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A MODA VIOLA
ENSAIO DO CANTAR CAIPIRA
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ROMILDO SANTANNA
A MODA VIOLA
ENSAIO DO CANTAR CAIPIRA
EDITORA
Ano 2 0 0 0
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2000, by Autor
Direo Geral
Henrique Villibor Flory
Editor e Projeto Grfico
Aroldo Jos Abreu Pinto
Diretora Administrativa
Luciana Wolff Zimermann Abreu
Editorao Eletrnica
Rejane Rosa
Reviso
Letizia Zini Antunes
SantAnna, Romildo
S232m A moda viola: ensaio do cantar caipira / Romildo
SantAnna. So Paulo: Arte & Cincia; Marlia, SP: Ed.
UNIMAR, 2000.
398 p. ; 21 cm.
Referncias fonogrficas
Referncias bibliogrficas
ISBN: 85-7473-004-1
1. Msica brasileira regional Moda caipira. 2.Msica
caipira Brasil. 3. Msica popular brasileira Moda de viola.
4.Msica sertaneja Brasil Histria e crtica. 5.Viola e
violeiros Msica Brasil. I. Ttulo. II. 2o ttulo: Ensaio do
cantar caipira.
CDD - 784.0981
- 784.4981
ndice para catlogo sistemtico:
EDITORA
a Dinorath do Valle,
Reinaldo Volpato,
Pedro Ganga,
Alaor dos Santos Jnior,
Pedro Beretta SantAnna
Guilhermo de la Cruz Coronado
e Boi Soberano.
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SUMRIO
I - Levante ........................................................................................... 17
Dinorath do Valle
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I LEVANTE
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Eco, Humberto. Como se Faz uma Tese. 9 ed. So Paulo: Perspectiva, 1992.
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WEIL, Simone. A Condio Operria e Outros Estudos sobre a Opresso, p. 317.
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Da toada to singela?
que o caipira,
Vivendo na natureza,
Percebe mais sua beleza
Do que lendo sobre ela.
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LOBATO, Monteiro. A Barca de Gleyre (Correspondncia, 1944).
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II CONFIGURAO
DO CANTAR CAIPIRA
1. O ROMANCEIRO TRADICIONAL
E SUA EXTENSO NA MODA CAIPIRA
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As implicaes terminolgicas e conceituais de Literatura Popular e suas
configuraes como objeto de anlise literria encontram-se firmadas exaus-
tivamente no excelente artigo Dez Anos de Pesquisas em Literaturas Popu-
lares: O Estado da Pesquisa Visto de Limoges, de Jacques Migozzi. In: BERND,
Zil e MIGOZZI, Jacques (Orgs.) Fronteiras do Literrio: Literatura Oral e Popu-
lar Brasil/Frana, , p. 11-30. Seguiremos neste trabalho a conceituao tradici-
onal do termo.
8
Arnold Hauser refere-se s culturas de elite, do povo e para o povo em sua Histria
Social da Literatura e da Arte - I, p. 125 e ss.
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9
Velha Praga? Regionalismo literrio brasileiro. In: PIZARRO, Ana. (Org.)
Amrica Latina: Palavra, Literatura e Cultura II, v.2, p. 699.
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PIZARRO, Ana (Org.) Amrica Latina: Palavra, Literatura e Cultura III, p. 139.
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13
Isto no um Livro de Viagem: 16 Fragmentos de Galxias: Circulad de Ful,
de Haroldo de Campos. CD. Ed. 34, Rio de Janeiro: 1992.
14
Apud. GARCA DE ENTERRA, Maria Cruz. Romancero Viejo, p. 51.
15
SPITZER, Leo. Estilo y Estructura en la Literatura Espaola, p. 145.
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16
Arnold Hauser escreve que a pica popular da histria literria do roman-
ce no teve, originalmente, relao alguma com o povo. As canes laudat-
rias e os lieds hericos, que so a fonte das canes picas, eram da mais pura
qualidade potica que uma classe dominante jamais produziu. No eram nem
criadas, nem cantadas, nem difundidas pelo povo, nem intencionalmente
destinadas ou musicadas para a mentalidade do povo. Eram estruturalmente
poesia artstica e de uma arte aristocrtica. (Histria Social da Literatura e da Arte
- I, p. 228).
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17
ATERO, Virtudes e PIERO, Pedro M. Romancero de la Tradicin Moderna, p. 12.
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EL CONDE CLAROS
Las hijas del rey chiquito
Todas andan a un igual,
Todas visten un vestir,
Todas calzan un calzar,
Todas dicen a una voz:
La infanta preada est.
***
Os vihueleros ou vihuelistas, como eram conhecidos na Pennsula
Ibrica, e que ficaram sendo os nossos violeiros, preferiam executar
apenas os trechos prediletos, ou preferidos de seus ouvintes, de um
romance lrico-narrativo de larga extenso. Acrescente-se ainda que, se
at o sculo XV era manifestao puramente oral, h que mencionar,
segundo Menndez Pidal que, de todos os gneros poticos penin-
sulares, o romanceiro foi o que mais ocupou as tipografias do sculo
XVI, em forma de pliegos sueltos, anlogos aos folhetos de cordel
(colportage, na Frana, chapbook, na Inglaterra, folhetos volantes ou cordel,
em Portugal) to queridos no Nordeste brasileiro. A partir daquele
perodo, entraram na moda tambm na forma escrita, no como
coletnea ou antologia reunida como preservao dos haveres cultu-
21
Apud. COSSIO, Jos Maria de. Romances de Tradicin Oral, p. 43-4.
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LA ESPOSA INFIEL
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Apud. COSSIO, Jos Mara de. Romances de Tradicin Oral, p. 60.
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LA DAMA Y EL PASTOR
Romance Chileno
***
Os quinhentistas portugueses so depositrios da tradio oral-
popular, a exemplo de Cames e Jorge Ferreira de Vasconcelos. Aps
certo arrefecimento, no perodo neoclssico, no romantismo que se
reabilita definitivamente o Romanceiro tradicional, projetando-o em
direo ao sculo XX, ainda que em sua condio puramente escrita
(os estudos sobre a relao palavra-msica ainda esto por fazer).
Entre as coletneas portuguesas destacam-se desde Garrett (Romanceiro,
1843-50) s de Tefilo Braga (Floresta de Vrios Romances, 1869 e os
trs tomos do Romanceiro Geral Portugus, 1906-9), e de Victor Eugnio
Hardung (Romanceiro Portugus, 1877). Garrett, no prefcio de Adozinda
(1828), escreve que de pequeno me lembra que tinha um prazer
extremo de ouvir uma criada nossa em torno da qual nos reunamos
26
Apud. Idem, p. 121-2.
27
Apud. MENNDEZ PIDAL, R. Los Romances de Amrica y Otros Estudios,
p. 31-2.
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***
A forma do romance, introjetada e sonoramente automatizada
pelo conhecer popular, se reproduz em todos os desvos da querncia
brasileira, sedimentando heris legendrios, histricos e verdades
coletivas. As faanhas do heri negro ou do heri indgena, por exem-
plo, associadas ao padecimento do ndio nacional, so registradas em
significativa antologia de poemas, a maior parte exaltada pela
mundividncia romntica do bom selvagem. Tratamento anlogo dado
ao preto. O heri guarani Jos Tiarai (ou So Sep), da guerra das
Misses, cantado no romance O Lunar de So Sep, recolhido por J.
Simes Lopes Neto em 1902, e citado por Pedro Calmon. Vale a pena
admirarmos um certo sabor de arcasmo prprio do romance e a
singela maestria dos seguintes sextetos (ou versos-e-meio, no regio-
nalismo caipira):
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***
O romance de tradio ibrica sobrevive em vrias regies do
Brasil. Cmara Cascudo cita os muitos registros feitos pelo Almi-
rante Lucas A. Boiteux no Estado de Santa Catarina, embora sem
msica; cita tambm as dezenas de encontros compilados por
Rossini Tavares de Lima, nos Estados de So Paulo, Minas Gerais e
Mato Grosso, os achados de Guillerme de Santos Neves, no Esp-
rito Santo, outros achados de Fausto Teixeira em Minas Gerais.32 A
maior ocorrncia de variantes de temas concretos do Romanceiro
tradicional na zona nordestina, e sua menor incidncia no perme-
tro caipira, demarcado pelas Regies Centro-sul e Sudeste do Brasil,
explica-se pela decisiva relao texto/zona geogrfica. Determina-
dos temas podem ou no se fixar ou ser incorporados a um lugar,
ou determinar variantes adaptadas ao contexto histrico-geogrfico
da regio, ou simplesmente serem suprimidos do processo espon-
tneo da transmisso oral. Isto depende do impacto que o tema e a
prpria natureza fsica do poema exercem sobre fatores concretos e
legitimados socialmente em cada regio. necessrio ressaltar que,
em Portugal e Espanha, o mesmo fato se dera, tanto em relao ao
Romanceiro tradicional, quanto sua projeo nas formas roman-
31
Apud. CALMON, Pedro. O Bom ndio. In: Histria do Brasil na Poesia do Povo, de
p. 55-61.
32
CASCUDO, Lus da Cmara. Dicionrio do Folclore Brasileiro, de p. 680-1.
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33
Apud. ATERO, Virtudes e PIERO, Pedro M. Romancero de la Tradicin Moder-
na, p. 33.
34
Apud. COUTINHO, Afrnio. O Regionalismo na Fico. In: A Literatura no
Brasil, p. 251.
35
BARROS, Souza. Arte, Folclore e Subdesenvolvimento, p. 42.
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Um home de oturidade
E o que fiz t bem feito! 36
36
O Jri, de Pomplio Diniz. In: Man Gonalo: Poesias. Belo Horizonte:
Itatiaia, 1959, p. 17.
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CATIMBAU
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NOVA LONDRINA
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Teddy Vieira / Serrinha
Pra corr o Norte do Paran
Eu comprei uma mula argentina
Por ser besta boa pra march
Puis o nome de Campolina.
V cort trinta lgua de mata
No dobrar daquelas colina
Quatro ferradura de prata
E uma fita amarrado na crina.
***
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Cabe observar que comum entre os caipiras designar verso pelo que
corresponde a uma quadra. Neste sentido, verso dobrado significa duas
quadras e verso e meio, um sexteto.
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ECO, Umberto. Obra Aberta, p. 78.
45
Romancero Hispnico (Hispano-Portugus, Americano y Sefard) - I, p. 61.
46
FERREIRA, Jerusa Pires. Armadilhas da Memria (Conto e Poesia Popular), p.38.
