Condomínio Do Diabo
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ZALUAR, Alba. Condomnio do diabo. Rio de Janeiro: Revan: ED. UFRJ, 1994.
CREDENCIAIS:
Alba Maria Zaluar concluiu o curso de graduao em Cincias Sociais na Universidade Federal do Rio de
Janeiro (1965), iniciou a ps-graduao na Universidade de Manchester, Inglaterra, concluiu o mestrado em
Antropologia Social no Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro (1974) e o doutorado em
Antropologia Social pela Universidade de So Paulo (1984). Foi professora titular de Antropologia do
Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro onde fundou em 1997 e
coordenou o Ncleo de Pesquisa em Violncias (NUPEVI) com inmeras pesquisas quantitativas e
qualitativas no tema das violncias domstica, policial, urbana, vinculada ao trfico de drogas. Aposentou-se
em junho de 2012 e passou a atuar como professora visitante no IESP/ UERJ.
[...] o jovem v diante de si esta alternativa: o trabalho duro, desinteressante e muito mal pago ou a
vida perigosa, aventurosa e curta de bandido. Os mais destemidos e, s vezes, os mais talentosos que
viram frustrados as suas possibilidades de sair daquela vida opressiva de pobres, so candidato mais
certos ultima opo, que lhe trar fama, poder, dinheiro fcil e morte quase certa. (p.10).
[...] o condomnio do diabo disse-me um desses jovens, porque, uma vez de arma na no, o jovem se v
envolvido num circuito de trocas (tiros) implacvel nas suas regras de reciprocidade. Para sobreviver, o
jovem revoltado tem que se juntar a uma quadrilha que dividem entre si o controle da rea. (p.11).
RESUMO:
No primeiro captulo, a autora aborda o envolvimento dos jovens para com o mundo do crime, e
especialmente entre os pobres que moram na favela. Assim, na cultura onde se encontra inserido, o jovem v
o trabalho como uma escravido, pois est se submetendo a trabalhar horas para ganhar pouco. Tanto que,
diante dessa perceptiva sobre do trabalho, e por perceber maior facilidade de ganho de capital na vida
criminosa, os jovens acabam aderindo para o que o meio social mais lhe proporciona, que o condomnio do
diabo. O condomnio do diabo um representado por bandidos que controlam a rea, essa subdiviso de
donos de territrios nas favelas precisa ser protegida, para que outro dono de outros territrios no se
aproprie do espao, e assim, travam guerras com armas de fogo.
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Bandido formado, bandido-heri, bandido que no tem medo de ningum, mas que respeita o
trabalhador definido por oposio ao pivete e bandido porco. O pivete faz um uso indevido,
prepotente, descontrolado de sua arma de fogo. Humilha, mata, provoca o trabalhador por qualquer
motivo ou sem motivo nenhum apenas para afirmar seu poder. O bandido porco rouba seus vizinhos,
os trabalhadores que moram na sua rea. (p.24).
Fortes smbolos visveis do poder, estas armas tornam-se fetiches na cintura de adolescentes franzinos e
gatilhos mortferos nos seus dedos. Provocam medo e induzem facilmente obedincia [...] produzida pela
fora bruta. (p.25).
Uma das expresses da dominao a construo da identidade do dominado pelo dominador. E uma
das tcnicas repressivas a estigmatizao de quem se quer reprimir. O espelho que se constri agora
no Brasil este: pobre, criminoso, perigoso. Pela priso por vadiagem de trabalhadores sem carteira
de trabalho assinada. (p.33)
RESUMO:
No incio do segundo captulo, Alba Zaluar ressalta que apenas vemos a violncia urbana em
noticirios e poucos damos relevncia para refletir sobre as possveis causas e consequncias. Pensamos a
violncia como uma ao que foge da nossa realidade, justamente por no estarmos inserido nesse mbito
social. Dessa forma, as leis de convvio de determinada favela antagnica as classes mdias e altas da
sociedade. Na vida da criminalidade, os bandidos so categorizados e as leis ticas so controladas pelo
bandido formado que se diz dono do territrio. A luta pelo poder torna-se visvel quando a arma e a fora
brutal que define a autoridade de um sobre o outro, tanto da policia quanto dos bandidos.
A lgica comum, tanto no discurso de direita quanto no discurso de esquerda, a de que o mundo da favela
o mundo da desordem que se ope ao mundo da ordem do asfalto. (p.90).
So os favelados que encaram a instituio policial como fora da lei e como mecanismo primordial
da injustia. Prender os mais jovens, os mais pobres, aos mais pretos, os que no tm protetores nem
pertencem s grandes organizaes parece que tem sido a soluo mais fcil e de mais trgicas
consequncias da reao da polcia com os trabalhadores pobres. (p.95).
