O Marxismo e o Estado
O Marxismo e o Estado
O Marxismo e o Estado
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/1980-3532.2016n15p23
Resumo: O presente artigo versa sobre a relao entre a teoria marxista e a problemtica em torno de uma
teoria do Estado, tendo como objetivo fundamental recuperar as principais contribuies tericas do
marxismo acerca dessa discusso. No sentido de buscar realizar esse objetivo o corpo do artigo est dividido
em duas partes: na primeira parte, partindo da polmica de Bobbio em relao suposta inexistncia de uma
teoria marxista do Estado, apresentada uma reconstituio bibliogrfica das principais contribuies do
marxismo sobre essa problemtica; na segunda seo, no intuito de apresentar a formulao mais clssica da
tradio marxista, fizemos uma breve exposio da teoria de Estado elaborada por Lnin na obra O Estado e
a Revoluo, a qual acabou balizando uma boa parte do debate no sculo XX.
Abstract: From the controversy of Bobbio in relation to the alleged lack of a Marxist theory of the state, this
article aims to rescue the main contributions of the authors referenced in Marxism, they theorized on said
object (the state) and contributed substantial way to the advancement of knowledge in the area. Using the
literature review procedure, the first section presents a general gathering of the main contributions made since
Marx, through Lenin, Gramsci and Poulantzas, reaching the major contemporary references. In the second
section seeks to provide a little more thoroughly systematized theory by Lenin, who eventually constituting a
fundamental classic in which were built the following postulations.
Este trabalho est licenciado sob uma Licena Creative Commons Atribuio-Uso No-
Comercial-Vedada a criao de obras derivadas 3.0 Unported License.
Revista Em Debate (UFSC), Florianpolis, volume 15, p. 23-36, 2016. ISSNe 1980-3532
24
1. Introduo
2. O debate bibliogrfico
Embora a existncia de uma teoria marxista do Estado seja questionvel, bem como
problematizado por Bobbio (1983), igualmente questionvel a afirmao de que essa
no existe.
Revista Em Debate (UFSC), Florianpolis, volume 15, p. 23-36, 2016. ISSNe 1980-3532
25
Para o filsofo italiano, a unidade da teoria definida por aquilo que ele quer
afirmar, a permanncia das regras do jogo, as formas institucionais da democracia
contempornea. Sua teoria , assim, uma teoria positiva da poltica. Para o
marxismo, a unidade da teoria dada por aquilo que ele quer negar, o poder
poltico. O marxismo , assim, uma teoria negativa da poltica. essa
negatividade a condio para a existncia de uma teoria marxista da poltica
(BIANCHI, 2007, p.78).
Revista Em Debate (UFSC), Florianpolis, volume 15, p. 23-36, 2016. ISSNe 1980-3532
26
Revista Em Debate (UFSC), Florianpolis, volume 15, p. 23-36, 2016. ISSNe 1980-3532
27
Revista Em Debate (UFSC), Florianpolis, volume 15, p. 23-36, 2016. ISSNe 1980-3532
28
filsofo esloveno Slavoj Zizek como a obra mais importante do pensamento poltico
marxista nas ltimas dcadas (ZIZEK, 2013, sem paginao). Mascaro, alm de apresentar
perspectivas importantes acerca das formas sociais, polticas e, sobretudo, jurdicas,
apresenta duas teses fundamentais em seu livro: a primeira de que o Estado um
fenmeno tpico do capitalismo, afirmando que aquilo que convencionalmente se chama de
Estado nas formaes sociais pr-capitalistas trata-se na verdade de um fenmeno
homnimo, porm diferente, isso porque, segundo ele, nesses casos a dominao era
desenvolvida diretamente de uma classe sobre as outras por uso da ameaa coercitiva, sem
a intermediao de um ente terceiro socialmente legitimado como representante geral. A
segunda tese do autor uma reafirmao da primeira e define o estado como um derivado
necessrio da prpria reproduo capitalista (MASCARO, 2013, p.19). Ou seja, o Estado
no apenas um aparato de represso, mas sim de constituio social, pois
Por fim, o quarto e no menos importante autor a ser destacado aqui o mexicano
Jaime Osrio, que em seu livro O Estado no Centro da Mundializao (2014) mobiliza
uma srie de conceitos de Poulantzas para compreender o Estado na chamada
mundializao. Um aspecto relevante que durante o trabalho de reintroduo conceitual o
autor insere uma pequena diferena no conceito de classe reinante, tornando possvel uma
nova problematizao acerca das relaes entre a classe reinante e a classe dominante,
sobretudo por meios de discusses travadas acerca de conceitos como os de centro de
poder, frente de poder, bloco no poder, cena poltica e classe mantenedora. Alm disso,
assim como Mascaro e Hirsch, ele tambm levanta teorizaes importantes acerca das
relaes internacionais e das impossibilidades democrticas numa sociedade de classes.
