O Guia Definitivo para Escritores de Historias

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O GUIA DEFINITIVO PARA O ESCRITOR DE HISTRIAS

pag. 1

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pag. 2

AVISO LEGAL
Esta primeira verso foi escrita em maro de 2017, fruto da
minha experincia enquanto escritor, professor e estudante de
escrita. O Guia Definitivo Para o Escritor de Histrias est sendo
distribudo de forma gratuita, mas peo que no altere ou extraia
partes deste material para que seja distribudo de outras formas.
O download pode ser feito na minha pgina oficinal.
(www.lucasarantes.com.br)

Caso goste do livro, recomende que seus amigos faam o


download atravs do meu website, por favor! Quando terminar
de ler o livro, por favor me envie a sua opinio dizendo o que
achou. A sua opinio extremamente importante para que eu
possa aprimorar cada vez mais o meu trabalho :)

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CAPTULO 1: COMO NO ESCREVER HISTRIA INGNUAS?


NDICE CAPTULO
CAPTULO
2: COMO FUGIR DE ASSUNTOS IRRELEVANTE?
3: PARA COMEAR A JORNADA
CAPTULO 4: A ESCRITA UMA HABILIDADE DESENVOLVIDA
CAPTULO 5: A CRIAO DO CONFLITO
CAPTULO 6: MENTES PARAQUEDAS
CAPTULO 7: LEITORES ANJOS
CAPTULO 8: UMA NOVA LNGUA
CAPTULO 9: DOZE MANEIRAS PARA COMEAR UMA CENA
CAPTULO 10: AO DRAMTICA
CAPTULO 11: DESMEDIDA
CAPTULO 12: COMPLEXO
CAPTULO 13: OBJETIVOS
CAPTULO 14: CENRIOS DE TRANSIO
CAPTULO 15: DO PRANTO AO RISO
CAPTULO 16: OPOSTOS
CAPTULO 17: ENCONTRE A SUA PRPRIA VOZ,
O SEU PRPRIO ESTILO
CAPTULO 18: PONTO DE VISTA ORIGINAL
CAPTULO 19: UM POUCO SOBRE ESTRUTURA
CAPTULO 20: PACINCIA
CAPTULO 21: TEMA
CAPTULO 22: ENREDO
CAPTULO 23: OS 4 TIPOS ESTRUTURAIS DE PERSONAGENS
CAPTULO 24: OS 4 TIPOS PSICOLGICOS DE PERSONAGENS
CAPTULO 25: OS 3 NARRADORES
CAPTULO 26: O TEMPO
CAPTULO 27: CENRIO
CAPTULO 28: DILOGO
CAPTULO 29: AS BONECAS RUSSAS
CAPTULO 30: REVELAO
CAPTULO 31: PALAVRAS IMAGENS
CAPTULO 32 : A PROVOCAO DO MISTRIO PELAS LACUNAS
CAPTULO 33: TEORIA DA ANUNCIAO
OU FALSO ACONTECIMENTO
CAPTULO 34: SIMPATIA x EMPATIVA
CAPTULO 35: A JORNADA DO HERI
CAPTULO 36: 16 FERRAMENTAS PARA A
ESCRITA DE ROTEIROS E PEAS DE TEATRO
CAPTULO 37: PIRMIDE INVERTIDA
CAPTULO 38: SONHE GRANDE
CAPTULO 39: CRIE UM AMBIENTE DE IMERSO
CAPTULO 40: CONSIDERAES FINAIS

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APRESENTAO
A literatura sempre foi o foco de ateno da minha vida. Aos 3 anos de
idade, perdi o meu pai em um acidente de automvel. Nunca o conheci,
apesar de ter vivido com ele na mesma casa durante os meus 3 primeiros
anos. Minha memria comeou a surgir a partir deste momento, quando
ele j no estava por perto. Enquanto crescia na Ribeiro Preto da dcada
de 90, sem internet (conseguem imagina o mundo sem internet?) os livros
do meu pai comearam a ocupar a minha vida, assim como as redes sociais
ocupam a vida de hoje. Os filmes de sua locadora tambm ocuparam uma
parte da minha semana, assim como o Netflix tambm o faz. Leitor voraz,
a herana do meu pai foi quem eu sou hoje, pois vieram dos livros que eu
li dele.

Quando visitava a casa de algum amigo de infncia, sempre desacreditava,


incrdulo, quando os livros mais antigos da casa eram dos avs deles e no
dos pais. Quando havia livros eram aqueles antigos mesmo, vendidos para
decorao, ou os livros tcnicos de algum assunto. Nos fundos da minha
casa, onde o meu pai tinha o seu estdio de bateria, pilhas de livros se
espremiam na estante e no cho. Livros de literatura. Meu pai no escrevia
livros. Ele era msico. Mas ele grifava as frases dos livros que lia. E, para
mim, era como se ele estivesse dialogando comigo. Este foi o meu principal
dilogo paterno.

Aos poucos, fui crescendo e estranhando que o mundo acolhia as pulses


literrios com aquele sentimento de qu gracinha. No era isso que eu
lia nos livros. Encontrava ensinamentos profundos em Herman Hesse,
Krishnamurti, Carlos Castaneda, Knut Hassun, George Orwell, Plnio Marcos,
Aldous Huxley, entre outros. Encontrava as tragdias do teatro grego e me
transformava junto com as personagens de Sfocles, squilo e Eurpedes.
Percebi, desde cedo, que literatura no prazer, conflito.

Quando li em As Pequenas Alegrias, de Herman Hesse, que o importante


desfrutar a vida com comedimento, j que prazer comedido prazer
dobrado, achei bonito, mas me deparei com um mundo que mostrava
ser totalmente o reverso disso, loteado deste conflitos. Foi preciso muito
aprendizado, estudo, pacincia, investimento e dedicao para remover as

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pedras do caminho, na arte e na vida, neste mundo com muita informao


mas pouca clareza, para poder apresentar este livro hoje voc.

O resultado est aqui. Depois de uma trajetria como escritor e professor


de escrita, sabendo que a literatura no para se adequar ao mundo, mas
para construir um mundo prprio, em contraposio a realidade bruta como
ela , preparei este material para que possa orientar o seu processo de
escrita, improvisao ou ensino.

Por mais fora de uso que esteja a palavra professor hoje, eu gosto da palavra.
Ela representa o que aprendi na minha formao de psicanlise que a
palavra Continente. Professor aquele que contm o outro e o transforma

Contei um pouco da minha histria justamente para voc pensar no seu


incio at aqui e te ajudar a descobrir a sua inclinao literria. O que te
move a contar histria? Que tipo de escritor voc deseja ser? Para quem? O
que vai fazer a partir de agora para conquistar isso?

Eu gostaria de te pedir desesperadamente: tenha urgncia, mas no pressa,


se voc deseja se transformar em um grande contador de histrias. Voc
no precisa criar muitas histrias para se tornar grande, nem escrever
todos os dias. Muitas vezes, uma nica histria bem contada, pode marcar
uma gerao inteira Por isso, aposte nas suas histrias. Assim como
impossvel sabermos o que iremos sonhar hoje noite e com que esprito,
ento, iremos acordar amanh cedo, impossvel saber a prxima histria
que podemos criar enquanto mantivermos as ferramentas afiadas e a
fora que estas histrias podem ter no esprito do outro. Por isso, mostre
o seu melhor todos os dias. Se supere. Aprenda a fugir da literatura que
te deixa com vontade de dormir. Afie o seu machado enquanto no estiver
escrevendo. E mergulhe, depois, com muito mais recurso para chegar at
o fim do qu voc espera contar no final. Somos o que recordamos de ns
mesmos. Por isso fundamental planejarmos e construmos boas histrias
comeando agora.

Espero que este livro possa te ajudar a enfrentar a selva escura que voc se
encontra nas suas histrias e fazer com que voc saia de onde esteja e chegue
at onde queira ir, finalizando a sua jornada com uma nova criao consigo.

A escrita se inscreve no tempo. preciso comear agora, pois amanh

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o tempo continua o mesmo, mas ns envelheceremos um dia. O escritor


lapida em pedras. Ele congela no tempo o seu estado e se enxerga nas
histrias como um escultor ou pintor se enxerga naquilo que cria.

