ISSN 0104-4931

Cad. Ter. Ocup. UFSCar, So Carlos, v. 21, n. 2, p. 265-273, 2013

http://dx.doi.org/10.4322/cto.2013.028

Estudo de reviso sistemtica sobre o uso do

Artigo de
Reviso
conceito de cotidiano no campo da terapia
ocupacional no Brasil1
Mariana Moraes Sallesa, Thelma Simes Matsukurab

Doutora em Cuidado em Sade, Escola de Enfermagem, Universidade de So PauloUSP, So Paulo, SP,

a

Brasil, Ps-doutoranda, Departamento de Terapia Ocupacional, Centro de Cincias Biolgicas e da Sade,

Universidade Federal de So CarlosUFSCar, So Carlos, SP, Brasil
b
Doutora pelo Programa de Ps-graduao em Sade Mental, Universidade de So PauloUSP,
Ribeiro Preto, SP, Brasil, Docente dos Programas de Ps-graduao em Terapia Ocupacional e de
Ps-graduao em Educao Especial, Departamento de Terapia Ocupacional,
Centro de Cincias Biolgicas e da Sade, Universidade Federal de So CarlosUFSCar, So Carlos, SP, Brasil

Resumo: No campo da terapia ocupacional o interesse pelo conceito de cotidiano vem crescendo, com estudos
que se referem questo da vida cotidiana como ferramenta tanto terico-conceitual como prtica, que pode
auxiliar pesquisas e a ateno em terapia ocupacional. O objetivo deste estudo identificar e sistematizar a
produo de conhecimento no Brasil, na rea de terapia ocupacional, sobre o conceito de cotidiano. Como
metodologia foi realizada uma reviso sistemtica da literatura nacional, nos ltimos 10 anos, sobre o conceito
de cotidiano na terapia ocupacional. Foram selecionados 12 artigos para integrar a pesquisa. O conceito de
cotidiano, considerado nas investigaes realizadas por terapeutas ocupacionais, se estabelece na relao entre
aquilo que singular do sujeito com o que coletivo e social. Esse conceito define uma posio terica da terapia
ocupacional, que rompe com uma interpretao mdica e positivista dos cuidados em sade e se preocupa com a
subjetividade do sujeito, suas atividades no dia a dia e sua insero social. O conceito de cotidiano tambm foi
utilizado para a reflexo sobre como o adoecimento causa transformaes na vida cotidiana das pessoas, para
embasar a descrio e anlise da vida cotidiana dos sujeitos que eram foco dos estudos e para discutir sobre o
cotidiano na prtica da terapia ocupacional. So diversas as possibilidades do uso do conceito de cotidiano na
pesquisa e na prtica da terapia ocupacional, e o presente estudo evidencia que esse construto/conceito soma ao
aporte terico vinculado ao conhecimento em terapia ocupacional contemporneo brasileiro.
Palavras-chave: Terapia Ocupacional, Cotidiano, Literatura de Reviso como Assunto.

Systematic review study on the use of the concept of daily life in the field of
occupational therapy in Brazil

Abstract: Interest in the concept of daily life has increased in the field of occupational therapy, with studies
referring to daily life as a tool that is both theoretic-conceptual and practical, providing support for both research
and care. In this study, we aimed to identify and systematize the knowledge production about the daily life
concept in occupational therapy in Brazil. A systematic review of the Brazilian literature of the past ten years on
the concept of daily life in occupational therapy was used as our methodological approach. Twelve articles were
selected to compose this research. The concept of daily life, as considered in studies of occupational therapists,
is established in the relationship between what is singular to the individual and what is collective and social.
This concept defines a theoretical position in occupational therapy, departing from a medical and positivist

Autor para correspondncia: Mariana Moraes Salles, Universidade Federal de So Carlos, Rod. Washington Lus, Km 235, Monjolinho,
CEP 13565-905, So Carlos, SP, Brasil, e-mail: [email protected]
Recebido em 26/4/2013; Aceito em 03/06/2013.
266 Estudo de reviso sistemtica sobre o uso do conceito de cotidiano no campo da terapia ocupacional no Brasil

interpretation of health care, giving attention to the subjectivity of individuals, their day-to-day activities and
their social inclusion. The concept of daily life was also used in the reflection about how illnesses change peoples
daily lives, to support the description and analysis of the daily lives of the studied subjects and to discuss the
concept of daily life in occupational therapy practice. There is a wide range of possibilities for the use of the
concept of daily life in the research and practice of occupational therapy. The present study shows that this
concept adds to the basis of contemporary occupational therapy knowledge produced in Brazil.
Keywords: Occupational Therapy, Daily Life, Literature Review as Topic.

