Evelyn Costa Laranjeiras Borges PDF
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RESUMO: notrio que o legislador ptrio no se ateve para a falta de punio eficaz para os psicopatas. Levando
em considerao que os mesmos so desprovidos de remorso, tm dificuldade de reintegrao na sociedade e grande
probabilidade de reincidncia, alguns pases decidiram pela priso perptua ou pela pena de morte, o que no aceito
na nossa legislao constitucional. extremamente relevante entender a questo da psicopatia e estabelecer sanes
efetivas para punio e controle dos sujeitos que tm esse distrbio. O objetivo principal deste trabalho discutir os
reflexos da lei penal sobre os crimes cometidos por psicopatas e demonstrar a necessidade do Estado criar uma
legislao diferenciada e especfica favorvel para que esses indivduos no venham mais oferecer riscos para a
sociedade.
ABSTRACT: It is clear that the paternal legislature not adhered to the lack of effective punishment for psychopaths.
Considering that they are devoid of remorse, have difficulty reintegrating into society and great likelihood of
recurrence, some countries decided by life imprisonment or the death penalty, which is not accepted in our
constitutional law.It is extremely important to understand the issue of psychopathy and establish effective sanctions
to punish and control of individuals who have this disorder. The main objective of this paper is to discuss the effects
of the criminal law on crimes committed by psychopaths and demonstrate the need for the state to create a
differentiated and specific legislation favorable to these individuals will not offer more risks to society.
1. INTRODUO
1
TCC elaborado sob a orientao da Prof. Natlia Petersn Nascimento Santos.Professora de DireitoPenal e
Processual Penal da Universidade Catlica do Salvador.
2
Aluna concluinte do Curso de Direito da Universidade Catlica do Salvador.
Levando em considerao que os psicopatas no entendem punies e no aprendem com
elas, j que se trata de pessoas desprovidas de remorso e com dificuldade de reintegrao e
ressocializao na sociedade, alguns pases, como por exemplo os Estados Unidos, decidiram
pela priso perptua ou pela pena de morte, o que no aceito na nossa legislao constitucional.
O objetivo principal deste trabalho cientfico saber a melhor forma de punir os
psicopatas, uma vez que eles no entendem a sano como punio, e discutir os reflexos da lei
penal sobre os crimes cometidos por indivduos que sofrem de psicopatia. Alm disso, objetiva-se
tambm descobrir a causa da psicopatia (se hereditria ou consequncia do meio em que se
vive), mostrar as principais caractersticas dos psicopatas e demonstrar a necessidade de o Estado
criar uma estrutura diferenciada e favorvel para que esses indivduos no venham mais a
oferecer riscos para a sociedade.
A fonte primordial deste artigo a bibliogrfica, desenvolvida em fontes primrias, com
consultas de livros na rea jurdica (doutrina e jurisprudncia que tratem do assunto), psicolgica
e mdica. Ser feita tambm a anlise de textos legais (legislao vigente), bem como em fontes
secundrias (artigos, revistas, publicaes especializadas, entrevistas, reportagens realizadas pela
imprensa escrita e dados oficiais publicados na internet).
2. O PSICOPATA
Ainda que alguns indivduos apresentem caractersticas que levantem suspeitas desde a
infncia de que mais tarde venham a desenvolver algum transtorno, para a Classificao de
Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10, somente se pode falar em psicopatia a
partir dos 18 (dezoito) anos de idade, pois quando as caractersticas mais especficas se tornam
mais frequente.
Segundo Silva (2010), essas caractersticas so a ausncia de empatia, utilizao de
mentiras despudoradamente, inteligncia acima da mdia, habilidade para manipular pessoas e
liderar grupos, desconsiderao pelos sentimentos alheios, egosmo exacerbado, problemas na
autoestima, ausncia de culpa e compaixo, responsabilizao de terceiros por seus atos, ausncia
de medo de ser pego, impulsividade e a incapacidade para aprender com punio ou com
experincias.
Por serem inteligentes, os psicopatas, apesar de no saberem sentir compaixo por outras
pessoas e terem emoes superficiais, so inteiramente capazes de demonstrar amizade,
considerao, carinho. Conquistam com facilidade o carisma e a simpatia das pessoas, mas isso
apenas um meio, como a mentira e a seduo, do qual o psicopata se utiliza para atrair e
manipular suas vtimas. No se importam com o que amoral ou moral, pois no fazem
diferenciao entre um e outro.
