COOPERATIVISMO COMO ALTERNATIVA PARA O

DESENVOLVIMENTO REGIONAL - O EXEMPLO DA COAPECAL

Bruno Soares ABREU1

Geraldo Moura BARACUHY NETO
Patrcia Soares ARAJO
Pricles Tadeu da Costa BEZERRA
Silvana FERNANDES NETO2

RESUMO
Este trabalho introduz alguns conceitos bsicos de cooperativismo como ponto de partida
para a incluso social e desenvolvimento socioeconmico local, tendo como base a
realizao de um estudo de caso em uma microbacia leiteira no interior do Estado da
Paraba. Sabe-se que a implantao de um sistema cooperativista como modelo
socioeconmico de desenvolvimento tem a capacidade proporcionar a uma determinada
localidade, ganhos significativos na desenvoltura de suas atividades. Desta maneira, torna-
se necessrio que o cooperativismo seja considerado uma realidade capaz de solucionar
problemas de desenvolvimento socioeconmico local, mediante o compromisso das
cooperativas cumprirem seus principais objetivos estabelecidos e adquiram uma nova
forma de organizao baseada na singularidade de seus princpios.
Palavras-chave: Desenvolvimento local, cooperativismo, incluso econmico e social.

ABSTRACT
This work introduces some basic concepts of cooperatives as a starting point for social
inclusion and local social and economic development, based on a study of micro-case in a
dairy within the state of Paraba. It is known that the deployment of a cooperative system
as a model of social and economic development has the ability to provide a given locality,
significant gains in of their development activities. Thus, it is necessary that the
cooperative is considered a reality capable of solving problems of local social and
economic development through the commitment of cooperatives meet their main
objectives set and acquire a new form of organization based in the singularity of its
principles.
Key Words: Local development, cooperative, economic and social inclusion.

1
Universidade Federal de Campina Grande. E-mail: [email protected]
2
Universidade Federal de Campina Grande. E-mail: [email protected]

Revista de Geografia. Recife: UFPE DCG/NAPA, v. 25, n. 3, set/dez. 2008 72

1. INTRODUO
O termo "cooperativismo" advm da palavra "cooperao", originada do latim
"cooperari", que significa "operar conjuntamente". Desta forma, cooperativismo pode ser
entendido como um movimento que busca constituir uma sociedade justa, livre e fraterna,
em bases democrticas, atravs de empreendimentos que atendam s necessidades reais
dos cooperados e remunerem cada um deles. O cooperativismo definido como uma
doutrina econmica que atribui s cooperativas um papel primordial. J uma cooperativa,
segundo o Dicionrio Aurlio (1997), uma sociedade ou empresa constituda por
membros de determinado grupo econmico ou social que objetiva desempenhar, em
benefcio comum, determinada atividade econmica.
De acordo com Sandroni (1996), h a seguinte relao entre cooperativismo e
cooperativa:
Cooperativismo: Doutrina que tem por objetivo a soluo de problemas sociais por
meio da criao de comunidades de cooperao. Tais comunidades seriam formadas por
indivduos livres, que se encarregariam da gesto da produo e participariam
igualitariamente dos bens produzidos em comum. O cooperativismo pretendeu representar
uma alternativa entre o capitalismo e o socialismo. No Brasil, o cooperativismo iniciou-se
no final do sculo XIX, principalmente no meio rural. Atualmente, regulamentado por
leis especiais e subordinado ao Conselho Nacional de Cooperativismo, rgo do Ministrio
da Agricultura. Conta, ainda, com uma instituio financeira especial, o Banco Nacional de
Crdito Cooperativo.
Cooperativa: Empresa formada e dirigida por uma associao de usurios, que se
renem em igualdade de direitos, com o objetivo de desenvolver uma atividade econmica
ou prestar servios comuns, eliminando os intermedirios. O movimento cooperativista
contrape-se s grandes corporaes capitalistas de carter monopolstico. No Brasil, a
formao de cooperativas regulamentada por Lei desde 1907. Internacionalmente, a
atividade incentivada pela Aliana Cooperativa Internacional.
Segundo o SEBRAE (2008), o sistema cooperativista parte dos seguintes princpios:
Adeso voluntria e livre abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus servios
e assumir as responsabilidades como membros, sem qualquer tipo de discriminao;
Gesto democrtica pelos membros organizaes democrticas, controladas pelos
seus membros, que participam ativamente na formulao de suas polticas e na tomada de
decises;

