Co Dependencia

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Expresso da codependncia em familiares de dependentes qumicos

EXPRESSO DA CODEPENDNCIA EM FAMILIARES DE DEPENDENTES


QUMICOS
EXPRESSION OF CO-DEPENDENCE AMONG RELATIVES OF CHEMICALLY DEPENDENT PATIENTS

EXPRESIN DE CODEPENDENCIA EN FAMILIARES DE DEPENDIENTES QUMICOS

Leila Memria Paiva Moraes1


Violante Augusta Batista Braga2
ngela Maria Alves e Souza3
Mnica Oliveira Batista Ori4

RESUMO
Conviver diretamente com uso abusivo de drogas de alguns de membros da famlia faz com que os demais vivenciem
dificuldades ao lidar com essa problemtica. Considerando que a famlia importante para a rede de apoio ao
dependente qumico e que o comportamento de codependncia est presente na vida desses familiares, interferindo
na sade mental, tivemos como objetivo identificar o modo como a codependncia expressa no grupo de familiares
de dependentes qumicos. Estudo descritivo com abordagem qualitativa, realizado com familiares de dependentes
qumicos assistidos em um Centro de Ateno Psicossocial (CAPS-ad), no perodo de junho/agosto de 2007. Os dados
foram produzidos por meio de entrevista individual e dez sesses grupais. Os familiares manifestaram comportamento
codependente por meio do sofrimento, dor emocional e adoecimento fsico e psquico, refletidos em respostas mltiplas,
como medo, desconfiana, culpa, excesso de cuidado/controle para com o outro, descuido para consigo e mudanas
no estilo de vida. O grupo revelou que ser um familiar codependente significa vivenciar inmeros sofrimentos, o que
requer necessidade de assistncia profissional. Este estudo nos permitiu fomentar uma reflexo sobre a prtica de
interveno de sade em relao aos familiares dos dependentes qumicos, ressaltando e valorizando o papel da famlia
como rede de suporte ao membro usurio de drogas, pois as prticas de interveno ainda so muito focadas na droga
e, por conseguinte, no indivduo que dela dependente.
Palavras-chave: Transtornos Relacionados ao Uso de Substncias; Relaes Familiares; Prtica de Grupo; Enfermagem;
Sade Mental.

ABSTRACT
In order to deal directly with drug addiction, relatives of chemically dependent patients face many difficulties. The
family plays an important role on the patients support and co-dependence behavior is constantly present in their life
and may interfere on mental health. This study aims to identify how co-dependence is expressed among relatives of
chemically dependent patients. It is a descriptive study with a qualitative approach, which was carried out in a Center
of Psychosocial Attention (CAPS-ad) during June and August of 2007. Data were collected by using individual interviews
and 10 group meetings. Family members showed a co-dependent behavior by expressing suffering, emotional pain,
physical and psychological sickness, seen on answers like: fear, lack of confidence, guilt, excessive care/control over
others, lack of self care and changes in lifestyle. Group meetings showed that being a co-dependent relative involves
suffering and requires professional assistance. This study was useful to promote a reflection on health intervention
practices regarding chemically dependent family members. We highlight the importance of the family role since
intervention practices are still too focused on drug regimens and on the patient himself.
Key words: Substance-Related Disorders; Family Relations; Group Practice; Nursing; Mental Health.

RESUMEN
Convivir directamente con el uso abusivo de drogas de algunos miembros de la familia hace que los dems familiares
tengan dificultades para lidiar con tal problema. Considerando que la familia es importante para la red de apoyo al
dependiente qumico y que el comportamiento de codependencia est presente en la vida de dichos familiares porque
interfiere en su salud mental, el objetivo del presente estudio ha sido de identificar el modo cmo se expresa la
codependencia en el grupo de familiares de dependientes qumicos. Se trata de un estudio descriptivo con enfoque
cualitativo, llevado a cabo con la familia de los dependientes qumicos asistidos en un Centro de Atencin Psicosocial
(CAPS-ad) entre junio y agosto de 2007. Los datos fueron recogidos en una entrevista individual y en 10 sesiones
grupales. Las familias sealaron la codependencia por medio del sufrimiento, dolor emocional y enfermedades fsicas
y psquicas que se reflejan en mltiples respuestas como: miedo, inseguridad, culpa, exceso de atencin y control para
con el otro, falta de atencin consigo mismo y cambios en el modo de vida. El grupo revel que ser familiar
codependiente significa vivir varios sufrimientos y que por ello necesitan asistencia profesional. Este estudio permiti
reflexionar sobre la prctica de intervencin en salud con familias de dependientes qumicos y realzar y valorar la
funcin de la familia como red de apoyo al miembro usuario de drogas puesto que las tales prcticas todava estn
muy centradas en las drogas y, por consiguiente, en el individuo que depende de ellas.
Palabras clave: Trastornos Relacionados con Sustancias; Relaciones Familiares; Prctica de Grupo; Enfermera; Salud
Mental.

1
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente da Faculdade Catlica Rainha do Serto (FCRS) Quixad-CE.
2
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente da Universidade Federal do Cear (UFC)-CE.
3
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente da Universidade Federal do Cear (UFC)-CE.
4
Enfermeira. Post-Doc. Docente da Universidade Federal do Cear (UFC)-CE.
Endereo para correspondncia: Rua Carlos Vasconcelos, 2459, ap. 301, bairro Aldeota, Fortaleza-CE. CEP: 60115-171. Fone/Fax: (85) 3246.0232. E-mail:
[email protected].

