Santo Agostinho
Santo Agostinho
Santo Agostinho
FACULDADE DE TEOLOGIA
Dissertao Final
sob orientao de:
Doutor Isidro Pereira Lamelas
Lisboa
2012
Tendo presente que a caridade deve ser o
Catechizandis Rudibus, 4, 8.
SIGLAS E ABREVIATURAS
De carcter geral
Cap. Captulo
Col. Coluna
Sc. Sculo
Ss. Seguintes
T. Tomo
Trad. Traduo
Vol. Volume
Bblicas
4
Act Livro dos Actos dos Apstolos
Dt Livro do Deuteronmio
Ex Livro do xodo
Peridicos e colees
AL Augustinus Lexicon
AM Augustinus Magister
BA Bibliothque Augustinienne
5
CCL Corpus Christianorum Latinorum
EB tudes Bibliques
LV Lumem Vitae
RB Revue Bndictine
SC Sources Chrtiennes
Fontes
6
Adv. Marc. TERTULIANO, Adversus Marcionem
Epist. Epstola
Lucas
7
INTRODUO
trabalho tem como objetivo refletir sobre a maneira como santo Agostinho,
conhecido pela sua arte e pedagogia de ensinar e pela sua eloquncia do discurso,
situa, o texto que nos inspirou e nos levou a escolher este tema a passagem do
Evangelho de So Mateus que diz: Ide, pois, fazei discpulos de todos os povos,
cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco
Um destes caminhos que a Igreja vem traando ao longo dos tempos para
levar este mandado evanglico a todos os homens tem sido a catequese, como
8
lugares e as culturas, nas suas expresses mais significativas, nos seus valores e
riquezas especficas, para depois ajudar estas mesmas culturas a fazer surgir da
cristo1.
hoje.
original de Cristo.
ocupa um lugar de relevo, tanto como pastor como enquanto telogo da Igreja e
pensador que reflete sobre a experincia concreta da Igreja. Ora uma das
experincias mais ricas que sempre foi devidamente reconhecida como essencial
tambm dos primeiros a teorizar sobre o modo de exercer e viver esta experincia.
rudibus, como uma proposta exemplar para uma renovao da catequese na Igreja.
1
Cf. JOO PAULO II, Exortao Apostlica Catechesi Tradendae, Roma,1979, n 53.
9
caminho proposto pelo nosso autor durante o percurso de ensino da catequese
complementam mutuamente.
Assim sendo, achamos por bem, no primeiro captulo, fazer uma breve
catequese no mbito histrico e eclesial em que o nosso autor se situa. Para tal
tambm a renovao e a revalorizao que esta teve com o avanar dos tempos,
deixar de fazer uma referncia, ainda que breve, sobre a maneira carinhosa e
revelava ser tambm ele um bom pastor e um bom mestre de todos aqueles que
sua obra. Por isso, faremos uma contextualizao do texto e, como manual de
10
instruo catequtica que , procuraremos fazer uma diviso abrangente do
catequtico.
pelo nosso autor. o captulo central, que visa sublinhar os traos mais
causa, o nosso autor faz um elenco das dificuldades que o catequista pode
amor de Deus tudo supera. O remdio por excelncia a hilaritas, que faz com
que o catequista desempenhe a sua funo sempre com alegria, procurando levar a
11
fazer com que a mensagem da Boa- Nova chegue a todos como beno de Deus,
como gozo e alegria que devem ser completos, pois Deus ama aquele que d com
alegria.
estas teorias com os contedos da f que o nosso autor mais salienta. As mirabilia
prova do amor de Deus pelos homens. Contudo, a catequese deve terminar com as
Enfim, todo o contedo e o objetivo da catequese deve a fazer com que o homem
Igreja do seu tempo e muito menos do nosso tempo. Somos conscientes deste e de
edificao eclecial.
12
CAPTULO I
A Catequese e a transmisso da f
pastor de almas.
2
JOO PAULO II, Exortao Apostlica Catechesi Tradendae, Roma, 1979, ns 1 e 15.
3
Ao falarmos das aes realizadas pela Igreja estamos a pensar nos diversos mbitos da ao
pastoral, como por exemplo: a ao proftica, litrgica, caritativa, etc..
13
evangelizadora. neste sentido que o Papa Joo Paulo II nos dizia que toda a
atividade da Igreja tem uma dimenso catequtica4, ou seja, tem uma capacidade
quando uma pessoa quer fazer-se cristo e se lhe recorda os nomes de Deus ou de
Contudo, existe hoje uma tendncia cada vez maior para designar como
da misso.
adequado para a iniciao e instruo dos cristos. Isto porque ela uma arte que
4
JOO PAULO II, Exortao Apostlica Catechesi Tradendae, Roma, 1979, n 49.
5
LIDDELL-SCOTT, A greek English Lexicon, Vol. 1, Col. 1, Oxford, 1968, 926-927.
6
Cf. G. BIEMER. Catequese in DCFT, Paulus, So Paulo, 1993, Col. 1, 72.
7
No ministrio da Palavra encontramos trs grandes sectores: anncio kerigmtico; a homilia e a
catequese. Embora no seguindo uma sequncia linear e natural, a Igreja realiza todos estes atos de
uma forma coordenada e organizada. A catequese sucede, por assim dizer, o anncio kerigmtico,
pois todo aquele que tem um primeiro encontro com Cristo e com a sua palavra chamado a
aprofund-lo atravs da catequese. Para distinguir estes trs conceitos propem-se: cf. J.
DANILOU, Que es la Catequesis?, Celam-Claf, Marova, Madrid, 1968, 61.
14
Cristo8. Efetivamente, a catequese um ensino, um aprofundamento da f na
Neste sentido, assiste-se cada vez mais, hoje em dia, uma constante
dizer que esta sai do Conclio enriquecida com novos contedos e preparada para
Isto porque, com efeito, uma das finalidades do Conclio Vaticano II foi uma
8
Concilio Vaticano II, Declarao Gravissimum Educationis, n 4.
9
o movimento surgido no seio da Igreja Catlica nos finais do sc. XIX e incios do sc. XX e
que coincide com diversos outros movimentos de renovao, motivados pelas novas orientaes de
pensamento; pelas renovaes pedaggicas promovidas pelas cincias de educao; os estudos
teolgicos; mudana de contexto scio-cultural, etc. cf. C. FLORISTN, Teologa Prtica. Teora
y praxis de la accin pastoral, Sgueme, Salamanca, 2009, 398ss.
10
JOO XXIII, Discurso de abertura do Conclio Vaticano II, Roma, 11 de Outubro de 1962.
11
Cf. PAULO VI, Exortao Apostlica Evangelii Nuntiandi, 7 ed., Braga, 1990, ns 17, 22, 44,
47; Catechesi Tradendae, n 18.
15
Digamos que, no seu novo desabrochar, a catequese atual, atravs de
preocupao das comunidades crists desde os seus incios. Digamos que ela
mandado13. Este apelo de Jesus faz com que a catequese seja uma realidade co-
natural Igreja, isto , uma experincia to antiga como a Igreja14 e que feita
12
Cf. III CONFERNCIA EPISCOPAL LATINO-AMERICANO, Semana Internacional de
catequeses de Medell., Medelln, 1986, n 8.
13
Mt 28, 19-20.
14
Com este ttulo inicia o segundo captulo da Exortao Apostlica Catechesi Tradendae.
16
dos Apstolos15. A mesma atitude se verificou nas posteriores comunidades ps-
katchein em grego tem uma origem profana. Significa falar desde cima e era
uma prtica comum usada pelos poetas e atores durante os espetculos de circo.
significa: fazer ecoar aos ouvidos algo vindo de cima, fazer eco da palavra de
outrem que est acima; informar e comunicar uma notcia, isto , dar uma
instruo crist (cf. Act. 18, 25; Rom 2, 18; Gal 6, 6). Trata-se, pois, de um ensino
15
Act 2, 42.
16
Cf. E. ALBERICH, La catequesis en la Iglesia, Madrid, 1991, 47; 87.
17
Cf. V. M. PEDROSA ARS; R. L. RECALDE, Catequesis. El trmino catequesis y su realidad
teolgico-pastoral en la historia in NDC, San Pablo, Madrid, 1999, Vol. 1, Col. 2, 296; G.
BIEMER. Catequese in DCFT, Paulus, So Paulo, 1993, 69-70.
18
Cf. P. M. BEERNAERT, Le verbe grec katchein dans le N.T, in LV 44, Bruxelles, 1989,
377-387; A, EXELER, Essencia y mission de la catequesis, Barcelona, 1968, 172-181.
17
Isto porque a transmisso da f tinha um papel importante no seio do povo (cf. Ex
dirigidos a todo o povo de Israel, como sinal da Aliana com Jav. A recitao
constante dos textos (cf. Dt 6, 7-9) exercia uma funo pedaggica e meditativa,
exigncia da Aliana que Deus outrora fizera com os seus antepassados. Isto era
muito patente sobretudo no perodo ps-exlico (cf. Prov 1-9), em que o povo era
da palavra do Evangelho.
Assim, nos Actos dos Apstolos (cf. Act. 18, 25), a catequese refere-se
Carta aos Hebreus (cf. Heb 6, 1-3), o termo significa um ensinamento religioso,
instruo da lei (cf. Rom 2, 18). Na primeira Epstola aos Corntios (cf. 1 Cor
19
Cf. J. DANILOU, La catechesi nei primi secoli, Leumann, Torino, 1969, 60-62.
18
querendo significar um ensinamento rudimentar em oposio a outros
perceo de catequese que se tem conservado, por assim dizer, na Igreja, a saber:
que o discpulo se submeta e entre em comunho com o seu mestre que lhe ensina
a Palavra.
palavra de Deus, podemos dizer que no gnese da catequese crist est antes de
mais a Escritura Sagrada, que contm o essencial da f e que serve para iluminar e
20
Cf. J. DANILOU, La catechesi nei primi secoli, Leumann, Torino, 1969, 7-11.
19
relatado no Livro dos Actos dos Apstolos, no discurso do Apstolo So Pedro
multido, que se centra no essencial acerca de Cristo e diz que, depois de pregado
Embora estas duas vertentes estejam sempre ligadas, por assim dizer, no
precede a iniciao crist, e a catequese, por sua vez, faz amadurecer e fortalecer a
primeiro anncio ser entendida antes de mais na base de todo o edificio da f, que
Jesus Cristo23.
21
A. FOSSION, La conversion missionnaire de la catchse. Proposition de la foi et premire
annonce, LV, Bruxelles, 2009, 124.
22
G. WOOD, Didach, Kerigma and Evangelizalion: New Testament Essays, Manchester, 1959,
306-314.
23
Cf. COMISSO EPISCOPAL DA CONFERNCIA EPISCOLPAL ITALIANA PARA A
DOUTRINA DA F. Questa la nostra fede. Nota pastorale sul primo annuncio, Paoline, Milo,
2005, n6.
20
Segundo o pastoralista, Luca Bressan, o tema do primeiro anncio cristo
Mais que uma prtica por si s, mais que um segundo elemento, com
primeiro anncio, pretendo indicar um princpio organizativo, um estilo, uma
espcie de elemento paradigmtico que descreve e define o comportamento que a
instituio eclesial assume em situaes de fronteira, de encontro com as
realidades, pessoas e situaes externas aos seus circuitos habituais24.
O autor faz referncia a uma posio global que a Igreja como instituio
de modo atrativo e credvel com os homens e mulheres do nosso tempo. Por isso
mbitos de Igreja.
Cristo, queles que, tendo-o conhecido se afastaram dEle, e queles que crendo j
24
L. BRESSAN, Quali esperienze di annuncio proporre?, in Noticiario dellUfficio Catechistico
Nazionale, n 1, Abril, 2001, 61.
21
de suscitar em todos eles um interesse por Jesus Cristo capaz de levar a uma
inteno de o mover, vem despertar o interesse no recetor. Para tal, dever ser
de Jesus o kergma.
22
neste sentido que assistimos, no perodo patrstico, ao fato de muitos
Apstolos 26. um manual de intruo moral (as duas vias), que, entre muitos
Didach foi considerada na antiguidade como um manual til para o ensino dos
23
catequese moral, paralela Didach. Este manual oferece-nos um exemplo
Apstolos; a Doutrina dos Apstolos, que uma catequese dogmtica e, por fim, a
necessidade de transmitir a f tambm aos de fora, isto , aos pagos e aqueles que
pag. Apareceram tambm muitas figuras importantes que com as suas obras
27
Cf. J. DANILOU, La catechesi nei primi secoli, Leumann, Torino, 1969, 19-20.
24
Estava assim preparado o terreno para o surgimento de centros ou
Ocidente.
converso, funda uma escola com a finalidade de expor a f crist aos crentes e
pagos. Nos seus escritos (as Apologias e o Dilogo com Trifo) oferece-nos uma
Cipriano, por sua vez, ajuda-nos a fixar uma terminologia em que destaca o uso de
28
Cf. A. BOLIN- F.GASPARINI- G.ROCHA, A catequese na vida Igreja. Notas de histria,
Paulinas, Lisboa, 1996, 21-22.
29
Cf. B. POUDERON, D'Athnes Alexandrie, Quebec, Lovaina, Paris, 1997, 1-70.
30
Cf. TERTULIANO, Trait du Baptme, Texto latino com traduo e anotao de R. F.
