O Treino de Operantes Verbais Durante o Comportamento de Estudar Relato de Um Caso
O Treino de Operantes Verbais Durante o Comportamento de Estudar Relato de Um Caso
O Treino de Operantes Verbais Durante o Comportamento de Estudar Relato de Um Caso
RESUMO
Professores dedicam-se a ensinar leitura e cpia em sala de aula, e as avaliaes demandam compreenso da
leitura e respostas a questionrios, tal como intraverbais, que testam algo diferente do ensinado. Este estudo
acompanhou caso em que um adolescente apresentava dificuldade na resposta intraverbal convencionada
como adequada na prova; a partir do referencial da Anlise do Comportamento, levantou-se a hiptese de
que o repertrio verbal solicitado na prova (intraverbais escritos), no era o mesmo realizado no momento
do estudo (leitura subvocal), e que tornar estes operantes interdependentes funcionalmente seria condio
para que o aluno apresentasse uma resposta efetiva em condies semelhantes s da prova. A interveno
pautou-se em quatro fases. Os resultados demonstram que a utilizao de diferentes operantes verbais du-
rante o estudar criam condies para que se estabeleam interdependncias que possibilitam a melhora no
desempenho acadmico.
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O treino de operantes verbais durante o comportamento de estudar: relato de um caso
ABSTRACT
Teachers are dedicated to teach reading and copying in the classroom, with evaluations requiring com-
prehension of reading and responses to questionnaires, such as intraverbals, that test something other
than what is taught. This study followed a case in which a teenager presented difficulty in the intraverbal
response agreed as the appropriate response in the test. From the reference of Behavioral Analysis, a hypo-
thesis was raised that the verbal repertoire requested in the test (written intraverbals), was not the same
performed when studying (subvocal reading), and that making these functionally interdependent operants
would condition the student to present an effective response in conditions similar to those of the test. The in-
tervention was performed in four phases. Results demonstrate that the use of different verbal operants while
studying create conditions for establishing interdependences that can improve academic performance.
Keywords: verbal behavior; behavior of studying; transfer of control between verbal operants.
RESUMEN
Los profesores se dedican a ensear lectura y copia en el saln de clases, y las evaluaciones demandan
comprensin de la lectura e respuestas de cuestionarios, tal como intraverbales que comprueban algo
diferente de lo enseado. Este estudio acompa un caso en que un adolescente presentaba dificultades
en la respuesta intraverbal, tenida como adecuada en la prueba; a partir del referencial del Anlisis de la
Conducta, se levant la hiptesis de que el repertorio verbal solicitado en la prueba (intraverbales escri-
tos), no era el mismo realizado en el momento del estudio (lectura subvocal), y que tornar estos operantes
interdependientes funcionalmente sera la condicin para que el estudiante presentara una respuesta efec-
tiva en condiciones semejantes a las de la prueba. La intervencin se realiz en cuatro fases. Los resultados
demostraron que la utilizacin de diferentes operantes verbales durante el estudiar son condiciones para
que se establezca la interdependencia y se posibilite mejorar el desempeo acadmico.
Palabras clave: comportamiento verbal; comportamiento del estudiar; transferencia de control entre ope-
rantes verbales.
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escrita ou facial), no h como defini-lo sem consi- controlam. Enquanto na cpia a resposta escrita,
derar suas relaes de controle tanto consequentes no textual a resposta vocal. Uma distino ne-
quanto antecedentes. a funo do comportamen- cessria quando se considera que ler simplesmen-
to, isto , o efeito que provoca sobre o seu ambiente te decodificar o texto e quando o comportamento
social, que vai determinar a sua classificao (Bar- envolve leitura com compreenso. Neste segundo
ros, 2003; Matos, 1991). No entanto, ainda que o caso, o ler com compreenso envolveria o ler textu-
que selecione e mantenha um operante verbal seja o al, o autoecoar esta leitura, e o intraverbalizar, defi-
seu efeito sobre um ambiente social, Skinner (1957) nido a seguir.
props uma categorizao dos operantes verbais
elementares, quais sejam, tato, mando, ecoico, O operante intraverbal o comportamento cuja
transcritivo (cpia e ditado), intraverbal e textual a varivel controladora o prprio comportamento
partir das relaes de controle com estmulos ante- verbal anterior do emitente. Os antecedentes desta
cedentes. Este trabalho se dedicar anlise de trs resposta verbal so complexos e mltiplos, podem
categorias que foram consideradas relevantes no ser cadeias, sequncias verbais, conjuntos de asso-
comportamento de estudar de um aprendiz: escrita, ciaes verbais, entre outros. Portanto, no pode ser
mais especificamente o comportamento de copiar, o considerado um antecedente de intraverbal nenhum
comportamento textual e o intraverbal. elemento especfico e particular (sem que haja ex-
cluso dos demais componentes do comportamen-
O comportamento de cpia controlado por um es- to verbal antecedente). Os antecedentes podem ser
tmulo textual que pode ser um texto manuscrito ou visuais ou auditivos, a resposta verbal ela prpria
impresso, e cujo produto da resposta, tambm um pode ser vocal ou motora (escrever). Responder
texto manuscrito ou impresso, apresenta similari- questo Quem descobriu o Brasil? com a resposta
dade formal e correspondncia ponto a ponto com Pedro lvares Cabral ou Quanto 2 x 2? e ter
seu antecedente (Brino & Souza, 2005), sendo que como resposta Quatro so exemplos de intraver-
a relao entre um estmulo e o produto daquela res- bal. Esse comportamento importante por inmeras
posta guarda semelhana quanto aos padres fsicos razes. De acordo com Partington e Bailey (1993),
e sequenciais (Peterson, 1978). esto envolvidos na interao social de crianas e
tm um papel chave na aquisio de inmeros re-
O comportamento textual aquele controlado pelo pertrios acadmicos tais como recitar poemas e
texto (um estmulo verbal impresso). A resposta responder questes.
