DENALDI. Politicas - Urbanizacao - Impasses - Tese-20013 PDF
DENALDI. Politicas - Urbanizacao - Impasses - Tese-20013 PDF
DENALDI. Politicas - Urbanizacao - Impasses - Tese-20013 PDF
UNIVERSIDADE DE SO PAULO
TESE DE DOUTORADO
Rosana Denaldi
2003
Polticas de Urbanizao de Favelas:
Fa
evoluo e impasses
Rosana Denaldi
Tese de Doutorado
2003
Dedico esta tese aos pr ofissionais
profissionais
que tr
traabalham par a melhor
para ar as
melhorar
habitao
condies de ha bitao nas ffaavelas
Ag
Agrradecimentos
Agradecimentos
meus colegas Luis de Pinedo Quinto Jr. e Enio Moro, que me liberaram
de grande parte da carga didtica no ltimo semestre de 2002,
proporcionando-me tempo para concluir o trabalho;
Abstract
Abstr act
Abstract
This thesis deals with the institutionalization and evolution of slum
upgrading policies over the 1980s and 1990s. The analysis is focussed
on the limits and potencials of these municipal upgrading policies in
terms of their impact on the integration of slum with the city and on
increasing the access to adequate shelter. Five Brazilian cities are be-
ing analyzed, with a specific emphasis on the experience of the mu-
nicipality of Santo Andr. The ananlysis shows that, during this pe-
riod, municipal interventions have been improved and significant steps
forwards have been achieved regarding the conception, manangement
and implementation of upgrading projects.
Outro grande estmulo para a produo deste trabalho foi a convivncia com meus
alunos dos cursos de Arquitetura e Urbanismo da UniSantos (Universidade Catlica
de Santos) e UniABC (Universidade do Grande ABC). A favela, a cidade e a atuao
do arquiteto profissional nessas reas ainda so muito pouco conhecidas pelos
estudantes da rea.
So ainda uma referncia importante para a produo desta tese vrios trabalhos
que produzi, publicados internacionalmente, entre os quais: Constructing an Al-
ternative Housing Policy at the Local Level. The case of Diadema, Greater So Paulo
[Construindo uma Poltica de Habitao Alternativa no Nvel Local. O caso de
Diadema, Grande So Paulo] (1997); Local Government and Community Participa-
tion in Diadema [Governo Local e Participao da Comunidade em Diadema] (1995);
Viable Self-management [Autogesto Vivel] (1997); Community Participation
in Relocation Programs: The Case of the Slum Sacadura Cabral in Santo Andr
So Paulo Brazil [Participao da Comunidade em Programas de Reassentamento
o Caso da Favela Sacadura Cabral em Santo Andr, So Paulo, Brasil] (1999);
Integrated Program for Social Inclusion [Programa Integrado de Incluso Social]
(2000).
ndice
ndice
Introduo 01
3.3. Diadema 84
Bibliografia 202
Iconografia 218
Listas 223
Abr
Abreevia tur
viatur as
turas
Abreviaturas
O dficit habitacional brasileiro cresceu de 5,4 milhes, em 1991, para 6,5 milhes em 2000,
abrangendo um contingente aproximado de 20,3 milhes de pessoas. Ele se concentra nas
famlias de menor renda: 83,2% em famlias com renda mensal de at trs salrios mnimos,
e apenas 2% em famlias com renda superior a dez salrios mnimos mensais.1 Alm disso,
cerca de 15 milhes de famlias ocupam domiclios que no atendem a critrios mnimos de
habitabilidade e a maior parte desse dficit habitacional qualitativo se encontra nas famlias
com menor rendimento.2 Fato conhecido, o mercado residencial legal no atende a maioria
da populao brasileira.3
1
FUNDAO JOO PINHEIRO - FJP (2000)
2
A FJP/BRASIL (2000) relaciona os critrios mnimos de habitabilidade com os padres
construtivos, de disponibilidade de infra-estrutura urbana e legalidade de ocupao
da terra . Em 2000, dos 36,6 milhes de domiclios durveis existentes em reas
urbanas, 5,5% apresentavam adensamento excessivo; 28% tinham alguma carncia
de infra-estrutura bsica, 4% no dispunham de instalao sanitria; 2%
apresentavam problemas de depreciao e 5%, de irregularidade fundiria.
3
MARICATO (2001: 119) afirma que o mercado residencial privado legal restrito a
uma parcela da populao que em algumas cidades no ultrapassa 30%. O
INSTITUTO CIDADANIA (2000) constatou que, das 4,4 milhes de unidades
produzidas de 1995 a 1999, apenas setecentas mil haviam sido produzidas pelo
mercado.
1
Pela falta de alternativas habitacionais para a populao de menor renda, a cidade ilegal
assume propores sempre crescentes. Na maior parte dos principais centros metropolitanos
cidades como So Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Belo Horizonte, Salvador 20% a 40% da
populao total reside em favelas.4 A totalidade das grandes cidades brasileiras (com mais
de quinhentos mil habitantes) apresenta favelas, assim como cerca de 80% das cidades com
populao entre cem e quinhentos mil habitantes.5
H fortes indcios de que as favelas tendem a crescer e a se adensar ainda mais na periferia
das metrpoles (cidades perifricas). Em algumas cidades do Grande ABC (Estado de So
Paulo), como Santo Andr e Ribeiro Pires, a taxa de crescimento anual da populao favelada
chega a ser cerca de nove e 12 vezes maior, respectivamente, que o ndice de crescimento
total da populao residente nas cidades. Nota-se a continuidade do padro perifrico de
crescimento: o processo de periferizao, j evidenciado nas dcadas de 1970 e 1980,
intensifica-se na dcada de 1990.7 Os municpios perifricos das regies metropolitanas
vm crescendo mais rapidamente que os municpios das capitais e tm sido os responsveis
pelo incremento populacional das metrpoles. Segundo MARICATO (2001), das 12 regies
metropolitanas, os municpios centrais cresceram em mdia 3,1% entre 1991 e 1996, enquanto
os municpios perifricos cresceram 14,7%.8
A populao excluda levada a ocupar as reas desprezadas pelo mercado imobilirio, onde
a construo vedada, como reas lindeiras a rios e crregos, reservadas de loteamentos
(institucionais ou verdes) ou ainda de grande importncia ambiental, como as APMs (reas
de Proteo dos Mananciais), florestas e mangues. A ocupao dessas reas, alm de colocar
em risco a integridade fsica dos moradores, causa danos ambientais e compromete a
qualidade de vida na cidade como um todo.
4
LABHAB FAUUSP, citado por MARICATO (2001, p. 38).
5
BREMAKER (2001).
6
TASCHNER (2001: 28).
7
A configurao scio-espacial e a periferizao do crescimento na cidade de So
Paulo e na RMSP so tratadas, entre outros autores, por TASCHNER, S. P. e BGUS
(2000), L. M. M. e na RMRJ, por LAGO, L. C. (2000).
8
Enquanto a taxa de crescimento anual da populao do municpio de So Paulo foi
de 0,87% no perodo 1991-2000 e de 1,1% no perodo 1980-1991, a RMSP apresentou
1,63% e 1,86%, respectivamente, e a regio perifrica (toda a RMSP, excetuando-se
a cidade de So Paulo) apresentou 2,81% e 3,21%, respectivamente. Os denominados
anis perifricos da cidade de So Paulo apresentaram taxas de crescimento muito
superiores s dos demais anis e so responsveis pelo incremento populacional
de 95% entre 1980 e 1991 e de 262% entre 1991 e 1996 (TASCHNER & BOGUS,
2000: 254).
2
Efetivamente, a cidade oculta, representada pelas moradias ilegais, tem um preo oculto,
que vem sendo pago por toda sociedade, ainda que a tragdia do quotidiano de seus
moradores ultrapasse qualquer limite de comparao com as demais faixas da populao.
nica alternativa para milhes de famlias desprezadas pelo poder pblico e ignoradas pela
sociedade, a moradia indigna avana sem limites na ocupao desordenada do solo, com a
construo beira de rios e crregos ou no fundo de vales, contribuindo para o agravamento
de inundaes e enchentes em toda a cidade. Ou tambm com a edificao em encostas,
abrindo caminho para a eroso e deslocamentos de terra, que entopem as galerias de guas
pluviais, crregos e rios, com os mesmos efeitos calamitosos. Ou com a exploso de
verdadeiros bairros, em loteamentos ilegais, em regies importantes para a preservao do
meio ambiente, como as reas de mananciais ou reservas florestais, contribuindo para a
poluio das guas e da atmosfera. nica alternativa para as famlias que precisam de um
domicilio, a moradia indigna , involuntariamente embora, um forte agressor do meio ambiente,
com todas as suas conseqncias desastrosas para a qualidade de vida de toda a populao.
(INSTITUTO CIDADANIA, 2000)
MARICATO (2001) aponta que a favelizao das cidades est relacionada com as
caractersticas excludentes do mercado imobilirio formal e com a urbanizao desigual da
metrpole, relacionada com as caractersticas histricas do desenvolvimento do capitalismo
nos pases perifricos, identificadas como desenvolvimento desigual e combinado.9
O Estado assistiu ao espantoso crescimento da cidade oculta sem intervir com uma poltica
habitacional que atendesse a populao excluda. Fez-se presente no espao da acumulao,
mas se ausentou do espao da misria. 10 O crescimento das favelas , portanto, resultado
tambm da ausncia e conivncia do Estado.
Ainda de acordo com o autor, o paradoxo do modelo brasileiro, e da grande maioria dos
pases da Amrica Latina, consiste em chegar aos mesmos limites superiores do capitalismo
desenvolvido, sem ter atingido seus patamares mnimos (1998: 208). Em outras palavras, a
poltica social em geral, e a poltica habitacional em particular, entram como elementos
residuais e marginais na elaborao de uma estratgia geral de desenvolvimento para o pas.
9
Esse debate tem como referncia obras clssicas de autores como Florestan
Fernandes, Caio Prado Jr. e Celso Furtado. A sntese da discusso, retomada por
autores como SAMPAIO JR. (1997; 1999) para a escala nacional e MARICATO (2000;
2001) para o urbano, que o Brasil no completou o seu processo civilizatrio de
construo da nao, com efeitos dramticos sobre o quadro da excluso social
sofrida por grandes segmentos da sociedade brasileira. SAMPAIO JR. (1999) lembra
que as referidas obras clssicas da literatura brasileira tm uma surpreendente
atualidade em termos da capacidade analtica para explicar o atual estgio de insero
subordinada da nao brasileira no cenrio de globalizao.
10
Sobre o papel do Estado e da legislao, referncia o trabalho de MARICATO
(1996; 2000), que trata do paradoxo que articula legislao, arbitrariedade e
segregao.
3
As favelas, com ou sem interveno, consolidaram-se como espao permanente de moradias
e o tipo de interveno mais praticado passou a ser a urbanizao, tendo como principal
protagonista o municpio. Diante das dimenses do problema e da ausncia do Governo
Federal, como veremos nos prximos captulos, no restou alternativa aos governos
municipais, a no ser intervir com programas de urbanizao.
No final da dcada de 1990, momento em que a maioria dos governos comea a desenvolver
programas de urbanizao de favelas, ocorrem recomendaes para que se ultrapasse a fase
de projetos-pilotos e se desenvolvam polticas abrangentes de urbanizao. As agncias
internacionais propem a ampliao da escala dos projetos (Upscaling Slum Upgrading) e o
Governo Federal, por meio do programa Habitar Brasil/BID, exige que os municpios elaborem
o PEMAS Plano Estratgico Municipal de Assentamentos Subnormais, e o subprograma DI
Desenvolvimento Institucional, objetivando capacitar o municpio para estabelecer e
implementar uma poltica habitacional (e de urbanizao de favelas) abrangente. No entanto,
a maioria dos municpios no tem conseguido ampliar a escala de interveno e tem enfrentado
dificuldades para realizar uma recuperao urbanstica e ambiental adequada.
11
Sobre o conceito e diferenciao entre projetos, programas e polticas habitacionais
ver MACCALLUM (1992).
Para autor: Policy interprets political and social decisions at high levels: policy sets
broad objectives, specifies the basic strategies, indicates general levels and sources
of resource allocation, and relates housing to other polices.
Programmes are the first stage of implementation of policies; programmes convert
strategies to operational activities, set quantitative targets and time schedules, de-
fine sources of funds and allocation mechanisms, specify institutions and organiza-
tions for implementation, and set guidelines for project formulation.
Projects area the final stage of converting policy into action; projects are the site-
specific activities which implement programmes in the form of physical construc-
tions and/or service delivery operations.
4
O objetivo do trabalho contribuir para o aprimoramento de programas e polticas de habitao
e urbanizao de favelas, desenvolvidos em regies metropolitanas, por meio do registro e
anlise de experincias realizadas nas dcadas de 1980 e 1990, apontando suas limitaes,
impasses e potenciais. Trata-se de pensar a sustentabilidade dessas intervenes e, portanto,
ir alm da anlise de uma experincia localizada, estudando-as como alternativa de poltica
pblica aplicvel para solucionar o problema das favelas em seu conjunto, em uma cidade ou
regio.
Argumentarei neste estudo que, nas duas ltimas dcadas, a poltica de urbanizao de
favelas foi institucionalizada, difundida e aprimorada. Embora sejam relevantes os resultados
de melhoria das condies de vida, assim como as inovaes trazidas pelo aprimoramento
das polticas de urbanizao, a interveno no consegue ter a abrangncia necessria e
nem sempre promove a integrao da favela cidade, alm de no garantir o acesso a uma
habitao adequada.
O problema das favelas no se resolve apenas no mbito municipal, embora o municpio seja
o mais indicado para intervir. necessrio ter a retaguarda de uma poltica estadual e federal
de habitao, contar com uma poltica de subsdios para baixa renda, com programas
(complementares) de produo de novas moradias, para atender tambm a populao de
favelas, assim como estabelecer uma gesto urbana inclusiva no nvel local.
Para discutir a interveno dos governos locais em favela, trabalhei com dois universos
empricos. O primeiro, relacionado minha vivncia profissional, compe-se das cidades em
que atuei na Regio do Grande ABC (Diadema e Santo Andr), e o segundo universo, externo
minha experincia, relaciona-se com o estudo de outras experincias municipais, dentre as
quais destaquei So Paulo, Recife (PREZEIS) e Rio de Janeiro (Favela Bairro). O recurso de
relatar as experincias objetivou dar subsdios para a anlise da evoluo das polticas de
urbanizao e registrar dados importantes e detalhes. Para isso, apoiei-me na anlise da
documentao existente sobre as polticas, em visitas tcnicas e entrevistas com tcnicos,
dirigentes e lideranas comunitrias.
12
Trata-se da insuficincia de renda para arcar com os custos do consumo de
servios habitacionais mnimos e do alto preo da mercadoria habitao, que
uma necessidade bsica da populao. Ver RODELL, M. J. (1983).
13
evidente que os problemas habitacionais dos municpios metropolitanos no se
resolvem nos limites de seu territrio. A questo habitacional est relacionada a
polticas ambientais, de transporte e emprego, que so metropolitanas. Alm disso,
no campo da regularizao fundiria, a legislao estadual, seja a Constituio do
Estado no caso da desafetao de reas pblicas ocupadas (art. 180), seja a Lei de
Proteo de Mananciais no caso das sub-bacias, incide sobre a legislao munici-
pal.
5
A experincia de Santo Andr pormenorizada, a fim de explicitar melhor as limitaes das
polticas de urbanizao em regies metropolitanas. Para analisar a possibilidade de replicar
as solues inovadoras para o conjunto de favelas, incorporei a anlise do contexto urbano
e institucional da cidade.
O captulo cinco apresenta o estudo de caso de Santo Andr e trata da evoluo da poltica
municipal de urbanizao de favelas, destacando os avanos e as limitaes da ao munici-
pal.
Por fim, no sexto captulo, fao uma sntese da institucionalizao e aprimoramento das
polticas de urbanizao de favelas e aponto as limitaes e impasses para tornar a interveno
abrangente, garantindo a recuperao urbanstica das favelas e cidades e o acesso a uma
moradia adequada.
6
1. Estado
Estado,,
Poltica Ha bitacional
Habitacional
eFFaavelas no Br asil
Brasil
7
1. Estado 1.oltica
Estado,, P Estado, Poltica
Poltica Ha Habitacional
bitacional
Habitacional e eFFavelas
avelasnono
Fa Brasil
Br asil
Brasil
Neste captulo ser apresentada uma breve retrospectiva da ao governamental federal no
setor habitacional, dando nfase s propostas formuladas para as favelas. Trata-se de situar
o objeto de pesquisa no quadro histrico das polticas de interveno nacionais mais
relevantes. Discutirei a poltica habitacional em trs perodos: o primeiro perodo, indo do
incio do sculo passado at a criao do BNH; o segundo, o perodo de existncia do BNH
(1964 a 1986); e o terceiro, o perodo ps-BNH, com destaque para a poltica oficial recente
para o setor. Tambm ser tratada a evoluo da agenda das agncias internacionais e sua
influncia na elaborao de polticas habitacionais, mais especificamente na definio de
estratgias para interveno em favelas no Brasil.
Nos pases perifricos, como o Brasil, os gastos com a moradia no foram incorporados aos
salrios pagos pela indstria e nem assumidos pelo Estado. A urbanizao com baixos salrios
e as caractersticas excludentes do mercado imobilirio obrigaram a apelar para a produo
domstica e a invaso de terras. MARICATO (1996a:38) lembra que o aparato legal urbano
fundirio e imobilirio, que forneceu as bases para o incio da formao de um mercado
imobilirio excludente, foi desenvolvido na segunda metade do sculo XIX.
8
Por volta de 1880, a maioria dos prestadores de servios manuais, escravos ou trabalhadores
livres, morava nos locais de trabalho e no chegava a ter moradia prpria. Na cidade imperial,
os escravos viviam com os seus proprietrios, habitando os pores dos sobrados e os fundos
das casas trreas. Como a propriedade imobiliria era pouco valorizada, os homens livres
podiam obter a concesso gratuita de terrenos se pudessem neles construir e pagar os foros
anuais pela sua posse (REIS: 1994b).
1
MARICATO (1996b), MARTINS (1979), REIS (1994b).
2
O crescimento populacional urbano no final do sculo XIX tratado, entre outros
autores por CANO (1988, 1977), BONDUKI (1998), MARICATO (1998b), REIS (1994
a,b), VAZ (1986).
9
Em So Paulo, posturas semelhantes foram
adotadas, primeiramente mediante a determi-
nao de padres para construo de cortios
e, mais tarde, mediante a proibio de sua
construo. Em 1886, o Cdigo de Posturas
do Municpio de So Paulo regulamentou a
construo de cortios, definindo padres
para a sua execuo. O Cdigo Sanitrio proi-
biu a construo desse tipo de habitao e
atribuiu Municipalidade a responsabilidade
pela extino dos existentes. Outra lei, publi-
cada em 1898, determinou a demolio ou a
reconstruo de cortios considerados infec-
tos e insalubres conforme o padro munici-
pal (BONDUKI, 1998: 38).
10
No Rio de Janeiro, grandes obras de renovao urbana, de inspirao
haussmaniana, resultaram na demolio de 3.000 unidades habitacionais
em cortios. A populao era ento de 805 mil pessoas, cerca de 160 mil
domiclios. Ou seja, 2% dos domiclios foram demolidos para abertura da
Avenida Central em 1906. (TASCHNER, 1997b: 12)
Os cortios eram localizados nas reas centrais das cidades, obedecendo a uma lgica de
concentrao espacial. Com a valorizao das reas centrais, o Estado intervm,
desobstruindo a rea central da cidade para circulao do capital e localizao da classe
dominante emergente, forando o estabelecimento de uma poltica de segregao dos setores
populares, acentuando-se principalmente a partir das dcadas de 1930 e 1940, com o
amadurecimento do modelo econmico de carter urbano industrial (SILVA, 1989: 36).
Como mencionado, muitas favelas formaram-se no incio do sculo XX, a partir da expulso
da populao moradora de cortios em reas centrais. No Rio de Janeiro, os desalojados
pela Reforma de Passos foram abrigar-se nos morros. ABREU (1994) relata que a expanso
das favelas no tecido urbano carioca teve incio durante essa reforma. Em Recife, a erradicao
dos mocambos para a execuo de melhorias urbanas promoveu a expulso de cerca de 40
mil mocambos para as periferias, morros, inclusive manguezais, sendo que uma moradia foi
construda para cada quatro destrudas (PCR, 2001).
As favelas surgem como alternativa para a populao mais pobre no sc. XX, embora haja
indcios de seu surgimento ainda no sculo XIX.4 TASCHNER (1997a: 5-10) registra que, em
So Paulo, as favelas teriam surgido por volta da dcada de 1940; em Belo Horizonte, por
volta de 1895, na fase de construo da cidade, e em Salvador, tambm na dcada de 1940,
com grandes invases coletivas de terra. No Rio de Janeiro, proliferam-se desde a dcada de
1940 e, em So Paulo, a partir da dcada de 1970. Em So Paulo, a soluo predominante na
primeira metade do sculo XX o loteamento perifrico combinado com a autoconstruo
das moradias.5
3
Segundo BONDUKI (1998: 43) at a dcada de 1930 o aluguel era a forma
predominante de moradia. Em 1920 apenas 19,1% dos prdios da cidade eram
ocupados por proprietrios e provavelmente esses nmeros eram ainda menores
antes desse perodo.
4
No Rio de Janeiro registra-se que uma das grandes favelas teria surgido em
1897, quando soldados vindos da guerra de Canudos ocuparam um morro da
regio porturia, Morro da Favela (Providncia), onde construram moradias
precrias. Nesse mesmo perodo tambm teriam sido ocupados o Morro do
Castelo e o Santo Antnio.
5
Ver BONDUKI e ROLNIK (1979).
11
No caso do Rio de Janeiro, j em meados da dcada de 1920, mais de 100.000 pessoas
habitavam em favelas (ABREU, 1994: 41). Um recenseamento especfico de moradores de
favelas no Estado da Guanabara apontou que, em 1950, a populao moradora em favela
constitua 7,1% da populao total do Rio e, em 1960, 10,2%. Neste perodo (1950-1960), o
nmero de favelas aumenta 149%, e a populao residente em favelas aumenta de 169.305,
em 1950, para 335.063 em 1960, ou seja, 97% (PARISSE, 1969: 145).
Em 1937 (Estado Novo), para viabilizar a erradicao de favelas, foram criados os Parques
Proletrios Provisrios, visando abrigar famlias removidas de ncleos de favelas. Tratava-se
de alojamentos coletivos construdos com madeira, para onde as famlias eram
compulsoriamente removidas, l permanecendo indefinidamente. Os Parques Proletrios
representavam, ainda no Governo Vargas, uma primeira tentativa de poltica habitacional,
expressando uma mistura de populismo e autoritarismo, e no passaram de amontoados de
barracos e currais eleitorais, pois s ia para l quem tivesse carto poltico (SILVA, 1989: 38).
A remoo para os Parques foi anunciada como primeira etapa do programa. A segunda seria
a construo de edifcios onde as famlias iriam ser abrigadas definitivamente. No entanto,
os Parques Proletrios tornaram-se soluo definitiva. O resultado, segundo PARISSE (1969:
76), foi a destruio de quatro favelas e a construo de trs Parques Proletrios com
capacidade para alojar de 7.000 a 8.000 pessoas, nmero inferior ao anunciado e muito
insuficiente em relao populao total moradora em favelas, estimada em 300.000
habitantes.
Os IAPs passam a aplicar parcela de seus recursos na construo de moradias para seus
associados. Sua produo foi expressiva, chegando em 1945 a atender cerca de 5,2% da
populao urbana brasileira - estimada em 14,31 milhes - com a produo de cerca de
124.000 unidades habitacionais num perodo de 8 anos - de 1937 a 1945 (TASCHNER, 1997b:
17). Embora a produo tenha sido expressiva, seu atendimento era restrito populao
ligada indstria, deixando sem atendimento grande parcela da populao.
12
Em 1942, o Governo Vargas estabelece a Lei do Inquilinato, que congela os valores dos
aluguis. A medida acaba desestimulando a construo de moradias para aluguel e
estimulando a venda e a difuso da propriedade privada. Com a reduo do estoque de
moradias para aluguel, dificultou-se ainda mais o acesso da populao mais pobre ao mercado
formal.
O Governo Dutra elabora estudos e planos para favelas com o objetivo de erradicao e
controle. Em 1948, no Distrito Federal, o plano de extino de favelas chegava a propor que
os moradores retornassem ao seu estado de origem e que aqueles cujo salrio excedesse o
mnimo estipulado fossem expulsos (LEEDS apud SILVA, 1989: 41).
Em 1946, terminado o Estado Novo, foi criada a FCP - Fundao da Casa Popular. A FCP foi o
primeiro rgo de mbito federal a tratar exclusivamente da proviso habitacional. Segundo
BONDUKI (1998: 115-126), o projeto de criao da FCP propunha a reformulao da atuao
do Estado no setor e partia de uma viso abrangente da habitao, procurando articul-la
com o desenvolvimento urbano. O projeto inicial previa elementos fundamentais, como a
centralizao da poltica habitacional na FCP, a subordinao das operaes imobilirias e
das carteiras prediais dos IAPs e a criao de um emprstimo compulsrio como fonte
permanente de recursos.
13
Na primeira metade do sculo XX e antes da institucionalizao do BNH, os governos passaram
do desconhecimento da favela s polticas pautadas no controle e represso ou clientelismo.
As favelas foram vistas pelos governos como doena social (espao do marginal, preguioso),
ambiente de provvel disseminao comunista, problema social e migratrio e como potencial
eleitoral.6 Os programas oficiais de governo no atenderam os moradores de favela e a
erradicao delas foi a soluo apontada. Algumas experincias de urbanizao foram
realizadas com o apoio de instituies no-governamentais, principalmente aquelas ligadas
Igreja catlica, mas estas no alteraram as estruturas e diretrizes institucionais relacionadas
com a favela.7
Em 1964, no perodo militar (Governo Castelo Branco), criado o BNH - Banco Nacional de
Habitao. O BNH financiou obras de habitao, saneamento bsico e urbano, incluindo
grandes projetos regionais e nacionais das reas de transporte e energia. O Sistema Financeiro
de Habitao (SFH) operou com recursos provenientes de poupanas compulsrias, como o
FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Servio) e voluntrias (cadernetas de poupana),
alm dos recursos dos agentes financeiros e promotores8.
Com o BNH definitivamente difundida a idia da casa prpria. Com a ideologia da casa
prpria, esperava-se alcanar ordem e estabilidade social, alm de atender aos interesses
do capital financeiro, da indstria de materiais de construo e da indstria de construo. A
favela ser tratada como dficit de moradia e controle social (foco de subverso ao regime).
6
Ver ABUJARAMA (1967) e LEEDS&LEEDS (1978).
7
No Rio de Janeiro, em 1947, foi criada a Fundao Leo XIII a partir de um acordo
entre a Igreja e o Governo Federal, com o objetivo de assistir populao moradora
em favelas e, em 1955, a Igreja Catlica criou a Cruzada So Sebastio, rgo no-
governamental que apoiou projetos de urbanizao e remoo de favelas. Em So
Paulo, na dcada de 60, foram criadas, entre outras instituies, o MUD (Movimento
Universitrio de Desfavelamento) e MOV (Movimento das Organizaes Voluntrias
pela promoo do favelado).
8
Sobre o SFH e BNH escrevem vrios autores, entre eles: ANDRADE e AZEVEDO
(1982), BOLAFFI (1977), CASTRO (1999), MARICATO (1987), SILVA (1989).
14
O BNH foi criado sobre uma contradio insolvel: atender prioritariamente, com a produo
de moradias, a populao de baixa renda, e ser lucrativo e auto-sustentvel financeiramente,
supondo que essa populao poderia pagar pela casa prpria no subsidiada. O balano
final de sua atuao mostra que a maior parte de sua produo habitacional foi destinada aos
setores de renda mdia.
9
Em So Paulo tambm se promoveu a remoo de favelas que constituam
obstculo execuo de obras privadas e publicas (obras virias). Inicialmente, as
solues de remoo apontadas para as famlias eram alternativas individuais, como
a indenizao em dinheiro praticada na 2a gesto do Prefeito Prestes (1961-1965). A
partir de 1971, comeam a ser adotadas alternativas coletivas, como a construo
de alojamentos provisrios. As aes de tratamento individual resultavam na
disperso dos favelados por diferentes locais da cidade e a maioria dos alojamentos
se transformou em novas favelas. (BUENO, 2000: 46-60)
15
Estudo realizado por VALLADARES (1978) aponta que expressiva parcela das famlias removidas
de ncleos de favela para conjuntos habitacionais proposta de erradicao de favela
abandona o conjunto e passa a moradia para famlias com melhores condies financeiras.
Aponta vrios fatores como causa desse processo, entre eles a natureza compulsria do
programa, a localizao dos conjuntos quase sempre impondo uma distncia muito grande
entre moradia e local de trabalho, os custos de transporte e moradia, sendo estes ltimos
entendidos como os valores referentes prestao, ao condomnio, s taxas de gua, luz e
impostos.
16
Do conjunto das unidades construdas entre 1964 e 1986, cerca de 26%
contaram com financiamento do BNH (...) Este desempenho, no entanto,
mostra-se profundamente perverso quando os dados so desagregados.
Assim, de 4,5 milhes de unidades financiadas naquele perodo, somente
1,5 milho (33%) foi destinado aos setores populares, sendo que os atingidos
pelos programas alternativos (entre 0 e 3 salrios mnimos) foram
contemplados com apenas 250 mil unidades, o que significa 5,9% do to-
tal. (AZEVEDO & RIBEIRO, 1996:13)
A Nova Repblica chega acompanhada por medidas neoliberais do receiturio do FMI, que
provocam a diminuio de gastos tambm no setor habitacional, e recebe como herana um
BNH ineficaz e deficitrio.10 Aps sua extino em 1986, diversos ministrios e secretarias se
responsabilizaram pela poltica habitacional. O perodo marcado por constantes mudanas
ministeriais e arranjos institucionais.11 A CEF incorpora as atividades do BNH e mantida
como agente operador do FGTS.
10
A alta inadimplncia e a concesso de subsdios resultaram no aumento do dficit
do BNH. Em 1999, o Governo Federal (BRASIL - SEDU, 1999) estimava que o
desequilbrio econmico financeiro dos contratos resultava num dficit atuarial do
FCVS de 55 bilhes e de 71 bilhes de descasamentos potenciais no FGTS.
11
Direo da poltica habitacional: 1986: MDU (Ministrio de Desenvolvimento Urbano
e Meio Ambiente); 1987: MHU (Ministrio da Habitao, Urbanismo e Meio
Ambiente); 1988: MBES (Ministrio da Habitao e Bem-Estar Social); 1989:
Ministrio da Previdncia e Ministrio do Interior (Secretaria Especial de habitao e
Ao Comunitria SEHAC); 1990: MAS (Ministrio de Ao Social); 1992: MBES
(Ministrio do Bem-Estar Social); 1995: MPO/SEPURB (Ministrio de Planejamento
e Oramento - Secretaria de Poltica Urbana) e 1999: SEDU/PR Secretaria Especial
de Desenvolvimento Urbano Presidncia da Repblica. (CASTRO, 1999).
12
Entre 1987 e 1990, foi desenvolvido pela SEHAC o Programa Nacional de Apoio as
Comunidades Fala Favela . (CASTRO, 1999)
17
Nesse perodo, o Estado implementou um conjunto de aes pontuais, de carter assistencial,
ao invs de promover uma reestruturao mais ampla das polticas sociais. Foram lanados
programas habitacionais alternativos baseados na autoconstruo de moradias. Em 1985,
viabilizou-se o Programa Mutires, vinculado ao PPS (Programa de Prioridades Sociais), e em
1987 foi criado o Programa Nacional de Mutires Habitacionais, coordenado pela SEAC -
Secretaria de Ao Comunitria. Este ltimo contava com a parceria dos municpios e se
propunha, com verbas oramentrias, a atender famlias com renda inferior a 5 salrios
mnimos. Teve curta durao e financiou apenas 550 mil unidades (AZEVEDO,1996: 82).
Uma vitria alcanada foi a de se ter atingido maior transparncia nas aplicaes dos recursos
do FGTS por conta da participao de representantes da CUT Central nica dos Trabalhadores
no Conselho curador do FGTS (MARICATO, 1998a). Outro ganho foi a incorporao, no
discurso oficial do governo, de vrias das propostas que vinham sendo levantadas pelos
movimentos de moradia e partidos de esquerda, embora caiba repetir que esse discurso no
resultou em mudanas ou resultados significativos na prtica. Sobre essa questo resume
SILVA (1989: 184):
13
KLINK (1998: 3-22) aponta que h indcios de que a Unio tenha aumentado o
papel das contribuies sociais e diminudo o repasse dos recursos negociados
com os municpios como reao perda de recursos tributrios.
14
SATO (1993: 8) constata, cruzando as diretrizes setoriais e regionais, a presena
da autonomia e competncia comum abrindo oportunidades de ao conflitiva ou
cooperativa entre as esferas de governo (conflitos de competncia e responsabilidade)
na promoo de programas habitacionais ou de saneamento bsico.
18
No Governo Collor (1990), a rea de habitao se vincula ao Ministrio de Ao Social que
substitui o MBES e continua desassociada das reas de saneamento e desenvolvimento
urbano. O mais importante programa habitacional lanado foi o PAIH Plano de Ao Imediata
para a Habitao apresentado como medida emergencial e que propunha construir 245 mil
habitaes em 180 dias. O PAIH era composto por trs linhas de atuao: o Programa de
Moradias Populares (produo habitacional), o Programa Lotes Urbanizados e Cesta Bsica e
o Programa de Ao Municipal para Habitao Popular. Foi totalmente financiado com recursos
do FGTS e pretendia atender as famlias com renda familiar mdia de at cinco salrios
mnimos; o custo unitrio mximo de financiamento era de 720 VRFs e 500 VRFs (no caso do
programa Lotes Urbanizados e Cesta Bsica). Segundo AZEVEDO (1996: 84-85), o programa
deixou de cumpriu vrias metas, entre elas o custo mdio financiado, que foi superior ao
fixado, o prazo, que foi estendido, e a meta de produo de unidades, que foi reduzida. A
distribuio regional da produo no obedeceu aos percentuais fixados pelo conselho do
FGTS, desviando-se para objetivos clientelistas.
Em setembro de 1991 foi instalada a CPMI Comisso Parlamentar Mista de Inqurito para
apurar as irregularidades legais praticadas na aplicao e gesto dos recursos. A CPMI
suspendeu as aplicaes do FGTS em novos contratos at que se finalizassem as obras j
contratadas e apenas em 1994 o FGTS reiniciou novas contrataes (SOUZA, 1997). As
irregularidades provocaram crise financeira e institucional e levaram tambm paralisao
da construo de mais de 100 mil moradias iniciadas (CASTRO, 1999: 106).