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As Cantigas Medievais de Meestria so composies poemticas de sete versos
em cada estrofe. Usamos o designativo na acepo tambm usual de compo-
sio de mestre, isto , muito requintadas do ponto de vista tcnico e, por
isto, muito difceis em suas elaboraes.
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Alm do campo reconhecido como poesia sria, a Moda Caipi-
ra registra tambm as Cantigas de Patacoadas, ou de chacotas, as quais,
pelo tom anedtico, instigante e descabido, fazem muito o gosto da
cidade e do campo. Um dos principais autores desse gnero tradicio-
nal Raul Torres, como se observa nas seguintes passagens de Festa
da Bicharada (1936), em parceria com o poeta Joo Pacfico (Joo
Baptista da Silva, Cordeirpolis-SP, 1909-1998), e Futebol dos Bichos
(1933):
FESTA DA BICHARADA
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No dia do casamento
Fizero grande reunio,
E pra no mistur raa
Fez cas com primo-irmo...
Raul Torres
O jogo do futebol
um jogo muito falado,
um jogo muito bonito
E bastante admirado.
L no bairro adonde eu moro
Pois formaro um combinado:
O time do Quebra-Dedo
Com o time do P-rapado.
O time do Quebra-Dedo
Tava bem reforado:
Tatu jogava no gol,
Beque de espera, o Leo,
O Sapo, beque de avano,
Halfo-esquerdo era o pre,
Center-halfo era o viado,
Halfo-direito, o gamb...
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BONDE CAMARO
moda-de-viola
Aqui em So Paulo
O que mais me amola
esses bonde que nem gaiola,
Cheguei, abriro uma portinhola,
Levei um tranco e quebrei a viola!
Inda puis dinhero na caxa da esmola!
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MODA DA PINGA
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A Moda Caipira de razes a arte do 78rpm, o velho disco pesa-
do e quebrvel de 78 rotaes por minuto. Explico: escrevo que tal
dupla gravou xis nmero de LPs. Por exemplo, a dupla Pedro Ben-
to e Z da Estrada (Joel Antunes Leme, Porto Feliz-SP, 1934- e
Waldomiro de Oliveira, Botucatu-SP, 1930-) gravou mais de cem
LPs em quarenta anos de carreira. Esse nmero altssimo, na mdia
anual, se explica pelas compilaes dos 78rpm em LPs. Diferente-
mente de hoje, nas dcadas iniciais do disco os artistas tinham que
ser grandes dolos nas apresentaes ao vivo, nos shows, nos circos e
rdios,51 para terem acesso a gravaes. Quando eram aceitos na
gravadora, j possuam elevado nmero de sucessos no repertrio.
Vieira e Vieirinha, por exemplo, quando lhes abriram as portas para
o disco, em 1952, j eram idolatrados em vrios programas de rdio
e, em 1950, animaram os comcios de Getlio Vargas na campanha
Presidncia da Repblica. Na estria em disco, gravaram quatro
78rpm em um s dia. Com a oportunidade das gravaes, o que as
duplas faziam era registrar o sucesso tal como era apresentado ao
vivo e testado na repercusso popular. Este fato leva a trs conclu-
ses fundamentais:
a) A moda composta e gravada em disco possui ares e
artimanhas formais e interpretativos da execuo ao vivo;
51
A primeira emissora de rdio de So Paulo foi a Educadora Paulista, inaugurada
em 1923. No ano seguinte surgiu a Clube de So Paulo e, em 1927, a Rdio Cruzeiro
do Sul. Foram redatores dessas emissoras alguns poetas do Modernismo de 1922,
como Menotti del Picchia e Guilherme de Almeida, que valorizaram em
significativo espao da programao o regionalismo da Moda Caipira.
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Carta a El-Rei D. Manuel, escrita do porto seguro de Vera Cruz, com
data de l. de maio de 1500, em linguagem atualizada por Carolina Michalis
de Vasconcelos. In: CALMON, Pedro. Histria do Brasil - I, p. 64-83.
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53
Apud. TINHORO, Jos Ramos. Os Sons Negros no Brasil, p. 26-7.
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AZEVEDO, Fernando. A Cultura Brasileira - I Os Fatores da Cultura,
p.193.
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55
Apud. ROMERO, Slvio. Histria da Literatura Brasileira - I, p. 123-4.
56
MOOG,Vianna. Bandeirantes e Pioneiros, p. 83.
57
CALDEIRA, Jorge e outros.Viagem pela Histria do Brasil, p. 30.
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As Etnias Brasileiras. In: AZEVEDO, Aroldo. Brasil. A Terra e o Homem - II,
p. 159.
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O campo e o domnio das artes populares se confundem at certo
ponto com o da etnografia cultural escreve Souza Barros. Assinala
o humanista que com o desenvolvimento das culturas as projees
nesse terreno vo correspondendo s alteraes e mudanas dos n-
veis culturais.61 A partir desse substrato, e da fuso de caldeamentos
crus e cozidos (diria Lvi-Strauss), e consideradas as transformaes
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Conjunto de princpios que, na Idade Mdia, regiam a arte de poetar. Os
poemas medievais enfocados neste trabalho, diferentemente do que ocorre
em sculos anteriores, so tecnicamente bastante evoludos.
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Colquio gravado em 11.dez/95.
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FERREIRINHA
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Carreirinho
Eu tinha um companhero
Por nome de Ferrerinha
Nis lidava com boiada
Desde nis dois rapaizinho.
Fomos busc um boi bravo
No campo do Espraiadinho
Era vinte e oito quilmetro
Da cidade de Pardinho.
(Z Carreiro e Carreirinho,
Os Maiores Violeiros do Brasil, 1970).
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Ensaio Frase: Msica e Silncio. In: Bosi, Alfredo. O Ser e o Tempo da Poesia, p.65.
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REI DO GADO
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Teddy Vieira
Levant um almofadinha
E fal pro dono: eu no tenho f
Quando um caboclo que no se enxerga,
Num lugar deste vem pr os ps.
Senhor que o proprietrio
Deve barr a entrada de quarqu,
E principarmente nesta ocasio
Que est presente do Rei do Caf...
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O termo carcamano de origem urbana. Pejorativo, tem origem na expres-
so calca la mano, ou seja, reflete a ordem que os comerciantes davam a
seus subalternos imigrados da Itlia para que arredondassem o peso da
mercadoria, forando a mo sobre o prato da balana. In: Carelli, Mario.
Carcamanos & Comendadores, p. 19.
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BOIADA CUIABANA
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Raul Torres
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Eu sa de Lambari
Na minha besta ruana,
S depois de trinta dias
Que cheguei em Aquidauana,
L fiquei enamorado
De uma malvada baiana.
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declamado:
A lua foi-se escondendo / Vinha rompendo a manh !
Aquela moa faceira / trigueira, cor de rom / soluando me dizia:
Muchacho, llvame contigo, que te dar mi alma, todo mi amor,
todo mi cario, toda mi vida...
E os boiadeiros no rancho / estavam prontos pra partida. /
Numa roseira cheirosa / os passarinhos cantava. / A minha
besta ruana / parece que adivinhava / que eu sozinho no
partia, / meu amor me acompanhava...
PRETO FUGIDO
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Z Carreiro
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CASCUDO, Lus da Cmara. Dicionrio do Folclore Brasileiro, p. 491-2.
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BOI SOBERANO
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O Artesanato da Memria na Literatura Popular do Vale do Jequitinhonha.
In: O Eixo e a Roda: Memorialismo e Autobiografia (Revista de Literatura Brasileira),
p. 177.
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Empregarei caboclo tal como usado no cotidiano caipira, no como a mais
antiga mestiagem brasileira (amerndia e branca peninsular), mas como
designativo de um indivduo, seja qual for a sua etnia. Essa conceituao
coincide com aquela proposta por Jacques Lambert em Os Dois Brasis, p. 86.
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Ensaio Escritura da Voz e Memria do Texto: Abordagens atuais da Lite-
ratura Popular Brasileira. In: BERND, Zil e MIGOZZI, Jacques. Fronteiras do
Literrio: Literatura Oral e Popular Brasil/Frana, p. 39.
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3. MODA CAIPIRA,
RAZES E BRASILIDADE
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Te mandei um passarinho,
Patu miri pup;
Pintadinho de amarelo,
Iporanga v iau.
Virgem Maria
Tupan cy t,
Aba p ara pora
Oic end yab.
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SINA DE VIOLEIRO
toada
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dueto que sim, no sorriso dengoso. Pois ceis vai cant ansim arto na
puta que os pariu!, espumou o moo raivoso e ameaador, cobrando
que eles danificaram o microfone da empresa. Naquela poca, conta
Tonico, nis cantava os dois esticano os peito pra sa as viola, e
encoieno o pescoo pra sa as viz, tudo num s microfone. A partir
desse acontecimento, nos primeiros anos da carreira, eram obrigados
a gravar cantando de lado ou de costas pra no estragar o aparelho. 75
A Moda Caipira de razes pressupe a viola caipira, um instru-
mento amargurado que chora, pois, antes de ser viola, em sua
fecundidade ldica, deliciante, liga-se ao encadeamento de trs esta-
dos interiores que esto na base amerndia, africana e ibrica da cultu-
ra: anseios conflitivos, frustraes pelas perdas e prazeres. Ainda que
constitua o primado realista da experincia individual, a Moda Caipira
de razes possui caractersticas que a aproximam da esttica romntica,
na concepo formal e no modo sentimental como os temas e perso-
nagens, heris e anti-heris surgem e ressurgem.
Um romantismo, claro e enftico, falando de temas estabilizados
e paixes imediatas como os enlaces do amor e dor, permeia a con-
cepo esttica do cantar caipira. Um sentimentalismo perpassa
vagueante cada vereda de seus versos, deixando-o com um langor
emotivo e copioso, um lirismo apaixonado, avesso s racionaliza-
es. A viola caipira (alm das violarias como o violo e cavaquinho),
no mundo rural de antigamente, expressa os suspiros poticos e sauda-
des, lembrando Gonalves de Magalhes, nos alvores do romantis-
mo, s que uma saudade temperada das trs raas as quais, hoje, nos
fazem ser aquilo que perdemos e, aqui-mesmo, o fizemos renascer.
Por isto, entremeada de um clima nativista, em cada moda flui uma
atmosfera que leva meditao sobre aquilo que transcende a realida-
de brusca. Neste clima, o escritor de modas constri seus castelos nas
alturas, e pode os exprimir numa coeso rpida e sinesttica de ima-
gens como as que se realam no pagode de viola a seguir:
75
Depoimento prestado no programa Ensaio, dirigido por Fernando Faro,
transmitido em 07.mai/9l pela Rede Cultura de Televiso So Paulo.