1 Introduo
No campo da terapia ocupacional o interesse pelo Na terapia ocupacional, as atividades possibilitam
estudo do conceito de cotidiano vem crescendo, com ao sujeito reconhecer-se e ser reconhecido pelos outros,
pesquisas produzidas por terapeutas ocupacionais, o fazer e as atividades realizadas pelo indivduo
que se referem questo da vida cotidiana como contam a histria da vida de cada um. nesse resgate
uma ferramenta tanto terico-conceitual como da histria do sujeito, permeado pelas atividades, que
prtica, que pode auxiliar na ateno em terapia se encontra o territrio onde se descobrem interesses,
ocupacional (GALHEIGO, 2003; FRANCISCO, capacidades e potencialidades que tracejam caminhos
2001; DRUMMOND, 2007; BENETTON; possveis no campo das produes humanas. As
TEDESCO; FERRARI, 2003). prticas da terapia ocupacional, centradas no fazer
humano, visam a construo de um cotidiano
Desde o incio da terapia ocupacional havia o
potencializado, que possibilita constituir o bem-estar
interesse sobre como as pessoas vivem sua vida,
pessoal do sujeito (CASTRO; LIMA; BRUNELLO,
sendo as concepes sobre hbitos, desenvolvidas por
2001).
Eleonor Slagle, um dos fundamentos da profisso.
Acreditava-se que hbitos saudveis levariam a uma no desenvolvimento da vida cotidiana, enquanto
vida mais saudvel (DRUMMOND, 2007). construo individual no meio social, que se constri
o raciocnio clnico da terapia ocupacional.
A partir do sculo XXI se inicia o interesse da
terapia ocupacional pelo conceito de cotidiano, A clnica da terapia ocupacional criada no
baseando os princpios tericos em autores da filosofia encontro de um cotidiano possvel, pois ele
como Lukcs, Heller e Certeau (DRUMMOND, ou foi violentamente transformado, pela
2007). A terapia ocupacional se interessa pelas sua interrupo e no pela sua supresso
(BENETTON; TEDESCO; FERR ARI,
atividades realizadas pelos sujeitos, e essas atividades
2003, p. 38).
so desempenhadas no dia a dia, na vida cotidiana.
a partir dessas atividades que as pessoas se relacionam Assim, terapeutas ocupacionais tm procurado
entre si, participam do processo produtivo da estudar o cotidiano como forma de compreender
sociedade, vivenciam a cultura da qual fazem melhor o campo da terapia ocupacional. Porm,
parte e se tornam quem elas so. No processo de utilizar o cotidiano como base para anlise das
realizao de atividades em terapia ocupacional vai se avaliaes, das prticas e dos resultados em terapia
estabelecendo uma forma de fazer e de se relacionar ocupacional ainda representa uma tarefa difcil de
que envolve a construo da qualidade de vida ser executada (DRUMMOND, 2007).
cotidiana (CASTRO; LIMA; BRUNELLO, 2001). Dessa forma, possvel depreender que interessa
Conforme abordam Castro, Lima e Brunello para a terapia ocupacional o que as pessoas fazem,
(2001). qualidade de vida envolve a compreenso como usam o tempo, onde vo, quais so seus
subjetiva das pessoas sobre seu bem-estar e sua desejos, como o contexto social facilita ou dificulta
situao de vida. Envolve tambm o investimento o engajamento das pessoas em diferentes atividades;
para uma organizao coletiva de sujeitos que enfim, como se constri a vida cotidiana dos sujeitos.
exercem seus direitos e vivenciam a cidadania. Ela A terapia ocupacional preocupa-se com a produo
, ao mesmo tempo, um processo singular e coletivo. de vida das pessoas que atende, e a vida composta
As autoras compreendem que a vida se apresenta no cotidiano; nas pequenas aes do dia a dia
como um leque de aes rotineiras e a construo que nos construmos enquanto seres humanos e
da vida cotidiana refere-se transformao concreta desenvolvemos nossos interesses. Cada cotidiano
da realidade. vivido de forma particular, nica por cada sujeito,

Cad. Ter. Ocup. UFSCar, So Carlos, v. 21, n. 2, p. 265-273, 2013

 Salles, M. M.; Matsukura, T. S. 267

construdo conforme a singularidade do sujeito e da de cotidiano. Tambm no foram utilizados editorais,

