Proporcionalidade Ecologica - Gerd Winter
Proporcionalidade Ecologica - Gerd Winter
Proporcionalidade Ecologica - Gerd Winter
Gerd Winter
Professor de Direito Pblico, Diretor do Centro de Pesquisa em Direito Ambiental Europeu
da Universidade de Bremen. Traduo: Beatriz Souza Costa: Mestre e Doutora em Direito
Constitucional pela UFMG. Professora no Curso de Mestrado em Direito Ambiental e Desen-
volvimento Sustentvel, na disciplina Direito Constitucional Ambiental na Escola Superior
Dom Helder Cmara ESDHC, Pr-Reitora de Pesquisa da ESDHC. Tasso Alexandre Richetti
Pires Cipriano: Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de So
Paulo - FDUSP. Doutorando em Direito Ambiental pela FDUSP e pela Universitt Bremen
Fachbereich Rechtswissenschaft, Alemanha. Pesquisador (wissenschaftlicher Mitarbeiter) da
Forschungsstelle fr Europisches Umweltrecht FEU da Universitt Bremen.
[email protected]
RESUMO
Abstract
1 Introduo
Cf. Christopher D. Stone, Should Trees Have Standing? Law, Morality, and the Environment, 3.ed.,
Oxford, Oxford University Press, 2010.
M. Serre, Contrat Naturel, Paris, Flammarion, 1992.
2 Da proporcionalidade scio-lgica
eco-lgica
Para maiores consideraes sobre o Princpio do Desenvolvimento Sustentvel, incluindo uma leitura
da sustentabilidade forte, cf. Paulo Affonso Leme Machado, Direito ambiental brasileiro, 21. ed.,
So Paulo, Malheiros, 2013, p. 73-90.
Para um panorama sobre o estado da arte a respeito, cf. B.C.Field and K.C. Field, Environmental Eco-
nomics, 5.ed., Boston, McGraw-Hill, 2009, p. 44 e seguintes, p. 118 e seguintes, p. 137 e seguintes.
Objetivo Alternativas A e B
Proporcionalidade
Direitos
individuais
Medidas governamentais
P. Lerche, berma und Verfassungsrecht. Zur Bindung des Gesetzgebers an die Grundstze der
Verhltnismigkeit und Erforderlichkeit, Kln, C. Heymanns Verlag, 1961, p. 29 e seguintes.
O direito de polcia (Polizeirecht) e o direito da expropriao (Enteignungsrecht, expropriation law)
serviram como campo de aprendizado, respectivamente, do teste da menor intruso (necessidade) e do
sopesamento de interesses pblicos e privados, este ltimo denominado bilan cot-avantages. Cf. G.
Dupuis; M.-J. Gudon; P. Crtien, Droit Administratif, 12.ed., Paris, Dalloz, 2011, p. 841.
H. W. R. Wade, Administrative Law, 5.ed., Oxford, Clarendon Press, 1982, captulo 12. H quem sugi-
ra a adoo da proporcionalidade como um princpio da common law, cf. C. Harlow; R. Rawlings, Law
and Administration, Cambridge, Cambridge University Press, 1997, reimpresso de 2006, p. 118.
Deciso da TJUE de 17.12.1970, Caso 11/70 (Internationale Handelsgesellschaft) pargrafos 12 e
14.
10
Apesar de desenvolvido para situaes envolvendo intruses em direitos individuais bsicos, o Prin-
cpio da Proporcionalidade foi estendido para checar invases de competncia por parte de esferas su-
periores de governo (instituies europeias) sobre esferas inferiores (Estados-Membros). Vide, ilustra-
tivamente, o Art. 5 (4) do Tratado da Unio Europeia (TUE), no qual o Princpio da Proporcionalidade
funciona como um complemento do Princpio da Subsidiariedade.
Governo
Proporcionalidade
scio-lgica
Sociedade
Proporcionalidade
Eco-lgica
Natureza
Objetivo Alternativas A e B
Proporcionalidade
Recursos
Eco-lgica
Naturais
Medidas da sociedade
Figura 3: Ecoproporcionalidade
11
Directiva 2011/92/UE do Parlamento Europeu e do Conselho relativa avaliao dos efeitos de de-
terminados projetos pblicos e privados no ambiente, JO 2012 L 26/1, Anexo IV Seo 2.