RESUMO:
A convivncia entre as leis da policia e as leis construdas na comunidade so antagnicas, e por esse
motivo, a polcia e os moradores acabam entrando em conflito por ambos estereotiparem a imagem e as
ideias que caracterizam cada um. Na percepo da policia, os mecanismo utilizados correspondem a julgar a
aparncia fsica pela qual so considerados os suspeitos, sendo por esse motivo que os pobres, jovens e
pessoa de cor povoam as prises. J no pensamento dos que ocupam as favelas do Rio de Janeiro, a policia
tida como os que reprimem os pobres por meio da opresso fsica, sem ao menos saber se trabalhador ou
bandido. Assim, a lgica que julga externamente o pobre como o mais adepto a violncia apresenta
culpabilizao da desordem moral e social, porm necessrio que os mesmo tenham seus direitos
assegurados como cidados.
Se h algum incentivo ao crime no social ele est na desigualdade, no modo como ela se monta e na
maneira como torna possvel se ascende nessa escala desigual, o que a tinge todas as classes. (p.97)
O trafico de drogas apenas um dos meios atuais rpidos e eficazes para chegar ao enriquecimento. O que
se ganha nele no se compara com nenhum ganho salarial, seja do operrio de construo civil, seja
professor, seja do emprego de estatal seja do gerente de multinacional. (p.97).
RESUMO:
nessa relao de poder que se estabelece a explorao dos proprietrios de armas sobre o que tomam as
arma emprestadas, ou seja, a explorao dos chefes ou cabea sobre os teleguiados ou aviezinhos, dos
quadrilheiros sobre os ladres autnimos ou individuais. (p.104).
[...] sendo a atividade criminosa tambm uma atividade comercial rentvel, o lucros de pequenos
traficantes que moram nas favelas do Rio de Janeiro ser tanto maior quanto mais barata for mo-
de-obra. Da a aproximao com os jovens e o uso continuo de crianas nos pequenos encargos que a
comercializao de txico exige. (p.108)
[...] os amigos chamam para um assalto, oferecem arma ou txico e o jovem acaba entrando para o
mundo do crime para no parecer medroso, sem disposio. [...] a atividade criminosa vista como
um jogo ou uma aventura, uma brincadeira. [...] depois que se entra difcil sair, seja por causa
da possibilidade de priso, seja por causa da guerra. (p.111).
RESUMO:
No decimo segundo captulo da obra, o poder concentrado a partir das influencias que os chefes das
quadrilhas tm sobre os dominados, sendo os jovens os que mais fazem tais atividades por via da mo-de-
obra barata, e assim, tornam-se os principais alvos para a execuo de tarefas criminosas que
comercializao drogas e armas de forma ilcita ao por sua vida em risco. Dessa maneira, a necessidade e o
desejo de ganhar dinheiro fcil so propagados no ciclo pelo qual os jovens e crianas convivem. Por isso os
jovens so obrigados a amadurecer cedo, pois seus brinquedos tambm so os que os adultos brincam.
PARECER CRTICO:
As imagens da televiso e dos jornais so meio de informaes visuais que permitem que o
telespectador e o leitor, visualizem comportamentos, at mesmo de diferentes culturas e realidades de outras
classes sociais, pois permite que conhea o diferente sem ao menos deslocar-se de um local para o outro.
No cotidiano, observam-se as influencias que poder causar a sociedade ps-moderna que vive a partir da
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construo de pensamentos ideolgicos e o sentido. Tais assimilaes estereotipam o pobre como um dos
principais agentes da criminalidade causadora da violncia, porm essa desestruturao socioeconmica que
incentiva nocivamente os jovens a entrar no mundo do crime em prol do poder e o dinheiro fcil refletem
no s na inexistncia de educao, mas tambm nas condies de possibilidades que o meio e o desejo de
seguir padres de consumo posto pelo capitalismo.
No mundo onde o poder eleva o individuo, pode-se usar como analogia a roda da fortuna, onde quem
est no topo exercendo autoridade sobre os dominados pode a qualquer momento descer e ser esmagado
pelo dominante que manipula as aes dos outros para que o seu poder esteja cada vez mais firme. Neste
sistema de poder e dinheiro, de cultura e globalizao, encontra-se uma realidade de mudanas que ocorre
com a prpria realidade humana, principalmente na contemporaneidade, onde o Estado sempre exerceu um
poder em um papel ativo na comunicao de massa, regulando as influncias que poderia causar na
sociedade ps-moderna.
As imagens do crime e smbolos de representaes de poderio so criadas para cada alvo, onde desde
crianas que so as primeiras h serem influenciadas, onde tero que conviver com as influncias sem se
questionar, apenas aceitando que no existe outra maneira de existir no mundo. Dessa forma, os traficantes
educam os jovens pela disciplina do controle sobre suas aes, porm, assim como ocorre no sistema
opressor organizado pelo o estado, os mesmo visualizam essa realidade como um desejo pessoal, mas
raramente menciona que a vida do crime lhe foi ensinada para agir com disciplina ao seguir as ordens de
quem manda e desmanda por lei do dono da rea.
Por tanto, no mundo do capitalismo, os homens encontram-se interligados com suas vontades.
Vontades essas que representao o consumismo em prol do reconhecimento. A violncia propriamente dita
como consequncia de um mundo onde as oportunidades de incluso social so negadas aos pobres, pois a
sociedade os culpabilizam a todo custo. A falta de desumanizao para com essas classes minoritrias nega
os seus direitos sociais, polticos e civis que asseguram o cidado de uma vida digna.