realidade vivida pelo contexto social. Dessa forma, a sumrios, textos relacionados a apresentaes em
construo e transformao da vida cotidiana pode congressos, cartas, trabalhos publicados apenas na
se apresentar como um instrumento na ateno em forma de resumo ou artigos em que no foi possvel
terapia ocupacional; assim como uma finalidade a o acesso ao texto completo.
ser alcanada em terapia ocupacional. Os estudos foram lidos na integra, avaliados com
O objetivo deste estudo foi identificar e o objetivo de verificar se os aspectos metodolgicos
sistematizar a produo de conhecimento na rea e os resultados da pesquisa eram vlidos para serem
de terapia ocupacional sobre o conceito de cotidiano ponderados nessa reviso, no sentido de fornecerem
no Brasil. elementos para anlise acerca da temtica sobre
cotidiano e terapia ocupacional.
2 Metodologia Foi realizada uma sntese na forma narrativa, ou
seja, uma sntese qualitativa. Foram comparados
Como metodologia foi realizada uma reviso os estudos selecionados procurando-se encontrar
sistemtica da literatura sobre o conceito de cotidiano similaridades e diferenas na definio e no uso
na terapia ocupacional. A reviso de literatura uma dos conceitos de atividade e ocupao na literatura
sntese de todas as pesquisas relacionadas com uma referente terapia ocupacional.
questo especfica; com uma pergunta sobre a causa,
o diagnstico ou o prognstico de um problema de 3 Resultados
sade, por exemplo. A reviso sistemtica difere da
reviso tradicional uma vez que procura superar Nas revistas nacionais de terapia ocupacional
vieses seguindo um mtodo preestabelecido na busca, foram considerados todos os artigos disponveis
seleo e avaliao das pesquisas; e na coleta, sntese nos ltimos dez anos (2003 a 2012). A Revista de
e interpretao dos dados oriundos das pesquisas Terapia Ocupacional da USP publicou 29 volumes
(GALVO; SAWADA; TREVIZAN, 2004). A nos ltimos 10 anos, contendo 239 artigos (sem
questo norteadora utilizada na presente pesquisa considerar os editorais), dos quais foram selecionados
foi: Qual o desenvolvimento do uso do conceito 5 artigos. A revista Cadernos de Terapia Ocupacional
de cotidiano em terapia ocupacional e como esse da UFSCar publicou 24 volumes nos ltimos 10 anos,
conceito tem sido utilizado atualmente? contendo 190 artigos (sem considerar os editorais,
sumrios e resumos), dos quais foram selecionados
2.1 Procedimentos 4 artigos. A Revista do Centro de Estudos de Terapia
Ocupacional publicou 6 volumes nos ltimos 10 anos,
Lima, Pastore e Okuma (2011), em estudo de contendo 40 artigos (sem considerar os editorais e
reviso sistemtica, apontam quais so os peridicos textos relacionados a apresentaes em congressos),
nacionais existentes no campo da terapia ocupacional: dos quais foram selecionados 2 artigos. A Revista
Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de Baiana de Terapia Ocupacional publicou 4 volumes
So Paulo, Cadernos de Terapia Ocupacional da nos ltimos 10 anos, contendo 24 artigos (sem
UFSCar, Revista do Centro de Estudos de Terapia considerar os editorais, sumrios e resumos), 1
Ocupacional (CETO), Revista Baiana de Terapia artigo foi selecionado. A revista Cadernos de Terapia
Ocupacional e Cadernos de Terapia Ocupacional do Ocupacional do GES.TO publicou 1 volume nos
GES.TO (Grupo de Estudos Profundos de Terapia ltimos 10 anos, contendo 4 artigos (sem considerar
Ocupacional). Neste estudo, essa indicao foi relatrios e entrevistas) e nenhum de seus artigos
utilizada para a reviso de literatura. foi selecionado. No total foram considerados 64
O perodo considerado para a reviso foi o dos volumes, contendo 497 artigos, entre os quais foram
ltimos 10 anos (2003 a 2012). Os estudos foram selecionados 12 artigos para leitura na ntegra.
selecionados atravs do ttulo e da leitura dos resumos
segundo os seguintes critrios de incluso: foram 3.1 Instrumentos
analisados estudos de abordagem quantitativa,
qualitativa ou mista, estudos de reviso bibliogrfica, A coleta de dados foi realizada a partir da leitura
estudos referentes a todas as reas de atuao na na ntegra de cada estudo, com o preenchimento do
terapia ocupacional e sem limitaes em relao formulrio de avaliao, no qual foram registrados os
populao estudada. Foram excludos trabalhos que aspectos centrais de cada pesquisa. O formulrio foi
no eram referentes ao tema proposto, ou seja, que preenchido segundo os autores, o ano de publicao,
no utilizavam ou no faziam referncia ao conceito a metodologia, as concepes do estudo em relao