Acredito que o primeiro passo para se tornar um escritor se considerando


um. Sei que para algumas pessoas difcil ou at clich fazer isso. Ou por
se sentirem envergonhadas ou despreparadas. O fato que voc precisa
se considerar um escritor para poder escrever, estudar e analisar o mundo
por este peculiar ponto de vista da literatura. Ento, independente do que
esteja fazendo agora fale para si prprio: eu sou um escritor. Fale at
que voc mesmo possa ouvir (as palavras tm poder e voc j deve saber
disso). Pode falar, sussurrar ou gritar. Isso, agora diga de novo. Desta ltima
vez, se quiser acrescentar um palavro no fim da frase, fique vontade :)

Um escritor se compromete a investigar a sua prpria arte enquanto trabalha


e pensa os seus prprios textos. Ento, agora que eu estou falando com um
escritor que se compromete com o que diz, que compreende o mundo pelo
assombroso ponto de vista da literatura (que tem a vida diria e imaginria
como material de trabalho) eu gostaria que voc guardasse este guia em um
local confivel e que no deixe de marcar o E-Mail que eu te enviei com este
material como um contato confivel no seu sistema, pois s assim eu tenho
certeza que este Guia te acompanhar enquanto voc ainda desejar contar
uma boa histria, pois se alguma atualizao deste material acontecer, voc
receber a ltima verso no Guia diretamente na sua Caixa de Entrada,
gratuitamente, sem correr o risco de perder a nova edio na Lixeira, Spam
ou na aba Promoes do seu E-mail.

Vamos pra cena!

grande abrao

Lucas Arantes

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CAPTULO 1: COMO NO
ESCREVER HISTRIAS
INGNUAS?

Desculpe dizer que algumas histrias so ingnuas. Mas acontece. Muitas


vezes o motivo o problema. O que levou aquele escritor a escrever uma
histria assim pode ser ocasionado por um motivo besta, sem a devida
ateno e mtodo ou at por desleixo mesmo. Escrever antes de mais
nada se comprometer com o processo de escrita. Se voc assumir o risco,
j meio caminho andado. A partir de um determinado ponto, algo pode
se quebrar e voc acabe abandonando aquela histria. O que mais existe
gente fragmentada de histrias por a. Mas a melhor maneira de resolver
isto, condensando todos estes pedaos no seu prximo caminho slido.
Por isso, a estrutura fundamental para voc terminar o que pretende
contar. Se algo se quebrar pelo caminho, voc tem na estrutura do enredo
um terreno familiar. Por isso peo que voc crie intimidades com cada tema
que ser discutido aqui neste ebook. Sero ferramentas fundamentais para
voc usar na hora em que estiver guerreando em seu campo de batalha na
criao de histrias.

No a escolha do tema ou do enredo que far voc no passar vergonha com


o seu novo texto, pois todos os assuntos podem ser objetos literrios. O que
preciso construir um ponto de vista original; saber manipular o tempo
favor da histria; inserir a participao do cenrio na problematizao
do contexto; surpreender o leitor por meio do personagem; criar o conflito
na temperatura limite e tambm desenvolver o enredo em planos distintos
para que eles se cruzem. basicamente este o caminho para fugir de uma
histria ingnua, sem a emoo devida que deveria conter.

Se voc ainda no sabe como executar este conjunto de situaes na sua


prtica de criao, chegou a hora de voc apostar menos no seu instinto e
mais no seu faro. Se voc notou algo diferente no seu ato de pensar lendo

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este ebook at aqui, eu peo que leia at o final, pois eu tenho certeza que
uma claridade vai entrar para iluminar o seu caminho na criao de suas
histrias. E se dobrar a sua produtividade, no se espante. para isto que
este ebook foi feito.

No mnimo eu tenho certeza que este Guia vai ter ajudar a construir uma
histria original que no seja ingnua. Se voc deseja abandonar aquela
sensao de que todas as ideias que voc tm so maiores do que aquilo
que voc consegue realizar, faa um favor para si mesmo e termine este
Guia, pois voc ter as condies certas para executar as suas grandes
histrias. Elas podem, sim, sair da sua cabea e se conectar com centenas
e milhares de outras pessoas. Ento, aposte nas grandes histrias e aja
diariamente para construir isso. O segredo no escrever uma pgina por
dia, mas um novo motivo e sentido para escrever a prxima pgina. Colocar
em prtica o seu desejo em transformar uma ideia do zero em algo concreto
a melhor surpresa que voc pode receber nesta vida. Ter o seu esforo e
dedicao reconhecidos na criao de suas histrias, por um pequeno ou
grande grupo de pessoas, uma das coisas mais gratificantes que voc
pode sentir. Ao menos, por alguns instantes, voc se depara com aquela
ideia de propsito desta vida.

Quem cria novas histrias, reconhece novos sentidos. Isso dinheiro nenhum
paga. Ento, se prepare para conquistar o seu sonho e ser reconhecido
pelas histrias que voc quer contar, no pelas quais outras pessoas contam
sobre quem voc pode escolher contar a partir de um nico ponto de vista.
Se o seu sonho pode ser sonhado por outras pessoas de novas formas,
ento venha comigo at o final deste livro e agradea a sua prxima pgina
em branco.

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CAPTULO 2: COMO FUGIR DE


ASSUNTOS IRRELEVANTE?

Conduzir a obra com a clareza de um bbado o que deveria guiar o


escritor. Por mais que um bbado no lembre, ele sabe para onde est indo.
A sensao na criao de uma histria semelhante. O escritor chega sem
saber como chegou ao seu final. O momento de criao inconsciente. Por
isso voc precisa armazenar no seu inconsciente as ferramentais certas.
Isto : enfrentar uma nevasca com o necessrio para fazer isto e no acabar
ficando com roupas de praia em uma situao desta. preciso se colocar
em uma situao de risco para se sentir vivo, mas voc precisa se munir
dos equipamentos necessrios se deseja sobreviver.

Uma das primeiras coisas que voc pode fazer fugir de assuntos
irrelevante. Ento voc precisa criar uma situao que eu chamo de Realismo
Surpreendente. Isto : voc cria uma situao em que existe uma realidade,
uma verdade, um universo prprio, com as suas leis de funcionamento, com
as suas regras fsicas e biolgicas, enfim, voc cria uma realidade que real
em sua prpria realidade. Isto pode ser na prpria realidade tambm, mas
de uma forma ou outro este Realismo precisa ser pelo menos uma mmica
da viso ltima da realidade que conhecemos hoje. E tambm precisa ser
Surpreendente, justamente porque esta realidade no pode ser a prpria
realidade que conhecimento. Ela precisa ser uma outra. Por isso o autor no
deve ser o narrador da sua prpria histria. Enfim, este Realismo precisa
ser Surpreendente, seja aproximando muito ou pouco da realidade final
que reconhecemos hoje.

Se voc criar um Realismo Surpreendente ao invs de uma Realismo Possvel,


onde o ar cheira a jasmim e o sol esquenta deliciosamente a pele, voc
conseguir fugir de assuntos irrelevantes em cada frase da sua histria.

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CAPTULO 3: PARA
COMEAR A JORNADA

sempre importante carregar 3 ensinamentos sobre a construo de histrias:

1) Voc precisa apagar as suas pegadas anteriores para contar uma nova
histria: Por mais que no aparente, muitas vezes o pior inimigo de um escritor
ele mesmo. No ele no sentido prprio da palavra, mas o que ele fez e como
isso o influencia hoje. Isso porque o escritor no pode se ver perseguido por
sua prpria obra. Ele precisa se livrar dela para construir a sua histria seguinte.
Ou como diria o psicanalista Wilfred Bion sobre a posio ideal de um analista:
preciso estar sem desejo e sem memria. Ou mesmo em uma ateno
flutuante, como disse Sigmund Freud, para poder criar a partir dos modelos j
apreendidos. S neste devido grau de radicalidade voc poder construir algo
realmente novo. S neste grau de entrega para uma nova histria ser possvel
fazer surgir algo raramente significativo.