REFOUL, SC, Le Cerf, Paris, 1952.
25
termos catequticos como catechumeni, audientes e doctores audientum31.
Os seus escritos tm uma inteno catequtica. Estes dois procuraram formar uma
finais do sc. III e incios do sc. IV, uma grande escola catequtica, da qual
31
E. ROMERO POSE, Catequese en la epoca patristica, in NDC, San Pablo, Madrid, 1999, Vol.
1, Col. 2, 336.
32
SO CIPRIANO, De oratione Dominica, 5, 9 PL 3, 1545.
26
1.4 O catecumenato: origem e desenvolvimento
catequese.
preparao para o Batismo nas comunidades crists. De fato, se desde muito cedo
27
admisso em que se verificavam as motivaes, estado de vida e profisso do
para conhecer melhor a conduta de vida dos candidatos e, durante uma semana,
mistaggica39.
Escritura; leva-o a descobrir a centralidade de Jesus Cristo40. Isto quer dizer que
37
Cf. G. DHO; L. CSONKA; G.C. NEGRI, Metodologia de la catequesis, Sgueme, Salamanca,
1966, 86.
38
Cf. SAGRADA CONGREGAO PARA O CLERO, Directrio Geral da Catequese, Ed.
Secretariado nacional da catequese, 88-89, 107; 129; C. FLORISTN, Teologa Prtica. Teora y
praxis de la accin pastoral, Sgueme, Salamanca, 2009, 428-430.
39
Cf J. DANILOU-R. DU CHARLAT, La catchse aux premiers sicles, Fayard-Mame, Paris,
1968, 44-64; 89-90; 125-130; 249-260.
40
A. BOLIN; F.GASPARINI; G.ROCHA, A catequese na vida Igreja. Notas de histria, Paulinas,
Lisboa, 1996, 46.
28
o catecumenato est constitudo por dois elementos essenciais: a catequese e a
Igreja.
patamar importante na vida da Igreja, isto devido a uma afluncia cada vez maior
de pessoas que queriam ser batizadas e tambm, como consequncia disto, devido
No nos podemos alongar muito neste tema, mas, de todos estes tratados
nos obter, de certa forma, o acesso tradio catequtica da poca patrstica, que
41
Cf. J. DANILOU, Que es la Catequesis?, Celam- Claf, Marova, Madrid, 1968, 62-66.
29
1.4.1 O catecumenato e a catequese no tempo de Santo Agostinho
salis, e o rito da uno (esta era a ordem seguida em frica, pois em Roma o rito
catecumenato); os fidelis, por sua vez, eram os que j tinham sido batizados.
42
Cf. V. GROSSI, La catechesi battesimale agli initio del V secolo, Ins. Patr. Augt., Roma, 1993,
13-15.
43
Cf. E. LAMIRANDE, La signification de Christianus dans la thologie de S. Augustin et la
tradition chrtienne, in Rev. tud. August. IX, Paris, 1963, 221-234.
30
Em Cartago, precisamente por influncia do bispo Hiponense,
tambm para as outras comunidades crists da poca, pois a sua preparao tem
44
O testemunho mais explcito -nos oferecido por Tertuliano nas suas obras: Apologeticum, De
praecriptione haereticorum, De baptismo, De oratione; cf. J. QUASTEN, Patrologia 1, 530-617.
Nas obras de Orgenes: adversus Celsum, Homilias; cf. J. QUASTEN, Patrologia 1, 338-397. Para
uma orientao geral sobre o catecumenato seguido nas catequeses de santo Agostinho, cf. I.
RODRGUEZ, El catecumenado en la disciplina de Africa segn san Agustn, in Contribucon
espaola a una misionologa Agustiniana, Burgos, 1955, 160-174.
31
pedaggica e pastoral. Contudo, deve dizer-se que esta obra no clarifica todos os
preciso, ou seja, passa a ser como que uma premissa e um caminho em ordem
seus contedos. Nas suas pregaes e sermes ele revela-se como um grande
cristos.
uma descrio ntida do que a catequese e do que ser catequista para ele.
45
Cf. G. DHO; L. CSONKA; G.C. NEGRI, Metodologia de la catequesis, Sgueme, Salamanca,
1966, 85.
32
Neste sentido, e para entendermos melhor a catequese de santo Agostinho,
dedicao e o esmero que ele teve no ato catequtico, isto , vamos falar de santo
depois de ter recebido o Batismo pelas mos de Ambrsio (em 386)47, Agostinho
auxiliar de Hipona e no ano seguinte exerceu o seu ministrio pastoral como bispo
33
de frica. Agostinho tinha a clara conscincia de que aquele que preside a uma
Bom Pastor48. Um pastor que cuida das suas ovelhas e as defende dos erros e dos
da dignidade episcopal49. Ele considerava a cura pastoral da sua Igreja como o seu
primeiro dever. Como servo dos servos de Deus sentiu-se no dever de encaminhar
os homens para o Mestre, Jesus Cristo. Revela-se um pastor que cuida do seu
rebanho e que no quer perder nenhum dos que lhe confiado, pois queria salvar
a todos50.
humildade que deve caracterizar um pastor. Isto ficou claro nas suas emotivas
48
Cf. POSSDIO, Vita Sancti Augustini 2,11, in PL 32, ed. Crtica e trad. italiana a cuidado de M.
Pellegrino, Alba, 1955.
49
Cf. AUGUSTINUS, Sermo Guelferbitano 32: De ordinatione episcolpi, 1-4; 29, 4, CCL 41,
397-398.
50
Cf. AUGUSTINUS, Sermones 17, 2, CCL 41, 237: proepositis mnus impositum. Votum pii
Pastoris.
51
AUGUSTINUS, Sermones 340, 1, PL 38, 1483.
34
Como pastor no se limitou a servir somente a Igreja de Hipona, onde
desempenhava a funo de bispo, mas atravs das suas cartas e obras exegticas,
para ele todo o mundo pede algo: uns pedem o Batismo, outros a reconciliao,
outros a penitncia, e todos buscam conselhos52. Isto mostra-nos que ele era, sem
concreto disto foi o que ele exibiu no seu tratado De catechizandis Rudibus, onde
ele mostra-nos que o amor do pastor deve ser projetado para Cristo e para os
irmos.
educador exemplar. partindo desta convico que ele foi, no seu mnus de
f. Porque, de fato, o objetivo inequvoco do nosso autor foi formar pessoas com
vida. Aprende para ensinar e ensina para aprender, isto porque ele desejava mais
52
Cf. F. VAN DER MEER, San Agustn, Pastor de almas, Biblioteca Herder, Barcelona, Vol. 65,
1965, 339.
53
Cf. I. PEREIRA LAMELAS, Santo Agostinho. A alegria da Palavra, Gaudeo ubi audio,
Coimbra, 2012, 9-13; 55-65.
35
ouvir o Mestre do que ser ouvido como mestre54. Ele um mestre que se
e a sabedoria de Deus.
referirmos ao seu gosto pela pregao. Mesmo possuindo muitas obras que
Agostinho era um orador nato que, desde a sua ctedra, encantava a todos
com a sua eloquncia. Da que ele vem sendo considerado metaforicamente por
54
Cf. AUGUSTINUS, Epistolae 52, 3, CCL 31 (B), 220.
55
Em conexo com a teologia Paulina (cf. 1 Cor 3, 8-9), o catequista o servidor do Evangelho e
colaborador de Deus. Saepe adest misericrdia dei per ministerium catechizantis, ut sermone
commotus iam fieri velit, quod decreverat fingere. AUGUSTINUS, De Catechizandis rudibus, 5,
9, CCL 46, 129; cf. tambm 7, 11 e 15, 23.
56
Cf. I. PEREIRA LAMELAS, Santo Agostinho. A alegria da Palavra, Gaudeo ubi audio,
Coimbra, 2012, 29-35.
36
muitos como um deus da eloquncia57, isto porque, nos seus escritos
pensar sobre a vida. A sua eloquncia fazia parte da eloquncia Christiana58, onde
a sabedoria crist substitui a dos filsofos pagos, pois a sua pregao no tinha
de vida, propriamente dito, pese embora ele reconhecesse que esta fosse
importante e til para o pregador durante a sua exposio catequtica59. Por isso,
sem seguir uma ordem lgica nas argumentaes e na retrica, Agostinho pregava
sempre em contacto vivo com os ouvintes. Ele no ocultava aos seus ouvintes as
57
O maniqueo Secundino apelidou-o deste ttulo numa carta; cf. SECUNDINI MANICHAEI,
Epistolae 3, Maur., t. 8, 520-521, Apud F. VAN DER MEER, San Agustn, Pastor de almas,
Biblioteca Herder, Barcelona, Vol. 65, 1965, 528.
58
Cf. E. GILSON, A filosofia na Idade Mdia, So Paulo, Brasil, 2001, 210.
59
Cf. AUGUSTINUS, De Catechizandis rudibus, 2, 3, CCL 46, 122: Melioris enim avidus sum,
quo saepe fruor interius, antequam eum explicare verbis sonantibus coepero.
60
VAN DER MEER, San Agustn, Pastor de almas, Biblioteca Herder, Barcelona, Vol. 65, 1965,
538.
37
convices e profundeza da sua f e dos seus pensamentos. Dava o melhor que
deve ter em conta tudo isto, a fim de poder pregar em consonncia com a verdade
Hiponense reconhece que para pregar necessrio tambm ter em conta algumas
durante o ato da pregao. Ele fez isto muitas vezes e preferia acomodar-se,
61
J. OROZ RETA, El De Doctrina Christiana o la retrica Cristiana, in Estudios clsicos
XXII, 1956, 452-459. Trata-se de um manual de exegese com uma introduo sobre a instruo
bblica dos cristos. destinada aos pregadores e parte do suposto que todo o pregador deve
conhecer bem a Escritura Sagrada.
38
f, santo Agostinho muitas vezes apelidado como o grande pedagogo. A sua
experincia de educador e catequista fez com que ele seja merecedor deste ttulo.
Neste ponto, vamos apenas dar uma pincelada sobre a sua disposio
ao faz-lo crescer e interessar-se por aquilo que lhe est a ser ensinado62.
A ns, interessa-nos mais a terceira obra, que, como veremos nos captulos
Para j, convm realar que o aspeto pedaggico mais saliente nessa obra
desejo de aprender e aderir ao bem que se lhe prope, que Jesus Cristo (o
palavras certas, o que mais elas significam para comunicar e, por meio da palavra,
deve haver uma troca de informaes e a um dilogo. Para tal, Agostinho insiste
62
Cf. A. LOMBARDI, S. Agostino educatore, Roma, 1977, 57-74.
39
muito na pedagogia dialgica63, ou seja, num dilogo franco entre o mestre e o
discpulo.
a Deus, mas tambm ao homem, no respeito pela sua situao vital e existencial.
Deve ter como objetivo principal ajudar o catequizando na vivncia coerente entre
circunscrever a todos os seus livros e tratados, porm achamos que estes dois
63
Este mtodo de dilogo e de conversao muito frequente no DCR, sobretudo quando se trata
de averiguar as intenes dos candidatos e a busca de remdios para ultrapassar as dificuldades;
cf., por exemplo, AUGUSTINUS, De Catechizandis rudibus, 13, 18, CCL 46, 142: Quaerendum
etiam de illo, utrum haec aliquando iam audierit, et fortassis eum tamquam nota et pervulgata non
moveant.
40
CAPTULO 2
O De catechizandis rudibus
da Igreja nos seus primeiros sculos. poca em que os bispos e pastores da Igreja
catequese.
No seu livro, Retractationes, onde o Hiponense faz uma resenha das suas
41
catechizandis rudibus hoc ipso titulo praenotatus64. Este livro comea com estas
datado por volta do ano 400, fixando a sua redao no ano 399. De fato, a
maioria dos autores inferem que a obra agostiniana foi escrita por volta do ano
contrrio, constatando que o DCR ter sido escrito por Agostinho alguns anos
No contacto e experincia pastoral com o povo que lhe era confiado, santo
crist os rudes na f.
O motivo concreto, porm, que est na origem desta obra foi a consulta do
64
AUGUSTINUS, Retractationum, CSEL 36, 146; P. KNLL, CSEL 36, 2, 1902.
65
AUGUSTINUS, Retractationum, CSEL 36, 146.
66
Cf. VAN DER LOF, The date of the De catechizandis rudibus, in Vigiliae Christianae,
Amesterdo, XVI, 1962, 198-204.
67
Cf. D. DE BRUYNE, LItala de saint Augustin, in RB 30, 1913, 294-314, Apud Obras
completas de saint Agustin XXXIX, Introduo de JOS OROZ RETA, BAC, Madrid, 1988, 430-
431.
68
Suponha-se que Deogrtias seja o mesmo ao qual, no ano 406, Agostinho dirige a carta 102
Deogratias, Augustinus. Sex quaestonis contra paganos expositae que retrata as relaes com os
pagos de Cartago. Cf. AUGUSTINUS, Epistolae 102, CCL 31 (B), 8-33. F. BARBADO VIEJO,
Obras de San Agustin, Cartas, BAC, Madrid, t. VIII, 1951, 698-736.
42
Ora, o que foi que Deogrtias pediu e perguntou a Agostinho?
