Melo Freire PDF

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 131

AOS ESTUDAKTES DE DIREITO PATRIO NA

UNIVERSIDADE DE COIMBRA
DIRIGE
PASCOAI> JOSP DE MEL0 FREIRE
hlUITAS SAUDABES
Ao
Altssimo D. Joo,
Princifie do Brasil, dedica
A Cincia Crimiiial, cujas Instituies, ouvintes, enfim
Pascoal Jos de Melo Freire
publicamos, nasceu, por assim dizer, com os prprios homens,
estas primeiras e cresceu com a formaco das sociedades civis. De facto, o pn-
meiro e principai fim da instikio destas sociedades foi firmar,
para os homens que nelas se congregavam, a segurana de vida
ZNSTZT UIES DE DIREITO CRZdlZAIAL PORTUGL'ES
e de bens, impossvel de obter sem as leis criminais que tratem
dos delitos e penas. E, por isso, se percorrermos as leis dos
povos mais antigos, referidas no velhos historiadores, acha-
remos que das, na maior parte, consistem em impedir e proibir
os crimes, e fixar as penas. Ora, certamente muito indigno
que tal cincia seja desconhecida dos que desempenham fun-
qes p~blicas,e sobretudo dos supremos governantes, ou dos
que deles receberam o encargo de exercitar o poder judicirio.
No nos admiremos, pois, de que outrora os mais graves
vares e os mais altos cngenhos de qualquer nao 5e celebri-
zasqem pelo conhecimento da Cincia Criminal. Seja permitido
louvar, por este titulo, os Sacerdotes entre os Egpcios, os An-
cios entre os Hebreus, os Strapas entre os Assinos e Persas,
a quem, n e s a s vetustissimas naes, fora confiado o julga-
mento e castigo dos delitos.
Na Grcia, floresceram nos louvores da Cincia Criminal E, para s falarmos de Fanncio (que foi e ainda 6 viil-
no s os cidados mais sbios, eleitos para os ColEgios dos garmente tido como o prncipe dos jurjsconsdtos cri~ninais),
Inquindore Criminais, mas tambm os prprios Oradores, devemos considerh-Io o pnr~cipalresponsvel pela cormpo
como se pode ver na maior parte dos discurscis de I,sias, iinivcrsal c JcsagradubiTsima que invadiu a CiBncia Criminal.
lscrates e Demtenes, em que acusavam os cidados delin- Na verdade, ele no s a tratou indouta, deselegante e desor-
quentes ou defendiam os inocentes acusados. denadamente nos grossos volumes que publicou, como ainda
por cima a tornou vacilante e verstil, e, depois, a obscureceu
Em Koma, onde a ciencia do direito e das leis comeou
e infectou com o rnaior nmero de defeitos. A alguns parecer
pela primeira vez a ser rcdiizida a certa ordem, a cultura do
talvez demasiado audaz este nosso juizo sobre Fariricio. Mas
direito voltou-se preferentemente para aquela imporlantssima
quem quer que, livre de preconceitos, percorrer os seus volumes,
e utilissin-ia parte que respeita aos crimes e penas. Disto nos do
fkcilinente depreender que no pronuncimos uma sentena
plena i6 tantos fragmentos dos Jurisconsiiltos Romanos. que
injusta.
ainda existem nas Pandectas; esses Jiirisconsultos ailmentaram,
ilustraram e e x a I ~ a s a ~nmxinia digniclade, em muitas obras ilntnio Mateus foi o primeiro de todcis que, nos Comen-
escritas, a Cincia Criminal, tambm sempre cultivada pelos trios aos livros XLS'IP e XLVIII dos Digestos, em que se
Oradores; depois caiu dessa dignidadr, juntamente com a glria trata da matria criminal, tocou com mos puras, poliu e repur-
do Imp&rio Romano. Tle facto, abalado e por fim destrudo gou dos niuito vcios e erros, que outrora nela abundavam,
este Irnprio no Ocidente pelos poros vindos do Norte, a Cincia aquela nobilssirna parte da Jurisprudncia Romana que vefia
Crimiiial tambem enfraqueceu e caiu com as leis romanas e as sobre os crimes e penas, e qrie havia sido perfunctriamente
restantes belas-artes e disciplinas; c s i comeou a ser ciiltivada, ilustrada pelos doutos Intrpretes e srdidamente corronlpida
depois de instaurados os direitos da velha JurispmdSncia Ro- pelo vulgo dos escritores criminais.
mana; a pouco e pouco se saiu da fereza e ignorncia dos Este 1011vor e glria se deve a Antnio Mateus; mas certa-
sCculos b&rbaros que aqueles povos do Norte haviam intro- mente -maior se deve a Grcio, Pufendod e ao Presidente de
duzido. Montesquieu, que, abalancnndo-se empresa dc erigir e levan-
Efectivamente, os quc, desde Imrio quase at aos nossos tar do cho a disciplina do Direito Natural e das Gentes, to
dias, aplicaram o seu trabalho c engenho em interpretar e ilus- dr~utaE st>iamenieexaminaram muitas questes, ao incidirem
trar o direito romano, embora tambm hajam tocado na nobi- no captulo que trata do direito competente ao supremo poder
fissima parte que respeita aos delitos e penas, contudo fizeram- civil sobre a vida e bens dos cidados, que parecem ter, digamos
-no sem ordem certa e conio tlc passagem, no serido muitos assim. arvorado a bandcira la boa esperana quanto ao futuro
os que empreenderam trat-la exprcssa e convenientemente. da Jurisprudhicia Criminal. Devem, pois, ser justa e mereci-
De facto, todos eles ou por culpa prpria ou por culpa dos damente considerados chefes e mestres de todos os que, poste-
tempos (com poucas excepes} ignoraram as cincias donde riomente. assumiram o encargo de oniar e polir esta disciplina
a Jurisprudncia Criminal deriva os seus verdadeiros pnn- KevoJveram depois estas scmenles e tornaram-nas, de facto,
cpios. muito produtivas, entre outros, Tliomsio, Gundling, Boehmero,
.&d;.o de Beccaria. que merece ale rnesmas leis aprovam o uso dos asilos, com cujo auxlin era
&&vbr peio f a d o de haver juntado, em um s volume, faclimo, mesmo aos maiores celerados, subtrarem-se pena
todas as boas ideias dos outros a respeito de cnmes c penas, justa, Porkm, estas coisas e outras semelhantes eram mais
e ter sido o primeiro que afoitarnente tentou revestir de uma defeitos dos tempus que dos homens, e no se deve imputar
nova face a Ciencia Cnminal. aos nosos 1egisIadores o facto de eles inclurem os erros comuns,
Quase nesta mesma altura surgiram Paulo Rizzi, Filipe ento admitidos pelo voto dos bi&, e:n suas leis criminais,
Maria Renazzi, Puttman, Genuensc, Filangieri, e miiitos outros que em toda a parte hoje os bons Prncipes oii expressamente
na Biblioteca Bvissoiina, que, apoiados na verdadeira filosofia ab-rogam publicando outras leis, ou parecem tcitamente ab- '
e jurisprudncia civil e nas restantes discip!inas mais elevadas, -rogar, admitindo tranquilamente a sua inaplicao e interpre-
formaram a nova Cincia Criminal, que, de facto, expuseram taes audazes e contorcidas, com que essas leis so humani-
breve e claramente em seus escritos, quase sempre plenssimos zadas e acomodadas ao presente estado de coisas. De facto,
de bons fmtos.
se est certo o que Ccero diz no De diuilzatione, liv. 11,
E, realmente, parecia de todo conveniente que, neste nosso cap. XXXIII, Nos tempos antigos hauia crenas falsas sobre
tempo, em que diligentemente se cultivam todas as disciplinas, ~ibtdatascoisas, mas uso o u o ensino ou a longa exfierincia
sobretudo as que visam a slida utilidade humana, tambm ~ n o d i j i c a ~ aessm
m ideias, e devendo-se ajustar as leis ao gnio
se polisse e aperfeioasse o mais possvel, recorrendo ao auxlio e costumes daqueles para quem so ~roduzidas,quem duvidar
das outras cincias, aquela que a mais til de todas: a Cincia de que seja, depois, necessria a sua prpria emenda e cor-
Criminal. Porque no sei de outra que mais interesse aos reco?
homens ver cultivada com extrema diligncia e fforindo com
Porm, a JunsprudBncia Cnminal, tal qual existe entre
simplicidade e pureza.
ns. acha-se realmente purificada de muitos defeitos que
Pelo que nos respeita, a Jurisprudncia Cri~ninal,que se outrora a enchiam, mas no de todos, pois isso como que
contm no livro V das nossas Ordenaes, sofre dos vcios estava reservado pelo destino aos tempos de D. Maria I e de
comuns em que abundam as leis criminais das outras naes, D. Joo, Prncipe do Brasil, durante cujo fcliz e benigno im-
c lamentvel que, ate agora, no tenha surgido entrc ns
prio todos os dias esperamos ver perfeita c totalmente acabado
quem descobrisse as suas fendas, ou, descobrindo, as curasse, o Novo Cdigo Criminal (mandado fazer por Decreto de 31 de
ou explicasse essas leis pelas suas genunas fontes, ou, pelo
Xlaio de 1778). Na verdade, por assim o disporem as leis,
menos, com alguma ordem e mktodo. Sem dvida, tambm tivemos de escrever muitas coisas, que, se dependesse de ns,
so confirmados pelas leis ptrias os contos de briixas e feiti- teiamos estabelecido de modo um pouco diferente. Porkm,
ceiras, as mutilaes de membros, as penas, j no direi recordamos que aqui no tratamos de estabelecer leis, mas de
atrozes, mas cruis, os tormentos, as multas pecunirias inven-
apreciar as j estabelecidas, cumprindo-nos jdgar por elas,
tadas para locupletar o fisco, as provas semiplenas e os ind-
e no acerca delas. Contudo, de modo nenhum nos parece digno
cios, que so havidos como provas verdadeiras e legtimas,
de censura aquele que, acomodando-se aos costumes e obede-
sobretudo nos delitos que chamam privilegiados. Depois, estas cendo s leis vigentes, diz respeitosamente o que sobre elas
sente. E, se ns o fizemos, alguns vezes, cauta e moderadamente, se as razes do direito do Lcio quadram ao nosso foro, ou se
saibam os mais tmidos, que costumam magoar-sc c sentir-se pelo contrjno, Ihc so completamente estranhas. Todavia, no
extremamente com qualquer novidade, que, sob o governo de so de todo desprezveis, porquanto, se nada adiantam para
D. Mana I e de D. Joo, Prncipe Filsofo e humanssimo, a teoria, contm muitas coisas teis que, no tocante ao cso
permitido aos escritores emitir livre e impunemente o seu e aplicao das leis, podem prestar grande ajuda nossa Juris-
juzo, tanto sobre as coisas pblicas como sobre as particularc., prudncia Criminal.
contanto que o faam com a maior discrio e dentro dos Sobresai dentre todos e merece principal louvor o nosso
limites prprios dum bom cidado. Mendes, que, nas Y.1e 11, explicou, breve e claramente, a praxe
Pelo que respeita aos nossos Jurisconsultos criminais, direi criminal, e a reduziu a uma ordem certa, ao passo que OS
confiadamente o que sirito, e para qu diimul-lo? Entendo outros tratam, sem ordem nenhuma, as questes nem todas
que eles quase nada menos souberam que o nosso Direito Cri- obveniente no foro, e as decidem, como habitualmente, pelo
minal, cuja interpretao assiimiram, visto ignorarem os ver- nmero dos Doutores, e no pela autoridade das leis.
dadeiros princpios e as fontes quer prximas quer remotas, A Practica CriminuZis de &1anuel Lopes Ferrcira tambm
onde se deve buscar a sua genuna irrterpretao. E que esperar contkm algumas coisas notveis, cujo conhecimento i: til
de homens que, ignorando a cincia do Direito Natural e das e necessrio aos que lidam no foro, mas, pelo tamanho, mais
Gentes, do Direito Civil e dos costumes, empreendem inter- parece servir de carga que de ajuda aos estudiosos de Direito
pretar a Jurisprudncia criminal que dai flui e emana? Que Criminal; merece melhor recomendao, ao menos pela brevi-
no conhecem a histria das nossas leis criminais, as diversas dade e pelo mtodo, o opsculo intitulado Primeiras Linhas
idades, os diversos costumes dos povos, e as diversas vicissi- sobre o Processo Criminal, publicado em 1785 (cuja quarta
tudes, mutaes e origem dos tempos, e depois as causas eficien- edio saiu mais correcta e aumentada, em Lisboa, 1827, 4 . O ) .
tes dessas mutaes? Que no tm conhecidas nem examinadas Scndo assim, permita-se-nos que imitemos a diligncia dos
as leis municipais de que usa qualqiier provncia e cidade para nutros e apresentemos tambm o nosso coritributo, pois, embora
punir os delitos nela praticados? E que, finalmente, ignoram reconheamos a desigualdade do nosso engenho, ardemos toda-
os direitos e prerrogativas pblicas dos cidados, que chama- via em igual vontade e desejo de bem pblico. E nUs, que j
mos foros, OS quais originam a diversidade de penas e o divcrso prestmos provas nas Instituies do nosso Direito Civil, temos
modo de investigar os crimes! Desviou-os do recto caminho. gosto em as prestar tambm nas Instituies Criminais. no por-
primeiro que tudo, o prejuizo da autoridade, e a indiferena que esperemos ver supridas pela nossa fraqueza as faltas dos
pelas leis ptrias, visto que eles apenas viam e aprovavam o que outros, mas para levarmos os homens de talento a cultivar esta
Claro, Farincio, Carpzov, Ameno, Ursaya e outros deste nobilssima c utilssima parte do nosso Direito.
gnero, deixaram escrito. Acresce que, arrebatados e obcecados Scguimos aqui um metodo tanto quanto possvel breve,
pelo amor das Ieis romanas, buscavam nelas todo o refrgio. claro, e simples; e, a exemplo do flustrssimo Heinccio em
e consideravam uma espcie de sacdgio tudo o que no podia suas Juris Civilis P~raelectiones,e de Boehmero nos Elementa
ser aprovado a partir delas, pouco lhes interessatido saber Jurisprztdentiac Criminnlis, fizemos toda a diligncia para quc,
apresentando antes de tudo breve e claramente os princpios, Cabedo, Mendes, Febu, Leito e outros, pois sabemos muito
regras e axiomas, da fcilmente se tirassem os consectrios bem que so respeitveis as opinies prccoriccituosas dos
e nexos doutrinais, mtodo este que o mais adequado, no liomens, ainda quando as tratamos de corrigir e destruir.
s para ensinar, mas tambm para aprender. Porm, se parecer Em outros tantos titulos, explicmos a matria respeitante
que este excessivo zelo de brevidade nos levou nalguns pontos forma e ordem dos juizos criminais; neles ensinmos, bicve
a ser demasiado conciso, dar-nos-eis o vosso perdo, ouvintes, e sumiriamente, quase hido o que nos parecia pertencer ou
pois no intentmos escrever uma obra de grande flego Ls solenidades desses juizos, ou Ls acusaes dos rPus, inquin-
e difusa, Inas urnas Instituies de Direito a que convm seme- es gerais ou especiais, denncia, e querelas; ou sua defesa
lhante gnero de exposio, cabendo, depois, aos vossos dou- e segurana; ou 5s provas, presunes e indcios dos crimes;
tissimos Professores explanar mais largamente a matria. ou execuo do juizo criminal e da coisa julgada, o11 abo-
Por isso, abrangendo todo o Direito Criminal sobretudo lio, perdo, e prescrio do prprio crime; ou inquirio
duas coisas, a saber, por um lado o prprio crime e a pena que ou condenao dos rus ausentes; ou reabilitao dos ino-
lhe deve ser prescrita, e, por outro, a forma de o investigar centes j condenados.
e decretar a pena aos delinquentes, ns, tratando num s Na explanao destas matrias (cumpre adverti-lo em
e mesmo contexto estes objectos do Direito Criminal, discor- absoluto), mantivemo-nos, o mais possvel, alheio tanto opi-
remos, no primeiro titulo, sobre os delitos, delinquentes e penas nio dos que sempre queimam ou cortam, como dos que, pelo
em geral. Nesse titulo inclumos as principais coisas notveis contrrio, se inclinam para excessiva misericrdia. De facto,
que os filsofos do nosso tempo escreveram sobre esta matria, uns e outros erram: aqueles, dirigindo toda a agudeza de
fazendo nossas algumas delas, e rejeitando outras com a dis- esprito para a crueldade e desprezando os remdios da defesa;
rigo que nos habitual. estes, mitigando o rigor vingativo das leis, esquecidos dc seu
Seguem-se as divises dos delitos, e as penas especiais para ofcio e da salvao pblica, que mais se prejudica que apro-
eles prescritas, as quais se incluem em quase doze UNOS; ao veita com essa misericrdia mal empregada. Bem, pois, disc
tratar disto, esformo-nos principalmente por interpretar Sneca no De clementia, I, 2: Quando no se faz disti~zio
sempre ex bono et aequo (segundo a equidade natural) as entre os maus e os bons, nasce a confuso e surgem os vicios.
nossas leis, mormente as mais severas, iliitrando-as com as Hd, por isso, que aplicar a moderao, que saiba distinguir a 7
antiguidades lusitanas, confrontando-as com os usos e costumes indoles curriueis das irzcurveis. E necesslirio tio exercer a cle-
do sculo em que foram promulgadas, e ajustando-as, quanto mncia, indistinta, geral e confusame~ztc,pois z lanla cruel-
o permitem as verdadeiras regras de interpretao, a este tempo dade e m $erdoar a todos como a ningum. Devernos seguir una
em que vivemos. Porm, dissertmos sempre apoiados no peso critrio mdio. Sempre procurmos evitar esses dois extremos;
das leis e das razes morais, sem, todavia, omitirmos as citaes e queremos que assim se entendam as doutrinas contidas neste
dos escritores mesmo vulgares, para assim obtermos maior f opsculo. Tambm vs deveis, igualmente, evitar e fugir desses
tanto dos doutos como dos indoutos, que costumam deleitar-se extremos, quando um dia chegardes a exercer a funo pblica
com semelhantes escritos. Mas citmos especialmente os nossos que vos for confiada.
Basta, porm, j de prefcio, para que no saia mais longo
que o livrinho S resta confessar a nossa eterna amizade
para os que aprovarem o nosso propsito e plano de explicar
o Direito Criminal Ptrio por novo caminho e mtodo, sem
que o contrrio nos leve a testemunhar-lhes ~Ublicamente
a nossa antipatia. 0 s que conhecem a dificuldade destes tra-
balhos, fcilmente desculpar5,o os erros em que camos. E quem
no desculpar os lapsos daqueles que foram os primeiros
a tentar cultivar qualquer cincia? Por fim, a todos pedimos
e desejamos que recordem aquela frase de Horcio ( I ) :
DOS DELITOS,DELIKQUENTES,E PENAS EM GERAL
ciATo de estranhar que num trnballzo longu
nos apanhe o sono RAZAO DA CONEXO E ORDEX DAS MATERIAS

3 I -Aos direitos in rem pertencem no s as con-


venes e nhrigarnes qiie nascem da lei e rios fartos licitnq,
de que at aqui tratmos, mas tambm as que resultam de fac-
tos ilcitos ou rnalefcios, de que tratam os livs. X1,VII e segiiin-
tes das Pandectas, e o li\.. V das nossas Ordenaces; esta parte
terriuel do nosso direito pareceu-nos mais conveniente explic-
-la parte das outras. Na sua exposio observaremos a se-
guinte ordem: primeiro, discorreremos sobre os delitos em
geral; depois, sobre as vrias espcies de delitos: e, por fim,
sobre a ordem judiciria criminal.

O QUE P DELITO

$ 11-Delito o jacto ilicito esponlneawzente conzetido


contra a sano das leis, prejudicial d sociedade ou aos indai-
duas, pelo qual se incorre na obrigao de. se fiossivel, reparar
o daj~o,e sofrer uma pexa, Grcio, De jure belli ac pacis, liv. I1
(I) Arte Pndf?cn, v. 360 (Nota do Tradutor). cap. XVII. Ns aqui na palavra delito entendemos todos os

54
PUBLICO, OU YARTICVI-AR
crimes tanto Pblicos como +ai.tzczdlares, os quais, no entanto.
se quiennos falar com exactido, costumam distinguir-se no
direito rornano, Robrrts, Anz?nadz;ers, liv. I, cap. VI. Por facto $ IV - Ambos so ou fiblicos, quando lesarn a sociedade
zliczto entendemos tambm o qzit7 sc niio jrz mas devia fazer. e a seguranca pblica e so perseguidos pela acusaco pblica;
Henrique Coccey a Grcir) cir ou particulares, quando prejudicam sobretudo os particiilares,
devendo ser perseguidos s por aqueles a quem afectam
(Tit. XIII, Q V, deste livro).
neve ronsid~rar-sefacto ilicito. s ~ n d opnr isqo iim delito. a omis-
so daquilo quc a lei manda fazer, Blackstone, Comment. Legum An-
glicarum, liv. IV, cap. I. Comete, pois. delito aquele que achou a Hi rambm os quase delitos pblicos, como o homicdio ou o iu-
coisa alheia, c nZo a denunciou, Ord. liv. j, tit. 62, no pnnc., e 5 4 crudio praticado por culpa. Dos particulares ningum duvida: deles
(Tnstituiqts, Do direito das coisas, Tit. 111, 8 V ) . Para mais exem- iratam os titiilos Mautue, caicpones, slebz~larii,e De his, qrii ef!i:dannt,
plos, veja-se a Ord. no mesnio liv., tit. rn. 5 , ihi e o nno d e s c o ~ ~ o . vel dejecevitrl. Heinccio. aos ttulos De pnuatis delictii, e De exfraor-
tit. 13, g j, etc ..., dos quais falaremos em seu lugar. So obrigados dinaiiis cti?>iinibus, eupfica bem, como de costume, quais os de1:tos
reparayo do dano no sO os verdadeiros delinquentes, mas tarnbni pblicos no sentido do dircito romano. A distino cntre delitos pblicos
os scu herdeiros, ai; prprias crian~ase os furiows que no podem ordinktios, em que as leis pbiicas estabeleceram uma pena legtimn
delinquir, pois esla abrigacso de 11x0 prrjudicar outrciri nasce do drxfi e solenidades processuais, Lect. ad tit. De publicis judiciis, apiid Otto,
natural, e so obrigados inesrno senr ordem cio juiz; a pena, priii, tomo I do Thesaums ]uns Romani, e delitos pMicns extraordinrios,
depenrl~sempr? do farto ? sentena do jiiis; c nisto I-eside a diferensa 'que so punidos sem ordem processual, no tem uso nenhum: com
cntre a repara+ do dano e a pena. Pufrndorf, De jure Nalurue et clcito, o nosso foro ignora o cnmc sem lei que proba o facto, e ignora
Genlium, liv. VIII, cnp. 111, Creman, Ds jure criniinali, liv. I , P . 11, tambm a pena meramente arbitrria, porquanto a pena, que 6 apli-
cap. I, 80, Hrnnque Coccey. Dissert. De obligatione &redis ex de- cada pelo juiz por permisso da lei, de certo modo legtima (I XXI
l i d o deficncti. deste titulo). Todavia, no anda mal nosso dir<:itiieni chamar delitos
pblicos queles que qualquer um do povo pode acusar, como 6 o
caso dos wiunuados na Ord. iiv. j, tit. 117, no princ., Yan. 42 do
pesmo liv.. Para n6s, o furto c a rapina so delitos pblicos, assim
O DELITO OU i;. VERDADEIRO OU QLiASE como tambm o dano grave causado por dolo; no direito romano, no
C assim. J a injiiria uerbal deve ser contada mtre os dciitos particula-
$ 111- Ora, como o facto ilcito pode ser cometido por res.
?nau dolo, ou Por culpa, ao primeiro chama-se uerdadeiro de-
lito, e ao segundo gcaase dtdito (Instituies, Das obrigaes e OUTRA DDNIKO
aces, Tit. I, 5 111).
5 V- Alin disso, os delitos srio capilais ou no capitais,
SBo exemplos dc yuase delifo: i> liomic~lio cometido por culpa atrozes ou simples; de facto pe~manente,os que deixam algum
ou neglig~icia, Ord. liv. 5, tit. 35, no princ., ibi ser4 punido, ou re- vestgio, ou di: Jacto hansitrio, os que no deixam vestgio.
Eeuado segundo sua culpa, ou innoceacia; o dano causado pelos que
servem nos navios, tabernas e estalagens, Ord. liv. j,tit. 64; e mihen-
Mas estes crimes diferem dos outros, no quanto pena ou atro-
tos outros, de que trataremos mais abaixo no Tit. XI especial. cidade, mas smente quanto ordem e inquirio do processo.
De propsito ooniitimos outras dirisGes. Veja-se, querendo, Fi- rdt~cia.Na verdade, cztmfiria-lhes nao baber tanto, Aristteles,
lipe Maria Renazzi, Elementa Juris Criminalis, liv. I, cap. XV, Magna Moralia I, XXXIV. Vide Pastoret, Des loix $&ales,
e Joo Tadeu MuUer, Jus Criminale, tit. I, $5 I e 11. tomo 11, cap. VII, Art. 111.Tambm no podem cometer delito
os sonmbulos, Thomsio, De jwe circa somnium, cap. V ,
Q XVI; os irados, quando provocados pelas palavras doutros
COROLARIOS DERIVADOS DA NATUREZA E DEFINXCAO DO DELITO
por forma tal que paream totalmente alienados, pois a ira C
um furor breve, lei 11, 2, do tit. De poenis (Tit. XI, S. III, Nota,
VI - Ora, porque o delito o facto ilicifo e.@ot~tnea-
deste livro) ; os inipziberes, ignorantes de fraude e dolo, 5 18
taente cometido, &ejzldicial sociedade o.u aos particulares, d o tit. De obligalionibzrs yuae ex delicto nasczrntur das Snstitu-
resultam da vrios corolrios: I) o facto lcito no delito,
tas. Foi, portanto, demasiado cruel a aplicao da pena capital
posto que dele resulte dano para algum, uma vez que no baja criana que roubou a lmina do templo de Diana, apud
propsito de ofender, $ 4 e 5 do tit. De lege Aquilia das Insti- Eliano, Faria Histoha, liv. IV, cap. XVI. Porm, os pberes
tutas, visto que, segundo a lei 55 do tit. De regulis juris, Xo de vinte anos, nos delitos, so considerados maiores, e unidos
parece proceder com dolo quem usa do seu direito; z) tambm com as penas ordinrias, Ord. liv. 5,tit. 133, Man. liv. 3, tit. 88
no delito o facto ilcito cometido em insnia. furor ou total (Intitui~es,Do direito das pessoas, Tit. XIlI, S VII). Final-
embriaguez, on o cometido por erro ou ignorncia de facto mente [no] cometem delito aqueles que praticam um facto
ou de direito involuntrio e invencvel, ditos Q 4 e 5 do tit. De ilcito, coagidos ou amedrontados com violncia externa capaz
lege Aquilia das Intihitas, lei 38, 5 5, do tit. De poeizis, Heinc- de remover o nimo mais firme, Heinkcio, cit. $8 CIX e CXI,
cio, De jure Naturue, liv. I, cap. ZV, 5s CVI e se@., Filangieri, Martini, Jur. Xatw. Posit., cap. V, $ 3 183, r84, rS5 e Igj. 3 )
Scienza della Legislazione, tomo TV, cap. XXXVIII, onde ihi- A simples cogitaco no delito, lei 18 do tit. De poenis, por-
tra admirvelmente esta matria. Por conseguinte, no podem quanto todo o delito nasce duma coisa, isto , dum facto, o
cometer delito os mentecaptos, os fuiosos, salvo se constar que que est em oposio com a cogitao, pnnc. do tit. De obli-
delinquiram na interrrrp.30 do furor, nem os verdadeiros me- gatiofiibus quac cx delicto nascuntur das Tnstitutas: j a fenta-
lanclicos no entender dos mdicos, StrJlkio, De dementibus et titia. que se manifesta em actos externos, deve ser havida corno
mclanclolicis, nem os brios que no provocaram a embriaguez delito, merecendo, no entanto, punio mais suave, caso falte
e so semelhantes aos furiosos, pois agem desprovidos de inte- lei especial que iguale, quanto pena, a tentatiua e o efkto,
ligncia e vontade, nico principio das aces humanas, Bodin, Bynkershoek, Observaf. 111, 10. 4 ) No se respnde pelos
De jure circa ebrios, cap. IV, Becmann, De poema et jure ebrio- casos fortuitos, excepto havendo dolo ou culpa, 53 3 ti 4 do
rum, caps. IV e V. Na direito romano mitiga-se a fiena aos que tit. De lege Aquilia das Instituta (Tit. XI, 5, deste livro).
delinquiram por cama do vinho 0% da lascvia, lei 6, 3 /, do Por conseguinte, no se imputa ao capito da ilau a responsa-
tit. De re militari do Digesto. Nas, na Inglaterra, a lei aumenta bilidade do naufrgio, se ele no for cirlpado de o navio pere-
a pena aos embriagados, Blaskstone, tomo V, liv. IV, cap. 11, cer, pois, como bem diz, Tcito rios Anais, XIV, 3, yzlenz ser
3 111. De facto os embaagados, se fierpatraram glgldm mal, i50 rziquo que leve a conta d e crime unz mal ocasionado $ d o s
cometem injria, visto que foram causa da sua prpria igtto- ventos e $elas ondas? 5) No C deiito o jacto que, embora i&-
59
cito, no prejudicial sociedade ou aos cidados, e riu eliminado, e, porqple oculto e de prova dificii, escapa e m regra h
ofende o dircito dc outrem, como a cmbnagucz particular, a sevm'dade j u d ~ r i i a .Dern diz Sneca, no De ira, liv. 11, Cap. XXVII:
ambio, e a mentira. H, pois, que distinguir os pecados e Quanto mais extensa no E a regra dos deveres que a do direito? A
vcios humanos dos delitos pblicos e particulares (Tit. 11, quaizlas exigncias nos prcndem a piedade, a humanidade, a liberal:-
11, Nota, deste livro). Heinccio, De juve Nat., liv. 11, dade, a justia e a boa f, sem que nenhuma destas obriga6es figure
nas tbuas oficiais! O autor da obrinha De1 diriito S pzcnire, Cap. 11,
cap. VIII, 3 CLXII, Strykio, Us. mod., ad tit. De #riva6is de- $ VII, Tota 111, pretende deveras que se devem impor e exigir penas
lictis, 5 2, no fim, Renazzi, Elenz. Jur. Grinz., liv. 11, cap. 11, por todas as ms ac2ies humanas. ainda que internas e iuofensii-as
!i IV. para a sade piiblica e privada. Mas no se pode ensinar j u r i ~ p ~ d n -
Aprouve-nos, por assim dizer, anotar sumiriamente estes e outros cia mais absurda, cruel e funesia do que esta, para o gncro humano.
princpios do Direito Natural, e Pblico Universal, que se devem hau-
rir na prpria fonte, a fim de no nos metermos obra sem uma li-
geira ensaboadeh, como se costuma dizer. Pordm, os mais deles per- LIBERDAIIE CIVIL
tencem prudncia do legislador, que no pune os actos meramente
viciosce e os pequenssimos lapsos dc que quase nenhum mortal est
imune. Pufeudorf, De offic. hominis et civis, liv. 11, cap. XIII, 86 XI, $ VI1 -Nestes termos, segue-se, finalmente, que os cida-
XII, XIII e XIV. A este propsito disse bem Boehmero, tomo V, dos podem fazer livre e impunemente tudo o que no se ache
'Exercit. XCIV, cap. 11, $ 111: Se todos os uicios houuessem de ser especialmente proibido pelas leis da cidade; e este o efeito
casfigados ou contados como delitos, haueiia que eng'r uma infinidade necessrio da liberdade civil.
kie ttnbunais e aumentav o ncmero de ]uizes a irm ponto tio elevado
como o de mdicos para todas 4s doenas. Pwm, assim como qual- Chama-se liberdade civil quela qire compete ao homem no estado
quer fraqueza ou m disposio de corpo, ou qualquer deflo ou ex- sociai. Consiste na faculdade, que cada cidado tem, de fazer a seu
cesso no dormir, no comer, no andar, no requer imediatamente a talante o que as leis permitem, e resulta da confiana, que os udados
medicina. antes se algukm acaso andasse fao Zeu<anamentc, que todos possucm numa cidadc bem organizada, de que nada sofrei-o que 1%
os dias buscasse nela refiigio e tornasse a medicina eru alimento ordin- contra o seu direito. &ta liberdade depcnde muito especialmente das
rio, acostumaria o corpo por f o ~ m a tal que j nenhum proveito dela leis criminais, as quais, restringindo a liberdade natural, mandam que
obteriu, antes perderia a sua eficcia; assim tambm, se todas as fal- os cidados pratiqiiem certas aces, a omitam outras, estabelerendo
tas do gnero hrcmam, que as mais das vezes se cometem por defeito penas contra os seus violadores, Renazzi ut. nos Prolegomena, Pnn-
ou excesso, ou contra os trmites da honestidade ou os limites do ci+e Fondamenlnl d u Droit des Sowverains, tomo I . Genev. (Paris)
decoro, houuessem de ser punidas, a punio degeneraria e m cosfuf,re, 1788, pgs. 147 C seguintes.
que os homens seriam obrigados a deumar todos os dias. Mas quantas
perlz<rbqes no viriam dai! Quantos m a k s e contendas, com a firo-
pagaio e aumento infinito de rixas! Quantos haver que no se etcce-
dam na ambio de possuir, a qual, embora seja u m vicio, M o sofre DA COMUNIDADE DELINQUENTE
da mcula de delito? ... Tudo esn cheio de :!faqaquiavelistas. De facto,
no h injustia maior do que a daqueles q t ~ sendo, extrsmaw:ente 3 VI11 - Se urna comunidade comete um facto ilcito por
enganadores. fazem tudo para parecerem gente de bem, para usarnzos meio daqueles que a representam, deve ser havida e punida
das palavras de Cicero no De officiis, liv. I, 5 XIII. Contudo (prossc- como delinquente, visto ser urna pessoa moral e estar sujeita ks
@e ainda Boehmcm) este cancro n i o pode se7 fcilmente a~rancadoozi
leis pblicas da cidade, tal como uma pessoa fisica. Gundling,
De universitafe delinqztente, Leyser, De delict. Collegiorum, Strykio, Disput. De imfiut fact. alien., cap. V , n. j9; 3. os que
Grcio, De ~ U T E belli ac pacis, liv. 11, Cap. XXI, I1 e segs. no profbem nem impedem o delito, que de facto podiam e
( $ XXV deste tit., e Tit. IV, S: V). por direito deviam impedir, Grcio, De jure belli ac pacis. liv. 11,
cap. XXI, $5 I e 11; 4. o que cicntemcntc participou do delito,
O princpio extrado de Ulpiano que vcm na lei 160, $ I, do tit.
Ord. liv. 5, tit. 60, 5, lei j3 do tit. De fztrtis; j.os receptadores,
De regudis juns, o que fiblicarner~te f i t o pela maior parte, recai Ord. liv. j, tit. rog, lei I do tit. De receptatoribzjs do Digesto
sobre todos, smentc tem lugar nas causas cveis. (Tit. V, $ XIII, deste livro). Os que louvam o crime j feito,
e lhe do o seu assentimento, ou o ratificam, no so cmplices,
visto que no concorreram para ele, Coccep cit.. Os cmplices
QUEM SO 0.5 AGENTES so mais brandamente punidos que os autores, se faltar lei es-
pecial que os abranja na mekma pena. Blackstone, Comment.
I X - Delinquentes so tanto os agentes como os c u v - Legum Anglicarum cit., Discurso sobre las penas contrakido a
filices, pois comete verdadeiro delito aquele que de qualquer las leyes crimina2es de Espana por Don Manuel de Lardzzabal
modo causa rlo dano produzido. Dizem-se agentes no s os y lirihe, Madrid, 1782, cap. TV, 11, n. 32.
que perpetraram o facto ilcito, os que deram a sua assistkncia
execuo ou ajuda~amo seu autor por obras e factos, mas
tambm os que fizeram sociedade para cometer o delito r acor- DONDE DERIVA A OBRIGAO CRIMINAL, E O DIREITO DE PUNIR
daram entre si a prtica de qualqiier crime, Henrique Coccey,
tomo 11, Disput XXX, De soc. crim., $5 XV e seguintes. 8 X I - Os delinquentes so obrigados reparao do dano
e pena ( $ I1 deste tit.). E estas obriga~esnascem da coisa,
isto , do facto externo da leso, p ~ c do. tit. De obligationibsts
puae ex delicto nasczhntur das Institutas, sem que com isso se
exclua o consenso; com efeito, ao delito chama, e bem, Arist-
5 X - So ch;~zplicesos que, no tendo realmente perpe- teles contrato involuntrio na Etica a nicrinzaco, V , cap. 11, e o
trado o delito nem dado assistncia, contudo por qualquer modo Junsconsulto m a u contrato na lei 52 do tit. De re judicata, e
concorreram para se fazer o delito ou dele participaram, Trait lei I do tit. Si adversus ddelictz<mdo Cdigo. E, por conseguinte,
des delits, $ XXXVII, Blackstorie, Commerit. Legztm -4ngZica- da renunciaco dos direitos. que compctm aos cidados sobre
rum, liv. IV, cap. 111. E tais so: I. aquele qne mandou prati- si e sobre os outros, que nasce o direito de punir, qual tem por
car o delito; no entanto, este o autor principal, e no aquele fundamento um pacto social. Veja-se, querendo, Plato no Di-
que O fez, se sem esse mandato o crime no seria feito, Donello, logo I X De Zegibus, Caetano Filangien, Scienza della Legisla-
commenlarii, liv. XV, cap. XXXI, Heliger, nos comentrios zione, tomo IST, cap. XXVII, Princifie Foitdamental dz6 Droit
a Donello, letras Aa; 2. aquele que, no genricamente mas des Souveuains, tomo 11, pg. 141.
especialmente, exorta e aconselha ao delito, e com mau conse-
lho, ou premio, ou grandes instigaes convida a delinquir,
DEFINlAO D 4 PENA, E t M QUE DIFERE DA RESTITUICAO o seu crime: seja a uiolncia punida com a morte: a avareza. com
OV REPARAXO a mulfa; u umbicro das honrar, com a ignominia. Todavia, isto no
impedc que o legi~ladorpossa transferir com utilidade, e, em se ofe-
s
XIX - A pena 6, 33a definiqo de Grcio, De jure bellz ac
rec~ndoocasio, acomodar com prud&ncia, as penas prprias d r m
crime a outro gdnero de delito. Veja-se, querendo, i?Ionlej.quieu, Es-
pacis, liv. 11, cap. XX, 5 I, o mal do sofrz'naento, que infligido pril des Luix, Liv. XII, cap. IV, d'Alembert, EMnzents de Philoso-
por causa do mal d a acgio; a esta definio deve acresccntar- phie, art. VIII, e o autor do livro Saggio sopra la Politica e Ea Legis-
-se a expresso pelo superiur, para se distinguir da rjndictli pn- laiiome Romana, cap. VII, pg. 183.
vada. De Grcio aproxima-se WolI, ao definir assim a pena nas
Inst. IUY.iVat. et Gent. P. I., cap. 111, 4 93: Mal jisico a$licado, FINS DAS PENAS
por causa do mal moral, por aquele que tem o direito de obri-
xar. A pena difere da restituio, ou reparao da injria, em X I I I - O objecto das penas a seguuazga do lesado, a
que esta restituio ou reparao exigida devido leso do emenda do lesante, e o excilz$lo dos outros, a saber, para que os
direito perfeito, ao passo que a pena aplicada por causa da outros fujam de perpetrar cnrne semelhante, Grbcio, liv. 11,
violao da lei ( 11, Nota, deste tit.; Tit. VII, j 11, deste livro). cap. XX, 5s VI e VII. Tudo istri se contem nas seguintes pala-
for isso que na restituio se atende 2 quantidade da leso, vras de Sneca, De ctementia, liv. I, cap. XXII: Na punico
ao passo que a pena determinada, nKo tanto pela quantidade das o f c ~ s nas lzi seguiu estes trs objectivos qwe tambm o Prin-
da leso, como pela quantidade da nzoralidade com que algum cifie deve seguir: o u emendar a q u ~ l eque punido; O U com a
cometeu o delito. como bem diz Schrodt, Slstema Juris Publici pena deste tornar os outros melhores: ou, su#rzmindo os maus,
Crniversab, P. 11, cap. 111,3 111. E daqui resuita que o pupilo e fazer mazs segttra a vida dos restantes. E , pois, injusta a ain-
o furioso, embora no sejam obrigados pena, so constrangidos gana, e extremamente alheia ao ofcio, dignidade e humani-
reparao do dano, o mesmo autor no XVIII, Nota. A sa- dade do Imperante, pois s por i a vindicta no atinge a
tisfago abrange em seu Ambito a reparao do dano e a pena. emenda do delinquente nem a salvao dos outros.
Grcio, no mesino liv., cap. XVII, 4 X X I I ( j 11, Nota, deste
tit.). Elegantemente diz o mesmo 511eca no De +a, liv. I, cap. XXI:
Exercerei vingana, porque o meu dever, e no para obedecer ao
Porm, a pena deve ser, tanto quanto possvel, proporcionada ao nreu ressenti~nemto.Alm disso, s e p n d o Plato no Protbgoras, ~Veenhum
delito e tomada de harmonia com a natureza e ndole deste. Por isso, homem prudente pune, pelo delito em si, mas para que no se delin-
aqueles que ofendem a Religio, sejam castigados com os direitos que qiu. Veja-se, querendo, An~ttdes,na Politica, liv. VII, cap. XIII.
promanam do seu culto c obediencia: os que desprezam os bons cos- e Hobbes, De CIVE,cap. II[, S XI.
tumes e a honestidade de vida, desprezadw pelos outros, acabrunha-
dos de desonra e notados de infmia; os perturbadores da segusanp
E A SUA DIVISO
pblica, expuhos da cidade, ou privados da liberdade; os que ferem
a segurana dos cidados, e fies prejudicam o corpo, bens ou fama,
sofram penas corporais, levem penas peninirias, e sejam punidos com
5 XIV-A peria ou cnpitnl, e esta simflles, atroz, ou
a perda de reyiutao. Ccern di7 bem no De legibrrs, 111, XX: S ~ j a crael; cu no capital, e csta afkitiva nu no afliliva do corfio,
u pena igual ao ?na1 causado, de maneira que cada um sofra conforme pecuniria, honesta, vil, legitima ou arbitrria.
ESPRCIDS DA PENA CrlPITAL Euinpa c tambm pelas nossas Ordcna~escrimitiais, ainda que mais
Iiutriana;, c111 certos nialefiri,s ~riiiitogrdvti, corno a pt'Iia dr vivicoliz-
5 XV- A pena ~apiiilkdiz-se si:?zfiles, quando se limita hrzo nos crimes de faliificao da moeda, Ord. liv. j, tit. 12, rio iin
apenas a tirar a vida, como no caso da degolago ou do enjor- do princ., de sodonzia Ord. tit. 13, no p i n c . P $3 r r 2 , de coito caili
alinyia, na rnesmn (Ird., coix aicerzderrtes ou desce>cdentss, 016.
camentu; atroz, quando S acompaniiada de circunstncias que
tit. 17, no @c.. Porm, estas Ordenaes, alm de no estarem cm
aunentam a pena dentro das raias da humanidade e justia,
uso, parece devcrcrn-se eritcnder da queima do colpo apbs a morte.
como a confzsca~ode bens, os aoztes, o qucinzar ou farer em >'ara o cri:;ic clc lesa-niajcstade est especialmente decrcrada a pena
quartos o c o ~ p odepo*~d e rnorto, a proscrzco dn rrcemrz.r, de morte cn~eJria Ord. iiv. j, tit. 6: 5 y, ihi: morra r?orte natz~ral
etc...; e cruel, a que horroriza a prpria natureza, sendo assim cruelmente. Todavia, o advirbio crzt-i.r?ieizbeparece ali escrito em vcz
aquela que tira a vida lentamente, e no de repente, e no meio de atrorriienfe, porquanto o crime de lesa-majestade, o maior de todos,
de tormentos rebuscados, coino as de queimar vivo, matar com reclama realmente pcnas g~avissimas,milito mais a t r o z ~ sdo que o
aiiirples hnmiriaio oii o hox~iiicidioyzfahf~cadu.mas n l u pcnas cru6is:
dardos, setas, veneno ou fome, aoitar, at6 morte, com cor-
dc f a ~ t o ,drusmos eoitov qna conz o excessivu ligo7 da^ penas parea-
das ou varas, precipitar dum rochedo, entcrrar vivo, esq~iartc- :nos ter perdido o se~zii>izentoda hunzanidade, Nateris e BIably cit..
jar com ca-valos arnarrados aos meml>ros,e outras que o nimo Ntrilii h i electivanipntr, :;o di~foniirc<i;;io jioifr~r ao s,!jive;+iopoder
se horroriza em recordar. Julga-se o mesmo da pena de am- a s e v e d a d e da natureza, Clcsro, ud Qi*in!a?n Fratre;n, Epistola I, I .
putao dum rne~l~ro, que o prbprio Justiniario proibiu na 13, Disce~.au solire las fieioilp rit. cap. C; $5 TI, nn. 21, 22 e 23, c
Novcla 131,cap. lt. A cafiitnl siinple.7 e e acnpitnl otrnz so jus- 6 TV, n. g (Tir. VI, 5 S X : Suta, deste livro).
tas e necessrias na R~pblica,e dcvcm ser infligidas e aumen-
tadas consoante a qualidade e atrocidade do crime; mas a
cruel injusta e dificilmente ou nem mesmo dificilmente
admissvel. Antnio Mateus, ao til.. De fioenis, 111. 5 XVI - ;izurlt- cluii, qne eliiiiiila a \-ida civi! z os direi-
tos de cidnrla~iia, chama-se, e bem, pena capibal. Ela cai:
So ciinl~eridasai disputas de Ueccaria acerca da injustia das I ) sohrc o deportado, isto C, o proscrito (desnnturado), Ord.
p m a s capitais, no T r a i f i des d.iIib e t des pinos, S S X V I I I . as do
liv. 2, tit. 13, no priuc., e scmelharites; z ) sobre o relegado
Autor da obra De I'Elat naturel des Peziples, tomo 11, E'. 11, Sect. II,
N. I, caps. I, I1 e 111, e 2s de Paitoret, Des Loix $inales, tomo I . para sempre com confiscao de bens, visto que considerado
P. 11, cap. I, Art. I e scg., etc ..., assim como tambm as SeIas objec- deportado; e aqui deve notar-sc quc n palavra desteirar signi-
ces que ihes fazi:m o Autor de Instr~ictioP?t<ssiani CoJ. Jomz., art. 7 , fica simples relegac;o, c deporta~o; 3) sobre o condenado
no fim, hlr. Vernlcil, Essai sur les rdfuumes ir falre dans nutre Legisla- a crcere perptuo. E'ebo, 1'. II, Ljecisia, 155, Earbosa Ord.
fion Criminelle, P. I , rap. V, hlr. Bcmardi, Principes des luiz liv. 5,tit. 120, Valasco, Adlegntio 13,n. 38 (Iristitui~e,Do di-
nelles, tit. 11, $ 11, JIably, De lu Lgislation, tomo IX, liv. 111, reito das pessoas, Tit. 11, 4 s X I I e XIII).
cap. IC, pg. 277, Filuigieri cit., tomo IV, caps. SXX e XXXI, os
quais defendem todos a justiqa das penas capitais nos delitos muito Quem pode o mais, no pode d e k r de p d e r o menos, e , por-
gravcs. -4ctualmentc iodos os F~lsofoscu~icordamcom o que aqui se tanto, n.io cc deve dcncgar, cjuele que por direito pode tirar a vida
diz sobre a ncccssidade de se abolirem as penas mais que atrozes, isto
natuial, a lacuIda<le dc iirdr a vida civil. PorBni, 'sta pca, pela qual
6, as cruis. Contudo, elas so admitidas pelos Cdigos criminais d a se tiram todos os direitos de cidadania, smente deve cair sobre os que
deliiiiierri gravemente ofendendo gravt:rnznte os dirritos da cidade ou bens patcmoq j vcndidns e alienadw pelo fisco, riisln q r w antes quir
dos ridadjo;, Vermeil cit. cap. Xil. De rzsto. nn nos%>direito a pena ainpizar o seu pode? com a sisnpatia dos homens do que com a ahr'n-
de exiio perptuo nunca se entende sem prego cm aiidisncia ou de dncia de dinheiro, Jri 7 , 5 3. do tit. De bonis dumnatorum. Ora. para
bairro eni iiairi-o, Resoluo de z de Dezei~ibrode 1716, apud Novis- que a niiiita pccrrni~%~ srja jixta e algo prnporcionada, deve ser cxi-
'imo Kefiertcrio, tnimo 2 , fol. 201, sob a palavra Pena de barao. gida tanto aos pobres como aos ricos, no seagudo uma soma e quan-
Nota (dj. Siuna n c n i a c r n r i n . rm que todcfi os ridados guzam dc tidade fixas, visto que esta rio Icm igualdade iienhumz, nem a pena
rlireitos ignais, esta pena i muito til. e deve ser infigida indistinta- 6 igual cin to desipal foliuna, mas segundo ceda por$Zo de bens,
mente a todos os cidados; numa Anatocracia, sdmente aos Nobres, como, por exemplo, n ttrqa 01% quarta pari?, Pilangicii,
pois, se 6 exlio frx aplicado ao3 Pleheuq, que no possuem honras cap. LYXIII. Basta-nos, como exemplo dtiinonslrativo deste ponto,
nem votos, uma pena nula ou muitssimo leve. N u n a Monarquia a pena estabelecida para as ofensas nas Leis dfs Doze Tbuas, a qual
riitcnde Fiiangieri cit. cap. XYXV que esta pena iioci\a em todas niio iiicutia nlcdo ncnhuin aos homens audazes e endiilieirados: dcssa
e cada unia das ordens da Kepiibiica. Se entende Liern, rejam-no os Jri fila GPIio nas :Voies Aitiiae, XX, I . Mercce leitura o autor da
outros. obra supra-citada Discurso sobre las penas, cap. V, 8 Ir, n. 16, o qual
no reinado dr Carlos 111, Rei dc Caitrla, no hesilou escrever: Pero
de qtralquier natui.aleza que seas 10s Dienes, y por atroz qae sea el
PENA PECCNURLS delito, me u l ~ e i orin reze10 li decir, que es zcna cusa m u y irthrt~nanav
crucl, piecip:tilv cmz ia ~onjiscuciotlP Z e1 a6i~i)zgde la ?nZSeria i una
5 XVII -Entre as penas peciinirias cabe muito especial- familia inocente por 10s delitos que ILO ha cometido. g o temo hablar
mente a c o w j i s c n ~ ode bcns, que se conta entre os direitos reais, de e s h szrerle en zhsz tiempo en que tetaemos Ia dicha de aioir baxu 21
e tem lugar na falta de descendentes ou ascendentes at ao jeiiczsi;ito go~icvnode 2in Pnnctpe $iadoso y benigno, padrz riias qrte
Seiior de sm vasallos, y de quien sin lisonja ni adulucion algtana 9uede
3."grau, ou, mesmo havendo-os, quando a lei especialmente o
con toda aerdade decirse 10 que e1 zlustue panegirista de1 grunde Eliz-
iinpuser, Ord. liv. z,iit. 26, SF. 28, 29, 30 e 31,e liv. 5, tits. 126 e peradnv irajano deciu en otvo tiemfio: Es muy grande gloria para
127, Novela 134, cap. lt. 10s P ~ u p e s que
, sea vencido las mas veces e1 Fisco, cuya causa solo
es mala, quando gobierna un Principe bucnu, Pinio, Panegirico,
Incorrem ipso jure na pena de confiscao de bens tmto os cor.- cap. 36. Deve ver-se a Novela XVII, cap. XII. (Tit. XX, F, VII.
denad~is morte tiahiral ccmo os condenados morte civil, por forca deste liv.).
das ditas Ordcnaes quc dcvcm a sua origem mais aos coetumes e
lcis dos fcudos que as leis romanas. Mas hoje que se alteraram as HONROSA, OU VIL
formas de Governo e o5 Imperantes abundam em r:curjos. tiidos sa-
bem certamente qual o pensmciitu dos eruditos acerca das penas fis-
'cais [Insritui~iics,Liv. IV, N t . 11, 5 XIII, Nota). Bcccaria cit. 9
4 XT7111- A pena si1 torna infame o delinquente, e tal a
XVII, Gomrnent. ao nicsmo 5 XXI, tomo I da Bihlioteco Bn'ssotina,
de aoites, a de baraco e prego, o corte do membro, a conde-
'LTermeil, P. I , cap. XIII, Grcio, De jure belli ac pacis, liv. 11, nao, perptua ou temporria, s gals ori trabalhas pblicos.
cap. XS1, $3 M I' XVI, Sc5rodt, Systema Juris Publzc~ Uniuersabs. Ord. liv. j, tit. r3E, Febo, P. I, Arestos 147 e 148. A Jzoniosa no
tomo 11, P. 11, rap. 111, XXI e XXlI. E sem dvida que a huma- infama o cielinyuente, e como tal srmpre foi havida a dcgo-
nidade acoiiselha que se conscwe pelo menos a Icgtima para os filhos, lao.
e s a tera reverta em lucro do fisco, Remardi cit. $ VII, Trait des
c07ps politiqnes, liv. 111, cap. X. Foi, por isso. humadssimo o res- .\ inlrn;:~ deve ??r :i~ilic;iiIa nlis r'rlitos por sua natureza inf;~-
ciiio de Adriano em ia%-ordus filhos de Albino. aos quais concedeu os mantes ou como tais considerados pela opiniio dos homens, como os
furtos, as traij6t.s i'p :>rnips. rtc .. Ora, sl>~amenta ;e decrcta csia nem carregado de ferros, salvo em delitos muito graves e com
p u u aos delitos emanados da soberba, da amlrico, 011 da simulao prvio conhecimento de causa, Decreto de 30 de Setembro de
da virtudc c piedade, isto , da hipocrisia, a que cxtrtina~nentese 1693, apud. (3rd. liv. 5, tit. 95, Colcco 11, N. I.
opocm a inlkrriia, a vilcza e o ridculo, pois os roiitrrios so ciiraos
com os seus contrrios. Porm, PEta pena, gravissima para as pessoas
A qualidade do crcere ou custdia depcnde principalmente d a
lionradas, dificilmente coiliQn albwna utilidade para os celerados, quc
qualidade do driiiu e do dsliiiqueiite, pui5 nem todos pocin sr cn-
no iuarri do bom nome, e tarril>m para os homens de coiidro in-
carcerados do mcsmo modo: os traidores, assassinos e ladres devcrn
ferior, que poiico cstimam as preriogativas dos cidados t na(> tm
ser presos dc certa maneira, c 04 presos por motivos de correco,
noo a l y i n a da honra pblica. Convm, por isio, us-la cauicloa
doutra (Tit. IV, $ IX, deste li\..). PoiBni, ludo' devem ver os seus
e s i-arisimamcntc, porquaiiio, se ior aplicada iriiriiu atriiidc, ou d
proccs5os deterininados com a celeridade possvel (Tit. XX, 11, Nota,
ocasio a miiitos o u iioros crimps, ou pcidc a porico e poucc, a sua
dcste iiv.), a fina de que unia pena veloz szrbtraia os convencidos de
foqa, acabando por deixar da ~onstituir uma pena (InstituiyOcs,
ciime, ou uma longa priso no afliia os qz<e wzerecem a liberdade.
Liv. 71, Tit. 111, 5 YIII, e Nota).
lei j do tit. De custodia reorrsm do Cdigo. AlBm disso, humano o
que vem na lei r do mesmo tit. do C a g o : Entretanto no se deze
levar a juizo o ru preso com alxemas apertadas aos ossos, mas (no
caso de a qualidade do ceme exigir o %or das cadeias), deve ir com
cZas ddb maneira muito brasda, para qore rzo sofra tori+zentu e fique
$, XTX-A pcna de crcere pblico oc secreto, prrpktua sob firme custdia. Tambm nito se deve sujeitar o preso ris trauas de
ou temporria, mencioriada a cada pauso nas nossas leis. Cori- compartimentos interiores, mas conceder-se-lhe o alento e alNio da
tudo, sendo uma pena gral-e e muito ofensiva da liberdade na- luz i~aizsal;e quando a noite duplicar e custdia, deve ser recolizido
nos ueslibulos, crceres e enz lugares saudveis, e, 20x0 que nasa o
tural do liornem, necessrio, para que seja decretada com jus-
sol. ser conduzido para a luz natncral, a fim de no ser morto pelas
tia. o coilcurso de vrias coisas, cabea das quais mandato prrbas do C T C Z ~ C , O (jnb ~e r e c o n h ~ c cser ~ o ~ ~ ~ a s para
s i u oos ir~ocen-
do juiz, justa causa, isto , delito a que a Lei imponha tal pena, tes e no muito seuero para os culpados. Obsemar-se- tambm qu.
e processo legal, Ord. liv. 5, tit. 119. no princ., Xan. 42, Afons. no d lcito nem aos carcereiros nem aos seus ajudantes uender a sua
58, nas cluais se reprodmcin leis prudentssimas de D. Afon- crueldade aos acusadores, nem matar os inocentes dentro dos recintos
so IV, D. Pedro e D. Joo I. Todavia, nos delitos capitais dos crceres, ou consumir com longo enfraqriecimenlo os retirados para
o silc'ncio. Nu zrsrdade, no s o medo da opiiio, mas tanibdns o de
podem ser logo presos os de qualquer inodo suspeitos de crime,
perigo, recaird sobre o juiz, se de qualquer modo alga+%carcereiro
ou presos em rixa, sc parecerem ser os seus autores, devendo erauvir algum pelo fome para alm do deuido tempo. e nito sujeitar
ser libertados dentro de oito dia% se no se demonstrarem cri- logo posa capital aqireb a qscem cabe o ofcio de custdia e sctas
minosos, Extravagante de 6 de Dezembro de 1612, 14, que mitzistros.
chamam Da reforrnacio da justz~n.apud Ord. liv. 5, tit. 130,
Coleco I, X I, Decretos de 19 de Outubro de 1754 e j de
Alario de ~rgo.Porm. ningum pode ser retido em crcere se- O QUE B A HO3ENAGEhZ E A QUEM COMPETE
creto por mais de cincv dias. Decreto de f de Agosto de r?oz,
Drcreto cit. de 5 de Maro de 17<)0,4 z,assim como tambm, 5 XX -N2o so metidos rm c8rrerc pblico os nobres,
sendo o crcere seguro, ningucm pode ser preso com cadeias, que gozam de homenagem, isto 6, do direito de livre custdia,
a qual deve ser pedida ao juiz, e por ele pode ser negada, res-
aquela propor@o igual em nmero, que chamam aritmtica,
tringida ou ampliada conforme a qualidade do delinquente e
mas sim geomtrica. Vide Joo Clenc e Calinct, ao cap. XXI
do delito, Ord. liv. 5, tit. 120, Man. 67, -4ons. 94. (Tit. XV, TI,
do Exodo. Chama-se legitima aquela pena que 6 expressamente
deste livro). declarada pela lei, e arbitrria aquela que fixada, no pela
Em outro sentido izomenugz,nem significa o juramento de clicntcia. lei, mas pelo juiz, podendo esta, no entanto, ser legtima. se for
ou fidelidade, que o Vassalo presta ao Senhor, ou o Vice-Rei e o Al- deixada ao arbtrio do juiz (5 IV, Nota, deste Ttulo), como
caide ao Rei, mediante certa frmula que se acha nos livros da Chan- .muitas vezes sucede, 0x1. Iiv. 5, tit. 136,no princ., e 5 lt., no
celaria do Reino. Reseride, C~vrica de D. JOZO II, caps. XXYIi e fim, onde diz: us cofzdsila~izno degrcdu, que Ihcs bem $are-
XXVIII, Ruy de Pina, Crnica do mesmo Rci, cap. V, Ord. 12lan. ter, e norrtros passos. A pena arbitrria no se estende morte,
liv. I. tit. 55, f 4. (Hi-tria do Direita Civil l'oriugut.s, L,SXII).
seni especial permisso da lei, Ord. liv. j, tit. 135, onde vem:
J g desde D. Afonso I11 que os nobres gozam deste direito, que, a
pcdidu dclcs, foi aprovado por D. Pedro 1 nas Cortes de F.lvas, e -r E se for de idade de derussete atzos al vimte, ficiird e m arbi-
fim explicado por I . Afonso V, passando, depois, i s citadas Ord. SIan.
) trio dos Julgadores dar-lhe n pena total, ou diminuir-lha ...
e Flipina. QueSra-se a homenagem, se o ru se ausentar do local des- posto que seja de mmurle natural.
tinado, Ord, liv. 5, til. 120, 4, a, uma vcz quebrada, no se res-
titui, Ord. cit. $ it.. TYo entanto, por lei de D. S e b ~ t i ode z de Nnv.
de 1564, J 7. apu Leo, p. I, tit. 4, lei I, os lleemlargadores do
Pao concediam a sua restituio; mas hoje no assim, visto que a QCEM DEVE SER PUNIDO
faculdade de a conceder no foi declarada no Regimento Novo, como
ce fazia mistcr. Valasco, ddlegatio XIII, n. 235, Febo, p. I . aresto 5 XXIT -Apenas devem ser punidos os delinquente, se-
142, Mendes, Prazis, liv. C. cap. I, n. 21.
jam autores ou clbmpliccs ($I: IX e X deste Ttulo) ; por isso,
no devem ser castigados os filhos pelos delitos dos pais, Iei 22 do
PEX--1 DE TALIAO, LEGfTIJfA, E ARBITRARIA tit. De $oenis do Cdigo, e lei 26 de igual tit. do Digesto; nem
os herdeiros pelos delitos do defunto, Coccey, Pissert. DE obli-
5 XXI - A pena de talio no totalmente desconhecida gat. hered. F X delicto dduncfi, Sect. 111 e IV; nem os fiadores
das nossas leis, Ord. liv. 3, tit 60, 5, e liv. 5, tit. 85, etc... que, pelos delitos alheios, se comprometerem a sofrer uma pena
YTalio, isto , o direito pelo qzcal algzsm sofre o mesmo mal que a que no podem obrigar-se. Grcio, De jure belli nc pacis,
fez, no significa que se possa retribuir com um ma1 do mesmo liv. 11, cap. XXI, 3 XI, Ord. liv. 3, tit. 46. (5 VI deste Tit.;
gnero, por exemplo infligir um ferimento natural igual, e, se Instituies, Liv. 11, Tit. VIII, XVII).
for tomado i letra, no pode realmente ter lugar em todos os
delitos, quais os morais, mas to smente que deve haver ver-
dadeira medida e estimao do delito, e a justa reparao do
dano. iienrique Coccey, Disputa De savos. Talionis j i ~ r e , 111 ss DELITOS SELI PENA

c se@., Heinccio, 11rs Natwale. liv. 11, cap. VITI, 9 CLXV. Na


4 XXIII - E si~mentecievem ser ~>iinidnsos delitos cnnio
vertiade, a medida e proporcZo entre o crirne e a pena no
tais considcradcrs pelas pessoas ilustradas e n a pel:~villgo, e cuja
punio pode semir de exemplo e emenda do delinquente e aquele que, consciente do seu crime, se matou com medo da
outros, e, finalmente, os que ofendem a Repblica ou os cida- pena cruel ou ignominiosa, a que j havia sido condenado, no
dos. Por conseguinte, as artes mgicas, feiti~arias,sortilEgios, por se haver suicidado, mas pelo delito de que j fora conven-
prestgios, imprecacs, encantamentos, e o mais que se costuma cido, seguindo-sc a morte aps a pronunciao do juiz; C quase
designar por magia e vulgarmente se costuma atribuir ao poder igual a esta a opinio do direito romno no tit. De bonis corum,
dos demnios, devem ser contados entre os erros da plebe. Rieg- q u i mortem sibi consciverz~nt,do Digesto e do Cdigo, que a
ger, Jurisfirudentia Ecclesiaslica, P. IV, 3 CCCLXXXVIII e prd. Afonsina parece aprovar no liv. 5,tit. 79, Do que se en-
seg., Thomsio, De crinzi~zemugiae, Bodin, Dissert De faJluci- jorca, ou caae d'aruor, e morre. Na Inglaterra e na Frana,
bzis ~nagiaeindiciis. Por esse motivo, os feiticeiros e encanta- onde as leis so muito severas, este delito frequentissimo (Vide
dores no devem ser tratados como verdadeiros delinquentes, Code de I'Hzfmanit, palavra Szticidej. Do mesmo modo, a
mas como supersticiosos (Tit. 11, 5 XIII, Nota, deste livro), e usura e o jogo dizem-se, prpriamente, no apenas vcios, mas
fanticos, no devendo, por isso, ser punidos, mas antes pbli- tarnbkm delitos; no est, porem, suficientemente assente entre
camente escarnecidos e salutarmente instrudos. Filangieri, cit. os Polticos que penas se devem aplicar no foro, para os delin-
quentes e os outros se emendarem; o certo que se mostraram
cap. XVI. As nossas Ordenaes, liv. 5, tit. 3, Man. 33, Mons.
totalmente inteis a que at hoje sc acham estabelecidas nos
42, em que se piuiem alm da justa medida as feitiarias e en-
Cdigos de todas as Nayes. O mesmo dizemos do maqzliave-
caritamentus, fundamentam-se no erro comum e nas supersti-
lismo poltico ou religioso, pois, embora, para usarmos as pala-
ciosas leis dos Romanos, includas no tit. De maleficis et mat7ze-
vras do D e officiis, liv. I, 5 XIII, de Ccero, j citadas no VI,
maticis de ambos os Cdigos, e em Paulo, Receptae sententiae,
Nota, no haja injztstia maior d o que a daqueles que, sendo
liv. .j, tit. 23, $ Magicae artis conscios, e nas leis visigiicas, liv.
extreazamente engaaadores, fazenz tudo fiara parecerem gente
VI, tit. 11, De nlaleficis, nc constllentihzts eos, atqrte uenificis; de hern, este cancro no pode rer arrancado pelas leis; em boa
por isso, aquelas Ordenaes pareccm ab-rogadas pelo desuso. verdade, est tudo cheio de Maqniavelistas. Bem, pois, diz T-
Comete, porkm, rerdadeiro delito aquele que se suicida por t- cito no livro 111, 5 53, do Anais: no sei se aos edis no Ehes
dio da vida, ira ou consci2ncia do crime, pois a morte volun- feria aconselhado antes a deixarem correr estes vicios acredi-
tria um mal moral, que no se pode eleger, Wolf, Plziloso-
tados e a?ztzgos d a yzce sujeitarem-nos a o desaire de mostrar-
fihia Noralis, 5 CCCXL e seg.. Mas, pensc-se o que quiser da
mos a ~zossui~nfiolnciaperante estas vergonhas ( 5 VI deste
moralidade da a c ~ o hoje
, defendida por muitos Zenes, como Tit.) .
o Abade de S. Cirano, fiait sur le szticide, Maupertuys, Essai
de Philosofihie Morale, etc..., cste delito impune, quer porque
o seu autor deixa de estar sujeito ao poder humano, quer por- PENA SEM DELITO
que, se o amor da prpria vida, dos fiIhos, mulher e parentes o
nau dissuadiu de seu acto, muito menos o pode disiiadir a apli- 5 XXIV -Algiimas vezes h pena sem delito, e isto acon-
calo da pena aps a morte, Mr. Vermeil, pg. qz,.Renazzi, tece: I) quando o juiz, contra a prpria cincia e conscin-
liv. I, cap. X, 5s VI, VII, VI11 e IX. No entanto, deve-se punir cia, mas vista de provas judiciais, condena o r&; 2) quan-
do sobrevm argumentos mais verdadeiros que demonstram se- I e seg. do tit. De fioenis, atendendo causa, pessoa, lugar,
rem falsas as provas que constavatn dos autos; 3) sc se vir que tempo, qualidade, qzcankdade e efeito, o que tudo bem explica,
a pena foi infligida por dclaiies, sugestes ou boatos maldosos entre os criminalistas, Antnio Mateus, nos Prolegomena,
que espalharam sobre o crime, e que so as principais artes de cap. IV, n. 2, e ao tit. De fioenis, cap. IV. Atenua-se a pena,
prejudicar que sobretudo os fanticos utilizam, ou ento por olhando idade, sexo, dignidade, e sobretudo ao grau do dolo
impencia oii engano do juiz. As vezes sem delito costumam ser ou culpa, e a outras circunstncias que parecem diminuir a
punidos, pelo delito de uma comunidade, os inocentes, ou tam- atrocidade do delito e devem ser prviamente consideradas.
b ~ nos que so presos em algum motim ou sedio, cum o fim Porm, isto respeita aos Imperantes, a quem pertence determi-
de se prevenir um $erigo, como diz Ulpiano na lei i,, 3 9, do nar certas penas mais brandas ou mais pesadas, consoante a
tit. De injzhsto, rzrpto. Semelliantemente, sem crime, os filhos qualidade do delito, pois os juzes no podem diminuir nem au-
dos rus de alta trairo so notados de infmia, e privados dos mentar as penas legais. A estes smente foi permitido que na
be~ispaternos pelas leis de quase todas as naes; porm, a i?zter$retaco das leis antes adogasse~nque agravassenz as fie-
este mal no chamam pena, rnas infortnio, por entenderem nas. Hermogeniano, na Ici 42 do tit. De poenis, Grcio, De juye
com Ccero, na Epstola XII a Bruto: realmente crzlel sofre-
fielli a $ a ~ i s ,liv. 11, cap. XX, 9s XXV e XXVI.
rem os filhos pelos crimes dos pais; ?nas to preclara dispo-
sitio das leis foi tomada para que o amor dos filJaos turnasse
os pais mais amigos da repziblica (Vide Tit. 111, g 11, I11 e IV, No se deve pIocurar nas penas uma igualdade to seca como
nos pcsos e ~ c d i d a s ,Rem, pois, diz Ciccro, na Epstola XV a Bmto:
deste livro). Quase por esta mesma razo decretaram os Padres
H d u m it?~ra:cna pena cojno nas restantes coasas. Por isso, devem-se
do Conclio de Toledo, Causa XV, questo VIII, cnon 3, que punir mais hrandamente os dclitos com~tidospor ignorncia, ainda
os iIhos dos clrigos impudicos ficassem adictos como escravos que no dcstituida de toda a culpa, ou por fraqueza de b i m o dif~cil-
s igrejas que estes dirigisem. Seguirem os filhos a condizo rrierite upcrisel. E estas so, eulrc outras, as causas intrinsecus (para
livre ou escrava das mes, haver quem na sociedade civil sofra ilizcriiios com Grcio, Ue jure belli ac paczs, liv. 11, ap. XX, $5 XXV
incmodos quando outros gozam de vantagens, e haver pdn- c XXVI), e atenuantes, que costumam d~iiriinulra p m a da lei. As ex-
cipes l~unsou tiranos, e uutroo rnales e misrias, a isto no se frinsscas preveni o11 de notix,eij. serviqoi. que n drlinrlucnte haja pres-
deve chamar pena, mas infortnio e calamidade pblica. tado Repblica, ou da grrndc csperanca de que os venha a prestar,
ou de outra circunstncia que o recomende, ou do nmero dos rus,
Outros exemplos dar Boehmero, na Exercit. De poena sine
como, por exemplo, se a cidade se enfraquecer com a multido dos
crimine. implicados, ou nela se lcvantarcm grandes tuniultos. Cabe aqui re-
ferir muito pri~icipahncnteos delitos de uma comunidade ( 6 VIII dcstc
Tit.), e m cuja punico se deve fazer com que o rcmhdio no seja
QUAh'DO SE DEVE EXASPERAR OU MITIGAR A PENA mais grave que o pr2pno mal, e no seja igual a condico dos culpados
e inocentes; de\-e regular-se tudo por forma que o medo atinja a todos,
e a pena a poucos. Grcio, liv. 11, cap. XXI, 9 VII, Schrodt, Systema
5 XXIT-A pena 6 agravada e exacerbada confonrie a Juris Pxblici Dniversalis, P. 11, cap. IV, S X, Pufcndorf, De Jure
gravidade tlo dclitci, pors esta corrlo q u e 6 a sua r t i e r l i d ~I? .A gra- Nalurali et Gentiuw, liv. V11I. cap. 111, 5 XV. (Tit. XIS. 6 IXI.
duaco da medida faz se, como diz o Jurisconsulto na lei 16, Nota). O dogma dos Esticos de que lodos os delitos sZo iguazs, Ci-
cero, Paradoxa, 111, bem confutado por Horcio, no liv. I das S- uma certa dapensa da lei. dispensa que necessriamente injusta,
tiras, 111, v. 77 c seg., 117 e scg.. enquanto suhiislr a rnzn e jiistia da mesma lei. nevrrn ler-se Filan-
gicii, .%:EI~zL~c!ella Lgi>ii(:io::~,tomo 1 V , mpS. LVI C. LVII. a obra
Por que os setbs pesos a bilola c x a ~ t a intitulada De i'Etad natz~valdi-r Pcz~plss,P . 11, Sict. TT. csp. IV. :i. I ,
No emfirega a razio, irxpondo ao ~ ' i c i o Thomsio, Disiert. De jure agpaliationas Principis circa pocnanz ho-
Propofcionadn pena qrce o refreie? inicidii, Mably, liv. 111, cap. IV, pg. 291, Pastore:, Des loix pna-
les, tomo I , P. I, cap. IV, etc ... Numa 3Ionarquia a lei deve condenar
Deve. pois, norma haver que justa pena os delitos, e o Prncipc perdo-los, opioio esia quc de Montesqiiicu
Aoz de!ztos rrrogus, e no golpeie rio EaFs 3tr Loiz, li\. VI. cp. LVIII, m a s Fiinngie~i ichatc .-o111
O que de ajoutes mdicos J digno ( I ) . justia e razo no cap. LVIII. Porm, esta questo paieceu to difcil
a J. J. Rousseau em seu Du contract social, liv. 11, cdp. V, que no
ousou decidi-la. Por mim entendo indiscriminadamente que o direito
de agraciar no s toler-el, mas at til F necessrio em toda e qual-
qurr c<dade em que as leis criminais sejam demasiado severas, Paulo
XXVI - Por diieito os magiitradoi nZo podem perdoar liizzi, .i~i:medr:ers. ad Criminaleni J:irz+riido~ztiai?r. L)t.soirt. Da f i r i ? ) ! .
ou comutar as penas, pois s aos Imperai~tescompete o direzto rnsnszr., PuIzndorf. cit., c De offic. homi?z. e l . civ., lic. 11, cap. X I I I ,
de agraciar, no Iivre e absoluto, ou, como dizem, por plenitude 5 XV. (Tit. XXIII, S. 111).
do poder, que acima das leis nenhum, mas apenas por causas
justas conformes s mesmas leis. Entre ns a comutaco das
penas e o perdo do delito so despachados no Desernbargo do UEVEKSE PREVENIR OS DELITOS
Pao por El-Rei, e em nome dele cxpcdidas as cartas, Ord. liv.
I, tit. 3, $ 8, Regimento do Pao, 3 22, Decretos de D. Joo 3 XXVII -, por isso, melhor antever e precaver os de-
IV de 27 de Maio de 1645 e de D. Jos I de 6 de Jiilho de 1752. litos que puni-los com penas justas. Porm, os dclinqueiites de-
Exceptuam-se os crimes muito atrozes, que no podem ser per- vem ser castigados sem remisso, no por haverem delinquido,
doados, enumerados nos $ 3 18 e 19 do citado Regimento, nos mas para que de futuro tanto clcs como os oritros 1120 o ousem
is$ 10 c II da citada (3rd. ltimo, Ord. liv. 5, tits. 52 c 53 no fazer; e assim se previnem os delitos ( 5 XIII deste Tit.). Que
princ., tit. 54, no fim do princpio. Vejam-se, querendo, Portu- meios se devem empregar para essa preveno, e que leis eccn-
gal, De do?zntiortibus, lio. 11, cap. 18, Febo, P. TI, A ~ e s t o186, micas e polticas parecem melhores para se conseguir esse nobi-
Cabedo, P. I, Decisio 75. lssimo fim, assunto que respeita sabedoria do legis!aclor, e
O direito d~ infligir e agraciai- penas s pcrtcnce ao Tniprranlc; e i.
no cabe a ns defini-lo. Para mais ampla informao, reja-se,
csta precisamente a opinio de Grcio. Pufendori e todos os escritores eritrc outros, Fiiangieri, cit., cap. LIX, Mably, tomo IX, liv. 111,
do direito natural e til-il, a qual, no entanto, no tem hoje total acei- cap. 111, e IV, o autor De l'E'tat naturel des Peufiles, tomo 111,
tao pblica. O que todos adinitem que o perdo dos delitos smente p. 111, Sect. 11, cap. I e seg., Blackstone, S t ~ rles Laix Angloises,
se deve conceder por grandc causa pblica, pois a agrnciaXo contm torno V I , cap. XVIII, Renazzi, Elententa Jwris Crinzinalis,
iiv. 11, cap. XIV, Brissot, Discours. ~lloyensde p~kdenir Zes
(I) T r a d u ~ o de Anfnio Luis de Seabra, r846 (hTota do tradurnr) crimes, tomo VI da Bibliotizyue P:zilosopizz'que.
AXIOMAS CRI4IINAIS OKDENAOES --ROGADAS PELO DIqSUSO