Cad. Ter. Ocup. UFSCar, So Carlos, v. 21, n. 2, p. 265-273, 2013

268 Estudo de reviso sistemtica sobre o uso do conceito de cotidiano no campo da terapia ocupacional no Brasil

ao conceito de cotidiano, os principais resultados classe, gnero e idade. A autora indica algumas das
encontrados e as consideraes finais do estudo. esferas que compem a vida cotidiana: o trabalho,
a famlia, o lazer, as relaes sociais. O cotidiano
4 Resultados e discusso a vida de todos os dias, de todos os homens, o
homem nasce inserido em sua cotidianidade; o
Dos 12 estudos encontrados havia 3 revises mundo no qual a repetio das atividades permite
de literatura narrativa, 1 relato de experincia e 3 a recriao permanente da vida social.
estudos que combinavam metodologias qualitativas Na vida cotidiana, as atividades com as quais
e quantitativas. Dos 5 estudos que utilizaram formamos o mundo e as atividades com as quais
abordagem qualitativa, 4 utilizaram a anlise de formamos a ns mesmos coincidem. Para a maioria
contedo e em 1 a anlise foi realizada atravs da dos homens, a vida a vida cotidiana (HELLER,
tcnica do discurso do sujeito coletivo. Assim, em 2002).
estudos relacionados ao conceito de cotidiano ou Esses autores oferecem um suporte terico sobre
vida cotidiana dos sujeitos alvo dea pesquisa em o cotidiano que pode fundamentar e auxiliar as
terapia ocupacional no Brasil nota-se a tendncia reflexes e a prtica da terapia ocupacional, contribuir
para o uso de metodologias qualitativas. Esta opo para uma forma de pensar e fazer do profissional na
parece pertinente, na medida em que o conceito de ateno ao cliente e famlia dele, nas instituies
cotidiano est relacionado compreenso do sujeito que o cliente frequenta, e nas polticas pblicas para
que tem uma vida individual, em um ambiente social, as populaes que so alvo de ateno em terapia
no qual os modos de produo e as relaes sociais ocupacional.
esto sempre influenciando o cotidiano das pessoas.
Alm disso, foram utilizados autores terapeutas
Segundo Minayo (2004), as pesquisas ocupacionais para fundamentar o conceito de
qualitativas incorporam tanto o significado quanto cotidiano (RIBEIRO; PIMENTEL, 2005;
a intencionalidade vinculados aos atos, relaes e MASTROPIETRO; SANTOS; OLIVEIRA, 2006;
estruturas sociais. Os apontamentos de Benetton, DUARTE; UCHA-FIGUEIREDO, 2010), como
Tedesco e Ferrari (2003) reforam tais consideraes Marisa Takatori (2001, 2003), que relata que para a
ao ressaltarem que, a partir do sculo XIX, o terapia ocupacional o cotidiano entendido como
cotidiano discutido e entendido como elemento uma sucesso de acontecimentos vividos, que incluem
constitutivo da trama social. espaos sociais, tempos diversos, pessoas e objetos
Entre os artigos estudados, 5 no apresentaram variados. O cotidiano possibilita ao sujeito expor seu
com clareza a definio do conceito de cotidiano que estilo de ser, que, ao mesmo tempo, compartilhado
estava sendo utilizada (COSTABILE; BRUNELLO, e reconhecido pelo outro, construindo sua histria
2005; LOPES; GRACIA, 2010; MATSUKURA; pessoal e social. O cotidiano uma forma de viver
MENECHELI, 2011; TAVARESetal., 2012; sua prpria histria.
ALENCAR; TERADA, 2012). O cotidiano faz parte da vida do sujeito e o
Outros estudos basearam-se em autores da filosofia sujeito se constitui a partir da sua vida cotidiana,
como Lefebvre e Lukcs para conceituar cotidiano so partes inter-relacionadas e constitutivas entre
(BENETTON; TEDESCO; FERRARI, 2003; si. A vida cotidiana o cenrio em que ocorre a
GALHEIGO, 2003). Os artigos relatam que, segundo insero no mundo compartilhado, social e cultural
esses autores, a vida cotidiana uma sequncia de (TAKATORI, 2001).
acontecimentos vividos no dia a dia, o centro da Assim, percebe-se que o conceito de cotidiano,
prxis, onde se produzem e reproduzem as relaes considerado nos estudos de terapeutas ocupacionais,
sociais. A vida cotidiana permite conhecer a prpria se estabelece na relao entre aquilo que singular
sociedade, j que existe uma trama ponderando a do sujeito com o que coletivo e social. H um
relao entre ao poltica e o cotidiano. foco no dia a dia do indivduo, nos pequenos
O conceito de cotidiano, advindo da obra de acontecimentos e aes, nos detalhes da construo
gnes Heller, tambm foi abordado em 4 artigos da histria do sujeito, em articulao com o contexto
(BENETTON; TEDESCO; FERRARI, 2003; social, as formas de produo, as diretrizes polticas,
GALHEIGO, 2003; RIBEIRO; PIMENTEL, a organizao social. O conceito de cotidiano se
2005; MASTROPIETRO; SANTOS; OLIVEIRA, estabelece na relao do micro com o macro, se
2006). Heller (2000, 2002) define que o cotidiano constri na articulao entre o zoom focado na vida
est no centro do acontecer histrico e que a vida do sujeito e a lgrande ocular que capta os processos
cotidiana heterognea e varia conforme contexto, de produo social.

Cad. Ter. Ocup. UFSCar, So Carlos, v. 21, n. 2, p. 265-273, 2013

 Salles, M. M.; Matsukura, T. S. 269

Entre os estudos analisados, Galheigo (2003, conceitos de atividades de vida diria e prtica so
p. 107) realiza avanos no uso do conceito de a-histricos, sendo utilizados de forma indiscriminada
cotidiano no campo da terapia ocupacional. Segundo e descontextualizada nos livros e nas prticas de
a autora, a reflexo sobre as prticas sociais que terapia ocupacional (GALHEIGO, 2003, p. 107).
cruzam o cotidiano que possibilita a compreenso Nesse contexto, a terapia ocupacional caminhou
da realidade social e abre as portas para a sua do treinamento das atividades de vida diria para a
modificao. Na medida em que os estudos sobre ressignificao do cotidiano. A concepo sobre o
o cotidiano incorporam a subjetividade, a cultura, cotidiano surge com a inteno de transformar os
a histria e o poder social como elementos que conceitos de atividades de vida diria e atividades
influenciam na compreenso do fenmeno, eles de vida prtica, que inicialmente tinham uma
definitivamente rompem com qualquer leitura de perspectiva positivista (GALHEIGO, 2003).
carter mais positivista. Assim, o cotidiano surge
O conceito de cotidiano na produo e no
na terapia ocupacional como uma busca de fazer uso
discurso da terapia ocupacional implica em uma
de conceitos que se afinem s leituras e proposies
mudana na proposio terica e metodolgica da
crticas da ao da terapia ocupacional.
profisso. A prtica da terapia ocupacional baseia-se
O conceito de cotidiano no pode se restringir na contextualizao histrica do indivduo e na sua
ideia daquilo que feito dia aps dia, pois abrange possibilidade de participao social (GALHEIGO,
como o sujeito v a si mesmo, como constri sua 2003).
identidade, como participa da vida comunitria e
Assim, reafirmando a origem da reflexo sobre
tambm se refere s formas de organizao social.
hbitos, ou problematizando a conceituao sobre
atividades de vida diria os autores colocam o
5 Uma perspectiva cotidiano como um conceito que define uma posio
terico-metodolgica terica da terapia ocupacional que rompe com uma
interpretao mdica e positivista dos cuidados em
No desenvolvimento das concepes tericas sade e se preocupa como a subjetividade do sujeito,
utilizadas em terapia ocupacional, o conceito de suas atividades no dia a dia e sua insero social
hbitos e atividades de vida dirias se encontra nas (GALHEIGO, 2003; BENETTON; TEDESCO;
origens da terapia ocupacional. E, percorrendo FERRARI, 2003).
caminhos diferentes, esses conceitos iniciaram A utilizao do conceito de cotidiano em
discusses que mais tarde repercutem no uso do terapia ocupacional indica um caminho terico e
conceito de cotidiano na terapia ocupacional. metodolgico trilhado pela profisso, que procura ir
Os hbitos so associados vida do dia a dia, so alm do estudo dos fenmenos concretos, repetitivos e
nicos para cada sujeito, so mecanismos para que as sintomticos (como utilizado no paradigma mdico),
pessoas se acostumem a efetuar todo dia o necessrio para focalizar tambm no que nico e ocorre
e o desejado de maneira eficiente. A rotina e os hbitos em conexo com o contexto social. O conceito
so entendidos como caractersticos da cotidianidade de cotidiano permite que a terapia ocupacional
e introduzem certa sucesso nas atividades da vida mantenha seu objeto de estudo e prtica com
cotidiana (BENETTON; TEDESCO; FERRARI, um olhar prprio, enxergando o sujeito em suas
2003). singularidades e suas relaes sociais e no apenas
em suas funes fsicas e funcionalidade na execuo
A principal herana de Slagle e seu programa de
de determinadas atividades.
treinamento de hbitos para a terapia ocupacional
que ela rompe com o paradigma mdico de
enfrentamento de sintomas para um paradigma 6 O adoecimento como uma
fundamentado no fazer para construir cotidianos, ruptura na vida cotidiana
apesar das doenas ou deficincias (BENETTON;
TEDESCO; FERRARI, 2003). O conceito de cotidiano tambm foi utilizado nas
Assim, desde sua origem a terapia ocupacional j pesquisas dos terapeutas ocupacionais na reflexo
apontava para uma aproximao conceitual com as sobre como o adoecimento causa transformaes na
reflexes das cincias sociais; que leva em conta no vida cotidiana tanto do sujeito que adoeceu como
apenas a doena, mas a subjetividade e a histria dos das pessoas a sua volta.
sujeitos, seus modos de fazer e suas relaes sociais. Por exemplo, doenas crnicas acarretam
A ideia de vida diria tambm vem sendo utilizada limitaes no desempenho funcional que limitam
pela terapia ocupacional desde suas origens. Porm os a realizao de tarefas no dia a dia, transformando

