Vocabulário de Caça Completo
Vocabulário de Caça Completo
Vocabulário de Caça Completo
Prefcio - 7
Abreviaturas - 17
Vocabulrio - 22
Na Ceva - 176
PREFCIO
C.R. de L.
embora nas obras dos viajantes que percorreram nosso territrio se encontrem
amiudadas vezes narrados interessantes episdios em que se veem postas prova, na
No me consta que existam, porm, sob a forma de livro, escritos por compatriotas
nossos, sobre caa e assuntos correlatos, outras obras alm das que a seguir
trechos do texto.
JOAQUIM DE PAULA SOUSA. Escola de Caa ou Montaria Paulista. por J.P.S Rio
Do MESMO AUTOR: Caas e Caadas no Brasil, com um prlogo pelo general Couto de
Magalhes, e glossrio de uso dos caadores. H. Garnier, livreiro-editor. (s. l.n.d.).
HEITOR PEREIRA DA CUNHA. Viagens e Caadas em Mato Grosso pelo Comte... Trs
semanas em companhia de T. Roosevelt. 1918. Tip. Revista dos Tribunais. Carmo, 55, Rio
de Janeiro.
1 vol. in-8. de 4 pgs. prels. 261, e 2 pgs. inms. Com muitas fotozincografias.
Teve 2. edio em 1919. Rio de Janeiro, Oficinas Grficas da Livraria Francisco Alves.
8. de 229, e 2 pgs. inms., e 3., 1922, pelo mesmo editor.
BENTO ARRUDA. Por Campos e Matas (Caa, Caadas e Caadores). Cia. Grfico-
Editora Monteiro Lobato. Praa da S, 34, So Paulo, 1925.
C.F. BUYS. Armas e Munies de Caa, com um estudo sobre Aspectos Sociolgicos da
Caa por Edgar Lus Schneider. Edio da Livraria do Globo. Barcelos, Bertaso & Cia.,
Porto Alegre. Filiais: Santa Maria e Pelotas, 1934.
ABREVIATURAS
Bras. - Brasileirismo.
Cin. - Cinegtica.
Lisboa, 1899.
Janeiro, 1935.
E.V. - ERNESTO VINHAIS. Feras do Pantanal. Aventuras de um reprter em Mato
Exp. - Expresso.
Falc. - Falcoaria.
H.S., C.B.C. - HENRIQUE SILVA. A Caa no Brasil Central. Rio de Janeiro, 1898.
H.S., C.C. - HENRIQUE SILVA. Caas e Caadas no Brasil - Com glossrio. Editor
Garnier (s.d.).
J.R. - JOS FRANCISCO e JOO RODRIGUES. Espingarda Perfeita ... Lisboa, 1718.
J.V. - JOS VERSSIMO. A Pesca na Amaznia. Livraria Clssica de Alves & Cia.,
1895.
O.S. - A.A.P. D'OLIVEIRA E SILVA. A Arte do Tiro, para militares e caadores, seguida
do vocabulrio dos termos antigos e modernos de guerra, caa e pesca. Porto - 1896.
T. - Termo.
N.B. Os termos precedidos do asterisco (*) no figuram nos glossrios que acompanham
as obras de Varnhagen, Paula Sousa, Henrique Silva e Oliveira e Silva.
VOCABULRIO
ABOIZ. "Armadilha de caar coelhos e aves; uma vara fincada no cho, e na outra
ponta tem um lao de corda; dobra-se a vara, e assenta-se a laada sobre o buraco com a
isca ou ceva coberta de uma varinha, que desarma a aboiz, pisando a ave, ou coelho na
varinha, ou metendo o pescoo para comer (M.)."
AAMO. Focinheira que se aplica aos ces e fures de caa para que no filem.
"So os aores no talho e feio mui semelhantes aos gavies, ainda que maiores de
corpo, em cuja grandeza excedem a todas aquelas aves que de rapina se sustentam
(deixando parte a guia) que esta a todas se avantaja na grandeza (D.F.F., I, 53)."
H tambm rapaces semelhantes aos aores no Brasil, e deles houve quem enviasse
dois, em 1618, ao Marqus de Castelo Rodrigo, que de um fez presente ao rei D. Filipe III.
Este logrou observar Diogo Fernandes Ferreira, que dele diz o seguinte (I, 72-73):
"Na alcndora em que estava posto, notei que tinha boa postura; na grandeza do corpo
fazia vantagem aos aores da nossa Europa, ainda que pouca; tinha o rosto comprido, a
cabea para o corpo antes pequena que grande.
"No alto dela em direito dos olhos, tinha umas penas mais compridas que outras, postas
como as dos nossos bufos, a modo de cornos, as quais abaixava s vezes; no eram mui
compridos, o pescoo bem tirado; as penas de que tinha o peito coberto eram brancas,
sem nelas haver pinta alguma; era mais pernalto alguma coisa que os nossos aores;
tinha as mos mais pequenas, o cabo mais curto (1) Nota do Autor No fizeram nada
com ele, por falta de caador.
"Deve haver naquelas partes do Brasil aves notveis para caa e, por falta de quem as
conhea, se no sabe delas."
ACUAR. Dos caadores e ces se diz que acuam, quando cortam a retirada caa,
forando-a a fazer-lhes frente; da caa quando, fazendo p atrs, para, conservando
ameaadoramente os ces distncia, latindo de modo compassado, sem se animarem a
entrar em luta com o animal perseguido.
*AULAR. Assumar. Assomar. Estumar. Incitar os ces com gritos a perseguir a caa.
Pode-se tambm aular a matilha mediante toques com a buzina ou trompa de caa.
Ex.: "Eram muitos (os coelhos), e morriam pancada, porque os pobrezinhos alapados
debaixo das urzes, se fugiam, eram logo mordidos pelos ces; se esperavam, eram
apanhados mo (CAMILO CASTELO BRANCO. Cenas Contemporneas, 2. ed., 8).
*ALBARDILHA. Armadilha antigamente usada para a captura de falces. Era feita de fios
de arame e crinas de cavalo (D.F.F., II, 97-98).
*ALAPO. Armadilha consistente em uma jaula de madeira, tendo como teto uma
tampa articulada, que mantida erguida por meio de um esteio mais ou menos vertical,
apoiado num pequeno entalhe de um travesso, colocado horizontalmente, e mal fixado
em uma das extremidades por um anel, e na outra, por leve presso contra uma haste da
grade do alapo. No fundo colocam-se frutas ou sementes. O pssaro, atrado pelo
engodo, salta para dentro do alapo, pousando na haste horizontal posta maneira de
poleiro. Com o peso da ave cai o poleiro, solta-se o esteio que sustm a tampa, e esta,
tornada mais pesada pela adjuno de uma pedra, cai, encarcerando o pssaro.
ALETO. Falco originrio da Amrica (Peru, Antilhas); Falco nigriceps, da fam. dos
falcondeos, ordem dos rapaces.
"So pequenos na plumagem, diferem de todos os demais.
"Parte do peito, coxas e oveiro tm vestidos de penas midas, e o papo sem nenhuma
pinta; o ruivo tem cor de milhano, a cabea cercada quase toda duma lista de penas da
mesma cor, debaixo das asas, em alguma parte das titelas, tm penas pardas com pintas
atravessadas, como que imitam as dos outros falces; tm as asas compridas, o cabo
para o corpo bem formado, e as mos delgadas, os dedos compridos; gracioso vista;
no os vi caar, tm jeito de grandssimos voadores e que mataro tudo.
"Com eles caam as perdizes; e so to porfiados em as matar, que nas balas entram
com elas.
"O licenciado Filipe Butaca Henriques, natural da cidade de vora, me afirmou que os
vira no Porto do Calvo e Rio das Pedras, na capitania de Pernambuco, onde ele veio dar
costa com uma embarcao vindo de Angola no ano de 605.