2) preciso se ater no que a obra quer de voc e no no que voc quer da obra:
Escrever para a histria e no com a histria vai fazer voc olhar para a sua
histria daqui a alguns anos e ela continuar a fazer o mesmo sentido, pois ela
funcionar dentro dela mesma. A histria precisa possuir uma verdade interna
que no possvel falar sobre ela. preciso passar por ela para entender o que
ela representa, pois ela composta de uma rede de emoes. Este o grande
segredo de um bom texto. Voc, como escritor, tambm precisa se surpreende
com a histria, para poder surpreender o ouvinte. Voc, como escritor, precisa
sentir e ser transformado pela obra. A histria o resultado da sua mudana ao
longo da escrita. E se uma histria conseguir modificar voc, imagine o que ela
no pode fazer pelas outras pessoas

3) Funo pedaggica: No uma lio de moral que voc deve buscar (a


no ser que voc esteja construindo uma fbula ou uma variao dela), mas
voc precisa passar uma viso de mundo e ns, como ouvintes, precisamos sair

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conhecedores de algo novo, de uma verdade ou no-verdade sobre a sua viso


de mundo. Porm, a histria existe no exatamente para nos identificarmos com
ela, mas justamente para distinguirmos realidade e fantasia. E a partir disto, a
histria apresenta um cunho que pedaggico no sentido de ensinar uma outra
viso de mundo. A capacidade de provocar surpresa reside nesta singularidade.

4) Verdade: Mentira tem perna curta, a sua histria precisa ser sincera.

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CAPTULO 4: A ESCRITA UMA


HABILIDADE DESENVOLVIDA

Alm de todos os conselhos que j existem sobre o processo de escrita,


como, por exemplo, o escritor escrever at os dedo carem; que escrever
s se faz escrevendo e que voc s comea a contar que est escrevendo
depois que comea a doer, eu gostaria de dizer mais algumas coisas sobre
como a prtica justifica um contador de histrias.

Muita das vezes nos empolgamos com uma novidade. O mundo est
preparado para causar isto em voc. Atrados pela novidade, confundimos
consumo com produo contnua. Da, competir com este mercado uma
tarefa ingrata, impossvel e inapropriada para um escritor. Ele precisa criar
um ponto de gravidade, que a prtica contnua de suas histrias, e fazer
com que o mundo se interesse por isso. Se voc praticar, voc ficar cada
vez mais preparado para criar novas histrias e criar a si mesmo a partir
disso. Estar preparado tudo. preciso praticar para que a habilidade de
contar e criar novos textos surjam facilmente para um escritor. Como todas
as habilidades, isto pode demandar um tempo. Escrever como a cura de
um queijo nas fazendas de Minas Gerais. preciso deixar ele estocado por
um tempo, em algum canto, em cima de uma prateleira, para que o queijo
termine de curar. Tambm preciso dar um tempo para que a histria
se desenvolve. E ela geralmente surge na medida em que voc executa
algumas determinadas prticas. Um novo golpe em um ringue de boxe,
por exemplo, s surgir a partir do momento em que voc tiver praticado
outros movimentos. A criatividade surge de modelos j existentes, por
osmose. Este um processo de escrita criativa. Praticar com modelos, far
com que voc os quebre, naturalmente, para encontrar a sua prpria sada
na construo de uma histria. Mas para ser ainda mais original, preciso
inventar novos modelos para quebrar, ento, a sua histria em cima disto,
realizando, com a sua obra, uma inovao de conceito, estrutura, enredo
e personagens. Tudo pode acontecer novamente, mas sempre a partir

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de uma nova forma. isso que surpreende. Por isso o mtodo que eu criei
se chama Escrita Inventiva. Pois, alm de estudar e praticar os principais
modelos de escrita, inventa uma camada realmente nova que potencializa
a histria com grande inovao.

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CAPTULO 5: A CRIAO
DO CONFLITO

A alma da histria o conflito. Se for uma histria com humor, provavelmente


ser de um anti-conflito, onde o conflito atrai e repele ao mesmo tempo
os personagens entre si e as situaes se desenvolvem. Calma, sei que
parece demais. Vou dar um exemplo: o personagem entra em uma cena
onde ele desconhece o papel em que est inserido pelo olhar dos outros
personagens. Ou algum que tomado por quem no e acaba assumindo
este papel de quem nunca foi. Eu enxergo, nestas situaes, um anti-
conflito. exatamente isso que ocasiona o humor da situao.

Se for um conflito dramtico, este conflito acontece como motor natural de


todas as coisas da vida: que dividir um em dois. O TAI-SHI, ou energia
suprema, conhecida pelos Chineses, se divide entre YING e YANG. desta
trade e do embate entre YING e YANG que as principais situaes das
personagens so administradas. o conflito que faz a histria andar. Que
faz o leitor prestar a ateno nela. Esta a primeira camada bsica. Voc
pode esconder ou ressaltar estes aspectos. Mas eles estaro presentes.
Basta voc ter conscincia com o que voc quer fazer com eles

Se voc tiver um bom conflito, voc ter uma boa histria. Quanto maior o
conflito inicial, mais longe a sua histria ser lanada. O conflito atravessa
a histria como um cometa. Ele , na verdade, o ponto de gravidade da
sua histria, onde todas as outras coisas giram. O que voc precisa fazer
atravessar uma histria de carona neste grande conflito. Se este cometa
conflito que atravessa uma histria suporta o seu peso, como autor, sem
provocar distores na trajetria, provavelmente este ser um excelente
conflito que te levar at o final. :)

A maneira de solucionar um conflito a habilidade com que voc o recebe


e, depois, toca ele pra frente.

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CAPTULO 6:
MENTES PARAQUEDAS

No possvel conhecer a Frana sem pisar nela. Voc pode at ver fotos,
imagens ou navegar pelo Google Earth. Mas conhecer um lugar s possvel
pensando dentro dele e no nele ou sobre ele. Por isso fundamental que
voc tome a deciso de terminar uma histria no mesmo momento em que
voc escrever as primeiras linhas. Escolha bem antes de comear, ento
comece. E quando comear, termine. Busque as motivaes certas para
isso. De qualquer forma, voc precisa comear para pode pensar dentro
da histria e encontrar as solues dos novos problemas somente a partir
disto. Antes, voc planeja a jornada. Mas na hora da criao, jogo jogo,
treino treino.

Quando voc estiver dentro do jogo, ainda ser necessrio aprender pelo
caminho. Tudo pode virar objeto e objetivo da sua histria. Voc no precisa
fugir do mundo e da vida em que voc vive agora quando for escrever.
Voc precisa justamente amarrar e se agarrar em coisas no momento certo
e na hora, justamente quando elas estiverem acontecendo. Por isso, eu
aconselho que voc use e abuse deste Guia, pois ele foi construdo com toda
a sinceridade para te ajudar nos caminhos trilhados dentro da construo de
uma histria. Aqui, existem infinitos pontos concretos para voc usar. Ligue
estes pontos da maneira mais original possvel e construa agora mesmo a
histria que somente voc seria capaz de inventar.

Foi Homero quem escreveu a Odissia, por mais que contadores de histrias
narravam a histria contida no livro por onde passavam na poca. Por mais
que outro escritor tenha comeado antes ou sem saber que Homero estava
escrevendo a Odissia, foi Homero quem concretizou e inventou este sonho
de uma comunidade inteira. Assim como Santos Drummond inventou o
avio e no os irmos americanos que criaram um estilingue sem trem de
pouso. Para fazer uma histria preciso sonh-la primeiro. Ento, sonhe o

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que deseje contar e s narre o que tiver a impresso que esteja sonhando.

Se isto fizer sentido, voc abriu a sua mente. Isso no colocar a sua
cabea debaixo de uma britadeira ou se abrir para todas as possibilidades
do mundo. Mentes funcionam abertas. E como diz o ditado: precisam agir
como paraquedas. nesta abertura, quando se abrem, que voc encontra
o que deseja contar. E a partir da, voc comea a afunilar a sua histria e
a caminhar para o seu destino final.

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CAPTULO 7:
LEITORES ANJO

O contador de histria comeou a proferir palavras, no porque pensasse que


ouviria resposta, mas para testar at que ponto estas palavras se encaixavam e
faziam sentido - Italo Calvino.

Quando comear uma histria, no dependa dos leitores finais. Dependa


de outros leitores, antes. Pode ser voc e ento voc precisa saber ler o
que escreveu, ler em voz alta, ler at cansar de ler. Depois de voc j ter
construdo algo e tiver mais segurana, apresente o texto para um Leitor
Anjo. O que um Leitor Anjo? algum prximo a voc, uma pessoa que
est curiosa pela a sua voz, que sente prazer de trocar e-mails e mensagens
pelo Facebook ou que goste de conversar com voc. Pode ser um escritor
famoso ou uma pessoa prxima mesmo. Mas escolha um leitor que goste de
ler. Pode ser um amigo fsico, virtual, algum conhecido ou algum da sua
famlia, enfim, faa uma primeira pessoa se interessar pela a sua histria e
faa com que esta pessoa leia o que voc escreveu ou leia apenas alguns
trechos que voc esteja em dvida e que ela possa te alertar de buracos
bvias que voc talvez no esteja vendo.

