Amim Rodor. A. T. Jones o Declinio de Um Lider PDF
Amim Rodor. A. T. Jones o Declinio de Um Lider PDF
Amim Rodor. A. T. Jones o Declinio de Um Lider PDF
Resumo : Este artigo apresenta uma severe personal conflict with Uriah
detalhada anlise da personalidade e Smith and others. The great popular-
trajetria de A. T. Jones, um dos mais ity of Jones in the 1890s contributed
proeminentes personagens da Assem- to the development of his arrogance
bleia de 1888. Segundo o autor, Jones and theological extremism. After his
sempre teve tendncias autossuficincia suggestions for Church reorganiza-
e superioridade em relao s demais tion and the fact that he was not elect
pessoas, e essa foi a principal causa de president of the General Conference,
seu declnio espiritual. J em 1888, ele Jones manifested growing bitterness
teve srios conflitos pessoais com Uriah toward Church. Even after repeated at-
Smith e outros. A grande popularidade de tempts by Adventist leaders (including
Jones na dcada de 1890 contribuiu para Ellen G. White), Jones moved himself
o desenvolvimento de sua arrogncia away from Adventist organization, and
e extremismo teolgico. Havendo sido become its critic.
rejeitadas suas propostas sobre a reor-
ganizao da Igreja e no sendo eleito
Introduo1
presidente da Associao Geral, Jones
passou a manifestar crescente amargu- Heris? Quem no os tem? Quem
ra pela Igreja. Mesmo aps reiteradas no precisa deles? Das pirmides do
tentativas feitas por lderes adventistas Egito, da quarta dinastia em Giz,
(inclusive Ellen G. White), Jones afastou- Antiga Grcia, onde Homero chama-
se finalmente da organizao adventista va seus homenageados de heris, de-
e tornou-se um crtico dela. finidos como homens de fora sobre-
humana ou favorecidos pelos deuses.
A bstract : This article presents a Da catedral de Palermo, onde um
detailed analysis of the personality imenso bloco de mrmore negro co-
and trajectory of A. T. Jones, one of bre o ltimo lugar de repouso do mais
the most important characters in the formidvel de todos os reis ingleses,
1888 General Conference session. Henrique VI, aos tmulos dos angevi-
According to the author, Jones always nos, na abadia de Fountevrault, onde
had tendencies to auto-sufficiency and descansa o grande rei legislador Hen-
superiority in relation to other people, rique II, sua esposa Eleanora da Aqui-
and this was the major reason for his tnia e o filho Ricardo Corao de
spiritual decline. Yet in 1888, he had Leo. Das Escrituras Sagradas, onde
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sermo, Jones disse tudo o que sa- para o melhor ou para o pior. Jones
bia em 20 minutos, e algum teve foi o pregador no funeral de Waggo-
que terminar o sermo por ele. Mas ner, em 1916.
esse no o homem que encontramos
mais tarde, em seus tempos ureos, Os desdobramentos de Minneapolis
sendo capaz de manter o interesse de
multides, com longos sermes que Waggoner e Jones, os dois ho-
chegavam durar 2 horas e meia. Al- mens que agitaram a Assembleia em
guns desses sermes foram publica- Minneapolis (1888), com sua prega-
dos, contendo entre 60 e 100 pginas. o sobre a justificao pela f, eram
No de admirar que Ellen G. White os enviados da comisso executiva
o tivesse aconselhado posteriormente da Associao Geral por vrios anos
a reduzir seus sermes pela metade: depois, para pregar sobre o tema em
Metade do material traria melhor re- toda a nao, em acampamentos e em
sultado, diria ela a Jones. qualquer grande concentrao, em
Jones casou-se em abril de 1877, conclios de pastores e em institutos
com Frances E. Patten. A despeito dos ministeriais, alm das instituies
seus planos de concluir um curso de adventistas. Ellen G. White os acom-
estudo formal em Battle Creek, isso panhou em muitos desses lugares, at
foi frustrado por outras emergncias, sua partida para a Austrlia, em 1891.
