Belo Fernando Heidegger Pensador Da Terra PDF
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HEIDEGGER
PENSADOR DA TERRA
Fernando Belo
1992
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Covilh, 2011
F ICHA T CNICA
Ttulo: Heidegger pensador da terra
Autor: Fernando Belo
Coleco: L USO S OFIA : P RESS
Design da Capa: Antnio Rodrigues Tom
Composio & Paginao: Filomena S. Matos
Universidade da Beira Interior
Covilh, 2011
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Heidegger
pensador da terra
Fernando Belo
ndice
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memria
de Jos Manuel Geraldes Barba
e do seu filho Manuel
que foram de destinos frgeis
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Heidegger nazi
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O ideal filosfico
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tura mais esclarecedores, aqui vai o essencial de tudo o que vai ser
dito. Cada um de ns, espontaneamente, se se lhe perguntar o que
um ser, dir que so as pessoas, os animais e as plantas, as coisas;
cada um tem o seu ser. Foi a ideia que Plato e outros depois nos
transmitiram, e foi contra ela que Heidegger se levantou. No h
nada de nada, coisa nenhuma, que seja, subsista, s por si: no
apenas porque tudo resulta de outras coisas anteriores (seres vivos
que vm de outros seres vivos, coisas feitas a partir de matrias pri-
mas, etc.), mas tambm porque h j um Universo, e, mais perto,
a Terra, em que tudo , subsiste no seu tempo de durao e aonde
depois se vai (morre, estraga-se, etc.). O ser o que garante, sus-
tenta todas as existncias (e isso no se v, no se d por tal:
retira-se, abriga-se, como veremos), mas sem ele prprio ser um
ser, um ente, uma coisa. E tudo se d no tempo: emerge, dura,
desaparece. Ora, tambm nunca a filosofia tradicional pensou o
tempo seno como algo de acessrio. A essncia de algo o que
desse algo permanece idntico, fixo, invarivel, igual aos outros
algos da mesma essncia: o que sobra da essncia o que aci-
dental; como o prprio termo indica, trata-se de algo que acontece
e podia no acontecer, algo que . por definio, temporal; o aci-
dental, oposto essncia permanente, o acessrio, casual, que se
d no tempo. Entender Heidegger mudar completamente o olhar
sobre o que nos rodeia, sobre ns mesmos, e aprender a pensar
diferente.
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A anlise do ser-a
19. Esta abertura est como que obturada no humano normal, pela
preocupao (Sorge) que cada um no pode deixar de ter pela sua
existncia humana, melhor dito, na sua in-sistncia preocupada
com a sua manuteno e conservao quotidiana. A si mesmo s
se apreende como ente no meio dos outros entes, que lhe esto em
face e mo. Ou seja, o homem normal no se apreende como
totalidade no seu viver quotidiano, no se abre ao ser que o dife-
rencia dos outros entes. o que Heidegger designar como modo
imprprio de ser (por vezes traduzido por inautntico).
20. Ora bem, este modo de ser do homem apenas um dos
seus modos possveis de ser, sem que ele o saiba. S o des-cobre
na experincia da angstia diante da antecipao da morte que um
dia lhe vir, justamente como termo da sua vida, como a sua l-
tima (im)possibilidade. Tal experincia permite-lhe, ento, a sua
des-coberta em totalidade, como ente finito: o seu futuro mortal
d-lhe acesso ao seu passado (como tendo nascido, digamos)5 , ao
entre os significantes (que so o que permite que haja sentidos a ler), no acede
ao texto e sua disseminao inscrita.
5
[20] finitude do nascimento poder-se-iam acrescentar, ao nvel n-
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[24] Ser e Tempo no pe a questo do ser que, na tradio filosfica, a
do ente e convm tambm pedra, planta e ao animal. A questo do sentido
do ser posta pelo Dasein e abre, no s a pluralidade aristotlica dos sentidos
do ser, como tambm os possveis do ser do Dasein, a sua temporalidade.
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A questo da viragem
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esta seja uma como que limitao do texto, que em surdina mover
Heidegger para a viragem. para a historicidade do ser: sem rene-
gar o que foi feito (pois que o filsofo, para alm de uni ou outro
ponto auto-criticado, sublinhar a continuidade), o acento que se
desloca. O Dasein, que seria em tiltima anlise o prprio Martin
Heidegger, no mais privilegiado, como que se cortando o cordo
umbilical que ligava ainda o 1 Heidegger ao sujeito dos moder-
nos; o privilgio, se dizer se pode, ser o duma figura misteriosa,
o Ereignis13 A paisagem tornar-se- bem diferente, em textos em
13
[32] Os principais textos do II Heidegger esto editados em francs em:
Chemins qui ne mnen: nuile part. 1962 [Cheminsj, Essais et Confrences,
1958 [E.C.], Questions I, II, III, IV [QI, II,III, IV] todos da Gallimard. Sobre
o Ereignis, o prprio Heidegger indicou os seus textos principais: Lettre sur
1hunanisme; La chose e La question de la technique (E.C.); Identit et
Diffrence (Qi); alm do texto Temps et tre (QIV), a que esta indicao
pertence (pp.67-68). Sobre alguns dos grandes filsofos da tradio ocidental...
Nietzsche: os dois volumes Nietzsche (1961), 1971, Gallimard; Le mot de Ni-
etzsche Dieu est mort, (Chemins); Qui est le Zarathoustra de Nietzsche?,
(E.C.); Quappelle-r-on penser, PUF, (1954), 1959; em Nierzsche, indicaes
sobre Plato, Aristteles, Descartes, Leibniz, Kant e Kierkegaard. Plato: La
doctrine de Platon sur la vrit (1942), (QI); Ce qui fait ltre-essentiel dun
fondement ou raison?, (QI). Aristteles: Ce quest et comment se dter-
mine la Physis (1940-1958), (QII). Descartes: Quest-ce quune chose?, Gal-
limard, (1962), 1971. Leibniz: Le prncipe de raison, Gallimard, (1957), 1962.