Cad. Ter. Ocup. UFSCar, So Carlos, v. 21, n. 2, p. 265-273, 2013

270 Estudo de reviso sistemtica sobre o uso do conceito de cotidiano no campo da terapia ocupacional no Brasil

o cotidiano do sujeito (TAVARESetal., 2012), histria de vida a partir das atividades que realiza
ou a presena da criana com deficincia, que no dia a dia, retomando e reinventando ocupaes
transforma a vida cotidiana das famlias (RIBEIRO; significativas.
PIMENTEL, 2005). Estudo de Duarte e Ucha-Figueredo (2010) relata
A dor tambm causa dificuldades na realizao de como idosos com hipertenso arterial ou diabetes
atividades de vida diria (bsicas e instrumentais), mellitus conseguem realizar o que precisam, em
consequentemente o sujeito necessita de ajuda de casa e no lazer, acreditam ser habilidosos no que
outras pessoas para realizar afazeres domsticos. fazem e realizam atividades significativas. Eles
Pessoas afastadas do trabalho vivenciam uma rotina organizam seu tempo, planejam antes de executar
que se organiza a partir de consultas mdicas, exames e exercem pelo menos um papel social na vida. Eles
e percia junto ao INSS. Alm disso, a dor prejudica continuam realizando uma gama de atividades de
o lazer e as atividades sociais. As dificuldades para vida prtica, de lazer e atividades compartilhadas;
realizar atividades antes desempenhadas afetam os conseguem envelhecer de forma saudvel e se adaptar
papis sociais, a relao entre as pessoas, o contexto s mudanas fsicas, psquicas e sociais.
social e a sade mental. A dor pode gerar incapacidade Os acontecimentos marcantes da vida esto
para trabalhar e deixar o sujeito mais tempo em casa, impressos no cotidiano, as transformaes ocorridas
reduzindo as atividades que a pessoa costumava fazer com os sujeitos, assim como a continuidade de
e construindo um cotidiano em torno do tratamento sua histria de vida, acontecem no cotidiano. As
(ALENCAR; TERADA, 2012). mudanas subjetivas e objetivas que acontecem com
A vida cotidiana das pessoas tambm se o sujeito atravessam a vida cotidiana.
transforma aps transplante de medula ssea (TMO),
inicialmente o dia se preenche por atividades de 7 O cotidiano dos sujeitos
autocuidado e aps algum tempo desperta-se para
um novo cotidiano, diferente daquele antes do O conceito de cotidiano tambm foi utilizado nas
transplante. Aps o TMO, as necessidades subjetivas pesquisas para embasar a descrio e anlise da vida
dos sujeitos assumem uma dimenso empobrecida, cotidiana dos sujeitos que eram foco dos estudos. Os
os cuidados restringem-se manuteno do corpo estudos mostram o interesse da terapia ocupacional
biolgico; conforme so liberados dessas limitaes, pelo que as pessoas fazem no dia a dia, como se
os sujeitos retomam o sentido de domnio sobre relacionam, e como o ambiente social influencia as
a prpria vida e reconstroem seu cotidiano. O possibilidades de os sujeitos realizarem atividades.
transplante de medula ssea causa uma ruptura Lopes e Garcia (2010) descrevem o cotidiano
brutal no cotidiano e tambm a possibilidade de uma de trabalho durante o dia, estudo noite e poucas
nova construo (MASTROPIETRO; SANTOS; atividades de lazer nos finais de semana para os
OLIVEIRA, 2006). adolescentes trabalhadores da UFSCar. Relatam
Esses exemplos demonstram o impacto da doena que devido necessidade financeira, os adolescentes
no cotidiano do sujeito e das pessoas prximas a tm necessidade de trabalhar. Porm, o cansao do
ele. Aps o aparecimento de uma doena, a vida trabalho durante o dia prejudica o estudo noite.
cotidiana pode tomar outro rumo, o que antes era Os autores problematizam a m qualidade do ensino
importante pode se tornar secundrio, ou uma pblico e do ensino noite, ao mesmo tempo em
atividade que antes era realizada com facilidade que apontam a escola como caminho para realizao
pode se tornar um desafio e novas aprendizagens dos projetos de vida desses adolescentes.
podem ser necessrias. Ribeiro e Pimentel (2005) identificam que o
Muitas vezes, o sujeito ter que ressignificar suas cotidiano das famlias de crianas com deficincia
experincias, buscar na vida antes do adoecimento se desenrola em torno dos cuidados com a criana.
sentido para sua vida, mas tambm encontrar novos Outras atividades so delegadas para segundo
caminhos de construo da sua subjetividade, de plano, com exceo das atividades remunerativas,
quem ele , o que gosta de fazer, como participa dos quando so realizadas pelo pai. O cotidiano das
modos de produo social e com quem se relaciona. mes composto pelo cuidar da criana deficiente
Outra questo abordada nos estudos a e pelo trabalho domstico ou remunerado, e foram
importncia da continuidade da vida cotidiana, apesar apontadas dificuldades para realizar atividades de
da doena (DUARTE; UCHA-FIGUEREDO, lazer.
2010). Mesmo que a doena promova transformaes, O estudo de Matsukura e Menecheli (2011)
o sujeito deve conseguir dar continuidade a sua complementa esses achados identificando a sobrecarga