fazendo-o continuar na Califrnia LeRoy E. Froom, em seu livro Move-
por muitos anos mais. O nascimento ment of Destiny, dedica todo um ca-
de sua primeira filha, em 1883, com ptulo para analisar as mudanas que
severas limitaes mentais, colocou ocorreram no adventismo do perodo
um enorme fardo sobre a famlia Jo- posterior a 1888,16 sob a influncia
nes. Alm de trazer tenses no casa- desses mensageiros. A Igreja Adven-
mento e dificuldades no relaciona- tista no seria mais a mesma!
mento dele com sua esposa, causou Jones, Waggoner, posteriormen-
entre eles certo distanciamento. Em te W. W. Prescott,17 juntamente com
maio de 1885, Jones tornou-se editor Ellen G. White, aparecem como os
assistente da Signs of the Times, na incansveis campees da justificao
Pacific Press, e alguns meses depois, pela f e responsveis pelo poderoso
juntamente com E. J. Waggoner, tor- reavivamento que tomou lugar entre
nou-se editor. Essa posio ele que adventistas nos anos que se seguiram
assumiu at 1889. Alm de suas ati- a Minneapolis. Como Knight obser-
vidades como editor da Signs, Jones va, Cristo recebeu uma nfase nos
foi indicado pastor do Healdsburg escritos e na pregao adventista que
College. Tido como o homem cer- ele nunca havia recebido antes.18 El-
to para o cargo, e amado por todos len G. White, de fato, esperava que
os irmos, como diria Daniells, em a cruz se tornasse o ponto focal e o
carta para Ellen G. White. Waggo- contexto para cada ensino adventis-
ner manteve uma amizade duradoura ta, tanto em termos de estilo de vida
com Jones, amizade de toda a vida, como em doutrina. No de estranhar
A. T. Jones: o declnio de um lder/ 87
domingo. Jones era o centro das te, Jones conclui que tal semelhana
atenes, particularmente desde a no inclui a mente de Cristo. Para
sua nfase na formao da imagem aqueles familiarizados com a histria
da besta, no perodo de grande rea- da teologia, Jones se aproxima aqui
vivamento adventista nos primeiros da noo hertica do apolinarianis-
anos da dcada de 1890. mo, a qual fazia uma diferena entre
Dois eventos na vida de Jones ser- a mente de Cristo (nous), ocupada
vem para lanar luz sobre sua perso- pelo Logos (o Verbo eterno), e o seu
nalidade complexa. O primeiro deles corpo (soma), que era como o corpo
ajuda a elucidar o elemento funda- dos demais homens. A precarieda-
mental do seu legado aos seguidores de da teologia de Jones evidente.
contemporneos de sua cristologia Como qualquer criana da escola pri-
ps-lapsariana. Durante a primeira mria saberia dizer, nossa mente no
parte dos anos 1890, Jones concluiu apenas uma parte integral da nossa
que existe uma ntima relao entre a natureza, mas a parte mais importan-
natureza humana de Cristo e o tema da te dela. Como, ento, poderia Jesus
justificao pela f. Na Assembleia da Cristo ser exatamente como ns,
Associao Geral de 1895, ele pregou 100% igual, mas ser diferente de ns
diante dos delegados que a natureza precisamente num ponto absoluta-
de Cristo precisamente a nossa natu- mente crucial? Esse tipo de evasiva,
reza. Em sua natureza humana no h historicamente acabou se tornando,
uma partcula de diferena entre ele e talvez, o principal legado de Jones
ns.28 Em outras palavras, Cristo tem aos seus seguidores contemporneos,
a mesma natureza que ns 100% que mesmo diante das mais compe-
igual. Contudo, quando confrontado lentes evidncias, preferem continuar
com uma citao de Ellen G. White com seus argumentos.
ele [Cristo] um irmo em nos- Como foi dito, h outro episdio
sas necessidades, mas no em possuir que ajuda a lanar luz sobre a per-
paixes identicas29 , Jones apresenta sonalidade de Jones. Por volta do
uma soluo desconcertante e contra- mesmo tempo, a Anna Rice Phillips
ditria, para se dizer o mnimo. comeou a escrever testemunhos,
Defensivo, ele objetou com uma pretendendo o dom proftico. Ellen
explicao desconexa, fazendo uma G. White estava, nesse tempo, na
ridcula diferena entre a carne de Nova Zelndia. O curioso que Jones
Cristo e a sua mente.30 Segundo Jo- estava encorajando a srta. Rice e len-
nes, a mente de Cristo no como a do os testemunhos dela em pblico,
nossa mente, por isso chamada a comparando-os com os de Ellen G.