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CHORA VIOLA
pagode de viola
Eu no caio do cavalo,
Nem do burro, nem do gaio,
Ganho dinheiro cantando,
A viola meu trabaio,
No lugar onde tem seca
Eu de sede l no caio...
Levanto de madrugada
E bebo o pingo do orvaio,
Chora, viola!
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ROMILDO SANTANNA
Eu ando de p no cho,
Piso por cima da brasa,
Quem no gosta de viola,
Que no ponha o p l em casa,
A viola est tinino,
Cantador t de p...
Quem no gosta de viola
Brasilero bo no ,
Chora, viola!
***
Neste ponto vale sublinhar um fenmeno que sinto ocorrer no
mbito da recepo da Moda Caipira. Mesmo que surja uma moda
nova, hodierna e factual, logo que se dissipam os liames com a novi-
dade, ela se agrega ao imaginrio do povo como se fosse tradicional,
quer dizer, como suposta variante de uma formulao antiga. Da
porque as transformaes naturais que vieram ocorrendo, e mesmo
considerando os abrandamentos morfolgicos de um vernculo
semidialetal apropriado veiculao em disco, nunca se desagregam
do conceito de de razes. Brinquemos de fazer de conta: uma virtual
moda-de-viola sobre a morte do piloto de Frmula-1, ou da princesa
de Gales, em pouco tempo se transforma em variante do registro da
morte dum personagem tradicional e, em ltima instncia, na trag-
dia mtica do heri ou da donzela bondosa. Ou seja, superada a
consagrao do instante, instaura-se outra vez o charme do arcaico, do
cavalheiresco.
***
Como acontece com os demais afluentes de manifestaes da
Literatura Popular, escreve Lus da Cmara Cascudo, h uma assis-
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79
O caipira utilizava comumente, at finais do decnio de 1950, quando se
deu a reviravolta do xodo rural, o termo fandango como sinnimo de
festas com bailes e cantorias. No mesmo sentido se usavam os termos
cateret, samba, pagode e catira. O fandango, como msica e dana,
de origem discutvel, foi introduzido no Brasil pelos portugueses. Tem a
viola caipira como instrumento bsico. Por esse motivo, sua identificao
com a prpria festa caipira. O bate-p do fandango aproxima-o do catira, da
cana-verde e outros bailados que intermedeiam a cantoria, geralmente a moda-
de-viola de longa extenso. Como se sabe, antes do primeiro disco de Moda
Caipira, em 1929, uma moda podia se alongar por duas, trs horas de durao.
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ROMILDO SANTANNA
100
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***
Os pagodes, como festas de socializao, nalguma varanda ou
no terreiro ao p-do-fogo, esto ligados s colheitas, entreajuda
dos vizinhos e amigos pelos mutires, ao patrocnio dos santos e
dos patres, comunho corporativa, confraternatria e deliciante
do almoo, da merenda e jantar, do calibre de uma boa pinga (que
s faiz bem pra sade) e, como fecho, da Moda Caipira e do baile.
So terapias que mandam embora a solido e as querncias malo-
gradas, chamando benquerena. Acontecem noite, no s porque
hora de folga. No Brasil, como em Portugal e Espanha, relatam os
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folcloristas, contar histrias de dia faz criar rabo. Nessa crena, claro,
est embutida a restrio pelo olhar severo do patro quebra do
ritmo laboral. Ademais, o escuro da noite uma janela para o
enlevo do sonho, virando contos, cnticos, causos e cantorias. So-
nho que principia pela excitao deliciante e ritualstica da dana.
Dizem Tonico e Tinoco que
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P CASCUDO
moda-de-viola
(Vieira e Vieirinha,
30 Anos de Viola e Catira, 1980)
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PAGODE EM BRASLIA
pagode de viola
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TATIT, Luiz. A Cano, Eficcia e Encanto, p. 6.
84
LEA, Armando. Msica Popular Portuguesa, p. 125.
85
Romancero Hispnico - (Hispano-Portugus, Americano y Sefard) - I, p. 88-9.
86
CNDIDO, Antnio.Formao da Literatura Brasileira - II, p. 40.
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BOMBARDEIO
moda-de-viola
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(Z Carreiro e Carreirinho,
Os Maiores Violeiros do Brasil, 1970)
Ai, do jeit/
Que me contaro o negoci/
Pra mim t feio, j fiz/
Ro uma reunio,
Ai, j formaro este torneio,
Ai, arrespei/
To a cantoria, querem m/
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in: A Letra e a Voz, de Paul Zunthor, p. 120.
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4. O CANTADOR E SUA
FUNO INTERATIVA
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Rubens Vieira Marques, o Vieira da dupla Vieira e Vieirinha, declara que
recebe dos rgos arrecadadores e Gravadoras, por cerca de 80 msicas de sua
autoria, gravadas ao longo de quase 50 anos, o equivalente a US$ 6 mil, por
trimestre, incluindo-se a participao como intrprete em 76 LPs. Se a remu-
nerao de Direitos Autorais pouca, a vaidade de aparecer como autor
muita. Consta que comum na Moda Caipira o surgimento de alguns compo-
sitores absolutamente fictcios que, prometendo ao verdadeiro autor usar de
sua influncia, se encarregam de fazer com que as modas cheguem aos
destinatrios: as duplas. Em troca, figuram como co-autores.
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91
Essa indissociabilidade do pensamento, afetividade e comportamento estudada
por Lucien Goldmann, em Dialtica e Cultura, p. 107 e ss.
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94
Atentar sobre isto s palavras de Gaston Bachelard em A Potica do Espao,
p. 341 e ss.
95
Palabra y Artificio: Las Literaturas Brbaras, de Adolfo Colombres. In:
PIZARRO, Ana (org.), Amrica Latina: Palavra, Literatura e Cultura - III, p. 130.
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Moda Caipira: Cantador, Universo, Mediaes e Participao Emotiva, p. 58-9.
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VARGEM
moda-de-viola
Vieira / Vieirinha
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(Vieira e Vieirinha,
Beicinho Vermelho, 1971)
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da, que funciona como criatura inserida na prpria fico que realiza.
Promove traslaes ideolgico-culturais, por conexes imediatas
estabelecidas pela subjetividade do intrprete real que canta e de quem
ouve; e, sobretudo, promove com o auditrio um arrendamento de
fatos e circunstncias imaginrios, apresentados como se fossem reais.
Parecem posseiros, no de terras, mas de quimeras. Os textos, como
entidades insubmissas e artsticas, so escrituras de sonhos! E mor-
mente so, na perspectiva do imaginrio, ou seja naquela perspectiva
que talvez Andr Breton defendesse como a verdadeira realidade.103
O cantador-violeiro, assim entendido, realiza, sonhadoramente, uma
forma semelhante da focalizao interna mltipla, na acepo de
Genette, quer dizer, cria um universo de discurso que [pelo processo
de um rito, acrescento] entra em sintonia com a concordncia geral do
grupo.104 Ele o realizador de uma quimera, o que flutua e transpor-
ta-se no espao, na imagem potica de Gilberto Gil:
103
Tenho em mente os Manifestos do Surrealismo (1924 e 1930), de Andr Breton.
104
Figures III, p. 206 e ss.
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O MENINO DA PORTEIRA
cururu
pao Emotiva.
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A cruizinha do estrado
Do pensamento num sai,
Eu j fiz um juramento
Que no esqueo jamais.
Nem que o meu gado estore,
Que eu precise ir atrais,
Neste pedao de cho
Berrante eu num toco mais.
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CASINHA BRANCA
rasqueado
(Matogrosso e Mathias,
24 Horas de Amor, 1984)
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5. O SENTIMENTALISMO
REINANTE
O VIOLEIRO TOCA
toada
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A viola e o violeiro
E o amor se tocam...
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ROMARIA
toada
Renato Teixeira
de sonho e de p
O destino de um s,
Feito eu, perdido em pensamentos
Sobre o meu cavalo!
de lao e de n
De gibeira o jil
Desta vida, comprida, a s.
Me disseram, porm,
Que eu viesse aqui
Pra pedir de romaria e prece
Paz nos desaventos,
Como eu no sei rezar
S queria mostrar
Meu olhar, meu olhar,
Meu olhar...
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Pegano na mo da moa
O moo saiu danano
Tocava varsa e mazuca
O cabra tava virano.
Com o chapu na cabea
A moa foi incomodano:
O senhor dana direito
Que mame no t gostano.
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ra. Deste modo, seu teor moralizante inscreve-se na tbua das histri-
as de sbios conselhos. Atualiza, como afirmei, a tpica medieval da perorao,
ou seja, o desfecho do discurso deve resumir o ponto principal e
depois dirigir um apelo aos sentimentos dos ouvintes, isto , mov-
los revolta ou compaixo.114
114
CURTIUS, Ernest Robert. Literatura Europia e Idade Mdia Latina, p. 93.
115
Apud. KLINTOWITZ, Jacob. Mitos Brasileiros, p. 57.
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DAMATTA, Roberto. O que Faz o brasil, Brasil?, p. 110.
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O MILAGRE DA VELA
moda-de-viola
Carreirinho
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A ALMA DO FERREIRINHA
moda-de-viola
Eu parei na invernada
Da fazenda gua-Fria,
Pra descansar a boiada
At o raiar do dia.
Os pees da comitiva
Que nesta tarde forgava
Foram todos pra cidade
Comprar o que precisava.
Eu deitei na minha rede
Procurando descansar,
Mas nessa hora pensei
Que o mundo ia desabar.
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***
O tema lrico-amoroso, desembocando num desenlace trgico,
vamos encontrar entre as mais conhecidas toadas. Embora gnero
poemtico-musical que abrange as vrias regies do pas, tipicamen-
te caipira, embora no peculiar. O assunto da toada geralmente
amoroso, quase sempre dolente e melanclico. Comporta, volta e
meia, um primeiro tempo ou episdio declamado, com caractersticas
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CABOCLA TERESA
toada histrica
Declamado:
L no arto da montanha,
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Cantado:
H tempo fiz um ranchinho,
Pra minha caboca mor,
Pois era ali nosso ninho,
Bem longe deste lug.
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No arto l da montanha,
Perto da luz do lu,
Vivi um ano feliz,
Sem nunca isto esper.
Agora j me vinguei,
este o fim de um am
Essa cabocla eu matei,
minha histria, dot.
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CHICO MULATO
toada histrica
Declamado:
Na vorta daquela estrada,
Em frente quela encruziada
Todo ano a gente via,
L no meio do terrero
A image do padroero
So Joo da freguesia.
