Melo Freire PDF
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UNIVERSIDADE DE COIMBRA
DIRIGE
PASCOAI> JOSP DE MEL0 FREIRE
hlUITAS SAUDABES
Ao
Altssimo D. Joo,
Princifie do Brasil, dedica
A Cincia Crimiiial, cujas Instituies, ouvintes, enfim
Pascoal Jos de Melo Freire
publicamos, nasceu, por assim dizer, com os prprios homens,
estas primeiras e cresceu com a formaco das sociedades civis. De facto, o pn-
meiro e principai fim da instikio destas sociedades foi firmar,
para os homens que nelas se congregavam, a segurana de vida
ZNSTZT UIES DE DIREITO CRZdlZAIAL PORTUGL'ES
e de bens, impossvel de obter sem as leis criminais que tratem
dos delitos e penas. E, por isso, se percorrermos as leis dos
povos mais antigos, referidas no velhos historiadores, acha-
remos que das, na maior parte, consistem em impedir e proibir
os crimes, e fixar as penas. Ora, certamente muito indigno
que tal cincia seja desconhecida dos que desempenham fun-
qes p~blicas,e sobretudo dos supremos governantes, ou dos
que deles receberam o encargo de exercitar o poder judicirio.
No nos admiremos, pois, de que outrora os mais graves
vares e os mais altos cngenhos de qualquer nao 5e celebri-
zasqem pelo conhecimento da Cincia Criminal. Seja permitido
louvar, por este titulo, os Sacerdotes entre os Egpcios, os An-
cios entre os Hebreus, os Strapas entre os Assinos e Persas,
a quem, n e s a s vetustissimas naes, fora confiado o julga-
mento e castigo dos delitos.
Na Grcia, floresceram nos louvores da Cincia Criminal E, para s falarmos de Fanncio (que foi e ainda 6 viil-
no s os cidados mais sbios, eleitos para os ColEgios dos garmente tido como o prncipe dos jurjsconsdtos cri~ninais),
Inquindore Criminais, mas tambm os prprios Oradores, devemos considerh-Io o pnr~cipalresponsvel pela cormpo
como se pode ver na maior parte dos discurscis de I,sias, iinivcrsal c JcsagradubiTsima que invadiu a CiBncia Criminal.
lscrates e Demtenes, em que acusavam os cidados delin- Na verdade, ele no s a tratou indouta, deselegante e desor-
quentes ou defendiam os inocentes acusados. denadamente nos grossos volumes que publicou, como ainda
por cima a tornou vacilante e verstil, e, depois, a obscureceu
Em Koma, onde a ciencia do direito e das leis comeou
e infectou com o rnaior nmero de defeitos. A alguns parecer
pela primeira vez a ser rcdiizida a certa ordem, a cultura do
talvez demasiado audaz este nosso juizo sobre Fariricio. Mas
direito voltou-se preferentemente para aquela imporlantssima
quem quer que, livre de preconceitos, percorrer os seus volumes,
e utilissin-ia parte que respeita aos crimes e penas. Disto nos do
fkcilinente depreender que no pronuncimos uma sentena
plena i6 tantos fragmentos dos Jurisconsiiltos Romanos. que
injusta.
ainda existem nas Pandectas; esses Jiirisconsultos ailmentaram,
ilustraram e e x a I ~ a s a ~nmxinia digniclade, em muitas obras ilntnio Mateus foi o primeiro de todcis que, nos Comen-
escritas, a Cincia Criminal, tambm sempre cultivada pelos trios aos livros XLS'IP e XLVIII dos Digestos, em que se
Oradores; depois caiu dessa dignidadr, juntamente com a glria trata da matria criminal, tocou com mos puras, poliu e repur-
do Imp&rio Romano. Tle facto, abalado e por fim destrudo gou dos niuito vcios e erros, que outrora nela abundavam,
este Irnprio no Ocidente pelos poros vindos do Norte, a Cincia aquela nobilssirna parte da Jurisprudncia Romana que vefia
Crimiiial tambem enfraqueceu e caiu com as leis romanas e as sobre os crimes e penas, e qrie havia sido perfunctriamente
restantes belas-artes e disciplinas; c s i comeou a ser ciiltivada, ilustrada pelos doutos Intrpretes e srdidamente corronlpida
depois de instaurados os direitos da velha JurispmdSncia Ro- pelo vulgo dos escritores criminais.
mana; a pouco e pouco se saiu da fereza e ignorncia dos Este 1011vor e glria se deve a Antnio Mateus; mas certa-
sCculos b&rbaros que aqueles povos do Norte haviam intro- mente -maior se deve a Grcio, Pufendod e ao Presidente de
duzido. Montesquieu, que, abalancnndo-se empresa dc erigir e levan-
Efectivamente, os quc, desde Imrio quase at aos nossos tar do cho a disciplina do Direito Natural e das Gentes, to
dias, aplicaram o seu trabalho c engenho em interpretar e ilus- dr~utaE st>iamenieexaminaram muitas questes, ao incidirem
trar o direito romano, embora tambm hajam tocado na nobi- no captulo que trata do direito competente ao supremo poder
fissima parte que respeita aos delitos e penas, contudo fizeram- civil sobre a vida e bens dos cidados, que parecem ter, digamos
-no sem ordem certa e conio tlc passagem, no serido muitos assim. arvorado a bandcira la boa esperana quanto ao futuro
os que empreenderam trat-la exprcssa e convenientemente. da Jurisprudhicia Criminal. Devem, pois, ser justa e mereci-
De facto, todos eles ou por culpa prpria ou por culpa dos damente considerados chefes e mestres de todos os que, poste-
tempos (com poucas excepes} ignoraram as cincias donde riomente. assumiram o encargo de oniar e polir esta disciplina
a Jurisprudncia Criminal deriva os seus verdadeiros pnn- KevoJveram depois estas scmenles e tornaram-nas, de facto,
cpios. muito produtivas, entre outros, Tliomsio, Gundling, Boehmero,
.&d;.o de Beccaria. que merece ale rnesmas leis aprovam o uso dos asilos, com cujo auxlin era
&&vbr peio f a d o de haver juntado, em um s volume, faclimo, mesmo aos maiores celerados, subtrarem-se pena
todas as boas ideias dos outros a respeito de cnmes c penas, justa, Porkm, estas coisas e outras semelhantes eram mais
e ter sido o primeiro que afoitarnente tentou revestir de uma defeitos dos tempus que dos homens, e no se deve imputar
nova face a Ciencia Cnminal. aos nosos 1egisIadores o facto de eles inclurem os erros comuns,
Quase nesta mesma altura surgiram Paulo Rizzi, Filipe ento admitidos pelo voto dos bi&, e:n suas leis criminais,
Maria Renazzi, Puttman, Genuensc, Filangieri, e miiitos outros que em toda a parte hoje os bons Prncipes oii expressamente
na Biblioteca Bvissoiina, que, apoiados na verdadeira filosofia ab-rogam publicando outras leis, ou parecem tcitamente ab- '
e jurisprudncia civil e nas restantes discip!inas mais elevadas, -rogar, admitindo tranquilamente a sua inaplicao e interpre-
formaram a nova Cincia Criminal, que, de facto, expuseram taes audazes e contorcidas, com que essas leis so humani-
breve e claramente em seus escritos, quase sempre plenssimos zadas e acomodadas ao presente estado de coisas. De facto,
de bons fmtos.
se est certo o que Ccero diz no De diuilzatione, liv. 11,
E, realmente, parecia de todo conveniente que, neste nosso cap. XXXIII, Nos tempos antigos hauia crenas falsas sobre
tempo, em que diligentemente se cultivam todas as disciplinas, ~ibtdatascoisas, mas uso o u o ensino ou a longa exfierincia
sobretudo as que visam a slida utilidade humana, tambm ~ n o d i j i c a ~ aessm
m ideias, e devendo-se ajustar as leis ao gnio
se polisse e aperfeioasse o mais possvel, recorrendo ao auxlio e costumes daqueles para quem so ~roduzidas,quem duvidar
das outras cincias, aquela que a mais til de todas: a Cincia de que seja, depois, necessria a sua prpria emenda e cor-
Criminal. Porque no sei de outra que mais interesse aos reco?
homens ver cultivada com extrema diligncia e fforindo com
Porm, a JunsprudBncia Cnminal, tal qual existe entre
simplicidade e pureza.
ns. acha-se realmente purificada de muitos defeitos que
Pelo que nos respeita, a Jurisprudncia Cri~ninal,que se outrora a enchiam, mas no de todos, pois isso como que
contm no livro V das nossas Ordenaes, sofre dos vcios estava reservado pelo destino aos tempos de D. Maria I e de
comuns em que abundam as leis criminais das outras naes, D. Joo, Prncipe do Brasil, durante cujo fcliz e benigno im-
c lamentvel que, ate agora, no tenha surgido entrc ns
prio todos os dias esperamos ver perfeita c totalmente acabado
quem descobrisse as suas fendas, ou, descobrindo, as curasse, o Novo Cdigo Criminal (mandado fazer por Decreto de 31 de
ou explicasse essas leis pelas suas genunas fontes, ou, pelo
Xlaio de 1778). Na verdade, por assim o disporem as leis,
menos, com alguma ordem e mktodo. Sem dvida, tambm tivemos de escrever muitas coisas, que, se dependesse de ns,
so confirmados pelas leis ptrias os contos de briixas e feiti- teiamos estabelecido de modo um pouco diferente. Porkm,
ceiras, as mutilaes de membros, as penas, j no direi recordamos que aqui no tratamos de estabelecer leis, mas de
atrozes, mas cruis, os tormentos, as multas pecunirias inven-
apreciar as j estabelecidas, cumprindo-nos jdgar por elas,
tadas para locupletar o fisco, as provas semiplenas e os ind-
e no acerca delas. Contudo, de modo nenhum nos parece digno
cios, que so havidos como provas verdadeiras e legtimas,
de censura aquele que, acomodando-se aos costumes e obede-
sobretudo nos delitos que chamam privilegiados. Depois, estas cendo s leis vigentes, diz respeitosamente o que sobre elas
sente. E, se ns o fizemos, alguns vezes, cauta e moderadamente, se as razes do direito do Lcio quadram ao nosso foro, ou se
saibam os mais tmidos, que costumam magoar-sc c sentir-se pelo contrjno, Ihc so completamente estranhas. Todavia, no
extremamente com qualquer novidade, que, sob o governo de so de todo desprezveis, porquanto, se nada adiantam para
D. Mana I e de D. Joo, Prncipe Filsofo e humanssimo, a teoria, contm muitas coisas teis que, no tocante ao cso
permitido aos escritores emitir livre e impunemente o seu e aplicao das leis, podem prestar grande ajuda nossa Juris-
juzo, tanto sobre as coisas pblicas como sobre as particularc., prudncia Criminal.
contanto que o faam com a maior discrio e dentro dos Sobresai dentre todos e merece principal louvor o nosso
limites prprios dum bom cidado. Mendes, que, nas Y.1e 11, explicou, breve e claramente, a praxe
Pelo que respeita aos nossos Jurisconsultos criminais, direi criminal, e a reduziu a uma ordem certa, ao passo que OS
confiadamente o que sirito, e para qu diimul-lo? Entendo outros tratam, sem ordem nenhuma, as questes nem todas
que eles quase nada menos souberam que o nosso Direito Cri- obveniente no foro, e as decidem, como habitualmente, pelo
minal, cuja interpretao assiimiram, visto ignorarem os ver- nmero dos Doutores, e no pela autoridade das leis.
dadeiros princpios e as fontes quer prximas quer remotas, A Practica CriminuZis de &1anuel Lopes Ferrcira tambm
onde se deve buscar a sua genuna irrterpretao. E que esperar contkm algumas coisas notveis, cujo conhecimento i: til
de homens que, ignorando a cincia do Direito Natural e das e necessrio aos que lidam no foro, mas, pelo tamanho, mais
Gentes, do Direito Civil e dos costumes, empreendem inter- parece servir de carga que de ajuda aos estudiosos de Direito
pretar a Jurisprudncia criminal que dai flui e emana? Que Criminal; merece melhor recomendao, ao menos pela brevi-
no conhecem a histria das nossas leis criminais, as diversas dade e pelo mtodo, o opsculo intitulado Primeiras Linhas
idades, os diversos costumes dos povos, e as diversas vicissi- sobre o Processo Criminal, publicado em 1785 (cuja quarta
tudes, mutaes e origem dos tempos, e depois as causas eficien- edio saiu mais correcta e aumentada, em Lisboa, 1827, 4 . O ) .
tes dessas mutaes? Que no tm conhecidas nem examinadas Scndo assim, permita-se-nos que imitemos a diligncia dos
as leis municipais de que usa qualqiier provncia e cidade para nutros e apresentemos tambm o nosso coritributo, pois, embora
punir os delitos nela praticados? E que, finalmente, ignoram reconheamos a desigualdade do nosso engenho, ardemos toda-
os direitos e prerrogativas pblicas dos cidados, que chama- via em igual vontade e desejo de bem pblico. E nUs, que j
mos foros, OS quais originam a diversidade de penas e o divcrso prestmos provas nas Instituies do nosso Direito Civil, temos
modo de investigar os crimes! Desviou-os do recto caminho. gosto em as prestar tambm nas Instituies Criminais. no por-
primeiro que tudo, o prejuizo da autoridade, e a indiferena que esperemos ver supridas pela nossa fraqueza as faltas dos
pelas leis ptrias, visto que eles apenas viam e aprovavam o que outros, mas para levarmos os homens de talento a cultivar esta
Claro, Farincio, Carpzov, Ameno, Ursaya e outros deste nobilssima c utilssima parte do nosso Direito.
gnero, deixaram escrito. Acresce que, arrebatados e obcecados Scguimos aqui um metodo tanto quanto possvel breve,
pelo amor das Ieis romanas, buscavam nelas todo o refrgio. claro, e simples; e, a exemplo do flustrssimo Heinccio em
e consideravam uma espcie de sacdgio tudo o que no podia suas Juris Civilis P~raelectiones,e de Boehmero nos Elementa
ser aprovado a partir delas, pouco lhes interessatido saber Jurisprztdentiac Criminnlis, fizemos toda a diligncia para quc,
apresentando antes de tudo breve e claramente os princpios, Cabedo, Mendes, Febu, Leito e outros, pois sabemos muito
regras e axiomas, da fcilmente se tirassem os consectrios bem que so respeitveis as opinies prccoriccituosas dos
e nexos doutrinais, mtodo este que o mais adequado, no liomens, ainda quando as tratamos de corrigir e destruir.
s para ensinar, mas tambm para aprender. Porm, se parecer Em outros tantos titulos, explicmos a matria respeitante
que este excessivo zelo de brevidade nos levou nalguns pontos forma e ordem dos juizos criminais; neles ensinmos, bicve
a ser demasiado conciso, dar-nos-eis o vosso perdo, ouvintes, e sumiriamente, quase hido o que nos parecia pertencer ou
pois no intentmos escrever uma obra de grande flego Ls solenidades desses juizos, ou Ls acusaes dos rPus, inquin-
e difusa, Inas urnas Instituies de Direito a que convm seme- es gerais ou especiais, denncia, e querelas; ou sua defesa
lhante gnero de exposio, cabendo, depois, aos vossos dou- e segurana; ou 5s provas, presunes e indcios dos crimes;
tissimos Professores explanar mais largamente a matria. ou execuo do juizo criminal e da coisa julgada, o11 abo-
Por isso, abrangendo todo o Direito Criminal sobretudo lio, perdo, e prescrio do prprio crime; ou inquirio
duas coisas, a saber, por um lado o prprio crime e a pena que ou condenao dos rus ausentes; ou reabilitao dos ino-
lhe deve ser prescrita, e, por outro, a forma de o investigar centes j condenados.
e decretar a pena aos delinquentes, ns, tratando num s Na explanao destas matrias (cumpre adverti-lo em
e mesmo contexto estes objectos do Direito Criminal, discor- absoluto), mantivemo-nos, o mais possvel, alheio tanto opi-
remos, no primeiro titulo, sobre os delitos, delinquentes e penas nio dos que sempre queimam ou cortam, como dos que, pelo
em geral. Nesse titulo inclumos as principais coisas notveis contrrio, se inclinam para excessiva misericrdia. De facto,
que os filsofos do nosso tempo escreveram sobre esta matria, uns e outros erram: aqueles, dirigindo toda a agudeza de
fazendo nossas algumas delas, e rejeitando outras com a dis- esprito para a crueldade e desprezando os remdios da defesa;
rigo que nos habitual. estes, mitigando o rigor vingativo das leis, esquecidos dc seu
Seguem-se as divises dos delitos, e as penas especiais para ofcio e da salvao pblica, que mais se prejudica que apro-
eles prescritas, as quais se incluem em quase doze UNOS; ao veita com essa misericrdia mal empregada. Bem, pois, disc
tratar disto, esformo-nos principalmente por interpretar Sneca no De clementia, I, 2: Quando no se faz disti~zio
sempre ex bono et aequo (segundo a equidade natural) as entre os maus e os bons, nasce a confuso e surgem os vicios.
nossas leis, mormente as mais severas, iliitrando-as com as Hd, por isso, que aplicar a moderao, que saiba distinguir a 7
antiguidades lusitanas, confrontando-as com os usos e costumes indoles curriueis das irzcurveis. E necesslirio tio exercer a cle-
do sculo em que foram promulgadas, e ajustando-as, quanto mncia, indistinta, geral e confusame~ztc,pois z lanla cruel-
o permitem as verdadeiras regras de interpretao, a este tempo dade e m $erdoar a todos como a ningum. Devernos seguir una
em que vivemos. Porm, dissertmos sempre apoiados no peso critrio mdio. Sempre procurmos evitar esses dois extremos;
das leis e das razes morais, sem, todavia, omitirmos as citaes e queremos que assim se entendam as doutrinas contidas neste
dos escritores mesmo vulgares, para assim obtermos maior f opsculo. Tambm vs deveis, igualmente, evitar e fugir desses
tanto dos doutos como dos indoutos, que costumam deleitar-se extremos, quando um dia chegardes a exercer a funo pblica
com semelhantes escritos. Mas citmos especialmente os nossos que vos for confiada.
Basta, porm, j de prefcio, para que no saia mais longo
que o livrinho S resta confessar a nossa eterna amizade
para os que aprovarem o nosso propsito e plano de explicar
o Direito Criminal Ptrio por novo caminho e mtodo, sem
que o contrrio nos leve a testemunhar-lhes ~Ublicamente
a nossa antipatia. 0 s que conhecem a dificuldade destes tra-
balhos, fcilmente desculpar5,o os erros em que camos. E quem
no desculpar os lapsos daqueles que foram os primeiros
a tentar cultivar qualquer cincia? Por fim, a todos pedimos
e desejamos que recordem aquela frase de Horcio ( I ) :
DOS DELITOS,DELIKQUENTES,E PENAS EM GERAL
ciATo de estranhar que num trnballzo longu
nos apanhe o sono RAZAO DA CONEXO E ORDEX DAS MATERIAS
O QUE P DELITO
54
PUBLICO, OU YARTICVI-AR
crimes tanto Pblicos como +ai.tzczdlares, os quais, no entanto.
se quiennos falar com exactido, costumam distinguir-se no
direito rornano, Robrrts, Anz?nadz;ers, liv. I, cap. VI. Por facto $ IV - Ambos so ou fiblicos, quando lesarn a sociedade
zliczto entendemos tambm o qzit7 sc niio jrz mas devia fazer. e a seguranca pblica e so perseguidos pela acusaco pblica;
Henrique Coccey a Grcir) cir ou particulares, quando prejudicam sobretudo os particiilares,
devendo ser perseguidos s por aqueles a quem afectam
(Tit. XIII, Q V, deste livro).
neve ronsid~rar-sefacto ilicito. s ~ n d opnr isqo iim delito. a omis-
so daquilo quc a lei manda fazer, Blackstone, Comment. Legum An-
glicarum, liv. IV, cap. I. Comete, pois. delito aquele que achou a Hi rambm os quase delitos pblicos, como o homicdio ou o iu-
coisa alheia, c nZo a denunciou, Ord. liv. j, tit. 62, no pnnc., e 5 4 crudio praticado por culpa. Dos particulares ningum duvida: deles
(Tnstituiqts, Do direito das coisas, Tit. 111, 8 V ) . Para mais exem- iratam os titiilos Mautue, caicpones, slebz~larii,e De his, qrii ef!i:dannt,
plos, veja-se a Ord. no mesnio liv., tit. rn. 5 , ihi e o nno d e s c o ~ ~ o . vel dejecevitrl. Heinccio. aos ttulos De pnuatis delictii, e De exfraor-
tit. 13, g j, etc ..., dos quais falaremos em seu lugar. So obrigados dinaiiis cti?>iinibus, eupfica bem, como de costume, quais os de1:tos
reparayo do dano no sO os verdadeiros delinquentes, mas tarnbni pblicos no sentido do dircito romano. A distino cntre delitos pblicos
os scu herdeiros, ai; prprias crian~ase os furiows que no podem ordinktios, em que as leis pbiicas estabeleceram uma pena legtimn
delinquir, pois esla abrigacso de 11x0 prrjudicar outrciri nasce do drxfi e solenidades processuais, Lect. ad tit. De publicis judiciis, apiid Otto,
natural, e so obrigados inesrno senr ordem cio juiz; a pena, priii, tomo I do Thesaums ]uns Romani, e delitos pMicns extraordinrios,
depenrl~sempr? do farto ? sentena do jiiis; c nisto I-eside a diferensa 'que so punidos sem ordem processual, no tem uso nenhum: com
cntre a repara+ do dano e a pena. Pufrndorf, De jure Nalurue et clcito, o nosso foro ignora o cnmc sem lei que proba o facto, e ignora
Genlium, liv. VIII, cnp. 111, Creman, Ds jure criniinali, liv. I , P . 11, tambm a pena meramente arbitrria, porquanto a pena, que 6 apli-
cap. I, 80, Hrnnque Coccey. Dissert. De obligatione &redis ex de- cada pelo juiz por permisso da lei, de certo modo legtima (I XXI
l i d o deficncti. deste titulo). Todavia, no anda mal nosso dir<:itiieni chamar delitos
pblicos queles que qualquer um do povo pode acusar, como 6 o
caso dos wiunuados na Ord. iiv. j, tit. 117, no princ., Yan. 42 do
pesmo liv.. Para n6s, o furto c a rapina so delitos pblicos, assim
O DELITO OU i;. VERDADEIRO OU QLiASE como tambm o dano grave causado por dolo; no direito romano, no
C assim. J a injiiria uerbal deve ser contada mtre os dciitos particula-
$ 111- Ora, como o facto ilcito pode ser cometido por res.
?nau dolo, ou Por culpa, ao primeiro chama-se uerdadeiro de-
lito, e ao segundo gcaase dtdito (Instituies, Das obrigaes e OUTRA DDNIKO
aces, Tit. I, 5 111).
5 V- Alin disso, os delitos srio capilais ou no capitais,
SBo exemplos dc yuase delifo: i> liomic~lio cometido por culpa atrozes ou simples; de facto pe~manente,os que deixam algum
ou neglig~icia, Ord. liv. 5, tit. 35, no princ., ibi ser4 punido, ou re- vestgio, ou di: Jacto hansitrio, os que no deixam vestgio.
Eeuado segundo sua culpa, ou innoceacia; o dano causado pelos que
servem nos navios, tabernas e estalagens, Ord. liv. j,tit. 64; e mihen-
Mas estes crimes diferem dos outros, no quanto pena ou atro-
tos outros, de que trataremos mais abaixo no Tit. XI especial. cidade, mas smente quanto ordem e inquirio do processo.
De propsito ooniitimos outras dirisGes. Veja-se, querendo, Fi- rdt~cia.Na verdade, cztmfiria-lhes nao baber tanto, Aristteles,
lipe Maria Renazzi, Elementa Juris Criminalis, liv. I, cap. XV, Magna Moralia I, XXXIV. Vide Pastoret, Des loix $&ales,
e Joo Tadeu MuUer, Jus Criminale, tit. I, $5 I e 11. tomo 11, cap. VII, Art. 111.Tambm no podem cometer delito
os sonmbulos, Thomsio, De jwe circa somnium, cap. V ,
Q XVI; os irados, quando provocados pelas palavras doutros
COROLARIOS DERIVADOS DA NATUREZA E DEFINXCAO DO DELITO
por forma tal que paream totalmente alienados, pois a ira C
um furor breve, lei 11, 2, do tit. De poenis (Tit. XI, S. III, Nota,
VI - Ora, porque o delito o facto ilicifo e.@ot~tnea-
deste livro) ; os inipziberes, ignorantes de fraude e dolo, 5 18
taente cometido, &ejzldicial sociedade o.u aos particulares, d o tit. De obligalionibzrs yuae ex delicto nasczrntur das Snstitu-
resultam da vrios corolrios: I) o facto lcito no delito,
tas. Foi, portanto, demasiado cruel a aplicao da pena capital
posto que dele resulte dano para algum, uma vez que no baja criana que roubou a lmina do templo de Diana, apud
propsito de ofender, $ 4 e 5 do tit. De lege Aquilia das Insti- Eliano, Faria Histoha, liv. IV, cap. XVI. Porm, os pberes
tutas, visto que, segundo a lei 55 do tit. De regulis juris, Xo de vinte anos, nos delitos, so considerados maiores, e unidos
parece proceder com dolo quem usa do seu direito; z) tambm com as penas ordinrias, Ord. liv. 5,tit. 133, Man. liv. 3, tit. 88
no delito o facto ilcito cometido em insnia. furor ou total (Intitui~es,Do direito das pessoas, Tit. XIlI, S VII). Final-
embriaguez, on o cometido por erro ou ignorncia de facto mente [no] cometem delito aqueles que praticam um facto
ou de direito involuntrio e invencvel, ditos Q 4 e 5 do tit. De ilcito, coagidos ou amedrontados com violncia externa capaz
lege Aquilia das Intihitas, lei 38, 5 5, do tit. De poeizis, Heinc- de remover o nimo mais firme, Heinkcio, cit. $8 CIX e CXI,
cio, De jure Naturue, liv. I, cap. ZV, 5s CVI e se@., Filangieri, Martini, Jur. Xatw. Posit., cap. V, $ 3 183, r84, rS5 e Igj. 3 )
Scienza della Legislazione, tomo TV, cap. XXXVIII, onde ihi- A simples cogitaco no delito, lei 18 do tit. De poenis, por-
tra admirvelmente esta matria. Por conseguinte, no podem quanto todo o delito nasce duma coisa, isto , dum facto, o
cometer delito os mentecaptos, os fuiosos, salvo se constar que que est em oposio com a cogitao, pnnc. do tit. De obli-
delinquiram na interrrrp.30 do furor, nem os verdadeiros me- gatiofiibus quac cx delicto nascuntur das Tnstitutas: j a fenta-
lanclicos no entender dos mdicos, StrJlkio, De dementibus et titia. que se manifesta em actos externos, deve ser havida corno
mclanclolicis, nem os brios que no provocaram a embriaguez delito, merecendo, no entanto, punio mais suave, caso falte
e so semelhantes aos furiosos, pois agem desprovidos de inte- lei especial que iguale, quanto pena, a tentatiua e o efkto,
ligncia e vontade, nico principio das aces humanas, Bodin, Bynkershoek, Observaf. 111, 10. 4 ) No se respnde pelos
De jure circa ebrios, cap. IV, Becmann, De poema et jure ebrio- casos fortuitos, excepto havendo dolo ou culpa, 53 3 ti 4 do
rum, caps. IV e V. Na direito romano mitiga-se a fiena aos que tit. De lege Aquilia das Instituta (Tit. XI, 5, deste livro).
delinquiram por cama do vinho 0% da lascvia, lei 6, 3 /, do Por conseguinte, no se imputa ao capito da ilau a responsa-
tit. De re militari do Digesto. Nas, na Inglaterra, a lei aumenta bilidade do naufrgio, se ele no for cirlpado de o navio pere-
a pena aos embriagados, Blaskstone, tomo V, liv. IV, cap. 11, cer, pois, como bem diz, Tcito rios Anais, XIV, 3, yzlenz ser
3 111. De facto os embaagados, se fierpatraram glgldm mal, i50 rziquo que leve a conta d e crime unz mal ocasionado $ d o s
cometem injria, visto que foram causa da sua prpria igtto- ventos e $elas ondas? 5) No C deiito o jacto que, embora i&-
59
cito, no prejudicial sociedade ou aos cidados, e riu eliminado, e, porqple oculto e de prova dificii, escapa e m regra h
ofende o dircito dc outrem, como a cmbnagucz particular, a sevm'dade j u d ~ r i i a .Dern diz Sneca, no De ira, liv. 11, Cap. XXVII:
ambio, e a mentira. H, pois, que distinguir os pecados e Quanto mais extensa no E a regra dos deveres que a do direito? A
vcios humanos dos delitos pblicos e particulares (Tit. 11, quaizlas exigncias nos prcndem a piedade, a humanidade, a liberal:-
11, Nota, deste livro). Heinccio, De juve Nat., liv. 11, dade, a justia e a boa f, sem que nenhuma destas obriga6es figure
nas tbuas oficiais! O autor da obrinha De1 diriito S pzcnire, Cap. 11,
cap. VIII, 3 CLXII, Strykio, Us. mod., ad tit. De #riva6is de- $ VII, Tota 111, pretende deveras que se devem impor e exigir penas
lictis, 5 2, no fim, Renazzi, Elenz. Jur. Grinz., liv. 11, cap. 11, por todas as ms ac2ies humanas. ainda que internas e iuofensii-as
!i IV. para a sade piiblica e privada. Mas no se pode ensinar j u r i ~ p ~ d n -
Aprouve-nos, por assim dizer, anotar sumiriamente estes e outros cia mais absurda, cruel e funesia do que esta, para o gncro humano.
princpios do Direito Natural, e Pblico Universal, que se devem hau-
rir na prpria fonte, a fim de no nos metermos obra sem uma li-
geira ensaboadeh, como se costuma dizer. Pordm, os mais deles per- LIBERDAIIE CIVIL
tencem prudncia do legislador, que no pune os actos meramente
viciosce e os pequenssimos lapsos dc que quase nenhum mortal est
imune. Pufeudorf, De offic. hominis et civis, liv. 11, cap. XIII, 86 XI, $ VI1 -Nestes termos, segue-se, finalmente, que os cida-
XII, XIII e XIV. A este propsito disse bem Boehmero, tomo V, dos podem fazer livre e impunemente tudo o que no se ache
'Exercit. XCIV, cap. 11, $ 111: Se todos os uicios houuessem de ser especialmente proibido pelas leis da cidade; e este o efeito
casfigados ou contados como delitos, haueiia que eng'r uma infinidade necessrio da liberdade civil.
kie ttnbunais e aumentav o ncmero de ]uizes a irm ponto tio elevado
como o de mdicos para todas 4s doenas. Pwm, assim como qual- Chama-se liberdade civil quela qire compete ao homem no estado
quer fraqueza ou m disposio de corpo, ou qualquer deflo ou ex- sociai. Consiste na faculdade, que cada cidado tem, de fazer a seu
cesso no dormir, no comer, no andar, no requer imediatamente a talante o que as leis permitem, e resulta da confiana, que os udados
medicina. antes se algukm acaso andasse fao Zeu<anamentc, que todos possucm numa cidadc bem organizada, de que nada sofrei-o que 1%
os dias buscasse nela refiigio e tornasse a medicina eru alimento ordin- contra o seu direito. &ta liberdade depcnde muito especialmente das
rio, acostumaria o corpo por f o ~ m a tal que j nenhum proveito dela leis criminais, as quais, restringindo a liberdade natural, mandam que
obteriu, antes perderia a sua eficcia; assim tambm, se todas as fal- os cidados pratiqiiem certas aces, a omitam outras, estabelerendo
tas do gnero hrcmam, que as mais das vezes se cometem por defeito penas contra os seus violadores, Renazzi ut. nos Prolegomena, Pnn-
ou excesso, ou contra os trmites da honestidade ou os limites do ci+e Fondamenlnl d u Droit des Sowverains, tomo I . Genev. (Paris)
decoro, houuessem de ser punidas, a punio degeneraria e m cosfuf,re, 1788, pgs. 147 C seguintes.
que os homens seriam obrigados a deumar todos os dias. Mas quantas
perlz<rbqes no viriam dai! Quantos m a k s e contendas, com a firo-
pagaio e aumento infinito de rixas! Quantos haver que no se etcce-
dam na ambio de possuir, a qual, embora seja u m vicio, M o sofre DA COMUNIDADE DELINQUENTE
da mcula de delito? ... Tudo esn cheio de :!faqaquiavelistas. De facto,
no h injustia maior do que a daqueles q t ~ sendo, extrsmaw:ente 3 VI11 - Se urna comunidade comete um facto ilcito por
enganadores. fazem tudo para parecerem gente de bem, para usarnzos meio daqueles que a representam, deve ser havida e punida
das palavras de Cicero no De officiis, liv. I, 5 XIII. Contudo (prossc- como delinquente, visto ser urna pessoa moral e estar sujeita ks
@e ainda Boehmcm) este cancro n i o pode se7 fcilmente a~rancadoozi
leis pblicas da cidade, tal como uma pessoa fisica. Gundling,
De universitafe delinqztente, Leyser, De delict. Collegiorum, Strykio, Disput. De imfiut fact. alien., cap. V , n. j9; 3. os que
Grcio, De ~ U T E belli ac pacis, liv. 11, Cap. XXI, I1 e segs. no profbem nem impedem o delito, que de facto podiam e
( $ XXV deste tit., e Tit. IV, S: V). por direito deviam impedir, Grcio, De jure belli ac pacis. liv. 11,
cap. XXI, $5 I e 11; 4. o que cicntemcntc participou do delito,
O princpio extrado de Ulpiano que vcm na lei 160, $ I, do tit.
