Evelyn Costa Laranjeiras Borges PDF

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 10

A MENTE CRIMINOSA E A PSICOPATIA

NO MBITO JURDICO E NA LEGISLAO PENAL BRASILEIRA1

Evelyn Costa Laranjeiras Borges2

RESUMO: notrio que o legislador ptrio no se ateve para a falta de punio eficaz para os psicopatas. Levando
em considerao que os mesmos so desprovidos de remorso, tm dificuldade de reintegrao na sociedade e grande
probabilidade de reincidncia, alguns pases decidiram pela priso perptua ou pela pena de morte, o que no aceito
na nossa legislao constitucional. extremamente relevante entender a questo da psicopatia e estabelecer sanes
efetivas para punio e controle dos sujeitos que tm esse distrbio. O objetivo principal deste trabalho discutir os
reflexos da lei penal sobre os crimes cometidos por psicopatas e demonstrar a necessidade do Estado criar uma
legislao diferenciada e especfica favorvel para que esses indivduos no venham mais oferecer riscos para a
sociedade.

PALAVRAS-CHAVE: Psicopatia; Imputabilidade; Medida de segurana.

ABSTRACT: It is clear that the paternal legislature not adhered to the lack of effective punishment for psychopaths.
Considering that they are devoid of remorse, have difficulty reintegrating into society and great likelihood of
recurrence, some countries decided by life imprisonment or the death penalty, which is not accepted in our
constitutional law.It is extremely important to understand the issue of psychopathy and establish effective sanctions
to punish and control of individuals who have this disorder. The main objective of this paper is to discuss the effects
of the criminal law on crimes committed by psychopaths and demonstrate the need for the state to create a
differentiated and specific legislation favorable to these individuals will not offer more risks to society.

KEYWORDS: Psychopathy; Accountability; Security measure.

1. INTRODUO

A sociedade est em constante mudana, e por conta dessas transformaes, o


comportamento humano sofre alteraes assim como as leis, conceitos, concepes de crime e
prtica criminosa. Contextos fsicos, biolgicos e psicolgicos refletem diretamente na prtica
dos delitos.
No que tange ao contexto psicolgico, perceptvel que vrios distrbios tm implicado
na atitude e personalidade do indivduo portador. Dentre todos os distrbios, h um em especial
que foco do desenvolvimento deste trabalho: a psicopatia, que est em evidncia nos meios de
comunicao em nmero crescente de casos pela tendncia que os psicopatas tm de cometer
crimes violentos que impressionam a populao e o judicirio, e tambm por ser notrio que o
legislador ptrio no se ateve para a falta de punio eficaz para os psicopatas, nem para o fato da
coexistncia de presos comuns e psicopatas.

1
TCC elaborado sob a orientao da Prof. Natlia Petersn Nascimento Santos.Professora de DireitoPenal e
Processual Penal da Universidade Catlica do Salvador.
2
Aluna concluinte do Curso de Direito da Universidade Catlica do Salvador.
Levando em considerao que os psicopatas no entendem punies e no aprendem com
elas, j que se trata de pessoas desprovidas de remorso e com dificuldade de reintegrao e
ressocializao na sociedade, alguns pases, como por exemplo os Estados Unidos, decidiram
pela priso perptua ou pela pena de morte, o que no aceito na nossa legislao constitucional.
O objetivo principal deste trabalho cientfico saber a melhor forma de punir os
psicopatas, uma vez que eles no entendem a sano como punio, e discutir os reflexos da lei
penal sobre os crimes cometidos por indivduos que sofrem de psicopatia. Alm disso, objetiva-se
tambm descobrir a causa da psicopatia (se hereditria ou consequncia do meio em que se
vive), mostrar as principais caractersticas dos psicopatas e demonstrar a necessidade de o Estado
criar uma estrutura diferenciada e favorvel para que esses indivduos no venham mais a
oferecer riscos para a sociedade.
A fonte primordial deste artigo a bibliogrfica, desenvolvida em fontes primrias, com
consultas de livros na rea jurdica (doutrina e jurisprudncia que tratem do assunto), psicolgica
e mdica. Ser feita tambm a anlise de textos legais (legislao vigente), bem como em fontes
secundrias (artigos, revistas, publicaes especializadas, entrevistas, reportagens realizadas pela
imprensa escrita e dados oficiais publicados na internet).