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Cantado:
Tapera de bera de estrada,
Que vive ansim descoberta,
Por dentro no tem mais nada,
Por isto ficou deserta,
Morava Chico Mulato,
O maior dos cantad,
Mas quando Chico foi embora,
Na vila ningum mais samb.
Morava Chico Mulato,
O maior dos cantad.
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ROMILDO SANTANNA
Emagrecendo, coitado,
Foi indo int se acab,
Chorando tanta sodade,
De quem no quis mais vort.
E todo mundo chorava
A morte do cantad,
No tem batuque, nem samba,
Serto inteiro chor.
E todo mundo chorava
A morte do cantad...
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JOO DE BARRO
toada
O joo-de-barro
Pra ser feliz como eu,
Certo dia resorveu
Arranj uma companheira,
No vai-e-vem
Com o barro da biquinha,
Ele fez sua casinha
L no galho da paineira.
Toda manh
O pedreiro da floresta
Cantava fazendo festa
Praquela que tanto amava,
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Que semelhana
Entre o nosso fadrio,
S que eu fiz ao contrrio
Do que o joo-de-barro fez,
Nosso senhor
Me deu calma nesta hora,
A ingrata eu pus pra fora
Onde anda eu no sei...
(Brazo e Brazozinho,
Sertanejas que Marcaram,1983).
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CASA DE CABOCLO
cano caipira
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CHALANA
rasqueado
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elevado (a filha do fazendeiro), seja por ser casada, seja por abandon-
lo por outro, gerando, nesse caso, a conscincia da honra ultrajada.
Como deixei escrito, o cateret o primeiro dos ritmos e danares
amerndios nos quais se agregaram as letras. Foram utilizados com
finalidades de converso e catequese. Como diz o compositor-cantador
Vieira, o cateret mais chorado, mais sentido, mais romntico dos
ritmos caipiras. Sua melodia liga-se ao comportamento estrdio e
taciturno do indgena que, como vimos, relaciona-se com aquele cuja
vida em parte devotada caa e pesca. O caador no mato condiciona-
se ao silncio, compenetrao como processo espiritual, ao ritmo
devagar da espera, ao sossego interior, ao tirocnio intuitivo do andar
macio, felino, em estado de concentrao: ele, a flecha e seu alvo a
ave, o bicho ou o peixe. Para o ndio e o matuto descendente, o
tempo um rio remanso deslizando lento. Por isto, o ritmo contagiante
do cateret tem algo de melanclico e espiritualizado, apresenta-se
com a entoao de um contnuo perptuo, montono, espelho da
natureza compenetrada e taciturna do amestiado caboclo. nesse
gnero que se enquadra grande parte das modas lrico-amorosas, ro-
mnticas, apaixonadas, grande predileo do campesino. Trata-se de
uma afeio atvica, pois o caipira tambm, no isolamento de seu
bairro e na reteno do passado, por natureza taciturno, arredio,
ensimesmado, caador e pescador. E, por isso, imprevidente, se olha-
do na perspectiva buliosa da vida na cidade. Decodifica a natureza
por instinto e pe em cada tanto de seu redor um pouco de afetividade,
de sentimentalismo. Sigamos uma cantiga damor, no ritmo senti-
mental do cateret. Trata-se de uma das modas dor de cotovelo
mais admiradas no pertencimento caipira, e, como poderemos verifi-
car comparativamente, anloga atmosfera urbana dos sambas-can-
es do mestre Lupicnio Rodrigues (1914-1974):
AMARGURADO
cateret
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DUAS CARTAS
cateret
Z Carreiro / Carreirinho
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(Z Carreiro e Carreirinho,
Os Maiores Violeiros do Brasil, 1973)
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ESTRELA DE OURO
guarnia
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GOLPE DE MESTRE
valseado
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BOIADEIRO DE PALAVRA
cururu
Boiadeiro de palavra
Que nasceu l no serto,
No pensava em casamento
Por gostar da profisso.
Mas ele caiu no lao
De uma rosa em boto,
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Um ms depois de casado
O cabelo ela cortou,
Boiadeiro de palavra
Nessa hora confirmou.
No salo que a esposa foi
Com ela ele voltou,
Mandou sentar na cadeira
E desse jeito falou:
Passe a navalha no resto
Do cabelo que sobrou,
O barbeiro no queria,
A lei do trinta mandou.
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Na cabea da ricaa.
Boiadeiro caprichoso
Caprichou mais na pirraa,
Fez a morena careca
Dar uma volta na praa.
E l na casa do sogro
Ele falou sem receio:
Vim devolv sua filha,
Pois no achei outro meio.
A minha maior riqueza,
Eu olho e vejo no espelho,
um rosto com vergonha,
Que toa fica vermelho.
Sou igual um puro-sangue
Que no deita com arreio,
Prefiro morrer de p
Do que viver de joelho.
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LADRO DE MULHER
recorte com catira
Vieira / Vieirinha
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TERRA ROXA
moda-de-viola
Teddy Vieira
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Conto.
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CHITOZINHO E XOROR
toada ligeira
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o nhambuxint e o xoror,
o nhambuxint e o xoror.
CURTIUS, Ernest Robert. Literatura Europia e Idade Mdia Latina, pp. 505-06.
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PAGODE NA PRAA
pagode de viola
A sina de um cantador
somente Deus quem traa,
Pra ser um bo violeiro
No pode fazer ruaa,
Precisa deixar o nome
No lugar aonde passa...
P CASCUDO
moda-de-viola
Quando eu v na pagodera
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Eu levo a cumpanherada
Minha viola tambm vai
Eu no dexo desprezada.
O povo todo arvoroa:
Hora da minha chegada.
As criana vm primero
Grita ia a violerada!
Festero chama pra dentro
Me acompanha rapaziada!
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QUATRO COISAS
recortado com catira
Vieira e Vieirinha
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CAMPEO PAULISTA
moda-de-viola
Vieira / Vieirinha
Afirma o p violerada!
Desaforo eu no agento,
Agora cheg a hora
Da cobra mord So Bento!
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126
A Poesia da Viola. In: AMARAL, Amadeu. Ensaios e Conferncias, p. 128.
127
Jos Miguel Wisnik escreve: um nico som afinado, cantado em unssono
por um grupo humano, tem o poder mgico de evocar uma fundao csmi-
ca: insemina-se coletivamente, no meio dos rudos do mundo, um princpio
ordenador. Sobre uma freqncia invisvel, trava-se um acordo, antes de
qualquer acorde, que projeta no s fundamento de um cosmos sonoro, mas
tambm do universo social. In: ___. O Som e o Sentido, p. 30.
128
SOURIAU, tienne. A Correspondncia das Artes, p. 128.
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130
Trata-se da inverso da simbologia de So Bento, corrente no meio rural
brasileiro. De acordo com crena vinda de Portugal, quando So Bento
invocado pelos seus devotos, ele afugenta as cobras venenosas. O motivo de
a cobra morder So Bento tambm aparece no pagode O Mundo no Avesso
(1986), de Lourival dos Santos e Tio Carreiro, gravado por Tio Carreiro e
Pardinho. Em Sucuri, cururu de Z Carreiro e Ado Benatti, gravado por Z
Carreiro e Carreirinho nos idos de 1950, quando a cobra que parecia o
Lucif tenta devorar dois canoeiros, confessa o cantador: eu chamei por
todos santo / por So Bento, So Jos....
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131
As duas citaes foram coligidas em Literatura e Sociedade, de Antonio Candido,
p. 20-21.
132
Refiro-me aos pressupostos de funo potica da linguagem enuncia-
dos por Jakobson no ensaio clssico Lingstica e Potica. In: JAKOBSON,
Roman. Lingstica e Comunicao, p. 118-62.
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TEMPO DE INFNCIA
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Ensaio Frase: Msica e Silncio. In: BOSI, Alfredo. O Ser e o Tempo da
Poesia, p. 70.
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6. A MODA VIOLA EM
VRIAS POCAS E LONJURAS
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140
CORRA, Roberto Nunes. Viola Caipira, p.19.
141
Colquio gravado em 11.dez./95.
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143
Enciclopdia da Msica Brasileira (Erudita Folclrica Popular), p. 801.
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Era Industrial, que seguem seu passo apesar das eras. So smbolos
de uma riqueza cultural submersa mas pronta para ser mostrada.
[Pois , para o homem, a mulher e filhos da roa, o sonho ainda nem
comeou!]. Essa ligao estreita com a natureza se presentifica em
artistas como a violeira Helena Meireles (1924-) instrumentista auto-
didata como quase todos, a qual, tocando a viola nos bordis e putarias
do interior do Mato Grosso, ou para a boiaderama do pantanal e
divisas paraguaias, usa uma estranha palheta feita de chifre de boi,
confeccionada sempre s Sextas-feiras Santas, sob uma figueira, an-
tes do sol nascer, para atrair as boas vibraes. Na interpretao de
Guaxo (s/d., domnio pblico), ela imita o rudo do vo desse ps-
saro devorador de laranja. Em Araponga (s/d., domnio pblico),
reproduz na viola o canto dessa ave.144 Z da Estrada (Waldomiro de
Oliveira, Botucatu-SP, 1929-), da dupla Pedro Bento e Z da Estrada,
com 40 anos de carreira e mais de uma centena de LPs gravados, em
entrevista para este Ensaio disse:
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VIOLA VERMELHA
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Do progresso sertanejo,
Ele foi o pioneiro.
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146
CORRA, Roberto Nunes. Viola Caipira, p. 27.
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idem, p. 27
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Colquio gravado em 25.mai/94.
149
CORRA, Roberto Nunes. Viola Caipira, p. 16.
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VIOLA DA FAZENDA
moda-de-viola
Carreirinho
Cidade de Itajobi,
Na Fazenda da Figuera
O Dego e o seu irmo,
Antnio Paulino Viera,
Entraram na mata virge
procura de madera
Pra faz uma viola
E fizero a primera.
150
BERNADELI, Maria Madalena. A Expressividade Caipira em Vieira e Vieirinha
p. 11-2.
218
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E a notcia esparram
Da violinha fandanguera.
(Vieira e Vieirinha,
Vieira e Vieirinha 37 Anos, 1986)
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ROMILDO SANTANNA
151
Colquio gravado em 28.out/95.
152
O Homem Cordial. In: HOLLANDA, Srgio Buarque de. Razes do Brasil,
p. 101-12.
220
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Companhero, me ajude
Que eu no posso ficar s,
Se sozinho canto bem,
Junto eu canto mi...
