Visão Geral Da Linguística Antes de Saussure
Visão Geral Da Linguística Antes de Saussure
Visão Geral Da Linguística Antes de Saussure
A lei de Grimm afirmava ser possvel prever como alguns grupos de consoantes se
modificariam com o tempo nas lnguas indo-europias. Entre outras coisas, ele dizia
que uma consoante forte ou sonora (pronunciada fazendo-se vibrar as cordas
vocais) tendia a ser substituda por sua equivalente fraca ou surda (pronunciada sem
vibrao das cordas vocais). O b e o p constituem um par desse tipo, assim como
o d e o t. B e d so fortes, p e t so fracas, como se pode comprovar,
pronunciando-os com a mo na garganta. Com base nessas leis, foi possvel
mostrar, por exemplo, que a forma dhar em snscrito, que significa puxar, trazer,
originou o ingls draw, o alemo tragen, o latim trahere e o portugus trazer, todos
com significado semelhante. O d da palavra em snscrito virou t nas outras
lnguas. Pode-se concluir ainda que a palavra em ingls evoluiu menos que nas
demais, pois se manteve fiel ao som original do snscrito.
Nesse ponto, a anlise avana com base na cultura, pois no se dispem mais de
documentos escritos, explica Teodoro Pais, da USP, que conhece snscrito e
gostava de trocar cartas com os colegas em proto-indo-europeu. Toda lngua produz
e reflete cultura e no toa que, fundamentados nas palavras reconstitudas da
protolngua, os pesquisadores podem inferir com razovel margem de confiana os
hbitos do povo que a falava. Com esses dados possvel construir pontes at
outros grupos aparentemente no relacionados. Por exemplo, tanto nas lnguas
indo-europias quanto no grupo semtico, as palavras homem e terra originalmente
se confundem. Em hebraico, so respectivamente adam e adamah, ambas
derivadas de uma raiz comum em proto-semtico.
Em proto-indo-europeu, a palavra dheghom tem os dois significados. A parte final
originou o latim homo (homem) e humus (terra, solo). Assim, embora no haja
parentesco etimolgico algum entre as palavras semticas e indo-europias, clara
a semelhana quanto maneira de pensar e classificar o mundo entre as
populaes de ambos os grupos lingusticos. As mais recentes descobertas da
Arqueologia e at da Gentica conduzem mesma idia: possvel agrupar as
grandes famlias em famlias ainda maiores, um avano formidvel na busca da
lngua-me. H mais de vinte anos, os linguista russos Vladislav M. Illich Svitch e
Aron Dolgopolsky propuseram que o indo-europeu, o semtico e a famlia das
lnguas dravdicas da ndia poderiam fazer parte de uma superfamlia, chamada
ento nostrtica. Na poca, o trabalho foi encarado com desconfiana. Depois,
ganhou alguma aceitao nos meios cientficos. H pouco, enfim, uma descoberta
da Gentica parece ter dado nova projeo ao trabalho dos soviticos.
Uma histria da lingustica deveria concentrar sua ateno na Europa do sculo XIX
at os nossos dias incluindo, naturalmente a Amrica como uma extenso da cultura
europeia, e entrementes outros pases no-europeus que assumiram os principais
traos e tendncias do pensamento cientifico dominante.