Estima-se que mais de 200 mil habitaes financiadas ficaram desocupadas ou inconclusas
em 1991, situao que se arrastou para os anos seguintes (CHERKEZIAN & BOLAFFI, 1998:
130). Segundo SOUZA (1997), em 1993, cerca de 103 mil unidades concludas ainda estavam
desocupadas. A CEF relacionou a dificuldade de comercializao a vrios fatores, entre os
quais: o elevado custo final das unidades, superior aos valores de mercado; a desvalorizao
do empreendimento, provocada pela invaso dos conjuntos; o aumento dos saldos devedores
do empreendimento em funo da defasagem de tempo provocada pela paralisao das
obras; a localizao inadequada dos conjuntos (SOUZA, 1997).
O Governo de Itamar Franco (1992/94) formulou o programa Habitar Brasil com a utilizao
de recursos oramentrios para financiar a produo de moradias e a urbanizao de favelas.
Objetivava a gesto participativa dos recursos pelos fundos e conselhos locais compostos
por representantes da sociedade civil e do governo municipal. No mbito do programa Habitar
Brasil, foram atendidas cerca de 15 mil famlias em 1993; em 1994, cerca de 35 mil no
mbito desse e do programa Morar Pequenas Comunidades (SOUZA, 1997). Os resultados
previstos no foram realizados, devido, entre outros motivos, s limitaes impostas pela
excessiva padronizao, documentao exigida e falta de recursos causada pelo no
cumprimento de repasses, em funo do Plano de Estabilizao Econmica (Plano Real).
Este foi tambm o perodo de menor nmero de contrataes (produes habitacionais)
com a utilizao de recursos do FGTS.
19
No incio da dcada de 1990, o Governo Federal comea a estimular a criao de fundos e
conselhos municipais com a justificativa de alcanar maior participao popular e
descentralizao. Nesse perodo, para se ter acesso a financiamentos habitacionais, havia
uma exigncia obrigatria, que era a criao de um Conselho e Fundo municipal ou estadual,
para onde os recursos deveriam ser canalizados. A proposta avana, no sentido de que estimula
o processo participativo e prope democratizar as decises em nvel municipal e estadual.
No entanto, da forma como ocorreu, repentina e legalista, acabou tambm promovendo a
criao de instrumentos meramente formais.
CASTRO (1999: 107) lembra que, apesar da exigncia de criao de conselhos e fundos para
estados e municpios, o Governo Federal no institucionalizou, no nvel federal, espaos
similares de participao mais ampla da sociedade civil, reivindicados pelos movimentos
populares, sindicatos e at representantes do setor empresarial.
Tabela 01.
Financiamentos habitacionais no sistema Financeiro de Habitao 1973-1997
ANOS QUANTIDADE DE UNIDADES CONTRATADAS AO ANO
FGTS SSPF TOTAL
At 1973 520.000,00 454.000,00 974.000,00
1974 35.937,00 60.268,00 96.205,00
1975 77.417,00 64.512,00 141.929,00
1976 164.353,00 109.410,00 273.763,00
1977 209.709,00 58.004,00 267.713,00
1978 279.516,00 58.133,00 337.649,00
1979 274.238,00 108.985,00 383.223,00
1980 366.808,00 260.534,00 627.342,00
1981 198.514,00 266.884,00 465.398,00
1982 282.384,00 258.745,00 541.129,00
1983 32.685,00 44.562,00 77.247,00
1984 43.551,00 42.807,00 86.358,00
1985 42.987,00 34.652,00 77.639,00
1986 44.350,00 19.099,00 63.449,00
1987 99.227,00 13.218,00 112.445,00
1988 98.249,00 137.138,00 235.387,00
1989 32.404,00 81.327,00 113.731,00
1990 169.011,00 30.008,00 199.019,00
1991 356.032,00 8.600,00 364.632,00
1992 - 62.211,00 62.211,00
1993 - 53.707,00 53.707,00
1994 - 61.638,00 61.638,00
1995 - 46.594,00 46.594,00
1996 28.708,00 38.286,00 66.994,00
1997 35.206,00 33.988,00 69.194,00
TOTAL 3.391.286,00 2.407.310,00 5.798.596,00
20
A retirada do Estado do financiamento ao setor habitacional de mdia renda alavancou,
principalmente no incio dos anos 1990, o autofinanciamento da produo habitacional, que
explode na segunda metade da dcada de 1990.15 A exploso da produo autofinanciada
em 1996 e 1997 em So Paulo resultou da ausncia do Estado no financiamento habitacional
e das mudanas na legislao sobre as cooperativas e a produo de Habitao de Interesse
Social (CASTRO, 1999).
No Governo FHC (do Presidente Fernando Henrique Cardoso), nem sempre prtica e discurso
coincidem. O discurso vai coincidir em muitos aspectos com as bandeiras de luta de
movimentos populares, posies polticas mais progressistas e muitas propostas podem, de
fato, ser consideradas um avano. A moradia passa a ser entendida como o habitat e seu
contexto mais amplo leva a considerar as questes ambientais, urbanas, de saneamento e
desenvolvimento institucional. No primeiro Governo FHC (1995-1998), o MPO - Ministrio do
Planejamento e Oramento - e a SEPURB - Secretaria de Poltica Urbana - so os rgos
responsveis pela poltica habitacional; no segundo governo, a responsabilidade passa a ser
da SEDU-PR (Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano) da Presidncia da Repblica.
A nova proposta propunha a retomada da integrao entre saneamento, habitao e
transportes.
- Diversidade de programas;
15
O autofinanciamento consiste em uma alternativa para a produo, que se
reestrutura em busca da reduo de custos, por meio da flexibilizao do
financiamento a partir da centralizao dos capitais dos consumidores pelos
promotores. (CASTRO, 1999: 138)
21
O Governo Federal redefiniu oficialmente o dficit habitacional aps a realizao de uma
pesquisa com diagnstico sobre a situao habitacional no pas, encomendada Fundao
Joo Pinheiro em 1997. O discurso oficial passou a falar em dficit habitacional quantitativo
e qualitativo, entendendo moradia tambm como infra-estrutura e regularizao fundiria. O
diagnstico apresentou um dficit de 4 milhes de moradias na rea urbana e 1 milho na
rea rural, com 5,6 milhes de moradias carentes de infra-estrutura, 5 milhes com infra-
estrutura inadequada e 2,4 milhes de domiclios inadequados por adensamento excessivo
ou uso de material precrio na construo. Do dficit habitacional, 85% correspondiam a
famlias com renda de at 5 salrios mnimos e 55%, de at 2 salrios mnimos (BRASIL,
1997).16
Outro avano seria a parcial descentralizao e a gesto social dos recursos do FGTS. A
alocao de recursos por projeto e municpio no mbito dos programas Pr-Moradia e Pr-
saneamento passou a ser atribuio dos Conselhos Estaduais. O MPO, gestor da aplicao
do FGTS, implantou as Instncias Colegiadas institudas nas unidades de federao, compostas
por representantes dos governos em nvel federal, estadual e municipal e entidades da
sociedade civil, constitudas com a atribuio de hierarquizar e priorizar as propostas de
operaes de crdito com recursos desse fundo. No entanto, as Instncias possuem
autonomia limitada, uma vez que tm de aplicar as regras preestabelecidas pelo Governo
Federal, com pouco espao para adaptao s peculiaridades e necessidades regionais
(CHERKEZIAN & BOLAFFI,1988: 127-128).
MARICATO (1988a: 76-77) lembra que o Governo FHC, no decorrer da gesto, desmobilizou
ou fechou os frgeis canais de participao anteriormente existentes e rejeitou parceiros
como as centrais sindicais, movimentos de moradia, representaes de empresrios da
construo e de entidades de classe; no entanto, foi sensvel s demandas do mercado
imobilirio, viabilizando, por exemplo, em curtssimo prazo, o SFI (Sistema Financeiro
Imobilirio), que, devido s turbulncias no quadro econmico nacional e internacional, no
logrou ser implantado.
16
A Fundao Joo Pinheiro atualizou o estudo citado em 2001. Observou-se, no
perodo de 1991 a 2000, um aumento do dficit habitacional de 41,5%, sendo que
83% desse dficit corresponde a famlias com rendimentos inferiores a 3 salrios
mnimos e 97,8% se concentra na faixa at 10 salrios mnimos (Fundao Joo
Pinheiro, 2002).
22
Muitas mudanas na poltica habitacional brasileira buscaram adequao ao iderio neoliberal,
como reduo do papel do Estado e criao de instrumentos para dinamizar o mercado. A
aprovao do SFI, proposta de Lei de autoria da ABECIP (Associao Brasileira de Entidades
de Crdito Imobilirio e Poupana), viabilizou a extenso da alienao fiduciria aos imveis
urbanos e deu maior garantia de sustentabilidade financeira s operaes. CASTRO (1999:
126) conclui que a poltica habitacional do Governo FHC favoreceu a criao de um mercado
imobilirio secundrio, baseado em garantias hipotecrias para financiamentos e tambm
estimulou o associativismo para a produo de moradias com o financiamento pblico
direcionado aos usurios dos recursos, mas no conseguiu atender a populao mais carente
e nem conseguiu fazer decolar o SFI.
17
Os programas HABITAR/OGU, PASS e PASS/BIRD foram reestruturados em 1995
e identificados como Morar Melhor.
23
Os programas Habitar Brasil (Portaria MPO n. 20, 16/04/97) e Pr-Moradia (Resoluo
CCFGTS 246 e 249/96) destinam recursos para a urbanizao de favelas, infra-estrutura e
construo ou melhoria habitacional. O Habitar Brasil visa a atender a populao com renda
de at 3 salrios mnimos.
Um balano divulgado pelo Governo Federal em 1999 (BRASIL-SEDU Carta, 1999, n. 04,
junho/99) apresenta um investimento realizado de 1995 a 1999, da ordem de 773 milhes de
reais, no programa Pr-Moradia, de 2.664 milhes no Pr-Saneamento, de 695,1 milhes
no Habitar Brasil e de 803 milhes no PASS. SANTOS (1999: 23) conclui que, no perodo de
1995 a 1998, o Governo Federal atendeu, no mbito do programa Pr-Moradia, 630 municpios,
beneficiando 285.000 famlias e, no mbito do programa Habitar Brasil, 2.446 municpios,
beneficiando 437.542 famlias. Dos recursos alocados nestes dois programas, o autor aponta
que 16,3% teriam financiado intervenes do tipo urbanizao de favelas.
24
Os programas Pr-Moradia e Pr-Saneamento foram suspensos em 1988, devido ao
contingenciamento do crdito ao setor pblico e falta de capacidade de pagamento e
endividamento de estados e municpios (BRASIL, 2002). Com a suspenso, os programas de
Carta de Crdito restaram como principais programas de crdito habitacional, com recursos
do FGTS, destinados ao atendimento da populao de menor renda, mas assim mesmo esse
atendimento se mostrou inexpressivo. No perodo de 1995 a 2000, apenas 5,2% dos recursos
aplicados no programa Carta de Crdito Individual atenderam a populao com renda de at
trs salrios mnimos e nenhum percentual aplicado no programa Carta de Crdito Associativo
atendeu essa faixa de renda (BRASIL, 2002).
Nos programas financiados com recursos do FGTS, h muitas distores entre os valores
orados, contratados e executados por regio. A Tabela 2 compara o percentual de recursos
orados e contratados no mbito dos programas Pr-Moradia, Pr-Saneamento e Carta de
Crdito. De 1995 a junho de 1997, o Pr-Moradia contratou efetivamente apenas 18,1% do
valor previsto no oramento, e o Pr-Saneamento, apenas 23,8%.
Tabela 02.
Programas com recursos do FGTS 1995-1997
DOTAO CONTRATAO EFETIVA
PROGRAMAS ORAMENTRIA.
FGTS VALOR CONTRAT/DOAO %
Pr-moradia 1.911.418,00 346.556,00 18,10
Pr-saneamento 4.499.485,00 1.069.020,00 23,80
Carta de crdito 3.351.829,00 1.871.233,00 55,80
Total 9.762.732,00 3.286.809,00 33,70
Elaborada por CHERKEZIAN & BOLAFFI (1998)
Fonte: Caixa Econmica Federal
Posio em 30/06/97
Valores em R$1.000
O prprio Governo Federal avalia que ocorreu um direcionamento dos financiamentos com
recursos do FGTS sem levar em conta o perfil de distribuio do dficit. Como exemplo,
pode se observar que, no perodo de 1995/2000, as contrataes para a faixa de at 3 salrios
mnimos utilizaram cerca de 11% dos recursos; a faixa de 3 a 5 salrios mnimos, 12%; a
faixa de 5 a 8, 28%; e a faixa acima de 8 salrios mnimos, 49% (BRASIL, 2002).
Essas dificuldades podem ser atribudas, principalmente, ao despreparo da CEF para tratar
de financiamentos e projetos sociais, s limitaes institucionais e financeiras (capacidade
de endividamento) dos municpios para contratar financiamentos, padronizao rgida das
normas do programa para todo o pas e falta de critrios tcnicos para distribuio dos
recursos do OGU.
25
A CEF um banco comercial e, como nico agente do atual sistema, estava despreparada,
institucional e financeiramente, para promover atendimento social e equacionar a produo
habitacional integrada questo urbana. Muitos esforos vm sendo feitos para superar as
dificuldades de natureza normativa e operacional, mas o fato que existe uma grande
centralizao nesse agente, que tem pouca aptido para promover habitao de interesse
social.
Os recursos oriundos do OGU so liberados para os municpios somente por meio de emendas
carimbadas, efetuadas no OGU por deputados federais, no cabendo ao MPO sua destinao;
portanto, sua distribuio no obedece a critrios tcnicos, mas clientelsticos.18 Esses recursos
so emendas parlamentares e os valores aprovados no correspondem aos custos totais de
execuo de uma urbanizao de favelas ou produo habitacional. Podem ser maiores ou
menores; usualmente so menores. Os municpios estruturam um projeto a partir do valor
aprovado e no do valor necessrio para executar o projeto (e proposta de interveno), para
no perder os recursos a fundo perdido. Tambm no so necessariamente atendidas as
reas prioritrias do ponto de vista da situao de saneamento e risco. Muitas vezes o deputado
define a rea-objeto da interveno.19
18
Os recursos destinados aos governos estaduais no so necessariamente resultado
de emendas efetuadas no OGU, mas seus critrios de alocao e repasse para os
municpios tambm so polticos.
19
Para exemplificar, para o municpio de Santo Andr, entre 1996 a 1998, foram
aprovadas as seguintes emendas de autoria de diversos deputados: 140 mil reais
para urbanizao da favela Sacadura Cabral no mbito do Habitar Brasil, 340 mil
reais para a favela Tamarutaca no mbito do PASS, 560 mil reais para urbanizao da
favela Capuava no mbito do programa Habitar Brasil, e 350 mil reais para a favela
Cata-Preta no mbito do programa PASS. Sendo que o custo total estimado pela
PSA Prefeitura de Santo Andr para realizao destas urbanizaes de 13
milhes de reais para favela Sacadura Cabral, 2,2 milhes de reais para Cata Preta,
11 milhes de reais para Capuava, e 4,6 milhes de reais para Tamarutaca. O custo
dessas urbanizaes inclui a execuo de saneamento bsico (execuo de redes
de gua, esgoto, drenagem), pavimentao, consolidao geotcnica e, quando for
o caso, de desadensamento, a construo de moradias para remoo parcial de
famlias. Os custos no incluem: terra, financiamento para a autoconstruo de
moradias e outros programas sociais.
26
Outra grande dificuldade a apresentao da documentao exigida. Entre outros, so exigidos
documentos tais como: projeto de parcelamento aprovado, documentao fundiria, atestados
de concessionrias. A situao fundiria em ncleos de favela quase sempre de
equacionamento difcil a curto prazo, quando no impossvel. Muitos ncleos de favela esto
localizados em reas de mananciais, reas particulares com processo judicial, reas verdes e
institucionais de loteamentos cujo parcelamento no aprovado porque contraria a
Constituio Federal do Estado de So Paulo (no caso desse estado).
Este desenvolvimento vem sendo cada vez mais estimulado pelo Governo Federal. O PMSS
(Programa de Modernizao do Setor de Saneamento), e recentemente o Habitar Brasil/BID,
com recursos provenientes tambm do Banco Interamericano de Desenvolvimento, so
exemplos disso.
27
Como sabido, em regies metropolitanas, com elevado custo da terra, alto adensamento
dos ncleos de favela e situaes geotcnicas complexas, no possvel promover
urbanizao de muitas reas degradadas dentro desses limites de valores, a menos que o
municpio assuma a quase totalidade do investimento (SANTO ANDR, 1999a). Para
exemplificar, a urbanizao da favela Castelo Encantado, em Fortaleza, resultou, em 1999,
num custo de 11 mil reais por famlia e a PSA (Prefeitura de Santo Andr) estimou em 2002
que o custo da urbanizao integral das favelas no municpio de Santo Andr era de 12,4 mil
reais por famlia.20
Em 1999, no segundo Governo FHC, firmado um contrato de emprstimo com o BID para
desenvolvimento do Programa Habitar Brasil/BID (HBB), tambm voltado para promover a
melhoria das condies de habitao em favelas nos moldes do Habitar Brasil.21 O governo
apresenta o Habitar Brasil/BID como importante instrumento de poltica urbana e visa, com a
implantao deste, alm de atender a populao de menor renda, capacitar os municpios
para elaborar e implementar sua poltica habitacional. Para promover essa capacitao,
condiciona o acesso ao financiamento ao desenvolvimento do subprograma de
Desenvolvimento Institucional (DI) de Municpios (BRASIL, 1998).
Para o desenvolvimento do HBB est prevista a utilizao de recursos da ordem de US$ 417
milhes, sendo 60% correspondentes ao emprstimo do BID (US$ 250 milhes) e 40%
correspondentes contrapartida brasileira (US$ 167 milhes). Para o desenvolvimento do
sub-programa DI sero destinados 15% do total destes recursos. A esse montante devero
ainda ser agregados recursos de contrapartida de estados e municpios, estimados em US$
110 milhes (PONTUAL, 2000).
20
Custo apresentado para favela Castelo Encantado foi apresentado pelo arquiteto
Luiz Renato Bezerra Pequeno em workshop realizado na FAU-USP para discusso
preliminar dos dados levantados na pesquisa Parmetros para Urbanizao de
Favelas. O custo de urbanizao de favelas de Santo Andr refere-se ao programa
UI-PIIS .
21
Emprstimo n. 1126-OC/BR celebrado em 13/09/1999
28
Em 2000, o Governo Federal propunha-se atender 128 municpios brasileiros, incluindo as
principais capitais do pas, com a previso de realizar, por municpio atendido, um investimento
mdio de R$ 5,6 milhes. At setembro de 2000, 82 municpios brasileiros haviam firmado
contrato de financiamento no mbito do subprograma DI e 6 municpios haviam contratado
financiamento no mbito do subprograma UAS (PONTUAL, 2000) 22. Pretendia-se influenciar
a elaborao de polticas municipais de habitao e promover a melhoria do desempenho
municipal. Nesse sentido, cabe mencionar que, de fato, o subprograma DI tem incentivado
os municpios tanto a produzir diagnsticos mais completos sobre os assentamentos como
a promover a reviso e adequao de seu arcabouo jurdico institucional para tratar da questo.
Muitos municpios vieram a conhecer o nmero de favelas e reas de risco na cidade ou at
mesmo a instituir legislao de interesse social por exigncia do programa.
O governo enfrentou muitas dificuldades para fazer deslanchar o Habitar Brasil/BID e iniciar
as contrataes com os municpios e os desembolsos, o que acarretou recursos
disponibilizados (tanto do OGU como do BID) e no contratados. Mais uma vez, exigncias
excessivas, dificuldade institucional dos municpios, alm das constantes mudanas na
regulamentao do programa e da falta de sintonia entre SEDU, CEF e BID podem explicar a
no-contratao de recursos.
Outros dois programas lanados pelo Governo FHC que destacamos so a Carta de Crdito
e o PAR. A Carta de Crdito (Programa Individual ou Associativo) estabelece linhas de
crdito direto ao consumidor (indivduos ou associaes) para aquisio de lote, construo,
melhoria e ampliao, ou aquisio da moradia. O programa pode atender tambm a
populao que possua lotes em ncleos de favela urbanizados. No entanto, como mencionado
anteriormente, o volume das contrataes pela populao de baixa renda ficou abaixo da
mdia esperada. A disponibilidade de imveis em condies regulares para serem financiados,
a ilegalidade em torno do lote, terra ou habitao e at mesmo a documentao pessoal
(como comprovao de renda, situao regularizada no SPC) dificultam o acesso da populao
de baixa renda s cartas de crdito.
22
Segundo Marcia Cintra, consultora da SEDU, em outubro de 2002, existiam 19
contratos de DI ativos e 37 contratos de UAS ativos.
29
A CEF vem enfrentando muitas dificuldades para viabilizar o programa na RMSP (Regio
Metropolitana de So Paulo). A escassez e o alto custo da terra praticamente inviabilizam a
produo de imveis ao custo-limite definido.23 A proposta s se viabiliza em reas perifricas
da RMSP, onde se consegue abaixar o peso do custo da terra no valor total de produo do
investimento ou quando as prefeituras cedem o terreno, subsidiando a produo. Com isso,
podemos estar correndo o risco de ver repetidos alguns erros do passado, como a produo
de habitaes em reas distantes dos centros e deslocadas, espacial e regionalmente, da
demanda. Essas habitaes, erguendo-se em reas inadequadas, provocam verdadeiros
desastres ambientais.
A utilizao do PAR para viabilizar a remoo de famlias de favelas e de reas de risco, como
sugerido pela CEF e SEDU, de difcil operacionalizao. As famlias que ocupam as margens
de rios, encostas ngremes ou lixo so as que apresentam menor renda familiar e o programa
no atende famlias com renda inferior a trs salrios mnimos.24
Na metade do segundo Governo FHC, foram criados alguns instrumentos para possibilitar a
implantao da poltica habitacional alm do referido Estatuto da Cidade, finalmente aprovado
em 2001 (Lei n. 10.257/01). Foi criado o Programa de Subsdio Habitao de Interesse
Social (Medida Provisria n. 2.212 de 2001) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento
Urbano (Medida Provisria n. 2.220 de 2001).
Em 2002, o Governo Federal lana para discusso a proposta da Nova Poltica Habitacional,
o documento preliminar Documento de Poltica Habitacional e minuta de projeto de lei Poltica
Nacional de Habitao e Sistema Nacional de Habitao de Interesse Social. Como ao
prioritria, o Governo Federal recomenda que o setor pblico concentre sua ao direta na
facilitao de maiores oportunidades de acesso moradia s populaes com padres de
consumo mais precrios, inclusive no que se refere regularizao dos assentamentos
subnormais existentes (BRASIL, 2002).
23
Na cidade de So Paulo, o governo municipal (Prefeita Marta Suplicy) conta com
esta fonte de financiamento para promover a recuperao de cortios na rea cen-
tral da cidade, mas para viabilizar o projeto vai alocar recursos municipais
complementares e subsidiar parte da operao.
24
Para um imvel de 15 mil (construo, infra-estrutura terreno) a taxa de ocupao
(aluguel) em 2000 era de R$ 95,00.
30
Embora se d especial ateno para que os municpios elaborem polticas habitacionais e
instrumentos que viabilizem o atendimento populao de menor renda, o mesmo no ocorre
no nvel federal. Importantes instrumentos, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento
urbano e Fundo, que poderiam democratizar a gesto da poltica habitacional e reverter a
tradio de clientelismo, s so aprovados no final desse perodo e no so implantados at
o final de 2002.
Pode-se concluir que o Estado assistiu ao espantoso crescimento das favelas sem intervir
com uma poltica habitacional e urbana abrangente que atendesse a populao moradora
em cortios e favelas e promovesse sua incluso na cidade. No incio do sculo XX, chega
at mesmo a propor como soluo para o problema favela a proibio de sua existncia e a
sua extino. A erradicao foi a alternativa mais defendida at a dcada de 1960. A partir da
dcada de 1970, quando o Estado intervm, admitindo a urbanizao das favelas, ele o faz
com programas alternativos de pequena abrangncia e desligados do eixo estrutural da
poltica habitacional e das estruturas institucionais. No perodo do BNH, quando se estrutura
o SFH para uma poltica habitacional nacional, a favela tratada como dficit de construo
de novas moradias, mas o que ocorre, na verdade, que o SFH, como j mencionado, no
permitia produo habitacional subsidiada e a populao favelada no conseguia adquirir
uma moradia do sistema. O primeiro programa voltado para a urbanizao de favelas no
mbito do Governo Federal (PROMORAR), institudo no perodo BNH, pode tambm ser
considerado alternativo. A Nova Repblica muda o discurso, mas tambm no atende a
favela; atribui, antes, ao municpio a responsabilidade pela soluo do problema habitacional.
No discurso do Governo FHC, o municpio deve intervir para solucionar o problema da favela
e a populao de menor renda deve ser priorizada. So institudos e adequados vrios
programas visando atender a populao de favelas, mas o volume dos recursos alocados,
assim como a regulamentao para sua utilizao, no permite serem estes os motores da
urbanizao de favelas no Brasil. Levou-se quase um sculo para reconhecer, no discurso
oficial, que precisamos urbanizar favelas, assim mesmo, sem estruturar financeira e
institucionalmente esse atendimento.
25
Sobre o conceito e a natureza dessa ajuda internacional, ver ROSSETTO (1993: 24
-29).
31
Nesta seo ser tratada a evoluo da agenda das agncias internacionais e sua influncia
na elaborao das polticas para a favela no Brasil.
WERNA (1996) relaciona a formulao de polticas nesse primeiro perodo com trs elementos
correlacionados: a modernizao, como paradigma de desenvolvimento, o fordismo,
estratgia de acumulao do capital e de desenvolvimento industrial, e o modernismo,
enquanto escola de pensamento em Arquitetura e Urbanismo.
Na avaliao do prprio Banco (BANCO MUNDIAL, 1983), foram financiados produtos caros
e inacessveis populao de menor renda, com adoo de alternativas que muitas vezes
acentuaram a segregao espacial da populao. Conclui-se que a maior parte da produo
financiada no beneficiou os mais pobres.
32
O conceito de progressividade, difundido com o paradigma housing as a verb, defendido por
John Turner, permitiu revisar o produto ofertado, que passa a ser, por exemplo, o lote e no a
casa, e a infra-estrutura bsica e no a totalidade dos servios pblicos, como pavimentao
e equipamentos.
Foi ganhando importncia a opo pela consolidao e urbanizao das favelas por meio da
proviso de infra-estrutura e servios bsicos, uma vez que essa alternativa era mais barata,
acessvel populao e evitava os desastrosos processos de reassentamento promovidos
no perodo anterior.
A avaliao produzida pelas agncias registrou o sucesso de vrios projetos, mas apontou a
dificuldade de reaplicar em larga escala os casos bem-sucedidos e transform-los em polticas
pblicas. Concluiu-se tambm que as alternativas promoviam limitado acesso economia
urbana, resultado da limitao das possibilidades de gerao de renda e da segregao
socioespacial dos empreendimentos financiados (BANCO MUNDIAL, 1991).
33
As altas taxas de crescimento da populao nos centros urbanos e, principalmente, as altas
taxas de crescimento da populao de favelas (formas ilegais de ocupao), a constatao
da incapacidade do Estado e do mercado de produzir habitao em escala e custo compatveis
com a demanda e a renda, somada ao entendimento de que a falta desses servios de infra-
estrutura e saneamento afeta a produtividade da economia urbana, no deixou outra alternativa,
a no ser indicar como prioritria a urbanizao de favelas. difcil o acesso a apoio financeiro
para produo de moradias.
O principal documento elaborado para divulgar a poltica urbana do Banco Mundial nesse
ltimo perodo foi sua agenda urbana para os anos 90 (BANCO MUNDIAL, 1991). O documento
sintetiza as principais propostas e recomenda como estratgias:
No mesmo ano, foi criada a agncia Cities Alliance (CA) para implementar o CDS. Seu objetivo
central aprimorar e ampliar a escala dos programas de urbanizao de favelas e contribuir
para o desenvolvimento de planos estratgicos de desenvolvimento local .
- recuperao ambiental;
34
- incentivos para gerenciamento e manuteno da comunidade;
- regularizao fundiria;
- melhoria habitacional;
Privilegiam-se projetos de maior vulto conjugados com reformas institucionais para melhorar
o desempenho do governo. Os investimentos na rea habitacional e de desenvolvimento
urbano so direcionados para programas integrados de saneamento, recuperao ambiental
e urbanizao de favelas. Valoriza-se a elaborao de polticas integradas de melhoria dos
assentamentos e as aes multissetoriais.27
BRAKARZ (2000: 87) indica que os projetos integrados devero receber apoio das agncias
internacionais. O BID, assim como as outras organizaes de financiamento que atuam
nessa rea, deve continuar apoiando esse modelo, seja como um setor especfico de
investimento, seja incorporando-o a operaes de luta contra a pobreza urbana (BRAKARZ,
2000: 87).
27
Segundo BRAKARTZ (2002: 20) esta abordagem foi proposta pelas Naes Unidas
em 1988 em sua Estratgia Global de Habitao para 2000, foi incorporada pelo
Banco Mundial em 1993 em seu Documento de Poltica Habitacional e vem sendo
promovida pelo BID por meio de seus emprstimos.
35
Analisando a evoluo da agenda internacional e, mais especificamente, os diagnsticos
relacionados com sua formulao, podemos resumidamente afirmar que o problema da favela
foi considerado inicialmente como falta de moradia (ampliao do estoque habitacional),
passando a ser entendido como falta de renda e oferta de produtos acessveis (como
saneamento), at ser relacionado com o desempenho dos governos e com polticas urbanas
e seu vnculo com a macroeconomia. As propostas de polticas formuladas para favelas
evoluram no sentido de substituir (em importncia) os projetos por processos e valorizar
intervenes integradas e a articulao com a poltica urbana e econmica.
36
Percebe-se que existem pontos de convergncia entre as polticas dos
organismos internacionais e aquelas implementadas no Brasil pelo BNH.
Existem tambm divergncias, principalmente em relao aos objetivos
dessas polticas e uma defasagem temporal na sua aplicao, que denota a
importncia e a influncia do processo histrico, da conjuntura poltica, social
e econmica, que modela o cotidiano de cada pas. (ROSSETTO, 1993:
143)
A autora conclui que, embora as diretrizes habitacionais do Banco Mundial e do BNH tenham
sido marcadas por um modelo economicista, no caso brasileiro a agncia no conseguiu
influenciar o BNH, em meados da dcada de 1970, a instituir polticas de autoconstruo
como alternativa poltica convencional de construo de conjuntos habitacionais por
empreiteiras.28 Os programas dessa natureza surgem apenas no final da dcada de 1970,
quando foi necessrio adotar polticas de baixo custo como resposta crise financeira e pela
necessidade de legitimao do regime junto s classes populares. No se constituiu, portanto,
como resultado de avaliaes negativas de outras formas de enfrentar o problema habitacional.
29
Em 1989, o Banco Mundial aloca recursos no projeto Grande Rio e, em 1992, este mesmo
Banco inicia o financiamento do Programa de Saneamento Ambiental do Reservatrio
Guarapiranga, envolvendo tambm urbanizao das favelas localizadas nas bacias
hidrogrficas. Em 1993, o BID comea a financiar o programa municipal Favela-Bairro,
desenvolvido pela PCRJ e, em 1994, o Programa Cingapura, promovido pela PMSP.
37
Como mencionado anteriormente, em 1998, o Governo Federal assina com o BID um contrato
de emprstimo para viabilizar o programa HBB, com o objetivo de financiar prioritariamente
projetos de urbanizao de favelas e, simultaneamente, capacitar municpios a elaborar
polticas habitacionais e urbanas. Segundo Heleno Franco Mesquita, coordenador do
programa,
Como veremos nos prximos captulos, muitas das atuais recomendaes das agncias
internacionais e do prprio Governo Federal coincidem com o que j vinha sendo praticado
localmente por muitos municpios desde o incio da dcada de 1980. No entanto, permanecem
desconhecidas pelas agncias outras questes com as quais as cidades em regies
metropolitanas vm lidando. Percebe-se uma tendncia a homogeneizar as polticas pblicas,
j detectada por WERNER (1996), que se revela nos diagnsticos comuns e estratgias
nicas formuladas para diferentes pases e, no caso brasileiro, para diferentes regies dentro
do mesmo pas.30
38
Confirma-se que, quando h convergncia de interesses, as agncias internacionais
influenciam em algum grau e periodicidade o desenho das polticas pblicas de habitao e,
mais especfica e recentemente, o desenho dos programas de urbanizao de favelas no
Brasil, por meio de suas regras e estratgias de financiamento.
39
2. Favela, Tipolo
Fa gia e
Tipologia
Parmetr os de Inter
armetros Intervveno
40
2. Favelas
Fa elas,, 2.Tipolo
Favela,gia
Tipologia e P armetr
Parmetr
Tipologia armetros osde
e Parmetros de Urbanizao
Interveno
Os resultados e as limitaes das polticas de urbanizao, que sero tratados nos prximos
captulos, esto tambm relacionados com a configurao do espao nas favelas e com as
tipologias e parmetros de interveno. Elementos da poltica de urbanizao de favelas, tais
como custo de urbanizao, regularizao fundiria, grau de integrao da favela urbanizada
com a cidade e replicabilidade, esto vinculados com os parmetros e tipos de urbanizao
adotados.
Objetivando subsidiar a anlise das polticas municipais, discutirei neste captulo as principais
mudanas na configurao do espao nas favelas, assim como os tipos de interveno em
favelas e parmetros para a elaborao de projetos urbansticos. Destacarei tambm os
principais parmetros para a anlise das polticas municipais de urbanizao estudadas nesta
tese. A discusso sobre a evoluo da ao do Estado sobre as favelas, iniciada no primeiro
captulo, ser retomada no captulo trs.
41
O IBGE (2000) conceitua o setor aglomerado subnormal (favela e seus assemelhados) como:
BUENO (2000: 17) define as favelas como aglomerados urbanos em reas pblicas ou
privadas, ocupadas por no-proprietrios, sobre as quais os moradores edificam casas
margem dos cdigos legais de parcelamento e edificao.
A maioria da populao de favelas vive em regies metropolitanas, fato que leva afirmao
de que o fenmeno favela metropolitano. No Brasil, 78% dos domiclios em favela esto
localizados em nove regies metropolitanas do pas; no Estado de So Paulo, 75,4% esto
na RMSP; no estado do Rio de Janeiro, 92,3% na RMRJ (TASCHNER, 1999).
42
Observa-se o que alguns autores
denominam de periferizao da
populao metropolitana e a
favelizao das metrpoles. 5
Nota-se a continuidade do pa-
dro perifrico de crescimento:
o processo de periferizao j
evidenciado nas dcadas de 1970
e 1980 se intensifica na dcada
de 1990. 6 Os municpios perifri-
cos das regies metropolitanas
foto 02.
vm crescendo mais rapidamen- Casas em Favela - Belm do Par. 2002
te que os municpios das capitais
e tm sido os responsveis pelo
incremento populacional das
metrpoles. Segundo MARICATO
(2001), das 12 regies metropo-
litanas, os municpios centrais
cresceram em mdia 3,1% entre
1991 e 1996, enquanto que os
municpios perifricos cresceram
14,7%.