"Esteve ali 30 dias, e neste tempo por toda aquela costa viu estes pssaros, que eram
maiores que os gavies primas, e menores que falces; e notou deles serem grandssimos
voadores, tanto que a vista os no podia alcanar para notar deles tudo: muitas vezes os
viu tomar papagaios e outras aves, e no caar serem mui porfiados, e persegui-las,
mostrando muito nimo, e se metiam com os pssaros por dentro das rvores, e no
descansavam at os no levarem nas unhas; e que desejou de os trazer a este reino, por
entender que os prncipes e senhores os teriam em grande estima. Quem os quiser haver
de l pode-os criar em pequenos como os gavies, e pelo mar os tragam depois de
criados, porque quem os souber trazer interessar nisso muito dinheiro.
No nos consta que fossem jamais empregados na caa pelos brasileiros, apesar do
entusiasmo com que Varnhagem preconizava no nosso pas a altanaria.
AMARRAR. Parar. Mostrar a perdiz. (Cin.). Os ces perdigueiros, quando topam a perdiz
no campo, param e fixam nela o olhar, sem latir, abanando a cauda, e dirigindo-o depois
para o caador (amarrar).
So peritos caadores e exercem esse mister em bandos, que se supe ser a famlia;
so tenazes na perseguio de pequenas caas - coelhos, cutias e at mesmo veados.
Quando atropelam a caa, tm um como que latido soluado, que lhes sai do fundo da
garganta, aspirado fortemente e que os denuncia ao longe.
So ces com todos os caractersticos da espcie; o fato de no latirem , como observa
BREHM, o que caracteriza as espcies de ces selvagens (H.S., C.B.C., 45)."
*ARCO. Arma dos ndios destinada a lanar flechas. Consta de uma vara flexvel, s
vezes talhada no caule de uma palmeira, ligeiramente curva, e com as extremidades
unidas por um cip tenso. Usavam-no de duas maneiras:
*ATIRADEIRA. Arma usada pelas crianas a fim de alvejar, com pedrinhas, pequenos
pssaros e animais de pelo.
Consta de uma forquilha de cabo curto, feita de arame grosso, ou madeira, tendo presas
nos seus ramos duas tiras de borracha elstica, que se unem por meio de uma pea de
couro mais larga, na qual se coloca o projetil.
ATIRADO. Chumbado. Animal que recebeu o tiro, mas conseguiu fugir ferido. (Cin.)
ATOCAIAR. Ficar na tocaia espera de que a caa passe para atirar-lhe. Pode ser
AZAGAIA OU ZAGAIA. Espcie de lana curta, tendo uma folha larga, pontiaguda e
javardos.
Os tagarotes eram tidos como variedade dos bafaris; vinham de Cabo Verde e da
Costa d'frica. Mais famintos que os bafaris, por isso mesmo dificilmente remontavam
a caa de voo mais alto, contentando-se com as adens (D.F.F., I, 109) e outros
pequenos palmpedes.
*BAGO. Cada um dos gros de chumbo com que se carregam as espingardas (Cin.).
BAGUS, CES. Vide Chimarres, Ces Bagus ou
*BALA. Projetil inteirio, geralmente de chumbo, podendo tambm ser de ferro, cobre
espoleta.
canos interiormente lisos, o ar, passando pelas lminas inclinadas, produz o mesmo
possvel enxergar a ona, ainda que se esteja s vezes a trs metros de distncia
(P.C., 105)."
*BANHADO. Brejo. Alagadio nas vrzeas dos rios ou dos lagos e lagoas.
*BANHADO, CAA DE. Caa de brejo. Nome aplicado a toda e qualquer espcie de
caa ribeirinha, geralmente aves pertencentes s duas ordens dos palmpedes e pernaltos
(patos, marrecos, gansos, cisnes, narcejas, saracuras, quero-queros, garas, flamingos,
etc.)
BARROAR. Voltar a encontrar o rasto da caa depois de o haver perdido (diz-se dos
ces).
*BATEDORES. Caadores aos quais incumbe, nas batidas, a misso de tocar a caa
para as esperas.
Trilho (Cin.).
*BATIZAR. Operao que consiste em, estando a pele da ona esticada no quadro,
fazer duas incises em toda a espessura da gordura, mas sem ferir o couro: a primeira,
pelo meio do corpo, formando com a primeira inciso uma cruz, de onde o nome (P.C.,
139) (Cin.).
pelos animais durante a estaco seca, e onde se torna fcil mat-los traio. Lugar
aventura, ao acaso. Expresso proposta por PAULA SOUSA, na falta de outra que no
BOLAS. Instrumento usado nos pampas do Sul, para laar reses no campo e caar
"As bolas so em nmero de trs e medem, pouco mais ou menos, trs polegadas de
dimetro. A parte externa de cada uma delas se assemelha a uma bolsa de couro cru,
que se pe de molho para tirar-lhe a rigidez. Essa bolsa enchida de areia e a abertura
bem costurada. Ao secar, o couro contrai-se e o todo torna-se duro como pedra. Cada
distncia das bolas. Esta parte pode chamar-se o punho do aparelho, visto que a
velocidade para faz-las girar com toda a fora sobre a cabea, atira-as em seguimento
Pero Lopes de Sousa, que a encontrou em uso entre os indgenas do Rio da Prata
(Dirio da Navegao da armada que foi terra do Brasil em 1530..., Lisboa, 1839,
pgs. 53-55). 0 jesuta Ferno Cardim afirma que tambm os carijs (caris) a usavam
para derribar homens e animais (Tratado da Terra e Gente do Brasil, ed. J. Leite, pg.
36).
BOLEADEIRA. O mesmo que Bolas.
BOM CORREDOR. "Lugar em que pode haver uma boa caada sem desnortear-se a
115).
BRETE. "Armadilha de dois paus delgados, do longor de um cvado, para tomar aves
(M.)."
BROCO: O veado que perdeu os chifres. Na poca do ano em que isto sucede,
durante a muda, esto sem as penas grandes das asas, e, portanto, impossibilitados de
Os nossos matutos empregam como bucha para as suas pica-paus a palha de milho
desfiada e socada.
por fornecerem peles e outras substncias aproveitadas pela indstria, ou, ainda, como
medida de defesa do homem, em vista do prejuzo por eles causado. Os animais que
constituem objeto de caa esto compreendidos nas grandes classes dos reptis, aves e
mortos.
fures.
CES D'GUA OU CES DE BUSCA. Ces que, por instinto peculiar raa, ou em
CES DE FILA. Os que preiam (filam) a caa. Os antigos davam-lhes o nome de alo
fora e coragem de que so dotados, como tambm na caa das feras (lobos, ursos).
focinho curto e achatado, cabea grande e quadrada, orelhas pequenas, corpo rolio
com os do maxilar oposto, de modo que, uma vez dada uma dentada, a vtima na certa
perde um pedao de carne. O buldogue uma verdadeira fera domstica e infunde real
garranchos (H.S., C.C., 260)." Nas caiaras apanham-se, s vezes, varas inteiras de
rasteira.
CAPARO. Capuz de pelica, com que se cobre a cabea das aves falcoeiras quando
a caminho da caa. Tem uma abertura para a passagem do bico; no mais, cobre
(Falc.).
Quando se faz uma queimada de mata virgem, a vegetao, que em seguida brota,
a atirar a grandes distncias, com preciso, projetis inteirios (balas). usada para a
*CARREGAR. Investir a caa contra algum. O rinoceronte carrega contra quem quer
se lhe depare na frente; os touros bravos contra quem trouxer sobre si vestes ou
de papelo, e virolar.
*CARREIRO. Sulco largo e profundo deixado pela passagem repetida dos tapires na
espoleta, a plvora e o projetil, que, juntos, constituem uma carga de fogo, ou tiro
(Cin.).
acipitraria) (Falc.).
CEVADOIRO. Ceva.
21) (Falc.).