Ord. liv. 5, tit. 60, 5, lei j3 do tit. De fztrtis; j.os receptadores,
De regudis juns, o que fiblicarner~te f i t o pela maior parte, recai Ord. liv. j, tit. rog, lei I do tit. De receptatoribzjs do Digesto
sobre todos, smentc tem lugar nas causas cveis. (Tit. V, $ XIII, deste livro). Os que louvam o crime j feito,
e lhe do o seu assentimento, ou o ratificam, no so cmplices,
visto que no concorreram para ele, Coccep cit.. Os cmplices
QUEM SO 0.5 AGENTES so mais brandamente punidos que os autores, se faltar lei es-
pecial que os abranja na mekma pena. Blackstone, Comment.
I X - Delinquentes so tanto os agentes como os c u v - Legum Anglicarum cit., Discurso sobre las penas contrakido a
filices, pois comete verdadeiro delito aquele que de qualquer las leyes crimina2es de Espana por Don Manuel de Lardzzabal
modo causa rlo dano produzido. Dizem-se agentes no s os y lirihe, Madrid, 1782, cap. TV, 11, n. 32.
que perpetraram o facto ilcito, os que deram a sua assistkncia
execuo ou ajuda~amo seu autor por obras e factos, mas
tambm os que fizeram sociedade para cometer o delito r acor- DONDE DERIVA A OBRIGAO CRIMINAL, E O DIREITO DE PUNIR
daram entre si a prtica de qualqiier crime, Henrique Coccey,
tomo 11, Disput XXX, De soc. crim., $5 XV e seguintes. 8 X I - Os delinquentes so obrigados reparao do dano
e pena ( $ I1 deste tit.). E estas obriga~esnascem da coisa,
isto , do facto externo da leso, p ~ c do. tit. De obligationibsts
puae ex delicto nasczhntur das Institutas, sem que com isso se
exclua o consenso; com efeito, ao delito chama, e bem, Arist-
5 X - So ch;~zplicesos que, no tendo realmente perpe- teles contrato involuntrio na Etica a nicrinzaco, V , cap. 11, e o
trado o delito nem dado assistncia, contudo por qualquer modo Junsconsulto m a u contrato na lei 52 do tit. De re judicata, e
concorreram para se fazer o delito ou dele participaram, Trait lei I do tit. Si adversus ddelictz<mdo Cdigo. E, por conseguinte,
des delits, $ XXXVII, Blackstorie, Commerit. Legztm -4ngZica- da renunciaco dos direitos. que compctm aos cidados sobre
rum, liv. IV, cap. 111. E tais so: I. aquele qne mandou prati- si e sobre os outros, que nasce o direito de punir, qual tem por
car o delito; no entanto, este o autor principal, e no aquele fundamento um pacto social. Veja-se, querendo, Plato no Di-
que O fez, se sem esse mandato o crime no seria feito, Donello, logo I X De Zegibus, Caetano Filangien, Scienza della Legisla-
commenlarii, liv. XV, cap. XXXI, Heliger, nos comentrios zione, tomo IST, cap. XXVII, Princifie Foitdamental dz6 Droit
a Donello, letras Aa; 2. aquele que, no genricamente mas des Souveuains, tomo 11, pg. 141.
especialmente, exorta e aconselha ao delito, e com mau conse-
lho, ou premio, ou grandes instigaes convida a delinquir,
DEFINlAO D 4 PENA, E t M QUE DIFERE DA RESTITUICAO o seu crime: seja a uiolncia punida com a morte: a avareza. com
OV REPARAXO a mulfa; u umbicro das honrar, com a ignominia. Todavia, isto no
impedc que o legi~ladorpossa transferir com utilidade, e, em se ofe-
s
XIX - A pena 6, 33a definiqo de Grcio, De jure bellz ac
rec~ndoocasio, acomodar com prud&ncia, as penas prprias d r m
crime a outro gdnero de delito. Veja-se, querendo, i?Ionlej.quieu, Es-
pacis, liv. 11, cap. XX, 5 I, o mal do sofrz'naento, que infligido pril des Luix, Liv. XII, cap. IV, d'Alembert, EMnzents de Philoso-
por causa do mal d a acgio; a esta definio deve acresccntar- phie, art. VIII, e o autor do livro Saggio sopra la Politica e Ea Legis-
-se a expresso pelo superiur, para se distinguir da rjndictli pn- laiiome Romana, cap. VII, pg. 183.
vada. De Grcio aproxima-se WolI, ao definir assim a pena nas
Inst. IUY.iVat. et Gent. P. I., cap. 111, 4 93: Mal jisico a$licado, FINS DAS PENAS
por causa do mal moral, por aquele que tem o direito de obri-
xar. A pena difere da restituio, ou reparao da injria, em X I I I - O objecto das penas a seguuazga do lesado, a
que esta restituio ou reparao exigida devido leso do emenda do lesante, e o excilz$lo dos outros, a saber, para que os
direito perfeito, ao passo que a pena aplicada por causa da outros fujam de perpetrar cnrne semelhante, Grbcio, liv. 11,
violao da lei ( 11, Nota, deste tit.; Tit. VII, j 11, deste livro). cap. XX, 5s VI e VII. Tudo istri se contem nas seguintes pala-
for isso que na restituio se atende 2 quantidade da leso, vras de Sneca, De ctementia, liv. I, cap. XXII: Na punico
ao passo que a pena determinada, nKo tanto pela quantidade das o f c ~ s nas lzi seguiu estes trs objectivos qwe tambm o Prin-
da leso, como pela quantidade da nzoralidade com que algum cifie deve seguir: o u emendar a q u ~ l eque punido; O U com a
cometeu o delito. como bem diz Schrodt, Slstema Juris Publici pena deste tornar os outros melhores: ou, su#rzmindo os maus,
Crniversab, P. 11, cap. 111,3 111. E daqui resuita que o pupilo e fazer mazs segttra a vida dos restantes. E , pois, injusta a ain-
o furioso, embora no sejam obrigados pena, so constrangidos gana, e extremamente alheia ao ofcio, dignidade e humani-
reparao do dano, o mesmo autor no XVIII, Nota. A sa- dade do Imperante, pois s por i a vindicta no atinge a
tisfago abrange em seu Ambito a reparao do dano e a pena. emenda do delinquente nem a salvao dos outros.
Grcio, no mesino liv., cap. XVII, 4 X X I I ( j 11, Nota, deste
tit.). Elegantemente diz o mesmo 511eca no De +a, liv. I, cap. XXI:
Exercerei vingana, porque o meu dever, e no para obedecer ao
Porm, a pena deve ser, tanto quanto possvel, proporcionada ao nreu ressenti~nemto.Alm disso, s e p n d o Plato no Protbgoras, ~Veenhum
delito e tomada de harmonia com a natureza e ndole deste. Por isso, homem prudente pune, pelo delito em si, mas para que no se delin-
aqueles que ofendem a Religio, sejam castigados com os direitos que qiu. Veja-se, querendo, An~ttdes,na Politica, liv. VII, cap. XIII.
promanam do seu culto c obediencia: os que desprezam os bons cos- e Hobbes, De CIVE,cap. II[, S XI.
tumes e a honestidade de vida, desprezadw pelos outros, acabrunha-
dos de desonra e notados de infmia; os perturbadores da segusanp
E A SUA DIVISO
pblica, expuhos da cidade, ou privados da liberdade; os que ferem
a segurana dos cidados, e fies prejudicam o corpo, bens ou fama,
sofram penas corporais, levem penas peninirias, e sejam punidos com
5 XIV-A peria ou cnpitnl, e esta simflles, atroz, ou
a perda de reyiutao. Ccern di7 bem no De legibrrs, 111, XX: S ~ j a crael; cu no capital, e csta afkitiva nu no afliliva do corfio,
u pena igual ao ?na1 causado, de maneira que cada um sofra conforme pecuniria, honesta, vil, legitima ou arbitrria.
ESPRCIDS DA PENA CrlPITAL Euinpa c tambm pelas nossas Ordcna~escrimitiais, ainda que mais
Iiutriana;, c111 certos nialefiri,s ~riiiitogrdvti, corno a pt'Iia dr vivicoliz-
5 XV- A pena ~apiiilkdiz-se si:?zfiles, quando se limita hrzo nos crimes de faliificao da moeda, Ord. liv. j, tit. 12, rio iin
apenas a tirar a vida, como no caso da degolago ou do enjor- do princ., de sodonzia Ord. tit. 13, no p i n c . P $3 r r 2 , de coito caili
alinyia, na rnesmn (Ird., coix aicerzderrtes ou desce>cdentss, 016.
camentu; atroz, quando S acompaniiada de circunstncias que
tit. 17, no @c.. Porm, estas Ordenaes, alm de no estarem cm
aunentam a pena dentro das raias da humanidade e justia,
uso, parece devcrcrn-se eritcnder da queima do colpo apbs a morte.
como a confzsca~ode bens, os aoztes, o qucinzar ou farer em >'ara o cri:;ic clc lesa-niajcstade est especialmente decrcrada a pena
quartos o c o ~ p odepo*~d e rnorto, a proscrzco dn rrcemrz.r, de morte cn~eJria Ord. iiv. j, tit. 6: 5 y, ihi: morra r?orte natz~ral
etc...; e cruel, a que horroriza a prpria natureza, sendo assim cruelmente. Todavia, o advirbio crzt-i.r?ieizbeparece ali escrito em vcz
aquela que tira a vida lentamente, e no de repente, e no meio de atrorriienfe, porquanto o crime de lesa-majestade, o maior de todos,
de tormentos rebuscados, coino as de queimar vivo, matar com reclama realmente pcnas g~avissimas,milito mais a t r o z ~ sdo que o
aiiirples hnmiriaio oii o hox~iiicidioyzfahf~cadu.mas n l u pcnas cru6is:
dardos, setas, veneno ou fome, aoitar, at6 morte, com cor-
dc f a ~ t o ,drusmos eoitov qna conz o excessivu ligo7 da^ penas parea-
das ou varas, precipitar dum rochedo, entcrrar vivo, esq~iartc- :nos ter perdido o se~zii>izentoda hunzanidade, Nateris e BIably cit..
jar com ca-valos arnarrados aos meml>ros,e outras que o nimo Ntrilii h i electivanipntr, :;o di~foniirc<i;;io jioifr~r ao s,!jive;+iopoder
se horroriza em recordar. Julga-se o mesmo da pena de am- a s e v e d a d e da natureza, Clcsro, ud Qi*in!a?n Fratre;n, Epistola I, I .
putao dum rne~l~ro, que o prbprio Justiniario proibiu na 13, Disce~.au solire las fieioilp rit. cap. C; $5 TI, nn. 21, 22 e 23, c
Novcla 131,cap. lt. A cafiitnl siinple.7 e e acnpitnl otrnz so jus- 6 TV, n. g (Tir. VI, 5 S X : Suta, deste livro).
tas e necessrias na R~pblica,e dcvcm ser infligidas e aumen-
tadas consoante a qualidade e atrocidade do crime; mas a
cruel injusta e dificilmente ou nem mesmo dificilmente
admissvel. Antnio Mateus, ao til.. De fioenis, 111. 5 XVI - ;izurlt- cluii, qne eliiiiiila a \-ida civi! z os direi-
tos de cidnrla~iia, chama-se, e bem, pena capibal. Ela cai:
So ciinl~eridasai disputas de Ueccaria acerca da injustia das I ) sohrc o deportado, isto C, o proscrito (desnnturado), Ord.
p m a s capitais, no T r a i f i des d.iIib e t des pinos, S S X V I I I . as do
liv. 2, tit. 13, no priuc., e scmelharites; z ) sobre o relegado
Autor da obra De I'Elat naturel des Peziples, tomo 11, E'. 11, Sect. II,
N. I, caps. I, I1 e 111, e 2s de Paitoret, Des Loix $inales, tomo I . para sempre com confiscao de bens, visto que considerado
P. 11, cap. I, Art. I e scg., etc ..., assim como tambm as SeIas objec- deportado; e aqui deve notar-sc quc n palavra desteirar signi-
ces que ihes fazi:m o Autor de Instr~ictioP?t<ssiani CoJ. Jomz., art. 7 , fica simples relegac;o, c deporta~o; 3) sobre o condenado
no fim, hlr. Vernlcil, Essai sur les rdfuumes ir falre dans nutre Legisla- a crcere perptuo. E'ebo, 1'. II, Ljecisia, 155, Earbosa Ord.
fion Criminelle, P. I , rap. V, hlr. Bcmardi, Principes des luiz liv. 5,tit. 120, Valasco, Adlegntio 13,n. 38 (Iristitui~e,Do di-
nelles, tit. 11, $ 11, JIably, De lu Lgislation, tomo IX, liv. 111, reito das pessoas, Tit. 11, 4 s X I I e XIII).
cap. IC, pg. 277, Filuigieri cit., tomo IV, caps. SXX e XXXI, os
quais defendem todos a justiqa das penas capitais nos delitos muito Quem pode o mais, no pode d e k r de p d e r o menos, e , por-
gravcs. -4ctualmentc iodos os F~lsofoscu~icordamcom o que aqui se tanto, n.io cc deve dcncgar, cjuele que por direito pode tirar a vida
diz sobre a ncccssidade de se abolirem as penas mais que atrozes, isto
natuial, a lacuIda<le dc iirdr a vida civil. PorBni, 'sta pca, pela qual
6, as cruis. Contudo, elas so admitidas pelos Cdigos criminais d a se tiram todos os direitos de cidadania, smente deve cair sobre os que
deliiiiierri gravemente ofendendo gravt:rnznte os dirritos da cidade ou bens patcmoq j vcndidns e alienadw pelo fisco, riisln q r w antes quir
dos ridadjo;, Vermeil cit. cap. Xil. De rzsto. nn nos%>direito a pena ainpizar o seu pode? com a sisnpatia dos homens do que com a ahr'n-
de exiio perptuo nunca se entende sem prego cm aiidisncia ou de dncia de dinheiro, Jri 7 , 5 3. do tit. De bonis dumnatorum. Ora. para
bairro eni iiairi-o, Resoluo de z de Dezei~ibrode 1716, apud Novis- que a niiiita pccrrni~%~ srja jixta e algo prnporcionada, deve ser cxi-
'imo Kefiertcrio, tnimo 2 , fol. 201, sob a palavra Pena de barao. gida tanto aos pobres como aos ricos, no seagudo uma soma e quan-
Nota (dj. Siuna n c n i a c r n r i n . rm que todcfi os ridados guzam dc tidade fixas, visto que esta rio Icm igualdade iienhumz, nem a pena
rlireitos ignais, esta pena i muito til. e deve ser infigida indistinta- 6 igual cin to desipal foliuna, mas segundo ceda por$Zo de bens,
mente a todos os cidados; numa Anatocracia, sdmente aos Nobres, como, por exemplo, n ttrqa 01% quarta pari?, Pilangicii,
pois, se 6 exlio frx aplicado ao3 Pleheuq, que no possuem honras cap. LYXIII. Basta-nos, como exemplo dtiinonslrativo deste ponto,
nem votos, uma pena nula ou muitssimo leve. N u n a Monarquia a pena estabelecida para as ofensas nas Leis dfs Doze Tbuas, a qual
riitcnde Fiiangieri cit. cap. XYXV que esta pena iioci\a em todas niio iiicutia nlcdo ncnhuin aos homens audazes e endiilieirados: dcssa
e cada unia das ordens da Kepiibiica. Se entende Liern, rejam-no os Jri fila GPIio nas :Voies Aitiiae, XX, I . Mercce leitura o autor da
outros. obra supra-citada Discurso sobre las penas, cap. V, 8 Ir, n. 16, o qual
no reinado dr Carlos 111, Rei dc Caitrla, no hesilou escrever: Pero
de qtralquier natui.aleza que seas 10s Dienes, y por atroz qae sea el
PENA PECCNURLS delito, me u l ~ e i orin reze10 li decir, que es zcna cusa m u y irthrt~nanav
crucl, piecip:tilv cmz ia ~onjiscuciotlP Z e1 a6i~i)zgde la ?nZSeria i una
5 XVII -Entre as penas peciinirias cabe muito especial- familia inocente por 10s delitos que ILO ha cometido. g o temo hablar
mente a c o w j i s c n ~ ode bcns, que se conta entre os direitos reais, de e s h szrerle en zhsz tiempo en que tetaemos Ia dicha de aioir baxu 21
e tem lugar na falta de descendentes ou ascendentes at ao jeiiczsi;ito go~icvnode 2in Pnnctpe $iadoso y benigno, padrz riias qrte
Seiior de sm vasallos, y de quien sin lisonja ni adulucion algtana 9uede
3."grau, ou, mesmo havendo-os, quando a lei especialmente o
con toda aerdade decirse 10 que e1 zlustue panegirista de1 grunde Eliz-
iinpuser, Ord. liv. z,iit. 26, SF. 28, 29, 30 e 31,e liv. 5, tits. 126 e peradnv irajano deciu en otvo tiemfio: Es muy grande gloria para
127, Novela 134, cap. lt. 10s P ~ u p e s que
, sea vencido las mas veces e1 Fisco, cuya causa solo
es mala, quando gobierna un Principe bucnu, Pinio, Panegirico,
Incorrem ipso jure na pena de confiscao de bens tmto os cor.- cap. 36. Deve ver-se a Novela XVII, cap. XII. (Tit. XX, F, VII.
denad~is morte tiahiral ccmo os condenados morte civil, por forca deste liv.).
das ditas Ordcnaes quc dcvcm a sua origem mais aos coetumes e
lcis dos fcudos que as leis romanas. Mas hoje que se alteraram as HONROSA, OU VIL
formas de Governo e o5 Imperantes abundam em r:curjos. tiidos sa-
bem certamente qual o pensmciitu dos eruditos acerca das penas fis-
'cais [Insritui~iics,Liv. IV, N t . 11, 5 XIII, Nota). Bcccaria cit. 9
4 XT7111- A pena si1 torna infame o delinquente, e tal a
XVII, Gomrnent. ao nicsmo 5 XXI, tomo I da Bihlioteco Bn'ssotina,
de aoites, a de baraco e prego, o corte do membro, a conde-
'LTermeil, P. I , cap. XIII, Grcio, De jure belli ac pacis, liv. 11, nao, perptua ou temporria, s gals ori trabalhas pblicos.
cap. XS1, $3 M I' XVI, Sc5rodt, Systema Juris Publzc~ Uniuersabs. Ord. liv. j, tit. r3E, Febo, P. I, Arestos 147 e 148. A Jzoniosa no
tomo 11, P. 11, rap. 111, XXI e XXlI. E sem dvida que a huma- infama o cielinyuente, e como tal srmpre foi havida a dcgo-
nidade acoiiselha que se conscwe pelo menos a Icgtima para os filhos, lao.
e s a tera reverta em lucro do fisco, Remardi cit. $ VII, Trait des
c07ps politiqnes, liv. 111, cap. X. Foi, por isso. humadssimo o res- .\ inlrn;:~ deve ??r :i~ilic;iiIa nlis r'rlitos por sua natureza inf;~-
ciiio de Adriano em ia%-ordus filhos de Albino. aos quais concedeu os mantes ou como tais considerados pela opiniio dos homens, como os
furtos, as traij6t.s i'p :>rnips. rtc .. Ora, sl>~amenta ;e decrcta csia nem carregado de ferros, salvo em delitos muito graves e com
p u u aos delitos emanados da soberba, da amlrico, 011 da simulao prvio conhecimento de causa, Decreto de 30 de Setembro de
da virtudc c piedade, isto , da hipocrisia, a que cxtrtina~nentese 1693, apud. (3rd. liv. 5, tit. 95, Colcco 11, N. I.
opocm a inlkrriia, a vilcza e o ridculo, pois os roiitrrios so ciiraos
com os seus contrrios. Porm, PEta pena, gravissima para as pessoas
A qualidade do crcere ou custdia depcnde principalmente d a
lionradas, dificilmente coiliQn albwna utilidade para os celerados, quc
qualidade do driiiu e do dsliiiqueiite, pui5 nem todos pocin sr cn-
no iuarri do bom nome, e tarril>m para os homens de coiidro in-
carcerados do mcsmo modo: os traidores, assassinos e ladres devcrn
ferior, que poiico cstimam as preriogativas dos cidados t na(> tm
ser presos dc certa maneira, c 04 presos por motivos de correco,
noo a l y i n a da honra pblica. Convm, por isio, us-la cauicloa
doutra (Tit. IV, $ IX, deste li\..). PoiBni, ludo' devem ver os seus
e s i-arisimamcntc, porquaiiio, se ior aplicada iriiriiu atriiidc, ou d
proccs5os deterininados com a celeridade possvel (Tit. XX, 11, Nota,
ocasio a miiitos o u iioros crimps, ou pcidc a porico e poucc, a sua
dcste iiv.), a fina de que unia pena veloz szrbtraia os convencidos de
foqa, acabando por deixar da ~onstituir uma pena (InstituiyOcs,
ciime, ou uma longa priso no afliia os qz<e wzerecem a liberdade.
Liv. 71, Tit. 111, 5 YIII, e Nota).
lei j do tit. De custodia reorrsm do Cdigo. AlBm disso, humano o
que vem na lei r do mesmo tit. do C a g o : Entretanto no se deze
levar a juizo o ru preso com alxemas apertadas aos ossos, mas (no
caso de a qualidade do ceme exigir o %or das cadeias), deve ir com
cZas ddb maneira muito brasda, para qore rzo sofra tori+zentu e fique
$, XTX-A pcna de crcere pblico oc secreto, prrpktua sob firme custdia. Tambm nito se deve sujeitar o preso ris trauas de
ou temporria, mencioriada a cada pauso nas nossas leis. Cori- compartimentos interiores, mas conceder-se-lhe o alento e alNio da
tudo, sendo uma pena gral-e e muito ofensiva da liberdade na- luz i~aizsal;e quando a noite duplicar e custdia, deve ser recolizido
nos ueslibulos, crceres e enz lugares saudveis, e, 20x0 que nasa o
tural do liornem, necessrio, para que seja decretada com jus-
sol. ser conduzido para a luz natncral, a fim de no ser morto pelas
tia. o coilcurso de vrias coisas, cabea das quais mandato prrbas do C T C Z ~ C , O (jnb ~e r e c o n h ~ c cser ~ o ~ ~ ~ a s para
s i u oos ir~ocen-
do juiz, justa causa, isto , delito a que a Lei imponha tal pena, tes e no muito seuero para os culpados. Obsemar-se- tambm qu.
e processo legal, Ord. liv. 5, tit. 119. no princ., Xan. 42, Afons. no d lcito nem aos carcereiros nem aos seus ajudantes uender a sua
58, nas cluais se reprodmcin leis prudentssimas de D. Afon- crueldade aos acusadores, nem matar os inocentes dentro dos recintos
so IV, D. Pedro e D. Joo I. Todavia, nos delitos capitais dos crceres, ou consumir com longo enfraqriecimenlo os retirados para
o silc'ncio. Nu zrsrdade, no s o medo da opiiio, mas tanibdns o de
podem ser logo presos os de qualquer inodo suspeitos de crime,
perigo, recaird sobre o juiz, se de qualquer modo alga+%carcereiro
ou presos em rixa, sc parecerem ser os seus autores, devendo erauvir algum pelo fome para alm do deuido tempo. e nito sujeitar
ser libertados dentro de oito dia% se no se demonstrarem cri- logo posa capital aqireb a qscem cabe o ofcio de custdia e sctas
minosos, Extravagante de 6 de Dezembro de 1612, 14, que mitzistros.
chamam Da reforrnacio da justz~n.apud Ord. liv. 5, tit. 130,
Coleco I, X I, Decretos de 19 de Outubro de 1754 e j de
Alario de ~rgo.Porm. ningum pode ser retido em crcere se- O QUE B A HO3ENAGEhZ E A QUEM COMPETE
creto por mais de cincv dias. Decreto de f de Agosto de r?oz,
Drcreto cit. de 5 de Maro de 17<)0,4 z,assim como tambm, 5 XX -N2o so metidos rm c8rrerc pblico os nobres,
sendo o crcere seguro, ningucm pode ser preso com cadeias, que gozam de homenagem, isto 6, do direito de livre custdia,
a qual deve ser pedida ao juiz, e por ele pode ser negada, res-
aquela propor@o igual em nmero, que chamam aritmtica,
tringida ou ampliada conforme a qualidade do delinquente e
mas sim geomtrica. Vide Joo Clenc e Calinct, ao cap. XXI
do delito, Ord. liv. 5, tit. 120, Man. 67, -4ons. 94. (Tit. XV, TI,
do Exodo. Chama-se legitima aquela pena que 6 expressamente
deste livro). declarada pela lei, e arbitrria aquela que fixada, no pela
Em outro sentido izomenugz,nem significa o juramento de clicntcia. lei, mas pelo juiz, podendo esta, no entanto, ser legtima. se for
ou fidelidade, que o Vassalo presta ao Senhor, ou o Vice-Rei e o Al- deixada ao arbtrio do juiz (5 IV, Nota, deste Ttulo), como
caide ao Rei, mediante certa frmula que se acha nos livros da Chan- .muitas vezes sucede, 0x1. Iiv. 5, tit. 136,no princ., e 5 lt., no
celaria do Reino. Reseride, C~vrica de D. JOZO II, caps. XXYIi e fim, onde diz: us cofzdsila~izno degrcdu, que Ihcs bem $are-
XXVIII, Ruy de Pina, Crnica do mesmo Rci, cap. V, Ord. 12lan. ter, e norrtros passos. A pena arbitrria no se estende morte,
liv. I. tit. 55, f 4. (Hi-tria do Direita Civil l'oriugut.s, L,SXII).
seni especial permisso da lei, Ord. liv. j, tit. 135, onde vem:
J g desde D. Afonso I11 que os nobres gozam deste direito, que, a
pcdidu dclcs, foi aprovado por D. Pedro 1 nas Cortes de F.lvas, e -r E se for de idade de derussete atzos al vimte, ficiird e m arbi-
fim explicado por I . Afonso V, passando, depois, i s citadas Ord. SIan.
