Dissertação Museologia Maria Mayer
Dissertação Museologia Maria Mayer
Dissertação Museologia Maria Mayer
Maio 2016
Dissertao apresentada para cumprimento dos requisitos necessrios obteno do
grau de Mestre em Museologia, realizada sob a orientao cientfica de Leonor da
Conceio Silva e Alves de Oliveira e coorientao de Raquel Henriques da Silva
Parafraseando Ren Huyghe, em dedicatria a Medeiros e Almeida, dedico esta
dissertao:
NOTAS PRVIAS
ABREVIATURAS
INTRODUO .................................................................................................................. 1
1.3 O colecionador.................................................................................................... 18
CAPTULO 3. A SUCESSO............................................................................................. 98
1
De acordo com o dicionrio, "coleo" uma reunio de objectos da mesma natureza e "acervo"
significa um conjunto de bens pertencentes a algo ou algum. In: AA.VV. Dicionrio da Lngua
Portuguesa. 8 Edio revista e atualizada. Porto: Porto Editora, 1999
2
Cdigo Civil, Art. 940 1: Doao o contrato pelo qual uma pessoa, por esprito de liberalidade e
custa do seu patrimnio, dispe gratuitamente de uma coisa ou direito, ou assume uma obrigao, em
benefcio do outro contraente. Art. 954: A doao tem como efeitos essenciais: a) A transmisso da
propriedade da coisa ou da titularidade do direito; b) A obrigao de entregar a coisa; c) A assuno da
obrigao, quando for esse o objecto do contrato...
4. A autora realizou entrevistas a familiares e colaboradores de Medeiros
e Almeida, que so citados ao longo desta dissertao, complementando a informao
documental recolhida e analisada neste trabalho.
Acervo documental
Para o Captulo 3 que versa sobre a histria do edifcio foi compilada uma pasta
relativa aos processos de obras:
Na Parte II, para o Captulo 1 que aborda a tipologia Casas-Museu, foi utilizada
a documentao mencionada nas referncias bibliogrficas.
Arq. - arquiteto
Art - artigo
C. - cerca de
Cap. - captulo
Coord. coordenao
Coord. ed. coordenao editorial
DL Decreto-Lei
Dir. - direo
Ddoc. - documento
Ed. - edio
Et al. et alii (e outros)
Fig. figura / Fig.s - figuras
In Em (includo na publicao citada)
LQ Lei-Quadro
N - nmero
P. pgina
Pp. - pginas
P. ex. por exemplo
S.d sem data
S.l sem local
Sc. sculo
URL Uniform Resource Locator
Vol. volume
WWW World Wide Web
ACRNIMOS
AC Arquiteto Alberto Cruz
AMA Antnio de Medeiros e Almeida
CML Cmara Municipal de Lisboa
CMMA Casa-Museu Medeiros e Almeida
CR Arquiteto Carlos Ramos
CTN - Companhia Nacional de Fiao e Tecidos de Torres Novas, SARL.
DEMHIST (Demeures Historiques) International Comittee for Historic House
Museums
FCG Fundao Calouste Gulbenkian
FG Arquiteto Frederico George
FMA Fundao Medeiros e Almeida
FRESS Fundao Ricardo do Esprito Santo Silva
ICOM International Council of Museums
IPPC Instituto Portugus do Patrimnio Cultural
JA Arquiteto Joo de Almeida
MAB Maria Alice Beaumont
MMA Margarida de Medeiros e Almeida
MNAA Museu Nacional de Arte Antiga
SEC Secretaria de Estado da Cultura
SLA Simonetta Luz Afonso
SR Arquiteto Sommer Ribeiro
IPM Instituto Portugus de Museus
CEA Caixa Econmica Aoriana
TV Teresa Vilaa
UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
INTRODUO
1
da Fundao. O facto de este esplio no se encontrar tratado arquivisticamente implicou
uma compilao sistemtica e um trabalho de seleo e organizao temtica e cronolgica.
2
documentao poderia vir a desempenhar na formao de um acervo museolgico, pelo que
a mesma foi devidamente preservada. O tratamento arquivstico do esplio documental
permitiu o enriquecimento da informao do inventrio museolgico. A anlise expressa
neste captulo abordou, para alm da caraterizao tipolgica, as condicionantes da
formao do acervo e a tipificao da poltica aquisitiva.
O segundo captulo, uma biografia do edifcio onde est instalada a Casa-Museu, foi
considerado pertinente devido ao seu papel de habitao familiar, de contentor edificado
da coleo e por ter sido integrado na doao ao Estado. Nesse sentido, com recurso a
documentao tcnica mantida nos arquivos da Fundao, foram estabelecidas as diferentes
fases de obras sofridas pelo edifcio desde que foi erguido at ser adquirido por Medeiros e
Almeida em 1943 e as consequentes obras de qualificao.
O captulo 2 teve por base a averiguao das circunstncias que levaram Medeiros e
Almeida a optar pela figura jurdica de uma fundao, bem como na anlise da redao dos
estatutos. De acordo com as especificidades desta entidade, que assegura o estabelecimento
3
vitalcio das suas regras de gesto e funcionamento, o prprio colecionador presidiu
elaborao dos estatutos revelando a sua inteno de definir os destinos do seu patrimnio.
No seguimento da criao da fundao, em 1972, so analisadas as vicissitudes da sua
implementao, que sofreu diversas contrariedades decorrentes da Revoluo de 25 de abril
de 1974 e no mbito dos constrangimentos aplicados atividade bancria, j que poca o
instituidor tinha abrandado a atividade profissional, vivendo essencialmente dos
rendimentos da sua carteira de aes. Medeiros e Almeida procurou ultrapassar as
dificuldades solicitando a colaborao do Governo, evocando a doao j feita ao Pas. A
ajuda por parte do Estado concretizou-se em 1977, na figura de um plano financeiro que
incluiu a atribuio Instituio de um subsdio monetrio e a libertao da carteira acionista
de Medeiros e Almeida que, em contrapartida, afetou Fundao um grupo de bens, ainda
por inventariar, avaliados pelo Estado em cerca de 200.000 contos. Este percurso est
devidamente documentado j que as negociaes entre as partes implicaram diversa
correspondncia, material que serviu de suporte investigao.
4
museolgicas, que levaram preparao da instituio para a concluso do sonho de
Medeiros e Almeida.
5
PARTE I CONTEXTO: O FUNDADOR E A SUA COLEO
3
Antnio de Medeiros e Almeida ser doravante referido como Medeiros e Almeida e/ou com o acrnimo AMA
4
Doravante referido com o acrnimo JSA
6
Nos anos oitenta do sculo XIX Joo Silvestre muda-se para o Continente, forma-se
em Medicina em Coimbra, mas escolhe a capital para exercer clnica, onde se instala em
finais de oitocentos. Casado em 1894, o casal teve trs filhos (fig. 3): Antnio (AMA), Maria
da Conceio (1897-1965) sem descendncia e Gustavo (1898-1955) mdico
otorrinolanrigologista, casado com Maria Lusa de Paiva Raposo e pai dos nicos dois
sobrinhos diretos de AMA: Joo Vasco (1927) e Maria Teresa (1930) de Paiva Raposo de
Medeiros e Almeida.
Em 1912, a famlia muda-se para a rua Mouzinho da Silveira, n12, para um edifcio
mandado erguer por JSA ao arquiteto Miguel Ventura Terra (1866-1919), em cujo interior se
destacavam um conjunto de vitrais Arte Nova e pinturas murais de Veloso Salgado. Os veres
da famlia Medeiros e Almeida eram passados no chalet Mira Serra, em Sintra. Sendo o
casal amigo de artistas como Veloso Salgado (que pintou vrios retratos da famlia) e de
Miguel Ventura Terra, JSA mantinha alegres tertlias culturais em sua casa, proporcionando
aos filhos uma educao com uma forte vertente cultural e artstica. Habituados a um
ambiente e vivncia requintados, os filhos adquiririam o gosto de se rodearem de belos
objetos tendo recheado as suas casas com antiguidades.
Na capital, JSA fez fortuna prpria. Para alm da atividade como mdico cirugio, JSA
mostrou grande empreendedorismo, tendo fundado, em 1899, com Raoul Mesnier de
Ponsard e com o amigo Duarte Borges Coutinho de Medeiros a sociedade Empresa do
Elevador do Carmo que obteve licena para construir e assegurar a explorao do
elevador por um perodo de 99 anos5 JSA foi ainda scio fundador, com Alfredo da Silva,
da sociedade A Tabaqueira (1927). Na sua ilha natal, fundou, em 1929, em conjunto com
o seu filho Antnio, a Sociedade Ribeira Grandense (sociedade particular civil) para gerir
diversos negcios, nomeadamente uma prspera produo de lcool puro e de acar que
abastecia o Continente.6 No primeiro aniversrio da morte de JSA, o jornal Dirio dos
5
SIPA [Em linha], [Consult. 26 out. 2015]. Disponvel em WWW: URL: <
http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=3146>
QUADROS, Eng. Carlos Xavier de, ELEVADOR DE SANTA JUSTA, Ciclo A Arquitectura e a cidade de Lisboa,
Centro Nacional de Cultura, E.S.B.A.L. Departamento de Arquitectura, pp.1-2, s.l., s.d. Pasta I, Esplio
documental Arquivo FMA
6
Certido da escritura de constituio da Sociedade Ribeira Grandense lavrada em 23 dez. 1929. 8 Cartrio
Notarial de Lisboa, 23 dez. 1929. Pasta I, Esplio documental - Arquivo FMA. A produo de acar veio
substituir a produo de lcool aoriano (a partir de batata doce e milho) na sequncia da crise vincola no
Continente que se verificou em 1901 e que levou proibio de entrada de lcool puro aoriano no Continente.
JSA adquiriu as unidades de Santa Clara e de Lagoa onde produziu acar. Estas integravam a ento UFAA
7
Aores, escrevia: nunca deixou um s momento de trabalhar pelo engrandecimento desta
sua terra, () a economia micaelense, que incalculveis benefcios lhe ficou devendo.7
Unio das Fbricas Aorianas de lcool - presidida pela Soc. Ribeira Grandense. As fbricas de destilao da
Lagoa e de Santa Clara, em Ponta Delgada, surgiram em 1872 e 1876 e depressa as respetivas produes
atingiram os oito milhes de litros de lcool. A chamada Lei de Meios (Junho de 1891) sobre o monoplio do
fabrico do lcool provocou um srio revs no negcio, com implicaes no espao rural da ilha, e constituiu uma
das grandes motivaes das lutas autonmicas. MACHADO, 2004, p.28
7
Dirio dos Aores, So Miguel, 23 set.1937. Pasta I, Esplio documental Arquivo FMA
8
Para alm dos muitos carros que possuiu ao longo da vida (Morris Isis, Auburn Cord, Morris Lon Bolle,
Mercedes 300SL), AMA possua um Wolseley (Morris Motors) e em 1954 encomendou para a mulher, uma
limousine Austin Princess ao famoso fabricante belga Vanden Plas, em cujo desenho interveio pessoalmente.
Estes dois automveis viriam a ser doados por AMA ao Museu do Automvel do Caramulo. MAGALHES,
2011, pp. 30-32
9
Doravante referida com o acrnimo MMA
8
na rua Rosa Arajo (ns 37-39), contgua anterior morada, de modo a permitir a construo
do seu sonho: doar ao Pas a sua coleo de arte e o imvel que habitaram. (vide Parte II,
Cap.2, 2.1)
10
Em 1941 AMA recebe o grau de Oficial da Ordem da Benemerncia (OB) (hoje chamada Ordem do Mrito)
enquanto Diretor-Adjunto do Servio dos Transportes da Mocidade Portuguesa e o de Comendador da Ordem
Militar de Cristo (ComC) enquanto gerente da firma Bensade & C. Em 1959 foi elevado a Comendador da
Ordem de Benemerncia (ComB) e em 1962 foi feito Grande-Oficial da Ordem do Mrito Agrcola e Industrial
(GOMAI) - Classe do Mrito Industrial tendo sido elevado, enquanto Presidente da Fundao Salazar, a Gr-
Cruz da mesma Ordem e Classe, em 1969. Em 1951 AMA recebe a ordem francesa do Mrito Comercial - Mrite
Commercial et Industriel, pelo seu papel na Confederao Internacional do Linho e do Cnhamo (Confdration
Internationale du Lin et du Chanvre). As insgnias e certificados destas condecoraes formam hoje parte do
acervo da Casa-Museu encontrando expostas no Escritrio. Inventrio CMMA Arquivo FMA
11
Doravante referida com o acrnimo SINAGA
9
Companhia Nacional de Fiao e Tecidos de Torres Novas, SARL.12 AMA pretendia
concentrar-se num novo projeto: o da criao da Fundao Medeiros e Almeida.
1.2.1 A A. M. ALMEIDA
12
Doravante referida com o acrnimo CTN
13
William Morris agraciado em 1929 com o ttulo de Baro de Nuffield (cidade onde viva) e em 1938 com o
ttulo de 1 Visconde Nuffield.
14
Quando lhe pediram as suas impresses para uma biografia de William Morris, publicada em 1955 (The Life
of Lord Nuffield, ANDREWS, BURNER, 1955)
15
RAMALHO, 2011, p. 21
16
ALMEIDA, VILAA, 2002, p.11
10
Medeiros e Almeida foi um dos primeiros distribuidores internacionais da Morris Motors
Ltd., tornando-se a partir de 1926 o importador exclusivo para Portugal. (fig. 10) Apesar do
sucesso de vendas registado desde o incio, dado o custo acessvel dos automveis, o negcio
abrandou financeiramente, pois surgiram muitas reclamaes relacionadas com problemas
nas suspenses e refrigerao das viaturas vendidas. Esta situao obrigou AMA a fazer um
acordo com a Garagem Conde Baro em Lisboa onde reparava, s suas custas, os carros que
tinha vendido.
A este propsito, cita-se um texto escrito nos anos oitenta17 em jeito de biografia:
Casei em 1924 e logo comecei a ser atacado pelo vcio do colecionador, mas em 1928 fui
obrigado a suspender esse vcio pois o negcio dos automveis resultou num prejuzo de
1.600 contos em virtude dos carros importados fabricados em Inglaterra comportarem-se
otimamente nas estradas inglesas mas no suportarem os pisos dos pavimentos em
paraleleppedo ainda existentes no s em Portugal como noutras partes da Europa. Nessas
circunstncias os carros partiam-se e eu senti-me na obrigao de reparar e reforar todos
os carros vendidos, minha custa, o que provocou o referido prejuzo. Mas tive a felicidade
aps grande argumentao de convencer os ingleses a fabricarem um tipo de carro especial
para exportao. Assim em 193018 apareceu o clebre Morris Ten fabricado com
caractersticas para suportarem maus pisos. Consequentemente em menos de seis anos
[1935] eu tinha recuperado aquele prejuzo e a partir de ento continuei a dar satisfao ao
meu vcio de coleccionador.
A seguir II Guerra Mundial surgiu, decorrente do Morris Ten, o famoso Morris Minor
(1948), cujo sucesso de vendas (devido boa relao qualidade/preo) assegurou a AMA os
anos mais lucrativos do negcio, que terminaram com a venda da empresa em 1955 ao seu
amigo Antnio Mendes de Almeida: Tal negcio rendeu-me um lucro que ultrapassou os
42.000 contos19
17
Memorial manuscrito por AMA, s.l. (Lisboa), s.d. (posterior a 1966. Anos 80?), p.1. Data estimada pela grafia
manual j muito tremida e por semelhana com outra documentao coeva. Pasta I, Esplio documental
Arquivo FMA. Vide Anexo II,1
18
O modelo Morris Ten foi lanado na poca de 1932-33 pelo que se trata de uma confuso de datas por
parte de AMA. ANDREWS, BURNER, 1955, p.194
19
Memorial manuscrito. s.l. (Lisboa), s. d. (posterior a 1966. Anos 80?), p.2. Pasta I, Esplio documental
Arquivo FMA. Vide Anexo II, 1
11
O esprito empreendedor levou-o a abrir distribuidores das marcas no Porto, Viseu e
Coimbra, a participar em sales automveis por todo o pas, a fazer publicidade s suas
marcas em anncios em jornais e revistas (Jornal de Notcias, O Volante, ACP) e a patrocinar
corridas de automveis. Em 1938 ficou clebre a exposio da Morris que realizou na
Sociedade Nacional de Belas Artes20, onde se apresentou ao pblico o chassis de um Morris,
seccionado e a trabalhar: depois de desarmado por completo todo o chassis, o quadro foi
cuidadosamente decapado e pintado com acabamento perfeito para que uma pea de srie
se transformasse numa obra digna de exposio pblica. Depois todas as peas foram
examinadas e cortadas () podendo trabalhar vista do pblico accionado por um motor
elctrico21 (fig. 11)
20
A exposio foi inaugurada pelo Presidente da Repblica scar Carmona (1869-1951)
21
MAGALHES, 2011, p.28. A inaugurao deste salo foi motivo de uma reportagem pela ento Emissora
Nacional de Radiofuso (inaugurada trs anos antes, em Agosto de 1935) hoje guardada no arquivo da Tobis
Portuguesa. Em carta a AMA, de Londres, datada de 13 de maio de 1938, Lord Nuffield pede que o chassis seja
oferecido ao Governo portugus para fins educacionais: on my behalf, will offer to the Portuguese
Government for educational purposes Pasta III, Esplio documental Arquivo FMA
22
Memorial manuscrito por AMA, s.l. (Lisboa), s. d. (posterior a 1966. Anos 80?), p.2. Pasta I, Esplio
documental Arquivo FMA. Vide Anexo II, 1
23
A histria da compra da companhia relatada por AMA numa entrevista, conduzida em casa, em 1982, pelos
jornalistas Henrique Maia e Alberto Silva Pereira, gravada em cassete. Esplio udio Arquivo FMA. VILAA,
2002, p.3, MAGALHES, 2011, pp.50-53. Durante muitos anos existiu na famlia de AMA uma petite histoire
12
Portuguesa, cuja memria ficou registada nos Boletins de Informao da companhia.24
(fig.13)
que contava que o avio que aparece no final do famoso filme Casablanca seria o da Aero Portuguesa dado
que poca (durante a II Guerra Mundial) a ligao Casablanca-Lisboa era unicamente operada pela Aero
Portuguesa. No entanto, o filme de Michael Curtiz foi inteiramente rodado em Hollywood em 1942, tendo-se
utilizado uma pequena maquete para as cenas que incluem o avio, um Lockheed Model 12 Electra Junior. The
entire picture was shot in the studio ... The background of the final scene, which shows a Lockheed Model 12
Electra Junior airplane with personnel walking around it, was staged using little person extras and a
proportionate cardboard plane. [Em linha], [Consult. 26 out. 2015]. Disponvel em WWW: URL:
<https://en.wikipedia.org/wiki/Casablanca_%28film%29>
24
A Aero Portuguesa editou um Boletim de Informao mensal entre janeiro de 1951 e dezembro de 1952
onde se publicavam diversas notcias, nomeadamente referncias a passageiros importantes transportados na
Companhia. Foram os casos do canonetista francs Jean Sablon (junho 1951), o Ministro das Finanas, Dr.
guedo de Oliveira (dezembro 1951), a canonetista Paule Sabatier (janeiro 1952), a artista Colette Mars
(maro 1952), os ciclistas portugueses Alves Barbosa e Moreira de S (abril 1952) ou o rei da cano francesa
Charles Trenet (maio 1952). Boletins de Informao Aero Portuguesa, Lisboa, 1951-1952. Pasta III, Esplio
documental Arquivo FMA.
25
PEIXOTO, 2010, pp. 23, 37, 45, 83
26
ALMEIDA, VILAA, 2002, p.13, MAGALHES, 2011, pp. 48-49
13
SARL. (fundada em 1845), empresa que adquiriu na totalidade Bensade & C. Ld. em
194927 e na qual se manteve at setembro de 1983 (aps o que se tornou seu Presidente
Honorrio). A empresa produzia fios e tecidos nomeadamente juta, lona e turco
provenientes de algodo, linho e cnhamo. Pelo desenvolvimento e modernizao que
conferiu unidade de produo28 que, nos anos sessenta, empregava cerca de mil operrios,
assim como pela promoo do setor, aqum e alm fronteiras - papel que desempenhou
enquanto Presidente da Seco de Propaganda da Confederao Internacional do Linho e do
Cnhamo (Confdration Internationale du Lin et du Chanvre) - em 1951, AMA recebe a
ordem honorfica francesa do Mrito Comercial (Mrite Commercial et Industriel). (fig.15)
A ligao empresarial de AMA com a ilha de S. Miguel nos Aores comeou com a
gesto dos diversos negcios do pai, entre eles a Unio das Fbricas Aorianas de lcool
(UFAA), agrupados na Sociedade Ribeira Grandense, grupo onde a famlia Bensade detinha
algum capital. Aps a morte do pai em 1936, AMA vai continuar a desempenhar um papel
de relevo no desenvolvimento das indstrias aorianas do lcool industrial e do acar
produzidos a partir do melao da beterraba sacarina (que substituiu o cultivo da batata doce
anteriormente utilizada) que, na altura, voltavam a sofrer restries de exportao para o
Continente devido proteo dos interesses africanos. O empresrio envolve-se como vogal
27
S.A., Companhia Nacional de Fiao e Tecidos de Torres Novas, 1969, p.31
28
A modernizao da CTN incluiu um exemplar bairro operrio tendo a fbrica sido equipada com refeitrio,
infantrio/berrio e posto mdico. A aco social desenvolvida pela Companhia Nacional de Fiao e Tecidos
de Torres Novas constitui um dos captulos mais prestigiantes do esforo que vem desenvolvendo. S.A., 1969,
p. 61 (pp.61-66)
29
Enumeram-se algumas participaes de AMA: 1941 - Diretor-Adjunto do Servio dos Transportes da
Mocidade Portuguesa; 1954-58 - Acionista e Vice-Presidente da Mesa da Assembleia Geral do Banco de
Portugal; 1953-58 membro do Conselho Superior da Indstria; 1959 - SODIM - Sociedade de Investimentos
Imobilirios, composta por investidores que, por sugesto do Presidente do Conselho, vo reunir o capital
necessrio para a construo do Hotel Ritz (para substituio do ento desaparecido Hotel Aviz). Em 1944
nomeado Vice-Consul Honorrio da Libria em Lisboa. 1964-75 - Presidente do Conselho de Administrao da
Fbrica Automveis Citron Lusitana, SARL em Mangualde; 1965 - administrador da SALVOR, sociedade que
construiu a cadeia de hotis ALVOR em parceria com o Grupo Mello; 1966 - Presidente da Direo Nacional da
UCIDT - Unio Catlica dos Industriais e Dirigentes do Trabalho. Anos de 1960 - Administrador do Banco Esprito
Santo e Comercial de Lisboa. Relatrio Empresas, s.l., s.d., p.1. Pasta III, Esplio documental Arquivo FMA /
ALMEIDA, VILAA, 2002, p.14. MAGALHES, VILAA, 2011, p.35
14
da Comisso Reorganizadora da Indstria de Fabrico de lcool (1948)30 batendo-se por
melhores condies para o setor. Em 1967 a Sociedade Ribeira Grandense da qual era j
ento scio maioritrio, entrou como fundadora e acionista de uma sociedade annima, a
SINAGA - Sociedade de Indstrias Agrcolas Aoreanas SARL. Nesse mbito, a Fbrica do
lcool de Lagoa e a Fbrica de Santa Clara so modernizadas tendo as produes atingido
grande qualidade: O lcool a produzido ser ento um dos melhores da Europa.31 (fig.s 16-
17) AMA sempre se mostrou um empresrio com preocupaes sociais procurando dar
melhores condies de vida aos trabalhadores. Assim aconteceu nas fbricas aorianas onde
construiu habitao condigna e instalaes recreativas para os seus empregados. AMA foi
Presidente do Conselho de Administrao da empresa at aos 90 anos32, altura em que se
tornou Presidente Honorrio conservando o cargo at morte.
30
Em 1938 encetmos uma luta titnica para que fossem abertas as portas do Continente ao aucar e lcool
aorianos. Nessa luta insistimos com os sucessivos governos para sermos autorizados a renovar a nossa
indstria para uma produo nunca inferior a 20 mil toneladas de aucar, pois era essa a dimenso mnima
economicamente rendvel e a forma de produzirmos aucar e lcool a preos competitivos. E, por isso, apenas
pedamos que os excedentes fossem colocados no Continente sem pagamentos de direitos. Em determinada
altura, quando expunha a Salazar a injustia com que os Aores eram tratados, ele respondeu-me temos de
acabar com essas barreiras mas a verdade que as influncias das empresas aucareiras africanas eram de
tal forma poderosas que nada se conseguiu... Memorial, s.l., 31 jan. 1978. Pasta III, Esplio documental
Arquivo FMA
31
MAGALHES, VILAA, 2011, p.39
32
Antnio de Medeiros e Almeida deixou a presidncia da SINAGA e homenageou todos os seus
colaboradores. Aoriano Oriental, So Miguel, 18 set 1985. Pasta III, Esplio documental - Arquivo FMA.
33
em 1941 fui convidado muito insistentemente a associar-me firma Bensade & C que atravessava certas
dificuldades. A minha resistncia em aceitar esse convite baseava-se como ento afirmei que presava mais o
nome grangeado na Banca e na Praa do que todo o dinheiro que me quisessem oferecer. Fiquei o nico scio
da firma em Lisboa com toda a responsabilidade de administrao visto o scio Vasco Bensade se ter retirado
para os Aores e o outro scio Dr. Joaquim Bensade viver em Paris... Documento manuscrito, s.l. (Lisboa), s.d.
(posterior a 1966. Anos 80?), p.2. Pasta I, Esplio documental Arquivo FMA. Vide Anexo II, 1
15
firma abandonando em outubro de 1968 a administrao da empresa para se dedicar a
assuntos particulares.34 Enquanto scio-gerente da Bensade & C. Ld., geriu e integrou
uma srie de negcios que fizeram prosperar o grupo em diversos ramos do comrcio e
indstria e que promoveram a sua consolidao financeira:35 Seja-me permitido dizer que
consegui desenvolver a firma a um expoente tal que cheguei a ser o principal responsvel
pela administrao simultnea de 21 empresas, todas elas dando lucros.36 (fig. 19)
No mbito das suas ligaes aos Aores, AMA foi contactado pelo seu amigo, o
embaixador do Reino Unido em Portugal (1940-1945) Lord Ronald Hugh Campbell (1883-
1953) no sentido de prestar auxlio s foras aliadas no arquiplago, considerado um ponto
estratgico no Atlntico. Nessa altura, os Estados Unidos e a Inglaterra (Winston Churchill),
atravs de Campbell procuravam o apoio de Oliveira Salazar no projeto porm, perante o
estatuto de neutralidade de Portugal no conflito e a recusa em lidar com o Presidente
Roosevelt, Salazar recusa-se provocando grandes tenses polticas e diplomticas. AMA
empenha-se ento, em nome particular, em prestar a necessria assistncia aos Aliados
atravs das empresas que geria. S mais tarde viria Salazar, ao abrigo da velha aliana Luso-
Britnica, a conceder o estabelecimento de bases militares britnicas (no americanas) nos
Aores. O esplio documental da Fundao Medeiros e Almeida37 possui diversa
documentao nomeadamente em cifra - respeitante a este perodo que inclui relaes de
passageiros transportados na companhia de navegao Insulana, listagens de navios e avies
34
de modo a que pudesse dispor de tempo para tratar dos meus assuntos particulares e muito especialmente
da transformao da minha casa em museu, obra muito trabalhosa e de grande responsabilidade
Documento datilografado. s.l. (Lisboa), 28 out. 1968. Pasta III, Esplio documental Arquivo FMA. Vide Anexo
II, 2
35
Enumeram-se algumas empresas do grupo Bensade: E.I.N. Empresa Insulana de Navegao, 1870
(transporte de passageiros e mercadorias entre as ilhas e Lisboa e depois os EUA), operao porturia (Porto
de Ponta Delgada), importao de combustvel e leo (Tagus Oil Company), seguros (Companhia de Seguros
Aoreana), banca (Banco Micaelense depois Banco Comercial dos Aores e hoje BANIF), Mutualista Aoreana,
abastecimento de aeronaves (distribuio Shell J. - H. Ornelas & C Suc. Lda). O grupo era tambm scio
fundador e agente da SATA em Santa Maria) e detinha outros negcios: hotelaria Sociedade Terra Nostra
(Hotel Terra Nostra, 1933 e Hotel de S. Pedro, 1965), transportes (Varela & C), importao e abastecimento
de carvo para a navegao (Sociedade de Carvo e Fornecimentos do Faial), fundio (Fundio Lisbonense),
fiao (Fiao e Tecelagem Micaelense, Ld e Companhia Nacional de Fiao e Tecidos de Torres Novas, S.A.R.L.,
adquirida em 1934), comercializao de fuelleo para navegao (Fuel Oil Station), pescas (Parceria Geral das
Pescarias), indstria conserveira (Empresa de Conservas Poker), destilao (Sociedade Lusitana de Destilao
Ld) e ainda produo de tabaco (Fbrica de Tabaco Micaelense) e de ch (Ch Gorreana). Relatrio Bensade,
s.l., s.d., p.2 Pasta III, Esplio documental Arquivo FMA / ALMEIDA, VILAA, 2002, P.13, MAGALHES, 2011,
pp.37-46.
36
Memorial manuscrito por AMA. s.l. (Lisboa), s. d. (posterior a 1966. Anos 80?), p.2. Pasta I, Esplio
documental Arquivo FMA. Vide Anexo II, 1
37
Doravante referida com o acrnimo FMA
16
reparados e abastecidos nos estaleiros das ilhas aorianas e referncias ajuda prestada a
tropas evacuadas.38 (fig.s 20-21) Na sequncia desta atitude, em 1947 condecorado pelo
Rei Jorge VI de Inglaterra, com o grau de Grande-Oficial (Honorary Officer) da Ordem do
Imprio Britnico Most Excellent Order of the British Empire, O.B.E.