CEVAR. Dar de comer aos falces; tambm se diz do ato de comerem essas aves a
caa que preiam. (D.F.F., I, 20-21). (Falc.) Alimentar animais na ceva (Cin.).
deseja apanhar e que se utiliza na caa traio, a fim de atrair suas semelhantes
cilada ou armadilha.
conhecida animosidade dos rapaces diurnos para com os noturnos. Mal avista o pobre
Para a caa das pombas costuma-se, entre ns, empregar uma chamariz cega, atada
por um barbante pelo p. Para a caa dos patos usam-se, alm de exemplares
boiando numa laguna intercalada no trajeto habitual desses palmpedes. Vendo seus
inanimados irmos pousados n'gua, o bando todo resolve fazer o mesmo, fornecendo
*CHANFRAR. Estraalhar as aves por meio de tiros feitos de muito perto, ou com
elevadas.
ces domsticos que, proliferando nos campos, se tornam selvagens, e atacam quando
famintos, como alcateia de lobos, as reses no campo. So objeto de uma caa ativa
porta de tbua corredia, que fica suspensa por meio de um cordel ligado parte
superior da porta e que, para mant-la suspensa, ligada a uma mola de pau, ou
pelo milho que est sobre o estrado, penetra por ele e com seu peso desanda a mola,
fazendo cair a porta. Muita caa, veados, queixadas, caititus, pacas e cutias so
vtimas desse lao. Para os queixadas e caititus, entretanto, no h necessidade da
avanando dois metros para dentro, mas de maneira que, nessa extremidade, fique
extremidade, saltam para dentro do cercado. Quando procuram sair, comeam a rodear
as paredes da priso, mas, ao invs de pularem para cima do estrado, passam por
baixo dele, sem nunca atinarem com a sada. sabido que os porcos-do-mato no
elevam os olhos, tanto que o caador, rodeado por eles e na iminncia do perigo, basta
trepar em um toco ou galho de rvore a meio metro de altura, para evitar as suas
espcies venatrias que no requerem o emprego de bala. fabricado ora mole, ora
empregado para ferir animais de pele pouco resistente; o endurecido indicado para
CILADA. Pulador. Passador. Lugar por onde habitualmente passa a caa que se deseja
alvejar (Cin.).
*CINGIDEIRA. Dedo mediano dos ps das aves falcoeiras (D.F.F., I, 19) (Falc.).
velhas.
estes brandos, por ser esta a causa por que deles se faz semelhante escolha... (J.R.,
70)" (Cin.).
Por extenso de significado, d-se esse nome aos indivduos que os tocam.
*COMEDIA. "Lugar, na beirada dos lagos e igaraps, orlado de canarana onde certos
paca, de jabuti. Alto de rvore onde os pssaros e aves vo comer. Comedia de arara,
*CORRER: Caar de corso. Exs.: Fulano gosta de correr antas; vamos hoje, meus
CORRIDA. "Msica dos ces que perseguem a caa em que se amestram (J.P.S.,
CORSO, CAAR DE. Perseguir correndo animais de pelo com ces ou sem eles.
CORSO, CES DE. Os que perseguem os animais corredores: veados, antas, pacas,
cutias, lebres, etc. Esto nessa categoria os galgos, sabujos e lebrus.
em que sopra o vento, isto , peitavento, para iludir o ouvido e olfato apurados dos
animais silvestres.
COSTELA. "Armadilha para pssaros, feita de uma costela de cavalo com uma corda
costela, com duas maas na ponta, e um sedenho delgado, e bem torcido, para tomar
*COT. Animal que tem rabo curto, quer naturalmente, quer em consequncia de
amputao parcial.
Ex.: "A gente j sabe onde a capivara tem o seu culero (E.V., 137)." (Cin.) (Bras.)
Lngua Portuguesa).
O fruto da sapucaia (Lecythis urnigera, fam. das Lecitidceas) constitui uma tima
cumbuca empregada no Brasil como artifcio para capturar macacos, desde que cheia
ateno do caador, que logo acode a recolher a presa. Alguns smios, no entanto,
CUPIM. D-se este nome a cada uma das colnias de trmites, as quais, no campo,
(Cin.).
caa que est perseguindo. Alguns ces sabem cercar a caa e dar de encontro.
preto ou castanho, cabea larga e focinho comprido, orelhas grandes e cadas, que ns
(Putorius furo).
Os tatus so no Brasil desentocados por processos indgenas, dos quais alguns bem
interessantes:
1. Conseguindo-se agarrar a ponta do rabo do tatu, com uma pequena vara vai-se
atira a terra para trs, uma srie de varinhas, de cerca de meio metro de comprimento,
que se amarram em feixe a uma certa altura, que no deve ser muita, para que no
deixe espao suficiente para o tatu se mover nessa gaiola improvisada. O animal, logo
que sente no estar mais sendo perseguido, volta-se dentro da toca para sair, e vai
se com o vrtice dessa cpula ogival de varas, e, como no sabe escavar para trs,
3 Para fazer sair as piaras de porcos-do-mato das grotas em que se meteram, usa-
Atrado pelo cheiro ativo desse lquido, os porcos pem a cabea para fora do
principalmente pacas. Para isso queimam-se gravetos, folhas secas ou papel, e, por
a atmosfera, o animal no tem outro remdio seno espirrar, o que faz de modo brusco
(Cin.).
A ona costuma guardar os restos da embiara. por ela que, s vezes, se conhece
ENCARNE. Barrigada. Poro dos animais abatidos que se abandona aos ces, para
se deseja aplic-lo.
ENSAIAR. Mentir no rasto. Diz-se dos latidos dos ces enquanto ainda no
levantaram a caa.
quando de antecarga.
Nesses lugares fcil ao caador escondido (de tocaia) alvej-la com xito (Cin.).
Lugar por onde devem passar os animais tocados pelos batedores (Cin.).
*ESPIGO. Contraforte que desce das serras e vem terminar nos vales.
*ESPINGARDA. Arma de fogo, de apoiar no ombro, com um ou mais canos, lisos por
dentro, destinada a atirar com carga de chumbo e, eventualmente, com bala. Pode ser
(Cin.) (Bras.).
que se dirige com um abano para dentro da toca, tornando a atmosfera irrespirvel.
que detona pela percusso, com um objeta metlico, inflamando a plvora. Existem de
de cartucho.
*FALAR. O mesmo que Ensaiar e Mentir (Bras.) (Cin.). Ex.: "Os rastos que partiam da
carnia foram logo seguidos por "Mestrinho", que falou ao senti-los (P.C., 192)."
Diogo Fernandes Ferreira, no seu livro publicado em 1616, menciona e descreve sete
gneros de falces com os nomes setes, bornis, gerifaltes, nebris e sacres. So todos,
XVII, com o aperfeioamento e diminuio de peso das armas de fogo portteis, isto
nascer.
Assim sendo, dada a ruptura dos elos de tradio entre a poca em que a acipitraria
nomes diferentes a aves que mal constituam variedades de uma s espcie zoolgica
definida.
espcie de descrio musical dos episdios da caada, e dos animais que esto sendo
indispensvel do ato.
Na obra editada pela Livraria Larousse, escrita por vrios ilustres amadores em
transcritos numerosos toques e fanfarras (pginas 607-632), que, por uma interessante
*FAREJAR. Sentir o cheira da caa. Seguir no rasto levado pelo cheiro. Tomar o faro
(Cin.).
Ex.: "Os nossos perdigueiros, que as vinham tirando a ventos (as perdizes), iam-nas
FAZER SERTO. Diz-se da caa que foge muito, pelo mato adentro (Cin.) (Bras.).
(Cin.).
*FERVER. Diz-se que a acuao ferve quando ela chama a ateno dentro do mato
pelos latidos dos ces e urros da fera (P.C. 170 e passim) (Cin.).
*FIADA. Cada uma das pequenas corridas que d o perdigueiro antes de amarrar.
mostras e de "fiada em fiada", at que chegaram parada firme: a perdiz tinha ferrado
(Z.A., 182)."
"Os nossos perdigueiros, que as vinham tirando a ventos (as perdizes),... iam-se
(Cin.).
*FERVER. Diz-se que a acuao ferve quando ela chama a ateno dentro do mato
pelos latidos dos ces e urros da fera (P.C. 170 e passim) (Cin.).
