daremo ela terra.
- 472-

vrn.
Descripo do sitio da serra de Ibiapba: sua difficultosa subida, sua
nltUI'R, que excede s nuvens: condio de Beus moradores: a chegados
a alia os Missionarios, quanto obro.

lbiapba, que na lingua dos naturae quer dizer terra


talha, n50 he uma s serra, como vulgarmente se chama,
seno muita erras juntas, que se le,anto ao certo da'
praias de Camnei, e mai parecidas a onda de mar alte-
rado, que a montes, se vlio succerlendo, e como encapel-
Janrlol.lmas apaz das outras em districto de mais de quarenta
leguas: o toda formadas de um rochedo dur imo e em
partes escalYado e medonho, em outras cubel'tas de verdura
e terra lavradia, como se a natureza retratasse ne tes negro
penhascos a condio de seus habitadores, que endo
sempre duras, e como de pedras, veze do esperana.,
e se deixo cultivar.
Da altura destas serras no se pde dizer cousa certa,
mais que 50 altLsimas, e que se sllbe, que o pennitlem,
com maior trabalho da respira;lo, qne do me mo pse
mos, de que he foroso usar em muita parte. Mas depoL
que se chega ao alto dellas, pag~o muito bem o trabalho da
subida, mo trando aos olhos um do mais formosos paineL
que pul' ventura pintou a natureza em outra parle do mundo
,'ariando de monte" valle , rochedos e pico, bo"gue e
campina diJatadi simas, e dos longes do mar no extremo
dos borizontes. Sobretudo olhando do alto para o fundo
das serras, e to e vendo as nuvens debaixo dos p , que
como 11e cousa to parecida ao Co, no cau o saudade,
mas j parece que e t:io promettendo o me mo, que e vem
buscar por estes de 'ertos
Os dias no povoado da serl'a so breve, porque a" pri-
meiras horas do Sol cobrem-se com as nevoas, que so con
tinuas, e muito espessas. As ultimas escondem-se anteci-
padamente nas sombras da serra, que para a parte do Occaso
so mais visinhas e levantada .
As noites. com ser to dentro da zona torrida, so frigidis-
giroas em todo o anDO, e no imemo com tanto rigor, que
jgualo os grandes frios do Jorte, e se podem pa sal' com
a fogueira sempre ao lado. .
!,-s aguas so excellentes, mas muito raras, e a essa carestia
- 473-
attribuem os naturae ser toda. a serra muito falta de .caa de
todo o genero' mas bastava para toda esta e terilidade ser
habitada ou corrida ha tanto annos de muitas nae de
Tapuyas, que sem ca a nem layoura vivem da ponta da fre-
cha, matando para e u tentar, no s tudo o que tem nome
de animal, mas ratos, cobras, sapo, lagartichas, e de todas
as outra immundicia~ da terra.
Qua i na me,ma miseria vivem iaualmente os Tobaiars,
po to que podero sem muita difficuldade supprir a neces-
idade da terra com os soccorros do mar, que lhes fica dis-
tante vinte e cinco leguas, e sobre ser mui abundante de todo
o genero de pescado, e t offerecendo de graa o sal na'
praias em uma alina 'natural de mais de dua leguas; ma' he
to arande a inercia desta gente, e o ocio em que excedem
a todos o do Brazil, que por milagre se v um peixe na
serra, vivendo de mandioca, milho, e algnns legumes, de
que tambem no tm abundancia ;,com que 11e entre elles
perpetua a fome, e pal'ece que mais se mau tem della, que
do su tento.
No for;"o novas aos Padres as iocommodidades do sitio,
de que j tinho certas noticias, como dos costumes dos
moradores, os quaes acharo em tudo no e. tado em que
aeima os de crevemos, posto que foro recebido delles com
grandes demon traes de go to e humanidade, e com
aquclla admir::lo e applau o, que sempre acho nesta
gente todas as cousa novas.
A primeira, em que intendro o Padres, foi em le,antar
igreja, de que elles no foro o mestres, seno os om-
eiae , trabalhando por suas propl'a. mo, a im pelo
exemplo, como pela necessidade, porque era pouca a dili-
gencia 'om que os moradores se applicavo obra.
Ado edificio espiritual se comeou juntamente, porque
desde o primeiro dia comero os Padre a en inar a dou-
trina no campo, a que concorrio principalmente os pe-
queno , que muito brevemegte tomaro rle memoria a
orae , e respondio com promptido a todas as perguntas
do catheci mo. .
Mas depois que os .Padres lhe ensinaro a cantar o mes-
mos my terio , que' compuzero em ver os, e ton muito
accommodados, via-se bem com quanta razo dizia o Padre
Nobrega, primeiro Missionario do Brazil, que com musica
58
- 474-

e harmonia de voses se atrevia a trazer a si todos Gentio


da America.
Faro claqni por diante muito maiores os concur o e
doutrinas de todos os Indio : e maiore tambem a e pe-
ranas que o Padres concebro de que por meio de~t:l
musica do Co queria o divino Orpho elas alma encantar
estas fras destas penhas, para os trazer ao ediU ia da sua
Igreja.
A primeira pedra que se lanou nelle, e o primeiro fructo
que se comeou a colher, foi o bapti mo de muito adultos,
e de todos os innocenle, porque nenhum pai houve, que
no trouxe e a baptizar todos o eu filhos, dos quaes
muitos faro logo cbamado ou arrebatado ao Co ante do
aODOS do entendimento, para que a malicia dos me. mos paes
111'0 no perverte ~e.

L1..
Impedimento que pe o Demonio f: meios de que usa: desacerlo de
um Capito Porluguez : perigo da fortaleza do Ceara.

SofJreu maio Demonio, que e lhe tiras em da mos


estes despojo teoro, que elle de de o nac:cimento linha j
marcado por -eus, e temendo de t s principias, que viria
pouco a pouco a er lanado daquelle ca telIo infernal, que
11e a chave de tanta outra na ,que t absolutamente
estala dominando, determinou fazer- e forte nelle om toda
as suas fora e a tucias, c com as mesmas fazer c ta
Misso a mais crnel e porliada guerra, que jamai se tem
experimentado at hoje na conquista espir.itual de toelas as
gentilidades elo Brazil.
Tinbo vindo os Padres a Ibiapba com ordem, no de
fazerem alli re dencia, mas ele verem a dispo i~o da gente.
e do lugar, e com avi o ao Superiores, esperarem a re'o-
luo elo qlle hayio de seguir.
Oaqui tomou occa io o Demonio, e daqui forjou as suas
primeira firma, meUendo em cabea a todo o P"inci-
paes, que os Padres Do "Vinho a tratar ela sua alvao,seno
da ua l'Uina, e que ero e pias dissimulados do. Portugu~'
zes, para a"Visarem do que se pass3"Va na serra, e quando esti-
vessem :m,ais descuidados os entregarem a todos em suas
mos, os maiores para serem justiados pelos deli{;tos pas_
= 475-
sados, e os outros para erem vendidos por escravos em
perpetuo captiveiro.
No se abe de qual na,ceu primeiro este djaboco pen-
samento, mas como todos estavo crimino os, e elevio tanto
ju'<tia do Co ela terra, apropria conscir.ncia lhes asso-
prava e e fogo dentro do corae ; e os ue Pernambuco,
em que ero maiores as culpa, e maior o temor, ero o
que mais crio e confirmavo tudo, no havendo aco,
nem moyimento,l1em palavra, nem aiDda silencio dos Padres,
ele que no fize em DOVO argumento, e convertessem no
me mo v neno. I to se faHava entre toelos, sobre i to se
di onia e se bebia, que he o temIa e o luaar de seus mais
vivos di cnr os.
Esta ero a propbecias do feiticeiro ('1), e te os conse-
lho do velbo , e te o temore' e o prantos da mulbere
olhando toda dalli por diante para o Padre, no como
pae e d fen,ore eu" mas como espias inimigos, e trai-
c10re de sua patria, de suas vidas e de suas, Liberdade~, e
como taes e f,tiravo, e l'etiravo a todo da ca a, e con-
versa 50 do Padre, fngindo at da 19reja, da doutrina,
da prgae" e ainda da meuma mi a, que era o que o
Demonio pretendia.
Suc edeu por e te tempo fazer viagem o Governador ndr
Vidal (2) do Maranho para Pernambu o por terra com n i o
qne lhe fiz ro o Padre, que estava segmo o aminho; e
como o Governador trazia grande e coita de soldado e
lndios, tivero por erto os delbiapba que aquelle aPliarato
e encaminhava a 'onquUal-o, e clis imuladamente cha-
rnl1ro todo o' l'upuyas ua ua confidencia, e o. tirero em
cilada emquanto o Governador pa sou pela ua praia ; e
der ois que estere em luaar que j no podia voltar atraz,
tomaro a ele fazer esta pt evenlo com tanta di :;imulao e
ecreto, que no chegou noticia dos Padre, en10 clahi a
aDnos.
Qua i comearo a se aquietar com e,te desengano os
temore do da Serra, e a verdade dos PortllO'ueze tambem
comeou a triumpllar da fal'a e indigna u peita que
delle tinho; m.a o Demonio que no aquietava, lerantou
(1) F'eiticeilOS. Os iudia;ena5 os dOll0minftvo-Pags.
(2) Refere-se ii. Andr Vidal de "egreiros,um dos restauradores de Per-
nambllco, que partira do l\'1aranho em 23 de Setembro de 1656. Vide
Borrdo-Annaes n. 1009.
- 476-
em outra parte um novo incendio para tornar a cegar com
o fumo delle, aos que j parece querio abrir o olhos.
No arredores da Fort,lleza do Cear(1), di tante de Ibiapba
ses enta leguas, vivem dua nae de Tapu 'a gentio ,con-
federada ambas com o Portugueze, ma inimigas entre
si ; uns e chamo Ganacs, outro Jugua?'uanas (2).
EsLavo estes occupado no mato a cortar madeira do
precioso po violte (3) para oCaplLo da Fortaleza (4),quando
os Ganacs leHndo com igo algun lndios cbl'i to de dna
aldas aya alladas(5), que alli temo, dero de repente obre
elles, e tomando-lhe a mulhere e filhos, se 'vinho reti-
rando com a preza.
Fizero aviso os Jugua?'uanas ao Capito da Fortaleza, em
cujo servio estavo, o qual lhes mandou de occono vinte
e quatro soldados Portuguezes, com ordem que os ajuda -
sem e pelejassem contra seus inimigos, podendo mai ne te
caso, como smppre pde a razo ela cubia, que a do E tado,
a qual elictava, que se guardas e neutralidade com amba a
naes, poi ambas ero nossas alliadas.
Chegaro os soldados aos Ganacs, que e tinho feito
fortes em uma roboleira do bo que, e de-ordenando mai a
desordenada ordem que levavo, um delles que no era
branco, persuadia aos fortificados que entregas em em
(1) FOlta~eza do Ceard. Referese ainda ao reducto construido na foz
do rio do mesmo nome por Martim Soares 1or6no, e que os Hollandezes
mantivero, conquistando-o por duas vezes ..Nessa epocha no existia a
actual fortaleza.
A palavra Cea'-d, ou Sim'd, he denominao moderna do tel'l'itorio,
assim actualmente conhecido_ Em Tupy he o nome de uma casta de pa-
pagaios. Mal'cgrav chama ao Cear-mirim Sy,-ag minOl.
Esse nome, no tenHorio em que to, devese colonia Potiguaj', que
ali e estabeleceu em principio do penultimo seculo, pouco mai ou menos,
indo do Rio-Grande do _Jorte. Antes dessa poca o paiz ao uI era cha-
mado JagullJ:ibe, e ao norLe amocim.
He de presumir que os Potigua,-es, as im denomina sem essa poro
de terrilorio por se assemelhar ao do Cear--mir'im, torro alagado,
cheio de pantanos e lagas. Talvez fosse .Jacawn o qne assim o denomi-
na se, pOIS, como seu irmo Poty (Camaro), era do Cear-mirim.
(2) A existencia destas duas tribus em torno do reducto Portuguez, e .Ias
aldas dos Potiguares organizadas pelo P. Francisco Pinlo (Pai-Pina),
parece comprovar a opinio de que os Te?-emembes n.:l pa savo do Oa-
mucy para o sul.
(3) Pau vio~ete. Vide supra nola (1) a pago 4.63.
(4) Capito da Fortaleza. Provavolmente era Alvaro de Azevedo Bar
relo. Vide supra nota (1) pago 459.
(5) Provavelmente aPcwangaba (Arronches) e Patf1Jin" (Mec jnna), de-
yenclo excluir-se Soure em eonsequencia d03 destroos da guerra Hollun-
deza, e Aquiraz que 'mais tarde organisoll-Se. Carta Regia de 8 de Ja-
neiro de 1697. .
- 477-
confiana ua arma em signal de paz, para ~e retirarem de-
baixo das nos a .
Ia o Jug'l~a}'L~anas,quej tinhorecuperado apreza,tanto
que "iro a eu inimigo de armados, em lbe poderem
valer o oIdado Portngueze, dero obre elIes, e em um
momento quebraro as cabeas a todos, que he o sen modo de
matar, sem ficar de quinbentos que ero, nem um s
com vida.
Foi este um ca o, que grandemente alterou os animas de
todo o lndio do Cear(1), e muito mais o va ::>allo e allia-
do , vendo que ombra de no a armas, de que elles e pe-
raro a defen a, fra a me ma, e por estylo to indiano, que
o mettra como cordeiro na mo de eu inimigos.
Clamavo ontra o intere e' do Crlpito, e contra a leal-
dade do "oldado", o que lhes ensinara a clr e ju.ta ira,
e talvez e precipitavo em ameaa contra a Fortaleza, e
contra as vida de quanto estavo nell
X.
So chamados os Padre para soccgal'em os Indios: differenas entre
este': acode no maior fenTor da briga o padre Antonio Ribeiro, cujas
vozes suspendem todo a armas, e fico elll I az ; reforma tudo est.e
glande Missionaria, c parte Pernambuco em busca de remadio, ma
sem effeit.o.

Po'ta a Fortaleza ne te aperto e recei n , receh' ro Padre"


cartas do Capello e Almoxarife.em que 111 ' I' presentav;10 o
e.tao de tudo, e lhes pedio qne por enio de Deos e de
EI-Rey quizessem acudir com LatIa a pre a quella fora,
poi s a sua pre"ena, e a muita autoridade que t'm com o
Indio , poderia obrar em eu animos, to j u tamente irado,
o qne importava a alvao de todos.
Por esta causa, e por pertencerem tambem aquelles Indio
ii esta Mi so, re ol"ero o P'~dl'e partir logo ao Cear;
mas vendo que com a noli ia de la jornada tornavo a re-
yerdecer a su peil:Js dos de lbiapba, houv de ficar alli
J

um do Padre, como em refen do oulro, e foi quella


empreza o padre \ntonio Ribeiro, que, como t elo-
quente na lingua, e exercitarlo em conl1ecer e moderar os
animas de ta gente, sobretudo ajudado com parliCLllar favor
de Deos, pz tudo em pouco dias em paz.
(1) Indios do Cem. Re[el'e-sG ao ql1e vivio cm lorno da frtaleza,
e ao s111 desse terl'lLorio.
- Q,78-

Primeiro aquietou, no sem dilficuldade, os Indios chri -


los das aldas ('I), que como vassallo de El-Rey, e creados
em maior politica, sabio melllor sentir e encarecer a causa
(la sua d 1'; e com elles f:cl'o tambem quietos os Ga-
nacs, primeiros movedore desta tragedia, ajudando no
pouco a ua mesma culpa a se comporem com o successo.
S6 os J1~gLba1"I.bCbiWS, como provocados em causa, e como
insolentes com a victol'ia ,no cessavo de ameaar conti-
nuamente a ambas as all'as, em uma das quaes dero de
repente ao tempo que o Padre e tava levantando a lia tia;
mas acabada a mis a com apre sa que pedia o perigo, es-
tando j .alguns da alda mortos, e feridos qua i todos ql1e
no clleg\vo a quarenta, sendo quatrocen tos os barbaros
que combatio uma fraca estacada de que e tava cercada, o
Padre se subio intrepidamente sobre elta por meio das fre-
chas, e no pedindo pazes, nem rogando, seno reprellen-
dendo e ameaando o castigo de Deos aos barbara, deu
Deos tanta emcacia e tas vozes, e ao imperio della~, que
suspendendo os arcos e frechas,"e retiraro logo todos (2).
E dalli a trez dias em presena elo Parire e do Capito da
Fortaleza viero a fazer pazes, que se celebraro solemne-
mente entre estas, e as mais nae o11'en lidas.
Emquanto isto se obrava, no attenclia o Padre com menos
cuiuado doutrina dos lndios chrisLos, 9' quaes achou !la
mesma confuso e mizeria em Jue e tavo os c1t: lbiapba, e
se se pde cuidaI" aiuda maior pela maior Yisinhana e 'om-
municao que havifJ tido tlos HoUaodezes, e bem o re-
peito da Fortaleza, e o presillio os tinlla feito menos rebel-
des e insolente, que os outros.
Ensinaro-se os nnocentes, e baptizaro- e todos os he-
reges, e se reconciliaro C0111 a Igreja muitos que estaYo
casados ao modo de Hollanlla, e se l'ecebro com o rito
catllolicos Emfim, as duas povoaes que ero composta
de gentius e llereges, ficaro de todo cbrists.
Restava s6mente a Fortaleza por render, onde em '131'10
modo se pMe dizer, que estava e est o Demonio mais forte
pela cnbia dos Capites, e torpeza dos soldados.
A estes tirou o Padre trinta Imlias, as mais aeHas ca adas,
de que se servio, com pllblic:J o1fensa de Oeos, e em pejo
(1) Os Indios elas aldas viznllas elo reducLo ou fode do Cear, que
a principio se chamou ele S. Th'iayo, e, a povoao annexa, Nova Lisboa,
(2) Aco memol'avel q l10 honra a memoria deste Missionario.
- 1~79 -

do homens, indo-a bu cal' livremente s aldas, e toman-


do-a, se era necef;sario, por fora eus maridos (I).
Dos maridos e e tavo nervindo igualmente o Capites
para .seus interesses, com tanta oppresso dos mi~eraveis, e
to pouca e to enganosa sati fao do continuo trabalho Ott
captiveiro em que o trazem, em descanar jamais, que se
podia dm idar, quae ero dignos de maior la tima, e as
muI beres no torpe seryjo do soldado~, e os marido no
injtUo do Capite .
Trataro os Indio com o Padre de pr remedio a e tes
damnos, que no ero menos coo ideraveis para os me~mos
Portuguezes, e aqueHes vicias deixro lhos abertos.
Representou- e por meio maiseffeclivo retirarem- e aquel-
la ald3s da !li par;) Pernambnco (2 , donde todo o annos,
a im como vem e se mudo o oldado Portugueze (3),3.s im
vio em e e muda em o ln lias necessario ao ervi o da
Fortaleza; e com esta proposta pa sou o me mo Padre a
Pemambuco, posto que no foi admiltida, como nunca sero
aquella em que o bem temporal on espiritual commum se
encontra com o iotere se do particulares que governo.
a viagem visitou o Padre as reliquias das antiaa aldeas
de Pernambuco, Parahyba e Rio Granrle (4), que achou e pa-
Ihacla por aejuelle largo e t1'aballlo~o caminho, e tornou a
,izitar as do Ceara, baptizando, doutrinando, casando, e
onfes ando a loelos aquelles desamparacli simos lnelios, os
(1) Um dos principaes corpos de delicto desta famosa cor]Jorao.
(2) Ali tinho nldcas de doutrina, e pes oal proprio para edncar e jns-
ll'l1ir os intlig nus.
(3) Deste tI' CllO se poder.deduzir que, na epocba de ta misso,ja forta-
leza do Cear,\ dependia de Pernambuco, contra o que em outro lugar di -
semos. ~Ias ainLla que a guamio pela faciltdade da na~egno e abllfi-
dancia de fora militar vie se de Pernambuco, o territorio seplentrional
al li fOl'laie7flllependia cio i\Iaranho, como dmon tl'o dill'erentes Cal"
t.as Rgia,; ainda do omeo do llllimo seculo, quando se fixou no rio Ti-
monha, o limite dos dOllS governos.
Enll'(:tfl.nlo notar mos qlle por C. R. de 29 de Novembro de 169J., deter-
minou-se que os lndios da serra la Ibi:lj)liba fossem missionados pelos
Religiosos tia ompanhia que as istii'lo no Cear; mas por outra de de
Janeiro de 1697 ordenou-se ao Governador tio Maranho a flmdaodeuD1
110 picio de Jesllita- no Cear, proval'eimente ViUa- Viosa, ainda que
lambem se possa entender Aqllir3z.
Por outro lado n. .R. de 23 de Novembro de 1700 determina ao Gover-
nador do Maranho, qlle se precisar de Indios para a guerra contra o
genli.) de corso (Tapuyas) solicite-os do Governador de Pernambuco. Mas
estes l11clios podio selO os que habita vo ao ui da cidade da Fortaleza.
(4) Tal em o estado ti que a gnerra Hollandeza, e a cubia dos colonos,
havilio reduzido os miseros Tndios.
- 480-
quaes davo graas a Deos de que tudo isto se lhes fizesse
de graa, quando muitos deBes vi,-io como gentios por no
terem com que pagar o Sacramentos (1).
Xl.
Desconfian a dos da serra de Ibiapba, tendo ao? Missionarios por trai-
dores. Quanto padece o padre Pedro Pedrosa, que firou s na Serra;
neces idade a !lue chega, e descommodos destas Misses.
Em quanto o padre Antonio Ribeiro e deteve ne ta com-
prida Mis o, esteve o padre Pedro Pedrosa padecendo as
con equen ia della, que faro per uac1irem- e de novo o
de Ibiapba,que as jornadas ao Cear,e de Peroambu o,foro
s a prevenir dobl'ado soccorl'O, com que o arrancar a
todos da.s suas serras, chegando a descontlar das me ma
muralhas inaccecsivel , om que a fortificou a natureza, e fa-
zendo como soldaclo velbo da guerra do Brazil, uma e -
trada occulta pelo mato, que no a o que no ~e podes cm
defender, lhes servi se para a retirada, a qual j tiobo di -
posta para partes to remotas rIo interior da America que I

nunca l podesse chegar o nome, quanto mai armas cio


Portugueze . .
Sendo e ta a opinio que e te Iudio tinho de um dos
Padres, j se v qual eria o tratamento que fario ao oulro.
Ficou o padre Pedro Pedrosa entre ell s s, e em aber
ainda mais que poucas palavras da lingua, mas a me ma
neces 'idade, e no ter outra, om que e dar a entender, lh'a
fez aprender copiosamente dentro em pouco meze, e tu-
dando mais allda que a mesma lingua, as !'azes com que
havia de fallar e persuadir a e ta enganada g nte o pouco
fundamento de eus temore , e das ele confianas que linho
concebido contra os Padre que por-elle. e tavo padecendo
tantos trabalhos, e tinlio arriscado tantas ,eze as vidas.
Mas nenhuma razo nem demon tTao ba tava, para que
vissem ou quizessem ver a sua cecreil'a.
Assim estava o Padre aqui mais como prisioneiro das nas
ovelhas, que Gomo pastor deltas, continuando por' m sempre
em lbes dar o pasto da verdadeira doutrina, a que acuclio
poucos, e os mai pequenos, rogando por todos a Deo , e
olIerecendo por sua converso os mesmos aggravo e ingra-
tides que deUe continuamente e tava recebendo.
Alguns mezes no teve o Padre quem Ibe fos e accendp,r
(1) Eis ainda ulUa das causas da irritao que havia contt'a os Jesuitas.
uma candeia, deitanl1o-se todo este tempo sobre ter comido
dua e pigas de milho secco, que as ava por sua propria
mo; mas ui to ero menos culpados os que tinbo obri-
gao de o snstentar pelas esterilidades do sitio.
Muita vezes a hora de jantar mandou com um prato pedir
uma pequena de fal'inba ('J) pelas porta , sendo elle o que
fazia o fogo para coser omaS henas agrestes, e o que ,arria
a pobre cazinha com as mesmas mos sagradas com que a
tinba feito.
De te tempo he que ficaro ao Padre as noticias que nos
d, de erem tanto aborosa a lagartichas (2) pela parte de
alguma que algum mais mi ericordio<o lhe' offereceu por
grande caridade. Tal he a mi eria ou o castigo do sitiQ, em
que vive e ta pobre gente, e por cuja cou ervao .fazem
tanto e~tremo .
Quando aqui cbegamos havia quatro mezes qu.e o Padr
no comi mai que folha de mo tarda cosida em agua e
.al, mas estas com pouca frinha, porque nem os que a lavl'o
a tinbo.
Alguma jornada fizero de mai de sessenta leguas, em
que levavo a matalotagem na alaibeira, que era um pouco
de milbo debull ado, qne a no ir to bem guarl1ado, se no
pudra defender fome do companheiro, e L to he, o com
que e jejuo a quare mas, e com que e festejo a pas-
cboas; ma be j boa de contentar a natureza (e muito maL
a graa), e d Deos tanto abores a e tes manjares, que no
fazem c audades o regalos da Europa.
Dia houve tambem caminhando, em que passaro o Pa-
dre s com os cardos do mato, e outra veze com a raize
de certa arvore agreste, cavada por sua mo, a que cbamo
mand 1'ap6 (3), por ser mantimento das emas, que digerem
ferro (4).
'Ma tinl1o os Padres muito mais que digerir na dureza
e rebeldia do coraes da gente com que tratavo, os quae
com nenhum exemplo se compungio, com nenbum bene-
ficio e abrandavo, e com nenhum de engano querio aca~
(1) Uma pequena de fa?-inha, isto be, um ponc:o de farinha.
(2) LagaJ'tichas. 'falvez o autor confundisse com este nome os Iguanas
e oulros lagartos mui apreciados por seu s.abor. Em Mara.nho cha.ma-se
cameleo ao Iguana.
(3) Mand "ap. Ignoramos que planta c01'1'esponda boje e t~ nome:
(4) Erro. Essas ave comem ou antes engolem o ferro, mas nao o d [-
gerem, expeUem-o intacto,
5\:)
- 482-
bar de se desenganai" permittindo-o assim Deos ou em ca tigo
da sna mesma ob tinao, ou para outros maiores fins da
ua providencia.
XlI.
Ohegno padre Antonio Ribeir de volt'1. erra: alegria COta ql1 he re,
cebido: nova de:;confiaaadoslndios que det"lrmino matarosPadres:
sabem estes da traio, e persistem ai'loa na Serra.

Foi mais fe tejadaa vinda do padre Antonio Ribeiro,quando


o viro entrar pela principal aldeia (1) s, e . em o. exercito
imaginado",que o Demonio lhe tinha formado na pbanta ia .
,vIa durou ponco ao Padres o gosto desta victoria d:l
sua verdade; porque no mesmo tempo recebro uma carta
do padre Aotonio Vieira, em que lhe dava noticia de ba-
verem I'e oluto o Superiore que a )ueLJa Mi o, vi ta ua.
impossibilidades, sc no continua e, e que os Padre ..;e
voltassem outra vez ao Maranho, notificando e ta rdem,
e a cau (I della, aos rndios e levando com igo ao que os
quizessem seguir.
No cbegou mo dos Padre~ nenhuma de ta ol'deo.,
que ero do Padre Provincial do Brazil, e do Patlre Vi Hadol'
desta Mis o, como adiante se dir, ma em ordem ti
execuo dellas declarou o padre Pedro Pedro a ao' P'I'in-
cipaes o avi o lue tal1o recebido, representando-lbes o
servio de Deos. e de Sua Mage tade, que continba a luella
resoluo, e quo convcnientc lbes era no s para a al-
vao, seno ainda para as commodiclacles da vida a mu-
dana do lugar (2) .
No tillba acabado de dizer o Padre, quando j e tava lida
a respo ta no emblante de todo, o quae rebentaro.
dizendo: Eis aqui como e'/'a ve?'Clflcle o qL?e at agom lotio..
c'l.bidavcb11ws; e como os PCbdl'es no live1'do mmc(~ Outl'O 'inlenl
se no de nos a1'l'anCar ele nossas lt'1'I'as pm'a nos fazerem
esC?'avos de seus pa?'enl13S, os b1'ancos.
O maior PJ'incipal, que tem grande agaciclade,re pondcu
clireitamente a proposta desta maneira: Se pai' se1'l1WS vas-
saltos ele El-Rey, quel'eis qne vamos P({?'Cb o illa1'anho esla~

(1) Pl'ova\'elmentc a denominacla-l'a1'enda ele clua trata C. ele Abbe-


ville em sua obra.
(21 Foi este sempre o systeml1 elos Je'lIi'.as para melhor ecluCltrem e
instrnirem os incligcnas.
- ~~3-

lel'l'as lambem so de El-Rey; e se po'r se1'mos C/u'istos, e


(ilhos de Deos, Deos e.st em todcL pa'rte.
Com esta respo ta succinta e recolhro a seu conselhos
secretos, no quae e dt:cretou, que por meio dos 'fapuyas
tirl sem a vida aos Padres, COlliO j tinl1o feito os me mos
Tapuya ao padre Francisco Pinto; e que para di:simulao
do delicto ahirio elle fingidameote ii sua defeo a, e fario
grandes pranto por sua morte.
Decretada e ta !'Uel entena, em o Padre terem della
a menor noticia, com o me mo segredo de. pediro aos Ta-
puyas, quem lhes fo se declarar o intento, e os en aiasse para
a traaedia.
Ero os Tapuyas que faro e colhido para a execuo
o , e o dia, de quinta feira de EndoeDa ,em que os
Paure:; esto mais occupado ; e elles concorrendo tambem
para o OmCLO daquella emana, e querio tambem fingir
mai' divertido .
Tudo e:tava j preparado para o sacriucio, e a victi-
ma 'tavo innocentes de tudo. Quando Deqs que nunca
Lle,ampara ao que o ervem, tocou o corao a um do
Principaes, e adjunto na me ma consulta, o qual foi ecre-
tamente avi ar ao Padres de tlldo o que contra elles estava
tra ado.
Com este avi o, que bem e via era do Co, e apparelha-
r:io O' Padres com grande animo para dar ii vil.h por to.....
enu a, e clalli por diante, pondo- e mais a/[ectuosamente
110,' mos de Deo com continuas oraes e penitencia, es-
tav e'perando a toda a hora do dia e da noHe, que
ti morte lhes entrasse pelas portas, tendo ajustatl.o entre si
de a receberem de' joelllo, e om as mos levantadas
ao Co.
Em1luanto cl18gaya ou tardava o dia aprazado, re olve-
ro-se os Padre a no esperar mais por elle. Descubl'iro
ao Principal como lhes era manifesta a traio que 1I16s
tinl1a armado; que para matar lous. religio o em arma:;
no ero neces aria a fl'ecbas dos Tapuyas, que em sua
mos os tinho, sem poderem r'si tir, nem quererem
fugir; q.lle ba tava um velho amai fra,:o da aldeia,
para lhe lirar a vida, e que elle a dario por bem
empreaarla , se Deos p lo acrificio de ell sangue per-
doasse a0 J'ob'rj(mi~ est peccado, e todos os outros de
que 'c lio querio emendar; que estivessem certos que do
- 484 -

Co no havio de pedir para elle castigo, eno mi eri-


cordia.
Ficou assombrado o barbara de ver que os Padre sabio
o que ene tinha por to secreto: negava com a lJca tudo,
mas conCessava-o com o corao, o qual lhe dava tae' pan-
cadas ne peito, que no se estavo- vendo, ma pare e que
se estavo ouvindo.
Emfim, como as traas ero do Demonio, que s tem fora
emqnanto esto encubertas, neste dia de armou em vo toda
esta macllina. OInferno ficou confuso, e o Padres dero
infiniLas graas a Deos, e os auctores ficaro corrido e ar-
rependidos, mas nem por isso emendados, tendo empre
altamente fixadJ na memoria e no entendimento o ponto
de os quererem tirar de suas terras; e po to que o
Padres tinlio to jllsb~s causas, e to bastante moL\ro
nas cartas que recebro para acudirem o p dos sa-
patos, e deixarem to ingrata terra, re olvero- e om
tudo a no desar~pflrar o po to, a que a obediencia o tinha
mandado, seln verem primeiro a onlem em que a mesma
obediencia o manda se retirar.

