Quinze de Novembro - E-Book
Quinze de Novembro - E-Book
Quinze de Novembro - E-Book
Fronteiras da (in)tolerncia:
Passo Fundo (1940-1955)
Apoio:
Fapergs
Programa de Ps-Graduao da Universidade de Passo Fundo (UPF)
Produo:
LAMOI Laboratrio de Memria Oral e Imagem PPGH/UPF
NEMEC Ncleo de Estudos de Memria e Cultura PPGH/UPF
Marlise Regina Meyrer
(Organizadora)
Quinze de Novembro
Fronteiras da (in)tolerncia:
Passo Fundo (1940-1955)
E-book
OI OS
EDITORA
2016
Dos autores 2016
[email protected]
Editorao: Oikos
Capa: Juliana Nascimento
Montagem ilustrao da capa: Fabiana Beltrami da Silva
Imagem da capa: Recortes do jornal O Nacional
Reproduo de tela de Ruth Schneider. Cedida gentilmente pelo
Museu de Artes Visuais Ruth Schneider Passo Fundo/RS
Reviso: Rui Bender
Arte-final: Jair de Oliveira Carlos
Anielo DArenzo
Antonio Augusto Meirelles Duarte
Carmen Ribeiro
Enes Troglio
Ftima Lemes
Jaime Freitag
Maria Teresa Hahisi
Maria Teresa de Dreher
Paulo Giongo
Paulo Monteiro
Vilson Novelo
Wilson Nascimento Pinheiro
Sumrio
Introduo ........................................................................................... 9
Quinze de Novembro fronteiras da (in)tolerncia:
Passo Fundo (1940-1955) .................................................................... 14
Marlise Regina Meyrer
Dinmicas econmicas de Passo Fundo na primeira metade
do sculo XX. Alguns apontamentos ................................................... 37
Joo Carlos Tedesco
Ruth Schneider e as janelas do Cassino: o dilema de olhar e ser olhado .. 52
Aline do Carmo
Jacqueline Ahlert
A zona do meretrcio na imprensa: jornal O Nacional (1949-1955) ........ 70
Bruna Telassim Baggio
Rua Quinze de Novembro, um enquadramento fotogrfico fantasma ... 92
Fabiana Beltrami da Silva
Resenha: Prazer Marginal e Poltica Alternativa:
a zona do meretrcio em Passo Fundo (1939-1945) ............................ 113
Luciane Maldaner
Glossrio:
Histria e fotografia .......................................................................... 118
Carolina Martins Etcheverry
Histria e imagem ............................................................................ 120
Jacqueline Ahlert
Histria Oral .................................................................................... 125
Marlise Regina Meyrer
Identidade ........................................................................................ 129
Rosane Marcia Neumann
Memria .......................................................................................... 134
Joo Carlos Tedesco
Zona do meretrcio ........................................................................... 138
Daniel Luciano Gevehr
8
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
Introduo
9
Introduo
10
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
11
Introduo
12
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
13
Quinze de Novembro fronteiras da
(in)tolerncia: Passo Fundo (1940-1955)
Introduo
Fundamentado na metodologia da Histria Oral2, o artigo apresenta
a pesquisa realizada sobre o espao ocupado pela rua Quinze de Novembro
e seu entorno na cidade de Passo Fundo/RS nas dcadas de 1940 e 1950.
Utilizamos a categoria de anlise de Elias (2000) sobre as relaes entre
estabelecidos e outsiders, entendendo o espao estudado como outsider na me-
dida em que ele estava margem da sociedade reconhecida como legal
cujas aes dos sujeitos desenvolviam-se dentro das regras jurdica e social-
mente estabelecidas, sobre as quais foram construdos estigmas que atua-
vam como demarcadores sociais. Nesse sentido, era um espao de fronteira
entre o mundo legal e o ilegal, mas tambm um lugar onde as fronteiras
sociais eram frequentemente transpostas num determinado equilbrio ins-
tvel entre tolerncia e intolerncia.
1
Professora do Programa de Ps Graduao em Histria da Universidade de Passo Fundo/RS.
2
Estamos cientes dos questionamentos que envolvem a histria oral, especialmente no que diz
respeito sua carga de subjetividade. Os relatos, assim, so analisados luz de referncias
bibliogrficas sobre o contexto em questo, pois concordamos com Janoti (2010) quando ela
aponta para a necessidade de recorrer a fontes mltiplas, lembrando que o testemunho do
depoente no apenas um relato do que viu e ouviu, mas uma construo de um determinado
discurso sobre o fato. Alm disso, a autora chama a ateno para a necessidade metodolgica
de levar em considerao os objetivos do entrevistador, nesse caso o historiador, que domina
todo um aparato terico que orienta a entrevista e ir influenciar a construo do discurso. A
utilizao dessa metodologia aqui liga-se diretamente questo da memria. Interessa-nos a
elaborao da memria coletiva do grupo, que fundamenta sua identidade. Nesse sentido, o
conjunto de depoimentos e seus significados entendido na medida em que se refere mesma
realidade, ou seja, uma realidade comungada por todo o grupo social, adquirindo dessa forma
um significado coletivo.
14
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
3
Ruth Schneider foi uma artista plstica, natural da cidade de Passo Fundo, cujos trabalhos
ganharam expresso nacional. Entre suas obras destaca-se a coleo que retrata cenas das
memrias de sua infncia, entre as quais a srie sobre o Cassino da Maroca, que lhe eram
contadas por seu padrasto. Atualmente, parte de suas obras pode ser conhecida no museu que
leva o seu nome na cidade de Passo Fundo: o Museu de Artes Visuais Ruth Schneider em Passo
Fundo/RS.
4
Segundo depoimentos de antigos moradores, a rua inicialmente no ficava no centro, mas
muito prxima do centro. Com a intensificao do desenvolvimento urbano na dcada de 1950,
ela passou a ser considerada parte da regio central da cidade.
15
MEYRER, M. R. Quinze de Novembro fronteiras da (in)tolerncia:
Passo Fundo (1945-1955)
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Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
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MEYRER, M. R. Quinze de Novembro fronteiras da (in)tolerncia:
Passo Fundo (1945-1955)
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MEYRER, M. R. Quinze de Novembro fronteiras da (in)tolerncia:
Passo Fundo (1945-1955)
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MEYRER, M. R. Quinze de Novembro fronteiras da (in)tolerncia:
Passo Fundo (1945-1955)
5
Todos os nomes dos entrevistados foram substitudos por nomes fictcios.
6
Entrevista concedida em Passo Fundo/RS em 10 de dezembro de 2015.
7
Segundo diversos depoimentos orais e textos veiculados nos jornais locais, entre 1939 e 1945,
perodo da Segunda Guerra Mundial, a cidade foi uma rota importante do contrabando de
pneus brasileiros para a Argentina. Muitos cidados da cidade teriam enriquecido por conta
22
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
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MEYRER, M. R. Quinze de Novembro fronteiras da (in)tolerncia:
Passo Fundo (1945-1955)
12
Sra. Maria. Entrevista concedida em Passo Fundo/RS em 23/11/2015.
13
Idem.
24
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MEYRER, M. R. Quinze de Novembro fronteiras da (in)tolerncia:
Passo Fundo (1945-1955)
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Entrevista concedida em Passo Fundo/RS em 15/12/2015.