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1 INTRODUO qumico, assumindo, muitas vezes, o papel de cuidador
e tambm responsvel, ser mais fcil ocorrer
O consumo de drogas psicoativas pode ser considerado interferncia positiva no tratamento.
uma forma de percepo e expresso da pessoa em si
mesma, envolvendo relaes que incluem os outros e Consideramos imprescindvel a atuao da famlia na
o ambiente em que vive. preveno ao uso indevido de drogas psicoativas, assim
como na recuperao e reinsero social do
Esse consumo de drogas um fenmeno dependente qumico. Essas dependncias qumicas
essencialmente complexo e que ultrapassa fronteiras envolvem, pelo menos, outra pessoa alm do
internacionais, tornando-se um dos maiores problemas toxicmano, ou seja, os codependentes, que podem
de sade pblica mundial 1 , exacerbando-se em tomar iniciativas para mudar, porm, por vezes, ilusrias.
consequncia da globalizao.2 Esse codependente o parceiro indissocivel do
dependente qumico que, ao expressar desejo de
No Brasil, o uso de drogas intensifica-se sempre mais,
ajudar, deve ser chamado a participar do tratamento,
tornando difcil e complexa sua abordagem,
pois constitui um recurso importante pelo poder que
principalmente porque as polticas pblicas voltadas
exerce sobre o conjunto de relaes nas quais o
para esse setor no logram acompanhar os avanos
toxicmano o elemento central.4
desse fenmeno, no criando dispositivos legais e de
ateno que atendam a essa realidade, de modo que a Reconhecendo a importncia da famlia na formao
dinmica da famlia brasileira vem sendo atingida por de seus membros, sendo elemento principal na
mais esse fenmeno de sade pblica. A dinmica da construo de uma rede social de apoio ao dependente
famlia revela significativa rede de apoio nas diversas qumico, a equipe de sade mental precisa estar atenta
situaes da vida real, alm da grande e rdua tarefa ao funcionamento dessa rede, criando laos de parceria,
de educar os filhos.3 Na elaborao de uma rede de fundamentais e imprescindveis no tratamento do
apoio ou o sistema teraputico, so solicitados e dependente qumico e no desenvolvimento de relaes
valorizados os recursos da prpria famlia (nuclear e mais sadias e/ou significativas. Dessa forma, a
ampliada).4 integrao da famlia na dinmica de ateno ao adicto
pode facilitar sua recuperao, proporcionando modos
Na assistncia ao dependente qumico, observamos, de enfrentamento que resultaro em melhor qualidade
amide, a pouca atuao de profissionais de sade em de vida.
relao aos seus familiares, incentivando-os a participar
do tratamento de seu componente usurio, Assim, percebendo como imprescindveis a presena e a
visualizando-os na qualidade de codependentes, ou atuao da famlia no tratamento de dependentes
seja, como aquela pessoa que tambm sofre com a qumicos, uma vez que essa vivncia influenciada e
dependncia qumica. influencia o assunto em foco, pretendemos com este
estudo responder seguinte indagao: Como a
Ao estudar os padres de codependncia e prevalncia codependncia expressa em membros familiares de
de sintomas psicossomticos em pessoas de famlias dependentes qumicos? Desse modo, temos como
com histrico de alcoolismo, um codependente pode objetivo identificar o modo como a codependncia
ser definido da seguinte forma: expressa no grupo de familiares de dependentes qumicos.

[...] refere-se quela pessoa que convive de forma


O CAMINHO TERICO-METODOLGICO
direta com algum sujeito que apresenta alguma
dependncia qumica, e em especial, ao lcool. E por Caracterizao do tipo de estudo
extenso s pessoas que por qualquer outro motivo
viveram uma prolongada relao parentalizada na Desenvolvemos um estudo com familiares de
famlia de origem, assumindo precocemente dependentes qumicos em tratamento, utilizando o
responsabilidades inadequadas para a idade e o
grupo como dispositivo para a expresso de
contexto cultural. [...] uma doena crnica e
sentimentos e subjetividades quanto vivncia deles
progressiva.5:6
com a dependncia qumica de seus parentes.

Assim como ocorre com os dependentes e Realizamos um estudo do tipo qualitativo, por meio do
codependentes do lcool, ao visualizarmos a famlia referencial terico construdo pela norte-americana
Maxine Loomis,6 o qual trata do desenvolvimento da
como parceira do tratamento de pessoas com outras
abordagem grupal para enfermeiros.
dependncias qumicas, devemos considerar as
possveis necessidades e dificuldades desse grupo, alm De acordo com o referencial terico, o foco do processo
de seu adoecimento, o qual pode interferir diretamente grupal est centrado nos cuidados de sade e
no agravamento da problemtica vivenciada pelo assumida a noo de que, se qualquer grupo apresentar
ncleo familiar, notadamente do prprio dependente apoio, tarefa ou psicoterapia, ter um objetivo
qumico. Trabalhando as limitaes, dificuldades e teraputico global. Para a autora, os grupos tambm
sentimentos da famlia codependente e, em especial, podem ser descritos e definidos de acordo com o
daquele partcipe que mais interage com o dependente processo interno deles.