XllL
Estado pernicioso dos Ind.ios da serl'Q: suas ignurancia, herezias, e
trato com o flernonio.

SeJ' muito para louvar no tempo vindouros il on 'tan-


cia ele tes dous Mi sionarios; mas elle tem para i, e
com razo, que no 6 clevio isto ao amor d' Deos, por
quem o pndecio, seno ao exemplo que o me mo Deos
lhe dava; porque ainda que foi muito o que os Padres som'e-
rITo a e tes Indios, muito mais era o que Deos lbes e tava
so1l'mndo.
Entre tdos estl3s s um velbo lJouve, que ele si I ediu
aos Padre, que o cazassem para sahir tle mau e taclo.
enbumlos Pt'incipaes, sendo todos trez cilri to, era ca-
sado em face de Igreja, nem o quizero nunca ser, por
mai' que os Padres os admoe tavo, e toelo ,alm da que
cbamavo mulhe?" tinbo a casa cbeia ele oncubina.
AJgunsestavo casaelo juntamente com dIla irmITs,e muitos
cQm SUl~ cunillldas, porque I'eceber o il'mo vivo a milllJerdo
- 185-
irmo defuncto, he lei to judaicamente oh en-aua entre elle~,
como se o tiveriio recebido de Moyss, a quem lambem
abem o nome. Aquelle de quem o Propheta diz que fizero
concerto com o Inferno, parece que faro estes. Um di e
que ante queria el' irmo de Caim, do que de Abel, por
e tal' no Inferno com elle; outro que no se Jhe dava do fogo do
. Inferno, porque efo se l elle o apag'lria; outro quej 1'abia
que bavia de ir ao Inferno pela maldades que commettra
em Pernambuco, e assim no queria tratar do Co; outro
'begaro a tanto, que blasphemaro d Dees como de ty-
ranno e ioju to, por o Ila'ver de man ~ar a elie ao In-
ferno.
Mande ao Inferno, dizio, ao rndios (!), que o mataro,
ma n , que lhe no fizemo. nenhum mal, porque no
manda ao Inferno em razo? Emfim, faro tae as cousas
qne di ero e fizero obre e te ponto, que o Padres
e retiraro ele lhes fallar no Inferno, at que o conhe-
imento da grandeza de Deo e de na culpas lhes mos-
tra em quo dignos so o que o oliendem ele to teme-
ro o ca tigo. .
Por outra via tinha j procurado o Demooio tirar-
lbe elo pen amento a f e temor do Inferno, e palhan-
uo entre elie um erro aprasivel semillJante fabula dos
Campos Ely ia ; porque dizem que o trez Pl'ipcipaes das
alelas da erra teem debaixo ela terra oulrfls trez aIdas muito
formoc::a , onde vo depois da morte o 'ubdico de cada
um, e que o ,tbrw ou Padre que l tem uidado delles, lle o
padre Franci co I into, vivendo todo em grande de cano,
l'e ta., abundancia de mantimento ; e pergrmtado donde
livero e ta noticia, e c::e lhe veio algum correio do outro
mundo, allego com te temunha viva, que he um Indio muito
antigo, e Principctl entre elles, o qual diz, que morrenelo de
lal doeu a que te e, fra levauo a. wtas aldoa ; por 'ignal
que uma se chama lbintpiguay, outra lncLmbuapixn?',
a terceira Anhall?wl"i, e que l vira todo o que antes delle
Jlavio morto, e entl'e elle asna mulller, a qual o no
Ijuizera receber, e pelejaro com elIe por ir de ta ,ida em
levar um e cravo que a ervi~se, e que depoi disso tomra
a viver.
OIndio por ua panca malicia parece incapaz de haver com-
(1) Indio . Provavelmente o mUlltlscl'.ipto dizia .Iudos.
- 486-
posto e ta lJistoria, e a sim juLgo os Padres que foi em duvi-
ela illn o do Demonio pnra engannr a elle, e por meio delle
ao antros, e quando meno, para pr em opinies um ponto
to importante como o uo Inferno.
a venerao do templos, ua..; imagen ,da cruze, do'
acerdotes, e do sacramento, esto milito delles to Cal-
vinistas e Lutllerallo , como :e Iln cero em InglaterTa ou
lLemanba. E te chamo Igrr,j'l, iJl'eja (le moanga, que
t[uer dizer, igreja. falsa; e doutrina, lnol'andubasclos Abu1's,
que quer dizer patranhas dos Padres; e fazio tae' e cameo
e z~mbal'ias do que acudio Igreja a ouvir a doutl'ina, que
mUlto a deixa rITo por esta cau.a. Um clis e, que ele nenl1l1ma
cousa lbe pesaya mais, que de ser Cbri to, e ter recebido
o baptismo.
O acrarnento da 'Ctmfi o he o de que mais fugiO,
e mnis abominnvo; e tambem bavia entre elles quem LlJcs
pr'gasse, que a confisso e l1avia ue {':1Zer s Deos, c no
:ws bomells. Faro lesL munllas certos PorLllguezes (lue
"viero serl'a, que a tempo que o Padre levanLoLl a hostia,
um paI' zomba ria dos (flle batiJo no pei tos, se pz a baleI'
na parede da Igreja.
E lava outro para commungar em occa io que um P'rill-
cipallbe mandou recado para que fosse beber com elle, e
como responrle se que e lava pal'\ re 'ebcr o SenllOl', li 'o
o P1'incipal, ([Lle no conhecia antro Deo. "eno o vin/w ;
pOl'que elle o crera, osustentava. OnLra muita' COD'a
diziam, ([De !la certo th'a, no en inal'am os hel'eere , ~ uo
o Demonio por. i mesmo. Ex.hortava o Padre a certo gentio
velho que se baptiza se, e olle respondeu, ([ue o fnl'i para
CJuando Deos encnrlla se a segunda vez, e dando o funda-
m nto do ~eu dito, acre centou, que a :im amo Deos en-
carnara uma yez em uma dOI zelia branca para r mil' os
brancos, a. im havia de encamal' outr:l vez em uma UOI1-
zella Jndia para remir o Indio., e que ento e baptisaria.
Con oante a esta prophecia 11e outra, que tambem acharo
os Padres entre" elles; porque lizem o eu letrado, quo
Deos quer dar uma volta a e le muudo, fazendlJ que o C' o
fique para baixo, e a terra pal'a cima, e assim os Indio ho
de dominar os brancos, assim como agora os lmll1cos do-
mino os lndio:s. 11 COLD sla" o ,peraoas phanla ti 'as e. -
berba~, o' traz o Demon ia to cegos, to_dcsti nados, e to
- 4.R7 --

(levoto eu, flue chegou a lIlC. pedir adorao, e enes a


lh'a darem.
No ha muito anno que um ,elbo do de Pernambuco,
r ili 'eira, levantou uma ermida ao Diabo no' arrabaldes da'
povoao, e pr. nella um idolo ompo. to de penna~, e pre-
gou, Cfll fo em todo a venerai-o, para que tive'-em boa
novidade, porqu aquelle era o que tinha poder obre a
emeoteira e como a terra lle mui sujeita fome, foram
mui pou o os que acaram sem fazer sua romaria ermida_
Esta";} o ve1l10 a sel) tado nella, e eo ioava como e havio
de faz [' as ceremonias da devoo, (rUe el',l 11R'I"erem de
bailar ontiouam ote de dia e de noit , at' que a novidadeu
e tive m madnras, e os que canavo e sabio da dana
Imio de beijar a pennas do idolo (1), no qual allirmavo

(l) Idolo. Esla cerimonias .nperUciosas po to que lenho cur local'


'onrulldem-sp com as pl'!\licada~ com o cnlto do Deos africano B1td.
ou T'audol!JJ como e chama na ] .uisi n , e em outras colonia.~ Fran-
c zas pal'll ondo foi transportaJo da Guin. r o nosso p iz lambenl
tom essa divindade ador,ldore .
O jornal COt~rl'ie1' d.: I'Ew'olJl:, ill1pre" o em Londres, publicou em
].';67 o seguintearLigo, qu~ aqui trausCle"emos,pois reprodnz uma scona
reprosentada llaqueile paiz e qLle no Brazilno poucas veze se tem repe-
tido:
O culto elo f.audouxnaLeuisi(rlUt.-Osjornaesdosl<J tado -Unidos
da America nolicio qne Lun do. pl'imeiros eITeito da. l'npida emancipa-
o dos escraros ten. sido, em algun' diBlricto', o re,\pparecimento de
certa pratil:as super ticio -as trazidas da Al'rica pulo primeiros escravos,
4\e3 como o culto do l'(mclowJ, que os antigos colonos e"fraro-se
empre em cOlllbaler e desuuir.
Ei~ o ql1e a e le re'peito c lo na Tl'ibun , de Mobile. de 2 de Outu-
uro lo an no pa ado (18GG): J .
(l Admiramo-nos ba lauto de ver I onlem uoite, diz um cOl'l'espon-
dente desse j roal, resur~ido um culto do qual no suppnnllamos pos i-
vol a extencia em nOS'a ten a chrL to
(l Acompanhado uo a\gun soMados, fomos a uma casa ituada dolado
opposlo li faurilJa', e oClJllpada p I' lllll ne"ro velbo, que se c1izi obi on
pnclte do Vaudllx.
(I Approximnlllo-nos com precauo das parede ele tabon. colloca-
mo-nos cada um Jianle ele uma fresta e fomo tl"stemllnhas de lLIDa scena
que fican't 101 gu tempo gravaela em no,sa memoria.
(l Subre um fogo Je gravetos lle pinho e'lava suspen o um caldeiro do

fiTO, em torno do qllal e. taviio grupados cerca de vinte negros de ambos


o sexo, inl iramente ns e com a face emlerra
(l S o velho obi, cujo pe 'Ct1O ela circu\t\tlo por um:! pell'! de cobra,
estava em p e rocita a resp..Hosalll nte.onles, s quaes a congl'egao
re'ponc1ia em uma voz rouca e ofreada. .
(l A LImas palmas do YliIosacerd()t~, os fiei, levantaro-se e comea
roum'\ corrida fulibunJa em tomo d)cJldeirao, finda a qual de novo se
pl'OSLrun'to COl,tinuanJo as ora~e .
(l O obi appl'oxim'lu- e ento do caldeiro e ahi atirou a pelle de
cobra, depois uma cobra morta, um sapo e uln lagarto vivos, e a fina\
as hervas e I'aizes qno ornnvo as carapinllas le sens OUVintes,
- 4: 8 -

alguns, que ouviram ao D mono fallar com o velho, e


outros que e 1l1e mostrou visivel, vestido de negro.
Tivero o Parlres noticia do de aforo, faro logo queimar o
idolo, e levantar em seu lugar uma cruz dentl'o e outra fra ;
ma ao dia seguinte amanl1eceram afilia as cmze feitas
em pedaos: tanto sofrre Deo , e tanto tem solIrido a e'tes
mpios contra lia Igreja, contra seus sacramentos, contra
sua divindade, e contra uas cmzes; e tanto en ina a
sofIrer com o eu exemplo, aos que tambem en inou com
sua doutrina, qu deixa sem crescer a cizania, para qlle e
no perdes e o trigo!

XIV.
Fructo que se colheu neste esteril campo; provei los tempomos, que re-
sultaram destas duas Misses: succes o exlrl\Ordnl1.l'io, () castigo de
Deos em alguns lndios.

o fructo que e tem colhido no meio ue'ta e tel'iliuade,


no tem ldo to pouco, que e l1ajo de dar por mal empre-
gados tanto tl'abalho, quando os mesmos trabalho per si
no foro um grande fructo. Em quanto o grande vivio na
ob tioao, e rebeldin que di semo ,o pequeno, ele quem he
o reino do Co, o io povoando em tanto numero, que so
j mais de quinhentos '0:-' innocente baptizado pele Padres,
que com a gran do bapti mo esto gozando da glori(l.
Ao pr:incipio tivero 0- Padre tre7. igrejas nas trez a.lclas, e
depois fizero outra, em que uniro todas trez. E ta quatro
igrejas so boje relicarios preciosissimo, cm que no ha
lugar 'onde no esteja engastado algum corpo com toda a
certeza anto,que he grancle consolao,e ainda devoo para
os que viero a estas sen'as cavar e tes thesonros, e v- e
clal'amente haver Deo enviado os dou Missionarias da Com-
Um profundo silencio sllcr.edeu a esta operao.
Ao fim de alguns minut.o a um signal d \do. a cO'Ylg?-egao fez
nova corrida. e cnda iniciado eio mergulhar um do seus dedos no phil,
tro divino e o levou aos labias: depois o Dui percorreu o circulo e traou
com o~ dedos illlpregnadns na sub,tancia magLcx'\ fi,gllL'QS cabali t.icas )lO
lIeito, (ronte e e~padl1as de sellS ouvintes.
" .Nem uma palavra foi dita dl),.rante e,sta operao.
Quando telminou. os fiei5 vestiriio-se e sahiro 11.11l a um. .
Era llSO anLig llnentc pedir o oui. em contlnlla o a esta ceremOlll fl ,
nm .sacrilicio humano. A vict.irna era qllasi sempre um menino.
(' Ronlem, porm, no foi ella reclamada. >l
- 489-
panhia s a coIbe!' e las flres para as metter, como diz a
E criptura, no ramalhete do predestinados; porque no tempo
em que morrero mai de quinhentos innocentes, no che-
aaro a morrer quinze dos adultos, alguns dos quaes aca-
baro com os Sacramentos daquella bora, e com grande
e perana de ua salvao; e outro, para temor dos mais,
om evidente. ignae de sua perdi o e condemnao
ete,'na.
Dos pequeno de maior idade se baptizaro tambem
muito, que ainda e tavo pago, ou tinlto duvida no bap-
ti mo. luito tambem recebero em leaitimo matrimonio as
muthere. com quem vivio em peccadu ; outro tocado. da
here ia abjuraro o erl'O ou ignorancia, e e reconciliaro
com a Igreja. Assim que, aillda que o corpo geralmente e'-
taya to enfermo, e to contagio o, a muitos dos membros
aproveita vo 05 remedios, e a muitos os preservativo.
O male que om apre. ena dos J)adre e tem evitado,
no o de menos considerao ao bem espiril.ual deste In-
diog, nem de menor utilidade ao espiritual e tempol'al de
todo o Estado. O caminho do Maranho ao Cear, e Per-
nambuco, que estava totalmente fechado pela. hostilidade
de ta gente, e t hoje franco e segul'O. A pl'ai:1s,e naveaao
de toda a co ta e t livre e melllorada com o eu eommercio.
obretudo e to reduzidos os Tobaja?'ds obediencia e V<JS-
allagem de Sua Jagestade sem arma nem de pezas, e e8to
inimigo jurados do Hollandeze , em cuja confederao era
a .erra de Ibiapba o maior padrasto que tinba obre i o
E tado do ~Iaranb5o, e o que s temero todo o soldados
veliJos de'ta conqui ta. Nos vicio da fereza e de humanidade
esto tambem muito domado ; J no mato, j no COlDem
carne humana, j no fazem captiveiro injustof', j guardo
paz e fidelidade s nae visinhas, tudo por beneficio da as-
si. teneia dos Padres.
Haver dous annos que o Padres exhortaro aos Tapuyas
C1.l1'Ulis, que quizessem deixaI' a vida ele cor~o, e viverem
aldeaelos com os Tobaja1's com casa e lavoura, e quando j
vinham os Curuls com suas familias para se meLter nas al-
das que os mesmos Tobaja?'8Ihes tinham olferecido, estava
traado entre elles de os esperarem em cilada d'alli a duas
leglla~, e os matarem e captivarem a todos. Soube o padl'e
Pedro Pedrosa a traio trez hora antes, quando j os Toba-
j(wrs e;t:1Vo junlos, e armados, e bastou saberem os P1'inc'~~
60
49 -
'1Jaes que o Padre o abia, para de i tirem da empi'eza, e
ainda para cobrirem e negarem os intentos que tivero nella,
Foi este omaior argumento do re' peito que tm ao~ Padres
ainda quando parece que no no re peitaro, porque no l1a
mais forte tentao para esta gente, que a de matar, e fazer
captivo . As im vo despindo os vicias da barbaria, com que
omeo a ser homens, e e e pera qne renunciaro tambem
o demais, para que acabem de ser Cl1ri tos.
Confirma muito esta e perana o tr-~e vi to em muito ca-
sos. que no s chama Deos esta gente por meio ordioario de
seus ministro, os prgadores, ma que parece quer ren-
deI' per i mesmo ua rebeldia, como a de Saulo,
. Estava um dia ouvindo Ii 5a o maior Principal, e ao
tempo que o Padre levantou o Senhor, e todos o adoraro,
elle via somente os dedos do Padre, e no via a hostia.
com que ncou a sombrado ; recollleodo- e ca a tremendo,
examinando a cansa de Deoa se lhe no querer mo trar, oc-
correu-Ibe que devia de ser sem duvida por que em o dia
de antes tinha dito uma palavras de pouco respeito ao
mesmo Padr que disse a Mi sa, que era o padre Pedro Pe-
drosa: pa ou a noite sem dormir, veio ao outro dia ouvir
a Missa do mesmo Padre, e pedir perdo a Deos do que tinba
feito, e quando se levantou a. tlO tia, .io-a, ma com a cr
mudada, porque llle pareceu envolta em uma nuvem neara,
e lhe mettia horror, po to que no to grande como o dia
ele antes, em que se lhe havia totalmente e ondido: foi no
mesmo dia contar o ca o ao Padre, pedindo-lhe perdo da
pouca reverencia com que lhe havia [aliado, e dalli pai' diante
tornou a ver a bostia branca, e cnmo d'antes a via.
Um dos blasphemos de que fallamo!' acima, chegou a dizer
em pl'eseoa de muitos, que no tinha outro Deo ,eno o
Diabo, mas permittio logo Deos. que experimenta e em i
mesmo quem era aquelle Qor quem o trocava, para liastigo
seu e dos outm!' que o tinbo ouvido.
Entmu nelle o Demonio to furiosa e de e,peradamente.
que se despedaava a si, e quanto encontrava, rugindo todos
delle, e no bavendo quem lhe parasse diante. Fizero-Ihe
os Padre IIS exorci mos por espao ele oito di(ls, com que o
largou o Demonio por ento, po to que dep is tornou por
;vezes a o atormentar, ma j com menos fllria.
Ficon to eminaelo com este castigo, que dalli por diimte
ilo sahia de ca a cl'os Padres, nm da Igreja; e andando
- 49,1 -

empre armado com av contas ao pescoo, deu publica


atisfao ao e candalo que tinha dado. prote~tando que es-
tava fra de si, e prgando em toda a parte que a divindade
era s de Deos, e o Demonio a mais mofina de todas as crea-
tura , e a maIs abominaveL.
Quando o 'Padre logo chegaro Serra, recebro um
lndio com uma ua cunhada, com quem estava amigado,
callando ell o impedimento, e no impedimento, e no ha-
vendo quem acudis e a o de cubrir.
N:Jscero ue te matrimonio um menino e duas menina, e
todos trez sabiro mudos. Admiro os me mos Indios 3
estranheza do caso, e tem as entado entre i, que a causa de
erem mndo os filho, he porque o pai tambem foi mudo,
callando o impeclimento do matrimonio, e fazendo aqnella
injuria ao Sacramento' e ,erdadeiramente era nece. -ario
um ca tigo to prodgio o e to permanente como e te, e
l]lle fo se crescendo, e continuando- e om os me'mos u-
geitos ca tigado , para que esta gente, que to ponco reparo
fazia do impedimento do matrimonias, temes e excedor
os limitev, e violar :J pureza de te Sacramento, e .oubes em
todos que o que e calla e encobr aos Sacerdote, no se
pde e conder a Deos, antes d brados a .ua divina ju tiil,
para que ca ligue como m rece.
x.v.
Favores divinos !t outro Jndios: repentiuo estrondo que se ouvio na
serra de Jbiapba na mesma noite em que chegaro os Missionarios:
por muitas viaJ nrdeno os Superiores se retirem os Padres da. erra,
e todas io' pedio Deos.

111a no so (;3. tigo e ameaa, com que Deo quer


trllZer a i os corae ele te Inelio., eno tambem pro-
me.5a e favore .
Uma noite de Na~al tinha praticaclo o padre Pedro Pedrosa,
qnando di se a primeira Missa, via uma Indla na ho Lia a.
Christo, no menillo, e envolto em panno. pobre" eno em
fiaura ele bomem, v ,;tido de grande formo ma, mage tade,
e riqueza, as quaes offerecia com 1'0 to mui agradael queUa
India, se ella o quize .e servil'. .
Provou o efi'eito a verdade ela vi o, porque vivendo at
aquelle tempo elp estado alheio da graa de Deo , foi esta
a prirhc\r~ e a Ul11ca que veio pedir aos Papres a recebesseI)1
- 4,92 -

'com o que no era eu marido, e fez dalli por diante vida


to reformada, e to christ, e de tanto affecto e devoo s
cousas espintuaes, que nunca mais nem ella nem pe~soa
alguma de sua famlia, que era muito grande, faltou na Igreja
a .fissa, e s duas doutrinas de cada dia, pegando e la
mesma piedade a seu marido.
Outro Indio moo tem recebido grande toques, favores,
e admoestaes de Deos em sonhos, qne o trazem mui
abalado, e se lhe vm nos desejo~, na palavras, e na re-
solues.
Uma noite sonhou que e achava na 19rej:l. entre O" que
tomavo disciplina pelas sexta -feiras ela quare ma, mas
que elle a no queria tomar, e logo vio sahir e caminhar
para si um mancebo de muita formo Tira, o qual apontando
para um lugar alto que estava cuberto com uma cortina, lhe
disse que ::Illi estava Deo~, ma qne "e no mo trava, eno
aos que flzio penHen ia de seu receados,
Ento se resolveu a tomar a di ciplilla, como o demai',
a qual acabada se oorreu a cortina, e vio obre um throno
resplandecente como o Sol, um ser de tanta formo ura e
grandeza que ficra fra de si de espanto, e de alegria, eque
nunoa mais perl'a ,nem podia perder a memoria do que
tinha vi to.
Outra vez estando este Indio doente de uma grande in-
clJaiio, que lhe tomava ,desele o hombl'Q at a abea e l!le
causava grandes dres, sem tor reme lio, nem quem lh'o
soubes e applicar, veio encommendal'-se Deo com grande
afIecto e confiana,
Adormeceu uma noite, e appareceu-Ihe aquelle mesmo
mancebo, que elle conheceu muito bem, o qual trazia na
mo direita uma ave, e na e.quenla uma berva ; pergun-
tou-lhe que era o que pellia a Deos, e como di e se, que a
saude, applicou o mancebo a a,e ao lugar inchado, o qual
picando com o bico a incbao, fez um buraco, por onde se
purgou a materia, e logo pondo-lhe em cima as bervas ficou
s a ferida, Accordou ni to o enfermo, e achou que a incha
o verdade.ir~mente e tava rebentada, e brevemente cerrou,
e em breve ficou so.
Outra vez tornou a, onuar esle ludio cousa ernillJaute.,
ordenadas todas sua salvao, e endo empre o ministro
ou in 'lrumento deBas aquelle mancebo eu conhecido, que
ao primeiro entendeu seria o seu Anjo da Guarda, mas ul-
- 493-
timamentelhe appareceu em vestido de Padre da Companbia.
Finalmente, f)eos tem nesta era muitos escolhidos, e
se o l>emonio trabalha tanto por arraigar a czania que tem
semeado nella, he porque teme e prev que tia de ser lan-
ado fra, de que parece deu um manifesto signal no mesmo
dia em que chegal'o os Padres; porque ao cerrar da noite
se ouvio de I'epente nm estl'Onclo to urandC', como ele cousa
que rebentava, qne deixou assombrado a todo.
Succedeu isto junto casa onde os Padres 'stavo aga-
~alhados, e dizem os Indio que ali i se costnmava ver de noit
uma figura medonha, e afogueada; e daquelle ponto em
diante nunca mais foi vi ta; o clue podemo alfli'mar em
toda a certeza, he (Jue a Misso deste dous Parlres serra de
lbiapba fi ordenada por plrticular providencia do mesmo
Deos; e qlle he vontade do mesmo Deo.. que a si L50 e con-
tinuem nella, de que nos tem dado tantos te temunlios, e
to claros, que ,e no podem duvidar .
.J deixamo dito, que assim os Superiores da Mi 'so, como
os do Brazil, ordenaro que o ParlrL's da Sena yoltassem
ontra vez para o Maranbo: mandaro-se e tas Ol'dens aos
Padre por muitas e repetida via, ma, sempre Deos e~tor
vou qne chegas em, e por meios em que no s entrou a sua
providencia, seno tambem o brao do seu poder.
A primeira desta, ordens mandou o padre Fraucisco Gon-
alves, c[ue acabando de er l)rovincial elo Brazil, reio visitar
e ta Mi o, e manelona no mesmo bar o em que tinha
vindo ela Bflhia; mas porque o me'tre estava de gost(l(lo elo
Padre por certa couza, em que lhe encontrou a vontade,
t.omou a uas carta., em que vinha a ordem, e lanou-as ao
mar em vingana, e entregou as elos outros Paelres.
A segunda ordem fo enviada pelo padre Provincial do
Bl'a7.il Simii.odeVa concello ('l)aopadreAntonio Ribeiro (2),
que estaya em Pernambuco, e cheaou esta ordem na tarde do
mesmo dia em que o Padre pela manh se tinha embar-
cado e partido para a sna Mi so.
Em Pemambnco eleu o mesmo padre Provincial duas carta
0111 a mesma ordem ao pa Ire H.ical'do r,areu (2), quando de

(1) Sim'o de Vasconc~llos. Refere se ao historiador que' escreveu a


f"1wo"YI'ica da Companhia de Jesus no B?'az-il. " . . ,
(2 Esle palIJ'e era natural de S. Paulo, e pentlssIL110 na hngua rupy,
que conheci:1 desdea lofancia. Vide o lo tom. destas ,1Jemonas pago 419.
(3) Ricw'do Ca1e!~. Parece que cru Irlandez, e en'io na Misso do
:NIn:ranho entre 165G e 1659.
- 494, -

l. se e~1barcou para o 11aranbo ; 11ma, para q11e se d e


no Cear. : ontra, para que se d e em JnrqnqurR (I), CJue
so os dou portos CJue communico com a Serra' e sendo
que esta viagem se faz sempre venLo ppa, tomando-se
tldos os portos com grande facilidRde, o de Cear nunca o
pde tomar o barco. O de J ul'quclqlld1'a tomou-o; mas
tanto que lanou ferro para mandar terra, foi ta I o vento e
mares que se levantaro sllbitame te, que a requerimento d
todQs e bouvero de fazer a vla para se no perderem.
Ne te mI' mo tempo qnizero o Padres ir e. peral' nas
pI'aia pelo padre Careu, de cuj vinda tinho noticia, e no
dia em que . tavo para partir, chegaro Serra alglln. 01-
da.dos mandados pelo Capito do Ceanl, que detivero o
. Padres alguns dias, e nestes pa' ou o barco.
Do Maranbo tornou o m mo bar o a partir para 1>el'-
n~mbuco, vindo nelle uma via da me mas cartas, para que
de volta chegassem s mos d s Padre . ma depois de
dons mezes, em que por muitas vezes intentou a passagem
tornou arribado ao ~;:\)';lI1ho.
Com esta tardana, e a prim ira noti ia de ter pa ar10,
trataro osPadres ele mandar c rreio por ten'a ao Maranho,
e depois de nm mez de caminllO, voltaro om a me ma
cartas que levaro, porqne os avisaro o Te1'emembes, que
Das aras (2) havia muito TapUlyns de guerra (3).
Insistiro outra vez os Padre r,om egundo correio, e
indo estes pa sando o do Teml'la ('I) em llmacana pequena
lJue levavo para as passagen:'>, accommetteu-o um tubaro rle
to estranha grandeza e fereza,' que )er<::eguido houvero
de encalhar em terra, e foi entre umas pedras, onde a cana
se fez em petlao ,e e tornaro com a carta.
(1) Vide supra nota (2' a paf{. 1 5.
(2) .d?"as. Como a via que solguio era pelo Htoral, essas fl)'as,
segu'ldo nossa conjectura, ero os Lr!?les tanto os pequenos como os
grandes, locaes mu.i frequentados pelo Indgena nnturalmente por
causa das pescarias on das ,alinas. Vide no atalngo Ebo?"e'YIse o resnmo
da C. R de 27 de Janeiro de 1703.
(3; Tapt~yas de gWi1'1"a. Provavelmentl) eriio os ri napun~s, quo domi-
nnvo as margem; septentrionae do ri,) Pal'l1>lhyba, larga extenso do
~rritorio mel'ldional claquella provinoia, C\1 tando muit<J o domalos e
ald e,a1-05. Esses Indio tambem so chamados na lagi 'Iaiio CJue a ellos
slJ refere Anaper's; a paz com tnes Indigenas se considerou seglU'f1
de 1710 em diante. O s'en priJlcipal aldeiamento he hoje o local da ci-
d(lde do Brejo, outr'ol'a-B"~io dos Arzapuns.
:1,)' Tem?~a. Rnferese ao rio TiI??on7w limite marcado para o Mara-
nho e Cear. Vide no Catalo!JQ EVOl"l3nsd o resumo de C. R de 8 de
J'aneito de 16n7.
- 49-
Finalmente, se 1'e'olvro os llatlres a levarem em pessa
as mesma carta at tal parte do caminho, e entregai-as a
tanto numero de Indios, e de tanto valor que no volta sem.
E te faro por fim o que chegaro, depois de haver 'anno
e meio, que por nenhuma via se abio no, as daquella
~is o.
'E tavo d tidas no Maranllu todas as ordens rIos Supe-
rior ,a quae. havio de levar e te mesmo portadores
dalli a oito dias, que foi o termo que pediro para se des-
cancar, e o que tinllo limitado pelos Padre.
Ma , quatro dia depois da ua cllegada, cbego,u o gover-
nador D. Pedro de 1\1ello ('1), e com elle taes ordeno de Sua
Mage tade, e do Padre Geral, que fi 'ou suspen o por ellas
o elIeito e execu,o da oulras.
De Lla M;jge tade "jero Irez carla" em que encarregou
ao Governador, que o eu primeiro uidado fo. e procurar
que na erra de lbia pba e. ti ve em aIgnn Rei igiosos da Com-
panllia para terem sua contCl e obediencia aLJuelle ludios,
e por egur:1Oa elo (lilO Mis ionarios e fize, se o forte de
Camuci('i), que o aovel'11ador AnuI" Vidal tinha intentado.
Do Padre Geral vier patentes de VLitallor e Snperior da
dila ti o ao padre Antonio Vieira, que .empre ft'a de
voto, qlle a Miss;10 da Serra se continua .e, tendo p:lra isto
raze de tanto pe o, qne m ndou-as logo ao Padre Provincial,
e confOl'mon elle e todos o Padre da proviocia com
ella
De orte que procurando- e com tanto cuidado pomove ,ia
difIerente do mal' e da terra, e em espao ele anl10 e meio,
que chegas.em ao' lladres da erra a ordens porque ero
mandados retirar, Deos a imperlio e estorvou todas por
meio lo fra rlo CUl' o natural das cousa, ervindo-se para
is,o elo ventos, elos mare, , do do, elo Portugueze, dos
Judios, do 'I'apuy(LS, e dos mesmo peixe, para que ,'e vi se
'que ela vontade sua, que os Padres no sabi~ em daquelle

lI) D. Pedro de ,\1 ello. S'Jgundo Ben,lo, nos Annaes u. 10 3, este Go-
Vlll'nador tomou poso e do govern do Maranho em 16 de Junho de 1658.
(2) li'ol'le de Cam~~cy. Niio sa hemos com exactido a epoclm pi e<:isa
arn qlle se con.tl'Llio sle rorte. mas pal'ece que pouco se bana feilo na
admitd3tl'ao deste Guve1'l1adul'. vi~lo que pola U. R. dirigida ao Gover-
nadol'uo Mnl'Rldlo Artbur de S. e Menezes em 26de Novembl'o de 1687,
se lhe recommenrlnva o bom tl'Rtomenlo dos Jndios Tel'emembs, que
el'o vi -lohos, e se exigia conl<1 do eslaJo, em flue se achavo a fOl'tl\-
~Z!L:S Hlandadas fabricar no Gear.
- 1..96 -

lugar, e que os meios que sua providencia tem predestinadus


para salvao das alma, se ho de con eguir infallivelmente,
ainda que seja necas ario para isso tirar de seus eixos a toda
a natureza.