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Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
Eram tempos muito difceis; inclusive ele tinha que trabalhar armado [pai];
ele tinha dois revlveres por incrvel que parea: um ele usava na cintura e o
outro do lado do caixa, nem era caixa, era tipo umas gavetas, onde guardava
o dinheiro. Ento, na poca, quase todo mundo andava armado. Noventa
por cento da populao tinha um revlver em casa. O pai tinha dois: []
que ele dizia que era o melhor. Eu me criei vendo aquelas armas, que feliz-
mente ele nunca precisou usar. Se lidava com todo o tipo de pessoas aqui,
vinham pessoas de toda a parte do Brasil por causa do Cassino. Vinham os
bons e vinham os maus tambm n? Como tinha os bons aqui na cidade,
ento tinha que trabalhar prevenido. (Freitas)15
[] como eu disse antes, minha me dizia: as pessoas podiam caminhar na
rua, outros dizem que no, que no dava para descer aqui para baixo que era
s fuzarca e confuso; ento o que eu vou te dizer? Eu no sei, no frequen-
tei essa poca, no vivi, estou contando o que minha me contava, que havia
um respeito; como ela falou isso, eu acredito. (Freitas)16
15
Entrevista concedida em Passo Fundo/RS em 12/12/2015.
16
Idem.
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MEYRER, M. R. Quinze de Novembro fronteiras da (in)tolerncia:
Passo Fundo (1945-1955)
17
Idem.
18
Entrevista concedida em Passo Fundo/RS em 15/11/2015.
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19
Entrevista concedida em Passo Fundo/RS em 15/12/2015.
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Expresso utilizada pelos entrevistados para definir as cafetinas. Donas dos bordis que tinham
o controle sobre as prostitutas.
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MEYRER, M. R. Quinze de Novembro fronteiras da (in)tolerncia:
Passo Fundo (1945-1955)
Por isso que diziam que passava uma menina, como eu j vi: passavam duas,
trs meninas e elas [donas das casas] saam na rua e diziam: , isso aqui
no lugar pra moas. Vocs vo l por cima, pela outra rua, porque aqui
no lugar pra vocs, no lugar pra moas. Ento, eles usavam do respei-
to. E eu vivi aqui, a no meio deles. Pra l, pra c, Dona Olvia, eu ia com-
prar coisas pra ela. A Dona Eupidia, eu ia comprar coisas pra ela. Era as-
sim. Entrava nas casas de todas, sem problema nenhum. (Vitor)21
A me sempre dizia que havia um respeito, se transitava aqui como se esti-
vesse transitando em qualquer outro lugar. Respeito que eu digo por parte
das mulheres. No ficavam ali na sacada largando piada, mexendo com as
pessoas que passavam. Se mantinham no interior de suas casas. Que a gente
s vezes v em filme ou em outros lugares, que as mulheres ficam nas janelas
chamando homem. Mas diz que aqui no. Ocorria tudo interno. As pessoas
frequentavam o Cassino, tudo bem, as outras que tinham casas que aluga-
vam quartos, mas no havia isso das mulheres estarem nas janelas chaman-
do as pessoas para frequentar o local. (Freitas)22
21
Entrevista concedida em Passo Fundo/RS em 15/12/2015.
22
Entrevista concedida em Passo Fundo/RS em 12/12/2015.
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Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
das moas bonitas, vistosas, boa aparncia e boa conversa. Elas seleciona-
vam nesse sentido, tinham um grau de cultura do mdio pra cima, ento
quer dizer, ela no era simplesmente uma prostituta. Ento l dentro era
respeitada, o cara ficava aguado e pagava a ida n? E depois chegavam l,
pagava a casa, tambm o quarto. Ento virou um negcio realmente e reali-
zou-se, ento comeou a aparecer concorrncia, n? (Giovane)23
Ento a Maroca ganhou muito daquela populao e ganhou tanto, que ela
tinha um nmero muito grande de afilhados e afilhadas, que, de acordo com
as Glostoras me comunicaram, que ela fazia questo de presentear. Dizem
que, quando chegavam as datas propcias de presentes, ela sempre tinha um
acervo de coisas de coelhinho da pscoa ou coisas natalinas para dar. [...] E
a Maroca tambm era muito religiosa; ela sempre colaborava com a festa de
So Miguel e levava as meninas junto, mesmo a contragosto de algumas
madames. (Walter)24
23
Entrevista concedida em Passo Fundo/RS em 15/11/2015.
24
Entrevista concedida em Passo Fundo/RS em 10/12/2015.
25
Criminologista positivista italiano do sculo XIX, cujas ideias tiveram muita influncia na
Europa e no Brasil. Associava caractersticas fsicas aos perfis mentais dos criminosos. Seus
estudos tambm foram usados para definir as prostitutas na medida em que essas eram
consideradas criminosas.
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Passo Fundo (1945-1955)
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Entrevista concedida em Passo Fundo/RS em 03/03/2016.
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Entrevista concedida em Passo Fundo/RS em 15/12/2015.
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Entrevista concedida em Passo Fundo/RS em 12/12/2015.
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MEYRER, M. R. Quinze de Novembro fronteiras da (in)tolerncia:
Passo Fundo (1945-1955)
Consideraes finais
Entendemos que a rua Quinze de Novembro em Passo Fundo se mos-
trou um espao no qual diferentes fronteiras eram frequentemente ultra-
passadas e/ou confrontadas. Fronteiras sociais, de gnero, geogrficas e
culturais. Onde as fronteiras so testadas, tambm onde elas se reforam
no prprio jogo de adaptao e transformao que as mantm. Os estigmas
so reafirmados nesse embate constante entre os estabelecidos e os outsiders,
que, em ltima anlise, conforma a permanncia dos estigmas em relao
aos grupos de menor poder e prestgio social, e, nesse caso, o estigma se
mantm na atualidade em reao ao prprio espao geogrfico da rua Quinze
na cidade. Essa pesquisa , em parte, para entender essa questo.
No sou passo-fundense. Estou na cidade h poucos anos, e quando
cheguei, meu primeiro endereo foi a rua Quinze de Novembro, que, para
mim, era completamente destituda de qualquer significado alm do uso,
ou seja, local da minha residncia. Situao que comeou a mudar medi-
34
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
Referncias
ELIAS, Norbert; SCOTSON, John L. Os estabelecidos e os outsiders: sociologia
das relaes de poder a partir de uma pequena comunidade. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Ed., 2000.
HALBWACHS, Maurice. A Memria Coletiva. So Paulo: Ed. Centauro, 2004.
KANNENBERG, Vanessa; COSTA, Fernanda da. Tombamento de imveis parti-
culares acende polmica sobre o patromnio histrico do Estado. In: Clic RBS,
20/09/2013. Acesso em: 20 out. 2016.
MALUF, Marina e MOTT, Lcia. Recnditos do mundo feminino. In: NOVAES,
Fernando A.; SEVEVCENKO, Nicolau (Orgs.). Histria da Vida Privada do Bra-
sil. V. 3. So Paulo: Cia. das Letras, 2006.
29
Entrevista concedida em Passo Fundo/RS em 15/12/2015.
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MEYRER, M. R. Quinze de Novembro fronteiras da (in)tolerncia:
Passo Fundo (1945-1955)
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Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
1
Professor do Programa de Ps-Graduao em Histria da Universidade de Passo Fundo.
2
Desse amplo territrio original de Passo Fundo constituem-se atualmente mais de 100
municpios.
37
TEDESCO, J. C. Dinmicas econmicas de Passo Fundo
na primeira metade do sculo XX. Alguns apontamentos
3
ROCHE, J. A colonizao alem e o Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Globo, 1969. p. 427.