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 Participao econmica dos membros os scios contribuem eqitativamente para o
capital das cooperativas e controlam esse capital democraticamente, destinando os
excedentes algumas finalidades, tais como: desenvolvimento da cooperativa, benefcio
aos associados na proporo de suas operaes com a cooperativa, apoio a outras
atividades aprovadas em Assemblia;
Autonomia e independncia as cooperativas so organizaes autnomas que
asseguram controle democrtico por parte de seus membros, mantendo a autonomia da
cooperativa;
Educao, formao e informao as cooperativas promovem a educao e a
formao dos seus membros, de forma que estes possam contribuir eficazmente para o
desenvolvimento de suas cooperativas;
Intercooperao trabalham em conjunto atravs de estruturas locais, regionais e
internacionais, fortalecendo o movimento cooperativo;
Interesse pela comunidade as cooperativas trabalham para o desenvolvimento
sustentado das suas comunidades, atravs de polticas aprovadas pelos seus membros.
A cooperativa uma das formas avanadas de organizao da sociedade civil, pois
proporciona o desenvolvimento socioeconmico aos seus integrantes e comunidade.
Assim, resgatando a cidadania dos mesmos, mediante o exerccio da democracia, da
liberdade e autonomia, no processo de organizao da economia e do trabalho, tendo como
principais beneficirios produtores/trabalhadores, organizaes associativistas de
produtores rurais e suas entidades representativas e cooperativas em geral.
O referente estudo discorre sobre o surgimento, evoluo e o papel do sistema
cooperativista no desenvolvimento regional do Cariri Oriental paraibano. Para substanci-
lo, foi desenvolvido um estudo de caso na COAPECAL Cooperativa Agropecuria do
Cariri Ltda, onde foram realizadas entrevistas com fundadores e atuais diretores da mesma
mediante a visita s instalaes da usina de beneficiamento de leite.

2. CONTEXTUALIZAO HISTRICA
As primeiras experincias do cooperativismo brasileiro remontam ao final do
sculo XIX, com a criao da Associao Cooperativa dos Empregados, em 1891, na
cidade de Limeira-SP, e da Cooperativa de Consumo de Camaragibe Estado de
Pernambuco, em 1894. A partir de 1902, surgem s primeiras experincias das caixas
rurais do modelo Raiffeisen, no Rio Grande do Sul e, em 1907, so criadas as primeiras
cooperativas agropecurias no Estado de Minas Gerais (OCB, 1996).

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 A literatura acusa um florescimento da prtica cooperativa brasileira a partir de
1932, motivada por dois pontos: a) o estmulo do Poder Pblico ao cooperativismo
identificando-o como um instrumento de reestruturao das atividades agrcolas; b)
promulgao da lei bsica do cooperativismo brasileiro, de 1932, passando a definir
melhor as especificidades daquele movimento diante de outras formas de associao
(PINHO, 1996).
No Brasil, as cooperativas agrcolas, ao longo da primeira metade do sculo XX,
no apenas se mostraram como as mais importantes em termos de volume de negcio
como tambm foram as principais responsveis pela difuso do iderio cooperativista no
pas. Ademais, a literatura acusa que o referido iderio cooperativista ou conjunto terico
doutrinrio do movimento foi utilizado como instrumento ideolgico do Estado, a servio
de um Estado conservador e autoritrio.

