Uso Do Habeas Corpus Após Trânsito em Julgado

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BR

Centro Universitrio do Distrito Federal UDF


Coordenao do Curso de Direito

Rebeca Santos Soares

O USO DO HABEAS CORPUS COMO SUCEDNEO RECURSAL APS O


TRNSITO EM JULGADO DA CONDENAO

Braslia
2012
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Rebeca Santos Soares

O USO DO HABEAS CORPUS COMO SUCEDNEO RECURSAL APS O


TRNSITO EM JULGADO DA CONDENAO

Trabalho de concluso de curso


apresentado Coordenao de Direito do
Centro Universitrio do Distrito Federal -
UDF, como requisito parcial para
obteno do grau de bacharel em Direito.
Orientador: Valdinei Cordeiro Coimbra.

Braslia
2012
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Reproduo parcial permitida desde que citada a fonte.

Soares, Rebeca Santos.


O uso do habeas corpus como sucedneo recursal aps o trnsito da
condenao/ Rebeca Santos Soares. Braslia, 2012.
xx f. (ou p. se impresso frente e verso)

Trabalho de concluso de curso apresentado Coordenao de Direito do


Centro Universitrio do Distrito Federal - UDF, como requisito parcial para
obteno do grau de bacharel em Direito Orientador: Valdinei Cordeiro
Coimbra.

1. Assunto. I. Ttulo

CDU 343.1
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Rebeca Santos Soares

O USO DO HABEAS CORPUS COMO SUCEDNEO RECURSAL APS O


TRNSITO EM JULGADO DA CONDENAO

Trabalho de concluso de curso


apresentado Coordenao de Direito do
Centro Universitrio do Distrito Federal -
UDF, como requisito parcial para
obteno do grau de bacharel em Direito
Orientador: Valdinei Cordeiro Coimbra.

Braslia, _____ de _________ de 2012.

Banca Examinadora

_________________________________________
Nome do Examinador
Titulao
Instituio a qual filiado

__________________________________________
Nome do Examinador
Titulao
Instituio a qual filiado

___________________________________________
Nome do Examinador
Titulao
Instituio a qual filiado

Nota: ______
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Dedico minha famlia e aos amigos


pelo apoio na realizao deste
trabalho.
.
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AGRADECIMENTO

Agradeo primeiramente a Deus, por


mais uma conquista, minha famlia por
todo apoio e incentivo e ao meu
orientador, pela dedicao e correes.
Combati o bom combate, acabei a
carreira, guardei a f.
2 Timteo 4:7
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RESUMO

O objetivo do presente trabalho apresentar uma breve discusso acerca do uso do


habeas corpus como sucedneo recursal aps o trnsito em julgado da condenao
baseada na maneira pela qual a matria vem sendo analisada pelo Supremo
Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justia. Para tanto, variados
posicionamentos jurisprudenciais foram reunidos para fomentar o debate a respeito
do tema proposto, trazendo-se subsdios ou fundamentos jurdicos que sirvam de
alicerce para o reconhecimento da necessidade de limitao do uso do habeas
corpus s hipteses legalmente previstas. Para o desenvolvimento do trabalho, o
mtodo utilizado foi o dedutivo, com base em um estudo qualitativo de anlise da
jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justia, por
intermdio do qual se buscou demonstrar o entendimento que estes tribunais tm
acerca do uso do habeas corpus em substituio a recursos ordinrios e da
necessidade de restrio do emprego deste writ s hipteses legais, para que no
se perca a lgica do sistema recursal vigente. Por meio da pesquisa realizada, em
apertada sntese, obteve-se o entendimento de que as garantias constitucionais
asseguram ao indivduo a possibilidade de exigir dos Poderes Pblicos o respeito ao
direito que instrumentalizam. O habeas corpus como remdio capaz de sanar
ilegalidade ou abuso de poder praticados contra o direito de locomoo deve ser
usado dentro de seus limites legais de cabimento, para no ultrapassar a
competncia dos demais recursos e preservar, assim, a lgica do sistema recursal
vigente.

Palavras-chave: Habeas Corpus. Garantia constitucional. Sucedneo de recurso.


Sistema recursal. Necessidade de limitao. Jurisprudncia.
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ABSTRACT

The aim of this paper is to present a brief discussion about the use of habeas
corpus as a substitute appeal after final judgment of conviction based on the way
the matter is being considered by the Supreme Court and the Superior Court. To
this end, various jurisprudential positions were gathered to encourage debate about
the proposed theme, bringing up subsidies or legal grounds that serve as the
foundation for the recognition of the need for limiting the use of habeas corpus to
cases provided by law. For development work, the deductive method was used,
based on a qualitative study of analysis of the jurisprudence of the Supreme Court
and the Superior Court of Justice, through which it sought to demonstrate
understanding that these courts have on the use of habeas corpus in lieu of regular
resources and the need to restrict the use of this writ to legal hypotheses, so as not
to miss the logic of the current appeal system. Through the survey, in brief
summary, we obtained an understanding of the constitutional guarantees that
ensure the individual the possibility to require public authorities to respect the right
to instrumentalize. The habeas corpus as a remedy can cure illegality or abuse of
power committed against the right of locomotion must be used within their legal
limits of appropriateness, not to exceed the competence of other resources and
preserve thus the logic of the current appeal system..

Key words: Habeas Corpus. Constitutional guarantee. Substitute resource. Appeal


system. Need for limitation. Jurisprudence.
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABREVIATURAS

Art. Artigo
Inc. Inciso

SIGLAS
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justia
TRF Tribunal Regional Federal
STM Superior Tribunal Militar
TSE Tribunal Superior Eleitoral
CF Constituio Federal
CP Cdigo Penal
CPP Cdigo de Processo Penal
LEP Lei de Execuo Penal
SUMRIO

1 INTRODUO ....................................................................................................... 11
2 GARANTIAS CONSTITUCIONAIS INDIVIDUAIS ................................................. 15
2.1 CONCEITO DE GARANTIA: DISTINO ENTRE DIREITOS E GARANTIAS .... 15
2.2 INAFASTABILIDADE DA JURISDIO............................................................... 16
2.3 DIREITO DE AO E DE DEFESA ..................................................................... 17
2.4 DIREITO AO DEVIDO PROCESSO LEGAL ........................................................ 19
2.5 DUPLO GRAU DE JURISDIO ......................................................................... 20
3 HABEAS CORPUS ................................................................................................ 22
3.1 EVOLUO HISTRICA NO BRASIL ................................................................. 22
3.2 NATUREZA JURDICA ........................................................................................ 27
3.3 ESPCIES........................................................................................................... 29
3.4 HIPTESES DE CABIMENTO ............................................................................ 29
3.5 COMPETNCIA CONSTITUCIONAL DO STF, STJ, TRIBUNAIS REGIONAIS
FEDERAIS E TRIBUNAIS DE JUSTIA .................................................................... 35
4 SENTENA............................................................................................................ 41
4.1 SENTENA CONDENATRIA ........................................................................... 43
4.2 NATUREZA JURDICA ........................................................................................ 44
4.3 CONTEDO ........................................................................................................ 46
4.4 EFEITOS DA SENTENA CONDENATRIA E A COISA JULGADA .................. 47
5 OS RECURSOS NA ESFERA CRIMINAL ............................................................. 51
5.1 APELAO ......................................................................................................... 54
5.1.1 Cabimento ........................................................................................................ 55
5.1.2 Efeitos .............................................................................................................. 57
5.1.3 Procedimento ................................................................................................... 58
5.2 AGRAVO EM EXECUO .................................................................................. 59
5.2.1 Cabimento ........................................................................................................ 60
5.2.2 Procedimento ................................................................................................... 60
5.3 REVISO CRIMINAL ........................................................................................... 62
5.3.1 Cabimento ........................................................................................................ 62
5.3.2 Procedimento ................................................................................................... 64
6 O USO DO HABEAS CORPUS COMO SUCEDNEO RECURSAL APS O
TRNSITO EM JULGADO DA CONDENAO ...................................................... 66
7 CONCLUSO ........................................................................................................ 74
REFERNCIAS ......................................................................................................... 79
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1 INTRODUO

O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma breve discusso


acerca do uso do habeas corpus como sucedneo recursal aps o trnsito em
julgado da condenao, com base na forma como a matria vem sendo analisada
pela jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justia.

Para tanto, reuniu-se variados posicionamentos jurisprudenciais das


cortes superiores referidas como modo de fomentar o debate a respeito do tema
proposto, trazendo-se subsdios ou fundamentos jurdicos que sirvam de base para o
reconhecimento da necessidade de limitao do uso do habeas corpus s hipteses
legalmente previstas.

O tema ganha relevncia frente aos reiterados julgados dos tribunais


superiores que alertam para o uso ilimitado deste remdio constitucional em
substituio ao recurso cabvel, sem a devida observncia da razo lgica e
sistemtica dos recursos ordinrios. Em especial, porque os tribunais esto
atulhados de processos de habeas corpus, os quais debatem todo tipo de matria,
sobrepondo-se at mesmo a recursos que tem fundamentao vinculada, como, por
exemplo, o recurso especial, o qual cabvel somente nas estritas hipteses
constitucionais do art. 105, inciso III, ou at mesmo a reviso criminal, que visa
impugnar sentena transitada em julgado quando presentes a injustia ou o erro
judicirio.

Percebe-se que a questo objeto de muita discusso jurisprudencial,


encontrando-se posies favorveis utilizao do writ em lugar do recurso cabvel
ainda que inexista manifesta ilegalidade a ser sanada, bem como posicionamentos
contrrios a esta prtica.

Assim, as diferentes linhas de pensamentos relativas aplicabilidade do


habeas corpus como sucedneo recursal depois de transitada em julgado a
condenao sugerem a elaborao deste trabalho.
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Nesse sentido, a presente pesquisa tem como objetivo geral analisar se


h efetiva necessidade de restrio do emprego do habeas corpus s hipteses
legais, tendo em vista a proteo da lgica do sistema recursal vigente.

E como objetivo especfico descrever algumas garantias constitucionais


individuais, tais como: a inafastabilidade da jurisdio e o duplo grau, que
fundamentam o direito ao recurso; examinar o instituto do habeas corpus, sua
origem, objetivo e cabimento; verificar alguns dos recursos cabveis aps o trnsito
em julgado da condenao; analisar a necessidade de limitao do uso do habeas
corpus s hipteses legais previstas na Constituio Federal e no Cdigo de
Processo Penal.

Apesar de o habeas corpus ser uma garantia constitucional que visa


proteger a liberdade de locomoo do indivduo contra ilegalidade ou abuso de
poder, cujas hipteses de cabimento esto previstas, de forma no exaustiva, no
Cdigo de Processo Penal, seu mbito de incidncia tem sido ampliado sem a
devida observncia do sistema recursal vigente.

Neste sentido, julgamos que o problema consiste em saber se o


excessivo uso de habeas corpus em substituio ao recurso cabvel pode prejudicar
a lgica do sistema recursal vigente.

Assim, foram levantadas as seguintes hipteses:

a) Sim. O uso de habeas corpus como sucedneo do recurso cabvel


pode prejudicar a lgica do sistema recursal, quando usado fora das hipteses
legais e se inexistente ilegalidade a ser sanada pelo remdio constitucional,
consoante se depreende da anlise levantada junto jurisprudncia do Superior
Tribunal de Justia;

b) No. O habeas corpus foi criado para proteger o indivduo contra


ilegalidade, podendo-se fazer uso do mencionado remdio como meio de impugnar
deciso, mesmo aps o trnsito em julgado da sentena penal condenatria e
independente de existir recurso ordinrio cabvel.
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Diante das hipteses levantadas, a presente investigao intenta tecer


algumas consideraes para saber se o referido writ pode ser usado para impugnar
deciso transitada em julgado quando existir recurso ordinrio previsto em lei para o
caso e no houver constrangimento ilegal a ser sanado, ou se deve limitar-se aos
casos previstos em lei, tendo em vista a preservao da lgica recursal vigente.

Para uma melhor abordagem das questes que norteiam o instituto do


habeas corpus, o trabalho ser apresentado em cinco captulos.

O primeiro captulo estrutura-se a partir da conceituao do termo


garantia. A seguir, faz-se a distino entre as garantias e os direitos constitucionais
individuais. Abordam-se ainda os temas relativos inafastabilidade da jurisdio, ao
direito de ao e de defesa, ao devido processo legal e ao duplo grau de jurisdio.

O segundo captulo, por sua vez, trata do instituto do habeas corpus,


perfilhando por seu conceito e origem histrica. Expe acerca de sua evoluo
histrica no Brasil e de sua natureza jurdica; tece consideraes a respeito das
espcies e hipteses de cabimento; e, aborda especificamente a competncia do
STF, STJ, Tribunais Regionais Federais e Tribunais de Justia para o julgamento
deste writ.

O terceiro captulo dispe sobre a sentena condenatria, sua natureza


jurdica e contedo. Aborda ainda seus efeitos e faz algumas consideraes acerca
da coisa julgada, uma vez que esta confere imutabilidade sentena transitada em
julgado.

O quarto captulo, por sua vez, trata de alguns recursos cabveis na esfera
criminal, tais como: a apelao, o agravo em execuo e a reviso criminal, os dois
ltimos, admissveis somente aps o trnsito em julgado da condenao.

Por fim, ressalte-se que o quinto captulo dispe sobre a parte mais
relevante do trabalho. Nesse captulo, adentra-se no eixo temtico idealizado pelo
presente estudo para responder seguinte questo: o excessivo uso de habeas
corpus em substituio a recursos ordinrios pode prejudicar a lgica do sistema
recursal vigente?
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Pois bem, para o deslinde da matria procurou-se analisar o que a


jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal e a do Superior Tribunal de Justia tm
entendido acerca do uso do referido writ em lugar de recursos como a reviso
criminal, apelao e recurso especial. Ainda buscou-se colacionar posicionamentos
jurisprudenciais destas Cortes quanto necessidade de fixao de limite s
impetraes de habeas corpus, objetivando a manuteno da estrutura recursal
vigente.

Com o intuito de esclarecer a sistemtica de trabalho utilizada para a


investigao do objeto e alcance dos objetivos propostos, apresenta-se a seguir o
critrio adotado.

Para o desenvolvimento do trabalho, o mtodo utilizado ser o dedutivo,


com base em um estudo qualitativo de anlise da jurisprudncia do Supremo
Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justia, onde se pretende demonstrar o
entendimento que estes tribunais tm acerca do uso do habeas corpus em
substituio a recursos ordinrios e da necessidade de restrio do emprego deste
writ s hipteses legais, para que no se perca a lgica do sistema recursal vigente.

No que se refere forma de referncia s fontes pesquisadas, utiliza-se


aqui o chamado sistema autor data, onde sero feitas as citaes do sobrenome do
autor, ano da obra, e pgina citada, no corpo do texto.

A utilizao de aspas dar-se- para fazer citaes diretas, respeitando-se


rigorosamente a redao, a pontuao e a grafia originais. O simples formato em
itlico, desprovido de aspas, ser observado para palavras estrangeiras.

Por fim, a palavra recurso ordinrio utilizada para fazer meno a


recursos no sentido lato e como sinnimo de recurso cabvel, no referindo-se ao
recurso ordinrio constitucional.
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2 GARANTIAS CONSTITUCIONAIS INDIVIDUAIS

Os direitos humanos fundamentais, onde se encontram os direitos e


garantias individuais, esto previstos de forma no exaustiva no art. 5 da
Constituio Federal. Em termos gerais, pode-se dizer que os direitos constitucionais
veiculam valores, bens, prerrogativas, necessidades, condies e situaes prprias
das relaes humanas. As garantias, por sua vez, asseguram ao indivduo a
possibilidade de exigir dos Poderes Pblicos o respeito ao direito que
instrumentalizam.

Com o objetivo de estabelecer conceitos e diferenciaes claras a


respeito dos direitos e garantias individuais, neste captulo ser especificado o
significado do termo garantia e estabelecida a distino entre garantias e direitos
constitucionais. Sero abordados ainda os temas relativos inafastabilidade da
jurisdio, ao direito de ao e de defesa, ao devido processo legal e ao duplo grau
de jurisdio.

2.1 CONCEITO DE GARANTIA: DISTINO ENTRE DIREITOS E


GARANTIAS

Nas lies de Bonavides (2008, p. 525-530) encontra-se interessante


definio do termo garantia e a distino entre direitos e garantias constitucionais.

Dispe o autor que reconduzido ao seu significado autnomo e neutro ou


desvinculado de toda acepo poltica, o termo garantia se explica
etimologicamente, segundo Geleotti e Liares Quintana, pela sua derivao de
garant, do alemo gewhren-gewhr-leistung, cujo significado o de uma posio
que afirma a segurana e pe cobro incerteza e fragilidade.
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Acrescenta ainda que a garantia existe sempre em face de um interesse


que demanda proteo e de um perigo que se deve conjurar. Trasladada para a
esfera poltica e jurdica, fora de todo significado tcnico, a garantia meio de
defesa se coloca diante do direito, mas com este no se confunde.

Para Bonavides (2008, p. 530) o melhor conceito acerca da natureza e da


extenso das garantias constitucionais foi formulado por Rui Barbosa, seno
vejamos:

Verdade que tambm no se encontrar, na Constituio, parte, ou


clusula especial, que nos esclarea quanto ao alcance da locuo
garantias constitucionais. Mas a acepo bvia, desde que separemos
no texto da lei fundamental, as disposies meramente declaratrias, que
so as que imprimem existncia legal aos direitos reconhecidos, e as
disposies assecuratrias, que so as que, em defesa dos direitos, limitam
o poder. Aquelas instituem os direitos; estas, as garantias; ocorrendo no
raro juntar-se na mesma disposio constitucional, ou legal, a fixao da
garantia com a declarao do direito. Essa discriminao produz-se
naturalmente, de um modo, material, pela simples enunciao de cada
clusula [...].

Verifica-se, portanto, que as disposies assecuratrias instituem as


garantias, as quais constituem condies de proteo liberdade individual.

Em relao abrangncia da expresso garantia constitucional individual


acrescenta Silva (2012, p. 419) que esta pode ser aplicada em sentido estrito para
exprimir os meios, instrumentos, procedimentos e instituies destinados a
assegurar o respeito, a efetividade do gozo e a exigibilidade dos direitos individuais.

2.2 INAFASTABILIDADE DA JURISDIO

Leciona Mendes (2011, p. 539) que a ordem constitucional assegura, de


forma expressa, desde a Constituio de 1946 (art. 141, 4), que a lei no excluir
da apreciao do Poder Judicirio leso ou ameaa a direito (art. 5, XXXV, CF/88).