Medeiros e Almeida possua um profundo sentido social que o levou durante a vida
a empenhar-se em diversas causas. Para alm de ajudar os muitos que a ele acorriam
diretamente, foi benemrito de diversas associaes e instituies, na maior parte das vezes
como doador annimo.39
Uma instituio que apoiou foi a Colnia Balnear Infantil O Sculo; para alm dos
apoios financeiros, teve grande sucesso uma ao que organizou (duas vezes, 1952-1853) no
Natal, na qual era encenada a chegada do Pai Natal num avio da Aero Portuguesa trazendo
presentes para as crianas da Colnia. (fig. 22) O seu papel de benemrito ainda relevante
na Fundao Salazar, instituio que convidado a fundar pelo Presidente da Repblica
Amrico Thomaz e que dirige entre 1969 e 1974. A instituio tinha como objetivo:
facultar habitao em boas condies econmicas, queles que, devido aos seus fracos
recursos, no possam por outra forma consegui-la40 (fig. 23)
Da recheada vida de AMA, a obra que teve maior e mais perdurvel impacto no Pas
foi sem dvida, a doao ao Pas do seu acervo artstico, fazendo dele um dos maiores
mecenas portugueses do sculo XX. (vide Parte II, Cap. 2, 2.1)
38
No seguimento destes acontecimentos, em 1943, Oliveira Salazar convida AMA para o cargo de embaixador
de Portugal na Gr-Bretanha. AMA recusa devido sua atividade empresarial indica o seu amigo Domingos de
Sousa Holstein Beck (1897-1967). ALMEIDA, VILAA, 2002, pp.13-14, MAGALHES, 2011, p.36. Pasta III Esplio
epistolar Arquivo FMA
39
para alm de um importante empresrio, um homem de apurada sensibilidade e que de uma forma
exemplar, seguindo o mandamento divino que a tua mo esquerda no saiba o que a direita fez, auxiliou
centenas de pessoas, na doena e nos estudos, nos momentos difceis da vida de alguns que at nem
pessoalmente conhea ou conhece, a grande maioria dos quais nunca soube de onde lhe chegou a ajuda
Aoriano Oriental, So Miguel, 18 set 1985. Esplio documental - Arquivo FMA.
40
Artigo 2. do Decreto-Lei n. 721/73. [Em linha], [Consult. 26 out. 2015]. Disponvel em WWW: URL:
<http://www.dre.pt/cgi/dr1s.exe?t=dr&cap=1-1200&doc=19733030%20&v02=&v01=2&v03=1900-01-
01&v04=3000-12-21&v05=&v06=&v07=&v08=&v09=&v10=&v11='Decreto-
Lei'&v12=&v13=&v14=&v15=&sort=0&submit=Pesquisar>
17
Com uma letra j muito tremida, AMA escreveu no fim da vida: Parto confiante de
que aqueles que vierem depois de mim faro tanto ou melhor do que eu fiz.41 (fig.24)
1.3 O colecionador
Desde o casamento que Antnio e Margarida construram uma vida de acordo com a
elite social da poca, culta, cosmopolita e de gostos refinados. (fig. 25) A atividade
empresarial de AMA proporcionou desde cedo uma vivncia desafogada; apesar de uma vida
41
Documento manuscrito por AMA s.l. (Lisboa) s.d. (a grafia muito tremida indica a sua avanada idade) Esplio
documental - Arquivo FMA
42
Antnio e Margarida Medeiros e Almeida esto sepultados num jazigo, no Cemitrio dos Prazeres em Lisboa.
43
Muitas obras de arte e antiguidades num valioso museu legado ao Estado Antnio Valdemar. Artigo jornal
DN Cultura/Espectculos, 23 fevereiro 1986. Pasta I. Esplio documental Arquivo FMA
18
profissional muito preenchida, o casal recebia em casa, frequentava festas, o teatro e a
pera, visitava museus e exposies e viajava bastante dentro e fora do Pas.44 (fig. 26) Na
sequncia dos hbitos familiares, paralelamente sua carreira empresarial, AMA interessou-
se por antiguidades, tornando-se, ao longo do tempo, num colecionador de prestgio
nacional e internacional.
AMA viajava muito, tanto em negcios como em viagens de lazer, sendo muitas vezes
acompanhado pela mulher (por vezes convidavam sobrinhos). No estrangeiro, o casal
44
So inmeros os convites, programas de espetculos, ementas, mapas, cartes-de-visita e cartes de boas
festas guardados no esplio documental. Esplio documental Arquivo FMA
45
Como casa de veraneio AMA tinha uma pequena quinta, situada em Pao de Arcos, que adquiriu famlia da
mulher onde MMA reunia a famlia.
46
A amizade com Abel de Lacerda levou-o a envolver-se no projeto do Museu do Caramulo, do qual, para alm
de doador, foi por diversos anos presidente da Assembleia Geral e presidente do Conselho Fiscal. AMA doou
ao Museu do Caramulo a pintura Descimento da Cruz, poca atribuda a Garcia Fernandes. Pasta III, Esplio
documental-Arquivo FMA
47
Aps a reforma o casal passava os veres na casa da Mouzinho da Silveira onde Campbell se entretinha com
trabalhos de marcenaria no anexo do jardim. A morreu, em 1949, Lady Helen que est enterrada no Cemitrio
dos Ingleses em Lisboa.
19
visitava amigos e frequentava espetculos, museu e exposies bem como, no mbito da
atividade de colecionador, visitavam leiles, antiqurios, galerias e feiras de arte. (fig. 28)
Participavam tambm em viagens culturais do grupo de amigos do Museu do Louvre (do qual
era membro benfeitor n 75) ou da organizao Connaissance des Arts, percorrendo toda
a Europa. Para alm da Europa e Marrocos, AMA viajou ainda para os Estados Unidos da
Amrica. Das muitas viagens, passeios e reunies familiares no existem relatos escritos,
mas ficaram, como testemunho, as centenas de fotografias por si tiradas (existindo tambm
algumas filmagens).
48
O mesmo modelo que possuam Salazar e o Cardeal Patriarca.
20
Sparks (porcelana da China), John Mitchell (pintura) e Ronald A. Lee, o francs Maurice
Chalom (mobilirio) e o suo Edgar Mannheimer (relgios), que contriburam para o seu
reconhecimento enquanto colecionador e para a divulgao do seu acervo. (Vide Notas
Prvias 1) Como veremos adiante, desde os anos 50 que agentes de mercado,
colecionadores, profissionais de museus e outras figuras do mundo da arte solicitam visitas
s suas colees com o intuito de as estudar, publicar em revistas da especialidade e de as
mostrar em exposies.49 (vide Anexo 4)
Ao longo da vida, AMA reuniu uma vasta biblioteca onde figuram, para alm de obras
de referncia, nacionais e estrangeiras, obrigatrias em todas as estantes, as muitas
publicaes peridicas que assinava, os catlogos de leiloeiras e de antiqurios que
frequentava, e publicaes que tinha hbito de adquirir, relacionadas com as peas que ia
comprando, bem como roteiros das cidades e pases para onde viajava. Comprava ainda
catlogos de todos os museus e exposies que visitava, pelo que sabemos que visitou a
maioria das mais importantes instituies internacionais, como o Louvre, o Prado, o Museu
Britnico, os Museus do Vaticano, a Galeria de pintura de Berlim, o Metropolitan de Nova
Iorque e a Smithsonian Institution de Washington50. AMA interessou-se tambm por outros
museus e casas-museu como a Wallace Collection e o Museu Soane em Londres, o Museu
Guimet, o Museu Rodin, a Orangerie, o Jacquemart Andr, o Marmottan e o Nissim de
Camondo em Paris, a Fundao Jos Lzaro Galdiano em Madrid, a coleo Frick em Nova
Iorque ou a Galeria Borghese em Roma. Das suas muitas viagens, AMA conhecia ainda os
grandes castelos franceses, alemes e austracos.
49
Em 1958 o colecionador convidado a participar, com bastantes emprstimos, na Exposio de Arte
Decorativa Inglesa realizada na Fundao Ricardo do Esprito Santo Silva em Lisboa.
50
AMA tinha uma viagem programada ao Museu Hermitage em So Petersburgo na companhia do seu amigo
Fernando da Fonseca porm, a morte sbita deste (1974) anulou os planos. AMA no chegou a empreender a
visita ao museu.
21
A j mencionada escassez de testemunhos por parte de AMA, nomeadamente sobre
as razes que o levaram a colecionar, leva-nos a tirar ilaes baseadas no seu percurso
enquanto colecionador. Neste mbito, identificam-se trs fases distintas neste trajeto. A
primeira, que acompanha o incio da sua carreira, marcada pela necessidade de decorar a
casa onde vivia e pela opo de recorrer ao mercado das antiguidades. A segunda fase, ainda
motivada pela decorao da sua habitao, liga-se ao sucesso da sua carreira profissional,
permitindo-lhe frequentar os melhores antiqurios e leiloeiras em Portugal e no estrangeiro.
A terceira etapa verifica-se aps a deciso de criar a Fundao e do consequente
alargamento do espao expositivo e corresponde s compras realizadas para rechear os
ambientes especficos criados na nova ala da Casa-Museu.
Foi a partir de meados dos anos trinta51 que AMA comeou a adquirir obras de arte
com regularidade, sendo esta fase sobretudo motivada pela necessidade de mobilar as suas
residncias. A decorao da primeira casa, sita na rua do Salitre, onde se instalou em 1924
aps o casamento, est parcamente documentada.
51
De acordo com os processos de compras, o registo mais antigo data porm de 1939 (O Velho Pescador de
Fausto Sampaio - FMA 4109). Vide Notas prvias 3. Inventrio CMMA Arquivo FMA
22
beligerantes europeus to contundidos e to arruinados que grande parte do seu patrimnio
artstico teve que ser vendido. Nunca como ento o Christies o Sothebys e o Drouot
apresentaram tantas espcies raras nos seus leiles. Nunca como ento, os bricabraques
ingleses e franceses se viram to cheios e to prontos a satisfazerem todas as exigncias dos
compradores. E entre todos os adquirentes de to extraordinrio esplio, houve quem, ou
por maior paixo, ou por melhor conhecimento da matria, carreou para Portugal, as mais
importantes peas.52
Quando em finais dos anos sessenta, AMA decide fazer a doao ao Pas e construir
o anexo para aumentar a coleo, a rea expositiva foi acrescentada em cerca de 1.000
metros quadrados (dois pisos de 500m). A partir desta resoluo e luz do projeto de
musealizao da coleo, as compras so realizadas com o intuito da integrao no acervo
da futura instituio. A arquitetura do novo espao condiciona agora as escolhas num
desenho de uma sucesso de grandes sales onde o colecionador projeta espaos de aparato
recriando diferentes ambientes. Mais uma vez, preside a ideia de decorar o espao desta
feita porm, a uma nova escala. O recheio da nova ala condiciona as aquisies, muitas vezes
feitas mediante dimenses especficas; AMA interessa-se agora por apainelados, tetos em
madeira, conjuntos azulejares, tapearias e estaturia de grande porte que imprimem
coleo uma nova dimenso.
Manifestando a mesma atitude de dedicao que votava aos seus negcios, AMA
empenhou-se diretamente na construo da sua coleo ao definir as suas principais linhas
orientadoras e ao intervir ativamente nas aquisies. (vide 2.2) A este propsito citam-se
duas breves passagens escritas em jeito de biografia, reveladoras do seu perfil de
colecionador obsessivo, porm seletivo e tenaz:
"Desde os meus vinte anos, isto , desde 1915, comecei a interessar-me por
antiguidades, que passei a adquirir a partir dos meus 30 anos e quando as minhas posses o
permitiam. Esse interesse foi-se desenvolvendo com intensidade e a pouco e pouco fui
coleccionando peas raras de valor artstico e histrico como mveis, tapetes, lustres, loias,
52
Texto para publicao no Dirio de Notcias, enviado a AMA para reviso A FUNDAO ANTNIO DE
MEDEIROS E ALMEIDA e o fabuloso museu que o seu instituidor vai oferecer a Portugal. Jorge Gamboa de
Vasconcelos, Ponta Delgada, ?, nov. 1984, p.6. Esplio documental Arquivo FMA
23
bibelots, leques, relgios, pratas, quadros, joias, livros de arte, cristais, azulejos, tapearias,
peas de arte sacra, estaturia, etc.
medida que o tempo ia correndo, tornei-me mais exigente e por isso fui pondo de
parte determinadas peas e substituindo-as por outras mais valiosas. Assim, a seleco tem-
se mantido cada vez mais rigorosa. Algumas dessas antiguidades foram adquiridas com certa
dificuldade, umas vezes por os seus donos no quererem desfazer-se delas, outras por os seus
preos estarem fora do meu alcance. Casos houve em que, para as adquirir, tive de esperar
anos e outros em que, para as observar e discutir a compra, obrigado fui a deslocar-me por
esse mundo fora. Mas o facto que cada uma dessas peas, reunidas ao longo de 50 anos,
faz hoje parte do meu ser e reflete o meu gosto.53
53
Memorial, s.l. (Lisboa), jan. 1977. Pasta I, Esplio documental Arquivo FMA. Vide Anexo II, 5
54
Veja-se a coleo de pintura naturalista de Anastcio Gonalves ou a coleo de artes decorativas
portuguesas de Ricardo do Esprito Santo Silva
24
clara a preferncia por duas orientaes estticas distintas no mbito das artes decorativas:
a europeia (mobilirio, txteis, porcelana, relgios, leques) - onde o gosto pela arte francesa,
em particular do sculo por excelncia das artes decorativas, o sculo XVIII,
predominante55 - e a chinesa (porcelana, biombos, esmaltes e jades) sobre a qual escreveu:
Sempre tive grande admirao pela civilizao chinesa como est patente no meu museu
e que em certos aspectos deixa as actuais civilizaes bastante diminudas56
55
Taste in Portugal, like artistic creation, is traditionally conservative and nationalist [...] Models of taste are
socially established and mimetic behavior prolongs them indeterminately. Sometimes over several generations.
[...] It demonstrates how the French taste inherited from the Marquis of Foz (1849-1917) was still present
MAGALHES, 2008, p.253
56
Carta de AMA a Ingrid (?), Lisboa, 21 mai. 1984. Pasta II, Esplio documental Arquivo FMA. Vide Anexo II, 4
57
o caso do paisagista flamengo Jan van Goyen (1596-1656) do qual possui oito pinturas (FMA 355, 372 a
374, 376, 390 a 392) ou da casa relojoeira Breguet de que detm 26 exemplares (Vitrine n 4 da Sala dos
Relgios). Inventrio CMMA Arquivo FMA
58
Destacam-se alguns exemplos: Adorno de corpete em filigrana portuguesa do sc. XVII com diamantes
brasileiros (FMA 873); garniture de porcelana de Svres (FMA 6-8); cornucpia em cristal de rocha e esmaltes
austracos (FMA 169); conjunto de seis tocadoras de msica em terracota chinesa (FMA 768-777). Inventrio
CMMA Arquivo FMA
59
Destacam-se alguns exemplos: piano de cauda Erard decorado com bronzes e vernis-Martin (FMA 73);
retrato miniatura de Margarida de Parma por Antonio Moro (FMA 213); cigarreira Faberg com pintura em
miniatura de V. Vasnetsov (FMA 1411); garniture em porcelana de Meissen, assinada e datada, com relgio e
dois candelabros (FMA 26-28); espelho em tartaruga e bordado ingls stumpwork, do sculo XVII
representando Carlos II e Catarina de Bragana (FMA 203). Inventrio CMMA Arquivo FMA
60
Destacam-se alguns exemplos: retrato de Catarina de Bragana (FMA 206); relgio de noite ingls de Edward
East que foi pertena de Catarina de Bragana (FMA 209); relgio de bolso da rainha Maria Pia (FMA 7805);
peas de porcelana da China com simbologia portuguesa (Gomil FMA 824, Taa Av Maria FMA 814, par de
pratos covos FMA 809 819). Inventrio CMMA Arquivo FMA
61
Destacam-se alguns exemplos: Taa do Cardeal Pietro Aldobrandini (FMA 1183); servio de ch de Napoleo
Bonaparte (FMA 1956 a 1960); relgio de bolso do General Junot e do Duque de Wellington (FMA 7744); caixa
de rap do Czar Nicolau I da Rssia (FMA 955); bidet com as armas da famlia real francesa (FMA 190); servio
de viagem em vermeil pertencente ao Duque de Nemours (FMA 1874-1902). Inventrio CMMA Arquivo FMA
62
A Casa-Museu possui um ncleo importante de 32 pinturas holandesas e flamengas, para alm do ncleo de
8 van Goyen e dos dois Brueghel destacam-se uma natureza-morta com presunto de de Heem (FMA 467) e
duas tbuas de Teniers: O Bom Pastor e Uno em Betnia (FMA 1212-1213). De origem francesa referem-se
25
Quanto produo portuguesa o colecionador no apostou em grandes nomes, mas o
ncleo de peas muito significativo. As colees portuguesas renem um significativo
conjunto de painis de azulejos, peas de mobilirio das pocas D. Joo V, D. Jos e D. Maria,
pratas portuguesas nomeadamente salvas renascentistas, arte sacra e paliteiros e porcelana
e vidros da fbrica Vista Alegre. No que respeita pintura, existem retratos de famlia de
Veloso Salgado e de Henrique Medina, uma obra de Joo Vaz (Cais das Colunas FMA 1043),
um ncleo de 4 pinturas de Carlos Botelho, datando uma delas de 1931, altura em que
comeou a pintar em Paris (Bercy-Sena, FMA 3269).
oito pinturas, entre elas um retrato de Delacroix (FMA 225) e um par de pinturas de Jean Pillement (FMA 20,30).
Existem ainda 14 pinturas inglesas, nomeadamente uma paisagem de incio de carreira de John Constable (FMA
309), uma paisagem de Gainsborough (FMA 283) e dois retratos de Romney (FMA 80) e Hoppner (FMA 74).
Inventrio CMMA Arquivo FMA
63
CABRAL, 1996, p.17
64
Documento manuscrito, s.l., s.d. (jul. 1978). Pasta VII, Esplio documental Arquivo FMA
26
AMA era um colecionador informado, estando atualizado com o mercado de arte em
geral; conhecia as principais leiloeiras, antiqurios e museus e o seu olhar de colecionador e
gosto foram-se formando com as numerosas viagens e visitas, com a convivncia com
colecionadores e agentes de mercado e com a leitura interessada da sua biblioteca de arte.
Mostrando especial interesse pelos campos da porcelana da China e da relojoaria AMA
desenvolve um gosto informado por estas tipologias. No podemos, no entanto, considerar
o colecionador como um conhecedor. No sendo um intelectual, a agitada vida profissional
no lhe permitia tempo de qualidade para aprofundar a sua cultura artstica.
65
Jos Relvas: o contacto fosse por procurao a um terceiro interveniente, neste caso alguns amigos mais
prximos e conhecedores como Raul Lino e o prprio Jos de Figueiredo, entre outros, que faziam a
mediao. GRILO, 2014 p.157. Ernesto Vilhena: Na funo de guias, o Comandante menciona Martinho Jlio
da Costa, [...] tal como Joo Nascimento, Antnio Viana ou Antnio Saraiva Nunes, que no s participam das
viagens, mas tambm desempenham, como veremos, o papel de compradores activos. CARVALHO, 2014,
p.319. Ricardo do Esprito Santo Silva: grande companheiro, amigo e conselheiro, Dr. Guilherme Possollo [...]
Quem o aconselhou foi Lus-Reis Santos SALGADO, 2003, pp.26-27. Anastcio Gonalves: a maior parte
das peas a Alexandre Fernandes [...] passava longos seres na casa da Avenida 5 de Outubro [...] slida relao
de amizade e confiana MNTUA, 2014, p.75
66
PEREIRA, 2003, p.41
27
no s de amizades pessoais, como principalmente de contactos feitos atravs da atividade
como comprador/colecionador, tanto na Europa como nos Estados Unidos.
28
old home to be turned into a museum Musgrave responde: It is exciting news that you have
now begun the extension of the building to form a museum It will be wonderful to have all
your splendid works of art which are at present stored away through lacking space, displayed
in a worthy manner. (p.5). Em 1971, John A. Pope (1906-1982) historiador da arte,
especialista porcelana da China, diretor da Freer Gallery, Smithsonian Institution
Washington, pede fotografias de estudo: supply me with photographs of your pieces of
Chinese blue and white that have Portuguese transcriptions and coats of arms and
decorationsas they play an important part in the whole history of early Chinese export
porcelain. (p.5). Em visita casa em 1971, Ferdinnand Belin (1913-1982) diplomata,
colecionador de relgios americano, agradece: It was a day to remember, once more so
many thanks to you for the personally guided tour of your house the National Gallery of
Art of Portugal! (p.6). Em 1973, George Feuer (?) do antiqurio londrino Artinterias
(Cranbourn Antiques) Ltd., refere a doao: your intended bequest to the Nation can
almost be compared with the Wallace collection in London and also in a way with the Jones
Collection at the V&A (p.7). Tambm Jos Cutileiro (n. 1934), Conselheiro Cultural da
Embaixada de Portugal em Londres escreve em 1975: nico em Portugalcomo exemplo
de uma forma de servio pblico e amor pela Ptria (p.8). Em 1976, M Teresa Gomes
Ferreira (?), Diretora do Museu Calouste Gulbenkian tem uma opinio semelhante: sua
preciosa coleo que tenho esperana muito em breve possa ser patenteado ao pblico. Ele
reveste-se, de facto, do maior interesse e ser, estamos certos, um elemento valioso para o
enriquecimento cultural do nosso pas (p.9). Em 1977, o Professor Joaquim Verssimo
Serro (n. 1925), historiador da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa manifesta:
encanto e surpresa pela descoberta dessa admirvel realidade culturalagradeo-lhe,
como portugus, a ddiva colossal e sem preo que pe disposio do nosso Pas e que fica
a assinalar uma trajetria humana inspirada pela Beleza eterna. (p.10). Em 1978 Frdric
Fresco (?) e Bernard Labre (1941-2013 colecionador Paris), colecionadores franceses,
comentam: Il est vident que vous avez consacr une partie de votre existence trs
importante choisir, liminer et runir des arts si divers Rembrandt et van Goyen dont vous
avez si intelligemment rassembl des diffrentes manireslclairage, lamnagement des
vitrines (que jespre voir bientt garnies) (p.11). J em 1983, Simon Hijman Levie (1925-
?) historiador da arte, diretor do Rijksmuseum e do Museu Van Gogh de Amsterdo mostra-
29
se: Deeply impressed by the quality and quantity of works of art which you collected during
the last fifty years (p.12)
Numa rara afirmao, cheio de orgulho, AMA tambm escreve: realizar o meu
sonho que deixar ao meu Pas o produto de uma longa vida de trabalho intenso, traduzido
num Museu que depois de completo, modstia parte, julgo seria um dos melhores da
Europa de iniciativa particular.67
67
Documento manuscrito, s.l., s.d. (jul. 1978). Pasta I. Esplio documental Arquivo FMA
68
PEREIRA, 2003, p.46
30
rodeados. Hoje so visitveis pela integrao dos imveis e seu recheio nas Fundaes que
criaram, superados apenas pelo colecionador Calouste Sarkis Gulbenkian69
69
BORGES, 2014, p.166
70
AFONSO, 2014, p.188
31
CAPTULO 2. O ACERVO MUSEOLGICO
Para fazer estas aquisies, AMA recorria a fornecedores especializados que sabiam
o que procurava e que o ajudaram a dar coerncia tipolgica a estes ncleos: foi o caso dos
suos Edgar Mannheimer que adquiriu relgios em seu nome por toda a Europa e Peter
Ineichen, da leiloeira sua Auktionshaus Ineichen (Zurique). Para a porcelana da China AMA
recorreu a comerciantes ingleses especializados, como Peter Sparks (da John Sparks74),
Stanley Pratt (Stanley J. Pratt Ltd.) e J.W. Barker (da Spink and Son); e em Lisboa a Alexandre
Fernandes (da Antiquarium) e Antnio Campos (da Antiqulia). Os comerciantes de prata
eram principalmente W.E. Burfitt, da Burfitt Ltd. e A.C. Kauffmann da I. Freeman & Son, Ltd.,
ambos prestigiados antiqurios ingleses.
Uma leitura geral do acervo - luz das escolhas efetuadas por AMA para rechear o
espao que habitava e a nova ala que criou - permite considerar diferentes nveis de
qualidade: obras de primeira linha - peas com estatuto de excecionalidade e de raridade,
tanto pelo virtuosismo do seu criador, como pelo impacto no seu gnero e interesse
histrico. Nesta categoria integram-se o j mencionado grupo de porcelanas chinesas, as
duas pinturas dos irmos flamengos Pieter e Jan Brueghel, uma taa de ourivesaria
71
uma vez que o colecionador tinha o hbito de neles [catlogos dos leiles] anotar as aquisies, o custo
atingido pelas peas e, amide, escrevia comentrios sobre a sua qualidade, a sua autenticidade ou a sua
notvel qualidade plstica... GRILO, 2012, p.63
72
Homem extremamente meticuloso deixou numerosas fichas e anotaes que nos permitiram traar o
percurso das suas peas MNTUA, 2014, p.71
73
no caso particular da cermica, acrescentou a esta informao uma descrio da pea e, por veze, os
exemplares semelhantes identificados noutras coleces HENRIQUES, 2011, p.15
74
The company John Sparks Ltd is best known as one of the longest established and most respected London
dealers in Chinese art. From 1906 until its closure in 1992, Sparks advised buyers and supplied ceramics, bronzes,
jades and paintings to a wide clientele... PEARCE, Nick - John Sparks, sea captain and dealer in Japanese and
Chinese art. In: CARP Chinese Art Research Provenance. [Em linha], [Consult. 30 mar. 2016]. Disponvel em
WWW: URL: http://carp.arts.gla.ac.uk/essay1.php?enum=1370358740>
32
renascentista Taa Aldobrandini, duas peas do marceneiro francs Franois Linke
(c.1900), uma ampulheta em mbar (c. 1660), duas peas imperiais em jade chins (1716)
ou o conjunto de esmaltes austracos de meados do sc. XIX. (fig.s 31-35)
75
Pinturas de autores diversos; servios de mesa em porcelana Vista Alegre; servios de vidros, peas em
casquinha e diversos txteis compem esta categoria. Inventrio CMMA Arquivo FMA
76
Os dados referidos neste subcaptulo so provenientes da anlise da documentao de compras referida
como Pasta V. Inventrio. CMMA Arquivo FMA
33
Do total do acevo destaca-se o grande nmero de tipologias (21) sendo, em termos
de quantidade, a cermica a mais representada, seguida da categoria dos vidros, da
ourivesaria e dos relgios:
AMA tinha um fiel secretrio Antnio Costa Santos77 (que falava e escrevia em
francs, ingls e alemo), que foi responsvel pela burocracia envolvendo os processos de
aquisio das peas ao longo de cerca de 30 anos.
77
Antnio da Costa Santos (1937-2007), secretrio pessoal de AMA.
34
em Portugal muito parca no que se refere aos dados sobre as peas (vide Anexo II, 12),
contrastando com o nvel de profissionalismo dos fornecedores estrangeiros em cuja
documentao se incluem elementos identificadores das provenincias, descries,
referncias a exposies e a peas semelhantes, referncias bibliogrficas e indicaes dos
preos e dos nmeros de lotes.78 Estes dados permitiram enriquecer o processo de
inventrio das obras e cruzar referncias, constituindo preciosa ajuda na identificao,
classificao e descrio das mesmas, do seu modo de incorporao e no apuramento das
suas provenincias. (vide Anexo II, 13) O fundo arquivstico mostrou-se pois essencial para
documentar o modus operandi da constituio da coleo Medeiros e Almeida e para
conhecer a importante rede de contactos que estabeleceu.
78
Apesar de toda a documentao ter sido identificada, estudada e arquivada existe ainda documentao por
identificar - principalmente proveniente de fornecedores portugueses -, por impossibilidade de cruzamento de
dados. Existe ainda um grande ncleo documental (correspondncia e fotografias) referente a peas oferecidas
a AMA mas no adquiridas. Pasta V. Inventrio CMMA Arquivo FMA
79
Equacionando que existem algumas centenas de peas de produo portuguesa (nomeadamente porcelanas
e vidros) que no tm a provenincia apurada, consideramos que a maioria das peas cujo modo de
incorporao na coleo se encontra por apurar foi adquirida em Portugal. Pasta V. Inventrio CMMA Arquivo
FMA.
35
semelhana do que acontecia com outros colecionadores, recebia em casa diversos
antiqurios e marchands que lhe propunham peas das suas casas ou de particulares.
80
A FMA conserva estes ncleos de catlogos de leiles e de publicaes, esperando poder vir a ser objeto de
tratamento documental num futuro prximo. Biblioteca FMA. Nota: A coleo detinha ainda jornais
generalistas portugueses e estrangeiros que foram doados Hemeroteca Municipal de Lisboa (1999) por
apresentarem menor interesse documental para a Fundao.
36
tambm assinava publicaes (de carter anual) que continham compilaes sobre os
resultados de vendas.81
Prezando muito o anonimato, nas listas de compradores dos leiles constava sempre
o nome do intermedirio na compra ou, raramente, Almeida. Quando a compra era notcia
de jornal, devido espetacularidade dos preos atingidos, AMA era referenciado como um
colecionador privado.82
No que respeita aos registos das compras efetuadas em Portugal, apesar da atividade
registada ao nvel do mercado de arte,83 verifica-se a concentrao em poucos agentes de
mercado. So eles a casa Antiquarium Lda. (612 peas) a leiloeiras Leiria e Nascimento (390)
e a Soares e Mendona (335). Para alm das aquisies, a documentao revela ainda uma
estreita relao com os antiqurios Alexandre Fernandes, Antnio Costa, Antnio Campos e
Wolf Steinhardt.
Por Herana Vrias peas foram herdadas por morte dos pais de AMA e de
MMA84;
81
Para mencionar algumas: The Ivory Hammer (Sothebys), The Year in Review (Christies), The International
Antiques Yearbook (Philip Wilson Editor), The British Antiques Yearbook (David & Charles), The Connoisseur Art
Sales Annual (The Connoisseur), Annuaire des Ventes (E. Mayer). Biblioteca FMA
82
Foi o caso da compra do relgio de bolso Breguet que pertenceu a Junot (FMA 7744) onde mencionado no
jornal Financial Times como a Portuguese private collector (2 jun. 1964) ou de um relgio pertencente
coleo de David Salomons (FMA 7846), sendo referido enquanto a Continental collector, no jornal Evening
Standard (2 nov. 1965). Pasta V. Inventrio CMMA Arquivo FMA.
