Urupês
Urupês
Urupês
Anlise da obra
Publicado em 1918, Urups basicamente uma srie de 14 contos, tendo como nfase a
vida quotidiana e mundana do caboclo, atravs de seus costumes, crenas e tradies.
Monteiro Lobato reuniu na obra alguns contos que a experincia de fazendeiro do Vale
do Paraba lhe proporcionou. a obra de estria de Monteiro Lobato.
Urups no contm uma nica histria, mas vrios contos e um artigo, quase todos
passados na cidadezinha de Itaoca, no interior de SP, com vrias histrias, geralmente de
final trgico e algum elemento cmico. O ltimo conto, Urups, apresenta a figura de
Jeca Tatu, o caboclo tpico e preguioso, no seu comportamento tpico. No mais, as
histrias contam de pessoas tpicas da regio, suas venturas e desventuras, com seu
linguajar e costumes.
Para uma melhor compreenso da temtica da obra, o prprio escritor nos d pistas ao
citar, em um dos seus contos, Meu Conto de Maupassant. De fato, sua literatura vai pela
mesma rota do literato francs, j que se baseia em aes extremas e patticas norteadas
pelo amor e pela morte.
Enredo
No deixe de notar que a narrativa vrias vezes se abre para que haja comentrios dos
ouvintes com o enunciador. uma maneira de o texto no ficar pesado, cansativo. Alm
disso, deve-se observar as tcnicas expressionistas (o exagero que beira o grotesco) e
naturalistas (preferncia pelos aspectos escabrosos do comportamento humano).
Finalmente, no se deve perder de vista que este conto foge ao padro de Monteiro
Lobato, j que no regionalista. Passa-se no litoral, ou seja, bem longe do seu
conhecido Vale do Paraba.
A Vingana da Peroba Mais um conto que critica a decadncia rural provocada pela
indolncia dos fazendeiros. H aqui uma oposio entre duas famlias, os Porunga,
fortes e de vida bem estabelecida, graas fora de vontade de suas aes, e os Nunes,
mergulhados na preguia, desorganizao e cachaa. Os dois cls desentendem-se por
causa de uma paca, h muito desejada pelo Nunes, mas que acabou sendo caada por
um Porunga. Movido por uma mistura de rivalidade e de inveja, Nunes resolve
finalmente investir em suas terras. Seus esforos tm fruto, gerando uma boa colheita de
milho. Resolve ento construir um monjolo, pois no quer ficar atrs do seu vizinho em
desenvolvimento. Corta uma peroba imensa, que estava na divisa das duas terras. J h
aqui motivo de desentendimento, que arrefece quando os Porunga resolvem no brigar
mais pela rvore. Semelhante ao conto Faroleiros, h o emprego da premonio no
meio da narrativa. Um aleijado, que havia sido contratado por Nunes para ajudar na
construo do engenho, conta uma histria de que certas rvores se vingam por terem
sido cortadas. O fato que o monjolo construdo, mas todo torto, produzindo mais
barulho do que outra coisa, o que justifica o seu apelido: Ronqueira. Decepcionado e
envergonhado, mergulha na cachaa. Um dia, depois que ele e seu filhinho se
embebedaram, acaba adormecendo na rede. Acorda com a gritaria das mulheres de sua
casa: o engenho havia esmagado a cabea da criana no pilo. Irado, Nunes destri a
machadadas a mquina assassina.
Um Suplcio Moderno Este conto apresenta o estafeta, uma espcie de carteiro, como
o tipo mais humilhado das cidades do interior. Trata-se da histria de Biriba, um pobre
coitado que acaba se tornando o burro de carga de todas as pessoas de Itaoca, que ainda
cometem o desatino de reclamar dos favores que faz para elas. Sua pacincia esgota-se a
ponto de pedir demisso, mas no o deixam levar adiante seu plano. Era interesse de
todos ter algum to submisso. quando resolve se vingar, traindo Fidncio, seu
superior. Recebe um pacote muito importante para as eleies. No o entrega, sumindo
com ele por dias. o motivo da queda do maioral, provocando a subida do inimigo,
Evandro, que no poupa quase ningum do antigo governo, apenas o pobre Biriba,
recebido de forma bastante atenciosa. Provavelmente desconfiando que tudo iria
continuar como antes, mudados apenas os personagens, some de Itaoca.
Buclica Outro conto regionalista que critica a lassido infinita da zona rural.