Afirma o doutrinador que neste princpio esta colocado, de forma


inequvoca, a consagrao da tutela judicial efetiva, que garante a proteo judicial
contra leso ou ameaa a direito. Acrescenta que ao lado dessa garantia geral, o
texto constitucional consagra as garantias especiais do habeas corpus, do mandado
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de segurana, do habeas data e do mandado de injuno, como instrumentos


destinados defesa da liberdade de ir e vir (habeas corpus), das liberdades pblicas
em geral em face do Poder Pblico (mandado de segurana), dos direitos de carter
positivo em face de eventual leso decorrente de omisso legislativa (mandado de
injuno) e dos direitos de autodeterminao sobre dados (habeas data).

Para Bulos (2011, p. 611) devido regra constitucional da inafastabilidade


da jurisdio, nenhuma das espcies normativas do art. 59 da Carta de 1988 pode
inviabilizar a tutela jurisdicional, preventiva ou repressiva, de direito individual,
coletivo, difuso ou individual homogneo.

Ressalta que a palavra lei, constante no art.5, inciso XXXV, deve ser
compreendida no sentido material e formal, precisamente para englobar todas as
pautas jurdicas de comportamento que, porventura, pretendam obstaculizar o
acesso Justia, e no, apenas, aquelas produzidas pelo Poder Legislativo.

O referido autor define o princpio da inafastabilidade do controle judicial


como uma liberdade pblica subjetiva, genrica, cvica, abstrata e incondicionada,
conferida s pessoas fsicas e jurdicas nacionais ou estrangeiras, sem distines ou
retaliaes de nenhuma espcie. Menciona que o objetivo do referido princpio
difundir a mensagem de que todo o homem, independente de raa, credo, condio
econmica, posio poltica ou social, tem o direito de ser ouvido por um tribunal
independente e imparcial, na defesa de seu patrimnio ou liberdade. Mas,
acrescenta que a garantia de acesso ao judicirio no pode ser exercida de modo
abusivo, nem representa certeza de que a sua mera invocao o bastante para
satisfazer o interesse das partes.

2.3 DIREITO DE AO E DE DEFESA

Silva (2012, p. 431) menciona que o art. 5, inciso XXXV, da Constituio


Federal, consagra o direito de invocar a atividade jurisdicional como direito pblico
subjetivo. Afirma que no se assegura a apenas o direito de agir, o direito de ao,
mas tambm o direito de defesa, pois invocar a jurisdio para a tutela de direito
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tambm direito daquele contra quem se age, contra quem se prope a ao. Declara
o autor que dessa forma garante-se a plenitude de defesa, princpio incisivamente
assegurado no inciso LV do mesmo artigo. Tal inciso dispe que aos litigantes, em
processo judicial e administrativo, e aos acusados em geral so assegurados o
contraditrio e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.

Para Bulos (2011, p. 677) dois so os elementos da noo universal de


contraditrio: bilateralidade e possibilidade de reao. O autor dispe que o referido
princpio tem como objetivo garantir aos litigantes o direito de ao e o direito de
defesa, respeitando-se a igualdade das partes, pois visa satisfazer, de um lado, a
necessidade de levar aos interessados o conhecimento da existncia do processo,
e, de outro, ensejar a possibilidade de as partes defenderem-se daquilo que lhes for
desfavorvel.

Em relao ampla defesa, ressalta o doutrinador que a mencionada


garantia fornece aos acusados em geral o amparo necessrio para que levem ao
processo civil, criminal ou administrativo os argumentos necessrios para esclarecer
a verdade, ou, se for o caso, faculta-lhes calar-se, no produzindo provas contra si
mesmos.

Mencionando a aplicao do princpio do contraditrio no direito


processual penal, Oliveira (2012, p. 43-44) dispe que a doutrina moderna caminha
a passos largos no sentido de uma nova formulao do instituto, para nele incluir,
alm da garantia de participao no processo, o princpio da par conditio ou da
paridade de armas, na busca de uma efetiva igualdade processual.

Dispe o autor que, dessa forma, o contraditrio no s passaria a


garantir o direito informao de qualquer fato ou alegao contrria ao interesse
das partes e o direito reao (contrariedade) a ambos vistos como garantia de
participao no processo, mas tambm garantiria que a oportunidade da resposta
pudesse se realizar na mesma intensidade e extenso.

Ressalta ainda que o contraditrio um dos princpios mais caros ao


processo penal, constituindo verdadeiro requisito de validade do processo, na
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medida em que a sua no observncia passvel at de nulidade absoluta, quando


em prejuzo do acusado.

Quanto ampla defesa, Oliveira (2012, p. 44) afirma que esta caracteriza-
se como a exigncia de defesa efetiva, a qual realiza-se por meio de defesa tcnica,
da autodefesa e por qualquer meio de prova hbil a demonstrar a inocncia do
acusado. Acrescenta ainda que tal princpio a garantia que a parte tem de poder
impugnar no processo penal, sobretudo a defesa toda e qualquer alegao
contrria a seu interesse, sem, todavia, maiores indagaes acerca da concreta
efetividade com que se exerce aludida impugnao.

2.4 DIREITO AO DEVIDO PROCESSO LEGAL

Tourinho Filho (2012, p. 69) ensina que a fonte original do princpio do


devido processo legal a Magna Charta Libertatum de Joo Sem Terra, promulgada
em junho de 1215, na Inglaterra. Tambm presente na Emenda V da Constituio
norte-americana, fruto de uma proposta de Madison em 1789, pela primeira vez foi
proclamado que ningum poderia ser privado da vida, liberdade ou de seus bens
sem o devido processo legal.

Moraes (2012, p. 111), demonstrando a importncia desse princpio como


direito universal, ressalta que a Declarao Universal dos Direitos do Homem, no art.
XI, n 1, traz como garantia a todo homem acusado de um ato delituoso o direito de
ter asseguradas todas as garantias necessrias sua defesa, entre as quais, do
devido processo legal.

Acrescenta o autor que inovando em relao s antigas Cartas, a


Constituio de 1988 referiu-se expressamente ao princpio em comento, ao dispor
no art. 5, inciso LIV, que ningum ser privado da liberdade e de seus bens, sem o
devido processo legal, fazendo referncia explcita privao de bens como
matria que tambm se beneficia dos princpios relativos ao direito processual penal.

Observa ainda que o devido processo legal configura dupla proteo ao


indivduo, atuando tanto no mbito material de proteo ao direito de liberdade,
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quanto no mbito formal, ao assegurar-lhe paridade total de condies com o


Estado-persecutor e plenitude de defesa (direito a defesa tcnica, publicidade do
processo, citao, de produo ampla de provas, de ser processado e julgado
pelo juiz competente, aos recursos, deciso imutvel, reviso criminal).

Ao referir-se ao tema, Medina (2012, p. 43) menciona que atualmente a


doutrina mais autorizada preocupa-se em alargar o conceito do princpio do
contraditrio, para que este no seja apenas a garantia de igualdade entre os
litigantes,mas tambm uma garantia da participao efetiva das partes no
desenvolvimento de todo o litgio, mediante a possibilidade de, em plena igualdade,
influrem em todos os elementos (factos, provas, questes de direito) que se
encontrem em ligao com o objeto da causa[...].

2.5 DUPLO GRAU DE JURISDIO

Bonfim (2012, p. 99) dispe que o duplo grau de jurisdio o princpio


segundo o qual as decises podem ser revistas por rgos jurisdicionais de grau
superior, por meio da interposio de recursos. Tal princpio abrange tanto a reviso
de questes de fato quanto de direito, alcanando as sentenas e as decises
interlocutrias.

Observa o autor que, apesar de parte da doutrina sustentar que a


Constituio Federal consagrou o princpio do duplo grau de jurisdio ao organizar
o Poder Judicirio em instncias, este no possui previso constitucional expressa.

Sobre o tema, Moraes (2012, p. 87) ressalta que a Constituio da


Repblica de 1988 estabeleceu como regra, a importncia de os julgamentos
ocorrerem ordinariamente, em duas instncias. A primeira, monocrtica e a segunda,
colegiada. Esse tradicional sistema judicirio brasileiro prev a existncia de juzos e
tribunais estaduais, federais, trabalhistas, eleitorais e militares como garantia de
segurana jurdica e diminuio da possibilidade de erros judicirios.

Para o doutrinador, esse importante princpio teria sido indicado pelo texto
constitucional, sem, contudo, ser taxativamente obrigatrio, pois a Constituio
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Federal prev a existncia de juzes e tribunais, bem como menciona a existncia de


alguns recursos, tais como: o recurso ordinrio constitucional, especial e
extraordinrio, mas no determina a obrigatoriedade do duplo grau de jurisdio.
Dessa forma, segundo o autor, pode-se concluir que h competncias originrias em
que no haver o chamado duplo grau de jurisdio, como por exemplo, nas aes
de competncia originria dos Tribunais.

A respeito do duplo grau como garantia constitucional, Grinover; Gomes


Filho; Fernandes (2001, p. 23-24) mencionam que, embora implicitamente
assegurada pela Constituio Brasileira, a garantia do duplo grau principio
constitucional autnomo, decorrente da prpria Lei Maior, que estrutura os rgos
da chamada jurisdio superior. Acrescentam ainda que mesmo sob outro enfoque,
que negue tal postura, a garantia pode ser extrada do princpio constitucional da
igualdade, pelo qual todos os litigantes, em paridade de condies, devem poder
usufruir ao menos de um recurso para a reviso das decises.

Para os autores, um terceiro argumento, que demonstra a posio desse


princpio como uma garantia constitucional, seria aquele relativo ao princpio do
duplo grau como forma de controle da legalidade e da justia das decises dos
rgos do Poder Pblico, que impe a reviso das decises judicirias, uma vez que
em um Estado de direito nenhum ato estatal pode escapar de controle.

Quanto abrangncia desse princpio, os autores supracitados afirmam


que a garantia do duplo grau no cobre apenas a sentena final, que encerra o
processo, mas alcana as decises interlocutrias de mrito, desde que no
acobertadas pela precluso, as quais devero ser revistas por ocasio da apelao,
como preliminar desta, cumprindo-se nessa oportunidade a garantia do duplo grau.

Verifica-se, portanto, que apesar de no estar expressamente previsto na


Constituio Federal, tal princpio encontra-se presente no ordenamento jurdico
brasileiro, tanto pela forma de organizao da estrutura judiciria disposta na Carta
da Repblica quanto pela adoo do princpio da igualdade que garante paridade de
condies aos litigantes, e ainda como forma de controle da legalidade das decises
dos rgos do Poder Pblico.
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3 HABEAS CORPUS

A Constituio Federal dispe no captulo relativo aos direitos e deveres


individuais e coletivos, no art. 5, inciso LXVIII, que: conceder-se- habeas corpus
sempre que algum sofrer ou se achar ameaado de sofrer violncia ou coao em
sua liberdade de locomoo, por ilegalidade ou abuso de poder.

O instituto do habeas corpus conceituado como uma garantia individual,


um remdio constitucional, destinado a tutelar a liberdade de locomoo do
indivduo, o direito de ir, vir e ficar.

Nesse sentido, Marques (1965 apud MOSSIN, 2008, p. 57) menciona que:

Incluindo a Constituio, ao direito de ir e vir, entre um dos direitos


concernentes liberdade, que deve ser tutelado e assegurado, viol-lo ou
p-lo em perigo, por ilegalidade ou abuso de poder, ser atentar contra a
prpria Constituio. Da o habeas corpus como instrumento ou meio
destinado a prevenir a irregularidade constitucional, ou a restaurar a
situao que se apresenta como lesiva do ius libertatis constitucionalmente
proclamado.

Portanto, sempre que ocorrer coao ou perigo de coao liberdade de


locomoo do indivduo, por ilegalidade ou abuso de poder, o instrumento apto a
remover a restrio imputada ser o habeas corpus, uma vez que este o meio
eficaz de proteo da liberdade individual de locomoo.

A respeito da origem do instituto, fontes doutrinrias mencionam que sua


origem remonta Magna Charta Libertatum, por meio da qual os bares ingleses
impuseram ao rei Joo Sem Terra a referida carta, cujos princpios do writ of habeas
corpus se catalogram em seu captulo XXIX.

3.1 EVOLUO HISTRICA NO BRASIL

Antes de abordar o tema relativo evoluo histrica do habeas corpus


no Brasil, faz-se mister tratar um pouco a respeito da origem do instituto no direito
ingls.
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De acordo com Siqueira Jr. (2011, p. 343) a mais longnqua notcia que se
tem com referncia ao habeas corpus uma garantia semelhante no direito romano,
o interdictum de homine libero exhibendo, ou hominis libero exibiendo, ou ainda
interdictum de liberis exhibindis.

O interdito era a ordem que o pretor dava para apresentar o cidado livre
de qualquer constrangimento, com o intuito de verificar a legalidade da priso. Da
mesma forma que o habeas corpus o interdito do direito romano garantia o direito de
locomoo.

Mossin (2008, p. 4-5) transcreve interessante trecho assentado por Jos


Frederico Marques e por Hlio Tornaghi, no qual conta-se a respeito da origem do
instituto do habeas corpus na Inglaterra. Com o objetivo de abordar pontos
importantes acerca da origem do instituto em comento, nos pargrafos abaixo
realizou-se uma sntese acerca da histria do habeas corpus, tomando-se como
base o texto do autor supracitado.

O habeas corpus tem sua origem marcada na Inglaterra. A Magna Charta,


imposta pelos bares ingleses, em 15 de junho de 1215, ao rei Joo Sem Terra, foi
um ato solene que visou assegurar a liberdade individual dos bares ingleses, bem
como impedir a medida cautelar de priso sem o prvio controle jurisdicional. O
referido direito liberdade efetivava-se por meio da expedio de mandados (writs)
de apresentao, para que o homem (corpus) e o caso fossem trazidos ao tribunal,
deliberando este sumariamente sobre se a priso devia ou no ser mantida. Essa
apresentao podia ter vrios fins e, da, os diversos tipos de habeas corpus (ad
deliberandum et recipiendum; ad faciendum; ad testificandum). A expresso habeas
corpus, sem mais nada, designava o habeas corpus subjaciendum, que significa
ordem ao carcereiro ou detentor de uma pessoa de apresent-la, e de indicar o dia e
a causa da priso, a fim de que ela faa (ad faciendum), de que se submeta (ad
subjaciendum) e receba (ad recipiendum) o que for julgado correto pelo juiz
(MOSSIN, 2008, p. 4-5).

No h dvidas de que a Carta de 1215 foi um grande marco para o


homem e, via de conseqncia, para toda a sociedade inglesa, uma vez que, por
meio dela, o direito liberdade fsica do indivduo foi positivado, tornando-se uma
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realidade. Todavia, os preceitos atinentes liberdade de locomoo do indivduo


no foram observados de imediato. No correr dos sculos, o direito liberdade
individual, garantido pela Magna Carta, foi a cada momento tornando-se mais
apagado, at que, em 1628, no reinado de Carlos I, o Parlamento ingls convocou
uma assemblia, onde foi redigida a Petition of Rigths (petio de direitos), a qual
proclamou o princpio contido na Magna Carta de 1215 e culminou com o
restabelecimento irrecusvel do remdio do habeas corpus, o qual havia perdido sua
eficcia, devido aos infindveis desrespeitos e violaes de direitos perpetrados pela
coroa inglesa (MOSSIN, 2008, p. 4-5).

Contudo, apenas a Petition of Rigths no foi suficiente para garantir a


observncia desse direito, precisava-se de uma regulamentao legislativa de seu
processo. Veio ento o Habeas Corpus Act de 1679, destinado a disciplinar,
processualmente, atravs de atos legais, a proteo ao direito de liberdade. Este ato
era dirigido apenas s pessoas privadas de liberdade por serem acusadas de crime,
de sorte que no tinham direito de pedir habeas corpus as detidas por outras
acusaes ou pretextos. Sobreveio, ento, o Habeas Corpus Act de 1816 para suprir
as falhas do Habeas Corpus Act anterior. Tal ato concedia a pessoa presa ou detida
por outros motivos diversos da acusao criminal a possibilidade de apressar a
deciso, e uma vez reconhecida a ilegalidade do constrangimento do impetrante, lhe
era restituda a liberdade (MOSSIN, 2008, p. 4-5).

Siqueira Jr. (2011, p. 346) comenta que no Brasil o habeas corpus foi
previsto no Cdigo de Processo Criminal de 1832, o qual dispunha no art. 340 que:
Todo cidado que entender, que elle ou outrem soffre uma priso ou
constrangimento illegal, em sua liberdade, tem direito de pedir uma ordem de
Habeas Corpus em seu favor. Segundo o autor, o citado writ teria cabimento
quando a pessoa j estivesse presa, ou seja, quando j estivesse concretizada a
violncia ou a coao ao direito de locomoo, configurando a modalidade de
habeas corpus liberatrio.

Contudo, conforme ressalta Busana (2009, p. 21) o Decreto de 23 de


maio de 1821 do Imprio j trazia importante diploma a respeito das liberdades
individuais, dispondo in verbis:
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Por este Decreto ordeno, que desde a sua data em diante nenhuma pessoa
livre no Brasil possa jamais ser presa sem ordem por escrito do Juiz, ou
Magistrado Criminal do territrio, exceto somente o caso de flagrante delito,
em que qualquer do Povo deve prender o deliquente. Ordeno em segundo
lugar, que nenhum Juiz ou Magistrado Criminal possa expedir ordem de
priso sem proceder culpa formada por inquirio sumria de trs
testemunhas, duas das quais jurem contestes assim o fato, que em Lei
expressa seja declarado culposo, como a designao individual do culpado;
escrevendo sempre a sentena interlocutria que o obrigue priso e
livramento, a qual se guardar em segredo at que possa verificar-se a
priso do que assim tiver sido pronunciado delinqente [...].

Verifica-se que, desde a poca do Imprio, eram assegurados ao preso


direitos bsicos como: conhecer o motivo de sua priso, os nomes de seus
acusadores e das testemunhas de defesa e acusao, se houvesse, e tudo isso,
como forma de garantir a proteo das liberdades individuais ora reconhecidas.

Com referncia s legislaes do Imprio, Mossin (2008, p. 20) menciona


que as ordenaes Afonsinas, Manuelinas e Filipinas, embora posteriores ao ano de
1215, no trataram do instituto do habeas corpus. Nas ordenaes Filipinas existiam
as cartas de seguro, que precariamente tinham as funes do citado writ. Afirma o
autor que o momento legislativo que provocou o aparecimento do habeas corpus no
Brasil foi o Decreto de 23 de maio de 1821, citado acima, por meio do qual foi dado
o primeiro passo no sentido da tutela da liberdade individual.

O autor ressalta que a Constituio do Imprio, datada de 1824, embora


criada dentro de um esprito liberal, no fez meno ao habeas corpus, no obstante
podia t-lo feito em face de seu contedo inspirado na garantia das liberdades
individuais. Nessa poca, como meio de recuperar a liberdade fsica utilizava-se o
interdictum de liberis exhibendis ou interdito proibitrio e as cartas de seguro. Estas
ltimas permitiam a certos rus livrarem-se da priso, para que soltos pudessem se
defender, ou recorrer, dentro do tempo por elas concedido.