XXVIII -Esta nossa obra, por maior que seja o seu 3 XXIX -E daqui resulta que as leis criminais excessiva-
valor, assenta, por assim dizcr, nos seguintes axiomas de direito mente severas se entendcin ab-rogadas ou pela vontade e coni-
criminal, que ningum de so aviso poder pr em dvida. vncia dos prprios Imperantes, visto que no exigem a sua
I. melhor deixar impune um crimc que condenar um execuro, ou pelo desuso. E tais so entre ns as Ordenaes
inocente; por isso, maior dano vem sociedade da condenao do liv. 5, tits. 3, 13, 14, 15, I;., 19. 25, 26, 32, 36, 38, 60 no princ.,
dum ulocente que da absolvio dum culpado. 0, 55 7 e ro, 69,70, 79. 80, 82, 86, 5, 90, 92. 93, 94, 100, 101,
2. Antes da sentena condenatna o ru dcve ser havido
109, 123, 133,e muitas outras de que falaremos em seus luga-
como inocente. res, as quais, no tocante ks penas, so injustas e atrozes, para
3. No foro criminal apenas se deve admitir a prova pIena no dizer crukis, pois no observam a devida proporo.
e perfeita. E, realmente, no receamos dizer ousada e confiadamente o
4. Quanto maior e mais grave for o delito, tanto maior que sentimos, neste reinado de D. Mana I e regncia de D. Joo,
deve ser a prova. Prncipe do Brasil. Fazemos, por isso, nossas as palavras de
5 A pena n infligir deve ser inteiramente proporcioriada Don Manuel de Lardizabal y Uribe, autor do Discurso sobre
quantidade e gravidade do delito e B maldade do delinquente. Ias penas cori.tral~idoa las leyes criminnles de EsfiaGa, por ns
6. No h delito nenhum sem vontade certa de delinquir. acirna transci-itas na Nota ao $ 17,e que no se ajustam mais
7. A sua medida o mal causado sociedade. aos Reis Catlicos Carlos I11 e IV do que aos nossos FideIs-
8. Na imposio das penas srnente se deve olhar B titili- simos e Clemenlissimos Reis, pois estes governam no como
dacle pblica. tiranos e senhores, mas como se foram pais e mes de seus
9. As penas foram estabelecidas, no tanto para punir, sbditos. Bem e a propsito diz Plato no Dilogo I X do De
como para prevenir os crimes. legibz~s:F a ~ a n z pois,
, as cidades as suas leis, por forma que o
10. Srnente se devem castigar os verdadeiros delinquentes
legislador dese;npeniie totalmente o papel de pai e me, e as
ou os quasc delinquentes suas deterizirzaces antes fiossuam a virtude do amor e da $r*
dncia qzle a d e seizhor e tivano, que afiegzas ameaa e deter-
11. 32 justa a pena que impede o criminoso de voltar a
m i ~ z a ,selu dar razo a s u l ~ ~ t a m e n tnenhuma
e do que manda.
fazer o mal.
12. E , pelo contrrio, injuta a que for intil ou cruel.
13. A atrocidade das penas gera a impunidade e a indul- Devendo as leis adequar-se ao clima, gnio c costumes dos povos
e t e m p s em que so proniulgadas, facilmente todos vem que so
gncia do delito, que so as coisas mais funestas que h para a
modificveis as leis, que, por ajustadas a esses tempos, tiveram natu-
sade pblica. Pastoret, Des loix pf:ales, tomo I, cap. 11. Vrios ralmcnte por fundamento ou a fora das circunstncias ou os precon-
outros axiomas vm em FiIangieri, tomo IV, P. 11, cap. XXV ceitos e opinirs do vulgo. De facto, quem no se riri hoje do que se
(Tit. XVII, IV, deste livro). acha escrito na Ord. liv. 5, tit. 3, acerca de feitiarias, encantamentos,
filtros e predio do futuro; E que juiz to severo, para no dizer
estulto, condenar a morie uma pobre mulher pelo facto de ela tirar
duin lugar sagrado ou profano uma >rrira de aia para Eazer teitiyarias? dceis com os teiitfios aqzielas que fornm exigidas por algotmas circrrns-
No cnrmlo, esta a pena estabclecida n a ~ricncionadaOrdenaqo. E td?zcia.s. A s que toruiir j~ztas sla paz, aio mz<itus 7 ' P Z C E oh-rog~J<zspein
quem ousar tambm condenar os sodomitas, os afeminados, os se- guerra; e as que foram produzidas na guerra, ab-rogadas pela par; tal
dulores, e os adlteros, com a? penas capitais de vivicomhrio, con- quul;ne~aleno goverwo dziina szafc hd coisas que siio fiteis para o Dor>%
fiacao, infmia dos filhos e outras estatuidas nos citados tits. 13, 25 e oidtrac $uva o ;nati terizpo. (Vid. Schasrio CEsar dr bIeneses, Suma
e 32. Nesta mesina Oid. til. 38 E permitido ao niando marar impune- Politica. Ti?. 111. cap. TIII. 3 4 ) . Bem diz tambm o autor da obra
meritc a muilicr c o adltero plvheii, :nas no. se estc tor nobrc, cli- intiiulada Uisci!rso sohre las pelias contmhido a Ias leyei cnmi>zales
fe~-eiip.esta inepta a mais no poder ser; e tambm permitido ao de Espalia, pag. 71: Es verdad qae nliestros Engiladores clnmnir contra
masido. se acaso for rndruco, a g e s a r a si auxiliares c confirir a outros e1 !zo uso de !as ieyes, declarando. que todas las Eeyes dei Keyno, que
a exccuo da vinganca, o que numa cidade bem constiiuda no deve expwsasnente no se hullan derogadas por otras postauiores. se deben
de modo a i p m tolerar-se, porquanto, segundo Quinliliano, Dec!amaiio obseruar literalnzente sin que pueda admitirse ia excusa de decir que no
XIII, recebemos magistrados e lets, pura que ningtr~nsejn viszgador cstan elt uso. Pevo u pesar de tan exprera voljwztad repetidas veces
da sua prdprin dor. E finalmente, quem c<indeiiar forca aquele que declarada pov 10s Sobera>sos. lu eiperiencia nos hace ver fi~aclicamenbe,
impsudentcmcntc fiirtou um marco de prata ou outra coisa de igual que son izuchisimas las leycs penales. que sin haber sido derogadas
valor, ainda quv tal pena esteja fixada na Ord. tit. Go? Em boa ver- por olras, estafz inlerameiite sin uso alguno, dando ltdgar por este mo-
dade, no podem vigorar perptuamente a i leis ocasionadas pela ikdo a1 arhitrio de 10s jueces, y 10 que es p e a , sirr que esfos le tengan
g u e m ou pelas frequentes incursc; dos inimigos ou cidados. Rlanda para dexarlo de hacer asi. No habra liuy por exemplo u n juez, que
a Ord. liv. 5, tit. 41, codar as mos e atanazar o escravo v i ~ oque i e utrelia a +irandar corta? 1a lengua a1 blasfemo, y lu mano a1 ercribimo
matar o seu senhor. Esta mesma 0i.. manda decepar as mos ( 2 ) falsario, sin einba~gode que estas son lus penas imprrestas a estos de-
au esclavu que arraricar alguma anna contra o scu :senhor, mesmo litos por leyes que ?LU estan expresainenLe derogadas por otuas; y s
que no o fira. Scmclhvelmente, se amputam as mos ( 3 ) quele que hztbiera alguno, que quiriera reszacitar esias leyes, creo seguramente
ferir algu6m no rosto, e quele que, estando preso em crccrc pblico, que 10s tiibunales strpenoues revocarian la seniencia, y el juez que la
ferir qualquer pessoa que na mesma cadeia estiver, Ord. liu. 5 , tit. 35, o publico por cruel e temerano. Hallanse
dt pasaria en e1 c o ~ z c e ~ tde1
($5 h e 7. Com igual pena deve ser punido aque!e que. nriesino sem pues 10s jueces y tnbenales por defecto de la legislacios en la fatal
ferir, tira a m a s para ofencr algum quer na preeua d'El-Rei ou necessidad y dura alternativa de srbfrir Ia suta de inhtsmanos, i de no
no seu Pao, quer no local e cidade onde estiver El-Rei ou a Casa obserriar las icyes, qf!e han juuado cui;?l>l:r. reja-se o Alvar dc
da Suplicao, (3rd. liv. 5, ti:. 39, I e 2. A Ordenao do liv. 5 , D. Jos I de 12 de Maio dc 1769, no prefcio.
tit. 133, e suas concordantes, que falam dos tormento?, no esto hoje
em vigor, mas ab-rogadas somente pelo uso, e no por lei especial. E
apenas isto me apraz anotar aqui: o resto ver-se-6 do quc bavemos
de dizer. Diz bem Valerio, eni I.ivio, X'LXIV, 6: Assinz como confesso
que nenhuma das leis, que foram prornzilgadas para seruirem perpitua
e >riutempoririamente por causa da sua utilidade fermanente. deve ser
ab-rogada, se o uso o mio impuser ow o estadu da suiiedade a no tornar
inzitil. assim tambm cejo que so (para as~iw dizer) moriais e ?nu-

(2) A l i i a , uma d u mos (Nora do tradutor).


(3) Aiis, uma das mos {Nota do tradutor).
prio, tornam esse nome os delitos que especialmente ofendem
a Deus, ou a religio dominante no Pas, quais, para a Religio
Crist, no todo ou ern parte, as dest:rcas, a blasftlain, o perj-
g o , e o sacriiz'gio.
Cumpre separar aqui os pecados dos delitos, conformr j acima
advcrlimos no Tir. I , VI, pois dcvernos chamar drlitos cclrsisticos
TITULO I1 apcnas hqueles rnalefcios que se cometem contra a ReligiZo pblica
e o bem da Igreja. Por direito prprio, pode a Igreja punir estes delitos
e pecados com a privayo dos bens c dficilos de yue alis os estiio
DOS DE1,ITOS ECLESIASTICOS E SUAS PENAS P ~ o u i d u seaqua~ztomerizbmr d~ Ig~ejaCristil, Riegger, Javis$rude7ztPa
Ecclesiastica, P. IV, 5 CCXLIV, Tridentino, Sesso XIII, cap. I De
rofounza:losc. Cumpre tarrb6iii separar aqui a juiisdi~o prdpria ria
OS DELITOS ECLESI.4STICOS CLASSIPIC.41f SE COMO PCBLICOS
Igreja, que lhe foi ct>uccdida pelo dircito divino, da imprdpea que Ihc
foi concedida pelos Pnncipes rias causas criminais dos clrigos ou dos
I - Entre os delitos pblicos, que ofendem a sociedade leigos, mcsrno nas coisas conceniintes saivao c foro civis, juris-
e a segurana p6l>lica,podendo, por isso, ser acusados por qual- diio esta que, em qiialquer caw, Ihe pode ser tirada, e que erer-
quer particular (Tit. I, 11), cabem muito especialinente os cida em nome do Prncip. Fleiliy, Institutiones Juris Ecclesastici,
eclesi~sticosou religiosos, de que nos cumpre falar antes de P. 111, cap. XIV, f I.
mais. De facto, estes delitos devem ser punidos com penas ede-
sigsticas e civis, por isso que no so mcnos funestos para a .4 IGREJA POR DIREITO PXOPRIO IIIPOE PES.4S CANONICAS
Igreja que para a Xao, a qual dificilmente sc pode conceber
sem alguma religio verdadeira ou falsa. 9 I I I - Pode, portanto, a Igreja impor pelo seu direito
penas cannicas, espirituais, e nzedicinais. Aos contumazes
Sohre os delitos pata com Deus veja-se inteiramente o quase di- tirado o uso dc todos o u algo~nsbens esfiirituais, erzquaato no
vino Dilogo X do De legibus dc Plato, que a ningum suspeito.
se enznndan? d a sua contumcia, mas no o uso dos bens tem-
porais, porque estes promannm do poder civil e no do ecle-
E QUAIS SAO sistico. Semelhhelmente, inlpe a Igreja por direito prprio
penitencias pblicas ou partictiIures; mas ningucm era cons-
$ I1 -Chamam-se delitos eclesisticos, em geral, todos trangido por meios externos e violentos a ciimpfi-Ias enquanto
os que se cometem contra Deus, os que contrariam a religio estiveram em iiso. Sran-Espen, Jur. Eccles., P. IIT, cap. TI,
comum do Pa, c, finalmerite, os que atentam contra os bons tit. 11, e no tratado De censuris, cap. X , Riegger, Jurisfimd.
costi~mes,as !eis divinas, as naturais, e at as civis. Xeste sen- Eccles., P. IV, desde o DXLIV, Eybel, I~ztrod.Jzw. Ecclssiae
tido todos os delitos se podem chamar eclesiisticos, e esto Catholicae, liv. 111, caps. 11, 111 e IV.
sujeitos, no foro da coriscii.ncia, punio da Igreja, s peni-
tncias, cerisuras e pcrias cannicas. Porm, em sentido pr6-
por direito plenamente os convcnqa. Realmente, a disposio
que manda que todos tenhavz como injames e banidos os que
3 IV - A heresia, isto , a defesa fiertinaz d u m dugma com- se tornem notados de simples sztspeiZo, se a ~ n a n d a d o da
denado pelo jztzu da Igreja Uilive~salc contrrio ao Simbolo Igreja, conforme o teor da suspeita e a qualidade da pessoa,
da fe' cailica, Causa XXIV, Qiiesto 111, cnones 26 e 27, C no demonstrarem a sua inocncia c o m adcqttada jztstificago,
um crime gravissimo tanto ecclcsistico como civil, e deve ser Autntica Gnzaros I do tit. De haereticis do Cdigo, e
punido seguncio o seu direito, quer pelo poder eclcsislico, qucr cap. 13, $ 2, dc igual titulo das Decretais, excessivamente
pelo temporal, com as respectivas penas. dura, para no dizer cruel, e no outra cuisa seno uvza 9Ls-
sima iitvenZo fiava ofirhnir i. calraiziar impunenzente os
IIcnrique Coccy na Uisscita$o cspecial De jura ~ i r c ahaerelico,, liomens ainda os melhores e mais ortodoxos, como diz Riegger
e lhom-io, in Pvobls?r~ujxrirlicuin: .ln rtasvcsis sit cri?*~cn,eic.; nc-
na Jztris$rud. Eccles., P. IV, S CLXCII; 4) os que, su$osto te-
gam que a heresia seja um crime, porque o delito smente cometido
por uni acto da vontade e rnm dolo ou culpa. c no por um alo da
nznnz alguma ofiinio falsa e fiervertida, todavia a no defendem
rntelignciu e s e u dulu. PorC.i;i, ccta ncgaiiva atinge aprnas a here-ia coin pertinaz altinzosidade, C a i ~ aXXlV, QuestSo 111, cnone
~nazerz~zl,qiic nascc dnm c11.o invo:untirio, e nau a f.irw:n:, que roriii;tr 29; mas smente os que, advertidas, resistem contanzaznzeate,
na clrsn livre, voIuntiria e pertinar diim dogma condenado, pois csia e no yzlcrcnz emcndur seus fiestiferos e 1i10rtferos doginas,
contiirncia asscnta num acto da vontade. Por coiise,-nle, a herr- na mesma. Causa e Qiiesto, cn. 31; e, fiualrnente, j) os que
Fia uni crimc pblico cclcsiistico, visto que interessa a toda a Igreja
ofendem a Divindade e a religio comum enquanto cidados,
que perinarirta inlacld e iii\iulada a vaidade da RelipiZo ddiiria, e uiii
e no enquanto homens. Filangieri, tomo IV, caps. XLIV e
crime pblico civil, visto que se entende que todo aquele que ofende
WJ drspreza a religio pblica dcstibi os vnculos mais furtes da socic-
XLV, usa, e cxplica bem e sbiamente esta distino, como con-
adr. Ccero, De natura deorum, li^. I , S: 11. E, embora nem as penas vem a um escritor cristo, c ajusta-a ao foro externo.
cannicas nem as civis possam dobrar a vontade daquele que cri.& c
traz$-lo verdade, todavia, para podcrem ser bem aplicadas, basta
que faam coin que, de futuro, ningiibm ouse espalhar rrros seme-
A QL"EST;IO DE DIREITO PERTENCE A IGREJA E A DE FACI'O N A 0
filantes.

5 VI -A questo de direito, isto , se o dogma professado


QUEM E HEREGE pelo ru ou no hertico, pertence apenas Igreja; a de facto
no assim. Por isso, a dvida sobre se o ru perfilha nm dogma
5 V-Por consequncia, no devem ser havidos como j declarado falso pela Igreja, uma questo que bem pode
hereges no foro civil: I) os inficis, visto estarem fora da Igreja, scr tratada no juzo secular. Riegger, Jurzsprud. Eccles , P. IV,
cap. I3 do tit. D e haereticis do Liv. 6."; 2 ) os que, em matrias 5 CCXCVI, Ord. liv. 5, tit. I, !j lt. ibi: Porque a Igreja no t e m
adiforas e disci@linares, divergem da opinio de muitssimos aqui que conhecer se erra n a f, ou no (Instituies, Do Direito
Telogos e Canonistas, lei 3 do tit. D e paganis do Cdigo, lei z, Pblico, Tit. V, S VI).
r , do til. D e haereticis do Cdigo; 3) os suspeitos na f, a
no ser que incorram em gravssima e violenta suspeio que
PENAS CANONICAS CONTPd OS HEREGES I'LNAS CIVIS I?.lPOSTzlSPELO DIREITO COlIU?rI
CONTRA OS I I E R b G E S
3 VI1 - penas cmriicas, que a Igreja por direito seu
usa contra os hereges, so: I) a e.xcornuwkao maior proferida 5 IX - Pelo ciireiro comum foram estabelecidas penas civis
ipso jure e reservada ao Papa, se,-do a Constituico cle Gre- realmente demasiado severas contra os hereges. Tais so: I) a
grio XIII, que comea Ojjiii nostri do ano de 1576; 2 ) a $ri- infmia que se transmite aos filhos e netos; z ) o exflio per-
vao de sepultztnr eclesistica, cap. 2 do it. De haeveticis do phtuo; 3) O desterro temporrio; 4) a condenao s gals e
Liv. 6.";3) a irregularidnde para receber ordens, cap. 2, $ z, aos trabalhos pblicos; 5) a flagelaqo pblica por bairros e
e cap. 15 do mesmo til.; 4) a inabilidade para as dignidades, praas; h) a confiscaco de todos os bens, mesrno havendo
benefcios, e ofcios eclesisticos, cap. cit.; j) a prian@o de filhos; e finalme~ite,7) a morte natural cruel, elc. Estas penas
dignidades, benefcios e ofcios legitimamente j- obtidos antes vm nos Cdigos de TeodGsio e Justiniano, nas Decretais,
de cair em heresia, cap. 12 do mesmo tit.; e finalmente, 6) todas tit. C e haereticis, lirs. V e VI, e Causa VI, Questo I, cn. 17,
as penas que chamamos medicinais. e ainda hoje as admitem os Cdigos de quase todas as naes.
Devc-se buscar esta severidade das penas na scveridadc das leis
FUNDAMENTO DO PODER CIVIL SOBRE OS HhKEGES civis contra o crirrie de lesa-nkalcstadc hiirnana. E que, cunstitiiiiido o
crimc dc hciesia uma oicnsa Majestacle Divina, entendia-se que ele
dcvia ser submtido inteiramente s mesmas penas, e, se possvel, ate
$ 11' 11 - Ora, sendo a hcrcsia um delito civil (5 I), do qual
a penas maiores. Estes dois crimes so, de facto, comparados entre
resultam turnultos e sediies na sociedade (5 IV), todos vSem si n a Orderia$o Afonsina, lir. 2, ti:. 54, na nibrica, que diz: Dos
que o Imperante tem o direito, no s de punir os hereges com beens, que pertencem a El-h'e~ per caso de heresya, ou treicorn, c 6 -
penas civis, mas tambm de precaver que a egurana pblica mes estes que so postos no liv. j imediatamente a seguir um ao outro,
no seja perturbada com disdios religiosos. Van-Espen, Jzw. tcndo passado com esta ordem para os Cdigos posteriores. Contudo,
Eccles., P. 111, tit. IV, cap. 11, nn. 38 e 39, hlartini, Posit. Jur. esta severi<Iacle,como berri diz Fleury, J?cslit. Jilr. Pccles., P. 111,
Nat., cap. V111 (Instituir,es, Do Direito Piblico, Tit. V, $ IV cap. X, V, d lili1 para reptinir as Izeresius naacenfss: mas, se for em-
puegada r<govosumc~~te em todos os tempos e em. iodos os lugares con-
e V).
forme u $rescn;-no das leis, torna abonecidas as nossas coisas sagradas,
Todos os legisladores reconheceram a necessidade da religio na e for com que, a pretexto da justia, se cometam os mclores males.
sociedade. I?, pois, falw o sistema de Pedro Bayli, chefe incontestao Acresce que a pena capital visava no tanto a punir com a atemon-
dos mais recentes livres-pensadores, o quai defende em muitos lugares zar os hereges, conforme testemunha Sozomcno na Iiisloria Eclesis-
que do atrismo ncnhiim d o irir sociedade, e que, p r isso, ejta fica, liv. V I I , cip. XII, e era dirigida principalmcntc contra os hIani-
pode subsistir sem que nela se professe qualquer religio; no se pode queus e semelhxntes, o; quais, no dizer dc Teodsio e Valcntiniano
formar paratiuxo niais rripio c perijiuso qiie este. O mesmo cumpre na lei 65 do tit. De haereticis do Cdigo Teodosiano, chegaram aos ex-
dizer dos sistemas dos chamados Dcistas e Naturalistas, pois m openi tremus da maldade nos cn'mes. No entanto, parece-nos pouco estimvel
directamente constituio e duraco da sociedade. Desta matria a comparao com o crime de lesa-majestade hiunatia, no s5 porque
tratou cuidadosamente, tritre outros, Pufendorf, autor grato aos p r b as leis criminais posteriores contra este crime s2o excessivamente se-
prios Iivres-pensadores, oo li". I, cap. IV, 5 IX, De offic. hominis e: vcras, mas tambm porque a verdadeira religio, isto , a CBst, h-de
riziir.
perseverar at ao fim do mundo, mesmo contra as arremetidas dos
pnncipei do sciiln, e as portas do inferno no podcm prevalec~rcon- embora sejam dpixados ao arbtrio do Rci, i h i : dc seus bens sc faca
ti-a ria. Lkpois, em!?ora seja infinltanie~itetiiaior a ofensa contra Deus como ;naiidannos, e nossil mercee for. Porm, no Cdigo llanuelino,
do que conira o Rei, no 6 , todavia, mistrr dos liomens vingar a s li\,. 5, tit. TI, no princ., e no Filipino, liv. j, tit. I , no princ.,
ofensas divinas. para ~ u j acondigna piinico no b a t a m todas as gra- <!ecr~!a-sr expressamente a confiscac;Xo em prejuzo U3s filhos
risiiinas penas terriporais. N c ~ t eser~tido inleiramcnte verdadeira a (Instituiqes, Li\-. 11. Tit. VI, 8 XX, Nota). Nas Ordenaces
rnix~rnade Tcito, ~ i u sAnais, I, 7;: Aa ofeizsas uos detiscs, nos d~irsos cir.lii~srio sc iiz nitll~oaspcci~irl2niiutlla dx icii2 capihl c d e
as cal><:7 j i i ~ ~ n Pri9:~ipe
r. Foi8damei8trrl du Dyoit dss Sowr~eraiiis,Genec. inliinia coiii que se cl17em notados o; filhos c netos dos hereges;
(Paris), 1788, tomo 11, pgs. rdr e s e g . , Berard, tomo TV, Disiert. li, n o rnianto, rnanda-!c genricnmente nriden-10s com a s p u a s
cap. 11, pig. 68, Renazzi, liv. I, cap. XV, 8 111. ~itabelriidas pelo direito comum, ou conforme devem f a z ~ rpor
direito, Ord. cit no princ.: pzinindo os hereges condc;n?zados co??zo
PPY D ~ y e i l o rle'eiz. Pelas mesriias OrdenaGes sBr, o: Juizes Bcle-
biisticos ohiigados a enviar aos Seculares as suas senteiias. as qiiais
E; PEl.0 DIREITC) PATKIO
estes devem, depois de visto o processo, dar esecuc, se forem
confoimes ao dit~ito,Ord. A~OIIS.cit., 6 5 ibi: veja~izos ditos proces-
5 X -Pelo que respeita ao nosso direito, se olharmos SOL e srntengas, e as <Iimpairi, e executem assi como achareii~ $er
letra e ao esp'ito das antigas leis Extravagantes do Reino, e direito. Pelos Cdigos po~teriorejremete-sr a seritensa sem o processo,
das Ordenaes Rtgias contidas rios trs Cdigos pblicos, 0s t,, no riiianto. decreta-se a sua ehccu$.So e a roridinay2u (10s riiic,
herege.; no deviani ser condenados morte. No enlunto, o c;ue C co~itririnn5o s as antigas leis e costumes alegados na cit.
D. Jose I iinphs-lhe a pena de vivicombrio, pelas Constitui- !)idciiar5o Afonsina, mas tambm inteiramente alheio a todo o direito
<;fiesde 12 de Junho de 1769, 25 de 4Zaio de 1773,e 75 de De- r razo, aos qiiais repugna condenar q u ~ n quer que seja p ~ l af de
outio (InstituiGa, Do Dircito PUblico, Tit. V, 3 V, Nota). Envcrgo-
zembro de 1771,que parece deverem cntenderJse, no dos quc
iliaino-no?. por6n3, de rcfeiir os iniiincros e enormes dissdios e conten.
se dizem simfilcsazente hereges, mas dos hereges qaalificados, das quc surgiram entre magistrado-. rtgios e eclesisticos, assim como
isto , dos sediciosos, que ousam destruir tanto a Religio como os estragos, carnificinas e cmeldades, que resultaram d ~ s t emisterioso
a Sociedade com suas faccs, escritos, ditos e feitos. Pelas iilPncio das Ordcnacs R6gias c da remcssa poltica para o &reito
mesmas Constituies fui estabelecida a pena dc confiscao Lo~nzcinoil iiidrfinido, r:m matbria to grax-e e carccentc da maia rigorosa
de bens e infmia, s para os filhos e netos daqueles que forem clare~ae nitidrs, que foi, sem dvida, originada pela insupervel auto-
condeliados pena ilkima, conciliando-se assim os caps. ~je r6 ridade das 1)ecreiais nesses tempos. Mas isto no , realmente, para
ai!inirar, pois venios quc no rcinado de D. Jos I, Prncipe de feliz
c10 tit. D e Izaoreticis do Liv. 6.", que de certo modo pareciam
memria. u maior dcfensor e protector de scus direitos, se conciliou
contraditrios entre si. com g r a n d ~aparato em seu Diploma de r5 de Dezembro de 1774 o
cal]. 15 C O I ~o cal>. 16 do tit. De havelicis do liv. 6.O, como se fora
Sobre a s penas dos hereges isto, em suma, o que se acha -ta-
necessrio u acordo dos Sumos Pontificej para infligir penas civis aos
tuido no nosso direito. E, em primeiro lugar, no tocante pena de
hereges ou declarar a s j infligidas. Alm disso, foi interdita aos here-
confiscao de bens. por uma Ordcnao especial de D. Afonso 11,
ges a faculdade dc testar, tanto a actiria, Ord., liv. 4 , tit. Sx, 5 4, corno
inserra no Cdigo Afonsino, Liv. z, tit. 54, o s s e w bens apenas derem
a passiva, rit. 88, S 77,tit. 99, 5 7, do mesmo liv.. Podem ser acusados
scr confiscados no caso de serem cundenados por senten$a judicial.
deste crime por qualquer pcssoa, Ord. liv. j, tit. 117, c ser presos p r
Tambm por uma Ordena2o especial dc D. Joo I da&& em E ~ u i a
qualquer juiz, Ord. liv. I , tit. 7, 8.
a 3 de Janciro do ano 14j4 da Era, apud Cldigo Alu~isino, Lii-. 5,
tit. I, 5 4, em rigor os bens dos hereges no revertem para o fisco,
E PELAS LEIS DA INQGISIIIO premo Tribunal do Santo Ofcio , pelas ditas Cartas de Lei, u p hi-
hunal eclesistico e rgio. Quanto ao que se diz da sua injusti~a,isto
$ XI - Kas leis especiais da Iiiquisi~ocastigavam-se os . quc informe e arbitrria a ordem do processo, que se nega aos
rus a defesa necessria, quc bastam para os condenar as provas serni-
hereges com estris penas e outras ainda maiores; no entanto, o
p l e ~ aC ~:,'ii ~ s t ~ m u n h amcai.
s c o mais que mesmo os escritores pios
esprito hiirrianitrio do nosso sPculo sriavizou-as muito, conse- c ortodoxos, como N e m , Barthelio, Riegger e outros costumam
guindo-se, assim, que a Inquisio antigamente detestada de objectar, no isso verdade. Com efeito, a ordem judiciria absolu-
quase todos, mas hoje circmscriia a justos limites, ji no seja mente a mesma quc as Ordenaroes Rgas prescrevem nas causas-cn-
odiasa a ningum, e pelo coiltrcirio p a r e p Titil e necessria, quer mcs e sc. observa riri foro secular. Ao ru coiicede-se plenissjma defesa
para punir, quer para aterrar os herticos inovadores nos difi- e a livre faculdade de escolher quzlqucr patrnno, com o qual pode
falar em parficular, quando e q u a n t a vezes neccssitar. Exibem-se-lhe
climos tcmpos em que vivemos.
d e boa f a srie dc toda a acusago, o tempo e lucai do delito e os
nomes das testemunhas, e no :e lhe probe refut-lss. As testemunhas
A Jnquj<$o foi enfim criada cm Portugal por Paulo 111, a pedido nicas, mesmo quc estejam acima de toda a excepo, nunca fazem
de I). Jogo 111, em Bula para os Bispos de Coimbra, Lamego e Ceuta, prova plena. A infmia no resulta dc qiralquer delito, mas apenas
de 33 de Maro de 153. apud Sousa, tomo I1 das Provas ao Iiv. IV d a daquele a que foi aplicada a pena capital. blanda-se repelir quaisqiier
Histria Genealbgica, N. 120, pg. 713.Foi O Cardeal Infante D. Hen- sugestes. As testemunhzs falsas so mais severamente punidas nestes
~ q u s pelo
, mesmu nomeado Supremo Inquidor da F, que deu o pli- que nos outros processos; c, finahentc. hoje tudo se faz de hannonia
com a equidade riafural. S o aprovamos nem defcndcmos o que de
meiro Regimento do Santo Ofcio Inquisio em x de blaro de 1570,
aprovado por El-Rei U. Sebastio em ~j do mesmo ms e ano. Sefi- desuxnano fizcram os nossos maiores; no entanto, tiido o que eles pe-
rani-sc, depois, o Rcgimmto de Pedro de Castilho, impresso em 1613, caram neste aspecto, deve-se ao excessivo zelo dc reiigijo e ignorb.
cia prpria e dos tpmpos. Esperamos que as coisas melhnrem cada
o de Francisco de Castro em 1640, c, por fim, o do Cardcal da Cunha,
rez mais, com a ajuda de Deus. Riegger, Jzrtispmdentia Eccles.,
confirniado por D. Jos em forma esfiecfica em I de Setembro dc
P. IV, CCCXXVIII, Yaly, De lu Lgislaoion, tomo IX, liv. IV,
1774. Todos estes Regimentos tSm por fundamento, muito cspccial-
mente, as Epstolas Dccrctais de Eonifcio VI11 no citado tit. Da hae- cap. IV.
reticis e as opuues dos Decretalistas que as amplificaram talvez muito
para alm do que convinha. Ora, pclas lctras apostbiicas foi conce-
dido aos Inquisidores da F o poder de julgarem o ciimc dc heresa
juntanicnte com o Ordinrio do lugar, cujo juizo sempre se exige na COMO UBVT SER PLTXJDO O 1)ESPREZO DA KELIGIAO
deciso desse crime. Fica, portm, wrnpre salvo aos Bisps, enquanto
Tnqiiisidoses natos, o juizo c jiitisdi(o sobre os hereges ad modum 3 X I I -Os que desprezam ou escarnecem da Religio
EccIe.n'ac, isto 6, no foro inteino c pcnitcncial, e o p o d a de os cas- pblica cloininante no Pas, ou prestam a Deus cuito externo
t;gar com penas e penitncias espirituais e restantes pcnas cannicas, em ritos diferentes dos e.tabelecidns pela Igreja Catlica, come-
que pertenceni essncia do Episcopado, qual , naturaimente,
alheio ou rstranho o foro externo judicial e criminal, que s aos LI-
tem crime religioso e civil. Corno, portm, a siia pena no se acha
quisidores foi concedido, excluindo outros juizos seculares ou eclesis- especialmente definida nos nossos Cdigos, deve ser deixada ao
ticos, pe:a Ordenao do liv. 2, tit. 6, tirada da Extravagante de arbtrio do juiz, que pode impor multas pecunirias ou priso,
D. J o i u I11 dc 20 de Norcnibro de 1536. apud I.&o, p. 2, tit. 2, lri ra. ccnforme a quulidadc do desprezo e das circuntncias. Para
Cartas de Lei de 20 de Maio e r z de Junho de 1769. Por isso, o Su- todos os efeitos, mcrece ler-se a Analp-e da Profisso da F do
dc efeito; mas, rrri suriindo cstc, lid que puni-los giavciiicrite conforme
Santo Padre Pio TV $07 -4nlnioPereira ds Figl~nvcdo,Art IV,
o grau dc malcia e d o rlario 11uc caiisarani. Filangieri cii., a obra 7n:i-
pg. 34. tuIada De I'Ztat narurel des Peuples, tomo 11, P. 11, Sect. 11, N. I,
O que ze diz nas leis de Plato e nas T.eis Deccnvirais. Alivoxil>ra- capS. VI1 r V111. ( l i t . I , 2 VI, n a Sota, c S SXT). Dpvrin se igiral-
mente punidos os homens supersticiosos, como os adirinhos, feiticeiros.
-te dos deuses cow a alma priva; d no czilfo 24m ieiztirnento Piedoso;
c eiicantaduies, no por sere~risllpersficiosos, pois isso mais para ser
afasta as riquezus. Qwern Procede do?itro nzodo, o f i r l p ~ i oDezu o pu-
ndiculanzado, mas pelo dano que cauqam com os mcios naturais de
&ri, no C inteirariicntc vcrdadc, p r q u a i t o o desprezo piiblico d a
religio <lominaiile r a disparidadc dc culto cxtcmo um delito pii- seu uso, c no pclos cncanraincntos cni si. Eybcl, De $olest. Eccles.
biico, no s contra Dcus, mas tanibbin cu~itiaa Repblica, po: cujo
'exseqzfenf., lir. 111, cap. 11, 5 473. (Tit. I, 5s XXIII e XXIV).
juizo e autoridade o ru quase nenhuma considerao tem, visto Lhe
antepor por orgulho o seu juzo particular. Blackstone, Conrment. sf<r
les loix Angloises, tomo V, liv. IV, cap. IV, pg. 386. Filaugicri. A APOSTASIA
tomo IV, cap. XLV.
5 XIV-A afiostasia, que chamam perfdia, e por cujo
riorne entendemos aqui a ciescro total da Religio Crist,
FANATISMO ii HlPOCRLSIA
punida com as mesmas penas que a heresia, cap. 13, do tit.
5 XIlI -A estes quase se devem juntar os fanticos, os Dc ?zacreticis clo J.iv. 6.: Dos apiistatas s6 o Rei corihcce, pois
supersticiosos, e, para dizer tudo, as kipc7itas, qiie simulando 6 uma questo de facto, Ord. liv. j, tit. I, 3 1,Man. tit. 2, 5 dt.
no rosto triste uma piedade externa, e nada curando da interna, do mesmo livro, tirada dos caps. I e 2 da Concrdia celebrada
apenas buscam a vanglria e a iililidade prpria. Confundem rio reinadn de D. Joo I, apud Pereira, De M a n u Regia, tomo I,
sempre a Religio com o fanalismu, misturam todas as coisas pg. 383 (Institiiies, Do Direito Pblico, Tit. V, Q: VI).
divinas e humanas, e tudo fazem para vantagem pessoal. So
os maiores e os mais perniciosos egoistas, rna I-iemos que tole-
r-los impunemente, quer por cansa da corrupo do sSculo
em que vivemos, quer por ser difciI a prova do delito. Martini, $ XV -Quase o mesmo se deve dizer dos cismticos, pois,
Posit. de lege Natur., tomo I, desde o 3 ~ 6 FiIangieri
, cit. e embora, rio entender de Agostiriho, liv. uii. c/z*aest. XV11 in
tomo I, Intvoduzione, pg. 6 (Tit. X'III, 5 VIII, deste livro).
,blath., questo Xl, $g z e 5, n i o seja a ddiversidads da fi,m a s
Cabem nesta categoria, no tanto os verdadeiros Jacoheus, con- a se$ara@o da comunho q u e faz OS cismkticos, no entanto,
denados pelo. Edictos de ro de hIar$o r 15 rlp Julho de 1769 da como o cisma j tem ligada a si a heresia ou pelo menos pode
Rcal Mesa Cciisbria e do Conselho Grral do Sdlito Oficio, pois estes degenerar nela, pois dela dista apenas um passo, Causa XXIV,
dificilmente se pndem distinguir dos hereges, n a s sim aquela maligna questo 111, cnone 26, so os cismticos quase havidos como
casta dc homens, que, sobreiurio a prctrxto da religio, acusam os
hereges pelo direito cannico. Contudo, as nossas leis no
outios, movendo gurrra ctcma e oculta aos bons cidados, ali& gran-
riis henirntritos da Igrga e da Repblica. No entanto, no meio
fazem deles nenhuma meno especial.
de tamaiilia corrnp;o liurnana devem ser irnpunc:ncnte tolerados,
enquanto suas fraudes e embustes forem ociiltos, iniiteis e destihdas
nidos coin a incsina quantidade de pena, a qual muitas vezes no cor-
responde nem ao delilo nem Iissoa, nern enfim segurana piihlica,
5 XVI -Blasfhnia, isto , a injria feita por palavras ou que o fim das penas. Pufendofi, De offic. homin. et civ., liv. 11,
cap. XIII, $ XVIII, kio~~tesquieu, BspTit des Luiz, iiv. 11, cap. IV,
obras a Deus, Santa Virgem Maria ou aos Santos, punida
Rcnazzi, Elemeiat. Juu. Criminal., liv. 11, cap. IV, XV. Sobre as
mais ou menos severamente pelas nossas leis, segundo a gravi- penas cuntra os blasfenios trazem muitos comentuios Berard,
dade das circ~~nstncias. Os nobres so punidos com multa lumo IV, .'i I, Dissert. 11, cap. IJI. Sainnel FI-cdcrico Bohemero,
e degredo para &rica; e os plebeus tambm com multa, e EEementa JuRsp. CRmii~.,Sect. 11, cap. 11, Filangieri, liv. 111, P. 11,
trinta aoites ao p do pelourinho com barao e prego, Ord. cap. L X ; e s t a penas podeni irr aiimentadas ou agravadas pelo jwz,
liv. j,tit 2, no princ., Man. 34, Afons. 99. Os que rogam pragas curi:u~rrie a Llasrmia foi- si?nfiles o u airoz, Ord. cit. liv. 5, tit. 2 , 5 2.
ou fazem imprecaes contra algum, no so blasfemos, e no A pena de viuiconabrio e cortamento da lngua cmel e injusta: e
tal sacrifcio c rii!tiia:5o dos ~rir~:iSrusLiurnarios no pude agradar a
devem ser castigados no foro civil (Sit. VIII, VIII, deste
Deus, quc, vcrdadeiran~cntc falano, no padece injria nem carpce
livro), porquanto a vontade de fazer o mal sem efeito peca- da i2iiiganca humana. T o c~itanto,foi csta a pena imposta aos blas-
do, e no delito. ft.nios por D. Dinis na lei de j de Junho do ano 1353 da Era (Ord.
Afons.. liv 5 , til 99); mas, dcpoii, foi com justa razo iouariaada.
H mais que uma esgcie de blasfmia. Uma chama-se mera,
outra hcr6ticra2, outra simples, ou atroz, c, por isso, no deve ser sempie
punida do mesmo modo. Mas primeiro devia-se distinguir e explica1
ineihor o vocdbuio blasfmia, que demasiado vagu, e dcpois apli-
car-se as prnas devidas. Pelo n o s s direito, os blasfemos no so
condenados morte, mas a multa, exlio, e pcna vil, confome a quali- XVII -O perjrio, isto , a violaio do jziranze.rzto come-
dade c condio dos dehquentes, a que as leis ptrias sempre aten- tida $07dolo ou cul$a, constitui uma espcie de blasfmia,
dem na ap1icat;o das pcnas. Todavia, esta dilerena desagrada hoje Ccero, De offiiis, 111, X S I X , e um delito grave tanto con-
a Beccaria, Truit das diits et des peines, 5 XXI, e a muitos ouros, tra Deus como contra os homens.
por cntcndercm que todos os dclinqucntes, tanto nobres como plc-
beus. devem ser sujeitos a penas iguais. Mas eu entendo que, na defi-
nio da pena, se deve ter absolutamente em conta a pesoa do delin-
quente, pois aquele a quem o parentesco, o ofcio e a idade deveria E QUEM DEVE SER CONSIDERADO PERJURO
afastar do delito, merece maior pena do que o estranho, o estpido,
a crianca, ou o adolcsccntc; maior o telogo que o ignorante da S XVIIf -Deve reputar-se perjuro no s6 aquele que
religio: o nobre e o constitudo em dignidade mais eminente que o ciente e deliberadamente assevera como verdade o que falso
simples plebeu. Por isso, os primeiros devem ser punidos mGs sevc-
com nimo de enganar outrem, mas tambm aquele que espon-
ramentc, mas no com a mesma pcna pelo mesmo delito, visto que,
se uma pena vi1 for igualmente aplicada ao nobre e ao plebeu, nem taneamente viola a f jurada em prejuzo doutrem, principal-
igual riem teni pn>por@o alguma. Por isso, assim como entre os delin- mente em juzo (Tit. V, $ 111, Nota, deste liv.). Por isso, aquele
quentes se dcve oihar sua condio, assim tambhn entre as penas que perjurou ou tentou perjurar sem nimo deliberado, no
se dei-e fazer disunfo olhando A sua qualidade, no porque devam calor da ira ou na paixo do amor, e sem efeito, ou sem
ser punido niais brandamente. nias porqie neni todo? d r r ~ mser pu- ofender o direito pereito doutrem, s merece o castigo de Deus.
No cabe aqui o juramento civil ou o religioso, que se pratica nem aceitado o dinheiro, piiblicamente aoitado e degredado
por costume ou se presta por bnncadeira em festins. por dez anos para Afnca ou Brasil, Ord. cit. 55 I e 2.

O perjrio extrajudicial no C. punido pelas nossas leis; mas h Parecc que foram as prprias leis que deram ocasiio aos perj-
juizo cvel contra o perjuro, que obrigado a ressarcir o dano que nos, enquanto requerem sempre o juramento; de facto, do costume de
ocasionou sem lucro por culpa sua. Igualmente, devem ser punidos jurar, coniu diz Agostinho na Epstola 157, reswlta cair-se melitas veres
os oficiais que f a p m quaiqiler coisa contra o juramcnto geral, que anl perjrio e estar-se sempre perto dele. Pcla lci de 11 de Janeiro
icosturnam prestar segundo a Ord. liv. x, tit. 67, 5 15, n i o com as do ano 1340 da Era,dada em Coirnhra por D. Dinis, apud Ord. Afons.
penas do pejrio, mas com a da falsidade e outras conforme o modo liv. j, til. 37, 3 r, cortam-se as mos e os pi, e arrancam-se o? olhos
do delito, Ord. liv. 5 , tit. 53. E impunc, no foro civil, o perjrio da- aos perjuros; D. Afonso V gloria-se de ter mitigado csta pcna e a ter
queles que juraram como verdade aquilo que assim consideraram, ou substitudo pelo corte da lngua smente, Ord. Ilions., ibidem, 5 4.
aquilo dondc pequeno ou nenhum dano resultou. Caldas, De enzplione, O nicsniu D. D i t u ~em outra lei, que promulgou em 7 de Junho do
cap. I , n. 19. Sio irnuns de quase toda a pena, e inteiramente licitas ano 1353 da Era, apud mesma Ord. lit. 99, S r, estahcleceu contra
certas imprecac0es religiosas e civis, que o diverso um das naes os blasfemos a pena de arranque da k g u a e de vivicomk~iino, pois
admitiu; tais eram Sela e Vah dos Hebreus, Pol (por Polux!) e Aede- nesta altura cra costumc cm todas as naycs punir o rbu na parte do
pul ($0 1~111ylti C Pulux!) d t i b l'dtinus, e pelos Deuses i?~zorLue's,viuu corpo com que delinquiu. Porm, os Cdigos posteriores emendaram
o senhor, eu no viva, etc .... Everardo Otto, De perjur. per gen. Pnn- um tanto, sem contudo atingirem a perfeio, estas leis injustas e de-
a$., Hansen, De jurejurando oeler. Romanoruna, cap. XVIII. (No sumanas, originadas na doutrna mal entendida sobre a necessidade
6 lcito an Iirirnrm jurar de modo nlgvm. Seja o c i o i o falar. Sivi, sim; d e se vingar e punir milito severarriente os delitos contra Deus. ( O
no, no; cstas so palavras de Cristo em l,Iateus, V, 34 e 37. IIoje, UM e abuso dos juramentos no foro moral e pritico E exibido por Sa-
porC?m, femilharn em todos os ncgcios os juramentos, que devem ser muel Strykio, dleidew~atade Jzarafnentis, e com maior aparato de s&
inteiramente proscritos. Vide Code de I'Humanit, palavra Sermenl). lida erudio legal por Henrique Ayrer, no Specimen Ju~urkpwdentiae
consultatoriae de abusu Jurainentorum e Reprblica proscribendo, onde
se lem notveis e cordatos conselhos).
PENAS DO PERJLIKIO

3 XIX - O falso testemunho em todas as causas, quer O QCE E: SACRILCIO, SlJAS ESPECIES, E RESPECTIVAS PENAS
cveis, quer criminais, um crime capital, Ord. liv. 5, tit. j3,no
princpio, ii: A pessoa, que testenzztnhar jalso, e m qualquer S XX - O sacrilgio, delito contra a Igreja e a Sociedade,
caso qzte seja, nzorra por isso morte iiatural, Man. tit. 8 do , segundo o direito cannico, toda a violacZo, i ~ v a s i o ,vexa-
mesmo liv.. Kesta mesma pena incorre aquele que, em feito o e deteno de coisas, fiessons nu direitos sagrados. Cmc-
crime de rriorte, induziu as testemuiihas a testemunhar falso, te-se, o11 em razo do lugar, quando algum ofende a santidade
seja para absolver, seja para condenar o ru. Nas causas cveis de uma igreja, mosteiro, hospital eu outro lugar pio, cap. S d
e nos delitos no capitais, punido com degredo perptuo para haer 4 do tit. De reliiosis domibzis; ou em razo da $,DSSGG,
o Brasil e perda de sua fazenda, se no tiver desceridentes ou quando algum fere ou prende um clrigo, Causa XVII, ques-
ascendentes. Aquele que subornou por dinheiro ou outro modo to 117, canone Si quis suade?zte 29, Berard, tomo IV, Dissert.
uma testemunha, posto que esta no haja dado testemunho 111, cap. I , pg. ~ 1 9ou
; em razo da coisa, quando se furta um
objecto destinado ao uso sagrado, ou um objecto profano, de
lugar sagrado, Caiisa XVII, qiicslo IV, crio~~t: Quisqztis 21.
As nossas leis s6 mencionam esta ltima cspkcie. Pelo direito
roinano e pelo ptrio, sacrlego e deve ser punido com a morte
aquele que tira, isto , furta dum local sagrado coisas sagradas
de qualquer valor, Ord. liv. 5,tit. 60, 5 4, Bfan. 37, 5 4.Aquele
que furta de lugar sagrado coisa profana, ou de lugar profano
coisa sagrada, condenado ks gals, Ord. citada. (Tit. VI,
$ XIV, deste livro). DO CRIME DE LESA-MA-JESTADE

Ko sentido do direito canniro, diz-se sacnl@o qualquer violao


da religio e cuisas sagradas, e coni este significado, que B latissimo, O QUE l? MAJESTADE, CRIME DE LESA-~vJAJESTADE,
cornpreendc muitos delitos de que o nosso direito no faz meno es. h: DF: AL-i~A'I'KAICO
pecial. Segundo a mente do direito civil na Ordenao citada, o furto
dc um objccto sagrado mais scveramcntc punido que o furto simples. 1-Em qualquer Estado o supremo poder, quer resida
e, a falar verdade, mais do que justo. Filangieri, tomo IV, cap. XLV, num s, quer em muitos, quer em todo o povo, chama-se majes-
hlr. Phlipon de la Madeleine, Leltre ri 1'Editeur de la BililinthEque
tade. Todo aquele que com mau dolo atacar este supremo po-
des loix crivninetles sur u n uol de uases sacrs, apud Brissot, Bibliolhd-
que Philosophique, torno IV, pg. 171. Veja-se querendo o tit. VI,
der, desprezando-o ou injuriaildo-o, diz-se que coiriete crime
9: XIV. So tempo dos Impcradores era sacfilPgio civil no s violar de lesa-majestade; e crime de alta traio, aquele com nimo
as ronitituicfies imperiais, mas tambm discutir as decises dos Prin- hostil maquinar, seja o quc for, contra a Ptria, o Pnncipe, ou
cipes, pois constitui como que uma espcie de sac~lp.o duvidar se a a cidade a que por contrato se ligou, lei r, 3 I, Iei 3, 5 3, do tit.
pessoa escolhida pelo Pnncipe para algum cargo o merece, lei 3 do ad Lcgem Juliain iWnjestatzs (Tit. IV, VII, Nota, deste livro).
tit. De cTPl?zine sacrilegii do Cldigo. Porm, isto atinge o mximo da Foi, sem dvida, no tempo dos imperadores que assim se coine-
adula$do, arrugncia c pcrigo. Boehnero, Exercit. De variis sacrile-
aram a distinguir estes crimes que, no tempo da Repblica
&i speciehiri e r wzentp jzwis ciuilis. torno VI, $5 XL, XLI e XLVI.
De factu, quem no se indignar ao ver cscrito que o Prncipe tem por livre, se designavam por crimes imminutae ~zajestatis.Grrnd-
sacrlegos os que formularem uina opinio sobre as suas decises? ling, ad Legem Jukiam Majestatis, cap. I, 5 XXIII, Otto, ao
Aasu no podem clcs cngaiar-se, uma vez que, assoberbadus de pro- Q: 3 do tit. De fiublicis jzcdicn'is das Institutas.
blemas, no podem fazer tudo por si mesmos, antes muitas vezes tm
necessidade de recorrer aos outi-os, o que facilita extremamente a pos- O crime especial de lesa-maj~starlecompreende apenas n i dito c os
sibilidade do cngario? Saemoi, sem diivida, que amor, piedade e re- fartris contra o supremo poder o11 cuntra o pincipe que o detm. Com
verncia devem aos Prncipes os cidadio;i seus vassalos, c no apru- este pretexto eram incriminados de lesa-majestade, na governo dos maus
vamos de nenhum sorte a irnpudencia de linguagem ou a licena de Prncipes, no s os que, por doIo, culpa ou acaso, quebrasgm ou ape-
estilo com que se ofende essa piedade. Todavia, no nos podemos drejassem rrs siia3 esttuas ou urinassem junto delas, Suetnio, in Tibe-
persuadir de que seja uma esp(.cic de saciil6gio emitir algum a sua &s, cap. T.VIII, Bsparciano, in CarucalZa, cap. VIL, os que pcits da
opinio acerca das (lerisfir dos Phcipes, quiqi entre amigos e de estitiia d u m i r n ~ r a d o rcolocasscni csttuns suas mais altas que essa,
boa fB, e no com cspirito de ofensa ou nimo dc dctrair. uu passassem por urn lupanar ou lalrina coni uina moeda ou anel em
que estivesse gravada a eigie do Pdncipe, Sneca, De beneficiis, fredo. No crime de alta traio, que as leis romanas posteriore
li". 111, cap. XXVI, ou vcndcsserri :ir iinsgens consagradas dos Inl- muitas vezes ct)~lfundemc o ~ no de lesa-majestade, 1i niuitas
perndorcs, Dfon Cssiu, liu. T.VIT; nias at os que larntiit~sseni u i
singularidades, tais como a proibio de se chorar o reu, lei
tenipos ou se dissesscni nascidos em niaus anos. Bulengcr, De Imperal.
et Imper. Rom., liv. I , cap. SXXIV. E, assim, a tal ponto se ampliou
;Mininze 35 do tit. De religiosis et sz~m$tibusfunerztm, Fornen,
este &me sob o governo dos Tiranos, que e!e era quase o nico e raro Res qaotidia.izae, liv. 11, cap. XVII; os filhos e netos eram pri-
crime dos que no tinham crime. Plinio, Panegyncus. cap. XT.11. Em vados dos bens paternos e de toda a sucesso, no tanto para
conirapartida os Prncipes bons e mais brandos dificilmente casti- castigo do delito, como para segurana do Prncipe, e para que
gavam as faltas lcves contra si praticadas, e a indiecn$o no falar. o Qnzor dos jifillzos tornasse os pais mais amigos da Repziblica,
B notvel a este respeito, e rio prpria dum grande Piincipe como Ccero, Epist. X I I a Bruto; eram marcados com infmia per-
digna l e integral transcrio, a seguinie Constituio dos Imperadores
ptua, e no podiam ascender a cargos pblicos; eram exclu-
Teodsio, Arcdio, e Honeo, na lei nica do tit. Si p i s Imperatori
malsdixerit do Cdigo: <Se al~u4i+t,descoiheceiou da inodstia e dos da herana materna e avoenga, e nada recebiam por testa-
ignora~&le do pudm, pensar ferir os nossos nomes cvnz e'il e petulante mento de estranhos, dita lei j; bastava apenas o projecto e
nialedice^?zciu,e pertwrbadv pela err~briiiguezdetrair dos nossos tempua, vontade de cometer o crime; admitiam-se na acusao pes-
n i o qrreremos que seja punido, nenz desejiinros que sofra algo de dzwo soas proibidas de o fazer em outros crimes, leis 7 e 8 do tit. ad
ou desagrad~vel;porqzje, se isso resultar de leviandade, h que des- Legerr, Jzllinm ~Tfajestatis; a formao de processo contra o
prez-lo; S P resz~ltarde i ~ s n i a ,G e.rtvel>~at>iente
digno de compaixo; ru, ainda que este j estivesse morto (Tit. XXXIII, $ IV, deste
se de iizjziria, h que $erdour-lhe. Peio que, sem qualquer procedimeulv
liv.) ; e, finalmente, a punio daqueles que, sabendo da pre-
seja isso irazido ao mea conlaecimznto, a fan? de pesarmos as palavras
olhando s pessoas, e decidir?izos se sio de esquecer ou tomar e m conta
parao deste crime, o no delataram. Gundling cit. cap. It..
(Tit. IV, 5 VI, deste livro). E este tambm o sentido e deciso da Tambm no foram mais suaves contra os rus de alta traio
Ord. liv. 5 , tit. 7, Man. 4, tirada daquela mesma Constituio, a qual os ?ilacednios, Pesas, Cartagineses, Gregos e outras naes,
est ruiais claia e pltnainente exprcssa na Ordenao Afonsina, tit. 3 onde os filhos e parentes dos que conjuravam contra o Rei eram
do meimo livro. condenados ? morte.
i Veja-se Grcio, De jure belli ac pacis,
Iiv. 11, cap. XXI, $ XV, Filangieri, cit. cap XJ,VI, Esprit d ~ s
A SUA PESA ;IA LEI DOS ROMANOS E OUTRAS 'IACOES lozx, liv. VI, cap. XX. Giaciano iilseriu e copiou literalmente
em seu Decreto, Causa VI, questo I, cnone 22, e De fioeniten-
5 I1 -A princpio, a pena contra ambos os crimes foi a tia, Dist. I , cnone 9, a terrivel constituio de Arcdio e Hon-
intvrdio de &gua e fogo, e, depois, para os mais humildes, o rio. Sdmbm foi inseria no Cdigo Visigtico, liv. 11, tit. I,
lanqamento s feras, e, para os mais nobres, a morte espada. lei 18, e no Edicto de Teodorico, cap. 107,apud Bavares, tit. XI,
Paulo, Sententiae, liv. 5, tit. 28.Mas uma Constituio de Arc- cap. I, art. I, e cap. XI, art. nico, e por Carlos IV, tit. XXIV
dio e Honrio na lei 5 do tit. ad L e g e ~ aJulianz ~llajestatisdo da Bztla Azwea. Este direito tambCm seguem ainda hoje os
Cdigo exacerbou as penas, que Eutrpio reclamou para sua franceses, Domat, Szt##lem. J u r Publ., liv. 111, tit. 11, art. 6, os
defesa em nome do primeiro, e estendeu este crime aos que Castelhanos, lei 3, tit. 11, Partida VII, Lei I, tit. XII, liv. VIII,
ofendessem os ilustres meriibros do Consistrio e do Senado. da Hccopilaciun, lei 2, tit. XVIII do mesmo, os Ingleses, Black-
Sobre isto dere ler-se o U~sursztsh~storicusde Jacobo Gotho- stone, Leg. Angl. Coinment., tit. V, lir-. IV, ap. VI, Cowel,
Institutiunes Juris Angl.. liv. IV, tit. XVIII, e as demais naes QUE CARKCAS <:ONTEhl E QE.41S AS SUAS PENAS
de Europa.
Sobre e-te assunto diz h m Renazzi, Elemenln Juris Criminalis,
3 IV - Ora, o c h n c de lesa-majestade contCm diias cabc-
liv. 11, cap. 111, S V &uzive reakzente yueirz dissesse que era duro,
as. Pertencem pri~rieiraos regicidas, os rus de alta traico,
e;;ibnru justo, que os filhos sofressem pelos cn?nes dos pais, a fim de ns traidores, os trnsfugas, os sediciosos (Tit. IV, 5 T7, deste
4 % o~ amor dos filhos lornasse os pais mais a~nigosda repiblica, ou liv.), e os mais enumerados na Ord. liv. j,tit. 6, 3 I, c seguirtes;
entio a fim de que ningum ficaiie duma fanzilia nbonzinuel para so punidos com a pena de morte riatwral crixcl, confiscao
iina'tur o crime ou z'iizgar a morle. X a s Ciceuo, yue, alis, foi desla de bens, infmia perptua de fillius e descendentes e outras
opirziio (Epist. X I I a Bmtoj. pergzsizta seveua??lente (De nat~traDeo- que vm na mesna Ord. $5 q, 10, Ir e 13tendo aqtii lugar
m i n , i i v . 111, 3 XXXVIII): ridmitina acaso algum p?.i-.ii o autor de todas as singularidades que, acima no 5 11, apontmos tiradas
u n a Ici cm que c fosse ao ponto de coiidcnar o filho ou o neto pelus
debtos do pai ou a v ? ~ .
do direito rsrnano. A seguida cabea pertencerri os rus de lesa-
-majestade simples, quais se dizem, eritre outros, os que mal-
tratam refns, os quc detm no caininho os rus cotidcnados
E SAS LEIS PLTRIAS pelo Rei ou pelos juzes por ele deputados qiiando j cami-
nham para a execuc.;lo, e os tiram das mos e poder da justia,
111 -Ns tambm seguimos este direito, mormente ou os soltam da priso plblica; estes tais so piiriidos com as
desde o tempo de D. Joo I, em cujo reinado o direito romano penas ordinrias do delito e com a confiscao dc bens, ainda
atingiu a mxima autoridade. Por isso, a terrvel Constituio que tenham descendentes ou ascendentes, sem que com isso
de Arcdio e Honrio foi copiada, primeiro, para o Cdigo sofram qualquer injria e fiqiiern infamados, na mesma Ord.,
Afunsino, liv. 5,tit. z, e, depuis, destc para os Cdigos posteno- 28.". Todavia, nesta segunda espkcie de cri:ne de lesa-majes-
res de 1).iPIanue1, tit. 3, e Filipe, tit. h, do mesmo liv..,vendo-se, tade tambm se admitem testemunhas inbeis e inimigas, e apli-
assim, aprovado nestes trs Cdigos tudo o que o direito roma- cam-se tormentos por indcios leves, Ord., $ lt.
no, isto , as leis posteriores dos Imperadores, estabeleceram
sobre este crime. Yo entanto, aquela parte do Cdigo Afonsino, O criinc de lesa-iriajcstade. o mais giave dos rximes pblicos civis,
que, Q imitao do direito romano, estendia o crime de lesa- requer penas gravssimas. sem dvida capitais nuito atrozes, mas no
cruPis, pois, como hern diz Ccero rio lir. 111 do De officiis, 5 X1,
-niajestade aos que ofendessem os Conselheiros e Minislros do
nudu ~ P I C scjo cuziel itil, pouqil~~zloa crlreidade extre>nu?nente
Rei, foi omitida nos Cdigos posteriores. ininiiga da naiilreza kzniiana qz!e devemos res$eitar. O farin de- a pena
ser cniel, c ainda a de oa filhos c netos inoccntea serem marcados dc
A citada Ordenao Afiiriaina pdrrcc irnci1ia:dnt~~ilietirada das leis infmia peiptua, piirados ipso jure dc dignidades, e considerados
de niajestad~ de Afiinso, Rei de Caitcla, incrtas na Partida VII,
inbeis para todos os cargos, bicamente pelo delito do pai, quando
tit. 2 , que ento gozavam entre ns de grande apreo, e que os arqui-
nada t6.n a temer, e tambm o facto rie no podercrri iuccdcr com ou
tectos daquele CUdigo parcce tertni iniiiado, ~ioisse acha d ~ ~ a iqriasc
ta
scm tesearncnto a asccndcnks, colaterais ou cirrdnhos, tudo isso
iolri as 111esnias pala\-raa.
dcsumatio c brbaro, na opiiiio dc quasc tudos os cscriturcs dados
aos estudos cniniriais. Ile iaclo, a pena deve obrigar apenas os seus
zutnrec, lei 22 do tit. D P po~nirdo COdigo, e leis 20 e 26 do tit De
poenis do Digesto, e rie modo nenhum se pode tornar justa aquela que tit. 6, 9 21, vers. E bem assi, e $ 23, Man. tit. 3, 55 20 e 22, Afons.
C. injusta por sua natureza; alm disso, no ser a pena quc, por sua
tit. 2, 5 3 15 e 16 do mesmo liv., e os que exercem a pirataria.
morte, continuar nos filhos (e esta a razo de Ccero e dos antigos)
que poder afastar da prtica do crime aquele pai c~imioso,despro- Blackstone, tomo V, liv. IV, cap. V.
vido de virtude e caridade, quc no se demover coin o amor da prpria
vida c da Pitria. Tuait d ~ covps s poliiiques, liv. 111, cap. li, Discurso Estcs e outros dclitos semelhantes ap?nas so punidos cm leis
sotre lav pcr~as, inp. V , 5 11. M. 21, 2 2 , zj, J IV. n. g, 3 V, especiais pdos Ingleses: elevam-se, porm, categoria de crimcs de
n. 16, etc ... Outros ainda hojc pensam de mancira difcrcnte com lesa-rnajcetade, quer porquc ofendem a suprema majestade das na~0cs.
ra&s que n i o so totalmente desprezveis, mas que no cabe no quer porque. como sc sabe, a sua iinpiinidadc deu mais de unia vez
meu plano examinar e conferir com a s dos adversrios. Toda\<a, ocasio a guerras. Filangieri tomo IV, cap. L.
todas as Sases e ns tambm usamos este direito constituido, que
bastante, t r a ~ i d oath ns rio tanto das leis romanas como das antigas
leis das naes. Sobre isto deve ler-se a hlmoire de Mr. Bernard
apresentada Real Sociedade de Metz em 1784: Sur {'origine d e l'upb
nion, qui tend sur tozcs les indiuidus Zune mtme famille une fiarke
Se lu honte attachb aux peitaes infawantes, qui subil un coupable.
Cette opinion est-e11 plus nuisihle, qu'utile? Tambm se deve ver
Reriazzi supra-citado. O confisco de bens parece que mais que pena
se deve chamar calrimidade e conscquncia do delito paterno, Schrodt,
]%r. Publ. lincu., P. 11, cap. 111, 5 LXXII;e por isso que o filho
no pode. suceder nos bens paternos alodiais ou nos havidos do Rei
por qualquer titulo. Pwm, aquelas cmsas que lhes foram atribuidas
m-o pelo pai, mas pela famlia, pela sociedade, ou pela natureza, essas
ficam-lhes inclumes, diz M e n o na lei 3 do tit. De intwdictis et
relegatis. Quanto a serem privados d a administrao do morgado,
ainda que patriinonial, isso um conscctrio da infmia, c assim se
deve entender. presentemente, a Ord. liv. 5 , tit. 6, 5 7 5 , apbs a Carta
de Lei dc 3 de Agosto de 17.70, XI (Instiiui@es, Liv. 11, Tit. VI,
5 XX, Nota).