83
Apesar da existncia de numerosas casas de antiqurios e de penhores que forneciam o mercado
portugus e de marchands de arte, em particular os estabelecidos em Portugal durante a dcada de 40
do sculo XX. MNTUA, 2014, p.73-77
84
Destaca-se a srie de estudos de Veloso Salgado, composta por 9 telas a carvo e aguarela, representando a
evoluo da Medicina desde a Antiguidade a Pasteur, que o artista tinha oferecido para o consultrio do seu
37
Em leiles (agncias de leiles) Leiloeiras - Lisboa: Leiria & Nascimento Lda.;
Soares e Mendona Lda.; Pintassilgo e Fernandes Lda. (Alexandre Fernandes); Dinastia
(Alexandre Fernandes);
amigo Joo Silvestre, pai de AMA e que foi herdada por morte de JSA em 1936. Os frescos originais foram
elaborados para a Escola Mdica do Campo Santana em Lisboa. Pasta V. Inventrio CMMA Arquivo FMA
38
Nas aquisies a partir de Lisboa era sempre utilizado o mesmo mtodo: escolhida a
obra na consulta das publicaes que recebia, era enviado ao fornecedor um pedido de
informao inicial solicitando a cotao e, na maioria dos casos, o envio de uma fotografia.
Seguia-se uma troca de correspondncia que inclua toda a documentao referente a
bancos, pedidos de importao, seguros, transitrios, transportes e alfndega.
85
A este propsito, os familiares referem que AMA contava que ao licitar a pintura contra o representante do
Rijksmuseum, se distraiu continuando a fazer o sinal combinado para subir a licitao, acabando por ficar
com a pea a um preo muito acima das suas previses (15.000FFR). Pasta V. Inventrio CMMA Arquivo FMA
86
No caso de no querer ficar com alguma das peas, estava combinado os antiqurios venderem-nas nos seus
estabelecimentos em Lisboa.
39
John Sparks, Stanley Pratt e Ronald A. Lee que faziam a intermediao. Em Frana no se
verificou esta modalidade, todas as aquisies foram presenciais ou realizadas a partir de
Lisboa;
Leiloeiras - Paris: Htel Drouot; Palais Galliera; Ader Picard Tajan (atravs de
diferentes Commissaires-Priseus);
Leiloeiras - Sua: Sothebys & Co.; Christies (Messrs Christie, Manson & Woods);
Phillips, Son & Neale S.A.; Uto Auktions A.g.; Auktionshaus Ineichen;
Antiqurios - Frana (Paris): Galerie Maurice Chalom Meubles anciens - Objets d'Art
- Tableaux - Dcoration; Galerie Charpentier; Nicolas E. Landau; C. Benedict Tableaux Anciens
(pintura); Jacques Kugel; Maison Breguet (relgios); Kraemer et Cie.- Objets dArt ; J. O.
Leegenhoek Tableaux; C. T. Loo et Cie. (porcelana da China) ; Bruno Pepin (joalharia); Dario
Boccara (tapearias); Lefortier Tapisseries Anciennes (tapearias); Jean Rouge Meubles &
Objects Prcieux du XVIIIeme; Au Bonheur du Jour (H. Calvet Sucrs); L'abbaye au Bois; Jean
Rouge Meubles & Objects Prcieux;
40
A Particulares cerca de 50 peas a Dorothy Hart, viva do colecionador ingls
Geoffrey Hart;
41
CAPTULO 3. O EDIFCIO - DE CASA DE FAMLIA A CASA-MUSEU
A noo preconizada pelos mais recentes estudos museolgicos que indica que o
patrimnio imvel e mesmo o patrimnio imvel integrado, enquanto contentores e suporte
de uma coleo, sejam considerados objetos museolgicos, levou elaborao deste
captulo de contextualizao sobre o percurso arquitetnico do edifcio da rua Mouzinho da
Silveira n 6, local onde Medeiros e Almeida habitou e que doou, com todo o seu recheio, ao
Pas. Apesar de a referida noo no figurar explicitamente nas normas de inventariao dos
bens museolgicos, cabe entidade museal reconhecer esse facto e atentar prpria
legislao da especialidade, na qual se integra o dever de inventariao sendo que O
inventrio museolgico a relao exaustiva dos bens culturais que constituem o acervo
prprio de cada museu, independentemente da modalidade de incorporao.87.
87
Lei-Quadro dos Museus Portugueses, Lei n 47/2004, Artigo 7, c), p.2. Artigo 16, 1, p.3. Pasta VII. Esplio
documental Arquivo FMA
88
A instituio ser doravante mencionada como: Casa-Museu, Museu e/ou com o acrnimo CMMA
89
O inventrio museolgico deve ser complementado por registos subsequentes que possibilitem aprofundar
e disponibilizar informao sobre os bens culturais, bem como acompanhar e historiar o respectivo
processamento e a actividade do museu. Artigo 7 c), f). Artigo 25. Lei-Quadro dos Museus Portugueses, Lei
n 47/2004. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
42
Este captulo foi realizado com recurso anlise da documentao relativa aos
diversos projetos de obras existentes no arquivo da FMA.
Em 1921 a moradia vendida a Eduardo Guedes, que dois anos mais tarde obtm
licena camarria para efetuar importantes alteraes, projetadas pelo arquiteto Carlos
90
Toponmia que homenageia o ento Presidente da CML, Jos Gregrio Rosa Arajo (1840-1893) apelidado
Baro Haussman alfacinha. SEQUEIRA, MACEDO, c.1945. Citado em: [Em linha], [consult. 9 jan. 2016].
Disponvel em WWW: <URL: http://cutcity7.blogspot.pt/2012/02/rosa-araujo-ainda-que-nao-tenha-
nascido.html>
91
Doravante referida com o acrnimo CML.
92
Deferimento de autorizao de construo CML. Lisboa, 10 abril de 1896. Pasta VI, Esplio documental
Arquivo FMA
93
Augusto Vctor dos Santos, bacharel em direito, foi nomeado juiz presidente do Tribunal de rbitros
Avindores de Lisboa em 1898 []. Voltou a presidir ao Tribunal entre os incios do ano de 1904 e 31 de Dezembro
de 1910. PEREIRA, 2012, p. 78. [Em linha], [consult. 26 Out 2015]. Disponvel em WWW: <URL:
http://run.unl.pt/handle/10362/8421>
94
O mdulo da garagem visvel numa planta topogrfica da rea, de J. A. V. da Silva Pinto, datada de 1911.
Pasta VI, Esplio documental Arquivo FMA
43
Rebelo de Andrade (1887-1971)95 Este projeta um anexo sobre a garagem (a este da casa)
com acesso pelo jardim, composto por uma casa para o motorista, uma estufa envidraada
e um lavadouro. (fig.43)
95
Pedido de alteraes CML. Lisboa, 9 mai. 1923. Processo CML 8970/923, Lisboa, 16 jun. 1923. Pasta VI,
Esplio documental Arquivo FMA. Vide Anexo II, 6
96
Idem convenientemente montada por uma casa tchnica
97
Requerimento n 1627/924. Lisboa, 1 fev. 1924. a caixa da escada ser em ferro e cimento encimado por
uma cobertura em tudo semelhante da mansarda devendo a escada ser de madeira, Pasta VI, Esplio
documental - Arquivo FMA
98
Destas alteraes constam ainda um arranjo nas divises, o alargamento da capela (ento existente na
mansarda) e a transformao de um quarto em atelier pelo rasgamento de um grande janelo, ainda existente.
Pasta VI, Esplio documental - Arquivo FMA
99
O Nncio Apostlico era Monsenhor Joo Breda Cardinale (1928-1933). [Em linha], [consult. 9 jan. 2016].
Disponvel em WWW: <URL: http://www.anuariocatolicoportugal.net/nunciatura.asp>
100
Extraterritorialidade em direito internacional o estado de ser isento da jurisdio da lei local, geralmente
como resultado de negociaes diplomticas. A extraterritorialidade tambm pode ser aplicada a lugares
fsicos, tais como embaixadas estrangeiras, bases militares de pases estrangeiros ou escritrios das Naes
Unidas. [Em linha], [consult. 9 jan. 2016]. Disponvel em WWW: <URL:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Extraterritorialidade> Ao abrigo deste estatuto, a Santa S no precisava de pedir
licena de obras tendo simplesmente que as comunicar.
Ofcio para pequenas obras, Processo CML n 3451/929. Lisboa, 20 out. 1929. As obras, no especificadas.
foram realizadas pelo construtor Jos Joaquim dos Santos. Pasta VI, Esplio documental - Arquivo FMA. Vide
Anexo II, 7
101
Monsenhor Pedro Ciriaci foi Nncio Apostlico em Portugal entre 1934 e 1953. [Em linha], [consult. 9 jan.
2016]. Disponvel em WWW: <URL: http://www.anuariocatolicoportugal.net/nunciatura.asp>
44
Arcebispo de Tarso, Sociedade Agrcola do Cassequel102, por um milho quinhentos e
cinquenta mil escudos103.
102
A Sociedade Agrcola do Cassequel tinha sede em Benguela, Angola e escritrios em Lisboa. Foi fundada em
1913 por Jos M do Esprito Santo Silva, dedicando-se aos negcios do acar, do sisal e do algodo. DAMAS,
Jos Alberto, Jos Maria do Esprito Santo Silva, De Cambista a banqueiro, p.872 [Em linha], [consult. 9 Jan.
2016]. Disponvel em WWW: <URL:
http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1223312713W5oVZ8ze9Zs04AU8.pdf>
103
AMA compra ainda alguns bens mveis que se encontravam no prdio por 671.000$00. Carta. Lisboa, 15 jul.
1943. Pasta VI, Esplio documental Arquivo FMA. Devido a atraso nas obras do edifcio da Avenida Lus Bivar,
a Nunciatura mantm-se na casa at Agosto de 1943. Carta. Lisboa, 10 set. 1943. Pasta VI, Esplio documental
Arquivo FMA
104
Freguesia de Cames na altura, depois Freguesia do Corpo Santo (hoje de Sto. Antnio). Escritura de
Compra. Lisboa, 22 dez. 1943. Pasta VI, Esplio documental Arquivo FMA
105
Carlos Joo Chambel Ramos - adiante referido com o acrnimo CR -, arquiteto, urbanista e docente um
dos pioneiros da arquitetura modernista portuguesa. [Em linha], [consult. 9 jan 2016]. Disponvel em WWW:
<URL: https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Jo%C3%A3o_Chambers_Ramos>
Petio para licena de obras. Lisboa, 6 jan. 1944. Caderno de Encargos, Lisboa, 28 mai. 1944. Pasta VI, Esplio
documental Arquivo FMA.
106
Neste documento constam ainda as seguintes intervenes: abertura de quatro salas em enfilade criando
um grande salo no andar nobre que era servido por trs janelas/portas de acesso varanda e jardim, a
remodelao da escadaria nobre que se construiu com trs lanos e balaustrada em madeira de sicupira
(substituindo os dois lanos antigos e o gradeamento em ferro) e a instalao de trs casas de banho no
primeiro andar de servio aos dois quartos de dormir.
Projeto de alteraes, Processo CML n4120/945, Lisboa, 30 jan. 1945. Pasta VI, Esplio documental - Arquivo
FMA. Vide Anexo II, 8
107
No piso trreo (cave) criou-se uma completa zona de servio (o pessoal inclua um chefe, uma ajudante de
cozinha, dois criados de mesa e duas criadas de quarto) com uma moderna cozinha, uma cmara frigorfica,
uma despensa, arrecadaes, um elevador monta-pratos que servia a casa de jantar (situada no rs-do-cho)
e o andar dos quartos, um sistema eltrico de chamada dos empregados, uma rea de engomados e ainda
45
diversas divises com recurso ao uso de beto armado e procedido colocao de vigas
horizontais onde se mostrou necessrio.
Criou-se assim uma moderna vivenda com garagem e jardim108, numa rea
construda de cerca 1.792m, que contava com uma cave totalmente equipada para o servio
domstico. O andar nobre integrava diversas divises como um grande salo, um
escritrio/biblioteca, a casa de jantar, copa e uma pequena casa de banho de visitas,
divididas por um amplo corredor central. Os apartamentos privados do primeiro andar
seguindo o mesmo tipo de distribuio axial - eram compostos pelo oratrio/capela, um
quarto de roupeiros, um quarto para hspedes com casa de banho, uma salinha ntima. O
quarto de casal era servido por uma diviso de descanso e duas casas de banho nos
extremos. Os dois andares de mansarda (acessveis pelo torreo) eram dedicados ao
alojamento do pessoal e arrumao.109110 (fig.s 45-46) Nesta poca, o oratrio privado do
sto foi transferido para duas divises no primeiro andar. Este espao viria a ser consagrado
em Junho de 1946 pelo Cardeal Cerejeira111, numa cerimnia que foi registada pelo fotgrafo
Mrio Novais.
cofre-forte. No andar dos quartos de dormir, uma diviso foi inteiramente forrada com roupeiros de trs
metros de altura, as duas casas de banho do casal foram revestidas a mrmore e equipadas com toalheiros
quentes e radiadores e criou-se uma pequena copa para servio aos quartos.
108
A. Van Bellinghen, Lisboa, foi contratado para obras de construo no jardim da Mouzinho da Silveira.
Recibos. Lisboa, 19 mar./ 17 jun. 1946. Pasta VI, Esplio documental Arquivo FMA
109
Entre 1953 e 1967 existem ainda diversos pedidos de alteraes submetidos CML que no interferem nas
caratersticas gerais do edifcio. Pasta V, Esplio documental Arquivo FMA
110
O arquiteto Carlos Ramos fez um detalhado lbum de fotografias que documenta o decorrer das obras.
Pasta VI, Esplio documental Arquivo FMA
111
Certificado n 50 aprovado pelo Papa Pio XII, Nunciatura Apostlica. Lisboa, 13 dez, 1946. / O privilgio de
ter uma capela privada foi concedido pela Chancelaria do Patriarcado de Lisboa e pressupunha, entre outras,
a obrigao de: Celebrar-se no Dito Oratrio o Santo Sacrifcio da Missa ao menos uma vez cada semana
().Proviso de Concesso de licena para se conservar o Santssimo Sacramento num Oratrio pertencente
aos suplicantes, Lisboa, 27 jan. 1947 (e anos seguintes). Pasta I, Esplio documental - Arquivo FMA
112
Um relatrio de autoria desconhecida, datado de 1947, valoriza parte das obras efetuadas em 2.874.553$48.
Despesas efectuadas com a transformao da moradia do Exm Senhor Antnio de Medeiros e Almeida, na
Rua Mousinho da Silveira N6, segundo os elementos que possuo, Lisboa, 9 jul. 1947. Pasta VI, Esplio
documental Arquivo FMA
46
referindo: Agradeo a colaborao que me deste da qual prescindo a partir deste
momento, visto as obras estarem quase concludas113
Enquanto decorrem as obras, o casal, que j tinha deixado a anterior morada, muda-
se para o Hotel Aviz (1944-1946), coincidindo a com a estadia de Calouste Sarkis Gulbenkian.
No h porm qualquer registo de convivncia entre o casal e o colecionador armnio que
ali habitou de 1942 at sua morte em 1955, apesar de consultarem o mesmo mdico; o Dr.
Fernando da Fonseca (1895-1974).
A nova ala116, composta por dois pisos, adossou-se ao edifcio em toda a extenso do
alado sul, mantendo porm a garagem117 (da qual se eliminou o piso superior) e integrou o
barraco de arrumao existente no jardim (com sada para o n 4 da rua Mouzinho da
Silveira)118. (fig.s 47-48)
113
Carta a CR. Lisboa, 19 dez. 1946. Pasta V, Esplio documental Arquivo FMA
114
Alberto Manuel Barbosa Pereira da Cruz (adiante referido com o acrnimo AC) arquiteto, foi funcionrio da
Direo Geral dos Edifcios e Monumentos Nacionais at 1987. Projetou, entre outros, o Museu Etnolgico Dr.
Leite de Vasconcelos (no construdo) o Museu do Caramulo e o Hotel Alvor no Algarve. SILVA, 2012, pp.24-27.
A sua contratao pode ter sido influenciada pela ligao de AMA aos projetos do Museu do Caramulo e do
Hotel Alvor.
115
Projeto n 282. Lisboa,? abr. 1968. Pasta Projeto de alteraes com Memria descritiva CML n 18264/68.
Pasta VI, Esplio documental Arquivo FMA. Vide Anexo II 9
116
Apesar de no existir uma memria descritiva desta obra, existem as plantas, cortes e alados assinados por
Alberto Cruz., s.l. (Lisboa), abr. 1968. Pasta VI, Esplio documental Arquivo FMA
117
Sendo esta garagem insuficiente para os automveis de AMA, este alugou um edifcio fronteiro ao prdio
onde guardava os diversos carros. Informao prestada pelos familiares de AMA
118
Devido a esta integrao, o imvel passou a estar inscrito na respectiva matriz, s/ o art. 499 [] tendo
os actuais ns de polcia 4 e 6 para a Rua Mouzinho da Silveira, tornejando para a Rua Rosa Arajo, n 41
Processo 61518/83. Lisboa, 26 dez. 1983). Pasta VI, Esplio documental Arquivo FMA.
47
Do projeto de Alberto Cruz, que no interveio no andar dos apartamentos privados,
que inclua uma rea bruta de construo de 1.008m, destaca-se a idealizao de um espao
de jardim de inverno coberto, a funcionar como memria do jardim da residncia que no
veio a ser construdo tal como previsto. Com esta ampliao, a futura instituio aumentou
quase para o dobro a sua rea e adquiriu catorze novas galerias de exposio (distribudas
pela cave e rs-do-cho do novo anexo), uma nova entrada, um aparatoso trio e escadaria
em mrmore e ferro forjado, com acesso pela rua Mouzinho da Silveira, n4. No decorrer da
obra, AC vai requerendo alteraes ao projeto. Em novembro de 1970 submete um pedido
que prev apenas o aumento da sala de exposies do primeiro pavimento e o diferente
arranjo do hall da entrada no museu. 119 Em 1971 solicita nova licena devido a:
recentes aquisies de peas destinadas ao Museu, entre as quais magnficos tetos em
madeira pintada, impuseram alteraes de certo vulto120
A 4 fevereiro de 1971, AMA convida Alberto Cruz a dirigir as obras do seu projeto
museolgico no entanto, em maio desse ano, o contrato quebrado por AMA que se queixa:
No est em dvida a sua elevada competncia, mas o facto que a organizao do seu
atelier deficiente para o muito trabalho que tem.122 O arquiteto Frederico George (1915-
119
Processo n 6028/OB/1970. Lisboa, 14 nov. 1970 / Processo n1034/OB/1971, s.l. (Lisboa), s.d. (1971). Pasta
VI, Esplio documental Arquivo FMA.
120
A compra dos tetos em madeira nomeadamente um teto de grandes propores em caixoto decorado
com representaes dos quatro continentes (FMA 449) - condicionou a planta da chamada sala do lago,
justificando novo projeto pela mo de Frederico George, a substituir o de Alberto Cruz. Pedido 1034/OB/1971,
s.l. (Lisboa), s.d. Pasta VI, Esplio documental Arquivo FMA
121
Alteraes ao Projecto de Alterao que o Exmo. Sr. Antnio de Medeiros e Almeida pretende mandar
executar na sua moradia sita na Rua Rosa Arajo N37 Freguesia do Corao de Jesus em Lisboa. Plantas e
Alados, s.l. (Lisboa), s.d. (c.1968-69). Pasta VI, Esplio documental Arquivo FMA
122
Carta de AMA dirigida a Alberto Cruz. Lisboa, 21 mai. 1971. Pasta VI, Esplio documental Arquivo FMA
48
1994)123 ento contratado para finalizar a obra124. Do seu trabalho destaca-se o novo
projeto para a chamada sala do lago que integrou, como pea chave, um teto de caixoto
em madeira, entretanto adquirido.125 (fig.50)
123
Frederico George, arquiteto e pintor, doravante mencionado com o acrnimo FG. [Em linha], [consult. 9 jan
2016]. Disponvel em WWW: <URL: https://pt.wikipedia.org/wiki/Frederico_George#cite_note-Enci-6>
124
Anos mais tarde, Frederico George escreve a Simonetta Luz Afonso: Suponho ter sido sugesto do
Fernando Cruz a minha interveno nesses trabalhos. Passando-me o encargo, acrescentou aquele que j no
havia desenhadores que soubessem desenhar o clssico. Carta FG a SLA, 17 mar. 1989. Pasta VI, Esplio
documental Arquivo FMA
125
Procurei nestas condies interpretar os desejos do Sr. Ant. Medeiros de Almeida realizando com algum
equilbrio, julgo eu, aquilo que fui incumbido. Idem. Pasta VI, Esplio documental Arquivo FMA
126
O arquiteto Jos Aleixo da Frana Sommer Ribeiro - adiante referido com o acrnimo SR - esteve envolvido
desde 1956 nos projetos arquitetnicos da sede e museu da Fundao Calouste Gulbenkian tendo ocupado,
entre outros, o cargo de diretor do Servio de Exposies e Museografia da FCG (1969-1983) e de primeiro
diretor do CAMJAP Centro de Arte Moderna Jos de Azeredo Perdigo (1983-1994). [Em linha], [consult. 9
jan. 2016]. Disponvel em WWW: <URL: http://fasvs.pt/exposicoes/view/78>
127
Projeto Casa-Museu de Antnio de Medeiros e Almeida. Lisboa, 3 fev. 1971. Pasta VI, Esplio documental
Arquivo FMA
128
Arquivo 179. Lisboa, 29 Out. 1971. Pasta VI, Esplio documental Arquivo FMA
49
esta a nica interveno registada na ala antiga da casa, na copa anexa sala de jantar
(hoje Sala das Pratas) cujas paredes foram inteiramente forradas com vitrinas. 129 (fig.s 51-
52)
SR foi ainda responsvel pela instalao e acomodao de diversas peas que iam
sendo entretanto adquiridas para a ala nova: trs salas foram forradas com apainelados e
tetos de madeira, na sala do lago procedeu-se colocao das esttuas, do lago e aplicao
dos painis de azulejos, na galeria de cima instalaram-se o teto de caixoto e azulejaria.
Vrios lances de escadas foram criados e na capela foi necessria a integrao do altar-mor
(vindo do oratrio do 1 andar) de painis de azulejos, da teia de separao e dos barrotes
do teto.
Aps as obras que acabaram nos incios da dcada de oitenta, o espao passou a
contar com uma rea bruta construda de 2.063,60m sendo que, as dependncias
expositivas totalizavam 1.734m (dois pisos da casa e dois sobre o jardim).133 (fig.s 53-54-55)
129
A Casa-Museu no possui uma memria descritiva do projeto de museografia de SR mas possui diversos
desenhos de pormenor, cortes, alados e plantas datados de 1971 a 1974 feitos para o Museu Particular
Antnio Medeiros de Almeida. Pasta VI, Esplio documental Arquivo FMA
130
AMA tinha visto em Paris um sistema de radar que queria instalar na Casa-Museu cette instalation pourra
tre utile, spcialment en vue dliminer des rondes nocturnes. Lisboa, 27 set. 1972. Pasta VI, Esplio
documental Arquivo FMA
131
Ante-Projeto do Sistema Contra Roubo da Casa-Museu Medeiros e Almeida, certificado pela PROFABRIL,
Centro de Projectos Industriais, s.a.r.l., 10350/84/72. Lisboa, ? 1972. Pasta VI, Esplio documental Arquivo
FMA
132
O engenheiro Amorim dirige uma nota a AMA: um assunto maador mas de algum interesse para o Museu
e que foi escrito e estudado para o Museu Gulbenkian. aplicvel ao seu Museu., Relatrio Conservao
Preventiva. Lisboa, 2 set. 1972. Pasta VI, Esplio documental Arquivo FMA
133
Em 1975, AMA encomenda um estudo de avaliao das suas propriedades que apresenta os seguintes
valores: Rua Mouzinho da Silveira n4 14.500.000 escudos, Rua Mouzinho da Silveira n6 20.700.000$00,
50
Quando Medeiros e Almeida morre em 1986, o projeto de instalao da Casa-Museu
estava concludo porm, a Casa-Museu no estava ainda aberta ao pblico134
Rua Rosa Arajo ns 37-39 15.000.000$00 e Rua Barata Salgueiro n30 (terreno a construir) 40.000.000$00.
Avaliao de Propriedades. Lisboa, 16 jun. 1975. Pasta VI, Esplio documental Arquivo FMA
134
Vide Parte II, Cap. 2, 2.1
135
Simonetta Bianchi Ayres de Carvalho Luz Afonso (n.1946), museloga, gestora cultural, doravante
mencionada com o acrnimo SLA.
136
Em fevereiro de 1990 o CA encomendou um levantamento topogrfico do edifcio. Levantamento
topogrfico. Lisboa, 11 abr. 1990. Pasta VI, Esplio documental Arquivo FMA
137
Livro de Actas da Fundao Medeiros e Almeida, n 1, fl.74, Lisboa, 31 jan. 1992. Livro de Atas n 1, Pasta
VII. Esplio documental Arquivo FMA
51
Em 1992 foi submetido CML um projeto de alteraes-execuo.138 Na sua
apresentao os arquitetos identificaram diversas situaes a abordar: Criao de uma
zona de recepo e vendas, inexistente, e de uma nova entrada do Museu; Criao de um
servio de restaurante e self-service; Melhoria de formas de apresentao de algumas
coleces que integram o Museu, de modo a torna-las mais atraentes ao pblico; Melhoria
dos sistemas de iluminao das peas, na maior parte dos casos bastante deficientes,
Introduo de um sistema de climatizao adequado, dado que o existente impossibilita a
abertura do Museu ao pblico; Melhoria das condies de segurana...139 Aps diversas
vicissitudes, arrancam finalmente em 1999 as obras de remodelao da Casa-Museu. 140
138
Museu da Fundao Medeiros e Almeida Lisboa Projecto de Remodelao. Memria Descritiva. Lisboa, 24
mar. 1992. / Processo Camarrio n 1996/08/1992. Lisboa, ? ago. 1992 (As plantas so datadas de abril e maio
de 1992). Pasta VI, Esplio documental Arquivo FMA
139
Museu da Fundao Medeiros e Almeida Lisboa. Projecto de Remodelao Memria Descritiva. Lisboa, 24
mar. 1992. Pasta VI, Esplio documental Arquivo FMA
140
"Empreitada de Remodelao Geral Museu da Fundao Medeiros e Almeida Caderno de Encargos. Lisboa,
?, jul. 1999. Pasta VI, Esplio documental Arquivo FMA
141
1.1 A entrada do pblico prevista pelo Fundador pela Rua Mouzinho da Silveira, no rene os requisitos
necessrios de conforto, segurana e operacionalidade... / Ante-Projecto de Abertura ao Pblico do Museu
da Fundao Medeiros e Almeida. Lisboa, 14 mar. 1989. Pasta VI, Esplio documental Arquivo FMA
142
Entrada desloca-se do n4 da Rua Mouzinho da Silveira para o porto com o n41 da Rua Rosa Arajo.
No primeiro caso a porta, com um pequeno guarda-vento, dava acesso imediato a uma zona da exposio sem
condies para se tornar trio de recepoMuseu da Fundao Medeiros e Almeida Lisboa Projecto de
Remodelao. Memria Descritiva, p. 2. Lisboa, 24 mar. 1992. Pasta VI, Esplio documental Arquivo FMA
52
Trabalhando a partir desse espao, abrindo vos, derrubando paredes e alargando as
divises existentes, os arquitetos projetaram na antiga zona de servio uma ampla rea de
receo dotada de bilheteira, bengaleiro, loja, cafetaria, instalaes sanitrias e ingresso do
espao museolgico. Foi ainda criada uma rea privada para a central de segurana,
balnerios para a guardaria e uma zona de entrada para os escritrios. Aps as tentativas
falhadas de criar uma zona de restaurao ligando o ptio da rua Rosa Arajo 41 com o ptio
da moradia vizinha (propriedade da Fundao)143, o gabinete de arquitetura optou por
projetar um espao mais simples de cafetaria, que veio a ocupar a antiga cozinha da casa e
parte do ptio de entrada, adossando-se ao alado da antiga garagem (virado a sul).
143
O arquiteto Joo de Almeida, sobrinho de AMA, submete ao tio um projeto de alteraes que visa:
estabelecer ligao entre os logradouros de dois edifcios contguos pertencentes Fundao Medeiros e
Almeida, localizados na Rua Rosa Arajo, 37-39 e o segundo no n 41 da mesma rua (), a ligao far-se-
pela abertura de um vo no muro divisrio que separa os dois ptios Memria Descritiva. Lisboa, 23 mar.
1981. Pasta VI, Esplio documental Arquivo FMA
144
JA foi responsvel pelas exposies temporrias Josefa de bidos e o tempo do Barroco (Galeria de Pintura
do rei D. Lus, 1991), No Tempo das Feitorias (Museu Nacional de Arte Antiga, 1992), O Triunfo do Barroco
(Centro Cultural de Belm, 1993) e pelos projetos de remodelao do Convento das Chagas, Vila Viosa, 1993,
do Convento das Bernardas, Lisboa, 1996, dos Paos do Concelho (aps o incndio de 1996), Lisboa e de duas
remodelaes do espao expositivo no Museu Nacional de Arte Antiga, em 1982-83 (para a 17 Exposio de
Arte, Cincia e Cultura Europeias) e em 1993-94 (para a Lisboa Capital da Cultura). FERNANDES, CUNHA,
ALMEIDA, 2012, pp.24-35
145
Depois de regressado da exposio temporria De Goa a Lisboa realizada, no mbito do Festival Europlia,
em Bruxelas (1991) e Coimbra (1992): para que o plpito de Goa, emprestado para exposies e entretanto
devolvido, seja com a maior urgncia recolocado no seu devido lugar. Livro de Actas da Fundao Medeiros e
Almeida, n 1, 29 set. 1993, f.88. Livro de Atas n 1, Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
53
arrumos146 Os dois espaos, ligados atravs de um amplo vo, criaram uma rea de
exposies temporrias com 170m. Apesar do acesso ser comum, esta zona independente
da rea de exposio permanente.147
146
Museu da Fundao Medeiros e Almeida Lisboa Projecto de Remodelao. Memria Descritiva, p. 2. Lisboa,
24 mar. 1992. Pasta VI, Esplio documental Arquivo FMA
147
Neste espao encontrava-se exposta uma colcha indo-portuguesa (FMA 1363) numa enorme vitrina
desenhada para o efeito que, devido s enormes propores, se encontrava disposta em oblquo inviabilizando
grande parte do espao. A colcha foi retirada para as reservas.