Todavia, afirma Siqueira Jr. (2011, p. 347) que apesar de a Constituio


Imperial no tratar de forma expressa do instituto do habeas corpus, o citado writ j
se configurava como um instituto de direito processual constitucional na medida em
que era remdio violao do rol de direitos previstos no art. 179, incisos VIII, IX e X
da Constituio de 1824.
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Menciona o autor que posterior ao Cdigo de Processo Criminal de 1832,


o qual previu expressamente o instituto do habeas corpus em seu art. 340, adveio a
Lei n 2.033, de 1871, a qual estabeleceu que: Tem lugar o pedido e concesso da
ordem de habeas corpus ainda quando o impetrante no tenha chegado a soffrer o
constrangimento corporal, mas se veja delle ameaado.

De acordo com Siqueira Jr. (2011, p. 347), o referido preceito legal


modificou o Cdigo Criminal do Imprio criando o habeas corpus preventivo, cabvel
quando o indivduo estivesse na iminncia de sofrer violncia ou constrangimento ao
seu direito de liberdade.

Mossin (2008, p. 26) ressalta que aps o Cdigo Criminal do Imprio a


legislao sobre o habeas corpus sofreu ligeiras modificaes pela Lei n. 261, de 3
de dezembro de 1841, e pelo Regulamento n. 120, de 31 de janeiro de 1842, no
qual foi previsto o recurso de ofcio quando a ordem fosse concedida.

Siqueira Jr. (2011, p. 347) afirma que foi com o advento da Constituio
de 1891 que o instituto do habeas corpus passou pela primeira vez a integrar o texto
constitucional. As Constituies seguintes, de 1934, de 1946 e de 1967 trataram de
forma expressa do instituto, bem como a Emenda Constitucional de 1969.

Ainda quanto histria brasileira do writ em estudo, Ferreira Filho (2009,


p. 319) acrescenta que muitos juristas, tais como Rui Barbosa, pretenderam ampliar
o campo de aplicao do habeas corpus, atribuindo-lhe o poder de restabelecer
qualquer direito que tivesse como pressuposto a liberdade de locomoo, ou seja,
serviria para garantir a liberdade fsica e para garantir a liberdade de movimentos
necessria ao exerccio de qualquer direito, desde que certo e incontestvel.

O referido autor aduz que essa orientao foi seguida pelo Supremo
Tribunal Federal, o qual por volta de 1909 firmou jurisprudncia no sentido de que
deveria conceder-se habeas corpus para o restabelecimento de qualquer direito que
tivesse como pressuposto a liberdade de locomoo. Tal entendimento s foi
alterado, restringindo-se o uso do habeas corpus, com a criao em 1934 do
mandado de segurana.
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Atualmente, o referido instituto est previsto no art. 5, LXVIII, da


Constituio Federal de 1988, e nos artigos 647 a 667 do Cdigo de Processo
Penal.

3.2 NATUREZA JURDICA

Controversa a natureza jurdica do habeas corpus, para uns trata-se de


um recurso, para outros de uma ao. H ainda aqueles que preferem qualific-lo
como remdio constitucional para livrar-se da discusso a respeito da natureza do
referido instituto, e outros, como ao popular constitucional.

Para demonstrar as diferentes naturezas que podem ser encontradas no


writ em estudo cita-se trecho, no qual Pontes de Miranda (1967 apud PETRY, 2001,
p. 42) ensina acerca da importncia do instituto e de sua natureza controversa, in
verbis:

Direito, pretenso, ao e remdio jurdico constitucionais, garantia


constitucional, a est o que se tornou o habeas corpus; a sua importncia
to grande, to essencial ao direito absoluto, que ele acode, e to elevado o
critrio de irrecusabilidade, com que a sabedoria de uma nao prtica e
liberal o fortaleceu, atravs de lutas histricas, que , de quantos remdios
processuais se tornaram confundveis com os direitos, o mais caracterstico
e louvvel.

Lima, F. (2002, p. 226) dispe que apesar de regulado como recurso no


Cdigo de Processo Penal, o habeas corpus uma verdadeira ao constitucional,
que pode ser impetrada em diferentes oportunidades, desde que visando proteger o
direito de liberdade de locomoo (ir, vir e ficar jus manendi, veniendi, eundi ultro
citroque).

J Medina (2005, p. 206) confere ao habeas corpus a natureza de ao


popular, devido legitimao ativa ser de qualquer pessoa do povo.

Para Arajo e Nunes Jnior (2010, p. 225) o habeas corpus tem natureza
de ao constitucional, caracterizando-se como um meio de acesso especial ao
Poder Judicirio, que visa garantir a celeridade necessria defesa contra formas
ilegais de constrangimento do direito de locomoo.
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Para finalizar quanto s definies da natureza jurdica do writ em estudo,


cumpre destacar a diferenciao feita por Siqueira Jr. (2011, p. 354) entre ao e
recurso, a qual justifica o motivo porque o habeas corpus deve ser entendido
indubitavelmente como uma ao constitucional.

Com o objetivo de apresentar os argumentos do autor de forma


sistematizada, realizou-se abaixo um esquema, que apresenta as diferenas entre
ao e recurso, bem como a classificao do habeas corpus como ao
constitucional, com base no que dispe Siqueira Jr. (2011, p. 354).

a) O recurso s cabe dentro do processo ao passo que o habeas


corpus cabvel no s dentro, mas fora do processo ou at
mesmo antes dele;

b) O recurso o meio pelo qual se impugna uma deciso. O habeas


corpus pode impugnar qualquer violao liberdade de
locomoo, por exemplo, ato administrativo;

c) O recurso supe uma deciso no transitada em julgado, ao passo


que o habeas corpus tem o condo de rescindir deciso que j
transitou em julgado. Se interposto fora do prazo o recurso no
julgado por falta de um dos pressupostos de admissibilidade
(tempestividade);

d) Da tempestividade recursal surge outro argumento. Os recursos


dependem sempre de prazo para sua interposio, ao passo que o
habeas corpus no est condicionado a nenhum prazo para sua
impetrao. Pois, se a lei fosse condicionar a impetrao da ordem
a prazo, estaria limitando o prprio direito liberdade.

Do exposto, verifica-se que apesar de aparentemente o habeas corpus


apresentar uma roupagem de recurso, ele , na verdade, uma ao mandamental,
meio de tutela do direito liberdade de locomoo.
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3.3 ESPCIES

Conforme ressalta Cunha Jnior (2011, p. 804) a partir da leitura do


prprio art. 5, inciso LXVIII, da Constituio Federal, pode-se perceber tanto a
natureza preventiva, quanto repressiva do habeas corpus.

Dispe o referido autor que o habeas corpus pode ser de dois tipos:
preventivo ou repressivo, tambm chamado de liberatrio.

O habeas corpus preventivo tem cabimento quando h ameaa ou


iminncia de uma coao, de uma violncia contra o direito de locomoo do
indivduo. Esse o caso previsto pelo Cdigo de Processo Penal, no art. 660, 4,
denominado de salvo - conduto.

O habeas corpus repressivo tem cabimento quando a violncia, o


constrangimento ou a coao j se concretizou. Neste caso, o objetivo da ao ser
corrigir ou desfazer a leso consumada.

Acerca do habeas corpus preventivo Nicolitt (2009, p. 542) menciona que


embora o CPP destaque como requisito para a concesso desta espcie de habeas
corpus a iminncia de violncia ou coao (art. 647 do CPP) sua amplitude
constitucional o erige a remdio eficaz para prevenir a possibilidade de priso,
mesmo que esta s seja possvel em longo prazo. Ressalta o autor que o referido
writ um verdadeiro mecanismo de controle da legalidade de todas as fases da
persecuo penal, tambm utilizado para obstar o andamento da ao penal, ou
mesmo do inqurito policial.

3.4 HIPTESES DE CABIMENTO

Antes de tratar acerca das hipteses de cabimento do habeas corpus


cumpre destacar alguns pontos relativos ao interesse de agir e adequao do
pedido na ao de habeas corpus, bem como quanto legitimidade ativa e ao objeto
da impetrao.
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Sobre o interesse de agir Grinover; Gomes Filho e Fernandes (2011,


p.277) ressaltam que o pedido de habeas corpus ser necessrio toda vez que
houver uma priso atual ou simples ameaa, mesmo que remota, de restrio do
direito de liberdade fsica de algum. Dessa forma, se pelo teor da impetrao, ou
das informaes prestadas pela autoridade coatora, ficar evidenciado que a coao
no existe, j cessou, ou no pode sequer vir a ocorrer, faltar o interesse de agir.

Os autores ressaltam que alm de necessria, a tutela invocada deve ser


adequada, ou seja, deve haver uma relao entre a situao de ilegalidade que se
pretende remover e o remdio utilizado.

Dessa forma, o habeas corpus deve ser negado por falta de adequao
quando for impetrado com o objetivo de remediar situaes de ilegalidade contra
outros direitos, mesmo aqueles que tm na liberdade de locomoo condio de seu
exerccio. Nesse sentido Grinover; Gomes Filho e Fernandes (2011, p.277):

Assim, deve ser negado o interesse de agir, por falta da adequao, sempre
que se pedir o habeas corpus para remediar situaes de ilegalidade contra
outros direitos, mesmo aqueles que tm na liberdade de locomoo
condio de seu exerccio, como, v.g., o direito de freqentar templo
religioso, de ingressar em determinados locais etc. Para tais, hipteses,
adequado, em tese, o mandado de segurana, previsto na Constituio
justamente para a proteo de direito lquido e certo, no amparado por
habeas corpus ou habeas data (art. 5, LXIX).

Quanto legitimidade ativa Pontes de Miranda (2007, p. 134-135)


menciona que a ordem pode ser solicitada tanto pela pessoa fsica, que sofre o
constrangimento, quanto por outrem em nome dela.

O referido autor ressalta que no podem fazer uso do habeas corpus as


pessoas jurdicas, uma vez que estas no podem sofrer restries diretas em sua
liberdade, que inerente, por definio, existncia fsica. Para o autor, somente os
agentes, oficiais ou empregados, da empresa ou corporao podem utilizar a via do
habeas corpus para proteger o direito liberdade de locomoo.

Conforme dispe Correia (2012, p. 100) a questo concernente


impetrao de habeas corpus por pessoas jurdicas em favor delas mesmas no se
encontra pacificada na jurisprudncia. O autor entende que o impetrante pode ser
tanto pessoa fsica quanto jurdica.
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Corroborando tal entendimento Grinover; Gomes Filho e Fernandes


(2011, p. 280) afirmam que qualquer pessoa pode ser impetrante da ordem de
habeas corpus, no sendo exigvel qualquer outro requisito especial: tanto a pessoa
fsica, nacional ou estrangeira, ainda que sem a plena capacidade civil, quanto a
jurdica, ainda que no regularmente constituda ou domiciliada no Pas, podem
postular a proteo da liberdade perante o Poder Judicirio.

A Constituio Federal delimitou o mbito de atuao do habeas corpus


ao estabelecer, no art. 5, inciso LXVIII, que: conceder-se- "habeas-corpus"
sempre que algum sofrer ou se achar ameaado de sofrer violncia ou coao em
sua liberdade de locomoo, por ilegalidade ou abuso de poder.

No mesmo sentido, o Cdigo de Processo Penal estabeleceu o mbito de


incidncia do referido writ ao dispor, no art. 647, que: Dar-se- habeas corpus
sempre que algum sofrer ou se achar na iminncia de sofrer violncia ou coao
ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punio disciplinar.

Quanto ao objeto do habeas corpus Siqueira Jr. (2011, p. 358) dispe que
da conjugao do texto constitucional e infraconstitucional conclui-se, claramente,
que o objeto imediato do pedido de habeas corpus a tutela jurisdicional da
liberdade de locomoo, liberdade de ir e vir. O objeto mediato, por sua vez, a
liberdade corprea, o direito de locomoo que foi posto em perigo ou lesado por
coao ilegal ou abuso de poder.

O art. 648 do CPP trata a respeito das espcies de coao ilegal que do
ensejo ao habeas corpus, tais hipteses permitem o uso do mencionado writ para
fazer cessar a coao ou sua ameaa, e restabelecer a liberdade de locomoo ao
paciente.

Acerca das espcies de coao ilegal, Siqueira Jr (2011, p.361) ressalta


que o texto legal traz apenas exemplos ou hipteses de coao ilegal, no entanto, o
rol do referido art. 648 no taxativo, pois qualquer ameaa liberdade de
locomoo gera a possibilidade de impetrao de habeas corpus.

A primeira das hipteses trata da coao por falta de justa causa (art. 648,
inciso I, do CPP), a qual impe a demonstrao da ausncia de fundamento legal
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para a coao. Acerca de tal espcie menciona Mossin (2008, p. 98) que se deve
entender como justa a causa legtima, aquela que possui um motivo ou razo de
existir. Assim, haver justa causa quando o motivo ou a razo que determinou a
coao tiver amparo legal. Logo, se a razo do constrangimento legtima, este no
ser ilegal. Ao contrrio, o cerceamento ou ameaa ao direito de locomoo ser
ilegal ou contra legem quando no encontrar justificativa ou fundamento na ordem
jurdica.

Lima, F.(2002, p. 231) dispe que a expresso justa causa significa o


motivo ou razo que convm ou que de direito, portanto, necessrio que o que
se alega ou se avoca, para mostrar a justa causa, seja realmente amparado na lei,
no Direito, ou, seja baseado na razo ou na equidade.

Com referncia ilegalidade da coao por excesso de tempo de priso


(art. 648, inciso II, do CPP), Mossin (2008, p. 116) ressalta que esta priso a que se
refere o citado artigo a priso cautelar, advinda de flagrante ou preventiva, bem
como a priso temporria, de natureza precipuamente investigatria.

O referido doutrinador ressalta que no h consenso na doutrina quanto


ao tempo razovel de durao da priso cautelar, cabendo anotar que parte da
jurisprudncia entende que o prazo de 81 dias, fixado para o encerramento do
procedimento ordinrio, seria razovel para o encerramento da instruo criminal.
Levando em conta tal entendimento, aps esse perodo, verificar-se- o
constrangimento ilegal por excesso de prazo, dando azo impetrao do
mandamus.

Para Capez (2011, p. 817) a hiptese tambm cuida de excesso de prazo


na priso provisria. Menciona o autor que na antiga sistemtica do Cdigo de
Processo Penal, o processo de ru preso, devia estar encerrado dentro do prazo de
oitenta e um dias, uma vez que, eram dez dias para a concluso do inqurito (art.
10), cinco para a denncia (art. 46), trs para a defesa prvia (art. 395), vinte para a
inquirio de testemunhas (art. 401), dois para diligncias do art. 499, seis para
alegaes finais (art. 500), cinco para diligncias ex officio (art. 502) e vinte para a
sentena. Contudo, dispe o doutrinador que a nova reforma processual penal, ao
concentrar os atos da instruo numa nica audincia (procedimento ordinrio,
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sumrio e 1 fase do jri), visou, em especial, concretizar o princpio constitucional


da celeridade processual, impedindo, por conseqncia, que os rus fiquem sujeitos
ao constrangimento ilegal da priso por excesso de prazo. Agora, no procedimento
ordinrio, a audincia de instruo e julgamento dever ser realizada no prazo
mximo de sessenta dias (art. 400, do CPP), aps o oferecimento da defesa inicial
(art. 396 e 396-A, do CPP).

Ainda sobre a hiptese em estudo, Machado et al. (2011, p.177)


mencionam que o dispositivo em comento trata dos casos de priso provisria, a
qual abrange: priso em flagrante, priso preventiva e priso temporria. Ressaltam
que nenhuma delas pode durar mais tempo do que determina a lei. Dessa forma,
para fixar limite ao tempo de priso cautelar o legislador estabeleceu prazos para a
realizao dos atos processuais quando o acusado estiver preso. Assim, para os
autores, ultrapassado o lapso temporal assinado sem a realizao do ato, passa a
ser considerada ilegal a coao, impondo-se a soltura do preso.

Com referncia ilegalidade da coao quando quem a ordenar no tiver


competncia para faz-lo (art. 648, inciso III, do CPP), menciona Capez (2011, p.
818) que somente a autoridade judiciria dotada de competncia material e territorial
pode determinar a priso, salvo caso de priso em flagrante.

Acerca da hiptese em comento Busana (2009, p.118) dispe que em se


tratando de autoridade judiciria a ilegalidade do constrangimento tanto existir no
caso de incompetncia material, como no de incompetncia funcional, na de foro
como na de juzo, pois o ato coativo pressupe sempre uma deciso, e esta nunca
se convalida se provier de juiz incompetente.

Em relao ilegalidade da priso quando houver cessado o motivo que


autorizou a coao (art. 648, inciso IV, do CPP) Machado et al. (2011, p.177)
mencionam que o referido dispositivo pressupe prvia priso legal, a qual torna-se
ilegal quando desaparecida a razo que autorizava sua existncia.

Mossin (2008, p.137) dispe que superada a causa determinante da


coao legal, o indiciado, acusado ou condenado, deve ser colocado imediatamente
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em liberdade, pois, do contrrio, a coao torna-se ilegal, por no mais existir razo
para a priso ser mantida.

Com referncia ilegalidade pela no admisso da fiana, nos casos em


que a lei a autoriza (art. 648, inciso V, do CPP), Busana (2009, p. 121) ressalta que
embora o referido inciso faa aluso somente fiana, todas as hipteses de
negativa ou retardamento ilegal de liberdade provisria esto nele compreendidas, e
podem ser combatidas por meio de habeas corpus.

Capez (2011, p. 818) dispe que o fundamento constitucional do pedido


de fiana est no art. 5, inciso LXVI, da Constituio Federal, e as hipteses
previstas no Cdigo de Processo Penal se encontram nos artigos 323, 324 e 335 do
CPP.

Acerca do cabimento de habeas corpus quando o processo for


manifestamente nulo (art. 648, inciso VI, do CPP) Mossin (2008, p. 149) dispe que,
embora no caso concreto, muitas circunstncias de ordem processual possam
ensejar o processo manifestante nulo, basicamente tal nulidade ocorrer quando
ausente algum pressuposto de existncia da relao processual ou alguma condio
de procedibilidade.

Sobre o tema Machado et al. (2011, p.180) mencionam que a obteno


do provimento jurisdicional vlido, seja para acolher ou no o pleito acusatrio,
depende, em primeiro lugar, da regularidade do processo penal no qual se discute a
causa. Dessa forma, o processo viciado, inapto a conduzir a uma soluo amparada
pelo direito, gera, de per si, constrangimento ilegal para o ru, o qual deve ser
sanado pela via do habeas corpus.

Com referncia ao cabimento de habeas corpus quando extinta a


punibilidade (art. 648, inciso VII, do CPP) o Cdigo de Processo Penal disps no art.
61 que: em qualquer fase do processo, o juiz, se reconhecer extinta a punibilidade,
dever declar-lo de ofcio. Podendo faz-lo, tambm, por provocao do Ministrio
Pblico, do querelante ou do ru (art. 61, pargrafo nico, do CPP).