Escrve padre Alltollio Vieira aos de Ibiapba: respondem os Indios,
e mando visitar o novo governador do E tado D. Pedru de Mello, e
!to Superior das Misse" o padre Antonio VieirA: toma tndo melhor
frma, e o procnra arruinar o Demonio

Com as nova orden que se mandaro aos Padres, foro


tambem cartas ao P1'itncipaes do novo Superior da Misso
em que lbes dizio, que o . eu intento e gosto era dar-lb'o
em tudo o que fo 'e ju. to, B que suppo to o amor qn6
tinho SSllas terras, qne nella ficario com elles os Padres
para os doutrinar, com tanto que a se fim e uni, em
todo, e se ajuntassem em uma s Igreja.
Foi esta nova l'ecebida em Ibiapba c.om grande applall o
e festa . e logo mandaro todos o Principrres, 1111 a en
irmos, outro a ,eus filhn , a ompanhados de mai, de cin-
coenta outro' Tnclios a visitar o novo Governarlor, e Supe-
rior rIa Misso; e um delles, qne hoje c chama D. Jorge
da Silva, fillJo do P1'incipal mais antigo, para qne pa as e
ao Reino a beijar a. mo Sna Mage tarle em nome de
todos.
Faro recebido e te~ embaixadore com grande festa,
que lhes fez o Governador em sna casa, e os Padre em
o Collegio por muito' dia, e lornarilo contentes, e presen-
teados elles com outros mais pre entes para seus Princi-
prtes, que be costume mui custoso, e a veze mal empregado.
Levaro tambem prome a do Pa Ire llperior da Mi so,
que os iria vi.;iLar pelo S. Joo do anno seguinte, com a
qual esperana, e com a rela0 que d ro os embaixadore
de quo benevola e I iberalmente foro bospedados dos Padres,
se applicaro todo a unio das aldas, o ao edilicio da 110,:a
Igreja, concorrendo pal'a ella r,oITI gl'ande continuao e CU_l-
dado; ernlim, parecendo ou podendo parecer qne j e'tavao
desenganados da sua suspeita~, e eguro do seus temores,
e que tomavo todo devras a doutrina dos Padres.
Ma~ o Demonio ainda se no deu paI' venci 10, e sobre esla
to diITerente urrlidl.lra tornou a tecer e continuar a me~ma
~eia de desconfiaua , que to bem lhe tinho sahido. Par-
- 49'1 -
tio D. JOl'ge pal'a Lisboa, ficando-lhe no Maranho por
de cuido as carla que o padre Anlonio Vieira lhe tinha
dado, mas ba lou er conhecido por Indio da Misso do
Maranho, pal'a que o Conde de Odemira, que foi sempre
grande protector, como obl'a sua, o mandas e recolher em
sua casa, e prover de todo o nece arjo, com muita lar-
gueza, e apre enlou depois a el-Rey, que Deos guarde, e
o enviou outra vez para () Maranho cheio de mercs de Sua
Magestade, e uas.
Algun mezes antes do S. Joo do mesmo anno, manda-
ro tambem o P1'incipaes de n)iapba muitos Indios de ua
nao, e oulro de Pernambuco, pal'a trazerem fi sen'a ao
padl'e ntonio ieira, na fl'ma que lh'o havia prometLiclo;
ma orno o Padl'e por enfel'midade, e pela expedio das
lisses do me mo anno se cletve no Pal' al o fim delle,
e principio do eguinte, sobl'C esta tardana tornou o Demo-
nio a introduzir em Ibiapba, ou re usciLar, a me ma de-
confianas dos Padres, s6meando entre elles por bca de
cerlos Tapuyas, que Jorge no fl'3 mandado a Portugal,
seno afogado no mar por ordem do P rtuguezes, e que
o demai os esLavo j servindo, repal'tidos por c:uas casas
e fazenda", como e cravos, e que a vinda do Padre seria
com grande podeI' e acompanhamento de soldado para
lhe fazer a elles o me mo.
Crro facilmente todas esta tl'aies, os que to costu-
mad03 esto a fazeI-a' e rle I1ma povoao que poueo ante
e tinha feito de trez, se fizero logo mai vinle povoae ,
para que a iro di'ididos no podes em ser cercarIas, nem
apanbados juntos.
E ta foi a re oluo quese executou de publico, debai-
xo da qual estava di. simulada outra de m3ior desalino,
que em terem as enlado com igo, que se at a Pa choa
lhes no consta e de certo serem falsa aquellas novas, como
o Padres lhe dizio, des em por averiguado o capLiveiro
do eu, e tomassem ati fao e vingana delle nas vidas dos
mesmos Padres.
Tal era a vida que aqui viv.o este dou religio o ,
morrendo e resuscitando caeTa dia' antes morrendo sem
re u citar, porque o perigo fundava- e na ingratido e cruel-
dade desta gente, que 11e a maior do mundo, e a segurana
fundava-se na sua f, que nunca guardaro.
61
- 4.98 -

XVII.
Parte o padre Antonio Vieira para a Serra: valor com que emprebende o
caminho por terra com os mai companheiros; gasto vinte eum dias':
chego descalos, e com os ps em chagas: trata da l"eformao da
christandade: acaba com os Iudios cousas que parecio impo siveis.

Cbegaro estas noticias ao Maranho, quando chegou do


Par o padre Antonio Vieira, o qual e paz logo a cami-
nho para a serra, levando comsigo a D. Jorge, que bavia
dous mezes tinba chegado com sete Padres que viero do
Reino, e levando tambem a todos o Indios que tin!Jo
vindo de Ibiapba, as im l'obaja?'cts como Pernambucano I

os quaes quiz Deos que estivessem todos \ ivos, so, e


contentes. Comeou o Padre e ta viagem por mar, ma come-
ando a experimentar segunda vez as incertezas e a dilae
delias, se pz logo a caminho por terra, querendo tambem
por si mesmo ver a grandeza dos rio, e o itio, e a
capacidade das terras, por serem todas estas noticia muito
necessarias a quem ha de dispr a Misses.
Os trabalhos da viagem faro os mesmo que j fico
contados, e podero ainda ser maiore por caminharem
no mez de Mar.o, que he o corao do lUvemo, mai foi
Deos ervido que fo sem os dias enxuto', orno o do vero.
S dous houve em que e padeceu alguma chuva, com que
parece ql1iz o Co mostrar aos caminl1antes a merc que
1l1es fazia; porque he qualidade destas aras, que cada gota
de agua que lhes ce, se converte em um momento em
enxames de mosquitos importunis imos, que se mettem pelos
olbos, pela bca, pelos narizes, e I)elo ouvido, e no s
pico, mas desatino ; e haver de marcl1ar um homem mo-
1l1ado, a p, e comido de mosquitos, e talvez morto de
fome, e sem esperana de acbar ca a nem abrigo algum
em que se enxugar ou descanar, e continuar as im a
noites com o dia , be um genero ele trabalho que se l
facilmente no papel, mas que se passa e atura com grande
diflicl1ldade.
Vinha com o padre Antonio Vieira, alm do irmo com-
panheiro, o padre Gonalo de Veras, um dos que nova-
mente tinho cl1egado do Reino, e no sendo muito robu -
to de foras, vimos nelle com grande admirao e edificao
nossa as foras e o desejo de padecer por Deos; porque tendo
sahido qt!.atro mezes antes do collegio de Coimbra, levava
- 499-
todos estes trabalhos com tanta constancia, facilidade e
alegria, como se na cra e se crera no rigor destas praias.
Mas he graa esta propria dos filhos de Santo 19nacio, que
po to se no crio nisto, crio-se para i to. Acre centou
muito o trabalho e incommodidades elo caminho no que-
rerem os Padres ficar nelle os dias maiores ela Semana
Santa; e assim e apresentaro de maneira, que acabaro
toda esta viagam em vinte e um dias, que foi a maior
brevidade, que at agora se tem vi to; e como vinho a p
e de calo , muito dias depois de chegarem lhes no sa-
raro as chagas que trazio fita nos ps' mas o tempo
era de penitencia, e de meditar nas de Christo.
Entraro na serra em quarta feira de trevas pela uma
bora; e logo na mesma tarde comearo os oflicio , que se
fazem com toda a devoo e perfeio, por serem quatro os
acerdotes, e os Indios de Pernambuco terem vozes e musica
de canto de orgo, com que tambem cantaro a mi a
da quinta feira, e sexta feil'a a Paixo, em que viero
todos adorar a Cruz com grande piedade; e na tarde ao
pr do Sol se fechou a tri teza daquelle (lia com uma pro-
cis o do enterro, em que io todos os meninos e moos
em dua fileiras com cora de espinhos, e cruze s costas,
e por fra delles na me ma ordem todo os Indios arras-
tando o arco e frechas ao som da caixa destemperada,
que em tal hora, em tal lugar, e em tal gente acrescentava
no pouco a de, oo natural daquelle acto.
O alicio do Sabbado Santo, e o ela madrugada da Resur-
reio e fez com a me ma solemnidade e festa, a qual
acabada, <:.mearo os Padres a in teneler na reformao
daquella Chri tandade, ou na frma e assento que se havia
de tomar nena: e porque a materia era cheia de tantas
difficuldades, como se tem visto no discurso de toda esta
l'etao, era neces ario muita luz do Co para acertar em
o maiore conveniente, e muita maior graa de Deos para
o Indios o aceitarem, e pr em execuo.
Para alcanar e ta luz e graa se tomou por padroeiro de
toda a Mi~ o da erra a S. Francisco Xavier, e se lhes fez
uma novena, em que alm dos exercicio oedinarios da reli-
gio que se applicavo todos por esta teno, se dizia todos os
dia missa do Santo, e os Padres j untos na Igreja tinho pe~a
manh meia hora de orao mental, e de tarde outra mela
hora; uma, a que precedia um quarto de lio espiritual,
- OO
em que se lia uma meditao, a que tambem assi tio todos,
rematando-se a orao de pela manh com a ladainha dos
Santos, e tarde com a de NOusa Senbora, qual se acha-
vo tambem os meninos da alda, e muitos outros bomens
e mulheres, por se acabar esta devoo na bora em que
comeava a doutrIna.
Estava neste tempo no altar uma devota imagem de
S. Francisco Xavier em habito de missionaria, baptisanclo
um Indio; e e peramos que assim como Deos tem feito
este grande Apo tolo to milagroso na Europa, na Africa,
e na A ia, se estendero tambem os favores da sua valia,
e iuterces o e ta parte da America.
A primeira que se resolveu, e executou logo, foi que
todos os Indios de Pernambuco sahissem e fossem para o
Maranho, como so idos, e se e pera grande quietao e
prO'veito e piritual de uns e outro ; porque os Peroam-
bucanos com a visinhana e sujeio do Portuguezes, es-
tando debaixo de suas fortalezas, acudiro a sua obriga-
es, como tem promettido, e podero ser obrigados a isso
por fora, quando o no fao por vontade; e os da Serra
sem o exemplo e doutrina dos Peroambucanos, que ero
os seus maiores dogmatistas, ficaro mais desimpeilidc , e
capazes de receber a verdadeira doutrin, e de os .Padres lhe
introdnzirem a frma da vida christ, o que, endurecidos
com a contraria, se lhes no imprimia.
Assim mais se assentou com os P1-incipaes, e com todo
os cabeas da nao, qlle se toroario logo a unir em uma
s povoao, em que se faria Igreja capaz para todos:
que os que esto inda por baptisar se baptisario: que
todos mandaro seus filhos e filhas doutrina duas vezes no
dia, e escla (11) : que nenhum ter mais que uma mulher,
recebendo- e com elIa em face da Igreja: que se confessaro
todos, ao menos uma vez, pela desobrigao da quaresma.
Emfim , que guardaro inteiramente a lei de Deos, e
obediencia Igreja, na qual creou um o:fficio de Executor
ecclesiastico, cb3mado brao dos Padres, e se proveu em
um Iudio zeloso e de grande auctoridade, irmo do maior
P1'incipal, para obrigar a todos a virem Igreja, e cum-

(1) E d escla. Tal era a maneira de proceder dos Jesuitas em todoS


os seus estabelecimentos. No he novidade a doutrina, ora, em voga, da
exigencia obrigatoria da escla pata a juventnde.
- 5Qi-
prirem com outras obrigaes de Christos, e os castigar e
apenar, ~e fr necessario. De tudo isto se fez assento por
papel, de que e deu uma cpia a cada um do PriHcipaes,
qnerendo, e pedindo elJe., que D1es fica se, para que depoi
se .lhes tome conta por ella, e se veja quem melhor a cum-
prIu.
E porque a reformao comeasse pelos maioraes, e pelo
ponto de maior difficuldade, os trez P1'incipaes faro os pri-
meiros que se apartaro as concubinas, e e recebero com
a mulher, que por direito era legitima, fazendo alicio de
parocho o Padre superior da Mi ~o, e concorrendo com
boa parte da despeza para a fe ta das yodas, que duraro por
doze dias, e doze noites c6i:ltinuas.
EXCERPTOS DA OBRA
RELAO ANNUAL DOS PADRES DA COMPANHIA DE JESUS
PELO

P. FERNAo GUERREIRO
DA

~lES~L\ CO~IPANIHA

DAS COUS&'S DO BRllZIif... (1)


1602 E 1603

CAPITULO r.
Da Provincia elo Brazil, do numero de casas, e pessas da Companhia
que nellas ha.

He este reyno e provincia do Brazil mui grande, tem perto


de novecentas leguas ele costa, de Norte a Sul; comea do
llio que se cbama do .~lG1ranho, que est aos cinco gros alm
da Unba da banda elo Sul, e vai correndo at os trinta e cinco
que he na altura dI) Cabo da Bl)a-E perana, eotestanelo com
o Rio da Pnlta, que o divide do Pel',efica defronte do mesmo
Cabo.
Pelo Serto a elenti'o corre em parte duzenta , e em parte
trezentas leguas. Tero povoado desta provincia os Portu-
guezes como quatrocentas leguas da costa, com varia cicla-
dades e vUlas, onde ha muitas fazendas ele assucar, e en-
(1) Esta parte foi extrabida do liv. 4 da obra referida, CUj0 titulo
completo he o seguinte:
Relao annual das cot~sas qtte {izel"o os Padres r.la Companhia de
J eSt~S nas partes cla Tndia Or'iental, e no Bra.::il, Angola, Cabo- Vel"de,
Guin; nos annos de 1602 e 1603. e elo pr"ocesso da conve?-so e chns-
tandade daquellas 1Ja?'tes, ti?-ada das cartas clos mesmos Padres que
de l vier"cio. l'elo P. Ferno Gue?")'eil-o, da mesma Companhia, na
tU?"al de Almodovar-, de Portugal. Lisboa, 160-, 1 vol. in 8, ,
Este trabalh'J UO padre Femo Guerreiro he importante, mas inf~[lz
mente pouco trata do razU, mas esse pouco, aqui colligimos por IDte-
resse historico e ser hoje mui rara a obra deste Ptvlre, omquanto essa
limitada parte pOUCG sirva para a obra que emprellendemos. lHas toda II
luz que augmental'1uos na historia dos territorios vi inhos ao Estado do
Afar-anho, que alis estendia:se do Cabo de S. loque para o Norte,
qllerendo 011trOS que o principio desse E tado fosse o limite meridional ,da
doao de Joo de Barros; no deixar de ter mnita utilidade. VIde
Jaboato-O?"be Seraphico, tom. 1 dig. 4 est. 11 e Inuocencio-Dicc. Btbl.
tom. 2 pago 28:~.
-M3-
genhos mui grossos, com que a terrase vai fazendo de grande
trato, e negocio.
Por todas estas est tamhem espalhada nossa Companhia
em trez Collegios que fundou EI-Rey D. Sebastio, que Deos
tem: e cinco casas, entre brancos, e treze ou quatorze resi-
dencias em varias povoaes e aIdeias dos Bmzis (-I).
Os Collegio so(2), o da Bal1ia de Todos os Santos quehe a
cabea da Provin ia, onde ba de ordinario, assim no Collegio
como em saas resiuencias e aldeias perto de oitenta pessoas
da Companhia entre Padre e irmos; destes so os seis mes-
tres, um de Theologia, outro cffi Casos, um de Curso, dous
de Latim, outro que en ina os meninos a ler, e escrever.
Osegundo CoLlegio he o do Rio de Janeil'O, neste, e em suas
annexas ha pa~ ante de cincoenta pe soas, nelle ha tambem
e cola de Latim, e de ler e escrever.
O terceiro Collegio 11e o de Pernambuco, em que ba pas-
ante de trinta ela Companl1ia.
Entraro os nossos ne ta Provincia no anno de quarenta e
nove, paI' mandado de EI-Rey D. Joo III de PortugaL
E em trinta annos no entraro nella outro Religioso : por
onde toda a converso, que ne te tempo se fez naquella gen-
tilidade a fizero os no~sos, o quaes ainda agora vo conti-
nuando, em todas a partes do Bt'azil; posto que na Paral:lyba,
de alguns annos ae taparte (3), entraro tambem ajudar aqueI-
Ies Gentios os Religio os de S. Francisco, e depois em outras
partes os de S. Bento.
Foi sempre esta Provincia mui trabaIl:losa, e de cruz mui
secca para os Padre, em tanto, que no sabemos outra, em
que os no sos, mores difficnldades padecessem na conver o
(1) B?a~is. Tanto este nome, como depois o ele B?'azilianos, faro
llados pelos Oolonos aos i ndigenas do nosso puiz.
Hippolyto no sen ol'1"eio guel'ia, por essa cau a, que nos chamassemos
n"azl'ien 'es mas o nome de B?'azileil'o foi prefer do.
(2) Sobre e' ta materia consulte-se na Revista do Inst~tuto, tom. 6,
de pago .404 435, a Annua escripla pelo veneravel padre Jose de Apch l.eta,
em 1584, com o titulo-Infol'maes do Bl'az!l, e de suas Capttamas,
11m dos mais importantes tl'abf1.lhos daguelle tempo.
Se todas as A.nnuas dos Jesuitas obre o Brazil se colligissem, como
fizero os Francezes com as Cartas edificantes dos mesmos Padres, que
inapl'eciavel repertorio de documentos para a Ri toria patTia?
Vide Varnhagen-Hist. do B?'azil, too: ~ I?~g. 250. .
(3) Este acontecimento teve lugar em 109J, Ja no tempo .d,9 goye.rno ~o
Oapito-mr Feliciano Coelho de Oarvalho, por ama ProVlsao Regia so11
citada por Fructuoso Barbosa, antecessor de Feliciano .
.Vide JaboaLo-O?'be Sel'uphico, tom. 2 pago 50 cap. 14, da edio do
RIO de Janeiro de 1 58.
-= 504 -

dos Gentios, e oonservao do j Cbristos, que nesta (i). E


isto por varias razes.
A primeira pela grande variedade das linguas que tem
este gentio, que ainda que pela fralda do mar toda usa ele
uina lingua(2), pelo serto mais a dentro se tem j de coberto
mais de setenta linauas differentes.
Asegunda pela grandeza da Provincia, e clJstancia quI::, 11a
de umas partes a outras, pelo que custa muito aos Padres os
caminbos e pel'egrinae ,em que perpetuamente ando, por
matos e desertos despovoado com perigos infinitos de mar,
rios,bicbo (3), e inimigos, que muita destas naes so umas
das outras.
A terceira por ser neces ario irem os nos os buscar os
naturaes pelo Serto a dentro, e trazerem-uos para junto do
mar como adiante se dir.
E para que isto se entenda melhor se ba de saber, que
naquelles primeiros vinte annos, depois que o no sos entra-
ram no Brazil havia junto do mar to grande multido degente
que dizia Thom de Souza,que foi governador daquellas partes,
a EL-Rey D. Joo III, que ainda que os cortassem em aougue
nunca faltario, e assim no primeiros quarenta anno , ero
infinitos os que se converLio, e as igrejas ero muitas.
Porm como os brancos Portuguezes io povoando a terra,
e fazendo engenhos de a ucar e fazendas: e para i to tinho
neces i.dade de muito trabalbadores, comearo de lanar
mo dos naturaes da -terra, e o que peior he a captival-os e
fzel-os escravos, ferrando-os(4), evenclendo-os para diver as
partes da mesma Provincia.
Pelo que os pobres Braz'is como de sua natureza so tristes
e Goitados, entraro em tamanha melancolia, que os mais
delles morrero e e consumiro: outros fugiro pela terra
dentro e no pararo eno dalLi a cento, ou duzentas
leguas (5), e deixaro a fralda do mal' de povoada.
(1) o texto assim se acha incompleto.
(2) A lingua 'Cupyou Guarany. vulgarmente conhecida entre nS por
lingua gel'al, de que possuimos gramm.ltica e vocabulal'ios.
(il) Bichos. Palavra que entre ns tem larga significao.
(4) Fm,'ando-os, Assim praticava-se, como ao gado vacum' e cavallar,
para disLingl1ir os Indios caplivos dos ainda no CalJturados,e ainda par'!
fazeI-os conbecidos dos donos. Esta barbara pratica era sem compaixo
ex.ercida por todos os Europeos que 10"0 se estRbele<.:ero na America, e
ainda pelos HolJandezes que muito depois chegro.
(5) Refere-se s Hrandes emjgraes de Tupinambs e outros indigenas
para li IbiaVba, Ilha do Maranho e de Tupinambaranas, e outroS
pontos mais l'emotos do nosso continente.
- ~o~-

Por onde, para os Pa~res os tornarem a reduzir e trazer a


Igreja, foi necessario, e o he ainda hoje em dia, ii-os buscar
ao Serto, onde se acolhero, corno vo continuamente fa-
zendo para isso jornadas, em que gasto seis mezes, e um
anno, e as vezes anno e meio, caminhando a p rompendo
matos, padecendo grandes fomes, sdes,' calmas, perigos e
trabalhos como abaixo se dir,escrevendo uma jornada destas
para que della se entendo a oulras.
E desta maneira se torno a trazer poucos, e poucos; os
quaes no vem mais, que confiados na palavra e amor dos
Padres, que os defendero dos brancos, para que os no
captivem e tratem mal.
E comtudo i to, ainda depoi que os Padre os trazem do
Serto, o branco os ando a saltear, e furtar sem os Padres
lbos poderom defender; e algumas vezes o mesmos brancos
se fingem e, vestem em trajo de Padres at fazerem coroas
nas cabeas para que o pareyo de todo, e se vo ao Serto as
aldeias dos B?'as'is, dizendo-lhes qlie so Padres para os en-
ganarem (I l, e a virem com eLles como por vezes viero, cui-
dando que vinbo com Padres, e depois que os tem junto do
mar, os amarro e repartem entre si, e levo cada um para
seus engenbos e fazendas. .
E porque os Padre ne tIS e outras semelhantes sem ra-
zes. acodem pelos pobres Indios, e os defendem da cruel
cubia dos branco, so mal recebidos delles, e os inquieto
de continuo com muitos aggravos, e com os Reys passados de
Portugal, e depois deLles Sua Magestade, terem provido nisto
por suas Provises e mandatos reaes, nada basta para enfrear
a fora da cubia e largueza da consciencia, e pouco temor
de Deo , dos que isto fazem: e mais aonde muas vezes os
mesmos que ho de executar os mandatos de EI-Rey, so in-
teres ados no mesmo negocio.
Outra cousa que muito difficulta a converso, e cultiva-
o de ta gente, he a muita boalidade e pouca capacidade,
que de sua natureza tem, que no sabemos outra mais boal
no mundo.
Pelo que custa muito aos Padres domesticaI-os, e fazeI-os
capazes das cousas de Deos; mas com a perseverana e pa-
ciencia em lidar com elles os tem nesta parte to cultivados,
(1) Diabolica astucia que assim podia inutilisar todo o louvll;v~l es'
foro dos Missionarios; e na verdade no poucas vezes consegUlrao os
colonos ointento, como reconhece R. Southey na sua Historia o Bra%il.
62
, ...... 506 .......

que tem j ~uas Igrejas em varias povoaes e aldas, e nellas


suas confrarias do Santissimo Sacramento, e fazem suas pro-
cisses solemnes e seus filhos officio missas de oanto de
orgo, e com doainas (1), charamelas e outros instrumentos
semelhantes: e reconhecem aos Padres por seus pais(2), como
na verdade o so na obras. POI'que no smente os curo
nas almas, como pastores, prgando-lhes e ensinando-lbes a
doutrina duas vezes no dia, confessando-os e administran-
dolhes os Sacramentos, enterrando os que morrem, aju-
dando-os a- bem morrer.
Mas os Padres os governo ainda no temporal, e lhes do
ordem de como ho de negociar snas rossas, e lavoura. e
remedia de vida; e, quando esto doentes, os Padres so os
seus medicas e enfermeiros, e emfim se ho com elles como
pais com filhos, e tutores com pupil1os, e de modo que e
os Padres no faro nem hum s Indill Bmsil houvera hoje
em toda aquella oosta, porque todos J faro, ou consumido.
ou fugidos, !'l metti'dos pelo SerUio, nem tambem aproprio
Estado do Brazil se pudera conservar.
Mas a paciencia dos Padres por bum parte, em lidarem
com a cubia dos braucos e soffrerem suas per eguies, e
calumnias, por acudirem, e defenderem deHes os pobl'e
Brasis: por outra o cuidado paternal que delles tem como
de gente to desamparada e incapaz, he a que os sustenta na
f, e em viverem pcificamente nas aldas, e povoaes
todos juntos, de que tanto proveito se segue pai a o Estado do
Brazil, que sem elles impossivel fra conservar-se.
CAPITULO ll.
Do respeito, e &ujeio grande que os Brasis tem aos Padres, e do muito
que os Padl'es", que com elles tratam, ajudam ao Estado temporal.
Ainda que os Bmsis de sua natureza so to boaes e agres-
tes, todavii, como no ha 'feras to bravas, que com boas
dbras se no venho a abrandar, e domesticar; estas que
gora acabamos de dizer, que os Padres continuamente fazem
aos Bmsis, 1110s tem to sujeitos- e domesticados, que no sa-
bemos de nao alguma outra, que da gentilidade se tenha
convertido, que mai amor 1l1es mostre e mais sujeita e obe-
(1) Doainas o ainhas especie de trombta pequena com pa'
lheta e furos.
(2) Pais. Os indigenas, segundo Jabbatao, em vez de pais diziM'
pad.;'U.
- m>7'-
die~te lhes seja: de modo que Ilo somente, os que j so
chnstos, se no tambem os que ainda esto gentios e vivem
pelos matos do Serto, pela fama que l tem o mesmo res-
peito.
Pal'a prova do qual contaremos alguns exemplos, assim de
cousas passadas os annos atraz, como das modernas deste
presente anno de '1603, de que fallamos.
Era nos annos passados a Parahyba, huma colheita de
ladres e dos Francezes da Rochella, depois que faro lan-
ados do Rio de J:meil'o (1), o quaes se confederavo com o
natllraes da terra, e levavo dalli, grande quantidade do pu
do Bl'azil, e fazio muitos maIos.
Foi l _'Iartim Leyto por mandado do Governador (2), com
gente de guerra, levou comsigo os Padre, e estando os
Bmsis fortificados n'umaforte cerca(3),sem se quererem ren-
der, nem os no sos os poderem entrar: eis que um Padre
no o, que ahia bem a lingua e era mui animoso, conllado
em Deos, salta por cima da cerca dos inimigos, e mette-se
com elle , al'riscando-se a o fazerem pedaos, e ser logo
comido (4,): e abrindo os braos, lhes comea a pregar na ln-
gua, paz, paz, sejamos amigos, e outras palavras brandas e
amorosas, a quaes tivero tanta fora com elles, e elles ao
Padl'e em o vendo tanto respeito, que, depostos os anos, se
emzro diante delle, e rendero, e entl'egl'o a terra, onde
logo e fez povoao (5), e e comero a fazer Engenhos; e
foi ere'cendo de modo, que ha j hoje oito ou nove, de que
(1) Lanaclos do Rio de Jane7"o. Foi em 1567 depois da victoria de
Mllm de S. Os Francezes, que escaparam do destroo, vieram para a
Parahyba do norte, onde se estabeleceram, fazendo alliana com os
Potiguciras.
(2) Era, nessa epocha (1585), Governador do Estado do Brazil lVIanoel
Teltes Barreto.
(3) Provavelmente no combate de Tibery com o Pirajibci, chefe dos
Taba,im'as, ou com o Potigu,"as ao norte do lVIamanguape. .
(4) fie bem para lastimar o ignorar o ,!,lttor o nome deste .~esuI~,
O acto por elle praticado he um dos mais beilos da nossa hLStoqa.
Talvez que a obra do Padre Jeronymo Mi.lchado, ainda manuscripta,
iniitutada-Summa,-io das A?'madas, qtbe {i::el'o, e guerl"aS que se
dero, na conquista do l"io Parahyba. (em 1584), escripto, e ret~o pOjO
mandado do muito ]!evd. P. em Chnsto, o Padre Chrlstovao de
Gouva, visitado?' ela Companhia de Jesus de toda a Pr'ovincia do
B,'a.Jil. A esteVisiadur tambem se attribue a paternidade desta obra.
Este manllscripio importante ainda permanece inedito na Bibliotheca
de Evol'a. Vide Ci respectivo Oatalogo pags. 19 e 20.
JaboaLo no Ol'be erphico tom. 2 cap. 14 relat., 2, narra outro caso
d.a mesma especie, menos he oico e generoso, pratIcado por um Fran-
CIscano no Rio-Grande do orte.
(5) Logo se {e:: povoaco; i. e., a cidade actual da Parahyba.
- OS
Sua Magestade tem muy boa renda, e os Fl'ancezes faro
dalli lanados; e o grosso trato, que tinbo do pu, ficou todo
de Sua Magestade: e aos Indios pozero logo os Padres em
aldas, e os comearo a cultivar e doutrinar,
Posto que depois de tudo isto feyto, e em pago desta boa
obra, que os Padres alli fizero, veio outro Capito de novo (i)
que sem nenhuma causa, nem culpa,que nos Padres homes e,
mais que o defenderem aos Jndios, e o resistirem s sem
razes, e injustias que lhes fazio, os lanou dalli fra com
muitas affrontas.
Ao Rio Grande que est tl'inta legoas de Pernambuco, foi
l\'Iauoell\1ascarenhas,Capito-mr(2), conql1lsta daquellegen-
tio que tantos males, e guerras tinha feito e..ta Capitania, ma
nada pde pacificar sem os Padres, porque, ainda que na
guerra, que lbes fez os venceu, as paze porem no pde ef-
feiluar. com elles, seno por meio dos Padres (3); que entrando
ss pelo Serto aventurados a muytos perigos, e a erem
mortos e comidos dos gentios,de tal maneira se homero com
elIes, que os rendero, e trouxero a pazes com os brancos
mais de cento e cincoenta lugares (4),
E aqui depois das pazes feitas, fazendo-se a fortaleza que
hum dos Padres traou (5), os mesmos Padres andavo com
(1) Capito de novo. Este capito era Fructuo o Barbosa, com qaaoto
fosse Feliciano Coelho de Carvalho quem, em 1593, executou a Proviso
despedindo os Padres da Companbia de Jesus dA. catbechese dos Indios
Tabajars da Parabyba, sendo a sua principal alda a do Brao de Peixe
(Piragib); onde, ao qUE; parece, est; boje edificada a cidade da Parabyba.
outr'ora Philippea, e Frederiltstadt na epocha dos Hollandezes. Vide
Jaboato no Orbe Semphir;o tom. 1 digo 3 est. 11, e tom. 2 cap. 14relat.l a ;
o qual traa um hedIOndo retrato de Feliciano Coelbo de Carvalho.
(2) Manoel Mascarenbas Homem, o conquistA.dor do Rio-Grande do
Norte, era capitomr de Pernambuco em 15fJ6, quando foi conquista~
o Rio-Grande nesse anno, e principios do seguinte, 1597, at que fOI
substituido por Jl3ronymo de Albuquerque em 16U3.
(3) Por meio dos Padres. Consultese snbrll estas pazes Jaboato no
Orbe Seraphico tom. 1 digo 3 est. 12, em que elle pretende que o seu
confrade FI'. Bernardino das Neves tomou parte nesta conquista e pazes.
O autor escreveo em 160 te ]60, e Jaboato em 1761. Cumpre sobretudo
attender rivalidade das corporaes religiosa.
(4) IIIais de ljO luga?'es. He para lastimar que no se fizesse uma
historia desta importante conqUIsta, que tanto influio depois, na do norte
do Brazil. Vide Jaboato no O?"be Seraphico tom. 1 dlg. 3 est. 12. .
(51 O Jesuita que traou e construio a primeira fortaleza do RIO"
Grande do Norte, cbamava"be Gaspar ,de S. Perez. Vide Jaboato no
O,'be Seraphico tom. 1 digo 3 est. ]2.
Sobre a importancia desta fortaleza consulte-se no Liv?"o da Razo
d'Estado de Diog;> de Campos Moreno, o artigo relativo Capitania do
RioGrande do Norte, Nessa obra. infelizmellte ainda manuscripta, se
acha tambelP a planta da mesma fortalesa.
- 509 -:

os Indios na fabrica della, e com a pedra e terra s costas, a


cujo exemplo os Ioclios trabalhavo grandemente.
Cinco fo[taleza~ fez o Governador D. Francisco de Souza
no reconcavo da Babia, nos postos mais importantes: nestas
os que trabalharo faro os Jndios, vindo os Padres em
pessoa com elIes, a assistir a obra, das aldas onde estavo,
porque se os Padres no viero, a quem smente tinbo res-
peito, ninguem os podera trazer.
No Rio de Janeiro toda a fortificao que nelle fez, o go-
nadar Salvador Corra de S, que faro duas ou trez forta-
lezas, os Padres com os lndios das aldas, que esto a seu
cargo, as fizero sem Sua Magestade nisso gastar real.
Da mesma maneira passa na defenso da terra, quando
alguns inimigos ou cossairos vm a elIa, e pretend~m dar,
ou desembarcar em alguma parte, que os Jndias, sombra
dos Padres, so os que lhe defendem a desembarcao, e os
desbarato com suas frechas, mais que os Portuguezes com
seus pelouros (1).
Sendo Visitador do Brazil opadre Christovo de Gouva (2),
e estando no Collegio de Bahia, succedeu ir alli uma armada
de inia:igos Jngrezes (3), no tempo que andavo em guerra
com este Reyno, para t')marem a terra; e vendo o Padre a
pouca ou nenhuma defenso que havia na cidade para lbes
poderem impedir a desembarcao, mandou aviso aos Padres
que estavo nas aldas, que acudissem com os Indios de suas
freguezias. Vem log.o todos com suas frechas, obedecendo
risca aos Padres, o que no houvero de fazer a nenhum Ca-
pito, repartem-nos os mesmos Padres por suas estancias e
lugares, onde os inimigos podio desembarcar, encommen-
dando-lhes que o fao como christos e valentes homens.
ElIes o cnmpriro to bem, que em muitos dias que' alli
estivero e que os inimigos esLivero no porto, e por tantas
vezes trabalhro por desembarcar, nuncajmais lhds deix-
ro pr p em terra; porque. ainda que este [ndios so de
sua natureza coitados, todavia os que se crio com os Padre

(1) Peloul'oS, i. e., balas de e pingardas.


(2) Vide supra nota (4) pag 507. . . _ .
(31 InYl'ezes, i. e., Ingle;es. Rtlr~l'e-se a expedlno de Roberto Wlth
]'ingtnn em 1586. O P. Christovo de Gouva, .Jesuta, cobrio-se de gloria
por esta defeza da Bahia. Segundo B>trbosa Macbado na Bibliotheca Lu-
sitana, fRl1ecra em Lisboa 13 de Fevereiro de 1622, deixando una obra
que se no imprimio, sob o tiL1.11o-Ifistoria do Bl"1'f,Sil, e costumes de
seus habitadOles.
- 5iO-
e so cultivados por elles, com o a~or paternal com que o
Padres os trato, he cou a maravilhosa os espirito que ca-
bro e o quanto homens se fazem.
a Capitania do E pirito Santo dero os Ingreze com
duas nos de subito ('1), e saltando em terra e estando a
gente descuidada na igreja, entraro e tomaro a fortaleza,
que os brancos lhes no pudero defender. Neste tempo o
Padre da alda- que via vir a' no , entendeu que alLavo
em terra, ajuntou logo os Indio , e veio soccorrer a cidade,
e chegando a tempo que os inimigos acabavo de tomar a
fortale a, dero os Indio nelte, de modo e com tanto e -
foro, que lhe tornaro a tomar com morte e captiveiro ele
muitos.
E em Pernambuco, quando os Ingrezes faro com uma ar-
mada tomar a fazenda de nma no da India que alli foi ter, e
que depois de a metterem em suas nos, quizero ir dar na
villa (2). O Judias, que o Padres criavo e cultivavo, faro
a principal ajuda que os brancos tivero para aquelta victoria
que alli alcanaro dos in.imigos, matando muitos a capti-
vaudo outros, etc., fazendo aos que fuaio para uas no
deixarem a arma e embarcarem-se a nado, e meio afogado.
E posto que de semelhantes ca o se pudero referir
muito , que cada dia acontecem, s relatarei um por el' mai
moderno, e succec'er neste anno de '1603, de que fallamo ,
que foi o seguinte.
Estando o Govem:ldor Diogo Botelho em Pernambuco, e
de ejando soccorrer Bahia, petio do Capito-mr Alvaro
de Carvalho e da cidade, contra os Gaymu,res (3), uns gentio
inimigos de que abaixo dircmo , que infestavo e de truio
toda aquella comarca, com alaumas comp!uhia de gentio
Petigua?'es, mandando ao serto (4) o Capito-mrde Pernam-
buco Manoel Ma carenhas (5) a fazer gente para es e eITeito,

(1) Refere-se expedio de Thomaz Cavendish em 1592.


(2) Trata da expedio de James Lancaster, em 1591 ou 95. A villa, a
que se refere o aut.hor, era Olinda.
(3) Gaymw-es. Tambem assim os colonos chamavo os indigenas Ay-
mors.
(4) Mandando ao Sarto. O Rio Grftndedo Norte, embora apenas po-
voado no Utor91 pelol3 colonos, era ento reputado Sm-to.
(5) He o mesmo Mancel Mascarenhas Homem de que trata a neta (2)
pa"".508 supI;a. Sefoundo Fernnndes Gama nas MemOl'ias ele Pemam-
bt~co tom. 1 cap. lt:, Mascarenhas volt~tndo do Rio-Grands do Node
continuou no governo de Pernl\mbuco at 1610, em que fo substitudo
por Alexandre ele Moura,
- 51

pedio ao padre Provincial (1), para que fosse juntamente com


elle o padre Diogo unes, da nossa Compnllia, por ser mui
pratico na lingua e experimentado nos co tumesde te Gentio.
Indo,depois de muito dares e tomares que tivero com elles,
o quaes em nenbum modo querio ir; emfim,com prome sa
que lhes fez o Capito-mr,que acabada a guerra se tornario
pat'a sua' mulheres e parente, se abalro como oitocentos
mancebos e forcados.
Viero ii. Pernambuco, onde se embarcro pa a Babia,
e com elles o me mo padre Diogo Nunes, por a im o pedir
oGoyernador, e tambem o me mos Petigua1'es, que por elLe
ir em sua companbia, cuidavo lhe gu3rdario a palavra.
Chegaro a Bahia desejosos de vir as mos com o ini-
migo, Sahiro em terr3, dando a cidade aprazivel vi la de
. i, Ma , como j neste tempo estava j feita a paz com os ini-
migos, pareceu ao Capito-mr Aharo de Carvalho mandar
a mr parle de ~a gente para a Capitania dos Ilbo , e os de-
mai deixar na Ballia' no para pelejarem, mas pal'a maior
egurana da terra, pondo-os em uma parte onde lambem
elle~ pode sem trabalLlar. Vendo i to o Petigt~an~, que lhes
faltavo com a palavra, porque nem iam pelejar nem "io
O'eito de e tornarem para ua tel'ra, dissimularam por alguns
dia : porm receio o que o brancos os e palhas em c
captiva. em, como co lumo, para se servir delles em suas
fazenda , no tendo tambem com que se su lentar, mandaro
pedir licena para e tornarem para sna terra<:, quando no,
que elJe a tomario.
Acudio logo o Capito acomp3nbado dos soldadQs, e de
alguns bomens ela cidade, que pretendio ter fazendas no
me mo sitio e lugar, onde tinbo alojados o Petigua1'es: dos
quaes para eJla se querio aproveitar, fez-lhes uma comprida
pratica pelo linguas, persuadindo-os a ficarem.
Porm, elIes 1118 respondero quese havio de tornar, pois
com e ta condio viero, j que no havia guerra.
O que venqo o Capito-mr, e havendo-se por ,afrontado
de no os poder trazer por bem ao que queria: mandou logo
ii cidade, bucal' a toda a pre a dua companhias de sol-
dados, os quae chegando aonde o Capito os esperava, os

(1) o l'ad,'e Provincial. Parece que occupava ento esse lugar o Padre
Pedro Rodrigues, qUG falleco em Pernambuco exercendo o cargo em
1628.
- i2-
Petig,uares, que os sentiro, se comearo logo a mutinar (1),
confirmando-se mais DO que antes imaginavo, que os querio
os Portuguezes cativar, pelo que logo se puzero em
ordem de peleja, para defenderem suas vidas, e liberdade.
Tomou-se conselho no caso, ajuntando-se os do gover-
no da cidade, duas vezes naquella noite, e em ambos sahio
que fossem havido por levantados, e rebeldes, e como taes se
desse nelles, e isso por quererem os pobres Brasis defender
sua liberdade, e tendo Sua Magestade passado tantas Pro-
vises, que no posso ser cativos.
O Capito-.mr porm, como prudente e bom christo,
uzando de melhor consell:lO, e entendendo os grande male ,
que daqui se podio seguir, buscou o mais seguro reme-
dia para semelhantes perigos, que posto que de todos 11e
conhecido, a cubia porm de muitos, faz que no eja
seguido.
Este foi, que despachou logo correios, para cada uma
das aldas, e povoaes, onde nQSSOS Padres residio, os
quaes estavo dali legua e meia, com cartas, em que lhes
pedia o viessem a soccorrer naquelle aperto. Cujas pala-'
vras faro estas. Importa ao servio de Deos, e de Sua
Magestade, que v. v. r. r. sem nenhuma dilao, se venho
logo ter comigo com os frecheiros que poderem: e o por-
tador dir de palavra o aperto em que ficam9s. )
Acudiro logo os' Padres com toda a pressa: fallaro ao
Petigua1"es, mostrando-lhes o amor de pais, que lhes tem, e
pde isto tanto com elles que no houve mistr mais fora,
nem palavras, para se aquietarem, dizendo todos que sem
nenhuma resi tencia fario o que os Padres lhes di se sem:
fiGaro o Capito, e os mais, maravilhado.
Mas pretendendo depois o mesmo Capito-mr levar uma
boa parte dos principaes para cidade, para que assi a
elles como aos mais tivessem seguros, e procurando
trazeI-os a isso por uma pratica de um Portuguez lngua,
elles lhe respondero allegando suas razes, que no convi-
nha desampararem os seus, porque entendio o fim que
nisto se pretendia.
Por onde o Capito no teve outl'O remedia, que tornar-
se a valer dos Padres, os quaes vin'do, lhes fez um delles uma
falia diante do mesmo Capito, e Portuguezes, persuadindo-os
(1) llfutinal', i. e., amotinar.
- {3 -

avirem no que'lhe pedio, ao que respondero logo, que por


amor delle, e de eu irmo, <lpontando para o companheiro
do Padre, no por respeito do Capito,nem dos mais,fariam o
que lhe dizia; de que ficaro muito mai e pantados o
eircum tante ,e daqui se pode entender o re peito, e obedien-
eia que este Inrlio~ tem ao Padres, e quanto tambem a
paz, e quietaco daquelle Estado, e augmento delle, depende
dos [ndio andarem . . empre ombra e proteco do Padres,
e de o me mo Padres nisto erem ajudados e favorecidos
de Sua Mage tade, e de seus mini tro , para que ueste par-
ticular eja melhor senido delles (1).
CAPITULO m.
Do fruclo em geral que os nossos fazem nesta Provincia, e de algumas
[isses que fizero ao Serto,
Com trez sorte de gente, exercita a Companhia nesta
PI'O'.'incia seus ministerios : com os Portuguezes, com os es-
oravas de Guin, e com o natUl'aes da terra.
Com o Por~uguezes prgando e cn.fessando, e ensinalild o
e fazendo o que em todas as outras partes costuma, con-
forme a seu in tituto : de que se colhe muito frut.o, e salvao
ele muita alma, converses e moes maravilhosas (2), com
que Deo por meio da pregaes a toca, apartando-se de
grandd. peceados em que ha, ia muitos annos andavo. Ti-
ro- e muito adio', reconclio-se entre si muitos que
nelle ,ivi , impede-se muita mortes, fazem-se muitas
re tituie e muitas outra: obra pias de grande servio de
Deo , que por erem ordinaria em to las as partes, no
especifioamo o particular dellas.
A l'egunda arte de gente, com que a irpa clis emo os
Padres fazio muito fnl,cto o o negros de ngla e Guin,
paI' haver grande numero delles ne ta terra, e muito to
boae , que qna i e lhe~ no enxergava u o de razu. E tes
e to e paUlada pelos Engenhos e fazenda de eus senlto-
(J) Por esla simples e ingenuR uarrao se v a prudencia e o acerto
Com ql1e procedero os Jesllita.~ em presena. do procedimento desleal dos
Portuguezes, cuja cubia no poclio vencer. _
Os Poti[J~Gdl'ell ou l'etigudre ficaro na Bahia e nos IUlos, mas nao
caplivos. .
Porla'llo dema~iado iuju ta hea. censura de FernaniJe Gama quando,
na sua obra lIJenwl-ias ele Pel'nambuco tom. 2 cap. 2, accusn. os JesUl-
tas rIe cumplicidade no procedimento do capito-mr Alvaro de Oarvalho.
(2) Moes mal'emilhosas, i. e., emoes maravilhosas..
63
- n14-
res; e, por que no he passiveI virem s viHas e cidades, ha
alguns Padres que ordinariamente correm todas esta fazen-
das confessando-os, cazando-o , ensiuando-lhes a doutrina e
admilllstrando-lhes os mai Sacramentos, assim a elle com o
a seus senhores, e para i to e detem em cada fazenda al_
guns dias de que no se pde encarecer o fmcto que se
colhe, porque se os Padres dessa maneira o no fizero
muito poucas daquellas almas se a/varo.,
A terceira sorte de gente com que os Padres exercito
seus ministerios so os proprios Hrusis naturaes da tena, e
porque alm do que e faz com o que e to e moro pelas
aldas em que os Padres residem, como acima tocamos, o
principal he o fructo que se colhe de varias Mi ses, que vo
1'a zer aos que esto pela terra dentro do Serto, e em o
trazerem para junto do mar (1). I to se poder ver do que
logo di remo .
Como todo os Brasis que vivem ao longo do mar, em
varias aldas e povoaes vizinhas s dos Portugueze , ejo
christos, e os Padres com eUes no tenho mais que fazer
que cultivaI-os na f para converterem outro de novo, be
neces ario irem-nos bu cal' ao Serto pela terra dentro, onde
elles se tem acolhido, por e caparem das vexaes dos bran-
cos, e assaltos que nelles do para os captivarem.
Porm nestas jornadas, que s vezes so de cento e cincoenta
e duzentas leguas, ma.l se pde crer o que osPadl'es padecem,
caminhando empre a p, e abrindo novos caminho~ por
e~pessas brenbas e altas erra; e indo por terras de po-
voadas e de erta de homen , mas cheia de ona e besta
fra , padecendo fomes e de gravLsima , pas ando muitos
dias sem comer mai , que folhas de ervas e s vezes ralos
e cobras, lagarto ,e matando a sde, ou temperando-a com
raizes ou folhas de hervas humida por aquella terra do Serto
ser fa1t;). de agua, e no a acharem eno raramente; e para
que tudo i to se entenda melhor, poremos aqui parte de
uma carta que escreveu um dos Padres que, no an no de '160~,
foro uma deslas Misses, ao ReItor do Collegio da Ba/lJa
donde partira, a qual diz assim:
({ Partimos desse Collegio a 23 de Setembro de i 602,
fomos logo ter s alda da Cachoeim, dahi comeamo a
entrar pelo mato. Passamos por varios rios, chal'cos, lag\
(1) Assim se praticava por interesse da educao dos Indili:en~s.
- 5H5-
e lamares intoleraveis, e, como todo o caminho, andamos a
p, e a terras so to fragozas, aconteceu-nos muitas vezes,
embaraarem-se nos ps as raizes do mato e em outras
bervas, e darmos comnosco no cho, e irmos rodando um
bom pedao pela ladeira abaixo. Indo mais pelo Serto a
dentro e entrando na terra secca no podiamos caminbar
cada dia, mais que at as onze ou doze boras, ou at acharmos
agua, e quando a acbavamos, iamos j to canados, que
nem em p nos podiamos ter, e assim nos estiravamos
pelo cho, sem podeemos aguardar qun os Indios nos fizes-
em cboupana para nos agazalharmos, e desta maneira nos
estavamos at a tarde, que os moos vinho do mato com aI
gun rtos, ou rs, que nos trazio para comermos.
Outras vezes ti emos porcos montzes ('I), mas como por
estes matos no ba ordinariamente outra cousa que ratos, co-
bras, lagartos, ou r em alguns charcos, este eea nosso ~om
mum mantimento, que nos fazia bem de asco, porque quasl no
teme tes ratos (2) differena dos que l ando pelas casas; mas
a fome no fazia comer tudo, a qual ainda que grande, muito
maior era a sMe que nos atoemenLava, por no vero ser tudo
k'io secco, que em muitas partes no achavamos outra agua
eno a de alguns ch rco , que do inverno ficro,e, onde 'Vo
beber, quantos bicll0S ha por estes desertos, que he causa
de muita doenas, e de que nunca mais so os homens sos
que vem ao Seeto : e alguns logo c morrem, destas e outras
semelhantes beberagens.
Uma vez me aconteceu que chegando a um passo no
podemos achar mais agua, que quanta se tirava de uma
cova (3) que os Iudias tinho feito com muito trabalho, na
qual e tava merejando no sei se agua, se lama.
Os Iudios por me fazerem festa e caridade, deixaro pri-
meiro chegar o moo que nos servia ao buraco, o qual
comtl'abalho encheu um pucaro,que,alm de ser mnisalobra,
tinha tal cr que me foi necessario fecbar os olhos para a
beber; mas em acabando de a beber, eis que chego cor-
rendo no Indios clamando que a no bebesse, porque no bu-

(1) P01"COS montt.::es, i. ., caitit,s e queixadas, tambem chamados


em outros lagares taitehbs, tayass e pecal"is.
(2) Ratos. He o animal chamado P'"e e tambem P,"ey, que muito se
assemelha com o rato, posto que sem cauda, e melhor alimento.
(3) Cova, i. ., uma cacimba.
- ~H6-

raco estava Ul1ld'6Qij?'a(i), que heul}1 corto genero de cobras


da mais peonhentas, que ba no Brazil. Veja V Revma.
que tal ficaria em ter defensivo algum ele que me -rales e.
Levantei o olhos Deos, offereci-me, e encommen-
dei-me elle : lembrei-me do qQe o Senbor di e, et si ?n01'-
tife?'um quid biberint non eis nocebit : e a jm foi elle ervido
que nao s ento, mas nem depoi , at agora senti e. mal
algum, nem signal delte.
Desta maneira caminbamos por este de ertos e brenhas
todo o mez de Setembro e. OuLubro, dormilldo empre ao
sereno, luar e chuva.
Indojperto dasalda do Gentios,mandei avi o adiante,
porm estavo to cgos com a sua nerJ?'a Santidade, que no
recebro bem nosso mensageiros (2),e quizero matar o prin-
cipal delles que ia com o recado. E Ila-se ele saber, que san-
tidade entre este GBntio, no he outra cousa, eno certas
palavras que diz um feiticeiro com a quaes os ouvintes,
sem mais ceremonias ho que licITo scmtos. E, para prova do
mo animo que tinho, dero logo com as mulberes fra da
alda, fiando s a gente de guena ; do que sendo ns avi-
sados, apressamos o passo, por enLI'armo na me ma alda
ouidando, que estava despejada, porque no abiamo da
gente que nella estava, e de ejavamos apoderarmo-nos clella.
Por este respeito caminhamo dnas jornadas em 11m dia
em que Deos nos liv.rou de muitos perigos; e ainda que eu
ia diante, quiz De.os que no entrasse primeiro porque
sem duvida me houvero de matar; ma adiantaro-se oito
ou. dez Indios dos nossos Tapuyas, aos (Iuaes como viro
os que estavo na alda, lhe cabio logo o animo e no ou-
zaro abolir comsigo. Entrando eu ap etles vi a uma parte
quarenta mancebos bem apercebidos, comecei-lhe a prgar,
e acabada a prgao me dero locro as boa vinda..
(1) Ebij?-a. Marcgrav chRmaib'ij,-a, e Piso 1biiaram que quer cli~er
cob,-a cega. Os Tapuyas a denominavo bodty. Il~ a cobra de duas cabe-
as, serpente mui veuenosa, vi"endo em subterraneos ou debaixo da
terra, e cuja cauda se assemelha muito com a cabea, resultando d'ahi o
nome que notamos; e tambem o de cob"a cega por cau a dos olhos que
tem mui pequenos, e taes que p!lorecem abertos pela ponta de uma agulha,
e mui adherentes ao epiderme.
Diz-se que o seu veneno no tem U1'R: a cr'he mui alva e lustrosa
como vidro, e so de limitado cumprimento.
No he pois ajararca, nem a boicininga, que os Portuguezes,Lradu-
sindo. chamaro cascavel. r
(2) Negm Santidade. Tratava-se de um indigena Pag, que se intim-
lava santo.
- fH7

Estava entre elle - m filho do P?'itLCipal, e outro do re-


gedo?', q mandava executar a ju Lia. A este dou pedi-
mos, nos mandas. em dar uma casa para no agazalhar-
mos; o que elles logo fizero de boa vontade.
Neste mesmo dia tarde veio o Principal com gente bem
armada. Chegando portas da crca, correu logo pela
all1a uma voz, que dizia: Vem o Pai g?'ande, sahi todos a
7'eceuel-o: dizendo isto pelo mesmo P?"incipal.
Sahiro todos a recebel-o com diligencia: eelIe come-
r,ou a entoar uma aravia (i) ,de que nada lhe entendemo , nem
cuido que elle me mos a entendem: e isto fallando elle e
respondendo-lhe os outro maneira de Cleriaos, que rezo
cro. Eu lambem ~ahi de casa trez ou quatre pa .os.
ElIe e. ta, a como quem en ina a doutrina, mi~turando mil
di pal'ate como era diz ..r Santa Ma?'ia, l'upama, Rem?'6co,
ljue quer dizer Santa J!1a7'ia muthe?' de Deos, e outro de pro-
po itos emelhante.
E tava po to de joelbos com os olhos no Co e as mos
Icvantildas e <lberta. como sacerdote que diz missa; de-Ihe
a boa vinda, elle me abraou dizendo que me no e~pan
ta~ e, de se recolher ao mato, porque no queria CI' ,-isto
de todo~. Neste dia noite fez enforcar um mancebo, por e
qnerer lanar cornno co, fallando-Ihe depois nis o me di se
que tal no mandra, mas que -eu amo o enforcra por
briaa' que com elle tivera.
Ao dia eauinte me pedia audiencia sahimos ao terreiro,
mandei fallar um Indio nosso, Principal. Mas re pondeu com
contar de sna santidade, no que foi to perluxo, que lhe disse
eu, ]ne no vinha a ser en inado delle, nem elos, eus, seno
para eu lhes ensinar o caminho do Co, e que para i ,o os
qeria levr pilra a 19reja, e para me eletermin3r DO CJ1le havill
de fazer me d. se a J'e pO~t::1 : re. poneleu que se determinava
ele vir, porm as obras mo~trariio o contrario, porque cm,
oachaque de ir buscar a mull1er e o mai<:, em mais tornar
e foi com todos o eu.
. ( AndITo e tes pobres cgos com aquella wa, a que cbamo
santirlade, que totalmente tem par;a i, que no ba ou~ra : e
que elle ss. 50 o que acerto, todo o antro l.e ns~ lamas
errado, pela noticia que l tem elas cousas da IgreJ por
(1) Al"avia ou Ambid. Mornes no Diee. diz, que be a'linguagem emba-
raada que se n entend'e. lie um synbnj'lT\o de ge"ingona e vascon-
o, algaravia e ge,.,nania. .
- 5t8-
alguns Indios, que, fugindo diante os Portuguezes e foro
pelo Serto a dentro, baptizaro os seus, posto que no na
frma da Igreja, e todos os homens poem nome Jesus, e s
mulheres MM'iit.
Uso da cruz, mas com pouca reverencia, e tem outras
ceremonias ao modo das da Igreja. Tem modo de acerdotes,
aos quaes obrigo a guardar ca tidade, na quaJ, e falto, os
depem Jogo do oflicio.
Imagem no lhes vi, ma is que uma de cera, de figura de
raposa, emfim, ainda que de confiados de podermos levar
gente, se nos ajuntaro alguns com que comeamos cami-
nhar e tornar para o mar.
Vindo pelo caminho, rompendo por aquelles matos e atra-
vessando aqnelles deserto, todo em frma de arra)al, dero
novas ao Padre que vinha diante, como por fraqueza e in-
dispo io, ficavo atraz alguma pe oa.
Foi Jorro busca-lo o irmo companheiro do Padre, com
alguns Indios mais e?forados, e ao cabo de uma leglla acharo
ao p de uma arvore um Indio, que escolhra aquelle lugar
para ua sepultura, to fraco e debilitado, que no podia le-
vantar a cabea: deu por noyas que outros ficavo mais atr
no mesmo estado, manda o irmo todo os companheiro
por elles, e e1le consola aquelle com palavras antas, por
que no tinha outra cou a.
Determina de o tomar s costa, e por ser mui comprid o
ata-lhe os braos, e lana-os. a seu pe. coo e os ps ntou com-
sigo ii cintllra, comea a caminhar encostado a sen bordo,
com a ovelha perclida que trzia s co ta , como bom pa tor
para o curral de Chri to ; e por haver pouco tempo que p:1 -
sra trinla dia sem comerem todos elle outra cou a que al-
guma fructa, como nesparas (II) e manicoba brava (2), que go
umas folhas peonhentas, as CJuae pi o e espremem,e depois
ecc.o ao Sol para se comerem, mas em go to algum e por
isso estava to fraco las fora , que ellas l!le comea ro a
faltar e sobrevir desmaios com suores da morte.
(I) Nesparas, i. e., nesperas, fruct'l. da Europa um pouco semelhana
do umb, fl'l1cto do umbuseiro, abundante nossel'tes da Bahia. Em al-
p:umas Proviocias cbamo imbl~, e Ayres de Casal quem seguia Casa~(l
Giraldes diz amb e ambus~iro. Tanto as nesperas como o umb sao
agridoces. .
(2) Manicoba, i. e., a manioba. He a folha da maniva, ou pau de man-
dioca, cujos grlos tenros o vulgo come guisados e esperregados, seguudo
o testemunho de Moraes, no Diccional"io.
- 519 -

({ Mas nem por j so largou a ovelha que levava s costas.