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Expresso da codependncia em familiares de dependentes qumicos

Contexto/Local do estudo Formamos um grupo fechado, constitudo de 11


familiares, e o tipo de vnculo entre participantes e
Desenvolvemos este estudo no Centro de Ateno dependentes qumicos constituiu-se de uma madrasta,
Psicossocial especializado no tratamento de usurios um irmo, uma esposa, duas irms, seis mes.
de lcool e outras drogas (CAPS-ad) da Secretaria
Executiva Regional III (SER III) da Prefeitura Municipal
de Fortaleza, em convnio com a Universidade Federal Procedimentos e instrumentos para a produo dos
do Cear (UFC)-CE. dados
O servio possui uma equipe de profissionais composta
Realizamos um estudo grupal por meio de oficinas de
de enfermeiro, mdico psiquiatra, mdico clnico,
vivncias, como forma de avaliar o processo grupal
terapeuta ocupacional, psiclogo, assistente social,
ocorrido com os familiares, no qual a utilizao de
tcnico de enfermagem, tcnico administrativo e
recursos artsticos foi a orientao metodolgica
auxiliar de servios gerais. Possui espao para
seguida. As tcnicas empregadas serviram para facilitar
atendimentos individual e grupal.
a expresso de sentimentos e subjetividades, tornando-
se conscientes e acrescidos de significados para os
participantes do grupo. Mediante as atividades
Participantes do estudo
propostas, os participantes do estudo expuseram como
Os participantes foram componentes familiares que se a codependncia expressa na vida deles. As oficinas
encontravam na condio de acompanhantes dos vivenciais ocorreram durante os meses de junho a
dependentes qumicos que estavam sendo assistidos agosto de 2007.
no CAPS-ad escolhido para a realizao da pesquisa. Para a produo de dados, seguimos trs fases:
Quanto aos princpios e aspectos legais e ticos da planejamento, interveno e avaliao. Foram assim
pesquisa, previstos na Resoluo n 196/967, o projeto denominadas para conduo do grupo, adequando-se
recebeu o Protocolo n 268/06 no Comit de tica em aos quatro descritores (objetivos, estrutura, processo,
Pesquisa da Universidade Federal do Cear. resultados) nomeados por Loomis. 6 A fase de
Respeitando o princpio do anonimato aos participantes planejamento correspondeu etapa dos objetivos; a
do grupo, estes receberam pseudnimos com a de interveno, s etapas de estruturao e processo;
denominao de outros nomes prprios que no os e, por ltimo, a de avaliao, correlata aos resultados
deles. Na apresentao dos discursos dos participantes, do grupo. Essas fases esto mais bem descritas no
esses nomes foram acompanhados do grau de QUADRO 1.
parentesco com o dependente qumico em tratamento.

QUADRO 1 Apresentao das fases de produo de dados do estudo com o grupo de


componentes familiares de dependentes qumicos. Fortaleza-CE, 2008.

FASES DESCRITORES SESSES

Fase de planejamento Objetivos do grupo 1 encontro grupal geral


Entrevista individual
Fase de interveno Estrutura do grupo Sesso preparatria
Processo do grupo Sesses I a VI
Fase de avaliao Resultados do grupo Sesses VII e VIII

O horrio estabelecido para o incio e trmino da com recursos artsticos, havendo sempre anteriormente
sesso foi das 13h30 s 16h, totalizando duas horas e o momento de preparao para o tema, sendo
meia de encontro, conforme decidido coletivamente estimulado um relaxamento ou alongamento
entre os coordenadoras e os participantes do grupo. corporal, no intuito de que os participantes se
concentrassem para a atividade, reflexo e
Todas as sesses foram divididas em trs momentos:
verbalizao das vivncias; e, por ltimo, a avaliao
acolhimento, destinado exposio de assuntos
da sesso, quando realizamos uma anlise prvia e
considerados importantes pelos par ticipantes,
contnua do encontro e do grupo.
lembretes, avisos e ao acolhimento dos participantes;
desenvolvimento, no qual foram realizadas atividades

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Interpretao e anlise dos dados codependncia, ilustrando com recortes do discurso
dos participantes. Pela anlise das falas dos
Os dados utilizados para anlise foram: observaes
par ticipantes foi possvel categorizar cinco
do processo grupal registradas no dirio de campo;
expresses de codependncia: medo, culpa, cuidado
os discursos dos participantes na entrevista individual
e/ou controle, mudanas de estilo de vida e
e nas sesses grupais, gravados em aparelho digital;
desconfiana.
as fotos registradas em cada sesso; e o material
produzido nos momentos que envolveram as tcnicas  O medo: Eu sinto tanto medo que eu tremo. Sabe,
grupais mediante os recursos artsticos. triste para uma me ter medo do filho. (Flvia me)
Para a anlise dos discursos dos sujeitos, utilizamos a O medo um dos sentimentos mais presentes e
tcnica de anlise do discurso, empregada para se marcantes na vida dessas pessoas e, especificamente,
referir a toda forma de fala e textos, seja quando na expresso do grupo, ele ficou caracterizado em
ocorria naturalmente nas conversaes, seja quando vrias situaes, associado violncia contra o outro
era apresentada como material de entrevistas ou tipos e a si prprio, ao abandono, ao medo de cometer erros,
outros de textos escritos.8 Aps a leitura exaustiva dos de ter vida prpria e de que acontea algo ruim com o
discursos, iniciou-se o processo de codificao e dependente qumico.
categorizao dos discursos, e os aspectos da
codependncia foram evidenciados e analisados com A violncia fsica resulta do efeito do uso das drogas
base em outros estudos sobre a temtica e na em alguns dependentes qumicos, ocasionando medo
perspectiva de categorias analticas de codependncia. nos familiares e em outras pessoas com as quais
convivem. Participantes como mes e esposa disseram
que sentiam medo de serem agredidas fisicamente
RESULTADOS E DISCUSSO pelos familiares dependentes qumicos.