5
Analisando a configurao socioespacial, a periferizao do crescimento na cidade
de So Paulo e na RMSP tratada, entre outros autores, por BOGUS & TASCHNER
(2000) e na RMRJ por LAGO (2000).
6
Enquanto o municpio de So Paulo apresentou taxa de crescimento anual da
populao de 0,87% no perodo de 1991-2000 e de 1,1% no perodo de 1980-1991,
a RMSP apresentou 1,63% e 1,86%, respectivamente, e a regio perifrica (toda a
RMSP excetuando-se a cidade de So Paulo) apresentou 2,81% e 3,21%,
respectivamente. Os denominados anis perifricos da cidade de So Paulo
apresentaram taxas de crescimento muito superiores s dos demais anis e so
responsveis pelo incremento populacional de 95% entre 1980 e 1991 e de 262%
entre 1991 e 1996 (BOGUS & TASCHNER, 2000: p. 254).
7
TASCHNER & VRAS (1990) descrevem as mudanas e a evoluo das favelas no
municpio de So Paulo nas dcadas de 1970 e 1980. Ver tambm TASCHNER (1997a;
2001) sobre caractersticas e evoluo das favelas na cidade de So Paulo e RMSP;
PRETECEILLE & VALLADARES (2000) sobre caractersticas das favelas no Rio de
Janeiro e GUIMARES em Belo Horizonte (2000).
43
As pesquisas do IBGE, assim como vrios outros estudos, apontam mudanas.8 As favelas
se adensam, verticalizam e grande parcela das moradias construda em alvenaria; a imagem
do barraco substituda pelos tijolos aparentes. Aumenta a cobertura por servios de infra-
estrutura. A forma de acesso favela passa a ser preponderantemente pela via do mercado
imobilirio informal e o comprador, na maioria das vezes, adquire uma moradia j parcialmente
construda. Constata-se tambm a diversidade espacial e social: no so apenas os mais
pobres que habitam favelas.
TASCHNER (1997a: 17) aponta que a condio de vida da populao de favelas melhorou em
funo do aumento da cobertura de servios pblicos como gua encanada, coleta de esgoto,
energia eltrica e coleta de lixo domiciliar. Em 1991, o IBGE registrou que 99,6% dos domiclios
de favela na cidade de So Paulo dispunham de energia eltrica, 89,6% de gua encanada,
26% de ligao de esgoto e 63,8% de coleta pblica de lixo. 9
A autora lembra que, em que pesem as diferenas regionais, a condio de vida da populao
brasileira como um todo melhorou. Em 1991, no Brasil, o percentual de domiclios servidos
por rede pblica de gua era de
86%; com instalao adequa-
da de esgoto em zonas urba-
nas, de 63,6%. Em 1970, esses
percentuais eram de 60% e
47,3%, respectivamente. No
Estado de So Paulo, 96,4%
dos domiclios em zona urbana
estavam ligados rede de gua
em 1991 (TASCHNER, 1999).
Em 2000, 72,05% dos domic-
lios urbanos contavam com
instalao adequada de esgoto
(rede ou fossa sptica). (IBGE,
fotos 04 e 05.
2000) Favela Parque So Bernardo - So Bernardo do Campo. 1984/1985
8
Opt citado.
9
MARICATO (2001: 27) relaciona a expanso do acesso rede de gua com a evoluo
positiva dos indicadores de mortalidade infantil e o da esperana de vida ao nascer.
Em 1940, o Brasil apresentava a taxa de 149 mortes entre 1000 nascidos vivos antes
de atingir um ano de idade e, em 1999, essa taxa caiu para 34,6 mortes.
44
Cabe ressaltar que, embora se registrem melhorias no atendimento por redes de esgoto nas
ltimas dcadas, a precariedade mantm-se e at mesmo se acentua na ltima dcada, em
funo da falta de investimentos na rea de saneamento. Em 1998, 48,9% dos domiclios
urbanos no eram atendidos por rede de esgoto e apenas 15% do esgoto sanitrio produzido
pelos domiclios brasileiros recebiam tratamento (SEDU-PR apud MARICATO, 2001: 40).
O estudo realizado pela FJP - FUNDAO JOO PINHEIRO (2000) apontou uma queda
significativa, em nmeros absolutos, na quantidade de domiclios brasileiros que no possuem
um padro mnimo de servios bsicos. Estes eram, em 1991, 17,5% dos domiclios urbanos
durveis e, em 2000, passam a ser 8,3%, sendo que se detectou, por outro lado, uma forte
concentrao de carncia de um nico servio: 79,8% esto nessa situao. O esgotamento
sanitrio o servio responsvel pela inadequao da maioria dos domiclios.
foto 06.
Favela Tamarutaca - Santo Andr. 2000
foto 07.
Favela Jardim Salgueiro - Mau. 2000
45
Os barracos de madeira so substitudos por construes de alvenaria e aumenta a rea
construda do domiclio.
fotos 08 e 09.
Ncleo Morro Cabritos - Rio de Janeiro. 2002
foto 10.
Favela
Pedro Amrico -
Santo Andr. 2000
foto 11.
Favela Naval -
Diadema. 1987
Apesar da melhoria da qualidade da habitao, que passa a ser construda com material
durvel e a apresentar unidade sanitria interna, suas condies continuam muito precrias.
Embora os indicadores de cmodos/domiclio e rea mdia construda por domiclio melhorem,
a anlise de pessoas por dormitrio revela a precariedade. Cerca de 24,53% dos domiclios
apresentavam mais de quatro pessoas por dormitrio (TASCHNER, 2001: 52-60). O grande
adensamento dos domiclios, somado inadequao das condies de iluminao e ventilao
e segurana das moradias, resulta em habitaes insalubres e de grande precariedade. 10
10
Em algumas favelas do municpio de Santo Andr, como Coria e Centreville,
cerca de 30% dos domiclios possuem trs ou mais pavimentos. Cerca de 28% dos
domiclios de favela abrigam mais de uma famlia (SANTO ANDRE/ CTA, 1999).
46
Alguns estudos apontam que as favelas so heterogneas
espacial e socialmente e que no so os nicos setores
pobres da cidade. PRETECEILLE & VALLADARES (2000),
analisando as favelas do Rio de Janeiro, afirmam que nelas
habitam alguns indivduos no to pobres e as situaes
de pobreza urbana extrema so mais freqentes fora das
favelas. TASCHNER (2001: 99) tambm afirma que as
favelas apresentam estrutura social diversificada, dotada
de mobilidade e insero e que categorias no miserveis
tambm se encontram nelas. O que deve ser lembrado
que a favela local de moradia tambm de proporo
embora pequena da classe mdia (7,7% dos chefes e
11,16% da populao) e da pequena burguesia (3,18% dos
chefes e 2,66% da populao). Assim, nela habitam alguns
setores no to pobres.11
foto 13.
Ncleo Salgueiro - Mau
Precariedade, insalubridade e adensamento das moradias. 2000
11
Classe Mdia (empregados de escritrio, supervisores, tcnicos, artistas,
trabalhadores em sade, educao, justia, segurana, Correios) e Pequena
Burguesia (pequenos empregadores, comerciantes por conta prpria) so categorias
socio-ocupacionais construdas por TASCHNER (2001) projeto RONEX com dados
censitrios do IBGE.
12
Sobre o mercado informal nas favelas, ver AZEVEDO (2000), BALTRUSIS (2000),
TASCHNER (1982; 2001), VALLADARES (2000), TASCHNER & VERAS (1990). Sobre
o funcionamento do mercado imobilirio nas favelas e a formao de seus preos,
referncia o trabalho de ABRAMO (1999, 2001).
47
O autor revela que os preos imobi-
lirios nas favelas (...) primeira vista,
so excessivamente elevados quando
comparados com as qualificaes do
imvel em si mesmo e/ou quando
comparados com os preos dos im-
veis dos bairros do seu entorno.
ABRAMO relaciona a formao dos
preos elevados principalmente com
o componente auto-referencial13 do
foto 14.
mercado e com a liberdade do direito Ncleo Nova Centreville - Santo Andr
de construir na favela, que no est Adensamento e verticalizao das favelas. 2002
MAUTNER (1999) assinala que a incorporao das favelas cidade ocorre concomitantemente
expanso do capitalismo nesses territrios e que a moradia, resultado da produo de valores de
uso, transforma-se em valor de troca. Outros autores, como RAMIRES, FIORI, HARMS e MATHEY
(1992), tratam do valor de mercado adquirido pelas moradias e identificam o processo como
commodification.
13
Para ABRAMO (2001: 1580-1583) o componente auto-referencial estaria relacionado
com o superinvestimento em materiais de construo nos imveis, que se torna
referncia para a formao de preos na favela, independentemente do valor
objetivo de mercado, e tambm com a grande assimetria informacional desse
mercado.
48
2.2. Tipologia e parmetros de interveno
2.2.1. Tipologia de intervenes em favela
Para autora, a urbanizao seria tambm a aceitao da favela como fenmeno urbano,
mantendo as caractersticas do parcelamento de solo e das habitaes e a reurbanizao
seria:
14
BUENO (2000: 162-206) apresenta um histrico dos partidos urbansticos de
projetos de interveno em favela.
15
O projeto Brs de Pina foi desenvolvido pelo escritrio Quadra Arquitetos
Associados, recebeu apoio da CODESCO (Companhia de Desenvolvimento em
Comunidades) e foi implantado em 1968-69.
16
O projeto Pedregulho de Reidy, entre outros, trabalhou com essa concepo.
(BUENO, 2000: 168).
49
A escolha da reurbanizao como partido urbanstico pode estar relacionada com a falta de
aceitao da forma urbana da favela. Sobre esta forma urbana, BUENO (2000: 280-297) chama
a ateno para o valor esttico, arquitetnico e cultural dos assentamentos de favela e prope
que se resgate a qualidade urbanstica da forma urbana tpica da ocupao e edificao
paulatinas. Defende que as polticas de urbanizao de favelas respeitem ao mximo a forma
do assentamento e as edificaes existentes.
Compara a forma urbana resultante das favelas urbanizadas a setores de cidades medievais
europias e cidades coloniais brasileiras e aponta semelhanas nas solues e adaptaes
do tecido urbano. Nessas cidades, lembra, a tecnologia adaptou-se e respondeu forma
urbana.
A discusso sobre o respeito tipicidade de ocupao merece, a meu ver, ser aprofundada.
Entre os projetos de reurbanizao que propem uma interveno do tipo terra arrasada e
aqueles que propem respeito absoluto pelo existente, pode existir uma gama de alternativas.
Questiona-se at que ponto todos os becos, estreitamentos de viela e cantos devam ser
preservados quando podem comprometer a segurana dos moradores e consolidar situaes
inadequadas quanto ao conforto e salubridade das moradias, alm de dificultar a manuteno
urbana ou at mesmo torn-la mais cara.17 Queremos enfatizar aqui que no estamos
recomendando a adequao dos projetos aos princpios do urbanismo cartesiano e
modernista, mas propomos que se realizem anlises de custo-beneficio, da forma como, por
exemplo, prope o estudo elaborado pelo IPT, Procedimentos para Tomada de Deciso em
Programas de Urbanizao de Favelas (CARVALHO et al., 2002).
17
UEMURA (2000: 74) verificou que na favela Santo Lcia na cidade de So Paulo,
urbanizada no mbito do programa Guarapiranga (Programa de Saneamento
Ambiental da Bacia do Guarapiranga), os moradores fecharam com portes todas
as vielas estreitas e sem sada.
18
Sobre a urbanizao de Alagados ver HEREDA (1991) e sobre a urbanizao da
favela do Dique ver BLANCO JR. (1998).
50
figura 03.
Projeto de
reurbanizao da
Favela Alagados -
Salvador.
dcada de 1980
foto 19.
Favela Alagados -
Salvador.
dcada de 1980
51
figura 04.
Projeto do Conjunto Habitacional
Minas Gs - So Paulo. 1992
foto 23.
Urbanizao da Favela
Minas Gs -
So Paulo. 1992
fotos 24 e 25.
Conjuntos Habitacionais
foto 26. Delamare/Helipolis -
Urbanizao da Favela gua Branca - So Paulo. 1992
So Paulo. 1992
BUENO (2000) lembra que esses tipos de interveno, embora tenham uma seqncia
histrica, convivem no tempo e no espao. Atualmente, em funo de condies fisiogrficas
especficas e de interesses contraditrios relacionados ao espao urbano, h cidades
adotando, ao mesmo tempo, remoo, erradicao, demolio e reconstruo, e a urbanizao
integral de favela.
52
A favela Capuava est sendo urbanizada praticamente sem alterar a tipologia de ocupao
existente (fig. 05). Se tomarmos ao p da letra os conceitos apresentados, as favelas
Tamarutaca e Quilombo apresentam setores urbanizados e setores reurbanizados. Na favela
Tamarutaca promoveu-se um novo parcelamento, mantendo a maioria das construes de
alvenaria existentes, mas viabilizando simultaneamente a abertura e melhoramento de virio,
promovendo, para tanto, a demolio, o reparcelamento e a reconstruo de muitas moradias
(fig. 06).20 Em todos os casos, para promover a urbanizao ou reurbanizao, foi necessrio
eliminar situaes de risco e promover o desadensamento das favelas para melhoria ou
abertura de virio; para isso, cerca de 18% das famlias foram removidas para novas unidades
habitacionais, construdas fora da favela. No municpio de Santo Andr, o projeto urbanstico
do complexo Jardim Irene prev a verticalizao de setores da favela com a construo de
novas moradias e urbanizao de outros, preservando a tipicidade de ocupao.
figura 05.
Projeto de urbanizao do Ncleo Capuava - Santo Andr
20
Entendemos por relocao o deslocamento da famlia de um local para outro
dentro da prpria rea da favela com a construo de uma nova unidade habitacional
ou a simples reconstruo do barraco. Por remoo compreendemos seu reassen-
tamento em outra rea (alojamento, loteamento ou conjunto habitacional) localizada
fora da favela.
53
figura 06.
Projeto de urbanizao do Ncleo Tamarutaca - Santo Andr.
Tambm nesta direo, a PSA adota uma classificao que busca diferenciar as intervenes
a partir de seus componentes. Para tanto, classifica os ncleos de favela em ncleos
consolidveis e no consolidveis e adota como principais tipos de interveno: remoo,
urbanizao e urbanizao integrada. Os ncleos no consolidveis so objeto de interveno
do tipo remoo e reassentamento em novas reas. Os ncleos consolidveis so objeto
de intervenes de urbanizao ou urbanizao integrada (UI) (SANTO ANDR, 1998, 1997).
54
figura 07.
Projeto de reurbanizao do Ncleo Sacadura Cabral - Santo Andr
55
Em ambos os casos, os projetos de urbanizao podem envolver a construo de novas
moradias, tanto no ncleo de favela como fora deste, para equacionar situaes de risco ou
de alta densidade.
foto 28.
Interveno Pontual no Stio dos Vianas:
fotos 29 e 30.
construo de muro de arrimo - Santo Andr. 2002
Urbanizao Gradual no Jardim Oratrio -
Mau. 2000
56
- padro mnimo de urbanizao: implan-
tao de redes de gua e de esgoto, drena-
gem e eletrificao, com solues de coleta
de lixo e melhoria da acessibilidade, alm
de recuperao das reas de risco;
- padro intermedirio de urbanizao:
somaremos eliminao de situaes de
risco e implantao de infra-estrutura a
proviso de equipamentos urbanos (praas,
centro comunitrio, escola, creche), a reade-
quao do virio e interveno no entorno,
quando necessrio, buscando solucionar
questes ambientais ou deficincias de
estrutura urbana;
- padro alto de urbanizao: soma-se
adequao da densidade com definio de
parcelamento, com a grande maioria dos
lotes tendo tamanho igual ou superior a 44
m2, a eliminao de situaes de insalubri-
dade e insegurana das moradias, a
readequao do virio para permitir acessibi-
lidade a todas as moradias, adotando o
padro de vias com largura superior a dois fotos 31 e 32.
metros, ou vias de pedestre que distem Favela Santa Sofia antes e depois da
urbanizao - Diadema. 1993/1996
menos de 60 metros de uma via de veculos,
e a promoo da regularizao fundiria.
fotos 33 e 34.
Urbanizao Integrada
no Ncleo Calux -
So Bernardo do Campo. 2000
57
foto 35.
Ncleo Jardim Salgueiro - Mau:
favela parcialmente urbanizada
fotos 36 e 37.
Ncleo D.E.R. -
So Bermardo do Campo:
antes e depois da urbanizao
58
2.2.2. Parmetros para a elaborao de projetos urbansticos
21
Ver tambm MORETTI (1997), que desenvolveu recomendaes para parcelamento
e execuo de infra-estrutura em empreendimentos habitacionais.
22
BUENO (2000: 320-323); MELLO et al. (1995), SANTO ANDR (2000), RIO DE
JANEIRO (1996), entre outros.
59
figuras 08 e 09.
Ncleo Sacadura Cabral - Santo Andr:
Cartas Temticas: Diagnsticos de Qualidade Ambiental Risco de Inundao
Qualidade dos Domiclios - consolidao das habitaes
Elaborado pela Consultoria Diagonal Urbana . 1998
60
figuras 10 e 11.
Ncleo Sacadura Cabral - Santo Andr:
Cartas Temticas: Densidade por Quarteiro
Renda dos Chefes de Famlia
Elaborado pela Consultoria Diagonal Urbana . 1998
61
O LABHABFAUUSP (1998-1999) desenvolveu uma importante pesquisa, intitulada Parmetros
para urbanizao de favelas, que analisou os resultados da urbanizao de oito favelas em
cinco cidades brasileiras: So Paulo, Rio de Janeiro, Diadema, Goinia e Fortaleza.23 A pesquisa
avaliou os aspectos tcnicos e tecnolgicos das obras de urbanizao de favelas, tendo
como referncia os indicadores de replicabilidade, adequabilidade e sustentabilidade e como
objetivo discutir um conjunto de recomendaes para urbanizar favelas.24
A pesquisa desenvolvida pelo LABHAB revelou o alto grau de satisfao dos moradores com
a urbanizao executada e o potencial dos projetos de urbanizao estudados como
instrumento de recuperao da qualidade ambiental urbana. Observou-se que esses projetos
foram desenvolvidos com grande flexibilizao dos parmetros urbansticos.
A rea mdia das unidades habitacionais construdas nas favelas pesquisadas varia de 51 m2
em Vila Olinda (Diadema) a 75 m2 em Jardim Dom Fernando (Goinia). BUENO (2000: 265)
compara o tamanho das moradias (rea construda em metros quadrados) e o nmero de
pessoas por domiclio nas favelas pesquisadas com outras situaes de habitao popular e
conclui que a rea construda mdia nas favelas da amostra superior dos outros casos.
exceo de Goinia, a mediana dos lotes foi encontrada entre 41,5 m2 e 90,8 m2.
23
A pesquisa foi financiada pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e pela
CEF (Caixa Econmica Federal) e tambm apoiada pela FUPAM; a coordenao
geral da pesquisa foi da Prof. Dra. Ermnia Maricato e a coordenao tcnica da
Profa. Dra. Laura Bueno. Resumo dos resultados da pesquisa apresentado por
BUENO (2002).
24
Sobre o conceito de replicabilidade, sustentabilidade e adequabilidade ver LABHAB
(2000) e BUENO (2002). Sobre o conceito de sustentabilidade ver tambm PEQUENO
(2001: 26-41).
62
Os dados coletados mostram que a rea construda mdia da unidade nas favelas pesquisadas
superior de outros casos, inclusive conjuntos habitacionais. Quanto quantidade de
pessoas por domiclio, os nmeros se aproximam. No se alcana o ndice preconizado de
15 m2 de rea construda por habitante (BUENO, 2000).
Estudo desenvolvido por tcnicos do IPT (CARVALHO et al., 2002) analisa procedimentos
para tomada de deciso em Programas de Urbanizao de favelas, baseados no estudo e
comparao de diferentes alternativas de intervenes, com a adoo de diferentes parmetros
e padres urbansticos e seus respectivos custos.
- Vias de largura inferior a dois metros ou de dois a quatro metros, distando mais de 60
metros de uma via de veculos.
Alternativa 1
Alternativa 1: visa basicamente implantao de redes de gua e de esgoto,
mesmo que em condies mnimas de desempenho, acessibilidade a
todas as moradias, e recuperao das reas de risco.
Alternativa 2
2: visa atender aos objetivos da primeira proposta de interveno,
somando-se a eles a requalificao do sistema virio do ncleo, com base
nos critrios estabelecidos no item de caracterizao do sistema virio
existente.
63
Alternativa 3
3: visa implantao de sistemas de saneamento bsico, ao
controle das reas de risco e adequao do sistema virio existente, da
forma como foi contemplado pela segunda alternativa, somando-se, porm,
medidas de adequao da densidade de ocupao do ncleo, para que
esta se enquadre nos critrios propostos na caracterizao da densidade
de ocupao. No caso da favela em estudo, a proposta se baseia na remoo
extensiva das famlias de reas cujo lote equivalente mdio seja menor que
45 m2 por edificao, resultando em espaos livres a serem utilizados para
relocao de unidades habitacionais.
A Tabela 3 apresenta os resultados urbansticos e custos por famlia obtidos em cada uma
das alternativas. O estudo demonstra que diferentes padres de urbanizao (e parmetros
de projeto) resultam em diferentes custos de urbanizao. E trata-se de diferentes tipos de
interveno, todos denominados de urbanizao, mas apresentando diferentes resultados.
Tabela 03.
Alternativas de Urbanizao do Ncleo Parque Amlia/Santa Margarida:
custo por famlia e resultados urbansticos
Alternativas
Descrio
1 2 3 4 5
rea de sistema virio (%total) 4,4 12,5 14,5 16,3 27,7
rea institucional e/ou verde (%total) 3,4 5,6 5,6 22,3 22,3
rea edificada (%total) 53,8 51,3 54,3 45,9 50
Remoes previstas (famlia) 23 83 238 362 736
Nmero de relocaes (famlias) 0 0 176 112 544
Reassentamento (famlias) 23 83 62 250 192
Custo total 2.322,84 6.582,52 9.957,17 17.260,70 26.535,32
64
figura 12.
Ncleo Parque Amlia/Santa Margarida - So Paulo
Alternativa 1: saneamento bsico e controle de riscos
figura 13.
Ncleo Parque Amlia/Santa Margarida - So Paulo
Alternativa 2: saneamento bsico, controle de riscos
e adequao do sistema virio
figura 14.
Ncleo Parque Amlia/Santa Margarida - So Paulo
Alternativa 3: saneamento bsico, controle de riscos,
adequao do sistema virio e da densidade
Crrego
Virio Existente
Viela/caminho consolidado
rea protegida pela Lei n. 6.766/79
Creche existente
Limite da favela
Moradias removidas
Moradias existentes no removidas
Praa projetada
figura 15. Elaborao: CARVALHO et al (2002)
Ncleo Parque Amlia/Santa Margarida - So Paulo
Alternativa 4: saneamento bsico, controle de riscos, adequao do
sistema virio e da densidade e atendimento Lei Federal n. 6.766/79
65
O estudo um alerta para quem busca definies de custo de urbanizao e padronizao de
solues e parmetros urbansticos. Os custos de urbanizao esto relacionados com as
caractersticas fisiogrficas especficas de cada ncleo e com os parmetros de projeto
adotados, que, por sua vez, resultam em diferentes patamares de qualidade de moradia,
possibilidades de regularizao, recuperao ambiental e regularizao fundiria.
Outra reflexo importante diz respeito possibilidade de traar normas nicas. Uma
determinada alternativa de interveno pode se mostrar vivel para um ncleo e invivel para
outro, dependendo das caractersticas especficas, assim como dos impactos e custos
resultantes. Apesar da importncia do tema, pouco se tem apropriado e sistematizado sobre
as solues tecnolgicas e urbansticas executadas, seus custos e a qualidade de projeto
resultante.
Parece importante que a tomada de deciso seja orientada pela anlise das alternativas de
interveno e dos custos e benefcios resultantes, tanto para os moradores de favela como
para a cidade.
66
Entendemos que os programas de urbanizao devem promover a melhoria das condies
de habitao nas reas degradadas, recuperando-as ambientalmente e tratando-as como
parte de setor da cidade ou micro-bacias hidrogrficas, como tambm sugerem BUENO
(2000) e MARICATO (2001: 79). A maioria das favelas ocupa reas frgeis do ponto de vista
ambiental, como encostas, fundos de vales (beira de crregos), APMs. Essa ocupao traz
conseqncias negativas para a cidade como um todo. MORETTI (2000) lembra que a cidade
como um todo sofre efeitos indiretos quando ocorrem, por exemplo, inundaes. Outros
efeitos so a contaminao dos cursos dgua e a dificuldade de obter gua superficial de
boa qualidade. O autor recomenda a execuo de projetos e programas integrados de
recuperao e qualificao de bairros, que venham abranger um determinado setor da cidade,
incluindo aes de captao e tratamento de esgoto, recuperao e tratamento paisagstico
de fundos de vale, recuperao de micro-bacias hidrogrficas, alm de preveno de riscos
geotcnicos.
67
Para efeito da anlise deste trabalho, moradia adequada em favelas urbanizadas envolve a
unidade domiciliar e o seu habitat.26 Em relao ao domiclio, consideramos adequados
aqueles que apresentam nveis mnimos de segurana, durabilidade, salubridade e tamanho.27
Destacamos alguns dos padres (ou indicadores) considerados mnimos (por domiclio):
- Localizao defronte a uma via de veculos ou a uma distncia desta superior a 60 metros;
- Lote com rea igual ou superior a 44m2, possibilitando uma rea construda, mesmo que
gradativamente, que comporte um dormitrio para no mximo trs pessoas;
26
A FUNDAO JOO PINHEIRO (2001) conceitua como inadequados os domiclios
carentes de infra-estrutura, com adensamento interno excessivo (mais de trs
moradores por dormitrio), com inadequao fundiria, inexistncia de unidade
sanitria domiciliar interna e com inadequao em funo da depreciao.
27
Ver TASCHNER (1982),
28
O CEPAM (FUPAM: 1982) recomendou que a distncia mxima de uma via de
veculo a ser percorrida pelo pedestre no seja maior que 50 metros.
68
3. A Dcada de 1980:
iniciati
iniciati
tivvas pioneir as
pioneiras
de urbanizao e
avelas
regularizao de ffa
69
3. A Dcada de 1980:
3. A Dcada Inicia
Iniciati
de 1980: ti
tivvasPioneiras
Iniciativas Pioneir deas de
Pioneiras
Urbanizao e Regularizao de Favelas
Urbanizao e RReegularizao de F avelas
Fa
Neste captulo, ser retomada a discusso da evoluo da ao do Estado sobre as favelas,
iniciada no primeiro captulo. Sero discutidas as polticas municipais pioneiras de urbanizao
de favelas desenvolvidas no incio da dcada de 1980 como parte integrante da poltica
municipal de habitao. Para tanto, foram eleitas duas experincias municipais: o PREZEIS
(em Recife), com foco no sistema de gesto e estabelecimento de legislao urbanstica
especfica, e o Programa de Urbanizao de Favelas de Diadema, com foco no reconhecimento
da posse da terra, promoo de parcelamento e infra-estrutura nas favelas.
No incio dos anos 1980, duas cidades brasileiras, Recife e Belo Horizonte, so pioneiras no
estabelecimento de legislao municipal visando promover a urbanizao e a regularizao
de favelas, e enfatizam a regularizao da posse da terra. As legislaes de parcelamento e
uso do solo passam a reconhecer a existncia das favelas e a prever sua consolidao
mediante a adoo de padres urbansticos diferenciados dos aplicados cidade formal.
Tambm so aplicados instrumentos buscando reconhecer a posse da terra, como a CDRU
(Concesso de Direito Real de Uso) e o Usucapio coletivo. Em 1983, o governo municipal
de Belo Horizonte institui o PROFAVELA (Programa Municipal de Regularizao de Favelas);
em 1983 e 1987, o governo municipal de Recife institui as ZEIS (Zonas de Especial Interesse
Social) e o PREZEIS (Plano de Regularizao das ZEIS), respectivamente.
1
No Rio de Janeiro, foi criada, em 1947, a Fundao Leo XIII e, em 1955, a
Cruzada So Sebastio. Em So Paulo, foram criados, em 1961, o MOV
Movimento das Organizaes Voluntrias pela Promoo do Favelado e o MUD
Movimento Universitrio de Desfavelamento, entre outros.
2
Sobre o MUD ver TANAKA (1995) e sobre o MOV ver ABUJAMRA (1967).
3
Registra-se, sem entrar no mrito de seu desempenho, que alguns Governos
Estaduais estabeleceram, nesse perodo, programas habitacionais visando
promover a melhoria das condies de habitao nas favelas. o caso do
PRODECOM Programa de Desenvolvimento de Comunidades, institudo em
1979 pelo Governo Estadual de Minas Gerais.
4
Ver AZEVEDO A. (2000), BOTLER & DINIZ (1993), FERNANDES ( 2001) e MARINHO
(1999).
71
O modelo de gesto e regulamentao institudo altera a prtica do planejamento urbano
oficial, que ignora a cidade ilegal e inova ao dar tratamento legal s reas de ocupao
informal da cidade. MARICATO (1996) discute o paradoxo que articula legislao, arbitrariedade
e excluso urbanstica representada pela ocupao ilegal do solo urbano e destaca que (...)
a ocupao ilegal de terras informalmente consentida pelo Estado que, entretanto, no
admite o direito formal de acesso terra e cidade.
Outras cidades iniciaram programas de urbanizao com foco na melhoria das condies
de saneamento. Em 1983, Diadema, na RMSP, iniciou interveno na maioria das favelas
existentes na cidade.
No Rio Janeiro, em 1979, surge o Projeto Rio para promover a urbanizao das favelas da
rea da Mar. Em 1983, o Governo do Estado do Rio de Janeiro, por intermdio da CEHAB
(Companhia Estadual de Habitao) e da CEDAE (Companhia Estadual de gua e Esgoto),
institui um programa para levar saneamento s reas de favela. Em 1983, criada a SMDS
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, que institui o Projeto Mutiro, programa
centrado na execuo de saneamento, que visava promover a urbanizao das favelas.
fotos 42 e 43.
Vista area e detalhe da Favela Jardim Edith
removida para a construo da Avenida
guas Espraiadas - So Paulo. 1996
72
3.2. Recife
Recife uma das cidades brasileiras com o maior percentual de sua populao total habitando
favelas. A PCR/FJN (2001) estima que cerca de 49% de sua populao total, ou 660 mil
habitantes, residam em favelas (reas pobres) que se espalham por toda a rea urbana.5 A
PCR (2001) afirma: nenhum bairro da cidade se situa a uma distncia superior a 1,2 km de
uma favela.6 Os indicadores urbansticos revelam uma condio de habitabilidade bastante
precria. Esgoto inexiste em 92,16% desses assentamentos e apenas 1% dos ncleos conta
com drenagem em 100% de seu territrio.7 Estima-se a existncia de cerca de 600 favelas.
Em 2001, existiam 66 ZEIS institudas e 35 ZEIS com COMULS instaladas, denominadas
pela PCR de ZEIS Efetivas (PCR/FJN, 2001). Essas ZEIS ocupam 12% da superfcie do
territrio do municpio, 80% das reas de favela e 40% da populao total de Recife.
5
A populao residente nestas reas foi estimada a partir de foto-interpretao
pela PCR/FJN (2001).
6
So considerados Assentamentos Populares ou reas Pobres: as Zonas
Especiais de Interesse Social (ZEIS), os assentamentos precrios passveis de
remoo, os assentamentos precrios passveis de ser reabsorvidos pelo tecido
urbano e os reassentamentos. A precariedade dos assentamentos, da mesma
forma que no Cadastro anterior, caracteriza-se pela ocupao desordenada das
habitaes, pela carncia de infra-estrutura fsica e/ou irregularidade do
assentamento quanto propriedade do solo e/ou quanto s condies de uso
previstas na Lei de Uso do Solo (PCR/FJN, 2001: 85).
7
necessrio considerar que a cidade inteira carente de esgoto: em 1991 a
rede de esgoto da cidade atendia apenas a 51% dos seus domiclios.
8
Destaca-se a importncia do papel da Igreja Catlica, por meio da Comisso de
Justia e Paz, que, assessorando os movimentos sociais, apresentou projeto de
lei para as ZEIS, cujo contedo foi quase totalmente incorporado na Lei do
PREZEIS. Ver Folha nos Bairros: n. 21, maio/junho de 1989 e n. 20, abril de
1989.
73
Mapas 01 e 02.
Recife: localizao das favelas (reas pobres) e das ZEIS
Pode-se citar o Plano de Desenvolvimento para o Recife (1980-83), que propunha programas
de legalizao das ocupaes (favelas) e a criao de 26 reas especiais (Decreto n. 11.670/
80) pelo Governo de Gustavo Krause, buscando atender s exigncias para a obteno de
recursos no mbito do programa PROMORAR. O tratamento diferenciado dado a essas 26
favelas se configurava como uma ao poltica localizada, mas acabou se transformando
em um conjunto de diretrizes legais de cunho permanente.
74
AZEVEDO (2000:33) ainda lembra que, no incio da dcada de 1980, o governo local passa a
reconhecer a importncia eleitoral desses assentamentos e busca legitimao colocando na
agenda a aproximao com o movimento popular.
Em 1987 foi institudo o PREZEIS Plano de Regularizao das Zonas de Especial Interesse
Social e o Frum do PREZEIS (Lei n.o 14.947/87), um sistema de gesto visando promover
a urbanizao das ZEIS.9 O PREZEIS passou a ter a atribuio de transformar outras favelas
em ZEIS. Para promover a regularizao de uma ZEIS, a lei exige que seja constituda uma
COMUL Comisso de Urbanizao e Legalizao composta por representantes do governo,
da populao e de assessorias tcnicas.
9
Essa legislao revisada e complementada por outras Leis: Lei n. 15.790/93,
que institui o Fundo Municipal do PREZEIS; Lei n. 16.176/96 Lei de Uso e
Ocupao do solo, que amplia a classificao de ZEIS e remete ao PREZEIS a
definio dos mecanismos de instituio e regularizao das ZEIS; Lei n. 161.113/
95 Plano de Regularizao das ZEIS PREZEIS, que reformula a Lei do PREZEIS
e altera ndices urbansticos; Lei n. 16.303/97, que estabelece elementos para
regulao dos padres de construo das ZEIS e Zonas de Urbanizao de Morros
(ZUM) (PCR/FJN, 2001).
75
No primeiro perodo, registra conquistas na esfera poltica institucional. O Frum no era
deliberativo, no gerenciava recursos financeiros, no havia sido regulamentado e no contava
com o necessrio apoio tcnico da PCR ou de ONGs que desempenhavam essa funo
(FREIRE et al., 1998). O Frum do PREZEIS se constituiu inicialmente como um espao
poltico de defesa da posse e regularizao da terra.