4
XAVIER e OLIVEIRA, A. Annaes do municpio de Passo Fundo. Aspecto histrico. Passo Fundo:
UPF Editora, 1990. 2 v.
5
ROCHE, 1967.
38
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
O Petracco Hotel estava situado muito prximo da gare, otimizando a sua logstica. A
partir dos anos 1950, passou a chamar-se Planeta Hotel. Fonte: Czamanski. Ilustrao
cedida pelo Sr. Beraci Porto.
39
TEDESCO, J. C. Dinmicas econmicas de Passo Fundo
na primeira metade do sculo XX. Alguns apontamentos
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TEDESCO, J. C. Dinmicas econmicas de Passo Fundo
na primeira metade do sculo XX. Alguns apontamentos
O moinho possua ramal prprio para carga e descarga de vages. Foto original de Aline
Zen da Silva
Fonte: https://www.facebook.com/FotosAntigasDePassoFundo/photos/p.907204232631444/
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Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
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TEDESCO, J. C. Dinmicas econmicas de Passo Fundo
na primeira metade do sculo XX. Alguns apontamentos
6
SCHILLING, P. O trigo. Ensaios FEE, Porto Alegre, 3 (1), p. 109-136, 1982, cit., p. 109.
7
VERZELETTI, S. C. A contribuio e a importncia das correntes migratrias no desenvolvimento de
Passo Fundo. Passo Fundo: Imperial, 1999.
8
Os moinhos de maior expresso existentes em 1950 no meio urbano de Passo Fundo eram J.
Maraschin, Busato Irmos & Cia., Moinho Dell Mea, Vva. Olvio Giavarina & Cia. Ltda.,
Moinhos Rio-Grandense, Nerglio Milan, Moinho de Joaquim Escobar.
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Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
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TEDESCO, J. C. Dinmicas econmicas de Passo Fundo
na primeira metade do sculo XX. Alguns apontamentos
9
Jornal O Nacional. Passo Fundo, 14 ago. 1958, p. 2.
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TEDESCO, J. C. Dinmicas econmicas de Passo Fundo
na primeira metade do sculo XX. Alguns apontamentos
1908 1934
Estabelecimentos n % n %
Industriais 76 22,89 514 44,39
Comerciais 140 42,17 449 38,77
Prestao de servios e autnomos 116 34,94 195 16,84
Total 332 100% 1.158 100%
Fonte: Adaptada de Xavier e Oliveira
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Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
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IBGE. Censos Econmicos de 1950 RS. Rio de Janeiro, 1956, p. 80.
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TEDESCO, J. C. Dinmicas econmicas de Passo Fundo
na primeira metade do sculo XX. Alguns apontamentos
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Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
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Ruth Schneider e as janelas do Cassino:
o dilema de olhar e ser olhado
Aline do Carmo1
Jacqueline Ahlert2
Introduo
Ruth Trelha Schneider, pintora, gravadora, desenhista, autodidata,
nasceu em Passo Fundo em 08 de maio de 1943, onde cursou o Ensino
Fundamental, posteriormente mudando-se para Porto Alegre/RS, cidade
em que permaneceu at seu falecimento no dia 23 de dezembro de 2003.
Em meados de 1970, comeou a frequentar o Atelier Livre da Prefei-
tura de Porto Alegre, estudando pintura, inicialmente com o professor Pau-
lo Porcela, pintor passo-fundense que era instrutor de pintura no atelier.
Esse local tambm oferecia palestras sobre arte e literatura com artistas
convidados do cenrio nacional e mantinha ainda uma pequena galeria de
arte. Logo aps, conheceu o professor Fernando Baril, porto-alegrense, pin-
tor e desenhista, que teve grande influncia em suas criaes estticas poste-
riores. Paralelamente aos estudos realizados na dcada de 1970, iniciou ativi-
dades docentes, integrando em 1982 o Grupo Pigmento, formado por artis-
tas interessados em dar continuidade aos estudos iniciados no curso de Baril.
Ruth Schneider explorou as temticas vinculadas representao do
ser humano. Na srie O Cassino da Maroca, notam-se vrias figuras huma-
nas, figuraes que formam uma galeria penetrante induzindo ao desvelo
da alma alheia. A artista representa os desvos da alma, por onde seus
personagens se deixam levar. Tal constatao refora a ideia de que a arte,
1
Mestre em Histria pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Professora da Faculdade de
Artes e Comunicao da Universidade de Passo Fundo (UPF). E-mail: [email protected].
2
Doutora em Histria pela Pontifcia Universidade do Rio Grande do Sul. Professora do Programa
de Ps-graduao em Histria da Universidade de Passo Fundo (UPF). E-mail: [email protected].
52
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
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CARMO, A. do; AHLERT, J. Ruth Schneider e as janelas do Cassino:
o dilema de olhar e ser olhado
seu Anto, taxista, que prestava servios de transporte para clientes do lo-
cal e para a proprietria Maroca, contavam-lhe o cotidiano de personagens
repletos de vozes e leituras que Ruth exps nas telas.
As figuras representadas por Ruth so provenientes do imaginrio
criado a partir das histrias que ouvia sobre o Cassino Palcio, depois co-
nhecido como Cassino da Maroca. O local, frequentado pela elite, expandiu-
se no contexto do contrabando de pneus, negociaes de importao-ex-
portao em que o Brasil fornecia pneus em troca de farinha de trigo trazi-
da da Argentina. Nesse vaivm de negcios, Maroca teve condies de
contratar danarinas renomadas para apresentar-se em seu palco, brasilei-
ras e argentinas, mulheres que do lado de dentro das janelas despertavam a
curiosidade, imersa na relao dicotomia de rejeio e admirao dos mo-
radores de Passo Fundo.
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Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
faz de sua arte, encontrando ainda espao para ironizar com humor e ex-
pressionismo as suas memrias.
Segundo Manguel, qualquer que seja o caso, as imagens, assim como
as palavras, so a matria de que somos feitos (2001, p. 21). Ainda confor-
me o autor,
construmos nossa narrativa por meio de ecos de outras narrativas, por meio
da iluso do autorreflexo, por meio do conhecimento tcnico e histrico,
por meio da fofoca, dos devaneios, dos preconceitos, da iluminao, dos
escrpulos, da ingenuidade, da compaixo, do engenho. Nenhuma narrativa
suscitada por uma imagem definitiva ou exclusiva, e as medidas para aferir
a sua justeza variam segundo as mesmas circunstncias que do origem
prpria narrativa (2001, p. 28).
No livro O que vemos, o que nos olha, a experincia visual vai sendo
construda a partir de duas constataes, segundo seu autor Didi-Huber-
man (1998). A primeira ideia que as imagens so ambivalentes, isso causa
inquietao no observador. A segunda constatao que o ato de ver sem-
pre abrir um vazio invencvel. O que fazer diante desse vazio que inquie-
ta? Didi-Huberman detecta duas atitudes: a do homem da crena (que quer
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CARMO, A. do; AHLERT, J. Ruth Schneider e as janelas do Cassino:
o dilema de olhar e ser olhado
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Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
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CARMO, A. do; AHLERT, J. Ruth Schneider e as janelas do Cassino:
o dilema de olhar e ser olhado
momento presente, para fazer uso de sua experincia. Deve-se salientar que
o corpo no um depsito de memrias. Sua relao com elas d-se pelo
fato de ser ele quem escolhe quais lembranas devem emergir na cons-
cincia justamente por poder conferir-lhes utilidade e sentido na ao real
em que se apresenta.