2. O PSICOPATA

Ainda que alguns indivduos apresentem caractersticas que levantem suspeitas desde a
infncia de que mais tarde venham a desenvolver algum transtorno, para a Classificao de
Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10, somente se pode falar em psicopatia a
partir dos 18 (dezoito) anos de idade, pois quando as caractersticas mais especficas se tornam
mais frequente.
Segundo Silva (2010), essas caractersticas so a ausncia de empatia, utilizao de
mentiras despudoradamente, inteligncia acima da mdia, habilidade para manipular pessoas e
liderar grupos, desconsiderao pelos sentimentos alheios, egosmo exacerbado, problemas na
autoestima, ausncia de culpa e compaixo, responsabilizao de terceiros por seus atos, ausncia
de medo de ser pego, impulsividade e a incapacidade para aprender com punio ou com
experincias.
Por serem inteligentes, os psicopatas, apesar de no saberem sentir compaixo por outras
pessoas e terem emoes superficiais, so inteiramente capazes de demonstrar amizade,
considerao, carinho. Conquistam com facilidade o carisma e a simpatia das pessoas, mas isso
apenas um meio, como a mentira e a seduo, do qual o psicopata se utiliza para atrair e
manipular suas vtimas. No se importam com o que amoral ou moral, pois no fazem
diferenciao entre um e outro.

2.1. DEFINIO DE PSICOPATIA

Alguns escritores afirmam que a psicopatia uma doena mental que possui uma base
gentica (SADOCK, 2007, p. 854). Para a doutrina dominante, a psicopatia no se trata de uma
doena, mas de um transtorno de personalidade. Robert Hare (1973, p. 4-5), considerado a maior
referncia do mundo em psicopatia, tambm refora essa tese. Para Hare (1973), a psicopatia
representa uma desordem de personalidade dissociativa, antissocial ou socioptica, ou seja, uma
forma especfica de distrbio de personalidade. Ballone (2008) sustenta que a psicopatia no
uma enfermidade mental porque as doenas desse grupo esto bem delimitadas. Alm disso, os
doentes mentais no tm conscincia de seus atos por no possurem compreenso da realidade,
j que sofrem, em sua maioria, processos de alucinao. Os psicopatas, ao contrrio,
compreendem a realidade, mas no conseguem evitar a prtica de certos atos, como se sua razo
fosse sufocada pela sua emoo.
Na Classificao Internacional de Doenas, a psicopatia est inserida no grupo da
Personalidade Dissocial (Cdigo F60.2), que a perturbao da personalidade que se caracteriza
pelo desprezo social e total ausncia de empatia para com terceiros. A minoria dos doutrinadores
tem a compreenso de que a psicopatia pode ter causas fsicas. Sabbatini e Cardoso (2002, apud
NASCIMENTO, 2006, p. 315), por exemplo, fizeram pesquisas, a partir das quais identificaram
que o crebro dos psicopatas possui uma falha na ligao entre o sistema lmbico (local onde se
processam as emoes) e o crtex pr-frontal (local onde se processam o planejamento e a
conscincia). Ainda foi descoberto que os psicopatas possuem a massa cinzenta pr-central
diminuda, o que poderia ser a causa da perda do julgamento moral e da impulsividade, e que
essas caractersticas podem ser passadas geneticamente.
Dois neurologistas brasileiros, Jorge Moll e Ricardo Oliveira, a partir de experincias com
psicopatas e pessoas comuns, comprovaram que os psicopatas possuem um distrbio no sistema
lmbico. Essa parte do crebro responsvel por processar as emoes. Essas experincias se
deram da seguinte forma: foram demonstradas imagens com cenas de crimes, guerras e
amoralidades e imagens com momentos felizes e paisagens bonitas, alternadamente, a fim de se
verificar que rea do crebro entraria em maior atividade em cada etapa da pesquisa. Os
indivduos pesquisados apenas deveriam prestar ateno a todos os estmulos, sem emitir
qualquer resposta. No era esperada nenhuma reao dos voluntrios. Os neurologistas apenas
observaram que rea cerebral se movimentou de forma mais intensa no momento que as imagens
eram mostradas.
Os dois neurologistas chegaram concluso de que, nos psicopatas, a regio do sistema
lmbico quase no sofria alterao independente da imagem vista ter momentos felizes ou serem
moralmente inaceitveis, enquanto que nas pessoas comuns, essa rea do crebro se
movimentava muito quando havia alternncia da imagem feliz para imagem amoral devido a
repulsa s imagens.
Apesar da maioria dos doutrinadores acreditarem que a psicopatia surge atravs de um
transtorno da personalidade, importante frisar que a relao do sujeito com a sociedade tambm
interfere no comportamento e na personalidade do indivduo.