pode ser verbal-vocal, subvocal ou sinalizada. No
comportamento textual a resposta deve manter cor- Considerando as condies de ensino de maneira
respondncia funcional com o estmulo (Barros, particular, Skinner (1972) o define como o arranjo
2003; Santos, Santos & Marchezini-Cunha, 2012). de contingncias sob as quais os alunos aprendem
Assim como na cpia, os estmulos discriminativos (p. 72). Dessa forma, a partir do planejamento de
que controlam esse comportamento tambm so atividades propostas pelo professor em sala de aula,
textuais, porm a diferena entre o comportamento a aprendizagem dos alunos se caracteriza pelo apa-
textual e a cpia est na resposta que os estmulos recimento de novos comportamentos capazes de
interagir com sucesso em situaes colocadas pelo qualquer um termos da contingncia e alterar toda a
professor (Groberman, 2005). relao de controle envolvida.
No entanto, o fracasso escolar tem aparecido como No caso de contingncias especficas do compor-
um dos grandes problemas da educao brasileira, tamento de estudar, as intervenes tambm pode-
principalmente quando nos remetemos aos compor- riam ocorrer em quaisquer termos da contingncia.
tamentos chamados de alfabetizao, tal como os de As intervenes poderiam ser dirigidas s condies
leitura e de escrita. Este cenrio tem motivado mui- antecedentes (Pergher & Velasco, 2007), s respos-
tos pesquisadores, de diferentes disciplinas e pers- tas de estudar (Hbner, 1998) e s consequncias do
pectivas tericas, a se dedicar a avaliar as condies estudar (Cia, Pamplin, & Williams, 2008).
de ensino que produzem o fracasso escolar (Hb-
ner & Marinotti, 2004; Patto, 2000; Pedroza, 1993) Um exemplo de manejo de condies antecedentes,
e delinear propostas de interveno que ofeream resposta de estudar e planejamento de consequn-
melhores condies de ensino (Groberman, 2005). cias diferenciais para o comportamento de estudar
foi realizado por Pergher, Colombini, Chamati, Fi-
No cabe a este trabalho fazer uma distino en- gueiredo e Camargo (2012), cujo objetivo era au-
tre fracasso escolar e dificuldades de aprendi- mentar a frequncia do comportamento de estudar
zagem, pois so definidos de diferentes formas na de um adolescente de 14 anos.
literatura e h pouco consenso sobre isso. No esco-
po deste trabalho, ambos representam dificuldades A interveno foi realizada na casa do adolescente
apresentadas no contexto escolar. E, ainda que os e consistia em 4 etapas: a) Preparao do ambiente
problemas de aprendizagem estejam relacionados e material de estudo (retirada de estimulao visu-
a falhas em pr-requisitos no repertrio da criana al excessiva como psteres, videogame e computa-
frente s exigncias de determinada tarefa (Hubner dor e controle da estimulao auditiva concorrente,
& Marinotti, 2000), esta descrio traz consigo im- muitas pessoas passavam pelo quarto; alm disso
plicaes importantes. Uma delas, se no a mais im- no havia uma mesa para estudo. Foi ento estabe-
portante, que se um repertrio, efetivo ou no para lecido que os estudos seriam realizados no escrit-
lidar com exigncias acadmicas, so adquiridos na rio da casa. Quanto ao material a ser estudado, o
relao que estabelecem com as condies de ensi- adolescente se esquivava dizendo que no lembra-
no ofertadas, isto , ambos so aprendidos. Nesse va onde havia anotado. O pesquisador apresentava
caso, o repertrio no efetivo pode ser modificado uma atividade que havia elaborado anteriormente
em direo efetividade a partir da anlise e de ma- para estudo e elogiava o adolescente quando este
nejos nas condies sob as quais ele ocorre. Nesse apresentava as anotaes do que precisava estudar.
caso, um arranjo mais efetivo das condies de ensi- b) Reviso das prioridades do dia, o pesquisador
no poderia propiciar as mudanas comportamentais ensinou ao adolescente como decidir o que iriam
desejadas (Zanotto, 2000). De acordo com Zanotto estudar a partir das prioridades apontadas pela es-
(2000), considerando o planejamento de condies cola, por exemplo se teria uma prova ou tarefa para
de ensino, as intervenes poderiam ocorrer sobre o dia seguinte. c) Momento do estudo que consistia
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em lidar com a dificuldade em organizar as ideias uma das alternativas, pois nas trs situaes os alunos
no caderno e escrever o que havia acabado de ler; apresentam a mesma topografia de resposta, assina-
foram estabelecidas as respostas de grifar e reler in- lar a resposta correta.