Esta pessoa, provavelmente, deve falar a opinio dela sobre a sua histria.
Se ela fizer isto, voc corre o risco de ouvir muitos palpites sobre o que
escreveu. O que voc precisa fazer ouvir tudo o elas tm para dizer e voltar
para o captulo Mentes Paraquedas para te orientar e te ajudar a centrar
novamente no seu motivo. preciso ouvir e no copiar. Outros pontos de
vista sobre a sua histria podem te ajudar a encontrar o real motivo de voc
ter decidido compartilhar aquilo que o levou a escrever.

Leitor Anjo aquele primeiro leitor da sua histria. Oua o que ele tem para
dizer. Analise o que voc esteja buscando provocar com a sua histria e veja
a reao deste primeiro leitor. Ento, volte a ler a sua histria e mude algo
se achar necessrio. A histria ir falar por si no final. Acredite nela.

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CAPTULO 8:
UMA NOVA LNGUA

A Linguagem um vrus que veio do Espao - William Burroughs

Acredito que um pargrafo e at mesmo uma frase de uma histria , na


verdade, a palavra de uma nova lngua. Eu digo isso, pois uma ideia leva
a uma letra que leva a uma palavra que leva a uma frase e que leva a um
pargrafo e que leva a uma histria. No fim, voc diz muito, pois no h uma
nica palavra para traduzir tudo aquilo. preciso criar uma nova vibrao,
uma nova lngua. A sua frase ou pargrafo ou histria , na verdade, uma
nova palavra dentro da lngua. preciso saber que uma lngua tem regras,
por isso as histrias tem corpo, precisam se apoiar em alguns conceitos
para dialogar a partir da. As coisas para serem feitas ou ditas precisam de
um motivo para acontecer.

Somos seres de comunidade, mesmo sendo egostas. Vivemos em grupo,


mas na maior parte do tempo e das vezes, por mais que h outras pessoas
ao nosso redor, estamos sozinhos. A lngua pode no ser o jogo ideal, mas
a melhor coisa que encontramos at agora para tentarmos entender ao
menos uma das 3 perguntas gregas: De onde vim? Quem eu sou? Para
onde eu vou?

A linguagem literria precisa se adequar ao seu estilo e propsito, sempre!


Ela no uma espada sagrada, uma arte morta de guerra, mas uma arte
feita com vida, que nos ensina a criarmos os nossos prprios sotaques,
grias e jogos.

preciso, portando, ordenar as palavras certas, de maneiras inusitadas,


para criar um novo som, um novo estilo. O escritor Jorge Lus Borges disse
certa vez que se o homem ouvir 7 palavras ordenadas em uma certa ordem
seria possvel ver a face de Deus. Isto absolutamente revelador sobre

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o poder das palavras certas para traduzir mundos. Stanley Kubrick sabia
disso quando escreveu Inteligncia Artificial e colocou cerca de 7 palavras
ordenadas, que precisavam ser ditas em uma determinada ordem para
ativar e dar vida ao rob adquirido pelo casal responsvel por toda o drama
da histria.

Escolha as suas palavras ou elas te escolhero.

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CAPTULO 9: DOZE MANEIRAS


PARA COMEAR UMA CENA

Geralmente as cenas comeam com algumas tcnicas que se repetem,


independente do modelo, gnero ou estilo. Apesar de possuir algumas
variaes, comum encontrarmos cenas que comeam com:

1) Antecipao: Aqui preciso apresentar um desequilbrio ou prender o


leitor com um detalhe de algo maior vai acontecer mais na frente dentro
da histria.

2) Enigma: Crie um mistrio indecifrvel para o leitor e, tambm, muitas


vezes, para o prprio personagem.

3) Contra-senso: Apresente algo contraditrio.

4) Descrio: O que est alm do que o personagem diz, tambm fala


muito, potencializa ou problematiza os gestos do mesmo. Descrever um
cenrio ou personagem fsico ou psquico, como uma cmera interna ou
externa se aproximando ou se afastando da realidade, pode causar grande
ateno para aquilo que voc queira contar.

5) Situao Reveladora: O personagem apresentado sutilmente por meio


de uma situao. O resultado da situao revela o carter dele.

6) Fora da gua: O narrador ou personagem no se adapta ao ambiente


ou uma determinada situao que est inserido e isso o grande mote
para comear.

7) Situao de conflito: Existem dois tipos de conflito, que eu descrevo no


captulo 10 deste livro. Voc pode escolher e apresentar um destes conflitos

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logo nas primeiras linhas da cena.

8) Direo Inesperada: Voc descreve algo que parece ser alguma coisa
e termina com uma surpresa. A partir deste momento, em que voc
conquistar a ateno do leitor, voc pode contar a sua histria.

9) Simples e Concreta: No complique. As pessoas ao seu redor precisam


entender sobre o qu voc est dizendo (mesmo que seja uma lngua
inventada). Elas precisam visualizar algo.

10) Ouvinte: Algum est ali justamente para ouvir o que est sendo
contado. Ns nos identificamos com este ouvinte. Ele pode interferir na
cena, quebrando objees, ou simplesmente reagir a uma situao ou
somente ouvir e se transformar com o decorrer da cena ou da histria.

11) Discurso Direto: Iniciar a cena com a notcia de um jornal, com trechos
de reportagens de diferentes canais, com uma anlise de algo por um
apresentador, com um e-mail, uma mensagem na televiso, uma notcia,
enfim, com algo que esclarece o Reconhecimento da situao que iremos
ver personagens inseridos.

12) Falso Comeo: A situao inverte totalmente do seu aparente


propsito inicial.

P.S: Volte aqui sempre que sentir aquele branco, mas que mesmo assim
esteja com vontade de escrever e elaborar uma situao ou um pensamento
novo no formato da sua histria.

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CAPTULO 10:
AO DRAMTICA

Basicamente Ao Dramtica a vivncia de uma tenso entre dois opostos


e o resultado deste embate. Duas tenses se chocam e produzem um
resultado inesperado. A surpresa e a emoo o fruto desta semente.
Cada micro pedao da cena deve possuir uma tenso. Este conflito pode ser
pontual e provocado por uma antecipao. Se o objetivo de uma histria
conduzir o leitor ou ouvinte at o desfecho dela mesma, ento o seu
objetivo criar um conflito que sustente no somente a histria, mas cada
pedao da cena. Em essncia, existem 2 Tipos de Ao Dramtica que te
ajudaro e pensar quando for escrever a prxima palavra das suas linhas:

1 - Ao Dramtica Conhecida: Os participantes da trama conhecem o que


se passa.

2 - Ao Dramtica Desconhecida: Nem todos os participantes da trama


conhecem o que se passa.

Um Segundo Ponto importante para se falar sobre a Ao Dramtica


que este embate, entre os dois opostos, provoca, no ouvinte ou no leitor,
um desejo de fuga, por apresentar um conflito e provocar neles desejos de
resoluo. Se houver uma pea fora do lugar, nossa ateno estar ganha.
Fazer o leitor solucionar o motivo final que levou as aes acontecerem
trabalhar com as Possibilidades de uma cena. Ao provocar possveis pontos
de resoluo por meio da ao dramtica (que deve literalmente conduzir
cada passo da sua histria) voc poder escolher o trecho seguinte com
muito mais impacto.

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CAPTULO 11: DESMEDIDA

Uma coisa importante que ningum te contou sobre a criao de uma


histria que preciso haver uma DESMEDIDA anterior do personagem,
que faz com que ele no consiga obedecer as leis do seu mundo. Voc
pode imaginar at o Frodo sendo desmedido e saindo para se aventurar
pelo mundo afora ao invs de ficar em casa. Ou at mesmo uma jornalista
que se envolve com o entrevistado ou uma pessoa cheia de si que sofre
um acidente e fica sem o movimento das mos. Ao se deparar com uma
situao, fruto desta desmedida, voc poder apresentar todos os outros
problemas do seu personagem, da sua histria. Este o problema fora da
ordem natural das coisas. Somente pensando atravs da DESMEDIDA. S
por meio deste vrtice que voc saber quem este peculiar personagem
que voc pretende apresentar. A medida para os gregos era algo muito
importante. O equilbrio era altamente valorizado. A falta de medida faz o
heri trgico agir nas escuras, pois os deuses, de castigo, provocavam a
cegueira da razo em quem vivia, na pele, estes descuidos. Esta cegueira
leva, geralmente, o personagem para um momento de revelao.