*FIADA. Cada uma das pequenas corridas que d o perdigueiro antes de amarrar.
mostras e de "fiada em fiada", at que chegaram parada firme: a perdiz tinha ferrado
(Z.A., 182)."
"Os nossos perdigueiros, que as vinham tirando a ventos (as perdizes),... iam-se
mais alta e que no atingida pelas guas durante as enchentes (P.C., 38).
FOJO. " uma fossa de um metro de dimetro e dois de profundidade, cuja boca
roceiros usam o fojo com as paredes e fundos revestidos de paus rolios e boca a
descoberto. Basta colocar dentro uma carnia qualquer, para que os tatus a vo
caindo, um atrs do outro, sendo apanhados muitos de uma vez (B.A., 9)" (Cin.).
*FRALDIQUEIRO. Co que no presta para caa, devido a ter sido criado com
(Cin.).
*GALGOS. Raa de ces caracterizada pela cabea estreita, focinho comprido, corpo
longo e muito mais delgado na regio abdominal do que na torcica, pernas longas e
*GARCEIRO. Falco especializado na caa das garas. Para tal fim eram os
*GARGANTA. Porta. Portela. Bocaina. Espao estreitado entre morros, pelo qual um
s esta espcie como outras prximas eram treinadas para a caa de aves pequenas,
Apesar dos votos de Varnhagen, no nos consta que se tivesse feito aqui nenhuma
GERIFALTE. Nome de vrias espcies de falces originrios dos climas frios (Sucia,
considerada a mais nobre dentre as aves falcoeiras. A espcie mais comum era o
gerifalte branco da Noruega (Hierofalco candicans), tribo dos falconides, fam. dos
acipitrdeos.
Lus, filho do rei D. Manuel; pela breve descrio que d, parece tratar-se de um
GOZO. Co ordinrio, muito mestiado. "Que no caa (H.S., C.C., 261)" (Cin.).
Todavia, a maior parte dos ces empregados para a caa no interior do Brasil se
Pode-se praticar esta operao logo depois do couro enquadrado, ou aps o batismo.
perseguido faz os ltimos esforos para escapar aos ces. Tambm se d este nome
aos latidos mais fortes, e como que alucinados, com que a matilha traduz o seu
Ex.: "E o toque descia, se aproximava, cerrado, ruidoso, num crescendo de halalis
selvagens.
IGAP. "Mato alagadio, pedaos das florestas invadidas pelas guas dos rios nas
meio da mata e no qualquer pntano (H.S., C.C., 261)" (J.V., 100, 107, 111).
*INSETO. Assim se qualificam, em alguns lugares do norte do Brasil, as feras
*ISCA. Engodo. Alimento preferido pelo animal que se deseja capturar e se coloca
*ISCOO!. Isca! Pega! Agarra! Interjeies usadas para lanar o co sobre a caa.
*JACAR. Marca de faco de mato muito usado pelos sertanejos de So Paulo (B.A.,
11) (Cin.).
JIRAU. "Estrado de madeira rolia que os caboclos fazem sobre galhos de rvores,
atradas pela natureza salitrosa do solo. Durante a noite, ficam em cima espera da
caa que matam da, passando a noite a salvo da surpresa de alguma ona pintada
JUQUI. " um grande balaio raso, de taquaras, tendo uma pequena porta ao lado.
Posto de boca para baixo, coloca-se na porta uma esteira de taquarinhas flexveis,
taquara resistente. D-se esteira a forma de uma telha, de modo que a entrada para
o juqui fique franca; na extremidade que fica para dentro do juqui, as taquarinhas
formam um feixe emaranhado. As aves, como macucos, jacus, urus, nhambus, etc.,
cevadas antes de se colocar a rede (fio se chama na roa), penetram pela boca da
priso de onde no mais podem sair porque, cada vez que tentam fazer, encontram as
pontas agudas das taquarinhas que as detm no intuito da fuga. No juqui apanham-se
LAO. "Armadilha que consiste numa verga presa a uma corda, cuja extremidade se
LAO. Longa corda, em que uma das extremidades desliza por um n corredio feito
na outra. arma empregada pelos pees para pegar o gado. Por extenso, pode ser
estando o caador a cavalo. exerccio que demanda muita percia e coragem, eis por
*LACRANAR. Ferir. Sangrar. Dilacerar. Diz-se das feras em relao aos ces de
caa.
horrivelmente."
adaptadas, naturalmente, ao sistema das cpsulas fulminantes (V., 24; H.S., C.B.C.,
18).
LEBRUS. Ces provenientes do cruzamento de galgos com ces de fila, que saem
com dentadura desses ltimos. So empregados na caca das lebres (V. 46).
(Bras.).
MALHO. Correias com que se prendem guizos ou cascavis nos ps da ave falcoeira
*MANCHA. Ilhota de mato que se deixa no meio de um campo cultivado, e que serve
17)."
MANCHIL OU MANGIL. Faca de mato que se leva cintura, em bainha de couro.
Vide Jacar.
velho Chico Leite, caador de fama, achou que seria uma perrenguice matar ali assim,
acuado no poo, um animal mantena como aquele que vinha h mais de uma hora
Na Europa, h raas especiais, entre elas a dos policiais, belgas e alemes, os collies
No Brasil, a par das raas especiais, empregam-se quaisquer outros ces, mesmo
gozos, desde que para tal ensinados. No Rio Grande do Sul consta-me que se prepara
modo a esses animais, que julga seus semelhantes, que se constitui defensor
MATIRI. Embornal. Saquitel feito de fibras vegetais, que serve para guardar
*MESTRE, CO. O que capaz de, por si s, farejar o rasto e levantar a caa
tomam a cor do lugar em que esto, escapando desse modo aos seus perseguidore:
cadorna, que, estando amoitada, de tal modo se confunde com a terra, que passa
despercebida.
exteriormente (CIN.).
MOLOSSO. Alo. Co de fila, que pode ser aplicado caa das feras do nosso pas:
ona pintada (Felis ona), canguu (F. canguu) e suuarana (F. concolor).
mundus, onde, ao irem eles a entrar, lhes desandava em cima um grande tronco
*MONTADO. Diz-se do animal domstico ou domesticado que, fugindo para o mato, cai
So frequentes, nas fazendas do Esprito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso e outros
expedies cinegticas.
vertical.
que se arma beira do rio para fisgar o peixe ou atirar a animais e aves ribeirinhas
N
*NA BUCHA. Junto ao caador. Diz-se que levantam na bucha aves como o narcejo,
NA FUMAA. Diz-se que a fera vem na fumaa quando salta malferida sobre o
NEBRI. O nebri era certamente uma variedade do Falco peregrinos, nativo das
regies nrdicas, mas Diogo Fernandes Ferreira englobou nessa designao outra
espcie, proveniente das ndias de Castela (Amrica Central, Antilhas), "do mesmo
Mxico.
NHATO. O que tem a mandbula inferior mais saliente que a superior. Aplica-se este
Corruptela de prognato?
*NINHEGO. o falco criado desde pequeno pelo homem (D.F.F., I, 22) (Falc.).
preavam, agiam apenas pela presena, paralisando, com o temor que suscitavam, os
ONCEIROS. Ces aplicados caa das onas. Os ces de fila devem prestar-se a
podem ser aplicados a essa caa, mas os melhores para desentocar tais roedores so
aves (Cin.).
*P FINO. Falta de sorte na caa. Caador de pouca sorte (gria do Esprito Santo).
PEDERNEIRAS. Pedra silicosa em que, nas antigas armas de fogo, batia o co para
deve marchar ao encontro de certas caas de grande faro (caititus, queixadas), a fim de
Escapulares, s mais curtas, localizadas para dentro, entre as penas reais e a axila;
Aguadeiras, s tectrizes que cobrem toda a asa; e Coberteiras ou Cunhas, s que
cobrem especialmente a base de implantao das penas reais, e servem para proteger-
eram excelentes para essa caa, e do mesmo modo os aores, dos quais a perdiz era
a ral predileta.
alto, ventores (pointers, dos ingleses), e que so hoje em dia os mais estimados. O Dr.