formaes, alm de identificar dvidas. Nesse mo-
mento os comportamentos do pesquisador foram Aferir se uma resposta de um aluno foi emitida com
parear o estudo com momentos agradveis, prover compreenso implica em identificar as variveis que
consequncias reforadoras positivas, evitar conse- controlaram a resposta considerando suas mltiplas
quncias aversivas, fornecer modelos e instrues, variveis (Michael, Palmer, & Sundberg, 2011) e ve-
modelagem, descrever relaes de contexto-com- rificar a generalizao desta resposta para novas situ-
portamento-consequncias, consequncias artifi- aes; essa nova resposta, ainda que com topografia
ciais. d) Tambm foi estabelecido um momento de diferente da resposta aprendida, deve ser apropria-
lazer ps-estudo no qual o adolescente escolhia a da situao (Johnson & Chase, 1981); sobre essa
atividade e o pesquisador participava ativamente; nova resposta deve-se, ainda, realizar uma anlise
como uma rotina a atividade prazerosa s acontecia da transferncia de controle estmulos. Johnson e
se a atividade de estudo for concluda. Chase (1981) estudaram delineamentos instrucionais
que envolviam transferncia de controle de estmu-
Os resultados de Pergher, Colombini, Chamati, Fi- los considerando uma tipologia funcional do com-
gueiredo e Camargo (2012) demonstraram que o portamento verbal em aprendizes experientes como
nmero de minutos em que o adolescente passou pessoas alfabetizadas e que no esto mais nos anos
estudando em sesso aumentou gradativamente, iniciais e intermedirios da vida acadmica.
passando de 20 para 50 minutos entre a primeira e a
nona sesses. Quanto s notas na escola, no primeiro Quando se avalia o responder de um aluno em uma
bimestre (sem interveno) o adolescente apresen- prova tpica escolar, na verdade, o que est sendo
tou desempenho abaixo da mdia para todas as dis- analisado todo o caminho que o aluno percorreu
ciplinas, j no segundo bimestre (com interveno) desde quando o professor comeou a explicar o
todas as suas notas foram acima da mdia. No caso contedo curricular, a maneira como o aluno estu-
especfico da resposta requerida durante o estudo ou dou para a prova e, finalmente, o que lhe foi pedi-
durante a realizao de exerccios deve-se considerar do no exerccio. Este tipo de ensino, que ocorre de
a diferena entre topografia e funo. Ao selecionar forma corriqueira na maioria das escolas, envolve
uma opo em um exerccio de mltipla escolha em o ciclo aula expositiva - estudo individual - prova.
uma prova, saber se um aluno est respondendo com Durante esse percurso foi necessrio que o aluno
compreenso ao que foi ensinado anteriormente pelo utilizasse diferentes operantes verbais, os quais o
professor, se est excluindo respostas s quais ele levariam ao comportamento final que seria respon-
sabe que no condizem com o que foi ensinado, ou der corretamente ao exerccio que foi apresentado
se est chutando uma das alternativas por no saber (Vieira-Santos & Souza, 2007). O operante solicita-
como se resolver o que foi pedido (De Rose, 2004) do usualmente em uma situao tpica de responder
exigir anlise das relaes de controle estabelecidas perguntas em uma prova o intraverbal (Partington
entre os estmulos presentes e a resposta de escolher & Bailey, 1993; Vieira-Santos & Souza, 2007), con-
tudo, muitas crianas fracassam na realizao des- apesar de ambas as dicas terem sido efetivas na aqui-
sas avaliaes. sio do comportamento intraverbal, as dicas textuais
parecem ter sido mais efetivas. Os autores explicam
Uma observao dos operantes mais frequentemen- esse resultado pelo fato de que crianas com autismo
te exigidos e das possveis relaes de dependn- tm dificuldades em interagir com pessoas.
cia ou independncia que estes podem estabelecer
pode ajudar a esclarecer o objeto de estudo. Se um De maneira semelhante, Partington e Bailey (1993)
aluno estuda a partir de leitura em voz baixa (res- ensinaram oito crianas com desenvolvimento tpi-
posta subvocal), ele fortalece o operante verbal ler; co a emitirem intraverbal oral a partir de dicas por
se ele fosse avaliado por ler ao enunciado, ou um estmulos no verbais; as crianas eram hbeis em
texto, por exemplo, h alta probabilidade de que te- tatear estmulos, mas falhavam em responder ques-
nha xito, j que o comportamento treinado seria tes sobre os mesmos, ainda que a resposta terminal
o mesmo avaliado. No entanto, caso o aluno seja fosse topograficamente semelhante (por exemplo,
avaliado por prova oral ou escrita na qual deveria dizer bola diante da figura da bola e dizer bola aps
intraverbalizar com as questes, ou seja, relacionar a questo com qual objeto jogamos futebol?). No
o que foi estudado com as perguntas da avaliao treino de intraverbal, perguntas foram apresenta-
e apresentar uma resposta verbal convencionada, das pelo experimentador e, antes das respostas das
mas sem correspondncia pontual com o estmulo crianas, foram dadas dicas a partir de cartes com
antecedente, a probabilidade de xito diminui caso figuras. O procedimento de transferncia de contro-
o aluno no seja treinado a fazer a devida transfe- le de estmulos foi efetivo para a aprendizagem do
rncia de controle entre os operantes verbais envol- intraverbal para todas as crianas.
vidos (De Rose, 2004).