Narra-se o atraso em que vivem Veva e seu marido, Pedro Suo. Os dois tm uma filha,
Anica, deficiente. Esse o motivo que faz sua me tratar-lhe mal, desejando a morte da
pequena, j que no v utilidade em sua existncia quase paraltica. O clmax,
temperado a doses de crueldade absurda, est no relato que Libria, a empregada do
casal, faz ao narrador. A menina havia morrido de sede, pois a me havia-lhe negado
gua, mesmo sabendo que a coitada estava com febre. O mais trgico que a nica que
atendia s vontades da enferma era a criada, que naquele momento estava retida fora da
casa graas a uma chuva torrencial que aparecera. O funesto est no fato de a mocinha
ter se arrastado at o pote dgua, morrendo ao p deste.
Note como o ttulo do conto estabelece uma gigantesca ironia com relao ao seu
contedo.
O Comprador de Fazendas Quase como para aliviar a leitura depois de dois textos
to pesados, este conto mostra-se mais jocoso. a histria de Moreira, dono da fazenda
decadente mais uma vez esse tema! Espiga, que no consegue ser vendida, assim
como sua filha Zilda no consegue arranjar casamento. At que surge Trancoso, sujeito
bem afeioado e que se mostra interessado em comprar a propriedade.
Surpreendentemente, o primeiro que se mostra a elogiar tudo, o que faz com que seja
bem tratado, podendo at cortejar Zilda. Parte, prometendo fechar negcio em uma
semana. Com a demora da resposta, Moreira faz pesquisas, descobrindo que o indivduo
ganhava a vida andando de fazenda em fazenda, sempre se mostrando interessado em
comprar, o que lhe garantia casa e comida por alguns dias. O proprietrio, frustrado, fica
irado. Tempos depois, Trancoso ganha na loteria e retorna Espiga, dessa vez para
compr-la realmente, mas recebido com uma surra de rabo de tatu. Vai-se, a, o sonho
de vender a fazenda e de casar Zilda.
O Estigma Bruno, narrador, conta a histria de seu amigo, Fausto, que se casou
praticamente interessado em dinheiro, j que o relacionamento era o que se chamava
face noruega", ou seja, semelhante ao lado de uma vegetao em que no bate sol.
Tudo se complica quando o marido se envolve com uma prima, Laurita, muito mais
jovem do que a sua esposa. At que a mocinha aparece morta com um tiro no peito.
Suspeita-se que tenha se suicidado e o narrador chega a pensar que de remorso por
manter um relacionamento adulterino. Tempos depois, o filho de Fausto nasce,
apresentando uma marca no peito, na mesma regio que Laura havia atingido para pr
fim a vida. Desenvolve ento a teoria de que aquela criana, quando feto, fora a nica
testemunha do crime cometido por sua me. Em outras palavras, no houve suicdio,
mas um crime passional e a criana veio ao mundo para denunciar sua progenitora.
Assim que v esse sinal, mostra para a esposa, dizendo: Olha, mulher, quem te
denuncia!. Em pouco tempo est morta. O narrador, que visita a personagem muitos
anos depois, pde ver o sinal e descobrir que era tudo iluso, pois no havia como a
marca presente no peito da criana provar ou mesmo denunciar qualquer coisa.
Prefcio da 2 Edio de Urups Explica-se aqui o que levou Lobato a produzir seus
textos sobre a indolncia do caipira. Tudo havia comeado com um comentrio para o
jornal em linguagem vazada de emotividade e estilo, o que despertou nos leitores um
desejo por mais textos do mesmo quilate.
Urups Este um dos mais famosos textos de Monteiro Lobato. Nele, desanca uma
crtica das mais ferozes que j se fez sobre qualquer tipo nacional. O alvo de seu ataque
o caboclo. Derrubando uma tradio cara, inaugurada por Jos de Alencar, que
apontava como a mestiagem do ndio com o branco como geradora de uma nao forte,
Lobato cr no contrrio. Sua teoria institui a tese do caboclismo, ou seja, a mistura de
raas gera um tipo fraco, indolente, preguioso, passivo. Sua religio manifesta-se por
meio das mais primitivas formas de superstio e magia. Sua medicina mais rala
ainda. Sua poltica inexistente, j que vota sem conscincia, conduzido pelo maioral
das terras em que mora. Seu mobilirio o mais escasso possvel, havendo, no mximo,
apenas um banquinho (de trs pernas, o que poupa o trabalho de nivelamento) para as
visitas. No tem sequer senso esttico, coisa que at o homem das cavernas possua. E
quanto produo, dedica-se apenas a colher o que a natureza oferece. , portanto, o
prottipo de tudo quanto h de atrasado no pas.