3. IMPUTABILIDADE X SEMI-IMPUTABILIDADE

No Cdigo Penal brasileiro difcil classificar o psicopata na imputabilidade ou na semi-


imputabilidade. Artigo 26 do Cdigo Penal, in verbis:

Artigo 26 do CP isento de pena o agente que, por doena mental ou


desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ao ou da
omisso, inteiramente incapaz de entender o carter ilcito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento.
Pargrafo nico A pena pode ser reduzida de um a dois teros, se o agente,
em virtude de perturbao de sade mental ou por desenvolvimento mental
incompleto ou retardado no era inteiramente capaz de entender o carter ilcito
do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.3

Assim, o referido Cdigo Penal cita que isento de pena apenas o agente com doena
mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado. A psicopatia no se configura como
doena mental, mas sim como um transtorno de personalidade.
No Brasil, o psicopata tido como semi-imputvel, porque se acredita que ele capaz de
entender o carter ilcito da sua conduta, mas no capaz de fazer julgamento moral nem ter

3
Cdigo Penal - Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940.
controle da sua vontade, j que age impulsivamente. Somente poder ser tipificada a
imputabilidade quando o agente do delito for diagnosticado com algum tipo de doena mental,
tais como esquizofrenia, psicose, parania, ou ainda em casos cujo desenvolvimento mental sofra
algum retardo. A inimputabilidade tem que ser comprovada pelos meios tcnicos cabveis, e no
presumida.
Guilherme de Souza Nucci (2011, p. 310) afirma que a lei penal adotou o critrio misto
(biopsicolgico), onde indispensvel o laudo mdico para provar a doena mental. O lado
psicolgico a capacidade de se conduzir de acordo com o entendimento do laudo mdico e com
o carter ilcito do fato, embora o magistrado no fique vinculado ao laudo pericial.
Com toda divergncia quanto classificao do psicopata com relao sua
imputabilidade, a maior parte dos doutrinadores tem como tese que os psicopatas so conscientes
de seus atos, mas, devido a perturbaes advindas do seu distrbio, eles so incapazes de
controlar seus estmulos prtica criminosa.
Damsio E. Jesus (2005, p.502), Cezar R. Bitencourt (200, p.419) e Julio F. Mirabete e
Renato Fabbrini (2010, p.119), por exemplo, defendem que os psicopatas so semi-imputveis.
Os tribunais seguem o mesmo entendimento e tambm classificam o psicopata como semi-
imputvel, porque o ru, quando reconhecidamente possuidor da psicopatia, capaz de entender
o carter ilcito de sua conduta, mas no capaz de controlar seu ato devido ao seu distrbio
emocional e sua falta de empatia. Eis o entendimento dos Tribunais brasileiros:

Diminuio da capacidade dos psicopatas: Os psicopatas podem ser


considerados enfermos mentais, e tem sua capacidade de discernimento
reduzida, o que atrapalha seu julgamento com relao a atos criminosos, e dessa
forma, pode ser enquadrado nos termos do atual artigo 26 do CP (RT 550/303)
(TJSP).
Diminuio da capacidade de personalidade psicoptica: A personalidade
psicoptica nem sempre indica que o agente sofreu abuso sexual, embora suas
aes estejam bem prximas da transio do psiquismo e de psicoses
funcionais (RT 495/304) (TJSP).
Diminuio da capacidade de personalidade psictica: Com relao a
personalidade psicoptica pode-se afirmar que molstias mentais no so
responsveis pelas aes do agente, elas esto relacionadas a perturbaes de
cunho mental, e por isso, quando o agente for punido deve ter sua pena
reduzida (RT 462/409/10) (TJMT). (BITENCOURT, 2011, grifo do autor).
importante frisar que, apesar dos tribunais classificarem os psicopatas como semi-
imputveis, em casos de grande clamor social onde o criminoso considerado psicopata, os rus
so condenados como transgressores comuns.