Alguns escritores afirmam que a psicopatia uma doena mental que possui uma base
gentica (SADOCK, 2007, p. 854). Para a doutrina dominante, a psicopatia no se trata de uma
doena, mas de um transtorno de personalidade. Robert Hare (1973, p. 4-5), considerado a maior
referncia do mundo em psicopatia, tambm refora essa tese. Para Hare (1973), a psicopatia
representa uma desordem de personalidade dissociativa, antissocial ou socioptica, ou seja, uma
forma especfica de distrbio de personalidade. Ballone (2008) sustenta que a psicopatia no
uma enfermidade mental porque as doenas desse grupo esto bem delimitadas. Alm disso, os
doentes mentais no tm conscincia de seus atos por no possurem compreenso da realidade,
j que sofrem, em sua maioria, processos de alucinao. Os psicopatas, ao contrrio,
compreendem a realidade, mas no conseguem evitar a prtica de certos atos, como se sua razo
fosse sufocada pela sua emoo.
Na Classificao Internacional de Doenas, a psicopatia est inserida no grupo da
Personalidade Dissocial (Cdigo F60.2), que a perturbao da personalidade que se caracteriza
pelo desprezo social e total ausncia de empatia para com terceiros. A minoria dos doutrinadores
tem a compreenso de que a psicopatia pode ter causas fsicas. Sabbatini e Cardoso (2002, apud
NASCIMENTO, 2006, p. 315), por exemplo, fizeram pesquisas, a partir das quais identificaram
que o crebro dos psicopatas possui uma falha na ligao entre o sistema lmbico (local onde se
processam as emoes) e o crtex pr-frontal (local onde se processam o planejamento e a
conscincia). Ainda foi descoberto que os psicopatas possuem a massa cinzenta pr-central
diminuda, o que poderia ser a causa da perda do julgamento moral e da impulsividade, e que
essas caractersticas podem ser passadas geneticamente.
Dois neurologistas brasileiros, Jorge Moll e Ricardo Oliveira, a partir de experincias com
psicopatas e pessoas comuns, comprovaram que os psicopatas possuem um distrbio no sistema
lmbico. Essa parte do crebro responsvel por processar as emoes. Essas experincias se
deram da seguinte forma: foram demonstradas imagens com cenas de crimes, guerras e
amoralidades e imagens com momentos felizes e paisagens bonitas, alternadamente, a fim de se
verificar que rea do crebro entraria em maior atividade em cada etapa da pesquisa. Os
indivduos pesquisados apenas deveriam prestar ateno a todos os estmulos, sem emitir
qualquer resposta. No era esperada nenhuma reao dos voluntrios. Os neurologistas apenas
observaram que rea cerebral se movimentou de forma mais intensa no momento que as imagens
eram mostradas.
Os dois neurologistas chegaram concluso de que, nos psicopatas, a regio do sistema
lmbico quase no sofria alterao independente da imagem vista ter momentos felizes ou serem
moralmente inaceitveis, enquanto que nas pessoas comuns, essa rea do crebro se
movimentava muito quando havia alternncia da imagem feliz para imagem amoral devido a
repulsa s imagens.
Apesar da maioria dos doutrinadores acreditarem que a psicopatia surge atravs de um
transtorno da personalidade, importante frisar que a relao do sujeito com a sociedade tambm
interfere no comportamento e na personalidade do indivduo.
3. IMPUTABILIDADE X SEMI-IMPUTABILIDADE
Assim, o referido Cdigo Penal cita que isento de pena apenas o agente com doena
mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado. A psicopatia no se configura como
doena mental, mas sim como um transtorno de personalidade.
No Brasil, o psicopata tido como semi-imputvel, porque se acredita que ele capaz de
entender o carter ilcito da sua conduta, mas no capaz de fazer julgamento moral nem ter
3
Cdigo Penal - Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940.
controle da sua vontade, j que age impulsivamente. Somente poder ser tipificada a
imputabilidade quando o agente do delito for diagnosticado com algum tipo de doena mental,
tais como esquizofrenia, psicose, parania, ou ainda em casos cujo desenvolvimento mental sofra
algum retardo. A inimputabilidade tem que ser comprovada pelos meios tcnicos cabveis, e no
presumida.
Guilherme de Souza Nucci (2011, p. 310) afirma que a lei penal adotou o critrio misto
(biopsicolgico), onde indispensvel o laudo mdico para provar a doena mental. O lado
psicolgico a capacidade de se conduzir de acordo com o entendimento do laudo mdico e com
o carter ilcito do fato, embora o magistrado no fique vinculado ao laudo pericial.
Com toda divergncia quanto classificao do psicopata com relao sua
imputabilidade, a maior parte dos doutrinadores tem como tese que os psicopatas so conscientes
de seus atos, mas, devido a perturbaes advindas do seu distrbio, eles so incapazes de
controlar seus estmulos prtica criminosa.