Busana (2009, p.123) menciona que extinta a punibilidade por uma das
causas prevista em lei (artigos, 107, incisos I a IX, 121, 5, 129, 8, 312, 3,
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primeira parte, do CP, e 34 da Lei n 8.137/90) no mais se justifica a instaurao ou


o prosseguimento da persecutio criminis, nem a execuo da pena. Ressalta o autor
que se consumada antes da propositura da ao penal ou da condenao transitada
em julgado, perde o objeto a persecuo penal, porque impossvel punir o autor do
crime (extino da pretenso punitiva), se consumada aps a condenao definitiva
tambm no mais possvel punir, porque extinto o ttulo que legitimava a execuo
(extino da pretenso executria).

Acerca da hiptese em comento, afirma Capez (2011, p. 819) que com o


advento da Lei n 11.719/08, nos procedimentos sumrio e ordinrio, o acusado, na
defesa inicial prevista nos artigos 396 e 396-A, poder suscitar matrias que visem
sua absolvio sumria, dentre elas, a existncia de causa extintiva da punibilidade
(art. 397, inciso IV, do CPP).

Para finalizar, cabe mencionar ainda a hiptese de impetrao de habeas


corpus para trancar o inqurito policial. Sobre o tema Avena (2012, p. 1269-1270)
dispe que possvel o trancamento do inqurito policial mediante a impetrao de
habeas corpus desde que a instaurao do inqurito constitua constrangimento
ilegal. Como exemplo, pode-se citar a atipicidade do fato apurado, prescrio do
crime sob investigao, instaurao sem representao do ofendido nos crimes de
ao penal pblica condicionada etc. Observa o autor que, caso o inqurito tenha
sido instaurado por determinao da autoridade policial, esta ser a coatora. Caso,
porm, a instaurao tenha ocorrido mediante requisio do juiz ou do membro do
Ministrio Pblico, contra estes dever ser dirigida a impetrao.

3.5 COMPETNCIA CONSTITUCIONAL DO STF, STJ, TRIBUNAIS


REGIONAIS FEDERAIS E TRIBUNAIS DE JUSTIA

Cunha Jnior (2011, p. 807) afirma que a competncia para o julgamento


da ao de habeas corpus ser determinada de acordo com a autoridade coatora,
ou com a qualidade da pessoa vtima da leso ou da ameaa de leso liberdade
de locomoo.
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J para Bonfim (2012, p. 931) a competncia para o julgamento da


referida ao determinada por dois critrios: pela territorialidade e pela hierarquia.
O primeiro refere-se ao local onde ocorreu ou ir ocorrer a coao. Segundo o autor,
tal requisito funcional, sobretudo nas situaes que demandam a impetrao de
habeas corpus perante o juzo monocrtico ou perante os tribunais de segundo grau.
Por exemplo, se a autoridade coatora o juiz estabelecido em alguma comarca do
Estado de So Paulo, ser competente para apreciar eventual pedido de habeas
corpus o Tribunal de Justia da respectiva comarca.

O segundo critrio, da hierarquia, consubstancia-se na regra estabelecida


no art. 650, 1, do CPP, o qual dispe que: A competncia do juiz cessar sempre
que a violncia ou coao provier de autoridade judiciria de igual ou superior
jurisdio. Logo, a ao de habeas corpus deve sempre ser impetrada perante a
autoridade superior quela de quem partiu a coao.

Com referncia competncia originria do Supremo Tribunal Federal a


Constituio Federal estabelece no art. 102 que compete ao STF processar e julgar
originariamente o habeas corpus:

a) art. 102, I, d: quando for paciente o Presidente da Repblica, o


Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, os Ministros
de Estado, os Comandantes da Marinha, do Exrcito e da
Aeronutica, os membros dos Tribunais Superiores (STJ, STM e
TSE), os do Tribunal de Contas da Unio, e os chefes de misso
diplomtica de carter permanente;

b) art. 102, I, i: quando o coator for Tribunal Superior ou quando o


coator ou o paciente for autoridade ou funcionrio cujos atos
estejam sujeitos diretamente jurisdio do Supremo Tribunal
Federal, ou se trate de crime sujeito mesma jurisdio em uma
nica instncia.

Em relao competncia recursal, Bonfim (2012, p.932) chama ateno


para o contedo da Smula 690 do STF, a qual atribui a Suprema Corte a
competncia para o julgamento de habeas corpus contra deciso de turma recursal
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de juizados especiais criminais. Contudo, conforme ressalta o autor, em recente


julgado o Supremo afastou a incidncia da referida smula e decidiu que a
competncia para apreciar o habeas corpus impetrado contra decises das Turmas
Recursais dos Juizados Especiais Criminais ser dos Tribunais de Justia dos
respectivos estados (STF, RJSP, 55/354).

O referido autor chama ateno ainda para o que dispe a Smula 691, a
qual determina que: No compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de
habeas corpus impetrado contra deciso do relator que, em habeas corpus
requerido a tribunal superior, indefere a liminar. Ou seja, no caberia ao Supremo
conhecer de habeas corpus impetrado contra deciso de relator que indefere a
liminar requerida.

Todavia, lembra o autor que a jurisprudncia tem admitido a superao da


referida smula nos casos de flagrante ilegalidade ou teratologia da deciso
impugnada, constatando-se de plano o constrangimento ilegal que est submetido o
paciente (RSTJ, 216/589).

Por sua vez, com relao competncia originria do Superior Tribunal


de Justia a Constituio Federal estabelece no art. 105, inciso I, alnea c, que
compete ao STJ processar e julgar originariamente o habeas corpus:

a) quando o coator ou paciente for Governador de Estado ou do


Distrito Federal, Desembargador de Tribunal de Justia e Estados
ou do Distrito Federal, membro de Tribunal de Contas de Estados e
do Distrito Federal, de Tribunal Regional Federal, de Tribunal
Regional Eleitoral ou do Trabalho, membro de Conselho ou
Tribunal de Contas de Municpio e do Ministrio Pblico da Unio
que oficie perante tribunais;

b) quando o coator for tribunal sujeito sua jurisdio, Ministro do


Estado ou Comandante da Marinha, do Exrcito ou da Aeronutica,
ressalvada a competncia da Justia Eleitoral.
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Quanto competncia dos Tribunais Regionais Federais o art. 108, inciso


I, alnea d, da Constituio da Repblica, dispe que a estes compete processar e
julgar originariamente o habeas corpus quando a autoridade coatora for juiz federal.

Em relao competncia dos juzes do trabalho Bonfim (2012, p.934)


acrescenta que com o advento da Emenda Constitucional n 45/2004 e a
conseqente alterao da redao do art. 114, inciso IV, da Constituio Federal, a
competncia para o julgamento de habeas corpus referente a atos que envolvam
matria afeta jurisdio trabalhista passou a ser da Justia do Trabalho. Com isso,
restou prejudicada a Smula 10 dos Tribunais Regionais Federais, que atribua ao
TRF a competncia para julgar habeas corpus quando a autoridade coatora fosse
juiz do trabalho.

Por fim, com referncia competncia dos Tribunais de Justia para


processar e julgar o habeas corpus, o art. 125, 1, da Constituio de 1988, prev
que: A competncia dos tribunais ser definida na Constituio do Estado, sendo a
lei de organizao judiciria de iniciativa do Tribunal de Justia. Portanto, a
competncia dos tribunais estaduais determinada pela Constituio estadual
respectiva.

Siqueira Jr. (2011, p.378) ressalta que compete aos Tribunais de Justia
dos Estados, conforme a Constituio respectiva e normas de organizao judiciria,
processar e julgar, originariamente, o habeas corpus quando o coator ou o paciente
for autoridade sujeita sua jurisdio e, nos processos, quando o recurso for de sua
competncia.

Carvalho (2010, p. 875) acrescenta que cabe ao Tribunal de Justia


processar e julgar originariamente habeas corpus contra ato ilegal imputado a
promotor de justia (art. 96, inciso III, da CF), bem como ao TRF este julgamento
quando se tratar de membro do Ministrio Pblico Federal que atue perante a
primeira instncia da Justia Federal.

Dispe Bonfim (2012, p.935) que nas hipteses no sujeitas


competncia dos tribunais, caber aos juzes de primeiro grau da comarca onde
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ocorrer a coao ou ameaa liberdade de locomoo o julgamento das aes de


habeas corpus.

Quanto ao juiz federal de acordo com o disposto no art. 109, inciso VII, da
Constituio da Repblica, a este competir o processo e julgamento de habeas
corpus em matria criminal de sua competncia ou quando o constrangimento
provier de autoridade cujos atos no estejam diretamente sujeitos a outra jurisdio.

Acrescenta Carvalho (2010, p. 875) que compete ao juiz de primeiro grau


o julgamento de habeas corpus contra ato de autoridade policial ou de particular, de
acordo com os critrios de competncia territorial. Sendo a coao ou a ilegalidade
imputveis a Juiz de primeiro grau a competncia ser do Tribunal de Justia e, a
partir deste, ser do Tribunal Superior.

Com referncia competncia recursal Tourinho Filho (2012, p.970)


afirma que se a ordem for impetrada perante o juiz de primeira instncia e houver
denegao, o interessado dispor de dois caminhos: ou interpe o recurso em
sentido estrito, com fundamento no art. 581, inciso X, do CPP, ou ento, impetra
outra ordem diretamente ao Tribunal competente (Tribunal de Justia ou Tribunal
Regional Federal).

Contudo, Bonfim (2012, p.782) dispe que h corrente doutrinria que


sustenta a inaplicabilidade do recurso em sentido estrito contra deciso concessiva
ou denegatria de habeas corpus sob alegao de que, tratando-se de verdadeira
ao autnoma de impugnao de decises judiciais, a deciso que concede ou no
a ordem equivale sentena, desafiando, assim, o recurso de apelao.

Quanto competncia recursal h outras duas situaes nas quais o


recurso cabvel, nos termos do art. 102, inciso II, alnea a, e art. 105, inciso II, alnea
a, da Constituio Federal, ser o recurso ordinrio.

No primeiro caso ser cabvel recurso ordinrio para o STF das decises
denegatrias da ordem de habeas corpus decididas em nica ou ltima instncia
pelos tribunais superiores (art. 102, inciso II, alnea a, da CF).
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No segundo, ser cabvel recurso ordinrio para o STJ das decises


denegatrias da ordem de habeas corpus decididas em nica ou ltima instncia
pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados (art. 105, inciso II,
alnea a, da CF).

Vale ressaltar, a teor do que dispe o art. 574, inciso I, do CPP, que da
deciso que concede a ordem de habeas corpus cabe duplo recurso: o recurso de
ofcio, nos termos do artigo supracitado, com o objetivo de assegurar o controle de
legalidade da concesso do habeas corpus e o recurso voluntrio.

Conforme menciona Bonfim (2012, p.782) negada a ordem, no caso de


recurso voluntrio, o Superior Tribunal de Justia j decidiu ser possvel a
impetrao de novo habeas corpus contra deciso denegatria da mesma medida,
haja vista que, no obstante exista previso expressa da modalidade de recurso,
admite-se a impetrao por ser via clere visando salvaguardar o direito de
locomoo ameaado do paciente.

Nesse sentido, ressalta Tourinho Filho (2012, p. 971) que tanto o STJ
quanto o STF tem permitido a substituio do recurso ordinrio pelo habeas corpus,
e acrescenta que, s vezes, a parte, alm de interpor o recurso ordinrio, impetra
tambm o habeas corpus diretamente ao STJ ou ao STF. Nesse caso, se o writ for
deferido, o recurso fica prejudicado.

De igual modo Bonfim (2012, p. 900) dispe que no caso de recurso


ordinrio constitucional de habeas corpus ao STJ possvel substitu-lo pelo pedido
originrio de habeas corpus diretamente Corte Superior, conforme dispe o art.
105, inciso I, alnea c, da CF. O autor afirma ainda que o mesmo entendimento
passvel de ser adotado em relao deciso denegatria do recurso ordinrio
constitucional pelo STJ, ocasio em que esse tribunal passa a ser a autoridade
coatora, possibilitando o pedido originrio ao STF, de acordo com o art. 102, inciso I,
alnea i, da CF.

Para o referido autor, tais posturas viabilizam a celeridade e a economia


processual, tendo em vista a praticidade e agilidade dos remdios constitucionais em
relao aos recursos.
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4 SENTENA

A sentena o ato por meio do qual o magistrado a quo julga


definitivamente o mrito da ao penal, dispondo sobre a materialidade, a autoria, a
tipificao da conduta e a dosimetria da pena, em um juzo de valorao jurdico-
penal da conduta.

Nesse sentido, a lio de Oliveira (2012, p.635):

Por meio da sentena o Juiz Criminal julga definitivamente o mrito da


pretenso penal, resolvendo-o em todas as suas etapas possveis, a saber:
a da imputao da existncia de um fato (materialidade), a imputao da
autoria desse fato e, por fim, o juzo de adequao ou valorao jurdico-
penal da conduta.

Acrescenta o autor que nesta fase processual importa distinguir


efetivamente o contedo da deciso, que dar por apreciada, em toda a sua
extenso e profundidade, a matria relativa ao caso penal levado a juzo, para o fim
de absolver ou de condenar o acusado.

Tratando da classificao da sentena como um ato judicial, Bonfim


(2012, p. 548) traz interessante diviso dos atos praticados pelo juiz, de acordo com
seu objeto, delimitando-os em despachos e decises. Os primeiros referem-se aos
pronunciamentos do juiz com vistas movimentao do processo, tambm
chamados de despachos de mero expediente. As decises, por seu turno, dizem
respeito aos atos que tm por contedo um julgamento acerca de qualquer questo,
ou acerca do prprio mrito da causa. Os atos decisrios despachos e decises
so, propriamente, expresses do poder jurisdicional investido nas autoridades
judiciais.

O referido doutrinador ressalta que levando em considerao a finalidade


terminativa ou no terminativa do processo, as decises podem ser classificadas em
sentenas ou decises interlocutrias.

Como forma de sistematizar a classificao feita por Bonfim (2012, p. 549)


quanto ao objeto das decises, buscou-se realizar nos pargrafos a seguir uma
sntese de toda a classificao adotada pelo autor.
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Classificao quanto ao objeto das decises:

a) Decises interlocutrias: aquelas que envolvem a soluo de


alguma questo surgida no curso do processo. Podem ser de dois
tipos: interlocutrias simples, que dirimem questes relativas ao
desenvolvimento ou regularidade do processo, sem, contudo,
implicar o encerramento do feito, nem de qualquer fase do
procedimento, ou interlocutrias mistas, as quais so decises que
implicam o encerramento do processo sem o julgamento do mrito,
ou de uma fase procedimental, como o caso da deciso de
pronncia, no procedimento do Tribunal do Jri.

b) Decises definitivas ou sentenas: So aquelas por meio das quais


o juiz pe fim ao processo, julgando o mrito da causa que, no
processo penal, a pretenso punitiva do Estado, com fundamento
em um dos incisos do art. 386 do Cdigo de Processo Penal
CPP. Essas decises dividem-se em: sentenas absolutrias e
sentenas condenatrias. As primeiras subdividem-se em
absolutrias prprias ou imprprias. So sentenas absolutrias
prprias aquelas que, rejeitando a pretenso punitiva deduzida,
no impem sano ao ru. Por outro lado, sentenas absolutrias
imprprias so aquelas, que embora sem acolher a demanda da
acusao, impem ao acusado uma medida de segurana (que
no constitui condenao).

c) Existem ainda as decises definitivas em sentido estrito ou


terminativas de mrito, por meio das quais o juiz julga o mrito da
causa, sem, contudo, decidir sobre a absolvio ou condenao do
ru, como, por exemplo, a deciso que declara a extino da
punibilidade (BONFIM, 2012, p. 549).

Em razo da necessidade de anlise mais profunda acerca da sentena


condenatria, reservou-se a seguir tpico especfico para tratar do tema.
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Acerca dos requisitos formais intrnsecos da sentena Ishida (2009, p.


239-240) relata que estes so elementos essenciais para a existncia e validade
deste ato judicial. So eles: o relatrio, a fundamentao e o dispositivo.

Com base na classificao adotada pelo autor, pode-se dizer, de forma


sucinta, que o relatrio o histrico do processo com o resumo da marcha
processual e seus incidentes mais importantes, o qual aborda de forma resumida os
argumentos da acusao e da defesa (art. 381, inciso II, CPP). Dispensa-se o
relatrio no procedimento sumarssimo do Juizado Especial Criminal (art. 81, 3, da
Lei n 9.099/95). J a fundamentao a indicao dos motivos de fato e de direito
em que se funda a deciso, ainda, a aplicao pelo juiz do princpio da livre
convico, com a indicao das razes que o levaram determinada deciso (art.
381, inciso III, CPP). Por sua vez, o dispositivo a deciso de mrito, condenando
ou absolvendo o ru.

Acrescentam-se a estes, os requisitos formais extrnsecos da sentena,


quais sejam: data, assinatura e rubrica nas folhas.

4.1 SENTENA CONDENATRIA

Retomando a classificao adotada por Bonfim (2012, p. 550), sentenas


condenatrias so aquelas por meio das quais o juiz acolhe, ainda que parcialmente,
a pretenso da acusao, impondo ao ru uma sano penal.

Ao dispor sobre a sentena condenatria, Cintra; Grinover; Dinamarco


(2012, p. 338) mencionam que a sentena condenatria ao acolher a pretenso do
autor afirma a existncia do direito e sua violao, o que possibilita a aplicao da
sano correspondente inobservncia da norma reguladora do conflito de
interesses, e a partir desse momento, h possibilidade de acesso via processual
da execuo forada. Uma vez proferida sentena condenatria, passa a ser
admissvel o processo de execuo, que antes no o era.

Com referncia s diferenas do processo condenatrio no mbito civil e


penal, os autores supracitados afirmam, in verbis:
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Tanto no civil como no penal, o processo condenatrio , sem dvida, o


mais freqente; no campo no penal so condenatrios todos os processos
que visem a obter a imposio ao ru de uma prestao de dar, fazer ou
no fazer (por isso, tais processos tambm se denominam de prestao); na
esfera penal, o processo condenatrio a regra, de vez que a pretenso do
Estado configura normalmente pretenso punitiva, ou condenatria (CP,
arts. 102-107). , pois, tipicamente condenatria a sentena criminal que
impe ao ru a pena cominada pela lei em virtude do ilcito penal cometido
(CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2012, p. 550).

Verifica-se, portanto, que na esfera penal, o processo condenatrio a


regra, uma vez que o Estado busca a aplicao do direito de punir, o qual s
reconhecido quando, aps o transcurso do devido processo legal, h prolao de
uma sentena condenatria, que garante ao Estado a aplicao da lei em virtude do
ilcito penal cometido.

4.2 NATUREZA JURDICA

Para Manzano (2010. p. 541) a sentena uma declarao de vontade


emitida pelo juiz e, tambm, o resultado de uma atividade mental.

