Aula 2 - Seleção de Poemas
Aula 2 - Seleção de Poemas
Aula 2 - Seleção de Poemas
(1827-1881)
Bem vinda sejas terra,
(Luanda, Angola, 1827 Rio de Janeiro, 1881. Estudou em Lisboa. Minha terra primorosa,
Amanuense da Secretaria do Governo Geral de Angola, tesoureiro da Despe as galas - que vaidosa
alfndega de Benguela, oficial da Secretaria do Governo de Benguela. Ante mim queres mostrar:
Colaborou no Almanach de Lembranas, Lisboa, 1879. Publicou: Mesmo simples teus fulgores,
Espontaneidades da minha alma, 1849. Os teus montes tem primores,
Que s vezes falam de amores
A quem os sabe adorar!
MINHA TERRA !
(No momento de avist-la depois de uma viagem.) Navega pois, meu madeiro
Nestas aguas d'esmeraldas,
De leite o mar - l desponta Vai junto do monte s faldas
Entre as vagas susurrando Nessas praias a brilhar!
A terra em que scismando Vae mirar a natureza,
Vejo ao longe branquejar! Da minha terra a belleza,
baa e proeminente, Que singella, e sem fereza
Tem d'Africa o sol ardente, Nesses plainos d'alem-mar!
Que sobre a areia fervente
Vem-me a mente acalentar. De leite o mar, - eis desponta
L na extrema do horizonte,
Debaixo do fogo intenso, Entre as vagas - alto monte
Onde s brilha formosa, Da minha terra natal;
Sinto n'alma fervorosa pobre, - mas to formosa
O desejo de a abraar: Em alcantis primorosa,
a minha terra querida, Quando brilha radiosa,
Toda d'alma, - toda - vida, - No mundo no tem igual!
Qu'entre gozos foi fruida
JORGE BARBOSA assobiando inditas melodias.
(1902-1971)
E a vegetao
Jorge Vera-Cruz Barbosa nasceu na Ilha de Santiago, Cabo Verde, em 1902. cujas sementes vieram presas
Faleceu em Cova da Piedade, Portugal, em 1971. Foi funcionrio pblico. nas asas dos pssaros
Um dos membros mais importantes do movimento Claridade. ao serem arrastados para c
Publicou: Arquiplago. So Vicente: Cabo Verde, 1936; Ambiente. Praia: pelas frias dos temporais.
Cabo Verde, 1941. Caderno de um Ilhu. Lisboa: 1956.
Quando o descobridor chegou
e saltou da proa do escaler varado na praia
PRELDIO enterrando
o p direito na areia molhada
Quando o descobridor chegou primeira ilha
nem homens nus e se persignou
nem mulheres nuas receoso ainda e surpreso
espreitando pensa nEl-Rei
inocentes e medrosos nessa hora ento
detrs da vegetao. nessa hora inicial
comeou a cumprir-se
Nem setas venenosas vindas do ar este destino ainda de todos ns.
nem gritos de alarme e de guerra
ecoando pelos montes. POEMA DO MAR
O Mar! Obras: Ilha do Nome Santo, "Novo Cancioneiro", Coimbra, 1942; Obra
a esperana na carta de longe Potica de Francisco Jos Tenreiro, 1967; A Ilha de So Tom-Estudo
que talvez no chegue mais! Geogrfico, Lisboa, 1961
O Mar!
Saudades dos velhos marinheiros contando histrias de tempos passados, CORAO
Histrias da baleia que uma vez virou canoa...
de bebedeiras, de rixas, de mulheres, Caminhos trilhados na Europa
nos portos estrangeiros... de corao em frica.
Saudades longas de palmeiras vermelhas verdes amarelas
O Mar! tons fortes da paleta cubista
dentro de ns todos, que o sol sensual pintou na paisagem;
saudade sentida de corao em frica e tambm azuis e tambm verdes e tambm amarelas
na gama policroma da verdade do Negro
ao atravessar estes campos do trigo sem bocas na inocncia de Mac Gee) ;
das ruas sem alegria com casas cariadas trs linhas no jornal como falso carto de psames.
pela metralha mope da Europa e da Amrica Caminhos trilhados na Europa
da Europa trilhada por mim negro de corao em frica. de corao em frica.
