O Casamento Na Idade Media PDF
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O Livro da Inteno (c. 1283) foi escrito por Llull para seu filho, o beato temia, pelo
estado de tormento em que o mundo se encontrava e pela pouca experincia de seu
filho, que o mesmo viesse a ter falta da inteno. Nesse livro, Llull explica que
existem duas intenes: a primeira a mais nobre, porque mais til e necessria;
a segunda o instrumento a ser utilizado para se chegar ao objetivo, e esse objetivo
deveria ser a primeira inteno. Considerando que as pessoas de sua poca agiam
muito mais pela segunda inteno, Llull procurou escrever neste livro ensinamentos
que exaltassem a grandeza da primeira inteno para que, assim, seu filho tivesse
gosto em a utiliz-la.
Flix ou O Livro das Maravilhas (1288- 1289) uma novela medieval, uma das obras
mais conhecidas de Llull, onde o autor faz crticas sociais e tem como objetivo
principal que Deus seja conhecido, amado, honrado e servido. A novela inicia-se
com uma decepo com Deus, Flix, o protagonista da histria, maravilhou-se por
1
Deus no ter salvo uma pastora, a qual confiava fortemente nEle, mas foi morta por
um lobo. Flix ento caiu na tentao da dvida se Deus realmente existia, e ficou
ainda mais em dvida da existncia Divina, pois pensou que se Deus existisse, no
o deixaria cair na tentao da dvida de sua existncia. A partir da, Flix inicia uma
longa viagem em busca de pessoas que pudessem lhe confortar, retirando de si tal
dvida. Por onde passa, Flix encontra pessoas que lhe reforam a existncia de
Deus e citam vrios exemplos que o agradam contando do perdo que Deus
concede aos pecadores que verdadeiramente se arrependem. Esses exemplos so
baseados no ato de maravilhar-se 1 e ilustram os ensinamentos do livro, fazendo
com que o se torne bastante didtico e de prazerosa leitura.
Aos poucos, Llull introduz no texto valores nos quais acredita, alm de fazer crticas
sociedade. No decorrer de seus escritos, que englobam todo o universo medieval,
existem diversos exemplos que dizem respeito a assuntos diretamente relacionados
ao matrimnio: castidade, luxria, a mulher, traies, entre muitos exemplos de
casais.
Havia um poder de tutela do sexo masculino sobre o feminino, que passava do pai
para o marido. Se viva, esse direito passava ao parente do sexo masculino mais
prximo. A mulher no tinha o direito de ir ao Tribunal, tendo que ser representada
1
O ato de maravilhar-se a forma luliana de contemplao do mundo, o ato de admirar-se.
(explicao encontrdada na apresentao escrita pelo prof. Dr Ricardo da Costa no Livro das
Maravilhas traduzido do catalo medieval para o portugus pelo grupo I de pesquisas medievais
da Universidade Federal do Esprito Santo), p. 10.
2
As mulheres do meio urbano estavam submetidas s leis do direito municipal institudo a partir dos
sculos XII ou XIII, j as mulheres que viviam em comunidades religiosas deveriam ser regidas
pelo direito cannico. Ver DUBY, Georges; PERROT, Michelle (org.). Histria das mulheres no
Ocidente. Porto: Afrontamento,1990. p.356.
2
pelo seu tutor, que alm disso, tinha o direito sobre sua fortuna, podendo castig-la
fisicamente, ou em casos extremos at lev-la a morte, podendo d-la em
casamento ou at mesmo vend-la. 3
Nem todas as mulheres eram tratadas pela sociedade medieval da mesma forma.
Havia diferenas quanto idade e hierarquia social. Poucos eram os relatos sobre a
vida das camponesas, mas sabe-se que devido condio social dos maridos, ao
contrarem matrimnio. Elas teriam que trabalhar muito, e trabalho na poca era
uma condio bastante subalterna. As senhoras da elite deveriam ter uma grande
capacidade de administrao, pois lhes cabia todo o controle da dispensa, da
criadagem e do suprimento de vestimentas da casa. Quando seus maridos
estivessem em viagem, deveriam tomar a frente de todos os assuntos da casa,
como o pagamento de contas, construes, questes judiciais e outros assuntos
pendentes, assumindo as responsabilidade tipicamente masculinas. 6
3
Ibid., p. 356-357.
4
Podiam por exemplo, dispor mais livremente dos seus bens, ou obter a tutela sobre os filhos
menores, entre outros direitos. Ibid., p. 357.
5
MACEDO, Jos Rivair. A mulher na Idade Mdia.So Paulo: Contexto, 2002. p. 42.