mente de Cristo. Ele advogara que White, e perguntando congregao
entre Cristo e ns no h uma part- se eles no ouviam a mesma voz em
cula de diferena, mas agora, na ten- cada uma deles. Ellen G. White escre-
tativa de harmonizar sua teoria com veu-lhe uma carta da Austrlia, que
uma clara afirmao de Ellen G. Whi- chegou precisamente no domingo,
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depois do sbado em que Jones leu os tos adventistas, com sua credibilida-
testemunhos de Anna Rice Phillips. de arranhada.
Nesse evento, o extraordinrio a
preciso do tempo, num tempo em O caminho inverso: o declnio de
que o correio era absolutamente in- A. T. Jones
certo. A carta fora escrita mais de um
Durante os quatro anos decorridos
ms antes do evento, e chegou preci-
entre 1897 e 1901, houve o perodo de
samente um dia depois. Ainda no cor-
poder oficial de Jones. nesse ponto
reio, Jones leu o testemunho de Ellen
que o encontramos naquilo que Ge-
G. White reprovando sua conduta.
orge Knight denomina pinculo do
Imediatamente, ele entregou a car-
poder.34 Por volta de 1897, Jones ha-
ta a A. O. Tait, para que esse a lesse.
Jones perguntou a Tait: Quem disse via alcanado o clmax de sua carreira
irm White, um ms atrs, que eu denominacional. Nesse tempo, ele era
iria pregar este sermo acerca da srta. a pessoa de maior influncia e a mais
Phillips, como uma profetisa? Voc ouvida no adventismo, depois de El-
sabe quem, disse-lhe Tait, Deus sa- len G. White. Mas devemos observar:
bia que voc iria fazer isso e impres- precisamente na sua visibilidade e
sionou Ellen G. White a escrever-lhe nas possibilidades inerentes de sua po-
um ms antes do seu sermo.31 sio que testemunhamos com tristeza
No prximo sbado, Jones pre- o incio de um processo inexorvel,
gou outra vez na tabernculo em que apressaria o seu declnio e morte
Battle Creek, e leu pores do tes- como um lder adventista de primeira
temunho de Ellen G. White que re- grandeza. Sua natureza impetuosa, sua
cebera no domingo anterior. Essa pena sempre imersa na tinta custica
uma das raras vezes que temos regis- da ironia e da crtica, seu tratamento
tro, em que o encontramos dizendo: rude com as pessoas, sua irresistvel
Eu estou errado, e confesso isso...32 inclinao ao extremismo, sua incapa-
Curiosamente, Ellen G. White foi cidade de, na maioria das vezes, admi-
muito cuidadosa em tratar com essa tir erros e aceitar correes, so traos
pretensa profetisa. Ela escreveu: A que vo se tornando mais evidentes
irm Phillips no deve ser condenada em sua personalidade e o colocam na
ou denunciada.33 Contudo, ela no rota inversa do perodo anterior.
podia entender por que Jones encora- Nesse perodo, Jones exerceria sua
jara a moa e ao mesmo tempo no se enorme influncia na tentativa de levar
comunicara com ela (Ellen G. White) a efeito reformas na denominao. Ob-
sobre a questo. Seria mais uma evi- servamos, em 1897, seus esforos de
dncia da autossuficincia de Jones implementar mudanas na Review and
e de seu julgamento individualista Herald por meio de prticas descritas
das coisas? Provavelmente! Jones, o por Ellen G. White como manifestan-
principal figurante desse contraponto do falta geral de princpios cristos.35
da histria adventista, saiu, para mui- Jones no se intimidou diante do po-
A. T. Jones: o declnio de um lder/ 91
prito Santo.50 Ele ensinara tambm as Para Ellen G. White, isso seria
noes da f da trasladao, con- como voltar ao Egito. Ela disse cla-
ceito sobre o qual o movimento da ramente a Jones que o dr. Kellogg era
carne santa estava construdo. Em controlado pelo esprito do diabo52 e
meados de 1897, Jones acabou sen- que ele, Kellogg, estava rindo triun-
do levado ao pantesmo, uma conse- fante que Jones havia cado em sua
quencia lgica de sua nfase exagera- armadilha. Contudo, Jones continuou
da na doutrina da presena de Cristo cativo pelas foras da apostasia.