DELITOS DO DIREITO DAS GENTES

5 V - Chamam-se, e bem, crimes de lesa-majestade os


delitos cometidos contra o direito das gentes. So rus destes
crimes os que infringem a f pblica, ou seja, a segurana pro-
metida pelo Rei a que chamam salzro-conduto, os que ofendem
os refns ou os embaixadores das naes livres, Ord. liv. 5,
NOMES QCE E M PORTCGUES TOMA A VIOl.f'NCTA,
t; O QUE E PRECISO PARA HAVER ,cRIXrli>, OU D>TOTI>I.~

3 I11-A violncia, casualmente feita por um particular


contra outro, chama-se em portugus rixa noun; de caso pen-
sado, rixa velha; com premeditaio e intimao ao adversrio,
duelo (repto, desafio). Quando feita contra pessoa pblica,
resistizcia. Quando praticada por virios em mu!tido relitiida
DA VIOLENCIA PUBLICA, E PARTICIIT.AR por acaso, e sem um fim, tunzzllto (nzotim); contra o Rei ou
Estado, rebeliiio; contra os ministros do Rei ou a ordcm
O QUE E VIOLi?NCTA POBLICA, R PAK'L'ICULAR
pblica, sedio; contra particulares, toma o nome especial
de assunda. E, assim, nos apraz distinguir os delitos cometidos
5 I - Chama-se violncia pbIica a uiolncia atroz por uma multido. Para haver rixa Dastarn dois, trs ou mais
homeris, mas para haver nzotiwz e tumztlto so precisos pelo
conzetida com m a u dolo, coiw o u smc avilzus, contra a segu-.
rana o u a ordein $zLblicn, quer por pessoa pz(l{ca, quer cora- menos dez, no entender de Labeo na lei 4, 3, do tit. I ) e vi
tra @essoa +blica, o u e m lugares i?~violvcispor sua snntidadc. bonorum ra$torztm, seguida de perto na Extravugante de 12
E particular a simfiles viulncia serrt arrtras contra unt $nrti- de Agosto de 1717, apud. (3rd. liv. j, tit. 45,Coleco I, N. I.
cular.

QUEhf COMETE VIOLRNCIA


9 IV-O tumulto, f ~ i i osem intuito de cfcnsa e casual-
5 I1 - Comcteni violncia pblica: I) os que movem se- mente, do qual no resultou dano nenhum, embora no seja
dies, motins e tumultos rio pas; 2) os que resistem aos magis- verdadeiro delito, deve, no entanto, ser prevenido pelos magis-
trarlos e seus oficiais em desempenho de funes; 3) tambm trados policiais, e principaImcnte os seus autores piinidos com
os prprios magistrados que abusam do poder pblico; 3 ) os penas muito leves. que o descur-los pode excitar grande in-
que arrombam crceres pblicos, ou os que trn crccres pri- cndio. O dano causado no tumulto punido com as penas
vados; j) os que invadeni, armados, os direitos alh~iose rou- orclinArias do deliiu.
bam bens; 6) os que sitiam casas alheias e vias pblicas; 7) os
que violam, sobretudu i fora e contra a vontadc delas, virgens
c mulheres honradas, ou as raptam para satisfazerem suas pai-
xes; 8) os que provocam os oiiiros para duelo. A razo 5 V-O tumtllto sedicioso, isto , a rebelio ( 5 111) per-
porque estes e outros delitos semelhantes perturbam muitssimo petrada contra o Rei ou o Estado com dolo mau e nimo hos-
segurana, autoridade e economia pblicas. Aqcele que, de- til, um verdadeiro crime de alta trai~oe lesa-majestade, de-
sarmado, rouba qiialqiier coisa. coniete violncia particular. vendo, por isso, ser punido com as mesmas penas (Tit. 111,
59 I11 e IV). Os que por acaso ou ignorbncia se vem nela en- Por conseguinte, os homens loquazes, que, comprazendo a seus
volvidos, no devem ser castigados, ou, se o forem, levem penas feitios, habitualmente ferem e repreendein tudo com ditos agu-
muito brandas, conforme a qualidade da ignorncia. A cidade dos, ainda que mordazes, devem ser desprezados, o que me
rebelde no deve ser arrasada nem salgada, mas sim privada parece mais que suficiente, ou ento advertidos ou levemente
de sem direitos e privilgios e submetida jurisdico de outra punidos, conforme a malcia do seu dito ou feito, Ord. liv. 5,
cidade. Por consequencia, devem-se punir, principalmente, os tit. 7, Man. 4, Afons. 3, lei nica do tit. Si qz~isInzfieratori male-
autores e c~mplicesdo tumulto, e no todos os cidados indis- s
dixeuit do Cdigo (Tit. 111, I, Nota).
tintamente; tambm no se devem sortear os que ho-de ser
punidos, porque pode a sorte cair sobre os inocentes. Heinc- O mesmo no 6 de dizer dos ecleesiiticos que ousarem apresentar,
cio, De jzwe ~Yaluraeet Gentiztm, liv. 11, cap. VIII. Y CLXIII, defcnder e disputar, no plpito oii na ctedra, certas prnposi(-5es de
Creman, De Jure Criminali, liu. I, cap. VI, 5 jg, P. I, Hotto- Direito ou Teologia que podem perturbar a Religio c a tranquilidade
man, Z!lz6sti.es Qunesiiones, 42, Gothofredo, 5 lei Quisqz~isdo tit. pblicas, ou provocar ajuntamentos na sociedade. Estes, de facto, no
dcvem ser tolerados, mas severamente punidos. conforme a qualidade
ad Eegenz Corlteliam de sicariis do Cdigo Tcodosiano, cap. VI deisas proposiEes, com penas quer civis qucr religiosas. A i que a>ritra
(Tit. I, $9 I X e XXVI, deste livro). eles foram estabelecidas nos Edictos de 1561, 1563 e 1599 de Hen-
r i q u e IV, Rei de Frana e CarIos IX, parecem demasiado driras: Iim
tanto mais brandas as que vm no Iiv. XVI, ti:. 4 De his, qiai sztper
REUNIOES CLANDESTINAS
Religiune conle~dzcntdo Cdigo de 'I'eodiisio. -4s leis ptrias no fazem
meno nenhuma deste crime
$ VI -Ko se devem ter logo por ilcitas as reunies noc-
tnmas e clandestinas. pois podem ser inofensivas. Ko entanto,
cumpre vigi-las com prudencia, e no com curiosidade, antes SEDIES E KESISTENCIA AOS MAGKSTRAUOS
de se mandarem encerrar, pois pode acontecer que delas nas-
am faces, e aquela intemperana no comer e beber, que, 3 VI1 - A ~<oInciapiblica cometida com armas contra os
na boa frase de Cujcio, Observat., Iiv. VII, cap. XXX, gera rnagistrados e seus oficiais de qualquer categoria durante O
as mais molestas, inziteis e wefaizdas coisas. Porm, os que se exerccio de funes, isto , a resistizcia qualificada, de que
juntani em casa de parentes ou amigos e a falarn um pouco resulte impedimento e total inexecuk dos actos judicirios ou,
mais livremente de assuntos pblicos ou particulares, ainda que em caso contrrio, fenmentos, ainda que milito leves, um
com nimo de dizer mal, mas no de o fazcr, devcrn ser tole- crime de lesa-majestade da chamada 2." cabea, que deve ser
rados, porquanto a casa 15 o mais seguro refgio de cada um, punido com a pena de amissio animas (perda da alma, morte),
onde i. permitido tudo o que no cause dano a outro. Esta a na expresso de Justiniano no 5 3 do tit. De publicis judiciis;
razo porque no se devem considerar ilicitas e suspeitas todas das Institutas, e confiscao de bens, pelo Alvar de D. Jos: I
as reunies e ajuntamentos. A histria testemlinha que, cm dc 24 de Outubro de r764 2. A violncia feita por uma multi-
todos os tempos, os Princpes mais de urna vez se serviram deste do, isto , a st.digo aramda (s
III), se seguirmos o sentido
pretexto para oprimir os melhores cidados. Tcito, Anais, 111, e rnzo deste Alvar, deve ser castigada com as mesmas penas,
38, Suetnio, in Nero, cap. X X X I I , e Dornitianus, cap. XII. ou ainda maiores, visto que um delito mais grave. Porm,
esse Alvar no faz meno especial dele, nem da simfiles sedi- OS QUE ARROMBAM -4 CADEIA, FOGEM DELA
o ou sirfipZes resisf?zia sem armas. E SOLTAM OS PRESOS

O crime de lcsa-rriajcsradc cai smciite sobze os que ofendem 3 VI11 - sedicioso em extremo grau e comete crime capi-
o Principc ou o Estado imcdiata c dirrctam~nte,como dizcm, no se cal aquele que, com mau dolo, e principalmente com forca ar-
devendo considerar rus deste crime os que, por razks particulares, mada, tirar da cadeia pblica um preso j condenado morte,
P no para ofender o supremo poder, resistem ao: juzes e oficiais no
arrombando a priso ou por qualquer outro modo. Assim se
eserccio de funes. Po? isso, a simples serlio ou iesisidncia , de
facto, um delito grave, mas nem capital, sobretudo quando praticada deve entender a Ord. liv. 5, tit. 48, 5 I,Man. tit. 35, 5 r, Afons.
sem x ~ r o s nem
, de lesa-majestae, contando que no a ataquc dircc- 90,3 2. Deve, porm, ser mais brandamente punido aquelc que
tamente, nem degenere em rebelio, nem seja cometida em favor de isso fizer, usando, no de fora, mas de indstria, dolo bom,
rkus <c lea-majestade; r n ~ s t esentido se devc cntcnder o referido ou corrupo do carcereiro. Mas muito mais brandamente ainda
Alvar. Gomcz, Varian~iiz.tomo 111. cap. TI. n. 7, Tjmit. I. A juns- se deve punir o cnjilge que, com traje mudado ou outros arti-
prudncia e o uso forense aprovam este entendimento, visto que, nem fcios e fraudes, tirar da cadeia o oiitro conjuge; temos sobre
antes nem dcpois do dito Alvar;, rcmos apiicada a pena de moite
isto o cClel>reexemplo de Maria Reygersberg, mulher de nimo
a semelhantes criminosos. Os que resistem justica, isto , aos magis-
trados e seus oficiais, Ord. liv. 5 , tit. 49, iifan. 36, ora so punidos
viril, que libertou seu marido Hngo Grcio da priso dum cas-
com a morte, ou amputaco da rno em ca;o dc fcriincnto feito na telo. Veja-se, querendo, Plutarco, no opsculo Illustres nzulie-
luta, ora com o exlio para Afnca ou Brasil, conforme a qualidade res, e Gomez, V a e a r u m , liv. 111, cap. IX, n. 12. O ru preso,
dos resistidos c d& reiistna. Com estas m e m a s pcnas so punidos que fugir sem vialnga nem arrombainento, no deve ser puni-
OE que arrebatam os presos, no dos drceres, o que constitui ceme do, Ord. liv. 5, tit. 48, 3, Engav, Elenzenta Jztris Criminalis,
especial ( 5 VIII), mas das mos dos quadriiheiros, Ord. cit. tii. 48, liv. 1, tit. XT,IX, 5 DXXXVI, visto que a fuga no delito; no
no princ.. Man. 35, Afons. 90. Mas. porque dclinqiirni rnais grave-
entanto, quando recapturado, deve ser encerrado em cadeia
mente os estranhos, que pela rpsistncia tiram das rnos da justia
uIn preso, a que no cst20 ligados pelo sangue, do que um filho ou
mais segura e severa. E injusto ter-se um r611 como confesso e
um parente que tira o pai ou o cnnsangunco; e estes mais do que convencido, quando faltem outras provas, pelo facto de fugir,
O prprio preso que por si, sem outra fora, se libertou da cadeia, pois pois podia praticar este acto, no por se julgar criminoso, mas
parect. ter grande desculpa iio amor da sua libcrclade pessoal: todos para evitar as incomodidades do crcere (Tit XVIII, 9 VI),
fcilmente vem que os rbus de violencia pblica no devrm sofrer. Perez, ao tit. De cztstodin reorum, n. 14.De facto, conforme bem
todos, penas iguais. No entanto, as leis ptrias quase sempre despre- diz Ulpiano na lei I do tit. De bonis eorum qui ante sententiam
zam estas e outras scinelhantes diferenas e desculpas, que o senti- nzortem sibi consciver~nt,deve perdoar-se quele que de qual-
mento de humanidade e a natiireza do dciito su3ministram. Deve-se,
quer modo quis salvar a sua vida e (julgo dever acrescentar-se)
porrn, d i s l h p i r sempre a vioIncia simples, sem armas e seni efeito,
d a qualificada e sediciosa, e tambm a injiia verbal e simplcs dcsa- tambm a liberdade natural.
teno ou desobedincia s ordens dos magistrados da violncia E no obsta a Ordenao cit. tit. 48, 3 2, ibi: E ser havido por
cometida contra pessoas pblicas em fiines ou fora dela:, pois c:tt. provado o maleficio de qgalquer preso, que fz<@'r da cadea, quando
crimes menores so punidos com priso segundo o arbtrio do julgador, asai f o r quebrada, posto qzte se lhe no prove, que par seu mandado
d a d o Alvar de 24 de Outubro de 1764, 9 3. Ord. liv. 5, tit. jo. se fez, visto que necessiriamente se tem de entender daquele que fugiu
Man. 66, Afons. gr. pela violSncia e arrombando a priso, desde quc haja outras provas
verdadeiras, pois ningiim deve scr condenado por provas falsas; ou ('RIM?: DE CARCERE PRIVADO, C QVEDI O COhWI'E
ento deve dizer-se que as palavras ser hauido por puouado o male-
ficio se tm de referir, no ao delito principal, mas ao arrombamento
da cadeia, quc se presurne fcito por instigayh do ru, se no e provar
5 X - Comete crime de crcere privado aquele que, sem
autorizao do Prncipe e fora, prende algum mesmo cri-
o contrrio; porm, ainda neste caso, deve ser punido mais suave-
mente do qiir um arrombador estranho (Sit. XVIII, $4 IV e VI. minoso por 24 horas em sua casa ou em outro lugar. Uma cons-
deste livro). tituio de Justiniano impunha que quem fizesse isso, sofresse
tantos dias de crcere piblico quantos os que tinha feito sofrer,
e que caisse da causa que tinha contra o encarcerado, lei 2 do
E OS CARCEREIROS QUE DA0 FUGIDA AOS PFiESOS
tit. De Privatis carcsribus ilzl~ibendisdo Cdigo. Esta pcna qua-
3 IX -Todavia, no merecem perdo os guardas do cr- drava melhor ao deIito que a de aoites ou exlio para Africa,
cere, que por dolo ou suborno deixaram fugir os presos; S% estabelecida na Ord. liv. 5, tit. gj, no princ., Man. 68, Afons. oz,
condenados morte, no caso de o ru estar j condenado a S: 3. Incorrem neste crime: r ) os nobres que prendem e encar-
eIa, e, no estando, h pena de aoites e degredo por dois anos ceram os seus sbditos e vassaios contra sua vontade; 2 ) os
para frica; e assim se deve entender a Ordenao liv. r, tit. 77, bispos que sem licena rgia tiverem crcere pblico ou par-
5 3, lei 4 do tit. De ustodin et exijibitione reu7um do Cdigo. ticular, pois, s dcpois dc pcdido r cibtido, podem exercer este
De facto, antes da sentena condeiiatria o preso no devc ser poder jurisdicional, Extravagante de 28 de Abril de 1647,apud
considerado ru, e, por isso, os seus gu?rdas no devem ser Ord. liv. 2, til. 9, Coieco I, N. I; 3 ) os monges; no cntanto
punidos com a mesma pena que ele prprio teria de sofrer. Por -lhes permitido ter crceres privados, onde podem deter tem-
conseguinte, neste caso e apenas quando esto em culpa, sero pornamente os frades mal comporlados para fins correccio-
punidos mais brandamente, segundo o arbtrio do juiz, con- nais, por justas causas, e segundo constitiiies prprias, ex-
forme o grau dessa culpa, falta dc pena l~gitinza.Pereira, pressa riu tcitamente aprovadas pelo poder eclesistico e civil,
De~isio69. Devem, porm, os guardas separar os rus, con- contanto que os crceres sejam saudveis e criados mais para
forme a diversa qualidade dos seus crimes, Ord. liv. I, tit. 33, vigilncia que para pena ou castigo, e desde que aos reclusos
9 2, ibi: e aprisoal-os segu7zdo os rnalejictos, cnz que forem no falte todo o necesslirio vida, trato humano, permisso de
cul#ados, Man. Z; 3 2, Afons. 32, 5 2. totalmente desumano plenissima defesa, e, finalmente, a livre faculdade de conversa-
e perigoso lanar juntos na mesma cadeia os ladres, assassi- rem com os religiosos bem morigerudos. Afas, se os superiores
nos, etc., e os encarcerados por motivos correccionais, pois no Eclesiisticos abusam neste aspecto, o que lamentamos ter suce-
h gnero nenhum de maldade que no se d ~ v atemer da. dido mais de uIna vez, ento os opri:nidos tm sua disposio
extremamente de recear que os incomgveis corrornparn com os remdios do dircito, tais como as apelaes para o juiz ou
seu convvio aqueles que a sociedade quis emendar com o cr- para um homem bom, os agravos e o recurso para o Princpe
cere. No entanto, estes cuidados cabem ao magistrado policial, ou para o Tribunal da Coroa (l~istituies,Do Direito Pblico,
cujo dever providenciar para que os crceres de correcqo Tit. V, S: LVII, Nota). Tambm o magistrado ordinrio pode
estejam separados dos que se destinam aos homicidas, aos trai- e deve, mormente quando for implorado o sei1 auxlio, interpor
dores, e aos homens j perdidos (Tit. I, XIX, deste livro). a sua autoridade, e se no pode julgar a causa, pode pelo menos
repelir a violricia e proteger os direitos naturais de homem Lisboa de 18 de Agosto de Im4 (Instituioes de Direito Civil
e cidado que o monge no perdeu com a sua profisso. Ora, Portugub, liv. IV, tit. XXII, 5 XVIII). Por isso, no tm hoje
so demasiado acerbas e qui alheias a todo o sentido de autoridade nenhuma as 0rdenac;es do liv. 4, tit. 76, S 3, e do
humanidade as informaes que acerca dos crceres monacais liv. j, tit. 95, $ 3. E perrnitido, para efeitos testemunhais, reter,
e outras matrias anexas nos do Ameno, torno I, Quaest. V e ou prender, em local para isso destinrzdo pela Autoridade, o
seguintes, e noutros passos, e Anacleio, ao tit. De adcztsaiio- gado apanhado a pastar em campo alheio, Ord. liv. 5, tit. 87,
izibus, 8. Mercccm completa leitura a Constituio da Impe- S J, Man. 62, I.
ratriz Maria Teresa de 7 de Setembro de 1771, apud Riegger,
No este o lugar para inquirir qual o poder que pelo direito
P. IV da Juris$r~dentiaEccles., 3 D C X X I I , Nota, e a Reolu- natural, ou pelo direito romano, cabe sobre o? filhos. Vejam-se.
$20 Rgia de D. Jos I tomada em 2 de Naio de 1775 sobre querendo, Bynker~hueck,Uc jwre uccrdetcrt~ii,ueadendi, et e.rponefidi
Consulta do Desembargo do Pao, ria qual se manda aos hberos, Gerard Koodt, s i t Julius Par~lz~si i s I. q De aglzoscendis
corregedores das comarcas visitar os crceres dos mosteiros. e1 aiendif iihens, c Amicis, Respons. ao mesmo. No entanto, aprouve
e pareceu mais congruenle que as coiil~oursius dentro de casa entrc
pai e filho fossem decididas por julgamento daquele. Mas, se a qccesiv
E QCEM O N A 0 COMETE chegar ao ponto de se formar processo jzddlciai por znvlirias, gxandar
o i'reszdenie da provincia, a q ~ see recor78r, seguir a ordeiz do direito,
5 X I -Exceptuam-se o pai e o senhor que podem casti- coslu~nadanas conkendas pecuniriai, lei 4 do tit. De palia potestate
gar e prender em casa o filho e o criado, contanto que a atro- do Cdigo. Deve, porm, o Presidente ditar a sentena que o pai
cidade do facto no exceda o direito de correcco domstica, qiiier que sc dite, lei 3 do mesmo tit.. Tambm ns seguimos este
Ord. cit. liv. 5,tit. 95, 5 4, lei 3 do tit. De fiatria potestnte do direito. Na lei nica do tit. De emesdalione ~ro$inyuorumdo Cdigo,
os Imperadores do tambm aos cirinhos mais uelhos a faculdude de
Cdigo, Iei nica do tit. De emendatione servorttitt do Cdigo,
cor+gir os menores e castigar as faltas dos jouem. E -te aquele
e lei nica do tit. De emendalione fira#inqztorunz (Institair,es, ju'zo famiIiar a cxercer sobretudo nos delitos farmliares de filhos c
30 dircito das pessoas, Tit. IV, VII, e Tit. VII, 5 11). Pode o vizirlos, que hoje alguns tanto recomendam. E , porni, birbaro o
marido reter durante 24 horas o homem que achar em adul- que sc l na lei nica do tit. De emendatione seruonim, e que foi esta-
trio com sua mulher, se esse homem for dos que ele por direito belecido, no por Nero, mas, o que de admirar, por Constantino:
no deva matar, Ord. cit. S z,lei 25 do tit. ad Lege?nJuZinw~de Se o senhor bater com varas or4 correias no escravo, oz~o prender por
adulteriis. Quetn quer pode prender e m flagrn~zleos lares, os razes de segartinyrr, ,"em fazer dislinyn o s indrrpretacia de dia:, %tio
ho:riicidas c rus semelhantcs, e det-los at que possam ser apre- incorrer e m crime algum, se o escyavo morier. No assim no nosso
direito, que apenas roncede, tanto ao pai conio no senhor, o poder
sentados ao juiz, Ord. lir~.5, tit. 60, $ 7, e liv. r, tit. 75, TO, e
d e cahgar levemente, Ord. cit. liv. j , tit. 95, S: 4, ii: castigar, e
tit. 65, 5 37. Ora, que delinquentes se podem dizer apanhados emendar de mas manhas, e costumes; Decreto de 30 de Set. de 1693,
ei9z jlagraizte, assunto declarado no Diploma de Ij de Setembro ibi: Hey fio? bem, que os escvauos ... no sejtio mobrtados com ferros,
de 1593,apud Febo, P. 11,Areto 191.No entanto, no permiti- liem ~ljetfidos cm $I%i6e.~iiials nperiadas, que c q v ~ h s ,gup bostarei,~
do ao credor prender o seu devedor, ainda que suspeito de para a segurana, npiid Ord. cit. Culico 11, S r
fuga, e embora assim o tenham pactuado, aps a Carta de Lei
de 20 de Junho de 1774, 19, e a Deliberaco da ReIaqo de
VIOLENCIi1 PUBLICA COSTRA U.\I PAR? ICULAK, VIOLENCIA PARTICULAR
ISSO , A <ASSUADA*
5 XIII - A violncia dum particular contra outro punida
s XlI- Para haver violncia pblica contra um parti- mais ou menos se\ eranerite conforme os casos. O que violentar
cular, isto 6, assuada, no mister se faa com a m = ( $ 111). a casa alheia, que o local mais sagrado e inviolvel duma pes-
Go~ofredo, lei 152 do tit. Lle regzrlis juvir, Otto ao 3 6 do soa, ou lhc quebrar as portas com nimo de mal fazer, C conde-
tit. De interdictis das Institutas e ao Q: S do tit. De Publicis jaldi- nado a degredo perptuo para o Brasil, mesmo no havendo
ciis das Institutas. E, no entanto, necesrio que haja um mo- dario, Ord. liv. j, tit. 45, 5 4, Nan. 51, 5 3. O que fechar as portas
tim ou o ajuntamento de pelo menos dez pessoas ( 111) com por fora a outro, degredado dois anos para Africa ou aoita-
intcno de fazer inal, Ord. liv. 5,tit. 45, no princpio, ibi: fiara s
do, segundo a sua qualidade, Ord. cit., 5,hlaii. tit. 37, iilt..
lhe fazer mal, Man. 51. Portanto, os que invadirem em tumulto O que pcla forca tirar coisa sua a outro, punido com a perda
a casa alheia e ferirem o dono, os familiares, os hspedes ou do seu domnio, Ord. liv. 3, tit 40 3 2, tit. 78, 4, no fim, e
quaisquer outras pessoas que a estejam, so condenados liv. 4,iit. 58, no princ.. Por este motivo se probe qualquer pes-
morte; se no houver ferimeiltos, so condenados a dez anos soa, com pesadas multas, de ter homens armados e os trazer
de clegrrdo para Africa, scritlo nobres, oii para o Brasil, st: fo- cnrisigo pelas cidadci c caminhos pblicos, em tempo de paz
rem plebeus, sendo primeiro aoitados, Ord. cit., e liv. I, t . ou de trgua, Ord. liv. j, tit. 47,Man. 106, tirada da lei de
58, 9. D. Joo 1 i n s e ~ ano Cdigo Afonsino, liv. 5, tit. 96. As leis dos
STisigodossobre a violricia pblica e particiilar acham-se em
Ainda que nada mais perturbe a tranquilidade da HepbLica do seu Cdigo, liv. VIPI, tit. r.
que os ho:ueils aniinistrarsm justi$a por soas priiptias mus, apoiados
no seu poder, B assaz sabido que outrora os nossos maiores, tal conio O uso d a violncia e vindicta privada entre ns provado, alkm
as restantes naes da Europa, dciimiram as suas contendas mais pela de outras, pela ctlebre lei da reuindicfa, que sob certas condi~es
violkncia das armas que pelos tribiinais. Estc uso de resolver as coricedia, principa1:ncnte aos nobres, a vingaiia padcular. Fsistem,
questes pelas armas i. prnvado entre 116s pelos iucrnpius alegados alm disso, docunicntos da Iae ?IPia em quc se IC: qz~elea qzaem
na Mosarchia Lusitana, P. V , li\,. XVI, cap. 45, $as leis gerais de couber a heranca da terra, deve pertencer a veste de ~ a e ~ r isto
a , ,
U. Afonso L U de 27 dc Fevereiro do ano de 1310 da Era, apud Ord. a couraa, a vinganG~zsobvc o prximo, e o pagamento do aldio.
Aions. liv. 5, tit. 45, c pelas Ordenaes especiais iobrc este assunto E alC c v nas nossas Icis e C O E I U ~que
P S cada um podia vingar por
dadas em Coimlira por D. Dinis no ano 13x4 (Histria do Direito Civil autoridade prpria, por si ou par meio de outrem, as ofensas prprias
Purtugugs, 5 XLVIII, c 1.111, Knta, letra 6). Prnva~ne confirmam ou alheias, tendo-se invctcrado tanto estes hbitos, que no bastaram,
estc mesmo uso as cartas de inimizade passadas no Supre:rio Dcsem- para os purificar c extinguir, as leis ccpeciais dc D. Afonso 111,
bargo do Pao, de que se faz meno na Ord. liv. , tit. 3, 5,Man. D. Dinis, e D. Ifonso IV, repetidas em diversas pocas (Insetuies,
Liv. I, tit. 3, $ 22, por fim, posto que muito tardiamente, aD-rogadas Do Direito Pblico, 'it. 11, $ XXIII; Tit. XII, 3 I, Nota, deste
pelo 41var6 de i 0 dc I I a l ~ o de 1608, apud mesma Ord. Colec- livro). &Ias, conio essas leis foram escritas dcli>a!dc, pareceu pmdeute
o I, N. I . atalhar, por cena modo indlrrcto, o desenx~olvinientodeste mal, o que
se fez com a intrniiu8o por D. P d r o 1 dai cartas de segurana, e.
por fim, com o estabelecimento de asilos civis a e s ~ m p l odos Jude~is
Com estes meios, se no se e x t i u ~ r a i n , pelo minos atenuaram-si nobris, 6, ibi. E quanto he em feito de retos teemos fio7 bem,
inuitc> a ? \-ing;inas parti~ulares, as quaij. surgindri rnelhures tempos. e maadamos, qzie se guarde per aquellu maneira, que se griardozl
acabarani por ser clara e directamente proibidas na Ord. liv. 5, tit. 45 nntrc os filhos d'algo ataaqnii. Ainda hoje a- lei: militares exautoxa~n
c s c n i ~ i h a n t ~ No
s . entanto, auida rcsiaic vestigins da vial&ncia c vin- e transferem os militares que recusam o desafio para duelo. Por
dicia particular rio nos% direito, coino por exemplo nas Ord. liv. 3, conseguinte, havia duelos justos e licilos, corrio os que eram dccre-
tit. 59. 3 I, iiv. 4, tit. 23, 5 3, ti:. j7, $ I, tit. 76, S. 3 e iiv. j, tados pelo juiz sob certas frmulas e con&es, em cuja exposio
tit. 38, no pnnc., 5 I (Irrstitui$es, Do Dircilo Ptiblico, Tit. 11, talvez ocupe a primazia Carlos du Eresne, Uirsert. De duelks, tomo 11,
$ 5 XXIV e XXV). Su!i;r os maitinicc ilas outias naks, devem e duelos irijustus, aqueles que os menosprs~adorea das Ieis d c t c d -
li-.e Grcio, De jzrre Iielli ac p a ~ i s ,li". 11, ray. XX, Q VIII, Biiiliii, iiavarii qui claidastiiia quer abeitariiente por autuiidad yrpiia c
De rspztbiica. Sect. uit., Heinccio, EIe1,ief;la Jurzs Ger,nan~c~, hv. 11. scm dcciso do juiz. Porbm, em vo os Plincipes trabalhar5o pala
tit. zj. extingui-los, enquanto subsistir a falsa opinio de desagravar, pessoal-
mente pelas armas, e no pelos tribunais, a honra ofendida; opinio
DUELO esta, que, sondo embora de origem gtica. ainda hoje tem muitos
dcft~nsoiss,e a causadora da contradi3o enhe as prprias Ieis. Ela
rnuito mais poderosa que a autoridade das lcis c dos Prncipes.
5 XIV- Mas nenhum gnero de violncia particular foi Rousscau, Epitre Mr. d'Aicmbert sur les rpectacles. O tsibunal
iiiais v u l g a ~ - >gerieralirado e prejudicial Repblica que o especial chamado tribunal de honra, que m e t o recomendado por
duelo ( 111 deste liv.), que os nossos maiores, especialmente este escritor, e teria por funSo examinar os casos de honra e aplicar
os nobres e os militares, usaram para mostrar a sua inocncia penas adeqnaai, no do gosto pblico, nem suficiente para extinguir
ou vingar as injrias feitas a si ou aos seus. Visto que este mal o uso dua duelos, enquanto se mantiver aquela opinizo. Qse apro-
to inveterado havia de certo modo degenerado cm natureza, veitanz as leis sem a covrecco dos cosiumes? Horcio, Odes, 111,
XXIV, 35.
foram impotentes para o curar no s as antigas leis referidas
na Ord. Afonsina liv. j, tit. 53, Man. 93, mas tambm as novas,
CONCUSSO
apud Ordenao que usamos, liv. j, tit. 43, e as novssimas,
apud mesma (3rd. Coleco I, Nn. I e z.
3 XV -Uma espcie de violncia quer pblica quer parti-
O duelo que n a Ord. liv. 5, tit. 43, interdito tanto aos paisanos cular 6 a cunc.~~sscia,pela qual se erile~ideLudo aquilo que 6
como aos militares sob pena de confisco de bens, v-se aprovado, se feito, no pela violncia prpriamente dita, mas pelo medo do
intervier pelo menos iicena r;lgia ou judicial, nas seguintes palavras poder pblico. E, assim, cometem o crime de concusso os ma-
da Ord. liv. 2, tit. 26, g 2 : dar lugar a se fazerena avnias de logo, gistrados e oficiais que, abusando do seu cargo e poder, indevi-
ou de sanha entre os ~equcstados,a ter cavrpu entr8 elles. De facto, damente exigem ou impem alguma coisa ao cidado para Ihe
as leis ou costumes antigos pemitiam que cada um vingasse, com prestarcin os seus sei-vico; e tambm o comete aquele que,
ferro e armas, a morte e ofensas dos pai-entes, coniu rarista da lei
dada por D. Afonso IV em Coimbra a 17 de Maro do ano de 1364
sendo-lhe feita semelhante imposio, indeuidame~ite d ou
da Era, j. 3, ibi: Porem porque nos nossus Regnos ea 11Ga ;izaneiia faz alguma coisa para evitar o poder, medo ou perigo dos fun-
usada, que cada ?I; queria acooimar (isto 8. castigar) W:OT:P, d deshonra cionrios. Quase o rnesmo se debe dizer dos superiores c pode-
de S E U S fiarentes, segundo llres pertencia ewz deilido, vinganca esta rosas, que fazem imposies idnticas, e dos particulares, que,
que D. Afonso proihiu n a q ~ e l alei, embora ~>ernGtisseo duelo entre simulando ordens dum magistrado e incutindo o terror, extor-
quem injustamente alguma coisa aos sibditos, lei I do tit. De participado ao juiz. Leyser, Disput. Df stmpvo 7~iole>zto,n. 4,
conczcssione, lei r, 3 3, do tit. De alumniatoribus, Donnello, Gothofredo, lei I do tit. De raptu uirginunz do Cdigo Teo-
Comnzentarii, liv. XV, cap. XL, Strykio, Dissert. De fac. jud. dosiano. O estupro sinzpIes, isto , volztnlrio, no tem aqui
de fact. lugar, visto no constituir violncia pblica ou particular.
As nossas lcis rijo fazem meno especial desle dclito: no entanto,
vem mencionado iio 89 do Ediclo de S~odorico,Rei dos Ostrogodos, Sobre o estupro violento, que os nossom antigos charria7-arn rousso,
"nde diz: Se aigaim, para aierrar nutro, formar ou a s ~ u m i ro co7iiando roussar, r hoje fo,a, for<amenio, forciir, c maneiia de o provar. com

duina forga, arrogando-se assim u m poder que no tein, sofra a pena gritos c choros, exijtern, e~ittcoutras, as leis especiais de D. Afonso IV
d e aoites e degredo perpiito, sendo pco, e a de desterro, sendo e D. Pedro I repetidas no Cdigo Afonsino, liv. j, tit. 6, As quais se
nobre. No Cdigo dos Visigodor, lei 2, liv. 12, tit. I, inandade qzte deve juniar a OrdcriayZo citada, que usamos, ti*. 18, 6 3, no fim,
o coade, vigLirio, o u uilico no intenleni agravar, para sua uliliclude, iliir bradando cada nina das dzias pessoas, e rir. 134, 5 z. ibi: se
os povos, com tributos, exaces, obras o u semzos forcados ... que aIgu;iza ?iiulhev fosse coriupta de sua vfigindade per forca, d e noite.
nZo exeram podar nenhum sobre hoinenr pavticzclares, n e m os mo- ou d e dia ... e bradasse logo no dito ernior Foo me f e z isto. Aquclc
lestens d e modo algum. Se algum juiz il~Jnltg7esla nossa constituiro, que desfinrar uma mulher nl,il corri seu asscnfimento, no se dir
seri p7ivado dc seu cuvgo e obrigado a pagar, para o nosso fisco, dez ru de.te crime, e ser, por isso, punido com outras penas extraor-
libras d z oiro. Por conscguintc, linje, no entender de Capzov. p. z, dinrias. O mesmo c deve dizer daquele que violentou uma imkcil
quesi20 go, a pena da concusso pode consislir ou na privao da ou cmbiiagada, pois tal muiiler nio o sofrcn contrariada, visto no
dignidade, ou no desterro, ou numa multa. ter querer nem no qiierer, bi 3, do tit. De regulis juris, Caldas,
a lei Si curatoreitt 3 do tit. De i n integrum restitutioize minonlrn.
palavra sua facilitate, n. 60, Eoehmero, Elemenla Junsprudentiae
Criminal&, %r. X I , Cap. V, 9 CXXXI, Nota.
ESTUPKO VIOLENTO

5 XVI-O estupro violento, tanto contra donzela ou viva, O QCE E O RAPTO. SUAS ESPECIES, E PENAS
como contra mel-etriz, S crime capital, Ord. liv. 5, tit. 18,Man
14. Afons. 6. So igualmcnte punidos de mortc os que auxilia- 5 XVII-Pela mesma razo que o estupro violento clasi-
rem o estuprador, Ord. liv. 5, tit. 18, no fim do pnnc.. Nem o ficado como violncia, tambm o o rapto, ou seja a condu@o,
conscntirnento posterior da violentada nem a contrac~o de violenta e contra vontade, dttnzn pessoa honesta d u m lugar para
matrimnio com ela evitam a pena, Ord. cit. I. No basta, outro $ara fiws libidinosos. H duas espcies de rapto: o verda-
porm, qualquer violncia, nias uma tal, que a mulher no deiro, que consiste no arrebatamento duma pessoa diirn Iiigar
possa resistir-lhe sem perigo de vida ou perda de membros. para outro, c difere do estupro violento por este no requerer
No basta, portanto, o medo de crcere, de infmia, de revern- arrebatamento; e o rapto por seduo, que se d, quando a
cia, de ameaas verhaiq, e muito menos os rogos, ainda que pessoa levada, no fora, mas com tais enganos e carcias de
importunos, os afagos, as adula$8es, e qualquer violncia muito amor, que pouco parecem distar da violncia, Ord. liv. 5,.tit.
leve. Este delito prova-se especialmente com qu~ixiimes,gritos 18, 5 3. Os que, seduzindo filhas de famlia ou mulheres ho-
ou choros aps a prtica do delito, que deve ser imediatamente nestas, com loucos amores. a violentarem para fins libidino-
sos ou para conseguireni um casamento doutro modo invivel, una fuga inlrnpesn di canaune co>Lienso;se confonde i1 ruito non uio-
contra a vontade dos pais e como que em desprezo deles, so di una fnnciulla col raito v:oleizto di una ~ o g l i e :se all'istessa
havidos como raptores, e pui~idos com as penas de rapto, pena desiinala fiel rapitore ar;;;nfo, che nnn si propoac alivo s c o p ~
mesmo que no haja arrebatamento, Carta de Lei d 19 de nella s ~ i a wiolenza, se non qztello di soddisfare ai stio Zi;nlale
appetito, egli conianna diw trailrportati amalzti, che n.in hunno
Jimho de 1775, 3 I. Hoje pela Novissima Lei de 6 de Outubro
altro oggetio nella fuga, cke qrtello di render legittfiiza lu 1070
de 1784, 5 9, as maiores de r7 anos no podem querelar nem unaone con u n sucro viacolo; se cih che lu naiura pernbeltc, e la sola
acusar criminalmente por estupro voluntirio, e tambkm por societii condunna, k ugzra1;nei~le pztnito di qufllo, c h ~oondannato
rapto voluntrio, ou de s e d u ~ n o ;podcm-no, no entanto, Pazer v i c n ~dall'wna, e dall'altra; se, i n poche parolc, di tanti dellizi cosi
seus pais, tutores, curadores, e, falta destes, os irmos. J a diversi ira loro, se ne fa u n solo, coa una sola legge, con %:nasola
menor de 17 anos pode no s acusar criminalmente, mas at sanzione; in qadeslu caso tutle le regole, che diriggono i1 polere legzs-
demandar civelmente, o estuprador e sedutor, no para obn- Lfiuo, e deternzinano i limhi dela sua estensioiie, verrebbero co??culcatc,
e lese da una Zcge cosi ferncs cd assurda. Ecco ci che si d7oe.a nilla
gar o rCu a casar, mas para a dotar segundo sua quaiidade e
lege da Costantiwo, Gnnoriata da Giastiniano, ed rnreritu i n qttellu mos-
condio, conforme a dita Lei (Vide Decreto de 31 de Julho trucsa collezione de' mon!rmenii iella sapienza, dclla ferocia, e dell'
de r78;), a qual, todavia, no tem lugar nos crimcs de rapto imbecillit de' uar? legislatori di Roma. I1 maitore infelice ?;iene 2%
verdadeiro e ealupro violento, yais um c outro se vem ser questa legge condannato alle fiamri~e,o alle fiere. Se 1a v e r p z e dichiara
crimes capitais, segundo a citada Ord. liv. 5, tit. 18, no princ., di ave7 presiato i1 suo consenso a1 ratto, h x g i da1 salvare 81 suo
e 5 3 (Tit. X, 3 X, deste livro). ainnnte, si espone a dividerne i1 destino. I parenti della donzela saen-
tiirala, r: colpa~,oli:svnv oiibiignti ad uccrware in git'stkia i? r a p i l ~ ~ e ,
e se, cedendo mofi dclla natztra, e de1 sungue, cercano de coprire
Contra os raptores de virgens, 1-ivas, c religiosas estabclcccu l'insullo, e ri$uru~lo con una legitima ztnione, sono essi medesinzr
Constaniino 31agno muitas disposies especiais e m seu Edicto que cotdannali all'esilio, e confiscati i 1070 beni. Gli schiaui dell'z!no,
vem na lei I do tit. De rapiu virginzcm uel viduarunl do Cdigo e dell'altro sesso conuintz' di auer favorito i1 ratto, o lu sednzione,
Teodosiano, as quais Justiniano fez todas suai na lei nica de igual verrgono brxciati U ~ J Lo cosldaanati a spirare sotto l'orn'bile tormento
titulo do Cdigo, Novelas rqr e 150. -4 respeito selas rprcscnta de1 pioinho lzquejfato. La piescrizrcne di qtlesto dellito non limiinta
Filangieri, tomo IV, cap. L , pg. 419, csitn nnoliveii o;).-ervaes: ad un determiaato nuinrro de unni, e le consegilenze della aente~~za
Constantino, io dico, fzt i'aufore della celebre legge conlro i2 ratto, si estendono fino frtrtti in,toce;i?i di quesla illegitima unione. Qziesta
che offende nel tempo istesro l'humaniti, la ragione, e la giustizia. la legge iii Costantino, conra ia quae noi ci siamo coit r a f o a e
Che u n uomo c.iolento, ed ardiio estragga con uiolenza zrna fanciulla scagliati. Mais comentrios traz o xitor annimo do livro francs inti-
da1 paterno tetto; che violando i doueri della natecra, e qualli della tulado Hisloire des rt'vohiioas arriuies dans le Gouuerncine?zi. les
socret repisca con violenza Ia nioxiie ollo s4oso: che cnmiar:rinaodo Loiz, et I'espriL humain, pris lu cozuersion de Constaniin jusqu'
le domestiche mura porti la desolazione e l'obbrobrio nella fainiglia, Ia chute de I'Emptve de l'Dccide~%t, Haye 1783. Nio cabe falar aqui
che le abita: che u n uoino di qvesta nattira espii colla perdita della das penas cannicas conti-a os raptores; no entanto, veja-s?, querendo,
vita I'oltmggio che ha recato alla donna, alla famiglia, clla societ o Trindentino, Seis. XXIV, De reformafione wata'monii cap. V I ,
intera: i n questo caso la ragione non potrii condannare i1 sacrijizio, n Riegger, JuMprudeaLia hccles., P. IV, 5 CLVII e DXXVII e seg.,
piangere snlla sciagura della uittinza, che s'imnzola a1 decoro dei Berard, tomo IV, Disseri. IV. cap 111.
costu+ni. alla sicurezza pubblica. ed alla do;nestica trnnyeilliti. Ma se
la ferocta, o l'anabecillilu di u n legislnfore confonde c01 rnfin oiolelzto
bem OLI combinam receber dinheiro; 3 ) os que utilizam insg-
nias ou selos alheios com o fim de enganar outro, praticam
parto suposto, abrem cartas seladas, mudam marcos nos cam-
pos, falsificam medidas, cunham moeda falsa, aambarcam
gneros, e, para resumir, todos os que prevaricam torpemente
em seus ofcios.

DA FALSIDADE E ESTELIONATO COM QUE PENA DEVE SER PUNIDO


O QUE FALSIFICA ESCRITURA E TESTAMENTO
O QUE E A FALSIDADE E O ESTE1.JONATO
5 111-O escrivo ou tabelio que fizer uma escritura
falsa, punido com a morte e perda dos bens para o fisco, Ord.
I-Chama-se cnme de falsidade qualquer nzz4dana
iiv. j, tit. 53, no princ., hlan. 7, 4, Afons. 38. So punidos com
ou supressrio d a verdade, Jeita c o m dolo m a u , e m prejuzo dou-
estas mesmas penas, conforme a qualidade da falsidade e O
tro, e especial ou geizricanzente proibida Itns leis. Devernos,
dano por cla causado, aqueIe que mandou ao tabelio fazer
pois, distingui-lo da falsidade, porqur eqta toda a aitrraio
o instriiincnto falso, e a testemimlla que cientemente o assinou,
da verdade, por meio da mentira, engano ou retichcia, maE,
Ord. cit. $ I. Aquele que oferecer cm juizo um instrumento
no se diz crirne de falsidade, se no for feita com dolo e pre-
falso, embora no o use, degredado dez anos para frica,
juzo para algum. Contudo, pertence ao cnme de falsidade o
Ord. cit. 2, se de qualquer modo tiver participado na falsi-
estelionato, isto , aquela alteraco ozc supvesso da verdade,
dade; assim se deve cntcnder a mencionada Ordenaco de har-
feita e m prejuizo doutro, m a s sem ?tome particula?, xenz desig-
monia com a do Cdigo Afonsino cit. tit. 38, r, da qual foi
~zaonas leis. E esta diferena entre crime de faladade e este-
colhida, e que tem por fundamento a lei 8 do tit. ad I-egem
lionato, que foi tirada do direito romano, v-se admitida na
Corzeliam de jalsis do Cldigo. Alm disso, esse tal perde a
Ordena~oliv. 5,tits. 52, jq, 54, 5.5, 56.57, 58 e 59, ern que se fala
causa, Febo, P. 11, Aresto XVI, Mendes, in Praz. Snecul., liv.
do primeiro, e no tit. 65, em que se trata, parte, do estelionato
111, cap. XIX, 5 111, n. 37, contanto que tenha conscincia da
( XIV deste livro).
falsidade; e no evitar a pena, mesmo que declare no querer
usar do instrumento. Aquele que com mau dolo fez, assinou,
ou recitou um testamento falso, ou tirou, ocultou, ou destruiu
um verdadeiro, comete crime de falsidade; mas, como as nossas
I1 -A alterao, isto , a imitao d a verdade, como leis no fazem meno nenhurria deste crime, parece que deve
vem na Novela n, no princpio, comete-se de vrios modos, ser punido, no com pcna corporal, mas com o'exlio, e com
sendo, por isso, vrias as esp6cics do crime de falsidade. Di- a perda do direito que do testamento podia provir, (3rd. cit. tit.
zem-se rus de ta1 : I) os que falsificam um testamento ou outra j3, 9 2, e liv. 4, tit. 84. Sobre o falso testemunho vejam-se as
escritura; 2 ) os que dizem falso testemunho, ou para isso rece- anotaes que fizemos acima no tit. 11, S $ XVIII e XIX.
Aquele que arguir qualquer inqtnimento de falso, no C admi- ou qualquer outra coisa que seja prcjudicial sade ou dimi-
tido a acusar em juzo, sem primeiro se obrigar a que, no pro- nua o seu valor at um marco de prata, Ord. cit. tit. 57 e 59,
vando a falsidade, haver a mesma pena que haveria o acusa- Man. 87. So condenados morte os que falsificam os sinais,
do, Ord. liv. 3, tit. 60, $ 5, que est hoje quase em desuso selos c diplomas do Rei, Ord. liv. 5, tit. 52, Man. 7, e com a
(Tit. XIII, IV, deste livro). pena do exlio, e, no caso de no ter descendentes e ascenden-
tes, com a perda dos bens, os que falsarem os selos das cidades
A pena do cnnie dr falsidadi dcvc icr dciinida concoazte os seiis e jiizes superiores, e os sinais pfiblicos dos tabelies, na mesma
graus, inalcia e prejuzo, n i o podcnda s-r, por isso, nni:orr?.e. As Ord. 3 I. Os que abrirem as cartas enviadas ao Rei, Rainha,
nossas leis nem especificam este crime nem estabelecem penas certas ao Prncipe, ou a outros, ou as que vo seladas com o selo real,
a aplicar a todos os falirios. A pcna dc mortc, coiri que se manda so punidos ou com a morte ou com o exlio, ou com a confis-
pimir alguns rus, sbwenic parece dc aplicar no caso de a cccritura
c a ~ ode bens ou com a~oiies,conforme a sua condio e o
ou testamento falso o r i a a r a morte dum inxente ou outro dano
scirielhante, se que na natureza pode haver dano semelhante, Dru-
prejuzo resultante de tal abertura, Ord. liv. j, tit. 8, hlan. 80.
nernan, i lei 16 do tit. De lestibus, Boelimero, EZc:zeiifu ]:cri,+.
Cn,inni;l, Sect. $1, cap. XXXI, 5 CCCXXIX, Nota. E asqim se
obseiva n a prbiica, pois rio vemos condenados m o t e nem os p-r-
OS QUE CO\IETEM O CRDIE DE PAXTO SUPOSTO
juros nem os noti,cis falirios em que abunda o nosso tanpo.
E AIUDA'IGA DE MARCOS

E QUE PENAS S E DEVEM IMPOR -405 QUE USA11 4IEUIU4S FALS'IS,


5 V - Os que cometem o crime de parto suposto, perdem
ADULTERABI OS JfAhTI&ILNTOS, ARREU ;1S CARTAS DEL-REI, os seus bens e so degredados para sempre para o Brasil, Ord.
E FALSIFICA41 OS SINAIS E SELOS liv. 5, tit. 55, no princ., que uma Ordenao especial, pois,
que eu saiba, no tem concordante nos Cdigos antigos. Mas,
5 IV -Aquele que, usando medidas e pesos falsos, causar porque a mulher pode ser acusada logo, sem se esperar pela
com isso um dano superior a um marco de prata, condenado puberdade do pupilo, apenas pelo marido, e, se este houver
morte, e, se inferior, a desterro perptuo para o Brasil, Ord. momdo, peIos herdeiros testamentrios ou legtimos, sem que
liv. 5,tit. 58, Man. 87, Cabedo, P. 11, Aresto XII. E5 esta tam- a sentena criminal contra ela ou contra o mando ou contra
bm a soma de dinheiro que, para aplicaqo da pena capital ambos aproveite ou prejudique ao pupilo; por isso, a questo
por furto, requer a Ord. liv. 5, tit. 60, no princ., a qual foi do estado civil deve ser protelada para quando o pupilo atingir
aplicada por analogia de direito aos corruptores dc medidas. a puberdade, Ord. cit. 5 2, Febo, P. 11, Deciio, 121, Valasco,
Pelas leis romanas, que neste aspecto parecem ser mais bran- Adlegatio 13,desde o n. 50, lei I e todo o tit. De Carboniano
das, os falsificadores de medidas pblicas eram punidos com Edicto. N o direito romano v-se que este crime implica a pena
a prestao do dobro e a quebra das medidas, lei 32, do tit. de morte, lei I do tit. ad Legem Corneliam de falsis do Cdigo,
De lege Comelia de falsis, lei 13,3 8, do tit. 1.ocoti Quase do devido B sua frequncia, como consta dos exemplos apresen-
mesmo modo so punidos os que corrompem os alimentos, mis- tados por Valrio Mximo, liv. IX, cap. XV, e Pedro Greg-
turando, por exemplo, no vinho ou no trigo gua, cal, terra, no, De Refiwblica, liv. XIV, cap. I, n. 8. Os que mudam, de+
troiem, tiram e de qualquer modo deslocam marcos, so puni- que vem em Leo, p. 4, tit. 9, e na novssima Coleco mesma
dos, pelas leis ptrias tiradas das romanas, com a pena de de- Ord. tit. 76, Strykio, De daudanauiis, cap. I1 e IV.
gredo de dois anos para Africa, Ord. liv. 5, tit. 67, Man. 95,
Afons. 60, leis z e 3 do tit. D e termino m o t o (Instituies, Do Di- Com tantos impedimentos das Ordenaes citadas quase se probe
inteiramente, ou pelo menos restringe-se para alm do justo, o negcio
reito Pblico, Tit. VII, 8 XIV).
de gneros; por isso, essas leis mais coarctm o abastecimento e pro-
movem a car&a que a abundncia; alni disso, opem-se proprie-
Ko se deve, por&m, acreditar fcilmente na mulher que, embora dade dos cidadzos e iiberdade dc comrcio. Se estas duas coisas
para descargo de conxitncia, confessa que o paito 6 suposto ou quc fossem pmdentc c devidamente harmunizadas e adequadas ao inte-
o filho no foi concebido de seu mando. Na verdade, esta confisso resse pblico, fcilmente podamos dispensar as leis mencionadas. Vide
mezmo extrajudicial, em que a m b abre os recnditos de sua alma, Filangeri, tomo IV, cap. XLVII, tit. IV, o Abade Gcnovesi, Delle
lei 339, 3 I, do it. De legalis 3, tem alguma fora, mas no tamanha, Leziuni di Commercio. P . I, cap. XVII, e cap. XVIII Sulla libert
que faria prova plena, pois elidida pela presuno em contrrio, dell'dnnuwa, Instifuies, Do Direito Pblico Portugus, Tit. VII,
que resulta da educao, longa hahitaco, e quase posse de fiEa@o. 5 XIIJ, Nota, e lio. IV, Das obrigaGcs e aces, Tit. 111, =VI.
E esta opinio defendida como a mais verdadeira em ambos os foros Kj.0 nos sobra o tempo para referir as leis romanas sobre o al~aste-
por Covamiiiias, ao cap. Peccalum, P.I, Men6qui0, liv. VI, Praes. cinento de gneros, donde as nossas foram extradas.
53, e Antnio Peren, ao tit. ad Legem Corneliam d e fales, n. 27
(Institnires dc Direito Civil Fnrtugu&s,Liv. 11, Do direito das pessoas,
Tit. VI, 5 11).

$ VI1 -Porm, o mais grave de todos os crimes de falsi-


OS QUE AAMBARCAhf GEKEROS dade o de moeda falsa, dizendo-se tal toda aquela que cunha-
da por autoridade prpria, se bem que de metal bom e aprovado
5 VI -De certo modo cometem crime de falsidade os e de justo peso, (3rd. liv. 5, tit. 12, no princ., Man. 6, Afons. j, 7.
aambarcadores. Classificam-se como tais: I) os que compram Por conseguinte, todo aquele que por autoridade prpria
e vendem no mesmo lugar cereais, vinho e azeite; z) os que cunhar moeda de metal, ainda que aprovado pelas leis, perde
exportam gneros sem licena do juiz; 3) os que compram todos os bens para o fisco, e morre morte natural de fogo, Ord.
cereais por melios, para os venderem por mais; 4) os que riu citada. Com esta mesma pena so punidos os scios no crime.
expem venda as mercadorias que houverem comprado, se- Os que diminuem, cerceiam ou corrompem moedas verdadei-
guindo-se da prejuzo pblico; 5) os que no querem vender ras, ou cientemente usam moedas falsas, so condenados a de-
s e u frutos por preos razoveis, na esperana de melhores gredo perptuo para o Brasil e a confisco de bens, e, se a dimi-
proventos; 6) os que, para provocarem a carestia das merca- nuio exceder mil ris, pena capital, na mesma Ord. $3 3 e
donas, fazem conluio oferecendo maior preo; 7 ) os que, com 4, Man. $ 5 j e 6, Afons. tit. 82, I. Presentemente, pelas leis
medo da carestia, arrematam as searas por amadurar, ou os inertas na Nova Coleco dita Ordenao, tambm os que
frutos na rvore. Estes e outros mais so todos punidos com a cerceiam moedas e de qualquer modo as corrompem, so con-
perda das mercadorias em dobro e degredo para Africa, Ord. denados a serem queimados vivos. E os que desfazem moeda,
fiv. j, tit. 76 e 77, h. liv. 4, tit. 32, 85 I e 2, Extravagantes perdem a metade dos bens e so degredados dez anos para
assim no irwios a alma que <i cirpo, o que seria inipio e desurn:rno,
Africa, Ord. cit. 5 5. Incorrem ncsta mesma pena os que des- como hrm diz Percz, ao tit. De falsa wionelo do Cdigo, n. 10, no
trurem ou estragarem moedas, esttuas e colunas antigas, por fim. E, na opinio dos Ictrpretes mais h m a n o i , no devem ser
f o r ~ ado Alvar cle L). Joo V de 20 de Agosto de 1721, apud punidos com a morte, Irias cixri aoites, cslio. ou confisco de bens,
cit. Ord. Colecco I, K. 5 (Instituies, Do Direito Pblico, aqueles que, e~riborapor a u t o d a d e prpria, cunham moeda bua, ou
Tit. VITI, 9: XXXII), Cabrdo, P. 11, Decisio 4.5, Valascu, a dimirlucrn, ccrceianl, tingem, d r s f i ~ ~ l r a me , drsfazern. Btithincro,
Adlegatzo 13, desde o n. 38. Elementa Jusispr. Crim., S e i . T T , cap. XXXII, g CCCXXXVII,
S t l k i o , Cs. ~nvd., ao tit. De I.ege come li^ de Jalsts, 6 V I llnstitui-
Aqi~ele ~ I I P fizrr nioeda falsa dr niat6ria mais fraca, e h q u i es. Do Direilo Phlicu, Tit. T'III, $ S X X I I ) .
mais gravemente, e ofende mais o cnmrcio interno e externo do qiie
aqnele diniinui, cerceia ou desfaz moeda de horn metal, oii cien-
temelite usa moeda falsa. Sendo, pois, diferente5 este5 ciiries, riprecern
OS QUE 3ILDAM NOMLS E MELIDOS
penas diferentes, d e ~ e n d oser distinguidos e separados entre si. Con-
hido, Iirm a prpria lei Coniblia, que Ciccro, i?z Vewei,?. I , 4 XLII, VIII- punido com a pena de falsidade aquele que
rhatna lestainentdria e n%mria; ncm as ConstitniSr>eid3s Inipriadores, toma um nome ou aprlirlo novo com prejuzo para oiitrem. Papi
nem as leis dos Visigodos e semelhantes, nem a i nossas. que t@mpor niano na lei 13 do tit. De legc Cornelia de jabis. Paulo, Senten-
furrdamento as iiltima 1r.i~ rornanas, distinguiruir com suficiente rigor tia&,liv. V , tit. 25; 6 o caso, por cxemplo, daquele que faz tm
esta dirersidadc de crimes. -4determinayo qiic manda qiip o mwdt'iro contrato coni um nome ou apelido diferente do que lisa, e, de-
falso seja logo, sem mais dblao, queimado u ~ o foi , pela primeira
pors, citado por fora desse contrato, pode execpcionar que no
vez zitabelecida por Constantino na lei 2 do tit. De falfa mvaeia do
Cdigo, passarido, depois, s leis de Portiigal e reitante Euiopa.
a peso? que se comprometerr na eqcritura. Igualmente,
Porm, to cruel pena foi i~npostapor estc alis ptitrio Princips, aquele que se fez passar por soldado, ou Bariio, ou usou tz'lulos
sobretudo por se haver persuadido de que os falsificaores de moeda que no lhe perlenciarn, ou vrajoa com passaporte falso, deve
eram rerdadeiros rus de lesa-majestade: mas no G o tais. salvo se ser punido seuericairnanzente conforme a qualidade d o delito,
cunharem moeda com intcn@o de usurparem uni iiircito majcstbtico, Mociestino, lei z;r, g 2, daqucle mesmo tit. do Digesto. Todavia,
e no corri o fim de utilidade ptssoal, como quase sempre acontece. sc no houver mau dolo nem prejuzo para ningum, esta fal-
Daqin sc s c p e m numerosisziiiios coiisect&iios especiais: r ) que a sidade 6 tolervel, porquanto lcito a cada um mudar de nome
p ~ o v adeste ctime se pode obter por tormentos, Ora. cit. 5 z; 2) qiie
todos so obr:gados a revclar c drnunciar os suspeitos deste cnme,
e apelido, lei nica do tit. De rnutatione nominis do Cdigo,
e com isso perdoados do delito e pre~aiados, 3 lt.; 3) que, mesmo sendo at uma solenidade para os adoptados, libcrtos e natu-
desconhecendo o delito, o dono da casa onde foi cunhada a moeda ralizado~tomarem o nome do adoptante, patrono, e doador.
perca cssa casa. se nessa altura csti\.cr pcrto dela, e no for viva Radulfo Fornen, Kei.zwz Q ~ o t i d i a n ~ r u mliv.
, 5, cap. XVII,
ou iinpubere, Ord. cit. 5 I, tirada da Constituio do Imperador apud Otto, tomo I1 do TResaurus Juris Rontani, pg. z6q, onde
Constantino na lei I do tit. De falsa +nonela d o Cdigo; e outros apresenta muitos exemplos tirados dos escritores pagos e ecle-
consectrios que foram cspcialmente estabelecidos contra os crinies de sisticos. Pelo nosso direito, us que, repudiando falsos sistemas
lesa-majestade e que hoje no agradam a tiidos. Lock, De moneta,
religioso9 regressam ao seio da Igreja, podem tomar livre-
IVIonlssquieu, s$nt des Loix, liv. XXII, Fiiangieri, tomti IV, tit. IV.
A pena de vivicombr?o seguramente j no est nem deve estar em
mente quaisquer nomes, apelidos e prenomes, Ord. liv. 5 , tit.
uso, porque ela fcilmente levaria o ru ao dejespero. prejudicando 92, 5 It. vers. Porem, tirada da Ordenao especial de D. Ma-
nuel de 31 de Maro de 1520, que figura em seu Cdigo, liv. 2, ou dos seus ministros e juizes, vendem ou prometem os even-
tit. 37, 9: lt.. Por conseguinte, a simples mudana de nome
tos de negcios e demandas, ou fazem qualquer coisa a coberto
ou apelido, e o uso de braso alheio podem ser tolerados, e no
do nome daqueles. Sobre este gnero de falsidade ou, como
devem ser punidos no foro criminal com penas externas, desde ihe chama Paulo, sobre esta mentirn, podem-se ler muitas coisas
que no haja m f, e a sociedade e os particulares no sofram
em Libnio, na Oraco Adversus ndsiduos a+ud Magistratm,
com isso detrimento; e assim se devem entender as Ord. cit. liv.
que juntamente com outras Jacobo Gothofredo publicou. Entre
5.tit. 92, Man. liv. 2, tit. 37. os males do tempo de Cmodo aponta Lampridio, na vida da-
Ao Prncipe dos feciais, que chamamos Rey d'armas Portugal, quele Imperador, cap. IV, o seguinte: Em seu governo os liber-
criado por D. Jozo I, Ferno L o p ~ sna Criinica deste Rei, p. 2, tos at os resultados das demandas vendiam. Deve ler-se a
cap. 39, pertence fumar os brases de armas, e compor c interpretar Ord. liv. 5, tit. 83, e o respectivo comentrio de Barbosa, Man.
as f i g u r a neles expessas, em mnfonnidade com o Regimento que lhe tit. 70, g I.
deu E1-Rci D. Manuel.
DA PREVARICACAO

OS QCE SE BAPTIZAM POR 1-CCRO, OS EALSOS hlENDIGOS, 9: X - A prevaricao Ci uma espcie de crime de falsi-
OS QLE AFECTAM VALIMENTO, ISTO E, SE DIZEM FALSA- dade, que cumcteril no s os acusadores, que traindo n causa
MENTE AIIITGOS DO PRINCIPE, DOS PODEROSOS, DOS J1:fZES ajudanz absoZvi20 do ru, mas tambm os que de qualquer
modo no cumprem o seu dever c agem com dolo mau para
3 IX - Comete crime de falsidade aquele que se baptiza favorecerem algum, o que se pode dar com os advogados,
para receber dinheiro ou qualquer lucro temporal, como sa-
procilradores, juzes, etc..., lei I, no princ. e 5 7, lei 3, 8 3, do
t~emoster acontecido mais de Irma vez principalmente com os
tit. De $rae.caricatione (hoje delinqui-se todos os dias neste
vagabundos. Strykio, Us. rnod. de Lege Cornelia de falsis.
aspecto, no s com dinheiro de contado, que leva os irnpu-
A pena deste crime, que pode ser reduzida a vrias classes, no
dentes a fazerem do direito torto, mas tambim com cartas de
6 definida pelas nossas leis, mas pelas romanas; merece, porm, recomendao e pedidos de pessoas importantes, mormente se
punio severa, embora com penas mais brandas que as comi-
os juzes delas esperam e procuram algum favoi) Debalde se
nadas no liv. I do Cdigo, tit. h Ne sanctum baptisma iteretur.
probem estas cartas de recomendao e pedidos dos poderosos
Semelhantes a estes so os mendigos validos que simulam enfer-
na Ord. liv. 3, tit. 98, nas Cartas Rgia de 22 de Fevereiro de
midade ou caso fortuito de incndio, doena, etc..., mentindo
1616 e 6 de Ontuhro de 1633, apud Coleco I1 Ord. liv. I,
assim, para mais ficilrnente obterem esmolas do piblico. Ma-
tit. 5,Nn. 17 e 18, e nos Decretos de 6 de Outubro de 1604, 25
teus, liv. XLVIII, tit. VII, cap. I, n. 1%Aivar de 2.5 de Junho
de Janeiro de 1645, e 19 de Novembro de 1722, que se encon-
de 1760, 9s 18 e 19. Tambm cabem aqui os vendedores de
tram na Coleco I1 Ord. liv. j, tit. 83, Nn. I, 3 e 4). No di-
fumo (os que afectam valimento), os quais so punidos nas
reito romano, aquele que se conluiava com o ru para este ser
leis romanas com degredo ou morte, conforme o modo do delito.
absolvido, era punido com a mesma pena que o ru deveria ter
Paulo, Sententiae, liv. V, tit. 25, 8 lt.. Chamam-se assim os
sofrido, lei 6 do tit. De praevaricatione. O nosso direito no
que, dizendo-se, falsamente, amigos ou familiares do Prncipe faz m e n ~ oespecial deste conluio; 110 entanto, requer, em