) trio dos Julgadores dar-lhe n pena total, ou diminuir-lha ...
e Flipina. QueSra-se a homenagem, se o ru se ausentar do local des- posto que seja de mmurle natural.
tinado, Ord, liv. 5, til. 120, 4, a, uma vcz quebrada, no se res-
titui, Ord. cit. $ it.. TYo entanto, por lei de D. S e b ~ t i ode z de Nnv.
de 1564, J 7. apu Leo, p. I, tit. 4, lei I, os lleemlargadores do
Pao concediam a sua restituio; mas hoje no assim, visto que a QCEM DEVE SER PUNIDO
faculdade de a conceder no foi declarada no Regimento Novo, como
ce fazia mistcr. Valasco, ddlegatio XIII, n. 235, Febo, p. I . aresto 5 XXIT -Apenas devem ser punidos os delinquente, se-
142, Mendes, Prazis, liv. C. cap. I, n. 21.
jam autores ou clbmpliccs ($I: IX e X deste Ttulo) ; por isso,
no devem ser castigados os filhos pelos delitos dos pais, Iei 22 do
PEX--1 DE TALIAO, LEGfTIJfA, E ARBITRARIA tit. De $oenis do Cdigo, e lei 26 de igual tit. do Digesto; nem
os herdeiros pelos delitos do defunto, Coccey, Pissert. DE obli-
5 XXI - A pena de talio no totalmente desconhecida gat. hered. F X delicto dduncfi, Sect. 111 e IV; nem os fiadores
das nossas leis, Ord. liv. 3, tit 60, 5, e liv. 5, tit. 85, etc... que, pelos delitos alheios, se comprometerem a sofrer uma pena
YTalio, isto , o direito pelo qzcal algzsm sofre o mesmo mal que a que no podem obrigar-se. Grcio, De jure belli nc pacis,
fez, no significa que se possa retribuir com um ma1 do mesmo liv. 11, cap. XXI, 3 XI, Ord. liv. 3, tit. 46. (5 VI deste Tit.;
gnero, por exemplo infligir um ferimento natural igual, e, se Instituies, Liv. 11, Tit. VIII, XVII).
for tomado i letra, no pode realmente ter lugar em todos os
delitos, quais os morais, mas to smente que deve haver ver-
dadeira medida e estimao do delito, e a justa reparao do
dano. iienrique Coccey, Disputa De savos. Talionis j i ~ r e , 111 ss DELITOS SELI PENA
XXVIII -Esta nossa obra, por maior que seja o seu 3 XXIX -E daqui resulta que as leis criminais excessiva-
valor, assenta, por assim dizcr, nos seguintes axiomas de direito mente severas se entendcin ab-rogadas ou pela vontade e coni-
criminal, que ningum de so aviso poder pr em dvida. vncia dos prprios Imperantes, visto que no exigem a sua
I. melhor deixar impune um crimc que condenar um execuro, ou pelo desuso. E tais so entre ns as Ordenaes
inocente; por isso, maior dano vem sociedade da condenao do liv. 5, tits. 3, 13, 14, 15, I;., 19. 25, 26, 32, 36, 38, 60 no princ.,
dum ulocente que da absolvio dum culpado. 0, 55 7 e ro, 69,70, 79. 80, 82, 86, 5, 90, 92. 93, 94, 100, 101,
2. Antes da sentena condenatna o ru dcve ser havido
109, 123, 133,e muitas outras de que falaremos em seus luga-
como inocente. res, as quais, no tocante ks penas, so injustas e atrozes, para
3. No foro criminal apenas se deve admitir a prova pIena no dizer crukis, pois no observam a devida proporo.
e perfeita. E, realmente, no receamos dizer ousada e confiadamente o
4. Quanto maior e mais grave for o delito, tanto maior que sentimos, neste reinado de D. Mana I e regncia de D. Joo,
deve ser a prova. Prncipe do Brasil. Fazemos, por isso, nossas as palavras de
5 A pena n infligir deve ser inteiramente proporcioriada Don Manuel de Lardizabal y Uribe, autor do Discurso sobre
quantidade e gravidade do delito e B maldade do delinquente. Ias penas cori.tral~idoa las leyes criminnles de EsfiaGa, por ns
6. No h delito nenhum sem vontade certa de delinquir. acirna transci-itas na Nota ao $ 17,e que no se ajustam mais
7. A sua medida o mal causado sociedade. aos Reis Catlicos Carlos I11 e IV do que aos nossos FideIs-
8. Na imposio das penas srnente se deve olhar B titili- simos e Clemenlissimos Reis, pois estes governam no como
dacle pblica. tiranos e senhores, mas como se foram pais e mes de seus
9. As penas foram estabelecidas, no tanto para punir, sbditos. Bem e a propsito diz Plato no Dilogo I X do De
como para prevenir os crimes. legibz~s:F a ~ a n z pois,
, as cidades as suas leis, por forma que o
10. Srnente se devem castigar os verdadeiros delinquentes
legislador dese;npeniie totalmente o papel de pai e me, e as
ou os quasc delinquentes suas deterizirzaces antes fiossuam a virtude do amor e da $r*
dncia qzle a d e seizhor e tivano, que afiegzas ameaa e deter-
11. 32 justa a pena que impede o criminoso de voltar a
m i ~ z a ,selu dar razo a s u l ~ ~ t a m e n tnenhuma
e do que manda.
fazer o mal.
12. E , pelo contrrio, injuta a que for intil ou cruel.
13. A atrocidade das penas gera a impunidade e a indul- Devendo as leis adequar-se ao clima, gnio c costumes dos povos
e t e m p s em que so proniulgadas, facilmente todos vem que so
gncia do delito, que so as coisas mais funestas que h para a
modificveis as leis, que, por ajustadas a esses tempos, tiveram natu-
sade pblica. Pastoret, Des loix pf:ales, tomo I, cap. 11. Vrios ralmcnte por fundamento ou a fora das circunstncias ou os precon-
outros axiomas vm em FiIangieri, tomo IV, P. 11, cap. XXV ceitos e opinirs do vulgo. De facto, quem no se riri hoje do que se
(Tit. XVII, IV, deste livro). acha escrito na Ord. liv. 5, tit. 3, acerca de feitiarias, encantamentos,
filtros e predio do futuro; E que juiz to severo, para no dizer
estulto, condenar a morie uma pobre mulher pelo facto de ela tirar
duin lugar sagrado ou profano uma >rrira de aia para Eazer teitiyarias? dceis com os teiitfios aqzielas que fornm exigidas por algotmas circrrns-
No cnrmlo, esta a pena estabclecida n a ~ricncionadaOrdenaqo. E td?zcia.s. A s que toruiir j~ztas sla paz, aio mz<itus 7 ' P Z C E oh-rog~J<zspein
quem ousar tambm condenar os sodomitas, os afeminados, os se- guerra; e as que foram produzidas na guerra, ab-rogadas pela par; tal
dulores, e os adlteros, com a? penas capitais de vivicomhrio, con- quul;ne~aleno goverwo dziina szafc hd coisas que siio fiteis para o Dor>%
fiacao, infmia dos filhos e outras estatuidas nos citados tits. 13, 25 e oidtrac $uva o ;nati terizpo. (Vid. Schasrio CEsar dr bIeneses, Suma
e 32. Nesta mesina Oid. til. 38 E permitido ao niando marar impune- Politica. Ti?. 111. cap. TIII. 3 4 ) . Bem diz tambm o autor da obra
meritc a muilicr c o adltero plvheii, :nas no. se estc tor nobrc, cli- intiiulada Uisci!rso sohre las pelias contmhido a Ias leyei cnmi>zales
fe~-eiip.esta inepta a mais no poder ser; e tambm permitido ao de Espalia, pag. 71: Es verdad qae nliestros Engiladores clnmnir contra
masido. se acaso for rndruco, a g e s a r a si auxiliares c confirir a outros e1 !zo uso de !as ieyes, declarando. que todas las Eeyes dei Keyno, que
a exccuo da vinganca, o que numa cidade bem constiiuda no deve expwsasnente no se hullan derogadas por otras postauiores. se deben
de modo a i p m tolerar-se, porquanto, segundo Quinliliano, Dec!amaiio obseruar literalnzente sin que pueda admitirse ia excusa de decir que no
XIII, recebemos magistrados e lets, pura que ningtr~nsejn viszgador cstan elt uso. Pevo u pesar de tan exprera voljwztad repetidas veces
da sua prdprin dor. E finalmente, quem c<indeiiar forca aquele que declarada pov 10s Sobera>sos. lu eiperiencia nos hace ver fi~aclicamenbe,
impsudentcmcntc fiirtou um marco de prata ou outra coisa de igual que son izuchisimas las leycs penales. que sin haber sido derogadas
valor, ainda quv tal pena esteja fixada na Ord. tit. Go? Em boa ver- por olras, estafz inlerameiite sin uso alguno, dando ltdgar por este mo-
dade, no podem vigorar perptuamente a i leis ocasionadas pela ikdo a1 arhitrio de 10s jueces, y 10 que es p e a , sirr que esfos le tengan
g u e m ou pelas frequentes incursc; dos inimigos ou cidados. Rlanda para dexarlo de hacer asi. No habra liuy por exemplo u n juez, que
a Ord. liv. 5, tit. 41, codar as mos e atanazar o escravo v i ~ oque i e utrelia a +irandar corta? 1a lengua a1 blasfemo, y lu mano a1 ercribimo
matar o seu senhor. Esta mesma 0i.. manda decepar as mos ( 2 ) falsario, sin einba~gode que estas son lus penas imprrestas a estos de-
au esclavu que arraricar alguma anna contra o scu :senhor, mesmo litos por leyes que ?LU estan expresainenLe derogadas por otuas; y s
que no o fira. Scmclhvelmente, se amputam as mos ( 3 ) quele que hztbiera alguno, que quiriera reszacitar esias leyes, creo seguramente
ferir algu6m no rosto, e quele que, estando preso em crccrc pblico, que 10s tiibunales strpenoues revocarian la seniencia, y el juez que la
ferir qualquer pessoa que na mesma cadeia estiver, Ord. liu. 5 , tit. 35, o publico por cruel e temerano. Hallanse
dt pasaria en e1 c o ~ z c e ~ tde1
($5 h e 7. Com igual pena deve ser punido aque!e que. nriesino sem pues 10s jueces y tnbenales por defecto de la legislacios en la fatal
ferir, tira a m a s para ofencr algum quer na preeua d'El-Rei ou necessidad y dura alternativa de srbfrir Ia suta de inhtsmanos, i de no
no seu Pao, quer no local e cidade onde estiver El-Rei ou a Casa obserriar las icyes, qf!e han juuado cui;?l>l:r. reja-se o Alvar dc
da Suplicao, (3rd. liv. 5, ti:. 39, I e 2. A Ordenao do liv. 5 , D. Jos I de 12 de Maio dc 1769, no prefcio.
tit. 133, e suas concordantes, que falam dos tormento?, no esto hoje
em vigor, mas ab-rogadas somente pelo uso, e no por lei especial. E
apenas isto me apraz anotar aqui: o resto ver-se-6 do quc bavemos
de dizer. Diz bem Valerio, eni I.ivio, X'LXIV, 6: Assinz como confesso
que nenhuma das leis, que foram prornzilgadas para seruirem perpitua
e >riutempoririamente por causa da sua utilidade fermanente. deve ser
ab-rogada, se o uso o mio impuser ow o estadu da suiiedade a no tornar
inzitil. assim tambm cejo que so (para as~iw dizer) moriais e ?nu-
O perjrio extrajudicial no C. punido pelas nossas leis; mas h Parecc que foram as prprias leis que deram ocasiio aos perj-
juizo cvel contra o perjuro, que obrigado a ressarcir o dano que nos, enquanto requerem sempre o juramento; de facto, do costume de
ocasionou sem lucro por culpa sua. Igualmente, devem ser punidos jurar, coniu diz Agostinho na Epstola 157, reswlta cair-se melitas veres
os oficiais que f a p m quaiqiler coisa contra o juramcnto geral, que anl perjrio e estar-se sempre perto dele. Pcla lci de 11 de Janeiro
icosturnam prestar segundo a Ord. liv. x, tit. 67, 5 15, n i o com as do ano 1340 da Era,dada em Coirnhra por D. Dinis, apud Ord. Afons.
penas do pejrio, mas com a da falsidade e outras conforme o modo liv. j, til. 37, 3 r, cortam-se as mos e os pi, e arrancam-se o? olhos
do delito, Ord. liv. 5 , tit. 53. E impunc, no foro civil, o perjrio da- aos perjuros; D. Afonso V gloria-se de ter mitigado csta pcna e a ter
queles que juraram como verdade aquilo que assim consideraram, ou substitudo pelo corte da lngua smente, Ord. Ilions., ibidem, 5 4.
aquilo dondc pequeno ou nenhum dano resultou. Caldas, De enzplione, O nicsniu D. D i t u ~em outra lei, que promulgou em 7 de Junho do
cap. I , n. 19. Sio irnuns de quase toda a pena, e inteiramente licitas ano 1353 da Era, apud mesma Ord. lit. 99, S r, estahcleceu contra
certas imprecac0es religiosas e civis, que o diverso um das naes os blasfemos a pena de arranque da k g u a e de vivicomk~iino, pois
admitiu; tais eram Sela e Vah dos Hebreus, Pol (por Polux!) e Aede- nesta altura cra costumc cm todas as naycs punir o rbu na parte do
pul ($0 1~111ylti C Pulux!) d t i b l'dtinus, e pelos Deuses i?~zorLue's,viuu corpo com que delinquiu. Porm, os Cdigos posteriores emendaram
o senhor, eu no viva, etc .... Everardo Otto, De perjur. per gen. Pnn- um tanto, sem contudo atingirem a perfeio, estas leis injustas e de-
a$., Hansen, De jurejurando oeler. Romanoruna, cap. XVIII. (No sumanas, originadas na doutrna mal entendida sobre a necessidade
6 lcito an Iirirnrm jurar de modo nlgvm. Seja o c i o i o falar. Sivi, sim; d e se vingar e punir milito severarriente os delitos contra Deus. ( O
no, no; cstas so palavras de Cristo em l,Iateus, V, 34 e 37. IIoje, UM e abuso dos juramentos no foro moral e pritico E exibido por Sa-
porC?m, femilharn em todos os ncgcios os juramentos, que devem ser muel Strykio, dleidew~atade Jzarafnentis, e com maior aparato de s&
inteiramente proscritos. Vide Code de I'Humanit, palavra Sermenl). lida erudio legal por Henrique Ayrer, no Specimen Ju~urkpwdentiae
consultatoriae de abusu Jurainentorum e Reprblica proscribendo, onde
se lem notveis e cordatos conselhos).
PENAS DO PERJLIKIO
3 XIX - O falso testemunho em todas as causas, quer O QCE E: SACRILCIO, SlJAS ESPECIES, E RESPECTIVAS PENAS
cveis, quer criminais, um crime capital, Ord. liv. 5, tit. j3,no
princpio, ii: A pessoa, que testenzztnhar jalso, e m qualquer S XX - O sacrilgio, delito contra a Igreja e a Sociedade,
caso qzte seja, nzorra por isso morte iiatural, Man. tit. 8 do , segundo o direito cannico, toda a violacZo, i ~ v a s i o ,vexa-
mesmo liv.. Kesta mesma pena incorre aquele que, em feito o e deteno de coisas, fiessons nu direitos sagrados. Cmc-
crime de rriorte, induziu as testemuiihas a testemunhar falso, te-se, o11 em razo do lugar, quando algum ofende a santidade
seja para absolver, seja para condenar o ru. Nas causas cveis de uma igreja, mosteiro, hospital eu outro lugar pio, cap. S d
e nos delitos no capitais, punido com degredo perptuo para haer 4 do tit. De reliiosis domibzis; ou em razo da $,DSSGG,
o Brasil e perda de sua fazenda, se no tiver desceridentes ou quando algum fere ou prende um clrigo, Causa XVII, ques-
ascendentes. Aquele que subornou por dinheiro ou outro modo to 117, canone Si quis suade?zte 29, Berard, tomo IV, Dissert.
uma testemunha, posto que esta no haja dado testemunho 111, cap. I , pg. ~ 1 9ou
; em razo da coisa, quando se furta um
objecto destinado ao uso sagrado, ou um objecto profano, de
lugar sagrado, Caiisa XVII, qiicslo IV, crio~~t: Quisqztis 21.
As nossas leis s6 mencionam esta ltima cspkcie. Pelo direito
roinano e pelo ptrio, sacrlego e deve ser punido com a morte
aquele que tira, isto , furta dum local sagrado coisas sagradas
de qualquer valor, Ord. liv. 5,tit. 60, 5 4, Bfan. 37, 5 4.Aquele
que furta de lugar sagrado coisa profana, ou de lugar profano
coisa sagrada, condenado ks gals, Ord. citada. (Tit. VI,
$ XIV, deste livro). DO CRIME DE LESA-MA-JESTADE
O crime de lcsa-rriajcsradc cai smciite sobze os que ofendem 3 VI11 - sedicioso em extremo grau e comete crime capi-
o Principc ou o Estado imcdiata c dirrctam~nte,como dizcm, no se cal aquele que, com mau dolo, e principalmente com forca ar-
devendo considerar rus deste crime os que, por razks particulares, mada, tirar da cadeia pblica um preso j condenado morte,
P no para ofender o supremo poder, resistem ao: juzes e oficiais no
arrombando a priso ou por qualquer outro modo. Assim se
eserccio de funes. Po? isso, a simples serlio ou iesisidncia , de
facto, um delito grave, mas nem capital, sobretudo quando praticada deve entender a Ord. liv. 5, tit. 48, 5 I,Man. tit. 35, 5 r, Afons.
sem x ~ r o s nem
, de lesa-majestae, contando que no a ataquc dircc- 90,3 2. Deve, porm, ser mais brandamente punido aquelc que
tamente, nem degenere em rebelio, nem seja cometida em favor de isso fizer, usando, no de fora, mas de indstria, dolo bom,
rkus <c lea-majestade; r n ~ s t esentido se devc cntcnder o referido ou corrupo do carcereiro. Mas muito mais brandamente ainda
Alvar. Gomcz, Varian~iiz.tomo 111. cap. TI. n. 7, Tjmit. I. A juns- se deve punir o cnjilge que, com traje mudado ou outros arti-
prudncia e o uso forense aprovam este entendimento, visto que, nem fcios e fraudes, tirar da cadeia o oiitro conjuge; temos sobre
antes nem dcpois do dito Alvar;, rcmos apiicada a pena de moite
isto o cClel>reexemplo de Maria Reygersberg, mulher de nimo
a semelhantes criminosos. Os que resistem justica, isto , aos magis-
trados e seus oficiais, Ord. liv. 5 , tit. 49, iifan. 36, ora so punidos
viril, que libertou seu marido Hngo Grcio da priso dum cas-
com a morte, ou amputaco da rno em ca;o dc fcriincnto feito na telo. Veja-se, querendo, Plutarco, no opsculo Illustres nzulie-
luta, ora com o exlio para Afnca ou Brasil, conforme a qualidade res, e Gomez, V a e a r u m , liv. 111, cap. IX, n. 12. O ru preso,
dos resistidos c d& reiistna. Com estas m e m a s pcnas so punidos que fugir sem vialnga nem arrombainento, no deve ser puni-
OE que arrebatam os presos, no dos drceres, o que constitui ceme do, Ord. liv. 5, tit. 48, 3, Engav, Elenzenta Jztris Criminalis,
especial ( 5 VIII), mas das mos dos quadriiheiros, Ord. cit. tii. 48, liv. 1, tit. XT,IX, 5 DXXXVI, visto que a fuga no delito; no
no princ.. Man. 35, Afons. 90. Mas. porque dclinqiirni rnais grave-
entanto, quando recapturado, deve ser encerrado em cadeia
mente os estranhos, que pela rpsistncia tiram das rnos da justia
uIn preso, a que no cst20 ligados pelo sangue, do que um filho ou
mais segura e severa. E injusto ter-se um r611 como confesso e
um parente que tira o pai ou o cnnsangunco; e estes mais do que convencido, quando faltem outras provas, pelo facto de fugir,
O prprio preso que por si, sem outra fora, se libertou da cadeia, pois pois podia praticar este acto, no por se julgar criminoso, mas
parect. ter grande desculpa iio amor da sua libcrclade pessoal: todos para evitar as incomodidades do crcere (Tit XVIII, 9 VI),
fcilmente vem que os rbus de violencia pblica no devrm sofrer. Perez, ao tit. De cztstodin reorum, n. 14.De facto, conforme bem
todos, penas iguais. No entanto, as leis ptrias quase sempre despre- diz Ulpiano na lei I do tit. De bonis eorum qui ante sententiam
zam estas e outras scinelhantes diferenas e desculpas, que o senti- nzortem sibi consciver~nt,deve perdoar-se quele que de qual-
mento de humanidade e a natiireza do dciito su3ministram. Deve-se,
quer modo quis salvar a sua vida e (julgo dever acrescentar-se)
porrn, d i s l h p i r sempre a vioIncia simples, sem armas e seni efeito,
d a qualificada e sediciosa, e tambm a injiia verbal e simplcs dcsa- tambm a liberdade natural.
teno ou desobedincia s ordens dos magistrados da violncia E no obsta a Ordenao cit. tit. 48, 3 2, ibi: E ser havido por
cometida contra pessoas pblicas em fiines ou fora dela:, pois c:tt. provado o maleficio de qgalquer preso, que fz<@'r da cadea, quando
crimes menores so punidos com priso segundo o arbtrio do julgador, asai f o r quebrada, posto qzte se lhe no prove, que par seu mandado
d a d o Alvar de 24 de Outubro de 1764, 9 3. Ord. liv. 5, tit. jo. se fez, visto que necessiriamente se tem de entender daquele que fugiu
Man. 66, Afons. gr. pela violSncia e arrombando a priso, desde quc haja outras provas
verdadeiras, pois ningiim deve scr condenado por provas falsas; ou ('RIM?: DE CARCERE PRIVADO, C QVEDI O COhWI'E
ento deve dizer-se que as palavras ser hauido por puouado o male-
ficio se tm de referir, no ao delito principal, mas ao arrombamento
da cadeia, quc se presurne fcito por instigayh do ru, se no e provar
5 X - Comete crime de crcere privado aquele que, sem
autorizao do Prncipe e fora, prende algum mesmo cri-
o contrrio; porm, ainda neste caso, deve ser punido mais suave-
mente do qiir um arrombador estranho (Sit. XVIII, $4 IV e VI. minoso por 24 horas em sua casa ou em outro lugar. Uma cons-
deste livro). tituio de Justiniano impunha que quem fizesse isso, sofresse
tantos dias de crcere piblico quantos os que tinha feito sofrer,
e que caisse da causa que tinha contra o encarcerado, lei 2 do
E OS CARCEREIROS QUE DA0 FUGIDA AOS PFiESOS
tit. De Privatis carcsribus ilzl~ibendisdo Cdigo. Esta pcna qua-
3 IX -Todavia, no merecem perdo os guardas do cr- drava melhor ao deIito que a de aoites ou exlio para Africa,
cere, que por dolo ou suborno deixaram fugir os presos; S% estabelecida na Ord. liv. 5, tit. gj, no princ., Man. 68, Afons. oz,
condenados morte, no caso de o ru estar j condenado a S: 3. Incorrem neste crime: r ) os nobres que prendem e encar-
eIa, e, no estando, h pena de aoites e degredo por dois anos ceram os seus sbditos e vassaios contra sua vontade; 2 ) os
para frica; e assim se deve entender a Ordenao liv. r, tit. 77, bispos que sem licena rgia tiverem crcere pblico ou par-
5 3, lei 4 do tit. De ustodin et exijibitione reu7um do Cdigo. ticular, pois, s dcpois dc pcdido r cibtido, podem exercer este
De facto, antes da sentena condeiiatria o preso no devc ser poder jurisdicional, Extravagante de 28 de Abril de 1647,apud
considerado ru, e, por isso, os seus gu?rdas no devem ser Ord. liv. 2, til. 9, Coieco I, N. I; 3 ) os monges; no cntanto
punidos com a mesma pena que ele prprio teria de sofrer. Por -lhes permitido ter crceres privados, onde podem deter tem-
conseguinte, neste caso e apenas quando esto em culpa, sero pornamente os frades mal comporlados para fins correccio-
punidos mais brandamente, segundo o arbtrio do juiz, con- nais, por justas causas, e segundo constitiiies prprias, ex-
forme o grau dessa culpa, falta dc pena l~gitinza.Pereira, pressa riu tcitamente aprovadas pelo poder eclesistico e civil,
De~isio69. Devem, porm, os guardas separar os rus, con- contanto que os crceres sejam saudveis e criados mais para
forme a diversa qualidade dos seus crimes, Ord. liv. I, tit. 33, vigilncia que para pena ou castigo, e desde que aos reclusos
9 2, ibi: e aprisoal-os segu7zdo os rnalejictos, cnz que forem no falte todo o necesslirio vida, trato humano, permisso de
cul#ados, Man. Z; 3 2, Afons. 32, 5 2. totalmente desumano plenissima defesa, e, finalmente, a livre faculdade de conversa-
e perigoso lanar juntos na mesma cadeia os ladres, assassi- rem com os religiosos bem morigerudos. Afas, se os superiores
nos, etc., e os encarcerados por motivos correccionais, pois no Eclesiisticos abusam neste aspecto, o que lamentamos ter suce-
h gnero nenhum de maldade que no se d ~ v atemer da. dido mais de uIna vez, ento os opri:nidos tm sua disposio
extremamente de recear que os incomgveis corrornparn com os remdios do dircito, tais como as apelaes para o juiz ou
seu convvio aqueles que a sociedade quis emendar com o cr- para um homem bom, os agravos e o recurso para o Princpe
cere. No entanto, estes cuidados cabem ao magistrado policial, ou para o Tribunal da Coroa (l~istituies,Do Direito Pblico,
cujo dever providenciar para que os crceres de correcqo Tit. V, S: LVII, Nota). Tambm o magistrado ordinrio pode
estejam separados dos que se destinam aos homicidas, aos trai- e deve, mormente quando for implorado o sei1 auxlio, interpor
dores, e aos homens j perdidos (Tit. I, XIX, deste livro). a sua autoridade, e se no pode julgar a causa, pode pelo menos
repelir a violricia e proteger os direitos naturais de homem Lisboa de 18 de Agosto de Im4 (Instituioes de Direito Civil
e cidado que o monge no perdeu com a sua profisso. Ora, Portugub, liv. IV, tit. XXII, 5 XVIII). Por isso, no tm hoje
so demasiado acerbas e qui alheias a todo o sentido de autoridade nenhuma as 0rdenac;es do liv. 4, tit. 76, S 3, e do
humanidade as informaes que acerca dos crceres monacais liv. j, tit. 95, $ 3. E perrnitido, para efeitos testemunhais, reter,
e outras matrias anexas nos do Ameno, torno I, Quaest. V e ou prender, em local para isso destinrzdo pela Autoridade, o
seguintes, e noutros passos, e Anacleio, ao tit. De adcztsaiio- gado apanhado a pastar em campo alheio, Ord. liv. 5, tit. 87,
izibus, 8. Mercccm completa leitura a Constituio da Impe- S J, Man. 62, I.
ratriz Maria Teresa de 7 de Setembro de 1771, apud Riegger,
No este o lugar para inquirir qual o poder que pelo direito
P. IV da Juris$r~dentiaEccles., 3 D C X X I I , Nota, e a Reolu- natural, ou pelo direito romano, cabe sobre o? filhos. Vejam-se.
