Tutorial Sobre Fonética Forense
Tutorial Sobre Fonética Forense
Tutorial Sobre Fonética Forense
Traduo
Pablo Arantes e Suska Gutzeit. [www.revel.inf.br].
Anders Eriksson2
RESUMO: Este tutorial apresenta a fontica forense como rea de atuao prtica e como
campo de pesquisa para cientistas da fala. O texto est dividido em trs partes. Na primeira, a
fontica forense apresentada em seu contexto histrico e em seu desenvolvimento
moderno. Na segunda, so apresentados temas e questes fundamentais de pesquisa na rea
e como os conhecimentos gerados no campo podem ser aplicados em situaes prticas. So
discutidos assuntos como o reconhecimento e a discriminao da voz humana, bem como de
que forma memria, familiaridade, lngua, disfarce vocal, entre outros fatores, afetam essas
habilidades. Na terceira, discute-se o uso de informaes presentes na voz e em imagens do
crebro para a deteco de mentira e tenta-se traar uma linha divisria entre mtodos cuja
aplicao na prtica forense pode ser justificada com base em provas cientficas.
Palavras-chave: Fontica forense; Cincia da fala forense.
INTRODUO
1 Publicado originalmente em: ERIKSSON, Anders. Tutorial on forensic speech science. Part I:
Forensic phonetics. In: Interspeech 2005 - Eurospeech 2005. Proceedings of the 9th European
conference on speech communication and technology. Lisbon, Portugal. September 4-8, 2005.
2 Departamento de Lingustica, Universidade de Estocolmo, Estocolmo, Sucia. O texto serviu de base
para uma sesso tutorial na 9th European Conference on Speech Communication and Technology
(Interspeech, 2005), realizada em Lisboa, em setembro de 2005. Traduo de Pablo Arantes
(Departamento de Letras, Universidade Federal de So Carlos) e Suska Gutzeit (Universidade Federal
de So Carlos).
3 Nos casos em que no existe uma traduo bem estabelecida para palavras ou expresses tcnicas
presentes do texto original, sugerimos uma traduo, mas deixamos o termo em ingls entre
parnteses (N.T.).
1. LEITURAS DE BASE
O uso da identificao de voz em casos criminais tem uma histria mais longa
do que se pode imaginar. Esse recurso provavelmente foi usado por milhares de anos
para identificar suspeitos de terem cometido crimes que foram ouvidos, mas no
vistos. Em tempos mais recentes, registram-se muitos casos do uso da identificao
de falantes como prova em tribunais. Um caso antigo, muito conhecido, o
julgamento de William Hulet, em 1660. Hulet foi acusado de ter executado o Rei
Charles I. Uma testemunha, Richard Gittens, afirmou que ouviu o executor, cuja face
estava oculta, pedir o perdo do rei e que ele sabia que era Hulet por causa da sua
voz. O jri considerou Hulet culpado de alta traio, e ele foi sentenciado morte.
Mas esse tambm um dos primeiros casos conhecidos de identificao incorreta de
um falante. Antes que a sentena de morte fosse executada, descobriu-se que o
assassino verdadeiro foi o carrasco oficial, que mais tarde confessou, e Hulet,
consequentemente, foi libertado. Os detalhes do caso Hulet so tpicos de muitos
casos mesmo hoje, quase 350 anos depois. Ouve-se o criminoso, mas ele no visto.
A testemunha pode se sentir segura de que a identificao esteja correta, mas como
este e muitos outros casos mostram isso no uma garantia. A voz escutada pode
ser conhecida ou desconhecida. No caso Hulet, a testemunha pensou que a voz
pertencia a uma pessoa conhecida por ela, mas isso foi obviamente um erro.
Mesmo sendo comum que parte das provas, em um caso, sejam depoimentos
de uma testemunha auricular (que, ao mesmo tempo, pode ou no ser a vtima), na
maioria dos casos, a voz do criminoso no pertence a algum conhecido pela
testemunha. Tambm muito comum que, entre o crime e uma tentativa posterior de
decidir se a voz do suspeito a mesma que a do criminoso, tenha passado um perodo
de semanas, ou mais tempo. Quando esse o caso, a acuidade da memria da vtima
em relao voz se torna uma questo crucial. Uma questo importante, neste
contexto, como a memria de uma voz deteriora-se ao longo do tempo. A primeira
tentativa de responder a esta questo (ver seo 4.2) foi inspirada por um
testemunho no caso Lindbergh. O filho do famoso aviador Charles Lindbergh foi
sequestrado em primeiro de maro de 1932. Uma carta de resgate foi encontrada no
quarto do menino na qual o sequestrador exigia $ 50.000. As negociaes
prosseguiram atravs de cartas e de anncios em um jornal local. A famlia Lindbergh
concordou em pagar o resgate e na noite de 02 de abril de 1932, Lindbergh levou seu
Eles conceberam o sistema, como o das impresses digitais, que deve um dia
ser adotado: um banco de dados de udio unificado com as impresses
vocais de todos aqueles que alguma vez estiveram sob suspeita. Qualquer
conversa criminosa seria gravada, comparada, e o criminoso seria pego
imediatamente, como um assaltante que deixasse suas impresses digitais na
porta do cofre.
REFERNCIAS
1. Leituras de base
1. HOLLIEN, Harry. (2002). Forensic Voice Identification. San Diego, CA:
Academic Press.
2. ROSE, Phil. (2003). Forensic Speaker Identification. New York: Taylor &
Francis.
ABSTRACT: This tutorial presents the field of forensic phonetics research. The text is
divided in three parts. In the first part, forensic speech science is placed in its historical
context and its modern development is briefly described. In the second part, the focus is on
some of the fundamental issues in forensic phonetics research and how present knowledge
can be applied in forensic fieldwork. This part reviews subjects such as human voice
recognition and discrimination and how factors like memory, familiarity, language and vocal
disguise influence these abilities. Lastly, attention is given to recent advancements in the field
of lie detection using voice features and brain imaging and their scientific soundness is
discussed.
Keywords: Forensic phonetics; Forensic speech science.