Levando em considerao essas abordagens tericas O medo expresso pode estar associado, tambm, a
da codependncia, revelamos aspectos mais respostas de violncia dirigida ao parente dependente,
intrnsecos da vivncia dos familiares, indicativos de desencadeada pela situao conflitante vivenciada no
codependncia. cotidiano domstico. Desse modo, a codependncia
pode ser expressa pela sensao de ser capaz de
Com maior ou menor intensidade, todos os familiares responder com violncia quele ou quela situao
que compuseram o grupo se encontravam
fora do controle do familiar. Nessa hora, entra em cena
emocionalmente dependentes de seus filhos, filhas,
a sensao de dvida e desconfiana de si prprio,
esposos ou irmos dependentes qumicos;
geradas pela raiva, frustrao ou mesmo fria dirigida
desconheciam parte de sua realidade; no conseguiam
ao dependente qumico ou autodirigida. Tal situao,
estabelecer limites, para si e para o parente dependente
no raro, termina em tragdia, conforme
qumico; perderam parte, ou totalmente, de sua
acompanhamos pelos media os relatos de homicdios
identidade e autonomia, passando a viver a vida do
ou suicdios cometidos por esses familiares. Sobre esse
outro, a quem queriam controlar e conduzir os
mesmo comportamento do familiar, realidade que
pensamentos e o comportamento. Observamos
muitos co-dependentes tm medo da prpria
atitudes de marcao cerrada sobre o outro, o que se
raiva.9:64
revelou como a maior causa dos desentendimentos nas
relaes familiares e mal-estar na vida do membro O contato com as substncias psicoativas leva a
familiar. Entendemos tais comportamentos como diferentes tipos de violncia, dentre elas a domstica,
prejudiciais a ambas as partes, refletindo-se em de rua, gnero e at institucional. Dependentes
cerceamento da liberdade, tanto do dependente qumicos afirmam que a relao entre droga, violncia
qumico quanto do familiar. e prazer vivenciada por eles de forma conflituosa, e
Observamos inmeros sentimentos provenientes que seus familiares, quando cansados de presenciarem
dessa relao indicativa de codependncia, dentre os essa relao, sentem medo de intensificar situaes
quais: baixa autoestima, caracterizada pela falta de geradoras de violncia.10
amor prprio; dificuldades diversas, dentre elas, de O medo de fazer algo contra si foi percebido quando
negao e imposio de limites; sentimentos de iluso, um dos participantes falou sobre a possibilidade de
sofrimento, ansiedade, angstia, medo, impotncia, praticar suicdio:
fracasso; sensao de vazio; e o desconhecimento dos
prprios sentimentos.
Com base no exposto, realizamos um recorte das [...] quase toda a minha vida, que foi de 15 anos pra
diversas categorias empricas que emergiram do c, pois hoje tenho 42 anos... e ento, foi a minha
processo de anlise, tendo como categoria analtica adolescncia, entrando na fase adulta todinha nisso,
central o comportamento indicativo de codependncia. convivendo com as drogas. Ento eu tenho medo de
chegar loucura e praticar o suicdio, por causa da
A seguir, destacamos os discursos do grupo de apoio impotncia, do vazio e voc no saber como lutar
de familiares de dependentes qumicos indicativas de contra isso. (Vicente irmo)

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Expresso da codependncia em familiares de dependentes qumicos

O familiar tem medo de ficar sozinho, da rejeio e do denominados de negao, um mecanismo de defesa
abandono do outro. Passa a utilizar artifcios bastante utilizado pelo dependente qumico e pelo
inadequados e de maneira distorcida para que isso no codependente. Essa negao refere-se a uma parte da
acontea. realidade externa desagradvel ou indesejvel, pela
fantasia de satisfao de desejos ou pelo
Ter medo de cometer erros uma das caractersticas
da codependncia que mais reprime, dificultando o comportamento. O codependente nega seu desejo,
processo de tomada de deciso perante toda a situao anulando parcialmente as consequncias dolorosas de
vivenciada. lidar com este.