$20 Rgia de D. Jos I tomada em 2 de Naio de 1775 sobre querendo, Bynker~hueck,Uc jwre uccrdetcrt~ii,ueadendi, et e.rponefidi
Consulta do Desembargo do Pao, ria qual se manda aos hberos, Gerard Koodt, s i t Julius Par~lz~si i s I. q De aglzoscendis
corregedores das comarcas visitar os crceres dos mosteiros. e1 aiendif iihens, c Amicis, Respons. ao mesmo. No entanto, aprouve
e pareceu mais congruenle que as coiil~oursius dentro de casa entrc
pai e filho fossem decididas por julgamento daquele. Mas, se a qccesiv
E QCEM O N A 0 COMETE chegar ao ponto de se formar processo jzddlciai por znvlirias, gxandar
o i'reszdenie da provincia, a q ~ see recor78r, seguir a ordeiz do direito,
5 X I -Exceptuam-se o pai e o senhor que podem casti- coslu~nadanas conkendas pecuniriai, lei 4 do tit. De palia potestate
gar e prender em casa o filho e o criado, contanto que a atro- do Cdigo. Deve, porm, o Presidente ditar a sentena que o pai
cidade do facto no exceda o direito de correcco domstica, qiiier que sc dite, lei 3 do mesmo tit.. Tambm ns seguimos este
Ord. cit. liv. 5,tit. 95, 5 4, lei 3 do tit. De fiatria potestnte do direito. Na lei nica do tit. De emesdalione ~ro$inyuorumdo Cdigo,
os Imperadores do tambm aos cirinhos mais uelhos a faculdude de
Cdigo, Iei nica do tit. De emendatione servorttitt do Cdigo,
cor+gir os menores e castigar as faltas dos jouem. E -te aquele
e lei nica do tit. De emendalione fira#inqztorunz (Institair,es, ju'zo famiIiar a cxercer sobretudo nos delitos farmliares de filhos c
30 dircito das pessoas, Tit. IV, VII, e Tit. VII, 5 11). Pode o vizirlos, que hoje alguns tanto recomendam. E , porni, birbaro o
marido reter durante 24 horas o homem que achar em adul- que sc l na lei nica do tit. De emendatione seruonim, e que foi esta-
trio com sua mulher, se esse homem for dos que ele por direito belecido, no por Nero, mas, o que de admirar, por Constantino:
no deva matar, Ord. cit. S z,lei 25 do tit. ad Lege?nJuZinw~de Se o senhor bater com varas or4 correias no escravo, oz~o prender por
adulteriis. Quetn quer pode prender e m flagrn~zleos lares, os razes de segartinyrr, ,"em fazer dislinyn o s indrrpretacia de dia:, %tio
ho:riicidas c rus semelhantcs, e det-los at que possam ser apre- incorrer e m crime algum, se o escyavo morier. No assim no nosso
direito, que apenas roncede, tanto ao pai conio no senhor, o poder
sentados ao juiz, Ord. lir~.5, tit. 60, $ 7, e liv. r, tit. 75, TO, e
d e cahgar levemente, Ord. cit. liv. j , tit. 95, S: 4, ii: castigar, e
tit. 65, 5 37. Ora, que delinquentes se podem dizer apanhados emendar de mas manhas, e costumes; Decreto de 30 de Set. de 1693,
ei9z jlagraizte, assunto declarado no Diploma de Ij de Setembro ibi: Hey fio? bem, que os escvauos ... no sejtio mobrtados com ferros,
de 1593,apud Febo, P. 11,Areto 191.No entanto, no permiti- liem ~ljetfidos cm $I%i6e.~iiials nperiadas, que c q v ~ h s ,gup bostarei,~
do ao credor prender o seu devedor, ainda que suspeito de para a segurana, npiid Ord. cit. Culico 11, S r
fuga, e embora assim o tenham pactuado, aps a Carta de Lei
de 20 de Junho de 1774, 19, e a Deliberaco da ReIaqo de
VIOLENCIi1 PUBLICA COSTRA U.\I PAR? ICULAK, VIOLENCIA PARTICULAR
ISSO , A <ASSUADA*
5 XIII - A violncia dum particular contra outro punida
s XlI- Para haver violncia pblica contra um parti- mais ou menos se\ eranerite conforme os casos. O que violentar
cular, isto 6, assuada, no mister se faa com a m = ( $ 111). a casa alheia, que o local mais sagrado e inviolvel duma pes-
Go~ofredo, lei 152 do tit. Lle regzrlis juvir, Otto ao 3 6 do soa, ou lhc quebrar as portas com nimo de mal fazer, C conde-
tit. De interdictis das Institutas e ao Q: S do tit. De Publicis jaldi- nado a degredo perptuo para o Brasil, mesmo no havendo
ciis das Institutas. E, no entanto, necesrio que haja um mo- dario, Ord. liv. j, tit. 45, 5 4, Nan. 51, 5 3. O que fechar as portas
tim ou o ajuntamento de pelo menos dez pessoas ( 111) com por fora a outro, degredado dois anos para Africa ou aoita-
intcno de fazer inal, Ord. liv. 5,tit. 45, no princpio, ibi: fiara s
do, segundo a sua qualidade, Ord. cit., 5,hlaii. tit. 37, iilt..
lhe fazer mal, Man. 51. Portanto, os que invadirem em tumulto O que pcla forca tirar coisa sua a outro, punido com a perda
a casa alheia e ferirem o dono, os familiares, os hspedes ou do seu domnio, Ord. liv. 3, tit 40 3 2, tit. 78, 4, no fim, e
quaisquer outras pessoas que a estejam, so condenados liv. 4,iit. 58, no princ.. Por este motivo se probe qualquer pes-
morte; se no houver ferimeiltos, so condenados a dez anos soa, com pesadas multas, de ter homens armados e os trazer
de clegrrdo para Africa, scritlo nobres, oii para o Brasil, st: fo- cnrisigo pelas cidadci c caminhos pblicos, em tempo de paz
rem plebeus, sendo primeiro aoitados, Ord. cit., e liv. I, t . ou de trgua, Ord. liv. j, tit. 47,Man. 106, tirada da lei de
58, 9. D. Joo 1 i n s e ~ ano Cdigo Afonsino, liv. 5, tit. 96. As leis dos
STisigodossobre a violricia pblica e particiilar acham-se em
Ainda que nada mais perturbe a tranquilidade da HepbLica do seu Cdigo, liv. VIPI, tit. r.
que os ho:ueils aniinistrarsm justi$a por soas priiptias mus, apoiados
no seu poder, B assaz sabido que outrora os nossos maiores, tal conio O uso d a violncia e vindicta privada entre ns provado, alkm
as restantes naes da Europa, dciimiram as suas contendas mais pela de outras, pela ctlebre lei da reuindicfa, que sob certas condi~es
violkncia das armas que pelos tribiinais. Estc uso de resolver as coricedia, principa1:ncnte aos nobres, a vingaiia padcular. Fsistem,
questes pelas armas i. prnvado entre 116s pelos iucrnpius alegados alm disso, docunicntos da Iae ?IPia em quc se IC: qz~elea qzaem
na Mosarchia Lusitana, P. V , li\,. XVI, cap. 45, $as leis gerais de couber a heranca da terra, deve pertencer a veste de ~ a e ~ r isto
a , ,
U. Afonso L U de 27 dc Fevereiro do ano de 1310 da Era, apud Ord. a couraa, a vinganG~zsobvc o prximo, e o pagamento do aldio.
Aions. liv. 5, tit. 45, c pelas Ordenaes especiais iobrc este assunto E alC c v nas nossas Icis e C O E I U ~que
P S cada um podia vingar por
dadas em Coimlira por D. Dinis no ano 13x4 (Histria do Direito Civil autoridade prpria, por si ou par meio de outrem, as ofensas prprias
Purtugugs, 5 XLVIII, c 1.111, Knta, letra 6). Prnva~ne confirmam ou alheias, tendo-se invctcrado tanto estes hbitos, que no bastaram,
estc mesmo uso as cartas de inimizade passadas no Supre:rio Dcsem- para os purificar c extinguir, as leis ccpeciais dc D. Afonso 111,
bargo do Pao, de que se faz meno na Ord. liv. , tit. 3, 5,Man. D. Dinis, e D. Ifonso IV, repetidas em diversas pocas (Insetuies,
Liv. I, tit. 3, $ 22, por fim, posto que muito tardiamente, aD-rogadas Do Direito Pblico, 'it. 11, $ XXIII; Tit. XII, 3 I, Nota, deste
pelo 41var6 de i 0 dc I I a l ~ o de 1608, apud mesma Ord. Colec- livro). &Ias, conio essas leis foram escritas dcli>a!dc, pareceu pmdeute
o I, N. I . atalhar, por cena modo indlrrcto, o desenx~olvinientodeste mal, o que
se fez com a intrniiu8o por D. P d r o 1 dai cartas de segurana, e.
por fim, com o estabelecimento de asilos civis a e s ~ m p l odos Jude~is
Com estes meios, se no se e x t i u ~ r a i n , pelo minos atenuaram-si nobris, 6, ibi. E quanto he em feito de retos teemos fio7 bem,
inuitc> a ? \-ing;inas parti~ulares, as quaij. surgindri rnelhures tempos. e maadamos, qzie se guarde per aquellu maneira, que se griardozl
acabarani por ser clara e directamente proibidas na Ord. liv. 5, tit. 45 nntrc os filhos d'algo ataaqnii. Ainda hoje a- lei: militares exautoxa~n
c s c n i ~ i h a n t ~ No
s . entanto, auida rcsiaic vestigins da vial&ncia c vin- e transferem os militares que recusam o desafio para duelo. Por
dicia particular rio nos% direito, coino por exemplo nas Ord. liv. 3, conseguinte, havia duelos justos e licilos, corrio os que eram dccre-
tit. 59. 3 I, iiv. 4, tit. 23, 5 3, ti:. j7, $ I, tit. 76, S. 3 e iiv. j, tados pelo juiz sob certas frmulas e con&es, em cuja exposio
tit. 38, no pnnc., 5 I (Irrstitui$es, Do Dircilo Ptiblico, Tit. 11, talvez ocupe a primazia Carlos du Eresne, Uirsert. De duelks, tomo 11,
$ 5 XXIV e XXV). Su!i;r os maitinicc ilas outias naks, devem e duelos irijustus, aqueles que os menosprs~adorea das Ieis d c t c d -
li-.e Grcio, De jzrre Iielli ac p a ~ i s ,li". 11, ray. XX, Q VIII, Biiiliii, iiavarii qui claidastiiia quer abeitariiente por autuiidad yrpiia c
De rspztbiica. Sect. uit., Heinccio, EIe1,ief;la Jurzs Ger,nan~c~, hv. 11. scm dcciso do juiz. Porbm, em vo os Plincipes trabalhar5o pala
tit. zj. extingui-los, enquanto subsistir a falsa opinio de desagravar, pessoal-
mente pelas armas, e no pelos tribunais, a honra ofendida; opinio
DUELO esta, que, sondo embora de origem gtica. ainda hoje tem muitos
dcft~nsoiss,e a causadora da contradi3o enhe as prprias Ieis. Ela
rnuito mais poderosa que a autoridade das lcis c dos Prncipes.
5 XIV- Mas nenhum gnero de violncia particular foi Rousscau, Epitre Mr. d'Aicmbert sur les rpectacles. O tsibunal
iiiais v u l g a ~ - >gerieralirado e prejudicial Repblica que o especial chamado tribunal de honra, que m e t o recomendado por
duelo ( 111 deste liv.), que os nossos maiores, especialmente este escritor, e teria por funSo examinar os casos de honra e aplicar
os nobres e os militares, usaram para mostrar a sua inocncia penas adeqnaai, no do gosto pblico, nem suficiente para extinguir
ou vingar as injrias feitas a si ou aos seus. Visto que este mal o uso dua duelos, enquanto se mantiver aquela opinizo. Qse apro-
to inveterado havia de certo modo degenerado cm natureza, veitanz as leis sem a covrecco dos cosiumes? Horcio, Odes, 111,
XXIV, 35.
foram impotentes para o curar no s as antigas leis referidas
na Ord. Afonsina liv. j, tit. 53, Man. 93, mas tambm as novas,
CONCUSSO
apud Ordenao que usamos, liv. j, tit. 43, e as novssimas,
apud mesma (3rd. Coleco I, Nn. I e z.
3 XV -Uma espcie de violncia quer pblica quer parti-
O duelo que n a Ord. liv. 5, tit. 43, interdito tanto aos paisanos cular 6 a cunc.~~sscia,pela qual se erile~ideLudo aquilo que 6
como aos militares sob pena de confisco de bens, v-se aprovado, se feito, no pela violncia prpriamente dita, mas pelo medo do
intervier pelo menos iicena r;lgia ou judicial, nas seguintes palavras poder pblico. E, assim, cometem o crime de concusso os ma-
da Ord. liv. 2, tit. 26, g 2 : dar lugar a se fazerena avnias de logo, gistrados e oficiais que, abusando do seu cargo e poder, indevi-
ou de sanha entre os ~equcstados,a ter cavrpu entr8 elles. De facto, damente exigem ou impem alguma coisa ao cidado para Ihe
as leis ou costumes antigos pemitiam que cada um vingasse, com prestarcin os seus sei-vico; e tambm o comete aquele que,
ferro e armas, a morte e ofensas dos pai-entes, coniu rarista da lei
dada por D. Afonso IV em Coimbra a 17 de Maro do ano de 1364
sendo-lhe feita semelhante imposio, indeuidame~ite d ou
da Era, j. 3, ibi: Porem porque nos nossus Regnos ea 11Ga ;izaneiia faz alguma coisa para evitar o poder, medo ou perigo dos fun-
usada, que cada ?I; queria acooimar (isto 8. castigar) W:OT:P, d deshonra cionrios. Quase o rnesmo se debe dizer dos superiores c pode-
de S E U S fiarentes, segundo llres pertencia ewz deilido, vinganca esta rosas, que fazem imposies idnticas, e dos particulares, que,
que D. Afonso proihiu n a q ~ e l alei, embora ~>ernGtisseo duelo entre simulando ordens dum magistrado e incutindo o terror, extor-
quem injustamente alguma coisa aos sibditos, lei I do tit. De participado ao juiz. Leyser, Disput. Df stmpvo 7~iole>zto,n. 4,
conczcssione, lei r, 3 3, do tit. De alumniatoribus, Donnello, Gothofredo, lei I do tit. De raptu uirginunz do Cdigo Teo-
Comnzentarii, liv. XV, cap. XL, Strykio, Dissert. De fac. jud. dosiano. O estupro sinzpIes, isto , volztnlrio, no tem aqui
de fact. lugar, visto no constituir violncia pblica ou particular.
As nossas lcis rijo fazem meno especial desle dclito: no entanto,
vem mencionado iio 89 do Ediclo de S~odorico,Rei dos Ostrogodos, Sobre o estupro violento, que os nossom antigos charria7-arn rousso,
"nde diz: Se aigaim, para aierrar nutro, formar ou a s ~ u m i ro co7iiando roussar, r hoje fo,a, for<amenio, forciir, c maneiia de o provar. com
duina forga, arrogando-se assim u m poder que no tein, sofra a pena gritos c choros, exijtern, e~ittcoutras, as leis especiais de D. Afonso IV
d e aoites e degredo perpiito, sendo pco, e a de desterro, sendo e D. Pedro I repetidas no Cdigo Afonsino, liv. j, tit. 6, As quais se
nobre. No Cdigo dos Visigodor, lei 2, liv. 12, tit. I, inandade qzte deve juniar a OrdcriayZo citada, que usamos, ti*. 18, 6 3, no fim,
o coade, vigLirio, o u uilico no intenleni agravar, para sua uliliclude, iliir bradando cada nina das dzias pessoas, e rir. 134, 5 z. ibi: se
os povos, com tributos, exaces, obras o u semzos forcados ... que aIgu;iza ?iiulhev fosse coriupta de sua vfigindade per forca, d e noite.
nZo exeram podar nenhum sobre hoinenr pavticzclares, n e m os mo- ou d e dia ... e bradasse logo no dito ernior Foo me f e z isto. Aquclc
lestens d e modo algum. Se algum juiz il~Jnltg7esla nossa constituiro, que desfinrar uma mulher nl,il corri seu asscnfimento, no se dir
seri p7ivado dc seu cuvgo e obrigado a pagar, para o nosso fisco, dez ru de.te crime, e ser, por isso, punido com outras penas extraor-
libras d z oiro. Por conscguintc, linje, no entender de Capzov. p. z, dinrias. O mesmo c deve dizer daquele que violentou uma imkcil
quesi20 go, a pena da concusso pode consislir ou na privao da ou cmbiiagada, pois tal muiiler nio o sofrcn contrariada, visto no
dignidade, ou no desterro, ou numa multa. ter querer nem no qiierer, bi 3, do tit. De regulis juris, Caldas,
a lei Si curatoreitt 3 do tit. De i n integrum restitutioize minonlrn.
palavra sua facilitate, n. 60, Eoehmero, Elemenla Junsprudentiae
Criminal&, %r. X I , Cap. V, 9 CXXXI, Nota.
ESTUPKO VIOLENTO
5 XVI-O estupro violento, tanto contra donzela ou viva, O QCE E O RAPTO. SUAS ESPECIES, E PENAS
como contra mel-etriz, S crime capital, Ord. liv. 5, tit. 18,Man
14. Afons. 6. So igualmcnte punidos de mortc os que auxilia- 5 XVII-Pela mesma razo que o estupro violento clasi-
rem o estuprador, Ord. liv. 5, tit. 18, no fim do pnnc.. Nem o ficado como violncia, tambm o o rapto, ou seja a condu@o,
conscntirnento posterior da violentada nem a contrac~o de violenta e contra vontade, dttnzn pessoa honesta d u m lugar para
matrimnio com ela evitam a pena, Ord. cit. I. No basta, outro $ara fiws libidinosos. H duas espcies de rapto: o verda-
porm, qualquer violncia, nias uma tal, que a mulher no deiro, que consiste no arrebatamento duma pessoa diirn Iiigar
possa resistir-lhe sem perigo de vida ou perda de membros. para outro, c difere do estupro violento por este no requerer
No basta, portanto, o medo de crcere, de infmia, de revern- arrebatamento; e o rapto por seduo, que se d, quando a
cia, de ameaas verhaiq, e muito menos os rogos, ainda que pessoa levada, no fora, mas com tais enganos e carcias de
importunos, os afagos, as adula$8es, e qualquer violncia muito amor, que pouco parecem distar da violncia, Ord. liv. 5,.tit.
leve. Este delito prova-se especialmente com qu~ixiimes,gritos 18, 5 3. Os que, seduzindo filhas de famlia ou mulheres ho-
ou choros aps a prtica do delito, que deve ser imediatamente nestas, com loucos amores. a violentarem para fins libidino-
sos ou para conseguireni um casamento doutro modo invivel, una fuga inlrnpesn di canaune co>Lienso;se confonde i1 ruito non uio-
contra a vontade dos pais e como que em desprezo deles, so di una fnnciulla col raito v:oleizto di una ~ o g l i e :se all'istessa
havidos como raptores, e pui~idos com as penas de rapto, pena desiinala fiel rapitore ar;;;nfo, che nnn si propoac alivo s c o p ~
mesmo que no haja arrebatamento, Carta de Lei d 19 de nella s ~ i a wiolenza, se non qztello di soddisfare ai stio Zi;nlale
appetito, egli conianna diw trailrportati amalzti, che n.in hunno
Jimho de 1775, 3 I. Hoje pela Novissima Lei de 6 de Outubro
altro oggetio nella fuga, cke qrtello di render legittfiiza lu 1070
de 1784, 5 9, as maiores de r7 anos no podem querelar nem unaone con u n sucro viacolo; se cih che lu naiura pernbeltc, e la sola
acusar criminalmente por estupro voluntirio, e tambkm por societii condunna, k ugzra1;nei~le pztnito di qufllo, c h ~oondannato
rapto voluntrio, ou de s e d u ~ n o ;podcm-no, no entanto, Pazer v i c n ~dall'wna, e dall'altra; se, i n poche parolc, di tanti dellizi cosi
seus pais, tutores, curadores, e, falta destes, os irmos. J a diversi ira loro, se ne fa u n solo, coa una sola legge, con %:nasola
menor de 17 anos pode no s acusar criminalmente, mas at sanzione; in qadeslu caso tutle le regole, che diriggono i1 polere legzs-
demandar civelmente, o estuprador e sedutor, no para obn- Lfiuo, e deternzinano i limhi dela sua estensioiie, verrebbero co??culcatc,
e lese da una Zcge cosi ferncs cd assurda. Ecco ci che si d7oe.a nilla
gar o rCu a casar, mas para a dotar segundo sua quaiidade e
lege da Costantiwo, Gnnoriata da Giastiniano, ed rnreritu i n qttellu mos-
condio, conforme a dita Lei (Vide Decreto de 31 de Julho trucsa collezione de' mon!rmenii iella sapienza, dclla ferocia, e dell'
de r78;), a qual, todavia, no tem lugar nos crimcs de rapto imbecillit de' uar? legislatori di Roma. I1 maitore infelice ?;iene 2%
verdadeiro e ealupro violento, yais um c outro se vem ser questa legge condannato alle fiamri~e,o alle fiere. Se 1a v e r p z e dichiara
crimes capitais, segundo a citada Ord. liv. 5, tit. 18, no princ., di ave7 presiato i1 suo consenso a1 ratto, h x g i da1 salvare 81 suo
e 5 3 (Tit. X, 3 X, deste livro). ainnnte, si espone a dividerne i1 destino. I parenti della donzela saen-
tiirala, r: colpa~,oli:svnv oiibiignti ad uccrware in git'stkia i? r a p i l ~ ~ e ,
e se, cedendo mofi dclla natztra, e de1 sungue, cercano de coprire
Contra os raptores de virgens, 1-ivas, c religiosas estabclcccu l'insullo, e ri$uru~lo con una legitima ztnione, sono essi medesinzr
Constaniino 31agno muitas disposies especiais e m seu Edicto que cotdannali all'esilio, e confiscati i 1070 beni. Gli schiaui dell'z!no,
vem na lei I do tit. De rapiu virginzcm uel viduarunl do Cdigo e dell'altro sesso conuintz' di auer favorito i1 ratto, o lu sednzione,
Teodosiano, as quais Justiniano fez todas suai na lei nica de igual verrgono brxciati U ~ J Lo cosldaanati a spirare sotto l'orn'bile tormento
titulo do Cdigo, Novelas rqr e 150. -4 respeito selas rprcscnta de1 pioinho lzquejfato. La piescrizrcne di qtlesto dellito non limiinta
Filangieri, tomo IV, cap. L , pg. 419, csitn nnoliveii o;).-ervaes: ad un determiaato nuinrro de unni, e le consegilenze della aente~~za
Constantino, io dico, fzt i'aufore della celebre legge conlro i2 ratto, si estendono fino frtrtti in,toce;i?i di quesla illegitima unione. Qziesta
che offende nel tempo istesro l'humaniti, la ragione, e la giustizia. la legge iii Costantino, conra ia quae noi ci siamo coit r a f o a e
Che u n uomo c.iolento, ed ardiio estragga con uiolenza zrna fanciulla scagliati. Mais comentrios traz o xitor annimo do livro francs inti-
da1 paterno tetto; che violando i doueri della natecra, e qualli della tulado Hisloire des rt'vohiioas arriuies dans le Gouuerncine?zi. les
socret repisca con violenza Ia nioxiie ollo s4oso: che cnmiar:rinaodo Loiz, et I'espriL humain, pris lu cozuersion de Constaniin jusqu'
le domestiche mura porti la desolazione e l'obbrobrio nella fainiglia, Ia chute de I'Emptve de l'Dccide~%t, Haye 1783. Nio cabe falar aqui
che le abita: che u n uoino di qvesta nattira espii colla perdita della das penas cannicas conti-a os raptores; no entanto, veja-s?, querendo,
vita I'oltmggio che ha recato alla donna, alla famiglia, clla societ o Trindentino, Seis. XXIV, De reformafione wata'monii cap. V I ,
intera: i n questo caso la ragione non potrii condannare i1 sacrijizio, n Riegger, JuMprudeaLia hccles., P. IV, 5 CLVII e DXXVII e seg.,
piangere snlla sciagura della uittinza, che s'imnzola a1 decoro dei Berard, tomo IV, Disseri. IV. cap 111.
costu+ni. alla sicurezza pubblica. ed alla do;nestica trnnyeilliti. Ma se
la ferocta, o l'anabecillilu di u n legislnfore confonde c01 rnfin oiolelzto
bem OLI combinam receber dinheiro; 3 ) os que utilizam insg-
nias ou selos alheios com o fim de enganar outro, praticam
parto suposto, abrem cartas seladas, mudam marcos nos cam-
pos, falsificam medidas, cunham moeda falsa, aambarcam
gneros, e, para resumir, todos os que prevaricam torpemente
em seus ofcios.
OS QCE SE BAPTIZAM POR 1-CCRO, OS EALSOS hlENDIGOS, 9: X - A prevaricao Ci uma espcie de crime de falsi-
OS QLE AFECTAM VALIMENTO, ISTO E, SE DIZEM FALSA- dade, que cumcteril no s os acusadores, que traindo n causa
MENTE AIIITGOS DO PRINCIPE, DOS PODEROSOS, DOS J1:fZES ajudanz absoZvi20 do ru, mas tambm os que de qualquer
modo no cumprem o seu dever c agem com dolo mau para
3 IX - Comete crime de falsidade aquele que se baptiza favorecerem algum, o que se pode dar com os advogados,
para receber dinheiro ou qualquer lucro temporal, como sa-
procilradores, juzes, etc..., lei I, no princ. e 5 7, lei 3, 8 3, do
t~emoster acontecido mais de Irma vez principalmente com os
tit. De $rae.caricatione (hoje delinqui-se todos os dias neste
vagabundos. Strykio, Us. rnod. de Lege Cornelia de falsis.
aspecto, no s com dinheiro de contado, que leva os irnpu-
A pena deste crime, que pode ser reduzida a vrias classes, no
dentes a fazerem do direito torto, mas tambim com cartas de
6 definida pelas nossas leis, mas pelas romanas; merece, porm, recomendao e pedidos de pessoas importantes, mormente se
punio severa, embora com penas mais brandas que as comi-
os juzes delas esperam e procuram algum favoi) Debalde se
nadas no liv. I do Cdigo, tit. h Ne sanctum baptisma iteretur.
probem estas cartas de recomendao e pedidos dos poderosos
Semelhantes a estes so os mendigos validos que simulam enfer-
na Ord. liv. 3, tit. 98, nas Cartas Rgia de 22 de Fevereiro de
midade ou caso fortuito de incndio, doena, etc..., mentindo
1616 e 6 de Ontuhro de 1633, apud Coleco I1 Ord. liv. I,
assim, para mais ficilrnente obterem esmolas do piblico. Ma-
tit. 5,Nn. 17 e 18, e nos Decretos de 6 de Outubro de 1604, 25
teus, liv. XLVIII, tit. VII, cap. I, n. 1%Aivar de 2.5 de Junho
de Janeiro de 1645, e 19 de Novembro de 1722, que se encon-
de 1760, 9s 18 e 19. Tambm cabem aqui os vendedores de
tram na Coleco I1 Ord. liv. j, tit. 83, Nn. I, 3 e 4). No di-
fumo (os que afectam valimento), os quais so punidos nas
reito romano, aquele que se conluiava com o ru para este ser
leis romanas com degredo ou morte, conforme o modo do delito.
absolvido, era punido com a mesma pena que o ru deveria ter
Paulo, Sententiae, liv. V, tit. 25, 8 lt.. Chamam-se assim os
sofrido, lei 6 do tit. De praevaricatione. O nosso direito no
que, dizendo-se, falsamente, amigos ou familiares do Prncipe faz m e n ~ oespecial deste conluio; 110 entanto, requer, em
'35
favor do ru, que o autor se obrigue pela acusao em qualquer ou da Fazenda, que recebem quaisquer presentes de sem
causa-crime, ou pelo menos na acusao de escritura falsa, comarcos e sbditos, so privados do oficio e dignidade, e
segundo a Ord. cit. liv. 3, tit. 60, 5 5. Nas h o j ~ porque
, raro obrigados a dar ao acusador e ao fisco vinte por um dos pre-
o uso da inscrio e processo acusatrio, os delatores pblicos, sentes recebidos. Ord. liv. 5, tit. 71, Man. 56, Afons. 31 do
os advogados, os prociiradores, e os juzes que prevaricam mesmo liv., e liv. 3, tit. 138.Exceptuam-se os parentes prlximos
tanto nas causas-crimes, como nas cveis, so condenados res- e os amigos, dos q u ~ i s licito receber presentes, Ord. cit. e liv.
tituio do dario causado, e s custas simples, em do)ro, ou 2, tit 49,5 4,comidas e bebidas que pelo uso se consomem em
tresdobro, conforme a qualidade da prevaricao, sem qual- poucos dias. Febo, P. 11, Uecisio, 110. Com efeito, no devem
quer pena corporal aflitiva, Ord. Iiv. 5, tit. 118, Man. 43, os juzes abster-se totalmente d e preseates, mas izisso procedev
Afons. 29. com. mod~ao,pois hd u w t oelho firovrbio que diz
sisr riu-a. du:c rrju T:Z, L;-C zapci xsnw.4
O vocbulo preriancaBo, na medida em que comprernde os que
por qualquer forma faltam ao scu dever, geral e abrange todos os isto , n e m tudo, n e m sempre, nent de todos, lei 6, 5 3 do tit.
cnmca; Irias aplica-sc especialmente s aos quc ar afaslam dos cleveies De officio ProconsuZis. Os que recebem quaisquer ddivas dos
especico~do cargo a que esto ligados; e neste sentido a prevaricazo litigantes, so piinidos com a confiscao de bens, perda do
diz-se um delito especial o11 prprin para sr difcrenar do con~un?. ofcio e degredo, e, iio caso de a dddiva recebida exceder dois
Cabnn neste: I) os estalajadeiros que no declaram os seus h6spedes, marcos de prata, so condenados morte, Ord. iit. 71, $ I.
iVvard de 25 dc Jimho de 1760, 9 12; 2 ) os cimrgie que scmeihan-
Porm, so rus deste crime ii2o s os que recebem, mas tam-
temente no registam os fenmentos; 3) os delitos miiitares, puni<os
talvez com penas mais sereras do que justo e o rerlama a ingnita
b6m os que do, e estes, com isso, caem da causa, e perdem
nobreza dos nossos soldados, pelo Kegimcnto dado Cavalaria e In- tantc os bens prdprios para o fisco e para quem os acusar, como
fantaria pclu Conde de Schaunibuurg Lippe, a quc D. jus I dcu iigor todos 03 ofcios e bens havidos d'El-Rei, Ord. cit. no princ. c
de lei pelos Alvars de 18 de Fevereiro de 1763 e z j de Agosto de 5 4, lei lt. do tit. De Lege julin repeturtdaru9?1~Veja-se, qne-
17bq; 4) m delitos martimos, (3rd. liv. 5, tit. w, M m . 98, c outros rendo, Platio, no De legibus, Dilogo X I I .
que no h vagar de referir.
Cometem grave delito os juizes que se deixam corromper, ou,
a pretexto do eu oficio, exigem alguma coisa aos cidados, nii espon-
tneamente recebem presentes antes ou depois da sentenca. Mas, no
8 XI -O crime repetundarunz (de suborno), assim cha- tendo P S ~ E S cimes a mesma m a c i a , devem ser punidos com penas
mado, porque se podia exigir (refietendis) aos magistrados o diferentes consoante o grau de rnaldade, e a quantidade do lucro
aceito, e sobretudo deve distinpir-se se se trata de causa cii-e1 ou
dinheiro que eles extorquiam injustamente, Signio, De jud.
criminal. De facio, no entender de Macro, na lci 7, 9 lt., do tit.
11, n. 17, muito setnellianie ao de falsidade, e sempre extrema- De L e ~ eJulia repstunda~am, aquele que recebeu dtnhei~opara con-
mente detestado pelos nossos maiores, como se v de diversas denar irm 6untem d morte, 0x6, mrsmo sem o ter recebido, condenou
lcis de I). Dinis, D. Moilso IV, D. Pedro I, e D. Fernando, que Irm ixoccnta o:i algutm que no dezleria punir, esse deve sofrer a
seria absolutame~iteinrtil e prolixo referir, consoante j em .nzorf~ ou $elo titenos o dsgredo fiava uma ilha. Tambm i. ru de
seu tempo pensou D. Afonso V nn seu Cdigo, liv. 3, tii. 128, h o ~ c d i oaqiielc juiz que, pela forca, dolo ou ignorncia, levou o ru
3 r. Hoje os juzes de qualquer ordem e os oficiais da Justia confisso dum crime capital. \Volf. tratado L)e judice homicida.
Diert. Can. De Eege Julia ambitus, seu de prohibita officiorum
venalitate.