Joo Nogueira Penido cria magnficos pointers em sua fazenda nas proximidades de
Juiz de Fora.
voltados para fora; pelo curto, preto ou pardo; cauda curta, terminada em ponta fina
voltada para cima; focinho fino; cabea comprida, larga atrs; orelhas grandes e
altura que os torna capazes de entrar nas tocas, a fim de atacar e fazer espirrar s
pacas e cutias.
Os franceses os chamam bassets e os alemes dachshund (Cin.).
Ex.: O velho Chico Leite, caador de fama, achou que seria uma perrenguice matar
ali assim, acuado no poo, um animal mantena como se lhe afigurava aquele... (H.S.,
C.C., 125).
*PIAR. Atrair as aves selvagens imitando-lhes o canto no cio, quer simplesmente com
*PICADA. Caminho estreito. Pode ser aberto pelo faco ou machado do caador, e
habitantes do interior de poucos recursos. Por extenso d-se este nome a qualquer
arma de caa reputada de m qualidade.
chifre ou metal, e que imitam, quando manejados com habilidade, o canto das aves no
cio. Estas, atradas pelo suposto companheiro, so vtimas do caador atocaiado (Cin.).
PIS. Correias com que se prendem pelos tarsos ou sancos as aves falcoeiras nas
Ex.: "V com eles caa o aor, mas nas suas pioses." (VIEIRA, Sermo de Santo
Antnio)
*POO. Lugar fundo de um curso d'gua onde procuram refgio as antas e outros
*POLO. Ave de rapina ainda nova, com menos de um ano (D.F.F., I, 21) (Falc.).
combustvel, e cuja fora expansiva utilizada nas armas chamadas de fogo para a
propulso dos projetis.
carvo leve (de tlia, choupo, imbaba), o enxofre, e o salitre (azotato de potssio); e as
*PORTA. Caminho, apertado. Desfiladeiro. Lugar por onde se espera que saia a caa
(Cin.).
nas caadas de patos e marrecos: Nas lagoas em que costumam pousar essas aves,
deixam-se flutuando, durante vrios dias, alguns desses recipientes, at que os animais
se familiarizem com o seu aspecto. Vai ento o caador, pela madrugada, com a
cabea metida dentro de minicabaa semelhante, com dois furos na altura dos olhos,
segundo nos informa REGINALD BOSWORTH SMITH no seu livro Bird Life and Bird
Love (Apud JAVIER DE ORTUETA, Notas de caza de aves en Castilla, Madrid, 1934,
pg. 69-70).
*POUSO. Poleiro. Dormida. Lugar em que as aves selvticas se alojam para passar a
noite. *PREAR. Agarrar com os dentes e unhas (ces e carnvoros selvagens); com o
Eram as primas preferidas aos ters ou machos, por serem de maior porte e mais
agressivas do que estes. Um provrbio castelhano dizia: Ave terzuela ni mata, ni vuela.
(Cin.).
cultura ou obter carvo. O terreno em que se faz a queimada. Este recurso brbaro
para conquistar terras arveis, infelizmente muito usado no interior do Brasil, pode ser
de batida.
19) (Falc.).
mata, v.g., uma vara de queixadas, pelo bater de dentes caracterstico, risca um
vento.
Outro processo consiste em molhar um dedo na saliva e exp-lo ao ar, que arrefecer
primeiro o lado de onde soprar o vento; outro ainda, em atirar para o ar um punhado de
que a rodeie (H.S., C.C., 263)". "Lugar em que as caas se amoitam." (JLIO
RIBEIRO).
RAL. Vtima preferida pela ave de rapina, com a qual o caador nutre regularmente
os ratos e outros animais daninhos, tais como coelhos, gambs, raposas, etc.,
REAL, TIRO. Tiro vertical. Disparo que se faz quando a ave, voando em sentido
contrrio ao caador, passa por sobre a sua abea. Visa-se verticalmente, bastante
adiante da ave.
Bernardo Jos de Castro (Tiro ao Voo, 1925, pg. 168) contesta a opinio que atribui
o nome de tiro real a esta modalidade de disparo, ao fato de ter sido a maneira
predileta de atirar do monarca Carlos IX. Acha ele, a meu ver com razo, que o timo
vem do francs coup droit, tiro reto, tiro vertical, que soa de modo anlogo a coup du
RECHEGO. Tocaia. "Refgio de caa. Lugar escondido entre junco ou ervas para
REDE. Armadilha usada para aprisionar aves de rapina e capturar grandes bandos
(Cin.).
baixo.
capivaras, antas e numerosos peixes esto nesse caso (T. do interior do Brasil).
RESVALAR. Deixar o rasto da caa, correndo em outra direo. " prprio dos ces
REVLVER. Arma de fogo, de cano curto, empunhvel com uma nica mo, com
*RIFLE. O mesmo que Carabina (T. ingls aclimatado). A pronncia popular refle.
ROL. Negaa. Manequim representando uma galinha, sobre o qual se costuma dar
de comer aos falces, e que se agita no ar sobre uma vara, para atrair estas aves
S
SABUJOS. Ces provenientes do cruzamento de perdigueiros com galgos. Segundo
espcie asitica (H. andersoni), muito empregado na Prsia e levado para os Blcs
pelos turcos.
*SALTOS. Cs. Correia que vai do tornel s lgrimas ou contas (D.F.F., I, 19) (Falc.).
SAMICAS. Enganos. Velhacadas. Ardis que usa o veado para despistar os seus
SAPATEIRO. Qualifica-se assim o caador inbil, que volta da excurso sem caa.
*SARAIVADA. Descarga numerosa e cerrada de chumbo ou balas.
SOLAPO. "Toca na margem do rio, cuja abertura muitas vezes coberta pela gua,
e se prolonga pela terra de maneira a servir de refgio, tendo muitas vezes uma outra
(Cin.).
SOPESAR. Fugir a ave falcoeira com a ral que preou (D.F.F., I, 21) (Falc.).
SURECO. Animal que no tem rabo. extensivo s aves. Ex.: A paca um animal
sureco; nhambu, tambm (Bras.).
*TAPADA. Couto. Vasta rea cercada de muros, com bosques, campos e gua
nos taquarais.
*TESO. Firme. Trecho de terreno nas proximidades dos grandes rios, que escapa
submerso mesmo nas grandes cheias, e onde se refugia o gado, assim como os
TOCA. Qualquer buraco, formado por pedras, aberto na terra ou em tronco de rvore,
por animais (coelhos, tatus), ou pela natureza, e que serve de abrigo e refgio para a
caa. Podem ter uma nica ou vrias aberturas. TOCAR. Correr. Perseguir a caa
pela tolhedura encontrada nos galhos baixos das rvores, ou no solo, que se
*TRAVESSIA. Vau. Lugar pouco profundo de um curso d'gua, por isso aproveitvel
TRELA. Ajoio. Correntes curtas que servem para prender os ces pela coleira, dois a
dois, e que tem o elo mediano desengatvel. Grupo de dois ces ajoujados.
*TRILHO. Rasto de animais pesados, como, v.g., a anta. Como esse animal de
ndole rotineira, quem dispuser de tempo e pacincia pode esperar abater um exemplar
pela expanso dos gases provenientes da plvora inflamada, e goza ainda hoje, entre
se se de um e outro lado dele; caldeando-se depois. A resistncia dos canos obtida por
metlicas, utilizada para comandar os ces na caa, por meio de diferentes toques.
grandes montarias de veados, javalis e raposas, que se fazem com rigoroso cerimonial.
*UAMIRI. "Seta feita da palmeira anaj e que lanada pela zabaratana. A parte
sumama. acionada pelo sopro. Prprio para caa (R.M., II, 157)."
da regio.
tendo uma das extremidades dilatada para socar a plvora e a bucha no cano, e a
servio de limpeza da arma mediante um trapo que leva preso. Esta vareta acompanha
para essa caa, tais como os chamados ces de Santo Huberto, por exemplo, e os
foxhound ingleses, dos quais o Dr. PAULA SOUSA, velho caador paulista, importou
exemplares, que, cruzados com os nossos veadeiros da velha raa, deram alguns bons
perdigueiros, opinio essa contraditada por Henrique Silva; o grande cinlogo Eurico
pelo caador goiano, pela qual os antepassados dos nossos ces seriam exemplares
de raas francesas trazidas pelas expedies dessa nao ao Brasil durante os tempos
da famlia real.
