FRANCISCATO - 2013 - As Fronteiras Do Campo Do Jornalismo
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Resumo:
O objetivo deste trabalho analisar um movimento histrico de constituio
epistemolgica de um campo especfico de estudos, que podemos denominar
provisoriamente como campo do jornalismo. A anlise ser feita utilizando um
referencial terico sobre disciplinaridade, interdisciplinaridade e
multidisciplinaridade. A questo proposta neste artigo investigar de que formas a
notcia vem sendo tratada como objeto de estudo no jornalismo e, nessas
abordagens, em que grau as abordagens aplicadas ao estudo da notcia direcionam
para uma construo disciplinar ou transversal do conhecimento sobre o
jornalismo. Para isso, recorremos leitura de um conjunto de obras internacionais
e nacionais que consideramos de referncia para a pesquisa em jornalismo no
Brasil, particularmente quelas que contribuem mais significativamente para a
compreenso da notcia como fenmeno jornalstico.
Introduo
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Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Estudos de Jornalismo, do XXII Encontro Anual da Comps, na
Universidade Federal da Bahia, Salvador, de 04 a 07 de junho de 2013.
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Este paper foi produzido com resultados parciais da pesquisa Investigando os fundamentos e as fronteiras
disciplinares nos estudos em jornalismo, projeto financiado pelo CNPq no Edital Universal 2011.
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Universidade Federal de Sergipe. Doutor. E-mail: [email protected].
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Para esta discusso, seguiremos Bourdieu (2004) e sua proposta de um novo modelo de anlise da construo
do conhecimento, o campo cientfico, constitudo por uma natureza relacional em que predominam relaes de
concorrncia, conflito e lutas entre atores como fatores determinantes ao funcionamento de um campo social. O
campo cientfico apresenta uma ideia de comunidade de cientistas, mas no homognea, unificada ou
voluntariamente centrada em uma norma geral que o paradigma, conforme a concepo de Kuhn (2009). O
campo social funciona por oposies, e o cientfico pela oposio entre consenso e conflito (2004, p. 67-8). So
intrnsecas ao campo cientfico relaes de fora e de poder entre cientistas em posies institucionais
diferenciadas em decorrncia do capital simblico que possuem (autoridade e produtividade acadmicas). As
relaes de poder so manifestas na forma de posies desiguais dentro do campo cientfico e seu exerccio
implica um tipo de dominao simblica (2004, p. 81-9).
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presente (1991), de Lorenzo Gomis; La noticia: Pistas para percibir el mundo (1993), de
Mar de Fontcuberta.
Nestas quatro obras, a notcia se destaca como fenmeno complexo no redutvel nem
igualvel a outros fenmenos sociais. Ela expresso especfica de uma atividade singular
que, em consequncia, solicita uma construo conceitual especfica. Cada autor a oferece
conforme suas referncias tericas, oriundas das cincias humanas, mas as operando com
uma autonomia reflexiva que supera fronteiras restritivas de uma disciplina. A idia de
deslocamento disciplinar visvel: pensar densamente o jornalismo exige um descolamento
dos modelos explicativos j formulados nestas cincias. A tese de Adelmo , nesse caso, um
exemplo rico de um enfrentamento a um conhecimento institucionalizado que estabelecia um
modelo explicativo de notcia. Neste movimento em direo a uma teoria marxista do
jornalismo, o autor buscou complexificar, humanizar e densificar a notcia.
Isto significa que a notcia no , para esses autores, um conjunto de tcnicas.
sintomtico localizar, nestas obras, uma busca pela natureza da notcia ou do jornalismo,
uma essncia. A notcia seria (ou deveria ser) a expresso humanizada e humanizadora do ato
de conhecer e experimentar o mundo por meio dos relatos jornalsticos. Portanto, a notcia
constituda como objeto cientfico no representa um objeto a ser isolado por uma viso
instrumentalista do pesquisador, mas no desvelar deste objeto complexo que cada autor
quer anunciar ao mundo um novo tipo de fenmeno e experincia.
Tal construo, se no delimita normativamente uma nova fronteira cientfica, uma
nova disciplina, indica atributos e problemas que convergem para uma rbita prpria de
discusses. Compreender a notcia demanda pensar sobre um campo prtico e significativo de
relaes do mundo do jornalismo e, partir delas, constituir uma ordem discursiva original,
prpria, um ncleo comum de conceitos (acontecimento, atualidade, singularidade), em que o
fator temporal um dos principais elementos comuns s noes propostas. A notcia cria uma
nova prxis de construo do mundo, uma ao social de novo espectro, uma amlgama que
presentifica a experincia temporal impressa no texto, no evento e nas apropriaes e usos
sociais por seus pblicos.
Assim, a predominncia de esquemas tericos particulares em cada um dos autores
no lhes tira a fora de um pensamento original sobre a notcia e o jornalismo, j que as suas
obras revelam a necessidade de um campo de saberes prprios para compreender o
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5. Consideraes finais
A produo de estudos sobre a notcia, conforme ilustramos nos itens anteriores,
ocorre em um movimento histrico de constituio de saberes caracterstico das cincias. Isto
significa que os recortes aplicados na anlise tiveram a inteno de visualizar traos comuns
e salientar diferenas que facilitassem a argumentao proposta. Mais importante do que a
insero de correntes ou obras em grupos, tentamos acentuar, como aspecto fundamental, um
movimento ou intencionalidade dominante executado por esses trabalhos e suas
consequncias para a compreenso da notcia e formulao de um ncleo terico comum de
estudos sobre jornalismo.
Assim, elucidativa a anlise que Madel Luz (2009) executa sobre a constituio da
rea de Sade Coletiva, em um ponto de encontro entre os campos da sade e das cincias
sociais. Duas observaes so particularmente interessantes. A primeira diz respeito ao
reconhecimento de uma inerente natureza hbrida da Sade Coletiva: a) a lgica terico-
epistemolgica de produo de conhecimento; b) a lgica operativa e pragmtica da eficcia,
decorrente da interveno normativa na ordem da vida. Essa dupla complexidade do campo
impede, a nosso ver, que se adotem explicaes tericas monocausais (2009, p. 306). Esta
situao semelhante no jornalismo, com sua normatividade terica, tcnica e tica
atravessada pelas tenses e experincias sociais, econmicas e polticas. O desafio tanto
reconhecer esta complexidade quanto desenvolver nveis de integrao interdisciplinar, em
que lgicas tericas e pragmticas se influenciem mutuamente.
A segunda observao se refere ao reconhecimento da especificidade dos movimentos
histricos de constituio dos diferentes paradigmas na rea, criando uma situao de
irredutibilidade a um paradigma monodisciplinar (LUZ, 2009, p. 306). A construo do
saber histrica, o campo cientfico no homogneo ou voluntariamente centrado em um
paradigma, e as oposies, conflitos e as lutas so no apenas episdicos, mas caractersticos
dos campos sociais. O que significa tambm o reconhecimento da legitimidade da
diversidade no tratamento conceitual aplicado ao jornalismo. A ferramenta interdisciplinar
operativa para perceber relaes de produo de conhecimento no campo cientfico, mas ela
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6. Referncias Bibliogrficas:
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