12
Directiva 2001/42/ do Parlamento Europeu e do Conselho de 27 de junho de 2001 relativa avaliao
dos efeitos de determinados planos e programas no ambiente, JO 2011 L 197/30, art. 5 (1).
quaisquer danos causados por uma alternativa deve ser considerada reduto-
ra dos impactos negativos. E isso deve depender do tipo de recurso natural
em jogo. Por exemplo, a remoo de recursos vivos deveria ser tratada
diferentemente de poluio por qumicos, haja vista o dano poder ser ate-
nuado mais facilmente no primeiro caso que no segundo.
Um ltimo problema est relacionado ao fato de as alternativas
poderem ser diferentes quanto ao grau de alcance do objetivo e acarreta-
rem diferentes custos financeiros. Por exemplo, com certeza mais cus-
toso construir um tnel em um determinado bitopo que uma travessia
na superfcie. Parece que tais questes alcance dos objetivos e efeitos
colaterais financeiros devem ser resolvidas por meio de um sopesamento
apropriado de interesses. Custos significativos e reduo na consecuo
de objetivos podem ser razes para se aceitar uma alternativa que seja a
segunda melhor (second best) em termos ambientais.
3 Status jurdico
13
A respeito da emergncia e do papel das normas sociais enquanto distintas das normas jurdicas cf.
o texto clssico de Max Weber, Rechtssoziologie, ed. J. Winckelmann, Neuwied, Luchterhand, 1960,
p. 63 e seguintes. Para um rico estudo emprico sobre folkways, vide W.G. Sumner, Folkways. A
study of the sociological importance of usages, manners, customs, mores and morals, Boston, Ginn
and Company, 1906.
14
H longa data a autorregulao industrial introduz standards tcnicos, tanto em nvel nacional como
regional (H. Schepel, The Constitution of Private Governance. Product Standards of Integrating Mar-
kets, Oxford, Hart Publishing, 2005, p. 101-176) e, mais recentemente, tambm em mbito global (O.
Dilling, Proactive Compliance? Repercussions of National Regulation in Standards of Transnational
Business Networks in O. Dilling, M. Herberg, G. Winter (eds.), Responsible Business. Self-Gover-
nance and Law in Transnational Economic Transactions, Oxford, Hart Publishing, 2008, p. 96-98. Tais
standards (assim como esquemas mais ambiciosos, tais como a ISO 14000 sobre gesto ambiental) so
elementos de um direito ambiental empresarial emergente. A ecoproporcionalidade iria para alm
dele, na medida em que exige colocar em questo os objetivos de produo e a busca por produtos
alternativos.
15
Cf., por exemplo, os stios eletrnicos de corporaes qumicas multinacionais como a BASF e a
Bayer.
16
www.novartis.com/downloads/corporate-responsibility/ Acesso em: 26 ago. 2012. Infelizmente o
princpio desapareceu do site. Talvez a empresa o tenha achado ambicioso demais.
Veredas do Direito, Belo Horizonte, v.10 n.20 p.55-78 Julho/Dezembro de 2013
65
PROPORCIONALIDADE ECO-LGICA: um princpio jurdico emergente para a natureza?
18
M. Herberg, Global Legal Pluralism and Interlegality: Environmental Self-Regulation in Multina-
tional Enterprises as Global Law-Making in: O. Dilling, M. Herberg, G. Winter, Responsible Busi-
ness (cit. nota 15), p. 30-32.
Se, apesar de a avaliao das incidncias sobre o stio ter levado a concluses nega-
tivas e na falta de solues alternativas, for necessrio realizar um plano ou projecto
por outras razes imperativas de reconhecido interesse pblico, incluindo as de na-
tureza social ou econmica, o Estado-membro tomar todas as medidas compen-
satrias necessrias para assegurar a proteco da coerncia global da rede Natura
2000. [...]
19
Pargrafo 15 da Lei Federal de Proteo da Natureza (Bundesnaturschutzgesetz -BNatSchG).
20
Nesse estgio, contudo, o projeto no pode ser colocado em questo in toto e o escopo das alternati-
vas limita-se quelas situadas na mesma localidade.
contenha uma descrio, se for caso disso, das solues alternativas (por
exemplo, no que diz respeito ao local de implantao ou tecnologia) que
podem ser razoavelmente consideradas sem omitir a opo zero (ausn-
cia de interveno)21 [alternativas a serem testadas].
