O Papel Ativo Da Geografia - Um Manifesto (Milton Santos)
O Papel Ativo Da Geografia - Um Manifesto (Milton Santos)
O Papel Ativo Da Geografia - Um Manifesto (Milton Santos)
Um manifesto*
2
Foi por isso que propusemos considerar o espao geogrfico no como sinnimo de
territrio, mas como territrio usado; e este tanto o resultado do processo histrico
quanto a base material e social das novas aes humanas. Tal ponto de vista permite uma
considerao abrangente da totalidade das causas e dos efeitos do processo socioterritorial.
3
Cada vez que, em lugar de considerar o movimento comum da sociedade como um
todo e do territrio como um todo, partimos de um dos seus aspectos, acabamos
encontrando lineamentos que apenas so aplicveis a uma determinada rea de atuao -
uma instncia da vida social -, sem todavia autorizar uma interveno realmente eficaz para
o conjunto da sociedade. Em outras palavras, tais solues so ocasionais, mas no
duradouras, remdios parciais, mas no globais.
4
Por vezes a prpria formao do gegrafo que se torna um convite fragmentao
do conhecimento e do trabalho.
Quando se toma apenas uma parte do corpus da disciplina e assim mesmo o trabalho
se torna exitoso, h nas pessoas um reforo crena numa disciplina parcializada. comum
a opinio de que propor intervenes possvel queles enfoques fundados em vises
parciais, ainda que essas intervenes amide sejam funcionais poltica das grandes
empresas. Ser esse o xito que buscamos?
5
O espao freqentemente considerado como espao poltico, espao econmico,
espao antropolgico, espao turstico. E esse um grande problema para a disciplina.
6
Tanto o mercado como a poltica s vezes inspiram solues desse tipo. No ser o
caso de certas propostas fundadas por exemplo nas geografias do turismo, do meio
ambiente, da cultura, dos SIGs, ou de sugestes ditas de planejamento regional mas que, na
verdade, beneficiam uma ou poucas atividades em um dado momento?
No demais assimilar estas proposies a uma fragmentao da disciplina
geogrfica em outras tantas geografias, que desejam, na prtica, impor-se como autnomas,
quando seu papel auxiliar apenas as qualifica como ramos operacionais de uma geografia
mais complexa e unitria. Esta parece mais possvel de alcanar atravs de uma perspectiva
do territrio usado, uma vez que estamos levando em conta todos os atores.
8
O problema central como utilizar os conhecimentos sistematizados por uma
disciplina no delineamento de solues prticas e caminhos frente aos problemas concretos
da sociedade. Dependendo das filiaes terico-ideolgicas dos autores, isso parece ter sido
possvel a especialistas da cincia poltica, da economia etc., cuja tarefa ultrapassa, sem
maiores dificuldades, o limite da simples interpretao dos fenmenos para sugerir
mudanas, isto , para se erigir como uma poltica.
9
No se trata de impor uma definio nica. O contedo de uma geografia
compreensiva pode certamente responder a uma entre vrias linhas tericas, segundo a
escolha do autor. Mas a partir da, indispensvel dispor de um conjunto coerente de
proposies, onde todos os elementos em jogo sejam considerados em sua integrao e em
seu dinamismo.
10
Somente assim responderemos questo crucial de saber como e porque se do as
relaes entre a sociedade como ator e o territrio como agido e, ao contrrio, entre o
territrio como ator e a sociedade como objeto da ao. essa, a nosso ver, a maneira de
encontrar um enfoque totalizador, que autorize uma interveno interessando maior parte
da populao.
Adriana Bernardes; Adriano Zerbini; Cilene Gomes; Edison Bicudo; Eliza Almeida; Fbio Betioli Contel;
Flvia Grimm; Gustavo Nobre; Ldia Antongiovanni; Mara Bueno Pinheiro; Marcos Xavier; Maria Laura
Silveira; Marina Montenegro; Marisa Ferreira da Rocha; Milton Santos; Mnica Arroyo; Paula Borin;
Soraia Ramos; Vanir de Lima Belo.