De corao em frica na simples leitura dominical De corao em frica com o grito seiva bruta dos poemas
dos perodos cantando na voz ainda escaldante da tinta [de Guilln
e com as dedadas de misria dos ardinas das cities de corao em frica com a impetuosidade viril de I to
[boulevards e baixa da Europa [am Amrica
trilhada por mim Negro e por ti ardina de corao em frica com as rvores renascidas em
cantando dizia eu em sua voz de letras as melancolias do [todas estaes nos belos poemas de Diop
[oramento que no equilibra de corao em frica nos rios antigos que o Negro
do Benfica venceu Sporting ou no [conheceu e no mistrio do Chaka-Senghor
ou antes ou talvez seja que desta vez vai haver guerra de corao em frica contigo amigo Joaquim quando em
para que nasam flores roxas de paz [versos incendirios
com fitas de veludo e caixes de pinho; cantaste a frica distante do Congo da minha saudade do
oh as longas pginas do jornal do mundo [Congo de corao em frica
so folhas enegrecidas de macabro clue de Corao em frica ao meio-dia do dia de corao em
com mourarias de facas e guernicas de toureiros. [frica
Em trs linhas (sentidas saudades de frica) com o Sol sentado nas delcias do znite
Mac Gee cidado da Amrica e da democracia reduzindo a pontos as sombras dos Negros.
Mac Gee cidado Negro e da negritude Amodorrando no prprio calor da reverberao os mos-
Mac Gee cidado Negro da Amrica e do Mundo Negro [quitos da nocturna picadela.
Mac Gee fulminado pelo corao endurecido feito cadei- De corao em frica em noites de viglia escutando o
[ra elctrica [olho mgico do rdio
(do cadver queimado de Mac Gee do seu corao em e a rouquido sentimento das inarmonias de Armstrong.
[frica e sempre vivo De corao em frica em todas as poesias gregrias ou
floriram flores vermelhas flores vermelhas flores vermelhas [escolares que zombam
e zumbem sob as folhas de couve da indiferena e o corao entristece beira-mar da Europa
mas que tm a beleza das rodas de crianas com papagaios da Europa por mim trilhada de corao em frica;
[garridos e chora fino na arritmia de um relgio cuja corda vai estalar
e jogos de galinha branca vai at Frana solua a indignao que fez os homens escravos dos
que cantam as volutas dos seios e das coxas das negras e [homens
[mulatas mulheres escravas de homens crianas escravas de
de olhos rubros como carves verdes acesos. [homens negros escravos dos homens
De corao em frica trilho estas ruas nevoentas da cidade e tambm aqueles que ningum fala e eu Negro no
de frica no corao e um ritmo de be bop be nos lbios [esqueo
enquanto que minha volta sussura olha o preto (que como os pueblos e os xavantes os esquims os ainos eu
[bom) olha um negro (ptimo) olha um mulato [sei l
[(tanto faz) olha um moreno (ridculo) que so tantos e todos escravos entre si.
e procuro no horizonte cerrado da beira-mar Chora corao meu estala corao meu enternece-te meu
cheiro de maresias distantes e areias distantes [corao
com silhuetas de coqueiros conversando baixinho brisa de uma s vez (oh rgo feminino do homem)
[da tarde de uma s vez para que possa pensar contigo em frica
De corao em frica na mo deste Negro enrodilhado e na esperana de que para o ano vem a mono torrencial
[sujo de beira-cais que alagar os campos ressequidos pela amargura da
vendendo cautelas com a inciso do caminho da cubata [metralha e adubados pela cal dos ossos de Taszlitzki
[perdida na carapinha alvinitente; na esperana de que o Sol h-de prenhar as espigas de
de corao em frica com as mos e o ps trambolhos [Trigo para os meninos viciados
[disformes e levar milho s cabanas destelhadas do ltimo rinco da
e deformados como os quadros de Portinari dos [Terra
[estivadores do mar distribura o po o vinho e o azeite pelos alseos;
e dos meninos ranhosos viciados pelas olheiras fundas na esperana de que s entranhas hiantes de um menino
[das fomes de Pomar [antpoda
vou cogitando na pretido do mundo que ultrapassa a haja sempre uma tlipa de leite ou uma vaca de queijo
[prpria cor da pele [que lhe mitigue a sede da existncia.
dos homens brancos amarelos negros ou s riscas Deixa-me corao louco
Deixa-me acreditar no grito de esperana lanado pela meninos de barriga oca
[paleta viva de Rivera chupando em peitos chatos;
E pelos oceanos de ciclones frescos das odes de Neruda; negros de pezo grande
deixa-me acreditar que do desespero msculo de Picasso trabalhando pelos matos.