4. LEGISLAO BRASILEIRA X LEGISLAO INTERNACIONAL

A partir do acontecimento de um crime, o Estado exerce o seu direito de punir. No Brasil,


a punio aplicada ao psicopata no caso prtico pode ser a pena privativa de liberdade ou a
medida de segurana. A pena privativa de liberdade aquela que tem como objetivo privar o
condenado do seu direito de ir e vir, recolhendo-o priso. Ela poder ser de recluso (para
crimes de maior gravidade) ou deteno (para crimes de menor gravidade). Essa pena dever ser
executada de forma progressiva (regime fechado, regime semiaberto, regime aberto). Como os
tribunais entendem que os psicopatas so semi-imputveis, isso quer dizer que, caso o indivduo
seja condenado a este tipo de pena ao invs da medida de segurana, a pena no caso em questo
pode sofrer reduo, conforme o disposto no artigo 26, pargrafo nico do Cdigo Penal em at
dois teros.
A medida de segurana a medida aplicada aos agentes considerados inimputveis ou
semi-imputveis que cometem um crime, com internao em hospital de custdia e tratamento
psiquitrico, e, na falta desse, em outro estabelecimento adequado, ou sujeio a tratamento
ambulatorial 4.
A pena privativa de liberdade a principal resposta do Estado contra as aes criminosas.
Ela visa reeducar e ressocializar o condenado, na tentativa de inser-lo, novamente, na sociedade,
de forma que ele no reincida na prtica criminosa. Acontece que, o objetivo ressocializador da
pena privativa de liberdade pouco tem sido alcanado. Bittencourt (2004, p. 471), menciona que
[...] grande parte das crticas e questionamentos que se faz priso se refere impossibilidade
absoluta ou relativa de se obter algum feito positivo sobre o apenado.
O Supremo Tribunal Federal j se manifestou pelo indeferimento de Livramento
Condicional a indivduo acometido por psicopatia, por entender que ele no estaria apto ao
convvio social 5. Por outro lado, a medida de segurana pode ser considerada uma forma

4
Artigo 96, I e II, Cdigo Penal Brasileiro.
5
Livramento condicional. Traos de personalidade psicoptica que no recomendam a liberao antecipada do
condenado. Indeferimento do benefcio pelo acrdo impugnado. HC indeferido pelo STF no HC 66437 (BRASIL,
1988).
punitiva para os agentes infratores e portadores de enfermidades mentais, e tambm para aqueles
acometidos por distrbios que o colocam em situao diversa da normalidade. Para que seja
aplicada leva-se em conta a periculosidade do indivduo, de modo que enquanto estiver recluso,
deve ser feita uma percia anual. Para todo criminoso que tenha incapacidade penal e represente
perigo ordem social, ser aplicada a medida de segurana, uma vez que esta possui carter
preventivo.
Quando se fala desta medida, deve ser afastada a ideia de manicmio judicirio, que foi
extinto h um tempo razovel. Tem-se hoje o internamento em hospital de custdia e tratamento
psiquitrico, dessa forma, o infrator sofrer os efeitos de uma pena mais humanizada e que seja
em tese menos humilhante para ele.
A aplicao de uma medida de segurana guarda grande semelhana com a aplicao de
uma pena, pois, em ambos os casos a liberdade do agente restrita, e tal fato pode ser
considerado uma forma de sano, entretanto, a principal diferena entre as duas modalidades
reside no fato de sua fundamentao, enquanto a pena tem fundamento na culpabilidade, a
medida de segurana se fundamenta na total periculosidade do agente.
A princpio a medida de segurana poderia ser aplicada por perodo indeterminado,
enquanto durasse a periculosidade do indivduo, todavia, a jurisprudncia vem aceitando que o
mesmo no seja aplicado por tempo superior aquele utilizado para as penas de restrio de
liberdade, conforme o disposto a seguir:

MEDIDA DE SEGURANA PROJEO NO TEMPO LIMITE. A redao


de alguns dispositivos quais sejam 75 e 97 do Cdigo Penal e 183 da Lei de
Execues Penais devem ser rigorosamente aplicados, a fim de evitar que uma
priso se torne perptua. Pois, nosso sistema penal admite que um condenado
cumpra somente o mximo de trinta anos de priso. (BRASIL, 2005)

Verifica-se, ento, que a garantia constitucional liberdade do psicopata se sobrepe a


tambm garantia constitucional de segurana da coletividade (AGUIAR, 2008), contrariando um
princpio geral do direito, que a primazia do interesse coletivo sobre o bem individual.
Em legislaes internacionais, h vrias formas de punir psicopatas homicidas. A priso
perptua e a pena de morte so as mais comuns, mas como a Constituio Federal Brasileira no
permite esses mtodos, outra alternativa usada internacionalmente a castrao qumica. Esse
mtodo vem sendo utilizado nos Estados Unidos, Dinamarca, Sucia, Alemanha, Repblica
Tcheca, entre outros, e se configura na aplicao de hormnios femininos visando a diminuio
de testosterona nos testculos. O resultado a diminuio drstica da libido sexual, na ereo
masculina e tambm na agressividade. Tal tratamento utilizado como uma modalidade de pena
aplicada aos chamados crimes sexuais, quais sejam estupro e pedofilia, que geralmente so
cometidos em srie.
Cabe frisar que h, no Brasil, dois projetos de lei sobre a castrao qumica em trmite,
sendo um da Cmara dos Deputados, sob o nmero 7.021\02, e outro do Senado, sob o nmero
552\07. Esse mtodo seria utilizado apenas para reincidentes em crimes sexuais graves, que
cumprissem uma parte de sua pena e que posteriormente optassem por ser submetidos
voluntariamente ao tratamento.
Outra medida usada por outros pases, como por exemplo, Estados Unidos e Canad, a
pulseira rastreadora. H muita divergncia acerca do monitoramento eletrnico, pois muitos
consideram que o indivduo com a pulseira seria discriminado pela sociedade. Por outro lado, o
rastreador no ofende a integridade fsica da pessoa, e no caso dos psicopatas, seria uma boa
alternativa quando eles cumprissem a pena e fossem reinseridos no convvio social, pois seria
uma forma de coibir uma possvel reincidncia.
Esta tramitando na Cmara dos Deputados o Projeto de Lei n 6858, de 2010, proposta
pelo Deputado Federal Marcelo Itagiba, que prev a alterao da Lei de Execuo Penal (LEP) n
7210/1984. Segundo o Deputado importante a realizao obrigatria do exame criminolgico
do agente condenado pena privativa de liberdade no s no momento de sua entrada no
estabelecimento prisional em que cumprir a pena, como tambm em cada progresso de regime
a que tiver direito (alterando-se, assim, o art. 6 e incluindo-se o art. 8-A na LEP).
O Deputado aponta ainda a necessidade de incluso do 3 ao art. 84 da LEP, para alterar
a execuo da pena por psicopatas, os quais cumpririam a pena imposta separadamente dos
presos comuns, bem como a incluso do 3 ao art. 112, tambm da LEP, para que a concesso
de livramento condicional, indulto e comutao de penas do preso classificado como psicopata,
bem como sua transferncia para regime menos rigoroso, dependa de laudo permissivo emitido
por quem tenha condio tcnica de faz-lo 6.
Christian Costa (2008), entende que a soluo para o problema da psicopatia estaria na
criao de prises especificamente destinadas a psicopatas, onde estes ficariam isolados dos

6
Cf. em BRASIL (2010).
presos comuns, de maneira que no poderiam control-los. Esta priso deveria receber uma
ateno especial do governo, contando sempre com equipe mdica e psicolgica para
acompanhamento permanente, caso contrrio, o que seria a resoluo do problema, acabaria
sendo verdadeira bomba prestes a estourar.
Diante disso, necessria uma poltica criminal especfica para os psicopatas e dotada de
meios eficazes de punio e controle para estes indivduos, entretanto, no apenas o sistema
judicirio deixou de tratar o assunto referente psicopatia, mas tambm a legislao penal
brasileira no tem nenhuma previso normativa cabvel para o caso concreto. H a necessidade da
diferenciao legal entre criminosos psicopatas e no psicopatas.