'35
favor do ru, que o autor se obrigue pela acusao em qualquer ou da Fazenda, que recebem quaisquer presentes de sem
causa-crime, ou pelo menos na acusao de escritura falsa, comarcos e sbditos, so privados do oficio e dignidade, e
segundo a Ord. cit. liv. 3, tit. 60, 5 5. Nas h o j ~ porque
, raro obrigados a dar ao acusador e ao fisco vinte por um dos pre-
o uso da inscrio e processo acusatrio, os delatores pblicos, sentes recebidos. Ord. liv. 5, tit. 71, Man. 56, Afons. 31 do
os advogados, os prociiradores, e os juzes que prevaricam mesmo liv., e liv. 3, tit. 138.Exceptuam-se os parentes prlximos
tanto nas causas-crimes, como nas cveis, so condenados res- e os amigos, dos q u ~ i s licito receber presentes, Ord. cit. e liv.
tituio do dario causado, e s custas simples, em do)ro, ou 2, tit 49,5 4,comidas e bebidas que pelo uso se consomem em

tresdobro, conforme a qualidade da prevaricao, sem qual- poucos dias. Febo, P. 11, Uecisio, 110. Com efeito, no devem
quer pena corporal aflitiva, Ord. Iiv. 5, tit. 118, Man. 43, os juzes abster-se totalmente d e preseates, mas izisso procedev
Afons. 29. com. mod~ao,pois hd u w t oelho firovrbio que diz
sisr riu-a. du:c rrju T:Z, L;-C zapci xsnw.4
O vocbulo preriancaBo, na medida em que comprernde os que
por qualquer forma faltam ao scu dever, geral e abrange todos os isto , n e m tudo, n e m sempre, nent de todos, lei 6, 5 3 do tit.
cnmca; Irias aplica-sc especialmente s aos quc ar afaslam dos cleveies De officio ProconsuZis. Os que recebem quaisquer ddivas dos
especico~do cargo a que esto ligados; e neste sentido a prevaricazo litigantes, so piinidos com a confiscao de bens, perda do
diz-se um delito especial o11 prprin para sr difcrenar do con~un?. ofcio e degredo, e, iio caso de a dddiva recebida exceder dois
Cabnn neste: I) os estalajadeiros que no declaram os seus h6spedes, marcos de prata, so condenados morte, Ord. iit. 71, $ I.
iVvard de 25 dc Jimho de 1760, 9 12; 2 ) os cimrgie que scmeihan-
Porm, so rus deste crime ii2o s os que recebem, mas tam-
temente no registam os fenmentos; 3) os delitos miiitares, puni<os
talvez com penas mais sereras do que justo e o rerlama a ingnita
b6m os que do, e estes, com isso, caem da causa, e perdem
nobreza dos nossos soldados, pelo Kegimcnto dado Cavalaria e In- tantc os bens prdprios para o fisco e para quem os acusar, como
fantaria pclu Conde de Schaunibuurg Lippe, a quc D. jus I dcu iigor todos 03 ofcios e bens havidos d'El-Rei, Ord. cit. no princ. c
de lei pelos Alvars de 18 de Fevereiro de 1763 e z j de Agosto de 5 4, lei lt. do tit. De Lege julin repeturtdaru9?1~Veja-se, qne-
17bq; 4) m delitos martimos, (3rd. liv. 5, tit. w, M m . 98, c outros rendo, Platio, no De legibus, Dilogo X I I .
que no h vagar de referir.
Cometem grave delito os juizes que se deixam corromper, ou,
a pretexto do eu oficio, exigem alguma coisa aos cidados, nii espon-
tneamente recebem presentes antes ou depois da sentenca. Mas, no
8 XI -O crime repetundarunz (de suborno), assim cha- tendo P S ~ E S cimes a mesma m a c i a , devem ser punidos com penas
mado, porque se podia exigir (refietendis) aos magistrados o diferentes consoante o grau de rnaldade, e a quantidade do lucro
aceito, e sobretudo deve distinpir-se se se trata de causa cii-e1 ou
dinheiro que eles extorquiam injustamente, Signio, De jud.
criminal. De facio, no entender de Macro, na lci 7, 9 lt., do tit.
11, n. 17, muito setnellianie ao de falsidade, e sempre extrema- De L e ~ eJulia repstunda~am, aquele que recebeu dtnhei~opara con-
mente detestado pelos nossos maiores, como se v de diversas denar irm 6untem d morte, 0x6, mrsmo sem o ter recebido, condenou
lcis de I). Dinis, D. Moilso IV, D. Pedro I, e D. Fernando, que Irm ixoccnta o:i algutm que no dezleria punir, esse deve sofrer a
seria absolutame~iteinrtil e prolixo referir, consoante j em .nzorf~ ou $elo titenos o dsgredo fiava uma ilha. Tambm i. ru de
seu tempo pensou D. Afonso V nn seu Cdigo, liv. 3, tii. 128, h o ~ c d i oaqiielc juiz que, pela forca, dolo ou ignorncia, levou o ru
3 r. Hoje os juzes de qualquer ordem e os oficiais da Justia confisso dum crime capital. \Volf. tratado L)e judice homicida.
Diert. Can. De Eege Julia ambitus, seu de prohibita officiorum
venalitate.
3 XII -Os que, subornando ou corrompendo, conseguem A afirmao da lei nica do tit. De suffuagiu do Cdigo de que
votos para obter qualquer magistratura ou honra, cometem o licito no s procurar obter por dinheiro os votos dos que vivem
crime de mbito, que uma espcie de falsidade, e so punidos junto do P ~ c i p e ,mas tambm que o que se ihes promete devido
com cem cruzados e infmia, lei nica do tit. De lege Julia e pode scr por eles pedido pela condicfio certi e x suffragio (pela
ambitus do Digesto. Esta Iei cessa na BIonarquia, fiorque a assignao por dvida certa provenicntc de voto), u m a afirmao
criacio de ~nagistradospertence ao cuidado do P r i ~ c i p e ,e no totalmente indigna e torpe, que foi, posteriormente, revogada por
ao favor do povo. No entanto, tem lugar nos municipios, e tam- Justiniano com a restituio que ele acahou por fazer, como parece,
da Iei Jlia nas Sovelas 8, 124 e 161. Sobre os incompetentes e ambi-
bm na prpria cidade, onde as honras so confendas pelos
ciosos que, conforme diz o Imperador na citada Novela 161, mais
votos dos outros. E, assim, infringem-na: I) todos os que cor- compram os oficios que os uecebern. e sobre os \lhistros dos Prncipes,
rompem com liberalidades os jiizes e dadores de cargos pbli- que, desprezando as verdadeiras virtudes, s promovem equeles que
cos, pois as gnlandes riqzeetas costunzam quebrar a santidade e s i o recomendados pelo favor, pelo sangue e pela amizade, resultando
verdade dos jzclg!gnmcntns, Ccero, i n Vcvrem Act. I , $ I ; 2) os dai serem os oficios ocf$ados 1>w irnhccis, incompetentes e indLggnos.
que disputam honras, para as quais no so idneos; 3) ou, que desonrara os cargos, vexam e deitam a perder a repzibica, quando
suposto sejam capazes, as procuram com malas-artes, e para em contrapartida se acham muitos vares doutros, que, rlespuezados,
andum a mendigar. definhando de fome, inzundicie, abandono e pen-
as conseguir prometem alguma coisa aos Ministros dos Prn-
ria das cmsas, e morrendo a obscncridade, eles que podm'am szinhos
cipes ( XI), Novelas 8 e 124, pela qual se v revogada a lei com seus dotes naturais e diuinos ser muilo Uleis na repziblica crist,
nica do tit. De suffragio do Cdigo. Tudo isto vigora entre se dela no fossem afastados por aqueles imbecis, drvcm ver-se, entre
ns, pois, sendo todos os juzes e oficiais obrigados peIas nossas outros, Groenuregen, De legibus abrogatis, ao tit. De lege Julia ombilus
leis a jurarem, antes do provimento do ofcio, que nada deram do Digesto, e AntUnio Mateus, De criminibus, iiv. XLVIII, tit. XI,
nem prometeram para nele entrarem, Ord. liv. I, fit. 67, 3 ij, cap. 11, n. 3. E , pois, totalmente verdadeiro e aplicvel a todas as
Man. tit. 45, S 11, no fim, c tit. I, onde se acha a frmula desse d e d a e s civis o que de Roma prcdissc outrora Jugurta (Salstio,
De Bello J*g?<rthino, 35): O cidade venal, que cedo hd-de perecer,
juramento, tirada da lei lt. do tit. ad Legem Juliam refietulz-
se encontrar u m comprador!
darum do Cdigo, fcil ver que so rus de mbito todos os
que, cnscios dc sua incompetncia, demandam honras, con-
fiados em suas riquezas ou no poder de amigos. Porem (com DOS RECEPTADORES
que dor o dizemos!) este crime, de que o nosso direito no faz
meno especial, impunemente admitido em quase toda a XIII -Os receptadores, que cientemente acolhem, ocul-
parte. Mas mais impunemente se admite o mbito em ofcios tam, ou prestam refgio a ladres e outros criminosos em sua
e honras eclesisticas, que chamamos sivnonia, e severamente casa, possesso, ou estalagem pblica, so punidos tal qual
proibido pelas leis civis e cannicas, lei nica, I, do tit. De lege como esses ladres ou facinorosos que receberam, Ord. liv. 5,
Julia ambitus, lei 31 do tit. De Efiiscofis et clericis do Cdigo. tit. 105, Man. 71, tirada da lei de D. Dinis dada em Lisboa a g
e por todo o tit 10 do liv. V das Decretais, e passim, Van-Espen, de Agosto do ano 1351 da Era, apud Ord. Afons. do mesmo
liv., tit. 100. No entanto, estas Ordenaes devem-se entender O ESTELIONATO
smerite rio caso de os receptadores scrcm manifestamente
scios ou participes no crime, formando sociedade antes de o
$ XIV -%o rus de esteliortato (em portugus bulres
praticarem, segundo a lei I do tit. De lzis qui latrnnes 71el aliis
e illi$adores) todos aqueles que nos contratos cometem gravs-
criminibus reos occultavevint do Cdigo. Com efeito, os czim-
simas fraudes, as quais impossvel enumerar, pois costumam
plices como so os simples receptadores, merecem punio
variar at ao infinito, no podendo, por isso, a pena deste de-
mais suave que os auioves (Tit. I, $ X). Mas muito mais suave
lito ser sempre a mesma. H exemplos de eslelionato na Ord.
ainda os que recebem seus parentes ou afins, fiuis, corrio ljern
liv. 5,tit. 65, Xan. 65, Afons. Eg de igual livro. A pena a im-
diz Paulo na lei z do tit. De receptatoribus do Digesto, o delito
posta a multa pecuniria e o degredo temporrio. A diferena
daqueles no igual ao dos que recebem ladres que no lhes
entre o estelionaio e a falsidade deve a sua origem ao direito
pertencem. Merecem total desculpa os que acolhem os pais,
romano ( $ I deste tit.).
filhos, marido, e esposa. Filangieri, tomo IV. cap, XLVII, tit.
I, Nota (Tit. XIII, S XXX, n. 7, deste livro). 0 s que, conhe-
cendo os culpados, no os recebern, mas ocultam, isto , no os SE, QCT.4'iD0 EM JLXZO SE L A l . 4 A ACUSllAO DE PALSID4DE,
indicam aos magistrados, no ficam sujeitos a quaisquer penas SE DEVE DECIDIR PRINEIKO A CAUSA CIVEL
no foro, lei 48, 5 I, do til. De furtis, visto que ningum ohri-
gado a acusar ou denunciar outro contra vontade, lei nica do XV -Xo devem (notemo-lo aqui de passagem) demo-
tit. V t nemo invit,z&.~
agere ael acusare do Cdigo. Por conse- rar-se as causas civei?, quando nelas se argui alguma falsidade.
guinte, a simples ocultao sem receptaco no : crime que Por isso, se se pedir um legado com base num testamento, ou
pelas leis civis possa ser punido ao modo ordinrio; por isso, dinheiro com base num documento escrito, ainda que tais do-
a Constituio de Marciano na lei z do tit. De is qut' latrones cumentos sejam acusados de falsos, deve-se primeiro decidir a
uel aliis criminibus reos occultauerint, as Ordenaes citadas, e questo cvel segundo o instrumento de prova, no obstante
as leis de D. Afonso IV, D. Fernando e D. Joo I tiradas da- a inteqosihn da questo de falsidade. E que no se faria
quela mesma constitnio, as quais estabelecem penas certas pequena injustia ao autor, que para defender o seu direito
para os que ocultam e no denunciam os culpados aos juzes, apresenta urn instrumento de autoridade, se, a pretexto da ar-
parecem de aplicar aos que simultneamente recebem e ocul- guio de falso, a causa principal e o juzo cvel fossem sus-
tam os criminosos. pensos ate que se decidisse o criminal. No entanto, uma vez
comecada a acusao de falsidade, deve ela ser completamente
Em Atenas aquele que acoihia um proscrito ou qualquer outio fu- decidida dentro dum ano; c assim, depois de ab-rogado o di-
gitivo deste gbnrro, era degredado, Demslcncs, i n Polyclem. Muito reito antigo, se acha estabelecido pela Constituio especial de
mais sereras as leis de Plato, que condenavam o receptador mortc, Constantino que vem na lei 2 do tit. ad legem Corneliam de
porque aquele que a cidade decrelau co?no sezc amigo ou inimigo, cada
cidado o deve onriderar tanzbm seu amiga ou inimigo, Plato,
falsis do Cdigo de Teodsio.
De legtbux, Dilogo XJ. So mais h u ~ n ~ n aass ncisias leis supra-
A regra do direito antigo, segundo a qual a caiisa-crime dc falsi-
citadas, apud Ord. Afuni. iir. 5, tit. 100.
dade, por ser maior e mais digna, deve ser decidida antes da causa
principal e cvel, por todo o tit. De ordine co,onitiostun>do COdigo, foi
ab-rogada por Constantino na mencionada Coiistituio, onde tamb8m
Pbiamente se dctcrminou conceder apenas um ano para resolver
a acusao de ialsidacie que se interpusesse. Gothofrcdo, ibiem,
Cujcio, Obselvationes, liv. XX, cap. XXV. Entre ns, B falta de lei
esclita, obxlwa-se, normaimcute, no foro a Constiluio de Coiis-
TfTULO VI
tantino, devendo a causa cvel ser totalmente despachada antes da
criminal, ou devendo pelo menos o juiz decidir ambas numa s sen-
tena. Felio, P. 11, Arcsto 121. Aqui c em toda a parte a praxe no DOS FURTOS
sempre a mesma (Institui$es, Das cihrigacs e ac~es,Tit. XVIII,
5 XII, Nota).
O QUE O FURTO

5 I -O furto , tanto no direito Romano como no Ptrio,


a contrecta?io frazddulenta, com B~zimode lucrar, quer da pr-
pria coisa, quer do seu uso ou posse, o que proibido pelo di-
reito natural, 5 I do tit. De obligationibus quae ex delicto nas-
czcetur das Institutas, Ord. liv. 5, tit. 60, 8. Contrectago o
acto pelo qual algum tira com n mo uma coisa que estd n,o,
domnio ou @ossedoutrem, e a muda de seu lugar para o eleito
de se apoderar dela. Everardo Oito, ao 5 r do tit. De obligaiio-
nibus quae ex delicto nascuntur.
Ladro (fu7) aquclc que arrebata (uufert) a coisa alheia, c que
a apreende, dispundo dela contra ou para alm da vontade do dono,
embora de incio a fivesir coni o seu concntiminto. E 6 este o senti-
irieiilu du diieilu iumauu dv pitiiu, Bl~scksluir, Commenluire hur
les L o k Angloises, tomo VI, cap. XVII. Para Crcman e outros, no
ladro aquele que detm ou usa a coisa aihcia contra a vontade
do dono, mas to &mente aquele que a arcbatou srm o dono sahcr
ou contra a sua vontade.

I C R T O DA COISA. DO VSO, F: DA POSSE

3 11-Comete furto da coisa aquele que subtrai coisa


mvel, homem livre, ou escravo; do uso, o comodatno, e o
depositrio que usa da coisa depositada ou emprestada de DIVISO DO h-URTO
iriodo rlifereilte daqurle que o dono quer: da posse, n dcvcdor
qiic surripia o penhor ao seu credor, e o credor que comea 3 IV-Divide-se o furto em manifesto, e no manifesto,
a possuir o penhor corno dono, e outros que vm mencionados concebido, oblato, ficibido, e niio exibido, em noctuijlo ou
ia Ord. liv. j, tit. 60, S 8,liran. tit. 37, S 8.
diur~to,simfiles ou qztalificado. Esta diviso diz respeito maior
ou menor pena que se deve impor, e no substncia do furto.

FIJRTO Iv1ANIFESTO
CONSEC'I'AKIOS DA nEFINIGKO D E FURTO
5 V-Diz-se furto manifesto, quando o ladro apa-
5 I11 -No havendo, pois, no sentido jurdico, furto sem nhado no prprio acto de furtar e perseguido com clamores,
co~itrectaofraudulenta feita com nimo de lucrar (5 I ) , antes de chegar ao local para onde resolvera levar a coisa; e
segue-se da: 1) que no se d furto em coisas imveis, visto no manifesto, quando tal no se verifica, lei 3, no princ., e
que no podem ser deslocadas; 2 ) que a cogitao por si s I, lei 8, do tit. De futis. No basta a simples vista, se no for
no faz o furto, lei T, 5 T, do tit. De jurtis; 3 ) que aquele que .acompanhada destes ou vutrus clamores: Para utlde loges?
entrou num recinto com inteno de furtar no por isso ladro Agarra, agarra! Agarrai o ladro! Prende o ladro! Petrnio,
nem est sujeito s penas de furto, mas outras, ainda quando cap. 139, Cujcio, Observationes, liv. XI, cap. XXXVIII.
tenha entrado para roubar, Iei 21, 5 7, do mesmo tit.; tambm
no 4) aquele que quebrou e destruiu coisa alheia, lei 2 2 ; nem No direito romano pune-e mais severamente o ladro manifesto.
j) o que roubou uma escrava para fins concupiscentes, lei 39, visto er mais audaz aquele que &o teme os outros em praticar um
e lei 82, 3 2, do mesmo tit.; nem 6) o que tirou e sumpiou do- crime As claras. Acresce tambkm que parece dever compensar-se com
maior lucro aquele dono que vela em consen7ar as suas coisas.
cumentos para ocultar a verdade, lei r6 do tit. De lege Cornelia
Cujcio, ObsematHones, liv. XIX, cap. 12. Pelo que respeita pena, as
de falsis; nem finalmente 7 ) aquele que, em extrema e grave nossas Icis no constitucin diferenya ncnhuma entre ladrii manifesto,
necessidade, tomou uma pequena coisa a outro. Grcio, De jure e no manifesto: quem quer pode prcndcr o ladro c o n ou frrri
belli a fiacis, liv. 11, cap. 11, Q: VI, Thomsio, Jurisprudentia clamores, Urd. Ev. 5, tit. 40, $ 7.
Divina, liv. 11, cap. 11, n. 170 e seg.. Todos estes consectnos
so aprovados pelo nosso direito e costumes. , porm, ladro FURTO COKCEBIDO, OBLATO, PKOIBIDO, E N.XO EXIBIDO
aquele que compra ou oculta uma coisa furtada, e aquele que
presta ajuda e auxlio ao ladro, ou lhe d um conselho espe- 9 VI -Dizia-se furto concebido, quando a coisa furtada
cial do qual se seguiu o furto, 3 11 do tit. De obligatio~iibusquae era procurada com a solenidade do cinto e bandeja e achada
ex delicto nascuntur das Institutas, Ord. liv. 5, tit. 60, 5 5, pois em poder de algum que sabia que ela era furtada, 3 4 do tit.
nzoralmende apreendeu a coisa. De obligationibzis qzaae ex delicto nascuntur das Institutas,
Wieling, De furto $07 lancem et licium cowce$to, pois colceber
o furto era achar, tomar, e apreender a coisa furtada perante
testemunhas. Diz-se furto oblato (oferecido), quando a coisa
furtada havia sido entregue (oblata) a quem ignorava o furto perpetrado em coisa sagrada ou em lugar sagrado, que implica
e em seu poder achada. Proibido, quando algum proibia de sacrilgio. Uiz-se, portanto, furlo simples aquele que no
entrar em sua casa uma pessoa que a queria procurar solene- capital, e nisto difere do qualificado.
mente um furto. No exibido, quando algum recusava apre-
sentar o furto achado em seu poder, dito 3 4. Estes quatro gne-
FURTO VIOLENTO E SUA DIVISA0
ros de furto j no estavam em uso no tempo de Justiniano,
oisto que [j entiio] a indagao da coisa jurtnda no se fazia 5 IX - Comete-se furto 7~iolenl0,qoando se rouba u m a
segundo u modo antigo.
coisa muel por meio de violncia feita a ztma pessoa com
Actualmente no se admite nem a indagao solene nem a par- iinimo de lucrar. Por isso, no diz respeito a pessoas, cuja com
ticular das coisas furtadas: todavia, admitiam-na os Visigodos, desde trectao se chama crime de rapto ou plgio, nem a coisas M-
que se declarasse perante o juiz a qualidade da coisa. Vcja-se. veis, nas quais prpriamente nio se verifica a rafiina, mas o
querendo, o liv. VII, tit. 2, lei I. onde se exige que aquele que esplio, 9 I do tit. De v i bortorum raptorum das Institutas.
reclama unta coisa furtada declare secretamente ao juiz aquilo qw O nosso direito reconhece esta diferena pedida ao direito
becsca; yue mostre $or sinais rnanifesios aquilo que pwdeu, a fim de romano, Ord. liv. 4,tit. 58, e Iiv. 5, tit. 61. A rapilza cometida
no se ignorar a wwdade, por falta de sinais evidentes.
em estrada ou caminho pblico ou em locais desertos, que igua-
lar o valor de cem ris, ou o de mil ris em cidade ou municpio
frequentado, 6 punida ctlm a murle, Ord. dito liv. 5, tit. 61,
Xan. 38. Por consequi.ncia, agravante da rapina no s a
-
VI1 Semelhantemente, o furto rzocturno e o furto dzzhr- violncia causada a uma pesoa, mas tambm a quantidade da
coisa e o lugar.
no no alteram nem a natureza do furto nem a pena, pois so
ambos punidos do mesmo modo. 2 licito usar hoje do mesmo Latrocioar e dcprcdu Lonrra os povos estra+s, inesirio sem
direito que vigorava entre os Judeus, Gregos e Romanos, de guerra declarada, era prtica havida por licita ein quasc todas as
matar impunemente o ladro nocturno, mas o diurno s no nagcs, como a recpeito do? T.iiitunos, para omitir outros puvos, ateda
caso de este se defender com a m a , pois perptua a razo Diodoro Siculo, liv. V, cap. XXXIV. Agora jc aquele que rouba pela
desse direito. Boehmero, Elementa Jarisprudentiae Criminalis, fora pior que o ladro que rouba s ocultas, assunto discutvel,
como, baseando-se em Aristtcles e Maimnides, demonitra Grcio,
Sect. 11,cap. XIII, 5 CLXXXV, Grcio, De jure belli ac pacis,
Flor. Spars., ao tit. De vi bonorum raptorum. O certo que o rou-
liv. 11, cap. I, XII, Pufendorf, De officio honzinis et civis, bador fere mais a paz e mais audaz que o ladro, sendo, por isso,
liv. I, cap. V, XXI. com razo chamado ladriio w~akimprobo na lei 2, 5 10, daquele tit.,
e mais atroz n a lei I, 5 I, do tit. De effraclorinw-. Na Ord. Afons.
liv. 4, tit. 65, e liv. 5, tits. 27 e 66, h leis de D. Monso 111, D. Diis,
SI3PLES E QUALIFICADO
e D. Joo I contra os roubadorei. No direito I-ornano, lei 28, 5 10,
do tit. De poerais, so punidos rlc morte os saltradorcs do citradas,
5 VI11 - furto simfiles aquele que se no pode classificar que amados, mais de lima vez atacam e despojam os viandantes para
como qualificado, qual o violento, o grande, o terceiro, e o fazer presa.
ESPOIJO. PLAGIO, RAPTO na casa doutro com inteno de furtar ou roubar, se no furtou
a coisa, no deve ser chamado nem ladro nem roubador, lei
5 X - O que invade urna coisa imvel, ou tira uma coisa 52, 3 lt., do tit. De fulrtis, Ord. liv. j,tit. 60,5 I (Tit. IV, $ X I I ) .
mvel, que cria ser sua, verdadeiramente no roubador nem A rapiaa junta ao hoinicdio, isto E, o latrocinio, no pertence
ladro, visto que no o faz com nimo de lucrar; todavia, por- a este lugar (Tit. IX, 3 S I I , deste livro).
que nada ofende tanto o direito como a violncia, o dono que
surripia uma coisa sua detida por oiitiein, privado do seu
domnio, e, se a coisa for alheia, obrigado a restitu-la imeclia-
tamente ao dono, para mitiga~oda injria que este sofreu, e
a ressarci-lo de todo o dano resultante do esplio, Ord. liv. 4, 3 X I I -Em razo da quantidade diz-se qualificado o furto
tit. 58, Man. 50, Afons. 65, 3 I do tit. D e vi bonorum rafitorum: grande, sendo tal o que exceder o valor de um marco de prata,
das Institutas (Tit. IV, 5 X I I ) . O filgio, isto , a afireenso o qiial ij. punido com a pena capital, Ord. liv. j, tit. 60, rio prin-
dunz honzcm livre, o u sztpress2o d o escravo alheio, c o m O fk cpio. Llcvc medir-se a sua grandeza pela quantidade do dano
de oczdtar o h o m e m o u o#&nir-llze a liberdade, um delito causado e pela coridico da pessoa, porquanto o roubo 5s ocul-
grave, mas raro entre ns, de que as Ordenaes em uso no tas de um marco de prata a um homem endinheirado no cons-
fazem meno especial; no entanto, devem ver-se as Ordena- titui furto grande. 2,parm, crime capital e considerado grande
, 5, tit. 62, no princ. tit. 63 e -5, 3Tan. 68 e 77, Afons. 92
~ e sliv. furto aquele que se fizer coiil arrombamento, desde que exceda
e 113, Gothofredo, ao tit. De lege Fabzn de @lagiariis do Cdigo meio marco de prata, Ord. cit. tit. 60, 3 I.
de Teodbsio (8s I1 e 111 deste tit.). Sobre o rapto de mulher j
dissemos algumas coisas no Tit. IV, It.
PEQUEXO SEGUNDO, TERCEIRO
A diferena, que o direito romano e u pdtrio fazem rnire coisas
mveis e imveis, no tocante ao furto e rapina. parece apoiar-se mais 5 XIII - E furto peque~zoaquele que no excede a soma
lia subtcleza que na razo. mencionada; punido com aoites ou outra pena aflitiva do
corpo, segundo a condio do ladro, e a quantidade ou quali-
QCE VIOLBNCIA CONSTITUI RkPINA dade da coisa furtada, Ord. cit., tit. 60, 5 2. E esta a pena do
furto simples. O segz~ndufurto no sofre pena especial. Mas o
5 X I - KZo est definido nas nossas leis que violi.ncia Icrceiro j um furto qualificado, que sofre a pena. capital,
que constitui rapina. Mas eu entendo que se requer aquela que quando cada um dos fudos iguala o valor de 400 ris, na mesma
acompanhada de perigo de vida e qual no se pode resistir Ord. 3. Os pequenos ladres (em portugus forrnigueirosj
facilmente, seja ou no feita com armas, desde que se siga a que roubam coisas muito insignificantes, isto , no excedendo
contrectao e a fora ablativa. No basta, pois, a chamada os 400 ris, so irnpimemente tolerados no foro ou levemente
f o r a mevameste comfiulsiua, nem as simples pers~rnses,nem punidos au arbtrio do juiz; no entanto, veja-se, querendo, o
as anzeaxs de mal futuro, que dizem mais respeito concusso, 4lvar d~ 25 de Dezembro de 1608, 4 26, apud Ord. liv. I, tit.
nem s o nimo de roubar. Por isso, aquele que pela fora entra 49,Coleco I, N. I, e o Decreto de 12 de Setcmbro de 1750.
dos por isso mais gravemente que os outros ladres nu rouha-
dores. Groenewegen, De legibus abrogatis, tit. cit. {No entanto,
XIV- O sacriligio, isto , a contvectao duma coisa sa-
os que roubam por ocasio dum naufrgio pagam o triplo ao
grada dum lugar sngraclo, i. punido com a inortc; e o furto Rei, Ord. liv. a, tit. 32, no princ.). Tambm os roz~badoresde
de coisa no sagrada dum lugar sagrado, com aoites e degredo gado so entre ns punidos como os outros ladres, e contra
temporrio para as gales, (3rd. liv. j, tit. 60, 4. Considerani-se eles no se acha estatuda pena especial; porm, a respeito
aqui coisas sagrodas o oiro, a praia, os ornamentos dos santos dos passadores de gado existe uma Ordenao especial no liv. 5,
e akares, e as escrituras pertenccntes igreja o11 mosteiro. Por tit. 115 (Instituies, Do Direito Pblico, Tit. VII, XIII,
outro Iado, diz-se lugar sagrado no s a igreja e o mosteiro, Nota).
mas tambm qualquer casa dessa igreja ou mosteiro destinada brandamente punido no s o furto domstico prbpno,
%ri
a guardar os referidos objectos sacros. comctido @o iillio-iamilia uu pelo cbnjugc. inas tambein o imp~dprio,
cometido por criados e jornaleiros, lei 89 do tit. De furtis, Meister,
Talvez cejar~iiiiuito scvi,ras a s p i l a s eitabelecidas para o sacii-
Principia J w i s Criminatis, 182, Fllangen, tomo IV, cap. LI?(,
i&gio. Kcalrneiite, assiiii. paiccc que aquele que tirou a um pole
pg. 486, o quc no apraz a iodos. Por mim entendo que as penas
homem tudo o necessirio a uma vida mais que modesta pecou menoi d m delitos dei-em scr e m p r c amolecidas e temperadas olhando A
d u que aquele que subtraiu algu~nacoisa iiiim templo. qiiando o certo ~ a c i L ode delinquir, deadc qu? a ocasio no haja sido procurada, mas
C. quc n i n p i t ~ npodrr fcilmente rlizcr que se faz furto Suprema
oferecida prlo acaso, ncm provenha d a ndole do delinquentc, mas
Divindade. Filangien. tomo IV, ap. XLIV. duulsa fontc (duma causa extcma). Sobre este ponto h que vCr
a Prolusio IV de Piitmm, intitulada An et qualeni~s ddiEnquendi
occasio delictuv ejicsque poennm wbinlaat ( S e e em que medida a ocasio
FURTO DO'VIESTICO, FURTO FEITO 0\.I BANIIOS, E11 1NCENI)IO d e delinquir diiuiniri o delito e a sua pena). Tit. XTX. 5 111 Nota,
OU EII RUfNAS E DOS ROUBADORES UE GADO deste livro.

5 XV -As nossas leis no fazem meno especial do furto DO FURT(1 DE ARVORES E FRUTOS
do)~sLico,como o praticado pelo cnjuge, filhos, ou outros pa-
rentes, e pelos criados e criadas. Todavia, deve ser punido,
Q XVI -As nossas leis tambm no fazem meno espe-
como costume em quase todos os povos, mais brandamente, cial dos que furtan rvores ou frutos dos pomares ou campos
quer porque tnerece algurna desculpa devido s circunstncias,
alheios, devendo, por isso, ser punidos como os outros ladres.
quer porque se pode imputar ao dono alguma culpa. Strykio, Os chamados daninhos, de que trata a Ord. liv. 5. tit. 87, no
cap. lt., e ao tit. De fitrtis, Us. mod.,
Disput. De j u ~ .do~~zest.,
cabem aqui, visto que no $50 ladres , porm, ladro, aquele
$ X X V , Lauterbach, ibidem, 5 XI, Beinccio, ad Pandectas
que corta e furta madeira doutro em mata abatida ou rvore
no mesmo tit., 5 XCIV (Instituies, Do direito das pessoas,
alheia; mas, se o fizer em mata comum, no comete furto; deve,
Tit. IX, Q XXV, Xota). O mesmo silncio aparece, nas nossas
no entanto, ser punido conforme o costume da regio.
leis, a respeito dos ladres dos balnerios, assUi1 como tambm
dos que furtam ou roubam as coisas aIheias por ocasio de O que tirou fmtoi niadurus com o fini de lucro, ladro, c deve
incndio, naufrgio, ou runa; todos estes no devem ser puni- ser castigado conforme a qualidade e quantidade dos frutos e outras
circuristnciac, tal como n oiiiros 1adrGs: prt-m, aqricle q ~ mlheii ~ e
fmtos imaturos e r-trdes, ou estragou e amemessou ao cho os j
dcve-se proceder mais liberalmente, quer olhando i ocasio de
mxiuros, como nii tem nimo de lucrar, no obrigado pelo furto, delito que as circunstancias favorecem, quer a um tanto de
irias pelo da70 causado scin direito. Considero licito ao riandanie culpa da parte dc quem com eles contrata, lei 55, 6 I, do tit.
colher uma pea de imta ou uvas em pomar alheio, dzde que logo et bericztlo tzitoruwt, Carpsuv, P. 11, Quaest.
D e ad~,zi~~istratio::e
as corri1 na vinha ou no prprio canlinho. hioiss. L)eiit~ronrnio, LXXXV, n. 67. Merece ver-se a citada Proliisio AR et quaterzzu
cap. S X I I I , rcrs. 04 c 25, dissc aos Helireils: Entrando na vGha do dclincjz$endi occasic, dclictzm, ejusque poeftam miizu~dt.E isto
lerr prxi??ao, co+?zeqtfantar uuas quisevr:~, mas no as bues contigo parece dever aplicar-se tambrn aos falidos, que defraiidaram
para fora. Se entra~eana seara de tez6 amigo, pode~iscolher espigas
os credcires com mau dolo, uma vez que eles no invadiram a
e ?iiachuc-ias com a s mios, mar no colheras coin foztce. Mr. Pasioret,
110 opjsculo iiititulado .5foLse consideri conzme Legis!ateur. et comnze
custdia alheia; e assim se deve entender a Ordenaco do liv.
i%fliruliale, Cap. VI, pio. 470. j:.:.:a lei i apio\'ada pcioc ~iussoscostnuie? ,j,tit. 66, Febo, P. 11, Aresto 24, Arouca, Adlegatia 28, Valasco,
eni Colares, povoao perto de Sintra, e noutras mais. Isto que se 16 .?rElegnizo 13, desde o n. 155 (Institui~s,Do Direito Pirblico,
no I:v. I 1 $os Feztdos. ti:. 27, 3 8: Todo oqzr& que na $a.srnr por :lina Tit. VIII, 5 XXXI).
$erva quiser al?nze?2tar sczc ~avalo,&lhe iinpi~;zcmente qzmnto puder
recolher ao longo e na bcrnra do cui;tinho para refei~oe restaziro do
seu cavalo. Seja-lhe ia?vib&:a $evrnitido seruir-se de e97:n r plantac DO PECCT.ATO E DO CRIME RDE RESIDUIS
verdes, e desde que n devaste quena yzur poder usay disso conforme
a sua utilidade e necerhidadc, no adniissh-e1 nem sempre neni em $ XVIII - O crime de fiecztlnto, isto 6, o furto de dinheiro
toda a parte, a fim de que no se d ensejo aos malfeitores de rausa- pblico feito por aquele a cuja guarda foi confiado, deve ser
rcm vontadr dann aos outros. tIarpy)recbi, ao g I, n. 2 3 , do tit. De castigado no com pena mais dura mas igual quela com que
obkgazionibzis quac ex drihclo nascz.rntz<rdas Institutas. se costuna punir o furto particular. O crime ((de residuisi~,
qual o cometido pelos oficiais pblicos qae tomam e convertem
FURTO DE COISA DEPOSITADA, E DE COISA EMPRESTADA; cm uso prprio as coisas que Ihes foram confiadas, deve ser
E DOS FALIDOS tambm punido no com pena mais dura mas igual quela
com que so castigados os depositrios, comodatrios, e outros
3 XVII -Aqueles que mais parecem dcencan~inharque articulares que admiriistrani por contrato coisa alheia, quando
roubar as coisas alheias, como os comodatrios, depositrios, e dono, Ord. liv. Z, tit. 51, no
dela abusam contra a v o ~ ~ t a ddo
mandatrios, admiiistradores, ourives, e outros que por con- princpio, tirada da Extravagante d'El-Rei D. Manuel, de 8 de
trato tm em seu poder coisa alheia, abusando dela, ou utili- Jimho de 1521, apud Leo, p. 4, tit. 15, lei I.
zando-a para uso prprio, embora na realidade sejam ladrfies
( 3 II), so punidos ao arbtrio do juiz, no com a pena ordi- O Principc no d w t ~ui<!.lr meno; das coisas pariici~larcs 111ie
nria do furto, mas com a extraordinria, que pode ir sem das sua5 r pblicas, devendo, por isso, o peczrlulo ser p ~ ~ i dcomo o
o furlo prr!icular. O m-mo dizemos dos oficiais rgos que utilizam
dvida at morte, Ord. liv. 5, tit. ho, 3 8. Efectivamente,
(ri1 crnpi-cstnm os rlinhciros n si i.onfiadns: este crime cl~ar~ia-se
&deresi-
maior a malcia dos que tiratn urna coisa das mos e posse
duiz-; e iisU~:; realmente ronia das Ordeiia$oes citadas que tm por
doutro do que a daqutlcs que sem consentimento do dono utili- fundarricrito as leis d? D . Afonso I1 e D. Afonso 111 introduzidar no
zam um objecto j em seu poder para uso prprio; com estes Cdigo Afonsino, uv. 1, tit. 42 e 43. Por conseguinte, a pena ~ a p i t a l
e a aflitivu dc mipo nos criirics de peculato c <de residuisx apenas por isso, j de h muito antiquada, e ab-rogada pelo direito
tiiri lugar no caso c111 quc o pode ter enrilic particulares. E no se
no escrito, com a aprovao dos nossos humanssimos Reis.
consegue u contri?o da Ord. li,,. j, tit. 74, Nan. 28, liv. 2, pois deve
ser entendida a partir doutra Ord. do mesmo liv. j, tit. 60, 5 8,
Qualquer iurto de relativa iniportncia era pdas icis antigas do
acima citada, r dai razes naturais em qile se apoia (5 XVII). Shykio, Reino um crime capital. Mas j nas Li5 forzis al,ms lugares se acha
b's. mod., ao tit. De lega J d i a pecuhtus, S IV. Entre os Ostrogodos o
estabeli~cido que o pi.iril&v e peqr6eeo furto pode wr espiado pagan-
que furtava dinheiro pertencente ao fisco ou contas pblicas, entregava
do-se o njnuplo (nveas) ao Rei. o sitimo (safeflo) ao doxatArio. e o
o qudruplo, por Edicto do Rei Teudoiio, 115; entm os Visigodos.
duplo ao senhor da coisa, devendo todos e cada nni destes pagamentos
por fora da Iei 10, tit. z. li". 7, era obrigado a restituir o anoveado.
%r ieiiibs junto forca, corn as mos Li,eadas c barao ao prscoyo,
apu Ord. -4fons. lir. 5, ti:. 6j. As penas de arranque de olhos,
corta~~tc~rto de ?~zioern :,ida, e ?izarci~Coa fogo d e arnr sinal i,&ln-
DOS DIRECTARIOS, APEKTULAKIOS, SACCLARIOS, inanta na fronte ou espaldas do ladrzo, no esto em uso; no entanto,
E ~~TICULARIOS so mencionadas na dita lei Da Refa?tzao da J u s t i ~ a de 6 de DC-
zcmbro de 1612, 2<1, apud Ord. iiv. j, tit. 129, Colecc;o I, N. I,

3 XIX-Os directrios, que se introduze~nnas casas alheias e no Diploma Rbgio d? 31 de M a r ~ od c r742, 9 8, apud nlrsma Ord.
com inteno de furtar, e a se ocultam para melhor e mais se- liv. I, tit. I, Colccyo I. K. I. Realmente. a marcao a logo de um
guramente poderem fugir; os a#ertulrios, que usam chaves sinal na fronte de uin homem (nas espaldas airida v l) lima pena
cruel c absolutamente alheia i dignidade hiuriana. Filangieri,
falsas, ganclios e gamas, e para os quais realmente no h nada
tomo IV, cap. XLI, Brissot, Bibliolhqzcs Philosophiqre, tomo V ,
to trancado, fechado, ou cerrado, que no consigam abrir; os pAg. 303. Puttman, na Prolnsio De numero decoctorum prudentia
sacul?ios, que se servem de sacos para furtar, e agem com tal legislaionn rizinusndo. Xas se isso % faz ao, rus cum n intuito
engenho e destreza que enganam os olhos dos presentes, gnero principal de c l se ~ ernendarein e ieformarein, que emenda h a
este de prestidigitadores que o vulgo ipriaro corisidera mgicos; esperar daquele que se \ acompanhado de infmia p e w t n a , e que
os crumenisecas e os rnanticzlrios, apanhados a cortar os cor- todos evitam 2 riespre~ain, P eni cuja fronte est inscrito aquilo dc
des s bolsas, embora no sejam verdadeiros ladres nem 5Iorcio (Serii~ones, I, 4, 85): Este plfido; acautela-te dele,
apreendam as coisas e dinheiros alheios, so punidos com aoi- Rornano? l i a Espanha, tanibm no sc usam o vivicombrio, a con-
deriayju s feras, e a livre entrega do ru vontade do ofendido,
tes e degredo, Ord. liv. 5, tit. 60, S I, 9, 10 e 11, Cujcio,
e outras semelhantes penas atrozes e cniis. Inst. dei Derecho ~i.uil
Observationcs, liv. X, cap. XXVXI, Menag, Amoenit. jltr. civ., de Cactilla, liv. 11, tit. XIX, cap. IV. 5 I, no fim.
cap. 39, Strykio, Disput. De sacculariis et directariis, e Us. mod.,
ao tit. De extraordinariis criminibus, S IX, X, XI, XII e XIII.
E DA SUA JTSTIA OU IYJUSTI.4

A PENA CAPITAI. NO FURTO NA0 ESTA EM USO S XXI -Porim, esta pena capital, muito embora se ache
estabelecida hoje em quase todas as naes, a verdade que
5 XX- Ora do exposto se v que o furto qualzfacado, nem outrora agradou a todos, por exempIo, aos Judeus, Roma-
ainda mesmo n i o violento, nalguns casos punido com a morte. nos, Visigodos, Alemes, etc...., Heinccio, Elem. J w i s Genna-
Confesso que esta lei dura, para no dizer injusta; acha-se, nici, liv. 11, tit. XIX, Boelimero, JurisfirudenCa CrirninaEs,
Sect. 11, cap. XIII, S CLXIX e segs., nem agrada a todos os nao foi feita para seiripre, I N ~ criada para ocorrer a circunstncias
filsofos do nosso tempo, porquanto a plenos pulmes lhe cha- turbulentas originadas pelas guerras. A identicas circunstibcias d e v e
mam injusta c intil, quer porque no corresponde ao delito, a o s atribuir entre riGs os Decretos de 4 de Novembro de r755 e 27 de
com o qual a perda da vida n<i tem proporo alguma, nem Janeiro de 1757. motivados pelo terramoto que quase devorou Lisboa:
de facto, nrsia altura alguns homens perversssirnos, despojando-sc
o evita, quer porque parece dar ocasio a homicdios, visto que
de todos u i scnt::nentiis humanos e apruveitando-se da ocasi20 que
os ladres, que sabem vir a sofrer a mesma pena seja o furto ihes oferecia a enorme perturbao pblica, apenas respiravam rapi-
simples, seja acompanhado de homicdio, dificilmente se abs- nas P homicdios, os quais, rio meio de rircunstncias to duvidosas
tem deste, como fariam, se houvesse uma pcna para o furto, r de tamanho risco para todos os cidados, s podiam ser evitadas
outra para o latrocilio, e outra para o homicdio. com p.iiaP gcralrrii?nte muito severas e a adopo duma ordem pro-
cessual muito breve e sr~marissima. Mas, parte isto, nada mais
E esta hoje a voz uiissu~iade todos us iilijsofos, e s o nunie-los inquo do que c~iorcar e condenar morte inclemente, um nsero
seria longo. K, de facto, onde a simple~rapina e o l a t r o c ~ oso coibi- pobreiana que tirou qualqtier pequtna coisa das mns dum iico.
dos com pena igual, a i os lairocinios no podem ripitar dc ser mais acumulador de tantos montes de dinheiro que j no o podc contar,
frequentes que as rapinas. Qnc coisa deter5 - pergxnto eu - urn =as apenas pesar. Keslc particular disse muito sbiamente Justiniano
roubador, quc sabe ficar sujeito i mesnia pena quer mate quer no, (alis, no muito bom legislador) na Novela 134, c a p 13: Xo que-
de acumular uni crime com outro crime, e matar uma testemunha reinos absolatamente que @r furto se corte qualquer mernbro o u se
que lhe perigosssima? Alm disso. a distinco entre fuiirto mmifesto dB a ~norle,~ Gues seja a$!i~ailo outro gdnero de casfigo. Chaniunios
e no manifesto, diurno ou nocturno, domstico ou estranho, sagarlo, ladrzes aos que comete??^ se~nelhantedelito, s ocultas e sem arnias.
isto , de coisa sacra, c profano, grande ou pequeno, quase despre- Mas mandamos que s q a m finpostas as penas legais aos que, em. casa.
zvel no respeitante pcna, visto que so ambos o mesmo defito, c do xo criminlzo, ou no mar, atacam iiiolentamenle, com armas ou sem dar.
mesino gnero, no podendo, por isso, admitir iiina pena niais grave
de gnero diferente, mas uma maior apenas rio seu gnero conforme
as circunstncias. Bem disse PIato no De Eegibtrs, Dilogo IX:
Seja grande, seja $equeno o fu&, haja l>a~atodos uma s lei e uma DEVE-SE RESTITUIR AO DOY0 4 COISA FURTADA;
pena semelhante. Dcvc, porm, fazer-se grande difci-cna entre furto E DA PENA DO DUPLO E QUADRUPLO
nu viulento ou simples, e violento, o qual crime de outra ordem,
visto opor-se directamente no tanto propriedade do cidado como 5 XXII - E~nborahoje o furto seja um delito pblico, Ord.
sua vida e pessoa: de facto, como sbiamente diz o mesmo Piato liv. 5, tit. 117 e 122 (Tit. I, 5 IV), todavia, a perseguico crimi-
no Dilogo XII, o furLo de dinheiro d sem doida indecoroso, ntas nal no tira o iztevesse particular. Pode, por isso, o dono pedir
a rapina, lo~pissima. Por conscqiincia, ~ P C C infligir-se (e~cepluauIio no s a coisa furtada, pela aco de delito pessoal chamada
scmprc a capital) urna pcna mais gra\-e i rapina que au furto. E no
conditzo furtiva ou de reivindicao, mas tambm todo o
lonvm distinguir os funos entre si, visto qrie consistem no mesmo
gnero de delito, mas sim distinguir o fiirto da rapina e violencia, dano derivado do delito, (3rd. Iiv. 5, tit. 86, 5 r, ibi: n estima-
a qual deve, por isso, ser punida com oiitias pcnas ~ n ~srveias.
is que co de seu dano fielos bens do danificador, Struvio, Exercit.
afcctcrn mais a pessoa que as coisas. Eilangicri, tomo IV, cap. LT'. XT-VIII, Thes. L. E, pois, brbaro o costume de entregar ao
Em boa verdade, a lei do Irnperadur Fredenco I1 n:i C o ~ u .d~ pace magistrado o objecto furtado, ou a sua reteno mesmo a
tenendu do iiv. 2 dos Fezdos, tit. 27, 5 8: Se algildn: roubou n'nco pretexto de pagamento das custas pela inquirio feita oficio-
roldos ou mais, seja eaforcado; se menos, seja o ~ o i l a d oe atanazado, samente. Strykio, Us. mnzod., ao tit. De furtis, XXVI. Porm,
a persegiiio criminal extingue a pena civil do duplo ou qu-
druplo, quer porque as leis que agora nos regem no a mencio-
nam, quer porque justo que ningum sofra duas penas pelo
mesmo delito. Portanto, com Boehmero, Elenz. Jur. Crim.,
Sect. 11, cap. XII, $ CLVII, Thomsio, nas Not. ao tit. De obli-
gatiolaibzu quae e x delzcto nascza~turdas Institutas, e outros,
consideramos o direito romano ab-rogado. E porque no h
lei especial sobre isto, a recepo e autoridade deste direito TITULO VI1
no aprovada pela praxe dos libelos na aco de furto, Carni-
nha, De libellis, Adnot. 39, nos quais se costumam juntar e DO DANO CAUSADO SEM DIREITO
pedir as mais severas penas tanto cveis como criminais.

O QUE E O DANO E EM QUE DIFEKE DO FURTO


DU LADRES FAJfOSOS
5 I - Por dano entende-se aqui qualquer dinzinuio do
XXIII - Aos ladres faijzosos podem os juzes ex officio patrimnio feita sem direito. Difere do furto e rapina, porque
prend-los e process-los, sem embargo de qualquer prescrio feito sem violncia nem apreenso nem nimo de lucrar.
do foro, onde quer que forem encontrados, Aivar de 14 de , pois, um crime particular e separado.
Agosto de 1751 (Tit. XIX, 3 VII), que parece dever estender-se
a todas as provncias do Reino, embora fale apenas do Alen- NECESSIDADE DA F S P A K A O
tejo e Reino dos Algarvcs. Pelo mesmo diploma concedeu-se
a quaisquer particulares a faculdade de prendcrcm e entrega- S: I1 - E mais que certo, certiimo, que quem causa um
rem imediatamente ao magistrado mais prximo no s esta dano por culpa sua obrigado a repar-lo e a sujeitar-se por
espcie de criminosos, mas tambm os vagabundos e ociosos. este motivo i satisfaso e pcna (Tit. I, $ 11, Nota, e 5 XII
A este assunto respeitam as Ord. liv. I, tit. 58, 5 38, rit. 73, S z, deste ttulo). Porm, assim como a gravidade dos danos varia
e liv. 5, tit. 60, S 7, etc.. Veja-se, querendo, Jacobo Gothofredo, de uns para os outros, e um s e mesmo crime pode ocasionar
Dissert. De famosis Eatro?zibus investigandis, lei Si Barsato- prejuzos maiores ou menores consoante a fazenda e o lugar,
rem 13 do tit. De jidejztssoribus do Cdigo. assim a pena no pode ser a mesma para todos os casos; de-
pende, pois, necessnamente a gravidade e quantidade da pena
do arbtrio e prudncia do legislador. ainda certo que em
quase todas as nages o dano, porque praticado sem
apreensao nem nimo de lucrar, foi com justia e razo conside-
rado delito mais Ievc que o furto e a rapina, motivo por que
merece menores penas
QUEM PODE CAUSAR DANO A LEI AQUILIA W S C A FOI RECEBIDA

III - O dano causado por homem livre, por escravo, VI -A lei Aqulia, no sentido do direito romano, ne-
ou por quadnpede. -40 primeiro chamam os jurisconsultos nhum uso tem hoje entre ns, nem talvez nunca o tenha tido.
romanos dnmnunz injaria d a t u m (dano causado sem direito), Segue-se da: I) que no podemos, na aco, pedir o resarci-
ao seguridu. nuxiu (prejuzo), e au terceiro paupcrios (pau- mento do dano pelo valor que a coisa valia no ltimo ano ou
pkrie). ms; 2) que no interessa nada que o dano haja sido causado
por um corpo o11no; e, por isso, 3) que no tem uso nenhum
a diferena entre aces directas, &eis, e in factum; nem tam-
ACCAO CONCEDIDA PELA LEI AQUT,TA SOBRE O UASO bm 4) a aco especial chamada de pastu (de pastagem):
nem 5 ) a condenao depende hoje da confisso ou negao,
$ TV-O dano causado pelo homem livre com dolo ou e o mais que sobre esta matria se acha estabelecido no direito
culpa era pedido pela acco direcla concedida pela lei Aqulia, romano, e cuja explicao deixamos de propsito ao encargo
se feito por corpo contra corpo; por acgo zifil, se feito por dos outros.
corpo, mas no contra corpo; e por aco r(in factum)>,se nem
por corpo nem contra corpo, desde que, no entanto, se seguisse -4 recepo da lei Aqulia no sr prova, como cra necessdrio,
dano. Nestas aces pedia-se o maior valor que a coisa tivesse nem pelas Ordenaes actuais em uso, nem, que eu saiba. pelas
tido naqueie ano ou ms, por todo o tit. ad Legem Aquzliam antigas: e atS se vcriiica nestas que os nossos antepassados vingavam,
do Digesto e das Institutas. de outro modo, o dano injustamente causado por um homem livre,
aplicando, p r exemplo, certa multa que revertia segundo as leis e
usos feudais para n prejudicado e para o Kei. Tambkm no provada
pela praxe dos Pragmiricos ao formarem libclos pelo dano causado,
ACCO NOXAL E DE PAUPERIE
apud Caminha, De EbeElis. Adnot. 36, hIcnd?s, Praclicn Lusitana,
liv. IV, cap. XI, 3 11, pnis essa praue provm cla supersticiosa vene-
$ V -A noxia, isto , o dano causado por um escravo era razo do direita romano. E, realmente, parece-me que, =em Ici especial,
recla~nadopela acio noxal, na qual o dono da coisa pedia a em matbria meramente civil nzo se deve admitir esse direito, nicsnio
estimao do dano ou a entrega do escravo, no princ. do tit. que ele haja sido recebido genrica e indefinidamente no foio, por
De ?aoxalibus acliowibu das Institutas, e na lei r de igual tit. se opor s leis e costumes prticos. Agora, que a lei Aquiia foi ab-
do Digesto. O dano causado por quadrpedes, isto , por ani- -rogada quase em toda a partc, informam Groeneurcgen, ao priic.
do respectivo titulo das Institutas. Thnmsio, Dissert. De larva l e p
mais que se domesticam pelo dorso ou pelo colo e que sem Aqrriliae detracta, 8 45, Coccey, Jrr. controuers., ao tit. De lege
instigago de ningum causam dano contra o costume prprio Aqz~iliudo Digcsto, Quaest. X, IIeinBccio, Elew. Jur. Gernl., &r. 11,
da sua natureza, tambm era pedido pela acco noxal, na qual tit. XXI, $5 94 e 95, Srhiltcr, Exercif. XiX ad Pandectas, 5 86, JoZo
se agia para que o possuidor e dono do quadriipede ressarcisse Tadeu >IuUer. Jur. Ctim., tit. I X , g 47. Nota, Letra F.
o dano ou desse o animal noxa, lei I do tit. Si quadrzcfies fiau-
fieriem fecisse diatur.
A AqF.0 NOXAL POR 3IALEtfLLO DUM ESCRAVO
I O1 RECEBIDA RNTRE N 6 6 AINDA QUE H03 F NA0 SE USF
pela aco ijoxal, nem pela aco de $astagem, mas punido
doutro modo, Ord. liv. 5, tit. 87, no princ., e $5 I e 3.
$ VI1 - Dos delitos dos escravos nasceram as aces pjo- No direito ramano no 1i iicnhuma diierc~i~a, ria realidade ou no
xais, pelas quais permitido ao dono ou pagar a estimao da efeito, entre a aco %de paupne e a aco <de pastagem>. Jlio
lide ou dar o homem noxa, Ord. liv. j,tit. 86, 5 5,ibi: E se se Paulo, apud Schulting, Junsprz~d.antejustin., li". I, ~enient.receptar.,
achar culfiado.. algum scravo ... ficar na vontade de seu tit. 15, dia assim: Se um qzuidvfipede fizer apauprien, isto L, causar
duno. ow f i n s l a ~alguma cuisu. dU-se a c g u cunL~a o donu fiara yus
senhor pagar o damno ... 0% dar o scravo, Man. liv. j,tit. 83, no
pague a estimaio do dano ou entregue o qwduzipede.
princpio.

Esta Ordenao no est em uso, j porque no kmos escravos,


LEIS PATRI-4s ACERCA DO DANO
j porque inquo obrigar o dono, que nu delinquiu. a pagar, pelo
maleficio dum escravo, a estima~o do dano ou ento a entrrgar
esse escravo. Grbcio, no De jure belli ac pacis, li\,. 11, cap. XVII. 3 I X - Aconselhando, pois, a razo natural e civil que se
5 XXI, i quc
~ o duiio, que n o tcvc culpa, no 6 por natureza mais repare o dario injustamente causado, e se puna consoante a
obrigado pelo delito do seu escravo que o capito dum navio p e ~ sua grandeza e qualidade ( 5 11). seguem-se da muitos consec-
prejuizo que o seu barco, impelido pelo vciilo, fosse caLvar noutro. trio. I) Aquele que fez dano obrigado a pagar a estimao
No entanto, discordam dcIe Piifrndorf, DE Jtwe Natncraa et Gentizani,
dele, e a satisfazer as multas agrrias impostas pelas leis gerais
liv. 111. cap. I, 5 VI, e Barbeyrac, nas Notas a Pufendorf. Veja-se,
querendo, Alencken, na Dissert. De aaquitate legu?z Ro~za?iarzr??~
circo
e municipais, Ord. liv. j, tit. 87, no fim do princ.: pagar o
noxae dedztionem, e Otto nos coment. a Pufendorf, De offic. honi. e2 damno e coimas segundo as posturas. 2) O daninho, que ciente-
civ., liv. 1, cap. VI, J XI. mente meter quadrpedes, gados, e animais de qualquer gnero
em pomar ou seara alheia, alm da restituio do dano, puni-
do com o desterro, Ord. cit. (Instituies, Do Direito Pblico,
Tit. VII, S X I I ) . 3) Os animais, que forem achados tr vezes
NA0 ASSIM C031 11 ACO ~QLADRU1'l:DAKIA
em pomar, vinha ou olival alheio, so lanados fora do termo
DE PAUPERIEw E A ACO DE PASTAGEM8
da jurisdio civil onde o dono desses animais morar, segundo
a mesma Ord. 5 r. 4) O duno do campo, cujos initos forem
VI11 - A aco quadvupednria de paz6pcvie (de dano danificados pelos animais, pode aprision-los e lev-los como
feito por quadrpedc), cuino Ihc chamam os Livros Raslicos: penhor para os currais pblicos a isso desti~iados,Ord. cit.
liv. LX, tit. 2, na qual se demarida que o dono repare a paz&-
3; por consequncia, uma vez prestada cauo ao dono,
+%e, isto , o dano, ou d o animal a noxa, tambm no est parece que este j no pode deter o gado, Ord. cit., dito 3,
em uso, e acha-se ab-rogada em quase todos os poros. Vinnio, lei 9, 3 I, do tit. De damno infecto do Digesto, Brunneman, De
ao I do tit. Si quadrufies fiaufieriem fecisse dicatzw das Ins- iitclus. animul. j) A aco d c fiaztfi~ie no admitida pelas
titulas. O dano que o quadrlpede fizer segundo u sua natureza, nossas leis. 6) Aquele que acintemente matar boi, quadnpede
como, por exemplo, pastando no campo, io pedido ilem ou gado, que encontrar a pastar em campo alheio ou prprio,
seja por culpa do dono, seja por acaso, tem obrigao de pagar
o dobro ou triplo ao dono, e desterrado, temporria ou perp-
tuamente, para Africa ou Brasil conforme a valia dos animais.
Ord. Iiv. 5, tit. 78, 3 I, Man. 100, no princ., lei 24, tit. 15, da
Partida 7, lei 39, 3 I, do tit. ad Legein Bquilzam. 0 s que cortam
rvores de fruto, sofrem quase esta mesma pena, Ord. liv. 5,
tit. 75, no princ., Man. 100, no princ.. Por conseguinte, as penas
particulares, como consta da citada Ord. e outras, no so total- DAS INJORIAS E LIBELOS FAh1OSOS
mente reprovadas. Do dano causado nos pomares inquire o
juiz e x officio a pedido da parte, Ord. Iiv. I, tit. 65, 3 32; porm, O QUE E INJURIA E SUA DIVISA0
como esta disposio exorbitante, no deve estender-se ao
dano feito nas searas. Febo, P. 11, Aresto 180 (Tit. XI deste 9 I -Chama-se injria qualquer feito ou dito directo,
livro). dolosawente praticado para ofender algum. Podendo, pois,
ser feita por palavras ou actos, divide-se em verbal e real.
DOS INCENDIARIOS obre as injrias nem temos tituio especial nos trs Cdigos do
Reino, nem neles vem definido, como se fazia mister, a sua essncia,
5 X- Os incendirios, que por culpa sud dela111 causa pcna. e forma de processo. Disto resultou uma juri~prud4nciaarbitl-i-
n a , que tantos e tamanhos males origina. E certo que virias das
ao incndio, no s so presos e obrigados a ressarcir o dano
nossas Orrlenagcs falam de injrias, como no iiv. I, tit. 65. 5 25
segundo a estimao do juiz que deve cx oficio tirar devasa, e seg., liv. 4, tit. 63, 5 I, tit. 88, $ 5 , e iiv. j, tit. 42, 49 e 50.
mas tambm desterrados por dois anos para f i n c a , Ord. liv. 5, m s , como tratam das injrias feitas aos magistrados e seus oficiais,
tit. 86, 5, Man. 83. Mas se agiram com doIo, compete acusao ou pelos litigantes uns aos outros, ou dos juizes a quem compele
criminal contra eles; e, como mal diferem dos assasinos, visto O conhccimcnto das injrias, ou das daades que se devem revogar

que o fogo alastrando pode arrastar a destruio de searas, por injria, ou das injrias que podcm levar os pais a deserdar os
gados e homens, so pelas leis romanas condenados morte, filiioi, deixam quase toda esta matna, que quotidiana, intacta
e pendente da definio arbitrria do juiz, ou, o que pior e mais
lei 16, pen., do tit. De ncendio, ruina, naufragio, lei 28, $ 12,
grave, do recurso ao direito romano. De facto, deixa-%? a qualidade
do tit. De poenis, lei 10 do tit. ad legens Corneliam de sicariis. da injria ao juizo do magistrado, Ord. liv. 4, tit. 63, 6 I, ihi;
E a Ord. citada estabelece expressamente esta pena do direito E se for dfwida, se a injuyia assi faila he grave, ou so, ftque eni
romano contra os incendirios dolosos. arbilrio do Jzclgador; e no tit. 88, 6 j: E ficar em arbitrio do JecEga-
dor, se as taes palauras foro graves, ou leves.

OUTRA DIVISA0

5 11-Divide-se ainda em simples e atroz, conforme


a gravidade do facto, o local onde se praticou e a dignidade
da pessoa injuriada; em imediata, a que se faz directamente no lugar onde estiver a Casa da Suplicao, Ord. liv. 5,tit. 39;
ao ofendido, oii m e d i d a , como dizem, quando feita a pessoa 9) a que se comete em igreja ou mosteiro, na mesma Ord.
que est sob o nosso poder ou proteco, por exemplo, ao filho- tit. 40. Tambm se diz e de facto injria atroz o dito difa-
-famlia, a o adoptado, a esposa, noiva, lei 7 , 5s 7 e 8, leis 8 e 9, matrio, ou o facto do gknero de ferir ou esbofetear algum.
do tit. De injziriis, lei 18, 53 4 e 5, lei 15, 9 35. do mesmo til.,
Harpprecht, ao 9 7, do tit. De injuriis das InstituV~s,Brunrie- Aquele que no prosxgue a aco de injrias intenkdda eiii ju~o,
ou dela desiste cm qualquer allura da demanda, entende-se quc
man, nos nn. 4 e 5 dos coment. lei I de igual tit do Digesto.
desiste de toda a pena, emenda e utisfayo; ?, p r isso, o juiz que
ex officio conhece da causa, no pode aplicar qualquer pena em
INJGRIA eN0.N FACTO>>, ISTO E. POK OMISSA0 OU I)l-:SPREZO favor do injuriado, Ord. liv. 5, tit. 117. 9 19, vers. E posto qtbe,
e tit. 124,1 15, vem. E pariindo-se; no entanto, bem pode aplic-la,
quando o iujuriado no intentou nenhuma aco ou acusao, Ord.
$ 111-Tambm se faz injria non facto, ou seja, por
liv. 5, tit. 136, 5 2, rers. Porem quando. A razo porque neste caso
omisso, quando, por exemplo, por soberba se no prestam as no sc diz contumaz c revcl, como rio pnmciro. E assim w devem
honras civis a quem so devidas nem as saudaes do costume. entender e conciliar as Ordenaes citadas. E m h r a isto seja assim,
Boehmero, nos coment. ao tii. De injuries do Digesto, 5 VII, h o caso especial de que, se um nobre fizer uma injria, ser sempre
Trait des injures par Mr. Dareact, Sect. IV, pg. 80. apiicaa a piiia, au ru conde~iadu ex offii.io pi senleni;a clu jui,,
em favor do lesado c ofendido, mesmo que este desista da acusago
j comepda e intentada, Ord. liv. I, tit. 6 j . $ 20. Deve ler-se a Deli-
A INJORIA ATROZ berao da Relao de Lisboa de 22 de Fevereiro de 1721, apud
Novssima Colccyo, N. CLXXXIV.
3 IV-Devendo estimar-se a atrocidade da injria peIo
prprio facto, dignidade da pessoa, ou lugar em que feita DA INJDRIA CONTRA OS AUSENTES, INFANTES, E FLTRIOSOS
(5 11), segue-se que devemos considerar injria atroz: I) a que
se faz a um magistrado, Ord. liv. 5, ti&. 49 e 50 (Tit. IV, 3 VII, 5 J7 -A injria pode cair tanto sobre os presentes, como
Nota); 2) ao seu oficial, Ord. cit., e liv. I, tit. 65, 26; 3 ) aos sobre os ausentes, se for dita com a inteno de chegar ao seu
nobres, P outras pessoas constitudas em dignidade, na mesma conhecimento, Ord. liv. 4, tit. 63, 5s I e 7,e tambm sobre os
Ord., e no liv. 3, tit. 86, 9: 12; 1) a que feita por um nobre ignorantes, os que dormem, os que agem contra a prpria
sobretudo a um plebeu e desconhecido, visto que 6 ex officiu vontade, como os infantes, os furiosos, e os mentecaptos, os
perseguida pelo juiz, Ord. liv. I, tit. 65,9 30; ou 5) pelos escra- quais, embora no possam fazer injria. podem ser injuriados,
vos e filhos aos senhores e pais, Ord. liv. 5, til. 41; 6) a que lei 3, $3 I e 2, do tit. De injuriis do Digcsto.
C feita quele com quem o injunante traz demanda, pois
punida com pena maox do que se no andassem em litgio,
DA INTENC.60 DE ISJURIAR
Ord. liv. 5, tit. 42; 7) a que se faz em pblico, como no teatro,
no tribunal, ou perante pessoas probas e honestas, Ord. liv. 4, 5 VI -Como no h injiria sem dolo ( 5 I), fcil ver
tit. 63, $ I; 8) a praticada na presena do Rei, ou no Pao, ou que no se comete injria sem nimo de injuriar, lei 15, 5 3,
do tit. De injuriis. Por conseguinte, no faz injria: I) aquele don-la; aquele que apoquenta, acompanha, ou trava duma
que por graa faz ou diz alguma coisa, lei 3, 3 do mesmo tit.; mulher, e com ela procede de forma a desacredit-la em seu
2) aquele que, em defesa prpria, aponta testemunha um
pudor, no tem seguramente o nimo de injuriar, e no entanto
crime verdadeiro, lei 6, r, do tit. De poslulnndo do Cdigo; obrigado pela aco de injrias, lei g, 3 4, leis 10 e 15, $ 16
3) tambm no aquele que opUe excepo de ob-repo, men- c scg. do tit. De i~rjuriis,Ord. liv. 5, tit. 18, 2. Veja-se, querendo,
tira ou falsidade contra um rescrito de merc, Strykio, De falsil. Causes clebres et iiztressantes par Yr.Gayot de Pitava1 szw
prec. Princ. oblat., cap. IV, n. 7 e seg.; 4) aqueles que em les out,~agesfails d: une Dame, tomo IX, pg. 276.
razo do seu oficio, e com vistas de emenda e correco, fazem
alguma coisa que seria injria se fosse feita por outros, como
C o caso dos mestres, pais, e maridos quando castigam leve- DA CALCKIA, IvfALEDICEKCI.4, SI3lPLES DETRACCAO,
mente os discpulos, filhos e mulheres, lei 15, 38, do mesmo E DELACAO ODIOSA E 3ULIGNA
tit., lei 5 do tit. ad legem Aquiliam, Ord. iiv. 5, tit. 95, 4, e
tit. 36, $ lt.; e, do mesmo modo, os oradores sacros que censu- $ VI11 -Entre as injrias verbais na realidade atrozes
ram os costumes do sculo, contanto que poupem a pessoas. (: IV) a?-dta a calnia, a qual pode ser verbal ou escrita,
judicial ou extrajudicial. Entendc-se aqui por calnia qualquer
Se o dito ou feito C, por sua natuieza e ndole, injurioso, prr- difamao verbal, maliciosa e falsa, em que o adversrio nos
sume-se u Inirrio s iujuriar, incumbindo, por isso, ao ru quc nega, atribui um mal grave que no fizemos, e cuja noticia tratou,
o nus de provar o contrrio, lei 5 , do tit. De injuriis do Cdigo. primeiro, de espalhar e disseminar pelo vulgo com malas-artes
A verdadc do dito no escusa o injuriante. embora mitigue a pna,
dita lei 5. Tambm nau exusa ao njutiante o elogio que faqa do
e insidiosamente. Este grave crime, que se comete niim dia e
autor, lei nica do tit. De farnosis libellis do Cdigo, nem os protestos leva muitos anos a reparar, realmente digno de ser castigado
eni coiitrrio do dito ou frito. nem a alegao de eiro quanto i pessoa; com as penas mais severas, como as infamantes, e com crcere
p r isso, o que injuriou Tito, pcnsando quc era Seio, obrigado pel:is perptuo; no entanto (to depravados andam os costumes
injrias para com Tito, Iri 18, 5 3. do tit. De injuriis. Finalmente, no hu~nanos)fica quase impune, sobretudo o extrajudicial, e as
deve ser desculpado o que profere e espalha injrias ouvidas a outros.
nossas leis no fazem meno especial dele (Tit. 11, j3 XITI).
pois iii> feir m e n u s a fama e reputao do que o prdprio autor
d e s i a ~injiias. Mas j merece desculpa o provocado que repdc uma
Do judicial j dissemos algumas coisas no Tit. TI, $5 XVIII
ofensa com outra ofensa, pois dificlimo, e nem a todos dado, calar e XIX, no Tit. XIII, VIII, e no Tit. XX, SS: IX, X e XI.
unia dor jusia. Quanto s penas e progresso das calnis no tempo dos Impera-
dores deve ler-se Henrique Brencmman, De legc Remrnia et
de jactis calumniatorum sub Imperatoribus, apud Ottn, tomo I11
EXEMPLO DE INJRIA SE31 ANIMO DE INJURIAR do Thcsau~usJz~risRomani. A maledicncia, ainda que ver-
dadeira injria, grave ou leve conforme a sua qualidade
S: VI1 - Aquele que com palavras brandas atenta contra (C: VI, Nota). As irnprecaes, ameaas, e simples detraces
a pudicicia dalgum, e aquele que na riia tira a uma donzela so quase sempre injrias leves que no devem ser piinidas no
ou a urna mulher honesta o seu pajem nu o aconselha a aban- [oro civil, porquanto no se pode punir Jd~ilmentea indiscripio
d a Zin~z~a, lei ,; 3 3, do tit. ad legem Jzcliam LVajestatis (Tit. 11, expresses em desahno de algum, no devem ser consideradas inju-
X V I , deste livro). Mas os chamados mexeriqiieiros qiic mali- tiosas c iniamantes, visto no terem sido esctitas com nimo de
ciosamente comunicam a algum os ditos ou feitos ocultos injmiar; a razo porque admite-se certa liberdade, permitida por
duma pessoa so considerados injiirianles e punidos com a pena todos os dircitos, naquilo que os amigos escrevem e ranversam entre
si. &Ir. Dareau, Trait des injwes, cap. I , Sect. 11, pg. 46. Entre
de talio. as injrias escetas ~ C I T contar-se o plp-o Zitwdrio, pois comete sem
dvida injria e quase ladro aquele que vcnde, d, imprime
Apraz-nos notar aqui que, nas leis antigas, e nas doa~iics crn
c divulga a obra alheia como sua. Darpau cit., cap. 111, Scct. VI,
quc se dava aos nobres o domnio dalgum lugar, a palavra calnia
pgs. 228 c se@. (Vide Jacabo Thomsio, De plagio liferano).
significava o direito, que ~ s s e snobres tiiihdm, de aplicar perias fiscais
e condena~es,e que s expressamente podia ser doado.