no crente. Em 1891, Jones acabara Jones rejeitou todas as advertncias
adotando ideias exageradas quanto ao argumentando ser da vontade de Deus
relacionamento entre a Igreja e o Es- que ele fosse para Battle Creek, sob a
tado, ideias consideradas por Ellen G. ideia de que l ele trabalharia para a
White como fogo estranho. converso de Kellogg. Em um encon-
A partir de 1901, encontramos Jo- tro final com Ellen G. Whte, pouco an-
nes em descida rpida para o desas- tes de seu retorno para o antigo bero
tre descida quase to rpida como do adventismo, ela lhe disse:
sua ascenso proeminncia no final
Em viso eu o vi sob a influncia do dr.
da dcada de 1880. Ellen G. White o
Kellogg. [...] Finas teias estavam sendo
advertira dos perigos de sua associa- tecidas ao redor dele, at que ele estives-
o com o Dr. Kellogg. Numa carta, se completamente imobilizado, mos e
no vero de 1903, Kellogg lisonjeava ps, [...] sua mente e seus sentidos ha-
o esprito vaidoso de Jones, agrade- viam se tornados cativos.53
cendo ao Senhor que nos deu voc
[Jones] como nosso campeo, con- O resultado final foi que Jones,
trastando Jones com Prescott, A. W. como Waggoner, tomou o lado de
Spicer e Daniells. E, segundo Kello- Kellogg em Battle Creek, no cisma
gg, tal contraste era como a meia-noi- de 1903, tornando-se o presidente do
te comparada com o brilho do sol ao novo Battle Creek College, que agora
meio-dia. Mas, obviamente, o discur- pertencia ao dr. Kellogg.
so de Kellogg pode ser considerado A reabertura do colgio em Battle
Creek, e o papel de Jones nisso, deixou
como um tipo de enterro de luxo.
perplexo o corao de muitos adventis-
Sob o fascnio de Kellogg, Jones
tas, que por muito tempo tinham visto
aceitou a presidncia do Battle Cre-
a Jones como uma luz reformadora. O
ek College, que j por algum tempo
orgulho ferido de Jones o guiara ao lu-
estava fechado. Novamente Ellen G.
gar onde agora ele se encontrava. Ao
White insistiu com ele para que no
escolher ir para Battle Creek e trabalhar
aceitasse o convite de Kellogg:
com Kellogg, Jones tomou a maior de-
Irmo Jones, no empreste sua influncia ciso de sua vida. Embora parea que
para a reconstruo de algo como o col- Jones no tenha se tornado um pante-
gio em Battle Creek, [...] isso no deveria sta no mesmo sentido que Kellogg e
ser feito em nenhuma circunstncia.51 Waggoner, ele certamente utilizava a
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gundo ele, nada dela iria sobrar.55 Daniells fez o mais compassivo e tocante
Jones passou a defender o congrega- apelo a Jones para que ele esquecesse o
passado e voltasse para se colocar, ombro
cionalismo e pensou-se nesse tempo a ombro, com os seus irmos, no servio
que algumas igrejas adventistas se- do Senhor. Ele assegurou a Jones que to-
riam perdidas.56 Em suma, seu orgu- dos o amvamos e que desejvamos que
lho ferido e amargura acabaram ce- ele viesse conosco na marcha para o rei-
gando Jones, tornando-o incapaz de no de Deus. Estendendo a mo atravs da
mesa, Daniells disse com voz embarga-
ver suas prprias contradies.57 Em da: Venha irmo Jones, venha... Nesse
novembro de 1906, Ellen G. White j ponto, o irmo Jones se levantou e come-
havia concludo, em mensagem a ele: ou a estender sua mo para Daniells, do
Voc apostatou e torna-se necessrio outro lado... apenas para retir-la. Vrias
advertir o nosso povo a no ser in- vezes o irmo Daniells continuou seu
apelo dizendo, com lgrimas em sua voz
fluenciado por suas apresentaes.58 Venha irmo Jones, venha. O irmo
Suas credenciais foram, afinal, re- Jones, hesitantemente estendeu a mo
movidas em 1907. Os ltimos vncu- mais uma vez, at a metade da distncia,
los de Jones com a Igreja Adventista e ento a encolheu novamente. Mais uma
foram cortados em 1909. E, em 26 de vez ele quase tocou na mo estendida
para ele. Mas, ento, encolheu sua mo e
abril desse ano, ele enviou duas cartas exlamou: No, nunca, e se assentou.