Como exposto anteriormente, existem vrios filtros de memria na
construo de personagens na srie sobre O Cassino da Maroca. O primeiro
filtro poderia ser o fato das narrativas serem recebidas/ouvidas na infncia
da pintora e reinterpretadas na vida adulta. Outro filtro relevante que as
memrias so de outras pessoas, que se transformaram em memrias dela.
Mais um filtro seria a transformao dessa memria em representao ar-
tstica e quais os significados dessas composies. Compreende-se que
vrios filtros de memria foram utilizados pela artista, como ela mesma
conta em suas anotaes:
Estes personagens que fizeram minha carreira ter sentido, como a Maroca,
mulher respeitada e temida por todos aqueles que por l passaram, no seu
Palcio Cassino. Maria Bigode, pelo seu amor, corredor de baratinha. O
cabareteiro Flres Senhoras e Senhores, o Show vai comear, em seu
tipo atltico, fazia as mulheres gemerem, mas ele gostava era dos homens.
Garoto de Ouro pelos versos improvisados de poesia nata. As mulheres
deixavam marcas de batom pelos muros da cidade com recadinhos e o nome
delas. Zica Navalha sua valentia, sua garra na defesa das amigas contra os
conquistadores importunos. Maria Preta de beleza extica, no era con-
tratada da Maroca, mas roubava sua clientela... Jussara da sociedade pas-
so-fundense, o baile s comeava quando ela chegava e atravessava o salo,
a a Orquestra tocava. Maria Barulho pela impertinncia de seguir o ra-
dialista Jarbas, os contrabandistas que fizeram de Passo Fundo seu quartel.
Rosa Bandida, etc... (SCHNEIDER in Arquivos do MAVRS).
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Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
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CARMO, A. do; AHLERT, J. Ruth Schneider e as janelas do Cassino:
o dilema de olhar e ser olhado
prdio do cassino provocava curiosidade nas pessoas que passavam por suas
redondezas, que por um motivo ou outro no podiam frequentar o requinta-
do local e ficavam apenas imaginando o que acontecia l dentro.
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Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
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CARMO, A. do; AHLERT, J. Ruth Schneider e as janelas do Cassino:
o dilema de olhar e ser olhado
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Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
(2012, p. 200), esses teriam presena dentro e fora das janelas da casa de
jogos.
De acordo com os testemunhos daqueles que o frequentavam, nas
dependncias do cassino imperavam a alegria, o prazer e a disciplina im-
postos por sua proprietria; os homens que ansiavam por um envolvimento
mais ntimo com as prostitutas, desejando transar com elas, levavam-nas
para as penses que se localizavam no seu entorno. Segundo Leopoldo
Gomes Bilhar (citado por SCHNEIDER, 1993), morador de Passo Fundo
na dcada de 1950,
ficar espionando na rua a movimentao das mulheres da vida, contratadas
ou no pelo Cassino da Maroca na Rua XV, era um grande prazer, uma
satisfao sem limites. Elas eram lindas, elegantes, andavam de carro de
praa, usavam joias raras. Estimulavam a nossa imaginao, satisfaziam
nossos desejos (SCHNEIDER, 1993).
63
CARMO, A. do; AHLERT, J. Ruth Schneider e as janelas do Cassino:
o dilema de olhar e ser olhado
64
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
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CARMO, A. do; AHLERT, J. Ruth Schneider e as janelas do Cassino:
o dilema de olhar e ser olhado
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Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
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CARMO, A. do; AHLERT, J. Ruth Schneider e as janelas do Cassino:
o dilema de olhar e ser olhado
Consideraes finais
O que se buscou neste texto foi uma anlise de um fragmento da srie
O Cassino da Maroca, elucidando, assim, como se interligava com a biografia
da artista e o conjunto de motivos artsticos usados para essas expresses.
As interpretaes foram feitas atravs de cdigos que norteiam a es-
colha e o significado do tema, a percepo da cor juntamente com o con-
tedo social e histrico da composio, do suporte e materiais utilizados.
Entendendo que o conceito para a compreenso de uma obra de arte pode
ter seus usos como uma forma de descrever as diferenas, algumas vezes
intensas, entre intenes e efeitos, entre como a mensagem divulgada (por
missionrios, pintores, governos e outros) e como recebida por um pes-
quisador com suas referncias pessoais e tericas.
Imagens so um meio atravs do qual historiadores podem recuperar
experincias passadas, contanto que eles estejam atentos complexidade
da iconografia. Para utilizar a evidncia de imagens de forma segura e efi-
caz, necessrio, como no caso de outros tipos de fontes, estar consciente
de suas fragilidades. As leituras so realizadas, invariavelmente, no presen-
te em direo ao passado. Ler uma imagem pressupe partir de valores,
problemas, ansiedades e padres de contemporaneidade do autor. Esses
fatores criam muitas possibilidades de leitura e interpretao das imagens,
sobretudo porque so testemunhas mudas, e tarefa difcil traduzir em pa-
lavras o seu testemunho.
No caso das produes de Schneider, esses aspectos tomam dimen-
ses bastante ambguas, considerando que, ao olhar do pesquisador-espec-
tador, soma-se a narrativa pessoal da artista, suas impresses e subjetivida-
des no que abrange a escolha temtico-conceitual e tcnico-lingustica de
suas obras. Quando registra: trabalhando sozinha que criei meu estilo
prprio de cores fortes, e em certos momentos usando as mos, os dedos
diretos na pintura a leo (Arquivos do MAVRS), expe mais do que esco-
lhas estticas, mas a relao visceral com a arte.
No cabe aos objetivos deste artigo esgotar as possibilidades de inter-
pretao da obra e biografia de Ruth Schneider, tampouco dar pintura
Da Janela n 13 o estatuto de testemunho histrico das relaes sociocul-
turais que permeavam a ambincia do Cassino da Maroca e da zona do mere-
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Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
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69
A zona do meretrcio na imprensa:
jornal O Nacional (1949-1955)
1
Acadmica do curso de Histria pela Universidade de Passo Fundo (UPF).
70
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
O Nacional
O perodo analisado inicia no ano de 1949, quando o jornal inaugu-
rava a campanha em favor da retirada das casas de prostbulo da rua Quin-
ze de Novembro at o momento da efetiva retirada da zona do meretrcio
do centro da cidade no ano de 1955. O jornal O Nacional iniciou suas ativi-
dades em 1925 e atualmente o jornal mais antigo da cidade de Passo
Fundo que ainda permanece em circulao. No perodo abordado, o jornal
pertencia ao jornalista e ex-deputado estadual Mcio de Castro e circulava
periodicamente de segunda-feira a sbado. Foi algumas vezes interrompi-
71
BAGGIO, B. T. A zona do meretrcio na imprensa:
jornal O Nacional (1949-1955)
do, porm nunca ficou fora de circulao por mais de um ms. No ano de 1949,
o jornal custava CR$ 0,50; j no incio de 1955, o valor era de CR$ 1,00.
As notcias eram apresentadas com textos formais, escritas de manei-
ra bastante rebuscada, no separadas claramente umas das outras (diversas
vezes, um artigo publicado na primeira pgina do jornal conclua-se na
ltima pgina). A fotografia era um recurso pouco utilizado pelo jornal. A
Figura 1 representa a nica foto de um estabelecimento situado na rua Quin-
ze de Novembro publicada pelo jornal entre os anos analisados.