DA INJdRJA ESCRITA E DO LIBELO FA>fOSO


5 X- As injrias reais resultam de coisa ou facto que,
$ IX -A injria escrita deve ser sempre considerada atroz, na opinio phblica, em si injurioso ou gera injria; t. o caso
tendo, por isso, qrie ser punida mais severamente que a verbal, de se arrancarem os cabelos ou a barba a algum, esbofetear,
Ord. liv. 5, tit. 84, $ 2. Man. 79. Chamamos libelo famoso ao aoitar, bater ou ferir com a mo, vara ou outro instrumento,
escrito annimo infamante, lei 5, 5 9, do tit. De injzwiis, leis r , oii fazer gestos de desprezo c dio, como mostrar a lngua,
3 e 4 do tit. De jamosis libellis do Cdigo de Teodsio. O que ameaar com os olhos, fazer visagens, ou pendurar cornos s
abrir, descrever e divulgar estes escritos infa~na~itesser punido portas dos casados, Carta de Lei de 15 de Maro de 1751.
com a mesma pena que o seu autor, Ord. cit., $ I, tirada da lei Estas injrias, tal como as verbais, so simples ou atrozes,
d'El-Rei D. Duarte, dada em Evora a 26 de Abril de 14.35,apud devendo, assim, ser punidas mais grave ou mais brandamente
Ord. Afons., liv. 5, tit. 117, Gama, Decisio 139, n. lt., Temiido, (5 I V ) .
P. 11, Decisio 223. Ainda que nas Ordenaes Regias no exista titiilo especial sob* ,
as injrias fsicas, so, contudo, niencionadas em muitos dos seus
No h i realmente diterenca nenhuma entre a injria cscrita lugares, por exemplo, no liv. r , tit. 65, $ 5 31, 33. 37 c 38, no liv. 5,
c o libelo iainoso, se este for assinado: e assim se devem distin-&r tit. 3j, $ 3. 4. 5, 6 e 7, e tits. 36, 39, 40, 41, 42, 117, S. I, e no Kegi-
estes crimes, Coccey, ,Jtt.s Controvi?rswic, ao tit. De iizjwits, quaest. mento do Desembargo do Pao, 5 18, s quais se deve-a juntar as
31; no cntanto, como aquele Ultimo revela, no anonimato, x esperana Extravagantes insertas junto destcs ttulos. Porm, ou nenhuma pena
de impunidade. c de prova difcil, d e ~ eser punido com maior esta definida para estas injrias, deixaiido-se, assim, a sua punio
sereridade que a injria escrita: p ~ m ,a pena capital atatuida na ao arbrio do juiz, ou, se esti definida, apenas num que noutro caso
1
lei nica do tit. ne libellis famosis exorbitante e injusta. O que guarda a devida proporo. Portanto, o que nas Ordenaes citadas se
compuser, inycrcver, fizer, prorlrisir ou imaginar livros, epigrarnas, tem como principal fazer-nos sabcr quando as feridas infli@das do 1
inscrifes, pinturas, ou escultura infamantes para outro, deve scr lugar a qucrcla, e quando a inqiiiri@a.
havido como autor de libelo famoso, lei j, $8 g e 10, lei r j , 3 27,
do tit. De injuriis. As cartas para amigos, ainda que tenham algumas
E A SUA PENA uwlnerum, Baumer, Medicina forensis, cap. V I I I , JJCn~oiresur une
question anatomique relative li jurisprudence par MY. Louis (Tit. IX,
5 XI - A aplicao da pena capital ou de pena aflitiva 3 XVII, Nota, deste livro).
do corpo pelas injrias cometidas, no elimina a multa esta-
belecida nas leis pblicas ou forais, Ord. liv. 5, tit. 36, r,
ibi: e isto alm das penas pecunzrzas contedas nos forazs FERIDAS ATROZES E LEVES
dos lugares: Man. tit. 11, 2: Pero n o m he nossa l e n ~ a mpolas
dztas $ e n a ~serem velecados os que semelhantes delctos feze- 5 XIII -Tomam a fenda atroz e aumentam a pena:
rem, das penas $ecunarias contheudas nos foraes dos lugares; z) a dignidade e qualidade do ferido;
I) a grandeza da ferida;
Afons tit. 33, 5: E por esta pena n o m sejam relevados das 3) o lugar da fenda; 4) o lugar do delito; 5) as armas;
penas da Justica, que merecem pelos malefi'cios ... -\'em outro 6 ) a causa e razo de se fazer a fenda, Ord. liv. 5, tit. 39, $ Ut.,
sy sejam relevados das penas contheudas nos foraes, e costu- lei 8 do tit. De injuriis do Digesto. Portanto, aquele que assa-
mes antigos nos lugares. lariado por dinheiro fenr algum, mesmo levemente, conde-
nado morte, Ord. liv. 5, tit. 35, 3, ver. E ferindo. A mesma
pena cabe ao escravo e ao filho que ferir seu senhor oii pai,
FEKIDAS MORTAIS Ord. tit. 41, ou qualquer outro na presena d'EI-Rei, tit. 39,
no princ., ou finalmente quele que com mau dolo fenr outro
XIX - A fenda, que no juzo indeclinvel dos mdicos com espingarda, besta e outras armas defesas, Ord. tit. 35,
for mortal, Ord. liv. I, tit. 65, 38, punida com a pena de $5 4 e 5. Ao encarcerado que ferir outro encarcerado, corta-
homicdio. Deve-se, porm, indagar em juzo se a morte resul- -se-lhe a mo, Ord. liv. 35, h. Igualmente se decepa a mo
tou da ferida em si, porque, se o fendo morreu por cuipa do ao que tirar arma na Corte, Ord. tit. 39, 5 r, e tambm ao que
mdico ou por qualquer outra circunstncia extrnseca, no fenr algum na cidade onde estiver El-Rei, ou no lugar onde
h lugar pena ordinria. Carpzov, P. I, Quaest. XXVI. for a Casa da Suplicao, tit. 39, 2. O simples facto de desem-
bainhar a espada nestes mesmos lugares crirne punido com
Embora Lcyser, na dissertaqo especial sobre cstc terna. considere aoites devido chamada santidade desses locais, na mesma
intil no homicdio a autpsia do cadver c o rclatrio sobre a quali.. Clrd., e com degredo perptuo para o Brasil, se for numa igreja,
dade da fenda, eles so aprovados por todos os direitos. Sunca deve. Ord. cit., tit. 40. O que fenr outro no rosto, sofre a pena de de-
pois, o juiz dispens-los, nem doutro modo pode constar do corpo
gredo, pcrda de bens, e, sendo plebeu, a amputao de uma
de delito (Tit. XIII, $9 XX e seg., dcste liv.). Deve-cc atribuir muito
valor aos mdicos e cimrgies que sob juramento afirmam que uma mo, Ord. cit., tit. 35, 3 7, Febo, P. I, Decisio 31, e I1 Aresto 127.
fenda mortal: mas no tanto, que o seu juizo no admita prova Comete injria atroz aquele que der uma bofetada na cara
em contrino. Strykio, Us. mod., ao tit. ad legem Corneiianl de sicants dalgum, ou fizer aleijo nos membros doutro, Carta de Lei
do Digesto, nn 3 e 4 Agora a opinio reinantc no foro de que a ferida de 15 de Jan. de 1652, apud Ord. liv. I, tit. 58, Coleco I,
no mortal, quando o ferido vive 40 dias apis o Erimcnto, no N. 9, Ord. liv. 5,tit. 122, no princpio, ibi: sem aleijo; mas
assenta em razo mdica. Jernimo Ernest, Dissert. De Iefalitate
no est a definido que pena deve Ievar. A simples beliscadura
rosissinios exemplos disto no tomo 11, pgs. 263 c segs., do seu Da~is
e arranho considera-se injria leve, na mesma Ord. tit. 122, le thdatre d'honneur et de cheualerie. Contudo, os nossos maiores
no princ. e I deixaram, no reinado de D. Afonso IV, este costume da vindicta
privada, mas caram no excesso oposto: de facto, naquele reinado,
Todavia, no est em um nenhuma destas disposirs, e mos-
como o direito romano j disfmtava dalyma considerao, comeou
mente a Ord. liv. 5, tit. 39, $ z, quc manda amputar a mo ao que,
de haver tantas querelas e acusaes judiciais, e to frequentes aces
mesmo levemente, ferir algukm na cidade onde estiver El-Rei, ou no
de injrias no foro, que o prprio D. rlfonso enterideu sriamente ser
lugar onde for a Casa da Suplicao.
do interes? pblico limitar estes litigios por injrias, o que acabou,
alfim, por fazer na lei especial publicada em Torres Vedras a 12 de
Maro do ano 1393 da Era, apud Ord. Afons. liv. 5, tit. 59, 1 i, ii>i.
E em como a Ns fosse dito tempo ha, que elles eogarnente usavafiz
das dilas injukas, o qee nos nossos Regnos 11om era acustumado,
XlV- Quaisquer injrias podem ser vindicadas tanto querendo tolher essas malicias, quanto a Ns era, hordenamos e pose-
civil como criminalmente. Ord. liv. 5, tit. 117, 5 5, ibi: podero lio os $07 ley. que se alguii demandasse outro 9or injuria, que dissesse
demandar suas injurias, e damnos. Por isso, pela aco de que lhe fezera. ou dissera, que mola fosse recebido a essa de,nanda,
injrias civil pede-se a restituiso do dano e tudo aquilo que afee que desse fiadores, que se nonl provasse o que conlra elle
interessa ao injuriado; pela criminal, a pena fixada nas leis dissesse. peru lho correger cotfi outro tanto quanto a el serxa jldigado,
se firouado fosse O que se e1 obrigasse de provar contra o deinundado,
pblicas e forais.
segundo em essa Zey he contheudo: o que antes dessa nossa ley nos
Bachov, Huber e Bochmero, nos coment. ao tit. De injurixs. 5 18, nossos Regnos se nom usaua.
e especialmente no tratado De iniquilate e1 tnjwstitia actionis injis-
riarnon, cap. 111, condenam esta aco e toda a vindicta como
indignas dum cristo. Mas conhndcm uindicla com tlngasca. Vin- ORDEM UO PROCESSO A ORSEKVAR NAS IPJLRIAS VERBAIS
gana aquela espcie dc vindicta que no tem outro fim sno
saciar a alma com a dor de quem nos ofende, Pudrndorf, De ofjic. 5 XV- Das injrias rierbais (e o mesmo se deve aplicar
bom, et cio., cap. VI, g XIII; esta egcie de vindicta tanibrn as reais leves) conhece o juiz suinarissirnamci~tee sem observar
condenada no direito civil, lei 45, 5 4, do tit. ad legenz Aqwiariz a ordem do direito, e decide-as, juntamente com os vereadores
do Digesto. A aco estimatna do direito romano, segundo a q r ~ 1 da Crnara, sem apelo nem agravo at L quantia de 6000 r&,
o valor da injria estimado pilo autor, observa-se no foro por
forma tal, que muito se deixa, para esta estimao, ao arbtrio cio
lendo os autos perante as partes, se ai quiserem estar, o que
juiz. Mendcs, i11 Prazis, liv. 117, cap. XI, Frana, na-; Nele a Mendes cumpre notar, Ord. liv. I, tit. 65, 3 ~ jibi:
, Os Juizes conilqo
A acyo cnninal da lei Corneliu de injuriis no teni UK) nenhum. dos jeitos das injurias uerbaes.. . e os fao coi~clusose m breze,
No mesmo lihclo podem perfcitamentc juntar-se a aco civil c a no jazemio longos processos, e sem darem uista s partes
criminal. Ferreira, InclPca Cn>p.irsalis, turno T I , tract. 111, rap. I, @ara razunrem e m final fiar scrilo, e sem lhcs darem os nonzcs
M. 12, 13, 14 e 15, pkg. 169. Desde o principio e j na Idade X&a das testemualzas para ontradictas, os leve~rz Ca?~zera,e os
,at D. Aonso IV, costumava a nossa gente vingar as inlrias cc
des$achew c o m os Ber.cado~~.s na +rinzeira :lereao ... leiido
qualquer gCnero, no com o direito, mas com a fora, pois nesscs
tempos sobretudo as pessoas gradas tinham por muito deslostroso os feitos fierawte as partes, se hi qz<izerem star, Xan. tit. 44,
no vingar as injrias pelas pr6pnas mos. Wilson apresenta h u m e 5 45, Afons. tit. 26, 5 27, e liv. 5, tit. 59. Porm, das injirias
atrozes s o juiz ordinrio toma conhecimento, admitindo-se,
absolutamente, apelao ou agravo, Ord. cit., tirada da cit. lei
de D. Afonso IV, feita para diminuir o volume de aces por
injrias leves, a qual confirmada por D. Pedro I, filho de
D. Afonso, e por D. Joo I, passou aos Cdigos posteriores.

Ainda que no se p o s a interpor apelao nem gravo das sen-


tenas dadas no Senado sobre injrias verbais, admite-se, todavia,
o recurso para o Rei, visto ser um remdio que a ningum se deve
recusar; no entanto, o recurso no suspende o efeito e execu@o da
coisa julgada, e assim se deve entender a Ord. cit. Ev. I, tit. 65,
3 28, Cahedo, .'E 11, Decisio 40, n. 15. O QCE J l O HOlIICiDIO, E SUAS ESPECIES

5 I - Diz-se homicdio, em geral, o facto pelo qzlal se


DA ACAU <DE PAT21N6DIA>, E DA RETORSAO DA INJURIA tira a vida a wm izome~n.Ora, porque este facto pode acon-
tecer de muitos modos, isto , por dolo, culfia, acaso, ou neces-
XVI - A aco de fialindia ou recantatria, que deve sidade, divide-se o homicdio perfeitamente em doloso, cul#oso,
a sua origem aos costumes corruptos dos povos, no i. aprovada casual, e necessrio. 0 doloso divide-se em si~nfilese qualifi-
pelas nossas leis, e por isso, nunca pode ser admitida: de facto, cado, sendo este aquele que contkm matna especial quanto
ela contm em si alguma torpeza e de modo nenhum pode ao modo e causa, ou quanto s pessoas contra quem se pra-
basear-se nos princpios gerais das obrigaes. Veja-se, que- tica; pertence a esta espcie o homicdio de traipio, o assas-
rendo, Covarrbias, V a ~ i a r u mcap.
, XI, n. 4, Salgado, De Reg. sizio, o Eatrocinio, o pnrricidio, o infanticidio, o envenena-
Protect., P. 11, cap. XV, nn. r69 e 172, Graciano, Forenses, mento, e o cometido com armas de sua natureza mortais ou
Decisio rgj, n. 3, Pegas, tomo 5 s Ord. liv. I, tit. 65, 3 25, especialmente proibidas. Dc cada uma destas espcies vamos
n. zro. A retoisio extingue a injria verbal ou diminui a sua tratar como nosso costume.
pena no foro externo, lei 17, 5 4, do tit. De injuriis.
Debaixo da expresso facto tamb~nse compreende o no facto.
Portanto, aquele que cientemente seguia uma espada contra a qual
:2 ieforso, isto 6, o acto pelo qual se retribui a injria ao outro se atira sem ver, aquele que deixa ir outro morte obtida
injuiiante, Strvio. De vindicla privata, cap. S, sempre Ajusta, com falso testemunho, e aquele que nega alimentos ou medicamentos
ainda quando feita em continente; debalde, pois, tentam alguns juris- a algum, so homicidas.
consultas e telogos libert-la, com o pretexto de defesa, da imputao
de impiedade que aqui manifesta. Tocam neste assunto os trabalhos
que Strvio, Pfankuch c Slevogi publicaram sobre esta matria
( VI, Nota, deste tit.).
3 I1 - O homicdio doloso simfiies ou directo, quando
h intenco de matar, ou indirecto, quando no h essa inten-
o, mas apenas se verifica a vontade de fazer mal, unida a um matar, e m tal caso ueja-se a czclpa. e m qzie foi o dicto matador,
facto espontineo ilcito. Sempre que no corista da intcnzo e acsy seja $enado segundo a culfia, e m que for achndo.
directa ou indirecta de matar, devc olhar-se ao instrumento,
ao facto ou omisso, de que fcilmente pode resultar a morte, .
,l a l como o doio e a culpa difrrcm cntrc si, assim a intenyo
e se o homicida soube o que fez ou intentou fazer. Muller, c marar c fazer o11 no o mal toma u honlicidio doloso o11 culposo.
Jur. Criminal., tit. I ad legem Corneliaw de sicariis, Q CLIV, Pela 1t.i de D. Tlinis incluida n a Ord. Afons. liv. 5, tit. 32, g z , que
Sect. IV. passou ao; Cdigos seguintes, honuidio doloso cra um crirnc
cap~tal,se houvesse sido prerrieditado e cometido esponineamentc;
e assim se Bevem r n t ~ n d e ras palavras no% arwcdo com elle tenyom,
Yjem lhe dizendo, nem Juaendo por que; por isso, o homicclio culfioso,
rrpentino e ocasionado por notveL protr'rvia e maldade do morto,
ficou quase impune at6 ao tpmpo de D. Joo I, que nrandou fosse
Q 111- Ko homicdio c~tE$oso no h&- e nisto difere do piuiido conionnc a qualidad~ da culpa, dita Ord. Afons., $ 7, d a
doloso - intenqo de matar ou fazer mal. E, portanto, ru qual foram Lirarlas as Ordenaes actuais acima citadas. Porm,
deste crime: I) aquele que, sem vontade de fazer mal, se iiestas Ordcna~esno sc decreta npm o grau da culpa, Iiun pena
alguma especial consoante a pravidade do liu~ricdioculporo, pois
exercitou em coisa ilcita, ou e n t k em coisa licita, mas de
deixa-i? ao arbtrio do juiz esta maibria dc tamanha in~poriinria.
modo, ou cm lugar ou tempo ilcito, lei I, 5 3, do tit. ad legem Depois, ao homicdio iari buscar lucro o isio, Ord. iiv. j, tit. 36,
Corlteliam dc sicariis do Cdigo, lei g, $ 3, e leis 11 c 31 do tit. e os pais ou os parentes do morto, aos quais se des~inavacerta soma,
ad legenz AqeriZiam do Digesto; z ) o mdico ou cirurgio negJi- <lefiiiida sobretudo nas leis forais, a qual hoje nXo vsii cm uso por
gcnte no curativo da doena ou ferida (Tit. XI, VIII, deste ter sido aulstituda prla simples repara& do dano. Euernplos M
livro); 3) aquele quc, para a mulher conceber, lhe propinou de que outrora eni todoc os povos as ~nortcs cram vingada; p c k s
famlias ofendidas, que persegiiiam o honiicida com as armas, como
um remdio que lhe causou a morte, lci 3, 2, do tit. ad legem
se pode ver rni Heincuo, Eleimenl. Jw. Gerid. liv. 11, tit. XXVI,
Cor~zeliam de sicamis. Para mais exemplos, e mais ampla
Grcio, DE $<?e heili ac pacis, iiv. 11, cap. I, g I, n. 2 (Tit. IV,
ilustrao deste tema, veja-se Carpzov, P. I, Quaest. XXVII, 5 XTTI, Nota, deste livro). Nu Chrligo Criminal da Fcniilvnia,
n. 9. promu!gadu em g dc Maio deste corrcntc ano de 1794, O tx~ncidio,
ai charnadu de I." grazt. C puuido com a pena capital: o do 2.' grau,
com a pcna de crcere e peniniltncia entre 5 e i8 arios. Classifica-se
QUE PESAS CABEM 4 ESTES DOT5 CKIhlES como homicdio do I." F a u , o prevzeditado, comctido com um mau
reneno ou nimo deliberado, ou o refientino, acompanhado de rapi~ia,
furto e arromba~iicntode portas.
5 IV- Ao homicdio doloso cabe a pena capital, Ord.
1iv. j, tit. 3j, no pnnc., Man. tit. 10, e ao culpoo, a extraordi-
nria, conforme o grau de culpa, segundo a Ord. cit., ibi: ser
punido, o u relevado segzmdo s.ua culpa. o u innoretzcia; Afnris.
tit. 33, 7, do mesmo liv., ihi: E se achado jor, q?de a dicla 3 V-O homicdio casltal no deve ser punido com
morte foi per algu caso sem nenkua ??zalicia, ou ziontade d e qualqucr pena, nem mesmo com a reparao do dano, porque
-se, salvo se fcil e seguramcnte puder por-se em fuga. Hei-
a ningum deve imputar-sc o que sucede por acaso. Cabem
nccio, CLXXXV, Pufendorf, De Jure Naturae et G e n t i u ? ~ ~ ,
aqui: I) a morte feita por acaso; 2) a feita por pessoa a quem
liv. 11, cap. V, 13.
no pode imputar-se dolo nem culpa; 3 ) a que feita por
permisso ou mandado da lei; 4) a que feita por aqueles que
A vulgarmente chamada tutela incuI$ata (legitima defesa) o
se exercitam em coisa lcita, e no local, modo e tcrnpo do direito, que tuc?oq tem, ilr rlrfriider a s u a vida, a sua integridade
costumc, lei 9, q leis TI e 31 do tit. ad legent Aquilianz. fsica, a sua pudiccia, c os seus bens contra um agresmr injusto,
ao qual at8 pode matar, se no puder di:cnder o seu direito doutra
maneira, e o de repelir, acto condnno, a fora injusta cum a f u r ~ d
justa, no para se vingar, mas para se delendcr. Estc direito compete
contra todos aqueles de quem, s e ~ nculpa nossa, nos vem um p e ~ g o ,
c, por isso, tambni contra os funosos e mentecaptos, pois, cornu
8 VI-A morte do agressor injusto, quando imposivel bem diz Grcio supra cit. $ 111, este direito de defesa no nasce do
ao atacado defender-se por modo mais leve, chama-se homi-
pecado ozt da ilzjn~rtia doutro. De facto, esse direito ns o Liriramos,
cidio necessrio devido ao direito de justa defesa, na lei I do huuiiinos e aprendemos d a firupria natureza, cumo elegdnicmcnte diz
tit. VPtde vi do Cdigo, e cap. 18 do tit. De homicidio, e no Cicero na Oraco firo Jfiione, que 6 , scm divida, o exerriplo mais
est sujeita a qualquer pena, Ord. liv. 5, tit. 35, no princ., ibi: acabado de defesa da tutela inculposa. Por ii'o, b e urn dia a l ~ n i
se a morte for e m sua ~zecessariadefe~zso,no haver pena advogado tiver de dekndrr um ~ b acusadou de homicidio, que pre-
alguma. Lenda ver absol~iop m legtima defesa, aconailho-o a quc leia este
discurso em
. favor de Milo e aproveite e adapte para a sua causa
os argumentos que n d e Ccero usa, pois neste gi~ieronZo h melhor.
DA DEFESA INCULPOSA
No entanto, Ciceru, a h d a quc clcgante e engenhosam~nte,defendeu
uma causa ma e injusta, pois Milo foi condenado justamente.
VI1 -E lcita tambm a defesa do cnjuge, filhos, pa-
rentes, e qualquer inocente. Heinccio, De Jure Natzwae et
Gentium, liv. I , cap. VXI, $ CLXXXVI. Basta, para ser apli- O QUE MANDA MATAR E RESPONSAVEJ, PELO HO\IICDIO
cada, o risco de perda da vida, membros, pudiccia, e bens.
Crcio, De jure belli ac pacis, liv. 11, cap. I, Pufendorf, De offic.
homin. et civ.. Mas, para haver t ~ t e l ainzclpata (tutela incul-
5 VI11 - Porque, como bem diz Ulpiano na lei 15 do tit.
ad legem Cor~zeliamde sicariis, no Itlt diferetaa entre quem
posa, legtima defesa) faz-se mister o concurso de vrias coisas,
mata e quem d causa morte, aquele que rnanda matar tido
como: I) que o dano seja gravsimo e no possa cvitar-se por
como homicida, no caso de se segnir a norte, devendo, por
meio mais brando; 2) que a defesa seja feita contra uma
isso, sofrer a mesma pena, Ord. liv. j, tit. 3j, no princpio:
ofensa'injusta e imprevista; 3) que seja feita em tempo e por
Qualquer pessoa, que matar outra, ozt mandar inatnr, nzarra
modo justo; 4) que seja imediata e acto contnuo; j) que cor-
por ello morte natural.
responda ao ataque, e lhe seja tanto quanto possvel igual;
6) que no haja outro meio de salvaco. O agredido no tem
obrigao de esperar o primeiro golpe, nem de fugir e afastar-
TODAVW, N A 0 E RESPONS.LVEL PELA MORTE, Paris, sobre o ano 1151. Tanto o mandante corno o mandatrio,
SE O MANDATARIO EXCEDER 05 F I N S DO MAKIDATO
que feri1 ou niatar por dinheiro, sofrem a pena capiral, corte
5 IX - No entanto, o excesso do mandatrio no homi- de ambas as mos, e, se no tiverem descendentes legtimos,
cdio, de que falamos, no deve ser imputado ao mandante. o confisco de bens, Ord. liv. 5, tit. 35, 5 3.
Por isso, aquele que mandou uma pessoa ferir ou esbofetear
Tcio, e essa pessoa, bebendo talvez vinho para ganhar cora-
gem, matou Tcio, o mandante apenas resporis~~el pelo fcri-
merito, e no pela morte. A razo porque o hcto alheio no
5 XII - A morte clulusa ser11 plvio assalariamento (e nisto
difere do assassnio), mas feila com nimo de lucrar, chama-
se deve imputar seno ao que nele participou ou foi sua causa
-se latrocinio e C crime punido com a forca. Sobre as vrias
eficiente, como entende Piittmann, na Prolusio especial intitu-
penas em outros povos devem ver-se Everardo Otto, De tutela
lada Dc encesszi ejus, cui aut verberatio, aut vulneratio alicuju-Y
viarz<r%,P. 11, cap. XIX, e Heinccio, Elela. Juris Gernzanicz,
rnal?dala est, nznndanti kaud imputando (Sobre se se deve
liv. 11, cap. XX, etc... (Til. VI, XI, deste livro).
imputar ao mandante o excesso daquele a quem foi mandado
apcnas aoitar ou fcrir). E basta isto sobre o homicdio simples.
O PARRICfDIO

H03IICfUIO PRODITORIO 5 X I I I -Em razo da pessoa, o homicdio toma-se quali-


ficado, todas as vezes que for praticado entre pessoas unidas
X-Na espcie do homicdio classificado entra, pelo sangue. E, em primeiro lugar, cabe aqui o fiawicidio que,
primeiro, o prodztrzo (homicdio por aleivosia), o qual se d, prpriamente, se refere apenas morte dos pais ou filhos.
quando cometido por amigos ou inimigos sob o pretexto de O filho, que ferir, mesmo levemente, um dos pais, 6 condenado
uma amizade fingida e simulada e por ciladas ocultas, dificil- morte, Ord. liv. j, tit. 41,3 I. Mas, se o matar, deve em qual-
mente evit5veis; serido muito mais atroz do que o simples quer caso ser punido com pena mais grave; no entanto, a Or-
doloso, deve ser punido mais severamente, Ord. liv. 5, tit. 37, denao citada no a declara (Vicie Ccero, na Orayo Pro
I, a qual, todavia, no decIara com que pena. Sexto Roscio, 5 25), assim como tambm no aquela que
devem padecer os pais que mataram os filhos. A pena do
.direito romano, estatuda na lei 9 do tit. De lege Pompeia de
payricidiis, e no 5 4 do tit. De publicis jadiciis das Institulas,
3 XI - tambtm homicdio qualificado o assassinio, no est em uso. Imprpriamcnte diz-se pamcdio a morte da
isto , o homicdio realizado por dinheiro c a mandado doutro. mulher, do mando, irmos, irms, e restantes consanguncos
Esta palavra de origem rabe e desconhecida no direito civil; ou afins. A morte destes deve ser punida com a pena ordinria
a sua histria remonta aos Assassinos, que eram uns antigos scm dvida um pouco mais grave, conforme o grau de paren-
habitantes da Asia, notveis pela infame morte dos Cristos. tesco e a variedade de circunstncias, mas menor que a do
Paulo Emlio, De re'eus geslis Francorzrm, liv. V , Mateus de verdadeiro parricdio.
DO 1NFANTICfl)IO. EXPOSIAO, E ABOKTO de fazer, assim c<inioo medo das pena? civis, e a infmia, quc ainda
hoje, com a aprovaio das leis, costuma acompanhar essas pobres
5 XIV -Por conseguinte, dcvem-se considerar parricdio mulheres, do motivo a que aj mes percam, para evitar isso, o
e punir como tal o injnnticidio, feito por estranhos ou parentes, sentimento de humanidade e se esquqam de que so mes. J no
falo das meretrizes, que, alm de ranssimamenie engraxedarem, no
a exposio e o aborto; todavia, no acho nas nossas leis qual-
ternem a infmia, mas das mulheres lionrstas que foram vitimas do
quer referncia a cstes crimes. Infanticida aquele que arre- estupro. So muito severas, para no dizer injustas, as leis (Ord.
messa giua ou a uma latnna um recm-nascido, ou o sufoca liv. I, tit. 73, 5 4) que condenam rnoite as mulheres, quc, crn
no leito, ou lhe no d os alimentos indispensveis k vida; ou suspeiVaoo-se mal do seu parto, no dem conta ao juiz da fmto
ento aquele que expe uma crianca com inteno de a matar, da sua gravidez. Montesquieu, Esprit der Luix, liv. XXVI. cap. 111.
inteno essa que se presume das circunstncias de lugar, se Essas 1.6.; por ccito desagsadaram tanto a urna mulher ilustre
( a Condessa Dubarry), que intrrcedcu com xito cin favor de uma
este for afastado do caminho e trnsito humano, ou de tempo,
rapariga prestes a ser condenada por prescrio dessas leis, escre-
sobretudo se for no rigor do Inverno, ou de modo, se a criana vendo uma carta ao Chanrelcr de Paris que vem em Elangieri, liv. I,
for exposta em local de facto frequentado, mas envolta em rap. IV, pg. 91, e liv. 111, tomo IV, cap. L, pgs. 413 e segs.
coisa mesquinha e normalmente desprezveI. Boehmero a Car- Ue facto, quem esperara fcilrnente que uma mulher honesta e zelosa
pzov, Quaest. X, P. I. No tem intencn de matar, aqueIe que da integridade da siia fama, sc apresente e rspuntbiieamente confesse
expe o recm-nascido, para que os outros dele se compadeam ao juiz a sua fragilidade, quanrlo ela no sabe ao certo se est grvida
c pariiluricnte? Uaquilo que o direito romano decretou acerca da
e o alimentem, ou ento para salvar a sua rcputaco. Aquele
exposio e a b o ~ oinformam-nos Joo Francisco Ramus, De poen.
que com mau dolo abortou um feto ainda que animado e vital, parricid., Afonso Carmza, De part. nnt., cap. IV, Gerardo Nmdt,
1150 deve ser logo considerado verdadeiro homicida, e parpce in Jrrl. Paul., ou no De partus cxpositione, et nece afiud veieres,
deve ser punido s, com a pena extraordinria, porque uma Bynkerihoek, no opsculo De jum occidendi Iiberus, c na Resflosta
coisa matar um homem, e outra, impedir que ele seja con- amiga de Noodt ao mesmo. Agora, quando d que o parto se deve
cebido e venha 5 luz; de facto, no se sabe se e quantas vezes considerar formado e uital, assunto difcil de determinar. As divelsas
a mulher viria a ser me. &Ir. Bemardi, Principes des L u i x opinies dos Filsofos nesta matria foram referidas por Plutarw, no
De placiiis Phzloso~horum,liv. V, cap. XV, e coli$da; por Carauza,
Cvi~tzinelles,tit. V.
De ParL. nat., Boehmero, Exercit. XCIX, De caede infanlftnz in
utero, 55 VI, VII, VI11 e IX, e Hallcr PhyCologaa, tomo I, cap. 111.
A morte de crianas e filhos C um crime muito mais atroz quc g XXXTII, e tomo TI, cap. I. Por ns, consider~moso feto annimudo
qualquer outro homicidio simples, porque de certo modo atenta e aps o meio da gestao, e dejde que se notem seguramente movi-
violenta a prpria natureza. Mas, porque o maior amor e a mais mentos seus no ventre. E uilul, sc est de tal maneira perfeito de
eslscita unio, qlic existe entre pais e filhos. exclui totalmente uu rgos e mcrnbrns, que possa continuar a viver fora do ventre;
diminui o dolo, no deve o juiz persuadir-se fcihentr da intenco e no vital, embora Jurmado, se ainda no tem tais foras e tal
de matar entre pessoas to intiniament~ligadas. B at. para dizer perfeico de rgos, que no poiqa viver fora do ventre. obre os
a. verdade, sio as prhprias lei.; qire m s t a s vezes do ocasio ao meios de prrvcnir o infanticidio, traz militas iioes, mire outros,
infanlicdio, bistu que, conio ji outros obien-aram, elas castigam ~ T T Fetion (in Ribliolheque Pitilosophiqtce, tomo VII, pig. gj).
muito sevcramr~ite as ~riuiheres vrrias de eytupio. A penitncia
e deprecao pblicas, que antigamen?e os rkus de estupro tinham
DO ENVENENABIENTO DO HOMICDILl PRA.TICAI)O EM AJUNTAMENTO

XV-O envenenamento, porque dificilmente se pode 3 XVII-Portanto, devendo s o homicdio doloso ser
evitar, classifica-se bem como homicdio qualificado, c as punido com a morte, e o cz4lfioso com a pena extraordinria
nossas leis mandam-no punir com a pena capital, ainda que ( 5 IV), fcilmente se v o que h a estabelecer sobre o homi-
deIe no resulte a morte, Ord. liv. 5, tit. 35, $ 2; no entanto, cdio cometido em ajuntamento. De facto: I) se muitos, de
assim se deve entender, se aquele que tomou o veneno sofre comum acordo e caso pensado, fizeram ajuiitarnento para
dano irremedivel, porque, se o mal for curvel, deve punir-se malar algum, sXo todos unidos de morte; 2) se algum foi
o envenenador extraordinriamente. O envenenamento cztlfioso morto em rixa nova, e se souber quem foi o que matou, s este
C punido corn pena extraordinria, conforme o grau de culpa. castigado coin a pena ordinria, c os outros ao arbtrio do
Filangieri, tomo TV, cap. LI, pig. 137; lei 3, 3: 2, do til. juiz, consoante as circunstncias; 3 ) se entre vrios cada um
a d legem Corneliam de sicariis; lei 38, 5, do tit. De desferiu golpes mortais, e no se souber qual foi primeiro
fioeizis do Digcsto. Sobre os sinais de envenenamento veja-se, a ferir de morte, todos padecem a pena ordinria; 4) se no
querendo, Mr. Doublet na tese A n #ost morlenz filzysica veneni se sabe quem fez a ferida mortal, ou e~itLo,se no houve feri-
cerlilztdo difficile com$aranda? Reckerches sur les sigzes de merito mortal, mas o ferido veio a morrer por causa de todas
I'e?npooisonnsment, apud Rrissot, Bibliotheque Philosoplzique, as feridas recebidas em conjunto, por exemplo, devido a grande
tomo X , pg. 307, Alberti, Systeirtn Jzbrisfirud. Jledic.. derramamento de sangue, ficam todos sujeitos a pena extraor-
dinria, Strykio. Us. mod., no 3 7 ao tit. nd legem Corneliam
DO KO1lTCT)IO COMETIDO COM ARMAS DEFESAS de sicariis do Digesto; 5 ) o autor da rixa, se no for autor da
morte, n3.o deve ser condenado pena mxima. Berger, Dissert.
XVI -O mesmo cumpre dizer daquele que mata ou fere De auctore rixae, 3 LX, Boehmero, Elementa Jurzsprudentiae
alguCm coin besta, espingarda, ou qualquer arma especiaI- C~iminalis,Scct: 11, cap. XVI, CCXXII.
mente proibida, conforme disp6e a cit. Ord. liv. 5, tit. gj, $ 4,
O juizo sobre a niorlalidade do feriritento deve basear-ce, prirnri-
que se deve entender assim. Neste caso, tal como no enrene-
ramente, na pisua do morto, sua rubuste~, idade, e ciicunstnciai
narnento, riao se exige, eiii iigor-, que se siga a morte, para scinelhantes. Daqui rrsrilta que as fendas que num homcm robusto
haver lugar pena capilal; exigem-se no entanto, tais feri- no %To asolulamente moriais (pois estas sempre c necessnamenke
mentos, que deles resulte, para o ferido, dano grave e dificil- tiram a vida a todos), mas o so acidentalmente, como o caso
mente reparvel. daquela.; que por testemunho dos mbdicos sc sal]? serem algarmas
oezes curcveis, num homerri doente, senil c falho de foras so, em
Aquele que andara ailiiado para matar um homem, era, segundo geral, absolutamenle mortais. Veja-se, qucrcndo. a Disertao
a lei Covne'lz'a sobre os sicrios, punido como se o matasse. Esta lei De letalitate uuineui~m (Sobre a mortalidade das fendas), de Jorge
podia aplicar-se naquelc-5 Icrnpoj: turbul~ntns d i Sicrras civis, ainda Emesto Stahle, incontestvel ~>riricipedos nidicos alcmes (7'it. VIII,
quando no se venficas~cqualquer evento: mas hoje quc, Ixir mric& g 3x1).
de Deu?, da Rainha e do Pnncipe, disfnitamos dc paz e cio. 6 su-
prf!ua e injusta.
DEFIXIAO DO .4DUT,T$RIO SO DIREITO PATRIO,
NO KOMANO, E NO CANONICO

Q: 11-No direito ptrio e no romano, adultrio a uio-


Enco do toro alheio, Ord. liv. j , tit. 25, no pnnc.: O homem,
que dormir com mulher casada, e gue em fama de casada
steuer; Man. tit. 15,no princ.: todo hotrzem, que fezer adulterio
com alga molher, e que e m farnn de casadn steuer; 'Afons.
tit. 7, 2: todo homem, que f e ~ e radulterio com algtia molher,
DOS DELITOS MORAIS E POLITICOS
sabendo que he casada; lei 6, 3 I, e lei 34, 3 I, do tit. ad lege-ir,
Jztlianz de adulteriis coerrendir. Ko direito cannico, s a vio-
QUAIS OS DELITOS MOR-ZIS E POI.IT1COS luco da f conjugal constitui verdadeiro adultrio, Causa
XXXII, questo V, cnone 15. E neste direito, duplo, quan-
do cometido por casados, e sinzpkes, quando praticado por
3 I -Aos bons costumes opem-se especialmente os
delitos da carne, como o adztltrio, o esh~pro,o incesto, a z'nz~s casado com solteira, ou solteiro com casada.
nefanda, o Zenocinio, c R embriaguez, que por isso se chamam
Nesic ponto. como crn muitos outros, as nossas leis no wguiram
morais; fioliticos so os delitos que atacam a ordem pblica o direito cannico, mas sim o romano. Por isso, segundo a incnte de
e a economia interna da nao. Como nestas expresc;es se um e outro, a mulher no pode acusar o niaiido de adultrio, nem
contm muitas noes, que no pertencem a este Iugar e exi- deve ser punido, no foro externo, com as penas de adultrio I) aquele
gem mais dcmorada explicao, limitar-nos-emos a dar um que que conhpcer mulher solteira, ou 2) mulher esposada, pois no foi
outro exemplo, pois o nosso plano no padece a anlise de tudo. rccchida pelos costumes a Constitui$o de Severo e Antonino na lei
13, 1; 3, do tit. ad legem Juliam de adulterms; ou 3) aquele que
conhecer m u l h ~ rc a u d a vivendo cni proitituio, lei 13, 5 z, de igual
No tomamos aqui os bons costumes, no sentido filosfico, ou
tit. do Digesto, emhora os Imperadoi-es discordem n a leis 22 e 29
seja, pelas inclinaes da vontade mcdelada pela verdadeira virtude,
do mesmo tit. do Cdigo, Antnio Rfateus, De criminibus, liv. 48,
mas, no sentido vulgar, pelos costumes ordenados seguiido as regras
tit. 3, cap. I, n. 6, &to que nenhunia consideraqo merece aquela
do pudor natural. No entanto, a opinio dos Cirenaicos, que afirmam
que piiblicamente professa a sna torpzea; ou, finalmente, 4) aqueIe
no ser o pudor um szntimcnto nsito na natureza humana, mas
que conhecer mnihzr honzsta e piiblicamente havida como no casada,
nascido coni o estado rivil e aceito pelos p~cconcc.ifos de quc so
Ord. cit. ibi. mulclhcr caiada, e que am fuma de casada steuer. De
imbudos desde a infncia os homens que vivem cm sociedade, agrada
facto. so conjuntamente necessinos estes dois requisitos: que esteja
a muitos filsofos deste sculo de entendimento mais iivre. PorAm,
unida em matximnio, e que a opinio e fama pblica a considere
basta Montesquieu para os refutar com a segainte razo, que vpm
casada. Gama, Decisio 169.
no E$nt des Loix, liv. XVI, cap. XII: I1 est de la natisre der tres
inieicgens de seniir l e w s imperfectir~?lstla nature a donc mis e?l nuas
Ia pudelar. c'est d dire, Ia hoi~tede 120s imfierfcctions.
PENA CRIMINAL DO ADULSIXIO ellas ariuit~vin,sr~xindo he conlheudo eni ht~lcy, u que sobre esto
fez El-Rey Dom Donis nosso Padre, a que Deos pevdoe: a ns. por
111- A pena do adulthio a capital tanto no adltero iolher este ?izal, qzie he mliy grande, e o:?:ros nrziitos males, que se
corno ria adltera, Ord. liv. j,tit. 25, no pnnc., e 8 r, Man. Ij. ende seguem, fielcs m o s e costumes, que ,xolive esto as I ~ O S S ~jz~sli$as
S

Para que esta pena tenha lugar, requerem-se lrias coisas: ataa qzdi gtcardarom, az'tcdo conseiho coil: a nossa Corte, e com Pre-
lados, e com honre*? fida1.p~ de nosso Senhvno. esta6ckemos e
I) dolo e conhecimento do matnmriio; z) verdadeiro matn- poemos por ley, que daqr~iem dianle Lodo honzeni, q z ~ cfezer adultcso
mnio, contrado de direito ou de facto, e pi~lslicamente co~iz alggl molher, sahendo qne he casudu, se for hoincrn Fidalgo,
reconhecido, Ord. liv. 5, tit. 26, no princ., porquanto no basta pile lenha rriaravidys de ns, ou de rico hornenz, pou seer seu vassolo,
o fiutativo para a pena ordinria, segundo a mesma Ord. I ; perca o que de nOr, ou de rico hootenz tever, e quanto ouver, e seja
3) consuma~o,provada por confisso de arnbos os rus, e daquellz, a que fez o torto; e seju deitudo de nosso Senhorio: e se per
ventura aqrreile, a que o torto for feito. nopn queser estes bes, ajaus
gravidez, Strykio, Us. nzod., no $ I V ao tit. ad Eegem Jz~lzant
a Loroa do Regno. E se for outro hurnem que esto fezer, moira porem.
de adz~lteriis,porquanto parece que a pena ordinria foi im- Alas nas Icis po;trrioi.rs cjlabelecau-sc. indijcniriinada~rient?, a pena
posta a este crime pelo medo de parto suposto. Hd ainda capital, tendo, postni, qiic havcr mandato ecpeial 6'El-Rei, para ser
muitas outras causas que faze~ncessar a pena ordinria e do aplicada aos nobre?. No entanto. esta pena nuvi crime, que tem
lugar extraorclin&ria,coiiio, por exemplo, se o c<"injugeadl- desculpa na prp!.in natiire~u, parzcc mais severa do quc judo.
tero a1,andonou a adltera, se o cnjiige que acusa o outro filangeri, tomo IV da edio de Npolcs, 1783,l v . 111, cap. XLVII,
de adultrio se acha incurso no mesmo delito, ou se o cnjuge tit. VI, P. 11, etc ..
estiver impedido por longa molCstia de cumprir o seu d e ~ e r
conjugaI, e outras circunstncias excogitadas pelos Intrpretes E A PEN.4 CIVIT.
para diminurem a gravidade desta pena, se no de direito,
pelo menos hurnanamcnte.
JV- Alm disso, os bens da mulher condenada pena
No interessa saber a pena que as leis dos Romanos c outros
ordinria de adultrio ficam a pertencer ao marido, sc no
povos aplicararri ao adiiltrio. No n o s o direito, o adultrio vohiritno houver filhos legtimos ou naturais que lhe possam suceder,
fica\-a quase impuic. e no se sujeitava i quaisquer penas Icgali, Ord. liv. 5, tit. 25, 5 5 6 e 7 no princ.; mas ta~nbkrn,se no sc
mas to smentc i iindicta particular; isto at aa tcinpo SEI-Rei provar o adultrio e a mulher for absolvida, fica ela com todos
D. Dinis, como consta da sua lei especial, dada em Lisboa a 9 de os bens do marido, se no houver filhos, Ord. cit. 5 7,vers.
Set~nbrodo ano 1340 da Era, apud Ord. Aioris. liv. 5, tit. 12. Sru E se n mulizer for absolcrta. iio direito romano, o adltero
filho U. Aioriso IV ab-rogou esta lei, e p m i n o adulttiio, poito quc
tambm perdia para o ofendido a doao pro$tev nuptins,
livremente cometido, se a ru osse nobre, com a p r d a dos bmis que
o aditero recebera do Rei. e, se no fosse nobre, com a morte,
(feita por razo do matrimnio) lei 11,3 3, do tit. nd degen~.
Ord. Afons. >ir. 5, tit. 7, 5 2 , ibi:: Parque somos certo, que e;;$selizpo Juliam de adulteriis, lei 8 do tit. De repudia's do Cdigo, Ko-
dos Reyx, que ante ns forom, e nosso ataa ora se usou 120s aossos vela 117,cap. 8.
Regnos. que por jazer~m al~wrisndalterios com molheres alheas no%
2ho.s davafiz purei;? penas de j u s l u , salvo se algur;s lewar~amessas
molkeres ulheas donde as tinham sczrs maridos, para fazerem com
rmbora o no isente de toda a pena, mesmo que o perdo lhe
seja expressamente concedido, Ord. cit. 3 4. Seja, porm, qual
5 V -Ora, como este delito envolve muito principal- for o modo por que se faa a remisso, ou expressamente por
rncnte injria particular para marido, s a este, e a mais nin- escritura ou testemunhas, ou tcitamente, por exemplo, por
gum, B permitido acusar a sua mulher de adult6n0, Ord. liv. 5, admisso da adltera i cama e mesa, o perdo aproveita
tit. 25, 9 3. No sZo, portanto, admitidos a acusar, o pai, os mulher e com ele extingue-se a acusao, seja o perdo puro
irmos, os parentes, ou quaisquer estranhos; e nem o prprio ou condicional. Gama, Decisio 368; Barbosa, nos nn. 13, r4
juiz pode tirar, oficiosamente ou a requerimento, quaisquer e r j da P. I dos comentrios lei 2, no princ., do tit. Solzcto
devassas gerais ou especiais sobre esta matria, Ord. cit. 3, wzatrimonio do Digesto. Tambm se deve admitir a transaco
Alvar de 26 de Setembro de 1.7%. Exceptua-se o adultCno no prprio adultrio (Institutas, tit. DE oligationibus et actio-
dz~plo,que o cometido corri judeu, mouro, parentes ou afins ?zibus; Tit. 11, S. XIII e XIV).
em grau proibido, o qual quem quer pode acusar, Ord. cit. 5 2,
Exceptua-se, na Ord. cit., 5 2, vers. E isto, o adultrio duplo,
vcrs. E sendo, e 3, ver. savo aiostrando-se.
isto 6, o praticado com judcu ou parente, pois que ento o perdo
do marido livra realmente a muihcr da pena de adult&rio, mas no
Esta excepo no pode ter lugar hoje, depois do citddo A l v a i
da p i l a de inccato, podendo ser punida p r isto. No entanto, esta
dc 26 de Setembro de 1769, que dcclara totahiente nula e irriia
excepo, como j acima advcrtirms na Nota ao $ V, no tem lugar
qualquer acusapo que n'> i<,r frita a pedido do iriarido. De facto.
aps o Alvar de 26 de Setembro de 1769. A razo porque tal
a raz2o d a regra e proibio geral, que visa a eliminar as discrdias
particulares e defender a honra das famas, vigora i,waLmente na incesto no pode ser separado do adultrio, liem a mulher ser acusada
de incesto, sem que seja declarada adltera na mesma acusaBo, o
cxcep:pyo. S a citada Ordenaro chama-se adultrio simplec o que
que nu b admitido nem pelo nosso ireiiii, se o mando ignorar
res-ultaa do simples ajuntamento adulterino, e duplo o que rciulla do
e contraiiar, nem pela honra devida ao pai de f a l i a .
ajuntamento qualificado com judeu ou parentes; no direito cannico
t difcrentc o significado de ~~iatrimbnio si~irples.
SE O MARIDO AIORXER ANTES D.4 LIDE CONTESTADA,
EXTINGCE SE A ACUSACAO
TAMBfbf S 6 O iJL4KIDO PODE PERDOA* ESTE DELITO A ADCLTERA,
O QUE TAMBE'I APROVEITA AO i1DOLTERO
3 VI1 -Tambm se extingue a acusao de adultrio com
5 VI - Ora, porque o adultno contm principalmente a morte do mando antes da litis-contestao,Ord. liv. 5, tit. 25,
injria particular (sV), segue-se da que s o marido pode 9 5. No assim, se a morte se der aps a co~itestacoda lide,
caso em que a aco proseguida pelo pai, irmo e outros
perdoar o delito mulher, ainda mesmo depois da sentena
condenatna, caso em que o delito se diz extinto em favor do mencionados na lei 30 do tit. ad Iegem J~iliawr de adulteriis
matrimnio, sendo logo solta a mulher e absolvida de toda do Cdigo, e oficiosamente pelo juiz, na mesma Ord., Barbosa,
a culpa e pena, qner o adultrio seja simples, quer seja dufllo, lugar cirado, nn. 116 e 117.
Ord. liv. j,tit. 25, $9 2 e 4 no fim. O perdo dado muiher A Ordenao iit., 5 j, foi tirada da Deliberao do Senado de
tambm aproveita ao atiiltero, poiq livra-o da pena nrdinria, Lisboa de 11 de Maro de 1558, apud Leo, p. 3. tit. r. lei 15, que
t
se fundamenta no direito romano, atento o qual as aces penais, uma adltero e da adltera, o que no assim. Covambias, De matn-
vcz curitsid.clds pilas pessoas principais, pascani aos herdeiros e contra monio, p. 2, cap. 7, 7, n. 15. Depois, que hd de mais inepto que
os herdeiros, no fim do 5 I do tit. De perpetuis et zempoialius ac:io- quc aquela distin<;iioentre nobrrs c plebeus? Como se no fosse igual
nibus das Institutas. Esta doutrina, se bem que verd~dciraneste direito, para todos os homens o direito dc vingarem as suas injrias, ou os
visto ele admitir na acusao de adultrio no s o marido, mas tambm plebeus tivessem a obrigaco de tolerar pacificamente as ofensas que
outras pessoas que ihe so unidas pelo sangue, no pode aplicar-se os nobres Ihes faam! E que dizer da faculdade de matar impune-
ao nosso, que s recebe a acusao do marido. Ora, se a faculdade mente os adlteros apanhados, no direi j em sua casa ou na prpria
dc acusar, em vivendo o marido, s a este se concede, como que torpeza, caso este em que (admito) fciimente se desculpar o niarido,
-pergunto eu - aps a sua morte pode ser concedida a outro? pois 8 riificilimo coibir u n a dor justa, mas com intervalo, em qualquer
E no h que fazer distino alguma entre estar ou no a lide con- lugar e tempo? E que dizer, para mais, do direito de chamar homens,
testada, ,porquanto numa mera subtileza que se apoia a razo civil posto que insolentes e malvados, para ajudarem a matar a msera
de que em juizo se faz um quase contrato e da nasce uma nova mulher e o adltero, como se estes fossem feras, contanto que esses
obrigao que passa ao herdeiro. homens nZo sejam inimigos dos adlteros? AiBm disso, concede o 5 z
daquela Oldcnao que o marido, que achar e matar os adlterm
em flagrante, fique com todos os bens da muihcr; porm, medeando
A VINGANA PARTICULAR E PERMITIDA AO MARIDO tempo, smente ficar com os bens adquiridos na constncia do ma-
trimnio. Barbosa, no n. 63 dos comentrios lei Si ab hostibus 10 do
tit. Soluto matnmonio do Digesto, d-nos a razo desta diferena,
5 VI11 -Alm disso, concede-se ao mando a vingana mas eu no a entcndo bem, visto que, quer a morte da mulhcr seja
particular e a faculdade de matar a adIteia, e taiiibCiii o adl- feita logo e acto continuo, quer com intervalo, feita por permisso
tero, se este for de condi$o mais baixa, apanhados em adul- da lei. Seja, porm, como for, 0 certo que a lei neste caso d um
tkrio em sua casa ou noutro lugar, assim como tambm a facul- prmio pela perpetrao do uxoricdio. e di-o cm prejuzo dos her-
dade de levar consigo amigos e companheiros que o ajudem, deiros que deviam suceder ab intestado.
Ord. liv. j, tit. 38, no princ., e 5 5 r e 5, Man. 16, Afons. 18.
Porm, esta faculdade apenas foi dada ao marido; e, por isso,
no pode o pai exerc-la sobre a filha, que se liberta do seu
A BJGABIIA E SUA PENA
poder com o matrimnio, ao contrrio do que se d no direito
romano, leis 20, 21 e 22, $5 2 e 4, lei 23, no princ., lei 24, no
pnnc., e 3 I, do tit. ad legem Jztliam de adulteriis; tambm 5 IX - O crime de bigamia simultnea uma espcie de
no pode o mando conced-la ao pai, ao filho, e a outros, adultrio, e leva i pena de morte, Ord. liv. 5, tit. 19, no princ.,
embora possa utilizar a sua companhia; a razo 6 porque os Xan. 19, Afons. 14.Comete prpriamente bigamia aquele que,
poderes extraordinrios que a algum competem por direito em vivendo o outro cnjuge, casa e conhece outra com mau
especial, no podem ser cedidos e entregues a outros. dolo; por isso, o conjuge menor de vinte e ciuco anos, ou o
maior, que de boa f e por erro, ou justa ignorncia, casar
Creio no Iiaver hojc ninpm entre ns que ousc defender a &riu segunda vez, ou o nobre que casar dandestinamerite com
a Ordenao citada. Com rfeitn, em prinieiro lugar, nela considera-se mulher de condi~oinferior ainda em vida da primeira, ser
no s impunc no foro externo, mas honesta e licita, a morte do punido com pena extraordinria, ou peIo menos no sofrer
a ordinria sem mandato especial do Rei, Ord. cit. 5 I (Insti- tanto a pedido dela como dos pais, e desterrado para f i c a
tui~es,Do direito das pessoas, Tit. V, 3 XII). ou Asia, e obrigado, conforme a sua qualidade, a dot-la
A pena capital foi imposta a este crime pela lei que D. Dinis &mente, e no em rigor a casar com ela. Portanto, as penas
deu em Lisboa a I r de Agosto do ano 1340 da Era, e dela foi muito graves estabelecidas contra os estnpradores na Ord.
tirada a Ordenao citada. no pnnc.. Nas, como esta pena excessi- liv. 5, tit. 23, Man. liv. 5, tit. 23, Afons. tit g e 10, e por D. Jos I
vamente dura, D. DuKte foi o primeiro a determinar que no pudesse
na Carta de Lei de 19 de Junho de 1775, no esto hoje em
ser dada a execuo sem conhecimento d'El-Rei, dando w i m origem
ao $ I da dita OrdenaZo. Por ser este, segundo a Ord. liv. z . tit. 9, vigor.
um dos crimes mixti-fori, tem nele lugar a prcvcno, Decreto d? No encontro, porm, no nosso direito nenhuma pena para as
26 de Maio de I&$, apud Ord. liv. 5, tit. 19, Coleco 11, N. I. virgens estupradas. O mesmo digo do direito romano. visto que a lei
Todavia, pelas leis especiais da Inquisio confirmadas por D. Jos I zo do tit. ad legem Juliam de adultsnis do Cdigo deve entender-se
m forma especifica, como pode haver aqui questo sobre a validade apenas daquelas mulheres que com o pudor tambm perderam a
do sacramento do matrimbnio, o seu conhecimento pertence smente vergonha, c se lanam livremente em ligaes amorosas. e por modo
aos Inquisidorcs da f6, e P punido com pena extraordinria; e este nenhum daquelas quc, sendo dkbeis para resistir i s carcias, sucum-
direito usamos. Entre os romanos no t n h a pena certa c determinada. biram primeira culpa com aiguma oposio. Na realidade, oj
Thomsio, De crimine bigamiae, 8 LXX. cuidados da gravidez, as dores do parto, o encargo de sustentar o
filho, e a mancha, que justa ou injustamente as acompanha, e lhes
tira a esperana de um casamento honesto. afligem tanto estas pobres
ESTUPRO mulliercs, quc crrtarrie~ita jE. bastar~i para castigu, ciirriri ein diz
Puttman, na Dissertao XII intitulada Leges ineptae ckminum
$ X - Do estzLpro violento no cabe falar aqui (Tit. IV, causae (As leis ineptas o causas de crimes). (Merete integral
$ XVI e XVII). Quanto ao estupro simfiles voluntrio, aps leitura a Orao que Poi Baker fez sobre este tema, e vem em
a Lei de 6 de Outubro de 1784, S. 9, usamos o seguinte direito: Raynaldo, Histoire PhiZosophique et Polik'que, tomo VIII. liv. XVII,
I) a virgem maior de 17 anos que sofreu estupro no violento, $ =I). Nestes termos, eu entendo a Ord. liv. 4, tit. 88, 5 I, e a
ou a viva honesta da mesma idade, no pode intentar nenhu- citada Carta de Lei de r9 de Junho de 1775, pelas quais as filhas-
famlia vnluntlriamente estupradas so privadas da herana paterna
ma aco criminal contra. o estuprodor, nem aco cvel para
e aiimentos, como aplicveis &mente Aquelas que levam vida de
o dote ou casamento, visto que ao que consente e quer nenhuma meretrizes e vivem em concubinato pblico (Instituies, Do direito
injria se faz; 2) no entanto, a pedido dos pais, tutores, cura- das coisas, tit. V, J XLIII, n. 13).
dores e irmus, o estuprador pode ser condenado, apenas cri-
minalmente, ao arbtrio do juiz, e numa pena no inferior a
VARIAS ESPECIES DE ESTUPRO
cinco anos de exlio para Africa ou Asia; por consequncia,
3) o juiz, oficiosamente, no pode conhecer deste crime, nem $ X I - Contm, no entanto, especial torpeza, merecendo,
tirar sobre ele devassa alguma, conforme determina a dita por isso, puniso mais grave, o estupro cometido pelo juiz n a
Lei, nas palavras: a qual s se $roceder a requerimento dos pessoa de donzela que perante ele requer o seu direito, Ord.
pays, tutores, curadores ... e irmos; 4 ) porm, aquele que liv. 5. tit. 20; o estupro cometido em mulher doutra seita e re-
corromper uma donzela menor de 17 anos, pode ser querelado, ligio, tit. 14; o praticado por um escravo na filha, irm,
parente, ou escrava daquele com quem vive, tit. 24; o praticado no princ., Man., 13; O do direito civil, com irm, nora, ou ma-
pelo tutor na menor confiada sua f, tit. 21; ou o perpetrado drasta, com a morte natural, Ord. cit., I; o perpetrado com
no Pao, tit. 16. Porm, as Ordenaes citadas punem estes tia, irm do pai ou me, prima co-irm, ou outros consan-
delitos com penas mais severas do que justo, devendo, por guncos em grau mais remoto, com degredo temporkrio para
isso, ser hoje inteiramente ajustadas letra e esprito da Lci a Africa ou Brasil, $8 2 e 3 da referida Ordenao, a qual hoje
que a Rainha Fideliima promulgou em 6 de Outubro de 1784. tambm deve ser mitigada segundo o esprito da Carta de Lei
de D. Maria I. Sobre o incesto no existe ttulo especial na
Difere do estupro a onxa udnus e sinzp!es conzlbinuto, que no Ordenao Afonsina.
mencionado nos trs Ctidigos pblicos do Reino, no sendo, por isso,
punido com penas externas; e ati. ?e acha escrito no Cdigo Afonsino, VENUS NEFANDA
liv. 5 , tit. 24, 8 r: e de mais sem oulorgado en: dirbto, que os horae-:A
solteiros podem tee barregas, e ainda que os filhos, que dellas
naccm, herdarom os hes dos Padres: e per tal coslunie se daa oi~sa?ie,
3 XIII -A vnzts nefanda, que nada aproveita conhecer,
que as difas molheres rowlnroin esses, com qlur t~iifcivz,do que teem.
d-se quafzdo o sexo $erde o lugar, ou a unio sexual se m u d a
pois que per tal costume Ihes nom ha de seer deme~zdado; e ainda e m outra forma, como dizem os imperadores Constncio e
se virom peru os homes c o ~ tengano desto: seja u o c a mercee rerrogiir Constante na lei 31 do tit. ad l e g e n ~Juiza?% d e adulteriis, e
tal costume: ca maior dfino he ozrbarem o alheo, e perigo das suas punida pelas nossas leis com a pena de fogo, perda dc bens,
almas, que viver hum soltezro com h& solteira e m ajuntamento mesmo havendo filhos, e com a infmia, que se estende aos
carnal. E assim se deve entender, no porque tal coniubinato seja prprios filhos e netos, Ord. liv. 5, tit. 13, no princ., e I,
licito face do direito natural ou civil, mas porque ngo constitui uIn
Man. 12.Neste crime adinitcm-se denncias ecrctas, tornlentos,
verdadeiro delito prejudicial Repblica e aos cidados, mas sini
um pecado permitido e tolerado na societlade por rai6ee polticas testemunhas singulares, cujos nomes e depoimentos fica ao
e para evita um mal maior. PorZm, o concubinato qualificado, qual arbkio do juiz manifestar; depois, d-se prmio ao delator,
o de mulher com homem casado, ou o sacrlego com clrigo ou m o n s , e promete-se impunidade ao qilc delatar o companheiro de sua
6 punido com multa, desterro, c outras penas, Ord. liv. 5, tits. 27, turpeza; e, finalmente, determina-se que todos acusem, sob
28 e 30, tirada da lei que D. Joo I deu a pedido dos Bisps nas pena de confisco de bens, aquele que souberem ru desta
Cortes de Braga de 1439 da Era, apud Ord. Afons. liv. 5, tit. rg nefanda paixo, Ord. cit., $ 4, 5, 7, 8 e outros que tm lugar
(Inslituies, Do Direito Piiblico, Tit. V, 8 XLVIII). Os rrtffias, isto
, os que t&rn ~nulhercsna prostituio e participam do seu lucro,
no crime de lesa-majestade. Os que cometem este crime com
so castigados com exlio para Airica e aoites, Ord. liv. j, tit. 33, alimrias, so queimados vivos, mas os seus filhos no incor-
Man. 30. Moris. 22. Vidc Mably, Pnncifies de Morale, tomo X, rem em injria nenhuma, nem perdem os bens paternos, na
liv. 111, pgs. 345 e seguintes. mesma Ord. 2; e, assim, a chamada sodomia de gnero
pela referida Ordenao punida mais brandamente que a
INCESTO
sodomia de sexo como se fora um delito mais leve (quando
6 muito mais grave). E a que se comete sem coito torpemente
3 X I I - O incesto do direito das gentes entre ascendentes e contra a natureza, castigada com degredo de gals, 5 3 ;
e descendentes punido com a pena de fogo, Ord. liv. 5, tit. I;, e mais graves penas lhe foram estabelecidas pela Extravagante
ob lur$em causam do Cdigo, so aqoitados, enfeitados com
de .rz de Outubro de 1606,apud Ord. cit., Coleco I, N. z.
coroas de cornos, e degredados para sempre para o Brasil,
(Tit. I, XXIX).
Ord. liv. 5, tit. 25, 3 9, Man. 15, 3 lt.. Incorrem quase na
A prtica da sodornia masculina, como era quase desconhecida mesma pena os que tambm tm filhas mercveis, e no hesi-
da nossa gente, no sc acha proibida pelas leis antigas at tam em prostituir a sua pudicicia, Ord. liv. 5, tit. 32, 4, Man.
D. Afonso V, que foi o primciro que lhe imps a pena de fogo, na 29, assim como os que alcovitarem freiras, virgens, ou vivas
Ord. liv. 5, tit. 17. D. Manuel, na Ord. cit., considerou esta ligao honestas, Ord cit. no fim do princpio, e r. 0 s que solici-
monstruosa como crime de lesa-majestade, do qual civilmente ~e
tarem mulheres alheias, ou a filha ou irm daquele com quem
diferencia muito, passando, assim, para este nefando crime, que
parece ter qualquer desculpa, as dis~osies especiais quc, com
viverem, ou alguma crist para judeu ou homem de outra
justia ou sem ela, vigoravam no de lesa-majestade. Porm, depois seita, so condenados a morte, na mesma Ord. tit. 32, no princ.,
Filipe 11. em seu Cdigo, tit. 13, no s o seguiu, mas at o superou e 5s z e 3. A pena ordinria s tem lugar no lenocnio ques-
de longe em tamanha cmeza de penas. De facto, as mas de fogo, turio, isto C , no praticado por dinheiro, porquanto o gratuito,
confisco de bens, e infimia sobre filhos e netos, 50totalmente in- ou intentado, destitudo todavia de fim e efeito, punido com
justas e cmis (Tit. I. 55 XV e XXIX). Do ajuntamento com animal
pena extraordinria, como a de degredo, segundo a muitas
no h meno nenhuma no Cdigo Afonsino. mas smente nos pos-
tenores; todavia, nestes no se decreta o sivicombrio contra
vezes citada Ord. tit. 32, 9 it.
o animal. visto que este no capaz de qualquer pena, mas s
Este detestvel crime, que causa o maior detrimento ao gnero
sobre aqueles que praficassem semelhante vergonha. No direito humano, ficou impune. nas leis pblicas, at D. Afonso IV, qoe foi
divino, a mulher, que pecar c o m qzralqum animal. ser morto junta-
o primeiro a punir os proxenetas e as alcoviteiras com a perda dc bens
mente com ele. Levitico, XX, 15 e 16, Agostinho, no liv. Questiones
e aoites, i m p o n d d e s , porm, em caso de rpincidncia a pena capital.
ad Leuilicum. transcrito por Graciano n a Causa XV, questo I,
Ord. Afons. liv. 5 , tit. 16. D. Joo I estabeleceu-lhe penas mais severas
h o n e 4, Berard, ia canon., P. 111, cap. XXIX, Sect. I, Renazzi,
referidas na mesma Ord. 5 2 , donde foram tiradas as Ordcnacs
Eiementa Juv. Crimin.. liv. I , cap. VII, 5 X. Pastoret, P. 11,
posteriores. que, devido sua excessiva dureza, pois so despropor-
cap. 111. Art. VI, tomo I, e no livro ,Nose cmsidf.4 comme Lgisla- cionadas ao dclito, no esto em uso (Tit. I, 5 XXIX), sucedendo
teur et comme Yoroliste, cap. V , 5 IV, pg. 442. Outros exemplos
at-5 (o que IamentvrI) que aciualmentc uni crime desta grandeza
tirados das leis dc Drcou e Slon, a=-vo Pardulio Prateio, Juris- e qualidade no punido com as penas justas e devidas por causa
prud. ueter., apud Otto, tomo IV, pg. 381, e o prpzio celebmmo
da lassido dos costumes que vo de mal a pior. O lcnounio gratuito
Jnrisconsulto, De tutela viarum. pg. 469. Embora este crime seja
no faz perder a nobreza, Ord. Liv. 5, tit. 32. $ 4; no assim, o
mixti-joti, o seu conhecimento pertence aos nquisidores do Santo questuoso. Ord. li". 5 , tit. 138, It.. Estas Ordenaqies assim se
Oficio, onde mais suavemente punido que no juw secular, Alvar devem entender. Doutro modo entende Valasco, Adlegatio 13, n. 122.
de 18 de Janeiro de 16r4, apud. cit. Ord. Colecgo I. N. I .