Outra forma de ensino de intraverbal adotada tem
A pouca correspondncia entre o que foi estudado sido pelo ensino de mltiplos exemplares (Greer,
e o que foi avaliado, refletida no desempenho do Yaun, & Gautreaux, 2005; Gree & Ross, 2008).
aluno, mais uma das muitas evidncias da literatu- Greer, Yaun e Gautreaux (2005) ensinaram res-
ra de que operantes verbais so funcionalmente in- postas intraverbais e de ditado a crianas em idade
dependentes e que a sua interdependncia deve ser pr-escolar partindo da premissa de que uma forma
devidamente programada/planejada (Guess, 1969; de comportamento verbal componente de dife-
Greer & Ross, 2008; Partington & Bailey, 1993; rentes operantes verbais e o ensino com mltiplos
Skinner, 1957; Vieira-Santos & Souza, 2007). exemplares pode promover o controle conjunto des-
ses operantes fazendo com que uma forma verbal
No caso especfico de ensino de intraverbais, uma das aprendida sob uma circunstncia seja emitida em
formas adotadas na literatura para o seu estabeleci- outra, pela transferncia das relaes de controle.
mento tem sido pelo uso de dicas. Finkel e Williams
(2001) ensinaram um menino de 6 anos com autismo Uma questo apresentada na literatura relatada :
a emitir intraverbais a partir de dicas ecoicas ou tex- quais seriam as variveis relevantes para que os
tuais, com esvanecimento da dica. Ao final do estudo, operantes verbais se tornem interdependentes fun-
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Este estudo de caso se props a descrever e analisar o Breve Histrico do Cliente - Morava com os pais,
comportamento de estudar de um aluno com queixa de um irmo gmeo e uma irm de 16 anos. O cliente
dificuldade no acompanhamento escolar. O objetivo possua ainda um irmo com 20 anos que residia
foi que o cliente emitisse o intraverbal convenciona- em outra cidade e cursava a universidade. Tanto o
do em tarefas similares avaliao escolar; para isso, cliente quanto o irmo gmeo foram reprovados no
verificou-se que tipo de resposta deveria ser emitida quarto ano e, desde ento, a me solicitou escola
durante o estudo (textual subvocal, textual em voz alta, que os colocasse em classes separadas. Aos 5 anos,
grifos seguido de cpia de partes importantes do texto) Caio passou por uma avaliao com o neurologista
para que o intraverbal convencionado fosse emitido. e nada foi diagnosticado. O mesmo j havia realiza-
do acompanhamento psicolgico, porm com pou-
MTODO ca adeso da me.
Foi realizado um estudo de caso a partir dos aten- A queixa relatada pela me era que Caio tinha pro-
dimentos de um adolescente com dificuldade de blemas de aprendizagem, principalmente na com-
compreenso em leitura de textos acadmicos1. Os preenso da leitura; apresentava uma leitura me-
atendimentos foram realizados pelo primeiro autor, cnica, havendo a necessidade de outra pessoa
sob a superviso da terceira autora. explicasse, ou ento lesse vrias vezes. Apresentava
problemas de comportamento tanto em casa como
Aspectos ticos na sala de aula. Na escola, quando questionado ou
A publicao deste caso foi devidamente autorizada chamado ateno, apresentava comportamentos
pela responsvel legal a partir do Termo de Consen- de oposio.
timento Livre e Esclarecido adotado pela prpria
instituio onde recebeu atendimento, e aprovao A me relatou ter ido inmeras vezes conversar com
no Comit de tica em Pesquisa (CEP), sob nmero os professores, pois Caio no compreendia as au-
13653/46/01/12. las, e ela no compreendia o motivo. Ela relatava
(1) O Cliente foi selecionado na Clnica-Escola de Psicologia da Universidade a qual este trabalho se realizou, onde havia uma lista de clientes com dificuldades
de acompanhamento no ensino fundamental, sendo escolhido esse participante devido demanda ser mais complexa: a leitura (textual) a escrita (transcritivo)
j tinham se estabelecido e era necessrio estabelecer o comportamento de compreender um texto e apresentar a resposta correta em uma prova (intraverbal).
que, dos seus quatro filhos, somente Caio e seu ir- Diversos jogos foram utilizados nas sesses, sen-
mo gmeo davam problemas. Sobre as atividades do alguns deles: Cai no Cai, Jogo da Forca,
acadmicas, o cliente no apresentava desempenho Memria: lugares do mundo, Domin, Cara a
mnimo nas provas, e quando tinha tarefas de casa cara, Banco imobilirio, Conhecendo o Brasil,
queria fazer rpido para brincar e jogar videogame. entre outros. Os jogos foram escolhidos para que
Essa j seria uma constatao de que, para Caio, a a sesso tivesse um momento ldico com consequ-
funo de realizar a tarefa de casa no era fortalecer ncias positivas programadas aps a realizao das
o contedo de sala ou aprend-lo, mas livrar-se dele atividades propostas.