148
Vtor Vajo, engenheiro eletrotcnico, especialista em luminotecnia, membro da Illuminating Engineering
Society of North America (IESNA), fundador e ex-Presidente do Centro Portugus da Iluminao (CPI), vogal da
Comisso Executiva de Luminotcnica da Ordem dos Engenheiros. [Em linha], [consult. 9 fev. 2016]. Disponvel
em WWW: URL:http://www.oelectricista.pt/2016/02/09/lidel-manual-de-praticas-de-iluminacao-de-vitor-
vajao/>
149
Quadros com sistema de iluminao agregado [] a excessiva quantidade de calor emitido para a obra de
arte [] Paramentos com fortssima iluminao de luz fluorescente [] projectores de luz concentrante []
elevados nveis de encadeamento [] grandes desigualdades de nveis de iluminao. Relatrio tcnico.
Lisboa, 22, out, 1993. Pasta VI, Esplio documental Arquivo FMA
150
Remodelao da Iluminao Fundao Medeiros e Almeida. Lisboa, 30 abr., 1997. Pasta VI, Esplio
documental Arquivo FMA.
54
Reconhecida figura na rea da conservao preventiva e igualmente com obra
aplicada ao patrimnio, o Engenheiro Elias Casanovas151 foi convidado a colaborar com a
Casa-Museu em 1995 e desde logo afirmou: na sequncia do convite [] Junto envio o
respectivo relatrio, cumprindo-me antes de mais esclarecer que a minha colaborao, tal
como a fica definida, ser prestada no mbito das minhas funes docentes, quer no
mestrado em Museologia e Patrimnio quer na escola Superior de Conservao e Restauro,
e portanto no envolve o pagamento de qualquer tipo de honorrios.152 No relatrio
preliminar assinalava alguns problemas encontrados as condies interiores do espao
representam um microclima pouco vulgar cuja origem se deve, provavelmente a dois
factores: a total ausncia de ventilao e a elevada percentagem de materiais como a
madeira e os txteis 153 Constatada a pr-existncia de condutas de ventilao (instaladas
para o aquecimento central) reveladas essenciais para evitar obras de construo civil, em
outubro de 1997 d-se incio implementao do projeto.154
151
Lus Efrem Elias Casanovas (1926-2014) adiante referido com o acrnimo EC. Diplomado em 1952 em
engenharia eletrotcnica na Escola Politcnica de Universidade de Lausanne. O seu percurso profissional
passou pelo Conservatrio Nacional, pelo IPPC e pela docncia na rea da museologia. Aposentado, continuou
a fazer investigao no Centro de Investigao em Cincia e Tecnologia das Artes (CITAR) da Universidade
Catlica Portuguesa em Lisboa. [Em linha], [consult. 9 fev. 2016]. Disponvel em WWW: <URL:
http://www.rtp.pt/noticias/cultura/luis-casanova-eleito-personalidade-do-ano-pela-apom_n505728>
152
Na sequncia desta colaborao, EC considerou a Casa-Museu como um caso de estudo tendo lecionado
bastantes aulas in loco. O acompanhamento da situao (e a prestao de servios gratuita) manteve-se at
sua recente morte. Engenheiro Casanovas, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 4 jul. 1995. Pasta VI, Esplio
documental Arquivo FMA.
153
Engenheiro Casanovas, Universidade Nova de Lisboa, Relatrio preliminar, p.1. Lisboa, 4 jul. 1995. Pasta VI,
Esplio documental Arquivo FMA
154
Memria descritiva que diz respeito ao estudo prvio das instalaes de Aquecimento, Ventilao e ar
Condicionado AVAC previstas para o Museu e zona de exposies temporrias da Fundao Antnio Medeiros
de Almeida / Instalaes de Aquecimento/Ventilao/Ar Condicionado, s.l. (Lisboa),? out, 1997. Pasta VI,
Esplio documental Arquivo FMA.
155
Foram adjudicadas as obras de remodelao e actualizao das instalaes electromecnicas apresentadas
no relatrio de 31 de Maio de 1988 do Sr. Eng. Lopes de Sousa. Livro de Actas da Fundao Medeiros e Almeida,
n1, 22 jul. 1988, fl.40. Livro de Atas n1. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
55
partir da central operada pela guardaria e tal como AMA tinha desejado, ligado Polcia de
Segurana Pblica e Bombeiros.
Tinham passado 15 anos aps a morte de AMA e 27 anos aps a concluso do projeto
por ele encomendado (1974).
56
PARTE II O PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAO: DE COLEO PRIVADA A
ACERVO PBLICO
156
Conferncia Abitare la storia: le dimore storiche-museo : restauro, sicurezza, didattica, comunicazione
Gnova, 1997
57
temtico, vocacionado para o estudo das especificidades desta categoria, imagem de
outros comits da organizao dedicados a assuntos especficos na rea dos museus.157
Nesse sentido, na conferncia mundial do ICOM de 1998 (Melbourne) a moo foi ratificada
nascendo o comit intitulado Comit International pour les Demeures Historiques-
Muse158 que recebeu o acrnimo DEMHIST. De acordo com a sua pgina eletrnica, o
DEMHIST : comit internacional do ICOM focado na conservao e gesto de Casas-
Museus. O nome uma abreviatura do termo francs demeures historiques. Casas-museus
abrangem de castelos a cabanas de todos os perodos. A interpretao das casas-museu
inclui informao histrica, arquitetnica, cultural, artstica e social.159
O trabalho desenvolvido por este comit bem como, a maior parte dos estudos sobre
museus so norteados pela definio de museu preconizada pelo ICOM que, desde 1951,
tem sofrido alteraes mas, que assenta sempre nos pressupostos da existncia de uma
instituio aberta ao pblico com a tarefa de conservar, estudar e divulgar o seu
patrimnio.160
157
PINNA, Giovanni, Demhist: the genesis of a committee, pp. 1-5 [Em linha], [Consult. 15 Nov. 2015]. Disponvel
em WWW: URL: <http://DEMHIST.ICOM.museum/shop/shop.php?detail=1255432597>
http://giovanni.pinna.info/pdf/DEMHIST-the-genesis.pdf
158
Tambm intitulado International Committee for Historic House Museums ou Comit Internacional por las
Residencias Histricas-Museo
159
Traduo da autora: ICOM International Committee focusing upon the conservation and management of
house museums. Its name is an abbreviation of the French term "demeures historiques". House Museums,
range from castle to cottages, from all periods. The interpretation of house museums includes historic,
architectural, cultural, artistic and social information. [Em linha], [Consult. 15 Nov. 2015]. Disponvel em
WWW: URL: <http://DEMHIST.ICOM.museum/shop/shop.php?detail=1255432597>
160
Em ingls no original: A museum is a non-profit, permanent institution in the service of society and its
development, open to the public, which acquires, conserves, researches, communicates and exhibits the
tangible and intangible heritage of humanity and its environment for the purposes of education, study and
enjoyment. ICOM Statutes, 2007. [Em linha] [Consult. 31 Nov. 2015]. Disponvel em WWW: <URL:
http://ICOM.museum/fileadmin/user_upload/pdf/Statuts/statutes_eng.pdf>.
58
1.2 Casa-Museu contributos para a sua definio e classificao
161
Casas-Museu em Portugal Modelos de organizao e conceito, MARTINS, 1997. Disponvel no repositrio
da Universidade Nova Run (http://runl.unl.pt) apenas consultvel na Biblioteca da FCSH (tese no disponvel
online)
162
MARTINS, 1997, p.82
163
MARTINS, 1997, p. 133
59
perpetuao de uma memria pessoal.164 De seguida a autora refere as questes da tutela
administrativa e financeira indicando que a soluo tem origem: na maior parte dos casos
da vontade explcita (assumindo vrias formas sendo a mais frequente, a constante em
testamento) ou implcita do prprio que doa, lega vende ou d e do respectivo assentimento
da entidade receptora. 165 e que assume trs possveis entidades tutelares: a quem foi
doado, legado ou vendido um dado patrimnio, do prprio indivduo que doa, lega, d ou
vende e finalmente dos amigos/parentes do indivduo em causa (individualmente ou em
grupo) sob a forma de associao ou de fundao.166
No que respeita origem das colees (bens mveis) Martins verifica que a maior
parte se encontra na base da constituio das casas-museu tm a sua origem em coleces
privadas reunidas pelo indivduo homenageado.168. Quanto aos tipos de colees, afirma
que apesar de diversificados, verifica-se no entanto o predomnio das artes
decorativas.169 Nesta perspetiva, conclui que: este predomnio pode desde j indiciar
instituies que se centrem nos objectos das coleces, remetendo a memria do indivduo
homenageado para um plano quase subsidirio.170 como veremos implicitamente
mencionando duas tipologias de casa-museu.
164
Idem, p.71
165
MARTINS, 1997,71
166
Ibidem
167
MARTINS, 1997, p.70
168
Idem, p.72
169
Ibidem
170
MARTINS, 1997, p.73
60
constitutivas171 mormente no modelo institucional a seguir ou na forma de apresentao
e gesto das colees.
171
Ibidem
172
Idem, p.82
173
Idem, pp.82-83
174
MOREIRA, 2006
61
abordando-a numa perspetiva indita: atravs dos olhos de um arquiteto e no de um
muselogo/historiador. A autora concentra-se na: transformao de espaos domsticos
privados em espaos museolgicos pblicos, em que os primeiros so motivo ou pretexto dos
segundos.175 De modo a contextualizar a sua pesquisa analisa a historiografia176 dedicada
descrio e tipificao do objeto casa-museu referindo diversas propostas: a pioneira foi
apresentada em 1934, num artigo da revista de museografia francesa Museion intitulado:
Les maisons historiques et leur utilisation comme muses 177 onde se elencam trs
categorias pensadas a partir da coleo: Casa de interesse biogrfico, Casa de interesse
social e Casa de histria local. Nos anos oitenta, o pai da nova museologia, o muselogo,
professor, conservador, curador francs e diretor do ICOM, Georges Henri-Rivire (1897-
1985) tambm apresentou uma classificao provisria de acordo com os bens
musealizados, conforme registado numa lio de Conservao na obra La Musologie178
que inclua dois tipos: Casas histricas (incluindo Castelos e palcios de soberania, Casas
histricas de notveis, artistas, escritores ou cientistas) e Casas rurais.
A obra Historic House Museums: a practical handbook for their care, preservation
and management (1993) da historiadora americana Sherry Butcher-Younghans, tambm
referida por Moreira, apresenta uma categorizao de casas-museu histricas americanas
com quatro categorias baseadas nos mtodos e meios utilizados para a sua musealizao:
Casa-museu documental, Casa-museu representativa, Casa-museu de esttica e Casas-
museu que combinam as trs categorias.179
175
Idem p.7 (Resumo)
176
Idem, pp.17-20
177
S/A Mouseion, Revue internationale de musographie, Office International des Muses ns 25-26, Paris:
Institut International de Coopration Intellectuelle, 1934 p.283 [Em linha], [Consult. 22 Nov. 2015]. Disponvel
em WWW: <URL :http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k61016959/f355.item.r=.zoom>
178
RIVIRE; DELCROIX, 1993, pp.298-301
179
Tambm referidas em PINNA, 2001, p.8
62
sociocultural especfica.180 Moreira cita ainda uma sntese elaborada por Pavoni a propsito
da problemtica da definio de casas-museu, que reala a importncia do elo entre a casa
e o seu contedo enquanto elementos definidores da tipologia. 181
Por fim, Moreira cita as duas tipologias descritas por Pavoni em Barcelona (2001); a
descritiva e a representativa, considerando Pavoni, que dos dois exemplos: um um
documento autntico de uma poca, enquanto o outro um documento autntico de
leitura e re-uso desse perodo183 provando que existe uma multitude de abordagens
problemtica da categorizao.
180
MOREIRA, 2006, p.8
181
Tambm disponvel em PAVONI, 2001, p.17 [Em linha], [Consult. 31 Nov. 2015] Disponvel em WWW: <URL:
http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001229/122989e.pdf
182
As casas-museu abertas ao pblico como tal, ou seja com o seu mobilirio e coleces, mesmo em diversas
ocasies, as que possuem arranjos de cores caractersticas e que nunca foram utilizadas para expor coleces
de origens diferente, constituem uma categoria museogrfica a todos os respeitos, que recobre inmeras
variantes do ponto de vista tipolgico. Em resumo, o carcter especfico deste gnero de museu o elo
indissolvel entre contentor e contedo, entre palcio/casa/apartamento e coleces
permanentes/mobilirio/decoraes. Apud MOREIRA, p.18
183
Apud, MOREIRA, 2006, p.20
184
MOREIRA, 2006, p.20
63
O interessante olhar de Marta Moreira leva-a a analisar de seguida os conceitos
implcitos, fundadores e mesmo formadores da tipologia casa-museu que identifica desde a
Antiguidade; so eles o hbito de receber e reunir (recees, tertlias e festas), o hbito de
colecionar das elites (as colees das elites), a anlise do gosto e da sua evoluo (as artes
decorativas), o carcter domstico (o culto da domesticidade), o fascnio dos espaos de
criatividade (lugares de inspirao) e a importncia do universo pessoal (a casa como
universo).
laia de concluso, a autora extrai seis conceitos185 que enformam a sua abordagem
e resumem a sua definio de casa-museu: lugar de encontro social e cultural, espao de
acolhimento da coleo privada, materializao do gosto pessoal, lugar de observao e
aprendizagem do viver quotidiano, exposio da intimidade e revelao de um universo
pessoal.
Antnio Ponte dedica tambm a sua dissertao de mestrado186 ao estudo das casas-
museu, abordando-as na perspetiva de muselogo. Lembrando que so diversas as tnicas
de anlise, comea por trabalhar os conceitos inerentes a esta tipologia analisando os
motivos para a criao de uma casa-museu, discutindo a determinao dos requisitos para
o seu estabelecimento e propondo contributos para a definio da categoria. Citando
diversos autores, incide sobre questes tambm tratadas por Moreira como as diferenas
entre casa histrica e casa-museu e a dualidade existente nestes conceitos em que a
dimenso pblica e privada, partida ideias opostas, coabitam. Ponte debate ainda a ideia
do universo pessoal que se torna fiador de uma memria e de um patrimnio, sendo que a
qualificao da tipologia est indexada ao reconhecimento dessa realidade.
185
Idem, pp.38-42-45-48-51-52
186
Casas-Museu em Portugal: Teoria e Prtica, PONTE, 2007 [Em linha], [Consult. 15 Nov. 2015] Disponvel em
WWW:<URL: https://antonioponte.files.wordpress.com/2008/05/microsoft-word-texto2.pdf>
187
"The house Museum is not the same as a country house, or palazzo; but a country house, such as Sir
Walter Scotts Abbotsford, or a palazzo, such as the Bagatti Valsecchi, can be a House Museum. The House
Museum is not the same as a Historical Museum. But some Historical Museums are also, or at least began
as, House Museums... The House Museum is not the same as an artists House. But certain artists houses
were certainly conceived as House Museums, such the Soane Museum, or the Maison Pierre Loti. The House
Museum is not the same as a collectors house. But a collectors House, like Kettles Yard, can become a House
Museum. BANN, 2000, p. 20 / Apud, PONTE, 2007, Cap.1, p.5, notas bibliogrficas 4-5
64
semelhana de Moreira, a historiografia das propostas para a sua tipificao. So referidas
as anlises da revista Museion de Georges Henri-Rivire, de Sherry Butcher-Younghans, de
R. Pavoni e Ornella Selvafolta, a que ainda acrescenta a de Linda Young. Esta docente
australiana apresentou pela primeira vez, no mbito de uma conferncia do DEMHIST
(2006), uma categorizao de casas-museu no artigo intitulado: House Museologie: Houses
as Museums in the Age of Heritage, onde identifica seis tipologias: Casas de heris, Casas
de coleo, Casas de design, Casas de acontecimentos, Casas de campo inglesas e Casas de
sentimento.188
The historic house is certainly an incomparable and unique museum in that it is used to conserve, exhibit or
reconstruct real atmospheres which are difficult to manipulate [...] The historic house museum is unlike
other museum categories because it can grow only by bringing together original furnishings and collections
from one or other of the historic periods in which the house was used. PINNA, 2001, p. 4 / More than a
monument that celebrates a lost past, a historic house is seen as a place where people have lived out their life.
GORGAS, 2001, p. 10 / Una casa-museo es un mbito domstico abierto al pblico como testimonio
ejemplar de la decoracin de interiores de una poca o como homenaje a alguien que por alguna razn
est relacionado con ella. LORENTE LORENTE, 1998, p. 30 / Les muses consacrs un artiste distinguent
luvre dun crateur, ils en retracent la gense, ils voquent le contexte dans lequel elle a t cre.
WHITTINGHAM, 1996, p. 4
188
Idem, 2007, Cap.2, pp.52-53
189
PONTE, 2007, pp.47-55
190
Idem, pp.4-5 e Anexo 6
191
No contexto das definies de museu apresentadas neste relatrio, PONTE enquadra as casas-museu no
mbito dos museus especializados que so descritos pelo IPM como: museus preocupados com a pesquisa
65
A fim de contribuir para uma leitura objetiva das diversas fontes, Ponte considerou
os dados existentes insuficientes quanto sua abrangncia nomeadamente no que diz
respeito realidade nacional. Em relao listagem de casas-museu que lhe foi cedida pela
RPM, concluiu ainda que: a maior parte destas unidades museolgicas no se integram
na definio de casa-museu que proposta, nesta dissertao, para as instituies deste
gnero192, propondo-se aprimorar a definio de casa-museu e realizar uma proposta de
classificao das casas-museu portuguesas.
De acordo com as definies de Ponte, a CMMA - que no foi visada pelo seu estudo
por no pertencer RPM -, seria catalogada na categoria 3; Casa-Museu Esttica /
Coleco, que o autor define como: casas-museu que se localizam nos espaos de
vivncia do homenageado, sendo, todavia, o seu principal objectivo apresentar as coleces
que este reuniu ao longo da sua vida, no sendo a tnica essencial colocada no conhecimento
da personalidade do patrono, mas nas suas coleces. Assim, em muitos casos, a decorao
pode ser alterada com vista a uma melhor percepo do acervo exposto, mantendo, porm,
a organizao ao longo dos diferentes espaos domsticos. Estas unidades museolgicas do
um contributo essencial na divulgao, conservao das coleces e na preservao da
unidade das mesmas, evitando que estas se dispersem entre herdeiros ou em vendas
e exposio de todos os aspectos relativos ao tema ou sujeito particular... e pela UNESCO como: museus
preocupados com a pesquisa e exposio de todos os aspectos relativos a um tema ou sujeito particular...
SILVA; SANTOS, 2000, pp.170-171
192
PONTE, 2007, Cap.2, p.13
193
Idem, p.47
194
PONTE, 2007, pp.55-60
66
diversas, quando no existam sucessores.195 Em nossa opinio, a descrio desta categoria
assenta perfeitamente na realidade da CMMA, tanto ao nvel da sua misso, como do seu
funcionamento.
195
Idem, p.58
196
Formulrio para a criao de categorias de casas-museu, [Em linha], [Consult. 15 Nov. 2015] Disponvel em
WWW: <URL: http://www.museumartconsulting.com/sito_inglese/Categorisation%20Eng.pdf>
197
Apesar dos esforos envidados junto da delegao portuguesa do DEMHIST para obteno de algumas
comunicaes proferidas nas conferncias referidas (para alm das que se encontram publicadas online) no
nos foi possvel ter acesso informao solicitada.
198
As categorias so descritas pelo DEMHIST como: PersH - Personality houses (writers, artists, musicians,
politicians, military heroes, etc); CollH - Collection houses (the former home of a collector or a house now used
to show a collection); BeauH - Houses of Beauty (where the primary reason for a museum is the house as work
of art); HistH - Historic Event houses (houses that commemorate an event that took place in/by the house);
SociH - Local society houses (house museums established by a local community usually seeking a social
cultural facility that may reflect its own identity, rather than for an historic reason); AnceH - Ancestral homes
(country houses and small castles open to the public); RpowH - Power houses (palaces and large castles open
to the public); ClerH - Clergy houses (monasteries, abbots houses and other ecclesiastical buildings with a
67
comit, a Instituio participou em algumas conferncias e reunies do DEMHIST e
respondeu ao inqurito, pelo que que foi listada no projeto de categorizao como
pertencente categoria COLLH - Casas de Colecionadores.199
former or current residential use, open to the public); HumbH - Humble homes (vernacular buildings such as
modest farms valued as reflecting a lost way of life and/or building construction); - HousfM Houses for
Museums, (a house that becomes a venue for different collections not related to its history) - Rooms - Period
Rooms. [Em linha], [Consult. 15 Nov. 2015] Disponvel em WWW: <URL:
http://DEMHIST.ICOM.museum/shop/data/container/DEMHIST_CategorizationProject_I_Data.pdf>
199
A list of House Museums and their proposed categories. PAVONI, p.4. 2005-09. [Em linha], [Consult. 15 Nov.
2015] Disponvel em WWW:<URL: www.DEMHIST.ICOM.museum/CategorizationProject.pdf >
200
Encabeado por Maria de Jesus Monge, Vice-Presidente do DEMHIST e Diretora do Museu da Casa de
Bragana, Pao Ducal de Vila Viosa.
201
A primeira conferncia internacional teve lugar em 2005 (Museu Nacional de Etnologia). ltimas reunies:
Guimares (2010), Lisboa (2011), Alpiara (2012), Porto (2013), Tormes (2015).
202
MONGE, M de Jesus, O projecto de categorizao de Casas-Museu do DEMHIST, Boletim RPM, 2010, p.7
[Consult. 15 Nov. 2015] Disponvel em WWW: <URL: http://www.patrimoniocultural.pt/pt/museus-e-
monumentos/rede-portuguesa/boletim-rpm/, MONGE, M de Jesus, Jornadas de trabalho DEMHIST, Pao dos
Duques em Guimares, 2010 [Em linha], [Consult. 15 Nov. 2015] Disponvel em WWW: <URL: http://casas-
museu-em-portugal.blogspot.pt/2010/02/o-projecto-internacional-de.html>
203
MOREIRA, 2006, p.20
68
coleco e tambm pode ser uma casa onde o coleccionador no viveu, mas onde
actualmente exposta a sua coleco.204 Percorrendo as definies das categorias, parece-
nos acertada a escolha do DEMHIST, sendo que a CMMA de facto, a antiga residncia de
um colecionador, alberga a sua coleo, que, por sua vez, a protagonista da instituio.
204
RODRIGUES, Elsa; Jornadas de trabalho DEMHIST, Pao do Duque, Guimares, 2010 [Em linha], [Consult. 15
Nov. 2015] Disponvel em WWW: <URL: http://casas-museu-em-portugal.blogspot.pt/2010/02/proposta-de-
categorizacao-das-casas.html>
205
Cap. I Art. 3 a). Estatutos iniciais FMA. Vide Anexo II, 11
69
da coleo ou integrar na misso o estudo e divulgao da vida e obra de AMA, mantendo
viva a memria do fundador enquanto colecionador e empresrio.
Qual seria a sua vontade? Porqu uma casa-museu? Estaria AMA consciente das
implicaes da tipologia casa-museu? Conhecedor como era de outras realidades
semelhantes, a no desejar esse tipo de protagonismo, o colecionador poderia ter optado
por uma doao a um museu ou mesmo ao Estado. So muitos os casos que conhecia,
nacionais e internacionais como a Jones Collection doada ao Victoria & Albert em 1882, a
coleo Untermyer doada em 1941 ao Metropolitan de Nova Iorque, as doaes feitas ao
Museu Nacional de Arte Antiga, em 1969, de Calouste Gulbenkian, de Francisco Barros e S
(ourivesaria) ou de Ernesto Vilhena (escultura), se bem que neste caso a doao foi feita em
troca da iseno de pagamento do imposto sucessrio ou a doao ao estado de Anastcio
Gonalves206.
Medeiros e Almeida era sempre muito abrangente na abordagem das questes que
o moviam no entanto, temos por certo que, a sua opo ter sido principalmente orientada
pela preocupao de evitar a disperso do patrimnio e da sua valorizao museolgica e
no por um exerccio crtico sobre a essncia tipolgica do modelo de instituio que
escolheu. No entanto, e apesar de se desconhecerem quaisquer determinaes relativas ao
registo da sua vida e obra, AMA estaria ciente de que esta opo implicava a perpetuao
no s da sua coleo e casa como tambm do seu nome e memria.
206
Referem-se somente casos de instituies/colees cujos acervos so coevos e similares ao da CMMA.
70
van Goyen avec le besoin de prserver les objets contre lusure sinon le vandalisme, une fois
quelle sera ouverte au public. Je me souviens quAntnio de Medeiros avait beaucoup insist
lors de notre rencontre sur cet aspect presque intimiste (je dirai anti-muse), quil souhaitait
sauvegarder. La solution, difficile (mais est-ce-que ce serait intressant sans cela ?), qui vous
incombe maintenant, est fondamentale, parce quelle dterminera le caractre de
lensemble, tel quil sera peru par les futurs visiteurs intresss.207
207
Vide Anexo II, 4, pp. 14-15
71
CAPTULO 2. A FMA - FUNDAO MEDEIROS E ALMEIDA
Como j foi abordado, a procura de uma soluo para concretizar a vontade do casal
Medeiros e Almeida, de doar ao pas a sua coleo de arte, foi amadurecida ao longo dos
anos sessenta, tendo sido nesse mbito que AMA resolveu criar uma fundao. A figura
jurdica da fundao enquanto entidade pblica de direito privado, dotada de personalidade
jurdica, de utilidade pblica e de interesse social, garantia a realizao desse sonho,
proporcionando ainda o estabelecimento das condies legais para perpetuar a reunio e
apresentao pblica do patrimnio de AMA.
Por definio, uma fundao209 uma pessoa jurdica, um fundo autnomo, que visa
a administrao de um dado patrimnio que destinado a uma finalidade especfica
estabelecida estatutariamente - neste caso, a constituio e gesto de uma casa-museu. A
referida finalidade econmica, mas no distributiva, a instituio no tem proprietrio e
perptua. A personalidade jurdica que lhe assiste refere-se aptido para adquirir direitos
e contrair deveres (esta aptido genrica, reconhecida a todo o ser humano). O estatuto
de utilidade pblica atribudo por se tratar de uma pessoa coletiva privada, sem fins
lucrativos210, o que por sua vez, garante benefcios como regalias e isenes fiscais.
Tambm por definio legal, uma fundao prossegue fins de interesse geral em
cooperao com a Administrao central ou local211, sendo que o reconhecimento por
parte do Estado depende do seu impacto social: Artigo 188. 1.: No ser reconhecida a
fundao cujo fim no for considerado de interesse social pela entidade competente.212 No
caso da FMA, para alm do respetivo interesse pblico e pedaggico, a sua atividade
208
Os contedos deste captulo foram revistos pelo Presidente do Conselho Administrativo da FMA (Dr. Joo
Oliveira da Silva) que acompanhou pessoalmente grande parte deste processo.
209
Cdigo Civil, Captulo II Pessoas Coletivas. [Em linha], [Consult. 30 Dez. 2015]. Disponvel em WWW: URL: <
http://www.cases.pt/outras-organizacoes/fundacoes/legislacao/codigocivil>
210
Secretaria-Geral da Presidncia do Conselho de Ministros. [Em linha], [Consult. 30 Dez. 2015]. Disponvel
em WWW: URL: < http://www.sg.pcm.gov.pt/pessoas-coletivas-de-utilidade-publica/faq.aspx>
211
Secretaria-Geral da Presidncia do Conselho de Ministros. [Em linha], [Consult. 30 Dez. 2015]. Disponvel
em WWW: URL: < http://www.sg.pcm.gov.pt/pessoas-coletivas-de-utilidade-publica/faq.aspx>
212
Cdigo Civil, Artigo 188 [Em linha], [Consult. 30 Dez. 2015]. Disponvel em WWW: URL:
<http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?ficha=101&artigo_id=&nid=775&pagina=2&tabela
=lei_velhas&nversao=1&so_miolo=>
72
compreende ainda a atribuio de bolsas de estudo, tal como foi disposto pelo seu fundador.
(vide Estatutos FMA, Captulo I, artigo 3 b).
falta de documentos escritos por AMA ou por MMA, so pequenos indcios como
as histrias contadas pelos familiares e referncias na vasta documentao do arquivo da
Fundao (relacionada com a atividade de colecionador e de empresrio), que nos levam a
considerar que o casal discutia o destino a dar aos seus bens. Esta preocupao, que assiste
a todos os colecionadores, comeou a ser formulada no incio da dcada de sessenta quando
o casal a entrar na casa dos setenta anos e sem descendncia direta, se questionava sobre o
futuro a dar ao seu, j ento, vasto patrimnio. No claro quando foi tomada a deciso,
porm, podemos apontar o incio dessa dcada como a altura em que comeou a ser
acarinhado o projeto de doar, ainda em vida, os seus bens ao Pas. (vide Notas Prvias 2)
Segundo relatos da famlia, a primeira ideia que surgiu foi a da criao de um museu
de relgios, se bem que esta vontade no se encontre documentada, Margarida que
certamente no pensava em deserdar os sobrinhos, era a impulsionadora do projeto para o
qual, tinha mesmo pensado como localizao a Torre do Relgio, edifcio fronteiro ao Palcio
Nacional de Queluz.214 Por razes desconhecidas mas que pensamos prenderem-se com uma
213
Cdigo Civil, Artigos 185, 167, 162 [Em linha], [Consult. 30 Dez. 2015]. Disponvel em WWW: URL:
<http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?ficha=101&artigo_id=&nid=775&pagina=2&tabela
=lei_velhas&nversao=1&so_miolo=>
214
Conhecido como Torre do Relgio, o edifcio datado de finais do sculo XVIII, situa-se no largo fronteiro ao
Palcio Nacional de Queluz. poca pertencia ao Ministrio das Finanas e a funcionavam servios do Estado
tendo sido armazm da Legio Portuguesa, escola primria e casa de funcionrios do Palcio. O edifcio alberga
hoje a Pousada D. Maria I. [Em linha], [Consult. 26 out. 2015]. Disponvel em WWW: URL:
http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-
ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/70878/
73
ambio diferente por parte do marido, tais planos no foram adiante, tendo todas as
colees conhecido um caminho diferente.