A respeito da diviso da sentena nos sistemas de tradio romano-


germnica e anglo-saxnica, o autor dispe que, no primeiro, da civil law, de tradio
romano-germnica, no se concebe que o juiz, no exerccio de sua atividade, funo
e poder jurisdicional, crie o direito aplicvel ao caso ao proferir a sentena; cabe-lhe,
segundo tal sistema, to somente a declarao da vontade da lei, e no a sua
prpria. No segundo, da common law, de tradio anglo-saxnica, a sentena o
arco que completa o crculo do direito, mediante a declarao de vontade do juiz. Ao
menos no captulo da prova a doutrina concebe que, modernamente, tem havido um
aproximao entre os dois sistemas.

O autor revela que apesar dos postulados germano-romansticos, a


prtica revela que o juiz, no exerccio de sua tarefa, no se limita a aplicar o direito
ao proferir a sentena, recorrendo, no dia a dia, ao senso de justia natural que
possui, bem como ao conhecimento da realidade que o cerca para aplicar estes
elementos juntamente com a lei ao caso concreto na busca da melhor soluo, ou
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pelo menos, da mais justa. Nesse sentido, confira-se trecho transcrito abaixo, in
verbis:

No que se refere sentena, a despeito dos postulados germano-


romansticos, fortemente assentados no Catolicismo e influenciados pelo
Iluminismo, a prtica revela que o juiz, no exerccio de sua tarefa, no se
limita a aplicar o direito ao proferir a sentena. Muito diferentemente,
recorre, no dia a dia ao seu esprito humanitrio, ao conhecimento da
realidade em que vive, ao senso de justia natural que o vocacionau para o
exerccio do cargo, experincia de outros casos, sensibilidade que o
conduz busca da melhor justia para o caso, e julga no simplesmente a
causa inserida no processo que lhe submetido, como se este fosse algo
hermtico e distanciado da realidade em que vive, mas sobretudo o
processo social, econmico e histrico, ao sopesar valores em conflito, que
envolve indivduo e sociedade, num exerccio semntico de ponderao
(MANZANO, 2010. p. 541).

Portanto, a sentena como uma declarao de vontade emitida pelo juiz


envolve no apenas a atividade de dizer o direito, ou seja, aquilo que est posto na
lei, como tambm a anlise da realidade social, cultural, econmica e histrica, pois
o magistrado pondera valores em conflito, para dali extrair a melhor soluo do caso
em questo.

Por sua vez, Tourinho Filho (2012, p.853) menciona que a sentena
formada por dois elementos bsicos: um juzo lgico, que consiste na operao
mental do Juiz, e uma declarao de vontade. O primeiro elemento resultado de
um trabalho eminentemente intelectual, onde o juiz, ante as provas, reconstri o fato
sub judice para concluir pela procedncia ou improcedncia do pedido. Em seguida,
vem o segundo elemento, a deciso propriamente dita, a parte dispositiva ou
conclusiva da sentena, em que o magistrado faz atuar a vontade da lei naquele
caso concreto.

Dessa forma, para o autor, a sentena no apenas um ato de


inteligncia, mas tambm, um ato de vontade, porquanto ela exprime a ordem
contida na lei.

Do exposto, verifica-se que a sentena possui natureza declaratria, pois


consiste numa declarao de vontade emitida pelo juiz no exerccio de um operao
mental lgica que envolve no apenas a anlise da lei, como tambm, o exame da
realidade social, cultural e econmica que o cerca, como forma de ponderar valores
em conflito e identificar a melhor soluo da situao que lhe foi submetida.
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4.3 CONTEDO

A sentena condenatria possui um duplo contedo, pois tanto declara


existente o direito de punir do Estado, emanado da violao do preceito primrio da
norma penal, quanto faz vigorar no caso concreto a fora coercitiva do Estado,
mediante a aplicao da sano adequada. Nesse sentido Lima, M. (2010, p. 438)
cita em sua obra a definio de Mirabete a respeito do contedo dplice da
sentena, a qual transcreve se in verbis:

Como qualquer sentena, deve a condenatria observar os requisitos


formais referentes exposio, motivao e concluso. Mas a sentena
condenatria tem um duplo contedo: Em primeiro lugar, declara existente o
direito de punir emanado da violao do preceito primrio da norma penal;
e, em segundo lugar, faz vigorar para o caso em concreto as foras coativas
latentes da ordem jurdica, mediante aplicao da sano adequada. Assim,
a correlao no existe apenas em relao ao fato criminoso, mas tambm
com relao s sanes que devem ser aplicadas ao ru, que no podem ir
alm do objeto da sentena condenatria. Deve ele, portanto, fundamentar
a aplicao da pena (LIMA, M., 2010, p. 438).

Dessa forma, conclui-se que na fundamentao o juiz deve cingir-se ao


que foi pedido na denncia, em obedincia ao princpio da correlao, bem como
embasar a fixao da sano de acordo com o objeto da sentena, observando o
que dispe o art. 387, do CPP, para aplicar ao caso a punio adequada.

Ishida (2009, p. 244) dispe quanto fixao da pena que esta deve ser
feita de acordo com o sistema trifsico, o qual prev que a dosimetria da pena seja
realizada em trs fases, quais sejam: fixao da pena-base, aplicao das
atenuantes e agravantes cabveis e determinao das causas de aumento e
diminuio incidentes no caso (art. 68 do CP).

Com base no procedimento de fixao da pena exposto pelo autor,


buscou-se realizar nos pargrafos a seguir uma sntese da classificao por ele
adotada quanto s fases de fixao da pena.

Ishida (2009, p. 244) dispe que primeiro existe a fixao da pena base
(arts. 59 e 60 do CP), a qual deve realizar-se de modo justificado e dentro dos limites
legais. Aps isso, h a identificao das agravantes e atenuantes aplicveis ao caso
(arts. 61 a 66 do CP). O juiz aumenta ou diminui a pena em quantidade que fica ao
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seu prudente arbtrio (art. 67 do CP). As agravantes e atenuantes recaem sobre o


resultado anterior. Por fim, ocorre a aplicao das causas de aumento e diminuio
da pena, tudo na forma do art. 68 do CP.

Aps a fixao da pena privativa de liberdade, procede-se declarao


do regime inicial de cumprimento da pena (art. 59, inciso III, do CP). Posteriormente,
realiza-se a anlise da possibilidade de substituio da pena privativa de liberdade
por restritivas de direito ou pena de multa. Na impossibilidade de substituio, o juiz
dever analisar se possvel conceder a suspenso condicional da pena.

Conforme acrescenta Lima, M. (2010, p. 439) sendo o caso de semi-


imputabilidade, deve o magistrado estabelecer a converso da pena em medida de
segurana ou tratamento ambulatorial, ou, se assim optar, efetuar a reduo da
pena, na forma prevista no pargrafo nico do art. 26 do CP.

O autor ressalta que, se for o caso, poder ser arbitrada fiana ao


condenado, para que este permanea em liberdade enquanto aguarda o julgamento
do recurso. Como ltimo elemento do processo de fixao da pena, h a
determinao de valor mnimo para reparao dos danos considerando-se os
prejuzos sofridos pela vtima (art. 387, inciso IV, do CPP), bem como a decretao
de priso preventiva ou a manuteno da priso provisria que o acusado j
cumpre, quando presente o periculum libertatis.

4.4 EFEITOS DA SENTENA CONDENATRIA E A COISA JULGADA

Feitosa (2010, p. 1034) dispe que proferida a sentena de mrito, o juiz


encerra a atividade jurisdicional sobre a imputao da infrao penal, somente
podendo modific-la para retificar erros materiais ou mediante requerimento da parte
em dois dias, diante de obscuridade, ambigidade, contradio ou omisso (art. 382
do CPP). Contudo, acrescenta o autor, que o juiz continua com funes jurisdicionais
no processo, como o juzo de admissibilidade recursal na primeira instncia, a
preparao da subida do recurso ao tribunal e a determinao de providncias para
o cumprimento da sentena se ela tiver eficcia imediata.
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Schimitt (2010, p. 359) menciona que, aps o trnsito em julgado, a


sentena de condenao do ru produz, como efeito principal, a imposio da pena
dosada e, como efeitos secundrios, conseqncias de natureza penal e extrapenal.

Acrescenta o autor que os efeitos automticos, ou genricos, da


condenao esto previstos no art. 91 do CP, com a redao dada pela Lei n
7.209/84, estes no precisam constar da sentena penal, pois decorrem de expressa
disposio legal. Por sua vez, os efeitos secundrios, ou especficos, da
condenao esto contidos no art. 92 do CP, estes devem ser devidamente
motivados, uma vez que no possuem incidncia automtica.

Por sua vez, Tourinho Filho (2012, p.862) divide os efeitos da sentena
penal em principais e secundrios ou reflexos. Para o autor o efeito principal de
natureza penal aquele previsto no art. 387, inciso III, primeira parte do CPP: a
aplicao da pena seja ela privativa de liberdade, restritiva de direitos, ou exclusiva
de multa. Como efeito civil principal h a fixao de valor mnimo para a reparao
dos danos causados pela infrao, considerando os prejuzos sofridos pelo ofendido
(alterao introduzida pela Lei n 11.719/08). Os secundrios so de duas ordens:
civil e penal. Efeitos secundrios civis, dentre outros, so: tornar certa a obrigao
de reparar o dano (art. 91, inciso I, do CP, e art. 63 do CPP), permitir ao doador
pleitear a revogao da liberalidade, nos termos do art. 557 do Cdigo Civil.

Para o autor, dentre os efeitos secundrios de natureza penal, destacam-


se: a produo da reincidncia, aps o trnsito em julgado; a impossibilidade de
concesso da suspenso condicional do processo, se o ru for reincidente em crime
doloso (art.77, inciso I, do CP); a revogao do sursis concedido (art. 81, inciso I e
1, do CP), bem como a revogao do livramento condicional (art. 86 do CP) e da
reabilitao (art. 95 do CP). Os efeitos secundrios previstos no art. 393, incisos I e
II, foram extintos pela Lei n 12.403/ 2011. Tambm so efeitos da sentena
condenatria aqueles previstos no art. 92, quais sejam: perda de cargo, funo
pblica ou mandato eletivo.

Neste captulo cabe ainda tratar de forma sucinta a respeito da coisa


julgada, sua natureza jurdica e limites objetivos e subjetivos, uma vez que esta torna
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a sentena imutvel, no podendo sofrer modificaes, em regra, seno por meio da


reviso criminal, no caso de sentena penal condenatria.

Para Carreira Alvim (2012, p. 265) a coisa julgada formal o fenmeno


que imprime imutabilidade sentena, como ato processual, em decorrncia da
precluso do prazo do recurso, impedindo as partes de discutir e o juiz de decidir de
novo as questes j decididas.

Por sua vez, o autor denomina coisa julgada material ao fenmeno que
imprime imutabilidade ao contedo da sentena. Por fora da coisa julgada formal, a
sentena torna-se imutvel como ato processual, e em conseqncia da coisa
julgada material ou substancial, ela torna-se inaltervel quanto ao contedo do ato,
pois o comando nele inserido se torna definitivo, adquirindo fora de lei entre as
partes. Conforme ressalta o autor, a coisa julgada formal pressuposto indeclinvel
da coisa julgada material.

Para Oliveira (2012, p. 659) a coisa julgada uma qualidade da deciso


judicial da qual no caiba mais recurso. Trata-se de qualidade que confere
imutabilidade sentena, de modo a impedir a reabertura de novas indagaes da
matria nela contida.

Acerca da imutabilidade que a coisa julgada confere sentena transitada


em julgado, o autor dispe que a imutabilidade decorre da necessidade de conferir
segurana jurdica deciso. Nesse sentido discorre in litteris:

Normalmente, a autoridade da coisa julgada, ou sua imutabilidade,


justificada em razo da necessidade de segurana jurdica decorrente da
soluo dos conflitos sociais resolvidos pela jurisdio estatal (OLIVEIRA,
2012, p. 659).

Quanto natureza jurdica da coisa julgada, Tourinho Filho (2012, p. 865)


afirma que apesar da variedade imensa de teorias explicativas da natureza jurdica
da coisa julgada, a mais aceita a de Liebman, para quem a coisa julgada no
constitui um efeito da sentena, mas uma qualidade, um atributo, um modo de
manifestao e produo de efeitos, algo que se acrescenta aos efeitos da sentena
para qualific-los e refor-los em um sentido bem determinado.
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Como limites objetivos na esfera penal, Tourinho Filho (2012, p. 865)


menciona o que dispe o art. 110 do Cdigo Penal, o qual prev que: a exceo de
coisa julgada somente poder ser oposta em relao ao fato principal, que tiver sido
objeto sentena. Esse fato principal aquele fato que levou o acusador a ingressar
em juzo com a ao penal.

Quanto aos limites subjetivos o referido autor menciona que desde que a
sentena transite em julgado seus efeitos adquirem a qualidade da imutabilidade
apenas entre as partes. Portanto, trata-se de efeito interpartes, pois a deciso vale
apenas entre elas.

Por fim, cumpre destacar interessante observao feita por Rangel acerca
do caso julgado na ao de habeas corpus (2012, p.264-265):

Se o habeas corpus uma ao e como tal tem seus elementos, sendo um


deles o pedido, se este j foi julgado no poder ser repetido, sob pena da
ausncia de um pressuposto processual de validez quanto ao objeto
que a originalidade (no haver litispendncia, nem caso julgado).
intuitivo. A deciso proferida na ao de habeas corpus faz caso julgado
como toda e qualquer deciso de mrito. Nesse vis, se o ru tem sua
priso preventiva decretada para garantir a instruo criminal (oitiva de
testemunhas que foram ameaadas por ele), ingressando com habeas
corpus perante o tribunal competente alegando ilegalidade na priso e tem
seu pedido julgado improcedente, no poder ingressar como novo habeas
corpus, perante o mesmo tribunal, com a mesma causa de pedir, pois
haver ofensa ao caso julgado.

Logo, verifica-se que a deciso prolatada na ao de habeas corpus faz


caso julgado como qualquer outra deciso de mrito, devendo ser observado tal fato
quando da impetrao de novo writ para no incidir em violao do caso julgado e
reconhecimento de litispendncia.

Do exposto, conclui-se que a coisa julgada, enquanto qualidade da


deciso judicial da qual no caiba mais recurso, confere imutabilidade sentena,
de modo a impedir a reabertura de questionamentos a respeito da matria decidida
tambm em relao deciso de habeas corpus.
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5 OS RECURSOS NA ESFERA CRIMINAL

De modo geral os recursos esto intimamente ligados ao tema do duplo


grau de jurisdio. Conforme Oliveira (2012, p. 854) a exigncia do duplo grau de
jurisdio, enquanto garantia individual, permite ao interessado a reviso do julgado
contrrio aos seus interesses, implicando o direito obteno de uma nova deciso
em substituio primeira.

Alves (2012, p. 495) menciona que os recursos tm sua base fincada na


prpria Constituio Federal, quando esta organiza o Poder Judicirio em duplo grau
com a atribuio primordialmente recursal dos Tribunais.

Como visto no captulo referente s Garantias Constitucionais a


Constituio Federal no disps expressamente acerca do duplo grau de jurisdio,
contudo, o mencionado princpio tem previso implcita no ordenamento jurdico
brasileiro, uma vez que o legislador constitucional organizou o Poder Judicirio em
duas instncias, a primeira, monocrtica e a segunda, colegiada.

Segundo Moraes (2012, p. 87) esse tradicional sistema judicirio brasileiro


prev a existncia de juzos e tribunais estaduais, federais, trabalhistas, eleitorais e
militares como garantia de segurana jurdica e diminuio da possibilidade de erros
judicirios.

Sobre o tema Grinover; Gomes Filho; Fernandes (2011, p. 23)


apresentam trs justificativas da aceitao do princpio do duplo grau no
ordenamento jurdico brasileiro. Os autores afirmam que embora s implicitamente
assegurada pela Constituio brasileira a garantia do duplo grau princpio
constitucional autnomo, decorrente da prpria Lei Maior, que estrutura os rgos
da chamada jurisdio superior. Em outro enfoque, que negue tal postura, a garantia
pode ser extrada do princpio constitucional da igualdade, pelo qual todos os
litigantes, em paridade de condies, devem poder usufruir ao menos de um recurso
para a reviso das decises, no sendo admissvel que ele venha previsto para
algumas decises e outras no. Uma terceira colocao retira o princpio do duplo
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grau daquele da necessria reviso dos atos estatais, como forma de controle da
legalidade e da justia das decises de todos os rgos do Poder Pblico.

Verifica-se, portanto, que o fundamento do direito ao recurso est na


prpria Constituio Federal, na possibilidade de reviso das decises judiciais por
meio do recurso cabvel.

Quanto origem da palavra recurso Alves (2010, p. 495) discorre que o


termo recurso proveniente do vocbulo latino recursus, que significa corrida para
trs, caminho para voltar, volta. Por sua vez, a palavra recursus deriva do verbo
recurro, recurris, recurri, que se traduz por voltar correndo. Da o conceito de recurso
como o remdio jurdico-processual pelo qual se provoca o reexame de uma
deciso.

Acerca do conceito de recurso Badar (2007, p. 197) dispe que recurso


o meio voluntrio de impugnao das decises judiciais, utilizado antes do trnsito
em julgado e no prprio processo em que foi proferida a deciso, visando reforma,
invalidao, esclarecimento ou integrao da deciso judicial.

Por sua vez, Tourinho Filho (2010, p. 390) menciona que a palavra
recurso, em seu sentido estrito, significa o meio jurdico-processual pelo qual se
provoca o reexame de uma deciso. Conforme o autor, de regra, esse reexame
realizado por um rgo jurisdicional superior. A parte vencida, por meio do recurso,
pede a anulao ou reforma total ou parcial da deciso.

Dentre as diversas classificaes possveis, adotou-se no presente


trabalho a diviso feita por Badar (2007, p. 197) por ser, de uma forma geral, a
classificao de recurso adotada pela maioria dos manuais de processo penal.

Acerca do tema o referido autor dispe que os recursos podem ser


divididos quanto extenso ou mbito de devolutividade em recurso total ou parcial.
Quanto fundamentao em recurso de fundamentao livre ou vinculada. E quanto
ao objeto, em recurso ordinrio ou extraordinrio.

Segundo Badar (2007, p. 197), a extenso do recurso total quando h


impugnao de toda a deciso recorrida, por exemplo, no caso de uma sentena
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condenatria, recorre-se da condenao e tambm da pena aplicada. Por sua vez, o


recurso parcial aquele que ataca apenas parte da deciso, por exemplo, o
acusado que recorre apenas para que seja reduzida a pena, no se insurgindo
contra a condenao.

