Prática Como Componente Curricular
Prática Como Componente Curricular
Prática Como Componente Curricular
229-244, dezembro/2014
http://dx.doi.org/10.5007/2175-8042.2014v26n43p229
RESUMO
O presente estudo Tem como objetivo investigar as principais temticas apresentadas nas
pesquisas referentes formao de professores no perodo de 2005/2014, especialmente
as produes que abordam o Estgio Curricular Supervisionado e a Prtica como
Componente Curricular. Para anlise das produes utilizamos a tcnica da Anlise de
Contedo. Os resultados mostraram que as potencialidades atribudas aos componentes
curriculares relacionam-se capacidade de colocar o futuro professor em contato com a
experincia de ser professor, possibilitando a aproximao dos contedos de formao
atuao profissional. O entrave para que isso ocorra ainda o prprio currculo
tecnicista e fragmentado da formao e os contedos veiculados nas disciplinas que,
muitas vezes, se limitam a apresentao de prticas j superadas. Isso nos mostra uma
divergncia entre o que se prope para a formao nos Projetos Pedaggicos dos cursos
e o que efetivamente se configura como ao concreta no seu desenvolvimento.
1 Doutor em Educao. Docente do Departamento de Educao Fsica da UNESP. Bauru/So Paulo, Brasil.
E-mail: [email protected]
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ano de 2005 at o ano de 2014, com exce- pesquisa, pois se tratavam da temtica
o do Banco da CAPES que apresentou as especfica da formao inicial de profes-
produes apenas de 2010 a 2014. Aps sores de Educao Fsica. Dentre os traba-
esse diagnstico inicial foi possvel perce- lhos no considerados para esse estudo,
ber um imenso banco de dados. Porm, encontraram-se pesquisas que discutiam
ao analisar as 316 produes encontradas, temticas especficas da formao, e no,
apenas 16 obras da CAPES e outras 15 da sobre a formao inicial do professor,
BDTD atenderam aos requisitos para essa conforme explicitado na tabela a seguir:
Nota-se que nas produes a res- Educao Fsica, concluiu que o carter
peito do estgio, as aes se remetem ao dialgico-reflexivo, desenvolvido no am-
fazer do futuro professor. Assim, para que biente escolar por estagirios, contribuiu
o estgio seja significativo formao, o para a construo da atitude crtica em
estagirio tem que se ocupar com funes relao escola e ao ensino de Educao
semelhantes quelas que ele viver quando Fsica, propiciando autonomia no exerccio
profissional da rea, sem o qual, no se das atividades como docentes.
pode assegurar a constituio da sua iden- Sousa (2012) em seus estudos sobre
tidade profissional por meio da construo formao inicial e estgio curricular em
do saber e do saber-fazer para o trabalho. O uma perspectiva reflexiva tambm a avaliou
estgio extrapola a simples atividade de ob- como positiva. De acordo com os sujeitos
servao e discusso do papel do professor investigados a experincia contribuiu de
no contexto da prtica. Muito embora todas maneira significativa para a construo de
essas aes (observao de aulas, discusso saberes, aprendizagens e identidade docen-
e elaborao de aulas e projetos e regncia) te. A autora considerou que o processo de
sejam de igual importncia ao estudante reflexo possibilitou a aproximao teoria
estagirio, elas somente tero sentido se e prtica. Destacou ainda na sua anlise,
realizadas a partir de uma situao real, como elementos fundamentais ao processo
contextualizada e integrada. desenvolvido, as aes individuais de an-
lise crtica e reflexiva realizadas sobre os
dirios de aula e as aes coletivas obtidas
Estratgias de reflexo no Estgio Curricular nos grupos focais; a utilizao dos casos de
Supervisionado ensino como um espao de aproximao
e ressignificao da realidade vivida pelo
As propostas de utilizao da refle- professor em exerccio e as discusses a
xo no ambiente de formao de professo- respeito da formao e dos saberes docen-
res vm sendo utilizado em grande parte tes. Assim, na composio das atividades
dos trabalhos que se propem a discutir de estgio foram previstas situaes que
essa temtica. Essa onda pedaggica se evi- envolveram ao e reflexo, sendo que,
denciou principalmente a partir da dcada muitas situaes demandaram o uso de
de 1990, seguindo um movimento mundial palavras e pessoas, o que, se pressups
de reformas educacionais e de estudos no tratar de um processo ou reflexo
sobre a temtica, como foi apontado por individual, mas sim, de uma ao coletiva
Ramos (2002). entre os pares objetivando a construo dos
Muito embora vrias proposies saberes docentes.
