Prof. Jorge Texto 1 - Voca+º+úo Pastoral em Debate. Minist+®rios Espec+¡ficos - NicanorLopes

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V OCAO E M INISTRIOS

E SPECFICOS

Nicanor Lopes1

O fim da Igreja de cargos2 no XIV Conclio Geral da Igreja Metodista e as mudanas


eclesiolgicas que envolvem as igrejas evanglicas no Brasil nos remetem a uma discusso mais
apurada sobre a temtica da vocao e conseqentemente ao tema ministrios especficos.
Vocao a partir da reflexo de Viktor Frank a busca de sentido de vida: O homem um ser
que, propriamente e em ltima instncia, se encontra procura de sentido. Constitudo e ordenado
para algo que no simplesmente ele prprio, direciona-se para um sentido a ser realizado (...)3.
Ao definir o homem como desejo de sentido, Frankl busca superar teorias que concebem o homem
como um ser que reage a estmulos ou obedece a impulsos4. Uma vida plena de sentido se
constri buscando e encontrando o significado de cada experincia cotidiana que no universo da
experincia religiosa pode significar a vocao pessoal.
Uma vez que nossa temtica vocao e ministrios especficos. Quero recordar o princpio do
SACERDCIO UNIVERSAL DE TODOS OS CRENTES, e focar neste breve artigo o papel do
laicato nas aes dos ministrios especficos, a base histrica, para esta compreenso justificada
nas palavras do Bispo Josu Adam Lazier A introduo do pregador constitui-se numa das maiores inovaes
metodistas e, atravs deste ministrio leigo, a Igreja Metodista pode expandir-se. Com isto, Joo Wesley seguiu os
passos de Martinho Lutero, que redescobriu o sacerdcio universal de todos os crentes e convocou leigos para o
cumprimento da misso5.
Partindo deste pressuposto, no tratarei a vocao, para os ministrios especficos, como um
dom exclusivo do clrigo ou pastoral. Os/As leigos/as tambm so vocacionados/as, eles/as
representam uma alternativa para as novas demandas missionrias da Igreja no contexto atual.

1
Presbtero da I.M. Mestre em Cincias da Religio, professor da Faculdade de Teologia e coordenador do Ncleo de Estudos e
Pesquisa para Ao Missionria.
2
Cf. AO, Isac Alberto Rodrigues. Mudana de uma igreja centralizadora para uma igreja participativa. In A Igreja de dons e ministrios: A
viso dos bispos. Piracicaba: Agentes da Misso, 1991. p. 25 (Temos conscincia de que a Igreja de cargos, tal como vinha acontecendo
at o ltimo Conclio Geral, chegara sua esterilidade ou melhor, os cargos haviam se tornado estreis. No que a Igreja em si o fosse,
ou seja. No!!!)
3
FRANKL, Viktor E. Psicoterapia para todos: uma psicoterapia coletiva para contrapor-se neurose coletiva. Petrpolis: Vozes, 1990. p.
11.
4
_____________. Um Sentido para a vida. Aparecida: Ed. Santurio, 1989. p. 23.
5
LAZIER, Josu Adam. Servir a Deus com nossos dons, ministrios e ardor missionrio parte I. In
http://www.metodista.org.br/4aregiao/palavra_bispo_mar2004.php3. visitado em 12/04/04.
A Igreja Ministerial e o desafio de ser Comunidade
Missionria a Servio do Povo.
Onde est o povo? A populao brasileira eminentemente urbana. O Brasil chegou ao final
do sculo XX como um pas urbano: em 2000 a populao urbana ultrapassou 2/3 da populao
total, e atingiu a marca dos 138 milhes de pessoas.
Observe no grfico abaixo.

O grfico revela uma urbanizao rpida e incontrolvel, Silvia Correa (2003)6 afirma:

Sob viadutos, penduradas em encostas ou invadindo reas pblicas e privadas. Em locais como esses
surgiram 464 favelas em So Paulo na ltima dcada. como se uma nova favela tivesse se formado
na capital paulista a cada oito dias de 1991 a 2000. So ncleos de habitao com precrias condies
de saneamento e construo para os quais ruma uma legio de novos favelados equivalente a 74
pessoas/dia.

O que significa Ministrios especficos para esta realidade?


A dificuldade para atender as demandas missionrias no problema exclusivo dos metodistas.
O desafio de ser comunidade de servio em favor do povo ainda representa um abismo, a ser superado,
para a atuao ministerial. Face aos desafios da urbanidade uma questo fica clara nesta
problemtica, a saber: Ainda somos uma Igreja com o formato e mentalidade cultural rural, por esta
razo a dimenso clerical ainda muito forte. Ainda no fomos (no falo e forma absoluta, porm
da maioria) sensibilizados a sentir a cidade como ela vive e se relaciona.

misso da Igreja testemunhar a justia de Deus, seu propsito para a humanidade, sua misericrdia,
denunciando o pecado, suas conseqncias, as estruturas desumanas da sociedade, anunciando, ao
mesmo tempo, o poder transformador do Evangelho. (EPISCOPAL 2001).7