o mais rpido possvel para ter acesso a outros re-
foradores, ou seja, representava mais uma coero Por fim, foram utilizados textos acadmicos
do que uma oportunidade de aprendizado (Sidman, (Apndice 1) condizentes seriao escolar do
1989). Avaliaes mais especficas do repertrio cliente, bem como questes impressas sobre os
verbal adotado no estudo foram realizadas pelos textos, e lpis e borracha. O material possibilitou
materiais descritos a seguir. que o pesquisador avaliasse os comportamentos
desejados (leitura e emisso de intraverbais) a par-
Instrumentos tir de temas escolares. Embora considerados no
Foi utilizado o TDE, Teste de Desempenho Esco- gratificantes, supostamente pela histria de insu-
lar (Stein, 1994), que se constitui num instrumento cesso do participante com esse tipo de texto, a pro-
construdo para escolares brasileiros (padronizado), posta era mudar o tipo de relao estabelecida com
com o objetivo de avaliar as capacidades fundamen- esse material.
tais, relacionadas leitura, escrita, aritmtica e to-
tal, por sries (1. a 5.), classificando o desempenho PROCEDIMENTOS E RESULTADOS
em superior, mdio e inferior.
O procedimento utilizado com o cliente foi dividi-
Outro instrumento utilizado para avaliao foi um do em dois momentos: Etapa de Avaliao e Etapa
software contendo as Fbulas de Esopo, que apre- de Interveno. Optou-se por apresentar cada etapa
sentava dez histrias, sendo todas acompanhadas seguida de seus resultados como tentativa de tornar
de diversas gravuras ilustrativas, possibilitando ao mais didtico o relato do caso. Aps a apresentao
cliente ser avaliado em duas situaes distintas: dos resultados das duas etapas, ser realizada a dis-
a) leitura da histria (diante do computador) com cusso geral do caso.
a presena da narrativa oral, b) leitura da histria
(diante do computador) sem a presena da narrativa Procedimento de Avaliao
oral. Este instrumento foi escolhido por conter di- As primeiras sesses foram destinadas para o esta-
versas histrias, cada uma com um tema diferente e belecimento de vnculo com o cliente e avaliao
por possibilitar a avaliao dos comportamentos de do caso. Como forma de intercalar as atividades de
escuta e leitura do mesmo contedo. Como todas as avaliao, tipicamente de contexto mais acadmico,
histrias eram concludas com uma moral da hist- com atividades mais prazerosas ao cliente, foram
ria, era possvel avaliar a compreenso da leitura. utilizados jogos que o cliente escolhia dentre alguns
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pr-selecionados pelo estagirio. Os jogos tambm Na avaliao pelas Fbulas de Esopo, o cliente
possibilitaram o estabelecimento de um bom vncu- apresentou desempenho de 100% de acertos em
lo entre estagirio e cliente. todas as sete fbulas, tanto na leitura das fbulas
com o recurso auditivo (do prprio programa emi-
Resultados da avaliao tido pelo alto-falante) como na leitura oralizada re-
A Tabela 1 apresenta o resultado da aplicao do alizada pelo prprio participante. Ao final de cada
TDE (Stein, 1994). Os resultados so apresentados fbula, havia a apresentao de uma mensagem,
por subtestes, que avaliaram as reas de escrita, arit- denominada de moral da histria, e que descre-
mtica e leitura. Na primeira coluna esto os resul- via e sintetizava a relao da histria com eventos
tados alcanados por Caio, na segunda coluna uma cotidianos generalizados. Neste momento, a m-
previso de escore a partir da idade do participante, dia era pausada e o cliente deveria escrever essa
e na terceira coluna, a classificao obtida por Caio sntese aps a realizao da leitura da fbula. O
de acordo com o seu escore em cada subteste e no estagirio comparava a sntese escrita pelo cliente
total em comparao com a mdia populacional ob- com a moral da histria apresentada pela fbula,
tida durante a padronizao do TDE. observando a sobreposio de elementos que indi-
cassem a compreenso do que foi lido/ouvido. O
De acordo com a Tabela 1, o desempenho do clien- cliente sintetizou 100% das fbulas de forma com-
te em aritmtica e leitura foi acima da mdia, rece- patvel com a moral da histria. Essa avaliao
bendo a classificao superior. Com relao ao teste revelou que o cliente no tinha problemas com a
de escrita, o cliente apresentou desempenho inferior compreenso de textos curtos e de histrias com
(apenas 1 ponto abaixo da mdia). Analisando os er- algum relacionamento com o cotidiano. Com es-
ros apresentados no teste de escrita, estes estavam ses resultados na avaliao, o cliente passou a ser
circunscritos a trocas ortogrficas possveis diante da exposto a textos mais complexos, com contedos
complexidade da lngua portuguesa (p. ex. p e b, tipicamente acadmicos (Apndice) relacionados
e trocas de s por c, e de l por u). Esta avalia- srie que frequentava.
o permitiu excluir problemas com dois operantes
verbais importantes, o comportamento de decodificar Procedimento de Interveno
um texto (textual) e de relaes de controle da pala- A interveno apresentou quatro fases, cada uma
vra ditada sobre a escrita pelo participante (ditado). descrevendo os comportamentos a serem emitidos
Tabela 1 - Resultados de Caio nos subtestes de escrita e aritmtica e de leitura (Stein, 1994).