Se, ainda, este momento, resultar em 2 tipos de sentimentos, voc acabou


de vivenciar ou provocar uma CATARSE, que a juno de: Primeiro, um
sentimento de TERROR, pois o que foi mostrado tambm pode acontecer
com voc (se orquestrado de uma determinada maneira); e segundo, de
PENA, pois o infortnio no era merecido. Ou seja: apesar dos pesares,
o personagem no mereceria passar por aquilo e se voc no tivesse
recebido este alerta, isso possivelmente poderia acontecer com voc de
alguma maneira em algum momento.

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CAPTULO 12: COMPLEXO

O ideal voc revelar uma situao que seja um complexo de coisas. Por
isso, planeje a sua histria. Faa esquemas das situaes. A arte da escrita
tambm reside na arte de saber empilhar pratos e rodar eles com uma vareta
em cima de um monociclo. Desejarei sempre sorte na sua empreitada.

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CAPTULO 13: OBJETIVOS

Cada histria carrega um local, que carrega os habitantes deste local, que
carrega uma lngua, que age e reage dentro de um tempo e que forma toda
a estrutura da histria. Portanto, cada histria possu os seus objetivos.
Sabendo disso, o mais importante voc deixar claro o qu estes objetivos
representam dentro da sua histria. No possvel existir somente uma
meta dentro da narrativa. preciso de um motivo para atingir determinando
resultado ou ao menos fazer o personagem sair de onde est para chegar
nos seus objetivos.

Cada povo possu o seu modo de ver o mundo. Cada universo age e reage
de um jeito. Apresentar estes detalhes das aes fazem parte dos objetivos
de uma histria. do detalhe que o todo se revela e somente a partir de
uma semente que possvel criar um novo universo plausvel para o acesso
de outras pessoas que queiram se envolver e, tambm, se identificar com
os objetivos de mundo da sua histria.

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CAPTULO 14:
CENRIOS DE TRANSIO

Alm dos cenrios da histria, importante colocar, entre as partes da


sua cena, Cenrios de Transio. So cenrios de passagem comum aos
cidados reais, fora do jogo da aventura, e que familiarizar e introduzir,
ainda mais, o seu personagem.

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CAPTULO 15:
DO PRANTO AO RISO

Existem duas coisas que uma histria provoca: tragdia ou comdia.

A situao trgica pode ser resumida pela palavra luto. Na situao lutuosa,
o sujeito se recolhe, trazendo, para dentro de si, objetos e objetivos que
conseguiu recolher do que foi perdido. A histria introjetada dentro do
sujeito para ser incorporada a ele. Aps introjetar, ele projeta a histria
junto com o seu carter. Histrias possuem impactos poderosos e por isso
preciso saber muito bem o propsito final do que deseja passar. O que est
escrita independe de seu autor, por isso a importncia de ser o mais coerente
possvel consigo mesmo, com as suas paixes, com a sua viso de mundo,
com o domnio das ferramentas de escrita e sobre a experincia literria em
si. Se pudesse acrescentar algo seria para voc manter o divertimento da
linguagem durante este percurso

O segundo tipo de arte seria a buscada pelo riso. Infelizmente, o texto sobre
a comdia que Aristteles escreveu no chegou at ns ou este teria sido
o primeiro Guia para estruturar uma boa comdia. A princpio, a comdia
possu a funo de alvio de tenses. Em um outro plano, este alvio pode
significar um ataque velado ao que tenciona o narrador/personagem da
histria. Ou seja: Temos a Comdia de Erros: para rirmos da nossa falta de
perfeio; das repeties dos erros cometidos diariamente por distraes;
do nosso papel de vtima dentro do injusto mundo e da nossa ignorncia
diante das atrocidades que acontecem na esquina ao lado. Existe tambm a
Comdia Cnica: feita para atacar o opressor; para criar um inimigo comum
e atirar pedra junto com o pblico. feita para zombar; tirar sarro mesmo,
enfim, aliviar a tenso, fazer rir e causar polmica.

Como tudo, existem os extremos e os pontos e nveis de encontro entre


estas duas polaridades. Portanto, se preferir: Comedimento. Faa o seu

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pblico se emocionar, se identificar com o ponto de vista da sua histria. E


tambm faa o seu pblico rir um pouco neste percurso. Misture o trgico
e o cmico. Voc no precisa provocar uma disputa direta entre os dois. Se
voc se identifica mais com tragdias, busque aliviar estas tenses dentro
da sua histria ou relato. Se voc escreve textos de humor, acrescente
uma dose trgica, sem ruir o alicerce cmico fundamental do que esteja
escrevendo. Prazer comedido pode ser prazer dobrado.

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CAPTULO 16: OPOSTOS

Quanto mais voc trouxer para a luz os opostos dentro da sua histria, mais
claras sero as metforas de mundo criadas pelo universo ficcional.

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CAPTULO 17: ENCONTRE


A SUA PRPRIA VOZ, O SEU
PRPRIO ESTILO

As tcnicas literrias podem te orientar a encontrar o seu estilo em dois dos


trs passos necessrios para atingir isso.

Primeiro, voc deve se ater aos ritmos que a sua escrita provoca. Saber que
voc pode exercer o controle na musicalidade da sua narrativa, alterando o
ritmo entre tempos fortes e tempos fracos, por vezes bruscamente, outras,
de maneira mais harmnica, voc estar no caminho certo para a construo
do seu estilo. Este sem dvida um dos momentos mais importantes do
processo literrio. Encontrar a sua voz dentro da histria encontrar a linha
certa para falar sobre algo que est aqui e l ao mesmo tempo. Ser muito
mais fcil a sua escrita a partir deste ponto. interessante pensar a escrita
como msica e as palavras como notas musicais. Temos um nmero limitado
de sentidos e construmos coisas que esto alm daquilo que estamos
dizendo. Voc no precisa passar por todas as velocidades para produzir
um ritmo. Pequenas variaes podem produzir grandes efeitos. Caminhar
para encontrar a prpria voz s possvel escrevendo. Como qualquer outra
arte, exige treino. No queira alcanar a perfeio de algo para comear a
praticar. A partir do momento em que voc treina a prtica de construo de
histrias, voc tem maiores chances para desenvolver a maior habilidade
de todas que a habilidade de expresso. Treinar o ritmo de uma histria
dialogar com o tempo. Pontue os momentos precisos. Coloque pausa na
sua msica. Para existir msica preciso ter pausa tambm. Alimente os
momentos de tenso. Produza a sua paz nos momentos de calmaria. Esconda
bem um enigma antes de comear a apresentar as primeiras pistas. Amarre
muito bem as partes. Faa cortes bruscos se for necessrio. Mas costure o
Ritmo e a Harmonia da sua histria.

Existe um terceiro elemento que a Voz pessoal de cada autor. Cada pessoa
possu a sua prpria voz e precisa trein-la para dominar. A linguagem

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no algo calmo de se domar. preciso uma luta constante para que a


histria no se perca entre as palavras. Por isso, o seu canto, a sua voz, vai
dar todo o sentido ao Ritmo e a Harmonia da sua histria.

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CAPTULO 18:
PONTO DE VISTA ORIGINAl

Albert Eisenstein comprovou que o tempo de duas pessoas coincidiria se elas


estivessem em repouso uma em relao outra, mas no se estivessem em
movimento. Provou que a base da teoria da relatividade reside da questo do
ponto de vista. A teoria dos gmeos mostra isso. Se um dos irmos viajasse
sozinho na velocidade da luz pelo espao e voltasse para a terra, o seu
outro irmo estaria velho e o viajante teria envelhecido poucos segundos.
Este movimento relativo entre dois corpos distintos nos importa tanto para
criar aes dramtica, tanto para ressaltar a importncia do ponto de vista
da histria.

Os personagens precisam criar para a platia uma janela para o que se passa.
Quem criar a melhor janela, seja no mundo da histria como no mundo
dos negcios (Bill Gates/ Steve Jobs), ilumina para um maior nmero de
plateias a sua mensagem. Alm de definir o pblico, para quem voc quer
dizer, voc precisa definir qual o ponto de vista de partida que a histria
ser contada. Henry James escreveu Pelos Olhos de Maysa, para contar
uma histria com o ponto de vista de uma garotinha. William Faulkner
criou a mente de uma pessoa com problemas e transcreveu como seria
o raciocnio desta singularidade. Guimares Rosa escreveu que devemos
enxergar o mundo pelos olhos de um pssaro. Ento, faamos isso. Mude o
seu ponto de vista, no s a maneira como voc anda na rua. Enxergue com
os olhos de outra pessoa ou objetos. O Ponto de Vista uma singularidade,
o Buraco Negro no universo literrio. Encontre ou invente um ponto de
vista inusitado para contar a sua histria.