3. PANORAMA DO COOPERATIVISMO NO BRASIL E NO NORDESTE

Atualmente, o cooperativismo brasileiro amparado pela Lei n. 5.764 de 16 de
dezembro de 1971. A mesma exige um nmero mnimo de vinte scios para a sua
constituio e representado, formalmente, pela Organizao das Cooperativas Brasileiras
(OCB) em nvel nacional e pela Organizao Estadual de Cooperativas (OCE), em nvel de
cada Unidade da Federao.
O esforo de revitalizao das prticas cooperativas no Brasil se inscreve dentro de
um movimento mais amplo de modernizao das atividades e de ampliao da democracia,
e ganha ressonncia com as discusses sobre economia solidria / terceiro setor.
Entretanto, conforme Schneider (1998), a distribuio desigual da presena e do peso
econmico do cooperativismo expressa a dinmica do modelo de acumulao de capital
vigente no pas, cuja caracterstica fundamental o desenvolvimento desigual da sociedade
brasileira.
O nordeste brasileiro caracteriza-se por ser uma regio de contrastes, marcado por
forte heterogeneidade e complexidade no somente em termos de clima, vegetao,
topografia e cultura, mas, especialmente, em termos econmicos. Essa regio convive,
simultaneamente, com situaes de extrema pobreza, tpicas de pases subdesenvolvidos,
com nveis de produo e consumo semelhantes aos dos pases de capitalismo avanado
(ARAJO, 1997).
Conforme Mc Intyre (1997), a histria do cooperativismo nordestino, nesse
contexto, evidencia os mesmos contrastes, reproduzindo um modelo concentrador e

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excludente que teve numa estrutura agrria voltada para o latifndio e para o setor
agroexportador como sua base de sustentao. Nesse sentido, grande parte das
cooperativas rurais no Nordeste esteve organizada a partir de uma estrutura de classes, na
qual os postos de comando sempre estiveram preenchidos pelos grandes proprietrios e
pelas lideranas polticas locais e regionais, atendendo a benefcios de pessoas e de grupos
especficos. Eis a razo pela qual, o cooperativismo nordestino foi identificado como
instrumento de controle e no de mudana social, tendo servido, muitas vezes, como
instrumento de transferncia de recursos financeiros para os produtores.
Para Silva (2000), tais questes trouxeram repercusso direta para o campo da
gesto das cooperativas agrcolas. A carncia de planejamento a curto e mdio prazo,
associado a uma fraca capacidade de investimento de capital, utilizao de mo-de-obra
sem qualificao e controle financeiro-contbil condicionaram um baixo nvel de
competitividade e conseqentemente de capitalizao das cooperativas, notadamente nas
de pequeno porte.
Constata-se, hoje, no Nordeste, um esforo de revitalizao das prticas
cooperativas, atravs dos diversos fruns realizados em vrios Estados, na sua grande
maioria, promovidos pelas entidades representativas do cooperativismo e pelas
universidades, sobretudo no que diz respeito formao do seu quadro social e
capacitao dos seus dirigentes. Assim, cada vez mais, as cooperativas, independentemente
de onde estejam localizadas, tero que se capacitar e reformular suas prticas democrticas
no processo de auto-gesto, passando pela apropriao de ferramentas adequadas de gesto
organizacional que lhes permitam ocupar um espao de destaque no mercado local,
regional e nacional.

4. O COOPERATIVISMO AGROPECURIO
O cooperativismo brasileiro est estruturado em treze ramos, a saber: agropecurio,
consumo, crdito, educao, especiais, habitao, mineral, produo, infra-estrutura,
trabalho, sade, turismo e lazer, transporte de cargas e passageiros (OCB, 1997).
Com a proliferao de cooperativas singulares e ante a modernizao e
industrializao do setor agrcola na dcada de 70 e 80 surgiram, ento, vrias centrais de
cooperativas (federaes) nos estados brasileiros, as quais tinham por finalidade ter um
maior ganho de escala nas atividades, com a horizontalizao e verticalizao das
atividades de produo, beneficiamento e industrializao de produtos agropecurios.