72
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
2
Uma Verruga no Nariz da Cidade. O Nacional. Passo Fundo, 1949, p. 9, 10 out. de 1949.
3
Os Acontecimentos do Cassino Palcio. O Nacional, Passo fundo, 1949, p. 4, 17 fev. de 1949.
73
BAGGIO, B. T. A zona do meretrcio na imprensa:
jornal O Nacional (1949-1955)
4
VANDALICO PATRULHAMENTO! O Nacional, Passo Fundo, 1949, p. 4, 15 mar. de 1949.
5
BOCA FECHADA SINO CADEIA! O Nacional, Passo Fundo, 1949, p. 4, 14 mar. de 1949.
6
A polcia est carregando no clo! O Dirio da Manh. Passo Fundo, 1949, p. 4, mar. de 1949.
7
A pesquisa sobre a zona do meretrcio na imprensa faz parte de um projeto maior intitulado
Quinze de Novembro: fronteiras da (in)tolerncia. Realizado pelo Laboratrio de Memria
Oral e Imagem (LAMOI), o projeto fez uso de fontes diversas (imprensa, bibliografia, memria
oral e imagem) a fim de (re)conhecer a memria oral da rua na cidade de Passo Fundo. Os
resultados do projeto foram divulgados por meio de variados recursos (livro, rdio,
documentrio).
74
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
8
FREITAG, Jaime. Quinze de Novembro: fronteiras da (in)tolerncia. [depoimento 23 nov de
2015]. Passo Fundo: Entrevista concedida a Marlise R. Meyrer.
9
PINHEIRO, Wilson Nascimento. Wilson Nascimento Pinheiro. Quinze de Novembro: fronteiras
da (in)tolerncia. [depoimento 23 nov de 2015]. Passo Fundo: Entrevista concedida a Marlise
R. Meyrer.
75
BAGGIO, B. T. A zona do meretrcio na imprensa:
jornal O Nacional (1949-1955)
76
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
10
O que o povo reclama: Alastram-se os <rendez vous> na cidade. O Nacional, Passo Fundo,
1951, p. 2, 20 mar. de 1951.
11
O que o povo reclama: Meretrcio nas Vilas Schell e Luiza. O Nacional, Passo Fundo, 1949, p.
2, 12 jan. de 1951.
77
BAGGIO, B. T. A zona do meretrcio na imprensa:
jornal O Nacional (1949-1955)
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Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
12
Ocorrncias Policiais. O Nacional, Passo Fundo, 1951, p. 4, 25 jan. de 1951 .
13
Quiz degolar a amante com uma lamina de gilete! Foi impedido por feliz interveno do Sr.
Albino Michelleto. O Nacional, Passo Fundo, 1952, p. 4, 24 maro de 1952 .
79
BAGGIO, B. T. A zona do meretrcio na imprensa:
jornal O Nacional (1949-1955)
As charges
As charges abordaram a zona do meretrcio na capa do jornal O Na-
cional diversas vezes ao longo do perodo analisado. Da mesma forma que a
imprensa se constitui em uma fonte relativamente nova para os historiado-
res, as charges nem sempre tiveram grande importncia para a historio-
grafia, pois durante muito tempo elas eram consideradas como um elemen-
to ilustrativo, no fundamental para a explicao da histria (MACDO;
SOUZA, p. 1). Foi com a Nova Histria que as potencialidades das charges
para a historiografia foram evidenciadas, pois ela resume situaes polti-
cas que a sociedade vive como problemas e os re-cria com os recursos gr-
ficos que lhe so prprios (TEIXEIRA, 2005, p. 73 in GAWRYSZEWSKI,
2008, p. 6).
Sendo assim, a produo de uma charge est necessariamente vin-
culada ao contexto scio-histrico imediato e, portanto, apresenta elemen-
tos concretos para anlise do seu respectivo tempo histrico (MACDO;
SOUZA, p. 4). As charges abaixo demonstram algumas questes ligadas
zona do meretrcio, representadas pelo jornal O Nacional. No caso de Hero-
des, as charges foram frequentemente usadas para criticar a Patrulha da
Madrugada.
80
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
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BAGGIO, B. T. A zona do meretrcio na imprensa:
jornal O Nacional (1949-1955)
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jornal O Nacional (1949-1955)
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85
BAGGIO, B. T. A zona do meretrcio na imprensa:
jornal O Nacional (1949-1955)
14
Represso aos escndalos e IMORALIDADE. O Nacional, Passo Fundo, 1955, p. 4, 03 fev.
de 1955.
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Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
15
A Localizao do Meretrcio. O Nacional, Passo Fundo, 1955, p. 4, 10 fev. de 1955.
87
BAGGIO, B. T. A zona do meretrcio na imprensa:
jornal O Nacional (1949-1955)
16
DUARTE, Antonio Augusto Meirelles. A Zona do Meretrcio na Imprensa: depoimento. [18 de
Janeiro de 2016]. Passo Fundo: Entrevista concedida a Marlise Meyrer.
17
DREHER, Maria Teresa de. A Zona do Meretrcio na Imprensa: depoimento [15 de janeiro de
2016]. Passo Fundo: Entrevista concedida a Marlise Meyrer.
18
Compete policia a vigilncia sobre a prtica do lenocnio. O Nacional. Passo Fundo, 1955, p.
2, 15 fev. de 1955.
88
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
Concluso
A zona do meretrcio, apesar de ter sido um espao margem, era
tambm frequentada pela alta sociedade, porm medida que representava
um obstculo aos interesses dessa mesma sociedade e ao progresso urbans-
tico, as meretrizes tiveram que se retirar. Esses interesses foram representa-
dos pelo O Nacional na campanha de retirada.
A fonte jornalstica no presente trabalho foi de suma importncia,
tendo em vista que os processos judiciais e documentos oficiais relaciona-
dos rua Quinze de Novembro nas primeiras dcadas do sculo XX so de
89
BAGGIO, B. T. A zona do meretrcio na imprensa:
jornal O Nacional (1949-1955)
Referncias
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19
Uma Verruga no Nariz da Cidade. O Nacional. Passo Fundo, 1949, p. 9, 10 out. de 1949.
20
HAHISI, Maria Teresa. A Zona do Meretrcio na imprensa: depoimento [23 nov. de 2015]. Passo
Fundo: Entrevista concedida a Marlise Meyrer.
90
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
91
Rua Quinze de Novembro, um
enquadramento fotogrfico fantasma
1
Mestranda do Programa de Ps-Graduao em Histria da Universidade de Passo Fundo,
fotgrafa e professora.
2
DARIENZO, Aniello. Documentrio audiovisual Rua XV de Novembro Fronteiras da
Intolerncia. Entrevista concedida para Marlise Meyrer, 2016.
3
TOGLIO, Erno. Documentrio audiovisual Rua XV de Novembro Fronteiras da Intolerncia.
Entrevista concedida para Marlise Meyrer, 2016.
4
RIBEIRO, Carmem. Documentrio audiovisual Rua XV de Novembro Fronteiras da
Intolerncia. Entrevista concedida para Marlise Meyrer, 2016.
92
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
93
SILVA, F. B. da Rua Quinze de Novembro, um enquadramento fotogrfico fantasma
94
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
nado assunto. Ainda assim, para alm da procedncia do pedido, ele vai
registrar o espao que foi constitudo/ocupado pelo homem. Esse espao
uma construo social/econmica/poltica, imbricada com a condio
geogrfica do espao fsico, no qual a urbe vai sendo estabelecida e, a partir
da circularidade temporal e da dinmica das relaes sociais, formada em
espaos pblicos e privados. Estabelecimentos entre ruas, quadras, comr-
cio, residncias, edificaes, monumentos fazem parte do conjunto de rela-
es entre pessoas fsicas e jurdicas (VISCARDI, 2010). Para tanto, ao
registrar a cidade, o fotgrafo vai registrar uma sequncia de pocas dos
fenmenos polticos, econmicos, sociais, estabelecidos ali.