Naquele momento, as aes de urbanizao a serem promovidas pelo poder pblico eram
interpretadas sob desconfiana entendidas como aes predatrias na medida em que
potencializavam uma ao especulativa do setor imobilirio: em registros de manifestaes
populares, chegava-se a empunhar faixas de protesto contra possveis iniciativas de
urbanizao, sem que antes fosse promovida a regularizao da posse. (BOTLER & MARINHO,
1997: 35)
Uma vez atenuados os conflitos fundirios, o movimento comea a lutar por melhorias fsicas,
que passam a ser a principal reivindicao. No segundo perodo, so alocados recursos do
Fundo do PREZEIS e o Frum passa tambm a deliberar sobre a aplicao destes. Registra-
se o aprimoramento da gesto (operacionalizao do sistema, gerenciamento de recursos
financeiros, regulamentao do Fundo do PREZEIS) e o incio da execuo de obras de infra-
estrutura nas reas de ZEIS.
Parte das dificuldades encontradas para promover o PREZEIS como sistema de gesto est
relacionada com as oscilaes polticas devidas a mudanas de governo. Nem todos os
governos municipais estavam politicamente determinados a operacionalizar o modelo de
gesto. A gesto de Jarbas Vasconcelos (1986-1988) impulsiona o processo, mas a gesto
seguinte, de 1989-1992 (Joaquim F. Cavalcanti e Gilberto M. Paulo), no demonstra interesse
em fazer avanar o processo. A gesto de 1993-1996 (Jarbas Vasconcelos) volta a investir na
estruturao do Frum e promove investimentos nas ZEIS.
76
A PCR/FJN (2001) considerava concluda a urbanizao de apenas trs ZEIS, entre as quais a
Coronel Fabriciano e a Joo de Barros. Um estudo realizado pela PCR/FJN (2001) mostrou
que at 2001 apenas 8,57% das ZEIS eram servidas integralmente por redes de esgoto,
2,86% por drenagem e pavimentao e 42,86% e 48,57% das ZEIS apresentavam a totalidade
de seus domiclios com medidores de energia e gua, respectivamente (Tabela 4). No
conseguimos obter um balano quantitativo conclusivo das obras de urbanizao executadas,
mas os dados obtidos revelam certa pulverizao dos investimentos do Fundo do PREZEIS,
utilizados para a execuo de pequenas obras de melhoria em diversos assentamentos
(Tabela 5). At 1995, as URB contabilizavam a realizao de obras em 20 ZEIS, beneficiando
cerca de 190 mil habitantes.
Tabela 04.
Infra-Estrutura: cobertura nas favelas e conjunto de 35 ZEIS (Recife)1
C o b e rt u ra T o d a s a s f a v e la s 3 5 ZE I S
I n f ra - E s t ru t u ra ( re a s p o b re s ) 2 (% ) (% )
0% 92,16 74,29
E sg o t o
100% 0,95 8,57
0% 40,86 22,85
D re n a g e m
100% 0,95 2,86
0% 31,59 20,00
P a v im e n t a o
100% 4,28 2,86
0% 6,89
M d ia d e E n e rg ia
100% 40,62 42,86
0% 10,69 48,69
M d ia d e g u a
100% 2,86 48,57
1
Tratam-se das ZEIS Efetivas com COMUL
2
Inclui as ZEIS
fonte: PCR/FJN (2001, p-138-139)
As obras foram realizadas pela URB por meio da contratao dos servios ou ainda em
parceria com a comunidade, que executava parcela dos servios em regime de mutiro. A
urbanizao da ZEIS Coronel Fabriciano, onde se desenvolveu uma das aes mais completas
no mbito do PREZEIS, foi parcialmente executada em regime de mutiro.
Muitas intervenes foram, inclusive, realizadas por outras esferas de governo e mesmo no
mbito de outros programas municipais. Essas intervenes se sobrepunham territorialmente
quelas realizadas pelo PREZEIS.
77
Tabela 05.
Urbanizao das ZEIS com COMUL em Recife:
Investimentos realizados a partir de 1993
P ro du o H ab . F in an c ia d a pe lo
O bra s
G overn o F ed e ra le E sta d ua l
1 P ro jeto e T o ta lP R EZ E IS -
N c le o/ Z E IS
P e sq u isa PCR N de
In fra H a b ita o 2 P ro gra m a
h a bita e s
2
Incorpora tambm custo de desapropriao e indenizao no valor de R$99.362,65 referente a ZEIS Aritana
3
Referente a ZEIS Efeitva com estudos e projetos elaborados
fonte: PCR/FJN (2001)
78
Os dados indicam que as diferentes esferas de governo, incluindo a municipal de Recife,
investiram nos ncleos de favela independentemente de sua delimitao enquanto ZEIS.
Analisando o estudo elaborado pela PMR/FJN (2001), que levanta o nvel de cobertura de
infra-estrutura urbana bsica existente, observamos que os investimentos foram realizados
tanto nas ZEIS como nas reas pobres, embora as ZEIS apresentem maior cobertura (Tabela
5). impossvel precisar em que medida a alocao de recursos pblicos de quaisquer
esferas federal, estadual, municipal foi ou influenciada pelo fato de ser ou no uma
favela reconhecida como ZEIS ou mais, de fazer parte ativamente do sistema de gesto do
PREZEIS. (MARINHO, 1999: 99)
Outra grande dificuldade para promover a urbanizao das ZEIS a falta de disponibilizao
de terras para apoio urbanizao incluindo reassentamento (PCR/FJN, 2001, p.73). O fato
de no ter sido implementada a delimitao de ZEIS em reas vazias, prevista na Lei n.
16.113/95, provavelmente dificultou essa ao.10
10
A PCR/FJN aponta que a existncia de interesses fundirio-imobilirios que se
expressam no mbito das instncias governamentais, principalmente na esfera
do poder legislativo, constituiu obstculo transformao de reas vazias em
ZEIS (2001: 73).
79
Tabela 06.
Estimativa de investimento para concluso da urbanizao das ZEIS (com estudos e projetos) de Recife
80
Na primeira fase de operao do PREZEIS no foi dada prioridade elaborao de planos
urbansticos e projetos executivos de urbanizao e sua inexistncia dificultou o
dimensionamento dos investimentos necessrios. At 1993, apenas duas ZEIS possuam
Planos Urbansticos. A partir desse perodo, inicia-se a elaborao de projetos, motivada em
parte pela perspectiva de captao de recursos no mbito dos programas federais, como o
Habitar Brasil. Registra-se que em 2001 foram elaborados 18 planos urbansticos.
A inadequao dos primeiros projetos dificultou a execuo das obras e resultou algumas
vezes em qualidade no satisfatria (FREIRE et al., 1998).
Tambm pouco se avanou em relao aos processos de regularizao fundiria das ZEIS.
At 2001, haviam sido concedidos 467 registros de CDRU nos 14 anos de existncia do
PREZEIS. Esses registros foram concedidos aos moradores dos ncleos Coronel Fabriciano,
Entra Apulso, Toores, Coelhos e Vila Unio que, juntos, abrigam 3.640 domiclios. Coronel
Fabriciano era considerado o nico ncleo regularizado integralmente no mbito do PREZEIS
e uma das primeiras experincias de ao de regularizao jurdico-fundiria coletiva, na
forma de frao ideal por famlia, utilizando o instrumento da CDRU(PCR/FJN, 2001: 32-33).
Nesse perodo, encontrava-se em andamento o processo de regularizao de 5 ZEIS,
envolvendo um total de 2.719 famlias.
Vrios estudos constatam que as inovaes introduzidas com o PREZEIS, relacionadas com
a estruturao de um modelo de gesto participativa, no foram acompanhadas de melhoria
das condies de habitabilidade nas ZEIS ou de sua regularizao.11 Percebe-se um grande
investimento em gesto e baixo resultado de interveno frente ao universo geral das favelas
da cidade.
MARINHO (1999) analisa os resultados obtidos dez anos aps a implementao do PREZEIS
e constata
11
Ver Marinho (1999), Moraes (2000), PCR/FJN (2001).
81
Esses resultados esto relacionados com questes de flutuaes polticas e de mobilizao
do movimento, mas tambm com o baixo volume de investimento em obras de urbanizao
e a pulverizao desse investimento. A Tabela 5 mostra que, a partir de 1993, foram investidos
cerca de seis milhes de reais na execuo de obras de infra-estrutura em 32 ZEIS. MARINHO
(1999), a ttulo de experimentao metodolgica, compara o volume estimado de
investimentos para concluir a urbanizao das ZEIS Efetivadas12 at 1998 com a capacidade
de investimento do Fundo e conclui que, se mantida a mdia de aporte de recursos praticada
at 1998 e ainda se apenas recursos dessa fonte forem investidos, mantendo-se a mdia
anual de receitas, sero necessrios 124 anos para concluir a urbanizao somente das
ZEIS Efetivadas.13
No que diz respeito s ZEIS com Planos Urbansticos, que somam 18, foi estimado um
custo de cerca de 63 milhes de reais para promover sua urbanizao integral, mas os
recursos plurianuais previstos de fontes oramentrias (incluindo o Fundo do PREZEIS) e
recursos provenientes do Governo do Estado e OGU somam cinco milhes, ou seja, menos
de 10% do necessrio para viabilizar a urbanizao de apenas 18 ZEIS (PCR, 2001).14 A
consolidao do sistema passar tambm pela construo de resultados concretos na
melhoria das condies de habitao das favelas e, para tanto, ser necessria a mobilizao
e alocao de expressivo montante de recursos, inclusive na produo habitacional, como
mostra a Tabela 6.15
Cabe esclarecer que a gesto de parcela expressiva do montante de recursos investido nas
ZEIS no ocorre no mbito do PREZEIS. Os recursos municipais e os oriundos de outras
esferas de governo, como os recursos recentemente contratados no mbito do HBB, no
so alocados no Fundo do PREZEIS. O PREZEIS se configura hoje como um programa a
mais, ao lado de um conjunto de outros que o governo municipal desenvolve para atender
as favelas.
12
As ZEIS com COMUL so denominadas pela PCR de Zeis Efetivadas
13
Cabe alertar que o autor adota um custo relativamente baixo, ou seja, de R$
1.500,00 por famlia em 1999. Este valor no incorpora a totalidade dos custos de
produo habitacional e operacionalizao, terra e operacionalizao do programa.
14
A PCR estima que tem de produzir cerca de 34 mil unidades habitacionais para
promover a urbanizao e recuperao das favelas, eliminar situaes de risco e
promover a recuperao ambiental de reas degradadas, investir no centro e
atender desabrigados. Para tanto, seria necessrio um investimento da ordem de
300 milhes de reais, sendo que o atual governo consegue dispor de pouco mais
de 10% deste montante (46 milhes) no perodo dos quatro anos de governo.
15
JACOBI (1990:139) alerta para o impacto da combinao de recursos restritos
e demandas sociais ampliadas na descentralizao das polticas pblicas: A
exigidade dos recursos pblicos, frente ao alto volume de demandas sociais,
constitui um problemtico elemento descentralizao poltico-administrativa
municipal (p. 45).
82
O modelo de co-gesto torna-se ainda mais complexo com a instituio e a sobreposio
de novas instncias de participao, como OP (Oramento Participativo), que passa tambm
a definir prioridades de investimento nas favelas. Alm das instncias do OP, outros fruns
de discusso sobre a cidade, e especificamente sobre habitao, foram institudos, como o
Frum da Cidade, Estaes dos Morros, Frum da Terra e Moradia.
83
3.3. Diadema16
Diadema, na regio sudeste da RMSP, foi uma das primeiras cidades brasileiras a estabelecer,
em 1983, uma poltica abrangente de urbanizao de favelas. Inovou ao tratar a questo da
urbanizao de favelas no mais como mera interveno pontual ou programa alternativo. A
continuidade poltico-administrativa propiciada pela eleio consecutiva de trs governos
progressistas do mesmo partido (Partido dos Trabalhadores), que administraram a cidade
por 14 anos de 1983 a 1996 , garantiu que a poltica para favelas fosse consolidada e
aprimorada.
A abrangncia das intervenes em favela deve ser entendida dentro do contexto da Repblica
Socialista de Diadema, que promoveu a transformao da cidade .17
Diadema possui 323.116 habitantes (IBGE, 1996) em 30,7 km2, uma das maiores densidades
demogrficas do pas: um municpio com 10.300 hab/km2. At o incio da dcada de 1980, a
imagem da cidade era a de um grande acampamento, sem condies mnimas de infra-
estrutura. (KAYANO, 1994)
Segundo a PMD, em 1983, apenas 15% das ruas oficiais de Diadema eram pavimentadas e,
em 1996, essa percentagem ampliou-se para 99%, sendo que tambm 99% das ruas
passaram a possuir iluminao pblica. (Mapa 03) A rede de gua estende-se a 99,5% dos
domiclios, a rede de esgotos a 76%, sendo que os domiclios sem atendimento estavam
localizados nas APM (DIADEMA, 1995; 1999). O servio de coleta de lixo passou a atender
98,4% dos domiclios (EMPLASA, 1998). Em 1983, as EMEIS Escolas Municipais de
Educao Infantil atendiam aproximadamente 15% da demanda; em 1995 atenderam
cerca de 65% da demanda. A rede de servios de sade foi ampliada, a taxa de mortalidade
infantil, que em 1980 era de 82,93 crianas por mil nascidas, passou em 1994 para 20,6 por
mil nascidos, percentual inferior mdia do Estado de So Paulo.18 Dos duzentos ncleos
de favela existentes, 144 foram urbanizados at 1999 e outros 37 estavam parcialmente
urbanizados nessa data.
16
O trabalho Urbanizao de favelas em Diadema, produzido pela autora em
1999, referncia para a produo deste texto. Ver tambm DENALDI (1995) e
DENALDI , BAGNARIOLLI e KLINK (1997).
17
Titulo dado a Diadema pela revista Livre Mercado, edio de abril de 1999, que
trazia como manchete de capa Diadema 16 anos depois. Nossa Repblica
Socialista e que analisava as transformaes ocorridas na cidade no perodo de
1983 a 1996, quando foi administrada pelo PT.
18
Segundo a SEADE, a taxa de mortalidade infantil em Diadema, que era de 82,93
em mil em 1980, caiu para 36,79 em 1990 e, segundo a PMD, para 26,3 em 1993,
e para cerca de 22 em 1995.
84
Mapa 03.
Pavimentao em Diadema
CAMPANRIO TABOO
CANHEMA
PIRAPORINHA
ro
do
via
do
CENTRO
s imi
gr
an
te
s
VILA
NOGUEIRA
CONCEIO
SERRARIA CASA
GRANDE
INAMAR
Pavimentao - Diadema
Prefeitura Municipal de Diadema - 1996
Divisa de Municpio
19
Denominaremos urbanizao as intervenes em favela. Embora
considerando a definio apresentada no segundo captulo, nos dois primeiros
perodos de implantao da poltica as intervenes se caracterizam como
reurbanizao.
20
Durante o primeiro governo, foi concluda a urbanizao de oito ncleos de
favela, durante o segundo governo, de sete ncleos, e durante o terceiro
governo, de 13. No foi possvel precisar o perodo de urbanizao de sete
ncleos urbanizados (PMD: 1999, 1995).
85
O passo inicial do primeiro governo municipal do PT (1983 a 1988) foi reconhecer a existncia
das favelas e propor sua urbanizao. Essa administrao implementou uma poltica
habitacional centrada na urbanizao de favelas. Para viabilizar a implementao do programa,
criou uma pequena estrutura administrativa (Servio de Urbanizao de Favelas), at ento
inexistente, arriscou definir um mtodo de urbanizao, buscou formas de garantir a posse
da terra e contou com a colaborao da prpria populao beneficiada, que participou
ativamente do processo.
Outra preocupao central foi garantir populao a posse da terra. A Lei Municipal n. 819/
85 autorizou o governo municipal a outorgar a CDRU (Concesso de Direito Real de Uso). As
concesses tiveram por objeto a concesso da rea do ncleo como um todo, de forma
indivisa; sua outorga independia da concluso das obras de urbanizao, do equacionamento
da situao de domnio das reas pblicas ou mesmo da aprovao administrativa do
parcelamento. Para a populao de favelas, ela representava a legalidade de ocupao do
lote.
A estrutura administrativa criada era muito pequena. Na maior parte do perodo do primeiro
governo do PT, a equipe era composta por um coordenador, dois engenheiros e oito estagirios
(a maioria em Arquitetura). Os membros da equipe eram, na maioria, militantes do partido, e
despenderam grandes esforos para viabilizar o projeto. Poucos eram, de fato, fortemente
preparados para exercer essa atividade profissionalmente. Essa reduzida equipe interveio
em 74 ncleos de favela, o que, de um lado, comprova seu alto envolvimento com o trabalho
e, de outro, a precariedade das condies operacionais. Um dos membros da equipe lembra:
(...) amos de final de semana, sem bater carto e de nibus, marcar com trena os lotes nas
reas particulares. A favela Rua do Futuro foi feita assim.
21
Esse padro de parcelamento foi posteriormente adotado pela Prefeitura Mu-
nicipal de So Bernardo do Campo, em 1989, no governo do prefeito Maurcio
Soares, e no municpio de Santo Andr, tambm em 1989, na administrao do
prefeito Celso Daniel.
86
A organizao da populao moradora em favela (por meio da existncia de uma comisso,
associao ou representantes) era uma pr-condio para o atendimento municipal. O governo
municipal era muito sensvel s presses populares, que definiram a maior parte das
intervenes: quem pressionava mais tinha seu atendimento priorizado. Com vontade poltica
e audcia, usando apenas recursos de dotaes oramentrias municipais, promoveram-se
intervenes em aproximadamente 74 ncleos de favelas do municpio, sendo que apenas
oito desses ncleos foram integralmente urbanizados nesse primeiro governo.22
Nesse perodo, foi criado o Fundo Municipal de Habitao de Interesse Social Fumapis,
cujo conselho era formado por representantes da Cmara, governo municipal e movimento
de moradia. O Fundo contava apenas com recursos oriundos do oramento municipal e
financiou vrias obras de infra-estrutura em favelas e conjuntos habitacionais.
O terceiro governo municipal do PT (de 1993 a 1996) iniciou a segunda etapa do processo,
dando continuidade ao programa de urbanizao de favelas, buscando consolidar a poltica
habitacional integrando-a s propostas de desenvolvimento urbano. Promoveu a reviso da
legislao existente, a diversificao das modalidades de interveno e a ampliao da
participao popular na gesto dos projetos habitacionais.
22
O dado uma estimativa da Diviso de Planejamento Habitacional - DPH -
Prefeitura Municipal de Diadema, 1995.
87
Nesse perodo, o governo municipal investiu cerca de 5% do oramento municipal na rea
de habitao e interveio de alguma forma em 114 ncleos de favela. Concluiu muitas
urbanizaes iniciadas nos perodos anteriores e outros 13 ncleos sem interveno foram
urbanizados (PMD, 1996a). Na maioria dos ncleos cuja urbanizao havia sido iniciada mas
no concluda, ou dos ncleos sem interveno, havia maior complexidade de interveno,
o que exigiu a elaborao de projetos executivos e execuo de obras de custo elevado,
como canalizao de crregos e contenes ou remoo de famlias para outra rea. (...)
coube atual administrao atuar nos ncleos de maior densidade populacional e dificuldade
tcnica para execuo das obras, alm de concluir o trabalho iniciado pelas duas
administraes anteriores. (PMD, 1996a) Para
viabilizar a urbanizao de reas altamente
adensadas, a abertura de virio e situaes
de risco, a PMD iniciou nesse perodo a
produo de unidades habitacionais, na forma
de edifcios de apartamentos.
foto 48.
Conjunto Habitacional Jupiter:
reassentamento
88
No perodo de 1993-1996, intensificou-se tambm o desenvolvimento de atividades scio-
educativas junto populao dos ncleos de favela em processo de urbanizao. Foram
desenvolvidos projetos como o MOVA Movimento de Alfabetizao de Adultos, que levava
cursos de alfabetizao para as favelas; o SEJA Servio de Educao de Jovens e Adultos;
o Bal na Favela, que promovia aulas de dana dentro dos ncleos urbanizados; o Jardineira
da Economia, com venda de produtos alimentcios por um preo inferior ao do mercado
regional; Projeto Autogerenciamento da Coleta de Entulho. Muitas outras atividades eram
promovidas nos equipamentos comunitrios existentes no bairro. A PMD no viabilizou a
existncia de escritrios de campo (central de atendimento) nas favelas.
Podemos afirmar que o programa evoluiu principalmente em duas direes: integrao com
a poltica urbana (uso e ocupao do solo, meio ambiente e poltica fundiria) e ampliao
das modalidades de interveno e qualificao desta.
89
Nos dois primeiros governos, a maio-
ria dos projetos foi elaborada pela pr-
pria equipe, nunca no nvel de projeto
executivo, e o desenho do parcela-
mento propunha um traado regular
(ortogonal) que, muitas vezes, pouco
coincidia com o existente. Tentava-se
ainda evitar a destruio de casas de
alvenaria, que, todavia, no eram
muitas na dcada de 1980. Wagner
Lamonica lembra que no primeiro
governo era comum fazer o projeto
no prprio campo. No terceiro
governo, iniciou-se a contratao de figura 16.
Projeto de urbanizao de favela elaborado
levantamentos e projetos executivos pela PMD na 1a. gesto do PT (1983-1988)
de infra-estrutura e parcelamento.
figura 18.
Planta de favela urbanizada:
exemplo de traado regular (ortogonal)
90
figura 19.
Projeto de urbanizao do Ncleo Marilene elaborado na 3a. gesto do PT (1993-1996)
91
foto 49
49. foto 50
50.
Ncleo Vila Popular Ncleo Vinicius de Moraes:
reassentamento de famlias
92
Era comum a combinao de diferentes modalidades de interveno no mesmo ncleo de
favela para promover sua urbanizao. Muitas vezes, enquanto se executavam muros de
arrimo ou canalizao de crregos por empreiteira, viabilizava-se a pavimentao do ncleo
por mutiro ou se executavam redes de gua e esgoto por administrao direta. De maneira
geral, as obras mais complexas, como as de geotecnia e drenagem, foram executadas por
empreiteira ou por administrao direta. A populao, em alguns casos, mobilizava-se para
executar em regime de mutiro a pavimentao de vias e redes de gua e esgoto.23
Em alguns ncleos, era difcil mobilizar a populao para executar obras em regime de
mutiro. Segundo a PMD (1996a), a necessidade da populao de fazer bico nos fins-de-
semana para complementar a renda mensal contribua para a desmobilizao do mutiro.
Outro fator que desmobilizava era o fato de que, nos ncleos parcialmente urbanizados,
aps a subdiviso dos lotes, os moradores se voltavam para a execuo de melhorias em
sua prpria moradia, deixando de lado os processos coletivos.
23
As obras de canalizao de crrego, conteno geotcnica, pavimentao e
escadaria foram executadas com a utilizao de diferentes tecnologias. A escolha
das alternativas ocorreu em funo da complexidade das obras, forma de execuo
e disponibilidade financeira da PMD no perodo executado.
93
Segundo a PMD (1996a, p.34), a resposta da populao proposta municipal de autogesto
do processo de urbanizao foi diferente de um ncleo para outro. Em alguns projetos,
alcanou-se melhor qualidade, com reduo de custos, inclusive com alterao da estrutura
de poder e deciso no ncleo, que passou a ser mais democrtica (coletiva) e autnoma.
Em outros projetos, foi deficiente a mobilizao da populao para a execuo das obras
em regime de mutiro e a concentrao de tarefas administrativas nas lideranas polticas
do ncleo acabou por fortalecer seu centralismo e autoritarismo.
24
A PMD estima que no perodo de 1993 a 1996 foram pavimentados cerca de
120 mil metros quadrados de vias e vielas em ncleos de favela e loteamentos
(PMD, 1996)
94
muito difcil apropriar os custos de urbanizao, uma vez
que no foram registrados, principalmente durante os dois
primeiros governos, os investimentos realizados pelo
governo municipal e pelas concessionrias para promover
o parcelamento e a proviso de infra-estrutura. Um estudo
elaborado por GHOUBAR (PMD, 1996a) e que tomou como
referncia o banco de dados municipal e o projeto de quatro
favelas de Diadema (Vila Popular, Maria Tereza, Pablo Neruda
e Vila Alice) apontou que o custo unitrio (famlia) de
urbanizao variava de cerca de um mil a 2,5 mil dlares.
Nesses valores no esto computados os custos referentes
terra, iluminao e eletrificao, reassentamento de
famlias, construo de equipamentos pblicos, assim
como os custos relacionados com os programas de Ps-
Urbanizao.
foto 55.
Ncleo Vila Olinda: acesso virio sobre leito de crrego
canalizado garantiu acesso aos servios pblicos. 1996
95
ro
do
via
do
s
imi
gr
an
te
s
Mapa 04.
Diadema
Favelas - Intervenes
Urbanizada
Parcialmente Urbanizada
Intervenes Pontuais
Sem Intervenes
Sem Dados
Fonte: PMD
96
- ncleos urbanizados que no contam com reas para implantao de praas, reas de
lazer e equipamentos comunitrios no seu interior ou entorno prximo;
A qualidade do ambiente construdo poderia ter sido elevada com um trabalho de ps-
ocupao. O programa Ps-Urbanizao, embora aponte nessa direo, pode ser
considerado um ensaio do ltimo governo. A existncia de um escritrio de campo,
orientao tcnica para a autoconstruo das moradias e aes de fiscalizao provavelmente
teriam evitado a apropriao de espaos pblicos pelas moradias, como caladas, por
exemplo, assim como a construo de cmodos sem iluminao e ventilao, alm de
outras situaes, at mesmo de risco.
97
As AEIS foram estabelecidas para viabilizar a urbanizao e regularizao de favelas, com o
objetivo de ampliar o acesso moradia por meio do incentivo produo de moradias
populares e, de fato, o instrumento promoveu a ampliao da oferta de terras para habitao
na cidade.25 Tambm se estabeleceram mecanismos para outorgar a CDRU. Diadema outorgou
a CDRU aos moradores de 78 assentamentos, num universo de duzentos ncleos existentes.
At o final de 2000, porm, dos 78 assentamentos, apenas dois, Maria Tereza e Jardim
Inamar, tiveram as CDRU registradas em cartrio, sendo que nenhum teve o seu parcelamento
regularizado. Ressalta-se com isto que os moradores desses dois assentamentos possuem
apenas a concesso da frao ideal da terra de um parcelamento ou condomnio no aprovado
por aquela Municipalidade, ou seja, legalmente inexistente.26
Os ncleos urbanizados ainda no fazem parte da cidade do ponto de vista jurdico. A PMD
encontrou muitas dificuldades para viabilizar juridicamente a cobrana da pavimentao (Plano
Comunitrio de Pavimentao) e do IPTU. Segundo a PMD, como as famlias no so
proprietrias da terra e como o lote no existe, em caso de inadimplncia a Prefeitura teria
dificuldades para proceder cobrana judicial, uma vez que ela a proprietria da terra. No
exercido controle urbano nestes ncleos e a manuteno urbana precria e diferenciada
da realizada na cidade formal, por exemplo, no caso da manuteno do virio e dos servios
de coleta de lixo.
25
Ver HEREDA & KARAZAWA e KLINK. & BALTRUSIS (1997).
26
Informaes obtidas em entrevista realizada com Mrcia Pelegrini, Dbora
Carvalho Baptista e Manuel Fernando Marques da Silva, ex-integrantes da equipe
de governo 1993-97, em novembro de 2000.
98
3.4. A contribuio dos pioneiros nos anos 1980
99
A urbanizao promovida, na maioria das vezes, caracterizou-se pela soma de intervenes
pontuais, no necessariamente orientadas por um plano (integral) de urbanizao ou por
projetos executivos de infra-estrutura e parcelamento. Em geral, alcanaram-se baixos
patamares de qualidade de urbanizao. A unidade de planejamento adotada foi apenas a
favela e as intervenes executadas no se inseriram em estratgias maiores de recuperao
ambiental e urbanstica da cidade. Alm disso, at o final da dcada de 1980, poucas
urbanizaes haviam sido concluidas. Em Recife, at 2000, consideravam-se integralmente
urbanizadas apenas 3 ZEIS; em Belo Horizonte, apenas seis ncleos/vilas; Diadema, com o
maior percentual de urbanizaes concludas, apresentava, at 1989, oito ncleos de
favelas integralmente urbanizados.
100
4. A Dcada de 1990:
difuso e consolidao
das polticas de
urbanizao de ffa
avela
101
4. A Dcada de
4. A 1990:
Dcada Difuso
de 1990: e eConsolidao
Difuso Consolidao
das P olticas
Polticas de Urbanizao
das Polticas de Urbanizao de Favela
Fa
de Favela
102
Trata-se de um nmero expressivo de municpios se considerarmos que, at a dcada de
1980, no era prioridade a ao governamental em urbanizao de assentamentos.
Tabela 07.
Distribuio dos municpios que possuem favelas, programas de urbanizao e regularizao de
assentamentos e rgos especficos para o setor habitacional, segundo faixas de populao
MUNICPIOS 1
Faixa da com programa de com programa
com rgos especficos
populao com favelas urbanizao de de regularizao
n. total p/ o setor habitacional
(por mil) assentamentos fundiria
n. % n. %2 n. %2 n. %2 %
at 20 4119 827 20,08 422 51,03 234 28,30 899 100 21,8
20 a 100 1187 527 44,40 261 49,53 174 33,02 486 92,22 40,94
100 a 500 174 139 79,89 89 64,03 77 55,40 136 97,84 78,16
500 e mais 26 26 100,00 22 84,62 21 80,77 25 96,15 96,15
TOTAL 5506 1519 27,59 794 52,27 506 33,31 1546 100,00 28,08
No inclu o Distrito Federal
Percentual em relao ao n. total de municpios que possuem favelas
Percentual em relao ao n. total de municpios
fonte: BREMAEKER/ IBAM (2001) - dados IBGE. Pesquisa de informaes bsicas municipais 1999
A participao federal nos investimentos na rea de saneamento caiu de 47% em 1980 para
31% em 1990, enquanto a participao dos estados aumentou de 42% para 61%. A
participao dos municpios declinou de 12% para 9% (MEDICE & MACIEL, 1996: 60).
1
Ver AGHN (1995, 1996); ARRETCHE (1996b); SATO (1993); GARCIA (1995)
103
O acelerado processo de urbanizao e especialmente de crescimento das favelas (cidade
ilegal), que alcana propores enormes, tornou ainda mais evidente a necessidade da
interveno governamental.2 ARRETCHE (1996b: 114) lembra que os estados e municpios se
tornaram os principais alvos polticos da demanda de movimentos organizados. O atendimento
dessas demandas foi muitas vezes movido por interesses poltico-eleitorais locais.3 A retomada
das eleies conferiu maior permeabilidade demanda desses movimentos.
Ainda sobre o papel dos movimentos sociais, RIBEIRO (1994) lembra que a Constituinte de
1988 impulsionou um processo de reforma institucional no plano local influenciada pela agenda
da reforma urbana proposta pelo FNRU Frum Nacional da Reforma Urbana , que propunha,
por exemplo, a inverso de prioridades na alocao de recursos pblicos e a universalizao
do direito urbano.4
ALMEIDA (1996: 16) afirma que o processo de democratizao e a crise fiscal constituem os
dois grandes condicionantes da transformao do sistema federativo brasileiro. O autor
considera que, no incio da dcada de 1980, os impulsos liberados pelo processo de
democratizao foram mais importantes e, aps 1988, a crise financeira e fiscal ganhou maior
importncia. Sobre a condicionante da democratizao, lista trs impulsos descentralizadores.
O primeiro relacionado com o aumento da importncia dos governadores e estados. O segundo
relacionado com a associao entre descentralizao-democracia e cidadania feita pela
oposio ao regime autoritrio. E o ultimo relacionado com a crtica ao padro de proteo
social dos governos autoritrios e a percepo da descentralizao como instrumento da
universalizao do acesso e aumento do controle dos beneficirios sobre os servios sociais
(ALMEIDA, 1996:17).
2
Sobre o crescimento das favelas na dcada de 1980 ver TASCHNER (1986; 1997a;
2001).
3
Ver BOTLER & MARINHO (1997), MARINHO (1999).
4
O FNRU do qual participavam ONGs, entidades profissionais e movimentos
populares foi criado formalmente em 1987 e desempenhou importante papel na
defesa e disseminao das propostas de reforma urbana durante o processo
constituinte e, posteriormente, ainda atuou nos nveis estaduais e municipais,
debatendo a formulao das constituintes estaduais, leis orgnicas e planos diretores
(MARICATO, 1994; RIBERIO, 1994).
104
A terceira fora apontada pelo autor seriam as receitas internacionais de polticas econmicas
e sociais de cunho neoliberal.
Eixo central da gesto macroeconmica a partir de 1994, o uso da ncora cambial para a
eliminao da inflao impediu que a economia crescesse. Seu impacto resultou na queda
da arrecadao de estados e municpios e o aumento do estoque da dvida interna de estados
e municpios. Parte dos custos da estabilizao macroeconmica foi repassada aos estados
e municpios.
Os fundos sociais, importante fonte de financiamento das polticas sociais, tambm dependem
dos ciclos macroeconmicos para garantir fluxo estvel. Com o colapso do crescimento da
economia formal, acentua-se a fragilidade do padro de financiamento das polticas sociais.
ARRETCHE (1996b) lembra que, no caso da rea habitacional, apesar de a utilizao dos
recursos do FGTS imprimir uma caracterstica de descentralizao tutelada, o que se observa
um processo de descentralizao autnoma ocasionada pela inexistncia de repasses
negociados do Governo Federal, e que resulta no que muitos autores denominam
descentralizao por ausncia de polticas setoriais. Estados e municpios desenvolvem
polticas e programas habitacionais prprios, assumindo de forma autnoma o seu
gerenciamento e financiamento.5
5
Considera-se descentralizao autnoma quando financiada com recursos
dos prprios municpios, descentralizao vinculada quando ocorrem os re-
passes automticos, estabelecidos por lei ou pela constituio ou, ainda, atravs
de frmulas pr-definidas e descentralizao tutelada quando os repasses so
negociados (recursos voluntrios). Ver ALMEIDA (1996), ARRETCHE (1996b),
KLINK (2000).
105
A extino do BNH, seguida da crise do FGTS e da desarticulao institucional, tratada no
primeiro captulo, resultou na progressiva ausncia do Governo Federal no que se refere,
tanto a sua capacidade de manter os nveis anteriores de produo pblica da habitao,
quanto a sua capacidade de reorganizar e implementar a poltica habitacional. Como resposta
ausncia do Governo Federal, teve lugar uma progressiva autonomizao da poltica
habitacional para a baixa renda (ARRETCHE, 1996: 114).6
O autor lembra tambm que o prprio formato anterior da poltica comandada pelo BNH
criou condies propcias para que estados e municpios assumissem funes crescentes
na rea da habitao popular. Esse formato combinava centralizao poltica e financeira de
recursos na agncia federal com descentralizao da operao para as COHABs (agncias
promotoras), que se caracterizavam como uma rede de agncias distribudas pelo territrio,
operando com alguma autonomia em relao implementao do programa.