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 Tais centrais atuavam na cadeia produtiva do algodo, soja, milho, leite, frango,
dentre outros produtos. Um fato a destacar que estas centrais (federaes) no
conseguiram estabelecer um processo de intercooperao capaz de originar uma
confederao regional ou nacional.
importante sublinhar que, durante a dcada de 90, verificou-se que o nmero de
cooperativas agrcolas apresentou bastante estabilidade, tendo havido um crescimento de
apenas 13,3% no nmero destas organizaes ao longo do perodo considerado. H que se
considerar, inclusive, que, entre 1993 e 1995, observou-se uma involuo no nmero das
cooperativas agrcolas no Brasil. Somente a partir de 1999 constatou-se um discreto
aumento no nmero de cooperativas do setor agrcola. Tal fato provocou uma queda na
participao deste ramo no cooperativismo nacional (OCB, 2002).
Em 1990, havia 1400 cooperativas agrcolas, as quais representavam 39,2% das
cooperativas do Brasil, sendo que em 2001 registrou-se 1.587 cooperativas, as quais
correspondiam a 22,6% do total de cooperativas do Brasil. Por sua vez, o nmero de
associados s cooperativas agrcolas em 2001 era de 822.292 cooperados, os quais
representavam 17,2% do total de cooperados brasileiros. As cooperativas do setor agrcola
detiveram, no ano 2000, uma importante parcela de atuao nas cadeias produtivas,
tornando-as responsveis pela produo de 62% do trigo, 44% da cevada e 28% da soja do
Brasil (OCB, 2002).
Ainda conforme OCB, quanto aos principais produtos da pauta de exportao
destacam-se, em ordem decrescente: acar, caf, soja e carne, o que denota o baixo valor
agregado das exportaes das cooperativas do setor. J o volume de exportaes
apresentou um crescimento de 72,3% entre 1990 e 2001, passando de U$ 657 mil dlares
para U$1.132 no referido perodo. No obstante o aumento do faturamento com exportao
houve uma tendncia na diminuio do nmero de cooperativas exportadoras neste
perodo.
No que diz respeito variao do volume de exportaes observada ao longo da
dcada de 90 decorreu de vrios fatores internos e externos organizao, envolvendo
aspectos relativos ao tamanho da safra nacional e internacional, poltica de preos
internacional, polticas de estmulo exportao e diferena cambial, entre outros aspectos.
Contudo, o processo de modernizao e industrializao da agricultura fez emergir
outros setores do cooperativismo nacional, como as cooperativas de crdito e o de sade,
na dcada de 70 e 80. Neste nterim, o setor industrial e de servios passam a ser os

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principais responsveis pelo PIB brasileiro, incrementando a participao, em termos
percentuais, das cooperativas de trabalho no setor cooperativo nacional.

5. COOPERATIVISMO: RELAO COM O ESTADO

Os maiores ramos do cooperativismo brasileiro at a dcada de 80 o agrcola e o
de crdito tinham por principal fonte de financiamento externo os recursos
governamentais. A reduo dos recursos oramentrios governamentais face crise que
abateu o Estado Brasileiro a partir de ento, aliado ao processo inflacionrio crescente, fez
com que os recursos financeiros destinados s cooperativas minguassem e o endividamento
aumentasse (SILVA, 2000).
Concomitantemente a isto, ainda segundo Silva (2000), o fechamento do Banco
Nacional de Crdito Cooperativo BNCC, a reduo contnua do preo das commodities
agrcolas, alm de graves problemas administrativos, desencadearam uma grande crise
financeira nas cooperativas agrcolas, resultando no fechamento de muitas delas.
Para mitigar os efeitos do processo de endividamento contnuo e crescente, o
Governo Federal, no final da dcada de 90, lanou o Programa de Revitalizao das
Cooperativas Agropecurias Brasileiras RECOOP, visando reestruturao das
cooperativas endividadas. O RECOOP engloba alm de aspectos tradicionais para
soerguimento do empreendimento como os de ordem tcnica e econmico-financeira
uma proposta inovadora que contempla a capitalizao continuada da cooperativa,
inclusive prevendo a fuso, desmembramento, incorporao ou associao a empresas no
cooperativas, alm da profissionalizao da gesto cooperativa, organizao e
profissionalizao dos cooperados.
Ante ao conjunto de exigncias demandas pelo Governo Federal para o
enquadramento no RECOOP at o ano 2001, apenas um pequeno nmero de organizaes,
situado em sua grande maioria na regio Sul e Sudeste do pas, foi contemplado por este
programa.
O Governo (federal, estaduais e municipais), de maneira geral, tem tratado as
cooperativas de modo anlogo ao das empresas mercantis, sendo as cooperativas do ramo
de trabalho e sade as mais afetadas, ante a quantidade de tributos e o seu impacto sobre o
faturamento bruto, acarretando graves problemas de competitividade para as organizaes.
Assim, uma das grandes dificuldades com que se deparam as cooperativas brasileiras so
os elevados percentuais de tributos, federais, estaduais e municipais.