No mbito da deciso de doar ao pas a sua coleo, cujo patrimnio inclua, para
alm do acervo artstico, o edifcio onde este estava instalado, AMA planeia construir um
anexo sobre o jardim da sua casa de modo a poder alargar a coleo; a ideia era a de
continuar a colecionar. Esta resoluo toma forma em 1968, quando contrata o arquiteto
Alberto Cruz para projetar a referida extenso. Contudo, a primeira referncia escrita
conhecida sobre esta deciso surge pela mo do antiqurio ingls Ronald A. Lee que em
1964, numa carta de agradecimento a AMA por lhe ter mostrado a coleo, sugere que o
colecionador j falava num projeto que contemplava um novo edifcio para a sua coleo:
How wise you are to plan an extension for the porcelains, etc. they deserve to be shown
more individually as the standard is so very high217
215
Ficou famoso o jantar oferecido aos Prncipes do Mnaco, de visita oficial a Portugal em abril de 1964, no
qual Amlia foi contratada para cantar ao sero. Pasta I. Esplio documental Arquivo FMA
216
No se lhe conhece tambm qualquer papel na escolha de obras de arte. Existe porm, uma histria familiar
que conta que certa ocasio em Frana, em 1971, MMA manifestou gosto por um apainelado francs pintado
mo. Antnio fingiu-se desinteressado tendo efetuado a compra s escondidas para fazer uma surpresa
mulher. Infelizmente, quando o apainelado chegou a Portugal, MMA tinha acabado de falecer. Inventrio
CMMA Arquivo FMA
217
Excerto da carta de Ronald Lee a AMA, Londres, 15 set. 1964. Lee nota ainda a qualidade da iluminao: I
also think that the lighting of your paintings is as good as I have seen, a point which is so often missed in many
collections. Vide Anexo II, 4
74
uma fundao. A instituio qual doou todo o seu patrimnio mvel e imvel, tinha como
objetivo: dotar o Pas de uma casa-Museu.218 Estavam assegurados os seus objetivos.
Podemos afirmar que a opo do colecionador pela criao de uma fundao ter
sido uma escolha consciente, de teor jurdico, motivada por um lado pela garantia de unio
e preservao dos seus bens e, por outro, pela possibilidade de controlo dos destinos da
instituio que assiste a esta figura jurdica. (vide Parte II, Captulo 2, 2.1)
Dever ento o gesto altrusta de AMA ser entendido enquanto uma deciso racional,
de ordem burocrtica? AMA era conhecedor e admirador da cultura filantrpica
218
Captulo I, Artigo 3 a). Estatutos iniciais FMA. Vide Anexo 11
219
Memorial, Lisboa, 18 dez. 1975. Pasta VII, Esplio documental - Arquivo FMA. Anexo II, 14
220
CARVALHO, 2014, p.434
221
MATOS, 2002, p.14
75
nomeadamente dos pases anglfonos222, onde a prtica de doaes de colees muito
frequente, pelo que, o sentido benfeitor e mesmo um esprito cvico e patritico, prprios
da poca, nortearam certamente as suas disposies. Poderia ter beneficiado os muitos
herdeiros porm, a sua forte personalidade que valorizava o rigor e o mtodo aliados
vertente prtica, no permitiriam que a situao da sua ddiva no ficasse totalmente
estipulada e clarificada nem que a sua subsistncia ficasse garantida. Ainda hoje a Casa-
Museu Medeiros e Almeida funciona nos termos das suas disposies.
A deciso de AMA insere-se numa corrente, que vinha do incio do sculo XX, com a
instituio de doaes e legados feitos ao Estado com vista salvaguarda de patrimnio,
nomeadamente acervos artsticos e bibliogrficos de colecionadores, artistas, escritores e
polticos que geraram a criao de museus, casas-museu e museus-biblioteca: At ento, o
exemplo que encontramos das criaes das Casas para Museus teve incio com o Museu Joo
de Deus [Museu-Biblioteca, Pedaggico e Artstico Joo de Deus (1917), Lisboa], encontrando
eco no projeto do escultor Teixeira Lopes que, em 1936, instituiu em Vila Nova de Gaia, a sua
Casa-Museu Atelier223
Um pouco mais tarde, por volta dos anos 50, os patronos recorrem criao de
fundaes: Fundao Ricardo do Esprito Santo Silva (1953), Fundao Calouste Gulbenkian
(1956), Fundao Abel de Lacerda (1958), instituies que visam a salvaguarda e gesto dos
seus acervos: As Fundaes, como figura jurdica de suporte criao de museus, permitiu
em Portugal a proliferao de espaos vocacionados para a salvaguarda do patrimnio224
A Fundao Medeiros e Almeida, instituda em 1972, integra-se nesta tendncia.
222
O seu scio e amigo William Morris (1877-1963) criou, em 1943, uma fundao de beneficncia no campo
da educao (Nuffield College, Oxford). Fundao Nuffield: http://www.nuffieldfoundation.org/about-the-
foundation
223
BORGES, 2014, p.165
224
Referem-se somente casos de instituies/colees cujos acervos so coevos e similares ao da CMMA.
BORGES, 2014, p.166
225
Doravante referida com o acrnimo FRESS
226
Doravante referida com o acrnimo FCG
76
instituies (que so constantes do esplio documental da FMA) articulam-se segundo a
mesma lgica: os captulos visam a criao, o patrimnio, a administrao, a fiscalizao e as
disposies gerais da instituio, diferindo essencialmente no que respeita
misso/objetivos e ao patrimnio com que so dotadas. Os casos da FRESS e da Fundao
Abel de Lacerda so aqueles que mais se aproximam do modelo funcional da FMA. A FRESS,
difere no sentido em que, para alm da constituio de um museu (Museu-Escola de Artes
Decorativas) a instituio criou tambm: oficinas destinadas a estgios e aperfeioamento
nas vrias artes decorativas227 Quanto Abel de Lacerda, que foi criada aps a morte
prematura do fundador do museu, na administrao da qual AMA esteve envolvido, apesar
de prosseguir igualmente fins artsticos e educativos, nomeadamente o culto das belas-
artes, estimulando o interesse por elas e promovendo a instalao do Museu do Caramulo,
a constituio do seu patrimnio distinta da FMA pois inteiramente constitudo por:
todos os bens que lhe foram ou venham a ser doados ou legados228. A FCG tem como
particularidade ter sido criada por disposio testamentria. Se bem que os fins da
Fundao so caritativos, artsticos, educativos e cientficos229, no se encontra referida nos
estatutos a constituio do museu que posteriormente criado (1969) no mbito da
fundao. As restantes fundaes so de teor diferente; a Fundao Sain tem por
objetivos a realizao de uma obra de educao e ocupao tiflolgicas, nomeadamente na
formao profissional de cegos230 e a Fundao Silva Mello tem como misso fins de
educao e de assistncia.231
A elaborao dos estatutos, que adiante analisamos, foi realizada por AMA com o
apoio jurdico das suas equipas de advogados, lideradas pelo Dr. Tito Arantes (1900-2001) e
227
Cap. I, Art. 3 d) - Decreto-Lei n 39190, Dirio do Governo, I Srie, n 85, 27 abr. 1953. Pasta VII. Esplio
documental Arquivo FMA
228
Cap. II, Art 5 e 7 b) Despacho Ministerial, 17 Fevereiro de 1958, Dirio do Governo n 84 III Srie, 9 Abril
1958. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
229
Cap. II, Art 4 - Decreto-Lei n 40690, 18 jul. 1956. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
230
Cap. I Art 3 - Decreto-Lei n 42117, 21 jan. 1959. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
231
Cap. I, Art 4 - Decreto-Lei n 45954, Dirio do Governo, I Srie, n 235, 7 out. 1964. Pasta VII. Esplio
documental Arquivo FMA
77
pelo Dr. Abranches-Ferro (1908-1985)232. Com estes estatutos AMA procurava garantir, nos
termos que julgou pertinentes, o funcionamento da instituio que pretendia criar.
232
Dr. Tito Lus Mena Castelo Branco Arantes, advogado, poltico e parlamentar (Legislaturas V, VI, VII, VIII, IX)
[Em linha], [Consult. 30 Dez. 2015]. Disponvel em WWW: URL:
<http://app.parlamento.pt/PublicacoesOnLine/DeputadosAN_1935-
1974/html/pdf/a/arantes_tito_de_castelo_branco.pdf> Dr. Fernando de Oliveira Abranches-Ferro, advogado
e ativista poltico. Curiosamente, Tito Arantes era um homem fiel ao Estado Novo e da confiana de Salazar e
Abranches-Ferro era um conhecido opositor do regime do Estado Novo. AMA sempre se soube rodear e criar
amizades com pessoas de todos os quadrantes sociais e polticos.
233
Cdigo Civil, Artigo 158. 1. As associaes e fundaes adquirem personalidade jurdica pelo
reconhecimento, salvo disposio especial da lei. 2. O reconhecimento individual e da competncia do
Governo, ou do seu representante no distrito quando a actividade da associao ou fundao deva confinar-se
na rea dessa circunscrio territorial. [Em linha], [Consult. 30 Dez. 2015]. Disponvel em WWW: URL:
<http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?ficha=101&artigo_id=&nid=775&pagina=2&tabela
=lei_velhas&nversao=1&so_miolo=>
234
poca, as fundaes regiam-se pelo Cdigo Civil, aprovado pelo Decreto-Lei n 47 344, de 25 de novembro
de 1966. Pela Lei n 24/2012 foi criada a Lei-Quadro da Fundaes alterando o Cdigo Civil
http://www.sg.pcm.gov.pt/media/8063/Lei24-2012.pdf. A lei foi revista em 2015 estando hoje em vigor a Lei
150/2015.
235
Para fundamentar o seu parecer, o auditor jurdico apoiou-se na legislao em vigor, nomeadamente de
outras fundaes e em documentao coeva como o Manual de Direito Administrativo, o Manual de Cincia
Poltica e Direito Constitucional e a obra Das Fundaes, de autoria do Professor Marcello Caetano, que cita
diversas vezes no documento. Relatrio da auditoria jurdica, Lisboa, 20 Jan. 1969. Pasta VII. Esplio
documental Arquivo FMA
236
quer nos artigos 185 a 194, que as regulam especificamente, quer nos artigos 157 a 166, que definem
as disposies comuns sobre pessoas colectivas., e 3.3 Tambm o Cdigo Civil regula o acto da instituio,
estabelecendo, no n1 do art. 185, que as fundaes podem ser institudas por testamento ou por acto entre
vivos, devendo, neste ltimo caso, constar de escritura pblica Relatrio da Auditoria Jurdica, Lisboa, 20 Jan.
1969, p.4. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
78
reconhecimento, o relatrio evoca a prossecuo de fins artsticos e educativos da
instituio, para validar a competncia do Governo sobre a matria, em vez do Governo Civil
de Lisboa, o que partida faria sentido visto situar-se na referida cidade237. Esta premissa
justifica o despacho ministerial que outorga os primeiros estatutos da Fundao.
Por documento existente nos arquivos da FMA, sabemos que a primeira redao dos
estatutos da FMA foi anterior morte de MMA, que ocorreu a 25 de junho de 1971, pois l-
se no 1 artigo: cujo patrimnio inicial constitudo pelos bens e valores afectados pelos
seus instituidores Antnio de Medeiros e Almeida e sua Mulher D. Margarida Pinto Basto e
Almeida.238 Ser porm cerca de um ano mais tarde, j aps a morte da esposa, a 31 de
agosto de 1972, que AMA ver aprovados os estatutos iniciais da Fundao Medeiros e
Almeida, por despacho de Sua Excelncia o Ministro da Educao Nacional, do Governo de
Marcello Caetano, o Professor Doutor Jos Veiga Simo (1929-2014)239. Esses primeiros
estatutos compunham-se de quatro captulos: Captulo I - Criao e Fins, Captulo II -
Patrimnio, Captulo III - Administrao e Fiscalizao, Captulo IV - Disposies Gerais, e
contavam vinte e dois artigos. Esta estrutura manter-se- apesar das revises efetuadas. Os
estatutos em vigor datam da ltima reviso efetuada a 8 de abril de 1992.
237
a projectada fundao no ter a sua actividade necessariamente limitada rea de um distrito, e, pois,
que a competncia para o reconhecimento dever pertencer ao Governo. [] tendo a fundao fins artsticos,
culturais ou educativos, [] deve pertencer ao Ministro da Educao Nacional Relatrio de Auditoria Jurdica,
Lisboa, 20 Jan. 1969, p.8: Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
238
Estatutos da Fundao Medeiros e Almeida, s.l. (Lisboa), s.d. (anterior a junho 1971). Pasta VII. Esplio
documental Arquivo FMA
239
Estatutos da Fundao Medeiros e Almeida, s.l. (Lisboa), 31 Ago. 1972. Estatutos iniciais. Esplio
documental Arquivo FMA. Vide Anexo II, 11
79
lustres, adornos diversos e livros. Anexo a este despacho, conforme indicao do relatrio
da auditoria, encontrava-se uma relao dos bens afetos, ainda sem valores.
240
Vide Estatutos FMA, Cap. II, Artigo 4, 1, a),b),c),d), 2. Estatutos iniciais. Esplio documental Arquivo FMA.
Anexo II, 11
241
4.4Parece-me que s por disposio especial [] de concluir que s por decreto-lei se poder garantir
projectada Fundao a ampla e genrica iseno prevista no artigo 6 do projecto. Relatrio de Auditoria
Jurdica, Lisboa, 20 Jan. 1969, p. 13. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
242
Contribuio Predial - Despacho da Direo-Geral de Contribuies e Impostos, Lisboa, 2 out. 1973. Imposto
Complementar - Despacho da Direo-Geral de Contribuies e Impostos, Lisboa, 2 out. 1973. Contribuio
Industrial - Despacho da Direo-Geral de Contribuies e Impostos, Lisboa, 18 mar. 1974. Imposto de Capitais
- Despacho da Direo-Geral de Contribuies e Impostos, Lisboa, 7 ago. 1978. Pasta VII. Esplio documental
Arquivo FMA
243
Artigo 1 A Fundao Medeiros e Almeida goza das isenes fiscais concedidas pela lei geral s pessoas
colectivas de utilidade pblica administrativa e Art. 2 O instituidor da Fundao fica isento do imposto sobre
as sucesses e doaes por ele devido quanto aos bens imveis compreendidos na herana de sua esposa,
Margarida Pinto Basto e Almeida, e que por ele sejam doados Fundao no prazo de um ano, contado da
vigncia do diploma. Ministrio das Finanas, Dirio do Governo, I Srie - Nmero 288, p. 1903. Decreto-Lei
510/72, Lisboa 13 Dez. 1972. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
80
Conforme publicado no Dirio do Governo244 de 28 de maro de 1973, a primeira
escritura pblica245 de constituio da Fundao data de 21 de fevereiro de 1973246,
publicando-se os estatutos inicialmente aprovados a 31 de agosto de 1972. Paralelamente
criao da Fundao, AMA formaliza a doao dos seus bens FMA, realizando uma escritura
de doao onde consta uma relao dos bens mveis e imveis, ascendendo a um valor total
de avaliao de trinta e trs milhes e quarenta e seis mil escudos (33.046.000$00) 247.
No sentido de dotar a FMA com os bens prometidos, AMA doa ainda a favor da FMA
a metade indivisa de um prdio rstico () situado em Lisboa, na Rua Barata Salgueiro e
Mouzinho da Silveira () o valor de quinze milhes de escudos248, esta metade tinha
pertencido a MMA e por sua morte, tinha sido transferida para AMA, seu nico e universal
herdeiro, que reserva a restante metade do imvel ainda por construir - para seu usufruto
em vida. Tal nunca se veio a verificar pois, devido s dificuldades financeiras enfrentadas por
AMA adiante tratadas - o prdio s veio a ser construdo aps a sua morte.249
244
Dirio do Governo, III Srie Nmero 74, Lisboa 28 Mar. 1973, pp. 1882-1884. Pasta VII. Esplio documental
Arquivo FMA
245
Cdigo Civil, Artigo 185. 3. A instituio por acto entre vivos deve constar de escritura pblica e torna-se
irrevogvel logo que seja requerido o reconhecimento ou principie o respectivo processo oficioso. [Em linha],
[Consult. 30 Dez. 2015]. Disponvel em WWW: URL:
<http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?ficha=101&artigo_id=&nid=775&pagina=2&tabela
=lei_velhas&nversao=1&so_miolo=>
246
Escritura de Constituio da Fundao com a denominao de FUNDAO MEDEIROS E ALMEIDA, Lisboa,
21 fev. 1973. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
247
A primeira escritura de doao no apresenta valorao dos bens: Inventrio do recheio do prdio da rua
Mouzinho da Silveira, nmeros quatro e seis, conforme alnea b) do artigo quarto, Lisboa, 21 fev. 1973. Esplio
documental Arquivo FMA. Em junho apensa nova escritura de doao: Relao dos bens doados por
Antnio de Medeiros e Almeida, residente na Rua Rosa Arajo, N37, desta cidade, por escritura de 21 de
Fevereiro de 1973, a favor da Fundao Medeiros e Almeida. Bens Mobilirios que constituem o recheio do
prdio sito em Lisboa, na Rua Mousinho da Silveira, ns 4 e 6 e Rua Rosa Arajo, n 41, desta cidade, Lisboa,
11 Jun. 1973. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
248
Escritura de doao, Lisboa, 30 nov. 1973. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
249
O terreno tinha sido adquirido por AMA em janeiro de 1951. A primeira inteno era construir uma Estao
de servio e Stand de Automveis de apoio atividade no ramo automvel. Pedido dirigido CML, Lisboa, 19
jan. 1955. Pasta VI. Esplio documental Arquivo FMA
250
At hoje a Fundao s adquiriu um conjunto de 10 fotomontagens da autoria do artista Eduardo Nery, por
estas terem sido feitas no mbito de uma exposio temporria, sobre fotos cedidas ao fotgrafo pela Casa-
Museu Pasta V. Inventrio CMMA Arquivo FMA
251
Captulo II, Artigo 7 2. - A Fundao s poder adquirir, a ttulo oneroso, obras de arte quando estas se
enquadrem no esprito que presidiu organizao da Casa-Museu e sem prejuzo do disposto no nico do Art.
81
uma instituio museal faz tambm, algumas disposies nesse sentido: Captulo II, Artigo
4 nico - No podero ser feitas alteraes no arranjo do Museu, devendo, no entanto,
serem expostas as peas que ainda se encontram armazenadas nas instalaes da Fundao.
As peas podero ser, excepcionalmente, removidas por ocasio de exposies temporrias
de especial relevncia.
4.. Art. 8. A Fundao no poder alienar, no todo ou em parte, os bens definidos nas alneas a), b), c) e d) do
art. 4., que constituem o seu patrimnio inicial. Pasta VII. Estatutos iniciais FMA. Vide Anexo II, 11
252
Cdigo Civil Artigo 162 Os estatutos da pessoa colectiva designaro os respectivos rgos, entre os quais
haver um rgo colegial de administrao e um conselho fiscal, ambos eles constitudos por um nmero mpar
de titulares, dos quais um ser o Presidente. [Em linha], [Consult. 30 Dez. 2015]. Disponvel em WWW: URL:
<http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?ficha=101&artigo_id=&nid=775&pagina=2&tabela
=lei_velhas&nversao=1&so_miolo=>
253
Apesar da alterao do artigo 10 (1992) que substituiu o Instituto Portugus do Patrimnio Cultural pelo
Instituto Portugus de Museus, a pessoa jurdica da tutela tem-se alterado porm, o cargo cabe sempre ao
Presidente da tutela da Cultura.
254
Captulo II, artigos 14 e 15. Pasta VII. Estatutos iniciais FMA. Vide Anexo II, 11
82
poder ser efectivada, pelo fundamento exposto, sem um pr-aviso de noventa dias feito aos
Ministrios das Finanas e da Tutela.255
255
Vide Estatutos FMA, Cap. IV, Art 22 e . Pasta VII. Estatutos iniciais FMA. Vide Anexo II, 11
256
Organismos doravante referidos com os acrnimos SEC e IPPC
257
Cdigo Civil Artigo 189. Os estatutos da fundao podem a todo o tempo ser modificados pela autoridade
competente para o reconhecimento, sob proposta da respectiva administrao, contanto que no haja
alterao essencial do fim da instituio e se no contrarie a vontade do fundador. [Em linha], [Consult. 30 Dez.
2015]. Disponvel em WWW: URL:
<http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?ficha=101&artigo_id=&nid=775&pagina=2&tabela
=lei_velhas&nversao=1&so_miolo=>
258
Lisboa, Dirio da Repblica, III Srie nmero 135, 15 de junho de 1978, pp. 6628-6629. Pasta VII. Esplio
documental Arquivo FMA
259
Estatutos revistos aprovados por despacho de Sua Excelncia o Secretrio de Estado da Cultura do II Governo
Constitucional, Dr. Mrio Sottomayor Cardia. Ofcio 647-GAB/78, Lisboa, 17 Mar. 1978. Pasta VII. Esplio
documental Arquivo FMA
260
Resposta ao ofcio n 647-GAB/78 da SEC. Lisboa, 27 mar. 1978. Pasta VII.Esplio documental Arquivo FMA
83
5 de Agosto de 1980261 - Nesta reviso, sem grandes alteraes de fundo,
modificaram-se os artigos: 4 b) e c), 8, 10, 11, 12 e 19b) e f);262
261
Dirio da Repblica, III Srie, N 179, 5 Agosto, 1980, p. 8928. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
262
Vide Anexo II, 15
263
Informao 251/92, Instituto Portugus dos Museus, Documento de homologao da Alterao do artigo
10 dos Estatutos da Fundao Medeiros e Almeida, Lisboa, 28 abr. 1992, enviado Fundao em 9 jul. 1992.
Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
264
Apesar da tutela da cultura ter alterado por diversas vezes de organismo (Ministrio, Direo-Geral,
Instituto), o cargo pertence ao seu dirigente mximo. Estatutos finais. Vide Anexo II, 16
265
Projeto Casa-Museu de Antnio de Medeiros e Almeida. Lisboa, 3 fev. 1971. Pasta VIII. Esplio documental
Arquivo FMA
84
primeira campanha de inventrio, realizada entre 15 de fevereiro e 15 de maio de 1971, no
incluiu a totalidade do acervo. O inventrio foi elaborado segundo as regras vigentes poca,
incluindo informaes sobre a identificao das obras de arte em fichas de inventrio
manuais bem como o seu registo fotogrfico.
AMA acabou por no ver implementados estes planos devido demora nas obras da
Casa-Museu e, principalmente, devido a no se ter concretizado o projeto de construo do
edifcio que asseguraria a sua viabilidade financeira, resultando numa falta de liquidez, que
se prolongou at morte de Medeiros e Almeida, em 1986.
266
Doravante referida com o acrnimo MAB
267
Definio do Perfil do Conservador do Museu da Fundao Medeiros e Almeida. Lisboa, 1 jul. 1977. Pasta
VIII. Esplio documental Arquivo FMA
268
Adiante referido com o acrnimo BFB
85
Nessa altura, o plano de viabilidade econmica da Fundao assentava no
pressuposto da venda de aes da sua vasta carteira de ttulos nacionais e internacionais,
nomeadamente da participao maioritria que detinha na fbrica de acar aoriana
SINAGA, para a qual existiam poca trs entidades interessadas. O capital realizado
permitiria cumprir as obrigaes bancrias, pagar aos fornecedores da obra e fazer face s
despesas de manuteno da Casa-Museu. Outro projeto a ser financiado pela venda das
aes era o da construo do projetado imvel no terreno anexo Casa-Museu, que viria
garantir um rendimento a AMA, j que se tinha afastado do mundo dos negcios mantendo
somente as presidncias da SINAGA e da CTN.
269
Vide Estatutos FMA, Cap. I, Artigo 3 a). Pasta VII. Estatutos iniciais FMA. Vide Anexo II, 11
270
Dirio de Notcias, Lisboa, 28 Abril de 1974: 3) At instrues em contrrio, fica encerrada a Bolsa de
Ttulos e em consequncia ficam igualmente suspensas todas as transaces de valores mobilirios. Pasta VII.
Esplio documental Arquivo FMA
Esta resoluo no cumpriu o requisito formal de publicao em Dirio do Governo tendo por isso sido
confirmada, por despacho do Diretrio do Conselho da Revoluo, DD4493, de 23 Agosto de 1975. Dirio da
Repblica Eletrnico, [Em linha], [Consult. 10 Jan. 2016]. Disponvel em WWW: URL:
<https://dre.tretas.org/pdfs/1975/08/23/dre-224508.pdf>
271
Conselho da Revoluo - Decreto-Lei n. 132-a/75, 14 mar. 1975 - Nacionalizao da Banca. Centro de
Documentao 25 de Abril, Universidade de Coimbra [Em linha], [Consult. 10 Jan. 2016]. Disponvel em WWW:
URL: <http://www1.ci.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=novapol12> Nota: Presidente da Repblica Francisco da
Costa Gomes (1914-2001).
86
contos, as entidades que se mostravam interessadas na sua compra desistiram do seu
intento perante o congelamento das aes. Estavam comprometidos os planos de AMA.
Perante a difcil situao em que se encontrava, AMA tenta negociar com o Governo
a atribuio de um emprstimo de modo a poder honrar os seus compromissos. Para tal,
Medeiros e Almeida evoca junto das instncias governamentais a doao que tinha feito ao
Pas, a existncia de valiosas obras de arte que ainda no integravam o acervo da Fundao,
alegando mesmo uma possvel extino da instituio como soluo final.
Os contactos que iniciou de imediato junto do Governo tiveram sempre uma boa
aceitao, porm, a instvel situao poltica com sucessivas quedas de governo e respetivas
mudanas estratgicas, obrigam-no a repetir a apresentao dos problemas a cada novo
responsvel pelas tutelas das Finanas e da Cultura.274 O processo foi moroso mas, como
272
Sada de dinheiro para o estrangeiro - Portaria n.619/75, de 25 out. 1975. [Em linha], [Consult. 10 Jan.
2016]. Disponvel em WWW: URL: < http://www1.ci.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=novapolitica05>
273
Entre 1975 e 1986 AMA comprou 139 peas, maioritariamente relgios de bolso (na Sua) e joalharia; peas
de pequeno porte, que implicavam menor burocracia e menos impostos. Pasta V. Inventrio CMMA Arquivo
FMA
274
Entre Abril de 1974 e a resoluo do problema, sucederam-se seis Governos Provisrios (1974-1976) e um
Governo Constitucional (1976-1977).
87
veremos adiante, surtiu resultados positivos junto do I Governo Constitucional, dirigido por
Mrio Soares, sendo Presidente da Repblica o General Ramalho Eanes.
275
Carta ao BFB, Lisboa, 20 fev. 1975. As aes da SINAGA estavam valorizadas em 150.000 contos e as aes
da CTN valiam 44.800 contos. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
Nota: AMA tentou ainda junto de outras entidades bancrias contrair um emprstimo para fazer face aos juros
do emprstimo do BFB mas nenhum banco lhe concedeu o crdito solicitado.
276
Carta ao Secretrio de Estado da Cultura e Educao Permanente Dr. Joo de Freitas Branco, Lisboa, 30 abr.
1975: trazer ao museu o nosso Primeiro Ministro, porque alm do valor cultural que a obra tem julgo que
neste momento, de manifesto interesse poltico. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
277
Ofcio, Lisboa, 22 abr. 1975 - Relao de algumas peas, entre muitas outras existentes, que j esto
expostas mas no fazem parte do inventrio anexo escritura de constituio da Fundao. Pasta VII.
Esplio documental Arquivo FMA
88
Finanas, Jos de Almeida Serra, e o Secretrio de Estado da Cultura e Educao Permanente,
reconhecendo o excepcional interesse para o patrimnio artstico nacional e
considerando que no sendo a totalidade da coleco pertena da Fundao, grande o
risco de a mesma se vir a dispersar, urgindo assim estudar uma plataforma para evitar esse
risco., nomeiam uma comisso para estudar a situao financeira da Fundao Medeiros
e Almeida e sugerir qual a frmula indicada para assegurar a sobrevivncia da coleco que
a Fundao encerra, bem como a da prpria Fundao. A referida comisso constituda
por: um representante da Direco-Geral da Fazenda Pblica, pelos Drs. Jos Baganha
[Chefe de Gabinete de Serra] e Joo Manuel Oliveira da Silva [Chefe de Gabinete de Freitas
Branco] por um conservador do Museu de Arte Antiga [Rafael Salinas Calado] e pelo
antiqurio Antnio Costa278
Como resultado desta comisso, em agosto desse ano Rafael Calado e Antnio Costa
apresentam SEC uma relao de obras de arte pertencentes ao acervo da Fundao
valorizada, por alto, em 123.490.000$00 (cento e vinte e trs milhes, quatrocentos e
noventa mil escudos). Os signatrios redigiram uma nota ao relatrio onde acrescentam que:
os valores aproximados e a sua descrio muito sumria so devidos escassez de tempo
dado para a elaborao desta estimativa e que, perante as muitas outras obras de arte
observadas, no valorizadas, o montante apurado subiria para cerca de 200 mil contos.279
Perante este relatrio, AMA escreve ao Chefe de Gabinete da SEC agradecendo, mas
permitindo-se observar que: algumas peas foram avaliadas por preos inferiores ao seu
custo [] so absolutamente compreensveis certas diferenas por se tratar de peas pouco
vulgares [] a escassez de tempo no permitiu consultar os arquivos sobre as ditas
peas...280 A este ofcio apensa um memorial onde descreve a difcil situao em que se
278
Despacho n 43/75, Lisboa, 14 jul. 1975. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
279
Relao das peas antigas da coleco do Senhor Antnio de Medeiros e Almeida que constituem parte de
um conjunto a ser integrado no Museu da Fundao. Lisboa, 14 Ago. 1975: Tivemos ainda ocasio de ver nas
vrias arrecadaes [] muitas centenas de peas de cermica oriental e Portuguesa na sua maioria de grande
qualidade [] pratas e outras espcies diversas, caixas em ouro com esmaltes e brilhantes, de difcil
descriminao dada a exiguidade de tempo mas cujo valor nos parece montar a muitas dezenas de milhares de
contos. Uma avaliao e descriminao destes conjuntos levar, sem dvida alguma, vrios meses de cuidadoso
trabalho. Todavia, podemos afirmar com segurana que a parte da coleco Medeiros e Almeida no
pertencente Fundao, vale os atrs descriminados 123.490.000$00, mais essas dezenas de milhares de
contos dos conjuntos que observmos nas arrecadaes e na Casa Forte, o que nos leva a afirmar dever rondar
os 200 mil contos a totalidade da parte da coleco Medeiros e Almeida no pertencente Fundao. Pasta
VII. Esplio documental Arquivo FMA
280
Ofcio, Lisboa, 27 Ago 1975. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
89
encontrava, referindo o aumento da dvida ao BFB, a interrupo das obras do Museu por
falta de fundos, a dvida acumulada para com os empreiteiros, bem como a suspenso do
projeto de construo do edifcio. (vide Anexo II, 17)
281
Despacho Conjunto de Orientao, Ministrio das Finanas, Lisboa, 2 set. 1975. Pasta VII. Esplio
documental Arquivo FMA
282
Neste mbito, David Mouro Ferreira (Secretrio de Estado da Cultura), Artur Santos Silva (Secretrio de
Estado do Tesouro), Salgado Zenha (Ministro das Finanas), Eduardo Pereira Ribeiro (Secretrio de Estado do
Urbanismo e Habitao), Antnio Sousa Gomes (Secretrio de Estado dos Investimentos Pblicos), Herlander
Estrela (Subsecretrio de Estado do Tesouro) visitam a coleo. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
283
Ofcio, Lisboa, 12 mai. 1976. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
284
Ofcio, Lisboa, 8 jun. 1976. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
285
Ofcio, Lisboa, 21 mai. 1976. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
90
da soluo proposta, uma vez que a condio inopensva286 o impediria de resolver sozinho
a situao.