6
O termo autonomizao usado para explicitar que os programas so autnomos
em relao ao Governo Federal.
106
4.2. So Paulo
4.2.1. Urbanizao de favelas no governo de Luiza Erundina (1989-1992)
Segundo MARICATO (1997), (...) das 135.482 famlias moradoras de favelas em reas pblicas
que constituam a demanda da prefeitura, foi possvel atender 20% do total durante os
quatro anos. As obras foram executadas pela prefeitura (administrao direta), empreiteira e
por mutiro, no mbito do subprograma FUNAPS-FAVELA. 9
7
Para anlise da ao do governo municipal em favelas de So Paulo entre 1989 a
1992, ver BUENO (2000).
8
BUENO (2000: 115), que coordenava o GEUFAVELAS, lembra que foi atravs da
ao para resolver os problemas de risco que a urbanizao de favelas tornou-se,
no prioridade, mas um programa relevante dentro da poltica de HABI, na disputa
por encaminhamentos tcnicos e administrativos e por recursos financeiros.
9
Sobre o FUNAPS (Fundo de Atendimento Populao Moradora em Habitao
Subnormal), ver GOMIDE e TANAKA (1997).
107
O governo municipal inovou, per-
mitindo a autogesto popular
dos empreendimentos. O sub-
programa FUNAPS-Favela viabi-
lizava, de forma indita, a
autogesto popular do empreen-
dimento. Os moradores de uma
favela, organizados em uma
associao comunitria legal-
mente constituda, podiam fir-
mar convnio com a PMSP-
FUNAPS para a execuo das
obras no ncleo, desde que con-
tratassem um assessoria tcni-
ca qualificada. Por meio do con-
vnio, eram repassados os re-
cursos financeiros necessrios
para promover a urbanizao da
favela. A associao, com esse
recurso, adquiria material de
fotos 57 e 58.
construo, contratava mo de Favela antes e depois do processo de urbanizao -
So Paulo. 1992
obra, enfim gerenciava a execu-
o das obras e mobilizava os
moradores para a execuo de parte dos servios em regime de mutiro.10 Este tipo de
convnio foi firmado com associaes representativas de nove favelas.11
Segundo MARICATO (1997: 44), a gesto ficou restrita aos aspectos institucionais,
administrativos e de infra-estrutura urbana e ambiental; no foram viabilizados elementos
importantes do programa de urbanizao de favelas, como a assessoria autoconstruo
das moradias e a regularizao fundiria. Quanto regularizao, o governo municipal no
conseguiu aprovar na Cmara Municipal um projeto de lei que estabelecia a desafetao de
reas de favela e permitia a concesso de direito real de uso. 13
10
Ver DENALDI (1997)
11
MARICATO (1997)
12
Ver BONDUKI (2000), MARICATO (1997).
13
Sobre o embate poltico travado para fazer aprovar o referido projeto de lei que
viabilizaria o incio dos processos de regularizao, ver BUENO (2000: 74-81).
108
figura 20.
Planta padro dos
apartamentos do
Projeto Cingapura -
So Paulo. 1996
fotos 59 e 60.
Projeto Cingapura -
So Paulo. 1996
- A recuperao sanitria e ambiental do manancial (por meio de obras nas reas habitacionais,
melhorando as condies de saneamento e habitao);
109
Para cumprir esses objetivos, foram criados
cinco subprogramas: (1) Servios de gua
e Esgoto, (2) Coleta e Disposio do Lixo,
(3) Recuperao Urbana, (4) Proteo
Ambiental e (5) Gesto. As intervenes em
favelas ocorreram no mbito do subpro-
grama 3 Recuperao Urbana, execu-
tado pelo CDHU (Companhia de Desenvol-
vimento Habitacional e Urbano do Estado
de So Paulo) e PMSP. O subprograma 3
previa a urbanizao e a adequao da in-
fra-estrutura nas favelas e loteamentos
irregulares ou clandestinos, buscando
diminuir a carga de esgoto aportado fotos 61, 62 e 63.
represa e o transporte de slidos para os Programa Guarapiranga
Urbanizao da favela Jardim Esmeralda/
cursos dgua responsveis pela poluio Iporanga com canalizao do crrego,
execuo do sistema virio e
dos mananciais.15 construo de unidades habitacionais
14
A proposta de financiamento foi acordada com o Banco Mundial em 1992. O trmino
previsto era 1997 e acabou se estendendo para 2000.
15
Estima-se que, em 1995, 117.954 habitantes moravam em 168 favelas e 188.648
habitantes em loteamentos irregulares. Essa populao ocupava 34,4Km2 dos
101Km2 urbanizados na bacia. No municpio de So Paulo, localizava-se 94,8% dessa
ocupao. (UEMURA, 2000)
16
UEMURA (2000: 110) considera que houve urbanizao de fato em 28 ncleos.
Nas outras favelas, houve complementao da infra-estrutura.
110
At o incio de 2000, 162 milhes ha-
viam sido investidos em urbanizao
e adequao urbana, sendo que
destes, 44 milhes haviam sido em-
pregados na produo de novas uni-
dades habitacionais, o que representa
cerca de 25% do total investido no
subprograma e cerca de 40% do total
investido em favelas (UEMURA,
2000:118).
O custo mdio das obras de urbanizao realizadas pelo CDHU foi estimado em R$ 14.155,00
por famlia (incluindo construo de novas unidades habitacionais nas favelas, gerenciamento
e projeto). O custo mdio das obras realizadas pela PMSP, utilizando-se a mesma composio
de custos, foi de R$ 11.936,00 (UEMURA, 2000: 114). Esses valores superaram em muito os
valores estimados de investimento por famlia, que eram de R$ 6.900,00 por famlia (pela
PMSP) e de R$ 5.966,00 por famlia (pela unidade de gesto do programa).
foto 65.
Espao pblico de lazer em favela urbanizada no Programa Guarapiranga
111
UEMURA (2000) analisa a
execuo do programa e
conclui que, at 2000, os
resultados no haviam
sido alcanados. Os ins-
trumentos de gesto no
tinham sido implantados,
os servios de gua e
esgoto e recuperao ur-
bana estavam em anda-
mento e no havia nenhu-
ma sub-bacia em que
todos os loteamentos e
favelas tivessem sido
urbanizados ou recupe- foto 66.
Espao pblico de lazer em favela urbanizada no Programa Guarapiranga
rados. A disperso dos
recursos e a pulverizao
das obras, que se iniciaram simultaneamente em diversas sub-bacias, contrapuseram-se
diretriz inicial, que era priorizar as sub-bacias com maior contribuio de esgoto. O objetivo
de melhorar a qualidade da gua no fora alcanado, porque os esgotos ainda no estavam
sendo transportados para fora da bacia.
A autora destaca a falta de integrao entre os agentes e os setores de governo que deveriam
construir um novo modelo de gerenciamento de recursos hdricos, baseado na
descentralizao e integrao. No entanto, constata a fragilidade da articulao dos rgos
envolvidos, que no atuam em regime de cooperao, e conclui que o papel mais importante
do modelo de gerenciamento proposto cumprir exigncias impostas pela agncia
internacional para a obteno de financiamento.
112
4.3 . Rio de Janeiro: Programa Favela Bairro
Mapa 05.
Favelas da cidade do Rio de Janeiro
17
Em 2000, a cidade do Rio de Janeiro apresentava uma populao de 5.851.914
habitantes e a populao de favelas era de 1.092.783 habitantes. Fonte: PCRJ IPP
(Instituto Pereira Passos) e IGBE.
113
Os projetos de urbanizao desenvolvidos na dcada de 1980, na cidade do Rio de Janeiro,
propiciaram um acmulo de experincia tcnica e administrativa que por sua vez possibilitaram
o desenvolvimento do programa Favela Bairro, na dcada seguinte (CARDOSO: 2002).
CARDOSO ( 2002, p.49) aponta como aspecto positivo a valorizao desta experincia anterior.
O Plano Diretor PDDC, aprovado em 1992, recomenda que as favelas sejam urbanizadas
respeitando sua tipicidade de ocupao e integrando-as ao bairro, e prev que elas sejam
institudas como AEIS (reas de Especial Interesse Social).18 Em 1993, na gesto Csar Maia,
criado o GEAP (Grupo Executivo de Assentamentos Populares), que institui seis programas
habitacionais estruturadores da poltica habitacional, entre eles o Favela Bairro, o Programa
de Regularizao Fundiria e o Morar sem Risco. O GEAP foi o embrio da Secretaria de
Habitao, criada em 1994.
Mais tarde, e em funo da diversidade e tamanho das favelas, a atuao em favelas foi
organizada institucionalmente em trs subprogramas: o Favela Bairro, atendendo ncleos
que possuam de quinhentos a 2.500 domiclios, o Favela Bairrinho, atendendo favelas com
at quinhentos domiclios e o Grandes Favelas, atendendo favelas com mais de 2.500
domiclios.
18
Sobre o processo de elaborao e aprovao do Plano Diretor, ver CAVALIERI
(1994).
114
4.3.2. A concepo e implantao do Programa Favela Bairro
O Programa Favela Bairro vem sendo desenvolvido desde 1993. Durante esse perodo, sofreu
alteraes na forma de conduo e gerenciamento, mas no chegou a ser interrompido. O
Favela Bairro foi iniciado na primeira gesto do Prefeito Csar Maia (1993/1996), foi aprimorado
e ampliado na gesto do Prefeito Lus Paulo F. Conde (1997/2000) e continua sendo
implementado na atual segunda gesto do Prefeito Csar Maia.
A partir de 1993, com o Programa Favela Bairro, a urbanizao de favelas se constitui no mais
importante programa habitacional desenvolvido pelo governo municipal do Rio de Janeiro.19
A PCRJ afirma que a poltica municipal de habitao deixar de estar centrada na construo
de moradias e buscar meios de melhorar as condies de habitao consolidando as
ocupaes existentes. O reassentamento da populao de favelas e a sua transferncia para
novos conjuntos s sero admitidos para eliminar situaes de risco ou quando se fizerem
muito necessrios, para viabilizar a abertura de vias ou a construo de equipamentos (RIO
DE JANEIRO, 1999).
- Interveno nos espaos livres ou de uso comum (ruas, vielas, praas, equipamentos) sem
promover grandes transformaes nas reas ocupadas por moradias. No se objetiva viabilizar
um parcelamento adotando lote mnimo ou frao mnima de terra por famlia;
- Manter a PCRJ e outras instituies dentro do ncleo aps sua urbanizao, atuando na
manuteno, controle urbano e prestao de servios.
19
Ver MAGALHES (2002), RIO DE JANEIRO (1996).
115
Uma grande inovao o tratamento dado aos equipamentos, que objetiva trazer para dentro
da favela os valores urbansticos e os elementos arquitetnicos da cidade formal, na busca
de simbolizar sua identificao e integrao com esta ltima. Os melhoramentos, como quadra
de esportes e praas, tambm visam diluir as fronteiras urbansticas e simblicas entre a
favela e o bairro formal, fazendo com que no haja uma diviso abrupta entre o novo bairro e
as reas ao seu redor (RIO DE JANEIRO, 1999: 27).
20
FIORI (2001: 09) considera que a valorizao do componente esttico necessria
para mudar a percepo da favela no imaginrio da cidade e criar a percepo de
que a favela diferente, mas parte da cidade.
116
A PCRJ optou por terceirizar a elaborao
dos projetos e a execuo das obras e bus-
cou construir uma metodologia para intervir
em favelas na cidade do Rio abrindo essa
discusso, com a participao dos escri-
trios de arquitetura e instituies acadmi-
cas. Como vimos no captulo anterior, as po-
lticas de urbanizao de favelas estruturadas
na dcada de 1980 haviam dado pouca
importncia elaborao de planos e pro-
jetos de urbanizao. O Favela Bairro inovou
ao valorizar o projeto e ao buscar nesses
escritrios a colaborao sobre um tema
usualmente restrito aos quadros institu-
cionais. Acabou contribuindo para fortalecer
uma nova prtica de trabalho profissional.
117
Na opinio de algumas equipes contratadas, a mudana promoveu uma engenheirizao do
programa e o momento da regulamentao coincide com o aumento do nmero de favelas
atendidas, uma sistematizao de rotinas de gerenciamento do projeto e obras que passam
a ser feitas pelas gerenciadoras (ANDRADE, 2000: 86).
Das 15 equipes se-lecionadas no concurso realizado em 1994, somente cinco eram escritrios
constitudos, sendo que os demais foram formados por ocasio da contratao. Engajaram-
se profissionais ligados a rgos pblicos e universidades, mas tambm escritrios
estruturados que no se interessavam previamente pela rea e estavam distantes dessa prtica
profissional. Independentemente das motivaes profissionais, o Favela Bairro constitui uma
enorme frente de trabalho para arquitetos e urbanistas.21
118
No final de 1995, o BID Banco Interame-
ricano de Desenvolvimento aprovou a
primeira etapa do projeto de financiamento,
no valor de trezentos milhes dlares e, em
2001, a segunda, perfazendo um total de
seiscentos milhes, dos quais 40% so a
contrapartida municipal. A primeira etapa
(PROAP I) beneficiou 54 favelas, cerca de
197 mil habitantes e a segunda etapa
(PROAP II) beneficiar outros 87 ncleos,
aproximadamente 323 mil habitantes. 23
Considera-se concluda a urbanizao em 47
favelas, que abrigam cerca de 167 mil
habitantes (PROAP I) e representam cerca
de 33% do contrato com o BID, ou 18% da
populao de favelas. As obras de urbani-
zao da segunda etapa (PROAP II) foram
iniciadas em 24 ncleos, que abrigam cerca
de 28% da populao que ser beneficiada.
Os demais ncleos esto na fase de contra-
tao de obras ou elaborao de projeto. 24
figuras 21 e 22.
Favela Bairro:
projeto de urbanizao
das Favelas Tuiuti e
Santa Maria
23
Outros documentos elaborados pela PCRJ divulgam o nmero de 54 favelas
atendidas no mbito do PROAP II. O nmero considerado, 87 ncleos, foi apresentado
pela SH-PCRJ em maro de 2002.(PCRJ, 2002)
24
Informao fornecida pela Secretaria Municipal de Habitao PCRJ em maro de
2002.
119
O BID considerou investimentos elegveis do Programa a implantao de redes de infra-
estrutura, iluminao, coleta de lixo, sistema virio, conteno de encostas, equipamentos,
reas de lazer, regularizao fundiria e reassentamento e, quando necessrio, a eliminao
de situaes de risco geolgico e ambiental ou, ainda, o desadensamento para abertura de
virio principal. Uma das condies acordadas entre a PCRJ e o BID foi o percentual mximo
de investimento em remoo de moradias (reassentamento), inicialmente fixado em 5% do
total de investimento por ncleo.25 Tambm se fixou o custo mdio de investimento por
domiclio em 3.500 dlares e o custo mximo, em 4.500 dlares.
25
Segundo a arquiteta Lcia Maria Roma, da coordenao da Programa Favela-Bairro
(em entrevista realizada em maro de 2002), esse limite de investimento com
reassentamento foi elevado posteriormente para 8%.
26
Dados apresentados por Fernando Cavallieri no Seminrio Internacional: A cidade
da informalidade: custos e possibilidades, realizado nos dias 29 e 30 de abril no
IBAM, na cidade do Rio de Janeiro, e organizado pelo IPPUR / UFRJ.
27
A taxa de cmbio que em setembro de 1994 era de R$ 0,95 sobe para R$ 1,89 em
setembro de 1999.
28
Informaes fornecidas em maro de 2002 por Fernando Cavalieri da PCRJ. Um
sistema de pontuao baseado em indicadores de pobreza tambm norteou a escolha
das reas de favela atendidas no mbito do PROAP I.
120
Tabela 08.
Favela Bairro - composio dos custos de urbanizao
componente em US$ %
virio, iluminao, resduos e risco 10.387.101,00 27,10
gua potvel 1.020.550,00 2,70
gua servida 1.960.655,00 5,10
drenagem pluvial 2.778.017,00 7,20
equipamentos comunitrios 3.236.859,00 8,40
reassentamentos 3.876.637,00 10,10
outros 4.160.989,00 10,80
obras complementares 10.968.323,00 28,60
TOTAL 38.389.131,00 100,00
total por famlia 3.039,00
29
As informaes sobre o numero e valor das indenizaes foram apresentadas por
Marcia Bezerra tcnica da PCRJ no Seminrio Internacional: A cidade da
informalidade: custos e possibilidades realizado nos dias 29 e 30 de abril no IBAM -
na cidade do Rio de Janeiro e organizado pelo IPPUR / UFRJ.
121
Tabela 09.
Custos de Implementao PROAP I - Favela Bairro
N Custos BID/ PROAP 1
domiclos Projeto Indenizao Desapropriao Obra Total domiclio
Ncleo R$ % R$ % R$ % R$ % Total
Parque Vitria
Parque Boa Esperana 2324 320.986,00 13.448.484,00 5.786,78
Quinta do Caj
2,39 0,00 0,00 13.127.498,00 97,61
Morro do Escondidinho
12.473,31
Morro dos Prazeres
2151 257.621,68 0,96 1.999.914,00 7,45 151.311,00 0,56 24.421.248,47 91,02 26.830.095,15
Tuiut 1777 171.776,00 2,28 0,00 195.400,00 2,59 7.180.290,26 95,14 7.547.466,26 4.247,31
Vila Candido
Guararapes 8.190,15
Cerro Cor 1083 122.428,00 1,38 2.090.970,10 23,57 63.156,63 0,71 6.593.382,50 74,33 8.869.937,23
Vidigal 2754 355.876,50 2,70 20.730,00 0,16 52.300,00 0,40 12.741.346,25 96,74 13.170.252,75 4.782,23
Mata Machado 666 315.958,10 3,63 2.474.999,52 28,46 0,00 5.904.000,20 67,90 8.694.957,82 13.055,49
Borel 2557 489.266,50 3,44 266.283,00 1,87 0,00 13.461.030,17 94,69 14.216.579,67 5.559,87
Salgueiro 1084 176.838,00 1,45 305.564,00 2,51 239.400,00 1,97 11.457.754,75 94,07 12.179.556,75 11.235,75
Complexo da Mangueira
Mangueira
Candelria
Telgrafos
8458 682.140,00 1,98 2.574.993,00 7,48 17.100,00 0,05 31.147.808,48 90,49 34.422.041,48 4.069,76
Total 56551 7.590.779,24 2,08 24.654.154,67 6,74 1.176.940,63 0,32 331.769.399,44 90,71 365.759.572,81 6.467,78
122
Tambm pressuposto do programa promover a
regularizao fundiria e o desenvolvimento de
outros programas sociais por meio de articulao
interinstitucional. Para tanto, foram previstas
inmeras parcerias com rgos do governo
estadual, no mbito da estrutura interna da
administrao municipal, com ONGs, prestadoras
de servio, organizaes comunitrias e empre-
sariais.
Tambm so pressupostos do
programa a articulao interins-
titucional e a participao da
populao. A proposta da PCRJ
prev a integrao com outros
programas de alcance social,
como programas de educao
(por exemplo, aumento do grau
de escolaridade e capacitao
profissional), de gerao de tra-
balho (como Agncia do Traba-
lhador Autnomo, Desenvolvi-
mento de Autogestores e Micro-
empreendedores), atividades
esportivas e implantao de
equipamentos como creches e fotos 76 e 77.
Favela Bairro - Cabritos:
CEMASI Centro Municipal de alta densidade e declividade -
aceso por vielas estreitas e escadarias
Atendimento Integrado.
123
O IBAM (1996) realizou uma avaliao das condies institucionais do Programa Favela Bairro
e apontou que, apesar de formalizada pelo regulamento operacional do PROAP-RIO, a
institucionalizao da articulao interinstitucional no tem sido suficiente para promover a
estreita integrao entre os rgos participantes do programa. Conclui que tem havido
articulao e no integrao institucional.
Pode-se afirmar que o Favela Bairro o programa municipal brasileiro de maior abrangncia.
Considerando que o PROAP I - II termine no final de 2003, em menos de dez anos a PCRJ ter
urbanizado, apenas no mbito desse programa, cerca de 50% de seus ncleos de favela,
beneficiando cerca de quinhentos mil habitantes, quase 10% da populao da cidade do Rio
de Janeiro. Cabe lembrar que, no mbito dos programas Favela Bairrinho e Intervenes
em Grandes Favelas, outras favelas tambm so urbanizadas.
124
O Favela Bairro uma referncia importante de poltica de urbanizao de favela, tanto pela
abrangncia quanto pela visibilidade. CARDOSO (2002: p.48) conclui que o programa consagra
a pratica de urbanizao de favelas.
Sua maior inovao a mudana de enfoque. Trata o problema da favela como problema da
cidade e do urbanismo e aponta como insuficientes apenas as intervenes urbansticas
frente situao de excluso de seus moradores. Decorrente desses pressupostos, o Favela
Bairro busca integrar a favela cidade por meio das intervenes urbansticas e agregar
componentes de gerao de renda e polticas sociais, numa estratgia de buscar tambm a
integrao socioeconmica de seus moradores.
A integrao das favelas urbanizadas ao bairro, no mbito do programa Favela Bairro, atingiu
inquestionavelmente um patamar mais elevado com a melhoria das condies de
acessibilidade, saneamento ambiental dos ncleos e construo de equipamentos pblicos.
No entanto, h indcios de que, para alcanar outros patamares de integrao ser necessrio,
por exemplo, viabilizar a manuteno e controle urbano dos ncleos urbanizados, melhorar a
acessibilidade e reduzir seu adensamento.
125
A concepo de intervir sempre con-
solidando o padro implantado (mes-
mo quando inadequado) e restringindo
o nmero de reassentamentos possibi-
lita maior abrangncia de atendimento
e minimiza conflitos e custos sociais,
mas, em alguns casos, impossibilita
que a integrao alcance os patamares
desejados. Programa F avelaBairro
FavelaBairro
Cabritos - RJ
No caso da Vila Pereira, o projeto sofreu alteraes para reduzir o nmero de remoes. Para
viabilizar a reduo do nmero de remoes, eliminou-se a execuo de praas e de importante
ligao viria com o bairro.
126
Ao retirar do projeto a ligao viria entre a Vila Pereira e o bairro Santa
Tereza, retira tambm a possibilidade de livre circulao de pedestres e
no completa a estrutura viria; essa rea consiste na nica passagem para
o bairro de Santa Tereza, sendo um beco restrito a moradores da favela.
(MEDEIROS, 1999: 108)
O nmero de remoes ficou reduzido apenas s famlias que moravam em reas de risco. A
restrio ao reassentamento inviabilizou a instalao da creche comunitria e a execuo de
virio de integrao com o bairro. A creche ofereceria s mes a oportunidade de trabalharem.30
Na Vila Parque da Cidade, o virio principal tambm deixou de ser executado para reduzir o
nmero de reassentamentos e minimizar o impacto social das remoes.
KLEIMAN (1998) lembra que a integrao da favela ao bairro tambm a integrao pelo vis
das redes e servios de gua e esgoto. Trata-se de integrar a cidade-das-redes com a cidade
fora-das-redes (ou parcialmente fora das redes).A falta de manuteno dos servios de gua
e esgoto outro fator que compromete a integrao. A PCRJ no conseguiu estabelecer
parceria com o CEDAE para a operao e manuteno das redes. O CEDAE no reconhece o
sistema implantado e no assume sua manuteno. Esta realizada por moradores
contratados pela SMH. Alm disso, o tipo de estrutura urbana e o alto adensamento dificultam
que a manuteno seja realizada em alguns setores de favelas pela prpria SMH.
O autor observa que os dados coletados pelo IBGE indicam uma melhoria das condies de
saneamento, mas alerta que esses resultados so discrepantes com os obtidos por meio de
outras fontes e por observaes de campo. Destaca a importncia de ampliar o elenco de
indicadores para avaliar o programa e dos parmetros qualitativos, por exemplo, buscando
saber o volume, qualidade e uniformidade do fornecimento de gua e no apenas registrar o
nmero de ligaes.
127
Os problemas de falta de manuteno nas favelas urbanizadas so detectados em quase
todas as cidades que desenvolvem programas de urbanizao e no deixa tambm de ser
problema no Rio de Janeiro no mbito do Programa Favela Bairro.
A pesquisa do LABHAB (1998) aponta que, no caso da Ladeira dos Funcionrios, a comunidade
reivindica maior conservao e manuteno de praas, jardins e quadras esportivas.
Sobre a falta de manuteno das favelas urbanizadas, muitos tcnicos e dirigentes concluem
que falta de cultura de outras secretarias trabalhar em favelas.
128
figuras 25 e 26.
Programa Favela Bairro:
Clula Urbana do Jacarzinho
129
Para tanto, est previsto o desadensamento da rea e a demolio de edificaes para a
construo e reforma dos edifcios que abrigaram essas atividades, assim como para a
viabilizao de reas pblicas (ptios) de convvio social. A Clula de Jacarezinho se iniciar
com a construo de um ncleo experimental que abrigar o CPP e outros servios (RIO DE
JANEIRO, 2002).
130
5. Estudo de Caso:
Santo Andr, potencial e
limites da ao municipal
131
5. Estudo5. de Caso:
Estudo Santo
de Caso: SantoAndr, P otencial
Potencial
Andr, Potencial
e Limites da Ao Municipal
e Limites da Ao Municipal
Neste captulo, discutirei o potencial e os limites da atuao municipal em favelas, tomando
como exemplo o municpio de Santo Andr, localizado na Regio do Grande ABC, na RMSP
(Regio Metropolitana de So Paulo). Focalizarei a estruturao da poltica habitacional (e de
urbanizao de favelas) e sua articulao com a poltica urbana e com estratgias de incluso
social. Apontaremos tambm as limitaes enfrentadas pelo governo municipal para reaplicar
as propostas inovadoras de urbanizao para o conjunto de favelas da cidade.
Santo Andr localiza-se na Regio do Grande ABC, a sudeste da RMSP, e possui 648 mil
habitantes (IBGE, 2000).1 O processo de crescimento das cidades na Regio do Grande ABC
assemelha-se em muitos aspectos ao da cidade de So Paulo. Foram os loteamentos
particulares, nas primeiras dcadas do sculo XX, que configuraram o desenho da cidade.
Foi tambm a combinao do loteamento precrio com a autoconstruo de moradias que
fez a cidade se expandir e que se apresentou como alternativa habitacional para a populao
de mdia e baixa renda.
1
A Regio do Grande ABC, tambm denominada Grande ABC ou ainda Regio do
ABC, composta por sete municpios: Diadema, Mau, Santo Andr, So Bernardo,
So Caetano , Ribeiro Pires e Rio Grande da Serra.
2
Ver SANTO ANDR (1991), LANGENBUCH (1979)
132
Mapa 06.
Localizao da Regio do Grande ABC
na Regio Metropolitana de So Paulo
Cajamar
Pirapora Caieiras Aruj
do Bom Guarulhos
Guararema
Jesus
Itaquaquecetuba
Santana do
Parnaba
Barueri Po
Osasco So Paulo Ferraz de
Jandira Mogi das cruzes Salespolis
Itapevi Carapicuiba Vasconcelos
Biritiba Mirim
Taboo S.C. do Sul
V. Gde Paulista Suzano
da Serra
Embu Mau
R.G. da Serra
Itapecerica
da Serra Santo Andr
S.B. do
Campo
S. Loureno Embu
da Serra Guau
Juquitiba
RMSP
Regio do Grande ABC
Nessa dcada, urbanistas que vinham atuando na cidade de So Paulo e em outras cidades
brasileiras, como Francisco Prestes Maia e Luis Igncio de Anhaia Mello, so contratados
como consultores para elaborar propostas urbansticas para Santo Andr. LEME (1999) lembra
que a difuso das idias urbansticas no meio profissional ocorria por meio dessas consultorias
de especialistas. 5
3
Ver DENALDI (2001), MINDRISZ (1981), PASSARELLI (1994).
4
LEME (1999) identifica trs perodos na anlise da formao do pensamento urbanstico no
Brasil: o primeiro de 1895 a 1930, o segundo de 1930 a 1950, e o terceiro at 1964. No primeiro
perodo, destacam-se as propostas de melhoramento para partes da cidade e a preocupao
com as questes de saneamento, circulao e reas centrais. O segundo perodo marcado
pela elaborao de planos para o conjunto da cidade que se expande; so formuladas as primeiras
propostas de zoneamento e o urbanismo se afirma como rea de conhecimento e de prtica
profissional. O ltimo perodo marcado pela preocupao com a questo regional.
5
Prestes Maia e Anhaia Mello influenciaram as idias urbansticas at a dcada de 1960,
polarizando as discusses com propostas de modelos de interveno muito diferenciados.
Prestes Maia, que elaborou o Plano de Avenidas de So Paulo em 1930 (um sistema articulado
de vias radiais e perimetrais, permitindo a expanso da cidade), no acreditava que se devesse
limitar o crescimento das cidades, e sua preocupao central estava voltada para o sistema
virio. Anhaia Mello desenvolvia, no meio acadmico, idias sobre o planejamento da cidade,
com forte nfase nas questes de limitao do crescimento e no zoneamento e uso do solo.
MEYER (1991) analisa o embate de idias entre os dois urbanistas.
133
O planejamento urbano da cidade ensaiado na primeira metade da dcada de 1950. Em
1951, cria-se a Comisso de Planejamento Urbanstico Geral da Sede do Municpio de Santo
Andr e seus distritos (lei municipal n. 598), com o objetivo de estabelecer diretrizes para o
planejamento urbano da cidade. A comisso era composta por membros do Executivo Mu-
nicipal e pelo engenheiro Prestes Maia. Este, preocupado em fazer a cidade circular, props
um plano virio e recomendou a contratao de um Plano Diretor.
O primeiro Plano Diretor elaborado pela equipe do Prof. Anhaia Mello (o PD1, como ficou
conhecido), foi alterado, revisado e detalhado por planos que lhe sucederam, principalmente
no que se refere ao sistema virio: PD2 (1965), PD3 (1975) e PD4 (1982). Nas dcadas de
1960 e 1970, instituem-se vrias leis delimitando zonas de expanso urbana (Lei n. 2.287, de
1964; Lei n. 4.169, de 1973).
Em 1976, instituiu-se a Lei de Uso e Ocupao do Solo, elaborada pelo Professor Celson
Ferrari. Ela prope a organizao da cidade por usos predominantes e a organizao do uso
residencial com base nos padres de renda. Estabelece tambm mecanismos de controle de
densidade, demonstrando grande preocupao com a conteno do crescimento da cidade.
A legislao urbana elaborada nas dcadas de 1960 e 1970 desconhece muitos aspectos da
cidade real. Apesar da crescente demanda por moradias e lotes populares, no se oferecem
alternativas para as reas ocupadas e prope-se, muitas vezes, uma legislao que cobe a
produo de moradias populares. o caso da Lei n. 2.756, que probe a construo de duas
moradias em um nico lote ou a edificao de unidades em vilas.
134
No incio da dcada de 1990, momento que coincide com o movimento da Reforma Urbana,
com a aprovao da nova Constituio (1989) e com a eleio do prefeito Celso Daniel, do
Partido dos Trabalhadores PT, novas leis so institudas, buscando democratizar o acesso
terra e cidade. Em 1990, aprovada a Lei Orgnica do Municpio de Santo Andr,
procurando garantir as funes sociais da cidade e a garantia de bem-estar de seus
habitantes. Indica-se a utilizao de instrumentos como o parcelamento e a edificao
compulsria, e o imposto progressivo relativo ao tempo sobre a propriedade predial e territo-
rial.
Em 1991, a Lei n. 6.864 cria as AEIS reas de Especial Interesse Social, com o objetivo de
viabilizar a urbanizao e a regularizao de favelas, a fim de ampliar o acesso moradia pelo
incentivo produo de moradias populares, reduo de preo dos terrenos e ampliao de
sua oferta.
6
Sobre o projeto Eixo Tamanduatehy, ver OLIVEIRA & DUARTE (2000), SANTO ANDR
(2002d).
135
A partir de 2002, aps a aprovao do Estatuto da Cidade (Lei n. 10.257, de 2001), o governo
municipal inicia a reviso do Plano Diretor, buscando incorporar os instrumentos trazidos
pela referida lei. A proposta de lei em discusso aponta na direo de coibir a reteno de
terrenos para especulao. Discute-se a criao de um Banco de Terras, a delimitao de
reas vazias (propriedade privada) como AEIS, inclusive ao longo do Eixo Tamanduatehy, a
aplicao de instrumentos como a Edificao e Parcelamento Compulsrios, o IPTU
Progressivo, a Desapropriao por Ttulos da Dvida Pblica. Tambm se prope encaminhar
para um fundo destinado a investir nas reas de favela os recursos provenientes da outorga
onerosa do direito de construir.
No sculo XX, principalmente aps 1930, ao mesmo tempo em que se afirma a proposta de
planejar o crescimento das cidades, Santo Andr cresce de modo desordenado. No incio da
segunda metade do sculo XX, instituem-se diversas leis e planos, mas a cidade se expande
desconhecendo-os. As legislaes urbansticas no conseguem assegurar um
desenvolvimento socioeconmico e ambiental equilibrado.
MARICATO (2000) lembra que o crescimento ocorre independentemente dos planos, que
cumprem um papel ideolgico e no tratam da cidade ilegal, guardando distncia da realidade
concreta, contribuindo para ocultar a cidade real e formar um mercado imobilirio restrito.
A partir do final da dcada de 1980 e, mais particularmente, no bojo das propostas de reforma
urbana, difundem-se idias sobre a funo social da cidade e a democratizao da gesto
municipal. A maioria dos municpios da Regio do Grande ABC passa a formular legislaes
urbansticas e programas voltados para a agregao da cidade ilegal. Mas o efeito muito
limitado. No nvel do discurso, deu-se novo rumo poltica urbana, mas na prtica no se
conseguiu alterao substancial.
Como na maioria dos municpios do ABC, observa-se em Santo Andr, na dcada de 1990,
por exemplo, a continuidade da ocupao ilegal de terras, o adensamento dos setores
perifricos e o esvaziamento dos setores centrais (bairros mais consolidados da cidade). A
populao se desloca do centro para a periferia. Diagnsticos elaborados pela PSA (1998;
2002f) apontam que o maior adensamento ocorre nas regies horizontalizadas e perifricas.
As regies consolidadas, onde se registra um movimento de verticalizao das construes,
acabam perdendo populao, ocorrendo exatamente o oposto do que propunha a Lei n.
6540, de 1989.7 Os bairros mais consolidados da cidade perdem cinqenta mil habitantes na
dcada de 1980 e cerca de sessenta mil na dcada seguinte, enquanto a populao da APM
apresenta um crescimento anual de 5,56% na dcada de 1980, e de 6% na dcada de 1990.