importantes. Uma para a idosa profeti-
sa, com 19 pginas imersas em crtica, Depois desse episdio, o comit
expondo as razes pelas quais ele no votou reafirmar a deciso da Associa-
tinha confiana no trabalho dela. A ou- o Geral de 1907. O conhecido jor-
tra foi enviada a Daniells, solicitando nal, Washington Post, chegou a espe-
uma audincia pblica, diante de uma cular que em Washington surgiria uma
sesso plenria que se reuniria em nova religio, uma rival da Igreja Ad-
maio. Jones, como ele mesmo afirma, ventista, liderada por Jones. O artigo
no tencionava pedir que suas creden- caracterizava Jones como um dos mais
ciais lhe fossem devolvidas, porque, hbeis pensadores da denominao.
segundo ele, em seu tom tradicional, Em 1916, como j mencionado, Jo-
nenhuma credencial verdadeira fora nes pregaria no funeral de Waggoner,
tirada dele. Ele pediu o encontro como descrevendo-o como irmo de san-
um ato de justia crist.59 gue... no sangue da aliana eterna.60
Por trs vezes um comit da As- E os ltimos atos no drama da vida de
sociao Geral se reuniu com Jones, Jones representam apenas um fim me-
em um perodo de quatro dias. Em 31 lanclico e imerso em densa aura de
de maio, antes que a comisso tomas- tristeza. Sua apostasia aprofundou-se
se uma ao final, Daniells fez uma e ele afastou-se mais e mais.
declarao ao grupo reunido fazen- Qualquer tentativa ou esperana de
do referncia aos muitos anos do fiel reconciliao j havia cessado h mui-
servio de Jones. Ento, voltando-se to. Ainda em 1908, estando na Califr-
para o irmo Jones, um participante nia, Jones foi casa de Ellen G. Whi-
escreveria mais tarde: te, onde tambm estavam Danniells e
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William White. William faz referncia precisamente o ponto onde ele falhou.
ao apelo e emotiva orao de sua me Ele, nesse aspecto, tinha a teoria cor-
por Jones. Mas, quando pareceu que reta sobre a verdade, mas falhou na
havia esperana para Jones, Ellen G. prtica dela. Jones tinha a teologia,
White no foi otimista. Como indica- mas falhou na dimenso concreta da
do por Knight, ela notou que ele no religio. Ele falhou no teste bsico: a
tinha qualquer senso de sua verdadeira escolha que todo lder espiritual deve
condio, e ela no vira nada que pu- fazer entre influenciar e impressionar.
desse encoraj-la a esperar que ele sas- A escolha errada nesse ponto crucial,
se de suas trevas.61 inevitavelmente, chega a corromper o
Jones, que pregara tanto sobre o carter e a prostituir as possibilidades,
Esprito Santo, no aprendera a sub- impedindo que Deus opere as mudan-
meter sua vida influncia do Espri- as indispensveis ao discipulado.