PADECIMENTO
moda-de-viola
Carreirinho
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ROMILDO SANTANNA
Quando ia hoje
Pela Rua das Violas
Pedro Segundo
Deu um tiro de pistola.
Quando ia hoje
Pela Rua do Sabo
Pedro Segundo
Deu um grande escorrego.154
226
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155
ALMEIDA, Manuel Antnio de. Memrias de um Sargento de Milcias. So Paulo:
tica, 1969, p. 73.
156
STEHMAR, Jacques. Histria da Msica Europia, p. 71.
227
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MARTN FIERRO
157
Escreve Maynard Arajo que tempero a afinao. Esta varia. Dizem
alguns caipiras paulistas [inclusive Vieira, h pouco citado] que h vinte e
cinco afinaes diferentes. Mas o nmero 25 para eles significa imensidade,
o incontvel, multido. Conhecemos as seguintes afinaes para violas do
serra-acima paulista: cebolo, cebolinha, r-abaixo, castelhana, quatro-pontos,
oitavado, tempero-mineiro, tempero-pro-meio, guariano, guaianinho, guiano,
tempero, som-de-guitarra, cana-verde, do sossego, pontiado-do-paran (p.445).
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Se a tanta pena
Nada a consola
160
MENNDEZ PIDAL, Ramn.. Romancero Hispnico (Hispano-Portugus, Ameri-
cano y Sefard) - I, p. 82.
161
Citao de Diego Rodrguez de Almela (Compendio Historial, 1479), reprodu-
zido na Antologa de la Poesa Medieval EspaolaII, de A. Rodrguez Rey, p. 11.
162
MENNDEZ PIDAL, Ramn.. Romancero Hispnico (Hispano-Portugus, Ameri-
cano y Sefard) - I, de Ramn Menndez Pidal. Ilustraes Musicais por Gonzalo
Menndez Pidal, p. 381.
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Na doce viola
Podeis pegar.163
Id. p. 150.
164
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165
Enciclopdia Universal Ilustrada Europeo-Americana - Tomo 68, p. 1162.
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166
CORRA, Roberto Nunes. Viola Caipira, p. 11.
167
ZUNTHOR, Paul. A Letra e a Voz, p. 118.
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169
CMARA, J. M. Bettencourt da. Msica Tradicional Aoriana, p. 35.
170
Apud. PIDAL, Menndez. Romancero Hispnico (Hispano-Portugus, Americano y
Sefard) - II, p. 92-4.
235
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171
Idem, Romancero Hispnico (Hispano-Portugus, Americano y Sefard) - I, Ilustra-
es Musicais por Gonzalo Menndez Pidal, p. 382.
172
Ibidem, p. 92.
236
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A MORTE DO CARREIRO
moda-de-viola
Z Carreiro / Carreirinho
(Z Carreiro e Carreirinho,
Os Grandes Sucessos, 1984)
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A MORTE DO CARREIRO
GENTIL DAMA Y EL PASTOR
outubro, 1 Francia,
dia, 2 alegra
brasa, 3 torneos
feria. 4 dia.
triste, 5 mundo
ouvia. 6 cavallera
pasros 7 cavallero
sombria. 8 amiga.
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7. O CAIPIRA NO MODA:
O HERI CANTADOR
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174
PIRES, Cornlio. Conversas ao P do Fogo, p. 180 e ss.
175
SILVEIRA, Valdomiro.. Os Caboclos, p. 193.
240
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176
Caipiradas. In: CANDIDO, Antonio. Recortes, p. 250.
177
BRANDO, Carlos Rodrigues. Os Caipiras de So Paulo, p. 12.
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JOO CARREIRO
cururu
Raul Torres
178
Que um Caipira?, carta de Silvio Romero. In: ROCHA, Hildon. Realida-
des e Iluses do Brasil, p. 195.
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179
Pequena Histria da Msica Popular Brasileira: da Modinha Cano de Protes-
to, p. 185.
243
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180
Vida, Paixo e Morte de Lobato, de Silveira Peixoto. In: Boletim Bibliogrfico
da Biblioteca Mrio de Andrade (So Paulo), p. 55.
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UNITAU (Taubat-SP).
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184
Viagem Provncia de So Paulo, cit., p. 188 e 24.
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186
RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro: A Formao e o Sentido do Brasil, p. 387.
187
LOBATO, Monteiro. Urups (1943). Introduo de Edgard Cavalheiro, na
edio comemorativa do Jubileu de Prata da primeira edio.
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TRISTEZAS DO JECA
toada ligeira
Angelino de Oliveira
Nesta viola
Eu canto e gemo de verdade...
Cada quadra (toada*)
Representa uma saudade...
189
O caipira londrinense da msica dodecafnica Arrigo Barnab concebe a
imagem como uma tristeza estranha, uma vontade de chorar, em sua valsa
Londrina, finalista e prmio de Melhor Arranjo no Festival MPB-Shell (1981),
da Rede Globo de Televiso.
253
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190
Tanto nas gravaes de Tonico e Tinoco (numa delas omitem a ltima
estrofe), como na recente interpretao de Ney Matogrosso, o ttulo aparece
modificado para Tristeza do Jeca (Ney Matogrosso, Pescador de Prolas).
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191
Velha Praga, publicado no prefcio de Urups (1918).
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192
PIRES, Cornlio. Conversas ao P do Fogo, p. 5-38.
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O MINEIRO E O ITALIANO
moda-de-viola
O Mineiro e o Italiano
Vivia s barras dos tribunais,
Numa demanda de terra
Que no dexava os dois em paz.
S em pens na derrota
O pobre caboclo no dormia mais.
O Italiano roncava
Nem que eu gaste arguns capitais,
Quero v esse Minero
Vort de a p pra Minas Gerais.
Retruc o adevogado:
O senhor num sabe o que est falando,
Num caia nessa bestera
Seno nis vamo entr pro cano.
Este Juiz uma fera
Caboco srio e de tutano,
Paulista da velha-guarda,
Famlia de quatrocentos ano.
Mand a leitoa pra ele
dar a vitria pro Italiano.
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193
BARTHES, Rolland et al. Lo Verosmil, p. 66.
194
QUERIDO, C. Vers Une Sociologie des Sisthmes Simboliques: Essai de
Methodologie, p. 21.
195
O conceito de noblesse de robe (nobreza togada) tomado de Lucien
Goldmann em Dialtica e Cultura, p. 151-72. Inclui a idia de oficialidade: no
s de judicirio, mas o bojo da aristocracia e o parlamento legislativo.
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196
FREYRE, Gilberto. Problemas Brasileiros de Antropologia, p. 42-3.
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201
DIAS, Carmen Lydia de Souza. Paixo de Raiz. Valdomiro Silveira e o Regiona-
lismo, p. 130.
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202
Colquio gravado em 25.set/94.
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203
Velha Praga, prosa de gnero inclassificvel, includa na segunda edi-
o de Urups (1918).
204
SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem Provncia de So Paulo, p. 254.
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205
Informaes mais aprofundadas a esse respeito so encontradas em publi-
caes como Do Outro Lado do Atlntico: Um Sculo de Imigrao Italiana no
Brasil, de ngelo Trento, p. 123-4.
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que . Apartada dessa extenso humana, deixa de ser arte. Isto certa-
mente elimina as diferenas entre o acadmico e o moderno, entre os
hodiernos e os antigos, entre o ilustrado e o popular. O primitivismo
da Moda Caipira de razes um teatro, repito e acrescento: uma vividez
convulsa de sonhos. Por definir-se como atividade performtica en-
volvendo ou sendo envolvida pela coletividade em contnua reali-
mentao, esse processo de flutuao entre o real e o fingido muito
comum na discursividade literria popular. Basta lembrar que ela tam-
bm ocorre nas estrofes de adivinhaes, nos autos populares, nos
poemas de cordel, no teatro de revistas, nas narraes de causos e,
principalmente, na estrutura dramatrgica dos dramas e tragicomdi-
as com que se encerram os espetculos circenses das companhias fa-
miliares que ainda percorrem os lugarejos e pequenas cidades do inte-
rior e centros metropolitanos. A respeito dessa mescla de situaes
reais e fictcias na composio imagstica do discurso literrio-popu-
lar, escreve Jos Guilherme Cantor Magnani que o que caracteriza o
circo justamente a capacidade no s de transpor para o palco essas
e outras peripcias do dia-a-dia dos espectadores, mas sobretudo de
explicitar seus contrastes atravs da articulao srio vs. cmico que cons-
titui seu princpio estruturante bsico. No apenas a presena desta
ou daquela crena ou fragmento do cotidiano o que explica o carter
verossmil do espetculo de circo, mas a existncia de uma lgica que
articula de forma circense as contradies, incongruncias e
descompassos da vida diria, tais como a valorizao da famlia e as
dificuldades em mant-la, o reconhecimento da autoridade e o temor
da polcia, as esperanas postas na cidade e a desigual repartio de
seus servios, etc.. 207
Voltando anlise textual da Moda Caipira, que erige a atmos-
fera espiritual de um teatro de representaes, com essa flutuao
instaura-se mais uma vez a cosmologia de um tempo e de um
espao mticos engendrados na poesia: tempo em que no h ho-
ras, e um lugar sem paragens. Visto em sua funcionalidade social,
cabe ao modista o papel de restaurador do mundo, dissipando-o
dos agravos e tramias do destino; ao protagonista cabe a mscara,
quer dizer, a destituio de um carter especfico, individualizado,
207
MAGNANI, J. G. C. Festa no Pedao: Cultura Popular e Lazer na Cidade, p. 175.
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208
CANDIDO, Antnio. Dialtica da Malandragem, In: ___. O Discurso e a
Cidade, p. 18-54.
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211
Funes do Trapaceiro, do Bufo e do Bobo no Romance. Idem, Ibidem.
p. 275-8l.
212
CASCUDO, Lus da Cmara Literatura Oral no Brasil, p. 260-63.
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EM TEMPO DE AVANO
pagode de viola
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BOIADEIRO PUNHO DE AO
moda-de-viola
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MGOA DE BOIADEIRO
toada (fragmento)
No sou poeta,
Sou apenas um caipira,
E o tema que me inspira
a fibra do peo.
Quase chorando,
Imbudo nesta mgoa
Rabisquei estas palavras
E saiu esta cano.