7
SILVA (1998) trata do papel da gesto do uso do solo na valorizao imobiliria. Analisando o
caso de So Paulo, a autora alerta que a verticalizao em reas urbanizadas no resulta
necessariamente em maior densidade demogrfica e, quando produz unidades de padro muito
superior quelas do entorno, acaba gerando valorizao imobiliria do conjunto do bairro e
expulso das famlias de baixa e mdia renda.
136
Nesse perodo, o acesso terra torna-se ainda mais difcil, em razo de sua maior escassez e
do conseqente aumento de preo. O governo municipal no conseguiu implementar
instrumentos que permitissem algum controle da valorizao dos terrenos e que facilitassem
sua disponibilizao para a habitao popular. As alteraes pontuais na legislao continuaram
ocasionando a valorizao dos terrenos vazios. Deixou-se de instituir medidas que poderiam
aumentar a oferta de terra para habitao e, provavelmente, conteriam a valorizao imobiliria
como a delimitao de reas vazias como AEIS. A Planta Genrica de Valores no foi atualizada
na mesma proporo da valorizao dos imveis, e os valores de IPTU arrecadados no
aumentaram significativamente.
A rea do Eixo Tamanduatehy (ao longo da Avenida dos Estados), onde se concentra grande
parcela dos imveis e terras vazias ou subutilizadas dentro da rea urbana, foi objeto de
inmeras operaes urbanas; no entanto, nenhuma parcela significativa dessas contrapartidas
foi direcionada para melhorar as condies de habitao nas favelas e periferias.8 Na primeira
etapa de desenvolvimento do projeto (1998-2000), no se havia reservado nenhuma rea
vazia nova para a implantao de empreendimentos para a populao de baixa renda (renda
familiar menor que cinco salrios mnimos).
A reviso do Plano Diretor em curso aponta para a mudana do quadro, mas sabemos que os
efeitos sero sentidos apenas a mdio e longo prazo. A incluso das favelas na cidade, sua
legalizao e a interrupo da produo ilegal de moradias vo passar, entre outros aspectos,
pela construo de umagesto urbana inclusiva.
Aproximadamente 20% do total da populao do municpio de Santo Andr, 132 mil pessoas
9
, moram em 139 ncleos de favela. Estas surgem na Regio do Grande ABC por volta da
segunda metade da dcada de 1950 e proliferam nas dcadas de 1970 e 1980. Em Santo
Andr, h registro de que os primeiros ncleos de favela se instalaram em 1957 (Ncleo
Anhaia Melo), em 1958 (lvares Maciel) e em 1959 (Mirandpolis, Sacadura Cabral).10
Em 1996, O IBGE computou 328 mil pessoas morando em favelas na Regio do ABC (14,7%
do total da populao) e 65 mil no municpio de Santo Andr, correspondendo a 10,4% da
populao do municpio 11 (Tabelas 10 e 12). Para o municpio de So Paulo, o percentual era
de 7,6% (TASCHNER, 2001).
8
Estima-se que o governo municipal tenha obtido, como contrapartida das operaes
urbanas, valores da ordem de 16,13 milhes de dlares em trs anos (Santo Andr
SDU Programa Eixo Tamanduatehy, 2002). Em toda a rea do Eixo podem ser
construdos os CHIS (Conjunto Habitacional de Interesse Social).
9
A fonte a PSA/DEHAB/GDC. O dado, que se refere a outubro de 2002, foi produzido
tomando como referncia o Cadastro Municipal de Domiclios em Favela e
considerando a mdia de 4,4 pessoas por ncleo familiar, obtida na Pesquisa Amostral
dos Assentamentos Informais do Municpio de Santo Andr, realizada em 1999 pela
CTA- PSA.
10
Em So Bernardo do Campo, registra-se o incio da formao da favela D.E.R. no
final da dcada de 1940 (1949).
11
Fonte: IBGE,1996.
137
So
Caetano
do
Sul
Diadema Mau
Via
Rodovia
Ribeiro Pires
An
Rio
ch
Grande
iet
a
So Santo Andr da
dos
Serra
Bernardo
do
Mapa 07.
Campo Ncleos de Favelas
Diadema, Mau, Santo And
So Bernardo e Ribeiro Pire
Imigra
Ncleos
ntes
Represa Billings
Principais Vias de Acesso
138
Fonte: Prefeituras Municipais
Desenho: Patricia Boscarol
Os dados fornecidos pelas prefeituras da regio indicam que o percentual da populao
residente em favelas ainda maior. A pesquisa Favelas na Regio do Grande ABC, 12
coordenada pela autora, mostrou que em 2000 havia cerca de 450 mil habitantes em 566
ncleos, representando cerca de 19% do total da populao da Regio do ABC e cerca de
20% do total da populao dos cinco municpios que apresentam favelas. 13, 14
Tabela 10.
Evoluo da populao residente em favelas: Mau, Ribeiro Pires,
So Bernardo do Campo, Santo Andr, Diadema e Regio do Grande ABC4
1991 1996
Regi es
P op.R egio P op.Favela % P op.Fav. P op.R egio P op.Favela % P op.Fav.
fonte: IBGE
1: Censo Demogrfico 1991 - IBGE.
2: Contagem da Populao 1996 - IBGE.
3: Compreende os municpios: Santo Andr, So Bernardo do Campo, Ribeiro Pires, Diadema e Mau.
4: Incluem-se as favelas urbanizadas, parcialmente urbanizadas e sem urbanizao.
12
Esta pesquisa, realizada em 1999 e atualizada em 2000, foi coordenada pela
autora e apoiada pela UNIABC (Universidade do Grande ABC). Levantou dados
sobre o nmero e caracterstica das favelas nos municpios que as apresentavam.
Estes eram, em 2000: So Bernardo do Campo, Santo Andr, So Caetano, Mau,
Diadema e Ribeiro Pires.
13
O percentual da populao de favelas pode ser maior, uma vez que os dados
dos municpios provm tanto de cadastramento de moradores, como de
estimativas, que no so atualizadas todos os anos. Para exemplificar, a PSA
estimava que cerca de 1.100 famlias habitassem o ncleo Esprito Santo em
2000, e o cadastro realizado em 2001 contou aproximadamente 1.500 famlias.
14
Ver DENALDI (2000).
15
Dados do IBGE: Censo Demogrfico de 1991 e Contagem da Populao de
1996.
139
Tabela 11.
Crescimento anual da populao residente em Favelas (1980/1996)
TGCA (% )
Regi es 1991/80 1996/91
Regio Favela Regio Favela
Diadema 2,26 10,61 1,14 4,6
Mau 3,32 14,01 3,08 9,32
S. Andr 0,97 12,08 0,31 3,78
S. Bernardo 2,63 6,35 3,12 9,1
R. Pires 3,78 - 2,78 24,14
Grande ABC1 4,96 9,21 1,88 6,89
Tabela 12.
Evoluo dos domiclios em favelas:
Mau, Ribeiro Pires, So Bernardo do Campo, Santo Andr, Diadema e Regio do Grande ABC5.
Diadema 57.581 5.112 8,9% 76.120 14.012 18,4% 83.834 18.661 22,3%
Mau 49.956 1.993 4,0% 72.125 8.439 11,7% 86.931 13.590 15,6%
S. Andr 144.437 3.244 2,2% 164.513 12.201 7,4% 171.717 15.230 8,9%
S. Bernardo 109.547 9.522 8,7% 148.661 18.187 12,2% 178.216 30.180 16,9%
R. Pires 15.104 - - 20.884 68 0,3% 25.082 231 0,9%
Grande ABC4 376.625 19.604 5,2% 482.303 34.652 7,2% 545.780 47.481 8,7%
So Paulo 2.277.956 71.259 3,1% 2.547.035 142.802 5,6% - 176.905 -
RMSP 3.089.693 100.326 3,2% 3.643.572 233.023 6,4% - - -
fonte: IBGE
1: Dados produzidos por TASCHNER (2001) - Censo Demogrfico 1980 - IBGE
2: Censo Demogrfico 1991 - IBGE/ 3: Contagem da Populao 1996 - IBGE.
4: Compreende os municpios: Santo Andr, So Bernardo do Campo, Ribeiro Pires, Diadema e Mau.
5: Incluem-se as favelas urbanizadas, parcialmente urbanizadas e sem urbanizao.
Tabela 13.
Populao em favelas em 2000:
Mau, Ribeiro Pires, So Bernardo do Campo, Santo Andr, Diadema e Regio do ABC.
Fa vel a s
Regi es No. Ncleos Populao % Pop. Total
Diadema 203 110.629 30,98%
Mau 122 76.718 21,11%
S. Andr 139 119.803 18,45%
S. Bernardo 99 142.133 20,21%
R. Pires 3 1.302 1,25%
Grande ABC4 566 450.586 19,14%
140
Um estudo recentemente desenvolvido pela CIS (Coordenadoria de Indicadores Socio-
econmicos) da PSA (Prefeitura de Santo Andr), que analisa o padro de crescimento
populacional da cidade, confirma a tendncia que alguns autores denominam periferizao
da populao.16 Constata-se que as regies (compostas por setores censitrios concebidos
pelo IBGE) consolidadas, mais centrais e mais bem servidas por infra-estrutura, perdem
populao ou ficam estagnadas, enquanto as regies perifricas se adensam, apresentando
grande crescimento populacional.
Tabela 14.
Populao total e variao populacional nos conjuntos
de setores censitrios em Santo Andr em 1991 e 2000
16
Ver CARDOSO (2000), que analisa a desagregao das taxas de crescimento por
regio administrativa da cidade do Rio de Janeiro, e BGUS & TASCHNER (2000),
que analisa as taxas de crescimento populacional por anel do tecido urbano na cidade
de So Paulo.
141
Mapa 08.
Santo Andr
reas de Crescimento Populacional
e Localizao de Favelas
Favelas
reas de Crescimento Populacional *
rea Proteo de Mananciais
Fonte: CIC/ SPE/ PMSA
* Regies responsveis por 75% do crescimento
populacional do municpio entre 1991 e 2000
142
Os impactos desse padro de crescimento j comeam a ser sentidos pelo governo munici-
pal. Enquanto sobram salas de aula nas escolas localizadas em reas centrais, adequadamente
providas de servios e equipamentos urbanos, nas reas perifricas os equipamentos
existentes no conseguem acompanhar o ritmo do crescimento populacional, nem mesmo
com o acrscimo dos novos equipamentos que vm sendo construdos. Na regio do Jardim
Santo Andr e Cata Preta, por exemplo, faltam salas de aula para o ensino de primeiro grau.
Em relao populao total das cidades, a das favelas caracteristicamente mais jovem,
com nveis inferiores de escolaridade e renda e menor acesso ao mercado de trabalho.17
A pesquisa apontou que, em 1999, 19% dos chefes de famlia de favelas de Santo Andr
eram mulheres e 14,5%, analfabetos. Mostrou tambm que os chefes de famlia residentes
em favelas de Santo Andr tinham uma renda mdia de 3,35 salrios mnimos por ms. Nos
ncleos urbanizados, a mdia de 4,48 salrios mnimos; aproximadamente 7% dos chefes
de famlia ganham mais de sete salrios mnimos e cerca de 18,7% ganham at um salrio
mnimo. O desemprego era muito alto nas favelas de Santo Andr: cerca de 32% da
populao; outros 14,2% faziam bicos esporadicamente. Em 1991, aproximadamente 18%
da populao acima de dez anos estava desocupada, procurando trabalho ou sem ocupao.19
143
Grfico 01.
Distribuio da populao residente em favela
no municpio de Santo Andr por condio de atividade
urbanizados
40
36,6 pr-urbanizados
35 32,2 no- urbanizado
31,2
30,2
30 28,5 todos os ncleo
% da populao
26,5
25,4
25 22,5
20
14,8
15,3
15 13,8 13,5
13,7
14,4
14,2
10 7,9 8,1
9,9
5,2 6,9
5,0
5 4,3
2,3 1,8
3,3
1,7
1,6 1,4 1,4 1,4 2,3 2,7
0
ro ro do os ta do
ist ist ga bic io nis nta
reg reg re
Fa
z ns os
e
m m mp Pe Ap
se co se
o o De
p reg p reg
Em Em
Grfico 02.
Percentual da populao residente em favela
no municpio de Santo Andr que morava anteriormente em favela
urbanizados
80 75,3 74,2 74,7 74,6 pr-urbanizados
no urbanizados
todos os ncleos
60
% de respostas
40
20
144
Grfico 03.
Localizao da moradia anterior da populao residente
em favela no municpio de Santo Andr
urbanizados
pr-urbanizados
60 no urbanizados
51,5 todos os ncleos
45,5
% de entrevistados
43,6 45,2
40
29,2
25,4
22,8
20 17,3
15,6
13,5
14,8
13,8
17,7
localizao anterior
Em 1999, 69% do total de moradias construdas em favelas eram de alvenaria; nos ncleos
considerados urbanizados, o percentual subia para 92,8% e nos ncleos sem interveno
(no urbanizados), caa para 61,1%. Aproximadamente 76,2% do total de moradias nas favelas
eram constitudos de um pavimento, 22,5% de dois pavimentos e 1,3% de trs, e do total
de ncleos urbanizados, 56,7%, 38,9% e 4,3% apresentavam um, dois e trs pavimentos,
respectivamente. Os lotes de 78,8% do total dos ncleos e 72,6% dos urbanizados abrigavam
uma nica moradia; 14,6% (total) e 19,2% (urbanizados) abrigavam duas moradias e 5,9% e
7,8%, trs moradias, respectivamente. Lembremos que, nos ncleos urbanizados, os lotes
definidos pelo plano de urbanizao apresentam em mdia 50 m2. Nos ncleos urbanizados
de Santo Andr, vem crescendo a verticalizao de lotes de tamanho reduzido, que passam
a abrigar mais de uma moradia e famlia. A densidade media das favelas de 550,21 hab/ha.20
145
Embora essa situao seja verificada nos municpios como um todo, tende a ser mais
congestionada nas favelas, onde o lote pode apresentar at 40 m2.
Tabela 15.
Ncleos de favela em Santo Andr
Remoes Restrio a Urbanizao/Regularizao
n. n.
Tipo de Ncleo (famlias) ambiental jurdica outras
ncleos famlias
n abs % % nucl % fam % nucl % fam % nucl % fam
consolidado 64 7.229 115 1,59 4,68 3,73 43,75 17,74 0 0
1
consolidvel 58 20.532 6529 31,8 27,58 27,14 37,93 22,18 1,72 1,21
no consolidvel 17 2.734 2734 100 76,77 96,19 17,64 2,59 29,41 9,54
TOTAL 139 30.495 9378 30,75 23,18 27,78 39,13 19,37 4,34 1,67
1
Esto inclusos os ncleos do Complexo Jardim Santo Andr
fonte: Departamento de Habitao - SISH/PSA
Em Santo Andr, assim como na maioria das regies, a populao ocupou reas no visadas
pelo mercado: reas com impedimentos legais ou imprprias para a ocupao (com restries
urbansticas e ambientais), tornando muito complexa sua regularizao e recuperao. Os
dados da PSA mostram que 23% dos ncleos, abrigando cerca de 28% da populao de
favelas, apresentam restries ambientais e 39%, com aproximadamente 19% da populao,
apresentam restries jurdicas.23 Como mencionado no captulo anterior, a pesquisa Favelas
na Regio do Grande ABC mostrou que apenas 32% dos ncleos de favela de Santo Andr,
que abrigam cerca de 10% da populao moradora de favelas, localizam-se em territrios
sem qualquer restrio ambiental ou geotcnica ocupao.24
A maioria dos domiclios localizados em favela possui conexes domiciliares de gua, esgoto
e eletricidade. Em 1998, 88,7% possuam conexo de gua, 71,6% de esgoto e 99,9% de
eletricidade, computando-se ligaes oficiais e clandestinas (SANTO ANDR- CEPAM/ESCOLA
DE GOVERNO, 2000).
22
A conceituao de ncleo no consolidvel e consolidvel foi apresentada no
segundo captulo. Entende-se por ncleo consolidado aquele onde no existe a
necessidade de reparcelamento de lotes nem de realizao de obras, ou onde as obras
necessrias so de pequeno vulto em relao ao porte do ncleo. So ncleos com
condies satisfatrias de habitabilidade no tocante oferta de infra-estrutura bsica.
23
Consideraram-se ncleos com restries ambientais aqueles que ocupam reas
lindeiras a crregos, reas inundveis, sob rede de eletrificao, localizadas sobre aterro
sanitrio ou oleoduto. Foram considerados ncleos com restries jurdicas apenas
aqueles localizados em reas-reservas de loteamento (verdes e institucionais), cuja
desafetao no seria autorizada pela Constituio Estadual de So Paulo (art. 180).
24
Foram consideradas reas de alta declividade aquelas que apresentam declividades
superiores a 30% em mais de 50% de sua superfcie. Os ncleos podem apresentar
mais de uma restrio ocupao. A existncia da restrio no significa necessariamente
que o ncleo de favela no possa ser total ou parcialmente recuperado ambientalmente.
146
5.3. Estruturao e evoluo da poltica habitacional
Antes desse perodo, a favela era considerada problema da Promoo Social que, do ponto
de vista da melhoria das condies de habitao, no mximo autorizava as concessionrias a
executar a ligao provisria de gua (torneiras) e de luz em alguns pontos. BAGNARIOLLI
JR. (1999: 176) lembra que (...) o assunto ficava sob alada da promoo social, com vistas
a atuar de forma a impedir as ocupaes ou ampliaes das favelas, ou ainda, acompanhar
as aes de clientelismo levadas a termo pelos governantes.
147
Para promover a urbanizao integral das favelas, recorreu-se a um planejamento de aes,
com projetos elaborados pela equipe de governo ou contratados (terceirizados). As obras
eram executadas por administrao direta ou empreiteira, ou ainda parcialmente realizadas
em regime de mutiro, com a participao da populao. As obras executadas no mbito do
programa Pr-Urb nem sempre contavam com projetos e sua execuo, na maioria dos casos,
ocorreu em regime de mutiro.
Era no mbito dos fruns que se aprovavam os critrios para a eleio das favelas que seriam
atendidas e das prioridades de execuo de obras. Segundo BAGNARIOLLI JR. (1999: 212),
os fruns eram realizados com a participao do MDDF e das lideranas das favelas na
coordenao e reuniam centenas de pessoas.
Destaca-se tambm o esforo para estabelecer, dentro do governo municipal, uma estrutura
institucional matricial de atuao em favelas. Alm da necessidade de desenvolver programas
sociais, as caractersticas da interveno fsica exigiam uma articulao do setor de habitao
com os setores responsveis pelas reas de saneamento, transporte (sistema virio) e
drenagem, entre outras. Buscando essa integrao setorial, foi organizado o Frum Tcnico,
que reunia representantes das diversas reas da PSA envolvidas (RESCHKE & BEDE, 1992).
25
O MDDF de Santo Andr, organizado a partir de 1986, uma ramificao do MDF
(Movimento de Defesa dos Favelados), criado em 1978 em Santo Andr/ Regio do
Grande ABC, com o apoio das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), e que se
estendeu para outras cidades da RMSP e outros estados (RESCHKE & BOLL, 1992).
26
BAGNARIOLLI JR. (1999), SANTO ANDR CEPAM (1999).
148
foto 81.
Ncleo Vila Junqueira: Urbanizao Integrada
Em 1997, Celso Daniel reeleito. O governo municipal escolhe a incluso social como uma
das cinco principais marcas de sua administrao e retoma e aprimora os programas de
urbanizao de favelas (SANTO ANDR, 1997). No perodo (1997-2000), so estabelecidos
novos programas, como o PIIS Programa Integrado de Incluso Social28, o Programa de
Apoio s Associaes de Moradias, Conteno de Invases, e tambm se oferece apoio ao
setor privado para a produo habitacional. Ajustam-se parcerias com diversas instituies
para promover a assessoria autoconstruo de moradias. Ganham impulso as parcerias
com outras esferas de governo e com organismos nacionais e internacionais, como a
Comisso Europia, alm de universidades e organizaes no governamentais.
Em 2001, Celso Daniel novamente reeleito. Ele prope a continuidade da poltica estabelecida
e d prioridade ao PIIS como a mais importante estratgia municipal de combate excluso
social. Para tal intento, criada a atual Secretaria de Incluso Social e Habitao, que se
estrutura para ampliar o atendimento e reforar a integrao intersetorial.
27
Ver BAGNARIOLLI JR. (1999) sobre o processo poltico que levou o PT vitria nas
eleies de 1988 e derrota em 1992.
28
O PIIS recebeu em 2001 a denominao de Santo Andr Mais Igual.
149
A reforma institucional ocorrida no incio de 2000 alterou a estrutura da SDUH e criou a SISH,
transferindo para esta ltima o gerenciamento da poltica habitacional e tornando ainda mais
difcil sua articulao como parte integrante da poltica urbana. Por um lado, as mudanas
indicam a prioridade dada pelo governo ao matricial em favelas; por outro, indicam a
tendncia a realizar aes focais (compensatrias) em detrimento de processos mais amplos,
que poderiam ampliar o acesso da populao ao mercado habitacional e terra.
No segundo governo de Celso Daniel (gesto 1997-2000), a PSA explicita que sua poltica
habitacional est voltada para a ampliao do acesso da populao de menor renda ao mercado
habitacional formal e a melhoria das condies de habitabilidade em ncleos de favela. 29
- Urbanizao:
29
A Profa. Dra. Ermnia Maricato, por meio de um contrato de assessoria firmado
entre a PSA e a FUPAM- FAUUSP (LABHAB), contribuiu para a formulao da poltica
municipal de habitao e para a definio de estratgias de interveno.
150
- Apoio autoconstruo: elaborao de projeto e assessoria para autoconstruo de moradias
nas favelas urbanizadas e em processo de urbanizao;
30
O CMOP Conselho Municipal do Oramento Participativo o instrumento
institudo pela Prefeitura Municipal de Santo Andr para viabilizar a participao da
populao na definio das prioridades de investimento municipal. A cidade foi dividida
em 18 regies. So realizadas plenrias em cada uma das regies e oito plenrias
temticas. As plenrias apontam prioridades e elegem representantes para compor
o conselho CMOP, do qual tambm participam representantes da Prefeitura. O
Conselho analisa as propostas e a capacidade financeira de investimento da Prefeitura
e define os investimentos.
151
5.4. Metodologia e resultados alcanados com os programas
5.4.1. Programa PIIS Santo Andr Mais Igual
A excluso social vem sendo tratada por vrios autores. 31 Neste trabalho, no vamos entrar
no debate conceitual a respeito, mas relatar como a excluso percebida pelo governo
municipal e como o programa de urbanizao de favelas se insere dentro de uma estratgia
mais ampla de incluso. 32 O governo municipal de Santo Andr entende excluso social
como ausncia de direitos bsicos compatveis com a garantia de mnimos sociais para o
exerccio da cidadania.
(. . .)
152
claro que o fenmeno tem carter estrutural e seria equivocado imaginar
que um programa de incluso social local, por mais slido que fosse, pudesse
debelar, no interior das fronteiras de um municpio isolado, um processo de
excluso social que, alm de fruto de uma herana histrica agravada no
perodo recente, possui razes que vo alm das fronteiras locais. No entanto,
tal argumento jamais poder servir de pretexto para a falta da ao. (DANIEL,
2001)
Quanto estratgia de ao, a PSA (2001) adotou como princpios do programa a integrao,
a territorializao das aes (favelas) e a participao da comunidade, e buscou combater
principalmente as dimenses urbanas, econmicas e sociais da excluso (SANTO ANDR,
2001b/2001d/2002e) .
33
Sobre a proposta de gesto integrada e ao multidisciplinar do Programa
Guarapiranga, ver UEMURA (2000). Sobre a avaliao institucional do Programa Favela
Bairro, ver IBAM/FINEP (1996) e, sobre a ao multidisciplinar no mbito deste, ver
MEDEIROS (1999).
153
Alm dos programas habitacionais, integram o PIIS, entre outros, os programas: Urbanizao
de Favelas e Produo Habitacional; Microcrdito (Banco do Povo); Incubao de
Cooperativas; Capacitao de Empreendedores Populares (Empreendedor Popular);
Formao Profissional; MOVA - Alfabetizao para Adolescentes e Adultos; Renda Mnima,
acoplado ao atendimento escolar; Sade da Famlia proviso descentralizada de servios
de sade, empregando agentes de sade que operam nos bairros; Criana Cidad programa
destinado ao atendimento de crianas (SANTO ANDR, 2000).34
154
A primeira etapa do programa, inaugurada no segundo Gover-
no de Celso Daniel, vem sendo executada com recursos muni-
cipais e outros captados do Governo Federal e de organismos
internacionais. Cerca de 60% do programa financiado pelo
municpio. At julho de 2002, no se conclura a urbanizao
de nenhuma das quatro favelas objeto de interveno no
mbito do UI-PIIS. Na Tamarutaca, cuja urbanizao iniciou-
se em 1991 primeira administrao de Celso Daniel , cerca
de 85% das obras de urbanizao estavam concludas; na
Quilombo, aproximadamente 90%; na Sacadura, cerca de 80%
e na Capuava, 30%. A meta inicial do governo era concluir a
primeira fase at o final do primeiro semestre de 2001. A queda
da capacidade de investimento do governo municipal, o baixo
investimento realizado nos dois primeiros anos da adminis-
trao, a complexidade e o alto custo das intervenes, alm
do atraso do repasse de recursos captados nacional e interna-
cionalmente, podem ser apontados como fatores relacionados
com esse resultado.
fotos 84 e 85.
Aulas dos programas Ensino Profissionalizante e MOVA
155
fotos 86, 87 e 88.
Programa Criana Cidad,
aulas dos programas
MOVA e Formao Profissional
156
O depoimento de uma moradora confirma que a articulao do Programa Renda Mnima
com outros programas de capacita-o profissional e educao fortalece a perspectiva de
autono-mizao da famlia.
Vrios outros depoimentos revelaram que o desempenho das crianas na escola melhorara
em algum grau, e que parte da populao tinha voltado a estudar. No incio do programa,
havia poucas salas de alfabetizao de adultos no entorno das reas ociosas; no perodo da
avaliao, encontraram-se 23. Os resultados do Programa de Sade da Famlia tambm fo-
ram positivos. Os agentes de sade levaram parcelas maiores da populao a procurar os
postos de sade e unidades especializadas, para fazer tratamentos preventivos ou de outros
tipos, o que sobrecarregou a rede de atendimento local. As atividades esportivas, de lazer e
culturais, desenvolvidas no mbito do programa Criana Cidad, beneficiaram cerca de
setecentas crianas e adolescentes at o final de 2000.
A PSA (2002a), comparando o desempenho dos programas sociais, nas reas cobertas pelo
PIIS, com o resultado alcanado em regies da cidade com caractersticas semelhantes onde
no se desenvolve o programa, conclui que a eficcia dos programas sociais tende a ser
maior nas reas cobertas pelo PIIS.
157
Para apropriar os resultados e orientar o desenvolvimento dos programas sociais e polticas
pblicas, o governo municipal vem elaborando um sistema de indicadores. Dentro desse
processo de produo de diagnsticos e indicadores, destacam-se:
158
A experincia abre perspectivas para a realizao de vrios estudos. Mesmo reconhecendo
os avanos institucionais, viabilizar a matricialidade, assim como o processo de integrao
proposto pelo PIIS, tarefa difcil mesmo para um governo municipal que prioriza essa ao.
A contribuio dessa experincia para o campo da cultura organizacional da administrao
municipal dever ser objeto de outros estudos.
LARANGEIRA (2002: 22) prope ainda que se estude se de fato existe correlao positiva
entre a fixao da populao nas reas urbanizadas e a gerao de trabalho e renda, ou os
aspectos subjetivos, como a auto-estima da populao (incorporando a noo de que os
moradores so sujeitos de direito). A anlise desses aspectos poderia contribuir para a
construo de estratgias de fixao da populao em reas que so objeto de interveno,
no mbito de programas de urbanizao de favelas.
foto 92.
Conjunto Habitacional Prestes Maia: edifcios de apartamentos
para onde foram removidas as famlias da favela Tamarutaca
159
O alto adensamento das favelas tornou ne-
cessrio remover maior percentual de fam-
lias para viabilizar a urbanizao sem abrir
mo da frao mnima de terra (lote mnimo)
por famlia. Praticam-se solues como a
diminuio do tamanho do lote, chegando
ao mnimo de 40 m2, a verticalizao (cons-
truo de edifcios de apartamentos) de seto-
res da favela e a produo de novas moradias
em outras localizaes.
160
Todos os ncleos que vm sendo integralmente urbanizados no mbito do PIIS receberam
algum tipo de equipamento na favela ou em seu entorno. No Quilombo, o menor ncleo
atendido pelo PIIS, construiu-se uma praa com equipamento esportivo no entorno. Na favela
Tamarutaca, construiu-se um centro comunitrio e trs praas com quadras esportivas, duas
dentro da favela e outra no seu entorno. Na Sacadura, edificou-se um centro comunitrio,
praa e rea de lazer e um edifcio para abrigar o que se denominou unidades de negcio,
dentro da rea da favela. Na Capuava, sero construdos centros comunitrios e creches em
reas localizadas no entorno, e praas, reas de lazer e unidades de negcio dentro da rea
da favela.
161
A construo e a localizao desses equipamentos tambm fazem parte da estratgia de
promover a integrao da favela com o seu entorno. A maioria das favelas urbanizadas con-
tinua com cara de favela, muitas vezes conferida pela adoo de padres urbansticos
diferenciados da cidade (como densidade, largura de virio, tamanho de lotes) e pela qualidade
da construo habitacional e do parcelamento executado. O projeto urbanstico desenvolvido
para essas favelas buscou localizar praas e equipamentos em setores da favela que conurbam
com o bairro, criando uma rea de transio e integrao da favela com o bairro.
As unidades de negcio
so um conjunto de
mdulos integrados por
uma cobertura, destinado
a abrigar unidades eco-
nmicas de empreende-
dores da favela e da
cidade, unidades-ncora,
alm de unidades de ser-
vios como correio, banco
(lotrica). Essas unidades,
quando existentes, tam-
bm se localizam na borda
da favela com o bairro, figuras 27 e 28.
Croqui e maquete eletrnica das unidades de negcio que
para possibilitar a integra- esto sendo construdas no ncleo Sacadura Cabral
o e atrair consumidores
de fora da favela. Objetiva-
se criar oportunidades
para os moradores das
favelas desenvolverem ou
abrirem negcios e
atenderem a demanda de
servios e comrcio do
bairro (ou entorno).
As oportunidades de gera-
o de renda se amplia-
riam, como conseqncia
da disponibilizao de
espao adequado para o
seu desenvolvimento, e tambm por causa do atendimento a consumidores no residentes
na favela. A essa iniciativa somam-se outras, no mbito do PIIS, como a capacitao
profissional e de empreendedor e a oferta de crdito (Banco do Povo).
162
A fim de buscar elementos para a
reviso da poltica de microcrdito
nessas favelas, assim como para
estabelecer parmetros de uso e
destinao das unidades de negcio,
a PSA contratou o Instituto de
Pesquisa do IMES (Instituto Municipal
de Ensino Superior) de So Caetano
do Sul, para realizar uma pesquisa
sobre o perfil dos estabelecimentos
existentes na favela e no entorno, bem
como sobre a demanda potencial de figuras 29 e 30.
Croqui e planta das unidades de
microcrdito nas favelas do PIIS e nas negcio do ncleo Sacadura Cabral
regies prximas a elas.35 Alm disso,
o referido estudo procurou aprimorar a anlise sobre o tipo de novos estabelecimentos a
serem estimulados nos ncleos de favela e nas reas do entorno, em funo de demandas
do bairro (PSA/IMES, 2000a/2000b/2000c).
Na Sacadura Cabral esto sendo construdos 24 mdulos (com 24 m2 cada) para abrigar 18
unidades de negcio e servios em frente ao centro universitrio, a saber, a Fundao Santo
Andr.36 Destas, quatro sero unidades-ncora, destinadas a empreendedores da cidade
nos ramos de farmcia, alimentao e livraria. As demais unidades se destinam a
empreendedores do ncleo da favela Sacadura e s concessionrias de servios (Correio,
Posto de Atendimento da PSA, Central de Apoio ao Trabalhador Autnomo).
38
Sobre o perfil das atividades econmicas e as limitaes dos programas de gerao
de renda e trabalho nas favelas, ver DENALDI (1999b).
39
O primeiro projeto de unidades de negcio foi desenvolvido para a favela Sacadura
Cabral e elaborado pelo arquiteto Minoru Naruto, no mbito de um contrato de
assessoria tcnica firmado entre a PSA e a FUPAM/LABHAB-FAUUSP.
163
Buscando conciliar a necessidade
de melhorar a qualidade de
construo das moradias com a
alta taxa de ocupao dos lotes
aps a urbanizao (reparce-
lamento), a PSA props incorporar
no plano de urbanizao, sempre
que possvel, limites mximos de
densidade por setores. Notou-se
que nos ncleos urbanizados era
comum haver construes, ainda
que ilegais, com um terceiro pavi-
foto 102
mento, mesmo em lotes de dimen- Ncleo Sacadura Cabral - Urbanizao Integrada:
ses reduzidas. Muitas dessas Moradias auto-construdas pela populao com assessoria tcnica.
O 3pavimento permitido em alguns setores pelo plano de urbanizao
construes eram habitaes
insalubres e de risco, pela falta de iluminao e de ventilao adequadas e pela existncia de
riscos geotcnicos. Optou-se, ento, por definir setores onde se admite a possibilidade do
terceiro pavimento, desde que o morador siga a orientao tcnica fornecida pela PSA ou
por escritrio contratado. Com isso, procura-se garantir a qualidade da construo habitacional
e do espao urbanstico.
164
figura 31.
Planta de uso do solo
do ncleo Sacadura Cabral
Aps a urbanizao, a totalidade das moradias ligada rede de esgoto sanitrio, mas no
h na cidade tratamento e destino final adequados de esgoto. A responsabilidade pelo
tratamento de esgotos na RMSP da SABESP Companhia de Saneamento Bsico de So
Paulo, instituio estadual. No caso de Santo Andr, a estao de tratamento est construda,
mas falta executar os interceptores e coletores. A SABESP prev que, at o final de 2003, o
esgoto de 20% da cidade estar tratado.
40
A GTZ Deutsche Gesellschaft fur Technische Zusammenarbeit (Sociedade Alem
de Cooperao Tcnica) vinculada ao Ministrio de Desenvolvimento e Cooperao
Econmica do Governo Alemo. Sobre a aplicao do DRUP nas favelas de Santo
Andr ver SANTO ANDR (2002c).
165
foto 103
DRUP - Diagnstico Rpido e Participativo
Ncleo Jardim Cristiane: painel de apresentao do histrico de ocupao do ncleo produzido pela populao
166
O custo mdio de urbanizao, executado e contratado na primeira etapa do PIIS, de R$
10.722,56 por famlia; o maior custo, de R$ 17.961,00 por famlia, se encontra no ncleo
Sacadura, e o menor, de R$ 7.159,18, na Tamarutaca. (Tabela 16) Se incorporarmos o custo da
terra para a produo das novas moradias (remoo), o custo mdio de urbanizao por
famlia sobe para R$ 12.354,10, chegando o maior valor, no caso da Sacadura, a R$ 22.050,00,
e o menor, a R$ 8.697,63. 41 (Tabela 17)
foto 107.