Para que este ponto de vista acontea de uma forma plena, ele deve edificar
a prpria estrutura do enredo da sua histria.

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CAPTULO 19:
UM POUCO SOBRE ESTRUTURA

Gostaria que voc pensasse um pouco comigo sobre as seis estruturas que
podem te ajudar na construo de uma histria. Voc pode fazer o rearranjo
que quiser, usar em toda a estrutura da sua criao, mesclar ou alterar
uma destas estruturas durante a construo de cenas. O importante voc
entender e dominar estas ferramentas para construir o jogo que desejar:

Estrutura simples:
1) Linear: A histria acontece de uma maneira linear.
2) Binria: A estrutura da histria contada sobre dois pontos de vista,
duas verdades.
3) Circular: A forma da histria volta ao mesmo ponto diversas vezes.

Estrutura complexa:
1) Insero: A narrador interfere o tempo toda na histria por meio dele ou
do personagem.
2) Fragmentada: A narrativa contada em pequenos pedaos, mas pelos
fragmentos possvel construir a histria.
3) Estrutura Polifnica: A forma dos textos ficam arquitetadas de tal
forma, que mais lembram uma escultura de vidro tridimensional feita com
pedacinhos de mosaico com um sol brilhante no meio.

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CAPTULO 20: PACINCIA

Para a maioria das pessoas, as coisas no acontecem de uma outra para


outra. preciso dar ateno ao seu desejo para que ele conquiste o que
precisa. Portanto, conte novas histrias sempre que possvel. No espere o
palco ideal para que elas possam se encaixar. Crie as suas criaturas para que
os palcos nas mentes do pblico se encaixem com a sua criao. Pacincia
algo fundamental para a sua histria crescer normalmente, sem que ela
parece um monstro com vrios retalhos de bilhetes escritos no tempo.
Escreva e cuide das histrias como os jardineiros cultivam um bonsai. Olhe
para a sua histria e visualize com clareza o que pretende dizer. Depois
disto, acompanhe o percurso imaginado e improvise, criativamente, para
no se desviar do seu caminho.

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CAPTULO 21: TEMA

O tema deve ser a chave de comando para a sua histria. Nada deve
se desviar dele. Todos os elementos devem gravitar, sendo atradas ou
repelidos, pelo tema. Alm disso, o tema escolhido te ajudar a no fugir
do propsito da sua histria.

Tem um fato que aconteceu e que conta o caso de um jornal em uma


pequena cidade no interior dos Estados Unidos. O tema deste jornal era
uma frase de comando que dizia que as reportagens e os artigos publicados
tivessem o mximo de nomes possveis dos habitantes locais dentro de
cada pargrafo. Era uma estratgia de sobrevivncia. Um certo dia (vou
inventar aqui), uma mensagem mundial muito importante precisava ser
dita para aquela pequena populao. Mas tambm havia uma outra matria
que era uma entrevista com o barbeiro da regio contando sobre os clientes
que ele atendeu naquele dia. Era uma escolha difcil para os editores: dar
uma notcia mundial importante ou segurar firme o propsito do jornal?
Para piorar, o dono do jornal havia ido ao zoolgico e estava sem telefone
celular. O horrio para o jornal ir para a grfica se aproximava e todos
comearam a ficar desesperados. Qual matria voc acha que foi escolhida
pelos responsveis naquele momento pelos responsveis no momento?

As pessoas podem ser diferentes, mas se elas estiverem em uma situao


de conflito que tenha um motivo claro por trs, elas sabero agir. Voc
acorda um dia diferente do outro, no todos os dias a mesma pessoa.
Se tiver uma frase de comando por trs das suas aes e das criaes das
suas histrias, voc no ser atrapalhado pelo seu estado de esprito. Tenha
um tema para as suas histrias. E faa de um toque da companhia a uma
passeata Gay, por exemplo, dialogar com a frase de comando que orienta
um Escritor de Histrias.

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CAPTULO 22: ENREDO

O enredo uma rede viva de entrelaamento dentro de uma narrativa, que


est ligado a tudo e onde tudo se desenvolve. Ele apresenta as situaes de
conflito (ao dramtica) que possibilita toda a dinmica para a narrativa.

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CAPTULO 23: OS 4 TIPOS


ESTRUTURAIS DE PERSONAGENS

Organizei uma pequena tabela com os 4 tipos de personagens que devem


existir dentro da sua histria para voc se orientar:

Protagonista: Deve causar uma empatia catrtica positiva. Ponto de


vista principal da histria. Este ponto de vista se alterna ao longo do
desenvolvimento, mas o ponto de vista do protagonista ocupa a maior parte
do enredo.

Antagonista: Deve causa empatia catrtica negativa. O inimigo pode ser um


humano ou uma fora sobre-humana.

Coadjuvante: Espelham os traos do heri e do antagonista. Socorre


intencionalmente ou no os traos de cada um.

Coro: Personagem que no altera o curso da histria. um comentador, um


ponto de ligao entre partes da trama.

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CAPTULO 24: OS 4
TIPOS PSICOLGICOS DE
PERSONAGENS

Difcil pensarmos a histria sem um personagem. necessrio um


protagonista para fazer com que a narrativa caminhe em seu rumo. Seres
inanimados, animas, humanos, extra-humanos, fbulas (com animais
humanizados) e Aplogos (com objetos humanizados), seja o que for, toda
histria possui um personagem com caractersticas humanas.

A origem da palavra Personagem significa Mscara para Soar. Ou seja:


o Personagem uma entidade detentora de uma voz. Para ser um bom
personagem, preciso coerncia. Seja quem ele for, faa agir por conta
prpria dentro das circunstncias que os revelam. Existem alguns tipos de
personagens, baseados nas leis da personalidade de Carl Gustavo Jung,
que podem te ajudar a identificar quem quem dentro da sua histria. Por
ser uma mscara o personagem pode alterar de mscara ao longo da
histria. Faa isso de uma forma coerente e clara.

1 - Personagem de Pensamento
2 - Personagem de Sentimento
3 - Personagem de Sensao
4 - Personagem de Intuio

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pag. 39

CAPTULO 25:
OS 3 NARRADORES

Existem, basicamente, trs tipos de escolha para o seu eu narrativo.

1 - Narrador Heterodiegtico: O narrador no personagem da histria.


Ainda que seja um narrador que se intromete na narrativa.

2 - Homodiegtico: O narrador personagem, mas no protagonista.


algum que acompanhada os fatos mais como testemunha.

3 - Autodiegtico: O narrador relata a histria como sendo ele mesmo o


protagonista da situao. O relato em primeira pessoa e as narrativas
podem possuir caractersticas autobiogrfico.

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CAPTULO 26: O TEMPO

Espero que voc use este Guia para ligar os pontos da sua histria. Talvez
voc j faa tudo isso, talvez voc faa isso de maneira inconsciente, ou talvez
esteja descobrindo tudo isso agora, mas muito importante trazer para a
luz o mximo de informao possvel para que voc lembre a sofisticao
que o domnio da linguagem que todos ns j conhecemos.

Uma das ferramentais mais emocionantes para criar boas histrias a


manipulao que podemos fazer do tempo. Voc pode antecipar ou adiar
algo. Voc pode resumir ou enrolar algo. Como em um sonho, voc deve
condensar e dilatar o tempo da sua histria.

Saber que a experincia temporal pode ser minada por dentro te dar a
possibilidade na criao de cenas emocionantes.

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CAPTULO 27: CENRIO

A partir do momento que voc tiver um tema, um motivo ou algo que o leve a
escrever, tudo dever circular e gravitar dentro deste propsito inabalvel.
Quando for descrever ou mostrar um cenrio, pense que ele pode ser tanto
ponto de encontro como tambm ponto de fuga dentro da histria. O cenrio
pode causar mais tenso, como pode tambm aliviar a situao. Lembre
que o personagem est inserido em algum lugar e este espao carrega
inmeros significados em paralelo da histria que voc deve ressaltar.