J o medo de se permitirem ser quem so, abrindo mo Em famlia, na vivncia cotidiana do problema da
da prpria vida, 9 tambm foi observado nas dependncia de drogas, comum as pessoas no falarem
experincias vivenciadas pelos familiares pesquisados. sobre esse assunto, no manifestarem o que pensam e o
que sentem a respeito; passa a imperar a regra do no
No grupo, observamos a participante Janete, que falar sobre. Outros focos de ateno comeam a surgir
expressou essa caracterstica com maior clareza, pois como estratgia de negao ao problema da droga.
estava feliz com a mudana em seu estilo de vida, mas Problemas outros ganham supernfase, e a droga ganha
tinha medo de viver essa nova vida. Um medo que nem subnfase. Podemos dizer que a famlia acaba se
ela mesma sabia decifrar, pois estava se redescobrindo, tornando mantenedora do problema.
e essa redescoberta estava sendo vivenciada com muito
temor, o que podemos perceber no discurso a seguir: Geralmente, as famlias comeam a se preocupar com
o uso da droga a partir do momento em que sintomas
fsicos e emocionais so manifestados pelos seus
Estou muito feliz com esse meu novo jeito de ser, membros. At ento, o que se observa na famlia uma
mas estou com medo por no estar mais sentindo
iluso de controle sobre o problema.12 A culpa um dos
medo. Tenho medo do que pode acontecer. (Janete
irm).
sentimentos mais perceptveis na condio de
codependncia do familiar, manifestando-se em
Essa aparente contradio expressa por Janete momentos como o incio do consumo de droga de seu
vivenciada por muitos codependentes: quando passam ente querido e a falta de imposio de limites.
a experimentar outras vivncias que no a Observamos, tambm, que, em virtude desses
codependncia, ficam com medo de que tudo volte e sentimentos, o familiar assume uma atitude obsessiva
de que tudo no passe de fantasia. para cuidar, preocupando-se e controlando
excessivamente o dependente qumico. Nesse
E, por ltimo, o familiar est sempre com medo de que momento, entra em cena uma das principais
acontea algo de ruim com o dependente qumico, que caractersticas da codependncia, que o excesso de
ele saia de casa e v em busca da droga, recaindo. O ateno ao outro, o qual, muitas vezes, o faz esquecer-
medo da recada culmina no constante medo do futuro, se de si prprio.
do amanh.
Codependente aquela pessoa que permitiu a si
 A culpa: Aqui no grupo a gente diz assim: No, voc mesma ser afetada por outra e por seus problemas e
no tem culpa! Mas a gente tem um pouco de culpa, sim! que perdeu o amor prprio, a capacidade de se afirmar
(Ana me) e de cuidar de si mesma.13
O sentimento de culpa apreendido das falas dos Mesmo amando, preocupando-se, cuidando e
familiares se faz presente em vrios momentos. controlando excessivamente, o codependente carrega
Chamou-nos a ateno, particularmente, o depoimento um conflito, muitas vezes inconsciente, sentindo-se
de uma das participantes do grupo durante a entrevista culpado por algum sentimento negativo que possa
individual, quando expressou seu desagrado em relao sentir, como raiva, desconforto pela dependncia
condio de dependncia qumica de seu filho, psicoemocional ou financeira. Essa condio emocional
exprimindo arrepender-se de t-lo trazido ao mundo. conflituosa pode favorecer a diminuio da autoestima,
Diz o seguinte: do autocuidado e do interesse sobre si prprio. A
autoestima do codependente regulada pelo que
consegue agradar ou no ao outro.5
Eu me sinto desequilibrada, culpada e arrependida
de ter tido ele... (Flvia me) Como o codependente tende a assumir toda a
responsabilidade para com o dependente qumico, ele
passa, tambm, a ser a principal referncia para os outros
Nesse depoimento, encontra-se evidente um dos
integrantes da famlia quando o assunto envolve a
mecanismos de defesa do ego identificados por Freud,11
dependncia qumica daquele membro usurio. Dessa
os quais foram e continuam sendo estudados para
forma, passa a receber cobranas dos outros e de si
descrever a luta do ego contra ideias e afetos dolorosos
prprio. As cobranas so referentes aos problemas
e insuportveis.
causados pelo uso de drogas e, principalmente, pelas
Por ocasio deste estudo, os sentimentos de culpa e inmeras tentativas, muitas vezes frustradas, de busca
arrependimento descritos pela participante foram de soluo.