3 XII -Os que, subornando ou corrompendo, conseguem A afirmao da lei nica do tit. De suffuagiu do Cdigo de que
votos para obter qualquer magistratura ou honra, cometem o licito no s procurar obter por dinheiro os votos dos que vivem
crime de mbito, que uma espcie de falsidade, e so punidos junto do P ~ c i p e ,mas tambm que o que se ihes promete devido
com cem cruzados e infmia, lei nica do tit. De lege Julia e pode scr por eles pedido pela condicfio certi e x suffragio (pela
ambitus do Digesto. Esta Iei cessa na BIonarquia, fiorque a assignao por dvida certa provenicntc de voto), u m a afirmao
criacio de ~nagistradospertence ao cuidado do P r i ~ c i p e ,e no totalmente indigna e torpe, que foi, posteriormente, revogada por
ao favor do povo. No entanto, tem lugar nos municipios, e tam- Justiniano com a restituio que ele acahou por fazer, como parece,
da Iei Jlia nas Sovelas 8, 124 e 161. Sobre os incompetentes e ambi-
bm na prpria cidade, onde as honras so confendas pelos
ciosos que, conforme diz o Imperador na citada Novela 161, mais
votos dos outros. E, assim, infringem-na: I) todos os que cor- compram os oficios que os uecebern. e sobre os \lhistros dos Prncipes,
rompem com liberalidades os jiizes e dadores de cargos pbli- que, desprezando as verdadeiras virtudes, s promovem equeles que
cos, pois as gnlandes riqzeetas costunzam quebrar a santidade e s i o recomendados pelo favor, pelo sangue e pela amizade, resultando
verdade dos jzclg!gnmcntns, Ccero, i n Vcvrem Act. I , $ I ; 2) os dai serem os oficios ocf$ados 1>w irnhccis, incompetentes e indLggnos.
que disputam honras, para as quais no so idneos; 3) ou, que desonrara os cargos, vexam e deitam a perder a repzibica, quando
suposto sejam capazes, as procuram com malas-artes, e para em contrapartida se acham muitos vares doutros, que, rlespuezados,
andum a mendigar. definhando de fome, inzundicie, abandono e pen-
as conseguir prometem alguma coisa aos Ministros dos Prn-
ria das cmsas, e morrendo a obscncridade, eles que podm'am szinhos
cipes ( XI), Novelas 8 e 124, pela qual se v revogada a lei com seus dotes naturais e diuinos ser muilo Uleis na repziblica crist,
nica do tit. De suffragio do Cdigo. Tudo isto vigora entre se dela no fossem afastados por aqueles imbecis, drvcm ver-se, entre
ns, pois, sendo todos os juzes e oficiais obrigados peIas nossas outros, Groenuregen, De legibus abrogatis, ao tit. De lege Julia ombilus
leis a jurarem, antes do provimento do ofcio, que nada deram do Digesto, e AntUnio Mateus, De criminibus, iiv. XLVIII, tit. XI,
nem prometeram para nele entrarem, Ord. liv. I, fit. 67, 3 ij, cap. 11, n. 3. E , pois, totalmente verdadeiro e aplicvel a todas as
Man. tit. 45, S 11, no fim, c tit. I, onde se acha a frmula desse d e d a e s civis o que de Roma prcdissc outrora Jugurta (Salstio,
De Bello J*g?<rthino, 35): O cidade venal, que cedo hd-de perecer,
juramento, tirada da lei lt. do tit. ad Legem Juliam refietulz-
se encontrar u m comprador!
darum do Cdigo, fcil ver que so rus de mbito todos os
que, cnscios dc sua incompetncia, demandam honras, con-
fiados em suas riquezas ou no poder de amigos. Porem (com DOS RECEPTADORES
que dor o dizemos!) este crime, de que o nosso direito no faz
meno especial, impunemente admitido em quase toda a XIII -Os receptadores, que cientemente acolhem, ocul-
parte. Mas mais impunemente se admite o mbito em ofcios tam, ou prestam refgio a ladres e outros criminosos em sua
e honras eclesisticas, que chamamos sivnonia, e severamente casa, possesso, ou estalagem pblica, so punidos tal qual
proibido pelas leis civis e cannicas, lei nica, I, do tit. De lege como esses ladres ou facinorosos que receberam, Ord. liv. 5,
Julia ambitus, lei 31 do tit. De Efiiscofis et clericis do Cdigo. tit. 105, Man. 71, tirada da lei de D. Dinis dada em Lisboa a g
e por todo o tit 10 do liv. V das Decretais, e passim, Van-Espen, de Agosto do ano 1351 da Era, apud Ord. Afons. do mesmo
liv., tit. 100. No entanto, estas Ordenaes devem-se entender O ESTELIONATO
smerite rio caso de os receptadores scrcm manifestamente
scios ou participes no crime, formando sociedade antes de o
$ XIV -%o rus de esteliortato (em portugus bulres
praticarem, segundo a lei I do tit. De lzis qui latrnnes 71el aliis
e illi$adores) todos aqueles que nos contratos cometem gravs-
criminibus reos occultavevint do Cdigo. Com efeito, os czim-
simas fraudes, as quais impossvel enumerar, pois costumam
plices como so os simples receptadores, merecem punio
variar at ao infinito, no podendo, por isso, a pena deste de-
mais suave que os auioves (Tit. I, $ X). Mas muito mais suave
lito ser sempre a mesma. H exemplos de eslelionato na Ord.
ainda os que recebem seus parentes ou afins, fiuis, corrio ljern
liv. 5,tit. 65, Xan. 65, Afons. Eg de igual livro. A pena a im-
diz Paulo na lei z do tit. De receptatoribus do Digesto, o delito
posta a multa pecuniria e o degredo temporrio. A diferena
daqueles no igual ao dos que recebem ladres que no lhes
entre o estelionaio e a falsidade deve a sua origem ao direito
pertencem. Merecem total desculpa os que acolhem os pais,
romano ( $ I deste tit.).
filhos, marido, e esposa. Filangieri, tomo IV. cap, XLVII, tit.
I, Nota (Tit. XIII, S XXX, n. 7, deste livro). 0 s que, conhe-
cendo os culpados, no os recebern, mas ocultam, isto , no os SE, QCT.4'iD0 EM JLXZO SE L A l . 4 A ACUSllAO DE PALSID4DE,
indicam aos magistrados, no ficam sujeitos a quaisquer penas SE DEVE DECIDIR PRINEIKO A CAUSA CIVEL
no foro, lei 48, 5 I, do til. De furtis, visto que ningum ohri-
gado a acusar ou denunciar outro contra vontade, lei nica do XV -Xo devem (notemo-lo aqui de passagem) demo-
tit. V t nemo invit,z&.~
agere ael acusare do Cdigo. Por conse- rar-se as causas civei?, quando nelas se argui alguma falsidade.
guinte, a simples ocultao sem receptaco no : crime que Por isso, se se pedir um legado com base num testamento, ou
pelas leis civis possa ser punido ao modo ordinrio; por isso, dinheiro com base num documento escrito, ainda que tais do-
a Constituio de Marciano na lei z do tit. De is qut' latrones cumentos sejam acusados de falsos, deve-se primeiro decidir a
uel aliis criminibus reos occultauerint, as Ordenaes citadas, e questo cvel segundo o instrumento de prova, no obstante
as leis de D. Afonso IV, D. Fernando e D. Joo I tiradas da- a inteqosihn da questo de falsidade. E que no se faria
quela mesma constitnio, as quais estabelecem penas certas pequena injustia ao autor, que para defender o seu direito
para os que ocultam e no denunciam os culpados aos juzes, apresenta urn instrumento de autoridade, se, a pretexto da ar-
parecem de aplicar aos que simultneamente recebem e ocul- guio de falso, a causa principal e o juzo cvel fossem sus-
tam os criminosos. pensos ate que se decidisse o criminal. No entanto, uma vez
comecada a acusao de falsidade, deve ela ser completamente
Em Atenas aquele que acoihia um proscrito ou qualquer outio fu- decidida dentro dum ano; c assim, depois de ab-rogado o di-
gitivo deste gbnrro, era degredado, Demslcncs, i n Polyclem. Muito reito antigo, se acha estabelecido pela Constituio especial de
mais sereras as leis de Plato, que condenavam o receptador mortc, Constantino que vem na lei 2 do tit. ad legem Corneliam de
porque aquele que a cidade decrelau co?no sezc amigo ou inimigo, cada
cidado o deve onriderar tanzbm seu amiga ou inimigo, Plato,
falsis do Cdigo de Teodsio.
De legtbux, Dilogo XJ. So mais h u ~ n ~ n aass ncisias leis supra-
A regra do direito antigo, segundo a qual a caiisa-crime dc falsi-
citadas, apud Ord. Afuni. iir. 5, tit. 100.
dade, por ser maior e mais digna, deve ser decidida antes da causa
principal e cvel, por todo o tit. De ordine co,onitiostun>do COdigo, foi
ab-rogada por Constantino na mencionada Coiistituio, onde tamb8m
Pbiamente se dctcrminou conceder apenas um ano para resolver
a acusao de ialsidacie que se interpusesse. Gothofrcdo, ibiem,
Cujcio, Obselvationes, liv. XX, cap. XXV. Entre ns, B falta de lei
esclita, obxlwa-se, normaimcute, no foro a Constiluio de Coiis-
TfTULO VI
tantino, devendo a causa cvel ser totalmente despachada antes da
criminal, ou devendo pelo menos o juiz decidir ambas numa s sen-
tena. Felio, P. 11, Arcsto 121. Aqui c em toda a parte a praxe no DOS FURTOS
sempre a mesma (Institui$es, Das cihrigacs e ac~es,Tit. XVIII,
5 XII, Nota).
O QUE O FURTO
FIJRTO Iv1ANIFESTO
CONSEC'I'AKIOS DA nEFINIGKO D E FURTO
5 V-Diz-se furto manifesto, quando o ladro apa-
5 I11 -No havendo, pois, no sentido jurdico, furto sem nhado no prprio acto de furtar e perseguido com clamores,
co~itrectaofraudulenta feita com nimo de lucrar (5 I ) , antes de chegar ao local para onde resolvera levar a coisa; e
segue-se da: 1) que no se d furto em coisas imveis, visto no manifesto, quando tal no se verifica, lei 3, no princ., e
que no podem ser deslocadas; 2 ) que a cogitao por si s I, lei 8, do tit. De futis. No basta a simples vista, se no for
no faz o furto, lei T, 5 T, do tit. De jurtis; 3 ) que aquele que .acompanhada destes ou vutrus clamores: Para utlde loges?
entrou num recinto com inteno de furtar no por isso ladro Agarra, agarra! Agarrai o ladro! Prende o ladro! Petrnio,
nem est sujeito s penas de furto, mas outras, ainda quando cap. 139, Cujcio, Observationes, liv. XI, cap. XXXVIII.
tenha entrado para roubar, Iei 21, 5 7, do mesmo tit.; tambm
no 4) aquele que quebrou e destruiu coisa alheia, lei 2 2 ; nem No direito romano pune-e mais severamente o ladro manifesto.
j) o que roubou uma escrava para fins concupiscentes, lei 39, visto er mais audaz aquele que &o teme os outros em praticar um
e lei 82, 3 2, do mesmo tit.; nem 6) o que tirou e sumpiou do- crime As claras. Acresce tambkm que parece dever compensar-se com
maior lucro aquele dono que vela em consen7ar as suas coisas.
cumentos para ocultar a verdade, lei r6 do tit. De lege Cornelia
Cujcio, ObsematHones, liv. XIX, cap. 12. Pelo que respeita pena, as
de falsis; nem finalmente 7 ) aquele que, em extrema e grave nossas Icis no constitucin diferenya ncnhuma entre ladrii manifesto,
necessidade, tomou uma pequena coisa a outro. Grcio, De jure e no manifesto: quem quer pode prcndcr o ladro c o n ou frrri
belli a fiacis, liv. 11, cap. 11, Q: VI, Thomsio, Jurisprudentia clamores, Urd. Ev. 5, tit. 40, $ 7.
Divina, liv. 11, cap. 11, n. 170 e seg.. Todos estes consectnos
so aprovados pelo nosso direito e costumes. , porm, ladro FURTO COKCEBIDO, OBLATO, PKOIBIDO, E N.XO EXIBIDO
aquele que compra ou oculta uma coisa furtada, e aquele que
presta ajuda e auxlio ao ladro, ou lhe d um conselho espe- 9 VI -Dizia-se furto concebido, quando a coisa furtada
cial do qual se seguiu o furto, 3 11 do tit. De obligatio~iibusquae era procurada com a solenidade do cinto e bandeja e achada
ex delicto nascuntur das Institutas, Ord. liv. 5, tit. 60, 5 5, pois em poder de algum que sabia que ela era furtada, 3 4 do tit.
nzoralmende apreendeu a coisa. De obligationibzis qzaae ex delicto nascuntur das Institutas,
Wieling, De furto $07 lancem et licium cowce$to, pois colceber
o furto era achar, tomar, e apreender a coisa furtada perante
testemunhas. Diz-se furto oblato (oferecido), quando a coisa
furtada havia sido entregue (oblata) a quem ignorava o furto perpetrado em coisa sagrada ou em lugar sagrado, que implica
e em seu poder achada. Proibido, quando algum proibia de sacrilgio. Uiz-se, portanto, furlo simples aquele que no
entrar em sua casa uma pessoa que a queria procurar solene- capital, e nisto difere do qualificado.
mente um furto. No exibido, quando algum recusava apre-
sentar o furto achado em seu poder, dito 3 4. Estes quatro gne-
FURTO VIOLENTO E SUA DIVISA0
ros de furto j no estavam em uso no tempo de Justiniano,
oisto que [j entiio] a indagao da coisa jurtnda no se fazia 5 IX - Comete-se furto 7~iolenl0,qoando se rouba u m a
segundo u modo antigo.
coisa muel por meio de violncia feita a ztma pessoa com
Actualmente no se admite nem a indagao solene nem a par- iinimo de lucrar. Por isso, no diz respeito a pessoas, cuja com
ticular das coisas furtadas: todavia, admitiam-na os Visigodos, desde trectao se chama crime de rapto ou plgio, nem a coisas M-
que se declarasse perante o juiz a qualidade da coisa. Vcja-se. veis, nas quais prpriamente nio se verifica a rafiina, mas o
querendo, o liv. VII, tit. 2, lei I. onde se exige que aquele que esplio, 9 I do tit. De v i bortorum raptorum das Institutas.
reclama unta coisa furtada declare secretamente ao juiz aquilo qw O nosso direito reconhece esta diferena pedida ao direito
becsca; yue mostre $or sinais rnanifesios aquilo que pwdeu, a fim de romano, Ord. liv. 4,tit. 58, e Iiv. 5, tit. 61. A rapilza cometida
no se ignorar a wwdade, por falta de sinais evidentes.
em estrada ou caminho pblico ou em locais desertos, que igua-
lar o valor de cem ris, ou o de mil ris em cidade ou municpio
frequentado, 6 punida ctlm a murle, Ord. dito liv. 5, tit. 61,
Xan. 38. Por consequi.ncia, agravante da rapina no s a
-
VI1 Semelhantemente, o furto rzocturno e o furto dzzhr- violncia causada a uma pesoa, mas tambm a quantidade da
coisa e o lugar.
no no alteram nem a natureza do furto nem a pena, pois so
ambos punidos do mesmo modo. 2 licito usar hoje do mesmo Latrocioar e dcprcdu Lonrra os povos estra+s, inesirio sem
direito que vigorava entre os Judeus, Gregos e Romanos, de guerra declarada, era prtica havida por licita ein quasc todas as
matar impunemente o ladro nocturno, mas o diurno s no nagcs, como a recpeito do? T.iiitunos, para omitir outros puvos, ateda
caso de este se defender com a m a , pois perptua a razo Diodoro Siculo, liv. V, cap. XXXIV. Agora jc aquele que rouba pela
desse direito. Boehmero, Elementa Jarisprudentiae Criminalis, fora pior que o ladro que rouba s ocultas, assunto discutvel,
como, baseando-se em Aristtcles e Maimnides, demonitra Grcio,
Sect. 11,cap. XIII, 5 CLXXXV, Grcio, De jure belli ac pacis,
Flor. Spars., ao tit. De vi bonorum raptorum. O certo que o rou-
liv. 11, cap. I, XII, Pufendorf, De officio honzinis et civis, bador fere mais a paz e mais audaz que o ladro, sendo, por isso,
liv. I, cap. V, XXI. com razo chamado ladriio w~akimprobo na lei 2, 5 10, daquele tit.,
e mais atroz n a lei I, 5 I, do tit. De effraclorinw-. Na Ord. Afons.
liv. 4, tit. 65, e liv. 5, tits. 27 e 66, h leis de D. Monso 111, D. Diis,
SI3PLES E QUALIFICADO
e D. Joo I contra os roubadorei. No direito I-ornano, lei 28, 5 10,
do tit. De poerais, so punidos rlc morte os saltradorcs do citradas,
5 VI11 - furto simfiles aquele que se no pode classificar que amados, mais de lima vez atacam e despojam os viandantes para
como qualificado, qual o violento, o grande, o terceiro, e o fazer presa.
ESPOIJO. PLAGIO, RAPTO na casa doutro com inteno de furtar ou roubar, se no furtou
a coisa, no deve ser chamado nem ladro nem roubador, lei
5 X - O que invade urna coisa imvel, ou tira uma coisa 52, 3 lt., do tit. De fulrtis, Ord. liv. j,tit. 60,5 I (Tit. IV, $ X I I ) .
mvel, que cria ser sua, verdadeiramente no roubador nem A rapiaa junta ao hoinicdio, isto E, o latrocinio, no pertence
ladro, visto que no o faz com nimo de lucrar; todavia, por- a este lugar (Tit. IX, 3 S I I , deste livro).
que nada ofende tanto o direito como a violncia, o dono que
surripia uma coisa sua detida por oiitiein, privado do seu
domnio, e, se a coisa for alheia, obrigado a restitu-la imeclia-
tamente ao dono, para mitiga~oda injria que este sofreu, e
a ressarci-lo de todo o dano resultante do esplio, Ord. liv. 4, 3 X I I -Em razo da quantidade diz-se qualificado o furto
tit. 58, Man. 50, Afons. 65, 3 I do tit. D e vi bonorum rafitorum: grande, sendo tal o que exceder o valor de um marco de prata,
das Institutas (Tit. IV, 5 X I I ) . O filgio, isto , a afireenso o qiial ij. punido com a pena capital, Ord. liv. j, tit. 60, rio prin-
dunz honzcm livre, o u sztpress2o d o escravo alheio, c o m O fk cpio. Llcvc medir-se a sua grandeza pela quantidade do dano
de oczdtar o h o m e m o u o#&nir-llze a liberdade, um delito causado e pela coridico da pessoa, porquanto o roubo 5s ocul-
grave, mas raro entre ns, de que as Ordenaes em uso no tas de um marco de prata a um homem endinheirado no cons-
fazem meno especial; no entanto, devem ver-se as Ordena- titui furto grande. 2,parm, crime capital e considerado grande
, 5, tit. 62, no princ. tit. 63 e -5, 3Tan. 68 e 77, Afons. 92
~ e sliv. furto aquele que se fizer coiil arrombamento, desde que exceda
e 113, Gothofredo, ao tit. De lege Fabzn de @lagiariis do Cdigo meio marco de prata, Ord. cit. tit. 60, 3 I.
de Teodbsio (8s I1 e 111 deste tit.). Sobre o rapto de mulher j
dissemos algumas coisas no Tit. IV, It.
PEQUEXO SEGUNDO, TERCEIRO
A diferena, que o direito romano e u pdtrio fazem rnire coisas
mveis e imveis, no tocante ao furto e rapina. parece apoiar-se mais 5 XIII - E furto peque~zoaquele que no excede a soma
lia subtcleza que na razo. mencionada; punido com aoites ou outra pena aflitiva do
corpo, segundo a condio do ladro, e a quantidade ou quali-
QCE VIOLBNCIA CONSTITUI RkPINA dade da coisa furtada, Ord. cit., tit. 60, 5 2. E esta a pena do
furto simples. O segz~ndufurto no sofre pena especial. Mas o
5 X I - KZo est definido nas nossas leis que violi.ncia Icrceiro j um furto qualificado, que sofre a pena. capital,
que constitui rapina. Mas eu entendo que se requer aquela que quando cada um dos fudos iguala o valor de 400 ris, na mesma
acompanhada de perigo de vida e qual no se pode resistir Ord. 3. Os pequenos ladres (em portugus forrnigueirosj
facilmente, seja ou no feita com armas, desde que se siga a que roubam coisas muito insignificantes, isto , no excedendo
contrectao e a fora ablativa. No basta, pois, a chamada os 400 ris, so irnpimemente tolerados no foro ou levemente
f o r a mevameste comfiulsiua, nem as simples pers~rnses,nem punidos au arbtrio do juiz; no entanto, veja-se, querendo, o
as anzeaxs de mal futuro, que dizem mais respeito concusso, 4lvar d~ 25 de Dezembro de 1608, 4 26, apud Ord. liv. I, tit.
nem s o nimo de roubar. Por isso, aquele que pela fora entra 49,Coleco I, N. I, e o Decreto de 12 de Setcmbro de 1750.
dos por isso mais gravemente que os outros ladres nu rouha-
dores. Groenewegen, De legibus abrogatis, tit. cit. {No entanto,
XIV- O sacriligio, isto , a contvectao duma coisa sa-
os que roubam por ocasio dum naufrgio pagam o triplo ao
grada dum lugar sngraclo, i. punido com a inortc; e o furto Rei, Ord. liv. a, tit. 32, no princ.). Tambm os roz~badoresde
de coisa no sagrada dum lugar sagrado, com aoites e degredo gado so entre ns punidos como os outros ladres, e contra
temporrio para as gales, (3rd. liv. j, tit. 60, 4. Considerani-se eles no se acha estatuda pena especial; porm, a respeito
aqui coisas sagrodas o oiro, a praia, os ornamentos dos santos dos passadores de gado existe uma Ordenao especial no liv. 5,
e akares, e as escrituras pertenccntes igreja o11 mosteiro. Por tit. 115 (Instituies, Do Direito Pblico, Tit. VII, XIII,
outro Iado, diz-se lugar sagrado no s a igreja e o mosteiro, Nota).
mas tambm qualquer casa dessa igreja ou mosteiro destinada brandamente punido no s o furto domstico prbpno,
%ri
a guardar os referidos objectos sacros. comctido @o iillio-iamilia uu pelo cbnjugc. inas tambein o imp~dprio,
cometido por criados e jornaleiros, lei 89 do tit. De furtis, Meister,
Talvez cejar~iiiiuito scvi,ras a s p i l a s eitabelecidas para o sacii-
Principia J w i s Criminatis, 182, Fllangen, tomo IV, cap. LI?(,
i&gio. Kcalrneiite, assiiii. paiccc que aquele que tirou a um pole
pg. 486, o quc no apraz a iodos. Por mim entendo que as penas
homem tudo o necessirio a uma vida mais que modesta pecou menoi d m delitos dei-em scr e m p r c amolecidas e temperadas olhando A
d u que aquele que subtraiu algu~nacoisa iiiim templo. qiiando o certo ~ a c i L ode delinquir, deadc qu? a ocasio no haja sido procurada, mas
C. quc n i n p i t ~ npodrr fcilmente rlizcr que se faz furto Suprema
oferecida prlo acaso, ncm provenha d a ndole do delinquentc, mas
Divindade. Filangien. tomo IV, ap. XLIV. duulsa fontc (duma causa extcma). Sobre este ponto h que vCr
a Prolusio IV de Piitmm, intitulada An et qualeni~s ddiEnquendi
occasio delictuv ejicsque poennm wbinlaat ( S e e em que medida a ocasio
FURTO DO'VIESTICO, FURTO FEITO 0\.I BANIIOS, E11 1NCENI)IO d e delinquir diiuiniri o delito e a sua pena). Tit. XTX. 5 111 Nota,
OU EII RUfNAS E DOS ROUBADORES UE GADO deste livro.
5 XV -As nossas leis no fazem meno especial do furto DO FURT(1 DE ARVORES E FRUTOS
do)~sLico,como o praticado pelo cnjuge, filhos, ou outros pa-
rentes, e pelos criados e criadas. Todavia, deve ser punido,
Q XVI -As nossas leis tambm no fazem meno espe-
como costume em quase todos os povos, mais brandamente, cial dos que furtan rvores ou frutos dos pomares ou campos
quer porque tnerece algurna desculpa devido s circunstncias,
alheios, devendo, por isso, ser punidos como os outros ladres.
quer porque se pode imputar ao dono alguma culpa. Strykio, Os chamados daninhos, de que trata a Ord. liv. 5. tit. 87, no
cap. lt., e ao tit. De fitrtis, Us. mod.,
Disput. De j u ~ .do~~zest.,
cabem aqui, visto que no $50 ladres , porm, ladro, aquele
$ X X V , Lauterbach, ibidem, 5 XI, Beinccio, ad Pandectas
que corta e furta madeira doutro em mata abatida ou rvore
no mesmo tit., 5 XCIV (Instituies, Do direito das pessoas,
alheia; mas, se o fizer em mata comum, no comete furto; deve,
Tit. IX, Q XXV, Xota). O mesmo silncio aparece, nas nossas
no entanto, ser punido conforme o costume da regio.
leis, a respeito dos ladres dos balnerios, assUi1 como tambm
dos que furtam ou roubam as coisas aIheias por ocasio de O que tirou fmtoi niadurus com o fini de lucro, ladro, c deve
incndio, naufrgio, ou runa; todos estes no devem ser puni- ser castigado conforme a qualidade e quantidade dos frutos e outras
circuristnciac, tal como n oiiiros 1adrGs: prt-m, aqricle q ~ mlheii ~ e
fmtos imaturos e r-trdes, ou estragou e amemessou ao cho os j
dcve-se proceder mais liberalmente, quer olhando i ocasio de
mxiuros, como nii tem nimo de lucrar, no obrigado pelo furto, delito que as circunstancias favorecem, quer a um tanto de
irias pelo da70 causado scin direito. Considero licito ao riandanie culpa da parte dc quem com eles contrata, lei 55, 6 I, do tit.
colher uma pea de imta ou uvas em pomar alheio, dzde que logo et bericztlo tzitoruwt, Carpsuv, P. 11, Quaest.
D e ad~,zi~~istratio::e
as corri1 na vinha ou no prprio canlinho. hioiss. L)eiit~ronrnio, LXXXV, n. 67. Merece ver-se a citada Proliisio AR et quaterzzu
cap. S X I I I , rcrs. 04 c 25, dissc aos Helireils: Entrando na vGha do dclincjz$endi occasic, dclictzm, ejusque poeftam miizu~dt.E isto
lerr prxi??ao, co+?zeqtfantar uuas quisevr:~, mas no as bues contigo parece dever aplicar-se tambrn aos falidos, que defraiidaram
para fora. Se entra~eana seara de tez6 amigo, pode~iscolher espigas
os credcires com mau dolo, uma vez que eles no invadiram a
e ?iiachuc-ias com a s mios, mar no colheras coin foztce. Mr. Pasioret,
110 opjsculo iiititulado .5foLse consideri conzme Legis!ateur. et comnze
custdia alheia; e assim se deve entender a Ordenaco do liv.
i%fliruliale, Cap. VI, pio. 470. j:.:.:a lei i apio\'ada pcioc ~iussoscostnuie? ,j,tit. 66, Febo, P. 11, Aresto 24, Arouca, Adlegatia 28, Valasco,
eni Colares, povoao perto de Sintra, e noutras mais. Isto que se 16 .?rElegnizo 13, desde o n. 155 (Institui~s,Do Direito Pirblico,
no I:v. I 1 $os Feztdos. ti:. 27, 3 8: Todo oqzr& que na $a.srnr por :lina Tit. VIII, 5 XXXI).
$erva quiser al?nze?2tar sczc ~avalo,&lhe iinpi~;zcmente qzmnto puder
recolher ao longo e na bcrnra do cui;tinho para refei~oe restaziro do
seu cavalo. Seja-lhe ia?vib&:a $evrnitido seruir-se de e97:n r plantac DO PECCT.ATO E DO CRIME RDE RESIDUIS
verdes, e desde que n devaste quena yzur poder usay disso conforme
a sua utilidade e necerhidadc, no adniissh-e1 nem sempre neni em $ XVIII - O crime de fiecztlnto, isto 6, o furto de dinheiro
toda a parte, a fim de que no se d ensejo aos malfeitores de rausa- pblico feito por aquele a cuja guarda foi confiado, deve ser
rcm vontadr dann aos outros. tIarpy)recbi, ao g I, n. 2 3 , do tit. De castigado no com pena mais dura mas igual quela com que
obkgazionibzis quac ex drihclo nascz.rntz<rdas Institutas. se costuna punir o furto particular. O crime ((de residuisi~,
qual o cometido pelos oficiais pblicos qae tomam e convertem
FURTO DE COISA DEPOSITADA, E DE COISA EMPRESTADA; cm uso prprio as coisas que Ihes foram confiadas, deve ser
E DOS FALIDOS tambm punido no com pena mais dura mas igual quela
com que so castigados os depositrios, comodatrios, e outros
3 XVII -Aqueles que mais parecem dcencan~inharque articulares que admiriistrani por contrato coisa alheia, quando
roubar as coisas alheias, como os comodatrios, depositrios, e dono, Ord. liv. Z, tit. 51, no
dela abusam contra a v o ~ ~ t a ddo
mandatrios, admiiistradores, ourives, e outros que por con- princpio, tirada da Extravagante d'El-Rei D. Manuel, de 8 de
trato tm em seu poder coisa alheia, abusando dela, ou utili- Jimho de 1521, apud Leo, p. 4, tit. 15, lei I.
zando-a para uso prprio, embora na realidade sejam ladrfies
( 3 II), so punidos ao arbtrio do juiz, no com a pena ordi- O Principc no d w t ~ui<!.lr meno; das coisas pariici~larcs 111ie
nria do furto, mas com a extraordinria, que pode ir sem das sua5 r pblicas, devendo, por isso, o peczrlulo ser p ~ ~ i dcomo o
o furlo prr!icular. O m-mo dizemos dos oficiais rgos que utilizam
dvida at morte, Ord. liv. 5, tit. ho, 3 8. Efectivamente,
(ri1 crnpi-cstnm os rlinhciros n si i.onfiadns: este crime cl~ar~ia-se
&deresi-
maior a malcia dos que tiratn urna coisa das mos e posse
duiz-; e iisU~:; realmente ronia das Ordeiia$oes citadas que tm por
doutro do que a daqutlcs que sem consentimento do dono utili- fundarricrito as leis d? D . Afonso I1 e D. Afonso 111 introduzidar no
zam um objecto j em seu poder para uso prprio; com estes Cdigo Afonsino, uv. 1, tit. 42 e 43. Por conseguinte, a pena ~ a p i t a l
e a aflitivu dc mipo nos criirics de peculato c <de residuisx apenas por isso, j de h muito antiquada, e ab-rogada pelo direito
tiiri lugar no caso c111 quc o pode ter enrilic particulares. E no se
no escrito, com a aprovao dos nossos humanssimos Reis.
consegue u contri?o da Ord. li,,. j, tit. 74, Nan. 28, liv. 2, pois deve
ser entendida a partir doutra Ord. do mesmo liv. j, tit. 60, 5 8,
Qualquer iurto de relativa iniportncia era pdas icis antigas do
acima citada, r dai razes naturais em qile se apoia (5 XVII). Shykio, Reino um crime capital. Mas j nas Li5 forzis al,ms lugares se acha
b's. mod., ao tit. De lega J d i a pecuhtus, S IV. Entre os Ostrogodos o
estabeli~cido que o pi.iril&v e peqr6eeo furto pode wr espiado pagan-
que furtava dinheiro pertencente ao fisco ou contas pblicas, entregava
do-se o njnuplo (nveas) ao Rei. o sitimo (safeflo) ao doxatArio. e o
o qudruplo, por Edicto do Rei Teudoiio, 115; entm os Visigodos.
duplo ao senhor da coisa, devendo todos e cada nni destes pagamentos
por fora da Iei 10, tit. z. li". 7, era obrigado a restituir o anoveado.