Os atores sociais polticos, comerciantes, servidores pblicos, parti-
culares, professores, moradores, etc. adquirem uma relao muito prxi-
ma com a cidade em que vivem. Positiva ou negativa, essa relao com a
cidade torna os indivduos parte da cidade. Assim, os espaos tornam-se
importantes no cotidiano dos atores na urbe, como curso espacial de suas
prprias vivncias e consequentemente de suas prprias histrias. Essas re-
laes entre as pessoas, com os bairros, trabalhos, com o centro da cidade,
atravs da convivncia distante e/ou aproximada entre os residentes na ci-
dade ou no, podem gerar informaes sobre as experincias e leituras do
urbano, tanto individual como coletivamente, para uma possvel memria
urbana, como explica Ortegosa:
Um dos aspectos fundamentais na vida de uma cidade, portanto, o
conjunto de recordaes que dela emergem: a memria urbana a realida-
de que marca nossa prpria fugacidade na histria, ao mesmo tempo em
que anuncia a possibilidade de transcendermos nossa temporalidade indi-
vidual (http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.112/30
Sandra Mara Ortegosa, acessado em 27/01/2016).
Quais as regies da cidade que permaneceram representando a efgie
da urbe nas dcadas de 1930, 1940, 1950? Quais sero as imagens que fo-
ram includas no enquadramento fotogrfico e permanecem no que pode-
mos considerar o imaginrio/memria de Passo Fundo?
As imagens que sero apresentadas foram escolhidas por pertencer
s regies que aparecem com mais incidncia nas fontes pesquisadas, nos
acervos pblicos e particulares de fotografias e nas publicaes de peri-
dicos.
95
SILVA, F. B. da Rua Quinze de Novembro, um enquadramento fotogrfico fantasma
A imagem foi tirada da rua Teixeira Soares sentido centro. No lado direito da imagem est o
prdio que seria a Intendncia Municipal; no centro da foto, o Prefeito Coronel Arthur Ferreira
Filho. Fonte: Passo Fundo Memria e Fotografia, p. 29. Autor: Foto Moderna. Ano: 1940
96
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
Figura 02: Fotografia da avenida Brasil com a esquina da rua General Netto
97
SILVA, F. B. da Rua Quinze de Novembro, um enquadramento fotogrfico fantasma
Assim a rua General Netto tornou-se importante, pois era a rua que
ligava a estao frrea principal avenida da cidade, a avenida Brasil, tra-
zendo toda a movimentao de moradores, visitantes e homens de negcio
para essa regio. Tal era a importncia da rua, que o cemitrio, entre a atual
rua Independncia e a rua General Netto, fora retirado do local e transferi-
do para outra regio (KNACK, 2013). Mais tarde, em 1940, o local tornou-
se a rodoviria. Assim, juntamente com o desenvolvimento econmico e
cultural da cidade, em 1910 foi demarcada a quadra da praa da Repblica,
cujo nome, a partir de 1913, passa a ser praa Marechal Floriano (MIRAN-
DA; MACHADO, 2011).
Nesse contexto, tardiamente chegaria a Belle poque5 passo-funden-
se. A praa comea a ter a fisionomia de um espao de convivncia entre os
moradores e pessoas que chegavam cidade, ganhando ajardinamento,
bancos e passeios. Os cafs, cinemas, clubes e hotis comeam a estabele-
cer-se nos arredores dela nas dcadas seguintes.
[...] a cidade encontrou a modernidade: as ruas se iluminaram com a substi-
tuio dos lampies a querosene por lmpadas eltricas; a rede telefnica en-
curtou distncias; a instalao do primeiro banco agilizou o comrcio; o pri-
meiro cinema encantou os habitantes (MIRANDA; MENDES, 2011, p. 22).
1
A Belle poque foi um movimento/desenvolvimento cultural, artstico e social na Frana no
incio do sculo XX.
2
Esse enquadramento, praticamente do mesmo ngulo, repetido. No livro Passo Fundo
Memria e Fotografia, aparece uma imagem de 1942.
98
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
Praa Marechal Floriano, tirada do canteiro central da rua General Netto. Ao fundo v-se
o Banco da Provncia, na esquina das ruas Moron e Bento Gonalves. Fonte: Passo Fun-
do: Presentes da Memria, p. 16-17. Autor: Foto Moderna. Ano: 1940
Ao fundo, a rua Bento Gonalves. V-se o prdio do Clube Caixeiral. Fonte: Acervo Mu-
seu Histrico Regional. Autor: Foto Moderna. Ano: 1942
99
SILVA, F. B. da Rua Quinze de Novembro, um enquadramento fotogrfico fantasma
Outra rua importante ao redor da praa foi a Morom. Essa via rece-
beu o primeiro calamento da cidade em 1925, antes mesmo da avenida
Brasil receber tal cobertura. A foto de 1940 (Figura 06) ilustra um fragmen-
to de suas edificaes, e a pavimentao tambm foi capa de livro.
Fotografia reproduzida em livro. Fonte: Passo Fundo: Memria e Fotografia, p. 42. Autor:
Foto Moderna. Ano: 1940
100
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
Desfile cvico ocorrido na praa Marechal Floriano rua General Netto. A catedral estava
sendo construda. Autor: Foto Moderna Armando Czamanski. Fonte: Projeto Passo Fun-
do. Ano da foto: dcada de 1940. Acesso em: 31/07/2016
101
SILVA, F. B. da Rua Quinze de Novembro, um enquadramento fotogrfico fantasma
Imagem reproduzida em livro. Fonte: Passo Fundo: Memria e Fotografia, p. 60. Autor:
Desconhecido. Ano: 1948
Fotografia da esquina da rua General Netto com a rua Independncia; ao fundo, a cate-
dral. Fonte: Plano Diretor, 1953, p. 19. Autor da foto Nestor Nadruz. Ano: 1952/53
102
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
Figura 09: Mapa da regio central da cidade. Mostra a rua Quinze de No-
vembro, a praa, a avenida Brasil, a antiga ferrovia em verde
103
SILVA, F. B. da Rua Quinze de Novembro, um enquadramento fotogrfico fantasma
7
DUARTE, Meirelles. Documentrio audiovisual Rua XV de Novembro Fronteiras da
Intolerncia. Entrevista concedida para Marlise Meyrer, 2016.
104
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
8
PINHEIRO, Wilson. Documentrio audiovisual Rua XV de Novembro Fronteiras da
Intolerncia. Entrevista concedida para Marlise Meyrer, 2016.
9
DARIENZO, Aniello. Documentrio audiovisual Rua XV de Novembro Fronteiras da
Intolerncia. Entrevista concedida para Marlise Meyrer, 2015
10
TROGLIO, Enes. Documentrio audiovisual Rua XV de Novembro Fronteiras da
Intolerncia. Entrevista concedida para Marlise Meyrer, 2015.