Com relao ao fundamento, dispe o referido autor que os recursos


podem ser de fundamentao livre ou vinculada. Os recursos de fundamentao
livre so aqueles que admitem qualquer fundamento como razo de impugnao,
como exemplo, a apelao. J os recursos de fundamentao vinculada so aqueles
em que o legislador disciplina quais os motivos que podem ser invocados para
atacar a deciso recorrida, tais como: recurso especial e extraordinrio.

Quanto ao objeto, Badar (2007, p. 197) afirma que os recursos podem


ser divididos em ordinrios e extraordinrios. Os recursos ordinrios so aqueles
que admitem a discusso de matria de fato e de direito, por exemplo, apelao e
recurso em sentido estrito. Os recursos extraordinrios so aqueles que somente
admitem a discusso de questes de direito, como, recurso especial e
extraordinrio.

Por fim, importa ressaltar conforme Alves (2010, p. 495) que nem sempre
a interposio de um recurso pressupe a duplicidade de instncias, pois h casos
em que o pedido recursal analisado pelo prprio juiz a quo, como ocorre nos
embargos de declarao.

Alm disso, menciona o autor, que nos casos de ao penal originria, em


que o agente possui o foro especial por prerrogativa de funo, se condenado ou
absolvido pelo Tribunal, em feito de competncia originria, no h rgo judicial
para reexaminar a deciso. No caso de acrdo proferido por Tribunal de Justia ou
Tribunal Regional Federal caberia a interposio de recurso extraordinrio para o
STF ou de recurso especial para o STJ. Contudo, tais recursos no permitem o
reexame de questes de fato nem de matria probatria, mas somente avaliam se
houve ofensa Constituio Federal ou legislao infraconstitucional.

Oliveira (2012, p. 855) corrobora tal entendimento e afirma que em uma


ao penal da competncia originria dos tribunais de segunda instncia no se
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pode alegar violao ao duplo grau de jurisdio, pela inexistncia de recurso


ordinrio cabvel. Pois, o referido rgo colegiado, nessas situaes, estar atuando
diretamente sobre as questes de fato e de direito, realizando, ento, a instruo
probatria e o julgamento.

Segundo o autor, nesses casos, o que se garante o reexame da matria


por mais de um juiz, sobretudo quando a competncia para o julgamento for
atribuda, no respectivo Regimento Interno, ao Plenrio do Tribunal.

5.1 APELAO

Nos primrdios a apelao tratava-se de um recurso hierrquico que


permitia ao litigante sucumbente dirigir-se ao juiz superior visando a reforma da
deciso proferida pelo inferior. Nesse sentido, Tourinho Filho (2010 apud CAPEZ,
2011, p. 747) discorrendo acerca do instituto menciona que:

A apelao recurso de largo uso e, salvo engano, deita razes no direito


romano. A princpio, havia a provocatio ad populum, segundo a qual o
condenado pedia ao povo a anulao da sentena. Mas h quem lhe negue
o carter de apelao. Entretanto, sob o Imprio Romano, surgiu a
appellatio, remdio que permitia ao litigante sucumbente dirigir-se ao Juiz
superior visando reforma da deciso proferida pelo inferior.

Capez, (2011, p. 747) conceitua a apelao como o recurso cabvel


contra sentena definitiva ou com fora de definitiva, que deve ser interposto para a
segunda instncia, para que se proceda ao reexame da matria, com a conseqente
modificao parcial ou total da deciso.

Por sua vez, Nucci (2012, p. 882) menciona que a apelao o recurso
utilizado contra decises definitivas, que julgam extinto o processo, apreciando ou
no o mrito, devolvendo ao tribunal amplo conhecimento da matria. O autor
ressalta, contudo, que segundo o Cdigo de Processo Penal a apelao o recurso
cabvel contra as sentenas definitivas, de condenao ou de absolvio, e contra
as decises definitivas ou com fora de definitivas, no abrangidas pelo recurso em
sentido estrito.
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Do exposto, verifica-se que a apelao o recurso que deve ser


interposto contra as sentenas definitivas, de condenao ou de absolvio, e contra
as decises definitivas ou com fora de definitivas, no abrangidas pelo recurso em
sentido estrito. O mencionado recurso est previsto nos arts. 593 a 603 do CPP.

5.1.1 Cabimento

O art. 593 do CPP fornece o rol das hipteses que admitem a interposio
de apelao, que deve ser feita no prazo de cinco dias.

Quanto primeira hiptese, prevista no art. 593, inciso I, do CPP, Nucci


(2012, p. 882) menciona que as sentenas definitivas de condenao ou de
absolvio proferidas por juiz singular constituem as tpicas decises terminativas de
mrito, as quais acolhem a imputao feita na denncia ou queixa (condenao) ou
a rejeitam (absolvio).

Acrescenta Bonfim (2011, p. 760) que a sentena condenatria acolhe


parcial ou totalmente a imputao dirigida ao acusado (art. 387), enquanto que a
sentena absolutria julga improcedente a acusao imputada ao ru (art. 386). H
tambm a denominada sentena absolutria imprpria, que reconhece a
inimputabilidade do ru (doente mental), impondo-lhe medida de segurana, nos
termos do art. 386, pargrafo nico, do CPP.

Avena (2012, p. 1057) afirma que as sentenas definitivas de condenao


ou de absolvio podem ser proferidas por juiz singular no julgamento dos crimes de
sua prpria competncia e pelo juiz-presidente do Tribunal do Jri a partir de
deliberao dos jurados. Ressalta o autor que na medida em que gerem
sucumbncia a uma das partes ou at mesmo a ambas (sucumbncia recproca), as
sentenas sempre podero ser impugnadas, sendo cabvel, em regra, o recurso de
apelao (art. 593, incisos I e III, do CPP).

Com referncia segunda hiptese prevista no art. 593, inciso II, do CPP,
Oliveira (2012, p. 881) dispe que as decises com fora de definitivas so aquelas
que encerram o processo ou o procedimento com o julgamento do mrito, mas com
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uma diferena: no julgam o mrito da pretenso punitiva, mas de questes e/ou


processos incidentes. Assim, so apelveis, por exemplo, as decises que julgam o
pedido de reabilitao (art. 743 do CPP), o cancelamento de inscrio de hipoteca
(art. 141 do CPP), o levantamento de seqestro (art. 131 do CPP) entre outros.

Rangel (2009, p. 858) ressalta que a apelao do inciso em comento


chamada de apelao supletiva ou subsidiria, pois somente poder ser utilizada se
no couber recurso em sentido estrito, e desde que seja interposta contra deciso
proferida por juiz singular, no sendo cabvel de deciso de rgo colegiado.

Nesse mesmo sentido Nucci (2012, p.884) assevera que a apelao deve
ser usada como recurso residual, quando no se tratar de despachos de mero
expediente, que no admitem recurso algum, nem for o caso de interposio de
recurso em sentido estrito, desde que importe em alguma deciso com fora de
definitiva, que encerre algum tipo de controvrsia.

Por fim, com referncia ltima hiptese prevista no art. 593, inciso III, do
CPP, Feitosa (2010, p. 1114) dispe que a apelao das decises do tribunal do jri
tem carter restritivo, uma vez que deve estar fundada numa das estritas hipteses
do art. 593, inciso III, do CPP.

Corroborando tal entendimento Oliveira (2012, p.882) aduz que no


procedimento do Tribunal do Jri no se aceita quaisquer impugnaes, pois estas
devem ter fundamentao vinculada s hipteses legalmente admissveis para o
apelo.

Avena (2012, p. 1193-1194) ressalta que a apelao das decises do


tribunal do jri, em qualquer de seus fundamentos, considerada um recurso
vinculado, pois seu julgamento condiciona-se aos motivos de sua interposio. Por
exemplo, se interposta apelao com base no art. 593, inciso III, alnea a, do CPP,
no poder o apelante, por ocasio das razes, ampliar a interposio para nela
inserir o fundamento da alnea d, pois estaria ampliando intempestivamente o mbito
de devoluo do recurso.

Ainda sobre o tema Tourinho Filho (2010, p. 452) discorre que ao interpor
o recurso deve o recorrente explicitar a alnea ou alneas (a, b, c, ou d do inciso III,
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do art. 593) em que se fundamenta o apelo, uma vez que o mencionado recurso tem
sua motivao vinculada s hipteses previstas no referido inciso.

Conforme Oliveira (2012, p. 882) tal vinculao determinada pela


Smula 713 do STF, segundo a qual o efeito devolutivo das apelaes do Tribunal
do Jri adstrito aos fundamentos de sua interposio.

Ainda sobre apelao das decises do Tribunal do Jri, Bonfim (2011, p.


763) ressalta que nestas decises necessrio observar que o rgo jurisdicional
superior nunca poder sobrepor-se ao juiz natural da causa, a fim de absolver ou
condenar o ru, uma vez que os veredictos emanados do Tribunal do Jri so
soberanos (art. 5, inciso XXXVIII), restando ao tribunal ad quem, quando muito, a
correo de atos do juiz-presidente ou a determinao de novo julgamento, mas
nunca decidir sobre o mrito da causa.

5.1.2 Efeitos

Com referncia aos efeitos do recurso de apelao Manzano (2010, p.


686) dispe que o mencionado recurso possui efeito devolutivo, suspensivo, quando
interposto contra sentena condenatria, e extensivo, o qual est previsto no art. 580
do CPP.

Acerca do tema Souza e Silva (2010, p. 558) afirmam que os efeitos da


apelao dependem da situao prisional do agente. Se preso, sendo a sentena
absolutria, deve ser posto em liberdade imediatamente. Se solto, sendo a sentena
condenatria, no significa que deve ser expedido de imediato um mandado de
priso, uma vez que esta s deve ocorrer se presentes os requisitos da priso
preventiva, deve-se aguardar o trnsito em julgado da sentena, em obedincia ao
princpio constitucional da presuno de inocncia.

Tourinho Filho (2010, p. 482) chama ateno para o efeito devolutivo e


suspensivo do recurso de apelao interposto contra sentena condenatria. O autor
dispe que o efeito devolutivo est dentro das limitaes ditadas pelo princpio do
tantum devolutum quantum appelltum. J quanto ao efeito suspensivo, este exige
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anlise mais acurada, uma vez que com a revogao do art. 594 do CPP e do
acrscimo do pargrafo nico ao art. 387 do mesmo diploma legal, atualmente, se o
ru for condenado, a execuo se dar somente aps o trnsito em julgado, nada
obstando possa o Juiz decretar-lhe a priso preventiva, se presentes os requisitos
da referida priso.

Com referncia ao efeito devolutivo Oliveira (2012, p. 885) dispe que o


mencionado efeito devolve ao tribunal a anlise do toda a matria discutida no caso,
de forma ampla, desde que assim demarcado no recurso, segundo a aplicao do
tantum devolutum quantum appellatum, isto , nos limites da impugnao.

Acerca do efeito extensivo Machado (2010, p. 708) dispe que o referido


efeito possvel em caso de concurso de agentes (art. 580 do CPP), sempre que a
deciso do tribunal puder beneficiar e se estender quele corru que no apelou,
observando-se que o presente efeito incidir sempre para estender um benefcio
quele acusado que no interps o recurso de apelao, jamais para agravar a sua
situao.

5.1.3 Procedimento

Nucci (2012, p. 891) dispe que a apelao deve ser interposta no prazo
de cinco dias a contar da data de intimao da deciso. O autor ressalta que h
possibilidade de desero, quando no houver o pagamento das custas (art. 806,
2) e das despesas de traslado (art. 601, 2).

Nicolitt (2010, p. 523) tomando por base o que prev os arts. 600 a 603
faz um resumo do procedimento seguido no recurso de apelao.

Dispe o autor que a apelao ser interposta, no prazo de cinco, a


contar da intimao da deciso, por petio ou termo nos autos. A interposio ser
direcionada ao juiz a quo que far o juzo de admissibilidade tambm conhecido
como juzo de prelibao. Sendo negativo o juzo de admissibilidade ser cabvel
recurso em sentido estrito com base no art. 581, inciso XV, do CPP. Admitida a
apelao, sero abertos prazos sucessivos de oito dias para a apresentao das
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razes e contrarrazes. De acordo com o art. 600, caput, do CPP, primeiro se


manifestar o apelante e depois o apelado, nesta ordem, sob pena de nulidade
absoluta. Findos os prazos para o oferecimento das razes os autos devero ser
remetidos ao rgo ad quem, de acordo com o art. 601, caput, do CPP.

Nicolitt (p. 523) acrescenta ainda que poder o apelante optar pelo rito do
art. 600, 4, do CPP, qual seja, oferecer as razes perante o rgo ad quem. Neste
caso dever manifestar a sua opo quando da interposio do recurso, sob pena
de precluso. Adotando este rito, o juiz a quo faz o juzo de admissibilidade e, se
positivo, encaminha diretamente os autos ao rgo ad quem, sem necessidade de
abertura de prazo para as razes.

Ishida (2012, p. 347) ressalta que no caso de contravenes, o prazo de


trs dias (art. 593, caput, do CPP). Segundo o autor essa hiptese atualmente se
refere contraveno julgada pelo juiz criminal diante da inicial impossibilidade de
citao pessoal do indiciado. Quanto s contravenes julgadas pelo Juizado
Especial Criminal, afirma o autor que estas devem ser interpostas no prazo de dez
dias, sendo obrigatria a juntada das razes, as quais sero julgadas pelo Colgio
Recursal dos juizados especiais criminais, conforme prev o art. 82 da Lei n
9.099/95.

5.2 AGRAVO EM EXECUO

O recurso de Agravo em Execuo est previsto no art. 197, da Lei n


7.210, de 11 de julho de 1984, Lei de Execuo Penal, este o recurso cabvel na
fase de execuo da pena, recurso voluntrio, cujo prazo de interposio de
cinco dias.

Conforme dispe Marco (2011, p. 374) das decises proferidas pelo juiz
no processo de execuo cabe recurso de agravo, sem efeito suspensivo, exceto no
caso de deciso que determina a desinternao ou liberao de quem cumpre
medida de segurana (art. 179 da LEP), quando, ento, tal recurso se processar
com duplo efeito (devolutivo e suspensivo).
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5.2.1 Cabimento

Segundo Oliveira (2012, p. 908) ser cabvel agravo em execuo de


todas as decises proferidas pelo juiz da execuo penal. Nesse passo, diversos
incisos do art. 581 do CPP tiveram afastada a sua aplicao, por fora do agravo em
execuo.

Por sua vez, Nucci (2012, p. 879) dispe que o agravo em execuo o
recurso que deve ser utilizado para impugnar toda deciso proferida pelo juiz da
execuo criminal, que prejudique direito das partes principais envolvidas no
processo.

Marco (2011, p. 377) ressalta que dentre outras hipteses, ataca-se por
meio de agravo em execuo a deciso que: extingue pena privativa de liberdade;
negue ou conceda progresso de regime prisional, indefira pedido de unificao de
penas e de livramento condicional.

5.2.2 Procedimento

No h na doutrina consenso acerca do rito processual que deve seguir o


recurso de agravo em execuo, para uns ele deve seguir o rito do agravo de
instrumento, outra corrente entende que o rito cabvel o do recurso em sentido
estrito.

Como exemplo, vale mencionar Tourinho Filho (2010, p. 614), para quem
no h dvida de que o rito do agravo previsto no art. 197 da LEP o do agravo de
instrumento do art. 522 do Cdigo de Processo Civil. Assim, o recurso deveria ser
interposto no prazo de dez dias. Compartilham da mesma ideia autores como Ada
Pellegrini Grinover, Antnio Magalhes Gomes Filho e Antnio Scarance Fernandes.

J para Marco (2011, p. 375) o rito procedimental a ser adotado no


agravo em execuo o do recurso em sentido estrito, e no o do agravo de
instrumento do Cdigo de Processo Civil.
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No mesmo sentido Oliveira (2012, p. 908) dispe que para o agravo em


execuo deve ser adotado o procedimento do recurso em sentido estrito,
perfeitamente adaptado teoria dos recursos em matria processual penal, e em
que se permite, com maior celeridade, o juzo de retratao do rgo jurisdicional a
quo.

A propsito, dispondo a respeito do prazo de interposio do recurso de


agravo em execuo o Supremo Tribunal Federal editou a Smula 700, que tem o
seguinte teor: de cinco dias o prazo para interposio de agravo contra deciso
do juiz da execuo penal.

Dessa forma, como ressalta Oliveira (2012, p. 908), quanto ao rito


procedimental prevaleceu o entendimento da Suprema Corte no sentido de que o
procedimento a ser observado na tramitao do agravo em execuo o do recurso
em sentido estrito.

Acerca do procedimento Machado (2010, p. 719) dispe que o agravo em


execuo deve ser interposto no prazo de cinco dias, tal como previsto no art. 581
do CPP e na Smula 700 do STF. Ressalta que, em regra, tal recurso no tem efeito
suspensivo, excetuadas aquelas decises que determinam a desinternao ou a
liberao dos indivduos que se encontram em cumprimento de medida de
segurana. Quanto ao efeito regressivo, este sempre presente, uma vez que o
presente recurso adota o rito do recurso em sentido estrito, no qual h possibilidade
do juzo de retratao.

Tratando um pouco mais a respeito do rito procedimental do agravo,


Marco (2011, p. 375) afirma que o agravo em execuo pode subir nos prprios
autos, dispensada a formao do instrumento, quando no prejudicar o andamento
do processo, nos termos do art. 583, III, do CPP, cujo preceito se aplica ao caso.
Quanto petio de interposio, dispe que esta deve ser endereada ao juzo da
execuo, podendo vir acompanhada das razes do inconformismo. Se no vier
acompanhada das razes, estas devem ser apresentadas no prazo de dois dias, na
forma regulada no art. 588 do CPP. Aduz ainda que o presente recurso submete-se
ao juzo de retratao, por fora do efeito devolutivo inverso ou iterativo, disciplinado
no art. 589 do CPP.
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5.3 REVISO CRIMINAL

A reviso criminal surgiu da necessidade de reparar a injustia ou o erro


judicirio.

Conforme dispe Tourinho Filho (2012, p. 979) uma deciso injusta


prejudicial ao ru e sociedade, que, com razo passa a desconfiar da justia.

Bonfim (2012, p. 904) informa que a reviso criminal aparece em nosso


sistema como um instrumento que vem excepcionar o princpio da intangibilidade da
coisa julgada, pois entre a segurana jurdica representada pela coisa julgada e a
justia das decises, optou o legislador pelo valor da justia, permitindo a
mutabilidade das decises passadas em julgado.

Dessa forma, conclui o autor que a reviso criminal a ao que permite


ao condenado provocar o Estado nos casos previstos em lei, para que o processo j
alcanado pela coisa julgada seja reexaminado pelo tribunal, possibilitando sua
absolvio, a melhora em sua situao jurdica ou mesmo a anulao do processo.

Quanto natureza jurdica da reviso criminal Avena (2012, p. 1271)


menciona que, assim como ocorre em relao ao habeas corpus, a reviso criminal
tambm no possui natureza recursal, apesar de se encontrar prevista no Cdigo de
Processo Penal como recurso. Segundo o autor, a reviso criminal traduz-se como
uma verdadeira ao penal de conhecimento de carter desconstitutivo, de uso
exclusivo da defesa, no sujeita a prazos e que pode ser deduzida, inclusive, aps a
morte do ru.