286
Exposio, 2 jul. 1976. Condio inopensva refere-se ao fato de o vendedor no poder, por si s, tomar o
compromisso. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
287
Despacho Ministrio das Finanas, Lisboa, 6 jul. 1976, confirmado pelo requerimento de 2 jul. 1976. Pasta
VII. Esplio documental Arquivo FMA. Vide Anexo II, 17
288
Ofcio e Memorial, Lisboa 12 out. 1976. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
91
o interesse do governo na resoluo da situao No poderia esquecer a importncia que
para o Pas tem a doao do patrimnio da Fundao Medeiros e Almeida tanto mais que
pude apreciar, pessoalmente, o valor cultural das obras de arte que o compem, solicitando
a compreenso de AMA: estou certo que V. Exa poder avaliar bem os problemas que nos
impedem de actuarmos com a prontido que desejamos.289
289
Ofcio n 96, Lisboa, 9 dez. 1976. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
290
As seguintes atas, realizadas em vida de AMA (3), referem somente aprovaes de contas. As atas continuam
com ritmo regular aps a sua morte. Livro de Actas n1. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
291
Memorial, Lisboa, 14 Jul. 1975, AMA insiste: Suas Excelncias os Senhores Secretrios de Estado da Cultura
e das Finanas j tiveram a oportunidade de visitar a Fundao e conhecem perfeitamente o valor das suas
coleces de arte. Em 10 fev., 30 mar. e 10 mai. de 1976 AMA renova o pedido. Pasta IX. Esplio documental
Arquivo FMA
292
Despacho do Subsecretrio de Estado do Tesouro, Jos Achando Cabral, Lisboa, 6 jan. 1977. Pasta VII. Esplio
documental Arquivo FMA. Vide Anexo II, 18
92
respectivos empreiteiros. [] solicitar a Vossa Excelncia que o Governo aceda a suportar as
despesas com os mencionados juros do emprstimo de 30.000 contos, ficando de minha
responsabilidade a liquidao do capital respectivo, que conto poder realizar dentro do prazo
mximo de um ano293
293
Ofcio, Lisboa, 24 jan. 1977. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
294
Documento, s.l., jan 1977. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA. Vide Anexo II, 5
295
Despacho, Lisboa, 4 fev. 1977. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA. Vide Anexo II, 19
296
Contrato B.F.B., Lisboa, 21 fev. 1977. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
297
Os arquivos FMA no possuem cpia da referida lista.
298
Como j referido, esta relao estava avaliada em cerca de 200.000 contos. Uma clusula garante que as
peas, uma vez restitudas, s possam ser entregues Fundao. O contrato obriga ainda a um seguro de
incndio sobre duas pinturas constantes da relao, atribudas poca ao pintor holands Rembrandt.
Contrato B.F.B., Lisboa, 21 fev. 1977. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
93
Em abril de 1977, AMA relata a Abranches-Ferro299: aps reunio provocada pela
Presidncia da Repblica e que teve lugar no dia 28 de Maro no gabinete do Dr. Mouro
Ferreira tenho estado em permanente contacto quer com a SEC quer com a do Tesouro para
ultimar a resoluo dos assuntos ainda pendentes. Considero-os praticamente resolvidos.
O contacto com a Presidncia da Repblica esclarecido numa carta dirigida por AMA ao
General Ramalho Eanes, em maio de 1979, na qual relembra: certamente se recordar da
visita que em companhia da sua Esposa, minha Senhora, e de seu filho fizeram ao Museu da
minha Fundao no dia de Natal de 1976. Eu tambm no posso esquecer-me de que foi
graas a essa visita que a Sr D. Maria Manuela Eanes chamou a ateno de quem de direito,
para serem solucionados os problemas da Fundao que estava prestes a dissolver-se. Espero
que dentro de pouco tempo possa pedir a Vossas Excelncias para repetirem a visita e ento
constatarem o resultado da vossa interveno.300
299
Ofcio, Lisboa, 20 abr. 1977. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
300
Ofcio, Lisboa, 6 mai. 1979. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
301
Despacho de Consiglieri Pedroso, Lisboa, 11 mai. 1977. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA Nota:
Uma nota manuscrita por AMA neste documento d conta que o BFB depositou o montante em 27 de maio de
1977.
302
Referncia feita por AMA, em ofcio SEC, Lisboa, 27 maio 1978. Pasta VII. Esplio documental Arquivo
FMA
94
Tinham passado trs anos desde que Medeiros e Almeida tinha iniciado o processo
de pedido de ajuda ao Estado.
Medeiros e Almeida viria a falecer sem ter visto cumprido o seu sonho de abrir a Casa-
Museu ao pblico. Estavam, porm, garantidas as condies necessrias para dar
continuidade ao projeto.
303
Testamento que faz Antnio de Medeiros e Almeida. 17 Cartrio Notarial de Lisboa, 21 set. 1984, livro de
testamentos n50, fls.98-104. Pasta VII. Esplio documental - Arquivo FMA.
95
para [] a Fundao fazer face, no s sua prpria manuteno, como tambm custear
bolsas de estudo no domnio da arte [] Se, pelo contrrio, o referido produto de venda,
depois de pagos os legados, no chegar para a construo do imvel, ento o Conselho
Administrativo da Fundao dever tomar as medidas necessrias, nomeadamente atravs
da contratao de um emprstimo para executar a obra de construo
Dias aps a morte de AMA, o seu advogado e amigo de longa data Tito Arantes
convoca enquanto novo Presidente do Conselho Administrativo e primeiro testamenteiro
304
Legado esse condicionado sua venda, sendo que o produto da venda se destinava a proporcionar a
construo de um prdio no terreno doado FMA. A disposio relativa construo do edifcio j est
expressa no Cap. II, art.4, d) -1). Estatutos FMA finais. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA. Vide
Anexo 16
305
Testamento que faz Antnio de Medeiros e Almeida. 17 Cartrio Notarial de Lisboa, 20 ago. 1985, livro
de testamentos n 52, fls.65-67. Esplio documental - Arquivo FMA.
96
uma reunio destinada a dar conhecimento aos herdeiros das disposies testamentrias.306
A 11 de Maro rene-se pela primeira vez o CA e o Conselho Fiscal sendo tomadas as
seguintes decises: Escolha dos objectos pessoais do Instituidor [] Inventrio dos bens
mveis da Fundao [] O Dr. Joo Palma-Ferreira ficou de procurar conseguir a colaborao
de tcnicos dos servios que superiormente dirige (IPPC) [] a questo da segurana tendo
ficado desde j decidido activar as mquinas fotogrficas instaladas no interior [] Avaliao
da Sinaga [] Assembleia Geral da Sinaga.307
306
Ofcio Tito Arantes, Lisboa 26 fev. 1986. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
307
Livro de Actas da Fundao Medeiros e Almeida, fls 9-10. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
308
Relao de Bens, Lisboa, 3 ago. 1986. Registada a 13 ago. 1986 - Repartio de Finanas do 9 Bairro de
Lisboa. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
309
Livro de Actas do Conselho Administrativo, n1, fl.18. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
310
Lidem, fl.71
311
Idem, fl.86.
97
CAPTULO 3. A SUCESSO
Como consequncia do perodo conturbado vivido desde meados dos anos setenta,
em 1986 a Fundao encontra-se com alguma liquidez mas sem rendimentos significativos:
foi por todos considerada como prioridade absoluta a questo financeira, uma vez que os
rendimentos disponveis atualmente apenas fazem face s despesas mnimas correntes.313
Para fazer face a estas dificuldades, no sentido de dar continuidade aos planos de
AMA, o CA enfrenta duas grandes tarefas: a venda da carteira acionista da SINAGA e a
promoo da construo do edifcio de rendimento. Um Relatrio de Actividade resume
os objetivos traados pelo CA aps a morte de AMA: Com o falecimento do Instituidor da
Fundao colocou-se ao Conselho Administrativo, como tarefa prioritria, o cumprimento
das disposies testamentrias, nomeadamente no que respeita venda da posio
acionista da SINAGA e consequente pagamento de legados e construo do prdio de
rendimento 314 Sero dois complicados e morosos processos que o CA ir enfrentar.
312
O CA adota como sede e escritrio da FMA a moradia da rua Rosa Arajo. A trabalha at reforma o
secretrio Costa Santos (dezembro 2002) e o ltimo casal de empregados ao servio de AMA: Jos e Deolinda
Viana (dezembro 2003). Aps as obras da campanha de 2001, a sede e escritrios da Fundao so
transferidos para o andar de mansarda do edifcio da rua Rosa Arajo, 41.
313
Livro de Actas do CA da Fundao Medeiros e Almeida, n 1, 24 mar. 1986, fl.11. Pasta VII. Esplio
documental Arquivo FMA. Os rendimentos que a Fundao auferia poca traduziam-se em juros de um
depsito a prazo e no vencimento enquanto administradora da SINAGA.
314
Relatrio de Actividade, Tito Arantes, p.1. Lisboa, 15 mar. 1989. Pasta VII. Esplio documental Arquivo
FMA
98
posio acionista maioritria da Sinaga.315 Conforme expresso no testamento, foi
constituda uma comisso de avaliao da empresa: Previamente, uma comisso de trs
tcnicos avaliadores [] dever proceder avaliao da sua referida posio acionista
maioritria na Sinaga para orientao do Conselho Administrativo da Fundao, o qual
contudo poder efectuar a venda pelo melhor preo que lhe seja possvel obter desde que
no se afaste muito da avaliao.316 A comisso, composta por Mrio Anunciao Gomes,
Rogrio Fernandes Ferreira e Jos do Nascimento Ribeiro, avaliou a empresa em 629 mil
contos317.
Em setembro de 1987 a FMA recebeu uma proposta de compra por parte da Caixa
Econmica Aoreana s.a.r.l.318 no valor de 500.000$00 (quinhentos milhes de escudos)319 e
em dezembro do mesmo ano, uma oferta por parte da TATE & LYLE/Alcntara Sociedade de
Empreendimentos Aucareiros, S.A., no valor de 400.000$00320. Aps receo das propostas
os avaliadores so chamados a pronunciar-se, tendo ambos321 dado o seu acordo proposta
apresentada pela CEA. A 6 de Janeiro de 1988 assinado um protocolo de compra e venda
das 25.638 aes, correspondendo a 51.27% do capital social da SINAGA, entre a FMA e a
CEA.322
315
Testamento que faz Antnio de Medeiros e Almeida 21/9/1984 e 20/8/1985, 17 Cartrio Notarial de
Lisboa, fls.98-104, livro n50 de testamentos e fls.65-67, livro n52, p.99 v. Pasta VII. Esplio documental -
Arquivo FMA
316
Testamento que faz Antnio de Medeiros e Almeida 21/9/1984 e 20/8/1985, 17 Cartrio Notarial de
Lisboa, fls.98-104, livro n50 de testamentos e fls.65-67, livro n52, p.99 v. Pasta VII. Esplio documental -
Arquivo FMA
317
Os arquivos da FMA no possuem o relatrio de avaliao. O valor atribudo mencionado em diversa
documentao.
318
Instituio doravante mencionada com o acrnimo CEA.
319
Ofcio Caixa Econmica Aoreana, Lisboa, 29 set. 1987. Pasta VII. Esplio documental - Arquivo FMA
320
A Alcntara era acionista da SINAGA. Ofcio Tate & Lyle Alcntara, Lisboa, 22 dez. 1987. Pasta VII. Esplio
documental - Arquivo FMA
321
Ferreira: no parece que repugne, falta de melhor proposta, a aceitao do valor oferecido, Ofcio
Avaliao da SINAGA, Lisboa, 25 out. 1987. Esplio documental - Arquivo FMA. Ribeiro: no me parece que
repugne a aceitao do valor oferecido de 500 mil contos, Ofcio, Lisboa, 15 jan. 1988. Pasta VII. Esplio
documental - Arquivo FMA
322
Protocolo, Lisboa, 6 jan. 1988. Lisboa, 26 jan. 1988. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
99
regio Autnoma dos Aores323, acrescentando ainda: O Conselho Fiscal, ao apreciar
favoravelmente este acto de Administrao, julga contribuir para a efectiva autonomia da
actividade da Fundao, no exerccio autnomo e responsvel da sua actividade cultural.324
De modo a completar o processo e seguindo as disposies estatutrias: o art. 17 dos
estatutos desta Fundao estipula que as alienaes de bens mveis ou imveis devero ser
decididas pelo Conselho Administrativo, apreciadas pelo Conselho Fiscal e homologadas pelo
Ministro ou Secretrio de Estado325, o CA d tambm conhecimento do protocolo ao
Presidente do Instituto Portugus do Patrimnio Cultural ( poca Antnio Lamas) e
Secretaria de Estado da Cultura que emite a homologao em fevereiro de 1988.326
323
Parecer do Conselho Fiscal da Fundao Medeiros e Almeida, Lisboa, 26 jan. 1988. Pasta VII. Esplio
documental Arquivo FMA
324
Ofcio do Parecer, CP.27/88. Lisboa, 26 jan. 1988. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
325
Ofcio FMA SEC, Lisboa, 28 jan. 1988. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
326
Ofcio SEC, MB/IP. Lisboa, 12 fev. 1988. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
327
Contrato de Compra e Venda, Lisboa, 15 mar. 1988. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
328
Caixa Econmica Aoreana: este banco foi um caso de polcia, Revista Sbado.pt, 29 out. 2015 [Em linha],
[Consult. 10 fev. 2016]. Disponvel em WWW: URL:
http://www.sabado.pt/dinheiro/detalhe/caixa_economica_acoreana_este_banco_foi_um_caso_de_policia.h
tml>
329
Portaria 102/95, Dirio da Repblica, II Srie, 31 Maro, 1995. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
330
Livro de Actas do CA da Fundao Medeiros e Almeida, n1, 20 mar. 1991, fl.58. Esplio documental
Arquivo FMA. O arquivo da Fundao no tem qualquer documentao relativa resoluo final deste
processo, tendo este sido sumariamente relatado autora pelo Presidente da FMA Dr. Oliveira da Silva.
100
3.1.2 O Edifcio Fundao
Em 1951 AMA tinha adquirido o terreno anexo sua casa (757m de implantao),
tornejando da rua Mouzinho da Silveira para a rua Barata Salgueiro n 30. A ideia era a
criao de uma rea de servio de apoio sua atividade na indstria automvel337 mas, com
o decorrer dos acontecimentos referentes criao da fundao, decidiu construir um
edifcio de arrendamento (com escritrios e estabelecimentos comerciais) de modo a obter
meios autnomos de financiamento para o seu projeto de constituio de uma casa-museu.
331
Ofcio Chefe de Repartio Finanas, Lisboa, 16 jul. 1990. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
332
Despacho da Direo-Geral de Contribuies e Impostos, Lisboa, 21 nov. 1979. Pasta VII. Esplio documental
Arquivo FMA
333
Doravante mencionado com o acrnimo IVA
334
Decreto-Lei 241/86 Artigo 4 1) os sujeitos passivos que renunciarem iseno nos termos do artigo 1
tero direito deduo do imposto suportado para a realizao das operaes relativas a cada imvel ou parte
autnoma, segundo as regras definidas nos artigos 19 e seguintes do Cdigo do IVA. [Em linha], [Consult. 30
dez. 2015]. Disponvel em WWW: URL: <http://publicos.pt/documento/id219079/decreto-lei-241/86>
335
Despacho da Direo-Geral de Contribuies e Impostos, Iseno de IRC relativa s categorias C, E, F e G.
Lisboa, 30 mar. 1990. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
336
Despacho da Direo-Geral de Contribuies e Impostos, Lisboa, 16 jul. 1990. Pasta VII. Esplio documental
Arquivo FMA
337
Ofcio CML, Lisboa, 19 jan. 1955. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
101
Lamas (1973) e Carlos Ramos (1974). Porm nenhum destes se veio a concretizar devido aos
entraves ocorridos na sequncia da situao econmica do Pas aps a Revoluo de abril de
1974. (vide Parte II, Cap.2, 2.3). Ser o Conselho Administrativo da Fundao que, cumprindo
as disposies testamentrias, em 1991, aps resoluo do caso da Caixa Econmica
Aoreana, entrega o projeto ao gabinete de arquitetura ARQUI III dos arquitetos Joo de
Almeida (sobrinho de AMA), Pedro Ferreira Pinto e Pedro Emauz e Silva.338 O edifcio de nove
pisos e cinco andares subterrneos de estacionamento, pautou-se por uma linguagem
moderna, numa arquitetura de linhas geomtricas, depuradas e recurso ao vidro espelhado.
338
Licena inicial 180/C/90, Lisboa, 28 dez. 1990. Licena N 5668/D/90, processo n 29840/89, obra n 62331.
Lisboa, 27 jan. 1991. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
339
Livro de Actas do CA da Fundao Medeiros e Almeida, n 1, 24 mar. 1986, fl.11,12. Pasta VII. Esplio
documental Arquivo FMA
340
Doravante referido com o acrnimo MNAA
102
abertura do museu, primeiro passo na linha das actividades culturais a desenvolver pela
Fundao.341
3.2.1 O inventrio
341
Relatrio de Actividade, Tito Arantes, p.2. Lisboa, 15 mar. 1989. Pasta VII. Esplio documental Arquivo
FMA
342
Ofcio M, Helena Mendes Pinto, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa, 5 jun. 1987: A inventariao
sumria ser entregue a trs grupos constitudos por duas pessoas [] Todos os objectos sero numerados de
1 a , seguidamente, independentemente da sua natureza e localizao [] Realizar-se-o ou assinalar-se-o
em separado todos aqueles que no possam ser considerados objectos de Museu [] Os livros, revistas ou
documentos sero reunidos num s compartimento [] Dada a natureza dos mais importantes objectos
contidos no cofre relgios de bolso e tambm por razes da sua conservao, o contedo do mesmo ser
inventariado por dois inventariantes no incio do trabalho. Caso se verifique que as condies ambientais so
prejudiciais, as peas devero ser retiradas e guardadas em vitrina fechada [] Fica bem explcito que as obras
de arte a inventariar sumariamente sero as actualmente contidas nas salas de exposio do Museu da
Fundao. As que se encontram noutros compartimentos do edifcio, excepo das guardadas no cofre j
mencionado, sero inventariadas numa segunda fase a acordar. Recibos de pagamento. Pasta VII. Esplio
documental Arquivo FMA
343
Como inventariantes, pelo MNAA participaram Maria Helena Mendes Pinto, Maria da Conceio Borges de
Sousa (Assistente) e Maria da Graa Ribeiro Lima e pelo IPPC Ana de Castro Henriques (Chefe de Diviso),
Simonetta Luz Afonso e Teresa Vilaa (Assistente), Fernando Mota Carneiro (Tcnico Superior de 1 classe),
Constana Cabeadas Calado (Tcnica Superior de 1 classe), Maria Isabel de Oliveira e Silva (Inspetor do
Patrimnio Cultural Principal), Ana Maria Brando, Maria Ana Bobone (em aquisio de servio Museu
Nacional dos Coches) e o fotgrafo Henrique Ruas. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
344
Nestas fichas a informao registada inclua a identificao e datao das obras, uma descrio sumria,
dados de contextualizao e fotografias a preto branco.
345
Ao terminar a primeira fase da inventariao das obras de arte constantes do acervo das XIX salas de
exposio da Fundao Medeiros e Almeida, ser til deixar registadas algumas consideraes referentes a: a)
Problemas ambientais 1 Clima inadequado nalgumas salas [] 2 Iluminao em excesso e com luz quente
103
Em outubro do mesmo ano MAB apresenta o plano para a segunda fase de
inventariao da coleo: Uma vez executado o inventrio das peas expostas no Museu
chega-se agora fase de inventrio das peas no expostas, guardadas no Cofre e sala anexa
ao mesmo. 346 Aps a concluso dos trabalhos, em junho de 1989, entregue o respetivo
relatrio347, Beaumont escreve: com justia que lembro a eficincia, disponibilidade e
profissionalismo com que este trabalho foi feito []. Pedem-me as mesmas senhoras
[inventariantes] que revele a pronta e eficaz assistncia que lhes foi dada pelo pessoal do
Museu. Creio estar o museu da Fundao Medeiros e Almeida em condies de iniciar uma
nova fase esperada da orientao de um Conservador ou Director que por ele seja
responsvel.348
incidindo sobre as pinturas, 3 falta de manuteno das salas. b) [] A poeira escura que cobre tecidos, tapetes,
tapearias suspensas [] c) Problemas de inventariao: 1 A falta de iluminao adequada tornou, por vezes
bastante difcil a observao de peas volumosas e de complicada remoo; 2 A falta de acesso a muita
documentao relativa s obras de arte ocasionou trabalho mais moroso e menos completo. d) As fichas
devidamente preenchidas, referentes a peas amovveis ou integradas na arquitectura foram agrupadas por
ordem numrica e por sala cuja identificao se fez por numerao romana. s novas fichas juntaram-se
quando existiam, as antigas e tambm fotografias, documentos ou fotocpias resultantes de pesquisa. Nem
sempre, as inventariantes puderam, dada a diversidade dos objectos, preencher as fichas com idntica
pormenorizao. Mesmo assim, nalguns casos, houve o cuidado de reunir elementos que pudessem
proporcionar mais adequada caraterizao e classificao das peas. Inventariao das Obras de Arte da
Fundao Medeiros e Almeida, Lisboa, 13 out. 1987. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
346
Ofcio MNAA/IPPC 537/23-M-14/88. Lisboa, 11 out. 1988. Nesta fase participaram as profissionais Ana de
Castro Henriques (IPPC) e Maria da Graa Lima (MNAA).Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
347
Ofcio IPPC 5ADO 10(14)86, Lisboa, 29 jun. 1989. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
348
Ofcio MNAA, 461/89. Lisboa, 2 ago. 1989. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
349
Ofcio FMA, Lisboa 8 set. 1989. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
350
Ofcio Scottish Union, Lisboa, 1 ago. 1989. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
104
3.2.2 Um diretor para a Casa-Museu
351
Relatrio, Lisboa, 18 jan. 1989. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
352
Doravante referida com o acrnimo SLA
353
A Snra Dra Maria Alice Beaumont fundamentou a sua absteno no facto de surpreendentemente ter
havido uma modificao no processo de apresentao de candidatos, contrria diligncia de que a tinham
incumbido. Livro de Actas do CA da Fundao Medeiros e Almeida, n1, 20 jan. 1989, fl.41. Pasta VII. Esplio
documental Arquivo FMA
354
Ofcio IPPC GAB/PRES, Lisboa, 14 mar. 1989. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
355
Ante-Projecto de Abertura ao Pblico do Museu da Fundao Medeiros e Almeida. Ofcio IPPC GAB/PRES,
Lisboa, 14 mar. 1989. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
356
Ofcio, Lisboa, 29 mar. 1989. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
105
consultora um projecto inovador na rea da Museologia partindo de um legado do
Fundador.357
357
Ofcio SLA, Lisboa, 31 jul. 1990. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
358
Idem
359
Ante-Projecto de Abertura ao Pblico do Museu da Fundao Medeiros e Almeida.p.1, Lisboa, 14 mar. 1989.
Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
360
1- Recrutamento e Contratao de Pessoal [] A tcnica Maria Teresa Vilaa que assegurar a realizao
prtica do projecto e que tem vnculo ao quadro de Queluz, prope-se que seja destacada at abertura do
Museu [] duas das trs tcnicas propostas tambm trabalham como tarefeiras [] funes em regime de meio
tempo Fundao. Deve ser criado um plafond financeiro mensal que possibilite o pagamento de tarefas em
regime de avena, designadamente: - Conservao e manuteno da coleco de relgios (Sr. Couto, relojoeiro
do Sr. Medeiros e Almeida). Limpesa e conservao da coleco de txteis [] de mobilirio [] de pratas e
ourivesaria [] 2. Definio de Funes: 2.1 Pessoal Tcnico Superior 2.1.1 Estudo das coleces, 2.1.2 Leitura,
estudo e tratamento dos documentos existentes na casa, que serviro de base ao futuro arquivo do Museu e
serviro para completar as fichas das peas. 2.1.3 Apresentao das coleces. 2.1.4 Preparao de visitas
guiadas. 2.1.5 Elaborao de um primeiro roteiro do Museu. 2.1.6 Preparao de uma exposio Medeiros e
Almeida, O Homem e o Coleccionador. 2.1.7 Seleco, preparao e formao do futuro pessoal que integrar
106
atividade361 data tambm de setembro de 1989, sendo assinado pela equipa de Luz Afonso:
Teresa Vilaa, Ana Flores e Conceio Coelho (funcionrias do Palcio Nacional de Queluz) e
Ana Ivo Cruz. O relatrio d conta dos trabalhos realizados durante o ms de setembro e
apresenta oramentos para servios que tinham sido elencados enquanto necessidades
prioritrias: 1- Inventrio - 1.1 Foram conferidas as fichas de inventrio realizados pelo IPPC
no museu e a existncia est certa, considerando-se a partir desta data a existncia nossa
responsabilidade. 1.2 Comeou-se a inventariao das peas no inventariadas [...] 1.3
Uniformizou-se a numerao das coleces. 2 Segurana - Trata-se do ponto mais
vulnervel do Museu Est a realizar-se um relatrio sobre a segurana do Museu da autoria
do Coronel Marcelino, por indicao do Major Baltazar Ferreira [Chefe de Segurana da
Presidncia da Repblica] e que servir de base de estudo para todas as intervenes futuras.
2.1 Organizao do chaveiro. 3- Levantamento do arquivo [] Tem estado a ser realizado
o levantamento, estudo e catalogao do arquivo pessoal e de todos os dossiers e fotografias
encontrados no Museu. 3.2 Iniciou-se tambm o levantamento do arquivo relacionado com
a aquisio de obras de arte, a fim de se poder enriquecer o historial de cada pea. 4- Limpesa
[sic] e manuteno Iniciaram-se os trabalhos de limpesa [sic]362
Ciente das dificuldades que a FMA estava a atravessar, mostrando grande dinamismo
e sentido de oportunidade, SLA apresenta, em julho de 1990, um Plano de mecenato para
as obras de abertura do Museu da Fundao Medeiros e Almeida363, no qual prope o
recurso a participao de capitais de empresas e de particulares. Pensando ainda no auto
financiamento do Museu, sugere a criao de uma associao de mecenas, em vez dos
habituais Amigos, apresentando um completo e original plano, no qual previa diferentes
os quadros de guardas, de limpesas, recepo e monitores de servio de exteno cultural para abertura ao
pblico. 2.2 Pessoal auxiliar 2.2.1 Limpesa [] O pessoal selecionado ser submetido a uma preparao prvia
relativa aos produtos, equipamento, processos e mtodos permitidos [] 2.2.2 Guardas Os dois funcionrios
existentes sero aproveitados e integrados no apoio s tarefas que a equipe tcnica vai realizar no Museu []
dever ser contratada uma empresa de segurana que assegure a vigilncia durante as 24 horas.
Memorando Simonetta Luz Afonso, s.l. (Lisboa), s.d. (posterior a Maro e anterior a Setembro 1989). Pasta VII.
Esplio documental Arquivo FMA
361
Relatrio n1 Ms de Setembro/89, s.l. (Lisboa), s.d. (final setembro 1989). Pasta VII. Esplio documental
Arquivo FMA
362
Na sequncia destas propostas foi contratada uma empresa de segurana (ainda hoje presta servio Casa-
Museu) e uma funcionria para a limpeza.
363
A proposta de mecenato apresenta originais opes de financiamento direcionadas a situaes especficas:
o estudo de viabilizao econmica, o projeto de arquitetura, elaborao de catlogos ou o patrocnio da
informatizao do inventrio Plano de Mecenato para as Obras do Museu da Fundao Medeiros e Almeida,
Lisboa, 27 jul. 1990. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA..
107
categorias de associados/cotas e especificava vrios tipos de contrapartidas: O projecto da
Associao foi elaborado tendo em mente divulgar o Museu junto de vrios tipos de pblico,
e por conseguinte criar pblico, mas tambm encontrar outras fontes de financiamento
que no exclusivamente os rendimentos da prpria Fundao.364
Em incios de 1991, SLA aceita o desafio de Rui Vilar (Comissrio Geral do Festival
Cultural Europlia) para comissariar as exposies da Europlia, naquele ano a decorrer na
Blgica e com Portugal como pas tema (Setembro-Dezembro de 1991).365 Devido sada
repentina e inesperada de Luz Afonso, a maior parte das propostas apresentadas no
tiveram o devido seguimento. A leitura da documentao que ilustra a sua passagem fugaz
pela Fundao Medeiros e Almeida atesta o seu profundo conhecimento da rea dos
museus, saber tcnico, capacidade de organizao e liderana. O seu projeto de abertura
(datado de 1989) pela sua atualidade e pertinncia esteve na base dos trabalhos que
conduziram abertura da Casa-Museu ao pblico em 2001.