Como se pode constatar aqui, se por um momento a teorizao sobre o Estado foi
negligenciada pelos autores marxistas, hoje, justamente, so esses os que reconduzem o
Estado a um plano de primeira importncia para a compreenso da formao social
capitalista. Isso se deve muito ao trabalho de autores que tiveram a coragem terica de
Revista Em Debate (UFSC), Florianpolis, volume 15, p. 23-36, 2016. ISSNe 1980-3532
29
O livro vem luz sem um stimo captulo, que deveria concluir o opsculo
tratando da experincia das revolues russas de 1905 e 1917 o captulo acabou
adiado para sempre porque, como o autor esclarece no posfcio, datado de 30 de
novembro de 1917, mais agradvel e mais til viver a experincia da revoluo
do que escrever sobre ela (NETTO, 2012, p. 150).
Revista Em Debate (UFSC), Florianpolis, volume 15, p. 23-36, 2016. ISSNe 1980-3532
30
Enfim, foi com essa obra, O Estado e a Revoluo, que Lnin reconheceu e
demonstrou que a questo do Estado havia sido posta na ordem do dia para o proletariado
em luta (LUKCS, 2012, p.78). Desse modo, na tentativa de identifica-la no livro do
marxista russo, sero observadas de maneira conjugada trs categorias: a) a origem do
Estado, b) a essncia do Estado e c) as dimenses do Estado. Com a primeira categoria, a
origem do Estado, busca-se compreender o entendimento de Lnin sobre as relaes sociais
e histricas que tornaram o desenvolvimento do Estado possvel e, at mesmo, necessrio.
A observncia da segunda categoria busca compreender a perspectiva do marxista russo
sobre a substncia do Estado, o seu fim ltimo, aquilo que torna o Estado o que ele e sem
o qual j no seria. A ltima das categorias procura identificar as perspectivas acerca dos
meios do Estado, a sua extenso, ou, o elo fundamental pelo qual esse estabelece suas
relaes com a totalidade social, o seu sustentculo. A anlise conjunta das trs categorias
articuladas possibilita ento a compreenso sobre a definio de Estado presente em Lnin.
Orientando-se fundamentalmente pelos escritos deixados por Marx e Engels, Lnin
sistematiza uma teoria marxista acerca do Estado que alcana definies de trs nveis: a)
as caractersticas essenciais do Estado em geral; b) as caractersticas da Repblica
Democrtica Burguesa; e c) as caractersticas do Estado Proletrio.
Na caracterizao do Estado em geral Lnin, citando o Engels de A origem da
famlia, da propriedade privada e do Estado, define esse ltimo como:
Revista Em Debate (UFSC), Florianpolis, volume 15, p. 23-36, 2016. ISSNe 1980-3532
31
Quando Engels diz que numa repblica democrtica, tanto quanto numa
monarquia, o Estado continua sendo mquina de opresso de uma classe por
outra, no quer dizer que a forma de opresso seja indiferente ao operariado,
como o professam certos anarquistas. Uma forma de opresso e de luta de classes
mais ampla, mais livre, mais franca, facilitar enormemente ao proletariado a sua
luta pela abolio das classes em geral (ibidem, p.98).
Revista Em Debate (UFSC), Florianpolis, volume 15, p. 23-36, 2016. ISSNe 1980-3532
32
Revista Em Debate (UFSC), Florianpolis, volume 15, p. 23-36, 2016. ISSNe 1980-3532
33
4. Consideraes finais
Revista Em Debate (UFSC), Florianpolis, volume 15, p. 23-36, 2016. ISSNe 1980-3532
34
Revista Em Debate (UFSC), Florianpolis, volume 15, p. 23-36, 2016. ISSNe 1980-3532
35
Referncias
ANDERSON, Perry. Consideraes sobre o marxismo ocidental, Porto: Edies
Afrontamento, 1976.
ARAJO, ngela; TAPIA, Jorge. Estado, Classes e Estratgias: notas sobre um debate.
Revista Crtica e Sociedade, Uberlndia, v.1, n.1, p. 6-54, 2011.
BIANCHI, lvaro. Uma teoria marxista do poltico O debate Bobbio trentanni dopo. Lua
Nova Revista de Cultura e Poltica, So Paulo, n70, p. 39-82, 2007.
BOBBIO, Norberto. Existe uma doutrina marxista do estado? In: Qual socialismo? Rio de
Janeiro: Paz & Terra, 1983.
HIRSCH, Joachim. Teoria Materialista do Estado. Rio de Janeiro: Editora Revan, 2010.
JESSOP, Bob. O Estado e a construo de Estados, Revista Outubro, n15: p. 11-43, 2007.
LNIN, Vladimir I. A Cultura Proletria. In: Lnin, cultura e revoluo cultural. Rio de
Janeiro: Civilizao Brasileira, 1968.
Revista Em Debate (UFSC), Florianpolis, volume 15, p. 23-36, 2016. ISSNe 1980-3532
36
ZIZEK, Slavoj. Texto para quarta capa do livro Estado e Forma Poltica, de Alysson
Mascaro. So Paulo, Texto sem paginao, 2013.
https://blogdaboitempo.com.br/2013/05/10/a-obra-mais-importante-do-pensamento-
politico-marxista-nas-ultimas-decadas-slavoj-zizek-escreve-sobre-estado-e-forma-politica/
Revista Em Debate (UFSC), Florianpolis, volume 15, p. 23-36, 2016. ISSNe 1980-3532