durante o estudo de um texto (leitura subvocal, lei- Fase I Inicialmente, o cliente foi instrudo a re-
tura em voz alta, fichamento), a acurcia da resposta alizar a leitura de um texto; em cada sesso foi
de responder questes sobre este texto e avaliao adotado um texto diferente, assim como indicado
da generalizao da resposta para outros textos. no Apndice. Como medida de Linha de Base, foi
solicitado que estudasse o texto da forma com que
A varivel dependente de interesse era a emisso estava acostumado a fazer, tanto em casa quanto na
do intraverbal convencionado como correto, aps a escola. Sempre foram fornecidos, juntamente com o
leitura dos textos, aferidos ora de forma oral ora de texto, uma folha em branco, um lpis e uma borra-
forma escrita, conforme convenincia da sesso. cha, caso necessitasse. Em seguida, Caio respondia
a questes sobre o texto; a topografia da resposta
A resposta correta foi definida de acordo com as con- podia ser oral ou escrita, a depender da sesso; caso
venes acadmicas, j que os textos, ainda que sin- Caio no demonstrasse um intraverbal convencio-
tticos, eram todos de contedos acadmicos. Foram nado pela comunidade verbal, isto , definido como
admitidas flexibilidade da topografia da resposta; a correto, recebia ajuda do terapeuta, quer seja com
correspondncia deveria ser formal e convencionada pistas textuais ou ecoicas.
pela comunidade acadmica; caso a topografia no
fosse flexvel, seria mera cpia (no caso de resposta A interveno consistiu na instruo para que reali-
escrita) ou ecoico (no caso de resposta oral), ainda que zasse a leitura de um novo texto, em voz alta (leitura
os estmulos textuais ou auditivos que pudessem con- com oralizao), grifar as informaes mais impor-
trolar a resposta estivessem temporalmente distantes. tantes, e fazer um fichamento com elas, transcre-
vendo os trechos mais importantes; uma espcie de
No caso de acerto, este era comemorado e o clien- cpia, no entanto, a seleo dos trechos mais impor-
te recebia elogios; as respostas emitidas durante tantes deveria ser controlada por respostas a questes
o estudo eram listadas e o tipo de auxlio, se ti- do tipo qual o acontecimento relatado no texto?,
vesse ocorrido, era identificado. Caso o intraver- quem provocou o acontecimento?, quem foi afe-
bal emitido no fosse o definido como correto, tado por tal acontecimento?, onde ocorreu?. Esse
recebia dicas do terapeuta para emitir a resposta procedimento foi realizado com trs textos diferentes.
correta que poderiam ser textuais (retomar o fi- Ao final do estudo, era solicitado que respondesse s
chamento) ou ecoica (emisso da resposta correta questes de estudo, muito semelhantes s respondi-
pelo estagirio) para que a resposta correta fos- das durante o estudo com as devidas consequncias
se emitida. A Tabela 2 apresenta as fases deste programadas para acerto ou erro.
estudo, os textos adotados em cada uma delas, a
resposta de estudar que foi fortalecida e a efeti- Em seguida, Caio era exposto a um teste de generali-
vidade dessa para responder questes de estudo. zao2 da forma de estudar, com o objetivo de avaliar
Segue descrio das fases. o uso espontneo dos repertrios treinados durante a
(2) Generalizao pode ser compreendida como uma transferncia da aprendizagem; envolve a ocorrncia do comportamento desejado e relevante, sob diferentes
condies no treinadas. Existe uma tecnologia que pode ser adotada para programar a generalizao e maiores informaes sobre essa programao pode
ser obtida em Stokes e Baer (1977).
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interveno com um texto diferente e a transferncia formulao verbal que descrevia o que o cliente fez
de controle de estmulos (da cpia para o intraverbal e as consequncias do que ele fez sobre a acurcia
escrito). Nesse momento, a nica instruo fornecida da resposta no questionrio (Semana passada voc
era para que realizasse a leitura do texto e respondes- esteve aqui e estudou alguns textos de Histria; du-
se s questes, sem consulta ao texto lido. rante o estudo, voc fez a leitura do texto, grifou
e copiou as partes importantes do material. Quan-
Fase II - Aps a avaliao da aprendizagem pelo do voc estudou dessa forma, voc acertou todas
teste de generalizao da Fase I, houve novamente as questes de estudo, sem o meu auxlio. Procure
a fase de interveno. A forma de estudar verifica- fazer o mesmo com o texto de hoje). Ao final do
da como efetiva na Fase I foi convertida em uma estudo com os textos dessa fase, o repertrio de res-
Tabela 2 - Interveno com textos didticos: relao entre o comportamento de estudar, o comportamento solicitado na avaliao e relato de compreenso.
ponder questes era avaliado novamente segundo De acordo com a Tabela 2 e ao que foi realizado
os mesmos critrios e consequncias programadas nas Fases I e II, todas as vezes que o cliente ado-
para acerto e erro relatados. Aps a exposio a dois tou a estratgia de estudo recomendada (ler, grifar e
textos diferentes, o cliente foi exposto a um novo transcrever trechos relevantes), a sua resposta para
teste de generalizao. responder questes foi efetiva e no necessitou de
dicas do terapeuta. No entanto, nos testes de genera-
Fase III Aps a medida de aprendizagem do final lizao da resposta sem a instruo especfica do te-
da Fase II, o cliente foi exposto ao ensino com mais rapeuta, o cliente voltava a adotar como resposta de
trs textos distintos, seguindo os mesmos critrios estudo ou somente a leitura subvocal (teste da Fase
de ensino e instrues e consequncias programa- I) ou somente a leitura em voz alta (teste da Fase II),
das para acerto e erro adotados na Fase II. A Fase III sendo que essas respostas isoladas no foram efeti-
tambm foi concluda com testes de generalizao. vas para a emisso de intraverbais convencionados
Fase IV - Essa fase consistiu na verificao da ma- como corretos.