Descana um pouco para continuar o trabalho, tira foras da
fl'aqueza, as quaes a caridade lhe dava, contina seu caminho,
.e chegando a uma fraga a, e ingl'eme serra aonde igualmente
e havia de ajudar do ps e mo<:, ainda que a subia com
muito trabalho, com muito maior a ele ceu, porque eomo
era j de noite e' 'ocregando-lhe os ps, faro ambos tom-
bando pela ladeira abaixo com bem perigo; mas Deo. o
livrou delle, e como pde se tornou a levantar, dando graas
a Nosso Senhor por to evidentemente lhe ter occoreido, e
continuando seu .caminl1o s dez ou onze horas da noite,
chegou aonde estava o Padre.
E, e perando ambos pelo que ficavo atraz, 'e faro aca-
bando sua jornada at chegarem ao mar, trazendo de ta
Mi o e outra , lue de ta maneira tambem se fizero, mil
e ti'ezenta e setenta alma ao cUlTal de Chri to.
E muitos de te Indio , em chegando, procuro logo ser
baptizados, pedindo-o com in tancia allegando que pa isso
vem de sua terras.
CAPITULO IV.
De alguma' olllras sahidas qllefizero osPadres!1. varias partes do Brlzil.
E to dua Capitania debaixo do di tricto de Pernam-
buco. Na quae ambJs ha grande numero de Iadios, os
quae e se converterem, e reduzirem a povoaes e aldas,
alm do acrescentamento do rebanho. rle Christo, que com
elles ser mui granue, cre cera lambem muito aqllella terra
no temporal e far- e-lio muitos Engenho, porque he mui
boa e acommoda la para j o. Mas no podem os Padre
fazel' aqui muito, porque como no tem ca a e!TI que rejdo
nem com que l e ustentem, no pdem a i til' naquella
partes de vagar, se I\o por breve tempo em Mi es. E
de ta' se fizero algumas. uma dellas foi de dous Padres
s aldas dos Petiglba1'B-~, que esteio no termo da Capitania
da Parahyba, as quaes sero deza eis, onde haver como
quinze, nu deza eis mil alma ; e uma de tas, que foi de um
gentio podera o, que se chamava Po Secco (I), ter mais de
trez mil.
Qua i toda, ou a mais desla gente est ainda pag, pOl' falta
(1) Po Secco. he tmduco' do nome Tupy-Ubimtining. Vide supra
nota (4) ii. pago 177.
=- v~O -

~e gU,em 9s bapLise, e cultive. FQrque como e t COnta de


putr,os Religiosos (1), nem elles lhes pdem acudi.', nem por
seu respeito acodem os nossos, e a sim morrem muitos em
japtismo pedindo-o e requerenr~o-o muitas vezes, entre
os ql,1aes foi o Pdo Scco, qUE: acima dis emos er o
p'rincipal.
Cousa de grande lastima, e que d grande pena aos Padres,
mas no o pdem remediar. Quando afora ele ta vez l
fQl:o os dous (2),que di:semos avisitar aquelll comarca, bavia
trez annos que estes gentio' estavo de amparados, pedindo
continuamente o po da f, sem haver quem 1110 partisse;
nem pessoa alguma que, pelo menos, lhe fra baptizar os
qu.e estavo in ext1'emis, dos quaes os Padres desta vez bap-
tizaro sessenta, e 'logo morrero muitos delles. donde se
pMe colligir os que morrerio em trez annos.
Mostraro estes Petigua1'es geral alegria com a ida dos
Paqres, e a sim os vinho recel~er muito longe, alimpando
os camiobos e ruas: vin o diante os moos, e .de repente
sahio de suas emboscadas com tambor s e festas.
Depois vinho os bomens e, perto das aldas, sabio o
Principaes e as mulheres, e quapdo os Padres cntravo mao-
Qavp ta,oger os sinos em signal de festa, fazio entraI! a gel1Jte
na Igreja, onde, depois dos ~adr:es f~zerem orao, lhes_~azio
ma prati.cJ, de como os vinha.a vizitar, daDdolhes os pa-
rab,ens de terem j' Igrej a, e quererem er Chri 9t.os, e que
por isso vinho a suas terras, a prgar-lbes para por meio da
prgae,o conbecerem a. Deos.
Com isto se despedio da Igreja, qnde os Padres I1cavo,
mas ton'\avo logo com seus presentinho, de sua pobreza:
~~ndo-se por mofino o que no tinlla que lhes trazer.
Mostr.avo-se muito conhecidos, e agradecidos dos bens

(1) Outros Religiosos, i. e., Franciscanos e Benedictinos.


(2) L ri'{lf) dous. O '1tle diz o author est de ac~ord@ com o que refere
Diogo de Campos Moreno na sua impol'tante obra manuscripta - Rasao
d'Estado do 1:J7'asil, tratando da Cap'itania do Rio Grande do orte, e
tm a data de 16l2, n estes termos:
Tem este clistl'ictn desaseis (lG) aldas ele Indio , algumas mui pe-
quenas, todas mal governadas, e inquietas, por lhes faltar a clout~'ina de
Clerigos, e Capelllies, ou de Padre', 0!l de quaesquer outros Re!lglosOS.
Os da Companhia,mando certos tempos, dotlS Padres a visItaI' esta
gente, mas como dLlro pouco com elies, nunca fico em estado que
~osso sorrir aos moradores, para que a,ssi uns e outros se sustentem e
facilitem. , , " ,
ql1e 'os "Padres lhes'tinbo feit0; assim" em serem os media
neiros ns- pazes entre eHes e os brancos, como em os vi-
rem agora encaminbar para o Co,. posto que por outra' parte
se queixavo delles dizendo:- que pois de primeiro faro
as suas terras sem arreceio de lbe quebllarem a cabea, e-
em tempo que ainda estavo cheios de adio, e pois lbe pl'-
gavo que fizessem Igreja, porque depoi disso os deiX'a'Vo
em tamanho desamparo? E no os vi itavo, havia tanto
tempo? })
Um Principal dizia :- vs me deixaste~ vindo eu logo,
e seguindo vossas palavras no vos' lembra,tes mais de
mim. Deixei logo minha8'terra-s e, com desejo de ter Igreja,
eu mesmo a fiz. sem ninguem mo ensinar, desejando ele ter
Padre que en ina sem meus filhos, e pois vs fostes os que
no dstes este bem, a vS queremos. }) Isto disse este e
outro tambem o ajudaro com palavra semelhante, e no
s (IS Principaes, mas muitos tambem dos communs.
E 1laes mClstras davo de seus desejos,que se no sabe ver-se
no Brazil semelbante cornverso de Gentios, porque sem terem
mestrel nem quem os mettes e em ordem, logo' como o
Prio Sp.cco de que fallaJ'nos,. veto pedir licena aos Padres e
elles lha der,I0, papa fazef'fgreja. Todos o outros fizero o
me, mo em ,uas ald;\s; sendo pagos como ai nda oso; ' pOl~
si me!'mo' bu caro ornamentos, imtlgens e sinos para ellas
com tantO I fellvar, que se no pde encarecer, e iO trabalhar
aos brancos, para com o dinberru que ganha sem cmnprarem
o acima dito.
Cumo ao tempo que 0"5 Parires chegro a. estas alclas,
eTa j morto o Po Secco,Principal gentio de lodo este Serto,
e fronleiro da Farayba,; viero-nos esperar ao caminbo seus
filhos e seu irmo ('1), o ql131 ficou, e h,e agora o Princtpal.
No se'quiz este apartar dos Padres desc'e a pt'meira po 'oao
onde os e perou, at a terceira, mostrando-lhes milito amor,
e- os desejos que ttnho de os terem por me tres de suas
aldas. Cousa que aos Padres por buma parte causava muita
ale.gria, de verem, a que os Jndios r cebio com ell, s; pOF
outr muita tristeza, por' verem que lhes no podio seI' bons,
no que elles tanto elesejavo, e pedio, que e'ra ficarem-se com
elles.
t_

(1) Seus filhos e seu irmo. Serio o Jagualaly. e s'eus sobrinhoS Poty
(Oamaro) e Jaaaund.? He sifuples clije'ctUl' noss'a, posto que o termo
{l'onte1'o parea contradisla.
64
- 522-

Outra Misso fez esta mesma gente, o padre Provincial


Pero Rodrigues (1) com alguns Padres,o qnal foi recebido delLa
com extraordinaria alegria. vindo-o receber ao caminbo com
varias festas, algumas duas leguas antes de chegar. Vinha
entre elles o Principal dos Petigua?'es chamado Mrta?'ouba (2),
ao qual perguntando os nos~os porque vinba canal' to longe:
respondeo, pois que o Padre vem canar por amor de mim,
no be muito canar eu por amor delle.
Fez este muita inl'tancia ao padre Provincial, que lhe de se
Padres que doutrinas,em, e fizessem cbristos a seus filhos;
dizendo: eu no desejo eno ter quietao n3 Igreja, e para
isso vim de minha terra: j no quero ver rodelas (3), nem
quero [rechas seno para matar caa. Eu me vim logo da mi-
nha tel'ra, seguindo as pizadas dos Padl'es que l foro, evi-
rando-se para bum delles, accrescentou: Bem me lembro,
que me di. sestes na minha terra. e logo puz vossas palavras
em meus ouvidos, em minha entranha, e na minha lingua,
para as dizeI', e nas mos e dedos, e em todos meus membros
e sentidos. Agora queria que o Padre me no falta. se com
o que lhe peo, nem me deixasse estar tanto tempo espe
rando, quem me ensine doutrina a meus filhos. E o mesmo
desejo mostrro todos os outros P?'incipaes do riti-
guares (4.).
Fizero-se nesta Misso alguns baptismos, e chegario o
baptizados a sessenta ~ quatro, que por ora, no quizero
(1) Pero Rodl"igues. Foi Provinc aI do Brasil por mnito tempo, e es-
crevo a primeira Vida do venlwavel Pad,'e Jos de ,41'!chieta, que in-
felizmenle ficou manuscrita; de onde o Padre Sehastio BereLtaro, da
mesma Companhia, e Italiano, pde compor a S:laem Latim, qne foi tra-
duslda emHespanhol pelo Padre Estevo de P.lternina (16[8 ; em Italiano
(1 21) eem Franc&z (1619) por Padres da mesma Companhia, cujo nome no
dedno. A vidado mesmo Venerave[,pelo Padre ::lilllo de V..scollcellos.
(1672)uma traduo de Paternina, e a composta pm Francez (1~18J por MI'.
Carlos de Sainte Foy, no he seno a tradnco da de 1619 remoada, ou
anles prep..rada segundo o gosto modemo.
O Padre Pedro Rodri~ues vi' o quasi sempre em Pernambuco, e fal-
leco em 16 8 como j dis.semos em 011 tranola.
Vide na Bibliotheca Lt~sitana art. Pedl'o Rodl-igues.
(2) Metal'ouba. Entre o Principaes Potiguras de que trata Simiio de
Vasconrellos nas Noticias do Bl"asil, liv. 2 n. 2, no se acha este nome
contemplado.
(3) l/odeias. Pequeno escudo de que usavo os indigenas. Parece que
este uso era muito em voga entre os indgenas que babitavo as n:ar!!ens
do Rio de S. Frnncisco, pois que ero assim em geral denominados, e
aquel!e Serto era conhecido, por Sel'to dos Rodlas. Vide Acci"li-
illemol'ias da Bahia tom. 1 pago 140. .
(4) Petigudl"es. No texto ora este nome he assim es~ripto, ora l'i.ti-
!lt~a?'es .
- 523-

o~ Pa~l'e_ que fossem,ma.i , que doente e innocenles, pois


nao tmhao quem os cultivasse. E, como estes foro os pri-
meiros baptismos solemnes, que naquella terra se fizeram,
ficro todos to contentes, que no cabio de prazer, tra-
zendo todos seus filhos a qual primeiro.
Ha uma nao que chamo'Mi?'amu.mins (I), gente, qne ha-
bita o serto da Capitania de S. Vicente, muitos em numero,
mas barbaris imo" e ando em cabildas de uma parte para
outr'a,como ciganos. No podiam viver com elles os Portu-
guezes, porque Ibes damna,o a ros as: entrvo na Enge-
nhos e comio quanto tinho, sem Illes poderem resistir.
Foi o Senhor servido, que entraro os Padres com elles, e
comearo a converter, e j muitos delle o Christo ,e tem
igreja, e ~judo grandemente aos branco em suas fazendas.
Os Garijs (2),he uma gente,que correm em grande numero
pela co ta do mar, por espao de duzenta legua, at o Rio
da Prata, onde se termina o Brazil, e comeca 80 ou 90
le guas da Capitania de S. Vicente. .
. Nesta e pde fazer buma formoza cbristandade, con-
verso de muitos centos de milbares, mas, por falta de obrei-
ros, e do neeessario para sua sustentao, ainda no residem
entre elles Padres, que he cousa que elles mais desejo, e
procuro de todas quantas naes ha no Brazil Foro
porm os Padre algumas vezes em 'lisso suas ten'as, e
trouxero alguns filhos dos principaes em modo de rerens,
e plra aprenderem a doutrina.
Tem algun destes em suas aldas Cl'Uzes, a que fazem re-
verencia, o que tomaro de um Bispo e padres, que ha muito
tempo p::lS aro por sua terras e estivero neIla algum
tempo (3), e baptizaro muitos, dos quae ainda alguns so
muito domesticos e dociles; e dizem os Portuguezes, que l
vo resgatar, que nunca lbe sahem dos navios, e que andam
lo seguros por suas aldas, como em sua casa.
Foro la o padres Agostinho de Matos e Custodio Pirec
a levar alguns setenta e tantos, que os brancos trouxero sal-
teado . Recebero-nos com muito amor: e o Principal se a -
(1) J1li?'amumins. Destes Indignas pouca noticia nos d ahistoria d3
antiga Capitania de S. V i c e n t e . . ..
(2) Gm'tjs. So os iudigena boje conheCIdos pelo nome de CanJ6s.
(3) Provavelmente esta tradio tem funaamentu na passagem dos
Re panhoes sob o mando de Cabea de Vaca em 1541, quando foro ao
Paraguay, por terra, atravessando de Santa Oatharina Assumpo. Em
sua companhia io alguns fi'ades Franciscanos.
~ entqu entre elles, e,te do-os abraadoaaIPbo~, 9S horpu,
_.que he o signal.de benevolencia,e grande amor. E ficar~o
muito contentes com os Padre lhes darem ppJavra, q~le irio
porl}l\es para os traz.erem para aIgreja;e indo l unstrez bran-
cos depois disto, cuidando elle ,que ero os,Padres, se -qnei-
xou muito o P1-mcipal, dizendo que no cumprio sua pala-
vra, e que elIe morreria grntio sem remedia.
Pedio quelles Portuguezes, que os baptisasssem. e ainda
que elles no quizero,cural'ao-no todavia tobem, que sarou.
Porm dalli a algpm tempo, tonaodo a adoecer morreu
gentio, pelo que be grande magoa. ver este tamanho de amo
paro em gente to dispost,l para tanto bem em haver reme
dia, ou possibilidade para se lhes PQder.repartlr o po da f,
e do sagrado baptismo. que eom tanta fora e desejo p~dem.
Hum. destes veio casa de S Paulo aotiguamenle, e vendo
baptizar, faz l o mesmo na sua terra, deitando agua sobre
)a cabea de quem ~e quer baptizar com elle" e qqerem-no
muitos, pelo desejo que tem de serem Chri$tos, .mas como
o pobre no saQe a forma do baptismo, aproveita-Ibes pouc9
Desta mesma oasa .de S. 'Paulo, fez Q,IJ)a ,sal1.idaa uma
altl:a desta gente o padre Sebastio Gomez, v' ero-no rece-
,~er ao .caminho Ieglla e meia, com muita festa e gazalhado.
Fez o Padre alguns bapti~mos entre elles um de uma meni-
1)a de trez annos, a qual acabando de o receber comea a
cantar com alegria, dizendo que j, era filha de Deos, nuepor
isso e5l.ava muito contente.
Para esta mesma Casa se veio l,lm casal destes .gentios, e
tl'Ouxero cQmsigo trez on quatro mancebo , e un dous ou
trez Prilncipaes para tornarem, no pudero trazer outros
por virem cJ.e longe.
A mulher de um Indio Principal que veio, estava muito
triste, p(j)rque"llihe ficro l alguns filhos e filhas e sua mai ;
quiz o Padre consolal-a dizendo que Deos tl1aria seu. filhos,
ao que ella respondeu: oua Deos tua~ palavras e ponha os
olhos em mim.
Hm Indio destes indo ao Serto bu cal' seus pal'entes, e
uii.o os podendo trazer polos impedir o P1'incipal, veio fall~l'
com o 'Padre e contar-lhe o que passava" e com taJ;lto s~ntl
menta, Ql1e, dizia, que no podia dormir cem cuidar, que
lhe Jicro l seus Rareliltes sem remedia algum de salvao.
-,Q.ll,tro,P1)i'l,tipal''Y:io,d<;>,SeI;to om jnt.eJ;l9'pe s~. tornar, e
disse ao Padre, que um I irmo .seu que era 1D ogl1ande
Pt-inr:ipal entre os Gr;rijs.rlhe ~apdava dizer, que fossem
agora os Padres buscar aquella gente que queria vir, e que
com. elles mandaria alguns mancebos, para ro::sar,em ,e
fazerem lavouras, e como tivesse mantimento viria elle tam-
bem com toda a sua gente. '
A' Capitania e casa de S. Vicente viero tambem em com-
panhia de hum branco alguns P1'incipaes daquella nao, o
quaes trouxero recado dos outros, que vo os Padre por
ellesque logo se viro, o que no. fazem por si pelo temor que
tem, que os brancos os saltem no caminho, e os ca~,ivem
e repartam entre si, como tem de costume, ~ lhe fao o
mesmo, que fizero s aldas do Campo de Piratiningu Li),
'que todas as destruiro e puzero por terra.
Porque se os Port~guezes (diz!:lm ell,es) fizerfio isto a seu~
compadres,e amigos, que faro a ns? e no tem este temor
sem fundamento; porque at aqui,na Capitania de S. Vicente,
ando os brancos toJo tubio!'os de:-tes Jndios,que oem com os
Padres delxo fallar a e~tes P1'i.ncipaes, que acima digo, .que
agora viero do Ser~o; e quando lhes falla algum, he ~ es-
condidas, p,elo temor que tem dos brancos, 'que lhes qizem
9ue no fallem com o' Padres. E quanto podem impedem a
Ida dos Pa.dres ao Serto: porque cuido que indo l os Pa-
dres lhes tiro seus tratos, e impedem us escravos, que de
l trazem.
E cada um no busca mais que seu proveito, e Q~~
o bem da terra, e por i~so por justo juizo de DOS, vai
esta Capitania de S. Vicente de mal em peior, e com
grande diminuio, e pelo contr.ario a do E pirito .S~nto em
crescimento de proveito e gente; porque o enhor della rqga
aos Padres que vo ou mandem ao Serto a bu~car.gente,
dando muitas liberdades e favores aos InqlOS, que' em e
perdo de morte aos fuaidus que tomo; e as im he cpusa de
evidente juizo de Deo~, que em todas as Capitanias d~ te
BraziJ, onde os Jndios so favorecidos, e bem tratpdog do
brancos, .se v que vo crescendo em muita pl'O~peridade
e proveit.o temporal, e onde so maltratados e trrannizados!
e os brancos andam a aptival-os por sua cubIa, tudo vaI
para peior e em grande diminuio.

\(1) Call1flo de Riratiningua. Onde se .havia fundarJoas aldns d~ .ll.lJ;lllo


e de Santo Andr, na Provincia de S. ~alllo . A segun.1a, mals,ntlga,
fra fundada por Joo Ramalho.
- 26-
CAPITULO V.
De uma Misso que o padre Domingos Garcia fez fazer ao ertilo, por
alguns naturaes da terra da aIda dos Reys Magos da Capitll/lia do
Espirita Santo.

Desejavo milito alguns Indios principaes e cbri tos mo-


radores nesta alda dos Reys Magos (1), fazer uma jornarlaao
Serto a buscar e trazer para a Igreja seus par entes e natu-
raes, pelo qu'e vindo a vi ital' esta alda o padre Provincial,
e vendo sens bons desejo, lbes deu licena para que po-
dessem ir deixando recado ao padre Domingos Garcia, supe-
rior desta residencia, que os aviasse para isso de todo o
uecessario.
Fl-o assim o Padre, e iudo com elles alguma parte do ca-
minho por um rio acima, ao tempo que se houve de tornar,
os confessou a todos, e I hes deu o Santissimo Sacramento ao~
que o costumavo receber, e lhes fez uma pratica em que o
animou a to santa jornada, a qual acabada, se embarcro
em sete canas, indo mui contentes e animados.
Ero os principaes desta jornada quatro lndios por nome
Miguel de Azevedo, Manoel Ma carenbas, Antonio Diag, Igna-
cio de Azevedo. Indo pois sell caminho, e tendo j feita duas
jornadas, tivero um encontro com uns Tapuya , onde na
briga morreu um Iudio bom cbristo, o qual s e'ta palavra
disse: Jesus, bavei mi ericordia de mim)}, e logo expirou.
Dalli se partiro, e gastro um mez de caminho at che-
garem primeira alda, onde foro recebidos dos parentes
com toda a festa e alegria. Viero logo todos a vi ital' o
Principaps, e llles dero 100'0 conta como de seis Indios, que
da primeira vez viero com fanoel Ma~cal'enha , e e tal'-
nro ao Serto, um deltes muito principal e nomeado, que
se dizia Iagua?'ba, que quer dizer cabello de co, chegando 3
salvamento em sua terra, abalou muita gente, e trazia toda
ua alda para os Padres; e que comeandc. a caminhar,
eocontrra certas gente que io do mar, e llle dero novas
de como seus parentes ficavo com os Padres muito quie~o
e livres dos brancos" com que todos se alvororo mUito
mais para vir, porm que nesta conjunco dra neHes uns

(1) Aldea dos Reys Magos. Esta alda he a que boje se chlma A.lt!a
'/)elha, legua e mela ao norte de Almeida, na Provincia f.o Espll'!t(\
Santo.
- 527
lndios seu "izinbos que se chamavo os Apidpetangas (t), e
travando entre si batalha, mataro muitos e captivro outros
dos do dito Iaguardba, pelo que se tornou outra vez a re-
colher para a sua alda com alguns que lhe ficro, e clle
mal ferido.
Ouvindo i to fanoel Mascarenhas e os demais, deter-
minaro iI' fazer pazes com aquelles Gentios, como fra
com sua gente; e encontrando com elles dalli a uma legoa,
como os outros estavo soberbo por ter muita gente, e entre
elle muito esc.ravo que do mar tinbo fugido, e tambem
pela victoria pa~sada, quizel';',o mais guerra que paz; pelo
que travaro entre -si uma grande escaramua, da qual Ma-
noel Iascal'enbas ficou com uma frechada por junto do co-
rao, da qual morreu dahi a eis dias. Comtudo, acabada a
briga, e currendo recados de parte a parte, viero a fazer
pazes, po to que da parte do contrarios foro fingidas, por-
que deixando elles entrar o nossos n~ alda, dando-Ibes pa-
lavra que tomario dahi a dou dias, se foro para outra
parte, e nunca mai tornro.
Tomaro os nos os ao ferido em uma rede, e e foro com
elte para a alda de lagua?'aba, ma no caminbo acabou sua
vida com mo tra de bom I1risto, prgando a todos que
fossem bon ,e que no de ampara em a igreja nem os Pa-
dre , dizendo-lhes e las palaYl'as: Vim buscar a morte por
(l

~mor de v outros, de jando de vo metter a todos na Igre-


Ja, eu mere,o isto, Deos sabe o que faz; portanto. no haja
alguem que e de console nem os meus filhos que ca fico,
ba -ta estar o Padre com elle que os amp:H'ar.
E depoi de pedir perdo a Deo , lhes tornou a dizer:
Ficai-vo embora, eu morro, ide adiante em vosso cami-
nho e no toro i' atrs I), e com o nome de Je us deu ua
alma.
Foi sentida sua morte em todo o Serto. Enterraro-no
em parte onde os contra rios no dessem com o corpo_ Che-
gando os mais alda de Iagua?'ba, bouve muitos cbros, e
adoecendo elle dahi a algun dias, morreu tambem, que foi
o,ntra grande perda; mas Antonio Dia~, a quem o Padre
linha instruido, o bapti 011 e morreu bom cbristo.
Desta alda se partio Antonio Dias com os rilais para a

(1) ~'Pidpetanga .. _Mais adiante no texto l-se Apipitangas, Alem desta.


notICia naJa sabemos destes iodigenas.
- 52 -
otr:1s alda , que esta'Vo dalli um mez d'e caminh: achro
Th it g 'lite, alegraro-se' todos muito com:r boa nova de'
lia 'erem de vir para a Igreja, e comero logo a fazer-'se
prstes. E um lndio P?'incipal, por nome Pi1'aguass (1), se
abalou logo com toda sua familia, ficando os mais aviando-se
p-ara vir.
Partiro do campo e chegro alda de Iagua1'dba como
dtiZ'entas almas, com' muitc s trabalhos e' fomes, porque vi-
nho muitas crianas, 'l'elhos e doente's, mas nenhum mor-
reu uo caminho. Ordenados pois, e pou'do-se em caminho
para o mar, viero diante quatorte homens dos mais valentes
com quatro j dos chri los, dos que faro da alda dos lleys
Afagos, e chegando em breve tempo mesma alda, causro
em todos muita alegria por irem j tardando.
O P'rincipal destes entregou ao Padre um filho seu de oito
at nove annos, que o criasse para Dens, at elle tornar em
busca de sua gente.. Depois de tes Indios novos verem tudo
da igreja e as lavouras dos parentes seus, que j c estavo,
se partiro outra vez com outros dos nossos a uas terras, para
darem novas, e trazerem os que l fica vo, e a~sim chegando
onde Antonio Dias estava com os mais, logo todo. e abalr:!
e puzer:lo a caminho para o Reys-Magos, afra alguns que
foro ao campo a buscar duas alda , pelus quaes e'peravo
cada dia.
Neste cluinho, que do S'ert:io fez Antonio Diag,eoutro ql1e
que cbamavo A'rco-grande (2), para o mar, com a gente que
traziiib se encontrro outra vez com os gentios niapitan-
gns (3) acima dtos, com quem de primeir'o I'elej~ro; e por
e'stes lhe quererem e torvar a pas aD'em, viero batalha uns
com os otrog, onde do nos os lndio christos morrro
cinco, e dos que vinho de novo d Serto, quatro; porm os
inimigos ficro de todo de tmidos e morto~, e muitos dell~s
captivos, e, em liberdade o~ de lagua'l"dba, que desele a prI-
meira tota, q'ue lbes dero, tinho captivos., E assimde~emba
rados dos inimigos em dous mezes e meio, fizero sua jor-
nada e chegaro ald" elos R''Ys-~I((gos, e puzero tanto
tempo no caminl1o,por virrm algllD feridos e muitos velho.
Tanto que oPatll'eteve recarl0, o~ manrlou visitar a caminho
com refresco, e chegndo alda Pi1'ag~LaSs"que he Indio de
(1) Pll-dguass, quer dizer, peixe grando. .
(2) ArcO-Yl-ande. Ha traduco do nome Tupy-Utr-assw.
(3) Vide supra nota (1) . pago 527,
- 529-
importancia, c que ficou enchendo bem o lugar de Manoel
Ma carenha ,acompanhado com quatro filhos homens entrQU
na alda prgando,como he eu co tume, e acabada a prgao
se foi logo (\m os filhos igreja, e depoi aos Padres abraan-
do-os com muita alegria, e dizendo ao Padre: {(Pai, j cheguei,
j vim para a lareja; no quiz esperar mais, quiz ser o pri-
meit'o: l fica ainda meu irmo lnabagttass, (1) com sua
gente, elle vir, quero roar para elle.
Depois de Pi1'aguass,cllegou uma India velha mulher que
foi de laguamba com todo o filllOS e filhas, e genro,
trazia um bordo na mo, e umas conta ao pe co o, entrou
bem acompanhada de gente, prgando, e dizendo: <minguem
e e pante de me ver prgar sendo mull1er, porque depoi
de morrer meu marido, l1quei em seu lugar, e mais aaora
que j me vejo na Igr ja, que tantos tempo !la de ejava om
meu filho e famlia, e em a qual meu marido tanto de e-
jou e tal': mas fomos de troados pelos contrarias: agora
venho em elle, para ter cuida.do e cargo da Igreja, e
dos Padres, os quaes no bo de ter falta do ne essario onde
eu tiver.
Jndo- e a recolher, toel a alcla a foi prantew' que 11e o
"ignal de gazalhado e amaI.
Acabados o chro acudiro a Jndia com seu pre ente,
e os Padres tambem lhe mandaro o eu, ao que elta ficou
mui agradecida. Ao ontro dia o veio em pes oa vizitar
portaria, acompanhada com toda a sua gente, le,ando tam-
bem eus pre ente' de legumes, gallinhas e outras cou as
de ua terra.
Era e ta Jndia mui grave, e acatada do~ ~eu , 6 quando
os menino brincavo, e danavo no terreil'o, mandava
armar uma rde mni lmpa sua porta, e dlli a ~entada
os estava vendo, e dizia aos seu : v' de v outros? isto he
er (tll1os de Deos, e do Padre , e n, e tavamos no mato
como frlllO do Diabo em participarmos do que agora
vemo.
DepoL de quatro meze pas ados, adoecen lo a Ma velha
pedia com muita nstancia o santo bapti mo, e depoi de
bem cat chisaua e in tl'Uida nas cou as da f, lh perguntou
o Pa(b'e e queria que a baptiza e fi, mI ca a, pai per sua

(l) TnabagttaSs1~. Talvez este nome no asl' .ia conectamenle escripto,


podendo ser Inajdguass que quer diser-Pttlmeil'a gl'ande.
65
-1)30 -
fraqueza e doena no podia ir Igreja. Re pondeu: no
quero seno na Igreja, pai que vim para .el' ne\la
baptizada diante de Deos. E dizendo-lhe oPadre, quetambem
alli estava Deos, poi e~l em toda a parle: l1e verdade, tor-
nou ella, mas eu quero, que em cua ca a me baptizem, e
no em ca a de homen . Vendo oPadre sua santa inteno,
a mandou logo levar Igreja, anele foi baptizada, acompa-
nhando-a toela a alda com muita aleuria.
Depois de receber o agrado baptismo, deu um su piro
dizendo: agora fica minha alma contente, agora no temo
a morte, jil alcancei o que de ejava, que era er filha de
Deos. )} <-
Tornaro-na a levar para sua casa, durou ainda dous
mezes at que apertando-a a enfermidade, pedlO a Santa-
Uno, e dizendo-lhe o Padre que havia pou o que fra
baptizada, se no aquietou, at que lh'a dero, rcconci-
liando-se primeiro.
Durou depois disto uma hora, e fazendo uma pratica ao
seus, encommendando-lhes, que fossem muito amiuos da
Igreja, e elos lladres, e que se no de con ola sem por na
mortc, pois ia para o Co, onde est No~s Senhor, com o
nome ele Jesus na boca, lhe deu sua alma.
CAPITULO VI.
Da nao dos Gaymures'e dalUnos que esta gente tem feito no Drazil:
paze que eom elles .e rlzero na comana da Bahia e Oapitania
l10s Ilhos.