5.3.1 Cabimento

A reviso criminal a ao cabvel para impugnar sentena transitada em


julgado, quer seja sentena condenatria ou absolutria imprpria. Suas hipteses
de cabimento esto previstas no art. 621 do Cdigo de Processo Penal.
63
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Nesse sentido, dispe Bonfim (2012, p. 910) que o pressuposto


inarredvel da reviso criminal o trnsito em julgado da sentena penal
condenatria ou absolutria imprpria (que impe ao ru medida de segurana).

Conforme dispe o art. 621, inciso I: a reviso dos processos findos ser
admitida quando a sentena condenatria for contrria ao texto expresso da lei
penal ou evidncia dos autos.

Acerca desta hiptese Capez (2011, p. 807) menciona que a sentena


condenatria contrria lei quando no procede como ela manda ou quando nela
no encontra respaldo para sua existncia.

Bonfim (2012, p. 911) acrescenta que a expresso lei penal deve ser
entendida de forma ampla, abrangendo as normas tanto de direito penal quanto de
direito processual penal, sem olvidar a legislao especial e a Constituio Federal.

Nesse sentido, Avena (2012, p. 1273) dispe que entende-se por


contrria ao texto expresso da lei penal a deciso que contrariar os termos explcitos
do direito objetivo ou interpret-lo de forma absurda, revelia de qualquer critrio ou
margem de aceitabilidade. Por outro lado, acrescenta o autor, entende-se por
contrria evidncia dos autos a deciso que condena o ru sem nenhuma prova
ou com base em elementos aos quais no se possa conferir o mnimo de
aceitabilidade.

Acerca da hiptese referida no inciso II: quando a sentena condenatria


se fundar em depoimentos, exames ou documentos comprovadamente falsos,
Tourinho Filho (2012, p. 986) assevera que para a caracterizao da situao em
tela preciso que o juiz, ao proferir a deciso condenatria, tenha-se fundamentado
em depoimentos, exames ou documentos comprovadamente falsos. O autor dispe
ainda que cabe ao requerente encaminhar a prova da falsidade ao juzo revidendo,
uma vez que esta no ser apurada ou investigada neste juzo, apenas
apresentada.

Avena (2012, p. 1273) ressalta que para caracterizar a hiptese sob


exame, no basta a existncia de depoimento, exame ou documento falso nos
autos. preciso que tais elementos tenham sido o alicerce ou, pelo menos, uma das
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bases principais da sentena impugnada, relevantes na formao do convencimento


do juiz.

Quanto situao prevista no inciso III: quando, aps a sentena, se


descobrirem novas provas de inocncia do condenado ou de circunstncia que
determine ou autorize diminuio especial da pena, Bonfim (2012, p. 915) dispe
que a prova da inocncia ou de circunstncia benfica ao condenado deve ser nova
e relevante, podendo ou no se referir a fatos e alegaes constantes do primeiro
julgamento. Segundo o autor, as provas novas no precisam, necessariamente,
surgir aps a condenao, sendo, pois, consideradas todas aquelas provas
ignoradas na fase cognitiva da persecutio ciminis.

Tourinho Filho (2012, p. 986-987) afirma que as situaes que autorizam


ou determinam especial diminuio da pena esto dispostas na Parte Geral e na
Parte Especial do Cdigo Penal (circunstncias legais genricas e atenuantes art.
65, CP) e as causa de diminuio da pena, na Parte Geral e na Parte Especial do
mesmo diploma art. 14, pargrafo nico, art. 26, pargrafo nico, art. 28, 2, arts.
69, 70, 71, 121, 1, dentre outros.

Ainda sobre esta hiptese, Avena (2012, p. 1274) acrescenta que outro
aspecto importante a considerar o de que a procedncia da reviso sob o
fundamento da prova nova condiciona-se a que esta seja capaz de produzir um juzo
de certeza irrefutvel no rgo julgador da ao. Pois, se surgirem dvidas em
relao aos novos elementos trazidos apreciao do Poder Judicirio, elas no
podero ser interpretadas em favor do ru, e sim em prol da sociedade (in dubio pro
societate), mantendo-se, neste caso, a condenao transitada em julgado.

5.3.2 Procedimento

Com referncia ao procedimento adotado na reviso criminal Capez


(2011, p. 808) dispe que a petio deve ser instruda, no mnimo, com a certido de
trnsito em julgado da sentena condenatria e com o traslado das peas
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necessrias comprovao dos fatos argidos, conforme dispe o art. 625, 1, do


CPP, devendo ser dirigida ao presidente do tribunal competente.

Aduz ainda que, caso o presidente no tenha indeferido liminarmente o


pedido, este ser distribudo a um relator, que ter o prazo de dez dias para oferecer
o relatrio, aps isso, os autos iro com vista ao procurador geral de justia, na
esfera estadual, e ao procurador-geral da Repblica, na federal, para parecer em
dez dias.

Em seguida manifestao do Ministrio Pblico, os autos voltam ao


relator, que ter o prazo de dez dias para oferecer o relatrio. Logo aps, os autos
iro para o revisor, que ter o mesmo prazo para examin-los, e depois, pedir
designao de data para o julgamento.

Tourinho Filho (2012, p. 989) ressalta que indeferido o pedido


liminarmente, tal despacho denegatrio enseja, nos termos do 3 do art. 626 do
CPP, a interposio de agravo regimental, oponvel no prazo de cinco dias, e dirigido
ao relator. Recebendo o agravo, o prolator do despacho agravado se retrata ou,
ento, o submete apreciao do rgo competente para julgar a reviso.

Quanto s conseqncias jurdicas da procedncia da reviso criminal,


Avena (2012, p.1278) dispe que as solues possveis, no caso de reviso criminal,
encontram-se previstas no art. 626, caput, do CPP, o qual dispe, in verbis:
Julgando procedente a reviso, o tribunal poder alterar a classificao da infrao,
absolver o ru, modificar a pena ou anular o processo.

O autor assevera que todas as hipteses contemplam conseqncias de


ordem processual ou materialmente vantajosas ao acusado, uma vez que no se
admite, em hiptese alguma, o agravamento da situao do ru.
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6 O USO DO HABEAS CORPUS COMO SUCEDNEO RECURSAL APS O


TRNSITO EM JULGADO DA CONDENAO

Neste captulo ser tratado o tema objeto deste trabalho, o qual procura
analisar a luz da jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal
de Justia o uso do habeas corpus como substituto recursal depois do trnsito em
julgado da condenao e a necessidade de limitao deste remdio constitucional
s suas hipteses legais de previso.

De incio, cumpre expor as posies da Suprema Corte e do Superior


Tribunal de Justia com relao matria em estudo. Para isso, sero colacionados
abaixo ementas e trechos de votos que demonstram o atual entendimento com
relao ao tema.

Apenas para introduzir a matria, vale transcrever trecho do voto do


Ministro Celso de Melo, proferido no HC 110.118/MS, que traz importante registro
histrico acerca tratamento jurisprudencial que a Suprema Corte conferiu ao habeas
corpus ao longo da primeira Constituio republicana, de 1891, in verbis (p.13):

Foi no Supremo Tribunal Federal que se iniciou, sob a gide da


Constituio republicana de 1891, o processo de construo jurisprudencial
da doutrina brasileira do habeas corpus, que teve, nesta Corte, como
seus principais formuladores, os eminentes Ministros PEDRO LESSA e
ENAS GALVO. A origem dessa formulao doutrinria reside, como
sabemos, nos julgamentos, que, proferidos no clebre Caso do
Conselho Municipal do Distrito Federal, ampliaram, de modo significativo,
o mbito de incidncia protetiva do remdio constitucional do habeas
corpus. Refiro-me aos julgamentos plenrios que esta Suprema Corte
proferiu em 08/12/1909 (RHC 2.793/DF, Rel. Min. CANUTO SARAIVA), em
11/12/1909 (HC 2.794/DF, Rel. Min. GODOFREDO CUNHA), e em
15/12/1909 (HC 2.797/DF, Rel. Min. OLIVEIRA RIBEIRO, e RHC 2.799/DF,
Rel. Min. AMARO CAVALCANTI), alm daquele que resultou na
concesso, em 25/01/1911, do HC 2.990/DF, Rel. Min. PEDRO LESSA. As
decises proferidas em mencionados julgamentos revestem-se de
aspecto seminal no que concerne ao prprio corpus doutrinrio que se
elaborou, naquele particular momento histrico, no mbito do Supremo
Tribunal Federal, no contexto da teoria brasileira do habeas corpus, cuja
incidncia permitia, como j assinalado, o amparo jurisdicional de
outros direitos, que no apenas o direito de ir, vir e permanecer, desde que
aqueles outros direitos guardassem relao de dependncia ou tivessem
por fundamento ou pressuposto a prtica da liberdade de locomoo fsica
do indivduo[...]. Grifos no original.
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Como ressalta o eminente Ministro Celso de Melo, a jurisprudncia que se


consolidou no Supremo, durante a Constituio de 1891, at a Reforma de 1926,
contemplava a possibilidade de utilizao do habeas corpus mesmo naqueles casos
em que a liberdade de ir, vir e permanecer fosse afetada apenas de modo reflexo,
por atos estatais supostamente abusivos ou ilegais. Contudo, salienta o douto
ministro que com a Reforma Constitucional de 1926 houve o restabelecimento da
vocao histrica desse importante remdio constitucional, tornando-se
insuscetvel de conhecimento a ao de habeas corpus, quando promovida
contra ato estatal de que no resulte, de modo direto e imediato, ofensa, atual ou
iminente, liberdade de locomoo fsica. (HC 110.118/MS, voto do Min. Celso de
Mello, p. 16). Grifos no original. Nesse sentido, confira-se:

HABEAS CORPUS - RECURSO DE AGRAVO - INEXISTNCIA DE


SITUAO DE LITIGIOSIDADE QUE AFETE A IMEDIATA LIBERDADE DE
LOCOMOO FSICA DE QUALQUER INDIVDUO INVIABILIDADE
PROCESSUAL DO REMDIO CONSTITUCIONAL DO HABEAS CORPUS
PARA PRESERVAR A RELAO DE CONFIDENCIALIDADE QUE DEVE
EXISTIR ENTRE ADVOGADO E CLIENTE - IMPETRAO QUE NO
APONTA A OCORRNCIA DE FATOS CONCRETOS APTOS A ENSEJAR
A ADEQUADA UTILIZAO DA VIA DO HABEAS CORPUS - AUSNCIA
DE LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DO PROCURADOR-GERAL
DA REPBLICA PARA FIGURAR COMO AUTORIDADE COATORA NA
PRESENTE IMPETRAO RECURSO IMPROVIDO. NO CABE
HABEAS CORPUS, QUANDO IMPETRADO COM A EXCLUSIVA
FINALIDADE DE PRESERVAR E PROTEGER O DIREITO INTIMIDADE
(RELAO DE CONFIDENCIALIDADE) DOS ADVOGADOS (E DE SEUS
EVENTUAIS CLIENTES) VINCULADOS S ASSOCIAES
AGRAVANTES.

Com a cessao, em 1926, da doutrina brasileira do habeas corpus, a


destinao constitucional do remdio herico restringiu-se, no campo de
sua especfica projeo, ao plano da estreita tutela da imediata liberdade
fsica de ir, vir e permanecer dos indivduos, pertencendo, residualmente,
ao mbito do mandado de segurana, a tutela jurisdicional contra ofensas
que desrespeitem os demais direitos lquidos e certos, mesmo quando tais
situaes de ilicitude ou de abuso de poder venham a afetar, ainda que
obliquamente, a liberdade de locomoo fsica das pessoas. - O remdio
constitucional do habeas corpus, em conseqncia, no pode ser utilizado
como sucedneo de outras aes judiciais, notadamente naquelas
hipteses em que o direito-fim (a proteo da relao de
confidencialidade entre Advogado e cliente, no caso), no se identifica
com a prpria liberdade de locomoo fsica. - A jurisprudncia do
Supremo Tribunal Federal tem salientado que, no havendo risco efetivo
de constrio liberdade de locomoo fsica, no se revela pertinente o
remdio do habeas corpus, cuja utilizao supe, necessariamente, a
concreta configurao de ofensa, atual ou iminente, ao direito de ir, vir e
permanecer das pessoas. Doutrina. Precedentes. (...). (RTJ 197/587-588,
Rel. Min. Celso de Mello, Pleno). Grifos no original.
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Verifica-se, portanto, que se a liberdade de locomoo no se expe a


qualquer tipo de cerceamento, e se o direito de ir, vir ou permanecer sequer se
revela ameaado, no h justificativa para a impetrao de habeas corpus. Tal
medida somente se mostra cabvel quando objetivar a tutela imediata da liberdade
de locomoo. Nesse sentido, reiteradamente tem advertido a jurisprudncia do
Supremo Tribunal Federal:

A funo clssica do habeas corpus restringe-se estreita tutela da


imediata liberdade de locomoo fsica das pessoas . - A ao de
habeas corpus - desde que inexistente qualquer situao de dano
efetivo ou de risco potencial ao jus manendi, ambulandi, eundi ultro
citroque - no se revela cabvel, mesmo quando ajuizada para discutir
eventual nulidade do processo penal em que proferida deciso condenatria
definitivamente executada. Esse entendimento decorre da circunstncia
histrica de a Reforma Constitucional de 1926 - que importou na
cessao da doutrina brasileira do habeas corpus - haver restaurado a
funo clssica desse extraordinrio remdio processual, destinando-o,
quanto sua finalidade, especfica tutela jurisdicional da imediata
liberdade de locomoo fsica das pessoas. Precedentes: RTJ 186/261-
262. (BRASIL, STF, 2011e). Grifos no original.

Com referncia ao uso do habeas corpus como sucedneo recursal o


Supremo Tribunal Federal tem entendido que incabvel fazer uso do mencionado
writ quando no houver constrangimento liberdade de locomoo do indivduo, por
ilegalidade e abuso de poder. Sobre o tema confira a seguinte ementa:

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. INTEMPESTIVIDADE DE


RECURSO ESPECIAL RECONHECIDA NO STJ. AUSNCIA DE
ILEGALIDADE, CONTRANGIMENTO ILEGAL OU ABUSO DE PODER.
DIREITO DE IR E VIR. VIOLAO. INEXISTNCIA. O WRIT NO PODE
SER UTILIZADO COMO SUCEDNEO DE REVISO CRIMINAL, SALVO
NOS CASOS DE FLAGRANTE ILEGALIDADE. ORDEM DENEGADA. I -
No se verifica nos autos a presena de constrangimento ilegal, nem
ilegalidade ou abuso de poder a ensejar a concesso da ordem. II A via
estreita do habeas corpus no pode ser utilizada como sucedneo de
recurso para discutir questes alheias a liberdade de locomoo, tais
como tempestividade recursal. Precedentes. III Inexistindo nulidade ou
ilegalidade flagrante a ser sanada, no se pode admitir o habeas corpus
como sucedneo de reviso criminal, ante a verificao do trnsito em
julgado do acrdo que tornou definitiva a condenao. IV Ordem
denegada. (BRASIL, STF, 2010b). Grifo nosso.

De igual modo, a Corte suprema no tem admitido a utilizao do referido


writ como substituto do recurso ordinrio constitucional, previsto no art. 102, II,
alneas a e b, da Constituio Federal, quando no houver manifesta ilegalidade ou
teratologia a ser sanada. Sobre o tema, confira-se:
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EMENTA: PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. RECURSO


ORDINRIO. CRIME DE TRFICO INTERNACIONAL DE PESSOA PARA
FIM DE EXPLORAO SEXUAL COMINADO COM CRIME DE
QUADRILHA OU BANDO. CP, ARTS. 231, 1, E 288. INTIMAO
PESSOAL DO DEFENSOR PBLICO ACERCA DA EXPEDIO DE
CARTA PRECATRIA PARA OITIVA DE TESTEMUNHA DE ACUSAO
REALIZADA. NO COMPARECIMENTO DO DEFENSOR PBLICO.
NOMEAO DE DEFENSOR DATIVO. NULIDADE RELATIVA. PREJUZO
NO DEMONSTRADO. ORDEM DENEGADA. 1. Preliminarmente, o
habeas corpus no substitutivo de recurso ordinrio. A utilizao
promscua do remdio herico deve ser combatida, sob pena de
banalizao da garantia constitucional, tanto mais quando no h
teratologia a eliminar, como no caso em exame. 2. A intimao do
advogado para a inquirio de testemunhas no juzo deprecado
desnecessria quando realizada a intimao da expedio da carta
precatria. Cabe ao impetrante acompanhar toda a tramitao da precatria
perante o juzo deprecado, a fim de tomar conhecimento da data designada
para a diligncia. (Precedentes: HC 89186, Rel. Minstro Ellen Gracie,
Segunda Turma, DJ 20/04/2004). [...] (BRASIL, STF, 2011d). Grifo nosso.

Da mesma forma, a Suprema Corte entende que no cabvel habeas


corpus como sucedneo de reviso criminal, quando no h ilegalidade flagrante a
ser sanada pela via estreita do writ. A respeito confiram-se os seguintes julgados:

Agravo Regimental em Habeas Corpus. Sentena condenatria transitada


em julgado. Inadmissibilidade da impetrao como sucedneo de reviso
criminal. Reexame ftico e probatrio. Inviabilidade. Precedentes. A
sedimentada jurisprudncia deste Supremo Tribunal Federal no
admite a impetrao de habeas corpus como sucedneo de recursos
ou de reviso criminal. A realizao de aprofundado reexame do conjunto
ftico-probatrio coligido nos autos invivel na estreita via do habeas
corpus. Agravo regimental ao qual se nega provimento. (BRASIL, STF,
2010a). Grifo nosso.

Recurso ordinrio em Habeas Corpus. Penal. Sentena condenatria


transitada em julgado. Impossibilidade de admitir-se o habeas corpus como
sucedneo de reviso criminal. Presidente da Cmara Legislativa. Peculato.
Ausncia de repasse das verbas descontadas. Exerccio de funo
administrativa. Incidncia da causa de aumento de pena do art. 327, 2,
do CP. O habeas corpus no pode ser manejado como sucedneo de
reviso criminal em face da ausncia de ilegalidade flagrante em
condenao com trnsito em julgado. Recurso no conhecido nesse
ponto. entendimento reiterado desta Corte que a causa de aumento de
pena prevista no 2 do art. 327 do Cdigo Penal se aplica aos agentes
detentores de mandato eletivo que exercem, cumulativamente, as funes
poltica e administrativa. Recurso parcialmente conhecido e, nessa
extenso, desprovido. (BRASIL, STF, 2012c). Grifo nosso.