Kant: o texto citado para Descartes, que tem como subttulo em alemo So-
bre a doutrina de Kant da fundao transcendental; Kant et le problme de
la mtaphysique, Gallimard, (1929: 1 Heidegger), 1953; La thse de Kant
sur ltre (1962), (QII). Hegel: Hegel et son concept dexpnence, (1942),
(Chemins); Hegel et les Grecs (1958), (QII); Identit ei Diffrence, (1957),
(QI). Heraclito: Heraclite, sminaire, com E. Fink, Gallimard, (1966-7), 1973.
Parmnides: Parmnide (1943), Gallimard (em curso de publicao); Mora
(1951-2), (E.C.); Quappelle-t-on penser?, citado acima. Bibliografia completa
em Heidegger, CAIHERS DE LHERNE, 1983 [Herne]; ver tambm Heideg-
ger, questions ouvertes, Col. lntern. Philosophie, 1988, ed. Osiris [Osirisj. Se
o leitor percebeu que no sou um heideggeriano (ortodoxo), convm tambm
esclarecer que no sou um especialista e que h temas importantes no men-
cionados explicitamente; apenas tentei dar uma introduo a questes que me
parecem essenciais.
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cial ao ser o retirar-se no abrigo, onde tem como que o seu sustento,
o que o faz perdurar, mantendo os entes na durao, no tempo. O
ser no pois nada de substancial, categoria essencial de todos e
de qualquer ente, do ente em geral como veio a ser determinado,
de-finido, de-limitado, na descendncia platnico-aristotlica a que
pertencemos, com o consequente desinteresse moderno por essa
generalidade que seria o objecto da filosofia. E-l uma autono-
mia do ser, ele que tem a iniciativa do movimento, da histria,
qual o homem pertence essencialmente enquanto ente com logos,
aberto abertura do ser como altheia.
37. Ora, se retornarmos agora os quatro elementos, a gua, o
ar, o fogo, a terra, corno pertencendo tambm phusis, e no sendo
no entanto entes vivos, mas tambm no sendo feitos pelo homem,
pro-duzindo-se da phusis, h que alargar os entes a que esta diz re-
speito ao conjunto dos quatro elementos (incluindo a gua e os ou-
tros minerais, as pedras, a atmosfera e o seu clima, o fogo e as com-
bustes). J Heidegger dissera cinco anos antes: Esta apario e
este desabrochamento [da rvore, da erva, da guia e do touro, da
serpente e da cigarra], e na sua totalidade, os Gregos chamaram-
lhes muito cedo Phusis. Este nome aclara ao mesmo tempo aquilo
sobre o qu e em qu o homem funda a sua morada. Ns chamamos
a isso a Terra. Do que esta palavra diz aqui, preciso afastar tanto
a imagem material de uma massa material depositada em camadas
como essoutra, puramente astronmica, dum planeta. A terra o
seio no qual o desabrochamento retorna, enquanto tal, tudo o que
desabrocha. Em tudo o que desabrocha, a Terra est presente en-
quanto o que alberga. Ou seja, a Terra o ser. H que ler os textos
de Heidegger como os de um pensador da Terra.
38. Se este texto sobre a phusis segundo Aristteles for uma es-
pcie de chave do II Heidegger, como estou propondo (indo pois
mais longe do que a maior parte dos seus outros textos), perceber-
se- muita coisa que se d frequentemente leitura como bonita
e enigmtica. O ser uma dobra (zwiefalt, pli em francs) do
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A viragem e o nazismo
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A habitao e a tcnica
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A habitao e a arte
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O retorno s coisas
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Post scriptum
Seja-me permitido que termine este texto com uma espcie de sen-
timento pessoal de leitura, de algum que passou largos anos a ler
textos bblicos. E o de que os temas do II Heidegger, o dom,
a Terra, a promessa, o destino, o interdito da representao, o
Ereignis-Acontecimento foram dados Europa pela escritura he-
braica34 , como se o pensador tivesse reatado com os seus comeos
(ele cita algures um verso de Hlderlin: pois como comeaste,
questo hertica (ibidem). Creio no entanto que a globalidade da recusa da Mo-
dernidade por Heidegger, que o impede de pensar a cidade e a sua democracia,
vem do acento da Casa e da habitao, isto , do ponto de vista do parentesco;
ora, foi este que a Modernidade reprimiu o mais que poude, donde ela saiu a
partir da representao clssica (a democracia um regime representativo). A
nossa tarefa ps-heideggeriana seria pensar a casa e a cidade na sua articulao:
ser para o que aponta o Ereignis? Para uma perspectiva feminina de Heideg-
ger, ver a filsofa Luce Irigaray, Loubli de lair chez Marrin Heidegger, Minuit,
1983.
34
[P.S.] Cf. Derrida, De lesprit, pp.165-167 (o Geist alemo e a ruah he-
braica, e ainda o Ereignis) e Derrida, Psych, p. 586 ss. (p.592: Heidegger es-
creveu, com e sem [without] a palavra ser, uma teologia com e sem Deus). Em
texto recente muito sugestivo, Marlene Zarader, La dette impense, Heidegger
et lhritage hbraque, Seuil, 1990, mostra como a maneira como Heidegger
tematizou as questes da palavra, do pensamento e da interpretao corresponde
de muito perto maneira de fazer da tradio de exegese talmdica e rabnica;
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