Efetivamente, ele queria que o Hiponense lhe enviasse algo escrito que lhe
conselhos para que as suas catequeses, direcionada aos rudes, pudessem ser
para que a catequese que ele ministrava aos iniciantes fosse mais eficaz e
69
J. OROZ RETA, Obras completas de San Agustin XXXIX, La catequesis de los principiantes,
BAC, Madrid, 1988, 448.
70
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 1,1 CCL 46, 121: De tribus Deogratias
difficultatibus.
43
Petisti me, frater Deogracias, ut aliquid ad te de catechizandis rudibus,
quod tibi usui esset, scriberem. Dixisti enim, quod saepe apud Carthaginem, ubi
diaconus es, ad te adducuntur qui fide christiana primitus imbuendi sunt, eo
quod existimeris habere catechizandi uberem facultatem, et doctrina fidei et
suauitate sermonis: te autem pene semper angustias pati, idipsum quod
credendo christiani sumus, quo pacto commode intimandum sit; unde
exordienda, quo usque sit perducenda narratio;utrum exhortationem aliquam
terminata narratione adhibere debeamus, an praecepta sola, quibus
obseruandis cui loquimur nouerit christianam uitam professionem que retineri.
Saepe autem tibi accidisse confessus atque conquestus es, ut in sermone longo
et tepido tibi ipse vilesceres essesque fastidio, nedum illi quem loquendo
imbuebas, et ceteris qui audientes aderant; eaque te necessitate fuisse
compulsum, ut ea me quam tibi debeo caritate compelleres, ne gravarer inter
occupationes meas tibi de hac re aliqid scribere71.
era saber o que ensinar, mas sim como expor as verdades da f. A partir da
ensinar. Ele no sabia por onde comear ou acabar a sua exposio; no sabia se
sabia o que fazer perante o cansao e aridez que muitas vezes o assolavam. Isto
fazia com que muitas vezes no somente ele como tambm os outros a quem ele
71
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 1, 1, CCL 46, 121.
44
as circunstncias pessoais que haviam induzido os candidatos a solicitar o
exposio catequtica, pediu ao bispo de Hipona que lhe enviasse alguns preceitos
e normas, para que o seu discurso aos principiantes e queles que iriam receber a
sua primeira instruo crist fosse mais til. Neste sentido podemos dizer que o
catequtica.
aos rudes, rudis catechizandus isto , queles que estavam na fase inicial da
45
aprendizagem da f, necessitados de conhecer a doutrina crist, precisando por
aqueles que iam ter com o dicono para serem instrudos de rudis e explica esta
Deve dizer-se antes de mais que o termo rudis72 foi empregue muitas
vezes, por vrios autores pagos73, com o significado comum de qualquer coisa
que no trabalhada, algo que bruto, selvagem e que precisa de ser trabalhado e
Ora, deste epteto que santo Agostinho se serve para qualificar, dentro de
todos os qui fide christiana primitus imbuendi sunt76, ou seja, aqueles que
devem ser instrudos pela primeira vez na f crist. Neste sentido, podem ser
72
Cf. A. ERNOUT; A. MEILLET, Rudis in DELL, Paris, 1939, Vol. 11, 873.
73
o caso de autores como: Virglio, Varo, Ovdio, Quintiliano, Ccero, etc.; cf. VARO, Rerum
rust. 1, 44,2; VIRGLIO, Georg. 2, 211; OVDIO, Metam. 5, 646; QUINTILIANO, 9, 4,27;
2.19,3; 2,12,8.
74
Cf. CCERO, Acad, 2, 2; Pro Lucio Valerio Flacco 16; Pro Lucio Balbo 47; De officiis 1,1.
75
TERTULIANO, Adv.Marc.1, 20, CCL 1 (1954), 437-726.
76
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 1,1, CCL 46, 121.
46
quidem idiotarum, dos que moram na cidade, non tamen rusticanorum, sed
doutos no caminho da f.
dirigia, santo Agostinho, para evitar equvocos, procurava saber que classe de
77
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 16, 24, CCL 46, 148.
78
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 9, 13, CCL 46, 135.
79
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 15, 23, CCL 46, 147: Multumque interest, et
cum ita dicimus, utrum pauci adsint an multi; docti an indocti an ex utroque genere mixti; urbani
an rustici an hi et illi simul; an populus ex omni hominum genere temperatus sit.
80
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 8, 12, CCL 46, 133.
47
como catecmenos para serem admitidos aos sacramentos. Com estes, segundo o
nosso autor, a instruo deve ser breve e intercalar de vez em quando com uma
explicao familiar. H que perguntar qual inteno deles, quibus rebus motus
audeas, neque inter illos doctissimos, quorum mens magnarum rerum est
tanto cuidado porque a obra toda ela dirigida a eles. Estes so os sem cultura
essencialmente para esta terceira categoria de rudis que vai todo o modelo da
81
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 8, 12, CCL 46, 133.
82
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 9, 13, CCL 46, 135.
83
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 15, 23, CCL 46, 147.
84
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 9, 13, CCL 46, 135.
48
prtica narrativa, relatando uma catequese mais detalhada sobre a histria da
no eram crists, mas que procuravam aproximar-se da Igreja pela primeira vez, e
texto86, exceto numa ocasio, DCR 15, 4, ela aparece sempre aplicada no sentido
crist est inteiramente por comear. Sendo assim, pode dizer-se que os rudes
simplesmente ao pr-catecumenato87.
dizer que ele ocupa um lugar intermedirio entre a pessoa pag (diferentes umas
das outras pela sua ndole, pelas suas intenes, nvel cultural e condio social),
85
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 5, 9, CCL 46, 130.
86
A palavra rudis aparece nove vezes ao longo do texto; cf. AUGUSTINUS, De catechizandis
rudibus, 1,1; 2,4; 5,9; 8,12; 10,14; 11,16; 15,23; 23,43; 26,51, CCL 46, 121-174. Porm, h mais
cinco ocasies em que aparece como composto verbal; cf. AUGUSTINUS, De catechizandis
rudibus, 6,10; 7,11; 8,12; 15,23; 20,34, CCL 46, 130-158.
87
R. CORDOVANI, Il De catechizandis rudibus di santAgostino: questioni di contenuto e di
stile in Augustinianum 6, Roma, 1966, 501-505.
49
que deve ser evangelizada pela primeira vez, e o catecmeno propriamente dito.
Bblicos.
catequizar.
88
O texto de base que seguimos ao longo deste trabalho a edio bilngue; cf. J. OROZ RETA,
Obras Completas de San Agustin XXXIX, La Catequesis de los principiantes, BAC, Madrid,
1988, 425-534.
50
O dicono Deogrtias, no exerccio da catequese, desejava saber
exhortatio ou, ento, apenas uma breve exposio dos preceitos que norteavam a
vida crist.
Da, seguindo esta perspetiva, isto , partindo de uma narratio dos fatos
coloca-se no final da catequese, com a qual o catequista comea por fazer com
89
F. VAN DER MEER, San Agustn, Pastor de almas, Biblioteca Herder, Barcelona, Vol. 65,
1965, 580.
90
Cf. J. DANILOU, La catechesi nei primi secoli, Leumann, Torino, 1969, 137-138.
51
Uma vez que nos captulos seguintes trataremos destas questes mais em
pormenor, por ora vamos apenas fazer uma diviso geral do DCR, tendo em conta
as observaes feitas.
catequese. Ela comea, como natural, com uma introduo (cf. DCR 1-2), na
muitas vezes pobre ou aborrecido, pois pode suceder-se muito bem que os que
esto a ser instrudos tenham opinio diferente. Isto porque o nosso discurso nem
sempre nos agrada, quando desejamos fazer algo melhor de acordo com o que
91
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 1, 1, CCL 46, 121: De tribus Deogratias
difficultatibus.
92
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 2, 3, CCL 46, 123.
52
Nos captulos 3 e 4 destaca-se a narratio narrao dos acontecimentos da
Dei, que se traduz na vinda de Jesus Cristo como sinal deste amor e misericrdia
quando Deus criou o cu e a terra95, quando Deus fez boas todas as coisas, e
cada um dos fatos narrados com o Amor, que o finis propositus da revelao de
acontecimentos salvficos deve iniciar-se com o relato de que fecit Deus omnia
catequista, segundo a qualidade dos que esto a ser instrudos. Ora, isto
93
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 4, 7-8, CCL 46, 127-128: Amoris Dei
argumentum Christi adventus.
94
Cf. CORNELIUS MAYER, De Cathecizandis rudibus in AL, Verlag/Publishers/editions
Schwabe, Basel, 1984-1994, Vol. I, Col. 1, 797.
95
Gn 1,1.
96
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 6, 10, CCL 46, 131.
53
averiguar o seu estado de nimo e os motivos que o impeliu a querer abraar a
religio crist. Da, para que a catequese seja mais eficaz, o nosso autor acha que
utile est sane, ut praemoneamur antea, si fieri potest, ab iis qui eum norunt, in
quo statu animi sit, vel quibus causis commotus ad suscipiendam religionem
venerit97. Ou seja, deve haver uma reta inteno do candidato antes de querer
candidato tem que estar movido pelo temor de Deus a fim de poder ser educado
Evangelho.
quanto sirva para despertar no candidato o interesse pelas coisas da f e que ele
venha a ter uma adeso f cada vez mais convicta. Isto deve ser feito por uma
carinhosa exortao, pois, como diz o nosso autor, timor nimius atque impediens
fiducia99.
97
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 5,9, CCL 46, 129.
98
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 5, 9, CCL 46, 130.
99
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 13, 18, CCL 46, 142.
54
Uma vez terminada a narratio100, segue-se o segundo momento da
catequese, que consiste em infundir nos espritos dos ouvintes uma vida
preceitos de uma vida crist honesta. Esta exortao pretende defender os fiis dos
Por fim, chegados a este ponto, o nosso autor traa, nesta primeira parte da
sua obra, o caminho que Deogrtias deve seguir perante as inmeras dificuldades
que possam surgir mediante a adeso dos candidatos catequese. Todavia, antes
assim dizer. Ou seja, aquilo que faz com que o catequista contagie os seus
Cristo. Desenvolver uma catequese alegre faz com que o catequista ultrapasse os
100
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 7,11, CCL 46, 131: Narratione finita spes
resurrectionis intimanda est, et pro capacitate ac uiribus audientis, proque ipsius temporis
modulo, aduersus uanas irrisiones infidelium de corporis resurrectione tractandum et futuri ultimi
iudicii bonitate in bonos, seueritate in malos, ueritate in omnes; commemoratisque cum
detestatione et horrore poenis impiorum, regnum iustorum atque fidelium et superna illa ciuitas
eius que gaudium cum desiderio praedicandum est.
101
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 10, 14, CCL 46, 136. A hilaritas , segundo o
nosso autor, a primeira virtude do catequista, porque sendo uma graa de Deus, ela constitui, sem
dvida, o primeiro passo para a eficcia da catequese. Alis, curioso notar que ao falar das
diversas causas do aborrecimento do catequista, ou seja, da anima taedia et eorum medicina,
santo Agostinho faz sempre referncia hilaritas, como condio essencial do catequista.
102
Neste sentido, santo Agostinho recomenda a busca do remdio que nos tranquiliza; cf.
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 10,14, CCL 46, 137: sunt quaerenda remedia, quibus
relaxetur illa contractio, et fervore spititus exsultemus et iucumdemur in tranquillitate boni
operis.
55
Depois de apresentar algumas razes que podem pr barreiras ao ensino
catequese completa, uma longa e outra breve. Trata-se de uma catequese que
prtica.
natural que ambas as catequeses (a mais longa e a mais breve) devem ser
porque pode haver quem queira tornar-se cristo no por acreditar no futuro
vantagens temporais103.
103
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 17,26, CCL 46, 151: Sunt enim qui propterea
volunt esse Christiani, ut aut promereantur homines a quibus temporalia commoda exspectant, aut
quia offendere nolunt quos timent.
56
Aqueles que se apresentam com o desejo da felicidade eterna, que s Deus pode
trazer, isto porque, Deum amantibus requies aeterna104, a paz eterna para os
queda do paraso descrita no livro dos Gnesis. Tal narratio continua com a
Abrao e dos profetas, passando pela deportao ao Egipto e mais tarde com a
Aliana de Deus com o seu povo, atravs de Moiss, que conduz o povo terra
104
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 17,28, CCL 46, 152.
105
Do captulo 18 salutis historiae principia at o captulo 21, santo Agostinho faz
referncia narratio da histria da salvao, que culmina com a vinda de Cristo, outrora
anunciado pelos profetas. O objetivo principal da exposio histrica narratio explicar o
significado mais profundo do acontecimento e evento Jesus Cristo; cf. AUGUSTINUS, De
catechizandis rudibus, 18,29 - 21,38, CCL 46, 153-163.
106
A diviso da histria do mundo em seis pocas corresponde aos seis dias da criao referidos
no Livro de Gneses, (cf. Gn 1). Era um fato j conhecido por autores judeus da Septuaginta. Entre
os gregos encontrmo-la em santo Ireneo: cf. Adv. Haer., 5, 28, 3 e Hiplito de Roma: cf. Comm.