to. Mais tarde, depois do falecimento O irnico da histria dos heris
de Jones em 1923, Daniells dizia ter de Minneapolis que quando a cor-
esperana de encontrar Jones no reino tina desce, como na parbola do fi-
eterno de Deus, apesar do seu amar- lho prdigo do evangelho de Lucas,
gor, desencorajamento e diferenas o filho que estava fora termina dentro
com a Igreja. Essa deciso, eviden- e aquele que estava dentro, termina
temente, fica para ser tomada por um fora. Butler e Smith, os perdedores
tribunal mais alto do que as opinies de Minneapolis, so os que, afinal,
humanas. Mas, evidentemente, a opi- terminara se arrependendo e voltan-
nio humana relevante para enten- do plena submisso voz proftica
dermos a complexidade desse homem aos adventistas.62 Paradoxicalmente,
que ascendeu e brilhou no firmamen- Jones e Waggoner, os vitoriosos na
to do adventismo do sculo 19 para Assembleia de 1888, aqueles que ha-
ento mergulhar em vertiginoso de- viam recebido o endosso da profeti-
clnio no incio do prximo sculo. sa, so os que terminaram rompendo
Um estudo cuidadoso da vida de com a Igreja e com sua mensageira,
Jones chega a levar-nos a uma nica preferido manter suas opinies, rejei-
concluso: seu orgulho, sua teimosia, tando o convite divino ao arrependi-
autossuficincia e esprito arrogante, mento e transformao.
sua tendncia ao extremismo, sua for- Butler e Smith tiveram vrios dos
ma descorts de tratar com as pessoas, mesmos traos de carter de Jones e
sugerem a chave para o final de sua Waggoner, mas aqueles caram sobre
carreira. E conclumos, ento, que o fi- a Rocha e permitiram que o eu fosse
nal no poderia ser diferente. A chave despedaado, enquanto estes, tanto
do seu futuro ainda encontrada na- quanto sabemos, preferiram permane-
quilo que fez parte to importante de cer distantes, intocados. Jones, com a
suas mensagens: permitir que o poder sade debilitada, tendo sobrevivido a
do Esprito Santo transforme a vida Smith (falecido em 1903), Waggoner
atravs da f e da submisso. Esse foi (em 1916) e Butler (em 1918), fale-
A. T. Jones: o declnio de um lder/ 99
ceu em 1923, depois de longo per- jamos do lado dele. Fidelidade hoje
odo de enfermidade. A permanente no garante, em si mesmo, fidelidade
advertncia e lio da vida de Alon- amanh. E, afinal, como todos sabe-
zo Trvier Jones, que ter Deus do mos, as crises no transformam o ca-
nosso lado no garante que ns este- rter, apenas o revelam.
231, 233, 436, citado em Knight, From 1888 e dos ministros adventistas. Jones ainda pres-
to Apostasy, p. 138. tou um valioso servio a organizao, inter-
29
Ellen G. White, Testemunhos para a mediando a paz entre Kellogg e Daniells, em
Igreja (Tatu, SP: Casa Publicadora Brasilei- um encontro legal entre o Medical Missiona-
ra, 2005), v. 2, p. 202. Sobre a cristologia ps- ry e a Benevolent Association (ibidem).
lapsariana, da qual Waggoner e Jones so os 46
Embora Waggoner tivesse se separado
santos padroeiros, veja Amin Rodor, Cristo das atividades denominacionais durante a cri-
e os Cristos, em Parousia 7/1 (1 semestre se de Kellogg, em 1903, ele nunca se tornou
de 2008): 45-73. Toda a citada edio de Pa- agressivo em sua oposio Igreja ou a seus
rousia dedicada a esse tpico. ensinos. Contudo, como Knight observa, ain-
30
Veja Knight, From 1889 to Apostasy, da que Waggoner tenha retido suas convic-
p. 138-139. es sobre a justificao pela f, at o tempo
31
Ellen G. White, carta 103, 1894. de sua morte, em 1916, ele tinha abandonado
32
Arthur L. White, Ellen G. White: The vrias das doutrinas distintivas dos adventis-
Australian Years, 1891-1900 (Washington, tas. Um pouco antes de sua morte, em um do-
DC: Review ant Herald, 1983), p. 129. cumento bem escrito, ele afirma que abando-
33
Ellen G. White, carta 4, 1893. nara a compreenso adventista do santurio
34
Veja todo o captulo At the Pinacle of desde 1891. Isto , no muito tempo depois
Power, em Knight, From 1888 to Apostasy, de 1888. Veja E. J. Waggoner, The Confes-
p. 159 em diante. sion of Faith of Dr. E. J. Waggoner, p. 14;
35
Carta de Ellen G. White a A. T. Jones, em Knight, The Men of Minneapolis, p.