Outra tarefa que se impunha ao CA antes de inaugurar a Instituio era a reviso das
condies do edifcio do Museu, que se encontrava abandonado desde o final das obras
no incio dos anos 80. (vide Parte I Cap.2, 2.3.2) Em janeiro de 1991 o gabinete de arquitetura
ARQUI III contratado para delinear uma proposta de obras de remodelao, adaptao e
criao de infraestruturas do edifcio consideradas indispensveis para a inaugurao do
364
cotas anuais e joias de montantes entre 500 e 1000 contos, mas seria ento necessrio disponibilizar
logo a residncia, n37 da Rua Rosa Arajo, para em contrapartida permitirmos a sua utilizao. SLA
desenvolveu ainda esforos para a FMA realizar a candidatura a um apoio financeiro do programa de fundos
comunitrios PRODIATEC (verbas atribudas a fundo perdido) mas a FMA no reunia, poca, as condies
necessrias de participao, por ainda no se encontrarem em curso as obras de renovao do Museu.
Associao de Mecenas do Museu da Fundao Medeiros e Almeida, s.l. (Lisboa), s.d. (c. 1990). Pasta VII.
Esplio documental Arquivo FMA.
365
Nesse mbito, SLA dinamizou a participao de numerosas obras de arte da Fundao nomeadamente
peas de porcelana da China da Dinastia Ming - nas exposies da Europlia levando o nome do acervo alm-
fronteiras. Aps a Europlia, em Janeiro de 1992, SLA seria nomeada Diretora do recm-criado Instituto
Portugus de Museus IPM, acabando por regressar Fundao enquanto administradora nata.
366
Doravante mencionada com o acrnimo TV
108
Museu.367 Apesar do projeto ter sido aprovado em agosto de 1992, as obras de
requalificao s viriam a iniciar-se em 1998: Relativamente ao Edifcio Fundao, verifica-
se que a recesso no mercado imobilirio no permitiu, apesar de todas as aces
desenvolvidas e de negociaes executadas, firmar novos contratos de arrendamento [] Tal
facto tem infelizmente reflexos negativos na situao financeira da Fundao [] Por outro
lado, a abertura do museu naturalmente desejada por todos, implica um dispndio mnimo
da ordem dos trinta mil euros em obras imprescindveis. Ponderada esta situao, o Conselho
deliberou no avanar para j com quaisquer obras para as quais no h cobertura
financeira, no abdicando naturalmente da inteno de se abrir o museu368 Decorrendo
desta situao, tendo a FMA que suportar os elevados encargos envolvidos na construo
do prdio, na requalificao da Casa-Museu e na sua manuteno quotidiana, em 1993
decidida, conforme previsto estatutariamente369, a contratao de um emprstimo bancrio
realizando uma hipoteca sobre o terreno da rua Barata Salgueiro.370
367
Livro de Actas do CA da Fundao Medeiros e Almeida, n1, 31 jan. 1992, fls. 73-74. Pasta VII. Esplio
documental Arquivo FMA
368
Idem, fl. 99.
369
Captulo II, Artigo 8. Estatutos finais FMA. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA. Vide Anexo II, 16
370
Caixa Geral de Depsitos, Nota Privativa (1 cartrio), Lisboa, 16 jun. 1993. Pasta VII. Esplio documental
Arquivo FMA. Nota: O referido emprstimo encontra-se, data, totalmente pago.
371
Proposta de Abertura do Museu 1994, s.l. (Lisboa), s. d. (1994). Pasta VII. Esplio documental Arquivo
FMA
109
roteiro da Casa-Museu Fundao Medeiros e Almeida Roteiro372, realizado com o
mecenato dos CTT e editado nas verses portuguesa, inglesa e francesa.
Paralelamente ao arranque das obras, nesta altura foi constituda uma equipa tcnica
permanente374 que ficou responsvel pela preparao da abertura do museu ao pblico, que
se estimava para 2001.
372
VILAA, Teresa; CRUZ, Ana Ivo; COELHO, Conceio; BOBONE, Maria Ana; Fundao Medeiros e Almeida
Roteiro, Lisboa: Fundao Medeiros e Almeida, 1994
373
Art. 4. Estatutos finais FMA. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA. Vide Anexo II, 16
374
A equipa era composta por: Diretora Teresa Vilaa, Conceio Coelho, Ana Isabel Ivo Cruz e Maria Mayer
enquanto Tcnicas Superiores e Maria Dinis como Auxiliar de Conservao Preventiva e de Museologia
375
Segundo a Lei-Quadro 47/2004, o regulamento interno inclui a vocao/misso do museu, o seu
enquadramento orgnico e respetivos estatutos, as funes museolgicas, os horrios e regime de acesso
pblico, os recursos humanos e financeiros (oramento de funcionamento) e o organograma da instituio.
Regulamento Interno Museu da Fundao Medeiros e Almeida, Teresa Vilaa, s.l. (Lisboa), s.d. (2001). Pasta
VIII. Esplio documental Arquivo FMA
376
O plano abrange trs vertentes: a segurana do espao de acesso pblico, das reas privadas e os respetivos
planos de evacuao. Plano de Segurana Fundao Medeiros e Almeida, s.l. (Lisboa), s.d. (2001). Pasta VIII.
Esplio documental Arquivo FMA
110
se mostrou o plano museolgico traado especificamente para a abertura do museu377 com
o respetivo oramento e previso de custos/receitas.378 Para a elaborao destes
documentos, como apoio da reflexo desenvolvida poca, esteve presente a legislao do
setor nomeadamente a Lei de Bases do Patrimnio Cultural (LB n107/2001) e a Lei-Quadro
dos Museus (LQ n47/2004) alguma bibliografia da especialidade como o Manual de
Museologa379 bem como as orientaes, normas e prticas formuladas pelo organismo
internacional dos museus, o ICOM (Cdigo Deontolgico para Museus) e pelo seu comit
para as casas-museu, o DEMHIST (Projeto de Categorizao, vide Parte I, Cap. 4, 4.3).
377
Programa de Abertura do Museu, Teresa Vilaa, s.l. (Lisboa), s.d. (2001). Pasta VIII. Esplio documental
Arquivo FMA
378
Fundao Medeiros e Almeida Oramento 2001, Teresa Vilaa, s.l. (Lisboa), s.d. (2001). Pasta VIII. Esplio
documental - Arquivo FMA
379
HERNNDEZ, HERNNDEZ, Francisca; Manual de Museologa, Madrid: Editorial Sntesis S.A., 1998
380
O museu prossegue as seguintes funes: a) Estudo e investigao; b) Incorporao; c) Inventrio e
documentao; d) Conservao; e) Segurana; f) Interpretao e exposio; g) Educao. Captulo II, Seco I,
Art. 7, c). Lei-quadro dos Museus Portugueses, n 47/2004. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
381
ALMEIDA, Joo; VILAA, Teresa; Um Tesouro na Cidade, Lisboa: Fundao Medeiros e Almeida, 2002
111
Museu, que viria a ser inaugurada em 2003.382 No mbito do servio educativo, foram criadas
as tabelas informativas para o percurso expositivo (portugus, ingls e francs383) e um guio
para uma visita guiada Casa-Museu. A oferta para o pblico escolar (visitas guiadas e
atividades) s foi criada em 2003, sob proposta de duas recm-licenciadas da Faculdade de
Belas Artes de Lisboa (Ana Rita Gamboa e Ana Afonso).
382
Mesa da Aristocracia Europeia : Uma Arte de Estar, 5 nov. 2003 31 jan. 2004. Pasta V. Esplio documental
Arquivo FMA
383
A partir de 2010 realizaram-se as folhas de sala em castelhano.
384
Criada pelo atelier de Ana Filipa Tainha. Pasta VIII. Esplio documental Arquivo FMA
385
Proposta para desenvolvimento de um Plano de Marketing para a Fundao Medeiros e Almeida. Lisboa,
2 jul. 2001 / Plano de Marketing Casa Museu Medeiros e Almeida, Rodrigo Sande Lemos, Pedro Rodrigues.
S.l. (Lisboa) dez. 2002. Pasta VIII. Esplio documental Arquivo FMA
386
Para a loja foram encomendadas rplicas de peas do acervo (em porcelana, vidro e estanho), merchandising
(postais, lpis, marcadores de livros, etc.), foram disponibilizados para venda o roteiro do museu e outras
publicaes de mbito artstico bem como objetos em regime de consignao.
112
Aquando da inaugurao da Casa-Museu ao pblico, a Instituio cumpria os
requisitos museolgicos expressos na legislao portuguesa387, constituindo-se assim como
uma nova, relevante e atualizada instituio no panorama cultural portugus. 388
Na ala antiga, o espao definido pela zona anteriormente habitada pela famlia
sendo constituda por quinze divises que ocupam o primeiro e segundo andares do edifcio
pr-existente. Por escolha do instituidor, esta rea manteve-se tal como estava quando era
habitada (apenas com as indispensveis adaptaes a museu) pelo que, se pode encontrar
o seu canto no grande salo, a mesa posta como se fazia em dias de festa ou a salinha privada
da dona da casa com retratos da famlia. Trata-se de um espao de memria onde se
pretende apresentar a vivncia da casa, permitindo ao visitante acrescentar uma experincia
intimista visita do acervo.
A ala nova pensada de raiz para espao expositivo constituda por doze galerias que
ocupam a cave e o rs-do-cho, caraterizando-se pela instalao de ambientes onde subjaz
um discurso de aparato. Aqui foram criadas diferentes cenografias: um trio de entrada,
sales, um quarto, uma capela e ainda salas temticas.
387
Artigo 113 Requisitos da credenciao a) Cumprimento das funes museolgicas previstas nos artigos 8
a 43 da presente lei; b) Existncia de recursos humanos, financeiros e instalaes contemplados nos artigos
44 a 51; c) Aprovao do regulamento do museu de acordo com o artigo 53; d) Garantia do acesso pblico
nos termos previstos nos artigos 54 a 62. Lei-quadro dos Museus Portugueses, n 47/2004, Captulo IX,
Seco I, Artigo 113. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
388
Falta, em nossa opinio, uma candidatura Rede Portuguesa de Museus bem como a afiliao no
ICOM/DEMHIST.
113
Com o intuito de dar a conhecer a coleo, elabormos uma breve visita guiada. Vide
Anexo II, 20
389
Discurso, s.l. (Lisboa), 1 jun. 2001. Pasta VIII. Esplio documental Arquivo FMA
114
CONSIDERAES FINAIS
Esta dissertao incidiu sobre um tema nunca antes aprofundado, quer por estudos
acadmicos, quer por publicaes especializadas. De facto, a documentao associada
constituio da coleo e criao da Fundao e Casa-Museu Medeiros e Almeida
permaneceu at agora indita, pelo que este trabalho no s revela um conjunto de
documentos fundamentais, como tambm procede, pela primeira vez, contextualizao do
perfil do fundador, anlise do projeto arquitetnico do edifcio que alberga a Casa-Museu,
constituio e caraterizao do acervo, assim como do seu projeto museogrfico.
115
mantendo em vida a fruio do seu patrimnio e deixando a outros a sua concretizao.
Contudo, desde incios dos anos sessenta, com determinao e persistncia, o colecionador
empenhou-se pessoalmente no acompanhamento do planeamento e implementao da sua
fundao (das obras de adaptao do edifcio, aos pormenores da decorao) e lutou at ao
fim da vida, apesar das adversidades, para ver concretizado o seu projeto. No decorrer das
dificuldades que atravessou no perodo ps revoluo de 25 de abril de 1974, apesar da sua
j avanada idade (79 anos) AMA no desistiu, com sucesso, de propor ao Governo solues
para encontrar a resoluo da situao. De igual nota o facto de AMA ter delineado uma
estratgia para assegurar o futuro da sua instituio dotando a fundao de meios que ainda
hoje garantem a viabilidade financeira da Casa-Museu.
116
como a sociologia, a psicologia ou a psicanlise) ou a anlise conceptual da prtica do
colecionismo em geral.
No entanto, este estudo deixa uma base slida para o desenvolvimento de novas
investigaes mais focadas, por exemplo, no acervo, nomeadamente no aprofundamento
tipolgico das diferentes colees; na relao com os agentes e mercados de arte; no
inventrio e na atividade e gesto da Casa-Museu, incluindo as reas da divulgao,
educao, conservao e de estudos de pblicos.
Pretendemos ainda que este trabalho contribua para o campo mais amplo da histria
do colecionismo e dos museus em Portugal, articulando-se com um conjunto de estudos j
existentes
117
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documentos no publicados. Caparica: Instituto Portugus da Qualidade, 2003
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Acervo Fotogrfico da Casa-Museu da Fundao Medeiros e Almeida - Arquivo FMA
Acervo udio da Casa-Museu da Fundao Medeiros e Almeida - Arquivo FMA
Fichas de Inventrio da Casa-Museu Medeiros e Almeida Arquivo FMA
Conversas com familiares e colaboradores de AMA
126
ANEXOS
I. Anexo fotogrfico
Fig.1 Antnio de Medeiros e Almeida (1895- Fig.2 Maria Amlia e Joo Silvestre Medeiros e
1986) Almeida, pais de AMA
Fig.3 Antnio com os irmos Maria da Conceio e Fig.4 AMA ao volante do Morris Cowley
Gustavo c.1926
Fig.5 AMA no barco a caminho da Repblica de Fig.6 Margarida Pinto Basto, c.1923
Weimar, 1923
i
Fig.7 AMA com o Presidente do Conselho de Fig.8 AMA e o Almirante Amrico Thomaz
Ministros Oliveira Salazar com empresrios, entre eles, Manuel de
Mello
Fig.9 O casal Medeiros e Almeida a ladear William Fig.10 O stand da A.M. ALMEIDA, rua da
Morris, 1931 Escola Politcnica, ns 37-39
ii
Fig.13 Charles Trenet na Aero Portuguesa, maio de Fig.14 A bno de um avio da SATA,
1952 c.1948
Fig.15 Visita CTN pelos Subsecretrios de Estado Fig.16 Fbrica de Lagoa, UFAA, 1962
da Indstria e do Comrcio, 1950
Fig.17 Visita do Presidente da Repblica Amrico Fig.18 AMA e Vasco Bensade no paquete
Thomaz Fbrica de Santa Clara, So Miguel, Funchal da Companhia de navegao,
Aores, 1962 INSULANA, fevereiro 1961
iii
Fig.19 Caricatura de AMA por Viale. S.l., s.d. Fig.20 Lord Ronald Hugh Campbell, 1945
Fig.21 Lista de barcos reparados em So Miguel, Fig.22 Colnia Infantil Balnear O Sculo,
1941-1942 1955
Fig.23 Bairro construdo pela Fundao Salazar, Fig.24 Frase manuscrita por AMA. S.l., s.d.
c.1973
iv
Fig.25 O casal Medeiros e Almeida numa Fig.26 O casal MA e amigos numa viagem a
apresentao do Corpo Diplomtico no Palcio Marrocos na Aero Portuguesa, fevereiro 1952
Nacional da Ajuda, maio 1954
v
Fig.27 O casal Medeiros e Almeida com os irmos, Fig.28 Dirios de MMA, Viagem a Londres,
cunhados e sobrinhos Pinto Basto 1953 e viagem Madeira, novembro de
1940
Fig.29 O casal fotografado em casa para a revista Fig.30 Entrada sobre AMA na publicao
americana Town & Country, Whos Who de 1963
vi
Fig.33 Taa Aldobrandini.Itlia / Flandres (?), c. Fig.34 Ampulheta, mbar. Gdansk, c. 1660
1570-85 FMA 1062
Fig.35 Cofre de aparato. Esmalte, cristal de rocha. Fig.36 O Nascimento de Adnis. Franois
Lpis lazli, Viena de ustria, c.1883-1926 FMA Boucher, Frana,1733 - FMA 20
126
Fig.37 Esttua velada, Veritas. Raffaello Fig.38 Tapearia O Camelo, srie Grotescos.
Monti, 1853 FMA 795 Manufatura Beauvais, Frana, c. 1730 - FMA 38
vii
Fig.39 Plpito Indo-portugus, incios sc. XVIII - Fig.40 Relgio despertador com pederneira.
FMA 1215 Godfrie Poy, Londres 1720-30 FMA 2608
Fig.41 Fig.42
viii
Fig.43 Alados da casa do motorista. Arq. Rebelo de Fig.44 Alados rua Rosa Arajo, 41. Antes e
Andrade, 1923 depois alteraes Arq. Rebelo de Andrade,
1923
Fig.45 Plantas do rs-do-cho. Antes e depois Fig.46 Plantas do 1 andar. Antes e depois da
da interveno do Arq. Carlos Ramos. 1945 interveno do Arq. Carlos Ramos. 1945
Fig.47 Planta da cave com ala nova. Arq. Alberto Fig.48 Planta do 1 andar com ala nova. Arq.
Cruz, 1968 Alberto Cruz, 1968 (Esta Sala do Lago no se
construiu)
Fig.49 Fachada atual da residncia de AMA. Fig.50 Planta da Sala do Lago. Arq. Sommer Ribeiro,
Rua Rosa Arajo, 37-39 1971
ix
Fig.51 Pormenor das vitrinas da Sala do Lago Fig.52 Pormenor das vitrinas da Sala das
(Pteo) Arq. Sommer Ribeiro, c. 1972 porcelana. Arq. Sommer Ribeiro, c. 1972
Fig.53 Alado da fachada da rua Rosa Arajo da Fig.54 Representao volumtrica do edifcio
CMMA da CMMA
x
Fig.57 Planta atual do 1 andar da CMMA Fig.58 Planta atual do 2 andar da CMMA
Fig.59 Ante Capela. Ala Nova CMMA Fig.60 Capela. Ala Nova CMMA
Fig.61 trio, Ala Nova CMMA Fig.62 Galeria Nova. Ala Nova CMMA
Fig. 63 Sala do Piano. Ala Nova CMMA Fig. 64 Sala Lus XIV. Ala Nova CMMA
xi
Fig.65 Quarto. Ala Nova CMMA Fig.66 Corredor Catarina de Bragana. Ala
Nova CMMA
Fig.67 Salo A. Ala Antiga CMMA Fig.68 Salo B. Ala Antiga CMMA
Fig.69 Corredor de entrada. Ala Antiga CMMA Fig.70 Escadaria. Ala Antiga CMMA
Fig.71 Corredor do 1 andar. Ala Antiga CMMA Fig.72 Sala dos Leques. Ala Antiga CMMA
xii
Fig.73 Salinha da Senhora. Ala Antiga CMMA Fig.74 Sala da Espreguiadeira. Ala Antiga
CMMA
Fig.75 Quarto do 1 andar. Ala Antiga CMMA Fig.76 Sala das Pratas. Ala Antiga CMMA
Fig.77 Sala de Jantar. Ala Antiga CMMA Fig.78 Escritrio. Ala Antiga CMMA
xiii
Fig.79 Salo C. Ala Nova CMMA Fig.80 Salo D. Ala Nova CMMA
Fig.81 Galeria de Cima. Ala Nova CMMA Fig.82 Sala do Lago. Ala Nova CMMA
Fig.83 Galeria de Baixo. Ala Nova CMMA Fig. Sala dos Relgios. Ala Nova CMMA
xiv
II. Anexo documental
xv
Anexo II, 1 Memorial manuscrito (AMA), c. anos 80, p.2
xvi
Anexo II, 1 Memorial manuscrito (AMA), c. anos 80, p.3
xvii
Anexo II, 1 Memorial manuscrito (AMA), c. anos 80, p.4
xviii
Anexo II, 1 Memorial manuscrito (AMA), c. anos 80, p.5
xix
Anexo II, 1 Memorial manuscrito (AMA), c. anos 80, p.6
xx
Anexo II, 1 Memorial manuscrito (AMA), c. anos 80, p.7
xxi
Anexo II, 2 Memorial (AMA), 28 out.1968, pp.1-2
xxii
Anexo II, 2 Memorial (AMA), 28 out.1968, pp.3-4
xxiii
Anexo II, 2 Memorial (AMA), 28 out.1968, pp.5-6
ANEXO II, 3
1910/12- Entra para o Liceu Central da Lapa na Rua do Sacramento Lapa (atual Liceu
Pedro Nunes) onde conclui o exame do Curso Geral
xxiv
Muda-se com os pais para a rua Mouzinho da Silveira, n 12, edifcio
encomendado por seu pai ao amigo arquiteto Ventura Terra (1866-1919)
1922 (Junho).- Desiste do curso no ltimo ano e vai para a Alemanha treinar-se nos negcios
internacionais
1924 (26/6).- Casa com Margarida Pinto Basto, passando a residir na rua do Salitre n 134
em Lisboa
xxv
Recebe a Comenda da Ordem Militar de Cristo (agosto)
xxvi
Vende a Aero Portuguesa transferindo todos os negcios desta Sociedade
para a transportadora portuguesa TAP
1967. - Sociedade Ribeira Grandense da qual era j ento scio maioritrio, entrou
como fundadora e acionista de uma sociedade annima, a SINAGA -
Sociedade de Indstrias Agrcolas Aoreanas SARL. cuja presidncia assume
xxvii
1968.- Abandona a administrao da firma Bensade Lda. (julho)
1970.- Adquire uma casa na rua Rosa Arajo, n 37 para onde se muda com a sua
mulher na sequncia do incio das obras de ampliao da futura Casa-Museu
1972.- Cria oficialmente a Fundao Medeiros e Almeida qual doa a sua coleo
de obras de arte e o patrimnio imvel com o objetivo de dotar o Pas com
uma Casa-Museu
xxviii
1974.- Revoluo de 25 de abril de 1974 - encerramento da Bolsa de Valores e da
atividade bancria. AMA fica sem liquidez para continuar a obra da Casa-
Museu
1986 - AMA morre no dia 19 de fevereiro em casa. Est sepultado no Cemitrio dos
Prazeres. Tinha trabalhado at vspera. No chegou a ver cumprido o seu
sonho de doar ao Pas uma Casa-Museu.
xxix
ANEXO II, 4
5/8/1952 - Joo Couto (1892-1968), historiador da arte, diretor Museu Nacional de Arte
Antiga: referente generosa ddiva de V. Ex, a qual muito vai contribuir para auxiliar
os nossos servios (doao de 20.000$00 ao Grupo Amigos do MNAA)
196? Wendy (1916-2007) e Emery Reves (1904-1981) jornalista, editor (agente literrio
de Winston Churchil) colecionador, filantropo, Hungria: it surpasses all that I have
anticipated and we were overwhelmed by the hauteur of quality of each chosen object
and the overall unity and harmony
21/4/1961 Peter Sparks (1896-1970), antiqurio de porcelana da China John Sparks Ltd.,
Londres: I much look forward to seeing you and your collections though I am quite sure
that I will ask you to let me see it on more than one occasion!!!
xxx
26/8/1963 Jos Leito de Barros (1896-1967), cineasta, jornalista, dramaturgo: No
voltei a falar-lhe sobre a Nau So Vicente porque queria organizada toda a informao
[] Depois de estar consigo, tive uma longa entrevista com o Manuel Gonalves
(Presidente do CA do Dirio de Notcias) que se mostrou encantado com a iniciativa[]
Escuso de dizer-lhe como ele se referiu a si: se tivermos o Medeiros e Almeida connosco a
Nau seria imediatamente um facto [] Tenho a impresso que temos em nossas mos a
mais bela coisa que jamais se fez neste gnero, quer aqui quer em qualquer parte do
mundo. O Moreira Batista (Dirio de Notcias) manifestou tambm o maior interesse em
que levssemos a Nau exposio de New York
11/5/1964 L.G.G. Ramsey (?), autor, editor da revista The Connoisseur, Londres - Pede
para receber Robert C. Smith (1912-1975), historiador, especialista em mobilirio e arte
portuguesa e brasileira, professor da Universidade de Pensylvannia: would greatly like
to come and see your fine works of artagree to professor Smith writing about them in
Connoisseur
20/8/1964 - L.G.G. Ramsey (?), autor, editor da revista The Connoisseur, Londres - Pede
a AMA que receba Clifford Musgrave, OBE, autor e diretor do Pavilho Real de Brighton,
para escrever sobre a coleo: We would then talk about the possibility of your publishing
and illustrating in Connoisseur some of my pieces. I wish to say that this will be a
privilege for you as other magazines have also asked me but I have refused. Idem: pede
tambm para AMA receber Mr. Philip Blairman (1896-1972) e mulher, antiqurio, H.
Blairman and Sons Ltd., Londres: the privilege of seeing your wonderful collection
15/9/1964 Ronald A. Lee (?), antiqurio Ronald A. Lee Ltd., Londres: Most of all we
enjoyed seeing your splendid collection and would have liked to browse again. How wise
you are to plan an extension for the porcelains, etc. they deserve to be shown more
individually as the standard is so very high. I also think that the lighting of your paintings is
as good as I have seen, a point which is so often missed in many collections. If you intend
xxxi
making a catalogue of your collection it should be an interesting publication and if I can
help
20/10/1964 C.H. Josten (?), curador do Museu de Histria e Cincia, Oxford: Mr.
Mannheimer of Zurich has often mentioned to me your excelent collection of works of art
and especially of early watches, clocks, etc.
30/11/1965 D. de Carle (?), antiqurio, Garrard The Crown Jewellers, Londres: you
have given permission for the photograph of your Breguet clock to be used. (George
Daniels, Cecil Clutton Watches 1965)
3/5/1966 Jacques Kugel (1912-1985), antiqurio Galerie J. Kugel, Paris: jai t trs
heureux [] davoir loccasion de voir votre belle collection dont javais tant entendu
parler
7/6/1968 Marie Hlne Demoriane (?), autora, Connaissance des Arts, Academia
Francesa, Paris: vous possedez quelques beaux spcimens de Breguet. Au cas o vous
accepteriez que nous les reproduisions 11/12/1968 AMA : la montre Junot-
Wellington qui est la plus importante de ma collection, dont le nombre de pices dpasse
dj les trois centaines.
xxxii
20/9/1968 Ronald A. Lee (?), antiqurio Ronald A. Lee, Ltd., Londres - pede para AMA
receber Nicholas Goodison (n.1934), autor, Courtauld Institute of Art, Londres: any
possibility of seeing your of watches [] He will be publishing a book on barometers which
includes your Quare
28/01/1970 Me Jean Roh ( ?), advogado, Genebra Sua: rare privilge quil vous a plu
de maccorder en me faisant les honneurs de votre maison.
5/07/1970 Christianne Neuvy ( ?), amiga, Paris : lextraordinaire accueil que vous
nous avez (moi et ms amis) reserv [] voir les merveilles avant louverture de votre
fondation, vous pouvez etre fiers davoir acquis un si grand nombre dobjects dun si grand
eclectisme et qualit
16/11/1970 L.G.G. Ramsey (?), autor, editor The Connoisseur, Londres pede a AMA
que receba Yvonne Hackenbrock (1912-2012), Curadora Arte Asitica do Museu
xxxiii
Metropolitano de Arte, Nova Iorque, EUA e Judge Untermeyer (1886-1973), colecionador
e filantropo, EUA. Idem: - Pede a AMA que envie dados de uma pintura de Rembrandt
para o Simon Hijman Levie (1925-?), historiador da arte, diretor do Rijksmuseum e do
Museu Van Gogh Amsterdo (entre 1975 e 1989): he would greatly like to see a
photograph of it and the relatings (he is compiling a catalogue on rembrandts works
throughout the world)
9/11/1970 Peter Vaughan (?), Antiqurio, John Sparks Ltd., Londres: What a
magnificent giftlooking forward to hearing about the museum and its progress
28/12/1970 Clifford Musgrave (?), autor, diretor do Pavilho Real, Brighton, pede para
ver documentao. AMA escreve: Ive just started rebuilding and redecoration of my old
home to be turned into a museum Musgrave responde: It is exciting news that you have
now begun the extension of the building to form a museum It will be wonderful to have
all your splendid works of art which are at present stored away through lacking space,
displayed in a worthy manner.
26/7/1971 Maurice Chalom (?), antiqurio, Paris: le crateur dides telle que vous
avez t toute votre vie, et cette chose que vous crez, le muse avec tous les objets que
vous avez collectionn toute votre vie. Cest merveilleux, permettez-moi de vous dire, la
grande admiration que jai pour vous depuis que jai vu les projets de votre future
entreprise.
xxxiv
everything is displayed. For me it was an education, and my visit gave me great pleasure
for which I wish to thank you greatly.
10/12/1971 Mark Lewin (?), Jade Company S.A., Genebra : .votre si chaleureux
acceuil, une multitude dobjects exceptionnellesje me rjouis dj de venir Lisbonne
lanne prochaine pour linauguration de votre muse et je serais fier de voir quelques
objects de Jade Company figures parmi vos superbes collections
31/10/1972 - (assinatura ilegvel) : Est-ce toujours pour cette fin danne linauguration
de votre muse?
19/01/1973 R.E. de Zoete (?), Mallet & Son (Antiques), Ltd. Londres: I should be most
interested to see your collection.
3/05/1973 Marie Hlne Demoriane (?) autora, Connaissance des Arts, Academia
Francesa, Paris: voir et apprcier nouveau votre remarquable collection de
porcelaines sino-portugaises de rdiger une tude approfondie sur le sujet portugais qui
ma captive.
23/05/1973 George Feuer (?), Artinterias (Cranbourn Antiques) Ltd., Londres: your
intended bequest to the Nation can almost be compared with the Wallace collection in
London and also in a way with the Jones Collection at the V&A
23/11/1973 Didier Coigny (?), Office du Livre, Friburgo, Sua : Concerne: Guide du
Connoisseur de la Cramique Chinoise M.(ichel) Beurdeley Ces deux objects faisant
partie de votre collection, nous vous serions obligs de nous autoriser a les reproduire
(objetos de porcelana da China j reproduzidos por Lion-Golschmidt em 1960)
6/12/1973 Maurice Chalom (?), antiqurio, Paris: je serais heureux de savoir quand a
lieu linauguration du joli muse. Est-ce que vous avez fait un catalogue pour le muse?
xxxv
13/12/1973 - AMA responde: Je ne pense que le muse sera prt avant le mois de
janvier
1974 Jo Ballantine Malher (?), Virginia, USA for making my last night in Lisbon
magicI saw something unique
197? - Gregory Martin (?), especialista em pintura, leiloeira Christies, Londres visitou
coleo com M Jos Mendona da FCG: wonderful private museum.