%r ieiiibs junto forca, corn as mos Li,eadas c barao ao prscoyo,
apu Ord. -4fons. lir. 5, ti:. 6j. As penas de arranque de olhos,
corta~~tc~rto de ?~zioern :,ida, e ?izarci~Coa fogo d e arnr sinal i,&ln-
DOS DIRECTARIOS, APEKTULAKIOS, SACCLARIOS, inanta na fronte ou espaldas do ladrzo, no esto em uso; no entanto,
E ~~TICULARIOS so mencionadas na dita lei Da Refa?tzao da J u s t i ~ a de 6 de DC-
zcmbro de 1612, 2<1, apud Ord. iiv. j, tit. 129, Colecc;o I, N. I,
3 XIX-Os directrios, que se introduze~nnas casas alheias e no Diploma Rbgio d? 31 de M a r ~ od c r742, 9 8, apud nlrsma Ord.
com inteno de furtar, e a se ocultam para melhor e mais se- liv. I, tit. I, Colccyo I. K. I. Realmente. a marcao a logo de um
guramente poderem fugir; os a#ertulrios, que usam chaves sinal na fronte de uin homem (nas espaldas airida v l) lima pena
cruel c absolutamente alheia i dignidade hiuriana. Filangieri,
falsas, ganclios e gamas, e para os quais realmente no h nada
tomo IV, cap. XLI, Brissot, Bibliolhqzcs Philosophiqre, tomo V ,
to trancado, fechado, ou cerrado, que no consigam abrir; os pAg. 303. Puttman, na Prolnsio De numero decoctorum prudentia
sacul?ios, que se servem de sacos para furtar, e agem com tal legislaionn rizinusndo. Xas se isso % faz ao, rus cum n intuito
engenho e destreza que enganam os olhos dos presentes, gnero principal de c l se ~ ernendarein e ieformarein, que emenda h a
este de prestidigitadores que o vulgo ipriaro corisidera mgicos; esperar daquele que se \ acompanhado de infmia p e w t n a , e que
os crumenisecas e os rnanticzlrios, apanhados a cortar os cor- todos evitam 2 riespre~ain, P eni cuja fronte est inscrito aquilo dc
des s bolsas, embora no sejam verdadeiros ladres nem 5Iorcio (Serii~ones, I, 4, 85): Este plfido; acautela-te dele,
apreendam as coisas e dinheiros alheios, so punidos com aoi- Rornano? l i a Espanha, tanibm no sc usam o vivicombrio, a con-
deriayju s feras, e a livre entrega do ru vontade do ofendido,
tes e degredo, Ord. liv. 5, tit. 60, S I, 9, 10 e 11, Cujcio,
e outras semelhantes penas atrozes e cniis. Inst. dei Derecho ~i.uil
Observationcs, liv. X, cap. XXVXI, Menag, Amoenit. jltr. civ., de Cactilla, liv. 11, tit. XIX, cap. IV. 5 I, no fim.
cap. 39, Strykio, Disput. De sacculariis et directariis, e Us. mod.,
ao tit. De extraordinariis criminibus, S IX, X, XI, XII e XIII.
E DA SUA JTSTIA OU IYJUSTI.4
A PENA CAPITAI. NO FURTO NA0 ESTA EM USO S XXI -Porim, esta pena capital, muito embora se ache
estabelecida hoje em quase todas as naes, a verdade que
5 XX- Ora do exposto se v que o furto qualzfacado, nem outrora agradou a todos, por exempIo, aos Judeus, Roma-
ainda mesmo n i o violento, nalguns casos punido com a morte. nos, Visigodos, Alemes, etc...., Heinccio, Elem. J w i s Genna-
Confesso que esta lei dura, para no dizer injusta; acha-se, nici, liv. 11, tit. XIX, Boelimero, JurisfirudenCa CrirninaEs,
Sect. 11, cap. XIII, S CLXIX e segs., nem agrada a todos os nao foi feita para seiripre, I N ~ criada para ocorrer a circunstncias
filsofos do nosso tempo, porquanto a plenos pulmes lhe cha- turbulentas originadas pelas guerras. A identicas circunstibcias d e v e
mam injusta c intil, quer porque no corresponde ao delito, a o s atribuir entre riGs os Decretos de 4 de Novembro de r755 e 27 de
com o qual a perda da vida n<i tem proporo alguma, nem Janeiro de 1757. motivados pelo terramoto que quase devorou Lisboa:
de facto, nrsia altura alguns homens perversssirnos, despojando-sc
o evita, quer porque parece dar ocasio a homicdios, visto que
de todos u i scnt::nentiis humanos e apruveitando-se da ocasi20 que
os ladres, que sabem vir a sofrer a mesma pena seja o furto ihes oferecia a enorme perturbao pblica, apenas respiravam rapi-
simples, seja acompanhado de homicdio, dificilmente se abs- nas P homicdios, os quais, rio meio de rircunstncias to duvidosas
tem deste, como fariam, se houvesse uma pcna para o furto, r de tamanho risco para todos os cidados, s podiam ser evitadas
outra para o latrocilio, e outra para o homicdio. com p.iiaP gcralrrii?nte muito severas e a adopo duma ordem pro-
cessual muito breve e sr~marissima. Mas, parte isto, nada mais
E esta hoje a voz uiissu~iade todos us iilijsofos, e s o nunie-los inquo do que c~iorcar e condenar morte inclemente, um nsero
seria longo. K, de facto, onde a simple~rapina e o l a t r o c ~ oso coibi- pobreiana que tirou qualqtier pequtna coisa das mns dum iico.
dos com pena igual, a i os lairocinios no podem ripitar dc ser mais acumulador de tantos montes de dinheiro que j no o podc contar,
frequentes que as rapinas. Qnc coisa deter5 - pergxnto eu - urn =as apenas pesar. Keslc particular disse muito sbiamente Justiniano
roubador, quc sabe ficar sujeito i mesnia pena quer mate quer no, (alis, no muito bom legislador) na Novela 134, c a p 13: Xo que-
de acumular uni crime com outro crime, e matar uma testemunha reinos absolatamente que @r furto se corte qualquer mernbro o u se
que lhe perigosssima? Alm disso. a distinco entre fuiirto mmifesto dB a ~norle,~ Gues seja a$!i~ailo outro gdnero de casfigo. Chaniunios
e no manifesto, diurno ou nocturno, domstico ou estranho, sagarlo, ladrzes aos que comete??^ se~nelhantedelito, s ocultas e sem arnias.
isto , de coisa sacra, c profano, grande ou pequeno, quase despre- Mas mandamos que s q a m finpostas as penas legais aos que, em. casa.
zvel no respeitante pcna, visto que so ambos o mesmo defito, c do xo criminlzo, ou no mar, atacam iiiolentamenle, com armas ou sem dar.
mesino gnero, no podendo, por isso, admitir iiina pena niais grave
de gnero diferente, mas uma maior apenas rio seu gnero conforme
as circunstncias. Bem disse PIato no De Eegibtrs, Dilogo IX:
Seja grande, seja $equeno o fu&, haja l>a~atodos uma s lei e uma DEVE-SE RESTITUIR AO DOY0 4 COISA FURTADA;
pena semelhante. Dcvc, porm, fazer-se grande difci-cna entre furto E DA PENA DO DUPLO E QUADRUPLO
nu viulento ou simples, e violento, o qual crime de outra ordem,
visto opor-se directamente no tanto propriedade do cidado como 5 XXII - E~nborahoje o furto seja um delito pblico, Ord.
sua vida e pessoa: de facto, como sbiamente diz o mesmo Piato liv. 5, tit. 117 e 122 (Tit. I, 5 IV), todavia, a perseguico crimi-
no Dilogo XII, o furLo de dinheiro d sem doida indecoroso, ntas nal no tira o iztevesse particular. Pode, por isso, o dono pedir
a rapina, lo~pissima. Por conscqiincia, ~ P C C infligir-se (e~cepluauIio no s a coisa furtada, pela aco de delito pessoal chamada
scmprc a capital) urna pcna mais gra\-e i rapina que au furto. E no
conditzo furtiva ou de reivindicao, mas tambm todo o
lonvm distinguir os funos entre si, visto qrie consistem no mesmo
gnero de delito, mas sim distinguir o fiirto da rapina e violencia, dano derivado do delito, (3rd. Iiv. 5, tit. 86, 5 r, ibi: n estima-
a qual deve, por isso, ser punida com oiitias pcnas ~ n ~srveias.
is que co de seu dano fielos bens do danificador, Struvio, Exercit.
afcctcrn mais a pessoa que as coisas. Eilangicri, tomo IV, cap. LT'. XT-VIII, Thes. L. E, pois, brbaro o costume de entregar ao
Em boa verdade, a lei do Irnperadur Fredenco I1 n:i C o ~ u .d~ pace magistrado o objecto furtado, ou a sua reteno mesmo a
tenendu do iiv. 2 dos Fezdos, tit. 27, 5 8: Se algildn: roubou n'nco pretexto de pagamento das custas pela inquirio feita oficio-
roldos ou mais, seja eaforcado; se menos, seja o ~ o i l a d oe atanazado, samente. Strykio, Us. mnzod., ao tit. De furtis, XXVI. Porm,
a persegiiio criminal extingue a pena civil do duplo ou qu-
druplo, quer porque as leis que agora nos regem no a mencio-
nam, quer porque justo que ningum sofra duas penas pelo
mesmo delito. Portanto, com Boehmero, Elenz. Jur. Crim.,
Sect. 11, cap. XII, $ CLVII, Thomsio, nas Not. ao tit. De obli-
gatiolaibzu quae e x delzcto nascza~turdas Institutas, e outros,
consideramos o direito romano ab-rogado. E porque no h
lei especial sobre isto, a recepo e autoridade deste direito TITULO VI1
no aprovada pela praxe dos libelos na aco de furto, Carni-
nha, De libellis, Adnot. 39, nos quais se costumam juntar e DO DANO CAUSADO SEM DIREITO
pedir as mais severas penas tanto cveis como criminais.
III - O dano causado por homem livre, por escravo, VI -A lei Aqulia, no sentido do direito romano, ne-
ou por quadnpede. -40 primeiro chamam os jurisconsultos nhum uso tem hoje entre ns, nem talvez nunca o tenha tido.
romanos dnmnunz injaria d a t u m (dano causado sem direito), Segue-se da: I) que no podemos, na aco, pedir o resarci-
ao seguridu. nuxiu (prejuzo), e au terceiro paupcrios (pau- mento do dano pelo valor que a coisa valia no ltimo ano ou
pkrie). ms; 2) que no interessa nada que o dano haja sido causado
por um corpo o11no; e, por isso, 3) que no tem uso nenhum
a diferena entre aces directas, &eis, e in factum; nem tam-
ACCAO CONCEDIDA PELA LEI AQUT,TA SOBRE O UASO bm 4) a aco especial chamada de pastu (de pastagem):
nem 5 ) a condenao depende hoje da confisso ou negao,
$ TV-O dano causado pelo homem livre com dolo ou e o mais que sobre esta matria se acha estabelecido no direito
culpa era pedido pela acco direcla concedida pela lei Aqulia, romano, e cuja explicao deixamos de propsito ao encargo
se feito por corpo contra corpo; por acgo zifil, se feito por dos outros.
corpo, mas no contra corpo; e por aco r(in factum)>,se nem
por corpo nem contra corpo, desde que, no entanto, se seguisse -4 recepo da lei Aqulia no sr prova, como cra necessdrio,
dano. Nestas aces pedia-se o maior valor que a coisa tivesse nem pelas Ordenaes actuais em uso, nem, que eu saiba. pelas
tido naqueie ano ou ms, por todo o tit. ad Legem Aquzliam antigas: e atS se vcriiica nestas que os nossos antepassados vingavam,
do Digesto e das Institutas. de outro modo, o dano injustamente causado por um homem livre,
aplicando, p r exemplo, certa multa que revertia segundo as leis e
usos feudais para n prejudicado e para o Kei. Tambkm no provada
pela praxe dos Pragmiricos ao formarem libclos pelo dano causado,
ACCO NOXAL E DE PAUPERIE
apud Caminha, De EbeElis. Adnot. 36, hIcnd?s, Praclicn Lusitana,
liv. IV, cap. XI, 3 11, pnis essa praue provm cla supersticiosa vene-
$ V -A noxia, isto , o dano causado por um escravo era razo do direita romano. E, realmente, parece-me que, =em Ici especial,
recla~nadopela acio noxal, na qual o dono da coisa pedia a em matbria meramente civil nzo se deve admitir esse direito, nicsnio
estimao do dano ou a entrega do escravo, no princ. do tit. que ele haja sido recebido genrica e indefinidamente no foio, por
De ?aoxalibus acliowibu das Institutas, e na lei r de igual tit. se opor s leis e costumes prticos. Agora, que a lei Aquiia foi ab-
do Digesto. O dano causado por quadrpedes, isto , por ani- -rogada quase em toda a partc, informam Groeneurcgen, ao priic.
do respectivo titulo das Institutas. Thnmsio, Dissert. De larva l e p
mais que se domesticam pelo dorso ou pelo colo e que sem Aqrriliae detracta, 8 45, Coccey, Jrr. controuers., ao tit. De lege
instigago de ningum causam dano contra o costume prprio Aqz~iliudo Digcsto, Quaest. X, IIeinBccio, Elew. Jur. Gernl., &r. 11,
da sua natureza, tambm era pedido pela acco noxal, na qual tit. XXI, $5 94 e 95, Srhiltcr, Exercif. XiX ad Pandectas, 5 86, JoZo
se agia para que o possuidor e dono do quadriipede ressarcisse Tadeu >IuUer. Jur. Ctim., tit. I X , g 47. Nota, Letra F.
o dano ou desse o animal noxa, lei I do tit. Si quadrzcfies fiau-
fieriem fecisse diatur.
A AqF.0 NOXAL POR 3IALEtfLLO DUM ESCRAVO
I O1 RECEBIDA RNTRE N 6 6 AINDA QUE H03 F NA0 SE USF
pela aco ijoxal, nem pela aco de $astagem, mas punido
doutro modo, Ord. liv. 5, tit. 87, no princ., e $5 I e 3.
$ VI1 - Dos delitos dos escravos nasceram as aces pjo- No direito ramano no 1i iicnhuma diierc~i~a, ria realidade ou no
xais, pelas quais permitido ao dono ou pagar a estimao da efeito, entre a aco %de paupne e a aco <de pastagem>. Jlio
lide ou dar o homem noxa, Ord. liv. j,tit. 86, 5 5,ibi: E se se Paulo, apud Schulting, Junsprz~d.antejustin., li". I, ~enient.receptar.,
achar culfiado.. algum scravo ... ficar na vontade de seu tit. 15, dia assim: Se um qzuidvfipede fizer apauprien, isto L, causar
duno. ow f i n s l a ~alguma cuisu. dU-se a c g u cunL~a o donu fiara yus
senhor pagar o damno ... 0% dar o scravo, Man. liv. j,tit. 83, no
pague a estimaio do dano ou entregue o qwduzipede.
princpio.
que o fogo alastrando pode arrastar a destruio de searas, por injria, ou das injrias que podcm levar os pais a deserdar os
gados e homens, so pelas leis romanas condenados morte, filiioi, deixam quase toda esta matna, que quotidiana, intacta
e pendente da definio arbitrria do juiz, ou, o que pior e mais
lei 16, pen., do tit. De ncendio, ruina, naufragio, lei 28, $ 12,
grave, do recurso ao direito romano. De facto, deixa-%? a qualidade
do tit. De poenis, lei 10 do tit. ad legens Corneliam de sicariis. da injria ao juizo do magistrado, Ord. liv. 4, tit. 63, 6 I, ihi;
E a Ord. citada estabelece expressamente esta pena do direito E se for dfwida, se a injuyia assi faila he grave, ou so, ftque eni
romano contra os incendirios dolosos. arbilrio do Jzclgador; e no tit. 88, 6 j: E ficar em arbitrio do JecEga-
dor, se as taes palauras foro graves, ou leves.
OUTRA DIVISA0
XV-O envenenamento, porque dificilmente se pode 3 XVII-Portanto, devendo s o homicdio doloso ser
evitar, classifica-se bem como homicdio qualificado, c as punido com a morte, e o cz4lfioso com a pena extraordinria
nossas leis mandam-no punir com a pena capital, ainda que ( 5 IV), fcilmente se v o que h a estabelecer sobre o homi-
deIe no resulte a morte, Ord. liv. 5, tit. 35, $ 2; no entanto, cdio cometido em ajuntamento. De facto: I) se muitos, de
assim se deve entender, se aquele que tomou o veneno sofre comum acordo e caso pensado, fizeram ajuiitarnento para
dano irremedivel, porque, se o mal for curvel, deve punir-se malar algum, sXo todos unidos de morte; 2) se algum foi
o envenenador extraordinriamente. O envenenamento cztlfioso morto em rixa nova, e se souber quem foi o que matou, s este
C punido corn pena extraordinria, conforme o grau de culpa. castigado coin a pena ordinria, c os outros ao arbtrio do
Filangieri, tomo TV, cap. LI, pig. 137; lei 3, 3: 2, do til. juiz, consoante as circunstncias; 3 ) se entre vrios cada um
a d legem Corneliam de sicariis; lei 38, 5, do tit. De desferiu golpes mortais, e no se souber qual foi primeiro
fioeizis do Digcsto. Sobre os sinais de envenenamento veja-se, a ferir de morte, todos padecem a pena ordinria; 4) se no
querendo, Mr. Doublet na tese A n #ost morlenz filzysica veneni se sabe quem fez a ferida mortal, ou e~itLo,se no houve feri-
cerlilztdo difficile com$aranda? Reckerches sur les sigzes de merito mortal, mas o ferido veio a morrer por causa de todas
I'e?npooisonnsment, apud Rrissot, Bibliotheque Philosoplzique, as feridas recebidas em conjunto, por exemplo, devido a grande
tomo X , pg. 307, Alberti, Systeirtn Jzbrisfirud. Jledic.. derramamento de sangue, ficam todos sujeitos a pena extraor-
dinria, Strykio. Us. mod., no 3 7 ao tit. nd legem Corneliam
DO KO1lTCT)IO COMETIDO COM ARMAS DEFESAS de sicariis do Digesto; 5 ) o autor da rixa, se no for autor da
morte, n3.o deve ser condenado pena mxima. Berger, Dissert.
XVI -O mesmo cumpre dizer daquele que mata ou fere De auctore rixae, 3 LX, Boehmero, Elementa Jurzsprudentiae
alguCm coin besta, espingarda, ou qualquer arma especiaI- C~iminalis,Scct: 11, cap. XVI, CCXXII.
mente proibida, conforme disp6e a cit. Ord. liv. 5, tit. gj, $ 4,
O juizo sobre a niorlalidade do feriritento deve basear-ce, prirnri-
que se deve entender assim. Neste caso, tal como no enrene-
ramente, na pisua do morto, sua rubuste~, idade, e ciicunstnciai
narnento, riao se exige, eiii iigor-, que se siga a morte, para scinelhantes. Daqui rrsrilta que as fendas que num homcm robusto
haver lugar pena capilal; exigem-se no entanto, tais feri- no %To asolulamente moriais (pois estas sempre c necessnamenke
mentos, que deles resulte, para o ferido, dano grave e dificil- tiram a vida a todos), mas o so acidentalmente, como o caso
mente reparvel. daquela.; que por testemunho dos mbdicos sc sal]? serem algarmas
oezes curcveis, num homerri doente, senil c falho de foras so, em
Aquele que andara ailiiado para matar um homem, era, segundo geral, absolutamenle mortais. Veja-se, qucrcndo. a Disertao
a lei Covne'lz'a sobre os sicrios, punido como se o matasse. Esta lei De letalitate uuineui~m (Sobre a mortalidade das fendas), de Jorge
podia aplicar-se naquelc-5 Icrnpoj: turbul~ntns d i Sicrras civis, ainda Emesto Stahle, incontestvel ~>riricipedos nidicos alcmes (7'it. VIII,
quando no se venficas~cqualquer evento: mas hoje quc, Ixir mric& g 3x1).
de Deu?, da Rainha e do Pnncipe, disfnitamos dc paz e cio. 6 su-
prf!ua e injusta.
DEFIXIAO DO .4DUT,T$RIO SO DIREITO PATRIO,
NO KOMANO, E NO CANONICO
Para que esta pena tenha lugar, requerem-se lrias coisas: ataa qzdi gtcardarom, az'tcdo conseiho coil: a nossa Corte, e com Pre-
lados, e com honre*? fida1.p~ de nosso Senhvno. esta6ckemos e
I) dolo e conhecimento do matnmriio; z) verdadeiro matn- poemos por ley, que daqr~iem dianle Lodo honzeni, q z ~ cfezer adultcso
mnio, contrado de direito ou de facto, e pi~lslicamente co~iz alggl molher, sahendo qne he casudu, se for hoincrn Fidalgo,
reconhecido, Ord. liv. 5, tit. 26, no princ., porquanto no basta pile lenha rriaravidys de ns, ou de rico hornenz, pou seer seu vassolo,
o fiutativo para a pena ordinria, segundo a mesma Ord. I ; perca o que de nOr, ou de rico hootenz tever, e quanto ouver, e seja
3) consuma~o,provada por confisso de arnbos os rus, e daquellz, a que fez o torto; e seju deitudo de nosso Senhorio: e se per
ventura aqrreile, a que o torto for feito. nopn queser estes bes, ajaus
gravidez, Strykio, Us. nzod., no $ I V ao tit. ad Eegem Jz~lzant
a Loroa do Regno. E se for outro hurnem que esto fezer, moira porem.
de adz~lteriis,porquanto parece que a pena ordinria foi im- Alas nas Icis po;trrioi.rs cjlabelecau-sc. indijcniriinada~rient?, a pena
posta a este crime pelo medo de parto suposto. Hd ainda capital, tendo, postni, qiic havcr mandato ecpeial 6'El-Rei, para ser
muitas outras causas que faze~ncessar a pena ordinria e do aplicada aos nobre?. No entanto. esta pena nuvi crime, que tem
lugar extraorclin&ria,coiiio, por exemplo, se o c<"injugeadl- desculpa na prp!.in natiire~u, parzcc mais severa do quc judo.
tero a1,andonou a adltera, se o cnjiige que acusa o outro filangeri, tomo IV da edio de Npolcs, 1783,l v . 111, cap. XLVII,
de adultrio se acha incurso no mesmo delito, ou se o cnjuge tit. VI, P. 11, etc ..
estiver impedido por longa molCstia de cumprir o seu d e ~ e r
conjugaI, e outras circunstncias excogitadas pelos Intrpretes E A PEN.4 CIVIT.
para diminurem a gravidade desta pena, se no de direito,
pelo menos hurnanamcnte.
JV- Alm disso, os bens da mulher condenada pena
No interessa saber a pena que as leis dos Romanos c outros
ordinria de adultrio ficam a pertencer ao marido, sc no
povos aplicararri ao adiiltrio. No n o s o direito, o adultrio vohiritno houver filhos legtimos ou naturais que lhe possam suceder,
fica\-a quase impuic. e no se sujeitava i quaisquer penas Icgali, Ord. liv. 5, tit. 25, 5 5 6 e 7 no princ.; mas ta~nbkrn,se no sc
mas to smentc i iindicta particular; isto at aa tcinpo SEI-Rei provar o adultrio e a mulher for absolvida, fica ela com todos
D. Dinis, como consta da sua lei especial, dada em Lisboa a 9 de os bens do marido, se no houver filhos, Ord. cit. 5 7,vers.
Set~nbrodo ano 1340 da Era, apud Ord. Aioris. liv. 5, tit. 12. Sru E se n mulizer for absolcrta. iio direito romano, o adltero
filho U. Aioriso IV ab-rogou esta lei, e p m i n o adulttiio, poito quc
tambm perdia para o ofendido a doao pro$tev nuptins,
livremente cometido, se a ru osse nobre, com a p r d a dos bmis que
o aditero recebera do Rei. e, se no fosse nobre, com a morte,
(feita por razo do matrimnio) lei 11,3 3, do tit. nd degen~.
Ord. Afons. >ir. 5, tit. 7, 5 2 , ibi:: Parque somos certo, que e;;$selizpo Juliam de adulteriis, lei 8 do tit. De repudia's do Cdigo, Ko-
dos Reyx, que ante ns forom, e nosso ataa ora se usou 120s aossos vela 117,cap. 8.
Regnos. que por jazer~m al~wrisndalterios com molheres alheas no%
2ho.s davafiz purei;? penas de j u s l u , salvo se algur;s lewar~amessas
molkeres ulheas donde as tinham sczrs maridos, para fazerem com
rmbora o no isente de toda a pena, mesmo que o perdo lhe
seja expressamente concedido, Ord. cit. 3 4. Seja, porm, qual
5 V -Ora, como este delito envolve muito principal- for o modo por que se faa a remisso, ou expressamente por
rncnte injria particular para marido, s a este, e a mais nin- escritura ou testemunhas, ou tcitamente, por exemplo, por
gum, B permitido acusar a sua mulher de adult6n0, Ord. liv. 5, admisso da adltera i cama e mesa, o perdo aproveita
tit. 25, 9 3. No sZo, portanto, admitidos a acusar, o pai, os mulher e com ele extingue-se a acusao, seja o perdo puro
irmos, os parentes, ou quaisquer estranhos; e nem o prprio ou condicional. Gama, Decisio 368; Barbosa, nos nn. 13, r4
juiz pode tirar, oficiosamente ou a requerimento, quaisquer e r j da P. I dos comentrios lei 2, no princ., do tit. Solzcto
devassas gerais ou especiais sobre esta matria, Ord. cit. 3, wzatrimonio do Digesto. Tambm se deve admitir a transaco
Alvar de 26 de Setembro de 1.7%. Exceptua-se o adultCno no prprio adultrio (Institutas, tit. DE oligationibus et actio-
dz~plo,que o cometido corri judeu, mouro, parentes ou afins ?zibus; Tit. 11, S. XIII e XIV).
em grau proibido, o qual quem quer pode acusar, Ord. cit. 5 2,
Exceptua-se, na Ord. cit., 5 2, vers. E isto, o adultrio duplo,
vcrs. E sendo, e 3, ver. savo aiostrando-se.
isto 6, o praticado com judcu ou parente, pois que ento o perdo
do marido livra realmente a muihcr da pena de adult&rio, mas no
Esta excepo no pode ter lugar hoje, depois do citddo A l v a i
da p i l a de inccato, podendo ser punida p r isto. No entanto, esta
dc 26 de Setembro de 1769, que dcclara totahiente nula e irriia
excepo, como j acima advcrtirms na Nota ao $ V, no tem lugar
qualquer acusapo que n'> i<,r frita a pedido do iriarido. De facto.
aps o Alvar de 26 de Setembro de 1769. A razo porque tal
a raz2o d a regra e proibio geral, que visa a eliminar as discrdias
particulares e defender a honra das famas, vigora i,waLmente na incesto no pode ser separado do adultrio, liem a mulher ser acusada
de incesto, sem que seja declarada adltera na mesma acusaBo, o
cxcep:pyo. S a citada Ordenaro chama-se adultrio simplec o que
que nu b admitido nem pelo nosso ireiiii, se o mando ignorar
res-ultaa do simples ajuntamento adulterino, e duplo o que rciulla do
e contraiiar, nem pela honra devida ao pai de f a l i a .
ajuntamento qualificado com judeu ou parentes; no direito cannico
t difcrentc o significado de ~~iatrimbnio si~irples.
SE O MARIDO AIORXER ANTES D.4 LIDE CONTESTADA,
EXTINGCE SE A ACUSACAO
TAMBfbf S 6 O iJL4KIDO PODE PERDOA* ESTE DELITO A ADCLTERA,
O QUE TAMBE'I APROVEITA AO i1DOLTERO
3 VI1 -Tambm se extingue a acusao de adultrio com
5 VI - Ora, porque o adultno contm principalmente a morte do mando antes da litis-contestao,Ord. liv. 5, tit. 25,
injria particular (sV), segue-se da que s o marido pode 9 5. No assim, se a morte se der aps a co~itestacoda lide,
caso em que a aco proseguida pelo pai, irmo e outros
perdoar o delito mulher, ainda mesmo depois da sentena
condenatna, caso em que o delito se diz extinto em favor do mencionados na lei 30 do tit. ad Iegem J~iliawr de adulteriis
matrimnio, sendo logo solta a mulher e absolvida de toda do Cdigo, e oficiosamente pelo juiz, na mesma Ord., Barbosa,
a culpa e pena, qner o adultrio seja simples, quer seja dufllo, lugar cirado, nn. 116 e 117.