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6. COOPERATIVISMO E COOPERATIVAS: UM ESTUDO DE CASO O
MUNICPIO DE CATURIT/PB
Caturit est localizado na poro sudeste do estado da Paraba, entre as
coordenadas geogrficas de 72858 a 72133 de latitude Sul e 360743 a 355956de
longitude Leste. Conforme o IBGE (2006), a cidade apresenta uma populao de 4.473
habitantes, com densidade demogrfica atingindo 37,84 hab/km, distribudos por uma rea
territorial de 118,2 km, o que representa 0.209% do Estado da Paraba.
A sede do municpio tem uma altitude aproximada de 405 metros, distanciando
135km da capital Joo Pessoa.
Caturit encontra-se na Microrregio Geogrfica do Cariri Oriental do Estado
pertencente Unidade Geoambiental do Planalto da Borborema. Esta unidade formada
por macios e outeiros altos, com altitude variando entre 650 a 1000 metros. Ocupa uma
rea de arco que se estende do sul de Alagoas at o Rio Grande do Norte. O relevo
geralmente movimentado, com vales profundos, estreitos e dissecados, recortados por rios
perenes, porm de pequena vazo. Ainda o potencial de gua subterrnea considerado
baixo.
Quanto composio florstica, a unidade apresenta uma floresta sub-caduciflia e
caduciflia, prprias das reas agrestes.
O clima do tipo Tropical Chuvoso, com vero seco. A estao chuvosa se inicia
em janeiro/fevereiro com trmino em setembro, podendo se adiantar at outubro.
O municpio encontra-se inserido na bacia hidrogrfica do Rio Paraba, entre as
regies do Mdio e Alto Paraba. Seus cursos dgua tm regime de escoamento
intermitente e padro de drenagem do tipo dendrtico.
Uma das principais atividades econmicas da regio Nordeste a pecuria que
ocupa grandes pores da rea regional, empregando grande parte da populao,
contribuindo de maneira pondervel para o abastecimento de alimentos s populaes
urbana e rural e ainda, colaborando na participao da renda regional.
Instalada no Municpio de Caturit, a COAPECAL foi fundada em agosto de 1997
por um grupo de pequenos produtores de leite. Atualmente agrega cerca de 1.160
fornecedores, possuindo como diferencial o controle exercido sobre o leite desde a fazenda
at os pontos de revenda sem intermedirios.
A COAPECAL surgiu em virtude das dificuldades enfrentadas pelos pecuaristas do
Cariri Oriental paraibano na busca de encontrar solues viveis para enfrentar problemas
oriundos da falta de investimento pblico no setor, escassez de chuvas, elevados preos das