In Dan. 4, 23, 6, entre outros. Entre os latinos, santo Cipriano, conterrneo de Agostinho, foi o
primeiro a fazer referncia s idades do mundo: sex millia annorum iam paene complentur ex quo
hominem diabolus impugnat; cf. Santo Cipriano, Ad Fort. 2. Tambm santo Ambrsio, em
Expos. Euang. sec. Lucam 7,7 e so Jernimo, em Epist. 140,8, fazem referncias a este tema. Ora,
santo Agostinho refere-se diviso das seis idades da histria do mundo como um fato que deve
ser conhecido pelos que esto a ser instrudos na pregao catequtica. cf. JOS OROZ RETA,
Notas complementarias 16 in Obras completas de San Agustin XXXIX, BAC, Madrid, 1988,
687-688.
57
referenciadas por santo Agostinho nos seus escritos107. Ora, as primeiras cinco
Estas cinco etapas servem para preparar a vinda de Cristo, que a sexta
delimitada e vai at ao fim dos tempos, com o juzo final e a segunda vinda de
qual os homens seriam julgados e podem gozar da felicidade eterna. A lei atinge
107
Cf. AUGUSTINUS, De diversis Quaestionibus, 83,58, CCL 44, 248-249; Contra Faustum
manichaem, 12, 8, PL 42, 207-508.
108
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 22, 39, CCL 46, 163: Peractis ergo quinque
aetatibus saeculi, quarum prima est ab initio generis humani, id est, ab Adam, qui primus homo
factus est, usque ad No, qui fecit arcam in diluuio, inde secunda est usque ad Abraham, qui pater
electus est omnium quidem gentium, quae fidem ipsius imitarentur; sed tamen ex propagine carnis
suae futuri populi iudaeorum: qui ante christianam fidem gentium unus inter omnes omnium
terrarum populos unum uerum deum coluit, ex quo populo saluator Christus secundum carnem
ueniret.
Isti enim articuli duarum aetatum eminent in ueteribus libris: reliquarum autem trium euangelio
etiam declarantur, cum carnalis origo domini Iesu Christi commemoratur. Nam tertia est ab
Abraham usque ad Dauid regem: quarta a Dauid usque ad illam captiuitatem, qua populus dei in
babyloniam transmigrauit: quinta ab illa transmigratione usque ad aduentum domini nostri Iesu
Christi.
58
Da que a Igreja entra tambm a fazer parte da histria do mundo, que se
estende na terra tal qual a videira e nela os homens se exercitam para a vinda final
homem e omnes deliciae Deus erit et satietas sanctae civitatis in illo et de illo
qual o homem deve confiar a sua vida e esperar receber finalmente o prmio de
glria.
109
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 24,44-45, CCL 46, 168-169: Ecclesiae
expansio e Ultimi iudicii dies.
110
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 25, 47, CCL 46, 170.
111
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 26,50, CCL 46, 173: Catechumeni in fide
tirocinia. Digamos que, depois de um primeiro momento de dilogo e conversao com o que se
destinava a converter-se, o candidato era admitido no grau de catecmeno, mediante uma
cerimnia solene, que o nosso autor faz referncias. S depois de estar bem instrudo que o
catecmeno passava ento para o grau de competentes, seguindo o percurso normal at ser
Batizado; cf. JOS OROZ RETA, Notas complementarias 19 in Obras completas de San
Agustin XXXIX, BAC, Madrid, 1988, 689-690.
59
Igreja e ajudado e exortado a compreender o sentido espiritual da Escritura
Sagrada.
Ora, uma vez que a primeira catequese pode s vezes parecer demasiado
cristos. Contudo, deve haver um resumo da doutrina crist. Tal resumo assenta-
candidatos a serem fortes na luta contra o mal e a terem esperana em Deus. Isto
112
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 26,51, CCL 46, 174.
113
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 27,53, CCL 46, 176: Praedictum est non solum
a prophetis, sed etiam ab ipso domino Iesu Christo, quod ecclesia eius per universum orbem
terrarum esset futura, per sanctorum martyria passionesque disseminata.
114
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 27,55, CCL 46, 177: Tu itaque credens ista,
cave tentationes (quia diabolus quaerit, qui secum pereant): ut non solum per eos qui extra
ecclesiam sunt, sive pagani, sive Iudaei, sive haeretici, non te hostis ille seducat.
60
Ao terminar, podemos efetivamente dizer que, durante a sua exposio
integridade do empenho de vida, procurando fazer com que aquele que est a ser
61
CAPTULO 3
seus fiis. Por isso, toda a sua teoria sobre a pregao e catequese assenta numa
neste dever to importante para a Igreja. Ele apresenta-nos algumas dicas sobre a
clima de alegria.
a Deogrtias.
o Novo Testamento. Sobre a exortao importante dizer que o nosso autor tinha
62
um desejo de que quem escuta a Palavra deve acreditar, esperar e amar cada vez
mais a Deus115.
ensinar. Tal a alegria de anunciar vivamente o amor de Deus! Isto faz com que o
dificuldades que possam surgir quando se est a ensinar116, pois, como ele mesmo
expor durante a catequese no era, ao que tudo indica, um problema maior para
um discurso persuasivo 117. caso ento para perguntar: de onde lhe vinham as
dificuldades em comunicar a f?
63
dificuldades em expor adequadamente os contedos da f crist e no sabia por
onde comear ou terminar a sua exposio nem como exortar ou falar dos
preceitos da f crist.
Isto quer dizer que, a par das eventuais dificuldades de cariz temtico e
os ouvintes, porque era pobre de contedo e que com o tempo poderia tornar-se
vida real dos seus ouvintes, para que eles pudessem entender os
contedos da mensagem;
118
J. M. URIARTE, Ser presbtero en el seno de nuestra cultura, Vida Nueva, Septiembre, 2009,
32.
119
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 2,3, CCL 46, 122: Sed quod ad tuam proprie
considerationem pertinet, nolim te moueri ex eo quod saepe tibi abiectum sermonem fastidiosum
que habere uisus es. Fieri enim potest, ut ei quem instruebas, non ita sit uisum, sed quia tu aliquid
melius audiri desiderabas, eo tibi quod dicebas uideretur indignum auribus aliorum. Nam et mihi
prope semper sermo meus displicet.
120
Ao longo da exposio catequtica encontrmos, pelo menos, seis causas do aborrecimento do
catequista aos quais santo Agostinho responde com outros tantos remdios ou solues para
combat-las; cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 10,14-15; 11,16; 12,17; 14,20-21,
CCL 46, 136-145.
64
c) Ao fazer uma improvisao oral ou escrita o catequista pode, em
ensina deseja, entre muitas coisas, que os outros escutem uma coisa melhor, mais
conhecidas, isto porque maior causa est, cur nobis in imbuendis rudibus noster
sermo vilescat, nisi quia libet inusitate cernere et taedet usitate proloqui121. De
fato, sem esta originalidade sentimos um certo desgosto por aquilo que
ensinamos.
que devemos ter a perspiccia para entender que meios empreender para que o
catequista possa comunicar e anunciar sempre com alegria, pois quanto mais
121
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 2,4, CCL 46, 123.
65
3.1.1 Como superar as dificuldades na transmisso e exposio da f
encontrava na explicao da f.
instruo catequtica. Isto para que o contedo da f viesse a ser mais profcuo
vezes elas aparentam ser. Porm, isto no dispensa que o catequista seja exigente
e faa um esforo cada vez maior para conseguir a qualidade das exposies
apresentadas na catequese, ainda que, partida, seja difcil deduzir o efeito e o eco
trabalho que ele chamado a realizar uma obra de misericrdia, e que, como tal,
deve ser realizada com humildade, permitindo que Deus comunique atravs de
122
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 2,4, CCL 46, 123: Non ita esse frigidum
eloquium meum, ut videtur mihi.
66
ns, de acordo com as nossas capacidades123, pois tudo concorre para o bem
saber se a sua exposio foi bem ou mal recebida. Neste caso, Agostinho props-
lhe como remdio acolher os seus ouvintes numa atitude de comunho fraterna,
usando todos os meios disponveis para discernir o rumo certo a tomar e, em cada
catequista deve usar o bom humor ou, ento, dizer algo um pouco surpreendente
(de acordo com o interesse e situao do ouvinte), isto , tentar, com as suas
palavras, todo o possvel para despertar e suscitar naquele que o escuta o desejo
123
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus,11,16, CCL 46, 140: Et maiore fiducia
deprecabimur, ut loquatur nobis Deus quomodo volumus, si suscipiamus hilariter, ut loquatur per
nos quomodo possumus.
124
Cf. Rom 8,28.
125
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 12,17, CCL 46, 141: Si usitata et parvulis
congruentia saepe repetere fastidimus, congruamus eis per fraternum, paternum, maternumque
amorem.
126
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 13,18, CCL 46, 142: Sed re vera multum est
perdurare in loquendo usque ad terminum praestitutum, cum moveri non videmus audientem:
quod sive non audeat, religionis timore constrictus, voc aut aliquo motu corporis significare
approbationem suam, sive humana verecndia reprimatur: sive dicta non intelligat, sive
contmnat: [] omnia sermone tentanda sunt, quae ad eum excitandum et tamquam de latebris
eruendum possint valere.
67
O catequista deve estar particularmente atento s necessidades fsicas dos
Trata-se, como nos diz santo Agostinho, de uma carinhosa exortao128 que
Face ao desagrado e tristeza por ter que suspender os outros afazeres, que
maior caridade129. Ao agir deste modo o catequista est a demonstrar, por sua vez,
causa de algum escndalo ou erro por parte daqueles que ele ensina, o que o torna
assegura ao dicono Deogrtias que o amor por aqueles por quem Cristo morreu
deve ser to grande a ponto de, pelo fato da notcia ser trazida at ele, servir-lhe
127
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 13, 19, CCL 460, 143: Quod tamen non
offendat eius verecumdiam asperitate aliqua, sed potius familiaritate conciliet.
128
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 13, 18, CCL 46, 142: Nam et timor nimius atque
impediens declarationem iudicii eius blanda exhortatione pellendus est.
129
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 14, 20, CCL 46, 144: Si autem confregit
animum tuum alterius actionis, cui tamquam magis necessariae iam suspensus eras, omissio, et
propterea tristes insuaviter catechizas: cogitare debes (excepto quod scimus misericorditer nobis
agendum esse quidquid cum hominibus agimos, et ex officio sincerissimae caritatis; hoc ergo
excepto), incertum esse quid utilius agamus, et quid opportunius aut intermittamus, aut omnino
omittamus.
68
de consolo para a sua tristeza130, uma vez que essa pessoa tem o desejo de se
tornar cristo. Porm, quando a tristeza causada por algum pecado ou falha da
parte do catequista, este deve, alegrar-se com a catequese que faz, porque est a
verdade que perante todas estas dificuldades, aquele que prega e ensina
Agostinho alerta-nos para uma das qualidades bsicas ao qual todo o catequista,
isto , todo aquele que ensina, deve estar dotado, que ser capaz de descobrir os
130
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 14, 21, CCL 46, 145: Tantam esse caritatem
oportet in eos pro quibus Christus mortuus est (1 Pe 1,18), volens eos pretio sanguinis sui ab
errorum saecularium morte redimere, ut hoc ipsum, quod nobis tristibus nuntiatur, praesto esse
aliquem, qui desiderat fieri Christianus, ad consolationem illius resolutionemque tristitiae valere
debeat.
131
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 14, 22, CCL 46, 146: Si autem de aliquo
erratu nostro vel peccato nos maestitudo comprehendit, [] et gratularemur si quis eam de
prximo offerret: [] data occasione misericordissimi operis.
69
comunicao com os recetores, pois assegura, por exemplo, que no a mesma
coisa dirigir-se por escrito do que atravs da palavra, nem fazer o plano individual
DCR, quase na sua totalidade, faz referncia a estes aspetos) poderemos perceber
132
H motivos de ordem material, marcados pelo desejo de adquirir um status social e/ou
profissional, que podem ter levado as pessoas a quererem se tornar cristos; cf. AUGUSTINUS,
De catechizandis rudibus, 5, 9, CCL 46, 129: Si enim aliquod commodum exspectando ab
hominibus, quibus se aliter placiturum non putat, aut aliquod ab hominibus incomodum devitando,
quorum offensionem aut inimicitias reformidat, vult fieri Christianus.
133
Esta adeso consciente e madura expressa-se atravs do Amn, que todo o povo responde:
Non quia ista minime corrigenda sunt (ut populus ad id quod plane intellegit, dicat men), sed
tamen pie toleranda sunt ab eis qui didicerint, ut sono in foro sic uoto in ecclesia benedici; cf.
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 9,13, CCL 46, 135-136. Este Amn a culminao e
expresso consciente da maturidade na vida crist e de aprovao e consentimento do contedo da
70
De acordo com os interesses e caractersticas dos catequizandos, a
comunica a f.
Deve dizer-se, antes de mais, que pela virtude da caridade que Agostinho
Cartago em geral. Isto porque, como ele prprio nos diz, na base da pregao
71
deve ser a grande motivao tanto para o que ensina como para aquele que recebe
a instruo.
diz, afim de quidquid narras ita narra, ut ille cui loqueris audiendo credat,
muitos ganhos e vantagens quer para o que ensina quer para o que est a ser
ensinado. Alis, a partir da caridade que se consegue cativar os que esto a ser
Podemos ento perguntar de onde provm esta caridade que deve mover o
Sem dvida, a caridade com que deve ser feita a catequese reflete-se de
uma forma plena na Pessoa de Jesus Cristo, que o grande mediador entre Deus e
137
1 Tm 1, 5.
138
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 4, 8, CCL 46, 129.