Conforme a tradio antiga, da gente da teITa, llal il(\v~O


e te gentios (1) omais j ntimo da c ta <lo Brazil, correndo elo
Rio de S. Francisco para o ui at o Calo-Frio. Porm en-
trando com elle outros gentios do Serto chamado l''l.lp"i-
?1ambds e l''Wflinachills (2) osfizero arrastar de ~eus antigos
sitios, e metter por denteo dos mato' e serras, onde moro
ha muitos cento de anno. ; e dalli e tem estenrlido pOI'
mai de cem legnas, m:l: vivendo elTIpre perto do mar, ao
longo da povoae -e fazenda dos Portugueze., que eJo
pela costa.
(I) Estes Gentios. O nuthor chama-os Gaymwes. mas geralmente os
histol:iadore. do Brasil disell1 Aymo,s. Virlo Varnhngen oa l-listm'i.C1. do
Bl"aS'll, tom. 1, pago 242 Dot.a 1 e 2.
(2) 'I'tlpinachins) i. e., 1'H1J'i?linqnins.
- 031 -

He gente barbari- ima, alheia de toda a humanidade, e


onde o uso de razo parece e tal' mui apagado, mui sclva-
lica, e mai fra e cruel que ba em todo o Bra2il. '1an-
tem-se de eaa e dos assalto que fazem na fazendas dos
branco, e ela carne humana elos que pdem haver s mo~.
Cada um delle" viye como quer, e onde quer, em !laveI'
uperior, nem inferior que mande ou obedea: quando muito
aquelle, que mai inimigo matou e comeu, e tem por mais
11Onrado e valente: mas no que mande, ou reprehencla
aos outros em alguma cousa, So muit.o acautelados em
tratar com o inimigos, e pelo mesmo ca o, qne um dos 'eus
faUa com elle~, o mato e comem.
Nunca an Io muitos juntos, eno pouco, e poucos: e
em serem vi to freclJo a gente e mato , e com tanta li-
geireza e toroo a I ecolher e metter pelo mato, como se
foro calra ilve tr~, correndo muita vezes de ps e
mao , com o arco e [I'echa sobre as co tas; e por L o se lhe
no pue fazer gnerl'a, nem com ella prev~llecem contra
'lIes, lJorque Ilnnta pelejo em es lnarlro feito, nem em
eampo Lle nberto. ,'Cll'lO 'om ciladas e a- alto repentinos:
aqui um, alli oulro por d traz ela mouta e arvores, em
o:; ilOmens o' poderem ver, ~eno q\lar do se entem fre-
rilaLlos
E por este modo lelll cslr. Gentio feito to rTral1Lle
damno' no Brazi I, c[11e em parte o t.em posto ti grande
ri 'CO; porque por Ioda e ta corda de terra que 11.ab1t~o,
de tal maneira tem infestada toda a costa do mar,
qlle lhe I'e ponde, que por na cau a e de pejavo, e
de ampi:1ravo faz nelas de trinta, quarenta e incoeota mil
cruzados, por e v I'cm cada dia eus dono em pel'iao
de mort : c ellc lile terem comido o e crayo e aente
de ,ervico.
Po\' el"le, se tem desbaratado a villa de SanLo ~aro ('1),
eom quatro ou cinco Eilgcnlw ; a Capitania dos llhos que
h de telTa excellente. fj!1asi de todo perdida,
Muitas Lerra ,11l1C por ~erem mara.vilbo as para e ul-
Livarem e renderem muito esto bravia', por no OUl~:J.rem
o hom I]S de a povoar om medo delle ,.e a que mr
(I) SanttJ Ammo. R ferC-S8 . vil1n fllodacla. por Pedro de Campos,Tou'
rinho, primeiro dona.tcll'io da Caplt.alla do Porto, Seguro. que fOl des-
lruida em 1564 pelo~ indigcnus Abati?-s, O local dista lllna legua ao sul
de Porto Seguro,
- 532-
damno padeceu, 11e a Capitania do Porto-Seguro, que foi a
primeira terra em que O Portugueze pozero p no Brazil,
quaflodo, em Abril do anno de quinhentos, a primeira yez foi
descuberta por Pedro Alvare Cabral, gO'teeoador que foi da
India (1).
A. qual Capitania foi muito prospera em quanto o
gentio amigo junto em alda a defendia de"tes Gaymlltl'es,
e segurava as fazendas dos moradore , porque no faz io
ento estes inimiao damno de momento. Ma depoi que
o Capito daquella terra mudou ec:ta ordem, e mal acon clha-
do repartia a gente da alda , tirando os Tudios dos lugare
onde tinl1o mantimentos, defen Ho os moradores e pon-
do-os ('.fi parte, onde lhes era nece a1'io espalharem-se
para bu carem de comer, pouco e poucos os foro matando
e comendo os Gaym'/,wes, at (IS acabm'em.
Pelo que os moradores brancos yenelo-se sem quem os
ajudasse, e defendesse, comearo a lespovoar a terra e
ir-se para diversas partes, at no ficarem l)a Capitania, mai
que obra de vinte moradores que mais por fora clue por
vontade se detm ainda nella, porm em tal miseria, e ex-
tremo de necessidade que se no sustento o pobres, se
no com folhas de uerva , e raize de bananeira.
E, por este re pito, se ahir:1'o lambem da me ma terra o
nosso Padres paI' no terem remedio -Ie poderem, i, er, nem
sustentar- e nella,ne.m do Collegio da Bahia poderem '81' pro-
vidos pelas difficl1ldade. das mone, o. GalJIlHw8s terem
occupadas todas as terr:lS em que e lavravo os mantimentos,
E de tal maneira ia cre~cendo ,ta praga le le Gentio, c as 0-
lanuo toda e ta Comarca ao longo ]0 mal' em que 11abitav,io,
que e temia vie sem a pr em tanto aperto toda as Ca-
pitanl:)- e povoaes lo Brazil, que por esta co-ta e-to, <iII
fosse necessario clespoyoal-:J e tlesarnparal-<1s de tOllo.
YI<ls foi o 50 ~enhor ervido ele haver mi cl'icorclia de~ta
terra e abrir caminho pal'a sc amansar e ta pnllTl, Illle foi
um i'ingular beneficio e remedia ela mo de Deos dado ao
Brazil, o qual ninauem poder entendei" .e nilo tiycr xpe-
riencia elo mal que este Gentio causava, e :lperto em qn~
tinha posto arruelle Estaclo: e o modo como jgto suecedel1 fOI
o seguinte.

(1) Engano. Nlll1Ca Pedro Alve Cabral foi governador da Inclin.


- 533-

Algumas dez ou doze legua~ da Bahia para a partp. do Sul


.em uma parte onde chamo a C[bchoe'll'a ('1), tem sua fazenda e
mora um Portuguez rico ehonrado por nomeAlvaro Rodrigues,
fronteiro dos Gaymu1'es (2). O qual ,em um assalto, lhes tomou
duas mulhere , que trouxe para sua ca a: uma dellas morreu
algum tempo depois, ficando a outra que eUe Lem pre tratava
muito bem, e com muiLo affagos e mimos; pelos qU3e elta
domesticando- e aprenrleu no sa lingua e e 'ati fez tauto
de no as cou as, e do modo com que a trataYo, que man-
dando-a o dito Alvaro Rodrigue para os seus, nunca jmais
e quiz tOrll<1r; parte por haver medo, que elles a matassem,
e parte Lambem por gostar autes de viver com o brancos
que com eHes.
Pedio-1l1e ento o senhor que pai ~e no queria
Lornar, fo e ter eira (3) em fazer pazes entre un \ ou-
tros. Para do e foi pr muita vezes em lugar onde
1118 parecia .'eria ouvida e ali i bradava pelos "eus na Slia
lingna, at' que uma vez acudindo-lhe uns pouco ',ella e lhe.
dell a conl1ecer: e 'omeon de longe a lhe fallal' acer a das
paze , lOllvando-lhe muito o Portng118ZeS, eu mutlo le
viver, e tratar. E com i to e de pedio, e aparton do lllgal',
deixando nelle ferramenta , vestido, mantimento' e olllr"L
cou a que eltes, como cita e retirou, recolhel'iio 8 levaro
muito contente, ,
Pa saro-~e ue.'tas vi itas e praticas algun mezes, at que
e viero a fiar de ns cheganllo seguramente a fallar com
Alvaro Rodrigne~, o qual entretanto e crevia mllita~ "e7.(" ;i
cidad ao Capito-mM Alvaro de Carvalllo, Iiz 'e cn 'om-
menflar a Deos e te n gocio.
Teye modo \.lvaro Rodrigue com que um dia embarcuu
un' parentes ela dita GaynulII'ea, em 11m bergantim bem e"'-
qnipado ('I), e o. mandou :i clrlade ao C pitu-mr, o' quneL
midanflo qllG havio de rI' trtltaLln como nes tr:lt,wIO
ante::; <10 no so', io atemori ados, VencI porm quo eliffe-
rcntcnli'nle ,e Iwyiiio om Ile~, do que clliclavo, e os mimos
c WlzaliJados com qne faro tratados, e tornaro mui alellre~
I) Cachvel'a. He n aclual cidade deste nome nn Bahin, ilHe, aps
esto notllvol aconte imento, lomou grande de envolvimento em sua po-
,oao e riq neza.
(2) CaYlnw'os e (;aY11?ws. Vido "notrt (1) SUpl':J.l. pag., 30.
(R) 'l'e7'cei1'a, i. e., mer! iRnoi 1'0., i IIlel'cessm. .
(q 13e,yantim. bem equ.ipaclo, i. o., uma nl'rtl1de chalupa ou falua com
gl anele numoro de remadore-.
- 534-

indo mui bem vestidos e com muitos brinco' e joias para


os seus, os quaes com sua vi. ta se alegraro tanto, que logo
quizero vir a cidade cincoenta mancebos a visitar o Capi-
to-mr.
Foi isto cousa to nova e ele tanto bem e alegria, para
toda a terra, que em 1'13 onhecimellto ele ta merc, que Deo
lhe fazia, e para lhe darem por ella muitas graas 'e fez laCTO
na cidade uma solemne proci' o, com muita fe ta a qual
veio Igreja do Collegio ela Companhia, onde e Ibe fez sobre
isso uma prgao.
Neste tempo corria j tanta gente do' mato Alvaro Ro-
drigues. que elie se via apertado com a mullido, pelo que
pedia ao Capito-mr puzesse em con e1ho o modo que ni!1.to
se havia ele guardar.
Sabia qne parte delle se pa as em a uma ilha alli perto
que se chama de 'l.'apal'ca (I), onde 131113. no no podio fazer
mal se se levantas em: e nos os Padres o poderio ter
juntos e quietos para lhes poderem ensinar a dontrio::l P
elar as primeiras tintas nos bons 'o tumes e chri tanelacle:
e assim pediro ao Parlre Reitor quize se dar algnns Padre:
para es e eIIeito, o fJuae logo mannon. No uc(~edell
porm como se ele ejava a eleio d itio, por .131' mui
doentio, pela qual causa adnecer'o e morrero muitos n Ue.
R tanto se ateou o mal que se iiio qlla~i ex.tirwuindo o que
para os Padres foi ba occasio de mere imenl.o, porqu p
no se perdoando nenhum trabalbo de 1I0ite e de di;1 com
muita ca ridade a si. tio sua' doenas e mortes, CU 11- a-
lando-os do modo que podio.
E po to que no abio sna lingua, por inl rprcte os
catechisavo sufficientemente para o haptizarem com b;lp-
tizaro, e, aos que morrio, enterravo fazendo-lhes elle~
mesmOS:1 epu Itil ra, e levando-os ;)<: co tas a eUa ; e, no
sendo mais que trez, todo andavo t50 occnpados em s 'rvir
e ajudar aquelles desamparados, que foi merc ue Deo ]Jo-
derem com to O'rancle e to continllo trabalbo sem adoece-
rem, e nesta roda viva se occu[xlJ'o dou. meze e meiu.
Mas venelo que o mal ia tnnlo avanle al'i . aro ao Cnpilu-
mr de como era neces 'ario tirar m rlalli aquella gente.
Acordou-. e o mevmo em conselllo,e que se repartis. em por
varias partes, e assim se lTI::lndal'o 1I1lS para a fazenda de
.(1) 1'apa?'ica. He a ilha fronteira l cidade do Salv~dor, capital daPro
"IDcia da Bahia: hoje diz-so Itapadca.
- 5~5-

Alvaro Rodriguez e outros pal'a dua. alcl6as fronteiras, aos


me mo Gayrmwes, de que os nos os tem cuidado, em s
quae. faro recebido de no o Inclios com muita huma-
nidad , e mui dilTerente da que elles u avo panca ante
com o me mo , que ento os aaazalhavo m ua rele,
e apozentos,
E tivero alaum tempo quietos at que apertando com
elle iI auda les de ~eu parente, qne no mato deixaro,
e quizero ir para elles como de feito faro, ficando os
Padl'e e os mais da idade algum tanto receio os de na
inconstancia,
Por 'm, quiz o Senhor, que tudo tornou em melllor, por
[[lIe logo comearo a tornar indo-se uns e vindo outros, e
en ootrando-.e muitas vezes no campo com os nossos s m
lhe fazerem mal, e por varia vaze viero alfTnn de te a
cidade, donde tornavo mui contente e ati feitos do bon
gazalhado. CJue recebio.
Alguns delle esto aprendendo a lingua ('I) pela alePas
do Inclio, e outros l10 Collegio [ara o Padl'e c poderem
melhor entendeI' com eUe, e a im espero 113 divina mi-
.eri ardia e por interces o de No a 'enhora la Ajuda, a
qual e tomou por particular interce ora ne ta empreza, ]11
ella cP a e.te nego ia ele ta gente mni f liz ncces o.
O erfeito do' ]ual pau a depois se comeou lambem na
r.apilania elos lllto., elesta maneira,
E t e la Capitania trinla leguas la Bahia para a part
110 .ul, e, como acima tocamo, e.lava to infe tada e 0ppl'i-
mida com a per etTuio desles Gentio, que, ha quarenta
anno lhes fazerr, guena, que j quasi de todo e ia las-
povoando, e "em duvida f'ra j a abada se niieJ fo~ 'em a
muita liligen ia que pz para a u tentar o Capito-mr
Al\aro ele Caryalbo, -mquanto e teve na Balda om vario
SOccorro' que daUi lhe mauda\-a,
Aqui foi No so Senhor servido que t:lmbem fize em
novas paze 'om e tes Gc~ymtwes.
E o meio foi um irmo de no. sa Companhia por nom'
Dominaos Rodrigne , o qual havendo pouco, que fra do
Reino e e tando no Collegioda Dahia no tempo que Gay-
mU1'es alli viero, se afIei:oou c inclinou tanto a <lprender
na linglla qu emUm a veio a saber mediocremente. E apoz
(1) Lingua, L, c, fi 'fupy, chamada genll.
- v36-
ella lhe deu osso Senha I um mm grande desejo e movi-
mento interior de e ver com ene , e o converter assim a
fazerem a paze, como a receberem a f. E Deos ~o so Se-
nllOl', que para is 'o se queria servir delte, in pirou aos Su-
J)eriores o mandassem para a Capitania do lIhos, onde
temos uma ca a de no a Companhia, e aonde podia ter com-
modidade de exercitar eus santos desejos.
Chegando aqui pedia ao da terra que anele os vi em ou
senti sem o avisassem, porque esperava em Deos, qne o
havia de trazer a ViIla ('1), de paz.
ZombaYo todos delle, dizendo, que no podia r, que
gentio, que havia tanto tempo andava encarniado cm carne
humana, quizesse fazer pazes com o branco, e principal-
mente por tambem o nosso ll1e terem morta muita gente.
Insta\a com tudo o Irmo, e deu conta ao Padre seu su-
perior, dos desejos, que Deos lhe daya de e ver com e te
Gentios, e como entia em i quasi certa esperan,a de os
trazer a pazes.
Coudescendeu com elle o Superior,' c se determinou ireril
ambo onde o,' vissem, tanto que tivessem avi o o lugar
onde e tavo. ~o tardou muito qne o tvel'o, e que e -
tavo junto de nm rio legua c meia (13 villa, pelo qne logo
encommendando-se primeil'o muito parti ularmente Deo',
se mettero em uma cana o Padre Superior e c te Irmo
e o Capito da villa com oull'o dou !Iomen.
Seguio-nosoutras cana ain Jaqnc de longe pelo medo do
inimigos, e cbegando ao lugar aonele esLavo comeou oIrmo
de os chamar por sua lingua,elizendo-Ibes,que io elepaz eque
nem houve em medo, nem fizes em mal. Oqlle tudo elles
Gl1Ylo, mas nito ~e querio descobrir, e, continuando com o
mesmo modo de faltar, emfim se de cubriro e mo traro
todos seus arcos, e dissero que fo cm somente os l)ac1re
que faltavo ter com eUe , apontando om o dedo alugaI'
onde podio chegar os barco .
Neste pas o todos temero, dizendo, que j por vezes llle
tinho feito semelhante traies, em emelhantes pa os,
porm o Irmo conDado em Deos com licena elo Superior,
e tomando-ll1e primeiro sua beno, se metteu s na caoa
para ir a elle . Os brancos todo comeal'o a dizer aoracll'e
(1) A' Villa i. e., villa dos TIhos, on S. Jorge, fundada em 15:313 por
Francisco Romero, Castelhano, agente do donatario Jorge elo Figneiredo
COl'ra,
- 537-
que lhe requerio da parte de Deos o no deixas e ir, por-
que corl'ia muito perigo.
Foi comtudo, e vendo que os Gaymu1'es todos lal'ga vo os
arcos, chegou a terra onde estavo, no se al1indo porm
da cana. Chegaro-se logo todos junto delle, o qual lhes
declarou, o a que vinha, que era o fazer pazes com elles,
e como lhe trazia farinha, o que tudo elIes ouviro com
bom rosto, e recebero a farinha. Pedia lhes mais que para
confirmao da amizadtl, fossem alguns delle Villa em
sua companbia e que elle lhes promettia, que ao outl'O
dia os tl'aria com muita fal'inba para os que ficavo, e os
poria no me mo lugar: ar,eital'o o partido, e a promessa.
E porque todos se offerecel'o para ir, denes e:colheuo Irmo
somente trez, porque s este cabio na cana, e com elles
se tornaro mui contentes, dando todo graas Deo pai'
to gmnde merc.
Um dos Gaymw'es que cavo em terra, mostrou tanto
sentimento por no ii' com os outl'OS, que os nosso levavo,
que o Padrc, qnerendo-o consolar, lhe acenou que ..iesse, e
mandanno-Ihe para i so uma cana, elie sem esperar por
ella se lanou ao rio,e a nado se veio metLercom os no ~o (1).
Foi logo Villa recado do que ~e pa sava ante dos no. os
chegarem, e assim todos os da terra, o esperaYo no parlo,
tendo aquillo por grande milagre do Senhor, e com grande
gazall1ado recebero os Gaymtwes; o quaes aiada medrosos'
de gente, a quem tanto tinbo offendido, se serravo com o
Padre e com o Irmo sem nunca os largarem, 8eno dentro
em ca a.
Ao outro dia tornaro ao mesmo lugar, como lhes pro-
mettero, levando-lhe a farinha. Estava toda a borda do
rio cheia delte que, por todo", erio duzentas almas, afra o
pequeno e como quer que estavo e perando pelos Padres
I

os viero logo a receber, pegando delles, de modo que da


canas os leval'o nos braos tel'l'a, onde todos estavo :
outros ficaro com o Padre sem o quererem largar, dando
grande mostras dc amizarle.
m dos crue foro a Vil!a, comeon Q quebrar as ponlas
da~ [recha a todo os outros em ,ignal de paz. Sabia logo

(1) Isto so acha em de<;a.corJo com o que se cont destes seh'agens, a~


segnrandose qllO no sauio nadar. Vide Val'l1hagen- [{isto o Bl'a:nl
tom.l pago 242. Comtndo Jaboato 110 Orbe Seraphico tom. 1 digo 1 est. 7
diz qUl> depois aprendero a llada\'. :
66
- 538-
outro dos que esta"Vo em terra prgando, e o que dizia era,
em sua lingua,que o Irmo lbe entendeu:- que j a guerra
era acabada, que os Padres ero bons, que no tinho arcos
nem frecbas, nem fazio mal a algnem, e que pois elles
ero os que "Vinbo buscar, nenhum se lhes negas e.
As Indias Gaym'Llres, lhe mostra"Vo sua familias, dizendo
cada uma, estes so meus, conhecei-os.
Uma "Velba lhes trouxe dous filhos que tinha ainda me-
ninos, pedindo-lhes que os leva em, e lhes de sem alguma
ferramenta, mas que os no apartassem de si. Levaro-nos
os Padres com outros dos multos que querio ir, que pOI'
todos serio tl'inla; e no le"Varo mais por no caberem mais
na embarcao, e chegando com e te ' illa, era laia al-
voroo e alegria da gente, que no esperavo que o Padres
desembarcassem,mas das embarcaes os levaro nos braos,
e como no ar, al nossa ca a. Espantavo-se todos de gente
to agreste e selvatica mostrar tantos signaes de amor e fir-
meza de pazes: continuaro os Padres em ir, e, ir a elles,
quatro dias continuos, levando-lhes farinha e o mais neces-
sal'o para sua sustentao.
Le"Varo-nos s fazendas dos branco, dizendo-lhes que
tudo estava de paz e que a todas podio ir eguramente, o
C]11e elles agora fazem; mas logo pergunto pelos Padre e
no se aquieto, se os no vem, aos quaes se mo lro to
sujeitos, que he cousa de espanto, ver a muita alegria e dili-
gencia, com que fazem tudo o que elles lhes recommendo
ou mando. As mulllel'es, tanto que os fill10 adoecem os
trazem logo aos Padres, a quem ellas cbamo filhos de
Deos, dizendo-lhes que lhos sarem.
Estando elles nos mato, adoeceu um P1'incipcLl de ponla-
das (1 l, e vindo-se logo ler com os brancos, lhes pedio o
levassem aos Padres porque estava muito mal, o que elles
fizero, e tanto que cbQgou lhe applicoLl o Padre uma mei-
zinha (2), com que logo arou, de que ficou mui consolado e
contente. He mui grande o trabalho que os Padres tem com
elles, mas, com as esperanas que tem de os trazer ao re-
banho de Christo, se lbes torna tudo em goslo, trato de o
ajuntar todos em uma alda, e accommodar-Ihes terras em

(1) Pontadas. Refel"e-se pleuriz.


(2) !IIe~inha. Hoje dizemos m;,irl~at i. e. i J.ualquer remedia, 130 bre
tudo caseIro.
- 539-
que fao suas roas e lavouras; e de os domsticar e acom-
padrar com os outros Indios mansos e antigos.
Para isto a primeira cou a que fizero foi levantar-lhes
uma Cmz mui formo a, de cincoenta palmos de alto, de que
elles mos.traro summo go to.
E os Padres sentiro muita consolao quando viro que
ao levantar da Cruz, acudiro a ajudar todo os homens e
mulheres, com grande prazer, e alegria; declarando-ll1es o
Padre pelo mp.lhor modo que pde, a santidade e ,irtude
divina daquelle sacratissimo lenho; e pedindo No so Se-
nhor, que daquelle dia em diante tomas e aquella gente o
suave jugo de sua Cruz, poi de to boa vontaue ( em sabe-
rem ainda o que faz io)se submettio uebaixo della levantan-
do-a em seus hombros.
Feitas as pazes, com e te garfo de Gaym~t1'es, com tanto
go to dos eus e do nos os, e coll1ero os Padres a dons
delle e o mandaro que fo sem pelo mato,e Serto a dentro,
a bu cal' outras,e dar-lhe nova da pazes, e do que achavo
c no branl;os, e no Padres. .
Fizero-no elIes as im, e depois de andarem l uns
pouco~ de dias, eis que apparece, junto de uma alda
de no sos Jndios man~o dos PetigLGa1'es( I l, uma cabilcla denes
de duzentos e cincoenta frecheil'Os todo, e gente mui bem
disposta e agigantada,e,na proporo e feies,diffcrentes dos
primeil'Os, porque ero alguns delles a sim homen como
mull1eres to alvo, que parecio AlIemes.
O nosso Judio PetigLGa1'eS, que andavo roando, tanto
que os viro de longe foi tamanho o eu medo que desam-
pararo tudo, e se a olhero; porm tanto que os dous que
os Padres tiul1o mandado se ahiro dos outros, viero ter
com elles, quebrando uas frechas" e apregoando pazes, to-
maro alento e tornaro mais sobre i, e logo em canas
fizero embarcar os dous, com mais dez, dos que vinho
de no,o e, entre elles, um PI'incpaZ, homem mui bizarro e
graude fallador, e viero Villa bu cal' os Padres, trazendo
muita omma de arco t:'io gl'andes que punho espanto (2),
os quaes todos entregaro em signal de amizade e de paz.

(1) Refere-se aos que tinho vindo do Rio Grande do Jorte e foro alli
aldeados. e de que j acima tratamos. Parece que o sell aldeamento foi
no local chamado hoje Ol:ivena.
(2) Os Tamoyos tambem se distinguio pela grandeza de seus arcos.
Vide Jaboato-Orbe Seraphico tom. 1 digo 1 ~st. 7.
- 4.0 -
Acudiro logo os Padres com farinha e mantimentos, faca,
machados e outra ferramentas que repartiro entre eUes,
e quando chegaro onde o outros estavo era muito para
ver o grande prazer que lhes mostravo, e com que o
abraavo por debaixo dos brao , e o mesmo fazio ao Ca-
pito e mais brancos que com elles io, como se houvera
muito tempo que o conhecio e tratavo.
E, tanto se vo domesticanflo,e mettenclo na conver. 3o com
osPaelres,quenunca nossa casa est sem elle , porque nnncafa-
zem seno irem uns e virem outro ,no que tudo emo tra bem
o brao poderoso de Deos, que em to breve tempo, deto fro
lobos, est fazendo to mansos cordeiro.
E assim esperamo na sua mi ericordia que o mesmo suc-
ceder a todos o outros que ando ainda pelos matos, que o
innumeraveis; e tem j o Padres feito dua alclas delles, uma
de mil e duzentas alma, e outra de qllatrocenta , e mandado
muitos para o Co, dos innocentes e adultos que bapt.izo no
artigo da morte.
D ..l .S COUSAS DO BR.t.zIL
1606 E 1.607

CAPITULO I
No viero ne tes proximos annos ('I ),de ta Provincia, ca1'tas
gm'aes donde possamos tirar materia para referirmos as
cousas do servio de Deos, converso daquelle Gentio, que
nosso Senhor obrou pelos Padres que nella residem.
1\las, de algumas cartas particulares que nos viero mo,
entendemos dever extrab.ir algumas cousas de muita edifica-
o, e dignas de se referirem, por serem uma mui principal
parte dos grandes trabalb.o que os nossos nella padecem por
ajl1daraquelle Gentio, que he o das lHisse e jornadas que
fazem para os ir buscar aos matos onele vivem, e ajl1ntal-o
como ovelb.as de encaminb.adas, para as trazerem ao curral,
erebanho ela santa Igreja.
(1) Extl'ahido do livro '1, da Relaco anntGal d",s cousas qtu~ (i,:;ei'o
os Padres da Companhia dg Jesus nas pm'les da Ind'ia O"iental, e em
algumas outras da Conqui~ta d!stJ ll.!ino no CGnno de 16')6 e 1 i07 e do
l)?'ocesso da ronverso e Chl-istandade daqttellas partes. Til'aeta dets
cal'las dos mesmO$ Padj-es que ele lei viero, pelo padl'e Fe;'no (;LW)'-
1'e~1-0, da Companhia de Jesus, nattwal de AlmoellJva1' de P01-tugal,
LIsboa, 1609, 1 vol, in 80. -
- 541-
Destas Misses se flzero duas nestes prox.imosannos, uma
ao Gentio que se chama Ccwijs ('1), outra aos que se chama
Tap ttyas, e ainda que a concluso della' no trouxe com igo
o fruito de multido e converso ele almas que os Padl'es
pretendio, Lrouxe-o porm muito granele de merecimentos
pelos mnitos grandes trabalho. que nellas palle'ero, como
da relao de cada uma "e ver,
CAPITULO n
Da Mis o dos Cal'ijs,

Vivem esLes Gentios da Capitania ele Santos que est em


, Vicente para a banda do Sul at o Rio da Prata (2), em dis-
tancia decem leana- espalhado por perto da co ta do mar, e
ribeiras de muitos rio~, e por campos e malo ele erto para
dentro ele mai de duzentas leguas,
E sendo informael opad['e Ferno Cal'djm, Provincial desta
Provincia, por algullJ brancos que por aql1ella partes io ao
resgate, e caa delLes, como costumo, de como entenelio
haveI' nellas grande multido ele te Gentio, de ejando com os
mai Padre de ver e po lia trazeI' alguma omma delte para
o rebanho de Clu'do, e da Igreja, como costumo a fazer em
outras partes do Brazil, se resolveu mandar l dous Padres,
que para isso escolheu ele muita virtude e confiana, e de in-
signe caridade e zelo dasalvao das almas, e que sabio muito
bem a lingua ela terra.
Este Padre ainda que sabio os evidente perigo a que
e propunho e os tr~balho que em tal jomada como esta
baviITo de pa ar, levados porm ele sna muita caridade e do
de ejo de pad ceI' por Chri to, e de verem e I oelio ir apa-
nhar pOl' aqnelle inculLos mato lllguma gotas do sangue
de Chri to, quaes onsicleravo a almas daquelles barba-
(1) Cm'ijs. Segundo Varnhgen na Bist. do 11l'asil tom, 1 pago 101'
esta palavra significa eles ~enelente ele bl'ancos ou dos ancies,
A.qui ubanilona o uutOI !lo denominao de Garijo's de que U 'ou na
annua de lG03. Vide supra Dota (2) li. pago 523.
(2) Daqui se deduz que o Intllgenas Cm'U' OCCupavo o tell'itorio
da pl'ovlncias do Pal'flon, . Cfl.tbarinn e S. Pe 1'0 do Rio Gmnrla do
Sul. Segundo Jaboato, no Ol'be Se)'aphico tom. 1 digo 1 est. 10.e 11,
o dominio do Cai'ijs comeava em Oanana (S, PaLllo) e termmuva
na la~a dos Patos, at sua fz no O cano,
Da bana do Rio Granrlo do 'ttl rz do Prato. seguio-sA provavel-
mente o Chm'l'wls e outra tribu , qne os Portuguczes designavo em
geral por Tapwyas.
- 542-
ros Gentios, que por elles vivem embrenhados, com muita
insLancia e fervor de espirita lJediro ao padre Provincial,
superjor sen,os quizesse escolller e nomeiar para esta em-
preza to arriscada. Satisfazendo o Superior a seus de-
sejos, se partiro os bons padres Joo Lobato e Je1'onymo
RodTigues, da Capitania de Santos, fazendo sua jornada por
mar, e levando em sua companhia, como cosLumo dez ou
doze Indios dos j convertidos e criados com os mesmos
Padres.
Fizero seu caminho at a alaga que chamo dos Patos,
e o que nelle passaro, escreve o padre J e1'onYI1W Rocln'ig'ues
muito miudamente em uma comprida carta que ns iremos
resumindo, a qual diz assim:
Comeamos nossa viagem, e logo uo principio do ca-
minho foi nosso Senhor servido de nos comear a provar,
permittindo que a cana em que mandamos buscar o
fato a ltanhahen ('I), tornando com elle, dsse costa,
e se fizesse em pedaos, posto que o fato se salvou, pelo
que foi necessario traze-lo por tena at a Canana, ca-
minho de vinte leguas com muito traballlo e fome.
~ Na Canana fizemos logo outra cana para continuarmos
nossa viagem, e nella nos partimos levando por verdadeiro
piloto a Deos Nosso SentlOl'.
Cllegamos a Pi1'ancica(2), que so nove Jeguasde Canana,
a qual tem um reconcavo ou enseada maior que a da Baya
com mui grandes ilhas, e da banda da terra firme tudo so
serras, e, detraz destas, corre unias grandes campinas de
quarenta leguas de pinuaes, onde dizem haver grande fora
dos -Ca1'ij6s, e aonde mataro os nossos bemaventurados
irmos Joo de Souza, e Pedro C01'1'a. '
Estando aqui chegaro trinta e tantos homens de uma nu
da frota de Castella (3), e,apz esta,cbegou outra urca de Fra-
mengos (4) da mesma armada, que iapara Cl1ili meia alagada,
sem haver j quem poc1ep-se dar a bomba, e cuidando que
entravo na barra de S. Vicente encalharo nesta enseada:
esses nos fizero muitas caridades, provende-nos de sua
mataloj;agem com tudo o qlle haviamos mistl".
(1) Hoje eserevemos-Itanhaen. antiga villa da provincia de S. Paulo.
(2) Pimnaca. Refere-se Pa}'anag~G e Slla va'5ta e bella bahia..
(3) F1'ota de Castella. Refere-se provavelmente de Diog1 Flores V~l
qez, de qne fazia parte Pedro Sarmiento, o explorador da Patagoma,
que havia fllndado a povoao de S. Felippe naqllelle territorio.
(4) Fmmengos. Flamengos ou Belgas, ento suieitos Hespanha.
- M3 -

Ha nesta enseada muitas ostras, e to grandes que huma


s basta para um homem.
TO primeiro dia de Agosto estando o tempo muito bom e
o mar muito quieto e sem chuva, nem signal della, de im-
provi o deu um trovo to terrivel que nos assombrou, e
logo a en eada, que he quieti ima, se perturbou de maneira,
que era cousa de e panto, e parecia que os mares nos querio
comer.
< Quieta esta tormenta nos partimos daqui para o Rio
de S. Fr'ancisco (i), CJ11e di ta nove ou dez leguas, mas antes
delle ha outro rio chamado G'!.~amlitla (2), onde se tomo
muito gO'l'Clzes (3), que dalli vo para ,arias Capitania. En-
tramos pela barra do Rio de S. Franci co J de noite,pelo que
no podemos daI' f de ua bondade,mas dizem-nos poderem
entrai' por elIa muitas nos juntas.
Depoi de entrado pelo rio dentro vimos fogo, e dua
can6al::, e sahindo algun Jndio a aber o que era acbro
serem de Gar(js (4.), o que foi para ns de muita alegria por
acharmo emtae boras, e em tallugar,a ovelha perdida que
iamo, bu cal', Aga,alhamo-no na praia do rio. Logo em
amanhecendo vem a ns um Jndio honrado daquelle com
uma Yara de Meirinho na mo (5), que em Santo lhe tinbo
dado, _e comeou a pregar e diser, que e aJegraYO muito
com a nos a vinda; a, acabada a prgao,DO veio abraar, e
depois deestarmo alU um pedao de pedindo-nos delle ,fize-
mos no a viaaem por dentro do rio ao longo de uma grande
ilha (6) em c1escanarmos todo o dia.