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raes, baixo preo do leite praticado e ainda a concorrncia de mercado com outras
empresas. Estas empresas deixaram de comprar a produo leiteira do Estado e passaram a
comprar em outros, deixando os produtores sem opo de escoar sua produo no
mercado.
A idia de criar uma Cooperativa de Beneficiamento de Leite surgiu no final do ano
de 1996, em uma reunio com alguns pecuaristas da localidade de Caturit. Na ocasio se
discutia uma possibilidade para melhorar a qualidade de vida daqueles que sobreviviam da
pecuria no municpio, surgindo assim de alguns pequenos agricultores a sugesto de criar
algo que objetivasse um melhor favorecimento da comercializao do leite produzido pelos
mesmos.
Antes mesmo do surgimento da COAPECAL vrias dificuldades foram
encontradas, dentre as quais a sua composio formal e o acesso a linhas de crdito. Foram
realizadas cerca de 35 reunies com a participao de aproximadamente 300 produtores da
regio, visando cumprir as determinaes vigentes na Poltica Nacional de Cooperativismo
em sua lei N 5.764 de 16 dezembro de 1971 que faz necessrio a participao de no
mnimo 20 integrantes sendo estes pessoas fsicas e excepcionalmente permitida a
admisso de pessoa jurdica que tenha por objeto as mesmas ou correlatas atividades
econmicas das pessoas fsicas ou, ainda, aquelas sem fins lucrativos. Mesmo com o
grande nmero de participantes presentes nas reunies, poucos acreditavam na viabilidade
da implementao e perpetuao deste projeto.
A Cooperativa foi fundada e registrada no ms de agosto de 1997, sendo que nesta
poca a mesma beneficiava apenas 2.500 litros de leite por dia provindos dos pequenos
produtores das proximidades. Atualmente a COAPECAL beneficia cerca de 55 mil litros
de leite por dia, advindos de 28 municpios do Estado, abrangendo aproximadamente 1.160
produtores.
A presena da COAPECAL na regio do Cariri Oriental vem fornecendo inmeros
empregos indiretos, uma vez que, com o aumento da produo leiteira se faz necessrio
gerar novos postos de trabalho para prestar assistncia tcnica nas fazendas. Os empregos
gerados de forma direta chegam a mais de 150 funcionrios com vinculo empregatcio.
Com relao aos empregos de ordem indireta estima-se que existam aproximadamente
1.160 indivduos envolvidos no projeto.
Para o sucesso da Cooperativa Agropecuria do Cariri Ltda, podem-se enfatizar
aspectos relacionados s certificaes e normalizaes exigidas pelo Ministrio da
Agricultura. A elevao na quantidade de leite beneficiada devido, tambm, ao apoio

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oferecido pelo Governo Federal atravs do Programa do Leite, sendo este uma ao que
faz parte do programa Fome Zero, em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento
Rural. Para o funcionamento do Programa, 80% dos recursos so oriundos do Ministrio
da Segurana Alimentar e 20% do Governo Estadual.
A regio de Caturit configura-se pelo dinamismo econmico, ligada
essencialmente presena de uma importante bacia leiteira. Essa bacia abrange o
municpio de Caturit, grande parte do municpio de Boqueiro, parte de Barra de Santana
(a regio de Tanques) e, de forma marginal, a parte nordeste de Cabaceiras, na divisa com
Boqueiro.
Entre os atores econmicos presentes na regio, os mais importantes so os
produtores de bens, localizados essencialmente no meio rural. Entre eles, destacam-se os
produtores agropecurios e tambm os artesos. Os outros atores econmicos, nos servios
e no comrcio, esto mais ligados ao setor urbano.
Dentre os fatores que explicam a presena dessa cooperativa, os mais relevantes so
a sua localizao, prximo BR-104, entre os municpios de Queimadas e Boqueiro, o
que permite um rpido escoamento da produo em direo a Campina Grande, Joo
Pessoa e outros municpios da Paraba, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
O beneficiamento leiteiro realizado pela COAPECAL um dos responsveis pelo
aumento do PIB do municpio. Fcil de entender: ali se desenvolveu a COAPECAL, que
figura entre as grandes empresas estaduais. bem verdade que o crescimento estupendo
dessa empresa deve-se muito ao Programa do Leite da Paraba, e que de 2003 para c teve
um importante incremento. Hoje, Caturit desponta entre os maiores PIB's do estado, como
tambm, logicamente entre os maiores PIB/Per capita.

7. CONSIDERAES FINAIS
A pequena cidade de Caturit encontra-se a uma distancia de 160 km da capital do
estado, tendo uma populao de aproximadamente 4.200 habitantes. As principais fontes
de renda so a pecuria e os servios pblicos.
A irregularidade das chuvas presenciada no Cariri Paraibano desfavorece os
residentes da zona rural, a prtica da agricultura comercial e at mesmo a prtica da
agricultura de subsistncia, forando o desenvolvimento da pecuria leiteira.
Caturit tem se destacado cada vez mais neste setor, apresentando-se como um
fornecedor de produtos derivados de leite para todo o estado paraibano, abastecendo assim
inmeros estabelecimentos comerciais. A contribuio deste fenmeno est no fato de