139
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 4,7, CCL 46, 126-127: Et ipsum deum,
quoniam prior dilexit nos, et filio suo unico non peper cit, sed pro nobis omnibus tradidit eum, si
72
revela-nos este amor de Deus, manifestada plenamente em Cristo. Este amor
, segundo o nosso autor, centrarmo-nos no grande cuidado que Deus tem para
connosco, isto , perceber quanta Deo sit cura pro nobis142. Devemos nos focar
Este amor deve mover-nos a que tambm nos amemos uns aos outros como Deus
nos amou e se ofereceu por ns, dando-nos a vida143. Isto quer dizer que da
mesma forma que Cristo deu a vida por ns tambm ns devemos dar a vida pelos
amare pigebat, saltem nunc redamare non pigeat. Nulla est enim maior ad amorem inuitatio quam
praeuenire amando.
140
Cf. Fl 2, 6-8.
141
2 Cor 9, 22.
142
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 6,10, CCL 46, 130.
143
Cf. 1 Jo 4, 10-19.
144
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 4, 8, CCL 46, 128.
145
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 4,7, CCL 46, 126.
73
isto porque toda a revelao e todo o desgnio salvfico de Deus ao longo da
de amor, baseada no amor de Cristo, que veio ao mundo para que o homem saiba
quanto Deus o ama e aprenda a abrasar-se inflamado no amor de Deus que o amou
fez prximo ao amar previamente no o que estava perto, mas o que estava longe
dele146. E assim, o mesmo amor, a uns d a luz e com outros sofre, a uns trata
de edificar e a outros teme ofender, humilha-se para uns e exalta-se para outros,
Deus face misria humana, nasce a caridade que deve nortear todo o ato
apreender que a todos se deve a mesma caridade, porque esta nulli inimica,
que ensina, corrige e cura a todos. Na verdade, movido por este amor que o
146
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 4, 8, CCL 46, 128: Si ergo mxime propterea
Christus advenit, ut cognosceret homo quantum eum diligat Deus, et ideo cognosceret, ut in eius
dilectionem a quo prior dilectus est inardesceret, proximumque illo iubente et demonstrante
diligeret, qui non proximum, sed longe peregrinantem; diligendo factos est proximus.
147
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 15, 23, CCL 46, 148: Ipsa item caritas (1 Cor
9,22) alios parturit, cum aliis infirmatur; alios curat aedificare, alios contremiscit offendere; ad
alios se inclinat, ad alios se erigit; aliis blanda, aliis severa.
148
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 15, 23, CCL 46, 148.
149
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 12, 17, CCL 46, 141.
74
Isto quer dizer que a caridade deve ser percetvel no s na exposio da
estamos desejosos que lhes agradem as coisas que ensinamos para a sua
salvao150.
Esta caridade resume, sem dvida, toda a misso do catequista, uma vez
que deve exprimir nele o testemunho, a simpatia e o amor que Deus tem por cada
dicono Deogrtias a tentar todos os meios possveis para fazer com que os que
confiana e segurana nas coisas que escutam. Isto revela, sem dvida, um grande
transmitir.
150
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus,10, 14, CCL 46, 137: Et quanto magis
diligimus eos quibus loquimur, tanto magis eis cupimus, ut placeant quae ad eorum porriguntur
salutem.
151
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 13, 18, CCL 46, 142.
75
Partindo das situaes em que os recetores particularmente se
Sendo assim, podemos ento dizer que o amor de Deus, a caridade, deve
ser tido como a cadeia volta da qual deve girar toda a narrao do catequista e
gozarmos com calma de uma boa obra, pois Deus ama aquele que d com
alegria152.
152
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 10, 14, CCL 46, 137: santo Agostinho inspira-se em
So Paulo, cf. 2 Cor 9,7, e diz que, de acordo com a vontade de Deus, o catequista deve buscar a
tranquilidade no seu ensinamento: Secundum Deum sunt quaerenda remedia, quibus relaxetur
illa contractio, et fervore spiritus exsultemus et incundemur in traquillitate boni operis. Hilarem
enim datorem diligit Deus.
76
Da encontrarmos, no captulo dcimo do DCR, um exemplo claro de
catequtica.
entre o que pensamos e o que dizemos, o cansao que nos aflige, a rotina e a
monotonia do nosso discurso, que levam-nos ao fastio, podem ser superadas com
entusiasmo e alegria.
dizendo:
Sed quibus modis faciendum sit, ut gaudens quisque catechizet (tanto enim
suavitor erit, quanto magis id potuerit), ea cura maxima est. Et praeceptum
quidem rei huius in promtu est. Si enim in pecunia corporali, quanto magis in
spiritali hilarem datorem diligit Deus (2 Cor 9,7)? Sed haec hilaritas ad horam
ut adsit, eius est misericordiae qui ista praecepit153.
a condio sine qua non para uma boa exposio da catequese. no clima do bom
humor e na alegria com que se fala das coisas de Deus que est o segredo do bom
catequista. Alis, uma vez refutado o tdio, o esprito est mais preparado para a
153
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 2, 4, CCL 46, 124.
77
e, so escutadas com mais prazer e mais entusiasmo pelos recetores154. Na
exposio da catequese.
discpulo tambm o acolhe com mais agrado, isto porque Et re quidem vera
multo gratius audimur, cum et nos eodem opere delectamur: afficitur enim filum
tornar-se cristos. Devemos faz-lo sempre na alegria e com alegria, pois s assim
Santo.
Portanto, quer seja uma exposio mais breve quer seja uma mais extensa,
154
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 14, 22, CCL 46, 146: His atque huiusmodi
cogitationibus et considerationisbus depulsa caligine taediorum, ad catechizandum aptatur
intentio, ut suaviter imbibatur, quod impigre atque hilariter de caritatis ubertate prorumpit.
155
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 2, 4, CCL 46, 123-124.
78
3.2 O lugar da Sagrada Escritura na catequese
feita, um iter in scripturis sanctis156 que vai desde o incio da criao, quando
autor, preciso que ela comece com a frase: In principio fecit Deus coelum et
156
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 6, 10, CCL 46, 130.
157
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 3, 5, CCL 46, 124.
79
tempos, com a manifestao de Deus, assim como esto narradas nas pginas das
Escrituras.
por um lado, Agostinho, tal como os outros padres da Igreja, ciente de que tudo
seja, tudo aponta para Cristo e para a sua Igreja e tem neles o seu cumprimento.
deste modo que toda a narrao bblica comea com a criao e termina com o
Por outro lado de realar que, para santo Agostinho, a Sagrada Escritura
que os faz crer no cumprimento da profecia divina, que gera uma histria de amor.
Agostinho. Ela como que a bssola que orienta a catequese. Isto porque na
158
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 3, 6, CCL 46, 124: Neque enim ob aliud ante
aduentum domini scripta sunt omnia quae in sanctis scripturis legimus, nisi ut illius
commendaretur aduentus et futura praesignaretur ecclesia.
159
Cf. 2 Pe 1,19.
80
chamados a escutar a Palavra de Deus e a alimentarem-se constantemente dela.
Deus.
Isto porque toda a Escritura pr-anuncia e revela a Pessoa de Jesus Cristo. Todo o
da catequese deve fazer com que ela seja sempre entendida numa dimenso
160
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 4, 8, CCL 46, 128.
81
3.3 A Narratio
ensinada nas escolas de retrica. Era empregue para tentar expor e convencer o
narratio, como parte central de qualquer discurso, tinha, neste caso, como
161
A narratio pertencia Oratio Clssica. Segundo a diviso e a denominao da Rhetorica ad
Herennium, e de antigos tratadistas, o discurso oratrio era dividido em seis partes: Inventio in
sex partes orationis consumitur: in exordium; narrationem; divisionem, confirmationem,
confutationem, e terminava em conclusio; cf. Rhet. ad Her. I, 3,4, ed. G. CALBOLI, Bologna
1969, 96). A narratio ento um termo tcnico que expressa a parte assim chamada do discurso
oratrio. Era a parte central do discurso e consistia na exposio/indicao dos factos sucedidos;
Sobre a narratio, cf. H. LAUSESBERG, Handbuch der Literarischen Rhetorik. Eine Grundlegung
der Literatuwissenschaft I, Mnchen, 1960, 147ss; A. DE VEER, Ouvres de Saint Augustin 11,
in L Magistre Chrtien, BA., Pars, 1949, 547ss; A. BLAISE, DLFAC, Strasbourg 1954, 548; A.
MURA, S. Agostinho. De catechizandis rudibus, 2 ed., Brescia, 1961, 3,1; J. P. CHRISTOPHER,
S. Augustine. The First Catechetical Instruction, Westminster (Maryland), London, 1962, 95, 9.
162
Cf. J. OROZ RETA, Notas Complementarias 10 in Obras Completas de San Agustin
XXXIX, BAC, Madrid, 1988, 683-684; P. SINISCALCO, Osservazioni sulla narratio del De
catechizandis rudibus di S. Agostino, in Augustinianum XIV, Roma, 1974, 611-612.
163
Cf. V. GROSSI, La catechesi battesimale agli initio del V secolo, Institutum Patristicum
Augustinianum, Roma, 1993, 445ss.
82
literrio da histria, como exposio sistemtica dos acontecimentos e factos da
Alis, deve dizer-se antes de mais que j no final do primeiro sculo da era
164
Cf. I. G. TOUTON, La mthode catchtique de S. Cyrille de Jrusalem compare celles de
S. Augustin et de Tholore de Mopsuste, in Proche Orient Chrtien I, Jerusalm, 1951, 265-285;
A. DE VEER, De catechizandis rudibus, BA., Paris, 1949, 547-549.
165
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 3, 5, CCL 46, 124: Fundamenta in gravioribus
rerum divinarum factis.
83
Escritura, que conduz a um esquema-base da narratio, que era o corao, por
esboo comum da catequese que, por fazer parte e ter a contingncia histrica de
estruturada166.
dita, e nem era feita de uma forma sistemtica sobre a f e a lei moral, relatando
de uma forma linear a Sagrada Escritura, pois importa acima de tudo a narrao
humano169.
166
Cf. P. DREWS, Introdizione a Agostino, in De catechizandis rudibus, 3 ed., Herausgegeben
von G. KRGER, Tbingen, 1934, 5.
167
Muitos estudiosos esto de acordo em afirmar que santo Agostinho herdou este termo da
cultura clssica, sobretudo do manual do velho Quintiliano. Este ajuda-nos a perceber melhor a
narratio agostiniana, pois o autor de Instituto Oratotia escreve: hinc iam, quas primas in docendo
partis rhetorum putem, tradere incipiam dilata parumper illa, quae sola vulgo vocatur, arte
rhetorica: ac Mihi; QUINTILIANO, Inst. Orat. II, 4,1ss, ed. L. RADERMACHER, I, 77ss;
Como podemos perceber, a expresso de Quintiliano faz referncia narratio histrica. Isto
mostrar-nos que a narratio histrica vem constituir uma passagem obrigatria para o discente
progredir na guia da retrica. cf. P. SINISCALCO, Osservazioni sulla narratio del De
catechizandis rudibus di S. Agostino, in Augustinianum XIV, 1974, 611; P. KESELING,
Augustin und Quintilian, in AM I, Paris, 1954, 201-204.
168
AUGUSTINUS, De Doctrina Christiana, 2, 28, CCL 32, 60-61.
169
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 3, 5, CCL 46, 124: Non tamen proptera
debemus totum Pentateuchum, totosque iudicum et regnorum et Ezrae libros, totumque
Euangelium et Actus Apostolorum, uel, si ad uerbum edidicimus, memoriter reddere, uel nostris
84
Neste sentido, deve-se considerar o que o prprio Agostinho disse
confins dos tempos171. O mesmo dizer que santo Agostinho prolonga a narratio
atravs da Igreja e at ao final dos tempos. Esta ideia aparece muitas vezes
Neque enim ob aliud ante aduentum domini scripta sunt omnia quae in
sanctis scripturis legimus, nisi ut illius commendaretur aduentus et futura
praesignaretur ecclesia, id est, populus dei per omnes gentes, quod est corpus
eius; adiunctis atque annumeratis omnibus sanctis, qui etiam ante aduentum
eius in hoc saeculo uixerunt, ita eum credentes uenturum esse, sicut nos
uenisse. [] Quapropter omnia quae ante scripta sunt, ut nos doceremur
scripta sunt, et figurae nostrae fuerunt; et in figura contingebant in eis: scripta
sunt autem propter nos, in quos finis saeculorum obuenit172.
uerbis omnia quae his continentur uoluminibus narrando euoluere et explicare; quod nec tempus
capit, nec ulla necessitas postulat: sed cuncta summatim generatimque complecti, ita ut eligantur
quaedam mirabiliora.
170
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 3, 5, CCL 46, 124.
171
Cf. A. ETCHERGARAY CRUZ, El De catechizandis rudibus y la metodologia de la
evangelizacin agustiniana, in Augustinus XV, Madrid, 1970, 361. Porm, muitos autores tm
opinies diversas e defendem que a narratio termina com o tempo presente, ainda que a catequese
no termina, uma vez que toda a narratio tende apontar para a exspectatio, ou seja, para a
esperana futura. cf. J. DANILOU, Lhistoire du salut dans la catchse in La Maison-Dieu
XIX, Paris, 1952, 34-35.
