Curtimento Artesanal Pele Ovina

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Curtimento artesanal

da pele ovina

Hlio Carlos Rocha


II

AGRADECIMENTOS

O autor agradece a todas as pessoas que colaboraram para que este


trabalho passasse do aspecto terico para a dimenso prtica, tornando
possvel o aproveitamento da pele ovina dentro das propriedades rurais e em
especial:
Secretaria de Cincia e Tecnologia do Estado do Rio Grande do
Sul Programa: Plos de Inovao Tecnolgica;
Escritrio Regional da Emater/RS Passo Fundo;
Aos funcionrios do Cepagro Centro de Pesquisas e Extenso em
Agropecuria da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinria
da Universidade de Passo Fundo (RS);
Aos Tcnicos dos Escritrios Municipais da Emater/ RS
envolvidos com o Projeto de Produo de Carne Ovina.

Homenagem Especial:
Ao Jornalista Jos Hamilton Ribeiro do programa Globo Rural, pela
grande contribuio prestada agropecuria brasileira ao enfocar a
viso das necessidades do homem do campo.
Introduo

O objetivo do presente trabalho apresentar aos


produtores rurais interessados uma alternativa para curtir
as peles ovinas de forma artesanal, sem o uso de produtos
a base de cromo, que so potencialmente txicos aos seres
vivos e ao meio ambiente.
Uma pele ovina bem tratada pode apresentar um
valor entre 10 a 15% do valor de uma ovelha; portanto, o
produtor pode agregar valor cria, curtindo a pele dos
animais abatidos na propriedade.
As etapas para obteno um pelego de boa
qualidade sero descritas passo a passo, sendo esta uma
maneira simples e prtica para o curtimento da pele dos
ovinos.

Escolha do animal

Os ovinos lanados devem ser abatidos em torno de


trs a seis meses aps serem tosquiados, pois os ferimentos
da pele do animal, como leses, bernes e bicheiras, estaro
plenamente cicatrizadas e a l estar com uma altura entre
15 e 30 mm, caractersticas das ls classificadas como de
melhor qualidade. Estas so classificadas como peles
tronquinho, tronco, um quarto de l e pelego meia l.
Estas peles so mais valorizadas por no apresentarem a
parte do carnal, tambm chamada de flor da pele,
quando da abertura do velo.
Em relao altura da l, as peles so classificadas
como:
a) peles tosadas o pelego esquilado aps o abate
do animal;
b) peles originais o animal esquilado antes do
abate;
c) pele tronquinho altura da l de 15 a 20 mm;
d) pele tronco altura da l de 20 a 25 mm;
e) pelego um quarto de l altura da l de 25 a 30
mm;
f) pelego trs quartos de l altura da l acima de
35 mm;

Outro aspecto que tambm deve ser considerado na


escolha do animal o seu tamanho, pois um animal grande
produz uma pele grande e um pelego de melhor valor do
que uma pele pequena.

Abate do animal

Aps o abate do ovino riscam-se com uma faca os


seguintes pontos no corpo do animal: circulam-se as patas
traseiras e dianteiras na altura dos joelhos e jarretes; corte
linear na parte interna do corpo, nas patas traseiras e
dianteiras, peito, barriga e pescoo, de modo a facilitar a
retirada da pele nesses pontos. Aps a liberao da pele
das patas traseiras, com o uso das mos, com os punhos
fechados, procede-se retirada do resto da pele. Lembre-
se que um animal bem carneado o lucro dobrado.
Figura 1 Desenho esquemtico dos locais para riscar a pele no
corpo do ovino.
Figura 2 Retirada da pele ovina aps a sagria do animal.
Cepagro, 2003.

Preparo da pele

Logo aps a esfola, a pele deve ser limpa, retirando-


se os restos de gordura, principalmente da regio do lombo
e da garupa. A seguir, a pele deve ser bem lavada com
gua e sabo nos dois lados carnal e da l; pode-se
utilizar uma vassoura ou outro equipamento para realizar
esta tarefa. Uma boa dica nesta fase utilizar gua morna
para facilitar a limpeza da pele. Aps o enxge, a pele
deve perder o excesso de gua.
Figura 3 Lavagem com gua e sabo em p da pele ovina aps
a aplicao dos sais curtentes. Cepagro, 2003.