VEDA. poca em que, pela legislao de vrios pases, inclusive o nosso, proibida
a caa para as espcies animais que esto com crias. No Brasil a poca da veda no
comeo do vero.
VEIUDO, CO. De veia. O que tem dias em que bom e outros em que no corre
bem. "De ordinrio tem unhas e cor diferentes (J.P.S., 91)" (Cin.) (Bras.).
interior) (Cin.).
*VIRAO. D-se este nome, na Amaznia, pescaria ou caa, como quiserem, das
tartarugas, na poca em que saem d'gua a desovar nas praias ou nas margens dos
de uma pea escavada que gira com o auxlio de uma manivela, do outro.
escavada, entorta-se para dentro, formando uma salincia que retm o disco de
*VISGO. Ltex pegajoso da jaca, fruto da jaqueira (Artocarpus integrifolia), famlia das
urticceas, com que se untam varas destinadas a apanhar os pssaros pequenos que
Para o mesmo fim tambm se emprega a goma da figueira brava (Ficus sylvestris),
centmetros de dimetro, por onde os ndios atiram as flechas conhecidas por uamiri,
prprias para abater aves ou pssaros. Impelem-nas soprando (R.M., II, 171)."
ZINGA. Varejo. Longa vara com que se faz progredir as embarcaes nos rios do
interior, fazendo com elas ponto de apoio no lveo da corrente ou nas margens.
ou
NOTA PRVIA
o espao, como no que diz respeito s espcies zoolgicas que constituram o objeto
C.R. de L.
porto da banda de leste e outro da banda d'aloeste: aqui entrei pela terra; matei muitas
emas e veados; e fui com a gente toda ao mais alto do monte de So Pedro, donde
vamos campos a estender d'olhos, to chos como a palma, e muitos rios; e ao longo
deles, que o campo todo coberto desta caa - que nunca vi em Portugal tantas
ovelhas, nem cabras, como h nesta terra de veados. tarde me tornei para o
bergantim. (PERO LOPES DE SOUZA. Dirio da Navegao da armada que foi terra
do Brasil em 1530 sob a capitania-mor de Martim Afonso de Souza, escrita por seu
Nota do Autor
N. do Coletor: A paisagem zoolgica descrita por Pero Lopes foi observada em territrio da atual
Repblica do Uruguai; na opinio, porm, dos irmos Martim Afonso e Pero Lopes de Sousa, assim
como na de muitos contemporneos seus, achava-se em terras da conquista de Portugal, visto que
o meridiano divisrio de Tordesilhas, pelo que supunham, deveria cortar a foz do Rio da Prata.
Alm disso, a topografia e a fauna da banda oriental do Uruguai so muito semelhantes s dos
pampas brasileiros, e sua natural continuao.
por mais ardilosas que sejam. E o que mais , que a cada gnero de caa, tem seu
distinto modo de armar: a um modo chamam patacu, a outro mond aratac, a outro
juana bipiara, que caa pelos ps; a outro, juana juripiara, que caa pelos pescoos;
e a outro juana pitereba, que caa pelo meio do corpo. para ver a facilidade de
algumas destas caas. Uma de muita recreao experimentei eu com meus olhos, e
a seguinte. Estando em uma aldeia, vi que vinha voando uma quase nuvem de
pssaros, a que chamam tuins, casta de papagaios pequenos, que tambm falam, e
chamei alguns filhos dos ndios, que os fossem caar; levavam eles uma vara
comprida, e na ponta dela um lacinho, foram-se aos ps das rvores; e daqui lhe iam
lanando o lao ao pescoo, um, e um, e sem mais resistncia, que de quando em
"VIRAO" NO TOCANTINS
A estas mesmas praias [do Tocantins] vem no seu tempo quase todo o Par a fazer a
pesca das tartarugas, que cada uma ordinariamente pesa mais de uma arroba, e assim
comer, salvo algumas folhas de aninga, arbusto que nasce pela borda dos rios,
dela os mesmos guisados, que mais parecem de carne que pescado. Os ovos so
manteigas do Par; e o modo com que se faz esta pesca requer mais notcia que
desembarcar nestas praias trazem diante duas como sentinelas que vm a espiar com
muita pausa; logo depois destas com bom espao, vm oito ou dez como
descobridoras do campo e depois delas em maior distncia vem todo o exrcito das
algum rumor, voltam para trs e com elas as demais e todas se somem em um
momento, por isso os que vm pesca se escondem todos atrs dos matos e esperam
de emboscada com grande quietao e silncio.
Saem pois as duas primeiras espias, passeiam de alto a baixo toda a praia, e como
estas acham o campo livre, saem tambm as da vanguarda e fazem muito devagar a
mesma vigia e como do a campanha por segura entram gua e voltam, e depois
delas sai toda a multido do exrcito com os escudos s costas e comeam a cobrir as
praias e a correr em grande topel para o mais alto delas. Aplica-se cada uma a fazer a
sua cova, e quando j no saem mais e esto entretidas, umas no trabalho, outras j
porque em estando viradas de costas, no se podem mais bulir e por isso estas praias
a galopada, mas quanto mais perseguamos, tanto maior era o claro que abriam os
passo da ema velha era, porm, pomposo e altivo; nenhuma mostra de fraqueza, medo
que assim protege os filhos. Eu, entretanto, mais consentneo com a ordem da
pusesse a cabea.
Nosso guia, cuja acuio era, talvez, afiada no af do lucro, descobriu a toca de uma
vara de porcos-do-mato. Ato contnuo ps-nos a jeito de evitarmos a fuga dos bichos
para a mata, e arremetendo contra eles a cavalo, laou cinco fmeas. Tendo dado trs
talhos na orelha direita de cada uma, soltou-as dizendo-nos que dali em diante os
animais lhe pertenciam e que, assim marcados, ningum ousaria pr-lhes a mo.
Acrescentou, ainda, que haveria de voltar quando as fmeas tivessem dado cria para
A grande docilidade que os cavalos mostravam nesses esportes podia, sem dvida,
ser atribuda ao poder do freio, o que, todavia, apresentava uma face desvantajosa por
impedi-los de saltarem por sobre uma mouta ou transporem, do mesmo modo, alguma
poa d'gua. bem verdade que eles ladeavam aquela e patinhavam por dentro desta
com tino e perseverana, mas esse recurso ocasionava demoras e a consequncia era,
original ingls por Nelson C. de Melo e Sousa. Record. Rio, pgs. 73-75.)
Vila do Prncipe, e, em geral, dos de toda a provncia das Minas. Faz-se sempre a
cavalo. Utilizam-se, nessa caa, ces chamados veadeiros, cuja raa parece mestiada
corso. Seu pelo geralmente arruivado; tem o corpo fino e alongado, focinho comprido,
como aos da Europa; -lhes permitido andarem pelas casas, geralmente ajoujados dois
a dois com uma corrente de ferro, e so alimentados com angu e canjica. Chegando ao
mos dos seus perseguidores. Quando os caadores reconhecem, pela voz dos ces,
que o veado vai sair do bosque pelo lado oposto quele em que se enfileiraram,
procuram a galope atingir a orla da mata pela qual se supe que o animal vai passar, e
espcies de cervos que, todas elas, perdem anualmente a armao. Uma delas,
chamada catingueira (da palavra catinga, mau cheiro; Cervus simplicicornis), deve seu
nome ao cheiro desagradvel que exala, e a faz reconhecer pelos ces. Este odor
devido a uma substncia de cor verde-escura que enche uma cavidade profunda que
pequena espcie com a altura mxima, disseram-me, de trs ps. Quando jovens so
ponta; sua cor de um branco sujo ou acinzentado com algumas linhas pardas.