O Superior Tribunal de Justia, por sua vez, entende que, embora se


tenha alargado o uso do habeas corpus em substituio ao recurso cabvel, h
certos limites a serem respeitados, em observncia ao que dispe a Constituio
Federal. Dessa forma, a impetrao deve ser compreendida dentro dos limites da
lgica recursal e desde que vise combater manifesta ilegalidade, bem como no seja
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necessrio o revolvimento de matria ftica probatria. Sobre o tema, confira-se o


seguinte julgado:

PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL.


HOMICDIO DUPLAMENTE QUALIFICADO. DOSIMETRIA. DECRETO
CONDENATRIO TRANSITADO EM JULGADO. IMPETRAO QUE
DEVE SER COMPREENDIDA DENTRO DOS LIMITES RECURSAIS.
ORDEM NO CONHECIDA. I. Conquanto o uso do habeas corpus em
substituio aos recursos cabveis ou incidentalmente como
salvaguarda de possveis liberdades em perigo crescentemente fora
de sua inspirao originria tenha sido muito alargado pelos Tribunais,
h certos limites a serem respeitados, em homenagem prpria
Constituio, devendo a impetrao ser compreendida dentro dos
limites da racionalidade recursal preexistente e coexistente para que
no se perca a razo lgica e sistemtica dos recursos ordinrios, e
mesmo dos excepcionais, por uma irrefletida banalizao e
vulgarizao do habeas corpus. II. Condenao que transitou em julgado
e a Defesa no se insurgiu quanto eventual ofensa aos dispositivos da
legislao federal na dosimetria da pena em sede de recurso especial -
questes que tambm demandariam o revolvimento do contexto ftico-
probatrio -, preferindo a utilizao do writ, em substituio aos recursos
ordinariamente previstos no ordenamento jurdico. [...]. (BRASIL, STJ,
2011b). Grifo nosso.

Essa Egrgia Corte apesar de reconhecer a importncia do habeas


corpus como um dos remdios constitucionais de maior valor ressalta que seu
emprego deve submeter-se s hipteses legais de cabimento, sob pena de se
comprometer toda a lgica do sistema de recursos vigente em nosso ordenamento
jurdico. Nesse sentido, confira-se:

HABEAS CORPUS. "HABEAS CORPUS. HOMICDIO QUALIFICADO.


CONDENAO. REGIME FECHADO. ALTERAO DO REGIME
PRISIONAL. MATRIA NO SUSCITADA NA APELAO. SUPRESSO
DE INSTNCIA. APELAO. EFEITO RESTRITO. NO CONHECIMENTO.
1. Se a pretenso aqui formulada, de alterao do regime prisional, no foi
examinada pelo Tribunal de origem, no sendo objeto da apelao
manejada pela Defesa, no pode ser enfrentadas por esta Corte Superior
de Justia, sob pena de indevida supresso de instncia. 2. Em se tratando
de apelao interposta contra deciso do Tribunal do Jri, a anlise da
Corte estadual restrita s razes da Defesa. 3. Por mais que o habeas
corpus seja um dos remdios constitucionais mais importantes, deve o
seu emprego submeter-se s hipteses de cabimento. Ademais, o seu
manejo imoderado desrespeita lgica do sistema recursal,
abastardando, ainda, o campo prprio da reviso criminal. 4. Writ no
conhecido." (BRASIL, STJ, 2011c). Grifo nosso.

Quanto ao uso do writ como sucedneo de reviso criminal, a referida


Corte de Justia consolidou o entendimento de que a via estreita do habeas corpus
no serve para desconstituir sentena condenatria, principalmente, se a anlise do
tema demanda o revolvimento de matria ftica probatria. A respeito confira-se:
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HABEAS CORPUS . "CRIMINAL. HABEAS CORPUS. ROUBO


QUALIFICADO. DIREITO A PERMANECER EM LIBERDADE AT O
TRNSITO EM JULGADO DA CONDENAO. PLEITO SUPERADO.
PERDA DO OBJETO. ABSOLVIO. REDUO DA PENA-BASE AO
MNIMO LEGAL. FIXAO DO REGIME PRISIONAL ABERTO.
SUBSTITUIO DA REPRIMENDA CORPORAL POR RESTRITIVA DE
DIREITOS. IMPOSSIBILIDADE DE ANLISE DOS TEMAS APS A
SENTENA CONDENATRIA TER TRANSITADO EM JULGADO.
FLAGRANTE ILEGALIDADE NO EVIDENCIADA. ARGUMENTOS A
SEREM EVENTUALMENTE DEDUZIDOS EM SEDE DE REVISO
CRIMINAL. PEDIDO PARCIALMENTE PREJUDICADO. LIMINAR
CASSADA. ORDEM NO CONHECIDA EM PARTE. I. Passada em julgado
a condenao, infere-se a perda do objeto do writ no tocante ao pleito de
concesso ao paciente do direito de permanecer em liberdade at a
supervenincia do trnsito em julgado da sentena, devendo, ainda, ser
reconhecida a caducidade da liminar anteriormente deferida. II. A
Jurisprudncia desta Corte consolidou-se no sentido de que via
estreita do writ monstra-se[sic] inidnea para desconstituir dito
condenatrio j transitado em julgado, mormente quando a anlise do
tema demanda o revolvimento de matria ftica, pois, conforme j
consignado, para tal objetivo existe a reviso criminal (Precedentes).
III. A substituio da reviso criminal pelo habeas corpus somente
admitida quando a apreciao do pleito prescindir de revolvimento de
provas e a ilegalidade for manifesta, o que no se revela no caso em
apreo. IV. Deve ser reconhecida a prejudicialidade do pedido, no que se
refere ao direito de o ru permanecer solto at o trnsito em julgado da
condenao, no merecendo conhecimento a impetrao no tocante aos
demais pleitos deduzidos no writ. V. Pedido parcialmente prejudicado,
cassando-se a liminar antes deferida, e ordem no conhecida no demais,
nos termos do voto do Relator." (BRASIL, STJ, 2011a). Grifo nosso.

Do exposto, verifica-se que, tanto o Supremo Tribunal Federal quanto o


Superior Tribunal de Justia entendem que h necessidade de racionalizao do uso
do habeas corpus, a bem de se prestigiar a lgica do sistema recursal.

Ademais, a finalidade constitucional do habeas corpus servir de


instrumento para sanar ilegalidade ou abuso de poder que resulte em coao ou
ameaa liberdade de locomoo. Dessa forma, seu uso deve ser limitado s
hipteses de cabimento previstas em lei, no sendo admissvel que o habeas corpus
seja utilizado como sucedneo de recursos ordinrios, tais como apelao, agravo
em execuo, recurso especial ou reviso criminal. Nesse sentido posiciona-se a
Sexta Turma do STJ, confira-se:

PENAL. HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO.


DESCLASSIFICAO. RECONHECIMENTO DA TENTATIVA.
IMPOSSIBILIDADE. ENTENDIMENTO DO TRIBUNAL DE ORIGEM EM
SINTONIA COM JURISPRUDNCIA DESTA CORTE. ILEGALIDADE
MANIFESTA. AUSNCIA. QUALIFICADORA. ROMPIMENTO DE
OBSTCULO INERENTE AO VECULO PARA A SUBTRAO DE SOM
AUTOMOTIVO. FURTO SIMPLES. RECONHECIMENTO. WRIT
PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA EXTENSO, CONCEDIDO. 1.
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imperiosa a necessidade de racionalizao do habeas corpus, a bem


de se prestigiar a lgica do sistema recursal. 2. As hipteses de
cabimento do writ so restritas, no se admitindo que o remdio
constitucional seja utilizado em substituio a recursos ordinrios
(apelao, agravo em execuo, recurso especial), tampouco como
sucedneo de reviso criminal. 3. Para o enfrentamento de teses
jurdicas na via restrita, imprescindvel que haja ilegalidade manifesta,
relativa a matria de direito, cuja constatao seja evidente e
independa de qualquer anlise probatria. [...]. (BRASIL, STJ, 2012a).
Grifo nosso.

Exemplo da necessidade de restrio do uso do writ em estudo est no


caso do Habeas Corpus 153.472/SP, cuja parte da ementa foi transcrita acima. No
caso em questo, aps o julgamento da apelao, a defesa formulou diretamente
para o Superior Tribunal de Justia o mandamus ora referido, no seguindo a lgica
recursal de interposio de recurso especial cabvel.

Quanto a esse fato a Ministra Relatora Maria Thereza de Assis Moura no


seu voto (p. 9) trata da urgncia de limitao do habeas corpus como substituto de
recurso ordinrio. A eminente ministra dispe, in verbis:

Reforce-se a necessidade e urgncia de se cumprir as regras do sistema


recursal vigente. O habeas corpus no foi criado para a finalidade aqui
empregada. A prevalecer tal postura, o recurso especial tornar-se-
totalmente incuo. Certamente no foi essa a inteno do legislador
constituinte ao prever o habeas corpus no art. 5, LXVIII, da Constituio
Federal, e, em seu art. 105, III, definir as hipteses de cabimento do recurso
especial ao Superior Tribunal de Justia. Considerando o mbito restrito do
mandamus, cumpre analisar apenas se existe manifesta ilegalidade que
implique em coao liberdade de locomoo da paciente, o que no se
verifica na hiptese.

O excessivo uso do habeas corpus tem se tornado um problema cada vez


maior, exigindo, inclusive, medidas legais para sua reduo. A propsito, cita-se
interessante artigo da revista eletrnica Conjur que tem como tema a Restrio do
uso de Habeas Corpus na reforma do CPP divide advogados e MP. Nele so
expostas diferentes opinies acerca da reforma que o anteprojeto do Cdigo de
Processo Penal pretende fazer no instituto do habeas corpus, buscando restringir
seu uso aos casos de proteo da liberdade de locomoo.

Um dos entrevistados, o procurador De Grandis, menciona que o projeto


de reforma do Cdigo de Processo Penal busca enquadrar de forma mais adequada
o habeas corpus, como remdio constitucional de proteo da liberdade, restrito
locomoo. Ele cita ainda que boa parte dos recursos dos tribunais superiores
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constituda de habeas corpus, enquanto os outros recursos ficam aguardando anos


um julgamento.

Do exposto, verifica-se que a restrio do uso do writ em estudo decorre


da necessidade de cumprimento das regras do sistema recursal vigente,
observando-se as hipteses de cabimento reservadas para cada recurso, como
tambm as previstas para impetrao do remdio constitucional.

Logo, a funo constitucional do habeas corpus deve ser observada, para


que seu exerccio seja feito dentro das hipteses previstas em lei, como remdio
apto a sanar ilegalidade ou abuso de poder que resulte em coao ou ameaa
liberdade de locomoo.
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7 CONCLUSO

O tema habeas corpus foi eleito na presente pesquisa em virtude de sua


importncia, uma vez que o referido instituto a garantia que visa proteger um dos
principais direitos do homem, qual seja: o direito liberdade de locomoo. Contudo,
como visto no presente trabalho, tal garantia tem sido usada de forma indevida, em
desacordo com seu objetivo inicial de proteger o direito de locomoo do indivduo
que se v ameaado de sofrer ou efetivamente sofre algum constrangimento ilegal.

De incio, conceituou-se o termo garantia. A seguir, fez-se a distino


entre garantias e direitos constitucionais. Tratou-se ainda acerca dos temas relativos
inafastabilidade da jurisdio, ao direito de ao e de defesa, ao devido processo
legal e ao duplo grau de jurisdio.

Em seguida, no captulo trs, comentou-se acerca do surgimento do writ


constitucional, fazendo-se uma abordagem histrica do instituto na Inglaterra e no
Brasil.

Com certeza o instrumento no tinha as mesmas garantias e a eficcia


conferidas pelo legislador de hoje. No incio, o habeas corpus s servia, na maior
parte das vezes, para assegurar o direito de liberdade dos nobres, classe mais
abastada da sociedade. Os pobres no tinham acesso a esse benefcio. Tal fato
verifica-se desde a civilizao romana.

Interessante questo comentada refere-se ao surgimento da chamada


doutrina brasileira do habeas corpus, que entre um de seus principais defensores
figurava Rui Barbosa, o qual defendia a ampliao das hipteses de cabimento do
instrumento para que este protegesse no s o direito de locomoo, mas tambm
outros direitos, diversos do de locomoo. Sem dvida isso impulsionou o legislador
a criar outras garantias, como o mandado de segurana, o mandado de injuno e o
habeas data.

No captulo ora referido, comentou-se ainda sobre as hipteses de


cabimento do remdio constitucional, onde foi demonstrada a competncia do
Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justia, Tribunal Regional
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Federal, dos Tribunais de Justia e dos Juzes de primeiro grau para o julgamento
da ao de habeas corpus. Na oportunidade analisou-se ainda as hipteses de
impetrao para o trancamento do inqurito policial e da ao penal.

A pesquisa abordou ainda a natureza jurdica do habeas corpus que para


uns de recurso e para outros de ao constitucional ou popular. Sobre o tema
verificou-se que o habeas corpus uma ao mandamental, meio de tutela do
direito liberdade de locomoo.

Por ter como objetivo resguardar a liberdade de ir, vir e ficar do cidado, a
ordem pode ser impetrada por qualquer pessoa, no havendo necessidade de
capacidade postulatria para tal.

Alis, a Lei Processual Penal torna tal remdio menos burocrtico do que
qualquer outra ao ou recurso.

O art. 648 do CPP elenca alguns casos em que pode ser utilizado o
mandamus em questo. Um deles quando faltar justa causa para a coao (art.
648, I, do CPP). ilegal o cerceamento ou ameaa ao direito de locomoo quando
este no encontrar justificativa ou fundamento na ordem jurdica. Portanto, se a
causa da priso no legtima, no possuindo motivo ou razo de existir, deve ser
impetrado habeas corpus para sanar a ilegalidade.

Tambm se verifica flagrante ilegalidade quando uma pessoa permanece


presa por mais tempo do que determina a lei. Isso pode ser visto quando j no
existe mais razo para um preso permanecer detido em virtude de uma priso
preventiva, ou quando a instruo demorou mais tempo do que seria razovel.
Referidas situaes podem ser sanadas pela via do habeas corpus.

O writ em comento tem como propsito evitar e sanar o desrespeito


liberdade de locomoo do cidado. Dessa forma h diversas possibilidades de
impetrao do referido remdio que, segundo a doutrina ptria, no esto exauridas
no CPP.
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No captulo quatro tratou-se acerca da sentena penal condenatria, sua


natureza jurdica, contedo e efeitos. Cumpre mencionar, em especial, acerca da
coisa julgada, tema tambm examinado no referido captulo.

Conforme verificou-se a coisa julgada no constitui um efeito da sentena,


mas uma qualidade, um atributo, ou como referido por Oliveira, a qualidade que
confere imutabilidade sentena, de modo a impedir a reabertura de novas
indagaes da matria nela contida.

Como observado por Rangel a deciso prolatada na ao de habeas


corpus faz caso julgado como qualquer outra deciso de mrito, devendo ser
observado tal fato quando da impetrao de novo writ para no incidir em violao
do caso julgado e reconhecimento de litispendncia.

A coisa julgada, enquanto qualidade da deciso judicial da qual no caiba


mais recurso, confere imutabilidade sentena, de modo a impedir a reabertura de
questionamentos a respeito da matria decidida tambm em relao deciso de
habeas corpus.

Tal fato torna-se relevante, quando se verifica que grande parte dos
habeas corpus so impetrados em substituio reviso criminal, recurso que seria
cabvel para impugnar deciso j transitada em julgado.

Contudo, esta prtica tem sido rechaada pelos Tribunais Superiores,


porque tem causado grande prejuzo ao sistema de recursos previsto pelo
ordenamento jurdico brasileiro, uma vez que este se torna incuo, vazio de
significado, pela utilizao do habeas corpus para discutir toda e qualquer matria,
como, por exemplo, o habeas corpus que discute matria reservada anlise de
recurso especial, que tem previso restrita s hipteses do art. 105, III, da
Constituio Federal.

Apesar de o habeas corpus ser uma garantia constitucional que visa


proteger a liberdade de locomoo do indivduo contra ilegalidade ou abuso de
poder, cujas hipteses de cabimento esto previstas, de forma no exaustiva, no
Cdigo de Processo Penal, seu mbito de incidncia tem sido ampliado sem a
devida observncia do sistema recursal vigente.
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Por isso, a Corte Suprema e o Superior Tribunal de Justia entendem que


o writ em estudo no pode ser usado como sucedneo de reviso criminal ou
recurso especial, por exemplo, uma vez que seu mbito de aplicao restrito ao
caso de manifesta ilegalidade que implique em coao liberdade de locomoo do
paciente.

Neste sentido, julgamos que o problema proposto foi analisado de forma


satisfativa. Por meio das hipteses levantadas, a presente investigao procurou
tecer algumas consideraes para saber se o referido writ pode ser usado para
impugnar deciso transitada em julgado quando existir recurso ordinrio previsto em
lei para o caso e no houver constrangimento ilegal a ser sanado, ou se deve limitar-
se aos casos previstos em lei, tendo em vista a preservao da lgica recursal
vigente.

A referida questo foi respondida demonstrando-se a necessidade de


limitao do uso do habeas corpus s hipteses legais de cabimento. Verificou-se
que a impetrao deve ser compreendida dentro dos limites da lgica recursal e
desde que vise combater manifesta ilegalidade, bem como no seja necessrio o
revolvimento de matria ftica probatria.

Considerando o mbito restrito do mandamus, cumpre analisar apenas se


existe manifesta ilegalidade que implique em coao liberdade de locomoo do
paciente.

Do exposto, infere-se que a restrio do uso do writ em estudo decorre da


necessidade de cumprimento das regras do sistema recursal vigente, observando-se
as hipteses de cabimento reservadas para cada recurso, como tambm as
previstas para impetrao do remdio constitucional.

certo que a funo constitucional do habeas corpus de proteger o


indivduo contra ilegalidade ou abuso de poder deve ser mantida e observada,
contudo, seu exerccio deve ser feito dentro das hipteses previstas em lei, em
obedincia lgica recursal vigente, para que cada recurso seja utilizado no
momento certo e dentro de seu cabimento.
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Certamente esta pesquisa repercute diretamente na questo da


admissibilidade da ao de habeas corpus, apesar desta ao no ter pressuposto
de admissibilidade expresso em lei, por meio da pesquisa verificou-se a necessidade
de circunscrever a anlise da matria tratada no referido writ s hipteses previstas
na Constituio Federal e no Cdigo de Processo Penal, no devendo seu mbito
de incidncia ser estendido, sob pena de prejudicar o sistema recursal vigente e
tornar incuos os recursos previstos no ordenamento jurdico.

Acredita-se que a contribuio dada ao avano do conhecimento da rea


consistiu precipuamente em demonstrar que o habeas corpus uma das mais
valiosas garantias constitucionais outorgadas ao indivduo, e que como tal deve ser
respeitada e utilizada dentro de seus limites de cabimento, para que haja harmonia
na utilizao deste remdio, respeitando-se igualmente o sistema de recursos
vigente.
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