tenham sido apresentadas, ainda so pou- Em relao organizao dos tem-
cas as publicaes que trazem o resultado pos e espaos da Prtica e do Estgio, as
de experincias j desenvolvidas sobre experincias so desenvolvidas no campo
essa temtica. Contudo, Scherer (2008) ao de estgio e ressignificadas na Prtica
investigar as mudanas na formao inicial como Componente Curricular na escola de
de professores, em especial, o estgio formao. Assim, a organizao curricular
curricular nos cursos de licenciatura em pressupe a previso de tempos e espaos
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que propiciem esse momento comum aos aos condicionantes das experincias vi-
componentes para que os embates entre o vidas, a funo do formador uma das
saber e o fazer possam ser desvelados em chaves do currculo da formao, desde
momentos especficos, contribuindo para que tenha a condio de estabelecer um
o enriquecimento da formao. Isso no dilogo reflexivo com o licenciado sobre
significa que somente um componente as experincias vividas por ele. A sucesso
especfico responder por essa reflexo, de experincias positivas - no entendidas
mas sim, que em tempos e espaos prprios somente como aquelas que so bem suce-
se discuta a dimenso prtica a partir da didas, mas, com potencial de agregar novos
experincia do estudante com o seu futuro saberes - fundamental para a constituio
campo de atuao. de conhecimentos prticos, saberes docen-
Aroeira (2009) tambm indicou as tes ou conhecimentos na ao do professor
reflexes coletivas como ponto importante em formao.
encontrado em seus estudos, principalmen-
te no sentido de transpor situaes pro-
blemas e dilemas encontrados no estgio. Pesquisa no estgio curricular
Nesse sentido, a reflexo utilizada como
estratgia metodolgica teria contribudo Ainda que o princpio da indissocia-
para a construo de saberes pedaggicos. bilidade entre ensino, pesquisa e extenso
Essas estratgias de reflexo utili- esteja apregoado na Carta Magna de 1988,
zadas se remetem ao que Schn (2000) em seu artigo 207, como atividades ine-
entende como um processo de refletir- rentes ao ensino superior, a Res. CNE/CP
-sobre-a-ao, ou seja, um pensamento re- 01/2002 pouco enfatiza a pesquisa como
trospectivo sobre o ato pelo qual o professor importante componente da formao,
surpreendido e a ao que se originou a citando-a somente no art. 2 - item IV e no
partir dele. Nessa situao a reflexo pode item III do art. 3. Na Resoluo CNE-CES
ajudar a entender como o nosso ato de
07/2004 a articulao entre ensino, pesqui-
conhecer-na-ao pode ter contribudo para
sa e extenso citada no art.5 item b e
um resultado inesperado (p.36).
no art. 14 3. Da mesma forma com que
Neste processo, so postas con-
a pesquisa tratada na legislao, ainda
siderao individual ou coletiva no s as
so poucas as publicaes na rea que
caractersticas da situao problemtica,
enfatizam a importncia da pesquisa na
mas, tambm, os procedimentos utiliza-
ao docente.
dos na fase de diagnstico e de definio
Coerente com essa parca nfase
do problema, a determinao de metas,
dada pesquisa constatamos a pequena
a escolha de meios e, o que mais im-
portante, os esquemas de pensamento, as incidncia dessa temtica no mbito da
teorias implcitas, as convices e formas formao. Ainda assim, To (2013) con-
de representar a realidade utilizada pelo cluiu em seus estudos que a utilizao da
profissional quando enfrenta situaes pesquisa na escola, durante o estgio super-
problemticas, incertas e conflituosas. visionado, foi um referencial significativo
Embora o valor da aprendizagem ao professor em formao, uma vez que,
do prtico reflexivo esteja relacionado o possibilitou realizar a atividade docente
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ABSTRACT
This study aims to investigate the main issues presented in the literature relating to teacher
training during the period 2005/2014. Particular attention is paid to articles that address
the Supervised Training and Practice as a Curriculum Component. For the analysis of
the articles from the literature, the technique of Content Analysis was used. The results
showed that the potential which is attributed to these curricular components depends
on the ability to put the trainee teacher in touch with the experience of being a teacher,
whilst enabling the approach of the training content to be consistent with professional
practice. The technical and fragmented curriculum for training and the extensive content
in the disciplines, limited by outmoded practices, is presented as a barrier against this
occurring. This shows a discrepancy in the proposed training between the pedagogical
design of the course and, what is actually designed as concrete action in its development.
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