-(i) Be o rio de S. Froncisco :Xavier na provincia de Santa Catharina.


(21 Guarati1;a, boje Gua?'atltba,importa o mesmo que vuat'atiba,babi-
tao de yua?'(s, ave aqnatica de um bel lo oncarnado,oulr'ora mui abun-
dante no liloral de Santa Calhal'ina Cabo Frio,e que extinguio- e.
Hoje exi tem ainda g~ta"cis em abund{lncia na provinda do Maranho,
no como oulr'ora, e lambem no Par; mas presumimos que t"ro ,
mesmo !"im, que 110 sul. se um poder protector no os amparal' contra o
furor e cubia dos ca aclores.
Destas a,ves trata o padre. imo de Vasconcellos na T ida do vene'a
1)e~pad?'e Joseph de Anchieta li\'. 4. cap. 13 n. 5.
(3) Go?'azes,bto he,gl~al'cis, Vasconcellos na obra snpra cilada diz goa-
1'a:res. .
(~) Ca?'jjs. Vide supra nota (2) pag, f>23 e (1) pag. 5.(.1
(.)] Vara de ilTei?jnho. Oulr'ora o Meiriuhos, actualmente officiaes de
uSlia, usavo de uma pequena vara ou basto como distinclivo de seu
cargo.
(6) Uma g?'ancle itha. Be a ilha de S. F?'ancisco Xaviel',do nome do rio
Supra notado, que vulgarmente se diz de S. Francisco. Parece que foro
os Jesutas que lhe imposero este nome.
- ~44-

lIe este l'i-o em si um mar grande e fertilissimo, segundo


nos dizio, de peixe, mari CO, caa, mel: e tem por dentro
muitas ilbas e terras ao parecer mui boa. Sahidos deste
rio, e caminhando obr'a de dua Oll trez legllas demo
n'outro que cnamo Itapoc, (1), pelo qual desceu antig<lmente
Gaspar Hortllna (2), que he um velbo que mora na praia de
Itanhahen (3),0 qual veio de Piqu81'i (I..) atrave sando todos
aquelles Ca1'iy"s, comodelle me informei, eajuntaodo- e e te
que por aqui ha vizinho, e, havendo mantImento por este
rio, com o favor divino havemos de fazer entrada at onde
eBes vivem.
Da barra deste rio ao porto dos C(W0's (5) dizem algun
haver trez jomadas, olltros cinco; os quaes,dizem o brancos
(6), que so infinitos e muito boa gente. ~Ia como elles tive
ro guerra os annos pa ado com os '1't~pinaqttins (7),
cuido que todos os que esto c por baixo so desta ca ta,
pelo que nos dizem que quando se fizel' e ta entrada para
il'illO onde elles esto, que 11e necessal'io il'em trez ou quatro
canas diante com Indios vestidos de pelles e de cabello om-
prido a seu modo (8), pal'a deltes serem conbecido , e no
cuidarem que so contl'arios.
Vespera de S. Loureno (91, chegamos mui no-
meada ilha da Santa Catha?'i?w, terra muito boa e grande,
farta de peixe e m~ri coo Na entrada da barra da banda do
(1) Itapoc. Hoje dizemos Itapte, rio da provincia de Sanla Calha-
rina. Itapic ou 1tapcHm significa ponla de terra csteril.
(2) Caspa1' Hortwna. Este nome indica um Cn-telhauo, se no ha erro
de imprensa.
(3) Itanhahen. Vide supra nota (1) pago 512.
(4) Piquei'i ou p'ique'Y, provavelmente o rio que se lana no rio Pa
rao"" em frenle a ilha da- Sete q!~edas.
("1 Porto dos Oarijs. Jo se SI!!)O com certe,a que ponto corre,pou-
der nctualmentn o lugn.r assim indicado. Provavelmente ser o porto,quc
hoje denominamos Bel/o.
(6) Os rancos. Refere-se aos colonos Porlu~uezes.
(7) Tupinaqui'11s,isto Jle, l'Hpininq!~ins. Aqui deve haver engllno pOI"
que estes Ind,os residii'io na c:lpitnnia de Porto Segulo.
Provavelmente refem-se aos Guayna,::-es ou Goaina es com quem erno
limitrophes os CW'ijs, e vivi'lo em continuas guerra; se he que o a llor
no referia-se aos 'I'ap~~lJrts, lermo gene rico para designar 0!\tr3S Ll'lbus
estranl,as ,i f'lmilia Tl1p'y Cumpre notar que a palavra 1'upininquin quer
diser Tupy visinhn, e talvez neste senl~do e.scr ves. e o autor. . .
(8) A seu modo. Costuma este gentIO, diZ 'abribl Soares na NotiCIa
do Bra,z-l cap. G no invel'l1o lanaI- sobro si limas llelles da CRU que
mnto, uma por clillnte. oulra por deLraz; tem mais ml1iLas gentilidatlcs,
manhas e costumes camo os Tupinambs, elc. I)
(9) Vespela cle S. Lou1'eno, isto he, a !) de Agoslo.
- 545-
norte vimos na ponta de uma praia uma Cruz levantadi.l, com
cuja vi ta muito nos alegramos, e ns tambem em todas as
partes onde sahimo deixamos arvorada esta bandeira, como
tomando pos e daquellas terTas, que o Demonio tantos mil
anno ba tem em seu poder.
Dormimo duas noite ne ta ilba por causa do tempo, e
no dia seawnte no. partimos para o primeiro p01'to dos Ca-
7'ijs, a que chamo P07'tO da D. Rd1rigo (1).
Estando j a vista delle com muito bom tempo eis que
e levanta junto de ns uma bala, que quando a vi, antes de
e bolir,totalmente me persuadi ser um gro penedo,e assim
o punera aillrmar o a no vil'a abaixar e fundir- e no mar.
Indo mai adiante, obra de uma legua elo porto; andavo
diver as, a im da banda direita como da esquer la da cana,
e uma nos ia seguindo de arte que no metten em hem de
aperto, e ao Indio. dcn a. az trabalho no remar,porque lhe
audavo furtando as yoltas,mls logo (ornava a dar na e teirl
tia ana, e algumas vezes e chegava to perto, que j no
e~peravamos eno que do oulro mergulho surgiria debaixo
da cana: bolamo -lhe duas ou lrez vezes um pequeno de
Ag/1l1. Dai (2), e ('ai Nosso Senhol' senido r[ue nos deixou.
Chegamos finllmente ao 1)01'lo ela D. 1l0d7'igo, que he o
primeiro dos Ca7'ijs com muito al'annc alegria ele nos ,er-
mos a alvamento no termo de no,sa viagem. Leuntamos
logo uma Cruz, e, depois d e !.armo. alli dou dias, ...-iero
quinze ou deze eis Ca7's entre grandes e pequenos' e,
abraandonos om muita ('esta, mo travo folgar muito com
no ,a vinda. Mas, para que o go. to no fos e perfeito, Sllcce-
deu ljUO embarcando-nos em duas canas para irmo adiante
os Iudio com a fe La de nossa vinda e meLtero todos em
uma deltas, que era maior, e em que ia todo no so fato, a
qual viranclo-s deu com tnclo no fundo,e posto que alaumas

(1) Porto ele D. Roel1'igo. uppomos ser o dn enslJada do Bl'itO. D. Ro


drigo da Ounha era um capitl'io hespanhol d a frota de D. Garcia de
Loaysa, commandanle da no S. Gabriel, que arrihra a Sanla Oatbarina
em 1530, e depois fra ter ao liLonl1 da provincia de Ala&as, onde o s u
Dome ainda se conserva em nns baix.os em que nalifragara.
(2) Un. TJeqtteno de Agnus Dei. Um pouco, alguns .4gntls Dei.
Estas palavra Latinas ignifico C01"dei1"o ele Deo : Assim o Agmt$
Dei era, e he, 11m pedao de cOm com a imagem de um cordeiro com 11 es-
tandarto da cruz relevada uelle, ben to, e consagra. lo pelos 'ummo' Pon-
tifices no primeiro anno de sou Pontificado, no sablJado 111 albis. Depois
s praticll esta ceremonia de sete em sele anuos,
67
- ;jMi -

cansa e tirro damnou-se tudo de modo, fJu liyro., bre-


viarios, doutrinas, nenhuma consa apruyeitou mais.
Jlas aqui nos aconteceu uma cousa maravi lhosa ,que vindo
em um caixozinho,o qual,ante do naufragio por de cuido jil
vinha perdido por lhe ter entrado agua da cllUva e humidade,
sem nos advertirmo" ontinha alguma cou inbas elo no~'o
bemdito Padre Joseph (I), e nenlluma deltas se perdeu, com
acharmo podre todas as outra cou a que nelle "inho em
apmveitarem para cousa alguma, E Gomendo o bicho umcar
tapacio om cbegando a uma folha, anele e tan um hymno
e cripta da letra do anto padre, no foi mai por diante, dei-
xando as outras comidas.
De te lugar n partimos,e fomo ter a outra ald(\ onde
o P?'i'Ylcipal (2) nos mandou dar um punhado de farinba, c
uos feijes cozidos com bem pouca limpeza, mas a neces-
sidade e fome tirou todo asco: ii este baptiz i um menino
innocente, que, ainda que c no viera para mai , clera
todo o trabaJI10 por bem empregarlo, porque logo e foi
gozar de Deos.
~o mesmo dia que foi de No sa Senhora da A snmpco (3)
chegamos outra ald \a, que so duas ca as pequena, .1Onde
depai de fazermos uma igrejinllapara podermo elizer mic a
e ensinar a eloutrina, dia ele S. Barlltolomeu (fI.), estando
vespera o dia m~li quieto e alegre, e deixou Yir to grande
tempe tade de clnna, vento e troves, que foi cou a de e -
panto. Derrubou-nos a imag m, a lm"a molhou o frolllal,
que pal'ecia 'Vi 'ivelmente que o Demonio anelava procural1l1o
que no pode semo dizer mi~ a, e bem o mo trou lambem
no dia do anto pela manll, porque foro lantas as mosca
na igrejinha, que no podiamos valer, e com granclis imo
tl'abalbo dissemos mif; a: e bem se via erem aquellac mos-
cas, ou os me mos clemonios, cm mnndadas por eUes, por-
que nunca mais at agora e "Viro.
Aqui estamos ha trez mezes ensinanelo a doutrina <10
moradores desta alela, os quae folgITo ele omir as ousas do
Deo , e j muitos delle ce abem benzer, e pedem que ~s
fao Cbristos: mas ainda at agora no baptizamos maIs

(1) Padre Joseph. Refere-se ao venera,cl Anchi tn.


(2) O P1'incipal, istc, he, o Oacique. Twcd~ta Ott M01'ClbiJaba.
(3) Refere-se ao dia 15 de Agoslo.
(4) Refero-se !la dia 24 de Ago to.
de trez innocentes, um do lluaes est j no L:o. So faceis
de tal' de joelhos com mo levantadas, amiO"os da agua
benta, e de virem a iO'reja.
4o c no werno os frios qua i jntoleravei por ser a
terra muito baixa e de muitas alagoa~, e conLinuadamente
haer grancli imo vento. A comarca de te' Ccwiis que
esto por estes campo ao longo do mar, e quelie ele te
P01'tO ele D. Rodrigo ,He Boipetibla ('I), pOde ser ele quarenta
legLla' pouco mai ou menos: terra muito baixa,campinas de
ara, que correm entre o mar e Ulllas erra., que no ha
yer um palmo de terra nem de barro: no iuremo muito
['ria, no vero llluito quente e de muito ruins agua, e
daqui vem ser muito doentia.
((. e ta Mmpina~ ao longo de algum matinbo tem o Jn-
dias (2) feita sua a a . pallJaa~, ma bem r ita e de sessenta
palmos de larJura lOUCO mai ou meno ,e cada ca a bamo
uma aldea, (le maneira que lla\"enclo cm t.oda e ta Comarca
trinta e cinco a ::IS, 'ediz Il:wertrinta e cincoaldas(3): e
entre ella.' 11a alguma que no tem mai que troz ou quatro
ClI"lIe ,
(( No tem Principal ou (jaber.~a tlue O' go\" me, a, por esta
caua, e to apartado un do outro, e com pouca com-
lllunica(;Jo e a01izaue. O casac que haver entre todo" sero
como cei to e cin 'oenta, criao de meniuo 11 pou(\, que
Iie igual da malcia da terra.
Tem ordjnariamente muita mulhere-: :sua felicidade e t
[lo'ta em temm mnito cabao (~.), e andarem 'arreaado de
muita conta : peudentes muito compri 10 na orelba , nas
pontas cI !las uma meias llla' de prata, ou e lato da gran-
dura d uma meia pataca, as mesmas trazem na testas. .
lIa ne~te campo mnita e trraude altlga e bem pro-n-
da.: ele peixe: ila outeiros mui alto, mas ele ara (5), e todos
cobertos de tlL'yoreclo, porm temo para ns que daTo tudo

1) HoipelilJla. isto 1113, o I'io .i1ampilltba, acluallimilc da provincia de


flauta CaL1lul'llu com a de , . Pedro.
(\l) Estes] ndio' silo os denominados Palas, tI ue oceul'aYo o tel'l'itorio
sul de 'ai ta CaUlariua, e Rio Grande do uI.
(3) .d.ldeas, isto be, labas. .
(4) Gabaos, isto he,pelldentes ele brillt:os da frma do fmeto daealJaa.
Mas talvez o aulor se refira ao proprio fmcto da cabaceira, seceo, que se
em'p'rega em varios f i istres.
(o) Refere-se aos comoros de ara, de que ablUlda o litoral do Rio
Gl'aucle do Sul.
- 48-
quanto lhes semearem. Ha muitos veados do reino, emas,
antas; ha muitas onas e outros animaes ferozes. .
No tem estes Jndios algodo, mas vem-lhe de outra parte
o fio de que fazem suas rdes (1).
No vem cousa que no desejem e peo,e, to imlJOrtu-
namente, ainda que seja um alfinete, que vos no deixo at
que lh'o deis. At a roupeta me pediro dizendo-me que
mandaria buscar outra, nem temos outro remedio .para a sua
importunao em pedir que paciencia , quando nos entro
em casa revolvem tudo quanto neHa ha.
So grandissimos mercadores, e s por contratar com o
brancs vem daqui trinta leguas carregados de favas, bata-
tas, rdes (2), pel1es. -
Tem entre si muitos agouros, e muitos feiticeiros (3), at
agora se verJdio uns aos outro . Quando tomo algum con-
trario do-no a matar no terreiro aos meninos de dez e dOve
anDOS para que assim fiquem cavaHeiros; e ajuntando-se
quatro,cinco, seis meninos IIlc do tantas pancadas na cabea
at que o mato. E acabado tIe o matarem fazem meios mar-
tyres do Diabo aos pobres meninos, porqLle lhes do desde do
pescoo at as curvas das pernas uma somma de navall1adil"
com que lhes escalo toda as costas, e os fazem jejuar uma
boa temporada, e to estreitar;nente, que trazendo-nos, um
destes, meninos dous passaras, e convidando ns, nunca j
mais quiz. comer, dizendo que jej uava, pol'CJue havia pouco
que matra.
Em sellS vinhos so temperado', mas a' mulheres nto o
bebem, que be cousa mui nova entre o Gelltio elo Bl'azil.
Os que morrem se no tem hCl'lleiro enterl'o-os com sua
alfaias; se os tem fico-lbes, e em cima da cova lbes fazelu
uma casinha para que a chuva lhes no faca mal.
. Tem entre si alguns escravos fugitivos: e estes lhes fazem
m.U1to mal, porque ~b6S Llizem J'!luitas mentiras com que llle~
poem temor ele se virem para nos.
Porm, .sem embargo diss~, ~odos eJles querem ser filhos
de Deos, alOda que alguns Vlrao de varrar e lle necessario
primeiro fazer mantimeDtos por de prese~te lJaver muito,

(1) l!edes. No s/e refere as de pescaI', mas as camas de que fazio liSO.
os Jndl~e~as em todo o litoral do Brilsil.
(2) .vld~ a Pl'ecedent~ nota. Na Tingua geral o ll':lme Cle rcfe corres.
pOlldla a tny e a maq'l.~!1'a. .
\3) Feiticeiros. Referese aos Pag~. .
grande fome, a im por l:ausa de eSlerilicJ;tde como pejo,
medo que tem dos brancos, pelo qual no fazem rLJt;as.
- No tempo ([ue O' branco c vem ao resgate porque acho
,ento a novidade do Yinbo c legulJ?es, parece-lhe. que leUl
e [e~' que com r todo o anno e por ISSO vo l dizer que ha
c muila fartura. Mas yerdade he quc tirando Tl:lquelles
mezes, em i2 do o tempo padecem muita fome, e a~sim a [Ja-
decerr:os ,n~1 1}).1~ quando temo uma raiz de mandioca, <la
aro~snra de um J'alJ..'\o, damo graas a Deos ficando muitas
~eze sem jantar e 05 h. ajs do dia sem eiar.
E cbeaamos a comer .')s favas que tinhamo para emear,
e elo farell~ 'que fica da farnha das bO,stias fazemos mi~a ou
papa ,que no sabem muito bem pozldilS na af7 l1a: e seja Deos
bemdito que de nove meze a esta pa;'te,ql1e lia que partimo'
j

de Santo nunca no levantamos da l11e;-,~l,de surle que Ilo


j

comeramos mai e tiyeramo, c f6 Lej:Hl1lJ:- quanc1~ temo


alguma espiga de millto que comemo a 's,Hht {l~' (;O~lda,
Porm no e crevo e lr cou as para esplm..~r nO~::;9.'
Padre c Irmos, ante crendo que com elJa' ~c ae 'en-'::' 'rao
muito mai para de ejarem de vir ,1 e 'ta terra a bu~ca'.r
e ta alma inba , c tiral-a elesta brava e agre le mata tK1ra
as irem plantar no fresco jtlrClm da 19reja do Senhol'.
Eu me tenho por to dito o em me caber tal 0rLe, qU<l!ILlJ
dantes me tinba por indigno ele a meret;er, c a -im quanto a
mim, eu no quero j mais vida que para fazer penitcncia
de meus peccados em ervio de Deo", e a1vaco desta.::
alola .
( He esta CCL!!CL que cllamo dos Pcaos (I) mui fonno.;!: .
ter oito OL1 nove legu' S LIa cumprido, de 1U1'aura em parl::~
tem uma legua em outra mal , tem mu ito peixB, l?oa ~)ar~'a e
bom porto oode os navios esto; nella ficamo ate ItOJc vlllle
sei ue Noyembro ele i 605. })
Outra carta e creveu e te mesmo Padre em onze ue Agoslo
de 11606 em que diz a sim:
Ficamos . entre esle Ca?'ij sem termos nem quem
no ajude mis a eno um ao outro.
O no so comerzinho quando o temos ns o ~azemo~:
ns lavamos no sa pobre roupa quando he necess.arw; n,os
blnamos as tombas nos 110 os sapato com mUlta aleana,

(1) Alago', dos Pato ' Ainda hoje conserva o nome. Palos era o uom e
dos indigeuas que alli habitavo: outra tribu de Garij'os.
- ~50-

e com nunca termo apt'enc1illo o ofieio o fazemos muito


bem.
Os Indios aCll o pouco:;, os brallGO muito que os vem
buscar, que por e a cau. a no temos feito quanto preten-
clamo ,pelo impedimento Cjlle nelle [. mo'.
Comtlluo j temos llIUi juoto~ pa. ante de cluzenta alma,
a que todo o dias p l~ manh e a tarde fazemo a
doutrina.
De deqlle parLimosdeSauto.: so \"indo' aqui quatro navio
ao resgate, e agora e to oulro quatro em . Vicenle. Parece
que por e tarmo c ,e do tanta pre ,"] como e lho' ns
vim'amo tirar de ca a : e em um llal'co que 'ICjui esl,
em que no vem maj' tIne desoito brancos, vel11resgalc para
mais de trezentas pea ('1). .
Bc lastima ver oq llese pa 'a, e ti pe oa com que allego,
como lambem parti ipal1le neste negocio, para darem pOl'
licito lo illicito resgate.
E o tIue peior l)e, II ne ley;mdo certo I)l'anco pas 'an le de
qual' nla Imlios <lestes, t1eixoLl .;'t um fl1io ladino, () qual
e t no lugar anele os bralJ O' vo resgatar, que ser Llaqlli
viote legnas (~); e a tods o' (lU o se I[nerem vir para n, im-
pede, dizendo que no "eD ho, porlJue n' aoulamos, me-
temo' no tronco, fazemos trauaJllill' (le Jia e de noite, que
os vimos agora bu cal' para o' le"ar mina de fi/'ILl!-
ninga (3),
Jlas no he de e panlarLlizol' do um inLlio,pois os branco
o dizem tambem, e C3tO Ile o 1a\'or c ajuda que Delle' lemos
na converso o remedia dc'tas pobre' alma., por onL1e uo
ha mais que fazer ql18 tal' pacicncia. )} .\.l :Jljui a carla L10
Padre.
Este so o trabalho,) que lllluello:s ])Oll' Padre [arlece-
ro ne ta jornada, mas no SU p ller referir o lim clclla,
sem muito granLle enLimonto e escandalo de quem o OUl'ir;
porque andando e o tanelo o. 'ParIres neste de terro porlo de
trez anno ,e i'inrlo no cabo elelle' com e 'La duzeula ,lima',
pouco mais ou menos, que aqui ajl.ll1ll'o Ll':lzendo-as em
canas por mar para;)' apo:cutal'em na. alllas de ontro'
(L) Peas. Era a designao que os lmllcanles clavfio aos escravos,
tanto indios como afrkanos e asialicos.
('~) lia de preSllmil' qlle o locaL deste mercaL10 fLlSSO em Pi)'atiny. _
(. ) M'inas ele Pi?'atininga. Parece qlle os Vicentistas lavrvo entuo
algum ouro em S. Puulo; provavelmente liO rio Tiet e seus affiulln-
los, proxim0S ti sua presente capiLal.
- 5"-(-

Intlio. .iiI 'hrUos, que o Pal]rcs tem sua con'ta na Capi-


tania c1 Rio de Janeiro.
Chegando ii. de Santo, lhes sahia ao encontro um homem
poderoso com gent de arma" e, como se fra um alteador
e piralH, Il1e' tomou por fora todos, captivando-os sem
nenlllllll:l juctin, 11 111 razo; e, contra as lei de Sua Ma-
rre. Ia le os metteu em ferro e yenlleu como quiz, fazendo
"obretndo aos Padres muitas injurias e affrontas.
E no ce anelo aqui s n dcsatino vencia que nm do
Padre e emlJarcavapara ir outra Capitania sn peitando
que seria para ir pedir soccorro a quem lho pude se dar,
o alteou com arma, e com a espada nua (liante lhe impe-
dia o caminho, e o fez tomar (I).
O que tudo dizemos aqui, no por querermo, desauto-
rizar no a gente Portugueza, uja piedade e hri tandade
Deos tomou por meio p::lra bem e omerso de tantas
almas; ma para que e ,"eja a impiedade de alrruns e o
estorvo qlle os Padres tem pl'in ipalmentc naquellas partes
elo Brazil, para pro nrarem o r media daqnel1as pobre, alma
,em aproveitar m tanta, I is qnantas Su:lage,tadc tem feita
em farol' ela liberrlalle de te pobrezinho 1J1'c/,si."i.
E porqne O. tl',t s no 1em outro amparo, nem quem os
11efenc1a a uela por alie ,en50 o: Padre (pai se eUes no
fol'~o j,\ !toje no !tomem um ,o Tnc1io vivo), so por Lso to
odiaelos per,egnido, com tanta, calumni\l", e' fal iel:1c1e~
c[lIallla;' continuamenle lhe, leyanto e c. l'Cyem contra eUe.
,'ua Magc}.(ac1e e iI eu minUro::, ainda muitos elo mes-
mo. qne por razo (]e s ns ameias linho obrigao a der n-
de!' a jll lia da. lei, lle lia ~ragc~tade, e a liberdade espiri-
tU:11 e temI oral do pobre Inclios, ono fora o interesse
e cubin humana lU. ludo c"ga.
CAPITULO TTI.
Da ilJi~srro que fi7.t)ro o padre Francisco Pinto e o padre J,uiE: Figueira
ao Rio elo Maranho.