(Ouro e Pinguinho,
Nosso Amor de Criana, 1975)
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213
Os heris-bois so geralmente ttulos das prprias modas-de-viola: Boi
Soberano (de Carreirinho, Izaltino Gonalves de Paula e Pedro Lopes de Oli-
veira), Retrato do Boi Soberano (de Piraununga e Joo Caboclo), Boi Fumaa (de
Sulino e Moacir dos Santos), Boi Veludo (de Lourival dos Santos e Jesus Belmiro),
Boi Cigano - I (de Tio Carreiro e Peo Carreiro), Boi Cigano - II (de Geraldinho
e Fauzi Kanso), Boi Sete Ouro (Teddy Vieira e Arlindo Rosa), Derrota do Boi
Palcio (de Z Carreiro e Jos de Morais), Nelore Valente (Sulino e Antnio
Carlos da Silva). Foram interpretadas e regravadas pelas maiores duplas caipi-
ras do Brasil, entre as quais Tio Carreiro e Pardinho, Tio Carreiro e
Carreirinho, Zilo e Zalo, e Dino Franco e Mora.
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MARRETA
moda-de-viola
Vieira / Vieirinha
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214
MENNDEZ PIDAL, Ramn. Romance Hispnico (Hispano-Portugus, America-
no e Sefard) - II, p. 98-100.
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pas patinam e deixam o casco no reto negro do asfalto. Boi que boi
tem nome e apelido de gente, ou apelido que gente muito bem que
poderia de ter: Minerinho, porque foi filho de Minero, Paulista e
Paulistinha, Negrinho, tem Possante, Possantinho, Pantanero, tem
Lobisome, Estrelo filho de Estrela, Canind (bochechudo, de chifres
semilunares), Sintido, Vermelhinho, Rodopio, Marelinho, Maiado,
Maiadinho, Espadio que era filho de Espadia, Sete de Ouro, Boa Bisca,
tem Gaiera (que t chegadinha de cria), Brinquinho porque filho de
Brinquinha, que era filha de Brilhante (que falava dormindo), Cigano,
Bordado, Jangado e Jangadinho, neto de Jangada, tem Moleque, tem Veludo,
Palcio, Namorado e Soberano, Palacinho, que no filho do Boi
Palcio, Delegado, Princesa, Rosera... um monto de nomeaes e
parentescos, no dados ou impostos, mas apanhados num arbusto
emocionante do cotidiano pelo vaqueiro que assistiu na pario, e nos
primeiros passos entrevados e fraquinhos de nen. Gigante ficou
com esse nome alegre e atravessado porque era to pequenino ao
nascer que o retireiro precisava ergu-lo para poder alcanar as tetas da
me. E mamava que nem gente grande. Boi no tem preconceito de
ter nome de mulher, e fica bem assentado. Seu Manuelzo Nardi diz
que lhe soa musical Rosa Amlia como nome de boi. por isto que
bois de todo tipo so que nem o caboclo. Porque caboclo mistura de
mulher do mato com caboclo de longe. E o boi entende e atende pelo
nome, ou parece compreender tudo isso. Bois de carro falam com
gente e entre os bois. Isto no conversa pra boi dormir!
Introspectivos, vez por outra falam coisas que nenhum no sabe.
Pois boi que no fala, mesmo que seja to sozinho, tapado, burro
como um tijolo. Nem sabe que boi diria seu Joo Rosa, um caipira
para l de excelso. Gente da cidade escreve floreado, cavoucando met-
foras; boi no, fala substantivo direto no assunto. Boi, parece que
no, mas ladino nessas reparaes de gentes e de coisas. Pode at ter
gesto, e testa, e estro de poetas que escrevem letra de mquina. Pra ele,
os humanos so to delicados (mais que um arbusto) e correm e
correm de um lado para outro, sempre esquecidos de alguma coisa.
Certamente falta-lhes no sei que atributo essencial, posto que se
apresentem nobres e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves,
at sinistros. Coitados, dir-se-ia no escutam nem o canto do ar nem
os segredos do feno, como tambm parecem no enxergar o que
visvel e comum a cada um de ns, no espao. E ficam tristes e no
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Sulino
S filho do interior
Do grande estado minero
Fui um heri sem medaia
Na profisso de carrero.
Puxando tora do mato
Com doze bois pantanero,
Eu ajudei desbrav
Nosso serto brasilero.
Sem vaidade eu confesso:
Do nosso imenso progresso
Eu fui um dos pionero.
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BOI AMARELINHO
moda-de-viola
Raul Torres
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***
Fala, boi. Os velhos bois e gentes se entendem. Olhando a
vida desde o largueiro do tempo, repassado por lugares, e lutas e
prantos, vem a existncia com a paixo compassiva, a mais calada
das paixes. Sabem que atrs de si atravessa uma boiada incauta, de
couro que no to duro para a tala da chibata, que no pode ser
atingido por tormentas, naquela barranca da travessia. que os
jovens, gentes e bois, estouram ao ver o pano vermelho desenhado
com cenas da tragdia. O estouro da boiada desembestada um
Deus nos acuda!, uma confuso que no tem arrumao. Velhos
ranzinzas no estouram, se esvaem, ficam decrpitos, vivos da
prpria vida; mas enfrentam os azares com grandeza, para que a
boiada possa seguir com sossego. Incorporam em si mesmos, e a si
mesmos, um sentido de tragdia: aquela que desperta o prazer na
compaixo e deixa o nego encafifado, com o olhar longnquo, pen-
sativo nas sombras das travessias que ho de vir. Desligam-se dos
rodeios cotidianos da juventude e, por momentos, olham o existir
com a gravidade de um cientista das coisas do mundo, gravidade de
um jequitib antigo ou de um lenhador. Este o sentido de poesia
que toma conta dum fandango quando chega a hora de uma moda
como a que se atravessa no caminho deste Ensaio. Acompanhemos
a alegoria comovente de uma criatura martirizada no calvrio como
boi de piranha:
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TRAVESSIA DO ARAGUAIA
moda-de-viola
Ao chegarem na barranca,
Disse o velho ao boiadeiro:
Derrubamos um boi ngua
Deu a ordem ao ponteiro ,
Enquanto as piranhas comem
Temos que passar ligeiro,
Toque logo este boi velho
Que vale pouco dinheiro.
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O ponteiro revoltado
Disse: Que barbaridade!
Sacrificar um boi velho
Pra qu esta crueldade?
Respondeu o boiadeiro:
Aprenda esta verdade:
Que Jesus tambm morreu
Pra salvar a humanidade!
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218
Este sentido, que pode ser percebido na obra de Umberto Eco, me parece
mais avanado que a acepo dada a referente por Louis Hjelmslev nos
Prolegmenos a uma Teoria da Linguagem.
219
Boitempo. In: ANDRADE, Carlos Drummond de. Boitempo (1968)
220
BURKE, Peter. A Arte da Conversao, p. 162.
221
Este assunto teorizado com profundidade no livro Fenomenologia da Percep-
o de Maurice Marleau-Ponty.
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***
Muitas modas atualizam a figura mtica do barbato. Brulio do
Nascimento o interpreta como o boi bravio, rebelde aos domnios
do vaqueiro, arredio do curral, famoso pelas estripulias e finalmente
lendrio.222 Acintosos e desafiadores, os barbates parecem recusar
o qualificativo gado. Decerto, exclamou um amigo meu, so bois pro-
fanos que pem seus cornos pra fora e acima da manada. Pode-se
afirmar que na Literatura Oral-popular brasileira verifica-se um Ciclo
do Boi. Slvio Romero o denominou Romances de Vaqueiros, assinalan-
do que neles, alm da influncia ibrica, h mais influxos indgenas
que africanos [Introduo Literatura Brasileira e Histria da Literatura
BrasileiraI]; Amadeu Amaral, Romances Rsticos [Tradies Populares].
Escreve Gustavo Barroso, em Ao Som da Viola que possivelmente
este o mais tpico dos ciclos sertanejos, porque diretamente criado no
prprio meio. Embora no se furte a influncias naturais provenien-
tes das tradies das raas que se chocaram no povoamento e forma-
o da sociedade sertaneja, descreve e representa a vida dos vaqueiros
e fazendeiros, exprime os seus pensamentos e nos mostra as suas
reaes em face dos acontecimentos comuns ou extraordinrios da
terra em que habitam. Recorrendo ainda a Brulio do Nascimento,
um dos maiores investigadores da Literatura Oral-popular no mo-
mento, escreve o pesquisador da Biblioteca Nacional do Rio de Janei-
ro que a estrutura temtica desses romances equivalente quela que
caracteriza o ciclo do boi nas vrias regies do pas: a luta do boi com
As informaes a seguir foram coligidas no ensaio O Ciclo do Boi na Poesia
222
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BOI CIGANO
moda-de-viola
Na cidade de Andradina
Com a boiada eu fui chegando,
Eu tava s com seis peo,
Oitocentos bois nis vinha tocando,
Com esse gado de raa
Naquela praa fui travessando
O pontero ia adiante
Com o berrante ia arrepicando.
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225
A Poesia da Viola. In: AMARAL, Amadeu. Ensaios e Conferncias, p. 128.
308
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no terceto:
na quadra:
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***
A moda Boi Cigano, ao ensejar sua anlise, puxa outra caracterstica
fundamental no primitivismo da Moda Caipira de razes. Ao trazer o
auditrio para uma ambincia interativa, provoca impactos e resso-
nncias altamente significativos na perspectiva sensrio-emocional.
Instaura-se como um acontecimento incorporado realidade, objeto
de comentrios, assunto de proseios, mudanas de comportamento
e o ludismo devaneante do sonhar acordado. Isto implica considerar
o valor significativo do intervalo entre uma ocorrncia simblica de
uma mensagem e outra. Os efeitos de sentido duma moda no
interferem apenas na atmosfera presente. Ela se perpetua no tempo e
no espao, desdobrando-se no correr dos dias. Num rito de passa-
gem do discurso para a realidade situada e datada, a Moda Caipira de
razes pode se transformar sucessivamente em novos discursos. Tal-
vez porque o esprito societrio no esteja inteiramente saciado pela
mensagem que desencadeara o sonho e, naturalmente, requeira o
aparecimento de novas verses e escrituras que sero mais uma vez
incorporadas pelo real.
bem provvel que a notao que acabo de fazer explique o
surgimento de tantas respostas e desdobramentos de uma moda
original. Elas se do de trs maneiras: a) continuao pura e simples do
enredo; b) continuao com mudana de perspectivas ao retomar o as-
sunto; c) rplica da voz enunciadora. Tal remisso ocorreu, por exemplo,
com a moda-de-viola Ferreirinha, de Carreirinho, lanada em 1950, em
disco de 78rpm de estria da dupla Z Carreiro e Carreirinho (o outro
lado do mesmo disco era o cururu de tremendo sucesso Canoeiro). Logo
surgiram os romances ulteriores Irmo de Ferreirinha, de Teddy Vieira e
Carreirinho, Companheiro de Ferreirinha, de Germano Galdino e Pinheirinho
e A Alma do Ferreirinha, de Zilo e Jeca Mineiro. Esses prolongamentos,
subtextos das narrativas atuais, se integram num todo, agregando-se de
forma folhetinesca ao contedo precursor. Contam com os pressupos-
tos recortes semnticos e conhecimentos do passado anterior mensa-
gem, j assimilados como verdicos, contidos no romance precedente.