Ord. liv. j,tit. 25, $9 2 e 4 no fim. O perdo dado muiher A Ordenao iit., 5 j, foi tirada da Deliberao do Senado de
tambm aproveita ao atiiltero, poiq livra-o da pena nrdinria, Lisboa de 11 de Maro de 1558, apud Leo, p. 3. tit. r. lei 15, que
t
se fundamenta no direito romano, atento o qual as aces penais, uma adltero e da adltera, o que no assim. Covambias, De matn-
vcz curitsid.clds pilas pessoas principais, pascani aos herdeiros e contra monio, p. 2, cap. 7, 7, n. 15. Depois, que hd de mais inepto que
os herdeiros, no fim do 5 I do tit. De perpetuis et zempoialius ac:io- quc aquela distin<;iioentre nobrrs c plebeus? Como se no fosse igual
nibus das Institutas. Esta doutrina, se bem que verd~dciraneste direito, para todos os homens o direito dc vingarem as suas injrias, ou os
visto ele admitir na acusao de adultrio no s o marido, mas tambm plebeus tivessem a obrigaco de tolerar pacificamente as ofensas que
outras pessoas que ihe so unidas pelo sangue, no pode aplicar-se os nobres Ihes faam! E que dizer da faculdade de matar impune-
ao nosso, que s recebe a acusao do marido. Ora, se a faculdade mente os adlteros apanhados, no direi j em sua casa ou na prpria
dc acusar, em vivendo o marido, s a este se concede, como que torpeza, caso este em que (admito) fciimente se desculpar o niarido,
-pergunto eu - aps a sua morte pode ser concedida a outro? pois 8 riificilimo coibir u n a dor justa, mas com intervalo, em qualquer
E no h que fazer distino alguma entre estar ou no a lide con- lugar e tempo? E que dizer, para mais, do direito de chamar homens,
testada, ,porquanto numa mera subtileza que se apoia a razo civil posto que insolentes e malvados, para ajudarem a matar a msera
de que em juizo se faz um quase contrato e da nasce uma nova mulher e o adltero, como se estes fossem feras, contanto que esses
obrigao que passa ao herdeiro. homens nZo sejam inimigos dos adlteros? AiBm disso, concede o 5 z
daquela Oldcnao que o marido, que achar e matar os adlterm
em flagrante, fique com todos os bens da muihcr; porm, medeando
A VINGANA PARTICULAR E PERMITIDA AO MARIDO tempo, smente ficar com os bens adquiridos na constncia do ma-
trimnio. Barbosa, no n. 63 dos comentrios lei Si ab hostibus 10 do
tit. Soluto matnmonio do Digesto, d-nos a razo desta diferena,
5 VI11 -Alm disso, concede-se ao mando a vingana mas eu no a entcndo bem, visto que, quer a morte da mulhcr seja
particular e a faculdade de matar a adIteia, e taiiibCiii o adl- feita logo e acto continuo, quer com intervalo, feita por permisso
tero, se este for de condi$o mais baixa, apanhados em adul- da lei. Seja, porm, como for, 0 certo que a lei neste caso d um
tkrio em sua casa ou noutro lugar, assim como tambm a facul- prmio pela perpetrao do uxoricdio. e di-o cm prejuzo dos her-
dade de levar consigo amigos e companheiros que o ajudem, deiros que deviam suceder ab intestado.
Ord. liv. j, tit. 38, no princ., e 5 5 r e 5, Man. 16, Afons. 18.
Porm, esta faculdade apenas foi dada ao marido; e, por isso,
no pode o pai exerc-la sobre a filha, que se liberta do seu
A BJGABIIA E SUA PENA
poder com o matrimnio, ao contrrio do que se d no direito
romano, leis 20, 21 e 22, $5 2 e 4, lei 23, no princ., lei 24, no
pnnc., e 3 I, do tit. ad legem Jztliam de adulteriis; tambm 5 IX - O crime de bigamia simultnea uma espcie de
no pode o mando conced-la ao pai, ao filho, e a outros, adultrio, e leva i pena de morte, Ord. liv. 5, tit. 19, no princ.,
embora possa utilizar a sua companhia; a razo 6 porque os Xan. 19, Afons. 14.Comete prpriamente bigamia aquele que,
poderes extraordinrios que a algum competem por direito em vivendo o outro cnjuge, casa e conhece outra com mau
especial, no podem ser cedidos e entregues a outros. dolo; por isso, o conjuge menor de vinte e ciuco anos, ou o
maior, que de boa f e por erro, ou justa ignorncia, casar
Creio no Iiaver hojc ninpm entre ns que ousc defender a &riu segunda vez, ou o nobre que casar dandestinamerite com
a Ordenao citada. Com rfeitn, em prinieiro lugar, nela considera-se mulher de condi~oinferior ainda em vida da primeira, ser
no s impunc no foro externo, mas honesta e licita, a morte do punido com pena extraordinria, ou peIo menos no sofrer
a ordinria sem mandato especial do Rei, Ord. cit. 5 I (Insti- tanto a pedido dela como dos pais, e desterrado para f i c a
tui~es,Do direito das pessoas, Tit. V, 3 XII). ou Asia, e obrigado, conforme a sua qualidade, a dot-la
A pena capital foi imposta a este crime pela lei que D. Dinis &mente, e no em rigor a casar com ela. Portanto, as penas
deu em Lisboa a I r de Agosto do ano 1340 da Era, e dela foi muito graves estabelecidas contra os estnpradores na Ord.
tirada a Ordenao citada. no pnnc.. Nas, como esta pena excessi- liv. 5, tit. 23, Man. liv. 5, tit. 23, Afons. tit g e 10, e por D. Jos I
vamente dura, D. DuKte foi o primeiro a determinar que no pudesse
na Carta de Lei de 19 de Junho de 1775, no esto hoje em
ser dada a execuo sem conhecimento d'El-Rei, dando w i m origem
ao $ I da dita OrdenaZo. Por ser este, segundo a Ord. liv. z . tit. 9, vigor.
um dos crimes mixti-fori, tem nele lugar a prcvcno, Decreto d? No encontro, porm, no nosso direito nenhuma pena para as
26 de Maio de I&$, apud Ord. liv. 5, tit. 19, Coleco 11, N. I. virgens estupradas. O mesmo digo do direito romano. visto que a lei
Todavia, pelas leis especiais da Inquisio confirmadas por D. Jos I zo do tit. ad legem Juliam de adultsnis do Cdigo deve entender-se
m forma especifica, como pode haver aqui questo sobre a validade apenas daquelas mulheres que com o pudor tambm perderam a
do sacramento do matrimbnio, o seu conhecimento pertence smente vergonha, c se lanam livremente em ligaes amorosas. e por modo
aos Inquisidorcs da f6, e P punido com pena extraordinria; e este nenhum daquelas quc, sendo dkbeis para resistir i s carcias, sucum-
direito usamos. Entre os romanos no t n h a pena certa c determinada. biram primeira culpa com aiguma oposio. Na realidade, oj
Thomsio, De crimine bigamiae, 8 LXX. cuidados da gravidez, as dores do parto, o encargo de sustentar o
filho, e a mancha, que justa ou injustamente as acompanha, e lhes
tira a esperana de um casamento honesto. afligem tanto estas pobres
ESTUPRO mulliercs, quc crrtarrie~ita jE. bastar~i para castigu, ciirriri ein diz
Puttman, na Dissertao XII intitulada Leges ineptae ckminum
$ X - Do estzLpro violento no cabe falar aqui (Tit. IV, causae (As leis ineptas o causas de crimes). (Merete integral
$ XVI e XVII). Quanto ao estupro simfiles voluntrio, aps leitura a Orao que Poi Baker fez sobre este tema, e vem em
a Lei de 6 de Outubro de 1784, S. 9, usamos o seguinte direito: Raynaldo, Histoire PhiZosophique et Polik'que, tomo VIII. liv. XVII,
I) a virgem maior de 17 anos que sofreu estupro no violento, $ =I). Nestes termos, eu entendo a Ord. liv. 4, tit. 88, 5 I, e a
ou a viva honesta da mesma idade, no pode intentar nenhu- citada Carta de Lei de r9 de Junho de 1775, pelas quais as filhas-
famlia vnluntlriamente estupradas so privadas da herana paterna
ma aco criminal contra. o estuprodor, nem aco cvel para
e aiimentos, como aplicveis &mente Aquelas que levam vida de
o dote ou casamento, visto que ao que consente e quer nenhuma meretrizes e vivem em concubinato pblico (Instituies, Do direito
injria se faz; 2) no entanto, a pedido dos pais, tutores, cura- das coisas, tit. V, J XLIII, n. 13).
dores e irmus, o estuprador pode ser condenado, apenas cri-
minalmente, ao arbtrio do juiz, e numa pena no inferior a
VARIAS ESPECIES DE ESTUPRO
cinco anos de exlio para Africa ou Asia; por consequncia,
3) o juiz, oficiosamente, no pode conhecer deste crime, nem $ X I - Contm, no entanto, especial torpeza, merecendo,
tirar sobre ele devassa alguma, conforme determina a dita por isso, puniso mais grave, o estupro cometido pelo juiz n a
Lei, nas palavras: a qual s se $roceder a requerimento dos pessoa de donzela que perante ele requer o seu direito, Ord.
pays, tutores, curadores ... e irmos; 4 ) porm, aquele que liv. 5. tit. 20; o estupro cometido em mulher doutra seita e re-
corromper uma donzela menor de 17 anos, pode ser querelado, ligio, tit. 14; o praticado por um escravo na filha, irm,
parente, ou escrava daquele com quem vive, tit. 24; o praticado no princ., Man., 13; O do direito civil, com irm, nora, ou ma-
pelo tutor na menor confiada sua f, tit. 21; ou o perpetrado drasta, com a morte natural, Ord. cit., I; o perpetrado com
no Pao, tit. 16. Porm, as Ordenaes citadas punem estes tia, irm do pai ou me, prima co-irm, ou outros consan-
delitos com penas mais severas do que justo, devendo, por guncos em grau mais remoto, com degredo temporkrio para
isso, ser hoje inteiramente ajustadas letra e esprito da Lci a Africa ou Brasil, $8 2 e 3 da referida Ordenao, a qual hoje
que a Rainha Fideliima promulgou em 6 de Outubro de 1784. tambm deve ser mitigada segundo o esprito da Carta de Lei
de D. Maria I. Sobre o incesto no existe ttulo especial na
Difere do estupro a onxa udnus e sinzp!es conzlbinuto, que no Ordenao Afonsina.
mencionado nos trs Ctidigos pblicos do Reino, no sendo, por isso,
punido com penas externas; e ati. ?e acha escrito no Cdigo Afonsino, VENUS NEFANDA
liv. 5 , tit. 24, 8 r: e de mais sem oulorgado en: dirbto, que os horae-:A
solteiros podem tee barregas, e ainda que os filhos, que dellas
naccm, herdarom os hes dos Padres: e per tal coslunie se daa oi~sa?ie,
3 XIII -A vnzts nefanda, que nada aproveita conhecer,
que as difas molheres rowlnroin esses, com qlur t~iifcivz,do que teem.
d-se quafzdo o sexo $erde o lugar, ou a unio sexual se m u d a
pois que per tal costume Ihes nom ha de seer deme~zdado; e ainda e m outra forma, como dizem os imperadores Constncio e
se virom peru os homes c o ~ tengano desto: seja u o c a mercee rerrogiir Constante na lei 31 do tit. ad l e g e n ~Juiza?% d e adulteriis, e
tal costume: ca maior dfino he ozrbarem o alheo, e perigo das suas punida pelas nossas leis com a pena de fogo, perda dc bens,
almas, que viver hum soltezro com h& solteira e m ajuntamento mesmo havendo filhos, e com a infmia, que se estende aos
carnal. E assim se deve entender, no porque tal coniubinato seja prprios filhos e netos, Ord. liv. 5, tit. 13, no princ., e I,
licito face do direito natural ou civil, mas porque ngo constitui uIn
Man. 12.Neste crime adinitcm-se denncias ecrctas, tornlentos,
verdadeiro delito prejudicial Repblica e aos cidados, mas sini
um pecado permitido e tolerado na societlade por rai6ee polticas testemunhas singulares, cujos nomes e depoimentos fica ao
e para evita um mal maior. PorZm, o concubinato qualificado, qual arbkio do juiz manifestar; depois, d-se prmio ao delator,
o de mulher com homem casado, ou o sacrlego com clrigo ou m o n s , e promete-se impunidade ao qilc delatar o companheiro de sua
6 punido com multa, desterro, c outras penas, Ord. liv. 5, tits. 27, turpeza; e, finalmente, determina-se que todos acusem, sob
28 e 30, tirada da lei que D. Joo I deu a pedido dos Bisps nas pena de confisco de bens, aquele que souberem ru desta
Cortes de Braga de 1439 da Era, apud Ord. Afons. liv. 5, tit. rg nefanda paixo, Ord. cit., $ 4, 5, 7, 8 e outros que tm lugar
(Inslituies, Do Direito Piiblico, Tit. V, 8 XLVIII). Os rrtffias, isto
, os que t&rn ~nulhercsna prostituio e participam do seu lucro,
no crime de lesa-majestade. Os que cometem este crime com
so castigados com exlio para Airica e aoites, Ord. liv. j, tit. 33, alimrias, so queimados vivos, mas os seus filhos no incor-
Man. 30. Moris. 22. Vidc Mably, Pnncifies de Morale, tomo X, rem em injria nenhuma, nem perdem os bens paternos, na
liv. 111, pgs. 345 e seguintes. mesma Ord. 2; e, assim, a chamada sodomia de gnero
pela referida Ordenao punida mais brandamente que a
INCESTO
sodomia de sexo como se fora um delito mais leve (quando
6 muito mais grave). E a que se comete sem coito torpemente
3 X I I - O incesto do direito das gentes entre ascendentes e contra a natureza, castigada com degredo de gals, 5 3 ;
e descendentes punido com a pena de fogo, Ord. liv. 5, tit. I;, e mais graves penas lhe foram estabelecidas pela Extravagante
ob lur$em causam do Cdigo, so aqoitados, enfeitados com
de .rz de Outubro de 1606,apud Ord. cit., Coleco I, N. z.
coroas de cornos, e degredados para sempre para o Brasil,
(Tit. I, XXIX).
Ord. liv. 5, tit. 25, 3 9, Man. 15, 3 lt.. Incorrem quase na
A prtica da sodornia masculina, como era quase desconhecida mesma pena os que tambm tm filhas mercveis, e no hesi-
da nossa gente, no sc acha proibida pelas leis antigas at tam em prostituir a sua pudicicia, Ord. liv. 5, tit. 32, 4, Man.
D. Afonso V, que foi o primciro que lhe imps a pena de fogo, na 29, assim como os que alcovitarem freiras, virgens, ou vivas
Ord. liv. 5, tit. 17. D. Manuel, na Ord. cit., considerou esta ligao honestas, Ord cit. no fim do princpio, e r. 0 s que solici-
monstruosa como crime de lesa-majestade, do qual civilmente ~e
tarem mulheres alheias, ou a filha ou irm daquele com quem
diferencia muito, passando, assim, para este nefando crime, que
parece ter qualquer desculpa, as dis~osies especiais quc, com
viverem, ou alguma crist para judeu ou homem de outra
justia ou sem ela, vigoravam no de lesa-majestade. Porm, depois seita, so condenados a morte, na mesma Ord. tit. 32, no princ.,
Filipe 11. em seu Cdigo, tit. 13, no s o seguiu, mas at o superou e 5s z e 3. A pena ordinria s tem lugar no lenocnio ques-
de longe em tamanha cmeza de penas. De facto, as mas de fogo, turio, isto C , no praticado por dinheiro, porquanto o gratuito,
confisco de bens, e infimia sobre filhos e netos, 50totalmente in- ou intentado, destitudo todavia de fim e efeito, punido com
justas e cmis (Tit. I. 55 XV e XXIX). Do ajuntamento com animal
pena extraordinria, como a de degredo, segundo a muitas
no h meno nenhuma no Cdigo Afonsino. mas smente nos pos-
tenores; todavia, nestes no se decreta o sivicombrio contra
vezes citada Ord. tit. 32, 9 it.
o animal. visto que este no capaz de qualquer pena, mas s
Este detestvel crime, que causa o maior detrimento ao gnero
sobre aqueles que praficassem semelhante vergonha. No direito humano, ficou impune. nas leis pblicas, at D. Afonso IV, qoe foi
divino, a mulher, que pecar c o m qzralqum animal. ser morto junta-
o primeiro a punir os proxenetas e as alcoviteiras com a perda dc bens
mente com ele. Levitico, XX, 15 e 16, Agostinho, no liv. Questiones
e aoites, i m p o n d d e s , porm, em caso de rpincidncia a pena capital.
ad Leuilicum. transcrito por Graciano n a Causa XV, questo I,
Ord. Afons. liv. 5 , tit. 16. D. Joo I estabeleceu-lhe penas mais severas
h o n e 4, Berard, ia canon., P. 111, cap. XXIX, Sect. I, Renazzi,
referidas na mesma Ord. 5 2 , donde foram tiradas as Ordcnacs
Eiementa Juv. Crimin.. liv. I , cap. VII, 5 X. Pastoret, P. 11,
posteriores. que, devido sua excessiva dureza, pois so despropor-
cap. 111. Art. VI, tomo I, e no livro ,Nose cmsidf.4 comme Lgisla- cionadas ao dclito, no esto em uso (Tit. I, 5 XXIX), sucedendo
teur et comme Yoroliste, cap. V , 5 IV, pg. 442. Outros exemplos
at-5 (o que IamentvrI) que aciualmentc uni crime desta grandeza
tirados das leis dc Drcou e Slon, a=-vo Pardulio Prateio, Juris- e qualidade no punido com as penas justas e devidas por causa
prud. ueter., apud Otto, tomo IV, pg. 381, e o prpzio celebmmo
da lassido dos costumes que vo de mal a pior. O lcnounio gratuito
Jnrisconsulto, De tutela viarum. pg. 469. Embora este crime seja
no faz perder a nobreza, Ord. Liv. 5, tit. 32. $ 4; no assim, o
mixti-joti, o seu conhecimento pertence aos nquisidores do Santo questuoso. Ord. li". 5 , tit. 138, It.. Estas Ordenaqies assim se
Oficio, onde mais suavemente punido que no juw secular, Alvar devem entender. Doutro modo entende Valasco, Adlegatio 13, n. 122.
de 18 de Janeiro de 16r4, apud. cit. Ord. Colecgo I. N. I .
EMBRIAGUEZ
LENOCMIO
3 XV- A simpEes embviaguez no crime poltico ou
civil, mas crime moral. Aos embriagados deve perdoar-se
XIV -Aqueles que tm esposas mercveis, como primo-
totalmente, ou atenuar, ou aumentar a pena ordinria do
rosamente diz o Jurisconsuito na lei 5 do bt De condzctaone
do delito que cometerem? Eis uma questoque as nossas leis
no resolvem. Varia a opinio dos filsofos e legisladores nesta
matria (Tit. I, 3 VI, n. 2).
85
NOS DELITOS PAKTICCLARES ADMITE-SE O ACUSADOK na Ord. liv. 5, tit. 124. absolutamente indispensvel a citao
SIIvIPLES SEM QUERELA
do acusado, que, no caso de se querer defender, deve citar o
acusador, o qual dever apresentar libelo acusatrio. No homi-
$ VI1 -Quem quer pode acusar sem querela os crimes cdio tem de se citar a mulher do morto, seus f i o s , e consan-
particulares, que contm injria e dano prprios, ainda que guneos at ao quarto grau, Ord. liv. 5, tit. 124, e tit. rgo,
sejam de tal gnero que admitam querela, e persegtii-10s em 5 I. Um libelo devidamente formado deve conter os nomes do
juzo com aco criminal, sem dar cauo e satisfao alguma. acusador, do acusado e do juiz, o crime com,os indcios apre-
e sem prestar juramento, Ord. liv. 5, tit. 117,9 21,e Ss 5 e 6. sentados por artigos, o lugar e o tempo, Ord. cit., no princ., Men-
des, Praxis, Iiv. 5, cap. I, IV. A litis-contestao cornpreendc
As inquiri6es e querelas, como no exigem a cita@o do adverri-
rio, e co, por isso, exosbitantes e perigosas, s se a d d c m com ju- em seu gnero tanto as excepes dilatnas como as perempt-
ramento e caupo para pagamento do dano e custas, prestados os quais nas, que de qualquer modo contm a defesa do ru. No nmero
como que parecem purificar-se e legitimar-se; pelo contrrio, a simples das primeiras, contam-se a da incomfietncia do juiz, sua sus-
acusao aimind, em que se acciona sobre o dano e a pena legtima peiiio, a de pr~veno,a da inabzlidade do acusador, inafitido
observando-se a ordem do direito, isto , citando-se primeiro o r&u, do libelo, e a dc cauo ainda nZo firestada. Quanto s segundas,
irisiitui-se directamente e pcla forma prescrita na Ici; por isso, com tcda
a justiga e razo sz omitem, ao faz-la. as solenidades da cauo c ju-
qualquer uma delas pe termo acusao e perime a lide. A res-
ramento. posta dada acusao faz a contestao negativa, ou afirmativa
com escusa, geral, ou especial; seja, porm, qual for o modo
como concebida, deve ser contrria aos artgos do libelo, Ord.
PENA PARA O ACUSADOR, SE O REU FOR ABSOLVIDO tit. 124, 5 I. As r$licas, tr$licas, dilaes provatrias, provas
judiciais, reprovas, e perguntas, sero feitas, tanto oficiosamente
5 VI11 - Posto que actualmente a inscriptio i n crime%no como a pedido do adversrio; e, para dizer tudo numa palavra,
tenha lugar (5 IV), todavia, em qualquer gnero de acusao, tm lugar no juzo criminal ordinrio quase todos os modos de
piifilica ou particuiar, o acusador condenado pela mesma sen- pedir e provar que se usam no juzo cvel, Ord. cit., tit. 124, no
tena, nas custas do processo e na restituilo do dano causado,
se o ru for absolvido, devendo, em qualquer caso, sofrer penas
mais graves, ao arbtrio do juiz, se procedeu maliciosamente, Este processo ordinrio deve ser observado nos delitos particulares,
(3rd. liv. 5, tit. 118, Man. 43, -4fons. zg e 30 (Tit. XX, Q'$ VI11 e ilnando algum persegue injria prpria, e t m b h nos pblicos,
seg. deste livro). quando um particular o seu acusador solenc, o que raro acontcce.
O mesmo se deve observar, quando a Justia faz as vezes de acusador,
e oficiosamente inquire e acusa us criminosos. Exceptuam-se os crimes
DO PROCESSO ACUSATTOKIO ORDINARIO privilegiados, cujo processo sumrio (Tit. XII, $ X). No respeitante
a defesa dos rgus, alem do que anotaremos em scus lugares, deve-se
fixar para j o seguinte: r ) nas causas mais giaves pode o r&, mcsrnu
5 :X - A ac~isaolegtiwta (3 I ) requer processo ordin- depois dt. abertas e publicadas as atrsta~aes,alcgar ra~.esjustificativas
"0. e, por isso, citao, libelo, contesta~o,e o mais que se acha do delito, Ord. tit. 124, 6 81 2) pode o juiz oficiosamente perguntar as
testemunhas em qualquer parte do juizo, assim para a acusao, como a apostasia, a blasfmia, o crime de lesa-majestade, a magia, o
pala a defesa, mas nZo o pode faze1 a iequtiimenln lri ativci:rio, homicdio, a rapina, o furto de certo montante, o falso testemu-
salvo sc a causa for de tal condio, e estiver em tal estado que reclame
nho, a falsificaSo da moeda, o lenocnio, o incesto, a poligamia
novo exame das testemunhas ou a recepo de novas testemunhas,
tit. 124, 7. Febo, P. I, Aresto 136: 3) havendo mais de um culpado
simultnea, o ajuntamento com infiel ou com criada daquele
pelo mesmo delito, devem ser libertados n a primeira instncia, no com quem vive, o concubinato incestuoso ou sacnlego, a vio-
mesmo processo e perante u mesmo juiz compctcntc, tit. 124, 5 11, c lncia contra magistrados ou seus oficiais no exerccio de fun-
liv. I, tit. 79, $ 31, Cabedo, P. 11, ap6s os Arestos; 4) antes de o ru qes, ou contra particulares em ajuntamento e motim, arromba-
contestar a lidc, pode dar-se-lhe vista das perguntas e respostas feitas mento da priso, o crcere privado, e os mais que vm expressos
pelo juiz no comco do processo, sc cssc ru as pedir e afirmar que so
na Ord. citada. Nesta matria a regra mxima a seguinte:
necessrias sua defesa, Febo, P. I, Aresto 137;5) uma vez intentada
civclmenle a aco crinunal, no tem lugar a criminal enquanto aquela recebe-se queveln de todos os crimes que padecem pena de @$ai-
estivcr pcndcntc, Fclio, Arestus 154 e 160. E bastem estas anotaces tes ou de degredo tem#orrio. Querela que se receba fora dos
que fao, digamos, de passagem (Tit. XIX, I). As Ibnuulas do li- casos especialmente compreendidos na lei, de nenhuma efica
belo acusatrio, da litis-contestao, da rbpiica c trpiica, usadas no cia. Febo, l?. I, Uecisio 69, n. I .
foro, so eliiliidas por Mendes, P. I, iiv. V, cap. I, Caminha, De libeZ-
lis, e seu reformador Costa. ddnol. 96 e 97.
E NOS CRIMES PARTICULARES
S: XXVI - h dcnzincia, isto , a sim$lcs delao do crime SOBRE E I? DK AUivllTIK A DENdNCiA SECRETA
sena inteno de acusar abre o caminho 5 inquirio. O denuri-
ciante no obrigado a caucionar as custas, nem a provar o
crime denunciado, cuja punio entrega ao juiz, e nisto difere
XXIX- Ko entanto, este captulo do direito criminal,
que admite as denncias secretas, parece carecer, se houvermos
da acusao e querela.
de dizer a verdade, de grande emenda em toda a parte. De mod3
SUA DIVISO notvel se exprime S. Paulo, nos Actos dos Apstolos, XXV,
16: Porque no costume dos Roma~zoscondelzar homem al-
3 XXVII -Divide-se em pblica, quando o delator diz o gum, antes de o acusado ter presentes os seus acusadores, s
antes de se lhe ter faciLitado a defesa para se lavar dos crimes.
seu nome, ou ocwita, no caso contrrio; em jurada ou simfiles;
e em voluntria, quando a faz de livre vontade, ou necessria,
Seria de desejar por razues de segurana pblica c particular que
quando a faz por mandado da lei.
se ab-rogasse toda a fi: aos delatores ocultos. Beccaria, no Tratado
Dei delliti et delle pene, tono I . pg. 28, ediio de Veneza. 1781,
Nio pertence aqui nem a denncia evanglica, de que fala Ma-
hlr. Bemardi, Pnncipes des l&x cn'?ninelles, P . 111, 5 11. Realmente,
teus, XVIII, nem a que se faz ao juiz ecleii&stico, com o fim, no se algum co-nete um acto digno de repreemso, por que no h-de
de ele inquirir judicialmente ex oflicio sobre o delito, mas de comgir scr combatido em campo aberto) Mas, sc cst inocente, nem a boa
com seu rnntis pastoral o suspeito delinquente, ganh-lo para o Se- f nem a recta razo padccrm que seja atacado durante muito tempo
nhor, e induzi-lo com h n s conselhos confessar espontaneamente
por uni advcrsdrio drscnnhil-ido, cujos layos oculios no pode evitar.
a sua falta.
Merece leitura intepal, sobre este ponto, a nrao de Cicero Pro Sexto
Koscio Amm'no, $ XX, onde a odiosa carta doi delatores pintada
RAPROVADA PELO NOSSO DIREITO com cores vivas e wemeniemente fustigada.
0 QUE E HOMENAGEM
-
5 IV Porm, a homenagem s foi concedida nas causas
pecunirias, no tendo, por isso, lugar nos crimes por sua natu-
I1 - Chama-se aqui homenagem ao priuilkgio que livra
reza infarnantes, em que se perde a nobreza, ou nos no Infa-
cs n o ~ e sdos crceres p~blicos,enquanio no for dada a sen-
nantes, que so puriiGo com ri morte natural ou civil, 01d.
i-eiza criminal, sendo-lhes designado certo Iztgar $ara custdia.
citada. Ora, diz-se que morrem civilmente no s os banidos,
os proscritos, e os privados das direitos de cidadania pela lei,
H mais dc um significado de honaenagem; no entanto, toma-se,
em sentido especial, pelo juramento de fidelidalfe ou clie?ztola, e pelo
ou pelo homem, isto , por sentena do juiz, mas tambm os
direito de livre custdia, que deve ici concedida aos nobres, mais desterrados perptua ou temporriamente com confisco de bens.
branda ou mais rigorosamente, conforme a qualidade delei e do de- Febo, P. 11, Decisio s j j (lnstituie, Do direito das pessoas,
lito (Tit. I, 3 XX, deste livro; Liv. 11, Tit. 111, $ LXIII). Tit. 11, 5s XTI e XIII, e Tlt. V, $ XXI).