Vista area do Complexo do Jardim Santo Andr
41
Data-base: maio de 2002.
42
Ver DENIZO (2002).
43
CDHU Quadro Sntese de Aes e Recursos (posio: 18/04/2002).
167
Tabela 16.
Urbanizao Integrada PIIS (1 etapa): custo das obras de urbanizao
5
NCLEOS DE FAVELA
4
Sacadura Tamarutaca Capuava Quilombo II
R$ % R$ % R$ % R$ %
Projeto / Consultoria 413.917,41 3,08 170.214,25 3,66 469.833,95 4,08 12.881,96 0,6
Infra-estrutura 4.420.424,89 32,90 1.936.538,21 41,61 5.246.345,41 45,52 450.225,12 21,
Equipamentos 1.089.445,51 8,11 237.508,15 5,10 1.601.197,61 13,89 31.700,00 1,4
Produo Habitacional 5.679.714,98 42,27 1.542.316,12 33,14 4.045.026,55 35,10 1.571.118,85 73,9
Alojamento/Reassentamento 1.313.832,13 9,78 280.567,78 6,03 162.080,70 1,41 39.480,00 1,8
Assessoria tcnica 414.341,95 3,08 407.570,45 8,76 20.000,00 0,9
Outros
Crdito habitacional 103.750,00 0,77 78.750,00 1,69
TOTAL 13.435.426,87 4.653.464,96 11.524.484,22 2.125.405,93
100 100 100 10
TOTAL/FAMLIA 17.961,80 7.159,18 8.684,62 9.044,28
Tabela 17.
Urbanizao Integrada PIIS (1 etapa): custo das obras de urbanizao incluindo obteno de terra para produo de novas moradias
5
NCLEOS DE FAVELA
4
Sacadura Tamarutaca Capuava Quilombo II
R$ % R$ % R$ % R$ %
Projeto / Consultoria 413.917,41 3,08 170.214,25 3,66 469.833,95 4,08 12.881,96 0,6
Infra-estrutura 4.420.424,89 32,90 1.936.538,21 41,61 5.246.345,41 45,52 450.225,12 21,1
Equipamentos 1.089.445,51 8,11 237.508,15 5,10 1.601.197,61 13,89 31.700,00 1,49
Produo Habitacional 5.679.714,98 42,27 1.542.316,12 33,14 4.045.026,55 35,10 1.571.118,85 73,9
Alojamento/Reassentamento 1.313.832,13 9,78 280.567,78 6,03 162.080,70 1,41 39.480,00 1,86
Assessoria tcnica 414.341,95 3,08 407.570,45 8,76 20.000,00 0,94
Outros
Crdito habitacional 103.750,00 0,77 78.750,00 1,69
Sub-total 13.435.426,87 4.653.464,96 11.524.484,22 2.125.405,93
100 100 100 100
Sub-total/ Famlia 17.961,80 7.159,18 8.684,62 9.044,28
TERRA 2.000.000,00 1.000.000,00 1.600.000,00 600.000,00
TOTAL 15.435.426,87 5.653.464,96 13.124.484,22 2.725.405,93
TOTAL/FAMLIA 20.635,60 8.697,64 9.890,34 11.597,47
Inclui Projeto equipamentos, infra-estrutura, produo de novas moradias e regularizao fundiria
Inclui construo de novas moradias ou lotes urbanizados e/ou material de construo
Inlcui construo e manuteno de alojamento provisrio, kit barraco, aluguel provisrio, transporte e demolio
4
Custo referente a urbanizao do setor B onde moram cerca de 650 famlias
5
N total: 2990 famlias
168
fonte: PSA (SISH-DEHAB) - Atualizao ndice FIPE/ maio 2002
Tabela 18.
Urbanizao Integrada PIIS: custo das obras de urbanizao - infra-estrutura
NCLEOS DE FAVELA
INFRA ESTRUTURA Sacadura Tamarutaca Capuava Quilombo II
R$ % R$ % R$ % R$ %
Rede abastecimento de gua 113.870,71 0,85 77.045,96 1,66 477.185,96 4,14 15.200,00 0,7
Rede esgoto sanitrio 781.860,47 5,82 483.298,16 10,39 847.840,46 7,36 25.200,00 1,1
Rede drenagem pluvial 350.120,05 2,61 190.358,42 4,09 485.240,60 4,21 10.000,00 0,4
Sistema Virio 537.010,61 4,00 826.790,56 17,77 1.106.441,00 9,60 80.629,09 3,7
Rede Eltrica/Iluminao Pblica 146.490,82 1,09 94.000,00 2,02 130.014,58 1,13 15.000,00 0,7
Consolidao Geotcnica (aterro) 2.491.072,23 18,54 0,0
Consolidao e estabilizao de
encosta e recuperao de reas 265.045,10 5,70 2.199.622,83 19,09 304.196,03 14,3
degradadas
Sub-total 4.420.424,89 32,90 1.936.538,20 41,61 5.246.345,43 42,52 450.225,12 21,1
Outros 9.015.001,99 67,10 2.716.926,75 58,39 6.278.138,81 54,48 1.675.180,81 78,8
TOTAL 13.435.426,88 4.653.464,95 11.524.484,24 2.125.405,93
100 100 100 10
TOTAL/FAMLIA 17.961,80 7.159,18 8.684,62 9.044,28
Custo referente a urbanizao do setor B (no urbanizada at final 1997) e onde moram cerca de 650 famlias
fonte: PSA (SISH-DEHAB) - Atualizao ndice FIPE/ maio 2002
Tabela 19.
Urbanizao Integrada PIIS: custo das obras de urbanizao por famlia
NCLEOS DE FAVELA
TOTAL
Sacadura Tamarutaca Capuava Quilombo II
R$ R$ R$ R$ R$
Projeto e infra-estrutura 6.463,02 3.241,16 4.307,60 1.970,67 4.432,56
Equipamentos 1.456,48 365,40 1.206,63 134,89 999,95
Produo Habitacional 7.593,20 2.372,79 3.048,25 6.685,61 4.337,22
Outros 2.449,10 1.179,83 122,14 253,11 952,83
Sub Total 17.961,80 7.159,18 8.684,62 9.044,28 10.722,56
Terra p/ produo habitacional 2.673,80 1.538,46 1.205,73 2.553,19 1.756,76
TOTAL 20.635,60 8.697,64 9.890,34 11.597,47 12.479,32
fonte:PSA (SISH-Dehab) - maio 2002
169
O custo total do projeto integral de urbanizao/reassentamento estimado em 130 milhes
e o custo por famlia de R$ 17.820,00.44 Estas cifras incorporam os valores referentes
construo de equipamentos urbanos, alojamentos provisrios e recuperao ambiental de
reas consideradas ambientalmente sensveis. Estima-se que cerca de 67% do total dos
moradores sero removidos e reassentados dentro da prpria gleba.
44
CDHU Quadro de Urbanizao Integrada Jardim Santo Andr (posio: 29/05/
2002).
170
Os resultados dependem do porte e da somatria das intervenes realizadas ao longo dos
anos. Em algumas favelas onde, por exemplo, apenas se construiu um muro de arrimo, as
condies no so substancialmente alteradas. J em outras favelas, o conjunto de
intervenes pontuais realizadas, no sendo orientadas por projeto global de infra-estrutura
e parcelamento, ou no contando com a possibilidade de realizar remoes, acaba resultando
na consolidao da ocupao existente tal como ela se deu. Com a implantao de infra-
estrutura, mesmo que precria, os moradores investem na construo e ampliao de suas
moradias. Quase que acidentalmente, as favelas so urbanizadas e se consolidam.
Se, por um lado, este tipo de interveno no planejada consolida situaes de moradia e
urbanizao inadequadas, por outro lado traz, a curto prazo, grande benefcio para expressiva
parcela da populao de favelas.
O caso do ncleo So Sebastio, onde moram cerca de 170 famlias, um exemplo. Esse
ncleo, com uma das mais altas densidades, apresentava uma das piores situaes de
insalubridade. Grande parte das famlias construiu seus barracos sobre o crrego que havia
se transformado em canal de esgoto e que transbordava com a menor chuva (SANTO ANDR,
1999b). A maioria das vielas possua menos de um metro de largura, no permitindo a entrada
de iluminao e ventilao nos barracos. Eram verdadeiros corredores de escoamento de
esgoto a cu aberto. Para promover a urbanizao integral, seria necessrio remover cerca de
sessenta famlias e no havia recursos destinados para a necessria produo habitacional.
171
Em 1999, a PSA promoveu uma interveno no setor mais insalubre, removendo 15 famlias
para outro ncleo.45 O crrego foi canalizado, sobre este abriu-se uma via de pedestres e os
esgotos canalizados foram jogados no crrego. Aps a execuo das obras, a maioria dos
moradores daquele setor investiu em suas moradias, mesmo sem que o reparcelamento e o
virio tivessem sido definidos.
Aqui tem muitos ratos, crianas foram mordidas, eles andam por cima da
cama, da comida. (Izilda A. Coelho, depoimento registrado antes da
interveno)
Quando o meu filho tinha um ano, ficava sentado no cho e os ratos vinham
pegar a bolacha das mos dele. Agora eu aterrei a casa e isto no acontece
mais. (Clarice Lima)
Toda vez que chovia, ficava alerta com as camas, com a comida, para no
irem embora com as guas. (...) Quando enchia, os vizinhos vinham ajudar a
tirar as crianas para elas no morrerem afogadas. A gente tambm tentava
salvar os mveis. Teve um dia que no deu tempo: eu fui desligar a televiso,
mas ela j estava boiando. (...) Em janeiro, cinco meses depois da canalizao
da Prefeitura, veio a pior chuva e rezei e nada aconteceu. Eu comecei a olhar
da janela, esperando pela enchente. Mas a gua simplesmente passava.
(Maria de Ftima)
Antes s quem morava aqui podia falar do esgoto. Depois que lanaram
esse projeto, foi o mesmo que ganhar na loteria. (Antonio I. de Souza)
A constatao de que no basta urbanizar a favela para integr-la cidade levou a PSA a
instituir o programa Melhor Ainda, que integra dois subprogramas: Ps-Uso e Requalificao
Habitacional. Ele procura incorporar as favelas cidade levando o controle e a manuteno
urbana para os ncleos urbanizados, e tambm orientando a construo, ampliao ou reforma
das moradias para elevar a qualidade de sua construo. O programa Ps-Uso rene um
conjunto de aes voltadas para:
172
O caso do ncleo Coria ilustra
a necessidade desse tipo de
interveno. Estudo realizado
pela PSA-DEHAB sobre o ncleo
Coria, urbanizado durante o
primeiro governo de Celso
Daniel, apontou que alguns lotes
chegam a abrigar cinco famlias
e 15 pessoas. A maioria das
moradias, cerca de 80%, no
apresentava salubridade e
conforto adequados. A PSA
contratou uma ONG, que realizou um levantamento individual
de todas as moradias e lotes e apresentou solues de reforma
para que cada moradia se adaptasse ao que se considerou
como condies mnimas de salubridade. Nesse caso, as
famlias tiveram tambm acesso a crdito municipal para
realizar a reforma.
173
Apesar de sua importncia, o programa no atende a maioria das favelas urbanizadas ou em
processo de urbanizao. Ele vem sendo desenvolvido em apenas quatro ncleos: dois
abrangidos pelo PIIS, com a utilizao de recursos provenientes da Unio Europia (Tamarutaca
e Sacadura) e outros dois ncleos urbanizados no primeiro governo de Celso Daniel (Coria e
Nova Conquista).
174
Os observadores da populao no foram tratados como fontes de informao, mas como
protagonistas da gesto dos resultados. Foram capacitados para conhecer os padres
estabelecidos a priori e os procedimentos de monitorizao desses servios, assim como
orientados sobre o papel das concessionrias e da Prefeitura (departamentos) na verificao
das irregularidades que venham a ocorrer com o tempo.47
Nas reas particulares, a Prefeitura Municipal de Santo Andr presta a assistncia jurdica
necessria obteno do ttulo de propriedade dos imveis pelas famlias, o que se faz,
geralmente, mediante negociao direta dos moradores com o proprietrio, ou pela propositura
de aes de usucapio das glebas.
47
Esse Observatrio vem sendo desenvolvido em parceria com a CERFE, no mbito
do convnio firmado entre a Comisso Europia e a PSA (Conveno BRA/B7
3010/IB/95/115 de 06/04/1998).
48
Ver DENALDI & SPERTINI (2000) e DENALDI & DIAS (2001).
175
Em 1999, a PSA reformula a Lei de AEIS e envia Cmara um projeto de lei substituindo a Lei
n. 6.864 de 1991 (Lei de AEIS). A Lei n. 8.300 de 2001 substitui a anterior. A alterao da
legislao veio responder a novas situaes concretas, tais como o esgotamento do estoque
de terras pblicas, o adensamento dos ncleos de favela existentes, a necessidade de
verticalizar as construes e de permitir e regulamentar outros usos que no s o habitacional,
a necessidade de agilizar os procedimentos de regularizao e de instrumentalizar novas
polticas pblicas adotadas pelo municpio, como a gerao de emprego e renda para os
moradores das reas urbanizadas.
Apesar da alta prioridade poltica dada a esse programa e da existncia e reviso da legislao,
so grandes as dificuldades encontradas pela prefeitura de Santo Andr nos procedimentos
de regularizao fundiria no municpio. Esto relacionadas com a cultura formalista da
burocracia, com a incidncia de legislaes estaduais e federais restritivas, situao irregular
de domnio das reas pblicas e particulares, grau de anormalidade das ocupaes e inter-
face com problemas e restries ambientais. 50
49
Os processos de regularizao fundiria na Prefeitura de Santo Andr encontram-
se sob a responsabilidade da Encarregatura de Regularizao Urbanstica e Fundiria
(ERUF), subordinada ao Departamento de Habitao (DEHAB), rgo vinculado
Secretaria de Habitao e Incluso Social (SISH) do municpio.
50
Sobre as dificuldades e limites da regularizao fundiria, ver DENALDI & DIAS
(2002) e DENALDI & SPERTINI (2000).
176
Mapa 09.
Santo Andr
Favelas - Restrio a Ocupao ou Regularizao
177
Uma grande dificuldade a impossibilidade de desafetao das reas pblicas-reserva de
loteamento (reas verdes e institucionais), determinada pela Constituio do Estado de So
Paulo (artigo 180, inciso VII).
Na prtica, essas reas foram ocupadas pela populao de baixa renda, tendo, por conseguinte,
sua destinao alterada de fato, bem antes da existncia do referido dispositivo constitucional.
Todavia, no se admite o registro do parcelamento de interesse social sem a prvia desafetao
da rea pblica, cuja formalizao limitada pelo referido artigo 180, inciso VII da Constituio
Estadual.
51
As denominaes das reas reservadas podem variar. Algumas so gravadas como
reas livres. Entende-se, contudo, que sempre se destinam implantao de
equipamentos pblicos ou instituio de reas verdes (praas, jardins, sistemas
de recreio etc.).
52
Ver SCARAMBONE (2002).
53
A fiscalizao de APMs realizada pelo Departamento de Gesto Ambiental do
SEMASA.
54
De janeiro de 2001 a junho de 2002 expediram-se 5.330 notificaes extrajudiciais,
demoliram-se 198 novas construes no concludas e 493 aumentos de construes.
FONTE: PSA/DEHAB nov. 2002.
178
Essa ao no tem conseguido congelar o conjunto das reas de favela, mas evita
parcialmente seu crescimento. O xito da fiscalizao de determinadas reas se relaciona
ainda com o grau de permeabilidade do ncleo, sua acessibilidade e visibilidade, e com
caractersticas de segurana. Em alguns ncleos, ou setores destes, a CDP/PSA no consegue
entrar.
Analisando a primeira e segunda gestes do prefeito Celso Daniel, constata-se que a poltica
habitacional de Santo Andr evolui na direo de diversificar as modalidades de interveno,
institucionalizar e ampliar a participao popular mediante instrumentos como OP e promover
maior integrao institucional dos setores de governo com o desenvolvimento de projetos
integrados. Em especial, so inovadoras as mudanas operadas institucionalmente para buscar
a ao matricial visando ao aumento da eficcia das intervenes urbansticas, que deixam
de operar isoladamente. No entanto, do ponto de vista de resultados quantitativos, pouco se
avana no segundo governo de Celso Daniel.
Apontamos como uma das maiores limitaes do programa UI-PIIS sua pequena abrangncia
e seu baixo potencial de replicabilidade para o conjunto de favelas existentes na cidade.
Dos 139 ncleos de favela, 64 ncleos j urbanizados abrigam cerca de 23,7% da populao;
58 ncleos, que abrigam cerca de 67,3% da populao, apresentam condies favorveis de
urbanizao com a remoo de 31% de sua populao para novas reas e, no restante dos
ncleos, os no consolidveis, dever ser removida a totalidade das famlias. No total,
necessria a remoo de cerca de 9 mil famlias.
Para esse clculo, tomou-se como referncia o valor mdio das obras contratadas pela PSA
(no perodo de 1997-2000) e adotaram-se os seguintes custos mdios:
179
- no caso de urbanizao, de R$ 6.400,00 por famlia, excluindo o custo de produo de
novas moradias;
- no caso de remoo, de vinte mil reais por famlia, de uma unidade habitacional tipo
apartamento, com cerca de 41 m2, e trinta mil reais por famlia, incluindo, alm da produo
habitacional, o custo da terra. 55,
Concluindo, possvel estimar, grosso modo, que, para promover a urbanizao integrada
de todas as favelas existentes na cidade, incluindo o complexo Jardim Santo Andr, assim
como promover a remoo das famlias dos ncleos no consolidveis, seriam necessrios
recursos da ordem de 347 milhes de reais, dos quais 26% corresponderiam aos gastos com
urbanizao e 74% s despesas com produo habitacional (remoo), incluindo o custo da
terra que representa cerca de 27% do total.
Se excluirmos os custos de urbanizao do complexo Jardim Santo Andr, que vem sendo
urbanizado pelo Governo do Estado de So Paulo CDHU, seriam necessrios
aproximadamente 250 milhes de reais, sendo que 72% corresponderiam a gastos com
produo habitacional, incluindo a aquisio de terras.
55
O custo de produo de uma nova moradia incorpora os custos de projeto, infra-
estrutura, edificao habitacional e equipamento. A referncia so as unidades
construdas pela PSA no Conjunto Habitacional Prestes Maia, no perodo de 1998 a
2001. O custo estimado da terra, por famlia, o preo mdio do metro quadrado
encontrado na cidade, para glebas acima de cinco mil metros quadrados.
56
Dado fornecido pela Secretaria de Finanas da PSA.
57
Entre outros, CELSO DANIEL (1998), DANIEL LIMA (2002).
58
A PSA relaciona o aumento do custeio tambm com o aumento da oferta de
servios pblicos. A recesso e o desemprego levam um percentual maior da
populao a procurar servios pblicos sobretudo nas reas de sade, educao
e cultura. (SANTO ANDR - Secretaria de Finanas, 1999)
180
Tabela 20.
Urbanizao de favelas em Santo Andr:
estimativas de custos de urbanizao e produo de novas moradias
181
Para DANIEL (1998: 4),
o municpio vive uma crise fiscal estrutural, agravada por baixa receita prpria
(IPTU, ISS e Taxas) e, sobretudo, pelo substancial aumento das despesas
com pessoal a partir do Plano Real, em funo da elevao do salrio real (o
percentual da despesa com pessoal passa de 37% em 94 para 64% em 97).
Agrega-se, afinal, a existncia de um volumoso estoque de dvida resultante
de precatrios judiciais relativos a desapropriaes.
O quadro agravado pelo fato de a PSA, nos ltimos anos, no apresentar capacidade de
endividamento para contrair emprstimos, o que leva o municpio a depender ainda mais da
captao de recursos a fundo perdido, junto ao governo federal e a organismos internacionais.
No vamos focalizar a questo das finanas pblicas, que merece anlise muito mais atenta;
o que queremos frisar que promover a urbanizao integrada implica a utilizao de recursos
volumosos, no disponveis no mbito dos governos municipais. 59 Excluindo os custos
relacionados com a urbanizao do complexo Jardim Santo Andr e os investimentos j
realizados, e considerando apenas o investimento municipal, seriam necessrios
aproximadamente 38 anos, se congelada a situao, para solucionar o problema de todas
as favelas, promovendo sua urbanizao ou remoo.
Outra grande dificuldade a disponibilizao de terras, tendo em vista seu alto custo e
escassez. Estudo elaborado pela PSA aponta que, mesmo se o crescimento das favelas
fosse congelado, apenas para viabilizar sua remoo e urbanizao seriam necessrios cerca
de seiscentos mil metros quadrados de terra para a produo de novas moradias, ainda que
fosse adotada uma alta densidade de ocupao, tanto nas favelas como nos novos conjuntos.
A estimativa considerou novas moradias como edifcios de apartamentos de cinco pavimentos,
com unidades habitacionais de 41 m2 cada, ou loteamentos utilizando os mesmos padres
urbansticos das favelas urbanizadas (admitindo o lote mnimo de 45 m2 e vielas de quatro
metros de largura).
59
Sobre a receita pblica e a reforma tributria, ver AFFONSO & SILVA (1995, a, b).
182
Estudo realizado pela PSA (DDU/DEHAB) em 2000 analisou 536 reas pblicas maiores que
mil metros quadrados; apenas 15, correspondendo a 2% das reas vistoriadas, puderam ser
destinadas habitao social (cerca de 105.000 m2). 64 65 Entendeu-se por condio de
disponibilizao a possibilidade legal de utilizar a rea que, para tal fim, deve: ser passvel de
desafetao, no caso de reas institucionais ou verdes; no estar destinada construo de
equipamentos pblicos (escola, unidade de sade), obras de drenagem ou abertura de virio
(Plano Virio); ou, ainda, no apresentar condies ambientais desfavorveis. Tambm foi
analisada a situao de titularidade das reas com condio de disponibilizao, por meio de
consulta ao Cartrio de Imveis.
O estoque de terras de propriedade de particulares maior. Estima-se que haja seis milhes
de metros de lotes vazios maiores que mil metros quadrados na zona urbana do municpio
(SANTO ANDR, 1998). 64 Destes, cerca de 3,6 milhes de metros quadrados localizam-se
nos setores perifricos ao sul do municpio. A maioria est concentrada em dois setores da
cidade, ao longo da Avenida dos Estados (Eixo Tamanduate) e na franja da cidade, prximos
APM, a maior parte constituda por morros de alta declividade (Setor Sul).
Mas no se trata apenas de escassez de terra, mas tambm de seu alto custo. O levantamento
que realizamos junto SDU-PSA e que rene tanto informaes de imobilirias da cidade
como resultado de avaliaes feitas pela Comisso Especial de Avaliao da PSA-SDU aponta
que o metro quadrado de terras que vm sendo utilizadas pela PSA para a produo de novas
moradias gira em torno de RS 178,00. 63
60
A seleo das 536 reas foi feita com base no cruzamento das informaes contidas
nos documentos: Listagem das reas desapropriadas sem uso definido - 88 reas
(posio: abril de 2001), Relatrio de prprios municipais 1185 reas (posio:
maro de 1999) e Relatrio dos terrenos pblicos maiores de 2.000 m2 e sem registro
de rea construda 444 reas (posio: julho de 1997).
61
So, no total, 1.685 reas pblicas, que somam cerca de nove milhes de metros
quadrados, incluindo lotes de qualquer dimenso, sendo que grande parcela desses
terrenos pode estar ocupada por equipamentos pblicos ou construes particulares,
e parcela ainda maior pode apresentar situao de propriedade (domnio) no
regularizada.
62
O total de reas particulares em zona urbana de nove milhes de metros
quadrados e, no total do municpio, de 66 milhes de metros quadrados. Fonte: PSA
Diagnstico de Uso e Ocupao do Solo (1998).
63
Segundo LARANGEIRAS (2002), o preo mdio do metro quadrado de terreno
urbanizado de RS 185,00 e de terrenos localizados em loteamentos irregulares, de
R$ 80,00.
183
Outro dado levantado pela PSA (2000) em 1998 aponta que o preo mediano do metro
quadrado de terreno altamente desenvolvido era de R$ 232,92, de algo desenvolvido, R$
149,03 e sem desenvolvimento, R$ 56,79. O preo mnimo encontrado foi R$ 24,41 e o
mximo, R$ 624,25.64
Para se ter uma idia do peso da terra no custo total do empreendimento, citaremos dois
casos. O primeiro o do Conjunto Habitacional Avenida urea, empreendimento do tipo
vila, onde foram implantados, em um terreno de cerca de 4.400 m2, 42 lotes unifamiliares de
44 m2 e unidades habitacionais evolutivas (primeiro pavimento) de 24 m2 para abrigar a
populao removida da favela Tamarutaca. O projeto de parcelamento adotou vielas de
quatro metros de largura e destinou uma rea para lazer (praa), ocupando uma rea de
aproximadamente 500 m2. O terreno foi avaliado, em fevereiro de 2000, em R$ 779.886, 77,
ou seja, R$ 177,20/m2, o que resultou num custo de R$ 18.570,00 por famlia, enquanto que
a execuo de toda a infra-estrutura e a construo do mdulo habitacional resultaram em
um custo aproximado de R$ 14.000,00 por famlia. Ou seja, mesmo adotando um alto
adensamento e padro urbanstico especial, o custo da terra maior que a somatria da
infra-estrutura e produo habitacional e equivalente a 57% do total do empreendimento.
figura 35.
Conjunto Habitacional Avenida urea
64
Considerou-se altamente desenvolvida a terra que conta com vias, gua, eletricidade
e possivelmente com drenagem e esgoto. A fonte da PSA baseou-se em dados de
oferta de terrenos vazios publicados no principal jornal da cidade no perodo de
1995 a 2000.
184
fotos 118 e 119.
Conjunto Habitacional Avenida urea:
reassentamento de famlias removidas do ncleo Tamarutaca
O padro de parcelamento
adotado semelhante ao
do caso anterior, com lotes
de 45 m2 e vias e vielas de
dimenso reduzida. Nessa
rea no foi possvel verti-
calizar o empreendimento
promovendo maior adensa-
mento, porque as regras do
Programa Habitar Brasil/
BID, como mencionado no
primeiro captulo, fixam o foto 120.
Conjunto Habitacional Alzira Franco:
valor de oito mil reais como reassentamento que abrigar as famlias removidas
teto mximo por famlia dos ncleos Gamboa e Capuava Unida
185
figura 36.
Conjunto Habitacional Alzira Franco
186
Em ambos os casos, somente possvel atender a populao de favelas porque o municpio
no cobra o custo da terra, subsidiando enormemente a operao. Para grande parcela dos
municpios localizados em RMs, onde a terra escassa e o preo alto, entrar com a terra no
mais uma tarefa simples e inviabiliza a realizao de empreendimentos do tipo urbanizao
de favela quando se requer a remoo das famlias para novos conjuntos.
No caso de Santo Andr, o estoque de terras municipais com vocao para o uso habitacional
insuficiente para atender s necessidades do municpio e os terrenos particulares da regio
do Grande ABC apresentam alto custo. Para transpor o obstculo, o governo municipal vem
tentando ampliar seu estoque de terras mediante permuta de reas, aquisio sob a forma
de doao em pagamento (no caso de proprietrios com dvidas de IPTU Imposto sobre a
Propriedade Territorial Urbana) e doao de reas pelo setor privado, como contrapartida em
operaes urbanas ou interligadas.
Cabe ressaltar, como j foi mencionado, que a PSA est promovendo a reviso do Plano
Diretor a fim de incorporar os instrumentos previstos no Estatuto da Cidade para ampliar o
acesso terra. No entanto, sabemos que essas medidas s repercutiro a mdio e a longo
prazo e lamentamos no terem chegado antes da dcada de 1980, quando o estoque de
terras, principalmente terras adequadas para uso habitacional, era maior.
A poltica habitacional de Santo Andr combina a necessidade de atender uma grande demanda
com o objetivo de produzir intervenes qualificadas. Seria impossvel, a curto prazo, contando
quase exclusivamente com recursos municipais, promover a urbanizao integrada de todos
os ncleos de favela existentes no municpio e solucionar o histrico dficit da cidade. No
se pode abrir mo da abrangncia do atendimento nem recusar o desafio de promover a
incluso social desenvolvendo programas inovadores. A soluo encontrada foi a diversificao
das modalidades de interveno.
187
A questo da disponibilizao de terras teria sido amenizada se o governo municipal tivesse
conseguido ampliar o acesso terra por meio da estruturao de uma poltica de terras
(poltica fundiria) e garantido maior integrao das polticas habitacional e urbana. Como
vimos, at a dcada de 1990, em Santo Andr, como na maioria das cidades brasileiras, os
planos ignoravam a cidade ilegal e acabaram acentuando a excluso e a segregao. Mesmo
nessa dcada, quando as correntes progressistas e governos de esquerda chegam cidade,
pouco se consegue alterar da lgica da segregao e produo ilegal da cidade.
Como mencionado anteriormente, a PSA iniciou em 2002 uma discusso pblica para a reviso
do atual Plano Diretor, a fim de incorporar os instrumentos previstos no Estatuto da Cidade.
Em que pesem os avanos que essa reviso, se bem sucedida, trar para a cidade, h que se
considerar que o municpio j dispunha de instrumentos como as AEIS e j reconhecia e
outorgava a CDRU mesmo antes da edio da referida lei e que o impacto da aplicao de
muitos instrumentos de democratizao do acesso terra s ser sentido a longo prazo.
188
6. Conc luso:
Concluso:
ao m unicipal em ffa
municipal elas,,
avelas
evoluo e impasses
189
6.6.Conc luso:
Concluso:
Concluso:
Aoem
Ao Municipal Municipal
F
Fa em Favelas,
avelas
elas, , Ev Evoluo
oluo
Evoluo e eImpasses
Impasses
Na dcada de 1990, a urbanizao de favelas deixa de ser promovida por meio de programas
alternativos e passa a ser objeto de poltica habitacional. Constata-se o protagonismo do municpio.
A maioria dos municpios que apresenta favelas passa a desenvolver programas de urbanizao e
regularizao como parte integrante da poltica municipal de habitao. So eles os responsveis
pelas maiores parcelas de investimento na rea habitacional. Alguns municpios priorizam os
programas de urbanizao colocando-os no centro de sua poltica habitacional, como foi observado
nos casos estudados de Santo Andr, Recife e Rio de Janeiro. Outros municpios chegam ainda a
implement-los como nico programa habitacional municipal, como foi o caso de Diadema du-
rante a maior parte do perodo estudado.
Discutimos no quarto captulo que o crescimento da interveno municipal est relacionado, entre
outros fatores, com o que se denominou descentralizao por ausncia: o processo de
descentralizao consolidado pela reforma constitucional de 1988 e a ausncia do Governo Fed-
eral da rea, relacionada com o processo de estabilizao macroeconmica.
190
Cabe lembrar que a institucionalizao das polticas de urbanizao de favelas ocorre tambm
no mbito do Governo Federal. A partir de 1995 (perodo FHC), so institudos e adequados
vrios programas destinados a promov-la. O Governo Federal prope que o setor pblico
concentre sua ao direta na ampliao do acesso da populao de menor renda moradia.1
Embora seja inexpressivo o volume de investimento federal na rea, os recursos do OGU e
outros captados internacionalmente so destinados prioritariamente ao financiamento da
urbanizao de assentamentos (favelas). Alm de priorizar o investimento em urbanizao de
favelas com recursos do OGU, o Governo Federal, por intermdio da SEDU e no mbito do
programa Habitar Brasil/BID-DI (Desenvolvimento Institucional), busca influenciar os municpios
na elaborao e implementao de polticas municipais de habitao, com o intuito de articul-
las com a poltica urbana e tornar a interveno em favelas (assentamentos subnormais)
prioritria e abrangente.
A seguir, destacamos os aspectos que julgamos mais importantes na evoluo das polticas.
1
BRASIL (1999, 2002)
2
BEDE & PINHO (1995)
191
Na dcada de 1990, o projeto passa a ser valorizado, o que significa um grande salto na
qualidade de interveno. Em Santo Andr, So Paulo (Guarapiranga) e no Rio de Janeiro, no
mbito do programa Favela-Bairro, a execuo dos projetos , na maioria das vezes, terceirizada
e as obras de urbanizao so realizadas com base em projetos executivos. No Rio de Janeiro,
chegou-se a lanar um concurso, na tentativa de estabelecer uma metodologia de interveno.
Em So Paulo, na gesto de Luiza Erundina, so elaborados cadernos de especificaes para
a execuo e contratao de projetos e obras de saneamento e drenagem.
3
No caso de Belo Horizonte, instituiu-se o Plano Global Especfico PGE , um
estudo constitudo de levantamento de dados da realidade fsica, social e jurdica,
de diagnstico completo e de um conjunto de diretrizes e propostas para promover
a regularizao e urbanizao das favelas, assim como sua integrao cidade.
Busca uma soluo integrada para os problemas e se constitui importante
instrumento de planejamento, voltado para orientar as decises de interveno do
governo municipal, das concessionrias de servios pblicos e organizaes no
governamentais. Segundo a PBH (2000), a partir de 1998, a aplicao de recursos do
OP nas favelas passou a estar subordinada priorizao estabelecida no PGE. Passou
a ser freqente a reivindicao da elaborao do PGE pelas comunidades, no mbito
do OP. At 1999, o OP havia aprovado a execuo de 33 PGE.
192
Embora o discurso nem sempre coincida com a prtica, na dcada de 1990 ganha importncia
o entendimento de que o projeto e a interveno no devem se ater aos limites da rea
ocupada pela favela, ou seja, no possvel tratar a favela como unidade isolada. A interface
com as questes de desenvolvimento urbano, ambientais e de drenagem da cidade leva os
governos e as agncias internacionais a valorizarem solues integradas para as favelas. 4 O
Programa Guarapiranga de So Paulo, em seu discurso oficial, associa a urbanizao gesto
ambiental da bacia hidrogrfica. Em Belo Horizonte, o governo municipal instituiu o Plano
Global Especfico, no mbito do qual se desenvolve um complexo diagnstico urbanstico,
ambiental, social e jurdico da favela e entorno.
4
Neste perodo so produzidos vrios trabalhos acadmicos, que apontam a
necessidade de uma ao integrada. BUENO (2000) e MARICATO (2001, p. 79)
recomendam, por exemplo, que a interveno em favelas seja executada
considerando-a como parte integrante de microbacias hidrogrficas que, por sua
vez, devem ser adotadas como unidade de planejamento. UEMURA (2000) refora a
importncia da integrao entre agentes e setores de governo para viabilizar um
modelo de gesto de recursos hdricos e articular as estratgias de urbanizao de
favelas com as de recuperao das microbacias hidrogrficas. O trabalho produzido
pelo LABHAB (1999) produz recomendaes que valorizam a anlise e a ao integrada
em favelas.