Outra continuao notvel e auspiciosa Rei do Caf, de Teddy Vieira e
Carreirinho, lanado em 1958 por Liu e Lu, em resposta mensagem
impressionante de Rei do Gado, de Teddy Vieira, lanado no mesmo ano
por Tio Carreiro e Pardinho. Preto Fugido, de Z Carreiro, se prolonga em
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MARRETA
moda-de-viola
Vieira / Vieirinha
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RESPOSTA DA MARRETA
moda-de-viola
Vieira / Vieirinha
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ROMILDO SANTANNA
CANOEIRO
cururu
Z Carreiro / Alocin
(Z Carreiro e Carreirinho,
Os Maiores Violeiros do Brasil, 1970)
CAADOR
cururu
***
Feitas estas observaes incidentais, retornemos s sagas dos he-
ris-bois na moda-de-viola Boi Cigano II, de Geraldinho e Jesus Belmiro:
BOI CIGANO II
moda-de-viola
Geraldinho/Jesus Belmiro
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A atrao da companhia
Permanece h muitos anos,
A platia se arrepia
Quando entra o Boi Cigano,
Pra montar e no cair, ai,
No conheo um ser humano,
Derrot em Andradina,
A grande fera assassina,
O leo sul-africano.
Um peo compareceu
Por anncio dos jornais,
Por sinal tinha seu nome
Entre os bons profissionais,
O Fumaa e Montaria...
J ganh prmio demais,
Mas no lombo do Cigano
Conheceu o desengano
E acab o seu cartaiz, ai.
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ROMILDO SANTANNA
Desafiando a peonada
Pagando prmio em dinheiro.
A derrota do Cigano
Eu tenho que ver primeiro,
Se um dia acontecer
E o peo aparecer
Ser o campeo brasileiro.
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BOI VELUDO
moda-de-viola
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BOI SOBERANO
moda-de-viola
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Na hora da despedida
O fazendero foi falando:
Cuidado com esse boi
Que nas guampa leviano!
Este boi criminoso,
J me fez diversos dano!
Toquemo pelas estrada
Naquilo sempre pensano.
Na cidade de Barretos,
Na hora que eu foi chegando,
A boiada estorou, ai!
S via gente gritando!
Foi mesmo uma tirania
Na frente ia o Soberano!
O comero da cidade
As porta foram fechando,
E na rua tinha um menino,
Decerto estava brincando.
Quando ele viu que morria
De susto foi desmaiando
Coitadinho debru
Na frente do Soberano.
O Soberano par, ai!
Em cima fic bufando,
Rebatendo com o chifre,
Os boi que vinha passando!
Naquilo o pai da criana
De longe vinha gritando:
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227
O tema enfocado por Roberto DaMatta, em Carnavais, Malandros e Heris,
p. 207.
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RETRATO DO SOBERANO
moda-de-viola
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ROMILDO SANTANNA
Na cidade de Barretos
Muita gente presenciou
O passar de uma boiada
Com destino ao matador,
Num repique do berrante
A boiada estourou,
Neste momento tirano
Voc estava brincando,
Quando o Boi Soberano
Na sua frente parou!
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Do milagre acontecido
Eu fiquei conhecedor.
Fui crescendo e fiquei moo
Hoje eu sou um cantador.
Vou seguindo o meu destino
E por um milagre divino
Eu sou aquele menino
Que o Soberano sarvou!
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O Soberano morreu
Do couro foi feito um lao
Que at hoje no quebrou.
Do chifre, este berrante,
O meu pai quem fabricou.
Recebi como herana
E guardo como lembrana,
Eu sou aquela criana
Que o Soberano salvou.
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(Ivanildo Vilanova)
Eu acho que a minha arte
Tem muito a ver com cangao,
Minha viola no brao
Me leva por toda parte.
No preciso bacamarte,
Nem punhal e nem pistola,
Porque quando o verso rola
Eu j veno o companheiro.
Eu tambm sou cangaceiro,
Minha arma a viola.
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228
Colquio gravado em 13.dez.1995.
229
Dissertao de Mestrado Uma Expresso do Folclore Mato-grossense: Cururu em
Corumb (1991), de Eunice Rocha, p. 61.
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230
CANCLINI, Nstor Garca. A Socializao da Arte: Teoria e Prtica na Am-
rica Latina, p. 42.
231
Razo e Paixo. In: NOVAES, Adauto et al. Os Sentidos da Paixo, p. 453.
232
ECO, Umberto. Apocalpticos e Integrados, p. 301-2.
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233
CONTIER, Arnaldo D. Modernismos e Brasilidade - Msica, Utopia e
Tradio, In: ABENSOUR, Miguel et al, Tempo e Histria, p. 159-288.
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234
Oscar Niemeyer, que projetou o Sambdromo do Rio de Janeiro, projetou a
arena de 45 mil lugares do Barreto que, em agosto 1996, reuniu mais de l,5
milho de espectadores na 41 Festa do Peo de Barretos-SP.
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235
In: Festa no Pedao: Cultura Popular e Lazer na Cidade, p. 61-2.
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236
O professor Guillermo de la Cruz Coronado relaciona esse inerte
etimologia de in-arte, ou seja, sem arte. In: Arte Natureza Homem.
Revista Universitas, p. 15-40.
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pagopopularoral cristoeruditoescrito.237
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A ENXADA E A CANETA
toada
A enxada respondeu:
De fato eu vivo no cho,
Pra pod dar o que com
E vestir o seu patro!
Eu vim no mundo primero,
Quase no tempo de Ado,
Se no fosse o meu sustento
Ningum tinha instruo!
340
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***
Esses preceitos que no so de hoje, e tampouco circunscritos a
determinada topografia no espao brasileiro, se mobilizam e se agra-
vam quando so expandidos para todo o horizonte da repblica. O
preconceito referido tem como conseqncias, entre outras, duas fun-
damentais. A primeira advm de uma espcie de ausncia oficializada
de Poder Pblico para a maioria, quer dizer, ausncia de democracia
para essas camadas sociais no Brasil. As Cartas Magnas sempre pres-
creveram o primado da igualdade. Porm sabemos que nem tanto,
mesmo em se tratando da obedincia aos direitos e deveres funda-
mentais da pessoa. Sempre houve em nossa histria, mas, sobretu-
do, neste final de sculo, h um dissenso generalizado no pas. Vive-
se num mundo domesticado pelas foras histrico-sociais dos
estamentos possuidores, com suas prerrogativas e teias de privilgios
(privus = privado; lex = lei), num processo de anulao civil dos que
nada tm. Negando os avanos por que passou a sociedade, agem
como proprietrios dos meios de produo que no atingiram o
estgio elementar de considerar o trabalho um produto equivalente e,
portanto, objeto de troca (Marx). Isto debilita ainda mais a fora da
populao agrria como fonte de mudana social. Como tenho deixa-
do escrito, repetindo os esquemas senhoriais ancies, em umas zonas
mais que outras, o interesse privado da casta dos coronis ou po-
derosos locais se sobrepe ao desenvolvimento dos interesses pbli-
cos, gerando formas regionalizadas de despotismo, a impossibilitar,
entre outras coisas, a democracia cultural. Todavia, parafraseando
Zunthor, a cultura popular amacetada, mas impossvel de se extir-
par, pela acusao de heresia religiosa ou paganismo esttico.
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239
CASCUDO, Lus da Cmara. Literatura Oral no Brasil, p. 28.
240
Apud. TINHORO, Jos Ramos. Os Sons dos Negros no Brasil, p. 44.
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nada com a idia tirana de povo indigente, mal nascido, num contexto
social absurdo e marcado por fundamentais diferenas entre a mino-
ria mandante e a legio interminvel de mandados. Abro aqui outros
parnteses para adicionar que quem no tem condies de enxergar
essa base radical de uma cultura do povo que germinou de seu prprio
hmus e se fez prpria, pode estar despreparado para a especulao
crtica sobre o substrato cultural da arte brasileira, da mais rstica
mais refinada pelos contornos moduladores das vrias pocas, ou
pelas cpias de modelos adiantados importados dos centros oci-
dentais. Isto vale tambm para a ao especulativa sobre a expresso
contempornea, definida muitas vezes por elocues tipicamente pro-
vinciais e arroladas pelo conceito movedio e jactancioso de progresso
ou modernidade.
A onipotncia econmica da cultura de massa (e sua indstria de
entretenimento) fragiliza o processo espontneo da cultura. Ela ins-
titui artificialmente uma outra cultura, apenas com recortes de com-
ponentes genunos da cultura, de modo a regular e preservar a estru-
tura scio-econmica existente e da qual emana. Como se sabe, em
sua truculenta caracterstica de transformar o indivduo em especta-
dor passivo da histria, a ao dos meios de comunicao de massa,
presos s rdeas desses senhorios, barra a correnteza genuna da trans-
misso oral, dos falares, cantares e danares espontneos, asfixiando
a criatividade do povo. Vale aqui aduzir palavras de Mrio Pedrosa,
num texto intitulado Arte Culta e Arte Popular: ideais como o criador,
o artista, valores da sociedade burguesa, so vinculados diretamente
idia de xito e de triunfo do indivduo. O artista s existe como
produtor de arte erudita; quem faz arte popular no artista, dificil-
mente um criador, mas apenas um arteso.241 At a semntica de
arteso foi corroda pelo preconceito! No filme Canabraba: a Necessidade
da Expresso, que realizamos eu e o cineasta Reinaldo Volpato, sobre
dois bias-frias e pintores primitivos da regio caipira de Sales Olivei-
ra-SP, em certo momento um deles revela a prpria descrena, to
introjetada da cultura dominante, de que a espontaneidade da mani-
festao popular que realizam possa ser classificada como Arte. Diz
um deles, Zequinha Scarelli, hoje com 63 anos, idealizando uma
aspirao embutida no conceito de verdadeiro artista: Nis j tentemo
241
Arte em Revista 3: Questo O Popular, p. 22.