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A vivncia desses e de outros sentimentos e conflitos O cuidado excessivo tambm est sendo expresso
enseja insegurana e mal-estar no codependente, quando o familiar, por inmeras vezes, considera-se e
resultando em outro tipo de cobrana, s que, desta vez, sente-se responsvel pelos sentimentos, pensamentos,
quem passa a ser exigido o dependente qumico. Em aes, escolhas, desejos, necessidades, bem-estar e falta
resposta a essa presso, o dependente qumico passa a de bem-estar e, inclusive, pelo destino do dependente
fazer falsas juras de mudanas de comportamento e qumico. Essas caractersticas ficaram muito evidentes
atitude, a mentir sobre vrios assuntos. Dentre as respostas no grupo.
mais frequentes do dependente qumico, destacamos:
Observamos, tambm, nos depoimentos e expresses
dizer que no est mais consumindo drogas e que no vai
de sentimentos dos participantes, que eles se achavam
mais consumir no futuro; prometer que vai mudar de
comportamento, sendo mais responsvel com sua vida, seguros quando se colocavam disposio para ajudar
gerando, assim, falsas crenas no codependente. ou fazer algo pelo seu familiar dependente qumico.
Essa, contudo, foi uma das caractersticas que foi
Essa cascata de cobranas permanente e enseja desaparecendo em alguns participantes, medida que
dificuldades nas relaes familiares, favorecendo o o grupo evolua.
isolamento do codependente e do usurio, tornando a
relao de ambos, muitas vezes, mais doentia e O grupo revelou que cuidar excessivamente e/ou
conflituosa. controlar o dependente qumico desenvolve uma
sensao no familiar de que o drogadito o est levando
 Cuidado e/ou controle: A pessoa tem que ter cuidado loucura, deixando-o confuso e deprimido. Esses
24 horas. s o que eu fao. Cuido do meu filho 24 horas sentimentos parecem contribuir para a baixa
sem parar, s tenho folga no sbado, quando ele vai para autoestima, pois o familiar codependente no entende
a casa do pai dele. (Adriana me) por que ele faz e cuida tanto e acaba no tendo o
Ser codependente ser algum que ama e cuida resultado esperado, como podemos observar nos
exageradamente, comportamento que pode ter sido discursos:
aprendido ainda quando criana, ou mais tarde, na vida
adulta, com a interpretao de alguns fatores culturais.
Vou acabar ficando louca. De repente, tem horas que
Amar e cuidar excessivamente pode ter sido fruto de
d vontade de eu sair correndo feito louca; fico to
uma necessidade de algum se proteger ou satisfazer
as prprias necessidades, traduzindo-se em uma forma desesperada..., e eu no fao isso porque eu tenho
de sobreviver emocional, mental e fisicamente.9 vergonha, sabe? Ainda bem que tem aquela coisa que
me impede. Puxo meus cabelos! uma loucura! O
Mesmo na atualidade, ainda comum encontrarmos menino me obriga a dar dinheiro... aquela loucura!
mulheres que foram ensinadas que cuidar do outro E eu acabo fazendo tudo o que ele quer. Cuido dele
uma qualidade feminina desejvel.9 As mulheres, mais to bem, fao tudo por ele para que ele saia dessa, mas
do que os homens, so treinadas para atender os outros no tem jeito... Na realidade, o que aconteceu foi que
e focam sua energia na capacidade de cuidar.14 eu no tive controle sob meu prprio filho, soltei o
Essa tendncia de a mulher cuidar dos familiares ficou menino. uma coisa horrorosa! Mas o que eu no
evidente no grupo quando 91% (n=10) dos admito mesmo porque eu fao tanto por ele, cuido
participantes eram mulheres. Destacamos, entretanto, to bem dele, e ele no agradece. Diz que eu fao
que tanto a mulher quanto o homem sofrem com a sufocar ele. Pode? (Flvia me)
codependncia, pois esse cuidar do familiar ao usurio
de drogas torna-se uma necessidade imperativa, e no A codependncia apenas uma maneira de tentar
uma escolha. O cuidar pode traduzir-se em uma forma satisfazer necessidades que no se consegue realizar,
de controle, de si e do outro.14:22 fazendo as coisas erradas pelas razes certas.9,13
O cuidado/controle foi observado no grupo de
Sobre o cuidado, podemos dizer do homem que cuida
familiares dos usurios de drogas como caracterstica
que seu bem nunca inteiramente bom. Seu mal jamais
marcante em todos os participantes tanto o cuidado
totalmente mau. Mesclam-se bem e mal, diablico e
excessivo com o outro como a omisso do cuidado para
simblico, insensatez e sabedoria, cuidado essencial e
consigo. A expresso do cuidar excessivo manifestou-
descuido fatal... Devemos exercer a compaixo para
se por meio de alguns comportamentos observados:
com ns mesmos.15:159
preocupao permanente com o cuidar e se relacionar
com o usurio; observao rigorosa de todos os passos, O cuidado essencial ao ser humano deve ser dispensado
comportamentos e atitudes; buscar solues para o de forma equilibrada e natural, pois, quando em
problema, oferecendo sugestes; tendncia a antecipar excesso, se transforma em obsesso, tornando-se
as necessidades da outra pessoa; dificuldade de dizer doentio e prejudicial a ambos dependente e
no ao usurio; fazer coisas que realmente no gostaria codependente. Do mesmo modo, a carncia do cuidado
de fazer; realizar coisas que a outra pessoa capaz de origina o descuido e o abandono. A busca do equilbrio
realizar por si mesma; procurar agradar aos outros, depende de vrios fatores, e, muitas vezes, as pessoas
principalmente o usurio de drogas, em vez de a si envolvidas com a problemtica de um ente querido no
mesmo. sabem definir a condio mais propcia ou ideal. No