[sairo pombas
que como nuvens voaro os cus do mundo de corao Ai! Dona Jia,
[em frica. dona de mim tambm
Jesus, Maria, Jos
Credo!
RITMO PARA A JIA DAQUELA ROA no me olhe assim-sim
que me pra o corao!
Dona Jia dona
dona de lindo nome
tem um piano alemo CANO DO MESTIO
desafinando de calor.
Mestio
Dona Jia dona
do nome de Sum Roberto Nasci do negro e do branco
est chorando nos seus olhos e quem olhar para mim
de outras terras saudades. como que se olhasse
para um tabuleiro de xadrez:
Dona Jia dona a vista passando depressa
dona de tudo que lindo: fica baralhando cor
do oiro cacaueiro no olho alumbrado de quem me v.
do caf de frutos vermelhos
das brisas da nossa ilha. Mestio!
topo
Ribeiro Couto e Manuel Bandeira,
poetas do Brasil,
O MAR do Brasil, nosso irmo,
disseram:
A voz branca que est no mato " E preciso criar a poesia brasileira,
perde-se na imensido do mar. de versos quentes, fortes, como o Brasil,
L vai! sem macaquear a literatura lusada".
O sol bem alto Angola grita pela minha voz,
uma atrapalhao de cor. pedindo a seus filhos nova poesia!
-Abacaxi safo nona Deixemos moldes arcaicos,
carregozinho do barco!... ponhamos de lado,
corajosamente, to famoso no mundo...
suaves endeixas, Deserto de Namibe a espreguiar-se
brandas queixas, num bocejo mole,
e cantemos a nossa terra estendendo tentculos de areia
e toda a sua beleza. como povo gigante
Angola, grande promessa do futuro, viso alucinante, miragem
forte realidade do presente, no escrnio esquisito
inspira novas idias, que aguarda avaramente
encerra ricos motivos a jia mais horrivelmente linda|
e nica no mundo
E preciso inventar a poesia de Angola! a Welwitsshinia mirabilis*,
Fecho meus olhos e sonho, que em si encerra mistrio to profundo...
abrindo de par em par o corao, preciso escrever a poesia de Angola!
e vejo a projeo dum filme colorido Vejo anharas*** infindveis
com tintas de fantasia e cenas de magia: onde noivam no capim,
|pelo amor amansadas,
As imagens so paisagens, gentes, feras. feras bravas, indomveis...
E sucedem-se lenta, lenta, lentamente... Vejo lagos de safira,
Assisto maravilhado to calmos
no despenhar gemente como olhos ternos,
das quedas d'gua do Duque de Bragana... chorosos,
Vejo crescer florestas colossais de tmidas gazelas...
no Maiombe*, onde o verde smbolo E terras rendilhadas do litoral,
de tanta esperana... secas, rugosas, escalvadas,
onde reina o imbondeiro****
Amboim fecundo, Amboim cafezeiro, gitantesco Prometeu agrilhoado,
de alcantis envoltos sempre em nevoeiro denso, viso estranha, infernal, horrenda,
como um fumo cheiroso verde plido, branco, cinzento,
do seu caf gostoso, lembrando lquen mgico, colossal...
para vergonha nossa,
Baas, cabos, esturios, que pouco fazemos
praias morenas, presos de ftil, preguioso dandismo...
mares verdes, mares azuis,
e rios de aspecto inofensivo Encostai o ouvido atento
mas cheios de jacars... ao corao do povo negro,
escutareis, s vs, poetas da minha terra,
Terras de mandioca e batata doce, que estais por nascer,
campos de sisal, minas e metais, aquilo que para outros segredo defeso,
goiabeiras, palmeiras, cajueiros, mistrio da esf ngica, malsinada alma negra.
areais imensos, cheios de diamantes, Criai nimo, ganhai alento,
chuvadas torrenciais, e vibrantemente cantai a nossa terra!
o choro de sculos
TEXTO EM PORTUGUS / TEXTOS EN ESPAOL inventado na servido
em historias de dramas negros almas brancas preguias
e espritos infantis de frica
O CHORO DE FRICA as mentiras choros verdadeiros nas suas bocas
frescura da mulemba * Foi preso pela PIDE, mantendo-se na priso durante 5 anos.
s nossas tradies Posteriormente aps a independncia de Moambique foi membro da
aos ritmos e s fogueiras Frelimo e presidiu Associao Africana.
haveremos de voltar
Recebeu o Prmio Alexandre Dskalos, o Prmio Nacional, em Itlia, o
Prmio Ltus, da Associao Afro-Asitica de Escritores e o Prmio Cames, Como um homem treme.
em 1991. um dos mais reconhecidos poetas da lngua portuguesa e um Como chora um homem!
dos maiores escritores africanos.