COl're de P l'nambuco lJara a parte elo 1 orte e do Rio elo


~Iaranho uma grande o la de m:1r do Brazil pertencente
a conqni ta de ta Coroa po!'to de duzentas legua" toda po-
(I) .Esta. 'cenns cleplorn\-ei. ,inrelizmente,dnvi'io- eem antros pontosdo
BRmzl~ C01l1 applnnso tlfJS advrrsnrios dr.sn gmnde e heroicn corporao
elJglOsa.
voaria de innnitos Indio barbaras e selvagens, como so
tOdllS os elo Bt'azil, entre os quae at agora, principalmente
os que e to mai afta tados de Pernambuco, carecem da luz
elo sagrado Evangelho.
Desejaro muito no:- os Padres de comear a entrar com
elle por e ta Wo espe a mata, usando do modo mais UJve
de qne costum;'io com aquelles b:lrbaros, que he por meio
de razes que 1l1es offerecem, e fazem com elles para que
qneiro ser fiUlO de Deos, e vir vida santa, e ter amizade
com o. br"ncos.
E como e ta empreza era mui difficultosa, e arriscada, e
requeria homcn de muita prudencia e valor para se sabe-
rem haver com os Indios, levando-os por bom modo, e
sofirer com animo constante e- varonil o grandes trabalhos
e perigo a que e propunbo,e que tambem tiYe~scm Yocao
particular de Deo para tal emprcza, parece fIue e~colheu
Deos para ella o dons, qne mni particnlarmeule tinha do-
tado de todas e 'las partes, que foro os a ima nomearlas,
Francisco Pinto (1) e Lniz Firrneira.
O primeiro, homem j qua i velho ele l)!f aonos de idade,
excellente Iingna (2), c de grande cxpel'icnei:l ela. ousas
do Brazil, c com no ler muila foras pa ientis.imo de
trabalhos, e que Linhaj!.l fcito qnalro ou cinco jornad:l dcslas
pelo scrto c matos cio Brazil indo bu cal' com grande ca-
ridade, e fervor de e~pil'ito aqLlellas rLulcs ovelha p;Jr:l :lS
trazer ao curral da Santa Igrcja. De singLIJar yirtnde, e dom
de orao, to zelozo lo angmento da f, c salv::lo da
almas, qne todo o Brazil (3) 1l1e parecia pouco para trazer a
1)eos, e como tal elte foi o (rue se orrer cen para c ta jor-
nada, E a pedia aos Superiores com mui grande instancia,
com espirita de fazei' nena grandes servios a Dca, e lhe
ganl1ar muitas almas, E, chegando aoIlio clo'A'Ict?'cmho (4),que
he um grande rio que dista do outro muito maior, Cjue

(1) o famoso Missionaria' padre Francisco Pinto pde com razo . ar


appellidado o-Apostolo do Cem'.
(2) Lngtut, i. " interprete, lllrgimo, .
(3)' E te '1\1.issionario evangelison no Espirito-Santo, Bahia, Pernam-
buco, Rio Grande do Norte e Ccadl.
(4.) Rio do Mai'anho. Aqui pRrece referir-se RO rio que hoje chama"
mos-Pmnnhy7Ja.
..:::: Mil -
cham;io O"elh'm,a (i), e rlista '00 da .tJnazonas (~) oitenta e
cinco legua'" fun()al' Igreja , e arvoraI' a crnz de Cbristo.
O eO'uncl foi Opadre Luiz F'gueira mais mancebo no
idade, m::l de muito grandes partes rle virtudes e letras, 3
qual tambem om gnlnrle fermI' oe espirita, e com muit\
instan ia procurou c alcan u tlllS Supcriorc; 'sl.1l\fi ~ITo (3).
l~arLiro pis de Pernamhuco pJr ordem do parlre Pro-
,ioeiaI (4), e om li ena e ajuda elo rr(),ernador Diogo Bote-
lho em .1aneil'0 (5) de ,1607.
Foram por mar at Zagual'ibe (6) ([ne !=, 1'o como cento
e vinte legua.: dahi por diante fizero .eu c,aminho por terra
p, CillTl sen bordi)e na' mo., aCOml)[1I1hado~ de alglln.'
Jl1dios Gh1't to. que COIl.irro le\avo TaplIyas de na:o (7), e
parentes daqnelle' a quem io buscar. Caminhrio du~ln
maneira mai de cento c vinte legulIs orrlinariam 'ole por
lamare e atoleiros por ser no invcl'no, alglhnas 'vcz-Cz'
de calo pela muitas aguas, e .emp1'e por matos e brenhas
de povoado sem terem outro caminho mais qU o que o
lndios ia 1 ompentl'o a for,a (Ie brao, e o comer to pouco
que Mo tinb:to 'militas veze~ tom qne passai.' penfo alguma,
b~v~, '
Chegaro a lnlma erra chamada lbi.gapaba (8), donrle a!l\
o ~{ahmho h:nia ail da cem legua , mas e ta todas daqui
pbr diante pO'YOadas de infinitos barbarCl Tapuy " g como
Ma 'ce 31'io [)asuar pelo meio delle , e isto no ha~ ia (Ir,
ser eom fora de aTma , come.aro a t.ratar de pazes, quae.,'
bem se temero que fossem de ponco elTeito, pela pon'a
(1) O,'elhand Parece refelrse ao grande e luario da ilha do Maranho
formado por dilIerentes rios que aill desemboco.
(2) ,111a.:onas, Era o rio que oull"ora chamavo OJ'elhana,
{3} Vide supra pago 4- .
(4) Referese ao Provindal padre ~imiio Pinheiro, sp.gundo o qne di?
o Padr Jos de Morne, no 10 lm desta<; 1/8mol'ia~ )Jtl n 28; com
quanto muito e engane quandoattribue no gOYel\ua~Or Gaspar de ~ou7.n,
o quo se passara com o seu predecessor DioO'o Botelho.
(5) A partida foi em 29 tle Janeiro de 16 7.
(6) Zagual"ibe, isto he, ,Taguctl"ybe, nome qne depois adqnirio o \'io de
S, Loureno. .
O Zagnal'ibe de que a\Jui se l.rata,he o rio do ApciLl1J actual,ou o estl~a:JO
de Mossor,como lIOS 1l11ligos mappa se observa,sobretudo o do Capltoo
mr Pedro Coelho de SOl17.R, flUO' c<1pio11 Diogo de ampos Moreno na
lla::cTo cZ'Estado. Vide Gal riel Soares, Noticia do 73)'a~l r.ap. 'I, no]'.
,Tos de Mornes no tom. 1.0 destas 111emol'ias, pnfi' /\.
('7) Havia lambem Potiguras e rrbajll'as '
(R) IMorr.pabrc, :,to hp., Tb'iaprb(l,
(iR
- 5.9* -
Ct9ns\~Q'c}~ desles barbaros, qu.e a no fazem mai que por
aquel!p ~c~o, mas, a~'lba~o.elle, lp.at,o qu~.m p,odem.
,coll}ludo, C,.omo se 'fazio em nome ~los Padres que en
. ino a santa vida, e o caminho do Co, o qual acaba muito
com todo o outro gentio do Brazil, confiaro os Padres que
assim pur ventura acabario com esle. Pelo que as princi-
piaro logo com trez naes deste (i), que ero de mai~im
port:;lpcia, por estarem no caminho por onele havio de
passar, mandando-lhes varios presentes e ferramenta, que he
a cou~a que elles mais de ejo e estim:l0.
Aos primeil'o~ mandaro a primeira vez recado, no tevo
e/feito: mandaro o segundo. veio )r)l10 enviada por elles
uma escrava sua que pasmou de ver os Padres, fi lhes foi
prgar maravilhas delles, mas tudo de balde; porque a n,ada
deferiro. Mandaro aos segnnds da mesma maneira, e
1ambem no acudiro,
Final mente manrlariio aos tercei I'OS por duas vezes, e com
bons presentes, pretendendo que os viessem alguns ii ver
para que com os olllos vissem que ero os padre e certifi-
cados nisso se confiassem delles. Escusal'30-se com dizerem
que era o caminho comprido, pelo que os Padres come-
aI1o a descer por ulDa serra abai~o, e do meio della lhes
tornr.o a mandar recado com mais pre entes, mas elles
os gratiqcro com matarem a todos quantos io com o
recalilo., g,uard:;indo s um moo de dezoito am;1OS para depois
trazevem por guia quando viessem dar assalto nos Padres,
eom@ pepois fizero.
Neste tempo estavo osPadres e. perando pela resposla~ e,
v.en'do que tardava, entendero logo o que podia sor, prin-
cipalmente no vendo tornar nellhum dos nos os Jndios at
que dahi 'a mais de um mez soubero de certo o que p~s
sava, e logo se arrecero do que podia succeder, IP~s por
no desampararem os Indios que comsigo levavo, e que
alli tinho 'plantado j seus milhos, e por oulros respeitos se
deixaro estar.
Sen~9 quando,30s 11 de Janeiro de 1. 6081, sllbitameqteA~o
sobre elles estes barbaras (2), e comeo s frecbadas CDII!! os
llOSSp~ cbm grande grita, 'e logo morreu 11m dos seus, e
,-
(11 Vide supra pag. 457 nota (1), e O. d'AbbeviUe Histoi1'e de la mis ,
sio1~ des Pel'es Capucins en Z'i/ile de ~[q,,.aunan.
[2) ErRO Of! indigenas Tocajij1.is, Vide llupra P!.}if' 4J),I.
- 555-
olltro foi ferido: e porque os inimigos entral'o ;pela Qarte
opqe eslava a ahoupana dos l)adres a borda do mato, \lhio
grita o padre Francisco Pinto, que neste tempo e~t~va
dentro em casa resando suas Horas (i), e ainda que os 1).OSSO,5
Indios que os Padres levavi'Q, proclll'ln'o quanto pod~o qe
o rlefender o amparar bradando aos outros que est.ivesse,m
quedas, que aquelle er;! o padre Abar (2), que os queda
apasiguar e ensinar-lhes a boa vida; re poudio que no ti-
nMo de ver com i ~o que o havio de malar.
Finalmente como O~ nosso~ ero poucos, e os inimigos
mais, no licou com o Padre mais que um s mui esfur-
ado e valente homem que o foi amparando e defendendo
at morrer por elle, e, depois deste cahit', chegando ao Pal:lre
lhe clero tanIa. pancadas ~om 11m pu na cabea (:3) que Ill'a
fizero em pedaos, quebrando-lhe os queixos, e arrancan-
do-lhe as cachagens (.&.) e olhos. .
Neste tempo quiz Nosc::o Senhor, para que ahi no aca-
bas,em ambo. ,que o padre Luiz Figueira anda:;se um peda ,o
afastado, ao qual logo correu um mocinho, e tomando a
dianteira lhe ia bradando: apl'essa-te pai, ap1'essa-te pai
com o que fez advertir o Padre, pelo que logo se metteupor
um mato onde esteve emquanto durou a briga, e escapou
com a vida, posto que os barbaros tambem o bu caro para
lh'a tirarem. Mas no dando com elIe, e querendo fazer
volta, se tornaro choupana dos Padres, e levaro tudo
quanto neHa havia, a"sim o fato da Igreja, como tudo mais,
e com isto se forel fazendo grande grita.
Sahio depois o padre Luiz Figueira,e ajuntando se com elle
os nosso Indios, se foi com m litas lagrimas onde esta'a o
corpo do bom padre Francisco Pinto, e lavando-lhe o rosto e
cabea cheia de sangue e terra, c feita em pedaos, o compoz
e~ nma rde ~Jara o levar para o p da erra, E logo sendo
an ado de um Indio cathecumeno, que estaya morrendo, lhe
foi acudir, e o baptizou e curou, e dalJi pouco mOITeu.

(1) uas I:f01a.~. Vide suprr. pago 4-57, e no tom. ] destas JI1em01'ias a
pago 41.
(2) Abal', isto he, Sacerdote, Missionarlo, o Padre por excellencia,cujo
nome por demais conhecido, era famoso entre os indigenas,
(3) Pu na cab.Ja. Era o p:ilt chamado de jt~cd. empregado na guerra
e nas execues.
(4) Cachagens, isto he, centas. Os oss:s abertos no nariz, que do pag-
snge~ ao ar qne respiramos.
- mm'-
Ao Padre, en e te e ti OI1tIO compar1heilo, 11 11 septllturn
ao p daquella serra ('1), e no meio daqnelln Gentilidad;
este foi o fim que teve aqueIl jorll:Hla e Misso, da qual Ueo:
parece que por bora no querill tirar OU(I'I) fl'l1oto 8enito o
de pagar e te Dom Pad're com to glorio.0 fim e premio,
o grande zelo e fervor de e~pidto e de caridaile, com que
a pedio e proseguio, at dar a yjr1:l por en serrio e nhao
das almas que ia buscar.

(1) Ao p daqtteila SeITa. Suppomos que foi no locnl onda p[l~tcrillr.


mllnte. em 1697, se f\1ndon o aldeamento da 1'hyayr(,c1epois, em 7 de Julho
de 1759, denominndo Villa TTiosa.
No pass i~to de mra conjectnra de nossa parte, pois pouco se sabe
da primitiva historia desses estabelecimentos, cujos nOmes indgenas
foro substitnidos por Rortngnezes, na cpocha da grande perserruio da
Companbia de Je'Sus. o
Quem sabe se esse local no lte Ibossl ou aindfl Ibinpina on Olitro
estabelflcimentll dos mesmos Rflligio 'os nnquella: !llll'l'a? Et;l vista do
rnaPl?a dessa Provncia E; caminho eguido p.los Missionarias, nossa
opinIo se lixa em Viosa.
INDICE

I'.I.GS.
Ao LEITOII ...................... V
neJao Su,lnmaria clll.~ cousas (lo Maranho, escl'i1Jta pelo Ca-
pito Simo Estacio ela Si/vel1'a'i dirig,:da aos pobres deste ?'eitllJ
de Portngal (frontespicio) . 1

~~~~~~~ ::::::::::::::.... :
3
:.. : :.. ::::::::::.: :::.::. ::: 4
RELAO smmARIA DA CO SAS DO MARA 'no
l. - Demarcao . 5
II. - Primeiros de cobridores . )l

m. - Jornada em que se descobrio . 6


IV. - Entrada no Maranho, e balalha com os Francezes 7
\' . - Soccorros e expugnao : ..
Vlo - Primeiras noticIas das riqueza do Maranho .
VIL - Jornada de Gonalo Pizarro e Francisco Orelhana 9
VW. - Descobrimento de Luiz de Mello da Silva , . 10
IX. - Os filhos de Joo de Barro no Maranho . 11
X. - Fraucezes no Maranho . 12
Xl. - Descobrimento do Gro-Par,famo o Rio dos Ama-
zonas " ............ ' . 13
XlI. - De cripo do Maranho, suas terras e rios .... , ...
XlII. - Estado das cousas no Maranho ............ 14
XIV. , .. =. Adminisil'ao do Iudios . 15
XV. - Commodidades do Maranho . lt
XVI. - Arrumaco da costa do Maranho ao Pari!. . 16
~VIl. - Couqu.isia dos Tupinambs . 17
XVIll. - Estado do Grtl-Par . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. .., ]8
xrx. - Conveniencias dos navios que vo de Angola a India5 )I

XX. - alubridade do Co . 19
XXI. - Pureza das agoas . 20
XXIi. - Ferlilidade da terra '" .
XXIll. - Po ; " . 21
XXIV. - Vinho . 23
XXV. - Carne . 24
XXVI. - Aves ..................................... 26
XXV1I. - Pescados . li

XXVlTJ. - Mariscos , .
XXIX. - Legumes e horl;l.li.a~ ~ ..
I
II
PAGS.

XXX. - Al'vor s e rruda , . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . 2.


X~'(I. - Drogas.. . .. .. ~()
Docnmentos concernentes fJ. Bento Maciel ParenLe, Oonatario d~
Captta.lIio do Cabo do NOIte, e Capito mr do Par........ 33
Petio dirigida pelo Capito-mr Bento i\1acil'l Parente ao rei de
Portugal n. Philippe III, acompanhada de um memorial..... 35
Memorial para COD ervar y augmentar la conquista y tierras dei
Marai'ion, y los Indios que en ellas conquist el Capitan Mayor
Benilo Maciel Parienle. . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Copia de la real eedula, (rUe se despaeM para el Capilall Mayor
Benito l\Iaciel Pariellte, para conquislar el gran Rio de las
Amazonas, y eehar de alli los enemigos................ 43
Carla de ley de 14 de Junho de 1637. Faz doao da Ca,pito-
nia do Cabo do Norte a Bento Maciel PUI'ente........... 45
N7~evo descubrimiento dei gmn ?'io de las AlIla:;Qnas p07' el
p ad?'e Christoval de Acu?ia, nliuioso de la Compaliia ele.T eSllS,
y Cali{icodo?' de la S7~p?'ellw General Inqltisition. . . . . . .. 5'i
Dedicatona aL Exm. Sr. COlldll Duque de Olivare 59
AI ledor ,......................................... 61
Cerlil1elion deI Capitan Mayor desle descobrimento Pedro T -
xeyra.......... 62
Certilicalion deI Reverendo padre Commissario de las Mercedes... 63
Clausula de la Provision Real que di la audieucia de Quilo en
nombre de S11 Magestad para esle des nbrimiento. . . . . . . . . . . 64
RELAXIOl\'

1. - Noticiaseleestcgroli?io (ii
U. /}escubl'e Fmncisro de Orellanu este lio. . .
m. - ltntm .por este rio el tirano T-ope de A {jnilre. . . . . Q8
IV. - 7n/,en (,an otros este descub?im'iento. . . . . . . . . . . . . . ))
V. - Lntentct Benito llIaciel este descubrirniento....... 69
VI. - Mand-M-le a F?'ancisco Collo qne haga esta ell-
t7"ada . .. , .... , .......................... iO
TI. ..,- Nav8gan este no dos Religiosos legos de S. Franc." li
Vrll. - Llegan los dos Religiosos ai Mam/lon. . . . . . . . . . . 'iI
.L' . - Es no~TI,brod,o pal'/a conqnista Pedro Texeil?'a.,. 'i2
X. - COTn'iel(t. Slt. viaje Ped?'o TexeYl"G.. , .
~1. - Adela'lltct-sc -el Cm'onel Benito Rodriguez . ; .-, .. , 7R
.tn. - De.1Ja el Capital/o el. exercito en los Encabelladas... '74
XJU. - Llega el CalJ1:lan ll'Iayo'r a Q1tito. . . . . . . . . . . . . . ))
XlV. - Resolttcinn dei Virrcy dei Peni. . . . . . . . . . . . . . . . . 'i~
XV. - Bl general D. Juan deA cu?ia, se orrece a ln
jOl"JI(J,dfl, . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 'i6
XVI. - 1Vomb?'o la Rea.l Altdiencia ai padre C/wis/.oval de
AcU'l1a p01"a esta J O'l"'/Ulda . . . . . . . . . .
XVII. - Salen los Padres de Qtuto.................... 7r;
XVIII. - m 7'io de lct.~ 11 1llatonas es el rnuyor dei Qjbe. . . . .. '78
XIX. - Nacimiento dei 7"":0 (le las Amozonas. . . . . . . . . . . '79
XX. - S7t curso, lalttud, y longitud.o' ,.. 1
XXI. E.~I'rech'Ura~ y rondo del rio.................. )1

XXI]' T.c;la.~ 11 sn iC?'l'I:Mda!l, 11 (T1ltOS..... .......... L 2


fi
PAGS.
XXIII. - Genel'os de bebidas 'llte usaIL............ . . . . . . 83
, XlV. - Frutas qlte tienem.. ... '" . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
XXV. - Peseados deste rio, y dei llegebuey............. "
XXVI. - Torl'ug'Ls dei rio, y cllmo las gum'da'll.. . .. . . . ... . 85
. . vn. - JIJ ndos de pescas que nsan............... . . . . . 8'7
XXVllI. - Caa dei monle, y aves de fjtte se sustenlan...... &<;;
XXIX. - Clima, 1) temple dei rio....................... 89
X X. - Di.<posicion de la I ierra, y drogas metli;:;inales. . . . HO
X'XI. - J1Jadem. y aderezo pm'a navios........ 91
'XXlI. - Quatro generos de cosa., provechosos que ay en este
lio ............. , . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . gZ
! XXIII. Ue otros gerl.el'os de estima qlte aqui se hallan....
- 93
XXIV. - Riquezas deste rio...............
XXX V. - San quatro milleglws de Cil'CltO lo desmbielto. . . 95
XXXVI. - il'Jul!itud de gente, y de di{erenles Nociones. . . . . .
:\XX vn. -.1 rmas de que llsan los [nc/ios. . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
X, XVIII. - S II, conomel'cio es p01' el agua en canoas. . . . . . . . . . 97
X, XIX. - Las herrfllnients que ltSan ".
XL. - De ritos y Dioses que a 10ran.. . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
. U. n hulio se hazia Dias... 100
XLII. - De los Ilechi;:;el'os que ay ,..... 101
XLIII. - Son e tos [ndios de npacibles natltrale ..
\LIV. - Trnta-se en e pecittl de las ca:::us dei Rio, y de SU,~
enl.rad(t.~ ,. . .. ... . . . . 102
XLV. - De Ires entrada qlle (t!l 1101' el lWel:O Reyno.... .. 10~
'(LVJ. - Otras entrada............... 10.1,
XLVll. - Ol/a. entmdus a este Rio , 10:-
XL vm . - l1io de \'apo ' ' . . . . . . . . . . . . .. .. .. 106
XLIX. - .dqUt '11lalal'OIt el Capitalt Palttcio.,.............
L. - .4.'lui qued la .Armada P01'lllguesa, Provincia. de
los En.:abellados , 107
Rio Tltl11bwagua " lOS
LI. - Provinciaz de los Jlgas , . . . . . . . . . . . .. 109
LU. - Usa de los e clavas 'llle cnutivan................ 110
LUl. - Sitio (rio en qlt~ se podr coger trigo ' . . .. ] 11
LIV. - Rio Pttl tonayo, y naciones que ell el,ell Yeta ay. 112
LV. - Fin de [(l P1'ovillcia de A guas, y 'rio dei C,,;:;co.. . . 113
LVI. - Provincia donde se haU 01'0 .. ... , .... ' . . . . . . .. 114
LVII. - ilJinas de 01'0 . . . . . . . . . . , . , . . . . 115
LVIII. - Usan o'rejas y nM;es clglljeradas ,....... 116
LIX. - Eutrada a lel- minas de 01'0 .. , ,.. .
LX. - Lago dorado , ,... 117
LXI. - p,.ovincia de Yoriman , ,...... 11
LXII. - Un. pueblo de -mas de 'lma leglLa de IMgo ' , 119
LXIll. - Rio de los [Jigantes . ..... ,. ... .. . . .. . ..
LXIV. - Rio Ba ul'ur, y sus naciol1es . . : ,. 120
LXV. - Rio iVegl'o................................... 121
L. 'VI. - Inl,ellta.n los Po)tn.quescsclltral'se por cl rio 1 cgl'o. 123
L VII. - Relj,tterillt'ianto hecho Ctl Exercito , , . . .. 125
LXVJJI. - P"osiguc ~l viuje, 11 dell'io de la iii adem.. . . . . .. 128
LXI.. - [sla grunde de los 7'llpil~(/lIlbs , '" . "
IV
PG!L
LXX. - Not'iejas CJlte dieron los Tupinambs .. , """ 130
LXXI. - Dan 1l0t'ieia de las Ama.:;onas , ' ," 131
LXXII. - Rio de las Amazonas. , , '" .. ' ,.. .. . . .. 132
LXXrn. - Est1'echura de lodo el rio. . . . . . . . . . . . . . 13:3
LXXIV. - RIO, Y natiol>. de TapajostJs " 134
LXXV. - Ollresion que hisiel'on los Port'ugueses. . . . . . . . . . . 135
LXXVI: - Cwupaltlba.................................. I7
LXXVII.. - Rio Ginipape , ' ,., " 1~
LXXVIII. - Rio Paranaiba....... 139
LXXIX. - Rio Paeax , , ........... , 13!)
LXXX. - PoblalioTl det Conmt(t ,............ 140
LXXXI. - Rio de los Toca71tines , . . . . ))
LXXXII. - El Par...... ,............................... 141
LXXXllJ. - Enl?'a ell ell1wl' elTio de la.~ Amazonas... .... ... 142
Memori.al presenlado en el Real CQnsejo ue las lndias obre el
dicho descub~imienlo despues dei revelion de Porlugal. . . . . . . 145
Jontada do Mal'anho por Diogo de Campos ilJoreno, sargento-
mi' do Estado do Bmzil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . 1-3
Prefao '.' , n : 155
Jornada do Maranho por ordem de Sua Mage3lade feila no
anno de lGl4 , . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . 159
Carla de Jeronymo de Albuquerque ao Embaixador de Hespanha 2:3
Cousas que por servio de Sua Mageslade ha de advertir o Capilo
Gre~orjo Fragoso de AIQuquerque, em o r13ino de Frana, ao
Sr. Embaixador de ilespanha. . ..... . . . . . . . . . . .. .. . . .. . ... 2-'55
Summario do que fiz neslas lerras do Brazil (de la, lI11varcliilre). 260
Primeira explorao dos rios Madeira e Guapor feila por Jo.
Gonillves da Fonseca, em 1749, por ordem do governo. . . . .. 26'7
Vave[j(u;o feita da elade do Gl'o-l'cl1' al a boc(~ do Rio da Ma-
c!eira pela escolta quepol' esterio Sllbio s ilJ inas de Jl1ato-G,'osso,
pOl' ordem l1mi ?'eco'l1lllleltdada de SU(~ Magestade F-idelissima
no almo ele 174.9, escl'ipta por Jos GOllal'l:es ela Fonseca no
mesmo anno,..... 269
l avegao .do Rio da Madeira principiada em 25 de Setembro
de 1749... ....................... 289
Breve noticia das Serranias de que procedem as cachoeira, do rio
da l\tadeira , . . . . . . . . . . . .. 318
Descrevem-se as cachoeiras do Rio da Madeira principiadas a
passar no dia 18 de Dezembro de 1749, . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 321
Primeira cachoeira , , . . . . . . . .. . .. ,...... l)

Segunda cachoeira ,. ::321


Terceira cacboeira.. . , ,.. 328
Quarta cachoeira , . " . . . . . . . . .. 330
Quinla cachoeira. , . , , . . . . .. . ,....... 332
Sexta cacboeira ,., , , , . . . . . . . .. 33.'3
Setima cachoeira. , , ,: , , '. 335
Oitava cachoeira .. , , : .. , , , 33'7
ooa cachoeira , . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . .. 338
Decima cachoeira , . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 339
li primeira cacho .ira '" , , , , li
II segllllda II 341
y
P.\o ..
Decima terceira. cachoeira.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 3-14
quarta .' ................ , . . . . . . 345
" quinta II II
"sexta ll " 3-16
I) :etima II 34'1
oitava II .' , " 349
nona '" 350
Na \'egao do rio Apor aL chegar a Minas de MalLoGro ~O, . . 358
Apontamentos em dala............... !lo
OCClLpao Hollandeza no Maranho. --:- Luta e expu/silO 00. In-
"asores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 4Hl
ExcernL da obra-HistoTia de P01tllgal1'e taurado por D. Luiz
de Menezes, conde da Ericeira " 421
Excerplos da obr<l- Vida do (/.po~tol-ico lJad1'e A11/.onio Vieiru, da
Companhia de Jesus, pelo padre Andr de Barro da Ille. ma
Companhia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . ,.. 43 t
Documenlo exlrahidos da colleco Hollandeza ma'lll cripLa, do
Jn tituto Historico. . . . . . . ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 4:3~)
Certido passada pelo Pl'ovedor-lJItJr da Fazenda, no ~Ial'lll ho,
19nacio do Rego Darl'elo, de 6 de Ago lo de 1642. . . . . . . . . . . . 43~)
Copia de uma car!.a de P. J. Bas, Director do Maranho, ao conde
Mauricio de Nas au, e ao allo Conselho SecreLo do Brazil, llalada
de '. LuizdoMal'anho, em31de.faneiro de LG43 11:)
Helalol'io de Maximiliano chade, de Ulrecht, que partira em 163/
para li Brazil na qualidade de a 'pirante de Marinha, empregHdo
110 sen io da Companhia das Jndias OccidenLae , rlc ," ~ I!l
Rellto da 11 isso da serra de Ibiapabl/, pelo pad l'e ,\ nlonio
Vieira, da Companhia de Jesus .. '" .. 10'-

I.

l rirneiros Missionario' da Companhia de Jesu que do Hral.il I'a"-


saro por !.ena ao Maranho: eus lrabalho : Morro na ('111-
preza o vneravcl padl' Fmllcisco PinLo, e outros .

lI.

Vingo os Tohajaras a morte do seu pa toro Entro os 1I')ll.llltlezc8


cm Pernambuco; reduzem a seu partido o' lndios, que com
esta comlllunica~~o e orrompem m:s nos seus co lumes. ua
bUIbaridade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . -!-ti

II r.
flamnos que recebe Pernambuco, e 'ua dilaLada campanha da
r:onfederao dos Indios com os Hollandezes. EsLrago espiritual
do'!ndio' da srna de IbiapalJa com a 'ompallllia do qu para
l s' reLI rillo I . . . . . . . -tG1
VI
P.\.GS.
IV.

Chega segunda vez o pat;lre Antollio Vieira ao M:aranho, c o go-


vernador Andr Vidal de Negreiros intenta ULlJa fortaleza na
boca do rio Camuci, empreza. que dependia da vontade dos ha-
bitadores da serra. Escreve-lhes o padre Antonio Vieira. Sl1C-
cesso da resposta da sllmaca, que, com materiaes e soldados,
partia a levantar a fortaleza.............................. 4li3

V.

Navegao desde o Maranho at ao Cear dilIiwltosissirlla. ,\.1'-


riba a SUlllaca. Parte o padre Antonio Vieira, e intenta a de'-
peito dos mares ir nabi~ a 'buscar Missionarios. Demoras que
te 111 , e como encontra os Indios com a resposta de sua carta, e
volto todos para o Maranho. . . . . . .. 465

VI.

Partcll1 l\lissu.o da serra Ile IlJiapaba o padn 'Antonio H.ibeiro, e


o padre I euro dc Pedrosa. DiJIiculilaLles, perigos, e trabalhos
que passo estes ;\postolit,;os l\'lissiollurios. Fa or' do Co L1UI'
O

experiUl nlil.o antes ue chegar a lbiaplJa... 4.76

VII.

Bios caudalosos que se atfave 'so ne ta jornada. Bisco Lia cana


em que ia o padre Antonio Ribeiro. Livro-se milagrosameotc.
Chego elstes Missionarios desejada serra de lbiapilba , 1/0

VIII.

De cripo do sitio da serra da lLiapidm: .sua dilfu;ultosa sulJida,


sua altura, que excede s mlvens: condl~o de seus moradures:
e chegados a ellas os Missionarios, quanto obro..... 472

IX.

Impedimento que pz o Demonio f: meios de lJ ne usa: des-


~ - a erto-d~ il.m-Capilfio Portuguez: perigo da fortaleza elo Cear.. 174
x.
So chamados os Padres pa.ra socegarem os. lndios: di1rerellli~s
entre llstes: acode no malor fervor da bnga o padre AntonIO
Hibeil'o, a cujas vozes u pendem toLlos a armas, e ftco em
VII
PAG;:.

1Z: reform:L tl1do este grande Missionario, parle Pernam-


','0 em bl1sra de remedio, mas sem ,m.. ilo................. 4'ii

\1.

l1e'confianca dos da serra de lhiapba, lendo aos lissionarios


por lraid'ores. Quanto padece o padre Pedro Pedroza, que
ficou s na erra: necessidade a que chega e descommodos
de ta- \l1is '-es . .. .. . ... . .. .. .. . .. .. . .. . .. . .. .. .. .. . . .... 480

Xli.

:hega o padre Antonio Ribeiro de volta aS rra: alegria com


que he recebido: nova desconfiana dos Jndios que determ~o
I~atar os Padres: sabem estes da traio e ainda persistem na
erra........... .. 482

XllI .

Estado pcrncioso do Inrlios ela erra, suas ignorancias, herezias


trMo com o Demonio............... 484

XlV.
Fructo que se colbel1 ne te esteril campo: proveitos lemporae
ql1e resultaro desta duas Misses: surcesso extraordinal'io,
e Ca 'li~o d n os em alf.:uns Indios.. 4

XV .

" !lI' s divinos a outros Jndios: repentino estrondo que se


ntl\'io n:t sena de lbiap~ba na mesma noite cm que che~
ro o~ :Iissionari.1.': por muitas vias ordeno o ~llperjores se
relil'pm o I'arlrf'. da Sf'1'1'a, e toda impedio Dca 491

XVI.

Escreve o padre Antonio Vieira ao de Ibiapba: respondem o


lndios, e mando i i tal' o novo Governador do Estado D. Pedro
de Mello, e ao Superior das Misses o padre Antonio Vieira:
" loma tudo melhor frma, e o procura arl'llinar o Demonio.. 496

X-VIJ.

Parll' o adre Antonio Vieira para a erra: v~lor com que .em-
JlI ehende o caminho por lerra com o mais companhell'os:
~;l 1;10 vinte c nm dias: chego de calos, e com os ps em
II'"
'1111
I'A S.
"I'3;ia:: 11';lta .Ia reforma1io da Chri tandaur: aralJ'l com O" [0-
dias 'ou'a que parecio impossveis .. ',A' , . , 4.9.:J
1<. Xl'erplos da oura: -1l p lar:io amt'ual elos Pad1e. da Companhi(f,
,/~ Jesus. pelo padre Fqrn~o Guerreiro, da mesma Companhia. :'502
DAS COUSAS DO BRASIL (1602 e 1603).
CAP. l.-Da Pl'Ovincia do Brasil, do numero de casa, e pe oa
a Companhia que nel1a ha , , . 502
CAP. J[.~Oo respeito, e' sujeu;o grande que os 111'asis tem ao
I'ad,'e , e do muito que os Padres, que com eHes trato, ajudo
ao bslado temporaL .. , , . 50li
(;,11'. JII.-no frllcto em geral queos nossos fasem ne ta Provincia,
c de algumas i\1 isses que fisero no Serto ,, . 513
CAP. IV.-De fl1gumas outras sahidas que ftzero os Padres fi va-
rias parles elo Brasil. ,.' , ' , .. , 519
CAP. "Y,-DtJ uma Mi fio que o padre Domingo Garcia fez fazer
ao Serto, por alguns naluraes da ter"a da alela dos Reys Magos,
da Capitania do Esprito Santo , ,., . 52<'
CAP. VI.-Da na,o dos Gaymures e damnos que esta gente tem
feito no Brasil: paze que com elles se fisero na Comarca da
Bahia e_Capitania dos UMas. " , , , . 530
DAS COU AS no lI11ASIL (1606 e 160'7).
CAI', l.- , 540
r.Ar. II.-Da Misso dos Carijs ' ,' 5.J.l
CII'. m.-Oa Misso qne nsero o padre Francisco Pinto, e o
padre Lniz Fil!ueira ao Rio de Maranho , 551

Typographia do -PO;;1'nLO - Rua _ ova lo Ouvirio)', ns. .16 e IS.

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