Aplicao do produto curtente e estaqueamento

A pele, aps a sua limpeza, est pronta para ser


curtida. Coloca-se a pele sobre uma mesa ou estrado de
madeira com a l voltada para baixo e aplica-se na parte
do carnal ( a face interna da pele, que estava em contato
com a carne) uma mistura de 500 g de alume de potssio,
tambm conhecida como pedra ume, 250 g de cloreto de
sdio (sal fino de cozinha) e 1,0 L de gua quente. Essa
mistura dever ser aplicada em todo o carnal,
permanecendo por trs dias sobre a mesa em um local
protegido do sol e dos animais. Aps os trs dias, a pele
dever ser estaqueada em uma estrutura de ferro ou
madeira construda para esse fim, de dimenses 2,20 m x
1,40 m, sendo colocada a secar na sombra at a perda de
toda a umidade do carnal. Nesta fase, alguns resduos do
carnal ainda existentes iro se soltar com uma leve presso
dos dedos. A secagem completa da pele ir depender do
clima da regio, sendo mais rpida (sete a dez dias) ou
mais lenta (at mais de vinte dias).

Amaciamento da pele

Aps ter-se completado o processo curtente, a pele


ser lavada com gua para a retirada dos sais e colocada
para secar novamente. Aps seca, aplica-se no lado do
carnal um pouco de leite e sova-se, utilizando o fundo de
uma garrafa, de modo a dar maciez ao produto.

Figura 4 Amaciamento da pele ovina pela aplicao de leite e


sovamento com uma garrafa. Cepagro, 2003.
Lava-se novamente a pele com gua e sabo,
podendo-se acrescentar um amaciante para deixar o
pelego perfumado. Para branquear a l, pode-se utilizar
hipoclorito de sdio (gua sanitria) e gua na proporo
de 1:5, evitando-se um branqueamento excessivo para no
danificar o carnal da pele. Lixa-se a pele no lado do carnal
com uma lixa nmero 80, fazendo movimentos circulares.
Aps esses procedimentos, coloca-se para secar novamente
no estaqueador.

Figura 5 Amaciamento e limpeza da pele ovina pela aplicao


de leite e sovamento com uma garrafa. Cepagro, 2003.
Acabamento do pelego

Com a pele j pronta, a etapa final ser o recorte,


eliminando-se todas as laterais que apresentarem
perfuraes do estaqueamento ou outros defeitos. O
formato mais tradicional aquele em que se preserva a
forma do animal.

Foto 5 O reprter Jos Hamilton Ribeiro entrevistando o Prof.


Hlio Carlos Rocha por ocasio das filmagens da
matria sobre pelegos para o programa Globo Rural.
Cepagro, 2003.

Para o acabamento final, procede-se a cardagem da


l do pelego, utilizando-se para este fim uma carda. A
cardagem nada mais do que pentear a l deixando as
fibras compactas. Inicia-se por uma das pontas do pelego
de modo que as fibras da l fiquem todas separadas, dando
um aspecto compacto ao produto final.

Bibliografia

EPAGRI. Curso profissionalizante de curtimento de pele


ovina informaes tcnicas. Boletim Didtico n0 26. 1998.
10p.

VAZ, C. M. S. LUIZ; MIRANDA, A. N;


VASCONCELLOS, R. O; VALRIO, A. M. D; GOMES.
L. C. Instrues tcnicas para o produtor Curtimento de
pele ovina passo a passo. EMBRAPA - Pecuria Sul. s/p.
s/d.

SILVA SOBRINHO, A. G. da. Peles ovinas por Amrico


Garcia da Silva Sobrinho e Manuel A. Chagas Jacinto.
Jabotical, FUNEP, 1992. 33p.

COSUL. II Encontro das Cooperativas de Ls sobre


estudos e problemas de defeitos em peles ovinas e I
Encontro dos Departamentos Tcnicos das Cooperativas.
Pelotas, 1988. 10p. (impresso).

ROCHA, H.C; DICKEL, E.L; MESSINA, S.A. Produo


do cordeiro em sistema de consorciao. Passo Fundo:
Editora UPF, 2003. 64p.

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