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Expresso da codependncia em familiares de dependentes qumicos

grupo, evidenciamos o quanto a atividade grupal adoecendo, e assim as relaes familiares vo cada vez
favoreceu a percepo e a busca do equilbrio, rompendo mais se enfraquecendo. 5,14
ou mesmo tornando consciente o comportamento
Observamos nos participantes reaes diversas de
codependente.
adaptaes fsicas, comportamentais e emocionais
A alternativa teraputica de terapia grupal breve com ocorridas em razo do estresse causado pela condio
os familiares de adictos parece ser eficaz no sentido de de dependncia qumica do familiar em tratamento, e o
adequar e orientar condutas, contribuindo para estresse desencadeia reaes de adaptao fsico-
melhorar as relaes e a organizao do contexto bioqumicas e quanto ao comportamento do organismo.
familiar em dependncia qumica. Constitui uma Essas reaes vo desde adaptaes para um estado de
excelente forma de suporte para essa clientela.16 alerta (comportamento do organismo) e alteraes
adaptativas do tnus cardiovascular, respirao, glicose
O grupo revelou o cuidado, ainda, em vrias situaes
e alimentao do sistema nervoso central e outros locais
do cotidiano das relaes familiares mediante
do corpo estressado. No codependente, essas alteraes
comportamentos, atitudes e aes, tais como: cuidado adaptativas podem lev-lo a um estado de alerta ou com
com a administrao de medicamentos, alimentao e sinais orgnicos mais acentuados por todo o corpo
preocupao com o bem-estar fsico e mental; estressado.5:59
acompanhar o dependente qumico para quase todos
os locais, vigi-lo e cuidar dele para que no entre em A mudana no estilo de vida tambm foi observada no
contato com a droga ou sofra agresses na rua, comportamento dos participantes do grupo quando,
principalmente de pessoas envolvidas com o trfico de por inmeras vezes, verbalizam a alterao no
drogas. comportamento pessoal, como supervisionar/vigiar o
dependente qumico, passando a evitar deix-lo
 Mudanas de estilo de vida: Estou mais tranquila sozinho em grande parte do dia. Dizemos parte dos
porque ontem ele j no bebeu. Eu pude dormir a noite passos porque alguns dependentes qumicos,
toda e hoje de manh eu j estou mais recuperada. (Nara conscientes ou no de sua necessidade de apoio e
esposa) tratamento, no querem ou no conseguem deixar de
A codependncia expressa, tambm, por meio de consumir as drogas e ficam arranjando sempre uma
outras caractersticas como mudana no estilo de vida forma de fugir, esconder-se e buscar situaes que lhe
e o consequente aparecimento de respostas fsicas e permitam o uso, burlando a vigilncia e o controle
familiar.
emocionais, destacando-se: cefaleias, alterao de
presso arterial, alterao nos valores glicmicos, Esse comportamento do familiar e do usurio de drogas
insnia, alteraes de sono, ansiedade, nervosismo, choro enseja uma condio de instabilidade emocional no
fcil, cansao fsico e mental, distrbios alimentares. codependente e a ecloso de vrios sentimentos,
Foram relatados, tambm, comportamento letrgico, normalmente negativos e prejudiciais a si e ao outro,
deprimido e pensamento suicida, notadamente em destacando-se a ansiedade. A ansiedade caracteriza-se
alguns participantes no incio das atividades grupais. por uma vaga sensao de que algo desagradvel pode
acontecer, decorrendo de uma situao conflituosa que
Os sintomas ou respostas fsicas e emocionais
pode estar total ou parcialmente inconsciente.17
identificados interferem na qualidade de vida do
familiar e alteram suas condies de sade, levando-o Tais conflitos podem ocorrer entre sujeito e sociedade
a buscar ajuda mdica e a consequente medicao com ou mesmo entre partes da personalidade, como
uso indiscriminado de ansiolticos e antidepressivos, conflitos internos, em geral inconscientes, e gerados ao
provocando, muitas vezes, mais uma dependncia longo do desenvolvimento pela assimilao das
qumica. experincias de vida. Esses so nossos conflitos internos
e podemos ressaltar que os externos so mais
O codependente somatiza sua dor emocional
patognicos quanto mais intensificam os conflitos do
traduzindo-a em queixas e respostas somatoformes. Os
nosso mundo interno. 5,17 Dessa forma, situaes
sintomas e doenas psicossomticas, na viso
emocionalmente significativas e no resolvidas de um
psicanaltica, so achados que estabelecem correlaes
mundo internalizado podem ser estimuladas por
com ansiedade, conflito e defesas.5
situaes atuais.
Com suporte nessa afirmao, podemos dizer que os
Ansiedade, insegurana, comportamento obsessivo-
sentimentos experimentados pelo codependente,
compulsivo e medo podem estar entre os fatores
muitas vezes no expressos adequadamente, tm sua influentes na reincidncia de sintomas que caracterizam
expressividade em sintomas fsicos e/ou emocionais, a mudana no estilo de vida experimentado pelo
como observado nos participantes do grupo estudado. codependente. Essas mudanas no estilo de vida
Em sua grande preocupao com o outro e na impotncia demonstram os ltimos estdios da codependncia,
para efetivamente ajud-lo, o codependente tenta em que o indivduo pode se isolar e/ou se afastar
formas aparentemente inadequadas de se comunicar do dependente qumico, negligenciando-o,
com o dependente qumico, seja tentando controlar e independentemente do parentesco, ou eximindo-se de
impor sua vontade e verdade, seja simplesmente outras responsabilidades, perdendo, tambm, a