Damsio E. Jesus (2005, p.502), Cezar R. Bitencourt (200, p.419) e Julio F. Mirabete e
Renato Fabbrini (2010, p.119), por exemplo, defendem que os psicopatas so semi-imputveis.
Os tribunais seguem o mesmo entendimento e tambm classificam o psicopata como semi-
imputvel, porque o ru, quando reconhecidamente possuidor da psicopatia, capaz de entender
o carter ilcito de sua conduta, mas no capaz de controlar seu ato devido ao seu distrbio
emocional e sua falta de empatia. Eis o entendimento dos Tribunais brasileiros:
4
Artigo 96, I e II, Cdigo Penal Brasileiro.
5
Livramento condicional. Traos de personalidade psicoptica que no recomendam a liberao antecipada do
condenado. Indeferimento do benefcio pelo acrdo impugnado. HC indeferido pelo STF no HC 66437 (BRASIL,
1988).
punitiva para os agentes infratores e portadores de enfermidades mentais, e tambm para aqueles
acometidos por distrbios que o colocam em situao diversa da normalidade. Para que seja
aplicada leva-se em conta a periculosidade do indivduo, de modo que enquanto estiver recluso,
deve ser feita uma percia anual. Para todo criminoso que tenha incapacidade penal e represente
perigo ordem social, ser aplicada a medida de segurana, uma vez que esta possui carter
preventivo.
Quando se fala desta medida, deve ser afastada a ideia de manicmio judicirio, que foi
extinto h um tempo razovel. Tem-se hoje o internamento em hospital de custdia e tratamento
psiquitrico, dessa forma, o infrator sofrer os efeitos de uma pena mais humanizada e que seja
em tese menos humilhante para ele.
A aplicao de uma medida de segurana guarda grande semelhana com a aplicao de
uma pena, pois, em ambos os casos a liberdade do agente restrita, e tal fato pode ser
considerado uma forma de sano, entretanto, a principal diferena entre as duas modalidades
reside no fato de sua fundamentao, enquanto a pena tem fundamento na culpabilidade, a
medida de segurana se fundamenta na total periculosidade do agente.
A princpio a medida de segurana poderia ser aplicada por perodo indeterminado,
enquanto durasse a periculosidade do indivduo, todavia, a jurisprudncia vem aceitando que o
mesmo no seja aplicado por tempo superior aquele utilizado para as penas de restrio de
liberdade, conforme o disposto a seguir:
6
Cf. em BRASIL (2010).
presos comuns, de maneira que no poderiam control-los. Esta priso deveria receber uma
ateno especial do governo, contando sempre com equipe mdica e psicolgica para
acompanhamento permanente, caso contrrio, o que seria a resoluo do problema, acabaria
sendo verdadeira bomba prestes a estourar.
Diante disso, necessria uma poltica criminal especfica para os psicopatas e dotada de
meios eficazes de punio e controle para estes indivduos, entretanto, no apenas o sistema
judicirio deixou de tratar o assunto referente psicopatia, mas tambm a legislao penal
brasileira no tem nenhuma previso normativa cabvel para o caso concreto. H a necessidade da
diferenciao legal entre criminosos psicopatas e no psicopatas.
5. CONCLUSES
Com relao ao tema, ele se apresenta de forma complexa e exige solues efetivas, em
face da capacidade daquele considerado psicopata. Entretanto, o problema existe e exige a
criao de uma poltica criminal especfica para lidar com indivduos acometidos por esse
transtorno de personalidade.
Com base em tudo que foi exposto, verifica-se que h pessoas desprovidas de conscincia
moral, mas cognitivamente perfeitas: os indivduos psicopatas. Os debates sobre a imputabilidade
do psicopata so de grande relevncia, j que ficou concludo que a psicopatia no uma doena,
e, portanto, deve ter uma legislao especfica e eficiente para lidar com a questo de forma
eficiente e satisfatria. O mais interessante que o transtorno da psicopatia um tema bastante
atual e os casos so demonstrados na mdia em ritmo crescente, mas, ainda assim, o legislador
ptrio no atentou para a impossibilidade de uma soluo vivel para tratar essa questo.
fato que a medida de segurana ainda a melhor punio dispensada ao psicopata,
desde que seja compreendido o fato da incapacidade que estes tm de voltarem ao convvio
social, pois os psicopatas no possuem discernimento reduzido, mas sim falta de emoo para se
colocar no lugar do outro antes de praticar a ao criminosa.
A partir do momento em que a punibilidade dos psicopatas passar a ser amplamente
discutida e a legislao for especfica em tratar do caso concreto, a efetividade da punio tender
a fazer a reincidncia criminal desses indivduos diminuir, tornando possvel a preveno de
novos crimes.
REFERNCIAS