2/10/1976 Stanley J. Pratt (?), antiqurio Stanley J. Pratt Ltd., Londres: priceless
collection
29/04/1976 Sir and Lady Peter Norton-Griffith (1905-?), amigos, Quinta do Torneiro,
Pao de Arcos our admiration for what you have achieved at your
Museumwonderful example of collecting, which is going to benefit thousands of
Portuguese and foreigners in future yearsthe catalogue which I venture to suggest to be
written first in English and French
xxxvi
1/08/1976 M Arminda e Antnio Lacerda de Crtima (1894-1989), escritor e
diplomata, Museu Caramulo: contar a histria da sua nova casa e de cada pea do seu
museubeleza, equilbrio, requinte e bom gosto do ambiente em que esto expostas! E
com um cicerone como o meu querido amigo!
2/11/1976 Stanley J. Pratt (?), antiqurio Stanley J. Pratt Ltd., Londres: honor of being
shown such a fantastic collection. It is so sad that due to present circumstances so much
thought, care and beauty should not be generally seen and appreciated
16/11/1976 Threse (?), amiga, Estoril: a tua dedicao por este Pas que o nosso,
ao longo de anos e com que trabalho, canseiras e arrelias para juntar essas
maravilhaspodes estar orgulhoso.
xxxvii
Europe et cest aussi, parce que vous avez dit de sa formation, un hommage votre
femme.
xxxviii
merveille de sa collection o clate lunivers [??] de son got en hommage de sympathie
et dadmiration (dedicatria no livro LArt et Lme Paris : Flammarion, 1960)
8/1/1981 Peter Collis (?), autor, Time-Life Books, Paris Bureau: Your beautiful
Manueline ewer is on page 96 (MILLER, Russel East Indiamen, Virginia, Time-life
Books, 1980).
24/12/1981 Carlos Pinto Bastos de Morais (?), Visconde de Mira-Vouga, amigo, Lisboa:
perpetuar o nome ilustre e a magnanimidade do seu Instituidorrealizao de grandes
empreendimentos, sempre tratados com notvel viso, dignidade e sabedoriatraduz no
s a coragem, o trabalho e o dispndioservindo as carncias escolares do Pas em
formao artsticaforma erudita como planeou to importante realizao.
xxxix
24/01/1983 Jacques J. Gendarme (?), amigo, Frana : dj rares sont les hommes,
dans notre monde, qui par le fruit de leur travail peuvent laisser un tel patrimoine
artistique leur pays. Mais en plus, en amateur dart clair, vous avez judicieusement
plac les richesses historiques dans un environnement prestigieux, garantissant ainsi leur
mise en valeur dune manire extraordinaire.
11/04/1983 Antnio Santos Mendona (?), amigo, Lisboa: seria valioso e importante
que ficasse escrito para o futuro, a histria das circunstncias e at os fait-divers ligados
aquisio e manuteno de cada uma das peas da vossa coleo.
14/10/1983 Jeannine Quintin (?), diretora da Alliance Franaise, Lisboa: Jtais loin de
souponner limportance de cette visite (visitaram por recomendao do Prof. David
Mouro-Ferreira.) 30/03/1984 - Idem: Que lon puisse runir ce point le got, la
connaissance des objects dart et la capacit de les acqurir et de les mettre en
valeurexceptionnel. 11/04/1984 Idem: pede para publicar peas da coleo na obra
Oeuvres dart Franaises dans les muses Portugais (QUENTIN, Jeannine, Lisboa :
Alliance Franaise, 1985)
xl
your wonderful collection by yourself. I do think this is the best way, for one knows every
little nuance of ones piece, which no secretary or architect could be as sensitive to.
21/05/1984 Ingrid Janeiro e marido (?), amigos agradecem visita. AMA responde:
Sempre tive grande admirao pela antiga civilizao chinesa como est patente no
meu museu e que em certos aspectos deixa as actuais civilizaes bastante diminudas.
4/06/1984 Kikuo Watanabe e Akimasa Iwashita (?), jornalistas The Hokkaido Shimbun
Press, Japo (visitaram a coleo com a mulher do embaixador): Such wonderful works of
art
11/10/1984 Leonardo Neto Pereira (?), Setbal e Dr. Serra Pinto (?) pedem para
visitar: especialmente os azuis e brancos
xli
isso, para o que est feito. claro que para tal foi preciso muito dinheiro, mas tambm a
eu no mereo elogios por ter sabido obt-lo e at costumo dizer que nunca andei
procura de dinheiro, ele que veio ter comigo e disso tenho bastantes provas.
15/08/1985 Jos Manuel Monteiro da Silva (?), Juiz Conselheiro Ponta Delgada, Aores:
ser um testemunho fiel do esforo que desenvolveu em toda a sua vida, juntamente
com a sua mulher.
xlii
Anexo II, 5 Memorial (AMA), jan. 1977
xliii
Anexo II, 6 Pedido de obras CML. por Eduardo Guedes (arquiteto Rebelo de Andrade),
9 mai. 1923 p.1
xliv
Anexo II, 7 Pedido de obras CML pela Nunciatura Apostlica, out. 1929, p.1
xlv
Anexo II, 8 Pedido de obras CML. Arquiteto Carlos Ramos, 1945, p.1
xlvi
Anexo II, 8 Pedido de obras CML. Arquiteto Carlos Ramos, 1945, p.2
xlvii
Anexo II, 9 Pedido de obras CML. Arquiteto Alberto Cruz, 14 nov. 1970
xlviii
ANEXO II, 10
Anexo II, 10 Resumo das Intervenes no edifcio da rua Mouzinho da Silveira n4, pp.1-5
xlix
Anexo II, 11 Estatutos FMA iniciais, capa, p.1
l
Anexo II, 11 Estatutos FMA iniciais, pp.4-5
li
Anexo II, 12 Fatura de compra efetuada em leilo da Dinastia Lda., Lisboa de 2 mai 1972.
A obra em causa, com uma identificao sumria, poderia ter sido comparada com uma
obra semelhante (ou a mesma?) vendida no famoso leilo do Palcio Foz em 1901. No foi
feita qualquer pesquisa, nem mesmo para valorizar a obra. Cristo Coroado de espinhos,
atribudo a Jan Gossaert, dito Mabuse (1478-1533).FMA 1223
lii
Anexo II, 13 Aquisio no Sothebys, Londres de um servio de ch de prata que pertenceu
a Napoleo Bonaparte. A leiloeira levantou o historial da pea e juntou documentao de
provenincia para o comprador., doc.1. 9 out. 1969. FMA 1956 a1960
liii
Anexo II, 13 Aquisio no Sothebys, Londres de um servio de ch de prata que pertenceu
a Napoleo Bonaparte. A leiloeira levantou o historial da pea e juntou documentao de
provenincia para o comprador., imagem, doc.2. 9 out. 1969. FMA 1956 a1960
liv
Anexo II, 13 Aquisio no Sothebys, Londres de um servio de ch de prata que pertenceu
a Napoleo Bonaparte. A leiloeira levantou o historial da pea e juntou documentao de
provenincia para o comprador., doc.3. 9 out. 1969. FMA 1956 a1960
lv
Anexo II, 14 Memorial (AMA), 18 dez. 1975, p.2
lvi
Anexo II, 14 Memorial (AMA), 18 dez. 1975, p.2
lvii
ANEXO II, 15
REVISES DOS ESTATUTOS
No mbito de um trabalho conjunto do fundador com a tutela (Secretaria de Estado da
Cultura e Instituto Portugus do Patrimnio Cultural390) os estatutos sofreram algumas
revises que nos termos da lei, foram sendo publicadas em Dirio de Governo391:
390
Organismos doravante referidos com os acrnimos SEC e IPPC
391
Cdigo Civil Artigo 189. Os estatutos da fundao podem a todo o tempo ser modificados pela autoridade
competente para o reconhecimento, sob proposta da respectiva administrao, contanto que no haja alterao
essencial do fim da instituio e se no contrarie a vontade do fundador. [Em linha], [Consult. 30 Dez. 2015].
Disponvel em WWW: URL:
<http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?ficha=101&artigo_id=&nid=775&pagina=2&tabela=l
ei_velhas&nversao=1&so_miolo=>
392
Ofcio 647-GAB/78, Lisboa, 17 Mar. 1978. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
393
Lisboa, Dirio da Repblica, III Srie nmero 135, 15 de junho de 1978, pp. 6628-6629. Pasta VII. Esplio
documental Arquivo FMA
394
Lisboa, Dirio da Repblica, III Srie nmero 135, 15 de junho de 1978, pp. 6628-6629. Pasta VII. Esplio
documental Arquivo FMA. Esta disposio implicava a observncia do artigo 161 do Cdigo Civil, que foi
eliminado por Decreto-Lei n496/77. Cdigo Civil, Artigo 161 1. As pessoas colectivas podem adquirir
livremente bens imveis a ttulo gratuito. 2. Carece, porm, de autorizao do Governo, sob pena de nulidade, a
aquisio de imveis a ttulo oneroso, bem como a sua alienao ou operao a qualquer ttulo. [Em linha],
[Consult. 30 Dez. 2015]. Disponvel em WWW: URL:
<http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?ficha=101&artigo_id=&nid=775&pagina=2&tabela=l
ei_velhas&nversao=1&so_miolo=>
lviii
emprstimo concedido, fosse alterado de modo a funcionar em regime de paridade entre
os representantes do Estado e os restantes membros. Esta pretenso foi liminarmente
recusada por AMA que referiu na sua resposta: Parece-me elementar justia que quem
pratica um gesto destes deseje ser ele ou, aps o seu falecimento, os seus familiares, quem
administre a Fundao j se v com plena fiscalizao por parte das entidades oficiais
competentes.395
5 de Agosto de 1980 (escritura de 8 junho 1980) - Estatutos revistos e homologados
e publicados por S. Excelncia o Secretrio de Estado da Cultura do VI Governo
Constitucional, Vasco Pulido Valente (1941-) (comunicado pelo Instituto Portugus do
Patrimnio Cultural): Nesta reviso, sem grandes alteraes de fundo, modificaram-se os
artigos: 4 b) e c), 8, 10, 11, 12 e 19b) e f). No artigo 4 (alnea b) exclui-se a frase: [O
prdio] que servir gratuitamente para a habitao do instituidor c) inclui-se a frase:
excluindo apenas os objectos de vesturio, toilette, lbuns de fotografias,
correspondncia particular, bem como garrafeira e despensa), 8 (obriga-se o voto
favorvel do IPPC para autorizao do montante a despender na construo do edifcio),
10 (substitui-se o o director-geral do Patrimnio, por: o Presidente do Instituto
Portugus do Patrimnio Cultural), 11 (quanto presidncia do CA, substitui-se: O
presidente ser o instituidor e, por sua morte, sucessivamente, seus sobrinhos Adolfo Lima
Mayer e Joo Vasco de Paiva Raposo de Almeida, por: O presidente ser o instituidor ou
a pessoa por ele indicada e, por sua morte, o seu lugar ser preenchido por escolha dos
vogais do conselho, homologada pelo Ministro ou Secretrio de Estado da tutela), 12
(inclui-se a observncia da escolha das vagas com a homologao por parte da tutela
referida no artigo anterior) e 19 b) e f) (alnea b) exclui-se a apresentao de proposta de
regulamento da Casa-Museu por parte do diretor do Museu de Arte Antiga, atribuindo-a
somente ao CA a alnea f) anulada).396
6 de Julho de 1983 (escritura de 11 outubro 1983) Sua Excelncia o Ministro da
Cultura do IX Governo Constitucional, Dr. Antnio Coimbra Martins (1927-) despacha,
atravs de declarao emitida pelo IPPC (11 julho 1983) a homologao da alterao de
estatutos. Nesta reviso incluiu-se o artigo 3 a alnea b) que prev a concesso de bolsas,
395
Resposta ao ofcio n 647-GAB/78 da SEC. Lisboa, 27 mar. 1978. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA
396
Lisboa, Dirio da Repblica, III Srie, N 179, 5 Agosto, 1980, p. 8928, Pasta VII. Esplio documental Arquivo
FMA
lix
no artigo 4 introduziu-se o dever de expor as peas que ainda se encontram
armazenadas nas instalaes da Fundao, no artigo 7 introduziu-se a obrigao de
vinculao por parte do CA e do CF aquando da aquisio de obras de arte a ttulo oneroso
e a obrigao que as obras a serem adquiridas, se enquadrem no esprito que presidiu
organizao da Casa-Museu., no artigo 8 estabelece-se a necessidade de deliberao por
parte do CA, do CF e da tutela sobre uma possvel hipoteca sobre o terreno, no artigo 9
altera-se a composio do CA de cinco para sete membros, o artigo 10 prev que a
nomeao dos referidos membros do CA ser feita pelo Instituidor, no artigo 11,
estabelece-se que a nomeao do Presidente da Instituio ser feita pelo Instituidor, no
12 artigo refere-se, que no caso de incumprimento de mandato por parte de algum
membro do CA, os outros membros procedero sua substituio, no artigo 13 os
mandatos so alterados de trinios para dois anos. No artigo 15 tambm se alteram os
mandatos dos membros do CF para dois anos, no artigo 16, inclui-se a possibilidade de
remunerar as funes que so em regime de gratuidade, depois de a Fundao dispor de
rendimentos do imvel, no artigo 17 introduz-se a obrigao de homologao de possveis
alienaes ou contraes de emprstimos, por parte da tutela. No artigo 19 introduz-se a
alnea g), relativa s bolsas de estudo que devero sempre que possvel ser dada
prioridade na sua atribuio a naturais dos Aores., no artigo 20, introduz-se o 1
Enquanto o Instituidor for o Presidente da Fundao, esta fica obrigada pela sua
assinatura.. Finalmente, no artigo 22, altera-se a frase: revertero sua posse e
propriedade, ou dos seus herdeiros, por: revertero sua posse e propriedade, ou de
quem este indicar por disposio testamentria.
Aps a morte de Medeiros e Almeida, a vinte de fevereiro de 1992, o CA solicita tutela,
uma ltima alterao de estatutos, aprovada por Sua Excelncia o Subsecretrio de
Estado da Cultura, do XII Governo Constitucional, Dr. Manuel Frexes (1956-):
397
Informao 251/92, Instituto Portugus dos Museus, Documento de homologao da Alterao do artigo 10
dos Estatutos da Fundao Medeiros e Almeida, Lisboa, 28 abr. 1992, enviado Fundao em 9 jul. 1992. Esplio
documental Arquivo FMA
lx
Fundao, o ento IPPC, pela tutela coeva; o IPM. Com esta pequena reviso, os estatutos
adquirem a redao que se encontra em vigor at data.398
398
Apesar da tutela da cultura ter alterado por diversas vezes de organismo (Ministrio, Direo-Geral, Instituto),
o cargo pertence ao seu dirigente mximo.
lxi
Anexo II, 16 Estatutos FMA finais, pp.2-3
lxii
Anexo II, 16 Estatutos FMA finais, pp.6-7
lxiii
Anexo II, 17 Despacho Ministrio das Finanas, Lisboa, 6 jul. 1976, p.1
lxiv
Anexo II, 17 Despacho Ministrio das Finanas, Lisboa, 6 jul. 1976, p.2
lxv
Anexo II, 17 Despacho Ministrio das Finanas, Lisboa, 6 jul. 1976, p.3
lxvi
Anexo 18 Despacho de Achando Cabral, Lisboa, 6 jan. 1977, p.1
lxvii
Anexo 18 Despacho de Achando Cabral, Lisboa, 6 jan. 1977, p.2
lxviii
Anexo 19 Despacho de Achando Cabral, Lisboa, 4 fev. 1977, p.1
lxix
Anexo II, 19 Despacho de Achando Cabral, Lisboa, 4 fev. 1977, p.2
lxx
ANEXO II, 20
A visita da Casa-Museu comea por uma sala onde foi reunida a arte sacra
encontrando-se exposta como se de uma capela se tratasse. O espao conhecido como a
Capela porm, nunca foi consagrado. Medeiros e Almeida tinha um oratrio privado na
sua casa (1 andar) que se tornava pequeno para expor peas de grande porte como
paramentos e cadeirais de pau-santo, pelo que projetou este espao na ala nova. Para
alm do altar-mor (pea proveniente da coleo do capitalista Henrique Burnay, 1886-
1909) removido do antigo oratrio, a pea em destaque nesta sala um plpito indo-
portugus de finais do sculo XVII, pea nica na Europa. Na Ante Capela destaca-se pelas
suas propores, numa vitrina de parede, um conjunto escultrio do barroco portugus
representando a Sagrada Famlia no Regresso do Egito.
O trio dotado de acesso rua, previsto por AMA como acesso do pblico casa-
museu (vide Parte I Cap2, 2.3.2) tendo sido ali encenada uma entrada palaciana com um
vestbulo em mrmore e um lano de escadas. O pequeno trio alberga duas peas do
marceneiro francs Franois Linke (1855-1946), um mvel de aparato e um relgio de
caixa alta, de incios do sc. XIX, peas nicas em Portugal. A escadaria d acesso Galeria
Nova ou Sala das Tapearias, um espao amplo onde se penduram duas tapearias da
fbrica de Beauvais pertencentes clebre armao Os Grotescos (O Camelo e
Oferta a P) destacando-se ainda o mobilirio (duas cmodas Mazarinas) e a pintura
francesa de Franois Boucher bem como um par de cmodas portuguesas da poca D.
Joo V (incio sc. XVIII). Segue-se a Sala do Piano que recria uma sala de aparato francesa
sendo revestida com um apainelado de carvalho francs, coberta com um enorme tapete
Aubusson e mobilada com peas de origem francesa: trs originais cartonniers, um par de
cmodas regncia, um piano de cauda da casa Erad e um conjunto de mveis de assento
forrados com tapearia de Beauvais, decorados com a temtica das Fbulas de Jean de la
Fontaine. Aqui a pintura de retrato assume especial papel com dois trabalhos ingleses
(Romney e Hoppner), um retrato de Rembrandt do sculo XVII, dois do flamengo Antonio
Moro (um nobre espanhol e Margarida de Parma) e ainda um retrato de fantasia de
Giandomenico Tiepolo. Na sala seguinte, denominada Lus XIV, continua o ambiente de
pendor francs j que, o apainelado e o teto de caixoto provm de um palcio situado
lxxi
nas margens do rio Sena e o mobilirio maioritariamente de estilo Boulle. De realar um
significativo e original conjunto de esmaltes de Viena; peas do revivalismo austraco de
meados do sculo XIX que incluem uma garniture forrada a placas de lpis-lazli e um
cofre em cristal de rocha revivalismo de um cassone veneziano. No Quarto, o
apainelado decorado por uma famlia francesa de pintores ornamentais, os Audran d o
mote a uma armao de cama la duchesse, acompanhada por um bidet em porcelana
da China do sculo XVIII que ostenta as armas reais francesas.
A passagem da ala nova para a ala antiga faz-se pelo Corredor D. Catarina de
Bragana, espao dedicado a peas relativas a esta Princesa Portuguesa e Rainha de
Inglaterra. Destacam-se um espelho de tartaruga e bordado em relevo ingls (stumpwork)
do sculo XVII representando os monarcas e um raro relgio de noite pertena de
Catarina de Bragana da autoria do relojoeiro da corte, Edward East, referenciado no
famoso dirio do cronista ingls Samuel Pepys (1633-1703). O corredor permite acesso ao
salo da antiga residncia. Utilizado para a receo de famlia e convidados est hoje
dividido em quatro sees: A,B / C,D.
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(1596-1656) e d acesso a uma escadaria que conduz ao piso dos apartamentos privados
do casal.
Descendo ao rs-do-cho, entramos na Sala das Pratas, antiga copa que dava
assistncia sala de jantar. Aqui se instalaram vitrinas e se dispuseram as pratas da casa,
nomeadamente uma baixela inglesa do prateiro huguenote Paul Storr (1771-1844), as
colees de paliteiros portugueses em prata e em porcelana Vista Alegre e o servio de
399
Captulo II, Art. 4, . Estatutos finais FMA. Pasta VII. Esplio documental Arquivo FMA. Vide Anexo II, 16
400
A coleo de leques da Casa-Museu foi estudada na dissertao de mestrado em Museologia de Joana Ferreira
Biografia de uma coleco: Os leques da casa-Museu Medeiros e Almeida, apresentada Faculdade de Cincias
Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, em Outubro de 2015.
401
Optou-se por apresentar apenas o ncleo de leques europeus, estando prevista a rotao de peas de outros
ncleos de forma a poder divulgar toda a coleo e preservar a sua integridade.
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ch executado por Antnio Firmo da Costa (c. 1810-15) que pertenceu a Napoleo
Bonaparte quando este esteve no exlio, na ilha de Santa Helena (1815-21). Ao centro, em
plinto prprio, ergue-se uma taa de p alto, a Taa Aldobrandini, um ex-libris da
ourivesaria renascentista decorada no prato com quatro cenas representando em baixo
relevo da vida do Imperador Calgula e tronada pela figura do Imperador Galba. Esta pea
pertence a um grupo de 12 taas, hoje dispersas pelo mundo. O acesso Sala de Jantar
est vedado ao pblico pois, a mesa de 12 lugares est posta tal como em dias de festa
com a baixela de prata inglesa e com conjuntos de vidros franceses e ingleses. Um
louceiro ingls de grandes dimenses guarda alguns dos servios de porcelana da China a
uso no tempo de Medeiros e Almeida assim como um original conjunto de cristais ingleses
de talhe step cut. Nas paredes destacam-se quatro naturezas mortas: sobre o side board
ingls, uma natureza morta com presunto (c.1640) de Jan Davidsz De Heem, pintor
holands do sculo XVII e trs naturezas mortas com flores de van Huysum e Simon
Verelst. Aqui o casal recebeu a famlia, os amigos e a melhor sociedade lisboeta402. O
Escritrio era o espao preferido de AMA que mandou forrar as paredes com estantes
para albergar parte da sua extensa biblioteca. Aqui se observam os retratos de famlia: os
seus pais e irmo, pintados pelo amigo Veloso Salgado e os donos da casa pintados por
Henrique Medina em 1974 (sendo o retrato de MMA pstumo). Numa mesa vitrina
expem-se as condecoraes com que o fundador foi agraciado ao longo da vida. A
imponente secretria com alado Chippendale pertenceu aos escritrios da North Eastern
Railway, a primeira companhia ferroviria do mundo situada em Darlington, Inglaterra. O
Salo D volta a ter um conjunto de sofs estampilhados que rodeiam uma cmoda
francesa decorada com motivos de chinnoiseries em vernis Martin, pea que deu brados
no Dirio Popular de 20 de agosto de 1947: Encontra-se em Lisboa uma cmoda assinada
pelo "Stradivarius" do mvel; Pierre Roussel (...) um mvel que no tem prata nem ouro e
vale o preo de uma herdade completa, com vacas e tudo (...) a cmoda Lus XV, "puro-
sangue", que vimos ontem e nos pareceu roubada ao " boudoir" da marquesa de
Pompadour (...) Contentamo-nos em saber que o patrimnio artstico portugus subiu um
ponto." Nas paredes duas das mais famosas pinturas da coleo: O Cobrador de
402
Ficaram famosos os jantares em honra do Presidente do Conselho de Ministros Marcello Caetano (1906-1980)
amigo pessoal de AMA, do qual se guarda um cuidadoso plano de mesa elaborado por AMA e o jantar e receo
dada famlia real monegasca, para a qual AMA convidou Amlia Rodrigues para cantar ao sero.
lxxiv
Impostos (1616) do flamengo Pieter Brueghel o Novo e A Paragem (1606), um pequeno
leo sobre cobre de Jan Brueghel, seu irmo. Colocado entre as pinturas sobressai um
contador flamengo do sc. XVII com as frentes das gavetas pintadas com naturezas mortas
e cenas de gnero. Atravs do Salo C acede-se novamente ala nova. Nos cantos deste
espao distribuem-se quatro cadeires de braos forrados com tapearia inglesa da
manufatura Mortlake (1620-1703), representando cenas mitolgicas.
A Galeria de Cima uma antecmara da Sala do Lago. Este espao forrado com
painis de azulejos setecentistas de diversas provenincias, destacando-se a
representao dos Quatros Continentes. As paredes ostentam ainda um conjunto de 9
telas com esboos de Veloso Salgado que representam a histria da Medicina; o artista fez
estes estudos para os frescos da Escola Mdica do Campo Santana tendo-os oferecido ao
Pai de AMA, que era mdico, para o seu consultrio na Av. da Liberdade. A Sala do Lago
um espao pensado enquanto memria do antigo jardim da casa. Ao centro, um lago
circundado por quatro vitrinas dispostas como se de quatro canteiros se tratasse e onde
se exibem colees de caixas de rap e de joias. As paredes so revestidas de painis de
azulejos azul e branco, do sculo XVIII, oito deles provenientes da Quinta dos Inglesinhos
em Carnide, representam as Quatro Estaes e os Quatro Continentes. O teto em caixoto
pronunciado decorado igualmente com o tema dos Quatro Continentes. Das esttuas a
evocar o ambiente de exterior, destaca-se uma Verdade desvelando-se (1853), pea do
escultor italiano Raffaelle Monti, a trabalhar na Inglaterra Vitoriana, que conheceu
sucesso, devido representao realstica de rostos e corpos velados. Novo lano de
escadas conduz Galeria de Baixo, no andar inferior. Este espao reveste-se igualmente
de painis de azulejos azuis e brancos numa original representao dos Cinco Sentidos. Ao
fundo ergue-se um grande biombo chins, rara pea do sculo XVII, produzida para o
mercado interno, comemorativa do aniversrio de um ancio. Um escritrio sobre trempe
decorado com smbolos da Ordem dos Dominicanos proveniente da regio de Sinde no
norte da ndia destaca-se na produo do mobilirio indo-portugus. A Sala dos Relgios
o penltimo espao do percurso, pensado de raiz para colocar as vitrinas com relgios de
bolso que estavam no corredor do 1 andar, ao tempo de Medeiros e Almeida. Esta uma
das colees de que AMA mais gostava e qual se dedicou at ao fim dos dias. Na sala,
expostos em 6 vitrinas, encontram-se cerca de 200 relgios de bolso e de mesa dispostos
lxxv
num percurso cronolgico, de carter didtico, que comea nos sculos XVI/XVII (vitrina 1)
e termina no sculo XX (vitrina 6). Da coleo foram escolhidos os melhores relojoeiros e
mquinas representativas de significativos avanos tcnicos, traando o percurso histrico
da relojoaria europeia. Na 1 vitrina, um dos protagonistas o relgio de mesa
despertador, do relojoeiro ingls Godfrie Poy, ativo entre 1718 e 1750, cujo sistema de
alarme funciona com o despoletar de um tiro de plvora seca, acionado por uma
pederneira ligada patilha do alarme. So ainda de notar os relgios de carruagem
franceses. A vitrina 3 expe diversos relgios mecnicos autmatos e um exemplar de
forma oval do relojoeiro ingls William Anthony (1765-1844) cujos ponteiros articulados
esticam e retraem adaptando-se original forma do mostrador. A vitrina 4 a mais
famosa pois encerra 26 exemplares da marca mais conhecida do mundo: a Casa Breguet.
Um dos relgios foi encomendado pelo General Junot em 1808 e, por ironia do destino,
acabou na posse do Duque de Wellington. A vitrina 6 representa o final do sculo XIX e o
sculo XX ostentando um raro Patek-Philippe & Co., de 1867, com equao do tempo,
uma complicao astronmica de difcil realizao. Numa pequena vitrina de parede
esconde-se uma elaborada ampulheta de 3 mbulas em mbar e marfim, com mostrador
e calendrio, que se diria pertencente a um gabinete de maravilhas; trata-se de uma pea
produzida na Gdansk prussiana, assinada por Michael Schdelock (activo c. 1660) um
arteso da corporao do mbar de Dantzig. A ltima galeria deste percurso a Sala das
Porcelanas. semelhana dos relgios, foi aqui disposta a valiosa coleo de porcelana da
China com uma organizao cronolgica, estando as peas agrupadas por dinastias
indicando, por sua vez, as diferentes maneiras de trabalhar e decorar a pasta que evoluiu
de terracota a porcelana vidrada. Das terracotas destacam-se o conjunto de boi e carroa
datado de 200 a.C. da dinastia Han, um conjunto de seis tocadoras de msica e um
jogador de polo a cavalo da dinastia Tang (618-907). O ncleo mais significativo o da
porcelana da dinastia Ming (1638-1644) uma vez que compreende um grupo conhecido
como primeiras encomendas; peas que foram produzidas na primeira metade do sc.
XVI, no contexto da chegada dos Portugueses China em 1513, sendo decoradas com
simbologia do reinado e o escudo de armas de Portugal. Uma das peas mais
emblemticas da coleo um gomil do reinado Zhengde (1506-1521) decorado com a
esfera armilar de D. Manuel I, destacam-se ainda uma taa do reinado Jiajing (1522-1566)
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que apresenta o escudo de Portugal em posio invertida, o smbolo IHS da Companhia
de Jesus e a inscrio AVE MARIA GRACIA PIENA e dois pratos covos (Zhengde e Jiajing)
decorados com escudos de Portugal e a esfera armilar. Das centenas de peas do acervo
pertencentes dinastia Qing (1644-1911) mormente aos reinados do Imperador Kangxi
(1662-1722) e Qianlong (1736-1795) foram escolhidas as peas mais significativas feitas
para o mercado interno chins (um par de tijelas imperiais para arroz) e para o mercado
de exportao europeu como as terrinas em forma de cabea de javali e de ganso
(copiadas de modelos em faiana europeus) ou as terrinas com brases de famlias
nobres, exemplares que eram encomendados na China para satisfazer a enorme demanda
de peas chinesas que se verificou no decorrer dos sculos XVII e XVIII na Europa.
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III. Anexo grficos
Grfico 1
Acervo museolgico
23%
77%
Grfico 2
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Grfico 3
Grfico 4
Aquisies documentadas
39%
61%
lxxix
Grfico 5
28%
12%
56%
4%
0%
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