Para cumprir esta misso, no contexto dos ministrios especficos e de uma igreja ministerial,
necessrio refletir sobre os problemas da urbanidade.
A cidade um complexo sistema social. Vivemos nela, mas a conhecemos muito pouco. Seus
problemas essenciais so:

6
CORREA, Silvia. So Paulo ganha uma favela a cada oito dias. In Folha de So Paulo, 12/02/2003, caderno Cotidiano.
7
COLEGIO EPISCOPAL. Plano Nacional Objetivos e Metas. So Paulo: Editora Cedro, 2001. p. 10.
Ocupao do solo;
Transporte Urbano;
Segurana;
Sade;
Educao;
Habitao;
Poluio;
Recursos Hdricos;
Comrcio Informal;
Etc.
Buscando alternativas para uma construo da cidade na perspectiva da cidadania, lembramos o
desafio do profeta Jeremias (29:7) ao afirmar: Procura a paz da cidade qual os fiz transportar, e roga por
ela a Jeov; porque em sua paz tereis vossa paz nesta dimenso proftica a urbanista Raquel Rolnik
(2003) comenta o novo Estatuto da cidade8, legislao que rege as cidades:

As inovaes contidas no Estatuto situam-se em trs campos: um conjunto de novos instrumentos de


natureza urbanstica voltados para induzir mais do que normatizar as formas de uso ocupao do
solo; uma nova estratgia de gesto que incorpora a idia de participao direta do cidado em
processos decisrios sobre o destino da cidade e a ampliao das possibilidades de regularizao das
posses urbanas, at hoje situadas na ambgua fronteira entre o legal e o ilegal.9

Os ministrios especficos em tempos atuais transitam nesta fronteira. Isto significa que a
fronteira missionria no se resume a antiga concepo de fronteira geogrfica. A eclesiologia
metodista entende que o ministrio pastoral , na igreja local, em sua formao docente, um fator decisivo para
uma boa articulao de comunidade missionria e de sua ao com a forma correta de ser Igreja.10
Por outro lado percebe-se que os ministrios especficos no possuem uma presena relevante
na Igreja Metodista, pelos seguintes fatores:
A dicotomia entre piedade e misericrdia;
A igreja local no uma comunidade de resistncia;
O corpo clrigo seduzido a anunciar a comunidade uma f de consumo e no de servio.
O laicato exige uma postura pastoral moldada nos princpios do mercado religioso vigente.
As razes que nos levam as concluses acima esto baseadas nas seguintes observaes de
realidade. Faz-se necessrio pr nesta discusso a questo da eclesiologia metodista. A pergunta que
deve nortear esta discusso deve ser: Como melhorar as aes eclesiais tendo no ministrio leigo
uma opo de agente missionrio? Retomando a efervescncia do cenrio aps a mudana da igreja
de cargos para uma igreja ministerial, o bispo Ao afirma: irmo, pastores e pastoras! Estou convencido
que a mudana de uma Igreja centralizadora para uma igreja participativa de ministrios vai exigir que abramos
mo de uma parcela de poder que temos ou que nos reconhecido mas no que abramos mo do nosso ministrio11.
Esta advertncia esta no contexto da nova eclesiologia que favorece um clericalismo ministerial.
Situao at o momento no bem resolvida. Dons e ministrios revelou um novo vigor no laicato

8
Em 10 de julho de 2001 foi sancionada a lei 10.257 - Estatuto da Cidade.
9
ROLNIK, Raquel. Estatuto da cidade Instrumento para as cidades que sonham crescer com justia e beleza.
http://www.estatutodacidade.org.br/estatuto/artigos.shtml consultada em 14/04/04.
10
COLGIO EPISCOPAL, Op. Cit. p. 22.
11
AO, Isac Alberto Rodrigues. op. Cit. p. 28.
metodista porm centrado no templo, a conjuntura dos ltimos anos levou a Igreja Metodista a
prticas eclesiais distante do propsito de uma Igreja de servio, como afirmado no Plano Vida e
Misso12. Na Igreja Metodista, em outras Igrejas histricas de misso, nas igrejas pentecostais e nas
igrejas neopentecostais, no Brasil, possvel observar, nos ltimos 15 anos, uma expanso rpida de
dois extremos: por um lado duplicou o nmero de seguidores desses movimentos e afins, como por
exemplo, o movimento carismtico na Igreja Catlica; por outro lado, duplicou o nmero dos que
se dizem "sem religio", que so particularmente numerosos nas grandes cidades e entre os jovens
(segundo o censo de 2000 do IBGE, no Brasil havia cerca de 26 milhes de evanglicos, desses 17
milhes so de origem pentecostal, por outro lado havia 12 milhes sem religio). Este crescimento
desestabilizou a eclesiologia emergente do servio e da organizao participativa e laica, ela
centralizou nas mos de lderes com carisma de comunicao e boa articulao com as massas,
geralmente esses lderes so legitimados por ordens clrigas, seja pastor, padre, etc. Ricardo
Gondin, renomado lder evanglico reagiu a essa onda por titulao eclesistica com um artigo
intitulado, no quero ser apstolo, onde afirma:

Pastores, no queiram ser apstolos, mas busquem o secreto da orao. No ambicionem ter mega
igrejas, busquem ser achados despenseiros fieis dos mistrios de Deus. No se encantem com o brilho
deste mundo, busquem ser apenas serviais. No alicercem seus ministrios sobre o ineditismo,
busquem manejar bem a palavra da verdade; aquela mesma que Timteo ouviu de Paulo e que deveria
transmitir a homens fieis e idneos que por sua vez instruiriam a outros. Pastores, no permitam que
os seus cultos se transformem em shows. No alimentem a natureza terrena e pecaminosa das
pessoas, preguem a mensagem do Calvrio.13

As palavras de Gondin refletem as dificuldades eclesiolgicas das igrejas evanglicas nos


ltimos anos, a Igreja Metodista no est fora desta realidade. Da a dificuldade em visualizar uma
igreja ministerial que valorize as mltiplas aes ministeriais a partir do laicato, tudo tratado no
atacado, o cuidado pessoal e mais pormenorizado so relegados ao segundo plano.
Ministrio especfico neste contexto exige uma reflexo profunda e uma mudana de
comportamento na ao missionria. Talvez a tarefa mais difcil seja sensibilizar a Igreja a perceber
as oportunidades de misso no mundo urbano, procurando atender as demandas acima
apresentadas, como: Segurana Pblica, Sade, Educao, Habitao etc.

Ministrios especficos como desafios e oportunidades para


uma igreja ministerial.
provvel que alguns acreditem que os desafios apresentados neste texto sejam de
responsabilidade do Estado. E de fato so. Porm, a histria dos ministrios especficos
tradicionais, como as capelanias (escolar, hospitalar, carcerria), trabalho com povo de rua e outros
ministrios, tambm representam responsabilidades do Estado. A Igreja se envolveu nestas aes
procurando cumprir a sua misso de oferecer vida plena para as pessoas.
A Igreja uma instituio humana que precisa estar sensvel s realidades humanas para levar a
boa notcia pessoa humana. necessrio aqui retomar a meta missionria dos metodistas no

12
Cf. Plano Vida e Misso (Somente sob a orientao do Esprito Santo pode a Igreja responder os imperativos e exigncias do
Evangelho, transformando-se em meio de graa significativo e relevante s necessidades do mundo (Jo 16. 7-11; At 1.8, 4.18-20)). Grifo pessoal.
13
Cf. GONDIN, Ricardo. www.ricardogondim.com.br [visitado em 25 de fevereiro 2005].
Brasil. Igreja Missionria a servio do povo. O servio que se presta a Deus o culto, e o servio que se
presta ao povo a expresso missionria da Igreja, razo de ser e existir da Igreja Metodista.
Dar um novo significado ao servio o maior desafio dos metodistas nos tempos atuais. Como
afirma o Colgio Episcopal no texto, Para um diaconato metodista hoje (2004)14:

Na verdade, a Ordem Leiga ainda no tem uma histria de funcionamento na Igreja Metodista
(carisma). Os leigos e leigas que servem Igreja nas diferentes reas da misso (educao, ao social /
centros comunitrios / ministrios especficos) no so acolhidos na chamada Ordem Leiga, embora
exeram papis importantes em nome da instituio metodista. No fundo, no h um vnculo com a
instituio. Eles no assumem votos da Ordem Leiga. Nesse sentido, a Ordem Leiga (informal)
tambm est sem ordem na Igreja Metodista. No h dvida que isso gera crises nas instituies,
rgos e ministrios.

Concluso
Os ministrios especficos na Igreja Metodista devem ser discutidos luz da realidade do povo.
Devemos priorizar aes ministeriais que atendam as demandas do mundo urbano, em especial, em
questes diaconais emergentes.

Ao longo de todos os tempos a comunidade tentada a fechar-se em torno de uma mentalidade de ser
paroikoi, um grupo de mentalidade voltada para si mesma. Sempre que isso ocorrer ela precisa ser
exortada a se abrir para ser oiks abrigo, lar para aqueles que no tem casa.

Alm de uma reflexo luz da realidade do povo, faz-se necessrio a construo de uma
eclesiologia voltada para fora de si mesma, onde piedade e misericrdia possam dar as mos e
caminhar juntas, algo como diz o salmista Encontraram-se a graa e a verdade, a justia e a paz se
beijaram (Salmo 85.10).
Finalmente, uma proposta missionria pra uma Igreja ministerial encontrar o seu impacto
evangelizador, medida que a espiritualidade seja capaz de compreender que o servio que prestado
ao prximo o servio prestado a Deus. E responder-lhes- o Rei: Em verdade vos digo que, sempre que o
fizestes a um destes meus irmos, mesmo dos mais pequeninos, a mim o fizestes (Mt 25.40).

14
VVAA. Para um diaconato metodista hoje. So Bernardo do Campo: Editeo, 2004. p. 48.

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