172
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 3, 6, CCL 46, 125-126. H outras passagens ao
longo do texto que fazem referncias a esta dimenso da narratio que se estende at aos confins do
tempo, ou seja, com a expanso da Igreja. Devemos expor, segundo o nosso autor, esta ideia
durante a nossa exposio catequtica; cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 6, 10; 10,14-
15; 24, 44-45, CCL 46, 130-168.
85
Isto demonstra que santo Agostinho considerava adequado o mtodo da
identidade crist.
durante a exposio catequtica, mas sobretudo o modo como se deve fazer tal
narratio. Isto aparece muito claro quando ele, depois de ter sintetizado a sua ideia
que a narratio (sobretudo o modo de a fazer) apresenta, por assim dizer, umas
173
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 2, 4, CCL 46, 124.
174
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 6, 10, CCL 46, 131: quanto nos decet esse
cautiores, ne illa quae vera narramus, sine suarum causarum redditione digesta, aut inani
suavitate aut etiam perniciosa cupiditate credantur.
86
H que procurar, segundo o nosso autor, a credibilidade da narratio e empenhar-
centre no essencial, sem fugir daquilo que fundamental, ou seja, non tamen sic
como limite de no prolongar muito a narratio. Porque o importante que ela seja
de, muitas vezes, fazer um compndio e um resumo geral da matria que se quer
expor178, para que o ouvinte apreenda e escute com mais agrado o que estamos a
pregar.
tambm para no enfadar os esto a ser educados na religio crist, devemos ter o
175
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 6, 10, CCL 46, 131.
176
Segundo os tratados retricos h trs caractersticas da narratio, a saber: a brevidade, a clareza
e a credibilidade; cf. QUINTILIANO, Inst. Orat. IV, 2, 31: Tres res convenit habere
narrationem, ut brevis, ut dilucida, ut veri similis sit. Ora, suponha-se que santo Agostinho tenha
conhecido estas regras normais da retrica, uma vez que elas aparecem muitas vezes
referenciadas no DCR. Por exemplo: a brevidade aparece em: 3, 5; 5, 9; 7, 11; 8, 12; 13, 18-19; a
clareza e a credibilidade: 6, 10; a clareza e brevidade: 13, 18; a credibilidade: 9, 13. cf.
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, CCL 46, 124-145.
177
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 2, 4, CCL 46, 124: Non arduum est negotium,
ea quae credenda insinuantur praecipere, unde et quo usque narranda sint; nec quomodo sit
varianda narratio, ut aliquando brevior, aliquando longior, semper tamen plena atque perfecta
sit.
178
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 3, 5, CCL 46, 124: Cuncta summatium
generatimque complecti, [] quae suavius audiuntur atque in ipsis articulis constituta sunt.
87
cuidado e a sensibilidade para demonstrar e abordar a doutrina crist de uma
forma breve e sria, isto , como diz o nosso autor, christianae doctrinae finem
poderemos, com maior facilidade, expor todo o tema cum autem celeritate opus
de o nosso autor nos apresentar no seu livro dois exemplos prticos de como deve
narrao tanto pode ser longus182 como pode ser simplex ou brevius183. O
importante que ela seja plena. E temos uma narrao plena quando:
catechizatur abe o quod scriputm est: In principio fecit Deus caelum et terram
179
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 5, 9, CCL 46, 130.
180
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 26, 51, CCL 46, 174.
181
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 5, 9, CCL 46, 129.
182
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 16, 24, CCL 46, 149.
183
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 26, 51, CCL 46, 174.
184
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 3, 5, CCL 46, 124.
88
ocasies em que temos que optar por uma narrao mais simples185, fazendo um
3.3.3 A Exhortatio
que tambm interessa ao dicono saber alguma coisa sobre ela no decorrer da sua
pregao catequtica.
185
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 26, 51, CCL 46, 174: Sermonis brevioris
locus.
186
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 1,1, CCL 46, 121.
187
J. OROZ RETA, Obras completas de San Agustin XXXIX, La Catequesis de los principiantes,
7, 11, BAC, Madrid, 1988, 465.
89
vivncia da mesma. Isto porque, depois de um exame preliminar para a admisso
valeria instruir os rudes na matria da f sem, porm, levar tal matria da f para
a vida prtica.
recurso s advertncias e aos preceitos que devem orientar a vida crist. Alis,
que aconteceram com os nossos antepassados e que esto relatados nas pginas da
em Deus tudo se realiza190. Ou seja, aps a constatao dos factos e dos desgnios
188
Agostinho fala, pois, da exhortatio e dos praecepta, que, na sua proposta e metodologia de
ensino, deve seguir a narratio. Bem diferente do que na Oratio clssica, o exhordio serve para
predispor e preparar a alma do ouvinte a qual se est a instruir: exordium est principium
orationis, per quod animus auditoris constituitut ad audiendum; Rhet. ad Her. I, 3,4, ed. G.
CALBOLI, Bologna, 1969, 96.
189
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 24, 45, CCL 46, 168-169: Omnia ergo haec,
sicut tanto ante praedicta legimus, sic et facta cognoscimus: [] quia omnia ista ita completa
sunt, sicut ea in libris legimus [] aedificamur ad fidem, ut etiam illa, quae restant,sine
dubitatione ventura credamus.
190
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 27, 53, CCL 46, 176: [] Et ista completa
sunt.
90
de Deus ao longo da histria, feita atravs da narratio, passamos para a exhortatio
ou cohortatio, a crer naquilo que ainda no acontece e que est para vir. O
A exhortatio serve, sem dvida, para aliciar aqueles que queriam tornar-se
e os mandamentos de Deus.
dedicao a vida nova que Cristo lhes vai oferecer, com a recepo ao Batismo.
Para tal, h que incentivar os candidatos a fugir das tentaes em que caem os
eterna192.
dizer durante a exposio catequtica est contido nestas duas formas de ensinar e
em Cristo ressuscitado.
191
Cf. C. MAYER, De Cathecizandis rudibus in AL, Verlag/Publishers/editions Schwabe,
Basel, 1984-1994, Vol. 1, Col. 1, 797.
192
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 27, 55, CCL 46, 177: Tu itaque credens ista,
cave tentationes: [] ut simul colatis et diligatis Deum gratis: quia totum praemium nostrum ipse
erit, ut illa vita bonitate eius et pulchritudine perfruamur.
91
CAPTULO 4
Os Contedos da catequese
rudes, como tambm procura, sobretudo na parte final da sua obra, interpretar
alegrica da Bblia.
possibilidades pastorais que elas oferecem, mas outro motivo da sua preocupao,
santo Agostinho mais salienta no seu manual, DCR, que temos vindo a analisar.
melhor os contedos e os elementos destas mesmas teorias. Isto porque, com a sua
Senhor Jesus, santo Agostinho oferece-nos contedos suficientes que devem ser
92
apresentados durante o ensinamento catequtico. Isto sem esquecer tambm a
Enfim, tanto a narratio como a exhortatio delimitam, por assim dizer, todo
4.1 Os Contedos da f
considerao.
uma mera transmisso da doutrina crist sobretudo uma adeso a Cristo, atravs
193
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 4, 8, CCL 46, 129: Ut ille cui loqueris
audiendo credat, credendo speret, sperando amet.
93
tornar cristos, mostrando-lhes que se tratava de uma histria salvfica e no de
esforar-se por transmitir todo o contedo da f, de uma forma alegre, sem causar
Verbo encarnado que morreu e ressuscitou dos mortos e do Esprito Santo, que
nos revela o poder de Deus. Ele fala da igualdade do Pai e do Filho e do Esprito
Mas fala tambm da Igreja, santa como Maria e pecadora nos seus filhos. Ele fala
do pecado, da salvao e da ressurreio dos mortos. Por fim fala tambm das
194
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 25, 47, CCL 46, 170-171: Credimus enim quod
non videmus, [] ut aequalitatem patris et filii et spiritus sancti, et ipsius trinitatis unitatem,
quomodo sint haec tria unus Deus; Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 27, 55, CCL
46, 178: Nisi qui donum acceperit spiritum sanctum, patri et filio utique aequalem: quia ipas
trinitas Deus est.
195
Cf. F. VAN DER MEER, San Agustn, Pastor de almas, Biblioteca Herder, Barcelona, Vol.
65, 1965.
94
ressurreio dos nossos corpos e na eternidade das penas para os maus e dos
prmios para os bons196.
Podemos dizer que neste texto est resumido todo o contedo da catequese
apresentado por santo Agostinho ao longo da sua instruo na f aos rudes. Pois
esto ali os contedos da narratio e da exhortatio, que a partir de agora vamos nos
Agostinho eminentemente bblica. O que faz com que o Hiponense entenda que
a narrao da histria da salvao deve ser sempre breve, credvel e com clareza,
fazendo com que a exposio catequtica seja sempre plena e perfeita, (cf. o
ponto 3.3.2 nota 176 e 177) isto , sem se perder muito em detalhes, a narrao
exemplo, a sua obra, a Cidade de Deus197, onde ele, sobretudo nos ltimos doze
196
ALCUNO, Epistola 110, in PL 190, 1134, Apud A.BOLIN-F.GASPARINI-G.ROCHA, A
catequese na vida Igreja. Notas de histria, Paulinas, Lisboa, 1996, 59.
197
O ponto central da obra tem a ver precisamente com o tema da Providncia de Deus, que
ilumina e conduz toda a histria da humanidade, dividida em duas cidades: a cidade divina e a
95
livros, procura fazer uma explicao da histria baseada no nas causas humanas,
sentido global do processo histrico. Para ele a histria do mundo vai desde a
na categoria teolgica das duas cidades, governada pelos dois amores. Ou seja,
profana luz da histria sagrada visa transmitir aos rudes uma nova viso da
Alis, com este olhar sobre a histria que Agostinho, ao compor o DCR,
salvao. Isto porque, para ele, os primeiros passos da catequese aos rudes deve
cidade terrena; cf. edio belingue de J. MORAN, La ciudad de Dios, in Obras completas de
San Agustin, t. XVI-XVII, Madrid, 1958.
198
A partir do captulo XVIII do DCR at o captulo XXI encontramos, de uma forma detalhada, a
narrao da histria da salvao que culmina em Cristo, esperana messinica; cf. AUGUSTINUS,
De catechizandis rudibus, 18, 29-21, 38, CCL 46, 153-163.
199
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 6, 10, CCL 46, 130: Sane ab huiusmodi
miraculorum sive sommiorum ad scripturarum solidiorem viam et oracula certiora transferenda
est eius intentio.
96
Sem dvida, a primeira observao que Agostinho faz sobre o contedo da
dela o modo de agir de Deus para com os homens e, por conseguinte, a resposta
que estes so chamados a dar a este amor. Isto porque, como diz o Conclio
salvao.
Isto quer dizer que a parte narrativa deve seguir as leis gerais de ir ao
comea com o relato da criao, em que o Deus omnipotente fez boas todas as
200
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 3, 5, CCL 46, 124: Fundamenta in gravioribus
rerum divinarum factis.
201
Conclio Vaticano II, Decreto Unitatis redintegratio, n 11.
202
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 18, 29, CCL 46, 153-154.
97
do Paraso; do Dilvio; dos Profetas e da Lei, do cativeiro), relatando todas as
histria sagrada Agostinho faz referncia, por diversas vezes, teoria das duas
a cidade dos malvados e outra a cidade dos justos205. Todos os homens que
desprezo de Deus formam juntos a cidade dos homens, isto , a cidade terrena, ao
passo que aqueles que buscam a glria de Deus pertencem cidade de Deus, a
cidade celeste.
203
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 24, 45, CCL 46, 169: Omnia ista ita completa
sunt.
204
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 19, 31, CCL 46, 155-156. Embora houvesse uma
primeira aluso do autor sobre as duas cidades, referidas no seu tratado De vera religione 25,
contudo, em DCR que aparece pela primeira vez a expresso duae civitates, que depois
encontrar o seu desenvolvimento e sentido mais autntico em De civitate Dei, com a expresso:
fecerunt itaque civitates duas amores duo; cf. AUGUSTINUS, De civitate Dei, 14, 28, CCL 47,
451.
205
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 19, 31, CCL 46, 156: Duae itaque civitates,
una iniquorum, altera sanctorum.
98
Durante a narrao da histria da salvao encontramos correspondncias
a estas duas cidades que esto muito bem representadas, por um lado, em
Jerusalm, a terra prometida, ou seja, a cidades dos santos e, por outro lado, o
confundidas no tempo, dois mundos que caminham sempre juntos at ao fim dos
programa da sua instruo catequtica a doutrina das duas cidades na sua dupla
vertente: terrena e celestial; uma que peregrina e outra que descanso eterno e
Assim sendo, podemos dizer que com a apresentao das duas cidades
rudes, num organismo de uma grande cidade, dividida em duas partes. Alis, a
206
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 21, 37, CCL 46, 156: duabus civitatibus, ab
exordio generis humani usque in finem saeculi permite temporum varietate currentibus et ultimo
iudicio separandis.