Consoante com o Protocolo relativo Avaliao Ambiental Es-
tratgica, o relatrio ambiental identificar, descrever e avaliar os pro-
vveis efeitos significativos da aplicao do plano ou programa no ambien-
te, e na sade, e as solues alternativas razoveis22 [alternativas a serem
testadas].
A Conveno de Viena para Proteo da Camada de Oznio su-
gere um intercmbio, entre as partes contratantes, de informao tcnica
sobre (i) a disponibilidade e os custos de substitutos qumicos e de tecno-
logias alternativas para reduzir as emisses de substncias modificadoras
do oznio e pesquisas, planejadas ou em curso, referentes ao assunto;
limitaes e riscos envolvidos no uso de substitutos qumicos ou de ou-
tra natureza, assim como de informaes socioeconmicas e comerciais
sobre as substncias referidas no anexo I, que incluem informaes, entre
outras, sobre os custos, riscos e benefcios das atividades humanas que
possam diretamente modificar a camada de oznio, e dos impactos de me-
didas regulamentadoras tomadas, ou que possam vir a ser tomadas, para
controlar tais atividades23 [alternativas a serem testadas, objetivo (bene-
fcios) a ser considerado].
Por isso, v-se que a ecoproporcionalidade vem sendo adotada
por um nmero de atos legais nacionais, da Unio Europeia e internacio-
nais em diferentes formas, algumas vezes em uma verso bastante com-
preensiva. Parece existir uma ratio por trs da configurao da ecopropor-
cionalidade enquanto princpio: o teste da ecoproporcionalidade parece ser
tanto mais exigente quanto mais valioso for o recurso natural em apreo ou
mais grave for o efeito ambiental adverso.
Nesse sentido, a verso particularmente estrita para a rede Natura
2000 justifica-se pela raridade dos recursos protegidos. Em contraste, a
verso branda requerida para uma avaliao de impacto ambiental (AIA)
pode derivar do fato de uma mesma AIA cobrir muitos efeitos e o ambiente
21
Conveno de Espoo, na Finlndia, sobre Avaliao dos Impactos Ambientais num Contexto Trans-
fronteiras, de 1991, Art. 4 c/c Apndice II (b).
22
Protocolo relativo Avaliao Ambiental Estratgica Conveno sobre Avaliao dos Impactos
Ambientais num Contexto Transfronteiras, de 2003, Art. 7 (2).
23
Conveno de Viena para Proteo da Camada de Oznio de 1985, Anexo II, nmeros 4 e 5.
P. Birnie, A. Boyle, C. Redgwell, International law and the environment, 3.ed., Oxford, Oxford
24
25
A respeito dessa observao cf., em maior detalhe, G. Winter, The climate is no commodity: Taking
Stock of the Emissions Trading System, Journal of Environmental Law 22:2 (2010), p. 1-25, sobretudo
p. 16.
4 Sobrepondo proporcionalidade
no Direito Ambiental
(1) Para o cumprimento das obrigaes advindas desta Lei ou de qualquer decreto
que a regulamente, podero ser realizadas exigncias mesmo aps a emisso da li-
cena [ambiental] ou aps a notificao de alteraes consoante o 15 I. Se, depois
da emisso da licena ou da notificao de alteraes consoante o 15 I, a proteo da
coletividade ou da vizinhana contra efeitos ambientais deletrios ou outros perigos,
desvantagens significativas ou perturbaes considerveis mostrar-se inadequada, a
autoridade [ambiental] competente pode emitir exigncias subsequentes.
(2) A autoridade competente no dever fazer uma exigncia subsequente se esta
26
AB Tuna WT/DS381/AB/R, No. 322.
Socioproporcionalidade Ecoproporcionalidade
Meios necess- Escolher a opo que acarrete Escolher a opo que acar-
rios? o menor nus para a socieda- rete o menor nus para a
de, sendo ao mesmo tempo natureza, sendo ao mesmo
adequada tempo adequada
5 Concluso
Referncias
Birnie, P., Boyle, A., Redgwell, C., International law and the environment,
3.ed., Oxford, Oxford University Press, 2009.
Dupuis, G.; Gudon, M.-J.; Crtien, P., Droit administratif, 12.ed., Paris,
Dalloz, 2011.
Stone, Chr. D., Should trees have standing? Law, morality, and the envi-
ronment, 3.ed, Oxford, Oxford University Press, 2010.
Recebido: 27/01/2014
Aceite: 22/02/2014