POR QUEM E COMO DEVE SER CONCEDIDA, E DA YENA mado, ficando as fianas obrigadas s custas e danos, e multa
PARA O QUE QUEBR4 4 HOMENAGEV chamada emenda, Ord. liv. 5, tit. 131,no princ., ibi: sejo obri-
gadas evtenda, satisjapo, e cu.~tas.Se o ru fugir, o fiador
5 V - A homenagem deve ser pedida ao juiz que decretou sofre a mesma pena que o ru deveria sofrer, se no fugisse.
a captura, Ord. cit., tit. 120, no princpio, ibi: sero presos sobre
Quanto as custas, dano, e emenda, o fiador obrigado a elas,
suas homenagens, as quaes devem fazer aos Jziizes, que os $ren- se a fianca for de qualquer modo quebrada, o que acontece, -e
derem, ou mandarem $render. Porm, quando a nobreza do o ru no comparecer em juzo nos dias fixados, Ord. cit., I.
r6u 6 manifesta e notria, a homenagem ser-lhe-& concedida
pelo juiz sem prkvia informao e sem citao do adversric, Pouco ou nada interessa conhecer as fian~ascriminais, derivem
Ord. 1iv. 3, tit. 86, 5 18, ibi: ser preso conforme a qualidade de elas dos Romanos, ou dos Germanos e povos vizinhos. Heinccio,
sua pessoa. Na dvida, no deve ser concedida sem se ouvir Blew~enlaJarris Germunici, liv. 111, tit. IX, g CCCXLIX. Uma coisa
certa: o seu uso j era frte no reinado de D. Dinis, visto que ele deu
u adversrio, ficando entretanto o ru detido em crcere p-
uma lci em 5 de J d o do ano 1356 da Era, apud Ord. Afons. liv. 5 ,
blico, Febo, P. 11, Aresto 50. O juiz, de quem se concede apela- tit. 51, Filip. tit. 131, eni que proibiu se soltassem, antes da sentena,
o ou agravo, no pode ampliar ou estender a homenagem os rus presas e detidos em cadeias pblicas, e se confiassem f pr-
que deu; todavia, havendo justa causa, pode faz&-10o Regedor pria ou alheia, ou libertassem sob fiana. Todavia, com o andar dos
da Casa da Suplicao ou o Governador da Relao do Porto. tempos, esta faculdade, que antes de D. Dinis competia a cada ma-
Valasco, Adlegatio 13, nn. 10 e 11.Aquele que quebrar a home- gistiado, foi cstendida ao ilcscmbargo do Pao e s6 a este concedida,
c a t a t o ficou rcdiizido o dircito antigo. As disposir;, quc o direito
nagem, e se afastar do Iocal destinado, perde o pnvilCgio, de- romano tem no tit. De custodia et exhibitione reorum do Digesto,
vendo, por isso, ser lanado na priso, donde s pode ser solto neni todas quadram s nossas leis e costumes.
por Alvar especial do Rei que lhe conceda a restituio da
homenagem quebrada, Ord. liv. 5, tit. 12, 3 d t . (Tit. I, $ XX).
EM QCE CRIMES E POR QUE JUfLES DEVE SER
A SIMPLES PROITESSA DO R P C K.40 O LIVRA DA FRISA0 ADMITIDA A FIANA
5 VI-Pelo noso direito, no se solta o ru detido ern $ VI11 -Nos delitos, que levam pena capital ou corpc-
cadeia pblica com base na sua simples promessa, por mais ral, no se admitem fiadores; realmente, ningu:m se pode obri-
leve que seja o delito, e maiores os seus recursos. No direito gar a sofrer essas penas, visto ningum ser senhor dos seus
romano, no assim, lei I do tit. De custodia et exhibitime membros. Mantm-se, no entanto, a obrigao, no que respeita
Yeorum. s despesas, satisfao e emenda. &Ias, se um encarcerado por
delito capital, tiver e alegar em seu favor tantas coisas, que
SO ENTANTO, LIVRA O A FIANA CRIMINAL, E QUE COISAS no seja de recear a sua condenao morte, ento devem-se
ESTA COMPKEENDE admitir fiadores, e, uma vez eles dados, soltar o preso. No eli-
tanto, como tal libertao contm certa dispensa das leis, s o
$ VI1 -Todavia, solta-se o ru, dando fiadores de que Desembargo do Pao a concede, depois de obtida a informao
comparecer perante o juiz em qualquer tempo que for cha- do juiz sobre o delito, Regimento do Desembargo do Pao, $$ 24
e seg., tirado da Extravagante que vem em Leo, p. I, tit. 4, ibi: E quando olgunia pessoa for dada sobre fiana, para se linuar
lei r, 105. O Conselho Geral do Santo Ofcio concede, tal como at certo tevnpo. 6 desfiuis lhe for ~eformadohliliza vea, ou mwilas,
senzp~ea fialza jicav obrigada, como d'arttes era, sem os fiadores,
o Desembargo do Pao, aivar de fiana criminal aos seus ofi-
e abonadores podere?n ailegar, que no fi~o wzais que a l i certo
ciais e outros privilegiados, Alvar de 4 de Fevereiro de 1645, tentpo. Por esta mcsma Orlena$o, os fiadorcs dados por certo t r m p
apud Guerreiro, De prizlileg. fanziliar., cap. X V I , no fim (e na para o contrato de rendas rgias, so obrigados para sempre, e i 6 se
Coleco I (3rd. liv. I,no fim, ao cit. 5 24 do Regimento do livram pagando a dvida, ibi; O que tanzbern haveru largar e m qaaes-
Pao, N. 3). quer fianas feitas para quaesqaer contractos, w rendas loshas.
E $osto qzte OS fiadores nas fianas dzgrio, que fiio coin cuntrana
E DE QIJP: 410DOS S E DISSOLVE condio sew~ ei:$baigo desta Orde~tao, a fal clawuln nrio valer
cousa algzcnia. Porm, nada h mais absurdo do que uma pecsoa ser
IX-A obrigao do fiador criminal dissolve-se por obrigada, contra a sua firme vontade, para altm daquilo que pro-
estes modos especiais: I) com a captura do ru principal, Ord. meteu e expressamcntc estipulou: no entanto, C isso que est estabe-
liv. j, tit. 131, I , ibi: e os jiadores ficaro desobrigados da Iccido lia Ordenao citada, a qual cu no ouso defender de manifesta
iniquidade. Bem sei que Febo, P. 11, Decisio 131, e outros, a enteri-
fiana, tanto qzle elles presos !orem; 2 ) com a seritena crimi-
dem do tempo convcncionado para pagamento, no rio convencionado
nal dada dentro do tempo do rescrito de fiana, porquanto o para a obrigao, como pensando quc a obrigao dura, se o tempo
fiador apenas se quis obrigar at sentenqa; 3) e, assim, logo for aposto ao paganicnto, e se extingue, se for aposto obrigao; e,
que esta seja proferida, disoive-se a obrigao, mesmo antes deste modo, julgam que aquela Ordenao est bem e confonne com
que o ru comparea ein juzo, seja preso, ou pague a conde- a razao do direito. Uas, alm de esta questo x r difcil da rqiliwi,
nao, Fcbo, P. 11, Decisto 13T, n. 6; 4) com a morte do rCu e de, seja qual for o modo como se conceba, se verificar eni todo o
caso que o fiador se obriga sem consentir, o que a razo do direito
principal, porque, ocorrendo ela, j no pode haver questo
de iiiudo nenhum admitc, a referida C)rdenao pouco faz para defesa
sobre o crime, ou a fiana por esse crime ocasionada; e 5) com do fiador. Deve, portanto, ser atribuda, por um lado, ao sumo e
a morte do fiador; com efeito, esta obrigao acessbria, visto eslrito direito romano, atpnto o qual o tempo no e1.a um modo de
que tem por fundamento um delito, deve ser considerada cn- solver a obrigao, e, por outro, ao favor especial e extraordimlrio
minal, e no passa aos herdeiros; 6) com a extino do tempo do fisco, quc sobretudo nas ultimas leis dos Romanos dominava em
que foi compreendido no rescrito da fiana. Por isso 4 que, se absoluto, estes dois factores levaram os Compiladores a estatiplw.er
que os fiadores criminais ou cveis, dados por contrato, fossem, com
esse tempo for prorrogado, no se considera prorrogada u
a prorrogao do tcmpo, obrigados em favor do fisco, ou a pagar,
fiana, sem expresso consentimento do fiador; na verdade, em ou a cnmparrcer em juzo, mesmo contra w a firme vontade. Porm,
chegando o dia do primeiro rescrito, a obrigao da fiana ex- esta jurispnid6ncia, que no se apoia em raziio nenhuma, mas em
tingue-se por estar restringida a esse dia; e nenhuma raz5o mera subtileza, no p d e hoje ter lugar (Institui~Ucs. Do direitn das
civil ou natural permite que essa obrigao se estenda ao se- coisas, Tit. VII, 5 VIII, e Das obrigae e accs, Tit. V, V ) .
gundo ou terceiro rescrito, depois concedidos no Desembargo
do Pao. Mendes, in Praxis, P. 11, Iiv. V, cap. I, Apndice 111 DA CUSTODIA SOB FIANA
n. 29.
Obsta a Orclena~ocitada, til. r31, 3, Man. 92, onde a fiana 5 X - At aqui falmos do livramento do ru sob fiana
criminal dada por certo tempo no se extingue com o termo deste, judicial, da qual trata a Ord. cit., liv. 5,tit. 131, Man. 92. Se-
direito romano, nas leis I e 3 do tit. De ciastodza et exhzbitione reomm.
gue-se a fiana especial inventada pelo nosso direito, pela qual quc vemos aprovada e ampliada no novo Cdigo do Gro-Ducado
o rLu pretende livrar-se, no do crime, mas da cadeia pblica, da Toscana, $8 XV e scg., nas Instmqes dadas para a elaborao do
dando fiadores que se responsabilizam pela sua custdia; ns Cdigo da Rssia, $5 CLVIII e seg., e na Constituio da Pcnilvnia,
chamamos-lhes fiis carcereiros, e deles fala nomeadamente a cap. 11, Sect. XXXIX.
mesma Ordenao, tit. 132,Man. 91. Embora estas fianas sejarn
divcrsas por sua natureza, sendo, por isso, cada uma delas
tratada em ttulos diferentes, todavia, porque visam o mesmo
fim principal, isto , a libertao da cadeia pblica, mal se dis-
tinguem entre si, e costumam juntar-se no mesmo alvar, Ord.
cit. tit. 132, Febo, P. 11, Aresto 133.
IV- Por isso, na prova dos crimes deve-se fixar os se- 3 V -A prova legtima faz-se pelo mnimo de duas teste-
guintes axiomas : munhas oculares, ajuramentadas, acima de toda a excep~o,
I. Ningum deve ser condenado sem prova legtima e contestes no objecto, lugar c tempo, e que dem a razo conve-
plena, mais clara que a luz do Sol, lei 16 do tit. De poenis do niente do seu testemunho.
Cdigo, lei lt. do tit. De probationibus do Cdigo, lei lt. do
tit. Si e x faZsis insf unzantis do Cdigo. Em rigor no se requer que o ru confesse o delito, pois s wta
z. Tal a que se forma segundo as prescries da lei. prova basta para a sua condcnar,o. Coccey, Jur. controuers., ao tit.
L)e testibus, Qiiacilio I.
3. A que faz o juiz sabedor seguro do facto ilcito e seu
autor.
4, Portanto, a prova plena no resulta de presunes e
TESTEMUNIIAS CNICAS, E DE OUTIVA
indcios por sua natureza falazes.
5. Nas causas-crimes quase no se deve fazer caso nenhum
da prova chamada semiplenn. 5 V I - Como para fazer f so precisas pelo menos duas
6. E no exceptuamos os crimes privileiaclos, pois, quanto testemunhas ( 2 V), segue-se que uma no basta, por maior que
scja a sua autoridade, cultura e nobreza, ainda nos delitos mais
mais grave o delito, maiores provas se requerem.
7. O ru, acusado dum crime, e por isso mesmo encarce- atrozes e firiiiilegiados. Valrio Mximo, liv. IV, cap. I, n. 11,
rado, no deve ser havido como culpado, antes de ser dele con- Fabro, in. Cod., liv. TV, tit. 14, Definit. 67. As testemunhas de
vencido. outiva deve-se dar a mesma f que ao autor que elas nomeiam
8. plena e perfeita a prova a que o prprio juiz aquies- (Instituies, Das obrigaes e aces, Tit. XVII, $4 X, XI,
cena, se com ela fosse condenado por outro. XII e XIII).
g. As provas, quanto mais distintas e separadas entre si,
Quando uma testemunha nica afirma que o r60 cometeu o delito.
maior fC fazem. e este nega, divide-se a pruva, tomando-se, assim, necessrio c h a r
10. A convico ntima, que o juiz obteve por si mesmo, um terceiro para decidir a questo. blontesquieu, EspR1 des Loii,
por exemplo, com os seus prprios olhos, embora seja mais liv. 11, cap. 111.
certa do que a obtida atravbs das testemunhas ou doutra on-
gem, no faz f, visto no resultar dos autos, segundo os quais
o juiz deve julgar. TESTENIIIUNHAS N A 0 AJUFU?vENTADAS, SUSPEITAS,
11. Nas causas-crimes os termos firovat~ios no so E EXTRAJUDICIAES
fieremptOrios, devendo-se, por isso, admitir at sentena tanto
as provas da parte do ru, como da parte do autor (Tit. I, $ VI1 - No provam as testemunhas no ajuramentodas,
$ XXVIII). Filangieri, tomo 111, cap. XV, P. I. seja qual for a sua dignidade, nem as que depem por creddi-
dade, pela opii~iuode outrem, genrica e vagamente, sem razo
alguma, nem as outras a que com justia se opem as excepes QUE FE FAZEM OS SVSPEXOS, 30s DELITOS 41AIS GRAVES
de inimizade, falsidade, infimia de direilo ou de facto (Insti- OU D E PROVA DIFICIL
tuies cit., 5; 11). Tambm no provam as testemunhas extra-
judiciais produzidas sem citao da parte. Por isso, as testemu- IX- Ora, se as testemunhas por quaIquer razo no
nhas interrogadas nas inquiries gerais ou especiais pouco pro- merecem crdito e nem sequer so admitidas nos delitos
vam no tocante i condenaco do rbu, mesmo que por este sejam mais leves, muito menos o sero e merecero plena f nos deli-
consideradas judiciais (Tit. XIV, $ IX, deste livro). De facto, tos mais graves ou de prova difcil, em que se trata no do
em todo o processo, e rnormente nas provas dos crimes, deve-se direito de guas cadas dos teIhados, mas da pena de morte
sempre antepor a verdade 9s ficqes e presunes do direito. de um cidado. Veja-se, querendo, Brissot, Thorie dcs Loix
C~iminelles,cap. 111, Sect. V, Pastoret, Des Loix pnales,
Assim de entender nas causas capitais ou quase, pois, embora tomo I , cap. X, dfAlembert, Encyclopedie, palavra Certitude,
o r6u considere as testemunhas como judiciais e no apresente nenhuma d'Aguesseau, Discurso Sztr la prkdention des Magistrats, to-
defesa, nem por isso deve sofrer nessas causas a pena ordinria, se
mo I , pg. 192. E, de facto, pssiino e perigoso condenar al-
faltarem outras provas, a no ser que as testemunhas sejam pergun-
tadas de novo na sua pres!=na ou pelo menos depois de ele tor sido
gum fiou suspeita, como se l nas Capit~~lares,liv. VII, !j 186,
citado. E assim me parece se deve entender a dita lei Da refo~mao e brbaro o dito popular de que Aros crimes muito atrozes
da Justia, g 18. permitido ao juiz transgredi^ as leis, e bastam as mais leves
conjectztras, conforme j mais de uma vez repismos.
PODEM RETRACTAR O JURAMENTO Todavia, nos crimes dc prova ciificil, parece dever admitir-se como
prkcpio especial que duas testemmhas de vista, insuspeitas, c acima
de toda a excepo, facani f6, muito embora no sejam contestes no
VI11 -Deve-se, porm, permitir inteiramente teste- lugar r ternpo, mas estejam de acordo quanto realidade do delito.
munha que p o s a no s esclarecer e modificar o seu jura-
mento, mas at retract-lo de todo, sem pena de perjrio. E, pois,
injusta a Iei que considera como perjrio qualquer retractao QUANDO FAZ FR A CONFISS.XO DOS RPUS
do juramento, desde que feita de boa fC e com recta inteno.
Todavia, cabe conscincia do juiz julgar, pelas circunstncias, 4 X - A confisso, segundo modo legtimo de prova
se se deve dar f ao primeiro, se ao segundo juramento, ou se ( $ 11), faz plena fk, se com ela concorrvr o seguinte: I ) se
nem a um nem a outro. constar do corpo do delito; z ) se for voluntria; 3 ) e
espontneamente oferecida; 4) clara e especfica sobre o
Entre as obriga~esdo juiz (Instituies, Das obriga~cse aces, delito, e no vaga, indefinida, e geral; 5) provvel, verosmil,
Tit. VII, 1 XXI) no 6 a mais insignificante a de adveifir. primeiro,
a testem7&a sobre a ini~iolabilidadedo juiameiiio. Cumpre at adver-
e compatvel com a natureza, a inteligncia, e os sentidos; 6)
ti-la de que s vezes o seu juram~ntoser feito com as ouiras tesiem11- judicial e feita perante o juiz competente e n(i mesmo lugar
@as e com o ru. De facto, estas duas ob~en.a0es tomam a teste- onde se tratar o feito; 7 ) feita por pessoa ciente e inteligente:
.munha niais atenta e solicita em dizer a verdade. 8) sem erro, medo da priso, dio e tdio da vida, mas apenas
com cincia e conscincia do crime. Destes tennos, resulta, por ambas as partes fazerem a sua defesa, e de formados os chama-
conscqu~ncia,que no faz ff plena a confisso dos menores dos artigos inquisitrios, os qual5 ou so gerais, quando o ru
mesmo intervindo a autoridade dos tutores, a dos surdos-mu- interrogado sobre o seu nome, pai, naturalidade, profisso r:
dos, e a dos que ignoram a lngua do tribunal, visto ser tirada coisas semelhantes, que naturalmente por onde se deve come-
de conjecturas e sinais quase sempre enganadores; nem a con- ar; ou esfieiais,que se formam, especificamente, sobre O de-
fisso feita na inquirio oficiusa do juiz, visto no ser verda- lito e suas circunstncias e devem ser deduzidos dos depoimen-
deiramente espontnea nem oferecida de livre vontade; no tos que as testemunhas fazem na inquirio geral ou especial,
obstante, prova, se for conforme com os indcios e provas cons- ou ento de provas obtidas noutras fontes. O seu fim fazer
tantes dos autos. A confisso tcita, que resulta da transaco com que a verdade aparea com a maior clareza, e no com que
do delito com o ofendido, ou a ficta, que resulta da contumcia o ru seja vexado com tais interrogatrios. Nas iilquiries dos
do ru que no responde sob pena de confesso e convencido. rus, todos os dolos, habilidades, sugestes, presses e promes-
nas causas-crimes pouco ou nada provam (Instit-uiOes, Das sas devem ser inteiramente evitados e punidos com penas seve-
obrigaes e aczes, Tit. XX, E$ I1 c 111). rssimas. Portanto, abusam em extremo do seu ofcio os juizes
que, ou por ignorncia (defeito vulgar), ou, o que pior, por
Aquelc que quer percccr, no 8 ouvido, visto que no E senhor maldade, envolvem os rus em interrogatrios dificflimos, os
dur seus membros. conforme est preceituado tanto pelo direito natural
aterrorizam, e ameaam com crceres secretos e aoites. 0 ru
como pelo civil romano. Por isso, sobretudo nos crimes capitais, a con-
fisco 3x0 faz prova plena, a no ser que concorram todos os clcnien- h-de ser inquirido no lugar onde corre o processo e pelo pr-
tos, de que falmos acima, e que, realmente, se acham, como 4 seu prio juiz do crime, Ord. liv. I, tit. 65, $ 33, e tit. 86, f 3, perante
costume, bem e shiamenie dispostos e coiigidos pelo ilustlissimo Hei- dois escrivzes ou testemunhas que certifiquem o termo, Ord.
ncrio. na Exercit. De religione judicis circa reorum corafcssiunes (Do liv, I, tit. 24, 55 19 e 20, e Liv. 3, tit. 32, $ r. A resposta ser
ejcnpulo do juiz quanto s confisses dos rus). Portanto. bem e reduzida a escrito por um escrivo nos precisos termos em-
oporhinamcntc diz Ulpiano na lei r, 5 17,do ti!. De quaesaonibus do
pregados pelo ru, a quem deve ser [ida depois de acabado O
Digesto: r2%io se deveid to?nar as confisses dos rus como estando os
crimes averiguados. se nenhuma prova iniiruir a conscincia de quem interrogatrio, para que ele possa corrigir qualquer erro (Tit.
conhece da cairsa; e no 27: Se algum confessar espontneamente u m XIII, 5 XXV, deste livro).
nzalcf8cio. nem sempre se lhe deve dar crdito, pois h os que ds vezes
confessam poi medo ou por outro nzotivo. Paulo Rizzi, Animadz'ersio- O exame do rCu 6 feito por inquirio do juiz, para quc das cir-
nes ad Cri~rinalemJuiisprildentiam. apud Brissot, Ribliothdque Philo- cunstncias se prove com maior certeza o crime ou a inocncia do ru;
sophiqtre, torno 11. deve, por isso, conter tambm os artigos que levam defesa do ru.
E estes artigos de\-em ser organizados por forma que em nada sejam
faiazes, capciosos, e difceis, mas breves, claros, transparentes, perti-
nentes matria, e apenas rcspcitanlcs ao rCu, pois, como beni diz o
O QUE SE DEVE OBSERVAR NA INQUIRICKO DOS RRUS Pontifice no cap. I do tit. De confessis, segundo as determinaes de
anzbos os direitos, os que confessam de si, no devem ser inlerrogados
aoavcn dus oonsciscias alheias. O processo criminal pziblico, tal como
5 XI - O juiz deve inquirir o ru, ou oficiosamente ou a o secreto, que alguns chamam uma iniquidade pblica, contm, COii-
pedido do ofendido, e logo aps a captura ou ento depois de fesso, muitos inconvenientes; no cabe, porEm, a mim dizer como se
podem evitar esses inconvenientes e pr as coisas no so. Entre ns, juiz pe o ru diante dos olhos das testemunhas para que o reconhe-
o ru r ai fcsieiritinlias %?osrrrctarnriitr p~r&intadospclo juiz. na pre- am, difere da confrontayo, embora se r o n j u p r iitilmcnte com ~ l a .
sen$a do eicrir.o qne copia as suas palavras, Ord. Iiv. I, tit. Sh, 3, Por conseguinte, acareiam-se os scios no crime, ou as testemunhas
tirada do mau entendimento da lei 14 do tit. De teslibus do Cdigo. umas com as outras ou com o r&u, sempre que, cuntumazmmte ne-
Eu, porm, deterniinaiia quc, nos delitos capitais, assistissem ao exame gando ou coniessando o crime, divergem quanto as circunstncias e
pelo menos dois juzes. e outros tantos escrives e testemunhas; a ra- no se acordam quanto ao lugar, tempo, v e s t u ~ o ,armas, ocasio, e
zo porque, podendo dar-se o caso de o juiz ordinn'o ser inimigo outras coisas que costumam a m e n t a r ou diminuir a gravidade dos
oculto do r4u, injusto, e extretrianiente dcsconhecedor do seu ofcio, delitos. Na rea1izaFo desta confrontafo, deve-se observar diligente-
a sua i~no;hicia ou dolo seria coiiigida com a presriip do o i i t ~ ojuiz. mente tudo o que mais acima dissemos sobrc o ofcio do juiz nas iu-
Tambm se devc conceder ao ru o podcr de recusar, livrcmentz e sem quines dos rus e testemunhas.
qualquer justi:ica$o, pelo menos dois juizes, o que entre os Romanos
era permitido por iei pblica em fauor da vida, Signio, De jzbdic.,
liv. 11, cap. XXVII; os Ingleses j h muito o observam religiosamente.
Blackstone, tomo VI, cap. XXVII. No se dcvc obrigar o rGu, inqui- PROVA INSTRUMENTAL
rido sobre delito seu, a fazer juramento. conforme o Pr~sidenteLa-
moignon demoiistrou com grandes razes no Procs verbal de r o r - 3 XIJI - O outro modo de prova, por inslruncentos e do-
donnance 1070; e esta a praxe entre ns, como referem Cabedo, cumentos escritos pelo ru ( 11), tem a fora de confisso
P. I, Aresto 36, Mendes, liv. V, cap. I, 11, n. 38. E, a!m disso, o
ru no obrigado a responder aos interrogatrios criminais, Ord.
extrajudicial, e, por isso, no faz piena f, o que se deve enten-
liv. 3, tit. 53, 5 11, ncm o scu sil4ncio c contumcia em no rcspon- der tanta das escrituras particulares como das pblicas. Seme-
dcr devern ser havidos como verdadeira confisso ou prova. Ihantemente, no fazem prova plena os testemunhos instru-
mentais, como extrajudiciais que so. Por outro lado, o tabe-
lio s nos negcios cveis, ordenados de harmonia com a lei,
reveste o carcter de pessoa pblica; nos criminais deve ser
considerado como um particular. Boehmero, cit., Sect. I,
9 XII - Ora, porque muitas vezes o ru e as testemunhas cap. XI, 3 CCXIV, onde alega a. Constituiao Austraca,
discordam quanto As circunstncias do delito, pertcncc ao ofcio art. 17.
do juiz acare-los e ajust-los; esta acareao chama-se con-
frontao e costuma definir-se assim: Acto judicial em que o As escrituras, se no forem reconhecidas em juizo, ou pelo r&,
juiz juwta na sua firesenpa QS testemz~nhas~ t z a cs o m us outras, ou por mryo dr testemunhas, ou pelo confronto da letra que deve ser
uu o ru contumaz com a7 tcsLemunhas, ou mesmo com o CG-ru, tomado com cautela, %i tm nenhuma fora provati>ria;por isso, este
a fim de zndagar a uerdade, Boehmero, Blemenla Jurzsfiruden- genero dc piora tem, nos fritosxrirnes, aquela mcsma fora e podcr
que so devidos cnnfissCo judiiial. ou extrajudicial, ou as testemii-
tine Criminalrs, Sect. I, cap. XII, 3 CCXXI. nhas. Benjamin Carrard, Jun'sprzldence Criminelle, tomo 11, cap. IV
(Instituies, Das obrigaes e aces, Tit. XVIII, 3 XII, Nota).
A confrontao, introduzida tanto para indagar a verdade do
crime como a inocencia do ru, faz-se de trs maneiras: ou se acareiam
as testemunhas entre si, ou os inquiridos uns com os oiitros, ou as tes-
temunhas com o inquirido. A recog~zigo,isto , o acto pelo qual o
DA PROVA SE~YIIPLENANAS CAUSAS CRIklINAIS que , conforme Cristiano Thornsio demonstrou numa Dier-
tao especial. O mesmo dizemos do atemorizamento tanto real
$ XIV - Do exposto plenamente se conclui que as chama- como verbal (Tit. I, 5 XXIX, deste livro).
das provas senziplerzas, muito embora sejam admitidas nas cau-
sas cveis, por assim dizer, contra a vontade da jurisprudncia E esta a voz unnime de todos os Filsofos, cuja simplo refe-
(Institui@es, Das obrigaes e ac&es, Tit. XVI, 3 III), no rncia sena longa. Baste o testemunho de S. Agos'kho, que diz no
fazem f k plena tias causas-crimes, e nunca, i falta de verdadei- De civitate Dei, l k . X I X , cap. VI: <Quando se inquire z o r4u cul-
pado, atorinentam-no. e fazern-no sofrcr, inocente, penas cerissimas
ras provas, bastam para a condenao do ru, (3rd. Iiv. 3, tit.
por um crime incerto, no por se haver ~ C S L O ~ E I qac~ O cometeu O
52, no princpio, ibi: E isto ha lugar assi nos feitos civeis, como crime, mas por :e ignorar que no o orne:cu. E por isto a ig.iorincia
nos crimes civelmente intentados. do juiz qaase sempre a calamidade d u m inocenle. E o yde mais
intolervel, lamentvel, e, se possvel, digno de ser banhado em fontes
A estc rcspeito d i ~ s cbem o mui grande Cujbcio, nos Comentrios de lgrimas: como o juiz tortura o acusado para no matar por igri0-
ao tit. ad iegem ]%liam r;laicstatis do Cdigo: Evraat os que afirmam rncia um inocente, acontcce por misera ignorncia que tortura c maia
que umu sd t8slemunha fuz aquilo que chamam proua semipl~na,o um inocente, que atormentara precisamente para no matar. Com
que pruunm com v rquinL6 urgumsnfu. duas 1estcmazi;as - dizem efeito, se. segundo a sabedoria destes, o acusado preferir a fuga desta
&s - fazem fi7ova tlena; logo, uma s faz firoela seemiplena. Porm, vida a sofrer por mais tempo os tormentos, diz que cometeu o que no
esta dedugo est errada, e equivale a dizer: dois fazem u m rnimero cometeu. Condenado e morto o ru, fica o juiz sem saber se matou
$n/eitn: logfrr>.u m r i ou rima s coka C um nmprri imi>elf&to ou se- um culpado se um inocente; atormentoui, para no matar por igno-
riiplzno. o g u ~ falso. fiois a um s no se poda chamar niimero. rgncia um inocente; c , assim, atormentou um inoccntc, para saber, e
Alm disso, tal como a verdade, a prova no pode se7 cindida; a ue7- matou-o por no zaber~.
dade, que n i o 6 plt:na, claramente falsidade, e n i o semiverdode.
Assim, a prova, que no i plena, claramente prova nenhuma. Fi-
nalmente, os Jwrisconsullos no co~heciumnenhuma prova semiplena
(Injtituii>r;, Das oliriga&% e ac$Ues, l i t . XVI, 5 111, 'ota). Deve
ler-se, intciramcnte, 111. de Bielfeld, Erudii. Compl., Liv. I ,
cap. XXIII, 5 XIV.
DAS APELAOES
ou ausente, e at pclo relutaritc j coxdenado morte, e assu~iiira w a uni h o m ~ i nculpado, lei j, do tit. rid l e r % Por;zp~ic;;de $izrricic:rlKs,
d ~ f e s anZo
, em nome prbpri?. mas (I) em ni>rnr d a iocicda?~,visto a lei I , ilt., do ti:. ed legei?~Cn?ilo!lam de sicariis. Carp~ov,P. 111,
q~~es:u~ q o ,nn. 131 c seg.. Piikt~r,ui, Elemenlu Jurispi.:~dew&aeCri-
causa da inocncia SEI urna causa pblica, Iri 33, g 2, d3 tit. De @o-
curaluribzis, e lei 6 do tik. De adpellaionlbi~s.Tambm o senhor pode mitiulir, liv. 11, rap. XXVI, $ 7044, Cabedo, P. T, Aresto g j .
dcleii2er o seu servo. e o pai o seu iiDio. pois defe~idizncausa sua e
d ~ r i i a n + i ~ilifcrcsce
>- p:ipr:u, lei ~g do tit. De posnis. O m:s;no parece
cslabelriido oii de estabelccrr na 110-so di~citu,Ord. F.7 3, tit g, 5 3, XAO SE LHES DEITE NEG21R 21 DEFESA