193
Tambm no campo da gesto e participao popular, registram-se grandes avanos. So
institudas vrias instncias de participao. No nvel da cidade, o OP institucionalizado em
vrios municpios e as prioridades de atendimento so estabelecidas por meio de um amplo
processo democrtico de discusso. Instituem-se fruns e conselhos de habitao. No nvel
do ncleo de favela, mtodos como o DRUP, desenvolvido pelo municpio de Santo Andr,
buscam a participao da populao, lideranas e moradores, na elaborao e implementao
do projeto.
Tambm ganha importncia o entendimento de que a favela no pode ser tratada apenas
como problema habitacional. Busca-se valorizar o desenvolvimento de programas sociais,
antes concebidos como complementares urbanizao, como elementos estruturadores
de estratgias de incluso social da populao de favelas. Nesse caso, o programa Mais
Igual, desenvolvido por Santo Andr, o exemplo mais importante porque, de fato, institui a
organizao matricial e promove a integrao de programas sociais.5
194
A anlise das polticas apresentadas indica que os governos municipais esto em um im-
passe. Muitas vezes, diante da necessidade e impossibilidade de tornar abrangente o
atendimento, assegurando o acesso a uma moradia digna (adequada) e promovendo a
integrao da favela cidade e sua recuperao urbanstica ambiental, a maioria das
intervenes acaba promovendo a urbanizao possvel. Por um lado, minimiza-se a
precariedade das condies de habitao de enorme parcela da populao, mas, por outro,
consolidam-se situaes precrias.
A moradia uma mercadoria especial, que se vincula com a questo fundiria urbana e com
a macroeconmica, visto que depende de regulao pblica e de subsdios ao financiamento.
Por outro lado, a deteriorao das cidades produto das caractersticas excludentes do
mercado imobilirio. A falta de alternativas de moradia deteriora a qualidade ambiental ur-
bana. A cidade oculta tem um preo oculto, como lembra o Projeto Moradia (INSTITUTO
CIDADANIA: 2000).
No discurso oficial, muito se fala na articulao da poltica urbana com a habitacional. Como
mencionamos no primeiro captulo, o Governo FHC reconhece a necessidade de integrar as
polticas de habitao, saneamento, desenvolvimento urbano e transporte. As agncias
internacionais tambm passaram a recomendar a reforma das polticas urbanas municipais
como estratgia para prevenir a proliferao de assentamentos informais.6 Os governos
municipais, principalmente os administrados por partidos de esquerda, tambm anunciaram
maior articulao das polticas de habitao e urbana. E embora s recentemente o Estatuto
da Cidade tenha sido aprovado, muito pouco se avanou nesta direo.
6
Ver BRAKARZ (2002), BID (1995) e BANCO MUNDIAL (1993).
195
Mesmo antes da aprovao do Estatuto da Cidade, muitos municpios estabeleceram
instrumentos para a regularizao fundiria, como as ZEIS e CDRU. Como mencionado no
captulo 3, desde o incio da dcada de 1980, alguns municpios criaram padres urbansticos
especiais de parcelamento, assim como modelos participativos de gesto. No entanto, o
aprimoramento deste referencial de regulamentao urbanstica no foi acompanhado pela
instituio de outros mecanismos e instrumentos que efetivamente interferissem no mercado
de terras, para ampliar sua oferta e conter sua valorizao. Ou seja, conseguimos estabelecer
um arcabouo jurdico-institucional para consolidar e regularizar a cidade ilegal, mas no
para alterar a lgica de sua formao.
De fato, h muito atraso na articulao dessas polticas. Por exemplo, acontece de importantes
instrumentos urbansticos chegarem a cidades em regies metropolitanas que j no possuem
um estoque expressivo de terras pblicas e particulares e tm grande parte de suas reas
ambientalmente sensveis ocupadas e deterioradas. preciso romper a distncia entre o
discurso e a prtica para construir uma poltica urbana inclusiva e colocar a habitao como
eixo central da poltica e gesto urbana, como lembra MARICATO (2001).
196
Na agenda dos anos 1990, a produo ou a melhoria habitacional no so consideradas uma
questo central nos programas de urbanizao de favelas. O Governo Federal, em publicao
que orienta os municpios na elaborao de polticas municipais de habitao, no cita a
recuperao ou produo habitacional como componente de Programas de Urbanizao de
Assentamentos (BRASIL, 2001: 56-60). E, na seo que trata da produo de conjuntos
habitacionais, afirma que essa soluo invivel para o atendimento populao de menor
renda (zero a cinco salrios mnimos), ou seja, no atende a populao de favelas.
O Governo Federal (BRASIL, 2001: 47), assim como as agncias internacionais, (BRAKARZ,
2002: 38), sugere a reduo dos padres de parcelamento do solo como medida para evitar
a remoo e produo de novas moradias. Como vimos nos captulos anteriores, essa medida
foi tomada por vrios municpios em RMs, desde o incio da dcada de 1980. Para PONTUAL
(2000: 11), chegou-se at mesmo definio de padres mnimos exagerados. Alm disso,
o adensamento das favelas e a formao de novos ncleos em reas cada vez mais imprprias
ocupao aumenta a necessidade de remoo e verticalizao. Promover a urbanizao de
favelas, mesmo com a adoo de padres urbansticos mnimos, implica um percentual
cada vez maior de remoo e reassentamento. Como vimos, em cidades como Santo Andr,
Recife, Belo Horizonte, esse percentual pode chegar prximo a 30% da populao total de
favelas. E ressalta-se que muitos municpios que apresentam populao de favelas no
possuem diagnstico do percentual de remoo necessrio.
197
Os governos no dispem de levantamento e sistematizao de informaes e os estudos
acadmicos tm dado pouca ateno questo; muitos sequer incorporam os custos
operacionais e de produo habitacional quando apresentam os custos de urbanizao. Alm
disso, lembramos que o custo de uma poltica de urbanizao de favelas depende, entre
outros fatores, dos parmetros de urbanizao adotados, caracterstica dos stios, preo e
disponibilidade de terra, fatores que se diferenciam de uma cidade para outra e de um programa
para outro.
No entanto, h indcios de que a urbanizao nem sempre inmeras vezes mais barata
que a produo de novas moradias, quando incorporamos todos os custos envolvidos na
urbanizao e decorrentes dela. Dependendo da complexidade da interveno, dos parmetros
de urbanizao e do grau de adensamento, o custo da urbanizao de favelas se aproxima do
custo de produo de novas moradias, como o caso da favela Sacadura Cabral, urbanizada
pelo governo municipal de Santo Andr, e do complexo Jardim Santo Andr, que vem sendo
urbanizado pelo governo do Estado de So Paulo, ambos apresentados no captulo 5.
Tabela 21.
Custo de Urbanizao e Remoo
Custo produo
Custo infra-
n. de n. de Remoo habitacional/
PROGRAMA estrutura
favelas famlias reassentamento
% % %
Santo Andr 139 30.000 31,0 35,0 65,0
PIIS - UI SANTO ANDR , 4 3.700 14,0 54,0 46,0
5
Programa Guarapiranga - So Paulo 11 6.168 21,0 4 52,0 48,0
PREZEIS (ZEIS com COMUL e projeto) Recife 17 8.136 32,0 31,5 68,5
Favela Bairro/PROAP I - Rio de Janeiro 54 56.551 - 89,0 11,0
Considerando o total dos ncleos de favelas consolidveis e no consolidveis e o complexo JardimSanto Andr.
Inclui urbanizao e produo de novas moradias
fonte (IPT, 2002)
Referente 2.990 familias, exluindo setor B da Tamarutaca
4
Dado retirado de UEMURA (2000) referente at maio de 2000
5
Excluindo custo referente a atividade operacional
Os casos de Santo Andr e Recife, entre outros, ilustram que a remoo um dos principais
gargalos da urbanizao. Os municpios no conseguem equacionar o financiamento dessa
remoo e, conseqentemente, deixam de promover a urbanizao qualificada (urbanizao
integrada).
198
Embora o saneamento seja um direito social mnimo, ele no pode continuar sendo
considerado a nica questo central em programas de urbanizao que buscam integrar a
favela cidade e promover a incluso social. O peso da remoo e da produo de novas
moradias para viabilizar a urbanizao, assim como a baixa qualidade da moradia que resulta
dos processos de urbanizao, so indicadores de que nas RMs no se trata apenas de levar
a cidade aonde j tem moradia. Ser necessrio combinar os programas de urbanizao
com programas complementares de produo de novas moradias e priorizar aes de
assessoria tcnica autoconstruo de moradias, alm de aes de manuteno e controle
urbano.
Os governos tendem a consolidar a favela tal como est, sem definio de parcelamento ou
adoo de lote mnimo ou, ainda, sem a eliminao de situaes ambientalmente inadequadas.
Essa opo, muitas vezes, dificulta a realizao da regularizao e manuteno urbana e
compromete a qualidade de vida da populao de favelas e da populao da cidade como
um todo. No Rio de Janeiro, a urbanizao resulta, em alguns casos, em lotes menores que
20 m2 e habitaes que distam mais de 250 m de uma rua de veculos. So muitas as habitaes
insalubres, edificadas antes da urbanizao, e que assim permaneceram. Em Diadema, para
tornar o atendimento abrangente sem promover a remoo de famlias, consolidaram-se
situaes inadequadas de moradia, manteve-se a ocupao de reas imprprias, o que
resultou, em alguns casos, no comprometimento da qualidade ambiental da cidade e do
bairro. Nos moldes em que a urbanizao de favelas vem sendo desenvolvida, ainda no
podemos afirmar que a urbanizao resulte sempre em moradias dignas (adequadas) e
integradas cidade.
Para intervir nas favelas a fim de melhorar tanto a qualidade de vida de seus moradores,
como tambm a do restante da cidade, necessrio que se realizem diagnsticos completos
e integrados (interdisciplinares) do conjunto das favelas existentes. O diagnstico deve apontar
o que urbanizar, como urbanizar, e o que consolidar e regularizar. Os projetos devem combinar
os aspectos sociais e de habitao (domiclio) com os aspectos de drenagem, meio ambiente,
estrutura urbana, regularizao fundiria. Esse diagnstico pode apontar alternativas de
interveno e orientar a tomada de deciso, que deve tambm ser resultado de uma anlise
custo-benefcio (entendida aqui como custo financeiro, econmico e social beneficio para a
populao de favelas, como tambm para a cidade).
199
A questo da produo habitacional para promover a urbanizao traz de volta, de certa
forma, a equao renda versus custo de habitao. Na maioria das RMs, no bastar reduzir
os padres de parcelamento e edificao. Ou teremos de produzir habitao para um segmento
da populao que no tem renda suficiente para arcar com seu financiamento (no estilo cost-
recovery), ou teremos de permitir que as favelas se consolidem (quase) como esto, implicando
que nem sempre estaremos garantindo o acesso a uma moradia adequada, nem promovendo
a integrao da favela ao bairro ou, ainda, recuperando ambientalmente a cidade.
Tanto para promover a urbanizao das favelas existentes como para evitar seu crescimento,
faz-se necessrio ampliar o acesso ao mercado residencial legal, que restrito a uma pequena
parcela da populao, e promover na prtica o planejamento e gesto urbana inclusiva.
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Peridico
216
CORRENTEZA. Boletim Informativo do SEMASA . Ano IV n. 07, ago/set 1992.
Santo Andr.
Legislao
217
Icono
Iconog g rafia
Iconografia
pg
pg.. 10
figura 01. FINEP/GAP, 1985
figura 02. ABREU, 1982
pg
pg.. 15
foto 01. acervo PCRJ/IPP
pg
pg.. 43
foto 02. Erika de Castro, 2002
foto 03. Rosana Denaldi, 2000
pg
pg.. 44
fotos 04 e 05. Rosana Denaldi, 1984/1985
pg
pg.. 45
foto 06. Rosana Denaldi, 2000
foto 07. Roberta Simeoni, 2000
pg
pg.. 46
fotos 08, 09 e 10. Rosana Denaldi, 2000/2002
foto 11. acervo PMD
pg
pg.. 47
foto 12. Rosana Denaldi, 2000
218
foto 13. Roberta Simeoni, 2000
pg
pg.. 48
fotos 14, 15, 16, 17 e 18. Rosana Denaldi, 2002
pg. 51
figura 03. HEREDA, 1991
foto 19. HEREDA, 1991
fotos 20 e 21. acervo PMS
foto 22. Cid Blanco Jr, 1998
pg
pg.. 52
fig. 04. acervo PMSP
fotos 23, 24, 25 e 26. acervo PMSP
pg
pg.. 53
figura 05. acervo PSA
pg
pg.. 54
figura 06. acervo PSA
pg
pg.. 55
figura 07. acervo PSA
pg
pg.. 56
foto 27. Rosana Denaldi, 2000
foto 28. acervo PSA
fotos 29 e 30. Roberta Simeoni, 2000
pg
pg.. 57
fotos 31 e 32. acervo PMD
fotos 33 e 34. Roberta Simeoni, 2000
pg
pg.. 58
fotos, 35, 38, 39, 40 e 41. Roberta Simeoni, 2000
fotos 36 e 37. Rosana Denaldi
pg
pg.. 60
figuras 08 e 09. acervo PSA
pg
pg.. 61
figuras 10 e 11. acervo PSA
pg
pg.. 65
figuras 12, 13, 14 e 15. CARVALHO et al. 2002
pg
pg.. 72
fotos. 42 e 43. FIX, 2001
pg
pg.. 74
mapas 01 e 02. Observatrio UFPE
219
pg
pg.. 83
foto 44. acervo PCR URB
pg
pg.. 85
mapa 03. Patrcia Bascarol, 2002
pg
pg.. 87
foto 45. acervo PMD
pg
pg.. 88
fotos 46, 47 e 48. acervo PMD
pg
pg.. 90
figuras 16, 17 e 18. acervo PMD
pg
pg.. 91
figura 19. acervo PMD
pg
pg.. 92
fotos 49, 50, 51 e 52. acervo PMD
pg
pg.. 94
foto 53. Rosana Denaldi, 1994
pg
pg.. 95
fotos 54 e 55. acervo PMD
pg
pg.. 96
mapa 04. Patrcia Bascarol, 2000
pg
pg.. 107
foto 56. acervo PMSP
pg
pg.. 108
fotos 57 e 58. acervo PMSP
pg
pg.. 109
figura 20. acervo PMSP
fotos 59 e 60. acervo PMSP
pg
pg.. 110
fotos 61, 62 e 63. PMSP, 2000
pg
pg.. 111
fotos 64 e 65. PMSP, 2000
pg
pg.. 112
foto 66. PMSP, 2000
pg
pg.. 113
mapa 05. PCRJ/IPP
pg
pg.. 116
fotos 67, 68, 69 e 70. acervo PCRJ/IPP
220
pg
pg.. 117
fotos 71, 72 e 73. acervo PCRJ/IPP
pg
pg.. 118
fotos 74 e 75. acervo PCRJ/IPP
pg
pg.. 119
figuras 21 e 22. acervo PCRJ/IPP
pg
pg.. 123
fotos 76 e 77. Rosana Denaldi, 2002
pg
pg.. 126
figuras 23 e 24. acervo PCRJ/IPP
pg
pg.. 128
fotos 78, 79 e 80. Rosana Denaldi, 2002
pg
pg.. 129
figuras 25 e 26. acervo PCRJ/IPP
pg
pg.. 133
mapa 06. Patrcia Bascarol, 2000
pg
pg.. 138
mapa 07. Patrcia Bascarol, 2000
pg
pg.. 142
mapa 08. Patrcia Bascarol, 2000
pg
pg.. 144
grficos 01 e 02. PSA/CTA
pg
pg.. 145
grfico 03. PSA/CTA
pg
pg.. 149
foto 81. Rosana Denaldi, 2002
pg
pg.. 155
fotos 82, 83, 84 e 85. acervo PSA
pg
pg.. 156
fotos 86, 87, 88, 90 e 91. acervo PSA
pg
pg.. 159
foto 92. Cid Blanco Jr, 2000
pg
pg.. 160
fotos 93, 94 e 95. Rosana Denaldi, 2000
foto 96. acervo PSA
pg
pg.. 161
fotos 97, 98, 99, 100 e 101. acervo PSA
221
pg
pg.. 162
figuras 27 e 28. acervo PSA
pg
pg.. 163
figuras 29 e 30. acervo PSA
pg
pg.. 164
fotos 102. acervo PSA
pg
pg.. 165
figura 31. acervo PSA
pg
pg.. 166
fotos 103, 104, 105 e 106. acervo PSA
pg
pg.. 167
foto 107. acervo CDHU
pg
pg.. 170
foto 108. acervo PSA
foto 109. Rosana Denaldi, 2002
pg
pg.. 171
foto 110. acervo PSA
foto 111 e 112. Rosana Denaldi, 2002
pg
pg.. 173
figuras 32, 33 e 31. acervo PSA
foto 113. acervo PSA
pg
pg.. 174
fotos 114, 115, 116 e 117. acervo PSA
pg
pg.. 177
mapa 09. Patrcia Bascarol, 2000
pg
pg.. 184
figura 35. acervo PSA
pg
pg.. 185
fotos 118, 119 e 120. acervo PSA
pg
pg.. 186
figura 36. acervo PSA
222
Listas
Listas
Lista de tabelas
tabela 01. (pg
(pg.. 20)
Financiamentos habitacionais no sistema Financeiro de Habitao 1973-1997
tabela 02. (pg
(pg.. 25)
Programas com recursos do FGTS 1995-1997
tabela 03. (pg
(pg.. 64)
Alternativas de Urbanizao do Ncleo Parque Amlia/Santa Margarida: custo por
famlia e resultados urbansticos
tabela 04. (pg
(pg.. 77)
Infra-Estrutura: cobertura nas favelas e conjunto de 35 ZEIS (Recife)
tabela 05. (pg
(pg.. 78)
Urbanizao das ZEIS com COMUL em Recife: Investimentos realizados a partir
de 1993
tabela 06. (pg
(pg.. 80)
Estimativa de investimento para concluso da urbanizao das ZEIS (com estudos
e projetos) de Recife
tabela 07. (pg
(pg.. 103)
Distribuio dos municpios que possuem favelas, programas de urbanizao e
regularizao de assentamentos e rgos especficos para o setor habitacional,
segundo faixas de populao
tabela 08. (pg
(pg.. 121)
Favela Bairro - composio dos custos de urbanizao
tabela 09. (pg
(pg.. 122)
Custos de Implementao PROAP I - Favela Bairro
223
tabela 10. (pg
(pg.. 139)
Evoluo da populao residente em favelas: Mau, Ribeiro Pires, So Bernardo
do Campo, Santo Andr, Diadema e Regio do Grande ABC
tabela 11. (pg
(pg.. 140)
Crescimento anual da populao residente em Favelas (1980/1996)
tabela 12. (pg
(pg.. 140)
Evoluo dos domiclios em favelas: Mau, Ribeiro Pires, So Bernardo do
Campo, Santo Andr, Diadema e Regio do Grande ABC
tabela 13. (pg
(pg.. 140)
Populao em favelas em 2000: Mau, Ribeiro Pires, So Bernardo do Campo,
Santo Andr, Diadema e Regio do ABC
tabela 14. (pg
(pg.. 141)
Populao total e variao populacional nos conjuntos de setores censitrios em
Santo Andr em 1991 e 2000
tabela 15. (pg
(pg.. 146)
Ncleos de favela em Santo Andr
tabela 16. (pg
(pg.. 168)
Urbanizao Integrada PIIS (1 etapa): custo das obras de urbanizao
tabela 17. (pg
(pg.. 168)
Urbanizao Integrada PIIS (1 etapa): custo das obras de urbanizao incluindo
obteno de terra para produo de novas moradias
tabela 18. (pg
(pg.. 169)
Urbanizao Integrada PIIS: custo das obras de urbanizao - infra-estrutura
tabela 19. (pg
(pg.. 169)
Urbanizao Integrada PIIS: custo das obras de urbanizao por famlia
tabela 20. (pg
(pg.. 181)
Urbanizao de favelas em Santo Andr: estimativas de custos de urbanizao e
produo de novas moradias
Lista de grficos
grfico 01. (pg
(pg.. 144)
Distribuio da populao residente em favela no municpio de Santo Andr por
condio de atividade
grfico 02. (pg
(pg.. 144)
Percentual da populao residente em favela no municpio de Santo Andr que
morava anteriormente em favela
grfico 03. (pg
(pg.. 145)
Localizao da moradia anterior da populao residente em favela no municpio
de Santo Andr
Lista de mapas
mapas 01 e 02. (pg
(pg.. 74)
Recife: localizao das favelas (reas pobres) e das ZEIS
mapa 03. (pg
(pg.. 85)
Pavimentao em Diadema
mapa 04. (pg 96)
Diadema. Favelas - intervenes
mapa 05. (pg
(pg.. 113)
Favelas da cidade do Rio de Janeiro
mapa 06. (pg
(pg.. 133)
Localizao da Regio do Grande ABC na Regio Metropolitana de So Paulo
mapa 07. (pg
(pg.. 138)
Ncleos de Favelas no Grande ABC
224
mapa 08. (pg
(pg.. 142)
Santo Andr - reas de crescimento populacional e localizao das favelas
mapa 09. (pg
(pg.. 177)
Santo Andr. Favelas - restrio a ocupao ou regularizao
Lista de figuras
figura 01. (pg
(pg.. 10)
Reforma de Passos no incio do s. XX na cidade do Rio de Janeiro. Projeto de
abertura da Avenida Salvador de S.
figura 02. (pg
(pg.. 10)
Reforma de Passos na cidade do Rio de Janeiro. Abertura da Avenida Central em
1905.
figura 03. (pg
(pg.. 51)
Projeto de reurbanizao da Favela Alagados - Salvador. dcada de 1980
figura 04. (pg
(pg.. 52)
Projeto do Conjunto Habitacional Minas Gs - So Paulo. 1992
figura 05. (pg
(pg.. 53)
Projeto de urbanizao do Ncleo Capuava - Santo Andr
figura 06. (pg
(pg.. 54)
Projeto de urbanizao do Ncleo Tamarutaca - Santo Andr.
figura 07. (pg
(pg.. 55)
Projeto de reurbanizao do Ncleo Sacadura Cabral - Santo Andr
figuras 08 e 09. (pg
(pg.. 60)
Ncleo Sacadura Cabral - Santo Andr: Cartas Temticas: Diagnsticos de
Qualidade Ambiental Risco de Inundao Qualidade dos Domiclios - consolidao
das habitaes. Elaborado pela Consultoria Diagonal Urbana . 1998
figuras 10 e 11. (pg
(pg.. 61)
Ncleo Sacadura Cabral - Santo Andr: Cartas Temticas: Densidade por
Quarteiro Renda dos Chefes de Famlia. Elaborado pela Consultoria Diagonal
Urbana . 1998
figura 12. (pg
(pg.. 65)
Ncleo Parque Amlia/Santa Margarida - So Paulo. Alternativa 1: saneamento
bsico e controle de riscos
figura 13. (pg
(pg.. 65)
Ncleo Parque Amlia/Santa Margarida - So Paulo. Alternativa 2: saneamento
bsico, controle de riscos
e adequao do sistema virio
figura 14. (pg
(pg.. 65)
Ncleo Parque Amlia/Santa Margarida - So Paulo. Alternativa 3: saneamento
bsico, controle de riscos, adequao do sistema virio e da densidade
figura 15. (pg
(pg.. 65)
Ncleo Parque Amlia/Santa Margarida - So Paulo. Alternativa 4: saneamento
bsico, controle de riscos, adequao do sistema virio e da densidade e
atendimento Lei Federal n. 6.766/79
figuras 16 e 17. (pg
(pg.. 90)
Projeto de urbanizao de favela elaborado pela PMD na 1a. gesto do PT (1983-
1988)
figura 18. (pg
(pg.. 90)
Planta de favela urbanizada: exemplo de traado regular (ortogonal)
figura 19. (pg
(pg.. 91)
Projeto de urbanizao do Ncleo Marilene elaborado na 3a. gesto do PT (1993-
1996)
figura 20. (pg
(pg.. 109)
Planta padro dos apartamentos do Projeto Cingapura - So Paulo. 1996
225
figuras 21 e 22. (pg
(pg.. 119)
Favela Bairro: projeto de urbanizao das Favelas Tuiuti e Santa Maria
figuras 23 e 24. (pg
(pg.. 126)
Programa Favela Bairro - Cabritos: levantamento e projeto de adequao do
sistema virio
figuras 25 e 26. (pg
(pg.. 129)
Programa Favela Bairro: Clula Urbana do Jacarzinho
figuras 27 e 28. (pg
(pg.. 162)
Croqui e maquete eletrnica das unidades de negcio que esto sendo
construdas no ncleo Sacadura Cabral
figuras 29 e 30. (pg
(pg.. 163)
Croqui e planta das unidades de negcio do ncleo Sacadura Cabral
figura 31. (pg
(pg.. 165)
Planta de uso do solo do ncleo Sacadura Cabral
figuras 32, 33 e 34. (pg
(pg.. 173)
Ncleo Coria: residncia do Sr. Waldomiro Rodrigues onde moram 5 famlias e
19 pessoas
figura 35. (pg
(pg.. 184)
Conjunto Habitacional Avenida urea
figura 36. (pg
(pg.. 186)
Conjunto Habitacional Alzira Franco
Lista de fotos
foto 01. (pg
(pg.. 15)
Zona sul do Rio de Janeiro (1963-1975). Erradicao de favelas.
foto 02. (pg
(pg.. 43)
Casas em Favela - Belm do Par. 2002
foto 03. (pg
(pg.. 43)
Casas na Favela Pintasilva (APM) - Santo Andr. 2000
fotos 04 e 05. (pg
(pg.. 44)
Favela Parque So Bernardo - So Bernardo do Campo. 1984/1985
foto 06. (pg
(pg.. 45)
Favela Tamarutaca - Santo Andr. 2000
foto 07. (pg
(pg.. 45)
Favela Jardim Salgueiro - Mau. 2000
fotos 08 e 09. (pg
(pg.. 46)
Ncleo Morro Cabritos - Rio de Janeiro. 2002
foto 10. (pg
(pg.. 46)
Favela Pedro Amrico - Santo Andr. 2000
foto 11. (pg
(pg.. 46)
Favela Naval - Diadema. 1987
foto 12. (pg
(pg.. 47)
Ncleo Apucarana - Santo Andr. Verticalizao e adensamento. 2000
foto 13. (pg
(pg.. 47)
Ncleo Salgueiro - Mau. Precariedade, insalubridade e adensamento das
moradias. 2000
foto 14. (pg
(pg.. 48)
Ncleo Nova Centreville - Santo Andr. Adensamento e verticalizao das favelas.
2002
fotos 15, 16 , 17 e 18. (pg 48)
Casas venda em ncleos de favela em Santo Andr. 2002
226
foto 19. (pg
(pg.. 51)
Favela Alagados - Salvador. dcada de 1980
fotos 20, 21 e 22. (pg
(pg.. 51)
Favela do Dique - Santos. dcada de 1990
foto 23. (pg
(pg.. 52)
Urbanizao da Favela Minas Gs - So Paulo. 1992
fotos 24 e 25. (pg
(pg.. 52)
Conjuntos Habitacionais Delamare/Helipolis - So Paulo. 1992
foto 26. (pg
(pg.. 52)
Urbanizao da Favela gua Branca - So Paulo. 1992
foto 27. (pg 56)
Interveno Pontual no Ncleo So Bernardo: implantao de rede provisria de
gua e esgoto - Santo Andr. 2000
foto 28. (pg
(pg.. 56)
Interveno Pontual no Stio dos Vianas: construo de muro de arrimo - Santo
Andr. 2002
fotos 29 e 30. (pg
(pg.. 56)
Urbanizao Gradual no Jardim Oratrio - Mau. 2000
fotos 31 e 32. (pg
(pg.. 57)
Favela Santa Sofia antes e depois da urbanizao - Diadema. 1993/1996
fotos 33 e 34. (pg
(pg.. 57)
Urbanizao Integrada no Ncleo Calux - So Bernardo do Campo. 2000
foto 35. (pg
(pg.. 58)
Ncleo Jardim Salgueiro - Mau: favela parcialmente urbanizada
fotos 36 e 37. (pg
(pg.. 58)
Ncleo D.E.R. - So Bermardo do Campo: antes e depois da urbanizao
fotos 38, 39, 40 e 41. (pg
(pg.. 58)
Ncleo Jardim Oratrio - Mau: favela parcialmente urbanizada, com trechos
dotados de toda infra-estrutura e outros sem nenhum tipo de interveno
fotos 42 e 43. (pg
(pg.. 72)
Vista area e detalhe da Favela Jardim Edith removida para a construo da
Avenida guas Espraiadas - So Paulo. 1996
foto 44. (pg
(pg.. 83)
Conjunto Habitacional para abrigar famlias removidas de reas de risco em
Recife
foto 45. (pg
(pg.. 87)
Ato de posse da rea de Sanko (AEIS 1) comprada pelas associaes
comunitrias e PMD - Diadema. 1995
fotos 46 e 47. (pg
(pg.. 88)
Ncleo Macauba antes e depois da urbanizao da favela. 1993/96
foto 48. (pg
(pg.. 88)
Conjunto Habitacional Jupiter: reassentamento
foto 49. (pg
(pg.. 92)
Ncleo Vila Popular
foto 50. (pg
(pg.. 92)
Ncleo Vinicius de Moraes: reassentamento de famlias
foto 51. (pg
(pg.. 92)
Ncleo Vila Olinda: mutiro para execuo de pavimentao. 1995
foto 52. (pg
(pg.. 92)
Ncleo Inverno e Vero: rea de lazer
foto 53. (pg
(pg.. 94)
Substituio do barraco pela alvenaria dentro do lote urbanizado em nbcleo de
favela em Diadema. 1994
227
foto 54. (pg
(pg.. 95)
Ncleo Toca da Raposa: pavimentado pelo Plano Comunitrio. 1995
foto 55. (pg
(pg.. 95)
Ncleo Vila Olinda: acesso virio sobre leito de crrego canalizado garantiu
acesso aos servios pblicos. 1996
foto 56. (pg
(pg.. 107)
Favela Nova Jaguar: conteno de encosta em situao de risco - So Paulo.
1992
fotos 57 e 58. (pg
(pg.. 108)
Favela antes e depois do processo de urbanizao - So Paulo. 1992
fotos 59 e 60. (pg
(pg.. 109)
Projeto Cingapura - So Paulo. 1996
fotos 61, 62 e 63. (pg
(pg.. 110)
Programa Guarapiranga Urbanizao da favela Jardim Esmeralda/Iporanga com
canalizao do crrego, execuo do sistema virio e construo de unidades
habitacionais
foto 64. (pg
(pg.. 111)
Espao pblico de lazer em favela urbanizada no Programa Guarapiranga
foto 65. (pg
(pg.. 111)
Espao pblico de lazer em favela urbanizada no Programa Guarapiranga
foto 66. (pg
(pg.. 112)
Espao pblico de lazer em favela urbanizada no Programa Guarapiranga
fotos 67 e 68. (pg
(pg.. 116)
Favela Ladeira dos Funcionrios antes e depois da interveno
fotos 69 e 70. (pg
(pg.. 116)
Favela Ferno Cardim antes e depois da interveno
fotos 71, 72 e 73. (pg
(pg.. 117)
rea esportiva na Favela do Vidigal e Centros Comunitrios nas Favelas Ladeira
dos Funcionrios e Tijuquinha
fotos 74 e 75. (pg
(pg.. 118)
Favela Parque Royal antes e depois das obras de urbanizao
fotos 76 e 77. (pg
(pg.. 123)
Favela Bairro - Cabritos: alta densidade e declividade - aceso por vielas estreitas e
escadarias
fotos 78, 79 e 80. (pg
(pg.. 128)
Favela Bairro - Tijuquinha: rea de depsito de lixo ao lado da estao de
tratamento de esgoto. Por falta de manuteno da estao, o esgoto lanado
diretamento no crrego.
foto 81. (pg
(pg.. 149)
Ncleo Vila Junqueira: Urbanizao Integrada
fotos 82 e 83. (pg
(pg.. 155)
Cooperativa Olho Vivo e Programa Criana Cidad
fotos 84 e 85. (pg
(pg.. 155)
Aulas dos programas Ensino Profissionalizante e MOVA
fotos 86, 87 e 88. (pg
(pg.. 156)
Programa Criana Cidad, aulas dos programas MOVA e Formao Profissional
fotos 89, 90 e 91. (pg
(pg.. 156)
Atividade com crianas do Programa Sade da Famlia Programa de Reciclagem/
Coleta Seletiva Reunio dos agentes comunitrios de sade
foto 92. (pg
(pg.. 159)
Conjunto Habitacional Prestes Maia: edifcios de apartamentos para onde foram
removidas as famlias da favela Tamarutaca
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fotos 93, 94, 95 e 96. (pg
(pg.. 160)
Urbanizao Integrada do Ncleo Tamarutaca - PIIS: Demolio dos barracos e
remoo das famlias para viablizar desadensamento, abertura de sistema virio e
construo de vias de acesso - escadaria (durante e depois da obra)
fotos 97, 98, 99, 100 e 101. (pg
(pg.. 161)
Programa de Urbanizao Integrada - PIIS: construo de equipamentos e reas
de lazer nos ncleos
Sacadura Cabral (praa acima e centro comunitrio abaixo), Tamarutaca e
Quilombo II (duas tlimas fotos)
foto 102. (pg
(pg.. 164)
Ncleo Sacadura Cabral - Urbanizao Integrada: Moradias auto-construdas pela
populao com assessoria tcnica.
foto 103 (pg
(pg.. 166)
DRUP - Diagnstico Rpido e Participativo. Ncleo Jardim Cristiane: painel de
apresentao do histrico de ocupao do ncleo produzido pela populao
fotos 104, 105 e 106. (pg
(pg.. 166)
Diagnstico Rpido e Participativo. Ncleo Gregrio de Matos: entrevista com
moradora e participao da populao (crianas e jovens) nas atividades
foto 107. (pg
(pg.. 167)
Vista area do Complexo do Jardim Santo Andr
fotos 108 e 109. (pg
(pg.. 170)
Ncleo So Sebastio - Urbanizao Gradual: antes e depois da interveno
fotos 110, 111 e 112. (pg
(pg.. 171)
Ncleo So Sebastio - Urbanizao Gradual: antes e depois da interveno
foto 113. (pg
(pg.. 173)
Programa Melhor Ainda: interveno no Ncleo Coria
fotos 114, 115, 116 e 117. (pg
(pg.. 174)
Observatrio de Qualidade dos Servios: treinamento dos observadores dos
ncleos Sacadura Cabral e Tamarutaca
fotos 118 e 119. (pg
(pg.. 185)
Conjunto Habitacional Avenida urea: reassentamento de famlias removidas do
ncleo Tamarutaca
foto 120. (pg
(pg.. 185)
Conjunto Habitacional Alzira Franco: reassentamento que abrigar as famlias
removidas dos ncleos Gamboa e Capuava Unida
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