105
SILVA, F. B. da Rua Quinze de Novembro, um enquadramento fotogrfico fantasma
A avenida Brasil, alm de constituir uma das geratrizes, a nica via predo-
minante e caracterizada por uma maior largura, a ligao entre a avenida
Brasil e estao ferroviria (avenida Gal. Netto). A avenida Brasil, alm de
constituir uma das geratrizes do traado, assumiu, atravs dos tempos, mar-
cante importncia no acervo material e, principalmente, sentimental dos
passo-fundenses (2000, Plano Diretor Ano de 1953, p. 30).
Pela citao fica claro que a regio da praa Marechal Floriano era o
centro religioso e urbano da cidade, tendo delimitado a localizao do co-
mrcio atacadista dessa regio. Ressalta-se tambm que a ferrovia foi im-
portante para a circulao de pessoas, j que era ligada pela rua General
Netto catedral e avenida Brasil.
A figura 08 se faz presente no Plano Diretor de 1953. A legenda ori-
ginal da imagem construes modernas no centro urbano; tal moderni-
dade refere-se catedral, j que o prdio de maior destaque na fotografia.
Essa mesma legenda tambm faz referncia a construes localizadas na
rua Morom. At aqui as referncias do plano coincidem com as imagens
que mostramos anteriormente por situar-se cronologicamente at a dcada
de 1950, ilustrando o quo importantes eram os estabelecimentos que se
fixaram nessas regies.
No Plano Diretor, alm das citaes referentes a moradias precrias,
ainda remanescentes do incio do processo de urbanizao a partir da ave-
nida Brasil, so elencadas as vrias partes da cidade com casas insalubres e
indicadas as principais concentraes das mesmas. Nesse sentido, a primei-
106
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
11
Plano Diretor Ano de 1953, 2000, p. 34.
12
RIBEIRO, Maria. Documentrio audiovisual Rua XV de Novembro Fronteiras da
Intolerncia. Entrevista concedida para Marlise Meyrer, 2016.
107
SILVA, F. B. da Rua Quinze de Novembro, um enquadramento fotogrfico fantasma
108
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
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SILVA, F. B. da Rua Quinze de Novembro, um enquadramento fotogrfico fantasma
112
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
Resenha:
Prazer Marginal e Poltica Alternativa:
a zona do meretrcio em Passo Fundo
(1939-1945)1
Luciane Maldaner2
1
Dissertao de Mestrado defendida no ano de 2003 por Mrcia do Nascimento ao Programa
de Ps-Graduao em Histria da Universidade de Passo Fundo.
2
Acadmica do VII nvel do curso de graduao em Histria pela Universidade de Passo Fundo.
3
Mestre em Histria pela Universidade de Passo Fundo.
113
MALDANER, L. Resenha: Prazer Marginal e Poltica Alternativa:
a zona do meretrcio em Passo Fundo (1939-1945)
114
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
115
MALDANER, L. Resenha: Prazer Marginal e Poltica Alternativa:
a zona do meretrcio em Passo Fundo (1939-1945)
116
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
sua frente Isaldina Rodrigues, vulga Maroca (p. 29), que tornou seu cassi-
no conhecido na regio, como um local de glamour, jogatinas, mulheres
bonitas e msica boa.
A autora encerra sua dissertao de Mestrado analisando minuciosa-
mente os processos-crimes que envolviam a zona do meretrcio em Passo
Fundo, encontrados na primeira delegacia de polcia de Passo Fundo e no
Arquivo Pblico de Porto Alegre. Percebemos por meio desses a violncia
presente nesse espao alternativo, desde agresses verbais at fsicas, que se
caracterizam em sua maioria (p. 133).
A autora levanta outras tantas questes importantes ao longo de trs
captulos, cada qual composto por cinco itens. No primeiro, ela discute so-
bre a questo da caracterizao da prostituta dentro da moral burguesa; no
segundo captulo, triunfa a relao entre o local, nacional e internacional;
no terceiro captulo, a autora amarra a discusso inicial (discutindo os es-
paos) e levanta outros fatores que influenciam a construo da pesquisa
so eles a figura do malandro, a questo do contrabando e os agitos e
crimes na zona. No geral, o trabalho tem o mrito de tratar de um tema
at ento inexplorado de forma acadmica, embora relevante na histria e
memria de Passo Fundo. A dissertao possui um bom embasamento
terico, o que possibilita o maior aprofundamento do tema.
Referncia
NASCIMENTO, Mrcia. Prazer Marginal e Poltica Alternativa: a zona do me-
retrcio em Passo Fundo (1939-1945). 2003. Dissertao (Mestrado em Histria)
Instituto de Filosofia e Cincias Humanas. Passo Fundo: Universidade de Passo
Fundo, 2003.
117
Glossrio
Histria e fotografia
1
Doutora em Histria PPGH/PUCRS. Bolsista PNPD-Capes junto ao PPGH/PUCRS.
118
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
119
Histria e imagem
Jacqueline Ahlert1
1
Doutora em Histria PPGH/ PUCRS. Professoa do Programa de Ps-Graduao em Histria
da Universidade de Passo Fundo/RS.
2
O termo indcios no lugar de fontes foi sugerido pelo historiador holands Gustaaf Renier
e apropriado por Peter Burke. Cf. BURKE, Peter. Testemunha ocular: histria e imagem. Bauru,
SP: EDUSC, 2004. Carlo Ginzburg, em Mitos, emblemas e sinais (1989), tambm utiliza o termo.
120
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
121
AHLERT, J. Histria e imagem
3
Na perspectiva da histria social da arte, a arte a expresso de uma viso de mundo condiciona-
da socialmente; o indivduo e a sociedade so histrica e sistematicamente inseparveis; os
artistas so, como as outras pessoas de sua poca, seres sociais, produtos e produtores da socieda-
de, de modo que a transformao dos estilos (ou das formas) considerada um evento histo-
ricamente concreto, situado em sua relao com as estruturas sociais de uma determinada
sociedade. Assim, o homem cria-se na sua histria medida que confere um carter de valor s
realizaes que satisfazem suas necessidades. As expresses artsticas, nascidas das solicita-
es da vida prtica, correspondem a realidades histricas.
No entanto, deve-se considerar as problemticas levantadas por Ernst Gombrich; para ele, as
artes visuais no so, a rigor, nem sintoma nem reflexo de um eixo cultural qualquer ou
seja, no se poderia deduzir as propriedades formais de uma imagem artstica a partir da histria
das ideias, como em Erwin Panofsky, ou da ideologia, como em Arnold Hauser, pois a ideia de
homogeneidade ou de totalidade cultural falaciosa (cf. BURKE, 2004).
122
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
4
As representaes coletivas e simblicas encontram na existncia de representantes, individuais
ou coletivos, concretos ou abstratos, as garantias da sua estabilidade e da sua continuidade.
Chartier ressalta a validade dessa contestao para as criaes estticas, sempre inscritas nas
heranas e nas referncias que as tornam concebveis, comunicveis e compreensveis, e para
todas as prticas vulgares, disseminadas, silenciosas, que invadem o cotidiano (CHARTIER,
2006, p. 39).
123
AHLERT, J. Histria e imagem
Referncias
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124
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
Histria Oral
1
Doutora em Histria PPGH PUCRS. Professora do PPGH Universidade de Passo Fundo.
125
MEYRER, M. R. Histria Oral
seja, uma realidade comungada por todo o grupo social, adquirindo dessa
forma um significado coletivo. A articulao entre as narrativas individuais
possibilita-nos vislumbrar a perspectiva histrica do grupo, ou seja, um mes-
mo olhar do presente sobre o passado, revelando reflexes sobre si e a hist-
ria do grupo, enfatizando o carter reflexivo dos processos de memria,
que nos remete ideia de identidade. As histrias de vida assim acabam
por criar uma identidade entre as pessoas, na medida em que partilham
diferentes estratgias e saberes diante de uma mesma realidade.