EMBRIAGUEZ
LENOCMIO
3 XV- A simpEes embviaguez no crime poltico ou
civil, mas crime moral. Aos embriagados deve perdoar-se
XIV -Aqueles que tm esposas mercveis, como primo-
totalmente, ou atenuar, ou aumentar a pena ordinria do
rosamente diz o Jurisconsuito na lei 5 do bt De condzctaone
do delito que cometerem? Eis uma questoque as nossas leis
no resolvem. Varia a opinio dos filsofos e legisladores nesta
matria (Tit. I, 3 VI, n. 2).

DELITOS POLf TICOS

5 XVI -O facto que no ofende directamente a sociedade


nem os cidados, mas pode ofend-los pelas suas consequn-
cias, sendo, por isso, proibido pela lei, chama-se delito $oEZtico
(delito de polcia), de que bA mais de uma espcie ( $ I deste
Ttulo). Sendo estes factos s em si e por sua natureza ino-
centes e Icitos (excephiado aquele que fere os bons costumes
e o pudor), so impunes, A falta de lei que os proba; no en-
tanto, bem podem os goveniantes proibi-los, se constiturem
grande perigo para a nao. o caso de todas as leis que pro-
bem a ociosidade, o jogo, a mendicidade, o luxo, o uso de
armas e outras coisas que obstam a um sistema econmico-jm'-
dico bem ordenado.
Apraz-me explicar apenas com um ou outro exemplo, de harmonia
com o plano do meu trabalho, esta mateia, que desejava um tratado
mais vasto. 0 s mendigos vlidos que pedem sem licenqa d'El-Rei OU
do Iritendente-Geral da Polcia, so presos, Ord. liv. 5, tit. 103, Alvar
de 25 de Junho de 1760, $9 18 e 19. Os ociosos so castigados, con-
forme a sua qualidade, com as penas de priso, degredo e apites,
Ord. tit. 68, e semelhantes. O homem que se vestir com trajo de
mulher, e a mulher com trajo de homem, e os que nos espectculos
e dias de festa andarem mascarados, so aoitados, degredados, e mul-
tados, Ord. liv. 5, tit. 34. Penas mais graves aplicam-se aos que
usam armas proibidas, Ord. tit. 80, Pragmtica de 24 de Maio de 1749,
cap. 14, e Alvar de zr de Abril de 1751.Porm, estas Ordena~es
sero sempre frustres e inteis para eliminar o cio e a mendicidade,
se no se forncccrem pblicamente meios mais ficeis com que os homens
possam com o suor do seu rosto obter o necessrio vida. E que
estes males no &o vcios naturais dos homens, mas provenientes de
causas extrnsecas. Filangieri, tomo IV, cap. XLVII, tit. VII.
(Cuntiaua)
INSTITUICOES DE DIREITO
CRIMINAL PORTUGUS
LIVRO NICO

DOS QUASE DELITOS

O QUE E U M QUASE DELITO

$ I -At aqui falmos dos verdadeiros de12tosJ aos quais


se opem os quase delitos, isto , os factos ilcitos cometidos sem
dolo, e s6 por culpa (Tit. I, 5 111).Portanto, ao facto ilcito
doloso chamam os Jurisconsultos deZito, e ao facto ilcito cul-
poso, quase delito, $ 3 do tit. De legs A q ~ i i adas Institutas,
Pode-se notar esta diferena nas nossas leis, Ord. liv. 4, tit.
76, 5 .
DIFERENCA ENTRE CULPA E DOLO

5 I I -H culpa (para usamos as palavras de Grcio no


De j w e bella ac ?acis, liv. 111, cap. XI, $ IV, n. I) naqzceZe q%e
age sem verdadeiro corchecirnento e uontade, e dolo naqzcele
que no age uerdadeiramente ignorante 0% contraaado; dai
atribuir-se o dolo ao crime, e a culpa imprudncia. Por isso,
no dolo h sempre mau propsito de delinquir, ao passo que
a culpa resulta da pregui~a,negligncia ou leviandade, que
sempre acompanha a imprudncia.
AristteIes, Horalira, liv. V , cap. X : Se se causar txnz dano contra
o qzce era de e s f i e ~ ahaver#
~> infortdnio. Blas, se esse dano dalgum modo
se podia esfierar e prever, e isso se no fez com inteno i ~ o c e ~ tha-
e,
ver algt~maculpa. De facto, culpado aquele que tm em si o princi- QUE PENA VIGORA NOS QUASE DELITOS
pio de agir, e ~nfelizn q t ~ e l eque o nno tem Rem rliz i p a l r n e n t ~9 n p c a
no De ira, I, 16 ( I ) : pulaira (ai mais das vezes) com n mesma
pena duas pessoas responsvek pelo mesriio delito, se uma pecou por 9 IV - tambm fora de toda a sorte de dvida que no
negligncia, e a outra conz a vontade deliberada de fazer o mal. e devem punir do mesmo modo a injria, isto , o delito prati-
cado por homens malvados com mau dolo e acinte, e a culpa
originada pela irprudncia. Por esta razo estou quase em
.entender que nos delitos cometidos por culpa e negligncia
&mente pode ter lugar a pena pecunina, e no a aflitiva de
$ I11 - H umas culpas mais graves que outras, sendo corpo, salvo se esta estiver extraordinriamente estabelecida
tantos os seus graus quantos os da diligncia. 0 s intrpretes do em lei especial. b t n i o Mateus, no cap. IV, n. 11, ao tit. De $oe-
direito rornano dividem-ria em lata, leve, e leuksinza, co~isoante Itis, Renazzi, Elem. Jur. Criminal., liv. I, cap. VI, IV.
a diligncia a. que se ope, imiairna, isto 6, nfima, mdia, e
mixinza. Vnnio, no $ 2 , n. 7 , ctc.... ao til. Quibus nzodis re con-
trakitzcr obligatio das Institutas, aos quais se deve juntar o Ge- O ACASO N A 0 RESPONSABILIZA XiNGUEM
nuense, De jur. et offic., liv. I , cap. IV, XVII. Nas o que se
deve pensar desta diviso e dos exemplos com que costuma ser
ilustrada, j o dissemos noutro lugar, nas nossas Tnstituies, 6 V-Todos os delitos que acontecerem por acaso que
nenhum juzo humano pode prever, no podem ser imputados
liv. IV, tit 111, $ V, Nota. Aqui apenas cabe perguntar: devem
os quase delitos ser punidos mais severa ou brandamente, con-
aos homens, mas atribuem-se, como diz o Poeta, fortuna que
os maltrata. Por isso, adverte Tlio nas Tusculanas, 111, 16,
forme a gravidade, qualidade e diferena das culpas? Cumpre
responder com total afim~ativa.O mesmo se dever dizer dos
que nGo h culpa ?zelzhuma, quando acontece aquilo que no
pode ser regulado $elo homem (Tit. I , $ VI). Daqui o velho e
verdadeiros delitos, conforme o grau de maIdade.
clebre orculo grego: Mataste urna pessoa querida, quando
Nos delito; e quase delitos hB quc ver scmprc sc sc agiu com pro- querias socorr-la; nlio cometeste nenhum crime; a tma mo
psito, se com impeto, e, sobretudo, se foi uma dor justa, e uma causa ficou mais pura que antes.
O'usta ou provvel que concitou esse mpeto, lei 11, 2, do tit. De poe-
nis. Com efeito, corno diz Ccero no De officis, I , 5 VIII, us delitos No entanto, a morie, embora dada por casi fortuito, no ficava
que sucedem por algum movimeato repentino so mais leves que os antigamente impune de todo. Samuel Petit, n a coment. ao Jzts Altcam,
praticados com, mediuo e pre$arao. E Plato no De legihnrs, Di- liv. VII, tit. I, recolheu esta lei de Plato e Paushias: O que matar
logo XI: Cwaviwi impor penas maiore.? qeaele.~que de caso pensado outro por caso fortsito, ser exilado da ptPIa durante um ano. Sobre
mataram com ira, c mais leves aos que agiram de repente e impensa- os Romanos dcvc ver-se Quintiliano, De institr:tione oratona, liv. V I I ,
damente. Ya verdade, deve punir-se mais Asperamente o delito que cap. IV. Mas tais penas no se aplicavam por causa do dlito, antes
corresponde a uni mal mais grave, e mais suavemente o que corres- eram prescritas para que os homens o detestassem, se acautelassem
p n d e a um mal mais leve (Tit. I, V I ) . melhor, c se precavessem cm seus actos. Tambm nos antigos cnones
da Igreja, que Antnio Agnitinho coligiu nn liv. XXXV, tit. 6, se
(I) Alis, rg (Nota do Tiadutor). acham penas impostas ao Iiomicdio fortuito, para que aquele que com
facto seu, ainda que involuntno, levou outros a pecar, os chamasse -ente este nome: I) o feito do juiz que faz seu o pleito, isto
com o testemunho da pcnitencia c cmcnda reforma de saac vidas.
, que julga mal, no por dolo e vil interesse, caso em que come-
Gonzalez, ao cap. 2 du tit. De homicidio. n. 13.
t d a verdadeiro delito, mas por impercia e ignorncia. no
pnnc. do tit. De obligationibz~squuc quasi ex delicto nasczcntar
S4LVO SE FOR ACOMPANHADO DE CULPA
das Institutas. Por isso que, se julgou por impercia contra
$ VI -Mas se o caso fortuito foi acompanhado de culpa, o direito expresso e as Ordenases alegadas, condenado a
uu por esta originado, j nZo deve ser atribudo fortiina, mas pagar vinte cruzados, e suspenso de seu ofcio, Ord. Iiv, I, tit.
iquele que no se acautelou o bastante, como se impunha, ou 5, 5 4. Pode ainda ser condenado nas custas do processo con-
se aplicou em coisa ilcita, o que no permitido, ou em coisa soante o grau da culpa e negligncia, Ord. liv. I, tit. 65, 3 g,
lcita, mas inoportunamente. Por conseguinte, no ser total- Valasco, Coa.~ult.26, e ser acusado tanto cvel como criminal-
mente isento do crime que da se seguiu, pois se presume que mente, por aco ex jztdicatu (de coisa julgada), Ord. liv. I,
delinquiu por culpa sua; e neste sentido verdadeiro aquilo tit. 60, &Tal.41 e 42, Afons. 24. Alm disso, todos os juzes so
que Marciano ensina na Ici 11, S 2, do it. De fioewis: que at obrigados a tirar oficiosamente devassa dos actos e procedimen-
por acusa se deliizquiu. tos dos seus antecessores dentro dos dez dias seguintes aos de
suas posses, Ord. cit. tit. 65, 3s 39 e seg. (Tit. V, 5 XT). Vide
Para ilustrar esta matria, costuma-se aduzir estes e outros exem-
Heraldo, De Terum judicat. auctoritate, liv. I, caps. VI1 e VIII,
plos semelliantes que tm fundamento no direito natural e civil. O atle-
ta, que no estdio matou casualmente o seu competidor, deu causa ao Thomsio, De judice male jzcdicante.
acaso com cuipa sua, pois dcvia proceder de forma a prostr-lo e ven-
s
c&-10, e no a mat-lo. lei 7, 4, do tit. ad legem Aguiliam. Aquele
que expulsou dum campo o rebanho do vizinho, acontecendo com isso DOUTROS QUASE DELITOS
que os animais aterrorizados caram por acaso numa cova e perecenm,
no est livre de culpa, porque se empenhou numa coisa ilcita. O sol- VI11 - Depois so obrigados por quase delito, no no
dado, que divertindo-se a atirar setas em t m p n de viglia, ou em lugar
dobro do prejuzo cansado como no direito romano, mas no
no destinado a tal exercicio, atravcsou um transeunte, B respons-
vel pelo caso, pois est em culpa, visto se ter dedicado a uma coisa, simples e verdadeiro valor da coisa, o dono ou o inquilino, pelas
lcita certo, mas em tempo e lugar indevidos, 5 4 do tit. De lege Aqui- coisas que lanarem ou derramarem OS seus subordinados, liber-
lia das Institutas. Igualmente, o podador que arrojando um ramo do tos e fmulos que com eles habitarem, I do tit. De obligntio-
alto de uma rvore matou um passante, se o fez junlo dum caminho nibus quae quasi ex delicto nasczmtur das Institutas; pelas coi-
pblico, e no gritou para que se pudesse evitar o caso, ru de culpa,
sas suspensas e colocadas sobre im lugar de passagem vulgar,
5 5 de igual til. das Institutas.
se disso resultou prejuzo para algum, lei 5, 3 6, do tit De Izis
E rrjl QUASE DELITO O FEITO DO JUIZ
qui effuderint uel dejecerint. 0 s mdicos so responsveis pela
Q U b F.U SUA A LIDE
impericia no medicar, 9 7 do tit. De lege Aquililia das Institutas,
lei 6, $ $ do tit. De officio Praesidis (Tit. UI, 5 111). (Entre
5 VI1 -Embora todos os malefcios cmetidos se possam ns no h lei nenhuma contra os mdicos e a sua impercia.
chamar, perfeitamente, quase delitos, no entanto tomam espe- No Cdigo Visigtico, liv. XI, tit. I, lei 6, estabeleceu-se
a pena capital contra a impercia dos mdicos, e manda-se
entregar imediatamente o mdico aos parcntcs dos doentes,
fiara que estes fiossam f e z e ~dele o que q:risi.rem. Definem-se
os seus honorrios, ou melhor o seu salrio, e muitas outras
coisas dignas de serem recebidas entre ns). Os estalaja-
deiros so responsveis apenas pelo dano que os seus criados
fizerem nas coisas dos viandantes, e no pelo cauado por estra-
nhos, pois neste caso so obrigados no pelo quase delito, mas TfTULO XII
pclo quase contrato, 5 ult. do tit. De obligationibus quae quasi
ex delicto nascuntur (Institiiies, Das obrigaes e acijes, DOS JUZOS CRIBIINAIS
TAv. IV, Tit. IV, 5 IX). As leis ptrias no tm ttulo especial
sobre estes delitos, os quais no entanto, Xo punidos com o pa-
gamento do valor do dano, e duma multa a arbitrar pelo juiz, O QUE O JIJfZO CRIMINAL
q u d d o esta no estiver definida pelas leis municipais, ou ento
por decreto do magistrado policial. Todavia, veja-se, querendo, 5 I -Juzo criminal a legitima discussio duma cama
a Ord. liv. I, tit. 68, 31 e 40, e o que dissemos no Tit. VI1 deste crime, e a sua decisno fiar juiz cowfictcnte (Instituies. Cas
livro. obrigaes e aces, Tit. VII, 9 I). No 6 depropsito tratar
dele depois das vrias divises dos delitos.
Entre os quase delitos inclui-se, e com razo, a miserico'rdia intem-
festiva (a misericrdia mal entendida), de que Ulpiano nos fornece um
belo exemplo na lei 7 do ti:. Depositi do Digesto. E n t ~ ns so rus Deve-se distinguir aqui, inteiramente, o juizo legtimo, pblico,
deste de8to aqiirlzs qiip, antes da sentenqa condenathria. facilitam a e crimiual, do juzo e uzndtcta particular, com que tanto se deleitavam
fuga aos homens entregues i sua guarda, impedindo, assim, que se os nossos maiores, a quem, cvidcntcmcntc, x viam as prpiai leis
Ihes possa aplicar uma pena justa. Rhetes, na dissertaio De misee- conceder o direito de punir por autoridade prpria as ofensas feitas a
crdaa intenapestzva. A coniuncia, pela qual a1,sini admite se cometa si e aos seus, Ord. Afons. liv. 5 , tit. 53. Este direito partic~ilarde
um delito que podia e devia evitar, se no um verdadeiro delito, dicta c punio, de que ainda hoje existem muitos exemplos entre nbs,
pelo menos um quase delito, Iei 45 do tit. ad legem Aqw'liam. Putiman, pssava naqueles tempos aos descendentes e herdeiros juntamente com
na sua dissertao espccid De cnmine conniventiae, mostra, com os bens e a tewa do ofendido, como se fosse um direito familiar e here-
muitas razes e exemplos, os danos que advm Repblica da coni- ditriu. Ern algumas escrituras da Idade Mdia lemos: Aquele a qasem
v&nciae indulgncia do Prncipe, magistrados, maridos, mzes, e outros, couber a herana da terra, deue pertencer a veste da guewa. isto , a
que dissimulam e encobrem os delitos dos que ihes esto sujeitos. couraa, a vingana sobre o prninzo, e o pagamento do aldio. Vejam-
-se as nossas Instituies de Direito Pblico, Tit. 11, XXIII, Nota,
e o Tit. IV, 3 XIII, deste livro. No Gro-Ducado da Toscana conce-
dia-se a cada cidado o direito ds punir os delitos particulares, como
o homicdio e a injria; a s i m foi at ao tempo de Leopoldo, que aca-
bou por revogar esta concesso rio ari. 52 do novo Cdigo Criminal
de Florena, publicado em 30 de Novembro de 1786.
O QUE ELE ABRASGE risdies, quando no h certeza do iugar; neste caso, a punico do
delito parecc pertencer aquele dos jiiizcs que, tendo termos confinaiites,
3 I1 -Muitas coisas integram a natureza do juzo criminal, previne a jurisdio do outro. Febo, P. 11, Decisio 215, Mendes, in
Praxis, P. 11,liv. V, cap. 111, n. 3.
tal como a do civil, por exemplo, jctiz coltzpetente, ordem judi-
ciria legitima, ardor, ru, etc..., Ord. liv. 3, tit 20, e liv. 5,
tit. 124.OS procuradores e defensores no pertencem substn-
E O PORO 110 L)OMICfLrO, EI CASO DE QUERELA
ria do juizo criminal, mas podem entrar nele em certas causas.
$ V- Porrn, O juiz do domicIio pode receber a querela
JUIZ E FOKO C041PEi-EXTE dada por pessoa sujeita sua jurisdio, por um delito cometido
fora do seu territrio, Ord. liv. j, tit. Ir?, $ 9, ibi: E nenhum
3 I11 -Diz-se juiz com$eteizte aquele que tem jurisdio Julgador receber querela, saluo sendo o quereloso morador na
na respectiva causa e sobre as pessoas que so em juizo autor sua jurisdio, ou quando o crime for cometido e m sua juris-
ou rCu. E foro competente aquele que est sob o poder do juiz d i ~ oposto
, que o qztereloso niio seja nella nzorador.
coin$etente (Institui~e,Das obrigaes e aces, Tit. V11, Todavia. (i juiz do dumiclio no pode rcceber acusao, nem in-
$ LwIII). quinr oficiosamen:e sobre o deiit-o, mas apenas deferir a querela dada
por e contra uma pessoa sujeita sua jurisdiyo, ainda que o delito
haja sido praticado em jurisdi$o alheia; assim se deve entender a
O FORO DO M44LEFfCIO FAZ O TUIZ COYPkTENTE Ordena$o citada. Barbosa no entende bem assim no n. 41 dos seus
cuinentrios lei Ileves absems 19, 5 Proinde 2, do tit. Da judiciciis. A
IV- O foro competente o do delito; por isso, o juiz razo da diferen~adeve buscar-se na diversidade da natureza da qw-
reb, ucusau e inyziiri:.io, como se ve1.i do que havemos de dizer
competente o do lugar, onde o malefcio foi cometido; esse
(Tit. XIII, 5 XIII, Nota; deste livro).
juiz pode castigar aquele que deliiquiu dentro do territrio da
sua jurisdio criminal, Ord. liv. I, tit. 7,$ I e 4, tit. 76, 5 r,
liv. 3, tit. 6, no princ., e 8 4, e liv. 5, tit. 1x7, $ 9. E, assim, embora FORO PRIVILEGIADO
o delinquente tenha o domiclio noutro lugar, deve ser punido
naquele em que deliriquiu, pela razo de ser aqui que mais f- 5 VI -Deve exceptuar-se sempre o foro firivilegiado em
cilmente se acham as provas, Ord. liv. 3, tit. 54, 8 I3 (Institui- razg.0 da cnusu ou da pessoa. E, assim, o crime ecleibtico ser
es, Liv. IV, Tit. VII, XXVIII). punido no foro eclesistico, Ord. liv. 2, tit. 20. Os eclesisticos
Ma? que dizcr, se o delito foi comeado num lugar, e ronti:niiado devem ser castigados neste foro, mesmo por crime civis, Ord.
e consumado noutro? Ambos os juizes s2o competenics, ressalvando-se, liv 2, tit. I, $ lt., c liv. j,tit. 88,2 16. 0 s soldados tambm go-
no entanto, o direito e prerrcigativa da preveno, lei z do tit. Vbi de zam de foro privilegiado nas causas-crimes, Nvars de 21 de
criminibas agi ofiurtsat do CSigo, e os reqcctivoa c o m e n t ~ o sde Pe- Outubro de 1763, 55: z e 3, 14 de Fevereiro de 1772, 2, e 26 de
rez. O mesmo B de dizer do delitn praticado nos c o & ~ de duas ju- Fevereiro de 1789;igualmente, os cavaleiros das Ordens hIili-
tares do Reino, e os de Malta, Ord. liv. 2, tit. 12, '5 I, Extrava- processo civil ordinrio para o criminal, que se acham clara-
gante de 6 de Dezembro de 1612, ,$ 6, etc.. ., que mencionmos mente explicados naquela Ordenao. Em regra, tem lugar em
nas Institui6es, Do direito das pessoas, Tit. 111, $ LIV, e Das todas as causas-crimes.
obrigaes e aces, Tit. 111, 5 XXXII.
Todos v&emfacilmente que a ordem judiciria variou com os tem-
pos, tanto n s causaxrimes, como nas cveis. A princpio era breve
e simples, e sem mais solenidades que as requeridas pelo direito natural.
JURISDIC,AO CUIIULATIVA
T). Afnnio V, em SPI Clidigo, liv. j, tit. 4, aprovou. com poucos acre?-
centos, a ordem natural do processo. El-Rei D. Manuel fez muitos adi-
,$ VI1 -Exceptuam-se tambm os crimes mais atrozes, tamentos, no liv. 5, tit. I, c D. Joo I11 mais ainda, nas leis de 5 de
cujos rris podem ser inquiridos e presos por todos os juizes em Julho de 1526 e 14 de Agosto de 1529, apud Leo, p. 3. tit. I, Ieis 7
jurisdio alheia, pois a todos eles foi concedida a jurisdio e 11, com a3 quais se organizou o tit. 124 no Cdigo que usamos. Todos
promscua, ou, como dizem, cumulativa, pelos Alvars de 14 de estes aditamenta foram excogitados depois, e tirados, em parte, do
direito cannico e civil, em pade d3. opinio c autoridade dos glosa-
Agosto de 1751, e 20 de Outubro de 1763, 5 7 (Tit. VI, 5 XXIII, dores, c cm partc, finalmente, das leis e costumes ptrios recebidos no
deste livro). Os Juizes do Crime de Lisboa tambm gozam entre foro criminal.
si de jurisdio cumulativa, Extravagante de 25 de Dezembro
de 1608, 3 3.
O SU'MARTO USA-SE NOS DEI.ITOS MAIS GRAVES

ORDEM JUDICIARIA CRIivfINAL


Q: X - O processo sumirio, que hoje se observa nas causas
3 VI11 -A urdem judiciria legitima, isto , o processo capitais, no exige nenhumas solenidades. No entanto, nele deve
absolutamente necessrio em todo o juzo tanto cvel como cn- ter lugar tudo o que for necessrio para demonstrar o delito e
mina1 ( $ 11), ordinria ou sumria, conforme a diversa qua- o delinquente, como o corfio do delito, os testemunhos contra o
lidade do crime, do direito nadztral ou civil, aczcsatria ou in- delinquente, os interrogatrios feitos de boa f pelo juiz, as res-
quisitria. Deve, pois, trazer-se para aqui o que dissemos nas postas do rbu, e o mais que, sendo exigido pelo direito natural
Instituies, Das obrigat;Ges e aces, Tit. VII, 5 5 IV e seg., para a defesa dos rus, de modo algum se deve omitir, Ord.
acerca dos juzos cveis, pois quase tudo se apIica aos juzos liv. I, tit. I, $ 16, Decreto de 4 de No~embrode 1755, I,ei de 25
criminais. de Junho de r760, 95 5 e zo, e Alvar de 20 de Outubro de 1763,
9 I.
Na Ord. citada e noutras faz-se menco do processo sumno. Mas,
PROCESSO ORDINARIO
contra o que era de desejar, no cst defuiido no no-so direito qual
seja u processo szimCu, ou, conio dizem, r~erbal,quais os seus ele-
5 IX - Chama-se $recesso ordinkrio o organizado e dis- mentos necessrios, qriais os rlispensueis, e com que mtodo e modo
posto pela ordem prescrita na Ord. liv. 5, tit. 124. Consta de deve scr institudo. I a s Extravagantes citadas eu pntendu por pro-
citao, libelo, excepes, litis-contestao, rplica, trplica, in- cesso surnirlo, verbai, e de plano, o piocesso do direito natural. E, em-
terrogatrios, dilaes, provas, e outros elementos tirados do bora seja do iriteresse plblico que os juizos criminais, sobretudo os
capitais, sejam breves, e terminem o mais rpidamente possvel, isto reito de infligir penas. Seja, porem, qual for o modo e as pessoa?
no quer dizer que possam ser tratados muito apressada ou atabaihoa- a quem o Rei tiver dado esta. jurisdio criminal, ela exercida
damente, ou que se omita mesmo o mais insignificante elemento per- em nome do Rei. Por isso, entre ns deve ser sempre chamada
tencente Q substncia do juizo ou necessria defesa dos rbus. Portanto,
parece que as leis citadas se devem entender, como dizem os cscols-
rgia, e niio patriinonial, nem em verdade feudal.
ticos, demonslrativa e no t~zalivamazle; e, por isso, nelas apenas
No cornco, oa juizes do crime no se distinguiam dos do civel,
foran dispensadas as salenidad5s e no as Partes srbsianciais do pro-
{pois toda a $cnsiiiu competia aos juizes ordidrios do lugar. Na
cesso. Sendo assim, no se devem denegar ao ru as excepes, que
mesma altura os orrcgcdnres mais pareciam ter imprio e correiio
dizem respeito remoi;o do juiz suspeito, reprova~odas testemu-
que ju~iscii~o pipria. Depois, foram criados os magistrados cspcciais
nhas, c o mais que constitui a e s s h u a do processo natural, muito em-
do crimr, para punirem, ss ou cm colfigios, os criminosos (Insti:uies,
bora nessas leis no se faa meno expressa disto (Instituies, Das
obrigaes e acyes, Tit. VII. $5 'i', XIXI e XIV).
nu Direito Pblico, Tit. 11, $ XIII, Xota). Os donatii~iosno tinham
nenhuma juiisdio pr.ipl,a, sziperior oii inferior, ultu ou baixa, como
ilie chaniiin, mas apenai aquela quc cxpr~s~amsnte se continha na
carta de doaco; e os Reis podiam, conforme fosse do interese pblico,
E NOS MAIS LEVES
Emiti-la ou ab-rogb-Ia dc todo; por isso, no cra verdadeiramente feu-
dal nem patrii?zorriJ, visto que a exerciam no em nome prpeo, mas
5 XI - Algumas vezes admite-se o processo sumrio nos em nome do Rei. Aim disso, a jurisdio &mina1 concedida aos do-
delitos mais leves, que o juiz prossegue oficiosamente, como os natifios nunca ciir~prccndia os cSrnrs mais gravps, mas S os mais
de furto simples, interdio de armas, concubinato, e semelhan- leves, e so:>retudo os econmicas que cansassem estamo ou cultura
tes; o que acontece, quando o Regedor da Casa da Suplicaqo dos campos ou ~cononCampccial do municpio dccrctada pela rcs-
visita, todos os meses, as prises, visto estar determinado que, pectiva Cama1.a. Porm, o Rei moderava tudo com o seu arbtrio, por
exemplo, por meio dos Massi Rep.1 ( e n portugus, aladas], que, pcr-
em sua presena, semelhantes delitos sejam punidos depois de
correndo as terras dos Senhnrrs, corregiam as suas fraudes judiciais
prvia informao dos juzes criminais, e sejam julgados se- c a sua defeituosa administrao da justira.
gundo a prescrio das leis pelos Corregedores do Crime da
Corte olhando s verdade do facto, Ord. Iiv. r, tit. I, $ 30,
Alvars de 31 de Maro de 17442, $ 7, 15 de Janeiro de 1780. QUAIS AS PARTES XAIS I'iPORT,.\NTES DO JUIZO CRIMINAL,
e 5 de Maro de 1790, S 6, 8 e 9. E A OKDERI DOS ASSU'TTOS -4 TRATAR

O QUE F JCKISDII,XO CKIlIIY4L A QIJEM CCOXTPETE


3 XIII - Sem autor e seni r6u no se faz julgamento ne-
E QUAL h F T A SATUlIkA nhum ( $ 11). &Ias, como se chama autor quele que em jii?'zo
pretende que qualquer coisa seja dada, feita ou pedida a al-
5 XII - A jurisdio crimirial, isto , o poder de castigar guCm, e ru quele que se demanda e de quem se pede, fkcil-
os criminosos, crimpete sbmente queles a quem foi concedida mente se v que a ac.usagZo do ru, a sua defesa, e a sentena,
por lei pblica. Fuma nlonar-uia a sua qualidade, extenso, so as partes mais i~nportantesdo juzo criminal, e nelas se cos-
e a$licac dependem do arbtrio e vontade do Rei, visto que tumam compreender vrios captulos especiais, de cada um dos
s a ele pertencem o juzo sobre a Liputaco das aces e o di- quais vamos tratar, sumriamente, por sua ordem.
pode ser concedida a todos indistintamente, como elegante-
mente Cccerti recomenda na Orao Pro Sexto Roscio. $ XX.

QIJANDO E COXO SE DEVE AD3IITTR A ACUSAAO PUBLICA,


E DA cINSCRIPTIO IN CKI4LEN
TITULO X I I I
$ IV - A acusao pblica s se admite nos crimes pibli-
DAS ACUSAOES, QUERELAS, INQUIRIOES cos, que cada um do povo pode acusar. Quais sejam esses cn-
E DENUNCIAS mcs, v-se na Ord. liv. j, tit. 117, no princ.. No se admite a
acusao sem fiador idneo para as custas e dano, e sem o ju-
ramento de que feita e prosseguida de boa f e nicamente por
O QUE E A ACUSAAO causa da vinganga pblica, 5 6. Deve tambm ser precedida da
querela feita perante o juiz competente, Ord. cit., 3 lt., a qual,
9 I - Genncamente chama-se acusao a legitima delao embora fale especialmente do homicdio, deve ser entendida de
dztnz crime fiblico ozr pariicz4Ear feita ao juiz contfit-tente por todos os delitos pblicos. A iizscriptio i n crinzen (assinatura de
pessoa pblica ou #articular. E, assim, a acusao compreende um termo de responsabilidade), pela qual o acusador se obriga,
no seu mbito a querela, a ifzguiuio, a doft&ncia, e qualquer caso no se prove a acusao, a um siiplcio semelhante ao que
aco cnniuial E so estes actualmente os modos de inquirir e se aplicaria ao ru, no est em uso. Hoje tambm o acusador
perseguir os crimes. no presta a cauo de permanecer ein juzo at sentena,
como o direito romano requer na Iei 3 do tit. De his qai accusare
non possunt do Cdigo.
3 I1 - Divide-se em fiblica e $articular. consoante per- Hoje quase ignorada no foro a acusao dos c r i e s pblicos por
segue crimes pblicos ou particulares. E m juzo os crimes pro- pessoas parriculares, quer porque traz consigo muitos inconvenientes,
quer porque vulgarmente se a&ser pouco adequada aos dcvcrcs de
cessam-se ou pela aco especial, que chamamos querela, ou iun homeru bom. Siibstituram-na as inqnnnges g e ~ a i s ,as qaerelai es-
pela inquirio geral ou esfiecial, ou pela simples aco criminal peciais, e as acusaes por meio dos procuradores fiscais. No entanto,
para reparao do dano e pena. A denncia no uma verda- o seu uso n2o 6 prorbido, e at se acha cxprcssamcnte permitido na
deira acusao, mas abre o caminho para a acusao e in- Ora. li^. 5, rit. 117, 5s 16 e seg., coritanto que, pfimeiro, c faca a
quirio. querela perante o juiz competente, e se pronuncie sentena sobre esta,
Ord. cit., g lt.; de facto, 6 do interesse pblico que no se receba
A LICENA PARA ACUSAR acusao sobre crime pblico sem o conhwimento do juiz. .4yora, quaniu
a poder qualquer um do povo acusar os crimes pblicos, foi isso tirado
do direito romano, e dificilmente vigora hojc, depois que esses crimes
$ 111 -Como a licena de acusar igualmente Util e pe- comearam a ser vingados no foro pelo juiz, oficiosamente, e a ins-
rigosa para a Repblica, deve ser cautelosamente tomada, e no tncias do promotor de jfastia.
DO.? QUE N A 0 PODEM ACCAR
direito aprova e confirma at(? nos prbprios inimigos, uma s excepo
se lerania na Ord. cit., tit. 117, 14, excepo eisa que a b r a n g ~os
3 V -Podem acusar todos aqueles que no se acham es- presos condenados a degredo prp:uo que intentam vingar a injria
pecialmente proibidos. Mas, como este dever pode ser perigoso prpria, o que Ihes recusado naquela Ordenao. Confesso, porm,
que !poro cninp1e:am~nte a razo desta excepo.
para a Repblica ( 3 111),so dele afastados: os que nZo tm
entendimento suficiente das coisas, como os impberes e os me-
nores; os que podem amedrontar o ru, como os magistrados QUANDO SE DEVEM ADMITIR OS PROCURADORES
e seus oticiais e outras pessoas mais poderosas; os que, acusando, E DEFENSORES NOS JCfZOS CRIMINA41S
ferem o pudor do sexo e a piedade, como os filhos e os libertos
que acusam os pais ou o patrono, ou as mulheres que acusam 5 VI -Nas causas criminais, salvo se forem de pequeno
os outros, ou, finalmente, os de qualquer modo suspeitos ao ru, valor, no se admitem ao acusador e ao rii nem firaciwadores,
como so os inimigos, Ord. liv. 5, tit. 117,35 2 e 4; os infames e Ord. liv. 5, tit. 11% 9s 21 e 22, e tit. 124, $ 5 14 e 15, nem defen-
os convencidos de falso testemunho, oii os que acusam por di- sores, Ord. Iiv. 3, tit. f, 55 2 e 3 (Instituies, i i v . IV, Tit. VIII,
nheiro, 5 4;os presos que estiverem condenados a degredo per- 5 11), o que conforme ao direito romano na lei 13, 3 I, do
ptuo, S: 14; o condenado em juzo criminal ou cvel, o qual sem tit. De publicis judiciis. Mas, cessando hoje a inscrifitio in
divida pode acusar os outros, mas no pode acusar de crime crimen (I) e o senhorio da lide, parece cessar a proibio de
pblico o seu adversrio, mesmo depois de acabada a execu~o constituir procuradores nas cairsas criminais (Instituies, Das
da sentena, 5 13. Todos podem acusar os crimes firiuilegiados, obrigaes e aces, Tit. 111, 5 XI).
quais os praticados contra a majestade divina ou humana, o
de moeda falsa, o dc falsidade, etc..., 5 z. Igualmente, todos Admilc-se a acusa;ao p r mcio de procurador, ~0111licena dcl-Rei
passada no Desembargo do Pao. Mas a Estravagante de 6 de Dezem-
podcm acujar os delitos particulares, que respeitam pessoa do bro de 1612, 5 21, proibiu se desse csta liccnya, a qual no se vS r c
acusador, e tendem a vingar a injria feita ao acusador ou aos tabelrcida presentemente no novo Regimento do Desembargo do Pao,
seus; por isso, podem faz-lo os menores, as mulheres, os po- ou melhor, no Regimento de todos os Tribunais d e 24 de Julho de
dcrosos, os infames, e at os prprios inimigos, Ord. cit., $5 2, 3 1713. Portrn, bern pode o rtu constituir procurador, no para o defen-
e 13, tit. 124. 3 9. der do crime, mas do nus de comparecer em juizo por justa e neces-
s c a causa; este procurador toma o nome especial de escuiador, Ord.
iiv. 3, tit. zo, 5 3; e esta escusa at6 pode ser alegada por mulheres,
A q d o que o nosso direito estabclecc acerca dos que podem ou menorcs, scrvos, c qualquer um da povo, sem procurao, Ord. cit.,
no acusar, foi extraido das leis romanas no til. De acc~sationibuset tit. 7, 8 3. Nas causas capitais pa;ccc quc sc dcvr-m admitir Lanto os
n'nscriptionibws do Digesto e do Cdigo, e baseia-se, seguramente, na procuradores como 5s d ~ f c n s o r ~ porque
s, esta funio de humanidade,
boa razo, Ao mesmo direito ruiuano se dcvc a diferena entre acusa-
mormente quando se trata de salvar uIn cidado, no deve ser recusada
o de crime Pblico e pu7ticular (Tit. I, $ IV, deste iivro). e entre a nirigubm, ai -Ja contra a vontade do ru, pois no sc dcvc fazcr a
crimes pra'viicgiados, que todos podem acusar, e crimes comuns, que
v:,ntade aquele que quer perecer, lei 6 do tit. De adpellationibus
s podem acusar aqucles que no laboram em suspeita nenhuma. A
(Tk. XXI1, 3 IV. Nota, deste livro).
regra do direito romano e ptrio, pela qual se concede a todos hdis-
untamente a faculdade de vingar a injria particular, e que o nosso
(I) Vcja-sc o 5 IV dcste TituIo (Nota do Tradutor).

85
NOS DELITOS PAKTICCLARES ADMITE-SE O ACUSADOK na Ord. liv. 5, tit. 124. absolutamente indispensvel a citao
SIIvIPLES SEM QUERELA
do acusado, que, no caso de se querer defender, deve citar o
acusador, o qual dever apresentar libelo acusatrio. No homi-
$ VI1 -Quem quer pode acusar sem querela os crimes cdio tem de se citar a mulher do morto, seus f i o s , e consan-
particulares, que contm injria e dano prprios, ainda que guneos at ao quarto grau, Ord. liv. 5, tit. 124, e tit. rgo,
sejam de tal gnero que admitam querela, e persegtii-10s em 5 I. Um libelo devidamente formado deve conter os nomes do
juzo com aco criminal, sem dar cauo e satisfao alguma. acusador, do acusado e do juiz, o crime com,os indcios apre-
e sem prestar juramento, Ord. liv. 5, tit. 117,9 21,e Ss 5 e 6. sentados por artigos, o lugar e o tempo, Ord. cit., no princ., Men-
des, Praxis, Iiv. 5, cap. I, IV. A litis-contestao cornpreendc
As inquiri6es e querelas, como no exigem a cita@o do adverri-
rio, e co, por isso, exosbitantes e perigosas, s se a d d c m com ju- em seu gnero tanto as excepes dilatnas como as perempt-
ramento e caupo para pagamento do dano e custas, prestados os quais nas, que de qualquer modo contm a defesa do ru. No nmero
como que parecem purificar-se e legitimar-se; pelo contrrio, a simples das primeiras, contam-se a da incomfietncia do juiz, sua sus-
acusao aimind, em que se acciona sobre o dano e a pena legtima peiiio, a de pr~veno,a da inabzlidade do acusador, inafitido
observando-se a ordem do direito, isto , citando-se primeiro o r&u, do libelo, e a dc cauo ainda nZo firestada. Quanto s segundas,
irisiitui-se directamente e pcla forma prescrita na Ici; por isso, com tcda
a justiga e razo sz omitem, ao faz-la. as solenidades da cauo c ju-
qualquer uma delas pe termo acusao e perime a lide. A res-
ramento. posta dada acusao faz a contestao negativa, ou afirmativa
com escusa, geral, ou especial; seja, porm, qual for o modo
como concebida, deve ser contrria aos artgos do libelo, Ord.
PENA PARA O ACUSADOR, SE O REU FOR ABSOLVIDO tit. 124, 5 I. As r$licas, tr$licas, dilaes provatrias, provas
judiciais, reprovas, e perguntas, sero feitas, tanto oficiosamente
5 VI11 - Posto que actualmente a inscriptio i n crime%no como a pedido do adversrio; e, para dizer tudo numa palavra,
tenha lugar (5 IV), todavia, em qualquer gnero de acusao, tm lugar no juzo criminal ordinrio quase todos os modos de
piifilica ou particuiar, o acusador condenado pela mesma sen- pedir e provar que se usam no juzo cvel, Ord. cit., tit. 124, no
tena, nas custas do processo e na restituilo do dano causado,
se o ru for absolvido, devendo, em qualquer caso, sofrer penas
mais graves, ao arbtrio do juiz, se procedeu maliciosamente, Este processo ordinrio deve ser observado nos delitos particulares,
(3rd. liv. 5, tit. 118, Man. 43, -4fons. zg e 30 (Tit. XX, Q'$ VI11 e ilnando algum persegue injria prpria, e t m b h nos pblicos,
seg. deste livro). quando um particular o seu acusador solenc, o que raro acontcce.
O mesmo se deve observar, quando a Justia faz as vezes de acusador,
e oficiosamente inquire e acusa us criminosos. Exceptuam-se os crimes
DO PROCESSO ACUSATTOKIO ORDINARIO privilegiados, cujo processo sumrio (Tit. XII, $ X). No respeitante
a defesa dos rgus, alem do que anotaremos em scus lugares, deve-se
fixar para j o seguinte: r ) nas causas mais giaves pode o r&, mcsrnu
5 :X - A ac~isaolegtiwta (3 I ) requer processo ordin- depois dt. abertas e publicadas as atrsta~aes,alcgar ra~.esjustificativas
"0. e, por isso, citao, libelo, contesta~o,e o mais que se acha do delito, Ord. tit. 124, 6 81 2) pode o juiz oficiosamente perguntar as
testemunhas em qualquer parte do juizo, assim para a acusao, como a apostasia, a blasfmia, o crime de lesa-majestade, a magia, o
pala a defesa, mas nZo o pode faze1 a iequtiimenln lri ativci:rio, homicdio, a rapina, o furto de certo montante, o falso testemu-
salvo sc a causa for de tal condio, e estiver em tal estado que reclame
nho, a falsificaSo da moeda, o lenocnio, o incesto, a poligamia
novo exame das testemunhas ou a recepo de novas testemunhas,
tit. 124, 7. Febo, P. I, Aresto 136: 3) havendo mais de um culpado
simultnea, o ajuntamento com infiel ou com criada daquele
pelo mesmo delito, devem ser libertados n a primeira instncia, no com quem vive, o concubinato incestuoso ou sacnlego, a vio-
mesmo processo e perante u mesmo juiz compctcntc, tit. 124, 5 11, c lncia contra magistrados ou seus oficiais no exerccio de fun-
liv. I, tit. 79, $ 31, Cabedo, P. 11, ap6s os Arestos; 4) antes de o ru qes, ou contra particulares em ajuntamento e motim, arromba-
contestar a lidc, pode dar-se-lhe vista das perguntas e respostas feitas mento da priso, o crcere privado, e os mais que vm expressos
pelo juiz no comco do processo, sc cssc ru as pedir e afirmar que so
na Ord. citada. Nesta matria a regra mxima a seguinte:
necessrias sua defesa, Febo, P. I, Aresto 137;5) uma vez intentada
civclmenle a aco crinunal, no tem lugar a criminal enquanto aquela recebe-se queveln de todos os crimes que padecem pena de @$ai-
estivcr pcndcntc, Fclio, Arestus 154 e 160. E bastem estas anotaces tes ou de degredo tem#orrio. Querela que se receba fora dos
que fao, digamos, de passagem (Tit. XIX, I). As Ibnuulas do li- casos especialmente compreendidos na lei, de nenhuma efica
belo acusatrio, da litis-contestao, da rbpiica c trpiica, usadas no cia. Febo, l?. I, Uecisio 69, n. I .
foro, so eliiliidas por Mendes, P. I, iiv. V, cap. I, Caminha, De libeZ-
lis, e seu reformador Costa. ddnol. 96 e 97.
E NOS CRIMES PARTICULARES

5 X I I -Ncm todos os delitos particulares recebem que-


5 X - Logo a seguir acusao vem a querela, outro modo rela, mas smente os trs seguintes: adultrio, corte de rvore
de investigar e perseguir os crimes ( $ I). Entende-se por esta dc imto, Cabedo, P. I. Deczszo 126, e feridas sangucntas ou pi-
palavra a legitima delao, feita ao juiz competente, dum crime saduras, as quais se devem certificar por vista ou ento por ins-
pblico ou particular que atinja o quereloso. trumento notarial feito com autoridade do juiz, Ord. liv. 5,
tit. 1x7, 3 I. 0 s outros delitos particulares, como a injria OU O
A querela C uma espcie dc acusaio, visto quc, uma vez dada, se dano, perseguem-se pela via ordinria mediante simples acusa-
inquire do dclito e do deliqueutc. o qual criminaimente acusado em o, Ord. liv. 5, tit. 117, 5.
juizo. No entanto, difeie da acusao principalmerite em as testeinu-
n h s dadas na querela serem inquiridas sem citaco do ru, o qual,
se as testemunhas fizerem prova, 6 pronunciado pelo juiz e preso; na
E41 QUE ALTURA DEVE SER APRESENTADA
acusaco sem querela, no C assim, pois comcca-sc pela citao do ru.

5 X I I I - A querela 9evfeitn deve ser apresentada dentro


E E31 QUE CRIMES PbBLICO TEM LUGAR de um ano contado du dia em que se cometeu o delito, e as tes-
temunhas nomeadas pelo quereloso tm de ser dadas at aos
3 X I -Os crimes pblicos, que admitem querela, esto vinte dias contados do recebimento da querela, Ord. liv. 5,
mencionados na Ord. liv. 5, tit. 117, no princ., hIan. 42. So eles tit. 117, $ 3 I e 18, c tit. 2, 4, do mesmo livro. Com efeito, decor-
rido um ano, presume-se por lei que houve uma renncia tcita, provar que no desertou da querela por malida, mas por pobreza;
4) condenado o rii por s~ntcnado juiz, nao beneficiar o qucreloso
e faz-se lugar .? acusaxio
i da justixia, a qual, no entanto, o quere-
de pula ncnhuma nem receber qualquer satisfao pelo dano sofr:do,
loso, se quiser, pode ajudar, devendo, por isso, ser admitido, no Ord. cit. tit. 117, 5 19.
j como verdadeiro acusador, mas como mero e simples aju-
dador da justia, (3rd. cit. tit. 117,9 19, no fim, ii: Porem se
quizerenz ajudar a Justica, podel-o-ho Jazer. O QUE DEVE CONTER O INSTRUMENTO DA QLERELA
No nosso direito, fa~-se muitas veses meno da querela peTfePta,
por cxemplo, na Ord. liv. j, tit. z, 5 4, c tit. 117,i: 12;da I-esulta que 5 XIV - Na aco da querela h de especial o seguinte:
tambm h a querela imperfeita: porm, qual seja uma e outra, no r) o quereloso jurar que se queixa do crime, no com inteno
esti expreso no nosso direito. Quanto a mim, entendo por pede& a de caluniar, mas por justa causa e amor virtude; 2) as teste-
solene e legtima de que especialmente trata a Ord. iiv. 5, tit. 117, a munhas dadas sero identificadas com os nomes prprios, so-
qual, sem dvida, deve ser tratada em juizo pelo modo descrito na-
quela Ord.; e por intperfeita, a simples acusao ou queixa, isto , a
brenomes, mesteres e moradas; 3) o juiz inquirir smente as
aco criminal em que o ru anisado em juizo segundo a via ordi- testemunhas nomeadas pelo quereloso; 4) far-se- instrumento
nria, isto , a citao, libelo, contesta@o, etc.. Por isso, a querela da querela, assinado pelo juiz e pelo quereloso; 5) dar o quere-
perfeita deve ser interposta dentro de um ano a contar do dia do delito; loso fiador idneo para pagar o dano e as custas do processo.
de facto, sendo ela um modo especial de accionar, extraordinrio e pe- Ord. liv. 5, tit. 117,3 6.
liposu, que se p r o s e contra o r6u sem ele ser citado nem ouvido, cum-
pre restringir ao mximo, e no ampliar, o tempo da sua inte~posio. Nunca se dispensa o juramento, pois elemento necessrio numa
O m e m o se deve dizer da acusago verdadeira e prpriamente dita, causa pblica, mas dispensa-se a fiana na querela particular. De\-em,
visto que cntre ns no recebida seno depois de dada a querela, no entanto, prest-la os oficiais da justia, os clrigos, os religiosos,
Ord. ut., tit. 117, $ lt.. Porhm, a simples acusao sem querela, isto e os cavaleiros das Ordens Militares, posto que querelem de casos
, a mcra p e m u o criminal, em que se pede a reparao da injria. de injria e intcrcssc seu, e, finalmente, todos os poderosos, visto
e do dano. e a pena legal, como se trata pelo modo ordinrio usado que dificilmente podem ser citados a juizo pelas despesas e dano,
em juizo, perptua e dura vinte anos, Ord. cit. 8 I, cers. E passado Ord. cit., tit. 117, $ 8 6, 7 e 8, e liv. 3, tit. 92 (Instituies, Do Direito
O anno, e liv. 4, tit. 79, c liv. I, tit. 84, F: 23, no fim, lei 22 do tit. Pblico, Tit. V, 3 XXXVII). Pode-se intentar perfeitamente a sim-
ad legem Cmneliam de falsis do Cdigo, leis I e 3 do tit. De reqihi- ples acusa$o criminal sem qualquer fiana e juramento, e o acusa-
rendis uel absentibus damnandis do Digesto, lei 13 do tit. De diversis dor no B obrigado a prcst-10, se no for expressamente pe&do pelo
tenzporalibus fisae~cnph'onibus (Instituiks, n o direito das coisas, adversrio; mas, se for omitido, no se vicia a acusao (3 VI1 deste
Tit. IV, 5 XIV; e Tit. XXiII, 5 11, deste livro). A querela deserta, Titulo; e Instituies, Das obriga~ese aces, Tit. XIX, 3 VIII).
isto , a no apresentada dentro de um ano contado do seu recebi- Na querela pwfeita no assim.
mento, prosseguoa o jniz ofiiosamentc nos c a o s eiri que a justia
h lugar, Ord. tit. 117, 5 19. Qu" sejam estes casos declara-o a
Ord. liv. 5, tit. 122, hfan. 42, Afons. 58. As penas para o deserior O QUE E A INQUIRIO, E SCAS ESPBCiES
da querela G o as seguintes: I) no recebido para a repetir e prosse-
@r como verdadeiro acusador; z) a acusa@o empreendida pela jus-
tia feita a expensas do qii~relantc:3 ) este preso, se no tiver 5 XV - A inquirio (ou, como se diz, a devassa), que i
bens donde pague as custas, nem der fiador para as pagar, salvo e outro modo de investigar sobre os crimes e os criminosos, feita
acusao. De facto, uma coisa buscar e prender os cfiminosos, fun-
oficiosamente pelo juiz, e nisto difere da querela e da simples $5" quc entre os Roinanos era d e i ~ m p e ~ i a pelos
a ireuarcas, denun-
acusau. geral, quando se inquile geiiCricarrieiite clus delitos ciadores, espies e postilliGes, que eram obrigados a acusar os que
e delinquentes, e espe~ial,quando se dirige a determinado de- tinham Ucjcobc~to,c outra cniza devassar os elinqucnlcs, cm geral
lito e pessoa. Coccey, na Disp. XXIV, De eo qztod justum est ou em especial, sem delao de ningum, no j pelos crimes mani-
circn inquisitzomein. festos, nu:rius, e coiifissados em juizo, mas tambm pelos ocultos
de que riHo se suspi:ilava. Entre ns, os rnagistradiires maiorcs, como
As inquiries chamamos deuassas, ou porque so pblicas e os corregtdores, ~7.iei~znhos, odianfados, e sobrejwizes, prendiam os
patentes a todos, donde o verbo devasso, deiiassar, ou porque se criminosos; na vcrdadc, a sua principal fun+ era rsforqarcm-se para
fazem sem citaco da parte. Chamam-sc inquiries gerais, no s que a comarca ficasse limpa de ladres, inimigos, e malfeiiores. Para
as que se fazem sobre os delitos e os delinquentes em geral, mas tambm ectc fim sabemos qiie rrrais de uma vez se im'ituiram extraordiniia-
rncnle tribuiiais amhulatrios, chamados nladas de iastiia (Inslitui-
as quc ciii certos c dctcrminados tempos se dirigem a certa; pessoas,
como os oficiais dc justia, scrn qualquer stispeita de crime; e espe- es, Das obrigaes e acees, Tit. XXIII, 5 IX). E, como todos
ciais as que perseguem certo dclilo, como o homicdio, ou um fen- e!es cojtumaram ouvir as quclxas dos cidadoj, e irilzri.ogar as teste-
mento feito dc noite, quc thcgoii ao corihecirnento do juiz. Leito, murilias por ss:es produzidas acerca dris crimes mais giavps, da veio
De jure lmUSItano, tratado De. inquisiiionibus, Quaest. I. o nome da aco de querela especial, e dai talvez o das inquirigoes,
isto , da: devassas, quc, scndo a principio forriadas plus juizcs
segundo o seu engenho, depois os prprios legisladores, *guindo os
decretos do diieiio caniiico, n5o s aprovaram. mas at, como
SUA ORIGEM

S XVI- O processo inquisitbrio deve a sua origem ao


direito cannico, isto , a Inocncia 111, nos caps. 14,16,17e 24
do tit. De adcusatio~zzbus,e no cap. 31 do iit. De sivzo?~ia.O pro-
cesso acusntrio deve a sua origem ao direito romano, segundo o $ XVII -Hoje h Iugar a inquin'o geral, ainda que no
qual no pode ser condenada o criminoso que no foi. racucado, se verifique nenhum clamor pblico, presmo ou infamao
Ccero, Pro Sexto Kosczo Amerino, X X , lei 6 do tit. De mune- de crime, pois esta devassa no tem, por objecto, certo e deter-
ribzw ct honorzb~s,lei 38, 5 7 , do tit. ad legcm JuEragw de adul- minado delito. Sendo, pois, urna inquirio extraordinria, exor-
lersis. A acusago por via de querela deve a sua origem s leis Litante, suspeita, e assaz perigosa, sbmcritc se deve tirar Cios
e costumes ptrios. crimes mais graves e expressamente nomeados no dircito, Ord.
Liv. I, tit. 65, 68. Alm disso, na mesma Ord. 39, manda-se
Os Romaiios dc~conheciam a inqiiirio criminal rcccbida scrn
acusador e intervcnqo do juiz, e como eles os nossos maiorcs. Mas, que os juizes ordinrios tirem inquirio geral sobre os seus
depois que as Decretais comearam de ler grande autoridade no foro, antecessores, dentro dos priineiros dez dias do seu scrvio, e a
as nossas leis aprovaram niais quc tudo estas inquiries. Todavia, terminem no espaco de trinta dias. Porm, no devem inquirir
no se pode negar que, desde o incio do Reino, os prprios reis, nem mais nem menos de trinta testemunhas, Ord. cit., $ 39,
por si ou suas algadar (Tit. XII, XXI, Nota, deste livro), busca- Febo, P. I, Aresto 106, quc sejam fidedignas e acima de toda
vam os homicidas, os ladrks de fama, e os salteadores de estradas:
mas no se segue da que, uma vez presos, no houvesse iugar a excepco, $ 61, Febo, P. 11, Aresto 116. Tais inquiries
pertencem ao ofcio do juiz ordinrio ou de fora, e sobretudo mago do delito, pois no mais que uma simples informao ou
devassa ($ XXIV, Nota, deste Titulo). A qualificada, isto , a solene,
ao corregedor da comarca, Ord. liv. I, tit. 58, 31. a prpria acusao feita oficiosamente pela justia, que o juiz pros-
Se bem que inoc6ncio I11 s pateca adnitir inqiiiries gerais segue, para vingana pblica, contra o ru j infamado e supeito do
sobre os crinaes que foram precedidos de alguns clamores, caps. 21 mime, mas no convencido, depois de ouvido e citado. Leito cit.,
e 24 do tit. De adcusationibus, todavia hoje procede-se a elas, mesmo Quaestio IX.
que no haja uifarnao e clarrior pblico, Cakdo, P. 1, Decisio 78.
Mas fcilrnente quem quer entende as consequkncias funestissimas que
dai resultam para a Religio, o Estado, e os cidados, como, alis, EXCEPCOES CO'ITR4 AS INQUIRIBES GEK41S
o reconhece a prpria Ordenao Rgia, liv. I, tit. 65, $ 31, nestas OU ESPECIAIS
palavras: Por se evitarem os inconr-enientes. que contra senii$o de
Deos, e nosso se segukiio de se tirarem deuassas geraes, ~;zaadamos
a todas as Jmtias que as nZo tirem. Veja-se, querendo, Borhmero. $ XIX- Andam o processo inquisitrio as seguintes
Jus Ecclesiae Protesta~tis, ao tit. De adcclsationibz~s, LXXXI, excepes, que se podem opor em qualquer altura, mesmo aps
Thoinsio, De origine processus isqecisitorii. a sentena: I) quando nele no consta do corpo do delito, Al-
var de 4 de Setembro de 1765>5 2 ; 2) quando consta do delito,
mas no se declaram as circunstncias que o aumentam, dimi-
INQUIKIUES ESPECIAIS nuem ou desculpam, 3 do mesmo Alvar; 3) quando o pro-
cesso foi ordenado sem qualquer denncia, presuno e ind
9: XVIII - So mais admissveis as inquiries esfieciais, cios, o que apenas se deve entender da Inqzririo especial, por-
visto que supem e perseguem certo e determinado deiito. De- quanto a geral no requer hoje infamao alguma, Cabcdo,
vem ser iniciadas dentro de oito dias da prtica do delito, e P. I, Decisio 78; 4 ) qual& no se acham expressos o loca,
terminadas no espao de trinta, Ord. liv. I, tit. 65, Q 31. Tambm causa, e tempo do delito, Ord. liv. j,tit. 124, no princ., e $ r ; 5)
aqui se exigem trinta testemunhas, salvo nas devassas feitas a se a inquirio teve por objccto um crime de que o ru j fora
pedido das partes, nas quais se requerem apenas oito, dita Ord. absolvido por sentenca do juiz, Ord. liv. 5, tit. r30; 6) se o cri-
$9: 31 e 32. E tal como as gerais s se podem tirar sobre os me estiver abolido ou prescrito, Ord. liv. r, tit. 84, 23, no
casos expressos no direito, visto tambm serem extraordinrias fim; 7) se a inquirio no for acabada dentro de trinta dias,
e exorbitantes da razo do direito. Quais sejam, porm, esses ou nela no for interrogado o niimero de testemunhas que a lei
casos, esclarece a Ord. citada, quai se devem juntar as Extra- manda, ou se foi feita sobre crimes que no podem ser inqui-
vagantes que vm na Colecqo I, Kn. 8, 9 e r3 Ord. liv. r. ridos, Ord. liv. I, tit. 65, 53 31, 39 e 69; 8) se as testemunhas
tit. 58, 3 31, e N. 3 ao tit. Gj, 3 31, e a Lei de 24 de Outubro foram examinadas por outras pessoas que no o prprio juiz,
de 1764, 5 5, e outras, que s o referir seria longo. Veja-se, que- Ord. cit., 33, e tit. 7, $ 25, no fim; g) ou por juiz incompe-
rendo, Leito, De jure lusitano, no tratado De inquisitioaibus, tente, Ord. liv. 3, tit. 75, inimigo ou suspeito em direito, Ord.
Quaestio 111. liv. 3, tit. 62, 2, OU por tabelio, na mesma Ord.; ou, finalmente
Depois, a inquirio cspccial 6 simples, ou qmlificada, isto 8, se as testemunhas produzidas no so dignas de f, Ord. liv. I,
solene. Aquela no requer nem a citao do ru, nem em rigor a infa- tit. 65, 3 61, ibi: $erguntando @ s o a s de boa farna, e de que se
.presuma, que dira ~ierdade,e que sabem parte das traes cousas.
Mendes, in Praxis, liv. V , cap. 111, P. I e 11. !riiestiga$o, que se chama cor@ do delito, o fundamento de
todo o processo inqnisitno, Ord. liv 3, tit. 62, 5 I, a Lei cha-
Ns aqui chamanos juzcs competentes qii?les a qiiem, por !ei mada da R ~ f o r m a c oda Jusha, Q 4, lei I, $ 4, do tit. De Sena-
pblica ou particular, foi concedida a faruldade de inquirir sobre os I-s-rnnsulto Sclaninnu, Boehrnero, Jus Eccles. Protest., liv. V .
crinies em geral ou cm particular. Esto neste caso, sobretiido, os
tit. 1 De adcusationibus, 5 XC, onde confirma esta matria com
juii~i do crime ? os corregedores das comarcas, aos quais essa facul-
dade compete por riircito dc inagistratara. No entanto, h certos il:n exemplo notvel.
juzt.5 qile gomm dessa faciildadc por ilir~itnsingiilar, naqiiclrts coisas
que reipiitam ao seu ofcio e milniis especial, como o Juiz da fndia
e hlina, Ord. liv. I, tit. 51, no priric., e S 4, o Ouvidor da Alfndega QUANDO SE DEVE FORMAR O &CORPO DO DELITOn
d e I-islioa, tit. 52, 5 rx, n Juiz do Fisco, 5 36 do rrspectivo Regi- KOS DELI'iOS DE FACTO I'h:iZAMAiYENTJ3, O r TKkNSITRIO
mento, o Conservador da Junta do Conircio, Alrar de 30 de hlaio
de 17jg. No cabcm aqui as visitayes epi?copaii, que provsm de Q XXI-Nos delitos de facto fiermane~te, que deixam
outro direito mais santo, pois no sr: dcvein considerar como inqui- vestgios, o corpo do delito forrna-se por inspeco ocular com
n ~ e sverdadeiras e prprias no sentido do direito civil; mas, se se
c? comparkicia de mdicos e cirurgies. Por isso, em cao de
cor.hidcra;cin, no podem corripetir aos visi:adores seno por bcncicio
de lei especial. Oe Jiizes das Ordens, oii porque gozam de jurisdio I:omicidio, o cadver e os ferimentos devem ser visto por pen-
eci~sii~tica, ou porque no ihes foi cxpressamcntc conccdida a juris- t c i , e examinada a qualidade das armas, cicatrizes e envenena-
dio secular de inqiiirirem oficiosamente sobre os crimes. no podem mento (Tit. VIII, 9: XII, deste livro). No furto, h que inves-
tirar inquirio geral ou cspccial sobre os dclitos do3 prprios ca7-a- iigar a qualidade, valor e designao das coisas roubadas, e se
leiros. NZo ohtante, se e:tcs foi-cm dc qiralqucr modo pronunciados I?ouve arrombamento de portas o11 utilizao de escadas. Nos
oii presos como rtus pelos outros juizes, devem ser remetidos com os
deIitos de jacto transitrio, o corpo do delito forma-se de con-
autos para os jzes das Ordens, os quais dcvcm ordenar novo pro-
cesso criminal, visto que o institudo perante o juiz a puo nulo
jecturas, que se baseiem o inais possvel na inspeco ocular,
por notrio defeito de jurkdio, Ord. liv. 2, tit. 12, $ I, Fzo, P. 11, r do exame sumrio de testemunhas, que deponham sobre o
Arcstws 164 e 166, Leito, lratalo De inquisitiu~rihus, Quacjtio IV, delito praticado. Por conseguinte, tudo o que possa demonstrar
n. zr. u malefcio e sua qualidade e circunstncias, deve ser investi-
gado pelo juiz, antes de ele chegar iinquirio especial; e disso
tado deve fazer-se acto notarial, Ord. lir. I, tit. 65, 38, e liv. 5.
QUE COISAS NECESSARUIEENTE CONTEM A JXQCJRTCO tit. 117. 5 I, Boehmero cit., Heinccio, Elenzenta Juris Germa-
GERAL, E DO <CORPO DO DELITOn ~iici,liv. 111, cap. IX, F, CCCXLVIII.