Cad. Ter. Ocup. UFSCar, So Carlos, v. 21, n. 2, p. 265-273, 2013

 Salles, M. M.; Matsukura, T. S. 271

de trabalho no cotidiano de mes de crianas autistas, 2003; BENETTON; TEDESCO; FERRARI, 2003;
ao mesmo tempo em que acompanhar, dia aps dia, RIBEIRO; PIMENTEL, 2005; MASTROPIETRO;
o desenvolvimento dessas crianas um dos maiores SANTOS; OLIVEIR A, 2006; LUVIZARO;
prazeres vividos pelas mes. Tambm foram relatadas GALHEIGO, 2011; PIRGINE; AULER, 2010;
a relao de dependncia das crianas autistas com ALENCAR; TERADA, 2012; TAVARESetal.,
as mes e as dificuldades das mes para frequentar 2012). As pesquisas evidenciam como so mltiplas
ambientes externos com as crianas. Foi analisada as possibilidades de ao da terapia ocupacional na
a rotina das crianas autistas, que gira apenas em perspectiva de auxiliar a construo de uma vida
torno dos tratamentos e da escola. cotidiana significativa para o sujeito.
Outro aspecto apontado pelas pesquisas como A vida cotidiana do sujeito se revela no
a rotina institucional determinante na construo entroncamento da realidade exterior e
do cotidiano do sujeito. Para a pessoa que est da realidade psquica, na rede de suas
institucionalizada, o ambiente externo tem uma relaes sociais, nas atividades costumeiras
influncia marcante nas possibilidades do que o de autocuidado e automanuteno, nas
indivduo pode fazer durante o dia. manifestaes de solidariedade (GALHEIGO,
Pirgine e Auler (2010) relatam como a rotina 2003, p. 108).
institucional padroniza o comportamento de pessoas
A terapia ocupacional tem uma posio
com transtornos mentais em hospitais psiquitricos,
privilegiada ao poder colaborar para a elaborao
afetando diretamente a personalidade dos sujeitos
crtica do cotidiano do sujeito.
habitantes. As autoras descrevem o programa da
terapia ocupacional em um hospital, composto Na terapia ocupacional necessrio garantir a
por oficinas, acompanhamento teraputico, festas e humanizao no tratamento e recriar o cotidiano
reunies, e refletem sobre as transformaes ocorridas a partir da runa e das partes vivas que resistiram
no cotidiano dos sujeitos a partir das atividades crise (MASTROPIETRO; SANTOS; OLIVEIRA,
oferecidas por esse programa. 2006).
O cotidiano de crianas com deficincia nas Tambm importante auxiliar as famlias a
escolas tambm objeto de anlise de Costabile e reorganizarem sua vida cotidiana (RIBEIRO;
Brunello (2005). As autoras relatam os progressos das PIMENTEL, 2005). No apenas o sujeito que
crianas autistas que frequentavam escolas regulares adoeceu deve receber ateno para reconstruir sua
e identificaram: maior socializao, independncia vida, mas tambm aqueles que esto sua volta,
e autonomia em atividades de vida prtica, vivem as transformaes no seu cotidiano e podem
diversificao de brincadeiras, compreenso de receber cuidados e orientaes da terapia ocupacional.
regras, mudana de atitude frente a outros, conquistas A terapia ocupacional pode atuar na construo
na rea pedaggica e ampliao da comunicao da moradia dos sujeitos, transformando os lugares
verbal e no verbal. Na convivncia cotidiana na de habitar em espaos que se configuram no
escola h a oportunidade de aprendizagem e de se cotidianoo ser humano necessita ser acolhido
estabelecerem novas relaes. pelo ambiente em que se insere (LUVIZARO;
Assim, percebe-se que o conceito de cotidiano GALHEIGO, 2011).
pode ser utilizado para refletir sobre como as pessoas Nas instituies, a terapia ocupacional pode
organizam a vida e como a doena gera a necessidade construir um cotidiano individual e no alienante,
de priorizar as atividades relacionadas ao tratamento. como a rotina institucional, ajudando no resgate da
O cotidiano tambm colocado como elemento histria de vida do sujeito e na construo de uma
centralizador na anlise de como o contexto social nova histria (PIRGINE; AULER, 2010). Tambm
transforma o dia a dia das pessoas, identificando-se pode contribuir no reordenamento institucional dos
todos os desdobramentos que se do a partir dessas abrigos, por exemplo (LUVIZARO; GALHEIGO,
transformaes. 2011).
Alm disso, importante auxiliar o sujeito na
8 Ateno em terapia realizao das tarefas do dia a dia, oferecendo um
ocupacional suporte no enfrentamento da situao criada pela
doena e ajudando na reconstruo do cotidiano
Estudos tambm relataram (ou discorreram (ALENCAR; TERADA, 2012).
sobre) a importncia da reflexo sobre o cotidiano O atendimento em terapia ocupacional tambm
na prtica da terapia ocupacional (GALHEIGO, pode ser uma estratgia utilizada para promover a