Ligada, em geral, Histria do Tempo Presente ou Histria Imedia-
ta, a Histria Oral parte do presente para um melhor entendimento do pas-
sado, na medida em que as testemunhas so interpeladas a narrar suas re-
cordaes. Decorre desse processo a possibilidade de perceber o carter
seletivo da memria, valorizando, assim, a subjetividade dos relatos e no
uma verdade preestabelecida. Entende-se que [...] mais relevante do que
aferir se so relatos verossmeis sobre o passado ou o presente de uma cida-
de de mdio porte no sul do Brasil entend-las como portadoras de esque-
mas subjetivos que carregam consigo sentimentos de pertencimento em re-
lao ao viver o urbano [...] (COELHO; SOSSAI, 2014, p. 15). Essa acei-
tao dos testemunhos diretos e da subjetividade fez com que as crticas
sobre a falta de veracidade se tornassem uma fonte adicional de pesquisa
(FERREIRA, 2002).
Entretanto existem muitos questionamentos sobre a utilizao da
Histria Oral, especialmente no que diz respeito sua carga de subjetividade.
Nesse sentido, os relatos devem ser analisados luz de referncias bibliogr-
ficas sobre o contexto em questo, pois concordamos com Janoti (2010)
quando ela aponta para a necessidade de recorrer a fontes mltiplas, lem-
brando que o testemunho do depoente no apenas um relato do que viu e
ouviu, mas uma construo de um determinado discurso sobre o fato. Alm
disso, a autora chama a ateno para a necessidade metodolgica de levar
em considerao os objetivos do entrevistador, nesse caso o historiador,
que domina todo um aparato terico que orienta a entrevista e influenciar
a construo do discurso.
Lembramos ainda que a fonte oral deve ser confrontada com outras
fontes, no como complemento, mas como possibilidade de diferentes in-
formaes e vises sobre o objeto pesquisado, pois no existe uma hierar-
126
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
Referncias
ALBERTI, Verena. Ouvir, contar: textos em Histria Oral. Rio de Janeiro: Edito-
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JANOTTI, Maria de Lurdes M. A incorporao do testemunho oral na escrita
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2010.
127
MEYRER, M. R. Histria Oral
128
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
Identidade
129
NEUMANN, R. M. Identidade
130
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
131
NEUMANN, R. M. Identidade
Referncias
BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Ed., 2005.
132
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
133
Memria
1
Doutor em Cincias Sociais UNICAMP. Professor do Progama de Ps-Graduao em Hist-
ria da Universidade de Passo Fundo.
134
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
algo fixo; , sim, flexvel; atua sendo movido por mltiplas implicaes do
tempo, dos sujeitos e de outras contingncias.
A memria expressa a faculdade humana de acessar o passado, de
reter o ausente e presentific-lo quando convm. As formas de reteno do
passado expressam as mltiplas estratgias do presente. Por isso a memria
no isenta de intencionalidades e significados. Ela tem a faculdade de
lembrar e de esquecer; tanto um como o outro, na perspectiva histrica,
poltica, religiosa, dentre outras esferas sociais, passam pelo crivo das signi-
ficaes e vividos, os quais fazem as pontes entre o passado e o presente,
bem como selecionam, estimulam e mantm ativo o passado, presentifi-
cando-o.
Por isso devemos entender a memria como um horizonte dinmico,
de atualidade e atualizao, de transformao do presente pelo passado e
do passado pelo presente; reelaborao. Memria e tempo interpenetram-
se; a primeira continua, em ltima instncia, a guardi do que se imagina e
acredita efetivamente tenha ocorrido no tempo. Porm ambos no so pu-
ras reminiscncias, nem puro registro e nem muito menos possibilidade de
reconstituio tal e qual, pois h interferncias, condicionamentos e inte-
resses em jogo no ato da recordao, assim como nos processos deliberados
de esquecimento.
A memria imbrica-se com a Histria; ambas, mesmo que se descon-
fiem, podem nutrir-se. O presente da memria depende, em muito, da His-
tria; essa ltima que tem a tarefa de apreender (e prender) o acontecido
no presente e no passado e tambm garantir de uma forma ou de outra,
atravs da escrita, dos registros, documentos, oralidades, objetualidades,
ilustraes, homenagens, comemoraes, festejos, saberes, etc., o futuro
desse passado. Tanto a Histria como a memria, ao reconstituir e se servir
do passado, podem manipul-lo e us-lo de mltiplas formas.
Tanto na vida social como individual, necessitamos da continuidade
e da descontinuidade, de lembranas e de esquecimentos, de elaborao e
de seleo do que o tempo se encarregou de deixar atrs de si e do que
insiste que ande com ele amanh. Por isso imagens, smbolos, representa-
es do passado, horizontes construdos e transmitidos por vrios meios
fazem parte da memria, do presente e do passado com inteno de conti-
nuidade.
135
TEDESCO, J. C. Memria
136
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
Referncias
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137
Zona do meretrcio
1
Doutor em Histria Unisinos. Professor do Programa de Ps-Graduao em Desenvolvi-
mento Regional (PPGDR) das Faculdades Integradas de Taquara (FACCAT).
138
Quinze de Novembro Fronteiras da (in)tolerncia: Passo Fundo (1945-1955)
digos de postura e pela moral, imposta pela tradio e pela cultura moral de
cada poca. Para May Del Priore (2011, p. 84), o bordel era o espao onde
era possvel quebrar os preceitos morais que moldavam a sociedade e, ao
mesmo tempo, permitiam o deboche como espetculo e o prazer como ef-
mero e pago. As casas de prostituio, localizadas na zona do meretrcio,
representavam ainda uma espcie de teatro, onde a transgresso protegida e
controlada se tornava um espetculo. Dentro do meretrcio, havia ainda uma
hierarquia, que aponta para diferentes posies hierrquicas, que classifica-
vam as casas e as prestadoras dos servios sexuais. Nesse sentido, categorias
como a condio social e a identidade tnica serviam para definir o pblico
frequentador e at mesmo a seleo das moas contratadas para trabalhar.
Outro aspecto que deve ser mencionado na caracterizao dos meretrcios
aquele que aponta a prostituio, os bordis e o conjunto que constitui os
entornos do meretrcio, enquanto representao da sexualidade, como uma
fora animal que ameaava transbordar os limites estabelecidos pelas regras
da civilizao (RAGO, 2008, p. 133). Nesse espao, a figura da mulher era
vista no cenrio urbano como um elemento que causava desconforto, seja
por sua condio de prostituta, de trabalhadora ou pelas roupas consideradas
imprprias para sua poca. Dessa forma, a sexualidade feminina causava
medo, mas ao mesmo tempo forte atrao. O mesmo espao que no passado
fora alvo de condenao moral e de inmeras tentativas de torn-lo invisvel
na cidade, na atualidade toma uma nova dimenso. Atravs da patrimoniali-
zao dos bens culturais da cidade, a zona, como era popularmente conheci-
da, passa a ser compreendida como um lugar dotado de memria e historici-
dade, que permite percorrer parte do passado ainda pouco conhecido das
sociedades, em especial no que se refere s particularidades que constituem a
histria regional do Brasil.
139
GEVEHR, D. L. Zona do meretrcio
140