99
4.1.2 As idades do mundo e a viso teolgica da histria
Agostinho vamos falar da diviso que ele faz da histria do mundo em seis
histria da salvao. Ele conta e relata a histria da salvao em vrias das suas
fases.
o objetivo do nosso estudo. Contudo, no podemos esquecer que este tema tem
ltimo perodo da narrao, com a vinda de Cristo, o nosso autor projeta a sua
catequese para sintetizar, uma vez mais, a sua narrao, falando das seis idades
do mundo208.
207
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 22, 39, CCL 46, 163: Salutis historiae aetates
sex. O termo mundo aqui entendido numa das acees antigas, do latim saeculum que
considerado como o sinnimo de histria enquanto ao humana no tempo, em contraposio com
a noo crist de aeternitas; cf. AUGUSTE LUNEAU, Lhistoire du salut chez les pres dEglise,
la doctrine des ages du monde, Beauchesne, Pars, 1964, 329.
208
Santo Agostinho j havia escrito na sua obra De Genesi contra Manichaeos sobre a teoria
das seis idades do mundo, referindo-se o seguinte: video enim per totum textum divinarum
Scripturarum sex quasdam aetates operosas, certis quasi limitibus suis esse distinstas, ut in
septima speretur requies; et easdem sex aetates habere similitudinem istorum sex dierum, in
quibus ea facta sunt quae fecisse Scriptura commemorat; AUGUSTINUS, De Genesi contra
Manichaeos, 1, 23.35, CSEL 91, 335.
100
Assim, ele comea por dizer que decorrer cinco idades do mundo: a
primeira est ab initio generis humani, id est, ab Adam,qui primus homo factus
est, usque ad No, qui fecit arcam in diluvio209; a segunda est usque ad
Abraham, qui pater electus est omnium quidem gentium, quae fidem ipsius
nostri Iesu Christi213. Com a vinda de Cristo comea a sexta idade, segundo o
esto cinco idades, que se preparam para a sexta idade, que a hora messinica da
vinda do salvador Jesus Cristo, que renova o homem, dando-lhe uma nova vida215.
embora um pouco antes de iniciar a narrao propriamente dita, a uma stima era
que desde o comeo do mundo Deus trabalhou durante seis dias e no stimo
209
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 22, 39, CCL 46, 163.
210
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 22, 39, CCL 46, 163.
211
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 22, 39, CCL 46, 163.
212
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 22, 39, CCL 46, 163.
213
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 22, 39, CCL 46, 163.
214
Cf. J. DANILOU, La typologie de la semaine au IV sicle, in RSR 35, 1948, 382;411.
215
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 22, 39, CCL 46, 164: Ut hac sexta aetate mens
humana renovatur ad imaginem Dei, sicut sexta die homo factos est ad imaginem Dei.
216
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 17, 28, CCL 46, 152: Deus [] sex diebus
operatus est, et septimo die requievi.
101
entre as idades do mundo e o relato dos sete dias da criao217, referidos no Livro
dos Gnesis.
no DCR 22,39) podemos falar de uma diviso histrica do mundo em sete idades,
Agostinho como uma doutrina de grande relevncia. De tal modo que, para uma
devem ser relatados somente os eventos que dividem as idades, mas tambm se
deve falar sobre o prprio facto de que a histria est assim dividida. Conforme
nos mostra a Sagrada Escritura, devemos entender que post sex aetates mundi
histrico, mas na escatologia e, por isso, pode continuar-se a falar em seis idades
da histria.
217
Cf. AUGUSTINUS, Sermones, 125,4, PL 38, 691-692. Tando aqui como em muitos outros
sermes dirigidos ao povo, Agostinho apresenta, quando necessrio e quando o texto bblico
permitir, a ideia de que cada dia da criao est relacionada com uma idade da histria. No tratado
sobre o Evangelho de so Joo, Agostinho chega a afirmar que a diviso do tempo em seis idades
histricas, seguidas de uma stima, j foi exposta vrias vezes aos seus ouvintes e que eles a
conhecem perfeitamente; cf. AUGUSTINUS, In Ioannis Evangelium, 9, 6, CCL 36, 384: Inde
usque [do momento inicial da criao at, a que se refere o texto, citado no sermo, de Gn 1,1] ad
hoc tempus quod nunc agimos, sexta aetas est, ut saepe audistis et nostis.
218
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 17, 28, CCL 46, 152.
102
Deste modo, podemos perceber que Agostinho, durante a sua exposio
que inauguram, por assim dizer, toda a exposio dos feitos da histria da
salvao.
longa que o nosso autor apresenta na sua catequese aos rudes. Isto apesar da
ideia das sete idades no aparecer no modelo da catequese mais breve, porque este
foi pensado quando o catequista tem pouco tempo para pregar e quando o discurso
219
A. LUNEAU, Lhistoire du salut chez les pres dEglise. La doctrine des ages du monde,
Beauchesne, Paris, 1964, 252-254.
220
A. LUNEAU, Lhistoire du salut chez les pres dEglise. La doctrine des ages du monde,
Beauchesne, Paris, 1964, 329.
221
J. DANILOU, La catchse aux premiers sicles, Paris, 1968, 225.
222
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 26,51, CCL 46, 174.
103
4.1.3 As Mirabilia Dei Providncia de Deus
essencial, uma vez que no se pode nem se deve dizer tudo. Da que se torne
seja a de expor os factos mais admirveis e mais importantes volta das quais se
223
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 3, 5, CCL 46, 124.
104
A narrao, segundo o nosso autor, tinha como finalidade no s
curiosidades acerca dos contedos da f, mas, mais do que isto, tinha como
com o seu povo, a sua aliana com o homem. Porque s assim os recetores da
crist.
Neste sentido, deve-se ter em conta que a narrao no tem muito a ver
Igreja. Isto porque, esta manifestao da histria guiada por Deus ilustra uma
105
Alis, na perspetiva da histria da salvao, as maravilhas de Deus so
225
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 18, 29, CCL 46, 153-154.
226
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 19, 33, CCL 46, 157: Ex quibus Abraham pius
et fidelis Dei servus electus est, cui demonstraretur sacramentum filii Dei.
227
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 19, 32, CCL 46, 157: Et sanctorum
libertationem ligni mysterio praenuntiavit.
228
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 21, 37, CCL 46, 161: Illa ergo captiuitas
Ierusalem ciuitatis, et ille populus in Babyloniam ductus ad seruitutem ire iubetur a domino per
Ieremiam illius temporis prophetam. Et exstiterunt reges Babyloniae, sub quibus illi seruiebant,
qui ex eorum occasione commoti quibusdam miraculis cognoscerent et colerent et coli iuberent
unum uerum Deum, qui condidit uniuersam creaturam.
106
mirabilia Dei, pois todos so os desgnios da salvao de Deus ao longo da
que Deus amou de tal modo o mundo, a ponto de entregar o seu nico Filho, Jesus
Cristo, por amor229 e lav-lo a perceber que este amor no por necessidade, mas
por misericrdia.
Cristo Jesus:
229
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 4, 7, CCL 46, 126-127: Et ipsum Deum
quoniam prior dilexit nos, et filio suo unico non peper cit, sed pro nobis omnibus tradidit eum (1
Jo 4,10-19; Rom 8,32).
230
A. ETCHEGARAY CRUZ, Storia della Catechesi, ed. Paoline, Roma, 1983, 134-135.
107
Desta feita, entendemos que a narrao das mirabilia Dei centra-se na
figura de Cristo, pois luz de Cristo, a partir dos seus gestos, que entendemos os
E, partindo desta perspetiva futura, o bispo de Hipona coloca diante dos seus
ele entende que a catequese da histria atual deve levar misso, isto ,
expanso da Igreja por toda a parte, quae per orbem terrarum, sicut de illa
rigabatur231 , por outro lado, preciso perceber que o Batismo (fruto de uma
catequese e da caminhada feita pelo que vinha a ser instrudo) e a receo aos
maravilhas de Deus.
231
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 24, 44, CCL 46, 168.
232
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 20, 34, CCL 46, 159: Utrumque signum est sancti
baptismi, per quod fideles in novam vitam transeunte [] Cum passionais et crucis signo in fronte
hodie tamquam in poste signandus es, omnesque Christiani signantur.
233
J. DANILOU, Lhistoire du salut dans la Catchse in La Maison-Dieu XIX, Paris, 1952,
31ss.
108
Nesta leitura, o DCR de santo Agostinho mostra-nos que todos os factos a
tamemfutura ecclesia, quam rex eius et Deus Christus mysterio suae crucis ab
tbua da Lei, escrita por Deus ao povo judaico signa rerum spiritalium ad
sub regibus huius saeculi239; a converso dos judeus e dos gentios (simbolizada
angularem, sicut per profetam praenuntiatus erat, in quo ambo quasi parietes de
234
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 19, 32, CCL 46, 157.
235
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 19, 33, CCL 46, 157.
236
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 19, 33, CCL 46, 158.
237
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 20, 35, CCL 46, 159.
238
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 20, 36, CCL 46, 160-161.
239
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 21, 37, CCL 46, 161.
240
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 23, 43, CCL 46, 167.
241
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 23, 43, CCL 46, 167.
109
Testamento, aludindo a importncia, a grandeza e a centralidade de Cristo, tal
salvao, de que j falmos, como tambm porque constitui o fim e a razo de ser
que est revelado no Antigo e no Novo Testamento, pois Ele a revelao das
Escrituras Sagradas.
242
Cf. W. YORKE FAUSSET, S. Aurelii Augustini, Liber de catechizandis rudibus, 2 ed.,
London, 1912, 86.
243
A.BOLIN-F.GASPARINI-G.ROCHA, A catequese na vida Igreja. Notas de histria, Paulinas,
Lisboa, 1996, 25.
110
fim da criao. Da o fato de Cristo ser o centro da mensagem crist de todos os
tempos.
de toda a profecia.
monet246.
demais, como culminao do amor de Deus aos homens, pois Cristo a promessa
da obra divina. Por meio de muitas profecias Cristo foi anunciado de uma forma
244
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 3, 5, CCL 46, 125: Non tamen propterea debemus
[] memoriter reddere, vel nostris verbis omnia quae his continentur volumminibus narrando
evolvere et explicare.
245
Cf. J. DANILOU, La catchse aux premiers sicles, Paris, 1968, 227.
246
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 4, 8, CCL 46, 128.
247
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 21, 38, CCL 46, 163: apertius per multas
prophetias prophetatus est Christus [] qui venturum dominum Iesum Christum liberatorem
omnium prophetarent.
111
O bispo de Hipona entendeu isto muito bem, e por isso recomendou ao
catequese moderna, como uma reao contrria a uma excessiva proliferao dos
cada um.249. Pois, trata-se da tomada de conscincia por parte do catequista de que
ele no o mero transmissor de uma crena e de uma vida que lhe transcende,
mas sim que ele tem a misso de direcionar toda a sua instruo para a verdadeira
fonte, para Deus. Deste modo, no descabida a recomendao que Agostinho faz
248
L. RESINES, El Catecumenado en De catechizandis rudibus, in ETA 22, Valladolid 1987,
383.
249
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 8, 12, CCL 46, 134: Exponentium
sollertissimae diligentiae, maximeque commendans in Scripturis canonicis admirandae altitudinis
saluberrimam humilitatem, in illis autem pro sua cuisque facltate aptum superbioribus et per hoc
infirmioribus animis stilum sonantioris et quasi tornatioris eloquii.
112
maneira que a sua narrao fosse mais agradvel, mediante a explicao e
revelao de Deus: eligamusque aliqua ex his quae mystice dicta sunt in sanctis
dulcescat250.
dizendo:
Deus, na sua misericrdia, quis libertar os homens []. Por isso Ele
enviou o Seu Filho Unignito, isto , o Seu Verbo, igual a si mesmo, por meio
do qual criou todas as coisas. Este Verbo, permanecendo na sua divindade e, sem
se afastar do Pai nem mudar nada do seu ser, tornou-se homem e apareceu
aos homens em carne mortal, apresentou-se entre os homens para que, assim
como por um homem, que foi o primeiro a ser criado, isto , Ado, entrou a
morte em todo o gnero humano, porque ele consentiu sua mulher seduzida
pelo diabo e desobedeceu o mandato de Deus, assim tambm por um homem,
que Deus ao mesmo tempo, o Filho de Deus, Jesus Cristo, todos os que nEle
crem sero salvos e entraro na vida eterna, uma vez apagados todos os pecados
passados251.
Cristo252, que lhe deu a vida. Isto mostra-nos que o motivo dominante do DCR
Cristo redentor do homem, que veio indicado nos livros sagrados. Assim como o
pecado de Ado atinge a todos os homens, assim Cristo, com a sua morte e
250
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 13, 18, CCL 46, 142.
251
J. OROZ RETA, Obras completas de San Agustin XXXIX, La catequesis de los principiantes,
26, 52, BAC, Madrid, 1988, 529; cf. Rom 5, 12; 6,17.
252
Cf. V. GROSSI, La catechesi battesimale agli del V secolo, in Ins. Patr. Aug., Roma, 1993,
30.