(AUGUSTO DE SAINT-HILAIRE: Viagem pelas provncias de Rio de Janeiro e Minas
CAA DE TOCAIA
surpreender e matar os veados. A margem dos trilhos que levam a regatos, constroem
animal quando ele passa a caminho do bebedouro. Quando se caa o veado com ces,
vivo, canoas muito curtas, estreitas e chatas, que no poderiam servir para a
navegao corrente.
CAADAS NO SERTO
principalmente, dos veados, cuja pele empregam, como j o disse, para se cobrirem.
H, nesse pas, caadores que passam grande parte do ano quase maneira dos
ndios. Deixam a casa, no levando consigo mais que a espingarda, plvora, chumbo e
vezes, antes de alguns meses de excurso, carregados com as peles dos quadrpedes
que mataram.
A espcie de caa traio, a que atrs me referi, muito corrente nessa regio.
Gerais, 1830, II, 330-331. Traduzido do francs pelo autor do presente vocabulrio.)
No dia seguinte minha chegada casa de Joo Felipe, fui visitar o belo lago (1)
Depois de haver atravessado o Rio Doce, ns entramos num pequeno riacho cujas
guas se renem s do rio imediatamente abaixo da vila. Esta ribeira parecia no ter
nenhum curso e refletia a cor escura dos macios de rvores que apareciam nas
margens. Algumas estendem seus ramos, formando abbada por cima da ribeira,
Cips espessos se elevavam, por assim dizer, de uma a outra rvore e formavam, em
notam largas aberturas no meio das brenhas e conhece-se logo que elas so trabalho
de animais ferozes, cujas trilhas ficaram marcadas na lama. A ribeira forma inmeras
voltas, tem talvez cerca de meia lgua e embaraada, constantemente, por troncos
derrubados.
sombrio, encontra-se, de repente, um belo lago que mostra uma vasta extenso
d'gua, cujo limite escapa ao olhar. Parece que a lagoa Juparan deve a sua origem a
limitado por matas virgens, mas sendo suas margens muito afastadas, as florestas o
Do meio das suas guas se ergue uma grande ilha que contribui para embelez-lo e
fizeram ainda nenhuma derrubada sobre as margens do lago. Dia vir em que elas se
esse lugar ser, certamente, ento, um dos mais belos do Imprio do Brasil.
Nossa volta fazenda de Bom Jardim foi deliciosa. Era noite; um cu estrelado,
cigarra e o barulho confuso produzido dentro da mata pelos animais selvagens. Fora
disso, nenhuma brisa agitava as folhas das rvores e o cu estava sem nuvens.
lagostas e o mais bonito dos palmpedes. Matando essa ave, meu criado experimentou
um momento de alegria.
Como lembrana do pobre Prgent, rapaz muito digno, havia prometido a mim
doena de que fui vtima em minha volta, o pssaro teve a mesma sorte do resto das
minhas colees zoolgicas.
PERI E A ONA
O tigre tinha-se voltado ameaador e terrvel, aguando os dentes uns nos outros,
Era uma luta de morte a que se ia travar; o ndio o sabia, e esperou tranquilamente,
como da primeira vez; a inquietao que sentira um momento de que a presa lhe
Assim, estes dois selvagens das matas do Brasil, cada um com a conscincia de sua
fora e de sua coragem, consideravam-se mutuamente como uma vtima que ia ser
imolada.
estilhao de rocha cortada pelo raio. Foi cair sobre o ndio, apoiado nas largas patas de
trs, com o corpo direito, as garras estendidas para degolar a sua vtima, e os dentes
A velocidade deste salto monstruoso foi tal que, no mesmo instante em que se vira
brilhar entre as folhas os reflexos negros de sua pele azevichada, j a fera tocava o
esquerda a longa forquilha, sua nica defesa, os olhos sempre fixos magnetizavam o
animal. No momento em que o tigre se lanava, curvou-se ainda mais, e fugindo com o
corpo apresentou o gancho. A fera, caindo com a fora do peso e a ligeireza do pulo,
Nota do Autor
que, subjugada, prostrada de costas, com a cabea presa pelo gancho, debatia-se
Esta luta durou minutos; o ndio, com os ps apoiados fortemente nas pernas da
ona, e o corpo inclinado sobre a forquilha, mantinha assim imvel a fera que h pouco
Nas pontas desta corda havia dois laos que ele abriu com os dentes e passou nas
patas dianteiras, ligando-as fortemente uma a outra; depois fez o mesmo s pernas, e
acabou por amarrar as duas mandbulas, de modo que a ona no pudesse abrir a
boca.
(JOS DE ALENCAR: O Guarani, ed. Garnier, tomo I, pgs. 40-42.)
Era a nossa primeira Imperatriz, que Deus haja, me do Sr. D. Pedro II, que hoje,
bem. Falando com ela uma vez o seu veador Tedim a respeito da caa do veado, e
observando-lhe ela a timidez do animal, pelo que no era fcil alcan-lo perto,
respondeu Tedim que tudo dependia dos ces e dos batedores; o que ele se oferecia a
preparar-lhe uma caada, em que o veado lhe havia de entrar pela barraca adentro.
Efetivamente aprazou-se o dia, e Tedim, que conhecia bem o distrito venatrio onde
stio que era justamente a nica sada que tinha certo veado que ali havia, quando
perseguido pelos ces dos lados opostos. Armou-se no meio da barraca a competente
quando os latidos da cachorrada mui perto deram sinal do veado; e mal tomava a
augusta arquiduqueza a espingarda, quando viu com surpresa o veado entrar- lhe pela
barraca, e saltando por cima da mesa, e quebrando copos e pratos, varar pelo fundo da
mesma barraca, onde logo adiante veio a cair morto pelo tiro que lhe dirigiu a filha dos
Csares.
HISTRIAS DE CAADOR
"Mentiras de caador so as maiores."
Provrbio antigo.
tanta vtima em poucos dias como a caada no rio abaixo: mas mais agradvel ao
caador que vai para gozar e no para fazer montes de carne. Ali, levanta-se a barraca,
encosta-se os animais em lugar fechado, segurando-se bem, pois sem eles nada se
faz, e leva-se semanas caando, galopando todo o dia, e levando parte da noite roda
a, so gigantescas, homricas.
bondade e valor de seus ces. Trouxe - diz ele - estes ces l de Itu, de raa apurada
latir tanto, eles que at a no tinham dado um gemido, que pensei que os pobrezinhos
queriam descansar e urinar, e por isso apeando, soltei-os para descanar no cho.