Cad. Ter. Ocup. UFSCar, So Carlos, v. 21, n. 2, p. 265-273, 2013

272 Estudo de reviso sistemtica sobre o uso do conceito de cotidiano no campo da terapia ocupacional no Brasil

reflexo sobre o cotidiano do sujeito e a reorganizao J o conceito de hierarquia, que considera que uma
de hbitos, rotinas e papis. A terapia ocupacional atividade ocupa um lugar central e determinante
auxilia os sujeitos a remodelarem sua histria de vida e e a ela se subordinam todas as demais formas de
ressignificarem o cotidiano depois das transformaes atividade (HELLER, 2000), pode ser til na reflexo
ocorridas devido doena (TAVARESetal., 2012). sobre como o adoecimento transforma as prioridades
Segundo o mtodo de terapia ocupacional das atividades que so realizadas no dia a dia, o que
dinmica, no setting da terapia ocupacional se muda toda a organizao da vida cotidiana.
promove um espao de fazer, criar, construir e So diversas as possibilidades do uso do conceito
reconstruir a histria do sujeito; nesse processo de cotidiano na pesquisa e na prtica da terapia
percebe-se que um outro cotidiano possvel ocupacional e o presente estudo evidencia que
(BENETTON; TEDESCO; FERRARI, 2003). esse construto/conceito soma ao aporte terico
vinculado ao conhecimento em terapia ocupacional
9 Consideraes finais contempornea brasileira.

Os sujeitos inseridos em prticas e intervenes Referncias

em terapia ocupacional, em geral, vivenciaram ALENCAR, M. C. B.; TEREDA, T. M. O afastamento do
uma ruptura na sua vida cotidiana. Na ateno a trabalho por afeces lombares: repercusses no cotidiano
essas pessoas preciso reconhecer o que mudou, de vida dos sujeitos. Revista de Terapia Ocupacional da
as ocupaes que se tornaram improvveis, ou que USP, So Paulo, v.23, n.1, p.44-51, 2012.
precisam de adaptaes para sua realizao, mesmo BENETTON, M. J.; TEDESCO, S.; FERRARI, S.
que muitas vezes isso represente um momento de Hbitos, cotidiano e Terapia Ocupacional. Revista CETO,
luto pelo que se perdeu. O terapeuta ocupacional So Paulo, v.8, n.8, p.27-40, 2003.
busca, com o sujeito, maneiras para ele no se CASTRO, E. D.; LIMA, E. M. F. A.; BRUNELLO, A.
fechar na impossibilidade, resgatar sua histria de I. B. Atividades humanas e Terapia ocupacional. In: DE
vida, a histria de suas ocupaes, descobrindo CARLO, M. M. R. P.; BARTALOTTI, C. C. (Org.).
um caminho de continuidade entre o passado e o Terapia Ocupacional no Brasil: Fundamentos e perspectivas.
So Paulo: Plexus, 2001. p.41-59.
presente e tambm de continuidade com o futuro,
abrindo espao para o novo, para a redescoberta de COSTABILE, C.; BRUNELLO, M. I. B. Repercusses
da incluso escolar sobre o cotidiano de crianas com
outras e novas ocupaes para o sujeito.
deficincia: um estudo a partir do relato das famlias.
Nesse processo, o sujeito se identifica com o que Revista de Terapia Ocupacional da USP, So Paulo, v.16,
faz, se estabelecem novos papis sociais. O cotidiano n.3, p.124-130, 2005.
se reconstri com as pessoas sua volta, no contexto DRUMMOND, A. F. Fundamentos da Terapia
em que ele se insere. Se o cotidiano se transforma, Ocupacional. In: CAVALCANTI, A.; GALVO, C.
o sujeito tambm se transforma; uma ruptura na (Ed.). Terapia Ocupacional: Fundamentao e prtica.
vida cotidiana e a ressignificao desse cotidiano Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. p.10-17.
no acontecem sem uma transformao subjetiva DUARTE, G. P.; UCHA-FIGUEREDO, L. R. A vida
do sujeito. O inverso tambm pode ocorrer, se o cotidiana e a qualidade de vida de pacientes atendidos na
sujeito se transforma, essa mudana ir se refletir ateno primria de sade. Cadernos de Terapia Ocupacional
em sua vida cotidiana, pois a vida cotidiana e as da UFSCar, So Carlos, v.18, n.1, p.19-33, 2010.
particularidades do sujeito caminham de mos FRANCISCO, R. B. Terapia ocupacional. 2.ed. Campinas:
dadas, imersos em seu contexto social. Papirus, 2001. PMCid:30108.
GALHEIGO, S. M. O cotidiano na terapia ocupacional:
Na construo desses caminhos, a teoria do
cultura subjetividade e contexto histrico-social. Revista
cotidiano como descrita por Heller (2000) pode
de Terapia Ocupacional da USP, So Paulo, v.14, n.3,
oferecer um suporte na reflexo e transformao do p.104-109, 2003.
cotidiano do sujeito. O conceito de heterogeneidade,
GALVO, C. M.; SAWADA, N. O.; TREVIZAN,
por exemplo, define que a vida cotidiana composta M. A. Reviso sistemtica: recurso que proporciona a
de diferentes esferas, ou gamas de atividades, como incorporao das evidncias na prtica da enfermagem.
descanso, trabalho, lazer e atividade social (HELLER, Revista Latino Americana de Enfermagem, Ribeiro Preto,
2000), e pode ser usado para refletir sobre como a v.12, n.3, p.549-556, 2004. PMid:15303213. http://
pessoa compe a sua vida cotidiana, analisando dx.doi.org/10.1590/S0104-11692004000300014
como e se existem atividades nas diferentes HELLER, A. O cotidiano e a histria. So Paulo: Paz e
esferas, por exemplo. Terra, 2000.