6
Ibid., p. 40-42.
7
Ibid., p. 42.
8
Ibid., pg. 44.
3
juros. Os registros fiscais de Paris entre 1291 e 1313 assinalam a presena
de uma usuria. Em Marselha, Maria Nadevaci confiou a soma de 100
soldos a Maria Bearnier, esperando a devoluo com acrscimo de
sobre o lucros obtidos. Ceclia Roux, outra emprestadora, entregou a Joo
Amat um pacote de gneros no valor de 25 soldos, esperando a devoluo
com 50% dos ganhos. 9
Foram excees, visto que, raras eram as mulheres que tinham possibilidade de
9
Ibid., pg. 44-45.
10
DUBY, Georges; PERROT, Michelle (org.). Histria das ulheres no Ocidente. Porto: Afrontamento:
1990. p.362.
11
Somente os homens escolhiam os cnjuges para filhos e filhas. Ibid., p. 362-363.
12
Ibid., p. 362-363.
13
MACEDO, Jos Rivair. A mulher na Idade Mdia. So Paulo: Contexto, 2002. p. 20.
14
Ibid., p. 22.
4
disponibilizar tais quantias. 15
Quando o dote se tornava caro famlia, enviavam suas filhas para mosteiro a fim
de que se tornassem freiras. 16
A mulher pertencia ao homem, porm, sua alma deveria pertencer a Deus, por isso
deveria guardar-se casta mesmo no casamento, mantendo relaes sexuais apenas
para gerar descendentes. O marido deveria tomar cuidado para no fazer de sua
mulher, sua amante, o mesmo valia para a mulher. A posio ideal da relao sexual
entre marido e mulher deveria ser com a mulher deitada de costas ( para que nada
visualizasse ), e o homem sobre ela. As demais posies deveriam ser evitadas.
No era certo que a mulher demonstrasse nenhum sentimento, mantendo-se
passiva durante o ato sexual. Nem ao homem, segundo a Igreja, era permitido o
concubinato, no entanto, na prtica muitos homens procuravam o prazer ou at
15
Ibid., p. 22.
16
Ibid., p. 22.
17
Ibid., p. 23.
18
Ibid., p. 24.
19
Ibid., p. 25.
5
20
mesmo mantinham uma relao verdadeiramente amorosa fora do casamento.
Tal era o poder o marido que lhe era permitido at castigar fisicamente a mulher
pelos excessos cometidos: E vs, esposo, no batais na vossa esposa quando ela
estiver grvida, pois h nisso grande perigo. Reparai que no digo: nunca lhe batais;
mas escolhei o momento. 21
20
Ibid., p. 28.
21
Ibid., p. 28.
22
DUBY, Georges; PERROT, Michelle (org.). Histria das mulheres no Ocidente. Porto: Afrntamento,
1990. p. 365.
6
marido, enquanto que com ela estava satisfeita. 23
Muitos clrigos lutavam para proteger as meninas para que no se casassem antes
dos sete anos de idade. Desde o final do sculo XII, a Igreja procura estabelecer
idade mnima de doze anos para as meninas e catorze anos para os rapazes, para o
envolvimento em laos matrimoniais. Mas se fosse de vontade das famlias
24
envolvidas, o casamento poderia ocorrer antes desta idade.
Uma forma bastante difundida na Idade Mdia como alternativa para casar-se com
quem de vontade fosse era o rapto, do qual a culpa sempre recaa sobre o homem,
como se tivesse roubado a moa utilizando-se de fora e violncia, mas que, na
maioria das vezes teria sido impossvel sem a cumplicidade da moa. 26
23
LLULL, Ramon. O Livro das Maravilhas. p.146.
24
DUBY, Georges; PERROT, Michelle (org.). Histria das mulheres no Ocidente. Porto: Afrontamento,
1990. p. 289.
25
Ibid., p. 290.
26
Ibid., p. 365.
7
eclesiticos, poderia ser acusada do vcio da ingratido. E seria perguntada por que
no teria fugido antes da consumao do casamento, guardando sua castidade, sem
que cogitassem que a pobre sequer teria para onde ir. 27
Ramon Llul discorda dos casamentos arranjados. Segundo ele, homem e mulher
deveriam ter a mesma vontade para se unir em matrimnio. Entretanto, deixa bem
claro que a inteno do matrimnio dever ser engendrar filhos, para que estes,
amem e conheam Deus. Mas reconhece e se mostra preocupado por quase todos
os homens de sua poca no usarem o casamento pela inteno pela qual existe:
Filho, o matrimnio existe pela inteno que vontades concordantes sejam
obedientes para engendrar filhos pelo ordenamento de Deus, os quais filhos amem e
conheam a Deus, e atravs deles seja conservada no mundo a natureza
humana. 29
Llul afirma ainda que deve existir a castidade no casamento, no se deve ter
relaes sexuais sem o propsito pelo qual foi criado: ter filhos.