19 de junho de 1895. Veja extensa biografia 14. Sobre Waggoner, talvez o melhor tra-
em Knight, From 1888 to Apostasy, p. 171- balho escrito at o momento seja a recente
174, particularmente as notas de referncia. biografia escrita por Wooddrow Whidden,
36
Veja Ibid., p. 172-174. E. J. Waggoner: From The Physician of the
37
Veja Ibid., p. 175-177. Good News to Agent of Division (Hagersto-
38
Veja Ibid., p. 173. Mas a profetiza o wn, MD: Review and Herald, 2008).
repreendeu. 47
Knigth, From 1888 to Apostasy, p.
39
Carta de George A. Irwin a A. G. Da- 226-256.
niells, 3 de novembro de 1903. 48
Ibid., p. 224.
40
Review and Herald, 5 de outubro de 49
Ellen G. White, Testemunhos para Mi-
1897. nistros, p. 94.
41
Ellen G. White, carta a S. N. Haskell e 50
Veja Knight, From 1888 to Apostasy,
esposa, 5 de fevereiro de 1902. p. 178-193.
42
Cf. Knight, From 1888 to Apostasy, p. 51
Ellen G. White, carta a A. T. Jones, 2
170. de agosto de 1903, em Knight, From 1888 to
43
Veja Ibid., p. 171. Apostasy, p. 209.
44
Carta de A. G. Daniells a George A. 52
Veja Knight, From 1888 to Apostasy,
Irwin, 5 de outubro de 1904, em Knight, p. 209.
From 1888 to Apostasy, p. 206. 53
Ellen G. White, carta a W. C. White, 8
45
Mas, como Knight sugere, o vencido de outubro de 1903.
Jones no era um homem sem poder. Em 54
De fato, neste tempo ele ainda era pre-
1903 ele ainda era reconhecido em crcu- sidente do Battle Creek College, e no muito
los adventistas e sua reputao ainda estaria antes ele havia pretendido a presidncia da
efetiva por alguns anos mais. Afinal, diz Associao Geral.
Knight, no era este o homem, que segundo 55
Veja Knigh, From 1888 to Apostasy, p.
Ellen G. White, havia sido enviado por Deus 242.
com uma mensagem do Cu? (From 1888 56
Veja Ibidem.
to Apostasy, p. 207). Em meados de 1903, 57
Veja Ibid., p. 245.
ele ainda podia ser considerado o lder mais 58
Ellen G. White, carta a A. T. Jones, 26
influente entre amplos setores dos membros de outubro de 106.
102 / Parousia - 1 e 2 semestres de 2009
59
Veja A. T. Jones, An Appeal for Evan- confisso de J. H. Morrison, que tinha re-
gelical Christianity, p. 9, 69. presentado Butler como a principal voz em
60
A. T. Jones, The Gathering Call, no- favor da interpretao tradicional de Gla-
vembro de 1916, p. 7-8. tas, em Minneapolis. Butler foi o ltimo re-
61
Knight, From 1888 to Apostasy, p. presentante da velha guarda a confessar seus
246. erros sobre a justificao pela f, escrevendo
62
Butler e Smith eventualmente confes- que ele livremente endossava [finalmente]
saram seu erro nem relao justificao aquilo que anteriormente ele havia resisti-
pela f. Primeiro foi Uriah Smith. Depois do (G. I Butler, Review and Herald, 13 de
de uma semana de orao, com leituras de junho de 1893, p. 377). Depois da morte de
textos escritos por Ellen G. White enfatizan- sua esposa, Butler, com a idade de 67 anos,
do o arrependimento, ele pediu uma reunio voltou s suas atividades denominacionais,
com a profetisa, junto com outros lderes em 1901 e tornou-se presidente da Associa-
denominacionais. E l, neste encontro, ele o da Flrida. De 1902 a 1907, serviu ainda
confessou muitos dos erros que ele havia como presidente da Southern Union Confe-
cometido em Mineapneapolis. Tomando a rence, permanecendo surpreendemente ativo
mo do veterano lder, ela lhe disse que em no servio da Igreja at sua morte, em 1918.
sua confisso ele dissera tudo o que poderia Veja Knight, The Men of Minneapolis, p.
ter dito. Pouco tempo depois se seguiu a 13-14.