Cad. Ter. Ocup. UFSCar, So Carlos, v. 21, n. 2, p. 265-273, 2013

 Salles, M. M.; Matsukura, T. S. 273

HELLER, A. Sociologa de la vida cotidiana. Barcelona: ao cotidiano de cuidados e ao tratamento. Cadernos de

Ed. Pennsula, 2002. Terapia Ocupacional da UFSCar, So Carlos, v.19, n.2,
LIMA, E. M. F. A.; PASTORE, M. D. N.; OKUMA, p.137-152, 2011.
D. G. As atividades no campo da Terapia Ocupacional: MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa
mapeamento da produo cientfica dos terapeutas qualitativa em sade. 8. ed. So Paulo: Hucitec, 2004.
ocupacionais brasileiros de 1990 a 2008. Rev. Revista PIRGINE, M.; AULER, L. M. D. G. Os significados
de Terapia Ocupacional da USP, So Paulo, v.22, n.1, do cotidiano. Revista CETO, So Paulo, v.12, n.12,
p.68-75, 2011. p.9-13, 2010.
LOPES, R. E.; GARCIA, D. B. Problemas e perspectivas RIBEIRO, V. O.; PIMENTEL, A. M. As mudanas no
escolares e de trabalho no cotidiano dos meninos e meninas cotidiano de famlias que possuem filhos com deficincia.
trabalhadores da UFSCar. Cadernos de Terapia Ocupacional Revista Baiana de Terapia Ocupacional, v.2, n.1, p.11-16,
da UFSCar, So Carlos, v.18, n.3, p.247-261, 2010. 2005.
LUVIZARO, N. A.; GALHEIGO, S. M. Consideraes TAKATORI, M. A. Terapia ocupacional no processo
sobre o cotidiano e o habitar de crianas e adolescentes de reabilitao: construo do cotidiano. O Mundo da
em situao de acolhimento institucional em abrigo. Sade, So Paulo, v.25, n.4, p.371-377, 2001.
Revista de Terapia Ocupacional da USP, So Paulo, v.22, TAKATORI, M. O brincar no cotidiano da criana
n.2, p.191-192, 2011. com deficincia fsica: reflexes sobre a clnica da terapia
MASTROPIETRO, A. P.; SANTOS, M. A.; OLIVEIRA, ocupacional. So Paulo: Atheneu, 2003.
E. A. Sobreviventes do transplante de medula ssea: TAVARES, A. A.etal. (Re) Organizao do cotidiano
construo do cotidiano. Revista de Terapia Ocupacional de indivduos com doenas crnicas a partir da estratgia
da USP, So Paulo, v.17, n.2, p.64-71, 2006. de grupo. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar,
MATSUKURA, T. S.; MENECHELI, L. A. Famlias So Carlos, v.20, n.1, p.95-105, 2012. http://dx.doi.
de crianas autistas: demandas e expectativas referentes org/10.4322/cto.2012.011

Contribuies dos Autores

Mariana Moraes Salles realizou a concepo da pesquisa, a coleta e anlise de dados, efetivou a organizao
dos resultados, discusso e redao do texto. Thelma Simes Matsukura orientou todas as etapas do
estudo, participou da concepo da pesquisa, contribuiu na discusso dos resultados e realizou reviso
crtica do texto.

Notas
1
O presente artigo integra o projeto de pesquisa realizado durante estgio ps-doutoral de ttulo Vida cotidiana e sade
mental: contextualizando as ocupaes e o uso do tempo de usurios de centros de ateno psicossocial, desenvolvido
no Programa de Ps-graduao em Terapia Ocupacional, Departamento de Terapia Ocupacional, Universidade Federal
de So Carlos. Pesquisa financiada pela Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So PauloFAPESPProcesso
n 2011/23424-5.

Cad. Ter. Ocup. UFSCar, So Carlos, v. 21, n. 2, p. 265-273, 2013