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esperana na recuperao ou na possibilidade de alterar parte do dependente qumico, promessas de mudana,
as relaes. Em resposta a isso, pode comear a planejar quase sempre no cumpridas. No podemos nos
o afastamento do relacionamento ao qual o esquecer de citar que, com isso, a famlia, passa a viver
codependente se sente aprisionado.9 todo esse clima de desconfiana gerado, principalmente,
pela relao de ambos: familiar com atitude de
Com relao a planejar o afastamento da relao,
codependncia e dependente qumico.
identificamos, nos discursos dos participantes, a
sensao de cansao por se encontrarem naquela
situao de vida, sendo acompanhada do sentimento
4 CONSIDERAES FINAIS
de perda de esperanas relacionado dependncia
qumica: Neste estudo, identificou-se que os familiares sofrem
com a condio de dependncia qumica de seus entes
queridos e manifestam esse sofrimento por meio de
Ento, hoje eu penso assim: hoje eu estou me diversos sentimentos e mudanas no estilo de vida.
preparando at para que realmente se acontecer
alguma coisa com o meu filho, ele escolheu. No fui O grupo revelou que ser um familiar codependente
eu. Ele escolheu! Eu coloco tudo isso na minha cabea: ser algum que vivencia inmeros sofrimentos,
eu no sou culpada pelo que acontecer com ele e eu necessitando de ajuda e assistncia profissional, pois
quero viver bem, continuar dormindo. Ser firme com os familiares tm sentimentos ambivalentes entre
ele ao ponto de mand-lo escolher a vida que ele quer querer e no querer mudar seu comportamento diante
levar. Agora eu no sei como vou fazer isso porque, do que vivenciam ou entre querer e conseguir. Foi
infelizmente, ainda est assim muito confuso na
possvel identificar que eles sofrem e muitos querem
minha cabea. (Sandra me)
ajuda e a procuram. Observou-se, na prtica dos
servios de tratamento da dependncia qumica, o fato
 Desconfiana: Parece que o discurso da famlia vai se de o sofrimento e as necessidades dos familiares
tornando vazio, sabe? como se fosse uma coisa que bate, passarem despercebidas, concentrando-se a ateno
mas no entra mais. Ento se fecha, e ns comeamos a apenas no usurio. Com essa atitude, o familiar no
desconfiar cada vez mais. (Maria irm) contemplado em suas necessidades nem percebido e
valorizado como rede de apoio na ateno ao
O codependente vive uma intensa desconfiana de dependente qumico.
vrias coisas, dentre elas a de que est sendo roubado
e enganado. Pode haver chantagens emocionais para Este estudo nos permitiu refletir sobre a prtica de
o dependente qumico conseguir dinheiro e bens interveno de sade em relao aos familiares dos
materiais para serem trocados por drogas. O dependentes qumicos, ressaltando e valorizando cada
codependente desconfia de que seu componente vez mais o papel da famlia como rede de suporte ao
familiar possa estar mentindo, comeando, assim, as membro usurio de drogas, pois as prticas de
inmeras interrogaes, surgindo um grande interveno, ainda so muito focadas na droga e, por
sentimento de vazio e impotncia de que tudo que ele conseguinte, no indivduo que dela dependente.
est fazendo no est tendo o resultado esperado. A ampliao desse olhar se faz necessria, para que ocorra
O grupo de apoio/suporte revelou, por meio de suas a superao da apreenso fragmentada do dependente,
produes e verbalizaes, que essa desconfiana no na proposio de uma viso ampliada sobre o problema,
somente do codependente para com o dependente que inicialmente a droga. Compreendemos o fenmeno
qumico, mas do codependente para com ele prprio. da dependncia como a manifestao de um sintoma
Esse clima de desconfiana ocasiona incertezas no que reflete e esconde uma intrincada rede de relaes,
familiar at mesmo em relao aos prprios na qual o indivduo se insere. Significa entender o
sentimentos ou ao conhecimento de si mesmo, e ele dependente como parte integrante de um sistema o
passa a no confiar nas suas decises e se sente inseguro familiar do qual a dependncia, como sintoma,
resultante das interaes recprocas entre seus membros,
quando tem de tomar alguma atitude.
e, ainda, entender a famlia como parte de um universo
Essa constante desconfiana produz um sentimento de ainda mais amplo, que a sociedade.
vazio interior que pode resultar na perda, dentre outras,
Finalmente, ao conhecermos os indicadores de
da f e da confiana em um ser superior, to presente
codependncia presentes na vivncia do familiar do
nos membros desse grupo. Essa forma de expresso da
dependente qumico que assistido em um grupo,
codependncia resultou, inmeras vezes, na utilizao
certamente ficar mais fcil interferir na rede de relaes
de fatores curativos, como instilao de esperana e
familiares e no processo de adoecimento e tratamento
altrusmo pelos participantes durante o processo
dos envolvidos com a dependncia qumica. Nessa
grupal.
realidade, afirmamos a importncia da famlia ao se
E quando o familiar descobre que algo de que ele envolver na recuperao do dependente qumico, mas,
desconfiava, em relao ao usurio, se concretizou, ele para que isso ocorra, necessrio conhecermos essa
passa a cobrar mais ainda, fazendo inmeras presses instituio, na busca de melhor apreenso de sua
emocionais e ameaas. Comeam, ento, a surgir, da dinmica com ateno para o problema vivenciado.

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Expresso da codependncia em familiares de dependentes qumicos

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Data de submisso: 27/2/2009


Data de aprovao: 7/7/2009

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