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existir naquela localidade uma cooperativa de produtos dessa espcie que explora de forma
racional a atividade leiteira, gerando assim para os indivduos ali residem, os recursos
necessrios a sua sobrevivncia na localidade e transformando a regio numa importante
bacia leiteira.
Um elemento de destaque na atividade econmica do municpio, incorporado pelo
desenvolvimento da produo leiteira est relacionada com a gerao de inmeros
empregos e rendas diretos e indiretos. Isto vem melhorando a qualidade de vida dos
pecuaristas da regio, bem como de grande parte da populao deste municpio,
promovendo a interligao iniciada com a aquisio do leite advindo dos rebanhos de
pequenos e grandes produtores at a comercializao do produto final.
Outro fator observado aps a implantao da COAPECAL refere-se a diminuio
do fluxo migratrio que se verificava antes naquele municpio, principalmente entre os
atuais funcionrios diretos e indiretos da COAPECAL, a maioria deles migraram
principalmente para a regio Sudeste.
Para chegar ao sucesso expresso hoje pela COAPECAL a mesma passou por
obstculos que no poderiam deixar de serem mencionados. Inicialmente a prpria
populao no destinava devida credibilidade as idias dos cooperados, posteriormente a
falta de financiamento por parte das instituies financeiras de credito contriburam como
forma de entrave ao desenvolvimento desta cooperativa.
Outro tipo de dificuldade encontrada refere-se ao entendimento, por parte dos
prprios cooperados, do papel da cooperativa. Muitas cooperativas surgem com idias
muito boas, mas no conseguem permanecer pela dificuldade da conscientizao, de como
funciona e da pacincia que se deve ter para alcanar resultados. O que primeiramente
deve ser pensado que a cooperativa uma empresa comum como qualquer outra, onde
toda burocracia exigida com exceo dos impostos federais que no so cobrados, mas
em compensao ela tem de ter uma contabilidade transparente.
O cooperativismo brasileiro, atravs da literatura nacional e de seus rgos de
representao, revela a preocupao com a modernizao e com a revitalizao das
prticas cooperativas, seja para atender aos apelos econmicos da globalizao, seja para
atender aos apelos ticos da contemporaneidade, especialmente no que diz respeito
ampliao da democracia. Isso significa que, particularmente num pas como o nosso, o
cooperativismo traz em si duplo apelo: de emancipao econmica e de emancipao
poltica.

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 Os dados obtidos por esta pesquisa indicam que o ser cooperativista traduz no
apenas um critrio meramente econmico, mas vem junto com um cdigo apreendido
continuamente na prtica cotidiana e que se reproduz em efeitos culturais presentes nas
formas de ajuda mtua, do associativismo e da busca de autonomia na promoo do
desenvolvimento local.
As informaes das diferentes regies do pas remetem compreenso do
associativismo cooperativismo como alternativa possvel para alavancar processos de
gerao de renda e trabalho atravs de alianas e parcerias.
Apesar das dificuldades, hoje, possvel observar que o cooperativismo brasileiro
se inscreve numa nova perspectiva histrica do pas que coincide com as mais recentes
conquistas democrticas.
Neste sentido, possvel afirmar que o futuro do cooperativismo est condicionado
aos encaminhamentos das questes mais amplas pela sociedade brasileira. Percebe-se,
entretanto, um novo vigor s discusses sobre o futuro do cooperativismo brasileiro a partir
do esforo entre os rgos de representao, gestores, membros associados, rgos
pblicos e intelectuais em procurar redefinir o perfil e reconquistar a credibilidade do
cooperativismo junto ao conjunto da sociedade.
O papel da academia, nesse conjunto de esforos, dever ser inestimvel,
representando uma maior aproximao com o movimento cooperativo. Os programas de
incubadora constituem um sinal evidente nessa direo. Tais programas contemplam
projetos de apoio e capacitao voltados aos gestores e demais membros de cooperativas
dos mais diversos segmentos com o objetivo de criar e dinamizar as possibilidades de
sucesso das cooperativas.

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