nuteno do repertrio de estudo obtido nas fases
anteriores, com um follow up, realizado aps quatro Na Fase III, durante o ensino, o cliente alternou en-
semanas desde a ltima fase de ensino. Nesta fase, tre os tipos de respostas de leitura (ora subvocal, ora
o cliente foi instrudo, simplesmente, a estudar o em voz alta) e manteve a resposta de selecionar e
material proposto, sendo em seguida avaliado pelo transcrever os trechos relevantes do texto. Nos tes-
questionrio. tes dessa fase, optou pela leitura em voz alta com a
seleo e transcrio de trechos importantes e sua
Resultados da Interveno resposta s questes foi precisa.
Sero apresentados o tipo de resposta de estudar
emitida durante cada fase do estudo (rea som- Na Fase IV, que constituiu em uma medida de ma-
breada da Tabela 2), sua efetividade em responder nuteno, Caio passou utilizar as respostas de estu-
as questes de verificao (marcados com para dar de acordo com o estabelecido na interveno:
acerto e para erro, sendo que, quando havia erro, leitura em voz alta e seleo e transcrio de trechos
eram fornecidas dicas (ecoica ou textual). Estes re- importantes, mantendo a preciso nas respostas s
sultados esto na Tabela 2. questes de estudo.
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dasse fazendo fichamentos de texto, isto , selecio- Adicionalmente, no caso da leitura aberta, tambm
nasse com grifos seguido de cpia das partes mais requerida como parte do ensino, Caio poderia tanto
relevantes, o responder s questes de prova seria ler quanto ouvir o texto, o que ampliava o nmero de
realizado de forma mais eficiente. Os resultados comportamentos envolvidos (ouvir e ler) e o contro-
demonstraram que o estudo envolvendo fichamen- le de estmulos na tarefa (auditivos produzidos por
to (cpia de trechos importantes do texto) foi mais ele mesmo e textuais do material adotado). Fichar o
efetivo do que a leitura subvocal ou mesmo a lei- texto (intraverbalizar e copiar) e emitir textuais em
tura em voz alta para a emisso da resposta corre- voz alta (ler) tambm aps a emisso de perguntas
ta (intraverbal na modalidade escrita) em situao relevantes (intraverbalizar) poderiam ser condies
semelhante prova. para que o controle de estmulos fosse transferido
entre os operantes e para que fosse estabelecida in-
O intraverbal convencionado em situao de avalia- terdependncia funcional entre os mesmos, isto ,
o pode ter sido emitido porque durante o ficha- escrever controlado pelas perguntas (intraverbal es-
mento so exigidos tanto a cpia de trechos como crito) e no mais pelo estmulo textual (cpia). De
o intraverbal escrito, na medida em que, para sele- acordo com a literatura, a rotatividade entre diferen-
cionar o que fichar, ele deveria se questionar sobre tes tipos de respostas, denominada de instruo por
o que relevante. Isso implica em fazer e responder mltiplos exemplares (Greer & Ross, 2008) pode
questes como quem fez?, o que fez?, quando ser condio para a transferncia de controle de es-
fez? e que efeito provocou? Por exemplo, no tex- tmulos e estabelecimento da interdependncia en-
to A Guerra de Canudos foram feitas perguntas tre operantes.
do tipo qual o personagem principal da Guerra de
Canudos?, onde ficava Canudos?, qual o princi- O intraverbal escrito, sob controle de estmulo ver-
pal motivo da Guerra de Canudos?, O que aconte- bal tambm escrito, foi estabelecido no percurso do
ceu com Canudos aps a guerra?. estudo. De acordo com Matos (1991), responder a
questes do tipo sobre o que fala este texto? pode
O intraverbal escrito era o operante solicitado na ser condio para o estabelecimento desse operan-
avaliao fazendo uma relao topogrfica mais te. Neste caso, o ensino por mltiplos exemplares
direta com o desempenho alvo. Dessa forma, ini- caracterizado por ler, ouvir o que leu e transcrever
cialmente a resposta pode ter sido controlada pela partes importantes do texto pode ter fornecido as
cpia (durante o estudo), mas sobreposio de per- condies para que no s o ouvir e o falar fossem
guntas relevantes pode ter oferecido condies para bidirecionais (Greer & Ross, 2008), mas que as re-
a transferncia de controle de estmulos para a situ- laes de controle estabelecidas pelo estmulo tex-
ao de avaliao, em que somente a pergunta es- tual sobre o ler fossem transferidas para o escrever
tava presente. Nesse caso, o controle exercido por quando requerido na prova.