27
bid., p. 365.
28
Ibid., p. 366.
29
Id.. O Livro da Inteno. p.18.
8
Geralmente entregue muito moa a um homem j maduro. O peso de ser mulher
j imenso, cresce ainda mais quando se depara a obrigao de viver, de servir a
um homem muito mais velho. 31
Nos sculos XIII e XIV, religiosos acreditavam que o pecado residia mais na
inteno o que no ato. E lamentavam bastante que muitos homens desejassem o
sexo devido o prazer e pouco na esperana de conceber filhos. Nessa poca, h o
resgate das idias fundamentais da medicina greco-latina, e grande nmero de
pessoas lhe teve acesso. A grande preocupao da maioria dos mdicos e filsofos
no mais com o pecado carnal promovido pela relao sexual, mas com a sade.
O sexo no est para eles ligado ao mal. H uma supervalorizao do esperma: O
30
Ibid., p.18 e p.19
31
LE GOFF, J.; SCHMIDT, J. C.. Dicionrio Temtico do Ocidente Medieval. VolumeII. EDUSC. p.483.
32
LLULL, Ramon . O Livro das Maravilhas. p.147.
9
esprema o extrato mais puro do sangue. 33
A mulher deve esperar que o homem tome a iniciativa, pois, o homem mais
racional. Devem ser evitadas as posies incomuns que provocam a clera de
Deus. 36
A viso de So Toms de Aquino bastante difundida no sculo XIII. Ele afirma que
foi com um nico gesto que Deus criou a alma e o corpo e deu logo um sexo a estes
33
LE GOFF, J.; SCHMIDT, J.C. Dicionrio Temtico do Ocidente Medieval. Volume II. EDUSC. p.478.
34
Ibid., p. 478.
35
Ibid., p. 479-480.
36
Ibid., p. 480.
10
corpos. Tanto o homem quanto a mulher foram feitos imagem e semelhana de
Deus. No entanto, a mulher fraca, covarde, possui qualidades negativas. No est
ao lado do homem, mas abaixo. 37
A Tentao
Desde o sculo XIII, foram criadas as leis sunturias, proibindo que fossem
efetuadas vendas categoria no nobres, produtos que devido a sociedade
hierarquizada, deviam ser destinados nobreza como: vestimentas, objetos e
adornos:
37
Ibid., p. 481.
38
Ibid., p. 481.
39
MACEDO, Jos Rivair. A mulher na Idade Mdia. So Paulo: Contexto, 2002. p. 44.
11
duques, condes, bares ou prelados que no cumprirem a ordenao
ficaro sujeitos ao pagamento de 100 libras como punio. E so obrigados
a impor o que foi estabelecido aos seus subordinados, de qualquer
condio que sejam, de tal maneira que, se algum dos dependentes no
cumprir, pagaro 50 libras... 40
. A beleza poderia atrair a cobia de outros homens, inclusive dos clrigos, que
poderiam ser tentados contra a castidade diante da beleza feminina. Mais perigoso
ainda, seria se a mulher tivesse conscincia de tal beleza, pois, a mulher,
naturalmente fraca para as tentaes, poderia perder a sua alma, e contribuir para
40
Ibid., pg. 44.
41
Ibid., pg. 74..
12
que outros perdessem as suas, caso fizesse uso da beleza para a seduo. 42
A vestimenta no tem mais apenas a funo de vestir, possui uma funo ertica,
mais eficaz seduo. Esta mudana bastante criticada por Ramon Llull:
Ramon Llull no condenava a mulher adltera morte. Para ele, mais agradvel a
Deus o perdo do que a limpeza da honra.
42
DUBY, Georges; PERROT, Michelle (org.). Histria das mulheres no Ocidente. Porto: Afrontamento,
1990. p. 297.
43
LLULL, Ramon. O Livro da Inteno. p.12.
44
LLULL, Ramon. O livro das Maravilhas. p.147.
13
Bibliografia
LLULL, Ramon. O Livro da Inteno. (c. 1283). Traduo do catalo medieval: Prof.
Dr.Ricardo da Costa e Grupo de Pesquisas Medievais III. Reviso: Pfof. Dr. Ricardo
da Costa. Superviso, notas e comparao com o texto latino: Prof. Dr. Alexander
Fidora.
45
Ibid., p.151.
14