113
redeno, uniu a si todos os homens. Ado na morte e Cristo na vida. H aqui uma
Assim sendo, podemos concluir dizendo, por outras palavras, que o ncleo
tempo contnuo da Igreja. Ele veio terra para dar a conhecer ao homem quanto
Deus o ama e para faz-lo perceber que ele chamado a responder e a render-se a
Uma vez que a questo sobre a maneira como ele concebia a histria e o
mundo j foi tratado atrs (cf. o ponto 4.1.2), vamos, agora, abordar um pouco
DCR aponta, precisamente, para Deus, autor de todas as coisas boas e de grandes
253
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 4, 8, CCL 46, 128: Christus advenit, ut in eius
dilectionem a quo prior eum diligat Deus.
254
Cf. Gen 2, 18.
114
Toda a narrao e explicao da histria sagrada revela-nos um Deus
saecula255 e que sempre assiste o homem ao longo da histria, atravs dos seus
santos patriarcas e dos profetas. o Deus de Abrao que criou o homem por amor
e fez todas as coisas por meio do seu Verbo encarnado, Cristo Jesus. Devemos
amar este Deus que Pai e que nos amou at ao extremo, enviando-nos o Seu
Filho nico, que morreu nas mos dos pecadores em favor dos pecadores256.
paciente para com as faltas do homem e que lhe oferece sempre a possibilidade de
arrependimento, pois Ele o Deus que conduziu o seu povo atravs do deserto e
f-lo entrar na terra prometida257. um Deus fiel, que non mutatur258 e que o
salienta na sua obra? (No vamos aqui fazer um estudo filosfico sobre a
especial).
255
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 3, 6, CCL 46, 125.
256
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 17, 28, CCL 46, 153: Ut unicum filium suum
mitteret (cf. Jo 3, 16; 1 Jo 4, 10), qui humilitate nostrae mortalitatis indutus et a peccatoribus et
pro peccatoribus moreretur.
257
Todo o relato da criao mostra-nos este Deus que cuida e assiste sempre o seu povo; cf.
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 19, 31-32; 20, 36, CCL 46, 155-160.
258
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 25, 49, CCL 46, 173.
115
Partindo da sua prpria experincia, e tal como ele referiu nas suas
confisses, Agostinho entende que o homem um ser que vive inquieto enquanto
securitatem260, mas que nem sempre acaba por encontrar esta segurana e
conforto, isto por causa dos seus desejos perversos, que faz com que ele as
entende, neste sentido, que a veram requiem et veram felicitatem desiderat, debet
homem est em pr a sua esperana no nas coisas deste mundo, mas nas Palavras
Deus e para Deus. Deus comunicou ao homem o livre arbtrio para que este O
pudesse louvar de livre vontade e descobrisse que s Deus digno de ser louvado
259
Cf. AUGUSTINUS, Confessiones I, 1,1, n 30.
260
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 16, 24, CCL 46, 149.
261
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 16, 25, CCL 46, 149-150: Immarcescibilium
bonorum inquisitio.
262
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 16, 24, CCL 46, 149.
263
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 17, 28, CCL 46, 153.
116
H uma divinizao do homem na humanidade de Deus, representada em Jesus
Cristo.
homem, fazendo-se prximo e seu amigo e, por outro lado, deve haver, da parte
pecar.
histria da salvao que Jesus Cristo. Ele deve manter-se fiel a Cristo, a fim de
salvao. Alis, como muitas vezes o santo Hiponense faz referncia, h uma
264
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 19, 31; 27, 55, CCL 46, 155; 178: Quidquid
autem homo [] permanens toleravit, maior ei merces dabitur.
265
Para uma comparao das idades com as fases do desenvolvimento humano, cf. Idades do
homem, P. ARCHAMBAULT, The ages of man and the ages of the world, a study of two
tradictions, in Rev. tud. August. XII, Paris, 1966, 210.
266
Agostinho diz-nos, no DCR, que a sexta idade do homem corresponde chamada graa
espiritual, que se manifesta a todos os povos de maneira que todos possam adorar a Deus. Nesta
sexta idade a vida humana ser renovada imagem de Deus; cf. AUGUSTINUS, De catechizandis
rudibus, 22, 39, CCL 46, 164: Ex cuius adventu sexta aetas agitur: ut iam spiritalis gratia [] ut
hac sexta aetate mens humana renovetur ad imaginem Dei.
117
4.2 A Exortao tica
atrs, sugere ao dicono Deogrtias que procurasse incutir nos seus ouvintes a
que faz com que os candidatos estejam, naturalmente, mais precavidos das
catecumenal.
momento da catequese moral, uma parte exortativa, que faz com que a catequese
seja mais completa, isto porque na exposio catequtica temos que acrescentar, a
iniciao vida realmente crist, para que a Palavra acolhida e escutada durante a
narratio no seja letra morta, mas que encarne na vida daquele que a escuta.
267
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 7, 11, CCL 46, 131: Fidei et morum expositio.
118
Da que no manual catequtico DCR o santo Hiponense insista muito na
e renovando-a mediante o fundamento tico cristo, que faz com que cada um
responda ao apelo de Deus e se empenhe hic et nunc numa vivncia cada vez mais
exposio catequtica, para que o ouvinte saiba o que deveras ser cristo.
ressurreio do corpo e no juzo final, que vem tanto para os bons como para os
268
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 7, 11, CCL 46, 132: Simul etiam praecepta
breviter et decenter commemorentur christianae atque honestae conversationis.
269
Cf. J. DANILOU, Lhistoire du salut dans la catchse in La Maison-Dieu XIX, Paris,
1952, 35.
119
maus270. Isto porque o fim seguido pela narrao da histria da salvao consiste,
Da que se torna necessrio aproximar-se dos que amam a Deus, sem, no entanto,
modo que, muitas profecias j se tinham cumprido, os cristos devem crer nas que
eterno274.
270
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 7, 11, CCL 46, 131: De corporis
resurrectione tractandum et futuri ultimi indicii bonitate in bonos.
271
Cf. J. DANILOU, La catchse aux premiers sicles, Pars, 1968, 233.
272
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 7, 11, CCL 46, 132: Ad extremum ne spes eius
in homine ponatur.
273
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 27, 53, CCL 46, 176: Praedictum est non
solum a prophetis, sed etiam ab ipso domino Iesu Christo, quod ecclesia eius universum orbem
terrarum esset futura, per sanctorum martyria passionesque disseminata.
274
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 24, 44, CCL 46, 168: Aedificamur ad fidem, ut
etiam illa, quae restan, sustinentes et perseverantes in domino, sine dubitatione ventura credamus
[...] et omnes pios ab impiis segregabit.
120
haver nenhum gozo maior do que a vida eterna, que os justos ho-de receber na
Por outro lado, verdadeiramente cristo aquele que abraa a f por causa
da vida eterna, porque ama e acredita em Deus, e no por medo do inferno. Neste
de todos os homens, onde todos sero julgados para a vida eterna ou para a
condenao dos mortos. Todos os fiis que ho-de reinar com Cristo ressuscitaro
incorrupo dos anjos e tornar-se semelhante aos anjos de Deus276, vivendo para
desejo e a vocao ltima de todos os homens. Alis, a catequese, nas suas mais
275
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 25, 46, CCL 46, 169-170. Carnis resurrectio.
276
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 27, 54, CCL 46, 177: Omnes autem fideles
regnaturi cum Christo, ita ressurgente in eodem corpore, ut etiam commutari mereantur ad
incorruptionem angelicum: ut fiant aequales angelis Dei.
121
homem ao encontro com Deus, ou seja, vida nova e spitritalis gratia277, que
amor e o desejo de uma vida feliz e eterna, num encontro face-a-face com Deus e
divina.
homens procuram muitas vezes nos bens temporais e materiais, nas paixes fteis
e no deleite das honras e riquezas. Santo Agostinho chama a ateno para o facto
felicidade.
277
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 22, 39, CCL 46, 163.
278
AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 16, 24, CCL 46, 149.
279
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 25, 46, CCL 46, 170: Efficiemur enim, sicut ab
illo promissum speramus et exspectamu, aequales angelis dei, et cum eis pariter illa trinitate
perfruemur iam per speciem.
280
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 16, 25, CCL 46, 150: Tu autem quia veram
requiem quae post hanc Christianis promittitur, quaeris, etiam hic eam inter amarissimas vitae
huius molestias suavem incundamque gustabis, si eius qui eam promisit, praecepta dilexeris.
281
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 17, 26, CCL 46, 151.
282
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 17, 27, CCL 46, 152.
122
prometida por Deus a todos os homens de boa vontade que levaram uma vida
Ora, a exortao moral, por sua vez, projeta-nos para aquilo que a sntese, por
assim dizer, de todo o agir cristo, ou seja, abre-nos o caminho para a moral do
tambm devem orientar-se para o Amor. Um amor que dom e misso, que move
diligamus Deum ex toto corde, ex tota anima, ex tota mente (Mt 22, 37); et
diligamus proximum sicut nos ipsos283. Agostinho faz um resumo dos dois
experincia do amor, porque segundo ele, Cristo veio antes de mais para fazer o
283
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 23, 41, CCL 46, 165-166.
123
quantum eum diligat Deus284. Mas este amor deve despertar o crente a
corresponder tambm com amor285. O amor a Deus, que nos amou primeiro, e o
amor aos irmos, da mesma forma que Deus nos ama. Neste sentido, o Hiponense
mensagem que molda toda a sua pedagogia catequtica, que o amor recproco a
Deus e ao prximo.
Neste sentido, a caridade entendida como amor pelo qual se ama a todos,
durante a exposio catequtica. Um amor que nos faz unir e aproximar-se dos
ouvintes, com um amor fraterno, a fim de que a pessoa amada possa descobrir as
maravilhas de Deus288 e possa louv-lo atravs das suas obras. Esta caridade tem o
284
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 4, 8, CCL 46, 128.
285
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 4, 7, CCL 46, 126-127: Et ipsum deum,
quoniam prior dilexit nos [] saltem nunc redemare non piaget.
286
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 4, 8, CCL 46, 128.
287
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibusI, 27, 55, CCL 46, 178: Quia non solum dilectio
dei nobis praecepta est, sed etiam dilectio proximi in quibus duobus praeceptis tota lex et
prophetae.
288
Cf. AUGUSTINUS, De catechizandis rudibus, 12, 17, CCL 46, 141: sed si in rebus
contemplandis aliquantum proficimus, iam uolumus eos quos diligimus laetari et stupere, cum
124
fim ltimo em Deus e consiste em oferecer-se inteiramente quele que precisa de
Assim como Cristo amou em primeiro lugar e fez-se prximo daqueles que
estavam longe289, assim tambm aquele que educa deve fazer-se prximo dos que
intuentur opera manuum hominum: sed uolumus eos in ipsam artem consilium eu institutoris
adtollere, atque inde exsurgere in admirationem laudem que omnicreantis dei, ubi amoris
fructuosissimus finis est.
289
Cf. R. CANNING, The Unity of Love for God and Neighbour in S. Augustine, in AHI,
Leuven-Heverlee, 1993, 249-330.
125
CONCLUSO
sculos290.
tudo pela sua pedagogia de ensino e repercusso que pode ainda ter para ns hoje.
Isto porque, nesta obra aparece claramente a sua conceo pedaggica, na medida
grande parte, as mesmas de hoje, uma vez que tm a ver com o delicado e
290
Cf. H. I., MARROU, Histria da educao na Antiguidade, So Paulo, Braslia, 1975, 81.
126
de ns no se sentem na pele de Deogrtias quando chega a hora de falar das
doutrina da Igreja? Por isso mesmo, nunca como hoje se insiste na importncia
fato, a catequese contida no DCR modela-se sobre o modo de agir de Deus, que se
espiritualidade do catequista.
hilaritas e o amor de Deus para com os homens. Ele sugere remdios prticos e
sempre atuais que servem para evitar e combater o aborrecimento, tanto para
quem escuta, como para quem educa. Neste aspeto, o DCR um tratado nico no
seu gnero, um manual prtico tanto para o catequista como para o catecmeno.
frequente no DCR), que servem para confirmar os verdadeiros motivos que esto
na origem de uma adeso crist. Este mtodo muito importante, pois, provoca e
convoca o recetor, fazendo com que haja uma maior familiaridade e confiana.
127
Da que, para observaes de carcter pedaggico, o DCR merea ateno para os
ouvintes advm-lhe, sem dvida, das leituras e da sua formao clssica e retrica,
importante que Agostinho nos deixou foi esta sensibilidade pedaggica e reflexo
catequticas.
didticas so, por isso, de uma modernidade desconcertante. A sua reflexo sobre
128
condio e ao mesmo tempo como limitao da harmonia de linguagem; o
respeito ateno dos ouvintes; pelas advertncias aos mestres que no devem
iludir-se com o ttulo ou prestgio; no que concerne ao tdio, tanto do que ensina
Por estas e muitas outras razes, Agostinho merece ser estudado. vista
de todos estes aspetos que Agostinho toca no seu tratado, parece-nos estar diante
dias.
obra merecia muito mais da nossa parte. Mas, fica-nos pelo menos a certeza de
do ensino e da transmisso da f.
291
A. MURA, De catechizandis rudibus, Brescia, 1961, 24.
129
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141
NDICE
SIGLAS E ABREVIATURAS............................................................................. 4
INTRODUO................................................................................................... 8
CAPTULO I
A Catequese e a transmisso da f
CAPTULO 2
O De catechizandis rudibus
142
CAPTULO 3
A teoria catequtica no De Catechizandis Rudibus
CAPTULO 4
Os Contedos da catequese
143