Eles, mal podendo andar, entraram no mato e comearam uma to firme atuao, que
fui ver, julgando que estariam enroscados em algum cip. Mas qual no foi o meu
Cheguei em casa com os cezinhos, e j com uma anta, e conta-me minha mulher
toda assustada que vinham eles em muito boa ocasio, pois no podia mais com o
barulho que havia em cima da casa, onde pelas chuvas se formara um tanque, em que
os peixes de toda a qualidade se tinham criado, faziam entre si forte guerra, procurando
os doirados comer aos outros, e aparecendo tambm s vezes uma ona pintada que
No tem nada, mulher, isso prato feito: faa uma grande panela, e convide toda a
vizinhana a que venha jantar conosco. Assim faz ela, e eu ento, abrindo no forro um
buraco que vinha cair na panela, aproveitei os peixes, e a gua para regalar a
a roncar, e depois atiram-se para a porta, e ferram em uma enorme ona pintada que
A tiro e faca sempre podemos livrar os cezinhos, que assim mesmo sempre ficaram
caas, a noite at oito e dez horas em conversas, passam-se dias semelhantes aos dos
homens primitivos, daqueles que tinham de lutar diariamente contra a natureza bruta do
(JOAQUIM DE PAULA SOUZA: Escola de Caa ou Monteria Paulista, por J.P.S. Rio
JOO
chegado todos. A ocasio que achramos mais conveniente para nossa visita
fazenda fora pela semana de So Joo, cuja data celebrada no lugar com grandes
festividades; esses dias deveriam ser consagrados caa, e o Sr. Lage convidara aos
para a floresta, com todos os convidados que tinham chegado at aquela hora. A
excurso atravs da mata fechada, sombria e silenciosa, foi uma delcia; e o silncio
a floresta muito densa, espalha-se comida numa clareira para os animais silvestres, e
aproxime para comer. As senhoras se apeiam e esperam pelo fim da caada deitadas
num desses frescos recessos da mata. No obtivemos grandes resultados nessa tarde,
(Prof. e Sra. AGASSIZ: Viagem pelo Brasil, Boston, 1868, pgs. 103-104. Traduzido
CONTINUAO DA CAADA
me ocorria quando nos reunamos para o jantar na vasta sala mal iluminada, em que
uma longa mesa, vergando ao peso de peas de caa e grandes quartos de carne,
estava sempre servida para uma massa heterognea de convivas, que crescia
ordinrios; mais para baixo, com os seus, o administrador, cujas funes suponho
qual pendiam um manchil e polvorinho, com uma trompa a tiracolo, chapu grosseiro e
botas altas de montar. Durante o jantar entraram alguns convivas inesperados, sem a
menor cerimnia, em trajes de caa, tais como tinham voltado da excurso. E, depois,
noite, ou muito cedo pela madrugada (o costume brasileiro deitar cedo e acordar
cedo), que ruidosa alegria a de fazer soar as trompas muito antes de romper o sol,
tanger a guitarra ou assobiar nos instrumentos especiais a usados para atrair a caa
(pios). A reunio constitua o mais original ajuntamento de tipos sob o aspecto social,
constrangimento, e por tudo isso nos sentamos cada dia mais gratos aos amveis
cujo nome atinge a mais de trs mil ps acima do nvel do mar. ramos precedidos
pela liteira, espcie de carro suspenso entre duas mulas, na qual iam a vov e uma
viajar a cavalo. O panorama era soberbo, a manh fresca e linda, e, ao trmino de duas
foi um macaco, dois caititus e grande variedade de pssaros, que todos foram
depois nos recolhemos, a fim de estarmos prontos para a grande caada da semana,
que teria lugar no dia seguinte e na qual teramos de despender maior atividade. Ao
romper da aurora os cavalos estavam porta, e galgvamos a serra antes do dia claro.
Dirigimo-nos para uma fazenda na serra da Babilnia, distante cerca de duas lguas da
outra em que estivramos, e, em maior altitude, excessiva at para a cultura do caf, e
destinada a campos de criao. l que o Sr. Lage tem os seus cavalos e gado. O
trajeto em zigue-zague pelo caminho da serra foi delicioso por essa madrugada. A
infinito por baixo dos nossos ps, resplandeciam banhadas pelo Sol. O ltimo trecho do
caminho est compreendido, em sua maior parte, dentro da mata, e levou-nos, aps
trs da qual se achava a fazenda. O efeito do cenrio era bastante belo, pois a margem
do lago estava ornamentada com bandeiras, e nas guas flutuava uma miniatura de
convite cujo alcance compreendi, quando, tendo deixado para trs o porto, o pequeno
barco atracou, e, como numa saudao, mostrou-nos seu nome: AGASSIZ. Foi uma
produzida por esse incidente, fomos casa mudar a roupa de montaria, e preparar-nos
lago em direo floresta do lado oposto. L havia armadas mesas rsticas e assentos
fogo ardia para fazer o caf, assar galinhas, cozinhar o arroz e outros acepipes, fomos
caadores tinham resolvido tomar suas posies distanciados uns dos outros, e todos
prximos da gua. O objeto da caada era uma anta (tapir), animal curioso, abundante
nas matas dessa regio. Tem um interesse especial para o naturalista, por apresentar
analogias com alguns antigos mamferos recentemente descobertos exclusivamente
natural, e no mago de uma floresta dos trpicos, to peculiar aos velhos tempos
geolgicos do prprio animal. Fora, de fato, para dar-lhe esse prazer, que o Sr. Lage
organizara a caada. No entanto, "o homem pe e Deus dispe", e ns, pelo que
mostrou o desenrolar desta, no estvamos destinados a ver uma anta nesse dia.
Sendo a floresta, como j disse, impenetrvel aos caadores, exceto onde havia
picadas, a caa foi levantada pelos ces dentro da mata, enquanto os caadores
estacionavam a certa distncia na orla do bosque. Tem ela o seu pouso habitual
prximo aos lagos ou rios, e costuma, quando descoberta e acossada pela cachorrada,
dirigir-se para a gua, e, caindo nela, alvejada quando tenta atravess-la a nado.
Anta! Anta! Num momento cada qual se apoderou da espingarda e correu em direo
ao lago, onde ficaram todos atentos, ouvindo o toque da matilha, agora francamente na
corrida, e esperando a cada momento a apario da caa e sua queda no poo. Foi,
porm, um rebate falso; a voz dos ces morreu distncia: o dia estava mais frio do
que habitualmente, e o proboscdeo preferiu fazer serto, dando costas para a gua, e
obrigando os ces a uma perseguio difcil, que, finalmente, deu em perdida. Passado
compreender o que faz o encanto dos caadores, os quais perdem horas na floresta,
para, no fim de tudo, voltarem, muitas vezes, com as mos vazias. Se no conseguem
abater a caa, tm, pelo menos, a emoo; ainda agora, quando sentiram o animal nas
mos, tiveram uma agitao momentnea aumentada pelos latidos dos ces e os gritos
dos caadores, que se esforavam por excit-los ao mais alto grau com suas
parece a princpio incompreensvel que esses homens possam ficar imveis na espera
ouvirem o ladrar da cachorrada e sentirem que a caa foi levantada, mesmo que no
deixando inativas suas armas, voltaram a ateno para caas menores, e regressamos
EPISDIO DO TAMANDU
eriado e furioso como o bandeira; que no atirasse, que seria pr a nossa cachorrada
ameaando ento dar uma pancada com o couce d'arma no focinho do animal, que a
sua parte fraca, este arrebatou-a de suas mos num movimento to brusco e repentino
que ela ficara engatilhada. Ento, a lutar com os ces, de arma ao focinho, numa
terrvel este animal, nem to perigosa a pica-pau de meu patrcio, que a tinha como
legtima de Braga, ele, que naquele momento j l ia longe, rastejando pelo macegal
espigo mestre, onde os ces barroaram nesse dia uma enorme anta-sapateira, e as
Chico Leite, caador de fama, achou que seria uma perrenguice matar ali assim,
acuado no poo, um animal mantena como se lhe afigurava aquele que vinha h mais
de uma hora acossado pela sua guapa canzoada, toda descendente do chibante e da
pachola, vindos de l de fora, como ele sempre dizia, ao narrar-lhes as faanhas. Uma
vez no carreiro da anta, obra de uma quadra distante da beira do rio, como se lhe
deparasse pela frente o possante paquiderme, fez fogo. Sbito, sentiu-se lanado por
terra e at pisado pelos ces, que passavam estonteantes, cegos, no encalo da presa.
Quando deu de si, voltando ao lugar da acuao, lembrou-se de tomar uma pitada,
procurando a buceta de rap que trazia num dos bolsos da japona; mas qual no foi
dos ps no seu corpo macio, cravou na ceva olhares vigilantes, cobiosos, sfregos.
gesto enrgico.
perigo?
- Silncio!
de gente.
Barbosa, lento, cauteloso, sem fazer o mnimo rumor, como uma sombra, tirou a
- "Atire com esta", disse em voz to baixa que mal Lenita o pode ouvir. "No tenha
receio, no d coice."
Lenita armou os dous ces, premendo os gatilhos para que no estalassem com os
gafanhotos nos dentes das nozes, levou a arma cara e, quase sem apontar, disparou
fumaa enevoou a ceva, tapou tudo; sentia-se o cheiro forte, bom, de sulfureto de
queixadas.
- Se houvesse bando?
- Estaramos perdidos.
- So assim perigosos?
- Em bando, no mato, piores do que ona. Por amor das dvidas, d-me a
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