Imagine uma cena que comea em um jardim e termina em um quarto


em chamas. Se esta for a sequncia da cena, voc conseguiu uma das
caracterstica fundamentais de uma narrativa que a transformao dela. Ou
seja, tudo nela pode e deve se transformar. Voc pode comear em um quarto
em chamas e terminar em um jardim. Ou do jardim at o quarto em chamas.

Nesta transformao que queremos usar como exemplo, voc pode fazer
com que o cenrio dialogue com a cena, narrando um momento de paz que
transformado em um inferno (ou vice versa). Se for um assassino que
sequestra ou seduz algum em um parque pblico, podemos dizer que o
ponto de vista do cenrio da personagem sequestrada, pois a sua vida
estava em paz (jardim), mas foi transformada em um inferno (quarto em
chamas). Portanto, o cenrio nos ajuda tambm a pensar sobre o ponto de
vista da histria.

Alm de dialogar com a cena, o cenrio poder contradizer a situao. No


jardim (paz), pode ocorrer um assassinato e, no final da cena, o assassino
esteja tranquilo apagando o fogo (inferno) em uma casa, pois a sua profisso
feita para salvar vidas. Neste caso, temos uma cena que comea no inferno
(jardim) e se transforma em paz (salvar vidas). Mas como o ponto de vista
do assassino, fixamos o cenrio do jardim como uma imagem de tormenta

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pag. 42

e no cenrio do fogo queimando um quarto uma imagem de tranquilidade.


Pense em transformaes. E pense que o seu cenrio pode ou no dialogar
com a cena.

Cenrio tambm figurino. O importante voc criar imagens que


potencializem ou que contradizem o tema da cena e a personalidade do seu
ponto de vista. Jogue com esta ambivalncia e crie cdigos originais dentro
da histria.

Se tiver conscincia disso, voc pode se divertir muito mais na criao de


suas histrias.

P.S: Uma outra funo do cenrio antecipar algo que est por vir. Ao
antecipar algo, ele cria tenses e prende o ouvinte para o que ir acontecer
em seguida.

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pag. 43

CAPTULO 28: DILOGO

Aqui o mais importante para escolher sobre o personagem, pois cada


universo se traduz pelo o que ele diz (verbalmente e corporalmente).
a partir desta expresso do homem que reside todo o entendimento e
desentendimento dele mesmo. Colocar em palavras o seu prprio mundo
o mais profundo que um personagem pode fazer, pois ele existe pelo o
que ele fala. A fala deve acertar no alvo ou ao menos encostar na estrutura
temtica da histria. Isso elevar o seu dilogo em uma fora dez vezes
maior. Se o que dito para algum, tambm dito para o tema principal
da histria, voc cria um tiro de canho ou de flauta todas as vezes que
os seus personagens forem dizer alguma coisa. Faa eles dizerem coisas e
passar por situaes que dialoguem com o tema central da sua histria.

O dilogo acontece no espao e no tempo. Ento, se voc sabe dominar a


criao de cenrios e j treinou para manipular o tempo dentro das suas
histrias, voc pode criar narrativas e dilogos hbridos a partir do jogo
desta estrutura.

Em peas de teatro, novelas para rdio, roteiros para cinema e poesia,


os dilogos ou monlogos (que so basicamente dilogos sem resposta
imediata) so o foco principal de trabalho de um escritor de histrias. No
caso da narrativa, personagens costumam passar menos tempo falando
e mais tempo agindo ou pensando. Quando dizem, devem trazer para a
superfcie toda a fora de quem eles so.

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pag. 44

CAPTULO 29:
AS BONECAS RUSSAS

Sempre me chamou a ateno aquela escultura de bonecas russas que


mais parecem um brinquedo. Este objeto constitui-se de uma boneca com
um corte de 360 no meio que se solta e pode ser encaixada novamente.
Dentro da primeira boneca h uma outra boneca semelhante, s que menor,
que carrega outra boneca dentro dela e assim por diante. Podem existir de
2 a 12 outras bonecas no esquema todo, por exemplo. Se voc tirar todas
as bonecas e colocar uma ao lado da outra, veremos a mesma imagem da
escultura em diferentes tamanhos. Acredito que todas as histrias carregam
esta sensao. Viemos de milhares de anos e no vamos ficar aqui muito
tempo e h milhares de anos ainda por vir. Mesmo que todo o tempo parea
semelhante, as bonecas so diferentes. A metfora para dizer que na hora
de escrever, imagine que, seja l qual for a sua histria, o que voc pretende
contar j aconteceu e tambm pode acontecer de maneira semelhante no
futuro. O fato : o acontecimento praticamente o mesmo, mas indito.

Como uma boneca russa, h outras antes dela e outras na sua frente, mas
todas so diferentes e inditas entre si. Voc deve focar no momento da sua
histria, em uma boneca russa da sua histria, mas no deve esquecer
que esta boneca veio de algo e h outras ainda que a sucedem. Crie o seu
universo com esta linha de tempo, focalizando em apenas um momento
(sem esquecer que existiram os anteriores e existiro os seguintes), e voc
ver cada detalhe deste seu planeta seu criar uma vida quase que real.

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pag. 45

CAPTULO 30: REVELAO

Uma das tcnicas que sempre funcionam na criao de uma histria a


estrutura de Revelao. Voc oculta tudo e vai mostrando o que deseja
mostrar ao poucos. Voc pega a imagem de um quebra cabea e embaralha
as peas, deixando apenas o ponto inicial e o ponto final da histria prontos.
Durante o percurso, voc vai preenchendo esta imagem aos poucos. At
para criar um quadro surrealista voc precisa se planejar. Ento, saiba
da imagem que voc pretende revelar no final. Voc precisa conhecer ou
ser detentor de algo antes de poder mostrar para algum. Imagine a sua
imagem e depois comece a construir os primeiros traos dela antes de
colorir e acrescentar os detalhes. Neste ponto, a escrita possui uma estreita
relao com a prtica do desenho. Voc transforma uma imagem em figuras
geomtricas para encaixar a imagem no papel. Voc deve transformar a
sua histria em diferentes marcos de imagem e colocar outras situaes
no meio. Revele a sua histria aos poucos, criei mistrios sem criar enigmas
chatos de desvendar. Revele o seu personagem aos poucos, mostre ele por
contradio, frustre ou no as expectativas do pblico. A histria precisa
falar por si s. Revele o seu cenrio aos poucos, crie uma narrativa de
pano de fundo se utilizando deste recurso. Guarde o fim para o final, para
o momento em que a estrutura da histria ser revelada, em que todos os
personagens no voltaro a ser mais o que eles eram e todo o cenrio e
mitologia j se transformou. Construa o seu castelo de cartas e faa com
ele o final que desejar.

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pag. 46

CAPTULO 31:
PALAVRAS IMAGENS

Palavras so imagens que nos faltaram - Manoel de Barros

Palavras provocam a imaginao do leitor ou do ouvindo. Toda e qualquer


pessoa possui a capacidade de fazer o outro imaginar, criando coisas que
no existem a partir de um ponto de partida. Saber disso voc usar as
suas palavras para provocar a imaginao criativa para a sua histria e
apresentar uma inovao inimaginvel (para voc e para o outro).

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pag. 47

CAPTULO 32 : A PROVOCAO
DO MISTRIO PELAS LACUNAS

Quando comeamos a imaginar algo e o fluxo de construo da formao


desta nova imagem se cessa, possvel criar lacunas de ateno na cabea
das pessoas que estavam imaginando a sua histria. Se voc conseguir ciar
buracos permanentes na cabea do ouvinte, voc provoca uma necessidade
dele em preencher este espao. O dramaturgo Harold Pinter, vencedor do
prmio, era o rei deste princpio. Ele mesmo declarou, em uma entrevista,
que criava estes buracos justamente para as pessoas carem neles. Os
textos deste autor so feitos de lacunas interminveis. E isso fez com o
escritor criasse uma das obras mais interessantes e inovadoras da literatura.
Recomendo fortemente a leitura da pea O Quarto. Leia este espetculo
e amplie a sua noo sobre a construo de lacunas dentro de uma histria.

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CAPTULO 33: TEORIA DA


ANUNCIAO DO FALSO
ACONTECIMENTO

comum vermos cenas anteriores prepararem algo para a cena seguinte.