Obra: Xibugo, 1964; Cntico a um Dio de Catrane, 1966; Karingana Ua
Karingana, 1974; POETA ATIRADO AOS BICHOS
Cela 1, 1980 e Maria, 1988
Meu amor:
Veja outros poemas do autor em: http://geocities.yahoo.com.br Nem tu percebes ainda o bater
ansioso dos tendes nos afinados
Veja tambm o poema Maria & Jos, de Antonio Miranda, em motores bem mainatos passando a ferro
homenagem ao poeta Jos Craveirinha: o capim debaixo das obscenas chapas
http://www.antoniomiranda.com.br na maquilhagem embelezando
a escarlate as picadas.
DE PROFUNDIS
Extrados de: CRAVEIRINHA, Jos. Obra Potica. Maputo: Direco de
Extenso dia taciturno de nuvens. Cultura, Universidade Eduardo Mondlane, 2002. 367 p.
Nas ramadas passarinhos de mgoa
lacrimejando chilros. Um braado
polcromo de flores
perfumando NO SEI SE UMA MEDALHA
De profundis
de coroas. Alguma vez
um cigarro aceso sentir o delicioso sabor de te fumar de repente o ombro Desde a adolescncia que Proena escrevia poemas, quele tempo sob a
direito? temtica anti-colonialista, que resultou na publicao, em 1977, da
primeira antologia potica guineense, sob sua coordenao, entre outros,
Pois e que tambm prefaciou, intitulada "Mantenhamos Para Quem Luta!".
sobre isso eu juro No concluiu os estudos, havendo participado das lutas pela independncia
que tudo pura mentira. do pas. Mais tarde, completou a formao no Rio de Janeiro, integrando
Juro os quadros do Ministrio da Cultura de seu pas, e principiando o magistrio
que nunca um cigarro LM em Histria. Havia, antes, sido o responsvel pela educao de Bolama.
apagou sua idiossincrsica boca de lume Na poltica foi deputado na Assembleia Nacional Popular e membro do
no calor escuro da minha omoplata. Comit Central do PAIGC (Partido nico, de orientao marxista, que
E tambm juro governou o pas da independncia em 1974 at a democratizao nos anos
que nunca plagiei um cinzeiro moambicano sentado a cheirar o bafo da 1990).
prpria cinza com o subchefe de brigada Accio um Deus fantasmagrico
envolto na especial nuvem de tabaco mistura de Virgnia com pele. Ocupou, ainda, o cargo de Ministro da Defesa.
E tambm confesso Como escritor publicou em vrios peridicos, como Razes (de Cabo-
que se esta inveno tivesse acontecido muito provavelmente seria em mil Verde), frica (Portugal), e os panfletrios Libertao e O Militante, ligados
novecentos e sessenta e seis tarde numa certa Vila Algarve enquanto pela ao PAIGC. Em 1982 publicou o livro "No posso adiar a palavra", que reuniu
duodcima vez eu abanava a cabea e dizia: - No sei! seus versos dos tempos de guerrilha.
Por acaso
a mancha desta mentira est. No sei se uma medalha. Mas no sai mais. A morte de Proena foi anunciada pelo Ministro da Defesa guineense,
horas depois do anncio do assassinato por tropas oficiais do candidato a
presidente Baciro Dab. Segundo a verso oficial, Proena seria o
HELDER PROENA protagonista dum golpe de estado e morrera em seu carro, junto ao
motorista e um segurana, aps troca de tiros com os soldados que iam
Hlder Magno Proena Mendes Tavares (1956 - Bissau, 5 de junho de prend-lo. J antes a imprensa mundial anunciara rumores de que o poeta
2009), foi um escritor, professor e poltico da Guin-Bissau, havendo lutado tambm havia sido morto.
na guerra de independncia do pas, na dcada de 1970.
trs
dias
depais
da lua