3 XX - A substncia da inquirio entendemos que per-


tencem, principalmente, estes trs pontos: I) o delito foi come- O AGTOR DO DELITO COXHECE-SE POK CONJECTURAS
tido?; 2) por quem?; 3 ) em que circunstncias? Portanto, pn- OU PELO DEPOIYENTO DE TESTF.%n'NHA
meiro, deve o juiz certificar-se da verdade do crime, cum-
prindo, assim, investigar antes de mais se o delito existe; esta XXII - Depois de por inquirio geral se saber o sufi-
ciente acerca do delito, inquirir-se-, genricamrnte, do seu autor
e circimstncias ( 3 X X ) . O autor conhece-se ou por conjectu- DO MODO COMO SE DEVE INQUIRIR O RBU
ras ou pelo depoimento jurado das testernunlias. Quanto s
circunstncias, nunca se devem omitir, pois alteram em extremo XXV - O fim da inquiri~oespecial saber, com a
a natureza dos delitos. maior certeza e rapidez, se o inquirido o verdadeiro autor do
crime, o verdadeiro ru, ou se est inocente. Daqui resulta o se-
guinte: I) entretanto o inquirido no deve ser considerado ru
QUE CONJECTURAS SE EXIGEM PARA A INQKIRIGKO antes da sentena condenatna; 2) deve-se inquirir, primeiro,
ESPECIAL genricamente, do seu nome, idade, ofcio e morada; 3) deve-se
inquirir apenas do crime de que suspeito e sobre o qual
3 X X I I I - Por conjecturas entendemos aqueles argu- precedeu inquirio geral; 4) e sem juramento, para no se dar
mentos que, embora no provem o delito e o delinquente, con- ocasi50 a ptrjrio, Ord. liv. 3, tit. 53, 3 11; 5) deve ser inquirido
tudo fazem alguma f sobre a sua perpetrao e o seu autor. em pessoa, e no por meio de curador, defensor ou procurador,
3ra, estes argumentos so remotos ou firximos, comuns a todos os quais, no entanto, so inteiramente de conceder nos outros
os delitos, ou prprios de cada um; deles falaremos em seu lugar artigos, excepto nos resfionsrios; 6) deve ser examinado calma
(Tit. XVIII, 9 11, deste Iivro). Aqui apenas cumpre fixar que e tranquilamente; 7) no se devem usar persuases dolosas c
sem conjecturas, isto , sem indcios pr6xi??zos e prprios do promessas de impunidade ou de pena branda; 8) nem pergun-
delito (quais eles sejam, necessAriamentc sc deve deixar ao tas capciosas e coiilplicadas, inadequadas sua inteligncia;
rbtrio do juiz), no h lugar nem captura dos rus nem 9) nem, finalmente, quaisquer sugestes, palavra em que
inqiii~igoespeciaz. abrangemos mesmo o chamado bom dolo, Coccey, Disput.
LXXVI De szcggest., cap. it desde o n. 19; xo) durante o
exame deve-se prestar atenco ao vulto, palidez, e outros
QLAh1)O A DEVE O F I Z FAZER
sinais exteriores do inquirido, Ord. liv. I, tit. 86, 3 I, lei 10,
S 5. do tit. De qzcaestionibw; 11) a resposta deve ser fielmente
5 XXIV - Deve-se, pur fim, chegar 2 inquirio especial, registada pelo escrivo com as prprias palavras do inquirido,
sempre que pela inquiriso geral se forma o corpo do delito, (3rd. liv. I, tit. 79, 5 3, e liv. j, tit. 117, 5 11; 12) findo o exame,
c se obtm indcios que tornem certa pessoa suspeita de crime. deve-se ler a resposta por inteiro, para que o inquirido p o s a
Esta inquirio s a dirige o juiz que, presente o tabelio, pode corrigir nela qualquer erro, Ord. cit., tit. 79, 30; 13) deve-se
inquirir sobre o crime, no tnbunal ou na prpria casa, o ru inquirir de cada uma das circunstncias do crime, as qriais
solto ou preso, e, por isso, antes ou depois da pronncia da in- devem ser declaradas, em separado, por artigo ou pergunta.
quirio geral. a fim de mais fcilmente se entenderem; 14) e dos scios no
Leito, na obra citada, chama s inquiries gerrtis deuassas, e
crime, visto que, algumas vezes, h mais de um culpado no
considera-as simples ilzfor;nages; a amsao e inquirio judiciria delito; 13) devem-se indicar ao ru us principais pontos dc
e especial do ru, oficiosamente empreendida, chama inquiries espe- defesa; 16) devem-se-lhe comunicar as provas e conjecturas que
ciais (5 XVIII, Nota). pesam contra ele, e o mais que se ver do que havemos de dizer
(Tit. XVII, 9 XI, deste livro). Boehmero, E l e m ~ i t t aJuris- so do nome, de todos os delitos pblicos, em que h lugar i
prtde?ztiae Cn.zrninnlis, Sect. I , rap. X, 5. C1,XXXV. inquirio geral ou especial, e querela, Ord. liv. I, tit. 65,
31,vers. E isso mesmo, e liv. 5, tit. 1x8: e a necessria smente
em certos crimes expressamente nomeados na lei.
O QUE A DENNCIA

S: XXVI - h dcnzincia, isto , a sim$lcs delao do crime SOBRE E I? DK AUivllTIK A DENdNCiA SECRETA
sena inteno de acusar abre o caminho 5 inquirio. O denuri-
ciante no obrigado a caucionar as custas, nem a provar o
crime denunciado, cuja punio entrega ao juiz, e nisto difere
XXIX- Ko entanto, este captulo do direito criminal,
que admite as denncias secretas, parece carecer, se houvermos
da acusao e querela.
de dizer a verdade, de grande emenda em toda a parte. De mod3
SUA DIVISO notvel se exprime S. Paulo, nos Actos dos Apstolos, XXV,
16: Porque no costume dos Roma~zoscondelzar homem al-
3 XXVII -Divide-se em pblica, quando o delator diz o gum, antes de o acusado ter presentes os seus acusadores, s
antes de se lhe ter faciLitado a defesa para se lavar dos crimes.
seu nome, ou ocwita, no caso contrrio; em jurada ou simfiles;
e em voluntria, quando a faz de livre vontade, ou necessria,
Seria de desejar por razues de segurana pblica c particular que
quando a faz por mandado da lei.
se ab-rogasse toda a fi: aos delatores ocultos. Beccaria, no Tratado
Dei delliti et delle pene, tono I . pg. 28, ediio de Veneza. 1781,
Nio pertence aqui nem a denncia evanglica, de que fala Ma-
hlr. Bemardi, Pnncipes des l&x cn'?ninelles, P . 111, 5 11. Realmente,
teus, XVIII, nem a que se faz ao juiz ecleii&stico, com o fim, no se algum co-nete um acto digno de repreemso, por que no h-de
de ele inquirir judicialmente ex oflicio sobre o delito, mas de comgir scr combatido em campo aberto) Mas, sc cst inocente, nem a boa
com seu rnntis pastoral o suspeito delinquente, ganh-lo para o Se- f nem a recta razo padccrm que seja atacado durante muito tempo
nhor, e induzi-lo com h n s conselhos confessar espontaneamente
por uni advcrsdrio drscnnhil-ido, cujos layos oculios no pode evitar.
a sua falta.
Merece leitura intepal, sobre este ponto, a nrao de Cicero Pro Sexto
Koscio Amm'no, $ XX, onde a odiosa carta doi delatores pintada
RAPROVADA PELO NOSSO DIREITO com cores vivas e wemeniemente fustigada.

5 XXVIII -As nossas leis aprovam estas espcies de de-


iincia. Com efeito, no s admitem a oczllta e necessria no E SOB QCE CONDICOES
crime de blasfmia, Ord. liv. 5, tit. z, 5 5, lesa-majestade, tit. 6,
5 12,adulterao da moeda, tit. 12, lt, crime nefando e se- XXX - Porm, no desejamos que estas palavras sejam
melhantes, tit. 13, j, mas as Ordenaes citadas at premeiarn entendidas como se as delaes ocultas nunca possam ter lugar,
os delatores. Por isso, se vem admitir a denncia volttatiiria, porquanto, sendo do interesse pblico que os delitos no fiquem
quer pblica, quer particular, isto 6, com expresso ou supres- impunes e os facinoroos no busquem a noite para seus delitos
e fraudes e sobre eles lancem como que uma nuvem, a denhcia nibus; 10) deve o deriuriciante prestar juramento sobre a ver-
C: inuikas vezes til. Parccc-me, pois, que deve ser admitida sob dadc do que denuncia, no merecendo, por iso, qualqurr
certas coildi6cs: I) sobre os delitos mais graves, mormcnte considerao a denncia escrita annima. Boehmero, Jus Eccle-
os que esto para se comctcr, e no os j cometidos e consu- siae Protestnntis, ao tit. De adcusatinnibus, 55 XCII e seg.,
mados; 2) apenas sobre os que se perpetram contra o Prncipe Puttman, Opuscula J w i s Crinzimalis, Prolusio De delatoribus
ou o E s t a d ~ por
, exemplo, os de lesa-majestade, traio, tnoeda praevriiis haud excilatzclis.
faIsa, etc.. . ; 3) cumpre providenciar para que os delatores no
deponham como testemunhas na matbria, ou conspirem cuxn
as testemunhas para a morte do ru; 4) mal se deve dar cr-
dito s testemunhas que sejam da famlia ou casa dos delato-
res; j) nunca se deve admitir denncia dum inimigo, ou de
uma pessoa suspeita por qualquer outra razo, ou de homem
rnalvado e iurbulento, mas s de indivduos recomendveis por
vida honesta e bons costumes; 6 ) deve-se declarar ao denuri-
ciado o nome do denunciante, se se vir que iso necessrio
para ele fundamentar a sua defesa, ou afastar a inquirio; 7)
h que ser condescendetlte para com os lafos de sangue e ami-
zade ntima; c, por isso, os filhos, os consanguneos e os amigos
no devem ser obrigados a denunciar os pais, os parentes pr-
ximos, e os amigos, ou, caso algumas vezes sejam obrigados, se
no os denunciarem, nem por isso podem ser condenados
morte, mas antes devem ser inteiramente deciilpados, oii ento
punidos com pena extraordiniria mais branda, conforme a
qualidade do delito e das circunstncias. O autor do livro, quc
saiu em Paris, no ano de 1775, sob o titulo Derniers senti~izents
des filus illztstres $erson?znges condainzs ii ~ n o r tdiz
, o seguinte
no tonio I, pg. 470: Toms les gens de )ie?zpleurerent .u?z hcnzine,
qui firissoit I'ge de trente cinq uns, pour n'avoir $as vazdnt
dnoncer son nzeilleur arni (Tit. V , 3 XIII, destc livro) ; 8) final-
mente, deve-se admitir a denncia es$eficn, e instruda com
aquelas circunstncias que induzem o nimo do juiz a confiar
no deniinciante; g ) c smente sobre aquelas coisas qzie no s-
podem dissimular muilo leixfili sem esc~zdaloou tolerar sem
$c.rigo, como diz o Pontifice no cap. 24 do tit. De adcusafio-
genricarnente aprovados na Ord. liv. 5, tit. 23, no fim do
princ., e tit. 117, $ 18 e 19, Leito, De jure lusiluno, Tratado
I11 De inquisitionibus, Quaestio X .

QUAYDO TEM LUGAR A PRONCNCIA PARA


A CAPTURA DO KEIJ
TITULO XIV
S: IV- A pronncia de reo ca$iendo (de captura do ru)
DA PROKNCIA DOS REUS smcnte deve ser dada nos delitos mais graves, em que por di-
reito caiba a pena corporal ou de priso, obtida primeiro a
O QUE E A PRONOKCIA prova legtima, que, se fosse judicial, bastaria para condenar
o denunciado pena ordinria ou pelo menos extraordinria
I - A fironncia, tiu mais do que o decreto dado pelo do delito. E esta a regra mxima.
juiz sobre a i n q ~ i r i oou querela, e que contm o nome do r.&
t. o modo conto se deve purgar do crime de que acusado.
QCAIS OS COXSECTARIOS DESTA REGRA

DIFERE DA SEKTEXGA CRIMINAL. 3 V -Desta regra segue-se: I) que o juzo criminal no


deve comear pela captura do denunciado; z ) que para a de-
5 11-Difere da senten$a absolutria ou conde~zatria, cretar no basta a querela do moribmdo; 3 ) nem a suspeita
porque esta absolve ou condena o ru, e decide a causa crinii- de fuga; nem 4) a fama ou o rumor pblico do delito; nem 5) a
nul, ao p a s o que a pronncia apcnas torna o ru suspeito do informao meramente verbal; 6) necessria a informao
criine e declara o modo de lir/rame~?to
que ele deve seguir, con- escrita, constante dos autos e do sumrio; 7) e no qualquer
forme a qualidade da suspeita e do crime. prova, mas a legitima, isto C, a chamada $leria ou semiplena,
a qual, suposto no chegue para a condenao do ru, basta
nos delitos mais graves para a sua captura.
Aprnas o ru eierdadro nu firesuniido d ~ v eser preso; porGm, a
p r e ~ m os6 pode ser dedu~idadas testemunhas prodnzidas no instnr-
3 ITI - A pronncia do juiz sobre a inquirio ou que- mento da querela nu inquirio, mesmo qiie no se haja citado a
rela, e o livramento do rti do crime de que 15 acusado, ora;- parte. Zo bastam as meras coniect~iras para a captura; mas parece
que bastam as conjeciuras oeenientes, Leito, De inquisitionibus,
iiria, quando o ri.u solto se purga do crime, ou es$eciaZ, quando
Tratado 111. Quaestio X, 11. 4,~ i n d aque no cheguem para a conde-
seguro ou $rescl dele se iivra. H so exactamente estes os mo- nao, como diremos em seu lugar (Tit. XVIII, 8 V, deste livro).
dos de pronncia e livramento. seguidos no foro, que se vem Por&m, neste ponto, atribuir-se- muita importncia ao arbtio do
prudente juiz, Ord. liv- 5, tit. 117. 12, no fim. E m caso de rixa,
dcre o magistrado prend~r, cm qualquer inquiiifo e apenas por
informao verbal, os qiir julgar culpados, solbando-os, no entanto,
dcntro dc dois dias, se io houver culpa fornada, Ord. liv. I, tit. 65,
VI1 - x o s crimes mais leves, conhecidos por ocasio
S 37. dalguma querela geral, tem lugar a pronncia, que chamamos
Pode igualmente prcndcr o< que forem denunciados por crimes ordhtria, ou porque incide sobre crimes ordinrios, ou porque
rapitais, os quais, no entanto, devem ser inteixamente libertados, se se forma na ordem ordinria dos juzos, ou porque o ru de-
contra elas no houver culpa funriada dcntro dc oito dias. Lei chamada fende-se solto; no pode, por isso, ser preso antes da sentena,
Da reforlnago da Jvsligu de 6 d~ Dez. de 1612, 5 14. Se excep- nem 6 obrigado a estar na audincia. Leito cit., n. 22.
tuarmos estes dois casos, parece que apcnas deve ser preso aquele
que em querela perfeita ou em inquirio especial aparece como cri-
Tanibli5im nos delitos capitais, se o ru estiver preso, deve-se-lhe
minoso, e esta a regra da Ordenaco iiv. 5, tit. 119, no princ., con-
conceder o livramento ordinrs'o, assini como tambm se deve acusar
firmada por virias leis de D. Afonsc TV, D. Pedro I, e D. JoZo I,
o ciimc pelo modo ordinrio. isto 6 , com libelo, conlcstao, etc...,
mencionadas lia Ordenao Aionsina liv. 5, tit. 58 (Tit. XV, $ X.
e defender o ru, quando, da inqiririso especial contra d e tirada ou
Nota, deste livro). Os nobres de p r h c i r a ordem no so presos scin
da sua confisso, n cnm? no silrge plena r perfeitamente provado.
licena de El-Rei, Ord. cit., Lit. 119, 5 3. O culpado que est em
caso este eIn que no h lugar ao livramento su*ad?io.
territbrio doxrro juiz, d e v ~ser preso por carta precatna a este en-
viada, a qual contei, sumriamente, o nome do delinquriite, o delito.
e o gnero de prova, Ord. tit. 119, lt. (Institui$rjs, Das obngaqes
e acqes, Tit. IX, 3 X ) . Contra o decreto de captiira do ru pode-se NKO SE DETE PKETAR FE NENHUhM A S TESTEIPEYHAS
interpor agravo. Febu, P. I, ilrcsto Ior, Mendes, in Praxis, P. 11, PKODUZIDrlS EM PROCESSO JXQUIITRIO
cap. I, 3 I, n. I.
S VI11 -Cumpre, finalmente, advertir aqui que no se
devc dar fi: alguma s testetnunhas produzidas em querela, e
A PRONUKCIA SOBRE O LIVRAMENTO DO REU em inquirio geral ou especial, naquelas matrias que dizern
GCOMO SEGUROu respeitn deciso ou condenao da caiisa criminal, visto ha-
verem sido oferecidas sem citao da parte, Ord. liv. I, tit. 86,
3 VI - A pronncia, que concede a liberdade ao ru como no princpio. No entanto, fazem f ao juiz para ele dar a pro-
seguvo, deriva mais da praxe e etilo forense que das leis. Tem nncia da querela ou inquirio.
Irigar nos crimes mais leves, que admitem a concesso de carta7
de seguro pelo juiz, c tambm nos mais graves, no plena r As teaiemunhas rievem sei esarriinadac perante o adversrio, ou
pelo nlesoi drve-se-aies dar juramento na presena dele, Ord. cit.,
dwidamente provados, isto 6, no provados no siifici~ntepara o
tit. 86, no pnnc.: O qual jzjramanto Lhe ser dado perante a parte,
juiz decretar a captura, Ord. liv. 5, tit. 117, ,S$ 18 e 19,ibi: contra quem ke chamada. ae ella a qriiier z'er jurar, e liv. 3 , ti:. 62.
quando pelos sztminarios Jus qzierelns nifn for tanlo firovndo, 5 I , ibi: perguntando as testemzcnhns outra uez. e vendo a parte cosxu
per qzde os querelados dpvam ger presos. E, deste modo, defende jurio (InstituiUes, Das otiliga~sr acqks, Tit. SVII, 5 VI).
o nosso Leito, lugar cit., nn. 20 e 21, esta praxe, que, eu con-
fesso, no tem lei em que se apoie.
SALVO SE SE TORNAREM JUDIClAIS, E COMO SE DEVE que espontneamente feita pelo ru, no deve ser admitida
ISTO ENI'EKDER crimes, tendo as testemunhas que ser de novo interroga-
das depois dele citado e na sua presenca; pode, na verdade,
3 IX -Por conseguinte, no fazem f nenhuma as teste- acontecer que no se,gmdo interrogatrio acrescentem ou tirem
munhas produzidas sem a parte ser citada, salvo se forem exa- algumas coisas em seu favor; 5) as testemunhas mortas ou
minadas novamente com citao dela, Ord. liv. 3, tit. 62, 5 I, ou ausentes do Reino no fazem f nas causas-crirns, mas s> nas
salvo tambm se forem consideradas e aprovadas pelo ru cveh; e assim se devem entender as Ordenaes, Iiv. 3,tit. 16,
como jadiciais, do que se lavrar instrumento especiaI, assinado I, no fim, e tit. 62, $ I; 6 ) no processo sumario prescrito na
pelo ru e autenticado pelo tafielio e duas testemunhas, Ord Ordenao, liv. I, tit. I, 3 16, em que se manda o ru falar de
liv. r, tit. 24, zo, e liv. 3,tit. 32, 3 I. Todavia, eu no desejaria direito e facto dentro de cinco dias, as testemunhas oferecidas
que isto se entendesse no sentido de que as testemunhas, tor- na inquirio devem ser examinadas na presena do ru, de-
nadas judiciais pelo consenso e expressa ratificao do adver- pois deste citado, ainda que ele no queira e se oponha, visto
srio, faam prova perfeita sobretudo nos delitos mais graves, que ningum dono de seus membros, nem, alm disso, a au-
ou sejam indiscriminadamente admitidas em todos os juzos cri- toridade dos jnzes nem o sentido humano dos nossos tempos
minais, mas no de que algumas vezes validam o processo inqui- padecem que, quando se trata duma vida humana, se omita o
sitrio, em direito rigoroso invlido por falta de citao, ressal- mais insignificante daqueles elementos que se presumem con-
vando-se sempre as excepes ao ru, o que muito importa tribuir, de qualquer modo, para absolver ou punir o ru com
notar. Com efeito, nas causas-crimes, tal como nas cveis, nunca as penas devidas. Acresce que a razo natural e civil, e a reciz
se devem admitir as fices ou as presune de direito, mas ordem dos juzos, que rigorosamente se deve observar, sobre-
apenas as provas verdadeiras (Tit. XVII, 9 VII, deste livro). tudo nas causas capitais, parecem exigir ao mximo este rcexa-
me das testemunhas. E, portanto, absurda a praxe em contr-
rio, para cuja legitimao no basta a autoridade de Febo,
CONSECTARIOS DA DOUTRIN.4 EXPOSTA 1.' 11, Aresto 188. So muito melhores os ensinamentos de Men-
des, in Praxis, liv. V, cap. I, 5 VI, onde quase concorda con-
9 X -Nestes terinos, pode~n-setirar da 0s seguintes con- nosco. Apraz-nos notar aqui de passagem, como ltimo consec-
sectrios: r ) O ru, que fez das testemunhas de justia testemu- trio, que os erros do processo cnmirial, quer os chamados szlbs-
nhas judiciais, pode confut-Ias e rejeit-las, pois com a ratifi- tnwciais, quer os acidentais, viciam o processo, e nem mesmo
cao no renunciou ao seu direito, mas apenas supriu e dis- na Relao podem ser supridos, pois, que eu saiba (a Ord.
pensou, com a aprovao da lei, o efeito e solenidade da citao liv. I, tit. 5, 3 12, e o Assento da Casa da Suplicao de 20 de
que a lei introduziu em seu favor; 2 ) esta ratificao ou renn- Maro de 1606 determinam o contrrio), nenhuma lei ate hoje
cia smente pode ter lugar nos delitos mais les-es, a que foi iin- deu i Relao semelhante poder; em boa verdade, a Ord. liv.
posta pena pecuniria; 3 ) no tem importncia e efeito nenhum 3. tit. 63, fala das causas cveis.
lios crimes capitais ou semelhantes, que admitem as penas de
morre, infmia, ou exlio alm de dez anos; 4) por isso, mesmo
A QUEM CONCEDIDA

5 111- E concedida aos nobres citados ria Ord. liv. 5,


Ut. 120, Mau. 67, Afons. 94, quais so: I) os fidalgos de nasci-
mento; 2) os assentados no livro dos nobres; 3 ) os nobres que
chamamos sujiiriplesiiiente Cas~alciros;4) os feitos cavaIeiros na
TITULO X V guerra, e confirmados por diploma rgio especial; 5) os Cava-
leiros das Ordens Militares do Reino; 6) os desembargadores;
DO RU PRESO SOB HOMENAGEM 7 ) os doutores de ambos os Direitos, e de Medicina; 8) os escri-
OU COM FIADORES ves da Fazenda Real e do Senado; 9) as mulheres e as vivas
dos sobreditos, enquanto levarem vida honesta. h estes costu-
ma-se juntar vulgarmente os magistrados inferiores, como OS
CHAMAhl-SE PRESOS OS REUS SOB HOMEXAGEM corregedares, os provedores, os juzes de fora, os doutores de
OU SOB FIANCA, B PORQUE Teologia c Filosofia, os profesorcs pblicos e rgios (Ver De-
creto de r4 de Julho de 1775). os advogados, c talvez outros,
3 I -Dizem-se, verdadeiramente, presos, no s os deti- que no vm mencionados na Ord. citada. Os pais gozam da
dos crn crceres pblicos, mas tambm os soltos, q i i e se defen- nobreia dos filhos, e, por ateno a estes, do direito de homena-
dem sob homenagem ou com fiadores, visto no poderem, im- gem. Fdio, Decisio 154, e Aresto 76.
punemente, deixar de comparecer em juzo nem afastar-se do
local destinado. Febo, P. I, Decisio. 3, nn. 3, 4, 5 e 6.
E EiiI QUE DELITOS

0 QUE E HOMENAGEM
-
5 IV Porm, a homenagem s foi concedida nas causas
pecunirias, no tendo, por isso, lugar nos crimes por sua natu-
I1 - Chama-se aqui homenagem ao priuilkgio que livra
reza infarnantes, em que se perde a nobreza, ou nos no Infa-
cs n o ~ e sdos crceres p~blicos,enquanio no for dada a sen-
nantes, que so puriiGo com ri morte natural ou civil, 01d.
i-eiza criminal, sendo-lhes designado certo Iztgar $ara custdia.
citada. Ora, diz-se que morrem civilmente no s os banidos,
os proscritos, e os privados das direitos de cidadania pela lei,
H mais dc um significado de honaenagem; no entanto, toma-se,
em sentido especial, pelo juramento de fidelidalfe ou clie?ztola, e pelo
ou pelo homem, isto , por sentena do juiz, mas tambm os
direito de livre custdia, que deve ici concedida aos nobres, mais desterrados perptua ou temporriamente com confisco de bens.
branda ou mais rigorosamente, conforme a qualidade delei e do de- Febo, P. 11, Decisio s j j (lnstituie, Do direito das pessoas,
lito (Tit. I, 3 XX, deste livro; Liv. 11, Tit. 111, $ LXIII). Tit. 11, 5s XTI e XIII, e Tlt. V, $ XXI).
POR QUEM E COMO DEVE SER CONCEDIDA, E DA YENA mado, ficando as fianas obrigadas s custas e danos, e multa
PARA O QUE QUEBR4 4 HOMENAGEV chamada emenda, Ord. liv. 5, tit. 131,no princ., ibi: sejo obri-
gadas evtenda, satisjapo, e cu.~tas.Se o ru fugir, o fiador
5 V - A homenagem deve ser pedida ao juiz que decretou sofre a mesma pena que o ru deveria sofrer, se no fugisse.
a captura, Ord. cit., tit. 120, no princpio, ibi: sero presos sobre
Quanto as custas, dano, e emenda, o fiador obrigado a elas,
suas homenagens, as quaes devem fazer aos Jziizes, que os $ren- se a fianca for de qualquer modo quebrada, o que acontece, -e
derem, ou mandarem $render. Porm, quando a nobreza do o ru no comparecer em juzo nos dias fixados, Ord. cit., I.
r6u 6 manifesta e notria, a homenagem ser-lhe-& concedida
pelo juiz sem prkvia informao e sem citao do adversric, Pouco ou nada interessa conhecer as fian~ascriminais, derivem
Ord. 1iv. 3, tit. 86, 5 18, ibi: ser preso conforme a qualidade de elas dos Romanos, ou dos Germanos e povos vizinhos. Heinccio,
sua pessoa. Na dvida, no deve ser concedida sem se ouvir Blew~enlaJarris Germunici, liv. 111, tit. IX, g CCCXLIX. Uma coisa
certa: o seu uso j era frte no reinado de D. Dinis, visto que ele deu
u adversrio, ficando entretanto o ru detido em crcere p-
uma lci em 5 de J d o do ano 1356 da Era, apud Ord. Afons. liv. 5 ,
blico, Febo, P. 11, Aresto 50. O juiz, de quem se concede apela- tit. 51, Filip. tit. 131, eni que proibiu se soltassem, antes da sentena,
o ou agravo, no pode ampliar ou estender a homenagem os rus presas e detidos em cadeias pblicas, e se confiassem f pr-
que deu; todavia, havendo justa causa, pode faz&-10o Regedor pria ou alheia, ou libertassem sob fiana. Todavia, com o andar dos
da Casa da Suplicao ou o Governador da Relao do Porto. tempos, esta faculdade, que antes de D. Dinis competia a cada ma-
Valasco, Adlegatio 13, nn. 10 e 11.Aquele que quebrar a home- gistiado, foi cstendida ao ilcscmbargo do Pao e s6 a este concedida,
c a t a t o ficou rcdiizido o dircito antigo. As disposir;, quc o direito
nagem, e se afastar do Iocal destinado, perde o pnvilCgio, de- romano tem no tit. De custodia et exhibitione reorum do Digesto,
vendo, por isso, ser lanado na priso, donde s pode ser solto neni todas quadram s nossas leis e costumes.
por Alvar especial do Rei que lhe conceda a restituio da
homenagem quebrada, Ord. liv. 5, tit. 12, 3 d t . (Tit. I, $ XX).
EM QCE CRIMES E POR QUE JUfLES DEVE SER
A SIMPLES PROITESSA DO R P C K.40 O LIVRA DA FRISA0 ADMITIDA A FIANA

5 VI-Pelo noso direito, no se solta o ru detido ern $ VI11 -Nos delitos, que levam pena capital ou corpc-
cadeia pblica com base na sua simples promessa, por mais ral, no se admitem fiadores; realmente, ningu:m se pode obri-
leve que seja o delito, e maiores os seus recursos. No direito gar a sofrer essas penas, visto ningum ser senhor dos seus
romano, no assim, lei I do tit. De custodia et exhibitime membros. Mantm-se, no entanto, a obrigao, no que respeita
Yeorum. s despesas, satisfao e emenda. &Ias, se um encarcerado por
delito capital, tiver e alegar em seu favor tantas coisas, que
SO ENTANTO, LIVRA O A FIANA CRIMINAL, E QUE COISAS no seja de recear a sua condenao morte, ento devem-se
ESTA COMPKEENDE admitir fiadores, e, uma vez eles dados, soltar o preso. No eli-
tanto, como tal libertao contm certa dispensa das leis, s o
$ VI1 -Todavia, solta-se o ru, dando fiadores de que Desembargo do Pao a concede, depois de obtida a informao
comparecer perante o juiz em qualquer tempo que for cha- do juiz sobre o delito, Regimento do Desembargo do Pao, $$ 24
e seg., tirado da Extravagante que vem em Leo, p. I, tit. 4, ibi: E quando olgunia pessoa for dada sobre fiana, para se linuar
lei r, 105. O Conselho Geral do Santo Ofcio concede, tal como at certo tevnpo. 6 desfiuis lhe for ~eformadohliliza vea, ou mwilas,
senzp~ea fialza jicav obrigada, como d'arttes era, sem os fiadores,
o Desembargo do Pao, aivar de fiana criminal aos seus ofi-
e abonadores podere?n ailegar, que no fi~o wzais que a l i certo
ciais e outros privilegiados, Alvar de 4 de Fevereiro de 1645, tentpo. Por esta mcsma Orlena$o, os fiadorcs dados por certo t r m p
apud Guerreiro, De prizlileg. fanziliar., cap. X V I , no fim (e na para o contrato de rendas rgias, so obrigados para sempre, e i 6 se
Coleco I (3rd. liv. I,no fim, ao cit. 5 24 do Regimento do livram pagando a dvida, ibi; O que tanzbern haveru largar e m qaaes-
Pao, N. 3). quer fianas feitas para quaesqaer contractos, w rendas loshas.
E $osto qzte OS fiadores nas fianas dzgrio, que fiio coin cuntrana
E DE QIJP: 410DOS S E DISSOLVE condio sew~ ei:$baigo desta Orde~tao, a fal clawuln nrio valer
cousa algzcnia. Porm, nada h mais absurdo do que uma pecsoa ser
IX-A obrigao do fiador criminal dissolve-se por obrigada, contra a sua firme vontade, para altm daquilo que pro-
estes modos especiais: I) com a captura do ru principal, Ord. meteu e expressamcntc estipulou: no entanto, C isso que est estabe-
liv. j, tit. 131, I , ibi: e os jiadores ficaro desobrigados da Iccido lia Ordenao citada, a qual cu no ouso defender de manifesta
iniquidade. Bem sei que Febo, P. 11, Decisio 131, e outros, a enteri-
fiana, tanto qzle elles presos !orem; 2 ) com a seritena crimi-
dem do tempo convcncionado para pagamento, no rio convencionado
nal dada dentro do tempo do rescrito de fiana, porquanto o para a obrigao, como pensando quc a obrigao dura, se o tempo
fiador apenas se quis obrigar at sentenqa; 3) e, assim, logo for aposto ao paganicnto, e se extingue, se for aposto obrigao; e,
que esta seja proferida, disoive-se a obrigao, mesmo antes deste modo, julgam que aquela Ordenao est bem e confonne com
que o ru comparea ein juzo, seja preso, ou pague a conde- a razao do direito. Uas, alm de esta questo x r difcil da rqiliwi,
nao, Fcbo, P. 11, Decisto 13T, n. 6; 4) com a morte do rCu e de, seja qual for o modo como se conceba, se verificar eni todo o
caso que o fiador se obriga sem consentir, o que a razo do direito
principal, porque, ocorrendo ela, j no pode haver questo
de iiiudo nenhum admitc, a referida C)rdenao pouco faz para defesa
sobre o crime, ou a fiana por esse crime ocasionada; e 5) com do fiador. Deve, portanto, ser atribuda, por um lado, ao sumo e
a morte do fiador; com efeito, esta obrigao acessbria, visto eslrito direito romano, atpnto o qual o tempo no e1.a um modo de
que tem por fundamento um delito, deve ser considerada cn- solver a obrigao, e, por outro, ao favor especial e extraordimlrio
minal, e no passa aos herdeiros; 6) com a extino do tempo do fisco, quc sobretudo nas ultimas leis dos Romanos dominava em
que foi compreendido no rescrito da fiana. Por isso 4 que, se absoluto, estes dois factores levaram os Compiladores a estatiplw.er
que os fiadores criminais ou cveis, dados por contrato, fossem, com
esse tempo for prorrogado, no se considera prorrogada u
a prorrogao do tcmpo, obrigados em favor do fisco, ou a pagar,
fiana, sem expresso consentimento do fiador; na verdade, em ou a cnmparrcer em juzo, mesmo contra w a firme vontade. Porm,
chegando o dia do primeiro rescrito, a obrigao da fiana ex- esta jurispnid6ncia, que no se apoia em raziio nenhuma, mas em
tingue-se por estar restringida a esse dia; e nenhuma raz5o mera subtileza, no p d e hoje ter lugar (Institui~Ucs. Do direitn das
civil ou natural permite que essa obrigao se estenda ao se- coisas, Tit. VII, 5 VIII, e Das obrigae e accs, Tit. V, V ) .
gundo ou terceiro rescrito, depois concedidos no Desembargo
do Pao. Mendes, in Praxis, P. 11, Iiv. V, cap. I, Apndice 111 DA CUSTODIA SOB FIANA
n. 29.
Obsta a Orclena~ocitada, til. r31, 3, Man. 92, onde a fiana 5 X - At aqui falmos do livramento do ru sob fiana
criminal dada por certo tempo no se extingue com o termo deste, judicial, da qual trata a Ord. cit., liv. 5,tit. 131, Man. 92. Se-
direito romano, nas leis I e 3 do tit. De ciastodza et exhzbitione reomm.
gue-se a fiana especial inventada pelo nosso direito, pela qual quc vemos aprovada e ampliada no novo Cdigo do Gro-Ducado
o rLu pretende livrar-se, no do crime, mas da cadeia pblica, da Toscana, $8 XV e scg., nas Instmqes dadas para a elaborao do
dando fiadores que se responsabilizam pela sua custdia; ns Cdigo da Rssia, $5 CLVIII e seg., e na Constituio da Pcnilvnia,
chamamos-lhes fiis carcereiros, e deles fala nomeadamente a cap. 11, Sect. XXXIX.
mesma Ordenao, tit. 132,Man. 91. Embora estas fianas sejarn
divcrsas por sua natureza, sendo, por isso, cada uma delas
tratada em ttulos diferentes, todavia, porque visam o mesmo
fim principal, isto , a libertao da cadeia pblica, mal se dis-
tinguem entre si, e costumam juntar-se no mesmo alvar, Ord.
cit. tit. 132, Febo, P. 11, Aresto 133.

SeinelhiveLmente, no as concedcm os juzes do crime, mas o


Desiinil>argo do Pao, apenas nos delitos mais leves, Ord. citada. Ora,
a hvre custedia sob fianga deve scr favorccida ao mximo, pois por
meio dela as leis criminais, exageradamente rgidas, de certo modo
abrandam-se e fazem-se mais humanas. Expliquemos porqu&. No
podem ser lanados na cadeia senio os apanhados em flagrante, ou
os condenados por sentena do juiz, ou os convencidos por confisso
prpria, ou pelo menos os suspeitos por indicios e>iolentos, e, alm
disso, no est decretado que o haheas corpus (religiosamente obser-
vado na Inglaterra) tenlia lugar nos crimes pecunirios, mas s6 nus
capitais ou quase; todavia, as leis dc todas as naes deixam nestc
panto larga margem ao arbtrio do juiz, o qual nada mais igntira
que o seu oficio, c por suma ignorncia ou malcia se persuade dc
que podc prender um inocentc por 1t2s dias, mesmo sem quaiiqner
indcios ou com ridcios insuficientes, de motu firfirio. ou como dizem
de poder prfirio, quer a pedido dos poderosos, quer para fins corrcc-
cionais, jurisprudncia esta que a mais perigosa que sc pode ima-
ginar para o gnero humano. Por estas razes, enquanto no se refor-
marem para melhor as leis criminais, e no se virem juizes dotados
de tal sagacidade e sabedoria, que se Ihes possa confiar c o a o menor
risco o juzo sobre a vida e liberdade dos cidados, sou de opinio
que ou o ru d e w ser preso, ou confiado aos fiadores, ou, finalmente,
2 sua promessa, conformc a qualidade do crime quc lbc 6 imputado,
ou atendendn a suas cnormes ho~irase recurso4, ou conforme a dig-
nidade do acusado; e, por consequucia, que no se deve encarcerar
aquele que est pronto a dar fiadores. E quase esta a doutrina du
gar, como aprouve ao nosso Mendes, mas de manter, e, se
possvel, ampliar ao mbximo ( 3 IX, Nota, deste Ttulo).

Debalde se busca a origem das cartas de seguro no direito roiliano.


como j disse noutro paao (Histria do Direito Civil Portugus, no
Prefcio, pg. XLIV). D. Pedro I concedeu, a rogo do povo nas Cor-
TfTULO XVI tes de Elvas, cartas de seguro gerais para todos os crimes, excepto os
de traio. D. Joo I fixou em certos limites o seu uso geral, por uma
lei especial, referida na Ord. Afons. Ev. j, tit. 57, da qual foi tirada
a Ord. Filipina, Ev. j,tit. 129, e a Man. tit. 49. Juntaram-se, depois,
DAS CARTAS DE SEGURO
as Extravagantes de 6 de Ilezembro de 1612, de 10 dc Janeiro de I@,
O QUE SO AS CARTAS UE SEGURO, E E31 QUE D1FERfib.I 29 de M a r ~ ode 1719. 16 de Agosto de 1722, e outras, cujo nmero
DO LIVRkhlENTO SOB FIANA E DO SALVO-CONDUTO s por si seria dificilimo calcular, visto ser quase infinito. 0 s princi-
pais motivos que determinaram a sua concesso foram os seguintes.
P?imeiro. porque se deve dar pouca f s inquirisi%, querelas, e de-
I-Entendemos aqui por carta de seguro, o decreto nncias, quer gerais, qucs especiais, ocultas, secretas, e extrajudiciais,
em que o juiz competente concede, ao r% ~ronunciadofiara isto , tiradas na ausncia do a d v e f i o ou sem a sua citao. Segundo:
ca#tzcra, a fac.uldade de conzfiarecer im$unemente em juizo, como tais inquifies finalmente recebidas entre ns comeavam a =r
e, sob certas clusulas, regressar solto do crime de que acusa- cada vez mais frequentes, e os juiza at pronunciavam para captura
do. Difere do livramento sob fiana: I) porque no requer pessoas levemente suspeitas mesmo de crimes leves, acontecendo, assin,
nenhuns fiadores; 2) porque, em rigor, no concedida pelos que alguns, alis bons cidados, com medo da priso (a que mesmo
o varo constante no inacessvel) fugiam e ausentavam-se do Reino,
desembargadores do Pao, mas pelos corregedores e outros demandando pascs cslrangeiros, bem e sibiamente se estabeleceu que,
juizes, de quem falaremos no $ I X deste Ttulo; 3) porque sem qualquer temor, se livrassem, seguros, do crime que Ihcs era im-
dada smente aos rus pronunciados para captura, mas ainda putado. No Artigo 84." das Cortes de Elvas l-se: Ao que dizem no
soltos, e no aos j recebidos em cadeia pblica. Outras dife- :oiknta e quatro autigo, que tnfcilos naturaes d a nossa terra andam
renas, expGe-nas Febo, P. 11, Aresto 161. Difere tambm do fora della pog algupUM walleficios, em que os cul+am, e receam de vir
salvo-conduto judicial, porque este apenas concedido, sob estar a direito, porque som tiradas em seus f&os enqlain>es deuassns,
as quaees a elles som ~~auito sospeitas, por algus testemunhas que hi
cauo de fian~aou pelo menos de penhor, ao ru ausente que
som perguntadas, que per direito hes nom empeceriam seus ditos, e
o pede. Boehmero, Elenzenta Jurisprudenliae Criminalis, Sect. I , 907 Taballiaaens uadro sy: e yzte se seguros fossem, ataa que contra
cap. VIII, 5s CLIII e CLXI. elles fosse achado jzldicialmente per que devessenz ser presos, deriam
para a terra, e povoalla-hiam, o qlse a Xs s h seruio: e pedMmnos
por mercee, que mandassemos dar a b d o s Cartas Geraaes, per que
na SUA ORIGEM E JUSrICA
fossem seguros pollos mdleficios, que lhes era dito que f e s ~ o m ,te-
rante os Juizes das Gomarcas, pela guisa suso dita. Nestes termos, e
fi I1 -A sua origem devida s leis e c 6 s ~ e nacioriais.
s enquanto subiistirem semelhantes Ieis criminais, B til e nccessdrio o
E, como de princpio foram introduzidas por justa causa p- ii:o das cartas dc Zguro, o qual de maneira nenhuma se deve ab-rogar,
blica, que ainda agora dura, acho que o seu uso no de ab-ro- comu desejava o nosso Mendes.
DISTINGUEM-SE DAS SEGURANGAS QUE O JUIZ CONCEDE DIFERENA ENTRE AS CARTAS DE SEGURO
A QUEM IhIPLORA O SEC OFfCIO
V - Ora, as nossas cartas de seguro so ou afirmcitivas,
Q: I11-H que distinguir as cartas de seguro das chama- isto , colzfessatiuas, Ord. liv. j, tit. 129, no princ., e $ I, tit. 124,
das segaranyas reaes, de que fala a Ord. liv. I, til. 7, zo, e 23, e liv. I, tit. 15, no princ.; ou simplesmente negativas,
!ir?. 5, tit. 128, hlan. 50. Com efeito, os juzes do crime n%i Ord. citada; ou negativas coarctadas, Carta de Lei de 6 de
concedem estas seguranas aos criminosos e culpados, que vo Dezembro de 1612, $ r, apud Ord. liv. 5, tit. 129, Coleco 1,
scr presos, mas aos inocentes e aflitos, que, como diz o Impera- N. I.
dor Marciano na lei j do tit. De his qui ad Ecclesiam colzfu-
giunt do Cdigo, podem ir ao juiz e pediiclhe legitimo auxflio, DA CARTA DE SEGURO AFIRMATIVA
quando entendam qzde algum pratica contra eles acfos atenta-
trios das leis. Pertencem ao ofcio de todos os juzes, e devem $ VI - Pede carta confessativa aquele que confessa haver
ser concedidas, mediante breve informao extrajudicial toma- cometido o delito, mas em defesa de seu corpo, ou por outra
da pelo juiz, a todos os que tm alguma coisa a recear doutro, justa causa que exclua o delito, e que ele deve, por isso, decla-
e, por isso, imploram o auxlio da justia. Cabedo, P. I , Deci- rar. Porm, esta confisso do delito para conseguir a segu-
sio 25. rana, como no feita espontneamente, mas com medo da
cadeia, no basta para a condenao do ru, salvo se por outro
meio legal se provar o delito, Ord. liv. j, tit. 124, 5 21, ibi: o
E DAS SEGURANAS CONCEDIDAS PELO DIREITO D E ASILO
tomar da Carta, ou Alvar, e o qzcebrantamento delln o IZZO
obrigue a pena alguma. Cabedo, P. I , Decaio 67, n. 2, Febo,
$ IV-A imunidade, ou asilo civil concedido a certos P. I, Aresto 126, Valasco, Adlegatio 67, n. 37.
lugares, uma espcie de segurana, e as cartas dadas pelos
juzes especiais dces lugares concedendo, para durante certo
tempo, livre trnsito pelo Reino ou algumas das suas provn- DA NEGATIVA, E COARCTADA
cias, chamam-se, e bem, cartas de seguro, Ord. Ev. 5, tit. 123,
Man. 52, Mons. 61. No obstante, todos fcilmente vem que $ VI1 - Pede carta negativa aquele que, seguro da sua
elas so completamente diversas e distintas das seguranas inocncia, nega absoluta e simplesmente o delito, dcvendo ser-
de que estamos tratando. ,-lhe imediatamente concedida, sem necessidade de qualquer
informao prvia. iieste caso, no se requer merio especial
Cuininha, Moudel e outras povoaes dos extremos do Reino eram do delito; basta que o ru apresente petico geral ao juiz para
outrora havidas por ns cono espcies dc cidades de refgio, e davam
asilo aos culpados; porm, isto. com a d n d a de melhores tempos, aca-
que o d seguro de todos os crimes que por direito pode, Febo,
b o ~por~ ser ab-rogudo por I). Pedra 11, na Carta d e Lei de 10 de P. I, Aresto 136, Leito, De securitatibzls, Quaestio X V . Ngu-
Janeiro de r692 [ i n s t i t u i ~ , Ijo I>ireito Piiblico, Tit. VI, $ XV, mas vezes concorre a afirmaliva com a negativa, o que acon-
Nota). tece, quando o ru confessa um delito com defesa, e nega ou-
tros eni geral ou especial. Aquele que pede carta negativa tiva, o juiz, que c o n i i ~ eda causa, avc encarcerar o rbu, que cstirir
conrctada, nega realmente o delito, mas, alm disso, acrescenta pronunciado para captura pelos juizes nessa Ordenati desigasdo>.
que, no dia em que dizem ter sido cometido, estava to longe BTuito obsta tainbgrn a Extravagante de 6 de Dezembro de 1612,$9 3
e 4, onde se manda prender o r&., que obteve carta confess~tivanu
do lugar, que no o poderia cometer pela fora das circuns-
ncgaliua, se, ao tempo da contesta& da lide, se vir que ele dcve ser
tncias, Ord. liv. 5, tit 124, r Para <e alcanar esta carta, condenado pelas provas da devassa, e que, vista esta, no lhe cabe
necessrio descrever o delito com todas as qualidades, que nenhuma defesa do dclito. Porem, estcs novos direitos foram moti>-o
o costumam diminuir ou aumentar; alm disso, no conce- pai-a o Prnxistas travarem, durante muito tempo, grandrs disputas
dida sem vista prvia do processo de inquiri.20 ou querela, robrc se c quando doce o scguro se7 ~ C S O e, quando sc omiderand o
segundo a citada Extravagante de 6 de Dezembro de 1612, dclilu t i o firouudo. que, no obslrinie a carta de seguro, deve se7 ea-
carcerudo por isso. Por num entendo que a seguranca concedida por
1.
juiz competente, por injusta que seja, deve ser religiosamente o k r -
vada, contanto que haja sido dada de harmonia com a lei. Depois, sou
AVTE DA CONCLUSKO NAO SE DEITE ENCARCERAR
de opinio que as provas dcduzidas de inquiri~o geral ou especial,
O SEGURO embora bastcni para pronunciar a captura, no so suficientes para a
condena@ do rgu. Por consequtncia, o rcu, antes de contestar a lide,
-
5 V I I I Uma vez concedida a carta de seguro, no deve e deduzir as suas excep~es, no deve ser havido como verdadeiro
o ru er preso antes da concluso da causa. assim como tam- culpado nem encarcerado. Dai resulta tambm que 6 manifestamente
injusta e inqua a lei que ordena que o juiz quebre a palavra, que deu,
bm no, mesmo que esta esteja conclrisa, se, visto o processo,
de no prender o ru, enquanto u seguro, que recebeu a sua palavia,
iclr evidente que ele deve ser absolvido, Ord. liv. j. tit. 124, no transgredir os tcrmos ncla prexritos. Doutro modo pensam Fe'ebo,
j, 22 e 23. E este o principal e natural efeito de semelhan- Valasco, Leilo, Da securitatibus, Quaestio 111, e outros, que no h
tes cartas, que o jruz e o ru tiveram diante de si na sua con- vagar de referir.
cesso, e que se prova ad~nirvelmentecom a clusula habi-
tualmente nelas posta: Que no seja fireso at se achar contra
eZle tanto, fler que o deva ser. Dai resulta que: I) o ru no POR QUE IUTLbS, t J 1 QUE CKIkfES, E QUANDO DEVE SkT;
deve ser encarcerado enquanto se examinam as testemunhas CONCEDIDA A SEGCKAN$A, E, UMA VLZ CONCEDIDA,
e seus depoimentos; nem 2 ) durante a contestao da lide; ou QLLL?TDOPODE SER QUEBRADA
3) quando sc d por conclusa a causa, salvo se dos autos se vir
claramente q t ~ eo ru deve ser coridenado; e, por isso, 4) que
a carta de seguro, quer confesativa, quer negativa, concedida
Q: IX -As seguranas so concedidas em todus os delitos,
mesmo nos rnais graves, como o de apostasia tratada em juizo
por qualquer juiz (desde que competente) livra o ru da cadeia
secular, traio cometida sob aparncia de amizade, moeda
at concluso da causa, enquanto ele no transgredir os
falsa, sodomia, violncia contra juze ou seus oficiais, e homi-
termos nela prescritos.
cdio doloso, sobre os quais do carta de seguro os Correge-
No entanto, muito obsta a Ordenao, liv. 5 , til. 129, $ lt., ti- dores do Crirne da Corte, depois de visto o processo na Rela-
rada do Alvax del-Rei D. Sebastio dc 21 de Janeiro de 1564, apud co, Ord. liv. I, tit. 7, 45 8, g e 10, Carta de Lei de de Dezem-
1.60. p. 3, tit. 3, lei 3, onde, sem embargo de carta de seguro nega- bro de IGI~,5 I. Para os outros crimes do carta de seguro
os Corregedores das Comarcas, Ord. liv. I, tit. 58, 5 40. 0 s Ou- com o desembargo para a carta de seguro, podia o ru andar
vidores dos Senliores no as concediam sem privilgio espe- seguro durante trts dias, Ora. liv. I, tit. 7, 14,e liv. 5, t7t. 129,
cial, mas hoje, como esto igualados aos Corregedores rgios e $ 3. Quebra-se a carta, e prende-se o ru: I) se este no se
usam o mesmo nome, podem conced-las. Pelo que respeita apresentar em juizo dentro dos noye dias nela prescritos; 2) se
aos oficiais da justi~a,s o juiz da Chancelaria lhes concede no comparecer nas audincias, Ord. Iiv. 5,til. 124, 20, e liv.
a segurana pelos delitos que cometerem em seu ofcio, Ord I, tit. 26, 6; 3) se no faz citar o adversrio dentro do tempo
Iiv. I, tit. 7, , 13, e tit. 14, 5 I. O ru de delito econmico ou de designado; 4) se o ru de homicdio for preso no local do
polcia, como o que usa armas defesas, se arroga honras e di- delito, Leito, De securitatibus, Quaestio X ; 5 ) se se acolher
reitos indevidos, ou exerce o monoplio, no pode obter carta jurisdio eclesistica por excepo de ciericato, ou outras
de seguro, Alvars de g de Dezembro de 1606 e 29 de Maro semelhantes excepes declinatrias, Ord. liv. 5, tit. 124, 5 13.
de 1719, Decretos de 3 de Outubro de 1672, 25 de Janeiro de
1679, I de Maro de 1692, e I de Julho de 1752. 0 s juzes, a A frase de Juliano, que vem na lei zo do tit. De legibus, No
quem compete a faculdade de conceder cartas de seguro, po- podemos dar a razo de todas as coisas que foram estabelecidas pelos
diam passar at trs, Ord. liv. 3, tit. 129, 3 2; a quarta no nossos rnahres, parece ter muito especial cabimento nas nossas cartas
de seguro. Com efeito, introduzidas por grandes razes e confirmadas
era passada sem alvar especial do Desembargo do Pao, S 80
por lei pblica, eram a principio admitidas, mesmo nos crimes mais
do seu Regimento. Hoje, porm, ab-rogada a Ord. liv. 5, iit. atrozes; mas, depois, ou e deixou dc conhecer e considerar suficien-
129, $4 2 e 6, nos delitos capitais apenas a primeira carta de temente n razo dn sua introdun, ou sc desprezou essa n z o , por
seguro quer confessativa quer negativa concedida pelos Cor- haverem surgido outros princpios. Pareceu, por isso, aos nossos le-
regedores do Crime da Corte e s depois de examinado o delito gislador~~,ou mcihor, aos nossos jurisconsultos, que elas se baseavam
na Relao; a segunda s pelo Desembargo do Pao pode ser mais na equidade natural simples, que na composta, isto 6, na verda-
deira e legal. Da resultou que as cartas de seguro, que ainda hoje
concedida com conhecimento da carrsa: cada uma delas dura
se passam. por exemplo, no homicdio, por respeito s leis antigas,
um ano, e, decorrido este, os rus so presos, Carta de Lei de so recusadas no crime de monoplio e em outros semelharites, sem
10 de Janeiro dc 1692 e Decreto de 13 de Setembro de 16i)1. dvida muito mais leves. Deste modo, as novas leis restringiram muito
Podem ser pedidas e obtidas logo aps a prtica do delito. o uso dessas cartas, quando elc dcvia ser integralmente mantido e tal-
No entanto, para os homicdios e ferimentos graves, s se pode vez at ampliado. Se com razo, se sem ela, outros que o vejam. Quem,
pedir a negativa, passados que sejam, respectivamente, trs no meio de tamanha diversidade de leis, as puder conciliar, e delas
deduzir os axiomas e princpios gerais de direito, e destes tirar, por
meses ou trinta dias, Ord. liv. 5, tit. 129, no princ., tirada da
assim dizer, espontneamente, concluses particulares, ser para mim
Lei de D. Joo I, apud Ord. Afons. liv. 5,tit. 44. -4 confrssa- o grande Apolo ( S I1 deste tulo)
tiva pode-se pedir imediatamente. A negatiun coarctada no
se concede, nestes mesmos crimes, antes de acabada a devassa
sobe eles, segundo a dita Carta de T,ei de 6 de Dezembro de
1612. Hoje por esta mesma Carta de Lei, $ j, a carta de seguro
no vale nem defende o ru da priso, sem estar inteiramente
concluda e despachada na Chancelaria; mas antigamente,
falazes, no fazem plena f, nem certificam o juiz sobre o autor
do crime (Tit. XVIII, S V ) .

Muito se disputa h longo tempo, entre os jurisconsuitos, e os


rctbricos ou oradores, sc pelo menos se devem incluir entre os legtimos
m d o s de prova os chamadoi indcios indubiiveis. V a i com outros
TITULO XVII pela afirmativa Antbnio htzteus, De rriminibns, lii.. XLVIII, tit. 15,
cap. 6 , apoiado principalinenie na autoiidadc dos Imperadores na lci
lt. do tit. De probationibas d o Cdigo, a qual confirma com muitos
DA PROVA DOS CRIMES a r y u e n t o s de peso. So tamlim desta opinio Quintiliano, De ins-
tisutione oratona, Liv. V , raps. I X r XII, Ccero, De ovatore, liv. 11,
O QUE E A PROVA 5 X L , e De divinatione, liv. I, 5 XXVII, onde diz: Dois rcades ainl-
gus uiajavain junlos. Chegados a .Wgara, u m foi para unza estalajenz,
S: I - Chama-se prova o acto judicial pclo qual se faz e o ozltro para uma hospedaria. [Aps a ceia foram repoztsar, e durante
a noite] o que fui para a hospedaea v i u e m sonhos o seu amigo pe-
plena e legtima f ao juiz qzre inquire sobre a verdade d o de- dindo-lhe auxilio, porque o estalajadeiro o qqueria matar. Desperiofc
lito cometido pelo rzd. Da firoua espziria nas aces criminais afeiizorizado, levantou-se, e, vendo que rada ha~<a$or que temer,
trata Eoehmero, na Exercit. especial intitulada De $robatione recomps-se e lornou-se a deilav. Qzlando adormeceu, apareceu-lhe de
i%criminalihus s$uria, tomn 17, pg 146. n o ~ : oo amigo. pedindo que, pois o no socmrern, oo menos ;,ingassr
a sua morle; que o estalajadeiro o havia morto, posto o seu corpo n u m
curro, coberto de estrume. Pedia ao seu amigo que de manh" ltivesse
COMO SE FAZ FE E PROVA PLENA porta da cidade, antes de o carro dela sair. Perturbando com este
sonho, mal amanheceu, apresentou-se porta da cidade, e, quando
$ 11-Faz-se f e prova plena ao juiz, ou por meio de surgiu u m boieiro conduzindo u m carro, perguntou-lhe o que levava.
testemunhas fidedignas e acima de toda a excepo, ou por O homem ateinorizou-se e fugiu; descob+itr-se o morto; e patenteado
o crinze, o estalajadeiro foi devidamente punido. Isto prova por con-
corzfisso espontnea e judicial do delito, ou por instrzunentos. jectu~as que o homem foi motio pelo estalajadeiro. Oiitros, apelando
para a lei 5 do tit. De poenis, onde v e m que no se deve condenar
Embora estes meios de prova no sejam de tal gnern, que deles
ningum por suspen'tas, ncgam simplcsmcntc que mesmo o subrbrecarrc-
se possa tirar a certeza metafsica, ou aquela que chamam finca, mas
gado com ns mais graves indcios no deve snfrer pena alguma, visto
to $6 a ccrtcza moral, pois so por natureza faiveis, no entanto, como
no cstar verdadeiram-nte convencido Dindoro Tulden, no coment-
todoe os poos os admitem e no temos outros mais seguros. deve o
riu n . 22 ao tit. De probationius d o Cdigo, segue com outros o meio
juiz necessariamente dar-fies crdito.
termo, entendendo que o convencido o u agravado com argumentos
muito pesados no pode realmente levar a pma ordiniria, mas bem
pode levar a extraordindria, conforme 2 qualidade doe indcios. Porm,
E A MENOS PLENA. OU POR INDfCIOS
eu no entendo como se pode chamar indcios zndubitveis aos que
no cmvencem plenamente o juiz, nem o certificam do delitc e do de-
$ 111- A prova menos plena tira-se, geralmente, de con- linquente. Pois, sc o convencem e fazem plena f, j n5o teremos in-
jecturas, e sobretudo de indcios, que, sendo de sua natureza dcius, mas a certeza, isto 6, a prova legtima (Tit. XVTII, $ 111).
ALGUNS AXIOMAS SOBRE A PROVA DOS CRIMES A PROVA TESTEMUNHAL

IV- Por isso, na prova dos crimes deve-se fixar os se- 3 V -A prova legtima faz-se pelo mnimo de duas teste-
guintes axiomas : munhas oculares, ajuramentadas, acima de toda a excep~o,
I. Ningum deve ser condenado sem prova legtima e contestes no objecto, lugar c tempo, e que dem a razo conve-
plena, mais clara que a luz do Sol, lei 16 do tit. De poenis do niente do seu testemunho.
Cdigo, lei lt. do tit. De probationibus do Cdigo, lei lt. do
tit. Si e x faZsis insf unzantis do Cdigo. Em rigor no se requer que o ru confesse o delito, pois s wta
z. Tal a que se forma segundo as prescries da lei. prova basta para a sua condcnar,o. Coccey, Jur. controuers., ao tit.
L)e testibus, Qiiacilio I.
3. A que faz o juiz sabedor seguro do facto ilcito e seu
autor.
4, Portanto, a prova plena no resulta de presunes e
TESTEMUNIIAS CNICAS, E DE OUTIVA
indcios por sua natureza falazes.
5. Nas causas-crimes quase no se deve fazer caso nenhum
da prova chamada semiplenn. 5 V I - Como para fazer f so precisas pelo menos duas
6. E no exceptuamos os crimes privileiaclos, pois, quanto testemunhas ( 2 V), segue-se que uma no basta, por maior que
scja a sua autoridade, cultura e nobreza, ainda nos delitos mais
mais grave o delito, maiores provas se requerem.
7. O ru, acusado dum crime, e por isso mesmo encarce- atrozes e firiiiilegiados. Valrio Mximo, liv. IV, cap. I, n. 11,
rado, no deve ser havido como culpado, antes de ser dele con- Fabro, in. Cod., liv. TV, tit. 14, Definit. 67. As testemunhas de
vencido. outiva deve-se dar a mesma f que ao autor que elas nomeiam
8. plena e perfeita a prova a que o prprio juiz aquies- (Instituies, Das obrigaes e aces, Tit. XVII, $4 X, XI,
cena, se com ela fosse condenado por outro. XII e XIII).
g. As provas, quanto mais distintas e separadas entre si,
Quando uma testemunha nica afirma que o r60 cometeu o delito.
maior fC fazem. e este nega, divide-se a pruva, tomando-se, assim, necessrio c h a r
10. A convico ntima, que o juiz obteve por si mesmo, um terceiro para decidir a questo. blontesquieu, EspR1 des Loii,
por exemplo, com os seus prprios olhos, embora seja mais liv. 11, cap. 111.
certa do que a obtida atravbs das testemunhas ou doutra on-
gem, no faz f, visto no resultar dos autos, segundo os quais
o juiz deve julgar. TESTENIIIUNHAS N A 0 AJUFU?vENTADAS, SUSPEITAS,
11. Nas causas-crimes os termos firovat~ios no so E EXTRAJUDICIAES
fieremptOrios, devendo-se, por isso, admitir at sentena tanto
as provas da parte do ru, como da parte do autor (Tit. I, $ VI1 - No provam as testemunhas no ajuramentodas,
$ XXVIII). Filangieri, tomo 111, cap. XV, P. I. seja qual for a sua dignidade, nem as que depem por creddi-
dade, pela opii~iuode outrem, genrica e vagamente, sem razo
alguma, nem as outras a que com justia se opem as excepes QUE FE FAZEM OS SVSPEXOS, 30s DELITOS 41AIS GRAVES
de inimizade, falsidade, infimia de direilo ou de facto (Insti- OU D E PROVA DIFICIL
tuies cit., 5; 11). Tambm no provam as testemunhas extra-
judiciais produzidas sem citao da parte. Por isso, as testemu- IX- Ora, se as testemunhas por quaIquer razo no
nhas interrogadas nas inquiries gerais ou especiais pouco pro- merecem crdito e nem sequer so admitidas nos delitos
vam no tocante i condenaco do rbu, mesmo que por este sejam mais leves, muito menos o sero e merecero plena f nos deli-
consideradas judiciais (Tit. XIV, $ IX, deste livro). De facto, tos mais graves ou de prova difcil, em que se trata no do
em todo o processo, e rnormente nas provas dos crimes, deve-se direito de guas cadas dos teIhados, mas da pena de morte
sempre antepor a verdade 9s ficqes e presunes do direito. de um cidado. Veja-se, querendo, Brissot, Thorie dcs Loix
C~iminelles,cap. 111, Sect. V, Pastoret, Des Loix pnales,
Assim de entender nas causas capitais ou quase, pois, embora tomo I , cap. X, dfAlembert, Encyclopedie, palavra Certitude,
o r6u considere as testemunhas como judiciais e no apresente nenhuma d'Aguesseau, Discurso Sztr la prkdention des Magistrats, to-
defesa, nem por isso deve sofrer nessas causas a pena ordinria, se
mo I , pg. 192. E, de facto, pssiino e perigoso condenar al-
faltarem outras provas, a no ser que as testemunhas sejam pergun-
tadas de novo na sua pres!=na ou pelo menos depois de ele tor sido
gum fiou suspeita, como se l nas Capit~~lares,liv. VII, !j 186,
citado. E assim me parece se deve entender a dita lei Da refo~mao e brbaro o dito popular de que Aros crimes muito atrozes
da Justia, g 18. permitido ao juiz transgredi^ as leis, e bastam as mais leves
conjectztras, conforme j mais de uma vez repismos.

PODEM RETRACTAR O JURAMENTO Todavia, nos crimes dc prova ciificil, parece dever admitir-se como
prkcpio especial que duas testemmhas de vista, insuspeitas, c acima
de toda a excepo, facani f6, muito embora no sejam contestes no
VI11 -Deve-se, porm, permitir inteiramente teste- lugar r ternpo, mas estejam de acordo quanto realidade do delito.
munha que p o s a no s esclarecer e modificar o seu jura-
mento, mas at retract-lo de todo, sem pena de perjrio. E, pois,
injusta a Iei que considera como perjrio qualquer retractao QUANDO FAZ FR A CONFISS.XO DOS RPUS
do juramento, desde que feita de boa fC e com recta inteno.
Todavia, cabe conscincia do juiz julgar, pelas circunstncias, 4 X - A confisso, segundo modo legtimo de prova
se se deve dar f ao primeiro, se ao segundo juramento, ou se ( $ 11), faz plena fk, se com ela concorrvr o seguinte: I ) se
nem a um nem a outro. constar do corpo do delito; z ) se for voluntria; 3 ) e
espontneamente oferecida; 4) clara e especfica sobre o
Entre as obriga~esdo juiz (Instituies, Das obriga~cse aces, delito, e no vaga, indefinida, e geral; 5) provvel, verosmil,
Tit. VII, 1 XXI) no 6 a mais insignificante a de adveifir. primeiro,
a testem7&a sobre a ini~iolabilidadedo juiameiiio. Cumpre at adver-
e compatvel com a natureza, a inteligncia, e os sentidos; 6)
ti-la de que s vezes o seu juram~ntoser feito com as ouiras tesiem11- judicial e feita perante o juiz competente e n(i mesmo lugar
@as e com o ru. De facto, estas duas ob~en.a0es tomam a teste- onde se tratar o feito; 7 ) feita por pessoa ciente e inteligente:
.munha niais atenta e solicita em dizer a verdade. 8) sem erro, medo da priso, dio e tdio da vida, mas apenas
com cincia e conscincia do crime. Destes tennos, resulta, por ambas as partes fazerem a sua defesa, e de formados os chama-
conscqu~ncia,que no faz ff plena a confisso dos menores dos artigos inquisitrios, os qual5 ou so gerais, quando o ru
mesmo intervindo a autoridade dos tutores, a dos surdos-mu- interrogado sobre o seu nome, pai, naturalidade, profisso r:
dos, e a dos que ignoram a lngua do tribunal, visto ser tirada coisas semelhantes, que naturalmente por onde se deve come-
de conjecturas e sinais quase sempre enganadores; nem a con- ar; ou esfieiais,que se formam, especificamente, sobre O de-
fisso feita na inquirio oficiusa do juiz, visto no ser verda- lito e suas circunstncias e devem ser deduzidos dos depoimen-
deiramente espontnea nem oferecida de livre vontade; no tos que as testemunhas fazem na inquirio geral ou especial,
obstante, prova, se for conforme com os indcios e provas cons- ou ento de provas obtidas noutras fontes. O seu fim fazer
tantes dos autos. A confisso tcita, que resulta da transaco com que a verdade aparea com a maior clareza, e no com que
do delito com o ofendido, ou a ficta, que resulta da contumcia o ru seja vexado com tais interrogatrios. Nas iilquiries dos
do ru que no responde sob pena de confesso e convencido. rus, todos os dolos, habilidades, sugestes, presses e promes-
nas causas-crimes pouco ou nada provam (Instit-uiOes, Das sas devem ser inteiramente evitados e punidos com penas seve-
obrigaes e aczes, Tit. XX, E$ I1 c 111). rssimas. Portanto, abusam em extremo do seu ofcio os juizes
que, ou por ignorncia (defeito vulgar), ou, o que pior, por
Aquelc que quer percccr, no 8 ouvido, visto que no E senhor maldade, envolvem os rus em interrogatrios dificflimos, os
dur seus membros. conforme est preceituado tanto pelo direito natural
aterrorizam, e ameaam com crceres secretos e aoites. 0 ru
como pelo civil romano. Por isso, sobretudo nos crimes capitais, a con-
fisco 3x0 faz prova plena, a no ser que concorram todos os clcnien- h-de ser inquirido no lugar onde corre o processo e pelo pr-
tos, de que falmos acima, e que, realmente, se acham, como 4 seu prio juiz do crime, Ord. liv. I, tit. 65, $ 33, e tit. 86, f 3, perante
costume, bem e shiamenie dispostos e coiigidos pelo ilustlissimo Hei- dois escrivzes ou testemunhas que certifiquem o termo, Ord.
ncrio. na Exercit. De religione judicis circa reorum corafcssiunes (Do liv, I, tit. 24, 55 19 e 20, e Liv. 3, tit. 32, $ r. A resposta ser
ejcnpulo do juiz quanto s confisses dos rus). Portanto. bem e reduzida a escrito por um escrivo nos precisos termos em-
oporhinamcntc diz Ulpiano na lei r, 5 17,do ti!. De quaesaonibus do
pregados pelo ru, a quem deve ser [ida depois de acabado O
Digesto: r2%io se deveid to?nar as confisses dos rus como estando os
crimes averiguados. se nenhuma prova iniiruir a conscincia de quem interrogatrio, para que ele possa corrigir qualquer erro (Tit.
conhece da cairsa; e no 27: Se algum confessar espontneamente u m XIII, 5 XXV, deste livro).
nzalcf8cio. nem sempre se lhe deve dar crdito, pois h os que ds vezes
confessam poi medo ou por outro nzotivo. Paulo Rizzi, Animadz'ersio- O exame do rCu 6 feito por inquirio do juiz, para quc das cir-
nes ad Cri~rinalemJuiisprildentiam. apud Brissot, Ribliothdque Philo- cunstncias se prove com maior certeza o crime ou a inocncia do ru;
sophiqtre, torno 11. deve, por isso, conter tambm os artigos que levam defesa do ru.
E estes artigos de\-em ser organizados por forma que em nada sejam
faiazes, capciosos, e difceis, mas breves, claros, transparentes, perti-
nentes matria, e apenas rcspcitanlcs ao rCu, pois, como beni diz o
O QUE SE DEVE OBSERVAR NA INQUIRICKO DOS RRUS Pontifice no cap. I do tit. De confessis, segundo as determinaes de
anzbos os direitos, os que confessam de si, no devem ser inlerrogados
aoavcn dus oonsciscias alheias. O processo criminal pziblico, tal como
5 XI - O juiz deve inquirir o ru, ou oficiosamente ou a o secreto, que alguns chamam uma iniquidade pblica, contm, COii-
pedido do ofendido, e logo aps a captura ou ento depois de fesso, muitos inconvenientes; no cabe, porEm, a mim dizer como se
podem evitar esses inconvenientes e pr as coisas no so. Entre ns, juiz pe o ru diante dos olhos das testemunhas para que o reconhe-
o ru r ai fcsieiritinlias %?osrrrctarnriitr p~r&intadospclo juiz. na pre- am, difere da confrontayo, embora se r o n j u p r iitilmcnte com ~ l a .
sen$a do eicrir.o qne copia as suas palavras, Ord. Iiv. I, tit. Sh, 3, Por conseguinte, acareiam-se os scios no crime, ou as testemunhas
tirada do mau entendimento da lei 14 do tit. De teslibus do Cdigo. umas com as outras ou com o r&u, sempre que, cuntumazmmte ne-
Eu, porm, deterniinaiia quc, nos delitos capitais, assistissem ao exame gando ou coniessando o crime, divergem quanto as circunstncias e
pelo menos dois juzes. e outros tantos escrives e testemunhas; a ra- no se acordam quanto ao lugar, tempo, v e s t u ~ o ,armas, ocasio, e
zo porque, podendo dar-se o caso de o juiz ordinn'o ser inimigo outras coisas que costumam a m e n t a r ou diminuir a gravidade dos
oculto do r4u, injusto, e extretrianiente dcsconhecedor do seu ofcio, delitos. Na rea1izaFo desta confrontafo, deve-se observar diligente-
a sua i~no;hicia ou dolo seria coiiigida com a presriip do o i i t ~ ojuiz. mente tudo o que mais acima dissemos sobrc o ofcio do juiz nas iu-
Tambm se devc conceder ao ru o podcr de recusar, livrcmentz e sem quines dos rus e testemunhas.
qualquer justi:ica$o, pelo menos dois juizes, o que entre os Romanos
era permitido por iei pblica em fauor da vida, Signio, De jzbdic.,
liv. 11, cap. XXVII; os Ingleses j h muito o observam religiosamente.
Blackstone, tomo VI, cap. XXVII. No se dcvc obrigar o rGu, inqui- PROVA INSTRUMENTAL
rido sobre delito seu, a fazer juramento. conforme o Pr~sidenteLa-
moignon demoiistrou com grandes razes no Procs verbal de r o r - 3 XIJI - O outro modo de prova, por inslruncentos e do-
donnance 1070; e esta a praxe entre ns, como referem Cabedo, cumentos escritos pelo ru ( 11), tem a fora de confisso
P. I, Aresto 36, Mendes, liv. V, cap. I, 11, n. 38. E, a!m disso, o
ru no obrigado a responder aos interrogatrios criminais, Ord.
extrajudicial, e, por isso, no faz piena f, o que se deve enten-
liv. 3, tit. 53, 5 11, ncm o scu sil4ncio c contumcia em no rcspon- der tanta das escrituras particulares como das pblicas. Seme-
dcr devern ser havidos como verdadeira confisso ou prova. Ihantemente, no fazem prova plena os testemunhos instru-
mentais, como extrajudiciais que so. Por outro lado, o tabe-
lio s nos negcios cveis, ordenados de harmonia com a lei,
reveste o carcter de pessoa pblica; nos criminais deve ser
considerado como um particular. Boehmero, cit., Sect. I,
9 XII - Ora, porque muitas vezes o ru e as testemunhas cap. XI, 3 CCXIV, onde alega a. Constituiao Austraca,
discordam quanto As circunstncias do delito, pertcncc ao ofcio art. 17.
do juiz acare-los e ajust-los; esta acareao chama-se con-
frontao e costuma definir-se assim: Acto judicial em que o As escrituras, se no forem reconhecidas em juizo, ou pelo r&,
juiz juwta na sua firesenpa QS testemz~nhas~ t z a cs o m us outras, ou por mryo dr testemunhas, ou pelo confronto da letra que deve ser
uu o ru contumaz com a7 tcsLemunhas, ou mesmo com o CG-ru, tomado com cautela, %i tm nenhuma fora provati>ria;por isso, este
a fim de zndagar a uerdade, Boehmero, Blemenla Jurzsfiruden- genero dc piora tem, nos fritosxrirnes, aquela mcsma fora e podcr
que so devidos cnnfissCo judiiial. ou extrajudicial, ou as testemii-
tine Criminalrs, Sect. I, cap. XII, 3 CCXXI. nhas. Benjamin Carrard, Jun'sprzldence Criminelle, tomo 11, cap. IV
(Instituies, Das obrigaes e aces, Tit. XVIII, 3 XII, Nota).
A confrontao, introduzida tanto para indagar a verdade do
crime como a inocencia do ru, faz-se de trs maneiras: ou se acareiam
as testemunhas entre si, ou os inquiridos uns com os oiitros, ou as tes-
temunhas com o inquirido. A recog~zigo,isto , o acto pelo qual o
DA PROVA SE~YIIPLENANAS CAUSAS CRIklINAIS que , conforme Cristiano Thornsio demonstrou numa Dier-
tao especial. O mesmo dizemos do atemorizamento tanto real
$ XIV - Do exposto plenamente se conclui que as chama- como verbal (Tit. I, 5 XXIX, deste livro).
das provas senziplerzas, muito embora sejam admitidas nas cau-
sas cveis, por assim dizer, contra a vontade da jurisprudncia E esta a voz unnime de todos os Filsofos, cuja simplo refe-
(Institui@es, Das obrigaes e ac&es, Tit. XVI, 3 III), no rncia sena longa. Baste o testemunho de S. Agos'kho, que diz no
fazem f k plena tias causas-crimes, e nunca, i falta de verdadei- De civitate Dei, l k . X I X , cap. VI: <Quando se inquire z o r4u cul-
pado, atorinentam-no. e fazern-no sofrcr, inocente, penas cerissimas
ras provas, bastam para a condenao do ru, (3rd. Iiv. 3, tit.
por um crime incerto, no por se haver ~ C S L O ~ E I qac~ O cometeu O
52, no princpio, ibi: E isto ha lugar assi nos feitos civeis, como crime, mas por :e ignorar que no o orne:cu. E por isto a ig.iorincia
nos crimes civelmente intentados. do juiz qaase sempre a calamidade d u m inocenle. E o yde mais
intolervel, lamentvel, e, se possvel, digno de ser banhado em fontes
A estc rcspeito d i ~ s cbem o mui grande Cujbcio, nos Comentrios de lgrimas: como o juiz tortura o acusado para no matar por igri0-
ao tit. ad iegem ]%liam r;laicstatis do Cdigo: Evraat os que afirmam rncia um inocente, acontcce por misera ignorncia que tortura c maia
que umu sd t8slemunha fuz aquilo que chamam proua semipl~na,o um inocente, que atormentara precisamente para no matar. Com
que pruunm com v rquinL6 urgumsnfu. duas 1estcmazi;as - dizem efeito, se. segundo a sabedoria destes, o acusado preferir a fuga desta
&s - fazem fi7ova tlena; logo, uma s faz firoela seemiplena. Porm, vida a sofrer por mais tempo os tormentos, diz que cometeu o que no
esta dedugo est errada, e equivale a dizer: dois fazem u m rnimero cometeu. Condenado e morto o ru, fica o juiz sem saber se matou
$n/eitn: logfrr>.u m r i ou rima s coka C um nmprri imi>elf&to ou se- um culpado se um inocente; atormentoui, para no matar por igno-
riiplzno. o g u ~ falso. fiois a um s no se poda chamar niimero. rgncia um inocente; c , assim, atormentou um inoccntc, para saber, e
Alm disso, tal como a verdade, a prova no pode se7 cindida; a ue7- matou-o por no zaber~.
dade, que n i o 6 plt:na, claramente falsidade, e n i o semiverdode.
Assim, a prova, que no i plena, claramente prova nenhuma. Fi-
nalmente, os Jwrisconsullos no co~heciumnenhuma prova semiplena
(Injtituii>r;, Das oliriga&% e ac$Ues, l i t . XVI, 5 111, 'ota). Deve
ler-se, intciramcnte, 111. de Bielfeld, Erudii. Compl., Liv. I ,
cap. XXIII, 5 XIV.