No precisam ser cenas sucessveis, elas podem estar embaralhadas. Mas,
aplicar esta teoria passo a passo, cena a cena, tambm elaborar um
emaranhado complexo de significado. E como ela pode ser implementada
na sua histria?

simples. Voc precisa criar uma cena anterior, no de muito impacto no


desenvolvimento da histria, mas que anuncia um risco de mudana. Por
exemplo: se algo trgico e acidental for acontecer na cena 2, voc cria na
cena 1 uma anunciao deste acontecimento, como o personagem caindo
na rua e se machucando, mesmo se ele estiver distrado ou feliz por ter
ganho na loteria.

Resumidamente: Se voc no mudar a direo antes do novo caminho, voc


continuar na mesma estrada por no conseguir fazer a prxima curva. Na
prtica: Voc cria na cena anterior um acontecimento para revelar algo
transformador para a histria em seguida.

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CAPTULO 34:
SIMPATIA x EMPATIVAS

No basta o seu personagem ser um figuro, uma pessoa gente boa ou


bom de conversa. Simpatia no gera automaticamente empatia, palavra
fundamental quando voc pensa no engajamento da sua histria na
imaginao do leitor ou do ouvinte. Simpatia somente voc se conectar
a uma outra pessoa, se identificar com alguns traos, querer esta pessoa
por perto ou mostrar para os amigos. Empatia a capacidade de abertura
que este algum tem para nos colocarmos no lugar dele. literalmente
colocar o sapato de uma outra pessoa, se colocando no lugar dela por alguns
momentos. S por meio da empatia que os seus personagens provam que
possvel fazer com que a sua histria sobreviva por mais tempo. por
meio do personagem que voc ir atingir o sistema lmbico do espectador,
provocando nele informaes sensitivos/sensoriais, onde ser atribudo
um contedo afetivo, por parte dele, a estes estmulos. Desta forma, a
informao armazenada com as memrias j pr-existentes, provocando
a busca e a produo de uma resposta emocional adequada para a situao.

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CAPTULO 35:
A JORNADA DO HERI

Acredito que uma das tcnicas mais importantes para a construo de uma
histria conhecida como A Jornada Do Heri. Falo isso, pois esta ferramenta
no foi fruto da inveno de algum, mas fruto de uma observao. Ningum
criou os doze passos do heri. Eles foram observados em diferentes grupos
culturais de diferentes pocas. H um livro fundamental sobre isso (alm
dos clssicos) intitulado A Jornada do Escritor, de Christopher Vogler.
Basicamente, o livro conta sobre os 12 passos do heri, sobre aquele que se
transforma ao longo da aventura e passa por diferentes cenrios e situaes,
enfrentando conflitos, desenvolvendo habilidades, falhando e conquistando
o objetivo no apenas dele, mas de um grupo inteiro. Gostaria de deixar um
resumo aqui sobre A Jornada do Heri para voc se orientar no percurso
da sua escrita.

A Jornada do Heri uma estrutura que deve ser adaptada e ocupada


pelas diferentes histrias de cada indivduo e cultura. No patente de
nenhuma corporao.

A estrutura a seguir deve passar quase despercebida. Os valores que cada


uma destas etapas representam que so importantes na construo da
sua histria.

1 Os heris so apresentados no MUNDO COMUM;

2 Recebem o CONVITE PARA A VENTURA com grande surpresa;

3 Primeiro, ficam RELUTANTES OU RECUSAM O CONVITE (quando no so


jogados para dentro do Mundo Especial forosamente);

4 Num Encontro com o MENTOR so encorajados a fazer a...;

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5 TRAVESSIA DO PORTAL e entrar no Mundo Especial de cabea, com


fora, onde...;

6 Encontram TESTES, ALIADOS E INIMIGOS;

7 Na APROXIMAO DO DESAFIO FINAL, entram no clmax;

8 Onde enfrentam a PROVAO SUPREMA e vencem o desafio;

9 Ganham a RECOMPENSA;

10 So perseguidos no CAMINHO DE VOLTA ao Mundo Comum;

11 Chegam na RESOLUO SECUNDRIA, onde algo faz com que eles


quase morram (pode ser a morte simblica de algo tambm). Ento eles
passam pela RESSURREIO e so TRANSFORMADOS pela experincia;

12 Chega ento o momento do RESULTADO DA RECOMPENSA, a bno ou


o tesouro que beneficia o mundo comum e, quem sabe, os seus heris.

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CAPTULO 36: 16 FERRAMENTAS


PARA A ESCRITA DE ROTEIROS E
PEAS DE TEATRO

Existem algumas regras fundamentais para voc escrever e organizar a escrita


de peas de teatro e roteiros. Estas tcnicas se encaixam perfeitamente na
construo de narrativas tambm. Se voc compreender a funo destas
diferentes ferramentas, voc poder usar em qualquer histria que for
produzir. Ter conscincia do qu voc deseja fazer fundamental. Preencha
a sua histria com tcnicas de escrita e as faa se sustentar at o final.

1 - Descrio de Movimento
2 - Descrio de Inteno
3 - Nomes de Personagem
4 - Dilogo Ping-Pong
5 - Dilogo Fragmentado
6 - Dilogo Circular
7 - Discurso Potico
8 - Nuances de Polaridade
9 - Situao ou Contexto (velado ou explcito)
10 - Limpeza de Chamin (Monlogo Vmito)
11 - Frase que Descreve uma Ao
12 - Frase que Demonstra uma Ao
13 - Frase de informao de endereo
14 - Discurso no presente com o tempo acelerado
15 - Discurso no presente com o tempo acelerado
16 - Mudana Catastrfica

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CAPTULO 37:
PIRMIDE INVERTIDA

Na dvida, priorize a clareza do acontecimento e da informao. Uma das


tcnicas para te ajudar nisto usar, como espelho, a tcnica da Pirmide
Invertida do jornalismo, crucial para a clareza de ideias em um curto espao
de tempo. Nas linhas a seguir, o que mais importante na histria vm
em primeiro e voc pode se perguntar onde esto estas informaes se
encaixam na sua histria:

O qu (aconteceu, est ou vai acontecer)


Quem (os agentes da ao)
Quando (dia da semana, do ms, horas)
Onde (o local do acontecimento)
Como (circunstncias)
Porqu (os motivos e as razes)

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CAPTULO 38:
SONHE GRANDE

Se for para viver, que seja em sonho. E se para sonhar, que sonhe
grande. Os pequenos sonhos provm do seu inconsciente individual. Os
grandes sonhos so de um inconsciente coletivo. Sonhe aquilo que o seu
grupo sonharia.

Crie, antes, uma histria para atingir a sua grande meta. As narrativas so
uma ferramenta poderosa para a autoestima. O mesmo trabalho investido
que voc ter para sonhar e fazer coisas pequenas ser para voc sonhar e
fazer coisas grandes.

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CAPTULO 39: CRIE UM


AMBIENTE DE IMERSO

Voc no precisa fazer um ritual de 30 minutos para comear a escrever,


nem deve tirar o cachorro da sala. A vida acontece enquanto o escritor
conta as suas histrias. O importante voc escolher um lugar e uma
situao em que consiga ficar mergulhado por mais tempo. A prtica da
literatura uma prtica da apneia. Quanto mais tempo voc conseguir ficar
imerso na fabricao da trama, das falas e do ambiente da sua histria,
mais voc conseguir avanar neste desenvolvimento. Ento, busque criar
um espao e uma situao em que voc consiga trabalhar a sua escrita por
mais tempo.

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CAPTULO 40:
CONSIDERAES FINAIS

Escrever um constante dilogo de referncias. E tambm uma aposta


no futuro.

Ns nunca podemos prever o que podemos escrever, assim como ns no


podemos saber o que iremos sonhar hoje noite.

Por isso, preciso apostar que as histrias apenas comearam a


ser contadas por ns, assim como a nossa humanidade est apenas
comeando a se expressar.

J disseram que as histrias que podem ser contadas so enumeradas com


uma pequena sequncia de dedos. Mas as formas para se contar estas
histrias so infinitas.

As descobertas de novos jogos de linguagem fazem com que novas portas


se abram para o inventor.

Viver de novas maneiras pode estar relacionado com a forma com que
habitamos a linguagem e construmos o nosso mundo.

Entender novos universos ficcionais expandir um universo pessoal, o


que alimenta qualquer pessoa disposta a encontrar na literatura novas
ferramentas para construir-se diariamente.

A literatura, se tm alguma funo, para aumentar o nosso sentido. E isso


nos faz perceber a vida com novas cores que no estavam presentes antes.
Escrever criar vidas com intensidade.

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Um grande abrao e Vamos pra Cena!


Lucas Arantes

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