mltiplas variveis (estmulo textual e perguntas
sobre o texto) seriam convergentes para a mesma Para avaliar se o aluno realmente aprendeu, deve-se
resposta de escrita (Michael, Palmer, & Sundberg, voltar o olhar para o percurso de estudo, tal como
2011; Partington & Bailey, 1993). prope De Rose (2004). O percurso de estudo que
Caio passou a adotar durante as sesses de ensino A extenso desse repertrio novo de estudo para no-
alterou o controle de estmulos exercido pelo texto e vas situaes de avaliao da aprendizagem foi ve-
seus componentes (frases, palavras-chave). Alm da rificada nos testes de generalizao ao final de cada
sobreposio de antecedentes para cpia e intraver- fase. O cliente somente estudou da forma conside-
bal escrito que permitiram a transferncia de controle rada mais efetiva na Fase III. Esse resultado pode
do textual com correspondncia ponto a ponto para ter sido obtido no s pela exposio s diferentes
o textual com correspondncia convencionada (Par- contingncias de estudo que envolviam sucesso ou
tington & Bailey, 1993; Johnson & Chase, 1981), no ao responder s questes, estes funcionando
nos sucessivos testes de intraverbal que ocorreram, como reforadores positivos intrnsecos (Barros &
quando a resposta correta no era emitida, eram for- Benvenutti, 2012), mas tambm sobreposio de
necidas pistas ecoicas ou textuais para a emisso da formulaes verbais sobre as contingncias que vi-
resposta correta. Embora no tenha havido uma com- goravam. Essa sobreposio de formulao verbal
parao sobre a efetividade de cada uma das dicas (regra) correspondente contingncia em vigor ten-
e, embora elas pudessem ter uma funo importan- de a aumentar a probabilidade de seu seguimento
te durante o processo de estudo, nesse caso no se (Galizio, 1979; Paracampo & Albuquerque, 2004).
confere a elas o papel de condio suficiente para a
emisso da resposta correta como ocorreu no estudo Contudo, apenas adotar a compreenso de leitura de
de Finkel e Williams (2001). textos didticos no ambiente teraputico no seria su-
ficiente ao cliente para melhorar seu desempenho na
A alternncia entre as fases de ensino e generaliza- escola. Seria preciso que ele passasse a utilizar o re-
o tiveram um duplo papel. Por um lado, oferece- pertrio treinado nesse contexto, em outros ambientes.
ram um re-treino com os mltiplos operantes neces- Assim, durante as atividades, tambm foram discuti-
srios para a emisso do intraverbal convencionado, das com o cliente as relaes entre o contexto terapu-
por outro, funcionaram como controle, demonstran- tico e o estudar para a prova estabelecendo as devidas
do que quando os operantes includos no fichar tex- semelhanas entre as condies visando estender as
tos eram emitidos e, somente sob essa condio, o relaes de controle envolvidas no comportamento de
intraverbal convencionado ocorreria. Se uma com- estudar na clnica para a casa do cliente como uma for-
parao com delineamentos de pesquisa fosse rea- ma de planejar a generalizao (Stokes & Baer, 1977).
lizada, o que no o propsito deste estudo, seria Eram conversas descontradas, em que o terapeuta
comparvel a um delineamento de reverso onde as apresentava ao cliente os benefcios do estudar, de se
condies controle e experimental se alternam su- dedicar, como forma de sensibilizao e a partir de
cessivas vezes (Sampaio, Azevedo, Cardoso, Lima, determinado perodo da interveno, com o objetivo
Pereira, & Andery, 2008). No caso deste estudo, to- de generalizar para o contexto familiar e da escola, as
das as vezes que Caio emitia os comportamentos formas de estudo que proporcionaram ao cliente obter
de estudar fazendo fichamentos (por instruo do sucesso na compreenso de leitura.
terapeuta ou no), a resposta correta na avaliao e
sem ajuda ocorria; quando no emitia esse compor- A me do cliente apresentou um importante papel
tamento, a resposta no ocorria. de mediadora durante o processo teraputico. Pe-
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nada como correta na avaliao. Os resultados esto uma anlise da abordagem skinneriana e das extenses ex-
relacionados a aspectos de ensino que promoveram a plicativas de Stemmer, Hayes e Sidman.Interao em Psic-
tenso das relaes de controle. Os resultados aqui Ciranda Cultural. As Fbulas de Esopo [CD-ROM].
apresentados mostram que a emisso de intraverbais
Cia, F., Pamplin, R. C. O., & Williams, L. C. A. (2008). O impacto do
deve ser vista como um repertrio de importncia
envolvimento parental no desempenho acadmico de crianas
considervel por clnicos e educadores e a avaliao
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desses deveria ser considerada em crianas encami-
nhadas para servios especiais por no acompanha- De Rose, J. C. (2004). Alm da resposta correta: controle de es-
rem as exigncias acadmicas, sobretudo nos casos tmulo e o raciocnio do aluno. In M. M. C. Hbner & M.
em que no h deficincia intelectual e sensorial so- Marinotti (Orgs.), Anlise do Comportamento para a Edu-
Futuros estudos podem verificar se esses resulta- Finkel, A. S., & Williams, R. L. (2001). A comparison of textu-
dos seriam replicveis em outras crianas com re- al and echoic prompts on the acquisition of intraverbal be-
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Recebido em 13/04/2016
Revisado em 13/09/2016
Aceito em 30/11/2016
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