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s artista, mas por ora... Ah, nis j cant de viola, j feiz tudo quanto
foi coisa por a, mas... Ah, a vida do artista boa, n? A vida do
artista..., ele conhece o mun..., pelo menos o Brasil. E outros conhece
at pra fora, a, noutros pas... Ele leva uma vida mais tranqila,
n?242 Como se pode inferir, a singeleza de ambos os coloca hierar-
quicamente mais aqum, muito aqum do eclipse em que sobrevive-
ram e subsistem os poetas-cantadores de modas caipiras e outros
cantares da populao rural brasileira.
O artista popular, devido ao esquema de valores to identificados
pela discriminao, no rene condies de incluir-se como artista, ou
incluir sua arte como fim, na seduo dos bens materiais, ou do
reconhecimento pelas camadas letradas. E, vale relembrar, so elas
que guarnecem a sabedoria do bom gosto, do que esttico.
Conforma-se, esse artista do povo, que a velha histria escrita pelos
vencedores, e que seu lugar o rinco dos excludos. E, bem dizer,
este estado de coisas exerce o valor funcional de alvio. Junto a seus
iguais, sente-se resistente e protegido, medida que no desagrega da
maioria. Neste sentido, desprovido da gana de outros benefcios,
canta pelo prazer do canto, pela compensao mgica, gratificante e
inefvel da consagrao e do rito, e pela delcia da admirao e reconhe-
cimento de seus conterrneos.
O primitivismo da Moda Caipira de razes um fim em si mes-
ma, nasce da necessidade da expresso; consome-a a necessidade do
sonho. Por sua configurao atrelada ao trivial do dia-a-dia, no lhe
cabe a sintaxe rebuscada que anuvia a comunicao gil da oralidade,
nem a palavra difcil que enrosca a ateno dos ouvintes nos eitos e
ondulncias do espao discursivo em letra de forma. Tudo direto
como deve ser, como um assopro na amplitude, como um discurso
revelador que se faz humanamente singelo, sem percalos pseudo-
intelectivos. Neste sentido, parece seguir caminho paralelo ao da
moderna crnica de jornal, no ambiente urbano, tantas vezes usurpa-
da da qualificao de gnero literrio. Na despretenso do poeta caipi-
ra, muitas vezes, est o caminho para penetrar poesia a dentro,
242
Canabraba: a Necessidade da Expresso, curta-metragem em 35 mm, cor, 11m37.
Argumento, roteiro, montagem e direo: Romildo SantAnna e Reinaldo
Volpato. Taus Filme Vdeo Produes (So Paulo). Embrafilme (Rio de Janei-
ro), 1988.
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243
A Vida ao Rs-do-cho, em Recortes, pp. 23/29. Esse texto fora publicado
originalmente por Antnio Cndido no prefcio do livro Para Gostar de Ler V
- Crnicas (Ed. tica, 1984), pp. 4-13.
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REGIES PR PU PR PU PR PU PR PU PR PU
Norte 72,3 27,7 68,5 31,5 62,2 37,8 54,9 45,1 48,4 51,6
Nordeste 76,5 23,5 73,6 26,4 65,8 34,2 58,0 42,0 49,5 50,5
Sudeste 60,6 39,4 52,5 47,5 42,7 57,3 27,2 72,8 17,3 82,7
Sul 72,3 27,7 70,5 29,5 62,4 37,6 55,4 44,6 37,3 62,7
Centro-oeste 78,5 21,5 75,6 24,4 65,0 35,0 51,7 48,3 33,0 67,0
BRASIL 68,8 31,2 63,8 36,2 54,9 45,1 44,0 56,0 33,0 67,0
Fonte: Anurio Estatstico do Brasil, 1982, IBGE.
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***
O xodo para a cidade interferiu na contrafao simblica das
modas caipiras, no repertrio de referncias, pela interpenetrao no
cdigo de valores tradicionais do campo com outra ordem de valores,
os da cidade, com seus fascnios de asfaltos e das foras da eletricida-
de. A cidade e seu ritmo impem um sentido de absoro temporal
em que o que vale o Agora. Aqui talvez se faam oportunas as
observaes de Giorgio Prodi, em seu captulo sobre O Estmulo,
os Limites e o Hbito: a distncia tem um determinado modo de
colocar-se (de ser construda) conforme se ande a p ou a cavalo, e tem
outro completamente diferente quando se viaja velocidade do som.
Neste caso, tudo se torna global e resumido, desprovido de detalhes,
e sobretudo da participao ativa do corpo, que transportado passi-
vamente. Poderamos dizer: transportado como em um tapete voa-
dor de fbula infantil, mas no realmente assim. Existe uma extre-
ma naturalidade naquilo que h apenas alguns anos podia parecer
maravilhoso e aquilo que precedeu o aumento (da velocidade, por
exemplo) cada vez menos seguido de um aumento da ateno e da
participao.244 Em Mundo no Avesso, que vamos examinar a seguir,
a habilidade construtiva de Lourival dos Santos e Tio Carreiro, em
fluente versificao combinando versos dobrados e estribilho, co-
loca em evidncia o impacto do estranhamento dado, entre outras
causas, pela desrealizao imaginativa daquele tapete voador a que
se referiu Prodi, e a notao de um mundo absurdamente duro, de
espessura agressiva e desalentada, na viso pacificante do caipira dos
campos e roados. Um mundo em seu carter paradoxal, no qual a
tecnologia avana sobre a terra, em seu iderio mercantilista, a im-
plantar uma desordem ecolgica. Deste modo, o caipira exprime a
recusa de seus valores, considerados hostis e contraditrios. O voc-
bulo avesso do ttulo se institui, no correr do poema-aviolado, por
meio de um torneado jogo que se realiza pela combinao inesperada
de palavras, por uma espcie de divagao livre, pelo manejo fluente
de paradoxos. Repartindo as estrofes oitavadas, homognea e parale-
lamente, em blocos de sucessivos dsticos, o que em si j revela algum
requinte de artesania, o texto se baseia numa enumerao aparente-
mente desconexa de situaes, que revelam a degenerao do mundo,
244
PRODI, Giorgio. O Indivduo e Sua Marca, p. 180-1.
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MUNDO NO AVESSO
pagode de viola
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Osso duro de ro
o Brasil da qualidade,
dodo a gente v
A cruel desigualdade.
O pobre fica mais pobre
O rico enriquece mais,
Tubares e agiotas
Aumentam seus capitais.
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Os poderes competentes
Nada fazem para o povo,
Ns estamos num aperto
Iguar o pinto no ovo.
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246
El Ingenioso Hidalgo Don Quijote de la Mancha, Parte II, Cap. XVI.
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247
CALDAS, Waldenyr. O Que Msica Sertaneja, p. 62.
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248
Colquio gravado em 26.fev/96.
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252
Country Brasileiro Jeca Tatu Vestido de Cowboy, In: Leitura, ago/91.
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253
Por confuso fontica com a lngua dos italianos que, a partir do final do
sculo passado, ajudaram a povoar o serto paulista, o caipira traduz terra rossa
(vermelha) por terra roxa.
254
Por volta de 1533 surgiram em Santos os engenhos Madre de Deus, de So
Joo e dos Erasmos, considerados os primeiros do Brasil. Diferentes dos
engenhos nordestinos, foram construdos em estilo aoriano (todas as insta-
laes aglutinadas sob o mesmo teto).
255
Para aprofundamento da questo da evoluo do capitalismo global de
hoje em dia, e as relaes entre economia e ecossistema, inclusive em pases
como o Brasil, convido-o a percorrer as pginas de O Preo da Riqueza: Pilha-
gem Ambiental e a Nova (Des)Ordem Mundial, do alemo Elmar Altvater (So
Paulo: Editora Unesp, 1995).
364
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256
Os dados do censo de 1980 revelam a extrema pobreza dos assalariados
agrcolas. Em jornadas de trabalho mdias de 12 horas dirias, os salrios so
baixssimos: em 1980, 66,7% dos empregados em estabelecimentos
agropecurios recebiam at um salrio mnimo ao ms. Em 1987, o valor do
salrio mnimo era equivalente a US $ 42,24, ou seja, 37% do valor real que
atingiu em 1956. Ainda segundo o IBGE, de uma populao economicamente
ativa de 13 milhes de pessoas nas reas rurais, apenas 4,5 milhes so assala-
riados permanentes ou temporrios. Desses ltimos, os volantes ou bias-frias
somam cerca de 1,5 milhes de pessoas. H no Brasil forte concentrao de
propriedade da terra. Segundo o Censo Agropecurio de 1985, menos de 10%
dos estabelecimentos agropecurios controlam quase 80% das terras cadastra-
das. As propriedades rurais de mais de 1000 ha (menos de 1% do total)
perfazem 177 milhes de hectares. As propriedades de menos de 1000 ha
ocupam cerca de 79 milhes de hectares.
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257
O assunto complexo e, num sistema de transformaes sociais to vis-
veis, implica reflexes especficas. Tais estudos, entre outros largamente
conhecidos, so delineados por Antony Giddens em As Conseqncias da
Modernidade (1991).
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258
Country Brasileiro Jeca Tatu Vestido de Cowboy, artigo de Jos Ramos
Tinhoro publicado em Leitura, ago/91, p. 5.
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259
HAUSER, Arnold. Histria Social da Literatura e da Arte I, p. 282.
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260
O show Caipira Ps-moderno estreou em meados de 1995 nos Estados Unidos.
Foi apresentado em diversas capitais da Europa e, a partir de fevereiro de
1996, apresenta-se em vrias capitais e cidades mdias brasileiras. Colquio
gravado em 24.mar/96.
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262
Ramn Menndez Pidal aborda esta questo em vrias instncias de sua
obra, como em Estudio sobre el Romancero, p. 345.
263
Depoimento prestado no programa Ensaio, dirigido por Fernando Faro,
transmitido em 07.mai/91 pela Rede Cultura de Televiso - So Paulo.
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11. ACORDES
DERRADEIROS
264
PRODI, Giorgio. O Indivduo e Sua Marca, p. 102.
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265
ANDRADE, Mrio de. Ensaio Sobre a Msica Brasileira, p. 24.
266
SANTANNA, Romildo. Silva, Quadros e Livros: Um Artista Caipira (1994).
267
Arte e Meio Artstico: entre a Feijoada e o X-Burger, p. 295.
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270
Um Dia, Um Dado, Um Dedo. In: Campos, Augusto de. Verso Reverso
Contraverso, p. 262.
271
HAUSER, Arnold. Histria Social da Literatura e da Arte I, p. 212.
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IV REFERNCIAS
FONOGRFICAS
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V - REFERNCIAS
BIBLIOGRFICAS
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