5. CONCLUSES

Com relao ao tema, ele se apresenta de forma complexa e exige solues efetivas, em
face da capacidade daquele considerado psicopata. Entretanto, o problema existe e exige a
criao de uma poltica criminal especfica para lidar com indivduos acometidos por esse
transtorno de personalidade.
Com base em tudo que foi exposto, verifica-se que h pessoas desprovidas de conscincia
moral, mas cognitivamente perfeitas: os indivduos psicopatas. Os debates sobre a imputabilidade
do psicopata so de grande relevncia, j que ficou concludo que a psicopatia no uma doena,
e, portanto, deve ter uma legislao especfica e eficiente para lidar com a questo de forma
eficiente e satisfatria. O mais interessante que o transtorno da psicopatia um tema bastante
atual e os casos so demonstrados na mdia em ritmo crescente, mas, ainda assim, o legislador
ptrio no atentou para a impossibilidade de uma soluo vivel para tratar essa questo.
fato que a medida de segurana ainda a melhor punio dispensada ao psicopata,
desde que seja compreendido o fato da incapacidade que estes tm de voltarem ao convvio
social, pois os psicopatas no possuem discernimento reduzido, mas sim falta de emoo para se
colocar no lugar do outro antes de praticar a ao criminosa.
A partir do momento em que a punibilidade dos psicopatas passar a ser amplamente
discutida e a legislao for especfica em tratar do caso concreto, a efetividade da punio tender
a fazer a reincidncia criminal desses indivduos diminuir, tornando possvel a preveno de
novos crimes.
REFERNCIAS

BALLONE, G. J, Personalidade Psictica. Disponvel em:


<http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=72>. Acesso em: 21 out.
2014.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral 1. 16. ed. So Paulo:
Saraiva, 2011.
BRASIL. Cmara dos Deputados. Disponvel em:
<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=737111&filename=P
L+6858/2010>. Acesso em: 05 de dezembro de 2014
CARDOSO, Silvia Helena; SABBATINI, Renato M. Aprendizagem e Mudanas no
Crebro. Crebro e Mente [Revista eletrnica], 11, Universidade Estadual de Campinas,
out./dez. 2000.
DSM-IV-TR. Manual Diagnstico e Estatstico de Transtornos Mentais. Traduo Cludia
Dornelles; 4. ed. ver. Porto Alegre: Artmed, 2009.
HARE, Robert. Psicopatia, Teoria e Pesquisa. Rio de Janeiro: Livros Tcnicos e Cientficos
S/A, 1973.
JESUS, Damsio E. de. Direito penal: parte geral. 28. ed. v. 1. So Paulo: Saraiva, 2005.
MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal. 26. ed. So
Paulo: Editora Atlas S. A., 2010.
MORANA, Hilda Clotilde Penteado. Verso em Portugus da Escala Hare (PCL-R). So
Paulo: Casa do Psiclogo, 2006.
NASCIMENTO, Yudice Randol Andrade. Assassinos Seriais: Para Compreender as Cincias
Forenses. In: SIMES, Sandro Alex de Souza. Ensaios sobre a Teoria Geral do Direito.
Belm: CESUPA, 2006.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal: Parte Geral. 7. Ed. So Paulo, SP:
Revista dos Tribunais, 2011.
ORGANIZAO MUNDIAL DA SADE. Classificao Estatstica Internacional de
Doenas e Problemas Relacionados Sade CID-10. Disponvel em
<www.datasus.gov.br/cid10>. Acesso em: 30 de novembro de 2014.
SADOCK, Benjamin James. Compndio de Psiquiatria: Cincia do Comportamento e
Psiquiatria Clnica. 9. Ed. So Paulo: Artmed, 2007.
ZARZUELA, Jos Lopes. Semi-imputabilidade: Aspectos Penais e Criminolgicos. Campinas:
Julex, 1988.
ZKLARZ, Eduardo. E se...fosse possvel prever os crimes dos psicopatas?
SUPERINTERESSANTE: Mentes psicopatas, So Paulo, n. 267. Julho de 2009.

Você também pode gostar