DA PROVA PELA TORTUR4

$ XV - Nada temos a dizer da tortwra, isto 6, dos interro-


gatrios judiciais, em que os rus ou as testemunhas de crimes
mais graves so levados a dizer a verdade mediante a aplica-
o de vrios tormentos corporais, visto que dela nenhuma
prova legtima se pode tirar. E at o scu uso deve ser inteira-
mente proscrito dos tribunais cristos como brbaro e injusto
indcio pr@rio o achamento da coisa roubada em poder do acusado;
e, no homicdio, apanhar o ru no lugar do delito com a m a s e ves-
turio ensangnentados. Omito outros exemplos.

QUE PARTICULARIDADE OS DISTINGUE DA PROVA

I11 -Os indcios no provam o delito. Por isso, o argu-


mento, que se extrai das circunstncias c suspeitas, toma a de-
DOS INDICIOS FALfVEIS DOS CRIMES
signao de indcio, enquanto com ele no se prova plenamente
o facto ilcito, pois, uma vez provado o crime, j no temos
O QUE SO INDfCIOS indcio, mas a verdadeira certeza. E com esta nota especial se
distinguem os indcios da verdadeira certeza, isto , da prova.
$ I -Por indcios entendemos os argumentos, suspeitas, Portanto, a prova verdadeira e plena toma o juiz certo quanto
presunes, conjecturas, e o mais com que de qualquer modo ao delito e ao delinquente; e os indcios e presunes, dbio
se v convencer ou absolver o ru. e incerto. E isto se deve entender mesmo dos indcios prximos
e violentos, visto que, no esclarecendo a questo por completo,
SUA DIVISA0 no convencem seguramente nem o ru nem o juiz, mas apenas
o tomam mais ou menos suspeito (Tit. XVII, $ 111, deste iivro).
3 I1- Costumam dividir-se em presunes ou indcios do
homem, do direito, e juris et de jure (do direito e por direito) ;
em remotos e firximos, leves e veementes; e em comuns a O EFEITO DA PRESUNAO a w R I S ET D E JURE)>
todos os delitos, ou firfirios de certos delitos. Chamam-se pre- NAS CAUSASCRIMES
sunes do direito as que so extradas pela lei; do homem as
que so tiradas pelo homem das circunstncias do facto; juru -
8 IV Igualmente, a presuno chamada juris et de jure
et de jure as que a lei introduz, por forma que no admitem no deve ser havida como prova plena que resulta da certeza
prova em contrrio (Instituies, Das obrigaes e aces, Tit. fsica ou moral, visto estar dentro dos termos da presuno.
XVI, VII). 0 s indcios so remotos e firximos, conforme Tambm no exclui a prova em contrrio, porque esta nem
maior ou mais forte, ou menor, o nexo entre eles, o delito, e o sequer excluda pela prova verdadeira. E smente perderia o
seu autor; firfirios e comuns, consoante se ajustam a todos ou nome de presuno e passaria a verdade, se fizesse prova plena.
apenas a certos delitos especiais. Boehmero, Exercit. De collisione firaesumfitionum, cap. I, $3 V
e VIII.
Entre os indcios comuns, remoias ou prximos (pois nesta matria
divergem os escritores), contamse a fama, a fuga, o arrombamento No obstante, as Ordenaes, liv. 5, tit. 25, 8 lt., tit. 48, 6 z,
da priso, os costumes do acusado, as ameaas simples ou qualificadas, e semeihantes admitem as presunes juris et de jure nos feitos-crimes
a indzcao do sczo do crime, Ord. liv. 5, tit. 134. etc ... No furto, ( 5 VI deste Ttulo, e P; VI11 do Tit. IV deste Iivro).
NIhGUEM DEVE SER CONDENADO POR INDfCIOS Os indcios avaliam-se pelas regras da probabilidade que os Dia-
Icticos costuzlam dar; dessas regras extrai-se, no a certeza, mas a
probabilidade, que tanto mais forte, quan:o mais estreitamente se
V- Ora, como por indcios ningum pode ser plena e conjugam os indcios com o delito. A regra do direito romano, pela
perfeitamente convencido, e nas causas-crimes se exige prova qual, se o autor no fizer a prova, o r6u abcolvido, lei 4 do tit. De
mais clara que a luz do Sol, isto i., que tome o juiz certo do de- edando do Cdigo, apoia-se nn rarjo natural e civil. E m contrapartida,
lito e do delinquente (Tit. XVII, $ I V ) , seg~e-sedai: I) que, afasta-se de toda a razzn a opinigo dos Inttrpretes, segundo a qual
no havendo verdadeira prova, ninguSm deve ser condenado as presun6cs transfcrcm hidislintamente para o ru o nus da prova,
pois a ela se antecipa o direito natural impondo tal nus ao autor.
por indcios; 2) no se exceptuaro os indcios veementes nem Coccey citado. Poum, determinas o divino Trajanu, numa constiti:z*o
as presunes juris et de jure, visto quc deles tambm no se dirigida a Assiduo Severo, que ningum devia ser condenado por sus-
extrai a certeza do delito, mas apenas uma probabilidade, que $riias, Ici 5 do ti:. De pocnts; dc facto, como a mesmo diz Ulpiano,
a natureza de todas as presunoes; nem 3) os crimes mais muito melhor dezxar inapzne o crime d u m culpado que condenar uns
atrozes, pois nestes requere-sc piova rriais ple~iae clara; de inocente. Em boa verdade, a afirmao assaz desumana dalguns (que
facto, assim como interessa sociedade que os delitos no me envergonho de referir), segundo a qual preferz'vel punir algzans
inocentes a aeizar impune uz s criminoso, absolutamente brbara
fiquem impunes, assim tambm muito mais importa que no
c ripugnnnte ic razo e s leis, que, nas coisas duvidosas e ambyas,
sejam castigados os inocentes; 4) para a condenao do rSu maridam seguir a opiiiio mais humana, Ici 10, I, do :it. De rsbzts
no basta que o acusador pblico ou particular alegue contra dabiis, lei 192, f I, do tit. De regulis juns. Por isso. sempre que no
ele quaisquer indcios, se legitimamente no provar o delito se sabe ao certo do autor do delito, o ru deve ser absolvido, ou
com outros elementos; j)a regra vulgar, segundo a qual a pre- pelo menos, se houver inicios iguais ou maiores contra ele, deve
suno prova a inteno do autor e considerada como prova empregar-se a antiga frase: Xon bquet (Estou na dvida). Conta-se
verdadeira enquanto no se provar o contrrio, e que transfere dos Areopagitas que eles, numa causa ainda duvidosa e arnhipa,
mandaram o acusador e o ru, que era acusado, compareczrcm
o nus da prova para o adversrio, no pode ter lugar nas de novo em juizo cem anos depois, tilio, Noctes dtticae.
aces criminais; 6 ) a maior parte dos indcios, ainda que vio- XII, 7. o que equivaleu a absterem-se de dar sentena nessa questo,
lentos e veemerztes, aumentam a probabilidade, mas no fazem que para eles non liquebat (no estava clara). Puttrnar, Elementa
a certeza, condio indispensvel para a condenaco do ru. Ji~risCriwinalzs, g 879. Porm, mesmo os Filsofos e Jurisconsultos
Boehmero, Elmzenta JuRs+rudentiae Criminalis, Se.ct. I, cap. mais humanos concordam rni~tuamentecm que, nos crimcs muito atro-
XI, $5 CCXVI e CCXVII; Coccey, Jztr. controv., ao tit. De zes contra a sociedade ou o seu Regidor. o ru suspeito por indicios
gravssimo~deve ser punido com uma pena extraordinria, que baste
firobationibtrs, Quaestio X ; Cujcio, Coment ao Cdigo, liv.
ao menos para afastar o perigo.
IX, tit. 8; PuMnan, Eleweenta Juris Criminalis, liv. 11, caps.
I X e XVII; Mr. de Pastoret, tomo I, cap. X; Benjamin
Carrard, tomo 11, cap. I ; Bernardi, Discnuvs couronr.s, INDfCIOS FALIVEIS
pg. 106; Servan, Lgislutiom Criminelle, Dissert. De lu natztre
e t force des preuves et firsomptions; Brissot, Riblioth;lue 5 VI -E, finalmente, que f se deve dar aos indcios de
Philosophique, tomo IV, pg. 245, tomo VI, pgs. i j j e seg., sua natureza falveis? Digamos algumas coisas apenas acerca
e tomo VII, pgs. 223 e 315. daqueles que mais acima citarnos ( 5 11, Nota). A fuma, isto ,
o rumor pblico acerca do delinquente, falaz ao mximo, manchadas de sangue; no entanto, no convence o juiz, pois
pois pode nascer de pessoas malevolentes, faladoras e inimigas; a causa desse indcio pode ser outra que no o crime, confonne
alm disso, no se devem ouvir as vs vozes do $3210, como os escritores das Causas Clebres confirmam com muitos exem-
bem dizem os Imperadores na lei 12,8 I, do tit. De poenis (Ins- plos. De facto, no pode ter acontecido que o sangue haja escor-
tituies, Das obrigaes e aces, Tit. XVII, 5 XIII). O ind- rido do nariz do acusado sobre os seus prprios vestidos, ou
cio, que se tira da fuga daquele sobre quem recai a suspeita, que ele se haja manchado com o sangue do ferido e deseinbai-
o mais falaz de todos; de facto, quem ignora que at os ino- nhado a espada, ao tentar socorr-lo? Quem repreenderia o
centes fogem, e, alm disso, como verdadeiramente diz Plauto marido, que estando dez anos fora e encontrando no regresso
(Mostellaria, V, I, 52), quo receosa coisa ir presena do juiz? em sua casa uma criana de um ano, acusou a mulher de adul-
Quanto ao arrombamento da cadeia, por que razo no h-de trio? Mas mesmo este indcio, por mais violento que seja, no
ele antes ser atribudo sua misria que conscincia do crime? est acima de toda a excepo, visto que a mulher podia ter
(Tit. IV, $ VIII). 0 s costumes e vida do acusado, muito em- concebido por ajuntamento forado, ou durante o sono, ou em-
bora no se devam desprezar na investigao dos crimes, mui- briagada por obra d u m terceiro, Puttman, Elementa Juris Cri-
tssimas vezes enganam, e so indcios que s em delitos desse minalis, liv. 11, cap. XVII, 877. Ningum dir que a criana
gnero podem As vezes achar lugar; h, de facto, para me de um ano filha do marido que esteve ausente durante esse
servir deste exemplo, quem tome por espcie de divertimento tempo, lei 6 do tit. De his, qui sui, vel alieni juris sunt. Mas j
e brincadeira frequentar os prostibulos e cometer adultrio, e, uma questo diferente saber se cometeu adultrio aquela me,
no entanto, considere supremo crime furtar ou roubar, sendo cujo filho nasceu na ausncia do marido dentro do tempo pro-
capaz de antes cometer dez adultrios que praticar um nico vvel da paternidade deste, o mesmo Puttman. Quem desejar
furto. As ameaas de qualquer gnero so indcios falveis, pois mais ampla informao, leia Coccey, Disput. LXXV, tomo I,
acham-se muitos homens que costumam vomitar insolentemente pg. 1037. Puttman cit. Disert. De lubrico judiciorum, Robert,
milhares de ameaas fulminantes, como que parecendo destruir Rerum Iudicatarum, liv. I, tit. IV, Paulo Rizzi, Animadver-
todas as injrias s com as armas da sua Ingua, ao passo siones ad Jurisprudentiam Criminalem, cap. I, etc..
que aquele que medita uma injria violenta contra outro, en-
cobre-a e dissimula-a hbilmente. Tambm no menos fal-
vel a indica$o do scio do crime feita pelo ru, que sempre
suspeito; ela pode fcilmente partir da maldade deste, ou duma
sugesto, ou de qualquer outra causa sinistra. No furto, ind-
cio prximo e prprio aquele que se tira do achamento da coisa
furtada em poder de algum; mas no se segue da certamente
que seja esse algum o ladro, visto poder acontecer que tivesse
achado tal coisa no caminho, ou a tivesse comprado, ou lha
tivessem dado. No homicdio, indcio violento o que se extrai
de apanhar o ru no lugar do delito com vesturio e armas
bm comunicar-lhe, e dar-lhe vista, a si ou ao seu defensor,
das provas, das inquiries gerais ou especiais, e, em resumo,
de todos os autos judiciais ou extrajudiciais, juntando tambm
aquelas coisas que servem para desculpar o ru.
A determinao, segundo a qual se deve dar vista do processo
TITULO XIX ao ru com as inquiries do acusador cerradas e seladas, no deve
ter lugar nas causas criminais, quer o ru j esteja preso, quer se de-
DA DEFESA DOS RRUS fenda sob fiana; e assim se deve entender a Ordenao, liv. 5, tit. 124,
5. vers. ilt., Cabedo, P. I, Aresto 84, Valasco, Adlegatia 9, n. 55,
Febo, P. 11, Aresto 134.
M O SE PODE RENUNCIAR A DEFFSA; A QUEIII COMPETE
ELA, E QUAKDC) DEVE SER ADMITIDA
PRINCIPAIS PONTOS D E DEFESA
5 I -X defesa deve ser admitida contra todos os crimes,
mesmo notrios, e o ru no pode renunciar a ela, visto ela ser 3 I11 -E assim como, segundo os Retricas, h vrios
do direi10 natural, e pertencer ao direito pblico, o qual no gneros de rus, pois uns negam ter praticado o facto de que
pode ser alterado por acordo dos fiarliculares, lei 38 do tit. os acusam, outros confessam-no, outros afirmam terem-no
De pactis. Deve scr concedida, em primeiro lugar, ao ru, de- cometido com razo, e outros alegam merecer menor pena,
pois aos parentes, e finalmente aos estranhos, lei 33, z, do tit m i m tambm h vrios gneros de defesa, que se podem fun-
De ;brocuratoribus, lei 6 do tit. De ndpellntio~rius(Tit. XXII, damentar ou nas circunstncias do facto ilcito ou na pessoa
$ XV, Nota, deste livro). E admitida em qualquer parte do jul- do juiz, do acusador, e das testemunhas, ou, enfim, na falta
gamento, mesmo aps a publicao das inquiries e a profe- de solenidades. Cabem, portanto, ao ru tanto as excepes
rio da sentena; e assim se deve entender a Ordenao, liv. 5, dikatrias como as +erem@trias. Pode, efectivamente, excep
tit 124, 55 j, 7 e S (Tit. XIII, $ IX, Nota). cionar com a deficincia, dubiedade ou incerteza do cor+o do
delito; ilidir os depoimentos das testemunhas e os indcios com
Deve o jiiiz narncar sempre um defensor oficioso ao ru, mesmo outras teste~nunhase indcios; rejeit-las como suspeitas e inA-
que cste no constitua advogado, ou renuncie 2. dcfcsa, ou a queira
fazer s por si. Assim o exige o favor da defesa, pois quase sempre a
beis; confutar os instrumentos como falsos, ou contraditrios;
perturbaao de nimo e a grandeza do perigo costumam tomar os impugnar a confisso, por erro ou outra justa causa; repelir
homens irresolutos. o acusador, a acusao, e o juiz, com as excepces de inabili-
dade, incom+etncia do juiz, ou da aco; ou diferir a aco
opondo a excepo de litts+endncia, como no caso de ser
QUE MEIOS SE DEVEM DAR AO REU
acusado do mesmo crime por vrios. Mas, se confessar o fado
5 I1 - O juiz dcvc conceder, sem restries, ao ru e ao de que acusado, pode objectar que, muito embora o facto seja
seu defensor, todos os meios necessrios 2 defesa. Eis porque por sua natureza ilcito, ele no um criminoso, quer porque
deve no s6 permitir ao ru a mora e dilaes justas, mas tam- o cometeu coagido por fora maior ou em sua defesa, ou, final-
mente, excepcionar com a obrigao de o juiz diminuir a pena,
atendendo a que no procedeu com dolo, ou delinquiu por se
Ilie ter dado a ocasio, ou prestou notveis servios Repii-
blica. Quintiliano, De iizstitzttio~zeo~atoria,liv. 5, cap. X I I I .
Estes so os principais pontos de defesa dos rus. Pelo que respeita
a sua desculpa, para, como nosso coctume. nn deixarmos de dizer
algo, costuma-se, primeiro que tudo, duvidar se, na pwio dos de- TITULO X X
litos, h que fazer algum caso da ocasio. Heinccio nos Elemenla
]uns Naturue el Gentiztm, liv. I, rap. IV, 5 CXIV nega com estas D A SENTENA CRIMINN,, E SUA EXECU(X0
palavras: n o tem, realmente, desculpa aquele que a ocasio levou a
pecar. De facto. dmia zo sV evitar a ocasio, ,nas at resistir e lutar
contra a sedupio dos vicios. Aquele que no faz assim, e sucumbe aos DEVE-SE APLICAK AQCI O QUE DISSEMOS DA SENTENCA
seus apetites, culpado. No obstante, h que ter alguma indulgncia E COISA JULGADA NOS FEITOS CIVEIS
para co1n a fraquc~ahumana. E, como mareceni niais severa pml80
os crimes cometidos com propsito deiiberado do que os praticados
inesperada e irnpulsivamcnte, parece-me que as penas devem ser ma-
$ I - A s e n t e ~ ~ criminal,
a tal como a cvel, definiCva
vizadas, aten6crido a ocasio que levou a delinquir, contanto que esta ou interlorttria, e esta nzera ciu mista. h;a sua pronncia e no
no haja sido procurada, mas tenha derivado doutra fonte, duma causa exame dos autos, o juiz deve observar hido o que dissemos a
externa, que n ru no previu, e seguiu sbitamente contra a sua ex- respeito da sentena cvel nas Instituies, Das obrigaes e
pectativa. Puttmau, Proliisio An eE $ualenus delinquendi occario de- acqes, Tit. XXI, e seria sup6rfluo repetir aqui.
lictum, ejwque poenam nzinuat (Se e em que medida a ocasio de
delinquir diminui o delito e a sua pena). Deve ver-se a petifo de
desculpa que o nosso Lus de Canies dirigiu ao Regedor da Casa d a
Suplicayo em favor de uma mulher que foi condenada por adultrio
QUAIS E QUANSOS JUIZES SE REQUEREM NAS
ocasionado pela ausncia do marido na fndia, tomo 11, edio de Paris, CAUSAS CRIMINAIS
ano de 1759, p.ig 378 (Tit. VI, 5 XV, Prta). Finalrncutc, entendo
que os mritos do rEu para com o Pas tambdm valem para levantar Q' 11-Os juizos cafiitais smente so feitos nos Conven-
ou diminuir a pena, quando: I) forcm grandes e notveis: 2 ) o crime tos jurdicos, que chamamos Relaes, e no podem ser des-
for cometido, no com meditao e desgnio, mas por impulso repen-
pachados por menos de seis juzes, incluindo o relator, Ord. liv.
.tino e perturha~ode nimo: 3) o ru se arrepender do delito; 4)
I , tit. I, Q' 6. 0 s nZo capitais pertencem aos juzes ordinrios,
houver esperana em que de futuro ele seja virtuoso, e venha a fazer
prosperar o Pais ou pelo menos a ajud-lo; 5 ) o povo pedir ou ao dos quais se interpe apelaco para os Ouvidores do Crime da
'menos esperar uma diminuiso da pena; 6 ) no for de recear que a Casa da Suplicao.
graa concedida ao ru excite os outros a delinquir, o mesmo Piittman,
Prolusio XI, pg. 293. Outros r i o pensam assim, o que costuma acon- A Ordenao Manuelina, liv. I, tit. I, $ 23, manda que as causas
tecer, quando a matria no est definida em direito. Tambm no cveis sejam relatadas na Casa da Suplicao na presena dos lisgan-
,h que trazer para aqui a lei 31 do tit. De poenis, Bmnqueii. in tes ou seus procuradores, o que por maioria de razo me pareda de
Opuscula, tomo I, $ 313 (Tit, I, 5 XXV, Nota). estender as causas criminais. As capitais devem ser despachadas o
mais depresa possvel, e conclusas dentro de seis meses, Decreto de pecados no sacramento da penitencia; depois, dar-lhe-o a Santissima
-13de Setcmbro de 1691, Colecqo 11, S. 5, Ord. 'lv. 5 , tit. 129, Eucaristia, Ord. ut., 5 2, Gama, no tratado especial De sacvamewtis
Alvar de 31 de Maro de 1742, Colec$o I Ord. liv. r, tit. I, n. I, praestandis u l l k o s2applicio dumnatis. Os condenados por El-Rci sem
5 2 (Tit. I, 5 XIX, Nota). Teodsio, no tit. V2 intra annuvr crimirra- ordem dc juizo, 6 so supliciao passados vinte dias, Ord. Ev. 5,
lis guaesio erminetur do seu Cdigo, marcou um ano para c~ncluo tit. 137,no p d c . , Nan. 60,Afons. 70. (Instiiuiff, Do Direito Pblico,
dos feitos-crimes. J u s t i a n o , um binio, na lei 3 do tit. VI intra cer- Tit. 111, 3 111; Histriz do Direito Civil Portups, 5 XLIV).
tum tempus criminalis quaestio terminelu7 do Cdigo.

QUANDO DEVE SER DIFERIDA


A ENTENA DEVE SER PUBLICADA E NOTIFICADA AO R W
3 V- Difere-se a execuo: I) se estiver proibido que ela
3 111-Deve-se publicar e notificar a sentena ao ru, se faa sem conhecimento do Rei; a) se houver justa causa
para que eIe, prviamente advertido do suplcio, possa ter tempo que reclame a sua dilao. Ora, esta dilaqo concedida, ou
de se preparar para enfrentar a morte, Ord. liv. 5, tit. 137, 9 2, por ateno ao delinquente, ou por ateno a outra pessoa, ou
e dispor de seus bens, Ord. liv. 4, tit. 81, 5 6. ao Pas. Em ningum se deve executar a pena de morte no lugar
onde est o Rei, sem o seu conhecimento, Ord. Iiv. 5, tit. 137,
$i r, vers. Porm. Daqui resulta que, no mesmo dia em que a
E DADA A EXECUAO E M TRES DIAS sentena for publicada, o Desembargo do Pao, vista a sentena
da Casa da Suplicao, leva consuita a El-Rei, para, em face
3 IV -Publicada a sentenca, e rejeitados os embargos que das circunstncias, confirmar a pena ordinria, ou a substituir
tm de ser postos e decididos em trs dias, procede-se 2 exe- por uma pena mais branda. O Desembargo do Pao usa e goza
cuc;o, Ord. liv. j, tit. 137, $ I, Para que a exccur,o possa servir deste direito, no porque seja reconhecido como superior L Casa
de exemplo, deve ser feita em local pbfico, otzde nzziitssimos da Suplicao, que chamada na Ord. liv. I, tit. I, no principio,
possam uer e comover-se com tal es$ectcztlo, como diz Qum- o maior Tribunal da J%stia, o qual j desempenhou a sua
tiliano, na Declamatio CCLXXV, Pedro Fabro, Sentestr., liv. funo, mas porque as graas devem ser levadas consulta
I, cap. VIII. O rtu conduzido para o lugar do suplcio de El-Rei atravs do Dcseinbargo do Pao, que por isso mesmo
na companhia dos juzes do crime, Confraria da Nisericrdia, se chama Tribunal Gracioso. O fidalgo condenado morte no
e sacerdotes, que se esforaro por exort-lo a receber a morte supliciado sem conhecimento de El-Rei, Ord. cit., ver. It..
com fortaleza e pacincia, como bom cristo, Ord. cit.. Outras H tambm certos crimes capitais, cujos rus, mesmo que deles
solenidades da execuo, inventadas e excogitadas pelos anti- plenamente convencidos e confessas, no so supliciados seni
gos para causarem o tcrror no povo, quase se despre~amadual- consulta de E1-Rei; tais so os de bigamia no caso contemplado
mente. na Ord. liv. 5, tit. 19, I, o de adultrio de nobre com plebeia,
O condenado morte no devc ser levado logo para o patbulo,
Ord. liv. 5, tit. 25, no princ., o de komicidio praticado por fidalgo
mas sei-lhe- concedido tanto tempo. isto 8, trs dias, quanto for su- de grande solar, Ord. liv. j,tit. 3j, $ I, etc... Como dissemos,
ficiente para mitigar o horror da morte, e necessrio para lavar os %US oferece justa causa para diferir a execuo o favor devido ao
delinquente, por exemplo, se ele sofrer de doena grave, ou SG degredado para sempre, condena-se morte, caso se afaste do
aps a proferio e publicao da sentena emergir o crine de local destinado ou fuja do navio, Ord. citada, tirada duma lei
jalsidade das testemunhas por cujos depoimentos o ru foi con- especial de D. Afonso V includa em seu Cdigo, liv. 5, tit. 67.
enado. SambCin d justa causa o favor devido ao Pais, por Nesta mesma pena incorrem os condenados s gals por toda a
exeinplo, no caso de os rus serem poderosos e haver perigo vida, se delas fugirem, Carta de Lei de 26 de Setembro de 1603,
iminente na execuo da sentena, assirn como tambm se for apud Ord. liv. 5, tit. 140,Coleco I, h'. 3.
necessrio descobrir e aprisionar os scios do crirne. Mas sobre- Na dita Ord. liv. 5 , tit. 143, no psinc., considera-se o exilio para
tudo o que impe dilao o favor devido ao parto, at que o Brasil mais grave que para a Africa ou outros domnios dos Desco-
a condenada d luz; e cte favor deve ser ampliado por tal brimentos. Por isso que o condenado a degredo perptuo para o Bra-
forma, que nem mesmo ela deve ser inquirida, nem notificada sil sofre a pena de morte, sc se aiastar do lugar do cxiio. Mas j no
da sentena, durante a gravidez e trinta dias aps o parto, lei levam essa pena or que, embora condcnados a degrcdo pe$tuo para
3, do tit. L)e pocnis. Por isso Zacchias parece-me destituido de Ainca ou Asia, dai fugirem, pois um exlio mais suave que no supe
um dclito to grave. Diferem ainda em que no se pode decretar de-
todos OS se~tiinentoshumanos, ao escrever na Qz~aestio?zesMe
grcdo para o Brasil inferior a cinco anos, Ord. liv. 5, tit. 140. $ r,
dico-legales, liv. IX. tit. 11, Quaest. nica, n. 20, que a nzulizer e sem destino a local certo, Decreto de 18 de Janeiro de 1667, Coleco
cuEQadn e coladcnada u morte pode ser aberta viva, para dela 11. N. 4, a meFma Ord., ao passo que j no degredo para Africa se
se extrair vivo o feto. no declara lugar certo, e o tempo o que parecer ao julgados, Ord.
liv. 5 , tit. 140, 1 2. As mulheres no podem ser condenadas a degredo
para Africa, Ord. citada; e os nobrcs, os menores de dezasseis anos,
os maiores de cinquenta e cinco, e os enfermos, I s galks, na mesma
D:i EXECLTAO D A S E X I E N A NOS DEGREDADOS Ord. $ 4.

$ VI - 0s degredados so enviados, presos, aos juizes do E NOS CONDENADOS A


local do exlio com uma carta na qual se contm resumida-
rnente o seu delito e pena, (3rd. liv. 5, tit. 140, e tit. 142. I. 5 VI1 -A execuo da sentenca de condenao em multa
Os que so degredados do lugar onde vivem e tm domiclio, pecuiiria faz-se pelo modo ordinrio, com a tomada e venda
no podem voltar antiga habitao, nem vir Corte, enquan- de penhores. O ru, que nada tem de seu, no deve por isso ser
to no se extinguir o tempo do exlio, Ord. liv. 5, tit. 140. Em- retido nem lanado na priso, Deliberao da Relayo de Lis-
bora s vezes por Corte se entenda o Lugar onde est o Rei, a boa de 18 de Agosto de 1774, apud nova Coleco, Iiiun.
Cidade Real, e a Casa da Sup!ica$o, todavia o simplesmente CCLXX (Instituies, Das obrigaes e aces, tit. XXII,
degredado da Corte smente no pode entrar no lugar onde o s xvIrr).
Rci estiver e seu amabalde, Ord. liv. j, tit. 141. Os que forem
achados fora dos lugares para onde foram degredados, so pu- A multa peciiniea era uma espcie de negociao, que as pr&
nidos com exlio mais severo peIo mesmo tempo, Ord. liv. 5, prias leis, os Prncipes, e os Bares usavam, com o fim indistinto de
Iocupletar o errio Pblico ou pat&;ioniaL. Pode-sc a cada passo achar
tit. 143, no principio. Mas ao degredado para o Brasil por certo
exenplos nas leis Feudais, Visiglicas, RiPsiias, Saxnicas, Longo-
tempo, dobra-se-lhe o degredo que estiver por cumprir, e ao
brdicas, etc.. ., que as nossas leis forais scyiram mais que tudo. No O ACUSADOR PAGA AS CUSTAS, SE O REG FOR ABSOLVIDO
admira, pois, que no s as Ordenaes antigas, mas at a Fiipina,
liv. 5, tit. 36, aprovcm a aplicao das penas pecunirias em favor S IX-Por consequncia, no caso de O ru ser absolto,
do fisco e no do ofendido. O mesmo faz a tabela da Cmara Apost-
o acusador paga todo o dano causado com a acusao, e todas
lica, apud Antnio Genuensc, Lezioni d'Econontia Civile, P. I,
cap. XXI, pBg. 446, onde, entre outras coisas, se 18: Pela absolz~io
as custas, no simfiles, no dobro ou no tresdobro, conforme a
do Prcshifcro, qwo uniu cm matnmQaio parentes em g7au proibido, grandeza e qualidade do dolo, Ord. liv. 5, tit. 118, no princ.,
e celebrou na presena deles, (devem pagar-sc) 7 grossos. Por aquele e $ r, hfan. 43, tirada das leis de D. Dinis e D. Afonso IV,
que conheceu mxlher numa igreja, 6 grossos. P d o leigo que tirou incluidas na Ord. Afons. liv. 5, tit. 29 (Tit. XIII, $ VIII}.
objectos sag~adosdum lugar sagrado, 7 grossos. Pelo perjuro, 6 gros-
Se o r6u for absolvido, o autor paga os danos e as custas de qual-
sos. Peb leigo, que matou um Abade, ou outro Pvesbitero inferior a
quer ggnero, as quais o r6u pode pedir no prbprio juzo criminal, visto
Bispo, um monge, ou um ccE~ e'&
o', 7, 8, ou g grossos. Porm. todos
pertencerem ao oficio do juiz, ou ento com esse motivo intentar uma
vem qugo feio remir a dinhciro os crimes de adultrio, furto, ra-
aco civel perante o juiz competente do acusador. Paga as custas sim-
pina, e hurnicidio. Genuense c i t d o [Tit. I, XVII, deste livro: Ins-
gelas, se tiver tido causa provvel e justa para acusar: mas. se fez a
tituies, Do direito das coisas, Tit. X, 11, Nota, e Das obrigaes
acusaso dolosa ou temeririamente, ser condenado no dobro ou no
e aces, Tit. 11, 3 XII, Nota, e $ XIV).
tresdobro, pois assim se deve entender a Ord. liv. 5, tit. 1x8. Como
as custas singelas visam reparao do dano, tambm devem ser pagas
O QUE SXO CUSTAS CRIMINAIS, SUA DIVISO. E QUEM pelos herdeiros; mas o dobro ou o triplo no, visto ser uma pena que
AS DEVE PAGAR no transita para os herdeiros. Deve, porm, o juiz condeaar sempre
o vencido a pagar as custas ao vencedor, Ord. liv. 5 , tit. 118,no pnn-
pio, ib2 Se a l g u m qzcerelar d'outro, e o reo accusatIo for litjre pw
3 VIII-A execuo da srntenqa pertencem de modo sentenga do maleficio, e querela, por se no provar o conteJdo nelto,
muito especial as custas criminais, isto , as despesas feitas com mandamos, que o tal quereloso seja nessa mesma sentena condemnado
o conhecimento da causa-crime ou por ele ocasionado. Se res- nas custas, e em todo o damno, e perda, que o reo pm razo dessa
peitarem demanda, chamam-se custas do firocesso ou jztdi- querela e accusaio receber, o que todo pagar da cadea. Porem sendo
ciais; se pessoa do ru e ao dano por ele sofrido, fiessoais, o quereloso achado em malicia, ser condemnado nas custas em dobro,
ou extrajudiciais. A s custas do processo so pagas pelo vencido ou em iresdobro, segundo a malicia, em que for achado. Porta~to,em
face desta Ordenao, no h nenhuma sententa judicial sem conde-
em todas as causas cveis ou criminais, ainda que d e tenha justa
nao nas custas, sendo, por isso, v a questo sobre se O ru, s'm-
causa para litigar (Instituies, Liv. IV, Tit. XXI, VIII), e piesmente absolvido, pode demandar, pelos danos e custas do processo,
as pessoais, s quando no tiver essa justa causa, Ord. liv. 3, o acusador que no foi condenado nas custas, ou ento pedi-las, casa
tit. 67, no princ., cap. 4 do tit. De #oetzis das Decretais. So con- no ihe tenha ficado salvo o seu di1-eito na sentena absolutria. Com
tadas pelo modo expreso na Ord. iiv. I, tits. go e gr. efeito, sendo o juiz obrigado pela dita Ordenao a condenar nas cus-
tas o acusador ou quereloso injusto, a sentenfa dada contra a lei no
A regra, segundo a qual o vencido deve ser condenado a pagar pode impedir que o Gu vencedor reclame em juizo o seu direito e pea
a s custas ao vencedor, cap. q do tit. De poenis das Decretais, tem a reparao do dano, que uma acusafo injusta o obrigou a sofrer.
lugar tanto nas aces cveis como nas criminais, e tanto por parte Valasco, Adlegafio 95, R. 3. Nem o contr'rio se dcduz da Ord. liv. 5,
do autor e do ru como do juiz, que tiver sido o causador das despe- tit. 117, 15, porquanto ne!a fala-se des &mes de suborno e fdsidade
sas, no fim do I do tit. De poena temere Zitigantsum. incidentemente acusados em juzos cvcis; e, como as querelas neste
casa se presumem caluniosas, s tendo ficado expressamente reservado so condenados restituio das custas, caso o ru seja intei-
o direito de as propor, so recebjdas nos juizos criminais, s~,pndo a
mesma Ordenao, a qual de aphcar apenas no caso especial de que
ramente absolvido, pois pouco interessa se algum acusou teme-
faia. rjriamente, se denunciou com calnia, Ord. liv. 5, tit. 118,
$ 2, Cabedo, P. I, Aresto L l l , Vaiasco, Adlegato gj, n. 8, Bar-
bosa no coment. 79, 11. 161, lei Bum, q u e m temere do tit.
NA0 ASSIIII, O PROCURADOR D4 JUSTIA E O DO FISCO
De judiciis, Buehmero na Exercit. especial De cxpensis cri~ni-
nalibus, tomo VI, cap. 111, 5 XIV, Mateus, De criminibus, Iiv.
S X - O Provzotor da Justia, ou o Advogado do fisco, XLVIII, tit. XVII, cap. IV, Antnio Genuense, Della Uiceo-
que por dever de ofcio acusou aIgum, no deve ser condenado sina, tomo 11, cap. XIX.
nas custas, se depois o acusado for achado inocente, a no ser
que tenha agido com manifesta calnia, Ord. liv. 3, tit. 67,
5s 3 e 6, Cabedo, P. 11, Decisio 119, desde o n. 25, Mateus, E O KEU CO'IDENAUO A MORTE
De criminibus, ao liv. XLVIII, tit. XVII, cap. IV.
Parece-me absolutamente desumano que o r&, que foi absolvido, 5 XII -Assim como o acusador vencido deve ser con-
depois dc obrigado a sofrer os maiores prejuzos com a acusao, che- denado a pagar as custas ao ru, assim tambm o ru, embora
gando at a ser preso inocente, seja ainda por cima obrigado a pagar condenado morte, ou a outra pena aflitiva do corpo, deve ser
as custas do processo. Ora, de certo modo a sociedade que a s deve condenado a pagar as custas ao acusador. Mateus citado, e
pagar, e ressarcir o dano ao ru, por meio do errio judicial, ou das Boehmero, cap. 11, 5 VII.
multas pecunirias a que so condenados os verdadeiros dciinquentes,
da mesma maneira que se devem reparar a fama, a honra. e quais- Como a morte apaga tudo, parece muitssimo inquo a Jlin Claro,
quer danos fcitos ao r&u, cuja inocncia se verificou aps a proferio Carpzov, e outros, que sc condene nas custas o ru que perdeu a vida;
e cxccuo da sentena, ou ento aos seus herdeiros. Discoi~tssur les
tos'ai-ia, contutam-nos bcm Alatens e Bmliliicro citado, c Puttman,
~parafionsdues aur accaas innocens. tomo V I , Brissot, Bibliothdque L'lamenta Juns~nrdenfiaeCriniinalis, iiv. 11, cap. XXVIIi, 3 1072.
Phtlos@hique, pg. 169,e tomo IV. pg. 277. De.7 moyens d'i>tdewini-
ser E'innocence inj-dstement acc?lrde, ct punia, Mr. de Pastoret,
tumo 11, P. IV, cap. XX. Efectivamente, como a scntenca criminal
condenatria e definitiva no passa em coisa julgada, admite sempre
a reitituizo, se for provada a inocncia, Uoehrnem, Exercit.
LXXXVII, De sefatentiis in rem judicatavz non transeunlibus, X L , 5 XIII-Tambm no est imune da restituico das
e tit. De sententiam $assis ef vestilutis do Digesto (Instituises, Das custas e da reparao do dano aquele juiz que condenou o
obrigaes e accs, Tit. XXI, 8 XV).
ru por impercia ou mau dolo, Ord. liv. I, tit. 65, 5 g (Tit. V,
$ X, deste livro). Eis por que, condenado nas custas, obn-
SE E QUANDO PAGA O DFhXTSCIANTE AS CUSTAS gdo a pag-las ou do seu dinheiro, ou do salrio, isto , da
paga que o Rei lhe d para seu sustento e vesturio, Ord. liv. I,
S XI -0s delatores, que temerria e dolosamente dcram iit. I, 3 40, no irn. E isto C de notar, porque os salrios dos
azo a inquirio judicial com denncia firmada em juramento, juzes no podem ser penhorados por quaisquer dividas civis,
Ord. cit., Alvar de 10 de RIar~ode 1778 (Instituies, Das
obrigaes e aces, Tit. XXII, IX).
Pecam gravemente e demonstram a m b a estupidez e avarcza
aquclcs juzes que, a titulo de custas criminais, utilizam, usurpam e
vendem os pannicuZn?ia, isto 8, as coisas que os presos trouxeram con-
siga para o drcere.
TTUI-O XXI

DAS APELAOES

DEVE-SE RECEBER A APELACAO NAS CAUSAS-CRINES

S I -Tanto o d~reitoromano como o ptno admitem tam-


b&ma ape1ac;o nas causas-crimes, leis 6 e 16 do tit. De ad$eG
lationibus, lei 6, 3 g, do tit. De injusto. rt@to, Ord. liv. 5, tit. 122,
IIan. 42, Afons. 58. Pode interp-la no s o ru condenado por
sentena judicial, mas em certas causas tambm o prprio juiz
oficiosamente, Ord. cit..

Tanto pode apelar o prprio ru, como outros em seu nome, e


no julgo necessrio distinguir se ezsoutros so parentes ou estranhos,
lei 6 do tit. De ndpellationilias. Interpe-se dos juizes inferiores para
os Ouvidores do Cnve da Casa da S~piicao.Ord. iiv. I, tit. 11 e
tit. 41. Ajusta-se apelago nos feitos-crimes quase tudo o que vigora
nos feitos-civeis, devendo-se, por isso, aplicar aqui o que dissemos
nas Institui$es, Das origaGes c aces, tit. XXIII.

E QUANDO DEVE O JUIZ APELAR OFICIOSAMENTE

5 I1 -Os juzes so obrigados a apelar em certas causas-


-crimes, posto absolvam o ru; constitui isto um caso especial,
pois nas causas civeis s o vencido e condenado pode apelar.
Ora, esta apelao tem lugar em todos os delitos que admitem
querela, e esta a regra mixirna, Ord. liv. 5, tit. 122, no princ.,
que sofre algumas excepes nesta mesnia Ordenao referidas.

Esta apclao nccessiria, que o juiz B obrigado a interpor sob a


pena corninada na cit. Ord., $ lt., visa a defesa da sociedade e do
ru, visto ser do interesse pblico que os delitos no fiquem impunes.
A sua origem remonta a D. Afonso IV e seu filho D. Pedro I; foi con-
firmada por lei especial que D. Joo I deu em Evora a 15 de Janeiro
do ano 1459 da Era, apiid Ord. Aforis. liv. 5, tit. 58, 35 7 e weg., que
passou aos Cdigo-. posteriores com poucos aditamentos e supresses. DA REQUISI-;I0 OU CONDENAAO
A revista no tem lugar nas causas criminais, salvo sendo especialmente
DOS -4USENTES
concedida (instituies, Das obrigaes e acqes, Tit. -XXIII,
3 XXVIII). A apelafo para o Lribu~aldivino, ou seja, para o vale
dc Josafat (que em portugus se chama emprazumentoj. indevidamentc OS REES ASENTES DEVEM SER REQUERIDOS
tirada de Joel, cap. 111, vcrs. 2 : Junjarei lodas as genies, levd-las-ei
paua o vale de Josafal, e ai entrarei com elas em jrizo acerca de Is-
rael, meu povo e minha herunga, 5 qidem eles espalha~ampor entre as $ I - Pertence ao ofcio do j+ requerer o ru fugitivo OU
nayes. e acerca da minha t e m , glca ~ l e sdiuidirnrn entre si, B v5, e ausente, e fechar ao que se esconde todas as vias de evaso.
debalde se lhe atribui efeito quer devolutivo quer suspensivo. Put- Deve, por isso, ele meslno procur-lo nos lugares do seu prov-
tmann, Elemenfa Jurisprudentiae Criminalis, P . 11, cap. XXII, $, 970, vel refgio, ou ento, se suspeitar que ele est escondido fora cio
onde se citam vrios escritores desta matiia. APpcI la Posfiritd par
termo da sua jurisdizo, enviar carta precatna aos respectivos
&!r. Linguet.
juzes para que estes o busquem e remetam, Ord. liv. I, tit. 58.
$ 5 38 e 39, e liv. 5, tit. 104, 5 5 2 e 3, e tit. 119, $ dt. (Instituies,
Das obrigaes e aces, Tit. IX, 3 X).

PROCESSO QUE O NOSSO DIREITO ADNITE CO'TTRA


OS AUSENTES

$ I1 -E os ausentes devem ser no s requeridos, mas


tambm condcnados, Ord. liv. 5,tit. 126, Man. 44. No nosso di-
reito, para que o juiz admita oficiosamente um processo contra
os ausentes, faz-se mister o concurso das seguintes limita$es:
I) no deve ser int-ntado e ordenado contra Iirn ausente, que
est em local certo onde fcilmente pode ser buscado e preso,
rnas s contra aquele cujo local de habitao se ignora; 2 ) nem
contra todos e quaisquer fugitivos, visto que tambm os inocen-
tes fogem aos julgamentos (Tit. XVIII, !j VI), mas s contra tioitibus do Cdip. Quanto execiio da pena <te morte ou qualquer
aqueles que, mediante as provas da lei, j estiverem pronun- outra afliiira Uu corpu ua i m a g m do lu, ainda h poucos anos ela
SE: fazia (Ver Carta Regia de r 9 de Junho de r684), e, se o ru t-
ciados pelo juiz como rus de crime; 3) nem contra os rus de pois crd preso, no o livrava da verdadeira pena. Actuahcnte j no
crimes menores, mas s dos mais graves que levam pena de tem lugar no foro a cxecu)p em efigie, pois nfo corresponde ao fim
morte natural ou civil, ou pena aflitiva do corpo; 4) nem das penas. E quern poder cnntzr o r k o , ao ver aoitar ou degolar uma
contra aquele que de modo nenhum, isto C, nem verdadeira- imagem simulada do rCu? Pode-se, pois, aplicar a semelhante acta
mente, nem por presun~odo direito, foi chamado a juizo. Por aquele verso de Horuo: Xio rivieis ao ver tal quadro, ardigosi'
consequncia, deve-se, primeiramente, citar o ausente por meio
de &tos piblicos, afixados no lugar do tribunal,na terra onde
aqueIe morou, e naqueIa onde vivem seus amigos e parentes, NO DIREITO ROMANO NA0 f ASSIhI
para que lhe possam levar noticia do que se passa. Ser-lhe-o
dados pelo menos dois meses, com a declarao de que, no 3 111-Todavia, o direito romano no admite, nos juzos
comparecendo nesse tempo, ser havido como verdadeiro revel capitais, processos contra os ausentes, lei I do tit. De requirercn-
e punido com a pena ordinria do delito, Ord. citada. Tambm dis oel nbsentibus damnandis: Seguimos o direito gzc.e no @r-
citado por ditos aquele ru que, na cidade de Lisboa ou mite S E ondenenz os ausenies, fiois a ~ n z oda equidade no
onde estiver El-Rei, se acolher na casa de algum grande, Ord. Padece que se condene alguinz sem o ouvir; lei 5, no principio,
liv. 5,tit. 104, 9s 4 e 5 (Instituies, liv. IV, Tit. IX, 5 IX), ou do tit. De fioenis: Podrm-se sentenciar fienas pecunirias ozi
se refugiar numa igreja ou outro lugar de asilo, Ord. liv. 5, tit. outras que a f e c t m a rcflzifao, e proceder ale' $roscrii?o,
126, 4. Cumpridas estas condies da lei e dos costumes, no contra os aibsentas, qzte, apesar de avisados niziitas vezes, no
nosso direito o ru que no comparece considerado como con- corn$arece?iz; ?nas, no tas:) de Ehes caber fiena n z u i ~grave,
fesso e convencido, o que no se deve entender como bastando cova0 n de trabakizos Taas rniwus o u n morte, n i o lhe ser apli-
esta confisso ficta, B falta de verdadeira prova, para o conde- cada. O mesmo vemos estatudo nas Clemcntiilas, cap. Paslo-
nar, uma vez que nem a confisso verdadeira, sem essa prova, ruiis 2 do tit. De sententin ei re judicata, e nos cnones J, 2, 3,
chega para condenar o ru (Tit. XVII, 3 X). E, realmente, no 4 e outros da Causa 111, questo IX.
se deve atribuir maior fora e poder fico que verdade.
Que n5o se pode proceder contra os ausentes nem conden-los cm
juizo ciminal por delito a que cabe a pena de morte ou aflitivi. do N.40 S E APBIITEM I'RO(:IlXiA~YORES NAS CAUSAS CX11IINAIS
corpo, prova-o Henrique Coccey na Disputa especial intitulada De
jwtitia poexae in absentes, tomo 11, pg. 1013, que seu m o Sarnuel 5 IV - O nosso direito n5o concede ao ausente nem pro-
transcreveu no seu Jus controuersum, ao tit. De requirendis vel nbsen- curador nem defensor (Tit. XIII, $ VI, deste liv.), o que no
tibus damnandis, Boehmero, Excrcit. De potesiate procuratoris itt cn-
minalibus. No entanto, as nossas lcis e costumes, assim como w de
6 de admirar, visto tainbkrn os no conceder ao ru presente,
outras naes, admitem processo contra os ausentes nos delitos capitais; nos delitos que levam a pena corporal oii desterro para scmpre.
mas nos no capitais, 6 a requerimento do ofendido, Ord. cit. tit. 126. Todavia, admite a procurador especial, chamadr) escz&sador,
8 3, Groeneveg, De legibus abrogatis. lei Absentem 6 do tit. De adcusa- no para que ele defenda o r6u do delito, mas da revelia, po-
dendo, para este fim, alegar as justas causas da aushncia. Tam- ibi: para o que no tEo stnente ser recebido o P~ocilrador,mas ainda
bm os que se refugiarn lias igrejas ou outros lugares a que foi qtmlquer do Povo sern procur~@o. poslo que seja rneizor de uinfe cinco
concedida imunidade, e forem citados por ditos, constituem annos, iiiulher, o- s'razo, e liv. j, tit. 127,no principio, ~ c r s Porris,
.
de igual modo prociirador que os defenda, no na causa pnn- se e n ~algum tetizpo, Febo. P. 11, Arcsto 76, kTeiides, in Praxis, liv. V,
cipal, inas smente na garantia de asilo e imunidade do lugar, cap. IV {Tit. XIX, 5 I).
Ord. liv. 3, tit. 7, S 3, e liv. 5, tit. 126,5.5 I e 4, Valasco, Adlegn-
tio 96, desde o n. 20 (Institui~es,Das obrigaes e aces, Tit.
VIII, $ 3 111e 117).

Estas Ordenaroes aprovaram a rcgra do direito civil romano, que


5 V - Os ausentes condenados ao ltimo suplcio cha-
marn-se banidos, da palavra ban~zunz,Ord. liv. j, tit. 126, $ 7,
no admite, nos fcitos crimes, o procurador do ausente ou presentc,
a tratar de materia respeitante ao merecimento da causa. O principal Cabedo, P. TI, Decisio 57,n.S. O efcito deste bannuuz (bani-
fundamento dcssa regra rcsidia no facto de o senhorio da l i d ~passar m ~ n t o )6 que qua1qiier um clo povo os pode matar impune-
para o prxurador mediante a contejta~o,resultando dai ser a sen- mente, Ord. cit. 8. Entre outros exemplos desta horrvel pras-
tena proferida e executada no proiurador. Xas hoje que cessou esta crio, digna de meniria especial a sentena do Senado de
razo e o jztlgnrlo no prejudica o procurador mas o dono da demanda, Lisboa, de g de Julho de 1583,na qual D. Antnio, Prior do
tamhem devem cessar a s mencionadas Ordenacs, vizto no tcrpm
Crato, filho do Infante D. Lus, foi proniinciado por banido,
aplicao ncnliuina no foro: por coiisequri~cia,pascce-me que se deveni
admitir procuradores tato nas acces cveis como nas cnirinais. Boeh- apud Sousa, tomo I1 das P ~ o v a sao liv. IV da HitZ~,iaGenea-
mero, Exercit. XXIII s Pandectas, De pofestale procratoris in cri- ldgica, K.87,pig. 531.
rnznaiibus, E: X X V I (Inslitui~es,Das ofiripacs e accei, Tit. 111,
5 XI, Yota). Como quer que seja, muito para notar a diferena entre O sipificado das palavras bnnimmto e banido varia com as di-
a defesa, que cm 1ii;riie alhcio assuiriida pclo procurador como tal. ferentes leis e ccsrunles das regiiis, as qriais debalde se csp~rrqiie
e aqiicla que feita por daucr coi?!ura de pirdaiie, cu por inlrrsse
eu rccorde aqui. Para 1165,hnizimento 6 2 prpria eiitenja condenat-
pblico ori particular. As k i s roaanas no admitem o vcrdad.eii.o ria, e hn?~idoo rSii ausenlc ne!a cond~nado.Coritudo. hoje j n5o F
procurador nas causas capitais; no entanto, admitem a defesa por ra- licito inaiar u bandido, 7-islii qce slio se deve conceder o cadn 7:m aqr~iln
zes dc humanidade, ou po: utilidade ptblica ou particu!ar. E, assim. que Pi':hllcniaozte drve seu jeito 9eEos ;;iagistraiios. lei 176 do tit. De
por cs:e 6i1cito pude u pnrrnte o11 es:ra.iho falar ppl<) rtri presente, rep!lis t, por UU:TC) 1230, no se 1i~i.ada p w a a q i i r l ~que mata

ou ausente, e at pclo relutaritc j coxdenado morte, e assu~iiira w a uni h o m ~ i nculpado, lei j, do tit. rid l e r % Por;zp~ic;;de $izrricic:rlKs,
d ~ f e s anZo
, em nome prbpri?. mas (I) em ni>rnr d a iocicda?~,visto a lei I , ilt., do ti:. ed legei?~Cn?ilo!lam de sicariis. Carp~ov,P. 111,
q~~es:u~ q o ,nn. 131 c seg.. Piikt~r,ui, Elemenlu Jurispi.:~dew&aeCri-
causa da inocncia SEI urna causa pblica, Iri 33, g 2, d3 tit. De @o-
curaluribzis, e lei 6 do tik. De adpellaionlbi~s.Tambm o senhor pode mitiulir, liv. 11, rap. XXVI, $ 7044, Cabedo, P. T, Aresto g j .
dcleii2er o seu servo. e o pai o seu iiDio. pois defe~idizncausa sua e
d ~ r i i a n + i ~ilifcrcsce
>- p:ipr:u, lei ~g do tit. De posnis. O m:s;no parece
cslabelriido oii de estabelccrr na 110-so di~citu,Ord. F.7 3, tit g, 5 3, XAO SE LHES DEITE NEG21R 21 DEFESA

3 VI -Porm, mesmo ao r6ii banido deve scr concedida


(I) Segundo o original, seria ou, mas lapso evidente (K.do T.).
a defesa, e m qualquer tempo qiie ele conpareca; e 1120 distin-
guimos se comparece dentro dum ano a contar da sentenqa.
se depois, e ainda sc aparece livremente, se contra vontade,
ou se preso por outro. Com efeito, no bastando para a sua con-
denafo a confisso tcita ou ficta, como talvez a resultante
da revelia do fugitivo ( 5 I1 deste Tit., e Tit. XVII, 3 X), rnesmc
que o banido seja aprisionado ou venha a juizo um ano depois
de modo nenhum deve ser punido com a pena de morte, en-
quanto no for verdadeiramente convencido do crime e dele TfTULO X X I I I
verdadeiramente confesso. E, como, alm disso, a sentena cri-
minal condenatria no transita em coisa julgada (Tit. XX, DE QUE MODOS SE DISSOLVE A OBRIGAO
$ X, Nota), pode ser sempre impugnada sobretudo pelo ru CRIMINAL
que no foi ouvido, ao qual se deve inteiramente conceder que,
sem se fazer caso da referida distino, possa opor as excep- XODOS DE DISSOLVER A OBRIGAAO CRI3TINAL
es de nulidade, juiz suspeito, e outras que Mendes resumida-
mente refere no liv. 5 , cap. 4. I -Acham-se constitudos no n o s o direito certos modos
E este direito usamos. Por isso, a Ord. liv. 5, tit. 126, 5 7, nas
de contrair e dissolver tanto as obrigaes civis como as cri-
palavras e vindo despois do dito anno, n b sei6 mais ozauido com de- minais, tirados sobretudo do direito romano, entre os quais se
fesa aZgu?na, nZo foi recebida no foro: ou pelo menos deve ser enten- contam a presrico, a abolio do crime, a wzorfe do ru, a sen-
dida por forma tal que no proba se oua o ru niunaSament~,pois tena absoi~tria,e a transaco.
seria desumano, mas apenas ~ U se P oua solene?nende, isto , pelo modo
do processo ordinrio. Noutra Ord. do mesao liv., ti:. 127. no priu-
cip:o, contrria qupla, co?crdc-sz a ricfcca ao rii que coinparrcc ern
qnalquer tempo, 168: Porrfi se e792 algum iempo si: quiier vir escusar,
e szosfrar seni culpa do dito crinze, serri oirvido czarnfiridamente com
seu d%ra.to, Portugal, DF (IonilLio~~ibus, li\'. 111, cal>. XI., n. 19. E 5 I1 - A prescrio apaga todos os crimes. Assim se esta-
assim ine parece se dc-iein ciiteiidcr e conciiiar cstas duas Ordenaes. beleceu, ou para que as demandas tenham um termo, e cdda
um, enfim, possua a certeza e seguranca do seu direito, e isto
constitui o fundamento geral da introduo da prescrio, Ins-
DA .LVC)TA.AO DE BESS titutas, tit. De uszica+ionibus, no princ.; ou por causa da difi-
culdade d a prova, que 6 a razo especiaI que agrada a Thom-
S VI1 - Con-io ach~nlrrienteno esto em liso as disposi- sio, De firaescri$. bigam. Q: VIII; 011, finalmente, porque, aps o
ces da Ord. liv. j,tit. 127 relativas 5 ariota@o de bens, tirada decurso do tempo legtimo, j no necessria a puniro, visto
do direito roinano, no hA por que falemos dela. parecer mais que verosimil que o delinquente durante tanto
tempo haja emendado os seus costumes, regressado ao caminho
da virtude, e sofrido com o remorso da conscincia o suficiente
suplcio. Lauterbach e Leyser, De firaescri@t. crimin. Por con- e m que fez a renimciaqo, Or. liv. E, tit. 96, 2, Cabedo, P. 11,
seguinte, a prescrio legtima extingue todo o conhecimento, Decisio 24, n. g (lnstituiks, Do diitito das coisas, Tir. IB, S XIV).
Por conseguititr, as nossas lei: no fixam a todos OS crimes o mesmo
acusao, e inquirio sobre o crime pblico ou particular. No
tempo de piesciio; quem quiaer dar a razo des:a diversidads
direito romano, que o nosso aprova quase inteirarncnte, esta no direito constituido, parccc-mc quc prctcnde mais comprazer
prescrio ordinriamente de vinte anos, salvo se o delito for ao ccii engenho que alcanar a verdade. ThomRsio cit., 5 XXXT.711.
permanente, lei 12 do tit. ad legenz Corneliam de sicariis do
Cdigo. Exceptuam-se o peculato, o adultrio e outros crimes
da carne, para os quais a prescrio d e cinco anos, lei 7 do tit.
ABOLII;KO, E AGRACIAAO
ad legenz Juliam fieculatus, lei 29, $3 5 e seg., do tit. ad legent
Juliam de adulteriis.
-
$ III A abolio d o crime, concedida antes de dada a
Na prescrio geral dos crimes tambm requer 20 anos a Ord. sentena ou de movida a acusao, no s exime o rCu do pro-
liv. r, tit. 84, 23, no fim, Barbosa, n o ri. 213. lci 3 do tit. De cesso criminal, mas tambCm perime e extingue toda a aco
praescrififione 30 vel +o aanoruln do Cdgo. Fel>o, P. I, Decisio 53. criminal dele oriunda. Costuma ser concedida pelo Principe,
H, todavia, certos crimes que prescrevem em menos tempo. Assim,
por ateno celebridade do dia, a notveis vitrias alcanadas,
a mulhcr estuprada nZo pode demandar criminalmcntc o estuprador
um ano aps a prtica do delito, Ord. liv. j, tit. 23, $ 2 , a q u d tal-
ou a grande jbllo pblrco, como, por exemplo. por ocasio de
vez scja de estender a todos os delitos da carne, cuja perseguio pa- feliz nasciniento ou matrimnio de prncipes, como, para omi-
rece extinguir-se, no em 5 anos, como n o direito romano, mas em um. tir exemplos mais antigos, decretou a Rainha Fidelssima em 12
Kuma lei de D. Joo I estavam estabclecidos tr&s anos, Ord. rifona. de Abril de 178 j, por motivo das npcias do Serenssimo Prn-
Liv. j, tit. 10, S I. A aco criminal a que damos o nome especial dr cipe do Brasil. Vejam-se, querendo, as leis I, z e 3 do tit. De in-
qzterela, s pode =r intentada dentro de I ano contado da perpetraio dulgenkia cvitni., e respectivcis comentrios de Gotofredo.
do teme, Ord. Gv. 5, tit. 2, 1 4, e tit. 1x7. I. O mesnio cumpre di-
zer da inquinio espscial oiiciosamrnte icita pelo juiz, porquanto a
A agraciaco perdoa ou comuta a pena aplicada por sentena
geral, tal como a acusao simples, r de diveito comum, s se extingue em outra mais branda. Uma e outra so d e interpretao estrita,
em 20 anos (Sit. XIII, 5 XIII, Wota, deste livro), Ord. t.. liv. I , no devendo, por isso, ser estendidas a outros crimes no meii-
tit. 96, 5 2, nas palavras: E quanto 2 pcnn crime poder ser accscsado. cionados no rescrito ou decreto, e, se forem obtidas sub ou
e piinido dentro no tempo, que per Direito os taes criw~espndent ser ob-refiticianzente, no produzem efeito nenhum, Ord. liv. 5,
nccusados, c liv. j,tit. 117, S I, no fini, ibir e passado o anno, no tit. 130, r e 3.
lhe seri recebida, mas poder accrcsav sem qaerela g u m ~Ihe bens riw.
Sobre os delitos p~firios cometidos no oficio pelos juizes e oficiais da
Embora algumas vezes surjam espcies de crimes, ein que se v
justiqa, podem os corrcgcdores das comarcas tirar inqztino geral 96
a prbpha raro aconselhar, ou a:& exigir, a aboli$o ou a agaciao,
uma vez ao ano, c dentro de um ou dois anos da data em que foram
ps filsofos politicos advertem justamrnte que se deve usar este di-
cometidos, Ord. liv. I, tit. 58, B 34; e , como aqui se t r ~ t ade uma
reito parca c dificimcnte. Veja-se, querendo, o Tit. 1, g XSVI.
fxcepo especial, dela se condui, e bem, que eles podem iqquirir
oficiosamente sobrc os oatros crimss dentro dc vinte anos. A pena
imposta ao oficial da justia quc cometeu delito no ofcio, a que E-
bunciou sem licena d'El-Rei, prescreve passados dois anos do dia
MORTE DO Rl2U

IV -Para o criminoso, que morre antes de dada a sen-


tena ou intentada a acusao, cessa toda a perseguio crrni-
nal, leis 3 e 6 do tit. De fiublicis jztdz'ciis, pois a razo da eqz4i-
dade no admite que se condene algam sem o ouvir, lei I, no
p k c . , do tit. De requi~endisvel absentibus damnandis. E que
pena se pode aplicar a um morto? Bem, pois, diz Ulpiano, na
lei iilt. do tit, ad legem J d k m majestatis: Aquele que mowe
na condi~ode acusado, morre em seu intei~oestado, fiou com
a nauri% extingzte-se o crime, salvo trataizdo-se de r% de lesa-
-majestade. E esta excepo aprovada pelas nossas leis, Ord.
liv. 5, tit, 6, $ 11. Se com razo ou sem ela, outros que o vejam
(Tit. I, XXIII).

V- Que a sentensa absolzctriu elimina totalmente o


acusado dum crime do catlogo dos rus, ou pelo menos o livra
da presente perseguio criminal, ponto de que ningum du-
vida, Ord. liv. 5, tit. 130,no principio. Tambm se extingue o
conhecimento criminal com a transaco feita entre o ru e o
acusador, devendo-se aplicar aqui o que dissemos nas Institui-
es, Das obrigaes e aces, Tit 11, $$ XIII, XIV e XV.

jWS PASCOAL DE M E L 0 PREIR

Você também pode gostar